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 Navegantes, bandeira ntes, diplomatas: um ensaio sobre a formação das fronteiras do Brasil Introdução Quando Cabral chegou à Terra de Santa Cruz já tinha esta uma fronteira, a linda de 370 léguas a partir das ilhas de Cabo Verde, definida em Tordesilhas. O que não se sabia exatamente, nem então, nem mais de dois séculos depois, era onde passava. Ao criar em 1534 o sistema de capitanias hereditárias, D. João III procurou respeitar os limites de Tordesilhas. (Governo Geral estabelecido em 1549). No fim do século XVI surgiu, entretanto, um fenômeno histórico diverso: um conjunto denso de ações de penetração territorial, com origem num único local, objetivo predominante de caça ao índio e que ultrapassava com freqüência a linha de Tordesilhas, o bandeirantismo. Os espanhóis tiveram a sorte de achar grandes civilizações, ricas em prata, já nos primeiros anos após o descobrimento. Os portugueses, não; só no final do século XVII descobririam ouro na região montanhosa que depois se chamou “Minas Gerais” e que em poucos anos se tornaria o centro gavitacional da Colônia. A ocupação desse território não provocou, porém, nenhum conflito de fronteira com os espanhóis. Do ouro ponto do território, Belém, fundada em 1616, os portugueses foram-se apossando de lugares que deveriam ser espanhóis pela partilha de 1494. Já nas primeiras décadas do séc. XVIII tinham completado o feito excepcional de ocupar pontos estratégicos da imensa bacia amazônica. Em 1680, a coroa portuguesa patrocina a fundação da “Colônia do Santíssimo Sacramento”, na margem esquerda do Prata, em frente a Buenos Aires. Era uma tentativa de levar os limites do Brasil até o grande rio; todavia, nunca se conseguiu estabelecer por terra uma ligação segura entre esta e os núcleos portugueses mais ao sul, ficando sempre a colônia ilhada, sem poder resistir às forças espanholas. Com a descoberta de ouro em 1718, pelos bandeirantes, estabelece-se um sistema de transporte através de rios, uma das originalidades da História do Brasil, as “monções”. Eram comboios de canoas que, por mais de cem anos, ligaram São Paulo aos núcleos mineradores do Centro-Oeste. As bandeiras, apesar de terem tido imensas conseqüências políticas, foram basicamente um movimento de inspiração econômica local. Em 1750, Portugal e Espanha assinam o Tratado de Madri, que legalizava a ocupação de dois terços do atual território brasileiro; previa também a troca da Colônia do Sacramento pelos Sete Povos das Missões, aldeamentos fundados por jesuítas espanhóis no atual oeste do Rio Grande do Sul. Ao lado do Tratado de Madri, o único da história que dividiu um continente, todos os demais acordos de limites são de pouca importância. Desenhado pelo brasileiro Alexandre de Gusmão, estruturou-se em torno de dois princípios: o das fronteiras naturais

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  • Navegantes, bandeirantes, diplomatas: um ensaio sobre a formao das fronteiras do Brasil

    Introduo

    Quando Cabral chegou Terra de Santa Cruz j tinha esta uma fronteira, a linda de 370 lguas

    a partir das ilhas de Cabo Verde, definida em Tordesilhas. O que no se sabia exatamente, nem

    ento, nem mais de dois sculos depois, era onde passava.

    Ao criar em 1534 o sistema de capitanias hereditrias, D. Joo III procurou respeitar os limites

    de Tordesilhas. (Governo Geral estabelecido em 1549).

    No fim do sculo XVI surgiu, entretanto, um fenmeno histrico diverso: um conjunto denso

    de aes de penetrao territorial, com origem num nico local, objetivo predominante de

    caa ao ndio e que ultrapassava com freqncia a linha de Tordesilhas, o bandeirantismo.

    Os espanhis tiveram a sorte de achar grandes civilizaes, ricas em prata, j nos primeiros

    anos aps o descobrimento. Os portugueses, no; s no final do sculo XVII descobririam ouro

    na regio montanhosa que depois se chamou Minas Gerais e que em poucos anos se

    tornaria o centro gavitacional da Colnia. A ocupao desse territrio no provocou, porm,

    nenhum conflito de fronteira com os espanhis.

    Do ouro ponto do territrio, Belm, fundada em 1616, os portugueses foram-se apossando de

    lugares que deveriam ser espanhis pela partilha de 1494. J nas primeiras dcadas do sc.

    XVIII tinham completado o feito excepcional de ocupar pontos estratgicos da imensa bacia

    amaznica.

    Em 1680, a coroa portuguesa patrocina a fundao da Colnia do Santssimo Sacramento, na

    margem esquerda do Prata, em frente a Buenos Aires. Era uma tentativa de levar os limites do

    Brasil at o grande rio; todavia, nunca se conseguiu estabelecer por terra uma ligao segura

    entre esta e os ncleos portugueses mais ao sul, ficando sempre a colnia ilhada, sem poder

    resistir s foras espanholas.

    Com a descoberta de ouro em 1718, pelos bandeirantes, estabelece-se um sistema de

    transporte atravs de rios, uma das originalidades da Histria do Brasil, as mones. Eram

    comboios de canoas que, por mais de cem anos, ligaram So Paulo aos ncleos mineradores

    do Centro-Oeste.

    As bandeiras, apesar de terem tido imensas conseqncias polticas, foram basicamente um

    movimento de inspirao econmica local.

    Em 1750, Portugal e Espanha assinam o Tratado de Madri, que legalizava a ocupao de dois

    teros do atual territrio brasileiro; previa tambm a troca da Colnia do Sacramento pelos

    Sete Povos das Misses, aldeamentos fundados por jesutas espanhis no atual oeste do Rio

    Grande do Sul. Ao lado do Tratado de Madri, o nico da histria que dividiu um continente,

    todos os demais acordos de limites so de pouca importncia. Desenhado pelo brasileiro

    Alexandre de Gusmo, estruturou-se em torno de dois princpios: o das fronteiras naturais

  • (cursos de rios e cumeadas de montanhas) e do utis possidetis, que determina que cada parte

    conserve o que ocupa no terreno.

    Em 1761 o Tratado de El Pardo anula o de Madri. Em 1777, entretanto, o Tratado de Santo

    Ildefonso retoma as fronteiras de Madri, com exceo do extremo sul, onde os Sete Povos

    retornam soberania espanhola. Em 1801 a guerra entre Portugal e Espanha provoca

    ocupaes territoriais na Europa, e no Brasil tropas gachas conquistam para sempre a regio

    dos Sete Povos.

    As grandes preocupaes polticas do novo Imprio concentravam-se no Prata. A Argentina era

    adversria. A situao no Uruguai no sc. XIX foi sempre tensa. Foi invadido por tropas

    portuguesas em 1821 e incorporado ao Imprio de D. Pedro I, como Provncia Cisplatina;

    tornou-se independente em 1828, ao final de uma guerra entre Brasil e Argentina, com o

    nome de Repblica Oriental do Uruguai.

    Na Amaznia foram necessrias quase trs dcadas para que se pudesse concluir um primeiro

    tratado de limites. A partir de ento ficou perfeitamente estruturada uma slida poltica de

    fronteiras, baseada no utis possidetis. Nessas bases houve acordo com Peru (1851), Venezuela

    (1859) e Bolvia (1867).

