158

1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier
Page 2: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

OBRAS DO AUTOR

Ensaio:

- Latim no Direito. Forense, Rio, 4a cd., 1995.

Conto:

-Incidente 110 Leblon. Forense, Rio, j' ed., 1989.

Romance:

- Memorias de Ulll padre-cura (incdito).

Poesia:

- Cantos do imagintirio (incdilo),

1\1onografias sobrc Lemm' juridicos:

- Filosaffa do Estado democrdtico.

- A !uw;do social do usa da terra.

- Socia/agia da empresa.

- Dignidade hurnana e trahalho.

- Ciencia e ellltura.

- Universalizatyiio da cienciajur{dica.

- 0 contruto de tmhalho e sua flora caractedstica.

-- Naturezajurfdica da relapl0 de previdencia social.

- As doutrlrJQs estatutdrias e sua aplict1f;iio na atualidade.

- Propriedade: perspeetivasjurfdicas, eon/imicas e lwmanisticas.

- A il1lportancia da hermeneutica no Direito. - PrincfpioJ gerais do dire ito dus coisas.

- Do saneamento do processo.

- Historico da tetra de camhl:o.

- Aspectos !tistoricos das sociedades anonimas.

Monografias sabre temas gerais:

- A:-.pectos da analogia na lingua portuguesa.

- A comunica9QO no processo ensif1o-aprendizagem.

- Schliemann: lima trajetoria do sonho arealidade.

Page 3: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

sUMARIo

Alguma< Referenda< a esta Obra XIII

Palavra< ii 3'edifiio . . . . ..• XV

Palavra< ii 2'edifiio XVII

ConsideralJ6es Preliminares 1

Uoidade I - VoaIbuliirio Jurfdico 7

Uoidade II - 0 C6digo OrtogrMico 47

Unidade III - Vlcioo de Uoguagem 71

Unidade IV - Regeocia Verbal ... 105

Unidade V - 0 C6digo Civil. Breve AnAlise Linglilstico-Formal . 135

Uoidade VI - Analogia e Etimologia Popular . 165

Unidade VII - Estilfstica . . . .. 183

Unidade VIII - Reda<;iio Jurfdica 229

Apeodice - L6gica. N,*,",s Fuodameotais 253

Bibliografia • . • • . 309

indice da Mareria. . 319

~

Page 4: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

CONSIDERA<;:OES PRELIMINARES

"0 homem tern vadas vantagens em relac;ao as besta:s; por exemplo, 0 fogo, as roupas, a agricultu­ra, os instrumentos ( ... ).. A mais importante de to­das, porem, e a linguagem."

BERTRAND RUSSELl

o Direito e, por excelencia, entre as que mais 0 sejam, a ciencia da palavra. Mais precisamente: do uso dinamico da palavra. Gra9as ao extraordinario desenvolvimento de seu cerebra, 0 hornem exercita a capacidade de criar simbolos, pensa,julga, reflete, compara e sobreleva­se por isso na escala animal, elaborando uma wltura. E e atraves das linguagens, tamMm criadas por ele, que ira organizar e representar a sua experiencia do mundo, interagindo com os semelhantes pela exterioriza­9ao de ideias, sentimentos, desejos e sensa90es. Nao obstante possa dispor de instrumentos nao-verbais, e por meio de linguas, ou seja, c6digos verbais, que as pessoas emitem e intercabiam mensagens. De modo que, a despeito das naturais diferencia90es socioculturais, geopo­liticas, cconomicas e de individuo para individuo, posta em uso uma lingua, cumpre zetar pela preserva9ao de sua unidade e valores tradicio­nais, garantia perene de comunica9ao entre os membros da coletividade a que serve. POltanto, 0 dominio da lingua, antes de ser velculo de ascendencia politica ou social, e embasamento indispensavel it forma9ao integral da personalidade e fator assecurat6rio de uma melhor atua9ao do individuo no campo profissional por ele escolhido.

Tadavia, como acertadamente lembra Serafim da Silva Neto, , 'a aprendizagem da lingua esti condicionada ao meio social a que 0

individuo pertence. Essa e a linguagem transmitida,dtpois da qual vern a linguagem adquirida, que a crian9a vai buscar ao en,mo escolar, onde

Fw/,damenlosde Filo.wdia, 1977. ps. 49-50.

Page 5: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

2 3

RONALDO CALDEIRA XAVIER

entraem contacto com 0 materiallinguistico que as gera<;6es mais antigas nos legaram em suas obras, consideradas classicas. Assim, toda pessoa adulta possui uma consciencia linguistica, que vern a ser a soma dos meios de expressao transmitidos no esparo (imita<;ao oral) e no tempo (imita<;ao do passado).2

Fil610gos de alta respeitabilidade, estribados em subsidios da psi­colingliistica e da sociolinguistica. asseveram ainda que, aos quatorze anos, a individuo logra dominar 0 sistema de linguagem no qual sc encontra engajado.

No que respeita, porem, ao uso que atualmente se faz da lfngua pOltuguesa, a questao merece observar-sc por outra perspectiva. Segundo recentes estatisticas, no Brasil, que sc avoca 0 titulo de "pais do futuro", e onde, apesar de todos os esfor<;os, 0 quadro de analfabetismo e ainda imenso, existe urn lndice de Ieitura que nao excede 0 percentual de 0,9 livro/ano per capita!

Nao teria prop6sito, aqui, empreender a critica ao estado pre­falimentar em que sc achao ensino da Ifngua em nosso pais. Qutros, mais doutos, ja 0 fizeram. E todos concordes em assinalar que a cuo e estrutural, tern origens mals au menos remotas e naG pade ser atacado par seus efeitos, mas pelas causas que 0 deflagraram. Mudar apenas 0 nome da cadeira de Portugues para 0 de Expressao e Comunica<;ao e providencia inocua e equiva1e, como na velha anedota, a retirar 0 sofcl da sala... A outrora glorificada Reforma do Ensino, pelos resultados conse­guidos, reyelou-se praticamente inoperante. Em materia de apuro e aperfei<;oamento da linguagem, em termos gerais, estamos somente urn pouco alem do marco zero. A realidade do que se ve, Ie c ouve pelos meios de comunica<;ao de massa tambem nao e alentadora. Nao se devc estranhar, pois, que 0 repelt6rio verbal do joYem coevo - afastado dos IiYros pelo imediatismo eletronico das informa<;6es - mingue cada vez mais. Estimativas atualizadas or<;am em menos de tres centenas de palavras o patrimonio yocabular de comunica<;ao daquela faixa et:ifia, a que faz preyer, a persistir esse status quo, uma futma gera<;ao sem palaYras a manipular urn c6digo monossilabico, i.l1teIjetivo, quase gestual.

Ja se tornall comezinho presenciar, a cada ano, multid6es superio­res a cento e quarcnta mil pessoas serem arrastadas pela sedu<;ao do acesso auniversidade. Pareee que 0 Brasil esta mesmo predestinado a ser a terra prometida dos doutores. Mas, e 0 preparo, e a forma<;ao

HISMnadaLfrJJ;uaPorll.<guesa, 1979,p. 29.

CONSIDERA<;:6ES PRELIMINARES

adequada para isso? Se, por urn lado, efacilmente verificaveI 0 fracasso do ensino massit1cado - de ordin:lrio promovido em salas deseonforl:l­veis e mal ventiladas, onde se acotovelarn cern a duzentos alunos -, por outro se comprova, com tristeza, a gradativa desqualifica<sao dos mestres, mal remuuerados e, por conseguinte, descstimulados a atualiza<sao e reciclagem de seus eonhecimentos. Tern-se, ent~o, urn cfrculo vicioso: os alunos mal preparados de hoje scrao, fatalmcntc, os professores canhestros de amanha.

Nao fora alta rentabilidade pralica do neg6cio, de nada adiantaria, sob a ponto de vista do ensino ideal, encurralar jovens nos ehamados "cursinhos", euja fun~ao prccfpua, talvcz unica, scja adestra-Ios prag­matieamente na tecnica de prcencher eart6es-rcsposlas (0 "macete", como dizem as alunos) a fim de obterem aprova'Xao nos exames vestibu­lares. Os fins justifieam os meios, pois nao se esluda para aprender, mas para passar, e isto, em final de con las, ea que vale. Pouco imporla se a expensas de urn proecsso de castra<sao coletiva do qual a menor consc­qiicncia vcnham a ser °amorda~amen£O da cri:Jtividade e a insuficienlc eseolaridade para 0 born aeompanhamcnto dos estudos universilarios.

Difieuldades a serem superadas, na area do ensino, scmpre as houve e inumeras. Infclizmente, as solw;ocs lrazidas ale agora moslrararn-se, peIo menos, inefieazes para veneer a desafia. Enquanto nao for ataeado, dc modo serio e efetivo, 0 trinomio dos problemas sociai.'\ que afligern 0

Brasil- alimenta<sao, saude e cdlU:.:a~ao - as mazclas serao as mcsmas e haa de perdurar, e wlvez caminhemos todos para uma sociedade futura­mente inviavcl.

Mas 0 desestudo, a ausencia de rorma~ao humanfstica e as dcficicn­eias de Icitura nao tisnarn apenas esluduntes c profcssores em nfvcl de lQ e 2' graus. A panir destes, ganham foros acadcmicos e chcgam ao ambito intraprofissional. Nos corredores do Palacio da Jusli~a predomina " impressao (ou eerleza?) de que 0 advogado comum pede mal e cserevc pior, 0 que, fatalmente, Ihc prejudica a credibilidade. Ora, incxiste Ifnglla que funcione scm norma, scja ela qual [or. Ao conlnirio do Direito, cntretanto, a norma lingiifstiea e sua eoadjutora imediata, a gramatiea, nao tern ao lado 0 podcr coereitiYo da lei. Nao e defcso atentar contra a inteireza da lingua padrao, cujos mais elemenlarcs preeeitos podem ~er

violadas quase impunernentc. 0 que fica, sc aeontcce ficar, e apenas a ressaibo de uma san~ao de ordem moral imposta peIos mais cullos. E 0

desprestfgia profissional, estc, sim, inexocavel. Os exernplos de- cincas forenses nao tern cantu e vao do ridfculo ao

desaslroso. Sao advogados que, grotescarnente, passam procura~ao a si 2

Page 6: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

5 4 RONALDO CALDEIRA XAVIER

mesmos;julzes que requerem a presen~a de bachareis a fim de provarem se realmente possuem tItulo acadcmico; proccssos e pcti~6cs onde pulu­lam crronias desta especie: "mandado de emissao de posse", "concum­binato", "meretrfssimo", "reinterar", "ezige", "proxeguimcnto", "consegucntc", "cxecussao" c atrocidades quejandas. Outra calamida­de eo total albeamento, entre os peticionarios, quanta acompetcncia das diversas varas c aos rcquisitos legais a sercm satisfeitos pelas peti~6es

iniciais (muitas recusadas ainda no balcao, antes mesmo de serem protocolizadas), bern como a falta de indica~ao dos dispasitivos de lei referentes acausa, a ignorancia do rito processual, 0 desconhecimcnto do nome da a~ao proposta etc. Ou entao, ao avesso, e a gra[orreia desenfreada, filha legltima da desorganiza~ao mental e da afeta~ao

ingenua de urn suposto saber juridico. 0 excmplo, dado a seguir, fala por si mesmo. Trata-se da defcsa de uma pessoa, acusada de apropria~ao

indebita, encaminhada por certo advogado ao Superior Tribunal Militar. Eis alguns trcchos:

"0 alcandor Conselho Especial de Justi~a, na sua apostura irre­prccnsfvel, foi correto e acendrado no seu decisorio. E certo que 0 Ministerio Publico tern 0 seu Iambe! largo no exercfcio do podcr de denunciar. Mas ncnhum labeu 0 levaria a pouso cinereo se houvesse acolitado 0 pronunciamento absolutorio dos nobrcs alvazires de primcira instancia.' ,

Verbo aredea solta, prossegue 0 [alador: "A sentcn~a apelada e de enche-mao e vegcta. Mcrcccu, por isso,

o imballvel confirmatorio dessa corte. Explica-se scm repechos. A emprcsa de (cita 0 nome do cliente), depais da persecutio criminis em especie, nao deixou de prestar seus servi~os aos impavidos heiduques do Exercito nacional. (...) Urn varao, com essas qualidades de escol, alciO­nieo e respeitador, ina cometer urn estclionato que e cometimento proprio dos zafimciros e dos calafanjes do pior fell'0? Seria capaz de lesar 0 acervo pecuniario da administrac;ao militar?' ,.1

A senten~a da Justi~a Militar, que absolveu em primcira instancia o cliente do advogado, foi por este classificada como "urn eloquio revelador de equilibrio aporegmatico no exame do fato e pode cnccrrar, quando muito, urn sombrio colorido ctnico, sonantc, apenas, nos cromos do chamado direito penal disciplinador".

3 De urna reportagem publicada peloJomal do Brasi!, em 6 de 1I0vembro de 1976, sob o!f­lulo "P.alavr6rio rcbuscado de um .advogado qucbu sisudez no Superior Tribunal Milit.u".

CONSJDERAC;OES PRELIMINARES

Escrcvendo assim, e bern provavel que 0 refcrido advogado supo­nha estar cultuando as mais altos valores de seu idioma; eontudo, 0 que simplesmenlc conscguc e 0 contra rio do·prelendido: beirar 0 ridfculo, expor-sc ao achincalhc.

Ora, as formosfssimas tradi~6cs da Lingua Portuguesa. deque todos devemos ser zclosos guardiaes, exigem se firme uma atitude de rea<;ao contra esse estado de coisas, yue tende pcrigosamente a generalizar-se, a mcnos que haja urn corajoso csfon;o no sentido de rcsgatar a dignidade do nosso idioma, hoje tao dcsleixadamente usado e ate, nao seria exagero dizcr, abastardado c impatrioticamcntc dcsnaturado pm tantos dos que, quando mais nao scja pm dcver de o[(cio, tinham 0 dcver de prescrvar-Ihe a vernaculidade, como, por exemplo, os que trabalham nos grandcs orgaos de comunica~ao de massa.

Sc csle livro, de algum modo, puder contribuir para que se possa fa}l}r c cscrevcr melhor, ao menoS entre os que mourejamos, com denodo e amor, na arca juridica, julgar-se-a rccompcnsado 0 Autoe.

R.C.X.

Page 7: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

VOCABULA.RIO JURIDICO

"Se alguem nao trope<;a em palavras, 0 tal varao e perfeito."

(TIAGO,3:2)

SUMARIO: 1.1- A palavra. 1.2 - A palavra e 0 Direito. 2.1 - Semftnti­ca. 2.1.1 - Signo. 2.1.2 - Sfmbolo. 2.2 - Polissemia e sino­nfmia. 2.3 - Antonfmia. 2.4 - Homonfmia. 2.5 - Paronfmia. 3.1 - Denota<;3o e conota<;3o. 4.1 - Famflias etimo16gicas e ideo16gicas. 5.1 - Nfveis de vocabuh'irio. 5.2 - Incrementa­<;30 do vocabulario. 6.1 - Exercfcios de aplicac;ao.

1.1-A Palavra

Do homem arborfcola das idades primevas ao mais refinado poeta de hoje, ao orador que arrebata muItid6es, ao filosofo que perquire a essencia do ser e ao jurista que elabora as leis para reger idealmente 0

convlvio humano - a palavra se fez presente, ou sob a forma instintiva, gutural e monossilabica de interjei<;6es, ou sob 0 aspecto complexo dos extensos polissOabos cientlficos.

o homo religiosus de todas as epocas e lugares viu na palavra algo como impregnado de magia, vinculado as supersti<sCies e as origens das coisas. U-se no Evangelho segundo Sao Joao: "No prindpio era 0

Verbo, e 0 Verbo estava com Deus, eo Verbo era Deus. Ele estava no prindpio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.,,1

1:1,2,3... 1

Page 8: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

9 8 RONALDa CALDEIRA XAVIER

Desde os mais retirados tempos, nao ha negar, os sfmbolos en­gendrados pelo homem para manifestar e registrar 0 processo do pen­samento, em seus variegados matizes, tem-se prestado a toda sorte de crenr;as, como se as palavras, prenhes de poderes ocultos, fosse confe­rida a grar;a de agir sobre as coisas e recriar a pr6pria natureza.

Numa das mais interessantes e revolucionarias obras contempo­raneas sobre a filosofia da linguagem - The Meaning ofMeaning -, de­claram os Srs. c.K. Ogden e LA. Richards: "Podemos sorrir ante as ilusoes lingiifsticas do homem primitivo, mas e possIvel esquecer que a maquinaria verbal em que tao apressadamente confiamos, e par meio da qual se dedicam entretanto nossos metaffsicos a indagar a Natureza da Existencia, foi institufda por ele, e pode ser responsavel por outras ilusoes nao menos simpl6rias nem mais faceis de desarraigar? Pode ser suficiente, neste aspecto, recordar a prevalencia dos vocabularios sa­grados ou secretos, e de palavras proibidas de toda especie.,,2

De fato, quando os judeus ortodoxos leem 0 nome da Divindade em voz alta, evitam 0 nome inefavel lave e preferem dizer Adonai, em sinal de respeito.3 Nas inscril;?oes da Piramide ha referencia a urn deus chamado Khern, isto e, Palavra. Para os egfpcios, a palavra possuIa personalidade semelhante a de urn ser humano. A crial;?ao do mundo deveu-se a interpretal;?ao em palavras da vontade divina, por parte do deus Thoth.4 Em seu The Golden Bough, monumental estudo sobre Magia e Religiao, leitura indispensavel a quem se interesse por assun­tos hierol6gicos, objetivamente analisados, J. G. Frazer demonstrou que os tabus. verbais nao sao restritos a determinados povos, mas uni­versais, entregando-se 0 insigne cientista social ao paciente trabalho de reunir copioso material: nomes de pessoas, de relal;?oes, da morte, de reis e outras pessoas sagradas e de deuses.5

No ambito da Filosofia e da Glotologia, 0 problema da origem da linguagem de ha muito vern constituindo vexata quaestio, ligado que esta, por sua natureza, a velha controversia entre 0 monogenismo e 0

poligenismo racial, dele se ocupando varios sabios, especialistas ou nao, em varias epocas. Lucrecio, e.g., reponta entre os que atribuem a linguagem uma origem natural e espontanea, dada a pressao da neces­

2 El Significado del Significado, 1954, p. 51. 3 Cf. E. Royston Pike. Dictioltrlaire des Religions, 1954, p. 5. verbete "Adonai". 4 Ogden & Richards, op. cit., p. 52. 5 Cf. Macmillan & Co. Ltd, Abriged Ediction, London. 1967, ps. 321-345.

VOCABULAAIO JURIDICO

sidade de comunica~ao inter-humana: utilitas expressit IWmilUl rerum.6

Nao falta, entretanto, quem julgue ter a linguagem uma origem divina, bastando referir os nomes de Lamennais, de Bonald e 1. de Maistre. Con­tudo, a tendencia mais ou menos predominante entre os autores modemos e a de que a linguagem nao rOde ser produto da cria~ao instantanea e, muito menos, divina; ao reverso, proveio de uma lenta e gradual evolu~ao

- IUltura IWn fadt saltus, segundo a maxima de Leibnitz - que acompa­nhou 0 pr6prio evolvimento da especie humana.7

Inquestionavelmente, sem a palavra inexistiriam as grandes reali­za~6es do espfrito humano, pois e atraves dela que a Filosofia, a Cien­cia, a Arte, a Religiao, a CuItura, enfim, se transmitem de gera~ao a gera~ao. Por isso e paradoxal e lamenmvel consignar que "as pessoas de inteligencia mediana tern sensfvel desprezo pelo estudo das Ifnguas, convencidas que estao de que nada pode haver de mais inutiI." A aca­nhada compreensao, talvez, nao lhes permita ir aICm, fazendo-as aco­modar-se num alienado pragmatismo, para acreditar que "afinal de contas uma Ifngua nao passa de uma alavanca para 'transportar de ca para hi' os pensamentos.,,8

Seja como for, 0 homem, animal falante que e, em seus tres nf­veis de manifesta~ao - como humanidade, como comunidade e como indivfduo - esta indissoluvelmente ligado ao fenomeno da linguagem. Ignorar-lhe a importancia e nao querer ver. 0 pensamento e seu vefcu­10, a palavra, privilegiam 0 homem na escala zool6gica e 0 fazem ex­celer entre todos os seres vivos. Oxalli saiba ele usar proficiente e dignamente esse dom da evolu~ao criadora, pois "0 poder das palavras ea for~a mais conservadora que atua em nossa vida".'

6 De Natura Rerum, v. 1029. 7 A fenomenologia da linguagem /! bern mais complexa do que parece ~ primeira vista e nao

pode ser reduzida, apenas, ~ atividade de comunicar id/!ias e sentimentos. Hi muita coisa, ainda, a set estudada sobre as tela~iies entre 0 pensamento e a linguagem. (Cf., a respeito, Jean Piaget, A Lillguagem e 0 Pellsamellto da Criallfa, trad. bras., 2' ed., 1961, p. 28.) So­bre 0 problema psicol6gico e fisiol6gico do ato de falar e de pensar, recomendam-se as in­teressantes observa~iies de J. B. Watson, ill El COllductismo, Irad. esp., B. Aires, 1945, principalmente os capHulos X e XI, ps. 257-283.

8 Edward Sapir, Lillgiifstica como Cielleia, trad. de J. Ma lose Ciimara Jr., Rio, 1969, ps. 29 e 31.

9 Ogden & Richards, op. cit., p. 50.

Page 9: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

10 11 VOCABULNUO JURfDICO

RONALDO CALDEIRA XAVIER

1.2 - A Palavra e 0 Direito

Foi dito, no infcio desta obra (v. "Considera<;6es Preliminares"), que 0 Direito lO e a ciencia da palavra. Para 0 advogado dir-se-a agora, a palavra e 0 seu cartao de visita. Segundo 0 feliz pronunciamento de Paulo Nader, "a dependencia do Direito positivo a linguagem e tao grande, que se pode dizer que 0 seu aperfei<;oamento e tambem urn problema de aperfei<;oamento de sua estrutura lingiiistica. Como mediadora entre 0

poder social e as pessoas, a linguagem dos codigos ha de expressar com fidelidade os modelos de comportamento a serem seguidos por seus destinatarios. Ela e tambem urn dos fatores que condicionam a eficacia do Direito. Urn texto de lei mal redigido nao conduz a interpreta<;ao uniforme. Distor<;6es de linguagem podem levar igualmente a distor<;6es na aplica<;ao do Direito." II

Atraves da palavra, com efeito, 0 profissional do Direito peticiona,) contesta, apela, arrazoa, recorre, inquire, persuade, prova, tergiversa,1 sofisma, julga, absolve ou condena.

Entretanto, posto seja ele urn vocacionado para a oratoria, nao alcan<;ara esse desiderato se nao aprimorar, desenvolver e incrementar 0

proprio repert6rio verbal. Vocabulario tecnicamente adequado e coisa que nao se consegue de afogadilho: resulta, quase sempre, de trabalho penoso, de cansativas elucubra<;6es na pesquisa dos textos e de vivencia nas lides forenses.

Uma coisa e falar para'atender as necessidads triviais de comunica­<;ao; outra, bern diferente, falar com precisao no exercicio da profissao eleita. Ao estudante dos primeiros anos, que engatinha por entre os mean­dros verbais de que e tao pr6diga a Ciencia do Direito, hao de se the afi­gurar quase rebarbativos os vocabulos com que ira lidar quando estiver advogando. E nao raro tera motivos de espanto ao perceber que, onde 0

emprego vulgar nao distingue, a Jurisprudencia prop6e uma serie de suti­lezas semanticas. Assim verificara, por exemplo, que domicilio, resi­

10 A palavra direito deriva-se do lalim vulgar derectus (no lat. chis. directus), pmticfpio pas­sado de dirigere, formado de regere, com a ideia de dirigir, conduzir, guiar; como adjetivo significa justo, correto: como substantivo, justiya, razao. (Cf. Antonio Geraldo da Cunha, Dicionario Etimol6gico da Lingua Portuguesa, 1982, p. 268.) Para considerayoes mais amp las sobre 0 conteiido da paIavra, sao de indicar-se as observayoes de Claude Du Pas­quier, in Introduction ala Tluiorie Generafe et a fa Philosophie du Droit, 1967, ps. 308­310. Os romanos designavam 0 direito pelo termo jus, associado a ideia de vontade ou poder divino.

II Introdurrlo ao Estudo do Direito, 1982, p. 272.

dencia e habitac;iio diferem juridicamente entre si, tal como posse, do­minio ou propriedade; observani, ainda, que decadencia, prescric;iio, preclusiio e perempc;iio, embora assemelhadas no sentido, nao querem dizer a mesma coisa. Com efeito, trata-se de urn vocabulario tecnico, profissional, que se restringe a ambiencia juridica, onde as palavras as­sumem conota<;oes pr6prias, "pelo que firmam situa<;oes adequadas ou assinalam circunstancias, que tern titulo ou ingresso nos diversos regi­mes legais institufdos. ,,12 Tirante as eventuais licen<;as de ret6rica e re­cursos de tribuna, a expressao juridica exige que os termos estejam sempre em seus devidos lugares. Parafraseando 0 consagrado prol6­quio ingles: the right word on right place.

Por outro lado, 0 estudante aprendeni que 0 advogado perspicaz domina todos os segredos da arte da controversia (chamada erfstica pe­los antigos fil6sofos gregos) e, consoante os interesses postos em jogo, sabe enveredar pelos descaminhos do sofisma, isto e, 0 raciocinio es­pecioso que visa a confundir 0 interlocutor, for<;ando-o a desdizer-se e, por conseguinte, perder 0 debate - com a mesma seguran<;a com que se exercita na 16gica verdadeira dos fatos. Obviamente, tais expedien­tes dialeticos pertencem aos mestres, aqueles que sabem que, em certos casos, "la parole a ete donnee ii l'homme pour cacher sa pensee".13

Jamais, como em Direito, 0 conhecido refrao popular "te pego pela palavra" teve tantos foros de verdade. Em qualquer causa, espe­cialmente naquela onde houver incerteza quanto a decisao, a experien­cia recomenda cautela na escolha das palavras, para que 0 feiti<;o nao vire contra 0 feiticeiro...

o jargao profissional, todavia, nao pode nem deve encapsular-se num hermetismo vocabular somente acessfvel a iniciados. Em muitos dos papeis que tramitam pelo nosso Forum, diariamente, sob uma falsa roupagem de tecnicismo, ha mais engriman<;o,' ha mais preocupa<;ao com os efeitos pirotecnicos da palavra do que urn compromisso real com a profundidade cientffica.

Ninguem se apodera da lingua e dela faz uso exclusivo. Talvez seja ela 0 mais democnitico dos vefculos de comunica<;ao. Ede todos e nao e de ninguem. Com a sua peculiar argiicia de critica, Antonio

12 De Placido e Silva, Vocabu16rioJurfdico, 1973, vol. I, p. XI. 13 R. P. Malagrida, apud Stendhal, 0 Vermelho e 0 Negro, trad. bras., 1979, cap. XXII, p.

139.

Page 10: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

13 12 RONALDO CALDEIRA XAVIER

Houaiss adverte ser a lfngua "urn instrumento que se tern revelado ate hoje como passivel de usos de classe, mas insubordinado ao controle de qualquer classe. Nenhuma classe, na historia das sociedades de clas­se, pade monopolizar a lfngua. Ela pade insuflar urn padrao ideal, uma ideologia do uso da lfngua, mas nao pode monopoliza-Ia. Porque era a propria condilSao de sua sobrevivencia que ela soubesse se comunicar com outras classes para vender a sua propria ideologia.' ,14

Se a precisao terminol6gica e exigivel no texto juridico, este nao deve, por outro lado, circunscrever-se nos limites do meramente refe­rencial, aprisionando-se na esfera da pura denotalSao. Nada e mais ari­do que urn estilo despojado por inteira de figuras e de preocupalSaO com a estetica da linguagem, pois sao estes elementos que conferem exatamente 0 importantissimo efeito psicol6gico e expressional. Como aconselha Agenor Fernandes Gadelha, todos devem usar a palavra com acerto e expressao; alguns, "com esmera e arte", mas 0 advogado, "como dizia 0 grande Horacio: reete, bene etpulehre.' ,IS

Inquestionavelmente a selelSao do termo exato economiza 0 precioso tempo que se perde em discussoes bizantinas; falores conjunturais, no en­tanto, interferem no sentido de que nao se cristalize em eslereotipos imu­t!veis a linguagem juridica. Se assim fosse, ela estaria fadada a parar no tempo, sendo mais util nas vilrinas empoeiradas de urn museu. Entre os referidos fatores est! principalmente 0 progresso natural de outras cien­cias sociais, 0 qual determina a mudanlSa de enfoque na abordagem dos problemas tradicionais, trazendo novas achegas, tanto a doutrina do Direi­to quanto ao seu vocabuhirio. Esse caldeamento, alias, e deveras auspicio­so, porque producente e por obrigar a urn continuo esforlSo de atualizalSao, assegurando a perene importiincia social do advogado.16

14 In artigo publicado em 0 Gloho, edi~ao de 11.3.79. 15 Cf. ExpressllO Lingiiistica no Direito, 1979, p. 19. 16 Nnda sem caracleriza~o bern nftida, pode-se dizer que a figum do advogado (do lal. advoca­

tu, 'chamado para junlo', islo e, pam defender)ja era conhecida enlre os egfpcios e os persas, embora seja na Gr(;cia que adquira urn sentido de verdadeira organjZ3~ao e, em Roma, se es­lrulnre como profissao definida alraves dos Collegia Advocatorum. Assim, de infcio, confor­me declara Alvaro Mayrink da CoSIa, "os advocati eram os amigos que acompanhavam as partes nas audiencias ou depunham no inleresse dos liliganles, peranle as aUloridades". (Cf. CrimulOlogia, 1980, vol. I, I. I, p. 170). Na conceitua~ao hodierna, prossegue 0 i1uslre jurisla, advogado e "0 profissional, legalmente habililado, que aconselha as partes liliganles e defende sens interesses em Jufzo, procurando esclarecer os Jufzes, e, munido de procura~o de seu cons­tituinte, ajufza a demanda, alegando, de falo e de direilo, tudo quanlo seja necessario adefesa que !he foi confi~da ". (Id, loco cit.)

VOCABULAAIO JURIDICO

2.1-Sem/intica

Semantica eo estudo do significado das palavras.J7

Ate 0 infcio do seculo XIX os gramaticos usavam 0 termo sema­siologia (do grego' 'serna", sinal) para designar 0 estudo das significa­lSoes. Coube a Michel Breal18 a adolSao do termo sem/intica, definindo-o como' 'a ciencia das significalSoes e das leis que presidem as transformalSoes dos sentidos' ,.

Divide-se a semantica em descritiva ou sineronica e hist6rica ou diacronica. A primeira cabe estudar a significalSao em determinado momento ou estado das palavras na lingua; a segunda, as mudanlSas de significalSao por que passam as palavras no decurso do tempo.

Por exemplo, as diferentes aceplSoes que possui a palavra rapari­ga (em Portugal, "molSa do campo", "mulher que esta no periodo da juventude"; no Brasil, "concubina", "meretriz", principalmente no N., N.E., MG eGO) operam-se no plano sincronico; 0 mesmo se diga de bicha: em Portugal e em Sao Paulo, significa "fila"; em varios lu­gares do Brasil tern os sentidos de "lombriga", "fogo de artiffcio que volteia rapidamente pelo chao", "efeminado" etc. 0 estudo da etiologia dessas mutalSoes no significado atual pertence a semantica descritiva.

Por seu turno, 0 estudo das varialSoes diacr6nicas operadas no sentido das palavras vilao (outrara, "campones", hoje, "indigno"), formidavel (outrara, "coisa que infunde medo"; hoje, "coisa extraor­dinaria "), tratante (outrara, "pessoa encarregada de fazer tratos, cui­dar de alguma coisa"; hoje, "velhaco", "trapaceira"), demagogo (outrara, "guia do povo", "cada urn dos chefes do partido democrati­co durante a guerra do Peloponeso"; hoje, "polftico inescrupuloso e habil que se vale das paixoes populares para fins ilfcitos") - pertence ao ambito da semantica historica, assim como a passagem dos nomes proprios a comuns, v.g., cesar, "rei", luis, "moeda", augusto, "ele­vado", guilherme, "ferramenta de carpinteira" etc.

17 Stephen Ulmann (Semi'lI/tica. Uma Introdw:;iio a Cicncia dn Significado, lrad. porI. 1977, p. 8) a define como "ciencia do significado"; Pierre Guiraud (A Semi'mtica, lrad. bras., 1975, p. 7), como "ciencia do senlido". Segundo esle ultimo aulor, os dois lermos nao se confundem: significa~ao "e urn processo psicol6gico, enquanlo sen lido tern valor estilico, e a imagem mental que resulta do processo". Na presente obra, para alender a fins didati ­cos, nao sera feila dislin~ao enlre ambos, como alias ecorrenle.

18 Cf. Essai deSemalltique. Cience des Significations, S' ed., Paris, 1921.

Page 11: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

14 15

RONALDa CALDEIRA XAVIER

2.1.1-Signo

A fun<sao das palavras etransmitir urn sentido, sob pena de elas nao terem razao de existir. A significa'Siio associa urn ser, urn fato, uma ideia a urn Signo19 capaz de evoca-Ios. Ferdinand de Saussure estabelece que "0

signo lingiifstico une nao uma coisa.e uma palavra, mas urn conceito e uma imagem aCUstica" ,20 sendo, pois, a combina'Siio destes elementos. Assim, e Ifcito inferir a formula: signo =significado (conceito) + signiji­cante (imagem acUstica). Para Pierre Guiraud, 0 signo exercea fun<sao de excitante, de estfmulo que suscita a imagem memorial de outro estfmulo; e "urn estfmulo associado a outro estfmulo do qual ele evoca a imagem mental". "Essa associa'Siio eurn processo psfquico, bipolnr e recfproco, o nome evocando 0 sentido eo sentido evocando 0 nome.,,21

Segundo Saussure, todo signo, "entidade psfquica de duas fa­ces", possui urn signijicante e urn signijicado. Ambos se interligam in­timamente e urn atrai 0 outro. 0 significante e a imagem acustica, 0

segmento fOnico apreendido pela mente. 0 significado e0 conceito, a representa<sao que' corresponde ao segmento ranico, ou a imagem, a ideia que 0 significante provoca no espfrito.

De acordo ainda com Saussure, 0 signo lingufstico e arbitrario. Tome-se, para ilustrar, 0 vocabulo advogado. Seu conceito ou signifi­cado c "pessoa legalmente habilitada e autorizada a exercer a advoca­cia ou procuradoria judicial"; 0 significante e representado pela forma, peln scgmcntn ranieo a-d-v-o-g-a-d-o, e mais 0 acento tonico, a ento­na<;ao etc. Ora, ncnhuma rela<sao existe necessariamente entre a se­qiiCncia de sons (J-d-v-()-~-a-d-oc a idcia de "advogado", que poderia, ate mcsmo, scr reprcscl1lada por outra sequencia fOnica qualquer.

2.1.2 ­

')010 calgo que substitui convencionalmente algu­22 fd "'da~cscnta-'Ia. Seu un amento e ' 0 pnnclplO

/ .-.~ r~,J\ o?~~:6 "~I -"'·",;,)I;"l/ ou sem;ologia, nao devendo ser confundida

< j. 0.. ~'" "'¢ <'.-- ~9 "'"~..r. ~v': .::;.~

nU- .6 o~~~ ..,...~ 1'171,1"" HO·H I. 1''' h'lI Ifa, "... .,.~ z,-:;, ~ 4 ·""ullj./'INI"~· • ~0 :i'~~ 6) ... , 0 sflllholo scr completamente arbitr~rio, pois ;&IIVIlMlllllI" "It (I1"n"._~",.,... . '!"(,.t6 'c II sil(lIilk:lIllc c 0 significado. 0 sfmbolo da ,"',U'" jUh'l""'wiIt 1''11 IIII/it. I\L ~~') 9"" ": 'lI' 11111 ohjdll 'Iualqucr, um carro, por exem· "11111111', ol"lto. ,1'-"'.lIdo, ""'wi"•...o" '1Ios, v . .Juall-Eduardo Cirlot Diceiollario 11",101 ,'01111.01.. ' (1.1, I,,, ,i/) '~

VOCABULAAIO JURIDICO

analogia, a rela<sao de semelhan<sa que se estabelece entre 0 representante e 0 representado. "As formas lingiifsticas sao sfmbolos e valem na linguagem humana pelo que assim signijicam."23 A esfera, v.g., e 0

sfmbolo da perfei<sao; a agua, 0 da transparencia, da inconstancia, do batismo. Qualquer coisa epassfvel de ser simbolizada por outra. Mas, verdadeiramente, a palavra nao e a coisa, pois nao existe uma rela<sao necess~ria entre 0 referente e 0 seu sfmbolo.

Ogden & Richards apresentam 0 mais conhecido modelo analftico do sfmbolo, que eo" triangulo basico".24 Sustentam que as rela<soes existentes entre as palavras e as coisas tern carater indireto, 0 que pode ser ilustrado mediante urn diagrama no qual os tres fatores implicados, quando se faz qualquer enuncia<sao, se encontram nos vertices de urn triangulo, e as rela<soes existentes entre esses fatores estao representadas pelos lados.

Eis a figura:

PENSAMENTO ou REFERENCIA

ADEQUADOCORRETO Refere-se a Simboliza

(outras rela<soes causais)(urna rela<sao causal)

SfMBOLO REFERENTE

Representa (uma rela<sao atribufda)

VERDADEIRO

23 J. Maloso Camara Jr., Prillcipios de LitlgiHstica Gera/, 1973, p. 113. 24 Cf. op. cit., p. 36.

Page 12: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

17 16 RONALDO CALDEIRA XAVIER

o exame da figura mostra nao existir rela<;ao direta (observe-se a linha pontilhada da base) entre 0 sfmbolo eo referente, conforme a tese dos semanticistas ingleses.

2.2 - Polissemia e Sinonfmia

Polissemia e a variedade de significa<;ao apresentada por uma palavra; sinonfmia, a propriedade de dois ou mais termos poderem ser empregados urn pelo outro sem prejufzo do sentido.

Em nenhuma lfngua viva ou morta as palavras apresentam sentido absolutamente unfvoco. Se os signos verbais exprimissem apenas uma coisa, e nao mais de uma, ter-se-ia talvez a linguagem ideal, pelo menos quanta a clareza, pois a possibilidade de equfvocos e ambigiiidades vocabulares, causa maior de inumeros desentendimentos e logomaquias, estaria eliminada a priori. 25

Na pratica, enlretanto, nao e assim. Perlustrando os dicionarios, encontram-se verbetes para os quais existem mais de cern significados, como, e.g., "ponto", "linha" etc. Poc sua vez, tomada isoladamente, a palavra pouco ou nada representa; 0 que lhe confere mesmo urn sentido efetivo e 0 contexto, ou seja, 0 enunciado lingiifstico em que se encontra inserida.

Exce<;ao feita anomenclatura tecnica, onde os termos sao' 'preci­samente delimitados e emocionalmente neutros", "na lingiifstica con­temporanea tornou-se quase axiomatico que a completa sinonfmia nao existe' '.26 Porque sao diversas as grada<;6es de emprego (denotativo ou conotativo) a fazer diferenciarem-se os sinonimos.

Matoso Camara, cujas conceitua<;6es e exemplos sao aqui aprovei­tados/7 demonstra que os sin6nimos se distinguem, a rigor, entre si, par uma destas duas circunstiincias: I) Significa<;ao (plano denotativo) - a) mais ampla ou mais restrita: ave e passaro; b) mais simples ou mais complexa: sofrer e padecer. II) Efeito estilfstico do termo (plano cono­tativo) - a) delicado ou grosseiro: narina e venta; b) nobre ou vulgar: enfadonho e cacete; c) poetico ou usual: pulcro e belo; d) literario ou usual: vergel e pomar; e) usual ou cientffi<:o: queda e ptose. .

25 "El analisis del error principia con el analisis dellenguaje", senlencia Hans Reichenbach, in La Filosofia Ciennfica, 1967, p. 13.

26 Stephen Ulmann, op. cit., ps. 291-292. 27 Dicionario de Filologia e Gramatica, 1964, ps. 320-321.

VOCABUL<\RIO JURIDICO

Resumindo, pode-se dizer que a polissemia presume a existencia de varios significados para 0 mesmo significante, e a sinonfmia, a de varios significantes para 0 mesmo significado.

Exemplificando:

PENA (significante)

DIREITO (significante)

I) POLISSEMIA

sofrimento, padecimento piedade, comisera<sAo, d6 . magoa, desgosto cominaqio legal imposta pelo Estado san<sAo civil, fiscal ou administrativa pel? que reveste 0 corpo das aves, pluma parte espalmada da bigorna utensflios para escrever autor, escritor: "Ele e uma pena inspirada" fig.: a classe dos escritores

oposto ao avesso oposto a esquerdo, lado do corpo humano di reto, reto que nao e curvo Integro, justo, homado, probo regra de ac?o, norma obrigat6ria (norma agendi) faculdade de praticar ou deixar de praticar urn ato (facultas agendl) ciencia das normas obrigat6rias que disciplinam as rela¢es dos homens em sociedade regalia, privilegio soco de bra~ direito (no pugilismo) adverbio: diretamente, em linha reta adverbio: bern, normal mente

s i g n i f i c a d o s

s

g n

f

c

a d

o

s

Page 13: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

VOCABULAIUO JURIDICO 1918 RONALDO CALDEIRA XAVIER

III i

I

Dito conceituoso, de cunho filos6fico ou moral, que se tomou popular

. (significado)

II) SINONfMIA

Coleyao de trechos em prosa e/ou em verso, de um ou varios autores

(significado)

2.3 - Anton{mia

DITO DITADO ADAGIO AFORISMO SENTEN<;A MAxIMA PROVERBIO REFRAo RIFAo ANEXIM PRO LOQUIO APOTEGMA PAREMIA BROCARDO

ANTOLOGIA ANALECTO CRESTOMATIA FLORILEGIO COLETANEA SELETA ESPICILEGIO COMPILA<;Ao POLIANTEIA MISCELA.NEA

2.4 -Homonfmia

s E a propriedade de duas ou mais palavras, embora diversas pela i significa~ao, apresentarem a mesma estrutura fono16gica. Sao homfJni­g mas, par conseguinte, as palavras que se enquadram neste caso. n A disciplina gramatical vigente estabelece distin~ao entre homo­

nimos perfeitos e imperfeitos.f Homonimos perfeitos sao aqueles em que ha completa homofo­i

nia (identidade de sons), podendo derivar da polissemia (q. v. § 2.2) c a dus formas convergentes da gramatica hist6rica, v.g., rio (do lat. n "rivu", acidente geogrfifico) e rio (do lat. "rido", forma verbal), essa

(do lat. "ipsa", pronome demonstrativo) e essa (do lat. "ersa", estra­e do funerario, catafalco) - ou ainda ocorrer em certas formas iguais fo­s nologicamente e que designam vocabulos de especies diferentes, v.g.,

espera (substantivo) e espera (forma verbal). s Tambem existem casos de homonfmia em que se abstrai 0 aspecto

gr3Cico, parquanto 0 som permanece imutavel em palavras de escrita dife­g rente, v.g., cassa (tecido fino) e caqa (ato de ca~ar), cozer (cozinhar) e co­11 su (costurar), taxa (impasto, tributo) e tacha (prego, macula) etc. i Os homonimos imperfeitos se dao com os vocabulos ditos hom6­r Kra[os, isto e, formas que se escrevem com as mesmas letras, mas tern

pronuncias desiguais determinadas pela diferen~a de timbre da vogal c

l~nica (e eo), como e 0 caso, v.g., de tropeqo (e) e tropeqo (e), retornoa (~) e retorno (6). n

t A ciencia lingiifstica tern considerado artificial 0 conceito de ho­e m6grafos, uma vez que a homonfmia se restringe ao domfnio da orali­s dade pura.28

2H Este assunto nem sempre lem merecido, por parte de alguns gram~licos, inlerpretac;ao cor­reia. Com 0 advenlo da Lei nO 5.765, de 18.12.1971, que simplificou 0 emprego das nola­c;6es lexicas e eliminou 0 acento circunflexo em func;ao diferencial (abrindo excec;ao, apenas, para pode e pode), volta iI baila 0 problema. Como e 6bvio, 0 desaparecimenlo do

E a propriedade de dois ou mais 1ermos apresentarem significa­ acento dislinlivo de limbre nao fez com que se alterasse a prontlncia dos hom6grafos, que agora se dislinguem somenle, pelo conlexto, 0 que nao raro coSluma gerar dtlvidas quanta <;oes opostas. iI maneira de pronunciar. Caso tfpico, par exemplo, e 0 de forma (configuraC;ao, feilio, as­peclo eXlerno) e fOrma (molde). A este respeilo, Aurelio Buarque de Holanda assim se si­Ha tres aspectos diversos pelos quais se verifica a oposi<;ao anto­ lua: "Parece-nos inaceil~vel (nao s6 nesta palavra, mas, talvez, sobretudo nela) a abolic;ao

nimica: a) com palavras constitufdas de radicais diferentes; ex.: ego{s­ do acenlo diferencial, decorrenle da Lei nO 5.765, de 18.12.1971, que estabelece alterac;6es no sistema orlogrHico de 1943. Considerem-se esles versos de Manuel Bandeira: 'Vai porta: altru{sta, austral: boreal; b) com palavras da mesma raiz, estando a cinqiienta anos I Que lhes dei a nonna: lReduzi sem danos I A fOrmas a fonna.· (Estrela do

oposi<;ao determinada pelo prefixo negativo; ex.: grato: ingrato, siste­ VidoI"teira, p. 51.) Seria inteiramenle impossfvel perceber 0 senlido da eslrofe se nao fora matico: assistematico; c) com palavras de raiz identica, estando a opo­ o acenlo diferencial." (Novo Dicio1ll1rio do Lingua Portuguesa, P ed., p. 648, verbele

Fomta.) Anuindo ao pronunciamento do grande dicionarista, ainda acrescenlamos que a si<;ao determinada por prefixos de significa<;ao contraria; ex.: evasao: manulenc;ao do lenno hom6grafo, na nomenclatura gramalical, e v~lida, e, se nao tern

invasao, progressao: regressao.

Page 14: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

20 21

RONALDO CALDEIRA XAVIER VOCABULAAro JURfDICO

2.5 - Paronfmia

Paronfmia ea circunstancia da existencia de paronimos, i.e., pala­vras que se assemelham quanta a forma, sem nenhuma rela~ao de sig­nificado.29

o uso dessas palavras exige urn certo cuidado, pois, em virtude da parecen~a de formas em jogo, ha 0 risco de empregar-se urn terroo por outro, 0 que acarreta urn vfcio de linguagem denominado cruza­mento (v. Unidade III).

Ha paronimos de radicais distintos e os M pertencentes a mesma familia lexical, forrnando-se abase de prefixa~ao diferente.

Exemplos de paronimos de radicais distintos: Ignaro (incuIto, ignorante) e ignavo (pregui~oso, indolente). lnfligir (aplicar) e infringir (transgredir). Ratificar (confirmar) e retificar (corrigir). Assoar (expelir 0 muco nasal) e assuar (vaiar, apupar). Fluir (correr) e fruir (gozar). Augusto (elevado, respeitavel) e angusto (estreito). Elidir (eliminar) e iUdir (refutar). Cadafalso (forca) e catafalco (estrado funenlria). Sortir (abastecer) e surtir (ter como conseqiiencia). Premissa (cada uma das duas primeiras proposi~oes de urn silo­

gismo) e primfcias (primeiros frutos ou lucros).

Exemplos de paronimos da mesma famma lexical: Emitir (pOr em circula~ao, expedir) e imitir (par para dentro). Emergir (vir atona) e imergir (mergulhar). Evocar (recordar) e invocar (chamar). Eminente (ilustre) e iminente (prestes a acontecer). Descrif;iio (ato de descrever) e discrif;iio (reserva, sobriedade).

apoio s6lido na ciencia lingiifslica, imp6e-se, quando mais Dao seja, para satisfazer a exi­gencias de ordem didatica.

29 Por ser considerado conceitualmente impreciso, 0 termo paro"imo nao faz parte da No­menclatura Gramatical Brasileira.

Deferir (atender, conceder) e diferir (discordar, adiar).

Acoimar (muItar, incriminar, acusar) e escoimar (lim par, livrar de coima, de impurezas).

Lactante (mulher que amamenta) e lactente (0 ser que eamamen­tado).

Prescrever (preceituar, receitar, incidir em prescri<;ao) e proscre­ver (banir, degredar, por fora de uso).

Dessentir (deixar de sentir, perder a sentimento de) e dissentir (divergir, discordar).

Vendo par outro aspecto, as paronimos podem ser empregados com inten<;ao estilfstica, e isto, em ret6rica, constitui a figura denomi­nada paronomtisia. Os que sabem dominar a lfngua tern tirado de tor­neios paranomasticos interessantes efeitos de expressividade tro­cadilhfstica. (Y. Unidade VII, 4.2.)

De Camoes:

"Minina dos olhos verdes - d ?,,30porque me nao ve es.

De Cecflia Meireles:

"Nem tormenta nem tormento nos poderia parar. ,,31

3.1 - Denotaf;iio e Conotac;iio

Em teoria bastante divulgada, Karl Biihler32 propoe tres fun<;oes principais da linguagem: a) representac;iio mental, b) manifestac;iio psf­l/uica e c) apelo. Compete-lhes, respectivamente, transmitir a compreen­sao individual do mundo externo, traduzir os diferentes estados de alma c influir sobre as demais pcssoas na vida de rela~ao inter-humana. Neste quadro, a denota~ao corresponde afun~ao representativa, e a conota~ao,

h manifesta<;ao psiquica e ao apelo. A significa~ao integral da palavra e sempre resultante da conjunc;ao de ambas.

Diz-se, portanto, que uma palavra eempregada em sentido dena­(ativa ou referendal quando se reporta 30 conteudo literal que lhe

JO "Moto Albeio", II. ApudAlvaro J6lio da Costa Pimpao, Rimas de LuEs de Camoes, 1961, p.34.

H Ob,a Poltica, Rio, 1958, p. 141. U Cf. Teo,ia del Le"guaje, tud. esp., Madri, 1950, p. 41.

Page 15: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

23 22 RONALDO CALDEIRA XAVIER

atribuem os dicionarios, apresentando a significa\ao delimitada numa area precisa. Ao contrario, se a palavra e tomada sem referenda direta a seres ou coisas do mundo objetivo, se se envolve 0 semantema33 num

I , 'halo de emo\ao" que surgira, por associa\ao, nova ordem de conceitos ou sentimentos , tem-se a conota\ao.

Confrontem-se estas duas frases: II a) Eles safram aca\a da raposa.

III b) Aquele advogado, na tribuna, e uma raposa.

III Na primeira, faeil e verificar, raposa esta no sentido de "animal I. ' mamffero, da ordem dos carnfvoros, da familia dos canfdeos, que habita III a Europa, de pequeno porte, e grande predador de aves em geral" .34 Isto

I , e, 0 modo por que 0 dieionario define urn animal dessa especie.

Na segunda, esta por "pessoa astuta, sagaz, manhosa". Neste aspecto, a palavra ja nao pode ser descrita no puro ambito gramatical, III I pois dele transcendeu para 0 da estilfstica e somente 0 contexto, em sua,s'II

I, implica\oes, podera determinar-Ihe os contomos de sentido. Assim, para IIII entende-Io bern, urge penetrar no estado de espfrito de quem utilizou 0 I' termo, carregando-o de emo\ao e expressividade, para dizer que aquele

I advogado, ao subir atribuna, possui dotes de perspicacia que Ihe permi­tern avaliar as inten\oes do adversario, ao captar a psicologia do corpo de jurados, para manobra-Io a seu talante.

A base do sentido conotativo e a metaforiza\ao. Observe-se, no texto a seguir, como E\a de Queiros, mestre ad­

miravel da pena, sabe extrair das palavras riqufssimos efeitos de cono­ta\ao, ao descrever 0 regresso de Jacinto de Tarmes ao lar:

"Em fila come\amos a subir para a Serra. A tarde ado\ava 0 seu esplendor de Estio. Uma aragem trazia, como ofertados, perfumes das flares silvestres. As ramagens moviam, com urn aceno de doce acolhi­mento, as suas folhas vivas e reluzentes. Toda a passarinhada cantava, num alvoro\o de alegria e de louvor. As aguas correntes, saltantes, luzidias, despendiam urn brilho mais vivo, numa presssa mais animada. Vidra\as distantes de casas amaveis flamejavam com urn fulgor de ouro. A Serra toda se ofertava, na sua beleza eterna e verdadeira. ,,35

33 Semantema e 0 elemento em que se con tern a significa~ao da palavra. Costumam os lin­giiistas emprega-lo indiferenciadamente de morfema, "vista que tambem e forma". Mato­so camara, Die. de Fi/. e Gram., p. 309.

