75
REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 Expediente Revisa Eletrônica Multidisciplinar Minas Congressos Editores Científicos Responsáveis Leandro Luciano da Silva Carlos Frederico Bastos Corpo Editorial Alexandre Ricardo Damasceno Rocha Ana Paula Fernandes Teixeira Anna Paula Lemos Santos Peres Achilles Gonçalves Coelho Júnior Carlos Frederico Bastos Queiroz Cynara Silde Mesquita Veloso Lanuza Borges Oliveira Leandro Luciano da Silva Luciana Gomes Marques Galvão Luiz Ernani Meira Júnior Mariana Fernandes Teixeira Pablo Peron de Paula Paulo Henrique Casadei Melillo Ramon Alves de Oliveira Regina Célia Fernandes Teixeira Rodrigo Santos Amaral Rodrigo Teixeira Leal Thaís Cristina Figueiredo Rego Editorial Desde o Início de suas atividades em 2014, a MINAS CONGRESSOS tem sido demandada pela comunidade acadêmica para criar um espaço para a divulgação das ações de cunho científico produzidas no âmbito dos eventos realizados pela MINAS CONGRESSOS, bem como para a difusão dos conteúdos das palestras e oficinas ministradas pelos convidados em cada evento. Assim, para atender à demanda do Norte de Minas Gerais, a Minas Congressos apresenta à Comunidade Acadêmica, a Revista Eletrônica Multidisciplinar da Minas Congressos, a REM, que tem o objetivo de difundir a produção científica produto dos eventos realizados pela Minas Congressos. Trata-se de um veículo de comunicação científica de periodicidade semestral, que conta com Corpo Editorial de elevada capacidade técnica, que representa a potencialidade da Minas Congressos na realização de eventos multidisciplinares. A REM é hospedada no próprio sítio oficial da Minas Congressos, contando com sistema de submissão e avaliação de trabalhos idôneos, capaz de legitimar suas publicações e tornados disponíveis não só aos participantes dos eventos realizados pela minas congressos, mas com acesso livre e gratuito para toda a comunidade acadêmica. Montes Claros, 05 de julho de 2015. Ms. Leandro Luciano da Silva Editorial Montes Claros – Minas Gerais 7

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

  • Upload
    others

  • View
    7

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Expediente

Revisa Eletrônica Multidisciplinar Minas Congressos Editores Científicos Responsáveis Leandro Luciano da Silva Carlos Frederico Bastos

Corpo Editorial

Alexandre Ricardo Damasceno Rocha

Ana Paula Fernandes Teixeira

Anna Paula Lemos Santos Peres

Achilles Gonçalves Coelho Júnior

Carlos Frederico Bastos Queiroz

Cynara Silde Mesquita Veloso

Lanuza Borges Oliveira

Leandro Luciano da Silva

Luciana Gomes Marques Galvão

Luiz Ernani Meira Júnior

Mariana Fernandes Teixeira

Pablo Peron de Paula

Paulo Henrique Casadei Melillo

Ramon Alves de Oliveira

Regina Célia Fernandes Teixeira

Rodrigo Santos Amaral

Rodrigo Teixeira Leal

Thaís Cristina Figueiredo Rego

Editorial

Desde o Início de suas atividades em 2014, a

MINAS CONGRESSOS tem sido demandada

pela comunidade acadêmica para criar um

espaço para a divulgação das ações de cunho

científico produzidas no âmbito dos eventos

realizados pela MINAS CONGRESSOS, bem

como para a difusão dos conteúdos das palestras

e oficinas ministradas pelos convidados em cada

evento.

Assim, para atender à demanda do Norte de

Minas Gerais, a Minas Congressos apresenta à

Comunidade Acadêmica, a Revista Eletrônica

Multidisciplinar da Minas Congressos, a REM,

que tem o objetivo de difundir a produção

científica produto dos eventos realizados pela

Minas Congressos.

Trata-se de um veículo de comunicação

científica de periodicidade semestral, que conta

com Corpo Editorial de elevada capacidade

técnica, que representa a potencialidade da

Minas Congressos na realização de eventos

multidisciplinares.

A REM é hospedada no próprio sítio oficial da

Minas Congressos, contando com sistema de

submissão e avaliação de trabalhos idôneos,

capaz de legitimar suas publicações e tornados

disponíveis não só aos participantes dos eventos

realizados pela minas congressos, mas com

acesso livre e gratuito para toda a comunidade

acadêmica.

Montes Claros, 05 de julho de 2015.

Ms. Leandro Luciano da Silva

Editorial

Montes Claros – Minas Gerais 7

Page 2: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Sumário A TEORIA DISCURSIVA DE JÜRGEN HABERMAS E SUA INFLUÊNCIA NA CIÊNCIA JURÍDICA 08 NOGUEIRA, Pedro Ribeiro PEREIRA, Ana Flávia Loyola Antunes ANÁLISE DA PREVALÊNCIA DE INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO EM MONTES CLAROS, M.G. 13 SOUZA, Juliana Cristina de SANTOS, Carolina Ruas Freire AGAPITO, Nayara Caetano PEREIRA, Nathália Rebouças OLIVEIRA, Uiliam Rodrigues Soares PRINCE, Karina Andrade ASILO POLÍTICO: UMA PRERROGATIVA DO PODER EXECUTIVO 19 TEIXEIRA, Maria Luiza Angélica SOUZA, João Victor de Oliveira DA SITUAÇÃO IRREGULAR À PROTEÇÃO INTEGRAL: A TUTELA CONSTITUCIONAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 21 CRUZ, Maria Luiza Souto Vasconcelos SILVA, Leandro Luciano DELAÇÃO PREMIADA: ASPECTOS CONSTITUCIONAIS 31 GOMES, Fernando Soares BARROSO, Ian Berna Santos EVOLUÇÃO DE UMA PACIENTE COM GRAVIDEZ TUBÁRIA ROTA E APENDICITE POR ESQUISTOSSOMOSE: RELATO DE CASO 35 SOARES, Mariana de Freitas MATOS, João Ricardo Carvalho de VIANNA, Yuri Cardoso INTERVENÇÃO MILITAR NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 38 FERREIRA, Deybiane Francielly Santos

MOVIMENTO SINDICAL NO BRASIL: DO CONFRONTO À NEGOCIAÇÃO 45

O ACESSO À JUSTIÇA POR MEIO DA DEFENSORIA PÚBLICA 49 BISPO, Bruno Henrique Câmara NUNES, Maria Silveira VELOSO, Cynara Silde Mesquita O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO E AS NOVAS TENDÊNCIAS DO INSTITUTO DA ARBITRAGEM NOS CENÁRIOS DO DIREITO CONSTITUCIONAL E DO DIREITO INTERNACIONAL 54 DAMASCENO, Gabriel Pedro Moreira O IMPEACHMENT EM SEU CONTEXTO HISTÓRICO, FUNDAMENTOS LEGAIS E POLÍTICOS 59 NORMANHA, Flávia Simão; MOURA, Rodrigo Crusoé Loures de Almeida O PAPEL DA COMUNIDADE NO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DO CONDENADO NO ÂMBITO DA ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AO CONDENADO (APAC) 62 ARAGÃO, Guilherme Rodrigues SILVA, Marco Felipe Durães SILVA, Leandro Luciano ROCHA, Dalton Caldeira VELOSO, Cynara Silde Mesquita PERFIL EPIDEMIOLÓGICO, FINANCEIRO E CLÍNICO DA SEPSE EM MONTES CLAROS – MG 69 ARRUDA, Felipe Santos LEAL, Lorenna Rabelo Oliveira LIMA, Thaisa Silva LESSA, Priscila Gomes CARVALHO, Ítalo Lopes e RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR ASSISTIDA POR FAMILIARES: BENÉFICO OU NÃO? 76 SILVA, Roberto Allan Ribeiro SOARES, Jaqueline Cardoso MAIA, Grazielle Lopes Santos SAKON, Poliane Osmira Rodrigues

PERES, Anna Paula Lemos Santos

Montes Claros – Minas Gerais 7

Page 3: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

A TEORIA DISCURSIVA DE JÜRGEN HABERMAS E SUA INFLUÊNCIA NA

CIÊNCIA JURÍDICA

NOGUEIRA, Pedro Ribeiro Bacharel em Direito pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIP-Moc

Mestrando em História - UNIMONTES

PEREIRA, Ana Flávia Loyola Antunes Advogada. Mestre em Direito Público pela PUC-MINAS.

Docente das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIP-Moc.

INTRODUÇÃO

Modernamente o Direito é o meio pelo qual o Estado alcança a coerção e aplicação de regras

que servem para guiar a ação dos indivíduos e determinar como haverá a solução de conflitos dentro da

vida societária.

Esta coordenação pela instrução, coerção e solução de conflitos é o fim último da ciência

jurídica, que aparece inserido em uma crise conceitual, ponto central das discussões empreendidas na

Filosofia do Direito, qual seja a legitimidade das leis.

A justificação tradicional vinculada vezes à positivação normativa, vezes à subjetividade, é

responsável por uma insuficiência conceitual e, em dados momentos históricos à perpetração de regimes

totalitários. É neste cenário de crise que Habermas apresenta sua teoria calcada no discurso, buscando

investigar em que as justificações tradicionais não prosperavam e como seria uma nova teoria que

reunisse a controvérsia da moral do sujeito cognoscente a ética normativa em uma atmosfera conceitual

homogênea.

Habermas, ao criticar as formas de exercício da jurisdição constitucional quase sempre dirigida

em relação à distribuição de competências entre legislador democrático e justiça apresenta uma inovadora

concepção, no horizonte de entendimentos filosóficos acerca do conceito de justiça e sua validade como

instância reguladora da vida social, sendo importante tal análise no campo de discussão proposta pelo I

Congresso Norte Mineiro de Direito Constitucional – Separação dos Poderes, vez que a seara da Filosofia

do Direito possui a tarefa de elucidar em que noções o Direito se sustenta e, desta forma, apontar a sua

legitimidade.

Objetiva-se, neste artigo, discursar a teoria discursiva de Habermas como uma inovadora

concepção, no horizonte de entendimentos filosóficos acerca do conceito de justiça e sua validade como

instância reguladora da vida social.

Montes Claros – Minas Gerais 8

Page 4: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

DESENVOLVIMENTO

O questionamento sobre a validade do Direito tem sido desde a Antiguidade o ponto central da

discussão atinente à Filosofia do Direito. Desde a Antiguidade Clássica a fundamentação teórica do

Direito tem sido buscada, vez que se apresenta como uma questão fundamental para a Filosofia do

Direito. Platão, Kant, Hegel e vários outros pensadores apontaram direções para o pensamento de como o

Direito seria meio da realização do justo, lançando mão de teorias que são, generalizadamente, orientadas

por três grandes vertentes: “O bem se exprime no cosmo, corporifica-se no ethos de uma comunidade

humana ou consiste na disposição moral de um eu inteligível?” (HABERMAS, 2004, p. 267).

Da análise da interrogação habermasiana há a possibilidade de compreender a moralidade, como

sendo intrínseca ao ethos de uma comunidade, expressa como uma lei natural ou referente à consciência

humana e sua faculdade moral.

Muito embora a disputa entre o jusnaturalismo e o juspositivismo seja por vezes declarada

superada, o embate permanece e é frequentemente revivido. É neste aspecto que a presente pesquisa

emprega o método dedutivo, mediante procedimento exploratório bibliográfico, para discursar sobre a

forma com que esta disputa renasce, representada por teorias que visam abarcar interpretações atualizadas

desta dualidade.

O positivismo jurídico descarta a noção de que a ordem jurídica seria emanada da natureza ou

de alguma ordem metafísica. Kelsen (1998) demonstra como o Direito Natural seria superior e da mesma

forma incoerente, vez que as leis da natureza se apresentam causais, enquanto que as normas jurídicas são

vinculadas a uma imposição que não tem este caráter causal. Isto é, enquanto as leis naturais são

determinadas pela causa e efeito intransgressíveis e inatas, as leis jurídicas, o Direito positivo, dependem

da determinação de tais normas, além de serem passíveis de transgressão.

Em razão das veementes críticas, o embate entre positivismo e naturalismo jurídico, até então

considerado superado pela filosofia de Kelsen, ressurge, apresentando posturas de ambos os lados: os

positivistas tiveram que formular posicionamentos teóricos que defendessem suas filosofias, mas que não

fundamentassem os crimes bárbaros e a ditadura; e os naturalistas renovaram suas teorias, há muito

consideradas declinadas, a fim de oporem-se efetivamente ao positivismo.

Neste cenário, a ‘virada linguística’ dá espaço ao desenvolvimento de teorias completamente

renovadas acerca da moralidade e da fundamentação do direito. A linguagem como foco no debate

filosófico, situada na posição que Descartes atribuía à teoria do conhecimento e que os gregos atribuíam

ao cosmos, é o cenário em que Habermas desenvolveu teorias atinentes à sociedade, moralidade e direito.

A teoria habermasiana da ação comunicativa apresenta uma mudança paradigmática na compreensão da

legitimação do Direito, mas tal mudança não configura um completo desenlace com teorias do passado,

sendo Habermas um herdeiro da filosofia de kantiana.

Kant (2002) se situa no âmbito de filósofos que desenvolveram a filosofia da moralidade e

justiça como um dos pensadores responsáveis por atribuir à moralidade um caráter subjetivo, calcado na

Montes Claros – Minas Gerais 9

Page 5: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 autonomia do sujeito de legislar sua própria conduta a partir de uma disposição moral apriorística. A

crítica da razão prática é construída em torno da ideia de que haja uma razão prática a que a razão pura

seja capaz de fornecer um princípio que determine a vontade. A razão pura seria a faculdade da

consciência capaz de fornecer à razão prática uma fundamentação para a ação moral a partir de

proposições fundamentais que determinem o agir. Imediata a esta noção está a de liberdade, posto que o

sujeito seria capaz de alcançá-la a partir da auto-legislação de suas condutas, compreendendo autonomia

enquanto capacidade de que a razão tem de gerar ações partindo de uma lei inata, ou apriorística, a qual se

denomina ‘imperativo categórico’. Tal denominação não é aleatória, uma vez que é demonstrado que

imperativo se distingue de lei, já que os humanos não seriam completamente determinados pela razão,

mas também por suas inclinações emocionais; e categórico por possuir um caráter de ordem incondicional

da vontade.

Seguindo seus passos, Habermas (1992) identifica as três formas de articulação da razão prática:

pragmático, ético e moral. A razão pragmática distingue-se das demais por ser movimentada de acordo

com o que o objetivo pretendido pelo sujeito, determinado, desta forma, pela finalidade.

Há, ainda, os casos em que a razão depara-se com decisões mais complexas, atingindo a esfera

da ética, referindo-se então a decisões que sejam relevantes ao modo de vida e objetivo de vida de um

sujeito (HABERMAS, 1992, p. 292). Por fim, a esfera moral aparece quando as ações do sujeito são

determinadas por afetar interesses de outrem. Nesta esfera, é possível e plausível o surgimento de

conflitos. Quando se busca dirimi-los, a razão prática será do uso moral, conquanto seja regulado de

forma imparcial. É desta forma que surge dentro do escopo do uso moral da razão prática o conceito de

justiça, posto que a partir desta possa surgir soluções de conflitos de forma imparcial pelo intermédio da

linguagem racionalmente orientada.

Ao fazer esta ruptura com a razão prática, Habermas (2003) aponta como que a razão

comunicativa não é inserida ou dependente de nenhum ente sociopolítico, mas possível pela existência de

uma mediação comunicativa, que é o ‘médium linguístico’. A razão comunicativa distingue-se da razão

prática por não estar adscrita a nenhum ator singular “[...] nem a um macrossujeito sociopolítico. O que

torna a razão comunicativa possível é o medium lingüístico, através do qual as interações se interligam e

as formas de vida se estruturam” (HABERMAS, 2003, p. 20).

Kant (2002) pretendia em sua filosofia desenvolver um caráter universalista da moral, situando

no sujeito uma aplicação oponível a todos os humanos. O projeto habermasiano, sendo também de

pretensão universalista, tem como ponto central a verificação racional de validade das normas para que

estas se mostrem legítimas. Deste modo, a validade de uma norma consiste no fato de merecer

reconhecimento, demonstrado pelo discurso. “Uma norma em vigor merece reconhecimento porque e na

medida em que seria aceita, ou seja, reconhecida como válida nas condições (aproximadamente) ideais de

justificação” (HABERMAS, 2004, p. 52-53).

Portanto, para Habermas o projeto kantiano de universalização moral deve ser alcançado através

da linguagem e este, em alguma medida, está inserido nas comunidades, uma vez que as normas de tais

Montes Claros – Minas Gerais 10

Page 6: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 comunidades dependem da capacidade das normas validarem-se e mostrarem-se relevantes de forma

racional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se, portanto, que Habermas quebra com a moral tradicional - que era compreendida

como um conjunto normativo referente a um grupo social - bem como com a moral metafísica, emanada

de uma ordem superior à da humana, para entender a moral como uma dialética racional e

democraticamente construída. Com efeito, a ética do discurso se difere das demais éticas universais de

princípios, pelo fato de não reivindicar a “[...] capacidade de poder deduzir de seu princípio, suposto

como válido universalmente, normas ou valores da moral ou do direito, também válidas universalmente

para as situações históricas” (HERRERO, 2002, p. 77).

Entretanto, ressalta-se, que a ética habermasiana, pautada no discurso, não pressupõe a garantia

de solução de todos os conflitos que possam ocorrer. A apresentação de argumentação racional para cada

litígio é uma importante característica da ética discursiva, mas Habermas não afirma que esta simples

característica seria, por si só, capaz de dirimir os conflitos advindos da vida em sociedade, uma vez que a

coerção não está pressuposta na simples argumentação, considerando ser necessário que sejam

institucionalizados os discursos reais: “é preciso que o processo de formação discursiva da vontade

comum seja institucionalizado num procedimento legítimo de instauração do Direito” (HERRERO, 2002,

p. 81), sendo, portanto, o Direito compreendido como “[...] uma ferramenta capaz de assegurar a

convivência mediante acordos e sanções racionalmente estruturados. Novamente, é a institucionalização

do discurso que se tornará a primeira fonte de aplicação do Direito” (HERRERO, 2002, p. 81). Assim,

resta evidente da análise do arcabouço teórico habermasiano que a busca por um liame entre a ciência

jurídica e o poder político não deve ser entendida como guiada em direção à contradição entre a realidade

e as leis. Investigar a tensão que se insere no direito entre a realidade factual e a pretensão de validade das

normas, bem como a tensão entre os tipos de autonomia anteriormente tratados, se faz primordial, uma

vez que o Estado de direito se organiza juridicamente pelo exercício que a própria organização jurídica.

REFERÊNCIAS

HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. HABERMAS, Jürgen. Para o uso pragmático, ético e moral da razão prática. In: Dialética e Liberdade. E. Stein, (org). Porto Alegre, Petrópolis, 1992. HABERMAS, Jürgen. Verdade e Justificação: ensaios filosóficos. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

Montes Claros – Minas Gerais 11

Page 7: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 HERRERO, Francisco Javier. Ética na construção da política. In: Ética, Política e Cultura. Ivan Domingues, Paulo Roberto Margutti pinto, Rodrigo Duarte (org). Belo Horizonte: editora UFMG, 2002. KANT, Immanuel. Crítica da Razão Prática; tradução com introdução e notas de Valério Rohden. São Paulo: Martins Fontes, 2002. KELSEN, Hans. A ilusão da justiça. 2. ed. Tradução de Sérgio Tellaroli, São Paulo: Martins fontes, 1998. KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do estado. 3. ed. Tradução de Luís Carlos Borges, São Paulo: Martins Fontes, 1998.

Montes Claros – Minas Gerais 12

Page 8: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 ANÁLISE DA PREVALÊNCIA DE INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO EM MONTES

CLAROS, M.G

SOUZA, Juliana Cristina de* SANTOS, Carolina Ruas Freire*

AGAPITO, Nayara Caetano* PEREIRA, Nathália Rebouças*

OLIVEIRA, Uiliam Rodrigues Soares* PRINCE, Karina Andrade**

*Discentes do Curso de Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros (MG), Brasil.

**Doutora em Biociências e Biotecnologia Aplicadas à Farmácia pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas UNESP/Araraquara (SP). Docente das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros (MG), Brasil.

1 INTRODUÇÃO

O infarto agudo do miocárdio (IAM) persiste como importante causa de morbidade e

mortalidade, apesar dos avanços tanto no tratamento como na prevenção dessa condição,

acarretando grandes custos aos sistemas de saúde (BRASIL, 2015).

São atribuídos vários fatores de risco para infarto, dentre eles: características intrínsecas

(sexo, idade, raça, genética), comportamentais (estilo de vida), como fumo, dieta, atividade

física, ingestão de álcool e patologias de base (hipertensão arterial, obesidade, dislipidemia e

diabetes mellitus) (RIBEIRO et al, 2013).

Embora existam estudos sobre as doenças cardiovasculares e o seu enfrentamento, ainda

são imprescindíveis novos estudos e dados que colaborem para que se possa efetivar a prevenção

das mesmas e, assim, maximizar a promoção da saúde da população. Sendo assim, este estudo

teve por objetivo analisar a prevalência de Infarto Agudo do Miocárdio em Montes Claros,

Minas Gerais entre os anos de 2008 a 2014.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Metodologia

Trata-se de um estudo de investigação, retrospectivo, transversal, de caráter descritivo e

quantitativo. Teve como universo de pesquisa a base de dados do Ministério da Saúde – Sistema

de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), referente à prevalência de Infarto Agudo do

Miocárdio em Montes Claros, Minas Gerais entre os anos de 2008 a 2014.

