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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ II APOSTILA - 1º SEMESTRE/2008 PROFESSOR CÉLIO SOUZA 1 DESENVOLVIMENTO MOTOR Para Gallahue o desenvolvimento motor é uma contínua alteração do comportamento ao longo do ciclo de vida, realizado pela interação entre as necessidades da tarefa, as necessidades biológicas do indivíduo e as condições do ambiente. O desenvolvimento cronológico humano pode ser dividido nos seguintes períodos: TERCEIRA IDADE – ACIMA DE 60 ANOS MEIA IDADE – DOS 40 AOS 60 ANOS IDADE ADULTA JOVEM – 20 AOS 40 ANOS ADOLESCÊNCIA - 10 A 20 ANOS INFÂNCIA TARDIA- 2 A 10 ANOS PRIMEIRA INFÂNCIA - DO NASCIMENTO AOS 2 ANOS PRÉ-NATAL – DA CONCEPÇÃO ATÉ O NASCIMENTO Fonte: GALLAHUE, 2002, p.13 Os estudos de desenvolvimento motor iniciaram orientados pelos processos (estudo dos processos que governam a maturação). Depois passaram a ser orientados pelo produto (descrição da mecânica das fases de aquisição da habilidade motora e o desenvolvimento do desempenho motor). Em seguida, voltaram a ser orientados pelo processo (explicar os processos que causam as alterações no comportamento motor ao longo do tempo). O DESENVOLVIMENTO MOTOR PODE SER ESTUDADO ATRAVÉS DE TRÊS MÉTODOS: a) MÉTODO LONGITUDINAL – método onde se estuda o mesmo indivíduo por períodos de aproximadamente 5 a 10 anos. É o ideal e o único real para estudar o desenvolvimento. b) MÉTODO TRANSVERSAL – utiliza - se pessoas diferentes, representando cada idade, e são estudados ao mesmo tempo. c) MÉTODO LONGITUDINAL MISTO – combina os melhores aspectos (elementos essenciais) tanto do longitudinal, como do transversal. Os componentes do desenvolvimento humano estão inter-relacionados e se auto-influenciam. Crescimento Maturação Desenvolvimento Humano Experiência Aspectos psicomotores, Cognitivos e afetivos Adaptação Figura 30: Os componentes inter-relacionados do desenvolvimento humano Gallahue 2001 – (pág 19) O desenvolvimento motor é uma alteração contínua no comportamento motor (comportamento motor engloba alterações no aprendizado) ao longo da vida. Pode ser estudado tanto como um processo (envolve as necessidades biológicas, ambientais, ocupacionais e influenciam o desempenho motor, as habilidades motoras desde a concepção até a velhice). Quanto um produto (é descritivo, analisa as fases). Nos últimos anos muitos pesquisadores têm estudado o desenvolvimento humano. Cada um deles construiu um modelo teórico para representar, de acordo com suas tendências filosóficas. Teorias são estudos amplos que visam explicar os fenômenos. Sua principal função é a integração dos fatos existentes, para organiza-los de maneira tal que eles tenham significado (explicar acontecimentos, a partir de observações de fatos ). Modelos nos ajudam a organizar, arquitetar e planejar uma discussão. Mas não permitem estudar os fenômenos. Os modelos pretendem demonstrar como se relacionam os diferentes elementos. A idéia do modelo

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DESENVOLVIMENTO MOTOR

Para Gallahue o desenvolvimento motor é uma contínua alteração do comportamento ao longo do ciclo de vida,

realizado pela interação entre as necessidades da tarefa, as necessidades biológicas do indivíduo e as condições

do ambiente. O desenvolvimento cronológico humano pode ser dividido nos seguintes períodos:

TERCEIRA IDADE – ACIMA DE 60 ANOS

MEIA IDADE – DOS 40 AOS 60 ANOS

IDADE ADULTA JOVEM – 20 AOS 40 ANOS

ADOLESCÊNCIA - 10 A 20 ANOS

INFÂNCIA TARDIA- 2 A 10 ANOS

PRIMEIRA INFÂNCIA - DO NASCIMENTO AOS 2 ANOS

PRÉ-NATAL – DA CONCEPÇÃO ATÉ O NASCIMENTO

Fonte: GALLAHUE, 2002, p.13

Os estudos de desenvolvimento motor iniciaram orientados pelos processos (estudo dos processos que governam a maturação). Depois passaram a ser orientados pelo produto (descrição da mecânica das fases de aquisição da habilidade motora e o desenvolvimento do desempenho motor). Em seguida, voltaram a ser orientados pelo processo (explicar os processos que causam as alterações no comportamento motor ao longo do tempo).

O DESENVOLVIMENTO MOTOR PODE SER ESTUDADO ATRAVÉS DE TRÊS MÉTODOS: a) MÉTODO LONGITUDINAL – método onde se estuda o mesmo indivíduo por períodos de aproximadamente 5 a 10 anos. É o ideal e o único real para estudar o desenvolvimento. b) MÉTODO TRANSVERSAL – utiliza - se pessoas diferentes, representando cada idade, e são estudados ao mesmo tempo. c) MÉTODO LONGITUDINAL MISTO – combina os melhores aspectos (elementos essenciais) tanto do longitudinal, como do transversal.

Os componentes do desenvolvimento humano estão inter-relacionados e se auto-influenciam.

Crescimento

Maturação Desenvolvimento Humano Experiência Aspectos psicomotores, Cognitivos e afetivos

Adaptação Figura 30: Os componentes inter-relacionados do desenvolvimento humano Gallahue 2001 – (pág 19) O desenvolvimento motor é uma alteração contínua no comportamento motor (comportamento motor

engloba alterações no aprendizado) ao longo da vida. Pode ser estudado tanto como um processo (envolve as necessidades biológicas, ambientais, ocupacionais e influenciam o desempenho motor, as habilidades motoras desde a concepção até a velhice). Quanto um produto (é descritivo, analisa as fases).

Nos últimos anos muitos pesquisadores têm estudado o desenvolvimento humano. Cada um deles construiu um modelo teórico para representar, de acordo com suas tendências filosóficas.

Teorias são estudos amplos que visam explicar os fenômenos. Sua principal função é a integração dos fatos existentes, para organiza-los de maneira tal que eles tenham significado (explicar acontecimentos, a partir de observações de fatos ).

Modelos nos ajudam a organizar, arquitetar e planejar uma discussão. Mas não permitem estudar os fenômenos. Os modelos pretendem demonstrar como se relacionam os diferentes elementos. A idéia do modelo

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tem que chegar até na prática, para programar a atividade. O modelo é então o mediador entre o conhecimento e a prática.

Fazemos, a seguir, uma breve revisão de algumas teorias do desenvolvimento motor que influenciaram o final do século passado.

I) TEORIA DESENVOLVIMENTISTA (também conhecida como a teoria clássica do desenvolvimento ou ainda teoria fase-estágio)

Os teóricos afirmam que há faixas etárias universais, que se caracterizam por certos tipos de comportamento. Esses comportamentos têm duração de tempo arbitrária, mas consideram-lhes invariáveis. Os estágios são seqüenciais, não podem ser reordenados, mas podem ser omitidos. Cada fase dura por volta de um ano, e pode ser subdividido em um ou mais estágios. Os estágios descrevem as características desenvolvimentistas gerais. Fornecem uma visão geral, mas não comporta detalhes.

