7
FILOSOFANDO, INTRODUÇÃO À FILOSOFIA MARIA LUCIA DE ARRUDA ARANHA UNIDADE II Capítulo 7 DO MITO À RAZÃO: NASCIMENTO DA FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA Advento da Polis, nascimento da filosofia: entre as duas ordens de fenômenos os vínculos são demasiado estreitos para que o pensamento racional não apareça, em suas origens, solidário das estruturas sociais e mentais próprias da cidade grega. (Jean-Pierre Vernant) 1. Introdução Todos nós sabemos que os primeiros filósofos da humanidade foram gregos. Isso significa que embora tenhamos referências de grandes homens na China (Confúcio, Lao Tsé), na Índia (Buda), na Pérsia (Zaratustra), suas teorias ainda estão por demais vinculadas à religião para que se possa falar propriamente em reflexão filosófica. O que veremos neste capítulo é o processo pelo qual se tornou possível a passagem da consciência mítica para a consciência filosófica na civilização grega, constituída por diversas regiões politicamente autônomas. Periodização da história da Grécia Antiga Civilização micênica - desenvolve-se desde o inicio do segundo milênio a.C. e tem esse nome pela importância da cidade de Mícenas, de onde, no século XII a.C., partem Agamêmnon, Aquiles e Ulisses para sitiar e conquistar Tróia. Tempos homéricos (séculos XII a VIII a.C.) - são assim chamados porque nesse período teria vivido Homero (século IX ou VIII). Na fase de transição de um mundo essencialmente rural, o enriquecimento dos senhores faz surgir a aristocracia proprietária de terras e o desenvolvimento do sistema escravista. Período arcaico (séculos VIII a VI a.C.) - grandes alterações sociais e políticas com o advento das cidades-estados polis e desenvolvimento do comércio e conseqüente movimento de colonização grega. Período clássico (séculos V e IV a.C-) - apogeu da civilização grega. Na política, expressão da democracia ateniense; explosão das artes, literatura e filosofia. Época em que viveram os sofistas, Sócrates, Platão e Aristóteles. Período helenístico (séculos III e II a.C.) - decadência política da Grécia, com o domínio macedônico e conquista pelos romanos.Culturalmente se dá a influência das civilizações orientais. 2. A concepção mítica

18296_DO MITO A RAZÃO FILOSOFANDO-okkkk.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • FILOSOFANDO, INTRODUO FILOSOFIAMARIA LUCIA DE ARRUDA ARANHA

    UNIDADE IICaptulo 7

    DO MITO RAZO: NASCIMENTO DA FILOSOFIA NA GRCIA ANTIGA

    Advento da Polis, nascimento da filosofia: entre as duas ordens de fenmenos os vnculos so demasiado estreitos para que o pensamento racional no aparea, em suas origens, solidrio das estruturas sociais e mentais prprias da cidade grega. (Jean-Pierre Vernant)

    1. Introduo

    Todos ns sabemos que os primeiros filsofos da humanidade foram gregos. Isso significa que embora tenhamos referncias de grandes homens na China (Confcio, Lao Ts), na ndia (Buda), na Prsia (Zaratustra), suas teorias ainda esto por demais vinculadas religio para que se possa falar propriamente em reflexo filosfica.O que veremos neste captulo o processo pelo qual se tornou possvel a passagem da conscincia mtica para a conscincia filosfica na civilizao grega, constituda por diversas regies politicamente autnomas.

    Periodizao da histria da Grcia Antiga Civilizao micnica - desenvolve-se desde o inicio do segundo milnio a.C. e

    tem esse nome pela importncia da cidade de Mcenas, de onde, no sculo XII a.C., partem Agammnon, Aquiles e Ulisses para sitiar e conquistar Tria.

    Tempos homricos (sculos XII a VIII a.C.) - so assim chamados porque nesse perodo teria vivido Homero (sculo IX ou VIII). Na fase de transio de um mundo essencialmente rural, o enriquecimento dos senhores faz surgir a aristocracia proprietria de terras e o desenvolvimento do sistema escravista.

    Perodo arcaico (sculos VIII a VI a.C.) - grandes alteraes sociais e polticas com o advento das cidades-estados polis e desenvolvimento do comrcio e conseqente movimento de colonizao grega.

