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11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido como uma atividade desenvolvida por pessoas que se deslocam por motivos religiosos ou para participarem de eventos de significado religioso. Compreendem peregrinações, romarias, visitas a locais de caráter histórico-religioso, festas e espetáculos de cunho sagrado. É um segmento que além de contribuir para a valorização e preservação das práticas espirituais, enquanto manifestações culturais e de fé, pode contribuir maciçamente, desde que realizado de maneira planejada, para o desenvolvimento positivo da economia, da cultura e ao aumento da qualidade de vida da população local. Atualmente, a cidade de São José de Ribamar, localizada no Estado do Maranhão, destaca-se pela religiosidade manifestada através de eventos religiosos, dentre os quais foi enfatizado o Festejo em homenagem ao santo, que por sua vez atrai todos os anos uma expressiva quantidade de visitantes e turistas, que através da fé manifestam seus agradecimentos às graças alcançadas. Com intuito de dar prosseguimento a esta discussão, buscou-se identificar e analisar através desta pesquisa o potencial do turismo religioso da cidade de São José de Ribamar, bem como evidenciar os pontos positivos e negativos inerentes ao desenvolvimento turístico da localidade supracitada, os quais foram obtidos através do levantamento de dados presentes nas pesquisas bibliográficas e visitas de campo. Ao mesmo tempo em que poderá surgir dentro das possibilidades e realidades existentes, propostas de melhoria e implementação da atividade turística no município. O trabalho está estruturado da seguinte forma: primeiramente é apresentada uma análise acerca do turismo contemporâneo, em que se destaca a evolução do turismo como atividade econômica desencadeante de fatores sociais. Estuda-se o turismo como fruto do capitalismo, a partir do momento que encontra-se inserido em uma sociedade baseada principalmente no consumo e faz-se um apanhado da importância do lazer num contexto atual, além de apontar algumas das principais motivações para a prática da atividade turística na atualidade. Realiza-se ainda uma abordagem acerca da importância da segmentação turística, onde inclui-se alguns dos principais tipos de turismo e o uso do marketing como instrumento dessa segmentação. Ainda dentro da segmentação turística procura-se enfatizar a motivação quanto às viagens com objetivos relacionados à cultura e religião.

11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

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Page 1: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

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1 INTRODUÇÃO

O turismo religioso pode ser entendido como uma atividade desenvolvida por

pessoas que se deslocam por motivos religiosos ou para participarem de eventos de

significado religioso. Compreendem peregrinações, romarias, visitas a locais de caráter

histórico-religioso, festas e espetáculos de cunho sagrado.

É um segmento que além de contribuir para a valorização e preservação das

práticas espirituais, enquanto manifestações culturais e de fé, pode contribuir maciçamente,

desde que realizado de maneira planejada, para o desenvolvimento positivo da economia, da

cultura e ao aumento da qualidade de vida da população local.

Atualmente, a cidade de São José de Ribamar, localizada no Estado do Maranhão,

destaca-se pela religiosidade manifestada através de eventos religiosos, dentre os quais foi

enfatizado o Festejo em homenagem ao santo, que por sua vez atrai todos os anos uma

expressiva quantidade de visitantes e turistas, que através da fé manifestam seus

agradecimentos às graças alcançadas.

Com intuito de dar prosseguimento a esta discussão, buscou-se identificar e

analisar através desta pesquisa o potencial do turismo religioso da cidade de São José de

Ribamar, bem como evidenciar os pontos positivos e negativos inerentes ao desenvolvimento

turístico da localidade supracitada, os quais foram obtidos através do levantamento de dados

presentes nas pesquisas bibliográficas e visitas de campo. Ao mesmo tempo em que poderá

surgir dentro das possibilidades e realidades existentes, propostas de melhoria e

implementação da atividade turística no município.

O trabalho está estruturado da seguinte forma: primeiramente é apresentada uma

análise acerca do turismo contemporâneo, em que se destaca a evolução do turismo como

atividade econômica desencadeante de fatores sociais. Estuda-se o turismo como fruto do

capitalismo, a partir do momento que encontra-se inserido em uma sociedade baseada

principalmente no consumo e faz-se um apanhado da importância do lazer num contexto

atual, além de apontar algumas das principais motivações para a prática da atividade turística

na atualidade.

Realiza-se ainda uma abordagem acerca da importância da segmentação turística,

onde inclui-se alguns dos principais tipos de turismo e o uso do marketing como instrumento

dessa segmentação. Ainda dentro da segmentação turística procura-se enfatizar a motivação

quanto às viagens com objetivos relacionados à cultura e religião.

Page 2: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

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Em seguida aborda-se o turismo religioso, bem como seus aspectos históricos e a

dimensão que ele apresenta no mundo, destacando-se os principais destinos do Brasil e

Maranhão. Trata-se ainda neste item, das manifestações e dos eventos de cunho religioso e

cultural que acontecem no país.

Mais detalhadamente, o capítulo 5 contempla o Turismo Religioso em São José de

Ribamar, faz-se um apanhado geral sobre seus aspectos históricos, as lendas, milagres e

promessas feitas ao Santo, bem como aborda-se os atrativos turísticos que apresentam alguma

relação com a religião e finalmente a realização do Festejo de São José de Ribamar, citando

seus principais momentos.

Por fim são apresentados os resultados e discussões acerca dos dados obtidos

durante a realização da pesquisa de campo, onde faz-se uma análise sobre os questionários

aplicados junto aos visitantes que freqüentam o festejo, com o objetivo de traçar o perfil dos

mesmos. Analisa-se ainda neste item os questionários aplicados à comunidade local, com o

intuito de identificar a opinião da mesma sobre o festejo e sobre o turismo religioso de modo

geral.

A metodologia empregada para a elaboração deste trabalho baseou-se em pesquisa

bibliográfica e documental, em busca de referência teórica e maior aprofundamento em

relação ao tema abordado. Houve informações adquiridas através de revistas, jornais e

Internet. Foram realizadas entrevistas in loco com os turistas durante dois dias de festejo e

com a comunidade em outros dias aleatórios. Os questionários constaram de perguntas abertas

e fechadas e após a aplicação dos mesmos, foi realizada a tabulação dos dados e por fim o

cruzamento desses dados.

Além dos objetivos primordiais deste trabalho já citados anteriormente, visa-se

contribuir para que estudos posteriores possam ser melhor aprofundados e quem sabe servir

de base para incentivar potencialmente o crescimento do Turismo Religioso em São José de

Ribamar.

Page 3: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

13

2 TURISMO CONTEMPORÂNEO

As mudanças econômicas, políticas e culturais dos últimos anos foram intensas e

abrangentes. O fim da Guerra Fria, o colapso do socialismo, a introdução e crescente inserção

das novas tecnologias propiciadas principalmente pela Revolução Industrial alteraram

intensamente nossa concepção de mundo.

Portanto, é possível perceber que a sociedade passa por constantes mudanças e o

turismo surge a partir do resultado de tais transformações, onde pode-se identificar a sua

evolução na medida em que novas tecnologias foram sendo inseridas, bem como introdução

de melhores condições de trabalho, fato pelo qual proporcionou aos trabalhadores o chamado

tempo livre, gerando qualidade de vida, dentre outras práticas que foram fundamentais para o

surgimento e crescimento do turismo.

Para identificar o momento em que o turismo dá seus primeiros indícios de

desenvolvimento é interessante que se observe a ordem cronológica de alguns acontecimentos

que ocorreram na sociedade e por conseqüência favoreceram ao implemento do turismo,

conforme será exposto a seguir.

Com a criação das agências de viagens na década de 1850, foram publicados

muitos guias de viagens que não só forneciam informações sobre as distâncias, os caminhos e

as atrações, como também explicavam, sobre os locais visitados. Esse fato além de auxiliar os

viajantes, também reforçava socialmente o desejo de viajar, motivando as pessoas a se

deslocarem para conhecer outras realidades humanas e locais mais distantes do próprio

entorno.

Após a Primeira Guerra Mundial, em 1918, aconteceram importantes

transformações no mundo, principalmente na área tecnológica, com a fabricação em massa do

automóvel e do ônibus, ou seja, novos meios de transporte tornaram-se agentes

impulsionadores do turismo.

A partir de 1930, o ônibus passou a apresentar maior rentabilidade que os trens.

Nessa fase, os destinos turísticos predominantes foram os balneários e águas termais e,

posteriormente, deram lugar ao alpinismo e aos acampamentos.

Durante o período da Segunda Guerra Mundial (1939/1945), o turismo sofreu uma

parada brusca. A situação econômica mundial não permitia gastos com supérfluos. Quando,

porém, a guerra terminou, surgiu uma grande novidade que revigorou a prática do turismo: a

utilização do avião como meio de transporte de civis.

Page 4: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

14

A expansão tecnológica se deu paralelamente a uma revolução de valores e

costumes que repercutiram em diversos setores, inclusive no de serviços, onde se inclui a

atividade turística. Nesse contexto o turismo foi intensificado e transformado em um mercado

promissor.

Em 1949, foi vendido o primeiro pacote de turismo que utilizou o avião como

meio de transporte. A partir de 1957, o avião já começou a fazer forte concorrência aos

navios, pois exigia menos tempo de deslocamento e oferecia preços mais acessíveis.

Após a Segunda Guerra Mundial em 1950, a economia mundial começou a dar

sinais de recuperação, propiciando melhorias nos meios de transporte e na infra-estrutura que

criaram um mecanismo de expansão do turismo por meio da abertura de estradas e da

liberdade propiciada pelos automóveis. O avião a jato veio, com menores custos, encurtar as

distâncias e o tempo de viagem, abrindo acesso a classes sociais que anteriormente não

podiam fazer turismo.

Os trabalhadores reivindicaram mais tempo de lazer e adquiriram o direito a férias

remuneradas. Assim, a melhoria nos meios de transporte, na vida das cidades, o trabalho nas

fábricas que substituiu o trabalho doméstico, foram alguns dos fatores que transformaram o

turismo em um fenômeno mundial de massas.

Nos períodos compreendidos entre os anos de 1960 e 1970, os agentes de viagens

começaram a utilizar as novas técnicas de administração e marketing, introduzindo o uso da

informática em suas empresas.

Em 1970, o mundo já contava com um extraordinário número de agências deviagens, de companhias aéreas e de grandes cadeias hoteleiras. A grandeconcorrência estabelecida entre os meios de transporte, como navios, trens, ônibus eaviões, entre as cadeias hoteleiras e, principalmente, entre diferentes países, cadaqual querendo atrair para suas empresas e seus territórios maior número devisitantes, fez com que as atrações turísticas fossem divulgadas mundialmente. Osserviços foram aperfeiçoados e os preços reduzidos em razão da forte concorrênciacomercial. (OLIVEIRA, 2002, p. 27)

Portanto, as viagens foram sendo cada vez mais estimuladas em decorrência das

facilidades criadas até então, tornando-as cada vez mais organizadas e também acessíveis às

classes menos abastadas. Diversificam-se os grupos sociais que passam a desfrutar do prazer

de viajar. Com isso as viagens turísticas tornaram-se elemento constante da vida cultural e

sócio-econômica de muitas sociedades.

A partir de 1980, o desenvolvimento tecnológico permitiu que os serviços

turísticos, englobando todas as áreas da atividade, passassem a ser mais rápidos, eficientes e

com preços mais baixos. As reservas de acomodações nos meios de hospedagens, de lugares

Page 5: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

15

nas empresas transportadas, de aluguel de veículos, por exemplo, passaram a ser feitas

eletronicamente.

Os consumidores de viagens passaram a dispor em seus computadores

domésticos, de muitas das informações de que necessitavam. E o surgimento da globalização

foi de suma importância para acelerar o crescimento do turismo. Como afirma Oliveira (2002,

p. 27): “[...] as fronteiras, antes fechadas, abriram-se, permitindo a entrada de multidões de

turistas. O mundo ficou cada vez menor e as pessoas mais próximas umas das outras em

conseqüência da globalização”.

As telecomunicações, a área de multimídia e a Internet transformaram o setor

turístico, forçando mudanças nas apresentações dos produtos, na prestação dos serviços, na

comercialização e na comunicação, alterando os papéis de agentes tradicionais e criando

novos espaços de comercialização e relacionamento.

Segundo Dias (2003, p. 20) sobre os avanços tecnológicos no campo da

informação e das telecomunicações diz que “[...] com a facilidade de obtenção de informações

dos destinos e dos atrativos oferecidos, o turista torna-se mais exigente ao consumir o produto

in loco, pois recebeu informações amplamente disponibilizadas na Internet”.

Com isso, o turista começa a personalizar sua viagem; em função da facilidade de

informação, procura cada vez mais fazer seu próprio planejamento, evitando a padronização.

Ao chegar ao local de viagem, estabelece seus próprios contatos e roteiros que previamente

estabeleceu via Internet.

Segundo Beni (2003, p. 24) sobre o crescimento de sites de turismo “[...] os sites

de turismo têm crescido numa proporção geométrica em todo o mundo. Para se ter uma idéia

desse crescimento, somente no Brasil o salto nos dois últimos anos foi de 1.200 para 6.000

sites, ou seja, um aumento de 400%”.

Ressalta-se a possibilidade de os turistas elaborarem seus próprios pacotes

turísticos, incluindo-se reservas em hotéis, vôos aéreos, entre outros, com um simples acesso à

Internet ou aos sites de turismo, permitindo ao turista realizar uma espécie de “turismo

virtual”, onde ele poderá fazer uma pesquisa detalhada sobre os destinos que o interessam, e

ao final escolher um deles para visitar.

Mas além da pesquisa, é possível também, por meio dos recursos virtuais

(tecnológicos), conhecer previamente um local a ser visitado. E, para aqueles que por algum

motivo não podem se deslocar fisicamente é possível “visitar virtualmente” vários lugares do

mundo, pois através de alguns “cliques” pode-se estar em contato com os mais longínquos

espaços do planeta.

Page 6: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

16

As grandes cadeias de hotéis, restaurantes e companhias de transporte se

consolidam e novos atrativos se configuram nos parques temáticos, na convivência com a

natureza, nos esportes, na aventura, na saúde, na religião e em tantos outros.

Como aponta Trigo (1998, p. 23) sobre algumas tendências do turismo:

A globalização das estruturas políticas e econômicas iniciou um movimento emdireção a um mundo sem fronteiras. [...] talvez como reação à globalização e àpadronização, há um crescente reconhecimento do valor da diversidade cultural.Paralelamente, esse reconhecimento de manter e divulgar as características únicas eespeciais de grupos étnicos e sociedades receptivas como um princípio fundamentalde promoção e desenvolvimento.

Conforme a abordagem do autor, entende-se que a globalização teve papel

imprescindível no que tange à facilidade de comunicação entre os povos de várias culturas,

promovendo uma maior interação entre eles, de uma forma rápida e descomplicada. Em

contrapartida surge como reação à globalização, um maior interesse para o reconhecimento de

valores e costumes das sociedades entre si, bem como para a valorização e preservação da

identidade cultural, despertando nas pessoas a vontade de conhecer e ao mesmo tempo de

reconhecer suas afinidades com outras culturas.

Portanto, além do suporte tecnológico e das mudanças econômicas, o que

contribuiu para o aumento das viagens e do turismo foi a valorização que as pessoas

começaram a fazer das atividades ligadas ao lazer, às artes, à cultura, aos contatos

internacionais. Neste contexto, viajar tornou-se mais fácil, até mesmo um hábito, uma prática

social ou profissional comum ou mesmo uma necessidade para vários segmentos sociais.

O turismo, do ponto de vista econômico, só tende a ser favorecido, pois, além de

ser importante fonte de receita para os países em desenvolvimento e mesmo os desenvolvidos,

atende a uma necessidade de ocupação do tempo livre como o desenvolvimento espiritual e o

aprofundamento cultural.

Haja vista que uma das características fundamentais da vida e uma das principais

motivações humanas, que sempre tem acompanhado o homem na sua evolução histórica, é a

procura da diversidade e da variedade: diversidade de paisagens, de climas, de modos de vida,

de culturas e de civilizações.

É possível, portanto, que diferentes povos através da atividade turística, passem a

compreender o lugar que ocupam no mundo e a ligação que possuem uns com os outros.

Segundo estudos realizados em 2002 pela Organização Mundial do Turismo (OMT) indicam

a busca por interatividade como uma das tendências para as próximas décadas. (BRASIL,

2002)

Page 7: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

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Alguns turistas ainda preferem envolver-se com a realidade do lugar que visitam,

com locais onde as culturas autênticas permanecem preservadas e por esse motivo é possível

haver interação entre uma cultura e outra, seus costumes, e até mesmo com as práticas

religiosas ali existentes. Em contrapartida, é possível observar que existem turistas motivados

por outros interesses, como por exemplo, a um destino diferenciado, dotado de infra-estrutura

e segurança, em local paradisíaco, onde é possível o contato com a natureza e a possibilidade

de desfrutar várias opções de lazer e entretenimento, para todas as idades, local este

conhecido como “resort”. Neste último caso, a motivação é diferente em relação ao turismo

religioso e cultural, pois não existe interação entre as culturas e nem busca por lugares

considerados sagrados.

A visitação em massa a locais considerados turísticos, ou seja, aqueles eleitos

como preferidos pelos turistas, mais conhecidos como turismo de sol e praia, acaba

ocasionando uma sobrecarga nesses locais. Nesse contexto, nota-se uma crescente procura por

outros segmentos do turismo, como por exemplo, o turismo religioso e cultural, que ainda

assim não deixam de ser considerados tipos de turismo de massa, já que podem reunir

diversas pessoas no mesmo local e ao mesmo tempo, como é o caso dos eventos religiosos.