Citamos alguns teóricos e suas teorias:

A) SIGMUND FREUD (1927) – TEORIA PSICANALÍTICA DO COMPORTAMENTO Sintetizando sua teoria é um estudo do desenvolvimento psicossexual a partir do nascimento e ao longo da

infância. Sua teoria foi lançada dez anos depois do final da Primeira Guerra Mundial. Naquela época, o universo analisado era composto de pessoas passadas por extremo sofrimento, num ambiente onde a escassez de alimentos levara às gerações esforços físicos particulares, há que se considerar. Havia excesso de trabalho na reconstrução dos mundos destruídos e os países se encontravam quebrados. Freud conviveu com os alemães que, além de feridos no orgulho ao terem perdido a guerra.

Freud elaborou seu modelo de estágios em crianças nascidas antes da guerra, durante e depois da guerra. Analisou, e teve uma excelente base de análise, ao instinto da criança e do adolescente em três distintos ambientes. Dividiu seu modelo em estágios que refletiam zonas do corpo em busca de prazer para a satisfação do id (fonte inconsciente dos desejos), do ego (intermediário entre o id e superego), e do superego (a razão).

O modelo se divide nos seguintes estágios: personalidade oral; anal; fálica; latente e genital. B) ERIK ERIKSON (1963) - TEORIA PSICOSSOCIAL

Pesquisou o desenvolvimento psicossocial ao longo da vida. Concentrou-se na influência da sociedade, na importância das atividades motoras, orientadas com sucesso, para ajustar as crises que todo indivíduo enfrenta. Baseou Erikson sua teoria em um mundo onde Estados Unidos e Europa floresciam em riqueza enquanto América do Sul, África e Leste Europeu apodreciam nas celas das ditaduras e tiranias. Lançava-se no mundo mais civilizado as bases para a paz, na liberdade das pessoas, para poderem se amar. Pouco depois se exporia ao mundo Woodstock. O mundo havia pouco se libertara de todas as guerras, afinal. C) ARNOLD GESSEL (1928) – TEORIA MATURACIONAL Estudou, contemporâneo de Freud, os processos maturacionais no desenvolvimento do sistema nervoso central a partir do nascimento e ao longo da infância. Descreveu e documentou faixas etárias gerais, para a aquisição de habilidades motoras na infância e considerou estas tarefas baseadas no processo maturacional.

GESSEL foi um dos autores que deu muita importância aos processos internos maturacionais na aquisição de comportamentos. Para ele o crescimento é um processo de estruturação, que produz mudanças nas células nervosas, que provocam mudanças nas estruturas de comportamento. Assim como Freud teve a oportunidade de examinar um universo bastante diverso de desenvolvimento psíquico, social e comportamental de indivíduos, com bases na desnutrição, ao mesmo tempo em que se buscava entender o processo de qualidade e quantidade na alimentação.

Observou que, ao nascer, a criança desperta suas percepções. Elas se desenvolveram de acordo com a experiência e a maturidade, sempre crescente, das células.

A organização dos comportamentos está relacionada à maturidade nervosa, começando antes do nascimento. Para GESSEL as crianças desenvolvem-se como um todo.

As diferentes “fases” do comportamento desenvolvem-se conjuntamente. Estudou o comportamento dividindo-o em quatro áreas:

- Comportamento motor: atitudes posturais, locomoção, preensão; - Comportamento de adaptação: capacidade de perceber os elementos significativos e de utilizar a

experiência para se adaptar a novas situações; - Comportamento verbal: todas as formas de comunicação e de compreensão; - Comportamento pessoal e social: reações tanto perante as outras pessoas como perante a cultura social. Para GESSEL, A. (1979), o que determina os comportamentos motores e psicológicos são as

transformações que acontecem no desenvolvimento, que se devem às predisposições do organismo e ao desenvolvimento espontâneo dos sistemas neural, muscular e hormonal.

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De acordo ainda com ele, o desenvolvimento corresponde a uma "espiral ascendente", que contem equilíbrios e desequilíbrios sucessivos e que obedecem as seguintes leis:

Princípio da direção do desenvolvimento psicomotor: A maturação dirige o processo de desenvolvimento em confronto com as forças ambientais. A maturação tem tendência a progredir em direções céfalo - caudal e próximo – distal, ou seja, a maturação progride tendencialmente espichando-se, crescendo. Uma mesma célula torna-se maior, na medida em que acumula o conhecimento adquirido.

Princípio da flutuação auto-reguladora das funções: o desenvolvimento não se manifesta com a mesma velocidade em todos os sistemas. Enquanto um sistema pode estar a desenvolver-se, há outros que podem estar adormecidos. O desenvolvimento não acontece sempre simultaneamente. Ao longo do desenvolvimento há uma flutuação periódica, que é controlada por um mecanismo de auto-regulação. Entendo que seria o estágio de latência, ou de absorção e compreensão do novo ambiente que se cria, ao se ocupar um maior espaço. Essa situação de estabilidade permite ao organismo adaptar-se, conhecer-se seu novo limite para em seguida voltar a se desenvolver.

Princípio da assimetria funcional: o organismo tende a desenvolver-se assimetricamente. Os estágios sucedem-se, ao longo do desenvolvimento, de uma forma não linear. Assim, tanto a célula como o indivíduo limitado por esta, testam-se, de um lado e de outro de maneira diferente, dividindo-se para aumentar a superfície de contato com o novo esforço que se lhe opõe. Ao sofrer em um ponto, todos os demais pontos sensores informam ao centro nervoso central, de maneira gradual, qual é o próximo limite a se estabilizar. Esses pontos então crescem até logo abaixo do ponto sofrido (estágio de latência) e então voltam todos a assimetricamente crescer.

II) TEORIA DA TAREFA DESENVOLVIMENTISTA

É uma teoria prognostica (predizer) que diz que há tarefas essenciais que o indivíduo deve realizar num determinado tempo. A teoria da tarefa desenvolvimentista se difere da teoria de fase-estágio, pois pode fazer uma previsão do sucesso ou do fracasso, baseando no desempenho do indivíduo, num estágio mais precoce. Ela não tenta descrever o comportamento típico em uma idade.

Teórico representante e sua teoria: 1) ROBERT HAVIGHURST - TEORIA AMBIENTAL

O desenvolvimento é uma interação da biologia e da sociedade sobre a maturação desenvolvimentista da primeira infância até a velhice.

Considera o desenvolvimento como uma série de tarefas que devem se realizadas num contexto, num determinado tempo.

III) TEORIA DO MARCO DESENVOLVIMENTISTA

Esta teoria é bem parecida com a teoria da tarefa desenvolvimentista, mas ao invés de relacionar os feitos que ocorrem com o indivíduo para se adaptar ao ambiente, menciona indicadores até onde o desenvolvimento progrediu.

Os marcos são orientações pelas qual o nível e a extensão do desenvolvimento são medidos. É uma teoria descritiva, considera o desenvolvimento como um desdobramento contínuo e entrelaçado de processos desenvolvimentistas. Como representante, podemos citar: 1) JEAN PIAGET (1969) – TEORIA DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Piaget enfatiza na sua teoria a aquisição de processos do pensamento (cognitivos). Fez isto observando bebês e crianças. E para isso considerou indicadores simples (sutis), que são marcos na hierarquia do desenvolvimento cognitivo. Utilizou o movimento como agente básico para a aquisição de estruturas cognitivas na primeira infância. A idade cronológica foi usada apenas como indicador geral do funcionamento cognitivo, observou os comportamentos.

