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PROCESSUAL CIVIL. DESAPROPRIAÇÃOINDIRETA MOVIDA EM DESFAVOR DA TERRACAP –OCUPAÇÃO ABUSIVA OU IRREGULAR ATRIBUÍDA ÀFUNDAÇÃO ZOOBOTÂNICA DO DISTRITO FEDERAL.ILEGITIMIDADE PASSIVA.

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  • rgo: Segunda Turma Cvel Classe: APC - Apelao Cvel Num. Processo: 52.964/99 Apelante: TERRACAP - COMPANHIA IMOBILIRIA DE BRASLIA Apelados: FRANCISCO JOS DA ROCHA E OUTRA Relator: DESEMBARGADOR EDSON ALFREDO SMANIOTTO Revisor e Relator Designado: DESEMBARGADOR ROMO C. OLIVEIRA

    EMENTA. PROCESSUAL CIVIL. DESAPROPRIAO

    INDIRETA MOVIDA EM DESFAVOR DA TERRACAP OCUPAO ABUSIVA OU IRREGULAR ATRIBUDA FUNDAO ZOOBOTNICA DO DISTRITO FEDERAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA.

    Desapropriao indireta a destinao dada ao abusivo e irregular apossamento do imvel particular pelo Poder Pblico, com sua conseqente integrao no patrimnio pblico, sem obedincia s formalidades e cautelas do procedimento expropriatrio, rendendo azo ao manejo de ao pelo lesado para ser indenizado, do mesmo modo que seria caso o Estado houvesse procedido regularmente. Essa ao h de ser proposta contra o ente estatal que praticou a ocupao abusiva ou irregular.

    Se a Fundao Zoobotnica ocupou terras de particulares, sem a prvia e justa indenizao em dinheiro (art. 5, XXIV da CF), em desfavor deste ente estatal que deve ser movida a ao de desapropriao indireta. A TERRACAP, que recebeu delegao do poder pblico para promover os atos inerentes ao processo de desapropriao, parte ilegtima, at porque a sua omisso, em tese, no produz qualquer dano contra o proprietrio. O ato danoso promana da abusiva ou irregular ocupao cometida.

    Acrdo

    Acordam os Desembargadores da Segunda Turma

    Cvel do Tribunal de Justia do Distrito Federal e dos Territrios, EDSON

    ALFREDO SMANIOTTO - Relator, ROMO C. OLIVEIRA - Revisor, ADELITH DE

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    CARVALHO LOPES - Vogal, sob a presidncia do segundo, em DAR

    PROVIMENTO APELAO CVEL, ACOLHENDO-SE A PRELIMINAR DE

    ILEGITIMIDADE PASSIVA DA TERRACAP, POR MAIORIA, VENCIDO O

    RELATOR, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigrficas.

    Braslia (DF), 19 de junho de 2000.

    Desembargador ROMO C. OLIVEIRA Presidente e Relator Designado

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    R E L A T R I O

    FRANCISCO JOS DA ROCHA e ELVINA LOPES DA

    FONSECA interpuseram ao de conhecimento contra a COMPANHIA

    IMOBILIRIA DE BRASLIA - TERRACAP, buscando o pagamento de

    indenizao decorrente de desapropriao indireta.

    Alegam os autores, em sntese, que por escritura pblica

    de compra e venda, o primeiro requerente adquiriu vrias glebas de terras da

    Fazenda Monjollos, perfazendo um total de 6.631,312 hectares, dos quais

    4.831,3125 hectares se encontram dentro dos limites do Distrito Federal.

    Sustentam os apelados que inobstante o disposto no art.

    2 do Decreto 6.004/81, a TERRACAP, incumbida de efetivar a desapropriao,

    at hoje no tomou qualquer providncia em relao s terras dos autores,

    embora j tenha desapropriado outras glebas, integrantes da referida Reserva.

    Desta forma, as terras ainda continuam em nome do primeiro requerente.