O turismo religioso surge como uma nova opção de segmentação do mercado

turístico, onde o produto turístico pode ser vendido a diferentes grupos sociais de diferentes

localidades, destacando-se os festejos, que movimentam fiéis de vários lugares, em busca de

realização espiritual, objetos e pessoas sagradas e geram fluxos contínuos de turistas de todas

as crenças e religiões.

O turista do segmento religioso, diferentemente dos turistas que viajam em busca

de praia, sol e mar, almeja a paz espiritual, pagamento de promessas, alcance de graças e

adoração aos santos, cultos, curas espirituais. Nesse sentido, vários lugares têm se destacado

pela prática do turismo religioso, a exemplo do Caminho de Santiago de Compostela,

localizado na Espanha, da Basílica de São Pedro, em Roma, da cidade de Fátima em Portugal,

a cidade de Aparecida em São Paulo e ainda São José de Ribamar no Maranhão, objeto deste

estudo, conhecida por ser o “santuário da fé dos maranhenses”, que movimenta milhares de

fiéis o ano inteiro e, principalmente, durante o Festejo de São José de Ribamar, santo

padroeiro do Estado.

Page 8: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

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2.1 Sociedade de consumo e turismo

Conforme mencionado anteriormente, com a modernidade e o desenvolvimento

das comunicações, do avanço tecnológico, de novos costumes, valores culturais e hábitos

emergentes, as viagens foram crescendo, sofisticando-se e se adequando às novidades globais

da época demandada pelos consumidores e oferecida pelos produtores. Nesse sentido

constrói-se a necessidade de praticar turismo pela sociedade moderna. E, como afirma

Coriolano (1998, p. 30): “A idéia de viajar vem penetrando de tal forma na mente do homem

moderno que cada vez mais, se fortalece como uma conquista, um direito, uma possibilidade,

um consumo criados no contexto da sociedade através dos meios de comunicação de massa

eletrônicos”.

Essa alteração no estilo de vida dos seres humanos vai, cada vez mais os

impulsionando a adotar, como alternativa de lazer, a viagem. E a sociedade capitalista,

responsável pela intensificação do ritmo de trabalho, logo transforma essa opção de uso do

tempo livre em mercadoria.

A modernidade industrial ao promover as inovações tecnológicas, informacionais

e organizacionais possibilitou ampliação do tempo livre, mas desempregando grande massa

de trabalhadores. Porém, foram as sociedades capitalistas que valorizaram o lazer, como

novos espaços de trabalho e de consumo. Afinal, o interessante ao capitalismo é a produção, o

lucro, que também podem ser extraídos do lazer e do turismo.

Para Coriolano (2006) “se o capitalismo luta pela maximização dos lucros, o

tempo livre é um desperdício, afinal para ele tempo é dinheiro”. Assim, o capitalismo

transforma o tempo livre em oportunidade de ganhos, tanto no turismo como no lazer local.

Transforma o lazer em consumo, em lucros, em oportunidade de negócio, considerado como

um dos mais oportunos e rentáveis, na atualidade.

Turismo e capitalismo se completam, pois o turismo é fruto dessa sociedade de

consumo e transforma o espaço e o próprio tempo em mercadoria. Assim fica cada vez mais

difícil ocorrer divertimento sem consumo. Em conseqüência disso, o turismo foi chamado de

indústria, pois nele ocorrem fenômenos de consumo, originam-se rendas, criam-se mercados

nos quais a oferta e a procura encontram-se.

O turismo que era para muitos uma atividade secundária, passou a receber atenção

especial em razão de ser uma fonte geradora de receitas e a exigir metódica e delicada

manipulação, consolidando-se dentro do conceito de “indústria normal”. Conforme Beni

(2002, p. 27):

Page 9: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

19

No turismo, pode-se imaginar, a priori, que tanto a área estatal como a empresarialtêm como objetivo real o lucro. O Estado espera da atividade turística o superávit nobalanço de pagamentos na conta específica, em razão do ingresso de divisas, e asempresas que atuam no setor igualmente dimensionam a prestação de seus serviçosem razão da lucratividade dos investimentos necessários. (BENI, 2002, p. 27)

Para alguns autores, o turismo pode ser considerado como indústria por muitas

razões. Seja pela existência de uma organização dentro do setor que promove as viagens e

beneficia os locais receptores, seja pelos meios que utiliza ou pelos resultados que produz.

Neste caso, a especificação “indústria do turismo” está mais relacionada ao ponto de vista

econômico, na medida em que interage com vários segmentos de uma organização e ao final é

capaz de gerar lucro para um determinado local.

Dessa forma, do ponto de vista de negócio, o turista passa a ser visto apenas como

hóspede, consumidor ou cliente, e o turismo uma fonte de renda e divisas. Já para outros

autores como Coriolano (2006), “a rotulação indústria do turismo indica um equívoco

conceitual, reduz a dimensão da atividade ao setor econômico, quando ele é, também um

fenômeno sociocultural”.

Não podemos esquecer que o turismo além de gerador de renda e divisas é

também uma prática social, porque tem a capacidade de reunir oportunidades de aquisição

cultural, troca de experiências, realização de sonhos, busca de emoções e formas de

aprendizagem, tornando-se essencial para a interação entre as sociedades e à valorização da

identidade cultural de cada uma delas. Portanto, o turismo não deve ser considerado e

entendido apenas como uma forma de desenvolvimento econômico, mas sim sociocultural.

Em muitas circunstâncias, a dimensão cultural do turismo é substituída por uma

função puramente comercial, pois o viajante encontra em qualquer parte do mundo os espaços

similares e termina viajando numa seqüência de reproduções artificiais do mundo dos cartões

postais, apresentados através da publicidade.

Paralelamente ao trabalho, surgiram aos poucos as atividades ligadas ao tempo

livre, referentes aos deslocamentos para o campo, às férias, às festas públicas e privadas, às

procissões; apareceram os divertimentos e o turismo.

Na sociedade industrial, a atividade tornou-se um fenômeno de massa, podendo

atender a um maior número de pessoas das classes médias. Passou a gerar lucros e divisas,

algumas vezes, à custa de degradações, descaracterizações espaciais e discriminações sociais.

À medida que cresceram as cidades manufatureiras, surgiram as “semanas de

folga”, as férias e, com elas, aumentaram os balneários como opção de lazer para as classes

Page 10: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

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trabalhadoras. Dessa modalidade evoluíram várias formas de lazer: os clubes, as cooperativas

de férias, o Touring Club, o Camping club, os albergues da juventude, os cruzeiros, etc.

A revolução industrial, ao acentuar a primazia e o valor extraído do trabalho,

ampliou as necessidades do lazer, sofisticou o produto, aprimorando-o no turismo. As férias,

ou o tempo livre, conquista dos operários fabris, antes usado para ficar em casa ou ir à Igreja,

foi redirecionado para passeios e viagens, conforme discutido anteriormente.

A sociedade de consumo com melhores e mais rápidos meios de comunicação

habilita-se para produzir cultura de massa, criando formas coletivas de lazer, como por

exemplo, o rádio, a televisão, o futebol, o turismo de sol e praia, os parques temáticos.

Na sociedade moderna, o turismo é um dos principais serviços de apoio à

produção e uma grande forma de consumo. Ao transferirem suas fábricas para os países

periféricos, os Estados ricos destinam maior movimentação ao turismo e ao consumo. A

sociedade industrial que se identifica agora como de produção flexível tem como base os

serviços.

A expansão do turismo no mundo contemporâneo configura-se fruto desse

processo histórico, das relações de trabalho que criaram o tempo livre, propiciado pelo

desenvolvimento tecnológico. O turismo representa um dos principais objetos do grande

consumo criado nesse contexto. O prazer, a liberdade e o lazer são enaltecidos nas sociedades

contemporâneas. Fica cada vez mais difícil desvencilhar férias, descanso e tempo livre das

atividades turísticas.

O estresse e as tensões vividas nos centros urbanos contribuem para que se

valorize e se destaque a atividade turística como necessidade básica das pessoas. Esta é vista

como necessária para uma trégua revitalizadora que propõe romper com as pressões

cotidianas, a rotina de trabalho e tantas outras obrigações rotineiras as quais o ser humano está

submetido.

É um período que favorece a reposição das energias, o descanso mental, o

crescimento pessoal e a fuga do cotidiano. Aproveitando tal contexto, a sociedade de consumo

começa a fortalecer o setor encarregado pela produção e pelo aperfeiçoamento dos produtos

turísticos.

Em contrapartida os turistas passam a ser mais exigentes, estão buscando novos

destinos e as melhores relações qualidade/preço; cria-se ambiente de grande concorrência

entre destinos turísticos, exigindo a utilização das técnicas de marketing.

O turismo se tornou uma das maiores atividades econômicas do mundo na geração

de divisas, empregos e recursos. Atualmente, é impossível limitar uma definição específica de

Page 11: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

21

turismo. Sem dúvida é uma atividade sócio-econômica, pois gera a produção de bens e

serviços para o homem visando à satisfação de diversas necessidades básicas e secundárias.

Devido a sua diversidade de ecossistemas que atrai o turismo alternativo e a

possibilidade da prática do turismo de sol e praia durante o ano todo, bem como a prática do

turismo cultural e religioso, que cada vez mais vem sendo procurado pelas pessoas, o Brasil é

um país com possibilidades de crescente aumento da chegada de turistas.

2.2 Lazer na contemporaneidade

A exaltação exacerbada do trabalho fez surgir o tempo livre e o lazer. Se na

sociedade industrial, o trabalho constituiu o cerne das preocupações, na chamada sociedade

flexível, o tempo livre, o lazer, o turismo e o prazer passam também a merecer igual atenção.

O turismo é um fenômeno dos tempos modernos, uma invenção do capitalismo,portanto é relativamente recente. Surgiu quando o homem descobriu o prazer deviajar, não apenas por necessidade e obrigação, mas por ser algo prazeroso, forma degozo, até se transformar em uma mercadoria como objeto de desejo e de felicidade.(CORIOLANO, 2006 p. 21-22).

Ao contrário, a viagem existiu desde o início da existência humana e ocorria por

variados motivos: necessidade de suprir a sobrevivência, as guerras, os ritos sagrados, a busca

de saúde.

Na Antigüidade, as viagens eram vistas como um imperativo do destino; eram

realizadas como uma provação ou sofrimento, às vezes uma aventura, consideradas como

determinação da vontade divina. Isso se devia às condições precárias nas quais as pessoas

eram submetidas durante as viagens, ou seja, o deslocamento tornava-se muito demorado, por

conta de transportes e estradas de péssima qualidade, ao final essas pessoas chegavam ao seu

destino totalmente exaustas e sem vontade de repetir o trajeto.

Já a viagem turística muitas das vezes tem como objetivo primordial, sair do

cotidiano e possibilitar o encontro com o novo, o diferente, o desconhecido, a satisfação que

proporciona o consumo. O turismo, portanto, faz parte do mundo das mercadorias que atende

as novas necessidades geradas pelo capitalismo na sociedade de consumo.

Na vida moderna tanto a sensação de que o trabalho é estressante, quanto o

freqüente corre-corre das cidades fez priorizar a necessidade de lazer e da busca da felicidade,

fora deste cotidiano. Para muitos indivíduos, encontrá-la implica sair do mundo real, do

trabalho, viabilizado pela viagem turística. Muitos acreditam que a felicidade é facilmente

encontrada fora do cotidiano.

Page 12: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

22

Na modernidade, o trabalho permitiu a produção e o acúmulo de riqueza. Por

causa dele, se dá importância ao tempo livre e ao turismo. O tempo das pessoas que não

encontram emprego ou o perderam não pode ser direcionado para o turismo, porque esta

prática exige consumo e gastos, ao contrário dos que trabalham, que afastados

temporariamente continuam remunerados podendo converter seu tempo livre em turismo.

Entende-se o tempo livre, portanto, como aquele vinculado ao trabalho, pois, se

não houver o trabalho, o tempo não será livre, estará sempre desocupado. E somente este

tempo pode ser direcionado ao turismo, já que o mesmo é visto economicamente pela

sociedade capitalista como gerador de divisas e como um dos principais meios de

desenvolvimento para os países.

Com o aumento das horas ociosas, com a redução nos custos de transporte e com

o advento da globalização da informação sobre as atrações turísticas mundiais, o turismo

cumpre com sua função básica de transformar o tempo livre em lazer. E o faz na medida em

que propicia às pessoas a possibilidade de conhecer os mais diversos roteiros que incluem

locais fascinantes de se ver e visitar.

Segundo Oliveira (2002, p. 42):

Muitas pessoas viajam em busca de paz, pela necessidade do reencontro com anatureza. A vida moderna e agitada dos grandes centros urbanos afastou o serhumano do ambiente natural. Daí a importância do sol, da água e das belezasnaturais. As pessoas viajam também atraídas pelos contrastes geográficos, pelosvalores históricos e porque cada vez mais dispõem de mais tempo livre.

As motivações para fazer turismo são as mais diversas. Algumas pessoas viajam

apenas para diversão, outras por questões culturais (visitar museus, locais históricos), por

fatores religiosos, visitas a parentes, participar de eventos (congressos, feiras, exposições ou

por competições esportivas e até para tratamento de saúde). A partir dessas motivações

surgiram os segmentos do turismo, dinamizados pelo uso do marketing.

O tempo livre vem sendo cada vez mais utilizado como meio de evasão da vida

estressante das cidades, onde o trabalhador transforma-se em turista e decide o tipo de viagem

e o local que deseja passar suas férias. Diante das necessidades dos seus clientes, as agências

de viagens elaboram pacotes atraentes, envolvendo os mais variados segmentos turísticos,

sendo divulgados maciçamente através do marketing e de mais veículos de propagandas,

dentre eles os sites na Internet.

No Brasil, dentre os segmentos turísticos mais procurados pela demanda turística

estão o turismo de praia, o cultural e religioso. Apesar de ocupar o 30º lugar nos destinos

turísticos do mundo, segundo informações da EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo,

Page 13: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

23

(2000), o Brasil possui potencial de sobra para melhorar seu desempenho, pois é um país com

enorme pluralismo de etnia, religião e cultura, onde não há guerras, terrorismo, catástrofes e

inverno rigoroso, e que possui um litoral de mais de 5.000 km com belas praias e clima

tropical. Em relação ao aspecto cultural e religioso, no Brasil, desenvolvem-se durante o ano

todo, grandes festas de cunho nacional, dentre estas se destacam os festejos religiosos que

movimentam fiéis de vários lugares.

O turismo religioso é considerado por alguns autores, como BARRETTO (1995),

“uma forma de turismo cultural, já que este tipo de turismo envolve atrativos culturais como:

patrimônio histórico, culinária local e regional, artesanato, música, festas religiosas,

manifestações folclóricas, eventos culturais, etc”.

O turismo religioso surge como uma nova opção de segmentação do mercado

turístico, onde o produto turístico pode ser vendido a diferentes grupos sociais de diferentes

localidades. É característico desse tipo de segmento turístico, reunir inúmeras pessoas em um

só local, todas motivadas principalmente pela fé, dentre outros fatores religiosos. A

segmentação turística é assunto a ser desenvolvido no próximo capítulo.

Page 14: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

24

3 TURISMO E SEGMENTAÇÃO: reflexos de uma demanda

A intensa atividade humana e os desgastes dela decorrentes levaram a própria

sociedade a procurar recursos capazes de fornecer aos indivíduos os necessários meios para o

atingimento de muitas de suas aspirações, entre as quais a prática do lazer e do turismo. E

sendo o homem,

Possuidor de desejos, dotado de vontade livre e com possibilidades de satisfazer suascuriosidades e necessidades naturais, sempre procura responder às estimulações e àsmotivações externas que o convidam ou impelem às ações diversas daquelas nasquais se empenha de modo costumeiro ou quase permanente. (ANDRADE, 1998, p87).

E, por ser a atividade turística considerada por muitos autores responsável por um

processo de interação entre os povos, já que possibilita o conhecimento de diferentes

ambientes e culturas, fomenta a educação no seu sentido mais amplo e genérico, além disso,

envolve inúmeros setores da economia, direta e indiretamente, criando uma interrelação de

componentes ambientais, culturais, econômicos e sociais, envolvendo as pessoas em suas

expectativas.

Com o crescente desenvolvimento do turismo, o que se pôde observar foi um

grande número de indivíduos interessados em conhecer lugares, pessoas, costumes diferentes.

A partir desse ponto vários serviços de viagens foram elaborados com o objetivo de

comportar o maior número de adeptos, oferecendo lugares e serviços comuns a todos.

Podemos perceber, portanto, que o setor turístico e os próprios consumidores

(turistas) perceberam a necessidade de que fosse oferecido algo diferenciado, personalizado: a

partir de tal necessidade surgiu o que chamamos de segmentação do mercado turístico. As

pessoas escolhem o destino no qual querem visitar de acordo com as suas aspirações e pelos

mais variados motivos. Deste modo, atividade turística teve que se adaptar aos anseios dos

seus consumidores, buscando oferecer serviços que satisfizessem praticamente todos os

segmentos sociais.

É importante ressaltar que com a concorrência acirrada no mercado turístico, os

pacotes segmentados são cada vez mais produzidos, oferecendo por diferencial os gostos, as

opções e os desejos de cada pessoa. Dessa forma quem tem a ganhar é o consumidor que

encontra nos novos serviços turísticos personalizados aquilo que vem de encontro com suas

necessidades e anseios.