Estudou o desenvolvimento cognitivo e estabeleceu as seguintes fases: Sensório motor – do nascimento até 2 anos Pré-operacional – de 2 a 7 anos Operações concretas – de 7 a 11 anos Operações formais – 12 anos e acima IV) TEORIA ECOLÓGICA OU CONTEXTUAL É uma teoria descritiva e ao mesmo tempo explicativa, pois considera que o desenvolvimento ocorre em função do contexto ambiental e do eixo temporal, em que a pessoa em desenvolvimento vive. É um estudo do relacionamento da pessoa com o ambiente e vise-versa. A teoria pode ser vista sob duas abordagens:

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a) Ramo dos Sistemas Dinâmicos A teoria foi baseada em Bernstein (1967). Expandida por kugler, Kelso, Turvey (1982), e atualmente é

estuda por vários pesquisadores como Thelen (1989), Alexander (1993). O desenvolvimento é um processo dinâmico cujas alterações que ocorrem ao longo do tempo são

influenciadas por fatores intrínsecos. Estes são considerados como recursos quando tendem a promover o desenvolvimento, e como limitadores de nível quando tendem a impedir o desenvolvimento. Ainda existem vários elementos que podem mudar conforme a criança cresce e desenvolve, que são os graus de liberdade. Os números de graus de liberdade são diminuídos pelo ganho de controle motor e pela coordenação da tarefa. A teoria dos sistemas dinâmicos explica o processo que resulta no produto observável do desenvolvimento motor. Antigamente, grande parte das pesquisas desenvolvida foram sobre o desenvolvimento motor de bebês, hoje em dia elas buscam explicações dinâmicas desse desenvolvimento motor em crianças, adolescentes e adultos, com desenvolvimento normal ou anormal.

Por anos os desenvolvimentistas estudaram a interação entre os processos de hereditariedade e meio ambiente; agora estão considerando as necessidades da tarefa motora relacionada com o indivíduo (fatores hereditários, biológicos) e com o ambiente (experiência e aprendizado) para o desenvolvimento de habilidades motoras locomotoras, manipulativas e estabilizadoras. Este modelo interage entre si, e é modificado um pelo outro, sem esquecer a individualidade de cada ser.

b) RAMO DO AMBIENTE COMPORTAMENTAL Este é um ramo da psicologia ecológica. Deste ramo também podemos citar alguns pesquisadores como:

1) LEWIN (1930 – 1940) que pesquisou sobre o espaço vital para explicar tudo o que influencia o comportamento da criança em certo ponto no tempo.

2) BARKER (1950 – 1970) estudou o ambiente comportamental como sendo responsável pela individualidade entre as crianças.

3) THOMAS (1992) percebeu que o ambiente físico e os limites do tempo são instrumentos na formação do comportamento esperado.

4) URIE BRONFENBRENNER (1970 – 1990) continuou as pesquisas de Barker, dando ênfase ao meio ambiente, como fator para o desenvolvimento. Não é o ambiente comportamental que prediz o comportamento, mas o significado dele para a pessoa.

Bronfenbrenner considera a importância do que a criança está fazendo (a atividade), dos comportamentos esperados num determinado ambiente (os papéis) e as maneiras pelas quais as pessoas se relacionam naquele ambiente (relações interpessoais). SEQÜÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO MOTOR O desenvolvimento de função, obviamente, continua após o nascimento, pois diferentes sistemas do corpo vêm a ser funcionalmente refinados. Desenvolvimento é comportamental e relata o desenvolvimento de competência em uma variedade de domínios inter-relacionados, como a criança ajusta-se ao meio cultural – o conjunto de símbolos, valores e procedimentos que caracterizam uma população. Desta forma, pode-se falar do desenvolvimento da competência social, intelectual ou cognitiva, emocional e bem-estar, como também do desenvolvimento da personalidade individual da criança dentro do contexto da cultura particular na qual ela se insere.

• Mudanças no nível de funcionamento dos indivíduos. Aparecimento e ampliação das capacidades da criança de funcionar num nível mais elevado. (Gallahue - 1982, citado por Tanni et ali - 1985).

• Ex: desenvolvimento fisiológico/ desenvolvimento motor/ desenvolvimento cognitivo/ desenvolvimento afetivo – social

MODELOS TEÓRICOS DE DESENVOLVIMENTO MOTOR

As funções dos modelos são integrar os fatos existentes, englobados pela área de estudo e de servir de base para gerar novos fatos. Estes fatos poderiam então ser estudados sob pontos de vistas diferentes. Pontos de vistas diferentes promovem pesquisas e pesquisas determinam hipóteses derivadas de teorias que podem ser experimental ou ecológica. A teoria Desenvolvimentista descreve como o indivíduo é em cada faixa etária, e explica o que faz com que estas características ocorram. (Gallahue 2001).

O processo de desenvolvimento motor se mostra por mudanças no comportamento motor. O ser humano esta num processo permanente de aprendizagem, pois o ambiente a sua volta esta em constates mudanças. Podemos observar que as diferenças no comportamento motor são provocadas por fatores biológicos (internos), ambientais (experiência - múltiplas) e pela tarefa (atividade). A observação pode ser feita nas alterações (processo, forma) e no produto (desempenho). Assim o processo de desenvolvimento motor pode ser observado através do estudo das alterações no comportamento motor no decorrer do ciclo da vida.

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O movimento (observável) é uma janela para se estudar o desenvolvimento motor e pode ser agrupado em três categorias:

a) Movimentos estabilizadores (não-locomotores) – são aqueles movimentos que requerem um grau de

equilíbrio. Ex girar, virar-se, empurrar, puxar, posturas invertidas e rolamentos. b) Movimentos locomotores – são movimentos que envolvem mudanças na localização do corpo

relativamente a um ponto fixo na superfície. Ex: andar, correr, pular, etc. c) Movimentos manipulativos – refere-se à manipulação de objetos. Ex: arremessar, agarrar, rebater,

trepar.

E para estudar esse processo de progressão seqüencial de habilidades motoras ao longo da vida, temos as fases do desenvolvimento motor e os estágios desenvolvimentistas de cada fase, que projetados para servir como modelo.

Figura 31: Modelo teórico de desenvolvimento motor - Gallahue 2001.

As faixas etárias para cada fase do desenvolvimento motor devem ser consideradas como orientações gerais. Os indivíduos freqüentemente funcionam em fases diferentes, dependendo de seus ambientes de experiências e de certas estruturas genéticas. Para isso Gallahue propõe um modelo para estudar o desenvolvimento motor em forma de ampulheta. A areia que entra na ampulheta vem de 2 recipientes. Um o hereditário, tampado, pois no momento da concepção o nosso potencial fica determinado, ou seja, a quantidade de areia é fixa. Já outro, é o ambiental, é sem tampa, onde pode se acrescentar areia no recipiente. Os dois fatores, hereditariedade e ambiente, influenciam o processo de desenvolvimento, não importando qual fator está influenciando o modelo, mas sim que haja influencia.

