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1 O estudo do direito probatório pode ser dividido em Teoria Geral da Prova (arts. 369 a 381 do Novo CPC) e Provas em Espécie (arts. 385 a 484 do Novo CPC). 1.1 TEORIA GERAL DA PROVA As provas são os meios destinados a fornecer ao juiz o conhecimento da verdade dos fatos. A prova no processo civil está disciplinada nos arts. 369 a 484 do Novo Código de Processo Civil e arts. 212 a 232 do Código Civil. Segundo doutrina majoritária, 1 as normas que regulam as provas possuem natureza jurídica processual, mas há doutrinadores que entendem que o direito probatório seria composto por normas mistas, de direito material e formal. A prova tem por objeto os fatos alegados pelas partes como fundamento do pedido ou da defesa. Com efeito, a doutrina moderna entende que o objeto da prova são os fatos alegados pelas partes e não simplesmente os fatos. Fundamentam que não há como saber o que aconteceu, pois a verdade real é um mito. O fato que deve ser provado possui as seguintes características: a) Controvertido; b) Relevante; e c) Determinado. Há fatos que, embora interessem para o processo, não precisam ser provados. São eles: - Os fatos afirmados por uma parte e confessados pela outra; - Os fatos não contestados; - Os fatos sobre os quais recai presunção legal de veracidade; - Os fatos notórios: aqueles cujo conhecimento faz parte da cultura normal própria de determinada sociedade ao tempo em que é proferida a decisão. Por exemplo, é fato notório que, no dia 25 de dezembro de todo o ano, os cristãos comemoram o Natal. Como regra, a parte não precisa provar o direito objetivo aplicável , já que o juiz deve conhecer o direito (iura novit curia). Além disso, o juiz não pode se eximir de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico (art. 140 do Novo CPC). No entanto, se a parte alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, deverá provar o seu teor e a sua vigência, se assim o determinar o juiz (art. 376, Novo CPC). O juiz é o destinatário direto da prova. As partes são destinatárias indiretas, porque precisam se convencer da verdade para que aceitem a decisão do juiz, ou, caso contrário, interponham recurso. 1 Nesse sentido, Alexandre Freitas Câmara (Lições de Direito Processual Civil. v. 1. 15. ed. Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2006. p. 404).

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O estudo do direito probatório pode ser dividido em Teoria Geral da Prova (arts. 369 a 381 do Novo CPC) e Provas em Espécie (arts. 385 a 484 do Novo CPC).

1.1 TEORIA GERAL DA PROVA

As provas são os meios destinados a fornecer ao juiz o conhecimento da verdade dos fatos.

A prova no processo civil está disciplinada nos arts. 369 a 484 do Novo Código de Processo Civil e arts. 212 a 232 do Código Civil.

Segundo doutrina majoritária,1 as normas que regulam as provas possuem natureza jurídica

processual, mas há doutrinadores que entendem que o direito probatório seria composto por normas mistas, de direito material e formal.

A prova tem por objeto os fatos alegados pelas partes como fundamento do pedido ou da defesa. Com efeito, a doutrina moderna entende que o objeto da prova são os fatos alegados pelas partes e não simplesmente os fatos. Fundamentam que não há como saber o que aconteceu, pois a verdade real é um mito.

O fato que deve ser provado possui as seguintes características: a) Controvertido; b) Relevante; e c) Determinado.

Há fatos que, embora interessem para o processo, não precisam ser provados. São eles:

- Os fatos afirmados por uma parte e confessados pela outra;

- Os fatos não contestados;

- Os fatos sobre os quais recai presunção legal de veracidade;

- Os fatos notórios: aqueles cujo conhecimento faz parte da cultura normal própria de determinada sociedade ao tempo em que é proferida a decisão. Por exemplo, é fato notório que, no dia 25 de dezembro de todo o ano, os cristãos comemoram o Natal.

Como regra, a parte não precisa provar o direito objetivo aplicável, já que o juiz deve conhecer o direito (iura novit curia).

Além disso, o juiz não pode se eximir de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico (art. 140 do Novo CPC).

No entanto, se a parte alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, deverá provar o seu teor e a sua vigência, se assim o determinar o juiz (art. 376, Novo CPC).

O juiz é o destinatário direto da prova. As partes são destinatárias indiretas, porque precisam se convencer da verdade para que aceitem a decisão do juiz, ou, caso contrário, interponham recurso.

1 Nesse sentido, Alexandre Freitas Câmara (Lições de Direito Processual Civil. v. 1. 15. ed. Rio de Janeiro : Lumen Juris, 2006. p. 404).

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1.1.1 SISTEMAS DE APRECIAÇÃO DAS PROVAS

Historicamente, reconhecem-se quatro principais sistemas de apreciação de provas:

a) Sistema das Ordálias (ou Juízos de Deus): A prova do fato ocorreria por revelações divinas. Segundo esse sistema de provas, alguma divindade impediria a pessoa de sentir dor ou morrer se ela estivesse falando a verdade. Por exemplo, submetia-se a pessoa à água quente ou ao fogo (andar em brasas); se ela expressasse sentir dor, não estaria falando a verdade. Trata-se de sistema arcaico, que desapareceu com os julgamentos centrados na racionalidade humana.

b) Sistema legal, positivo ou tarifado: Cada prova tem o valor que é considerado pela lei. O juiz não tem liberdade para apreciar as provas, pois possui apenas a função de aplicar a lei, devendo ficar adstrito ao valor legal conferido à prova.

No Brasil, ainda há resquícios desse sistema de prova. Por exemplo, o art. 227 do Código Civil impossibilita prova testemunhal nos negócios jurídicos cujo valor exceda a dez vezes o valor do salário mínimo.

c) Sistema da livre convicção ou íntima convicção: O juiz é absolutamente livre para apreciar as provas, não estando vinculado à lei, tampouco precisando motivar as razões do seu convencimento. Esse sistema ainda é adotado no sistema judicial brasileiro nas decisões do Júri Popular.

d) Sistema da Persuasão Racional ou do Livre Convencimento Motivado: o valor probatório de cada prova é extraído do caso concreto pelo juiz, que deve ponderar a respeito das provas produzidas e expor as razões do seu convencimento, fundamentando a sua decisão. É o sistema adotado no Brasil.

1.1.2 MEIOS DE PROVA

No Brasil, vigora o Princípio da Liberdade dos Meios de Prova. Assim, como regra, os fatos podem ser provados por quaisquer meios de prova, desde que legais ou moralmente legítimos.

Os meios de provas podem ser:

a) Típicos: quando previsto expressamente determinado meio de prova pelo ordenamento jurídico. Por exemplo, prova testemunhal, documental, pericial, inspeção judicial.

b) Atípicos: quando não previstos expressamente no ordenamento jurídico. Por exemplo, reconstituição dos fatos e prova emprestada.

1.1.3 PODERES INSTRUTÓRIOS DO JUIZ

De acordo com o art. 370 do Novo CPC, o juiz possui amplos poderes instrutórios para determinar a realização de provas a fim de formar o seu convencimento. Pode, ademais, indeferir o pedido de realização de provas impertinentes ou desnecessárias.

Portanto, o juiz não deve desempenhar apenas uma atividade supletiva, tampouco se omitir em matéria de prova. Ao contrário, deve atuar de forma dinâmica, buscando todas as provas necessárias para retratar no processo a realidade fática.

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1.1.4 PROCEDIMENTO DA PROVA

O procedimento probatório compreende as fases de proposição, admissão, produção e valoração.

2 BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Poderes instrutórios do juiz. 5. ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2011. P. 102/103.

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a) Proposição: As partes devem requerer que seja produzida a prova com que pretendem demonstrar os fatos que alegam. As provas constituídas devem ser apresentadas no próprio ato de postulação. A produção das provas constituendas deve ser requerida no primeiro ato de postulação (na petição inicial ou na contestação).

b) Admissão: Uma vez requerida a produção da prova, o juiz analisará a utilidade da sua produção. Pode o magistrado, portanto, indeferir o pedido de produção da prova, caso entenda que a prova é desnecessária.

c) Produção: É o ato pelo qual se demonstram os fatos alegados pelas partes.

d) Valoração: Ocorre no momento da sentença, quando o juiz forma o seu convencimento a fim de julgar o pedido do autor.

1.1.5 ÔNUS DA PROVA

Ônus é um encargo que, caso não seja desempenhado, gera uma situação jurídica de desvantagem para a parte. Não se confunde com obrigação.

Assim, a imposição do ônus da prova a uma parte do processo implica que ela tem de produzir a prova, a fim de não suportar a desvantagem gerada pela sua não produção.

Sobre a distribuição do ônus da prova entre as partes, há duas principais teorias:

a) Teoria da Distribuição Dinâmica do Ônus da Prova

Segundo esta Teoria, é necessário levar em conta as circunstâncias do caso concreto, atribuindo-se o ônus da prova a quem tem condições de satisfazê-lo. Ou seja, é o juiz que, caso a caso, impõe o ônus da prova à parte que tem melhores condições de produzi-la.

b) Teoria Estática do Ônus da Prova (teoria clássica):

Segundo a Teoria Estática, é a lei processual que já distribui prévia e abstratamente o ônus da prova às partes.

Com o advento do novo Código, o ônus probatório sofreu algumas importantes alterações, observadas no seu art. 373. O artigo equivalente do Código de 1973, o art. 333, que tratava do mesmo assunto, instituía um sistema de ônus da prova que estabelecia ao juiz o uso de um critério objetivo e seguro na solução de mérito para a causa. O ônus de prova era estático, fixado nos incisos I e II do artigo. Aliás, os incisos I e II, do artigo 373 do Novo CPC, mantiveram a mesma redação do Código anterior.

Incumbe, assim, ao autor provar os fatos constitutivos do seu direito subjetivo (art. 373, I, Novo CPC).

Ao réu, cabe comprovar os fatos modificativos, extintivos ou impeditivos do direito do autor (art. 373, II, Novo CPC).

As alterações significativas estão estampadas nos §§ 1º e 2º.

O § 1º introduziu o sistema da carga dinâmica da prova, que muito já vinha sendo discutido na doutrina brasileira. Essencialmente, esta modificação implica que a carga probatória possa recair sobre quem está em melhores condições de esclarecer os fatos.

Outra questão importante sobre esse tema é estabelecer o momento procedimental adequado para proferir a decisão que distribui o ônus probatório. De acordo com o Novo Código, esse momento é o de saneamento e organização do processo, como estabelecido no inciso III, do artigo 357, do Novo CPC. As partes deverão saber, antes da produção da prova, que será aplicada a carga dinâmica da prova,

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a fim de evitar surpresas, com a consequente violação do contraditório. Tal decisão, segundo previsão do art 1.015, XI, do Novo CPC, é recorrível por meio de agravo de instrumento.

Ônus da prova é o encargo de provar algo. Assim, quando a parte possui o ônus da prova e não comprova o fato, passa a ter uma situação de desvantagem.

A regra do ônus da prova também é utilizada pelo juiz no momento de proferir a sentença. Assim, caso o autor não comprove um fato constitutivo do seu direito, tal fato será reputado inexistente, pois tinha o ônus da prova. Da mesma forma, se o réu não comprovar um fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, será tal fato reputado inexistente, pois era dele o ônus da prova.

As partes podem convencionar em distribuir o ônus da prova de forma diversa da que está prevista no CPC. No entanto, não será possível a convenção sobre o ônus da prova, sob pena de nulidade, quando (art. 373, § 3º, Novo CPC): “I - recair sobre direito indisponível da parte; II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito”.

1.1.7 ÔNUS DA PROVA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

O Código de Defesa do Consumidor prevê a possibilidade de o juiz inverter o ônus da prova no caso da relação de consumo, impondo este ônus ao fornecedor do produto ou serviço. Para tanto, é necessário que seja o consumidor hipossuficiente ou a alegação seja verossímil (art. 6º, inc. VIII, CDC).

No entanto, a inversão do ônus da prova não é automática. O juiz deve analisar as circunstâncias do caso concreto para decidir.

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Deve-se atentar, ainda, que a responsabilidade civil do fornecedor no CDC é objetiva (salvo no caso de prestação de serviço por profissionais liberais). Por conseguinte, o consumidor não precisa comprovar dolo ou culpa do fornecedor de produtos ou serviços. Assim, por vezes, será desnecessária a inversão do ônus da prova, haja vista que basta comprovar que o produto ou

o serviço foi colocado no mercado e que houve vício ou defeito, com dano ao consumidor.

De outro lado, não conseguindo o consumidor comprovar os elementos da responsabilidade civil objetiva, poderá o juiz determinar a inversão do ônus da prova.

A inversão do ônus da prova, no CDC, é possível inclusive nos casos excepcionais de responsabilidade subjetiva (art. 14, § 4º, CDC), como é o caso dos serviços prestados por profissionais liberais, como o médico, o dentista, o veterinário etc., segundo entendimento pacífico do STJ.

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Além disso, a inversão do ônus da prova também é cabível quando se trata de ação civil pública proposta por um dos legitimados para proteção de direitos difusos, coletivos em sentido estrito ou individuais homogêneos dos consumidores.

