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4.4. Gráficos e Tabelas
1. Tipos de Igrejas
92%
2% 2% 1% 3%
basílicacircularcruciformeigreja Samaritanaoctogonal
Tipos Quant.
Basílica 93
Circular 2
Cruciforme 2
Igreja Samaritana 1
Octogonal 3
Total geral 101
186
2. Tipos de Basílicas
16%
1%
59%
24%
basílicabasílica com transeptobasílica monoabsidalbasílica triabsidal
Tipos de Basílicas Quant.
Basílica 15 Basílica com transepto 1 Basílica monoabsidal 55 Basílica triabsidal 22 Total geral 93
187
3. Época
23%
36%
41%
séc. IV d.C.séc. V d.C.séc. VI d.C.
Época Quant.
séc. IV d.C. 23 séc. V d.C. 36 séc. VI d.C. 42 Total 101
188
4. Tipologia por séculos
Tipos séc. IV d.C. séc. V d.C. séc. VI d.C. Total
basílica 6 9 15
basílica com transepto 1 1
basílica monoabsidal 15 20 20 55
basílica triabsidal 6 5 11 22
circular 1 1 2
cruciforme 1 1 2
igreja Samaritana 1 1
octogonal 2 1 3
Total 23 36 42 101
189
5. Orientação das Igrejas
48%
1%3%
48%Leste-OesteNorte-SulOeste-LesteN. D.
Orientação Quant.
Leste-oeste 49 Oeste-Leste 3 Norte-sul 1 N.D.2 48 Total 101
2 Usamos a notação N. D. nas tabelas para designar os dados que não foram disponibilizados pelas nossas fontes arqueológicas.
190
6. Orientação por séculos
Séculos Leste-Oeste Norte-Sul Oeste-Leste N. D. Total
séc. IV d.C. 13 1 9 23
séc. V d.C. 17 19 36
séc. VI d.C. 19 1 2 20 42
Total 49 1 3 48 101
7. Orientação por tipo
Tipo Leste-Oeste Norte-Sul Oeste-Leste N. D. Total
basílica 1 1 13 15
basílica com transepto 1 1
basílica monoabsidal 31 2 22 55
basílica triabsidal 14 8 22
circular 1 1
circular (rotunda) 1 1
cruciforme 2 2
igreja Samaritana 1 1
octogonal 1 2 3
Total 49 1 3 48 101
191
8. Proporções das Basílicas
Local Nome Largura Comprimento Proporção Abila 18.00 32.00 0.56 'Agur 10.00 13.00 0.77 'Asida, Khirbet 9.00 12.00 0.75 Be'er Shema, Horvat 12.50 21.00 0.60 Beiyudat, Khirbet El- 16.00 24.00 0.67 Berakhot, Horvat 12.00 16.00 0.75 Beth Loya, Horvat 13.90 20.40 0.68 Beth Yerah 11.50 12.50 0.92 Bethlehem Igreja da Natividade 26.50 26.50 1.00 Dor Dora-Dor 14.00 18.50 0.76 'Ein Haniya 10.00 15.00 0.67 Elusa Igreja Leste 17.70 39.45 0.45 Emmaus Igreja 1 24.40 46.40 0.53 Emmaus Igreja 2 10.00 18.00 0.56 'Erav, Horvat Igreja Oeste 14.10 17.90 0.79 'Erav, Horvat Igreja Leste 16.00 20.00 0.80 'Evron 10.60 14.50 0.73
Gerasa Igrejas de São João Batista, São Jorge, São Cosme e Damião 14.00 29.50 0.47
Gerizim, Mount Igreja de Maria, mãe de Jesus 30.00 37.40 0.80 Giv'it Horvat 10.50 14.70 0.71 Hanita 14.00 17.00 0.82 Haspin Igreja Oeste (Igreja de Georgius) 14.20 20.50 0.69 Haspin Igreja Leste (Igreja de Thomas) 8.70 12.75 0.68 Hazor-Ashdod 10.50 12.50 0.84 Heptapegon 19.00 25.00 0.76 Herodium Igreja Norte 8.80 10.60 0.83 Herodium Igreja Central 10.50 11.50 0.91 Herodium Igreja Leste 10.00 17.00 0.59 Hesheq, Horvat 16.00 21.00 0.76 Hippos Catedral 20.00 40.00 0.50 Hubeila, Khirbet El- 12.50 16.00 0.78 Jericho Igreja da Virgem Santa (?) 20.00 36.00 0.56 Jerusalém Igreja do Santo Sepulcro 40.00 49.00 0.82 Jerusalém Igreja de Siloam 16.00 28.00 0.57 Jerusalém Igreja "Nea" 57.00 115.00 0.50 Jerusalém Igreja do Santo Zion 37.00 52.00 0.71 Jerusalém Igreja de Santa Maria 20.00 28.00 0.71 Jerusalém Igreja de Santo Estevão 20.00 33.00 0.61 Jerusalém Igreja Eleona 20.00 30.00 0.67 Jerusalém Igreja do Gethsemani 16.50 22.50 0.73 Jerusalém Igreja do Giv'at Ram 14.00 17.50 0.80 Jerusalém Igreja em Ketef Hinnom 25.00 45.00 0.56 Kissufim Igreja de Santo Elias 13.00 16.00 0.81
192
Local Nome Largura Comprimento Proporção Kurnub Igreja Leste 15.00 27.50 0.55 Kurnub Igreja Oeste 10.00 17.50 0.57 Kursi 25.00 45.00 0.56 Mareshah 9.90 9.60 1.03 Medeba Igreja dos Apóstolos 15.30 23.50 0.65 Medeba Igreja do mapa de Medeba 15.00 25.00 0.60 Mishmar Ha-'Emeq 4.50 10.00 0.45 Mount Nebo Memorial de Moisés em Siyagha 14.50 36.00 0.40 Mount Nebo Igreja Superior 12.30 15.00 0.82 Mount Nebo Igreja do Diácono Tomas 10.50 14.00 0.75 Nahariya 16.00 32.00 0.50 Nazareth Igreja da Anunciação 6.70 9.00 0.74 Nessana Igreja Norte 10.70 19.00 0.56 Nessana Igreja Sul 14.10 20.80 0.68 Oboda Igreja Norte 14.50 22.50 0.64 Oboda Igreja Sul 14.00 25.00 0.56 Ostrakine 20.00 33.00 0.61 Pella Igreja Leste 20.00 32.00 0.63 Rabbath Ammon 12.30 20.30 0.61 Rehovot-in-the-Negev Igreja Norte 14.00 25.00 0.56 Rehovot-in-the-Negev Igreja Central 16.30 20.00 0.82 Roglit 10.70 14.00 0.76 Shavei Zion 16.00 27.00 0.59 Shepherd's Field Igreja dos Pastores 13.30 20.50 0.65 Shiloh Igreja dos Peregrinos 11.70 25.00 0.47 Shiloh Basílica 15.10 18.00 0.84 Sinai Igreja de Santa Catarina 12.00 25.00 0.48 Sobata Igreja Sul 18.20 17.60 1.03 Sobata Igreja Norte 13.00 20.00 0.65 Suhmata 11.00 15.00 0.73
193
8. Proporções das basílicas
12%
56%
32%
De 0.33 até 0.50
De 0.50 até 0.75
Acima de 0.75
Proporção Quantidade
De 0.33 até 0.50 9
De 0.50 até 0.75 41
Acima de 0.75 23
Total 73
194
9. Ocorrência de Capitéis
6% 1%
93%
coríntiosface planaN. D.
Tipo Quant.
Coríntio 6 Face Plana 1 N.D. 94 Total 101
195
5. CONSIDERAÇÕES SOBRE A PERMANÊNCIA DE ELEMENTOS CLÁSSICOS
NAS IGREJAS PALEO-CRISTÃS
Vários autores que lidam com a questão do espaço construído, como Perring
(1991), Rapoport (1977; 1982) e Duncan (1990), entendem que o espaço
arquitetônico é organizado para obter respostas específicas, daí temos que as
mudanças em sua ordenação acompanham as transformações sociais. Eles
procuram nos mostrar que as mudanças formais, expressas no desenho do
ambiente, fazem parte de um processo de informações codificadas, e a tarefa de
seus usuários é decodificá-las; isso só ocorrerá da maneira esperada se o indivíduo
que usa o espaço conhecer o código que é utilizado. Por outro lado, existem alguns
elementos que permanecem no espaço, estabelecendo um ponto de ligação entre
as formas passadas e as formas presentes nesses momentos de mudança. Tendo
essas observações em mente e interpretando os elementos arquitetônicos como
uma forma de expressão de uma comunicação não-verbal, procuraremos entender a
importância da permanência ou mudança das formas construídas nas igrejas paleo-
cristãs para a atividade que se realiza no seu ambiente, para a compreensão da
sociedade que a criou assim como todo o universo que configura o momento de
mudança onde esses edifícios se inserem.
Para a elaboração desse trabalho definimos um recorte geográfico e temporal
bem delimitado3. A proposta foi estudar as primeiras igrejas cristãs construídas na
região da Palestina entre os séculos IV e VI d. C. Uma vez identificadas as igrejas
que fariam parte do nosso catálogo, procuramos posicioná-las no mapa da
Palestina. A partir dessa informação, percebemos que uma grande parte das
localidades onde foi atestada a existência de igrejas no período estudado concentra-
se na região central do território, próximas às cidades de Belém e Jerusalém. Como
foi exposto, essas duas cidades eram de extrema importância para o cristianismo
porque foram os locais onde, respectivamente, Jesus Cristo nasceu e morreu e por
causa desses eventos tornaram-se locais de peregrinação cristã. Tanto em Belém
quanto em Jerusalém, Constantino mandou construir igrejas grandiosas. Por serem 3 Os critérios utilizados para o estabelecimento desses recortes foram apresentados na introdução desse trabalho, pp. 5-6.
196
locais de peregrinação, acabaram por se tornar lugares importantes de difusão e
propagação da religião cristã e talvez essa característica justifique a existência de
igrejas em tantos lugares próximos: pela convivência, membros das comunidades
vizinhas poderiam acabar adotando a religião e construindo mais edifícios para culto.
Mas a ocorrência de igrejas cristãs não se restringe apenas a essa região, mas
espalha-se por todo o território: ao norte, na região do mar da Galiléia, a leste,
ultrapassando o rio Jordão, e também ao sul, em algumas localidades da região do
Neguev. É interessante também notar a escassa ocorrência de igrejas no litoral da
Palestina, que tem como limite o mar Mediterrâneo. Das 101 igrejas estudadas,
apenas 4 se estabeleceram em cidades litorâneas. Não conseguimos encontrar em
nossas leituras nenhum fator que justificasse a rara ocorrência de igrejas no litoral.
