10 Anos

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  • Pensar, comunicar, actuar em lngua portuguesa10 ANOS DA CPLP | Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa

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  • Pensar, comunicar, actuar em lngua portuguesa10 ANOS DA CPLP | Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa

    www.cplp.org

  • A CP

  • ndiceA Aposta da CPLPSecretario Executivo Embaixador Lus de Matos Monteiro da Fonseca

    CPLP - Dez Anos. Balano e Desafi osSecretrio Executivo AdjuntoEmbaixador Jos Tadeu da Costa Sousa Soares

    Cooperao entre a Unio Europeia e a CPLP

    Presidente da Comisso Europeia Dr. Jos Manuel Duro Barroso

    Unidade e DiversidadeSenador Jos Sarney

    I - A CPLP: o que e o que representa para o mundo

    n O Espao Fsicon O Marn Populaes e Demografi a n Comunicaes e Transportesn Economias e Desenvolvimento n Poltica Internacional

    II - Histria da Instituio n Antecedentes e Precursoresn Fundao n Estatutosn Os rgos e o seu funcionamento n Cronologia de dez anos de funcionamento n Os Estados-membros

    . Angola - Emb. Assuno dos Anjos . Brasil - Emb. Lauro Moreira . Cabo Verde - Emb. Arnaldo Andrade Ramos . Guin-Bissau - Emb. Constantino Lopes da Costa . Moambique - Emb. Miguel Costa Mkaima . Portugal - Emb. Vasco Bramo Ramos . S. Tom e Prncipe - Emb. Alda Alves de Melo dos Santos . Timor-Leste - Emb. Manuel Soares Abrantes

    1

    21

    A Aposta da CPLP

  • III - Principais Eixos de Interveno: n Concertao Poltico-diplomtica . Defesa e Segurana . Cidadania e Circulao das pessoas . Direitos, Liberdade e Garantias n Cooperao para o Desenvolvimento e Solidariedaden Promoo e Difuso da Lngua Portuguesa . Acordo Ortogrfi co de Lngua Portuguesa . Educao na CPLP . Instituto Internacional da Lngua Portuguesa . ILLP esse grande desconhecido Dra. Amlia Mingas, Directora Executiva do IILP IV - Cultura, Informao e Comunicao na CPLP

    V - Ambiente de Negcios na CPLPn Conselho Empresarialn Indicadores de Desenvolvimento

    VI - A CPLP e a Sociedade Civil: n Observadores Associados e Consultivosn Os Embaixadores de Boa Vontade

    VII A CPLP e a Lusofonia

    VIII - CPLP: Paradoxo certo ou futuro incerto?Carlos Lopes, Sub-Secretrio-geral da ONU e Director Executivo do UNITAR

    IX - ltimas Reunies CPLP

    X - Contactos teis

    XI - Ficha Tcnica

    81

    113

    123

    131

    135

    139

    143

    155

    170

    ndice

  • A Aposta da CPLP

    Fruto de uma viso colectiva dos dirigentes de sete pases,* anco-rada nos sentimentos e opinies recolhidos em debates, por vezes calorosos, realizados em vrias capitais, a Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa CPLP foi ofi cialmente criada a 17 de Julho de 1996.

    Na origem da sua constituio est o reconhecimento, pelos Esta-dos e respectivas sociedades, da existncia de elementos integra-dores, desde logo ressaltando a utilizao da mesma lngua de co-municao, os contactos e a vivncia comum dos povos ao longo de sculos. Essa vivncia, apesar das contradies e confl itos regis-tados acabou por gerar, com a resoluo do diferendo colonial, um relacionamento solidrio e durvel, propcio ao desenvolvimento do sentimento de pertena a um espao comum.

    Os Chefes de Estado e de Governo que assinaram a Declarao Constitutiva da CPLP perceberam que concertando a sua actuao no mbito de uma organizao internacional, contribuiriam para re-forar o prestgio e a credibilidade de cada um dos pases que re-presentavam, conferindo-lhes uma projeco maior do que se agis-sem isoladamente. Eles viram com clareza a vantagem da utilizao de uma lngua comum, facilitadora do dilogo e entendimento, da formao e consolidao de relaes humanas, apontando para os benefcios de uma aco coordenada e convidando conjugao de vontades direccionada para a obteno de vantagens recpro-cas.

    Com vista ao desenvolvimento das relaes num futuro tambm par-tilhado os fundadores da CPLP fi zeram seus, valores universalmente aceites, relativos Paz, Democracia e Estado de Direito, Direitos Hu-manos e Justia Social, que integraram na Declarao Constitutiva. Quiseram, alm disso, identifi car objectivos convergentes volta dos quais seria possvel congregar esforos e realizar projectos comuns de interesse para o bem-estar e o desenvolvimento das respectivas sociedades.

    * Na verdade, oito, se levarmos em considerao a presena, na sesso constitutiva, de uma delegao da Comisso Coordenadora da Frente Diplomtica da Resistncia Timorense.

  • Embaixador Lus de Matos Monteiro da FonsecaSecretrio ExecutivoSecretrio Executivo da CPLP,

    eleito pela V Conferncia de

    Chefes de Estado e de Gover-

    no realizada em 27 de Julho

    de 2004, na cidade de So

    Tom, e reconduzido pela VI

    Conferncia, em 2006, Bissau.

    Natural da Ponta do Sol, Santo

    Anto, Cabo Verde. Diplomata

    cabo-verdiano, foi Represen-

    tante Permanente de Cabo

    Verde junto s Naes Unidas,

    em Nova Iorque (2001-2004).

    Embaixador Extraordinrio e

    Plenipotencirio na ustria e

    Representante Permanente de

    Cabo Verde junto s Naes

    Unidas, em Viena (1991- 1994).

    Director-Geral da Poltica

    Externa, do MNE CV (1996-

    1999). Foi ainda Director-Geral

    dos Assuntos Polticos e Cultu-

    rais do MNE CV (1994 - 1996).

    Embaixador Extraordinrio e

    Plenipotencirio em Moscovo,

    com acreditao na Litunia,

    Estnia, Kasaquisto e Ucrnia

    (1991-1994). Embaixador Ex-

    traordinrio e Plenipotencirio

    em Haia, Pases Baixos e junto

    s Comunidades Europeias,

    Acreditado em Bruxelas, Co-

    penhaga, Estocolmo, Helsn-

    quia, Londres, Oslo e Reiquia-

    vik (1987 -1991).

    A

    gen

    cia

    LUS

    A

    Alguns dos interesses partilhados eram e so ditados pela evoluo da situao internacional cada vez mais complexa, que exige a coor-denao e a conjugao de vontades para encontrar solues aos problemas que se colocam s sociedades modernas.Durante o perodo decorrido desde a sua criao, a CPLP tem-se afi rmado como Comunidade e como Organizao e consolidado o seu reconhecimento, tanto a nvel dos Estados como na cena inter-nacional.

    Cada vez mais os Estados coordenam e procuram harmonizar as suas polticas num leque progressivamente abrangente de domnios de interveno. A cooperao entre os pases da CPLP fi rma razes e factor relevante no seu processo de desenvolvimento. As consul-tas sobre questes de interesse mtuo e a coordenao de polticas vo paulatinamente criando procedimentos compatveis, facilitando o intercmbio e a mais rpida adopo das melhores prticas.

    Com crescente frequncia a CPLP associada a iniciativas de ou-tras organizaes intergovernamentais e solicitada a participar em eventos de relevncia internacional.

    Por outro lado, a Lngua Portuguesa, ao mesmo tempo que se con-solida nos pases da Comunidade onde ela no constitui lngua ma-terna est a conquistar progressivamente espao de afi rmao no mundo.

    Verifi ca-se, ainda, um interesse consistente dos cidados em con-tribuir para o desenvolvimento da Comunidade como espao de in-tercmbio e de cooperao. Disso expresso o elevado numero de organizaes que j foram criadas e continuam a surgir, com o objectivo de conjugar esforos para promover interesses comuns dos cidados e procurar sinergias atravs de iniciativas conjuntas nos domnios mais diversos, estendendo-se da sade educao, da cultura aco humanitria, do desenvolvimento comunitrio ao Meio-Ambiente.

    Mas se verdade que a Comunidade, ao longo dos seus onze anos de existncia, tem registado sucessos, tambm facto que estes no tm bastado para ir ao encontro de grande nmero de expec-tativas que a sua criao desencadeou entre os cidados.

  • Essas expectativas que, por um lado, so alimentadas por algumas metas que a Organizao se props e publicitou, por outro e com frequncia, resultam de uma percepo desproporcionada do al-cance dos objectivos da CPLP, assim como dos seus recursos e competncias.

    importante reconhecer que vrios objectivos estabelecidos pelos fundadores da CPLP continuam por se concretizar, seja por insufi ci-ncia de recursos, seja por no se ter conseguido alcanar os ne-cessrios consensos quanto s formas de as materializar. Os Esta-dos so dirigidos por governos que tm as suas prprias agendas e prioridades, que podem variar com a situao interna ou interna-cional e que nem sempre coincidem a cada momento em mat-rias como aquelas de que depende o sucesso de uma organizao como a CPLP.

    Decerto, o estdio de desenvolvimento dos pases membros refl ec-te-se na efi ccia da Organizao e na rapidez com que se realizam os seus objectivos. Como sabido, dos oito pases que integram a Comunidade, seis so Estados em vias de desenvolvimento, neces-sitando, por isso, em grande medida, do apoio da cooperao inter-nacional. Essa dependncia da ajuda externa a que Portugal e o Brasil procuram responder de maneira altamente signifi cativa limita a sua capacidade de iniciativa nas organizaes de que esses pases fazem parte, designadamente a CPLP.

    Noutros casos, os estrangulamentos resultam das difi culdades que alguns Estados experimentam em conciliar certos objectivos da CPLP com outros compromissos internacionais que subscreveram. Encontram-se neste caso os obstculos que se colocam a uma maior facilidade de movimentao, ao alargamento de direitos es-pecfi cos dos cidados dos pases membros no espao da Comuni-dade assim como a uma mais livre circulao de bens culturais entre esses pases. O prosseguimento das medidas visando facilitar a cir-culao, promover a integrao dos residentes originrios de outros Estados da Comunidade e o reconhecimento recproco de direitos polticos, econmicos, sociais e culturais merece fi gurar nas agen-das dos governos de forma destacada.

    No obstante, possvel melhorar o desempenho da Organizao se os governos se esforarem no sentido de uma maior integrao da dimenso da CPLP na elaborao e gesto das suas polticas. A este respeito, importa que se aposte mais decididamente no funcio-namento dos mecanismos de coordenao, em particular os das reunies ministeriais e sectoriais para que se garanta a efectiva reali-zao das decises adoptadas nessas instncias e o seu adequado seguimento.

    Um passo importante nesse sentido poder sem dvida ser a cria-o da Assembleia Parlamentar, frum importante atravs do qual

  • os eleitos dos cidados tero a possibilidade de exercer um papel activo no acompanhamento e aconselhamento da aco dos exe-cutivos em prol da realizao dos objectivos propostos em 1996. Cabe ainda realar o factor decisivo que a iniciativa cidad. in-dispensvel que a CPLP caminhe no sentido de se converter num espao de cidadania, de partilha e reconhecimento identitrio. Devemos continuar a estimular a organizao e a participao da so-ciedade civil com vista a que possa contribuir para o fortalecimento das bases da Comunidade e promover os seus ideais. A integrao das organizaes da sociedade civil como observadores consultivos confere-lhes capacidade adicional de interveno nesse sentido.