34 Cf. Aurelio Buarque de Holanda, op. cit., p. 1.198, verbete raposa. 11\ 35 A Cidade e as Serras, Porto, sid, p. 305.

IIIII I,

VOCABULA.RIO JURiDICO

Metafora (do grego "metaphora", transla\ao) e a mudan\a do conteudo semantico de urn termo; mais simplesmente: e uma compara­!iao im plfcita de que foram elididos os conectivos comparativos (do que, tal como, assim como, tal qual etc.).

A inanidade da palavra para traduzir com fidelidade tudo 0 que 0

autar pensa ou sente, a inopia do vocabulario ante a vastidao de ideias, a busca incessante do estetico, 0 imperativo artfstico de transfundir ex­pressividade e, sobretudo, a serie de semelhan\as percebidas entre as vurias coisas da realidade objetiva ou subjetiva - eis as fontes da meta­fora. Sua conveniente aplica\ao amplia os recursos vocabulares, pois vern ocupar, lexicalmente, 0 lugar vazio de ideias para as quais ainda nao ha designa\oes apropriadas. E mesmo quando as ha, a imagem metaforica irisa de novos matizes a expressao, exorna 0 estilo e lhe confere viveza e gra\a.

o mecanismo mental da metafora, por assim dizer, "baseia-se numa identidade real manifesta pela interse\ao de dois termos para ufirmar a identidade de termos completos. Estende a reuniiio de dois tcrmos uma propriedade que pertence apenas asua interse\ao" .36

Para exemplificar, cite-se 0 primeiro verso do bern conhecido '.' Chao de Estrelas" , de Orestes Barbosa:

"Minha vida era urn palco iluminado". Ilustre-se, agora, a decomposi\ao do processo metaforico:

00 IMAGINARIOREAL

("palco iluminado")(" minha vida' ')

Interse\ao dos pIanos real e imaginario

o primeiro cfrculo representa 0 plano real, Le., 0 conceito do ter­Inn que se pretende transmitir ou caracterizar; 0 segundo figura <5 plano imaginario, i.e., 0 outro termo onde a pura imagina\ao percebe alguma

If' J. Dubois, F. Edeline et alii, Ret6rica Geral, trad. bras., 1974, ps. 151 e 153.

Page 16: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

24 25 RONALDO CALDEIRA XAVIER

rela<;ao com 0 primeiro; a zona hachurada dos cfrculos secantes repre­senta 0 nexo de semelhan<;a percebida entre os dois termos.

No exemplo referido, depreende-se ter 0 poeta relacionado 0 de­sengano das ilus6es, que viu povoarem sua vida, com a ilumina<;ao es­plendente de urn proscenio e as cenas ali representadas, fictfcias, ilu­s6rias tambem.

Segundo Jose Oiticica,' 'as imagens por compara<;ao ou mettifora sao flores efemeras, pois, mal nascem, logo as repetem os escritores medfocres; a repeti<;ao as torna chapas, perdendo elas todo 0 valor pri­mitivo. " Considera a existencia de tres tipos de imagens: corriqueiras, medfocres e originais. As primeiras, "natimortas", por muito encon­tradi<;as, nao tern valor litenirio; as segundas ja demonstram alguma imagina<;ao, mas, a for<;a de tanto serem repetidas, logo se degradam a lugar-comurn; as terceiras, "verdadeiros achados", por nao serem di­vulgadas, "permanecem inalteraveis no fulgor e substancia". E, adian­te, sugere que as imagens cansadas devem ser renovadas por novas formas de expressao. Porem, como que se arrependendo, afirma que isso equivaleria a "por, em pano velho, remendo novo", sendo melhor "desaproveitti-Ias de todo, procurar outras originais ou nao empregar nenhuma,'.37

4.1 -Famflias Etimo16gicas e ldeol6gicas

Etimologia e a ciencia da origem das palavras.

Por famflia etimol6gica entende-se urn grupo de vocabulos cog­natos, ou seja, originarios de urn radical comum. Radicaes e 0 elemen­to onde esta situada a base da significa<;ao externa da palavra.

Formam-se as famflias etimol6gicas atraves da agrega<;ao, ao ra­dical (ou radicais), de varios morfemas: afixos (prefixos e sufixos), de­sinencias, vogal tematica, vogal e consoante de liga<;ao.

PeIo conhecimento da significa<;ao nuclear dos radicais e afixos gregos e latinos (contribuintes maiores da cODStitui<;ao lexical da lingua), torna-se mais fadl inferir, ocasionalmente, 0 sentido de muitas palavras

VOCABuLARIO JURiDICO

ouvidas ou lidas pela primeira vez, 0 que dispensa a consulta imediata 39ao diciomirio.

Seguem-se tres exemplos de famflias etimol6gicas:

LEG (Do lat. legere, ler, colher)

lEG (Do lat. lex, legis, lei)

lenda

lendario

legenda

legendario

legfvel

i1egfvel

colegio florilegio

espicilegio

legal

legista

ilegal

legflimo

legar

legado

lega«ao

legamrio

legisla«ao legislatura

legisperito

legiferar

leguleio

ilegalidade

delegacia

alega«iio

37 Curso de Literatura, 1960, ps. 156-157 e 159. A prop6sito dos afixos (prefixos e sufixos) gregos e latinos, bern como de palavras grega! \'I38 Por escapar aos objetivos do presente estudo, nao se ir~ tralar, aqui, de raiz ou radical pri­ que tern assumido a fun~ao de prefixos ou radicais ("palavras-prefixos" ou "palavras-ra·mario - elemento irredutfvel e ultimo a que se pode chegar ao analisar morficamente 0 vo­ dicais"), torna-se recomend~vel a pesquisa em Jose Oiticica, MarlUal de Aflluise, 1950, psdbulo primitivo de urn grupo, do ponto de vista da gram~tica hist6rica. 78-196. .

Page 17: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

27

I':!

illl RONALDQ CALDEIRA XAVIER IIJ 26

,11 11

I"

JUR (Da lat. jus, juris, direito)

III

III

11'[11

jura juramento ~?j.~fPr Jun jura jurado jurista jurfdico jurfgeno jurisdi~o juridicidade injuria perjurio jurisperi to Jurisconsulto conjura jurisprudente esconjura~o

Alem do aspecto da origem, as palavras podem inter-relacionar-se, I tambem, pela comunidade ou afinidade de sentido. Isto e 0 que se chama

III II famflia ideol6gica, em realidade urn conjunto de termos irmanados pelo mesmo nueleo de significalSao.

"I!

Vma famflia ideol6gica pressup6e a sugestao de urn todo signifi­cativo, tendo por fulcro a analogia, a imediata associalSao de ideias correlatas, independentemente da vinculalSao etimol6gica. Com efeito, parece existir, entre certas ideias e palavras, uma especie de polarizalSao que as imanta e atraL Assim, 0 termo lelio, v.g., envolve nOlSoes de poderio, coragem, forlSa, majestade, vida instintiva em nfvel superior, libidodominandi, razao do mais forte, "moral dos mestres" por oposilSao

41a"moral dos escravos" etc. Ja 0 termo balan~a (em equillbrio) evoca ideias de justilSa, eqiiidade, imparcialidade na aplicalSaO da lei, a deusa Temis,42 harmonia, proporlSao, estabilidade, pesagem justa, ponderalSao,

40 Alraves do inglesjury, com a mesma origem. ,I 41 Cf. Henri Morier,Dictiolllwire de Poetique et de RhCtorique, 1961, p. 427. 42 Deusa da Jusli~a, segundo a mitologia grega, Temis presidia tambem aos juramenlos e ~

harmonia universal. Filha de [Jrano (0 au) e de Titeia (a Terra), na descri~iio de Hesfodo, I

quis preservar a pr6pria virgindade, mas Zeus (ou Jupiter) constrangeu-a a desposa-Io; des­se casamento advieram as Horas - Eunomia, Diceia (do gr. Dike = justi~a; daf diceologia, ou ciencia dos direitos) e Irene, respectivamente a Boa Ordem, a Justi~a e a Paz. Temis ha­

1I I1

bitava 0 Olimpo e sentava-se junto ao trono de Zeus, que Ihe ouvia sempre os conselhos inspirados na prudencia e no amor Ajusti~a. Comumenle aparece representada por uma

II

mulher de olhos vendados (para simbolizar a imparcialidade, atributo primacial no caraler II do juiz), que tern numa das miios a balan~a (sfmbolo do equilibrio e da eqtiidade) e, noutra,

11'11 urn cetro, ou espada, ou ainda urn feixe de varas (fasces) e urn machado, insfgnias da auto­1

ridade e do direito de punic enlre os romanos.

'II

VOCABULARIO JURimco

comedimento, sensatez etc.; balanlSa desequilibrada, por seu turno, su­gere injustilSa, parcialidade, poder discricionario, atitude facciosa etc.

Deduz-se, pelo exposto, ser de capital importancia 0 domfnio seguro da sinonfmia (q.v.) a quem se disponha a usar de modo escorreito u palavra. E para que, numa serie sinonfmica qualquer, a escolha recaia sempre na palavra mais eficiente e expressiva, a condilSao necessaria e saber distinguir essas sutilezas de ordem semantica.

o problema, contudo, traz em si algumas dificuldades, e nao sao poucos os artifices da pena a se queixarem das indigencias da propria Ifngua. E 0 que faz, por exemplo, Olavo Bila~, neste passo do soneto Illania verba:

"0 Pensamento ferve, e e urn turbilhao de lava: A forma, fria e espessa, e urn sepulcro de neve... E a Palavra pesada abafa a Ideia !eve, Que, perfume e clarao, refulgia e voava.,,43

Essa mesma Ideia - fugidia, diffcil de exprimir, porque as vezes inefavel - eque leva Augusto dos Anjos a dizer que

"Vern do encHalo absconso que a constringe, Chega em seguida as cordilS da laringe, Tfsica, tenue, mfnima, raquftica...

Quebra a forlSa centrfpeta que a amarra. .Mas, de repente, e quase morta, esbarra no molambo da Ifngua paralftica!"44

Orll, imp6e-se precisamente ao talento do escritor saber captar uquela aura quase espiritual que existe em toda palavra, detectando a unidade vocabular precisa em meio a multiplicidade difusa dos termos bdisposilSao.

Mas nem sempre a abundancia verbal contenta as exigencias ar­trsticas do escritor. Em seu dicionario,45 Aurelio Buarque de Rolanda rcscrva estes equivalentes do termo diabo: Demonio, Satamis, Sata; Lucifer, belzebu, bruxo do Inferno, dragao, anjo rebelde, serpente maldita, IIrrenegado, beilSudo, capeta, capiroto, coisa-ruim, diacho, excomungado, exu, manfarrico, maioral, maligno, pedro-botelho, porco, rabudo, sar­

4.l Poesias, 1952, p. 139. 44 Eu e Outras Poesias, 19' ed., sid, p. 60. ,,~ Cit., p. 472.

I 1;1:1

:1

Page 18: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

VOCABUL.\RIO JURIDICO 29 28 RONALDO CALDEIRA XAVIER

nento, tinhoso e varios outros. Pois urn rol como este e as vezes insatis­fat6rio; e ha circunstancias em que apenas uma palavra, e s6 ela, serve para traduzir exatamente 0 que 0 autor quer dizer.

Releva notar, ainda, a polissemia (q.v.), 0 sentido multifario ima­nente a toda palavra que a torna, ao contnirio, urn reposit6rio de ideias. Tomando por base 0 verba Levantar, Matoso camara exemplifica: "0

sinonimo de levantar os bra~os e erguer; levantar nos bra~os eerguer ou suspender, levantar uma estatua e erguer ou erigir, levantar a lebre e descobrir, levantar uma candidatura e Lan(]ar; levantar urn terreno e medir".46

5.1 -Niveis de VocabuLario

Segundo uma interessante c1assifica~ao de Othon M. Garcia,47 existem quatro tipos de vocabulario: a) da Ifngua falada ou coloquial; b) da linguagem escrita; c) de leitura; d) de simples contato.

Dentro desses quatro nfveis, 0 escritor exprime 0 proprio pensa­mento e 0 Ieitor compreende 0 pensamento alheio.

o primeiro, reduzido, apreendido de oitiva, e 0 da vida dhiria, serve para atender as necessidades de comunica~ao oral, "constituindo moeda corrente de circula~ao franca na transa~ao das ideias".

o segundo se comp6e de palavras que normalmente surgem na linguagem escrita e tern carater literario, tecnico-cientffico ou didatico, sendo raro no nfvel coloquial.

o terceiro abrange urn acervo nao utilizado, quer no nfvel litera­rio, quer no coloquial, conquanto possua sentido conhecido. Serve para o entendimento de urn texto sern 0 socorro do dicionario.

o quarto, chamado de contato, se constitui de vocabulos de signi­fica~ao i~norada e, ernbora ouvidos ou lidos algures, nao tern aplica~ao

pratica. E, pois, urn vocabulario virtualmente inutH.

Sendo de todo impossfvel determinar onde urn corne~a e outro acaba, nao se pode tra<;ar limites entre esses tipos de vocabulario, ha­vendo inurneras sjtua~6es, ate, em que eles se misturarn.

46 Die. de Fil. e Gram., p. 321. 47 cr. Comufliea<;ao em Prosa Modema, 1971, ps. 163-164.

Em resumo esquematico:

I)ATIVO l) De Iinguagemfalada - para a comuni­ca~ao do dia-a-dia.

V~>CABU-) (Serve aexpressao do 2) De Iinguagem escrita - para usa Iitera­{I.ARIO "proprio pensamento rio, tecnico-cientffico ou d!datico.

II) PASSIVO l) De leitura - para 0 entendimento de . textos.

(Serve acompreensao { 2) De cantata - sem utilidade imediata. do pensamento alheio)

~.2 - Incrementa(]iio do VocabuLario

Recentes estudos psicolingiifsticos e sociolingiifsticos tern firma­110 a tese de que, aos quatorze anos, 0 indivfduo atinge a sua maturida­tic no exercfcio da linguagem. A partir daf, cabe-lhe tao-somente npcrfei~oar 0 domfnio verbal e enriquece-Io indefinidamente, por via de rcgra na area profissionaI. Quando esse parametro nao e alcan<;ado _ c isso representa 0,1 % da popula~ao - suspeita-se de que a pessoa mio esteja enquadrada nos padr6es lingiifsticos normais.

Todas as profiss6es, ninguem desconhece, possuem 0 seu voca­huliirio peculiar e a sua gfria ou jargao. Ate chegar a dominar as pala­vras da area intraprofissional, enlretanto, e razoavel supor urn processo IIIcl6dico de aquisi<;ao anterior, pois 0 acervo normal, assimilado pelos I11cios tecnicos de comunica~ao Gomal, radio e televisao) e sobretudo (lcia intera~ao social, revela-se insuficiente. Como, entao, de modo ob­jClivo e racional, lograr esse domfnio? Em nosso jufzo, a f6rmula, que IUlo coriginal e muito menos magica, reside neste trinomio: conversa­~'(io. leitura e redat;ao.

A conversa<;ao e fato natural e surge espontaneamente na vida de rda~ao; porem, se efetuada com profissionais competentes, sera 0

llleio preliminar de ir incorporando palavras novas ao vocabulario ati­vo. Adernais, a li~ao dos bem-falantes, ao menos sob 0 ponto de vistll lIngii(slico-formal, s6i mostrar-se proffcua, pois a maneira eleg~~p/

/

Page 19: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

30 RONALDO CALDEIRA XAVIER VOCABUL.\RIO JURIDlCa 31

falar sempre causa admira<;ao, desperta simpatia e, por urn processo de Cl.1 - Exercfcios de QplicQ~iio

mimese quase inconsciente, atrai seguidores. I) Combina<.;ao Vocabular A leitura, por sua vez, e fundamental. Nao a leitura desatenta,

dispersiva, interessada apenas em amenidades episodicas ou no ime­ a) Sinonimos

diatismo das informa<;6es de rotina. Leitura, sim, mas leitura seria e I) Relacionar os termos quanta asinonfmia: continuada, com 0 assessoramento do lapis, a fim de marcar as pala­vras desconhecidas e procurar-Ihes 0 significado no dicioll<lrio.48

Finalmente, a reda<;ao. Redigir bern - e aqui nao se trata de escre­ver com arte, como urn paeta ou romancista - dispensa habilidades inatas, e questiio de habito adquirido pela pratica e pelo estudo.49 Quem pensa bern escreve bern, ja 0 disseram muitos. 0 ato de escrever nao e

I absolutamente 0 alinho de palavras pelo que possam ter de altissonante ou particularmente impressivo. E, primeiro que tudo, urn ato mental de

II, escolha criteriosa de palavras, de correla<;ao de ideias. Ha, e certo, quem tenha mais e menos aptidao para escrever, embora, com 0 tempo,

II uns e outros acabem por se nivelar, em havendo paciencia e vontade de II aprender.

I A par da formula apresentada - conversa<;ao, leitura e reda<;ao ­existem ainda varias especies de exercfcios que aceleram 0 processo de

I aquisi<;ao vocabular. A maioria delas se baseia em dois metodos: sele­~iio e combina~iio. A sele<;ao consiste em escolher, num grupo esparso de palavras, a mais adequada a ideia que se pretende transmitir. A combina<;ao e uma forma de associa<.;ao verbal mediante criterios de ordem conceitual, semantica, estilfstica, fonetica, etimologica etc.

Nos exerclciQs a seguir, que de modo algum tern a pretensao de 11

1

II \1 esgotar 0 assunto, mas de simplesmente dar uma visao geral ao prati­

I I cante, procura-se tra<;ar urn caminho que estimule a pesquisa vocabu­lar, pando enfase, evidentemente, na area jurfdica.

1II,IIi

1

1 ,1

!

!II, "

! 48 En tre os melhores, sao recomend~veis:Dicio1ltlrio Contemporil1leo do LIngua Portuguesa, de Caldas Aukle; Grande e Novlssimo Dicionorio do LIngua Portuguesa, de Laudelino Freire; Novo Dicionorio Brasileiro do LIngua Portuguesa, de Aurelio Buarque de Holanda Ferreira - para conceilos e defini~iies; Dicionario de 5inonimos, de Antenor Nascenles­para sinonfmia; Dicionorio Anal6gico, de Carlos Spitzer; Dicionorio Ana/{tico do LIngua Portuguesa, de Francisco Ferreira dos Santos Azevedo - para ideias afins; Dicionorio Eti­mol6gico do LIngua Portuguesa, de Antenor Nascentes - para etimologia.

49 Sobre reda~ao e suas implica~iies,v. Redo<;iio Jurfdica (unidade VIII).

1) Superstite

2) Irrito

3) Defeso

4) Putativo

5) Mandamrio

6) Falaz

7)Conubial

8) Dilapidador

9) Sinalagmiitico

10) Ap6crifo

11) Colitigante

(2) Inapto

13) Desidioso

14) Serodio

15) Perempt6rio

b) Antonimos

2) Relacionar quanto aantonfmia:

1) Plet6rico

2) Imanente

3) Dissuasivo

4) Sintetico

5) Conciso

6) Nomade

7) In6cuo

8) Contingente

9) Acessario

Pr6digo

Negligente

Incapaz

Tardio

Li tisconsorte

Imaginario

~nautentico

Nulo

Matrimonial

Terminante

Sobrevivente

Procurador

Enganador

Bilateral

Proibido

Prolixo

Necessario

Estrito

Especffico

Gregario

Espontaneo

Suasario

Agravado

Analitico

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

( )

Page 20: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

32 RONALDO CALDEIRA XAVIER VOCABULÁRIO JURÍDICO 33

10) Cogente

11) Genérico

12) Isento

13) Lato

14) Misantrópico

15) Agravante

Principal

Anêmico

Atenuante

Lesivo

Transcendente

Sedentário

(

(

(

(

(

(

)

)

)

)

)

)

10) Indultar

11) Interdi tar

12) Prolatar

13) Rerratificar

14) Desaforar

15) Interrogar

Multa (

Cadáver (

Bem,objeto (

Reunião (

Condenado (

Fundos públicos (

)

)

)

)

)

)

c) Verbos de Aplicação Jurfdica 5) Idêntico ao nº 3.

3) Os verbos alistados à esquerda são de uso rotineiro na linguagem ju­rídica; os substantivos à direita freqüentemente se empregam como seus objetos. Efetuar o relacionamento.

. 1) Caucionar Posse ( )

2) Glosar Infrator ( )

3) Abonar Cargo público ( )

4) Usucapir Cláusula contratual ( )

5) Arrolar Firma ( )

6) Autuar Lei ( )

7) Adimplir Verba ( )

8) Imitir Bens de espólio ( )

9) Ementar Títulos ( )

10) Prover Imóvel ( )

4) Idêntico ao nº 3.

1) Derrogar

2) Oferecer

3) Interpor

4) Instruir

5) Consignar

6) Propor

7) Reformar

8)Cominar

9) Lançar

10) Instaurar

11) Endossar

12) Exarar

13) Avalizar

14) Quebrar

15) Registrar

Processo

Ação

Flagrante

Cheque

Lei, decreto

Ocorrência

Recurso

Parecer

Imposto

Denúncia

Promissória

Mercadoria

Pena

sentença

Inquérito

(

(

(

(

(

(

(

(

(

(

(

(

(

(

(

)

)

)

)

)

)

)

)

)

)

)

)

)

)

)

1) Inquirir

2) Repristi nar

3) Malversar

4) Lavrar

5) Vilipendiar

6) Arrestar

7) I1idir

8) Procrastinar

9) Desagravar

Incapaz

Argumento

Réu

Sentença

Ofensa

Testemunha

Processo

Escritura

Lei

(

(

(

(

(

(

(

(

(

)

)

)

)

)

)

)

)

)

6) Idêntico ao nº 3.

1) Hi potecar

2) Excutir

3) Comutar

4) Substabelecer

5) Ressarcir

6) Novar

7) Descriminar

K) Resilir

Coisa, pessoa (

Réu (

H abeas corpus (

Bem móvel (

Ofensor (

Mora (

Bens (do devedorX

Dívida (

)

)

)

)

)

)

)

)

Page 21: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

35 34 RONALDO CALDEIRA XAVIER VOCABULÁRIO JURÍDICO

9) Penhorar Bem imóvel () 14) Diz-se do casamento ou testamento feito de viva Inimputável

10) Purgar Separação judicial ( ) voz, perante seis testemunhas, em iminência de morte.

11) Convolar Advogado, colega ( ) 15) Diz-se de um documento sem autenticidade. Inepto

12) Interpelar Prejuízo () 16) Diz-se de coisa ou bem abandonado, a cuja posse Inadimplente

13) Sub-rogar Contrato, acordo ( ) o dono renunciou.

14) Homologar Núpcias () 17) Diz-se de providência ou medida que tem por Draconiano

15) Impetrar Pena ( ) objetivo promover a delonga de um processo.

18) Diz-se da petição que não satisfaz os requisitos Cuntatório ( ) formais exigidos pela lei, o que suscita a rejeição do

d) Adjetivos de Aplicação Jurídica pedido.

19) Diz-se daquele que, por defea?0 de idade, ainda

Imprescritível

Leonino

(

(

)

) não pode contrair Justas núpcias.

7) Fazer com que os conceitos jurídicos, à esquerda, correspondam aos adjetivos.

20) Diz-se do juiz que conhecer primeiro da causa, o que exclui a competência de outros juízes de igual graduação.

Prevaricador

Fungível

(

(

)

)

I

I) Diz-se daquele que não pode ser penalmente responsável.

2) Diz-se do que não tem apoio na regra jurídica.

Apócrifo

Impúbere

B) Efetuar a correspondência, selecionando o adjetivo que, conforme a técnica jurídica, seja mais adequado ao substantivo à esquerda. (Obs.: Os odjctivos estão alistados sem levar em conta a concordância nominal.)

3) Diz-se do contrato que favorece desigualmente Sinalagmático uma das partes. 1) Juiz Aqüestos ( )

4) Diz-se da lei excessivamente severa. 2) Norma Inepto ( ) Diz-se do contrato que estabelece obrigações

recíprocas 5) Nuncupativo 3) Recurso Fidejussório ( )

6) Diz-se do juiz que, por interesse ou má-fé, descumpre o seu dever.

Chicaneiro 4) Sentença

5) Petição

Prevento

Saneador

(

(

)

)

7) Diz-se do advogado que se vale de meios Putativo 6) Dívida Cogente ( ) cavilosos para retardar o andamento de um processo. 7) Garantia Rei persecutório ( )

8) Diz-se do devedor que não solve os seus compromissos contratuais.

Impertinente 8) Despacho Terminativo ( )

9) Diz-se da pessoa que frui, com outra, determinado Co-utente 9) Bens Quesível ( )

bem ou coisa. IO)Ação Deserto ( )

10) Diz-se dos móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.

II) Diz-se do casamento provisoriamente verdadeiro, Prevento 9) Idêntico ao exercício anterior.

para que se verifiquem os seus efeitos civis. I) Prazo Noxal ( )

12) Diz-se do terreno que não está sujeito ao pagamento de foro ou laudêmio.

Derrelito 2) Testamento Possessório ( )

I 13) Diz-se do direito ou dívida que não estão sujeitos Alodial 3) Constituto Repristinatório ( )

I a prescrição. 4) Pacto Acusatório ( )

I I

Page 22: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

37 36

VOCABULÁRIO JURÍDICO RONALDO CALDEIRA XAVIER

26) Vínculo de empregado. R.: . 5) Libelo Precluso ( )

27) Idade de casar. R.: . 6) Abandono Peremptório ( )

28) Prisão em casa. R.: . 7) Bens Preterintencional ( )

29) Unidade de prisão. R.: . 8) Direito (processual) Hológrafo ( )

30) Honorários de advogado. R.: . 9) Crime Parafernal ( )

31) Acervo da herança. R.: . 10) Lei Comissório ( )

32) Direito sobre a coisa. R.:.

33) Caráter de jogos. R.: . 10) Substituir a locução grifada pelo adjetivo equivalente: 34) Sindicato de patrão. R.: .

1) Processo de conhecimento. R.: 35) Relação de contrato. R.: . 2) Direito de posse. R.:

3) Vício de redibição. R.: e) Crimes

4) Prova de testemunha. R.: I I) Fazer corresponderem os termos indicativos de crimes aos seres

5) Herança de avô. R.: cm que recai a ação. 6) Outorga da esposa. R.:

7) Tutela de tio. R.: 1) Deicídio Esposa ( )

8) Amizade de irmão. R.: 2) Homicíclio Rei ( )

9) Valor da moeda. R.: 3) Genocídio Pai ( )

10) Bens em dinheiro. R.: 4) Infanticídio Mãe ( )

5) Regicídio Recém-nascido ( )11) Produção de rebanhos. R.:

12) Pensão de alimentos. R.: 6) Mariticídio Pátria ( )

13) Ação no Direito Civil. R.: 7) Filicídio Pessoa humana ( )

14) Dever de cidadão. R.: 8) Fratricídio Deus ( )

15) Grau de recurso. R.: 9) Parricídio Filho ( )

10) Uxoricídio Marido ( )16) Consentimento da vontade. R.:

17) Condição de mercador. R.: 11) Matricídio Povo ( )

18) Decisão de juiz. R.: 12) Patricídio Irmão ( )

19) Linguagem de cartório. R.: t) Sánbolos

20) Material de guerra. R.:

21) Direito de Falência. R.: 12) Fazer a correspondência entre os símbolos, à esquerda, e os seus 22) Cumprimento da obrigação. R.: referentes: 23) Auto de penhora. R.:

I) Âncora Adaptabilidade, versa ti lidade 24) Registro de imóveis. R.:

2) Fogo Orientação, ideal, esperança. 25) Condição de marido. R.:

Page 23: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

39

I

i

i I

Il,iilllj

illlll!1 1

111

1" ,'1

;11 1

illll l\l 'ii

1

1

II 11111

1111 11.')1

'I'I[ 11. 11

111L1

II 1

11 1 1 i

1

il!11

1\111

lilii,ll,

1:1 :I i I

1

iI"I

Ilil'll'

Iii Ililllll

III Illi,lll

'1 11,1 .

iii'11

Illii 1

,111

! I

'I i I

38 RONALDO CALDEIRA XAVIER

3) Cruz Vaidade, narcisismo. ( ) 4) Máscara Cativeiro, servidão, tirania. ( )

5) Caduceu Fluxo do tempo, curso da existência. ( ) 6) Pavão Honra, coragem, respeito à fé jurada ( )

7) Cigarra Dissimulação, intriga amorosa ( ) 8) Rio Salvação, vida eterna ( ) 9) Camaleão Realeza, nobreza ( )

10) Maçã Adoração, religiosidade ( ) 11) Coroa Comércio, paz, eloqüência ( ) 12) Corrente Poder, domínio, império ( )

B) Cornucópia Vida, paixão, poder de criar ou destruir ( ) 14) Estrela Trabalho, operosidade ( ) 15) Incenso Imprevidência, despreocupação com o futuro. ( )

16) Águia Arte de escrever, ligeireza. ( )

17) Abelha Vaidade, presunção, plágio ( )

18) Espelho Cristianismo, fé, piedade ( )

19) Espada Tentação, pecado consumado ( ) 20) Pena Riqueza, abundância ( )

13) Relacionar os elementos (substantivos) às propriedades (adjetivos) que lhes são peculiares:

VOCABULÁRiO JURÍDICO

13) Diamante Elástico ( )

14) Carniça Graxo, untuoso ( )

15)Sândalo Maleável ( )

16) Cristal Duro ( )

17) Ácido Sublimável ( )

18) Água Fétido ( )

19) Mel Abrasivo ( )

20) Borracha Cítrico ( )

II) Seleção Vocabular

2) Áreas Semtinticas

14) Reagrupar os termos a seguir, conforme a afinidade de sentido que entre eles se estabeleça:

Mandato - abigeato - aresto - calabouço - estado - legado - prefácio - aborto - conú­bio - país - novação - acórdão - ergástulo - exórdio - cárcere - governo - proêmio ­concussão - decisão - masmorra - nação - antelóquio - veredicto - infanticídio - con­truto - concubinato - reino - poliginia - resolução - pacto - prisão - divórcio - prole­gômenos - sentença - mancebia - comodato - cadeia - intróito - malversação ­república - exogamia - peculato.

12 Grupo 22 Grupo 32 Grupo

Page 24: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

41

! II "11

1 JII 1'1 40 RONALDO CALDEIRA XAVIER

!!!II 11'/1]1 15) Reagrupar os tennos abaixo, confonne as áreas sensoriais a que se ",,1 refiram:

1,

"I! !'f!l!

Estríbulo - rançoso - inodoro - rugoso - brilhante - acidulado - ribombante­II rijo - ebúrneo - azedo - canoro - oloroso - insípido - fofo - policrômico _

I1 salgado - estentórico - fragrante - sedoso - diáfano - sussurrante - nausea­bundo - graxo - almiscarado - coruscante - adocicado - pontiagudo - inaudí­

!I"IIII vel - tresandante - bruxuleante. I1I1

1° Grupo: 2° Grupo: 3° Grupo:,~ (Visão) (Audição) (Olfato)

,!IIIIii !!III

!'I I!,!' .,I,I~' 1'11

!~ ~ :,!!1111'I

II~ !)II

II 4° Grupo: 5° Grupo: (Tato) (Paladar)

b) Paronímia

16) Selecionar, entre os parônimos, aquele que preenche, corretamen­te, as lacunas das frases:

Fastio x Fastígio

a) Nélson Hungria alcançou o do saber jurídico.

Catafalco x Cadafalso

b) O cadáver estava estendido sobre o ; ..

VOCABULÁRIO JURÍDICO

Sortir x Surtir

c) É necessário as despensas.

Deferir x Diferir

d) O juiz achou melhor a audiência.

Angusto x Augusto

c) Os caminhos levam às coisas elevadas.

Dessentir x Dissentir

1) O resfriado fê-lo o gosto dos alimentos.

Inerte x Inerme

g) A população encontra-se diante da onda de assaltos.

Descrição x Discrição

h) Toma-se preciso agir com muita ..

Vicenal x Vicinal

i) Um acordo acabará contentando ambas as partes.

Reboliço x Rebuliço

j) O julgamento provocou grande na cidade.

Elidir x Ilidir

1) Procedendo cpm calma, poderás as dificuldades iniciais.

Cardeal x Cardial

m) Imparcialidade é a virtude dos bons juízes.

Eminente x Iminente

n) É a chegada dos visitantes.

Proscrever x Prescrever

o) Convém do texto legal os termos supérfluos.

Destratar x Distratar

p) O advogado não pode a parte contrária.

Primícias x Premissas

q) As corretas introduzem o raciocínio e levam à conclusão lógica.

Entrância x Instância 'h . - ., d 23r) Os tn unais sao JUIZOS e .

Page 25: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

~ \,~I I 42 RONALOO CALDEIRA XAVIER VOCABULÁRIO JURÍDICO 43

"";11 1

'1 11

1

1'11,,1 Estufar x Estofar 13) Um processo que não foi decidido, terminado, estando, portanto, em 'I' curso, constitui .I~I s) Os floricultores recomendam as orquídeas.

14) .................... é aquele que se limita a interpretar, servilmente, a letra I~I Emissão x Imissão fria da lei, sem atentar para o seu espírito, a sua intenção. I~ t) O magistrado determinou a na posse. 15) Em Direito Civil é a reivindicação da coisa, ou de i~1 direito real, em poder de outrem, que a detinha.

Assoar x Assuar 11I'I111

I11 u) À saída do julgamento, o povo começou a os condenados. 1 I11

Acórdão Preempção Leguleio111

1".1II1 c) Terminoiogiajuridica Abigeato Li tispendência Agnação

Exegese~I Arras Hermenêutica

1 Infortunística Aresto Evicção1 17) Selecionar, na relação fornecida no final, o termo jurídico adequa­1 1 I

,1 Prelação Peculato Primogenitura,1 1

do ao preenchimento das lacunas. 1j~ Juntada Malversação

~I Obs.: Este exercício, bem como os que se lhe seguem, deve ser efe­tuado com o auxílio de um vocabulário jurídico. t8) Idêntico ao exercício precedente.i

~~ 1) O penhor ou sinal dado como garantia de acordo ajustado chama-se 1) A ordem judicial de se tornar público um decreto, uma lei, uma citação denomina-se .

2) Denomina-se o vínculo de parentesco ou de 2) .. ... . .... . . . . . .. . exprime o preceito que se contém na lei ou no ~111,~...consangüinidade que se dá entre os descendentes varões do mesmo decreto. tronco. 3) Constitui. . . . . . . . . . . . . . . . . .. qualquer ocorrência que a lei declara

3) é o ato de reunir ou anexar ao processo uma punível. peça ou documento que lhe era estranho. 4) é a carta de um juiz de uma comarca a colega de

,III

III 4) Em Direito Administrativo é o furto de dinheiros outra.

~II públicos por aquele que os guarda ou administra. 5) é a carta, que contém ato judicial, encaminhada por via 1.11

1 5) é a qualidade de filho mais velho ou primei- diplomática a país estrangeiro. I

11

ro filho. I 1

6) é a pessoa que, juntamente com outra(s), participa da

~ 6) Uma decisão de tribunal tem o nome de ou mesma causa, na qualidade de co-réu ou co-autor.

~I 7) Chama-se a garantia de segurança para oI

I I1 7) ........................................... é o mesmo que direito de preferência. cumprimento de alguma cláusula contratual.

,11 8) Em Direito Pena~ significa roubo de gado. 8) Designa-se por o direito de aquisição de propriedade '1 111'1

pela posse mansa e pacífica durante certo período de tempo. A preferência, constante em cláusula de contrato, dada ao vendedor

~j ~)

para readquirir, preço por preço, a coisa vendida chama-se, em Direito 9) é um pedido categórico de explicações por via judi-Civil ou Comercial, . cial.

10) ..................... ou é a cü~ncia da interpretação e 10) O crime praticado por funcionário público, ao cobrar do contribuinte 11111

1

esclarecimento das leis. mais do que este deve realmente pagar, chama-se . 1,"1 11) Designa-se por a má administração de fundos 11) Classifica-se como a falta de cum primento de

públicos. um contrato ou qualquer de suas cláusulas.

12) ............................. é a parte da Medicina Legal que estuda a doença e 12) "......... ou é a compilação das decisões dos ,I o acidente do trabalho. antigos juristas romanos, convertidas em lei pelo imperador Justiniano.

Page 26: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

••••••••••••••••

44 RONALDO CALDEIRA XAVIER

13) ..0 consiste na disposição testamentária pela qual o testador institui dois ou mais herdeiros ou legatários, impondo a obrigação de, por sua morte, transmitir ao(s) outro(s), a certo tempo ou sob certa condição, a herança ou legado.

14) é o contrato pelo qual o proprietário de terreno alodial cede a outrem o direito de percepção de toda utilidade desse terreno, em caráter perpétuo, com o encargo de lhe pagar um foro anual e a condição de conservar para si o domínio direto.

15) é o contrato pelo qual um devedor, conservando ou não a posse do imóvel, dá ou destina ao credor, para segurança, pagamento ou compensação de dívida, os frutos e rendimentos produzidos pelo mesmo imóvel. '

Usucapião Fideicomisso Inadi mpl emento

Li tisconsorte Édito Rogatória

Anticrese Caução Digesto

Precatória Pandecta Interpelação

Enfiteuse Concussão Edito

Delito

19) Enunciar, pela ordem, os sujeitos ativo e passivo dos institutos jurí ­dicos apresentados abaixo.

Modelo: Locação -locador -locatário.

INSTITUTO SUJEITO SUJEITO JURÍDICO ATIVO PASSIVO

Agravo

Alienação

Apelação

Arresto

Cessão

Comodato

Curatela

Depósito

Deprecação

Desapropriação

Doação

VOCABULÁRIO JURÍDICO 45

I<:lI1bargos

I ivicção

I \xeeção

(i,xeeução

I!itieicomisso

Mandato

Notificação

Nuneiação

( )lItorga

l)uerela

I~('clamação

Recurso

Reconvenção

Requerimento

Slíplica

20) Relacionar os períodos à sua respectiva duração:

I) Vicênio Dez anos ( )

2) Qüinqüídio Sete anos ( )

3) Bíduo Quatro dias ( )

4) Hebdômada Vinte anos ( )

5) Lustro, qüinqüênio Sete dias ( )

(j) Setênio Cinco anos ( )

7) Decêndio Dez dias ( )

X) Quatriênio, quadriênio Dois dias ( )

9) Decênio Quatro anos ( )

10) Quatríduo Cinco dias ( )

Page 27: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

III

III IIII 1II1

III III

II

;\/1

UNIDADE II

o CÓDIGO ORTOGRÁFICO

SUMÁRIO: 1.1 - Introdução. 1.2 - Conceito de ortografia. 1.2.1 - Pe­ríodos ortográficos. 1.3 - Emprego de letras que suscitam dóvidas. 1.4 - Emprego do hífen na prefixação. 1.5 - Trans­líneação. 1.6 - Abreviaturas. 1.7 - Exercícios.

1.1-Introdução

A preocupação de síntese, neste capítulo, suprime as normas de acentuação gráfica (presumivelmente estudadas em nível de 1º grau) que o Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro de 1943 prescreve,t bem como a abordagem da Lei nº 5.765, de 18 de dezembro de 1971, a qual teve em mira simplificá-lo ao abolir as regras do acento diferencial de timbre e do acento grave e circunflexo nas sílabas subtônicas.

O objetivo pretendido concentrou-se, precipuamenle, nas conven­ções seguidas para o emprego de letras que costumam gerar dúvidas (c, ç, ch, g, j, s, ss, x e z), nos elementos prefixais hifenizados, na trans­lineação e nas principais abreviaturas correntes na redação jurídica.

A aludida preocupação de resumir elide, também, teorizações e digressões de ordem etimológica. A finalidade é, tão-só, inventariar os recursos práticos mais eficazes para evitar as cacografias mais encon­tradiças e que, uma vez perpetradas, desabonam a competência do pro­fissional do Direito, pondo-lhe sob suspeição a credibilidade. De qualquer modo, quem quer que se dedique à arte de escrever deve con-

Em Portugal adotou-se o Acordo de 1945, que em pouco difere do de 1943.

I

I

Page 28: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

48 49 o CÓDIGO ORTOGRÁFICO

iii

I

I.

RONALOO CALDEIRA XAVIER

vencer-se da utilidade inestimável do dicionário, prestadio companhei~ 2

ro e recurso dirimente dos casos duvidosos.

1.2 - Conceito de Ortografia

Ortografia (do gr. orthós, "reto, + graph, raiz de grápho "escre­ver" +sufixo -ia) quer dizer escrita correta e é a parte da gramática que trata da fixação de uma forma de grafar as palavras segundo as normas do sistema em vigor.

1.2.1-Perfodos Ortográficos

A história da ortografia portuguesa divide-se em três períodos: fonético, pseudo-etimológico e simplificado.

O sistema fonético, adotado na fase arcaica do idioma e encontrável nos primeiros textos redigidos em português, estende-se até o século XVI? Consiste na exata representação gráfica dos sons, isto é, um modo de escrever que imite, o mais fielmente possível, a pronúncia usual. Por exemplo: oje, inumano, Cristo, omem, onrrado etc. É o sistema, aliás, ainda hoje seguido pelo espanhol. Revela-se impraticável, porém, dadas as grandes variações prosódicas existentes nas diversas regiões do Brasil e de Portugal e obrigaria a existirem diferentes grafias para a mesma palavra. Assim, e.g., o vocábulo menino deveria ser escrito menino, no Norte e Nordeste, mininu, no Rio de Janeiro, e m'nino em Portugal.

O período pseudo-etimológico, vigorante no português clássico, tem início no séc. XVI e termina em 1904. Pelo sistema etimológico, procurava-se" manter nO vocábulo português as letras do vocábulo la­tino correspondente, ou suposto tal, ainda quando essas letras já não in­dicavam fonemas".4 Por exemplo: phosphoro, physica, auctor, diphthongo, exgotto etc. Impraticável também, embora perdurasse por muito tempo, fez com que a ortografia se tornasse hermética, apenas acessível, em todas as suas minúcias, a um diminuto rol de eruditos. Entretanto, conservou-se oficialmente até 1911 em Portugal e 1931 no Brasil, quando se adotou, aqui e lá, uma ortografia simplificada, con-

Presentemente, o mais atualizado é o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado pela Academia Brasileira de Letras em novembro de 1981, que resol­ve, em grande parte, as imprecisões, omissões, erros e arbitrariedades do Pequeno Vocabu­

lário (PVOLP) de 1943. Cf. Ismael de Lima Coutinho, Gramática Histórica, p. 81.3 Matoso Câmara,Dieionário, cit., p. 167.4

forme os critérios propostos por Gonçalves Viana em seu excelente trabalho Ortografia Simplificada, dado a lume em 1904.

O sistema simplificado, resultante de uma espécie de combinação desigual entre os dois primeiros (o predomínio é do sistema fonético), surgiu com a citada obra de Gonçalves Viana, dispondo-se a imprimir uniformidade gráfica à língua, "com modificações de detalhe" no Brasil e em Portugal. É o que prevalece até hoje.

1.3 - Emprego de Letras que Suscitam Dúvidas

Muitas vezes costuma haver indecisões quanto à escrita de pala­vras em que aparecem as letras g, j (seguidas de e ou 1), c, ç, ch, sc (se­guidas de e ou 1), s, ss, x e z.

Antes de qualquer consideração, forçoso é reconhecer que, sem alguns rudimentos de etimologia, vale dizer, um pequeno conhecimen­to de latim e grego, nem sempre se podem resolver satisfatoriamente aquelas indecisões. Soluções definitivas, regras que removam todas as dúvidas infelizmente não existem. Mas sempre se remedeia a questão se forem adotados os cn térios discriminados a seguir,s ressalvando-se, é claro, as inevitáveis exceções.

[ C, ç (e não S, SS, Se) I

1) Em palavras de origem latina (por assibilação da oclusiva lin­p.uodental precedente): ouço «audio), ração «ratione), nação «na­fúme), fração (<fractione) , março «martiu), preço (<.pretiu) , vicio (<vitiu).

2) Em palavras de origem árabe: açaimo, açude, açúcar, alcácer, açafrão, alcobaça, almaço, almoço, açucena, moçárabe.

Aproveitou-se, aqui, a orientação geral de Celso Pedro Lufl, in Novo Guia Ortográfico, 1980.

2

Page 29: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

50 RONALOO CALDEIRA XAVIER o CÓDIGO ORTOGRÁFICO

3) Em palavras de origem africana ou indígena: c~amba, cacimba, c~anje, miçanga (afric.); ~a~ ar~á, c~ula, moçor6, Muriçoca, mu­çwn, Itacuruçá, maniçoba, caiçara, Juçara, 19u~u, bab~u (indíg.).

4) Nos sufixos:

-AÇA - caraça, testaça

-AÇO - regaço, mormaço

-AÇÃO -prestação, convocação

-ECER - anoitecer, amadurecer

-IÇO - postiço, cediço

-NÇA - bonança, tardança

-UÇA - dentuça, carapuça

-UÇO - dentuço, mastruço

5) Nas correlações:

a) T - ç: ato: acionar; torto: torção; ereto: ereção; isento: isen­ção.

Exceção: dissentir: dissensão.

b) TER - TENÇÃO: conter: contenção; deter: detenção. 6) Após ditongos: feição, compleição, caução, touceira, loução,

fruição.

I CH (e não X) I 1) Através da palatalização destes encontros consonantais latinos:

CL -chamar

FL -chama

PL -chorar

( < clamare), chave ( < clave).

« flamma), achar ( < afflare).

« piorare), chumbo «plumbu).

5:

2) Em palavras de procedência:

a) italiana - espadnchim, bambochata, salsicha, charlatão. b) alemã - chucrute, brecha, chope.

c) espanhola - chiste, endecha, chifre, chorrilho, mochila, bocha, churro, cíncha.

d) inglesa - sanduiche, cheque, charuto.6

e) francesa - chicote, broche, charrete, chofer, chalé, cacheptJ,guieM, cachecol, brioche, chuchu.

l G (e não J) 1

1) Em palavras de origem latina ou grega: tanger, surgir, frigir, reger, regurgitar, tingelus, agence, gentio (Ia 1.); exegese, monge, falan­ge, evangelho, herege, ginasta (gr.)

2) Em palavras de origem árabe: auge, ginete, algibebe, algibei­ra, hégira, algema, álgebra, gergelim, girafa.

3) Nos sufixos ou terminações:

-AGEM - voragem, abordagem, estalagem, viagem (subs.),vendagem. *

-IGEM - fuligem, vertigem, impigem.

-UGEM -lanugem, penugem, salsugem. ** -EGE - frege, sege, bege.

-OGE - anagoge, paragoge.

-ÁGIO - abadágio, pedágio, estágio.

-ÉGIO - egrégio, florilégio, sacrilégio.

II Mas, se o fonema /s( corresponder a sh, grafam·se com x as palavras aportuguesadas: Xam. pu (shampoo), xerife (sheríf) , XamlUi (ShaIH''';' rIr

Page 30: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

52 53 RONALOO CALDEIRA XAVIER

-íGIO - vestfgio, remigio, prestigio.

-ÓGIO - hagiol6gio, eucol6gio, martirológio.

-ÚGIO - refúgio, subterfúgio.

Exceções: * lajem, pajem, viajem (f. v.). ** O PVOLP averba a forma lambujem (de lamber?); lambugem,

porém, parece mais próprio. 4) Geralmente após r: imergir, divergir, aspergir, convergir.

Exceções: alforje (ár.), caborje (de orig. afric., decerto) e nos de­rivados cujo primitivo tenhaj no radical: gorjeio e gorjeta (gorja), tar­

jeta (tarja). 5) Nos derivados cujo primitivo se grafe com g: cartilagilWso (car­

tilagem), viageiro (viagem), rabugento (rabugem), babugeira (babugem). 6) Nas palavras estrangeiras tomadas de empréstimo, em cuja lín­

gua de origem exista o g: gim (ingl.), gitano (cast), sargento (fr.), ge­

losia (itaI.) etc.

\ J (e não G) I 1) Em palavras de procedência latina (através da consonantização·

de um i ou palatalização de di, Si): majestade (maiestate), Jesus (Ie­sus), jeito (iectu), jejum (ieiunu), sujeito (subiectu); hoje (hodie), cere­

ja (ceresia). 2) Em palavras de procedência: a) tupi-guarani: jê, jenipapo, jib6ia, pajé, jequitibá, jerimum, jeri­

vá, jia, jipioca, jirau. b) africana: caçanje, jiló, canjerê, canjica, jimbo, peji, jembê, je­

guetM. c) árabe: alforje, alfanje, ojeriza. 3) Nos derivados cujo primitivo se escreva com j: varejista (vare­

jo), laranjeira (laranja), sarjeta (sarja), rijeza (rijo), encorajemos (en­corajar), enjeitar Ueito), cervejeiro (cerveja).

o CÓDIGO ORTOGRÁFIcO

L IS (e não C, ç ou Z)

1) Nas correlações:

a) ND - NS: ascender: ascensão; pretender: pretensão.

b) RG - RS flspergir: aspersão; emergir: emersão.

c) RT - RS: divertir: diversão; perverter: perversão.

d) PEL - PULS: impelir: impulsão; propelir: propulsão.

e) CORR - CURS: correr: curso, discurso, excursão; incorrer: incurso, incursão.

f) SENT - SENS: sentir: senso, consenso; dissentir: dissensão, dissenso.

2) Em palavras originárias da raiz latina VERS: através (prep. a + través); través (transversu); convés (converso, "lugar onde se con­vcrsa", através de convesso);7 invés (do emprego proclítico de inverso cm loc. adv.);8 revés (reversu, "revirado", apocopado devido ao em­prego proclítico em locuções prepositivas - ao revés de).9

3) Nos sufixos gregos:

-ASE - diábase, estase.

-fSE - diurese, catequese.

-ISE - ênclise, hemoptise.

-OSE - fimose, trombose.

4) Nos sufixos -ÊS, -ESA, -ENSE, -ISA. Os três primeiros for­mam adjetivos derivados de substantivos e exprimem qualidade, ori­gem, nacionalidade, naturalidade; o último forma substantivos femininos; -ÊS e -ESA podem indicar, ainda, títulos nobiliárquicos.

"I Cf. Nascentes, op. cit., p. 205. H Ibid, p. 417. OJ Ibid, p. 653.

Page 31: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

54 55 RONALDO CALDEIRA XAVIER

Exemplos: pedrês, burguês, camponês, galês, finlancMs, burgue­sa, camponesa, galesa, [mlandesa; portuense, setubalense; diaconisa, episcopisa, pitonisa; marquês, marquesa, dogesa, baronesa.

5) Após ditongo: cáiser, máuser, gêiser, lousa, Neusa, Sousa, maisena, coisa, pausa.

6) Nos diminutivos com radical terminado em S: Rosinha, Tere­sinha, Luisinho, casinha, chinesinho, portuguesinho.

7) Nas formas do pretérito dos verbos p()r e querer: pôs, puse­mos; puseras, puséreis; quis, quisemos, quiseras, quiséreis etc.

8) Nos verbos que não têm Z no infinitivo: dás, desdás, vês, pre­

vês, lês, relês etc.

\ se \

Conserva-se o encontro de consoantes se, por motivo etimológi­co, apenas em vocábulos eruditos "introduzidos tardiamente na língua portuguesa (...) através dos meios sociais cultos que sabiam latim".lO Cai o S, entretanto, "nas formas populares (herdadas) e formações vernáculas, isto é, operadas dentro da nossa língua".l1

Importa advertir ainda que a letra S deste encontro consonântico, seguindo-se-Ihe E ou I, não tem valor fonético: nascer pronuncia-se nacer; ascendente, acendente; piscina, picina etc.

Exs. de formas eruditas: imarcescfvel, intumescer, cônscio, ins­ciente, néscio, proscênio, rescindir, enflorescer, pisciforme, reminis­cência, discente, obsceno, intuscepção, imiscfvel.

Exs. de formas vernáculas: envilecer (en + vil + ecer), empalide­cer (em + palid(o) + ecer), anoitecer (a+ noit(e) + ecer).

Exs. de formas populares: aquecer, amarelecer, perecer, umedecer.