Montes Claros – Minas Gerais 13

Page 9: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

As variáveis analisadas foram: índices de internações por IAM, internações segundo o

estabelecimento hospitalar em Montes Claros, número de casos (antes da análise) e de óbitos por

IAM segundo sexo, faixa etária e etnia.

2.2 Resultados

Analisando os dados obtidos, foram notificados no município 3.604 internações por

infarto agudo do miocárdio (IAM) no período avaliado. Sendo que, de acordo com a Figura 1,

observa-se que houve maior número de IAM no ano de 2009 com 797 internações (22,11%),

seguido do ano de 2010 com 590 internações (16,37%). Nota-se que os anos de 2008 com 262

internações (7,26%) e o ano de 2012 com 435 internações (12,06%) apresentaram os menores

índices de internações.

GRÁFICO1: Índice de internações por Infarto Agudo do Miocárdio em Montes Claros - MG, de 2008 a 2014.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

De acordo com a caracterização sociodemográfica dos pacientes percebe-se que os

homens apresentaram maior percentual de IAM em relação às mulheres, representando 58,62% e

41,37%, respectivamente. O grupo etário de 60-69 anos se destacou com 27,05% dos episódios

de infarto. As crianças menores de 1 ano, os adolescentes entre 15-19 anos e os adultos jovens

entre 20-29 anos representam os menores percentuais, somando os três grupos menos de 1% dos

episódios.

Observa-se na Figura 2 que o maior número de internações aconteceu no Hospital Aroldo

Tourinho correspondendo a 1.299 internações (36%) no período avaliado, seguido do Hospital

Santa Casa de Montes Claros com 918 internações (25,5%) e Hospital do Prontosocor com 836

internações (23,2%). Os menores índices ocorreram no Hospital Dilson Godinho com 543

internações (15%), seguido do Hospital Universitário Clemente de Faria com 8 internações

(0,3%).

0

500

1000

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Núm

ero

de

inte

rnaç

ões

por

IAM

Montes Claros – Minas Gerais 14

Page 10: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

GRÁFICO 2: Índice de internações segundo estabelecimento em Montes Claros - MG, de 2008 a 2014 Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

Analisando os dados da figura 3, foram computados um total de 370 óbitos durante o

período estudado, representando 10,26% do total de pacientes que foram internados em

decorrência de IAM. Os anos de 2008 e 2010 tiveram um menor número de óbitos, com 24

(6,5%) e 41 casos (11%), respectivamente, e os anos de 2013 e 2014 tiveram os maiores índices

de óbitos, com 60 (16,2%) e 84 casos (22,7%), respectivamente.

Além disso, é importante salientar que o número de óbitos decorrentes de IAM

demonstrou um aumento gradativo durante todo esse período, havendo um aumento de 350%

entre os anos de 2008 (24 óbitos) e 2014 (84 casos).

GRAFICO 3: Índice de óbitos por Infarto Agudo do Miocárdio em Montes Claros - MG, de 2008 a 2014. Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS)

Os resultados da análise também revelaram que pacientes do sexo masculino faleceram

mais em decorrência do Infarto Agudo do Miocárdio, 59,45% dos casos, de um total de 370

óbitos. Considerando a idade desses pacientes, foi constatado que os óbitos em menores de um

ano e entre os grupos etários de 15-19 anos e 20-29 anos representaram juntos apenas 0,81% do

0

20

40

60

80

100

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

núm

ero

de ó

bito

s

Montes Claros – Minas Gerais 15

Page 11: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 total de óbitos. Em contrapartida, os casos que se enquadram na faixa etária de 70 a 79 anos

foram os mais representativos com 108 casos (29,18%).

2.3 Discussão

No período entre 2008 e 2014, houve no Brasil 551.895 internações por IAM e em Minas

Gerais 71.333 (12,92%) das internações (BRASIL, 2014). Segundo a presente pesquisa foi

observado que em Montes Claros ocorreram 3.604 internações (0,65%) no mesmo período. De

acordo Nicolau et al. (2007) o IAM é uma síndrome clínica cardiovascular de elevada

prevalência no Brasil estimando-se que ocorrerá um contínuo crescimento nas próximas duas

décadas, particularmente, nos países em desenvolvimento. As causas do aumento dessa

incidência nestes países são decorrentes do acelerado processo de urbanização, da dificuldade de

acesso ao sistema de saúde, da ausência de ações efetivas sobre o combate aos fatores de risco

cardiovascular e do acelerado envelhecimento populacional.

O perfil epidemiológico dos pacientes vítimas de IAM do presente estudo revelou um

predomínio do sexo masculino 2.113 (58,62%) em comparação com o sexo feminino 1.491

(41,37%). O maior acometimento de eventos cardíacos em homens é identificado em vários

estudos, dentre os quais, o estudo retrospectivo de Ribeiro et al. (2013), realizado no Paraná, em

que 54% dos pacientes vítimas de infarto foram homens. Também no estudo de Jesus, Campelo e

Silva (2013), realizado no Piauí, dos 240 pacientes, 135 (56,2%) eram do sexo masculino. Em

Belo Horizonte, entre os anos de 2009 a 2011, os homens representaram a média de 63% dos

pacientes internados por infarto (MARCOLINO et al., 2013). Essa diferença é explicada pelos

fatores protetores inerentes à mulher, como os níveis elevados de estrogênio, fato que diminui o

tempo de exposição aos fatores de risco para doença coronariana, cujos efeitos aterogênicos

sobre o sistema surgem com o passar dos anos (CONTI et al., 2002). Além disso, os homens

vítimas de infarto apresentam maior prevalência de tabagismo e seus níveis de colesterol LDL

representam, isoladamente, fator de risco mais significativo quando comparado às mulheres

(GUS; FISCHMANN; MEDINA, 2002).

Referente ao grupo etário, aquele que mais se destacou foi o de 60-69 anos (27,05%),

seguido do grupo de 50-59 anos (24%) e 70-79 anos (22,33%). As doenças cronicodegenerativas

são comuns entre os indivíduos idosos e frequentemente elas se sobrepõem, sendo a presença de

mais de uma patologia característica comum. Percebe-se que a idade da ocorrência dos eventos

cardiovasculares é mais significativa, em homens e mulheres acima dos 60 anos. Embora essas

Montes Claros – Minas Gerais 16

Page 12: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 doenças possam ocorrer em qualquer idade, sua incidência aumenta à medida que o indivíduo

envelhece (RIBEIRO et al, 2013; JESUS; CAMPELO; SILVA, 2012).

No sistema público de saúde a mortalidade hospitalar dos pacientes internados por IAM

se mantém persistentemente elevada, em média: 16,2%, em 2000, 16,1%, em 2005, e 15,3%, em

2010, porém notou-se queda de aproximadamente 1% durante essa década para as internações

registradas em todo país (MARCOLINO et al., 2013). No presente estudo, foi observado um

total de 370 óbitos, representando 10,26% do total de pacientes que foram internados em

decorrência de IAM, o que mostra um valor inferior à média nacional. Entretanto, é importante

salientar que o número de óbitos decorrentes de IAM demonstrou um aumento gradativo durante

todo esse período, chegando a 350% se compararmos os anos de 2008 (24 óbitos) e 2014 (84

casos), o que vai de encontro com os estudos de Marcolino et al, (2013). Segundo estudos de

Ribeiro (2009), essa elevada taxa de mortalidade poderia ser atribuída às dificuldades de acesso

do paciente com IAM ao tratamento cardíaco especializado.

3. CONCLUSÃO

Nos últimos anos houve oscilações sem decréscimos importantes nos números reais a

respeito das vítimas de infarto, fato que revela a magnitude das doenças cardiovasculares e ainda

elevada mortalidade, haja vista que mais de 10% dos pacientes internados vítima de IAM nos

hospitais de Montes Claros faleceu. Concluiu-se também que assim como outros estudos, a

população jovem é pouco acometida por eventos cardiovasculares, sendo a população masculina

e aqueles acima de 60 anos responsáveis pelos maiores índices. Portanto, é mandatório que as

pessoas invistam em medidas para melhorar sua qualidade de vida de forma que a promoção da

saúde seja o objetivo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde [Internet]. Indicadores de saúde. Datasus [acesso em 2015 maio. 13]. Disponível em <http://www.datasus.gov.br> CONTI, R.A.S.; SOLIMENI, M.C.; LUZ, P.L.L.; BENJÓ, A.M.; NETO, P.A.L.; RAMIRES, J.A.F.R. Comparação entre Homens e Mulheres Jovens com Infarto Agudo do Miocárdio. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v.79, n.5, p.510-7, 2002. JESUS, A.V; CAMPELO, V; SILVA, M.J.S. Perfil dos pacientes admitidos com Infarto Agudo do Miocárdio em Hospital de Urgência de Teresina-PI. Revista Interdisciplinar, v.6, n.1, p.25-

Montes Claros – Minas Gerais 17

Page 13: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 33, jan.fev.mar. 2013. MAIA, L.F.S. Infarto agudo do miocárdio: o perfil de pacientes atendidos na UTI de um hospital público de São Paulo. Revista Científica de Enfermagem v.1, n.4, p. 10-15, São Paulo: 2012. MARCOLINO, M.S; BRANT, L.C.C; ARAUJO, J.G; NASCIMENTO, B.R; CASTRO, L.R.A; MARTINS, P; LODI-JUNQUEIRA, L.; RIBEIRO, A.L. Implantação da Linha de Cuidado do Infarto Agudo do Miocárdio no Município de Belo Horizonte. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v.100, n.4, p. 307-314, 2013. NICOLAU, JC; TIMERMAN, A; PIEGAS, LS; MARIN-NETO, JA; RASSI, A Jr. Guidelines for unstable angina and non-ST-segment elevation myocardial infarction of the Brazilian Society of Cardiology (II Edition, 2007). Arquivo Brasileiro Cardiologia.; v.89, n.4, p.89-131, 2007. RIBEIRO, B.G.A; MARTINS, J.T; BOBROFF, M.C.C.; MONTEZELI, J.H.; GOMES, T.Z. Perfil epidemiológico de pacientes com distúrbios cardiovasculares atendidos no pronto socorro de um hospital universitário. REAS, v.2, n.3, p. 32-41, 2013.

Montes Claros – Minas Gerais 18

Page 14: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

ASILO POLÍTICO: UMA PRERROGATIVA DO PODER EXECUTIVO

TEIXEIRA, Maria Luiza Angélica Acadêmica do curso de Direito das Faculdades Integradas Pitágoras – FIP-Moc

SOUZA, João Victor de Oliveira

Acadêmico do Curso de Direito das Faculdades Integradas Pitágoras – FIP-Moc Acadêmico do Curso de Administração da Universidade Federal de Minas Gerais - Montes Claros.

INTRODUÇÃO

O direito de asilo político tem como escopo a proteção dos indivíduos estrangeiros

perseguidos em seu território de origem, seja por delitos políticos, convicções religiosas e raciais

que ponham a sua vida ou liberdade em iminente risco.

O direito de pleitear asilo em outro Estado encontra-se assegurado pela Declaração

Universal dos Direitos Humanos de 1948 em seu artigo 14, § 1°, “Todo homem, vítima de

perseguição, tem o direito de procurar e gozar do asilo em outros países”. Declaração esta que o

Brasil recepcionou em sua Carta Magna de 1988, em seu artigo 4º, inc. X.

A Constituição Federal determina ainda que a concessão de asilo político é um dos

princípios que regem as relações internacionais entre os diversos países. Sendo assim, o asilo

politico no Brasil deverá seguir as normas de direito internacional. (BRASIL, 1988)

Esta figura jurídica foi criada objetivando a proteção do indivíduo. Entretanto compete ao

Estado o poder de decisão da concessão do asilo politico ao individuo, sendo esta atribuição

exclusiva do Poder Executivo. O trabalho visa entender o asilo político como uma prerrogativa

do poder executivo e ferramenta única de soberania estatal.

DESENVOLVIMENTO

Asilo político é um instituto que vem garantir ao sujeito estrangeiro o direito à

proteção, quando este vem sofrendo perseguição de natureza política ou ideológica e que sua

liberdade, e até mesmo sua vida, é posta sob eminente risco em meio ao seu país de origem. Esse

instituto jurídico, na contemporaneidade, é encontrado e regulado nas convenções internacionais

específicas. A sua permissão tem por objetivo proporcionar segurança ao indivíduo que vem

sendo perseguido ou ameaçado, desde que os motivos sejam políticos ou ideológicos.

Antes de adentrar na questão sobre a legalidade da concessão do asilo político, faz-se necessário tecer conceituações para melhor justificar a necessidade de concessão do mesmo. Portanto, poder-se-á dizer que asilo político é o abrigo de estrangeiro que está sendo perseguido por outro país, por razão de dissidência

Montes Claros – Minas Gerais 19

Page 15: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

política, por delitos de opinião, ou por crimes que tem ligação com a segurança do Estado, contudo não podem configurar quebra do direito penal comum (ANNONI, 2002, p.57).

Melo (2000) diz, que o asilo não é um direito do indivíduo, mas do Estado. Onde é

enfatizado que nenhum Estado é obrigado a conceder o asilo político, garantido no art. 1º da

Convenção Interamericana sobre asilo territorial.

No Brasil, o asilo foi recepcionado pela Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988 (CRFB/1988), em seu artigo 4 º, inc. X, onde prevê a concessão do asilo político

tanto em matéria territorial quanto diplomático não havendo quaisquer restrições. Esse é um

princípio de ordem internacional, onde o Brasil deve se conduzir.

Lenza (2014) divide esse instituto de duas formas, quais sejam o asilo político

territorial e o diplomático.

O asilo político é gênero do qual são espécies o asilo territorial e o asilo diplomático. Asilo territorial: concedido ao estrangeiro no âmbito espacial da soberania estatal;asilo diplomático: concedido ao estrangeiro pela autoridade diplomática brasileira no exterior, ficando protegido, por exemplo, na embaixada, no Consulado, em navio, aeronave, acampamento militar etc. (LENZA, 2014, p. 1227)

Segundo Soares (2002), o asilo diplomático vem ser um instituto provisório e incerto

do asilo politico, que diferentemente do asilo territorial, o asilo diplomático proferido ao

embaixador do país no exterior. Em definitivo, o conceito de que pode considerar-se o local da

missão diplomática, não apenas o território do Estado em questão, mas sim, navios, aeronaves e

acampamentos militares autorizados a estacionarem no território de um Estado, como forma de

extensão de território nacional.

Carvalho (2009) aduz que o asilo territorial é a aceitação de um estrangeiro, onde o

país exerce sua soberania, visando proteger a liberdade e a vida do sujeito, desde que se encontre

em situação de risco no seu país nativo.

O asilo territorial é concedido inicialmente por dois anos, onde poderá, ou não, ser

renovada de acordo com o “jeitinho político” de cada país.

No Brasil, o asilo político foi constituído com uma sequência na concessão de asilos.

Na época colonial do Brasil, temos relatos desse instituto, obviamente deficiente, em estado de

caos entre os indígenas e os portugueses. Pois bem, no ano de 1948, foi criada a Declaração

Universal dos Direitos do Homem, legislação internacional, subscrita pelo Brasil, que assevera

os direitos da personalidade, onde em seu artigo 13 é preciso quanto a garantia do asilo político.

Montes Claros – Minas Gerais 20

Page 16: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Artigo 13°. Toda a pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país. (ONU, 1948, p.01)

Carvalho (2009), explica que o Brasil também aderiu à Convenção Americana de

Direitos Humanos, que salvaguarda além do asilo político, como também proíbe, taxativamente,

a expulsão de estrangeiros. O congresso Nacional aprovou a solicitação de reconhecimento da

competência obrigatória da corte Internacional de Direitos Humanos para fatos calhados após o

reconhecimento. Desse modo, o Brasil tornou-se obrigado aplicar a jurisdição da Corte

Interamericana de Direitos Humanos.

O Tribunal, pelo art. 1° do estatuto, é uma instituição permanente, com jurisdição sobre pessoas responsáveis pelos crimes de maior gravidade, fixados nos termos do Estatuto, com alcance internacional, e será complementar às jurisdições penais nacionais, somente exercendo jurisdição no caso de incapacidade ou omissão dos estados (princípio da complementaridade). (CARVALHO; 2009, p. 683).

Em 2004, foi criada a emenda a Emenda Constitucional n. 45 que acrescentou o §4º

ao artigo 4º da CF/88, da qual determina que o Brasil venha submeter à jurisdição do Tribunal

Internacional Penal Internacional, da qual a criação tenha manifestado adesão.

Soares (2004) ressalta que, embora somente na Constituição da República Federativa

do Brasil (CRFB/88) tenha expressamente aderido o asilo político e que tal preceito era

inexistente nas constituições anteriores, o País, desde seu início, reconheceu e aplicou, inúmeras

vezes tal instituto no território nacional, tanto os que solicitaram e buscaram asilo, já dentro do

território nacional, quanto os asilados em missão diplomática brasileiras no exterior, ou aqueles

susceptíveis de conceder no exterior o asilo que foram encaminhado ao mesmo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante todas as considerações tecidas, o asilo politico é um direito constitucional herdado

da Declaração Universal dos Direitos Humanos e que no Brasil é uma prerrogativa do Poder

Executivo, sendo esta uma decisão soberana do Estado. Nessa perspectiva, cabe ao Estado o

poder de decisão sobre a concessão ou não de asilo politico a quaisquer estrangeiros. Portanto, o

direito de asilo tem como características: direito exclusivo do Estado; tem por premissa que a Montes Claros – Minas Gerais 21

Page 17: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 aceitação e/ou recusa são definidos pelo País; ser exigido a existência de uma situação de

perseguição tanto por motivos políticos, quanto religiosos e/ou intelectuais; e cabe ao Estado

asilado conceder, ou não uma possível extradição; consoante as normas regionais da América

Latina da qual, inexistem restrições sobre atos considerados como delitos políticos.

REFERÊNCIAS

ANNONI, Danielle. Os novos conceitos do Direito Internacional. ed. América Jurídica. 2002. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. São Paulo: Atlas, 2009. CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito constitucional: teoria do Estado e da Constituição. 12a ed. rev. atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. ONU, Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado.18. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de Direito Internacional Público. V. 1, 12. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. SOARES, Guido Fernando da Silva. Curso de Direito Internacional Público. Vol. 1. São Paulo: Atlas, 2002.

Montes Claros – Minas Gerais 22

Page 18: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

DA SITUAÇÃO IRREGULAR À PROTEÇÃO INTEGRAL A tutela constitucional da criança e do adolescente

CRUZ, Maria Luiza Souto Vasconcelos Acadêmica do Curso de Direito das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIP-Moc

SILVA, Leandro Luciano

Doutorando FAE/UFMG Docente do Curso de Direito das Faculdades Integradas Pitágoras - FIP-Moc

Docente do Curso de Direito da UNIMONTES

INTRODUÇÃO

O objetivo geral do presente trabalho foi identificar as modificações envolvendo o

tratamento dispensado à criança e ao adolescente no Brasil desde os primeiros institutos

normativos relacionados e esses sujeitos até a consagração da Doutrina da Proteção Integral,

explícita na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988-CRFB/88.

Foram analisados vários aspectos que envolviam a educação das crianças, e a forma

como eram vistas e tratadas, tanto pela sua família como pela sociedade.

Observou-se as várias tentativas de criação de uma legislação, referente a essas pessoas,

que trouxesse normas que protegessem seus direitos e que deveriam ser seguidas.

Enfim, as modificações legislativas que ocorreram fizeram nascer um novo ramo do

Direito, que visa exclusivamente à criança e ao adolescente, ao seu tratamento, sua educação e

trabalho, sua formação familiar e acompanhamento psicológico recebido pelos seus pais, para

que essas crianças e adolescentes se tornem serem humanos livres de cometimento de atos

infracionais durante seu desenvolvimento.

DESENVOLVIMENTO

O reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos de direitos não ocorreu

como um processo rápido, mas por meio de conquistas paulatinas que culminaram com o

reconhecimento no âmbito constitucional e com a edição do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), em vigor desde 1990 que, juntamente com outros institutos normativos,

consolidam, no ordenamento jurídico brasileiro, o chamado Direito da Infância e Juventude.

No Brasil, conforme relata Costa (1993), Direito da Infância e Juventude pode ser

conceituado como o sistema de métodos de estudo e aplicação dos princípios jurídicos e normas

Montes Claros – Minas Gerais 23

Page 19: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 concernentes aos sujeitos do Direito Especial de proteção integral para as pessoas com menos de

18 anos de idade, apreciadas pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

(CRFB/88), e em estágio de desenvolvimento biopsicossocial.

À guisa de histórico, Veronese (1997) afirma que não existem registros, até o começo

do século XX, do desenvolvimento de políticas sociais planejadas pelo Estado brasileiro quanto

às crianças e aos adolescentes. As populações carentes economicamente eram apresentadas aos

cuidados da Igreja Católica por meio de determinadas instituições, como a Santa Casa de

Misericórdia. Estas instituições atendiam os doentes e também os órfãos e necessitados. Um dos

meios de atendimento era o sistema da Roda das Santas Casas, procedente da Europa no século

XVIII, e que tinha a finalidade, tanto de proteger as crianças abandonadas quanto de arrecadar

donativos.