De acordo com Petrocchi (2004, p. 249):

Page 15: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

25

O destino turístico após a escolha dos mercados geográficos, necessita, entãoconhecer os desejos e necessidades da população da região selecionada. Para tanto asegmentação é uma ferramenta importante, pois divide o mercado em segmentosmenores. Por seu intermédio a oferta turística pode ser melhor estruturada em buscado posicionamento competitivo. (PETROCCHI, 2004, p. 249)

Essa segmentação possibilita o conhecimento dos principais destinos geográficos

e tipos de transporte, da composição demográfica dos turistas, como faixa etária e ciclo de

vida, nível econômico ou de renda, incluindo a elasticidade-preço da oferta e da demanda, e

da sua situação social, como escolaridade, ocupação, estado civil e estilo de vida.

Para Beni (2002), a segmentação do mercado turístico é a melhor maneira de

estudá-lo, constituindo-se na “[...] técnica estatística que permite decompor a população em

grupos homogêneos”, e o principal meio disponível de fazê-lo é através do motivo da viagem.

A segmentação do mercado no turismo é, talvez, o exemplo mais prático desse

direcionamento em que o mercado de viagens diversifica-se de acordo com os grupos.

De acordo com Middeleton (2002, p.114), os negócios no turismo geralmente

voltam sua atenção “a determinados subgrupos de visitantes dentro do mercado total ou

segmentos, os quais identificam como as metas mais produtivas para suas atividades de

marketing”.

A segmentação é uma das estratégias de marketing adotadas e a sua função nesse

processo tem o objetivo de agrupar pessoas que tenham comportamentos semelhantes, com a

finalidade de direcionar esforços concentrados e especializados de marketing a esse grupo. A

partir dessa técnica de agrupar pessoas com perfis semelhantes, surgem vários segmentos na

atividade turística, dentre os quais destaca-se o turismo religioso.

O turismo religioso pode ser considerado como mercado de importância e que,

dependendo dos esforços de marketing desprendidos, pode ser um ramo da atividade

econômica de grande valor, na medida em que surge como setor da atividade turística que

vem tendo crescente ascensão.

3.1 Segmentação turística como estratégia de marketing

Conforme mencionado em capítulo anterior, o turismo tem séculos de existência,

mas devido às diversas mudanças que constantemente têm ocorrido na sociedade desde os

primórdios de sua existência, é que são consideradas como responsáveis por motivar os

desejos e as necessidades das pessoas e conseqüentemente acabam por refletir diretamente

Page 16: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

26

nos elementos do produto e nas condições do mercado, exigindo mudanças nos métodos

empresariais e levando à adoção e ao uso do marketing turístico.

Pode-se ressaltar que o mercado turístico se desenvolve principalmente segundo

as exigências dos fatores sociais, já que o turismo é reflexo de uma sociedade que demanda

cada vez mais inovações da atividade turística, e para acompanhar as mudanças que ocorrem,

faz-se necessário a introdução de práticas na área de marketing. Para isso, o marketing utiliza-

se da segmentação do mercado turístico como estratégia de oferecer maior satisfação ao

turista.

Além de ser um importante fator que busca oferecer satisfação ao turista, o

marketing deve promover a preservação dos locais onde atua, ou seja, não pode permitir que

se ultrapasse os limites de cada ambiente nem que se afete a comunidade local, trazendo má

qualidade de vida a mesma. Portanto, o marketing turístico deve incentivar o destino turístico

a se voltar não só à produção de bens e serviços, mas também a sua prosperidade em longo

prazo. Porém o que observa-se atualmente é que os objetivos do marketing quanto ao turismo

estão direcionados para cada vez mais massificá-lo, não dando importância para o seu

desenvolvimento sustentável.

Como afirma Cooper (2001 p. 382):

O marketing evoluiu em um contexto de pressões econômicas e empresariais. Estaspressões exigiram um enfoque maior na adoção de uma série de medidas gerenciaisbaseadas na satisfação de necessidades do consumidor. A chave para a importânciado marketing dentro do turismo foi o nível do crescimento econômico durante oséculo XX, que levou a melhorias subseqüentes no padrão de vida, um aumentopopulacional e maior tempo livre.

Podemos observar que a necessidade de mudança caiu sobre o setor por causa das

mudanças que ocorreram em relação às forças de mercado e ao consumidor. O moderno

marketing do turismo surgiu como uma reação empresarial às mudanças no ambiente social e

econômico, com as empresas ou órgãos turísticos mais bem-sucedidos, tendo demonstrado um

sentido afiado no oferecimento da boa estrutura organizacional e na oferta de produto ao

consumidor ou visitante.

Vivemos em tempos de intensa transição, onde o que é válido e consumido hoje,

amanhã já se torna obsoleto e não responde mais às necessidades que parecia satisfazer. Isso

acontece pelo fato de a sociedade ser dinâmica e estar em constante reciclagem de

conhecimentos, gostos e expectativas. Os mercados buscam reagir rápido a essa situação,

porque mudam também os produtos e serviços, os desejos e as motivações dos consumidores

e suas decisões de compra, os canais de distribuição, a publicidade e o marketing competitivo.

O marketing por sua vez procura através da segmentação, o incremento de novos produtos

Page 17: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

27

como forma de reagir ao turismo de massas, que acaba transformando alguns locais em

destinos saturados.

De acordo com Ansarah (1999 p. 17):

Diante da realidade do aumento do consumo de produtos turísticos e incremento doturismo de massas, outros novos produtos começaram a surgir para atender cada vezmais os turistas. Dentre as causas que levam as empresas a buscarem segmentosespecíficos de mercado foi o próprio direcionamento do marketing que mudou,fazendo deste um instrumento para conseguir vender o produto.

Além disso, o marketing ao adotar a estratégia de segmentação, o núcleo receptor

pode se preparar adequadamente para receber os diferentes públicos, atendendo os anseios e

as necessidades específicas de cada nicho específico de turista, trazendo assim maior

satisfação a cada grupo homogêneo e conseqüentemente consegue vender seu produto com

mais facilidade.

O marketing leva em conta que os turistas são diferentes em seus desejos,

curiosidades, motivações, localizações geográficas, atitudes e hábitos de viajar, identificando

os segmentos amplos que formam um mercado. Como conseqüência, podem ser estruturados

pacotes turísticos que atendam aos desejos desses segmentos e com preços compatíveis ao

poder de compra de cada um deles. As empresas buscam cada vez mais conhecer os seus

clientes, e depois de terem várias informações a respeito destes, é possível fazer um

diagnóstico contendo as características que contribuirão para atendê-los com produtos

personalizados. Como afirma Ansarah (1999 p. 19):

As empresas e os consumidores estão buscando novos caminhos para o mercadoturístico, e o que se observa é a segmentação como um dos caminhos escolhidos,destacando-se como a ferramenta mais importante a informação a respeito docliente. Valendo-se dessas informações torna-se possível segmentar o mercadoatendendo aos desejos do cliente com produtos personalizados.

As estratégias de segmentação ganham ainda mais importância por causa da

proliferação de mídias que podem ser usadas em propaganda e canais de distribuição. Esses

aspectos ampliam as necessidades de melhor ajustar aos desejos de públicos específicos às

ações de canais de distribuição e de promoção, além de criar possibilidades de o destino

turístico focar determinados segmentos de mercados, encontrando menor número de

concorrentes.

No campo do turismo, como em qualquer outra atividade econômica, o

conhecimento do mercado é fundamental para orientar as ações das empresas que nele atuam

e a segmentação do mercado turístico é a base do sucesso estratégico, sendo possível assim,

formular valiosas estratégias, e o turismo, como um produto intangível, depende muito do

marketing para aproximar produtores e consumidores.

Page 18: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

28

Através da segmentação, empresas ou quaisquer outros tipos de organizações

interessadas no turismo sistematizam as informações sobre cada consumidor, e a partir daí,

buscam formas de atendê-los de modo mais eficaz e rentável.

A cada ano, um expressivo contingente de viajantes preparam-se para conhecer

novos destinos turísticos e este desejo é alimentado dentre outros fatores pela comunicação

global da Internet e da televisão a cabo, através da profusão de novas publicações de

excelente qualidade gráfica e de conteúdo ilustrativo, como é o caso de suplementos e revistas

de turismo especializados, onde se percebe nitidamente a adoção e o uso do marketing.

Diante das diferenciadas necessidades dos seus clientes, as operadoras e agências

de viagens investem maciçamente em publicidade, e tentam oferecer serviços com preços

ajustados ao seu público, condições de pagamento, além de criatividade, para atrair e fidelizar

clientes.

3.2 Alguns segmentos do turismo

Conforme mencionado anteriormente, a segmentação do turismo vem ocorrendo

principalmente para atender às diferentes demandas, que têm solicitado produtos turísticos

diferenciados, fazendo surgir diversos tipos de turismo. Os vários tipos de turismo praticados

no mundo todo tornam essa atividade uma grande opção de desenvolvimento. Para efeito

deste trabalho, optou-se por abordar apenas alguns dos muitos segmentos do turismo

existentes na atualidade. Tais como:

Turismo de lazer: voltado para pessoas que viajam por prazer, descanso, rever

amigos, visitar parentes, etc.

Turismo de eventos e negócios: envolve pessoas com interesse em participar

de eventos focados no enriquecimento técnico, cientifico ou profissional, cultural

incluindo ainda o consumo. Já o de négócios é aquele praticado por pessoas que

viajam a negócios voltados por diversos setores da atividade comercial ou

indústria, para conhecer mercados e estabelecer contatos.

Turismo cultural: caracteriza-se por uma permanência prolongada e um

contato mais “intimo” com a comunidade, ocorrendo viagens menores e

suplementares dentro da mesma localidade com o intuito de aprofundar-se na

experiência cultural. Este tipo de segmento é o que mais se relaciona com o

turismo religioso por se tratar de atividades turísticas que envolvem a cultura e

suas manisfetações, festejos, dentre outros.

Page 19: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

29

Turismo religioso: diferente de todos os outros segmentos de mercado do

turismo, tem como motivação fundamental a fé. Este segmento por ser objeto de

estudo deste trabalho será melhor explorado em capítulo posterior.

Turismo da terceira idade e de saúde: em virtude da melhoria da qualidade

de vida nos países desenvolvidos, as pessoas estão alcançando idades cada vez

mais avançadas. Os idosos, agora com mais vigor físico, estão viajando com mais

freqüência. Em geral, esse tipo de turista é atraído por locais seguros, com belas

paisagens e que não exigem muito esforço físico, constituindo o turismo da

terceira idade. Já o turismo praticado por pessoas que necessitam realizar

tratamentos de saúde e, por isso, procuram locais onde existam clínicas e serviços

médicos especializados, é chamado turismo de saúde.

Turismo de educação: segmento da educação teria nichos em cursos,

seminários, intercâmbios estudantis, participações em concursos, visitas a museus,

monumentos da história, eventos culturais, viagens pedagógicas e vários outros.

Turismo de natureza: o objetivo desses visitantes é respirar ar puro, apreciar

a beleza do ambiente e registrar em fotos e filmes os elementos da fauna e flora.

Dentre esses, se destacam o turismo cultural e o turismo religioso, onde no

primeiro segmento as pessoas viajam em busca da variedade cultural e das manifestações

típicas de cada região, enfim, de atrativos culturais como: patrimônio histórico, culinária local

e regional, artesanato, música, festas religiosas, manifestações folclóricas, eventos culturais e

científicos etc.

Quanto ao segmento do turismo religioso, constata-se que não é de hoje que as

pessoas viajam em busca de graças, de paz, de conforto espiritual, desde os tempos bíblicos

que isso acontece. O turismo religioso é um dos segmentos da atividade turística que

movimenta um grande número de fiéis em uma viagem pelos mistérios da fé e da devoção a

algum santo, é praticado por pessoas interessadas em visitar locais sagrados e hoje é um

mercado que cresce a cada ano e cria oportunidades de empregos e negócios para muitas

pessoas.

Atualmente multiplicam-se os destinos religiosos, à medida que surgem boatos ou

fatos de aparições de seres celestiais ou de realizações de milagres e curas efetuadas por

algum religioso ou místico. As notícias e o marketing direto ou indireto acerca dos locais

onde acontecem os feitos extraordinários atraem os agentes turísticos, que em geral, se

antecipam a qualquer medida ou manifestação de autoridades religiosas.

Page 20: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

30

O turismo religioso se utiliza da religiosidade, da fé, de crenças, de superstições

ou mesmo da simples curiosidade popular para atrair pessoas a lugares que se não fosse pela

motivação espiritual não seriam um destino atrativo.

Como em outros segmentos do turismo, o turismo religioso tem seus prós e

contras. A massificação, congestionamentos, poluição, super lotação de Igrejas e Templos são

alguns efeitos negativos desse tipo de turismo, uma vez que as cidades, em sua maioria, não

possuem uma super estrutura para receber visitantes, muitas vezes são localidades simples, de

comunidades humildes que com o tempo vão tomando dimensões maiores com a exploração

turística. Por outro lado, esse segmento é uma possibilidade de diversificação de renda e

movimentação da economia local das localidades receptoras.

Num momento em que a sociedade passa por profundas transformações religiosas,

com a morte do Papa João Paulo II, com o surgimento de novas religiões e o fortalecimento

de outras já existentes e até com brigas e guerrilhas onde a religião é o tema central, o turismo

religioso ganha lugar de certa notoriedade.

O que se espera é que os destinos sejam planejados, que as localidades “ganhem”

com o turismo. Que seja uma troca justa: elas cedem seu espaço, sua espiritualidade, sua fé

em algo sobrenatural e recebam em troca uma melhor qualidade de vida adquirida por meio

da atividade turística.

Page 21: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

31

4 TURISMO RELIGIOSO

O turismo religioso pode ser entendido como atividade desenvolvida por pessoas

que se deslocam por motivos religiosos ou para participar de eventos de significado religioso.

Pode-se falar em turismo religioso quando o sagrado migra como estrutura de percepção para

o cotidiano, para as atividades festivas, o consumo e o lazer.

Na prática, são viagens organizadas que compreendem peregrinações, romarias,

visitas a locais sagrados, congressos e seminários ligados à evangelização, festas religiosas

que são celebradas periodicamente, espetáculos e representações teatrais de cunho religioso.

Pode ser definido como: “[...] o conjunto de atividades com utilização parcial ou total de

equipamentos e a realização de visitas a receptivos que expressam sentimentos místicos ou

suscitam fé, a esperança e a caridade aos crentes ou pessoas vinculadas a religiões”.

(ANDRADE, 1998, p.17).

Os termos peregrinações e romarias, antecedentes do turismo religioso moderno

aparecem hoje como sinônimos. Contudo, na sua origem encenavam significados e objetivos

diferentes.

Efetua-se sob formas de turismo individual ou de turismo organizado, em

programas cujos objetivos se caracterizam como romaria, peregrinação e penitência, de

acordo com os objetivos religiosos, dogmáticos e morais dos fiéis visitantes.

Embora as viagens dos cristãos a Roma tenham assumido um sentido especial,

único e apropriado, hoje, além de perder sua rigidez, o termo teve sua extensão ampliada a

todas as viagens de caráter religioso a qualquer centro espiritual de fé.

Porém, apesar da ampliação do significado, para Andrade (1998) “é indispensável

a atenção às seguintes especificidades técnicas, que devem ser observadas em trabalhos

promocionais, calendários de eventos e outros recursos de divulgação e de sistematização”.

Assim ele descreve as seguintes tipologias quanto às especificidades do turismo religioso:

Quando alguém, por livre disposição e sem pretender recompensas materiais

ou espirituais, viaja a lugares sagrados, o conjunto de atividades denomina-se

romaria.

Quando alguém visita lugares sagrados para cumprir promessas ou votos

anteriormente feitos a divindades ou a espíritos bem-aventurados, o conjunto de

atividades chama-se peregrinação.

Quando alguém, empenhado em remir-se de suas culpas ou de seus pecados,

de forma livre e espontânea ou por conselho ou disposição de líderes religiosos, se

Page 22: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

32

dirige a lugares sagrados ou a outros lugares, em espírito de arrependimento e

compunção, o conjunto de atividades é designado como viagem de penitência ou

viagem de reparação.

No Brasil, o termo romaria está mais relacionado ao caráter coletivo da viagem,

sendo o romeiro um membro da comunidade que faz a jornada religiosa comum. O peregrino,

ao se deslocar para o santuário, tem o pensamento voltado estritamente para a busca de

cumprir seus votos, feitos antes, pagar sua promessa ou agradecer uma benção, em

reconhecimento a uma graça recebida. Portanto aqui no Brasil, convencionou-se chamar todos

esses tipos de viagens citadas anteriormente de turismo religioso, englobando características

pertinentes a cada uma delas.

Por peregrino entende-se aquele que caminha por lugares desconhecidos. Nesse

sentido, a peregrinação passa a ser compreendida como uma caminhada difícil, normalmente

em busca de um lugar sagrado. Tal ação exige sacrifício, penitência, demonstração pública da

fé e uma manifestação concreta de reconhecimento de uma graça alcançada. O ato de

peregrinar sob a perspectiva externa envolve o encontro com o outro, e sob o ponto de vista

interno, envolve o encontro consigo mesmo. A peregrinação como conceito de turismo

baseia-se no fato de que o comportamento do peregrino e do turista é semelhante tanto na

viagem como na permanência no local de destino.

O peregrino e o romeiro, embora utilizem as instalações turísticas, na realidade,

não apresentam o mesmo perfil. O turista religioso apresenta semelhanças com os peregrinos,

pois ambos compartilham uma crença religiosa e passam a maior parte do tempo em visitação

aos locais religiosos.

Porém os peregrinos muitas vezes aproveitam para serem turistas, sendo a

motivação religiosa apenas um pretexto para a realização da viagem, aproveitando-a pra

visitar outros locais de interesse cultural e recreativo.