    Perodo clssico (sculos V e IV a.C-) - apogeu da civilizao grega. Na poltica, expresso da democracia ateniense; exploso das artes, literatura e filosofia. poca em que viveram os sofistas, Scrates, Plato e Aristteles.

    Perodo helenstico (sculos III e II a.C.) - decadncia poltica da Grcia, com o domnio macednico e conquista pelos romanos.Culturalmente se d a influncia

    das civilizaes orientais.

    2. A concepo mtica

  • As epopiasOs mitos gregos eram recolhidos pela tradio e transmitidos oralmente pelos aedos e rapsodos, cantores ambulantes que davam forma potica aos relatos populares e os recitavam de cor em praa pblica. Era difcil conhecer os autores de tais trabalhos de formalizao, porque num mundo em que predomina a conscincia mtica no existe a preocupao com a autoria da obra, j que o anonimato a conseqncia do coletivismo, fase em que ainda no se destaca a individualidade. Alm disso, no havia a escrita para fixar obra e autor.Por esse motivo h controvrsia a respeito da poca em que teria vivido Homero, um desses poetas, e at se ele realmente teria existido (sc. IX a.C.?). costume atribuir-lhe a autoria de dois poemas picos (epopias): Ilada, que trata da guerra de Tria (Tria em grego Ilion), e Odissia, que relata o retorno de Ulisses a taca, aps a guerra de Tria (Odisseus o nome grego de Ulisses). Por vrios motivos, inclusive pelo estilo diferente dos dois poemas, alguns intrpretes acham que so obras de diversos autores.De qualquer forma, as epopias tiveram funo didtica importante na vida dos gregosporque descrevem o perodo da civilizao micnica e transmitem os valores da cultura por meio das histrias dos deuses e antepassados, expressando uma determinada concepo de vida. Por isso desde cedo as crianas decoravam passagens dos poemas de Homero.As aes hericas relatadas nas epopias mostram a constante interveno dos deuses,ora para auxiliar um protegido seu, ora para perseguir um inimigo. O homem homrico presa do Destino (Moira), que fixo, imutvel, e no pode ser alterado.At distrbios psquicos como o desvario momentneo de Agamemnon so atribudos ao divina. nesse sentido a fala de Heitor: "Ningum me lanar ao Hades" contra asordens do destino! Garanto-te que nunca homem algum, bom ou mau, escapou ao seu destino, desde que nasceu!"O heri vive, portanto, na dependncia dos deuses e do destino, faltando a ele a nossa noo de vontade pessoal, de livre-arbtrio. Mas isto no o diminui diante dos homens comuns. Ao contrrio, ter sido escolhido pelos deuses sinal de valor e em nada tal ajuda desmerece a sua virtude.A virtude do heri se manifesta pela coragem e pela fora, sobretudo no campo de batalha, mas tambm na assemblia, no discurso, pelo poder de persuaso.O preceptor de Aqules diz: "Para isso me enviou, a fim de eu te ensinar tudo isto, a saber fazer discursos e praticar nobres feitos"Nessa perspectiva, a noo de virtude no deve ser confundida com o conceito moral de virtude como o conhecemos posteriormente, mas como excelncia, superioridade, alvo supremo do heri. Trata-se da virtude do guerreiro belo e bom.

    A TeogoniaHesiodo, outro poeta que teria vivido por volta do final do sculo VIII e princpios doVII a.C., produz uma obra com caractersticas que apontam para a poca que se vai iniciar a seguir, com particularidades que tendem a superar a poesia impessoal e coletiva das epopias.

  • Mas mesmo assim, sua obra Teogonia (teo: deus; gonia: origem) reflete ainda a preocupao com a crena nos mitos. Nela Hesodo relata as origens do mundo e dos deuses, e as foras que surgem no so a pura natureza, mas sim as prprias divindades: Gaia a Terra, Urano o Cu, Cronos o Tempo, surgindo ora por segregao, ora pela interveno de Eros, princpio que aproxima os opostos.Hades: deus do Mundo Subterrneo (em Roma: Pluto). Tambm se refere ao Mundo dos Mortos (Infernos).

