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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁNÚCLEO DE EDUCAÇÃO DE CURITIBA
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
COLONIZAÇÃO DO PARANÁ
Gustavo Davi Garbozza
Curitiba, 2008
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁNÚCLEO DE EDUCAÇÃO DE CURITIBA
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
COLONIZAÇÃO DO PARANÁ
Projeto em desenvolvimento na área de História, junto
a SEED e a UFPR, no Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE, sob a orientação do professor Drº
Dennison de Oliveira.
Gustavo Davi Garbozza
Curitiba, 2008
3
SUMÁRIO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ........................................................................04
APRESENTAÇÂO ............................................................................................05
PARANÁ TRADICIONAL ................................................................................06
A COLONIZAÇÃO DO LITORAL E DO PLANATO DE CURITIBA ............................06
A COLONIZAÇÃO DOS CAMPOS PONTA GROSSA, GUARAPUAVA E PALMAS .....08
IMIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO ..........................................................................11
COLONIZAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ ....................................................14
NORTE PIONEIRO ............................................................................................14
NORTE NOVO ..................................................................................................15
NORTE NOVÍSSIMO .........................................................................................16
COLONIZAÇÃO DO SUDOESTE E OESTE DO PARANÁ .............................17
SUDOESTE ....................................................................................................17
REGIÃO OESTE ..............................................................................................19
IMIGRAÇÕES INTERNAS, ÊXODO RURAL E URBANIZAÇÃO DO PARANÁ 21
IMIGRAÇÕES RECENTES NO PARANÁ E NO BRASIL ..................................24
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................24
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................25
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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor: Gustavo Davi Garbozza.
Área: História.
NRE: Curitiba.
Professor Orientador IES: prof.º Dr.º Dennison de Oliveira
IES vinculada: UFPR
Escola de Implementação: Colégio Estadual La Salle.
Público objeto da intervenção: Alunos/ as da 7ª série do Ensino
Fundamental.
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APRENTAÇÃO
Este trabalho foi elaborado como parte do Programa de Desenvolvimento
Educacional, junto a Secretaria de Estado de Educação do Paraná e sob a
orientação do Professor Drº Dennison de Oliveira, vinculado à Universidade
Federal do Paraná.
Constitui-se de um Caderno Temático que será utilizado como material
didático destinado a alunos da 7ª série do Colégio Estadual La Salle. Assim,
como parte do projeto intitulado Os descendentes dos Colonizadores do
Paraná, o aluno, através de sua hereditariedade, buscará identificar em qual
das etapas de colonização ou imigração a sua família está inserida. Para tal, ele
deverá consultar registros de nascimento de pais e avós, fotos e objetos, além
de relatos e curiosidades transmitidas oralmente de geração em geração.
Pretende-se, com isso, observar se o interesse pelo estudo da História melhora,
a partir do momento em que o aluno se reconhece com sujeito histórico.
Este trabalho está fundamentado na perspectiva da "história vista de
baixo" de Edward Thompson, Carlos Ginzburg, Eric Hobsbawm, Peter Burke
(1999) dentre outros, ou seja, pretende-se despertar o imaginário investigativo
do aluno e o interesse maior pela pesquisa, utilizando-se de documentos que
na maioria das vezes estão esquecidos no fundo da gaveta. Promovendo assim,
um sentido de identidade entre aquilo que lêem e sua origem. Assim “a história
vista de baixo ajuda a convencer aqueles de nós nascidos sem colheres de
prata em nossas bocas, de que temos um passado, de que viemos de algum
lugar” (BURKE,1999.p.62).
Dessa forma podemos resgatar valores, analisar relações de tempo e
espaço, mudanças e permanências e desenvolver uma consciência histórico
crítica em nossos educandos, projetando suas ações para futuro sem nos
afastarmos do conhecimento já elaborado.
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PARANÁ TRADICIONAL
No final do século XV, os europeus, em especial Portugal e Espanha
Chegaram América, dividindo-a entre si pelo tratado de Tordesilha.
A parte que coube a Portugal, passou a ser explorada a partir de 1500 e
posteriormente, a partir de 1532, foi colonizada.
No Paraná, quando os portugueses Chegaram, no final do século XVI, a
partir da Capitania de São Vicente, encontraram uma terra habitada por povos
pré-ceramista tais como os Jês, Kaikangs e xokleng pertencentes a família
lingüística Jê e Tupi-Guarani. Estes povos possuíam a terra e no entanto, esta
lhe foi tirada para que a colonização do Paraná se inicia-se.
É essa a colonização que se pretende estuda-lá nessas poucas páginas
subseqüente, seguindo uma linha didática proposta por CARDOSO e
WESTPHALEN, ou seja, subdividindo o estudo do assunto em três fases: a do
Paraná Tradicional, que se estende do século XVI ao XIX, com a ocupação
basicamente do litoral, do Planalto de Curitiba, dos Campos Gerais e dos
campos de Guarapuava e Palmas; e as do Paraná Moderno, já no século XX,
estando o Norte, ligado ao avanço de paulista em terras paranaense
objetivado aumentar a área de plantio do café, e o Sudoeste e Oeste, que a
princípio ficou ligado a imigração de colonos do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina.
A COLONIZAÇÃO DO LITORAL E DO PLANATO DE CURITIBA
A Baia de Paranaguá, foi a primeira região da costa Meridional a ser
percorrida pelos portugueses, logo após as primeiras expedições exploradoras.
A penetração ocorreu a partir dos primeiros moradores de Cananéia e da
Capitania de São Vicente, atualmente corresponde ao Estado de São Paulo.
Na década de 1550, os vicentinos aportaram na ilha de Cotinga, próximo
ao continente, onde tiveram contato com índios da região e fizeram uma
primeira povoação. " As boas relações de amizade e de escambo com os
Carijós, provocaram o processo de povoamento de ilhas, desembocaduras de
rios e recôncavos" (FREITAS, 1999, p.59). Ironicamente a primeira bandeira
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paulista que esteve em nosso litoral em 1585, fez guerra aos Carijós.