Assim, as políticas públicas de atendimento à criança e ao adolescente até o advento do

ECA eram caracterizadas pela filantropia e assistencialismo, herdadas de Portugal. As

instituições eram ligadas à igreja sem qualquer preocupação jurídica com as crianças

(D´ANDREA, 2005).

No caso dos menores que sofriam de abandono ou eram delinquentes, estes

permaneciam sob os cuidados do juiz que aplicava-lhes medidas assistenciais e punitivas. E essa

legislação era aplicada a qualquer menor, independente do sexo. Devia somente ter menos de 18

anos e estar em situação de abandono ou delinquência (D´ANDREA, 2005).

Quanto à educação, Veronese (1997) informa que o ensino obrigatório foi

regulamentado em 1854. No entanto, a lei que tratava do assunto não se aplicava universalmente,

já que ao escravo não havia esta garantia. O acesso era negado também àqueles que padecessem

de moléstias contagiosas e aos que não tivessem sido vacinados. Estas restrições atingiam as

crianças vindas de famílias que não tinham pleno acesso ao sistema de saúde, o que faz pensar

sobre a influência da acessibilidade e qualidade de uma política social sobre a outra, ou seja, de

como a não cobertura da saúde restringiu o acesso das crianças à escola, propiciando uma dupla

exclusão aos direitos sociais.

No que diz respeito à regulamentação do trabalho, Del Priore (1999) afirma que, em

1891, o Decreto nº 1.313, estabelecia em 12 anos a idade mínima para o trabalho. Entretanto,

essa determinação não se fazia valer na prática, uma vez que as indústrias nascentes, assim como

a agricultura, utilizavam a mão de obra infantil prestada por crianças em idade inferior à

mencionada. Este cenário apresenta sinais de mudanças pelos anos de 1917 com a organização

de classes trabalhadores que reivindicavam a suspensão do trabalho de menores de 14 anos e a

eliminação do trabalho noturno de mulheres e de menores de 18 anos, dentre outras coisas.

Montes Claros – Minas Gerais 24

Page 20: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Saraiva (2003) informa que de forma paralela, a Doutrina do Direito do Menor foi se

construindo, estabelecida no binômio carência/delinquência. Se não mais se confundiam criança

com adulto, desta nova compreensão resulta outro mal: a consequente criminalização da

pobreza. Criava-se a Doutrina da Situação Irregular, com uma política de eliminação das

garantias substituindo a proteção dos menores.

No ano de 1923 foi instituído o Juizado de Menores. Em 1927 foi proclamado o

primeiro documento legal para os menores de 18 anos, o Código de Menores, que ficou

conhecido popularmente como Código Mello Mattos (D´ANDREA, 2005).

Em 1941 foi criado o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), órgão do Ministério da

Justiça, análogo ao sistema Penitenciário, porém para a população menor de idade. Sua

orientação era correcional-repressiva. O sistema previa atendimento distinto para o adolescente

autor de ato infracional e para o menor abandonado e carente (TAVARES, 1999).

No ano de 1959 foi adotada, pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Declaração

Universal dos Direitos da Criança, com a intenção de impulsionar os países membros a praticar o

desenvolvimento pleno da personalidade de suas crianças, protegendo o seu crescimento em

ambiente familiar, preparando-as para a vida em sociedade (D´ANDREA, 2005).

Em 1964, no Brasil, foi instituída a Política Nacional do Bem-Estar do Menor,

objetivando essencialmente uma coordenação mais rigorosa das entidades Estaduais de proteção

às crianças e adolescentes, alterando o foco, que era de correção e repreensão, para focalizar a

assistência (DEL PRIORE, 1999). A implantação da Política Nacional do Bem Estar do Menor,

segundo Tavares (1999), ficou a cargo da Fundação Nacional do Bem Estar do Menor

(FUNABEM) instituída pela Lei 4.513/1964.

Segundo Del Priore (1999) em 1979 foi instituído o Novo Código de Menores,

reformulando o Código de Mello Mattos (Código de Menores de 1927). A criação deste novo

código, apesar de mudanças positivas, como a instituição de entidades de assistência e proteção

ao menor, foi fortemente criticada, especialmente pelos segmentos da sociedade que se

ocupavam das questões relacionadas aos direitos humanos.

Colocada na legislação brasileira pelo artigo 227 da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88), a doutrina da proteção integral idealizada pela ONU

em 1959, materializa, no ordenamento jurídico brasileiro, os progressos conseguidos na ordem

internacional em benefício da infância e da juventude

Finalmente, em 1990, conforme assevera Tavares (1999), o Código de Menores de 1979

foi substituído pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), criado pela Lei 8.069 em 13 de

Montes Claros – Minas Gerais 25

Page 21: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 julho de 1990. Este estatuto apresenta como objetivo a proteção integral da criança e do

adolescente, empregando medidas e transmitindo orientações.

O ECA dispõe de direitos e garantias legais e constitucionais direcionados à criança e ao

adolescente, como: vida digna, direito à saúde, nome, justiça, direito à não discriminação,

educação, lazer, direito à proteção, direito à profissionalização, liberdade de pensamento,

convivência familiar, direito à cultura, direito a um ambiente sadio, direito de expressão e

cuidados especiais. (BRASIL 1990)

Além de conferir direitos à criança e ao adolescente, o ECA ainda atribui à família, à

sociedade e ao poder público o dever de assegurar a efetividade dos direitos nele estabelecidos

assim como registra seu artigo 4º (BRASIL, 1990).

De acordo com Veronese (1997), o ECA fez três mudanças significativas no que diz

respeito ao atendimento da Criança e do Adolescente em conflito com a lei. A primeira está

relacionada à denominação: antes o que era apresentado como Menor, agora passa a ser tratado

como Criança e Adolescente. A segunda está relacionada ao ato cometido por essa criança. O

que antes chamado de Infração Penal, atualmente é denominado de Ato Infracional. A terceira

mudança foi a reestruturação do sistema de garantias do direito da criança e do adolescente.

Anteriormente, apenas o juiz tratava dessas questões, agora integram-se o Juizado da Infância e

Adolescência, o Ministério Publico, o Conselho Tutelar, Conselho dos Direitos da Criança e do

Adolescente e os demais profissionais ligados a essa área.

Como observado, o tratamento dispensado à criança e ao adolescente no ordenamento

jurídico brasileiro, nem sempre se apresentou como se verifica nos dias atuais. Sua evolução

parte, inclusive, do não reconhecimento da criança e adolescente como sujeitos de direitos,

depois pelo tratamento destes indivíduos como adultos, recebendo, em determinadas situações,

as mesmas reprimendas do Estado destinadas aos infratores mais velhos. Este cenário começa a

se transformar, em especial, com a adoção, pela ONU, da Declaração Universal dos Direitos da

Criança em 1959, que irradia aos vários países no mundo a necessidade de dispensar tratamento

diferenciado à criança e ao adolescente. No Brasil, os reflexos da Declaração Universal dos

Direitos da Criança podem ser sentidos com a instituição da Política Nacional do Bem Estar do

Menor em 1964, e com o novo Código de Menores de 1979. Não obstante, foi a partir da

CRFB/88 que a atenção à criança e ao adolescente ganha novas proporções, resultando em outro

instituto de grande importância, ou seja, o ECA. Assim esse movimento histórico relacionado à

criança e ao adolescente sugere a existência de dois momentos distintos: a doutrina da situação

irregular e a doutrina da proteção integral e que tem como divisor de águas a CRFB/88 e o ECA.

Montes Claros – Minas Gerais 26

Page 22: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Como observado alhures, a análise histórica do sistema normativo relacionado à criança

e adolescente no Brasil sugere a existência de dois sistemas ou doutrinas direcionadas ao

atendimento à criança e ao adolescente, a doutrina da situação irregular e a doutrina da proteção

integral.

O termo Situação Irregular, segundo Saraiva (2003), era empregado para se referir a

situações que fugiam ao modelo normal da sociedade. Essa doutrina pode ser entendida como a

possível solução para as irregularidades vivenciadas pelas crianças e adolescentes em casos de

dificuldade.

Volpi (1997) relata que a doutrina da situação irregular foi seguida antes da instituição

do atual ECA. Ela foi inaugurada pelo Código de Menores de 1927 e amparada pelo antigo

Código de Menores de 1979, que admitia situações de não proteção à criança e ao adolescente,

Dessa forma, os menores infratores eram separados da sociedade, segregados, de modo

generalizado, em instituições como a Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (FEBEM),

desrespeitada a dignidade da pessoa humana e o termo “menor” passa, inclusive, a ser

empregado de forma pejorativa.

Nesse contexto, a lei de menores preocupava-se exclusivamente com o conflito

construído e não com a prevenção. Os jovens não eram vistos como sujeitos de direitos, mas

como objeto de medidas judiciais (DEL PRIORE, 1999).

O Código de Menores era dirigido não a todas as crianças, mas exclusivamente àquelas

apresentadas como estando em situação irregular, que segundo o artigo 1º seria o menor de um

ou outro sexo, “abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 annos de idade, será

submettido pela autoridade competente ás medidas de assistência e a protecção contidas neste

Código” (BRASIL, 1927). (Sic)

Del Priore (1999) assegura que o Código de Menores apresentava como objetivo

constituir diretrizes claras para o trato da infância e juventude excluídas, regulamentando

assuntos como tutela e pátrio poder, delinquência, trabalho infantil e liberdade vigiada. O Código

de Menores atribuía ao juiz grande poder, sendo que o destino de várias crianças e adolescentes

ficava a mercê do julgamento e da ética do magistrado.

É importante salientar que o Código de Menores de 1927 tratava da doutrina da situação

irregular, porquanto não estava direcionada ao conjunto da população infanto-juvenil, mas

exclusivamente aos menores que se encontravam no estado de abandono, e tendo como

concepção a tutela e coerção envolvida como reeducação, dando pleno poder aos juízes e aos

comissários de menores que realizassem vistorias em suas casas e quaisquer instituições que se

ocupassem das crianças já qualificadas como menores. Desse modo, os menores eram

Montes Claros – Minas Gerais 27

Page 23: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 repreendidos ao invés de serem educados para ocasionar alguma mudança pra eles. (SPOSATO,

2002)

No início da década de 40, segundo afirmativas de Del Priore (1999) a política de

Estado, estava direcionada a duas categorias específicas e separadas, que atendiam ao menor e à

criança. É importante salientar que o tratamento jurídico oferecido aos menores era similar

àquele a que eram colocados os portadores de doenças psíquicas e incidia na privação de

liberdade por tempo indefinido.

Em 1964, conforme assevera Del Priore (1999) foi instituída a Lei nº 4.513, instituindo

a Política Nacional do Bem-Estar do Menor como substituta ao SAM, tendo como gestora

nacional a FUNABEM e em âmbito estadual, as FEBEM's.

Segundo Volpi (1997) na década de 1970 houve uma intensa discussão acerca da

criação de um novo Código de Menores, resultando na publicação da Lei nº 6.697 de 10 de

outubro de 1979.

O Código de Menores de 1927 era dirigido exclusivamente àquelas apresentadas em

situação irregular que compreendia: o menor de ambos os sexos, abandonado ou delinquente,

com menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente ás medidas de

assistência e a proteção. Para o Código de Menores de 1979 as crianças em situação

irregular eram aquelas privadas de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução

obrigatória, vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável;

em perigo moral, privado de representação ou assistência legal, com desvio de conduta, em

virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária e o autor de infração penal. Como

observado, a doutrina da situação irregular não era representada somente por um Código de

Menores em si, mas pela totalidade de normas e medidas que tratavam o menor como

delinquente, e possuíam o caráter mais repressivo que educativo ou ressocializador.

As modificações estruturais no universo político solidificadas com o fim do século XX

confrontaram duas fortes doutrinas, as chamadas de Doutrina da Situação Irregular e da Proteção

Integral. Foi a partir desse período que a teoria da proteção integral se tornou referencial

paradigmático para a formação de um fundamento teórico constitutivo do Direito da Criança e

do Adolescente no Brasil.

Conforme Saraiva (2003) a doutrina da Proteção Integral encontra-se exposta no artigo

227 da CRFB\88, segundo o qual “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à

criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade [...] (BRASIL, 1988).

A CRFB\88 abriu um precedente para a criação do ECA que substitui a antiga Doutrina

da Situação Irregular. A partir da adoção da Doutrina da Proteção Integral, houve uma ruptura

Montes Claros – Minas Gerais 28

Page 24: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 com o passado e uma forte influência do princípio da dignidade da pessoa humana. Passou-se,

então, a garantir, pela primeira vez, às crianças e aos adolescentes direitos e garantias

fundamentais como qualquer outro ser humano (D’ANDREA, 2005).

Para Leite (2005) o ECA aboliu o Código de Menores de 1979, com características

discriminatórias, assim como a lei que criou a FUNABEM. Abraçou a doutrina de proteção

integral, que adotou a criança e o adolescente como cidadãos e sujeitos de Direito.

A Lei Nº 8.242, de 12 de outubro de 1991, criou o CONANDA (Conselho Nacional dos

Direitos da Criança e do Adolescente) cuja primeira reunião de trabalho aconteceu em 18 de

março de 1993. O Conselho apresenta como objetivo precípuo estimular a implantação do ECA

no país.

Em 1993, a Lei 8.642 criou o Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e

Adolescente (PRONAICA), para articular e unir ações de apoio à criança e adolescente, sob a

coordenação do Ministério da Educação. Em janeiro de 1995, foi implantando o Conselho da

Comunidade Solidária, para coordenar ações na área social a partir de iniciativas locais.

A Declaração dos Direitos das Crianças, segundo Saraiva (2003) promulgada em 20 de

novembro de 1959 pela Organização das Nações Unidas (ONU) foi uma iniciativa importante

para consolidação dos direitos de crianças e adolescentes no panorama internacional. No Brasil,

essa Declaração acabou se materializando na doutrina da Proteção Integral, que se consolida no

ordenamento jurídico com a promulgação da CRFB\88 e posteriormente com o ECA em 1990.

Para Leite (2005), desde 1988 um novo ramo jurídico se estabeleceu, compreendendo o

Direito da Criança e do Adolescente no Brasil. A doutrina da Proteção Integral apresenta como

pressuposto o reconhecimento necessário dos direitos fundamentais da população infanto-

juvenil, tendo como regra disciplinadora o ECA.

Del Priore (1999) afirma que o ECA não só diz respeito a uma proteção integral da

criança, mas igualmente a uma efetiva proteção no que diz respeito ao direito à vida e ao seu

completo desenvolvimento, sobretudo, no intento de buscar o interesse maior da própria criança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se observa a doutrina da situação irregular não era representada apenas por um

Código de Menores, mas pela totalidade de normas e medidas que tratavam o menor como

delinquente, e possuíam caráter mais repressivo que educativo ou ressocializador.

Por outro lado a doutrina da proteção integral estabeleceu-se para a concepção do

Direito da Criança e do Adolescente no Brasil atual devido a sua qualidade estruturante de um

Montes Claros – Minas Gerais 29

Page 25: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 novo ramo jurídico autônomo estabelecido com a CRFB/88. Dessa forma, é possível constatar

uma ruptura paradigmática apta a potencializar a consolidação dos direitos fundamentais

conferidos às crianças e adolescentes.

REFERÊNCIAS

D’ANDREA, Giuliano. Noções de direito da criança e do adolescente. Florianópolis: OAB/SC, 2005. DEL PRIORE, Mary. História das Crianças no Brasil. Editora Contexto, 1999. LEITE, Carla Carvalho. Da doutrina da situação irregular à doutrina da proteção integral: aspectos históricos e mudanças paradigmáticas. Juizado da Infância e da Juventude, Porto Alegre, n. 5, mar.2005.

SARAIVA, João Batista da Costa. Adolescente em conflito com a lei, da indiferença a proteção Integral: Uma abordagem sobre a responsabilidade penal Juvenil. Porto Alegre:Livraria do Advogado, 2003. SPOSATO, Karyna B. Pedagogia do medo: adolescentes em conflito com a lei e a proposta de redução da idade penal. São Paulo: Saraiva, 2006. TAVARES, José de Farias. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 3ed Rio de Janeiro: Forense, 1999. VERONESE, Josiane Rose Petry. Temas de Direito da Criança e do Adolescente. 1ed. São Paulo: LTr, 1997. VOLPI, Mário. Sem liberdade, sem direitos. A privação de liberdade na percepção do adolescente. São Paulo: Cortez, 2001.

Montes Claros – Minas Gerais 30

Page 26: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

DELAÇÃO PREMIADA: ASPECTOS CONSTITUCIONAIS

GOMES, Fernando Soares Acadêmico do Curso de Direito da UNIMONTES

BARROSO, Ian Bernar Santos

Acadêmico do Curso de Direito da UNIMONTES

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos a delação premiada vem ganhando grande destaque no âmbito

jurídico, visto que sua utilização, consequências e relações com os princípios constitucionais

geram debates acalorados acerca da legitimidade constitucional e da ética deste instrumento.

Aliam-se a este fator, as investigações de grandes escândalos nacionais como os casos de

corrupção na companhia petrolífera estatal Petrobrás, a chamada Operação Lava-Jato, que tem

como um dos seus pontos de convergência a utilização da delação premiada como auxiliadora

das investigações.

O levantamento de questões como esta, em congressos, fóruns e conferências é de

grande importância para a melhor compreensão da Delação Premiada e suas consequências no

ordenamento jurídico brasileiro, em especial no que tange a relação do instituto com os

princípios constitucionais do Estado Democrático de Direito.

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e documental que tem por objetivo a análise da

relação existente entre o instituto da delação premiada e os preceitos constitucionais expressos e

transparentes na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88).

DESENVOLVIMENTO

A Delação premiada trata-se de um mecanismo de investigação criminal, no qual é

proposto ao investigado a possibilidade de redução ou extinção da sua pena, mediante

colaboração de forma relevante com as investigações. De acordo com o artigo, veiculado na

revista eletrônica Jus Navigandi, “Estágio atual da ‘delação premiada’ no Direito Penal

brasileiro” (JESUS, 2005):

Delação é a incriminação de terceiro, realizada por um suspeito, investigado, indiciado ou réu, no bojo de seu interrogatório (ou em outro ato). ‘Delação premiada’ configura aquela incentivada pelo legislador, que premia o delator, concedendo-lhe benefícios (redução de pena, perdão judicial, aplicação de regime penitenciário brando etc.).

Montes Claros – Minas Gerais 31

Page 27: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

A delação premiada representa um instituto utilizado pelo Estado baseado em uma

premissa principal, a traição. Entretanto, um Estado Democrático de Direito não pode

compactuar com tal premissa, ainda que isso represente uma solução pragmática para casos que

urgem de serem solucionados. De acordo a obra “Curso temático de Direito Processual Penal”

(MOREIRA, 2010, p.366):

[...] é tremendamente perigoso que o Direito Positivo de um país permita, e mais que isso incentive os indivíduos que nele vivem à prática da traição como meio de se obter um prêmio ou um favor jurídico.

Ele ainda ressalta Moreira (2010, p.367):

[...] Se considerarmos que a norma jurídica de um Estado de Direito é o último reduto de seu povo, [...] é inaceitável que este mesmo regramento jurídico preveja a delação premiada em flagrante incitamento às transgressões de preceitos morais intransigíveis que devem estar, em última análise, embutidos nas regras legais exsurgidas do processo legislativo. [...]

Contrariando a conhecida interpretação da obra de Nicolau Maquiavel, os fins não

podem justificar os meios quando o assunto tratado se refere à solução de problemas criminais

contraposta aos pressupostos éticos do direito. O Estado não pode barganhar com a

criminalidade e nem realizar um negócio jurídico com o criminoso, reduzindo sanções que

deveriam ser, por lei, obrigatórias ao criminoso cumprir.

Além de contrariar a ética pregada pela Filosofia do Direito, é importante destacar a

incoerência estabelecida entre a delação premiada e alguns princípios constitucionais. Até

porque, a traição serve em regra para agravar ou qualificar a prática de crimes, sendo

contraditório utilizá-la para reduzir penas. É também identificado incoerência quando se verifica

que após feita a denúncia, o Estado passa a privar aqueles que são citados na delação de alguns

de seus direitos, mesmo sem saber da veracidade das informações fornecidas pelo delator. Dessa

forma, o princípio constitucional de presunção da inocência, previsto no artigo 5º, LVII da

CRFB/88, acaba sendo ainda mais flexibilizado. Tal princípio impede a formação de qualquer

juízo de culpa antes da sentença penal condenatória, entretanto ao se adotar medidas com base na

palavra de um delator, haja vista que esse passa a influir sobre o poder de condução das

investigações, há uma parcial inversão do princípio supracitado.

O desrespeito ao princípio da presunção da inocência pode causar prejuízos

irreversíveis ao delatado na sua vida pública e privada. Pode causar também prejuízos ao delator

e a sua família que podem ser coagidos até mesmo dentro do próprio presídio, visto que a traição

Montes Claros – Minas Gerais 32

Page 28: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 é enxergada como um dos comportamentos humanos mais repudiados, inclusive dentre os

carcerários. Deve-se ainda levar em consideração que podem existir estímulos a delações falsas e

um incremento a vinganças pessoais ou políticas.