    Num projecto poltico ambicioso como o da edifi cao de uma co-munidade, vital para o seu xito que os cidados se sintam parte e benefi cirios do processo para que se sintam motivados a dar-lhe o seu apoio. Esse apoio ser tanto mais consistente quanto mais prximos os cidados de cada pas se sentirem dos cidados dos restantes, atravs do conhecimento das diferentes realidades que compem a CPLP.

    Essa aproximao depende dos esforos que forem feitos atravs da educao, da utilizao dos rgos de comunicao social, da promoo do intercmbio cultural e da facilitao da circulao no espao da CPLP.

    A opinio pblica um factor que pode infl uenciar poderosamente o caminho a seguir e, bem assim, o ritmo com que pode avanar. O envolvimento dos artistas, cientistas, pensadores, polticos, jornalis-tas e outros formadores de opinio no debate e na refl exo sobre os caminhos da CPLP , pois, fundamental para a criao de uma opinio pblica favorvel.

    tambm no sentido de contribuir para a formao, em todos os nossos pases, de uma opinio pblica que propicie o desenvolvi-mento do grande projecto CPLP que surge este documento, o qual, para alm de procurar fazer um balano da primeira dcada da sua existncia, sistematiza informaes sobre a Comunidade e traz a opinio e testemunhos autorizados de algumas personalidades in-fl uentes no espao lusfono.

    Com a presente publicao concretizamos um passo importante na aposta do Secretariado Executivo em assegurar uma maior divul-gao da Organizao e das actividades que se realizam sob a sua gide.

    Na elaborao deste importante trabalho agora trazido a pblico, participaram diversas individualidades, assessores e tcnicos que trabalham na CPLP. A todos quantos contriburam para que ela fosse possvel, exprimimos o nosso apreo mais sincero.

    Embaixador Lus FonsecaSecretrio Executivo da CPLP

  • Em termos da vida de uma Organizao um perodo de dez anos , por certo, curto, para determinar a sua histria. , contudo, sufi ciente para que se faa uma avaliao do caminho percorrido, se corrijam rumos e se proceda a uma refl exo sobre os desafi os que se lhe deparam no futuro.

    Passado um primeiro momento de entusiasmo, em que alguns pol-ticos, numerosos rgos de informao e muitos na sociedade civil, viam a CPLP como uma resposta para os mais diversos problemas que os preocupavam num dado momento histrico (desde a de-mocratizao dos Estados-membros ao seu desenvolvimento, da circulao de pessoas ao incremento das relaes comerciais), hoje possvel fazer um balano sobre o cumprimento, ou no, pela Organizao, dos objectivos para que foi criada.

    Para tal julgo de recordar que os seus fundadores, aps enuncia-rem um conjunto de princpios slidos e elevados, identifi caram nos Estatutos trs objectivos: coordenao poltica; cooperao para o desenvolvimento e a promoo e difuso da Lngua Portuguesa.

    No domnio da coordenao poltica, devemos ter presente que a fundao da CPLP coincide historicamente com um momento internacional em que se reforam e aprofundam as organizaes polticas e econmicas de carcter regional, criando compromis-sos e laos aos diversos Estados-membros. Mesmo assim, a CPLP desenvolveu e aprofundou prticas de consulta regular, assegurou valiosos apoios entre os oito e, sem se sobrepor s Organizaes Regionais de que cada um faz parte (UE, SADC, CEDEAO, ASEAN ou MERCOSUL), conquistou o seu espao na determinao das polti-cas dos Estados-membros.

    Foi ainda mais longe. Num respeito total pelos assuntos internos de cada Estado-membro, mas insuspeita de quaisquer desgnios ocul-tos, a CPLP, utilizando os estreitos laos humanos existentes entre os seus dirigentes, interveio repetidamente em momentos de crise em alguns dos pases, participando de forma constante na busca de uma normalidade poltica e no lento processo de democratizao das sociedades.

    Estamos longe de ter atingido um estdio ideal, mas o balano francamente positivo e no se contam entre os oito pases da Co-munidade situaes extremas de descalabro poltico ou de confl ito generalizado.

    CPLP - Dez Anos. Balano e Desafi os

  • Embaixador Jos Ta-deu da Costa Sousa SoaresSecretrio Executivo AdjuntoNasceu no Porto. Iniciou a

    carreira diplomtica em Maro

    de 1972. Na V Conferncia de

    Chefes de Estado e de Gover-

    no, em 27 Julho de 2004, em

    So Tom e Prncipe, foi eleito

    Secretrio Executivo Adjunto e

    foi reconduzido pela VI Confe-

    rncia de Chefes de Estado e

    de Governo, em 2006, Bissau.

    Serviu na Misso Permanente

    de Portugal junto das Naes

    Unidas em Nova Iorque e

    nas Embaixadas em Berlim e

    Tquio. Foi Cnsul-geral em

    Paris e, em 1992, durante a

    Presidncia portuguesa da

    Unio Europeia, foi Secretrio

    da Conferncia de Paz da Ju-

    goslvia. Representante Per-

    manente Adjunto da Misso

    Permanente de Portugal junto

    das Naes Unidas (1994).

    Embaixador em Bangueco-

    que, sendo acreditado simul-

    taneamente em Singapura,

    Vietname, Cambodja, Malsia,

    Birmnia e no Laos (1999). Foi

    ainda Director dos Servios

    das Relaes Culturais Bilate-

    rais, Director dos Servios dos

    Assuntos Multilaterais e Direc-

    tor-Geral dos Assuntos Comu-

    nitrios do MNE de Portugal.

    C

    PLP

    Quanto ao segundo objectivo cooperao para o desenvolvi-mento em todos os domnios a insistncia nos primeiros anos foi essencialmente na formao de quadros e no domnio da sade. Com poucos recursos e competindo com Agncias h muito esta-belecidas, a CPLP fi cou claramente aqum das expectativas. Falta-lhe, pois, convencer os Estados-membros que a Organizao, sem ser uma Agncia de Cooperao, pode ter um valor acrescentado neste domnio. A semelhana nos problemas e as experincias ad-quiridas em numerosos domnios permitem o estabelecimento de sinergias na busca de solues. Paralelamente, a CPLP pode cons-tituir um instrumento nico de internacionalizao de projectos, per-mitindo aceder a recursos das grandes Agncias e Fundaes inter-nacionais.

    Estes dois pontos partilha de problemas e solues e possibilidade de internacionalizao dos projectos e da busca de fi nanciamento a que se soma uma lngua comum e estruturas administrativas se-melhantes, constituem a enorme mais valia da CPLP, nem sempre aproveitada.

    Promoo e difuso da lngua portuguesa

    O facto de no momento em que foi criada j existir uma Instituio comum com esse objectivo o IILP (Instituto Internacional de Lngua Portuguesa) fez com que a CPLP de incio acompanhasse menos intensamente estas questes.

    O IILP, por razes estruturais, teve srias difi culdades em arrancar na execuo das tarefas que lhe eram atribudas. Corrigidos e ul-trapassados os bloqueios que o impediam de funcionar, espera-se agora uma actividade mais intensa e visvel no domnio de um pa-trimnio comum aos oito, onde todos tm interesses a defender, embora por razes nem sempre coincidentes.

    Na realidade, cada um dos Estados-membros tem, em relao ao idioma portugus, uma posio no subconsciente nacional e poltico diferente, que afecta a sua forma de encarar as questes da lngua comum. Desde a suprema confi ana do Brasil e dos brasileiros, para quem o idioma que falam um instrumento vivo e refl exo do seu tamanho de 180 milhes de habitantes, at posio defensiva e conservadora de Portugal, que v ameaas lngua surgidas de vrios quadrantes; desde os pases africanos, onde o portugus

  • um instrumento ao servio da unidade nacional e de uma mquina administrativa que se quer cada vez mais efi ciente, at Timor-Leste, onde a lngua portuguesa constitui um claro elemento de diferencia-o e identidade nacional. Mas todos podem benefi ciar por fazerem parte de um bloco lingustico especfi co, tendo assim interesse na sua promoo internacional.

    Paralelamente aos trs objectivos acima referidos e que foram sen-do cumpridos com diversos nveis de sucesso, julgo que uma palavra deve ser dita sobre o Secretariado da Organizao e a sua reestru-turao em curso, que visa adapt-lo aos desafi os que se deparam CPLP.

    nico rgo com carcter permanente, o Secretariado Executivo soube manter-se pequeno em nmero e em oramento (a CPLP custa aos oito, no seu conjunto, cerca de um milho de euros/ano, isto no incluindo o Fundo Especial para projectos de desenvolvi-mento).

    O Secretariado, que responde aos pedidos e instrues dos Esta-dos, mas pode apresentar igualmente iniciativas prprias, consti-tudo por assessores, na maioria cedidos pelos Estados, ressen-tindo-se, inevitavelmente, desta situao, em que no intervinha na escolha do seu prprio pessoal.

    A criao de um quadro tcnico, paralelo ao dos assessores nacio-nais, as reformas no sistema de chefi a agora em curso (criao do lugar de Director- Geral escolhido por concurso, em substituio do Secretrio Executivo Adjunto), e a manuteno de baixos encargos fi nanceiros, permitir ao Secretariado ser o motor efi ciente sobre o qual se apoiaro as iniciativas dos Estados.

    Desafi os So claras algumas das questes s quais a Organiza-o deve prestar maior ateno. Umas requerem apenas um mero aperfeioamento no tratamento de temas j identifi cados: Continu-ado e discreto apoio s actividades de democratizao dos Esta-dos-membros; intensifi cao da cooperao feita pelos ministrios sectoriais; reviso e internacionalizao de todo o sistema de coo-perao para o desenvolvimento, orientada de forma a integrar-se nos objectivos do milnio; cooperao internacional na promoo da lngua portuguesa; etc.

    Outras so, contudo, novas e devero receber, no futuro, particular ateno. Citaria, a ttulo de exemplo as seguintes:

    Juventude essencial e subjacente prpria existncia da Co-munidade um melhor conhecimento e intercmbio entre os jovens

  • dos oito. Tem-se algumas vezes resumido a criao da CPLP com uma frase simples: A CPLP a resposta poltica a um sentimento. Para que esse sentimento perdure, necessrio que as futuras ge-raes, em cada um dos Estados-membros, conheam a realidade dos restantes.

    Ambiente As questes de proteco do ambiente iro desem-penhar um papel cada vez mais relevante no futuro. Os oito devem, desde j, e de uma forma sistemtica, partilhar experincias e cola-borar neste domnio.

    Energia Fazem parte da CPLP grandes produtores energticos e Estados totalmente dependentes da sua importao. O futuro apon-ta para o desevolvimento de energias renovveis. Podemos pensar em conjunto como enfrentar os desafi os que se nos deparam neste domnio.

    Mar Foram as viagens atravs dos mares que estiveram na origem dos pases da CPLP e o mar ainda hoje os une e tem uma presena indelvel na cultura dos oito. O mar poder ser uma inesgotvel fon-te de recursos. Com mais de sete milhes de quilmetros quadra-dos de zona econmica exclusiva, os Estados-membros tm muito a partilhar.

    Oportunidades comerciais e de investimento A CPLP no am-biciona, por certo, a ser uma rea de comrcio livre mas as poten-cialidades neste domnio esto longe de ser exploradas. Um trabalho profundo sobre a forma de intensifi car as trocas comerciais e os in-vestimentos entre os oito, deve ser levada a cabo sem demora.