No Brasil, existem muitos locais de peregrinação que serão abordados ainda neste

trabalho, mas a ênfase será dada ao município de São José de Ribamar que, devido à fé dos

maranhenses, recebe um considerável fluxo de visitantes, movimentando assim o comércio

em geral, gerando lucro para a cidade, o que favorece o desenvolvimento do turismo na

localidade.

O peregrino e o turista compartilham a mesma jornada voluntária e temporária

para um lugar diferente do seu habitual. Eles geram conseqüências econômicas, urbanas e

demográficas idênticas, pois os turistas consomem, compram artesanatos e outros produtos,

Page 23: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

33

comem em restaurantes, dormem em hospedarias, hotéis, pousadas, enfim, fazem circular

renda na economia local, nacional e internacional.

Com isso o turismo religioso passa a ser visto como uma oportunidade de

negócios: criam-se empregos para guias, incrementa-se o artesanato em geral e o ligado às

peças religiosas, aumenta-se à utilização da estrutura de apoio ao turismo como hotéis,

pousadas, agências de viagem, etc, sem falar no aumento do comércio local e serviços de

apoio como aluguel de carros, diversão, entre outros.

4.1 Enfoque histórico

A experiência histórica da peregrinação remonta a períodos recuados no tempo e é

encontrada nas diversas culturas humanas; ultrapassando os limites do mundo ocidental está

presente nas milenares manifestações religiosas do judaísmo, do islamismo, do budismo e do

hinduísmo.

No mundo antigo, as peregrinações, consideradas quer de um ponto de vista

histórico e/ou religioso, faziam referência a uma viagem empreendida individual ou

coletivamente para visitar um lugar santo, uma cidade ou um templo consagrado pela

recordação ou pela presença de um herói, de uma divindade ou de um poder sobrenatural. Os

locais sagrados podiam ser, por exemplo, um templo, um rio, uma montanha, um lago. Alguns

destes locais são mundialmente conhecidos e, ainda hoje, continuam a atrair multidões de

peregrinos. A cidade de Meca na Arábia, o rio Ganges na índia ou o Monte Sinai no Egito são

alguns dos mais famosos locais sagrados conhecidos desde tempos imemoriais.

Através da tradição cristã, foi que as peregrinações passaram a ter maior

representatividade, particularmente no mundo ocidental, onde os efeitos das formas religiosas

do século XVI foram mais intensos.

O sentido comunitário das romarias imprimiu um significado diferente daquele

das primeiras peregrinações. As romarias passaram a ser expressão de um projeto mais

complexo do que o simples ato de viajar a um lugar sagrado, elas representaram uma política

religiosa de moralização dos costumes e das devoções do catolicismo tradicional.

De acordo com Andrade (1998, p. 79): “[...] nos séculos III e IV da era cristã, os

fiéis começaram a cultivar o hábito de viagens de caráter religioso a eremitérios, mosteiros e

conventos da Síria, do Egito e de Belém, a fim de encontrar-se com os “servos de Deus”, para

pedir-lhes conselhos, orações, bênçãos e curas.

Page 24: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

34

Foi o início da longa série de visitas a igrejas e santuários em cujos terrenos

encontravam-se os restos mortais de mártires célebres e aos locais por onde Cristo, seus

apóstolos e discípulos passaram, viveram e morreram, além de outros lugares celebrizados por

eventos importantes do Antigo Testamento.

A partir de 333 d.C., um maior fluxo de fiéis começou a se deslocar para Roma,

onde localiza-se o Vaticano, também considerado o maior pólo de turismo religioso do

mundo, além deste podemos citar Jerusalém e Santiago. O motivo que ocasionou o

nascimento destas rotas atuou como um fator desencadeante de processos de socialização,

baseados em relações humanas, razões econômicas ou de índole artístico e cultural.

Associadas às transformações ocorridas na segunda metade do século XX, com a

melhoria das estradas de rodagem e a popularização dos automóveis, as viagens aos

santuários passaram a ser vistas como excursões religiosas.

Atualmente, neste início de terceiro milênio, assistimos a um interessante

processo de revitalização da peregrinação, com motivações e exigências muito diversas.

Assim, surgem dimensões como o comércio, a arte e a música, criando-se, por si mesmo, em

volta a este fenômeno, um grande movimento cultural que durante séculos, acompanhava o

fator central da peregrinação. Com este movimento de massas, que supõe a peregrinação,

relacionava-se a história, a gastronomia, a hospedagem, a arte, o assentimento de novos

povos, dando um efeito de intercâmbio gerado pela peregrinação.

Os caminhos da peregrinação eram e são ainda, caminhos de comunicação e

difusão de tudo aquilo que se via, escutava, construía ou se lia em cada um dos principais

centros das rotas religiosas. A transmissão de mercadorias, idéias, estilos artísticos, formas

musicais e sensibilidades líricas encontravam um público imemorável nos peregrinos, os

quais expandiam as novas descobertas comuns.

De acordo com Dias (2003), “o turismo religioso é uma viagem em que a fé é o

motivo principal, mas que pode traduzir motivos culturais em conhecer outras manifestações

religiosas”. Dessa forma, o “[...] turismo religioso é aquele empreendido por pessoas que se

deslocam por motivações religiosas e/ou para participarem em eventos de caráter religioso.

Compreende romarias, peregrinações e visitação a espaços, festas, espetáculos e atividades

religiosas”. (DIAS, 2003, p. 17).

Nota-se que a visitação em locais místicos e/ou sagrados vem sendo realizada há

muito tempo; várias regiões espalhadas pelo mundo todo despertaram a atenção das pessoas e

provocaram o conseqüente deslocamento das mesmas para tais locais.

Page 25: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

35

Porém, só recentemente, a partir do século XXI, é que os setores ligados ao

turismo percebem a importância de tal modalidade como fonte geradora de empregos e de

renda tanto para investidores quanto para a comunidade local.

Foi percebendo isso, que os agentes turísticos começaram a notar a expressiva

demanda voltada para o segmento religioso. Investimentos com equipamentos e serviços

foram e vem sendo realizados gradativamente com o objetivo de complementar a atração

religiosa e aumentar a permanência do turista no local visitado.

Existem várias localidades no mundo inteiro conhecidas por serem sagradas e

pelas manifestações de fé praticadas pelos nativos e que atraem cada vez mais pessoas de

outras religiões. Podemos citar como exemplo notório de rota da peregrinação, o Caminho de

Santiago de Compostela, que se estende por toda a Península Ibérica até a cidade de Santiago

de Compostela, no extremo oeste do Reino da Espanha, onde acredita-se está o túmulo do

apóstolo homônimo. Desde o século IX, homens e mulheres partem de suas cidades tendo

como destino aquele lugar sagrado, movimento este que teve seu auge nos séculos XII e XIII

com a passagem de centenas de milhares de viajantes. Hoje em dia, pessoas de todas as idades

imitam os passos medievais e percorrem este antigo traçado; um por espírito religioso-cristão,

outro por misticismo, busca interior ou apenas como uma grande aventura.

Outro local de grande importância para o turismo religioso é a Basílica de São

Pedro, na Cidade do Vaticano, em Roma. É a segunda maior de todas as igrejas católicas.

Cobre área de 23000 m² e pode albergar mais de 60 mil pessoas. É um dos lugares mais

sagrados do Catolicismo. A construção começou em 1506 e terminou em 1626 sendo

parcialmente erguida com dinheiro angariado pela venda de indulgências. Fica localizada na

Praça de São Pedro, desenhada por Bramante, com contribuições de muitos outros artistas do

Renascimento e do maneirismo, como Michelangelo, Rafael e Bernini. Recentemente foi

comprovado que a Basílica guarda o túmulo de São Pedro embaixo do altar principal e

diversos outros papas também estão ali enterrados.

Não podemos esquecer-nos de Meca que é considerada a cidade santa do mundo

árabe, berço de Maomé, localizada na Arábia Saudita. Outro destaque é a cidade de Lourdes,

na França, sem muitos atrativos e cuja importância está no número representativo de milagres

que ocorrem na região e a fé dos que visitam o local em busca de curas. Lourdes tornou-se

sagrada a partir da aparição de Nossa Senhora à Bernadete em 1858.

Cabe lembrar ainda de outro importante núcleo receptor em termos de fé e,

conseqüentemente, em termos de turismo. Trata-se da cidade de Fátima, em Portugal – essa

pacata cidade tornou-se famosa após a aparição da santa de mesmo nome para três crianças

Page 26: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

36

portuguesas em 1917. Sua aparição em Lourdes na França deu-lhe o nome de Nossa Senhora

de Lourdes. O achado da Imagem Virgem Negra na cidade de Aparecida do Norte, no Brasil,

deu-lhe o nome de Nossa Senhora de Aparecida, e assim, esta vai adquirindo nomes distintos,

de acordo com o local de aparição. Os fiéis aclamam sua fé a aquela que mais se identificam,

mas todas são uma só, segundo o catolicismo.

Sendo assim, o turismo religioso movimenta uma grande quantidade de pessoas o

ano inteiro, fazendo com que eventos religiosos ganhem a cada ano mais força e incentivo

para uma melhor estrutura para atender demandas ainda maiores.

4.2 Turismo religioso no Brasil

O turismo religioso se apresenta como um dos segmentos que mais crescem

atualmente no Brasil. Segundo dados da EMBRATUR, 15 milhões de brasileiros se dirigem

anualmente a destinos religiosos.

Essas manifestações contribuem de maneira significativa para a divulgação da fé

e, sobretudo para o desenvolvimento dos equipamentos turísticos e dos centros de

peregrinação, favorecendo as comunidades locais e gerando nova e substancial fonte de renda.

No Brasil, existem vários lugares conhecidos pelos atrativos religiosos que

possuem, entre eles podemos citar a cidade de Aparecida no estado de São Paulo. Em Belém,

no estado do Pará, ocorre o Círio de Nazaré, evento que reúne milhares de devotos de Nossa

Senhora de Nazaré. Ocorre ainda no período da Semana Santa, em Nova Jerusalém,

Pernambuco, a reconstituição da Via Sacra. Há também a cidade de São José de Ribamar, no

Maranhão, conhecida por seus eventos de cunho religioso, que movimenta muitos fiéis. Este e

aqueles núcleos receptores do turismo religioso citados no parágrafo acima, serão melhor

explorados em capítulos posteriores.

No Brasil, este segmento turístico é praticado por pessoas que possuem algum

tipo de devoção e viajam para o pagamento de promessas, por motivo de orações,

autoconhecimento, eventos religiosos, etc.

O catolicismo apresenta uma grande diversidade de opções para o turismo, devido

à tradição que possui. Estas tradições podem manifestar-se de várias formas, como festejos,

congressos, entre outros. Já para o segmento evangélico as manifestações religiosas são

realizadas em forma de cultos, shows gospel, retiros espirituais, dentre outros.

Conforme mencionado anteriormente, em todo o mundo, as cidades religiosas

atraem visitantes em busca de experiências que despertem seus sentimentos de fé e esperança.

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37

No Brasil não poderia ser diferente, além de ser o maior país católico do planeta, tem

inúmeras manifestações da religião que, misturadas à cultura se transformam em verdadeiros

espetáculos de devoção, conseguindo mobilizar milhares de turistas.

Vale relembrar que existem vários tipos diferentes de viagens com intuito

religioso. A romaria, por exemplo, é a atividade turística feita por livre disposição do viajante

aos destinos sagrados, onde não há nenhum tipo de compromisso a ser cumprido, a não ser

conhecer a região. Já a peregrinação é quando o turista viaja para cumprir promessas ou votos

feitos a divindades. Neste caso, datas e prazos devem ser seguidos em função dos votos feitos.

Na maioria dos casos, o que levam estes turistas a praticarem os diferenciados

tipos de viagens religiosas é a necessidade de estar em destinos onde a fé se apresenta em

maior intensidade.

O que transforma uma cidade comum em um destino religioso são fenômenos sem

nenhuma explicação científica como aparições de imagens celestiais refletidas em algum

objeto, ou curas. O fato extraordinário se espalha, e muitas vezes, toma âmbito nacional,

fazendo com que a região passe a ser visitada por turistas nacionais e internacionais.

Mas as viagens, muitas vezes não se limitam aos destinos ditos religiosos, existem

também os destinos de caráter histórico-cultural. Muitos turistas fazem viajam em busca do

estilo Barroco brasileiro, que como característica principal mistura, de forma natural, a arte e

a religião.

As opções espalhadas pelo país são diversas, desde cidades barrocas minerais

como Ouro Preto, Congonhas do Campo e Mariana, até a capital baiana Salvador, que guarda

tantas outras obras-primas da arquitetura e da fé.

Segundo Dias (2003), encontramos dois tipos de visitantes, o peregrino puro, cuja

motivação é de natureza unicamente religiosa e sua jornada unifuncional, e o outro tipo de

visitante, que ao ampliar o leque de motivações na jornada, caracteriza a mesma como

multifuncional.

Considerando a realidade brasileira, Dias (2003) elaborou uma classificação de

atributos de atrativos turísticos e religiosos, cuja base leva em conta a área de destino, o

objetivo final e a motivação da viagem. Classifica esses atributos em seis diferentes tipos:

1. Santuários de peregrinação: locais de valor espiritual, com datas devocionais

especiais. Aparecida do Norte;

2. Espaços religiosos de grande significado histórico-cultural: podem ser

considerados atrações turístico-religiosas. Igrejas nas cidades históricas de Minas

Gerais;

Page 28: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

38

3. Encontros e celebrações de caráter religioso: têm como o objetivo atividades

confessionais. Encontros de carismáticos da Igreja Católica;

4. Festas e comemorações em dias específicos: eventos dedicados a

determinados símbolos de fé, calendários litúrgicos ou manifestações de devoção

popular. Círio de Nazaré, Lavagem da Igreja do Bonfim;

5. Espetáculos artísticos de cunho religioso: caracterizados por encenação da

Paixão de Cristo em Nova Jerusalém (PE);

6. Roteiros da Fé: caminhadas de significado espiritual, pré-organizadas em um

itinerário turístico-religioso. Rota Caminho da Fé, com 415 km, entre Tambaú

(SP) e Aparecida (SP); e o Caminho do Sol, com 209 km, entre Santana do

Parnaíba e São Pedro (SP).

É importante observar que essa classificação não envolve apenas o sentido

religioso e espiritual do viajante, mas também o conhecimento histórico, o cultural, o

patrimonial, o artístico e o natural, reafirmando o caráter multifuncional do turismo religioso.

A cidade de Aparecida, localizada a 170 km da capital de São Paulo, é

considerada a capital da fé e o maior pólo de turismo religioso no Brasil. Seu mais importante

símbolo é o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, considerado o

maior santuário mariano do mundo, que recebe anualmente cerca de sete milhões de romeiros.

No mês de outubro, quando se comemora o dia Santa, a cidade chega a receber

uma quantidade seis vezes maior que sua população local. São mais de 200 mil fiéis de todo o

país que viajam em busca da bênção da Padroeira.

Tanta devoção teve origem no ano de 1717 quando três pescadores, na tentativa

de conseguirem alguma pesca nas águas do rio Paraíba, lançaram sua rede e puxaram uma

pequena imagem feita em barro cozido. Sem saberem o que estava acontecendo sentiram que

aquela imagem poderia ser um sinal dos céus, já que depois disso, a pesca que não acontecia

há muito tempo, foi abundante.

Os pescadores e toda a população local chamaram o acontecimento de Milagre do

Peixe. Este fato ocorreu no dia 12 de Outubro, quando hoje é comemorado oficialmente o dia

de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil.

Não podemos esquecer-nos de mencionar outro “ícone” do turismo religioso, que

é o Frei Galvão, ele foi um frade católico e o primeiro santo nascido no Brasil (São Paulo).

Foi beatificado em 1998 pelo Papa João Paulo II, dele recebendo os títulos de Homem da Paz

e da Caridade e de Patrono da Construção Civil no Brasil. De seu processo de beatificação

Page 29: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

39

constam 27.800 graças documentadas, além de outras consideradas milagres. Foi canonizado

pelo Papa Bento XVI durante sua visita ao Brasil (São Paulo) em 11 de maio de 2007.

Em Belém do Pará, ocorre no mês de Outubro o Círio de Nazaré, evento que

reúne milhares de devotos de Nossa Senhora de Nazaré. A devoção a essa santa foi

introduzida no Pará pelos padres jesuítas, tendo o culto iniciado na cidade de Vigia. No século

XVII. O Círio de Nazaré, conta com cerca de um milhão de participantes e é um dos maiores

cortejos católicos do Brasil e do mundo, sendo celebrado desde 1793.

A procissão reúne centena de milhares de pessoas, em lento cortejo de quatro

horas, entre os quase cinco quilômetros que separam a Catedral Metropolitana da Basílica de

Nazaré. Este cortejo é o ápice das manifestações profanas e religiosas que acontecem durante

quinze dias: a chamada quadra nazarena. Nesse período vive-se um clima de confraternização

e alegria que não chega a ser superado pela festa natalina.

Ao lado da basílica é instalado o Arraial de Nazaré com comidas e bebidas típicas

e mercado de artesanato. A procissão é acompanhada nas ruas e através de barcos, na

chamada Romaria Fluvial que foi introduzida em 1985, buscando homenagear todos os que

vivem na dependência dos rios. O Círio é dividido em três momentos: a Trasladação, o Círio e

o Recírio, este último ocorre duas semanas após o Círio, quando ocorre uma procissão de

despedida.

No nordeste brasileiro se destaca a devoção a um padre, Padre Cícero, que viveu

na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará. Até o ano de 1872 o município era habitado por

escravos e arruaceiros, e não passava de um arraial com poucas casas e uma capela bem

pequena. No mês de Abril desse mesmo ano, chega para fixar residência na localidade o Padre

Cícero ou “padim” que mudou a história da região.