    3. A concepo filosfica no perodo arcaico que surgem os primeiros filsofos gregos, por volta de fins do sculo VII a.C. e durante o sculo VI a.C.Alguns autores costumam chamar de "milagre grego" a passagem do pensamento mtico para o pensamento crtico racional e filosfico. Atenuando a nfase dada a essa "mutao", no entanto, alguns estudiosos mais recentes pretendem superar essa viso simplista e a-histrica, realando o fato deque o surgimento da racionalidade crtica foi o resultado de um processo muito lento, preparado pelo passado mtico, cujas caractersticas no desaparecem "como por encanto na nova abordagem filosfica domundo. Ou seja, o surgimento da filosofia na Grcia no foi o resultado de um salto, um "milagre" realizado por um povo privilegiado, mas a culminao de um processo que se fez atravs dos tmpos e tem sua divida com o passado mtico.Algumas novidades surgidas no perodo arcaico ajudaram a transformar a viso que o homem mtico tinha do mundo e de si mesmo. So elas a inveno da escrita, o surgimento da moeda, a lei escrita, o nascimento da plis (cidade-estado), todas elas tornando-se condio para o surgimento do filsofo. Vejamos como isso se deu.

    A escritaGeralmente a conscincia mtica predomina nas culturas de tradio oral, onde ainda no h escrita. E interessante observar que mythos significa "palavra", "o que se diz". A palavra antes da escrita, ligada a um suporte vivo que a pronuncia, repete e fixa o evento por meio da memria pessoal. Alis, etimologicamente, epopia significa "o que se exprime pela palavra" e lenda "o que se conta". bem verdade que, de inicio, a primeira escrita mgica e reservada aos privilegiados, aos sacerdotes e aos reis. Entre os egpcios, por exemplo, hierglifos significa literalmente "sinais divinos".Na Grcia, a escrita surge por influncia dos fencios e j no sculo VIII a.C. se acha suficientemente desligada de preocupaes esotricas e religiosas.Enquanto os rituais religiosos so cheios de frmulas mgicas, termos fixos e inquestionados, os escritos deixam de ser reservados apenas aos que detm o poder e passam a ser divulgados em praa pblica, sujeitos discusso e crtica. Apenas um parntese esclarecedor: isso no significa que a escrita tenha se tornado acessvel a todos. Muito ao contrrio, permanece ainda grande o nmero de analfabetos. O que estem questo, no entanto, a dessacralizao da escrita, ou seja, seu desligamento da religio.

  • A escrita gera uma nova idade mental porque exige de quem escreve uma postura diferente daquela de quem apenas fala. Como a escrita fixa a palavra, e conseqentemente o mundo, para alm de quem a proferiu, necessita de mais rigor e clareza, o que estimula o esprito crtico. Alm disso, a retomada posterior do que foi escrito e o exame pelos outros - no s de contemporneos, mas de outras geraes - abrem os horizontes do pensamento, propiciando o distanciamento do vivido, o confronto das idias, a ampliao da crtica.Portanto, a escrita aparece como possibilidade maior de abstrao, uma reflexo da palavra que tender a modificar a prpria estrutura do pensamento.

    A moedaPor volta dos sculos VIII a VI a.C. houve o desenvolvimento do comrcio martimo decorrente da expanso do mundo grego mediante a colonizao da Magna Grcia (atual sul da Itlia) e Jnia (atual Turquia). O enriquecimento dos comerciantes promoveu profundas transformaes decorrentes da substituio dos valores aristocrticos, pelos valores da nova classe em ascenso.Na poca da predominncia da aristocracia rural, cuja riqueza se baseava em terras e rebanhos, a economia era pr-monetria e os objetos usados para troca vinham carregados de simbologia afetiva e sagrados, decorrentes da posio social ocupada por homens considerados superiores e do carter sobrenatural que impregnava as relaes sociais.A fim de facilitar os negcios, a moeda, que tinha sido inventada na Ldia, aparece na Grcia por volta do sculo VII a.C. A moeda torna-se necessria porque, com o comrcio, os produtos que antes eram feitos sobretudo com valor de uso passam a ter valor de troca, isto , transformam-se em mercadoria. Da a exigncia de algo que funcionasse como valor equivalente universal das mercadorias.A inveno da moeda desempenha papel revolucionrio, pois est vinculada ao nascimento do pensamento racional. Isso porque passa a ser emitida e garantida pela Cidade, revertendo benefcios para a prpria comunidade. Alm desse efeito poltico de democratizao, a moeda sobrepe aos smbolos sagrados e afetivos o carter racional de sua concepo: muito mais do que um metal precioso que se troca por qualquer mercadoria, a moeda um artifcio racional, uma conveno humana, uma noo abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores diferentes.