    Ao final, requerem a condenao da r ao pagamento da

    indenizao pleiteada na inicial, em quantia a ser apurada em liquidao de

    sentena por arbitramento, bem como ao pagamento de juros destinados a

    compensar a indisponibilidade do imvel pelos autores desde a data do efetivo

    apossamento da terra pelo Poder Pblico at o pagamento da indenizao,

    custas judiciais e honorrios, fixados em 20% sobre o valor da condenao.

    COMPANHIA IMOBILIRIA DE BRASLIA - TERRACAP,

    em contestao, suscitou preliminarmente a carncia da ao e a ilegitimidade

    passiva ad causam. No mrito, alega que no apossou-se administrativamente da

    rea e sugere que os documentos apresentados pelos autores, documentos

    relacionados propriedade da gleba em litgio, podem ser falsificados.

    O Ministrio Pblico manifestou-se s fls. 279/281 e 285

    para que fosse realizada a percia.

    s fls. 286/287 o MM. Juiz determinou que fosse expedido

    mandado de verificao para constatar quem efetivamente ocupou a rea litigiosa

    e, portanto, deve compor o plo passivo da relao processual.

    Agravo interposto pelos autores as fls. 332.

    Os Oficiais de Justia as fls. 301/304, certificaram que

    foram informados pelo chefe da administrao da Reserva Biolgica de guas

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    Emendadas que a rea se encontra completamente desocupada, no sendo

    objeto de nenhuma disputa, estando na posse e domnio da Reserva (fls. 330).

    O MM. Juiz solicitou informao do Distrito Federal para

    que informasse qual o rgo que primeiro ocupou o imvel em litgio. A

    informao foi no sentido de que a Fundao Zoobotnica foi quem ocupou

    primeiramente o referido imvel.

    s fls. 403/404 a COMPANHIA IMOBILIRIA DE

    BRASLIA - TERRACAP, insiste na sua ilegitimidade para figurar na presente

    ao.

    Deciso interlocutria s fls. 411/417, tendo o MM. Juiz

    rejeitado as preliminares de carncia da ao e a ilegitimidade passiva ad causam

    da TERRACAP. Foi rejeitada tambm a argio de falsidade documental

    levantada pela r, e indeferido o pedido de desentranhamento de documentos

    acostados pelo Distrito Federal, a pedido dos autores. Foi indeferido a produo

    de prova pericial pleiteada pelo Ministrio Pblico, em decorrncia da inexistncia

    de controvrsia acerca da localizao da rea ou de suas dimenses, no tendo a

    r oferecido qualquer resistncia a este respeito. Indeferido tambm a produo

    da prova oral requerida pelos autores.

    Acrescento que a ao foi julgada procedente para

    condenar a r ao pagamento de indenizao aos autores, em face do ato ilcito

    praticado desapropriao indireta/esbulho possessrio , da rea de terras das

    quais so proprietrios, num total de 3.689,6277 hectares (trs mil, seiscentos e

    oitenta e nove hectares, sessenta e dois ares e setenta e sete centiares),

    localizadas na Reserva Biolgica de guas Emendadas, declaradas de utilidade

    pblica para fins de desapropriao pelo Decreto Distrital n 6.004/81. A data da

    efetiva ocupao e o valor da indenizao, em dinheiro, devero ser apurados em

    liquidao de sentena por arbitramento. No clculo e pagamento da indenizao

    devero ser observadas as Smulas 12, 67 ,69 ,70 ,102 e 114 do colendo STJ.

    Os juros compensatrios sero de 12% (doze por cento) ao ano, e os juros

    moratrios no percentual de 6% (seis por cento) ao ano. A correo monetria

    dever ser integral at o efetivo pagamento. A r foi condenada ao pagamento

    das custas e honorrios, fixados em 7% sobre o valor atualizado da indenizao,

    aplicando-se a smula 131 do col. STJ, atento ao pargrafo 4 do art. 20 do

    Cdigo de Processo Civil. O MM. Juiz decidiu que aps o pagamento, esta

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    sentena valer como ttulo hbil para a transferncia do domnio no Registro

    Imobilirio competente.