Padre Cícero ao dar a hóstia consagrada à beata Maria Magdalena do Espírito

santo se surpreendeu quando a hóstia se transformou em sangue. O fato se repetiu dezenas de

vezes com diferentes outros moradores da cidade.

As toalhas que eram usadas para limpar a boca das pessoas se tornaram objeto de

curiosidade e foram expostas para visitação. Apesar de terem sido testemunhados por muitos

moradores e Padres, o Milagre de Juazeiro nunca foi reconhecido pela Igreja e Padre Cícero

não foi beatificado.

Depois do dito milagre, a cidade com 250 mil habitantes, passou a ser visitada por

peregrinos de todos os lugares do país, principalmente do nordeste. Em novembro, mês dos

finados, mais de dois milhões de pessoas participam da grandiosa romaria organizada todos os

anos.

Page 30: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

40

Outra atração muito visitada pelos romeiros é a grandiosa estátua do Padre Cícero

com 27 metros de altura que fica na Serra do Horto onde ele gostava de fazer seus retiros

espirituais. O monumento representa a terceira maior estátua em concreto do mundo,

perdendo apenas para a Estátua da Liberdade em Nova Yorque e o Cristo Redentor no Rio de

Janeiro.

No período da Semana Santa, ocorre em Nova Jerusalém, Pernambuco, a

reconstituição da Via Sacra, onde são relembrados os últimos momentos de Jesus Cristo entre

os homens. Nova Jerusalém é um teatro ao ar livre, seus cenários buscam representar uma

reconstrução parcial da cidade de Jerusalém nos tempos em que viveu Jesus. Seu projeto foi

idealizado e construído por Plínio Pacheco. Todos os anos durante a Semana Santa realiza-se

o popular espetáculo da Paixão de Cristo. Participam dessa encenação cerca de 500 pessoas,

entre atores e figurantes.

Existe ainda um outro santuário religioso, que é a cidade de Nova Trento, no

estado de Santa Catarina. Em 1942, já com 77 anos, morre Irmã Paulina, comovendo a todos

que, mais tarde, foram reconhecidos por peritos médicos, teólogos e cardeais da Congregação

para a Causa dos Santos.

Em 18 de outubro de 1991 foi realizada sua beatificação pelo Papa João Paulo II,

na cidade de Florianópolis. Madre Paulina havia se transformado na primeira Santa brasileira,

além de fazer Nova Trento ficar famosa em todo o mundo.

Uma cidade que merece ter reconhecimento no cenário nacional do turismo

religioso é a cidade de São José de Ribamar, cidade balneária distante 32 km da capital do

Maranhão, onde acontece o festejo do santo da cidade no mês de setembro e que leva milhares

de fiéis a visitar o local para pagar suas promessas na igreja de São José de Ribamar ou aos

pés da estátua do santo. Essa festa ainda é eminentemente de maranhenses, entretanto já

começa a ter reconhecimento no cenário nacional, prova disso é a visita de turistas de outras

partes do Brasil na cidade principalmente durante a realização do Festejo.

De todos os locais com potencial turístico-religiosos já citados, destacaremos com

maior ênfase a cidade de São José de Ribamar, visando identificar a contribuição deste

segmento do turismo para o desenvolvimento econômico e cultural da mesma.

4.3 Turismo religioso no Maranhão

Além de poder usufruir de uma bela natureza, quem se desloca ao Maranhão, mas

precisamente à São José de Ribamar, também pode desfrutar do Turismo Cultural e Religioso.

Page 31: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

41

Com uma variedade de destinos seja na área cultural ou religiosa, o turista que visita o Estado

pode assistir a grandes demonstrações de fé e manifestações culturais.

Na capital do Estado, São Luís, o Centro Histórico, museus, teatros e uma

infinidade de manifestações populares garantem uma mistura de aprendizado e lazer aos

turistas, dando continuidade a essa mistura, podemos citar as cidades de Alcântara e São José

de Ribamar, onde também acontecem algumas das mais importantes festas religiosas do

Estado.

No mês de junho é a época em que a cidade de São Luís tem mais a oferecer, pois

é quando acontecem as festas em homenagem a Santo Antônio (13 de junho); São João (24 de

junho); São Pedro (29 de junho) e São Marçal (30 de junho). É nesse período que podemos

presenciar várias apresentações como bumba-meu-boi e o tambor de crioula em homenagem

aos Santos.

O bumba-meu-boi sintetiza influências indígenas, portuguesas e africanas em

festiva referência ao ciclo do gado no Estado. O tambor-de-crioula, por sua vez é herança

africana em estado quase natural, assim como o tambor de mina, de caráter religioso, que

remete ao candomblé através dos cultos Jeje e Nagô, preservados em seus dialetos originais.

Podemos perceber que os festejos católicos oficiais e os do catolicismo popular

são um misto de profano e sagrado porque, ao lado das missas, novenas e batizados, há

também os bares, shows, apresentações de grupos populares e outros.

No Maranhão há também a presença de uma forte religiosidade afro, denominada

de religiosidade afro-maranhense, conhecida como religião trazida pelos negros africanos de

origem jeje, nagô e outras para o Maranhão, isto é, o toque que indica um ritual de chamada e

louvação às entidades africanas (voduns e orixás) e cablocos de várias procedências.

Os rituais são realizados em casas de culto chamadas de terreiros ou casas de

mina, onde os iniciados recebem entidades em transe mediúnico em rituais acompanhados por

instrumentos como tambores (abatas, tambores da mata), cabaças e agogôs. O tambor de mina

é realizado nos terreiros principalmente nos dias em que a Igreja celebra as festas de seus

santos.

O tambor de mina surgiu com os negros jeje e nagôs e vem sendo mantido por

seus descendentes há mais de um século. Durante o ritual, os “encantados” se manifestam e

entram em contato com os devotos. No mês de junho, observa-se a presença de grupos de

bumba-meu-boi nos cultos do Tambor de Mina. Duas casas se constituem respectivamente

nas mais antigas de São Luís: a Casa das Minas e a Casa de Nagô.

Page 32: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

42

Em Alcântara, no segundo domingo de agosto, acontece a festa de São Benedito,

uma herança bastante viva da marcante presença dos africanos no Maranhão. Os devotos

formam uma grande procissão que percorre as ruas da antiga cidade, protagonizando um

espetáculo de fé e beleza.

Ainda em Alcântara, em maio, acontece a Festa do Divino, o mais freqüentado

evento profano-religioso do Maranhão. A festa tem lugar em várias outras regiões do Estado,

mas é nesta cidade que alcança um esplendor ímpar. Caixeiras do divino, doces de espécie,

imperador, imperatriz, procissões e fé são sinônimos dessa grandiosa manifestação popular

que atrai anualmente centenas de turistas.

A elegância e riqueza vivenciadas por Alcântara durante seu apogeu econômico

são relembradas a cada ano durante a Festa do Divino Espírito Santo, uma das manifestações

culturais mais expressivas do calendário cultural e religioso do Maranhão.

É provável que tenha chegado ao Maranhão com açorianos que aportaram na

região entre 1615 e 1625. Apesar de sua origem européia, é forte a participação de negros na

festa alcantarense, marcada pelo toque das caixeiras e pela distribuição do doce-de-espécie.

Em São Luís, a Festa do Divino é muito valorizada nos terreiros de mina,

enquanto em Alcântara se caracteriza como uma festa tipicamente católica, sendo muitas de

suas cerimônias realizadas na Igreja local.

A Festa tem seu ápice durante o domingo de Pentecostes (50dias após a Páscoa),

mas desde a quarta-feira da semana anterior, os festeiros começam a se preparar para o grande

dia em que o imperador recepciona seus convidados com um almoço e farta mesa de doces.

Em Alcântara, imperador e imperatriz, mordomo-régio e mordoma-régia

alternam-se a cada ano. Os festeiros são escolhidos com um ano de antecedência, tornando a

festa do Divino de Alcântara a maior festa do Maranhão, uma vez que seu ciclo dura um ano.

É tempo necessário para que imperador e mordomo-régio festeiros se preparem

para promover a maior festa da cidade, pois a sociedade local vive em função dessa festa.

Para representá-los no trono são escolhidas crianças ou adolescentes.

Além do imperador, mordomo-régio e mordomos-baixos, que compõem o império

fictício reconstruído a cada ano durante a festa, as caixeiras desempenham um papel

importante. São mulheres que acompanham o cortejo tocando pequenos tambores conhecidos

como caixas.

A Festa do Divino de Alcântara é rica em rituais. Leitura do pelouro, transmissão

dos postos, recebimento da santa Croa, missa do fogo, buscamento do mastro, levantamento

Page 33: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

43

do mastro, prisão dos mordomos e visitas do imperador e mordomos são alguns momentos

que marcam a festa.

Outro grande festejo que atrai milhares de visitantes, dentre estes vários turistas, é

o Festejo de São José de Ribamar, na cidade de mesmo nome. A festa acontece sempre no

mês de setembro, tem a duração de dez dias e é sempre escolhido o período de lua cheia, pois

antigamente não tinha energia elétrica e com a escuridão era muito difícil fazer a romaria.

Hoje, apesar da iluminação elétrica, a tradição dos festejos na lua cheia continua.

Page 34: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

44

5 TURISMO E RELIGIOSIDADE EM SÃO JOSÉ DE RIBAMAR: lendas e milagres

5.1 Aspectos históricos

O município de São José de Ribamar está localizado no litoral do Estado, mais

precisamente no Golfão Maranhense, faz parte de um conjunto com outros três municípios:

São Luís, onde está a capital do Estado, Paço do Lumiar e Raposa. Regionalmente pertence à

Mesorregião Norte Maranhense, com particularidades territoriais na Microrregião da

Aglomeração Urbana de São Luís.

São José de Ribamar limita-se ao norte com o Oceano Atlântico e o município de

Paço do Lumiar; ao Sul, por Rosário e Axixá; a Leste, por Icatu; a Oeste, por São Luís. A

sede do município possui uma altitude de 20 metros acima do nível do mar e sua posição

geográfica é determinada pelo paralelo de 02º 33’ de latitude Sul em sua intersecção com o

meridiano de 44º 44’ longitude Oeste.

A área geográfica do município é de 434,2 quilômetros quadrados, ocupados com

uma população de 134.593 mil habitantes (conforme o censo 2006).

O município é atualmente bem servido de transportes, onde predomina o

rodoviário, tendo fluxo principal pela rodovia estadual MA-201, seguidos pela MA-202 e por

outras rodovias secundárias municipais. Existe ainda a opção de transporte marítimo, no qual

dispõe de dois portos de pequeno porte, mas bastante tradicionais no município, que são:

Vieira e Barbosa, o segundo se destaca como melhor referencial para o embarque e

desembarque de pequenas embarcações que saem para o interior do Estado.

A paisagem natural de São José de Ribamar está assentada numa planície marinha

insular, cuja posição é responsável, em grande parte, pela umidade e pelo clima tropical, que

por sua vez colabora para a existência de uma vegetação exuberante, em que pese às

alterações sofridas devido à agricultura itinerante, voltada principalmente para a

hortifruticultura.

O clima úmido é o principal causador de um índice pluviométrico anual que gira

em torno dos 2.000 mm, proporcionando assim, a formação de uma rede hidrográfica de

pequenos rios, entre os quais se destacam o Antônio Esteves, o Paciência e o Jeniparana, que

embora perenes, estão bastante degradados, em função do assoreamento, da devastação da

mata ciliar e da poluição.

Com temperatura média de 26º, bafejada por brisas terrestres e marítimas, a

pequena cidade de São José de Ribamar viveu durante muitos anos da pesca artesanal e da

Page 35: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

45

hortifruticultura, tendo seu aspecto bucólico entrelaçado ao sentimento religioso de um santo,

cuja fama de milagroso alcança todo o Estado e, inclusive, estados circunvizinhos.

As origens da cidade estão ligadas ao salvamento de um navio português. Existem

duas versões sobre a presença do santo. Uma delas relata que o capital do navio português

havia feito uma promessa de que caso se salvasse de um naufrágio voltaria ao local com uma

imagem de São José.

A outra versão diz que numa certa ocasião os pescadores levaram suas redes ao

mar inúmeras vezes sem conseguir pegar nenhum peixe. Num determinado momento, ao ser

retirada uma das redes, veio nela uma imagem. Recolhida a imagem, a rede foi novamente

lançada ao mar, vindo repleta de peixes. Como o fato ocorreu no dia 19 de março, esse é o dia

de São José de Ribamar, esse nome foi atribuído ao santo, em razão de ele ter sido recolhido

de cima, isto é, “in-riba do mar”. Este foi considerado como o primeiro milagre do santo.

No tocante aos dados históricos, sabe-se que São José de Ribamar localiza-se

onde antes existia uma aldeia de índios, em terras consideradas na época como propriedade da

Companhia de Jesus. Em 16 de dezembro de 1627, por determinação do então Governador do

Maranhão, Francisco Coelho de Carvalho, estas terras foram concedidas por carta de datas e

sesmarias aos índios. Após mais de um século, a 13 de março de 1729, houve a demarcação e

o tombamento dessas terras pelo Ouvidor-Mor, Matias da Silva, por ordem de sua majestade.

Em 7 de junho de 1755, um alvará do Governador Gonçalo Pereira Lobato e

Souza concedeu finalmente, aos índios sua liberdade como pessoas e elevou a aldeia à

categoria de lugar.

De acordo com a Lei de 11 de março de 1913, o lugar foi elevado à categoria de

Vila e Município, simultaneamente. Contudo, pelo Decreto-Lei nº. 47, de 27 de fevereiro de

1931, verificou-se a extinção do município e a conservação de Vila (Vila São José), desligada

da Vila do Paço.

Com o Decreto Lei nº. 159, de 06 de dezembro de 1938, a Vila São José, passou a

ser distrito de São Luís. Em 24 de setembro de 1952, a lei nº. 758 assinada pelo Governador

Eugênio Barros restabeleceu a categoria de município a Ribamar.

Passando-se dezessete anos, o Governador José Sarney, definitivamente, restaurou

a denominação pela lei Estadual nº. 2.980, de 16 de setembro de 1969, para São José de

Ribamar, em homenagem ao Santo Milagroso Padroeiro da Cidade e atualmente Padroeiro do

Maranhão.

Page 36: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

46

5.2 A Lenda da queda da igreja por três vezes

Muitas pessoas afirmam que a Igreja de São José de Ribamar já caiu por três

vezes, até ser construída de frente para o mar. Para os devotos, esse mistério é explicado pelo

desejo do Santo em ter a Igreja voltada para o mar. (Fig. 01).

Mas tecnicamente falando a respeito dessas construções, há de se convir que as

igrejas eram construídas de madeira, nas suas respectivas bases, ou seja, não possuíam

alicerces. Portanto, ficava bastante fácil, a destruição pelo forte grau de salito da região

praiana. Quando edificaram com alicerces recomendados pela engenharia, não houve mais

demolições.

Segundo o depoimento do Sr. Antônio de Jesus Alves para o Jornal Imparcial, na

sua edição de 10 de setembro de 1975, no livro São José de Ribamar: a cidade, o santo e sua

gente, afirma que nasceu em 1889 e se criou em São José de Ribamar. Andou pela Marinha e

Polícia Militar, hoje paralítico, estende a mão à caridade na porta da Igreja de São José de

Ribamar. Consta em seus relatos:

Quando eu era menino, começou a construção desta Igreja (a atual). Por três vezesconstruíram sem ter a frente para o mar, anoitecia em pé e amanhecia tudo no chão.Era o Santo que derrubava, porque a Igreja teria que ser construída de frente para omar e não de frente para a cidade, como eles queriam. Depois inverteram a frente daIgreja, ela foiçou como está até hoje, onde me encontro a 21 anos pedindo esmolas.(REIS, 2001)

Figura 01 - Igreja de São José de Ribamar

Fonte: BANDEIRA; QUEIROZ, 2005.

Page 37: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

47

A lenda da queda da Igreja de São José de Ribamar por três vezes é bastante

difundida pelos moradores da cidade, e a maioria deles acreditam fielmente nessa “história”,

os guias turísticos que por sua vez levam os turistas para conhecer a cultura, a religião e os

aspectos históricos quase sempre contam essa lenda para que estes entendam melhor a origem

da cidade.

5.2 Os milagres e as promessas ao santo São José de Ribamar

Uma das maiores expressões de fé dos ex-votos ao Santo São José de Ribamar

consiste nas promessas que estes fazem com intuito de alcançarem milagres. Nada parece

abalar a fé dos devotos que, agradecidos, jogam no mar garrafas com velas, cartas, dinheiro

ou fotografias, encontradas pelos pescadores e levadas para a Casa dos Milagres, ao lado da

Igreja de São José de Ribamar. Ali, desde os anos 60, os romeiros depositavam os “milagres”,

ou ex-votos, proibidos de serem colocados no andor do santo como era feito.

São joelhos de cera, pés, cabeças, miniaturas de casas e barcos, etc, levados pelos

fiéis em procissão. Uma infinidade de objetos passaram a ser armazenados no Museu dos Ex-

Votos (Fig. 02), embaixo do monumento a São José.

São José de Ribamar é um santo de grande devoção do povo maranhense e é

considerado o padroeiro do Maranhão. O que explica a grande quantidade de Josés e Marias

de Ribamar entre os nascidos no Estado.

Figura 02 - Interior do Museu dos Ex-Votos

Fonte: BANDEIRA; QUEIROZ, 2005.

Page 38: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

48

A balneária cidade de Ribamar no período das festas do seu santo protetor muda,

radicalmente, de hábito pela enorme quantidade de pessoas que a visita seja para pagar

promessas, batizar, casar, passear, pedir graças, agradecer milagres alcançados pela

intercessão do santo São José, ou então simplesmente para entregar-se a momentos de oração.