    O traado completo da linha divisria do Brasil obra do comeo da Repblica, e o grande

    artfice da chamada poltica de limites foi o Baro do Rio Branco: sem guerras, conseguiu

    consolidar e ampliar as fronteiras brasileiras.

    A ocupao do territrio brasileiro

    Bandeirismo: a superao de Tordesilhas

    As bandeiras se iniciam como apresadoras de ndios, passando depois a assumir um carter

    guerreiro no combate a indgenas rebelados ou negros aquilombados. Na sua fase final, as

    bandeiras tornaram-se mineradoras, povoadoras e ligadas abertura de novas vias de

    comunicao.

    Os bandeirantes no denominavam assim suas incurses sertanejas, pelo menos na poca das

    grandes campanhas contra os jesutas missionrios. Os lderes da bandeira, capites, alferes e

    sargentos, eram portugueses ou colonos de terra. Os historiadores divergem entre o Tiet e o

    So Francisco como o primeiro rio em importncia para a unidade territorial do pas. Apesar

    disso, hoje em geral aceito que as bandeiras foram um movimento basicamente terrestre.

    Suas rotas eram antigas trilhas indgenas , em sua grande maioria. Na verdade, os bandeirantes

    viam os rios no como caminhos, mas como obstculos a serem transpostos.

    O chamado bandeirantismo de apresamento deveu-se menos ao abastecimento de mo-de-

    obra para os engenhos de acar do litoral, em especial do Nordeste, e mais s necessidades

  • da agricultura da regio em torno de So Paulo, a mais importante rea produtora de trigo de

    toda a colnia. O perodo da Unio Ibrica (1580-1640) considerado por muitos fundamental

    para o surgimentos das bandeiras, bem como para seu desenvolvimento e a conseqente

    ocupao das terras alm-Tordesilhas. Com Portugal independente, os holandeses

    possivelmente no haveriam ocupado Pernambuco e feitorias portuguesas na frica, fato que,

    provocando a escassez de escravos negros, estimulou o bandeirismo de apresamento de

    indgenas. discutvel o papel povoador que este movimento possa ter tido, sendo que alguns

    autores fala at mesmo em um carter despovoador. Outra suposio que no se sustenta

    a de que as bandeiras paulistas tiveram, alm de suas finalidades reconhecidas da caa ao

    ndio e da procura de metais preciosos, o objetivo de conquistas territrios para Portugal.

    Segungo Arno e Maria Jos C. de Wehling, in Formao do Brasil Colnia (1994),

    s vezes, as bandeiras tm sido excessivamente valorizadas na historiografia e na literatura

    do sculo XX como forma de justificar a importncia ou mesmo a primazia de So Paulo na

    federao brasileira. Nem por isso, entretanto, devem ser minimizadas. Uma avaliao

    ponderada pode apontar, como suas principais conseqncias, o alargamento territorial do

    pas, embora ao preo da escravizao em larga escala dos indgenas e da destruio de

    misses jesuticas espanholas; a descoberta de metais preciosos em Minas Gerais, Gois e

    Mato Grosso; o melhor conhecimento orogrfico e hidrogrfico do interior do pas; e a

    constituio de um ncleo de poder autctone, em geral bem menos dependente das

    autoridades e dos comerciantes metropolitanos do que o representado pelos senhores de

    engenho.

    Rio da Prata: a fronteira desejada

    O rio Amazonas foi colonizado por portugueses, depois da fundao de Belm, na sua foz, em

    1616. No rio da Prata, a histria oposta: descoberto por portugueses, foi ocupado por

    espanhis.

    O ouro de alguns pontos da costa, a caa aos ndios e o gado abundante das Vacarias Del

    Uruguay comearam a atrair levas de paulistas ao litoral que ia de Canania, em So Paulo, ao

    rio da Prata. Paranagu (1648), So Francisco (1650), a ilha de Santa Catarina (1675) e Laguna

    (1676) so os pontos sucessivamente ocupados no litoral, sempre na direo do sul.

    Por varias razes, o Governo portugus tinha decidido pouco antes de 1680 fundar um

    estabelecimento na margem norte do grande rio: ocupar uma rea livre toda a margem

    esquerda do Prata e concorrer com os lucros do prspero contrabando efetuado por

    portugueses em Buenos Aires parecem ter sido os alvos imediatos. Aps a construo da

    Colnia do Santssimo Sacramento, os espanhis tomaram o povoado nascente. A

    permanncia castelhana durou at 1715, quando o Tratado de Ultrecht mandou restituir pela

    segunda vez a Colnia soberania lusa. Os portugueses, em 1723, tentaram fortificar-se no

    stio prximo, Montevidu. Falhando sua ocupao, estabeleceram-se mais ao norte, em outro

    ponto intermedirio de importncia: o escoadouro da lagoa dos Patos, onde fundaram Rio

    Grande de So Pedro, em 1737, origem do Estado do Rio Grande do Sul. O primeiro nome

  • dessa regio foi continente de So Pedro, certamente para distingui-lo da ilha de Santa

    Catarina.

    O prximo passo foi a assinatura do Tratado de Madri, em 1750, pelo qual Portugal, no sul,

    trocou a Colnia de Sacramento pelos Sete Povos (oeste do Rio Grande do Sul) e legalizou a

    posse das reas ocupadas, o Centro-Oeste e o Norte na atual diviso regional do pas. Todavia,

    Portugal no entregou a Colnia, pois, com a guerra guarantica, no conseguiu pacificar os

    Sete Povos. Em 1762 os espanhis tomam pela terceira vez a Colnia.

    Rio Amazonas: a fronteira conquistada

    O litoral norte da Amrica do Sul, no trecho hoje brasileiro e guianense, no foi ocupado no

    sculo XVI: apresentando dificuldades para o estabelecimento humano, com costas quase

    desrticas no Cear, de baixios nas proximidades do delta amaznico e de mangues nas

    Guianas, no revelou, ademais, nada que estimulasse a conhecida ambio dos espanhis e

    portugueses. Talvez por esse abandono a primeira navegao completa do Amazonas tenha

    sido realizada a partir dos Andes e no a partir do delta marajoara, a entrada natural do

    continente.

    S em 1616 que os portugueses fundam, na foz do Amazonas, o Forte do Prespio, origem

    da povoao de Nossa Senhora de Belm. Contudo no foram fceis as primeiras trs dcadas

    de Belm, anos de lutas constantes com estrangeiros e ndios hostis; nas proximidades da

    grande reentrncia amaznica havia estabelecimentos holandeses, ingleses e franceses,

    expulsos somente por volta de 1645. Para assegurar melhor apoio da metrpole nova

    conquista, havia sido criado, em 1622, o Estado do Maranho, com capital em So Lus,

    diretamente subordinado a Lisboa.

    Assegurados alguns pontos bsicos da bacia amaznica, percebeu a metrpole que teria

    dificuldades em ocup-la sem ajuda da Igreja. Assim, a partir de 1657, quando jesutas

    fundaram seu primeiro estabelecimento do rio Negro, foram os religiosos criando misses nas

    margens de vrios rios da bacia (principalmente jesutas, mas tambm franciscanos,

    carmelitas, capuchinos). A obra de catequese, fundamental para a ocupao portuguesa da

    Amaznia, foi realizada nas misses que, integradas por nacionais e apoiadas pela Coroa,

    agiam como representantes dos interesses de Portugal.

