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presença da Igrejamissionária no mundo

o concluir mais um ano, a Catolicanet agradece a companhia e confiança dos amigos internautas e convida toda a comunidade católica a celebrar o tempo do Advento, que prepara para o Natal, tempo de acolher, com viva esperança, o envio da promessa do Pai: Jesus, o Verbo que se fez carne. Em 2006,

através da Internet, a Catolicanet compartilhou com o mundo os momentos fortes da Igreja, os pronunciamentos a respeito de temas polêmicos e os documentos que surgiram, norteando a prática religiosa dos fiéis. Sensibilizados pela necessidade do povo timorense, que clama por justiça e paz, a Catolicanet apoiou as campanhas de solidariedade entre as Igrejas do Brasil e do Timor Leste, de Evangelização, Missionária, entre outras, e projetos de formação missionária para crianças, adolescentes, jovens e adultos. Durante todo o ano buscou ser presença de Igreja, testemunha e anunciadora do Reino onde a necessidade missionária se fez mais urgente.

É desejo da Catolicanet ajudar os católicos a descobrir sua vocação cristã e contribuir para sua formação integral, para que se tornem evangelizadores a serviço do Reino de Deus, inseridos no mundo, seguindo as orientações da Igreja. Desta forma, em 2007, a Catolicanet unida à Igreja na América Latina e Caribe espera corresponder ao chamado da V Conferência em Aparecida para sermos todos discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele, nossos povos tenham vida. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6).

A Catolicanet deseja a todosum abençoado Natal e um próspero Ano Novo!

www.catolicanet.com.br

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Campanha da Fraternidade 2007A Amazônia será o enfoque da Campanha da Fraternidade em 2007, com o tema: Fraternidade e Amazônia e o lema: “Vida e missão neste chão”.A CF de 2007 poderá ser um grande momento para trazer a Amazônia para dentro do coração da Igreja no Brasil. Será ocasião também para suscitar iniciativas e ações eficazes de valorização e defesa daquela vasta e ameaçada região. A Amazônia representa para a Igreja um conjunto de desafios postos à sua ação evangelizadora. Chegou a hora de uma grande ação solidária para a evangelização da região amazônica. “Vida e missão nesse chão”. O texto-base já está disponível nas livrarias.

Informações e material da CF 2007Conferência Nacional dos Bispos do BrasilSE/Sul, Quadra 801 – Conj. B - 70401-900 – Brasília – DF - Tel.: (61) 2103-8300E-mail: [email protected]

A Comissão Episcopal para a Amazônia, constituída em 2002, pela CNBB, pode também ajudar nesta missão. Informações:Ir. Cecilia Tada, CMST (Secretária Executiva)Tel: (61) 2103-8300 - E-mail: [email protected]

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3- Dezembro 2006

SUMÁRIODEZEMBRO 2006/10

MURAL DO LEITOR -------------------------------------04 Cartas

OPINIÃO -------------------------------------------------05 A vitória de Lula Frei Betto

PRÓ-VOCAÇÕES ---------------------------------------07 As ilusões são péssimas conselheiras Rosa Clara Franzoi

VOLTA AO MUNDO ------------------------------------08 Notícias do Mundo Fides / ZENIT

ESPIRITUALIDADE ---------------------------------------10 O menino anunciado pelos profetas João Pedro Baresi

TESTEMUNHO ------------------------------------------12 Alegrias e dificuldades na vida missionária José Tolfo

FÉ E POLÍTICA ------------------------------------------14 O eleitor com deficiência Humberto Dantas, Ana Gutierrez e Fabio de Carvalho

FORMAÇÃO MISSIONÁRIA ---------------------------15 Pelos caminhos da América - Puebla Ramón Cazallas Serrano

MISSÃO HOJE ------------------------------------------19 A vez dos leigos Luiza Maria da Silva Santos

DESTAQUE DO MÊS ----------------------------------20 Migrações: sinal dos tempos Alfredo J. Gonçalves

ATUALIDADE ---------------------------------------------22 A AIDS não dá trégua Patrick Silva

INFÂNCIA MISSIONÁRIA ------------------------------24 Vem pra ver Jesus Menino Roseane de Araújo Silva

CONEXÃO JOVEM -------------------------------------25 Saber fazer a diferença Draiton José Vieira

IGREJA NA ÁSIA -----------------------------------------26 1º Congresso Missionário Asiático Daniel Lagni

AMAZÔNIA ----------------------------------------------28 Escutem o grito do povo! Cecília de Paiva

VOLTA AO bRASIL --------------------------------------30 Notícias do Brasil CNBB / CIMI / CLAI / ITEPES

E D I T O R I A L

O eSpíRItO de nAtAl

1 - Atores representam autode Natal em Guildford, Inglaterra.

Foto: Daniel Berehulak

2 - Cartaz da CF 2007Foto: Divulgação

tempo de Natal acelera a vida nas ruas e aquece o comércio. O glamour das peças publicitárias e o brilho nas decorações transformam o ambiente ao nosso redor, misturando-se com desejos de paz, harmonia e felicidade. Mesmo sabendo que nenhuma mercadoria anunciada, e até mesmo os votos de Feliz Natal realizam de fato o

que prometem, somos envolvidos por um espetáculo contagiante. Por outro lado, o vazio existencial e a busca do sentido da vida seguem nos desafiando. A humanidade anseia pela felicidade, ver-dade, fraternidade e paz: um anseio universal somente alcançado à luz da revelação de Deus, num menino que nasce em Belém. A celebração do Natal de Jesus tem por objetivo recordar a primeira vinda do Filho de Deus entre a humanidade e ao mesmo tempo nos tornar vigilantes à espera de sua segunda vinda, no final dos tempos. Ante à perda do sentido da vida, temos no Natal do Senhor razões suficientes para aprofundar a nossa espiritualidade “enquanto força do Espírito que sustenta e faz novas todas as coisas” (cf. Ap 21, 5). O vazio existencial do ser humano na sociedade contemporânea é acelerado pela pressão do consumismo, que valoriza e reconhece a pessoa pelo que ela tem, parece ter ou parece ser. Passa-se então a forjar uma aparência de sucesso, fama, beleza, magreza, não importando o custo. Isso está afetando profundamente as relações sociais. Por outro lado, percebemos uma sede de espiritualidade, revelando a falta que ela faz. As pessoas têm desejos profundos de viver em comunhão ou união com o divino. Por influência da mesma sociedade de consumo, notamos também uma variedade de ofertas e propostas de produtos da fé, nas diversas manifesta-ções religiosas que florescem por toda parte. Nessa busca ávida pelo religioso, criam-se confusões: existem coisas úteis e coisas menos apropriadas. Deveríamos sempre nos voltar para Cristo. Destacamos duas experiências na vida de Jesus, pilares que até hoje sustentam o cristianismo como caminho espiritual: uma experiência mística e outra política. A mística é a experiência de sentir-se Filho de Deus, enviado entre a humanidade como Salvador e Messias. Sendo Jesus da mesma humanidade que nós, porque é nosso irmão, essa consciência de ser Filho do Pai abre a possibilidade a cada um de nós de fazer a mesma experiência, sentindo-nos seus filhos e filhas queri-dos (cfr. 1Jo 3, 1). Como seria diferente a humanidade se todos soubessem e fossem respeitados como filhos e filhas de Deus, nas diferenças, nas raças e nas culturas! A segunda ex-periência de Jesus é de natureza político-religiosa. Ele nos revela um Deus cheio de compaixão e misericórdia, que ama e cuida, cura e restabelece a vida. Jesus não se isola das pessoas, mas se aproxima de todos, especialmente dos rejeitados, até porque se não fizesse isso, a encarnação não teria sentido. O mundo se desenvolveu de maneira extraordinária, e ao mesmo tempo não consegue nos tornar mais humanos. A sociedade como um todo está perdendo o essencial, a alma que dá sentido à existência. A espiritualidade existe para recuperar a alma quando a perdemos, a partir de uma união profunda com Deus, viver a solidariedade, a justiça, a paz e a defesa da Criação integrados no seu conjunto com a mesma espiritualidade de Jesus. Esse é o verdadeiro espí-rito do Natal na chegada do menino-Deus que nos leva a rejeitar a ditadura da sociedade do espetáculo e do consumo.

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Ano XXXIII - Nº 10 Dezembro 2006

Rua Dom Domingos de Silos, 11002526-030 - São PauloFone/Fax: (11) 6256.8820Site: www.revistamissoes.org.brE-mail: [email protected]

Redação

Diretor: Jaime Carlos Patias

Editor: Maria Emerenciana Raia

Equipe de Redação: Joaquim F. Gon-çalves, Ramón Cazallas, José Tolfo e Rosa Clara Franzoi

Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz Balsan, Roseane de Araújo Silva, Júlio César, Manoel Apare-cido Monteiro, Humberto Dantas, Luiz Carlos Emer, Giovanni Crippa

Agências: Adital, Adista, CIMI,CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA,Pulsar, Vaticano

Diagramação e Arte: Cleber P. Pires

Jornalista responsável:Maria Emerenciana Raia (MTB 17532)

Administração: Eugênio Butti

Sociedade responsável: Instituto Missões Consolata(CNPJ 60.915.477/0001-29)

Impressão: Edições LoyolaFone: (11) 6914.1922

Colaboração anual: R$ 40,00BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2Instituto Missões Consolata(a publicação anual de Missões é de 10 números)

MISSõES é produzida pelosMissionários e Missionárias da ConsolataFone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP (11) 6231.0500 - São Paulo/SP (95) 3224.4109 - Boa Vista/RR

Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Missionária Latino-Americana) e da UCBC (União Cristã Brasileira de Comunicação Social)

Mural do LeitorMissão na China

O Conselho Missionário Arquidiocesa-no de Curitiba - COMIDI recebeu notícias do padre Valnei - missionário comboniano que retornou à China. Ele já havia traba-lhado lá por vários anos e por motivos de saúde voltou ao Brasil, onde trabalhou na Paróquia Santa Amélia e também como formador. Foi professor no curso de exten-são universitária em Missiologia na PUC-PR, uma parceria com a arquidiocese de Curitiba - COMIDI. Domina bem a língua e a escrita chinesa. Escreveu agradecendo o apoio que recebeu do COMIDI e diz que voltou mais animado para a missão. Con-tinua padre Valnei: “estou feliz por estar de volta, muito bonito e até emocionante chegar aqui, foi como voltar para casa. Estou contente, pois não esqueci a língua chinesa e logo que cheguei participei de várias celebrações. Estou agora vendo em que paróquia irei trabalhar, os desafios são muitos, mas vale a pena estar presente neste mundo tão diferente do nosso. Estou vendo com o bispo como ajudar na pastoral em locais onde a Igreja ainda não está presente. Também estarei iniciando um trabalho com a Pastoral dos Surdos, algo que fiz em Curitiba com o padre Ricardo (responsável da Pastoral dos Surdos) e quero aos poucos desenvolver alguma atividade aqui”.

Padre Valnei envia um grande abraço a todos e espera nossas notícias. O e-mail dele é [email protected]

Será muito bom fazermos uma cor-rente de oração e comunicação com este missionário que enfrenta o desafio de evangelizar na China. Que Deus continue a chamar vocações para as missões Ad Gentes.

Ir. Ivone CameriniCoordenadora do COMIDI, Arquidiocese de Curitiba, PR.

Missão em GuaraqueçabaDesde 2003, a arquidiocese de Curi-

tiba, através do COMIDI, assumiu um compromisso missionário com a diocese de Paranaguá, de colaborar, dentro do projeto paróquias-irmãs, na evangelização da comunidade Senhor Bom Jesus, em Guaraqueçaba.

A paróquia de Guaraqueçaba é cons-tituída de 27 comunidades, sendo que 15 são em ilhas. Há grande carência de lideranças, formação religiosa e outras

dificuldades. Mas a situação está melho-rando a cada ano: há várias paróquias e pessoas da arquidiocese de Curitiba que vão periodicamente ao encontro das comunidades daquela paróquia, algumas, inclusive, sendo “adotadas” para terem uma constante formação de lideranças e atividades afins.

Neste contexto, nossa paróquia de Santa Margarida, sentiu-se impulsionada a colaborar nesta obra de Deus e partimos, entre os dias 12 e 15 de outubro, com 15 missionários das cinco comunidades da paróquia (padre Paulo Mzé, Adelaide, José Jungles, Inez Fantin, Graziele Manfron, Robério, Márcia, Diego, Júlio, Marinei, Rosinha, Roberto e irmã Silvana), do CO-MIDI (Lenir) e uma leiga vinda de Paraíba do Sul, RJ (Alenyr). Constatamos que é uma realidade muito difícil, pois há uma grande distância entre as comunidades e um desafio para o padre José Carlos (CM), que sozinho demonstra ter uma vocação firme. Há comunidades em que são necessárias viagens de seis horas de barco para se chegar (quando o tem-po e a maré deixam!). Nosso grupo foi dividido em seis comunidades, nas quais procuramos visitar as famílias, realizar celebrações, encontros e formação com as lideranças, jovens, crianças, fazendo também um trabalho de entrosamento entre as pessoas. Os desafios foram mui-tos: longa distância, seja por terra ou por mar (alguns demoraram dez horas para chegar a seu destino), desconfiança por parte dos moradores, divisões religiosas, pobreza etc. Mas, sem dúvida, tudo foi superado pela aprendizagem que tivemos de ver naquele povo a esperança viva de ter contato com Deus e na busca de con-servar sua fé e lutar por justiça. Oxalá, as comunidades possam ser despertadas e as pessoas saíam de si e de seu “mundinho” para irem ao encontro de comunidades mais carentes.

Grupo de Animação MissionáriaParóquia Santa Margarida, Curitiba, PR.

Dezembro 2006 -

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s pobres reconduziram Lula à Presidência da Repúbli-ca. Segundo o Ibope, apenas 11% de seus eleitores ganham mais de cinco salários mínimos por mês (R$ 1.750). Dos que recebem até dois salários mínimos (R$ 700), 56% votaram nele. Desse contingente, em 1989 apenas 37% deram seu voto ao candidato

do PT. A pesquisa se confirma quando encarada pelo nível de escolaridade. Neste ano, apenas 6% dos eleitores de Lula têm curso superior. Em 1989 eles somavam 11%, o mesmo índice dos que haviam atingido a 4ª série do ensino fundamental. Agora, a turma que completou o primeiro ciclo soma 35%.