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3 STJ, AgRg no REsp 1216562/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/09/2012, DJe 10/09/2012. 4 STJ, AgRg no AREsp 25.838/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/11/2012, DJe 26/11/2012. 5 STJ, AgRg no REsp 1300588/RJ, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/05/2012, DJe 18/05/2012.

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2.1 AS DECISÕES JUDICIAIS

Os pronunciamentos judiciais podem decidir determinada questão dentro de um processo, ou ser simplesmente destinados a impulsioná-lo.

Os provimentos jurisdicionais com conteúdo decisório são denominados de decisões em sentido amplo; os atos do juiz de mero impulsionamento do processo são chamados de despachos.

Tanto no juízo de primeira instância como nos tribunais, os atos de mero impulsionamento são denominados de despachos.

De outro lado, para definir e classificar as decisões em sentido lato, é preciso distinguir as decisões proferidas pelo juízo de primeira instância e as proferidas pelos tribunais, de segunda instância ou superiores.

As decisões do juiz de primeira instância podem ser: a) sentenças; e b) decisões interlocutórias.

A sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487 – isto é, definindo ou não o mérito –, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. Essa é a definição no art. 203, § 1º, do Novo CPC. No entanto, esse conceito ainda será desenvolvido no item seguinte, discorrendo-se sobre as divergências doutrinárias e jurisprudências, bem como sobre suas implicações práticas.

As decisões interlocutórias, por sua vez, são definidas como todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no conceito de senteça (art. 203, § 2º, Novo CPC).

No âmbito dos tribunais, as decisões em sentido lato podem ser classificadas em: a) decisões monocráticas; e b) acórdãos.

Acórdão é um pronunciamento judicial proferido por órgão colegiado de tribunal (art. 204, Novo CPC), independentemente de seu conteúdo. Assim, uma decisão colegiada do tribunal sobre questão incidente se dará por acórdão. Por exemplo, será acórdão a decisão colegiada do tribunal, em agravo de instrumento, sobre antecipação de tutela.

As denominadas decisões monocráticas são as proferidas por apenas um membro do tribunal, independentemente do seu conteúdo. Assim, por exemplo, o relator pode monocraticamente dar provimento à apelação, julgando procedente ou improcedente o pedido do autor, nas hipóteses em que o CPC o autoriza (art. 932, II a VI, e art. 1.021, § 2º, do Novo CPC); ou simplesmente admitir um recurso. Observa-se que o conteúdo da decisão não descaracteriza a sua natureza de decisão monocrática.

2.2 SENTENÇA

2.2.1 CONCEITO6

A par das recentes alterações legislativas, a doutrina e a jurisprudência majoritárias continuam definindo a sentença pela sua finalidade e não pelo seu conteúdo. Assim, a sentença pode ser

6 Para saber mais sobre o tema, vide artigo de nossa autoria: LUNARDI, Fabrício Castagna. A excrescência da "apelação por instrumen-

to". Prática Jurídica - Consulex, a. 8, n. 83, p. 58-60, fev. 2009.

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conceituada como a decisão judicial tendente a encerrar a fase de conhecimento em primeira instância, que, resolvendo ou não o mérito, possui conteúdo previsto nos arts. 485 e 487 do Novo CPC, ou que extingue a fase ou o processo de execução. Qualquer outro ato judicial que resolva questão incidente, no curso da fase de conhecimento, de liquidação ou de execução, independentemente da matéria apreciada, é decisão interlocutória.

Assim, é decisão interlocutória a decisão do juiz que exclui um dos litisconsortes do processo (conteúdo do art. 485, VI, Novo CPC), ou que indefere o processamento da reconvenção (art. 485, I, Novo CPC). Também é interlocutória a decisão que julga um dos pedidos antecipadamente, necessitando os demais pedidos de instrução probatória (art. 487, I, Novo CPC); ou a decisão que reconhece a prescrição em relação à parte da pretensão (art. 487, II, Novo CPC), mas o feito prossegue em relação aos demais pedidos. Da mesma forma, é decisão interlocutória o ato judicial que homologa acordo parcial (art. 487, III, “b” Novo CPC), prosseguindo-se o processo no tocante à parte controversa.

Tratando-se de decisão interlocutória (mesmo com conteúdo previsto nos arts. 485 e 487 do Novo CPC), será atacável por recurso de agravo. Destarte, processar um recurso de “apelação por instrumento” nesses casos é uma excrescência, prática que deve ser abolida da rotina forense.

2.2.2 REQUISITOS DA SENTENÇA

Os requisitos da sentença podem ser essenciais ou facultativos.

São requisitos facultativos da sentença: a) o preâmbulo; e b) a ementa.

São elementos essenciais da sentença: a) o relatório; b) a fundamentação; e c) o dispositivo.

Embora se fale aqui em sentença, tais requisitos se aplicam integralmente aos acórdãos de tribunais.

a) Relatório

O relatório é a síntese do processo. Deverá conter os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo (art. 489, I, Novo CPC). É o histórico de tudo de relevante que aconteceu no processo.

O relatório serve para demonstrar que o julgador leu e compreendeu o processo. Também deve possibilitar que o leitor compreenda exatamente a demanda e a tese defensiva, bem como saiba o que aconteceu no processo.

Do ponto de vista da técnica redacional, o juiz deve, no relatório, narrar os acontecimentos em ordem cronológica, utilizar o mesmo tempo verbal, evitar o uso de adjetivos, não mencionar a validade ou invalidade dos atos (ex.: “devidamente citado”). Também não deve, no relatório, consignar comando decisório, tampouco fazer juízo de valor.

Lembre-se, no entanto, que, nos Juizados Especiais, o relatório é dispensável (art. 38, caput, da Lei 9.099/1995).

b) Fundamentação

Fundamentar é descrever os motivos da convicção, é apresentar todos os fatores que formaram o convencimento.

A motivação das decisões judicial é um imperativo constitucional (art. 93, inc. IX, CF).

No processo civil contemporâneo, a fundamentação é um fator de legitimação da atividade jurisdicional, pois o juiz se legitima ato a ato pelo seu argumento.

A fundamentação tem duas principais funções, uma extraprocessual e outra endoprocessual. Do ponto de vista extraprocessual, a fundamentação serve para que o povo possa fiscalizar o poder

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exercido pelo juiz. Sob o enfoque endoprocessual, serve para permitir que as partes possam saber as razões que conduziram o julgador à sua decisão; para mostrar às partes do processo que o juiz levou em consideração os argumentos das partes; e para que o tribunal compreenda as razões do juiz, a fim de decidir, em grau de recurso, se reformará ou não a decisão judicial.

Enquanto, no relatório, o juiz utiliza uma ordem cronológica, na fundamentação, o juiz deve apreciar as alegações e teses das partes em ordem lógica.

Além disso, é na fundamentação que o juiz deve valorar as provas produzidas no processo.

Na fundamentação, é preciso distinguir o que é ratio decidendi e obter dictum. Ratio decidendi são os fundamentos jurídicos que embasam a decisão. Obter dictum são os argumentos expostos apenas de passagem na decisão.

As questões resolvidas apenas na fundamentação não fazem coisa julgada material.

A ausência de fundamentação é um vício bastante grave. Segundo a posição amplamente majoritária na doutrina e na jurisprudência,

7 a decisão sem motivação é nula. Aliás, é exatamente isto

que está previsto no art. 93, inc. IX, da Constituição Federal.

Nos Juizados Especiais, as Turmas Recursais podem fazer uma fundamentação sucinta, estando autorizado manter a decisão de primeira instância por seus próprios fundamentos.

O juiz deverá fundamentar com base no direito. O art. 140, parágrafo único, do Novo CPC, prevê que “o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”.

c) Dispositivo

O dispositivo é a parte do provimento jurisdicional que contém o conteúdo decisório, o comando estatal. É a conclusão, o elemento nuclear de todo ato jurisdicional com conteúdo decisório.

O dispositivo é, também, a parte da sentença que faz coisa julgada.

A falta de dispositivo na sentença implica inexistência, conforme maioria da doutrina.

2.2.3 CLASSIFICAÇÕES DA SENTENÇA

2.2.3.1 DECISÃO DEFINITIVA E DECISÃO TERMINATIVA

Considerando a existência ou não de resolução do mérito, a sentença pode ser terminativa ou definitiva.

Será terminativa a sentença que não contém resolução de mérito. Trata-se das hipóteses em que o processo é extinto sem resolução do mérito (art. 485, Novo CPC).

A sentença definitiva, por sua vez, é aquela que contém resolução de mérito (art. 487, Novo CPC).

A sentença terminativa faz apenas coisa julgada formal, não tendo aptidão para fazer coisa julgada material.

A sentença definitiva tem aptidão para fazer coisa julgada forma e material. Assim, transitada em julgado, torna indiscutível e imutável o seu conteúdo.

7 WAMBIER, Teresa Arruda. Nulidades do processo e da sentença. 5. ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2004. p. 320.

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Embora se fale em sentença, também é possível que decisões interlocutórias, decisões monocráticas de relator e acórdãos façam coisa julgada. Para tanto, é preciso que tais decisões sejam proferidas com conteúdo previsto no art. 487 do Novo CPC.

Será decisão interlocutória de mérito a decisão proferida no curso da fase processual de conhecimento que homologa acordo parcial (art. 487, III, “b”, Novo CPC); ou a que julga determinado pedido incontroverso, prosseguimento o processo em relação à parte controversa (art. 487, I, Novo CPC); ou, ainda, a decisão que reconhece a prescrição da pretensão deduzida num dos pedidos, mas o processo continua em relação aos demais (art. 487, II, Novo CPC). Observe-se que tais decisões interlocutórias resolvem o mérito, razão pela qual são definitivas, isto é, têm aptidão para fazer coisa julgada material.

Da mesma forma, fazem coisa julgada as decisões monocráticas de relator que tenham conteúdo previsto no art. 487 do Novo CPC. Assim, quando o relator monocraticamente dá provimento à apelação, julgando procedente ou improcedente o pedido do autor, nas hipóteses do art. 932, II a VI, e do art. 1.021, § 2º, do Novo CPC, haverá resolução do mérito (art. 487, I, Novo CPC), razão pela qual a decisão é definitiva.

2.2.3.2 SENTENÇAS DECLARATÓRIA, CONSTITUTIVA, CONDENATÓRIA, MANDAMENTAL E EXECUTIVA

Do ponto de vista do conteúdo da sentença e da carga de eficácia, e adotando-se a Teoria Quinária de Pontes de Miranda, as sentenças de procedência podem ser classificadas em:

a) Sentença declaratória

A sentença declaratória é também conhecida como puramente declaratória ou meramente declaratória. Trata-se de sentença que contém provimento jurisdicional de mera certificação ou declaração.

No direito brasileiro, é possível postular a declaração de existência ou inexistência de uma relação jurídica, ou de autenticidade ou falsidade de um documento, nos termos do art. 19, inc. I, do Novo CPC. Assim, como regra, somente é possível sentença que declare/certifique relação jurídica, mas não declaração/certificação sobre fato, salvo se disser respeito à autenticidade ou à falsidade de documento.

A esse respeito, a Súmula 181 do STJ prevê que “é admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto à exata interpretação de cláusula contratual.” De outro lado, a Súmula 242 do STJ dispõe que “cabe ação declaratória para reconhecimento de tempo de serviço para fins previdenciários.”

Na sentença declaratória, utiliza-se o verbo declarar.

São sentenças declaratórias as proferidas na ação consignatória; na ação de usucapião; na ação declaratória de existência de sociedade de fato; na ação de reconhecimento de união estável; na ação declaratória de nulidade (não de anulação) de negócio jurídico; na ação declaratória de inexistência de dívida.

b) Sentença constitutiva

Trata-se de sentença que tem como efeito a criação, a modificação ou a extinção de determinada relação jurídica.

Na sentença, utiliza-se o verbo decretar, mas também pode usar o verbo de ação que cria, extingue ou modifica a relação jurídica. Por exemplo, “julgo procedente a demanda para o fim de anular o negócio jurídico...”; “julgo procedente a demanda e fixo o regime de visitas da seguinte forma...”; “julgo procedente o pedido e rescindo o contrato de arrendamento mercantil...”.

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São exemplos de sentenças constitutivas ou constitutivas negativas (desconstitutivas) as proferidas nas seguintes ações: ação de divórcio; anulação de casamento; ação de anulação de negócio jurídico; regulamentação de visitas; ação de guarda; ação de suspensão e destituição do pátrio poder; ação de adoção; ação renovatória e revisional de locação; ação de desapropriação; ação popular; ação de divisão; ação de extinção de condomínio.

c) Sentença condenatória

É a sentença que condena ou impõe ao réu um dever de dar, fazer ou não fazer.

Utiliza-se o verbo condenar.

Pode-se citar, como exemplos de sentenças condenatórias, as proferidas na ação de indenização; na ação de reparação; na ação de perdas e danos; na ação de ressarcimento; na ação de locupletamento; na ação de alimentos.

d) Sentença mandamental

Há autores que não reconhecem a autonomia da sentença mandamental e da sentença executiva, fundamentando que já estariam compreendidas na sentença condenatória. No entanto, de acordo com a Teoria Quinária de Pontes de Miranda e os doutrinadores que a seguem, tais sentenças (mandamental e executiva) possuem autonomia classificatória.