\ ss (e não e ou Ç) I

10 Matoso Câmara, ibid., p. 130. 11 Cf. Celso Luft, op. cit., p. 52.

o CÓDIGO ORTOGRÁFICO

1) Nas correlações: a) eED - eESS: interceder: intercessão; aceder: acesso; proce­

der: processo.

b) GRED - GRESS: progredir: progresso; regredir: regresso; agredir: agressão.

c) PRIM - PRESS: exprimir: expressão; oprimir: opressão; de­primir: depressão.

d) PS - SS (por assimilação total regressiva do P): gypsu > ges­so; ipsa > essa (pron. demonst.); ipse > esse (pron. demonst.).

e) RS - SS (por assimihição total regressiva do R): ersa > essa (subst.);persicu > pêssego; morsa> mossa.

f) TIR - SSÃü: demitir: demissão; repercutir: repercussão; ex­cutir: excussão.

I X (e não eH) I

1) Em palavras de origem árabe: almoxarife, xerife (título ,muçul­mano), oxalá (interj.), xácara (narrativa popular em verso), xadrez, en­xoval, xiita, enxovia, enxaime~ abexim, enxaqueca, dervixe.

2) Em palavras de origem africana e indígena: orixá, babalorixá, exu, Oxum, Oxosse, Oxalá (subs.), Xm1l,'Ô, axé,' muxiba (afric.); abaca­xi, xavante, xexéu, Xingu, Xuf, cambaxirra, xará (homônimo), xaxim (indíg.)

3) Em palavras de etimologia desconhecida, em formações mo­dernas e termos da gíria: xucro, xe~a, mixa, mixuruca, xilindró, xixi, xela, xii, x()! xenxém, xerém, xereta. 2

4) Em palavras de origem latina (através da palatalização de se, s, ,\'.\~ ps): peixe (pisce), bexiga (vesica), paixão (passione), caixa (capsa).

5) Após ditongo e, freqüentemente, N: seixo, baixote, trouxa, en­faixar, enxerto, enxada, enxugar, guanxuma, enxúndia, enxurrada.

Il Como a base do vocábulo é o v. cheirar, "o xereta anda cheirando por toda parte à procu­ra de novidades", a melhor grafia seria com ch. (Cf. Antenor Nascentes, op. cit., p. 785.)

Page 32: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

57 RONALDO CALDEIRA XAVIER 56

Exceções: encher, enchova, ancho, poncho etc. E também quan­do o prefixo EN- é ligado a radical iniciado por eH: encharcar (char­co), enchumaçar (chumaço), enchiqueirar (chiqueiro) etc.

6) Em certas palavras de origem castelhana (derivado de J) e in­glesa (v. nota 5): xerez, perrexil (perejil), lagartixa (lagartija); xampu, xerife (funcionário investido de poder policial e judicial), xelim, Xan­

gai. 7) Em palavras de origem grega: anaptixe, Xenofonte, Xen6crates,

enxárcia, xantose, xenofilia.

[ z (c não s) I 1) Nos sufixos -IZAR e -IZAÇÃO (sempre que o radical não ter­

minar em S, pois neste caso, é acrescido apenas o sufixo -AR): moder­nizar, colonizar, catequizar, sintetizar, americanizar, pulverizar; civi­lização, atualização, concretização, estabilização, humanização, ridi­cularização.

Palavras com radical terminado em S: pesquisar, analisar, catali­sar, divisar, alisar, avisar, eletrolisar, irisar, frisar etc.

3 3) Nos sufixos -EZ e -EZA, que formam substantivos abstratosl

derivados de adjetivos: esbeltez (esbelto), sisudez (sisudo), sensatez (sensato), flacidez (flácido), viuvez (viúvo); fraqueza (fraco), nobreza (nobre), pureza (puro), realeza (real), riqueza (rico).

Obs.: Os sufixos -EZ e -EZA derivam, respectivamente, do lat. ­itie e -itia e designam estado, qualidade.

4) Nas terminações -AZ, -EZ, -IZ, -OZ, -UZ, quando correspon­derem, respectivamente, ao lat. -ACE, -ECE, -ICE, -OCE, -UCE: ra­paz (rapace), dez (decem), feliz (felice), atroz (atroce), luz (luce).

A distinção entre suhstantivo concreto e abstrato é de ordem filosófica, transcendendo, 13 pois, o âmbito meramente gramatical. Concretos são os subslantivos que têm existência per se, independente, podendo designar seres reais (pedra, hidrogênio), espirituais (alma, Deus) ou ficllcios (saci-pererê, centauro); abstratos são os subslantivos cuja existência está vinculada à de outro de que dependem para existir, podendo designar q.ualídade (lividez, beleza), estado (devaneio, doença) ou ação (casamento, veneração).

o CÓDIGO ORTOGRÁFICO

Obs.: Nestes casos, ocorre a sonorização do c intervocálico. Dá­se o mesmo metaplasmo em fazer (facere), dizer (dicere), vazio (vaci­vu), vizinho (vicinu) etc.

5) Em palavras de origem árabe: chafariz, albornoz, vizir, alca­ç'uz, algazarra, Alzira, azêmola, azenha, azeviche, azimute, alcazar, al­goz, azougue, azáfama, muezim, azar.

6) Quando constitui consoante de ligação: cafezinho, caquizeiro, pazada, pezudo, chazinho, balãozinho, pasteizinhos.

Obs.: Não será usado, evidentemente, se o radical terminar em S: paisinho (pais), adeusinho, marquesinha, mesinha (mesa; porém mezi­nha, do lat. medicina, remédio). Como se verifica, o sufixo acrescido, em todos os casos deste item, é -INHO; o Z, quando aparece, é mera consoante de ligação.

NOTA: Os nomes que outrora indicavam filiação, contrariando a etimologia (por não se usar Z em final de palavras que não sejam oxítonas), escrevem-se com S: Mendes (filho de Mem); Rodrigues (de Rodrigo), Lopes (de Lopo), Ramires (de Ramiro) etc.

1.4 - Emprego do Hifen na Prefixação

De ordinário, o prefixo escreve-se preso ao radical. Todavia, existem casos em que, segundo determina o PVOLP, deverá haver separação por hífen. A Instrução nQ 45 do Formulário Ortográfico diz: "Só se ligam por hífen os elementos das palavras compostas em que se mantém a noção de wmposição, isto é, os elementos das palavras compostas que mantêm a sua independência fonética, conservando cada um a sua própria acentuação, porém formando o conjunto perfeita unidade de sentido."

Com relação ao emprego do hífen nas palavras aprefixadas, as normas são as seguintes:

a) Elementos sempre hifenizados:

ALÉM- além-mar, além-túmulo.14

AQUÉM- aquém-fronteiras, aquém-mar.

( 'O "1 15 4 - ••••••••••••••••••• co-reu, CO-pl oto.

I~ MasAlellquer, Alentejo e derivados. l~ Tem sentido dc cOlltigüidade, companhia, complemellto. Em certas formações modernas,

tornadas tradicionais, vem grafada sem hlfen: cologaritmo, coabitar, coirmão, coadjutor cte.

Page 33: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

59 58 RONALDO CALDEIRA XAVIER

EX_16 ••••••••••••••••• " ex-aluno, ex-ministro.

GRÃ-, GRÃo- Grã-Bretanha, grão-prior.

NUPERY nuper-falecido.

PÓS-, PRÉ-, PRÓ_IS pós-guerra, pós-operatório; pré- nupcial, pré-natal; pró-americano, pró-socialista.19

SEM- sem-fim, sem-vergonha. . - 21SOTA. -20 sota-capltao, sota- proa.

SOTO- soto-ministro, soto~soberania.22

VICE- vice-govemador, vice-presidente.

b) Elementos hifenizados em alguns casos:

1) Antes de vogal e h

MAL mal-estar, mal-humorado. PAN pan-asiático, pan-helênico.

2) Antes de h e r

HIPER hiper-humano. INTER inter-resistente. SUPER super-homem, super-resistente.

3) Antes de h, r e s

ANTE ante-histórico, ante-republicano. ANTl anti-humano, anti-religioso. ARQUI arqui-rabino, arqui-sábio. SOBRE sobre-humano, sobre-selo.

16 No sentido de cessamellto ou estado anterior. 17 Tem o sentido de recelltemetlte. 18 Quando constituírem monossOabos tônicos abertos; quando ~tonos, não bavern bífen: pos­

pasto, predetermillado, procôllsul. 19 O prefIXO PRÓ- significa a favor de. 20 SOTA· é equivalente de SOTO-; têm ambos o sentido de posição ill/erior, debaixo. 21 Mas sotavemo, solavelltear. 22 Mas sotopor, SOIOposlo.

o CÓDIGO ORTOGRÁFICO

4) Antes de r

AB ab-rogar. AD ad-rogar. SOB sob-roda. SUB sub-rogar.

5) Antes de voga~ h, r e s

AUTO auto-análise, auto-sugestão. CONTRA........................... contra-almirante, contra-revolu~ão. EXTRA.............................. extra-alcance, extra-hospitalar.2 INFRA infra-estrutura, infra-som. INTRA............................... intra-ósseo, intra-hepático. NEO neo-escolástica, neo-republicano. PROTO proto-árico, proto-histórico. PSEUDO............................ pseudo-esfera, pseudo-sigla. SEMI semi-esfera, semi-reta. SUPRA supra-excitante, supra-sensível. ULTRA.............................. ultra-humano, ultra-romântico.

6) Antes de vogal

CIRCUM circum-adjacente.

7) Antes de palavra com autonomia fonética ou quando o exige apronúncia

BEM bem-amado, bem-ditoso.

1.5 - Translienação

Translienação é o ato de passar, ao escrever, de uma linha para a IIcguinte, de modo que parte de um vocábulo fique no fim da linha su­perior e o restante no início da linha inferior.

~.1 Mas extraordillário, consagrado pelo uso.

Page 34: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

'

61 o CÓDIGO ORTOGRÁFICO

prática, apesar disso, fere a estética, razão por que deve ser evitada. Assim se translineiam as palavras abaixo:

60 RONALOO CALDEIRA XAVIER

Translinear de forma adequada é mais uma questão de estética e de equilíbrio gráfico do que, propriamente, uma norma da disciplina gramatical. Todavia, é de bom alvitre adotar, na translineação, os crité­rios a seguir discriminados.

12) Não separar letras que integrem ditongos (decrescentes ou crescentes) e tritongos:

ou-lro-ra Es-có-cia sa-guão

cui-da-do lê-nue Ja-ce-guai

lso-freu Ií-rio de-sa-guou

22) Não separar encontros consonantais que principiam sílaba e

i os dígrafos eh, lh e nh:li

2 ) Se se tratar de compostos hifenizados ou formas verbais com pronomes átonos encIíticos ou mesoclíticos, e o hífen coincidir com o final da linha, permite-se a repetição do sinal gráfico, embora O uso não seja comum:

contra­ pé-de­ lugar­ dei­ conservá-I 0­-torpedeiro -moleque -tenente -lhe -íamos

l.6 - Abreviaturas

Os imperativos de objctividade, brevidade e rapidez consagram, na comunicação escrita, várias abreviaturas ou formas de representar uma palavra por meio de algumas de suas letras ou sílabas. Abreviar uma série considerável de termos rotineiros, consoante a praxe epistolar, há muito se tornou costumeiro em correspondência oficial e comercial, bem ainda cm redação forense e cartorária.

Para o advogado, têm imediato interesse:

Il c1o-ró-ti-co

cni-dá-rio

tme-se 1

psi-co-se::1III 1

I

ca-cha-ço

lha-ma

nha-que

es-tre-mu-nha-do

,Iii 32III'

) Podem separar-se as letras que constituam vogais de hiatos, "1

embora seja preferível evitar fazê-lo: 1'II ,1 111

ill'l

III I" co-o-nes-lar xi-í-la IlIill 1'1'11 pre-e-xis-ten-te gra-ú-do 1':1:1

IrIrr! en-do-en-ças fu-i-nha Ilili Ilull ,11,11 42) Separam-se as consoantes de sílabas diferentes, bem assim as li:l:II,:, letras dos dígrafos rr, 5S, se, sç e xc: '~ '!~: I 'II abs-ter bir-ren-toJ1'1

:I::~: ooc-cix os-su-do II~I

~ gíp-seo abs-cis-sa'!\~I 'l\~1 ter-çol cres-ça-mos~~:

I:~IIII sen-so ex-ce-to 11 '111

'/'I::1

'1 :: 11

'~II~I NOTAS: :11\11

~ I~\, ln) O atual Formulário Ortográfico permite a translineação de pa­

1,11111

ii;:: 1 lavras de sorte que uma só vogal fique no fim ou no início de linha. Tal I!~l:

1:;;1:

ôme· / ga

ile- / gal

úmi-/do

acô- / nilo ou acôni - / lo

n

iÔ-/nico / ou iôni- / ce

ele- / vado ou eleva- / do iná- / bil

abi- / eira ou abiei - / ra

A

M. (u) (oa)

lI.C.

Ne AD.

111m. ulv. Il,m.

A.M.G.D.

autor

autores

assinado(a)

assinados(as)

antes de Cristo

aos cuidados

ano Domini (no ano do Senhor) almirante

alvará

ante meridiem (antes do meiO-dia)

ad maiorem gloriam Dei (para maíor glória de Deus)

Page 35: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

63 62

ap.

apart., ap.

art. ata

Av. 1

B:éis

B.

c.-alm.

cap.

cb.

c/c ia

II e. ciL

cód.

códs.

Cód.

com. e

com. c

comp. ocons

el cor. ou c.

cp.

cr" era

Cx.

D.

d.e.

DD.

dec.

desc.

desp.

doe.

does.

Dr.

Drs.

Dr" Dr"s

RONALDO CALDEIRA XAVIER

Apud (em junto a); emprega-se para indicar a fonte de uma citação

apartamento

artigo

atento, atencioso

avenida (toponimicamente)

bacharel

bacharéis

contra-almirante

capitão, capítulo

cabo

conta corrente

companhia

citação, citado(a)

códice

códices

código

comandante, comendador

comadre

compadre

conselheiro

coronel

compare

criada

criado

caixa

dom, dona, digno

depois de Cristo digníssimo

decreto

desconto

despesa

documento

documentos

doutor

doutores

doutora

doutoras

dz.

E.C.

ed.

E.D.

e.g.

E.M.

Em"

Em.mo

E.R.

E.R.M.

etc.

ex.

Ex' E max. E mox.

f. ou fi. fls. fase. l'" Fr.

fs. gen.

g.m. O.M.T.

OlP h,c.

hon.

H.P. herda

Ib. ou ibid.

Id. I.e. '

lI.mo II,mo

' tnd. : I,N.RJ

:1.1.

o CÓDIGO ORTOGRÁFICO

dúzia

era cristã

edição

espera deferimento

exempli gratia (por exemplo)

em mão, Estado Maior Eminência

Eminentíssimo

espera resposta

espera receber mercê

et coetera (e outras coisas)

exemplar, exemplo

Excelência

Excelentíssima

Excelentíssimo folha

folhas

fascículo

fólio

frei

fac-símile(s)

general

guarda-marinha

Greenwich Meridian Time (hora do meridiano de Greenwich)

ganhos e perdas

honoris causa (por honra, honorariamente) honorário(s)

horse-power (cavalo-vapor); também cv herdeiro

ibidem (aí mesmo, no mesmo lugar) idem (o mesmo)

id est (isto é)

Ilustríssima

Ilustríssimo

índice

Jesus Nazarenus Rex Judaeorum (Jesus Nazareno Rei dos Judeus)

latim, latino, latitude

Page 36: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

65 64 RONALDO CALDEIRA XAVIER

lég. légua

légs. léguas

loco cito loco àtato (no lugar citado)

L.Q. lege, quaeso (leia por favor)

rnJ meu(s), minha(s)

rnJa meu aceite

maj. major

Mag. magistrado

M.D. muito digno Me madre

rnJo minha ordem

rnJp meses de prazo

MM. Meritíssimo

M.P. Ministério Público

n. nome

N. norte

N.S. nota bene (note bem)

n/c nossa carta, nossa conta

n/eh nosso cheque

N.doA. nota do autor

n° número

N.Obs. nihíl obstat (nada obsta)

n/o nossa ordem

n/s nosso saque

ob. obra

ob. cito obra citada obrO obrigado

obs. observação

op. cito opus citatwn (obra citada)

p. página

pp. páginas

passo passím (aqui e ali, em diversos lugares)

P.e padre

P.D. pede deferimento

p. ex. por exemplo

P.E.F. por especial favor

P.E.O. por especial obséquio

pJ. próximo futuro

p.f.v.

pg.

PJ.

p.m.

P.M.E.

P.M.O

P.M.P

p.p.

presb·

P.R.l.

P.S.

pme.

Q.G. q.v. q.v. reco

reg·

Rev·

s/ s/a sarg. SAR.L.

se. S/c séc. sécs.

seg.

IJegs. ou ss.

•.d. ou s/d

S.Em'

S.Em"

S.E.O.

S. Ex' S. Ex" ...

IS. Ex" Rev.

ii;"

S. Ex" Rev.m..

:; '/ ./f

O CÓDIGO ORTOGRÁFICO

por favor, volte

pago, pagou

pede justiça

post meridiem (depois do meio-dia) por mercê especial

por muito obséquio

por máo própria

por procuraçáo, próximo passado presbítero

pede recebimento e justiça

post scriptum (pós-escri to)

processo, procuração, procurador quartel general

queira ver, queira voltar

quodvíde (veja isso) recebido

registrado

reverendo

seu(s), sua(s)

seu aceite

sargento

sociedade anônima de responsabilidade limitada

scilicet(a saber, quer dizer)

sua carta, sua conta

século

séculos

seguinte

seguintes

sem data

Sua Eminência

Suas Eminências

salvo erro ou omissão

Sua Excelência

Suas Excelências

Sua Excelência Reverendíssima

Suas Excelências Reverendíssimas seu favor

Page 37: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

67 66

S.Il.ma

S.Irmas

S.MJ.

Soe.

Sr.

Sr""

Sr'

Sr" S.P.

S. Rev.'

S. Rev/

S. Rev.ma

S. Rev.mas

S.S'

S.s" ten. ou rle

eI ten.-c.

testo test.o

v. v.º

v.~

V.-alm.

v/c

V.Em.'

V.Em."

V.Ex.'

V.Ex."

V.Ex.'Rev.ma

V. Ex." Rev. mas

v.g. V.Il.m

V.Il.mas

cê vm.

V.M:"

V.M.oê

'

v.o

v/o

RONALDO CALDEIRA XAVIER

Sua lIustríssima

Suas Ilustríssimas

salvo melhor juízo

Sóror

senhor

senhores

senhora

senhoras

Serviço Público

Sua Reverência

Suas Reverências

Sua Reverendíssima

Suas Reverendíssimas

Sua Senhoria

Suas Senhorias

tenente

tenente-coronel

testemunha

testamento

veja, você, verso, vapor

viúvo

viúva, vila

vi ce-aI mirante vossa conta (comercialmente)

Vossa Eminência

Vossas Eminências

Vossa Excelência

Vossas Excelências Vossa Excelência Reverendíssima

Vossas Excelências Reverendíssimas

verbi grafia (por exemplo)

Vossa lIustríssima

Vossas Ilustríssimas

vossemecê, vosmecê

Vossa Mercê

Vossas Mercês

verso (lado posterior)

vossa ordem (comercialmente)

o CÓDIGO ORTOGRÁFICO

vol. volume

vols. volumes

V.Rev.' Vossa Reverência

V.Rev.o" Vossas Reverências

V.Rev.ma

Vossa Reverendíssima V.Rev.m.. Vossas Reverendíssimas

V.S.' Vossa Senhoria

V.S.'" Vossas Senhorias

V.S.' I1.ma

Vossa Senhoria Ilustríssima

V.S.'"I1.m.. Vossas Senhorias II ustríssimas

1.7 - Exercicios

1) Assinalar a única série em que todas as palavras estão escritas corretamente:

a) sisudez - Tordesilhas - toneisinhos - papisa... · ( )

b) tibieza - azinhavre - Terezina - zíngaro . ... · ( )

c) sistematizar - rizotônico - brazão - mazorca. . . · ( )

d) paisano - abrasivo - soez - topázio. . . . . · . · ( )

e) comezaina - amásio - pasteurisar - irizar. · ... ( )

2) Idêntico ao anterior:

a) Quixeramobim - enchotar -lixívia - achavascar. .. ( )

b) cachopa - cabrocha - guta-percha - caxalote.. . ( )

c) bexigoso - madeixa - repucho - pechincha. · . · ( )

d) coxeira - taxa - buxo - enchada. . ....... · ( )

e) enxergão - ouriço-cacheiro - xisto - xaréu. . . . · ( )

3) Idêntico ao anterior:

o) caçoila - exalçar - desasseado - mussulmano. . .. ( )

b) ablução - &blação - possessório - insulso. . .... ( )

Page 38: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

69

68 RoNALOO CALDEIRA XAVIER

maçarico - rechaçar - distorsão - descalso. ( ) c) ( ) remição - passo - manissoba - açorda.. . . d)

excessão - cachação - promissão - exação. ( ) e)

4) Preencher os claros com as letras G ou J:

ba eenseen eitar babu emvár ea tan erino.......inga ... er elimintru ice man ericãoti ela fuli inosorabu ento sabu iceenri ecer via eirohere e gran eirovare ista Iison earla edo

5) Preencher os claros com as letras eH ou X:

gua e.......erelete lu açãoca ........ umba boi evique..... .ique .......ique mu o ....... o pe isbeque quí uaha .i e pi aimen Ó ca imôniapi e morubi abaca .inguelê capu .inhori ento ....... ícara ...in i1a

6) Preencher os claros com as letras e, ç, S ou SS:

ob e ão desa o ego

ob eca ão pia abá ma i o ma i1ento

contor ãopre ...... un aso se e ãodespreten ioso extor ionáriosuí ...... o

o CÓDIGO ORTOGRÁFICO

hortên ...... ia re en ão

sa aricar per ua ão desa i ...... ado con un ão so obrar excur ionista

7) Preencher os claros com as letras S ou Z:

aspere a anana eiro

mai ena catequi ar

cuscu . ani .. atena ar bra ão vi eira higieni ar

qui ília arte anato

u inagem indi ível ala ão ga ista

re inoso va amento rude a framboe ..... a su erano cafu o fri a enfe ar

fre a extrava ar

inferni ar marque a aneste iar japone inho

8) Usar -ES, -ÊS, -ESA, -EZ, -EZA ou -ISA conforme o caso.

espert . Fernand . malt .. baron .

surd .. entrem .

malvad . torp .. montanh .. poet . corrent .. singel .

Domingu . torqu .. veron . gravid .

sacerdot .. cingal .

noruegu . maci .

Page 39: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

I,I i~,11 ~I 'Ii:I ' '1111

il' 11'1

I1 1;:\

111

1

11,",II,illllI !'I

111 1'1

111 11\'1 ,I' il' li,' '11'11 ," 1I1

I I' '1"

,1 ', illl

li' ,:11

1'\1 11,1

il,I,! 1111

111

"

1I \,,1:,:"11

11'1I' I,I

'li II!I 111 11 11

II~I 1111,1

I 11

1

11 1II

l:li \'Iil

1I1I II 1

1 11"11 1

I I'ill)

I 1

1"11I: II

i 1",1

l ,'''" 1',1,1

'" '11 1

1)1"1 "

, I I 1 !Ií II

I

111'i,r 1111,1

li ",11 1

,1 1II 1

,il\1I

1l 1II

li, :!,\II

70 RONALDO CALDEIRA XAVIER

9) Assinalar a série em que não houve erro quanto ao emprego do hífen:

a) anticristo, antenupcial, hiperestesia, arquiduque. . . ( )

b) sub-solo, anteontem, co-fundador, ex-colega. . . ( )

c) malentendido, vice-reino, anti-semita, subárea. . ( )

d) inter-americano, interdisciplinar, intraocular, Grão-Mogol. . ( )

e) anti-corpo, semi-roto, pré-operat6rio, co-secante. . . . . . . ( )

10) Assinalar a série em que houve erro quanto ao emprego do hífen:

a) sobrecarta, subtenente, contravapor, protazoário. .

b) semideus, infravermelho, hipertenso, ultramarino.

c) ad-renal, superestrutura, supra-sumo, soto-mestre

d) intramuscular, autocontrole, subárea, neolítico. .

. ( )

. ( )

. ( )

. ( )

e) pan-americano, bem-vindo, semiaberto, bem-aventurado. . ( )

11) Assinalar as palavras que, por sua formação, não devem ser translineadas:

útil .... ( )

psoríase . . ( )

pneu · .. ( )

cnêmio .. ( )

água · .. ( )

mnêmico . ( )

acuo · .. ( )

fricção .. ( )

amuo ... ( )

arras · .. ( )

averiguou .... ( )

avião ....... ( )

ósseo ....... ()

fúcsia ...... ()

atual ....... ( )

acne ....... ( )

pUlSe ....... ( )

atol . . . . . . . . ( )

cioso . . . . . . . ()

apoio ....... ()

1:i· r 'J-c

"Uma verdade há, que me não assusta, porque é universal e de universal consenso: não há escritor sem erros."

UNIDADEllI

(Rui Barbosa, Réplica, p. 49, nº 10)

VÍCIOS DE LINGUAGEM

A correção, sustenta Matoso Câmara Jr., é um conceito "muito relativo", havendo duas maneiras para alcançá -Ia: a atitude dogmática e a atitude liberal. Misoneístas por formação, os dogmáticos aferram-se à norma estabelecida, cristalizada no tempo, ainda quando em franco desuso e à beira do anacronismo. Os liberais, a contrario sensu, mos­tram-se transigentes e compreensivos, aderindo com freqüência às coisas novas que já sentem firmadas nas tendências do idioma.

Ambas as posições, se radicais, são condenáveis. A primeira, pelo apego teimoso ao imobilismo lingüístico, arrisca-se ao estranho e ao ridículo, o que não raro acarreta insanáveis prejuízos à naturalidade expressional. A segunda, pela excessiva tolerância, peca por encampar certos desmandos e inovações contrários à linguagem consagrada. Num caso, tem-se o rigorismo formal enclausurado em si mesmo, fazendo vista cega ao progresso; noutro, franqueia-se a ampla receptividade, capaz de comprometer o alinho e a elegância da linguagem, por distan­c~á-Ia de suas legítimas tradições.

Ora, em questões de linguagem, cumpre saber onde se encontra o verdadeiro ponto de equilíbrio: nem elas devem ser negligenciadas, nem levadas a sério exageradamente. Aí reside o ideal lingüístico a ser atingido, ou seja, uma resultante em que se combinem ponderadamente o prestígio à tradição e a exigência dos novos tempos. Em matéria de

I 11,11

,'1,1

1I

Page 40: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

73 VíCIOS DE LINGUAGEM RONALDO CALDEIRA XAVIER72

correção, esse juste-milieu será obtido se forem evitados os erros que dificultem a compreensão da mensagem, que manifestem precariedade no domínio da língua culta e que dêem a impressão de falsa originalidade no modo de falar ou escrever. Além disso, é preciso ter sempre em conta que a língua se bifurca em culta e popular, com áreas de influência mais ou menos demarcadas. Se aquela é conservadora, tendente a manter inalterada a lição dos mestres e fixar um ideal literário, esta é o veículo de comunicação próprio das grandes massas iletradas, que têm na espon­taneidade e vigor da expressão a sua grande arma.

A gramática expositiva ou metódica é sempre um complexo de normas criadas pela sociedade culta, escolarizada. E a norma culta não passa a ser oficialmente adotada porque é a língua da burguesia ou da classe dominante, mas por ser a única que possui uma dimensão supra­dialetal, isto é, por ultrapassar os falares regionais.

Mercê de sua vulgaridade como veículo de comunicação interpes­li! I 1,1', soaI, porém, a linguagem - mormente no domínio da oralidade pura ­,~II,

sofre um processo de desgaste, pela simplificação excessiva que muitos emprestam ao ato de falar, a qual, inevitavelmente, irá refletir-se no âmbito da escrita. Com o passar do tempo, tal força modificadora,

"11111

arraigando-se, acabará por influir também no conjunto dos fatores cons­tituintes da correção lingüística, dificultando sobremaneira a erradicação 1'~111 dos "erros" disseminados entre os usuários da língua.

1

1

1 Neste ponto, urge perguntar: será válida a linguagem usada pelo II!,~IIII "povão"? Ora, se toda língua é um diassistema - e não somente um

,.11 sistema -, a resposta propende para a afirmativa. Não deve, contudo,

''I1 .1

1

haver radicalismos. Em última análise, o problema da linguagem restrin­,lljlll ge-se a uma adequação à situação social. Essencialmente, não há falar-se 1,1:

,. 1 em linguagem melhor que outra, e sim mais adequada, pois cada qual ,li está sempre a serviço da comunicação.

Entende-se por vício de linguagem qualquer transgressão à norma11"1 1

lingüístical em curso na classe social que detém o maior prestígio cultural II

no país. Os vícios de linguagem podem ocorrer no âmbito fonológico, 1,11

morfológico ou sintático e, pela freqüência da repetição entre os menos !:'I 1,'1

1:1

I ,I 1 Segundo Matoso Câmara Jr., norma é o "conjunto de hábitos lingüísticos vigentes no lu­II gar ou na classe social mais prestigiosa do país, O esforço mesmo latente para manter a II norma e estendê-la aos demais lugares e classes é um dos fatores que se chama a corre­

I,I!I/ ção". E adiante, o ilustre lingüista acrescenta: "A .norma é uma força conservadora na lin­

1'1II guagem, mas não impede a evolução lingüística, que está na essência do dinamismo da

I1 língua, como de todos os fenômenos sociais." (Dicionário, ciL, p. 247), 1'111

IIII'1,,1

letrados, vêm a tornar-se hábitos inveterados de que se devem escoimar os bem-falantes e os que aspiram a escrever corretamente o seu próprio idioma.z

Os vícios de linguagem mais comuns são os seguintes:

a) barbarismo

b) solecismo

c) sínquise

d) ambigüidade ou anfibologia L

e) tautologia

t) chavão, chapa ou clichê

g) cacófato ou cacofoni a

h) parequema

i) eco ou assonância

j) hiato

I) colisão

m) neologismo

n) arcaísmo

o) plebeísmo'

p) preciosismo '

q) hibridismo

a) BARBARISMO - é a designação genérica do erro de morfolo­gia, ou seja, o que se verifica em relação às palavras, envolvendo

2 O erro de linguagem é sempre um efeito; não poderá ser corrigido sem se lhe conhecer a causa, ou melhor, as concausas. Entre estas, impõe-se alinhar a leitura insuficiente e desa­tenta, o comodismo fácil no ato comunicativo oral ou escrito, o desamor pelo estudo do idioma nacional, o alheamento aos bons autores e o despreparo intelectual. São palavras de Leite de Vasconcelos: "Na verdade uma Ifngua não pode ficar estacioná­ria de século para século, e tem de reflectir os acidentes sociais, os progressos do eSl'frito, as mudanças dos hábitos, os cruzamentos étnicos; mas há sempre uma norma que todos precisam de acatar: é o que os antigos chamavam gênio idiomático." (Lições de Filologia Portuguesa, 1966, p. 329.) No que respeita a Portugal (e, diríamos n6s, por que não - e principalmente - ao Brasil?), adita o celebrado fil610go, esse gêllio "vai-se apagando cada vez mais", o que se deve As seguintes causas: 1) frouxa ou nenhuma leitura dos nossos livros clássicos"; 2) "desco­nhecimento, cada v,ez maior, do latim" (esse mesmo latim que, ates\a-o José Joaquim Nu­nes, "constitui, por assim dizer, o sllbstratum do nosso idioma; foi ele que, passando por continuas transformações, produziu a fala de que hoje nos servimos, a qual na sua essência é a mesma que há vinte séculos se ouvia na boca da plebe de Roma". (Compêl"Jio de Gra­máticaHistóricaPortuguesa, 1956, p. 18.); 3) "influência da literatura francesa"; 4) "fal­ta de selltimellto patriótico. Parece que todos porfiam em se desllaciollalizarem!" (Grifo nosso. )(Op. cit., p. 330.)

Page 41: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

74 75

RONALDO CALDEIRA XAVIER VÍCIOS DE LINGUAGEM

pronúncia, grafia, significação e empréstimos vocabulares não integra­dos ná língua nacional.

São espécies de barbarismo a cacoépia, a silabada, a cacografia, o cruzamento e o estrangeirismo.

1) CACOÉPIA- é a má pronúncia decorrente da emissão incor­reta dos sons, da articulação defeituosa dos fonemas. Opõe- se à ortoé­pia ou ortofonia.3 Recebe o nome de silabada quando consiste em deslocar, indevidamente, a sílaba tônica dos vocábulos.

m!

I

'11

\1

" I 1·

\'.1 1

1I ":'.~ I ' I i,lJll ,I I11111

il'lll

\ I

'1.11111

1I111I1

,11'11

II!I 111

11 :

I 11'1

1i'

Exemplos de cacoépias:

PRONÚNOA INCORRETA

acervo (ê)

adrede (é)

alameda (é)

ambidestro (é)

anaptixe (x =cs)

anexim (x =cs)

aniqüilar

badejo (ê)

bolsos (6)

canhestro (é)

canoro (ô)

cerda (é)

coldre (ô)

colméia

contornos (ó)

destra, subs. (é)

destro, adj. (é)

distingüir

PRONÚNCIA CORRETA

acervo (é)4

adrede (ê)

alameda (ê)

ambidestro (ê)

anaptixe (x =ch)

anexim (x =ch)

aniquilar

badejo (é)

bolsos (ô)

canhestro (ê)

canoro (6)

cerda (ê)

coldre (ó)

colmeia

contornos (ô)

destra (ê)

destro (ê)

distinguir

3 Parte da gramática que trata da correção dos vlcios de prontlncia, tendo em mira o uso cul­1 " .. '1

1I to e tradicional da Hngua. I. '1 1

l ,il,1 4 Todavia, ao menos no Brasil, a prontlncia usual é acervo (ê). ,)",

dolo (ô)

efebo (é)

equitativo

extingüir

fomos (ô)

gleba (ê)

grumete (é)

hissope (ô)

ileso (é)

inodoro (ô)

inqüérito

leso (ê)

obeso (ê)

obsoleto (ê)

odre (ó)

poça (ó)

probo (ô)

proteico

proxeneta (x = ch)

quiproquó

servo (ê)

sintaxe (x =cs)

subsídio (s =z)

Tejo (ê)

tóxico (x =ch)

trocos (ô)

tropo (ô)

virtuose (ó)

dolo (ó)

efebo (ê)

eqüitativo

extinguir

fomos (ó)

gleba (é)

grumete (ê)

hissope (ó)

ileso (ê)5

inodoro (ó)

inquérito

leso (é)

obeso (é)

obsoleto (é)

odre(ô)

poça (ô)

probo (ó)

protéico

proxeneta (x = cs)

qüiproquó

servo (é)

sintaxe (x =ss)

subsídio (s =ss)

Tejo (é)

tóxico (x =cs)

trocos (ó)

tropo (ó)

virtuose (ô)

5 Obs.: Assim o registram os Vocabulários das Academias Brasileira e de Lisboa; contudo, a pronúncia mais ouvida, no Brasil e em Portugual, é iléso, em consonância, aliás, com o éti­mo la tino illaesus.

Page 42: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier
Page 43: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

79 78

récorde resfolego (Lv.) ruim (ú) rúbrica sêniors Tamisa Tessalônica textil ou téxtil transfuga uréter

zefiro

zenite

RONALOO CALDEIRA XAVIER

recorde (cór) resfólego (ou resfolgo) ruim (í) rubrica seniores (ô) Tâmisa Tessalonica têxtil trânsfuga ureter (tér)

zéfiro

zênite

Obs.: Com relação a certos vocábulos, nota-se certa vacilação de pronúncia, mesmo na língua culta. Enquadram-se neste caso, entre ou­tros: hieróglifo ou hieroglifo, Oceânia ou Oceania, projétil ou projeti~

réptil ou reptil, sóror ou soror, zt1ngão ou zangão, homilia ou homília, biopsia ou biópsia.

2) CACOGRAFIA - é o erro de grafia (troca, transposição, em­prego indevido de letras, partição silábica defeituosa etc.).

Abreviatura: Lv. = forma verbal.

antidiluviano

ascenção

bandeija r bandero (Lv.)

barguilha, barriguilha

beberragem

beneficiência

berganha,braganha

berruga

bibloquê, bliboquê

bicabomato

bonanchão

borborinho

botequinheiro

brechó

bruxolear

buginganga

busuntar

burnir

cabeIeleiro, cabelereiro

cachemira, casemira

cagoete

cambuca, combuca

caminhonete

camondongo

candieiro

carangueijo

cascorão

cataclisma

cerze (Lv.)

chipanzé

cincoenta

VíCIOS DE LINGUAGEM

antediluviano

ascensão

bandeja

bandeiro

braguilha

beberagem

beneficência

barganha

verruga

bilboquê

bicarbonato

bonachão

burburinho

botequineiro

beIchior (xiór)

bruxulear

bugiganga

besuntar

brunir

cabeleireiro

casimira

aIcagüete

cumbuca

camioneta

camundongo

candeeiro

caranguejo

coscorão

cataclismo

cirze

chimpanzé

cinqüenta

Exemplos de cacografias:

FORMA CACOGRAFADA

abóboda aborígene abcesso abcissa abstei-vos abstênio acharcar advinho aforisma aleja (Lv.) anseiemos (Lv.)

FORMA ORTOGRAFADA

abóbada aborígine abscesso abscissa abstende-vos abstêmio achacar adivinho aforismo aleija ansiemos

Page 44: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

81

'!flil

80 RONALDO CALDEIRA XAVIER

clip cocoruto

comerceio (Lv.)

coringa cotia

criminalogia

cromossoma

defamar

degladiar

delapidar

depedrar

descriminalizar

descortínio7

desencarrilhar

desinteria

destrinchar

detetar

dignatário

dispender

dissenção

elefoa (forma inexistente)

embandero (f.v.)

embigo empazinar

endemoniado

enganjar

clipe

cocuruto comercio

curinga

cutia

criminologia

cromossomo

difamar

digladiar

dilapidar

depredar

descriminar6

descortino

descarrilar

disenteria

trinchal

detectar

dignitário despender

dissensão elefanta

embandeiro

umbigo

empanzinar

endemoninhado

engajar

6 v. esta p}ilavra em Glossário de Verbos Jurídicos. 7 Este é um caso - a exemplo de outros, como atocalhar por atocaiar; quites por quite; pú­

dico por pudico; aflexim (cs) por aflexim (ch) etc. - de ultracorreção ou hiperurbaflismo, caracterizado pela excessiva preocupação "de falar bem que redunda em erro". (Cf. Auré­lio Buarque de Holanda, op. cit., p. 1.438, verbete ultracorreção.)

8 No sentido de "cortar em pedaços (a carne que se come à mesa)" usando faca apropriada (trinchante). Na acepção de "desenredar, resolver (um problema, um enigma)", a forma preferível ao brasileirismo "destrinchar" é "destrinçar".

vícIOS DE LINGUAGEM

entabolar

entertela

entertimento, entretimento

entreteu (f.v.)

entretia (Lv.)

epigastro

escravagista

espoucar

esquisostomose

estatalar

esteje (Lv.)

estrambólico

estrupo

explêndido

expontâneo

exprobar

eureca

farândula

fidagal

fideijussória

fraticídio

freiada

freiemos (Lv.)

frustar

gargomilo

géia, gea, gia (Lv.)

grimpar, gripar (o motor)

homogenização

homogenizar

hortelã (como feminino de hortelão)

hume (pedra)

entabular

entretela

entretenimento

entreteve

entretinha

epigástrio

escravista

espocar

esquis tossomose

estatelar

esteja

estrambótico

estupro

esplêndido

espontâneo

exprobrar

heureca

farândola

figadal

fidej ussória

fratricídio

freada

freemos

frustrar

gorgomilo

geia

engripar

homogeneização

homegeneizar

horteloa

ume

Page 45: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

82 RONALDO .CALDEIRA XAVIER vielos DE LINGUAGEM "' idoniedade

impecilho

inadimplcncia

inllingir

intero (Lv.)

intervi (f.v.)

inlcrv;s:o>e (Lv.) inlerviu (Lv.)

irrasclvel

izoneiro

jaboti

jabotkaba

jabol6

juxlapor

largatixa

Icgisfcrar

malcriasiio

maleficicncia

mantegueira

mendingancia, mendigancia

merentissimo, meretfssimo

metereologia

mixlo

monslrengo

morlandela

negoccio (r.v.)

ncraustcnlco

6bulo

oClagenario

oetagesimo

idollcidade

empeeilho

inadimplcmcnlo"

innigir

inlciro

inlervim

inlervic$se

intcrveio

irascivel

inzonciro

jabuli

jabulicaba

diabolO

justapar

lagarlixa

Icgiferar

ma-criac;ao malcfit:cncia

manlcigueira

mendicancia

merillssimo

meleorologia

mislo

moslrengo

rnorladcla

negocio

ncurastenieo

6bolo

octogemirio

oClogesimo

V., em Glossilrio de I'erb"s}r'r(dicos, ,,1M. sobre °~,o d~ i"adi"'plir.

ombridade

opr6hia

ouric;a-eaixeiro

panaric;o

panlomina

pannesan (queijo)

partelcira

pencra (Lv.)

pergola

picholC

plesbicita

polem (Lv.)

poles (Lv.)

prneiroso

precal~a

j preeavinha-sc (f. v.)

premeia (f.v.)

previtegia

prastar

praviu (Lv.)

recanviu (Lv.)

regasija

reinvindicar, revindiear

remedio (f.v.)

res lea

relratibilidade

roehonehuda

saloha

sambambaia

hombridade

apr6brio

ouri~o-eachciro

panarido

pantomima

pannesao

pratcleira

pencira

pCrgula

pexote (= novato, principianle)'o

plebiscita

pulem

pules

pf3zcroso

pereallio

precavia-se

premia

privilcgio

prostrar

proven

recanveio

regozijo

reiviudicar

rcmcdeio

restia

retralilidade

rechonchudo

salabra

samambaia

LQ Musp"uote, no sen lido de "p<:ixe de IImuho mMlo". 9

Page 46: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

85 84 RONALDO CALDEIRA XAVIEU

s-anapisnlO sinapismo

scjc (Lv.) seja

selvicola silvfeola

serlssimo scrifssimo

simultaniedadc Sim\11taueidade

sombraueclha sobrancc1ha

SOrclnO supClao

surrupiar surripiar

sustia (r.v.) sustinba

tabolciro tahulciro

tamarinD tamarindo

lcrchcnlina [ercbintina

termplanagem terraplcnagem

tir6idc tirctiidc

tirrilar tiritar

titularicdadc titularidade

tonilroantc tonitru3n(e

tmuscedentc,lrascedcnle lransccndenlc

tribu lriho

xip6fago xif6pago

J) CRUZAMENTO - IS {) cmprcgo de urn<l palavra em lugar (lc Olllrll. Freqiicntemcnle estc erro, que atenla coutra a prccisiio termino­logica, decorre da t'alta de disccrnimcnto eulre vocabulos asscmelhac10s quanta it eslmlura fonologica (pan"lnimos), 0 que motiva a 31tcra~ao da mcnsagem leneionada.

Exemplo~ de eru7amento~:

Termo impreciso Tamo preciso

Quanlia vlJltlJoSQ Quanlia I'lJltosa

Cella lutulenta Cena lutUosa

.Mandato de segu[3m;a Mwuiado de seguran~a

VieIDS DE UNGUAGEM

Tomar um suador Tomar um slwdoliro Trocar urn Ju-zil Trol:3r urn Jus/I'el SoldadD intemeralo Soldado in!imorato Estalar ovos ESlrelar ovos

Discriminar 0 reu Descrimi/UJr 0 reu (absolver)

ArTear as pendanas Arriar as persianas

De[at;iio de prazo Dilac;iio de pram

Pedir intersa;iio Pedir inlercessiio Trazer Ii colet;iio Trazer ii cola{iiQ

4) ESTRANGElRISMO - ea palavra, cxprcssiio ou frase de ori­gem eSlrangeira para a qnal 0 idioma narionalja disp6e de urn succda­nco Iegftimo. Por conseguinlc, a eSlrangeirismo s6 IS condenavel quando inulil au superflno: "0 que se dcve comhaler e 0 excesso de importa~ao de Ifnguas eSlrangeiras, mormcnle aqlleJa dcsncccssJria por sc eneoulmrcm no vcrnaeulo vocahnlos c gicos cqllivalcnlcs".ll Refu­gar obstinadarncntc os eslrangeirismos, par urn acesso de purismo au cxaeerbal1ao nacionalisla, CbiJldado csfofl1o, e nadar contra a correnle­za, pois que elcs ingrcssam incilltavclmenlc em lodas as Ifnguas "POf urn proeesso natural de assimila~ao de eullnra". Se imprescindivcis, eedo au tardc os es!rdngeirismos acabam por ineorporar-se, atravcs do aporluguesamenlo, ao patrimonio vocahular, como 6 0 easo dos pm­preslimos lexicais, "onde urn radical cslrangciro se ada[lta a fonologia e acstrutura~ao mnr[ol6gica d.'l. lingua imporladora". U Es."es emprcsti­mos, no portllgues curopcu, sao de origem iberica (pre-romana), gCT­maniea e afabc; no pmlugucs do Brasil, sobrdevam, den Ire as demais, os de procedcncia indigcna e afrieana, hcm comO os das Ifngll:lS dc [lo­vas irnigmnles aqui radieados. De urn modo genii, os emprestimos clii· tlJrais, em nossa lingua, originaram-se do Oriente (merce da expansao maritima de Portugal), de Ifnguas europCias (maxi me {) frallcrs, em ra­zao de sua larga inOucncia cm nossa cultum), do ingles, do latim litcfll­rio c do grego antigo.

Em portugucs, os eSlrangcirismos ou pcregrinismos vilandos de maior ineidcneia sao os galicismos ou Jra/1cesismos (quer lexicos, quer sintulicos) e os fltlglicismoS', mcnos amil1de, oeorrem ainda os italianis­mos e os espanholismos.

Ii E\llnHdo Bechara,Mod"rna Gr(Ji1"jlh'a Parll.!!:r1c.m, 1973, p. 333. 12 Mato,'ll CiimlFJ Jr., op, "ir., p. 126.

Page 47: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

86 87

RONALDO CALDEIRA XAVlffi

Tmla via, cleve eslc a-ssunto sec tral3do com cerra callIe/a. Anles de mais nada, em materia de purismo, cumpre nao exagcrar, pais ncnhnma lingua viva c um procesS{) de comnnicac;ao estanque, fcchado em si mcsmo, mas, an inverso, urn sistema em rerene mobilidadc, semple aberto, ao comcrcio das id6ias e acsponlancidade da intera~ao sociocul­turdl. Aca~o havcm, enlre as idiomas modcrnos, algum absolutamcntc imIXlrmeavel a infiltmc;ao aHenfgcna'! Repclir urn terma apcnas por sua Indole estrnngcira - scm levlH em eoola a..<;pcctos relcvanlfssimos, como a prccisao vocabula rca exprcssividadc cSlilfstica - ccriteria cuja silspeh;ao c pcriculosidade equivalem a cscancarar portas axcnofobia dnvidosa, qne em nada contribui para cmbclczar 0 idiomil. Nem wnto ao mar, nem lanln aterra; nem t:stlangdrice.... , nem purismos exaccrhados.

Atendidas suas diversas oporlunidades de emprcgo, quem pcxlc­ria ncgar, par excmplo, a exprcssividade de {ermos como aballdonar, assassinnfo, hanal, r.omportamenlO, deslacar, detalhe, ('oIlS/alar, su­cesso etc., tantas vezcs malsinados por V07,CS rcspeit<'ivcis suposlamen­te a st:rvic;o da purc:t.a idiomalic:J'? Em questocs de linguagem, nunea c demais relembr:Jr, a legislac;ao sohcrana C 0 que 0 povo consagra. "Turna-sc indispcnsavcl, porcm, U oposic;ao de urn dique a pcnctrac;1io faeit e ineondicional desses elementos [os cSlrallgcirismos] no idioma nacional, dc mod() que se fcsgllardc 0 organisrno cia nossa lfngua pa­drao cantr.t a passihilidadc de perder a sua {ndale natural, wis as <:onla­minac;6es que progrcssivilmcnte se obs<:rvam. Importa, pOlS, accitar () estrangcirismo, quando ind1spensavcl, mas preservar os direitos do nosso idioma." (j

Ihemplas de galieismos vocubularcs ou lexicos:

Correspondente vemaculo abardar aproximar-sc, lralar de

aclimalar aclimar

adre:ise emJcre~o

basilar basica, fundamental

bibeM teltia

13 Join l~i~ Ney, Pl"""lJpl'io de Redofao 0/1£;01, 1965, p. 59. P2f~ yma vi~;;CI m.js .t>ran_ ge~le sobre eslrangdrismos, ~ de eonsulur-M Z~lio dos Sllnlos 10u, Diriolltjl'io <k Di/;,'"I­doks do L{lIg~o Porlrlg"~sa, 1960, ps. 467_500. Anlenor Na~"eJp!es, Dicio,,6r;o de Dwidos e Difier./dodes do ldi,mlO N""';rl'llol, 1952.

bijou blague

boudoir

bouquet (buqU<2)

bureau

camelot (cameM)

carnel (carni?)

chance

chan/ugem

charge

che!e-de-obra

chic

comandanle-em-chefe

comiU!

comp/of (complO)

coquete

dtbb.cJe

debutante

dilivrance

demarche

eclodir

enquele

gaffe insolvavel

maquete

morgue

massacre

ffllJlinte

vfclOS DE L1NGUAGEM

j6ia, mirno, cnfcitc

mcnllra, fanfarronada, lamIa

toucador

ramo, ramalhClc

cscri16rio, escrivaninha, sccrclaria

vend~dor ambulanlc

taUio

sarle,oportunid:ldc

cxtorsao

car1ealura

abra-prima

clegante, bclo, bonilo

comandantc-chcfe

[un la, comissao

cDllspirac;ao, conluio, scdic;ao raccira, vaidasll

[meassa, dCTwcada

cslrcanlC

pano

diligcncia

dcsahrochar, csponlar, nascer

inqucrito, pcsquisa

rala, cineada

insolvenlc

mol de, modcl0, esbo~o

necrolcrio

mortidnio, malan<;a, chacina

vesperal

Page 48: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

VICIOSDE LlNGUAGEM '9

nao 8e tem tempo naG temos 1empo

saftar a",ista, aos olhas ser claro, evilienlc

ler l"gar ocorrer, rcalizar-se, aconteccr

vir de (ehegar etc.) acabar de

Excmplos de anglicismos:

Corre"polldente ",emdcu[o back zagueiro

broadcasting radiodifllsuo

buI/-dog dio-de-fila

casl c\CIICO

cortler cscanwio

cau-Doy vaquciro

dLJ.ncing cafe-cOllccrln

dandy (d<111di) almoflldjn ha, janota, c1cganlc

desaponlfJme1l10 deccpt;fW

flirt namoro, emIL" galanlclo

fooling passcio a pC, pedc.~trianismo

foul falta

gangster saltcador, balldolciro

gentlemaiJ cavalhciro. genlil-homcm

hall saguuo, vcslfbulll, ante-ca­mara, atrio

hostess anfilrioa, an{ilrHi.

high-life alIa socicdadc, 3ristoCfacia

impeachmeni<l irnpcdimcnlo it elcgancill, bcleza, a lrat;ao

14 No r.gimc 1',.,id~nci,li'I" "r",c~dimcnIO parl,mcnlH, cuja finllidadc ~ ~ de apurOT a rt".pon&~bilict<d" crimi""1 de qu~lqu('r mcmbro tlo govcmo inslilufdo, aplic!nllo-Illc I pen. de deslllui~"odo cugc ~~ [un~'o". (cr. Dc rUcid" c Silva, op. dr, vol. II, p. 787.)

Page 49: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

b) SOLECISMO -e a designa(Jao que recebcm, gcnericamente, os erros de sintaxe. Frequenlfssimos no linguajar inculto, ha solecismosl6

de coneordancia (nominal ou verbal), regencia (nominal ou verbal) e eoloca~ao.

Exemplos de solecismos de eoneordancia nominal:

"Crimes de Icsa-patriotismo".

"Pclet6s azuis-reis".

"A pena, 0 lapis, a [olha e a rtgua silo minhas".

"MlIlheres e hom ens judias".

Excmplos de solecismos de concordancia verbal;

"Fazem duas semauas que nao 0 vejo". "Nao podem haver exee~oes'· . •• Aluga-se apartamentos". "Hoje 6 Iriota de dezembro".

Exemplos de solecismos de regcncia nominal:

"Ternos ecrte7.a que ele nao Coi sorteado". "Espcra-se cornparecimento em massa as urnas". "H.Ii confian(Ja que a decisao nao seja drastica". "Conhecernos a pessoa que tens admira(J50".