Nesse sentido, o litoral e mais tarde o primeiro planalto teria sido
colonizado a partir da irradiação de dois núcleos. O primeiro diz respeito às
iniciativas oficiais do Rio de Janeiro, ou seja, coroa portuguesa ao lidar com o
alargamento da fronteiras para além do Tratado de Tordesilhas e a luta contra
os espanhóis. Já no segundo foco podemos identificar a ação de bandeirantes
"vicentinos" e "empresas audaciosas de exploração, guerra e preagem aos
nativos, e depois na procura das pedras e dos metais preciosos" ( NADALIN,
2001, p.37).
A busca do ouro por paulistas vindos de São Vicente, São Paulo de
Piratininga, Santos e Cananéia deu origem à povoação de Nossa Senhora do
Rosário de Paranaguá, primeira localidade paranaense elevada a vila em 1648.
Assim, os dois primeiros séculos da presença do colonizador em território
paranaense caracteriza-se como uma migração espontânea estimulada pela
"preagem" de indígenas, para serem utilizados como escravos e, a ambição de
encontrar ouro. " Todavia, a procura dos metais, fruto da ação conjunta das
bandeiras, das ações individuais dos garimpeiros e da capitania do Rio de
Janeiro, esteve sempre presente e, do ponto de vista do povoamento, foi
preponderante" (NADALIN, 2001, p.41).
A colonização do Primeiro Planalto , desde o sopé da Serra do Purunã à
encosta da Serra do Mar se deu por dois caminhos: Através do vale do rio
Ribeira e seu afluente o rio Assungui, paulistas atingiram o Planalto de Curitiba.
Juntando-se a estes, "gente do litoral", ultrapassavam a Serra do Mar, através
do caminho de Piaberu, atualmente parte da estrada da Graciosa. Esse
primeiros "aventureiros" fundaram os povoados: Assungui de Cima e Curitiba.
De fato, o ouro foi o estímulo fundamental na ocupação do litoral e
planalto curitibano. Descoberto algum ouro de lavagem, já na segunda
metade do século XVI na região de Iguape e posteriormente no litoral
paranaense, o que estimulou a devassagem de toda região incluindo o espaço
geográfico entre Paranaguá e Curitiba. Já no final do mesmo século e início do
século XVII.
Além do planalto curitibano, a partir de 1645, foi encontrado ouro em
Jaguariaiva, Assungui e Tibagi. E em 1712 e 1741 o ouro foi encontrado
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respectivamente em Laurinhas, no Campo Largo e em São José dos Pinhais.
Com a notícia da descoberta de ouro no planalto, faiscadores
continuavam a subir a serra fundando Arraiais: " na Borda do Campo (Atuba,
Vilinha e Vila dos Cortes); Arraial Grande (São José dos Pinhais) e Arraial
Queimado (Bocaiúva). Porém, o ouro logo se esgotou o que levou (...) os grupos
que vieram do litoral, a partir de 1640, a explorar o pastoreio" (NADALIN, 2001,
p.43). Desse modo, enquanto no litoral se desenvolvia o comércio, as lavouras
diversas e as atividades portuárias, Curitiba assinalava para a pecuária.
A COLONIZAÇÃO DOS CAMPOS PONTA GROSSA,
GUARAPUAVA E PALMAS
No desenrolar do século XVII, Portugal vê afluir em mercados europeus
uma grande oferta de produtos tropicais ofertados por colônias francesas e
inglesas impondo-lhes uma crescente concorrência.
Fato análogo estava ocorrendo na outra margem do Atlântico. Em 1630
os Holandeses chegaram ao Nordeste brasileiro, ocuparam a "terra do açúcar"
e seu lucrativo comércio. Quando finalmente foram expulsos, em 1654,
dedicaram-se a produzir o "doce produto" nas suas colônias antilhanas,
passando a ofertar ao mercado um produto mais barato, desbancando assim o
concorrente brasileiro.
Enquanto a crise atinge Portugal e o Nordeste brasileiro, a região do
Prata, se especializava na criação de gado, sendo o couro um subproduto de
exportação. Já os esforços portugueses traduziam-se na "tentativa de dominar
parcialmente esse mercado, inclusive organizando um entreposto de
contrabando com Buenos Aires"( NADALIN, 2001.p.46). A fundação da Colônia
de Sacramento em 1640, traduzia esse interesse de integrar a região sul aos
domínios portugueses. Pois se por um lado havia a necessidade de dominar a
economia Meridional, por outro havia a necessidade de alargar as fronteiras.
A descoberta de ouro em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiáis, no século
XVIII, tendo muitos antigos mineiros migrando para lá. Já os que aqui ficaram,
povos entre o litoral de paranaguá e os campos de Curitiba passam a
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configurar "uma única base geográfica para uma mesma comunidade regional
que, embora prolongamento daquela paulista, já podia ser denominada de
comunidade paranaense" (CARDOSO e WESTPHALEN, 1986, p.42).
Nesse cenário as autoridades portuguesas reorganizam a colônia. A
capital que até então estava sediada em Salvador é transferida para o Rio de
Janeiro e de lá, na contra-mão do ouro, eram enviados alimentos e produtos
importados à regiões das minas. Já as regiões que mantinham criatórios, tais
como Curitiba, Lages e São Pedro estavam incumbidos de enviarem carne e
muares.
A descoberta de ouro nas Gerais fez crescer a demanda de alimentos
estimulando produtores e comerciantes para um novo e lucrativo comércio. A
região Sul do Brasil, desde o norte do Uruguai, se estruturou no sentido de
enviar aos mineiros carne (gado), cavalos e mulas. Nesse sentido, a partir da
década de 1720, foi construída a estrada por onde o gado seria tocado. O
caminho ligava Viamão no Rio Grande do Sul, passando pelos campos gerais
no Paraná, até Sorocaba, onde os comerciantes mineiros, fluminenses e outros
vinham buscar os animais para revende-los nas regiões das minas. Em 1731,
pelo Caminho de Viamão passou a primeira tropa de aproximadamente 2000
animais, tangidas do sul do país, dando início assim ao topeirismo rompendo o
isolamento dos que viviam nos campos de Curitiba.