    Abertura Sociedade Civil Deixei para o fi m uma das questes que considero essenciais vida da Organizao. Com a aprovao do Estatuto de Observador Consultivo, h cerca de dois anos, cria-ram-se as estruturas necessrias para um intercmbio regular com a sociedade civil. H, agora, que prosseguir nesse caminho e dina-mizar as imensas oportunidades que se nos oferecem criando-se, se necessrio, no Secretariado, um departamento exclusivamente votado a tal fi m.

    A terminar, diria que uma observao cuidadosa e objectiva me leva a fazer um balano positivo dos primeiros dez anos da CPLP, em-bora, por vezes, de valor desigual nos resultados conseguidos nas diferentes reas de actuao.

    Quanto ao futuro, encaro-o com optimismo, certo de que sabere-mos responder s expectativas que os Governos e as populaes dos Estados-membros depositam na Organizao.

    Embaixador Tadeu SoaresSecretrio Executivo Adjunto da CPLP

  • Participar no processo de criao da CPLP Comunidade dos Pa-ses de Lngua Portuguesa, foi um dos acontecimentos mais alician-tes da minha vida politica.

    Trata-se de um processo longo em que participei primeiro como Se-cretario de Estado dos Negcios Estrangeiros e mais tarde como Ministro dos Negcios Estrangeiros de Portugal.

    A CPLP foi formalmente instituda a 17 de Julho de 1996 com 7 esta-dos membros (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guin-Bissau, Moambi-que, Portugal e So Tom e Prncipe) e posteriormente alargada para incluir Timor-leste, que entretanto conquistara a sua independncia, processo em que a CPLP participou activamente.

    Este grupo de Estados situados em 4 continentes e englobando 230 milhes de pessoas - consolidou uma realidade resultante dos laos de fraternidade e cooperao que se foram entretanto criados entre eles.

    Como Primeiro-Ministro de Portugal participei tambm activamente nas actividades da CPLP.

    Nas minhas funes actuais de Presidente da Comisso Europeia venho perseguindo o objectivo de reforar a cooperao da Unio Europeia com Estados membros da CPLP e com a prpria CPLP. Este processo tem contribudo para aumentar a visibilidade e a to-mada de conscincia para esta realidade importante na cena inter-nacional que o espao lusfono.

    No mbito destas aces de reforo da cooperao da Unio Euro-peia com o mundo CPLP realo:

    Cooperao entre a Unio Europeia e a CPLP

  • Dr. Jos Manuel Duro BarrosoPresidente da Comisso EuropeiaNasceu em Lisboa a 23 de

    Maro de l956. Presidente

    da Comisso Europeia desde

    2004. Foi Secretrio de Estado

    da Administrao Interna no X

    Governo Constitucional, Secre-

    trio de Estado dos Negcios

    Estrangeiros e da Cooperao

    e Ministro dos Negcios Es-

    trangeiros nos XI e XII Governos

    Constitucionais. Primeiro-Mi-

    nistro do XV Governo Constitu-

    cional (2002-2004). Chefi ou e

    participou em diversas misses

    no plano internacional, nome-

    adamente no processo para

    a autodeterminao de Timor-

    Leste e no processo de paz

    para Angola (1990-1991). Foi

    chefe da delegao do IDEA

    Bsnia e Herzegovina (1996),

    e consultor das Naes Uni-

    das para o projecto relativo

    pacifi cao em frica (Tanz-

    nia), em 1997. Foi assistente na

    Faculdade de Direito da Univer-

    sidade de Lisboa, assistente

    no departamento de Cincia

    Poltica da Universidade de

    Genebra e professor convidado

    no Department of Government

    e na School of Foreign Service

    (Center for German and Euro-

    pean Studies) da Universidade

    de Georgetown, Washington

    D.C. (1996-1998).

    1. estabelecimento de cooperao formal entre a Comisso Euro-peia e a CPLP atravs dum Memorando de Entendimento entre as partes.

    2. cooperao entre a UE e os Pases Africanos de Lngua Ofi cial Portuguesa (PALOP) no mbito do 10 Fundo Europeu de Desenvol-vimento incluindo tambm Timor-Leste.

    3. estabelecimento duma parceria estratgica entre a UE e o Bra-sil.

    Estes desenvolvimentos no mbito do reforo da cooperao da UE com o mundo lusfono sero formalizados no segundo semestre de 2007 sob Presidncia Portuguesa da UE.

    Estas iniciativas vo contribuir para reforo da afi rmao politica do espao lusfono e tambm permitir a cooperao entre todos os estados lusfonos independentemente dos acordos bilaterais que tenham com a UE.

    O espao CPLP constitudo por Estados com diferente grau de desenvolvimento humano e socio-econmico ligados contudo por uma lngua, cultura, historia e herana comum.

    O Memorando de Entendimento entre a UE e a CPLP visa nomeada-mente viabilizar a cooperao no domnio da reduo da pobreza e alcanar os objectivos de desenvolvimento do milnio.

    Fao votos para que esta cooperao, que agora se perspectiva entre a CPLP e a Comisso Europeia, venha a contribuir par alcanar os objectivos comuns das duas Instituies

    Dr. Jos Manuel Duro BarrosoPresidente da Comisso Europeia

  • Unidade e Diversidade

    A lngua portuguesa, na expresso j dogmtica de Fernando Pes-soa, a nossa ptria: - minha ptria a lngua portuguesa. Essa lngua que, tendo s as pequenas terras de Portugal onde ser falada, ganhou os mares e tornou-se a lngua dos navegantes, dos desco-bridores, das caravelas que saram pelos mares afora. Na aventu-ra das Grandes Navegaes, semeou palavras nas duas costas de frica, adentrou o oceano ndico, passou pelo estreito de Malaca e ganhou os mares da China. E no navio de So Francisco Xavier, che-gou at Nagasaqui, no Japo. Neste deixar de palavras e recolher palavras, transformou-se neste idioma de cultura universal.

    Nestes ltimos quinhentos anos, o portugus voltou-se de um idio-ma ocenico num idioma continental. Ao iniciar, no sculo XV, sua expanso para alm do extremo ocidental da Pennsula Ibrica, ga-nhou primeiro o Atlntico e depois o ndico, fi xando-se nas ilhas e nos pequenos e numerosos portos ao longo das praias que borde-jam o que os gregos chamavam de Rio Oceano. Onde ganhou as orelhas e as bocas, fi cou. Tornou-se a lngua de corte, a exemplo do que sucedera com o francs na Europa do sculo XVII, em reinos africanos como os do Benim, do Congo e do Warri, deixou palavras e modos de dizer em numerosas lnguas, do iorub ao japons, mar-cou profundamente no s o vocabulrio mas tambm a sintaxe de idiomas como o papiamento e o urrobo, criou novas lnguas, como os crioulos de Cabo Verde, de Casamansa, da Guin-Bissau, de so Tom e Prncipe e de Ano Bom, e os papis de Malaca, do Ceilo, de Macau, do Timor e da ndia.

    Saiu dos navios e das praias, para expandir-se terra fi rme adentro, acabando por consolidar-se num imenso espao territorial, que dos mais amplos do mundo em que se fala o mesmo idioma. E fala-se o mesmo idioma com invulgar unidade, uma unidade que se superpe aos regionalismos que enriquecem e que o tomam, sem qualquer esforo, naturalmente compreendido por todos os que o falam ao longo do grande arco que corre da Europa at Timor-Leste. No Brasil, desempenhou tambm um papel fundamental como ins-trumento da coeso e da unidade poltica.

  • Senador Jos SarneyDiversas vezes deputado e

    quatro vezes senador. Foi go-

    vernador do Maranho entre

    1966 e 1971 e Presidente da

    Repblica no perodo entre

    1985 e 1990. O Senador Sar-

    ney continuou a sua trajectria

    poltica como Senador, tendo

    sido presidente do Senado

    Federal, em dois binios, um

    cargo que cumulativo com

    o de presidente do Congres-

    so Nacional. Foi eleito para a

    Academia Brasileira de Letras

    em 1980.

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    sil

    Em 1989, como Presidente do Brasil, tive a grande honra de receber na minha cidade de So Lus do Maranho os chefes de Estado de Moambique, Guin-Bissau, So Tom e Prncipe, Portugal e Cabo Verde, e a representao de Angola. Estvamos reunidos na iden-tifi cao da lngua portuguesa, nossa herana comum. Da reunio de So Lus nasceu, podemos dizer, a Comunidade dos Pases de Lngua portuguesa. Procurvamos ento estreitar nossos laos co-muns de histria, das nossas razes, de nossa inseparvel amizade.

    A valorizao internacional de nossa lngua comum representa um enriquecimento de nosso potencial de insero internacional. Os benefcios so comuns, e precisvamos de uma aco concertada, coerente. Inicimos, portanto, um processo de cooperao multila-teral, ampliando os laos dos tradicionais acordos bilaterais, que nos expressavam a dimenso do que a lngua portuguesa representa como factor de cultura e de desenvolvimento. Desde a criao da CPLP, temos mantido a nossa deciso poltica em favor da via de cooperao, do fortalecimento dos vnculos culturais forjados pela lngua comum, mediante uma poltica lingustica compatvel, que d relevo a nossa actuao internacional.

    A lngua portuguesa no apenas um meio de comunicao para nossa comunidade de naes; no apenas um elemento aglutina-dor para nossa culturas. A lngua deve ser, acima de tudo, refl exo e ve-culo de amplos movimentos de renovao cultural de nossos povos.

    Somos cerca de 200 milhes de seres humanos que podemos nos comunicar diretamente, que podemos partilhar a imensa riqueza cul-tural de nossos pases. Devemos usar este extraordinrio patrimnio para identifi car e aperfeioar os traos culturais que nos so comuns e, ao mesmo tempo, preservar e valorizar os elementos que nos diferenciam.

    A unidade e a diversidade ou a diversidade dentro da unidade da-ro a nosso empreendimento o vigor e a temperana necessria para o seu pleno xito.

    Senador Jos Sarney

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    cia

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    Plataforma de petrleo off-shore, Angola.

  • 1A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    A Comunidade dos Pases de Lngua Portuguesa (CPLP) foi fundada a 17 de Julho de 1996, em Lisboa, e constituda por oito Estados: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guin-Bissau, Moambique, Portugal, So Tom e Prncipe e Timor-Leste.

    Os laos entre os povos que habitam os territrios que integram hoje a CPLP so muito antigos e foram tecidos pela lngua portuguesa ao longo de mais de cinco sculos de histria. Inicialmente uma lngua de navegadores, mercadores e missionrios, hoje lngua ofi cial dos oito membros da Comunidade, o Portugus actualmente o patri-mnio comum de cerca de 240 milhes de pessoas, a quinta lngua mais falada no mundo. Lngua, histria e cultura so os alicerces da CPLP, mas a jovem Co-munidade no pretende ser apenas a zeladora de um passado de encontros e desencontros, afectos e memrias gloriosas para uns, dolorosas para outros. Aberta para o mundo e virada para o futuro, como os homens e as mulheres que a habitam, maioritariamente jovens, a CPLP pode dizer sem exageros que nenhum dos grandes desafi os que enfrenta a humanidade lhe alheio, porque todos a afectam.

    O Espao Fsico A rea do globo terrestre ocupada pelos oito Estados-membros da CPLP muito vasta.