Além do princípio da presunção da inocência, outros princípios constitucionais podem

ser atingidos pelo instituto da delação premiada, a exemplo do princípio da proporcionalidade e o

princípio do contraditório e ampla defesa. No primeiro deles o delator poderia receber pena

menor do que o delatado, cúmplices que fizeram tanto ou até menos do que ele, tornando não

proporcional a sanção penal ao crime cometido. Já quanto ao segundo direito garantido pelo

artigo 5º, LV seria lesado, haja vista que a delação premiada não se trata de confissão, entretanto

o delator perde o seu direito de negar as acusações do processo em que é réu, já que, se o fizesse,

estaria sendo contraditório com relação a si mesmo e tornando todo o processo confuso. Conclui-

se, assim, que o direito ao contraditório é também limitado de forma tácita, ao se realizar a

delação premiada.

CONCLUSÃO

Observou-se que apesar de o Estado ter como papel a manutenção da ordem social, ele

não poderia, sob tal pretexto, mitigar, de forma desproporcional, direitos fundamentais

garantidos pelo texto constitucional. Pelo contrário, lançar mão de institutos como o da Delação

Premiada, sugere a ineficácia do próprio estado em relação à apuração e repressão de condutas

delituosas.

Verificou-se que a delação premiada estaria na contramão de várias garantias

constitucionais, em especial a presunção da inocência, o princípio da proporcionalidade o

contraditório e a ampla defesa. Porém, a afirmação de que tal instituto carrega em si uma carga

de inconstitucionalidade significativa, é admitir sua ilegitimidade no ordenamento jurídico

brasileiro, o que não é a pretensão deste trabalho, pelo contrário, o propósito deste trabalho seria

o de incitar, ainda mais, o debate sobre o instituto da delação premiada e as garantias

constitucionais.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 10 de setembro de 2015.

Montes Claros – Minas Gerais 33

Page 29: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 JESUS, Damásio Evangelista de. Estágio atual da ‘delação premiada’ no Direito brasileiro. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/7551/estagio-atual-da-delacaopremiada-no-direito-penal-brasileiro>. Acesso em 21/05/2015 às 17h10. MOREIRA, Rômulo de Andrade. Curso Temático de Direito Processual Penal. 2.ed. Curitiba: Editora Juruá, 2010.

Montes Claros – Minas Gerais 34

Page 30: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

EVOLUÇÃO DE UMA PACIENTE COM GRAVIDEZ TUBÁRIA ROTA E APENDICITE POR ESQUISTOSSOMOSE: RELATO DE CASO

SOARES, Mariana de Freitas MATOS, João Ricardo Carvalho de

VIANNA, Yuri Cardoso

Discentes do Curso de Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras - FIP-Moc.

INTRODUÇÃO

A Gravidez ectópica é um dos principais casos de urgência e emergência envolvendo a

gestante, sendo uma das maiores causas de morte materna no primeiro trimestre de gestação,

necessitando de uma conduta extremamente eficaz do obstetra (ELITO JUNIOR et al., 2008).

Ela é rara (1-2% dos casos) e caracterizada pela implantação do ovo que se dá fora do útero,

principalmente nas tubas uterinas (tubária), que corresponde a 97% dos casos (PINTO et al.,

2012).

Segundo Pinto et al. (2012), as principais manifestações clínicas diante de um caso de

gravidez ectópica são dor abdominal, atraso menstrual e sangramento vaginal não compatível

com a menstruação. São necessárias, além de uma avaliação clínica e exames diagnósticos como

USTV, B-hCG e o confirmatório pelo anatomopatológico, intervenções, entre elas pelo método

laparotômico, antes que haja ruptura da trompa (ELITO JUNIOR et al., 2012).

A apendicite aguda é um processo inflamatório que ocorre no apêndice cecal,

caracterizado pela obstrução da luz apendicular devido a algum fator específico, entre eles a

hiperplasia do tecido linfóide, fecalitos, corpos estranhos, neoplasias ou parasitos, como os ovos

do Schistossoma, por exemplo (FRAZON et al., 2009).

Assim, esse trabalho teve como objetivo analisar o caso de uma paciente que deu entrada

em um hospital de Brasília de Minas, Minas Gerais, que possuía um quadro clínico de gravidez

ectópica associado com apendicite por inflamação dos ovos do Schistossoma Mansoni.

Montes Claros – Minas Gerais 35

Page 31: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 DESENVOLVIMENTO

Foi realizado nesse trabalho um relato de caso de urgência e emergência de um caso

clínico do Hospital Municipal Senhora Santana, do município de Brasília de Minas, Minas

Gerais. Utilizou-se também levantamentos bibliográficos do tema abordado nos bancos de dados

usando os descritores: Apendicectomia; urgência e emergência; gravidez ectópica; apendicite por

esquistossomose.

S.F.D., sexo feminino, 29 anos, deu entrada no Hospital Municipal no dia 07/02/2012,

com queixa de dor abdominal intensa, com o BHcG positivo, descorada, PA de 100/50 mmHg,

taquicárdica, BNRNF, útero de cavidade vazia e líquido na cavidade, em que foi diagnosticada

gravidez ectópica tubária rota (confirmada posteriormente pelo exame anatomopatológico como

gravidez tubária direita).

A cliente admitida no dia 09/02/2012 às 00:20, após laparotomia por gravidez tubária

mais apendicectomia (confirmada pelo anatomopatológico como resultante de um processo

inflamatório por ovo de Schistossoma Mansoni) veio do BC de maca acompanhado da

enfermagem sem soroterapia, negando alergia medicamentosa, relatando ter depressão e fazer

uso das medicações Diazepam e Amitriptilina. Apresentava SVD com presença de diurese.

Às 2h do mesmo dia, a paciente evoluiu afebril, eupneica, tranquila, consciente,

verbalizando em repouso no leito, sem queixas alérgicas no momento e mantendo SVD. Sendo

medicada conforme o prescrito.

Às 6h foi desprezado, segundo a paciente, 1000 ml de diurese de cor amarelo claro e

odor característico.

Às 13h deambulava pouco, hipocorada, queixando dor na incisão cirúrgica, realizando

curativo no mesmo com rasura. A mesma aceita bem a dieta oferecida, com diurese presente.

No dia 10/02/2012 a paciente obteve alta do hospital com orientação para retirada dos

pontos após 10 dias.

CONCLUSÃO

A importância dos relatos de casos nas pesquisas de UeE é devida à analise de quadros

clínicos específicos nesses setores, assim como sua evolução e prognóstico, auxiliando a conduta

dos profissionais de saúde que depararem com casos similares.

No relato da paciente, ela foi submetida a uma laparotomia devido a uma gravidez

ectópica, encontrando no processo uma apendicite devido a inflamação gerada pelos ovos de

Montes Claros – Minas Gerais 36

Page 32: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 esquistossoma, o que indica a interação de dois quadros clínicos que não possuem relação entre

si e que foram solucionados por apenas um procedimento de urgência.

REFERÊNCIAS

ELITO JUNIOR, Julio, et al. Gravidez ectópica não rota – diagnóstico e tratamento. Situação atual. Rev Bras Ginecol Obstet, v. 30, n. 3, p. 149-59, 2008. PINTO, Heleodoro Corrêa et al. Colpotomia no tratamento da gestação ectópica. Rev. bras. ginecol. obstet, v. 34, n. 3, p. 118-121, 2012. FRANZON, Orli et al. Apendicite aguda: análise institucional no manejo peri-operatório. ABCD arq. bras. cir. dig, v. 22, n. 2, p. 72-75, 2009.

Montes Claros – Minas Gerais 37

Page 33: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

INTERVENÇÃO MILITAR NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

FERREIRA, Deybiane Francielly Santos Acadêmica do curso de Direito das Faculdades Santo Agostinho

INTRODUÇÃO

Após um longo período de governo militar no Brasil, segundo Lima Júnior (1997)

no dia 26 de novembro de 1985, por força da Emenda Constitucional nº26, foi elaborada a nova

Carta. Promulgada em 5 de outubro de 1988, a Constituição, logo em seu artigo 1º, proclama os

ideais democráticos ao definir o “Estado Democrático de Direito”, que tem por fundamento a

soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho, da livre

iniciativa e o pluralismo político. No entanto, recentemente ocorreram manifestações populares

contra o governo brasileiro, onde os manifestantes pediam em cartazes intervenção militar

constitucional como solução para resolver questões referentes à economia, corrupção e

segurança nacional, e a deposição da presidente Dilma Roussef.

Este trabalho centrar-se-á no estudo das referências à intervenção militar na CRFB/1988,

com ênfase na análise dos artigos 34, 91 e 142. Para desenvolvimento deste, foi realizado análise

da evolução das constituições brasileiras, desde a Imperial à Cidadã, promulgada em 1988.

Também toma como exemplo intervenções militares que aconteceram no século XX, e que

tiveram graves consequências na história. Também é realizado um breve apanhado sobre

participação popular e sistemas de governo. Após revisão de literatura, é feita uma análise do

artigo 91 e 142 da CRFB/2015 e as consequências que a leitura desses artigos traz para o direito

democrático da sociedade. Em relação ao método de pesquisa, foi utilizada a revisão de

literatura, fundamentalmente as contribuições dos diversos autores sobre os assuntos abordados.

Dessa forma, pretende-se contribuir com este resumo a carência dos estudos do tema no

Direito Constitucional. O objetivo desse trabalho é analisar até que ponto o exército pode

intervir de modo a não ferir a CRFB/1988. A hipótese levantada nesse trabalho é de que não é

possível a intervenção militar acontecer no país sem ferir o Estado Democrático de Direitos.

DESENVOLVIMENTO

Um breve apanhado sobre participação popular e sistemas de governo

De acordo com Bonavides (2005), é necessário primeiramente diferenciar o conceito

República e Ditadura. No primeiro, o representante é eleito pelos cidadãos para que se torne

Montes Claros – Minas Gerais 38

Page 34: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 chefe de Estado e exerça o poder. No segundo, esse representante não seria eleito

democraticamente. Ao discorrer a respeito da ditadura, Bobbio (2012) diz que à medida que a

democracia foi considerada como a melhor forma de governo, a teoria das formas de governo

simplificou a tipologia tradicional e se polarizou em torno da dicotomia democracia-autocracia,

mais tarde o termo autocracia foi substituído por ditadura. Está de tal maneira generalizado o

costume de chamar de “ditaduras” a todos os governos que não são democráticos, que o termo

“autocracia” acabou por ser relegado nos manuais de direito publico.

Essa denominação democracia-ditadura se difundiu após a primeira guerra mundial, com

um termo predominantemente negativo, que na filosofia clássica era o mesmo que “tirania”, ou

“despotismo”. Contrariamente ao conceito moderno, durante séculos na antiguidade clássica o

termo ditador teve conotação positiva: o ditador era nomeado por apenas seis meses e deveria ser

um magistrado extraordinário, pois era previsto pela constituição e o seu poder justificado pelo

estado de necessidade [este é considerado pelos juristas fatos normativo, um fato idôneo para

suspender uma situação jurídica e dar origem uma nova situação jurídica]. Dessa forma, tanto

Maquiavel quanto Rousseau apud Bobbio (2012), concorda que esse ditador clássico exerce a

função apenas no âmbito executivo e não no legislativo.

Ditaduras no Século XX

Já na era das grandes revoluções, o conceito ditadura foi entendido como poder

instaurador de uma nova ordem, com uma tarefa muito mais vasta: não mais a função de

remediar uma crise parcial do Estado, mas sim a de resolver uma crise total. O ditador é também

tirano, ou déspota, investido do próprio poder pela constituição e assume o poder constituinte e

aos poucos, vai se desapropriando da teoria dos três poderes, interdependentes entre si. Nas

ditaduras modernas, para Arendt (2014) é perturbador o modo como os regimes totalitários

tratam a questão constitucional. Nos primeiros anos de poder os nazistas desencadearam uma

avalanche de leis e decretos, sem ao menos abolir a Constituição de Weimar. Logo após,

promulgaram as Leis de Nuremberg, mudando inclusive suas próprias leis. Na Rússia em 1936

foi criada a Constituição Stalinista, onde os seus criadores foram logo depois foram executados,

a mando do próprio Stálin, como traidores. A ascensão ao poder por Hitler foi legal dentro do

sistema majoritário. Ocupando o cargo público mais poderoso do país e com poder de polícia,

Arendt (2014) pondera que o ditador se torna dono de um verdadeiro exército policial.

Dessa forma, o discurso defendido para justificar o fenômeno da ditadura constitucional

cria a uma situação de risco extremo à democracia e ao Estado de Direito, uma vez que a

exceção pode levar à regra e o governo pode acabar por conferir um caráter permanente a estas

Montes Claros – Minas Gerais 39

Page 35: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 medidas excepcionais.

Como exposto através de Arendt (2014), foi exatamente o que ocorreu na Alemanha

Nazista, onde por muitos anos o Poder Executivo ficou incumbido da elaboração legislativa e a

supressão dos direitos fundamentais se transformou em regra, perdurando esta realidade até a

queda da Terceira República. Diante disso, percebemos que a definição do estado de exceção

como fenômeno da denominada ditadura constitucional, acaba conduzindo a uma situação

extremamente perigosa, uma vez que justificaria a permanência de medidas excepcionais de

suspensão de direitos fundamentais, além de consistir numa séria violação do princípio da

separação dos poderes, tudo sob o manto obscuro da necessidade de preservação do próprio

Estado, diante do perigo decorrente de ameaça à ordem pública e à segurança nacional.

Uma síntese da história constitucional brasileira

O Brasil, segundo o exposto de Gisela Bester (2005), teve uma história constitucional

dolorosa, em que poucas vezes conheceu uma verdadeira democracia. O início da história

constitucional de forma pouco ou nada democrática, já que a primeira Constituição, a Imperial

de 1824 (outorgada em 25 de março daquele ano), surgida no imediato pós-independência,

acabou sendo outorgada pelo Imperador Dom Pedro I, que dissolveu a Assembleia Geral

Constituinte de 1823 e criou ele mesmo a Constituição Política do Império, única fase histórica

constitucional que teve quatro poderes constituídos – o Executivo, o Legislativo, o Judiciário e o

Moderador, sendo que o rei, chefe supremo, acumulava dois poderes: o Executivo e o

Moderador. Ademais, com o passar do tempo, a monarquia implantou uma prática

parlamentarista, não autorizada pelo texto constitucional.

Ainda segundo Gisela Bester (2005), com a Proclamação da República, em 15 de

novembro de 1889, quando o Estado, após longa “Campanha Federalista”, de inspiração norte-

americana, muda sua estrutura: de um Império unitário e centralizador, passou a ser uma

República federativa e descentralizadora. Adotou-se a teoria de Montesquieu, com executivo

presidencialista, legislativo bicameral (Câmara e Senado Federal) e judiciário independente, com

funções e prerrogativas. O Estado também passa a ser laico. Nasce a República dos Estados

Unidos do Brasil, de 1891. No entanto, na prática, essa República teve muitos de seus princípios

violados, pois existia um forte poder de decisão das oligarquias e o constante “voto de cabresto”,

onde até defuntos votavam.

Evento relevante foi a chamada “Revolução de 1930”, que pôs termo à primeira

República e instituiu Governo Provisório. Em 1934 entrou em vigência nossa terceira

Constituição, tida pela Gisela Bester (2005) como versão sul-americana da República de Weimar

Montes Claros – Minas Gerais 40

Page 36: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 (1919), por ter, pela primeira vez, incluído direitos sociais, econômicos, culturais, trabalhistas,

sindicais e previdenciários. Foi uma das mais belas Constituições que já tivemos, com caráter

democrático, reconhecendo o voto feminino e que implementou a Justiça Eleitoral. No entanto,

foi emendada pelo decreto legislativo n.6/35 e foi abolida.

Em 1937 foi implementado Estado Novo. Segundo Gisela Bester (2005), com o Estado

Novo segue a imposição da quarta Constituição, outorgada a pedido do presidente Getúlio

Vargas, no dia 10 de novembro de 1937, com total apoio das forças armadas. Foi uma verdadeira

deformação democrática: previa em seu texto plebiscitos que nunca aconteceram; no seu artigo

38 até estipulava o Parlamento Nacional Bicameral, mas este era composto por representantes

dos Estados e membros nomeados pelo Presidente da República; o governo, na atribuição do

artigo 180, editou a Constituição sempre que desejou.

Ainda de acordo com Gisela Bester (2005), a quinta fase constitucional se iniciou em

1946, elaborada por Assembleia Constituinte no dia 2 de fevereiro do mesmo ano, e lembrando

muito a Carta de 1934 em seu caráter social. Prestigiou o municipalismo, reimplantou o

bicameralismo independente no Poder Legislativo e alargou a competência do judiciário. Inovou

com o pluralismo partidário baseado na garantia de direitos fundamentais, somente com a

imposição de que não tivesse partidos políticos contrários ao regime democrático. No entanto,

entre 1950 e 1963 recebeu seis emendas constitucionais, e desde 1961, em seu texto, as emendas

denunciavam uma série de crises institucionais que se davam no Brasil. Após o ato nº1, de 9 de

abril de 1964 foram mais quinze emendas constitucionais. Muito se discute o momento em que a

Constituição de 1946 deixou de vigorar, pois o Ato Inconstitucional nº2, por exemplo, aboliu os

partidos políticos. De todos os modos, é certo dizer que o movimento militar de 1964 rompeu

com a ordem constitucional de 1946.

A sexta fase da história constitucional brasileira se iniciou com a outorga da

“Constituição do Brasil”, em 31 de março de 1967, que foi inclusive alterada por inúmeros Atos

Inconstitucionais, de 5 a 17. Essa Constituição teve cunho centralizador no Executivo, este

inclusive dotado de poderosas competências legislativas, e uma excessiva preocupação foi

dispensada à segurança nacional, onde, através desta, poderia se restringir direitos individuais.

Em 17 de outubro de 1969, o Ministro da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica

Militar, em recesso no Congresso Nacional, promulgaram uma nova carta, “A Constituição da

República Federativa do Brasil”, imposta por junta militar, desprezando todo o processo de

elaboração de uma nova Constituição. José Afonso da Silva apud Gisela Bester (2005) considera

que esta foi a sétima Constituição de nossa história.

Para Bonavides (2006), a segunda ditadura do século foi a mais longa e perniciosa por

Montes Claros – Minas Gerais 41

Page 37: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 haver mantido aberto um Congresso fantoche, debaixo de uma Constituição de fachada

outorgada pelo sistema autoritário, que ao mesmo tempo censurava a imprensa e reprimia a

formação, pelo debate livre, de novas lideranças, sacrificando assim toda uma geração. Foi a

mais sombria ditadura militar de nossa história.

As décadas de 60, 70 e 80 no Brasil foram marcadas por profundas instabilidades

políticas. No entanto, aqui vale destacar algumas organizações faziam oposição ao regime e

clamavam a volta do poder constituinte ao povo: a OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, a

Igreja Progressista, a CGT – Central Geral dos Trabalhadores, a ABI – Associação Brasileira de

Imprensa, a UNE – União Nacional dos Estudantes, dentre outras.

Após o término gradual do Regime Militar, entra a oitava fase da história constitucional:

a partir do processo de redemocratização do país e do abandono de práticas ditatoriais no

comando no Estado e da coisa pública. É a oitava Constituição Brasileira, promulgada em 5 de

outubro de 1988, recebendo imediatamente a alcunha de cidadã por parte de um de seus

idealizadores, Ulisses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte.

Análise dos artigos 34, 91 e 142 e do preâmbulo da CR

A Constituição Federal de 1988, como lei maior da nação, representa todo alicerce da

sociedade, é a partir do seu texto que emana toda a estrutura do nosso Estado democrático de

Direito, servindo de diretriz para todo o ordenamento jurídico vigente, é a partir e conforme esta

que toda a legislação em vigor (federal, estadual e municipal).

O artigo 34 da CRFB/1988 trata da intervenção federal. A intervenção é uma

excepcionalidade admitida pela Constituição Federal que afasta a autonomia de determinado ente

político com a finalidade de preservação da existência e unidade da própria Federação. Com isso

temos que a intervenção consiste em medida excepcional de supressão temporária da autonomia

de determinado ente federativo, fundada em hipóteses taxativamente previstas no texto

constitucional, e que visa à unidade e preservação da soberania do Estado Federal e das

autonomias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Assim, a União, via de

regra, somente poderá intervir nos Estados-membros e no Distrito Federal, através de decreto do

Presidente da República (art. 84, X, CF), enquanto os Estados somente poderão intervir nos

Municípios integrantes de seu território, através de seus governadores de Estado, sendo ato

privativo do Chefe do Poder Executivo. Sendo que a União não poderá intervir diretamente nos

municípios, salvo se existentes dentro de Território Federal (art. 34, caput, CF). Da mesma

forma, no tocante aos municípios, a única pessoa política ativamente legitimada a nele intervir é

o Estado-membro.

Montes Claros – Minas Gerais 42

Page 38: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

O artigo 91 da CRFB/1988 também dispõe sobre a intervenção militar, e que para esta

acontecer de forma lícita, deverá ser analisada e apoiada pelo Conselho de Defesa Nacional, que

é formado pelo Presidente da República; o Vice-Presidente da República; o Presidente da

Câmara dos Deputados; o Presidente do Senado Federal; o Ministro da Justiça; o Ministro de

Estado da Defesa; o Ministro das Relações Exteriores; o Ministro do Planejamento e os

Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Compete ao Conselho de Defesa

Nacional: opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, nos termos desta

Constituição; opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção

federal (disposta no artigo 34); propor os critérios e condições de utilização de áreas

indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente

na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais

de qualquer tipo, além de estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas

necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado democrático.