Exemplos de solecismos de regcncia verbal:

"0 Direito ea carreira que aspiro". "Todos Ihe ado ram e muito Ihe respeitam·'. "Trouxe 0 livro, mas deixei ele no escrit6rio". "Obede(Ja-se as leis do paIs".

L6 Conv~m [riSH que "n.oo eonsliluem ~oll'ci~mo~ o' desvios d.s normu sint.!lic3' reiloS rom in(en~.'io csljl[slic3, em que 3 efellvl~hdc prcdomiu sobrc 3 3n"l.e inlelediv., como na silepse, 03 alra~io, no anacolulo". (eL MmlSo Cimanl Jr" op. cil., p. 324.)

Page 50: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

93 92 RONALDO CALDEIRA XAVIER

Excmplos de solccismos de colocat;ao:1"I

"Me deram ganho de causa". "Eles semprc rceordam-se da inrancia ", "Nao dcvemos-lhe salisfa~oes",

"Apcsardc aRaO, elc e urn homcm grande".

c) SfNOUISE - euma invcrsao de tal modo violenta na ordcm dos tcrmos oracionais, que {) contexlo se Lorna obseuro c as vczes mesmo inintcligivcl. Situa-se entre as vicios 01'05105 ac1areza.

Em virtudc das cvenluais exigencias da rima e da metrica, emais encontradil;f1 na Iinguagem poetica. Excmplo expressivo, ja lornado

17 AM~nlo ~elllpre I'0!i'mi<·o, a coloca,,"o Jos pronomes ~lonos susciluu " ,·(lnlinn. sllsdl~n_

Jo inlcrmin~vci. pcnJend.s cnlre os gr~m11ico~, Icvand(l .Iguns, .!~,,, e~ereverern v,'nh_ dcilO~ Irllad(l~. rcspeiLo, como, C.8., 0 l'rob/.-",,, do C%c",,"o d" 1"",,,,,,,es, Je Cilidido de Fig~~ircdo, quc cousumiu quse ':Iulrocenla~ J'~gill's. "A CiUU d", problema", Jil GII&l~nc Chaves Je Melo, "tamMm tcm scrviJo J~ prclc"'lo, para os dd'cnsorcs da .K­pusla 'l(lIgua bl1lsilcill", os 'lKais, llrmando-..e em .lguJll~s divcrgencias nCSle rlp(lulo en­tre 0 ~so correll I" ]X'llugucs e 0 bl1l~ilcir(l proel.m"m ~ GOssa .~lon(lmiA li~!!iibliea".

(r"iciG\(w a Filol,,~i<J ~ aLillgiit.I'lica P"rl"8"esa, 1971, p. 191). Nli(l hA ICCII~ar, I mauei­ra de colocar 0.\ l'T{)n(lme~, no Brasil, bern .e <Ii'Lancia da tX\[I~g~csa. Com" Cel"", Cunha eselareee, "em P(lrlugal, cs.sc~ plOnomcs ~ l"mal1lm eXlremlmrnle :jl(lnOs, cm virluJe Jo rcluallll'niu e ensurdecimenlo de sn ~0l!11. H no Omsil, cu,bo", 0' cham cmOs aIO"os, sio etcs em verd.de, .I'emil,~"icos. E 6 e... 11 maior nilidez de proudne·ia. aliada a parlieul.ri_ d.Jes Je e"lo"~;io e a oUlros [alores (de ordem l6gica. p'icol.lg;e., cs'~tiea, hisl6rie> tiC.). pOMibili'a_lhe..' ~ma grauJe vari.bilidadc de po,i~~o no frasc, que conlr.sla rom a ~,(lI"c.­<;..0 mais rigida q~e lem no p<lrtuguh europeu. "lnrelizmenk>, cuh" gramilicos no,;,sos, eSljucci<los de q~c csla vHi.bilid.de posieionll, em tudo leghin'n, repre~enla uma iue.lim.t:vcl riqueza idiom~lica, prcconil.am, nO parlic~­lor, n obc<1icnl'ia eega ~s aluais nOrmU p<lI1Kgues.o" "'ndo lnC5rn" jnflcxivds nIl cxigirlffi 0 eumprimenlo.k ~Igumas ricla~, quc vioknlam dUr>menh' a rHlid~dc linguislicn brasil<'ira. "Dcmre essas regras nl'bilrilrias e d(lgm11k.s, a rnais etll\hl'cida (c, lal11b~m,. mais infri~­gid~ no ral.r normal do Onsi!) ~ a q~c 1l0~ obrign a ,,<ill <'ll"'<'~"r [ra.,es com pr""","e.\' al<>IIo,\, " (Gram(,l;ca rio Porla"ucs COlllcmpor(",..." 1970, p. 225.) A questii(l, em nOSS{l cotender, n30 mereee '>s rios de lin13 dcrum_de-s. hvenJo muilos que d vir.nl, me'RIO, 3Z0 pHI fucr chiste, quM M(lnlciro Lobalo em sc~ Rugistr.1 COlllo;) "0 Colocador de Pronome~". lJma regr. de sindi'ismo pronominnl, loda"ia, paira >oocu­na: a JI e"[""ia. Qualljuer colo"~"o ~ lidla desde que n~(I compramcl' a fluiJloZ do dis,· cUEO llcm Ihc roube a naluralid.Je. N(I m~is, "lcnhanlO. c~id.do de n;;o razer r,neliEc a [UlDIO do pre~enle,. fuluro Jo p","'ri'(I c a parlicfpio pu_\ad(l; em n.io e\,me~"r" rr'~l !'or pT<Jnome oblfquo no cslilo e"v.do (.... quc sc lolera nO c'lilo e(lloquial 00 nos di:lI".,'<Is); C deixem(>S que no' dile a "'NIh, nos divcr~os Ca~OS de 10l"'logia pronominal, 0 ~cnlin,c"t"

d, Ifngoa, 0 rilm(l da f ...~c, • harmoni. do rerioJ,," (Gladslone Ch.ves de Melo, OJ'. cil., p. 195.) E, f~,chanJo I ,!ocsliio, ousino ainda Mfrio Barrelo: "As Ids de roloea""o de pro­nOmcs romp!cmcnl(ls, <Xlmo em ger.1 as da lingu~gcm, nao s~o 1I<'(e.'sarias: expriml-IH 8(1(1n••• generalidade das lendencias." (Nows E."/udi>s da /."'8"a l'or!uiiuesa, 1980, p. 12iL)

vieJQs DE L1NGUAGEM

classica, ~ a primeira quadra do sancia "Talfa de Coral", de Alberto de Oliveira:

"Licias, pastor, enquanto 0 sol ccecbe Mugindo 0 doce annento e aD largo espraia, Ern serle abrasa, qual de arnor por Febe, Sede tambcm, sede maior, dcsmaia."

Entenda-se: "Lidas, pastor, enquanlo 0 rnanso anncnto, rnugin­do, rccebe 0 sol c espraia aD largo, - abrnsa em scdc qual desrnaia de arnor por Febe, sede larnbem, scde maior. ,,18

d) ArvfBIGUIDADE ou ANFIBOLOGIA - e a constrm;ao [rasal que se presta a rnais de uma interprelal:;'iio, Deeorrente de uma inade­quada disposil:;'ao dos terrnos na oral:;'ao, a arnbigiiidade tambern se op6e a- clare~, gerando, na maioria das vczcs, duplo sen lido,

Tome-se, verbi gralia, esta [rase: "Respeitam-se os juizes". H<i. trcs maneiras de entcnd~-Ia, con[orme a funt;ao que sc ernpreste a par­(lcula se: a) pronome apassivaJor; b) pronome pessoal reOexivo; e) pronome pessoal reefproco. Falla c1areza, pois, ao enuneiado [rasal, nao se sabendo exalarnelltc 0 que 0 antor quer dizer, A eon[u.."ao ad­vern do [ala de que a sujeito julzes pode ser indifcrentemente agenle ou pacicnle da al;;an verbal. Evitar-se-ia a eonslrucsao anfibol6gica se a redal;;iio, de aeordo com a convenii:ncia, ohcdecessc a um desles lor­neios: a) senlido passivo (adotando a VOl. passiva analfliea) - "Sao res­peilados as jUlzes" ou "as jul7.CS sao respcilados"j b) scntido reflexivo (acresccnlando-se elementos rcforl;;alivos para elarifiear a ideia de reflexibilidade) - "Respeilam-se os jllfzes a si mesmos" ou "a si pr6prios"; e) sentido reclproco (tarnb6m aditando tcnnos de re­farl;;o) - "Respeitam-se as jUlzcs IIns aDs oulros" ou "entre si", "mu­luamente" etc.

Casos congeneres, do tipo "0 ea<;ador matou a fera", "0 bern venee a mal" ele" rcmedeiam-se facilmente aD preposicionar 0 objeto direto, 0, que anula a duplicidade de sentido: "0 cal;;ador matou a­Cera". Ou ao invc[So: "A Cera matou ao cal;;ador", Mudando 0 arranjo dos termos, pode-se oplar, oUlrossim, pcla ordem indirela: "A Cera, malou a eac,;adar" ou "AD ea<;ador, matou a Cera"

IB Cf.lIenio Tavares, l'eari<JLilu/J,i", 1969, p. 352.

Page 51: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

95 94 RONALDa CALDEIRA XAVIER

Siio cxcmplos, ninda, de redar;6es ambiguas: IO

. 'Vi 0 sol surgir da janela do meu quarto no horizontc."

"Via \ua surgir no horizonte, vi[ljando de avHio pela primeira vcz." "Ofcreecmos urn exemplar de Os Lus(ada.\' ao professor cncadcr­

nado em conTO." "Duranle 0 namara, Carlos pediu que Maria se casnssc com cle

varias vezes." "Eslivc em Sao Paulo logo que me easei duas vczcs."

e) TAUTOLOGIA - ea denomina(fao que rCl:ebe u plconasm02o

vicioso. Bascia~se no desconhel:imcnto da verdadciJ.l significa<siio dos (ermos empregados, provocando redundanei<l ou COlldcnavel dcmasia verb<l!. Aparenla-se com [J perissofogia (vido conll-ario aeoncisao), ou seja, a seguida repeli'liio, por meio de palavras difercnles, de 11m pensa~

mento an(eriorrnen Ie enundado.

Excmplos de laulologias:

"Breve nloeu'lao", "monop<ilio exelllsivo", "princi p<ll protagu­nisl<l ,,2) "manuscarcom as mans", "preparardeantemiio", "prnsscguir adianle", "prc(erirmais", "~preYer antes", "larga escalada", "prcve­nir antecipadamente", "allvio tranqiiilizLldor", "n.:pclir de novo", "boato falso", nguardtlr com expecta1iva elc.

fJ CHAVAo, CHAPA ou CLICHE - c uma exprcsgao ja desgas­tada pelo usa c que, ipso facto, perdeu loda a dicada estilfs(iea, todo 0

valor literario.Z2

Em rcalid<lde, pmduz crci(o inverso ao que $e prctendia: ao inves de embelcztlr a fr<lsc c rcal(far a idcia, descai para 0 lugar-eomum e a vulgaridade. Conlrap6e-sc aoriginalidade.

19 .-~pu"Olbon M. Garcia. op. c;I., po. 471-472. 20 CQ"'Q figura ue ,inlaxc, 0 plcoJl~snlo venl ~ .er a "~upenbulld:incia de p.,lavras para

cnunciar uma iMia" e lem por rim > cllf4H'. 0 rrfor~(I c~ljas(ko uo l'ensarncnlo. (Cf. CclsQ Cunlla,op. <'il., p. 442.)

21 Ap"dCdso Cunha, ibid 21 Ncm .empre e f:ieil, lao arraigado cSI~ 0 h';lJilo, ruglr,1 lrlvlaliuatle uas frases rcilas. C~n·

l"do, " lalenlo ]iledrio. 0 bom goslo, • inlui,,~o criadma, a gcnuilla voca,,~o de e~~II,o,

scmpw cllconlrarao nlci05 C IlIr,d(,~ d~ ~~il:l"las. Lei~m-sr., a I'c5pcilo, as inlcrcssaDlcs tDn_

sld.,.ar;;o~. de M. Rodrigues 1..01", ill E,<I;"",i<"" d" Ling"" l'orr"IJuesa, J965, p~. 65 ~ 67.

vielOs DE L1NGUAGEM

Exemplos de chavnes:

"Complctar rna IS uma primavera". "Prccncher uma lacuna", "Briosa corporaliao". "Silencio sepulcral au profunda". "Voz embar­gada pcla emo~ao". "0jovem de hoje e0 homem deamanhi'i". "Beleza nao pOe mesa". "Dinheiro nao traz felicidadc" etc.

g) CAc6FATO ou CACOFONIA - C0 efeito sonoro desagrada~ vel, obsccno on ridfculo, resullanle da jun'lao da sOaba final de uma palavra com a sflaba inidal da seguinte. Op6e~se aeufonia.

Enlretanto, "quando ineviwvcis", Icmbra Rui Barbosa, "as piores cacofonias se tolcram. Fcz~se 0 ouvido a elas: habituou-se; ja nao as sentc". E adiante ensina: "Ai a lei da nccessidade obriga as exigencias da eufonia a condi(fao fatal de transigir."v Siluam~se neste caso certos cneonlros sih1bicos diflecis de obviar, quais sejam "chde da n,u;ao", "nao passa disso", "por lal", "ela tinha" clc.

Noulras silua'llles, 0 mclhor meio de cnnlornar as cacofonias e recorrcr .a cquivalcncia da cxprcs.<,iio, a sinonimia ou a mudan'la de conslru(fao ~inHitica.

Exemplos de cae6fntos:

"Prima miuha", "paraninfo dcla", "vcz passada", "IX>r rawes", ela trina", "elc havia dado", "boca dela", "nunea ganha", "como ela", "a mula tinha ", "i ntrfnseca validadc", "como OJ eoneebo", "uma mao' ,24

h) PAREQUEMA - varicdadc atcnuada do eaeMato, C 0 som desagradavel provenientc da uniao dc sflabas idcnticas ou semelhanles no final de uma palavra e infcio de autra.

Excmplos:

"Corpo IX>tentc", "tema m<l'lante", "sempre presente", "banco e6modo", "garola taluLla", "ala laleral", "nunea cai", "esSil sai", "colo Iongo" cte.

23 Rr!pli<:o, [953, 10mo II, 1'.112, n" 42. 24 P.li~io de Ma1<J,Q Omara Jr.: "Nao cQnvem euger.. 0 ~.rDJ~O ~0~(1'4 0 cac6ralo a ponm

d~ lIpclu plra ~odbu[os obsoldos QU arlifkiais. Tal 6, em VH dc umo, cm conlalO com moo, m<mg" tic., ~ forma u'". "m qyC 0 ap6s1mfo prHsupOc a ~uprcss.iio do ~ nr _, quando na realidadc s~ (raLa. dc uma obsolcLa. dcsnaS.lll8~ao o1a forma an·aka iJa (com Iii gO u)." Op. cif., ps. 67.68,

Page 52: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

96 .7 RONALDO CALDEiRA XAVIER

i) ECO au ASSONk"lCIA - eonsistc em rimar, por ina<1verten­cia, na prosa.

Exemplos:

"Luis sempre quis sec bom peliz". "Neste momento live U1n anmento de vcneimcnto".~5 "Joao, irmao de Sebastiao, nao pflC (I eorac;ao em lcWlo" ,~6

j) HIATO - c a aeumul<lr;ao interverbal das mesmas vogais, dal sobrevin<1o efeito antieu ft'iniea.

Exemplos:

"Olavo 0 ouvia'). "Nao saia a aia". "Va il aula". "Eneonlra-Ia-a a altura",

I) COLIsAo - e a conseqiicncia sonora inde~javcl, oriunda de - d I· "urna sileessao epa avras nas quais se Tepcte a rnesma eonsoante.

Exemplos:

"0 que se sabe sabre () sabre", "Viaja ja",2R "Tales tern (odos os t3Ioes". "Silvia c SucH so saero sozinhas", "0 p"pa Paulo VI pe­diu, DOl prece, paz para 0 povo",

25 Aplld ATtur <.Ie Almeida Torres, MoJ",,,,,, 0,0",,1Ii<'" E.~[Joslliva da LI"gua P"rwsu".•a, 1959, p. 240.

26 RessaIYe-~ que 0 em in\endoul ~ recul'So eslilf~lico <.10. mai. prcsladios! music,llidlde d3 palavra. Emprogou.Q COul moslria, eXlraindo bela e[dlo mol6dico, Eugenio <.Ie OoSIH,):

"Na mes"" 'lu~ ~nl'-'ur~cc ,'~lrem~ce a Qucrmc~~c;

o sol, celcsli31 gjr:I~,ol, ~,morccc ... E as caolilc"a.~ de jcr~no, 'on' amonos fogcm nujd~s, tluilldo! (ina nor dos fenos.•."

27 Qua ndo a succs.ao de eORMn,;ncias h'm objclivo c~I~lieo, dil.d" pcb II"""o"i" i",II,,';"O, pa,a produzir cfcilo oaom~lop~ico, rem·se a figura <.IeRomi"ada <.Jlila"I·(W, como nO lilli­mo verso cil.do na Rota anlerior,

2R Apud Dam ingos i'a~choal Ccgall., Npvr.<si",a Gra-mille<' ria UlIg'w f'""u8"eso, 1916, p. 4l0.

VfclOS DE LlNGUAGEM

m) NEOLOGISMO - c uma palavra au cxprcssao rccem-Crillda que ingrcssa ou busco ingrcssar na lingua. Tambcm cons1itui neoJogis­rno uma palavra antiga que adquirc scntido novo.

Impendc advcrlir, pacem, que 0 neologismo deve seT lido como vicioso arenas quando pcocura substituir uma palavra, eslrangcira au nao, cuja adm;iio 0 usn geral tcnha consagrado. AJias, e coisa sabida c rcssabida que nenhnma das lfnguas vivas sc Cossiliza no tempo; aD rc­v6;, submcti<1as que csliio aD dinamismo da natureza, aos rcclamos da evolu<;ao dos tempos, anecessidadc impcriosa de nomcar novas inven­lioes, dcscobcrlas e conquistas da cultura humaua, as porlas de seus di­cionarios precL.'*Im cslar sempre abcrtas am; lcrrnos rcalmcntc cnriqucccdorc.~

de sell patrimonio vocabular, como dccorrcncia natural da pr6pri<l mo· demidadc.2~

Em qUCS1,JO de linguagem, 0 povo e arbilro sobcrano. Par mais que arrerne/a n adete da xcnofobia de alguns prclcmms puristas, exe­erando 0 eunho alienfgena ou a formac;ao c:,puria de certas palavras, va tcntativa eproscrcvc-las, se 0 eonsenso popnlar ja as inlcgroll ao bojo leKical da comunieac;ao. A<1emais, "c a Ifugua porlugucsa fcrtilfssima na [orma~ao de neologismos, tal a plasticidade de sellS "tcmentos mor­fol6gieos" ,:10 Vale rccordar, a prop6sito, os nCQlogismos - quasc todos rcbarbalivos, alias - sugeridos pdo malogo e latinista Castro Lopes, pllrista eKtremado, a fim de s.unstiluir alguns estrangeirismos baslalilc usuais em porlngllcs:.11

precoll{c;O (rcelarnc) nas6culos (pince-nez)

focale (caehc-ncz) ancelllibio (nuance)

/uciveJo ou luciveu (abat~jour) nmimol (avalanche)

cardapio (menu) COllvesco(e (piqueniquc)

coribd (camet) ludamlJu/o (touriSI)

p/ulenil (parven u) profofollia (ouverturc)

Como cfacilmenlc vcrific:'ivcl, pOllcns dc."tes acabaram pcgando,

29 A crialiYidade lilcr~ri~, 0 g~nio <10 escrilor obrigam • 'luc • m~OIl; ,c cnlregue, voz porou. Ira, .os e.pricho, da inYen,,:io verbal, seja a filii de malizar uml jdli, ROV" 'eja para cx­prirniralgo pHa 0 qual niio exisl. aiRda I palavra .<1cqu.dl. nbla rderlr, pclo que fizcram ne~e pank-ular, os aORles de .Tos~ de Alene.r, Cruz e SOll:(1 c Guimar.,·s RQ';t,

3tl Joaquim Ribciro,r,'.I'IJtica f'a,lllgues<>, 19M, p. 88. 3 L Ap"d lsrnacl de Lima CoullRho, op. t"ir.. p. 256.

Page 53: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

98 RONALDO CALDEIRA XAVIER VICIOS DE L1NGUAGEM

Scguem, pua compara~ao, alguns exemplos lie ncologismos uteis: astronauta, alrmizar, aclimar, bifJnico, ciberruElica, informatica, insumo, agilizar, penicilina, posiciollamcnlo, lransitor, lransdulor, conlac{ar, abreugrafia etc., etc.

n) ARCAfSMO - cuma palavra on cxprcssao anliquada, fora lie uso. Darmestcter assim justlfica 0 procC$SO pelo qual muitos [ecmos acabam art:aizLlmJo: "Uffia gcra~ao de homens, [lUID dado momento, comciJa a abandonar tal palavra, rcprescnlada por autra "ideia que cia dcsigna; a gcra'lao segllillie conhccc-la-a ainda menDS, e vira urn 1ns­tanle em que cla ja nao sera cnnhecida scnao dos vclhos, qne, denim em ~JUco, a lcvarao consigo para () tumulo. "J2 E Rui Barbosa adila: "0 gusto ua antigliidadc Icvado ao arcafsmo, islo C, a mania de rcjllve­neseer inutilmente rormas anacronicas, ininreligfveis ao ouvido comllm na epoea em que se exumam com 0 vao intuito de as mOdernizar, avulla enlre os mais rillfculos e inscnsatos vfeios do estilo, no falar idiomas vivos.' ,.lJ

Convem salientar, nau obstante, que os limiles eutrc urn termo ar­eaieo c um termo alual nem scm pre sao nftidos, porquanlo e da fllllole da lingua fazer ressurgir de repente, nu boca do povo, uma palavra que jazia no csquedmento e qlle, misteriosamcnte ressuscilacta, vol ta ao IISO.

Na alualidade da lingua, podem ser arrolados como excmplos de areafsmos: asinha (depressa), adur (apenas), !mfl! (na verdu(\c), ca (porque), conquerer (conquistur), elms (mais);'"' entenqa (pleilo, de­manda), femen~'a (atem;ao, eUidado), hereu (hcrdciro), mandadeiro (proclIrador), palmeirim, (peregrina, cstrangeiro), rancollra (querela, queixa judicial), precudir (a~oilar, b<llcr), segre (seenlo) etc.

0) PLEBE(SMO - ~ a palavra ou cxpressao usada coraeterisliea­mente pela plcbe, pclas classes mais baixas da soeieuadc.

Cum pre distingllir entre plcbefsmo, que nada mais edo que a gf­ria stricto sensu, pro~'iflcial1ismo ou regiona/isma, isto e, a pahl'wa Oll

loeu~ao peculiar a uma provfncia, a lima detcrrninada regiao, c baixo calao, qne c "urn aspceto da gfria luro sensu em sua tTlodalidadc mal";

32 La Vi" des Mots, p. 170..1pudhmael de Lim. Coolinho. op. cil., p. 24/( 33 Op. cir., p. 397, n° 481. H F.ste .dv~rbio (do lilim pl,u = m.\s) ~ifida \em '"UbI;', !~sjlll meSIllO r~ro, n' express:,"

"nao dizcr chus nem I>us", i,lo e, ricar eaiado, 0:·'0 rtlruc:u.

.,

baha", em verdade "uma violenta Iinguagem afetiva"/.l tfpiea dl malfeitores e indivfduos menos grados na escala social, eonstitufda dt tennos obscenos e arcnlalorios ao pudor.

Em que pese a nao se idcntiliearem com 0 ealao propriamcntc dito as plebcfsmos dele se uvizinham de eerta forma, e seu exercfcio ~ ineomparivel com a linguagern cuidada, revelando grosseria de trato ausencia de reeursos verbai.~ e, nao rara, bo~alidade. Literariamente, ~ 6hvio, podem e dcvcm ser tolerados se objetivam tao-somente a repro­du~ao riel do linguajar eomum 11 gente simples do povo.

Exemplos:

"E1a Ihe deu um esculacho". "Minha grana mixou". "Tn rur;ol' "E isso af, bicho". "Ele curn carametido a lJeSla". "Estarnumaboa", "Plantaram-lhe a mao nos cOJ·nos". "Rcl6giu roscnfe" etc.

p) PREClOSISMO -e 0 exagcrado requinte no cserever e no falar dado 0 emprego de puluvras ou expressoes extravagante); e poueo usuais

Carac1criza-se relo dcsvio ex aIJrupto dos padr6es normais d2 linguagem; meS!110 assim alguns uUlmes, e ate dos bons, nde incidem. seduzidos por lima espccil' dc exibieionismo lfngiHscleo, 0 que s6 preju. diea a nu luralidade do di.~cLlrso e difieulta 0 en ll'ndimento da mensagcm. quando nao revela pcdanlismo.

Exemplo:

"Sc daf sc canson demorar-sc-lhe a elabora~ao lodo csle espa~o, loque a responsabilidade a cllja e. "J6

q) HIBRlDTSMO - ca formal,;ao de voeabulos atraves da associa­~ao de elcmentos originacios de idiomas diferentes.

AI; palavras hfbridas mais comnns em porlugucs surgem da rcuniao de elementos gregos c latinos, v.g., auto-sugestiio, telel'isiio, sociologio, amoral, fleo/atillo, mon6culo, !atalismo, russ6fllo, dec[metro, ve16dro­mo, egolsmo, telecomunicar;ao elc. No entanto, ha tam bern fonna~6cs com elemeutos de oulras lfnguas, como lmrocracia (franecs e grego), caiporismo (tupi e grego), galvfJ/loplaSliu (ilaliano e grego), ziflcografi,;.

35 cr. Maloso Ciimara Jr., op, cjt.,~" 69 e 165. 36 Rui Ramon, ap,jd Arlor de Almej<la Torres, op. cit" p. 241.

Page 54: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

100 101 RONALDO CALDEIRA XAVIER

(alcm:1o e grego), alca16ide (arabe e grego), cipo-chu.mbo (tupi e porlU­gues), bananal (africano e latim) etc.

Embora possuindo uma "conotac;50 condenat6ria", os hibridis­mos sao rnuito numerosos e se engajam com facilidade na Ifngua, sendo inutillenlar repeti~los. A rigor, sornenle devcm ser apontados como viciosos aqudes que se podem sub~tiluir por vocabulos mnis bem formados, tal 0 easo de endovenoso, e.g., euja forma prcreri'vel e illtravenoso; monocelu/ar (substJ/U(vel par unice/ular); nigromaneia (subslilulvcl por necromanciiJ) ele.

Exerclcios de Ap/jca~ao

I) Idenlificar os diversos vlcios de lingua gem comcfidos nas frases scguintcs:

1) o lrem dcsencarrilhou. Res-p.: .

2) Devemos encarar de [renle as dificuklades. Resp.: , .

3) ala 0 ouve com alt'nlS:lo. Resp.: .

4) Contlei na paJ:lvra que elc havia dado. Resp.: .

5) o Corpo de I30mbciros ~ uma briosa corpor~~(l.

Re.sp.: .

6) Aceila-se encomendas. Resp.: .

7) Nao nos agradou 0 tema malSanfc daquela confcrcncia. Resp.: .

8) Sergio, Snvio c SucH saem sempre sozinhos. Resp.: .

9) a livro que emprcsfasle-me est~ esgotndo. Resp.: .

10) Pediram-lhe qne apagasse 0 lucivclo. Rcsp.: .

11) Ap6.'i usufruir t3ntas vantagens indevidas cle acabou ~indo do g\-\lOO. Resp.: .

12) Recebi urn livro sabre organismos monocelulares. Resp.: .

13) Ecomum cslabc1ecer-se rancoura entre ofendido e o[~nsor. Resp.: .......•............ . ....

VIelDS DELlNOUAGEM

14) '''Toque a responsabilidaclc a cuia c." Resp.: ...

15) Tao mall cOlllyflO nfio rasa COlli Sebastiao, bom crislao e ciciadiio. Resp.:

16) TUH lapiscila C19ual u dele. Resp,:

17) Nu Jdude Media, ao;:oilavam-se ('lS Iadr6es. Rl'Sp.: ., ..•

J8) Eu lhe procurarei amanl15. R.-sp.:

J9) "Fie .~e cOnlror1oll cOlTlllllJiLO uC'ieorlfnio. Rcsp.:

20) Entre os U,l llinna colegas, nolaclo sempre era cle. Resp.:, ....

II) As frases abaiKo J7

cnconlram-se em desacordo com as normas <Ituais da lfngna culla, Corrigi-las, alterando no teKto 0 que for necessaria, tendo em vista os prceeitos da disciplin<l gralliatical em vigor.

I) 0 meretissimo juiz (krl,n'ptl qu" 0 rcu era estelionatario, cis que h,lVia cmilido chcquc scm lundos·. COj'J"c~i'io: .

2) 'Gaslou-se vll!tuosas quanti.'ls lace its exigcllcias da obra. COIrC~;r(l:

3) Devcr~o Jl<lVer reboliqos na safdll do jlligamenlo, haja vi~w a grande buna d()s fellS.

COll"CF\(I: ....' .

4) :Os labdio..::s fOl"am () nmis con'Clos pDsslveis lIlanclaram os pap6is rmm mil\] assinar. Coneyao: ..

5) Ao meio din e mcip <l pallunenle clell a luz a lima lIlenina. Correvao:

6} Um pequeno delillhc que chamo a alenqao do colcga 6 a conclemivel vida prcgresslI Jo slispeito. Corrc~i'io'

7) Se 0 veres uiga-Ihe que II auta U,'} caledr~lico cia caclcim de Dircilo PCllat ..;era assi"lida prazeiros'II1l"nlc. Corrc<;ihl:

,17 AlgulTIas h'llIlSnim! ips;.,· hlhi.,·, Oll !TIouific",b." ric l]al]lilr01] Eli" e Silyio Elia, ill 11)0 reX/O,1 Erl'lldm (' C()rri.~id(J.,·, 1959; c ric M"xi",Jii"n~ '\lIt:,,,r,, G'Jll,aly~s, Qlh'sliie.1 de Lin!!IW!!UII. 19S.~

Page 55: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

102 RONALDQ CALDEIlU\ XAVIER

8) A tn?-s mcses n50 YOU il casa Ja [Jessoa que fosles advngmJo do irmao deja. Correv50:

9) Salta aos nIh-os lralarcm -sc de prohlcrnas que de vem rcsolyf::--)p os jurista, os IIlais compCll'ntcs. Corrcvao:

10) Jamai" intervi 11.1lua vida c nrlll [enh.a intervido na de leus innaos, que proccucm tal crialH;a~.

Corrcl,:i1o :

11) Alem dos dcsconlm desislidos pela t'regucs [em lambcm as dcspcsas q,uc na~ sc fizer;uTI 0 computo. Corre.;,;ao: .....

12) Fiz ell'S vcr as ra.>:ocs de uao tel" ficada entre m; mclhorcs co!ocadll" no concurso. Corrcq50:

13) Dc vez que l: advogauo insipienlc 'linda cnconlm-sc dcspcrccbido para cnfrclilar os mnis cxpericntcs. Cnrrc",i'io:

14) Atravcs uma teJdoncma ficarmn sabcdorcs qne havia1l1 paga [lrc~,o

muito caru pclOllllcrcm]oria. Corre<,:fip:

15) Ele IlUn~"1 garante 0 qUi,; diz porisso chom que scjam procr:'didas nllVdS invesliga'tocs. Corre((ao:

16) Nesta sitllflr;.'io voce esta <I tavalheiro p"ra informar-lhc das clctisoes lomadas. Corrcc,:ilo:

17) Iratam-M' de livros raros, nao 5C Il~ cneonlra com faciliuade, mas nl) en tanto ucix8rci consigo a tarera de procurar ell'S 1111 pl"w;a. Correr,:ao:

18) QII<lndo 5e Cconheced1lr de delerminnu:1 materia percebe-sc nllll1 golpc de vista os :1ssuntos ac1a refen'nlc_ Corrc'tao:

191 Se e1c lllJI1(cr discrer,;ao quanlO 'IS novidades C'clcbrar-sc-Il na proxima semana os ncglxios. Corrc9ao:

20) Fiquei pasln():1o saber que nao est,tvas ao par uo recurso proposto peln parte suctlmbente. Correyao:

21) Vicrnos hojc Ihe pfllcurar para dar ajuda, no enlrctanto evita reineidir outra vez nesse erro. COlTe'tao:

VlelDS nEU:-JGUAGEM H)3

22) o uireito nao ,uhnitc que se infrinja as Ids que e.~!ii.() vigindo. Corrcc;ao:

23) o cadaver est3 na JIlor:;uc uo IIlS[ituto Mcuio.;o-LegaJ aEm (!C' que tenha lugar a necr6psj,1, Corw;ao:

24) Aplaudimos c oheuccemos as scnlcnr,:as daquele tribunal. Correr,;ao: .

25) COlllO 0 perigo Cc1llinente, llrge que se :weriguc as causas das rachaduras no predio. Correyao:

26) Precavcnha·se eontnl Il~ ndlarcadol"es que vivern as cxpcnsas ua in!!'l.muidack: alheia. Corrcyao:

27) Pey~l-tc para de.~rachares logo llS processos deviuo a urgencia uo servi~lJ.

Con-c~~o:

2R) Enlre III C ,:u nao dcviam haver lanlas disseny,)cs. Correyao:

29) Ek todos os diH.~ cnlra c sni do Forum. Mas a Irihllll<l c aonde sr ueg1adia com os colegas. Corre<yiio: .

30) hi is tempo dos dcvedores insoluveis scI' puniuos a risen, COlTer,:ao:

31) Os crt::dr'res jri foraI\l pflgOS par mim logo eslOu quitcs com elc'. Corrcyao:

32) Esl:io havelldo dUl-idas sobrr sc urn ou outro serao inculpauos pela nao inclusao uos sah'irios-ramili:ls na folha de pagamcnlo. Correc,:;u):

33) Ele nao se uignou fllcndcr a pessoa residc[l{c a rua uo Malo.'il.!. Correy1io: .

34) As UCI': para as duas lcvarcrnos-tc a prcscnr;a do juiz para que se dissi pc qll,!lqucr duviuas. Correr;i'lo:

35) Iudo se remedia l)\I'.mdo se eonseguc prover as ncce%id'ldes mais imediatas. Cmrer,:ao:

Page 56: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

REGENCIA VERBAL

sUMAmo: 1.1 - Conccito. Vjsao geraL 2.1 - FUl1glcs sintaticas dos pronomes romplf'menlOs. 2.2 - Normas pam 0 emprego dos prullome,'" complemcntos. :U - E~[udo rcsumido sobre a f{) ­

genoa de alguns vcrtJos usuais. 4.1 -- Glossario de vcrbQs jurfdicos. 5.' - Exere!cios.

1.1 - Concei/o. V;sao Gerol

Por di~landar-sc dos ohjclivos dcstc !ivco, nao cabc minudem:iar aqui assunto de que tadas as gramaticas - em n(vel de 1~ c 2u graus -­se ocupam razoavc!mel1lc, a nao sec para, de modo rapido e pcr[unct6­rio, urna revisiio de conhecimentos indispensavcis a comprcensao do que seja 0 fCl1omeno da rcgenda e sua ulterior aplica~ao a linguagem juridica.

Tema dos mais complcxns c controvertidos em nossa lingua, re­gencia 6 uma relur;iio de dependPncia enlre dais termos, au scja, a propricdade de uma palavra subon.linar-se a aulra a rim c1e integrar-lhc o senlido.

Pade a regcncia ser nominal au verbal. Os vcrbos, como se sabe, podem ler predicaliao eomplc,a (intransilivos) au ineamplcta (Iransili­vas). A regencia verbal referc-se justamenle a esses lipos de verbos, principalmente aqurlcs queseeanstroem com diversas preposi'ioes, bern ramo aos que tern varios regimes com 0 mesmo senlida e v:iriosscnLidos com regimes difercntes ou iguais. Para entender bern a quesL5a, e esseneial saber earaeterizar os dais tipos de eomplementos verbais (abjeto direto e objcto indireto), normalmcnlc represenlados par subs­Iantivos au pronomcs.

Page 57: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

107 106 RONALOO CALDEIRA XAVIER

2.1 -Fwu;(;es Sintaticas dos Pronomes Complemeltlos

Os pronomes pessoais indicam a pcssoa gramatical-qucm fala (ell, nos), com quem sc fala (tu, \.'6s) c de quem sc fala (etc, etes) -, ou, qnando em 3° pessoa, rcprcscnlam urn nome ci1ado anlcriormcnlc. Funcional­menle, podem assumir as rafmas relas(sc slIjeitos da ora<;iio) onobllquas (sc complemcntos verbais).

Os pronomcs complcmcnlos descmpcnham as seguinles fum;6es sintaticas:

a) OBJETO DJRETO: 0, a, to, La, no, na e plurais.

b) OBJETO INDIRETO: lhe, a ele, a ela, dele, dela, ne[e, /lela e plurais.

c) ORlETO OIRETO ou OBJETO INDIRETO (conrormc a rc~ g~ncia do verbo); me, te, se, nos, ,",os.

AI~m deslcs, ha as [Ofmas mim, Ii, .'Oi, scm pre rcgillasdc prcposi<;ao, cas rOfmas pronominais combinadasmo, ma, to, fa, lito, Ilta, /lo-fu, no-la, va-la, vo-Ia, e rcspeetivos plnrais, eompletameme estr.:tnh~s, alias, ao portugues eoloquial do Brasil, ICI\l]o curso apenas, e assim mesmo raro, na Iiuguagelll!iteraria ou formal.

2.2 -Normas para 0 emprego dos Pronumes Comp/~menlos

Usam-se as varial;ocs obHquas la, la, los, las/ substituinles do objelo direlo, qu;mdo a forma verbal tcrmina em r, sou z, caindo eS!as lelras por assimiJaliao.2

Exemplos:

Ele comprara 0 carro? Compra-Io-a (comprar-lo-a). Ele quis a incumbcncia? Qui-Ia (quis-la). Ele fe7, os reeibos? Fe-los (fez-los).

1 OriginMias do 3CUS3livb lib pronome dcmonslralivo lalino ille, ilia, i/lud (~quele••que!., aquilb).

2 As re(cridas COnSOaftlcS (r, s, z) t"bram .'similadas lo13lmcnlc pdo I lib pmhbme e, dcpo;>is. dcsapareceram:

dizer-'" ') diu/_Ill ') dil~.lo;

qulr-/.;. ') qui/·l" ') qui·lo; f-.x·/.;. > (a/-I.;. > f~-lo.

REGENC!A VERBAL

Usam-se as varial;oes no, na, nos, nas com as formas verbais terminadas em nasal, nasalidade essa que se eSlendeu ao I do pronome (assimilal;ao parcial progressiva). Exs.: defendem-no, ilcusam-na, diio­nos, pOe-nas.

Sc a forma verbal nao lermina em nenhum dos casos acima, em­pregam-se as varia~6es 0, a, os, as. Ex.: ama-a, cOllsidero-o, conheci­a, recebe-ll, encontrou-o etc.

Usa~se 0 pronollle lhe, lhEs, subsliluintc do objeto indireto, naI grande maio ria dos casos, sem que se veriCique a assimilal;iio dos fone­mas ja referidos. Alguns verbns, entrctanlo, repclem 0 emprego desse I pro nome obHquo, eonslruindo-se cnm 0 retn de 3~ pcssoa ele, eia regi­do de preposil1ao (a, de, em, para etc.).

Exemplos:

Tclcfonarias ao len advogado? Telcfonar-Ihe-ia. Escrevemos ao promotor? Escrevemos-Ihc. o dinhciro compraz ao avarento? Compraz-Ihc. Aspiras aquele eargo? Aspiro a cle. Precisas da proeural1ao? Preciso dela.

As forma"> pronominais Iho, /lUI e pJurais podcm resullar, indiferen­temente, da eOlllbinagio dc lhe + 0, lhe+ a, ou de IhEs + 0, lhEs + a. Ex.: Entregaste 0 reeibo aos conlribuintc.<;? Entregnei-lho (1110 = lhEs + 0).

As formas combinadas cxcrccm dupla funl;30 sintaliea: ohjcto di­reto e indirelo, como se nota no excmplo aeima, em qne tho sub~lilui,

aD mesmo tempo, contribuintes(oj) c recibo (o.d.)

Em se Iratando das formas no~/o e vo-Io, os pronomes RO(S) e mrs), de 1~ e 21 pessoas do plural, rc..<;pcelivamenle, funeionam sempre como objelo indireto, e 10 (com suas variat;:6es de gcnero e numero), como objeto direlo.

3.1 -$siudo Resumido sobre a Reg~l1£ia de AIgw1.s Verbos Usuais

Sem procurar exaurir 0 assunlo, deveras extenso, a maioria dos verbos a seguir sera analisada apenas em parte da Sua reg~neia mais eomum, eonfonnc a abonat;:3o dos melhores autores, tendo em vista orientar 0 interessado em escrcver com aeeno.

Page 58: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

109 108 RONAI.DO Ci\I.DEIRA XAVIER

Abrcvia~6cs adOlad!1~:

Int. '" inlr'<J.nsitivo. T.d." Iransitivo dirclO.

T. i. '" transilivo indirclo. T.d. e i. = lr..nsitivo direto

P. '" pronominuL ~ illuirelO.

ASPlRAR

T. u. Na accp\3o de: a) "Atrair (0 ar) aos pulm6cs", "sorver": Aspirar 0 !re.Kor matinal. b) "Pronunciar gllturalmcnlc": No espanhol aspira-se 0 h.

T. i. ,. Pretender", "l1esrziar intcnsamcnlc" :Aspiro(}que/aposiqiio. E Ie aspira a ~'er 0 escolhido.

Obs.; Nao aumite a subSlituic;ao uo objcto indircto (inlwullziuo pclas preposil:56es a ou por) pelo pronomc lite, mas £lOr a de, a ela: Sempre lurou pela mU}iistrtJtura e por ela a~fJirl! ate hoje.

ASSISTIR

Int "Rcsidir", "morar", "habitar"; "Ainda que uo eeu lenha u minha corte, tanto assisto I/a terra como no eeu".J

T. d. ou t. i. "Dar assislcnc ia", "soeorrer", "ajudar": 0 advogado dew assistir os ~'eus elientes (ou aos .\'eus clientes).

T. i. Tern as aeepc;6cs de: a) "cstar prcscntc", "prcsenciar": A ssislimosaos debates e as confereneias. Nes te sen lido, °objeto indireto deve sersubstitnfuo por a ele, aelac nao por lhe: Os acusados aSJ'istiram a fodas a~' audii!neias? Asststiram a elas.~ 0) "Caber (rozao, direito)", "aux.iliar", "favorcccr' '; Assisle ao juiz apellur 0 rht. Ne~tc sentido, conslr6i-~c com 0 pronomc lhe: Niio Ihe w'sislem 0,\' me.,mos direitos. A.\'~·istia-lhe raziio para protestar.

3 Anlonio Vieira, "Sermi">e, ". VI. 22U. AplUl I'mndseo l'ernanJes, n;doruirio de Verbo" e Regimes, 1953, p. 105.

4 Tendo-se lI>naJo c.omum no colo'luialisrno e, esporaJic~nlcnle, nil Ilngu~!i:ern lilcr~ri~, lit quem ~drni'~ u,~-ll> n'mo t d.: .h:,istir 0 jogo. Tal modo de conslrlllr [aculla empn'g.i-lo nB voz passiva: 0 jogo /01' ass;."lhl" _ eomo e com urn, .lias, no llnguagem jornallslil'" t. de eviIH-SC, canludo, ul consl(u'i j ".

REGENCIA VERDAL

ATENDER

T. d. a) "Acolher com atenliao C COflcsia": Atender 0 freguP.s. b) "Dar a1cn'iiio a", "seguir". "acalar": Alellder um chamado, um avi­so, uma orm;ao, urn pedido.

T. i. "Dar, prestar alcn~ao", "tomar em considcra~iio", "consi­derar": Ele atendia aDs que 0 procuravam. Tudo isso atellde (105 intc­re~ses gerais.

CHAMAR

Apresenta varios empregos em vista de sua larga aplieac;ao.

Int. "Diz:cr em voz alla 0 nome de algu~m para que venha"; Chama, chama, e ningubn atende.

T. d. a) ~'Convocar":Ja chamaram os c/assifieados no concurso. b) "Dar nome". "apelidar", "qllalificar". Neste sentido, faz-sc aeom­panhar de predieolivo: Charhavam-lUJ criurl/lola. Todos a chamavam princesa. Pode vir () predicalivo anlecedido da preposi~ao de: Chama­ram-no de charlatcio.

T. i. A mesma signifiea'iao de b): Chamam-lhedelalOr. Note-seque apenas 0 verbn chamar se emprega com predicativn modifiem.lor do objefo indireto, podcnuo esse predieativo, inclusive, eslar regido de preposi'iao: Chamam-lhe de delalor.

Na mesma regcncia, lem ainda a acePl:5ao de "invocar", com 0

objelo indirclo regiuo da preposi~ao par: Chamm'am pi)r seus mntm proletores.

P. "Ter nome", "apelidar-se"; Chama-se Paulo.

D1GNAR-SE

E verbo esscncialmente rronominal. Significa "ter a bondade, a condcsecndcncia", "fazer 0 favor", "hover pm bern". Normalmente, rcge-se com a prC'posi~ao de: 0 juiz digllou-.ye de ouvi-lo n.ovamenle. 0 requerenre solieila se dig/1e V.S II de conceder-lhe as fe-rias a que fazjus. Ha, contudo, cseritores respeitdveis que abonam constrnir scm' a prcpo~

si~ao: Digne-se V. Ex fJ aceitar as minhas eselJ.sas. DiNI70u-se enviar resposfa.

ENSINAR

T. d. e i. Usualmente, contr6i-se com acusalivo de coisa c dativo de pessoa: Niio the ensinaram as boas maneiNJj·.

Page 59: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

111 llO RONAI.DO CALDEIRA XAVIER

Ouando 0 que se ensina e cxprcssp par infilllLivo, cmprcga-sc qualquer dcsla:o; Ires conslrUl;6es:

a) ensinar-lhe ad\iogar;

b) ensint:1-1o a advogar;

c) ensinar-Ihe a advogar:\

ESQUECER

Pode eonslruir-se de varias maneiras, enlre as quais sao rreqiien­tes, no sentido de "01 vidar", "afastar-se da lembran~a":

a) com objeto direto: Eles esqueceram os dissabores. b) com objelo indirelo regido pcla preposi'130 de (quando na fonna

pronominal): Esqueceram-se das obrigar;6e.Y contrafdas. Resnltante do eruzamen(o desl.lls duas eonstrw;oes, adveio uma

lerccira, com objeto direlo iniciado pcla prcposi~ao de, scm prnnome rellexivo: Esquecea de trazer as chaves.6

Obs.: No sen lido de "sair da lembran"a", 1em uma construiiao menos eomum (lal como 0 antonimo lembrar-se, g.v.), de modo qne a pessoa C objeto indirelo, e a coisa fembrada, sujcito:' E.\'queceu-me uma coi.m. Esquecem-llie (odos os acontecimelllos ruins.

INFORMAR

Inl. "Adguirir forma ou configuralSao", "desenvolver-se": Aquela criallqa informoa bem cedo.

T. d. "Dar parccer sobre": lnformar um processo.

T, d. e i. "PrcsLar informallao", "dar nOlfcia". Neste caso, admi­te dois modos LIe conslrulSao: Informei-Ihe tudo ou informeio-o de woo.

P. "]nLcirar-se", "tomar conhecimento": Illforme-se com 0 ge­rente. Ete se informou de tudo.

, Cf. Ccho Cunha, op. cit., p. 358. A con~lru~iio c (~n61ft3T·lkc a ~dvogar), n.1o obslan~ san· cionada por alguns cscrilores, d~,,~ ",r c"Jllda.

6 'rida pol viciosa na opjnl~o d,' vblO:>b gram~licos, ~ loda"la uma cOllslru~iio corrcnHa na linguagem lftfomlal, na litc,',ia jnd~~ive. sc 0 complemcnto ~ reprcsenl.ldo JX'r urn infini· tlvo, quai Iluslm 0 exempln "fen;c;<.!o.

7 cr. Napolciio Mendes de AlmeiJ.1, Gr..mIJrica M<:t6dica da UtI!;"a Port~J?"""'a, 19H. p. 374.

ROOtNCIA VERBAL

INTERESSAR

T. d. a) "Ofcndcr", "feric": Aquela enfermidi1de interessa D.S

centros nervoSDS. b) "Prendcr a alcn~.ao, a mente, a curiosidade": As obras de aric 0 inleressam.

T. d. au t. i. "SeT UO interesse dc", "dizcrrcspcilo", "impactar": Nila 0 inleressa 0 neg6cio Oil nlio Ihe inleressa 0 neg6c'o,

T. i. "Tee interesse", "Lirac proveilo, Inero au partido (iniciado pela prcposil;iio em) ": 0 advogadn interessava em que U.\' partes escives­scm acorJes.

T. d. e i. a) "Dar panidpac;fio a 1I1g11em Dum ncgocio ou nos lucros": Procuraram inleressa-lo nu compra do im6vel. b) "Dcspcrlar o interesse": Interessei-os na t~cnica 00 debate.

P. "Associar-se com algncm", "lomar interesse por", "cmpe­nhar-se"; Eles se inleressam por jilmelia. Efa se interessa em e.\·lIuJar Direito.

LEMBRAR

Tern todas as eonslrm;i)es assemelhadas ao anllmimo esquecer, q.v,

T. d. a) "Trazer alembra\ia, 3 mem6ria", "cvoear", "reeordar": Ele aindo. a lembra com saudade. b) "Sugcrir", "alvitrar": LembrOl.l que jd era tarde' e dcvia sair.

T. i. "Vir a!embran\ia, aidcia", "oeorrer": Lemboli·lhe, /laqude momento, apresentar a coma.

T. d. e i. "Advertir". "rc(:ordar". Ncsle sen lido, aceit<l objclo direto de pe.....soa e indircl0 de ('(lisa, (IU vice-versa: Lembrei- 0 tlas dewres ou lembrei-Ille os devere~·.

Do Crnzamento das constru\ii)es, v.g., lemhra-me de conhece-Io t' lembra-me conllece-Io - advcio uma tcrceira, de uso urn lanLo raro no coloquialismo: Lembra-me de eonhece-lo.

P. "Ter lembranlSa de", "recordar-se": LemlJrou-se de assinar (, ~

cheques. Lembrei-me de um amigo dis(fJlJ/e.

OIlEDECER

T. i. "Prestar obcdicucia", "cumprir as ordens dc": Obedeqa aos seas superiores. Obetleqamos as ordem'. E de nolar~sl', eontudo, que sc usa com duas formas de pronome complemento, Ihe e a ete (a), con forme subslituam, respcctivamentc, pessoa on coisa: 1) Obedeces. ao juiz? Obedeqo-fhe. 2) Obedeces alei? Obedei$o a eia.

Page 60: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

113 111 RONALDO CALDEIRA XAVIER

Conquanto lrausilivo indireto, ja se cOlIs~grou admiti-lo l1a voz passiva, "reminisccncia do seu antigo regime trans! tivo direlo');" As leis devem ser abedecidas.

PERDOAR

T. d. e i. "Absolver", "remilir (dfvida, erro, e\l1pa, peeado)"; Perdoaram-lhe apena.

Devc ser IIsado com objcto direto de coisa e indirelo de pessoa: Perdoar O.Y erros. Perdoar (10 devedor.

Acdta apassivamenlo, equivalendo 0 sujcil0 ao objclo indirclo da ,Hiva: 0 rell dn'era ser perdoado.

PRESJDIR

T. d. au I. L, indiferenlemenle, no sentido de "cxcrecr a prcsidcn­cia": Presidir 0 (ou au) Congresso. Presidir a (ou a) rcuuHio.

Em seu emprcgo sao abomlvci~ as formas pronominais a ele (a) ou lhe: Presidiram 00 tribunal? Presidiram aele (conslrul;;ao mais oomum) ou presidiram-Ihe.

PROCEDER

Int. a) "Cnmportar-se": Procederam como dita a lei. b) "Ser proeedenle", "ser dccisivo na prova", "justificar-sc": A argumeJ1fa­r;ao ~ falha e nao procede. Aspelir;oes nao procediam.

T. i. a) "Origin,:lT-se", "derivar", "lleseendcr": 0 efeilo procede dl1 causa. 0 fitho procede do pai. b) "Instaurar PfDCC~O": Cahe a polteia proccder contra 0 crime. c) "Lcvar a efelto", "exeeular". "realizar": Procedeu-se i'J cOnlagem, ao sorteio. Nao adrnite apassiva­menlo. Em'lneas, portanto, sao as constru~6cs do tipo: Foi procedida 11

leitara d.os autos.