Com os dados obtidos através da elaboração do catálogo, uma primeira
informação relevante para nosso estudo vem dos tipos de igreja que foram
construídos nessa fase inicial de desenvolvimento do Cristianismo. Como pode ser
observado na tabela 1, que diz respeito à tipologia das igrejas, a basílica é o tipo
predominante, adotado para mais de 90% das igrejas construídas no período
estudado. Segundo Stern, a basílica foi aparentemente o tipo mais comum de
edifício de igreja construído no Período Bizantino. Através do levantamento das
igrejas apresentadas por Stern em sua enciclopédia de escavações na região da
Palestina, a TNEAEHL, e por Tsafrir em ACR, sua obra sobre igrejas antigas,
(STERN, 1993; TSAFRIR, 1993), podemos comprovar essa hipótese e afirmar com
segurança que a maioria das igrejas paleo-cristãs (sécs. IV a VI d. C.) têm a forma
de basílica, como mostra a tabela 1. Face aos dados apresentados decidimos
focalizar nossas análises no modelo de basílica e desprezar as outras formas em
razão de sua rara ocorrência nas igrejas cristãs do período estudado.
Ao visualizar a basílica como a forma adotada primordialmente para a
construção dos primeiros edifícios de culto cristão, nos dedicamos ao estudo das
formas arquitetônicas de períodos anteriores, a fim de identificar alguma estrutura
que remetesse à basílica cristã. O que fomos capazes de perceber a partir dessa
digressão foi que a forma de basílica, muito utilizada em igrejas católicas de época
bizantina, mostra em sua forma sinais muito claros de influência das basílicas
197
seculares romanas. As basílicas romanas, como já apresentamos no ítem 3.3 desse
trabalho, eram edifícios ligados ao fórum, usados para reuniões sociais e realização
de negócios e que abrigavam dependências administrativas do governo, onde
também se realizavam julgamentos. É importante ressaltar que em época romana as
basílicas não eram edifícios que tinham a função específica de culto religioso como
ocorre nas igrejas, apesar de autores como Carter (1995: 41) relatarem que em
algumas basílicas romanas era realizada a veneração da família Imperial, que não
deixa de ser um tipo de culto.
Wheeler (1995: 112-115) nos informa que na basílica de Pompéia o acesso se
dá através de um pórtico em um dos seus lados menores, tendo o tribunal em seu
lado oposto (Fig. 9). Além disso, a posição desse edifício em relação ao fórum é
peculiar, uma vez que ele se estabelece junto a um canto do fórum, ocupando
apenas parte de um de seus lados maiores (Fig. 8). Essa situação difere daquela
apresentada anteriormente com as basílicas Aemilia e Julia, onde o acesso se dava
por um de seus lados maiores e o edifício encerrava um dos lados do fórum.
Basílicas como essas são classificadas por Wheeler como do tipo “vitruviano”.
Estudos atestam que esses dois tipos, o “vitruviano” e o de Pompéia tiveram uma
difusão parecida durante o final da República e início do Império romanos. Carter
(1995: 42) classifica esses dois tipos de basílica de uma outra forma: o tipo “longo”,
onde a entrada se faz por um dos lados menores e o tipo “amplo”, que tem sua
entrada em um dos lados maiores. Para esse estudioso a distinção entre esses dois
tipos não é muito significativa. Segundo Wheeler, o tipo de basílica pompeiana, com
a entrada em um de seus lados menores, influenciou o desenho das igrejas cristãs.
De fato, ao observarmos o traçado em planta dos dois tipos de basílicas, a
civil romana e a cristã, vemos muitas semelhanças, não apenas com o tipo de
basílica de Pompéia, que Wheeler afirma ser o tipo antecessor ao desenho das
igrejas cristãs, mas também com os edifícios do tipo “vitruviano” ou “amplo”. Nossas
análises não seguem a sugestão de Wheeler, restringindo-se apenas ao estudo das
basílicas do tipo pompeianas como tipologia de origem das igrejas cristãs.
Concordamos com Carter quando ele afirma que a distinção entre esses dois tipos
de basílica não é significativa, e por isso buscamos ver no universo de basílicas
198
romanas, com todos seus diferentes tipos, formas que, uma vez modificadas e
adaptadas às novas necessidades de uso do espaço, se transformaram nas
basílicas cristãs.
Fig. 8: Planta do Fórum de Pompéia.
Fonte: WARD-PERKINS, J. B. Roman Imperial Architecture, p. 159.
199
Fig. 9: Planta da basílica de Pompéia, construída antes de 78 a. C.
Fonte: WHEELER, M. El Arte y la Arquitectura de Roma, p. 113.
Se recuarmos ainda mais um pouco no tempo, podemos encontrar nos
templos gregos algumas semelhanças com a forma da basílica cristã. O primeiro
ponto de contato é o seu uso. O templo grego, assim como a igreja, é um edifício
cuja finalidade específica é o culto religioso. Nos dois tipos de edifícios – a igreja e o
templo – encontramos exemplos de estruturas monumentais, que marcam o seu
espaço na paisagem e são marcos de referência, conhecidos não apenas no âmbito
da cidade onde se localizam, mas por todo o universo da qual fazem parte, tais
como a Igreja do Santo Sepulcro ou o Templo de Apolo em Delfos. No Ocidente
encontramos alguns exemplos de templos gregos que serviram como base para a
construção de basílicas cristãs. É interessante ressaltar que esses templos não
foram destruídos para dar lugar às igrejas, mas o seu espaço foi adaptado conforme
as necessidades da religião cristã. Este é o caso, por exemplo, do Athenaion de
Siracusa, que no século VII d. C. teve sua estrutura aproveitada para abrigar uma
igreja cristã. Para a construção da igreja foi utilizado um procedimento simples: “o
edifício central foi transformado em nave central, e nas suas paredes laterais foram
feitas aberturas em forma de arco, enquanto as naves laterais foram posicionadas
200
no espaço ocupado entre essas paredes e a colunada, cujo intercolúnio foi fechado.
Para unificar o espaço interno, naturalmente foi necessário demolir as divisões entre
a cela, o pronaos e o opistódomo. Além disso, sua orientação foi modificada, pela
necessidade de voltar para a direção leste o coro da igreja, que ocupa o lugar da
fachada do templo.” Depois de ter sido consagrado como igreja no século VII d. C.,
esse templo passou por uma fase onde foi transformado em mesquita e
posteriormente, em 1093, sendo reconsagrado, voltou a abrigar o culto cristão. A
sua configuração atual (Figs. 10 e 11) data de 1925, quando grande parte da
ornamentação barroca foi eliminada, evidenciando a estrutura grega (COARELLI,
1988: 233-234). Atualmente esse edifício é a catedral de Siracusa.
Fig. 10: Fachada lateral do Athenaion, atualmente a
Catedral de Siracusa
Fonte: AA. VV. L’Italia dei Greci – Archeoguide, p. 122.
Fig. 11: Catedral de Siracusa – vista do interior
Fonte: CERCHIAI, L., JANELLI, L. e LONGO, F. The
Greek Cities of Magna Graecia and Sicily, p. 208.
201
No templo da Concórdia, em Agrigento, encontramos mais um exemplo de
reaproveitamento do espaço do templo grego para sua utilização como igreja. Nesse
caso, a transformação em igreja cristã comportou uma inversão da orientação
antiga; para tanto, a parede do fundo da cela, que a dividia com o opistódomo, foi
demolida, os intercolúnios foram fechados e foram feitas doze aberturas em arco
nas paredes dos dois lados maiores da cela, onde se construiu a nave canônica: as
duas (naves) laterais na peristasis e a (nave) central no espaço que coincide com a
largura da cela; com o altar de época clássica tendo sido destruído e no ângulo a
leste assentada a sacristia, o edifício se tornou um organismo com a perfeita forma
de basílica. A igreja possuía um nártex, que podia ser acessado por uma escada e
ocupava o espaço onde no templo original estava a transição entre o pronaos e a
cela. A partir dele se alcançava as três naves da nova basílica, cujo comprimento
era delimitado entre a colunada do pronaos e a da iconastasis. No espaço ocupado
pelo iconostasis, um pequeno pseudo-transepto reunia o prothesis, o bema e o
diaconicon, possivelmente de forma absidal e talvez com janelas (Figs. 12, 13 e 14)
(COARELLI, 1988: 138-139; GRIFFO: 2005, 83-84). Griffo (2005: 77) destaca que o
bom estado de conservação do templo grego, que se mantém até a atualidade, se
deve em parte ao fato desse templo ter sido transformado em igreja cristã no século
VI d. C.
Fig. 12: Templo da Concórdia: ajustes para basílica cristã, segundo a reconstituição de
Trizzino.
Fonte: GRIFFO, P. Akragas – Agrigento: la storia, la topografia, I monumenti, gli
scavi, p. 80.
202
Fig. 13: Vista externa do Templo da Concórdia, em Agrigento, a partir do sudoeste. Foto de
Nigel Polland, 1990.
Fonte: CRANE, G. R. (ed.) [http://www.perseus.tufts.edu], 2006.
O Athenaion de Siracusa e o Templo da Concórdia de Agrigento são
exemplos da permanência de uma forma arquitetônica para um uso específico, que
é o culto religioso. As mudanças no espaço nesses dois casos foram muito
semelhantes, realizadas no sentido de adaptar os templos para seu uso por uma
religião diferente da anteriormente cultuada nesse espaço. Ao observarmos as
imagens e o relato de como foram feitas essas transformações, vemos que a
adaptação dos templos para o seu uso como culto cristão, sob a forma de basílica,
não exigiu mudanças drásticas. A partir desses dois exemplos podemos perceber
que, assim como na basílica romana, a forma de basílica cristã já estava delineada
também nos templos gregos.
Antes de retornarmos à análise das tabelas e ainda explorando a questão do
uso da basílica para o culto cristão, gostaríamos de explorar, ainda que
rapidamente, a questão da terminologia: o termo “basílica” é usado para designar
tanto o edifício de reuniões e tribunal romano quanto uma igreja cristã, apesar de
203
elas terem sido usadas em diferentes épocas para usos distintos, como já
mencionamos. É correto afirmar que tanto o nome quanto a forma – essa com
algumas alterações – permanecem, apesar da grande mudança sócio, político e
cultural que identificamos entre os períodos de construção e uso da basílica civil
romana e da basílica cristã. O nome latino “basílica” tem sua origem no termo grego
“basileu”, que significa rei. Também associado a esse termo temos a palavra grega
“basiléia”, significando realeza. Durante o Período Bizantino, o termo basílica tem
uma associação tão forte com seu uso como edifício de culto cristão que passa a ser
sinônimo de igreja cristã. Desde esse período, época de estruturação do cristianismo
como religião até os dias de hoje, onde a religião católica ainda é bastante difundida
por todo o mundo, sobretudo no Ocidente, o tipo de estrutura de basílica ainda é
bastante recorrente e o termo “basílica” permanece como sinônimo de igreja
católica. O uso do termo “católico” no lugar de “cristão” na atualidade se explica pelo
fato de que o catolicismo hoje é a seqüência linear desse cristianismo inicial, que
acabou por dar origem a outras tantas novas religiões desde a época de sua criação
até os dias de hoje. Também aqui, a partir da informação de que a grande maioria
das igrejas construídas no período estudado possui a forma de basílica, passaremos
a entender e utilizar os termos basílica e igreja cristã como sinônimos.
Fig. 14: Vista da cela do Templo da Concórdia,
em Agrigento.
Fonte: GRIFFO, P. Akragas – Agrigento: la
storia, la topografia, I monumenti, gli scavi, p.
