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ESTIMATIVA DA FORÇA MUSCULAR RESULTANTE NO APARELHO
“VOADOR”
Resumo: A crescente procura pela prática de musculação não é acompanhada pela investigação científica dos aparelhos utilizados nesse treinamento. Este estudo tem o intento verificar o comportamento da força muscular resultante exigida pelo “aparelho voador” ao longo do exercício e se o esforço que o aparelho exige dos músculos envolvidos condiz com as características musculares de produção de força. Para tanto, foram esquematizados diagramas de corpo livre da parte móvel do aparelho e do segmento humano e, também, foram realizadas equações de equilíbrio de torque onde a velocidade foi considerada constante. O aparelho analisado exige maior produção de força muscular no início do exercício onde os músculos estão mais alongados e, portanto, mais capazes de produzir força. Palavras chaves: musculação, flexores horizontais, torque.
Abstract: The increasing searching for resistance training is not followed by the scientific investigation upon the machines used in this training. The present study intends to verify how muscle force behaves on the “fly machine” throughout the range of movement and if the demanded effort fits to the muscle capacity to generate force. For that, free body diagrams had been schematized of the movable part of the machine and also, the human segment. Lo longer, we had used torque equilibrium equations where the velocity was considered to be steady. The analyzed machine demands higher force output in the beginning of the exercise, just right where the muscle are stretched, therefore, more able to produce force. Key words: resistance training, horizontal flexors, torque.
INTRODUÇÃO
O treinamento com pesos ou musculação, seja
com pesos livres ou com aparelhos, se tornou muito
popular nos últimos 70 anos [1]. Os primeiros
estudos científicos sobre esse treinamento surgiram
poucos anos mais tarde [2,3].
A prática regular da musculação tem atraído a
atenção de homens e mulheres, interessados na
melhora ou manutenção da saúde [4,5], na
reabilitação [6] e em benefícios estéticos.
Para o treinamento de musculação pesos livres
e aparelhos específicos podem ser utilizados. No
entanto, apesar de terem grande apelo nas academias
e de serem recomendados por uma importante
comunidade científica [7], há poucas informações
acerca da mecânica de tais máquinas.
Entre os grupos musculares que devem fazer
parte de uma rotina de treinamento [7] e que o
reforço pode ser realizado com aparelhos de
musculação, estão os flexores horizontais da
articulação gleno-umeral. Esse grupo muscular
aproxima o braço da linha média do corpo no plano
transverso é composto pelo peitoral maior e deltóide
anterior como motores primários [8].
Entre os flexores horizontais o peitoral maior
merece destaque. É um músculo que, embora
aparentemente robusto, possui relativa fragilidade.
Há relato de caso sobre rupturas do seu tendão de
inserção durante a execução do exercício “supino”,
um exercício comum em programas de
condicionamento físico [9]. Estudos sobre atividade
elétrica do peitoral maior durante o exercício de
supino já foram realizados [10,11].
Outro exercício, que também recebe o nome
do aparelho, para o reforço desse grupo muscular é o
“voador”. Esse exercício/aparelho é de fácil
execução, onde o indivíduo permanece em posição
sentado e não necessita de grandes ajustes na postura.
Embora muito popular em academias, pouco
tem sido estudado sobre como os músculos
envolvidos são trabalhados nesse aparelho. A
carência de informações dificulta comparações entre
aparelhos de mesma função. Acompanhar o
comportamento da força muscular ao longo da
amplitude de movimento (ADM) justifica-se pela
necessidade de conhecer em quais angulações os
músculos estão sendo mais exigidos.
Em virtude da falta de informações
biomecânicas na literatura o presente o estudo
propõem-se em: a) verificar o comportamento da
força muscular resultante exigida pelo aparelho
voador em sua ADM; b) verificar se o esforço que o
aparelho exige dos músculos envolvidos condiz com
as características musculares de produção de força.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para as medidas lineares foi utilizada uma
trena metálica com resolução de 1 milímetro, e para
as medições angulares foi utilizado um goniômetro
com resolução de 2 graus. Para elaborar os gráficos e
calcular as equações foi usado um computador
Celeron com processador de 1 GHz e o software
Excel.