A sentença mandamental é aquela que impõe um dever e o seu cumprimento por meio de coerção indireta. A coerção atua na esfera psicológica daquele a quem se impõe a obrigação, para que a cumpra, já que o Estado-juiz não consegue diretamente executar aquela obrigação.

Utiliza-se o verbo determinar. São exemplos de sentenças mandamentais as proferidas nas seguintes ações: mandado de segurança; mandado de injunção; habeas data; interdito proibitório, segundo alguns doutrinadores; embargos de terceiro; ação de depósito.

e) Sentença executiva

Trata-se de sentença em que há a imposição de um dever e o seu cumprimento por meio de coerção direta. Vale dizer, o Estado-juiz impõe uma obrigação e atua diretamente para o seu cumprimento. A ordem não satisfeita pelo demandado é cumprida pela coerção direta do Estado.

Alguns denominam a sentença executiva de “executiva lato sensu”.

Utiliza-se o verbo determinar, da mesma forma do que ocorre na ação mandamental.

Há sentença executiva nas seguintes ações: ação reivindicatória; ação de imissão de posse; ação de reintegração de posse; ação de petição de herança; ação de adjudicação compulsória; ação de busca e apreensão (Decreto-Lei 911/69); ação de despejo.

2.2.4 DECISÃO SOBRE OS PEDIDOS

Na sentença, o dispositivo deve conter a decisão sobre os pedidos imediatos e mediatos.

A decisão dos pedidos imediatos diz respeito ao provimento jurisdicional, como condenação, constituição/desconstituição, condenação, determinação.

Além disso, a sentença também deve conter decisão sobre pedidos mediatos, isto é, sobre o bem da vida que está sendo postulado na petição inicial.

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10 10

2.2.5 CONGRUÊNCIA DA SENTENÇA

A sentença congruente é aquela que não é contraditória (congruência interna) e que respeita os limites da demanda (congruência externa).

As sentenças extra, ultra e citra petita apresentam incongruência externa.

A sentença extra petita é a que decide fora do que foi pedido. É denominada ultra petita a sentença que julga a mais do que foi pedido. Por fim, é citra petita a sentença quando o juiz não examina um dos pedidos.

Assim, sendo detectada a existência de sentença extra, ultra ou citra petita, a consequência imediata é a sua nulidade. Tal nulidade pode, inclusive, ser decretada de ofício pelo Tribunal, isto é, estando a causa na segunda instância, o seu reconhecimento pelo Tribunal independe de provocação da parte. Trata-se de entendimento sedimentado na doutrina

8 e na jurisprudência

9.

2.2.6 FATO SUPERVENIENTE

É possível que as circunstâncias fáticas sejam alteradas no curso da demanda.

Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito puder influir no julgamento da lide, caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da parte, no momento de proferir a sentença (art. 493 do Novo CPC). No entanto, para tanto, deverá respeitar o contraditório, intimando-se as partes para se manifestarem.

2.2.7 EFEITOS DA SENTENÇA

A sentença produz efeitos principais e, também, efeitos anexos ou secundários.

Efeitos principais são os efeitos da sentença que decorrem do seu conteúdo, que foi delimitado pelo pedido.

Efeitos anexos ou secundários são os efeitos que decorrem da lei diretamente, não importando o que foi determinado na sentença, tampouco o que foi postulado pela parte.

Por exemplo, se o autor der causa à extinção do processo por abandono processual por três vezes, há perempção (efeito anexo).

Outro exemplo de efeito anexo ou secundário é a hipoteca judiciária, prevista no art. 495 do Novo CPC. Com efeito, a existência de uma sentença já é causa para que o juiz determine a inscrição da hipoteca judiciária, na forma da Lei de Registros Públicos.

2.28 INALTERABILIDADE DA SENTENÇA PELO JUIZ

Após o juiz proferir a sentença e publicá-la (ato do juiz que entrega a sentença para o escrivão ou diretor de secretaria), não pode mais ser por ele alterada, salvo para corrigir erro material (art. 494, inc. I, Novo CPC) ou em embargos de declaração (art. 494, inc. II, Novo CPC), ou ainda nos recursos em que é admitido o juízo de retratação (arts. 332, § 3º, e 331, ambos do Novo CPC).

8 WAMBIER, Teresa Arruda. Nulidades do processo e da sentença. 5. ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2004. p. 319.

9 STJ, AgRg no REsp 437.877/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 04/11/2008, DJe 09/03/2009.

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11

11

2.2.9 ESPECIFICIDADES DA TUTELA JURISDICIONAL

Tutela jurisdicional significa proteção conferida pela jurisdição, a qual é exercida pelo processo.

2.2.9.1 TUTELA JURISDICIONAL DIFERENCIADA

A tutela jurisdicional diferenciada é toda a tutela jurisdicional que é exercida por procedimento diverso do comum. Assim, sempre que houver procedimento especial para a tutela do direito material, haverá tutela diferenciada.

Assim, existe tutela jurisdicional diferenciada no procedimento da ação possessória; da ação de usucapião; etc.

2.2.9.2 TUTELA ESPECÍFICA E TUTELA PELO EQUIVALENTE EM DINHEIRO

A tutela específica objetiva conceder à parte exatamente o bem da vida a que ela tem direito.

A tutela pelo equivalente em dinheiro visa a reparar o dano, ou mesmo o bem que lhe foi despojado, convertendo-se a reparação em pecúnia, por não ser possível a reparação in natura.

2.2.9.3 TUTELA PREVENTIVA E TUTELA REPRESSIVA

A tutela preventiva destina-se a prevenir ou a impedir o ilícito ou o dano, enquanto a tutela repressiva tem por objetivo reparar o dano já ocorrido.

2.2.9.4 TUTELA INIBITÓRIA E TUTELA DA REMOÇÃO DO ILÍCITO10

A tutela inibitória é a que se destina a impedir a prática, a repetição ou a continuação do ilícito. Por exemplo, a tutela jurisdicional destinada a determinar que um determinado estabelecimento industrial pare de produzir gases tóxicos, em percentuais não admitidos por lei. Observe-se que, enquanto os gases tóxicos estão sendo lançados no meio ambiente, a indústria está praticando ilícito.

A tutela de remoção do ilícito, como o próprio nome indica, dirige-se a remover os efeitos de uma ação ilícita que já ocorreu. É o caso, por exemplo, da tutela jurisdicional destinada a impor que determinada empresa remova o lixo tóxico ou radioativo despejado em local inapropriado. O ilícito já ocorreu, sendo que os seus efeitos se protraem no tempo.

2.2.10 ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA

Na sentença, além de decidir os pedidos, o juiz também deve fixar os ônus sucumbenciais, isto é, dizer quem deve arcar com as custas do processo e com os honorários advocatícios. O juiz, então, deverá condenar o vencido a pagar as despesas processuais, bem como os honorários advocatícios, nos termos do art. 82, § 2º, e 85, do Novo CPC.

10

Para aprofundar sobre o tema, é de grande valia a consulta da obra de Luiz Guilherme Marinoni (Tutela inibitória: individual e coletiva. 5. ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2012).

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12 12

No entanto, é possível que tenha sido a parte vencedora quem deu causa à ação. Neste caso, quem deve ser responsabilizado pelo pagamento dos ônus sucumbenciais, a parte vencida ou aquele que deu causa à ação?

A esse respeito, a doutrina e a jurisprudência são pacíficas no sentido de que deve ser aplicado o princípio da causalidade, e não o da sucumbência.

11 Isto é, deverá ser condenado a pagar as custas

processuais e os honorários advocatícios aquele que deu causa à demanda.

Os honorários advocatícios são devidos ainda que o advogado tenha atuado em causa própria.

Os honorários deverão serão fixados pelo juiz entre 10% e 20% sobre o valor da condenação, considerando as circunstâncias previstas no art. 85, § 2º, do Novo CPC. No entanto, nas causas de pequeno valor, nas de valor inestimável, naquelas em que não houver condenação ou for vencida a Fazenda Pública, e nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz, podendo extrapolar os limites mínimo e máximo acima expostos. Em tais casos, é comum o juiz não fixar os honorários em percentual, mas sim em valor expresso em moeda corrente.

Em qualquer caso, deve-se sempre ser observada a Súmula 201 do STJ, que dispõe que “os honorários advocatícios não podem ser fixados em salários-mínimos”.

Os honorários advocatícios pertencem ao advogado, e não à parte.

No caso de sucumbência recíproca, no entanto, o art. 86 do Novo CPC prevê que podem ser compensados os honorários advocatícios. Assim, houve grande divergência sobre a sua aplicação, tendo em vista que, se os honorários advocatícios pertencem aos advogados de cada parte, não haveria o que compensar entre eles.

A par da divergência, a Súmula 306 do STJ pacificou a controvérsia, dispondo que “os honorários advocatícios devem ser compensados quando houver sucumbência recíproca, assegurado o direito autônomo do advogado à execução do saldo sem excluir a legitimidade da própria parte.”

De outro lado, se um litigante decair de parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelos ônus sucumbenciais (art. 86, parágrafo único, Novo CPC).

Existem algumas peculiaridades em razão da especificidade de determinadas ações, ou da qualidade da parte que litiga.

Na ação de desapropriação, “a base de cálculo dos honorários de advogado em desapropriação é a diferença entre a oferta e a indenização, corrigidas ambas monetariamente” (Súmula 617 do STF).

No mandado de segurança, não se admite a fixação de honorários advocatícios. O juiz deve condenar o impetrado apenas nas custas processuais. É o que está previsto no art. 25 da Lei 12.0156/2009, na Súmula 105 do STJ

12 e na Súmula 512 do STF

13.

Na ação de indenização por dano moral, o valor pleiteado pelo autor é meramente estimativo. Assim, por exemplo, se o autor postula, a título de indenização por dano moral, R$ 10.000,00, mas o juiz fixa o valor de R$1.000,00, é caso de procedência, devendo o réu arcar com a totalidade dos ônus sucumbenciais. Nesse sentido, a Súmula 326 do STJ: “Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.”

Quando uma parte é representada pela Defensoria Pública e a outra parte é o ente público ao qual pertence o órgão da Defensoria Pública, existe confusão, razão pela qual não serão devidos honorários advocatícios à Defensoria. Nesse sentido, a Súmula 421 do STJ: “Os honorários advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito público à qual pertença.”

11 STJ, REsp 1347368/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe 05/12/2012. 12

Súmula 105 do STJ: “Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorários advocatícios.” 13 Súmula 512 do STF: “Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança.”

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13

13

No caso de ser sucumbente a parte que é beneficiária da assistência judiciária gratuita, o juiz deve condená-la ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios. No entanto, deve, ao mesmo tempo, suspender a sua exigibilidade, na forma do art. 12 da Lei 1.060/1950.

De outro lado, se o vencedor for beneficiário da gratuidade judiciária, o seu advogado fará jus a honorários advocatícios normalmente, nos termos da Súmula 450 do STF.

14

2.3 COISA JULGADA

2.3.1 CONCEPÇÕES, CARACTERÍSTICAS E DISTINÇÕES

A coisa julgada é um instituto do direito processual que tem estreita ligação com a segurança jurídica. Trata-se de uma garantia constitucional prevista expressamente no art. 5º, inc. XXXVI, da Constituição Federal.

Há três principais concepções para definir coisa julgada:15

1ª) coisa julgada é um efeito da sentença (do elemento declaratório, sendo que apenas ele faria coisa julgada). É defendida por Pontes de Miranda, Ovídio Baptista e Araken de Assis, dentre outros.

2ª) coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos da sentença. São partidários desse entendimento Liebman e a maior parte da doutrina tradicional brasileira, como Cândido Rangel Dinamarco, Ada Pellegrini Grinover, Moacyr Amaral Santos, Tereza Arruda Alvim Wambier, José Miguel Garcia Medina, dentre outros.

3ª) coisa julgada é uma qualidade do conteúdo da sentença. É a corrente defendida por José Carlos Barbosa Moreria, Fredie Didier Jr., Rafael Oliveira, Paula Sarno Braga, dentre outros.

A par dessas concepções, a coisa julgada representa a indiscutibilidade da nova situação jurídica criada pela sentença, decorrente da inviabilidade recursal. A coisa julgada é um instituto jurídico criado para concretizar a segurança jurídica, impedindo que as causas sejam rediscutidas indefinidamente. É, inclusive, um direito oponível contra o Estado.

A coisa julgada não se confunde com a sua eficácia nem com a sua autoridade.

A autoridade representa a imposição, perante todos, de um ato de império do Estado. A

autoridade da coisa julgada é justificada por dois fundamentos: a) um de natureza política ou filosófica, que representa uma opção, feita pelo Estado, de que, a partir de determinado momento, a sentença deverá se tornar indiscutível, conferindo-se estabilidade a determinada relação jurídica posta à apreciação do Poder Judiciário; b) o outro fundamento é de natureza jurídica, segundo o qual a sentença vincula as partes não porque é expressão da verdade ou da justiça – embora deva sê-lo ‒, mas porque o legislador atribui à sentença transitada em julgado o caráter de escolha definitiva e vinculativa.

16

A eficácia é, por sua vez, a qualidade do que é eficaz. A eficácia é a capacidade da sentença de produzir efeitos, através de seus comandos.