QUERER

Inl. ."Manirestar von lade rirme": Querer e poder.

T. d. "Tendonar", .,dcsejar", "requcrer": Ele quer a absolvir;/ia. Esta planta quer solo ferlil. Nesta aeepljao, rege 0 pronnme 0; Queres o recibo? Quero-o.

B cr. C<!bo Cunha, it!, p. 363.

, j

I

REGENCIA VERBAL

T. i. "Goslar de'), "estimar", "ler afciejao"; Semprff quis afi/ha com extrema carinho. Nesta acepljao, regc 0 pronomc Ihe: Ele quer oos irmiios? Quer-Ihes.

RESJDIR

T. circuns(ancial.9 "Fixar rcsidcncia, morar, ter scde": Residir na rua do Rosario, noLeme, em Slio Pimlo. 1q

RESPONDER

Admite varias l'onstru({oes, entre as quais SilO mais frcqiicnlcs;

Int. "RCPCli r 0 som, a voz", "dizer, lncar au cantar em rcsposta": StJ 0 eeo responde. Um c(mto mOnOtono respondia ao tonge.

No scnlido de "dizcr ou esercvcr em respnsla", pode ser Hsado como:

a) T. d. (pam dcelarar 011 cxprimir rcsposta): Ele /tao re.Ypondeu () que era nece.Hario. Admite passiva: A ofeltsa foi respondido aaltura.

b) T. i. (em rcla({iio 3 pcrgunla): RespO/ulcll.'iafi.\jatoriamenle ao interrogal6rio, ao qllestionario.

c) T.d. e L: Ele respondeu 00 comerciallle que /lao aceila'lJa 0

negtJcio. No selllido de "ser ou ficar rcspon::;iivel", 0 objelo indircto inlro­

duz-se pela preposiljao a: 0 fimcio/UJrio responde a illC/14erilo adminis­ira/iva. Neste mesmo senlitlo (' ainda no de "fazcr as vezcs lie", 0 objcto indircto pode scr inlrolluzido pcla prcposi~ii() por: 0 tutor re,~J'0/lde por seu pupiJo. Ete re.l'[Jondera pelos prejufzos causados.

9 D~noml"a~iio scguida per AurC!iu Buarquc ,Ie lIobnda om SeU [),'d""iiri", por slOge',"o de Rocha Um~.

10 Cqnqunlo vows rcspdlJvcb njo considcrcm ga!icismo 0 regime rc>m ~ PJ'fP05j~:ic> a, d~Jldc>-c> como",jr born cunhc> purlugucs" (e./:., Silvcir,1 [lueno, l'''''IIi~IIJ.. pelo /liidio, p. 213, "plld I'mnci'co I'crn,lnoes, "p. <"il., r- 53.1), e ineg~velmenle 1""'1""0 I~l modo lie ""nslro;, 0 w,r.<l cm ~prc~". m~i, 16~i~. 0 c"n,i'lcnlr-,~ moslra , <lrgum""l~~.'io em eon­lr~rio. Referindo-sc ~ l1Iorar(de "'Il~""i~ id~Jllic") e rdle'~lIdo a inlerprel~~iio de J. M.lo. so C;im"r~ Jr., l{och. Lim. co""o"l., em que h~, n~ Ifngua modcrn~, uma leodend. "0 "SO da p'eposj~iio (J 1);11'& iILLli.'a[ mor,Hla, mas 'omonl~ ~nie. de nomes femi"in'" l,ua. pralf'!, Cravcss.a), pois que, AI!I~S 'lc nom~' ma,culin",. invari~vel ~ ° emprcgo da prep"si"iio em (mora em Cop~r·.ibaJl", DO L... rgo do M.cll.tlOj. "'["rila'Se, ao que p"rcc.e, [Ie "III fcnomeno de uICricorrc,"", sob 0 ionu"o d~ e)(pr"",il~, e"mo senlar-se a'Jles", e,·lar ajalle/a, "aler pal"'as ap<Jrla CIC." (Op. cil., p. ~05.) Um ludo c por todo, [~z_se lIlClhor 0 rna;. pr6pri~ a con,llu~:io cum a prcposi~iio enl, con[orm,' sc cneo"ll'~. ~li~s, nos que bem sa hem ° idi". fila. Repilam.se.l'0r conscqu~nd•. (,~ses do lipo usidir o~ resideme a, assim como as '"K­pressocs pl'OplnquAS "'",,, qU mor<1dor (J, silUar,I<J, .,ilu"d" 00 s;lo a, com .<e& 0 clC.

Page 61: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

114 RONAl,DO CALDEIRA XAVIER REGENCIA VERDAL 115

Pade tambcm seT t. i. no scntido de' 'equivaler 'J, "corrcsponder": Em pOrflJ.gW!S de le~ "esta~iio" responde aD francesismo "gare".

SUCEDER

T.i. a) "Scgnir-sc' '. "vir dcpois": Sucede a bonam;a 1J tempesla­de. A paz sucede 1J guerra. b) "Enlrar (na vag.:t de olllrcm) por dircito de slIecssao, clci<;ao all nomca<;ao", "hcrdar par SlIcessao": 0 sup/en· te sucedeu aD titular. 1000 Pa/i/O II sucedeu a loao Paulo I. Rege-se com 0 pronomc file: 0 fl/fw sncede ao pai? Sucede-Ihe.

VISAR

T.1I. a) "Por a vista": Visamm () pa:H'aporte. b) "MiT<lr", "apont:u arma ": Visamm 0 alva? Visaram-llO,

T,i. "Objetivar", "tcr [Xu fjm' ': Visamos ao bem comum. Vi.ms­Ie ac0l1c6rdia? Visei a ela,

4.1 - Gloss'ario de Verba.') Jurldicos

o prescntc glassario anoia apenas 11m pcqucno apanhado de verbos eorrcnles na terminologia da Cicneia do Dircilo. Muilos dos vcrbos juridicos sao os mcsmos da linguagem comum revestidos de senlido tecnico, e s6 cste aspeeLo serviria para dar id€ia da complcxidade e largueza do assunlo. A lisla apre.<;elltada a segllir nao tern nem podcria ler, portauto, a preocupa,.lo da abrllngcncia lotal. Vale simplcsmcnle como uma oricnta,30 pr:itiea sabre 0 adequado emprego dc alguns verbos importanles na area jllrfdica em gerol e pc,as proccssuais em particular.

Adotou-sc por crilcrio lliistar os verbos em ordcm alfabctica, mos­lrando-lhes a(s) rcg~ncia(s) c a signiricado tccnico, l:I par Lie excmplifi­ea,ao para 0 rcspeclivo emprcgo.

Abrevia'jocs ulilizadas (alcm das ja refcridlls):

Def. - defectivo. Ant -nnI6nimo.

C(; -C6di,goCivil. CP - C6digo l'enal.

CPC - C6digo de Processo Civil.

cpp - Cooigo de Proces.so }>enal. v. -vee, vide. a.v. - queiHl ver. /. e. - id est (islo f) U - iSlO e. 1>. -lamb(m.

AB-ROGAR. T.d. Rcvogar totalmcn1c uma lei, decreto, rcgulamcnto. Dssar, anular ou lamar scm cfcito urn ato anterior por Cl1lmr ern vi­gBncia novo principio, prcccilo ou costume: Ab-rogar uma lei, decreto, regulamento, costume. V. derrogar.

ACAREAR. T,d, Dcfrontar tcslcmunhas cujos dcpoimentos nao sao concordante..<;: Acarear acusadns, li!.Slemun]UlS, reus, partes.

AOONAR. T.d, Intenlar a~ao judicial contra pessoa natural au jurfdica: Acionar uma pessoa, uma empresa, uma instiflih;rJv, wna suciedade.

ACOlMAR. T,LI. InOigir coima, punh, castigar: 0 reu sera acoimado pela pr6pria lei. Os puristas acoimam as eSlra)lg('iri,~'mos. Obs.: Podc o objeto direto vir scguido de prcdicalivo com prcposi,ao au sem cIa: Acoimaram-no de impostor ou acoimaram-no impostor, Ant.: escoi­mar, q.v.

ACORDAR. Inr. Fazer acordo, ajnstar, lirmar contrato: As partes acordaram quanto aestipulat.;ao do prer;o.

T.d. ConcordaT, resolver de camum acordo: Locador e locat4rio acordaram majoraro aluguel.

ADIMPUR. T.LI. ocr. Cllmprir. cxecUl~lT urn contralo, acordo etc.: To~

dns adimplimm as c1ausulas contratuais. AnI.: Inadimplir. q.v. S6 sc conjuga nas [ormas em que ao I do radical sc scguir a vogal i. Todos adimpliram as obriga<;oes, lJ

It a verho "dimplir, lal COme e ~II IUldnime illadi",plir, deriva do Ial.pl,'o, pI~" ple"i, ple­IU"~ plere (ene,her, eomplclar, ~umprir). A parlir de pleo, advieram v'rio. n>mpo'lo;l:lo, en­Ire o. quais eomplco (enehtl Il"r inltlro), comp/cme"tum, i"compJcllJ$, e)fpICmCllluII~ rep/ell'S e 0;1 verho adimpleo (cumprir). Daf, pelo acroseimo do sufixo - "'e>l/O, ",u'",pJe­"'CillO (l ~melhan~. de complell"'''''') e ;,wdi",ple",elllo (cr, fuoul c Meillel, Didio/'l­"aire tty",ologique de /0 /m,gue lali"e, 1985, p. 515). Por eon,c.I!uinlc, 0 lermo "i'ladimplenril", eslcaDhamenlc cneonlmdj~o no lelllO de eOn1r.I~s., pc<;a' proce"uals e nie raro, al~, em respeil'veis obras jllr'die15 (!) ~ elimologieamenle incabrvel, pois 0;1

110 de inadimplir l, i"adi"'ple",elllo, form.do pdo prdi;>;o III, ill (oio) t adimpicmellio

Page 62: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

117

rI I (i {(ON ALDO CALUlilRA XAVIER

ADJUDTCAR. T.d. FaZ",er 'U(~!udicQ(;ao; dec1arllf juJidalrlle:ltc que '11­gum<J coi,m perlenee a alguem; A SCllfefl(G adJudicou balS de raiz em

]Jaf:0meI1W de d{vidus cUl1lrufdas.

Td. e i. Fazer adjudicarllo; tml\~ferjr bens do domfnio de uma pcs­SOil para 0 domlnio de OUI[J (como com:cqiiencia de exeCll~ao, "emia Oll

scccs~o); Niio jo; encol1trada pessua a quem adjudicor a mce.\"suo.

AD-ROGAR. T.d. Tomar por ado~:io pcssoa Sill juris. Ii Ad·rogor till/a pesMlu de,~valida.

AGRAVAR. T.d. Sobrccarrcgar, ollt".far: Agravam 0 povo com imjme­ro.\' frihutos

T.i. Interpor (qllem e parte no feito) 0 recmso de agrwo: A parle tlf;mVOU do processo, da causa, da qw·stiJo. AgnH'ar pam gmu superior.

APENAR. T.d. Punk, candenar <l pen(J: 0 jlfiz (lflenoL/-o com {re,,' arw,~

de reclus{io. Obs.: Nfio se cleve confundir com pe11fllhar (causar pen a Oil dC;gOSIO (1), comu freqiientcmenr.: ~c y~.

ARRESTAR. T.(l. Fazer ou dccretlll" urre,I'/(>, i.e, il aprcens;10 jUdiciDJ de bells do devcdor, como meio preventivo de 2aranlrr ao credo!" a co­bran~i1 de seu crfdilo, ale se-r deeidida Ol 11ue31;10 (epC, ,Jrt 813): .>1r­res/a/" hens, a coi.w iudicada, Tambclll ehamado emba/"Ko, :'lsscmell1a-se ao seqiiesrro (Cpe, 'lrt. 822), cmbof;l com eJc l1-'io s"c cOllfund,1 En­quanto 0 arresto e a aprcensao indiscriminada de quaisquer bens sufi cicnl-es agilnmlia d;] dfvidu, 0 scqiicstro ea :.lprcclls50 dti (Oi83 certa e delcrminada sobre que sc litiga. V. "eqiiesrrar.

ARROGAR. T.d. Apropri~lr-se de, lomar .:omo seu: ,>1rroKol-l (M hens do viLinho,

T. d. c i. Exigir ou atnbuir-sc dircilos indevic1os, lomll' como seu: Eft' .1"(1 ,lrrog:J direir'H' ({Ii<' mIn Ihe cahem.

l(umpriLtlcnlo, ,!cnlro d~ Ilraw ~onvellciotlad\J, de o·ollgn,'!lo cl>nh".llual). Trma-."" [do eX­pl',lO, dt form" eOlJ(,cn:"'d, inwrrelu ~ luz d;] ctjln()I~g:ia.

'" P"8,ml ,"" jUt;" IJc. dircil(l p"iprio) ~ ~ lJl~ nun ,;:1;\ huj~il:l "0 1),llr;l, p(lder [)\I h '-J"Jori,bJ(; d<JllIcsIi'" de OlltL'(;Ill, PQr scr livre. In:,i<l~ C CilpilZ. A eX[1rcs'i.o lnl.ina opbc-,c illf~ni.i,.m.\· (II" direil" ulheio). Sobrl' adO\'f:ll e ad-rr1g;J-S;i'io, 110 Dir~ilO RGlJano, v_ Eberl Ch~InG'"n, 111"­rilrri('rk< J" f)lr,,;!o R'JiIl<IiUi. I'f61i, fl.'. 17(J·,' 7~. S"brc ado"Lo e ~I<lJll,ir"l-'jG, F~s(d de (\:ml:lllg,-" A (.'id",l- A"II"I-I". U75, ps. 44-45.

RP1;F.NClA VERl3AL

ARROLAR. T.d. Fazer c[)n~tar em rol ou lisla a rela~ao dos bellS de urn cspo]io eos tflu]os dos hcrdciros (rf. ere, arls. l.m1 a 1.(38):Ar­rolar bellS, rendas, Ii/ufos. Sin.: im!entariar, 'l.v.

AUTUAR. T.d. Lavrar um Q/~to, i.e., reunir materialmcnte, em forma de processo (admini~tratiyoau judicial) os dados pertinentes ainfrOl\ao ou ao deliw, tais como a i[ldica~ao oa cspecie de a\ao, os nome::; do au­tor c do reu, data dc cntrada l'm cartorio clc.: AU/liar lim in/mtor, lJ!n cri'ninoso, W7I COil/raven/or.

T.d. e i. Exigir (lU iJlribuir-sc JireilU inde\ido, tamar como seu: Ele se arroga direitos que niio Ihe cabem,

AVEN<;AR-SE. P. Fazer avenqa, ajllslc, conlralo, convenio: 0 COlll­

prador avenqou-se com 0 I'endedor.

AVERBAR. 1".d. a) Escrcver um termn Oil dcpDimento: al'cl'bar as dc­cJarar;oes do depoe!l{e. b) Escrevcr ,) m:lrgem dc 11m titulo, aposlihlJ': A verbur u esc:riluru. c) Rcgistr<:.Ir:Al'erbur cerlid6es.

AVOCAR. T.d. C i. a) Chdmar a ~i, utribuir-sc: Ele.s se avocam () direi­fO riP poderl'sr(Jlher_ h) ('hamar (0 ,juiz):l .~eujllizl) a causa que corn:: em oulro: 0 juiz avo(;ou 0 processo ii sua comarca.

CAL-UNJAR. 't.d. lmpular {;1!silmeutc a algllcm hllo (lefinidl) como crime au con1ravcn\;an (CP, art. LIS): Callmiar UTflO pessorJ, /JIn cida­dao IWllrado.

CAUCIONAR. T.ll ASS[;!;UfilT ~UIll r.:illl~:iio, d:lf em gdfalllia, pilra (1

fiel enmprimclllo de alguma obrjga~ao assumid~, afian~ar: Calic/onar bellS, tfIU!V.'>, depdsi/os.

CIRCUNDUTAR. T.o. Julgar circlJl1"uta, islo e. nul;) ou scm q:JJlqucr cCicada lima cita~ao; 0 juiz circlI/l(lulOU a citu~ii(), pOlS demonslrava inobserVilncia d{Jsprr.:scri~·i}es fef,ai.I'. (Ci". CPC, afl. 247.)

CITAR. T.d. Chamar illguc.m (0 cilando, 0 reu) a jufzo, para lomar cieneia de que, coulra dc, [oi proposta Uffia Q\;:io e, des tarte, 8G P08SQ t1efender (cr. cpe, art. 2l3): eitor ° reu, () i/lferessado.

COLAOONAR. T.el. Fanr a c(Jl{J~~{l() elf'., i. c., resliluir?J mas.~a cnmum da hrran~a lod... eSpCde de bellS IlXebidos em vidD (quolas hcrcdil<irias, adiantamenlo das legftimas) do de C/.iiu~·, a tIm de sc igualilrem as legiti­m~s dos dcmais hcrdcirosdcsccndcnccs (cL G5d. Civil, art. 1.785): Cola­

Page 63: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

r118 RONALOO CALDEJRA XAVIER REG~:NCIA VERI3AL 119

cionar bens, va/ores. Obs.: A expressiio trazer () co/a~'[lO, dc uso geml, nao propriarnente jnridico. tcrn 0 sentil10 de ellar a propOsilO, referir.

COMINAR. T.d. c i. a) Amcil<;ar com pcna ou casligo no caso de in­fra/iao da lei: Cominamm-lhe penas infamantes. b) Prescrever pcna ou castigo: Furto e crime a qlle u lei comina pena de reclusiio, de um a quatro anos.

COMUTAR. T.d. Em Dircito PCllal, pcnnnlar nma pena mais grave par autra mais branda:JJ Comutar pena, custigo, punirsi1o. V. indultar.

CON VOLAR. T.i. Mndar de eslado, de e6njuge, de parlido, de foro ou idcias: Convolar a segundas nupcias. Con~olar paru outro foro. Cun­volar para novas id~ias.

COONESTAR. Td. D:H aparcncia de honcslidade a: Coones/or rcpu­tars6es.

CORREGER. Inr. Fazer correirsi1o, i. e., a diligcncia que sc comcle ao enrregedor, no scn(ido de fiscalizar as juizados soh sua j 11 risdi<;iio, vis­lorianda os car(6rios, examinamlo livros e proccssos, .sindicando CHOS, abusos on dcsrespeilos e proviuenl.:iando medidas cabfvcis aboa admi­nislra<;ao da Ju.'·;li/ia. Assim, a clinml<lgia dcsle vcrbo anligo (do laL corrigere, corrigir) csla em consollflncia com as aluais alribuilioCs do corrcgcdor, a quem incumbe corrigir crras jl1dieiflrios.

Td, Satisfuzer 0 pagamenta do dano au da indcni:nl<;30: Corrcf{er o dana, a illdenizarsiio. Obs.: Conjuga-se como reger.

DECAIR. 1'.1. Incidir em decadencia: J4 Decoir do direilo, da causa, du posse. Decaindo ospais do ptitrio poder. (CC, ;rrL 406, II.)

Inl. A mesma significal;:lo: 0 direito dos herdeiros jti decaiu.

DELINQUIR. Int. DeC. Comeler crimc, delito: Os menoreS aha/l{lon.a­do.\' acabam delinqiiil1do. Obs.: Nan se conjuga na I" pes. do pres. da

13 A "'''"UI~~aO n~o se ("ourum!e Com os in.<litutm. do padi;", do i",j"/l<> c. <1a /I''',,'', no' quais "C Iil1e,~ loda a pena.

14 Stgaodc Gilll.r. '.£,,1, de("~dCncia ~ "~ eXljn~.o do dil'ciLo pela iu~rd~ de "Cu lilular, '1u;lnd<l sua didcia rOl, de origem. subold\n~l1~ l cOlldi~iio de "en exercJcio dentIn de urn plaza p...diudo, e ("sic sc esgoJ(lu "em que e.sC <:xe{deio"c livesse verificado". (eL Da Pre,wri"iio e dn Decadf"cia, 1978, p. 101.)

iudie., faltando~lhe, par isso, todo a rres. do sllbj. Na pres. do indo con~

juga-se assim: de/ilujlles, de/i/1qfie, de/inqtlimos, delinfjlHI', dc/inqilem.

DEMANDAR. Inl. Prapor demanda, disputar em jUlzo: Hti muito aque!es dois vi~'cm a deman.dar. S6 0 c6njugc ellganada pode deman­dar a anula~ao do casamcnto (CC, art. 220).

T.d. Inlcntar a<;50 judicial contra: 0 advngado sugeriu. aesposa que demandasse 0 marMo. V. (i,iKar.

DENUNCIAR. T.d. a) Em Dircito Civil, natifjcar, uar denci£l a uma pcssoa dc determinado !llo rroecssual, "a rim dc qnc a omissao dessa diligencia nao possa aearrelar prcjl1fzos aas rr6prias illtcressados no Ii ­lfgio": Defflllldar um tereeiro, u.ma pessoa. b) Em Direilu Penal, aCI1­sar (0 reprcsenlanlc do Minislcrjo Publico) algtlcm pcranlc 0 juiz compclenle, para que sc de inicio a lI~;jo pcnal conlra 0 dClltillciado, ao qual se imputa urn delilo ou conlravclH;ao: Demllle/ar lima pes:ma, () reu, 0 culpado. P. Rcvclar-sc (a justi<;a). lorllllr-sc conheeido: Ele prv­prio se denuncirJlJ. 0 suspeilo deJllwcial!u-se por suas aiitu.des.

DEPRECAR. T.i. Rcquisillif (0 juiz) a colega de antra jurisdil;ao a rni­lica de .'110 au diligelH.:ia necessaria ao andamcnlo de urn rroeesso: 0 juiz deprecou ao eulega de uma comarca vizinllll.

DERROGAR. T.d. Rcvogar parcialmcnlc I1ma lei, decrclo, rcgulamcn­10: A Camara de Deputados deverti derrogar a lei. V. ab-rogar.

DESAFORAR. T.d. a) Iscnlar do pLlgllmcnto, de urn foro: "Desaforar um rendeiro".J.i b) Tral1sferir urn rrol.:csso de urn faro para outro: 0 jUlZ mandou desaforar a cal/sa.

P. RCllnnl.:iar aosrrivilcgios do {oro: "Dcsaforou-se 0 rca ao foro doseu domicflio"."

DESAGRAVAR. T.d. a) Reparar uma ofcnsa ou insulto: Pedirarn-lhe que desagra~'assc (lofendidD. b) Dar provimclllo a urn agravo (recnr­so), pois qnc fai de.sfcito 0 gravame pralicado pelo juiz a quo: Desa­gravar a parte agravanle.

DESAPROPRIAR. 1'. d. V. expmpriar.

15 Ap"dFr~ncjseo 1'crn~nde!. "f'. ,·it.. p. 195. 16 1I>;d. I(>c. til.

Page 64: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

121 120 RONALDO CALDEIRA XAVIER

RF.GENCIA VER[3AL

I DESCRIMINAR. T.d. Absolver do crime, excluir a injurididdade au eomlit;ao criminosa de urn ata ou rato: 0 tribunal descriminou 0 acu­sado, 0 adulterio. Obs.: A forma "descriminalizar" corrcnlia ale em compendios tecnicos, sabre nao sec avcrbada em ncnhum bom tHctona­rio, e inju5liticavcl, pais 0 verba n50 deriva de crUnuml, como sup6cm alguns, m:lS du subs. nculro !iJlino crimen, criminis (crime). Diga-sc 0 mesmo de "dcscrirninaliZllt;3.o", de etimologia identica, porquanto 0

I ala au efeito de deserirninar edescriminar;iio, que, a prop6sil0, se naa deve confumlir com 0 par6nimo discriminar;iio (ata de discriminar; discernirncfito, separa~ao. segregal,;;ao).

DIFAMAR. T.d. Imputar tala oCensivo AreputHc:.;iio de algu6m (CP, art. :1 139), com a fila de desacrcdiUi-l0 na sociedade em que vive: D1Jamar

um homem de bem.I I DISTRATAR. T,d, Annlar 0 ajuste ou eontrato p:lr mutua eansenfi­

mento das partes: Comprador e lIendedor distralaram 0 que haviam I' concerlado. V. rescindir, rCJYJ1I,.'er e resi/ir.

EMBARGAR. T.d. Pdr embargos judid;Jis apropriados a: Embargar uma scntenr;a, um recurso, um despacho, U/Ila penltora.

'I,"'II EMENTAR. T.d. Fazer a emellla ou aponlamcnto de, i.e, 0 rcsumo do que se contem num ac6rdao, ~enten<;a, lei, decreto elc.: Emenlar wntl le4 ac6rdiio, estatuto, alvard.

EMPALAR. T. d. Submeter aD antigo suplfeio da empalar;ao, i. e., espel.'1r a condenado pelo anus numa estaca ou haste p:lntiaguda, deixando-o em eXp:lsi~ao aW morrer: Na [dade Media, empalavam-se as coruienados.III ESBULHAR. T.d. Praticar 0 esbuUIO, i.e., atravCs de ato via!ento, dc­sapossar urna pessoa daquilo que Ihe pCr!cnce ou de que tern a posse justa; espoliar, despojar: Esbulharam-no cruelmente. v., lb., turbar.l

dl

T.d. e i. 0 mcsmo sentido: 0 invasor esbullwu-a dos seus direi­tos. Esbulharam 0 terreno ao proprieHirio.

ESCOIMAR. T.d. Uvrar de coima, pena ou censura: Escoimar 0 le.tlO, , , a petir;iio, ° requerimento. Ant. acoimar. q.v. ,

EXPROPRIAR, T. d. Desapossar (0 proprietario) de sua propriedade, mediante proeesso movido pela Estado. Possui accp~ao mais exlensa

I' que desapropriar, "visto que tanto significa a vendn for(,;'ada que 0 I'

I I

proprietario faz de sua propriedade para beneficio ou utilidade ptiblica, como qner dizer 0 :.lto pelo qnal e a pessoa, por a<;ao intenlada em juf­zo, desapropriada de sna propriedadc" (De Placido e Silva, Vocabula­rioJurEdicu, 1987, p. 254.)

ESTUPRAR. T.d. Constmnger mulher a eonjunc;ao carnal, mediante violcncia ou grave amea~a (CP, art. 213): Esluprar uma dome/a, Ulna

prostituta.

EVENCER. T.d. Desapossar judieialrnente a pessoa da pmpriedade que detcm; promover a evic~a.o:l'I 0 oficial de jusrir;a recebeu ordens para que evencesse os adquirentes do predio.

EXARAR. T.d. La .... rar, eonsignar pm eserito: Exarar um despac!w, uma sentem;a, uma certidiio.

EXCUTIR. T.d. Exeeutar jlldidalmenLe os hens de (urn devedor): 0 juiz mandou excllfirparte dos !JCIlS do devedor principal.

EXERDAR. T.d. Exduir de heran<;a legftirna urn ou mais herdeiros ne­eessarios: Exerdar wn parenle. 0 mesmo que deserdar.

EXTORQUIR. T.d. Conslranger alguem, rnedinnle .... iolencia ou grave amea<;a, e com inluito de ubter para 51 01\ para outrem indcvida vanla­gem eeonomica. a fazef, lolerar que se fac;a ou deix<lr de fnzer algum<l coisa (CP, arl. 158): Extorquir dinheiro, bl!/lS, valores.

T.d. C i. A mcsrna signlfiea",ao: Quiseram eXlorquir-lIle a Iormu­la da descoberta. Verbo defecti....o. nao 5e conjng<l ua P PC!;' do pre... ind. nern 110 pres. suhj.

EXTRADITAR. T.d. Eutregar (um erirniuoso) pur ex/radiqiio;!H Ex/ra­Jitar um criminoso, Iugitivo, terrorixla. suhversivo.

FRAUDAR. T. d. Cometcr fraude19 contra (alguem (Ill alguma coisa): Fraudar um incan/o, a Iazendll publica.

17 Conf"nne" magi,l<lJi<l de Orlando Gome" "d~-se ""iCfQO 'lund" 0 ~d(jyirenle Vern a pe.rd,'r I pr<lpriedade oy a posse d~ e",iu "m virl~de de 5enlcn~. judkial que reeonh"e" a Oyrl~m <lireho anledo! 50"'" el •. ·· (Colllr,,'o,l, 1981, p. 110.)

II! Pan Ccl~o D. de AI"uqY..rqUt MelLo, e"lr"di~.'io ~ "('I ~l('l por me]" ,10 tjyal um indivio..l"L' f cnlrcgue poe Urn r.'.Slado a ourf<', 'l"e seja COIIlpclcnl~.' rim ole proccs5'_I('I C puni.I,,". (Cf. C"rs<J de Dirc;/p!,,/cmr;"'!Ij,,1 J'';hlico, ]979, 2' vol.. p. 60 I.)

19 La/a ,"'''.WI, cnsin. Nelson !!Qngri',Faude(lal.j,,,,,s, - dis, (hno, pcrrla ".ullanl" de um CrTO, OY de (,r.ga"o, Oll de igllorind. pcs.o~l) ( "'lual'luer malid050 ,"hrerf<igio p~m .1­

Page 65: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

123 122 RONALOO CALDEIRA. XAVIER

GRAVAR. T.d. Impor grollame, anemr, sujeitar a encargos, hipolecar: Gravar um bem, urn im6l.'e~ uma propriedade.

HOMOLOGAR. T.d. Ralificar, confirmar ou aprovar (a autoridade ju­dicial au administraliva) dcterminado ato, para que estc sc invista de forc;a cxecut6ria au (cnha validade legal: Hom%gar uma separafiio judicial, urna parlilha, uma concordata, um laudo arbitral.

ILlDIR. T.d. Contestar, ccfutar: !lidir a prova com outra rnais robusta. [Jidir 11 argumenlm;iio, 0 arrazoado.

IMITIR. T.i. Fazer entmr (na posse), investir em: lmitir na posse. 0 subSlanlivo correspondente deve reger·se da mesma preposi~ao: imis~

sao na posse (ef. CPC, arts. 879, I; 998 cte.).

T.d. c i. A mesma signifieal:;ao: Imitiram-lTo em tudo que sempre foi seu.

IMPETRAR. T,d. Interpor recurso, requercr medida judicial para asse~

gurar 0 exereicio de urn direitu: lmpetrar habeas corpus, mal/dado de segurantSa.

IMPRONUNCIAR. T.d, Em Direito Penal, julgar improccdente ou nao provada a dcnuneia ou a queixa contra 0 aeusado, evitando envia~10 a julgarnento do Tribunal do Juri (CPP, art 4(9): 0 jUiz improllunciou 0 r~u. Ant.: prom-mciar, q.v.

INADIMPLIR. T.d. Dcscumprir a obrigaliat1 cnn.tratual assumida, nao pagar a I.Hvida: 0 locatario inadimpliu vtirl/lj,' cldwmlas do contralo. Ant.: adimplir. q.v. Verba defeclivt1, sO sc conjuga n.as Cormas cm que ao l do radical se seguir a vogaJ i.

can~ar urn lim iJfeilD". Slri"I" .\·''''J·ll, ~ "0 engano dolosamcntc provoe~do, 0 nl.li~ioso in, dU'limenlo ~m erro ou l~rovdl~mcnlO de pn:exislenle crro alheio, par. 0 [im de injusL110' eupleu,.iio". (ConJ""t<.lr;"s 00 CM, Penal, vol. VII, 1980, p. 169,) o cslcfio""/(I OIL stelli,', ""i.•. "Lagarlo mosqueado", espt-cie de s~ulio tOue [onu > C(I, dos objelos do mei" em que vive [mimdismolhomocromia1. a [im de eng.na, Os ",,~s predado· res). como esc!an:cc ainda N~ison Hungria, "rom,. evolurd. de capl~'iio do Ilheio". ~ lip;­~.men1e"o crim,- palrimonial medianle/ralld,·, aD inv~s d. cllJlldewi,i,!u<i." dl .i••IJ"<'i,, fisica ou d. amca,a ;lIli",idali.a, 0 agenle emprega 0 ClIglJllO, ou "" "erw de,l<: ru~ que a vhima. inadverlidamente, ae dei>:e c.o;poliar" ("p. ,ir.• r.1('6).

REGENCIA VERBAL

INDICIAR. T.d. Proeeder a imputac;ao criminal contra algucm, subme­lcndo-o a inqnerito policial au adminislrativo, no qual sc fundamcntara o Ministerio Publico, para ofcrecer a dClllJncia: A autoridade policiaj indiciou 0 acusado.

INDULTAR. T.d. Conceder bululto1JJ a: Indultar um eondeflado, um presidiario. V. comuu11'.

INJURIAR. T.d. OCenda a dignidade au a decoro de alguem (CP, arl. 140): Injuriar umapessoa de bern.

INQUlRIR. T.d. Fazer perguntas a, indagar de algucm para esclareci­mento de eertos Catos: 0 juiz inquiriu as teslemullhas. Evil.e-se confun­dir cste verba com 0 par6nimo inquerir, . 'apertar (a carga) du animal". Obs.: A t<.~enica proeessual distingue entre inquirir e interrcl' gar: estc apliea~se a reu, a aeusado; aquele, a teSlemunha.

INSlMULAR. T.d. Atribuir crime, dcnunciar: lnsi,mlluram-/lo pOI suspeitSa.o.

T.d. e i. Acusar falsa au injustamente: Insimulou 0 inocente ar, delegado.

INTENTAR. T.d. Prupor em ju(zo: Intefllar uma a~ao.

TNTERDITAR. T.d. Dcclarar iflterdilo, promover a intcniic;ao (CPe. arts. 1.177 a ],186): II/ferditar um lncupaz, um predio, um surdo· mudo, um viciado em entorpecentes.

INTERPELAR. T.d. a) Exigir ealegoricamcllle, de outrem, explica~6es

em juizo: 0 ofendido ira interpeiar 0 ofemor. b) CienLificar 0 devedOl de que 0 eredor nan mais pretellde prorrogar ou dilalar 0 pagamento: C credor ja interpelou 0 devedor.

INVENTARIAR. T.d. proceder ao inventario de: lilventariar os bem do esp6lio. Sin.: arroiar, q.v.

20 0 indullo ~ 0 perd:iC' quc liber. 0 condenado do rumprimenlo pardll ou lolal da pcM qo, Ihc foi imposlJI. Confolme esclarece Anlbal Brono, 0 ioduho ~ medida de cn'lcr coleli.o n~o obslnle, nO >10 q~e 0 concede, pass.m vir nomeados os benellcihlos. A cC'mp,'I,;nd. ~ do Pr~.~ld~nl~ da Rep~bliCi. que devl:, 'pes,r d" ludo, solidlal pareeer aD Co;madho Peni tellci.rio, cmbora nio rique ,djela is suas eouc!u,on, (CL Direito Pe"oI, 1978, lomo )". p 204,)

Page 66: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

125 RONALDO CALDEIRA XAVIER 124

IRROGAR. T.d. e i. Imputar, atribuir, infligir: Irrogaram 0 delito a u'm inocente. 0 magistradn irrogou-lhe uma pena severa.

LAVRAR. T.d. Escrcver, cscrilurar, dar poT escrito: Lavrar urn auto de infrafSiio, uma ata, urn contrato. uma sentenfSa, um laudo, urn compr~

misso. '

LEGIFERAR. lnt Elaborar leis, legislar: Legiferar ~ fum;iio preelpua dn Poder Legislativo. Nem sempre os poll/ieos legiferam bem.

UOTAR. Int. Ofereeer lant;o em lciliio, em hasta publica ou panilha judicial: "Ndo se apresentou quem quisesse licilar".2L

T.d. P6r em leil50: "Licitar os bens da hermt<;a ".22

UTIGAR. lot. Ter li/(gio sobre a eoisa, dispu~-Ia pcIa eonteslat;.iio:Jn~

eOl1/ormado, 0 posseiro deu·se a liligar eonlra 0 verdadeiro proprie1d~

no.

T.d. Pleilear em jUlw:Ambos litigam 0 mesmo direilo. V. deman­-I.. 2J=r.

LOCAR. T.d. Alugar, dar de arren.damcnto: Locar uma casa, um apar­tamenlo, uma fazenda, uma quinta.

MALVERSAR. T.d. Administrar mal ou ruinosamenle, dilapidar: Mal­versar dinheiros publicos.

MANUMITIR. T.d. Liberlar (das maos), dar alforria a: MOllumitir urn eseravo, um servo, um eondenado.

MANUlENIR. T.d. Conceder mandado dc mW1JJlem;ao, i e., manter em maos ou gozo de algu~m aquilo que por direito Ihe cabe: Manute­nir a posse, au pessoa na posse, na situaf;oo.

Verbo defcctivo, conjuga-se somcnle nas farroas em que ao uHi~

rno n se segue i: manutenimos. manutenis; manutenia; manutcniria etc.

21 AplidFollclscl> Perondc6, id, p. 412. 22 Ibid 23 "Lilisor t lul6 que tk",o"dor: quando 5e dcman& se "em simplcsmenle pe,Ii, (I qee s.e

JuJglI de direilo; qundo 5e Hllsa, dj5~ule-s.e. dispula-5e, leL1_se pela inlegrfd~de o~ re~peilo

de um direilo." (cr. De Pllcido e Silva. op. cit•• \101, lit, p. 953.)

REGENCIA VERBAL

NOVAR. T.d. ECeluar a nova,iio de uma divida, i,e" converter volun­tariamente uma obriga~3o em Dutra (a nova subs Ii lui c cxtingue a ve­Iha): Novar uma divida, ulna obrigac;iio, urn compromisso.

OB-ROGAR. Inl. Contrapor-se uma lei a Dutra: Os projetos de lei apresentados pe[ns dois depuladns ob-ragaIn.

PACI1JAR. T.d. Firmllf pacto, ajuslar, combinar: Pacilloram para 0 dia seguince a lavratura do contrata.

PENSIONAR. T.d. pagar au dar pensiio: 0 marido pm's(m'i a pensia­nar a mulher com tr~s saMrios m{nimos.

PERIMIR. T.d. Por tcrmo a a~Ji.o ou instnndajudicial em rawo de falo que a toma perempw" ex.tinta ou prescrita: 0 decurso de prazo perimiu o direito de agir no processo. 5d deve lL',ar-~e na terccim pcs~oa. E verbo defeetivo.

PETICIONAR. lIlt. Formular, por escrito, uma pelir;iio: Qualquer ci­dadiIo, 1W gozo de seus direitos, pode peficionar emjulzo.

PRECLUIR. Int. Scr urn dircila processual atingido par preclusdo: 24 A nulidade dos atos deve ser alegada IIU primeira oportullidade, sob pena de prec1uir. (Cf. CPC, art. 245.) 56 deve usar-sc na terceira pes­soa. Edefectivo.

PRESCREVER. Int. lneidir cm prescri~.ao:25 A pena impos/a ao n!u preserel'erd brevemente.

T.d. Ordenar de maneira previamcnle ex.plfcita: A lei prescreve, generieamenle, para 0 crime de bigatnia, pena de reclusdo, de dois a seis a,ws. (Cf. CP, art. 235.)

PREVARICAR. Inl. a) Em Dircilo Penal, rctardar ou dcixar de prali­ear, indevidamenlC, ala de offeio, ou pralid-lo contra disposilffia cx­prcssa em lei, para satisfazcr interesse ou sentimenlo pessoal (CP, art.

" Pr~dw;Qo t a perd. da flc~ldadc de agir lIum pr~ccsso civil, SCjl po- ~iio sa cxcrelda pa ordem legal, sej~ poc ler ocorrld~ Ili"idade jncompall"cJ corn e&.<e c~crdcio.

2S Segondo C..imar. Led, preseri~"o ~ ". cxLiv'Iao de ~m ••~ao ~juiU;"cl. em "itlDde da intr­cia de s.ev ljlular durav~ C'Crlo Japso de lempo, VI us.:vcia de caPs~. ptc<:lusiyas de se~

eelS"", (Op. dl., p. 12.) I'=. 0 .balindo jui5La q~e eslabeltce 0 primdfO Irl,o diferendal c~lre a p",~<"i"ao c a dc"",dcJlci.: "a decldenda eXlingue, djtdamenle, 0 di",iIO, c, com de, a a\ao que 0 protege; ao passu que a prcseri"ao cXlinguc. dircl.amenle. a a~io, c com cia, 0 direiLu qu .. prolege". (Ibid, p. 100.)

Page 67: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

127 126 RONALDO CALDEIRA XAVIER

319): Os magistrados niio devem prevaricar. b) PrJlicar 0 adult6rio (CP, art. 240): 0 ctJnjuge jemininopre~'aricou.

T.d. Corrompcr, perverter: Prevaricar os bons costumes.

PROLATAR. T.d. a) Proferir ou lavrar a scnlcn~a judicial: 0 juiz pro­latou a semellfa. b) Promnlgar uma lei:A Cilmara prolatou nova lei.

PRONUNCIAR. T.d. a) Prolatar, dcspachar, declarar: 0 juiz acaba de pronunc;flT (I sua ...·enten~a, b) Proclamar (0 juiz) a auloria do delilo de que acusam 0 rCu, para encaminh<'i-lo aD Tribunal do Juri: 0 juiz-presi· dente proflwLCiou 0 TeU, Ant.: impronunciar, q.v.

PURGAR. T.d. Liberar au eXlinguir a obrigaCiao pelo respeelivo paga­menta: Purgar a mora, a dlvida, a condenafiio.

QUERELAR. Tj. Promover (Jlu:rela/ 6 i.e., ajuizar ac;:ao penal privl.ldl.l conlra alguem: 0 queixoso q/lere/ou contra 0 seu oJelisor. A jovem querelou do colega que a desollrou.

RABULAR. InL Proccder como rdbula, i. e., procurar, uo foro, advo­gar sem eslar dcvidamenle habilitado para lal: AtJlda flO segundo ano, o acatMmico adorava rab/llar.

RAPTAR. T.d. Arrebalar mulhcr honeSla de seu domicllio, mediante violcncia, grave ameaC;3 au fraude, para tim libidinoso (CP, art. 219): Raptar mulher, mora, donzela. 27 V. Sequeslrar.

RECEPTAR. T.d. Reeeber, adqnirir ou ocultar, em proveito pr6prio au alilcio, coisas sabidas dc procedencia ilfcila ou eriminosa (CP, art. 180): 0 comerciante Joi acusado de receptar mercadorias conlraban­deadas.

RECLUIR. T.d. Eneerrar, meier cm carccrc: Reclufram os condenados em carcere privado.

26 0 lermo posslli 0 s.enlido de queixa 011 acusa,ao. N. Icrlllinologi. d~ direil<l uul. signifi­CI quei.nHrime 011 de,ul"cia. (Cf. De PI~ddo e Silva, Voe. Jur., 1987, vol. IV. p, 10,) As.­.im, t a peli..,o mediante I quallem inldo a a~iio penal, dc car:her priv.do, i.l"nbd. pel<l ofendido.

27 ParipasSll aoviolenlo. 0 eM. PUll pro'!' 0 raplo consensul (.11. 220), que ocorrc com 0 eonsl\nlimcolo d. raplada, ,codo ela mlior d. ~"Ior/.e anos e menorde viniC cum.

REGENCIA VERDAL

RECONVIR. T.i. Propor (0 feU) reconve,usiio contra 0 autor da deman­da: 0 r~u pode recon't'ir aD autor no mesmo processo. (epe, art. 315.) Conjuga-sc como 0 vcr~o ~'ir.

Obs.: Na ttcnic<l processual, reconveru;ao t uma ac;:ao do reu con­Ira 0 autor, no mcsmo processo.

REDlBIR. T.d. Anular 0 contra to de compra e venda em virlude de a coisa adquirida aprcscntar v(do ou dcfcito ocuho, impossibililando 0

uso ou diminuindo-Ihe 0 valor: 0 comprador mrmiJestou desejo de re­dib;r 0 contrato de compra e venda.

REDIMIR. T.d., t.d. e i. e p. A mesma regencia e sen lido que remir. q.v.

REINCIDIR. Tj. Tomar a incidir. Em Direilo Penal, ~erpctrar novo crime, quando na condiCi30 de agente de crime anterior: Reincidir no mesmo crime, em erro, em culpa.

REMIR. T.d. a) Rcsgatar, pagar, libcrar: Remir dtvida, obrigafilo, compromisso.29 b) Expiar: Remir um crime, erro, pecado, culpa. e) Ti­rar do cativciro, do poder alheio: "Ciro, 0 Grande, remiu os judeus es­cravizados por BabilOlJia" .lq

T.d. c i. Uvrar, liberlar, resgalar:A intervenfiio do advogado re­miu-o da pririio.

P. Rcsgatar-sc: Os condeuados remiram-se a si proprios. 56 5e conjuga nas formas em que ao m do radical se segue a vogal i. Sendo dcCccrlvo, suprcm-sc as farmas que Ihc faltam com as do verba redi­mir, do qual t forma sincapada. Pres. ind.: Redimo, redimes, redime, remimos, remis, redimem. Imperal.: redime lU, remi v6s.

28 P.rI que ae c.racleri"f.e a reincidend. ptn.l, t preci~ que 0 .genle resl"'ns;{vel pelo novo crime]" leQha sido J~lgado pelo crime '1II.trior, e I ""OJ.l:U~1 wudeuI16.i. desle hal' lraosi­IlIdo em j~lgldo. A rciocid~oda pode IOU /i;eDtrir. 011 heJ.l:Tl'/i;~oel e upedlle. 011 homog;:_ uu. Eslll, de couS<X[~enci.s pen.i. de maiM rigc>r. oeom quodo 0 Igellle vern a eOmeler, 1I0vlmenle, crime da 81esm. lIal~rtza q~e 0 Inl.tcedeDle; .qUell, ~Ulndo 0 novo crime t de uatlnen difereole. (U. Anlb.1 Bruno, t>p. cu., 1'5. J20-123.)

29 Di7.-s.e renli,;;'t> 0 .10 de rem;r, .ignHiclndo 0 VOQb~lo re3g(}.l~ dl wi.. 011 do bern, qllira­"ao de d'vidl (cr. CPe, Irb. 787 I 79fl). &rile-"" coo'undir wm remi...<iLJ, 110 de remil;r, q.v., que tem 8enlido de perdiio, """""cu.(d. CPC, Irt. 403).

30 Apw:JAurtlio Buuqlle de Holalld" op. cit., p. l.2lA.

Page 68: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

129 128 RONAI.no CALDEIRA XAVIER

REMITIR. T.d. Perdoar, nao cxigir, dispensar, rcnunciar: Remitir pe~

n(Jj~ culpas, dividas.

REPRISTfNAR. T.d. Revogar (uma lei rcvagadara), i. e., lornar scm efeito uma lei que revogara lei anterior: Reprislinar llma lei, um decre­/o_leL ll

RERRATIFICAR. T.d. Tomar a ratifiear: Rerralificar wna escrilllra de compra e vendo..

RESCINDlR. T.d. Anular, sob reconhecimento ju(lieial, os efcilos juri­dicos do alo, conven~fio au senten~a: Rescindir cuntrato, acordo, ca.m­mento, v(llclJlo, ufJrigar;(Jo.

RESILIR. T.d. Dissolver urn acordo pm anucncia de ambas as partes contracntcs, au por vontaclc de uma ddas: Resilir acordo, cOlltrafo,

compromisso. V. disrrlllar e rescindir.

RESOLVER. T.d. Efeluar a resoJur;iio/z dcsfazer, dissolwf, ilnular (urn eontralO, um ato juridieo): As partes decidiram que seria conve­niellte resolver 0 contrato.

RESSARCIR. T.d. Dc£. Pagar 0 prcjulzo caus~ldo, reparar 0 d:UlO, in­clcnizar: 0 cu.fpado ressarcira 0 prejufw. S6 se deve cOlljugar nas for­

31 Segundo 0 sn. 2", § 3", do DeerelO-ui~' 4.{iS7. d~ 4.'.1.1942 (lJ:i de lillrodu~ao a" Old. O"H Br.:Jldro), sal"o dis!""i.;"o em C<lnlrnrio, a lei n:voJp,<I.o nao se restaur. por ler a lei re"o,!la­dOI1l perdido a vigond•. Co,o;luml-5C in<illgilr, \£>d.'I"i., se. I~i re"ogader. de oUlra lei n',"ugl­dOI1l p:xte n:s~ur>r • di,'ad,/, <ill primcira lei revog.dt. v., ,/, J1).peilo, as eonsid,"r:I~G,", de Caio M~rio dt Sil"l l'en:ino.li,,;I;lui~·o.esd£ Dircilo Civil, vol. I, l'i'SZ.1"'- 115-116.

32 Orlando Gomes considcra que. sobn: a exlin~iio dos cont",I"_. illexi5~ urn,/, leori. geral que ponba !elm" 1 vaeib~io ct<Js eoneeilos, ~ eooru,,"o lcm,iJlol"'~i". prevalecenlc n. 11,­gisla~"o CnI douirilll, hlvendo neec.ssi<.lado, pols, de emprlendcr "rna bi~lcmallz.~"o. As­sim, de modo urn 1.'1010 aead~rJ1ico, 0 consagrado jurisl. bri'J1o afiuna que. eXlin<;ao dos conll1lloo.', em r.~ ..o de causas supervenienlc, 1 sua cckbr.~ao, p<lde dM.,e por resolu~iw,

r~.,;Ii'iiu.o e re...,;;siio. "A rcsolu~ao cabe DOS c~sos de ;"exc"u~iioJ" e l .. ~", remcdio conce­dldQ' parle para romper 0 vinculo coullalua! meo1lan!e a~;io judicial". Allor.udo. cl(mo­logia franee:;.a, reserva 0 "ocibulo resi/;,;;,' p~ra "a djssolu~.io do coolralo por simples declu,,~io de. vontade de 11m,/, du duiS parIes conlralanlc~". (In, como aduz logo 1,1i~"lc,

•'dClir~z(mento, de comUm Ico"lo, do !A"O que prendia oS conlracn!es ". Rescisiw, p"r na v~z, ~ "I rupillra de c,onlralo em que h"UVe les"o··. (Cm'lr<do.\', 198 I, ps. 197, 213, ;:14 e 220. Couludo, para I eompl"'cnsio ab.1 010 pen~amcnlo do 'Dlor, recomcJldl-~e l lei\onl do cap. IS, "Rrsolu~iio dos Conlrato.".)

REGENCIA VERBAL

mas em que ao c do radical se segue a vogal i; hii granu'iticos, enlretanto, que accitam a conjuga~ao integral.

RETROVENDER. T,d. Vender com a faculdade de rcadquirir a coisa vcndida, desfazcndo 0 contrato (Ce, arts. 1.140 a 1.143): Os conddmi­nos retrovenderam conjlmtarnente 0 predio alheado.

T.d. e i. A mesrna significa~ao: Retrovender im6vel a lima em­presa.

REVOGAR. T.d. Anular Oll rClirar, Iicitamcnte, a eficacia de ata ante­riormenw pralieado: Revogar uma lei, decreto, reglilamento, esta(uto. Verba gcnerico, para indicar anula~aa da efidieia de urn ato; v. alJ-ru­gar e derrogar.

SANCIONAR. T.d. a) Dilr smu;oo, i. e., aPl'OVa~aO, eonfirma<:;iio a uma lei: 0 Presidente da ReplllJlica sancionnu a Lei do lfU]uilinato. b) Ordenar, impor a penil (JU eastigo que se disp6e na regra geral: 0 juiz saneionou 0 re,i com a pena de multa.

SANEAR. T.d. Purificar, aperfei~oar, expurg<lf falhas, defeitos ou vi­cios de uma pc~a processual (v. CPC, arls. 22 e 111): Sanear 0 proees· so, os autos.

SEDUZIR. T.d. Constrangcr mulhcr virgem, menor de dezoilo c maior ,de quatou..e anos, a conscillir em manter rcla~6cs scxuais pelo ardiloso aproveitamento de sua incxpericncia uu justificavel eOl1fian~a (CP, arr. 217): Sedu;:ir uma virgem, lima donzela.

SEQUESTRAK T.d. a) Em Direi10 ProccsslIal, fazer ou dccrelar se­questro, i. e., a apreensiio judicial de urn hem dClclminado sobre 0 qual exiSla litfgio, pondo-o em deposilo a tflulo de garanlia (CPC, art. 822): Seqiiestrar um bem, uma coisa, urna mercaduria. V. arrestar. b) Em Dircilo Penal, privar alguem de sua liberdade de locomo~ao (ius ewuil), removendo~a do lugar em quc esLa e levando-a pam Iugar a que nao dCse­ja ir: Seqiiestrar um hornem, uma rnalher, um menor. V. raptar.