Vários fatores explicam o prestígio do governo Lula junto aos setores mais pobres da população. Houve aumento real do salário mínimo; cerca de quatro milhões de empregos formais foram criados para quem ganha um ou dois salários mínimos; a inflação está sob controle; o preço dos gêneros de primeira necessidade mantém-se estável ou sofreu redução; o Bolsa-Família distribui renda mínima para 11,1 milhões de famílias, beneficiando mais de 40 milhões de pessoas.

Tudo isso é pouco, pois não erradica as causas da miséria nem modifica as estruturas que situam o Brasil entre as dez nações mais desiguais. Porém, esse pouco é muito para quem nunca teve nada. Os governos anteriores não tinham políticas sociais. No máximo, ações emergenciais diante de enchentes ou estiagem prolongada, e arremedos, como o Comunidade Solidária, que atingiam um universo restrito de famílias.

Embora o Bolsa-Família não esteja isento de corrupção, tanto no uso dos recursos quanto a beneficiários imerecidos, o fato é que eliminou os intermediários entre o cofre da República e o bolso da família cadastrada, através do cartão magnético. Essa distribuição de renda mínima representa uma injeção mensal de dinheiro nas regiões mais pobres, reativando o comércio local. O programa Luz para Todos, de fato, estendeu a energia aos rincões mais distantes, e a agricultura familiar, responsável por sete de cada dez empregos no campo, tira proveito das linhas de crédito do Pronaf. O que mais querem os pobres é dignida-de. Isso significa emprego, moradia, escola, saúde. Sentir que,

Ode Frei Betto

de alguma forma, o governo se preocupa com eles. A questão agora é como o governo agirá com aqueles que o elegeram: abrirá a porta de saída para o Bolsa-Família, de modo que os beneficiários produzam a própria renda, ou dará continuidade à dependência deles em relação aos cofres públicos?

Reforma agráriaA porta de saída reside em políticas que ampliem a oferta

de empregos e, sobretudo, na reforma agrária. Não há indícios de que o governo Lula pretenda alterar a estrutura fundiária do país, ao contrário das teses defendidas historicamente pelo PT. No máximo, o governo continuará funcionando como um pronto-socorro de emergência frente aos conflitos no campo: assentar acampados, desapropriar áreas sem interesse para o latifúndio etc.

O mais provável é que o governo dê prosseguimento à re-ceita do Banco Mundial: tostões para os pobres e bilhões para os ricos. Assim, aplaca-se a ira nas duas pontas da estrutura social. Aos pobres, políticas sociais que exigem do orçamento do Executivo, cerca de R$ 10 bilhões por ano. Aos ricos, detentores dos títulos da dívida pública, o Bolsa-Fartura que lhes transfere anualmente aproximadamente R$ 100 bilhões.

Tudo pareceria simples se no porão das contas públicas não houvesse uma bomba prestes a explodir: os limites da re-lação dívida/PIB. Quanto mais - em valor e tempo - o governo pode transferir à cornucópia da elite? A resposta não parece animadora vista do buraco em que anda o pífio crescimento do país. Se o PIB crescer, pode-se suportar relativo crescimento da dívida pública. Mas como desatar o nó do crescimento sem cortar gastos públicos e reduzir os juros?

O governo quer manter acesa a vela destinada aos pobres e a fogueira que aquece a renda dos ricos. Até agora, a saída que encontrou para agradar uns e outros é aumentar impostos, hoje em 37,37% do PIB, e apertar ainda mais o cinto do ajuste fiscal. Assim, poderá manter o Bolsa-Família e o Bolsa-Fartura, e engordar sua poupança no exterior, hoje calculada em US$ 70 bilhões, um recorde comparado às administrações anteriores.

Talvez a opção do novo governo Lula seja mesmo a de manter o Brasil no banho-maria das políticas neoliberais, sem tocar nas estruturas que impedem a redução da desigualdade social e favorecem a multiplicação geométrica da fortuna dos 20% mais ricos da população. Se assim for, nem é preciso falar em “pacto social” ou “concertação”. Basta o PT entender-se com o PSDB e oficializar, como nos EUA, a alternância no poder, deixando o PMDB entregue à sua sina de “hay gobierno, soy favorable”.

Os descontentes que se organizem e mobilizem.

Frei Betto é dominicano e escritor. Autor, em parceria com Luís Fernando Veríssimo, de “O desafio ético” (Garamond), entre outros livros. Fonte: www.adital.com.br

- Dezembro 2006

Lula comemora reeleição no dia do 2º turno das eleições 2006.

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Política social, controle da inflação e aumento do salário mínimo foram fatores decisivos para a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

A vitória de Lula

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6 Dezembro 2006 -

o dia 6 de novembro, o padre Waldyr dos Santos, jesuíta brasileiro, e a leiga Idalina Gomes, missionária portuguesa da Associação dos Leigos para o Desen-volvimento foram assassinados, quando um grupo armado assaltou a Missão de Fonte Boa, Província de Tete, no centro-norte de Moçambique. Durante

o assalto ficaram também feridos um jesuíta moçambicano, Ir. José Andrade, de 76 anos e o leigo Fernando Carvalho. Idalina Gomes tinha 30 anos e encontrava-se desde outubro de 2005 em Fonte Boa, apoiando a missão em projetos agrícolas e na construção de um orfanato para crianças que vivem com o vírus HIV. A seguir, publicamos trechos do comunicado do superior provincial dos jesuítas em Moçambique, padre Carlos Giovanni Salomão, sobre o crime:

“A região moçambicana da Companhia de Jesus (padres e irmãos jesuítas) sente-se na obrigação de informar todos os nossos amigos e amigas sobre o triste fato ocorrido numa das nossas missões no centro-norte do país, Província de Tete, Distrito de Tsangano, planalto de Angonia, que culminou com o trágico assassinato do padre Waldyr dos Santos e de Idalina Gomes, Leiga para o Desenvolvimento. (...)

É justo esclarecer que as mortes não foram de forma nenhu-ma um ajuste de contas, como se veiculou em certos meios de comunicação, mas sim um ato brutal na tentativa de intimidar e desestabilizar as instituições religiosas na Província de Tete e concretamente, os trabalhos que a Companhia de Jesus, as Irmãs do Divino Pastor e os Leigos para o Desenvolvimento estão desenvolvendo em prol do povo de Angonia, sobretudo no campo da evangelização, educação, saúde e dos projetos sociais que visam o crescimento e o bem-estar deste povo tão sofrido.

A Companhia de Jesus tem uma longa história de comunhão com o povo no planalto de Angonia, mesclada com momentos de alegrias e tristezas. Sempre procuramos conservar fidelidade e

respeito pela cultura deste povo. E é justo afirmar que os cristãos sempre reconheceram e corresponderam em todos os momentos com as nossas intervenções. Um bom número de jesuítas deu ali suas vidas pela causa do Evangelho. (...)

Nos momentos mais difíceis para o povo moçambicano, como na guerra civil, a Companhia de Jesus deu toda a assistência que lhe foi possível nos campos de refugiados. Vibrou com o povo pela alegria de retornarem à casa, depois do acordo de paz assinado em Roma. E não poupou esforços para recons-truir as escolas, os hospitais e até ajudar o governo a reativar o posto fronteiriço em Mtengombalene. Tudo feito em parceria com muitas instituições solidárias com o bem-estar do povo moçambicano. (...)

E não será por causa de um ato covarde e violento que iremos nos intimidar. Nossas vidas só têm sentido quando as doamos aos demais.

Pedimos a todos para que colaborem com o governo da República de Moçambique no sentido de estancar estas ondas de violência que assolam o país. Só na Província de Tete, os religiosos (padres combonianos, irmãs vicentinas e jesuítas) foram vítimas de cinco ataques neste ano de 2006. A pergunta que paira em nossos corações é o por quê da violência somente aos religiosos nesta Província?

Humanamente não há palavras que expliquem o sucedido. O padre Waldyr e Idalina vieram para servir e foram barbaramente assassinados, quando sabemos que Moçambique precisa de n

Padre jesuíta e leiga missionáriaassassinados

obreiros como eles, cheios de generosidade. Acreditamos que o sangue deles, mais uma vez derramado em Angonia, ajudará a produzir frutos espirituais que só Deus Pai pode fazer brotar pela sua imensa generosidade e misericórdia. Continuemos a pedir ao Senhor por eles e pelos seus familiares. Encomendamo-nos às vossas orações".

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- Dezembro 2006

As ilusões sãopéssimas conselheiras

de Rosa Clara Franzoi

ormalmente, somos tentados a pensar que a vocação culmina no dia da formatura com o diploma. Mas, não é assim. Esse dia marca o ponto de largada para que a pessoa comece a “mostrar serviço”. A vocação passa por um longo processo antes de chegar à maturidade. Do chamado à proposta,

até sua concretização, ela passa por um tempo de busca, de renúncias, de esforço, de lutas e de sonhos. Sim, também de sonhos! Aliás, é do escritor Mário Quintana a expressão: “O futuro tem que ser sonhado; felizes os que conseguem colocar bem alto este seu sonho”. Nesse processo de maturação, a vocação passa também por dúvidas e crises, elementos que têm grande importância. Eles ajudam a pôr um ponto final na questão: ou tudo é superado e se decide continuar, por entender que aquele é o caminho certo, ou então ocorre a desistência, e se busca outro caminho mais condizente com os próprios sonhos. O medo é outro fator que pode atrapalhar esse percurso. Na verdade, tudo o que se refere ao futuro, assusta. O novo e o desconhecido sempre deixam uma certa insegurança. Ninguém abraça uma causa para fracassar em seguida. Só com a certeza da vocação, pode-se determinar o futuro com segurança. Deus fez o ser humano, homem e mulher, para que se realize e seja feliz. Ele começa fazendo a proposta e a partir daí, respeita a liberdade pessoal quanto à resposta. Muitas vezes, a opção pode até parecer estranha, confusa. Ela irá se tornando mais clara, na medida em que a pessoa mostrar interesse e for dando a própria adesão. A aten-ção à realidade e aos acontecimentos é um meio que ajuda a perceber a direção, rumo a qual Deus está apontando.

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Quer ser um missionário/a?

Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva MoratelliAv. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui02611-001 - São Paulo - SPTel. (11) 6231-0500 - E-mail: [email protected]

Centro Missionário “José Allamano” - Pe. José TolfoRua Itá, 381 - Pedra Branca02636-030 - São Paulo - SPTel. (11) 6232-2383 - E-mail: [email protected]

Missionários da Consolata - Pe. César AvellanedaRua da Igreja, 70-A - CXP 325369072-970 - Manaus - AMTel. (92) 624-3044 - E-mail: [email protected]

A importância de sonhar o próprio futuroSim, é muito importante sonhar o próprio futuro. Os sonhos

ajudam a manter os olhos fixos na meta; animam e encorajam, para enfrentar tudo o que de negativo e desagradável possa vir pela frente. Porém, o importante, é não esquecer, que “os sonhos” devem chegar à concretização; do contrário, estaremos nos iludindo e a ilusão engana muita gente. A propósito, lembro-me de uma fábula que diz o seguinte:

“Uma senhora dirigia-se ao mercado, levando na cabeça uma vasilha cheia de leite. Ia cantarolando e feliz. Cumprimentava a todos que por ela passavam. Naturalmente, sua alegria pro-vinha dos pensamentos voltados para o que iria poder comprar com o dinheiro do leite. Caminhava e se alimentava com estas ilusões: com o dinheiro do leite, vou comprar um cesto com 100 ovos. No próximo verão, terei à minha volta cem pintinhos. Estes crescerão e com o equivalente dos frangos vendidos, vou comprar um porquinho. Trata-lo-ei com ração e tenho certeza que o mercado me dará um bom dinheiro por ele quando estiver gordo. Comprarei uma vaquinha que mais tarde me dará um belo bezerrinho... Sonhava, sonhava, sonhava... Distraidamente, tropeçou numa pedra e caiu... adeus leite, adeus dinheiro, ovos, frangos, porquinho, vaquinha e bezerrinho...”

As ilusões são sempre péssimas conselheiras, especialmente, quando se tem que tomar alguma decisão importante. Não nos deixemos orientar por elas. Se você quiser continuar a reflexão, o evangelho de Mateus (Mt 7, 24-27) pode ser útil.

Rosa Clara Franzoi é missionária e animadora vocacional.

O próprio futuro tem que ser sonhado.

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Timor LesteOs jovens e a paz caminham juntos

A paz em Timor Leste recomeça com os jovens. Na pequena ilha, que em 2002 se tornou independente da Indonésia, durante o mês de novembro, realizaram-se manifestações com a participação de milhares de jovens, na capital, Díli, que gritaram “Paz” a uma só voz. O Timor Leste é uma nação em que 75% dos 900 mil habitantes são jovens com menos de 30 anos. Após a independência, no processo de reconstrução nacional, o governo apostou no esforço de reerguer um sistema de instrução pública, colocando a educa-ção entre as prioridades nacionais. Hoje, os jovens do Timor Leste dão testemunho do desejo de serem parte ativa na construção de um futuro pacífico para o país, reunindo-se e fazendo ouvir a sua voz. Ao lado deles, uniram-se diversos setores da sociedade: a Igreja, que encorajou a manifestação pacífica, e que os acompanha cotidianamente no caminho de formação humana e espiritual; as autoridades civis, com o primeiro-ministro José Ramos-Horta, que nas ruas manifestou o seu engajamento em favor da paz e para expressar a sua solidariedade e quadros do Exército e da polícia.

Coréia do SulEncontro de bispos da Coréia e Japão

Compartilhar experiências pastorais, em um clima de troca e amizade; abordar estratégias comuns de evangelização na Ásia: estes foram os pontos prin-cipais do 12° Encontro de bispos da Coréia e Japão. Trata-se de encontros periódicos, iniciados pelos bispos dos dois países para revisar questões históricas pendentes, à luz da verdade e da reconciliação. Nos últimos anos, estes encontros se transformaram em ocasiões de intercâmbio e partilha sobre temas de pastoral, teologia e espiritualidade.

O 12º Encontro realizou-se na arquidiocese de Daegu e abordou especialmente o tema “Formação do Clero”. Participaram dez bispos coreanos e seis japoneses, que enfrentaram também assuntos relati-vos à evangelização, como a formação de sacerdotes e religiosos na China. Os encontros são realizados alternadamente em dioceses japonesas e coreanas, sempre em clima de cordialidade e amizade. Nos anos passados, surgiram controvérsias entre Japão e Coréia Fontes: Fides, ZenIt.

do Sul sobre a ocupação colonial da península coreana por parte do Império Nipônico, durante a Segunda Guerra Mundial. Em especial, os coreanos contestam os livros de história utilizados em escolas japonesas, que não reconhecem as atrocidades cometidas pelo Exército do Sol Levante na Coréia. A Igreja está engajada em construir pontes e promover a plena reconciliação entre os povos da Coréia e do Japão.