Nas duas primeiras fases do desenvolvimento motor a seqüência de desenvolvimento é altamente previsível. Todas as crianças aprendem a sentar antes de ficar em pé, a ficar em pé antes de andar e andar antes de correr. Mas nota-se a importância da estimulação na fase dos movimentos rudimentares, pois é ai que se começa à aquisição das habilidades fundamentais. Já na 3ª fase, dos movimentos fundamentais, as crianças estão começando a desenvolver um conjunto inteiro de habilidades motoras básicas – andar, correr, saltar, arremessar, receber, rebater, chutar e quicar, onde devemos oportunizar a criança, encoraja-la e instruí-la em um ambiente ecologicamente sadio. Na quarta fase, dos movimentos especializados, o desempenho bem sucedido da mecânica de habilidades motoras depende de movimentos fundamentais maduros.

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MOVIMENTOS REFLEXOS - DO ÚTERO ATÉ 4 MESES São as primeiras formas de movimento humano. São os movimentos involuntários, controlados

subcorticamente – formam a base para as fases do desenvolvimento motor. Através dos reflexos a criança recém-nascida obtém informações sobre o ambiente imediato (toque, luz, sons, etc.). Estes movimentos involuntários e a maturação do sistema nervoso, nestes primeiros meses de vida ajudam a criança a aprender sobre seu corpo e sobre o mundo. Os reflexos podem ser classificados em dois grupos:

a) Primitivos – são aqueles que agrupam informações, buscam alimentos e reações protetoras. Ex sugar, pesquisar pelo olfato.

b) Posturais – estes reflexos servem como equipamentos de teste neuromotores para os mecanismos estabilizadores, locomotores e manipulativos. Ex. reflexo primário de pisar, fechar a mão, arrastar. Estes reflexos estão intimamente ligados ao comportamento voluntário, mais tarde serão conscientes.

MOVIMENTOS RUDIMENTARES - (4 MESES AO 2º ANO DE VIDA) Caracteriza-se pelo aparecimento dos primeiros movimentos voluntários – é a fase dos movimentos

rudimentares. Os movimentos rudimentares são determinados de forma maturacional e caracterizam-se por uma seqüência de aparecimento previsível. O nível com que estas habilidades aparecem varia de acordo com a criança e depende de fatores biológicos, ambientais e da tarefa. O controle é o encéfalo caudal, onde a criança sustenta a cabeça e levanta os pés, depois passa para o estágio do pré-controle, com a preensão intencional, o gatinhar e o andar. Envolvem movimentos estabilizadores como o controle da cabeça, pescoço; tarefas manipulativas de alcançar, agarrar e soltar e movimentos locomotores de arrastar-se, engatinhar e andar. Pode ser dividida em dois estágios:

a) Estágio de inibição de reflexos - inicia-se com o nascimento, a partir daí os movimentos do bebê começam a ser influenciados pelo córtex. Então os reflexos começam a ser inibidos gradativamente até que sejam substituídos por movimentos voluntários, mas descontrolados e grosseiros (o processo de movimentar-se é voluntário, mas apresenta falta de controle).

b) Estágio de pré-controle – por volta de 1 ano de idade, a criança começa a ter maior precisão e controle de seus movimentos, com isso, a criança aprende a obter e manter seu equilíbrio, manipular objetos e locomover-se com maior eficiência e controle.

A fase de movimentos rudimentares desempenha um importante papel na vida da criança, pois prepara a criança para o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais. MOVIMENTOS FUNDAMENTAIS: DOS 2 AOS 7 ANOS A criança em idade pré-escolar desenvolve movimentos básicos que serão necessários para o desenvolvimento posterior de outras habilidades motoras. Essa fase é o período mais crítico para que as formas motoras básicas sejam desenvolvidas corretamente. Os padrões de movimento não são inatos, mas sim adquiridos com o tempo e a vivência. Esse processo inicia-se em casa, nas brincadeiras realizadas no dia-a-dia e, portanto, a criança chega à escola dominando-os parcialmente. Para que ela possa se aperfeiçoar, as atividades realizadas devem buscar o desenvolvimento desses padrões através de jogos e brincadeiras que envolvam os movimentos fundamentais. É importante salientar que a aceleração do processo de aprendizagem de um movimento básico (desenvolvimento precoce) pode causar insucessos futuros. Deve-se respeitar os limites das crianças e jamais forçá-las a fazer alguma atividade sem que estejam preparadas para isso. Um ambiente planejado adequadamente seja no lar, num centro de aprendizagem infantil ou num jardim de infância, pode assegurar o domínio das formas motoras básicas num estágio ótimo. Mas se esse nível ótimo do desenvolvimento não for alcançado, uma aprendizagem terapêutica terá que ser planejada, conseqüentemente, não haverá garantia quanto ao comportamento motor da criança em ser tão completo quanto eficiente no futuro. Padrões fundamentais do movimento, que estão assim divididos:

Os padrões de locomoção permitem a exploração de todo o ambiente e incluem atividades como andar, correr, saltar e suas variações, além de todos os movimentos que deslocam o corpo no espaço.

Os padrões de manipulação envolvem o relacionamento do indivíduo com os objetos que estão à sua volta. Podemos dividi-los em dois tipos de ações: no primeiro, o objeto aproxima-se do corpo da pessoa, e esta deve interromper a sua trajetória. No segundo, o objeto deve ser afastado do corpo da pessoa, com o auxílio do próprio corpo ou com a utilização de outro objeto. Estão incluídas nesse grupo atividades como receber, pegar, arremessar, rebater, chutar, entre outras.

Os padrões de equilíbrio permitem às pessoas manter a postura do corpo no espaço e estão relacionados com as forças que a gravidade exerce sobre o corpo. Embora as suas posições sejam estáticas, esses padrões são importantes para os padrões de locomoção e manipulação, porque o equilíbrio auxilia na coordenação do

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movimento durante uma ação. Como exemplos de padrões de equilíbrio, podemos citar ficar em pé, sentar, equilibrar-se, etc. ESTES MOVIMENTOS ESTÃO DIVIDIDOS EM 3 ESTÁGIOS: Inicial – representa as primeiras tentativas da criança orientadas para o objetivo de desempenhar uma habilidade fundamental. O movimento é caracterizado por elementos que faltam ou que são seqüenciados e restritos, pelo uso exagerado do corpo e por falhas na coordenação e no ritmo. Os movimentos locomotores, manipulativos e estabilizadores da maioria das crianças de 2 anos, estão nos níveis iniciais. Elementar – envolve maior controle e melhor coordenação rítmica dos movimentos fundamentais. Melhora a sincronia espaço-temporal, mas os movimentos ainda são restritos ou exagerados, embora mais coordenados. Muitas crianças de 3 a 4 anos de idade apresentam movimentos no estágio elementar. Muitos adultos e crianças não vão além do estágio elementar em muitos padrões de movimento. Maduro – é caracterizado por desempenhos eficientes, coordenados e controlados. A literatura sugere que as crianças atinjam o estágio maduro por volta de 5/6 anos. As habilidades manipulativas desenvolvem um pouco mais tarde em função das exigências visuais e motoras mais sofisticadas.

Todas as alterações ocorridas nesses estágios serão no sentido de um refinamento das habilidades básicas para que o desenvolvimento seja mais eficiente e para que a criança consiga combinar estas habilidades da forma mais variada possível, o que irá marcar a passagem para a fase seguinte, a fase dos movimentos especializados.