    COMPANHIA IMOBILIRIA DE BRASLIA - TERRACAP,

    inconformada, apelou sustentando a ilegitimidade de parte e a nulidade da

    sentena pela omisso na anlise das provas carreadas aos autos pela r.

    Contra-razes as fls. 493/504.

    A douta Procuradoria de Justia as fls. 510/515, pugnou

    pelo conhecimento e provimento do recurso com a extino do processo sem

    julgamento do mrito.

    Houve preparo, conforme guia de fls. 490.

    o que consta.

    V O T O S

    O Senhor Desembargador Edson Alfredo Smaniotto

    (Relator) - Senhor Presidente, o disposto no art. 4 do Decreto 6.004/81 dispe o

    seguinte:

    Art. 4 - As despesas com a execuo deste

    Decreto (decreto expropriatrio) sero efetuadas pela Terracap

    conta do Distrito Federal.

    Como se v, os encargos financeiros sero suportados

    pelo Distrito Federal e a execuo caber Terracap.

    Parece-me, Senhor Presidente, de solar clareza que

    devesse o Distrito Federal, que uma personalidade jurdica autnoma, figurar

    obrigatoriamente no plo passivo dessa demanda. No possvel que a

    Terracap, litigando contra Francisco Jos da Rocha e Elvina Lopes da Fonseca,

    venha suportar uma sucumbncia que ser arcada pelo Distrito Federal que no

    integra a lide.

    Em rpidas palavras, suscito, de ofcio, a nulidade do

    processo, a partir da citao, para que o Distrito Federal possa integrar a relao

    jurdico-processual como litisconsorte necessrio.

    Peo destaque para essa questo preliminar, Senhor

    Presidente.

    O Senhor Desembargador Romo C. de Oliveira

    (Presidente e Revisor) - Na verdade, teria tambm anotado este enfoque, mas

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    no teria emprestado o mesmo brilho como V. Ex. o fizera; teria transferido para

    segundo plano, porque h uma preliminar muito forte do Ministrio Pblico, a de

    que a TERRACAP parte ilegtima.

    O Senhor Desembargador Edson Alfredo Smaniotto

    (Relator) - Preocupo-me, Excelncia, porque as questes esto arraigadas. Se

    analisarmos, neste momento, a questo da legitimidade passiva da Terracap,

    bem possvel que j estivssemos, por antecipao, resolvendo uma questo de

    mrito, porque ele incide exatamente na desapropriao indireta, se os atos da

    administrao teriam ou no influenciado na desapropriao direta, no

    desapossamento tcito ou indireto.

    A Senhora Desembargadora Adelith de Carvalho Lopes

    (Vogal) - Data maxima venia, acolho a orientao do Desembargador Revisor,

    porque, na realidade, a Terracap no pode responder por essa indenizao.

    Os decretos de desapropriao so de iniciativa do Poder

    Executivo do Distrito Federal. Simplesmente, a Terracap poder integrar a lide na

    qualidade de administradora das terras pblicas deste ente federado.

    A argio de ilegitimidade passiva da Terracap

    questo de ordem pblica e pode ser conhecida em qualquer grau de jurisdio.

    Deve-se extinguir o processo sem julgamento do mrito,

    data maxima venia.

    O Senhor Desembargador Edson Alfredo Smaniotto

    (Relator) - Senhor Presidente, eminentes Desembargadores.

    Conheo do recurso.

    Cuida-se de Ao Ordinria interposta por Francisco Jos

    da Rocha e Elvina Lopes da Fonseca contra Companhia Imobiliria de Braslia -

    TERRACAP, objetivando a indenizao decorrente de desapropriao indireta.

    COMPANHIA IMOBILIRIA DE BRASLIA - TERRACAP,

    interps Agravo Retido (fls. 421/425), relativamente a preliminar de ilegitimidade

    passiva ad causam.

