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Núcleo Especializado De Situação Carcerária Nota Pública de Repúdio à manifestação do Ministério Público de São Paulo sobre o PLS n.º 554/11 A Rede Justiça Criminal, junto com os Núcleo Especializado de Situação Carcerária e o Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado de São Paulo e o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, vêm se manifestar contrários à posição do Ministério Público de São Paulo sobre o projeto de lei que institui a audiência de custódia. O Projeto de Lei do Senado nº 554/11 propõe alterar o Código de Processo Penal para que o preso seja apresentado a um juiz no prazo máximo de 24 horas, com o objetivo de verificar a legalidade da prisão em flagrante e quaisquer possíveis violações de direitos humanos que tenham ocorrido durante a mesma, como torturas e outas ilegalidades. Recentemente o projeto de lei sofreu ataques diretos por parte do ProcuradorGeral de Justiça do Estado de São Paulo, Márcio Fernando Elias Rosa. Em nota técnica, o ProcuradorGeral propõe a substituição do texto já aprovado nas Comissões de Direitos Humanos e de Assuntos Econômicos do Senado Federal, invertendo o ônus da prova ao impor ao preso o dever de provar a existência de tortura e maustratos para justificar um contato direto com o juiz em uma audiência. O Ministério Público distorce o debate quando argumenta que a implementação da atual proposta de audiência de custódia terá altos custos financeiros e causará sensação de impunidade e insegurança. Tal posicionamento e a alteração proposta teriam como únicas consequências cerceamento dos direitos fundamentais do preso e agravamento da situação carcerária no país. É falacioso afirmar que a audiência de custódia acarretará um custo maior para o sistema de justiça criminal. Na verdade, ao evitar a entrada no sistema penitenciário de pessoas que não deveriam ser presas, a audiência de custódia irá contribuir para aliviar a situação de superlotação carcerária. Muito além dos custos financeiros, são incomensuráveis os custos sociais e psicológicos que a prisão ilegal ocasiona. A Rede Justiça Criminal acredita que o substitutivo proposto inverte a lógica da necessidade de proteção e presunção de inocência, cabendo ao réu provar a ilegalidade de sua prisão, ao invés de ser o Estado responsável por provar que a prisão em flagrante se faz necessária. Assim, repudiamos a postura adotada pelo Ministério Público de São Paulo e reafirmamos nosso apoio ao PLS 554/11, nos termos do substitutivo aprovado nas Comissões de Direitos Humanos e de Assuntos Econômicos do Senado Federal, como um meio de tornar o acesso à justiça mais digno e cumpridor da Constituição e dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos que recomendam a adoção da audiência de custódia no Brasil.

14.12.08 NP Parecer MP Audiencia - Rede Justiça Criminal · 2014-12-10 · Title: Microsoft Word - 14.12.08 NP_Parecer MP Audiencia.docx Author: Ana Luiza Villela de Viana Bandeira

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Page 1: 14.12.08 NP Parecer MP Audiencia - Rede Justiça Criminal · 2014-12-10 · Title: Microsoft Word - 14.12.08 NP_Parecer MP Audiencia.docx Author: Ana Luiza Villela de Viana Bandeira

     

   

Núcleo  Especializado  De  Situação  Carcerária  

 

 

 

 

Nota  Pública  de  Repúdio  à  manifestação  do  

 Ministério  Público  de  São  Paulo  sobre  o  PLS  n.º  554/11  

 

A   Rede   Justiça   Criminal,   junto   com   os   Núcleo   Especializado   de   Situação   Carcerária   e   o  Núcleo   Especializado   de   Cidadania   e   Direitos   Humanos   da   Defensoria   Pública   do   Estado   de   São  Paulo   e   o   Instituto   Brasileiro   de   Ciências   Criminais,   vêm   se   manifestar   contrários   à   posição   do  Ministério  Público  de  São  Paulo  sobre  o  projeto  de  lei  que  institui  a  audiência  de  custódia.  

 O  Projeto  de  Lei  do  Senado  nº  554/11  propõe  alterar  o  Código  de  Processo  Penal  para  que  

o  preso   seja   apresentado  a  um   juiz  no  prazo  máximo  de  24  horas,   com  o  objetivo  de   verificar   a  legalidade  da  prisão  em  flagrante  e  quaisquer  possíveis  violações  de  direitos  humanos  que  tenham  

ocorrido  durante  a  mesma,  como  torturas  e  outas  ilegalidades.    

Recentemente   o   projeto   de   lei   sofreu   ataques   diretos   por   parte   do   Procurador-­‐Geral   de  Justiça  do  Estado  de  São  Paulo,  Márcio  Fernando  Elias  Rosa.  Em  nota  técnica,  o  Procurador-­‐Geral  

propõe   a   substituição   do   texto   já   aprovado   nas   Comissões   de   Direitos   Humanos   e   de   Assuntos  Econômicos  do  Senado  Federal,  invertendo  o  ônus  da  prova  ao  impor  ao  preso  o  dever  de  provar  a  existência  de  tortura  e  maus-­‐tratos  para  justificar  um  contato  direto  com  o  juiz  em  uma  audiência.    

 O  Ministério  Público  distorce  o  debate  quando  argumenta  que  a   implementação  da  atual  

proposta  de  audiência  de  custódia  terá  altos  custos  financeiros  e  causará  sensação  de  impunidade  e   insegurança.   Tal   posicionamento   e   a   alteração   proposta   teriam   como   únicas   consequências  cerceamento  dos  direitos  fundamentais  do  preso  e  agravamento  da  situação  carcerária  no  país.  

 É  falacioso  afirmar  que  a  audiência  de  custódia  acarretará  um  custo  maior  para  o  sistema  

de   justiça  criminal.  Na  verdade,  ao  evitar  a  entrada  no  sistema  penitenciário  de  pessoas  que  não  deveriam  ser  presas,  a  audiência  de  custódia  irá  contribuir  para  aliviar  a  situação  de  superlotação  

carcerária.  Muito  além  dos  custos  financeiros,  são  incomensuráveis  os  custos  sociais  e  psicológicos  que  a  prisão  ilegal  ocasiona.      

 

A   Rede   Justiça   Criminal   acredita   que   o   substitutivo   proposto   inverte   a   lógica   da  necessidade   de   proteção   e   presunção   de   inocência,   cabendo   ao   réu   provar   a   ilegalidade   de   sua  

prisão,  ao  invés  de  ser  o  Estado  responsável  por  provar  que  a  prisão  em  flagrante  se  faz  necessária.      Assim,   repudiamos   a   postura   adotada   pelo   Ministério   Público   de   São   Paulo   e  

reafirmamos  nosso  apoio  ao  PLS  554/11,  nos   termos  do  substitutivo  aprovado  nas  Comissões  de  

Direitos  Humanos  e  de  Assuntos  Econômicos  do  Senado  Federal, como  um  meio  de  tornar  o  acesso  

à   justiça   mais   digno   e   cumpridor   da   Constituição   e   dos   Tratados   Internacionais   de   Direitos  Humanos  que  recomendam  a  adoção  da  audiência  de  custódia  no  Brasil.