    Entretanto, sem as drogas do serto no haveria base econmica para se estabelecer

    permanentemente; prova disso que as misses que prosperaram foram as que tiveram

    sucesso na explorao dessas especiarias americanas, valorizadas ainda mais no sculo XVIII,

    quando j estavam perdidas as possesses portuguesas no Oriente.

    Sobre o papel do Estado: a ocupao da Amaznia no foi apenas conseqncia da geografia,

    que proporcionou aos portugueses, aps a fundao de Belm, o acesso magnfica avenida

    de penetrao e s estradas fluviais dos afluentes do grande rio; nem foi somente obra dos

    indivduos, cujos interesses, espirituais ou materiais, os levaram a entrar naquele imenso

  • serto florestal. A conquista da Amaznia teve sempre, em escalas variveis no tempo e no

    espao mais ntida no norte, menos no sul a orientao e o apoio da Coroa portuguesa. Foi

    empresa oficial.

    Mones: a ocupao do Oeste

    discutvel a incluso do tema mones no movimento bandeirante. Diferente das bandeiras,

    as mones eram exclusivamente fluviais; seguiam roteiros fixos, passando por pontos

    conhecidos, onde, com o tempo, se formavam arraiais; e tinham um nico objetivo, chegar s

    minas de ouro dos rios Cuiab e Guapor. Como afirma Leando Arroyo, o rio e sua disciplina

    natural estavam em contradio com a mobilidade do bandeirante, preador de ndios e

    caador de ouro, mas se ajustavam rotina do povoador e do comerciante.

    H, entretanto, pontos comuns entre as bandeiras e as mones, antes de tudo porque so

    basicamente movimentos de expanso territorial: as primeiras levaram ao conhecimento da

    terra em vrias regies do Brasil, as segundas garantiam o povoamento do centro do

    continente. Srgio Buarque de Holanda v as mones como as continuadoras das bandeiras.

    Foram realmente as mones que consolidaram a posse das terras entre o planalto de

    Piratininga e os campos e florestas do oeste, regies h muito trilhadas por bandeirantes e que

    correspondem a boa parte dos atuais Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e

    Rondnia.

    A histria das mones, que durou mais de cem anos, comea com o descobrimento de ouro

    em afluentes do rio Cuiab. Essa riqueza fcil a abundante explica o excepcional deslocamento

    populacional para aquelas regies, to distantes dos ncleos urbanos do Brasil Colnia. No

    comeo do sculo XIX j estavam agonizantes, em sintonia com a decadncia da produo

    aurfera.

    A descoberta de ouro em Gois, em 1725, preencheu o perigoso vazio populacional que havia

    no Planalto Central, ao norte da rota das mones, e justificou a abertura de um caminho

    terrestre para Gois, mais tarde prolongado at Cuiab; introduziu na regio o ciclo do muar,

    que acabou por substituir o das mones.

    Se no h dvida quanto participao governamental na ocupao do Norte e do Sul, a

    conquista do oeste vista geralmente como conseqncia, primeiro, das exploraes

    bandeirantes, depois, da fixao dos aventureiros, agora transformados em mineradores.

    Todavia, tambm se pode encontrar marcos da ao do Estado, embora bem menos ntidos do

    que no Sul e no Norte.

    No tempo da conquista de Mato Grosso, o Brasil estava dividido em dois Estados, sendo o

    Estado do Maranho, com capital em So Lus e, a partir de 1737, em Belm, ligado

    diretamente a Lisboa. No havia comunicao, nem fsica nem administrativa, entre ambas as

    unidades coloniais. As ligaes por mar eram extremamente difceis e por terra praticamente

    no existiam. O centro da Amrica do Sul era o grande serto desconhecido. A partir de Belm,

  • havia menos iniciativas para atingir o Centro-Oeste porque toda a energia da conquista

    concentrava-se, nos primeiros tempos, na foz do grande rio, e, mais tarde, na penetrao pela

    calha principal. Com as minas de Mato Grosso, descobertas poucos anos depois, que se foi

    fixando a populao brasileira na rea.

    Ao terminar a Guerra Platina (1735-1737), o ponto de tenso entre Portugal e Espanha

    deslocou-se do Sul para o Centro-Oeste. A partir de 1752, o governo passa a estimular as

    comunicaes entre Vila Bela e Belm, revertendo a poltica anterior e oficializando, assim, as

    mones do norte. As mones do norte duraram menos que as cuiabanas; comearam depois

    e morreram juntas na segunda dcada do sculo XIX. Nessa poca, a ligao terrestre entre

    Vila Bela, Cuiab e as cidades da costa leste sempre mais importantes do que Belm

    passaram a ser absolutamente dominantes, o que provocou a dependncia econmica

    definitiva do Centro-Oeste para com o Sudeste.

    As negociaes dos limites terrestres

    O Tratado de Madri e Alexandre de Gusmo

    O sculo XVI, o primeiro da colonizao portuguesa na Amrica, basicamente dedicado

    ocupao de pontos isolados no litoral leste, viu surgirem as entradas pioneiras. O sculo XVII

    foi o perodo das grandes bandeiras paulistas, trilhando o Sul e o Centro-Oeste; foi tambm a

    poca da fundao de Belm, das tropas de resgate e das primeiras misses de religiosos

    portugueses no rio Amazonas e seus afluentes; em 1680, o governador do Rio de Janeiro funda

    a Colnia do Sacramento, na tentativa de assegurar a fronteira natural do Prata. A primeira

    metade da centria seguinte foi o tempo das minas gerais, dos centros mineradores de

    Gois e Mato Grosso e das mones cuiabanas que ligavam Cuiab a So Paulo; da

    consolidao da presena portuguesa em vrios rios da Amaznia e das mones do norte, a

    navegao entre Vila Bela e Belm; e, tambm, das lutas pela posse da Colnia e das tentativas

    de ocupao do territrio que hoje se divide entre o Estado do Rio Grande do Sul e o Uruguai.

    1750 um marco divisrio para o Brasil. Atingido o auge, comea a diminuir a produo

    aurfera; morre D. Joo VI (reinado mais longo da Histria de Portugal) e sobe ao trono D. Jos

    I, inaugurando, com seu ministro Pombal, a poca do despotismo esclarecido; completa-se,

    com a extino das bandeiras paulistas, um ciclo muito importante da ocupao do territrio

    brasileiro; e assinam o Tratado de Madri as potncias coloniais.

    J em 1761 era o tratado anulado pelo Tratado de El Pardo. Retomado quase integralmente,

    exceo da fronteira sul, pelo Tratado de Santo Ildefonso, de 1777, foi de novo anulado em

    1801, com mais uma das guerras peninsulares. Durou, portanto, muito pouco; apesar dessa

    curta vigncia, na Histria do Brasil o texto fundamental para a fixao dos contornos do

    nosso territrio. Foi ele que legalizou a posse do Rio Grande do Sul, do Mato Grosso e da

  • Amaznia, regies situadas a oeste da linha de Tordesilhas. Ao fixar os limites brasileiros

    estava tambm estabelecendo as lindes terrestres bsicas de todos os dez vizinhos do Brasil.

