1986_ARTE_EM_SP_N34

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ARTE EM SP

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  • rte em #IW

    ao revisto bimestral de arte e cultura CzS 40,00

    au o Andy Warhal Jim Morrison

    Carlos Martins Design I Arquitetura Geraldo de Barros

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  • DOSSI GERALDO DE BARROS

    PONTO PARGRAFO NA PINTURA BRASILEIRA ,

    A beleza dos ngulos pitorescos, amada pelos fotgrafos de Salo, teve com Geraldo de Barros sua crise e morte.

    Quando a banalidade da narrativa sentimental se casou com o desenho, comeou a enfermidade da aparncia natural. Geraldo comentou a fisionomia das coisas sugerindo fantasmas sobre os muros maltrapilhos da cidade.E na sua indagao fantasiosa trouxe superfcie do plano plstico os resqucios enterrados na sombra.

    Sentado assim sobre o cadver da fotografia tradicional, Geraldo viu novos horizontes e voltou sua ateno para aquelas formas que com mais ev.idncia diziam do potencial humano. Selecionou janelas para sistemas geomtricos e,nesta discriminao,os detalhes conquistaram toda a dimenso da fotografia, encontrando novas relaes absolutamente inventivas. A iluminao perdeu seu fascnio de "cozinha" de laboratrio e valorizou o jogo das tonalidades.

    Nesse processo de desnaturalizao, Geraldo de Barros descobriu elementos tcnicos novos - o que se deve ao prprio senso esttico do artista. De fato, a sobreposio de chapas foi explorada por determinados critrios com positivos que criaram por movimen-tos rotativos de ritmos uma nova emoo fotogrfica. Almejando a liberdade esttica, em suas ltimas pesquisas, Geraldo renunciou tambm ao retrato artstico criando, ele mesmo, os modelos para sua imaginao.

    A origem e o significado destas obras transcendem as pesquisas puramente tcnicas para revestir-se de uma importncia histrica toda particular.

    FOLHA DE S.PAULO -14/12/51 Waldemar Cordeiro

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  • PODERA HAVER FOTOGRAFIA ABSTRATA?

    - A abstrao em fotografia parece ter duas fases; a primeira, aquela em que o olhar do fotgrafo escolhe o assunto e o ngulo pelo qual dever fix-lo; depois, a segunda, tcnica, que compreende o ato de fotografar. Qual das duas mais lhe merece a ateno? Creio que a segunda a mais importante. Abstrair significa para mim, em fotografia como em pintura, criar formas abstratas, criar signos, uma linguagem em que a realidade j no mais figura : sou, de qualquer maneira, obrigado a fotografar alguma coisa, transformando-a, em seguida, minha vontade, segundo os meios, os equilbrios, os ritmos , para dela fazer uma composio plstica, em que o assunto inteiramente esquecido , absorvido.

    - Acha que a fotografia abstrata no trai a prpria funo da fotografia? Absolutamente. H uma fotografia convencional, como h uma pintura convencional. Isso no impede a possibilidade da arte autntica. E o lado tcnico no faz seno duplicar nossas possibilidades de descobertas. No sou pintor, seno no momento de tirar a fotografia, de escolher meu ngulo , meu plano. Em seguida, durante todo o tempo em que a objetiva trabalha, fao um trabalho de composio independente do que escolhi como assunto, trabalho no qual o nico guia o ritmo, o contra-ponto, a harmonia plstica. A fotografia abstrata pode atingir alturas musicais ... - H uma ruptura entre a arte abstrata e a arte de sempre? Um choque no mximo, no uma ruptura. Uma coragem maior se impe agora, devido lassido das formas convencionais. A arte figurativa j no nos satisfaz. A inquietude caracteriza a nossa poca de crise de conscincia, e em certo sentido, pode-se dizer que a arte abstrata faz a funo do anseio religioso, a procura do sagrado, na atmosfera niilista do mundo atual.