    So 10 742 000 km2 de terras, 7,2 por cento da terra do planeta (148 939 063 km2), espalhadas por quatro Continentes Europa, Amri-ca, frica, sia. Situado maioritariamente no hemisfrio sul, este espao descont-nuo abrange realidades to diversas como a do gigante Brasil, sexto pais do mundo pela superfcie, como o minsculo arquiplago de So Tom e Prncipe, o Estado mais pequeno de frica.

    O clima, a fauna e a fl ora so variados, correspondentes diversida-de das latitudes em que se situam os vrios pases membros. Com excepo de Portugal, de clima temperado com variantes ocenica e mediterrnea, a maior parte da CPLP situa-se na zona tropical sub-equatorial. Os ndices de pluviosidade determinam grandes diferen-as de paisagens naturais, s vezes dentro de um s pas, como acontece no Brasil das estepes semi-ridas do Nordeste selva amaznica e em Angola da fl oresta do Mayombe ao deserto de Namibe e s savanas inundveis do Zambeze.

    A CPLP: o que e o que representa para o mundo

  • 4A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    O MarO mar, que teve um papel primordial na histria da CPLP desde o incio da gesta dos navegadores portugueses do sculo XV, no menos importante na defi nio da sua realidade actual. Com as suas guas territoriais (24 milhas) e as suas ZEE (Zonas Econmicas Ex-clusivas) (200 milhas) os membros da Comunidade so os donos de 7.142.753 km2, o que representa cerca de 2 por cento dos mares do mundo (361.126.222 km2), e de uma parte ainda mais signifi cati-va do Oceano Atlntico. Portugal, tem uma das mais extensas ZEE da Unio Europeia (1.727.408 km2) e quatro dos membros da Comunidade Angola, Brasil, Cabo Verde, Guin-Bissau e So Tom e Prncipe fl anqueiam as duas margens do Atlntico Sul.

    A Conveno das Naes Unidas sobre Direito do Mar permitiu ao Brasil estender os limites da sua Plataforma Continental e exercer o direito de jurisdio sobre os recursos econmicos em uma rea de cerca de 4,5 milhes de km2. A chamada Amaznia Azul contm as maiores reservas de petrleo e gs dos pais.

    Esta dimenso martima condiciona a existncia da CPLP mais do que geralmente lembrado: alm de trs Estados insulares (Cabo Verde, So Tom e Prncipe e Timor-Leste) e de um Estado com dois arquiplagos (Portugal, com os arquiplagos das Aores e Madeira) a Comunidade abrange milhares de quilmetros de costas, debru-

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    Os membros da Comunidade

    so os donos de parte consi-

    dervel dos mares do mundo

    (361 126 222 km2) e de uma

    parte ainda mais signifi cativa

    do Oceano Atlntico.

  • 5A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    ados sobre alguns dos fundos marinhos mais importantes do mun-do pelas suas riquezas (reservas haliuticas, minerais, petrleo) ou estratgicos para o transporte martimo (Atlntico Mdio, Canal de Moambique, Mar de Timor).

    Algumas destas realidades que condicionam, tambm, a vida dos seus habitantes: com excepo de Braslia, todas as cidades capitais da CPLP so, simultaneamente, os principais portos (Luanda, Lisboa, Maputo, Cidade da Praia, Bissau, So Tom, Dli); tambm no litoral que se concentra a maior parte da populao: dois teros vivem a menos de 100 km do mar.

    Populaes e Demografi aA populao da CPLP constituda pelos cidados dos oito Esta-dos-membros, residente ou emigrante em pases no membros. Em 2006, era quantifi cada em cerca de 240 milhes de pessoas mas, na maioria dos casos, trata-se apenas de estimativas. De qualquer maneira, a populao est a aumentar muito rapidamente, dado que s Portugal tem um crescimento demogrfi co negativo, enquanto os outros pases membros tem um crescimento igual ou superior aos 2,5 por cento ao ano e mais de metade das suas populaes so jovens adultos. Os Estados-membros da CPLP probem a discriminao racial ou religiosa, pelo que no existem estatsticas cientfi cas que dividem esta populao em funo da cor da pele, credo religioso ou origem tnica. , no entanto, possvel pintar o retrato do cidado mdio da CPLP como o de uma mulher (mais de 51 por cento da populao), jovem (menos de 25 anos), negra ou mestia (como 40 por cento dos brasileiros).

    O cristianismo , de longe, a religio dominante e o Catolicismo, que chegou a todos os territrios da actual comunidade com as ca-ravelas portuguesas, congrega o maior nmero de praticantes. No se trata, contudo, de uma realidade homognea e invarivel, no es-pao e no tempo. Cerca de 73 por cento dos brasileiros, 94 por cen-to dos portugueses e 80 por cento dos cabo-verdianos dizem-se catlicos mas em todos estes pases se assiste a um crescimento das outras confi sses crists (protestantes e evanglicas, nomea-damente), reconhecidas ou no legalmente, e das chamadas Igrejas Independentes Africanas (em Moambique, os zionistas so aproxi-madamente to numerosos como os catlicos, 17,5 por cento). Nos pases africanos e em Timor-Leste (90 por cento de catlicos) o cris-tianismo no obliterou por completo os cultos e ritos ancestrais.

    O Islo a segunda religio no espao da CPLP, praticada por cerca de 10 milhes de cidados da Comunidade (45 por cento na Guin-Bissau, 17 por cento em Moambique e pequenas comunidades no Brasil, Portugal, Timor e Angola). Sincretismo e tolerncia so rasgos culturais dominantes que impregnam a religiosidade popular. Apesar das nefastas memrias da Inquisio, que esteve na origem do de-gredo ou exlio de muitos judeus do Reino de Portugal, e de perodos

  • 7A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    de intolerncia no sculo XX, fanatismos e fundamentalismos no formam parte da cultura comum. Para isto ter contribudo a histria e sculos de viagens e migraes cruzadas, voluntrias ou foradas. Uma tradio que remonta, para os portugueses, ao sculo XV, quando Portugal contava pouco mais de um milho de habitantes, e pela qual se habituaram a estarem sempre em inferioridade numrica nos pases de destino.

    Todos os membros da CPLP tm hoje laos com importantes comu-nidades de emigrantes e descendentes de emigrantes, em quase todos os pases em todos os continentes.

    A dispora portuguesa, a mais antiga, ainda a mais numerosa, em termos absolutos: 4.721.683 pessoas recenseadas, ofi cialmente ou pelas associaes, em 2001. Detm, por lei, direito de voto desde que mantendo a nacionalidade portuguesa e est representada no Parlamento de Lisboa por quatro deputados. As comunidades principais residem, actualmente, na Unio Europeia, Amrica do Nor-te, frica do Sul e Venezuela.

    Com aproximadamente 500 mil membros, a dispora cabo-verdia-na tem ainda uma maior importncia relativa, quer face ao nmero total de cidados cabo-verdianos quer pelo papel que desempenha na vida poltica, econmica e cultural do arquiplago. Estados Uni-dos, Europa, frica (nomeadamente, Senegal, Angola e So Tom e Prncipe) e o Brasil foram os principais destinos de vagas sucessivas de migrantes.

    Os so-tomenses, logo que puderam, tambm se lanaram nas ro-tas de emigrao. A guerra nos respectivos pases obrigou moam-bicanos, angolanos e guineenses a procurar refgio e/ou empregos nos pases vizinhos e em Portugal.

    O Brasil, que acolheu no passado dezenas de milhes de imigran-tes, tornou-se mais recentemente tambm um pais de emigrantes, sendo os Estados Unidos, Japo e Europa os principais destinos. Em Portugal, a comunidade brasileira actualmente uma das trs mais numerosas e a maior de entre os migrantes oriundos dos Estados-membros da CPLP.

    Comunicaes e TransportesAs comunicaes e os transportes, areos e martimos, de passa-geiros e de carga que foram sempre importantes na vida de todos os pases membros da CPLP so ao mesmo tempo, na era da al-deia global, um esteio da comunidade e um dos seus calcanhares de Aquiles.

    As distncias e os custos que acarretam penalizam as trocas co-merciais e tornam onerosas as telecomunicaes e as viagens entre pases da CPLP.

  • 10

    A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    Ao nvel das infra-estruturas, Portugal e o Brasil dispem de uma rede bastante densa de portos e aeroportos internacionais, mas s a partir de Lisboa possvel voar directamente para a maioria das capitais da CPLP.

    Actualmente, os pases africanos de lngua ofi cial portuguesa (PA-LOP) tm em curso importantes planos de desenvolvimento das suas infra-estruturas porturias e aeroporturias, domsticas e in-ternacionais. O transporte martimo que movimenta a quase totalidade do co-mrcio externo do Brasil e uma parte substancial das exportaes e importaes dos PALOP e de Timor-Leste experimenta uma fase de grande crescimento a nvel mundial, mas apresenta ainda seve-ras lacunas intracomunitrias, como a escassez de carreiras marti-mas regulares e as difi culdades de estiva e de manuseamento de cargas.

    Economias e DesenvolvimentoAs economias dos Oito so desiguais, quer pelas suas dimenses, quer pelo nvel de desenvolvimento, quer ainda pelo ritmo de cres-cimento.

    De acordo com a classifi cao estabelecida pelas Naes Unidas, Portugal, membro da Unio Europeia desde 1986 e co-fundador do Euro, a moeda nica europeia, pertence ao grupo dos pases mais desenvolvidos.

    O Brasil fi gura entre os pases de desenvolvimento intermdio e uma das potncias emergentes a nvel global.

    Os PALOP e Timor-Leste pertencem categoria dos pases menos desenvolvidos. A Guin-Bissau, So Tom e Prncipe e Timor-Leste fi guram entre os pases menos avanados do mundo. Cabo Verde merece uma meno especial por ser um dos pases que, pelos ndices macroeconmicos, j alcanou na viragem do milnio o patamar dos pases de desenvolvimento intermdio. No entanto, devido fragilidade da sua economia, negociou com as Naes Unidas um perodo de adaptao ao seu novo estatuto, de forma a conservar algumas das vantagens outorgadas aos pases menos desenvolvidos.