17

14

Súmula 450 do STF: “São devidos honorários de advogado sempre que vencedor o beneficiário de justiça gratuita.” 15 Essa divergência de concepções está bem exposta na obra: DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil: direito probatório, decisão judicial, cumprimento e liquidação da sentença e coisa julgada. v. 2. Salvador : Jus Podivm, 2007. p. 482-486. 16

PORTO, Sérgio Gilberto. Coisa julgada civil. 3. ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2006. p. 53. 17 PORTO, Sérgio Gilberto. Coisa julgada civil. 3. ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2006. p. 55/56.

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14 14

2.3.2 CLASSIFICAÇÃO: COISA JULGADA FORMAL E COISA JULGADA MATERIAL

A coisa julgada é classificada em coisa julgada formal e coisa julgada material.

A coisa julgada formal torna a sentença indiscutível no processo em que foi proferida. Ocorre coisa julgada formal quando não cabe mais recurso. Trata-se de um fenômeno endoprocessual, isto é, produz efeitos apenas dentro de determinado processo.

A ocorrência de coisa julgada material impede que se discuta aquela demanda julgada tanto no processo em que foi proferida a sentença como também em todo e qualquer processo. Por isso, diz-se que a coisa julgada material produz efeitos endo e panprocessuais.

A coisa julgada formal é um requisito para a coisa julgada material. Por isso, dizer-se que são degraus do mesmo fenômeno.

A sentença terminativa – a que extingue o processo sem resolução do mérito – faz apenas coisa julgada formal. Assim, projeta efeitos somente para dentro do processo (efeitos endoprocessuais).

A sentença definitiva – a que resolve o mérito – faz coisa julgada material. Por conseguinte, projeta seus efeitos para fora do processo (efeitos panprocessuais).

Para fazer coisa julgada material, é preciso que estejam presentes quatro requisitos:

a) que se trate de decisão judicial;

b) tenha ocorrido coisa julgada formal;

c) a decisão seja de mérito (sentença definitiva);

d) a decisão tenha sido proferida em cognição exauriente.

Assim, por exemplo, a tutela antecipada e a tutela cautelar não fazem coisa julgada, pois são tutelas provisórias, marcadas pela precariedade e provisoriedade, proferidas com base em juízo de cognição sumária.

2.3.3 EFEITOS DA COISA JULGADA

A coisa julgada produz efeitos positivos, negativos e preclusivos (eficácia preclusiva).

O efeito positivo vincula a decisão pretendida à outra já proferida. Vale dizer, quando ocorre a coisa julgada da sentença e esta é utilizada em outro pleito, a nova sentença que decidir esse segundo pleito deverá respeitar a coisa julgada. Por exemplo, a sentença de uma ação de alimentos terá de respeitar a coisa julgada produzida na ação investigatória de paternidade.

O efeito negativo se caracteriza como uma vedação, um impedimento de que seja proferida uma nova decisão ou rediscutido aquilo que já foi decidido.

O efeito preclusivo (ou eficácia preclusiva) impõe que, se as partes não deduzirem as alegações no momento próprio e a decisão final fizer coisa julgada material, tais alegações não poderão mais ser levantadas para modificar essa decisão. Com efeito, o art. 508 do Novo CPC prevê que “transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido”.

Assim, transitada em julgado a sentença, a parte vencida não poderá ajuizar nova ação ou se opor em impugnação ao cumprimento de sentença para alegar questões que poderia ter alegado, mas não o fez.

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15

15

Por exemplo, se transitou em julgado a sentença que julgou procedente o pedido de repetição de indébito, o réu não poderá ajuizar nova ação ou apresentar impugnação ao cumprimento de sentença para alegar prescrição, a fim de se eximir de cumprir aquela sentença.

18

Somente poderá fazer o mesmo pedido, se houver alegações que embasem outra causa de pedir.

2.3.4 LIMITES OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA COISA JULGADA

A coisa julgada possui limites objetivos e subjetivos.

2.3.4.1 LIMITES OBJETIVOS

Em razão dos limites objetivos impostos à coisa julgada, somente o dispositivo transita em julgado. Isto é, a fundamentação não transita em julgado.

Com efeito, o art. 504 do Novo CPC dispõe que não fazem coisa julgada “I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; Il - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença”.

Vale apontar uma importante alteração trazida pelo Novo Código em relação Código de 1973. Neste, o art. 469 trazia ainda um terceiro inciso, que afirmava não fazer coisa julgada a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentalmente no processo. Como já se estudou em tópico anterior, o Novo CPC passou a estabelecer, no art. 503, § 1º, que a questão prejudicial decidida de forma incidental passa a fazer coisa julgada, desde que (i) da resolução dessa questão prejudicial depender o julgamento do mérito; (ii) a seu espeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; e (iii) o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. Vale lembrar que essa possibilidade só era cabível antes com a apresentação ação declaratória incidental, não mais existente no novo diploma processual.

2.3.4.2 LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA

Segundo os limites subjetivos da coisa julgada, a sentença faz coisa julgada apenas inter partes. Todavia, a sentença também atinge os seus sucessores.

No caso das ações coletivas, a coisa julgada pode também ser ultra partes ou erga omnes.

Quando a ação coletiva versar sobre direito difuso ou direito individual homogêneo, a sentença fará coisa julgada erga omnes.

De outro lado, quando a ação coletiva veicular direito coletivo em sentido estrito, a sentença fará coisa julgada ultra partes, limitadamente à categoria, grupo ou classe.

A coisa julgada nas ações coletivas será estudada de forma aprofundada no item Ação Civil Pública.

18 STJ, REsp 938.617/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/10/2011, DJe 18/10/2011.

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16 16

2.3.5 MODOS DE PRODUÇÃO DE COISA JULGADA: PRO ET CONTRA, SECUNDUM EVENTUM LITIS E SECUNDUM EVENTUM PROBATIONIS

A coisa julgada pode produzir efeitos pro et contra, secundum eventum litis ou secundum eventum probationis.

A coisa julgada pro et contra é a regra. Ocorre a coisa julgada independentemente do resultado da ação, isto é, sendo a ação procedente, parcialmente procedente ou improcedente. Está presente nas ações individuais comuns.

A coisa julgada secundum eventum litis é a que, diante de determinadas peculiaridades do direito veiculado, somente ocorre (a coisa julgada) nos casos de procedência. É o caso, por exemplo, da coisa julgada nas ações coletivas que versem sobre direitos individuais homogêneos (art. 103, § 3º, Código de Defesa do Consumidor).

A coisa julgada secundum eventum probationis é aquela que somente ocorre se houver exaurimento de prova. Assim, a improcedência por falta de provas não faz coisa julgada. É o caso, por exemplo, da coisa julgada nas ações coletivas que versam sobre direitos difusos e coletivos em sentido estrito (art. 103, I e II, CDC).

2.3.6 RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA

O ordenamento jurídico brasileiro prevê expressamente a possiblidade de relativização da coisa julgada em algumas hipóteses legalmente definidas.

O art. 966 do Novo CPC disciplina que a coisa julgada pode ser desconstituída pela via da ação rescisória, em hipóteses excepcionais, que expressamente elenca.

O art. 525, § 12º, e o art. 535, § 5º, do Novo CPC, estabelecem a inexigibilidade de sentença fundada em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo STF, no controle concentrado ou difuso. Assim, observa-se que tais dispositivos atribuíram à impugnação ao cumprimento de sentença e aos embargos à execução força rescisória das sentenças inconstitucionais que estão sendo executadas.

19

Assim, a sentença inconstitucional (ou coisa julgada inconstitucional) é ineficaz, podendo ser objeto de impugnação ao cumprimento de sentença ou de embargos.

De outro lado, há divergência sobre a possibilidade de relativizar a coisa julgada fora dessas hipóteses.

Alguns autores passaram a admitir a relativização da coisa julgada, diante de uma injustiça manifesta, considerando a ponderação entre os direitos fundamentais em jogo.

No entanto, existe ampla divergência doutrinária a respeito, havendo duas correntes bem definidas:

20

1ª corrente) É possível a relativização da coisa julgada. São defensores dessa corrente Cândido Rangel Dinamarco, Humberto Theodoro Jr., dentre outros.

2ª corrente) A relativização da coisa julgada não pode ocorrer enquanto não houver uma redefinição da ação rescisória no plano legislativo. São partidários desse entendimento José Carlos Barbosa Moreira, Gisele Góes, Nelson Nery Jr., Ovídio A. Baptista da Silva, Luiz Guilherme Marinoni, dentre outros.

19 STJ, REsp 1265409/RS, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/02/2012, DJe 14/02/2012. 20 Essas duas correntes doutrinárias estão bem expostas na obra: DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil: direito probatório, decisão judicial, cumprimento e liquidação da sentença e coisa julgada. v. 2. Salvador : Jus Podivm, 2007. p. 507. Para aprofundar sobre o tema, é imprescindível a consulta ao seguinte livro específico sobre a temática: DIDIER JR., Fredie (Org.). Relativização da coisa julgada: enfoque jurídico. Salvador : Jus podivm, 2004.

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17

17

Segundo a jurisprudência majoritária dos tribunais pátrios, tem que se relativizar a coisa julgada nas ações investigatórias de paternidade, quando, na época do julgamento, não havia exame de DNA.

21

O Supremo Tribunal Federal entende que é possível relativizar a coisa julgada no caso de ação investigatória de paternidade em que não foi realizado o exame de DNA, mesmo que, na época da ação, já fosse possível a realização desse exame.

22

2.3.7 COISA JULGADA NAS SENTENÇAS DETERMINATIVAS

As relações jurídicas continuativas são aquelas que dizem respeito a obrigações que se protraem no tempo.

As sentenças determinativas são as que julgam relações jurídicas continuativas, como, por exemplo, a proferida na ação revisional de aluguel e na ação de alimentos. O art. 505 do Novo CPC prevê que “nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas, relativas à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; II - nos demais casos prescritos em lei.”

Grande parte da doutrina e da jurisprudência afirma que a coisa julgada nas sentenças determinativas é rebus sic stantibus, isto é, a coisa julgada manteria a imutabilidade do conteúdo da sentença enquanto não houvesse mudança da situação fática. Tal entendimento é corroborado pela jurisprudência majoritária.

23

No entanto, a doutrina mais atual24

ensina que essa coisa julgada não é diferente das outras. Se a situação fática mudou, a causa de pedir é diferente, razão pela qual haveria outra demanda e, por conseguinte, não haveria coisa julgada. Isto é, caso haja mudança na situação fática, bastará à parte ajuizar nova ação, já que, se a causa de pedir mudou, há outra demanda.

Logo, nesses casos de relações jurídicas continuativas, não haverá necessidade de ajuizar ação rescisória, para desconstituir a coisa julgada. Bastará que seja proposta nova demanda, com base na nova causa de pedir.

São exemplos de sentenças determinativas as proferidas na ação revisional de aluguel e na ação de alimentos

25. Nessas sentenças, alterada a situação fática, poderá ser proposta nova demanda.

21

TJDFT, Acórdão n. 538401, 20110020101768AGI, Relator CARMELITA BRASIL, 2ª Turma Cível, julgado em 28/09/2011, DJ 30/09/2011 p. 122. 22 STF, RE 363889, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 02/06/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-238 DIVULG 15-12-2011 PUBLIC 16-12-2011. 23 Nesse sentido, observe-se o seguinte julgado do STJ: STJ, AgRg no RMS 24.926/CE, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 29/04/2011. No mesmo sentido: STJ, AgRg no REsp 1193456/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/10/2010, DJe 21/10/2010. 24 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito Processual Civil: direito probatório, decisão judicial, cumprimento e liquidação da sentença e coisa julgada. v. 2. Salvador : Jus Podivm, 2007. p. 500. 25

Art. 15 da Lei 5.478/68: “Art. 15. A decisão judicial sobre alimentos não transita em julgado e pode a qualquer tempo ser revista, em face da modificação da situação financeira dos interessados.”

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3.1. GENERALIDADES SOBRE A LIQUIDAÇÃO NO CPC/202

Sentença ilíquida é a que condena ao pagamento de quantia não especificada (não determina o quantum debeatur), nem permite especificar essa quantia por meio de simples operações aritméticas (art. 786, parágrafo único, c.c. art. 771, ambos do CPC/2015).

Assim, “a necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não retira a liquidez da obrigação constante do título” (art. 786, parágrafo único, do CPC/2015), pelo que, “quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença” (art. 509. § 2.º, do CPC/2015). Para facilitar esse cálculo aritmético – e prevenir discussões sobre índices de atualização monetária –, o CPC/2015 determina ao Conselho Nacional de Justiça que desenvolva e coloque à disposição dos interessados “programa de atualização financeira” (art. 509, § 3.º, do CPC/2015).

Atendendo às críticas da doutrina, a apuração do valor final por cálculo aritmético sai do capítulo de liquidação de sentença e vai integrar o capítulo do cumprimento de sentença (cf. art. 524 do CPC/2015). Dessa forma, como espécies de liquidação de sentença, permanecem apenas a liquidação por arbitramento e a liquidação pelo procedimento comum (nova denominação da liquidação por artigos).