É comum deparar-se com homens e mulheres de lágrimas nos olhos tomadas pela

emoção da fé que alimenta a esperança na busca de curas e milagres considerados

aparentemente impossíveis, mas que cujas graças acabam sendo alcançadas pelos fiéis.

É incalculável a quantidade de histórias sobre as graças alcançadas, se originam

das mais diversas formas do pagamento de promessas. A exemplo, como levar coração,

cabeça, rim, fígado e outros tantos órgãos feitos de cera para representar a cura de problemas

da saúde, outros sacrificam-se em extensas caminhadas até a igreja para agradecer pelo

emprego ou mesmo o casamento esperado há tanto tempo.

Um misto de adoração e respeito envolve a fé dos devotos de São José de

Ribamar. É também uma tradição que passa de pai para filho, a cada geração. A devoção

ímpar dos maranhenses por São José de Ribamar está, a cada ano que passa, levando um

infinito número de devotos ao Santuário do Padroeiro do Maranhão no período de seus

festejos que acontecem sempre no mês de setembro, conforme a lua.

Além da festa do Glorioso São José de Ribamar, a qual será um capítulo à parte

deste trabalho, os ribamarenses fazem ainda as festas de Nossa Senhora da Conceição, dia 8

de dezembro; do Divino Espírito Santo; de Nossa Senhora da Vitória; Cordões de Reis; Natal;

de São Gonçalo, São Benedito, São Judas Tadeu e a de São Pedro, promovida pelos

pescadores, sendo sua procissão feita no mar, em canoas e barcos bem-ornamentados.

É importante ressaltar que o município de São José de Ribamar é um dos maiores

pólos turísticos do estado do Maranhão, devido atrair milhares de turistas e visitantes todo

ano, que vêm, na sua grande maioria, movidos pela fé no Santo Padroeiro do Maranhão.

Acredita-se deste modo que a devoção popular a São José de Ribamar é um valioso fator

catalisador de fiéis e a maior ferramenta impulsionadora do turismo para região.

5.4 Pontos turísticos e turismo religioso

Atrações turísticas são o que não faltam em São José de Ribamar, a começar pela

adoração ao próprio Santo Padroeiro do Maranhão, somado a um meio ambiente de muito

valor, cercado de paias, com ecossistemas virgens, piscosidade rica, onde desponta uma

cozinha de frutos do mar, valioso artesanato e um povo humilde, mas bastante hospitaleiro,

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49

uma característica autêntica do maranhense. Pode-se identificar estes atrativos tanto do lado

natural, quanto do lado cultural-religioso.

Porém neste sub-capítulo iremos nos ater, prioritariamente, aos pontos turísticos

que encontram-se relacionados ao turismo religioso de São José de Ribamar. Dentre estes

pontos turísticos podemos destacar: o monumento em homenagem ao Santo São José, de 17,5

m de altura, e do menino Jesus, com 8 metros de altura. (Fig. 03).

Uma característica interessante do monumento é que o Santo aparece calçado com

botas, bastante conhecido em Portugal, cujas botas o caracteriza como protetor dos

navegadores, o que é demonstrado nas suas vestes idênticas a dos comandantes das esquadras

européias.

Atualmente, a igreja faz parte de um complexo arquitetônico a céu aberto,

concluído em 1998, onde consta o Caminho de São José (conjunto de esculturas em mármore

que conta a vida de São José), Concha Acústica (em forma de bíblia aberta para celebração da

missa) e o monumento a São José, e, embaixo, o Museu dos Ex-Votos.

Figura 03 - Estátua de São José de Ribamar e o Menino Jesus

Fonte: BANDEIRA; QUEIROZ, 2005.

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Na parte atrás da Igreja, mais ou menos em frente à Casa Paroquial foi construída

a Casa das Velas, construção das mais importantes, pois antigamente as velas eram acesas em

uma pequena dependência improvisada no lado direito da Igreja. Agora totalmente novo e

planejado para a finalidade que se destina, dando aos fiéis mais segurança.

O Caminho de São José pode ser considerado como a segunda etapa do Novo

Santuário, executado através de quadros, compostos por 22 estátuas, com toda fundamentação

bíblica, dentro da maior tradição católica, que mostram para contemplação pública os oito

momentos mais fortes da vida e da missão de São José, esposo de Maria e pai de Jesus Cristo.

Essas estátuas estão alojadas na praça, também chamada de Esplanada, como já foi dito

anteriormente. Cada conjunto de estátuas representa uma estação, no total de oito, todas

baseadas nas passagens bíblicas, com exceção da última, que retrata a tradição popular (Fig.

04).

O Museu dos Ex-Votos é considerado um importante ponto turístico, sendo

bastante visitado por turistas, é um local especialmente preparado para os devotos

depositarem objetos a serem usados no pagamento de suas promessas. Sobre este Museu

foram edificadas duas imagens gigantes, ou seja, a de São José e do Menino Jesus.

O Salão das Graças, outro ponto turístico de São José de Ribamar, é o local onde

são levados os ex-votos ofertados ao Santo, pelos romeiros. Cada ex-voto, ou seja, aquele

levado ao Salão como gratidão por uma bênção recebida, vem acompanhado da sua história

ou causa que levou a fazer a promessa. No Salão das Graças há os mais variados tipos de ex-

votos, destacando-se, os confeccionados em cera, sendo a maioria das promessas feitas em

Fonte: RAMOS (apud BANDEIRA; QUEIROZ, 2005.)

Figura 04 - Imagem da Família Sagrada (Caminho de São José)

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decorrência de doenças, os mais diversificados tipos de ex-votos encontrados dizem respeito a

partes do corpo humano.

A Gruta de Nossa Senhora de Lourdes é um dos atrativos religiosos de maior

destaque da cidade de Ribamar. Foi construída em área da Paróquia de São José de Ribamar.

É uma réplica da famosa Gruta francesa de nossa Senhora de Lourdes (Fig. 05). A Gruta é

feita de pedra, e no centro encontra-se um altar para celebrações eucarísticas do tempo em que

os padres celebravam a missa de costa para o público. E além de servir para visitação, serve

de ponto privilegiado para admiração da Baía de São José.

Dispondo de um grande Complexo turístico-cultural-religioso, São José de

Ribamar possui um dos mais modernos e bonitos acervos do Norte e Nordeste brasileiro e,

quiçá, do país. Porém sabe-se que este Santuário da fé necessita de conservação e preservação

para continuar sendo palco de uma verdadeira atração turística. E para tanto faz-se necessário

a colaboração do poder público e da comunidade local principalmente, já que esta é a

principal guardiã de todo esse patrimônio. Sendo assim todas e quaisquer atividades que

venham a ser desenvolvidas no complexo e/ou em sua periferia devem ser previamente

planejadas, buscando dessa maneira, alcançar o desenvolvimento sustentável.

Figura 05 - Velas acesas em adoração, interior da Gruta de Lourdes)

Fonte: BANDEIRA; QUEIROZ, 2005.

Page 42: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

52

Figura 06 - Devota pagando promessa durante a procissão

5.5 O festejo de São José de Ribamar

O Festejo de São José de Ribamar é um dos maiores eventos da igreja católica no

Maranhão e que atrai muitos visitantes todos os anos durante o mês de setembro. Há mais de

200 anos os devotos se reúnem para homenagear São José de Ribamar, considerado o Santo

padroeiro do Estado. Os católicos, turistas e visitantes dispõem de uma vasta programação

que inclui romarias, missas, novenas, procissão feiras e shows culturais.

Setembro, mesmo não sendo o mês oficial de São José pela Igreja Católica

Universal, foi escolhido para homenagear São José de Ribamar. Apesar de o mês oficial que

se comemora o aniversário do Santo é março. Tendo em vista que aqui no Maranhão esta é

considerada uma época chuvosa, isto dificultaria, portanto a realização do Festejo. Segundo

relato de alguns moradores, os fiéis mais antigos resolveram fazer os Festejos em homenagem

ao Santo, no mês de setembro.

A festa não tem um calendário fixo, tem duração de 10 dias e é sempre escolhido

o período de lua cheia. Tal escolha é impregnada de crendices populares, mas existe uma

corrente que, como há mais de um século quando foram realizados os primeiros festejos, não

havia energia elétrica, o que “guiava” os romeiros era a lua cheia.

O Festejo de São José de Ribamar é uma enorme expressão de religiosidade com

uma popularidade inigualável, que impressiona a todos, inclusive os fiéis mais devotos. São

pessoas de todos os lugares que se dirigem até o Santuário para pagar promessas, receber ou

pedir alguma graça (Fig. 06).

Fonte: RAMOS (apud BANDEIRA; QUEIROZ, 2005.)

Page 43: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

53

Na madrugada de domingo, chegam os romeiros dos municípios, da cidade e dos

povoados vizinhos. O Festejo é caracterizado por eventos em homenagem ao santo,

sintetizados numa mistura de espetáculos pagãos e religiosos. Durante o Festejo a cidade de

São José de Ribamar muda a sua rotina, onde pode-se presenciar festas para todos os gostos,

shows culturais, venda de artesanatos locais, missas, romarias, procissões e o que é mais

importante, a pureza e a grandeza da fé dos romeiros.

O festejo possui características peculiares que revelam e garantem seu espaço no

cenário turístico e é sem dúvida um dos principais meios de desenvolvimento para o

município onde é realizado. Os próprios moradores reconhecem que o Festejo é de suma

importância para o crescimento socioeconômico e fazem questão de participarem

efetivamente do mesmo.

Como partes cruciais do Festejo não podem deixar de serem citadas as Romarias

dos Motoqueiros, dos Devotos e principalmente a Procissão. Nos capítulos subseqüentes serão

abordadas todas essas manifestações que fazem parte do Festejo de são José de Ribamar, bem

como o Batizado dos Carros, que acontece tanto na época da festa, quanto no restante do ano.

Vale ressaltar que no ano de 2007, o Festejo foi realizado no período de 21 de a

30 de Setembro, com o tema: “Não tenhas medo José”, que segundo a Bíblia reflete a

perseverança e a fé daqueles que crêem em Deus e por isso, tudo pode superar.

5.5.1 Romaria dos Motoqueiros

A romaria dos motoqueiros é realizada há precisamente 11 anos, onde milhares de

motoqueiros, com suas respectivas motocicletas saem do bairro da Cohab, ou melhor, retorno

da Forquilha, em São Luís com destino ao Santuário de São José de Ribamar. Neste percurso,

os motoqueiros dirigem suas motos com velocidade baixa, entre 20 e 30 quilômetros por hora,

até o final da romaria, a qual é feita em mais ou menos uma hora e meia (Fig. 07).

Page 44: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

54

Os motoqueiros se reúnem por si mesmos, não existe nenhuma entidade que os

aglutine para tal finalidade, fazem apenas uma comissão coordenadora. A tão sonhada

chegada se concretiza na madrugada de domingo, quando eles próprios anunciam a mesma

com buzinas e fogos de artifício. Na oportunidade é aberta a igreja e um padre é encarregado

de benzer o motoqueiro, a moto e o capacete.

Segundo relatos de alguns participantes do Festejo acontecido em setembro de

2007, algumas pessoas informaram que a Romaria dos Motoqueiros estaria sujeita a acabar,

devido aos transtornos que o barulho das motos causariam aos moradores que residem

próximo ao local por onde os motoqueiros passam e já que existe uma quantidade de motos ao

mesmo tempo em horário inadequado.

5.5.2 Romaria dos Devotos

Todos os anos as cenas se repetem em maior número, como tradicionalmente o

dia maior dos Festejos acontece em um domingo, conforme a lua. Portanto, entre a noite de

sábado e a madrugada de domingo, uma enorme procissão de fiéis romeiros percorre a estrada

que liga São Luís a São José de Ribamar, todos co destino ao Santuário de São José.

Os percursos das caminhadas originam-se geralmente do bairro da Cohab, em São

Luís, cujo trecho até o Santuário é de mais ou menos uns vinte quilômetros, o qual aproxima-

se entre cinco a seis horas de caminhada. Para isto, os romeiros carregam mantimentos, água;

Figura 07 - Romaria dos Motoqueiros

Fonte: Arquivo do fotógrafo Albani Ramos

Fonte: RAMOS (apud BANDEIRA; QUEIROZ, 2005.)

Page 45: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

55

e o mais forte que é a persistência de cumprir as promessas, agradecer e fazer pedidos ou

então apenas dar demonstração, pelo qual São José de Ribamar é tão querido pelos

maranhenses, desde o mais humilde até o mais abastado. Pode-se perceber notoriamente

durante todo o percurso a enorme demonstração de fé, devoção e sacrifício dos romeiros.

Por toda a estrada, encontram-se vendedores ambulantes instalados nos

acostamentos para venderem as mais diversificadas comidas e bebidas, ou até mesmo

artesanatos religiosos. Os grupos de romeiros fazem algumas paradas durante a romaria,

cumprindo uma programação predeterminada, com a finalidade de descanso e recuperação

das energias gastas na caminhada.

Praticamente às quatro horas de domingo, a grande maioria dos romeiros já se

encontra na Cidade Santa de Ribamar, então é dado o início das oferendas, primeiro com as

velas, cada romeiro acende sua vela, agradecendo, naturalmente às graças alcançadas, bem

como pela vitória de ter conseguido realizar todo o percurso da caminhada, durante a romaria.

À medida que vão chegando, os romeiros vão deixando peças de cera que

simbolizam a parte do corpo curada pelo Santo. As orações são intensas, muitos homens,

mulheres e crianças permanecem de olhos fechados por vários minutos, enquanto oram. Os

fiéis ficam à espera da primeira missa que tem início às seis horas da manhã. Após a

cerimônia, centenas de fiéis permanecem na Ermida, enquanto esperam a missa solene,

tradicionalmente rezada pelo Arcebispo Metropolitano de São Luís.

5.5.3 Procissão

Desde o início dos Festejos de São José de Ribamar, a procissão é o ponto

principal das homenagens. É no percurso da procissão que a maior parte dos devotos

aproveita para retribuir as graças alcançadas. São pedras sobre a cabeça, pés descalços, velas

de todos os tamanhos, pessoas de joelhos, crianças vestidas de anjo, pessoas distribuindo água

e tantas outras manifestações de agradecimento e de fé.

Durante a procissão, são quatro quilômetros de grande emoção e devoção ao

Santo Padroeiro do Maranhão. Tem início com a saída da Igreja da Matriz, em São José de

Ribamar, indo até o Cruzeiro onde faz o retorno para a Ermida, no percurso são gastos

aproximadamente duas horas e meia.

Pode-se perceber que o Festejo de São José de Ribamar é uma enorme prova de

fé, pois nem mesmo o sol, a poeira e as precárias instalações, ainda, da cidade fazem os fiéis

Page 46: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

56

desistirem de suas promessas ou da sua fé. Mesmo suados, sonolentos e famintos, os fiéis

cumprem as promessas feitas ao Santo.

Há ainda a Procissão Marítima, cuja realização aconteceu pela primeira vez

durante os festejos do ano de 2000, no dia 16 de setembro. Saindo da Praia do Vieira com

destino a Praia do Barbosa, ambas na cidade de São José de Ribamar. Réplicas das imagens

de São José e Nossa Senhora são conduzidas desde a igreja até o porto, em um andor

enfeitado com um arco feito com escamas de peixes grandes, num trabalho de grande

delicadeza e criatividade.

Durante o Festejo, muitas pessoas aproveitam o evento para usufruírem das

belezas naturais da cidade balneária de São José de Ribamar, já outros tentam ganhar um

dinheiro extra, vendendo as mais diversificadas mercadorias, somados ainda a um

considerável número de turistas que vêm de várias partes do país.

5.5.4 Batizado dos Carros

O batizado dos carros em São José de Ribamar é tradição tanto na época dos

Festejos quanto em outras épocas do ano. Está registrado no livro da Igreja de São José de

Ribamar que o primeiro batismo de carro foi realizado pelo padre João Lemmer, no ano de

1940. O segundo só viria a acontecer em 1954, realizado pelo padre Tiago Zwarthocd. Daí em

diante foi havendo uma continuidade, tornando-se constante sua realização.

Esse hábito de batizar o veículo recém-comprado tornou-se praxe para a maioria

dos maranhenses, principalmente para aqueles que são devotos de São José de Ribamar. Com

o tempo, a diversidade de batismo se multiplicou e atualmente batizam-se bicicletas, ônibus,

carroças, motos, e não há cobrança oficial. O “benzedor” mostra o bolso da sua bata, onde

cada pessoa coloca a contribuição que achar conveniente.

Atualmente a pessoa responsável pelo batismo dos carros é o senhor João

Gualberto Rabelo dos Santos, ministro da Eucaristia, que por sua vez orgulha-se do trabalho

que realiza. Ele fica encarregado de benzer os carros e logo após, presta contas das ofertas que

recebeu ao pároco. Esta renda é revertida em cestas básicas e remédios para a comunidade

(Fig. 08).

Page 47: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

57

Segundo relatos do senhor João Gualberto, o dia de maior movimento de batismo

de carros é o domingo, onde já teria acontecido de serem batizados cerca de 150 carros num

só dia. O ato do batismo acontece individualmente e os carros são colocados em fila,

acompanhando o fundo da igreja, ruas próximas e às vezes ocupando as transversais paralelas.

Os carros são bentos com água benta, e as pessoas rezam pedindo proteção a São

José de Ribamar durante o ritual do batismo. João Gualberto declara uma prece,

recomendando o carro a Deus e pedindo também proteção para as pessoas que o ocuparem.

Assim, a tradição de batizar o carro chama a atenção das pessoas que visitam o

local, já que dentre outras manifestações de fé e devoção dos devotos de São José, este

acontecimento não poderia ficar de fora. Incluindo-se dentre várias atrações turísticas que

solidificam o turismo religioso de São José de Ribamar.