    Segundo o relatrio do Fundo Monetrio Internacional, a evoluo econmica dos Oito nos ltimos trs anos (2004-2005-2006) ca-racterizada pelos dados seguintes:

  • 11

    A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    Produto Interno Bruto (a preos correntes, em milhares de milhes de dlares:

    2004 2005 2006

    Angola 19,800 30, 632 43,759

    Brasil 663,552 882,043 1 067,6

    Cabo Verde 0,925 0,999 1,150

    Guin Bissau 0,270 0,3002 0,305

    Moambique 5,913 6,636 7,296

    Portugal 179,377 185,644 194,929

    S. Tom e Principe 0, 064 0,072 0,079

    Produto Interno per capita (a preos correntes, em dlares)

    2004 2005 2006

    Angola 1 322,0 1 987,5 2 758

    Brasil 3 654 4 788,043 5 716,7

    Cabo Verde 1 978,9 2 099 2 371,0

    Guin Bissau 175,512 190,145 186,599

    Moambique 309 338,7 364,0

    Portugal 17 070 17 598 18 465

    S. Tom e Principe 401,58 439,27 474,2

  • 12

    A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    PIB per capita em paridade de poder de compra (a preos correntes, em dlares) 2004 2005 2006

    Angola 2 464 2 975 3 399

    Brasil 8 332 8 657 9 108

    Cabo Verde 6 354 6 797 7 244

    Guin Bissau 717 740 774

    Moambique 1 274 1 381 1 499

    Portugal 179.377 185.644 194.989

    S. Tom e Principe 1 495 1 568 1 669

    Taxa de Infl ao (em percentagem, face ao ano anterior)

    2004 2005 2006

    Angola 43,6 23 13,3

    Brasil 6,6 6,9 4,2

    Cabo Verde -1,9 0,4 4,9

    Guin Bissau 0,8 3,4 1,9

    Moambique 12,6 6,4 13,2

    Portugal 2,5 2,1 3,1

    S. Tom e Principe 12,8 16,3 21,4

  • 13

    A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    Balana Comercial (a preos correntes, em milhares de milhes de dlares)

    2004 2005 2006

    2004 2005 2006

    Angola 0,685 4,137 4,606

    Brasil 11,679 14,193 13, 648

    Cabo Verde - 0,132 - 0,034 - 0,053

    Guin Bissau 0,008 0,011 0,017

    Moambique - 0,5 - 0,7 - 0,8

    Portugal - 13,803 - 18,030 - 18,287

    S. Tom e Principe - 0,015 - 0,022 - 0,049

    Nota: o relatrio de 2007 do FMI no inclui dados relativos a Timor-Leste

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  • 14

    A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    A Cooperao EconmicaAna Neto

    A CPLP corresponde a um vasto mercado e a um signifi cativo po-tencial empresarial. Neste sentido, j no momento da criao da CPLP, em 1996, os Estados-membros reconheceram a importn-cia da cooperao empresarial, entre outras reas de cooperao, como um dos caminhos para reforar os objectivos que a Organiza-o se prope, reconhecendo que inegvel o poder de infl uncia das empresas na conformao da sociedade actual e o seu esforo na construo de uma sociedade mais justa e democrtica. Todavia, esta vertente no assumiu qualquer relevncia nos primeiros anos aps a criao da Comunidade.

    S em Julho de 2002, com a realizao do I Frum Empresarial, em Lisboa (1), a CPLP comeou a dar os primeiros passos para refor-ar a cooperao econmica entre os Estados-membros com vista a facilitar e propiciar a intensifi cao do intercmbio econmico e comercial, tendo os governantes assumido que s eliminando bar-reiras suprfl uas e unindo esforos se poderiam obter economias de escala e de produtividade que permitiriam enfrentar a crescente concorrncia de uma economia marcada pela abertura assimtrica de mercados imperfeitos, pela circulao de bens e servios e pela liberalizao agressiva dos movimentos de capitais e investimentos.

    Seguiram-se mais trs Fora Empresariais: em Junho de 2003, em Fortaleza (Brasil), em Outubro de 2004, na Cidade da Praia e em Outubro de 2005, no Funchal.

    Estes Fora, cuja institucionalizao ainda no foi conseguida (2), de-veriam constituir um instrumento que ajudasse a mobilizar os agen-tes econmicos pblicos e privados dos pases da CPLP, num mun-do globalizado, por forma a estreitarem as suas relaes e a criarem uma maior troca de experincias e informaes, levando-os tam-bm a partilharem os seus problemas, a desenvolver projectos co-muns e a criar parcerias.

    Pretendia-se com a realizao peridica destes Fruns Empresa-riais, considerados um marco na dinamizao da cooperao eco-nmica e empresarial da Organizao, estabelecer mais uma etapa na construo da CPLP ao dot-la de uma viso e programa para a rea econmica.

    Em Junho de 2004, foi criado o Conselho Empresarial da CPLP (CE-CPLP), outro instrumento de reforo da vertente econmica da Co-munidade. A sua constituio fora j aprovada na Cimeira de Braslia, em Julho de 2002, por uma Resoluo dos Chefes de Estado e de Governo que referia O Conselho de Ministro tomou conhecimen-to, com apreo, das concluses adoptadas pelo Frum Empresarial, exprimindo particular satisfao pela criao de um Conselho Em-presarial norteado por princpios e valores comuns a todos os Es-tados-membros e com o objectivo de desenvolver uma dimenso econmica e de cooperao empresarial no espao da CPLP.

  • 15

    A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    O Conselho, uma estrutura independente dos Governos, ainda que criada sob o chapu da CPLP, e como uma parceria pblico-priva-da, deveria representar um passo adiante no reforo do brao eco-nmico da CPLP, funcionando como mais um instrumento activo de fortalecimento da cooperao econmica e empresarial, do espao lusfono, sendo tal certamente facilitado pelo trunfo que representa a utilizao da lngua portuguesa como veculo de negcios.

    Desta forma, caberia ao CE-CPLP a responsabilidade de defi nir prio-ridades consentneas com os interesses da classe e com os sec-tores que mais e melhor se adequam aos pases do espao CPLP. O mesmo dizer que o Conselho s poder ter viabilidade e ser reconhecido como instrumento de ajuda aos empresrios da Co-munidade se os mobilizar com projectos concretos e realizveis que os ajudem a integrar-se econmica e comercialmente (3) no mundo globalizado e competitivo.

    Mas, data dos 10 Anos, h que reconhec-lo, a cooperao eco-nmica e empresarial na CPLP ainda incipiente e incerta o ltimo Frum Empresarial foi em 2005 e o Conselho Empresarial ainda pro-cura a sua misso.

    Notas:

    (1) Na III Cimeira de Chefes de Estado da CPLP, em 2000 em Maputo, foi deliberado

    organizar o I Frum Empresarial da CPLP para afi rmar a Comunidade atravs de uma

    vertente econmica e de cooperao empresarial;

    (2) Certamente porque a descontinuidade geogrfi ca dos pases da nossa Comu-

    nidade, levando-os a pertencer a blocos regionais distintos, e as particularidades do

    quadro social e econmico dos Estados-membros da CPLP to diferenciados so

    factores no mobilizadores, embora tornem, tambm, maior o desafi o de articular,

    com o mximo benefcio, as potencialidades, iniciativas e oportunidades de to vasta

    famlia;

    (3) Tendo o potencial de operar como uma grande Cmara de Comrcio e Indstria

    que uniria os empresrios dos oito pases da Comunidade e capaz de dinamizar quer

    o relacionamento entre os empresrios deste espao, quer o seu acesso aos me-

    canismos de cooperao empresarial e econmica dos blocos onde esto inseridos

    Unio Europeia, Mercosul, Unio Econmica e Monetria dos Estados da frica Oci-

    dental (UEMOA) e Comunidade de Desenvolvimento da frica Austral (SADC).

  • 16

    A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    Politica Internacional Diversa nas suas realidades geogrfi ca, humana, econmica e so-ciais, a CPLP tem procurado ter uma voz activa nos fora internacio-nais e estabelecer relaes de cooperao com todas as organiza-es internacionais e regionais onde os seus membros participam, em regra geral desde antes da fundao da comunidade. Todos os oito Estados-membros da CPLP so membros do sistema das Naes Unidas.

    Portugal membro fundador da Organizao do Tratado do Atln-tico Norte (NATO ou OTAN, 1947). Aderiu em 1986 Comunidade Econmica Europeia, hoje Unio Europeia, e aderiu no primeiro pe-loto moeda nica europeia (Euro), aps diversos anos com o Es-cudo integrado no cabaz virtual do Ecu.

    O Brasil, membro da Organizao dos Estados Americanos (OEA) um dos fundadores do Mercado Comum do Sul (Mercosul), em con-junto com a Argentina, Paraguai e Uruguai, e participa activamente nos vrios processos de integrao em curso na Amrica do Sul e nas negociaes da Zona de Comercio Livre das Amricas. Em frica, os PALOP foram admitidos logo aps a sua independn-cia politica na Organizao da Unidade Africana (OUA) e so actual-mente membros da Unio Africana, que lhe sucedeu em 2001. Ao mesmo tempo, aderiram s vrias organizaes regionais e sub-re-gionais em que esto geografi camente inseridos.

    Angola e Moambique fazem parte da Comunidade para o Desen-volvimento da frica Austral (SADC). Angola integra a Comunidade dos Pases da frica Central (CEAC) que inclui ainda So Tom e Prncipe. Angola tambm participa com dinamismo na instituciona-lizao da Organizao dos pases do Golfo da Guin e foi admiti-da em 2006 na Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo (OPEP). Cabo Verde e Guin-Bissau so membros da Comunidade dos Estados da Africa Ocidental (CEDEAO), tendo a Guin-Bissau decidido aderir Unio Economia e Monetria da Africa Ocidental (UEMOA) e adoptado a moeda comum, o Franco CFA, como moeda nacional.

  • 17

    A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    Dez anos de Acordos Mrio Mendo

    Os Acordos celebrados no mbito da CPLP, por serem o refl exo do trabalho realizado no prosseguimento dos objectivos estatutrios da Organizao, marcam o sucesso da concertao de interesses dos Estados-membros num interesse comunitrio comum.

    O Secretariado Executivo da CPLP e os Estados-membros trabalham continuamente no sentido da materializao dos compromissos as-sumidos em avanos da Comunidade, e procuram a concertao de vontades no sentido promover a celebrao de novos Acordos.

    Os documentos encontram-se separados em trs grupos, diferen-ciados pela natureza dos signatrios. Assim:

    Acordos Intra CPLP (os signatrios so os Estados-membros)

    n Declarao constitutiva da CPLP

    n Estatutos da CPLP

    n Acordo de Cooperao entre Governos Integrantes da CPLP para Reduo da Demanda, Preveno de Uso Indevido e Combate Produo e ao Trfi co Ilcito de Entorpecentes e Substncias Psicotrpicos n Acordo sobre o estabelecimento da Sede da CPLP em Portugal

    n Acordo de Cooperao entre Instituies de Ensino Superior dos Pases Membros da CPLP

    n Acordo Geral de Cooperao no mbito da CPLP

    n I Protocolo Modifi cativo ao Acordo Ortogrfi co da Lngua Portuguesa

    n II Protocolo Modifi cativo ao Acordo Ortogrfi co da Lngua Portuguesa

    n Acordo sobre a Supresso de Vistos e Passaportes Diplomticos, Especiais e de Servio, entre os Governos dos Pases Membros da CPLP

    n Reviso dos Estatutos do IILP

    n Estatuto do Centro de Anlise Estratgica

    n Acordo sobre a Concesso de Vistos de Mltiplas Entradas para Determinadas Categorias de Pessoas

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    A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    n Acordo sobre o estabelecimento de Requisitos Comuns Mximos para a Instruo de Processos de Visto de Curta Durao

    n Acordo sobre o estabelecimento de Balces Especfi cos nos Postos de Entrada e Sada para o Atendimento de Cidados da CPLP

    n Acordo sobre a concesso de Visto Temporrio para tratamento mdico a cidados da CPLP

    n Acordo sobre a Iseno de Taxas e Emolumentos devidos emisso e renovao de autorizaes de residncia para os cidados da CPLP

    n Acordo de Cooperao entre Estados Membros da CPLP sobre o Combate ao HIV/SIDA

    n Resoluo de Reviso dos Estatutos da CPLP

    n Frum dos Parlamentos dos Pases de Lngua Ofi cial Portuguesa e respectivo Estatuto

    n Acordo de Cooperao entre os Estados Membros sobre o Combate Malria/Paludismo

    n Conveno sobre a transferncia de pessoas condenadas entre os Estados-membros da CPLP

    n Conveno sobre Auxlio Judicirio em matria Penal entre os Estados-membros da CPLP

    n Conveno sobre Extradio entre os Estados-membros da CPLP.