    LETRAS E ARTES 10108/52 entrevista a Louls Wlznltzer

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  • GERALDO DE BARROS: CRIAAO PLSTICA E LGICA INDUSTRIAL H 30 anos realizava-se no Ministrio da Educao e Cultura, no Rio de Janeiro , a

    Exposio Nac ional de Arte Concreta , reunindo artistas paulistas e cariocas. O movimento concreto, lutando ao mesmo tempo contra a figurao de Porlinari e Di Cavalcanti , de base ainda rural , e o vale-tudo do Informalismo, oriundo da Escola de Paris, foi um dos momentqs mais significativos da arte brasileira , Foi fortemente estimulado tanto pela Bienal de So Paulo, criada em 1951 , quanto pelo c lima desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitscheck.

    Logo surgiriam as primeiras divergncias entre cariocas e paulistas e os primeiros publicaram, em 1959, o manifesto neoconcreto, oficializando o " racha" dentro do movi-mento . Enquanto os paulistas estiveram sempre mais apegados lgica do olho, s ambigidades ticas do campo visual , os cariocas questionaram o pr pio espao pictrico ou escultrico, rompendo as fronteiras entre eles ao mesmo tempo que pesquisaram as sutilezas da matria pictrica e da cor. Ou em sentido mais ampla, enquanto os paulistas queriam inserir sua criao artstica na lgica da sociedade industrial e do consumo, encarando a obra de arte como produto, os cariocas preocupavam-se mais com o gesto fundador da obra de arte, sua epifania. Durante vrios anos a polmica entre os dois grupos ocupou pginas e pginas de jornais e revistas, com a radicalizao das posies. Mais abertos, os neoconcretos deixaram de polemizar, mas suas propostas continuam repercutindo intensamente na arte brasileira; enquanto os paulistas ainda se mantm apegados aos princpios gerais do concretismo, sua dimenso puramente tica.

    ~ certo, tambm, que, com o tempo , as distncias entre os dois grupos, em alguns casos, tendem a diminuir, e Geraldo de Barros e Lygia Clark (em sua fase de pintura) parecem hoje mais prximos um do outro.

    ( ... )

    Neste momento, em que a arte construtiva retoma seu espao, aps o declnio das tendncias neo-expressionistas e neo-infernais, que inundaram nossos museus, galerias e a ltima Bienal de So Paulo,uma exposio como o de Geraldo de Barros ganha importn-cia: ela promove um reencontro com as matrizes histricas de nossa arte construtiva e reabre o debate entre as diferentes correntes internas da construo do Brasil.

    O GLOBO - 28/05/86 Frederico Morais

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  • A ARTE ANTES DO JOGO

    Trabalhando com materiais industriais perfeitamente multiplicveis (as montagens no so sequer assinadas, para no se fazer referncia idia de original e cpia), Geraldo de Barros emprega exclusivamente formas geomtricas simples, onde no h a menor proximidade com as noes de individualismo ou de subjetividade . A sua inteno a de produzir uma obra capaz de ser uhiversalmente compreendida e que no fique limitada apenas a uma elite com posses, interessada em pagar caro pela pea nica.

    O concretismo tinha, sem dvida, a inteno de socializar a arte ao mximo, eliminan-do todos os sinais de individualismo (pincelada, forma, assinatura etc.) que atuavam para encarecer a arte e reduzi-Ia apenas a um smbolo de status. um luxo sem qualquer relao direta com a vida da maioria das pessoas.

    JORNAL DO BRASIL - 30105/86 Reynalda Raels Jr.

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  • GERALDO DE BARROS, CONTRADiO ENTRE MERCADO E ARTE

    Tftulo : H-02 Oltl : 1983 T'cnicI : montlgem em plstico il-mlnldo 1.22 X 1.22m

    Titulo: A-35-01 Dita: ,~ montagem em pl4,IIco laminado 1.22 X 1.22m

    Tftulo: H-5 Data: 1985 montagam Im plbtico Iam/nado 1.22 X 1.22m

    Tftulo: H-4 Oara : 1985 montegem em plstico lamlnado 1.22 X 1.22m

    A exposio de Geraldo de Barros aberta na galeria Millan, em So Paulo, coloca a arte e o mercado em explcita contradio. A situao embaraosa, mas o movimento claro. Na obra desse expoente do concretismo brasileiro,o que importa antes o projeto que sua execuo. Como um projeto, em tese, passivel de reproduo, no cabe aqui o valor do "original ". Com, isso , est em xeque o valor monetrio da mercadoria que o marchandtem a vender, a saber, a obra de arte.