A Educação Física adquire então um papel de fundamental importância, pois ela pode estruturar um ambiente adequado para a criança, oferecendo experiências, auxiliando o desenvolvimento humano, em especial ao desenvolvimento motor e garantindo a aprendizagem de habilidades específicas nos jogos, esportes, ginásticas e dança. Tani 1988

E ainda de acordo com Tani 1988, para que estas habilidades sejam desenvolvidas é necessárias que se dê à criança oportunidades de desempenhá-las. O movimentar-se é de grande importância biológica, psicológica, social e cultural, pois, é através da execução dos movimentos que as pessoas interagem com o meio ambiente, relacionando-se com os outros, apreendendo sobre si, seus limites, capacidades e solucionando problemas. Pois como é comum encontrar indivíduos que, não atingiram o padrão maduro nas habilidades básicas, nas quais apresentam um nível inicial ou elementar, o que prejudicará todo o desenvolvimento posterior, ressalta-se assim, a preocupação que os profissionais de Educação Física deveriam ter em relação ao conhecimento sobre a aquisição e desenvolvimento dos padrões fundamentais de movimento, elegendo-o como foco principal para o desenvolvimento da Educação Física na pré-escolar e nas séries iniciais do ensino fundamental. HABILIDADE ANDAR

A aquisição do andar erecto corresponde a um dos momentos mais importantes para a seqüência de desenvolvimento motor (Shirley, 1931). Costuma-se dizer que o andar envolve uma organização complexa de movimentos; com contínua perda e ganho de equilíbrio dinâmico, onde há alternância entre as fases da ação, da perna e fases de apoio. Há também uma fase de duplo apoio, importante para a manutenção do equilíbrio, que tende a desaparecer quando a velocidade de locomoção aumenta, e, assim, a forma de locomoção passa do andar para o. correr.

A progressão na seqüência de desenvolvimento é determinada em grande parte pela maturação (Gallahue, 1982; Wickstrom, 1983); visto que depende de força muscular, reflexos antigravitacionais e um mínimo funcionamento do mecanismo de equilíbrio.

O padrão imaturo do andar de uma menina de 14 meses e meio de idade, sete dias após ela ter feito suas primeiras tentativas, apresentou os braços em posição de "guarda alta", contato no solo com toda a planta do pé e "travamento simples do joelho da perna de oscilação" (Wickstrom, 1977).

Nas primeiras tentativas do andar independente, a criança perde facilmente o equilíbrio, mas, após este breve período, o desenvolvimento se apresenta de uma forma bem rápida. Sintetizando, Stewart (1980a) apresentou a seguinte seqüência de desenvolvimento do padrão fundamental do movimento de andar organizada em três níveis: Nível 1 - "A criança caminha com uma exagerada flexão do quadril e joelho, e coloca o pé para frente e para baixo de maneira abduzida, apoiando toda planta do pé no chão. Há pouca evidência de extensão do quadril, perna e tornozelo da perna de propulsão. Os braços permanecem numa posição de guarda alta e são usados primariamente para proteção, e a passada mais ampla é utilizada para proporcionar uma base estável de apoio". Nível 2 - "A flexão do quadril e do joelho é diminuída e os braços, ao lado do corpo, oscilam alternadamente em oposição às pernas, embora pareçam cruzar a linha média do corpo. Há uma diminuição da base de' apoio e a abdução do pé é diminuída”. Nível 3 - "A flexão do quadril e do joelho continua a diminuir, os braços são mantidos lateralmente, oscilando num arco vertical em oposição às pernas. A oscilação do braço é aumentada com o movimento para frente, sendo o

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dobro do movimento para trás. A base estável de apoio passa a corresponder às dimensões laterais do corpo, com o calcanhar tocando a superfície em primeiro lugar. O quadril, perna e tornozelo da perna de propulsão são amplamente estendidos”. O padrão maduro apresenta como pontos chaves, apoio pelo calcanhar, "travamento duplo de joelho" e oscilação coordenada de braços.

Estágio Inicial Estagio Elementar Estágio Maduro

Habilidade Correr

O correr é uma extensão natural do andar e se caracteriza por uma fase com apoio e uma fase aérea sem apoio. Alguns índices são tomados para avaliar as mudanças no correr, como a velocidade de corrida numa determinada distância e a relação entre amplitude e freqüência de passadas. Com o avanço da idade, a velocidade e a amplitude de passadas aumentam gradualmente, enquanto que a freqüência se mantém inalterada (Kirsch, 1970; Roberton, 1984). Outros estudos ainda reportaram a diminuição na altura do centro de gravidade durante as passadas, na distância do pé de apoio em relação ao centro de gravidade e aumento na altura do calcanhar na fase de recuperação (oscilação posterior) e na extensão da perna de impulsão (Wickstrom, 1975). O padrão imaturo do correr caracterizasse por uma corrida "saltada", com oscilação para os lados. Isto pode ser observado na corrida de um menino de dezoito meses de idade. A aquisição de o padrão maduro no correr é apresentada por Stewart (1980a) na seguinte seqüência de desenvolvimento:

Nível 1 - "A criança apresenta, na corrida, uma fase aérea (sem apoio) muito curta. O pé é apoiado no solo num ponto bem além do centro de gravidade. O apoio é feito com toda a planta do pé no chão, direcionando para fora os dedos da perna dianteira. Os braços são mantidos numa posição de guarda e a criança demonstra uma corrida saltada, quando o corpo é propulsionado para frente" (p. 47). Nível 2 - "A fase aérea é maior e o pé de apoio é colocado quase sob o centro de gravidade. Um menor direcionamento para fora dos dedos do pé é evidenciado e os braços são usados, costumando cruzar a linha média do corpo. Uma pequena flexão do cotovelo' é demonstrada. A corrida é menos saltada e há um aumento na elevação do joelho da perna da frente, enquanto que há uma maior extensão do quadril, joelho e tornozelo da perna de propulsão". Nível 3 - “Para uma corrida mais rápida, o apoio é feito pela ponta do pé e diretamente sob o centro de gravidade. A fase aérea é máxima. A extensão do quadril, joelho e tornozelo da perna de propulsão são aumentados”. O movimento dos pés para fora praticamente inexiste e a flexão do quadril da perna de oscilação para frente é máxima. Os braços oscilam em oposição às pernas numa posição antero-posterior, e estão numa posição de cotovelo flexionado. Segundo Wickstrom (1977), o padrão maduro apresenta as seguintes características: “O tronco mantém uma leve inclinação para frente durante o padrão de passadas”; - ambos os braços balançam, através de um amplo arco, no plano oblíquo vertical e numa oposição sincronizada em relação à ação das pernas; - extensão completa da perna de apoio no quadril, joelho e tornozelo, propulsiona o corpo para frente e para cima, fazendo com que o mesmo entre na fase sem apoio do padrão; - assim que a perna de recuperação oscila rapidamente para frente até a elevação alta do joelho, a parte inferior da perna flexiona trazendo o calcanhar perto da nádega; - o pé da perna de recuperação que se move de trás para frente toca o solo aproximadamente plano e sob o centro de gravidade; - o joelho da perna de apoio flexiona-se levemente após o contato do pé com o solo.