Ao longo do caminho dos tropeiros, organizam-se ''pousos'', currais e
núcleos de arraias dando origem a povoados e vilas. "A primeira foi Castro
(pouso do Iapó), depois a Lapa (Vila do Príncipe), Palmeira (Freguesia Nova),
Piraí (Furnas), Tibagi" (NADALIN, 2001, p .48) e, no início do século XIX, Ponta
Grossa, Jaguaiaíva e Guarapuava. Já com finalidades de exploração, ligado às
entradas, foram fundadas: no litoral, Guaratuba, Morretes, Porto de Cima, e
Antonina; nos campos curitibanos, Campo Largo, Rio Negro, Rio Branco do Sul
e Piraquara e; ao sul, Rio Negro/Mafra e Porto União da Vitória.
Em 1750 Portugal assinou com a Espanha o Tratado de Madrid em
substituição ao de Tordesilha, fundamentado no princípio do uti-possidetis, ou
seja, tem direito à posse da terra quem a possui de fato. Dito em outras
palavras quem conquistar primeiro torna-se o proprietário legitimo. Esse
acordo estimulou a ocupação de terras cada vez mais para o ocidente.
10
“No bebedouro do Largo da Ordem, os tropeiros e fazendeiros da região de Curitiba, costumavam dar de
beber a seus cavalos e mulas. Data de meados do século XVIII” (http://www.diaadia.pr.gov.br).
Inicialmente as fazendas do Paraná, além de disponibilizar bons pastos
ao animais, cumpriam a obrigação de "receber, cuidar, dar pouso e
divertimento aos tropeiros" (SCHMIDT,1996, p.40). Porém, a medida que o
tropeirismo se intensificava, os Campos Gerais passam de zona de pastagem
para zona produtora estimulando a procura de novos pastos para a criação e
engorda de animais.
"Na esteira das expedições militares e as fortificações erguidas pelos
soldados, o gado continuou a penetrar e se expandir mais para oeste, e seus
proprietários requeriam em função disso sítios e fazendas" (NADALIN, 2001,
p .51).
Seguindo nessa direção, em 1693, os portugueses descobrem os campos
de Guarapuava e em 1839 duas bandeiras exploraram os campos de Palmas,
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dando início a implantação de fazendas de gado. Completava-se assim a
ocupação das áreas campestres no Paraná. Já as regiões de mato que
intercalavam os campos, por serem mais propícias à agricultura, abasteciam a
sociedade campeira.
A ocupação de terras para a prática da pecuária vai definido o latifúndio
como modelo de propriedade. Já a "sociedade que se organizou em função do
tropeirismo era fundamentava-se na relação senhor-escravo" (ANDREAZZA E
TRINDADE, 2001, p.22). Para que isso acontecesse índio tiveram que perder a
suas terras, foram mortos, aculturados ou escravizados juntamente com
negros trazidos forçadamente da África.
IMIGRAÇÃO E COLONIZAÇÃO
A Europa no final da Idade Moderna estava passando por profundas
transformações tecnológicas, econômicas e sociais, desembocando nas
Revoluções Francesa e industrial. Num quadro de crescimento econômico e de
surgimento de um capitalismo industrial, desencadeia-se um grande aumento
populacional, tendo alguns países duplicado os seus habitantes num período
de 50 anos. E, enquanto artesãos estão sendo vencidos pela concorrência das
fábricas assiste-se ao surgimento de uma mentalidade individualista.
No campo, a exploração agrícola em grandes propriedades expulsam os
trabalhadores. Já nas cidades, essa população torna-se mão-de-obra barata
para as fábricas, "eram obrigados a aceitar baixos salários, exaustivas
jornadas de trabalho e viver em cidades cada vez mais superpovoadas e
pauperizadas" (NADALIN. 2001, p.62).
É nesse quadro de avanço do capitalismo, crescimento populacional e
agravamento das condições sociais que nada menos de sessenta milhões de
europeus decidem emigrar. "Emigrar para trabalhar, para lavrar, plantar e
criar; para construir algo seu, eventualmente uma família - na medida do
possível, construir fortuna", (NADALIN, 2001, p.62) ou seja, "fazer a América".
Enquanto na Europa se desenvolve um mecanismo de repulsão, o Brasil,
faz propaganda para atrair imigrantes. Num primeiro momento entre 1808 a
1850, o incentivo a imigração volta-se para ocupação de "vazios demográficos"
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"Para as autoridades brasileiras do século XIX, que num primeiro momento estavam apenas
preocupadas com o povoamento do Brasil, eram bem-vindos os imigrantes europeus de origem
camponesa, que se radicassem em pequenas propriedades, organizadas a partir do labor familiar
e sem escravos. pensava-se que este tipo de estabelecimento, além de povoar o Brasil, teria
efeito pedagógico. Além de inovar no que concerne à ruptura do sistema do latifúndio, os
imigrantes deveriam introduzir no país novas e produtivas técnicas agrícolas, ensinando-as aos
que habitavam a terra, junto com as virtudes do trabalho' (NADALIN. 2001, p.65)
É baseado nesse princípio que são criadas as primeiras colônias de
imigrante no Paraná. Em 1818, em Rio Negro foram instaladas 50 famílias de
açorianos e mais tarde, em 1828, foram enviadas à região 20 famílias de
alemães; em 1847, foi fundada uma colônia francesa (Thereza) às margens do
Ivaí e; na década de 50, reunindo colonos Suíços, franceses e alemães, funda-
se uma nova colônia no Superaguy em Guaraqueçaba.
Num segundo momento, a partir de meado do século XIX, os imigrantes
serão atraídos para substituir a mão-de-obra escrava. Pois, em 1850 foi
aprovação da Lei Euzébio de Queirós, proibindo o tráfico negreiro para o Brasil.
Inicialmente as regiões mais prosperas, compram escravos em outras
províncias, porém, a medida que se avança pela década a escravaria
valorizava-se, dai opção pelo imigrante.
Em território paranaense, à medida que se avança pelo século XIX, torna-
se mais lucrativo para o fazendeiro alugar os pastos para o tropeiro. Os
escravos, em parte, são vendido a cafeicultores paulistas, os criatórios são
reduzidos e as famílias começam a se mudar para a cidade.