No artigo 142 da CRFB/1988 diz a respeito das Forças Armadas, que são constituídas

pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e

regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do

Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais

e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

Leonardo Sarmento (2015), ao discorrer a respeito do artigo 142 da constituição federal

de 1988 diz que, diferentemente das sete constituições anteriores, esta parece se submeter à

coexistência de uma sutil democracia tutelada. Ou seja, a democracia brasileira se sustenta

enquanto os militares não desejarem intervir no governo civil, objetando a defesa da lei e da

ordem. No entanto, o referido autor não ponderou que a única menção de intervenção militar é o

exposto através do artigo 34. E que para acontecer a intervenção por meio das Forças Armadas

(artigo 142), é necessário ser aprovado no Conselho de Defesa (artigo 91). Se a intervenção

militar não acontecer por via desse Conselho e o poder for tomado por via tirana, será

implementado Golpe de Estado, um governo ditatorial, não eleito pelo povo, mesmo que de

forma provisória.

Ainda na dúvida de como interpretar os artigos mencionados, a CRFB/1988 tem um texto

preliminar para informar as reais intenções da Carta Constitucional. Segundo Alexandre de

Moraes (1998), o Preâmbulo é um documento de intenções do diploma, e consiste em uma

"certidão de origem e legitimidade", sendo uma proclamação de princípios. Através dele, há a

consolidação do nosso país como Estado Democrático de Direitos, ou seja, é uma ordem de

direito e de poder, legitimado pelo povo, sendo organizado dentro dos termos e limites

Montes Claros – Minas Gerais 43

Page 39: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 democráticos. Dessa forma, está claro que qualquer caminho que não seja o viés democrático

não está de acordo com o texto promulgado em 1988.

CONCLUSÕES

Diante do exposto, pode-se observar que muitos governos militares ou estados de

exceção foram um retrocesso, tanto no Brasil quanto em outras sociedades, como a Alemanha,

Itália, Chile, dentre outras. De acordo com a CRFB/1988, tal procedimento seria antidemocrático

se não acontecer senão pelas vias dos artigos 34, 91 e 142.

Além disso, as várias interpretações do artigo 142 a respeito do papel do Exército, da

Marinha e da Aeronáutica teria que ser idôneo com o preâmbulo constitucional, ou seja a

intervenção militar só poderá acontecer pelo caminho democrático e nos moldes do artigo 34.

REFERÊNCIAS

ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

BESTER, Giselda Maria. Direito Constitucional: Fundamentos teóricos. São Paulo: Manole, 2005.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Alexandre de Moraes. 16.ed. São Paulo: Atlas, 2000.

BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade; por uma teoria geral da politica. Trad. Marco Aurelio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012.

BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: PC Editorial Ltda, 2006.

LIMA JUNIOR, Olavo Brasil. Instituições políticas democráticas: o segredo da legitimidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.

MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1998.

SARMENTO, Leonardo. Intervenção militar e Constituição de 1988. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 20, n. 4215, 15 jan. 2015. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/34773>. Acesso em: 9 set. 2015.

Montes Claros – Minas Gerais 44

Page 40: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

MOVIMENTO SINDICAL NO BRASIL: DO CONFRONTO À NEGOCIAÇÃO

PERES, Anna Paula Lemos Santos

Advogada. Mestre em Desenvolvimento Social pela UNIMONTES Docente do Curso de Direito das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros –FIP-Moc

INTRODUÇÃO

O movimento sindical originou-se na Inglaterra atrelado diretamente ao desenvolvimento

da indústria e à formação da classe operária. No Brasil, a formação da classe operária enseja a

organização do movimento operário, entretanto o estudo acerca de suas origens não é preciso

tornando tal discussão meramente acadêmica. Não obstante, o governo brasileiro sempre esteve

atento ao movimento operário visando controlá-lo. O objetivo do presente estudo é refletir sobre

a trajetória do movimento sindical no Brasil, considerando a evolução constitucional a partir do

Estado Novo.

DESENVOLVIMENTO

Com o Golpe de Estado em 1930, Getúlio Vargas foi elevado ao poder e lá permaneceu

por 15 anos consecutivos. Tal situação ocorreu na verdade devido a uma cisão na classe

dominante, ou seja, na oligarquia do café, que alcançou na Primeira República o auge de sua

hegemonia.

A partir de 1930, contudo, o Estado dá início a uma intensa atividade em razão do novo

padrão de gestão que, considerando os rumos proporcionados pela evolução da industrialização,

superava o modelo agroexportador de café. O controle político-administrativo do Estado sobre a

estrutura sindical inicia sua trajetória com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e

Comércio de acordo com o Decreto 19.443 de 1930.

A intervenção do Estado nas decisões internas dos sindicatos tinha o objetivo de

obstaculizar e reprimir qualquer possibilidade de manifestação autônoma do movimento

operário. Com esse intuito, uma legislação estritamente controladora inaugurava a nova estrutura

sindical, vertical e subordinada ao Estado.

Os trabalhadores reagiram a estas imposições do Estado. A fundação de organizações que

visassem à representação geral dos trabalhadores passou a ser um objetivo fortemente perseguido

Montes Claros – Minas Gerais 45

Page 41: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 pelo movimento operário sendo que a promulgação da Constituição da República dos Estados

Unidos do Brasil de 1934 conferiu maior liberdade e autonomia aos sindicatos, inclusive a

pluralidade sindical, mas o governo reagiu reprimindo o avanço e a iniciativa popular.

Com a promulgação da Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937, Golpe de

Estado que prorrogou a permanência de Getúlio Vargas no poder até 1944, rompe-se a

independência e a liberdade sindical. A instituição do enquadramento sindical e a criação do

imposto sindical em 1939 concretizam a implantação do modelo trabalhista corporativista e

autocrático.

Em 1943 a Consolidação das Leis do Trabalho reuniu em um único diploma normativo o

modelo jurídico-trabalhista cujo mais importante pilar era o sistema sindical. Tal legislação

legitimava direitos apenas aos trabalhadores urbanos marginalizando os trabalhadores rurais que

ainda representavam grande parte da massa de trabalhadores.

Em 1945 deu-se a abertura democrática e as lutas sindicais resurgiram. O período de

1945 a 1964, conhecido como Período Populista ou Nacional-Desenvolvimentista, fomentou

grandes avanços para a classe operária que se encontrava politicamente melhor organizada. A

organização dos trabalhadores mobilizou-se e avançou com a promulgação da Constituição da

República dos Estados Unidos do Brasil de 1946, considerada a mais liberal de todos os tempos.

Com a deposição de João Goulart, contudo, iniciava-se um período extremamente penoso

para o movimento operário e de grande repressão na sociedade brasileira imposta pelo regime

militar que perdurou de 1964 a 1974, durante a ditadura militar. Tais atuações do Estado foram

respaldadas pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1967 cuja maior

característica foi a centralização do poder.

Em 1973 a classe operária começa a se reorganizar insurgindo-se contra as precárias

condições de vida as quais encontrava submetida. O regime militar perdeu legitimidade junto à

sociedade em razão da crise econômica que se esboçava desde 1973. Iniciavam-se as lutas pela

redemocratização do país nas quais a rearticulação do movimento sindical teve um papel de

destaque com suas greves e demais manifestações.

No interregno entre 1978 e 1988 o movimento sindical ganha centralidade sendo que a

conformação do Novo Sindicalismo possibilitou grandes conquistas no sentido de uma maior

participação do movimento sindical na sociedade civil. Importante aspecto a ser abordado diz

respeito às alterações que foram promovidas em relação à estrutura sindical com a promulgação

da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88).

A CRFB/88 avançou rumo à democratização do modelo trabalhista e sindical brasileiros

ao proibir expressamente qualquer interferência e intervenção do Estado nas organizações

Montes Claros – Minas Gerais 46

Page 42: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 sindicais garantindo, assim, a autonomia da estrutura sindical. Cai por terra um dos pilares do

antigo modelo: o controle político-administrativo do Estado sobre a estrutura sindical.

Mas, não obstante sua relevância, não seria a estrutura sindical o verdadeiro entrave para

a continuidade do avanço do movimento sindical no país. A ascensão do Novo Sindicalismo que

o Brasil experimentou durante a década de 1980 contrariava os acontecimentos no cenário

mundial no contexto dos países capitalistas centrais onde a chamada mundialização do capital já

se encontrava avançada.

CONCLUSÃO

A ascensão que foi marca do sindicalismo brasileiro nos anos 1980 não se perpetuou na

década seguinte. Os limites da expansão e o consequente enfraquecimento experimentado pelo

movimento sindical a partir dos anos 1990 estariam relacionados a acontecimentos históricos que

sincronizaram o Brasil à ordem do capitalismo mundial e que inseriu o país na mundialização do

capital sob o signo das políticas neoliberais.

Na conjuntura dos governos Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e

Lula, a trajetória política neoliberal continuada no transcurso dos mesmos repercutiu diretamente

no seio do movimento sindical culminando no seu enfraquecimento. A estratégia sindical mudou

ao longo dos anos 1990 e passou do confronto à cooperação.

A implantação de pragmáticas neoliberais fundadas no processo de organização do

trabalho via introdução de inovações tecnológicas conhecido como Reestruturação Produtiva do

capital tornou-se uma realidade no Brasil. Em seu contexto, há uma tendência para o

enfraquecimento e desgaste do movimento sindical diante dos efeitos da mundialização,

fenômeno também conhecido como globalização.

REFERÊNCIAS

ALVES, Giovanni. Do “Novo Sindicalismo” à “Concertação Social” Ascensão (e Crise) do Sindicalismo no Brasil (1978 – 1998). In: Revista de Sociologia Política, Curitiba, Novembro de 2000, p. 111-124. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n15/a08n15. Acesso em: 10/10/2014. ANTUNES, Ricardo. O que é Sindicalismo. São Paulo: Editora Brasiliense S.A., 1986. ________________ Os Sentidos do Trabalho: Ensaio sobre a Afirmação e Negação do Trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005.

Montes Claros – Minas Gerais 47

Page 43: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 ________________ O Continente do Labor. São Paulo: Boitempo Editorial, 2011. ANTUNES, Ricardo. ALVES, Giovanni. As Mutações no Mundo do Trabalho na Era da Mundialização do Capital. In: Educação e Sociedade, v.25, n. 87 – Mai/ Ago. 2004, p. 335-351. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Editora LTr, 2008. MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Abril Cultural, 1983. [coleção “Os Economistas”]. SINGER, Paul. A Formação da Classe Operária. São Paulo: Atual; Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1985. SOUZA, Carlos Eduardo de; FIGUEIREDO, Lorene. Do Novo Sindicalismo ao Sindicalismo Novo: Desafios e Perspectivas para as Organizações Classistas dos Trabalhadores. Disponível em http://www.estudosdotrabalho.org/anais-vii-7-seminario-trabalho-ret-2010/Lorene_Figueredo_e_Carlos_Eduardo_de_Souza_do_novo_sindicalismo_ao_sindicalismo_novo.pdf . Acesso em: 10.10. 2014.

Montes Claros – Minas Gerais 48

Page 44: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

O ACESSO À JUSTIÇA POR MEIO DA DEFENSORIA PÚBLICA

BISPO, Bruno Henrique Câmara Acadêmico do Curso de Direito das Faculdades Pitágoras de Montes Claros – FIPMoc

NUNES, Maria Silveira

Acadêmica do Curso de Direito das Faculdades Pitágoras de Montes Claros – FIPMoc

VELOSO, Cynara Silde Mesquita Doutora em Direito Processual

Docente do Curso de Direito das FIPMoc

INTRODUÇÃO

O Estado Democrático de Direito realiza-se através da democracia participativa. Neste

sentido, com a expansão de direitos assegurados à população, o ambiente democrático ativa a

cidadania, incitando o interesse do povo em participar na busca pela justiça. O acesso à justiça se

apresenta como forma de igualdade perante a lei uma vez que visa a conquista do direito

almejado através da tutela jurisdicional (BARROSO, 2009). A própria Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988 garante o acesso ao judiciário em seu artigo 5º, inciso

XXXV e destaca o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional ou princípio do

direito de ação.

A Defensoria Pública representa um dos meios de acesso à justiça e possui papel

importante na sociedade. Ela foi instituída com a finalidade de prestar assistência jurídica

integral e gratuita aos necessitados (SANTOS, 2011). É função desta instituição orientar

juridicamente os hipossuficientes, promover a defesa dos direitos individuais e coletivos de

maneira integral e gratuita para aqueles que necessitarem.

A prestação da assistência jurídica realizada pela Defensoria Pública reforça a ideia de

reconhecimento dos direitos pelo povo, que passou a buscar a proteção de seus interesses perante

juízes e tribunais. O presente tema possui relevância no âmbito social da assistência judicial

gratuita, visando assim o conhecimento sobre a atuação da Defensoria Pública e a eficácia de seu

papel após a redemocratização, que ocorreu com a promulgação da CRFB/88, sendo esta

conhecida como constituição cidadã, já que garantiu maior amplitude de direitos à população. Há

que se destacar que o acesso à justiça é direito de todos, previsto na constituição no artigo

5º/XXXV. Ainda, no inciso LXXIV deste mesmo artigo retrata o papel Defensoria Pública no

acesso à justiça.

Este trabalho tem o propósito de estudar o trabalho realizado pela Defensoria Pública. A

pesquisa objetiva ainda o conhecimento da legislação que trata do tema e dos princípios

Montes Claros – Minas Gerais 49

Page 45: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 institucionais da Defensoria Pública, ainda, tem por escopo suscitar a discussão acerca do acesso

à justiça por parte dos necessitados, além de contribuir na compreensão das dificuldades

encontradas pelos hipossuficientes na busca pela justiça.

DESENVOLVIMENTO

1.1 Metodologia

Com relação à metodologia, a pesquisa classifica-se como exploratória, pois

proporciona maior conhecimento do tema, tendo em vista tornar o problema mais claro e

desenvolver hipóteses (GIL, 2010, p. 27).

Com relação à técnica de pesquisa, serão utilizadas a pesquisa bibliográfica e

documental. Conforme Gil (2010, p. 29), “a pesquisa bibliográfica é elaborada com base em

material já publicado. Tradicionalmente essa modalidade de pesquisa inclui material impresso,

como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais de eventos específicos”. A pesquisa

documental será realizada através da CRFB/88, das leis do inciso LXXIV do artigo 5º, da

Defensoria Pública (artigo 134/CRFB), na qual é regida pela Emenda Constitucional nº 80, Lei

Complementar nº 132, de 7 de outubro de 2009, ainda destacam-se as leis

1.060/50 e 11.448/2002 e os artigos 129 e 130 da Constituição de Minas Gerais. Conceitua-se

pesquisa documental como sendo aquela que se utilizam dados já existentes. Ela vale-se de

documentos elaborados com finalidades diversas, como por exemplo, relatos de pesquisas,

relatórios, atos jurídicos, registros estatísticos, etc. (GIL, 2010, p. 30). Quanto à análise da

amostragem, a metodologia utilizada é a qualitativa, pois fornece análise detalhada sobre hábitos,

atitudes, investigações, tendências de comportamento, etc (LAKATOS; MARCONI, 2011).

1.2 O ACESSO À JUSTIÇA E A DEFENSORIA PÚBLICA

A garantia dos direitos quando não efetivados é obtida através da justiça, e para isso, as

constituições mais modernas do nosso século vem buscando integrar as liberdades individuais

tradicionais, através das garantias e direitos sociais e partindo destes ideais, assegurar uma real

igualdade perante a lei (MARINONI, 1996). Como uma breve visão da evolução histórica,

Marinoni (1996, p. 25) assevera:

A problemática do acesso à justiça, embora já se fizesse sentir no começo deste século, somente se fez perceber com mais intensidade no pós-guerra, até porque o direito de acesso à justiça, com a consagração constitucional dos chamados

Montes Claros – Minas Gerais 50

Page 46: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

“novos direitos”, passou a ser fundamental para a própria garantia destes direitos.

Nesta busca por justiça, decorrem diversos obstáculos que dificultam, podendo até

mesmo impedir efetivamente, o irrestrito acesso do cidadão à justiça propriamente dita.

Consoante Didier Jr. e Cunha (2013, p. 1554) alguns dos fatores encontrados que se revelam

como verdadeiros empecilhos são a demora do andamento do processo, as questões relativas ao

psicológico, culturais e sociais, as maneiras de tutela jurisdicional do direito, entre outros. Deste

modo, o custo do processo se revela também como um sério obstáculo, ocasionando no

impedimento do acesso à ordem jurídica, ao passo que aqueles que não possuem condições

financeiras suficientes para suprir as despesas processuais e detém, ainda menos, para contratar

um profissional capacitado para representá-los em juízo.

Em relação ao problema encontrado pelo Estado para garantir ao cidadão que não possui

recursos financeiros suficientes, Didier Jr. e Cunha (2013, p. 1554) esclarecem:

Para transpor esse óbice financeiro, o Estado, que ainda detém o monopólio da jurisdição [...], teve que garantir ao cidadão carente de recursos econômicos os meios necessários para o livre acesso à justiça. Nesse intuito, a Constituição Federal de 1988 previu, em seu art. 5º, LXXIV, o direito à assistência jurídica integral e gratuita.

Reforçando o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, uma das mais

importantes garantia de proteção defendidas pela constituição está descrita na forma do artigo 5º,

XXXV, verbis: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. A

garantia deste direito acarretou a instituição de programas de assistência judiciária disponíveis

àqueles que não possuíam recursos para custear os serviços de advogados. Fica evidente o

sentido da expressão “acesso à justiça” - haja visto que o acesso deve ser concedido à todos -

sendo a Defensoria Pública inserida neste contexto, como sendo uma instituição de assistência

jurídica integral e gratuita, com o intuito de representar legalmente e efetivar direitos de

indivíduos e grupos que durante muito tempo, estiveram privados dos benefícios da justiça

igualitária (DIDIER JR.; CUNHA, 2013, p. 1554).

O papel da Defensoria Pública é compreendido no artigo 134 da CRFB/88 como sendo

instituição permanente encarregada de prestar função jurisdicional gratuita aos necessitados. As

leis 1.060/50 e 11.448/2002 em âmbito federal são responsáveis respectivamente por estabelecer

normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados e disciplina a ação civil

pública, legitimando a proposição da figura da Defensoria Pública.

Montes Claros – Minas Gerais 51

Page 47: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Em âmbito estadual, cada Defensoria deverá ter sua própria lei, o que ocorreu em Minas

Gerais pela publicação da Lei Complementar 65 de 16 de janeiro de 2003. São desenvolvidos

ainda pela instituição no estado programas de Apoio ao preso provisório, Casa das Mulheres,

Defensoria Lato Sensu, Direito à Informação, Direito à Saúde, Programa Famílias, Fórum de

Promoção da Paz Escolar e Articulação em Rede (Forpaz), Mães que Cuidam, Mutirão direito a

ter pai, Núcleo de atuação extrajudicial, Saber Enfrentar a Realidade (SER).

Conforme análise do III Diagnóstico da Defensoria Pública no Brasil MJ/2009 (p. 82 e

85), no ano de 2008, Minas Gerais contava com 474 Defensores Públicos, efetuou 1.102.427

atendimentos, sendo 677.501 na área cível e 424.926 na área criminal. Além disso, no que tange

às ações ajuizadas ou respondidas pela Defensoria Pública de Minas Gerais, resultaram no total

de 97.850, as quais 68.271 cíveis e 29.579 criminais.

A Defensoria Pública de Minas Gerais inaugurou em 2012 sua sede em Montes Claros. A

unidade patrocina ações de natureza cível, criminal, família, fazenda e possui ainda programa de

defesa à mulher, o Núcleo de Defesa à Mulher (NUDEM). Há que se destacar a atuação do

programa NUDEM em Montes Claros-MG, sendo uma das oito unidades em Minas Gerais de

Defensorias Públicas especializadas na Defesa dos Direitos das Mulheres em Situação de

Violência. No NUDEM de Montes Claros segundo CONDEGE (2013, fl. 15) “de Janeiro a

Dezembro de 2011 foram atendidas 350 (Trezentos e cinquenta) mulheres e de Janeiro a Março

de 2012 foram atendidas 105 (Cento e cinco) mulheres.”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto da Judicialização, em que o acesso à justiça possui relevância por se tratar da

efetivação dos direitos, verificou-se que o acesso à Justiça apresenta óbices que dificultam este

acesso em especial aos hipossuficientes. No acesso à justiça, obstáculos distintos ao efetivo

acesso à Justiça se apresentam, através de questões sociais, na possibilidade das partes e, no

quesito economia, um obstáculo sério que impede o acesso ocorre para aqueles que não possuem

recursos financeiros.

O acesso à justiça, que constitui garantia constitucional fundamental, se torna possível

aos hipossuficientes com a presença da Defensoria Pública, na qual cumpre o Estado ao prestar

assistência judicial integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. Neste

cumprimento, o Estado oferece defensores públicos, que são os advogados públicos das pessoas

hipossuficientes, instituindo, desta forma, assistência judiciária aos que não podem custear os

serviços de advogados.

Montes Claros – Minas Gerais 52

Page 48: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Apesar dos dados comprovarem a efetiva atuação da Defensoria Pública, de maneira

especial no estado de Minas Gerais, é ainda insuficiente o nível de alcance populacional sobre o

funcionamento, forma de acesso e atuação em âmbito nacional.