NicaráguaIgreja e governo de Ortega

A Igreja Católica da Nicarágua pediu, em 9 de novembro, a cooperação com o presidente eleito da Frente Sandinista (FSLN, esquerda), Daniel Ortega, em seu projeto de buscar o desenvolvimento do país com o apoio de todos os setores. “O comandante Ortega tem a responsabilidade de ter sido escolhido por uma boa parte do povo da Nicarágua para buscar o desenvolvimento e progresso desta pátria”, afirmou o arcebispo de Manágua, Leopoldo Brenes, após receber Ortega na sede da Cúria de Manágua. Orte-ga, que governou durante o período revolucionário (1979-1990), regressará ao poder em 10 de janeiro próximo, após ter ganhado a eleição presidencial em 6 de novembro. O arcebispo considerou que os partidos políticos que participaram do pleito devem somar-se ao projeto de reconciliação e desenvol-vimento social. A Igreja e a FSLN selaram há dois anos sua reconciliação, pondo fim à inimizade que tiveram durante o governo sandinista que perseguiu os bispos por criticar a revolução. Ortega se reuniu com banqueiros, investidores estrangeiros, dirigentes dos partidos rivais e com representantes da Igreja Católica para promover um entendimento político que lhe permita impulsionar seu programa de governo, enfocado na redução da pobreza (70%).

Tunísia O diálogo inter-religioso

O diálogo entre cristãos e islâmicos, o papel dos leigos nas pequenas comunidades cristãs da África setentrional e o drama da imigração proveniente da África subsaariana, estiveram no centro da reunião da Conferência dos Bispos da Região Norte da África (CERNA), que se realizou em Tunis de 26 a 29 de outubro. No comunicado final, os bispos “agradece-ram pela obra do Espírito nas diversas regiões onde exercitam seu serviço, com uma consciência mais viva dos frutos de amor e de esperança que subsistem”. Ao mesmo tempo, porém, os responsáveis pela Igreja Católica na África setentrional constataram “a difícil questão da continuidade da presença cristã nos locais onde não há uma ação pastoral direta; isso põe o problema da renovação das pessoas e de sua forma-ção”. Em ajuda às obras dos sacerdotes, religiosos e religiosas há diversos leigos. No que diz respeito às relações com o mundo islâmico, o comunicado da CERNA afirma que “os bispos aprofundaram o sentido de sua responsabilidade quanto às relações entre o mundo muçulmano e a Igreja universal, no momento em que se manifestaram incompreensões dolorosas”. O próximo encontro da CERNA se realizará em Roma em junho de 2007.

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Elisabete Santos, leiga missionária da Consolata, ensina em Mapinhane, Moçambique.

INTENÇÃO MISSIONÁRIAPara que no mundo inteiro os missionários

vivam com alegria e entusiasmo a sua vocação no fiel seguimento de Cristo.

de Vitor Hugo Gerhard

odos pela missão... Muitíssimos com a missão... Os chamados na missão...Todos pela missão, pois, a Igreja é missionária por sua própria natureza e cada batizado recebe, no batismo, a tarefa de ser portador da Boa Notícia do Reino de

Deus. Ninguém em particular e nenhum setor da Igreja pode se furtar à dimensão central da fé. Na carta Encíclica Redemptoris Missio, João Paulo II dizia que “ou somos missionários” ou não podemos sequer levar o nome de cristãos. Portanto, a Igreja em seu conjunto e cada um dos batizados tem na fronte o selo da missão, indelével, intransferível, inadiável...

Muitíssimos com a missão, pois, o Espírito do Senhor faz nascer na Igreja, pessoas, grupos e instituições de caráter mis-sionário e, ao longo da história não foi diferente. Nos primórdios foram as comunidades nascentes, seus mártires e confessores da fé. Depois vieram os mosteiros e seus centros de difusão da cultura e do modo de vida dos cristãos, evangelizando e “missio-nando” aquele que hoje é conhecido como o continente da velha tradição cristã, a Europa. Para os além-mares Deus fez surgir as muitas congregações e ordens religiosas que embarcaram nas naus que singraram os oceanos. E nós, do continente da esperança, somos os herdeiros desta façanha venturosa.

Os chamados na missão. A Congregação para a Evange-lização dos Povos nos informa que existem atualmente cerca de 200.000 missionários e missionárias nos cinco continentes. Sacerdotes, religiosos, religiosas e muitos leigos e leigas que, chamados para sair da sua terra, foram capazes de responder prontamente, deixando tudo e arriscando-se em terras desco-nhecidas e distantes. Se fizermos a divisão dos missionários

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Campanha para a Evangelização 2006o domingo de Cristo Rei, 26 de novembro, foi lançada em âmbito nacional, na Basílica de Aparecida, a Cam-panha para a Evangelização 2006, que se estende até o 3º domingo do Advento, quando se faz a coleta em todo o Brasil (dias 16 e 17 de dezembro). A Campa-

nha tem como lema “Discípulos e missionários”. Em uma carta enviada aos bispos do Brasil, o coordenador da Comissão da Campanha para a Evangelização, Dom Raymundo Damasceno e o presidente da CNBB, Dom Geraldo Majella Agnelo, afirmam que “com uma semana a mais de duração, espera-se que haja melhores condições para a motivação e o envolvimento das comunidades católicas na Campanha e na Coleta”.

nDo fruto da coleta, 45% ficam nas arqui/dioceses/prelazias; 20% são repassados para o respectivo Regional da CNBB; 35% são destinados à CNBB Nacional.A CNBB Nacional utiliza a sua parte para financiar a confecção dos subsídios da Campanha, cada ano (cerca de 25%), para subsidiar pequenos projetos de evangelização em todo o Brasil (15%) e para as atividades das Comissões Episcopais e do Secretariado Geral da CNBB (60%).O material da Campanha foi encaminhado para todas as dioceses e prelazias do Brasil. O cartaz e os folhetos estão disponíveis no site da CNBB: www.cnbb.org.br no link Campanhas.Fonte: CnBB

(200.000) pelo contingente de não-cristãos que habitam a terra (4,5 bilhões), chegaremos ao número de um missionário para cada 22.000 não batizados. O cálculo não se inscreve no espírito da cristandade, mas nos dá uma idéia do quanto ainda temos por fazer até chegarmos à afirmação do Senhor quando diz que “um dia haverá um só rebanho e um só pastor”.

Viver com alegria e entusiasmo nem sempre é fácil, pois as peripécias do dia-a-dia não são capazes de gerar em nós estes sentimentos. Às vezes nos prostram e desanimam. Recomeçar a cada manhã é uma necessidade que somente o seguimento do Mestre de Nazaré será capaz de reanimar os corações e iluminar as mentes, fazendo com que as mãos trabalhem pelo Reino e os pés caminhem nessa direção.

Neste final de ano, ao celebrarmos mais uma vez a festa da Encarnação do Verbo de Deus, que cada um dos missionários e missionárias do mundo se sintam reconfortados e confirmados na vocação que receberam e a qual procuram ser fiéis. A eles, nosso reconhecimento, amizade, oração e ajuda fraterna.

Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de novo Hamburgo, RS.

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Dezembro 2006 -

de João Pedro Baresi

uando Jesus nasceu, João, filho de Izabel e de Zacarias, só tinha seis meses de idade. Sem dúvida novinho demais, apesar do nascimento mi-lagroso, para questionar se

aquele menino seria o enviado de Deus, o Salvador que todo o povo esperava há séculos, conforme as promessas de Deus e as visões dos profetas.

Mas, quando o menino cresceu e passou dos 30 anos, era essa a pergunta que mais angustiava aquele que agora se chamava João Batista. Em sua pregação, não tinha dúvidas. Com toda firmeza anunciara ao povo: “Eis o Cordeiro de Deus, Aquele que tira o pecado do mun-do”. Mas, agora que estava apodrecendo numa cadeia escura e úmida, por ordem do rei Herodes, instigado por uma mulher leviana, certeza e angústia coabitavam em sua alma.

Mandou, então, alguns dos seus se-guidores para perguntar a Jesus: “És tu Aquele que deve vir, ou temos que esperar um outro?”

Jesus respondeu apontando os sinais pré-anunciados pelo profeta Isaías: “Ide contar a João o que estais ouvindo e ven-do: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia” (Mt 11, 4-5).O enviado de Deus, vislumbrado pelos profetas na penumbra dos tempos, estava andando pelas ruas da Palestina, levando aos pobres a Boa Notícia de que tinha chegado para eles o Reino de Deus. Boa Notícia não só para os pobres

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pelos profetasO menino anunciado

Atores encenam auto de Natal em Guildford, Inglaterra.

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Somente pessoas despojadas do espírito consumista

podem entender o verdadeiro sentido do Natal.

de Israel, mas para os pobres do mundo inteiro. Foi a eles que Jesus Ressuscitado enviou seus apóstolos, anunciando que despontara o sol de um novo e definitivo dia feliz para a história do povo hebreu e de toda a humanidade.

Nova AliançaA Boa Notícia

Evangelho era que Jesus veio cumprir a obra iniciada por Deus no Egito, quando o povo escravo fora libertado por Moisés. A Aliança do Sinai agora era a aliança com toda a hu-manidade, selada com o sangue derramado na cruz e firmada na Ressurreição. É, sobretudo, o Evangelho de Mateus, dirigido aos hebreus, que se preocupa em mostrar as coincidências entre a história de Moisés e a de Jesus. Menino recém-nascido, ele se salva do massacre dos inocentes, assim como se salvou Moisés da matança dos primogê-nitos, ordenada pelo faraó. Mais tarde, ele repetirá a viagem do povo liberto, liderado por Moisés, saindo do Egito rumo à Palestina. Já adulto, ele subirá ao monte para proclamar a Nova Aliança, levando à perfeição os mandamentos que Moisés recebeu de Deus no Sinai. O Evangelho de Lucas termina relatando a aula de Bíblia que o Ressuscitado administra para dois discípulos desanimados pela morte do Mestre. Sem meias palavras, Ele expressa sua surpresa em constatar a cegueira deles: “Como sois sem inteli-gência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram!” (Lc 24, 25).

Os dois discípulos entenderam, afinal. Pelo contrário, a grande maioria do povo não conseguiu reconhecer em Jesus o enviado de Deus, prometido pelos profetas. Sobretudo os chefes. Não podiam, nem queriam entender que a libertação do Egito fora só o começo do grande projeto para

uma humanidade justa, fraterna, amorosa. Não entenderam que a maior glória e a felicidade do povo hebreu consistia no fato de que Deus o esco-lhera para ser semente dessa nova humanidade. Não atenderam ao apelo urgente de João Batista e do próprio Jesus: “Con-

vertam-se, porque o Reino do Céu está próximo” (Mt 3, 2; 4, 17).

Natal verdadeiroÉ novamente Natal. Quais são as

pessoas que vão receber o Menino como o enviado de Deus, em resposta aos gritos de socorro de um mundo marcado por tanto sofrimento, injustiça, medo do presente e ainda mais do futuro? Cer-tamente não são as distraídas da festa do consumismo. Nem as superficiais do sentimentalismo religioso. Só aquelas que trazem dentro de si as dores do parto do mundo novo que custa a nascer e se angustiam por ver que as promessas de Deus demoram a se cumprir e, apesar de tudo isso, continuam a crer, esperar, amar e lutar. Só essas pessoas vão celebrar o verdadeiro Natal.

João Pedro Baresi é missionário comboniano, coordenador da Comissão Justiça e Paz Sem Fronteiras.

O menino anunciado

Atores encenam auto de Natal em Guildford, Inglaterra.

Árvore de Natal em shopping center de Jacarta, Indonésia.

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O enviado de Deus estava andando

pelas rua da Palestina levando aos pobres a

Boa Notícia.

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12 Dezembro 2006 -

Alegrias e

de José Tolfo

asci e cresci na roça, numa pequena localidade ao noroes-te do Rio Grande do Sul cha-mada Navegantes. Venho de uma família numerosa. Nesse ambiente familiar e camponês,

desde cedo foram se formando dentro de mim alguns valores: o amor ao trabalho, o respeito para com todos, o espírito comunitário e de partilha, a centralidade da oração em família e na comunidade, elementos que me ajudaram a viver uma infância normal, como a de tantas crianças, e foram traçando certo equilíbrio entre trabalho, lazer, estudo e oração. Ainda ado-lescente, em 1976, com 12 anos, o contato com um colega seminarista e o convite de um padre missionário da Consolata, fizeram-me começar a pensar. A princípio não me entusiasmei, porque tinha medo de deixar o meu ambiente. Mas, no ano seguinte, aceitei entrar no seminário em Três de Maio, Rio Grande do Sul, para ver se era por aí que o Senhor estava traçando o seu caminho a meu respeito. Concluí a primeira etapa da formação em São Paulo e Curitiba. Eu ia percebendo que dentro de mim estava crescendo a paixão pela vida missionária. Fui interiorizando esse ideal e conhecendo os desafios que ele exigia. Queria ir para a África e lá partilhar o meu ser de cristão e missionário. Antes mesmo da ordenação sacerdotal, em 1990, comecei a me preparar para a missão no

país do Zaire, hoje República Democrática do Congo, situada no coração da África, lugar do meu primeiro trabalho. Animava-me o espírito vivo da Igreja daquele país, principalmente no campo da liturgia.

O envio e o início da missãoA missão africana no aprendizado do

francês exigiu muito de mim. Muitas vezes, no silêncio da noite eu me perguntava: “O que vim fazer aqui? Para que tudo isso?”

n

Foram momentos difíceis aqueles; mas me ajudaram a purificar as motivações e a colocar a missão acima de tudo. As pa-lavras de São Paulo: “tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4, 13), foram de muito incentivo. Se os primeiros três meses foram sofridos, os seguintes começaram a ser mais serenos e até divertidos. Grande foi a minha alegria quando comecei a entender o que o povo dizia em sua língua; quando comecei a me expressar, e quando pude

Padre José Tolfo, missionário, relata trabalho de 17 anos

na República Democrática do Congo, antigo Zaire, país da

África Central.

dificuldades na vida missionária

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Padre José Tolfo segura busto do Bem-aventurado José Allamano em Roma.

