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NETTO. José Paulo. O Movimento de Reconceituação. 40 anos depois. Serviço Social & Sociedade Nº 84. São Paulo. Cortez. novembro de 2005 Este texto é um fragmento do Artigo de José Paulo Netto, intitulado “O Movimento de Reconceituação. 40 anos depois, contido na revista Serviço Social e Sociedade N º 84, nas páginas 17 e 18. ... É somente a partir da segunda metade dos anos setenta, quando a ditadura começa a experimentar a sua erosão, que se fazem sentir no Brasil as ressonâncias das tendências que, na Reconceituação, apontavam para uma crítica radical do tradicionalismo – e essas ressonâncias reverberam (repercutiram) tanto mais quanto avançam as forças democráticas na cena política nacional, com claríssimas implicações no interior da categoria profissional. A passagem dos anos 1970 aos 1980, com a reativação do movimento operário-sindical e o protagonismo dos chamados novos sujeitos sociais, abriu novas perspectivas para os assistentes sociais que pretendiam a ruptura com o tradicionalismo. E estes assistentes sociais investiram fortemente em dois planos: na organização da categoria profissional e na formação acadêmica. No primeiro deles, em pouco tempo fortaleceu-se uma articulação nacional que tornou os Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais um fórum maciço e representativo da categoria profissional; quanto à formação, instituiu-se em um currículo de âmbito nacional e consolidou-se a pós-graduação (mestrado e doutorado). Integrado no sistema universitário em todos os níveis, nos anos 1980 o Serviço social brasileiro assistiu ao desenvolvimento de uma perspectiva crítica, tanto teórica quanto prática, que se constituiu a partir do espírito próprio da Reconceituação. Não se tratou de uma simples continuidade das idéias reconceituadas, uma vez que as condições históricas, políticas e institucionais eram muito diversas das do período anterior; antes, o que se operou foi uma retomada da crítica ao tradicionalismo a partir das conquistas Reconceituadas – por isto é adequado caracterizar o desenvolvimento deste

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  • NETTO. Jos Paulo. O Movimento de Reconceituao. 40 anos depois. Servio Social & Sociedade N 84. So Paulo. Cortez. novembro de 2005

    Este texto um fragmento do Artigo de Jos Paulo Netto, intitulado O

    Movimento de Reconceituao. 40 anos depois, contido na revista Servio

    Social e Sociedade N 84, nas pginas 17 e 18.

    ...

    somente a partir da segunda metade dos anos setenta,

    quando a ditadura comea a experimentar a sua eroso, que se fazem sentir

    no Brasil as ressonncias das tendncias que, na Reconceituao, apontavam

    para uma crtica radical do tradicionalismo e essas ressonncias reverberam

    (repercutiram) tanto mais quanto avanam as foras democrticas na cena

    poltica nacional, com clarssimas implicaes no interior da categoria

    profissional. A passagem dos anos 1970 aos 1980, com a reativao do

    movimento operrio-sindical e o protagonismo dos chamados novos sujeitos

    sociais, abriu novas perspectivas para os assistentes sociais que pretendiam a

    ruptura com o tradicionalismo. E estes assistentes sociais investiram

    fortemente em dois planos: na organizao da categoria profissional e na

    formao acadmica. No primeiro deles, em pouco tempo fortaleceu-se uma

    articulao nacional que tornou os Congressos Brasileiros de Assistentes

    Sociais um frum macio e representativo da categoria profissional; quanto

    formao, instituiu-se em um currculo de mbito nacional e consolidou-se a

    ps-graduao (mestrado e doutorado).

    Integrado no sistema universitrio em todos os nveis, nos anos

    1980 o Servio social brasileiro assistiu ao desenvolvimento de uma

    perspectiva crtica, tanto terica quanto prtica, que se constituiu a partir do

    esprito prprio da Reconceituao. No se tratou de uma simples continuidade

    das idias reconceituadas, uma vez que as condies histricas, polticas e

    institucionais eram muito diversas das do perodo anterior; antes, o que se

    operou foi uma retomada da crtica ao tradicionalismo a partir das conquistas

    Reconceituadas por isto adequado caracterizar o desenvolvimento deste

  • Servio Social Crtico no Brasil como herdeiro do esprito da Reconceituao:

    comprometido com os interesses da massa da populao, preocupado com a

    qualificao acadmica e com a interlocuo com as cincias sociais e

    investindo fortemente na pesquisa.

    precisamente este Servio Social crtico que vem

    redimensionando radicalmente a imagem social da profisso e hoje

    reconhecido no plano acadmico como rea de produo de conhecimento,

    interagindo paritariamente com as cincias sociais e intervindo ativamente no

    plano da formulao de polticas pblicas. este Servio social crtico que

    dispe de hegemonia na produo terica do campo profissional (resultado do

    forte investimento na pesquisa), desfruta de audincia acadmica nacional e

    internacional e goza de respeitabilidade pblica, inclusive pela sua interveno

    poltica. este Servio Social crtico, ele mesmo diferenciado, marcado por

    polmicas e debates internos, diversificado teoricamente e ideologicamente

    plural que, no Brasil contemporneo, expressa o esprito da Reconceituao e

    no h nenhum exagero em afirmar que, sem o movimento dos anos de

    1960/1970, tal servio Social no existiria.

    A existncia deste Servio Social crtico que hoje

    implementa o chamado projeto tico-poltico a prova conclusiva da

    permanente atualidade da Reconceituao como ponto de partida da crtica ao

    tradicionalismo: a prova de que, quarenta anos depois, a Reconceitualizao

    continua viva.