Visando analisar a importância do turismo religioso em São José de Ribamar, bem

como a sua contribuição para o desenvolvimento socioeconômico do município em questão,

onde inclui-se prioritariamente a opinião da comunidade local e dos turistas, é que propõem-

se a discussão e análise dos dados obtidos através da pesquisa de campo, assunto que será

melhor aprofundado no capítulo posterior.

Figura 08 - Batizado dos Carros

Fonte: BANDEIRA; QUEIROZ, 2005.

Page 48: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

58

6 ESTUDO SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL DO TURISMO EM SÃO JOSÉ DE

RIBAMAR

A pesquisa in loco foi realizada através da aplicação de 180 questionários, sendo

que 80 foram aplicados nos dias 29 e 30 de Setembro do ano de 2007, (compreendendo parte

do período do Festejo de São José de Ribamar) e 100 aplicados nos dias 13 e 14 de Novembro

do mesmo ano no município de São José de Ribamar. Ressalta-se que os primeiros

questionários (oitenta) foram direcionados aos turistas de forma aleatória e (cem) à

comunidade local.

Esta pesquisa buscou de início traçar o perfil do turista que freqüenta o Festejo e

sua opinião sobre o mesmo. Em seguida, identificar as informações dos moradores acerca do

Festejo, bem como as providências que poderiam ser tomadas para o desenvolvimento do

Turismo Religioso na localidade e até mesmo do próprio Festejo de São José de Ribamar.

Ressalta-se que os resultados da pesquisa de campo são essenciais para o

direcionamento e análise dos pontos positivos e negativos do Turismo Religioso na cidade de

São José de Ribamar.

6.1 Análise dos questionários aplicados aos turistas

Pode-se observar de acordo com o gráfico acima, que existe um equilíbrio quanto

ao sexo dos turistas freqüentadores do Festejo de São José de Ribamar, onde se percebe uma

leve predominância para o sexo feminino, fato comprovado durante as entrevistas, onde foi

notória a presença de pessoas deste sexo.

59%

41%

masculino

feminino

Gráfico 1 - Sexo (questionários aplicados aos turistas):

Page 49: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

59

Em relação à faixa etária, ocorre um equilíbrio entre as idades que compreendem

entre 29 a 39 anos, e entre 40 a 50 anos, sendo que há a predominância de pessoas idades que

compreendem esta última faixa etária, comprovando assim que o Festejo é freqüentado

principalmente por pessoas mais velhas. No entanto, também notou-se a presença de muitos

jovens durante o Festejo, conforme mostra o gráfico acima, com percentual de 23% do total

de entrevistados, fato que demonstra que a crença no santo São José de Ribamar permanece

viva durante várias gerações.

Como pode-se observar no gráfico acima, há um predomínio de funcionários

públicos que trabalham principalmente em órgãos públicos municipais e estaduais (23% dos

entrevistados) e em seguida destacam-se os autônomos (18%), em sua maioria constituída por

Gráfico 2 - Faixa Etária (questionários aplicados aos turistas):

3%15%

26%

25%

23%

8%

menos que 18 anos de 18 a 28 anosde 29 a 39 anos de 40 a 50 anosde 51 a 61 anos maior que 61 anos

Gráfico 3 - Ocupação (questionários aplicados aos turistas):

18%

9%

14%

8%

13%

15%

23%

autônomo vendedorfunc. público estudanteaposentado profissional liberaloutros

Page 50: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

60

comerciantes. Obteve-se um percentual praticamente idêntico no que se refere aos

profissionais liberais (13%), estudantes (14%) e “outros” (15%), onde neste último estão

incluídas as seguintes ocupações: professores, empregadas domésticas, donas-de-casa,

agricultores, etc.

Considerando a faixa salarial dos indivíduos questionados, verificou-se que a

maioria, ou seja, 40% dos entrevistados, ganha em média de 1 a 3 salários mínimos. Foi

equilibrado e expressivo o percentual de pessoas que ganham de 4 a 6 salários (24%) ou mais

de 6 salários (20%). Pode-se perceber dessa forma, que os turistas que freqüentam o Festejo

possuem uma renda salarial diversificada, contudo o público maior do Festejo tem renda

média entre 1 a 3 salários mínimos.

Gráfico 4 - Faixa Salarial (questionários aplicados aos turistas):

16%

40%24%

20%

até 1 salário mínimo

de 1 a 3 saláriosde 4 a 6 salários

mais de 6 salários

Gráfico 5 - Procedência (questionários aplicados aos turistas):

57%

8%

21%

14%

São Luís

municípios adjacentes a SãoJosé de RibamarInterior do MA

outros Estados

Page 51: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

61

Em relação à procedência dos visitantes do Festejo de São José de Ribamar,

pôde-se identificar que a maioria dos visitantes origina-se da capital São Luís,

apresentando um percentual de 57%, ou seja, mais da metade do total de entrevistados.

Observa-se também através do gráfico acima um expressivo percentual de

pessoas oriundas do interior do Maranhão, em contra partida nota-se que a quantidade

de visitantes que procedem de fora do Estado ainda é pequena, representada somente por

14%. E uma das principais causas para a ausência de conhecimento do Festejo em

outros Estados é a falta de divulgação fora do Maranhão, dado que será constatado em

gráfico posterior.

Dos oitenta turistas entrevistados, um percentual de 74% respondeu que

visitam sempre a cidade de São José de Ribamar e 26% responderam negativamente.

Portanto, contabilizou-se somente os dados das respostas positivas (74%) com o

objetivo de identificar a freqüência de visita à cidade pelos indivíduos questionados.

Ao questionar os participantes da pesquisa sobre a freqüência à cidade de

São José de Ribamar e conseqüentemente ao Festejo, obteve-se um percentual de 41%,

ou seja, a maioria dos entrevistados freqüenta a cidade por mais de 4 vezes durante o

ano. O que significa que os visitantes freqüentam a cidade durante o restante do ano,

independentemente de estar no período do Festejo.

Dos oitenta turistas entrevistados, 100% acham que o turismo é importante

para São José de Ribamar, a partir desse dado foi questionado a eles sobre os aspectos

que são favorecidos com o implemento do turismo nesse município. Posto isso, analisar-

se-á o gráfico abaixo, onde constarão as principais áreas beneficiadas pelo

Gráfico 6 - Freqüência de Visitação à Cidade de São Joséde Ribamar:

27%

32%

41%

uma vez

2 a 4 vezes

mais de 4 vezes

Page 52: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

62

desenvolvimento dessa atividade, que por sua vez foram apontadas pelos próprios

entrevistados.

Segundo análise das respostas da maioria dos entrevistados e através dos

dados gráficos acima, pode-se observar que o implemento do turismo em São José de

Ribamar desenvolve o município de modo geral com um percentual de 25%. Em

segundo lugar foram obtidas com expressivo percentual (23%) as respostas relacionadas

ao desenvolvimento da cultura e ao fortalecimento da religião, apontando assim a

importância do turismo para estas áreas.

Em suma, os entrevistados afirmaram que o turismo é imprescindível para o

crescimento da economia, geração de empregos e renda, desenvolvimento do comércio

local, divulgação e valorização da cidade, e, sobretudo à valorização da cultura e da

religião.

Gráfico 7 - Importância do Turismo para a cidade de SãoJosé de Ribamar:

5%14%

21%

23%

8%

25%

4%

desenvolve o comércio desenvolve a economiagera renda desenvolve a cultura e a religiãogera empregos desenvolve o município em geraloutros

Page 53: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

63

Quanto ao questionamento sobre o crescimento do Turismo Religioso no

município de São José de Ribamar, foi identificado que um percentual de 86% dos

entrevistados respondeu positivamente, constatando-se, portanto, que o turismo religioso

é uma atividade que vem crescendo gradativamente a cada ano naquela localidade.

Enquanto que somente um percentual de 14% dos entrevistados acha que esse

crescimento permanece estagnado, conforme dados observados no gráfico acima.

O gráfico a seguir trata sobre a opinião dos turistas sobre a divulgação do

turismo religioso em São José de Ribamar, ou seja, identifica se há divulgação e

procura-se inferir através dos questionamentos a dimensão da mesma.

Gráfico 8 - Crescimento do Turismo Religioso deSão José de Ribamar:

86%

14%

sim não

Gráfico 9 - Divulgação do Turismo Religioso de São Joséde Ribamar:

5%

47%

18%

30%

não existepouco divulgadomuito divulgadorazoavelmente divulgado

Page 54: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

64

Conforme os dados acima inferiu-se que a maioria dos entrevistados acha que o

turismo religioso de São José de Ribamar é pouco divulgado, o que significa um percentual de

47% do total de entrevistados. Observou-se através da pesquisa, que a maioria das pessoas

entrevistadas que moram no Maranhão ainda acham insuficiente a divulgação dentro e fora do

Estado, pois segundo depoimentos dos turistas oriundos de outros Estados praticamente

inexiste divulgação a respeito do Festejo que acontece em homenagem ao santo São José de

Ribamar, ou mesmo sobre a cidade. Portanto, percebe-se que essa divulgação é restrita aos

municípios adjacentes ao local em estudo.

Tendo como base o gráfico acima pode-se inferir que a maioria dos entrevistados,

ou seja, um percentual de 37%, acha que falta mais divulgação dentro e fora do Maranhão,

principalmente no que diz respeito a outros Estados, pois somente através da divulgação

pode-se disseminar o conhecimento a respeito do Festejo e atrair um maior número de

visitantes para o município de São José de Ribamar. Um dos exemplos de locais que explora o

Turismo Religioso é a cidade de Belém do Pará, muito conhecida pela realização do Círio de

Nazaré, que apresenta grandes fluxos de turistas, e tudo isso se dá principalmente pelos

investimentos maciços que são feitos na divulgação do evento.

Um outro fator bastante enfatizado pelos entrevistados durante a aplicação dos

questionários e o qual apresentou o segundo maior percentual (27%), foi a respeito da falta de

investimentos por parte dos órgãos governamentais em segurança, e infra-estrutura básica e

turística. Esses requisitos são imprescindíveis para o bom funcionamento da atividade

turística e principalmente para satisfazer as necessidades dos turistas. Alguns dos

Gráfico 10 - Ações que precisam ser implementadas para odesenvolvimento do Turismo Religioso:

13%

37%

23%

27%

mais assistência aos vendedores de artesanato;

mais divulgação dentro e fora do Estado do MA;

mais incentivo às atividades turísticas;

mais investimentos em segurança, infra-estrutura básica e turística.

Page 55: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

65

entrevistados disseram ainda que o Festejo deveria ter um calendário fixo, bem como ser

divulgado nacionalmente durante o ano todo e incluído em Roteiro Turístico Brasileiro.

Foi questionado aos visitantes se eles visitariam outras vezes a cidade de São José

de Ribamar durante a realização do Festejo, e de acordo com o gráfico acima obteve-se um

percentual de 92% do total correspondendo a resposta “sim”, enquanto que somente 8% dos

entrevistados respondeu negativamente à pergunta formulada. Portanto, supõe-se que o

Festejo realizado em 2007 teve uma grande aceitação por parte dos seus freqüentadores ou

ainda por aqueles que participaram pela primeira vez do mesmo.

Com o objetivo de identificar a opinião dos visitantes entrevistados sobre o

Festejo realizado no ano de 2007, perguntou-se quais propostas eles achavam coerentes para

Gráfico 11 - Satisfação dos Visitantes quanto ao Festejode São José de Ribamar:

92%

8%

sim não

Gráfico 12 – Propostas para a Inserção de São José de Ribamarcomo Roteiro Nacional do Turismo Religioso:

25%

15%

9%16%

35%

proposta de marketing

melhoria da infra-estrutura turística e deapoioincentivo à comercialização deartesanatoincentivo à participação da comunidadelocal em atividades turísticastodas as alternativas citadas

Page 56: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

66

ampliar a dimensão do mesmo, de forma que pudesse ser inserido no cenário nacional como

um dos roteiros turísticos religiosos mais visitados do país. Observa-se no gráfico abaixo uma

predominância para todas as propostas citadas, a qual obteve-se um percentual de 35%, ou

seja, os entrevistados relataram que seria interessante a realização de uma proposta de

marketing no sentido de incentivar a divulgação do Turismo Religioso; a melhoria de infra-

estrutura turística e de apoio; proposta de incentivo à comercialização de artesanato e à

participação da comunidade local em atividades de cunho turístico que possibilitassem a

geração de renda.

Um outro aspecto que também merece mais atenção por parte dos organizadores

do Festejo, se refere à assistência aos idosos que muitas das vezes vêm de longe para

participarem do evento sem sequer disponibilizarem de recursos, neste caso, poderiam ser

criados espaços de hospedaria para os idosos, ou para outras pessoas, que não têm onde se

alojar. Sugeriu-se ainda, a possibilidade de haver um local fixo e padronizado para exposição

da venda de artesanatos, onde foi visto ao longo da pesquisa que os vendedores não possuíam

barracas padronizadas.

6.2 Análise dos questionários aplicados à comunidade local

Dos questionários aplicados junto à comunidade, foram levantados os dados

conforme apresentados a seguir:

Observa-se que entre os entrevistados, existe uma leve predominância dos

moradores de sexo feminino. Em relação à faixa etária predomina as idades que

compreendem 18 a 28 anos, representando um percentual de 29% dos entrevistados, levando-

Gráfico 13 - Sexo (questionários aplicados à comunidade local):

46%

54%

masculino

feminino

Page 57: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

67

se ao entendimento que o município de São José de Ribamar possui população relativamente

jovem, conforme mostra o gráfico a seguir:

Em relação às ocupações que são exercidas pelos ribamarenses, constatou-se que

a maioria dos entrevistados, ou seja, 21% do total, trabalha em atividades relacionadas ao

comércio. Outra expressiva parte é representada por funcionários públicos municipais e

estaduais, principalmente pelos que trabalham na prefeitura do referido município. Observou-

se segundo o gráfico acima um equilíbrio bem acentuado entre estudante e “outros”, este

último representado por motoristas, donas-de-casa, pedreiros e corretores.

Gráfico 14 - Faixa Etária (questionários aplicados à comunidade local):

5%

29%

21%20%

13%

12%

menos de 18 anos18 a 28 anos29 a 39 anos40a 50 anos51 a 61 anosmais de 61 anos

Gráfico 15 - Ocupação (questionários aplicados à comunidade local):

17%

21%

19%12%

14%

5%12%

autônomovendedorfuncionário públicoestudanteaposentadoprofissional liberaloutros

Page 58: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

68

Considerando a faixa salarial dos indivíduos questionados, verificou-se que a

maioria (42%) ganha em média de 1 a 3 salários mínimos, e 26% do total ganham até um

salário mínimo, comprovando assim que boa parte dos ribamarenses vivem com uma renda de

apenas 1 salário mínimo. Somente 12% dos entrevistados ganham mais de 6 salários mínimos,

segundo dados do gráfico acima.

Foi questionado aos moradores entrevistados a opinião deles sobre a capacidade

turística de São José de Ribamar, ou seja, se eles consideram ou não o local apropriado para o

turismo. A maioria quase que absoluta considera São José de Ribamar um município turístico.

Gráfico 16 - Faixa Salarial (questionários aplicados àcomunidade local):

26%

42%

20%

12%

até 1 salário mínimode 1 a 3 salários mínimosde 4 a 6 saláriosmais de 6 salários

Gráfico 17 - Vocação de São José de Ribamar para a AtividadeTurística:

99%

1%

sim não

Page 59: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

69

No gráfico acima, obteve-se os percentuais relacionados ao(s) tipo(s) de

turismo(s) que São José de Ribamar tem vocação para explorar. Foi questionado somente aos

entrevistados que responderam “sim” à vocação turística do município em estudo. Dos tipos

de turismo relacionados obteve-se um expressivo percentual de 42% referente ao turismo

religioso, comprovando a vocação desse tipo de turismo para a cidade de São José de

Ribamar, mostrando assim, que própria comunidade local tem consciência da importância e

da predominância do turismo religioso.

Em relação ao turismo cultural observou-se que esse tipo de turismo também é

muito relevante para a cidade, e que juntamente com o turismo religioso fazem de São José de

Ribamar um local turístico visitado a cada ano por um número expressivo de turistas.

No gráfico acima, obteve-se os percentuais relacionados ao(s) tipo(s) de

turismo(s) que São José de Ribamar tem vocação para explorar. Foi questionado somente aos

entrevistados que responderam “sim” à vocação turística do município em estudo. Dos tipos

de turismo relacionados obteve-se um expressivo percentual de 42% referente ao turismo

religioso, comprovando a vocação desse tipo de turismo para a cidade de São José de

Ribamar, mostrando assim, que própria comunidade local tem consciência da importância e

da predominância do turismo religioso.

Em relação ao turismo cultural observou-se que esse tipo de turismo também é

muito relevante para a cidade, e que juntamente com o turismo religioso fazem de São José de

Ribamar um local turístico visitado a cada ano por um número expressivo de turistas.

Gráfico 18 - Tipo(s) de Turismo(s) predominante(s) em São José deRibamar:

42%

19%

12%

10%

17%

turismo religiosoturismo culturalturismo religioso e culturalturismo de naturezatodas as opções

Page 60: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

70

Ao serem questionados sobre o crescimento do turismo religioso em São José de

Ribamar, a maioria dos entrevistados respondeu que este tem crescido a cada ano e um

expressivo percentual de 31% do total, apontou que o crescimento desse tipo de turismo tem

se mantido estável. Isso implica dizer que os moradores daquela localidade estão conscientes

do crescimento da atividade turística, bem como da importância que esta proporciona ou

ainda proporcionará ao desenvolvimento da cidade. Porém um percentual de 22% acha que o

turismo tem diminuído, portanto, tal resultado pode estar relacionado à falta de investimento

por parte do trade turístico. Pode-se observar tais dados no gráfico acima.