80.
204
Retomando a análise formal, vemos que as igrejas que podem ser
enquadradas em um modelo de basílica padrão são compostas de três partes: uma
nave central e duas naves laterais. Sua orientação procura na maioria dos casos se
estabelecer no eixo leste-oeste, onde o altar está posicionado a leste e o acesso a
oeste. A ábside, parte de forma usualmente semicircular que abriga o altar em uma
igreja, pode assumir configurações variadas: monoabsidal, quando há apenas uma
ábside no lado leste da igreja, podendo ou não ser ladeada por salas ou triabsidal,
com uma ábside central e outras duas laterais, normalmente divididas em
correspondência com a divisão das três naves. Também podemos encontrar essas
ábsides inscritas ou não em uma igreja. A igreja de Ein ‘Hanyia é um exemplo de
basílica cristã em suas formas mais essenciais (Pr. XV), monoabsidal. Em Ostrakine
encontramos mais um exemplo de basílica monoabsidal (Pr. LXXXI) enquanto em
Elusa temos uma basílica triabsidal (Pr. XVI).
Apesar de possuírem um formato padrão, que se resume à existência de três
naves divididas por duas fileiras de colunas, as basílicas cristãs trazem algumas
variações em sua forma, que determinam alguns tipos. Os tipos de basílicas cristãs
foram levantados a partir da elaboração do catálogo e sistematizados na tabela 2.
Como essa tabela mostra, atestamos a existência de quatro tipos de basílicas –
basílica, basílica com transepto, basílica monoabsidal e basílica triabsidal.
No tipo basílica foram listadas as igrejas que foram descritas apenas como
basílicas, não havendo nenhuma referência mais específica e nenhuma imagem que
nos fornecesse uma informação mais precisa. Na descrição de algumas igrejas
desse tipo é relatada a dificuldade de se determinar um tipo mais específico porque
a ábside não foi escavada ou porque, mesmo tendo sido escavada, não foi possível
identificar vestígios de uma estrutura triabsidal ou monoabsidal. Este é o caso da
igreja de Kefar Truman (Pr. LVII), da Igreja de Santo Elias, em Kissufim (Pr. LVIII),
do Edifício A de Magen (Pr. LXII) e da igreja de Roglit (Pr. LXXXVIII). A basílica
aparece na tabela junto com seus subtipos porque representa uma porção de
elementos do catálogo que, por falta de informação, não foi possível classificar por
subtipos, tais como monoabsidal, triabsidal e com transepto.
205
A basílica com transepto é um tipo que possui, além das naves laterais, um
espaço anexo a elas próximo à ábside. Segundo a tabela 2, a ocorrência desse tipo
de basílica no catálogo foi de apenas um exemplar dentre as 93 igrejas identificadas
com a forma de basílica. A partir desses dados podemos inferir que esse foi um tipo
de basílica muito pouco utilizado no período estudado.
O tipo de basílica triabsidal ocorre em 24% das igrejas, o que já configura um
número relevante. Porém, segundo a tabela 2 o tipo de basílica mais utilizado é o
monoabsidal, que é identificado em 59% das igrejas que compõe esse catálogo. A
partir desses dados temos que, no local e período estudados, a basílica
monoabsidal foi o tipo mais utilizado, seguido pela basílica triabsidal. Como estamos
tratando de um período inicial, onde a forma de basílica romana original sofreu
mudanças e passou a ser utilizada como edifício de culto pelos cristãos, podemos
inferir que o modelo de basílica monoabsidal pode ter sido uma forma inicial que
com o passar do tempo foi modificada e resultou na forma triabsidal, imbuídos da
idéia de que uma forma mais simples tende a se tornar mais complexa à medida que
o nível de complexidade da sociedade que cria tal forma também aumenta
(PERRING,1991: 273). No caso dessas igrejas, verificamos que a partir do momento
que a religião cristã se consolida, o ritual torna-se mais sofisticado, o que exige
espaços mais especializados para abrigar as atividades que se desenvolvem nesse
ambiente.
Temos como um exemplo que confirma essa hipótese a Igreja da Natividade
em Belém. A construção dessa igreja foi iniciada em 326 d. C., por ordem do
Imperador Constantino, sobre uma caverna onde a tradição aponta como local do
nascimento de Jesus Cristo (STERN, 1993: 203-204). Como atualmente a igreja
ainda existe, mas foi sucessivamente modificada ao longo de todos esses séculos
de uso, foram realizadas escavações arqueológicas que nos revelaram como seria a
igreja construída na época de Constantino (Pr. IX). Essa igreja possuía uma ábside
de forma octogonal, que estruturalmente é derivada dos mausoléus monumentais
dos imperadores romanos, como o monumento a Diocleciano em Spalato. Segundo
o relato de Eutéquio, patriarca de Alexandria entre 933 a 940 d. C., a igreja
construída por ordem de Constantino foi muito danificada durante a revolta dos
206
samaritanos, ocorrida em 529, e por esse motivo foi reconstruída a mando de um
outro imperador, Justiniano I.
Como a primeira igreja foi considerada pequena, em sua reconstrução as
dimensões foram ampliadas: seu comprimento foi aumentado, mas a sua largura se
manteve, pois apesar da nave central ter ficado mais larga as naves laterais se
tornaram proporcionalmente mais estreitas. Essas modificações não alteraram sua
estrutura básica, que permaneceu com a forma de basílica. No lugar da ábside
octogonal dos tempos de Constantino foi edificada uma ábside tripla, cuja planta
lembra uma folha de trevo (Fig. 15). A Igreja da Natividade que existe na atualidade
mantém a estrutura da época de Justiniano, isto é, do século VI d. C. Assim, a Igreja
da Natividade é um exemplo de basílica construída em um primeiro momento, no
século IV d. C., adotando-se o tipo monoabsidal e dois séculos depois, no século VI
d. C., tendo sido destruída, foi reconstruída mantendo a forma de basílica tal como
se apresentava antes, porém com uma grande mudança na ábside, que passou a
ser triabsidal.
Fig. 15: Igreja da Natividade, Belém, no tempo de Justiniano
Fonte: TSAFRIR, Y. Ancient Churches Revealed, p. 7.
Vale notar que a Igreja da Natividade, juntamente com a Igreja do Santo
Sepulcro em Jerusalém (Pr. XLVIII), são duas basílicas que diferem do restante do
catálogo, uma vez que ambas possuem duas naves laterais de cada lado da nave
207
central enquanto os outros exemplos estudados apresentam somente duas naves
laterais, uma de cada lado da nave central. Além disso essas duas igrejas
apresentam algumas outras peculiaridades em sua forma que as diferem das outras
estruturas estudadas. No caso da Igreja da Natividade, como já mencionamos, a
estrutura monoabsidal octogonal, que já difere da forma em semi-círculo usual, foi
substituída posteriormente por uma ábside tripla em forma de trevo, outra forma não-
usual. O que identificamos a partir dos exemplos que constam do catálogo é que nas
igrejas triabsidais, as três ábsides são semi-círculos.
A Igreja do Santo Sepulcro por sua vez caracterizou-se desde época bizantina
por ser um complexo composto por diversos edifícios. As quatro estruturas principais
que fazem parte desse complexo são: o átrio da basílica, localizado a leste da
basílica, a basílica em si (Martyrion), o átrio da rotunda, conhecido como o Jardim
Santo, e a rotunda (Anastasis). Todo esse complexo media 130m de comprimento e
60m de largura (STERN, 1993: 779-781).
Stern (1993: 305) justifica as peculiaridades dessas igrejas: “Essas duas
Igrejas também são muito maiores que outras Igrejas em forma de basílica
encontradas na Palestina; elas provavelmente não serviam apenas para oração e
outros propósitos rituais, mas também tinham a intenção de atrair tantos peregrinos
quanto fosse possível (da Palestina e de outras procedências) para os lugares
sagrados associados ao nascimento, vida e morte de Jesus”. Acreditamos que esta
é uma justificativa plausível e que explica as dimensões maiores e as peculiaridades
encontradas na forma arquitetônica da Igreja da Natividade e na Igreja do Santo
Sepulcro.
Retomando a hipótese lançada - de que a basílica triabsidal seria o resultado
de uma mudança posterior no tipo de basílica monoabsidal – para comprovar sua
validade não podemos nos restringir a apenas um exemplo, mesmo porque, como
foi explicado, esse exemplo representa um caso muito peculiar de igreja cristã.
Dessa forma, retornamos ao catálogo para elaborar um detalhe dos tipos e subtipos
de igrejas por época, o que resultou nas tabelas 3 e 4. Um primeiro dado a ser
comentado, presente na tabela 3, é que dentro do recorte temporal estudado, que
tem início no século IV e final no século VI d. C., houve um crescimento na
208
construção de igrejas em cada século; o número de igrejas cuja construção é datada
do século V d. C. é cerca de 50% maior do que aquelas existiam no século IV d. C.,
estando entre esses dois séculos a diferença mais significativa em números.
A tabela 4, onde se detalha o tipo de igreja encontrado em cada um dos três
séculos estudados, foram identificadas duas situações interessantes: a primeira
delas é que o número de igrejas monoabsidais permanece o mesmo entre os
séculos V e VI d. C.; no intervalo anterior, entre os séculos IV e V d. C., observa-se
um aumento de 33% na construção desse tipo de igreja, seguindo a tendência de
crescimento das igrejas em geral para esse período. Porém, o crescimento entre os
séculos V e VI d. C. atestado nas igrejas em geral, ainda que em escala menor do
que o identificado para os séculos IV e V d. C., não se verifica no caso das basílicas
monoabsidais, cujo número se repete entre os séculos V e VI d. C. A segunda
situação explicitada na tabela 4 diz respeito ao tipo de basílica triabsidal. Para esse
tipo, verifica-se que não houve crescimento, e sim um decréscimo entre os séculos
IV e V d. C., contrariando a tendência geral de crescimento atestada na tabela 3; por
outro lado, o número de basílicas triabsidais do século VI d. C. é o dobro do
existente no século V d. C., mostrando um aumento bem superior ao atestado para
as igrejas em geral.
Apesar de um aumento significativo da existência de basílicas triabsidais no
período mais posterior do recorte da pesquisa – o século VI d. C., superando até a
tendência de aumento das igrejas em geral, a hipótese lançada anteriormente não
se confirma, uma vez que a existência do tipo “basílica monoabsidal” se manteve
entre os séculos V e VI d. C. Para que a hipótese de que o tipo de basílica
monoabsidal tivesse sido gradativamente substituído pelo tipo triabsidal fosse válida,
os dados teriam que nos mostrar um decréscimo na ocorrência de igrejas
monoabsidais com o passar dos séculos em pró do aumento das basílicas
triabsidais. Além da Igreja da Natividade, a Igreja Norte de Sobata (Pr. XCVI)
também é um exemplo onde a substituição do tipo monoabsidal pelo triabsidal pode
ser atestada. Além dessas igrejas, podem até existir outros casos onde ocorra a
mesma situação e que não foram relatados, mas os dados apresentados nas tabelas
3 e 4 mostram que não podemos interpretar essa tendência como uma regra geral.