SIMULAR. T.(!. Praiicar urn afo ou cclehrar urn conlralo sob ringi­menlo, tendo 0 animo de cngan:H, dando aparencia legal ao que c ilfei­to (v. CPC, arts. 129, 404, I, e 768): Cornpradore vendedor sirnularam o neg6cio. Os nufJente.y sirnularam a c:erimollia nupcial. Urn dos i/l.te­ressados simulou prova testemunhal.

Page 69: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

131 130 RONALOO CALDEIRA XAVIEU

SONEGAR. T.d. Ocultar au deixar de dcclarar, dolosamcnle, certa coi­sa a fim de subtraf-la do dcstino que Ihe deve seT reservado; eximir-sc, ilicitamcnte, ao cumprimento de urn dever: Sonegar impastos, hens, di­nJleira, estado de filia~'ijo.

SUB-ROGAR T.d. Substituir uma coisa au pessoa por aulm, para que, em sell lugar, u ubjetivo scja cumprido au satisfeito: Outro interessadn sub-rogol4 as tJm~s da aiienQr;,iio.

T.d. e i. e p. Transfcrir dircilO au cncargo para outrem; tamar 0 lugar lie: 0 secrettlrio sub-rogou 0 che.fe /las responsabilidades. 0 cre­dor sub-roga-se nos direitos dn devedor.

SUBSCREVER. T.d. a) Apor assinatum au firma num eserilo a fim de autcntid.-Iu, on para se rceonhcccr solidario com 0 que foi realizado: Subscre\.ier carla, docwnento, titulo de CTi!dito. b) Em Direito Comer­cial, assumir 0 compromisso de eonCOHer cum determin<ldo numero de a,oes para a eonstitui~iio do respeetivo capital: Subscre\.ier a~:(jes.

SUBSTABELECER. T.d. Transferir a oulrcm, os podercs cOllkridos Imm mandato: Substabelecer pessoa, adliogado, colega.

SUMARIAR. T.d. Em Direito Penal, promover processnalmenle a I"or­ma~iio de culpa do denuneiado, p<lrd apmar-se a prncedencia nu impro­cedcncia da aeusa,ao: Sumariar 0 rbi, 0 aCIJsado.

TERGIVERSAR. lnt. Defender na mesma causa (0 advogado Oll pro­curador judicial), simultanea ou sueessivamenLe, parLes contr:iri<ls, traindo 0 dever profissional: Ficou provado, no processo, que 0 advo­gada lergi\.iersou.",J

TESTAR. Int. Faze! u testamento: 0 incapaz niio pode Ceslar. Morreu .'leltl lestar.

T.d. Dispor lestameutariamente: 0 de cujus, sem parentes de pri­meiro grau, testou que seus bellsfo.'l.'lem divididos entre os sobrinllOs.

T.i. a) A mcsma sigllifica\iio de t.d.: Testou de todos as seu.'l bens. b) Dar lcslcmunho: Tcslaram do que \.iiram e do que .'labiam.

33 T ergi ~e,sar pro" lm do lal, rerg;Vl:rsur;, "vc>II~! as eoslas" "procu r~r ruJeios, usar Je suh­le[fugios". lCr. Antoni" G~!'Illdo d~ eUlth,Die. Eli",. ,I", Ullg. Pori., 1')Il2, p, 705.) A fcr· giver.•a~·a(>, on pallOclnio simulliineo, e crime prcvisw pel" pHjgrafo rlnico JQ .[1. ~5.'i Jo Cod. Penal, bem como infrn~ao discipJinar ao UsIa lu 10 <I. OAB.

--_._-------­

REGENCIA VERBAL

T.d. e i. Dcixar em testamento, lransmitir, legar: Testou ae.'lposa todos os benspecuniario.'l.

TOMBAR. T.d. Cadastrar; registrar ou inventariar predios ou im6veis nos cadaslros da municipalidade: 0 prefeito determinou fo.'l.'le tombada a casa pelo Patrim(m;o HistOricoNacional.

TURBAR. T.d. Ferir ou perturbar direito alhcio, impedindo ou procu­rando impcdir, pOT vias de fa to, 0 seu livre exercicio: Turbar a po.'l.'le.J~

TUTElAR. T.d. Exerccr <I tutela :mbre; protegcr na qualidade de tulor: Tutelar um incapaz, f~m menor, um orfiio.H

USUCAPIR. T.d. Adquirir 0 dominio, por wiUcapiiiol6 (CC, art. 550) ou pela prescri,ao, da propriedade que se possuia durante urn tempo prefixado em lei: USfJcapir imo\.ie!, lerreno, fazenda, sllio.

VICIAR. T.d. Tomar dcfeituoso, falha nu irregular urn aLo juridico, lc­vando-o anulidadc ou ~ anula<;iia: A coar;ao vida 0 alo, ain.da quando exercidLJ por terceiro (CC, an, 101).

34 Cumpre artverlir qU11l10 ~ dircren,?, eslaheJccidJl pela ltcnka jUJidka, ,'nln· <I 11<1 de lU'bu e ~

de e.,'bulhar, q.v. Como Melu,. Washing!<ln de Bartus MonlCim, a lUrl>a~.io de fal<l (".gres· :;..1<1 malerial Jirigida eonlra II posse") "diSlingue-sc Jo esbulho, porque. como e~'le. 0 po,..,oi­d<lT vern, aer privado da pos&e, que the ~ aJTebala<la, ao passo que na luW.....". malll."d"" al<l turbalivo,o pcrssuidor conlinua na posse dos \x'ns, .pcnas cerceado em ""u e:o;eldcio". (Cur",) cb: Di~ilO Ci~i1. Direito da.. Coi."'-', 3" vol., 1979, p. 45.) No caso de eWulho......0 psUpri~ ~

a de n:inLc:gJ:l~.io de po_; nO de lurha"ao, a <Ie lJJanulen"iio dl' posse. (Cf. 0\<1. Civil, art. 499.) 3S A t"MI" ~ in'lilulo para prolegcr e ".si.lir os mMOrcs Je vimc e um uos, 6rfi{'>5, 00 .ind.

Iquelea cuios pais pcrJcram 0 p~lrio poder (CC, arL 406), 11.10 podemJo por .i mesmos, peJa .:ondi~.io d,c reJalivamenlc in<.apazes, administrar os pn'iprios b.'n~. In5lilul<) Ulilogo, rCSAalvadaa IS _un peculiaridades, ~ a c"r"rda, rcscrvaJo! prole"ao e repr""'nla~iin d", absnlu'.amclllo' incapazes (CC, art. 5°), Scgunllo Sl1vio RoJrigucs, ". <lislin,.io r~n(bmen·

1.1 enl'" a lUI<I. e. cUTlllela consisle I'm qu., a primeira se duslina a ploleger 0 incapaz me­nnr, cnqnnlC> ~ at·gund. se deslina a proleger 0 incapaz maior". (Direilo Ci~il. Direi/o dt Fall/rli.." vc>I, 6°,l~8j, p. 411.)

36 Nit> eSI:!' findn. mesmu na lingua eulla, n genero <10 voclbulo lu"eap;ao (do lal. ul'ucopio, - olli~, "uv~s do ablalivo usueapione, por via semi·erlldila), nlll.nein de adquirir a pro­priedade pelo uso ou pela po's" Illansa e pac(Cica Juranle ceno ,emf"). Dicionarisla~ e eli· mologislas dl melhor cepa ora 0 reghlr.m como [rminino, Ora como masculino, havendc al~ bons esl1Jdos a I'CSpdlO (CL NH"",n Val., "grdia e g~ncro de Usue.apj~o", scparala dl Revista J"rrdiea, RJ, 1958.) Em vnda~, Iral'-5e Je p.tl.Wrll a que se pode alribuir generr vacilanle o~ Juplo genero, COni,' °TIl Calli.. Aule'" (d.ni..;""li,;", cit., vol. V, ps. 3732· 3733).0 Codigo Civil (d. Parle E~~l·i.l, Lv, ll, Cap. II, Illbrka da Se~iio IV cart. 553; acollie a rOlID. do genero m..culiIiO.

Page 70: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

133 132 RONALDO CALDEIRA XAVIER

VIGER. In!. Vigorar, estar em exccu~ao, em usa; 0 direifo niio permi­Ie que se in[rinjam as leis que estao vigclldo. Ob.".; A [nrm<l vigir, de curso eventual em certas Dbms jurftlicas, simplesmenle nan exislc.

VILIPENDIAR. T.d. Trntar, mediante palavra, cserilo ou gesto, com vilip~ndio, i.e, com vileza, ultraje au dcsprczo, deOOl' que a a~50 re<:aia sabre ala au objeto de culto religioson (v. uSd. Penal, ;ltt. 212): Vili­pendiar ctUiiiver, a.~' clllzus de urn de/unto.

(~?:-!··,~)xerC[CiOS I) Assinalar com X .as fr.ases em que hOllver solecismo de regcneia ver­

bal ou nominal:

1) 0 juiz nao foi oomunicado da ooorrcneia. ( ) 2) Nao podercmos assisli-lo na elaboral$<1o da tese. ( ) 3) 0 presidenle resignou 0 seu mandato. ( ) 4) Tmta-sc de uma trai9Jo as dfiusulas eontmluais. () 5) EurgenLe que sc proccdCl agora a revisflo do texLo. () 6) Bis 00 riscos que Ie deves aC<Julebr contra cles. ( ) 7) VoHarci a casa para ap<lnbar os documenlos que esqucci. ( ) 8) Eram oomodiuadc<> que de nao sc queria privar. () 9) Sempre the rcconheci a indisputavel compcWncia. () 10) Aquelc homem quer a filha oom exlremado cminho. () 11) Sao objeLivos a que alingiras scm grande esfonJO. () 12) 0 filho succderii. a mac nos direilos dela. ( ) 13) A pe91 Cimpr6pria; n~o deves assisUr a cla. ( ) 14) Foi uma aLitude hosLila classc operaria. ( ) 15) Folgo ve-lo sadio e conlenle. ( )

16) Trala-se de materia que lranseende a competenda do juiz. ( ) 17) Apresentamos-lhe ao advog:ldo e safmos. ( )

18) Todoo lhe ehamavam pcrjuro. ( )

37 Sobre vilif'~"rli". con~_ lIckno Cl~udio Fr~goso, L,:~o"s tit· Di,,,iw p"",./. v,'l. r, 191\..'< f". 67 L 677. c 67\1, Sol'rc 0' ~gcnlc", 'luc. p"Te-u'a de m"'bidez IJIcnl~l, l<'no ~1l,rAd •.1 juridi­cjdadc de scus airs ~ nla~f>c, sociai." jlJll'Jic~',"s ~os processos dvis ~ ain,i~.1i,. ,oos J. Alve' Garcia. P"icop"">/,>gi,, F'>r<:"';". 1979, prin .. ipalmcnlc caps. X. XXV[][.

REGENC!/\ VEROAL

19) 0 resuttaJo no.xlcu a cxpcctativa. ( ) 20) Etc :'Ite. hojo.: aspira a vaga dcixada reLn co[cga. ( )

II) Preenchcr as claros com a prcposi<;;iio (sc for a caso) e a pronome rclativo cxigidos pela rcgencia verb:'ll:

1) Sao vantagens nilo podemos prescindir. 2) Visitci 0 solar paredes ocorreu 0 crime. 3) Nao oonhCliO a pcssoa ucixaste 0 mcnor. 4) Trata-sc de clssuntos sempre me intcressci. 5) Eis 0 juiz senlen91 0 Hdvogado sc insurgiu. 6) A justi~a ~ urn ideal ~gide a socieunde prospera. 7) 0 Papa e uma pcssoa os UllOlicos sc ".1Oelham. 8) Trata-se de normas cogcntes lodos dcwm obcdeccr. 9) poi condeuado pclos crimes 0 ,KUSaV:lm. 10) Pertencc a um<l comarca (]istanLc a ooJega 0 juiz dt·pl-coou. 11) Era uma pcSSOH infelicidndc clc se <Ipil".dava. 12) Sao modifiau1oes dcvcs proccdcr com

urgeneia. 13) Estc e 0 c<'lsnl : dccaiu 0 p~lrj() pnda. 14) pui :lpresenlado apeSS():l cle conLendc nos lrihunais. 15) Trnta-se de crime comin,lm pena'i dd.slicilS. 16) Condeno os expcdicntes esCliSOS de scmprc se vale. 17) UespeiLo 0 promoLor assislirii. ofereccr a dcnuncia. 18) btu Ca pcssoa hens 0 juiz c'<luciollOU. 19) Conhclio °comcr("iClnlc direiLos 0 crnlor so..: suh-mgou. 20) E famosa a !:Imflia mcmbros estflO ooorrcndo scri:ls

diverg~ncjas.

Ill) Empregar, na rcsposta, conscrvando 0 mcsmo lempo, a forma pro­nominal que substiLua convenienLcmcnle o(s) complemenlo(s) do verho.

Modelo:

Pag_lste a dfvida? Paguci-a. Pag_Imos aos crcdores? Pagamos-lhcs. P:lgariam a dlvida ao crcdm? Pagar-Iha-iam.

Page 71: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

o CDDIGO CIVIL

BREVE ANALISE LINGujSTICO-FORMAL

SUMARlO: 1.1 - Hist6rico. 1.2 - Divisao do C6digo Civil. 1.3 - Ele­mentos constitutivos de urn arligo. 1.4 - A linguagem do C6digo. 1.5 - Amilise gramaLic:ll de alguns; aJ1igm. 1.6­Exercfcios.

1.1 -IfiSl(Jrico

Ate 0 advenLo de sua indcpcndcneia, era 0 Brasil regido relas antigas Ordena4iocs do Reina, as Filipinas, que dalavam de 1603, con­quanta modificadas por uma legisla~ao pro[US3 e varias decretos exlra­vaganles. Ap6sa emancipali30 politica, enlrctanto, principioll a emergir, na conscicncia jurfdica brasilcira, a nccessidade urgel\(e de urn C6dign Civil que vicssc a consolidar 0 nosso ordcnamcnto jl1rldico c servisse, primordialmcntc, como cxpressao de unidade polftica. Alias, ja a Cons­titui.;ao de 25 de marlio de 1824, em sell art. 179, n2 18, prccciluava in verbis: "Organizar~se~ha quanto antes urn COdigo Civil, c Criminal, fundado nas s61idas bases da Justilia, e Eqilidade."

Os primeiros cs[orlios para a codificaliao do direito substantivo patrio devcram~sc a Carvalho Moreira, quando, em 1845, elaborou urn trabalho para rccnminar e organizar as leis eivis e processuais. Mas a laboriosa tarcra prcparat6ria de fixarcssas leis coube, em 1855, ao gtnio do notavel civilista Augusto Teixeira de Freitas, n qual, tres anos depois, concluiria a obra, a Consolida\SBo das Leis Civis. No ano seguinte, ser-Ihc-ia lambem cometido, pelo Governo Imperial, 0 cncargo de em­prccnder 0 respcctivo projc!o. 0 grande civilista acabou "dcsignando~o

Page 72: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

137 136

o c6DIGO CIVIL RONALOO CALDEIRA XAVIER

POT Esbot.jo, em clara indiea~ao de que nao 0 tinha como sua obra de codificat;aodefinitiva.,,1 Norneada urna comissao rcvisora, sllccdcram-sc improffcuas e delonglluas conlrovcrsias, que scrviram apcnas para dcsa­nimar 0 autor. Lastimavclmcnte, ludo terminOIl com 0 Cracasso do trabalho de Teixeira deFreitas, a quem CI6vis Bcvilaqua sc rcrerin como o nosso maior jurisconsulto. "Para que se tenha urna ideia do mcreci­mento de Teixeira de Freitas, lido tambcm por Espinola como suprema expre...sao das letras juridicas brasilciras", di-Io Washington de Barros Monteiro, "basta se considcre que sens Irabalhos Coram cstimados por Velez Sarsfield apenas comparliveis aos de Savigny. Alias, Coram eles, em grande parte, aprovcitados na eonfecc;ao do COdigo Civil argentino, eujo ramo mais defieicnte, 0 direito das suce.-";soes, nao p6de con tar com a inspiraC;30 do genial j urisconsulto.,,2

Toeou a ineumbcneia do novo projelo a Nabllco de Araujo, enlao Ministro da ]ustic;a. Ain<la ele, vindo a falecer, nao logroll terminar a obra. Nova tenlativa, a tereeira, foi levada a deito por Joaquim Felleio dos Sanlos,jurista mineiro, que, em 1881, deu a lurlle os seus "Aponta­mentos", nao sendo aprovados pela comissao enearregada de eshld<1-los. ESla, por sua vez, tendo tomado a si 0 mister, aeabou pordissolver-sc em virtude da desist~neia de alguns de seus membros mais eminenlcs.

J<1 em 1889, bern reno da proelamac;ao da Republica, nova eomi&­sao foi eonslituida. lntegravam-na as nomes de Jose da Silva Costa, Sousa Dant3s, Olcgario de Aquino e Castro, Afonso Moreira Pena, Coelho Rodrigues e candido de Oliveira. Colheu-os a lodos, porem, estando avanc;ado 0 trabalho, a proelamaCiao da Republica. Passou entao o novo regime polftieo a dar prcfercneia as c1aboraCioes individuais, reeaindo a escolha em Coelho Rodrigues, eujo projeto, entretanto, nao mereeeu a simpatia do Poder Legislativo, poSlo fosse empreendirnento de eonsidemvel merilo jUTldieo,

A ultima lenlal;va, final mente, ja sob a presidcneia da Campas Sales, eoroou-se de hito. Epitaeio Pessoa, acpoea Minislro da JustiCia (1899), enderc~ou eonvile a CI6vis Bevilaqua, de quem fora eolega na Faculdade de Direito do Recife, com inslJUlJoes para ser aproveitado, no

1 Waller Vieira do Nucimeolo,V,,;e,' tic Hi$16,i" db Direil", 1979, p. I4S. Par. uma c:.;po­sl\'io sum'ri. d. hisl6ri. dQ direilo bf8sileiro, v. ps. 123. 152. Diga-se lindl, e/' possg,lI, qllf 0 EsbOljo servio de (onle aos Id's prlmebof tivros do COdi_ go Civilargnlino, itn~iu poderosamcnle 00 do Urugvai e em diversu I"is d<: OUlfU repd­blien de lfnguallisplnka.

2 Curffo de Di~"it., Cj"iJ_ P<lrfe Oeral, 1979, ps. 47·48.

m<1ximo passivel, a projeto Coelho Rodrigues. Transfcrindo Tesi<1~neia

para 0 Rio de Jaueiro, em paueo mais de seis meses Clovis desineum­biu-se da cmprci(a.

Mas a novo projeto nao surgiu sob auspicios favoravcis, uma vez que eonlra ele se ergueram as vozes de Rui Barbosa (para quem a obra era imperfeita Iingiilstjea e juridieamente) e IngWs de Sousa. Outra comissao revisor.!. foi nomeada a fim de aprcciar 0 trabalho (Aquino c Castro, Bulh6es de Carvalho, ucerda de Almeida, Conselhciro Barradas e Freire de Carvalho). ApUs varias emendas e sugestoes, roj remelido ao Presidenle da RepUblica, que eneaminhou 0 projeto ao Congre.<iso Na­cional, em 17 de novembro de 1900. Posteriormcnlc a delido exame na camara de Deputados, foi porcla aprovado em 13 de maT(Jo de 1902. E chegando ao Senado, reeebeu longo e impugnante pareeer de Rui Bar­bosa, pratieamente restrito a quest6es de ordem redaeional e quasc omisso quanto ao contcudo juridico.-' "Em verdade", arirma-o Washing­tan de &.tTroS Monteiro, "quase Iriunfa a empresademolit6ria". 0 projelo sofreu longos anos de eslagna~iio no Senado. Depois de varias vieissitu­des, volta finalmcllie a Camara com 1.736 emendas, quasc to<1as <1e reda(Jao. Aprovado, converleu-se em lei (nQ 3.071, de 1.1.1916), para enlrar em vigor a 1Q de janeiro de 1917, modifica<1o postcrior e substan­ciosamenle rc1a Lei nQ 3.72.';, de 15 de janeiro de 1919.

"Trata-se, inqllcstionavclmente, de urn C6digo rigorosamenle eien­tffieo, eujo apareeimento foi sauda<1a com os maiores louvores.""

Entretallto, em que pc.....e as silas inobjclaveis qualidadL'S, for(Jll e reeonheeer a neeessidadc, j;j emergente, de ser revisto e alualizaLlo 0

C6<1igo, hoje quase oetogcmirio. Com crcHo, de 1916 ate agora, modifi­eou··sc profundamenle a f(Jcie.~' <1a socieda<1e brasilcira c. eonseqiicnte­mente, a de sua orucm jur(dica. Isso tern implicado, POt parte de nossos maisinclilosjuscivilistas, urn novo earduo Irabalho, pois 0 Djrcito, como uma das for(Jas vivas dc soeiedade, lambcm esta submetido ao inevitavel mutacionismo dos costumes, injlln~6es polilicas e eireunstaneias sociais.

3 "Rlli Rarbos.!. el~bon>p, .0Linbo, 0 puceer, e ~"cou rljamente 0 proj~IO. mu .omcnle quanlo ~ [orma. E.~ ... l>cleceu·se, enlio, Uma <!.as m.is renbidas balalbas lil~r'riH da lCngu portllgue•• enlfe Rut 8.rtlolill, conlra C16vis Bcvil~qlll, e 0 gJam~lic" C..-arndro Ri~.,iro a ravor de C16"j£ lkviLiqua c contra Rui D.rooSll. Si" h"je lr.b.Jhos illdispcns~vcis a qucm proCUMl esludar a lingua porluguesa, m3~ scm nenhulfl inleresse jurfdico. Preocupados Com • fonn., esqueceram_.e do rundo." (ponies de Mirdnd., Fo"les CEvo/lIt;;;" <I., rJireilo Ci_ vil Br(lsileiro, 1981, (IS. 84·85.)

• Washinglon dl; B. Monleiro. op. de p. 49.

Page 73: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

138 nONALDO CALDEIRA XAVIER Oc6DIGOCML 139

Dada a evidSncia de que varios fatos e instilulos regulados pelo sobredito diploma legal estao presentemente ultrapassadns pelas exigen­cias dos tempos modernos, dc h<i muito se pensa em reforma-lo. .E 0 que expliea a prafusa legislal;;ao eomplcmentarja existente, como, porexcm­pia, a Lei n~ 883, de 21.10.49, qne admifiu 0 rcconhccimcnto dos mhos adullcrinos; a Lei n~ 3.135, de 8.5.57, quc allcJOu 0 instilulo da ado~ao;

a Lei ng 4.121, de 24.8.62, que tralou da situa~ao jurCdica da mnlher casada; a Lei n;;>6.515, de26.12.77, quc, com insliluir o divorcioCttl nosso Pals, gernu urn sem-numcJO de alterali()es no direilO de famllia e no de sucess6es!'

A experitneia juridiea aeumulada ao 10llgo de mais de scle dCca­das, enlrc nos, chcga a urn eonsenso: 0 C6digo Civil precisa ser revis­to. E, ncsse locanle. varias tentativas se fizeram. Senslvel a tese revisionista, 0 Govemo brasileiro tcm colaborado. Orlando Gomes en­carregou~se da Teda~ao do Anteprojeto do COdigo Civil,· ja convcrlido em Projelo pela Comissao eonstitulda do referido jurista, Caio Mario da Silva Pereira e Orozimbo Nonalo, que entregaram a trabalho em 31.3.63. ­

A partir dal, nova via crucis. Em 1967, Dutra Comisiio passou 0

rl.:ver 0 Codigo, eujo Anleprojeto ficou pronto em 1972. Ap6s arrostar opini6es desfavonlveis e rcstril;oes dc varia ordem, a mesma Comis­sao, eneampando eerea de 700 cia milhares de emendas propostas, rce­ditou ° Anteprojcto, em 1973. Em 1975, 0 Projelo foi enviado ao Congresso, onde a morosidade lcgislativa fe-Io arratar-se ale fins de 1983; em maio de 1984, aprovado ua Camara de Deputados, foi publi­cado em redal;ao final. Mandado ao Senado Federal, vem scndo sllb· metido a nova revisao, de que fatalmcnte resultarao outras cmcndas.

E a situa<;iio, no momento, esta mais ou menos ncs'-:e passo. Mas a reforma virii urn dia, inexoravel, pois 0 madralio apcgo ao ramerrao aeomodatlcio, a voe3l;;ao das discuss6es es[creis, 0 individualismo mesquinho, a defesa de intcresscs pcssoais ou eorporaLivistas, que tcm earaeterizado infelizmente as nossas Casas Lcgislalivas - eedo ou [ar~

de acabariio por ceder a pJCSSOO maior do inLeresse naeional em de­manda do progresso e do desenvolvimento.

Soble as lenl.'i"as de rerorml! <10 C<l<iigo Civil, v. Silvio Rodrigues, Dircilo Civil. Pur'" Geral, vol. I, 1983, p", )2-14., Ct. OIlando Gomes, C6Jigo Civil.. Pr"jclo Orla,uM (;omes, Foren5e, 1985, I' ed.

1.2 -Divisao diJ C6digo Civil

o erit6rio de divisao por assunlos adotado nos C6digos, normal­mente, 60 mesmo a que obedece a c1assifiea~30 na 16giea formal: par­tir do genera para a espeeie, isto C, do grupo maior para 0 grupo menor, do mais geral para 0 mais especffieo, supcrpondo os temas de aeordo com os graus de generaliza~ao. Deslarte, 0 C6digo esubdividi­do em partes; as partcs, cm livros; os Hvcos, em Iitulos; os Iflulos, em eapitulos; os capitulos, em sc~(ks; as se~6es, em artigos; os artigos, em paragrafos; os paragrafos, em incisos e/ou allneas.

Tomando por base 0 C6digo Civil, a ordenal;3o divis6ria dos di· ferentes grupos de assunlos e esla: Parle Geral (ou Parle Especial, conforme se considere), Livro, TItulo. Capitulo, Se~ii.o, Artigo, Pard­grafo, Inciso e/ouAltnea.

Excmplifieando: Parte GeraL LiVlO III (Dos Fatos Jurldicos) Ti­tulo I (Dos Alos Juridicos), CapItulo II (Dos Defeitos diJs A los Juridi­cos), Se~ao III (Da C()(I~'UO), Arligo 101, § 2w•

Tomando por base 0 C6digo Penal, que, ncsse toeanle, em poueo difere do COdigu Civil, a ordenal;;ao divis6ria cesta: Parte Geml (au Parte Especial, eonforme se considere), Tltulo, Capllulo, Se~lio, Arti­go, Paragrafo, 1l1dso c/ouAlfllea.

Exemplifieando; Parte Espccial, Tilulo I (Dos crime:J' contra a pessoa), Capitulo VI (Dos crimes cOlllra a liberdade individual), Se~

~iio II (Dos crimes contra a inviolalJilidade dn dnmiciJio. Viola~ao de dnmic{/io), ArLigo 150, § 4~, ineiso lIl.

o plano geral de divisao do C6digo Civil abrange 0 seguinte con· leudo:

PARTEGERAL { p~~~ Hens

FalOS Jurfdicos

(Livea I)

(Livro II)

(Livro III)

Direilo de Familia (Livro I) Direito das Coisas lLivro II)

PARTE ESPECIAL Direilo das ObriB9lO&s (Uvro III)

Direil0 das Sucess5es (Livro IV)

5

Page 74: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

141 140 RONALOO CALDEIRA XAVIER

1.3 - Elementos Constitutivos de umArtigo

A tecnica legislaliva dos c6digos exige qne se saiba distinguirentre artigo, paragraro, inciso e alfnea.

ATtigo (do lat. articullJ, diminutivo de artus, "divisao, sc~ao, pe­quena parte de urn todo") "dcsigna divisao e1ementar c rundamenlal das leis, na qual se encontra condensada uma disposic;iio legal au urn princf­pia, que se eonstituiu em regra au em norma a seT seguida em dctermi­nado casa, a qqal, para racilidadede citaliao, vern seguida de urn mlmero, que IS somcntc dele, em cada lci.,,7

Osartigos de leis, regu)amenlos, regimenlos elc. sao sempre nume­rados em ordcm crcscenlc. Usam-se os numcrais onJinais ale 9 (nove); a partir de 10 (dez), os numcraiseardinais. Diz-sc, entao: artigo primeiro, segundo ... nono; arligo dez, onze, vinte e cinco ctc.

Podem os arligos, ainda, fraeionar-se em par.igrafos, incisos e/ou alineas. Numa eila<;ao ou referenda, c,"les ullimos devern eslar scmpre vineulados ao rcspcctivo numero do anigo. Exemplo: Cud. Civ., art. 1.605, § 2~. C6d. Civ., art. 1.603, ineisos I e lJ.

o paragrajo (do grego paragraphos, "escrito ao lallo", pelo lal. paragrophu) nao eonstilui propriamenle suhdivisao, mas urn complc­mento do artigo, algo que, parlit:nlarmenle. se lhc ajunla. Tcm cornu slmbolo 0 sinal tipografieo (§), formado por dais 55 enlrcla(,'ados verti­calmente e qne correspoudem aabrevialura de sigllum sectiollis, blo e, sinal de divisao ou s~ao.

Quando dcterminado anigo contiver urn panigrafo apcnas, ti pala­vra e escrita por exlensao: paragrafo unico. Em havendo mais dl' urn, escreve-se § P, § 2~, § 3(1 etc. A titulo de exernplo, veja-se 0 C6d. Civ., arts, 152 e 176.

o inciso (do lat. inci\'U, "cnnado") e a alfnea (dn lal. a lint'a "da linha") dc,,,ignam a subdivisao de urn anigo on padgrafo; aqucle abre uma Huh;} precedendo-a, gem/mente, de urn algarismo romano; csta abrl' uma liuha prcecdcndo-a de uma lelra adireila da qual ha urn Ira<;o eurvo igu:.ll ao que fecha 0 parcntesc. Vale esclarccer, por oportuno, que a numcra<;ao sequencial dos paragrafos e ineisos obedeee a eriterin idenlico ao adntado para os artigos. A<;sim, deve diz.cr-se, por exemplo: paragrafo quarto, nona, dez, quatorze etc.; inciso lereeiro, se-timo, nono, dez:, dezoito etc.

7 De Pl~cido C,.Silva, op. cit, vol. I, p. 164.

o rODIGO CIVll.

Para exemplo de subdivisflo de padgrafm em illciso~. veja-sc 0 art. 178 do C6d. Civil.

Acontece, as vezes, combinarem-st' ineisns e al(n~as. () ineiso IV do art. 192 do C6digo Penal. e.g.. pos~l1i dUilS ,L!lnt'<IS (0 e h). <

Quando hOllver llec<:ssidade de f:Jz:er rerniss;lo ~l parle inicial c, pOl'lanto, superior de lim artigu, .: eo~tLlme USilr-S<: n cermo ui/'IIT (em lal. "cabc~a"); se a rcmiss~lo for ao que vem no final, t'mpr~ga-se a 10­cuc,;a0 iI/fine (em lat., "no fim").

1.4 -, A Linguagern do C6digo

Clarez:a, prccisao, hrevidade, l'efinacla tccnica jurldica - cis al­gUllS dos principais apanCtgios do C(ldigo Civil hrasilciro, monUlTIcnto tmperecfvc] it capacidade do 110SS0 legislador. Apesar de Indo, convcrn nao esquccer de que cerca de 800 artigos dessc diploma legal van abc­herar-se nas fontes do direito de Romu.~ Nesse direito, que durallte quase doze seculos influcncion e continua a influencial' a humanidade, l'elevam-se duas virtudes: a prccisITo e a clegancia. "A precisflo", afir­ma-o Matos Peixoto, ]Josso maior especialista, "manifcsta-se sobretudo l1a concepc,;fio do direito: suus regras dcvcrn ~er tao bem coorclcnadas que nao deem mnrgcm it mInima incerteza; por conseqi.icneia, 0 erro cle direito, ao contnirio do erro de fato, e injuslificavel. Bssa preeisao 6 lal que Leibniz colocou 0 clireito romano logo ap6s a geoJilelria, pdo rigor 16gieo das suas declu~6e~. Mas csse rigor n50 6 0 rigor cego e maleria­lisla cia cpoca antcrior; Illodera-o a cleganeia c esta nao 6 apenas 0 apn­ro e a eorrcc,;fl~l da forma: e principalmentc a hahilidadc em encontrar os meios de lemperar 0 rigorismo jurfdico c nao perder 0 contaclo com a vida real."~

Nao crrar{l qucm disser que, no Codigo Civil, a Hngua padrao en­contra um de sells mais eloqi.icntes exemplos. Logo ao perlustrar os primciros artigos, 0 leitol' comum facil perccbeni tratar-sc de texto bern direrente do lilerario e do informativo. Dc feito, nao e obra para leigos, mas para iniciados. 0 mesmo Icitor notani, ainda, que a linguagcrn do

, P.ora W~nJkk Londrcs da N6bregOl., 0 cstudo du Dil'cilo Romano e "0 principall"mor pal"a J 10rmn,;'o J~ ulna consclenda juridica". E jll~lifjca adiante: "Enqllanto uma da, princi· pnj~ finnlldadrs J('I DireilP cpnsislir em pl'oporcionar 00 Illcios adcqllildo.\ a harmonia dOl. wnvi""rKia so,iJI. 0 Dirrl\n Romanc> ~l>nlinn~l':l sendc> a princlpal font" pnm n·collseCU~~() ,k,.,~ objctj"o." (Hi.",i,.,,, " Si.</,'rn,' de' D,nim Pri,..",f,) R"iiI"IIIi. 1959. p.<. 7 c I (l.), Cltrsu de Dir,"/" R,murlP,'. 19.~5. p. 7.

Page 75: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

143 142 RONALDO CALDEIRA XAVIER

legislador, pelD tecnicismo lie que se revestc, invariavelmenlc Oui de­sataviada de loul;ainhas de eslilo, scm as laivos de afclividade l:Omum Aprosa Iiteraria e poclica. Ao lango de sellS 1.807 artigos, nao hoi lugar para as YOOS Iibcrt,hios da imagina<;iio conotaliva. Tullo e denOlaejao. Com cfeito, a lingllagcm 110 C6digo pcrtcncc a uma escala de allo grail de formalismo entre as variantcs de regislro da Ifngua escrita. POlleD importa 5C tcoha em vista que "a propriedadc privada. no domf£lio lIa linguagcm, nao cxiste: tudo e sociali7.ado"lo - pois 0 lcgislador nao visa, como os bclctristas, a criaT 0 bela, a imprcssionar agradavclmc£llc alraves da palavra. Oulm eo sell animas: expOf c csclarecer, pela efi­cacia e objctividade tecnica, pela cxatidiio do lcrmo, a que a lei dclcr­mina,

Para alingir cS,.<;e desiderato, exigcm-se da lingl.lagcm alguns re­quisitos: limilar-se, vocabularmente, ao cslritamenle necessario (conei­sao); riel observaneia lIos pr~ccitos gramaticais eslabelceidos pela norma culla (corrcl;ao); cmprego dc terminologia especWca ceompatf­vel com a natureza do assunlo ver.;ado (prccisao); formas de exprcssao que, tanto quanla 0 pcrmitam os rccur.;os da lIngua, nao deem margcm a iuterprClal;ocs dubias ou ambfgnas (clarcza) c, excclendo a lodos, obcllicncia ao rigor lIa logica, acoerencia do raciocfnio. Tal prellcupa­l;ao, for~a c rceonheccr, lorna 0 texlo, lev<lL!o em colejo com () mera­menlc literario, nao raro seco c mcsmo ~rido. Mas assim 6 a liuguagcm Icenica.

Ap6s haver passado, COmo roi dito par sueessivos eSlagias de tle­pura~ao, ora juridica, ora lingiifstica, em aulcntica via crucis, a Icxlo do C6digo Civil acl\a-.<;C pralicamenle estreme, livre de impcrfcil;oes de Iinguagem, senllo justa imputar as eventualmente riolatlas a incviUi­veis dcscuidas dc revisao por que passa ern suas eonslantcs e suecssi* vas recdil;ocs. ll Entim, 0 imJX)fIanle 6 tlizer que, n(,,<;sc COdigo, neou indelevclmcnte plasrnada, em forma lapidar, a eonsciencia jnrfdiea 1a­tente na alma lIo verdadciro cidadao e que _ como 0 reconhcccm as

10 Rom~n lakobson,Liligiiistict1 ~ CQllIlmic<J,,'w, 1971, p. 23. Il Aludindo 80 cuid8do d~ Jinguagem ~dol.ada nesse diploma legal, I'onll's Ill'. Miran<l., ~~..,_

vera que "silo ineg'vci~ a PUII'Ia d••~lilo, ~ simpJieidade, .!iml"'ll de innuenria frauecs:l 08 fra~e. oas palavrM, Poucos MUslas d. ralavr., em Porlugal e 00 Rrnil. poderi.m eom­prar qual'luer de sua obrls ao Cl<ligo. Calaram-se galicismos, iovencranl-Se pr0lX'si~ijes,

rcronnul~ram-5e 811ig05, e,' <I~'I"'i1o <la iolcrvcn~iio d~ L10105, 0 C6digo apr"scnla, no fei­lil> Jileliril>, 0 mesmo car~ler. Pareee, I quem 0 Ie, eserilo por urn ~6". (01" cil., fI- :lS3.)

o CODlGO CIVIL

mais aelarados lraladistas eSlrangeiros - a numcro imcnso de quaHda­de da obra supera, amplamente, as suas evenluais defieicncias.

1.5 -Analise Gramatical deAlguns Arligos

A breve analise que se segue tern por objelivo introduzir gramati­calmenteo estudante de Direito (e talvez alguR..<; advogados...) na lingua­gem do C6digo. EsIXlsamos a lese de Que urn lexto 6 mais faeilmente apreensivel a quem sabe penctrar~lhe, com seguranl;a, as segredos da forma. HA duas manciras de a e."ludanle familizar~se com a linguagem do legislador: 0 lrato frequente e a lcitura atenta. Esse proec."so de adestramento, clam eslA, mIO surge de repente, IXlis que resulta de urn demorado e perseverante esfonj-O no eSludo da lingua. 0 tralo freqiienle vim de futuro, em decorrcncia de repelidas consulta ao texto legal, como o exige a desempenh.o da profissao. A lcitura alenta, qlle, para a esludan­te, devera vir em primeiro lugar, nao se prendc apenas ao conleudo pragmAlieo inerente amensagem. Eurn poum mais do que isso. Eten tar verificaro porquc de urn sinal de JXmlual;ao; e procurar mcdilar na ra71io de uma forma de concordancia nominal au verbal, e vcrificar a motivo da eoloeal;ao de urn pronome; erepararna regcncia espeeial de urn verba; c observar a emprego tie urn termo lecnico e sua rcspeeliva grafia, investigando-Ihe 0 significado.

Entre outros metodos a disposil;ao, a analise sinHiliea c de valia inestimAvel. Esle proeesso de decomIXlsil;a{) eslrutnral do lexlo auxi!ia sobremodo a entendimenlo da conexao 16giea, que inler!iga as id6ias e eoordena opens<lmento. Assim, os artigos estlldados, comoperiodos que eonstirnem, foram, ab initio, divididos em suas respeclivas oral;oes, e cslas, sempre que possivcl, devidamente elassifieadas de acordo eom os dilames da NGB em vigor, Quando oportuno ao esclareeimenlo do esludanlc e aguisa de revisao, abordaram-se lambem aspectos perlinen­tes adiseiplina gramalieal, indispensavcis ao born entcndimenlo e iden­tifical;ao das relal;oes sinliilicas entre os termos e as oral;oes, IXlrquanlo, bem adverte Noam Chomsky, "uma gramAtiea totalrnenleadequada deve alribuir a eada uma das [rases de urn eonjunto infinito, uma dcseril;ao estrutural que indique como e que essa [rase e coillpreendida pclo falante~ouvinteideal" .11

t2 A:rpeclo:r da Teoria dD Sinl=, 1975, p. 84. Ao manifflu-sc, a&.~iD1, 0 prestigioso lingiiisia 1.111<10:. lelo<: de Wilh.lm von Humboldt, ~egY~do Ill~11 ymlUogua '·raz um Y5Q iofillilo de meiM nnIlOll".

Page 76: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

145 144 RONALOO CALDEIRA XAVIER

Importa acrescer que a escolha dos afligos nao se adscrcvcu a qualquer cril~rio especial que nao 0 do interesse puramente lingiifstico oL"erecido. & nalurais IimilalSoes do .presenle esludo obviamente nao permitem disquisic;6cs mais profundas e alongadas; tal nao impcdiu, entrclanlo, fossem feitas, vez por mItra, Iigeiras observac;oes de carater jnridico. A ordem dos artigos, outrossim, nao implica imporiancia de considcf<ll;aO; ~ simplesmente a do COdigo.

Art. 11. Se dais au mais indivfduos falecerem na mesma ocasiao, nao sc podendo averiguar se algum dos comoriellle~ precedeu aos ouleos, presumir-sc-ao slmul­tanearnente moctos. II

Divisao e elassificalSao ordcional:

}n) Se d(lis all mais indivfduos falccercm na mesma ocasHio - su­bordinada advcrbal condicional.

za) Nao sc podendo averigllar - ft'duzida de gerundio (subordina­da adverbial condicional).Ll

3b) Se algum do~ comoricntcs precedeu aos Quiros - subon.linO:lda

subslantiva objetivO:l direla.

4~) Prcsumir-se-ao similltaneamente m(mos - principal.

Observa<;6cs:

a)Doisvu mais indillfduos, esujeilo (simples) da P orac;ao.

II b) A parlfcu[a sc (antes de podemlo) epronome apassivadoL Pon­o do a onrc;ao na forma dcscnvolvida, tcr-sc-ia: se nao se puder averi­

gIJ.ar.

c) Na conjugalSao do vcrbo alleriguar, no rreseote do indil.:ativo., I , , o icto recaj no u: alleriguo, averiguas, averigua etc. NOle-se, ainda (alcntando para a grafia), a mesma aceolua<;ao tonica no presenle do subjuntivo: averlguc, avcriglics, avcrigue, avcrigiicmos, averigiieis,

13 "Htvendo \Imllocu~i<, velb.1 f 0 auxiliar q"e indici 0 lipo de redU1idl. A5~im silo exern· I! pillS de reduzidu de genlodi\>; 'cBlInd\> amanbecendo' 'wndo de partir', 'Lendo pat1ido'; sill exemplo5 de roduzidl5 de infiniiivo: 'ter de p~rljr', 'depois de ler parlido ': 6 exemplo de reduzida de pat1IcJpio 'acaNdo de fazer'. Se, por 00110 lido, 0 auHlar da loeu~io uli­vcr III (<Jnna floila, "io haven Ilra~ill reduzida: Quo",,, g<:Me /ravia de du,,.o,.". (Evlnildo Bccbal'll, Lifun de p.,rlugucs ~laAnQlis"SiJlIQli~", 1976, p. 154.)

o OODiGOCML

8verigl1em (exceLuando-se a primcil3 e segunda pessoas do plural, em que hi1 hiato). 14

d) A parHcula se (antes de a/gum) econjum;iio inlegranfe.

e) 0 verbo preceder rcge. indiferentemente, dativo ou acusativo, iSlo e, pade ser tmnsilivo direto ou indireto: precedeu aos oulros au precedeu 08 oulros. IS

f) Na ultima om<;iio, tem-se exemplo de voz passiva pronominal; sua conversiio em voz passiva analitica e seriio presumidos simulta­neamente mortos. 0 se, em mes6c1ise, epronome apassivador.

Ii) B om~ao referida no item anterior tambem i1uslid urn caso de predicado verba-nominal, em que mortos funeiona como predicativo do sujeito (dois ou mais indillfduos).

h) Comoriente (do tal. commoriente, part. pres, de - commorere, 16

par commori, "morrer juntameute") e a pessoa que morre junlamenle com Onlm,

Art. 31. 0 domicfiio civil da pcssoa natural e 0 lu­gar oode eIa estabelece a sua residl!ncia com animo de­finilivo.

Divisao e classifica<;ao omcioual:

1°) 0 domicOio civil da pcssoa natural e0 lugar - principal.11

2~) Onde ela estabelece a sua rcsidencia com animo definitivo ­subordinada adjetiva restriliva.

14 Sobrc a colljuga~o dos velbos lermi~ldllS elft u.:l'. Idam....e 18 co~ddelll~i'in; de M. SAID AU em lovc611ga¢cs f'iloI6gins, 1975, P" 124-128.

15 cr. Francisco Femandes,Dich""Ario J., Verba" If Rcgimes, 1953, p. 479. 16 [',m pm~liCl hlsl6rica, cmprep·se 0 sillil gnlfico dCnomlllulo asleriseo OU eSlre/iJ'l".:I (.)

p.ara deslgpu 0 ~limo refirieo ou /07m.:l h;pollHicQ: "Forma que den ler exislido, mas de ellJa cxistellcll nio h Lestclllun!lo ou documcnllo;io. Ex.~· cora/ione (derivado blpoltllcll de cor) ,. CO/1l~<J:' (Cclso Pedro Lufl, Dicioll6tio G,tJINlticw tiD LlIrgua p("'ugucnJ, 1967, p. 6]. velbcle ltinw.

17 A orl'iio prillci~I, islo t, aquela que exill" Illltn orl'iiio depcndenw, com\> ob""",. E\>a. niJd\> Bccban, "ncm sempro coincide rom t delenninao;io da iali4 .,uloelilido principal, IftIS I que lem Urn dol sellS membros sob (Ilnna orlclooll; dall pos.s.ibilidtde de haver, 110 pedodo, mail de lima ol'll'iio prillel~l." (Op. cil., p. 104.)

Page 77: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

III o CODlGO CIVIL 147146 llONAI.DO CALDEIRA XAVIER

Obscrva~6cs:

a) impende nan confUlldir, em dircito, habilQt;iio, residellcia e dfr micflio, que pDssucm conccitua~oc~di(crenles.ls

b) Na area jnrfdica, 0 lermo pessoa tamhem possui cOllolaljao , • J~II propna.

I c) Onde e pronoffic-advcrbio que exprimc ideia de lugar e tXIuivak

a em que, no qual etc,lO No texto, funciona como adjunlo adverbial de lu­gar. Na lfngua padrao, continua-se a distinguir enlre oJ1de c aollde; 0 pri­

! I meiro tradllz 00910 de rcpouso, C0 segundo, de movimcnlo.

d) Animo, em dircito (do 1at. animu, "alma"), significa iulcnl;ao, vontallc.

Art. 33. Ter-se-a pOT domieflio da pessoa nalural quc nao tenha residcncia habitual ou empregue a vida em via­gens, sem ponto central de negacios, a lugar onde for cn­eontraaa.

I Divisao c das.sifica~ao oracional: I

lU) Ter-se-a por domicflio aa pcssoa nalural 0 lugar - principal.

, 2n) Que nao tenha residcncia habilual - subordinada adjeliva res­tritiva.

II 3~) Ou empregue a vida em viagens, scm ponlo cenlral de ncg6­

cios - eoordenada sind6lica al terna liva (em relal$ao aanteril)r).

4") Ondc for eneontrada - :<;uhordinada adje1iva reslritiva.

II I, , ,

! I 1& Adara Orlando Gomes: "Hl1b;la~;;,,~, leenic~mel\le, Q lUgM Olllie 0 ill<ll~(Jao sc cnconlra

e permaner,o scm a inlon<;iio de ficar. A res;dc"da, <lnde mor~ hahilulnICIl!C, com a inlr.n­. ! ...10 de permanocer, ainda qu~nd<l 50 .raslc lcmpouri.menle. 0 d"w;c!I;tJ, <l IUgH OllJo e,,_

labelec.. a sede prindl'~1 dc seu~ ncg6dos (co"51;1,,1;0 rerum cf {t'nW"lTlI"'), 0 I"'nlo cenlral das orllpa<;~e~ habiIU.b." (l,lIrow.,,,(,a ao Di,ciw C;"il, 1979. 1" 20l.)

19 Pes.I'oa ~ "0 rnle [j'ko mor.l, 5usccHvel de direilos e obriga<;oes"; iJenllrk~_se, por CollSC­guintc, com l' ~"jeiLo de direiLo <lU sujeilo de rda<;iio jur(dic., 1\ oTdcm jurfdia rc""'onhcceII dun es~cie~ de pes..<oas: "OlUNd 0" fu;ca (0 ser hum.no) • .i"d,/j"" tJI1 JJltJrIJ/ (sociedadc~

hum.nas que lem por rim cerlo~ inlere.ses coman,). (CL Washington de Ruro~ Monleiro, op. cil" p.515),

20 Cf. Rocha Uma, Qr. <'ii., p. 300.

Observa'$30:

a) Ponha-se rcparo oa coloca'$ao do sujcito da in ora'$ao (0 Lugar), hem distantc de seu respeclivo predicado. Tal procedimento, alias co­mum no C6digo Civil, suscita dc ordinario alguma dificuldadc ao iui­dantc, quanto a identifical$ao do tenno a que corrcspondc a funl1ao :<;ubjeHva.ll

b) Ter par == considerar.

c) Par domictlilJ tin pesslJfJ fUlluml funcioua como predicativo do ~ujeito. 0 prediclllivo, neste caso, esLi preccdido de preposil1ao.

d) 0 pronomc relativo que, concctivo da 2" Ofal$ao, e 0 sujeito dcsUl (substitui 0 termo pessaa naturaf).

e) A fun~ao siut.hica do termo em viagens eadjuuto adverbial de mudo.

Art. 50. Sao fungfvcis os m6veis que podem, e nao fungfvcis as que nao podem substituir-se por oulros da mesma cspccie, qualidade e quantidadc.

Divisao e elassifieac;ao oracional:

1~) Sao fungfveis. os m6vci!>- principal (em rclal$50 a2n).

21) Que podem (substituir-se por oulros da mc-<;ma cspccic, qual i­dude e quantidadc) - subordiuada adjcliva rcslri tiva.

3n) E nao fungfveis os - eoordenada siml~lica adiliva (em rcla~ao

l'I I~) c principal (em relal$ao a4~).

4°) Que nao podem subsliluir-se por outms ua mesma esp6cie, l[uulidade e quanlidade - subordinada adjcliva Teslriliva.

Ohserval$oes:

a)Fungtwl (do lal. ftmgibile, derivado de [ungar, functus sum, v. InL depoenle, "satisfazer uma dfvida, eumprir"), na lerminologia jurf­dieu, signifiea a eoisa suhstilulve1 por <mIra, desde que :<;uscetfvel de Her conlada, medida ou pesada. 0 termo "infungfvel", de sjgnifjca~iio

11 Veja-se, v. If., 0 § 2' do art. 35: "Nos Esllldos, obsorvar-so-~, quanlo 15 rausas de nalurea l"c.l, oriulldas do bios oconidos ou alos pralicados pOT sua6 aUloridadcs. ou dados a OIe­cu<;.10, fora d86 capilai5, 0 que dispusor a respr.eliv. Icgisl.~io." a sujcilo de "bser~..,-se-o ~ tl pronomc demon51ralivo ", quase a" final do p3t~graro.

Page 78: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

-----_._.-.- --""._--- -----------------_...".

I'

II 148 RONALDO CALDEIRA XAVIER o c6D1GO CIVlL 149I

I

,.,

oposta, conquanto freqiiente nos Iivros de dontrina e para cuja cria~ao

inexistiriam obje(joes de ordem morfol6gica, ainda nao se cnconlra averbado nos dicionarios. Por isso, dccerlo, 0 texto legal prcfere "nao fungfvel"; conludo, melhor seria niio~fimgfve~ hifenizado, por tralar-se de c.omposto fonnado de adverbio com adjelivo.~~Consumlvel, por seu, I

! tumo (cf. a art. 51), ~ a eoisa que se exaure num s6 ato, com 0 primeiro uso, "havendo destrui~ao imediata da propria substancia". Urge, pois, [Jao eonfundir os dois termos.

II b) Ede nOlar-se, quanta ao verbo pader, nas duas OC8lJOes em queI aparece, a eondilJao de auxiliar do fundamental subst;tuir, CormandoI

ambos uma 10cuC;ao verbal.

I c) 0 sujeito da 2& ora~iio 6 0 pronome relalivo que (substilni 0 an­teeedente os m6I'eis).

I"I d) Na 3& ora~iio houve zcugma da Conna verbal siio OJi expressa

·,·1':1: n3 1&). 0 sujeilo e 0 pronome demonslralivo os (= aqueles).

e) Paralelamenle ao que se deu na 2u, 0 sujeito da 4& ora{$ao C 0I'll pronome relativo que (subslilui 0 anlecedentc as).

Art. 75. A todo 0 dircito corresponde uma a~ao, CJne 0 ,,' I assegura.

'I ill Divisao c classifieac;iio oracional: I 'I 1AI ) A t~o a direito eorresponde uma a~ao - principal.

