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QUARTA-FEIRA 20 ABRIL DE 2016 www.maissemanario.pt 10 MAIS/Sociedade Curso de Metalomecânica é uma aposta ganha na Escola Rocha Peixoto Na sequência das V Jornadas de Mecânica realizadas no passado dia 11, o MAIS/Semanário falou com os principais intervenientes, que possibilitaram a realização do evento que contou com o apoio da direção da Escola Secundária Rocha Peixoto, Câmara Municipal, várias empresas da região e internacionais detentoras das últimas tecnologias, equipamentos e ferramentas, que veem nestas jornadas uma forma de transmitir os mais recentes avanços nesta área. Este ano, as Jornadas contaram com um total de 178 alunos e 18 pro- fessores todos da área da Mecânica Da parte da direção da Escola Ro- cha Peixoto, Noel Miranda, sub- diretor, explicou como é que este estabelecimento de ensino con- segue um forte impacto junto da comunidade e no tecido empresa- rial da região. “Não sendo a Póvoa de Varzim um concelho com peso significativo na indústria, foi bene- ficiada a este nível com a constru- ção de uma nova escola comercial e industrial, no início dos anos 60, que permitiu desde o início uma formação de qualidade na área de Mecânica”, começou por contar, lembrando que a direção nunca deixou cair as áreas de formação tradicional da antiga escola comer- cial e industrial. “Neste contexto, e pela importância que damos a um relacionamento constante com as empresas, a direção da escola e a área da Mecânica optaram em 2007 por alterar a sua oferta, apercebendo-se do surgimento na região de novas pequenas e mé- dias empresas que apostavam na mecânica de qualidade e de pre- cisão, destinada às indústrias de moldes, automóvel e aeronáutica e orientadas sobretudo para a ex- portação, implementando o curso de Técnico de Produção em Me- talomecânica”, acrescentou Noel Miranda, ao mesmo tempo que ex- plicou como é que a escola conse- gue dar uma formação atualizada numa área que está em constante evolução. “Tendo em conta a sua própria natureza e as suas depen- dências, a escola nunca pode aspi- rar a ter um grau de modernização e atualização comparável com as empresas. Embora em patama- res diferentes, a escola tem de se preocupar em manter atualizada, de forma a dar uma formação de base sólida que vai ser necessaria- mente complementada com uma formação a nível de empresa, sem- pre numa lógica de aprendizagem ao longo da vida”. Noel Miranda confessou que “a escola se man- tém atenta a todas as possibilida- des de financiamento externo”, e recorrendo a verbas próprias tem conseguido assim dar resposta aos projetos apresentados pelo grupo de Mecânica, “de forma a manter um bom nível tecnológico”. O que também não tem sido descurado, contou, é a formação da equipa pedagógica, que “tem conseguido realizar ações com o apoio de en- tidades formadores externas de forma a manter-se tecnologica- mente atualizada”. Sobre o futuro do curso, Noel Miranda mostrou-se confiante que é uma área “com futuro assegu- rado”, justificando: “no último ano a Metalomecânica gerou um volume de negócios de 18 mil milhões de euros, mais do que o volume de negócios gerados pelas indústrias de calçado e têxteis consideradas em conjunto”. O dirigente lembrou ainda que o “número de empre- sas na área tem vindo a crescer, sendo normalmente pequenas e médias empresas, com a flexibili- dade necessária para se adapta- rem a mudanças necessárias em função dos avanços tecnológicos e das necessidades do mercado, daí precisarem de mais colaboradores qualificados”. Segundo Noel Miranda, “nos últi- mos anos todos os formandos têm tido colocação nas empresas no final do curso, só não ficando a trabalhar aqueles que não querem”. Entre os meses de abril e maio a escola terá 42 formandos a realizar formação em contexto de traba- lho em empresas, sendo que cerca de metade terminará este ano o seu curso. “A área de influência da Mecânica estende-se aos conce- lhos de Esposende, Vila do Conde Alunos de mecânica em Espanha junto da fábrica de automóveis Uma das salas do curso na Escola Rocha Peixoto Escola dispõe de impressora 3D