    Ao se olhar um mapa do Brasil com a linha reta de Tordesilhas, tem-se a impresso de que a

    Espanha cedeu muito; a explicao corrente que houve uma compensao global: no

    Oriente, foi a Espanha quem legalizou a posse de regies que seriam portuguesas pela diviso

    de 1494, como as ilhas Filipinas e Molucas.

    Alexandre de Gusmo foi secretrio particular de D. Joo VI. Como principal artfice do Tratado

    de Madri, foi o primeiro a expressar claramente os princpios que norteiam o acordo,

    princpios posteriormente chamados de utis possidetis e das fronteiras naturais.

    A ocupao dessa base fsica legalizada pelo Tratado se deu da seguinte forma:

    a) Amaznia: o imprio colonial espanhol na Amrica do Sul estava centralizado em Lima, sede

    do Vice-Reinado do Peru; fundada por Francisco Pizarro, em 1530, Lima era o principal porto

    de sada das riquezas minerais que os espanhis descobriram na sierra. A famosa mina de

    Potos, descoberta no alto Peru (atual Bolvia) em 1545, com suas imensas reservas de prata,

    contribuiu para que boa parte da populao europia se fixasse nas montanhas; por volta de

    1650, com cerca de 160 mil habitantes, Potos era o maior centro populacional das Amricas.

    Bem diferente sorte tiveram os portugueses, que durante dois sculos percorreram em vo os

    sertes para achar um outro Peru no Brasil. Por que iriam, ento, os espanhis descer a

    montanha para aventurar-se na selva amaznica, se tinham mo as maiores riquezas do

    universo?

    Certamente mais importante para explicar por que foram os portugueses e no os espanhis

    que ocuparam a Amaznia so as razes da geografia fluvial. Desde o comeo da colonizao

    os portugueses haviam-se apossado das melhores portas de entrada da plancie. Pelo sul,

    existiam as trilhas dos bandeirantes e, no sculo XVIII, a rota das mones; pelo norte,

    ocupada a foz do Amazonas, estava assegurado o acesso o restante do rio. Com os espanhis

    ocorria o oposto: era extremamente difcil deslocar-se para a Amaznia a partir da costa do

    Pacfico e dos centros urbanos das regies andinas.

    b) Centro-Oeste: aqui foi diferente: houve alguma resistncia ocupao portuguesa. Os

    espanhis estavam mais perto, no Paraguai, e especialmente nas misses jesuticas. Em 1614

    ocorreram os primeiros choques entre frentes bandeirantes e misses situadas ao sul da

    regio. Assuno, fundada em 1537, foi um poderoso ncleo de expanso no incio do

    processo colonizador. O grande Paraguai murchou junto com o esvaziamento da colonizao

    espanhola nessa regio, ao passo que Buenos Aires despontava. E por que os espanhis, ao

    conhecerem a penetrao da zona de Cuiab, no reforaram militarmente a rea? No se

    pode ignorar que, nos anos imediatamente anteriores assinatura do Tratado de Madri, a

    Espanha era um pas enfraquecido por crises e guerras e convencido de que na Amrica do Sul

    no estava em condies de povoar o centro do continente, nem de impedir que os

    portugueses o fizessem. Ademias, era nova regio no era muito importante para os

    espanhis.

    c) Sul: era uma rea bem menor mas que, para os dirigentes da poca, era muito mais

  • importante: a Colnia do Santssimo Sacramento. Em torno do Prata que se deram os conflitos

    coloniais mais importantes; e, depois, no Imprio, as nicas guerras que envolveram o Brasil,

    as do Uruguai (1820-1821, 1826-1827 e 1864), da Argentina (1850-1852) e a do Paraguai

    (1864-1870). Era antigo o objetivo portugus de fazer os limites do Brasil chegarem ao Prata.

    Nunca conseguiram, entretanto, ocupar os territrios que uniriam Sacramento ao resto do

    Brasil.

    Dentre as iniciativas para fazer do rio da Prata a divisa meridional do pas, a primeira foi uma

    falsificao geogrfica to convincente que chegou a se difundir por outros pases europeus. A

    outra foi a poltica de ocupao do atual Sul do Brasil. Antes da fundao da Colnia de

    Sacramento, foi muito relevante o estabelecimento do ncleo irradiador de Laguna (1676);

    depois houve a fundao, em 1737, da colnia militar de Jesus, Maria e Jos (Rio Grande), no

    nico local possvel o canal de desge da lagoa dos Patos da costa sem portos. Mas o fato

    mais notvel foi a grande imigrao organizada pela Coroa, na dcada de 1740, que previa o

    transporte de 4.000 casais aorianos para Santa Catarina e o Rio Grande. Aqui desenvolveu-se

    ento o chamado Porto dos Casais.

    - Negociaes do Tratado: o que Portugal buscava era negociar tratado equilibrado, que,

    custa de ceder no Prata, se necessrio, conservasse a Amaznia e o Centro-Oeste e criasse, no

    Sul, uma fronteira estratgica que vedasse qualquer tentativa espanhola nessa regio, onde a

    balana de poder pendia para Buenos Aires. J para a Espanha, o objetivo primeiro era parar

    de vez a expanso portuguesa, que comia gradativamente pedaos de seu imprio na Amrica

    do Sul; depois, reservar a exclusividade do esturio platense, evitando o contrabando da prata

    dos Andes, que passava por Colnia; por fim, aproveitar que a paz proporcionada pelo acordo

    impedisse que a rivalidade peninsular na Amrica fosse aproveitada por naes inimigas de

    Madri (numerosas na Europa) para a se estabelecerem.

    As propostas portuguesas, elaboradas por Alexandre de Gusmo, articulavam-se em torno das

    seguintes linhas:

    a) era necessrio celebrar um tratado geral de limites, e no fazer ajustes sucessivos sobre

    trechos especficos;

    b) tal tratado s poderia ser feito abandonando-se o meridiano de Tordesilhas (desrespeitado

    por ambos);

    c) as colunas estruturais do acordo seriam os princpios do utis possidetis e das fronteiras

    naturais;

    d) a Colnia do Sacramento e o territrio adjacente eram portugueses, se no pelo Tratado de

    Tordesilhas, certamente pelo segundo Tratado de Utrecht, de 1715;

    e) poder-se-ia admitir que uma parte troque com a outra partes mas proveitosas para um ou

    para outro.

  • Com o decorrer das negociaes, foi-se singularizando o territrio das redues jesuticas dos

    Sete Povos como a moeda de troca da Colnia do Sacramento. Alexandre de Gusmo

    apresenta o Mapa das Cortes, que apresenta a linha de Tordesilhas deslocada para oeste...

    Houve vrios atritos entre demarcadores portugueses e espanhis na Amania, mas foi no Sul

    que as demarcaes chegaram ao impasse mais grave, com a resistncia dos jesutas e dos

    indgenas dos Sete Povos ao xodo a que estavam condenados pelo Tratado. O episdio ficou

    conhecido como Guerra Guarantica (1755-1756).