    Acordos entre a CPLP e outras Organizaes Internacionais

    n Acordo de Cooperao com a Organizao Internacional das Migraes OIM

    n Acordo com a Organizao das NU para a Agricultura e Alimentao FAO n Programa de Cooperao com a Conferncia das Naes Unidas para o Comrcio e Desenvolvimento UNCTAD

    n Complemento adicional ao Programa de Cooperao CPLP/UNCTAD, com a participao do SEBRAE RS

    n Protocolo de Cooperao com a Associao das Universidades da Lngua Portuguesa AULP

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    A CPLP: O QUE E O QUE REPRESENTA PARA O MUNDO

    n Acordo com a Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura - UNESCO

    n Acordo com a Unio Latina

    n Termos da Colaborao da CPLP, como Centro Colaborador do Programa da Naes Unidas contra o HIV/SIDA - UNAIDS

    n Convnio Operacional CPLP/UNCTAD/Empretec n Acordo de Cooperao Base com a Organizao Mundial da Propriedade Intelectual - OMPI

    n Convnio com a Organizao dos Estados Ibero- Americanos para a Educao, Cincia e Cultura

    n Protocolo de Cooperao com a Open City International Foundation - FOCA

    n Memorandum de Entendimento com a Organizao Internacional do Trabalho - OIT

    n Resoluo de Cooperao entre a CPLP e a Organizao das Naes Unidas

    n Protocolo de Cooperao com a Unio das Cidades Capitais de Lngua Portuguesa

    n Unio das Cidades Capitais Luso-Afro-Amrico-Asiticas

    n Protocolo de Cooperao com a Organizao Internacional do Trabalho - OIT

    n Atribuio do Estatuto de Observador CPLP na Assembleia-Geral das Naes Unidas

    n Acordo de Cooperao com a Unio Econmica e Monetria da frica Ocidental - UEMAO

    n Acordo sobre o Programa de Cooperao Tcnica com a FAO (Propriedade , Ordenamento e aspectos legais)

    n Acordo com o Alto Comissariado da Naes Unidas para os Direitos do Homem ACNUDH

    Acordos entre a CPLP e entidades da Sociedade Civil (desenvolvido no captulo VII).

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    Exposio no Museu da Lngua Portuguesa, Estao da Luz, So Paulo, Brasil.

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    HISTRIA DA INSTITUIO

    Histria da Instituio

    Antecedentes Dizer que a lngua portuguesa foi espalhada nos pases que formam hoje a CPLP, pelos portugueses de Portugal, apontar para uma evi-dncia. A origem mais remota da comunidade pois a expanso do Reino de Portugal iniciada com as exploraes martimas do Sculo XV aquela que deu novos mundos ao mundo.

    No se trata aqui de fazer a histria da colonizao portuguesa. Con-tudo vale a pena lembrar alguns dos traos que marcam ainda hoje a comunidade.

    O primeiro destes traos a antiguidade dos laos que comea-ram a ser forjados quando os navegadores lusos desembarcaram em terras nunca dantes visitadas por europeus.

    Da descoberta das primeiras ilhas de Cabo Verde por Dinis Dias chegada de Vasco da Gama a Calecut na ndia, em 1498, e de Pedro Alvares Cabral s Terras da Santa Cruz, hoje no Brasil, em 1500, a gesta dos descobridores cumpriu-se em pouco mais de meio S-culo. Em 1471, Joo de Santarm e Pro Escobar tinham explorado a costa do Golfo da Guin e descoberto So Tom e Ano Bom (hoje na Guin Equatorial). Em 1481, Diogo Co atingiu o esturio do rio Zaire e ergueu o primeiro padro no solo da futura Angola. Em 1487, Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperana, abrindo o ca-minho do Indico. Na histrica viagem para a ndia, Vasco da Gama sabe-se por Damio de Gis colocou cinco padres, dois dos quais na costa de Moambique. Em 1510, Afonso de Albuquerque conquistou Goa que se tornou a principal possesso portuguesa no Oriente. Em 1514, Jorge Alvares atinge a China, em 1543 Francisco Zeimoto, Antnio Mota, Antnio Peixoto e Ferno Mendes Pinto so os primeiros europeus a desembarcar no Japo. Ao Ceilo, Birmnia e s ilhas de Sumatra e Java foi posteriormente estendida a infl un-cia portuguesa, com Malaca, na pennsula da Malsia como ponto de apoio: Timor, referenciada nos mapas desde 1515, comeou en-to a ser regularmente visitada por navios portugueses.

    No se tratava de um imprio no sentido clssico do termo, sen-do a ocupao territorial reduzida com excepo do Brasil a um conjunto de praas, fortalezas, presdios, entrepostos e feitorias, es-palhado ao longo das costas, descontinuo no espao e no tempo. Mas os conhecimentos e contactos ento estabelecidos perdura-ram, mais ou menos fortes, at ao presente.

    O segundo trao dominante o carcter marcadamente mercantil da empresa, com uma larga participao de particulares e o lucro como principal motor.

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    HISTRIA DA INSTITUIO

    O primeiro ouro em p trazido da costa africana criou a convico de que a regio poderia servir para o estabelecimento de uma acti-vidade comercial capaz de paliar as necessidades de numerrio que ento se fazia sentir em Portugal e em toda a Europa. As visitas anuais Guin e Mina para carregar escravos e ouro, tro-cados por panos e trigo, produzido na Madeira ou comprado na Europa, fortaleceram o valor da moeda portuguesa. O centro deste comrcio era Lagos onde foi criada a Casa da Guin, transferida em 1482 para Lisboa com o nome de Casa da Guin e da Mina. Contudo, a penria crnica do errio rgio levaram a Coroa a arren-dar o trato da Guin a mercadores. O primeiro contrato deste tipo, fi rmado entre o rei Afonso V e o mercador de Lisboa Ferno Gomes, com o encargo de armar s suas custas a continuao da explora-o do litoral africano, iria servir de modelo, quer para o fi nanciamento das frotas, quer para o povoamento e colonizao das novas pos-sesses. A Coroa cobrava impostos e reservava-se o monoplio de alguns produtos considerados estratgicos ouro, pedras preciosas, especiarias e armas. O controlo da administrao central sobre as actividades destes empresrios no era fcil e foi geralmente frouxo, deixando ampla margem iniciativa de empreendedores e aventu-reiros, nacionais e estrangeiros, que raramente cumpriam as leis. A situao alterou-se com D. Joo II e D. Manuel mas, em breve, os re-cursos existentes no pas eram insufi cientes para a extenso do ter-ritrio, para as fortalezas e feitorias que se pretendiam controlar. No fi nal do Sculo XVI, com a unio das duas monarquias ibricas, mul-tiplicam-se os ataques pelos tradicionais inimigos da Espanha. Por meados do Sculo XVII, Portugal detinha apenas alguns pontos-cha-ve na sia e em frica, voltando-se de decisivamente para o Brasil.

    Evangelizao

    A difuso do catolicismo entre os povos onde estavam implantadas as feitorias portuguesas, embora tendo constitudo uma das ban-deiras da misso dos colonizadores inseparvel do trao anterior. Naturalmente, todas as frotas dos descobrimentos se faziam acom-panhar de sacerdotes e missionrios, pois Graa divina eram en-comendadas a salvao dos tripulantes e o bom sucesso da expedi-o. O esforo para converter os gentios no era porm isento de clculo mercantil. Alem de dilatar a f, a converso dos senhores das terras descobertas era uma forma de os transformar em aliados dos portugueses. O caso paradigmtico o do Reino do Congo, com o baptismo do soberano que tomou o nome de D. Joo I, em 1491, nome do seu primo o rei de Portugal e fez erguer a primeira igreja catlica em territrio africano. O seu fi lho, D. Afonso, enviou uma embaixada a Roma para prestar obedincia ao Papa, como fa-ziam os outros reis cristos e um fi lho deste, D. Henrique, foi nome-ado por Leo X bispo titular de tica, mais tarde auxiliar do Funchal e fi nalmente chefe da Igreja do Congo (1521-1531), ou seja, o primeiro bispo catlico da frica Austral.

    Uma tentativa de converter o imperador do Monomotapa (reino que existiu em Moambique e no actual Zimbabu entre os rios Lim-

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    HISTRIA DA INSTITUIO

    popo e o Zambeze, de 1421 a 1884) obedeceu mesma inteno de fazer dele um aliado contra os muulmanos que na altura domina-vam o comrcio na costa africana do Indico, nomeadamente, o do ouro e do marfi m. Os esforos dos jesutas D. Gonalo da Silveira, Andr Fernandes e Andr da Costa no foram contudo coroados de sucesso. D. Gonalo, um portugus vindo de Goa, foi em 1561 o pri-meiro mrtir cristo de Moambique. A procura de uma aliana com os portugueses foi ainda o que levou a Rainha Ginga da Mutamba a receber o baptismo em Luanda, em 1621, das mos de um capu-chinho italiano. A rainha no aceitava submisso nem tributo mas a proibio, feita por Lisboa, aos mercadores de comprar baptizados como escravos nunca foi respeitada, a julgar pelas reclamaes do rei do Congo e dos missionrios.

    Os donos de escravos eram em contrapartida obrigados a ensinar a religio aos seus dependentes, misso incumbidas aos capeles dos engenhos, mais ou menos dedicados.

    Houve assim, desde o incio duas igrejas: a dos poderosos, j que a pratica catlica era uma forma de aceder ao poder dos brancos, e a dos negros, mais ou menos contaminada por ritos e costumes africanos. A criao da primeira Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio em frica foi autorizada pelo rei na ilha de So Tom em 1526, a pedido de dois negros livres. No Sculo XVI surgiriam duas Irmandades dos Homens Negros em Portugal, uma em Lisboa e ou-tra em Lagos. Na altura 10 por cento da populao portuguesa era constituda por escravos africanos, segundo o historiador Cristvo de Oliveira.

    Os sucessos da Evangelizao na sia foram particularmente no-tveis em Sri-Lanka, Timor, Malaca e no territrio prximo de Goa. Mas, tambm, um pouco por toda a parte, do Japo Birmnia, das Celebes ao Vietname, pequenas comunidades crists viriam a ser convertidas e existem at aos nossos dias.

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    Interdependncia

    Talvez o rasgo mais original da colonizao portuguesa seja a inter-dependncia que cedo se estabeleceu entre as vrias colnias, criando laos especiais entre elas, to ou mais fortes que com a metrpole, sempre carente de recursos fi nanceiros e humanos para acudir s necessidades dos colonos.

    Laos que perduram entre a maioria dos membros da CPLP.

    Timor sempre dependeu mais de Goa que de Lisboa e depois do fi m do Estado portugus da ndia (ocupado pela Unio Indiana em 1961) foi para Macau que se transferiram grande parte das relaes.

    Moambique pertenceu ao mesmo conjunto, dada a sua posio estratgica na rota martimas para o Oriente, criando laos fortes com Goa. O monoplio indiano sobre o comrcio com Moambique s foi abolido em 1686 e a separao administrativa do Estado da ndia teve lugar em 1752. Mas os efeitos destes cruzamentos anti-gos perduram na cultura como atravs de uma infl uente minoria de origem indiana em Moambique. Tambm ali encontraram refgio e apoio muitos independentistas timorenses depois da ocupao in-donsia da ilha em 1975. Pela sua posio estratgica no Atlntico, Cabo Verde sempre ocu-pou um lugar destacado nas relaes entre Lisboa e o resto das possesses portuguesas e em particular entre o Brasil e frica. O arquiplago foi, at ao Sculo XVIII, uma escala quase obrigatria das frotas que da Europa demandavam a frica e o Brasil.