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contar uma piada, fazendo todo mundo rir à vontade. Daí em diante, a barreira lingüís-tica deixou de ser obstáculo e começou a ser sinal de inculturação. Foi maravilhoso, fazendo-me esquecer as dificuldades do início. Mas, o que é bom dura pouco, diz o ditado. Quando comecei a me defender no francês, tive que ir para outra missão. A maioria do povo da região falava o lingala. Mas, a quem confia, Deus vem em socorro, e também o aprendizado do lingala foi menos sofrido do que eu pen-sava. Porém, na nova missão, encontrei um ambiente de muito calor humano, e tudo se tornou mais fácil.

Desafios e alegrias Nos 17 anos vividos na República

do Congo, eu tive a graça de fazer três bonitas experiências. A primeira, que durou seis anos, vividos na Mission Catholique Neisu, bem no coração do continente. Ali, as comunidades eram mais de 100, todas espalhadas na floresta. A segunda, também com a duração de seis anos, e a terceira, de cinco anos, a vivi na capital, Kinshasa. Ali, acompanhei uma comunida-de da periferia, a Paróquia Santa Mukasa por dois anos e os outros três, os passei no seminário teológico internacional da Consolata. Nesses vários trabalhos eu pude conhecer muitos valores da cultura africana, dos quais gostaria de destacar alguns:

O sentido da acolhida. Como faz bem ser recebido com alegria, com danças, com gestos simples, mas carregados de amor. Aqueles são momentos de encon-tro, de festa, de celebração. É como um biotônico que revigora, mantendo viva a utopia do Reino.

A sentido da festa. Apesar das situ-ações difíceis, onde às vezes, falta quase tudo, o povo da África, em geral, sabe encontrar motivos para sorrir, celebrar e driblar as próprias situações. Lembro-me de um fato: a um senhor que estava

transporte, e o que é pior, com uma total ausência do Estado. Algumas Igrejas e ONGs, procuram preencher o vazio deixado pela inoperância governamental.

É urgente uma formação que torne o país menos dependente do capital estran-geiro. Não é um paradoxo; é a utopia que faz um povo crescer. Eu creio que o cami-nho é a formação de homens e mulheres, cidadãos, cristãos e missionários, com o espírito do projeto de Jesus, no coração, na mente e nos lábios; tudo isso passa pela auto-estima e pela auto-suficiência econômica. Este é um grande desafio para a Igreja e para a sociedade local.

PropostasUma Igreja mais inculturada: ainda

que o fenômeno da globalização tente reduzir as culturas e os valores à lógica do mercado, cada povo deve lutar para conservar a própria identidade.

Mais atenção aos ministérios: a Igreja do Congo é ainda muito clerical. A figura do líder da comunidade, o mokambi, está perdendo o seu valor e pouco se está fazendo para promover e formar ministros leigos para novos ministérios.

Uma cultura democrática: podemos até questionar que tipo de democracia a África necessita, e concretamente o Congo. Veremos, porém, que antes, é urgente resgatar o valor do bem comum, para poder superar os regionalismos e tribalismos, que excluem e marginalizam.

O trabalho interdisciplinar e em equi-pe: a missão exige um trabalho integrado, de promoção humana e de evangelização. Oxalá, pudéssemos contar com equipes de leigos profissionais, para atuarem nas diferentes áreas: saúde, educa-ção, agricultura, administração, unindo forças com os sacerdotes, religiosos e religiosas. A Evangelização passa por esse caminho.

José tolfo é missionário da Consolata, membro da Secretaria para a Missão no IMC e do Centro Missionário José Allamano em São Paulo.

passeando no shopping, perguntaram o que gostaria de comprar naquele dia. E ele: “Estou vislumbrado com tantas coisas belas, que não necessito de mais nada para ser feliz”.

O espírito de sacrifício, de doação. Quantas mães têm que andar diariamente, a pé, mais de 25 quilômetros em busca de lenha e carvão para revender na cidade, e assim poder dar de comer aos filhos e fazê-los estudar. Os jovens chegam a caminhar 15 quilômetros e alguns passam o dia todo sem comer, para poder continuar freqüentando a escola ou a faculdade.

Desafios missionáriosEm primeiro lugar eu coloco o processo

de inculturação, que começa com o apren-dizado da língua local e a capacidade de apreciar e assimilar as novas lógicas do ser e agir e de entrar no coração da cultura. Isso exige muita humildade, proximidade, e respeito.

Tensões, por conflitos e guerras. Há muito tempo, a África Central vive essas tensões. A República do Congo é um país muito cobiçado pelas grandes potências, devido à riqueza do seu solo: ouro, dia-mante, urânio e madeira. O governo facilita o enriquecimento de uma minoria local e estrangeira, à custa da miséria do povo e da

morte de milhões de inocentes. Esta realidade gera um contínuo desloca-mento de gente, em busca da so-brevivência e que têm a morte sem-pre à espreita, por causa da fome, violência, doen-ças. A infra-estru-tura está quase toda destruída e em completo abandono: es-tradas, hospitais, escolas, meios de Padre José Tolfo em animação missionária em Kinshasa, R.D. Congo.

Seminário Teológico IMC em Kinshasa, festa do 10° aniversário, 2004.

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fé e

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ítica

locais não possuírem estações ou pontos de transporte público – metrô, trem e ônibus – num raio de um quarteirão. Em 17% existia a disponibilidade de transporte público, mas os pontos e estações não estavam adaptados. Assim, em apenas 3% dos locais visitados existiam condições mínimas de transporte. Com relação às vagas reservadas para automóveis especiais e áreas para desembarque, a média de inexistência do recurso supera 90%. Semáforos especiais, e calçada considerada plana foram encontrados em cerca de 20% dos locais. Menos da metade dos locais estava situada em ruas planas.

Nos prédios, a situação é igualmente preocupante. Se por um lado 86% das seções estavam localizadas em andar térreo, 56% não tinham piso regularizado e considerado adequado, apenas 55% tinham rampa de acesso, 40% tinham escadas ou degraus que separavam o eleitor da urna, mais de 80% dos locais não tinham sanitários adaptados indicados e bebedouros. Por fim, os símbolos internacionais de acessibilidade, deficiência visual e auditiva não foram encontrados em mais de 90% dos locais.

No terceiro ambiente foram verificadas as condições rela-cionadas especificamente à seção eleitoral. Mais de 80% das portas de acesso têm largura inferior a 1,20 metro – condição para aqueles que se locomovem com andadores e duas muletas. Além disso, cerca de 86% das urnas não estavam equipadas com fone de ouvido e 80% das listas de candidatos estavam posicionadas em alturas superiores a 1,40 metro. É importante destacar que em mais de 60% dos casos, as urnas e mesas de assinaturas ofereciam condições adequadas para acesso.

O estudo chega a três conclusões: a primeira diz respeito à incapacidade dos tribunais eleitorais de São Paulo de atender as condições mínimas de acesso às pessoas com deficiência. A segunda questão diz respeito ao fato das condições para o eleitor transcenderem aspectos relacionados à sensibilidade dos tribunais eleitorais. Falta de transporte, ruas inadequadas e ausência de condições de locomoção mostram que a cidade não está preparada para acolher essas pessoas. Em terceiro lugar, o fato da grande maioria dos pontos de votação ser em escolas. Assim, ao mesmo tempo em que o eleitor não acessa seu direito mais fundamental de dois em dois anos, as crianças com deficiência não conseguem freqüentar diariamente as salas de aula em condições de autonomia. O lema “levanta-te e vem para o meio”, infelizmente, não esteve presente no exercício cidadão essencial: o voto.

Humberto Dantas é cientista político, professor do Centro Universitário São Camilo e coordenador de Cursos de Formação Política na Região episcopal Lapa e na Diocese de Osasco-SP.Ana Carolina Gutierrez e Fabio Fonseca de Carvalho são alunos de graduação do curso de terapia Ocupacional do Centro Universitário São Camilo.

pesquisa pautou-se em uma série de leis que delimita a atividade por parte desse conjunto de eleitores. As pessoas com deficiência física, auditiva e visual têm as mesmas prerrogativas legais em relação às eleições que qualquer cidadão. A garantia plena de acesso, com autonomia, às urnas é princípio freqüente em toda

a legislação. O Tribunal Superior Eleitoral garante que até 150 dias antes das eleições cabe ao eleitor com deficiência solicitar local especial de votação que lhe permita acesso. Apesar da garantia, cartazes espalhados por dezenas de seções eleitorais afirmavam que por “local adaptado” entendia-se “andar térreo”. Um grupo de pesquisadores visitou 105 seções eleitorais sob responsabilidade dos 52 cartórios da cidade de São Paulo. Do bairro da Brasilândia à Marsilac, do Jardim Helena à Perus, o município foi inteiramente percorrido. As seções foram sortea-das, utilizando-se como base os 380 endereços considerados como “adaptados”.

Resultados lamentáveisFoi possível notar que a preocupação dos órgãos de Justiça

é mínima: todas as urnas têm inscrição em braile nos números, as listas de candidatos estão impressas em letra preta e fundo branco, e o tamanho da fonte dessas listagens está próximo do tamanho exigido pelas normas técnicas. No entanto, muito ainda falta para pensarmos em dignidade e autonomia – ca-racterísticas necessárias à inclusão. A falta de acessibilidade pode ser dividida em três questões: condições externas para chegar ao local de votação, condições do prédio em que a seção está localizada e condições da sala em que o indivíduo vota. No primeiro ambiente, chama a atenção o fato de 80% dos

O eleitorcom deficiência

de Humberto Dantas, Ana C. Gutierrez e Fabio F. de Carvalho

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Diante do esforço da Igreja em promover a Campanha da Fraternidade 2006, alunos

do curso de Terapia Ocupacional do Centro Universitário São Camilo, orientados pelo

professor Humberto Dantas, realizaram uma pesquisa nas eleições, analisando as

dificuldades encontradas pelos eleitores com deficiência para o exercício do voto.

Natália Dias Pastore,na APAE, Vila Mariana, SP.

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15- Dezembro 2006

FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

de Ramón Cazallas Serrano

série de artigos "Pelos ca-minhos da América", faz memória das Conferências Gerais do Episcopado Lati-no-Americano (CELAM). Na edição de setembro aborda-

mos a Conferência do Rio de Janeiro (1955). Na edição de novembro foi a vez de Medellín (1968). Recordamos agora a III Conferência. Ela se reali-zou na cidade mexicana de Puebla de Los Angeles, das mil igrejas e de uma grande e tradicional religiosidade popular, entre os dias 27 de janeiro e 13 de fevereiro de 1979. O tema foi “A evangelização no presente e no futuro da América Latina”. As fontes inspira-doras desta III Assembléia foram, além dos documentos do Concílio Vaticano II, a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi de Paulo VI, a Assembléia de Medellín, e a presença do papa João Paulo II na inauguração e nos discursos pronunciados em diferentes cidades do México. Era a primeira das suas grandes viagens, especialmente em Oaxaca com os índios, e em Mon-terrey com os operários.

Os rostos daAmérica Latina

Quase no começo do documento de Puebla, atentos à realidade do con-tinente, os bispos contemplam “uma situação de extrema pobreza generali-zada que adquire, na vida real, feições concretíssimas, nas quais deveríamos reconhecer as feições sofredoras de Cristo” (31). O documento enumera as que mais impressionam:

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A Igreja confirma e aprofunda as opções de Medellín.

Pelos caminhos da América

► feições de crianças, golpeadas pela pobreza ainda antes de nascer... crianças abandonadas e, muitas vezes, exploradas de nossas ci-dades, resultado da pobreza e da desorganização moral da família;

► feições de jovens, desorientados por não encontrarem seu lugar na sociedade e frustrados... pela falta de oportunidades de capacitação e ocupação;

► feições de indígenas e, com fre-qüência, também de afro-america-nos, que, vivendo segregados em situações desumanas, podem ser considerados como os mais pobres dentre os pobres;

► feições de camponeses, que, como grupo social, vivem relegados em

quase todo o nosso continente, sem terra... em situação de depen-dência... submetidos a sistemas de comércio que os enganam e os exploram;

► feições de operários, com freqüência mal remunerados, que têm dificul-dades de se organizar e defender os próprios direitos;

► feições de subempregados e de-sempregados despedidos pelas duras exigências das crises eco-nômicas... e dos frios cálculos eco-nômicos...;

► feições de marginalizados e amontoa-dos das nossas cidades, sofrendo o duplo impacto da carência dos bens materiais e da ostentação da riqueza de outros setores sociais;

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A Conferência de Puebla

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► feições de anciãos cada vez mais numerosos, freqüentemente postos à margem da sociedade do progres-so, que prescinde das pessoas que não produzem... (31-39)

► Os bispos continuam, analisando outras situações que chamam de angústias, afirmando que a “Igreja por força de um autêntico compro-misso evangélico”, deve fazer ouvir a sua voz, denunciando e condenando estas situações, sobretudo quando os governos ou responsáveis se confessam cristãos” (42).Aprofundando a leitura da realidade

do continente e seguindo o método de Medellín, o ver-julgar-agir, o documento conclui que a situação de injustiça so-cial é um pecado a combater e aponta caminhos com base na opção pelos pobres. Neste caso, a evangelização passa pela promoção da dignidade hu-mana e o engajamento pela libertação dos pobres é um dos compromissos que se espera da Igreja.

Sem esquecer as grandes opções de Medellín fortalecidas e sistemati-zadas em Puebla, como as CEBs, a Teologia da Libertação e a opção pelos pobres, vejamos alguns elementos que são próprios da III Conferência Latino-Americana:

A EvangelizaçãoSeguindo na linha da Evangelii

Nuntiandi, “a evangelização é a missão própria da Igreja”, é a sua realidade mais profunda, e não será possível o

seu cumprimento sem que se faça o esforço permanente para reconhecer a realidade e adaptar a mensagem cristã ao homem de hoje, tornando-a dinâmica, atraente e convincente. Mas a adaptação, não é suficiente. Sem mencionar explicitamente a palavra inculturação, o conceito, o método, e os conteúdos dela estão explicitamente marcados em Puebla.