    A r. sentena de fls. 445/465 julgou procedente a ao

    para condenar a r ao pagamento de indenizao aos autores, em face do ato

    ilcito praticado desapropriao indireta/esbulho possessrio , da rea de

    terras das quais so proprietrios, num total de 3.689,6277 hectares, localizadas

    na Reserva Biolgica de guas Emendadas declaradas de utilidade pblica para

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    fins de desapropriao pelo Decreto Distrital n 6.004/81. A data da efetiva

    ocupao e o valor da indenizao, em dinheiro, devero ser apurados em

    liquidao de sentena por arbitramento. No clculo e pagamento da indenizao

    devero ser observadas as Smulas 12, 67, 69, 70, 102 e 114 do col. STJ. Os

    juros compensatrios sero de 12% ao ano, e os juros moratrios no percentual

    de 6% ao ano. A correo monetria dever ser integral, at o efetivo pagamento.

    Condenada a r ao pagamento das custas processuais e honorrios, fixados em

    7% sobre o valor atualizado da indenizao, aplicando-se a Smula 131 do col.

    STJ, atento ao pargrafo 4 do art. 20 do CPC. Aps o efetivo pagamento, esta

    sentena valer como ttulo hbil para a transferncia do domnio no Registro

    Imobilirio competente.

    Companhia Imobiliria de Braslia - TERRACAP,

    inconformada, apelou restringindo o recurso to-somente alegao de sua

    ilegitimidade para participar no plo processual e a nulidade da sentena pela

    inexata apreciao das provas.

    Preliminarmente, destaco o no conhecimento do Agravo

    Retido interposto, tendo em vista a inobservncia do disposto no art. 523,

    pargrafo 1 do CPC.

    O Senhor Desembargador Romo C. de Oliveira

    (Presidente e Revisor) - De acordo.

    A Senhora Desembargadora Adelith de Carvalho Lopes

    (Vogal) - De acordo.

    O Senhor Desembargador Edson Alfredo Smaniotto

    (Relator) - No seu recurso de apelao pugna a recorrente pela ilegitimidade de

    parte.

    Julgo no assistir razo apelante.

    Sustenta a apelante que foi a Fundao Zoobotnica

    quem se apossou da terra litigiosa, e, sendo assim, no poderia a TERRACAP ser

    condenada ao pagamento de indenizao por desapropriao.

    Por fora da Lei n 5.861/72, art. 2, a TERRACAP como

    sucessora da NOVACAP, assumiu os direitos e as obrigaes relativas as

    atividades imobilirias de interesse do Distrito Federal. Assim, mostra-se legtima

    sua participao no rito processual.

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    O tema recursal assemelha-se ao tratado nos Embargos

    Infringentes na APC n 22496 no voto proferido pelo eminente Desembargador

    Estevam Maia. Vejamos:

    No Distrito Federal, a TERRACAP como

    ocorria com sua antecessora NOVACAP que toca o nus de

    expropriar as terras necessrias implantao de projetos e

    servios de interesse do Distrito Federal. Basta ver o que dispe a

    Lei n 5.6861/72, arts. 38 e 39, VI e VII (esta com a redao dada

    pela Lei 6.581/78), legitimando a TERRACAP para essa atividade

    e impondo a ela o encargo de doar Unio e ao Distrito Federal

    os bens destinados quele fim. A seu patrimnio, pois,

    inicialmente, que devem ser incorporadas as reas destinadas

    aos projetos de interesses do Distrito Federal... seja em virtude de

    ao expropriatria judicial por ela intentada, seja em decorrncia

    de aes de natureza desta, cuja procedncia implicar na

    transmisso da propriedade e quem dela deve dispor no interesse

    da administrao pblica.

    A legitimidade para a causa, portanto, determina-

    se em face da pessoa a cujo patrimnio deve o bem transferir-se

    em razo do irreversvel apossamento administrativo. E essa

    pessoa a TERRACAP, que, por imposio do diploma legal, j

    citado, excludente das demais rs (DF e FZDF). O fato de no

    haver a TERRACAP como afirma se apossado diretamente da

    rea no altera a equao, no s pelo acima exposto mas

    tambm porque, no caso, a FZDF age como mandatria desta.