209
Por outro lado, o crescimento na ocorrência de basílicas triabsidais no século VI d.
C. é um indício de que a nossa hipótese a respeito da demanda por espaços mais
especializados que se configura a partir da sofisticação do ritual cristão é válida.
A tabela 4 ainda nos mostra que os tipos de igreja identificados estão
presentes nos três séculos em que concentramos nossas pesquisas; não notamos
nessa tabela nenhum tipo que se destacasse em apenas um século, que poderia ser
mencionado como característico de alguma fase do Período Bizantino.
No que diz respeito à posição dessas igrejas em relação aos pontos cardeais,
isto é, a sua orientação, a grande maioria dos edifícios em que esse dado foi
disponibilizado – cerca de 92% do total - estão estabelecidos na posição leste-oeste,
tendo o altar localizado a leste e a entrada do edifício a oeste. Esses dados são
apresentados na tabela 5. Para cerca de metade das igrejas do catálogo esse dado
não estava disponível, mas partindo da grande ocorrência de igrejas posicionadas
na direção leste-oeste podemos inferir que essa orientação era uma regra a ser
seguida, podendo, como em qualquer regra, haver algumas exceções. Talvez por
ser considerada uma regra, e por isso já sub-entendida, os autores não tenham visto
a necessidade de se informar a orientação quando descrevem a igreja. Na realidade
em poucos registros essa informação vinha escrita; para a maioria dos casos a
orientação da igreja foi extraída a partir do seu desenho em planta, onde sua
posição é representada em relação ao Norte. No texto de Asher Ovadiah a respeito
das primeiras igrejas vemos a importância da sua posição em relação aos pontos
cardeais: no momento em que ele descreve os elementos essenciais presentes em
uma igreja e suas funções, ao apresentar a ábside ele a define como “um nicho
semi-circular na extremidade leste4 de uma igreja.” Esse mesmo autor descreve o
nártex como “um corredor que se estende por toda a largura do edifício, no lado
oeste5 da igreja, em frente à entrada.” ( OVADIAH, 1993: 307)
Complementando a tabela 5, desenvolvemos as tabelas 6 e 7, onde
detalhamos a orientação das igrejas por séculos e tipos, respectivamente. A tabela 6
nos mostrou que a orientação se manifesta de maneira uniforme ao longo dos três
séculos estudados, e que nenhum desses séculos é marcado por uma orientação 4 O grifo é nosso. 5 idem.
210
específica. Na tabela 7 vemos que a orientação está diluída nos diversos tipos de
igreja identificados e que nenhum tipo de orientação se relaciona com apenas um
modelo de igreja, configurando-se como uma característica própria desse tipo.
A importância da orientação nas igrejas cristãs é um dado que pode ser
notado também naqueles dois exemplos de templos gregos que foram
posteriormente transformados em basílicas, o Athenaion de Siracusa e o Templo da
Concórdia de Agrigento, já descritos nesse capítulo. Nesses dois casos uma parte
importante da adaptação para igreja cristã envolveu a mudança na orientação do
templo. Assim como as igrejas, os templos gregos costumavam ser orientados na
direção leste-oeste, mas no caso dos templos sua entrada ficava a leste, lado onde
nasce o sol e que dava acesso à cela, parte mais importante do templo, pois era
onde ficava a estátua de culto no interior e o altar, na parte externa do edifício. Nas
igrejas, como já vimos, a entrada ficava a oeste e no leste, na ábside, estava o altar,
o ponto central do culto cristão e onde ocorre o sacrifício, momento em que o
celebrante consagra pão e vinho em corpo e sangue de Jesus Cristo. Deste modo
na transformação dos templos gregos em igrejas a mudança da orientação da
entrada é um ponto essencial, necessária para que o espaço se configure da
maneira mais adequada ao culto cristão. Ao mesmo tempo em que é uma mudança,
a questão da orientação nesses casos do reaproveitamento do espaço dos templos
gregos em igrejas cristãs é também uma permanência, na medida em que mantém o
altar, lugar onde se realiza o sacrifício, a leste no edifício, revelando a importância
da sua localização para as sociedades que fizeram uso desse edifício em diferentes
tempos históricos.
Um outro aspecto a ser mencionado a respeito das basílicas cristãs diz
respeito à sua proporção. Vitrúvio estabelece para as basílicas civis romanas que a
sua largura deveria estar entre 1/3 e a metade do comprimento (VITRÚVIO, 1999:
21). A fim de verificar se essa proporção estabelecida por Vitrúvio para as basílicas
romanas é adotada também no caso das basílicas cristãs, elaboramos uma tabela
de dimensões, de onde obtivemos as proporções ao dividir a largura pelo
comprimento. Se a proporção das igrejas cristãs seguisse aquela estabelecida por
Vitrúvio, o índice deveria ficar entre 0.33 e 0.5. Porém, o que a tabela 9, sobre as
211
proporções das basílicas cristãs, nos mostra é que em grande medida a sua relação
proporcional não seguiu o que foi determinado por Vitrúvio. De um total de 73 igrejas
que têm suas dimensões conhecidas, somente 9, o que corresponde a 12% do
total, estavam dentro da faixa estabelecida por Vitrúvio. A grande maioria dessas
igrejas está na faixa de proporção entre 0.50 e 0.75 (56% do total), o que significa
que, em relação ao comprimento, a largura dessas igrejas está maior do que o que
era usualmente adotado para as basílicas romanas. Lembrando que Vitrúvio pode
estar descrevendo as proporções ideais para a basílica romana e que seu relato
pode não corresponder às situações reais, recorremos aos exemplos de basílicas
romanas aqui apresentadas para conferir se divergência poderia ser notada
visualmente, pela observação de suas representações em planta. Comparada às
basílicas cristãs do catálogo fomos capazes de perceber que o edifício romano é de
fato mais longilíneo. O que pode ser percebido a partir desses dados é que entre a
basílica civil romana e a basílica cristã, mesmo apresentando características em
comum, que denotam uma permanência da sua forma apesar da mudança no uso,
também podem ser identificadas certas descontinuidades que revelam de cada um
desses edifícios possui características próprias. Se pensarmos na maneira que o
culto cristão se realiza, vemos que o espaço da nave é ocupado pela assembléia,
que assiste à celebração que o sacerdote realiza no altar. O altar é o ponto focal do
ritual, é o lugar para onde os cristãos se voltam no momento do culto. Dessa
maneira, podemos inferir que a ocorrência de formas mais largas em relação ao seu
comprimento nas basílicas cristãs é uma adaptação que tem como objetivo melhorar
as condições de visualização do altar a partir de quem está na nave.
Em resumo, apesar de seguirem na sua forma básica um modelo existente,
fixo na memória dos povos que viveram sob dominação romana, não se
desenvolveu um desenho único para as igrejas que adotaram a forma de basílica,
quer dizer, não existiu um padrão que tivesse sido rigorosamente seguido, nem
houve uma continuidade muito estrita da forma de basílica anterior.
Quanto aos aspectos formais, os exemplos de igreja apresentados mostram
que a forma de basílica, originária dos edifícios seculares romanos, permaneceu,
com algumas alterações. De maneira diversa das basílicas civis romanas, onde a
212
entrada localiza-se usualmente em um de seus lados maiores, nas igrejas que
adotaram a forma de basílica a entrada se dá por um dos lados menores, na maioria
das vezes posicionado a oeste e o altar, lugar de destaque em uma igreja, é
colocado no lado oposto à entrada, a leste, em uma ábside, posição onde se
localizava o tribunal nos edifícios romanos. A proporção também mudou: as
basílicas cristãs são mais largas que as romanas em relação ao seu comprimento.
Além disso, observamos em muitas igrejas que compõem o catálogo que elas
possuem salas anexas aos lados maiores das basílicas; usualmente eram
ambientes que abrigavam funções acessórias ao culto religioso, tais como capelas,
batistérios e diaconicons. Apesar de todas as variações formais identificadas nas
igrejas, a essência da forma da basílica permaneceu.
São essas alterações que nos mostram que, apesar de assimilada, a basílica
enquanto forma foi reinventada pela civilização bizantina. Entendemos esse
fenômeno de assimilação e reinvenção da memória de um edifício como parte de um
processo de mudança da mentalidade e necessidades de um povo, que se expressa
no surgimento de uma nova forma arquitetônica característica de sua época – a
igreja, que preserva um modelo antigo, acrescentando a ele certas inovações
(PERRING, 1991; RAPOPORT, 1982).
A tabela 9 trata da ocorrência de capitéis e seus tipos nas igrejas que compõe
o catálogo. Apesar de comprovar a escassez de informação encontrada a esse
respeito, revelada pela falta de dados sobre esse elemento arquitetônico para 93%
das igrejas estudadas, achamos relevante comentar os dados. Como mencionamos
anteriormente, o catálogo de igrejas presente nessa dissertação foi elaborado a
partir dos registros arqueológicos encontrados em duas obras: a TNEAEHL (1993) e
a ACR (1993), que trazem basicamente a configuração das igrejas em planta, uma
vez que muitas igrejas escavadas haviam sido destruídas. São poucas as igrejas
que possuem alguma informação sobre sua altura, fachada, colunas e capitéis,
enfim, sobre seu volume interior e exterior.
Ainda no projeto de pesquisa consideramos os capitéis como elementos
decorativos que poderiam nos fornecer informação de valor a respeito da
permanência e reinterpretação de elementos da arquitetura clássica em uma nova
213
situação – as igrejas, construídas para a realização de rituais do cristianismo, uma
religião que havia se difundido no século IV d.C., o limite inicial de nosso recorte
temporal. Por esse motivo, apesar dos poucos dados que se revelaram a esse
respeito, optamos por apresentá-los e comentá-los mesmo assim. Nos parcos 7%
das igrejas onde o estilo do capitel é claramente informado, a maior parte é do estilo
coríntio e apenas em uma igreja, em Horvat Beth Loya (Pr. VII) o capitel é
classificado como de “face plana”. Em virtude dos dados escassos fomos buscar
maiores informações nas obras de referência. No texto sobre as igrejas paleo-
cristãs, Asher Ovadiah (1993: 308) apresenta uma descrição geral a respeito da
ornamentação encontrada nesses edifícios. Nessa descrição o autor afirma que
capitéis decorados foram encontrados em algumas igrejas apresentadas pela
enciclopédia, a maioria deles no estilo coríntio de época Bizantina - eram capitéis
que apresentavam o motivo de cruz esculpido em meio à decoração tradicional do
estilo coríntio, sendo que a cruz foi uma alteração característica do Período
Bizantino.
O capitel coríntio foi inventado na Grécia no final do século V a.C., como um
substituto mais trabalhado do jônico, em uma época caracterizada pela importância
atribuída à parte ornamental. Esse tipo de capitel tem a forma de um sino invertido,
coberto de rebentos e folhas de acanto, planta que parece brotar do cimo do fuste.