O aparelho analisado possui uma coluna de
pesos, uma roldana móvel simétrica que divide a
carga selecionada entre os dois segmentos, uma
roldana assimétrica que varia o torque da carga
externa ao longo do exercício e um segmento fixo da
máquina que serve como apoio para o segmento
humano que será chamado de “parte móvel do
aparelho”. Para melhor compreensão das forças
atuantes na parte móvel do aparelho foi
esquematizado um diagrama de corpo livre (DCL) A
Figura 1 ilustra a parte móvel do aparelho voador no
início e no final do movimento e as forças que
atuam somente sobre ele, em uma vista superior.
Figura 1- DCL da parte móvel do aparelho voador-.
1:posição inicial; 2: posição final.
A roldana assimétrica e os vetores da Fc e Fh
estão representados apenas na posição inicial. A Fh
representa a força do segmento humano em contato
com a máquina, o braço.
A Figura 2 ilustra o braço direito do
executante e todas as forças atuantes sobre ele,
também, em uma vista superior.
Figura 2- DCL do segmento braço - vista superior.
1:posição inicial (100º de flexão horizontal); 2:posição final (10º de flexão horizontal);
Pelo princípio da ação e reação, a Fe atuando
sobre o braço foi assumida de mesma magnitude e
sentido contrário da força Fh, atuando sobre a
máquina.
Após a esquematização dos DCL foram
realizadas duas equações de equilíbrio de torques. A
Equação 1 diz respeito ao equilíbrio de torques da
Figura 1. Assumiu-se a execução do exercício com
velocidade constante, ou seja, sem aceleração. ⊥⊥ ×=× FhhFcc dFdF (1)
Onde:
d┴Fc: distância perpendicular da Fc; d┴Fh: distância perpendicular da Fh;
A Fc é referente às placas da coluna de pesos
dividido por dois, em função da característica
mecânica do aparelho, que possui uma roldana
móvel. Para descobrir a distância perpendicular (d┴)
da Fc foi medida a distância em três diferentes
posições ao longo da amplitude de 0o (final do
movimento) à 90º (início do movimento) e
interpolada uma equação. A partir dessa equação foi
possível obter, em cada ângulo, a d┴ Fc.
A d┴Fh corresponde à d┴ entre o eixo da parte
móvel e a linha de ação da Fh. Tendo em vista que o
eixo da parte móvel está alinhada com o eixo da
articulação do ombro, e que a força aplicada é sempre
perpendicular a parte móvel da máquina, assumiu-se
que a d┴Fh é constante por toda a ADM, e igual a
distância do eixo ao centro do local próprio para o
apoio do braço (sendo fixo e não possível de ser
ajustado). A distância do eixo ao ponto de aplicação
da força é de 27 centímetros.
Os dados de d┴ muscular foram retiradas da
literatura [12]. A distância perpendicular muscular
média ponderada (d┴Mmp) à área de secção transversa
fisiológica (ASTF) foi calculada levando em conta
os dois principais músculos desse grupo.
dapm
dadapmpmMmp ASTFASTF
dASTFdASTFd
+
×+×=
⊥⊥⊥
(2)
Onde:
d┴Mmp: d┴ media ponderada; ASTFpm: área de secção transversa fisiológica do peitoral maior; d┴pm: d┴ muscular do peitoral maior; ASTFda: área de secção transversa fisiológica do deltóide anterior; d┴da: d┴ muscular do deltóide anterior;
A força muscular resultante (FMr) foi
calculada em função do grupo muscular flexor
horizontal. A Figura 2 resultou na seguinte equação
de equilíbrio de torques:
⊥
⊥×=
Mmp
FeeMr
d
dFF
(3)
Onde: d┴Fe: d┴ da Fe; Foi considerado que, quando a parte móvel
do aparelho está na posição 90o o braço está à 100o
de flexão horizontal e quando a parte móvel do
aparelho está na posição 0o o braço está 10o
flexionado horizontalmente (Fig. 1 e 2). O braço não
alcança a posição de 0o de flexão horizontal (à frente
do corpo) porque as partes móveis do aparelho (lado
direito e esquerdo) se tocam quando o braço está à
10o.
A FMr foi calculada com diferentes cargas, a
saber: 5, 25, 50 e na capacidade máxima de 90 kg.
RESULTADOS
O torque exigido pelo aparelho ao longo da
ADM, é razoavelmente constante para cargas
inferiores à 90 kg (Figura 3).