Evangelização nas culturasPara uma ação evangelizadora

com realismo e eficácia, a Igreja deve conhecer a cultura dos povos onde se encontra. Em princípio, nenhuma cultura humana é excluída pelo Evan-gelho. Cristo veio para todos os povos

e todas as culturas. A sua Encarnação foi numa cultura determinada, concreta: a cultura hebraica. Ele viveu como qualquer cidadão judeu, e praticou os costumes e a religiosidade, chorou pelas situações humanas e por Jerusalém, capital da sua terra. Ele foi o genuíno evangelizador inculturado. Mas, clara-mente transcendeu a própria cultura, quando estavam em jogo os valores do Reino, a vontade do Pai. Depois da Ascensão do Senhor, podemos constatar a expansão do Evangelho em outras culturas e línguas: os di-versos ritos e costumes religiosos que ainda perduram na Igreja do Oriente são uma demonstração concreta da inculturação do Evangelho que houve nos primeiros séculos da pregação evangélica. Ainda mais, estes ritos se desenvolvem em espaços e distâncias relativamente curtos.

Para evangelizar uma cultura, além de se ter um perfeito conhecimento dela, é necessário amá-la e amar, sobretudo, ao povo. Puebla fala da “compreensão afetiva” que o amor cria, muitas vezes acima da compreensão científica. Foi a vida evangélica de muitos pastores, religiosos e leigos que souberam dar a vida na evangelização deste conti-nente. As culturas não são um terreno vazio, carente de autênticos valores e a Igreja deve consolidar e favorecer esses valores. Em todas elas pode-mos encontrar “os germes do Verbo” presentes (GS, 57).

Em Puebla nasce uma intuição que é válida ainda hoje nos nossos dias: “importa verificar para onde se orienta o movimento geral da cultura, e não

Crianças mexicanas.

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Papa João Paulo II e Rigoberta Menchú, Prêmio Nobel da Paz 1992.

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17- Dezembro 2006

FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

política como forma de superar as atuais injustiças sociais.

As CEBsEm Medellín as Comunidades Ecle-

siais de Base apenas despontavam no continente. Puebla “assinala com alegria, como importante fato eclesial particularmente nosso e como esperança da Igreja a multiplicação de pequenas comunidades”. Após Medellín se tinham multiplicado, amadurecido e tornado focos de evangelização e motores de libertação e desenvolvimento. Nascem de diversos fatores: anelo de relações mais profundas e estáveis na fé, vivência da realidade da Igreja como família de Deus, grande aspiração de justiça e sincero sentido de solidariedade em ambiente caracterizado por rápidas transforma-ções. Reafirma de modo sério e claro a importância e a opção preferencial da Igreja na América Latina pelas CEBs, de modo que essa experiência eclesial do

nosso continente se sente estimulada, apoiada e incentivada pelas orientações pastorais dos bispos.

Com renovada esperança, a Confe-rência volta a tomar, na força do Espírito, a posição de Medellín que fez uma clara e profética “opção preferencial e solidária pelos pobres”. Faz-se neces-sária, diz o documento, a necessidade de conversão de toda a Igreja para esta opção preferencial pelos pobres, em vista à sua libertação integral. Não se trata de qualquer conversão, mas uma que leve a objetividade da libertação dos pobres.

“Na Igreja da América Latina, nem todos nós temos nos comprometido bastante com os pobres; nem sempre nos preocupamos com eles e somos com eles solidários. O serviço ao pobre exige, de fato, uma conversão e puri-ficação constante, para conseguir-se uma identificação mais plena com Cristo pobre e com os pobres” (1154).

tanto os encraves que se detêm no passado, as expressões atualmente vigentes, e não tanto as meramente folclóricas” (398).

A promoção humanaNo discurso inaugural da Assem-

bléia, o papa João Paulo II dizia aos bispos: “A Igreja aprendeu das páginas do Evangelho que sua missão evangeli-zadora tem como parte indispensável a ação em prol da justiça e as tarefas de promoção humana e que entre evange-lização e promoção humana há laços muito fortes de ordem antropológica, teológica e de caridade”.

Na concepção da Igreja a dignidade é um valor evangélico e está fundado na própria natureza humana. No con-texto do continente, a década de 70, os direitos humanos e a liberdade total dos povos estavam sendo impedidos de serem exercidos pelas ditaduras militares. Em nível de sociedade nacio-nal se dão as mais diversas violações, sobretudo em forma de exploração e marginalização, em contradição com as exigências evangélicas. Em nível internacional, nações ricas exploram nações pobres.

A ação pela pessoa humana faz-se especialmente pela defesa de seus direitos individuais, sociais e pelos direi-tos que na época são percebidos pela sociedade. A nível internacional, a Igreja pretende empenhar-se na constituição da nova ordem internacional, onde se superem as distorções exploradoras em relação às nações mais pobres e indefesas.

A promoção humana desperta a consciência da pessoa em todas as suas dimensões e a luta por si mes-mo como protagonista de seu próprio desenvolvimento humano e cristão. Educa para a convivência, dá impulso à organização, fomenta a comunicação cristã dos bens, ajuda de modo eficaz a comunhão e a participação (477).

Na caminhada de Medellín a Puebla neste trabalho de promover a dignidade humana em todas as suas formas e níveis, anunciando e denunciando, lutando por uma sociedade mais evan-gélica, não faltaram a perseguição e o testemunho dos mártires. Bispos, padres, religiosos e religiosas e até membros das Comunidades Eclesiais de Base, pagaram com a própria vida o jeito de ser cristão na fraternidade que vive e proclama a justiça e a ação

Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina.

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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

Dezembro 2006 -

“Para viver e anunciar a exigência da pobreza cristã, a Igreja deve re-ver suas estruturas e a vida de seus membros, sobretudo dos agentes de pastoral, com vistas a uma conversão efetiva” (1157).

Dar de nossa pobrezaO documento de Puebla nos diz

que “finalmente chegou para a Amé-rica Latina a hora de se projetar para além de suas fronteiras, Ad Gentes”. Isto finalmente não é algo que qua-se se ignora e no último momento se acrescenta para que a frase fique mais completa. Não se trata de uma figura decorativa, própria da linguagem eclesiástica. É algo que teve de ser aguardado por um prolongado período de tempo, mas, que, enfim, amadureceu como uma exigência vital no seio das Igrejas particulares que peregrinam na América Latina.

A Igreja no continente tem desafios de evangelização muito sérios e urgentes, uns permanentes e outros novos, os indígenas e os afro-americanos entre os primeiros, e as mudanças socioculturais entre os segundos, que criam massas de todos os estratos sociais em precária situação de fé. Existem outras situações

particularmente difíceis: grupos cuja evangelização é urgente, como univer-sitários, operários, jovens etc.

Mesmo sabendo que aqui temos muita Missão pela frente, os bispos falam que finalmente temos que sair das nossas igrejas para partilhar com outras o dom da fé, “desde a nossa pobreza podemos oferecer algo de original e importante como o sentido de salvação e libertação, a riqueza de sua religiosidade popular, a experiência das Comunidades Eclesiais de Base, a floração de seus ministérios, sua espe-

rança e a alegria de sua fé” (368).Finalmente a generosidade venceu

a mesquinhez, os horizontes aber-tos substituem os currais regionais e diocesanos. Esta visão de Puebla abriu muitos corações para a “partilha missionária” e para “ir além e mais longe”. A Missão supera as nossas necessidades, e uma Igreja viva não pode esperar satisfazer as próprias para ir anunciar a outros a salvação que vem de Deus. Puebla deixou um legado que deve continuar. Muito se fez mas, muito mais fica por realizar. “A Missão está apenas nos seus come-ços” (João Paulo II na Carta Encíclica Redemptoris Missio).

Devemos constatar que foi impor-tante a contribuição da Igreja brasileira na Conferência de Puebla: cardeais, bispos, teólogos, religiosos e religiosas, mas entre todos, merece um destaque especial o querido dom Luciano Mendes de Almeida, homem de síntese e de horizontes amplos. Na sua humildade, soube ter a palavra certa e a orientação justa no meio de alguns momentos de tensão e de dificuldades.

Ramón Cazallas Serrano é missionário e diretor do Centro Missionário José Allamano em São Paulo.

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Comla V realizado em 1995, Belo Horizonte, MG. Um chamado à missão Ad Gentes.Ja

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Dom Luciano Mendes de Almeida.

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A vez dos leigosanto a missão permanente como a missão periódica dos leigos vem crescendo dia após dia. A missão periódica é uma experiência de partilha e de “entre-ajuda” que está se tornando cada vez mais sinal de vida cristã rejuvenescida. Três leigos, eu, Paulinha e Guiomar, da paróquia Santa Edwiges, no bairro de Sacomã, em São

Paulo, nos unimos a outras 30 pessoas entre leigos, padres, religiosas e seminaristas da província dos padres Oblatos de São José, e partimos para Colniza, no Mato Grosso.

Sonhávamos com uma experiência missionária fora do nosso ambiente paroquial. Temos feito, ao longo dos últimos anos, atividades parecidas com esta. Antes de cada envio somos in-formados sobre o ambiente que vamos encontrar, mas desta vez fomos surpreendidos pelo grande número de igrejas evangélicas, pela pobreza em que a maioria da população vive e a constante migração. Aos poucos nossas expectativas foram se adaptando à realidade local. Quando as expectativas são grandes, até as pequenas coisas nos enchem de alegria.

Em ColnizaChegamos a Colniza e fomos recebidos pelo pároco, padre

Nelson, da paróquia da Sagrada Família e seus companheiros, e pelos representantes das comunidades que constituem a pa-róquia. Cansados da longa viagem nos acomodamos na casa paroquial. No dia seguinte, um guia local se apresentou e em grupos de quatro, partimos novamente rumo à comunidade local que nos esperava. De dia, a missão era feita pelos nossos pés, que andavam de casa em casa. À tarde ou à noite a comunidade se reunia para rezar, celebrar e se aprofundar em alguns temas importantes de nossa fé cristã.

Em uma de nossas visitas fomos atendidos por um homem de uns 30 anos. Do jeito que reagiu, foi como se estivesse esperando alguém com quem falar. Deixamos que ele se sen-

Missão em Colniza, Mato Grosso, descreve realidade de pobreza e migração, além de conscientizar sobre a necessidade de mais leigos participarem da vida da Igreja.

tTexto e fotos de Luiza Maria da Silva Santos

- Dezembro 2006

tisse à vontade. Então ele começou a falar e falou de tal forma que nos deu a possibilidade de perceber muito da realidade de Colniza. Ficamos no portão escutando coisas sobre a vida do povo da cidade. Talvez tenha sido nossa atitude de escuta que fez com que ele caísse em si e parasse de falar. Percebeu que estava sem camisa, pediu desculpas e se retirou. De repente, veio nos receber todo arrumado e nos convidou para entrar. O clima estava criado para podermos fazer nossa oração com a família, que participou com muita alegria. Cada visita era uma surpresa, uma novidade e uma experiência de fraternidade. E quanta riqueza se revelava! Todo mundo tinha testemunhos para dar e emoções para revelar. Quando fizemos a segunda rodada de visitas, a alegria foi ainda maior. Abraços foram trocados, ouviam-se gargalhadas, improvisavam-se brincadeiras, e de vez em quando, sorvete para todos...

A missão nos enriqueceEnfim, chegamos à conclusão que é muito mais o que re-

cebemos do que o que damos. As pessoas se entusiasmam, depositam em nós uma enorme confiança, nos acolhem como irmãos. Nossa presença motivou as pessoas para participarem nos encontros de formação e nas celebrações. As pessoas se mostravam muito curiosas e queriam saber como é a grande cidade, a favela, o metrô, a escola do lugar onde moramos. Completado o tempo da missão de duas semanas, tínhamos vontade de ficar e continuar. E, retornando, partilhamos nossa experiência missionária na nossa comunidade em São Paulo. A riqueza missionária veio ao nosso encontro em duas verten-tes: uma nasce dos encontros de espiritualidade, de oração e de comunhão nos grupos. E a outra brota do contato com a cultura local, o modo de vida do povo que sabe valorizar muito as pequenas coisas e se entusiasma com nossa presença.

Luiza Maria da Silva Santos é leiga membro do grupo de visitadores missionários,paróquia Santa edwiges, Sacomã, SP.Celebração em Colniza, MT.

Leigos em Colniza.

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e início convém lançar um olhar sobre a Mensagem do papa Bento XVI para o Dia Mundial do Migrante e do Re-fugiado de 2006. Diz o texto: “Entre os sinais dos tempos

hoje reconhecíveis devem certamente incluir-se as migrações, um fenômeno que assumiu no decurso do século que há pouco se concluiu uma configuração, por assim dizer, estrutural, tornando-se uma característica importante do mercado de trabalho a nível mundial, como conseqüên-cia, entre outras coisas, do poderoso estímulo exercido pela globalização”.

Já na Instrução Erga Migrantes Caritas Christi, documento do Pontifício Conse-lho da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes, publicada em maio de 2004, alertava-se que “as migrações hodiernas constituem o maior movimento de todos os tempos. Nessas últimas décadas, tal fenômeno, que envolve cerca de duzentos milhões de seres humanos, transformou-se em realidade estrutural da sociedade contemporânea e constitui um problema cada vez mais complexo do ponto de vista social, cultural, político, religioso, econô-mico e pastoral” (Cfr. Apresentação).

Números e dadosEm ambos os parágrafos citados, a

palavra estrutural dá conta da importância e da abrangência da mobilidade humana nas análises sociológicas atuais. As migrações, cada vez mais intensas, diversificadas e complexas, representam um fenômeno não apenas momentâneo, esporádico e conjuntural, mas constituem um dado fundamental da ordem econômica globa-lizada. Estima-se entre 175 e 200 milhões o número de pessoas que hoje residem fora do país em que nasceram. Se a isso acrescentarmos as migrações internas, a estatística sobe a cifras surpreendentes. Para nos restringirmos ao Brasil, segundo o Ministério das Relações Exteriores, entre dois e três milhões de cidadãos residem

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O migrante deve ser para a Igreja a oportunidade de novas relações, intercâmbio cultural e valorização das pessoas.