    No caso dos marchands de Geraldo ainda h agravantes. No bastasse essa persistn-cia no "ideal concretista", digamos assim, seus projetos so extremamente simples, ainda que engenhosos, e so realizados em lminas melamlnicas, a popular frmica fosca.( ... )

    Ao valorizar a idia em detrimento do artesanato,Geraldo cria um impasse ainda maior que as questes de mercado. Apesar das inmeras tentativas da arte moderna, o valor de " original" um mito que at agora no demonstra sinais de poder ser eliminado da produo artstica. ( ... )

    A rigor, o original de Geraldo aquele pedao de papel onde rabisca suas idias. Diferente do processo da gravura ou dos mltiplos escultricos, onde uma matriz ou uma frma do origem imediata cpia, o desenho de Geraldo pode ser amassado ou jogado no lixo. A obra no depende dele e o valor desse papel zero, por ser Geraldo um artista vivo. ( ... )

    A nica coisa, portanto, verdadeiramente original no trabalho de Geraldo a idia. A idia, em hiptese, sempre reprodutivel. Assim, possivel afirmar que a originalidade de uma idia est presente em cada cpia que dela se extrai . Do mesmo modo no design : qualquer gilete por exemplo sempre to genial quanto a primeira que se inventou.( ... )

    Sua modernidade, creio eu , est no fato de continuar gerando contradies de mercado e provocando polmica na conceituao artstica. Como um articulador de charadas geomtricas bidimensionais de "primeira linha".

    FOLHA DE SO PAULO 14/6/86 Mrio" Strecker 52

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  • GERALDO DE BARROS POR GERALDO DE BARROS

    O trabalho que venho realizando hoje uma tentativa de radicalizao das propostas que defendi , em 1952, quando fazia parte do grupo Ruptura, formado por artistas ligados ao que se chamou no Brasil , Movimento de Arte Concreta. Foi o ponto de partida de uma trajetria que passou por tcnicas de linguagens variadas - o desenho, a gravura, a fotografia, o cartaz, o des ign e as artes grficas.

    Naquele momento inicial acreditvamos numa arte que fosse fundada em certos principias da Gestalt/Gestalt , do Construtivismo e da Matemtica, na traduao apontada por Vantogerloo, Mondrian Malevich, Van Doesburg e Max Bill e cuja produo resultasse " objetiva" e passvel de reproduo industrial. Concebamos o trabalho plstico como representao da realidade exterior tela.

    Os principias da Arte Concreta me levaram, gradativamente, ao desenho industrial , que representava quela al tura a possibilidade real de criar objetos de valor estti cos reproduzveis em larga escala. O design , com suas noes de Projeto, Norma e Bom Produto - e a idia do produto construdo a partir do essencial - entrelaou-se com as concepes que defendia no terreno da criao propriamente esttica. Deste conjunto, ao qual se juntavam sugestes da Gestal! (especialmente aquelas que se referiam possibili-dade , atravs da arte geomtrica, de uma relao " objetiva" entre artista/obra lespectador

    resultou a prodo que aqui apresento. Formalmente, busco cada vez mais o essencial, a criao de um universo esttico

    particular a partir de uma economia, de um "minimo minimorum" de informao. Aboli o uso da tela, do pincel e da tinta e optei por um material sem "tradio" e consagrao no sistema da arte: as placas de frmica sobre compensado , de largo uso na indstria e vinculado ao cotidiano atravs de objetos de uso na indstria, especialmente a moblia. A partir deste suporte - que me props desafios - , parti para o trabalho que mostro na Bienal , cu ja economia se poder notar nos prprios princpios do uso das cores : branco, preto e cinza.

    Catalogo brasileiro da Bienal de Veneza XVII / 1986

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