Conclui-se ainda que, a Defensoria Pública efetiva o preconizado na Constituição em

proporcionar meios de acesso à justiça a todos, reforçando assim o princípio da Inafastabilidade

do Controle Jurisdicional, segundo o qual a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário

lesão ou ameaça a direito, assegurando o irrestrito acesso ao Judiciário. Logo, a Defensoria

desempenha papel essencial na efetivação do acesso, propiciando a defesa dos necessitados e

buscando outros métodos de resolução de conflitos, através de programas sociais além de atuar

nos procedimentos formais adotados pelo Poder Judiciário.

REFERÊNCIAS

BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática. Revista Direito do Estado, Salvador, ano 4, n. 13, p. 71-91, jan./mar 2009. BRASIL. Ministério da Justiça. III Diagnóstico Defensoria Pública no Brasil, 2009. Disponível em: <http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/III%20Diagn%C3%B3stico%20Defensoria%20P%C3%BAblica%20no%20Brasil.pdf>. Acesso em: 10 set. 2015. DIDIER JR, Fredie; CUNHA, Leonardo José Carneiro da. Das funções essenciais à Justiça. In: CANOTILHO, J. J. G. et. al (Cord.). Comentários à Constituição do Brasil. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Cap. IV, p. 1554. CONDEGE (Conselho Nacional de Defensores Públicos Gerais). Comissão Especial para a Promoção e defesa dos Direitos da Mulher. Relatório de avaliação das Defensorias Públicas do Brasil sobre o cenário de enfrentamento à violência contra a mulher no país. Teresina (PI), 23 de janeiro de 2013. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 2010. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia Científica. 6. Ed. São Paulo: Atlas, 2011. SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 28. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

Montes Claros – Minas Gerais 53

Page 49: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

O FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO E AS NOVAS TENDÊNCIAS DO INSTITUTO DA ARBITRAGEM NOS CENÁRIOS DO DIREITO CONSTITUCIONAL E DO

DIREITO INTERNACIONAL

DAMASCENO, Gabriel Pedro Moreira

Pós-Graduando em Direito Internacional Centro de Direito Internacional - CEDIN

INTRODUÇÃO

Modernamente, com o surgimento da chamada Nova Ordem Internacional, no mundo

globalizado são várias as transformações que ocorreram na política mundial. O fenômeno da

globalização alargou as fronteiras comerciais e estreitou os vínculos jurídicos entre pessoas de

diversas nacionalidades. O Estado brasileiro, como Estado Democrático de Direito deve cumprir

com seus compromissos diante da sociedade internacional. Portanto, é imperativo que o Brasil se

adapte a esse novo cenário.

No Brasil, o marco legal da arbitragem, ou tutela cognitiva, deriva da Lei 9.307/96, que,

em seu artigo 1º prevê que as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para

dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

Ocorre que por muito tempo os doutrinadores debateram sobre a constitucionalidade ou

não da Lei de 9.307/96. Vilela (2004) apresenta como obstáculos à referida Lei a desconfiança

quanto à imparcialidade dos árbitros, o receio de advogados quanto ao mercado de trabalho e os

magistrados que defendem o monopólio da jurisdição estatal.

Contudo, uma decisão do Supremo Tribunal Federal em 12/12/2001 pôs fim ao debate.

No agravo regimental em Homologação de Sentença Arbitral Estrangeira nº 5.206-8 entendeu

que o instituto é aceito no ordenamento jurídico pátrio, interpretando a norma do artigo 5º, inciso

XXXV, da CRFB/1988, prestigiando a autonomia da vontade na instauração da arbitragem,

ressalvando ao controle do Poder Judiciário acerca da observância do devido processo legal.

Desta forma demonstra-se a importância do presente tema com o I Congresso Norte Mineiro de

Direito Constitucional.

O presente texto almeja analisar a Arbitragem e avaliar seus procedimentos admitidos

pela legislação, bem como verificar o posicionamento das jurisprudências dominantes.

Montes Claros – Minas Gerais 54

Page 50: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 DESENVOLVIMENTO

Segundo Giddens (2007) não é possível compreender as perspectivas atuais ignorando o

fenômeno conhecido por globalização. A sociedade internacional vive um processo de transição,

onde se depara com situações de risco que não haviam sido enfrentadas em séculos passados –

tais como o aquecimento global. No mundo globalizante a população tem acesso a informações

e imagens que são transmitidas em questão de instantes, aumentando o contato com a

diversidade cultural e com os problemas enfrentados em todo o globo. Desta forma, a

globalização se coloca por trás de uma expansão da democracia, configurando esta uma das

exigências da era global. Sendo assim, atualmente, o Estado se propõe a não esquivar-se das

responsabilidades face a sociedade internacional.

Desta forma para Santos (2009, p. 12) a globalização trata-se do [...] processo pelo qual determinada condição ou entidade local estende a sua influência a todo o globo e, ao fazê-lo, desenvolve a capacidade de designar como local outra condição social ou entidade rival.

Ocorre que, além dos benefícios gerados por este fenômeno, novas controvérsias

também surgem. Assim, este artigo pretende analisar medidas extrajudiciais de solução de

controvérsias, dando atenção especial ao instituto da Arbitragem Internacional.

A metodologia escolhida foi a pesquisa bibliográfica, a fim de que se alcançasse o

desenvolvimento de um novo pensamento através do confronto com outros pensamentos já

constituídos. Bem como utilizou-se da pesquisa documental, realizada investigação com o

escopo de descrever e comparar os costumes e leis contemporâneas e remotas.

A pesquisa bibliográfica teve o objetivo de compreender conceitos, vocabulário e os

problemas que foram colocados, bem como as soluções propostas à respeito da Arbitragem

Internacional. Inicialmente, realizou-se uma abordagem histórica, pois, de acordo com Folscheid

e Wunenburger (2006), o estudo dos primeiros teóricos e a retomada dos seus pensamentos

proporciona uma nova leitura de suas ideias. Assim será possível avaliar o progresso efetuado

pelos doutrinadores e as dificuldades encontradas que necessitam ser superadas. Logo em

seguida buscou-se pela doutrina que compreendesse os conceitos primordiais, necessários para o

entendimento do instituto pesquisado.

Para cumprir este fim foram selecionados os textos clássicos que serviram de alicerce

teórico, bem como textos de autores contemporâneos que discutem as ideias clássicas.

Salientou-se que são inúmeras os métodos para a composição das lides. Para Carnelutti

(2000), será possível composição entre as partes quando tutela de interesse que constitui a

Montes Claros – Minas Gerais 55

Page 51: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 pretensão ou a resistência esteja à disposição das partes. Ou seja, quando não se trata de direito

indisponível das partes.

Assim, podem estes serem autocompositivos ou heterocompositivos. Serão

autocompositivos quando haja o reconhecimento jurídico do pedido e, por consequente, a

renuncia ao direito que se funda a ação, as partes entrarão em acordo sem a necessidade de um

terceiro. Por outro lado, serão heterocompositivos a solução será adjudicada a outrem

(AMENDOEIRA JUNIOR; CARMONA, 2011). Modernamente as práticas mais praticadas e

estudadas para a solução de controvérsias são mediação, conciliação e arbitragem.

Para Vilela (2004) a arbitragem é a instituição que, mediante a vontade manifestada dos

litigantes, dirimi o conflito, observando o principio do devido processo legal, por meio de um

terceiro que, por mais que não seja representante do Poder Judiciário, sua decisão tem assume

força jurisdicional (aptidão para formação da coisa julgada material). A arbitragem pode ser definida como um processo eminentemente privado - isto porque existem arbitragens internacionais públicas –, nas qual as partes ou interessados buscam o auxílio de um terceiro, neutro ao conflito, ou de um painel de pessoas sem interesse na causa, para, após um devido procedimento, prolatar uma decisão (sentença arbitral) visando encerrar a disputa. Trata-se de um processo, em regra, vinculante, em que ambas as partes são colocadas diante de um árbitro ou um grupo de árbitros. Como regra, ouvem-se testemunhas e analisam- se documentos. Os árbitros estudam os argumentos dos advogados antes de tomarem uma decisão. Usualmente, em razão dos custos, apenas causas de maior valor em controvérsia são submetidas à arbitragem e os procedimentos podem durar diversos meses. Apesar de as regras quanto às provas poderem ser flexibilizadas, por se tratar de uma heterocomposição privada, o procedimento se assemelha, ao menos em parte, por se examinarem fatos e direitos, com o processo judicial (BRASIL, 2015. p. 23).

Permanece sobre o controle do Estado o poder de coerção – como a condução de

testemunhas e a apreensão de documentos –, o poder de executar as decisões arbitrais (sendo

considerados títulos executivos extrajudiciais, mas que necessitam serem executadas através do

Judiciário) e também a possibilidade de controle posterior da observância do devido processo

legal, havendo a possibilidade de anulação da decisão arbitral.

Para Rezek (2010) a jurisdição seria o foro especializado que julga litígios segundo o

direito, proferindo decisões obrigatórias. No cenário Internacional, a arbitragem, por muito

tempo, foi a única jurisdição conhecida. Importante é a distinção entre jurisdição e judiciário,

sendo este último um órgão responsável por aplicar a jurisdição.

Neste sentido, pode-se concluir que, no Direito Internacional não existe uma instituição

capaz de estabelecer regras, ou a explicitá-los, nem ainda um sistema que busca a punição de

quem quebra a regra, o que, se comparado ao Direito doméstico, dificulta o entendimento do

Montes Claros – Minas Gerais 56

Page 52: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 Direito Internacional. Contudo esta analogia entre o sistema nacional e a ordem internacional

prejudica a sua compreensão.

Lage (2007) ressalta que diversos autores criticam a ausência de uma instituição capaz

de estabelecer e interpretar as normas no Direito Internacional, apontando que, se existisse um

órgão (ou Estado) que exercesse este papel esse papel, criar-se-ia uma ordem internacional

imperial, defendendo.

É por este motivo que o foro arbitral tem sido utilizado neste cenário, uma vez que ele

não tem caráter de permanência.

As primeiras jurisdições judiciárias internacionais instalaram-se já no século XX, com características muito semelhantes às da jurisdição doméstica que em todo Estado, atende aos pleitos das pessoas comuns: o juiz é um especialista, é independente, decide à base do direito aplicável e suas decisões têm força compulsória; mas além de tudo isso o juiz é um profissional: sua atividade é constante no interior de um foro aberto, a toda hora, à demanda que possa surgir entre dois indivíduos ou instituições. O árbitro não tem esta última característica, ele é escolhido ad hoc para as partes litigantes, que, já em presença do conflito, confiam-lhe a função jurisdicional para o fim transitório e único de decidir aquela exata matéria[...] (REZEK, 2010, p. 363).

Percebe-se, assim, que o instituto da arbitragem é um exercício jurisdicional, entretanto

não se confunde com judiciário.

CONCLUSÃO

Como se pode perceber, a globalização estreitou os vínculos entre os Estados. Por mais

que ainda haja diversas fronteiras e diversos Estados, cada vez mais percebe-se que a troca de

informações entre sua população gera o intercâmbio não apenas de produtos, mas de

informações, de ciência e de cultura.

Entretanto além dos benefícios gerados por este fenômeno, há o surgimento de

controvérsias e disputas. Desta forma a análise de medidas extrajudiciais de solução de

controvérsias é uma forma de facilitar a solução destes conflitos.

A Arbitragem é um Instituto extrajudicial de solução de controvérsias

heterocompositivo, ou seja, há a presença de um terceiro que prolatará uma sentença arbitral. O

Instituto sempre foi utilizado no Direito Internacional, mas, atualmente, tem conhecido uma

evolução. Novas técnicas e profissionais habilitados permitem que este recurso seja melhor

aceito. No caso do Brasil, internamente, o instituto ainda não está tão evoluído quanto no cenário

Montes Claros – Minas Gerais 57

Page 53: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 internacional, isso porque há uma desconfiança das partes que, culturalmente, preferem buscar o

judiciário para pronunciar-se.

REFERÊNCIAS

ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G. E. do Nascimento; CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. AMENDOEIRA JUNIOR, Sidney. CARMONA, Carlos Alberto (coords). Estratégias processuais na advocacia empresarial. São Paulo: Saraiva, 2011. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Azevedo, André Gomma de (Org.). Manual de Mediação Judicial. 5. ed. BrasíliaDF:CNJ, 2015 CARNELUTTI, Francesco. Sistema de Direito Processual Civil. Bookseller, Campinas, 2000. FOLSCHEID, Dominique; WUNENBURGER, Jean-Jacques. Metodologia filosófica. Tradução:. Paulo Neves. São Paulo: Front Cover, 2006. GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole; tradução de Maria Luiza X. de A. Borges. 6. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. LAGE, D. A. O Movimento de Expansão Não Uniforme e a Tensão entre Unidade e Fragmentação do Direito Internacional. Anuário Brasileiro de Direito Internacional, v. 1, p. 88-124, 2007. REZEK, Francisco. Direito Internacional.12. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. SANTOS, Boaventura de Sousa. Direitos humanos: o desafio da interculturalidade, Revista Direitos Humanos, 2, 10-18, 2009. VILELA, Marcelo Dias Gonçalves. Arbitragem no Direito Societário. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004.

Montes Claros – Minas Gerais 58

Page 54: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

O IMPEACHMENT EM SEU CONTEXTO HISTÓRICO, FUNDAMENTOS LEGAIS E POLÍTICOS

NORMANHA, Flávia Simão Acadêmica do Curso de Direto das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIP-Moc

MOURA, Rodrigo Crusoé Loures de Almeida

Acadêmico do Curso de Direto das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIP-Moc

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa procurou retratar a origem e o contexto histórico do

Impeachment, bem como esclarecer o seu embasamento jurídico e político para o início e o

decurso do processo. Além disso, buscou-se analisar como ele ocorre no Brasil e qual a

possibilidade de se instaurar de fato um processo de impeachment no momento político atual,

com o objetivo de melhor esclarecer as funções e vantagens do instituto para a sociedade. Para

seu desenvolvimento, foram utilizados os métodos de pesquisa bibliográfica e documental, com

intuito de melhor atender o propósito do trabalho.

DESENVOLVIMENTO

O Impeachment (impedimento), que teve sua origem no Direito inglês, era utilizado

como forma de punir os Ministros do Rei, na antiga Inglaterra, caso estes abusassem de suas

prerrogativas. Entretanto, não poderia ser utilizado com o Rei, visto que este gozava de

prerrogativas especiais (SCHILLING, 2004). A Câmara dos Comuns, equivalente à Câmara dos

Deputados em nosso sistema político, era o tribunal de acusações, enquanto que a Câmara dos

Lordes, que corresponde ao Senado Federal, julgava (FAVER, 2008), num procedimento

semelhante ao adotado no Brasil atualmente.

Com o passar do tempo, o processo de impeachment foi sendo modificado, passando

a ter um caráter mais político, deixando o criminal de lado. Assim, quando foi adotado nos

Estados Unidos, onde muito se desenvolveu, passou a adquirir caráter político e não mais

criminal, o que foi trazido para a América Latina como um todo, inclusive no Brasil. No século

IX, nos EUA, houve um processo de impeachment contra o então presidente Andrew Johnson,

Montes Claros – Minas Gerais 59

Page 55: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 mas este foi absolvido. Richard Nixon, na década de 1970, chegou a ser indiciado no Congresso,

mas, na iminência de sofrer o impeachment, renunciou ao cargo em 1974.

No Brasil, desde a época do primeiro reinado, já existiam leis que previam punições

ou até o afastamento de funcionários públicos considerados inadequados ou incompetentes para

exercer sua função, mas somente após a proclamação da República, em 1889 é que um processo

penal, não propriamente o Impeachment, foi adotado para lidar com a referida situação.

Atualmente, consiste em um processo eminentemente político, cuja consequência, se procedente,

é o afastamento do acusado de seu cargo, bem como o efeito de o tornar inelegível por 08 anos.

Foi este o fato que ocorreu com o ex-presidente Fernando Collor de Melo, em 1992, que foi

condenado com base no artigo 85, V da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

(CRFB/88), pois ficou comprovado que o então Chefe do Executivo atentou contra a probidade

administrativa. Quando na iminência de sofrer a condenação, Collor renunciou ao cargo de

Presidente, mas o Senado e entendeu como sendo uma manobra para tentar escapar do segundo

efeito da condenação, que é a inabilitação para cargo ou função pública.

Ressalta-se que a fundamentação legal está na Lei 1.079/50, que regulamenta o

procedimento e foi recepcionada pela CRFB/88. Esta, por sua vez, dispõe sobre o tema em seus

artigos 85 e 86. O pedido de impeachment pode ser protocolado por qualquer cidadão (art. 14 da

lei 1079/50). A petição é encaminhada à Câmara dos Deputados, que faz o juízo de

admissibilidade, observando se existe autoria e materialidade. O Presidente da Câmara pode

aceitar ou indeferir o pedido. Em caso de indeferimento, cabe recurso ao plenário da Câmara. O

quórum necessário para aprovação é de 2/3 dos Deputados e, caso este número não seja atingido,

o pedido será arquivado. Caso seja aprovado, o pedido seguirá para o Senado Federal, em caso

de crime de responsabilidade, ou para o Supremo Tribunal Federal (STF), se se tratar de crime

comum (art. 86 da CRFB/88).

Vale ressaltar que, caso o julgamento caiba ao STF, as normas de processamento e

julgamento serão as do Código de Processo Penal, e não as da Lei específica (1.079/50).

Conforme o art. 86, § 1º da CRFB/88, sendo recebida e denúncia ou queixa-crime pelo STF ou

sendo instaurado o processo no Senado, o Presidente da República ficará suspenso de suas

atividades. Todavia, em caso de decurso do prazo de 180 dias sem julgamento do feito, cessará o

afastamento do Presidente, sem detrimento do processo já em andamento (CRFB/88, art. 86, §

2º).

Na atualidade, muito se discute sobre a possibilidade de se instaurar um processo de

impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores - PT), devido a

reiteradas denúncias de corrupção, especialmente aos casos investigados pela Polícia Federal na

Montes Claros – Minas Gerais 60

Page 56: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 chamada “Operação Lava-Jato”, em que figuras do PT (ou fortemente ligados ao partido)

enfrentam sérias acusações de corrupção. Juntando isso com a má situação econômica do país, os

índices de popularidade da Presidente seguem caindo, tendo atingido 7,7% no final de julho de

2015 (ESTADO DE MINAS, 2015). Da mesma data é a pesquisa que aponta que 62,8% dos

eleitores são favoráveis ao impeachment da Presidente Dilma (TERRA, 2015).

Consequência destes fatores, no momento há mais de 30 pedidos de Impeachment

contra a Chefe do Executivo Federal (MORTARI, 2015), sendo que um deles é de Hélio Bicudo,

fundador do PT (URIBE; ÁLVARES, 2015). Entretanto, somente a insatisfação popular não é

suficiente para dar andamento ao processo, de Impeachment, uma vez que não há indícios reais

que comprovem qualquer participação da presidente nos escândalos de corrupção, não possuindo

portanto, base legal para a instauração do processo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Impeachment, lapidado por muitos anos de vários e significativos momentos

históricos e evolução política, é um instituto que deve estar à disposição da sociedade e ser usado

em prol do cidadão sempre que a má atuação política e administrativa caracterizar quais quer

atos inconstitucionais, ameaçando os fundamentos do Estado Democrático de Direito explícitos e

implicitamente previstos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

REFERÊNCIAS

BARROS, Sérgio Resende de. Estudo Sobre o “Impeachment”. Disponível em: http://www.srbarros.com.br/pt/estudo-sobre-o-impeachment.cont. Acesso em 02 set. 2015. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 31 ago. 2015. ESTADO DE MINAS (Jornal). Popularidade da Presidente Dilma Rousseff Cai para 7,7%, Diz Pesquisa CNT/MDA. Disponível em <http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/07/21/interna_politica,670678/popularidade-da-presidente-dilma-rousseff-cai-para-7-7-diz-pesquisa.shtml>. Acesso em: 02 set. 2015.

Montes Claros – Minas Gerais 61

Page 57: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 FAVER, Marcus. Considerações Sobre a Origem e a Natureza Jurídica do ‘Impeachment’ (2008). Disponível em: <http://www.tjrj.jus.br/c/document_library/get_file?uuid=b4d02b0b-cf66-47e8-8135-5271575f09db&groupId=10136>. Acesso em: 31 ago. 2015. MORTARI, Marcos. Conheça os 32 Pedidos de Impeachment Protocolados Contra Dilma na Câmara. Disponível em: <http://www.infomoney.com.br/mercados/politica/noticia/4209761/conheca-pedidos-impeachment-protocolados-contra-dilma-camara>. Acesso em: 02 set. 2015. SCHILLING, Voltaire. A História do Impeachment (2004). Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/2004/09/24/000.htm>. Acesso em: 31 ago. 2015. TERRA. (Portal) 62,8% são favoráveis ao impeachment de Dilma, diz CNT/MDA. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/mais-de-60-sao-favoraveis-ao-impeachment-de-dilma-diz-cntmda,77c141cd751cc617cb86a9d8d1df7f9e0rseRCRD.html>. Acesso em: 02 set. 2015. URIBE, Gustavo; ÁLVARES, Débora. Fundador do PT Apresenta Pedido de Impeachment de Dilma Rousseff. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/09/1676296-fundador-do-pt-apresentara-pedido-de-impeachment-de-dilma.shtml>. Acesso em: 02 set. 2015.