Das cem pessoas entrevistadas, 74% do total acha que o turismo religioso traz

benefícios à comunidade e apenas um percentual de 26% discordou. Segundo estas pessoas

Gráfico 19 – Crescimento do Turismo Religioso em São José deRibamar:

47%

31%

22%

tem crescidoestáveltem diminuído

Gráfico 20 - O turismo religioso traz benefícios àcomunidade local de São José de Ribamar?:

74%

26%

sim não

Page 61: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

71

que discordaram quanto aos benefícios trazidos pelo desenvolvimento do turismo religioso,

este tipo de atividade atrai vandalismo e incentiva a violência, principalmente na época em

que é comemorado o Festejo. Outras pessoas identificadas nesse quantitativo são evangélicas

e, portanto não concordam com a realização do Festejo, ou ainda não percebem mudanças

quanto ao desenvolvimento da cidade em relação à implementação do turismo de modo geral.

Foi questionado aos entrevistados que responderam positivamente à pergunta

anterior, ou seja, um percentual equivalente a 74% sobre os motivos pelos quais eles achavam

que o turismo religioso traria benefícios à comunidade local. A maioria (44%) respondeu que

o turismo gera renda e empregos, sendo uma das primeiras e principais respostas apontadas

durante as entrevistas.

Uma grande quantidade (23%) acha que o desenvolvimento do turismo religioso

beneficia o comércio local principalmente durante a realização do Festejo, devido ao fluxo de

pessoas que movimenta todos os dias. Os demais entrevistados que responderam acerca da

melhoria da qualidade de vida e do incentivo à cultura somam 24%, sendo que ocorreu um

empate entre ambos, cada um com um percentual de 12%. Por fim, o item “outros” apontou

um percentual de 9%, equivalendo ao aumento do fluxo de consumidores e clientes nos bares,

restaurantes e hotéis, conseqüentemente gerando aumento no faturamento e também porque

traz lazer e diversão à comunidade local.

Gráfico 21 - Por que o turismo religioso pode trazerbenefícios à comunidade local?:

23%

44%

12%

12%9%

incentiva o comércio localgera renda e empregosmelhora a qualidade de vidaincentiva a culturaoutros

Page 62: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

72

Questionou-se durante a entrevista se as pessoas costumavam realizar alguma

atividade econômica durante o Festejo e constatou-se que a maioria, ou seja, 77% dos

entrevistados não desenvolvem atividades com fins lucrativos nesse período, como se pode

observar o gráfico acima.

Para as pessoas que responderam “sim” à pergunta do gráfico anterior,

questionou-se ainda quais tipos de atividades econômicas elas realizavam durante o Festejo, e

a maioria, ou seja, um percentual de 52% disse que comercializava bebidas e comidas. E o

segundo percentual mais expressivo (22%) foi referente à venda de artigos religiosos e de

artesanatos.

Gráfico 22 - Desenvolvimento de Atividades Econômicas duranteFestejo:

23%

77%

sim não

Gráfico 23 - Principais atividades econômicas desenvolvidaspela comunidade durante o festejo:

22%

17%52%

9%

venda de artigos religiosos e artesanatosorganização e divulgação do Festejovenda de bebidas e comidasoutros

Page 63: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

73

Considerando a opinião das pessoas entrevistadas em relação à participação

efetiva ou não do poder público municipal quanto à implementação do Festejo de São José de

Ribamar, obteve-se um percentual de 85% de respostas positivas e somente uma minoria, de

15% do total, discordou da existência dessa participação.

Em relação ainda à mesma questão enumerou-se alguns itens que são de suma

importância para o desenvolvimento do turismo e que foram questionados aos entrevistados,

ou seja, perguntas sobre ações que são ou não realizadas pelo poder público tais como:

divulgação do Festejo, melhoria da infra-estrutura de modo geral, e por último, segurança. O

que pôde-se constatar segundo a tabulação dos dados obtidos durante a pesquisa foi que 75%

do total dos entrevistados acha que o poder público ajuda maciçamente na divulgação do

Festejo. Em relação à infra-estrutura um total de 63% acha que o poder público investe nesta

área. Por último em relação à segurança, constatou-se um equilibrado percentual no resultado,

onde a maioria, ou seja, 59% respondeu que há investimento em segurança e um outro

expressivo percentual (41%) respondeu que não há investimentos nessa área, ficando muito a

desejar segundo relatos de vários entrevistados.

Gráfico 24 - Participação do poder público quanto àimplementação do festejo:

85%

15%

sim não

Page 64: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

74

7 CONCLUSÃO

A abordagem realizada nesse estudo sobre turismo religioso, voltada

principalmente ao município de São José de Ribamar, serviu como meio de fortalecer a idéia

de que este segmento pode contribuir visivelmente para a valorização e a preservação das

práticas espirituais, enquanto manifestações culturais e de fé. E, à medida que fortalece a

cultura local, consegue ainda gerar renda para a comunidade através de atividades exercidas

durante a realização de eventos religiosos, como é o caso do Festejo de São José de Ribamar,

incrementando positivamente a economia, a cultura e a qualidade de vida da população

daquela localidade.

Apesar de possuir um notável potencial para o turismo religioso, como pôde ser

constatado durante a realização das pesquisas de campo, o município de São José de Ribamar

ainda não está efetivamente preparado para receber uma grande quantidade de turistas,

semelhante a outras localidades do Brasil, onde ocorrem grandes eventos do segmento

religioso, como por exemplo, Belém no Pará, conhecida pelo seu grande evento religioso, o

“Círio de Nazaré”. Ainda que seja uma cidade pequena, se comparada à Belém, São José de

Ribamar não oferece as condições necessárias para que haja um crescimento mais visível do

turismo local. Mesmo analisando-se a partir da dimensão do Festejo de São José de Ribamar,

percebemos ainda a falta de um planejamento adequado para a realização do mesmo e certa

inércia do poder público quanto ao incentivo de projetos que viabilizem a atividade turística.

O turismo em São José de Ribamar ainda é limitado, onde o fluxo de visitantes e

turistas é relativamente pequeno, só tendo um significativo aumento durante a realização do

Festejo em homenagem ao santo; do Lava-Pratos (evento que acontece após o término do

carnaval), dentre outros. Dessa forma, se o turismo fosse melhor aproveitado enquanto

atividade econômica, social e cultural que é. E, isto poderia ser feito através do incentivo a

projetos que envolvessem a comunidade e pessoas interessadas na prática dessa atividade,

sem dúvida os ganhos seriam maiores, já que o local em estudo possui vários atrativos tanto

na esfera religiosa e cultural quanto natural, seria interessante executar como parte desse

projeto um roteiro turístico contínuo que explorasse conjuntamente os atrativos naturais e

culturais, já que o fluxo de turistas é maior durante o Festejo, podendo assim evitar a

sazonalidade do turismo em São José de Ribamar.

Para fundamentar as idéias ressaltadas anteriormente sobre a situação do turismo

religioso em São José de Ribamar, tomou-se por base, pesquisas realizadas através de material

bibliográfico e, principalmente, da coletada in loco, onde observou-se além das questões

Page 65: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

75

citadas acima, outras relacionadas ao desenvolvimento da atividade turística em São José de

Ribamar.

A priori notou-se uma certa fragilidade no que tange ao planejamento turístico.

Tendo por base principalmente o Festejo, observou-se que o município de São José de

Ribamar mantem ainda uma estrutura inadequada para a receptividade dos visitantes, como

por exemplo, insuficiência de informações sobre a cidade e materiais expositivos para

apreciação do público.

Outra questão observada e que deixou a desejar foi a divulgação do Evento

(Festejo), principalmente fora da cidade e também alguns itens imprescindíveis para o

crescimento e consolidação da atividade turística numa localidade, ou seja, equipamentos

turísticos de qualidade, segurança eficiente e infra-estrutura básica e de apoio adequadas.

Mesmo que o item relacionado à qualidade dos equipamentos turísticos não tenha sido

enfatizado durante a realização desta pesquisa, é importante ressaltar que sobre um olhar mais

superficial, pôde-se notar a insuficiência de tais equipamentos na cidade, contendo poucas

opções de bares, restaurantes e hotéis, empresas de turismo receptivo, locadoras de veículos,

etc.

Percebe-se que há poucas parcerias formadas entre as entidades ou órgãos que

promovem o turismo e até mesmo falta de incentivo por parte dos órgãos públicos estaduais e

municipais para que haja implementação e viabilização de projetos ligados à área. Talvez esse

seja o fator que mais dificulte o avanço do turismo religioso no local em estudo, visto que tais

órgãos têm uma grande participação e responsabilidade sobre a implantação de projetos

turísticos.

Outro ponto importante e que parece ter sido esquecido, é a falta de participação

da comunidade local em ações ligadas ao turismo, onde nota-se uma pequena parcela da

população envolvida em atividades turísticas durante o Festejo. No entanto, o número de

beneficiados com os ganhos originados pelo turismo poderia ser bem maior se fosse

corretamente planejado e explorado.

Portanto, com o término desta pesquisa pôde-se inferir que é imprescindível o

incentivo dos órgãos ligados direta e indiretamente ao turismo antes de tudo e para que haja

uma implantação da atividade turística eficiente é necessário que seus equipamentos atendam

tanto à comunidade local quanto à demanda, oferecendo serviços com qualidade, infra-

estrutura básica e turística adequadas, participação efetiva da comunidade em atividades

turísticas.

Page 66: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

76

Tem que haver mais divulgação acerca do potencial turístico da cidade, pois só

assim os turistas irão ser motivados a conhecer de perto esse potencial. Por último é válido

ressaltar ainda a importância da realização de um planejamento turístico correto, cujas ações

aconteçam de forma criteriosa e que estas possam contribuir efetivamente para a maximização

do crescimento do turismo religioso e de modo geral em São José de Ribamar.

Page 67: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

77

REFERÊNCIAS

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ANSARAH, Marília Gomes dos Reis. Turismo e lazer: cultura e manifestações no cotidianourbano: aspectos do turismo e do lazer cultural brasileiro, São Paulo: Futura, 1999.

BANDEIRA, Tereza Maria Portelada; QUEIROZ, Liduína Maria de Freitas. São José deRibamar: um exemplo de turismo religioso no espaço maranhense. 2005. Monografia (Cursode Turismo) - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, São Luís, 2005.

BARRETTO, Margarita. Manual de iniciação ao estudo do turismo. Campinas: Papirus,1995.

BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. 7. ed. São Paulo: SENAC, 2002.

_____. Globalização do turismo: megatendências do setor e a realidade brasileira. SãoPaulo: Aleph, 2003.

BRASIL. Ministério do Esporte e turismo. Meu negócio é turismo, [Brasília], 2002.

COOPER, Chris et. al. Turismo, princípios e práticas. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

CORIOLANO, Luzia Neide Menezes Teixeira. Do local ao global: o turismo litorâneocearense. Campinas: Papirus, 1998.

____________. O Turismo nos discursos, nas políticas e no combate à pobreza. SãoPaulo: Annablume, 2006.

DIAS, Reinaldo; SILVEIRA, Emerson J. S. da. (Org). Turismo religioso: ensaios e reflexões.Campinas: Alínea, 2003.

EMBRATUR. Roteiros da Fé Católica no Brasil. Brasília: EMBRATUR, 2000.

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MIDDLETON, Victor T.C. Marketing de turismo: teoria e prática. Rio de Janeiro: Campus,2002.

OLIVEIRA, Antônio Pereira. Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. 4.ed. rev.e ampl. São Paulo: Atlas, 2002.

PETROCCHI, Mário. Marketing para destinos turísticos. São Paulo: Futura, 2004.REIS, José Ribamar Sousa dos. São José de Ribamar: a cidade, o santo e sua gente. SãoLuís: Empresa Jornalística do Maranhão Ltda, 2001.

TRIGO. Luiz Gonzaga Godoi. A sociedade pós-industrial e o profissional em turismo.Campinas: Papirus, 1998.

Page 69: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

79

APÊNDICES

Page 70: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

80

APÊNDICE A: Questionário aplicado aos turistas.

QUESTIONÁRIO 01:

Esta é uma pesquisa monográfica que será apresentada ao Curso de Turismo da UniversidadeFederal do Maranhão para obtenção do título de Bacharel em Turismo. Tem como objetivocoletar dados e traçar o perfil do turista ou visitante freqüentador do Festejo de São José deRibamar.Solicito a sua colaboração, respondendo a este questionário.

1 - Faixa etária:( ) menos de 18 anos ( ) 40 a 50 anos( ) 18 a 28 anos ( ) 51 a 61 anos( ) 29 a 39 anos ( ) mais de 61 anos

2 - Sexo:( ) masculino ( ) feminino ( ) outros

3 - Qual a sua profissão?_______________________________________________

4 - Renda Familiar:( ) até um salário mínimo ( ) de 4 a 6( ) de 1 a 3 salários mínimos ( ) mais de 6

5 - Qual a sua procedência?_______________________________________________

6- Você vem sempre a São José de Ribamar?

( ) sim ( ) não

6.1 - Em caso afirmativo, com que freqüência você visita São José de Ribamar?

( ) uma vez ( ) 2 a 4 vezes ( ) mais de 4 vezes

7- Você acha que o turismo é importante para a cidade de São José de Ribamar?

( ) sim ( ) não

7.1 - Em caso afirmativo, em que aspectos?______________________________________________________________________________________________

8- De acordo com a sua opinião, o desenvolvimento do Turismo Religioso no município deSão José de Ribamar traz benefícios à comunidade local?

( ) sim ( ) não

Page 71: 11 1 INTRODUÇÃO O turismo religioso pode ser entendido

81

8.1- Em caso afirmativo, em que aspectos?

______________________________________________________________________________________________

9 - Em sua opinião, o Turismo Religioso tem crescido em São José de Ribamar?

( ) sim ( ) não

10 – Qual a sua opinião sobre a divulgação do Turismo religioso em São José de Ribamar?

( ) não existe ( ) muito divulgado( ) pouco divulgado ( ) razoavelmente divulgado( ) outros

11 - Em sua opinião, o que deveria ser feito para melhorar o Turismo Religioso em São Joséde Ribamar?

______________________________________________________________________________________________

12 – Você voltaria mais vezes para o Festejo de São José de Ribamar?

( ) sim ( ) não

13 – Das propostas abaixo, quais você considera importante para ajudar a inserir o municípiode São José de Ribamar no Cenário Nacional, como um dos principais Roteiros de TurismoReligioso?

( ) Proposta de Marketing Turístico (incentivar a divulgação);( ) Melhoria da infra-estrutura básica e de apoio;( ) Proposta de incentivo à comercialização de artesanato por parte dos órgãosgovernamentais;( ) Proposta de incentivo à participação da comunidade local em atividades de cunhoturístico-religioso que possam gerar renda para a mesma.

Obrigada por sua colaboração!

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82

APÊNDICE B: Questionário aplicado à comunidade local.

QUESTIONÁRIO 02:

Esta é uma pesquisa monográfica que será apresentada ao Curso de Turismo da UniversidadeFederal do Maranhão para obtenção do título de Bacharel em Turismo. Tem como objetivocoletar informações dos moradores do município de São José de Ribamar acerca do Festejo,bem como sobre as providências que eles acham que devem ser tomadas para odesenvolvimento do Turismo Religioso na localidade.Solicito a sua colaboração, respondendo a este questionário.

1- Faixa etária:( ) menos de 18 anos ( ) 40 a 50 anos( ) 18 a 28 anos ( ) 51 a 61 anos( ) 29 a 39 anos ( ) mais de 61 anos

2- Sexo:( ) masculino ( ) feminino ( ) outros

3- Qual a sua profissão?_________________________________________________

4- Renda Familiar:( ) até um salário mínimo ( ) de 4 a 6( ) de 1 a 3 salários mínimos ( ) mais de 6

5-Você é morador do município de São José de Ribamar?

( ) sim ( ) não

6- Você considera São José de Ribamar um município turístico?

( ) sim ( ) não

6.1-Em caso afirmativo, qual tipo de turismo você acha que o município tem vocação?

( ) turismo religioso ( ) turismo cultural( ) turismo de natureza ( ) outros

7- O que você acha sobre o Turismo Religioso quanto ao seu crescimento?

( ) tem crescido ( ) estável ( ) tem diminuído ( ) não sabe informar

8- De acordo com a sua opinião, o desenvolvimento do Turismo Religioso no município deSão José de Ribamar traz benefícios à comunidade local?

( ) sim ( ) não

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8.1- Por quê?____________________________________________________________________________________________________________________________________________

9- Você desenvolve alguma atividade econômica durante o Festejo?

( ) sim ( ) não

9.1- Em caso afirmativo, qual ou quais?

_____________________________________________________________________

10- Em sua opinião, existe participação efetiva do poder público municipal em relação àimplementação do Festejo de São José de Ribamar?

( ) sim ( ) não

10.1-Em relação à questão anterior, você acha que há participação do poder público municipalquanto à:

▪ Divulgação do Festejo de São José de Ribamar?

( ) sim ( ) não ( ) não tem conhecimento

▪ Infra-Estrutura de modo geral?

( ) sim ( ) não ( ) não tem conhecimento

▪ Segurança?

( ) sim ( ) não ( ) não tem conhecimento

▪ Outros?

( ) sim ( ) não

___________________________________________________________________________________________________________________________________________

Obrigada por sua colaboração!

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ANEXOS

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ANEXO A: Folder do Festejo de São José de Ribamar.(2007)