10 MAIS/Sociedade … necessária para se adapta-rem a mudanças necessárias em função dos avanços tecnológicos e das necessidades do mercado, daí precisarem de mais colaboradores

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QUARTA-FEIRA 20 ABRIL DE 2016www.maissemanario.pt10 MAIS/Sociedade

Curso de Metalomecânica é uma aposta ganha na Escola Rocha PeixotoNa sequência das V Jornadas de Mecânica realizadas no passado dia 11, o MAIS/Semanário falou com os principais intervenientes, que possibilitaram a realização do evento que contou com o apoio da direção da Escola Secundária Rocha Peixoto, Câmara Municipal, várias empresas da região e internacionais detentoras das últimas tecnologias, equipamentos e ferramentas, que veem nestas jornadas uma forma de transmitir os mais recentes avanços nesta área. Este ano, as Jornadas contaram com um total de 178 alunos e 18 pro-fessores todos da área da Mecânica

Da parte da direção da Escola Ro-cha Peixoto, Noel Miranda, sub-diretor, explicou como é que este estabelecimento de ensino con-segue um forte impacto junto da comunidade e no tecido empresa-rial da região. “Não sendo a Póvoa de Varzim um concelho com peso significativo na indústria, foi bene-ficiada a este nível com a constru-ção de uma nova escola comercial e industrial, no início dos anos 60, que permitiu desde o início uma formação de qualidade na área de Mecânica”, começou por contar, lembrando que a direção nunca deixou cair as áreas de formação tradicional da antiga escola comer-cial e industrial. “Neste contexto, e pela importância que damos a um relacionamento constante com as empresas, a direção da escola e a área da Mecânica optaram em 2007 por alterar a sua oferta, apercebendo-se do surgimento na região de novas pequenas e mé-dias empresas que apostavam na mecânica de qualidade e de pre-cisão, destinada às indústrias de moldes, automóvel e aeronáutica e orientadas sobretudo para a ex-portação, implementando o curso de Técnico de Produção em Me-talomecânica”, acrescentou Noel Miranda, ao mesmo tempo que ex-plicou como é que a escola conse-gue dar uma formação atualizada numa área que está em constante evolução. “Tendo em conta a sua própria natureza e as suas depen-dências, a escola nunca pode aspi-rar a ter um grau de modernização e atualização comparável com as empresas. Embora em patama-res diferentes, a escola tem de se preocupar em manter atualizada, de forma a dar uma formação de base sólida que vai ser necessaria-mente complementada com uma formação a nível de empresa, sem-pre numa lógica de aprendizagem ao longo da vida”. Noel Miranda confessou que “a escola se man-tém atenta a todas as possibilida-des de financiamento externo”, e recorrendo a verbas próprias tem

conseguido assim dar resposta aos projetos apresentados pelo grupo de Mecânica, “de forma a manter um bom nível tecnológico”. O que também não tem sido descurado, contou, é a formação da equipa pedagógica, que “tem conseguido realizar ações com o apoio de en-tidades formadores externas de forma a manter-se tecnologica-mente atualizada”.

Sobre o futuro do curso, Noel Miranda mostrou-se confiante que é uma área “com futuro assegu-rado”, justificando: “no último ano a Metalomecânica gerou um volume de negócios de 18 mil milhões de euros, mais do que o volume de negócios gerados pelas indústrias de calçado e têxteis consideradas em conjunto”. O dirigente lembrou ainda que o “número de empre-

sas na área tem vindo a crescer, sendo normalmente pequenas e médias empresas, com a flexibili-dade necessária para se adapta-rem a mudanças necessárias em função dos avanços tecnológicos e das necessidades do mercado, daí precisarem de mais colaboradores qualificados”.