Concomitantemente toma vulto a exportação de erva-mate e madeira,
acelerando o processo de urbanização. É nesse cenário que, em 1853, ocorre a
emancipação política do Paraná, ou seja, nos separamos de São Paulo.
A revenda de escravos a fazendeiros paulistas, a transferência de
trabalhadores para a crescente economia do mate e a urbanização veio
agravar o sistema de abastecimento de gêneros alimentícios. " A introdução de
colonos começou a ser vista como um remédio para resolver o problema de
carestia e dos altos preços dos alimentos" (NADALIN,2001. p.72). Essa foi a
razão dominante que justificou a política imigratória do Paraná, na segunda
metade do século XIX.
"Foi na região de Curitiba que melhor se desenvolveu a atividade colonizadora,
compreendendo o estabelecimento de alemães e suíços, italianos e poloneses,
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secundados em importância por franceses, ingleses e escadinavos".
(NADALIN,2001. p.77). Considerando-se satisfatório os resultados do programa
este se estende para o litoral e para os Campos Gerais com os "alemães de
Volga", em 1878. Porém, a partir deste, o governo provincial reduzirá a sua
participação financeira diminuindo o número de imigrantes instalados na
região na década seguinte.
Carroça utilizada por imigrantes poloneses. Esse exemplar encontra-se em exposição no bosque do Papa
João Paulo II. ( http://www.diaadia.pr.gov.br).
Com a abolição da escravatura, da proclamação da República e a
intensificação da publicidade, somando-se a iniciativas particulares, a
imigração se intensifica novamente a partir do final da década de 80. Os novos
imigrantes agora seria atraídos para construção de redes ferroviárias e
instalação de linhas telegráficas.
Um novo período se inicia a partir de 1885. Desta data até 1951,
organizou-se, no Paraná, “86 colônias e núcleos coloniais implicando a
instalação de quase 70.000 imigrantes poloneses italianos, alemães,
14
ucranianos, japoneses e, finalmente holandeses” (NADALIN,2001. p.78).
A partir de 1951 o fluxo migratorio para o Paraná, se intensifica a partir
de uma imigração interna. Ondas migratoria provenientes de São Paulo, Rio
Grande do Sul e Santa Catarina colonizarão os grandes “vazios demográficos”
paranaense.
COLONIZAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ
NORTE PIONEIRO
O Norte Pioneiro compreende a região entre os rios Paranapanema,
Itararé e Tibagi. É a partir do Norte Pioneiro que se inicia a colonização /
ocupação do Norte do Paraná. Tendo sido fundada a 1ª colônia, Colônia Nossa
Senhora da Conceição do Jataí, em 1854, e posteriormente o aldeamento de
São Pedro de Alcântara e de São Jerônimo. E em 1896, a colônia do Jataí foi
emancipada "dando origem a Jataizinho, primeiro núcleo colonizador oficial do
Norte do Paraná" (STECA e FLORES, 2002, p.122).
Os primeiros colonizadores eram em sua maioria de mineiros e paulistas,
que começaram a chegar na região a partir da década de 1840. Estes deram
origem a municípios tais como: São José da Boa Vista, Colônia Mineira ( hoje
Siqueira Campos), Ribeirão Claro e Jaboticabal (atual Carlópolis), Água do Prata
(hoje Jacarezinho), Água do Alambari( deu origem a Cambará).
A sociedade que se formou na região seguia os mesmos padrões da
sociedade mineira e paulista, ou seja, o latifúndio, o trabalho escravo e o
patriarcalismo. Plantavam algodão, arroz, feijão e milho. Já a produção de café
"como parte da expansão da área plantada que vinha de São Paulo (...) se
inicia em escala apreciável por volta de 1860" (OLIVEIRA, 1999. p. 33). Porém,
a comercialização era difícil, não havia estrada que ligasse a região com o
resto do estado, e mesmo com São Paulo, eram picadas de péssima qualidade.
"Seria somente a partir de 1924 que essa região começaria a se integrar de forma mais
consistente à economia paranaense. Naquele ano, quase trinta mil sacas de café do norte do
Paraná seriam escoadas pelo Porto de Paranaguá, em contraste com menos de duzentos sacas
exportadas em 1920" (OLIVEIRA, 1999. p. 33).
A fertilidade do solo da região serviu de atrativo também para o
imigrante. Se estabelecendo na região muitos Japoneses, italianos e alemães.
15
NORTE NOVO
A região denominada Norte Novo compreende a área que se estende
desde Cornélio Procópio até Londrina. Esta era povoada por índios Coroados e
caboclos.
"A colonização dessa região esteve a cargo da Companhia de Terras Norte do Paraná, fundada por
empresários britânicos. Tendo comprado meio milhão de alqueires do governo do Estado em
1927, a Companhia se dedicou a partir daí à venda de lotes para pequenos e médios fazendeiros,
em sua maioria interessados no cultivo do café. O tamanho dos lotes girava em torno de 15
alqueires. No início da década de 1950, quase 400 mil alqueires haviam sido vendidos, totalizando
26mil lotes rurais" (OLIVEIRA, 1999. p. 33).
A colonizadora partiu do princípio de que a região era "despovoada".
Pergunta-se: "O que teria sido feito com os índios Coroados? (...) a Companhia
criara um corpo policial que encarregou-se de expulsar os índios e os posseiros
que se recusassem a negociar suas terras" (STECA e FLORES, 2002. p.140).
A fertilidade da terra da região atraiu imigrantes ingleses, japoneses,
eslavos, portugueses, alemães, espanhóis, libaneses, além de
paulistas,mineiros e nordestinos; já década de 1930, a região de Rolândia foi
escolhida para receber imigrantes Judeus-alemães. Estes fugiam da
perseguição nazista na Alemanha. Assim, os imigrantes passaram a ser os
novos ocupantes das terras. "Estes, deveriam adquirir as terras por meio da
compra, e habitar os núcleos urbanos para garantir o desenvolvimento do
comércio" (STECA e FLORES, 2002. p.139).