    Entendo que a apelante ao receber os imveis do Distrito

    Federal, deles tomou posse. Esta posse exercida pela TERRACAP , no entanto,

    presumida, haja vista que posse no o contato fsico do possuidor com a coisa

    mas sobretudo a visibilidade do domnio.

    Ademais os art. 2 e 4 do Decreto 6.004/81, como

    acertadamente citou o MM. Juiz em sua r. sentena, no deixam dvidas quanto a

    responsabilidade da TERRACAP referente as terras do Distrito Federal. Vejamos:

    Art. 2 - Caber a Companhia Imobiliria de

    Braslia - TERRACAP, com a orientao e a assistncia de

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    Procuradoria Geral do Distrito Federal, promover as medidas

    necessrias desapropriao, pela via amigvel ou judicial,

    utilizando o procedimento estabelecido no decreto-lei n 3.365 de

    1941, com as modificaes que lhe foram feitas.

    Art. 4 - As despesas com a execuo deste

    Decreto sero efetuadas pela TERRACAP conta do Distrito

    Federal.

    Trago colao arestos que dirimem a questo:

    REINTEGRAO DE POSSE IMVEL

    INTEGRANTE DO PATRIMNIO IMOBILIRIO DO DISTRITO

    FEDERAL ADMINISTRAO E RESPONSABILIDADE DA

    TERRACAP LEIS 5.861/74 POSSE PRESUMIDA

    LEGITIMIDADE PARA POSTULAR A REINTEGRAO

    CARNCIA DE AO AFASTADA PROVIMENTO DO APELO.

    A Terracap por fora de lei, tem competncia para administrar os

    imveis integrantes do patrimnio imobilirio do Distrito Federal,

    confiados e transferidos que lhe foram, quando de sua criao,

    pela sua antecessora, a NOVACAP. Ao receber os imveis do

    Distrito Federal, deles tomou posse a Terracap, por fora da

    clusula constituti, (...).i

    REINTEGRAO DE POSSE TERRACAP

    LEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM. 1. A legitimidade da

    Terracap para propositura de ao de reintegrao de posse,

    resulta de sua qualidade de sucessora da NOVACAP, por fora

    da Lei 5.861/72, sendo certo que ao obter o patrimnio, por fora

    de disposio legal, adquiriu a posse dos imveis transferidos. 2.

    A Lei 4.545/64, que dispe sobre a reestruturao administrativa

    do Distrito Federal, declara que os imveis da TERRACAP no

    so suscetveis de posse, mas de uso. (...)ii

    Neste diapaso considero que a TERRACAP parte

    legtima para figurar no polo passivo da presente ao.

    como voto.

    O Senhor Desembargador Romo C. de Oliveira

    (Presidente e Revisor) - Conheo do recurso, eis que presentes os pressupostos

    para seu exercitamento.

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    Trata-se de desapropriao indireta, portanto, tem como

    fundamento a ocupao indevida do bem pertencente ao particular.

    Nada h nos autos que comprove tenha a apelante

    ocupado o imvel. Ao contrrio, o Distrito Federal, atravs do Decreto n 6.004/81,

    declarou de utilidade pblica o imvel que menciona, mas a TERRACAP no

    tomou qualquer providncia. De sorte tal que, a meu aviso, o Decreto em testilha,

    por si s, no gera a obrigao de indenizar. Se, mesmo no havendo o justo

    processo de desapropriao, algum ente da Administrao direta ou indireta veio

    a ocupar o imvel, f-lo por sua conta e risco e, como tal, quem, em tese,

    produziu o dano.

    Com acerto, verberou a Dra. Ana Luza Rivera s fls.