    Assim, o Tratado se assentava sobre novas proposies: Portugal ocupou as terras na Amrica,

    mas a Espanha se beneficiou no Oriente; as fronteiras no mais seriam abstratas linhas

    geodsicas, como a de Tordesilhas, mas sim, sempre que possvel, acidentes geogrficos

    facilmente identificveis; a origem do direito de propriedade seria a ocupao efetiva do

    territrio; e, em casos excepcionais, poderia haver troca de territrio.

    A deteriorao das relaes entre as Coroas, provocada, na Espanha, pela ascenso em 1760

    de Carlos III, um opositor do acordo, e, em Portugal, pela consolidao do poder de outro, o

    Marqus de Pombal, foi seguramente causa importante da rpida morte do acordo. Pombal

    era contra o Tratado porque no concordava com a cesso da Colnia do Sacramento.

    Em 1761 os dois pases assinaram o Tratado de El Pardo, pelo qual o de Madri ficava

    cancelado. Voltava-se assim, pelo menos em teoria, s incertezas da diviso de Tordesilhas. Na

    prtica, nenhuma nao pretendia renunciar a suas conquistas territoriais. O Tratado de El

    Pardo apenas criava uma pausa at o momento propcio para um novo ajuste de limites. Esse

    momento surgiu em 1777, ano em que D. Maria I sobe ao trono de Portugal, com uma poltica

    de reao ao pombalismo. O Tratado de San Ildefonso reza que Portugal conservava para o

    Brasil as fronteiras oeste e norte, mas cedia a Colnia do Sacramento sem receber a

    compensao dos Sete Povos das Misses. Se foi um recuo em relao ao Tratado de Madri,

    ainda assim, confirmava a incluso no territrio nacional de praticamente toda a rea dos

    famosos dois teros do Brasil extra-Tordesilhas.

    Em 1801 a situao agravou-se com nova guerra entre as naes peninsulares. Na Amrica,

    Portugal retoma, agora para sempre, o territrio dos Sete Povos, empurrando a fronteira at o

    rio Quara.

    Ao fim do perodo colonial, o mapa brasileiro estava quase definido. interessante notar que

    isso no ocorreu no restante da Amrica do Sul, nem na Amrica do Norte, onde as grandes

    alteraes de fronteiras deram-se depois da Independncia. Ao fim, era a posso, base do

    Tratado de Madri, que continuava a definir o territrio.

    As fronteiras do Imprio

    Uma vez que no pudemos fazer do rio da Prata nossa fronteira natural, havia necessidade

  • de defender as fronteiras sulinas e impedir que a Argentina readquirisse, custa da

    independncia do Uruguai e do Paraguai, as dimenses do antigo Vice-Reinado do Rio da

    Prata. Todas as guerras de nosso passado imperial tiveram por cenrio a regio e se

    centravam, do ponto de vista brasileiro, no Rio Grande do Sul, a provncia que tinha mais

    contatos com os pases vizinhos e, por essa razo, aquartelava a maior parte das tropas

    terrestres do pas.

    Na Amaznia o novo Imprio teve tambm dificuldades para estabelecer suas fronteiras com

    os sete vizinhos regionais. As comunicaes entre Belm e Rio de Janeiro, poca da

    Independncia, continuavam to difceis quanto em 1621, quando se criou, exatamente por

    essa razo, o Estado do Maranho.

    A forma monrquica de governo que o Brasil assumiu tem sido em geral apontada como uma

    das causas da unidade brasileira. No que concerne Amaznia, talvez as comunicaes fluviais

    tambm tenham contribudo para essa unidade. A Independncia, s conhecida na Amaznia

    mais de um ano aps sua proclamao, no foi a recebida com festas; ao contrrio, houve

    resistncias e revoltas durantes as trs primeiras dcadas do Imprio (a Cabanagem 1835-

    1840 teria deixado quarenta mil mortos numa populao que no passaria de cem mil). H

    um relativo abandono da Amaznia no sculo XIX, pela importncia que nesse perodo

    assumiram as chamadas questes platinas.

    Por volta de 1850 ocorreram dois fatos que mudaram fundamentalmente a vida econmica da

    regio amaznica: a navegao a vapor, que tornou muito mais acessveis os pontos mais

    distantes da grande bacia fluvial, e a crescente produo de borracha, que atraiu contingentes

    expressivos de nordestinos, que se deslocavam para zonas at ento inabitadas.

    Quanto questo do uti possidetis, a doutrina da no-validade de Santo Ildefonso e do

    conseqente recurso ao uti possidetis para resolver problemas de fronteira foi pouco a pouco

    firmando-se na diplomacia imperial. Havia incertezas quanto s regras a serem utilizadas para

    negociar tratados de fronteiras. A Duarte da Ponte Ribeiro cabe a primazia de ter aconselhado,

    no Imprio, o uso do uti possidetis para resolver nossos problemas de limites. Esse princpio s

    passou a ser norma geral da diplomacia imperial a partir de 1849. Hildebrando Accioly define

    clara e simplesmente o uti possidetis: a posse mansa e pacfica, independente de qualquer

    outro ttulo. Ficou tambm claro, a partir da metade do sculo XIX, que o Tratado de Santo

    Ildefonso teria apenas valor indicativo, quando no houvesse a ocupao do terreno

    disputado. A utilizao desse princpio foi, sem dvida, uma vantagem para o Brasil, nao

    mais ativa na ocupao do territrio do que seus vizinhos amaznicos. Na verdade, o princpio

    adapta-se como uma luva aos interesses da nao mais expansionista; a resposta diplomtica

    dinmica a uma poltica territorial tambm dinmica. No est, pois, o uti possidetis entre os

    princpios mais universalmente aceitos do Direito Internacional. Vinculado ao ato da ocupao,

    s admissvel no perodo de formao das fronteiras, no mais o sendo quando o territrio

    nacional j est definido por um tratado.

  • importante lembrar que na Amrica do Sul o Brasil o nico pas que no tem problema de

    fronteira com nenhum pas limtrofe e que todos os outros os tm entre si.

    Duarte da Ponte Ribeiro foi um dos grandes diplomatas do Imprio, estudioso das questes de

    limites, hbil negociador e talvez o diplomata que mais tenha contribudo para a formulao e

    execuo da bem sucedida poltica de fronteiras do Imprio.

    O tratado de 1851 com o Peru

    As fronteiras do Brasil com o Peru so as mais distantes da costa atlntica. Os Tratados de

    Madri e Santo Ildefonso, fiis ao princpio dos limites naturais, estabeleciam nesse trecho uma

    fronteira totalmente fluvial (os rios Javari, Solimes e Japur). Havia, pois, um tringulo de

    terras hoje brasileiras, de dimenso equivalente a um tero do Acre, que pertencia ao Vice-

    Reinado do Peru.

    Nos cem anos que se passaram entre o Tratado de Madri e a assinatura, em 1851, do tratado

    de limites com o Peru, luso-brasileiros pouco a pouco foram ocupando pontos na margem

    norte do Solimes, inclusive no trecho que seria espanhol pelos tratados coloniais. Em 1766

    funda-se, bem em frente boca do Javari, o forte de So Francisco Xavier de Itabatinga, que se

    tornou a ncora que fixou a soberania lusa naquela parte da Amaznia.