Mas o CPC/2015 trata as sentenças ilíquidas como excepcionais, pois tais sentenças costumam conspirar contra a duração razoável do processo (art. 4.º do CPC/2015). Assim, “na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a peridiocidade da capitalização de juros, se for o caso”, somente ressalvando as sentenças nas quais “não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido” ou “a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa”, hipóteses em que se seguirá “a apuração do valor devido por liquidação” (cf. art. 491 do CPC/2015).

A liquidação de sentença, por arbitramento ou pelo procedimento comum, é fase de conhecimento intermediária entre a fase de conhecimento propriamente dita (que produz a sentença e as decisões parciais de mérito, fixando o an debeatur ou a obrigação de pagar) e a fase de cumprimento de sentença. Nas hipóteses em que excepcionalmente é exigida, não é possível iniciar o cumprimento de sentença sem antes proceder à fase de liquidação.

Fase de conhecimento → Fase de liquidação → Fase de cumprimento

A decisão de liquidação, fixando o quantum debeatur, complementa a sentença ou decisão parcial de mérito, que fixou apenas o an debeatur, de maneira que o título executivo judicial passa a ser composto de ambas as decisões judiciais (decisão do an + decisão do quantum).

Título executivo judicial = sentença ou decisão parcial de mérito +

Decisão de liquidação

Nesse particular, deve continuar vigorando a Súmula 344 do STJ que enuncia:

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“a liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a coisa julgada.” Como o devedor também adquire legitimidade para iniciar o cumprimento de sentença (cf. art.

526 do CPC/2015) é coerente que também passe a possuir legitimidade para proceder à liquidação de sentença, quando for o caso, conforme permite o caput do artigo em comento.

Não há inovação quando ao cabimento das duas modalidades de liquidação: arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação, e procedimento comum (artigos no CPC/1973) quando houver necessidade de alegar e provar fato novo (art. 509, I e II, do CPC/2015 e arts. 475-C e 475-E, do CPC/1973).

Também não se inova quanto à hipótese da sentença parcialmente ilíquida: “quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta” (art. 509, § 1.º, CPC/2015 e art. 475-I, § 2.º, CPC/1973). Quer parecer que essa iniciativa também deve se estender ao devedor, nos termos do caput.

De igual forma, persiste a norma no sentido de que “na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou” (art. 509, § 4.º, do CPC/2015 e art. 475-G do CPC/1973), dada a preclusão sobre as questões já decididas (art. 507 do CPC/2015).

Confira-se a íntegra do novo texto legal:

Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor: I – por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação; II – pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo. § 1.° Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta. § 2.° Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença. § 3.º O Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à disposição dos interessados programa de atualização financeira. § 4.º Na liquidação é vedado discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou.

3.1.1 A LIQUIDAÇÃO POR ARBITRAMENTO A liquidação por arbitramento começa por requerimento do credor ou do devedor (art. 509,

caput, do CPC/2015), no qual deverá especificar o objeto da liquidação e juntar os “pareceres e documentos elucidativos” que disponha para auxiliar o arbitramento judicial. Poderá, desde logo, apontar um valor que entenda devido com base nesses pareceres e documentos. A parte contrária será intimada, por seu advogado, para impugnar os documentos e pareceres juntados pelo requerente e para produzir os seus. Nada obsta que o juiz marque audiência para discutir as questões levantadas pelas partes, sob a égide do princípio da cooperação processual que orienta a nova codificação (art. 6.º, do CPC/2015). É bem possível que, assim o fazendo, a decisão de liquidação seja proferida na própria audiência. Excepcionalmente, caso o juiz não se sinta seguro para arbitrar de plano, com base na documentação acostada pelas partes, poderá nomear perito para dirimir as questões técnicas pendentes, seguindo-se o rito da prova pericial. Da decisão de liquidação por arbitramento caberá agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015).

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Confira-se:

Art. 510. Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial.

3.1.2. A LIQUIDAÇÃO PELO PROCEDIMENTO COMUM A liquidação pelo procedimento comum é a liquidação por artigos do CPC/1973. Também começa

por requerimento do credor ou do devedor (art. 509, caput, do CPC/2015), no qual deverá alegar o “fato novo”, não discutido na fase de conhecimento, mas indispensável para a fixação do quantum debeatur. A parte contrária será intimada, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculada, para apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias. Não é o caso de marcar a audiência de conciliação ou mediação, prevista no art. 334 do CPC/2015, porque o artigo em comento indica, desde logo, que da intimação do requerido passará a correr o prazo de contestação, sem qualquer menção à audiência, que parece mesmo descabida nessa fase processual. Apresentada a resposta, seguem-se as providências preliminares (arts. 347 e ss. do CPC/2015) e demais atos que compõem o procedimento comum, até a decisão de liquidação, impugnável por agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015). Preclusa essa decisão complementar de mérito, haverá coisa julgada material rescindível. Caso o requerido não apresente contestação tempestiva, será revel na fase de liquidação, permitindo que o juiz presuma verdadeiras as alegações sobre o fato novo (art. 344 do CPC/2015), ressalvadas as hipóteses em que não se produz o efeito material da revelia (art. 345 do CPC/2015).

No texto legal:

Art. 511. Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias, observando-se, a seguir, no que couber, o disposto no Livro I da Parte Especial deste Código.

3.1.3. LIQUIDAÇÃO PROVISÓRIA Como também acontecia no CPC/1973, desde a reforma empreendida pela Lei 11.232/2005,

permite-se a liquidação provisória, antecipando-se a liquidação por arbitramento ou pelo procedimento comum, enquanto se aguarda o julgamento do recurso interposto contra a sentença ou a decisão parcial de mérito. Ao contrário do que ocorre com o cumprimento provisório da decisão, a liquidação provisória pode ser promovida mesmo na pendência de recurso dotado de efeito suspensivo. De qualquer forma, a liquidação provisória será processada em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.

Coteje-se com o novo dispositivo legal:

Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.

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3.2. GENERALIDADES SOBRE O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA NO CPC/202 O cumprimento de sentença no CPC/2015 continua a tradição inaugurada pelas reformas

processuais de 2005/2006: o processo sincrético, no qual se misturam atividades jurisdicionais de cognição e execução.

Processo sincrético = cognição + execução

Em geral, o cumprimento de sentença é um desdobramento da mesma relação processual

iniciada com o protocolo da petição inicial da ação de conhecimento (art. 312 do CPC/2015). Apenas excepcionalmente o cumprimento de sentença constituirá relação processual nova e autônoma (art. 515, § 1.º, do CPC/2015). As regras do processo de execução fundada em título extrajudicial (Parte Especial, Livro II, CPC/2015), mais detalhadas quanto à execução em si, têm aplicação subsidiária ao cumprimento de sentença.

Quanto à iniciativa do cumprimento de sentença, o CPC/2015 positiva o entendimento

jurisprudencial do STJ, no sentido da necessidade de requerimento do exequente para o cumprimento de sentença que reconheça o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo (art. 513, § 1.º). De outro lado, dispensa tal requerimento para o cumprimento de sentença que reconheça deveres de fazer, não fazer ou entregar coisa (art. 536 do CPC/2015), que poderá ser iniciado ex officio.

Essa jurisprudência é também confirmada quando o novo Código exige a intimação do devedor,

pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos, para cumprir a sentença (art. 513, § 2.º, I). Não é necessária intimação pessoal, basta a intimação pelo advogado. Essa regra é aplicável a qualquer tipo de cumprimento de sentença, inclusive para a que reconhece dever de fazer, não fazer ou entregar coisa, de modo que a Súmula 410 do STJ deve ser revogada, por exigir intimação pessoal. Excepcionalmente, como emanação do princípio da boa-fé processual (art. 5.º do CPC/2015), quando o requerimento do exequente for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será feita pessoalmente, por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao endereço constante nos autos, e não por intermédio do advogado constituído nos autos (art. 513 do § 4.º).

O parágrafo segundo do artigo em comento ainda resolve situações especiais, que exigem tratamento diferenciado quanto ao ato de intimação para cumprir a sentença:

(1) caso o devedor não tenha advogado constituído nos autos ou esteja representado pela Defensoria Pública (não se inclui a representação por advogado dativo), a intimação se dará por carta com aviso de recebimento (art. 513, II), considerando-se realizada a intimação postal quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo (arts. 513, § 3.º e 274 do CPC/2015); (2) tratando-se de empresa pública ou privada, com exceção das microempresas e empresas de pequeno porte, sem advogado constituído nos autos, a intimação se dará por meio eletrônico, conforme o cadastro que a empresa estará obrigada a manter nos sistemas processuais eletrônicos (art. 246, § 1.º, do CPC/2015), cadastro esse que deverá ser providenciado, no juízo onde a empresa tenha sede ou filial, no prazo de 30 (trinta) dias, contados da entrada em vigor do novo Código ou da data de inscrição do ato constitutivo da pessoa jurídica (art. 1.051 do CPC/2015), caso posterior (art. 513, III); considera-se realizada a intimação eletrônica quando o devedor houver mudado de endereço eletrônico sem prévia comunicação ao juízo (arts. 513, § 3.º);

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(3) caso o devedor tenha sido citado por edital e permanecido revel na fase de conhecimento, sem constituir advogado nos autos, sua intimação também será por edital, mesmo havendo curador especial designado para representá-lo (art. 513, IV). Por fim, como corolário do princípio do contraditório (arts. 9.º e 10 do CPC/2015), quem não

participou do processo na fase de conhecimento, não pode ser obrigado a participar da fase de execução, ressalvados os casos de sucessão processual. Assim, o “cumprimento da sentença não poderá ser promovido em face do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que não tiver participado da fase de conhecimento” (arts. 513, § 5.º e 799 do CPC/2015).

Eis o novo texto legal:

Art. 513. O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste Título, observando-se, no que couber e conforme a natureza da obrigação, o disposto no Livro II da Parte Especial deste Código. § 1.º O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, far-se-á a requerimento do exequente. § 2.º O devedor será intimado para cumprir a sentença: I – pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos; II – por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV; III – por meio eletrônico, quando, no caso do § 1.º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos; IV – por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento. § 3.º Na hipótese do § 2.º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274. § 4.º Se o requerimento a que alude o § 1.º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao endereço constante dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no § 3.º deste artigo. § 5.º O cumprimento da sentença não poderá ser promovido em face do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que não tiver participado da fase de conhecimento.

3.2. 1. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONDICIONAL O art. 514 do CPC/2015 estabelece que:

Art. 514. Quando o juiz decidir relação jurídica sujeita a condição ou termo, o cumprimento da sentença dependerá de demonstração de que se realizou a condição ou de que ocorreu o termo.

Esse artigo repete a regra do art. 572 do CPC/1973. Segundo o art. 121 do CC/2002, “considera-se condição a cláusula que, derivando

exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.” O termo, por sua vez, condiciona o início dos efeitos de um negócio jurídico a evento futuro e certo (art. 131 do CC/2002). A condição ou termo a que esta sujeita a relação jurídica material deverá estar prevista na sentença. Essa sentença condicional somente poderá ser cumprida caso ocorra a demonstração de que se realizou a condição ou de que ocorreu o termo.

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3.2. 2. OS TÍTULOS EXECUTIVOS JUDICIAIS O art. 515 do CPC/2015 contempla o rol de títulos executivos judiciais, em atenção ao princípio

processual da nulla executio sine título.

Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: I - as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa; II - a decisão homologatória de autocomposição judicial; III - a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza; IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal; V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial; VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado; VII - a sentença arbitral; VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça; X - (VETADO). § 1.º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias. § 2.º A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo.

O inciso I, ao definir como títulos executivos judiciais “as decisões proferidas no processo civil

que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa”, amplia essa categoria, para abranger não apenas as sentenças, como também qualquer decisão interlocutória que reconheça a exigibilidade de tais obrigações, como as decisões parciais de mérito (art. 356 do CPC/2015) e as decisões concessivas de tutela provisória (art. 297, parágrafo único, e 519, do CPC/2015). Merecerá uma meditação mais aprofundada da doutrina as consequências processuais da substituição da expressão “reconheça a existência de obrigação”, constante do inc. I do art. 475-N do CPC/1973, pela expressão “reconheçam a exigibilidade de obrigação”, constante no inciso em comento do CPC/2015.

CPC/1973 (com Lei 11.232/2005) CPC/2015

↓ ↓

Existência Exigibilidade

Quer parecer que o novo Código apenas aperfeiçoa a redação técnica para continuar outorgando força executiva a pronunciamentos declaratórios, nos quais seja possível identificar, não apenas a existência de uma obrigação, como também, agora, a sua exigibilidade. De fato, é difícil entender que uma decisão que apenas reconheça a existência de uma obrigação seja título executivo, quando a executividade também depende da exigibilidade, que não pode ser pressuposta a partir da existência. O título executivo, para autorizar a execução, deve fundar-se sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível (art. 783 c.c. 771, do CPC/2015). Não apenas certeza e liquidez, como também exigibilidade.

Essa solução processual é pragmática, porque torna desnecessário o ajuizamento de nova demanda, apenas para a formulação do pedido condenatório, quando todos os elementos da obrigação já estão contidos na demanda declaratória. Um processo, ao invés de dois, com a mesma proteção jurisdicional.