Segundo Noel Miranda, “nos últi-mos anos todos os formandos têm

tido colocação nas empresas no final do curso, só não ficando a trabalhar aqueles que não querem”. Entre os meses de abril e maio a escola terá 42 formandos a realizar formação em contexto de traba-lho em empresas, sendo que cerca de metade terminará este ano o seu curso. “A área de influência da Mecânica estende-se aos conce-lhos de Esposende, Vila do Conde

Alunos de mecânica em Espanha junto da fábrica de automóveis

Uma das salas do curso na Escola Rocha Peixoto Escola dispõe de impressora 3D

11QUARTA-FEIRA 20 ABRIL DE 2016www.maissemanario.pt

e Maia. A deficiente rede de transportes públicos tem impedido que a Escola possa responder a pedidos de empresas dos con-celhos de Vila Nova de Famalicão e Trofa”, alertou ainda o dirigente.

“Temos equipamentosmodernos que são únicos ao nível das escolas secundárias”

O diretor do curso de Mecânica, Mar-vim Fernandes, explicou ao MAIS/Sema-nário como funciona o curso na variante de programação e maquinação. “O curso está dividido em três anos letivos. Tem uma componente científica e outra tecno-lógica. No segundo e terceiro ano os for-mandos fazem 600 horas de formação em contexto de trabalho numa empresa com qualidades reconhecidas. Ao longo do ter-ceiro ano o formando desenvolve um pro-jeto individual tendo por finalidade a apre-sentação da sua Prova de Aptidão Final. É um curso profissional de nível 4, que pre-dominantemente prepara formandos para iniciarem de imediato uma carreira pro-fissional. Contudo, e se for esse o objetivo, os formandos poderão ter apoio alargado a Física e Química e Matemática de modo a que possam fazer os exames nacionais e ingressar no ensino superior”.

Marvim Fernandes adiantou ainda as com-petências que são trabalhadas na formação.

“O Técnico de Programação e Maquinação deve ser um profissional qualificado, apto a orientar e a desenvolver, de forma autónoma e precisa, atividades relacionadas com a Pro-dução em Metalomecânica, nomeadamente a programação de máquinas-ferramentas com comando numérico computorizado (CNC), a operação de máquinas-ferramenta tanto convencionais como com CNC, a execução e/ou reparação de moldes, cunhos, cortan-tes e outras peças ou conjuntos de precisão”.

Quanto aos equipamentos disponíveis na escola para a formação, o diretor do curso defendeu que “se situam muito acima da média relativamente a outros estabeleci-mentos de ensino”. “Temos equipamentos CNC modernos que são únicos ao nível das

escolas secundárias e outros ditos clássi-cos mas todos funcionais. Assim aproxima-mo-nos muito do que se faz em empresas tecnologicamente evoluídas”, acrescentou Marvim Fernandes, especificando outras características da formação. “No que diz respeito a programas de suporte a Dese-nho e Maquinação, estamos apetrechados das últimas versões de programas informá-tico poderosos, exatamente iguais aos que existem nas empresas ligadas ao fabrico de peças. Somos a única escola secundária do país que instala gratuitamente versões legais e integrais do SolidWorks nos com-putadores pessoais dos nossos formandos para que possam em casa desenvolver as suas competências. Em Metrologia possuí-

mos equipamentos de medição com preci-são. Contudo necessitamos de adquirir um sistema de medição a três dimensões que permita medir, comparar e produzir rela-tórios de erros. Tem custos elevadíssimos, não suportados pelo Ministério da Educa-ção, mas com ele fechar-se-ia um processo e nos colocaria exatamente ao mesmo nível das empresas”.

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“Ainda não conclui o meucurso mas já me fizeramvárias ofertas de emprego e até fora de Portugal”

Do outro lado estão os alunos, que se-guem este curso por vocação, não sendo indiferente a taxa de empregabilidade, como contou Sérgio Araújo. A dois me-ses de terminar o curso, o jovem revelou que está prestes a “terminar uma parte de um sonho de miúdo, ser mecânico ou produtor de automóveis”. “Foi isto que o curso me proporcionou e foi uma escolha que fiz há muito tempo, pois a mecânica sempre me fascinou, mas considero que estou a meio do percurso que planeei, ser engenheiro numa empresa ligada à indústria automóvel ou aeronáutica”.