    Para limitar esses confins e pr ordem nesse caos, foi assinado o tratado de 1851, o primeiro

    assinado e ratificado pelo Imprio e um pas amaznico. Esse tratado, cujo ttulo oficial

    Conveno Especial de Comrcio, Navegao Fluvial, Extradio e Limites tem caractersticas

    notveis: a) estabeleceu o padro pelo qual todos os outros tratados de limites com as naes

    amaznicas seriam negociados, introduzindo a praxe de trocar facilidades de navegao pelo

    rio Amazonas, porta de sada de toda a bacia, por vantagens territoriais; b) adotou pela

    primeira vez, entre as naes sul-americanas independentes, o princpio do uti possidetis, na

    verso brasileira, para o estabelecimento dos limites bilaterais; c) estabeleceu a prtica salutar

    de se negociar apenas com uma repblica de cada vez; d) incorporou ao Brasil uma rea de

    aproximadamente 76.500 km.

    No Peru e seus vizinhos hispnicos o tratado foi mal recebido, suscitando veementes ataques

    ao que parecia uma cesso de terras ao Brasil. Porm h que se ter em conta que o que

    interessava ao Peru era a livre navegao no Amazonas.

    O tratado de 1859 com a Venezuela; negociaes com a Colmbia

    prtico, no Imprio, tratar conjuntamente do estabelecimento dos limites do Brasil com a

    Colmbia e com a Venezuela, primeiro porque o tema comeou a ser veiculado quando ambas

    as unidades integravam a Gr-Colmbia; segundo porque, ao se separarem, ficaram

  • indefinidos os limites entre as duas naes na Amaznia. Os Tratados de Madri e Santo

    Ildefonso eram particularmente vagos na regio ao norte do rio Amazonas, s muito mais

    tarde perfeitamente conhecida. Basta lembrar que o Pico da Neblina, ponto culminante do

    Brasil, s foi descoberto em 1964.

    Logo depois da Independncia, a Gr-Colmbia e o Imprio do Brasil tentaram, sem sucesso,

    negociar um tratado de limites; no havia, contudo, uma idia comum das bases para uma

    negociao. Firmou-se um acordo, baseado no uti possidetis, com a Venezuela, em 1852, e

    com a Colmbia, em 1853. Em 1859 o Brasil celebrou com a Venezuela um Tratado de Limites

    e Navegao Fluvial que, sem mencionar especificamente o princpio do uti possidetis, definia

    a mesma divisria do tratado de 1852, reconhecendo as posses portuguesas no alto rio Negro.

    O governo colombiano logo protestou, alegando que o tratado dividia terras colombianas. Era

    j a rotina de protestos de naes vizinhas, aps a celebrao de tratado de linhas fronteiras

    entre uma repblica amaznica e o Brasil. Este seguia a regra geral de negociar com o vizinho

    que tinha a posse efetiva da regio.

    O tratado de 1867 com a Bolvia

    As relaes do Imprio com a Bolvia, no incio de suas vidas independentes, viram-se

    prejudicadas pelo ressentimento boliviano derivado da incorporao a Mato Grosso da

    Provncia de Chiquitos mesmo desautorizado pelo Governo do Rio de Janeiro, o ato teve

    conseqncias no relacionamento global do Imprio com as repblicas hispnicas. Tambm

    dificultavam as relaes diplomticas a instabilidade poltica do pas andino, centro da riqueza

    espanhola durante maior parte da Colnia, agora independente mas empobrecido.

    A Bolvia insistia para que o Tratado de Santo Ildefonso fosse tomado como base do acordo.

    Em 1867 foi assinado o Tratado de Amizade, Limites, Navegao, Comrcio e Extradio. O

    trecho note da fronteira foi o mais importante do ponto de vista diplomtico, dado que anos

    depois estaria no mago da Questo do Acre. Em 1867, em plena Guerra do Paraguai, o

    Brasil precisava ter mais simpatia na Amrica Latina, tendo por isso pressa em resolver suas

    incertezas fronteirias com a Bolvia, pas com o qual tem a mais longa divisa comum, razo

    pela qual no podia esperar outro momento para negociar um acordo mais favorvel. Mato

    Grosso incorporava, pelo tratado de 1867, uma faixa de terra a oeste da linha definida nos

    tratados coloniais.

    Formao das fronteiras do Sul: at 1776, ano da criao do Vice-Reinado do Rio da Prata, toda

    essa grande aera era subordinada ao Vice-Reinado do Peru, cuja capital, Lima, era a maior

    cidade do continente ao final do sculo XVIII. A distncia e as dificuldades de comunicao

    entre Lima e Buenos Aires davam, entretanto, grande autonomia a esta no trato dos

    problemas regionais. No sculo XVIII Assuno j estava em decadncia e Buenos Aires

    firmara-se como o ncleo da regio platina. Ao final do sculo, assume tambm papel

    preponderante entre as cidades do norte argentino. Sem dvida os conflitos regionais com o

  • Brasil foram motivo importante para a criao do Vice-Reinado. Na Argentina, como nas outras

    colnias espanholas da Amrica, a interveno de Napoleo na Pennsula Ibrica precipitou o

    movimento de independncia. Em 1810 Buenos Aires declara-se cabildo aberto e pretende

    governar todo o Vice-Reinado em nome do monarca espanhol. Durante os longos anos de

    batalhas (1810 a 1824) Buenos Aires tentou manter a integridade do territrio; porm,

    Uruguai e Paraguai j tinham, a essa altura, as razes de uma nacionalidade prpria.

    No Paraguai, Francia e sua ditadura decidiram isolar o pas. No Uruguai, a populao rural era

    muito parecida com a do Rio Grande do Sul. A regio toda era chamada de vacarias do

    Uruguai, uma terra de ningum. Incorporada ao territrio brasileiro, em 1821 passa a chamar-

    se Provncia Cisplatina, o que vai gerar guerra entre Brasil e Argentina. Em 1828, com

    interveno britnica, Brasil e Argentina do por encerrado o conflito e reconhecem a

    independncia do Uruguai. O que se seguiu no novo pas foram dcadas de grande

    instabilidade poltica. Dois partidos dividiam a cena: os blancos, em geral simpticos

    Argentina, e os colorados, mais propensos ao Brasil.

    A situao uruguaia em 1864 era de virtual guerra civil. Este estado de agitao refletia na vida

    do Rio Grande, principalmente na regio fronteiria, onde havia muitos brasileiros

    proprietrios de estncias no Uruguai. A presso gacha por interveno no Uruguai

    contrariava a linha central da poltica do Rio de Janeiro. Quanto Argentina, as relaes e

    tenses uruguaias eram ainda mais fortes. O Brasil, depois de 1828, no tinha mais nenhuma

    inteno anexadora; a Argentina, sim.

    Em 1864, o General Netto, veterano de guerras sulistas, foi enviado corte com queixas dos

    estancieiros do Rio Grande do Sul. O Brasil ento exigiu compensao econmica pelos

    prejuzos sofridos pelos gachos com a situao uruguaia. (Em 1864 assume Jos Maria da

    Silva Paranhos).