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Os incs. II e III contemplam títulos executivos judiciais oriundos de autocomposição, quando os próprios litigantes, em juízo ou fora dele, com ou sem o auxílio de terceiros (mediadores e conciliadores), solucionam o litígio. A decisão, nesses casos, apenas homologa o acordo de vontades. No caso da autocomposição judicial (inc. II), “pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida em juízo” (art. 515, § 2.º). No caso da autocomposição extrajudicial de qualquer natureza (inc. III), será necessário requerer a homologação em juízo, por meio de procedimento afeto à jurisdição voluntária (art. 725, VIII, do CPC/2015).

O inc. IV reproduz a regra do art. 475-N, VII, do CPC/1973, cabendo observar que, na hipótese de inventário e partilha extrajudiciais (Lei 11.441/2007), a respectiva escritura pública consistirá em título executivo extrajudicial, que poderá ser convolado em título executivo judicial, se houver requerimento para sua homologação judicial (art. 515, III, do CPC/2015).

O inc. V inova ao transformar, de extrajudicial (art. 585, VI, do CPC1973) em judicial (art. 515, V, do CPC/2015), o crédito de qualquer auxiliar da justiça, seja servidor público ou não, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial, seja sentença, seja decisão interlocutória.

Os inc. VI, VII e VIII registram os títulos executivos judiciais que se processam em processos autônomos de execução, nos quais é preciso propor a ação de execução perante o juízo cível nacional competente e promover a citação do devedor para o cumprimento da sentença ou para liquidação no prazo de 15 (quinze) dias (art. 515, § 1.º, do CPC/2015).

Por fim, não apenas as sentenças estrangeiras, mas também as decisões interlocutórias estrangeiras passam a gozar do status de título executivo judicial, as primeiras após a homologação pelo STJ (inc. VIII), as segundas após a concessão do exequatur pelo STJ à respectiva carta rogatória (inc. IX). Ambas serão executadas perante a Justiça Federal de primeiro grau (art. 109, X, da CF/1988).

3.2.3. COMPETÊNCIA PARA O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA A competência para o cumprimento de sentença é distribuída da seguinte forma: (1) os tribunais, nas causas de sua competência originária; (2) o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição; (3) o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença

arbitral ou de sentença estrangeira homologada pelo STJ. Assim é segundo o art. 516 do CPC/2015:

Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante: I – os tribunais, nas causas de sua competência originária; II – o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição; III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo. Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.

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A referência ao “acórdão proferido por Tribunal Marítimo” é ineficaz, pois houve veto à regra que o instituía como título executivo judicial – art. 515, X, do CPC/2015.

O novo Código mantém a tradição inaugurada pela Lei 11.232/2005 no CPC/1973, ao permitir que seja excepcionado o princípio da perpetuatio jurisdictionis (art. 43 do CPC/2015), autorizando que, nas hipóteses dos incs. II e III, possa ocorrer alteração superveniente da competência territorial, quando o exequente optar pelo (1) juízo do atual domicílio do executado, (2) pelo juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou (3) pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer. Nesses casos, a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem (art. 516, parágrafo único), que fará o controle da admissibilidade da opção. O juízo de origem poderá averiguar se a opção realizada pelo exequente efetivamente representa as alternativas do parágrafo único do art. 516 do CPC/2015. Poderá, por exemplo, exigir documentos que comprovem a localização dos bens do devedor sujeitos à penhora ou mesmo ouvir previamente o devedor sobre o seu atual domicílio. Constatada a adequação da opção, o juiz de origem remeterá os autos ao novo juiz da execução, escolhido pelo exequente, com baixa na distribuição. Ao contrário, se considerar que a opção do exequente foi equivocada, indeferirá a remessa dos autos, em decisão sujeita a agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015).

O novo juízo da execução não poderá de ofício, recusar o recebimento dos autos para cumprimento de sentença, uma vez que eventual incompetência relativa não pode ser declarada de ofício (Súmula 33 STJ).

3.2.4. PROTESTO DE TÍTULO JUDICIAL O novo dispositivo torna inequívoca a possibilidade de protesto de qualquer decisão judicial

transitada em julgado, desde que transcorrido o prazo de 15 (quinze) dias para pagamento voluntário, previsto no art. 523 do CPC/2015. O protesto é regulado pela Lei 9.492/1997.

Em princípio, descaberia o protesto do título judicial por iniciativa do juiz, pois o parágrafo primeiro do art. 517 estabelece que, para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar, no cartório de protestos, certidão de teor da decisão, que deverá ser fornecida no prazo de 3 (três) dias, nos termos do parágrafo segundo desse mesmo artigo. No entanto, como esse protesto funciona como autêntica medida coercitiva para forçar o adimplemento da obrigação de pagar quantia, torna-se possível a iniciativa judicial, dado o poder geral de efetivação da tutela jurisdicional conferido aos juízes pelo art. 139, IV, do CPC/2015, o qual, expressamente, também contempla as “ações que tenham por objeto prestação pecuniárias.”

Cumpre observar que, além do protesto do título judicial, como forma de execução indireta, também é possível ao juiz, a requerimento da parte, “determinar a inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes”, inscrição essa que será “cancelada imediatamente se for efetuado o pagamento, se for garantida a execução ou se a execução for extinta por qualquer outro motivo” (art. 782, §§ 3.º a 5.º, CPC/2015). Para manter a harmonia dos dispositivos legais, deve-se entender que a referida inscrição, tal como o protesto, somente pode ser efetivada após transcorrido o prazo para pagamento voluntário.

A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação (art. 517, § 4.º). E caso o executado proponha ação rescisória para impugnar a decisão exequenda, poderá requerer, a suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação da propositura da ação à margem do título protestado (art. 517, § 3.º).

Eis a íntegra do artigo em tela:

Art. 517. A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523.

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§ 1.º Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da decisão. § 2.º A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três) dias e indicará o nome e a qualificação do exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para pagamento voluntário. § 3.º O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a decisão exequenda pode requerer, a suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação da propositura da ação à margem do título protestado. § 4.º A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação.

3.2.5. A EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE O CPC/2015 positivou a exceção da pré-executividade.

Art. 518. Todas as questões relativas à validade do procedimento de cumprimento da sentença e dos atos executivos subsequentes poderão ser arguidas pelo executado nos próprios autos e nestes serão decididas pelo juiz.

A exceção da pré-executividade é o meio de defesa atípico do executado, materializado por

simples petição nos próprios autos onde se desenvolve a execução, mas de cognição parcial, pois permite o conhecimento apenas de matérias de ordem pública, que não demandem dilação probatória.

Apesar dessa possibilidade defensiva atípica abranger qualquer espécie de cumprimento de sentença, há previsão especial para o caso de cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia: “as questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes, podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato” (art. 525, § 11, CPC/2015).

Da decisão do juiz que resolve a exceção de pré-executividade cabe agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, CPC/2015), ressalvada a hipótese de extinção da execução, que se faz por sentença (art. 203, § 1.º, CPC/2015), impugnável por apelação (art. 1.009 do CPC/2015).

3.2.6. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E TUTELA PROVISÓRIA A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência (art. 294 do CPC/2015).

A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo (art. 300 do CPC/2015), ao passo que a tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando o direito afirmado parecer evidente, diante das hipóteses catalogadas no art. 311 do CPC/2015.

Em qualquer caso, o juiz poderá determinar as medidas que considerar adequadas para efetivação da tutela provisória, observando, no que couberem, as normas referentes ao cumprimento provisório da sentença (art. 297 do CPC/2015).

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Porém, segundo o art. 519 do CPC/2015:

Art. 519. Aplicam-se as disposições relativas ao cumprimento da sentença, provisório ou definitivo, e à liquidação, no que couber, às decisões que concederem tutela provisória.

O cumprimento provisório da sentença é realizado da mesma forma que o cumprimento

definitivo (art. 520 do CPC/2015), o que justifica a referência, no artigo em comento, ao cumprimento definitivo. Como a concessão da tutela provisória pode envolver decisão ilíquida, também se justifica a referência às disposições relativas à liquidação.

Não obstante essas referências, o artigo em comento deve ser interpretado à luz do poder geral

de efetivação das ordens judiciais, previsto no art. 139, IV, do CPC/2015, o qual permite ao juiz flexibilizar as regras legais para fazer valer a autoridade de suas decisões. O limite para a criatividade judicial na fixação de medidas executivas atípicas está na proporcionalidade e razoabilidade, que orientam a aplicação do ordenamento jurídico (art. 8.º do CPC/2015).

3.2.7. CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DA SENTENÇA QUE RECONHECE A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA 3.2.7.1. Características e requisitos: O cumprimento provisório (“execução provisória” no

CPC/1973) é possível quando a sentença estiver sendo impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo (art. 520, caput). Essa possibilidade vale não apenas para as sentenças que reconhecem obrigação de pagar quantia, como também, no que couber, para as que reconhecem obrigação de fazer, não fazer ou de dar coisa (art. 520, § 5.º). Abrange também as decisões parciais de mérito (art. 356, § 2.º a 4.º, do CPC/2015) e orienta a efetivação da tutela provisória (art. 297 do CPC/2015).

De uma maneira geral, o cumprimento provisório tem o mesmo procedimento do cumprimento definitivo (art. 520, caput). Assim, tratando-se de cumprimento provisório de decisão que reconheça obrigação de pagar quantia, incide a multa de 10% e os honorários advocatícios de 10% previstos no parágrafo primeiro do art. 523 (art. 520, § 1.º), podendo o executado apresentar impugnação depois de escoado o prazo para pagamento voluntário (art. 520, § 1.º). Nesse caso, se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a finalidade de se isentar da multa, o ato não será havido como incompatível com o recurso por ele interposto (art. 520, § 3.º), pelo que não haverá preclusão lógica.

Mas como a decisão é provisória, podendo ser anulada ou reformada a qualquer momento, justifica-se um regime jurídico diferenciado:

(1) exige-se, em qualquer hipótese, requerimento do exequente, pois o cumprimento provisório corre por sua iniciativa e responsabilidade, obrigando-se a reparar os danos que o executado haja sofrido, caso a decisão seja reformada (art. 520, I); (2) o cumprimento provisório fica sem efeito, caso sobrevenha decisão que modifique ou anule a decisão exequenda, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidando-se os prejuízos nos mesmos autos; caso a modificação ou anulação seja parcial, somente na parte modificada ou anulada ficará sem efeito o cumprimento provisório (art. 520, II e III); (3) exige-se, em regra, caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos, para o levantamento de depósito em dinheiro ou expropriação de bens penhorados (art. 520, IV).

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Para prestigiar o cumprimento provisório e para preservar os interesses do terceiro de boa-fé, a

restituição ao estado anterior, caso necessário, não implicará o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real eventualmente já realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao executado (art. 520, § 4.º).

Veja-se o artigo base:

Art. 520. O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime: I – corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado haja sofrido; II – fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos; III – se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a execução; IV – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem transferência de posse ou alienação de propriedade ou de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos. § 1.º No cumprimento provisório da sentença, o executado poderá apresentar impugnação, se quiser, nos termos do art. 525. § 2.º A multa e os honorários a que se refere o § 1º do art. 523 são devidos no cumprimento provisório de sentença condenatória ao pagamento de quantia certa. § 3.º Se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a finalidade de isentar-se da multa, o ato não será havido como incompatível com o recurso por ele interposto. § 4.º A restituição ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real eventualmente já realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao executado. § 5.º Ao cumprimento provisório de sentença que reconheça obrigação de fazer, de não fazer ou de dar coisa aplica-se, no que couber, o disposto neste Capítulo.

3.2.7.2. Dispensa de caução: O CPC2015 mantém casos de dispensabilidade da caução no cumprimento provisório, mas amplia, sensivelmente, tais hipóteses, quando em comparação com o CPC/1973, reformadas pela Lei 11.232/2005.

Art. 521. A caução prevista no inciso IV do art. 520 poderá ser dispensada nos casos em que: I – o crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem; II – o credor demonstrar situação de necessidade; III – pender o agravo fundado nos incisos II e III do art. 1.042; IV – a sentença a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou em conformidade com acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos. Parágrafo único. A exigência de caução será mantida quando da dispensa possa resultar manifesto risco de grave dano de difícil ou incerta reparação.

Nota-se que o artigo contempla casos isolados, não cumulativos, em que se autoriza a dispensa

da caução para levantamento de depósito em dinheiro ou expropriação de bens penhorados. Mas, mesmo incidindo qualquer desses casos, “a exigência da caução será mantida quando da dispensa possa resultar manifesto risco de grave dano de difícil ou incerta reparação” (art. 521, parágrafo único).

Independentemente do valor em execução, pode ser liberado o dinheiro depositado, adjudicado ou alienado o bem penhorado, em cumprimento provisório, quando:

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(1) o crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem; ou. (2) o crédito for de qualquer natureza, mas o credor demonstrar situação de necessidade; ou. (3) independentemente da natureza do crédito ou da situação do credor, pender o agravo em recurso especial ou recurso extraordinário, previsto no art. 1.042, II e III, do CPC/2015; ou, ainda, (4) a sentença ou decisão a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do STF ou do STJ ou em conformidade com acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos (incidente de resolução de demandas repetitivas e recursos especial e extraordinário repetitivos, nos termos do art. 928 do CPC/2015).