Estágio Inicial Estagio Elementar Estágio Maduro

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Habilidade Saltar

O objetivo do saltar é impulsionar o corpo à frente e/ou acima, através da ação de uma perna ou de ambas em conjunto, com ação efetiva dos braços para a impulsão, fase de vôo e aterrissagem. Esta característica possibilita uma variedade de formas em que a habilidade de saltar se manifesta.

Na mesma época em que a criança tenha desenvolvido a habilidade de correr, ela apresenta os requisitos necessários para saltar. Acredita-se que a percepção da dificuldade de cada novo salto pela criança é um dos fatores críticos que influenciam a progressão com a qual ela irá adquirir a habilidade de saltar.

Na forma usada para saltar, por um menino de 4 anos de idade, observa-se que ele, ao oscilar os braços para trás, leva o corpo para frente; no entanto, a ação do braço não é coordenada com a da perna e a extensão do quadril (Wickstrom, 1977).

A seqüência de desenvolvimento do padrão fundamental de saltar em distância parado foi apresentada da seguinte forma por Stewar (1980):

Nível 1 - "A criança salta mais no plano vertical do que no horizontal. Há pouco uso dos braços, seja na oscilação para trás ou' para cima. Os pés normalmente não deixam a superfície simultaneamente. Além disso, há uma pequena flexão preparatória nos tornozelos, joelhos e quadris, e muito pouca flexão destas partes na aterrissagem" (p. 51). Nível 2 - "A distância horizontal do salto aumenta, enquanto a vertical diminui. Os braços são usados em alguma extensão, mas não se estendem para trás do corpo durante’ a fase as preparatórias. Há um aumento na flexão dos tornozelos, joelhos e quadris durante as fases preparatórias e de aterrissagem". Nível 3 - "A flexão dos tornozelos, joelhos e quadris aumenta durante a fase preparatória e de aterrissagem. O ângulo de impulsão é diminuído até aproximadamente 15°. Há uma completa extensão dos tornozelos, Joelhos, quadris e braços durante a fase de impulsão. Durante a fase preparatória, os braços são estendidos, ao nível do ombro, para trás e para cima, bem atrás do corpo". No salto horizontal, o padrão maduro apresenta as seguintes características, segundo Wickstrom (1977):

- “As articulações são preparadas pelo agachamento e oscilação dos braços para trás e para cima”; - Os braços oscilam para frente e para cima. Com a extensão do corpo, há uma rápida sucessão de

extensões ao nível do quadril, joelhos e tornozelos (os movimentos continuam até que o corpo esteja completamente estendido e fora do solo);

- As pernas flexionam-se durante o vôo; - O quadril flexiona-se, levando os joelhos para frente, e os braços e tronco movem-se para frente e para

baixo; - As pernas estendem-se apenas antes da aterrissagem; - Os joelhos se flexionam, ao impacto com o solo, e o peso corporal se transfere para frente e para baixo na

linha do vôo. Para o desenvolvimento da forma madura do padrão fundamental do salto vertical, um problema básico é a

criança pensar que, o importante para o salto é elevar os pés o mais alto Possível.(Wickstrom, 1975), trazendo implicações como uma impulsão em que pouca força é aplicada: A forma imatura se caracteriza por uma ação dos braços que pouco auxilia o salto, já que são elevados apenas à altura da cintura, e tem-se ainda a extensão incompleta seguida de rápida flexão das pernas, além do salto apresentar uma grande componente horizontal Wickstrom (1975) afirmou que algumas tendências no desenvolvimento podem ser estabelecidas, como a ação dos braços, que se inicia mais cedo em relação à seqüência dos movimentos para o salto, o agachamento preparatório torna-se mais baixo, o tronco permanece numa posição mais erecta durante o agachamento preparatório, as pernas e todo o corpo são estendidos na impulsão, diminuição no deslocamento para frente do centro de gravidade, e, finalmente, o ajuste do timing dos movimentos dos braços com os demais movimentos do corpo.

A seqüência de desenvolvimento do padrão fundamental do salto vertical foi dividida em três estágios por Gallahue.

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Estágio inicial - O agachamento preparatório é inconsistente e há dificuldade em dar impulsão com os dois pés, com pobre extensão do corpo. Há pouca ou nenhuma elevação da cabeça e a ação dos braços não, está coordenada com a ação do tronco e pernas, sendo que pouca altura é obtida.

Estágio elementar -. A flexão do joelho excede os 90° no agachamento preparatório, havendo uma exagerada inclinação dó tronco para frente. A impulsão e feita com os dois pés, mas o corpo não se estende completamente, durante o mês e na fase de vôo. Os braços tentam ajudar no vôo (mas freqüentemente de maneira desigual) e equilíbrio, havendo um marcante deslocamento horizontal na aterrissagem.

Estágio Maduro – há uma flexão dos joelhos de 60 a 90° no agachamento preparatório. Na impulsão há uma vigorosa extensão nos quadris, joelhos e tornozelos, coordenados simultaneamente com a elevação dos braços. A cabeça eleva-se com os olhos focalizando o alvo. Há uma ampla extensão do corpo e elevação da cintura do lado do braço que busca o alvo, combinada com o abaixamento do outro braço no ponto mais alto de vôo. A aterrissagem é controlada, sendo feita quase sobre o ponto de impulsão. Uma série de estudos tem demonstrado que um aspecto crítico no desenvolvimento do padrão é a colocação ou não de objeto no alto a ser alcançado. Wickstrom (1983) reportou resultados sobre o padrão de crianças de 4 anos de idade que apresentavam uma forma imatura no salto vertical, mas, quando era colocado algum alvo a ser alcançado, as crianças demonstraram uma drástica melhora do padrão com uma, ação mais efetiva dos braços na impulsão e uma extensão bem marcante de todo o corpo. Wickstrom (1977) ainda apresenta as seguintes características do padrão maduro:

- “Há flexão do quadril, joelhos e tornozelos durante o agachamento preparatório”; - O salto inicia-se com uma vigorosa elevação para frente e para cima dos braços; - O impulso é seguido por vigorosa extensão do quadril, joelhos e tornozelos; - O corpo permanece em extensão até os pés estarem prontos para a aterrissagem e então os tornozelos,

joelhos e quadris flexionam-se para absorver o impacto com o solo.

Estágio Inicial Estagio Elementar Estágio Maduro

Habilidade Arremessar

No arremesso, o propósito é propulsionar um objeto o mais longe possível ou em direção a algum alvo arremesso envolve principalmente o braço, mas deve haver uma participação efetiva de todos os segmentos do corpo. Em geral, quando se fala em arremesso, entende-se arremesso por cima, contudo há também o arremesso por baixo e pelo lado.