    Quanto ao Paraguai, o pas era ainda uma das naes mais fechadas do continente. As relaes

    com o Brasil eram boas, apesar de o Paraguai ter uma reivindicao de fronteira, no Mato

    Grosso. Com a Argentina, tinham divergncias fronteirias de maior vulto. Em 11 de novembro

    de 1864, foi apreendido, aps zarpar de Assuno, um vapor mercante brasileiro que

    transportava o novo governador do Mato Grosso. [O Paraguai tinha um exrcito disciplinado e

    bem treinado de 64.000 homens, e a fora terrestre brasileira no passava de 18.000 homens;

    a da Argentina, por volta de 8.000, e do Uruguai, 1.000]

    Lpez dividiu suas foras: pelo norte invadiu Mato Grosso; pelo sul pretendia chegar a

    Montevidu, ento sitiada pelos brasileiros. Cometeu ento um erro grave: apesar da derrota

    dos blancos no Uruguai, achou que podia reverter a situao marchando para Montevidu (em

    fevereiro de 1865, Flores o vencedor colorado da guerra civil uruguaia, com apoio de Brasil

    e Argentina; o Paraguai perde o aliado blanco) ; pediu autorizao para atravessar Corrientes

    e, como no a obteve, invadiu a provncia na suposio de que Urquiza o apoiaria. No pode

    evitar a declarao de guerra da Argentina. Poucas semanas depois estava assinado o Tratado

    da Trplice Aliana. Em 11 de junho, na batalha naval de Riachuelo, a marinha paraguaia

  • praticamente destruda. Em 5 de agosto, tropas paraguaias tomam Uruguaiana. A partir de

    1866, quando tropas aliadas cruzam a fronteira, a guerra levada ao territrio paraguaio.

    Lpez perseguido e morto.

    A Guerra do Paraguai um fato marcante na evoluo poltica do Imprio: provoca o

    crescimento do exrcito brasileiro e o incio de sua atuao como fora poltica interna (com

    implicaes decisivas para o fim do Imprio); o problema da escravido ficou mais evidente

    com a contradio das tropas brasileiras, compostas em boa medida por gente negra,

    defendendo um sistema que as oprimia.

    Terminada a guerra, acentuam-se as divergncias entre Brasil e Argentina. Contrariando

    disposies do Tratado da Trplice Aliana, o Brasil faz uma paz em separado, em 1872, fixando

    definitivamente sua fronteira com o Paraguai. Foi a ltima fronteira estabelecida no Imprio.

    O Baro: em 1902 foi convidado por Rodrigues Alves para ser Ministro das Relaes Exteriores,

    e completou sua grande obra com o fechamento definitivo, atravs de acordos solenes e

    indiscutveis, das fronteiras do Brasil. A chamada questo do Acre, com a Bolvia, que estava

    em fase explosiva quando assumiu o Ministrio, foi se teste de estadista. Atuou, ento, em

    mltiplos planos: mudou a interpretao brasileira do Tratado de 1967; criou fatos novos ao

    denunciar o arrendamento da regio a um sindicato anglo-americano; e conseguiu, finalmente,

    com grande habilidade negociadora, chegar a acordo satisfatrio em uma crise que parecia a

    muitos sem sada pacfica. Saliente-se uma vez mais que o Brasil, hoje, no tem problemas de

    fronteiras com nenhum de seus dez vizinhos. Rio Branco faleceu em 1912 em seu gabinete no

    Palcio do Itamaraty. Como ministro, fechou, atravs de acordos bilaterais com nossos

    vizinhos, a linha das fronteiras brasileiras, fato inigualvel; deu relevo aliana com os Estados

    Unidos da Amrica, deslocando da Europa para nosso continente o eixo da poltica exterior

    brasileira; e props o estreitamento das relaes com os pases do sul do continente, a

    Argentina e o Chile.

    A questo de Palmas

    A fronteira entre o Brasil e a Argentina totalmente fluvial, exceo de um pequeno trecho

    terrestre de cerca de 24 km que liga pelas cumeeiras as nascentes de dois afluentes, do Rio

    Uruguai e do Iguau. Essas divisas, como quase todas as outras do Brasil, vm dos tempos

    coloniais, definidas que foram pelo Tratado de Madri. O Tratado de Santo Ildefonso mudou as

    fronteiras no sul do Brasil. Colocando a regio dos Sete Povos sob a soberania espanhola, fez

    do Uruguai um rio exclusivamente espanhol at a foz do Peperi.

    Terminada a Guerra do Paraguai, em 1870, houve vrias tentativas de se resolver a questo,

    que se agravou em 1888 quando a Argentina levou ainda mais para leste (e, portanto, mais

    para dentro do territrio brasileiro) suas reivindicaes. Os governos do Brasil e da Argentina

    assinaram em 7 de setembro de 1889 um tratado que submetia a questo deciso arbitral do

    Presidente dos Estados Unidos. O territrio contestado acabou dividido em duas partes iguais,

  • e o acordo no foi bem recebido no Brasil. O Congresso refutou o acordo, em 1891.

    O que a Argentina reivindicava era uma poro do nosso territrio que, se obtida, deixaria o

    Rio Grande do Sul unido ao resto do Brasil por uma estreita faixa de terra de pouco mais de

    200 km. E o Rio Grande do Sul era o Estado que justamente merecia mais cuidados: no comeo

    do Imprio houve a Revoluo Farroupilha e agora, no comeo da Repblica, estava ocorrendo

    a guerra entre federalistas e republicanos (1893-1895). O envolvimento de tropas gachas em

    problemas das naes platinas e vice-versa, a similitude das formaes sociais entre os

    gachos do Uruguai, da Argentina e do Rio Grande do Sul e a prpria especificidade do Estado,

    to defendida pelos republicanos comtistas de Jlio de Castilhos e consagrada na

    constituio de 1891, deixavam no ar um perigoso cheiro de separatismo. O territrio

    contestado tinha pouco mais de 30.000 km e se dividia entre Santa Catarina e o Paran.

    Chama-se questo de Palmas porque na poca pertencia comarca do mesmo nome.

    No fundo, a questo que se submetia ao Presidente dos Estados Unidos era saber se a

    fronteira era pelos dois rios que o Brasil indicava, o Peperi e o Santo Antnio, ou se era pelos

    que a Argentina indicava, com esses mesmos nomes, isto , os nossos Chapec e Jangada. A

    sentena arbitral do Presidente Grover Cleveland foi favorvel ao Brasil, em 1895.

    A questo do Amap

    Fundada Belm em 1616, os portugueses lograram expulsar os estrangeiros que tentavam

    fixar-se em pontos estratgicos da imensa e complexa foz do Amazonas. Para consolidar sua

    posio na margem esquerda do baixo Amazonas, criaram, em 1637, a Capitania do Cabo

    Norte, cuja rea corresponderia do atual Estado do Amap, dilatado para o interior do

    continente. No litoral, a capitania estendia-se da foz do Amazonas at o rio Oiapoque. Nessa

    poca, os franceses j se haviam estabelecido na vizinha Guiana e tinham pretenses sobre a

    rea do Cabo Norte. As disputas se prolongam ao longo dos anos; finalmente, em 1897, firma-

    se um compromisso arbitral, atribuindo-se ao Presidente do Conselho Federal Suo a deciso

    do conflito. Pela segunda vez soava a hora de Rio Branco, novamente designado para

    advogado brasileiro. Considerava ele a questo mais difcil de ser vencida, por tratar-se de

    conflito com uma das potncias mundiais da poca. No fundo, como em Palmas, a questo

    bsica era identificar corretamente um curso dgua. Em dezembro de 1900 foi dada a

    sentena, inteiramente favorvel ao Brasil, garantindo o limite do rio Oiapoque.