Figura 3- Torque de resistência da parte móvel do
aparelho.
A Figura 4 mostra o comportamento da d┴Mmp
ao longo da ADM que o braço perfaz nesse aparelho.
Figura 4- d┴Mmp dos músculos flexores horizontais
durante flexão horizontal.
A d┴ muscular do grupo flexor horizontal é
65% (1.43cm) menor do início do movimento em
relação ao final, mostrando um comportamento
crescente ao longo da flexão.
A Figura 5 apresenta a relação entre posição
articular e FMr ao longo da ADM. As curvas de FMr
são decrescente, partindo do início, para qualquer
valor de carga. Na posição em que os músculos
estão alongados (100o) existe uma maior exigência
da musculatura envolvida.
Figura 5- FMr ao longo da ADM.
DISCUSSÃO
Um dos objetivos deste estudo era verificar o
comportamento da força muscular resultante exigida
pelo aparelho voador em sua ADM. Na Figura 5 fica
claro que a maior exigência imposta pelo aparelho à
musculatura é no final do movimento. Esses
resultados vêem ao encontro com sensação subjetiva
ao realizar este exercício a qual parece ser mais
difícil de vencer a resistência do aparelho no início
do movimento quanto comparado ao final. Ou seja,
é necessário maior produção de força no início do
movimento quando comparado ao final. Quando o
braço esta mais afastado da linha média é necessário
maior produção de força muscular.
Complementarmente pretendia-se verificar se
o esforço que o aparelho exige dos músculos
envolvidos é condizente com as características
musculares de produção de força. A capacidade de
produzir força isométrica dos flexores horizontais
está em uma amplitude de 90 e 110º de flexão
horizontal [15]. Conforme os resultados da Figura 5 o
aparelho analisado potencializa a característica
intrínseca da musculatura e, parece atender as
indicações da necessidade de reforça muscular para
atletas e praticantes de esportes de lançamento antes
que os mesmo apresentem lesão [16].
Assim como a força, a distância perpendicular
é um importante componente do torque muscular. O
aparelho voador exige que nos primeiros ângulos de
movimento os flexores horizontais sejam submetidos
a um esforço onde a contribuição da distancia
perpendicular é relativamente menor (Fig. 4). No
entanto, esse aparelho parece ser uma boa opção para
reforço muscular, pois exige dos músculos
envolvidos um esforço dentro das capacidades
fisiológicas de produção de força. No início do
movimento os músculos estão mais alongados,
portanto, mais capazes de produzir força [13,14].
Em um estudo eletromiográfico foram
analisados [16] os músculos da região do ombro
separadamente em diferentes planos de movimento.
Os resultados mostram que o deltóide anterior, no
plano horizontal, atinge maiores níveis de ativação
elétrica que o peitoral maior nas angulações de 0, 30,
60 e 90º, tanto para cargas máximas quanto para sub-
máximas. Esses resultados corroboram os
encontrados por [17] que encontrou maior atividade
elétrica do deltóide anterior em relação ao peitoral
maior em atividades de lançamento (plano
horizontal) quando o braço está antes da metade do
movimento completo de flexão horizontal. Assim,
além de fazer parte das rotinas de treinamento para o
peitoral, o exercício voador, também, poderia ser
prescrito como um exercício para reforço do
deltóide anterior.
A prescrição do exercício voador para o
reforço do peitoral maior é enaltecida pelos
resultados de estudos eletromiográficos [10,11].
Onde ambos os estudos avaliaram
eletromiograficamente os flexores horizontais
durante a realização de um exercício de musculação,
no plano horizontal, e concluíram que o peitoral
maior é ativado quando comparado ao deltóide
anterior.
Exercícios para reabilitação da região do
ombro devem ser de fácil execução, onde o
indivíduo deve estar confortável [18], e deve ser
possível identificar o ângulo de maior sobrecarga
muscular [19]. O aparelho além de atender às
características intrínsecas da musculatura para
produzir força parece ser adequado para reabilitação
da região do ombro.
CONCLUSÃO
Os resultados sugerem que o aparelho voador
exige que os músculos flexores horizontais
produzam maior força no início do movimento onde
os músculos estão mais alongados e, portanto, mais
capazes de produzir força.
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