    A lei escritaDrcon (sc. VII a.C.), Slon e Clistenes (sc. VI a.C.) so os primeiros legisladores que marcam uma nova era: a justia, at ento dependente da arbitrariedade dos reis ou da interpretao da vontade divina, codificada numa legislao escrita. Regra comum a todos, norma racional, sujeita discusso e modificao, a lei escrita passa a encarnar uma dimenso propriamente humana.As reformas provocadas pela legislao de Clstenes fundam a plis sobre uma base nova: a antiga organizao tribal abolida e estabelecem-se novas relaes, no mais baseadas na consanginidade, mas determinadas por nova organizao administrativa. Tais modificaes expressam o ideal igualitrio que prepara a democracia nascente, pois

  • a unificao do corpo social abole a hierarquia fundada no poder aristocrtico das famlias.

    O cidado da plisJean-Pierre Vernant, helenista e pensador francs, v no nascimento da plis (por voltados sculos VIII e VII a.C.) um acontecimento decisivo que "marca um comeo, uma verdadeira inveno", que provocou grandes alteraes na vida social e nas relaes entre os homens.A originalidade da cidade grega que ela est centralizada na agora (praa pblica), espao onde se debatem os problemas de interesse comum. Separam- se na plis o domnio pblico e o privado: isto significa que ao ideal de valor de sangue, restrito a grupos privilegiados em funo do nascimento ou fortuna, se sobrepe a justa distribuio dos direitos dos cidados enquanto representantes dos interesses da cidade. Est sendo elaborado o novo ideal de justia, pelo qual todo cidado tem direito ao poder. A nova noo de justia assume carter poltico, e no apenas moral, ou seja, ela no diz respeito apenas ao indivduo e aos interesses da tradio familiar, mas ,se refere a sua atuao na comunidade.A plis se faz pela autonomia da palavra, no mais a palavra mgica dos mitos, palavra dada pelos deuses e, portanto, comum a todos, mas a palavra humana do conflito, da discusso, da argumentao. O saber deixa de ser sagrado e passa a ser objeto de discusso.A expresso da individualidade por meio do debate faz nascer a poltica, libertando o homem dos exclusivos designios divinos, e permitindo a ele tecer seu destino na praa pblica. A instaurao da ordem humana d origem ao cidado da plis, figura inexistente no mundo coletivista da comunidade tribal.Portanto, o cidado da plis participa dos destinos da cidade por meio do uso da palavra em praa pblica. Mas para que isso fosse possvel, desenvolveu-se uma nova concepo a respeito das relaes entre os homens, no mais assentadas nas suas diferenas, na hierarquia tpica das relaes de submisso e domnio. Ou seja, "os que compem a cidade, por mais diferentes que sejam por sua origem, sua classe, sua funo, aparecem de uma certa maneira "semelhantes" uns aos outros".De incio a igualdade existe apenas entre os guerreiros, mas "essa imagem do mundo humano encontrar no sculo VI sua expresso rigorosa num conceito, o de isonomia: igual participao de todos os cidados no exerccio do poder".**O apogeu da democracia ateniense se d no sculo V a.C., j no perodo clssico, quando Pricles era estratego. bem verdade que Atenas possuia meio milho de habitantes, dos quais 300 mil eram escravos e 50 mil metecos (estrangeiros); excludas mulheres e crianas, restavam apenas 10% considerados cidados propriamente ditos, capacitados para decidir por todos.Por isso, quando falamos em democracia ateniense, bom lembrar que a maior parte da populao se achava excluda do processo poltico. Alis, quanto mais se desenvolvia a idia de cidado ideal, com a consolidao da democracia, mais a escravido surgia

  • como contraponto indispensvel, na medida em que ao escravo eram reservadas as tarefas consideradas "menores" dos trabalhos manuais e da luta pela sobrevivncia. Mas no resta dvida de que, na fase aristocrtica anterior, havia ainda outros tipos de privilgios. O que enfatizamos no processo a mutao do ideal poltico e o surgimento de uma concepo nova de poder.O ideal terico da nova classe dos comerciantes ser elaborado pelos sofistas. Filsofos do sculo V a.C. (ver Captulo 19 - O pensamento poltico grego).