2D) Que 0 assegnra - snbordinada adjeliva reslritiva.

II , ObscrvalJocs:

a) Uma ar;iio ~ sujeito (posposto) de corresponde., 23! b) 0 sujeito da 2Dora~iio e0 pronome relativo que.

22 cr. Celso Ped10 Lu£l, Novo Guia Orlogrdjico, 1980, p. ~,i~1II 9. 23 A run~io ~inLilkl do pronome relallvo que depende dn conlalo oradnnal oode csliver in­

lerido:>, nad. tcndo que ver com a de seuanlereden~.Orderido pro nome pode exercer u III seguiD~s funlioes: I) Sem preposi~io:>:

I I) sujeilo _ 0 homelll que lnb_lh progriok. , bJ objelo wrelo- A cartll que IladuziSIe era looga.

c) predicalivo _ SO:>U 0 que loOU.I,

c) Na ora(jiio subordinada M dais pronomes: urn relalivo (que) e ou­Iro pcssoal do elLSQ obli'quo (0). Relirando-os e pondoem seu lugar os res­peetivos tennos substitufdos, ler-se-ia: wna at;iio assegura todo 0 direi/o.

Art, 101. A coalJao vida 0 ato, ainda quando exercida par tereciro.

Divisiio e c1assifiea91o oracional:

1B) A coalJao vida 0 ato - principal. 2B) Ainda quando exercida por terceiro - subordinada adverbial

concessi va.

Observa(j6es:

a) Coa~ao (do lar. coactione, "alJao de recolher", a qual, segundo Antcnor Nascentes,24 nao lem 0 senlido de "obrigar", enconlrnvcl no v. mgere), na tccnica jurfdiea, po...sui dna... acefll10es dislintas: 1) a de ea­flIcterizar os meios de prolc~i.io legal, facultados ao titular de urn direi­Ill, para manter integra a rela{$iio juridica que 0 vincula ao objelo desse mcsmo direilo; 2) a de constrangimento ou violCncia de uma pessoa contra outra, a rim de enfraquecer-Ihe a von lade au impedir a livre ma­nifcsta~iio, podendo, neste caso, ser ffsica (Vll absoluta) ou moral (I'll mmpulsn'a).

b) Nao houve necessidade, na oralJiio principal, do rceurso de prcposicionar 0 objelo direto para a lender ac1areza, pois 0 termo coar;ao

II) Cam preposi~iio: 1) objelo indirelo - Foram 11pidas u cens 0 que assiMimo:>s. b) cOlllpl~menlo no:>minal- Recebi 0 billu'le de que fosle poTtador. c) agellU: d. p".~iva - Conbed O:>ITquilelo:> p.>r que (oi projelada 1 casa. d) adjullio adv..b!al (em sua, dive""", modalidldes) _ 1:; diSlanle 0} blirro ettl que mo_

IlS (Iugn). Admirei a ICildade con, que Sf eOlldU2iu (mo:>do:». . Ob,e"'_fiio: t Muilo:> co:>mum, no:> co:>loquiBlisMo e 1I11iogUgflli popUlar, lpllTeCer 0:> prono. me reJuivo:> de5liL~fdo de runVOO:> slnl~lica,' semeJhBn~1 do: mer. pl1UculB coneclivB. '·A ruo~io que deveril scr cxereida pelo:> relallvo", InoUl EVlQildo Seehara, ·'Velll IIIlis ldiln· .~ expressa por SUbsUlIlivo:>. A esle relBlivo ChUftarelllllS .",i"erscJ:

o homem que eu falel cum ele. em vez de: 0 homem com que'" OU com que eu r.. lei.

A .mizade ~ coiSl! que lIem ~empre :u,bemos sitU sigt,ijictJdo em vez de: A Imiude ~

coJ:u, cujosig"ijietJdo nelll 5empre 51bo1.mo:>s". (Op. cil., ps. 125- 126.) Nio obslanle eonsislir urn "elemellio Ungiilstlro exJrelllamem~ pnlko:>", DI lIBgUI

eulla hJ viva rea~io eo:>n1n 0:> Clllpnogo do ~l1llvo "uaiven;al".

~~ Op. <:il., p. l83.

Page 79: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

151 150

li,ll o CODIGO CIVIL RQNALDOCALDEIRA XAVIER

I.

ill

,i "

i'll,I, ~ ~I 'III,, "

'11,1'I I '

i

III

II Ii

,

"III

Iii

II, i

sc mostra obviamcntc como sujcilo, quer pela prccedencia, quer por DaD

seT juridicamcntc 16gico 0 ato viciar a c031;ao. Tal rccurso sintatico, no cntanto, aparccc cxprcssivo c uti! quando se Lorna necessaria clarincar 0 sentido: 0 pai AD filho matou; AD pai, 0 filho marou.

e) Posta em sua forma desenvolvida, assim fkaria a oral$ao redu:lida participial: ainda quando terceiro a exercer.

d) Por terceiro = agcnlc da passiva?5

Art. 110. 0 eredor quirograFario, que rcccber do de­vedor ilisolvelllc 0 pagamento cla dlvida ainda nan vcnci­da, ficara obrigado a fepor, em proveilo do acervn sabre que se tcnha de e[cluar 0 concurso de crcctores, 3ljuilo que rcccbeu.

Divisao e classific3l;ao oracional:

tR) 0 eredor qllirografario ficara obrigado - principal.

2~) Qne receber do dcvedor insolvenle 0 pagamenlo da dfvida ­subordinada adjeliva restritiva.

3~) ainda nao vendda - rclluzida de particfpio (snbordinada adje­tiva restriliva).

25 0 age_nle da passiva correspondc aosujcilo da aliva; 0 objelo <lil'elo <I~ ~liva, I'''f suo vei" C

o 5ujcilo <la passiva: o devedo~quilou 0 debiro -vr:rz, ativa

(suj.) (ob. dir.) a diJbiro roi quilado pelo devedo~ _ VO"i. pa",bl'

(suj.) (ag. <la p.tss.) Preeedcm 0 agenle da [J~ssiva as seguinlcs preposj~&s;

- por <: per (per + 10 " pelo): Ele t reeebido por rodos. 0 rtu ~ a....t..lido pda advogado. _ de (mais raramcnlc): RIa t conbcci<la de tados. A selva eSI~ lnfcsla<l:. de c(mibais.

No porlugues cocvo arcaizou <Ie lodo a prcscn~a do Igeilic da voz paS'Siv~ pronominal. Portm, nQ p"'luglles anligo, nao era incomum. Sao cl~,;.sicos cslcs dois cxcmplos de Ca­moes:

''For ele 0 nlM remOIO navegamo', Que SQ dos {eios {ocu.s sc "0>'<'8"."

(Lusf",w.,·, 1,52.)

"...c COm picd.dc ~'Onsi<lcf3

o dan" ~em ratio <jue se Ihe tJrd"tltl Pela "w/iglla gell/" Mr,o,""""."

(Lusi<Nl"-,, IX, 6.)

43) A repor em provcito do aeervo aquilo - redllzida de infinitivo (~utx)rdinada substantiva completiva nominal).

5~) Sobre que se tcnha de cfetuar 0 concurso de eredores - subor­dillllda adjetiva restritiva.

6U) Que recebeu - subordinada adjetiva reslriliva.

Ohscrva'¥oes:

a) Quirografario (do grego cheir, "mao" + graph, raiz de grdpho, "cscrever" + sufixo -ario, rein lat. chirographariu) 6 0 eredor cuja cundi,¥ao deriva de doeumento ou tllulo de garantia particular nao au­ICllticado nem vinculado aos bens do devedor. Em conseqiieneia, pa­IllINle·lhe-a conforme a disponibilidade dos bens Iivres do devedor.

b) 0 sujeito da 2« ora<;an e (1 pronome relativo que (substitui 0 an­lcccdente credor quirografario).

c) a verbo rccehcr (na 2u ora~ao) c lransilivo direlo e indireto, l:oIIslrufdo com dalivo de pcssoa (do dClledor insolvcnte) e aellsalivo dc cuisa (0 pagamenlo tin dfvidn). .

d) A reduzida participial (ainda nao veneida) desenvolve·se em que tliluJa niio se llellCefl.

c) Aquilo == objeto dirc(o de repor. f) Em prolleilO do acervo = adjunlo adverbial de favor.26

~tI A ttsLl de IdjUI\I"~ ~<I"erni.i~ pr"pos!J pd~ NOB, ipq~csll(ln~velmenle, l dcmasiado ICS­tnll, peclDdo por n"o conlempllr v~riu modalidade,. Importa. rcconbecer, eonludo, nem sempre SCI UeU idcnlilicl-lu. En, cenos CISOS, somelile 0 delido exame da pIepo~i'liio in­Irndul6lil podtr~ esdlfcctl I esp<'cic de circun~l.ipcia denol.<la. E1s algum.s esp<'des de Idjunlos advcrbiais qlle mereeeriam cm,omrrid... ",1a~.'io d. NGI3: I) ADll;AO - Conscguinn,. "Ii", rleslas, OIlIUS vanllgells. b) ASSumO - Sob", ca,es e gosla.t. nil''''' di""ul". c) CONCES''iAO-Ape.•Qr d.!"p()b~, tem crtdilO, d) CONFOMIDADE - Scr~ julga<lo uglmdlJ selts at"s.. e) DIR~O - 0 uvio zarpo" ",,,W ll() ~arle. l) DlvlSAO - 0 h.cro [oi repartido <:111,<:IOOOs.

g) I'AVOR - Fez ludo em prof da /anltlia. h) I'REQUENCIA - El. '0'011011 dua~ "ems. I) INSTRUMENTO - Caval1lm com a pa. l) FIM - Ele, se preparnu para 0 veslibular. I) LIMITE - Seguiram junlos atl 0 jim. Ill) MATERIA - A!. ferramenlas sio reitas de afo. n) MEIO- Receber.m a notfcia par IcIe/olle. 0) OPOSIGAO - Prncederam co~lra a IOgica. 1') ORDEM - Ete cbegou en> lerc<:iro {ltgur.

Page 80: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

153 152 I!

RONALOO CALDEIRA XAVIER a CODIGOCML ! '

g) 0 COlU:I~rso de credores = sujeito dOl 56 oralJao. , ! h)Sobre que = adjunto adverbial da refer~ncia. (Y. nola oQ 23.)

i) Na ultima oTalSao 0 sujcito e 0 mesmo da primeira: credor qui­rografdrio. 0 pronome relalivo que (substitui 0 antecedente aquila) funciona como objeto direto de recebeu.

Art. 144. Ninguem pode sec obrigado a depoe de fa­tos, a cujo respcilo, por estado all profissao, devOl guardar segredo.I!

,

,

Divisao e c1assifica<.;ao oracional:

'""

!i 1B) Ninguem pade sec obrigado - prineipal.

28) A depoe de fOlIos - reduzida de infinilivo (subordinada subs­:'" I

"~I"~ tantiva compleliva nominal).I,'"I' 38) A cujo respcito, por estado au profissao, devOl guardar segredo

- subordinada adjetiva restritiva.

,I"'I!', ' Observal1ocs:

! a) 0 sujeito dOl ]6 orao;;ao, representado pela proname indcfinido ninguim, e indclcrminado.

b) Na 2ft oraljao, °verbo depor, usado como lransitivo indireto, tern 1'1 o sentidode "preslar depoimento".Defatose 0 seu eomplemento (objeto

I indireto). c) 0 pronome refalivo cl~jo funciona com adjunto adnominal do

1'1 subslanlivo respeito, seu conseqiiente, com a qual concorda em genero c ndmero.n

I

'I q) ORlGljM _ Par. o~ 1e(6ta~,. vidl vern de Deus. I, r) POSIC:;AO _ Fie"ram ell're u ..ruz e 0 espada.

5) PREJ;O ~ ArremaLaram tudo por ...."'"0 ",i/ cruzeiros rcois. I) REFERtlN(;IA - 0 que lbe ",brl em orsulho, [,I1...III ..omp"le" ....o. y) SEMELHANI;A _ Ell saiu 00 poi. v) SITIJA<;Ao - !:oi~ nio ~ que ele veneeD? £,,(iJo como vamos? x) SUBSTl11JIl;AO ~ Corneum l!alO por Icbre. , z) TROCA - nard me. reloopor u'" ca.do.

, ,

27 0 pronome relolivo cuio, ve"ba OU oio pre.ccdido de p'"f"!slt,iio corrc'pondc.• do <jl<" e trlduz sen Lido possessivo, e~en:udo podsso. run~io de adjU/llo ad/wit.;"" do nbslanti ­! '! vo que Ibe surede e rom 0 qU11 c<lnroma em I!encro e ol1mero. 0 seu correto emprego ,'I' pre&suplie dOis Le.-mos: urn anlecedenle (0 pos6~idor) e urn conseqiiente (I coi.. po.-su'da). &.: as a r~u eujG advogad. c<lnhe~o (••dvogadl do qual) - sendo ,bl 0 po.-suidor, e ad­-sad.>,. coi", IK"sulda.

d) Por es/ado ouprojissiio = adjunto adverbial de causa.

Art. 181. Avista desses documentos apresentados pe. los pretendenles, ou seus procuradores, 0 oficial do regis· 1ra lavrara os praclamas de casamento, mediante edital, que se afixara durante quinze dias, em lugar ostensivo do ediffcio, onde se eelebrarem os casamenlos, e se publica­ra pela imprensa, onde a houver.

Divisao e clas....ificaljao oracional:

1B) Avista desses doeumenlos 0 oficial do registm lavrad os pro­dumas de easamento, mediante edital- principal.

21) Apresentados pelos pretendentes, ou seus procuradores - re­t1uzida de particfpio (subordinada adjetiva restriliva).

3~) Que se afixara durante qllinze dias, em lugar ostensivo do edi­ffeio - subordinada adjetiva rcstriliva.

4B) Onde se celebrarem os ea:>amentos - ...ubordinada adjetiva res­lritiva.

5B) E se publicara pcIa imprensa - coordenada sindetica adiliva (em rela~o aprincipal).

6°) Onde a houver -, subordinada adjetiva restritiva.

Observalt°es:

a)Proclama (substantivo deverbal de proclamar) e 0 pregao, lido lill igreja, ou edital atraves do qual se divulga 0 uoivado, para atender a uma formalidade preliminar e necessaria acelcbr~ao do casamento.

b) Mediante editaf = adjunto adverbial de meio.

c) Pelos pretendentes, ou (pelos) seus procuradores = agente da pllssiva.

d) 0 sujei10 da 3° oraljao e0 pronome relativo que (substitui 0 an­leccdcnte edi/ai).

"Em portugub .nligo", di,z SOUil.l do Silveira, ~o reillivo cuio Ipareec As veZd COIIIO pre­dlcltivo". E exemplificl: "dar 0 sen I cujo l," OU sej., "dar 0 seu 'qu"le de qvelll l". (Hej. tor PlulD, 1masrm, I, 1:;1, 202, 230.) Na llngul modema, enlrelnlC ". 1Utiga pr'llca o! bcm 111111": "Elc rcubeu com 0 hllismo 0 1I0lllC do -'llnlo cuia e,a 0 dll." Aleucar,l,....e. mil, 129. (tf. L~oeS' de P0I1uSuis, 1964, p. 172..)

Page 81: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

155

I' 'I'"

I' 154 RONALDO CALDEIRA XAVIERI'

c) Na 4~ ora<;ao h:'i. voz passiva pronominal. Convertcndo em ana-Iflica: onde joron celcbrados os casamenlO!>'.

d! f) 0 sujeito da 5& ora~iio eedilal.

g) Pe/a imprensa::: aLljunto adverbial de mdo.

h) a ullima ora~ao iluslfa urn caso de incxislcncia do sujeilo (v. haver cmprcgado impesso:llmenle).

i) 0 pronomc a fllnciona como objcto dircto de houyer. ,

Art. 211. 0 que conlraiu casamento, Cll(jllanto inca­

,

, 'I paz, pode raLifica-Jo, quamJo lldquirir a necessaria capa­

I, cidadc, c esta ratificac,:an rclrotrairii os seus efeitos a data'. I'

da cclchraljao. 'I 'I'

Divisao e classifiea~:Jo oraeional: ,.,"".

In) 0 pode ralifid-Io _ principal.28

11'1I'I 2U) 011e conlrai u casamento - suhordina tla adjeliva reslritiva.

30) Enquanto incapaz -, suhordinada adverbial temporal. 'i'l Ii' 4~) Qnando adquirir a necessaria capacidade - suhordinal1a ad­

verbial temporal.

IIII, SO) E esta ralifieac;ao rclrotroinl os seus efeitos 11 data da ee\ehra­~iio - coordcnada sindetiea alli/iva (em rclalj:Jo principal).

I Ohservagoes:

, II a) 0 slljeito da l~ ora~i.io e0 pronome d<.'monslralivo () (= aquclc).

A forma pronominal cne\ftica 10 6 ohjelo dirclo de ralifiear.

,'I',I ' , " 211 rerlodos illiciados pdo d' monslra tivo <> seg"ido de rl'lalivo (~om{l (l arligo em p~ula) tOS­

lumam, por YCl.es, causar Cnll>~r~~o5, pHa serern (li~idido~. lJ~vc-se Icr em menle 0 r~h' d~

I 'Ill" ess~s pronomcs jOlIl",i., roM'" Ikar junlos na mCsma ora~iio . .-\ssim, neslc ~"cmplL>:" , que vi loi 0 que Vi.fle - a 11 iv i~a 0 0r~c iQJI~ t scr~: (J I"i " (J '); que ." (2') e que vi"le (3'1. /I. I'

,I c a principal; 8 2' e ~ J' ';;0 'Ill>ordinadas ~djetivas reslritiva,.

,I Em perfodos do lipo "OS eonvidados n.10 toram ~ fesl" 0 qlle d<>is,,', (' 1,,,lri,,, z""g,,d,," (aplldE. Bull"",. (JjJ. dl., p. 96), 0 delllonsl[~rivo <> aparccc rnnln ~ro.\lQ de uma Qra~.io

" iMc;ra. 1\ l' ora,iio c: os convid<1do$ /lao lomm afesta, 0 (I'rin~iplf); ~ 2'. q'l<' dco:o1l 0 I , palr;;o z"""ado (subordjnad~ adjdiv~ rc~lriliva).

H em p<:ICodos do tipo q,wlII sai ao.' sem ",'i" ,kg"",,'1I, inici ••d" por Urn ",t.l;vo s~m ~ntcce·

deale (quc Rocha Lima chama "condcns:Hlo", d., "I'. dr., p. 243), pode-s.c, potrR ~~~ti5<'. cfe­Nar () scguinlc desd{ll>l1Imenlo • fim de reSlal~r 0 Jnl(~cdenlc; "q"ele / q'w sui uos 8<'1/1' / 11;;0 d.:go"'uu - 'lCndo pdncip;ll nq,wle "ao degellcr(J, ~ ~ul>or~in ••<la adjc'iva resrriti"8. q"e ,'<>l 00'· ,."r/.\,. 0 "'rmo aos XUI' fundona e~mo adjun\i;l .dveIbi"t de s.cmcJhan~~.

-------------------_....

o CODIGO CIVIL

b) 0 sujcito da 2& Ofaljiio e0 pronomc rc\ativo que (subSlilui 0 an­lccc<knte a).

e) Na 3& Ofaljiio hauve elipse do verho: enquanto era incapaz.

d) Capacidadr, lIa tecnica jurfdica, c a aplidao da pcssoa (ffsica ou moral) para adquirir e exercer direitos ou contrair ohriga~6es. Reco­nheee-o, em sen an. 2~, a C6digo Civil: "Todo homcm c capaz de di~ rcito e obrigl:lljoes na ordem civil".

e) Retrotrair(do lat. retro, "para tds" + trahere, "puxar") sign i­nCD "Ievar ate a origem", dar efcito relroativo, reeuar.

oFrancisco Fernandes c Aulele aprescntam a verbo retrolrair ~omo lransitivo-rclalivo, i. C, lransitivo direto e indirelo, no scnlido em tlue esta no C6digo; portanlO. a fun~ao de il data dn celelJraf;ao ~ obje­to indireto e nao adjunlo adverbial de tempo.

Art. 348. Ningucm podc vindicar cstado eontrario ao que resnlla do regislro de nascimcuto, salvo pmvando-sc erro ou falsidade do registTO.

Divisao e elassi1iea~ao oraeional:

In) Ningucm pode vindicar estl:ldo contnirio ao - principal.

2n) Que rcsnlla tin registro dc nascimenl0 '- subordinada adjetiv<l l'eslritiva.

3n) Salvo provando-sc erro ou falsidade do H.'gislro - reduzida de Kcrundio (subordinada adverbial condicional).

ObscrvaljOCS:

a) Vitulicar (do 1at. vindictlre) significa rcclamar ou C;<IglT, cm Ju(w, a resli(ui~ao de alguma coisa; e pleitcar, alravcs de at;ilo judicial pl'6pria, direito prol<.'giLlo por lei. 0 mesmo que rcivindicar.

b)Ao (eombina'1uo da preposilj:Jo a com 0 pronome demonslrali ­vo 0, equivalendo, pois, a iiqaele) funciona como complemcnto nomi­Ilul de contrdrio.l~

c) 0 sujeito da 2Jl oraljao c a pronomc rclativo que (subSlilui 0 de­nmnstmlivo anteecdenle 0, combinando com a prepusiljiln a).

,/.'l V nota. 31.

Page 82: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

157

'I

I"

156 RONALDO CALDEIRA XAVIER

d) A palavra re~istro apresenta a tonna variante registo, alias pouco usada no Brasil. 0

e) Tem~se voz passiva pronominal na ultima oralfao, cujo sujeilo eerro ouflasidade do registro. I',

r) Salvo (na 3~ oralfao) e preposi.:;ao, 0 mesmo que exceto.

Art. 360. 0 filho reconhecido, cnquanlo menor, fica­ra sob 0 poder do progenitor, que 0 rcconheccu, e se am­

, bos 0 reconhcccram, sob 0 do paL Ii ;, ,,,,

I Divisao e c1assifica.:;ao oracional: 1,,11, I I"

,:,! 111) 0 filho reconhccido ficarn. sob 0 poder do progenitor - principal.'iI, 2D

) Enquanto menor - subordinada adverbial temporal. i 3D

) Que 0 reconhcceu - subordinada adjetiva restritiva.

4n) E, sob 0 do pai - coordcnada sindeLica adiliva (em rela~ao a principal).

SD) Sc ambos 0 reconhcceram - subordinada adverbial eondicional.

Observa.:;Oes:

a) Progenitor (do lat. progenitore, "avo"), elimologicamente, sig­nifica 0 que gera antes (pro) do pai; mas acabou tomando 0 senlido de pai, isto e, "homem que deu ser a oUlro", genitor.

30 E comum aconlecer, em dlda fase dB evolu~iio de uma Ifngua, 3 conislenda de VUiB~(jCS nI grafia de cenos vocll'bulos. Em gram'l;c" [al falo rcccbe 0 nome de {omlas vorionles. Aparece de diversas maRclras, n' Ifngua fO)l'luguesa, essa csp~cle de sincrelismo voeabu­Jar; pela allernincia entre os dilongosou e ai (a pronllneia brnilcira tende para 3 grafia ou anles de r e demais c,onsolol""); 100'rO e lo;ro, lO"ci,,!w e toukinllO; enlre , e r: aluguel e alnguer, regimental e regimenlar; enlre b e v; lubemae laverna, assobio e assodo; enlre c e qu: cOlo e quata, ca/onee qualone.IH lamb~m varia~iio enlre palavras «1m 0 clemento prefixal a (que lhes niio aller. 0 significado) e ~em clc; a/evo1llar t' Iwontar, assoaJho e

, i', soalllO; com um c elimol6gico e sem cle; aspeclo e aspelo, coaclo e cooto; com um p eli­moMglco e scm cle; replico e celico, orgaJlOUplico e organolilico. Noulros eISOS, d~"""e

allera~iio mClal~lica; cksvario e de,n'Giro, ressabio e rcssaibo. Nou[ros, ainda, a v.ciJa~iio

chega a alean~ar formas Ir{pUces, quadr~plices (e aIlS mais!): cksocoro.;oar, dcsocorroar, 'II t1e"eoro.;oar e tkscor.;our: oIparca, a/parcala, a/percara a/purgala (a par das formas po_ _pularcs apragala, pracala, pruga/a, paragalo elc.). Apesar da varicdade morfoI6gk., en_ Iretanlo, a unidllde semiOlic.a permanece, explicando-se • plu.lidade de formas pela incerteza quanlo ~ rixa~iio de uma definilivB. Em verd.de, 3 Indole do idiom. propende paI'll que, lenlamen[e, .5 hesita~(jes se alenuem, acabando per prcvalecer uma das formn, enquanlo 3S demais, tornando-se dedduas, deixam de ller empregadlls.

o CODIGO CIVIL

b) Na 2B ora~ao houve elipsc do verbo: enquanto (for) menor.

c) Menor funeiona como prediealivo do sujcilo (0 filho reconhe­cidoalias elfptieo, tambem, naquela ora~ao).

d) 0 sujeito da 3Roralfao e 0 pranome relativo que (substitui 0 an­lecedente progenitor).

e) 0 pronome pcssoal 0 (subSlilUi filho) e objclo direto de reco­nheceu (3D ora~o). Retirando os subslitutos pronominais e em seu lugar colocando os nomes substitufdos, ter-se-ia: 0 progenitor reconheceu 0

filho.

l) Na 4~ oralfao houve duas zeugmas simull.ftneas: de urn verbo e de urn substanlivo. Explicitando: e (ficarti) sob 0 (poder) do pai.

g) Ambos, que pertence a elasse dos numerais, e 0 unieo dual da lingua porluguesa e funeiona como sujeito da ultima ora~ao.

Art. 515. 0 possuidor de rna fe resfXmde pcla perda, ou deleriora~ao da coisa, ainda que acidentais, salvo se pravar que do mesmo modo se teriam dado, eslando cia na posse do reivindicanr,e.

Divisao e elassifiea~ao oracional:

]U) 0 possuidor de rna f6 responde pela penla, ou dClcriora~ao da coisa - prineipal.

2D) Ainda que acidentais - subordinada adverbial eoneessiva.

3B) Salvo sc provar - subordinada adverbial condieional.

4R) Que do mesmo modo se leriam dado - subordinada substanti­va objeliva direla. ,

SD) Estando cia na posse do reivindicanle - rcduzida de gerundio (subordinada adverbial condicional).

Observa~6es:

a) 0 adjetivo acidentais csla no plural porquc modi fica, simuHa­neamente, dois substantivos: perda e deteriora~iio.

b) 0 sujeito de provar (3d oralfao) epossuidor de md[e.

c) 0 sujeito de teriam dado e perda, ou deteriorar;iio da cob·a.

d) Na 211 ora~ao houve elipse da forma verbaltenllilm sido.

Page 83: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

II I 158 RONALDO CALDEIR/\XAVIER o eDDIGD CIVIL 159

e) Va coisa (F orac;;ao) c do reivindicanle (5U omc;;no) hmdnnam como c()mplcm('.nto~ nominais, respeclivamcntc, de perda, O/J deterio­rU'lQO e de posse.

31

Art. J.524. 0 que rcssarcir 0 dDno causado por Oll~

teem, se CSIC nao for dcsccndellLc seu, pode reavcr, da~

quell' por quem pagou. 0 que hOllver pago.

Divisao e elas.~ificO(;ao orocional: I, In) 0 pode reaver daquele 0 - principal.

,-, , ,',I,',Ii

2~) Que ressarcir 0 dano - subordiuada adjcliva rcslritiva.

'I I 3U ) OJusada por oulrcm - redu..dda de pJrticfpio (subordinada ad~

"ll jeliva restritiva),

"'1 ""I' I

4a) Sc estc na.u for dcsecndcntc seu - subordinada :ldverbial con­dieional.

",1,'1,'1':1,: .. I 5J

) Par quem pagau - suhnrdinada lldjctiva rcstrilivil. i "1

'I'I 6J ) Olle hOIlvcr paga ­ sl1bofdinada adjelivll restriliva. , ,

,I ,

,I

I,ll 31 Nem semprc ~c mO~lm nUidl a dislin'iio ~nlre ~oJ..,plem<'''I~ 'IOm;""I. "djll/flo ~d"o",i"{ll.

I,ll De relaliv2 irnpol1'nda nR lIjd~lie~ elerneMar, nem (lOr i~o f de~piciel\~~ "nurn," desCli~ao

rid d.1 .slr~l~r~ oa rrl,~e". MMli£"HafiOa·se J re'peilO, R,,~ha Lima '-11.1 em <juc "0 {'~1lI<

da q~e'liio rr,ergullu ,a!zp""n cnn,,~"\io (por el\celCncia ecmplexo) de l':lnsi(iv'llalle" in­lr:lnsi lividad~: e "inda se p"ndr., em cnla mcdida. aO prt>blema (nat> mcnns <,ornl'lcxo) d.

,I,

," cmprc@o c"ncrcl~ <JU abslrllo do subslanli¥o." hTs e~~0', .qui" df grlVldo. <k ~mbig~i·

dade, "o"olTcm 100-00 com a prcposi~iio tie, em raziio, (lOlvenlura, d. ser ell a Ill~is vaz<o das prcposi~i>cs." R~~om"~d~ enr'" ° \IU_"TC rr~:(' IC>r so)" J(/ol."Jo;> 0;> sc~u in Ie crilfrio: se se lralar de 5ub~la nIiv,~ i'llram;I;"O,f (".g., ccpo de ",i,,!w, rOM Will espi,i/lOS), 1er-\£o./i oJtljll1r·

I, 10 "ti"o"';llal; ~c 0 sllbslanl:vo, ao rcvcn;o, admilir cmprcgo Iralni/ivo (~.g., inv~siio ,/u d· dmk, ron<n/'S,l com <I pat) h.",er~ CO"'fJ''''''~''{Q 1«",,;,,<4. "~lc ~)limQ ",~,) po</cri

, I verilicn-se: "a) rOn! 0 subsla"livlJ "b..I""oJ de lJ~iio, corresponden(c a nrho d. mC'llla [am nla qu c cxi­ja objclo (direlo ow indm:lO), on con'plemcnlo drew nSlandd:

,", I I inve,-s,!;o do ordMl (d. inverler 0 ordenr -objclo dirdo) obedie'Kia "o,~ pahr (1:[. obcdn'ol" a,,~ p",s- Objclo ;odircro) ida 0 RoJma (d. ir a R"nra ­ compJcmento cin:unsu.ci81).

b) COrti 0 slibSIO~I;vo abslraloJ de qr",'idadc, derivado de Idjelivo que possa O"r-se h"ansi­livan'tnle:

,efteZI da viltiria (d, certo d" .ill;';"); fidelidade <la" amig"1" (cf. Del CoJS t1mi8oJs). (Op. cil .. p" 21(1_ 211.)

j )hst'l'va~ocs:

:1) N a ()ra~50 priof'ipn1ha tres pronomes uemcJl1strativos: 0 primei ro ((I) ~ sujeito, 0 segundo (dolfl/ete) Cobjcto iod ireta e 0 tcrceiro (()) 6 objcto direto.

b) a ycrbo reaver, que se deriva de haver, edcfectiYo: 56 seconjuga Il;I.~ ronnas oode 0 Y('rho prirnitivo cPl1scrva a Jelm v. Prcscntc do indicativa: reavernos, reovels (em conseqiicncia, nao tem 0 presel1te do sllhjlllllivo, 0 impl;:f;:IlivD negativo C II 2" pes. do sing. do impcr:Jlivn Ill"irmativo). Preterilo perreiro: reouve, reouveste, reOllve, reouvemos, /"r'/I/-Ivestes, reo/lVr·ram. Prcterito impcrfcilo: rfovia, rcol'ias. reov;11 etc. Illlpt:mtivo afirmativo: rC(lvd vo.\".

c) Que(na 2a ora<;ao) 0::: ~'ujeito de re!WITciT.

d) PUTout'-!'1Il '-- agcntc da pllssiva.

e) Descelldeu/e .I"(~lI;= predicalivo do sujeito,

!"J Por quem;::; adjllnto adverbial de ,~llb.~·titni<;Jo. (Ct. nola 26.)

g) Que (na 6" ol'w;:ao) Cobjelo direto d~ !wuver pago. 0 slljeito desta litlilnH ora<;i'io e0 meslllo da primelGl (0 pwnome dcmon~trativ{J ()).

,(1 - Exerdcio,l"

n Art. 40_ 0 prcso, ou 0 dcslt>rrildn, IFm 0 dr\micflio no Jugal' allde l'lllllprC a scnlen<;a, 011 (j desterro.

J) Por que, sendo Gomposlo 0 sujeilo dn J a oWy50, fica 0 verbo no sillgu[ar?

2) A que csp~cie de domidJio se refere- e,~1t' nrtigo? In Art. 84. As pessoas absolutamenle incap,lzcs scrao rci)resenta~

lias pdos p~is, IUlon:'.~, ou curatlort'.~ em 10Jo.~ 0.-; <\10.\ jntidico.,; [l.~

tl'l,Itivamcnte incapazes, pelas pessoas enos alos que cste C6digo J!t'll'J'lnina.

1) Ate quando 0 menor e haviclo pm absolutamcntc inc<lpaz? 2) Dar a fnn.;Jo sintMici1 de ;'N::!O,f poiJ', lutor!!::;, 011 Cllnu/orex. 1) Que figura caracteriza a omissao do predic<ldo na 2" ora<;ao?

"I) D<lr a fun~flo sintatiL'a do rcJati\'o qu£'. Ill) Arl. 107, Ser50 iguZllmenle anuhlveis os conlnltos oneroso~ do

dl'vl'dor inso\venlc, quando a Il1so1v6ncia fur lloluria, 011 hOllV":/, molivo plll';l scr conhecida do Ol1tro conll':Jcnte.

I) Dividir 0 pcrfddo ern ora~oes e classifidl-Ia:;?

2) QUi11 0 i1Dlonimo dE mlcros".\"?

I Ii,,

Page 84: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

161 160

11

RONALOO CALDEIRA XAVIER

3) Classifiear 0 sujeito da penultima 0C3l;30.

4) Por que insolvente eforma preferlvel a insolvdven

IV) Art. 139. Os lraslados, ainda que miD concertados, e as certi~

does, considerar-se-ao instrumentos publicos, se as originais se houve­rem produzido em juizo como prova de algum al0.

I) Que e!raslado? 2) Boundar e classificar 0 sujeilo da 1~ ora'iao.

3) Qual a difereRli3 enlre as hom6fonos concerlado e conser/a­do?

4) Converta em voz passiva anaJltica a oIa'!ao cujo verba csu na passiva pronominal.

',::1') 5) Dar a fum;ao sintatica de como prova de algum ala.

V) Art. 157. Ninguem pode rcclamar 0 que, poe uma obriga'iao anulada, pagau a urn inca paz, se nao provar que revcrleu em proveito dele a impo.-t.ancia paga.

1) Fazel a divisao oracional.

2) Dar a (Ufi<i30 sintatica de por uma obrigal:;iio anulada. 3) Qual a c1asse gramalical a que pcrtence a palavra que (anles de

reverteu)?',II

4) Dar a funli30 sintatica de Qum incapaz. 5) Qual 0 sujeilo da ultima oraliao?

VI) Art. 159. Aquele que, por allao ou omissao volunt<iria, negli­gencia ou imprudencia, violar direito, ou causar prejuizo a outrem, fica obrigado a reparar 0 dano.

1) Dividir 0 periodo em oralioes.

2) Dar a funliao sintalica de:

a) que;

b) por Ql:;iio ou omissiio voluntdria; c) a outrem; d) 0 dano; 3) A quc inslilulo do Dir. Civil se refere 0 art. em epfgr-dfe?

4) Quc diferenlia cumpre estabelecer entre dolo e culpa? 5) Em materia penal, quais sao os elementos caracterizadores da

culpa?

o CODIGO CiVIL

VIl) Art. 220. A anulali30 do casamento, nos casos do arligo an­tccedente, s6 a podeni demandar 0 conjuge enganado.

1) Que termo excrcc a funli30 de objeto direlo pleomistico?

2) A que gl!ncra gramatical pertence 0 subSlantivo ctJnjuge? VIII) Art. 222. A nulidade do casamento processar-se-a por a'iao

ordinaria, na qual sera nomeado curador que 0 defenda.

1) Dividir 0 pcriodo em oralioes e c1assifiea-las.

2) Dar a funliao sintalica de~

a) por w;iio ordindria;

b) que; c) o.

3) Em que VO:l csta 0 verba da 1& orali30?

4) Qual a difercnlia enlre tutor e curador?

IX) Art. 457. Os loucas, semprc que pareeer inconveniente eon­Merva-Ios cm casa, ou 0 exigir 0 seu tratamento, serao tambcm reeolhi­lIos em estabeleeimento adequado.

1) Dividir 0 periodo em oraliocs.

2) Oassifiear a 2nc a 3G•

3) Dar a funliao sinl<1.lica de inconvenienle. X) Art. 517. AI) possuidor de rna fe serlio ressarcidas somente as

bcnfeitorlas necessarias; mas nao Ihe assiste 0 direito de relenliao pela Importancia destas, nem 0 de levanlar as voluplmirias.

1) Fazer a divisao oracional.

2) Dar a funliao sintalica dc:

a) ao possuidor de md Ie: b) 0 direito de retenl:;iio;

3) Qual 0 senlido e a regencia do verbo assistir? 4) Que sao benfeitorias volupluarias? (eL art. 63, § 1°.)

5) Explique a zcugma existente no artigo.

6) Como sc conjuga 0 verba ressl1rcir no presenle do indicativo?

XI) An. 536. Aeessao pode dar·se:

1- Pela fonnali3o de ilhas.

Page 85: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

162 163 RONALDO CALDEIRA XAVIER o CODIGO CIVIL

II - Por aluviao.

III - Por avulsao.II IV - Por abandono de alveo.

V - Pela conslrw;ao de obras ou planta¢es.

1) Qual a fun~ao sintl'itica dos cinco ineisos?

2) Pesquisar 0 significado juridieo de aces~'ao, aluviiio, avu.lsiio e diveo.

XII) Art. 604. 0 que restiluir a eoisa achada, nos termos do artigo II preeedente, tera direito a uma recompensa e aindenizal$ao pelas despe­

'iih, sas que houver fcito com a eonservac;ao c Imnsporte da coisa, se 0

dono nao preferir abandomi-Ia. :::';1[:

",I" Art. 605. 0 inventor responde pelos prcjulzos causados ao proprie­"II, tario ou possuidor legfLimo, quando Liver proeedido com dolo.

"I' 1) Oividir os do is artigos em suas respeclivas orac;6cs.

1 2) Oar a funl$iio sinW.lieu de:lil:a) a uma recompeusa e ainde./lizar;iio;

1

1 b) pelas despesas; ':1 c) com dolo.

! 3) Na tcenica do OiT. Civil, que lermo designa a rcnuncia vol un­laria da eoisa achada em prol de quem a achou, para eximir-se da re­compensa ou indenizal$ao?

i , , 4) Qual 0 sujeito da 1nora~ao do art. 604?

5) em que acep<;ao foi empregado 0 verbo responder (art. 60S)?.1 6) Em OiT. Civil, que se entende par inventor? 7) Ha distin~ao entre dolo em OiT. Civil e dolo em OiT. Penal'!

8) Enuncie a ora~iio reduzida exislenLe no arl. 605.

XIII) Arl. 674. Siio direilos reais, alCm da propricdadc:

I - enfiLeusc.I, II - as servid6cs.

II III - 0 usufruto.

I IV - 0 uso.

V - a habita~iio.

VI - as rendas expressamente consliluldas sobre im6veis.

VII - 0 pcnhor.

VIII - a a micrese.

IX - a hipoteca.

1) Qual a fun'Sao sintatica dos nove incisos?

2) Pesquisar, em vocabulario juridieo ou Iivro de Oireito Civil, 0

lIignificado de enfiteuse, servidiio, u.sufruto, penhor, l1uticrese e hipoteclL

XIV) Art. 871. Se a eoisa rcstitulvel se deteriorar scm culpa do dcvcdor, recebe-Ia-a tal qual se ache 0 eredor, sem dircito a indeniza­1$3.0; se por culpa do devedor, observar-se-a 0 disposto no art. 867.

1) Dividir 0 perlodo em ora~6cs e classifica-Ias.

2) Dar a fun~ao sintatica de :

a) sem cu.lpa do dellCdor;

b) par cu.lpa do devedor; c) 0 (antes de disfXJsto). d) Qual 0 sujcilo de ache?

3) Em lapologia pronominal, que nome recebe a coloea~ao da forma 1a (em recebe-la-6)?

XV) Art. 1.094. 0 sinal ou arras dado por urn dos contraentes firma a presun~ao de acordo final, e torna obrigal6rio 0 contra to.

Art. 1.095. Po<1em, parem, as partes esLipular 0 direilo de se arre­pender, nao obstante as arras dadas. Em caso tal, se 0 arrependido for 0

que as deu, perclC~las-a ~m prove ito do outro; se 0 que as recebeu, res­(Ilul-las-a em dobra.

1) Dividir 0 perfodo em ora~6es e c1assifica-las (art 1.095).

2) Dar a fun~ao sinl3Lica de:

a) em casu tal; b) 0 (aposfor);

c) em proveito do outro; d) em dobra;

3) A que especie de presun~ao se refere 0 art. 1.094?

4) Que rela~3.o semantica ha entre sinal e arras?

5) Ha diferen~a, jurfdica ou semantiea, entre contraente e contra­tante?

Page 86: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

I ,

, 'I,"

'4'i'l'I',i', ::::::

",',°"1'~'Ii

'I 1,1,1

")"

II I

1,1 ,

II ,

,

I !iI

RONALDO CALDEIRA XAVIER 164

6) Dcslaque e dcsenvolva a Of3lSao em que se dell urn caSD de zeugrna.

XVI) Art. 1.654. Os 3t05 desta es~cie rcvogam-se por atos iguais, c consideram-se rcvogados, se, havendo testamento posterior, de qualquer natureza, estc as nao conl1rmar, au modificar.

1) Dividir 0 periodo em ora~6es e cJassjfica~las.

2) Dar a (un~ao sint'ilica de:

a) par aiDs iguais; b) revogados; c) testamento posterior;

d) este. 3) Pdr na voz passiv3 analilica a 1~ ora~ao.

4) Analisar morfologicamcnte as Ires partreulas se.

.5) Que nome rccebe a inlercala~iio de palavfa pronome ~tono (este os naG confirmar)?

enlle 0 verbo c 0

UNIDADEVI

ANALOGIA E ETIMOLOGIA POPULAR

SUMAmo:

1-lntrodw;iio

"Nao somos responsawis apenas pelo qlle sabe. mos, mar tambem pe/a que igrwramos. "

Moliere

1 - Tn!rodu~o. 2 - Con<:cito de analogia e climoloClia popu­lar. 3 - Exemptario de casos. 3,1 - Na area ortogrAfial. 3.2 - Na {jrea vocabular. 3.3 - Na area frnseo16gicA. 4­Atra<;ao paronfmica. 5 - Rima por influencia da analogia. 6 - A a:mlogia n3S tr3rllll>i'lr"~. 7 _ r.onclusao.

Ale as albores do seculo XIX, admi1ia-se a Jese de que a lingua­Kern, por ser a expressao do pcnsamcnlo, deveria, nceessariamente, su~

hnrdinar-se ao arbffrio da 16gica, Ora, como sao invariaveis as leis que rcgcm a pensamenlo, pensava-sc lambcm que a rcsultanfe desse impe­rulivo psiquico era a de que fosscm as mesmas, fundamenwlmente, as grumaticas de lodas as lfnguas.

Supondo-se correto scmelhante postulado, n6s, barbaros falantcs tic uma lingua rom5nica. cslarfamos ainda hojc regulando 0 110SS0 idio­BIll {)Clos dinones da gramalica latiua ... E mais: para perquirir a elimo~ logia dos fatas lingiifsticos, precisarfamos, por via de conseqiiencia, Hocorrcr-nos da dcdU/;iio e do dever-ser. Gmvenbamos que seria ale 1lI1li~ faeil, nao fora cientifieamentc falso a luz da atua\ disciplina lin­ali(slica. A vcrdade, pon~m, e que inexiste uma correspondencia cxata oulre as estrururas 16gicas do pensamenlo e a sua expressao verbal.

Page 87: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

'II

II 166 RONALDO CALDEIRA X/\VIER

MeSIlla as.sim, persisliu por :llgum Lcmpo a idcia de que :i lingua culta dCl-'ia p<llltar-sc sob a rijcLll das leis liitadas prJ;] 16gica.

Nessa linha de raciodnio, nao lardoll surgircm varias gramalicas, assim como, b sl'mclhan~a da Logique de Port-Royal, a Grammaire de Port-Royal, logo sc Ihc snccdcndo uma scric de gramalicas Ji!os6ficas frauccs3s, it<llian[ls c porlugueslls. Oai acscrupulosidadc cxccssiva em materia de linguagem rai urn pula - C 0 gramalicnlismo, urn coroliirio necessaria c imcdialo.

I, Nao scm carradas de rdziio, Gladstone Chaves de Melo assevcra:

"Todn a grnnwLiquicc que vern cnlrav.wdo os csludas Iinguislkos, im­pedindo que a Lingiilslica cicllllrica prodU:1.3 seus [rulos sobre eserito­,,",':'1.1i, res, leilores, esluLliosos e eSluLlantes, Cfilha dessL' opriorism(] ou desse

i"I'!' logidsmo desavisaLlo, dcsconheceLlor da noturc/...a do [ato c da Mrma,,'I, :::::,,' Iingiifslica e, par isso mesmo, ontifilo.sMico."·

Tul menlulidode logicista prev<l!cceu ate lR16, quando Fr<IlI/.:~':[i I Bopp inlrmluzin a LingiHsliea cicmil'ica, deslocando seTIsiwlmcnle II:1::1,

enfoquc da qllestao. A partir dar, COlTICl,iou-sC a vCl'ificur que a lingua­til! ! gem, sobre ser 0 vekulo llalnral L1a expressan do pcns:llnclllO, ia mais

alem dessa primacial fun\ao, pois que buscilva exprimir lambcm eon­1111 teudos mais profllndos, tais como as emo~{)cs, as imprcss6es, as scnsa­

\('ICS interna.s, os dcsejos, as VOllL:'l.dcs, (IS inquictal,;6es, as ansiedadcs, em'I suma, il vida afeliva e os eomplcxos eslados de alma do ser IlUmano.

II I Vale dizer: no 5mbilo do Iinguogem, [cn6mcnos (lcorrem que ex­

lrapolam, de lodo ponlo, 0 plano do pnra radonalidadc, das frias opcra­II, \oes silogfslicas e da ali vidade rellex iva,1 I

'I

I I , I ,,,;da£ii,, aF; 1"1,,g;a <" aLi"gii{sr;co Porlllg"c,I''-', 1971, /'. 25J.I, Com lllltrcma I'clI.;ncucla, pondcr~.1. Vcn~ry,·~:"L '4/eli~il,j l'<'t,C!rc Ie "mgQ!:e grall."",,;. 2 ,I "QI. Ic depoui/I<- I' f~ dbagri!ge, CeSll'ur 1"",'lio/l de I'a//ecrivilc que .I'-e~l}li'lll" ell !{'a",1,

purl;e /"illsIQh;lile dc,,' /:rllnl",a;res, 1, 'id""llagiqlle Ii'""e grall",,,,i,.,,, ."(')"0;1 ,J'.,""ir Wi<:

<";rpre,f"ioll po"r ella,!lIe f",elioll, ellUl<' sell'" .fOliC';"" p,,"r dla'lllc c-,{'re.""iOIl, Cer ideal,I pOllr itre rCali",e, sappo.<c '" I""g"ge Jise eO"'IIle 1111<: "Igi:bre, 0/, la !;,rtllllie "tie /oi" ,fla­

I bli.: J.Jn<eure sa"" dla"g~n"·101 da1ls louie,,' Ie.. 0l'h"lio1ls ",loll /"'·"'I,I"i,,·. Mois Ie.\' phw" seS m: "01lt PQS (Ic JonNIII.'s "ISebriqll~s, Tu"i""r.• l'oH<:cli"ile cllvdoppe el c"lorcI I'e:rpre"'.<;",, lr>g;l}lJe tk la paJ.,·';c. 0" lie rephc .iamui" dcux J"a;" la ",elllc phm,oc; on II 'e",­plo;e pas dCII.r/;';s Ie I/Iell/e ",,,I ,Wee IQ meme ~al,"",... il /I 'y a jall/a;s deux j"ir- 1;"I;',i.,li­'lues "b.w,lwl:clll idellliq'w,', (/-" !:lng,'g". IIl1r"clu,'I;,'fi \;nguislique ~ l'hi.'I";'", [921, ps.182-flJ".I.)

ANALOGIA E ETIMOLOGI/\ l'OPUlAR '67

Eexatamenrc oeste easo que se siluam a analogia e a etimologia popular.

2 - COIlCeito deAllalogia e Etimologia Popular

Para Ismllel de Lima Coutinho, "anlliogia e 0 princfpio pelo glial a Iinguagem tende a uniformizar-sc, reduzindo as form as irregulores e menos freqiientes a autras regulares e frcqiientes".J

Deve-se essa te ndencia auni formiza\30 ou nivelamenlo do idioma Ulima espedc de comparaqao inconsciel1te, dirfamos nos, na qual as formas geradoras.sao delurpadas mediante rcla\oes associ alivas que se c:>tabcleccm na mcnte das llsuanos da lfngua, fazendo com que delermi­nudo vocabuJo seja influcnciado por outro ao qual acabe pOT sc igualar ou assemelhar.

"A princfpia", cainda Ismocl de Lima Coutinho quem aduz., "slio liS foemas analogicas ulchadas de err6neas pclas PCSSO(lS iustrufdas. A l'tlfl~a, porem, de Sl'rl'm repctidas relos ignorantes, que Illlma nal:;:ao constiluem semprc n maioria, vao-se genewlizando, :lIe que, pelo c:nfra­ql1ecimento natuwl da mcm6ria otl peln nuscncia complela de cultura,

" ,!leabam por preva Ieeef. E M6ria BarreLo 0 ratifiea: "0 pOVO, empregando ralavras qlle

suo da sua lingua gem, e deseonheeendo 0 valor delas, aeomoda-as a rnrma de Olllras que Ihc sao mais familiarcs c que hem ou mal - pOlleo Ihc importa isso -;:IS explicaOl,"s

Desdc a mais lema idade, sao nolorios os cfcitos da ;lIl<llogi<l, que, segundo M. Breal, cucoutra slla fa7.30 de ser no proprio instillto lmilativo do homcm.6

Com efeito, cpeln anaJogia qlle sc cxplieam, por exemplo, na faIn Infantil, formas do tipo [uzi, dizi, lrazi, pais a criall~a, ao illiciar-se no proeesso rudimentar da eomuniea\lio com 0 rnundo eXlerior, !Cnde in­conscientemenle a generalizar as 110(,;6es ckmentares que aprendell, uplieando-as a casos que, em rClllidade, sao partieulares. ksim, as for­IllIlS gramtllieais, sobreludo as ncxocs dos nomes c dos verblls, l"i<:am Nuhmelidas ao inflnxo anal6gico,

.1 Gr"'''''l;,u!tistorica, 1962, p.ns.4 Op,~il.,p.l71.

~ N{)V().f t:.f/!.Jdos do LIlIg,",,,Pr>rflJguco'Q, 198(1, p. 311. n Essoi (Ic Semalll;q..... p.6(1.at....l bmael de Llma Cc>oli"ho:>, op. ell., p. 175.