    438/440, nestes termos:

    O r. despacho saneador deve ser reformado, vez

    que o feito no pode prosseguir, por ser a Terracap parte ilegtima

    para figurar no plo passivo da demanda, devendo o feito ser

    extinto sem julgamento do mrito. Nos termos do artigo 267, VI do

    CPC.

    Celso Antnio de Barros, in Curso de Direito

    Administrativo, Malheiros Editores, 9 edio. 1997, p. 541, assim

    define a desapropriao indireta:

    Desapropriao indireta a destinao

    dada ao abusivo e irregular apossamento do imvel

    particular pelo Poder Pblico, com sua conseqente

    integrao no patrimnio pblico, sem obedincia s

    formalidades e cautelas do procedimento expropriatrio.

    Ocorrida esta, cabe ao lesado recurso s vias judiciais para

    ser plenamente indenizado, do mesmo modo que seria caso

    o Estado houvesse procedido regularmente.

    No h dvida que sendo o imvel integrado ao

    patrimnio pblico devida indenizao pelo mesmo. Entretanto,

    a obrigao de indenizar deve recair sobre quem efetivamente

    praticou o ato de apossamento e no sobre a Terracap, que

    apenas responsvel pela efetivao das desapropriaes

    regulares.

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    Neste sentido, j havia se manifestado o MM. Juiz

    titular da 2 Vara de Fazenda Pblica no r. despacho de fls.

    301/304 dos autos:

    Volvendo ao caso concreto, portanto, e para

    resgatar a verdade histrica, recupere-se o que este

    Julgador afirmou sobre a inrcia da pessoa incumbida de

    realizar a desapropriao: no h direito subjetivo imponvel

    contra a entidade expropriante em razo de no ter sido

    efetivada a desapropriao, mesmo havendo decreto caduco

    declarando a utilidade, a necessidade pblica e o interesse

    social. que, como esclarece a melhor doutrina, a nica

    pena juridicamente possvel para inrcia, em casos que tais,

    a caducidade do decreto expropriatrio, uma vez que a

    inao da pessoa jurdica incumbida de efetivar a

    desapropriao no determina a sua responsabilidade (Juiz

    Arnoldo Camanho de Assis, sentena proferida nos autos do

    processo n 28.672/93, em 18.12.95). Consigne-se ainda,

    que a sentena ora referida trouxe trechos de doutrina e de

    jurisprudncia pacfica do Supremo Tribunal Federal a

    respeito do tema.

    A Lei n 5.861/72 prev que a Terracap, empresa

    pblica do integrante do complexo administrativo do Governo do

    Distrito Federal, responsvel pela execuo das atividades

    imobilirias de interesse do Distrito Federal, sendo ela, portanto, a

    administradora do seu patrimnio imobilirio, podendo ser

    responsvel pelas despesas decorrentes de desapropriao

    direta, desde que previsto em decreto. Entretanto, no se pode

    responsabiliza-la por apossamento ou qualquer outro ato ilegal,

    realizado por outra empresa pblica ou rgo do GDF.

    Restou demonstrado pela certido de fls. 330 e

    documentos de fls. 367/371 dos autos que a rea em questo se

    encontra na administrao da Secretaria de Agricultura e

    Produo, e que o primeiro rgo que adentrou o imvel foi a

    Fundao Zoobotnica do Distrito Federal, no tendo a Terracap

    jamais tido a posse do imvel.

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    Assim, no tendo o ato ilegal (apossamento) sido

    efetuado pela Terracap, e no sendo esta responsvel pelos atos

    ilcitos praticados pelo Distrito Federal e seus rgos, no pode

    aquela figurar no plo passivo da presente ao de indenizao

    por desapropriao indireta.

    Igualmente judicioso mostra-se o parecer de fls. 510/515,

    da lavra do eminente Procurador de Justia, Dr. Jos Meurer Ribeiro, onde se

    colhe:

    - Alega a TERRACAP ser parte ilegtima para

    figurar no plo passivo da demanda, uma vez que esta somente

    haveria nos casos de aes de desapropriao direta e

    argumenta que somente o sujeito ativo do esbulho possessrio

    que estaria apto a ser parte no presente processo, sendo que tal

    ato se deve Fundao Zoobotnica do Distrito Federal,

    conforme relatado em informao prestada pelo Distrito Federal

    (fl. 362).