    O nascimento do filsofoA grande aventura intelectual dos gregos no comea propriamente na Grcia continental, mas nas colnias: na Jnia (metade sul da costa ocidental da sia Menor) e na Magna Grcia (sul da pennsula itlica e Sicilia).Os primeiros filsofos viveram por volta do sculo VI a.C. e, mais tarde, foram classificados como pr-socrticos (a diviso da filosofia grega se centraliza na figura de Scrates) e agrupados em diversas escolas. Por exemplo, escola jnica (Tales, Anaximandro, Anaxmenes, Herclito, Empdocles); escola itlica (Pitgoras), escola eletica (Xenfanes, Parmnides, Zeno); escola atomista (Leucipo e Demcrito). Os escritos dos filsofos pr-socrticos desapareceram com o tempo, e s nos restam alguns fragmentos ou referncias feitas por filsofos posteriores. Sabemos que geralmente, escreviam em prosa, abandonando a forma potica caracterstica das epopias, dos relatos mticos. interessante notar que, enquanto Hesodo, ao relatar o princpio do mundo (cosmo gonia) e dos deuses (teogonia), refere-se sua gnese ou origem, as preocupaes dos primeiros pensadores levam elaborao de uma cosmologia, pois procuram a racionalidade do universo. Isso significa que, ao perguntarem como seria possvel emergir do Caos um "cosmos" - ou seja, como da confuso inicial surgiu o mundo ordenado -, os pr-socrticos procuram o princpio (a arch) de todas as coisas, entendido este no como o que antecede no tempo, mas enquanto fundamento do ser. Buscar a arch explicar qual o elemento constitutivo de todas as coisas.A filosofia surgiu no sculo VI a.C. nas colnias gregas da Magna Grcia e da Jnia. S no sculo seguinte desloca-se para Atenas, centro da fermentao cultural do perodo clssico.As respostas dos filsofos questo do fundamento das coisas so as mais variadas.Cada um descobre a arch, a unidade que pode explicar a multiplicidade: para Tales a gua; para Anaximenes o ar; para Demcrito o tomo; para Empdocles, os famosos quatro elementos, terra, gua, ar e fogo, teoria aceita at o sculo XVIII, quando foi criticada por Lavoisier.

    4. Mito e filosofia: continuidade e rupturaJ podemos observar a diferena entre o pensamento mtico e a filosofia nascente: os filsofos divergem entre si e a filosofia se distingue da tradio dogmtica dos mitos oferecendo uma pluralidade de explicaes possveis. Assim justificamos a perspectiva comumente aceita da ruptura entre mythos e logos (razo)..............................................................................................................................................

  • Portanto, na passagem do mito razo, h continuidade no uso comum de cenas estruturas de explicao. Na concepo de Cornford no existe "uma imaculada concepo da razo", pois o aparecimento da filosofia um fato histrico enraizado no passado.Embora existam esses aspectos de continuidade, a filosofia surge como algo muito diferente, pois resulta de uma ruptura quanto atitude diante do saber recebido, Enquanto o mito uma narrativa cujo contedo no se questiona, a filosofia problematiza e, portanto, convida discusso. Enquanto no mito a inteligibilidade dada, na filosofia ela procurada. A filosofia rejeita o sobrenatural, a interferncia de agentes divinos na explicao dos fenmenos.Ainda mais: a filosofia busca a coerncia interna, a definio rigorosa dos conceitos, odebate e a discusso, organiza-se em doutrina e surge, portanto, como pensamento abstrato.Na nova abordagem do real caracterizada pelo pensamento filosfico, podemos ainda notar a vinculao entre filosofia e cincia. O prprio teor das preocupaes dos primeiros filsofos de natureza cosmolgica. de maneira que, na Grcia Antiga, o filsofo tambm o homem do saber cientfico. S no sculo XVII as cincias encontram seu prprio mtodo e separam-se da filosofia, formando as chamadas cincias particulares