Como ilustração, apresentamos aqui os capitéis coríntios do templo de Zeus
Olímpico, em Atenas (fig. 16). Esse é um templo colossal que, originalmente
construído na ordem dórica, nunca foi terminado. Um dos reis helênicos, Antióquio
IV, contratou Cossutius, um arquiteto romano, para reconstruí-lo em 174 a.C. na
ordem coríntia, mais moderna. Nesse capitel se confirmam as características
clássicas dessa ordem, das quais encontraremos eco até mesmo nas cópias da
época de Adriano produzidas para ampliar esse mesmo templo. Por toda a sua
volta, o capitel é pesadamente carregado de folhas de acanto dispostas em duas
altas coroas de onde saem em um nível superior folhas que acompanham as volutas
laterais. No centro, emergindo de seus caudículos rígidos, opõem-se duas volutas
decorativas que dominam a depressão mediana do ábaco. Solidamente mantida na
214
base do capitel por um filete liso, o cesto de acanto sustenta com força as quatro
volutas angulares que suportam o ábaco.
Fig. 16: Detalhe do capitel - templo de Zeus, Atenas
Fonte: CHARBONNEAUX, J. Grèce
Hellénistique, p. 26.
No início, o capitel coríntio era utilizado apenas na decoração de interiores,
mas um século depois ele passa a substituir o capitel jônico no exterior dos edifícios.
Na arquitetura grega o capitel coríntio resolveu nas colunadas do peristilo,
particularmente nos ângulos, problemas deixados em suspenso pelo capitel jônico,
muito alongado, exclusivamente biface, particularmente inadaptado nos cantos, local
onde se desenvolvia a articulação do entablamento. Na época romana, tornou-se o
capitel padrão para quase todos os fins (JANSON, 1992: 127). O primeiro exemplo
conhecido de utilização desse tipo de capitel encontra-se no interior do bem
preservado templo de Apolo em Bassai, na Arcádia, datado do século V a. C.
Na igreja da Natividade os pilares de época paleo-cristã se preservaram, e foi
por meio deles que conseguimos obter várias informações a respeito dos capitéis de
época bizantina. Nessa igreja os pilares de mármore branco com veios rosados são
215
coroados por capitéis de estilo coríntio, acrescidos de uma cruz grega sobre cada
feixe de folhas de acanto (Fig. 17) (STERN, 1993: 208). Mencionamos anteriormente
que Asher Ovadiah já havia atentado para a existência de motivos de cruz como um
acréscimo de época bizantina à decoração dos capitéis nas igrejas cristãs e assim,
os dados obtidos a esse respeito na igreja da Natividade nos trazem um exemplo
dessa tendência. A adição da cruz grega ao capitel de estilo originalmente grego e o
fuste liso, sem caneluras, são exemplos de como os elementos da arquitetura greco-
romana foram reinventados nas edificações bizantinas, com as adaptações
demandadas pela nova religião.
Fig. 17: Detalhe das colunas – Igreja da
Natividade, Belém.
Fonte: STERN, E. (ed.) TNEAEHL, p. 207.
Uma característica presente nas igrejas, inclusive nesse exemplo, que marca
sua diferença em relação à arquitetura religiosa grega e que merece ser destacada é
o posicionamento das colunas no edifício. Enquanto na arquitetura grega as colunas
marcam o exterior do edifício, estabelecendo o limite entre o espaço construído e o
não construído, desde as primeiras igrejas a colunada passa para o seu interior.
Com essa mudança, a percepção da monumentalidade da obra, que já era
216
percebida do lado de fora, no espaço urbano, passa para o interior das construções.
Retomando mais uma vez os casos do Athenaion de Siracusa e do Templo da
Concórdia de Agrigento, vemos que uma das mudanças realizadas no momento em
que eles se tornam igrejas é o preenchimento do intercolúnio externo, de forma que
o espaço entre a colunada externa e a cela é transformado em naves laterais e
passa a ser ligado à ela por meio de aberturas em suas paredes, e assim passa a
fazer parte do interior da igreja. Juntamente com a mudança na orientação, o
fechamento do intercolúnio externo são as principais mudanças empreendidas no
espaço desses templos para que eles passem a ser igrejas, tornando-se adequados
à realização do ritual cristão.
O resultado dessa nova configuração do espaço, característica da arquitetura
bizantina e que se vê presente nas primeiras igrejas, é a sua aparência exterior
simples e severa, com maior riqueza de detalhes e dramaticidade concentrando-se
no seu interior, materializando um contraste entre a arquitetura paleo-cristã e a
clássica (Figs. 18 e 19).
Fig. 18: Vista do interior – Igreja da Natividade, Belém.
Fonte: TSAFRIR, Y. Ancient Churches Revealed, prancha I-A.
217
Fig. 19: Vista do Pártenon, Atenas.
Fonte: Arquivo pessoal, set./2006.
Entendemos essa mudança da colunada, marca do monumental, do exterior
para o interior do edifício também como uma resposta material a transformação da
mentalidade. É uma forma de comunicação não-verbal que nos informa que a
maneira de pensar da sociedade que produziu essa mudança não é mais a mesma.
Na passagem para o Período Bizantino os indivíduos despojaram-se de certos
valores para adotar outros em seu lugar, revelando um momento de mudança em
vários aspectos – político, econômico, social e cultural - da vida dessa sociedade.
Dentro do contexto do estabelecimento de uma nova religião não se deve ignorar a
questão do ritual, que também marca a relação dos indivíduos com o espaço na qual
ele se realiza. Os dois templos gregos apresentados nesse capítulo, ao serem
transformados em igrejas entre os séculos VI e VII d. C., sofreram alterações no seu
espaço construído para que se tornassem adequados ao novo ritual. Na cultura
grega o ritual religioso não ocorre dentro do templo, mas fora dele, no altar que se
posiciona à leste, na sua entrada. O edifício do templo na Grécia é a morada do
deus, lugar onde a estátua de culto fica abrigada, assim como as suas oferendas.
Na religião grega o sacrifício é um ato coletivo, que se realiza no altar fora do
218
templo. Esta é uma religião onde a figura do intermediário não é importante, e os
indivíduos podem se reportar diretamente aos deuses. No caso da religião cristã, o
edifício religioso, que é a igreja, assim como nas sinagogas no caso do judaísmo, é
um local de destinado à reunião de seus seguidores, onde o ritual era realizado em
um espaço próprio para esse fim – o altar, que assim como nos templos gregos, está
posicionado a leste, na ábside da igreja, mas de maneira diversa da grega, fica no
interior do edifício e não fora dele. No cristianismo, os rituais são realizados pelo
sacerdote, que é a figura intermediária na relação entre os cristãos e o seu Deus,
responsável pela realização do sacrifício que estabelece o contato do indivíduo com
a esfera divina. Apesar de ser realizado em um espaço que propicia a reunião, o
ritual cristão é bastante individualizado e baseado no recolhimento individual. A
celebração é realizada na igreja, lugar onde os cristãos se reúnem para ouvir o
sacerdote e dele receber a comunhão; não deve haver interação entre os indivíduos,
mas deve haver silêncio e o recolhimento para que todos ouçam Deus, representado
ali pelo sacerdote. Como pode se perceber, a maneira como seus deuses são
reverenciados difere enormemente no ritual grego e no cristão, e essas diferenças
vão ser expressar também na forma construída.
O uso da basílica como forma básica nas igrejas proto-cristãs é uma questão
que merece ser explorada para além das considerações sobre sua reutilização
formal. A pergunta que guia nossas explorações a partir desse momento é: por que
a basílica, entendida como uma estrutura utilizada para reuniões civis e políticas em
época romana foi adotada no Período Bizantino para o culto religioso, um uso
totalmente diferente do período anterior?
Já mencionamos que a igreja é um espaço que se configurou da melhor
maneira possível para atender às necessidades criadas pelo culto cristão, onde a
assembléia se reúne para assistir ao ritual, que é realizado por um sacerdote. Nesse
sentido podemos interpretar o uso da basílica como a forma conhecida por esses
indivíduos mais adequada para a reunião de uma grande quantidade de pessoas em
um mesmo local e por isso o seu uso como edifício religioso no Período Bizantino.
Porém, a leitura do texto de Duncan (1990) nos indica que pode haver alguma
coisa além do simples aproveitamento da forma de basílica pela sua característica
219
apropriada para locais de reunião. Como já foi mencionado no capítulo 2 desse
trabalho esse autor busca evidenciar que o espaço construído, além de reproduzir
aspectos da vida social, pode também evidenciar a constituição ou até mesmo a
contestação das relações de poder que nele se estabelecem. Tendo isso em mente,
buscamos observar a situação política, econômica e social que se estabelece
juntamente com a construção dessas igrejas, a fim de verificar se a forma de
basílica, além de adequada aos propósitos da religião, também se configura como
materialização dos interesses de um grupo dominante.
Esse questionamento nos remete à figura de Constantino, uma vez que,
segundo os relatos históricos, foi a partir da sua tolerância e incentivo que o
cristianismo se expandiu e iniciou a construção de igrejas. Como vimos
anteriormente, no item 3.5. desse texto, a primeira situação onde Constantino
demonstrou sua simpatia ao cristianismo foi em outubro de 312 d. C., quando ele
vence a batalha da ponte Mílvia contra Maxêncio e atribui a vitória ao fato de,
orientado por um sonho, ter escrito as iniciais Chi-Rho, signo de Cristo, nos escudos
de seus soldados. A respeito desse episódio há uma discussão entre os
historiadores do período se a atitude de Constantino foi uma expressão sincera de
sua convicção religiosa ou uma questão de visão política. Com a vitória contra
Maxêncio ele se torna o único governante da porção ocidental do Império Romano.
Pouco depois, em abril de 313 d. C., Licínio vence Maxímio Daia em uma batalha no
Campo Ergeno, na Trácia, tornando-se o único governante da parte oriental do
império.
Pouco depois, Constantino e Licínio, os dois imperadores, encontrando-se em
Milão, fazem um acordo para adotar a mesma orientação religiosa nas duas partes
do Império Romano, a oriental e a ocidental. Os termos desse acordo foram
expressos no documento conhecido por Édito de Milão. Esse documento orientava
os governantes das províncias romanas a cessarem com a perseguição aos
cristãos, a restauração para todos os cidadãos da propriedade cristã confiscada,
fosse ela individual ou coletiva, e que não apenas os cristãos mas também os
seguidores de outras religiões se sentissem livres para praticá-las.
220
Constantino já mostrava simpatia aos cristãos antes de 312 d. C., mas foi
nessa época que ele se comprometeu pessoalmente com a fé cristã. Sua ligação
com o Cristianismo não foi vista apenas na ocasião da batalha da ponte Mílvia, mas
também quando, no mesmo ano, o imperador se recusou a realizar os sacrifícios
tradicionais no monte Capitólio, apesar desse ritual fazer parte da entrada triunfal
dos imperadores na cidade de Roma.
Por outro lado, Constantino ainda mantinha o cargo de pontífice máximo,
decerto para agradar a nobreza senatorial que em grande parte era pagã. É válido
também destacar que no famoso arco triunfal erigido em sua honra pelo senado,
cuja construção foi finalizada em 315 d. C., não existem símbolos cristãos, e sua
decoração é neutra no que diz respeito a religião. Os símbolos cristãos também
demoram a aparecer nas suas moedas.