    Com efeito, merece melhor anlise a questo.

    cedio que a TERRACAP foi incumbida pelo Distrito Federal de

    indenizar os anteriores proprietrios de imveis expropriados,

    justa e previamente, nos termos da Constituio Federal. Consta

    da Lei n 5.861/72, que a parte R responsvel pelas atividades

    imobilirias de interesse da pessoa jurdica de direito pblico -

    Distrito Federal como administradora dos imveis pblicos.

    Nesse sentido, cumpre ressaltar que no se

    poderia interpretar o art. 2 da Lei n 5.861/72, com a redao

    dada pela Lei n 6.816/80, como clusula legitimadora capaz de

    atribuir R a responsabilidade pelas indenizaes decorrentes

    de atos ilcitos praticados pelos entes do Distrito Federal,

    simplesmente por se tratar de, bens imveis e o art. 3, VI, da

    referida Lei apenas confirma tal assertiva, ao afirmar que a

    TERRACAP tem legitimidade para promover apenas as

    desapropriaes autorizadas (diretas).

    Ademais, atribuir legitimidade passiva

    TERRACAP, diante da informao constante fl. 367, de que

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    teria sido a Fundao Zoobotnica do Distrito Federal - FZDF, a

    responsvel pelo esbulho da rea sub examine seria atribuir fora

    ao Decreto Distrital. n 6.004, de 10 de junho de 1981 fls. 21/22)

    que ele no tem.

    Tratando-se de ato ilcito, deve responder pela

    indenizao aquele que se apossou, cercando a rea ora em

    debate. Tal assertiva de cristalina transparncia quando se

    verifica o art. 6 do CPC, ao determinar que ningum poder

    pleitear, em nome prprio, direito alheio, salvo quando autorizado

    por lei. Lei que somente pode ser federal, em virtude da reserva

    do art. 22, 1, da Constituio Federal, que estabelece

    competncia privativa da Unio para legislar sobre direito

    processual. Nesse sentido, no poderia um decreto expedido pelo

    Distrito Federal afastar a legitimatio ad causam da FZDF e atribu-

    Ia TERRACAP.

    Tambm no se poderia aceitar a afirmao, que

    fato, de que a Fundao Zoobotnica do Distrito Federal, sendo

    apenas administradora dos imveis da TERRACAP, por fora do

    Convnio n 35/98, celebrado entre ambas, mesmo em tendo

    praticado o esbulho, no afastaria a responsabilidade da empresa

    pblica. que a FZDF somente poderia administrar reas

    pertencentes TERRACAP, jamais, no entanto, imitir-se na posse

    de reas particulares como que agindo por ordem de terceiros. Se

    praticou ato ilcito a FZDF, certamente no o fez por imposio de

    nenhuma empresa pblica.

    Por sua vez, quanto ao artigo 1.518, do CC, este

    guarda inteira simetria com o art, 37, 6, da Constituio Federal,

    sendo cedio que a responsabilidade civil extracontratual do

    Estado depende da ocorrncia de um dano causado por agente

    pblico, nessa qualidade e ainda, de nexo de causalidade entre a

    referida conduta e o dano experimentado por terceiro; ou seja,

    independentemente da invocao do Cdigo Civil, existe regra

    prpria na Constituio Federal, para a qual tudo se resolve na

    verificao do nexo causal. Presente esse, a responsabilidade

  • APC 52.964/99

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    surge. No obstante, para dar causa a determinado evento,

    necessrio, no mnimo, que o agente venha a agir em concurso, o

    que no ocorreu na espcie, conforme se observa da informao

    prestada fl. 367.