Com resultado dessa política, surgiram na região, até a década de1950,
110 núcleos urbanos, 62 destes foram criados pela própria Companhia. O
melhor exemplo desse processo é a cidade de Londrina, cede da CTNP, teria
sido fundada em homenagem a Londres. O capitalismo inglês estava se
enraizando no Norte do Paraná.
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NORTE NOVÍSSIMO
A última área a ser colonizada no Estado do Paraná, recebeu o nome de
Norte Novíssimo. Corresponde à Região do Vale do Ivaí e compreende cidades
como Paranavaí, Umuarama, Cianorte e Campo Mourão.
A micro região de Campo Mourão pertencia à Província de Guairá, sendo
habitada por indígenas das tribos kaingang, Guarani e xetá. As primeiras
incursões de europeus à região, datam do século XVI, e as vias de acesso para
a região eram o Caminho de Peabiru e a navegação fluvial.
A região desde 1541 foi alvo de disputas territoriais entre portugueses e
espanhóis, mas somente em 1872, a partir dos criadores de gado de
Guarapuava que ocorreu a posse efetiva da terra, iniciando-se a colonização.
Em 1906 foi aberto um picadão que ligava Campo Mourão a Pitanga e
num prolongamento maior foi construída em 1910 e melhorada em 1939, a
Estrada Boiadeira de Arapongas, passando pela região, atingindo o Mato
Grosso.
O interesse maior pela região ocorreu somente a partir de 1938 com a
Marcha para o Oeste. "Era a idéia de desbravar e colonizar as terras devolutas
do Estado. O governo brasileiro, para agilizar esse processo, contratava obras,
pagando às empreiteiras com terras. Como o pagamento era feito adiantado,
empresas estrangeiras (...) beneficiara-se disso, adquirindo terras no Estado do
Paraná" (STECA e FLORES, 2002. p.167).
Empresas como a Brasi Rialway e sua subsidiária a Cia Brasileira de
Viação e Comércio S/A - BRAVIACO; Sociedade Imobiliária do Paraná; a Cia
Melhoramentos Norte do Paraná, antiga CTNP; Cia Agricula Lunardelli e a
Nicolau Lunardelli & Cia; imobiliária paulista Byngton; Sociedade Técnica
Engenheiro Beltrão Ltda; dentre outras, adquiriram grandes extensões de
terras que podiam variar entre 9.860 alqueires a 317 mil hectares. A título de
exemplo, a empresa São Paulo - Rio Grande recebera terras do governo do
Estado, próximo a Paranavaí, como pagamento à construção do ramal
ferroviário Guarapuava - Foz do Iguaçú.
O Estado também efetivara um projeto de colonização a extremo Oeste.
Através do interventor do Paraná, Sr. Manoel Ribas, em 1933, arquitetou-se um
17
projeto de colonização entre os rios Paraná e Ivaí a Colônia Paranavaí. Eram
vendidos lotes de no mínimo 10 alqueires a preços simbólicos e a cada família
era permitida a compra de no máximo quatro colônias (lotes).
A população que se dirigia a região do Norte Novo, eram procedentes do
Norte do Paraná, de São Paulo, Minas gerais, Bahia e do Nordeste brasileiro,
ligados a expansão do café. Havia também os que vinham do Sul,
descendentes de imigrantes europeus. Estes eram safristas, ou seja, além da
exploração madeireira, plantavam milho, arroz, feijão hortelã, café e algodão e
criavam animais. "a partir de 1950, a criação de porcos e o plantio de milho era
forte na região (...). Vendiam-se os porcos em Apucarana, para onde eram
levados a pé, usando balsa para transpor o Rio Ivaí. O percurso todo durava
cerca de uma semana" (STECA e FLORES, 2002. p.165).
COLONIZAÇÃO DO SUDOESTE E OESTE DO PARANÁ
O SUDOESTE
O Sudoeste, como toda a região Oeste, era habitada pelos pelos índios
tupis-garani, estes a centenas de quilômetro do vicentinos, não ficaram imunes
aos ataques dos bandeirantes. Os que não fugiram para o sul foram
aprisionados ou mortos. Assim, a região torna-se uma terra de ninguém, sendo
mais tarde reocupada pelos caigangs botocudos.
Na segunda metade do século XIX, "caboclos" passaram a se deslocar
das regiões de Palmas e Clevelândia para ocupar as terras do Sudoeste. Onde
plantavam feijão, milho e outros produtos para atender as suas necessidades
básicas e colhiam erva-mate (nativa da região), vendendo-a para comprar sal,
roupas e armas. Assim segundo Iria Z. Gomes, a fase anterior a 1940, "ocorre a
ocupação extensiva terra, que se caracteriza por uma 'economia cabocla',
voltada basicamente para a exploração da erva-mate, madeira e criação de
suínos” (2005, p.13).
Ainda nessa primeira fase de ocupação do Sudoeste, a partir de 1893,
gaúchos envolvidos na Revolução Federalista do Rio Grande do Sul, vem juntar-
18
se à população cabocla da região. Eram na maioria soldados refugiados e ou
fugitivos das perseguições política, dentre outros.
Por motivos diversos outras levas de povoadores se deslocaram para o
Sudoeste.
"Eram peões das fazendas de Clevelândia e Palmas à procura de oportunidades; das regiões de
Guarapuava e Campos Gerais, que queriam terras para cultivar gêneros de subsistência;
procurados pela justiça dos Estados do Paraná e Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Corrientes
(Argentina); posseiros expulsos das terras da região do Contestado, pela Brasil Railway Co.;
argentinos e paraguaios que procuravam ervais nativos e, as pessoas nascidas na região (STECA
e FLORES, 2002, p.74).
Numa tentativa de assentar os "caboclos" que continuavam a migrar
para o Sudoeste, em 1918, o governo do Estado fundou a CoLônia Bom Retiro
os rios Pato Branco e Vitorino. Porém a demarcação dos lotes e o assentamento
dos "caboclos" transcorriam de maneira muito lenta. Lento também era o
recebimento do título definitivo de posse, podendo levar até vinte anos.