3.2.7.3. Requerimento e instrução do cumprimento provisório: O cumprimento provisório de

sentença corre por iniciativa e responsabilidade do exequente (art. 520, I, do CPC/2015), pelo que será necessário requerimento por petição dirigida ao juízo competente (art. 522, caput). O juízo competente é definido de acordo com as regras do art. 516 do CPC/2015. Aplicam-se ao cumprimento provisório de sentença as opções previstas no parágrafo único do art. 516 do CPC/2015.

Tratando-se de autos físicos, a petição requerendo o cumprimento provisório da sentença deverá

ser instruída com cópias das peças catalogadas no parágrafo único do art. 522, cuja autenticidade poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal. Faltando cópias, cabe emenda, no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de indeferimento (art. 801 c.c. 771, CPC/2015).

O art. 522 está assim redigido:

Art. 522. O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao juízo competente. Parágrafo único. Não sendo eletrônicos os autos, a petição será acompanhada de cópias das seguintes peças do processo, cuja autenticidade poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal: I – decisão exequenda; II – certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo; III – procurações outorgadas pelas partes; IV – decisão de habilitação se for o caso; V – facultativamente, outras peças processuais consideradas necessárias para demonstrar a existência do crédito.

3.2.8. CUMPRIMENTO DEFINITIVO DA SENTENÇA QUE RECONHECE A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA

3.2.8.1. Características e requisitos: O art. 523 do CPC/2015 corresponde ao art. 475-J do

CPC/1973 reformado pela Lei 11.232/2005. É a regra base do procedimento de cumprimento definitivo da sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, também aplicável ao cumprimento provisório.

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver. § 1.º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento.

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§ 2.º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários previstos no § 1.º incidirão sobre o restante. § 3.º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação.

Essa nova versão não destoa na versão anterior, apenas positivando alguns entendimentos

pacificados na jurisprudência do STJ, como a necessidade de requerimento do exequente, a intimação do devedor para pagar e a incidência de honorários advocatícios.

Assim, transitando em julgado a sentença condenatória líquida ou já sendo procedida a respectiva liquidação, por arbitramento ou pelo procedimento comum, deve o exequente apresentar o respectivo requerimento de execução, no juízo competente (art. 516 do CPC/2015), com as formalidades do art. 524 do CPC/2015, a partir do qual o executado será intimado, na forma do art. 513, § 2.º, do CPC2015, para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias úteis (art. 219 do CPC/2015), acrescido de custas, se houver.

Não havendo o pagamento tempestivo, o débito será acrescido, automaticamente, de multa de 10% e, também, de honorários advocatícios de 10%. Os honorários incidem sobre o valor do débito, sem a multa. A multa é fixa e incide uma vez só. Caso haja pagamento parcial no prazo legal, a multa e os honorários serão proporcionais ao valor não pago. O simples depósito como garantia não elide a multa, nem os honorários. Para tanto, exige-se pagamento, como forma de extinção da obrigação.

Além da incidência desses encargos legais sobre o débito, o não pagamento tempestivo abre à possibilidade de protesto do título judicial (art. 517 do CPC/2015) e inscrição do nome do devedor nos cadastros de inadimplentes (art. 782, §§ 3.º a 5.º, do CPC/2015), tudo sem prejuízo do início dos atos executivos, com a penhora de tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal atualizado, da multa, dos juros, das custas e dos honorários advocatícios (art. 831 c.c. 771 do CPC/2015).

Esse procedimento também é aplicável às decisões parciais de mérito transitadas em julgado (art. 523 caput c.c. art. 356, §§ 2.º a 4.º, do CPC2015).

Trânsito em julgado da sentença ↓

Requerimento do exequente ↓

Intimação do devedor ↓

15 dias para pagar ↓

Paga: extingue-se a execução ↓

Não paga: multa de 10% + honorários de 10% ↓

Penhora + protesto + inscrição em cadastros de inadimplentes

3.2.8.2. Requerimento analítico e cálculo aritmético: O requerimento do exequente para o

cumprimento definitivo da sentença condenatória passa a ser mais analítico, visando a prevenir futuras discussões sobre erros de cálculo ou excessos de execução. Não basta uma petição qualquer. Será necessário oferecer uma petição mais detalhada, incluindo todos os elementos que bem esclareçam o demonstrativo discriminado e atualizado do crédito (a “liquidação por cálculo aritmético” do CPC/1973), o qual deve espelhar os critérios definidos pela sentença, conforme art. 491 caput do CPC/2015. Caso o requerimento não apresente todos os elementos indicados do artigo em comento, cabe emenda em 15 (quinze) dias, sob pena de indeferimento (art. 801 c.c. art. 771 do CPC/2015).

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Orientações para cálculo Demonstrativo do crédito

↓ ↓

Sentença Requerimento de execução

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Art. 491 Art. 524 Quando a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de terceiros ou do

executado, o juiz poderá requisitá-los, sob cominação do crime de desobediência, sem prejuízo de outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias, conforme permite o art. 139, IV, do CPC/2015.

Caso haja necessidade de complementação do demonstrativo do crédito e tal providência dependa de dados adicionais em poder do executado, o juiz poderá, a requerimento do exequente, requisitá-los, fixando prazo de até 30 (trinta) dias para o cumprimento da diligência; a omissão injustificada do executado gerará a presunção de que os cálculos apresentados pelo exequente, apenas com base nos dados de que dispõe, estão corretos, sem prejuízo de outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias, conforme permite o art. 139, IV, do CPC/2015.

Apresentados os cálculos, o juiz poderá valer-se de contabilista do juízo para verificá-los, o qual terá o prazo máximo de 30 (trinta) dias para tanto, exceto se outro lhe for determinado. Caso seja constatado que valor apontado no demonstrativo aparentemente excede os limites da condenação, a execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base a importância que o juiz entender adequada, baseada, se assim for, no parecer do contabilista judicial. Nesse caso, após a definição do valor correto, poderá haver reforço de penhora para ajustar ao valor correto pretendido.

Perceba-se o novo dispositivo:

Art. 524. O requerimento previsto no art. 523 será instruído com demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, devendo a petição conter: I – o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente e do executado, observado o disposto no art. 319, §§ 1.º a 3.º; II – o índice de correção monetária adotado; III – os juros aplicados e as respectivas taxas; IV – o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizada; V – a periodicidade da capitalização dos juros se for o caso; VI – especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados; VII – indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível. § 1.º Quando o valor apontado no demonstrativo aparentemente exceder os limites da condenação, a execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base a importância que o juiz entender adequada. § 2.º Para a verificação dos cálculos, o juiz poderá valer-se de contabilista do juízo, que terá o prazo máximo de 30 (trinta) dias para efetuá-la, exceto se outro lhe for determinado. § 3.º Quando a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de terceiros ou do executado, o juiz poderá requisitá-los, sob cominação do crime de desobediência. § 4.º Quando a complementação do demonstrativo depender de dados adicionais em poder do executado, o juiz poderá, a requerimento do exequente, requisitá-los, fixando prazo de até 30 (trinta) dias para o cumprimento da diligência. § 5.º Se os dados adicionais a que se refere o § 4º não forem apresentados pelo executado, sem justificativa, no prazo designado, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo exequente apenas com base nos dados de que dispõe.

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3.2.8.3. Impugnação ao cumprimento de sentença: A impugnação continua a figurar como o meio de defesa típico do executado no cumprimento de sentença por quantia certa. Mas, no CPC/2015, há uma diferença marcante: o executado não mais precisa garantir o juízo pela penhora para poder impugnar.

CPC1973 CPC2015

↓ ↓

Impugnação Impugnação

↓ ↓

Exige PENHORA NÃO exige PENHORA Além da defesa típica, o CPC/2015 positiva a exceção de pré-executividade, ao permitir que “as

questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes, podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato” (art. 525, § 11).

O prazo para impugnar é de 15 (quinze) dias úteis (art. 219 do CPC/2015), mas será contado em

dobro na hipótese de litisconsortes com advogados diferentes, atuando em autos físicos (art. 525, § 3.º). Esse prazo se inicia imediatamente após o transcurso do prazo de 15 (quinze) dias úteis para pagamento voluntário, sem adimplemento, independentemente de nova intimação. Em outras palavras, contados da intimação para pagar, o executado terá 30 (trinta) dias úteis para impugnar, sem contar com as dobras legais do prazo.

Intimação para pagar → 15d → sem pagamento → 15d → impugnação

A impugnação continua a se apresentar como um incidente de cognição na fase de cumprimento

de sentença, apresentada por petição dentro dos mesmos autos. Não suspende a execução, nem impede o levantamento de dinheiro depositado ou a expropriação de bens penhorados.

Excepcionalmente, poderá o juiz conceder o efeito suspensivo à impugnação, exclusivamente para impedir atos de expropriação (art. 525, § 7.º). Para tanto, é necessário reunir os seguintes requisitos (art. 525, § 6.º):

(1) requerimento do exequente; (2) garantia do juízo por penhora, caução ou depósito suficiente; (3) relevância da fundamentação contida na impugnação; e (4) perigo de dano grave de difícil ou incerta reparação pelo prosseguimento da execução. A decisão que aprecia o requerimento de efeito suspensivo à impugnação é sujeita a agravo de

instrumento (art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015). Mas ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exequente requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando, nos próprios autos, caução suficiente e idônea a ser arbitrada pelo juiz.

A impugnação ao cumprimento de sentença permite apenas uma cognição parcial, ou seja, ao impugnante é lícito deduzir apenas as matérias taxativamente arroladas no parágrafo primeiro do art. 525 do CPC/2015, as quais pouco diferem do rol do art. 475-L do CPC/1973, reformado pela Lei 11.232/2005.

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Dessas matérias, cumpre destacar duas: o excesso de execução e a inexequibilidade do “título executivo inconstitucional”.

No primeiro caso, não basta ao impugnante alegar que está sendo cobrado a mais. Em cumprimento ao dever de boa-fé processual, compete-lhe declarar de imediato o valor que entende correto e apresentar demonstrativo discriminado e atualizado de seu cálculo. Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, a impugnação será liminarmente rejeitada, se o excesso de execução for o seu único fundamento, ou, se houver outro, a impugnação será processada, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de execução.

No segundo caso, considera-se “título executivo inconstitucional” aquele que foi fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo STF, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo STF como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. Nesse caso, o título executivo judicial será inexequível caso a decisão do STF seja anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda, ressalvada a possibilidade de modulação no tempo dos efeitos da decisão do STF, em atenção à segurança jurídica; sendo proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, descabe sua alegação em impugnação, cabendo ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo STF. Essas novas regras procuram conciliar a garantia constitucional da intangibilidade da coisa julgada material com a necessidade de reforçar a supremacia da Constituição.

Mas o melhor, sempre, é conferir a íntegra do artigo:

Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. § 1.º Na impugnação, o executado poderá alegar: I – falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; II – ilegitimidade de parte; III – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; IV – penhora incorreta ou avaliação errônea; V – excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; VI – incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VII – qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à sentença. § 2.º A alegação de impedimento ou suspeição observará o disposto nos arts. 146 e 148. § 3.º Aplica-se à impugnação o disposto no art. 229. § 4.º Quando o executado alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado de seu cálculo. § 5.º Na hipótese do § 4o, não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, a impugnação será liminarmente rejeitada, se o excesso de execução for o seu único fundamento, ou, se houver outro, a impugnação será processada, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de execução. § 6.º A apresentação de impugnação não impede a prática dos atos executivos, inclusive os de expropriação, podendo o juiz, a requerimento do executado e desde que garantido o juízo com penhora, caução ou depósito suficiente, atribuir-lhe efeito suspensivo, se seus fundamentos forem relevantes e se o prosseguimento da execução for manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação. § 7.º A concessão de efeito suspensivo a que se refere o § 6.º não impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de redução da penhora e de avaliação dos bens.

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§ 8.º Quando o efeito suspensivo atribuído à impugnação disser respeito apenas a parte do objeto da execução, esta prosseguirá quanto à parte restante. § 9.º A concessão de efeito suspensivo à impugnação deduzida por um dos executados não suspenderá a execução contra os que não impugnaram, quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao impugnante. § 10. Ainda que atribuído efeito suspensivo à impugnação, é lícito ao exequente requerer o prosseguimento da execução, oferecendo e prestando, nos próprios autos, caução suficiente e idônea a ser arbitrada pelo juiz. § 11. As questões relativas a fato superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato. § 12. Para efeito do disposto no inciso III do § 1.º deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. § 13. No caso do § 12, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser modulados no tempo, em atenção à segurança jurídica. § 14. A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda. § 15. Se a decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal.

3.2.8.4. Cumprimento da sentença por iniciativa do réu: O CPC2015 permite que o réu (ainda

não executado) antecipe-se ao cumprimento de sentença, que quase sempre fica na dependência da iniciativa do exequente.

Art. 526. É lícito ao réu, antes de ser intimado para o cumprimento da sentença, comparecer em juízo e oferecer em pagamento o valor que entender devido, apresentando memória discriminada do cálculo. § 1.º O autor será ouvido no prazo de 5 (cinco) dias, podendo impugnar o valor depositado, sem prejuízo do levantamento do depósito a título de parcela incontroversa. § 2.º Concluindo o juiz pela insuficiência do depósito, sobre a diferença incidirão multa de dez por cento e honorários advocatícios, também fixados em dez por cento, seguindo-se a execução com penhora e atos subsequentes. § 3.º Se o autor não se opuser, o juiz declarará satisfeita a obrigação e extinguirá o processo.