    Por oportuno, apenas argumentando, cabe

    ressaltar que a ilegitimidade passiva ad causam da R tomou-se

    aberrante: diante da falta de argumentos para contestar o pedido

    formulado pelos Autores. Resumiu-se a defesa da referida

    empresa pblica a se debater sobre a condio da ao, tendo,

    inclusive, sido aplicado pelo Juiz sentenciante a confisso ficta

    quanto localizao e dimenso da rea pretensamente:

    ocupada pelo Poder Pblico.

    Adoto, pois, s inteiras, a argumentao ministerial.

    A ao que at agora foi dito ainda farei algumas

    consideraes para responder a alguns enfoques novos contidos no voto do

    eminente Relator. Observe-se: h um decreto do Distrito Federal determinando a

    desapropriao dessas terras, impondo-se Terracap o nus de proceder na

    forma da lei. A TERRACAP no cumpriu o decreto do Distrito Federal, no

    promoveu, portanto, o competente processo para investidura pela forma legal no

    imvel questionado nestes autos.

    A TERRACAP teria, com a sua omisso, cometido ato

    lesivo ao patrimnio dos autores ou teria cometido falta administrativa perante o

    Distrito Federal? A meu aviso, a primeira resposta negativa.

    Quanto aos autores, a Terracap no cometeu ato lesivo

    algum. Bastaria que nenhum ente do Poder Pblico adentrasse na propriedade

    privada. J diante do Distrito Federal, a situao diferente. A TERRACAP foi

    desidiosa no cumprimento da ordem emanada do Executivo do Distrito Federal.

    Em assim sendo, a TERRACAP parte ilegtima para

    figurar no plo passivo da relao processual, onde os autores da propriedade

    pretendem a indenizao pelo apossamento indevido, diga-se de passagem,

    atribuda a outro ente do Distrito Federal, no caso, a Fundao Zoobotnica, hoje

    j extinta.

    Com efeito, se a Fundao Zoobotnica ocupou terras de

    particulares, sem a prvia e justa indenizao em dinheiro (art. 5, XXIV da CF),

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    em desfavor deste ente estatal que deve ser movida a ao de desapropriao

    indireta. A TERRACAP, que recebeu delegao do poder pblico para promover

    os atos inerentes ao processo de desapropriao, parte ilegtima, at porque a

    sua omisso, em tese, no produz qualquer dano contra o proprietrio. O ato

    danoso promana da abusiva ou irregular ocupao cometida.

    Provejo, pois, o recurso, dando a TERRACAP como parte

    ilegtima para figurar no plo passivo da relao processual. Os autores arcaro

    com o nus da sucumbncia. Fixo a verba honorria devida ao patrono da

    apelante em R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais).

    E o voto.

    A Senhora Desembargadora Adelith de Carvalho Lopes

    (Vogal) - Excelncia, tambm pedindo a mais respeitosa vnia ao eminente

    Relator, estou acolhendo a preliminar de ilegitimidade da Terracap para integrar o

    plo passivo da relao processual.

    O Distrito Federal que teria a responsabilidade pela

    indenizao e, se ele no integrou a lide, a Terracap no tem condio de

    indenizar a parte como ela requer. Trata-se de questo de ordem pblica, que

    pode ser reconhecida em qualquer grau de jurisdio.

    Reafirmo meu entendimento de ilegitimidade de parte da

    Terracap para integrar a lide.

    O Senhor Desembargador Edson Alfredo Smaniotto

    (Relator) - Senhor Presidente, desprezo a preliminar de ofcio, que ficou

    prejudicada diante da seqncia do julgamento.

    D E C I S O

    Deu-se provimento ao recurso, acolhendo-se a preliminar

    de ilegitimidade passiva da TERRACAP. Maioria. Vencido o Relator. Redigir o

    acrdo o Revisor.

    i TJDF 2 Turma Cvel DJ em 14/08/97 Des. Rel. Natanael Caetano. ii TJDF 4 Turma Cvel DJ em 12/11/97 Des. Rel. Haydevalda Sampaio.

    Acrdo