Outra questão diz respeito ao seu batismo. Segundo as fontes históricas, tais
como Eusébio de Cesarea (1994: 384), Constantino foi batizado logo antes de sua
morte, em 337 d. C. Para autores como Pohlsander (2004: 27) este dado não pode
ser visto como falta de sinceridade ou comprometimento com a religião, pois como a
sua prática não era encorajada pela igreja, os cristãos dos séculos IV e V d. C.
normalmente atrasavam o seu batismo até a velhice.
Mas, como esse mesmo autor destaca, a decisão tomada por Constantino em
312 d. C. a respeito da religião vai estar presente de forma marcante nos próximos
vinte e cinco anos em que ele viveu e governou. Longe de ser um assunto privado, a
opção religiosa adotada por Constantino afetou profundamente tanto a igreja cristã
quanto o estado, a religião e a política do mundo romano. “Religião e política eram,
de fato, intimamente relacionadas no mundo romano, assim como eram no mundo
grego. Mudanças em um setor inevitavelmente levavam às mudanças no outro”
(POHLSANDER, 2004: 29). Acreditamos na lógica da afirmação de Pohlsander e
partindo desse pressuposto procuramos atentar para a relação entre as atitudes de
Constantino no campo da religião e suas realizações políticas.
Nos trezentos anos de sua existência antes de Constantino, o cristianismo foi
por várias vezes objeto de perseguição; ao mesmo tempo, ele desfrutou de
independência. “A partir do seu ativo envolvimento nos seus assuntos, mesmo que
221
benevolente, Constantino destituiu a igreja de sua independência. Ele se consagrou
não apenas o soberano por escolha divina mas também um konos episkopos (bispo
comum), isto é, observador geral e árbitro das questões da igreja. Ele usou a igreja
como instrumento de política e impôs sobre ela sua ideologia imperial. Seu desejo
de harmonia e unidade na igreja foi considerado prioridade sobre todas as outras
considerações. A igreja era agora claramente obrigada a adotar uma atitude
diferente em relação ao império, à autoridade do governo e ao serviço militar. A
partir do momento em que bispos assumiram algumas funções judiciais e
administrativas a igreja não apenas endossou mas passou a fazer parte do aparato
do governo “ (POHLSANDER, 2004: 29-30). Foi a partir do governo de Constantino,
momento em que ela passa a fazer parte do Estado, que a igreja adquiriu poder e
riqueza. A nosso ver, Constantino percebeu na adoção do cristianismo uma situação
favorável à sua vontade de dominar todo o Império Romano mais do que uma
devoção sincera à nova religião. As duas posturas, religiosa e política, estão
intimamente relacionadas e por esse motivo as suas ações nessas duas áreas
devem ser entendidas em conjunto. Não é possível ver essa situação somente de
um lado, seja ele o comprometimento religioso de Constantino ou sua visão política,
como sugerem alguns historiadores, mas sua atuação deve ser entendida, dada sua
complexidade, sob ambos os aspectos.
Como resultado do posicionamento de Constantino, vemos que o império foi
afetado não apenas em sua estrutura e nas suas instituições, que permaneceram
quase intactas, como também no fundamento de suas ideologias. Constantino se
tornou o fundador do Império Cristão, e como imperador era o representante de
Deus na terra. Durante o período em que governou sobre o Império Romano, esse
imperador manteve muitas das suas instituições tradicionais, como o Senado. Como
vimos anteriormente, na seção 3.5 dessa dissertação, quando em 330 d. C.
Constantino funda a cidade de Bizâncio como nova capital do Império, ele leva para
lá muitas das instituições de Roma. A grande novidade é o cristianismo, que a partir
de seu governo passa a ser institucionalizado e configura uma forma arquitetônica
específica para o seu culto: as igrejas. Remetendo-nos às idéias de Duncan (1990),
o que vemos aqui é um momento de mudança nas relações de poder que vai se
222
expressar na configuração de um novo edifício – a igreja cristã - que vai demandar
um novo comportamento daqueles que fazem uso dele.
Já mencionamos no início dessa dissertação que vemos a arquitetura como
uma forma de linguagem que estabelece uma comunicação não-verbal com os
indivíduos que fazem uso de suas formas. Assim, entendemos que o uso da forma
de basílica nas igrejas cristãs, mais do que uma forma adequada, passa uma
mensagem: de que aquele edifício faz parte do Império Romano e nele está
materializado o poder do seu Imperador. Para os indivíduos que viveram esse
momento de mudança, a mensagem era clara, uma vez que eles tinham
conhecimento da instituição romana que deu origem à basílica cristã. A apreensão
desse código era possível para todos aqueles que viveram nos limites do Império
Romano, inclusive nas colônias que, como já vimos, tinham instituições e edifícios
romanos que faziam parte da vida de suas cidades.
Os exemplos do Templo da Concórdia de Agrigento e do Athenaion de
Siracusa foram apresentados nesse trabalho para mostrar que, ao voltarmos ainda
mais no tempo, até o período Clássico (séculos VI e V a. C.) na Grécia e em suas
colônias, quando o templo grego se estabelece como edifício para a reunião com a
finalidade de realização do culto religioso, pudemos observar que a forma da
basílica já está delineada ali. O recuo na linha do tempo até cerca de um milênio
antes do recorte temporal estipulado nessa dissertação tem a finalidade de nos
mostrar que, apesar das condições sociais, econômicas, políticas e culturais
mudarem no decorrer dos anos e séculos, os edifícios não se transformaram
completamente; foi por meio dessa regressão que nos foi possível identificar os
elementos arquitetônicos que permaneceram desde a Antiguidade, identificados em
época grega, passando pelo período romano, chegando até o Período Bizantino,
que estudamos mais a fundo nessa dissertação, e que se mantiveram por mais
alguns séculos, atravessando a Idade Média, o Renascimento e a Idade Moderna
para ainda na atualidade continuarem a ser usados. Esse é um tempo histórico que
a escola dos Annales chamou de “La longue durée” – a longa duração - que como
apresentamos na introdução desse trabalho, abrange os processos históricos que
223
duram séculos e que são possíveis de serem identificados através da pesquisa
arqueológica.
Desde a proposta inicial, nos dispusemos a realizar nesse trabalho uma
investigação a respeito da permanência de formas clássicas nas igrejas paleo-
cristãs, o que nos permitiu ver, a partir de um exemplo concreto, que os edifícios não
se transformam completamente, mas são re-adaptados para adequar-se ao novo
caráter das atividades que vão ser realizadas no seu espaço. A partir de nossas
pesquisas fomos capazes de identificar alguns elementos arquitetônicos que se
mantiveram em uso através dos séculos, passando por várias sociedades, tais como
a forma de basílica e o uso das colunas e capitéis. Vimos também que para abrigar
o culto cristão, a basílica sofre algumas modificações. No catálogo temos vários
exemplos de igrejas onde à forma elementar da basílica são anexadas outras
estruturas, tais como capelas, batistérios e salas auxiliares ao culto, como o
diaconicon, mas mesmo com todos esses acréscimos a estrutura da basílica não é
alterada. Também os capitéis coríntios, quando usados nas colunas das igrejas
proto-cristãs, em muitos casos são acrescidos de uma cruz, como na igreja da
Natividade.
Uma vez identificadas e ressaltadas as mudanças que as basílicas cristãs
apresentam em relação às formas das quais elas se originam, cabe a nós agora nos
concentrarmos na questão da permanência das formas, explorando os motivos da
sua ocorrência em cada período: na Grécia Clássica, no Império Romano e no
Período Bizantino, a fim de encontrar algum ponto de contato que possa explicar a
sua permanência ao longo de todo esse espaço de tempo. Retomemos então a
forma mais antiga: o templo grego. Já mencionamos nesse capítulo que entre o
templo grego e a igreja cristã existe a permanência do uso como edifício de culto
religioso, e os exemplos dos templos em Siracusa e Agrigento nos mostram que,
para que sua utilidade para a religião pudesse permanecer foram necessárias
algumas poucas mudanças formais. Na Grécia da Antiguidade, o templo é o edifício
que recebe em primeiro lugar a monumentalização. No mundo das póleis gregas ele
é o lugar de maior poder e maior integração da comunidade; é nos santuários pan-
helênicos que as cidades (póleis) do mundo grego se reúnem, pois a religião é,
224
nesse universo, um ponto de contato e integração entre as diferentes comunidades.
Em muitas dessas pólis, o templo é o edifício que se destaca na paisagem, e devido
ao seu caráter monumental, é a forma arquitetônica onde se manifesta o poder da
pólis, tanto internamente, para os seus cidadãos, quanto externamente, frente às
outras póleis. Vale ainda retomar a questão do culto, que na religião grega é
realizado do lado de fora do templo, no altar, onde todos os indivíduos da pólis têm
acesso ao ritual.
Já no Império Romano, identificamos a forma de basílica que permanece nas
igrejas paleo-cristãs em um edifício civil, também chamado de basílica. Além do
relato de Vitrúvio (1999: 121-122), pesquisamos a respeito da configuração espacial
e do uso da basílica romana em diversos autores, tais como Barton (1995), Ward-
Perkins (1981), Wheeler (1995) e Zanker (2000), onde encontramos o relato de que
a basílica em época romana tinha vários usos, como já delineamos anteriormente
nesse trabalho. Retomemos então as características da basílica romana a partir do
relato de Zanker (2000): “a basílica multi-funcional era a concretização perfeita das
necessidades ideológicas e práticas da sociedade romana. Ela podia ser facilmente
subdividida em diferentes compartimentos e, através do uso de uma exedra ou de
um tribunal, podia também ser articulada de forma hierárquica. O importante papel
da basílica normalmente se reflete pela sua posição na praça pública. Muitas vezes
ela forma um contraponto com o templo tanto no tamanho quanto na paisagem. Na
época do principado, o fórum não funcionava tanto como um espaço de reuniões
para a sociedade romana, mas era um lugar onde ocorriam as cerimônias religiosas
e políticas e os rituais, e onde os negócios e os assuntos legais eram tratados. Os
últimos eram realizados especificamente na basílica, onde então se concretizava a
identidade política e jurídica da cidade. Visto por um outro lado, a necessidade de
uma basílica era a expressão do caráter romano de uma cidade. Posteriormente, o
embelezamento das basílicas com estátuas e altares contribuiu significativamente
para a veneração da família imperial. A basílica envolvia uma parte correspondente
ao Capitólio ou ao templo, dedicada ao culto do imperador no centro monumental da
cidade. Essa duplicidade projeta uma mensagem importante. Os dois pólos da
autonomia urbana e da absoluta fidelidade e subserviência a Roma e aos seus
225
deuses encontrou uma expressão visual acessível na evidente justaposição do
Capitólio e do edifício cívico multi-funcional. Quando este último passou a abrigar um
tribunal ou uma exedra com estátuas dos membros da família imperial,
estabelecendo um eixo direto que se estende pelo fórum até o templo, o quadro
ideológico havia se tornado claro para todos” (ZANKER, 2000: 36-37) Essa
descrição de basílica feita por Zanker merece ser destacada na medida em que o
autor vai além dos aspectos formais, fornecendo-nos também uma interpretação
ideológica sobre o edifício, onde a relação com o templo e a presença do poder
imperial são evidenciadas. Carter (1995: 43) também nos chama a atenção para
essas relações ao afirmar que “durante a transformação do estado que tem início
com César e foi completada, ao menos em seus aspectos essenciais, na época da
morte de Augusto, a arquitetura passou, ao menos no que diz respeito aos grandes
edifícios públicos, de um método de auto-propaganda para uma expressão e
instrumento do poder político.” Esses autores trazem a nós informações que
permitem entender a basílica de uma maneira mais profunda, percebendo que ela
era mais do que um mero edifício que tem como função abrigar um grande número
de pessoas, mas ao acomodar em seu espaço os tribunais, escritórios
administrativos e, posteriormente, estátuas de membros da família imperial, ela é a
materialização do culto imperial e mais ainda, das relações de poder que se
estabelecem no seu ambiente.