Num estudo clássico sobre seqüência de desenvolvimento, Wild (1938) caracterizou bem tanto o padrão imaturo como o maduro do arremesso, que foram observados e categorizados dentro de uma seqüência de quatro estágios de desenvolvimento: Estágio 1 - A bola é arremessa da primariamente por uma extensão do antebraço e os movimentos do corpo e braço são inteiramente no plano antero-posterior. Os pés permanecem fixos, o corpo fica de frente para onde a bola é arremessada, havendo uma inclinação do tronco para frente quando o braço finaliza o arremesso. Estágio 2 - Os movimentos do braço e tronco são introduzidos também no plano horizontal. Na preparação, todo o corpo gira para a direita (no caso do executante ser destro), mas os pés permanecem fixos no lugar. O braço move-se num plano superior oblíquo acima ou na linha do ombro. O cotovelo está bastante flexionado. Então o corpo gira em direção ao arremesso, cabendo ao braço a ação iniciadora do arremesso. Estágio 3 - Há introdução de um passo a frente com a perna do mesmo lado de arremesso. Na preparação para, o arremesso, o peso é transferido para trás sobre a perna esquerda, o tronco gira para a direita, o braço oscila

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obliquamente sobre o ombro, numa posição retraída, e o cotovelo fica muito flexionado arremesso propriamente dito consiste num passo à frente, unilateral em relação ao braço de arremesso, com o tronco girando para a esquerda e depois se flexionando a frente. O braço oscila para frente, num plano oblíquo acima ou ao lado do ombro, finalizando com a extensão do cotovelo. Estágio 4 – Há oposição entre a perna e o braço de arremesso, com rotação do tronco e adução horizontal de braço na oscilação para frente.O início do arremesso propriamente dito não é feito com o braço de arremesso, mas com o giro do tronco em direção ao local para onde a bola será arremessada. Segundo Wickstrom (1977) o padrão maduro do arremesso apresenta as seguintes características: “Movimentos de preparação”.

- O corpo gira para a direita com o peso sobre o pé direito, e o braço de arremesso oscila para trás e para cima.

- Movimentos do arremesso - O pé esquerdo vai para frente na direção em que se intenciona arremessar; - O quadril então gira e os ombros, em seqüência, também giram, com o braço de arremesso permanecendo

atrasado; - O úmero gira medialmente e o antebraço é estendido com uma ação de açoite. - A bola é arremessada num ponto pouco acima da cabeça, com o braço quase estendido. Reversão O movimento continua até que o momento de força gerado pelo arremesso seja dissipado.

Estágio Inicial Estagio Elementar Estágio Maduro

Habilidade Receber

O receber, com o uso de uma ou ambas as mãos e outras partes do corpo, visa interromper e controlar uma bola ou outro objeto em sua trajetória. Este padrão fundamental de movimento requer uma habilidade com ênfase no aspecto temporal (Kay, 1969). Pode-se dizer que a criança sabe onde a bola está, mas não sabe onde a bola estará.

No padrão imaturo do receber, numa criança de quatro anos de idade que tenta receber uma bola, observa-se um problema comum nos níveis mais rudimentares, ou seja, ela gira a cabeça para o lado e coloca o tronco um pouco para trás.

Seefeldt, Reuschlein e Vogel (1972) apresentaram cinco estágios para o desenvolvimento do receber: Estágio. 1 - A criança coloca seus braços à frente, com os cotovelos estendidos e virados para cima ou em

direção ao plano médio sagital. Quando faz contato, os cotovelos são flexionados e os braços e mãos tentam segurar a bola, levando-a de encontro ao peito.

Estágio 2 - A criança prepara-se, para receber a bola com os braços à frente do corpo e com os cotovelos

estendidos ou levemente flexionados. A ação do braço inicia-se ao contato com a bola, que novamente será levada ao peito.

Estágio 3 - A criança prepara-se para receber a bola com os braços levemente flexionado e estendido em

relação ao ombro. Dois subestágios podem ser identificados: - A criança usa o peito como primeiro contato e tenta depois abraçar a bola; - A criança tenta pegar a bola com suas mãos e, havendo um erro, ela tenta usar o peito para controlar a

bola. -

Estágio 4 - A bola é recebida com as mãos, sem necessidade de outras partes do corpo; Os cotovelos são mantidos ao lado do corpo e flexionados, quando se iniciam os movimentos em direção a bola.

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Estágio 5 - Idêntico ao estágio anterior, só que a criança é obrigada a mudar a sua 'base estacionária para

receber a bola. Williams (1983) estabeleceu que o padrão maduro do receber surge ao redor dos 5 anos de idade e

apresenta as seguintes características: - “O corpo está alinhado de acordo com a chegada da bola”; - Os pés estão levemente em paralelo ou em posição de afastamento antero-posterior; - Os braços estão ao lado do corpo, os cotovelos flexionados. Mãos e dedos estão relaxados, mas levemente

flexionados e direcionados para o objeto que está chegando; - Os olhos seguem o vôo da bola até que o contato seja feito; - As mãos vão se colocar numa posição alta ou baixa de acordo com a trajetória da bola; - Quando a bola faz contato com as mãos, os cotovelos flexionam-se para absorver o impacto, e os dedos se

fecham sobre ela; - O peso é transferido, da frente para trás.

Estágio Inicial Estagio Elementar Estágio Maduro

Habilidade Rebater

Este padrão fundamental caracteriza-se pela propulsão de um objeto com uma parte do corpo ou com outro implemento. Vários problemas surgem para a organização do padrão fundamental. Um deles é a introdução de um novo elemento, que é o implemento utilizado para rebater. Assim, a criança tem que coordenar os segmentos do seu corpo mais o implemento. Caso o objeto, ao ser propulsionado, esteja estacionário, há o problema do posicionamento em relação a ele. Caso o objeto esteja em movimento, é necessário um rápido e preciso julgamento da trajetória do objeto, de maneira a iniciar. A resposta no tempo apropriado (Williams, 1983).

Wickstrom (1983) afirmou que a maioria das habilidades de rebater envolve geralmente um movimento do braço à lateral num plano horizontal. No entanto, o primeiro estágio deste padrão se desenvolve do arremesso por cima.

A progressão no desenvolvimento deste padrão partirá de uma ação no plano vertical, Passando progressivamente para planos oblíquos até chegar a um plano predominantemente horizontal (Wickstrom, 1983).

Outras características da progressão são apresentadas: - “Maior uso de um passo para frente, atrasando a ação do braço com o implemento. Este aspecto é de vital

importância para o padrão maduro”; - Maior liberdade na oscilação, com um aumento na amplitude de movimento nas várias articulações; - Rotação do tronco e quadril mais definida e antecipada à ação dos braços. (p. 176). As três tarefas de rebater, ou seja, o padrão de rebatida por cima, o padrão de rebatida lateral (plano horizontal)

e o padrão de rebatida oblíqua (a tacada no golfe), demonstram similaridade de' desenvolvimento intertarefas, com domínio do padrão por cima, precedendo o domínio do padrão lateral e este precedendo o oblíquo (Wickstrom, 1975).

A seqüência de desenvolvimento do padrão fundamental de rebater lateral foi dividida em três estágios, por Gallahue (1982): Estágio inicial - O movimento dos braços é de trás para frente e os pés estão estacionários. O tronco não gira e fica de frente para a direção da bola arremessada. Os cotovelos ficam bem flexionados. A força para a rebatida é aplicada pela extensão das articulações no plano descendente. Estágio elementar - O tronco gira para o lado em antecipação à. bola arremessada. O peso é transferido para o pé da frente antes do contato com a bola. Há uma rotação combinada do tronco e quadril e os cotovelos estão menos flexionados. A força para rebatida é aplicada pela extensão das articulações flexionadas, rotação do tronco e movimento para frente num plano oblíquo.