Montes Claros – Minas Gerais 62

Page 58: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

O PAPEL DA COMUNIDADE NO PROCESSO DE RESSOCIALIZAÇÃO DO CONDENADO NO ÂMBITO DA ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA AO

CONDENADO (APAC)

ARAGÃO, Guilherme Rodrigues Discente do Curso de Direito da UNIMONTES

SILVA, Marco Felipe Durães

Discente do Curso de Direito da UNIMONTES

SILVA, Leandro Luciano Doutorando FAE/UFMG

Docente do Curso de Direito das Faculdades Integradas Pitágoras - FIP-Moc Docente do Curso de Direito da UNIMONTES

ROCHA, Dalton Caldeira

Docente do Curso de Direito da UNIMONTES

VELOSO, Cynara Silde Mesquita Docente do Curso de Direito das Faculdades Integradas Pitágoras - FIP-Moc

Docente do Curso de Direito da UNIMONTES

INTRODUÇÃO

Segundo a Lei de Execução Penal (LEP), “a execução penal tem por objetivo efetivar

as disposições da sentença ou decisão criminal a proporcionar condições para a harmônica

integração social do condenado e do internado”. A integração social é uma importante dimensão

da execução penal no âmbito do atual sistema carcerário e ela corre tanto no acompanhamento

do condenado pela Assistência Social, quanto na participação do Conselho de Comunidade.

Ocorre que os dados atuais do sistema prisional brasileiro sugerem a deficiência deste modelo de

acompanhamento, possibilitando o surgimento de novos modelos e estratégias para a integração

social do condenado.

Esses novos modelos e estratégias vão permitir que direitos constitucionalmente

estabelecidos sejam efetivamente respeitados no âmbito da execução penal. A Constituição da

República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, estabelece, em seu artigo 5º, incisos

XLVIII e XLIX, que a pena deverá ser cumprida em estabelecimentos distintos, levando em

conta a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado. Além disso, assegura-se ao preso o

respeito a integridade física e moral. Ocorre que dados atuais demonstram a incapacidade do

sistema prisional para proporcionar integralmente esses direitos aos apenados.

Diante dessa situação, a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC)

apresenta-se como um desses novos modelos para a integração social do condenado. A APAC

nasceu em São José dos Campos, em 18 de novembro de 1972, criada pelo advogado paulista

Montes Claros – Minas Gerais 63

Page 59: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 Mário Ottoboni e um grupo de amigos cristãos, que se uniram com o objetivo de melhorar as

condições físicas e estruturais da Cadeia Pública de São José dos Campos. Esse método baseia-se

em 12 elementos fundamentais, sendo um destes a participação da comunidade no processo de

ressocialização do condenado, objeto de estudo deste trabalho.

É nessa perspectiva que o trabalho revela sua relevância, uma vez que procura

evidenciar o papel da comunidade na ressocialização do apenado se pautando na análise

comparativa do Sistema Prisional Tradicional e do Método APAC.

A partir dos dados levantados será possível identificar a participação da comunidade

na ressocialização do apenado e levantar os pontos de estrangulamento dessa participação nos

dois modelos de execução, formando um diagnóstico da temática e incitando o debate quanto às

melhores estratégias de participação da comunidade na ressocialização do apenado, com

perspectivas de implantação do método APAC e com a indicação de melhorias no sistema

tradicional onde o método APAC não puder ser implantado ou for inconveniente.

Nesse sentido, destaque-se que o aperfeiçoamento da execução penal no Brasil deve ser

um esforço conjunto dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, buscando assegurar a

dignidade humana daquele que se encontra cumprindo pena, intentando a sua reintegração social.

E é exatamente nesse cenário de discussão das providências estatais para uma melhor execução

penal, estabelecendo delimitação de responsabilidades para cada um dos poderes, que o trabalho

relaciona-se com o tema do Congresso.

Por fim, o objetivo deste trabalho é analisar a integração social do condenado a partir da

atuação da Assistência Social e do Conselho de Comunidade, previstos na lei 7210/84 (Lei de

Execução Penal).

DESENVOLVIMENTO

1 . Abordagem metodológica

Trata-se de estudo exploratório realizado através pesquisa bibliográfica e documental.

A coleta de dados será realizada em dois bancos de dados, como resultados parciais, são

apresentados dados relacionados à assistência social apontados no âmbito do relatório de

inspeção em estabelecimentos penais de Minas Gerais, realizado no período de 25 e 26 de abril

de 2013, pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Em outra oportunidade, os

dados serão obtidos junto à Vara de Execuções Criminais e do Tribunal do Júri da Comarca de

Montes Claros - Minas Gerais.

2. Revisão de Literatura e descrição do Conteúdo Montes Claros – Minas Gerais 64

Page 60: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

O sistema prisional adotado atualmente no Brasil tem, em teoria, como uma de suas

funções, promover a ressocialização do condenado, de maneira que possa retornar ao convívio

social normalmente após o cumprimento de sua pena. Entretanto, esse sistema tem sofrido

críticas, em razão da sua impossibilidade de promover a ressocialização, devido aos problemas

que envolvem a execução penal no Brasil.

A CRFB/88 aborda, em seu artigo 5º, nos incisos XLVIII e XLIX, a necessidade de

garantir que o condenado cumpra pena em estabelecimento penal adequado a sua situação,

respeitando sua integridade física e moral. Essas condições são necessárias para a

individualização da pena e para que seja possível à pena alcançar as suas finalidades retributiva e

preventiva.

Na Lei nº 7.210/84, Lei de Execução Penal, LEP, estão previstos instrumentos que

servem para atingir uma dessas finalidades da pena, que é a de ressocializar o condenado e

internado, permitindo seu retorno ao meio social. Dois dos exemplos desses mecanismos são a

assistência social e o Conselho de Comunidade.

Os artigos 22 e 23 da LEP tratam da assistência social e de que maneira esta se

realiza nas unidades prisionais. Essa assistência tem por finalidade dar suporte ao preso e ao

internado quando em cumprimento das penas privativa de liberdade ou restritiva de direitos, bem

como prepará-los para o retorno ao convívio social.

Com relação à assistência social, esclarece Marcão (2012, p.57) que ela:

[...] visa a proteger e orientar o preso e o internado, ajustando-os ao convívio no estabelecimento penal em que se encontram, e preparando-os para o retorno à vida livre, mediante orientação e contato com os diversos setores da complexa atividade humana.

Já o Conselho de Comunidade (LEP, artigos 80 e 81) apresenta-se como uma forma

de participação da comunidade no cumprimento de pena, seja acompanhando com mais atenção,

de maneira que as unidades prisionais possuam uma estrutura adequada para alojamento dos

condenados, seja para que os Juízes das Varas de Execuções Criminais e Conselhos

Penitenciários estejam cientes da situação estrutural e humana das unidades prisionais que a eles

cabem fiscalizar. Esse conselho é composto por quatro membros, sendo um representante

comercial ou industrial, um advogado indicado pela Seção da Ordem dos Advogados do Brasil,

um defensor público indicado pelo Defensor Público Geral e um assistente social indicado pela

Delegacia Seccional do Conselho Nacional de Assistentes sociais.

Montes Claros – Minas Gerais 65

Page 61: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Apesar de previstos na legislação especial, ou seja, na LEP, esses instrumentos não

têm sido implementados nas unidades prisionais brasileiras e, se o são, não desempenham o

papel para o qual foram idealizados.

Uma demonstração desta dissociação entre o previsto na norma e o efetivamente

encontrado nos estabelecimentos prisionais, pode ser observado pela análise dos resultados do

relatório final de inspeção em estabelecimentos penais na região metropolitana de Belo

Horizonte, Minas Gerais, nos períodos de 25 e 26 de abril de 2013.

O relatório considerou critérios quanto ao estabelecimento penal, como

administração; características o local, das pessoas presas, das pessoas cumprindo medida de

segurança, dos funcionários em exercício no estabelecimento; condições materiais; alimentação;

rotina padrão; assistências à saúde, jurídica, laboral, educacionais/desportivas/culturais e de

lazer, religiosa e social; segurança; disciplina e ocorrências; visitas; relatos de pessoas presas e

funcionários; e inspeções.

Entre os critérios avaliados, destaca-se o resultado no que se refere à assistência

social e às inspeções, em especial as realizadas pelo Conselho de Comunidade. Dos quatros

estabelecimentos submetidos às inspeções, apenas dois cumpriram medianamente as normas

estabelecidas.

O Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, localizado em Belo Horizonte,

Minas Gerais, dispões de quatro assistentes sociais do Sistema Único de Assistência Social, que

realizam visitas diariamente. No que tange ao Conselho de Comunidade, verifica-se que suas

inspeções são realizadas anualmente, longe do que seria o ideal, uma vez que a LEP determina

que tais diligências sejam realizadas mensalmente (artigo 81, I).

Já a Penitenciária Inspetor José Marinho Drumond que, apesar do nome, é uma

cadeia pública, dispõe de seis assistentes sociais da própria unidade prisional, que realizam de

forma insatisfatória seu encargo, tendo em vista que há reclamações dos presos e funcionários do

estabelecimento com relação ao serviço prestado, conforme apresenta o próprio relatório

supracitado. Além disso, não há registros de inspeções do Conselho de Comunidade.

Esses resultados corroboram com a hipótese de que as diretrizes relativas à execução

penal, previstas na LEP, não estão cumprindo uma de suas finalidades, que é promover a

ressocialização do apenado. A comunidade não se dispõe a colaborar na “recuperação” social do

preso, nem o Estado é capaz de se organizar e planejar de modo a prestar assistência social

satisfatória.

A Assembléia Geral das Nações Unidas, por meio da resolução nº 45/111, de 14 de

Dezembro de 1990 adotou os Princípios Básicos Relativos ao Tratamento de Reclusos, que em

Montes Claros – Minas Gerais 66

Page 62: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 seu item 10 descreve que “Com a participação e ajuda da comunidade e das instituições sociais, e

com o devido respeito pelos interesses das vítimas, devem ser criadas condições favoráveis à

reinserção do antigo recluso na sociedade, nas melhores condições”(ONU, 1990).

Nesse mesmo sentido, Ottoboni destaca que, diante da incapacidade do Estado em

proporcionar um sistema prisional adequado à ressocialização dos presos, cabe à comunidade

assumir esse papel, criando novas formas para humanizar as penas e “recuperar” o preso,

buscando colaborar por meio da Assistência Social e do Conselho de Comunidade.

É evidente que tudo deve começar com a participação da comunidade. É necessário encontrar meios de despertá-la para a tarefa, mormente quando não existem dúvidas de que o Estado já se revelou incapaz de cumprir a função essencial das penas, que é exatamente a de preparar o condenado para retornar ao convívio da sociedade (OTTOBONI, 2006, p. 64).

A lei de execução penal, em sua Exposição de Motivos, nos itens 24 e 25, estabelece

que nenhum programa que se destina a enfrentar os problemas referentes ao delito, ao

delinquente e à pena se completaria sem o indispensável e contínuo apoio comunitário.

Muito além da passividade ou da ausência de reação quanto às vítimas mortas ou traumatizadas, a comunidade participa ativamente do procedimento da execução, quer por meio de um conselho, quer por intermédio das pessoas jurídicas ou naturais, que assistem ou fiscalizam não somente as reações penais em meio fechado (penas privativas da liberdade e medida de segurança detentiva) como também em meio livre (pena de multa e penas restritivas de direitos) (MARCÃO, 2012, p. 123).

Como observado, o sistema penitenciário tradicional não atinge uma das finalidades

da sanção penal: a ressocialização do apenado. Também é latente a necessidade maior

participação da comunidade no processo de “recuperação” do condenado, utilizando de meios já

existentes, como a Assistência Social e Conselho de Comunidade, bem como criando novos

métodos.

Sob a perspectiva de novos métodos de participação comunitária na execução penal,

o método APAC surge como uma alternativa para suprir as lacunas deixadas pelo Estado,

colaborando para reerguer mecanismos previstos na legislação penal, como o Conselho de

Comunidade e a assistência social, que buscam assegurar que a pena seja devidamente

individualizada para cada condenado e que seja cumprida em estabelecimentos penais

adequados, de acordo com os critérios determinados no artigo 5º da CRFB/88, de maneira que as

integridades física e moral dos condenados sejam efetivamente respeitadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Montes Claros – Minas Gerais 67

Page 63: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Os dados parciais aqui apresentados indicam que a ressocialização do condenado, a

partir da atuação da assistência social e do Conselho de Comunidade, não atende ao seu

propósito. Isso sugere a possibilidade de experimentação de novas alternativas, sendo que o

método APAC pode contribuir nesse sentido, uma vez que apresenta como primeiro elemento no

processo de ressocialização, a participação da comunidade.

E neste sentido, ao contribuir na ressocialização do condenado, esse novo método

estaria proporcionando um estabelecimento penal mais humanizado para cumprimento de pena,

garantindo, acima de tudo, o que a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988,

estabeleceu como um de seus fundamentos, que é a dignidade da pessoa humana

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado 1988. BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm>. Acesso em 20 de outubro de 2014. BRASIL. Lei 7.210, de 11 de julho de 1984. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em 10 de setembro de 2015. CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA. Relatório de Inspeção em Estabelecimentos penais de Minas Gerais - PERÍODO: 25 e 26 de abril de 2013. Brasília, 2013. < http://www.justica.gov.br/seus-direitos/politica-penal/cnpcp-1/relatorios-de-inspecao-1/relatorios-de-inspecao-2013/relatorio-final-de-inspecao-minas-2013_.pdf>. Acesso em: 13 de setembro de 2015. MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. ONU. Organização das Nações Unidas. Resolução nº 45/111, de 14 de Dezembro de 1990. Princípios básicos relativos ao tratamento de reclusos. 1990. <http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/dhaj-pcjp-15.html>. Acesso em: 02 de junho de 2015. OTTOBONI, Mário. Vamos matar o criminoso?: Método APAC. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2006.

Montes Claros – Minas Gerais 68

Page 64: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO, FINANCEIRO E CLÍNICO DA SEPSE EM MONTES CLAROS – MG

ARRUDA, Felipe Santos*

LEAL, Lorenna Rabelo Oliveira* LIMA, Thaisa Silva*

LESSA, Priscila Gomes** CARVALHO, Ítalo Lopes e***

*Discentes do curso de Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras - FIP-Moc. **Fisioterapeuta especialista em Terapia Intensiva Adulta.

***Médico Anestesiologista; TSA; Coordenador da Residência de Anestesiologia do Hospital Universitário Clemente Faria, Montes Claros/MG.

INTRODUÇÃO

Segundo Boechat e Boechat (2010) a sepse é uma síndrome na qual a resposta

inflamatória sistêmica (SIRS) está relacionada à infecção. Nessa patologia o paciente pode

apresentar uma sintomatologia diversa trazendo complexidade para seu diagnóstico. Pelo

aumento da incidência de sepse em torno de 90% na última década, e seu crescimento contínuo

de aproximadamente 1,5% ao ano, a patologia assumiu grande relevância epidemiológica. A taxa

de mortalidade se mantém muito elevada, flutuando entre 40 e 50% e a prevalência é ascendente

devido ao uso frequente de imunossupressores em práticas invasivas. (CONTRIN, 2013)

Já segundo Nguyen (2010) o desenvolvimento dessa doença a partir de uma lesão

orgânica ou infecção é definido não apenas pelo antígeno e sua imunogenicidade, mas também

por caráter gênico do paciente. A adição desses elementos associados suscita em uma série de

ocorrências imunológicas, metabólicas e hemodinâmicas que resultam no estado de sepse.

(BONE, 2009)

De acordo com Dellinger (2008) grandes volume de fator de necrose tumoral (TNF)

são liberadas durante essa síndrome gerando sintomas sistêmicos, hipotensão arterial, aumento

metabólico e trombofilia. Além disso, a explosão respiratória (respiratory burst), por macrófagos

e neutrófilos, é motivador da liberação de óxido nítrico que tem ação vasodilatadora e

hipotensora que culmina no choque séptico. Paralelamente, por uma série de eventos genéticos,

clínicos e bioquímicos haverá sintomas, como adinamia, febre, inflamação, mediada por

Montes Claros – Minas Gerais 69

Page 65: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 citocinas, ativação endotelial, com perda de função microcirculatória, aumento da

permeabilidade vascular, microtrombose e redução da resistência vascular sistêmica. (LEVY,

2010)

O prognóstico da sepse pode ser analisado a partir da investigação do lactato sérico –

um dos produtos de maior toxicidade da doença. Visto que esse produto pode ser responsável

pela perda de 10% do peso corporal do paciente em poucas semanas, medidas terapêuticas para

depuração de lactato tendem a melhorar significantemente o prognóstico do paciente séptico.

(BOECHAT, 2010)

Segundo Sogayar (2008) no Brasil, em média 25% dos enfermos internados nas

unidades de terapia intensiva (UTI) foram diagnosticados com sepse grave, apresentando taxas

de mortalidade oscilando entre 35 a 65%. A alta mortandade da sepse não se restringe a fase

aguda da doença, tendo influência por anos após a alta hospitalar, podendo trazer sequelas

cognitivas significativas àqueles que sobrevivem à sepse. Além da associação com altas taxas de

mortalidade hospitalar, a patologia também pode danar a qualidade de vida daqueles que

sobrevivem à hospitalização, comprometendo sobremaneira a sobrevida. Estudos correlacionam

o aumento do uso de medicamentos imunossupressores com esse efeito prolongado da sepse.

(CONTRIN, 2013)

Os principais preditores de infecções no período pós-operatório são: Índice de Massa

Corpórea (IMC) ≥ 40 kg/m², hemodiálise no período pré-operatório, diabetes mellitus, tempo de

CEC ≥ 200 minutos, idade ≥ 85 anos, choque cardiogênico pré-operatório, utilização de balão

intra-aórtico e 3 ou mais vasos revascularizados. (OLIVEIRA, 2010)

Pacientes com sepse grave e choque séptico podem apontar sinais de vasodilatação e

de grandes saídas hídricas para o espaço intersticial que podem agregar-se à depressão

miocárdica. O consequente comprometimento do fluxo sanguíneo pode gerar isquemia de vastos

territórios que, se não controlada precocemente, causa o desenvolvimento de disfunção de

múltiplos órgãos aumentando a chance de óbito. A decisão da opção terapêutica mais correta

deve ser norteada por metas pré-determinadas, com ênfase nos marcadores de fluxo e de

oxigenação tecidual. (WESTPHAL, 2011)

Neste trabalho será apresentada uma análise crítica dos dados do DATASUS sobre a

patologia septicemia no município de Montes Claros, comparando-os com os dados – a respeito

do mesmo tema – no Estado de Minas Gerais, Brasil e mundo.

DESENVOLVIMENTO

Montes Claros – Minas Gerais 70

Page 66: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 Metodologia

Trata-se de um estudo de investigação retrospectivo, transverso, descritivo e

quantitativo. O universo de pesquisa foi a base de dados Informações de Saúde (TABNET),

disponibilizados pelo Sistema de Informação do SUS (Datasus), no endereço eletrônico

http://www2.datasus.gov.br, acessado em 28 de Agosto de 2015, referente a sepse e sua

epidemiologia em Montes Claros, no período de 2007-2013. O percurso metodológico para

realizar a busca foi: Acesso ao Datasus; Informações de saúde – TABNET; Epidemiológicas e

Morbidade; Geral, por local de internação a partir de 2008 – Minas Gerais; Analisar as variáveis

escolhidas.

As variáveis foram analisadas de acordo com o seu predomínio por sexo e faixa

etária nos seguintes aspectos: dados sociodemográficos, determinação por faixa etária, valores

médios de internação, média de permanência de internação e taxa de óbito, em pacientes

atendidos pelo SUS. Utilizou-se o software Excel 12.0 (Office 2007) para gerenciamento e

análise de dados. Por se tratar de um banco de dados de domínio público, não foi necessária a

submissão ao CEP.

Realizou-se uma revisão bibliográfica com busca de artigos dos últimos 5 anos às

bases de dados SCIELO, MEDLINE e LILACS. Os termos de busca foram: “sepse”,

“septicemia”, “sepse clínica”, “sepse cirúrgica”. A busca no MEDLINE resultou em 4011

trabalhos, sendo 815 publicados nos últimos 5 anos. Já na base de dados SCIELO/LILACS a

busca resultou em 2621 trabalhos, sendo 483 nos últimos 5 anos. Procurou-se priorizar estudos

com maior tamanho amostral ou maior nível de evidencia, a partir dos quais se definiram os

temas a serem abordados no artigo.

Resultados

Em Montes Claros foram relatados 708 casos de sepse entre janeiro de 2008 e junho

de 2015, sendo 379 em homens e 329 em mulheres. Desses casos houve maior prevalência em

neonatos, 220 casos, sendo 136 homens e 84 mulheres, e em idosos, 252 casos, 117 homens e

135 mulheres.

O valor médio de internação por sepse na cidade, no mesmo período, é R$ 2437,93,

tendo maior custo o tratamento em homens (R$ 2734,49) que para mulheres (R$ 2096,31). O

valor médio de internação para neonatos é de R$ 2574, sendo próximo o valor dispendido para

homens e mulheres. Já para idosos o valor médio é de R$ 2488,78, havendo uma diferença

Montes Claros – Minas Gerais 71

Page 67: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 significativa entre os sexos, sendo que para os homens é de R$ 3102,44 e para mulheres R$

2016,63.