Outra iniciativa oficial que marcou a colonização do Sudoeste foi a
criação da Colônia Agrícola Nacional Osório - CANGO. Criada pelo então
presidente Getúlio Vargas, em 1943, marcará a fase de ocupação intensiva
Sudoeste. " Esse processo, iniciado na década de 40, intensifica-se na década
seguinte com os imigrantes gaúchos e catarinenses descendentes de
europeus" (GOMES, 2005, p.13).
Com sede em Marrecas (atual Fco Beltrão), a CANGO abrangia uma faixa
de 60 quilômetros de fronteira, destinada a assentar pequenos produtores sem
terra. O agricultor poderia receber em média lotes de 10 a 20 alqueires. Ele
"chegava, recebia a terra, a casa, ferramentas agrícolas, sementes, assistência
dentária e médico-hospitalar" (GOMES, 2005, p.16).
"O sistema de pequena propriedade adotado na colonização, sem ônus
para o agricultor, com serviço de infra-estrutura e assistência de saúde e
educação, aliado a uma forte propaganda que se fazia no RS, atraiu em
poucos anos milhares de família para a região" (GOMES, 2005, p.17). É bom
lembrar que através da CAMGO tentava-se viabilizar a estratégia da chamada
"Marcha Para Oeste", no sentido de alargar as fronteiras econômicas, integrar
novas áreas e produzir alimentos para os grandes centros Urbanos.
19
REGIÃO OESTE
A região Oeste do Paraná confronta-se com o Paraguai e a Argentina. E
em 1777 foi assinado o Tratado Ildefonso, delimitando as fronteiras entre Brasil
e Argentina pelos rios Peperi-Guaçú e Santo Antônio. Porém, na prática
portugueses e espanhóis continuavam a cruzar as fronteiras ficando esta
indefinida.
Inesperadamente, em 1857, a Argentina passa a contestar o tratado de
1777. "Segundo o representante daquele país, a fronteira ficaria na altura do
rios Chapecó e Chopim, empurrando assim, a fronteira por 30,62 Km adentro
do território brasileiro" (STECA e FLORES, 2002, p.91).
Diante do problema duas colônias "agromilitares" foram criadas foram
fundadas em 1857. Eram a Chapecó, em Santa Catarina e a Chopim, próximo a
Mangueirinha, no Paraná.
Posteriormente, em 1889, ainda sob estratégia de defesa do território, foi
fundada a Colônia Militar de Foz do Iguaçú. Porém, na prática os funcionários
da Colônia de Foz pouco colaboraram com o objetivo para que fora criada.
Antes, envolveram-se em práticas de contrabando e enriquecimento ilícito,
cobrando altas taxas de impostos sobre o comércio da erva mate e da madeira.
Nem os produtos de subsistência eram produzidos pela Colônia, sendo os
colonos obrigando compra-los de comerciantes paraguaios e argentinos. Assim
os argentinos que desde o século XIX haviam se instalado para explorar os
ervais e a Madeira, dando origem as obrages, "exerciam completo domínio,
fosse econômico ou político na região, muitas vezes facilitados pela
'inoperância administrativa das autoridades brasileiras', que abandonaram a
região" (STECA e FLORES, 2002, p.93).
Nas obrages (fazendas que explovam madeira e mate) o trabalhador era
contratado em um sistema que se assemelhava ao Trabalho Compulsório. O
idioma local era o espanhol e a moeda era o peso argentino. A Empresa Mate
Laranjeira, argentina, que tinha um porto em Guaíra, controlava a economia da
região e não permitia que os trabalhadores explorasse a erva mate por conta
própria.
A situação descrita acima persistiu por décadas, quando finalmente em
20
1924, jovens tenentes do exército brasileiro iniciaram um processo
revolucionário conhecido como Movimento dos Tenentes Tenentismo. O
governo (através das tropas legalistas) reagiu e os tenentes fugiram para o
Oeste do Paraná, alojando-se em Foz do Iguaçú e Guaíra. Onde foram
combatidos, tendo que fugir para o Mato Grosso e Paraguai.
"Quem mais sentiu os efeitos da Revolução Tenentista foram as empresas obrageras, pois veio a
público o tipo de trabalho que ali se desenvolvia, ressaltou a importância de se pôr um fim ao
contrabando realizado na região, bem como ficou clara a invasão do território nacional por países
estrangeiros. Além disso, os revolucionários confiscaram o que quiseram das Companhias obreras
da região (...) Esses fatos, desencadearam, após a Revolução de 1930, a chamada Marcha para o
Oeste. O governo federal nomeou o interventor General Mário Tourinho para o Governo do Paraná,
que tentou organizar a 'fronteira guarani' - divisa entre Brasil, Paraguai e Argentina" (STECA e
FLORES, 2002, p.103).
Assim, proíbe-se o uso de trabalhadores estrangeiros nas obrages, partes
das terras da Mate Laranjeira foram tomadas e se eleva taxas de impostos dos
produtos exportado para a Argentina. O sistema obrages começam a dar sinais
de esgotamento, principalmente quando o governo argentino passou a
incentivar a produção de mate na região de Missiones, aumentado a
concorrência. Muitas empresas obreiras fizeram empréstimos hipotecando suas
propriedades e perdendo as mesmas para seus credores. Conseqüentemente
as obrages vão desaparecendo dando início a um processo de colonização de
iniciativa privada, atraindo novamente em sua maioria colonos do sul.
Adotou-se um modelo de colonização evitando-se dividir a terra em
grandes propriedades levando-se em conta de lotes menores seriam mais
facilmente vendidos. A colonizadora Pinho e Terras exemplo, ofertava para a
venda lotes de 10 e 12 alqueires, todos de frente para um rio ou uma sangra
ou com uma nascente d´água. Os donos da Colonizadora tinham como
finalidade a "compra e venda de terras para a colonização. Simultaneamente
fazendo a extração, industrialização e exportação da madeira" (STECA e
FLORES, 2002, p.110).
Um grupo de acionistas alemães e italianos adquiriram, em 1946,
272.000 hectares de terras e fundaram a Indústria Madereira Colonizadora Rio
Paraná S/A. (MARIPÁ). Estes optaram, também, por explorar a madeira antes
de entregar a terra ao colono e como parte da política da empresa fundaram a
cidade de Toledo para sediar a administração da colonizadora.