Dezembro 2006 -

Migrações: sinal dos temposde Alfredo J. Gonçalves hoje no exterior, dos quais ao redor de

750 mil nos Estados Unidos. Crescem ano a ano as levas de emi-

grantes asiáticos, latino-americanos e africanos que buscam a qualquer preço chegar nos países ricos do hemisfério norte, com destaque para os EUA, a Europa e o Japão. Cresce igualmente o número de imigrantes dos países da ex-União Soviética em direção à Europa ocidental. E cresce, ainda, o número de latino-americanos que procuram entrar no Brasil, como é o caso dos peruanos, dos bolivianos, dos chilenos, dos paraguaios, entre outros. A exemplo de muitos países da América Latina, o Brasil tornou-se, a um só tempo, lugar de imigração e de emigração, sem contar os milhares de pessoas que se deslocam no interior do território brasileiro. É grande também a quantidade de trabalhadores, homens e mulheres, que transitam nos chamados “complexos fronteiriços”, onde confinam os limites de dois ou mais países, como,

por exemplo, a região de Foz do Iguaçu, Ciudad del Este e Puerto Iguazú (fron-teira entre Brasil, Paraguai e Argentina). Enquanto boa parte destes migrantes são trabalhadores temporários a serviço das safras agrícolas, outros cruzam e recruzam diariamente as fronteiras, num comércio muito dinâmico, mas, nem sempre ao abrigo da lei.

Rostos e esperançasQuem são os migrantes e o que bus-

cam? Em sua mensagem, o papa alerta para o número crescente de mulheres e jovens envolvidos no fenômeno das migrações. A grande maioria foge da miséria nas regiões pobres, saindo em busca de um futuro mais promissor. Outros migram por motivos de estudo ou traba-lho. E muitos se vêem forçados a deixar a própria terra por causa de conflitos, abertos ou velados. Entre estes últimos vale sublinhar os milhões de refugiados políticos e os “desplazados” pela violência

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Famílias de refugiados afegãos, registrando-se no Centro de Quetta, Paquistão.

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e pela guerrilha. Não podemos esquecer, ainda, as vítimas do tráfico internacional de seres humanos, especialmente mulheres, meninos e meninas, em geral para fins de exploração sexual.

Uma quantidade expressiva de mi-grantes vive na clandestinidade, com seus documentos irregulares, o que dificulta o livre acesso ao trabalho, à escola, à saúde, a uma moradia decente, enfim, aos direitos humanos básicos. Não raro ocultam-se em sórdidos porões ou em longínquas periferias. Muitos acabam por submeter-se aos serviços mais sujos e pesados, mais perigosos e mal pagos, sem qualquer possibilidade de proteção trabalhista ou assistência médico-hospitalar. No extremo, se descobertos pelas autoridades locais, podem ser presos e deportados ao país de origem, com a vergonha de retornar de mãos vazias!

Raízes e sonhosPor que tantas pessoas deixam sua

pátria? Na base dos grandes movimentos migratórios encontram-se as mudanças de ordem estrutural. Transformações econô-micas, políticas e sociais, em geral, são precedidas ou seguidas de deslocamentos humanos expressivos. A globalização da economia, nas últimas décadas, tende a agravar a assimetria entre os países centrais e periféricos. As disparidades entre uns e outros, ou entre regiões de um mesmo país, leva as pessoas a cul-

tivarem o sonho do eldorado. As áreas pobres tornam-se então lugares de saída, enquanto as áreas ricas se convertem em pontos de chegada. Embora muitas vezes as expectativas se quebrem pelo caminho – morte, roubo, prisão, deportação – os fluxos continuam com intensidade redo-

brada. Contam-se hoje aos milhões os jovens e mulheres que rompem todas as fronteiras e superam todos os obstáculos para replantar em terra estranha o sonho de uma vida digna.

Migrante profetaApesar dos perigos do caminho, os

migrantes nunca são apenas vítimas. São também protagonistas de um novo tempo. Encontram-se na fronteira entre uma ordem mundial injusta e a necessidade de mudan-ças profundas e necessárias. O simples fato de migrar constitui, simultaneamente, uma denúncia e um anúncio. Denúncia de relações desiguais entre povos e nações, as quais impedem uma cidadania plena, e anúncio de que temos de traçar novos horizontes em direção a um novo mundo, a uma pátria universal: justa e solidária, plural e fraterna. É neste sentido que o papa considera as migrações como um sinal dos tempos.

Parafraseando Euclides da Cunha, poderíamos afirmar que o migrante é antes de tudo, um forte. Diante da pobreza ou da violência, ele não se deixa abater. Ele se move, ele se põe em marcha! Só quem está morto não se move. Mais ainda, ao mover-se, o migrante move a história e move a própria Igreja. Abre o horizonte a caminhos novos. Dizia o monsenhor João Batista Scalabrini, bispo de Piacenza, norte da Itália, considerado o pai e apóstolo dos migrantes: “o mundo anda depressa e nós não podemos ficar parados”. Suas palavras nasceram no contexto das grandes migrações transa-tlânticas, no final do século XIX e início do século XX. Constituem o testemunho de alguém que soube colocar-se em marcha, nas pegadas dos migrantes. “Onde estão os migrantes”, concluía, “aí deve estar a Igreja”. De fato as migrações, em todos os tempos, são como que um dos motores da história.

Muitas vezes para os governos e as autoridades aduaneiras o migrante é, ao mesmo tempo, uma solução e um problema. Solução porque se sujeita aos trabalhos que os nativos recusam, problema porque acaba exigindo o direito à cidadania. Ora, tais governos querem somente trabalha-dores, não cidadãos. Recusam estender aos imigrantes o status de trabalhador e os direitos de cidadão. Para a Igreja, ao contrário, o migrante deve ser uma oportu-nidade. Oportunidade de novas relações, de intercâmbios recíprocos entre as várias culturas e de enriquecimento mútuo. “Na Igreja não há estrangeiros, mas irmãos”, dizia o saudoso papa João Paulo II.

Alfredo J. Gonçalves é sacerdote carlista, assessor da Comissão para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz – CnBB.

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Migrações: sinal dos tempos

Refugiados de guerra no Chade, África.

Mãe refugiada amamenta em Coatepeque, Guatemala.

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22 Dezembro 2006 -

de Patrick Silva

o primeiro dia do mês de de-zembro, celebramos o Dia Internacional da Luta contra a AIDS. Ao longo das últimas duas décadas, muito se falou e se refletiu sobre o flagelo desta

pandemia. A difusão da doença é mais um “sintoma” do contexto globalizado que hoje vivemos. Dada a conhecer ao mundo a partir dos Estados Unidos, a contaminação pelo vírus HIV rapidamente deixou de pertencer a esta ou aquela nação, para se tornar algo a que todos os países deveriam responder. Apesar dos muitos estudos que viriam a ser feitos após a descoberta do vírus, ainda hoje não se encontra disponível um tratamento capaz de curar a doença. Ligada aos chamados grupos com comportamentos de risco, a AIDS foi sempre vista sob um olhar preconceituo so, que dificultou a vida de quem tem que conviver com o vírus. Note-se, no entanto, o enorme progresso realizado, seja no campo médico, seja no campo do preconceito.

Pessoas que vivem com o HIV hoje estão espalhadas pelo mundo. Os números, recentemente divulgados pela UNAIDS (ór-gão das Nações Unidas responsável pelos estudos sobre a AIDS) apontam para 39,5 milhões de infectados em todo o planeta. Estima-se que 25 milhões de pessoas morreram desde o surgimento da doença. A África se destaca como o continente com maior índice de soropositivos. A tal ponto que a situação é hoje assustadora. As campanhas realizadas em alguns países africanos não tiveram o efeito esperado e os órfãos da AIDS são hoje uma realidade muito concreta, que deixam sombras sobre qual será o futuro de tais países. Segundo o Banco Mundial, isso traz conseqüências econômicas graves. O impacto macroeconô-mico tem dois componentes centrais – a doença pode reduzir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos países mais afetados, envolvendo efeitos sub-regionais e regionais, e o número de contribuintes do Imposto de Renda diminuirá com o decorrer do tempo, agravando o impacto econômico negativo.

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A epidemia de AIDS está se tornando o maior obstáculo na redução da pobreza. Assim, a prevenção e o tratamento preci-sam ter um papel central nas estratégias nacionais das políticas sociais. Em 2005, aproximadamente 66.000 pessoas morre-ram e 200.000 tiveram infecção recente. Entre jovens na faixa de 15 a 24 anos, estima-se que 0,4% das mulheres e 0,6%

A AIDS não dá trégua

América LatinaQuanto à situação na América Latina,

pode-se dizer que assim como em ou-tras regiões em desenvolvimento, o vírus HIV afeta de maneira desproporcional os trabalhadores em idade mais produtiva, infectando cerca de um em cada 20 adultos na faixa de 15 a 49 anos, comprometendo assim a força de trabalho ativa.

O Dia Internacional da Luta contra a AIDS (1 de dezembro) chama a atenção sobre a dimensão desta epidemia.

Pessoa com HIV protesta pela falta de medicamentos diante do Ministério da Saúde, em Lima, Peru.

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23- Dezembro 2006

A AIDS não dá trégua

dos homens eram soropositivos em 2005 no continente sul-americano.

No Brasil, o maior e mais populoso país da região, a epidemia já se fez presente em todos os seus 26 estados. Embora a prevalência nacional do HIV entre gestantes tenha permanecido abaixo de 0,5%, há um número crescente de novas infecções entre mulheres, e aquelas que vivem

em situação de pobreza parecem correr risco desproporcional de se contaminar. Contudo, com base no Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, a epidemia parece estar estabilizada e a prevalência de HIV permanece inalterada (0,6%) desde 2000. Por outro lado, tem-se observado uma tendência de diminuição de incidência na Região Sudeste, que não é acompanhada pelo Nordeste e Norte do Brasil, onde houve uma ligeira subida da prevalência, de modo especial entre as mulheres. As pessoas que vivem com o HIV freqüente-mente são vistas como “sem-vergonha”, e a infecção fica associada a grupos ou a comportamentos minoritários, como a homossexualidade, por exemplo.

Em alguns casos, os soropositivos podem ser vinculados às “perversões” e a infecção é vista como a “punição”. Além disso, em algumas sociedades, a doença é encarada como o resultado da irresponsabilidade individual. Às vezes acredita-se que o vírus traz vergonha para a família ou comunidade.

Assistência aos soropositivosO Brasil, após ter sido considerado

um dos possíveis países onde a AIDS mais teria impacto, fez um “tratamento de choque”. Após um início titubeante, foram tomadas decisões que viriam a colocá-lo na linha de frente do combate à doença. O programa brasileiro de tratamento às pessoas com o vírus HIV é hoje consi-derado uma referência mundial. Apesar de coisas muito boas realizadas, surgem vozes preocupantes acerca das políticas adotadas, escutando-se freqüentemente que os programas estão economicamente falidos e, portanto, mais inquietações se levantam para o futuro próximo.

Nesta luta contra a doença, destaca-se a sociedade civil que se organizou para dar resposta ao problema que estava enfrentando. Os missionários da Conso-lata saíram à frente e, em 1991, abriram aquela que é uma das primeiras casas de acolhimento aos soropositivos: o Lar Betânia. Igualmente ajudaram a fundar a ONGAIDS do Estado de São Paulo para lutar pelos direitos dos infectados.

Em 15 anos de existência, o Lar Betânia atendeu mais de 200 pessoas que aí pu-deram recuperar forças físicas e espirituais para continuar a sua vida. O Lar Betânia é uma pequena gota em relação às enormes necessidades que ainda hoje existem no vasto universo das pessoas com o vírus HIV. No entanto, são estes pequenos gestos que ajudam a tornar o nosso mundo mais humano e justo para todos.

Patrick Silva é missionário e diretor do Lar Betânia, situado na Zona norte de São Paulo, SP.

O mapa da AIDS A UNAIDS, agência da ONU en-

carregada de gerenciar o combate à doença, estima que o número de pes-soas que têm o vírus esteja próximo de 39,5 milhões, e que a vasta maioria desconhece estar infectada. O número de pessoas contaminadas cresceu em todo o mundo, mas o avanço da doença foi mais sentido nas regiões central e leste da Ásia e no leste da Europa. Países como África do Sul, Uganda, Moçambique e Suazilândia, na África, também tiveram aumentos nos números de casos depois de uma estabilização nos níveis de infecção. Cerca de 40% das novas contamina-ções ocorrem em pessoas com idades entre 15 e 24 anos e o estudo calcula que 2,9 milhões de pessoas tenham morrido por doenças ocasionadas pela Aids em 2006. Cerca de 76% das mortes relacionadas com a doença em 2006 ocorreram na África subsaariana. Dois terços das pessoas vivendo com o vírus no mundo localizam-se na área. As mulheres estão mais suscetíveis do que nunca aos riscos do vírus HIV, afirma o relatório. Na África subsaa-riana, há 14 mulheres contaminadas para cada dez homens.

No BrasilA epidemia de AIDS avançou na

população com 50 anos ou mais, tanto homens como mulheres, enquanto entre jovens do sexo masculino retrocedeu, entre 1996 e 2005. O país também teve queda de 51,5% na transmissão vertical (quando a gestante transmite o vírus para o filho). Os dados estão no “Boletim Epidemiológico 2006”, divulgado pelo Ministério da Saúde, com base em notificações de serviços públicos e pri-vados. Desde que a doença começou a ser monitorada, em 1980, até junho deste ano, o Brasil acumula 433.067 casos. Somente no ano passado, foram 33.142 registros, ou seja, 18 casos em cada 100 mil habitantes. É a menor incidência desde 2002. Ao tratar dessa taxa por faixa etária, ela aumenta consideravelmente entre pessoas com 50 anos ou mais. Passa de 18,2 casos por 100 mil habitantes para 29,8 entre homens de 50 aos 59 anos. Para as mulheres, a taxa mais que dobra, subindo de 6 para 17,3. A mesma tendência aparece entre os maiores de 60 anos. Como resultado da política de dez anos de distribuição dos medicamentos anti-retrovirais, a incidência de morte por Aids caiu de 9,6 óbitos por 100 mil habitantes em 1996 para 6 em 2005.

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Pessoa com HIV protesta pela falta de medicamentos diante do Ministério da Saúde, em Lima, Peru.

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24 Dezembro 2006 -

Jesus Meninonquanto esperamos a Boa Nova do nascimento do Deus Menino, vivemos a alegria de estar um pouco grávidas e grávidos desta criança de tamanho poder, o Verbo que se fez carne (Jo 1, 14), Jesus criança. É um momento de alegria porque recordamos o nascimento de cada menina e menino que surge ao nosso lado, é a

manifestação plena do Deus que nos dá a vida e ao gerar novas vidas demonstra o quanto nos quer bem, o quanto nos ama.