A basílica cristã, como já relatamos, toma forma durante o Período Bizantino,
e tem como finalidade abrigar o ritual cristão com todas as suas especificidades. A
assembléia cristã se reúne no espaço da igreja para que a celebração do ritual se
realize. A integração da comunidade se faz por meio do sacerdote, que intermedia a
o contato dos cristãos com o seu Deus. Uma vez que, como já vimos, a partir de
Constantino a igreja é institucionalizada e, tendo o imperador se intitulado o
representante na terra de um soberano que está no céu, as questões políticas e
religiosas passam estar relacionadas, a forma desse espaço também faz parte
dessa mensagem. “A adoção da forma de basílica como espaço de veneração ao
Deus cristão foi trazida não apenas por considerações práticas, mas também pela
sua associação simbólica com o amplo espaço que reverencia o Imperador”
226
(CARTER, 1995: 58). Com essa afirmação vemos que esse autor compreende as
basílicas cristãs da mesma maneira que interpreta as basílicas romanas: como uma
expressão e instrumento do poder político, materializado pela figura do imperador.
Anteriormente, nesse mesmo capítulo, falamos sobre o termo “basílica” e
indicamos as palavras gregas “basileu” e “basiléia” – rei e realeza - como suas
origens. Agora que nos aprofundamos na investigação das atividades que se
realizam nos espaços das basílicas romana e cristã e vimos que a permanência da
forma está relacionada à ligação que ela estabelece como o imperador, tanto no
Império Romano quanto no Período Bizantino, somos capazes de compreender que
o uso da palavra “basílica” para designar esses edifícios já evidencia, pelas suas
origens, a relação que essas formas arquitetônicas estabelecem com o poder real.
Após essa extensa análise, gostaríamos de ressaltar alguns pontos que
dizem respeito à permanência de formas arquitetônicas greco-romanas nas igrejas
paleo-cristãs. Em primeiro lugar, uso das formas do templo grego e da basílica
romana pelas igreja cristã são duas situações que não têm correspondência uma
com a outra. Nossas pesquisas não revelaram em momento algum que houve a
transformação do templo grego em basílica romana e, a partir daí em edifício cristão
e por esse motivo as duas situações, a da mudança de templo grego para igreja e a
permanência da forma de basílica romana nas igrejas cristãs foram tratadas de
forma independente.
Por outro lado, para além de sua forma, esses três edifícios: o templo grego, a
basílica romana e a igreja cristã apresentam algumas similaridades. Em todos os
edifícios pudemos identificar uma hierarquização dos espaços, isto é, espaços que
são divididos e que permitem o acesso restrito a apenas alguns indivíduos que
fazem o utilizam. No caso do templo grego, existe a cela, onde está a estátua de
culto; na basílica romana, temos as ábsides, onde ficam os magistrados ou as
exedras, que abrigam as estátuas de membros da família imperial; e nas igrejas
cristãs há o bema, a parte que contém o altar e onde o clero fica durante as
celebrações; nas igrejas existe também o nártex, corredor de transição entre o átrio
– espaço exterior e as naves – o interior, onde aqueles indivíduos que não eram
batizados podiam assistir ao ritual. Inspirados em Duncan (1990), entendemos a
227
existência de espaços hierarquizados nesses edifícios como uma materialização na
arquitetura de uma vontade por parte dos grupos dominantes de controlar e
disciplinar os indivíduos que fazem uso desse espaço.
Existe ainda um outro aspecto essencial, comum a essas três construções.
Nos templos gregos, que manifestam o poder da pólis em sua monumentalidade,
nas basílicas romanas, pela presença do culto imperial e de mecanismos de
execução das leis através dos tribunais, nas igrejas paleo-cristãs, que tem na figura
do imperador a materialização do poder divino, em todos esses edifícios podemos
interpretar a arquitetura como a materialização de um poder, poder esse que articula
e integra a comunidade pelo uso que ela faz desse espaço. Desse modo, o que
garante a permanência dessas formas arquitetônicas é a sua associação às formas
de poder, a quem por sua vez interessa a manutenção da forma espacial, uma vez
que a mensagem visual que ela transmite já foi, com o passar dos séculos,
incorporada a esse poder.
228
6. CONCLUSÃO
A idéia inicial a partir da qual esse trabalho se configurou foi a busca das
formas arquitetônicas clássicas que permaneceram nas igrejas paleo-cristãs. Nossa
amostragem se restringiu às igrejas que foram construídas entre a primeira metade
do século IV e o final do século VI d. C. na região da Palestina. A partir de sua
identificação, procuramos explorar a maneira como essas formas foram usadas: se
permaneceram no Período Bizantino como eram na Antiguidade ou se sofreram
alterações e em que medida elas foram modificadas. Buscamos ir além da análise
estritamente formal, vendo essas igrejas também como a materialização de um
momento de mudança e entendendo essa estrutura arquitetônica como um elemento
constitutivo de uma sociedade em transformação, no período intermediário entre a
Antiguidade e a Idade Média.
Para que conseguíssemos ultrapassar o limite da interpretação puramente
formal da arquitetura tivemos que compreendê-la como uma forma de comunicação
não-verbal, uma manifestação que possui uma linguagem própria e que é capaz de
nos fornecer através dessa linguagem dados a respeito do momento histórico que
fez uso de seu espaço. Foi a partir dessa perspectiva que procuramos observar as
igrejas paleo-cristãs: como objetos materiais que, com uma linguagem particular,
eram capazes de trazer em suas formas um relato a respeito do contexto onde elas
foram criadas e usadas e da situação social, política, econômica e cultural da qual
elas fazem parte.
A opção de elaborar um catálogo que organizasse todas as informações
obtidas através da pesquisa das igrejas foi adotada a fim de que os dados fossem
apresentados de forma sistemática, possibilitando-nos organizar essas informações
em gráficos e tabelas, que se mostraram bastante úteis no momento em que
realizamos uma análise interpretativa dessas igrejas, apresentada no capítulo 5
dessa dissertação.
Os dados obtidos a partir do catálogo de igrejas proto-cristãs nos mostraram
dois elementos onde a questão da permanência das formas arquitetônicas foi
atestada: no uso dos capitéis, principalmente da ordem coríntia e na adoção da
229
forma de basílica como edifício de culto cristão. No caso dos capitéis coríntios,
remontamos ao período do seu surgimento na Grécia do séc. V a. C. e pudemos
observar a continuidade e difusão da sua utilização nos edifícios de época romana
até chegar à sua utilização nas igrejas cristãs. No caso da basílica encontramos no
passado duas situações de uso dessa forma que atestam a sua permanência no
Período Bizantino, mas que são independentes, no sentido de que não se
conformam como uma transformação em duas etapas ao longo do tempo. Uma
dessas situações é o reaproveitamento da estrutura do templo grego para sua
utilização como igreja cristã, como nos mostram os casos do Athenaion de Siracusa,
transformado em igreja no século VII d. C. e o Templo da Concórdia em Agrigento,
cuja modificação para o uso como basílica data do século VI d. C. A outra situação
foi a utilização da forma da basílica romana nas igrejas cristãs. Nesse caso,
procuramos nos aprofundar na maneira como a basílica era usada pelos romanos
como edifício cívico em contraposição ao uso religioso que ela passa a adotar em
época bizantina.
Interpretamos as mudanças empreendidas para a adequação dos templos
gregos para o culto cristão e o uso da basílica como edifício de culto religioso, a
mesma forma que anteriormente era utilizada como edifício cívico em época romana
como manifestações concretas de uma nova situação que se configura, de uma
mudança nos costumes e nas mentalidades, que reaproveita formas antigas para
novos usos e introduz elementos novos à vida cotidiana. O ocorrência da forma de
basílica com um novo uso a partir do século IV d. C. expressa as relações de poder
que se estabelecem nessa época, quando, a partir do governo de Constantino a
igreja cristã passa a fazer parte do Estado, ao mesmo tempo que o Imperador se
torna o representante de Deus na terra. As igrejas cristãs são a materialização de
uma nova mentalidade que se estrutura no Período Bizantino, marcadas pela
relação intrínseca entre religião e política.
A forma de basílica, entendida como uma estrutura que se mantém através
dos séculos, na longa duração, tem como fio condutor da sua permanência a
questão do poder, que pode ser identificado como elemento articulador dessa forma
230
nas três situações temporais que exploramos nessa dissertação, a saber: a Grécia
Clássica, o Império Romano e o Período Bizantino
Ao nos aprofundarmos no estudo das igrejas cristãs para além de sua
estrutura formal, o que nos saltou aos olhos foi a nova configuração sob a qual o
poder imperial de Roma se manifestou a partir de Constantino e que se apresenta
nas igrejas mais do que em qualquer outro edifício público que existiu nessa época.
Foi muito interessante pesquisar e constatar de que maneira uma forma
arquitetônica, que no nosso caso foi a forma de basílica, foi reaproveitada e
reinterpretada com um novo uso por uma sociedade em transformação. O
aprofundamento no estudo de um elemento material se mostrou essencial no
entendimento de como esse momento de mudança se configurava no período
abordado. As igrejas, com sua linguagem não-verbal, evidenciaram em sua
configuração espacial a estreita relação entre religião e Estado e a nova estrutura de
poder que foi estabelecida a partir do século IV d. C. com Constantino. Além disso,
pela sua nova estética, que usou os elementos clássicos não mais no exterior e sim
no interior dos edifícios, que se despoja da monumentalidade exterior dos templos
para evidenciar a dramaticidade do jogo de luz e sombra, claro e escuro, no interior
dos edifícios, as igrejas cristãs manifestam em suas formas as transformações
sociais e culturais que configuram o Período Bizantino. Sendo um momento de
passagem de uma situação estabelecida na história, que entendemos como a
Antiguidade para um modo de vida e uma visão de mundo muito diferentes, aos
quais chamamos de Idade Média, o Período Bizantino é um momento de
transformação, de manutenção de certos elementos, mas de criação de outros
novos. Foi esse momento de mudança, sempre complexo, que pudemos identificar e
compreender melhor com o estudo da permanência de formas clássicas nas igrejas
paleo-cristãs.
231
7. GLOSSÁRIO
Durante a elaboração dessa pesquisa, nos deparamos com termos que
possuem um significado bastante específico, o que nos levou a elaborar um
glossário, usado como ferramenta auxiliar em nossas leituras, para uma rápida
compreensão de palavras que não fazem parte do nosso universo cotidiano.