21
"As terras foram, então, divididas em lotes (colônias) de 10 alqueires ou (chácaras de) 25
hectares. O elemento humano escolhido para ocupar as terras foi o colono gaúcho e catarinense,
descendente de imigrantes alemães e italianos. (...) A propaganda seria feita de 'boca em boca'
pelos dirigentes da Companhia e por comerciantes, la do Sul. Assim evitaria a presença de
aventureiros, na Região.
A escolha do elemento sulista, assim denominado por ser originário do Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, não foi aleatória. Os sulistas dominavam a tecnologia agrícola, dos descendentes de
italianos e alemães, considerada mais evoluída, somatizando a condição de possuidores de
recursos para a aquisição dos lotes. Diferenciando-se daqueles nortistas ou 'pelo duro' - que
vinham de Minas Gerais e do Nordeste brasileiro para trabalhar nas lavouras cafeeiras no Paraná"
(STECA e FLORES, 2002, p.113).
Embora a maioria das colonizadoras do Oeste optassem pelo elemento
sulista, a Colonizadora Norte do Paraná, em 1959, na região Nordeste de
Toledo, que viera para tentar a cultura do café, trouxe paulistas, mineiros e
nordestinos como elemento humano colonizador. Paulistas, mineiros e
nordestinos também foram assentados em terras do Distrito de São Pedro até
São Judas Tadeu, numa iniciativa do Governo do Estado, nos anos 60.
Também nos anos 60 foram colonizados os Distritos de São Francisco,
Ouro verde e Luz Mariana. São Francisco, situado a extremo sul do município
de Toledo foi povoada por descendente de alemães e italianos (sulista),
enquanto que Ouro Verde, recebera colonos nacionais e estrangeiros de origem
polonesa, italiana e alemã. Já a Luz Mariana recebera famílias mineiras,
paulistas e nordestinas. No entanto nesses dois últimos assentamentos os
colonos "compravam as terras de corretores sem mesmo conhecê-las. Quando
vinham tomar posse das terras, deparavam-se com jagunços, muitos
impedimentos e conflitos" (STECA e FLORES, 2002, p.116).
IGRAÇÕES INTERNAS, ÊXODO RURAL E URBANIZAÇÃO DO PARANÁ
A região Norte do Paraná foi colonizada a partir da expansão da produção
de café do estado de são Paulo. É bem verdade que além das áreas de plantio
e ligado a industrialização do produto outros setores da economia local se
desenvolveram, as cidades cresceram e o comércio florecia. Porém, a partir das
décadas de 60, o ciclo cafeeiro paranaense entra em crise.
Dentre os motivos que levaram ao declínio da economia cafeeira local
poderíamos destacar a queda do preço do produto, "o confisco cambial dos
lucros dos lucros dos cafeicultores envolvidos com exportação (...) e as
22
intensas geadas que se abateram sobre os cafezais no fim da década de 60 e
primeira metade da década de 70" ( OLIVEIRA, 2001. p.37).
A geada negra que se abateu, no estado de São Paulo e no Norte do
Paraná, em 18 de julho de 1975, devastou os cafezais principalmente de
Maringá e Londrina provocando grande recessão econômica no norte do
estado. O replantio de grandes áreas se torna economicamente inviável,
levando a maioria dos grandes proprietários a optarem pela cultura da soja.
Os efeitos da cultura da soja sobre a urbanização e a industrialização paranaense foram enormes. A intensa mecanização do cultivo e colheita do produto levou à dispensa de um número enorme de trabalhadores rurais. Mesmo aqueles que eram pequenos ou médios proprietários enfrentavam grandes dificuldades para manter suas fazendas, se não conseguissem operar a transição das culturas tradicionais para a nova vedete agrícola: o soja. Ocorre que, tanto pela escala da produção quanto pelas dificuldades de acesso aos financiamento, a adoção do plantio do soja podia ser uma realidade para uma minoria de plantadores. O resultado foi a expansão do número de desempregados. Estes se dirigiam para as novas fronteiras agrícolas, ou se integravam ao contingente de despossuídos que engrossavam as favelas e cortiços das cidades paranaenses ou de outros estados ( OLIVEIRA, 2001. p. 37). Ainda segundo OLIVEIRA (2001) em torno da cultua do soja o Paraná
"reune condições favoráveis à instalação de um parque industrial dedicado ao
beneficiamento do produto, ao invés de se dedicar apenas à exportação do
produto in natura".
De uma maneira em geral o processo de mecanização da lavoura, nas
décadas de 70, 80 e 90, atingem o Paraná como um todo, engrossando o
número de desempregados rurais que migrarão para as novas fronteiras
agrícolas ou para a cidades, intensificado o processo de urbanização
paranaense.
ESTADO E MUNICIPIOS
GRAU DE URBANIZA-ÇÃO 2000 (%)
TAXA ANUAL DE CRESCIMENTO GEOMÉTRICO POPULACIONAL (%)
Urbana Rural
1970-1980 1980-1991 1991-2000 1970-1980 1980-1991 1991-2000
PARANÁ 81,40 5,97 3,01 2,59 -3,32 -3,03 -2,61
Araucária 91,36 17,36 6,51 5,32 -4,09 -0,05 0,74
Curitiba 100 4,78 2,29 2,13 - - -
Colombo 95,44 47,98 6,53 5,31 -7,99 -0,48 1,24
Fco Beltrão 81,68 7,75 4,44 2,08 -1,32 -2,41 -2,66
Fênix 77,62 1,71 1,48 -0,51 -10,28 -6,31 -6,25
Guaporema 43,23 0,62 1,61 -1,56 -10,06 -3,64 0,92Dados do IPARDES- Anuário estatístico do estado do Paraná-2005, Revista eletrônica.
Pelos dados da tabela acima observa-se que o Paraná por três décadas
seguidas obteve resultados positivos referente ao crescimento da população
23
urbana e dados negativos referente ao crescimento da população rural. Ou
seja, o estado, nas últimas três décadas passou por um rápido processo de
urbanização.