Nesta última edição do ano, gostaria de trazer à memória a temática da Campanha da Fraternidade de 2006: as pes soas com deficiência. A CF apresentou-nos uma realidade bem pre-sente, porém, pouco assumida pela maioria da população que não convive diariamente com as pessoas nesta situação. Neste tempo de Advento, trago à nossa página da Infância Missionária, a realidade das crianças com necessidades especiais. Segundo o UNICEF, uma em cada 10 crianças convive com necessidades especiais e 190 milhões de crianças no mundo estão nessa situação, das quais cerca de 150 milhões nos países não-de-senvolvidos. A Organização Mundial de Saúde estima que no Brasil existam 15 milhões de pessoas com deficiência, dos quais

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“O que era noite tornou-se dia, (...) porque há um

Deus que hoje nasceu!”Zé Vicente

de Roseane de Araújo Silva

Sugestão parao grupo

AcolhidaMotivação (objetivo): celebrar o nascimento de Jesus e as crianças e adolescentes com necessidades especiais do nosso país.Oração: Rezemos ao Deus Pai-Mãe por todas as crianças recém-nascidas do Brasil e do continente americano e também pelas poucas crianças que nascem no continente europeu.Partilha dos compromissos semanaisLeitura da Palavra de Deus: Lucas 2, 1-20, o nascimento de Jesus.Compromissos missionários: Ao nascer em uma manjedoura, Jesus nos propõe um novo jeito para tratar os excluídos e marginalizados do seu tempo. Por esta razão, também nós, missionários e missionárias, nos tornamos mais amigos de Jesus, quando agimos sem precon-ceito com os diferentes. Vamos pensar sobre o que causa o preconceito?Momento de agradecimento ao Deus da Vida pelo nascimento de milhares de crianças em nosso país.Canto e despedidaAtividade comunitária: organizar com as crianças na capela ou no salão comunitário, um encontro de Natal encenando o nascimento de Jesus. O objetivo é celebrar o Natal convidando também outras crianças da comunidade. No final do encontro partilhar o lanche.

Vem pra vercerca de sete milhões com deficiência mental, três milhões com deficiência física, um milhão e meio com múltiplas deficiências, 750 mil com deficiência visual e cerca de dois milhões com deficiência de audição. Todas as pesquisas realizadas nesta área, sob o ponto de vista médico, psicológico e educacional, apontam para uma eficiente alternativa para reduzir estes índi-ces: a prevenção.

O desafio apresentado este ano com a Campanha da Fraternidade é a acolhida ao diferente com amor. As pessoas com deficiência são pessoas especiais sim, amadas pelo Deus da Vida e integrantes do mesmo sonho de Deus para todos nós. Na manjedoura de Belém, o Deus-Menino é acolhido em meio aos pobres e marginalizados do seu tempo (Lc 2, 8-14), significando o acolhimento de todos os povos iguali-tariamente, a partir da aceitação do Reino do Pai. Que este reencontro com Deus-criança, razão da nossa esperança, “(...) Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: (...) um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2, 10b-11), fortaleça-nos na chegada de um ano realmente novo. Das crianças do mundo – sempre amigas!

Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

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uitos de nossos jovens se encontram tristes por se acharem, muitas vezes, incapazes de resolver suas dificuldades ou de se afirmarem em casa, na escola e na sociedade. Esse sentimento os torna desmotivados para a vida. A sociedade pós-moderna contribui significativamente para

que essa sensação aumente. O sistema capitalista desperta continuamente nas pessoas e, conseqüentemente, nos jovens, o “amor” exagerado pelo dinheiro, pelo lucro, pelo consumo e pelo sucesso. Em nosso país, a maioria dos jovens não tem acesso aos produtos da sociedade consumista, aumentando o desencanto com a vida.

Conhecemos jovens que foram exemplo e despertaram a auto-estima em muitas pessoas. Através de sua vida, foram si-nônimo de força, energia, alegria e criatividade. Será que vamos cair no saudosismo e dizer que antigamente era melhor? Não creio. Os recursos que os jovens possuíam antigamente, ainda existem hoje, e são válidos. Basta, saber usá-los melhor. O que falta atualmente para o jovem é saber encontrar nos problemas que aparecem, a solução para sua vida. Se o jovem seguisse o exemplo da rosa, talvez conseguisse se animar. A rosa nasce com as pétalas fechadas e aos poucos vai se abrindo. É preciso abrir-se para o novo, entender o mundo que nos cerca.

Atitudes para um mundo melhorNa sociedade, que muitas vezes parece empurrar a juven-

tude para as drogas, a inatividade, a desvalorização de Deus, ao invés de despertar o desejo de lutar por um futuro melhor, o jovem deveria procurar fazer algo que tornasse o mundo um lugar melhor para se viver. Contribuir para manter a vida do planeta poderia ajudar. Como? Lendo, estudando, trabalhando em equipe, plantando flores e árvores, dando um bom dia, ale-grando-se com a conquista do outro, ajudando alguém, sendo solidário, ignorando a estupidez e os desentendimentos, retri-buindo com um sorriso às ofensas recebidas, dando uma palavra de ânimo a quem precisa, fazendo uma oração pelo inimigo... Pois, temos que ter jovens abertos, jovens que aprendem e fazem a diferença.

O mundo “quase globalizado” prega a desvalorização do sagrado, reduz a prática religiosa ao plano pessoal e margina-liza Deus. Principalmente o Deus da justiça, da solidariedade, que acredita no potencial do ser humano de fazer o bem para si e para o outro.

Nós jovens, deveríamos olhar e aprender com Jesus Cristo. Ele é o maior exemplo de que Deus acredita em nós. Jesus escolheu 12 homens comuns na sociedade de sua época. Ele mostrou aos seus discípulos e às pessoas que o seguiam, o que cada um tinha de bom. Ele amava cada ser humano, e por isso depositou esperança no coração de todos, numa época em que a realidade massacrante não propiciava condições para sonhar. Jesus despertou a possibilidade de mudar o mundo, de fazer algo por este planeta, país, sociedade, família e pessoa, eis a nossa missão! Jovem, você pode ser melhor do que já é. E Deus o fez existir para ser cada vez melhor. Acredite!

Draiton José Vieira é seminarista da Sagrada Família de Bérgamo em Curitiba, PR.

Saber fazer a diferença

Não diga a Deus que você tem problemas. Diga aos seus problemas que você tem Deus!

de Draiton José Vieira

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26 Dezembro 2006 -

de Daniel Lagni

romovido pela Federação das Conferências Episcopais da Ásia (Fabc), com a colaboração da Conferência dos Bispos Cató-licos da Tailândia e o apoio da Congregação para a Evangeli-

zação dos Povos, realizou-se em Chiang Mai, na Tailândia, de 18 a 22 de outubro, o 1º Congresso Missionário Asiático. A idéia deste Congresso surgiu como res-posta a uma intuição de João Paulo II. Ao inaugurar a Ecclesia in Asia, em 6 de novembro de 1999, o papa dizia: “Como no primeiro milênio a cruz foi plantada na Europa e no segundo milênio na América e África, assim, que no terceiro milênio se possa ter uma grande colheita de fé neste continente tão vasto e com tanta vitalidade”. Não obstante a boa acolhida

p

A história de Jesus na Ásiadaquela proposta, o caminho para este Congresso foi longo e repleto de desafios. As diversidades lingüísticas, culturais e as distâncias dificultaram, mas não impedi-ram sua realização. Enfim, o Congresso aconteceu enriquecido pela diversidade étnica, cultural e religiosa.

Estiveram representados 25 países asiáticos, além de diversos participantes de todo o mundo, num total de 1.047 congressistas, dos quais, cinco cardeais, 80 bispos e arcebispos, 385 sacerdotes, 190 religiosos/as e 398 leigos, de cerca de 30 países. Das Américas, participaram na qualidade de observadores estrangeiros três diretores nacionais das Pontifícias Obras Missionárias: padres John E. Kozar, dos Estados Unidos, Guillermo Alberto Morales Martinez, do México e Daniel Lagni, do Brasil. O papa Bento XVI nomeou o cardeal Crescenzio Sepe, arcebispo de Nápoles, Itália, “enviado papal extraordi-nário”. Compareceram ainda os cardeais

Ivan Dias, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, Sepe e Dias, o cardeal de Bangcoc, Tailândia, Michael Michai Kitbunchu, o cardeal Ricardo Vidal, arcebispo de Cebu, Filipinas e o cardeal Telesphore Toppo, da Índia. Também esteve presente o núncio apostólico da Tailândia, dom Salvatore Pennacchio.

Em sintonia com o tema do Congresso – “Contando a história de Jesus na Ásia. Vão e contem-lhes...” (Mc 5, 19) – cerca de 20 grupos de trabalho deram a todos os participantes oportunidade de partilhar suas experiências pessoais de fé e a história de Jesus em suas vidas, famílias e comunidades. É significativo que este Congresso tenha se realizado num país em que os católicos são 0,4 %, da população, ou seja, uma das menores Igrejas da Ásia, com 99% da população budista.

Os grandes sub-temas aprofundados, tendo como pano de fundo “A história de Jesus” foram: “entre os povos da Ásia”; “nas religiões da Ásia”; “nas culturas da Ásia” e “na vida da Igreja na Ásia”. Realizaram-se também trabalhos em grupo, seminários e testemunhos sobre a história e o percurso do cristianismo no continente.

Missão na ÁsiaReferindo-se ao tema do Congresso,

dom Luis Antonio G. Tagle, bispo de Imus, Filipinas, disse: “O papa João Paulo II descreveu a Missão como partilha da luz da fé em Jesus, dom recebido e dom que deve ser doado aos povos da Ásia. Esta partilha pode se dar pela narração da história de Jesus. Contar histórias pode ser um meio criativo para compreender a Missão na Ásia, o continente cujas culturas e religiões estão enraizadas em epopéias milenares”.

Falando ao Congresso, o padre Satur-nino Dias, de Goa, Índia, Secretário-Exe-cutivo do evento, explicou que em 2006

1º Congresso Missionário

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Celebração durante o 1º Congresso Missionário Asiático.

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estão presentes particulares motivações missionárias: “celebra-se o 5° centenário do nascimento de São Francisco Xavier, padroeiro das Missões, o 3° centenário da aprovação do Oratório de São Felipe Neri, em Goa e o nascimento da primeira Sociedade de Vida Apostólica na Ásia, fundada pelo Bem-aventurado Joseph Vaz, missionário da Ásia para a Ásia”. Por essas razões, o 1º Congresso Missionário do continente “assume o particular significado de suscitar maior consciência missionária entre os fiéis, ajudando-os a aprofundar e testemunhar a fé cristã e proclamar Cristo ao mundo circunstante, como ocasião e desafio para todas as Igrejas asiáticas reverem e relançarem o próprio empenho na evangelização”.

Fortalecer o testemunhoAlém de celebrar a vida cristã na Ásia,

o Congresso visou animar a consciência do mandato missionário da Igreja, fortalecer o anúncio e encontrar novos caminhos para contar a história de Jesus no continente. Jesus nasceu e se criou nesta região, mas é justamente onde é menos acolhido. Trata-se de acolher o testemunho dos outros, ir além dos temores e incertezas, para anunciar com entusiasmo a nossa fé. Conforme observou dom Orlando Quevedo, arcebispo de Cotobato, Filipinas: “Cristo nasceu na Ásia, todavia a Igreja neste continente é uma pequena bandeira, que representa apenas 1,5% da população total”. O Congresso não buscou responder à questão que se refere à necessidade ou não da evangelização, mas sim, como este anúncio pode ir ao encontro das exigências dos povos nesse continente. “O anúncio deve ser realizado no respeito, na atenção e no diálogo com as outras religiões, com atenção também aos problemas que este imenso continente está vivendo, mas também com a coragem e a consciência do grande dom do qual

provenientes de 19 países. A delegação mongol, composta por um bispo, cinco sacerdotes, seis leigos e duas religiosas, estava bem consciente da importância de se sentir acompanhada em seu caminho de fé e testemunho.

A atenção dos delegados concentrou-se também em algumas temáticas espe-ciais, como o consumismo, o fenômeno das migrações, o diálogo inter-religioso e a juventude, em um continente em que os jovens com menos de 25 anos repre-sentam 50% da população. O fenômeno dos migrantes é um tema que interpela a Igreja na Ásia. Basta pensar, que de 191 milhões de pessoas que vivem fora de seus países, 53 milhões são asiáticos, com os indonésios, filipinos e vietnamitas estando na linha de frente desta classificação. Este movimento de massas populacionais inter-pela as Igrejas de origem e de destino. É uma ocasião para reiterar que “na Igreja, ninguém é estrangeiro”.

O 1° Congresso Missionário Asiático concluiu seus trabalhos no dia 22 de ou-tubro, num clima de animação e de três grandes desafios: a vida de fé é pessoal e comunitária e a nossa adesão ao Evan-gelho é a continuação, no rastro dos Atos dos Apóstolos; as outras religiões: pede-se um maior conhecimento recíproco, de modo a poder compreender e ler as “sementes do Verbo” nelas existentes; e as diferentes culturas: integrar os valores positivos presentes nas culturas asiáticas na vivência cristã cotidiana.

Por fim, os delegados pediram que cada Conferência Episcopal asiática se torne eco deste grande Congresso, dan-do-lhe seguimento em outros, no âmbito nacional ou regional.

Daniel Lagni é sacerdote, diretor nacional das Pontifícias Obras Missionárias (POM) do Brasil, representante dos diretores nacionais das POM da América Latina e Caribe.

os cristãos somos portadores”, concluiu dom Quevedo.

Foi de grande encorajamento para todos os presentes receber notícias e confrontar-se com comunidades cris-tãs que vivem sua fé no silêncio, como fermento da sociedade. A presença de delegações de observadores do Líbano, de Israel e da Síria foi sinal de uma Igreja capaz de testemunhar a própria fé em Jesus Cristo, não obstante dificuldades, perigos e conflitos. Mas a riqueza e di-versidade de proveniências, culturas e raças foram notadas também na lista dos delegados, na qual se destaca a presença de países de grande maioria islâmica, como Paquistão e Malásia, Indonésia ou de países da ex-União Soviética, como Uzbequistão, Cazaquistão, e testemunhos de uma pequena comunidade cristã ainda nascente, como a da Mongólia, presen-te com 14 delegados. Este Congresso inspirou-se justamente na riqueza da diversidade, mas com a consciência de ser uma única Igreja.