Optamos por apresentar este glossário aqui também como uma ferramenta para
nossos leitores, onde não nos limitamos a apresentar apenas os termos
presentes no texto final desse trabalho, mas também palavras de significado
importante e pertinente ao tema estudado, que estão presentes na bibliografia
consultada para esse estudo. Os termos apresentados neste glossário se
referem em grande medida a elementos arquitetônicos característicos do nosso
objeto de estudo - as igrejas cristãs - mas também estão presentes termos
bastante utilizados nos textos que tratam da arquitetura e do urbanismo de época
clássica.
� Aedicula – altar em miniatura, normalmente na forma de templo ou um nicho
adornado por colunas.
� Ambo – o púlpito elevado no ambiente principal (nave) da igreja.
� Ábside – Palavra que tem origem no termo grego apsís. No templo grego é
nessa parte, no leste, onde fica a estátua de culto, a entrada e do lado de fora do
templo, o altar. É uma construção abobadada de planta semi-circular ou
poligonal. Nas basílicas romanas era na ábside que ficavam o pretor e outras
personalidades, como os magistrados, durante as sessões públicas e
julgamentos. Posteriormente a ábside foi incorporada à planta das igrejas cristãs,
situada na parte posterior e usada como local de assento do clero, coro ou altar-
mor, significando, simbolicamente, o paraíso. Comumente em uma igreja cristã a
ábside está localizada no lado do sol nascente, a leste. Usualmente ela é
decorada por mosaicos ou pinturas murais. Na sua frente situa-se o bema.
� Absidal – Espaço edificado que tem a forma de ábside.
232
� Átrio – o pátio anterior à igreja, normalmente localizado na extremidade oeste do
edifício e na maioria dos casos rodeado por um pórtico. A forma latina do nome –
atrium - designa o jardim interno da casa romana, mas ao que parece a origem
do uso em época Bizantina é derivado da palavra em grego “aitrion”, significando
“um lugar aberto para o ar e o vento”.
� Basílica – forma latina do grego “basileu” (basileus), que significa “rei”, “real”
(estrutura); em grego “basiléia” (basileia) significa “realeza” – Esse é o termo
comum para os edifícios cívicos romanos ou para salas dentro dos complexos
palaciais. No período cristão “basílica” foi sinônimo para “igreja”. Na classificação
de igrejas, “basílica” indica uma estrutura longilínea em forma de corredor,
dividida em nave central e naves laterais por fileiras de colunas, onde na
extremidade leste localizam-se o bema e a ábside.
� Batistério – sala em uma igreja ou em um edifício próximo que contém a pia
bastimal.
� Bema – significa “lugar alto” em hebraico; em grego (bhma) significa passo,
degrau, plataforma elevada; em uma igreja, é a parte dedicada ao clero,
sinônimo de coro; a parte da igreja que contém o altar; o lugar dos padres; ver
presbyterium.
� Cancellus – o biombo do coro, o parapeito baixo que cerca o bema. Era
usualmente feito de pedra ou com colunas e painéis de mármore.
� Capela – Pequena igreja de um só altar, ou sala anexa a uma igreja com altar
próprio.
� Cardo – a rua transversal na cidade Romano-Bizantina, que cruza o Decumanus
em ângulo reto.
� Catecúmenos – candidatos à conversão para o Cristianismo, que recebem
ensinamentos sobre os princípios básicos da religião, mas ainda não foram
batizados.
� Catedral – do latim cathedra: cadeira, trono episcopal. Igreja principal de uma
diocese e o mais importante local de culto da sede episcopal.
� Cela – sinônimo de nave (naos), termo grego que designa a sala principal do
templo, que contém a estátua do deus.
233
� Ciborium – o dossel destacado sobre o altar, suportado por quatro colunas,
independentes do restante da estrutura da igreja.
� Cripta – a sala ou túmulo abaixo do piso da igreja, usada para sepultamentos ou
para guardar relíquias.
� Curiales – o conselho governante nas cidades que foram ocupadas pelo Império
Romano durante a sua existência.
� Decumanus – a rua transversal da cidade Romano-Bizantina, que cruza o Cardo
em ângulo reto.
� Diaconicon – a sala usada pelos padres e seus assistentes (diáconos) para
armazenar oferendas trazidas até a igreja, suas vestes e artefatos de culto.
Inicialmente se unia ao hall da igreja ou ao átrio, mas posteriormente tornou-se a
sacristia da igreja, localizada ao sul da ábside central.
� Domus ecclesia – termo em latim para “casa da igreja”; era um termo comum
para denominar as igrejas pré-Constantino da congregação cristã, construídas
como casas privadas; em grego, a palavra “ekklesia” (ekklesia) significa uma
reunião dirigente, uma assembléia que materialmene reúne as pessoas para
decisões políticas. No mundo grego, é o templo que reúne as pessoas para os
ritos religiosos.
� Estilóbato – base contínua que suporta uma fileira de colunas.
� Eucaristia – termo em grego para “agradecimento pelas oferendas”; o
sacramento na qual o pão e o vinho são partilhados para rememorar a morte de
Cristo.
� Exonártex – o pórtico externo da igreja, entre o nártex e o átrio.
� Igreja – tem origem no termo grego “ekklesía” (ekklesia): assembléia. Designa o
edifício onde se realiza o culto cristão; ver domus ecclesia.
� Insula – termo em latim para “ilha”; bairro residencial nos estabelecimentos
Romano-Bizantinos, circundado por ruas.
� Liturgia – o termo grego para missa; o rito ou corpo de ritos na igreja, incluindo a
Eucaristia. É sinônimo de “missa” em latim.
� Mártir – termo grego para “testemunha”; designa uma pessoa que foi perseguida
até a morte pela sua fé e que a partir disso se tornou um santo.
234
� Martyrium – uma igreja, ou parte de uma igreja, onde os restos de um santo
foram sepultados. Na literatura especializada o termo veio a designar o tipo de
estrutura concêntrica (redonda), poligonal ou cruciforme própria de uma igreja
comemorativa.
� Memorium – um monumento ou uma igreja comemorativa.
� Nártex – termo grego para “recipiente”; amplo corredor ou pórtico localizado na
extremidade oeste da nave da igreja, entre a igreja e o átrio. Durante a Eucaristia
os catecúmenos permaneciam nesse lugar.
� Nave – tem origem no termo grego “naos” (naos), que designa a sala principal no
templo grego, onde fica a estátua de culto. Esse sentido também permaneceu
nas igrejas, onde a nave corresponde à sua sala principal, que abriga a
comunidade no culto cristão. Nas igrejas que possuem a forma de basílica a
nave está dividida em nave central, que é a porção central do ambiente,
separada das naves laterais, que são os lados da nave da igreja, por duas fileiras
de colunas.
� Onomasticon – termo grego para “lista de nomes”; um volume escrito em Grego,
identificando os lugares da Palestina mencionados nas Escrituras. Foi compilado
por Eusébio, bispo de Cesarea, por volta de 300 d.C.
� Opaion/ oculus – palavras grega e latina, respectivamente, para “olho”; abertura
circular no ápice do domo de uma igreja.
� Opistódomo – o pórtico localizado atrás da cela nos templos gregos, que muitas
vezes serve como entrada dos fundos.
� Opus sectile – pavimento ou revestimento de placas de mármore colorido
assentada de várias maneiras.
� Opus vermiculatum – mosaico feito com tesserae pequenas, alongadas e de
forma irregular.
� Ovolo – um padrão de “ovo e seta” nas molduras arquitetônicas.
� Paramonarios – o sacristão, guardião das vasilhas de culto e dos objetos
valiosos pertencentes à igreja ou monastério.
� Parvis – pátio; a praça de entrada da Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém.
235
� Pastophorium – termo em latim para “altar”; salas em qualquer um dos lados da
ábside central.
� Plinto – a base quadrada mais baixa da base de uma coluna.
� Polycandelon – candelabro.
� Portico – colunada aberta que sustenta um telhado.
� Presbyterium – termo grego para “lugar dos anciãos”; termo comum para o
bema, ou a entrada que era restrita aos padres.
� Pronaos – no templo grego, é o pórtico, o ambiente que se atravessa para a
acessar a nave (“naos”).
� Prothesis – termo grego para “apresentação em público” – na religião católica é
o processo pelo qual o pão sagrado foi feito e apresentado antes da liturgia, e em
certas épocas refere-se à sala ou recesso ao norte da ábside central da igreja no
qual o pão santo foi preparado. Ver diaconicon.
� Relicário – recipiente no qual relíquias sagradas, normalmente ossos de santos,
eram guardadas; em alguns casos tinham a forma de um sarcófago em
miniatura.
� Souk – o mercado árabe.
� Synthronon – termo grego para “trono mútuo”; banco, de frente para o público,
onde os padres e o bispo se sentavam; usualmente era construído na forma de
degraus atrás do altar, no recuo semicircular da ábside.
� Tabula ansata – moldura retangular, com uma orelha de forma triangular em
cada um dos seus lados menores, dentro da qual há uma inscrição; é
normalmente encontrada em pisos de pedra ou de mosaico.
� Temenos – precinto; o terreno sagrado de um templo.
� Tessera – termo grego para “algo que tem quatro cantos” – pequeno pedaço de
pedra, vidro ou cerâmica, utilizado nos trabalhos em mosaico.
� Transepto – a sala transversal em uma igreja, que cruza em
ângulo reto o maior comprimento entre a nave e a ábside, assim formando uma
configuração cruciforme.
236
8. BIBLIOGRAFIA∗∗∗∗
8.1. Abreviações
AMBSR Archaeological Monographs of the British School at Rome
EMC Echos du Monde Classique
BAR British Archaeological Reports
IEJ Israel Exploration Journal
JAR Journal of Archaeological Research
JECS Journal of Early Christian Studies
JRA Journal of Roman Archaeology
8.2. Fontes
8.2.1. Fontes Escritas
� EUSÉBIO DE CESAREA. Vida de Constantino. Madrid, Editorial Gredos, 1994.
� ______. História Eclesiástica. Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, 2001.
� VITRÚVIO, Da Arquitetura. Tradução de Marco Aurélio Lagonegro, São Paulo,
Editora Hucitec – FUPAM, 1999.
8.2.2. Fontes Arqueológicas
� STERN, E. (ed.) The New Encyclopedia of Archaeological Excavations in the
Holy Land. Jerusalem, The Israel Exploration Society, 1993.
� TSAFRIR, Y. (ed.) Ancient Churches Revealed. Jerusalem, Israel Exploration
Society, 1993.
8.3. Referências Bibliográficas
� AA.VV. L’Italia dei Greci – Archeoguide. Milano, Agostini Rizzioli Periodici S. r.
l., n. 1, 2005.
� AA.VV. Highlights of Recent Excavations. Jerusalem, Israel Antiquities
Authority, 1990.
� AA.VV. “The Roman and Byzantine Near East: some recent archaeological
research”. JRA, Supl. 14, Michigan, Ann Arbor, 1997.
∗ As abreviaturas utilizadas seguem o padrão L’Année Philologique.
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