No processo de crescimento das cidades, o Paraná repete um padrão bem conhecido da
história urbana brasileira recente: as grandes cidades tendem a ficar cada vez maiores,
configurando um processo de metropolização; as médias tendem a crescer também, se
bem que não na mesma proporção; e as realmente pequenas tendem a ficar ainda
menores. (OLIVEIRA, 2001. p.99)
O caso de Curitiba e região metropolitana ( nos exemplos acima:
Araucária e Colombo), passam por um acentuado processo de urbanização, ou
seja, cidades grandes, se tornam centro de atração populacional e “tendem a
ficar cada vez maiores”. Dentre os fatores de atração populacional que
configuraram a região, poderíamos citar a oferta de novas vagas de emprego
na então recém criada CIC, em 1973; a Refinaria de Araucária, em 1976 e o
Pólo Automotivo, em 1996. Ou seja, enquanto em outras regiões do Paraná
está eliminando postos de trabalho, ao mecanizar suas lavouras, Curitiba e
região ofertam novas possibilidades de emprego, de uma maneira direta ou
indireta.
No exemplo de Fco Beltrão, uma cidade de médio porte (75.517
habitantes ), apresentou uma taxa de urbanização menor que as cidades
metropolitanas de Curitiba. Porém, por ser uma cidade de médio porte atraiu
novos habitantes. Repare que o proporção dos que deixam a zona rural é bem
inferior aos crescimento médio da urbanização da mesmo.
Na cidades de Fênix e Guaporema (cidades com menos de 5.000 hab.) o
êxodo rural foi acentuado, no entanto os índices de urbanização foram bem a
baixo da média da grandes e médias cidades, chegando a apresentar taxas de
crescimento negativas na década de 90. Comprovado a tese de que as cidades
“realmente pequenas tendem a ficar ainda menores”.
Assim, nas últimas décadas do século XX, o Paraná passou por um
acelerado processo de urbanização, êxodo rural e principalmente por uma
intensa migração das pequenas cidades para as médias e grandes cidades.
24
IMIGRAÇÕES RECENTES NO PARANÁ E BRASIL
Na década de 70 o Brasil (e o Paraná) deixam de ser um país atraente
para o imigrante, tornado-se um país de emigração (principalmente para o
Japão, Europa e EUA), a partir década de 80. Porém, a partir da década 70 vê-
se um razoável crescimento na entrada de imigrantes no Brasil, vindos
principalmente da Coréia do Sul, China, Bolívia, Peru Paraguai e de Países
Africanos. Estes imigrantes, porém, não têm o impacto demográfico que
tiveram as outras imigrações mais antigas no Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na progressiva ocupação do espaço do território paranaense, que se
estenderam por quatro século, nem tudo foram flores. Os colonos que se
instalaram no Paraná tiveram que construir suas casas, escolas e igrejas, abrir
estradas, desbravar as matas, enfrentar mosquitos, cobras, seres peçonhentos,
além de conflitos agrários. Na luta pela terra não foram poucos os conflitos: a
Guerra do Contestado, no sul do Estado, os conflitos de Porecatu e Jaguapitã no
Norte Novo, a Revolta dos Posseiros, no Sudoeste, dentre outros tantos. No
entanto Mota nos alerta para aquele que talvez seja o maior de todos, a luta
pela terra (espaço) entre colonizador e índio. Ele fala do espaço da sociedade
Industrial, porém suas considerações remontam a um passado para aquém
desse período histórico...
"é o espaço onde se retalha a terra, etiquetando-a com valores, transformando-a em mercadoria
pelo potencial produtivo que carrega. É o espaço onde as árvores e animais também tem preço,
também são mercadorias. Por isso mesmo ele é diferente do espaço das comunidades Kaingang,
Guarani, Xocleng e Xetá que aqui viviam, e cujas terras foram divididas, cercadas e vendidas.
Cria-se o vazio demográfico a ser ocupado pela colonização pioneira. Vazio criado pela expulsão
ou eliminação das populações indígenas que, desse modo, são colocados à margem da história"
(1994, p.15).
São esses mesmos índios que em outras passagens são "denominado de
bugres, que matam cruelmente os fazendeiros e proprietário". Essa expressões
estão contidas na Carta Régia de 5 de Novembro de 1808. (NADALIN,2001.
p.61).
No entanto é o sangue de sobreviventes bugres, somando-se aos dos
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portugueses, mineiros, paulistas, nordestinos ou descendentes de imigrantes
que circula em nossa veias, formando essa pequena babel paranaense. Esses
constituíram famílias, deixaram descendentes ( deixaram a nós), ou seja,
fizeram História. Agora cabe a nós investigarmos em que momento os nossos
pais e avós chagaram no Paraná formando um povo caipira, tropeiro, nortista,
gaúcho ou simplesmente paranaense.
BIBLIOGRAFIA
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Curitiba: SEED, 2001. (Coleção História do Paraná; textos introdutórios).
Cap.03.
NADALIN, Sérgio Odilon. Paraná: Ocupação do Território, População e
Migrações. 1.ed. Curitiba: SEED, 2001. ( Coleção História do Paraná; textos
introdutórios ).
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Educação no Paraná. 1 ed. Curitiba: SEED, 2001. ( Coleção História do
Paraná; textos introdutórios ). Cap.1.
CORDOSO, Jayme Antônio e WESTPHALEN, Cecília Maria. Atlas Hitórico do
Paraná. 2.ed. rev. ampl. Curitiba: Livraria do Chain, editora, 1986.
STECA e FLORES. Lucinéia Cunha, Mariléia Dias. História do Paraná Do
século XVI à década de 1950. 3ª ed. Londrina: UEL, 2002.
GOMES, Iria Zanoni. A Revolta dos Posseiros. 3. ed. Curitiba: Criar Edições,
2005. Cap.1.
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índios Kaingang no Praná (1769 - 1924). 20 ed. Maringá: EDUEM, 1994.
26
SCHMIDT, Maria Auxiliadora M. S. Histórias do Cotidiano Paranaense.1 ed.
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FREITAS, Waldomiro Ferreira de. História de Paranaguá: Das Origens à
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Imigra