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Estágio maduro - O tronco gira para o lado em antecipação à bola arremessada e o peso é, transferido para o pé de trás; o quadril gira e a transferência do peso é feita num padrão contralateral. A mudança do peso para frente ocorre com um amplo e completo arco num padrão horizontal. No contato com a bola, tem-se a transferência do peso para o pé da frente.

Williams (1983) afirmou que o padrão-lateral, maduro com uma bola, estacionária é dominado pela criança por volta dos cinco anos de idade, e apresenta as seguintes características:

Fase preparatória - Os pés estão separados aproximadamente numa largura igual à do ombro e num sentido antero-posterior; - O corpo está perpendicular à linha de vôo da bola; - O tronco gira para trás e o peso é transferido para o pé de trás; - O cotovelo é mantido acima e a frente do corpo, com o implemento mantido acima e atrás dos ombros. Ação - O tronco gira em direção à linha da rebatida intencionada, com o quadril iniciando o giro;

- o peso é transferido para frente, em direção à rebatida; - Os braços oscilam para fora e para longe; - Os movimentos continuam depois do contato.

Estágio Inicial Estagio Elementar Estágio Maduro

Habilidade Quicar

Esta é uma habilidade na qual, para ter sucesso, a criança deve tocar a bola em seu centro de massa, com as mãos indo de encontro a ela, após a mesma voltar de seu contato com o solo.

Espenschade e Eckert (1980) afirmaram que, a origem deste padrão é a queda casual ou deliberada da bola, levando ao quicar.

Wickstrom (1983) apresenta as seguintes características do nível mais rudimentar de desenvolvimento: - “Os dedos das mãos, que têm contato com a bola, estão juntos e freqüentemente hiperestendidos”; - A ação do pulso fixo faz parecer que a criança está dando uma bofetada na bola; - A limitada extensão do cotovelo é seguida por uma rápida retração da mão de contato; - A coordenação olho-mão é pobre, resultando em uma variação no tipo de contato, na direção da batida, e,

no ritmo de contato (p. 231). A relação entre tamanho da bola e tamanho da mão é importante para o desenvolvimento do padrão

fundamental de movimento de quicar. Segundo Espenschade e Eckert (1980), uma bola pequena pode ser quicada a uma distância de 30 a 90 cm aproximadamente aos 27 meses de idade, e esta distância pode ser aumentada para 120 a 150 cm por volta de 40 meses. O padrão fundamental de quicar com uma bola grande pode ser dominado, primeiro, com ambas as mãos, com o quicar numa distância de 120 a 150 cm por volta dos 46 meses. Quicar uma bola grande com uma das mãos apresenta, como problema, o controle de bola e a necessidade de força suficiente. Estas dificuldades serão superadas por volta dos 71 meses de idade.Embora o quicar com as duas mãos possa aparentemente oferecer vantagens pela maior superfície de contato, alguns problemas surgem, como o posicionamento do corpo em relação à bola e o controle preciso e sincronizado de ambas as mãos no contato com a mesma. Isto levará, segundo Espenschade e Eckert (1980), à tendência de utilizar o padrão com apenas uma mão. A seqüência de desenvolvimento do padrão fundamental de quicar foi dividida em três estágios, por Gallahue (1982):

Estágio inicial - A bola é controlada com ambas as mãos, que se mantêm ao lado dela, com as palmas voltadas de frente uma para a outra. Há uma ação de bater na descendente com ambos os braços. A bola toca o solo bem próximo ao corpo, podendo tocar os pés. Também há uma grande variação na altura do salto da bola e um padrão repetido de quicar e pegar. Estágio elementar - A bola é controlada com ambas as mãos, uma em cima e a outra mais em baixo, para iniciar a ação; há uma leve inclinação à frente, com a bola elevada ao nível do peito. A batida descendente é feita com a mão mais em cima, mas com força inconsistente.A mão bate na bola, como se estivesse lhe dando uma bofetada,

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onde o pulso é flexionado e estendido, com a palma da mão tocando a bola em cada quicar. A criança mantém os olhos na bola, com muitas limitações no controle. Estágio maduro - Os pés são posicionados numa passada estreita, com o pé da frente opondo-se à mão que toca a bola, e com leve inclinação do tronco para frente. A bola eleva-se à altura da cintura e é empurrada ao solo com extensão do braço, pulso e dedos. A forma mais madura do padrão apresenta, segundo Williams (1983), as seguintes características:

- “Há flexão ao nível do joelho, quadril e abdômen”; - A bola é contatada com os dedos abertos; - A bola é empurrada para o solo com a extensão do cotovelo; - A altura da bola, no quicar, atinge aproximadamente a do abdômen; - Os olhos focalizam as mãos e a bola.

Estágio Inicial Estagio Elementar Estágio Maduro

MOVIMENTOS ESPECILIALIZADOS

Esta fase é o resultado da fase de movimentos fundamentais. Na fase dos movimentos especializados as habilidades locomotoras, manipulativas e estabilizadoras são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para uso em situações cada vez mais exigentes.

O aparecimento e a ampliação do desenvolvimento de habilidades na fase de movimentos especializados depende de muitos fatores da tarefa, individuais e ambientais, como por exemplo: tempo de reação, velocidade de movimento, coordenação, altura, peso, hábitos, pressão do grupo social, etc.

Um movimento especializado exige capacidade de executar uma ação complexa ou uma forma motora com alto grau de eficiência, combina vários elementos de movimentos e incorpora todos os fatores relativos ao desenvolvimento motor previamente aprendido.

São classificados nesse nível de desenvolvimento motor as habilidades relativas aos desportos e dança. É possível que crianças em idade pré-escolar estejam aptas a atingir esse nível, encontraremos exemplos disso nos nadadores infantis de idade pré-escolar. Uma criança nesta faixa etária pode ter o domínio máximo de uma habilidade, porém se ela apresentar um alto nível de desenvolvimento motor básico nos quatro níveis do domínio motor pode, entretanto, estar sujeita a ser destituída da maturidade total do comportamento motor em habilidades complexas, quando solicitada.

Os movimentos especializados se dividem em 3 estágios:

Estágio Transitório (dos 7 aos 10 anos) - começa a combinar e aplicar as habilidades motoras fundamentais para a performance de habilidades relacionadas ao esporte em ambientes recreacionais. Esse estágio contém os mesmos elementos que os movimentos fundamentais, mas com forma, precisão e controle maiores. São aplicações dos movimentos fundamentais em formas mais específicas e mais complexas. Ex: jogos, brincadeiras ou situações da vida diária. Estágio de Aplicação (dos 11 aos 13 anos) – acontece um aumento da habilidade cognitiva e as experiências ampliadas tornam o indivíduo capaz de tomar decisões sobre fatores inerentes à tarefa, a ela mesma e ao ambiente para participar de tarefas cada vez mais complexas. Nesse estágio os indivíduos começam a buscar ou a evitar a participação em atividades específicas. Há uma ênfase crescente na forma, habilidade, precisão e nos aspectos quantitativos de desempenho motor. Essa é a época para refinar e usar habilidades mais complexas em jogos mais difíceis, atividades de liderança e esportes selecionados. Estágio de Utilização Permanente – (14 anos e acima). A especialização representa o ápice do processo de desenvolvimento e é caracterizada pelo uso do repertório de movimentos adquiridos pelo indivíduo por toda a vida. Fatores como tempo disponível, dinheiro, equipamento, instalações e limitações físicas e mentais afetam esse estágio.

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