    A questo de Pirara

    Ao contrrio de nossas outras questes de limites levadas ao arbitramento, os problemas com

    a Guiana Britnica no se iniciaram na Colnia, mas sim no sculo XIX, no incio do Segundo

    Reinado, pela ao de um nico homem, um gegrafo alemo naturalizado ingls que, em

    1835, fez uma viagem de explorao pelo interior da Guiana Inglesa. Em sua segunda viagem,

    agora a servio do governo ingls, encontra desarmado o posto militar brasileiro no Pirara, e

    reduzida guarnio no Forte So Joaquim. Era a poca da Cabanagem e o Par passava por um

  • perodo de imensas dificuldade. Resolveu ento o gegrafo formar um movimento apoiando a

    apropriao da rea pelo seu governo. Em 1842, ambos os governos resolvem neutralizar a

    zona em litgio, mas o fazem de uma forma prejudicial ao Brasil. Em 1898, a Inglaterra prope

    uma fronteira natural, que deixava cada pas com praticamente metade da rea contestada;

    no foi aceita pelo governo brasileiro.

    Para sair do impasse, a Gr-Bretanha e o Brasil decidiram pelo arbitramento, entregando a

    questo ao Rei da Itlia, Vitorio Emanuelle III. Joaquim Nabuco, em 1899, foi designado como

    advogado brasileiro. A doutrina em que se baseava a defesa centrava-se em dois princpios: o

    do inchoate title (ttulo incompleto), que d ao possessor temporrio ou intermitente direito

    contra terceiros; e o do watershed (separao das vertentes), que d ao ocupante de um rio

    certos direitos sobre seus afluentes. Contudo, a deciso de 1904 decepciona os brasileiros. O

    territrio dividido em duas reas, ficando a Gr-Bretanha com 60% e o Brasil com 40% do

    especo em litgio. Por essa sentena, a Inglaterra ganhou mais do que havia proposto

    anteriormente em negociaes diretas; a regio do Pirara, origem do conflito, passou tambm

    soberania inglesa.

    O Acre

    A produo da borracha atraiu Amaznia, entre 1860 e 1900, cerca de quinhentos mil

    nordestinos, expelidos de sua terra pelas secas. Pela calha do grande rio, eles foram subindo

    os afluentes da margem direita e, no final do sculo, j estavam no alto Purus e alto Juru,

    regies onde eram mais abundantes as seringueiras. Conforme avanavam, entravam, sem

    saber, em territrio boliviano. A terra mal era conhecida e, onde o seringueiro fincou o p, o

    territrio ficou brasileiro, como ocorrera com os bandeirantes. O governo brasileiro, todavia,

    ao tomar conhecimento do fato, continuou a reconhecer que eram bolivianas as terras

    ocupadas pelos seringueiros. Em abril de 1899, agindo por iniciativa prpria, os acreanos

    ocuparam pela fora o recm-fundado posto alfandegrio boliviano. O governo da Bolvia

    determina que uma expedio militar restabelea a autoridade sobre a regio, ao que no se

    ope o governo brasileiro. Contudo, em junho de 1901 noticiado que a Bolvia havia

    arrendado a rea a uma companhia anglo-americana, com poderes quase soberanos sobre a

    rea, o que colocaria em perigo a prpria soberania brasileira na Amaznia. O Brasil protesta e

    os acreanos proclamam o Estado Independente do Acre. Quando a situao comea a assumir

    ares de confronto armado, o Brasil intervm e determina que tropas regulares do exrcito e da

    marinha ocupem o Acre, a fim de garantir a segurana dos brasileiros que l se encontravam.

    As tratativas ocorreram em Petrpolis, contando ainda com Rui Barbosa e Assis Brasil. Em

    novembro de 1903 assinado o Tratado de Petrpolis, pelo qual o governo boliviano cedia ao

    Brasil um territrio de quase 200.000 km; o Brasil dava em troca uma rea de pouco mais de

    trs mil quilmetros quadrados habitada por bolivianos, indenizao de dois milhes de libras

    esterlinas e a construo de uma estrada de ferro entre Porto Velho e Guajar-Mirim

    (Madeira-Mamor).

  • O Tratado de Petrpolis considerado o mais importante de toda a obra de Rio Branco.

    O tratado de 1904 com o Equador e o de 1907 com a Colmbia

    Em maio de 1904, o Baro do Rio Branco negocia com o plenipotencirio equatoriano um

    acordo que reconhece, como limite de ambos os pases, a mesma linha do tratado de 1851

    com o Peru.

    Em 1907, conclui tratado de limites com a Colmbia, ltimo pas amaznico a aceitar um

    acordo baseado no uti possidetis. Esse acordo fixa uma linha de limites atravs de territrios

    disputados por quatro naes diferentes: Venezuela, Colmbia, Equador e Peru.

    O tratado de 1909 com o Peru

    Na Repblica nosso maior problema de limites na Amaznia, pela extenso do territrio

    envolvido, foi com o Peru, no com a Bolvia. O Peru reivindicava, no comeo do sculo XX, um

    territrio imenso de 442.000 km, que inclua o Acre e tambm uma grande rea contgua, o

    sul do Estado do Amazonas. Ao final, 39.000 km passavam soberania peruana, e o Acre

    diminua seu territrio de 191.000 km para 152.000 km. Finalmente se enterrava Santo

    Ildefonso, e o Brasil se tornava o primeiro pas sul-americano a ter seus limites reconhecidos

    por solenes e incontroversos tratados bilaterais.

    Nota

    A Regncia (1831-1839) foi, sem dvida, o perodo em que a unidade territorial esteve mais

    em risco, pelas vrias revoltas regionais ocorridas, geralmente inspiradas por idias

    descentralizadoras ou at separatistas.

    Por que, apesar de tudo, manteve-se a unidade? A homogeneidade cultural das elites polticas

    do Imprio teve um papel importante; seus interesses econmicos, fundados na agricultura

    escravista, tambm se constituram um slido trao de unio. Outro fator favorvel foram as

    tradies unitrias de Portugal, bem centradas, no Brasil independente, na figura de nossos

    dois imperadores , herdeiros dos reis lusitanos. Lembre-se tambm que, de 1808 a 1821, o Rio

    de Janeiro era a sede da monarquia portuguesa: a Independncia, em 1822, com uma

    monarquia agora brasileira, encontrou, portanto, uma estrutura governamental centralizada e

  • em funcionamento, ao contrrio do que ocorreu na Amrica Hispnica, onde no havia ntidos

    ncleos centrpetos que neutralizassem as foras secessionistas.

    O pas, com 15.719 km de fronteiras, o nico que no tem problema de limites com nenhum

    de seus vizinhos.

    ........................................

    GOES FILHO, Synesio Sampaio. Navegantes, bandeirantes, diplomatas: um ensaio sobre a

    formao das fronteiras do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito Ed.; So Paulo: Martins

    Fontes, 2000.