O jovem realizou no ano passado um estágio numa empresa do ramo, consi-derando com base nisso que “em ter-mos tecnológicos, a Mecânica da Rocha Peixoto é tecnologicamente bastante avançada, com máquinas muito pare-cidas com as encontradas na empresa”.

“Comparando com outras, somos a escola que melhor está equipada em ter-mos de tecnologias. Temos uma grande diversidade de maquinaria, incluindo eletroerosão por fio”, continuou o jovem que não descura a formação científica. “É muito relevante a formação científica neste curso porque nos permite perce-ber o porquê das coisas e a Matemá-tica/Estatística é essencial nas várias etapas de produção”, confessou Sérgio Araújo, que de resto não alterava nada no curso “pois está muito bem otimizado para uma boa formação dos alunos”.

O jovem vai agora preparar-se para ingressar num curso superior de enge-nharia em mecânica, uma ambição de sempre, mas caso não o pretendesse, “de imediato teria várias oportunidades de emprego”. “Ainda não concluí o meu curso mas já me fizeram várias ofer-tas de emprego e até fora de Portugal. Numa visita de estudo que fizemos a Barcelona, uma empresa de aeronáu-tica bastante reconhecida fez-me uma proposta de emprego que me fascinou pois era o limite para os meus sonhos”.

“A aposta feita por nós e pelaEscola é uma aposta ganha”Já da parte das empresas, Edmundo Barbosa administrador da SERI de Vila do Conde, considerou importante a liga-ção à Escola para o desenvolvimento da empresa. “Tendo em conta que adicio-nando um grupo de trabalho dedicado, umas instalações capazes e uma massa humana (os formandos) motivados te-mos uma receita de sucesso. Assim a nossa empresa não pode prescindir da colaboração da Escola Rocha Peixoto”. O empresário lembrou ainda que a ad-missão de estagiários de mecânica é importante para todas as empresas que pretendam admitir colaboradores. “Sem uma formação preliminar, constituída por formação cívica, cultura geral e co-nhecimentos de mecânica, não é fácil ter quadros a desempenhar as funções que as empresas do sector necessitam, rápida e eficazmente”, acrescentando que “os estagiários admitidos ao longo destes cinco anos de colaboração com a Escola, cumpriram sempre os objeti-vos”. “Infelizmente nem todos foram ad-mitidos para o quadro de pessoal, mas os que connosco ficaram a trabalhar, após os estágios curriculares, têm de-monstrado que a aposta feita por nós e pela Escola é uma aposta ganha”, con-fessou o empresário.

Edmundo Barbosa revelou ainda que a empresa “privilegia uma postura pro-fissional e responsável dos formandos e um bom comportamento alinhado com os requisitos de higiene e segu-rança do trabalho”. “Quanto às com-petências tecnológicas e específicas, valorizamos uma boa formação básica de mecânica com conhecimentos de matemática, desenho técnico, infor-mática aplicada à mecânica e progra-mação CNC”. Lembrou ainda que “A falta de pessoal técnico especializado é um lamento generalizado pelos res-ponsáveis do sector metalomecânico. No entanto nem todas as empresas se empenham o suficiente no envolvi-mento da formação de jovens. Só com uma forte demonstração do interesse das empresas é que é possível alertar os responsáveis políticos para a neces-sidade de apostar, com recursos e meios, em escolas com a Rocha Peixoto que têm um papel importantíssimo na nossa sociedade. As empresas devem exigir mais e melhor formação dos jovens mas também devem dispor de tempo e meios para apoiar a formação.”

Alunos aprendem a operar diversas máquinas

Máquinas-ferramenta com comando numérico computorizado (CNC)

Escola conta com equipamentos de ponta para a formação dos alunos