    A Guin chamou-se Guin de Cabo Verde desde a carta regia de 1466 que outorgava aos moradores da ilha de Santiago o monop-lio do comrcio com o territrio continental africano adjacente para favorecer o povoamento do arquiplago e dependeu administra-tiva, militar e politicamente de Cabo Verde at 1879, data da instala-o do primeiro governador da Guin Portuguesa em Bolama. O interesse brasileiro pelos escravos capturados ou comprados na Guin criou laos entre comerciantes cabo-verdianos e brasileiros que, com altos e baixos, perduraram para alm da total substituio dos primeiros pelos segundos e at ao fi m da escravatura no Brasil. A Companhia do Gro Par e Maranho, fundada em 1756, fortifi cou Bissau em 1777 e fez dela o principal entreposto de escravos, eclip-sando Cacheu como centro comercial e administrativo.

    Os brasileiros no precisaram de intermedirios para as suas rela-es com as outras possesses portuguesas em frica. Em virtude de sua privilegiada posio estratgica no litoral do Atlntico Sul, em frente a Angola, e pelas condies que ofereciam os seus portos, a Bahia foi ponto quase obrigatrio de passagem das armadas que se dirigiam ou regressavam a Angola. O mesmo sucedia com as fro-tas comerciais, que iam ao Brasil e s dali alongavam a sua viagem at Angola e ao ndico, contornando o continente africano. Do Brasil partiu a expedio que em 1648 libertou Luanda da ocupao ho-landesa.

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    HISTRIA DA INSTITUIO

    A colonizao, associada introduo das culturas de plantao, do Brasil e dos arquiplagos de Cabo Verde e So Tom reforou esta interdependncia econmica, poltica e militar.

    No Sculo XV, Portugal j produzia acar na Madeira e So Tom. A sua procura na Europa e os altos preos praticados estimularam a implantao de canaviais na costa brasileira e a maioria dos histo-riadores situa o arranque da colonizao do Brasil por volta de 1530, com o aparecimento dos primeiros engenhos para produzir acar. Esta actividade teve o seu apogeu nos Sculos XVI e XVII (at ser afectada pela concorrncia das Antilhas) mas marcou a socieda-de brasileira por sculos e determinou as suas relaes com frica, porque quer as plantaes, quer as minas de ouro e diamantes (s descobertos no Brasil no Sculo XVII) precisavam de uma grande quantidade de mo-de-obra escrava.

    O trfi co de escravos tornou-se numa das actividades mais lucrati-vas do tringulo atlntico.

    O comrcio de escravos era anterior para pr em cultivo a Madeira foram utilizados escravos trazidos das Canrias (Guanches) ou com-prados aos Mouros mas a colonizao do Brasil fez crescer a pro-cura de forma exponencial e o trfi co negreiro tomou propores sem precedentes. Luanda, Cabo Verde e So Tom converteram-se em entrepostos de escravos destinados s Amricas (e no apenas ao Brasil) e, na fase fi nal, at Moambique forneceu escravos para o trfi co transatlntico.

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    A produo aucareira exigia actividades complementares, agricul-tura para a produo de alimentos e a pecuria que fornecia a popu-lao de carne, fora motriz para os engenhos, couro com suas ml-tiplas utilidades e animais de transporte. Os cavalos e as primeiras cabeas de gado vieram de Cabo Verde, em 1534, para a capitania de So Vicente. Em 1550, Tom de Sousa mandou uma caravela a Cabo Verde para trazer um novo carregamento para So Salvador da Bahia. Dado que uma carta rgia de 1701 proibia a pecuria numa faixa costeira de 10 lguas (reservada aos canaviais, mais rentveis para a Coroa) os criadores de gado tiveram que se expandir para o interior do Brasil, primeiro nos sertes do nordeste (at s brutais secas de 1791 a 1793) e logo nas campinas do sul onde encontraram condies mais favorveis.

    Em 1560, a Unio Ibrica colocou Portugal sob o domnio de Espa-nha. A crise teve como consequncia o reforo dos laos entre o Brasil e Angola e a tomada do controlo da colnia e do trfi co de escravos pelos brasileiros.

    Os holandeses, que ocuparam Pernambuco em 1630, perceberam a dependncia da regio da mo-de-obra escrava africana e ocu-param Luanda em 1641. O restabelecimento do domnio portugus sobre Angola e So Tom depois da restaurao da independncia de Portugal em 1640 foi obra dos brasileiros. Em 1648, so os co-merciantes do Rio de Janeiro que fi nanciam uma armada coman-dada por Salvador Correia de S que retoma Luanda e expulsa os holandeses.

    A partir desta data e durante um Sculo todos os cargos importantes do governo passaram a ser ocupados por pessoas vindas do Brasil, desde o governador-geral at ao bispo e ao comandante militar. Os brasileiros substituem os portugueses no controlo da colnia e do trfi co negreiro.

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    Com a descoberta

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    todo o tipo de gente

    procura de riquezas e

    o interesse da coroa

    portuguesa volta-se

    para o Brasil. (Minas

    Gerais, Brasil).

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    HISTRIA DA INSTITUIO

    Com a descoberta das primeiras jazidas de ouro no Brasil, na terra posteriormente chamada Minas Gerais e logo no Mato Grosso (1718) e Gois (1725), iniciou-se um novo ciclo. O Brasil vira-se para dentro s a procura de escravos no esmorece (em 1786, 75 por cento da mo-de-obra nas minas constituda por escravos), afl uem ao Brasil todo o tipo de gente procura de riquezas e o interesse da coroa portuguesa focaliza-se no Brasil. Surgem confl itos entre colonos e forasteiros (emboadas) e entre estes e os funcionrios da Inten-dncia das Minas (criada em 1720) rgo directamente vinculado Coroa com a funo de atribuir passaportes e terras, cobrar impos-tos, fi scalizar o trabalho nas minas e, quando foi fi xado o mnimo de arrobas de ouro que deveriam ser enviadas anualmente para Lisboa, executar a derrama.

    O facto que melhor caracteriza a inverso das relaes colnia-me-trpole foi contudo a mudana da famlia real e da corte portuguesa para o Brasil, na sequncia das invases napolenicas da Pennsula e com o apoio da Inglaterra. O futuro D. Joo VI chegou ao Brasil em Janeiro de 1808, com uma comitiva de cerca de 10 000 pessoas, e entre esta data e 1820 foi o Rio de Janeiro a capital do imprio, facto nico na historia europeia e que criou as bases para a futura emanci-pao poltica da colnia: que aconteceu em 1822 quando o prncipe D. Pedro, nomeado regente do Brasil pelo pai e intimado por Lisboa a escolher entre os interesses dos colonos e do poder central, op-tou pelos primeiros e proclamou a independncia, reconhecida por Lisboa, em 1825. A independncia do Brasil levou Portugal a virar-se de novo para fri-ca, para a procura de terras e de mo-de-obra. A escravatura, aboli-da no Brasil em 1888 sobreviveu nos territrios africanos de Portugal sob a forma do contrato e do envio de serviais, nomeadamente, para So Tom, primeira colnia africana grande produtora de caf e cacau. A conquista militar e a luta pela fi xao das fronteiras, na Gui-n portuguesa, Angola e Moambique, iniciadas na segunda metade do Sculo XIX vo prolongar-se durante as trs primeiras dcadas do Sculo XX, transformando em inimigos povos que durante Sculos tinham conhecido um outro convvio com as gentes portuguesas.

    Um trao se mantm: a falta de meios fi nanceiros e o escasso n-mero de tropas metropolitanas comprometidos nestas guerras de conquistas, efectuadas, quase sempre, com grande participao de tropas locais, auxiliares ou fornecidas por chefes tradicionais alia-dos. Ao contrrio do que acontecera nos primrdios da presena portuguesa em Africa, as conquistas modernas foram onerosas para Portugal, as baixas de um lado e do outro, embora no contabiliza-da com preciso, foram signifi cativas. O que obrigou a um esforo tambm maior de propaganda, volta dos direitos histricos de Portugal sobre os territrios africanos, e de exaltao patritica, par-ticularmente, patente no episdio do ultimato ingls de 1890.

    Para Portugal, esse elan patritico pela frica portuguesa foi um dos factores catalizadores de profundas mudanas politicas e so-ciais, que culminaram com o derrube da Monarquia (1910), e da mo-dernizao das foras armadas, com a implementao do servio militar, universal e obrigatrio (1911).

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    HISTRIA DA INSTITUIO

    Para Angola, Guin Portuguesa e Moambique as conquistas mili-tares portuguesas e as campanhas posteriores ditas de pacifi cao foram, como no resto de Africa, o incio da construo de novas en-tidades. Juntados fora no mesmo molde e sujeitos ao direito co-lonial imposto pelas potncias europeias, conjuntos heterogneos de povos iriam transformar-se em angolanos, guineenses e moam-bicanos favorecendo a emergncia de uma incipiente conscincia nacional que serviria de alicerce aos movimentos emancipadores e independentistas, e daria origem, na segunda metade do Sculo XX, aos movimentos de libertao e luta armada.

    Mestiagem, miscigenao, crioulizao

    Teorizada por Gilberto Freire em Casa Grande e Senzala (1933) e sobretudo no livro O mundo que o portugus criou (1937), com o conceito de luso-tropicalismo, a especial capacidade de o portu-gus se misturar com os povos tropicais, trocando padres culturais e criando sociedades sincrticas e harmnicas foi mais produto das circunstancias anteriormente enumeradas que de uma poltica ou orientao deliberada.

    certo que como vice-rei da ndia, Afonso de Albuquerque (1505-1519) promoveu os casamentos mistos de ofi ciais portugueses com mulheres de Goa.

    Noutras latitudes, as unies entre portugueses e mulheres nativas foram a resposta natural escassez de mulheres europeias e s ne-cessidades dos primeiros moradores, nufragos ou degredados.

    Quando os portugueses chegaram ao Brasil, o litoral era povoado por uma numerosa populao amerndia. Os grupos tupis possu-am uma organizao social bastante complexa e falavam a mes-ma lngua. No tendo chegado a organizar imprios, como no M-xico ou o Peru, receberam os recm-chegados sem hostilidade, nem resistncia, pelo menos numa fase inicial. Os contactos com os tapuias ou carijs do interior foram mas tardios e geralmente violentos. Os tupis quase desapareceram, por morte ou miscige-nao mas o seu legado est presente com milhares de palavras

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    HISTRIA DA INSTITUIO

    que foram incorporadas ao vocabulrio da lngua portuguesa actu-almente falada no Brasil (nomes de animais e plantas) e em muitos topnimos, nomeadamente, os nomes de vrios Estados e de nu-merosas cidades.

    Muitas das grandes famlias paulistas tem uma ndia na origem da sua genealogia.

    No Brasil como em frica, as autoridades civis e religiosas fecha-ram os olhos ao que no podiam impedir e as relaes sexuais entre portugueses e nativas, livres ou escravas, no eram consideradas crime nem pecado como no resto do Reino.