A média de permanência em internação por septicemia em Montes Claros, na mesma

época, foi de 11,4 dias, sendo 11,9 a média para homens e 10,9 para mulheres. Para os neonatos

a média excede a média geral, sendo de 12,9 dias, outro dado interessante é que as mulheres

desta faixa etária permanecem internadas por mais tempo que os homens, 13,4 dias contra 12,6

em média. Para os idosos a média de tempo internado é de 11,43 dias, sendo para os homens o

número é de 12,1 dias e para as mulheres de 10,73.

A taxa de óbito para essa patologia nessas mesmas condições foi de 37,85%, tendo

maior incidência no sexo feminino (40,12%) que no masculino (35,88%). No caso dos neonatos

a taxa de óbito foi de 6,82% e teve alternância entre os sexos quanto à incidência, sendo de

8,82% no sexo masculino e de 3,57% no feminino. Já para os idosos a média é de 66,38%, sendo

64,57% para os homens, e de 68,06% para as mulheres.

Discussão

Observou-se que na cidade de Montes Claros, desde o ano de 2009, houve um

aumento gradativo do número dos casos de sepse, somando-se aproximadamente 75% de

aumento. O perfil do paciente atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade para essa

enfermidade é, em sua maioria, pacientes do sexo masculino, neonatos (sepse clínica) – 31% dos

casos – e idosos (majoritariamente por sepse cirúrgica) – 35,6% dos casos, dados esses que

podem ser explicados pela maior fragilidade do sistema imune nessas idades extremas. Outro

fato importante é que 100% dos casos de sepse na cidade foram tratados como urgência.

(BARACHO, 2011)

É dispendido em média 2438 reais por internação de sepse em Montes claros, cerca

de 37% a menos que a média do estado. O que pode ser um dos motivos pelos quais a média de

mortalidade pela patologia chegue a ser 9,5% maior na cidade, sendo que entre os idosos esse

número alcança os 36% em relação a Minas Gerais. E apesar da maior taxa de mortalidade,

percebeu-se que os pacientes da cidade tendem a ter uma menor média de permanência em

internação comparado ao perfil do estado – 11% menos tempo de internação. (SOGAYAR,

2008)

Foi percebido que o valor da internação de sepse entre o sexo masculino e feminino

flutua em relação a idade e o sexo, sendo que para os homens tende inicialmente a diminuir, e

posteriormente a crescer com a faixa etária, iniciando com o valor de R$ 2586,72, chegando ao

Montes Claros – Minas Gerais 72

Page 68: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 mínimo de R$ 1424,53 – entre 15 a 19 anos – e alcançando o valor de R$ 3646,82 na faixa etária

acima de 80 anos. Essa regra sendo quebrada na faixa etária entre 5 a 9 anos que alcança o valor

de R$ 4788,40. Para as Mulheres o valor decresce de R$ 2553,40, mantendo-se em um valor

praticamente constante e chegando na faixa de R$ 1815,95 na idade de 80 anos ou mais –

também havendo uma discrepância, porém na faixa de 15 a 19 anos, tendo o elevado valor médio

de médio de R$ 5165,27.

A média de óbito por Sepse na cidade de Montes Claros supera em quase 10% a

mesma taxa em Uberlândia, que segundo estudo de Carvalho (2010) é de 34,6%. Porém, a média

foi menor quando correlacionada ao estudo de Baracho (2011) sobre sepse em idosos na cidade

de Itajubá, que teve o índice de mortalidade de 70% em média, 5% maior que a média em

Montes Claros. Já sobre o tempo de permanência, foi percebido que o tempo médio em cidades

mais desenvolvidas, como Uberlândia, é consideravelmente maior que em Montes Claros – 12,2

dias em média, 6,5% mais tempo que na segunda cidade. (CARVALHO, 2010)

Foi observado que apesar da média de permanência em internação por sepse em

Montes Claros ser maior para os homens, na faixa etária neonatal o oposto ocorre, havendo em

média 6% a mais de tempo de internação para as mulheres dessa idade. Já na média geral, o

homem fica cerca de 8,5% a mais de tempo internado que as mulheres, sendo nos idosos a

diferença ainda maior, 11,3% a mais de tempo de internação.

Pode-se perceber, também, que em países desenvolvidos, como Estados Unidos, a

taxa de sepse clínica, mais comum em neonatais, é muito baixa quando em relação a sepse

cirúrgica, fato esse explicado pela maior preocupação com a sepsia nesses países diminuindo a

incidência de síndromes geradas por resposta imune de linfócitos Th1. Fato esse contrastado com

a realidade montesclarense em que 31% dos casos de sepse devem-se a esse tipo de ocorrência.

Paralelo a isso, é perceptível a diferença também quanto ao tempo de internação, nos Estados

Unidos, a média de tempo de internação foi de 8,4 dias no ano de 2008, 31% a menos de tempo

que a média em Montes Claros no mesmo período (11 dias). Quando em comparação apenas os

pacientes idosos a mudança foi um pouco menor, a média de 8 dias na américa do norte é 23%

menor que os 10,4 dias apresentados no município norte-mineiro (HALL, 2011).

CONCLUSÃO

Concluiu-se então que o município de Montes Claros apresenta problemas em

relação à sepse, tendo um alto índice de mortalidade, possivelmente devido à baixa qualidade de

vida e IDH da população – principalmente na sepse em neonatais – e pelo aumento do uso de

Montes Claros – Minas Gerais 73

Page 69: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 imunossupressores nos procedimentos cirúrgicos. Paralelo a isso, foi percebido a maior

predisposição do sexo masculino pela patologia, sendo que a taxa de permanência de internação

foi maior para homens adultos e em contrapartida a taxa de óbitos dessa mesma faixa etária e

sexo foi menor que nas mulheres. Já em neonatos as mulheres permanecem por mais tempo

internada que os homens e sua taxa de óbito é consideravelmente menor que a dos homens,

apesar de o valor despendido na internação de ambos serem aproximados. O mesmo acontece no

grupo de idosos em que a média de tempo internado para os homens é maior enquanto que sua

taxa de óbito é menor que em mulheres. Isso sugere que, na amostra pesquisada, um maior

tempo de internação é diretamente proporcional à uma menor taxa da óbito, entretanto não

podemos afirmar que o primeiro seja a causa do segundo. Novos estudos com uma população

maior deverão ser feitos para que possamos afirmar que quanto maior o tempo de internação,

maiores as chances de sobrevida, no entanto não se sabe se foi a menor permanência de

internação que levou ao óbito ou se foi o óbito que levou os determinados grupo a,

estatisticamente, terem um menor tempo de internação.

REFERÊNCIAS

BOECHAT, A. L.; BOECHAT, N. O. Sepse: Diagnóstico e Tratamento. Revista Brasileira de Clínica Médica. São Paulo, 2010, 8(5):420-427. CONTRIN, L. M. et al. Qualidade de vida de sobreviventes de sepse grave após alta hospitalar. Revista latino-americana de enfermagem. 2013, 21(3). NGUYEN, H. B. et al. Early lactate clearance is associated with biomarkers of inflammation, coagulation, apoptosis, organ dysfunction and mortality in severe sepsis and septic shock. J Inflamm (Lond). 2010, 2(7). BONE, R. C. et al. Definitions for sepsis and organ failure and guidelines for the use of innovative therapies in sepsis. The ACCP/SCCM Consensus Conference Committee Chest. 2009, 136(5). DELLINGER, R. P. et al. Surviving Sepsis Campaign: international guidelines for management of severe sepsis and septic shock: 2008. Intensive Care Med. 2008, 34(1):17-60. LEVY, M. M. et al. The Surviving Sepsis Campaign: results of an international guideline-based performance improvement program targeting severe sepsis. Intensive Care Med. 2010, 36(2):222-231. SOGAYAR, A. M et al. A multicenter, prospective study to evaluate costs of septic patients in Brazilian intensive care units. Pharmacoeconomics. 2008, 26(5):425-434. OLIVEIRA, D. C. et al. Sepse no pós-operatório de cirurgia cardíaca: Descrição do Problema. Sociedade Brasileira de Cardiologia. São Paulo, 2010, 94(3):332-336. Montes Claros – Minas Gerais 74

Page 70: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 WESTPHAL, G. A. et al. Diretrizes para tratamento de sepse grave/choque séptico – ressuscitação hemodinâmica. Revista Brasileira de Terapia Intensiva. 2011, 23(1):13-23. BARACHO N. C. V. et al. Fatores de risco associados à mortalidade em pacientes com sepse grave e choque séptico na unidade de terapia intensiva de um hospital escola do sul de Minas Gerais. Revista Ciências em Saúde. 2011, 1(1). CARVALHO, R. H. et al. Sepse, sepse grave e choque séptico: aspectos clínicos, epidemiológicos e prognóstico em pacientes de Unidade de Terapia Intensiva de um Hospital Universitário. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 2010, 43(5):591-593. HALL, M. J. et al. Inpatient care for septicemia or sepsis: A challenge for patients and hospitals. NCHS Data Brief. 2011, 62.

Montes Claros – Minas Gerais 75

Page 71: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

RESSUSCITAÇÃO CARDIOPULMONAR ASSISTIDA POR FAMILIARES: BENÉFICO OU NÃO?

SILVA, Roberto Allan Ribeiro*

SOARES, Jaqueline Cardoso* MAIA, Grazielle Lopes Santos**

SAKON, Poliane Osmira Rodrigues***

*Discentes do Curso de Enfermagem da FAVAG.

**Nutricionista, Mestra em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Viçosa, Professora do curso de Enfermagem da

Faculdade Vale do Gorutuba.

***Psicóloga, Especialista, Mestranda em Ciências Criminológico Forense-Mestrado Internacional na Universidad de Ciencias Empresariales Y Sociales UCES.

INTRODUÇÃO

A possibilidade de morte está presente em todo momento da vida e essa consciência

exerce poder transformador na relação que se estabelece com o viver (MOREIRA e BIEHL,

2004). Os avanços das tecnologias possibilitaram o surgimento de situações de prolongamento

da vida de pacientes críticos, nesse contexto a morte passa a ser encarada pelos profissionais de

saúde como um fracasso, pois o que sempre se busca é a melhora do paciente em direção à saúde

e nunca em direção contrária (POLES e BOUSSO, 2006).

Embora a morte seja um evento recorrente no cotidiano da assistência à saúde,

observa-se dificuldade dos profissionais, não apenas em aceitar, mas como manejar de modo

adequado este tipo de situação (POLES e BOUSSO, 2006). Esta postura tem reflexos na atenção

dispensada à família que na tentativa de protegê-la, a equipe decide quando e como a família vai

participar, restringindo, contudo, seu espaço para fazer escolhas (FERREIRA, et al., 2014). Um

exemplo é a permanência ou não da família durante a Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP),

emergência clínica descrita por Walker (2010) como "uma intervenção desesperada com sucesso

limitado". Considerando que a tentativa de ressuscitação de um ente querido é uma situação um

tanto traumática e angustiante, os profissionais buscam poupar os familiares desta experiência

(SOLEIMANPOUR, et al., 2015) acreditando ser esta a melhor opção.

Fato é que o foco da assistência à saúde tem mudado e o atual modelo de Cuidado

Centrado no Paciente e Família, onde os pacientes passam a ser compreendidos como parte Montes Claros – Minas Gerais 76

Page 72: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 integrantes de uma família, remetendo o foco do cuidado também para a família, ao mesmo

tempo em que esta é estimulada a cuidar do ente querido/paciente, conjuntamente com a equipe

de saúde. Assim a família tem sido um elemento colaborador frente a uma assistência planejada,

que vem sendo largamente aplicado no contexto hospitalar (FERREIRA, et al., 2014). Esta nova

proposta surge em oposição ao modelo paternalista/ arbitrário, onde os profissionais por acreditar

que é certo, passam a tomar decisões por alguém sem levar em consideração os desejos da

pessoa, ou mesmo, substituir os seus desejos expressos com o intuito genuíno de proteger ou

promover o bem-estar delas, conduta muito comum no manejo de pacientes críticos (WALKER,

2010).

Nos últimos anos está postura tem sido questionada e atualmente há uma grande

controvérsia sobre se os membros da família devem ser autorizados a presenciar a ressuscitação

de um ente querido em um hospital ou não. Algumas literaturas (JABRE, et al., 2013; MEYERS

et al., 2010; BOEHN, 2008) relatam que a presença da família é benéfica em alguns casos. No

entanto, outras (YAVUZ, et al., 2013; JABRE, et al., 2013; HARTEVELDT e DIPHE, 2005;

SOLEIMANPOUR, et al., 2015), indicam que esta prática não é vantajosa. Neste contexto, este

trabalho visa discutir os resultados recentes e explorar prós e contras de presença dos membros

da família durante a ressuscitação cardiopulmonar.

DISCUSSÃO

Por se tratar de uma revisão de literatura, onde os bancos de dados indexados da

Literatura Internacional em Ciências da Saúde (PubMed), da Scientific Electronic Library Online

(SciELO) da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), da

Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e do Google Acadêmico, este trabalho trás um panorama do

estudos realizados no período de 2005 a 2015. Para tanto, foram usadas as seguintes palavras-

chave: “família”, “Tanatologia”, “reanimação cardiopulmonar”, “equipe de saúde” e “Bioética”

em cada uma das bases de dados citadas, com os seguintes critérios de inclusão: artigos de

pesquisa, nacionais e internacionais nas áreas de Medicina e de Enfermagem, publicados em

língua portuguesa ou inglesa. Excluíram-se os artigos que não se referiam à presença da família

durante a reanimação cardiopulmonar, totalizando uma amostra de 10 artigos analisados. Os

trabalhos encontrados são dos Estados Unidos (quatro), Europa (um da França um da Áustria) e

Ásia (um do Irã e um da Turquia) apenas dois trabalhos brasileiros foram encontrados, e se

travam de revisão de literatura.

Montes Claros – Minas Gerais 77

Page 73: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Os estudos abordados mostram que a partir da década de 1990, pesquisas começaram

a ser publicadas avaliando as perspectivas e os benefícios psicológicos para a família por

presenciar os esforços de ressuscitação, bem como, as crenças dos prestadores de cuidados sobre

a presença de familiares durante a RCP (BOEHM, 2008). Desde então, os testemunhos, em sua

maioria positivos, dado por familiares que presenciaram a reanimação dos seus entes queridos,

tem se tornando cada vez mais frequente. Os resultados de um número limitado de estudos

mostram sentimentos contraditórios entre o pessoal de saúde sobre os benefícios para o familiar

(HARTEVELDT e DIPHE, 2005).

As principais justificativas encontradas na literatura para permitir a presença de

familiares durante a RCP foram: a presença da família pode trazê-la à realidade da situação que

por sua vez, pode prevenir um período prolongado de negação durante o processo de luto. Para

Jabre (et al., 2013) em um estudo randomizado e controlado sobre a presença de familiares

durante a ressuscitação em ambientes domésticos na França, verificaram que familiares que

foram convidados a acompanhar os procedimentos de ressuscitação da equipe tiveram menores

índices de Transtorno do Stress Pós-Traumático, comparado com aqueles que não

testemunharam tais esforços. Meyers (et al., 2010), relata que em tentativas de ressuscitação que

foram bem sucedidas os parentes se sentiram conectados com o seu ente querido e acreditavam

que eles tinham sido capazes de oferecer conforto ao compartilhar uma experiência

poderosamente emotiva. Mesmo em situações em que a tentativa de ressuscitação tenha falhado,

ficou constatado que a angústia foi diminuída e a experiência tinha lhes ajudado a enfrentar a

realidade, o que facilitou o luto em meses posteriores.

As evidências sugerem que muitos membros da família tem o desejo de estar com

seus entes queridos durante uma tentativa de reanimação (MEYERS et al., 2010; BOEHN, 2008)

ou pelo menos, gostaria de ser oferecida esta oportunidade. Boehn (2008) relata que após

entrevistar familiares que presenciaram a RCP de parentes, os resultados apontaram que 76%

sentiram que possibilitou uma melhor adaptação à morte isso por conta da sua presença na sala,

64% sentiam que a sua presença era benéfica para os familiares que estava morrendo e 94%

acreditavam que escolheriam estar presente durante a RCP novamente se dada à oportunidade.

É consensual entre os trabalhos estudados que para evitar danos aos familiares, faz-

se necessário ter um membro da equipe que seja capaz de explicar para o parente o que está

acontecendo durante os procedimentos, seja ele um enfermeiro, assistente social, psicólogo ou

até mesmo um capelão (JABRE et al., 2013; HARTEVELDT, et al., 2005; YAVUZ, et al.,

2013).

Montes Claros – Minas Gerais 78

Page 74: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015

Yavuz (et al. 2013) diz que é preciso considerar que a presença de familiares durante

a realização do referido procedimento provoca o problema das salas de emergência superlotadas,

além da escassez de enfermeiros para ajudar os membros da família durante os procedimentos de

reanimação.

Achados apontam que entre os profissionais assistentes existe certa resistência em

permitir a presença de familiares, os índices de desaprovação variam de 36 a 97% (BOEHN,

2008; SOLEIMANPOUR, et al. 2015). Vale ressaltar que os médicos mais jovens são menos

favoráveis do que os mais experientes. Quanto aos enfermeiros, estes se mostraram mais

propensos que os médicos a sugerir a presença da família durante a reanimação

(HARTEVELDT, et al., 2005).

Ao comparar o comportamento de médicos austríacos e iranianos Soleimanpour (et

al., 2015) suscitou um aspecto pertinente desta questão, as tradições específicas de cada país,

como a cultura e religião, influenciam diretamente na resposta dos profissionais, assim como dos

familiares envolvidos. Um aspecto que é reforçado pelos temores sustentados para não

aprovação da presença da família durante a RCP diz respeito ao prolongamento desnecessário do

procedimento, devido à presença da família mesmo quando a tentativa for obviamente fútil ou

até mesmo reações imprevisíveis de membros família que poderiam dividir a atenção da equipe

(MEYERS et al, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na literatura, os pesquisadores buscam fundamentação teórica e prática sobre a

presença da família durante a RCP a fim de identificar as melhores evidências para sua

implementação, ainda assim, ressalta-se a escassez de trabalhos sobre o assunto ainda é limitado,

necessitando de mais estudos, uma vez que ainda são pequenas as amostras e estas na grande

maioria estão restritas a áreas especializadas. Importante ressaltar que na literatura nacional não

foi encontrado nenhum estudo nessa temática que avalie a perspectiva de quem cuida e de quem

é cuidado.

Vale lembrar que esta revisão de literatura tomou como base dados de estudos

realizados em diferentes culturas e contextos assistenciais e é preciso investigar a percepção dos

profissionais de saúde e das famílias em nossa realidade, a fim de compreender os valores, as

atitudes e os comportamentos quanto à presença de familiares na RCP em nosso contexto.

Montes Claros – Minas Gerais 79

Page 75: REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N…minascongressos.com.br/rem/revista.pdf · 2019. 11. 2. · REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar

REM –Revista Eletrônica Multidisciplinar – Minas Congressos - Vol. 1, N. 1 – Jul. – Dez. 2015 REFERÊNCIAS

BOEHM, Judy. Family Presence During Resuscitation. Disponível em: <http://www.zoll.com/CodeCommunicationsNewsletter/CCNL05_08/CodeCommunications05_08.pdf>. Acesso em: 15 maio 2015. FERREIRA, Cristiana Araújo; BALBINO, Flávia Simphronio; BALEIRO, Maria Magda; MANDETTA, Myriam Aparecida. Presença da Família Durante Reanimação Cardiopulmonar e Procedimentos Invasivos em Crianças. Revista Paulista Pediatria, 2014; 32(1):107-13. HARTEVELDT, Rob. Benefits and Pitfalls of Family Presence During Resuscitation. Nursing Times; 101: 36: 24-25, 2005. JABRE, Patrícia; et al. Family Presence During Cardiopulmonary Resuscitation. The New Engl and Journal of Medicine, 368; 11-14, 2013. MEYERS, Tracy Amy; et al. Family Presence During Invasive Procedures and Resuscitation. Am Journal Nursing. 100:32-43, 2010. MOREIRA, Esdras Cabus; BIEHL, João Guilherme. Práticas Médicas de Aceitação da Morte na UTI de um Hospital Geral no Nordeste do Brasil. Revista Bioética. Salvador - BA, Brasil, 2005. POLES, Kátia; BOUSSO, Regina Szylit. Compartilhando o Processo de Morte com a Família: a experiência da enfermeira na UTI pediátrica. Revista Latino Americana de Enfermagem. 2006 março-abril; 14(2):207-13. SOLEIMANPOUR, Hassan et al. An Analytical Comparison of the Opinions of Physicians Working in Emergency and Trauma Surgery Departments at Tabriz and Vienna Medical Universities Regarding Family Presence during Resuscitation. Plos One, Jounal Pone, abril, 2015. WALKER, Wendy Marina. Witnessed Resuscitation: A concept analysis. International Journal of Nursing Studies. Liverpool, 43: 377-387, 2010. YAVUZ, Meryem; DIKMEN, Burcu Totur; ALTINBAŞ, Yasemin; ASLAN, Arzu; KARABACAK, Ukke. Opinions for Family Presence During Cardiopulmonary Resuscitation in Turkey: A Literature Review. Yoğun Bakım Derg, 4: 13-7, 2013.

Montes Claros – Minas Gerais 80