Uma delegação singularA evangelização na Mongólia é um

evento extremamente recente. Foi um país fechado ao Evangelho, até 1992. Naquele ano, o governo convidou a Igreja Católica para estar presente. A intenção “era rece-ber ajuda no campo social e estabelecer relações com o mundo ocidental”. Para a delegação mongol, o Congresso “represen-tou uma ocasião única de se sentir parte de uma Igreja realmente universal, diante do exíguo número de cristãos presentes naquele país. Em uma população de cerca de dois milhões e oitocentas mil pessoas, apenas 350 são católicas. Realmente, a Igreja Católica naquele país é uma pequena semente, mas também um grande início, que pode contar com a presença de nove congregações religiosas e 62 missionários,

A realização do 1º Congresso Missionário Asiático foi um

evento histórico para a Igreja do continente.

1º Congresso MissionárioPadre Daniel Lagni com crianças tailandesas.

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28 Dezembro 2006 -

Escutem o grito do povo!

Formação prepara multiplicadores da Campanha da Fraternidade 2007.

Fotos e texto de Cecília de Paiva

Campanha da Fraternidade 2007 “Amazônia e Fra-ternidade” quer ser instrumento de solidariedade e de escuta aos gritos de toda “vida e missão neste chão”, como diz o seu lema. Para direcionar os trabalhos desse grande apelo nacional, o Secretário Executi-vo da Campanha, cônego José Carlos Dias Toffoli,

viaja por todo o Brasil para formar multiplicadores que motivem, alertem e despertem interesse, para atingir os seus objetivos. Nos dias 14 e 15 de outubro, Toffoli esteve em Campo Grande, onde participou do encontro de multiplicadores da CF da Região Oeste da CNBB, que abrange as dioceses de Campo Grande,

A

Dourados, Corumbá, Coxim, Jardim e Três Lagoas no Mato Grosso do Sul. Nos encontros de multiplicadores, que realizam entre os meses de setembro a dezembro, junto às 17 regionais da CNBB, Toffoli busca transmitir o conteúdo do texto-base, dentro da metodologia do “ver, julgar e agir”. A previsão é de que antes do lançamento nacional da CF-2007, em 21 de fevereiro de 2007, os olhos de todo o país devem estar sensíveis à realidade da “Amazônia legal”. Para tanto, o texto-base traz informações para conhecê-la bem, com seus 1100 rios e sua abrangência nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Mato Grosso, Tocantins e Goiás, ou seja, 59% do território nacional e 40% em relação a América do Sul.

Símbolos da AmazôniaO próprio cartaz da CF-2007 é o grito para que todos escu-

tem a dor de cada povo e missão daquele chão. A imagem da terra seca e rachada representa os lugares de seca existentes e que, sem os devidos cuidados, toda a região pode ser des-truída; a água lembra a importância da Amazônia como reserva de água doce do planeta, além de transmitir uma sensação de transparência, força e vitalidade. O elemento principal do cartaz é a vitória-régia, conhecida pelos seus habitantes originais, os povos indígenas, como panela de espíritos. Considerada um dos símbolos da Amazônia, é uma planta de raízes profundas, que se cravam no leito do rio, impedindo que a água a leve embora. “Essa planta é forte e tem raízes profundas que tocam o leito do rio e ao mesmo tempo é sensível, assim como o povo nativo da região, que sobrevive com muita garra, mas precisa do apoio fraterno, de toda a sociedade brasileira”. As três flores representam a Santíssima Trindade, que lembra a obra de Deus Criador entregue aos nossos cuidados. A criança representa os povos indígenas, e toda a comunidade da região, suas crenças, sonhos e esperanças. O sorriso sutil é um convite à superação das dificuldades e à construção de um futuro melhor para a Ama-

Cônego José Carlos Dias Toffoli realiza formação em Campo Grande, MS.

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Escutem o grito do povo!

zônia. Além disso, ao mostrar o contraste entre a terra seca e a exuberância da água, o cartaz chama a atenção na esperança de encontrar uma solução para os conflitos da região com base na solidariedade e no respeito às diferenças.

Concentração da populaçãoÉ uma região que se move e o texto-base contempla a

realidade urbana e a concentração da pobreza, observando quem e o que já existe para se solidarizar com as questões provenientes da mobilização e da nova topografia social da Amazônia. Na explanação do texto-base, Toffoli esclarece que todos devem ter consciência ecológica e de preservação e ainda da utilização legal da devastação para apoiar ‘o que se pode fazer pelo estrago feito’.

O olhar de todos pode fazer ecoar o grito da violência contra os povos indígenas e fazer lembrar que existe uma tabela de assassinatos, de tentativas de assassinatos, de ameaças de morte, lesões corporais, racismos, discriminações, violências

sistema de ensino existente está longe de ser contextualizado para que tenha a Amazônia em sua referência.

Muito há para olhar naquela região, que tem mais de 100 mil famílias de agricultores vivendo da extração da coca. É importante destacar que um hectare de folhas de coca rende, em média, 1.500 dólares por ano. O acesso à coca é maior do que o serviço à saúde, pois há locais em que é praticamente impossível acessar o serviço médico, obrigando a população necessitada a percorrer grandes distâncias, e locais com um alarmante crescimento de casos de hanseníase, malária, febre amarela e alta mortalidade infantil.

SustentabilidadeMuitas outras situações e dados alicerçam o texto-base da

CF-2007 porque, segundo Toffoli, “Não adianta inventar as ne-cessidades e desafios. E os desafios para a Amazônia são vários: colaborar para que as intervenções na região sejam feitas em favor da população local e não apenas dos grandes projetos de energia, mineração, extração de madeira, ampliação da área de pastagens, plantações de soja, do conflito pela ocupação da terra e preservação do meio ambiente; a questão da demarcação de todas as áreas indígenas e a garantia de vida e trabalho para os seringueiros e populações ribeirinhas, com a criação de reservas extrativistas e as áreas de manejo sustentável da floresta e o assentamento de posseiros e lavradores sem-terra.”

Para esclarecer ainda mais toda a Campanha da Fraternidade 2007, Toffoli complementa que “é preciso resistir ao processo de devastação, e por outro lado denunciar o discurso conservacionista dos que, ao quererem salvaguardar a Amazônia, só desejam garantir seus interesses e qualidade de vida. Deve-se insistir para que as políticas ambientais, econômicas e sociais tenham como objetivo a vida com qualidade das populações tradicionais e demais categorias exploradas que vivem na região”.

Cecília de Paiva é relações públicas e jornalista, especialista em comunicação e mercado.

Oração da CF-2007

Deus criador, Pai da família humana, Vós formastes a Amazônia, maravilha da vida, bênção para o Brasil e para o mundo. Despertai em nós o respeito e a admiração pela obra que vossa mão entregou aos nossos cuidados. Ensinai-nos a reconhecer o valor de cada criatura que vive na terra, cruza os ares ou se move nas águas. Perdoai, Senhor, a ganância e o egoísmo destruidor; moderai nossa sede de posse e poder. Que a Amazônia, berço acolhedor de tanta vida, seja também o chão da partilha fraterna, pátria solidária de povos e culturas, casa de muitos irmãos e irmãs. Enviai-nos todos em missão! O Evangelho da vida, luz e graça para o mundo, fazendo-nos discípulos e missionários de Jesus Cristo, indique o caminho da justiça e do amor; e seja anúncio de esperança e de paz para os povos da Amazônia e de todo o Brasil.

Amém.

sexuais, suicídios, conflitos por terra, invasões, depredações. O texto-base mostra que lá existem raças indígenas e povos afro-descendentes com iniciativas de resistência. Dados revelam que está chegando perto de 80% a população da Amazônia nas grandes cidades, e que há uma grande concentração urbana se aproximando de 80% de toda a população amazônica. Que há um grande número de famílias vivendo com até 1/5 do salário mínimo, com assentamentos urbanos que são os maiores e piores problemas ambientais da região. Os migrantes se aglomeram nos piores terrenos, muitas vezes invadindo áreas de várzea e de ressacas alagadas e em toda a região, a maioria das comu-nidades do interior não têm acesso a todas as séries do ensino fundamental. Isso motiva muitos jovens a deixar o campo. O Momento de reflexão e louvor da equipe da CF do Regional Oeste I.

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Mato GrossoCimi tem novo presidente

O Conselho do Cimi elegeu dom Erwin Kräutler como novo presidente da entidade. A eleição foi realizada conforme as normas estatutárias, após o falecimento de dom Franco Masserdotti, em 17 de setembro de 2006, na cidade de Balsas, sede da diocese maranhense da qual era bispo. O Conse-lho, que reúne coordenadores dos 11 regionais da entidade e sua diretoria, se encontrou na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, em uma de suas reuniões ordinárias. Apesar da tristeza pela morte de dom Franco, o Cimi se alegrou pelo “sim” de dom Erwin ao convite para ser presidente. Atualmente Kräutler é bispo da diocese de Altamira, no Pará. Ele foi presidente do Cimi de 1983 a 1989. O mandato vai até a próxima Assembléia Ordinária, a ser realizada entre julho e agosto de 2007. De acordo com o artigo 21 do estatuto da entidade, em caso de vacância do cargo de presidente após a primeira metade do mandato, o Conselho é a instância responsável pela eleição do presidente substituto. Dom Franco havia sido eleito na Assembléia do Cimi em julho de 2005 e o seu mandato iria até julho de 2007.

Brasília27ª Assembléia Geral do COMINA

De 15 a 17 de novembro, realizou-se na sede das Pontifícias Obras Missionárias, a 27ª Assembléia Geral do Conselho Missionário Nacional (Comina), com o tema “Memória, projeto e seguimento: a Igreja missionária da América Latina e do Caribe rumo à Conferência de Aparecida”. Com a ajuda de assessores como o padre Paulo Suess, a Assembléia fez memória da caminhada, aprofundando o sentido e a prática do projeto missionário da Igreja, em preparação para a Conferência de 2007 na perspectiva missionária. Participaram do evento os membros da Comissão Episcopal para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB, do Conselho Missionário Na-cional, os bispos presidentes e coordenadores dos Conselhos Missionários Regionais, representantes da Conferência dos Religiosos do Brasil, da Conferência Nacional de Institutos Seculares, missionários leigos, Conselho Indigenista Missionário, representantes dos meios de comunicação missionários, congregações missionárias, associações de missiólogos, instituições acadêmicas missiológicas, membros das Santas Missões Populares, da Fidei Donum, da Comissão Especial para a Amazônia e da Pastoral Nipo Brasileira e dos Brasileiros no Exterior.

4ª Semana Social brasileira Entre os dias 17 e 19 de novembro, em Brasília,

realizou-se o Seminário Nacional de encerramento da 4ª Semana Social Brasileira (4ª SSB), terminando um processo de três anos desde o seu lançamento, no início de 2004. Representantes de diversas entidades sociais, de Igrejas e da sociedade civil participaram do Seminário que debateu temas urgentes. A proposta da Semana foi suscitar um Mutirão por um Novo Brasil, apostando na articulação das forças sociais para a construção do país que queremos. Os participantes identificaram os compromissos decorrentes do processo de construção coletiva. Para levar adiante o trabalho

de Articulação das forças sociais, os participantes, entre outras ações, se propuseram a apostar na As-sembléia Popular como instrumento dinamizador de causas comuns. A 4ª SSB se encerrou. Mas o Mutirão por um Novo Brasil continua.

AmazôniaCurso de Realidade Amazônica

O Instituto de Teologia, Pastoral e Ensino Su-perior da Amazônia (ITEPES) promove o Curso de Realidade Amazônica, entre 22 de janeiro e 16 de fevereiro de 2007, perfazendo um total de 160 horas. O curso tem como objetivo geral ajudar os agentes de evangelização comprometidos com a construção de uma nova sociedade na compreensão da realidade amazônica em que estão inseridos, para que possam transformá-la a partir das exigências éticas e da fé cristã. Destina-se a agentes de pastoral inseridos nas comunidades eclesiais e serviços pastorais na região e a leigos e leigas, religiosos e religiosas e presbíteros vindos de outras dioceses para atuar na Amazônia. Informações: [email protected] ou pelo telefone (092) 3642.5635.

ParanáO “deus-mercado” ignora os pobres

O “deus-mercado” é a maior manifestação dia-bólica dos tempos atuais, aponta o documento final da Consulta Teológica sobre o Direito à Vida Plena, reunida pelo Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI)-Brasil, entre os dias 25 e 28 de outubro, em Londrina, Paraná. Esse deus não tem qualquer inte-resse pelos pobres, que “são tratados como se não existissem”. A Consulta recolheu a reflexão iniciada nos Fóruns Teológicos, realizados em junho em Londrina, Recife e São Leopoldo. As conclusões da Consulta serão levadas à V Assembléia Geral do CLAI, agendada para Buenos Aires, em fevereiro de 2007. O documento final reconhece que os esquemas de poder e dominação hoje são sutis. “Eles estão ocultos, não são facilmente reconhecidos, escondem-se por trás de grandes corporações, assim como de sistemas políticos e econômicos e, principalmente, atrás de discursos forjados na comunicação de massa e na ideologia do consumo e do mercado”, arrola o texto. Nem mesmo as igrejas estão imunes à tentação do deus-mercado. Em alguns modelos, elas criam e sus-tentam desigualdades e exclusões, desrespeitando de modo flagrante os direitos humanos “na medida em que garantem apenas a algumas pessoas o direito de falar, fazer e decidir, e não levantam a sua voz contra aqueles que são opressores”. A Consulta denuncia, ainda, modelos ideológicos que se confundem com teologias. Ideologias de mercado, cada vez mais em moda nos meios evangélicos, sacralizam o mo-delo e o sistema vigente à medida que introduzem como linguagem teológica conceitos que exigem graça, cobram promessas e buscam recompensas. O documento tirado do encontro lembra às igrejas a necessidade de “redescobrir o profundo sentido da dignidade humana”, de aprofundar a formação cidadã do povo na América Latina e no Caribe.

Fontes: CnBB, CIMI, CLAI.

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o Natal, o nosso es-pírito abre-se à espe-rança, ao contemplar

a glória divina escondida na pobreza de um Menino en-volvido em panos e reclinado numa manjedoura: é o Criador do universo, reduzido à impo-tência de um recém-nascido! Aceitar este paradoxo, o pa-radoxo do Natal, é descobrir a Verdade que liberta, o Amor que transforma a existência. Acolhamos a mão que Ele nos estende: é uma mão que não nos quer tirar nada, mas apenas dar.

Bento XVI

N

Missões deseja a todosum santo Natal.