    Esta tolerncia foi reforada pelo facto dos fi lhos nascidos destas unies se revelarem muito teis para a continuao da expanso e da colonizao. Mais resistentes ao clima e s doenas tropicais, conhecedores das lnguas e culturas indgenas, mestios e escravos alforriados (forros) foram os intermedirios naturais, mais ou menos zeladores e leais dos brancos, sempre em pequeno nmero.

    Se o engenho de acar, com a sua Casa Grande e a Sanzala dos negros foi o crisol de um tipo de mestiagem prprio ao Brasil, o modelo de sociedade escravocrata, patriarcal, conservadora e for-temente piramidal branco no topo, escravos em baixo, mestios e forros nos escales intermdios imps-se em todas as colnias onde prosperaram as culturas exportadoras. H, porem, outro tipo de aculturao, bem mais violenta, propiciada pelo comrcio de escravos. Lanados de Cabo Verde, grumetes da Guin, bandeirantes do Brasil, pombeiros em Angola, aventura-ram-se para o interior das terras, em caravanas que visitavam as fei-ras e negociavam com caciques e sobas. Diziam-se portugueses ou eram vistos como tais, pelo vesturio, a fala, a religio e as armas. As bandeiras que desempenharam um papel to importante na fundao do Brasil eram expedies fi nanciadas por comerciantes ou fazendeiros que congregavam aventureiros e foragidos sob a chefi a de algum homem das velhas famlias de colonos. Passavam anos a fi o no mato, formavam novas famlias com as carijs, funda-

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    vam arraiais onde se cultivava o milho e regressavam com cfi las de ndios para serem vendidas como escravos.

    As guerras pretas para caar escravos no interior de frica, re-produziam aproximadamente o mesmo modelo, forjando alianas (frequentemente seladas por unies de sangue) entre pombeiros e rgulos e sobas. Surgiram grandes famlias luso-africanas, relaciona-das com outras luso-brasileiras, que rapidamente se converteram na verdadeira classe dominante nas colnias, independentemente da cor da pele, com a qual as autoridades portuguesas eram obriga-das a pactuar para conservar os seus lugares e prosperar.

    O quadro do nascimento destas sociedades crioulas de origem por-tuguesa no seria completo sem uma referncia aos judeus. Se os primeiros cristos novos chegaram a Cabo Verde e So Tom como deportados, muitos emigraram voluntariamente para as colnias de-pois da implantao da Inquisio em Portugal. Expostos aos mes-mos perigos, falando a mesma lngua e confrontados as populaes indgenas, cristos-novos e cristos-velhos aproximaram-se e mis-turaram-se, at se esbater quase por completo o preconceito da limpeza de sangue.

    Foi tambm no Brasil que os negros vindos de Angola, pelo seu n-mero, chegaram a formar um aprecivel aglomerado social, lideran-do os escravos de outras origens e vinculando utopicamente a me ptria: documentos falam da coroao dos reis do Congo no Reci-fe, em 1674, e do Rei de Angola em Ouro Preto, em 1773.

    A miscigenao nunca signifi cou igualdade ou respeito pelas cultu-ras indgenas. Pelo contrrio, como observou um missionrio jesu-ta, as relaes de dominao e subordinao inerentes ao sistema colonial levavam geralmente as camadas mais baixas da sociedade colonial a portarem-se com as populaes naturais com uma supe-rioridade que lhes era negada na metrpole. O resultado fi nal foram sociedades crioulas, com identidade e cul-tura prpria. Donde os os fi lhos da terra portugueses nascidos nas colnias ou nelas instalados de longa data tratavam com algu-ma sobranceria os reinois recm-chegados, funcionrios rgios ou militares, tidos geralmente como fracos, incompetentes e cpidos. Sem questionar a alegada superioridade da matriz cultural europeia muitos fi lhos da terra acusaram o sistema colonial de impedir o pro-gresso e o desenvolvimento e alguns combateram nas fi leiras dos movimentos de libertao. A democracia racial e a reivindicao do multi-culturalismo viriam muito mais tarde, depois das independn-cias polticas.

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    HISTRIA DA INSTITUIO

    Os precursores da CPLP

    Consumada a independncia do Brasil e abolida a escravatura, fi -cava desfeita a teia transatlntica de interesses cruzados e Portugal teve de assumir sozinho a defesa das suas possesses ultramari-nas, ameaadas pelas outras potncias coloniais europeias.

    Portugal e o Brasil no deixam, porm, de seguir caminhos paralelos com o mesmo quadro constitucional, obra do mesmo soberano, D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, e de um quadro poltico e intelectu-al sufi cientemente prximo (reforado pela enorme emigrao por-tuguesa) para produzir os mesmos efeitos quase simultaneamente: desenvolvimento da Maonaria e das ideias republicanas e regene-racionistas, implantao da Repblica no Brasil em 1889 e tentativa falhada no Porto, dois anos depois, que acabou por vingar em 1910; golpe militar em Portugal em 1926, seguido da instaurao da dita-dura salazarista, que toma o nome de Estado Novo o mesmo que Getulio Vargas, levado ao poder pelos militares em 1930, adoptou para o regime corporativa que instaurou em 1937. Foi depois da Segunda Guerra Mundial e do regresso da democracia ao Brasil que o divrcio comeou a se acentuar e levou um nmero crescente de democratas e opositores ditadura portuguesa a ru-mar para o pais irmo.

    Permaneceu viva, nalguns crculos intelectuais dos dois pases a uto-pia da Nova Lusitnia, idealizada pelo Padre Antnio Vieira como uma profecia bblica, atribuindo a Portugal a misso de converter e reformar o mundo. J em 1902, o brasileiro Slvio Romero tinha proposto a criao de uma Federao Luso Brasileira, bloco lingustico envolvendo o Brasil e Portugal e as suas colnias, como forma de resistir aos inten-tos recolonizadores das grandes potncias promotoras das Con-ferencias de Berlim.

    O poeta luso Fernando Pessoa actualizou e modernizou o mito do Quinto Imprio na sua Mensagem e no Livro do Desassossego. A frase a minha Ptria a Lngua Portuguesa que Pessoa coloca na boca do seu heternimo Bernardo Soares iria converter-se numa espcie de divisa da Lusofonia e deste novo imprio, no material mas cultural.

    Como salientava o fi lsofo luso Agostinho da Silva, que foi em toda a sua vida e obra um activo propagandista deste quinto Imprio espiritual, limpo de toda inteno dominadora ou hegemnica, no haveria quinto imperador e o poder do Esprito Santo sopraria em todas as partes onde se fala o portugus.

    O escritor brasileiro Gilberto Freire, com a sua teoria do luso-tropi-calismo de grande projeco internacional, chamou a ateno so-bre a gesto de antagonismos que constitui na sua opinio a mar-ca original da colonizao portuguesa nos Trpicos e da formao

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    da identidade brasileira. Sem o querer, proporcionou argumentos ditadura de Salazar para exaltar a misso civilizadora e a voca-o universalista de Portugal e justifi car a resistncia aos ventos da mudana, da democracia e da descolonizao. Fortemente atacado por anti colonialistas de inspirao liberal e marxista, Freire foi recen-temente reabilitado no Brasil onde, em 2000, por iniciativa do Presi-dente Fernando Henrique Cardoso, foi celebrado o ano de Gilberto Freire. Apesar do Tratado de Amizade e Consulta, assinado em 1953, a poltica colonial de Portugal que levou s guerras lavradas em trs frentes, Guin-Bissau, Angola e Moambique entre 1961 e 1974 foi um obstculo ao normal relacionamento entre Portugal e Brasil durante boa parte da segunda metade do Sculo XX. Foram dca-das de costas voltadas, apenas disfaradas pela retrica da famlia e dos afectos.

    No incio da dcada de 1960, o Professor Adriano Moreira, mi-nistro portugus do Ultramar (1961-63) reconhecia a inexistn-cia de uma partilha de concepes quanto ao futuro, ou quanto aos futuros possveis entre Portugal e o Brasil. E a necessidade urgentssima de redefinir a imagem recproca de ambos os pa-ses.

    Aps a sua sada do Governo, Adriano Moreira fundou o Movimen-to da Unio das Comunidades de Cultura Portuguesa com o objectivo de formar e movimentar a opinio pblica e criar um clima de unidade e autenticidade para suportar a concretizao prtica da Comunidade Luso-Brasileira. Presidiu aos dois Congres-sos das Comunidades, em Lisboa (1964) e Loureno Marques (hoje Maputo) (1966).

    As propostas de Adriano Moreira foram recebidas com desconfi ana nos crculos do poder e foram descartadas pela propaganda ofi cial do regime empenhada na mobilizao da opinio pblica portugue-sa a favor da defesa militar das Provncias Ultramarinas

    Jos Aparecido de Oliveira enfrentou difi culdades bastante semelhantes no Brasil. Homem de cultura e diplomata, j em 1961 sonhava com uma comunidade fraterna de pases de lngua portu-guesa baseada na luta pela liberdade, a democracia, a autodetermi-nao dos povos e a independncia das colnias e contra o racismo e todas as formas de discriminao. Encontrou um aliado na pessoa do Presidente Janio Quadros que o tomou como chefe de gabi-nete.

    Quadros teve de deixar a Presidncia antes de ter cumprido o pri-meiro ano do seu mandato, mas dotou o Brasil de uma nova politi-ca externa, mais independente e baseada na procura do dilogo e da amizade entre os povos. Estabeleceu relaes diplomticas com a Unio Sovitica e a China, condenou a interveno militar norte-americana em Cuba e promoveu a democracia racial no Brasil, no-meando o primeiro embaixador negro e criando as primeiras reser-vas indgenas.

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    A instaurao da ditadura militar no Brasil, em 1964, provocou um estreitamento das relaes com o regime salazarista que no teve efeito signifi cativo no plano das relaes bilaterais. Isto, apesar dos Acordos de Cooperao de 1966 e da neutralidade brasileira em relao guerra nas colnias africanas de Portugal.

    O Tratado da Igualdade de Direitos, promulgado em 1971, j em plena era marcelista, no agradou a todos os brasileiros. Visto do Brasil, Portugal era apenas o pas de origem de emigrantes de condi-o social humilde e frequentemente analfabetos, alvos de chacota e de inmeras anedotas.

    Seria preciso esperar at Abril de 1974 para que a revoluo dos Cravos volte para Lisboa as atenes de intelectuais e artistas e de-mocratas brasileiros, e para por Chico Buarque a cantar a esperana num futuro imenso Portugal.

    Amlcar Cabral, Agostinho Neto, Samora Machel e os lideres dos movimentos de libertao PAIGC, FRELIMO, MLSTP, FRETI-LIN que lutaram pela independncia dos seus pases, ressalvando sempre que o inimigo no era o povo portugus mas um regime e um sistema injusto e anacrnico, devem ser includos do rol dos pre-cursores da CPLP.

    As guerrilhas foram escolas onde se ensinou a falar, escrever e ler em portugus. Agostinho Neto escreveu poesias em portugus; Ca-bral dizia que a lngua o bem mais precioso que nos deixaram os tugas e Samora tomou como lema um s povo, uma s lngua. Estas opes politicas deram origem criao, no dia 20 de Abril de 1961, em Casablanca (Marrocos) da Conferencia das Organiza-es Nacionalistas das Colnias Portuguesas (CONCP) que agrupa-va o Movimento Popular de Libertao de Angola, a Unio Nacional dos Trabalhadores de Angola, o Comit de Libe