O réu não precisa mais aguardar a iniciativa do exequente, podendo comparecer em juízo, desde

que antes de ser intimado para pagar, e depositar o valor que entender devido, segundo os critérios definidos pela sentença (art. 491 do CPC/2015), apresentando memória discriminada do cálculo, nos moldes previstos no art. 524 do CPC/2015. O autor será ouvido no prazo de 5 (cinco) dias, podendo impugnar o valor depositado, sem prejuízo do levantamento do depósito a título de parcela incontroversa. Se o autor não se opuser, o juiz declarará satisfeita a obrigação e extinguirá o processo. Caso contrário, concluindo o juiz pela insuficiência do depósito, sobre a diferença incidirão multa de dez por cento e honorários advocatícios, também fixados em dez por cento, seguindo-se a execução com penhora e atos subsequentes.

3.2.8.5. Cumprimento definitivo e cumprimento provisório: Segundo o art. 527 do CPC2015:

Art. 527. Aplicam-se as disposições deste Capítulo ao cumprimento provisório da sentença, no que couber.

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Parece que esse artigo é supérfluo diante das disposições já constantes no caput do art. 520, no sentido de que cumprimento provisório da sentença será realizado da mesma forma que o cumprimento definitivo.

3.2.9. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, DE NÃO FAZER OU DE NÃO FAZER 3.2.9.1. Cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de

não fazer: O sistema de cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer é substancialmente diferente do sistema cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar quantia.

Trata-se de um sistema mais aberto e flexível, mais sujeito à criatividade judicial razoável e

proporcional, sem procedimento rígido e preordenado. Esse cumprimento pode ser iniciado de ofício, sem depender de requerimento do exequente, a não ser que se trate de cumprimento provisório.

Para efetivar a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, o juiz pode determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. São as medidas executivas atípicas, exemplificativamente catalogadas no § 1.º do artigo em comento, em consonância com o poder geral de efetivação da tutela jurisdicional, outorgado aos juízes pelo art. 139, IV, do CPC/2015. Sem prejuízo delas, o executado que injustificadamente descumprir a ordem judicial incidirá nas penas de litigância de má-fé (cf. art. 81 do CPC/2015) e responderá pelo crime de desobediência (art. 526, § 3.º). A multa coercitiva (astreintes), regrada pelo art. 537, afigura-se como apenas uma dessas medidas necessárias, não gozando de qualquer primazia ou preferência nesse sistema de cumprimento de sentenças.

A defesa do executado, nesse sistema, passa a ser realizada por impugnação, regrada pelo art. 525 do CPC/2015. Assim, intimado o executado para cumprir a ordem de fazer ou de não fazer, e em não ocorrendo o cumprimento no prazo determinado, automaticamente abrirá o prazo de 15 (quinze) dias úteis para a apresentação da impugnação, sem efeito suspensivo, com cognição parcial. De qualquer forma, poderá o executado, nos termos do art. 518 do CPC/2015, arguir, nos próprios autos, todas as questões relativas à validade do procedimento de cumprimento da sentença e dos atos executivos subsequentes.

Esse sistema de cumprimento de sentença aplica-se tanto aos deveres de fazer ou de não fazer decorrentes de vínculo obrigacional, quanto de vínculo legal, não obrigacional.

O que era regrado pelo art. 461 do CPC1973 passa a sê-lo no art. 536 do CPC2015:

Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. § 1.º Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial. § 2.º O mandado de busca e apreensão de pessoas e coisas será cumprido por 2 (dois) oficiais de justiça, observando-se o disposto no art. 846, §§ 1º a 4º, se houver necessidade de arrombamento. § 3.º O executado incidirá nas penas de litigância de má-fé quando injustificada-mente descumprir a ordem judicial, sem prejuízo de sua responsabilização por crime de desobediência.

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§ 4.º No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, aplica-se o art. 525, no que couber. § 5.º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento de sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não obrigacional.

3.2.9.2. Astreinte (multa coercitiva): A multa coercitiva ou astreinte constitui uma das medidas

necessárias que podem ser aplicadas pelo juiz para a efetivação da tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente. Essa multa processual tem caráter exclusivamente coercitivo e não se confunde com a indenização devida ao exequente pelo descumprimento da ordem. Não tem primazia, nem preferência no sistema de cumprimento de sentenças que reconheçam os deveres de fazer ou não fazer. É uma alternativa para o juiz, na definição da melhor medida para garantir a autoridade da decisão judicial. É aplicável na fase de conhecimento de qualquer processo, seja qualquer for o procedimento previsto, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução.

A aplicação da multa não depende de requerimento da parte porque é mecanismo para prestigiar a autoridade da decisão judicial. Em função do seu caráter coercitivo, não tem valor máximo, nem mínimo, nem está adstrita ao valor da causa. Deve ser fixada em valor suficientemente alto para coagir o executado a cumprir a ordem em prazo razoável. Na verdade, essa multa não foi projetada para ser cobrada, pois sua finalidade não é gerar enriquecimento, mas inibir o comportamento contrário à ordem judicial. Pelas mesmas razões, o juiz poderá de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva ou que o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa causa para o descumprimento.

Infelizmente, o CPC2015 perdeu a chance de avançar nesse particular, modificando a destinação do valor eventualmente arrecadado a título de astreintes. Ao decidir destinar todo o valor da multa para o exequente, mantém o mesmo problema cotidianamente vivenciado na experiência forense: os juízes não fixam o valor da multa em patamares suficientemente altos para coagir, por receio de enriquecimento desproporcional do exequente. Melhor era ter seguido a solução pragmática do anteprojeto ou do projeto inicial do Senado: destinar ao exequente apenas a parte do valor arrecadado que correspondesse ao seu crédito reconhecido nos autos, lançando o restante para o Estado ou a União; e na hipótese do devedor da multa ser o próprio Estado ou a União, remetendo o que sobejar ao crédito do exequente para uma entidade, pública ou privada, com finalidade social.

Melhor será investir na multa atípica, prevista no art. 536, § 1.º, que pode ser moldada criativamente pelo juiz, inclusive quanto à destinação do seu valor, sem limitações antipragmáticas no artigo em comento.

De qualquer forma, a multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado. A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte ou na pendência do agravo fundado nos incs. II ou III do art. 1.042. Caso o depósito não seja realizado, compete ao juiz, pelos meios disponíveis, inclusive pelo sistema eletrônico Bacenjud, arrecadar o valor, mantendo-o em depósito. A destinação do valor arrecadado somente se dará após o trânsito em julgado da sentença.

A multa aplica-se tanto aos deveres de fazer ou de não fazer decorrentes de vínculo obrigacional, quanto de vínculo legal, não obrigacional. O artigo em comento trata de uma das medidas necessárias que podem ser aplicadas pelo juiz para a efetivação da tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente: a multa coercitiva ou astreinte. Essa multa processual tem caráter exclusivamente coercitivo e não se confunde com a indenização devida ao exequente pelo descumprimento da ordem. Não tem primazia, nem preferência no sistema de cumprimento de sentenças que reconheçam os deveres de fazer ou não fazer. É uma alternativa para o juiz, na definição da melhor medida para garantir

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a autoridade da decisão judicial. É aplicável na fase de conhecimento de qualquer processo, seja qualquer for o procedimento previsto, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução.

A aplicação da multa não depende de requerimento da parte porque é mecanismo para prestigiar a autoridade da decisão judicial. Em função do seu caráter coercitivo, não tem valor máximo, nem mínimo, nem está adstrita ao valor da causa. Deve ser fixada em valor suficientemente alto para coagir o executado a cumprir a ordem em prazo razoável. Na verdade, essa multa não foi projetada para ser cobrada, pois sua finalidade não é gerar enriquecimento, mas inibir o comportamento contrário à ordem judicial. Pelas mesmas razões, o juiz poderá de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que se tornou insuficiente ou excessiva ou que o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa causa para o descumprimento.

Infelizmente, o novo Código aprovado perdeu a chance de avançar nesse particular, modificando a destinação do valor eventualmente arrecadado a título de astreintes. Ao decidir destinar todo o valor da multa para o exequente, mantém o mesmo problema cotidianamente vivenciado na experiência forense: os juízes não fixam o valor da multa em patamares suficientemente altos para coagir, por receio de enriquecimento desproporcional do exequente. Melhor era ter seguido a solução pragmática do anteprojeto ou do projeto inicial do Senado: destinar ao exequente apenas a parte do valor arrecadado que correspondesse ao seu crédito reconhecido nos autos, lançando o restante para o Estado ou a União; e na hipótese do devedor da multa ser o próprio Estado ou a União, remetendo o que sobejar ao crédito do exequente para uma entidade, pública ou privada, com finalidade social.

Melhor será investir na multa atípica, prevista no art. 536, § 1.º, que pode ser moldada criativamente pelo juiz, inclusive quanto à destinação do seu valor, sem limitações antipragmáticas no artigo em comento.

De qualquer forma, a multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado. A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte ou na pendência do agravo fundado nos incs. II ou III do art. 1.042. Caso o depósito não seja realizado, compete ao juiz, pelos meios disponíveis, inclusive pelo sistema eletrônico Bacenjud, arrecadar o valor, mantendo-o em depósito. A destinação do valor arrecadado somente se dará após o trânsito em julgado da sentença.

A multa aplica-se tanto aos deveres de fazer ou de não fazer decorrentes de vínculo obrigacional, quanto de vínculo legal, não obrigacional.

Confira-se:

Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do preceito. § 1.º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que: I – se tornou insuficiente ou excessiva; II – o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou jus-ta causa para o descumprimento. § 2.º O valor da multa será devido ao exequente. § 3.º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte ou na pendência do agravo fundado nos incisos II ou

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III do art. 1.042. § 4.º A multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado. § 5º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber ao cumprimento de sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não obrigacional.

3.2.9.3. Cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de entregar coisa: O sistema de cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de entregar coisa tem as mesmas características do sistema de cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer. Mas pelas peculiaridades desse sistema, privilegia-se a expedição de mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel, mas sem prejuízo de outras medidas executivas atípicas que se apresentem como necessárias.

Eventuais direitos de indenização ou de retenção por benfeitorias devem ser alegados em contestação da fase de conhecimento, sob pena de preclusão.

Eis o artigo respectivo:

Art. 538. Não cumprida a obrigação de entregar coisa no prazo estabelecido na sentença, será expedido mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse em favor do credor, conforme se tratar de coisa móvel ou imóvel. § 1.º A existência de benfeitorias deve ser alegada na fase de conhecimento, em contestação, de forma discriminada e com atribuição, sempre que possível e justificadamente, do respectivo valor. § 2.º O direito de retenção por benfeitorias deve ser exercido na contestação, na fase de conhecimento. § 3.º Aplicam-se ao procedimento previsto neste artigo, no que couberem, as disposições sobre o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer.

3.2.10. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA QUE RECONHEÇA A EXIGIBILIDADE DE OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA PELA FAZENDA PÚBLICA

Art. 534. No cumprimento de sentença que impuser à Fazenda Pública o dever de pagar quantia certa, o exequente apresentará demonstrativo discriminado e atualizado do crédito contendo: I - o nome completo e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente; II - o índice de correção monetária adotado; III - os juros aplicados e as respectivas taxas; IV - o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizada; V - a periodicidade da capitalização dos juros se for o caso; VI - a especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados. § 1.º Havendo pluralidade de exequentes, cada um deverá apresentar o seu próprio demonstrativo, aplicando-se à hipótese, se for o caso, o disposto nos §§ 1.º e 2;º do art. 113. § 2.º A multa prevista no § 1.º do art. 523 não se aplica à Fazenda Pública. Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir: I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; II - ilegitimidade de parte; III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; IV - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

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V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; VI - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que supervenientes ao trânsito em julgado da sentença. § 1.º A alegação de impedimento ou suspeição observará o disposto nos arts. 146 e 148. § 2.º Quando se alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante do título, cumprirá à executada declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de não conhecimento da arguição. § 3.º Não impugnada a execução ou rejeitadas as arguições da executada: I - expedir-se-á, por intermédio do presidente do tribunal competente, precatório em favor do exequente, observando-se o disposto na Constituição Federal; II - por ordem do juiz, dirigida à autoridade na pessoa de quem o ente público foi citado para o processo, o pagamento de obrigação de pequeno valor será realizado no prazo de 2(dois) meses contado da entrega da requisição, mediante depósito na agência de banco oficial mais próxima da residência do exequente. § 4.º Tratando-se de impugnação parcial, a parte não questionada pela executada será, desde logo,objeto de cumprimento. § 5.º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso. § 6.º No caso do § 5.º, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser modulados no tempo, de modo a favorecer a segurança jurídica. § 7.º A decisão do Supremo Tribunal Federal referida no § 5.º deve ter sido proferida antes do trânsito em julgado da decisão exequenda. § 8.º Se a decisão referida no § 5.º for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo SupremoTribunal Federal.

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