Page 88: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

I I,

RONALDO CALDEIRA XAV1ER 168

II

"Los linguistas COllsideran", dcelara Alberl Dauzat, "que fa in­consciencia, absoluta rige esas trans!ormaciones y, a pe~'ar de fa opi­,I nion diferenle de aigullos fil6sofos, parece rea/mente que IW se debe ,

I conservar duda alguM a ese respecto". ' Malosa Camara Jr. considcra que h<1 dois tipo!i fnndamcnlais de I

analogia: "l)'cruzamento Qllal6gico, em que hfi mudanc;a fonol6gica de uma forma por interfercneia de Dutra 011 Dutras; 2) cria~·tlo ano/6gica, em que h:i 0 aparccimcnto de uma forma nova, que climina a anliga. 0 cTUzamento se chama etimologia popular, quando 31 se nora a csforc;o para integrar uma forma Burna [aruflia lexica, a que cia climologica­mente nao pCrlcncc".~I,

,,

Elimo!ogia e a disGiplina lingulsliea que investiga os etimos dos 1 vodbulos primitivos ue uma detcrminada lingua, quer esleando-se no

':1I , eonhecimenlO das rnudano;as fonctieas sistemalicas, na a~fio da analo­,II, , ., I ",,'

gia, no cxamc das formas anlcriores doeumcntadas, qllcr apoiando-se nas relac;nes de significado enlre urn dado vodbulo e aqucle de que sc

j, originou, qner Olinda, cSlribando-sc nas' informaliocs hist6rieas? "" Nem sempre C. convcnhamos, das mais taecis emprcitadas. "A..

duvidas etimol6gicas dcsaparccem dcfinitivamcnte desde que se exibe,I,: uoeumenta'Sao acertada; juslamcnte 0 que, em muitos eu:-;os, jamais se cneonlrou e lalvez nunea se encolllre. Em falta dcssa cvidcncia, vCNa a

" , tarefa cm examinar os supostos climos aInz da possibilidade historiea. da evoluc;ao fon6tica e da provavcl alterac;ao semantica, eriterio cslC muito e1astieo a que se devem numerosos enganos." (...) "5c nao epos­I' sivel ehegar 1'1 cerleza da origem, ou propor urn ctimo accila vcl, os filo­

I , logos nem par isso desanimam C. em ultimo caso, scropre avenlam algumil eonjeclura. 0 vocabulo discntido tern cnlao lantl:.ls climologias oon­jeclurais quanto os pesquisadores discorililnlcs quc the demrn aten~ao."'O

i! Mas, se a etimologia dita eicntifica arrosla dificuldades quanta lJ

vez insamivcis, menos illvio e 0 caminho da climologia popular. Por" e1a, entende-se a tentaliva de explicar aproximalivamente uma palavra

embara\osa, relacionando-a com outra mais familiar. Seu modus ope­:! I

7 L"h/rls"/io de! Lc"glwje, 1947, trad. esp., p. ?6. R. Did6,,,.rio de Filologia e Gr"'JliilictJ, 1964, p. 39. 9 Cf. MIIClS<J CJmua Jr., rip. cil., p.l3S. 10 M. S,id Ali, l,,~esliga'i0cs Fi/o/6gicas, [975, ps. 249"250. 11 Con~oulc Mal<J~<J Cimara Jr" 0 IcnnC!.foi crlado por Ern,t Forslen'lnn, 10 put>llrar, em

" 1852, um ullgo c<Jm 0 mesmo n<Jmc: Ubu deuISc/u, Volkscly",ologic, nO qual 0 ling"i~la , ' JI"mio ddinc ellmologia popular como "0 es[or~o ingcnu<J do po~o l'"ra comprecndcr ~

foJnn,~iD ,10, palHras que usa". (Gp. cil., ps.I3B-139.)

ANALOGIA E ETIMOLOGIA POl'ULAR 1M

rtmdi e simples: sUbstituir urn elemento desconhceido por outro ja co­nhccido. Destarte, 0 vodbulo resultante e eontaminado pela estrulura faniea de outro.

Ferdinand de Saussure, ineontestavelmente 0 vullo de maior [email protected] na Lingiilslica moderna, foi decerto quem melhor ex­plieou 0 mccanismo por que funcionam a analogia e a etimologia popular.

"A analogia", ensina 0 oonspicuo linguista SUIC;O, "supae urn mo­llelo e sua imitaliiio regular. Uma forma ana/6gica euma forma feila i: inragem de outra au de outras, segundo lima regra determillada.

"Assim, 0 nominalivo honor canal6gieo. A prineipio se disse ho­nos: honosem, depois, por mtacismo do s, hmlOr: hmlOrem. 0 radical linha, desde entao, lima forma dnpla; tal dualidade foi eliminada pel<l nova forma honor, criada sob a modclo de orator: oratorem etc."n POI l:onscguintc, esse proecdimento pode ser reduzido ao calculo da quarta proporcional (regra de IreS):

oratorem : orator = IlOllorem x

x = hOllor

Mais adiantc, acresccnta: "Todo fato anal6gico e urn drama df lrl:s personagens: F 0 lipo transmitido, legftimo, hcrcditnrio (pOI ncmplo, honos); 22

0 eoneorrenlc (hol1or); 32 uma pcrsonagcm oolcli­va, oonsliluida pelas fonnas que eriaram esse concorrente (holtorem, ora!Or, oratorem etc.)

E, mais aMm, assevera: "A analogia ede ordem psieoI6gica"; ( ...J eumpre ir rnais lange e dlzcr que a analogia ede ordem gramatic"l; cl<l supoe a consciencia e a oompreensao dc lima reialiiio que line as for· mas entre si."H

:\ - Exemplario de Casos

A analogia e a ctimologia popular ineidem predominantementf lias areas fonclica, morfol6giea, sintatiea e semantica. Neste cstll(~O,

rorem, por mem simplifica~ao, preferimos circunscrever 0 presentc cxcmph'irio as areas ortogr;l.(ica, vocabular e fraseol6gica, acrescentan­do lambem ocorrtncias do fcnameno por alrac;ao paronimica e no cam­po das lradulioes.

12 Cur.... deLingiilslica Gera/, 1971, p. 187. 1:1 Op, dl., p5.189 e 191.

Page 89: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

171

",

I

I 'II

'j"I, <;,J.

I:' "

""I:,

"':

,,''\1,iI

I,

lii'l' 'II, ;, " ·1 , :"il

I I I,. ,

I,ll

I, I

"i

" I

III ' , ,

I , I ,

,,I,

RONALDO CALDEIRA XAVIER170

3.1- Na Area OnograJica

Ecomum, aqui cali, cncontrarcm-sc palavras estropiadas quanta agrana. Dcve-sc 0 [ala a que muitos, dcntrc as que nao sabcm 0 idio­rna c menos ai nda a climologia, hcsitanclo na ortografia apropriada, acabam aproximando a cscrita de certos vocabnlos ade oulros com os quais os primeiros nada tern que ver. Tomem-se, por esdarcccr, alguns casas mais conhccidos c cxprcssivos.

A cacografia excessiio (exccc;iio) c explicavc1 pcla illlcrfcrencia de excesso, 1.<lnto como a auscncia do h em omlJridade (hombridadc) llconlcce par causa de omhro.O c em hort~nda (hortcnsia/

4 sofrell in­

nuxa do suOixo -cncia, muito produtivo em nossa llngua. A forma er­ronca em ascem;iio (asccnsao) foi motivada pela semclhanc;a com assum;iio; digll-sc 0 mcsmo em se/im (eetim), par causa de seda. Fato idcntico aparcee em I1ncia (ansia), (levido ahomofonia com 0 sufixo ­anda. autro lanlo se vIJ em vasar (vazar, lomar vazio, esva:riar) , por intlucncia de vaso, bern cumo aimla em serra~'ao (ccrrac;ao, nevoeiro espesso), em virtnde do verbo .yerrar elc.

3.2 -Na Area Vocabular

Neste campo, devcras propit:io 1/ vcrifJca,:;ao do mlldo por que os falanles interprctam as relac;6es marrieas e scmanlicas das palavras que empregam, hii cxcmplos eloqiienles.

A corruptela harriguilha (braguilha) leve por modclo allalogico 0

vocabnlo barriga. Braguilha (abertura dianleLra clas cah;as), a forma correta, e 0 diminutivo de braga, de origem gaulesa, alravcs do lat. bracas 'calc;a comprida ale os pes (plurale lanlum)' e CJue depois "pas­sou a signifiear caIc;otas curl as, ainda rna is que os calc;nes". Segundo Antenor Naseentes, sobrevive ,linda 110 proverbio nao se pescmn 1m/as com hragas enxutas. 15

a Ide floresla (lat. forex/a) devc-se all vocllbulo jlor, assim como a epentese do r em estrela (lat.s/elfa) proveito da analogia com astro, (Iat. astru), da mesma familia ideol6gica. a f em ferro/Ito (lat. vemcu­lu, depois vemclu, por slncopc do u) cxplica-se peJa similitndc com

O<llal. hor(~u~) + CIlS(C) + i~. An(cnm N~sccntcS d~ 0 tcrmo como dcriva<lo del/orlcllse,14 .. n<l me <b eS!K'sa d<J (,~Icbre rdoj ociro pa risicnsc I-l:p! ij (c, a qu cnl dcdicou csla flor " n~ (ij ­nli~la Ct1lumc<soll. que" imp(lr!OU da Cn;na". (Diei""ario Elim"/6g;c,, <!" Lflll"" l'"r/ll· gll<''<'', [T"m<J. 1955, p. 268.) Cr., lb., Oscar Bloen c W. von W~11crburg,DicliOl",a;rc c·t)''''"/"!!;,,,,,· de 1."Laugu", Fra"~o;.,,,,, 1950, p. 309. Gp. cil., p. 71,"

ANAl .001,\ E ETIMOlDGIA POPULAR

faro. 0 a dc chamlll£ (cmpreslimo do frances chemi/U!e) modc1ou-se vl:;ivclmcnte em chama., tal como 0 dilongo au em saudade (Jat solila­It~, (lOft. antigo soidatU') por eerto se associOlI "i'l famHia lexiea de sau­,if:, Icvando-se em (;(lnla 0 mal-estar e 0 delinhamenlo Hsico d~orrenle

(10 scn\imento da solidao.(6 Casos similares houve t<:lmbem no llpareei­mento do inCixo tern cafeieira, por analogia eom leiteira, bern como lin 1111 de cam;nh:io ([rane. camion), rclacionado a caminho, e no d de tstalajadeiro, pOT inter(ercneia de hospedeiro, pousadeiro.

A titulo de iluslra.;ao, 0 gr:Hico a scguir moslra outros cxemplos mats on menos alUais.

JI(>RMA ANALOO1CA I'A.IAVRA-MODF.LO FORMA emmETA

ab6boda ab61Jma ab6hml<l

acharcur churcll achuclr benel'ici~ncia ericl~ncia beneficend]

buginganga ginga bl.lgig:lng:l cagoele cacoele <llc;'!JOete carramanchrio C~lrro c<lPlmllndliio

cocorulo coco (;()Cl.lrulo

deredmr pet!r] derl~lbr

desimeria dcsinleres.~e Llis~nlerja

enlabolar bola Cnlablliar

espoucar pom;o CS[XlCilf

irnpedlho impcdir cmpccilhD irrascivel irra (inlcrj.) irasdvtol

largalixa largar lag~rli)(a

largalo largar 11lgarto

merelfssimo mcrecer mcrilissimo

merentfs.simo mercrlda rncrilissimo

mcrelrbsimo mcrclriz merilissimo

morlandela morlandadc morladcla

ollri7l-caixciro c:Ji."a ollriqo-cuchciro

ollrinol auro urinol

r<Khoncom.:hudo rtIcha rechom:hmj(J

" Cf. ~blo~" C-Smlfll .Ir .. Dit.:.. rit, p. 39.louvanJo-", em eXj1lica~iio de Carolina Micb.clis d~ 'Va'C"ncclo~.

III

Page 90: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

" I RONALDO CALDEIRA XAVIER

I 172

I'j,

sarnarnhaia

sinDpismo

silvicola

sobmncelha

supeliio

lercbintjna

lerraplcnagem

tjritar

samb3

sanae selva

sombro

sapo, sopC benlo

plano irrilar

sambambaia sanapigmo selv(cola

sornbrancelhll sapetao

lerebcnlioll

terraplanagem lirritnr

Nota. A analogia e, como se ve, urn processo emincnlcmente ..I eriador, tamanda igual 0 que era diferente. Mas cum pre [cisar que nem 'I', sempre 0 aparecimento de nroa Corma ana16gica impliell a climina<f3o

-",""I da Conna originaria. Ao reves, a que nao raro sobrevive e a forma pri­miliva. Para testifica-Io, II par com as excmplos acima ofcrccidos, c "III

::::'; que pelo menos pur enqu:mto nao obtivcnlm Coros de diciomirio, basla refcrir asformas liQriantes,17 cocxistenles no vocabulario ativo LID idio­'I rna, malgrado screm historieamente falsas.

Examinemos alguns easos.

'II Descarrilhnr e de.~ellCarrilhar (dcsearrilar, i. e, fazer sair dos lri~

Ihos do earril) tiveram por molde carrilhiio. Esgatanhar (esgatlanhar,, de gadanho, garra de avc de rapina) formou~sc obviamente a partir de gato, eujas unhas ananham. Destrinchar (destrim;ar, i. e, dcsenredar,

'I 18desenlear, resolver), ludo faz crer, inspirou-se em Irinchar ('eortar em pcda<;os a carne que sc seIVe a mesa'). Monsfrengo (mostrengo) sofreu a nftida influencia de monstro, maxi me porquc a forma mos­

II trellgo (do esp. moslrenco, pessoa que se mostra feia, estafermo) ja fa­vorece a associa<;ao inevilavel com monstro. Hortelii-pimenla (do lar. ",

I hortulana menfha) deveria ser hortulana-menta, nao fora ler sillo a pa­lavra infiueneiada pelo popular eondimento. l

? Vagamundo (vagabun­

17 Sob~ 0 ",.. uolo, v _Unidade V, BOla 30. 18 cr. AnlOllio Gerddo da CUBha, Didonario Etiluol6giro ,m U"guo Porlugueso, 1982, p.

257. 19 Explicl Antenor Nascente., cllllndo Ribeiro de V..coocclo~ (Gra",,,t;co Hisl6rico, p.

100): "0 nome lalino da pJanla chamada enlre n<'ls h"nda era ",elllh". Uma esp~de de.<I.,II

,I

planta, que se culliv .va bO" jurlins ou Ilortas, denominou -se j uBlando il. pala'<' rJl nrcllrI", 0

adjelivo '",rlulolla, e aiSim so ,Iilia IwrlUlo/lo "wlll"z. Depois deu-so neSla [rase uma con· Iusao: 0 adj.lrorlu/o/lo .S~Umilf u ruo~ocs de subslanlivo, e paSSOlf a designu esle g~Il~I<l de plan Ills e ao voc~bulo "w,'nu li8ou-se a id~ia de delerminanle d" ~u"sraolivo!fOrlul,,­/fa; desle modo so originm1 /l"rlu/"'lO _ a horlelii e J,orlulollO-m">l/II" - • IrQrldiJ- me"l/w, Por fim 0 povo, sob a ir1nu~nei. de ama errod. suposi<;iio elimol6gica, lJlM(OrmOU a cx­pre~o hQr/dr.-m""ltl em horlela-pUlle,flo". (Op. <'i/.., p. 268.)

ANALOGIA E l':"!"IMOLOGIA POl'ULAR ]7:

tin), pur seu tumo, siginifieando aqucle que leva uma vida erranle, qw:. I'tIKueia, foj alterado em virtude de mwuJo, principalmen(e se se aten­lllr para a exist€ncia de expre.<;sOes afins, como bolar a.~ pernns fU.

'",mdlJ (ir-se embora), ganhar 0 mundo (auscntar-se por muilo lempo) l'I~~.

·U - NaArea Fraseo16gica

Entendamos aqui, (lOr fraseologia, 0 e..'itudo de l'onstrUl;6es frasais (frllses feitas) erislalizada~ na forma e no sentido pelo usa generalizado, h mucla de uma lac u<;ao.

Ora, num idioma como 0 nosso, singularmcnte pejado de frases 1'{·.illlS, dWcH nao sera avaliar 0 quanto, nelas, deve prcdominar a lcnden­t'lullllaI6gica, a qual 0 mais das vezes amla a testilhar com a cocrencia c II j\1~ka. Afrascologia popular foi, esempresera, urn campo amplamente "u,u,cstionado pcla emo<;ao. A seiva de quc sc nulre 0 linguajar do povo 'l'uJa indole repele institivamcnle as [(lrmas l'ultas de dizer, as lermos

('l"llditos, as palavras rabilongas - ca cxpressividade, ou seja, a aplidao pllra falar de imellialo asensibilidadc do ouvinle.

Ao longo do lempo, muitas frases fcitas enlram em Yoga, caind<l dt'pois em t1esllso. OUlras, sabe-se la por que, mesmo eivadas dc ilogici­dudes c analogismos, acabam pOT fixar-se e passam a integrar diulurna­mente 0 prccioso rcposiLorio da Iinguagem popular.!Q

Compilcmos alguns casas ja consagrados pclo uso.

Mal e porcamenle

Dc inicio, usava-se mal e parcamenle, para indicar que alga [ora reilo de modo dcficienle, scm a necessario eaprieho au bam acaba­lIwnto. Com 0 tcmpo, a adjclivo parco (poupado, muilo simples), nao llIuilo conhecido, cedeu lugar a palavra porco, normalmente associada n'deia de eoisa suja, 'imunda, grosscira.

Niio bater prego sem esfopa.

Tem 0 scnlido de "nao fazer nada para outros scm mira em inle­H'sse fUluro".ll Originariamenle, era niio bater prego sem escopo. Dc

~u Hayed quem pos.sa de~tindar sl(i~[aloriamcnle 0 sen lido cxalO dt51l1~ cxprc&~oes Jnc:<lrict­vcis, a saber: "que".., um gatbo", "promeler de pedro. ""'I''', "du Com 06 burros n"gua", "a VaCa foi pHa 0 brcjo", "dar 0 prego", "lavor a ~gu··. '·falar pc:lo~ eolove­Itl!l", "genle pra cUAmbo", "oio sober por que cugls d"gu.·' elC.?

~ I cr. Anr.llor NaoceJl.1es, T"souro do Frase(J/(Jgi-O Drosileira, 1986, p, 251. Tula-se, oli~s.

lie obQ exlrcmamenle rceomeod~vct nos esludiosos do a:;sunlO.

Page 91: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

175

'I

II 174 RONALDO CALDEIRA XAVIER

III, cunha erndito, pOrlanto ignorado pelo homcm do povo, 0 vocabulo es­capo (alva, inten~iio, objclivo) foi substitufdo por Dutro mais familiar,

IIII estopa, que por sinal lorna a exprcssao destituida de scnLiclo, pais. em sc tratando de baler prcgos, nada mais inlilil do que estopa ... I

I' Pancadaria de mallto.

Dcrivou-sc de pallcadaria de mauro, iSla e, briga gct](~rali:lada II! em que h3 muila p'lllcada. Talvez sc cleva a mudaw;a pela conlagio

I com eslar 011 ficnr de rna/Ito (encoutrdf-sc de cama, doentc), comn 'I alias e cspenivel por parte de quem acaba de kvar uma surra ...

De caho a mho

y! Significando de lIma cxtrcl1lidadc a aUlra, de rxmta a panta, do princfpio ao rim, a cxprcssao dcrivou-se de cia Cidllde do Caho a

11'1, , Raha, ou scja, ir da Ciliade do Cano, ponto extremO do suI da Africa, :1 cidaclc de Rana, eapilal do Marrocos, ao norte desse continente. A Ci­

11;;1 dade do C.abo, .11i:15, [oi POf/to de passagcm de gr<mdes navcg::H!orcs, como Bartolomeu Dias, em 1488, e Vasco da Gama, em 1497.

;j;J,'l i

Ter hic!Jo·carpi/lfdro. .• ; I

Com 0 sClltido de Sl',r lr:Jquinas, nflo poder ncar quicto, nao parar II em lugar nenhum, veio-nns a frase de Portugal, na fmma rer bidw pelo

corpo il/teiro, com () mesmo signi(icado. OmlO 6 1lI11itn comum, na rala dos portuguescs, a elisfto dus vogais, ouvia-se .. .pdo corp'inleiro,

! o que cxpfic<l <l a!lcra<tao.

Falar fronds como uma vaca e!>panhola. I I'

Empregada para dar a enlendcr quc alguem, ao [aJar, cSlrnpia 0 idio­rna de Viclor Hugn, trolll-se cia deforma~ao de [rase fafar frances como um bos£oespanho/, oudc 0 gCllli1ico 005£0 (na/uml do Pais !3asw, TI<] Nij­varm, E,.<>panha) foi subslilufdo por nm vocabulo rnais eomum, voc(J.

Ser 'Sopu /10 mel.I Prhuilivamculc, em ser Ui;;ucar 110 mel, i. C, ao dace, seguir-sc 0 aiuda

I mais doee, usada quando se dl:Sejava diler que a nrn3 silua\lfJo ravonlvd :-ll­II breveio ouira ainda mclhOl. DcLnrpou-se, pmvavclmente, [lor confusao <IU­

diliva, lornand(He iniutclig've\ a exprcs.s,]u a !ll7; cia 16gica, dado que, I mistnrado a md;t :mpa, au viee-ve~a, uma coisa cslraga <l outra ...

Cor de burroqllando j"0Ke. A frase originuu-sc de carra de hurro quando foge, para dar a ell

I, tender que II asno, quando loge impctuosamenle de algum perigo, a todo:> alrnpeJa. Pela alldil::.1o imperleila do Ollvinle, Uti pelD n~ndamenlo em pro-

ANALOOIA E D11~OLOOIA POPUlAR

nundar as palavras. sublraindo silabas, apneopou-se a a de corra, 0 que IlCurrctou a alteraljao de sentido. Transformando 0 verba (carra) em subs~

tnnlivo (cor), 0 llOvo passou a usar a expressao como designativa de lIma cor "indefinida, csquisita, inqualificfivel entre as conhccidas",21 0 que lnrilll abstruso 0 significado, pois e ineoncebivelum burroz.1 mu<lar de cor Mlmplrsmenie pJr estar fugindo de alguma coisa...

Cuspido e escarrado.

A nosso juizo, e uma dcsCigur'::II;ao de esculpMo em Carrara, usa­dll para indicar pc.ssoas de fisionomias extrema mente parccidas. ou com nolavel semclhan~n fiska (s6sins, menecmas). Como 0 termo es­clllpido (talhado a cinzel au cseopro) m'io c muito familiar ageute i1e­trudo., roi logo trocado par urn mais eon4ecido: cuspido; ora, seguin­t1(l-se~lhe outro .'linda mnis cslnmho - em Carrara (cidade da ItaHa, ce­lebre pela exeel~neja de seus marmores) -, a nova troca, agora por es­r.'llrrado Ga atraido pela ideia de cUipido...), foi eOllsequencia pruticamente illevilavel.

Ha quem tambem considerc como expressao original esculpido e rmcorJwdo, ou seja, tal qual se 0 rosto co cspfrilo de alguem estives­Mem entranhados no TOsto au no corpo de outrem.

Pretensiio e agua ben/a...

f. 0 infcio do ironieo provcrbio pretensiio e agua bema cada qual Willa a contento, ou cadfl urn tem quanta quer, aplicando-sc avaidade lola de quem presume exagcradamente de sells pr6prios mcrilos_ Snr­alII, porem, como prelensao, agua e venia... pois l'stes dois ullimos hellS, aglla e vento (ar) existem com abundancia na natnre7<1, podcndo, Clm gerat, ser livremenlc utilizados. Alias a forma primiliva € muito muls 16gica, sobrctuuo SI: se leva em conla que a a,gua lllslra) (I:mprl:­illda pelos calalieos em ben~aos, ablu~6cs e purifiea~6cs) nao € algo Inn far to assim. Com 0 deeorrer llo tempo, 0 vodbnlo vento se trans-

II Cf. An1enor Naccnlcs, T<:wuro, dl., p. 7S, louvando_se em CaSlro wpes, Orig<:nl tk A'lc­XiH~, 249.

H Segundo Silleira Bllfno, "dilia_se, em latim, m"'",,s oonus; ma6 CQmo lodos os animais dcsla csp~cie lives.~em, mlis 011 menos, a me6ma colora~ao de p@!o, 0 adjelivo burru•• (ver_ mclho) passou a signi[jcH, sozinho, ° animal indicado; dar veio qlle, em portll,&ues, so 6l1b£lanlivou nI forma ~11I81 burro". (F.studns de Filologi" Porlu!:,,~s<l, 1963, p. 207.) Mas AJlle~or Nascenle~, la~treando-se elJl Meyer-Liibke, regislra c,oIJlO derivado regressivo de burrico, adilando qwe Diez (Gum., I, 9) . 'rejeila 8 aproJ{irna~ao rOlll 0 lal. bu~~us, rwivo, fell! por VQ.!.Si~s, pill "..<1,,, d3 Cor". (Die, dl., p. B2.)

Page 92: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

177

,II'I

I 1,1(

176 R(JNALDO CAI.DEIRA XAVIER I

II , , mudou em bentu, 0 qu¢, sencto 0 adagio de proced6ncia porlllguesa, fa­

II' cilmentc se explicll pcb nltcmanci<:l entre l) v e 0 b na pf(),~ooia Jusitan-d. I

4 - Atrafao PfJTOllfmje-a

Outm rcsultante da <Iqao da analogia e a atrru;ao pafcnlmka, qtK~ Silveira Bueno interprcta como "altera¥ao fonelica de vodbulos ou Me de cOU!';(nJ'¥30 de p,d:wl':l~ nova~ por cfeito d<l scmelh;mp fOlletica com outros.ili existcntes na Hngua c com os quais nao mantem ligat;ao

I nlgumn de parentesco morfol6gico 011 semautico" ?-I

'I'";il' , ., ,, : t por atrayi'io paronfmica que se podem cxplicar diversos casas .:'_ I de cm::,ameflfu,7' vkia de Jingnagem consisteole no emprego de: lim \'0­

cabulo por Dutro, em fazao de ambos aprescutarem semelhanqn quanta :1", it cs(rulUra fonol6gica.

,."

! I

Ea que se dti, Lg.. quando, no .iarg~o jurfdico, ~e djz mandato de :,:, scguranqa em Ingar de mamJado de ~eguran~~<l; Oil amda trazer;l co/e­,I,, rrio por trazcr acofariio."6

,II Em PortugaL c:dste urn logwdouro com 0 nome de Fonte Taur;­!/U, que 0 povo se cncarrcgou de frans/annar ern Fome da Itril/a ... 1\

I exprcssao senhor de bararo e cutelo, i. e, 'senhor feudal que dispunha

I, d;{ vida de seus vussalos', illdicandc pessoa prepOfente, que expOe .1J­guem a vexa~6es/1 mudou para senlwr de braro e clIte!O.

Tem-se casOs ~imilares quando se usa intemetato (laL in/emera",I IUs, 'J-Iuru, illcorrupto, integro') por intimoralo (lilt in + timoratus,2~

,I,' i. C, dcstemido, corajoso); IUfulento (lat. tutuleMUs, 'lodosa, lamacen­to') por IutuDSo (lilt. lUetUOSIIS, 'cobcrto de Iuto'); l'ultuoso, ('atacado lit: vulluosidadc', ou scja, 'e~tado m6rbido em gili'. a face e os hibios

I' estao excessivamentc vermelhos e inchados') por vultoso, ('qne fal'. vulto, volumoso'); arrear ('par an-eios em') por arr/ar ('abllixar') etc.

,I

2A Op. cil" p. 90. ,I 25 COl\~. Unid'Jfle [lI, \'fcios Ii,. Li,,(:.~,,/!em

Sob", 0 scnlldo d~~ll11.IIiJn" C"p)~"aO, ,,,,no. U,,;da<!c ,\!. GIo."""r;o d~ Vuh".,' J"ridi,·(J.I·26 v. colli-donu,.

27 Cf. Caldil.'; Au!ele, Dicionririo Comlempl.'rilrrer! 1111 Lfngrw 1'1J'1~I:~e,'IJ. vol. I, 1970. I' 448.) Ram,'v sigllirl~a corda ddgada 'rei:lI de liGS de linho Oil de Ycrg,,~ IOrcidas', m"i, lal'de usada para ."lr~lI~ul,"·; dill vicram crrdxlr<,,"r, ombal""(:I'. G" .<prr,h"m,(JJ' etc

25 N~ V~lg"'a. arare~c p "o~. limomIU.' COlI. (I ~el~id\>dc 'Iemcnte ~ Dells'. '.cr. A Na!L~l)

te~, Dic., fl· 495.)

ANALOOIA E EllMOLOOlA POPUI.AR

,Of - Rimapor Influincia daAnalogia

A homofonia au idenlidadc de sons (rima), segundo nota Henri M(lricr, nasceu do enfraquecimento da pros6dia latina, apOs ler-se per_ dlull a sensa~ao das sOabas longas e breves."9

Observando 0 linguajar do povo, ~ possfvel depar.df voc<1bulos, fmscs feitas e aforismos em que a mera inlen~ao de rimar _ talvez pam lmrrimir mais enfase ou rcfor~o eufdnico - supcra amplamente a cons­lruljilo 16gica do pcnsamento.

Bxemplos de casos assim, tao significativos quanto curiosos, po_ tlllr-se-iam recolher a manchcias.

Em fazer coisa e /oisa (misturar assuntos variados), que vern a ser '()i,~a scnao simples itera~ao fOnica da palavra coisa'! Na locu~ao adver~

hlul a trouxe-nwuxe (alabllihoadamente, sem ordem), que alguns aven~

tum adaplada do esp. a troche y moclle, al~m do intuito Timico, que "enlido (em trouxe e mOllxe'!

Em andar de ceca em meca ou por ceca e meca (percorrer varias jl:l!IllS, irdaqui para ali em busca de algllma coisa), nao obstante as muilas cMpccula~oesdosetim61ogos,JO as duas palavras fnram perceptivclmente cumbinadas pela idenlidade de SOliS.

Por essa mesma tendenda, vicram-nos querer ou exigir mundos e Iw"lm~ Inzer (alguem) de golo e .ropoln, mLriurar a/has com bu.galhos ('cunfundircoisasdessemclhantes'), nao ou sem lugir nem mugir ('sem direr palavra') etc,

Ainda com clar~ inten~ao de nnlar, ouvimos de onde em onde::rem t"lm nem beira ('sem recursos, na mis~ria'), acre.o;centando-se as vezcs ,Irm ramo de figueira; ou cntao: acabou.-se 0 que era doce, tambem se ucrescenlando: quem r:omt>u arregalou-.\'e.

Nos ditos populares, a rima ecomunfssima. Para cHar apcnasdois: Iwa romaria faz que", com os seus vive em paz; 0 frade onde canto af j,mta.

" f)i~liontlai~ d" Po~tiq"e el tkRlreroriqlle, 1961, p. 349, I'ITI A. Nlilctll"", vern "do h. sian, "0'l~el, IbrevilJon de J,.,. ass;U", c...... do> Il0qucJ.'" 11.,,11 em Cordovi om. dl~h", r"'~1 da Mo~d. irabe; dal I CXpreUR" de O,ca e Meci ,>Ira dC$ignar de 1m exlremo a oulro, do elllll:mo ocidcllt.lll do> Isli ao oricnlli. A 10",,,&0> ',mbt'm ~.~ijJc em Eapuba (dc ceca em mee.) e t plOI'''l'el qlle de Ii ruh I'illdo. (...) .hlio Ribeiro, Frases Fe;lJ1s. I, 2IB, "eila a inlerprclil~o C$panhola, inlerprelando ceca "omo I mesqllill de C6rdo"•. A Academia E~pillho>l. lira cera do borbeIe QueHa, CISB,

p"'''o, c "io siH;o". (Die., cll., p. 205.)

Page 93: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

. 'II 178 RONALDO CALDEIRA XAVjE[{

II,",

, A forma verbal oten(J!.(J (de met/azar, 'apcrtar com tenaz'; 'apo­

quentilf, aborrecer') tern hojc a variantc otazana, muilO mais uSilda. TeCOLcamente, explica-m..,s II grurnatica hisl6rica tel" h"vido assimila<;aoI:' do e C rTlt>tulesc lias dUllS sflabas fimlis. 0 CJue rcsulta mai!; pfovavel,1,1 porcm, e a infhlenci:.l rimatica de rall1zana.

Muito cncontradi~as,enlre 0 vulga, sao tambem as rimas de rala­Vfi:.lS monossihibicas: nuo dizer chlls lief!l hus ('nikl dizer palavra', nan r~sponder); andar de dJu em dell ('de casa em casa, de porta em porta il

',I prOCUrd de alguma coisa'); ere cOIn ere. Ii com lJ ('eada qual com as sells igl1ais') erc.

o linguajar vivo do povo, uir-~c-ia enfim, e lim exeelellte velcl110 :"1,1, ue m<lllifestw;i'io do espfrito ltldieo do homem. E, brineando com <IS,,: ~ I

palavras, ns mais das vczes eonsegui.' t>le extfai r efeilos de altn cKpressi­,'," I ,,,:,' vid<lde. "I.:, '

"II •

() -;\ i\na/ogia tl(l.\' Tradlll"oe.l' , ;11 No uprendizaJo de iuic'mas eSlr[Ulgeiros. lima bO,l alldir;ao 6 exi­

gencw h::i.sica. Se () ollvido nao estiver bem trein<luo, ainua quando sc tcnlHl l"azoavd nlvel de cseolaridadc para (;Ollhecer bem ,! gl'aJOatic<I e

J

II, o voeabuhirio, lll'.rn "emprc serno eorrelaIllt>nle coolpreendidas as paJa­vms pronuneiauOls. Imaginem-se en tao as difieuluadc.s llatllfais ljUe en­frcnlara um<l [Jessoa ue pOlleas hues ao ollvir alguem a se cX[Jrimir com rapidez em outra lfngua. Tendo os ouvidos desavczOJdos a1'onolo­gia estrangeira, percebendo os sons ue modo l1efieit>J11e, S~ll1 0 auxfli() previo da eserita, <IS palawas alienfgcnas acabam .,cndo ildaplcldas pe]o ollvinte nUQ-eseolariwdo a foooJogia 1'amili<lr de sell proprio idioma, visto qne, lembra 0 vclho ditado, a h<ibilo e- urna segunJa natureza,

Enxameiam os eXt>mplos. Ilnstrernos primciro os casas que sc fi ­Karam em definitivo, conferinuo por isso 0 direito J diciollnrizac;flo.

Do ingles arrulV root (raiz de fleeha) fez-se () oosso aramta;Jl em forro, provave-l ICduc;ao de !orrobodr) (baBe popular, arrasla-pe), hd quem veja lamb6m Ul1l;l auaplw;ao de for (Ill (para todos); ue wuntry­dance (danr;a n1stiCfI), veio-no~ contradanra:J- do adverbio nltngel!J<'!I

,

'I J 1 Ma.\ A. N,,~cenlC, d:', ~lil no ongin.ir;C) elf) aru~qll" am-11m, 'fllrinha de f.lT inha', di"crcp~n­oIn ,Ia opiniiill (lc Snid Ali, (Cr. Dic. cit, p 4 L)

32 u-in: de Vn-,ccll1cdos con"idem:' pll~vra como dcrQfmil~iio. pDI c(irnolo[':in pOl"'lJr. (k c<ulrlrrydm',"". "rroprimncllie dm1'iu do omr.~, elll ql1e a ]lab,'!";\ Wl.IIllr)'. compu. I"ui Call fundid" ~()m 0 france.1 Umll,' - posto 'lue tllmhcm n,1Q ralm LJlI"ITI pc10 cc'Nr,\rio (ire" r,",!llt~S do ingWs" (Li~·ije.! de FiI"'('~i{i POII"IiIl1',IiI, 191>6. ps, 191-192).

ANALOGIA EETIMOLOGIA l'OPULAR 17'

(jUlIlamente, par intciro), tivemos allo-guedes, termo empregado m I'olllcrdo de peixe;·'·l de sleeper(dorrninhoeo), surgiudllilipa ('golpe na: Il~dcgas de outrem com 0 lado exterior do p6'); de corn-bock sail /'/Jrllimboque ('ponla de t:hifre de boi, usada WfllO eaixa de (abaeo'); J

II roSiI POiil Neyroll p.1SS0U a ser a rosa palmeiriio; do espanhol arregh (n.luslc, combina~ao), derivou arrego, gfria u.sada na Ioeu~ao verbalpedi! WTCl{O; do italiaoo landa sjX:zzata (l,ll\(;,a despcdal;Sada, quebr<lda) lev( ml~cm anspeqada (antigo posto da hierarquill militar) elc., ele.

N<ls dao~as ou eanLigas de roda, Irazidas em grande parte peln: pOl'lugueses e arrieanos c ouLro tanlo pclos franecses, senda tamheD' lllllllcrosas ,1S que surgiram entre oos, ha casas \'crdadeira men Ie notaveis LII(s ,IOJ Camara Ca.'icudo ohscrva que "hoje ja muitas earwm 00 csque. dlllcnto, mas nclas tCm perdurado, alrllvcs do tempo, nurna eonslanci2 lllle nao tern lido as oulras rnodalidades populares, as exprcssoes origi. lL~rim;, a despeiLo de screm cantadas, melidas umas dcnlro das oulras, £

('(Jill as mais curiosas deformar;6es das lUras, pela pr6pria iI1Gol1.\·cic11l.: if:. mm qlie siloprofcridas a.rpalavraspelas l)Dca.\' infal1lis" (gri fo lan~ado), (u,)" A for~a de caOlar C ouvir, ahrasileit'amm-se OIuitos desses ciln!o~ C ,~iio lao nossos como se nJscidos no Brasil". }~

Evoque-se, entrc varias outras, a (ao bern eonJleeida dan~a de roda:

Eu sou pobre, pobre, pobre, De marre, marre, marre. Eu sou pol>re, pnbre, pobre, Dc marre de si.

Que poderia significarcss:l insolila palavra marre'! Ela mcsrna, em Yl~rda(lc. nada. Aeaotig.1, vinda de Fran~a, era assim em seu idioma de Ol'l,ltcm:

Je suispauvrc, palivre, pauvre, Je m'en vais, m'ell vms, m'ell vais. Je suis pauvre, pauvre, pauvre, Je ttl 'en. vais t1'icL.

1'1', Sil~eira Bueno,,,p. cil" p. 9J." Cf. Silveira Boen", que ,Ii's regislra corimho'luc, op. ch, ps. 63" 205; ll\~5 A"iOni" (Je,II ,..Ido da Cun!la "vCofba c,onloderivado do)al, cor,,", ·us, 'C,ODlO, chirrc'. (CLlJh;., p. 21&)

" /)ici'm&rio d<J Polclore Dr<J.'ileiro, '1' Vol., 1962, ['s. M2-663.

Page 94: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

, ,

'III -I' 180 RONALOO CALDEIRA XAVIER

I

III,,

II

I Para logo sc ve, 0 je m'en vais (eu me vou) acahou dando, par analogia de sonoridades, 0 inlraduzlvel de marrt, C 0 d'ici (daqui), 0

nao menDs estranho de si. .. Existem ainda Quiros casas, aponla Silveira Bueno, que se torna­

ram intemacionais, como a expressao cochimbos de e~puma do mar.

I I

"EncoDlrnmos esta denominalfao em todas as Iinguas modernas e nUD­

ea se ~de compreender como eque de espuma do mar se pudesse fa­zer cachimbo... E que a origem da expressao nada tern com a tal espuma do mar, mas se prende aD nome do inventor de tais cachimbos: Kummer. la pipe de Kummer. Pronunciado a francesa de Kummer se fez d'tcume de mer. Todos imitaram 0 frances.,,'6

"'"

"I' :,,11 1

,1,1, I " ,

Ja no que conceme as "lradUl;6es" popnlares do latirn, 0 resultado vai do hilariante ao disparate, do grolesco aD cataslr6fieo.

Eis algumas:

EXPRE.'isAO lATINA TRADUC;AO CORRETA TRADUr;AO ANALOCICA

o temporal 0 mores! 6 tempos! 6 costumes! 6 tempos dos mouros! Salus uljirmorom. Salva,oodos enfermos. Sal nos cnfcnnClS. IallUQ coeli Porta do ctu. }(i nlio h(i ceu. Speculum iustitiae. Fspt:lho da jusli!? Espcque nll JUSI!!? In illo tempore. Naquele tempo. No lempa do Nilo. Te Dewn laudamlls. Deus, n6s te louvamos. De deu em deu l(i vamos. Stubal Mater. Eslava a MAe. Est!vao de Mntos. Necf'ssiJas caret legr.. A necessidade nao A neressidalle lem Clra de

tern lei. herege. Arma vitumque cano. Canto as armas e 0 varna. Arma, varela e cano. Da mihi tua buceta D{j·me lUllS paslagens Da-me (U8 boccla dicta Baccho.~J oonsagradas a Baco. de 13haco. Mater tua mala bur· Tua mile comc mUl?s Tua mlie /! uma ra eSl'. vennelhas. hurra rna NiJpO leo no/! vivit. o leao nfio vivc de nabo. Napoleiio nan vive. No vi oras. Nndo .com {Ollia para Novc horns.

as prola5.-Uvas Athenas por/as? l..evas uvas porn Atbenas? Uvas ate nas pol18s?

I

I I

'I.'I'I

36 Opo dl., p. 205. 37 Sobre tfil.t eJl:pres.•.io c IS que ,e Ihe seguem, v. Ron:lldo Caldclrll Xlv]cr,L"I;m M Dirci­

10.1993, p. 328.

18]

7 - Concfusiio

Do que Coi estudado, ao menDs urn Cato deflui lransparenle: 0 lade lrradonul dn linguagem coexiste indissoluvclmenle com a pcnsamenle dh:cursivo, refletido. Porque a eria'lao das palavras - coisa viva c pal pi· Irllltc -nao pode submeter-se ao imperativo eateg6rico dn leis Conetlcas, No domfnio da lingua, rnuita coisa eseapa aesse Crio c cego dctcrminismo

Todas as lingnas possuem, paralclamcntc a norma culta, um~

16gica sui generis, que tern as snas proprias leis e cujo mecanismo, nae rum il6gieo, dcsaCia a obslinar;ao dc quem esteja semprea procurar nexm de eoerencia em todos os Ccnomenos lingiiisticos. Em vcrdadc ess~

"I(~gica" ~ antes de tudo psieof6gica, pois, no seu cCervcscente dinumis· mo, Caz romper as diques e barrciras que isolam a razao dos conleudm muis proCundos do subconsciente, da vida aCeliva dos Calanres. Mai~

llil\lla, sc transportamos nossas observac;oes para 0 ambito da comnnkn­~11l) oral: M nad3 mais personalissimo, mais caruclerizador do que a fal::J:! Como :lfirmoll Publilio Siro numa de suus scnlen~as, senno allim; es, imago; quaiis vir, talis est oralio.

Cabe entao jmlagar: Ate que ponto as Corroas an<J/6gic<Js aCc!<Jri<Jrn tl que se tern charnado "corre'luo"? Por sem duvida, numa escala qne vai II 16m do que se irnagina. Mas 0 que Cundamcntfllmente imporla lcvar em l~()nta 60 usoque se Cazda lingua, 3e porquanlo, em mnl~ria de Iingua~em, (Ji·lo Mafoso Camara Jr., "0 correlo e 0 que Ilormalmcnle se diz".J POI conseguinte, se a norm<J culla prclende exereer 0 seu podcr<lisdplinadOl l\ paradigmal, nao pode <Jlhc<Jr-se a lingua viva, aque esla na boea do povo a eada instante. Primciro que ludo, a disciplina gramatical precisa !ICC eonsuetudim'iria. Ignonr 1<11 exigBncia <lu rcalida<le factual elJnivale, Amaneira dos avc.."truzes, a cnfiar a eabe(fa na areia, para nao ver. Nnc pllrcee razoavel- e m\lito menos cienfifico- ficar insistindo na exumalJao tin que ja ningu6m mais diz.

Vefeulo snpremo do pensamcnto e das emo'loes, a linguagcm tern l'lICatcr proteiCorme e mU!liCaeetado, esta sempre se trans[ormando, seja 1111 utualidade, seja ao longo do tempo, seja de lugar p<Jra lugar, De forma tille, nocornplexlssimo universo da comunic<J~50 verbal, a qne em ultima llllilli~ inleressa 6 a eficacia do processo.

\1( "Qualqutliingua", acenlua 1-13JTi Mckr, "est!: ~ujdl. ~ urnl lripl~ difereJldl~iio: DD lempo, DU difcIJ:DttS COImid35 SOcii is t f5lilfslicas, e no espa'l0". (£"mios ae Fi/%Cia Ro",,,,,i­~lJ, 1973, p.ll.)

.1\1 M""ulJ/ tkExpr<'ssilo Or..f '" Es<;rilo, 1972, p. 169.

ANALOGIA E ETIMOLOGIA POPULAR

Page 95: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

! I

182 RONALDO CALDEIRA XAVIER

III A rigor, nao hi falar em liuguagcm melhor nem pior do que outra. Sc cs.<;a linguagcm consegue adequar-se tis difcrcnlcs situa~6es sociais em que tern t::ursa, tudo vai bern.

Impcrfei<;5es e ddicicncia.<;, todas as lfuguas as tern imanentcs, como a ja~a que in<;a a pureza dos diamautes. Tcntar remove-las, sabre sec in6cuo, pois contraria a sobcrania do povo oa lcgisla~ao da Iinguagem­

I correspondc a tentar apagar as matizes, somhreados e enlrctons de urna tela. Ate porque, ja 0 reconheceu Saussure, a lingua e"urn Iraje cobcrto de rcmendos feitos de seu pr6prio tccido".

I

III ,i'

,-I',I

,'I

III, , '

UNIDADE VII

ESTILiSTICA

"Le laTl8iJge grammatical Jogiqlle.me.nt orgtlllise. n 'esl en e!Jet jamiJi~- irulcpendnnt du langagc ofJcc­til 1t Ya sans cesse action de l'un sur 1'amTc. ,.

Vcndrycs1

sUMAmo; 1.1 - Conccilo e divisao. 2.1 - Estilfstiea f6nica. 2.2 - Esti­]{sLica lexica ou sem[LnLica. 2.3 - EsLilfsLiea sjnLMictl. 3.1 ­RcL6riea. Sua imporWncia. 4.1- Figuras de relodea. Cla.ssj­ficatjin. 4.2 - l'rincipais figurm; de rcl6rica. 5.1 - OmL6ria Forense.

1.1 - Conceilo e Divisiio

Eslilfstica e a disciplina que esluda a exprcssividade das formas Ilngiilsticas e a capacidadc que Wm de emocionar c sugeslionar. Par Ul1ulisar apenas a Iinguagem aleliva, diferencia-se da gramalica, quc ca lll1t1lise da Iinguagem intelectiva.2 Desenvolvcu-sc a estilfslica, segundo declara Serafim da Silva NeLo, sobrctudo na primeira mctade do scculo XX, meree dos Irabalhos dc Spitzer, Vosslcr c Bally. 0 primciro desscs lIlcslres assinala quc a cslilfslica e individual behavior, 0 que a faz

I 1,... L""g<lg",1921,pt'.176.177. l cr. Maklso Camara, Dicio,,6rlo, cit., p. (34. "Toaos os proc~ssos para alingir enfasc ou

clUC'l8 podcm c1assiricar-sc denlro da eslilisHca; as mcUforas, que pcnnciam lodas as lin­gU8gcns, ut us do mais primilivo lipo; lodas as flguras de rel6rica; esqucmas sinl~clicos.

Qnsc lada ~~ clo..u~oes lingiiisHc8S podem ser eslud.da, do ponlo de visa do seu valor ""'I're...~ivo." (RelIt We)I<;k c Auslin Warrell, TCQria dtJ Litera/ura, 1962, ps. 222, 223.)

Page 96: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

II

II

184 nONALOO CALDEIRA XAVIER

disLingui r-se da sintaxe como collective more!>' nan obstante acrcslj:a: nihil est in syntaxi quod non fuerit in sty/a. Frisa entaD () rneslre bmsilciro leT a sintaxe muito pOllen de normativo, "0 mais e escolha pcssoal, e a sclc<;ao cnl rc possibilidades, que caracteri:r,a a estiHstica. Partama, menos IS () codigo e mais ea men.sagem".J

Tal como a gramiitiea, a estilistiea abrangc tres campos: sons, forma5 e con.~trUf;6e!>; dar () dividir-se emftJnica, Mxica ou semdnlica e sintatica.

2.1 - EstiUstica FlJnica

A cstilfstiea f6nica trata particularmente da expressividade do material sonoro dos voeabulos, quer individualizado..<;, quer iutegrados na frase.

Entre as diversas formas da snnoridade - rftmica, mel6dica, har­monica, articula16ria ctc. -, cumprc lembrar a rima, a aliteral:,;ao, a as­sonancia, a onomalop6ia, a acento emocional de insistencia e a motiva~ao sonora, todos excc1entes recursos para ampliar a poder de expressivklade atravcs do som.

A rima nao ecsscncial a Iinguagem poetica, visto qne M poemas sem rima (versos braneos); bern manejada, porem, dela podem surgir intcrc:<isanles cfeitos, eomo neste passo de Fernando Pessoa (3~ eslmfe do poema "Saudade dada"), com rimas exlernas e inlcrnas:

, 'I "E hli ncvoentos deseneantos Dos cneantos dos pcnsamcnlos Nos santos Ientos dos reeantos ,""II, Dos bentos can los .los convenlos ... Pmnlos de intentos, lentos laotos I que eneanlam as aientos ventos.'O'l

Dutro proeesso valioso e a alitera~ao (v. Unidade III, nota 27), au identidadc do sam inicial de uma serie de palavras, como no pocma

I "Daristos" de Eugenio de Castro, onde tamhem se encontram a rima intcrior e a annom;nalw (emprego de palavms origimirias de uma raj'!. comum):

3 Gp. cil., p. 249. 4 ApudWolfgaug Kayser,AII6Iisc d"rerpreru~ao do Obro Lilcrario, 1967, vol. 1, p. 144.

ESllLISllCA 185

"As estrelas em sellS halos Brilham com brilhos sinislros... eftalas, cilaras, sistros, Soam suaves, sonolcntos, Sonolentos e -"\laves,

Em suaves Suavcs,lcntos,lamenlos

De aceulos Graves Suaves..."J

A motival$ao sonora, por seu turno, repousa no leor expressivo dos I'onemas consonautais evocalicos para traduzir uma impressao sensorial, urn movimento, uma percep<;ao Intima qualquer. Hii mesmo quem se rdira ao simboli~mo dos sons c seu poJer de sugeslao, qnal moslra 0

cilaufssimo soneto Voyelles de RimhauJ:

"A no;r, E blanc, I rouge, U vert, 0 bleu, voyelles, Je dirai quelque jour \.'os naissances lutentes. ,,6

Nao menus valioso reeurso e lambem a onomatopeia, cmprego de vodbu!o ou serie de vocabulos que apresente urn conjunto de sons cuja pront1ncia imita 0 sam natural da coisa signifieada. D mccanismo ono­mat()~ico remonta, alias, 11. pr6pria geneseda fala humana, e esse carater primilivo da sensibilidade para apreender sons e lraslad.a-los para uma cslrutura vocabular e de grande imporillneia liteniria. Henri Morier sublinha, comjusteza, que lesenfartts etlespoetes, chczqui la sensihifiM joue un rdle primordial. cr~ent plus d'onomalopeesquc lcs adulles et les ;l1tellectuels.7

, Ibid, p.145. Apud W. K~y~er, "p. cil., p. 155. Di,. ~indll. 0 insigne lingiiisLa aJemiio sobre 0 que exhle

" tie s~bjeljvo e rel~livo qu.nl<l ! inierprelll~iio simb6lic~ dos sons: "Al~ 0 adepto mais ler· I'oroso doma tal pos~ibilidade lem de confessar que nao nola, em cada momenlo da fala 011

da autll"iio, rela~6cs lona;~ simholicas. Enflm, nao t oe eSl""ror urn. subordin3~ao fin, pols que II lair. u, poruemplo, lem inlimcras gJ"ada~iiestie !;Om, e nao oollenlro tl8 meSRlIl Ungua, mas al~ na mesma palavra. Sd quantlo urn:sarn se lorna nolado IX'i! acumul3~;;o Oil

posi"iio especial, pode enliio excreer e[e;IQs simb6licos. (...) Siio apenas aS sigftif1e8do$ que, no 03$0 do simbolismo dos sons, nos diio a conlLeeer os objecl05 por eJes <imboJjllO­dos." (rd, p. 156.) Sobre 0 poder exprC!isivo du \"o,ll:.is. SU3S propriedadu fi'ialus e lia.:d­rlu, v. Henri Morier, Dic/iom/tlire, ell.. p<. H4-J[,O~

1 Op. cil.. p. 278.

Page 97: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

186 RONALDO CALDEIRA XAVIER

Conquanto as linguas germanicas sejam mais ricas do que as romanic3" em palavras onomatopeicas, a Ifngua portuguesa possui, em sen lexica, vocabulos altamente prestadios a imila~ao ~le uma gama extensa de sons, ruidas, grHos c senlimcntos. Os vcrhos indicativas das dlfercntes vozes dos animals, e. g., ofereccm eloqiiclILc mostra dcssc mimetismo vocahular; arensar (pato), Cmellar (corvo), (rissar (andori­nha), crieri/ar (grilo), grugmlejar (peru), uivar (lobo), cacarejar (gali­nha),pissitar (estorninho),pipilur (aves), urrar (leao). eSlurrar (olllSa), regougar (ra posa), frelenir c zjziar (cigarra), zunir au mmbir (insetos)

setc.Dais cxcmplos lilwirios:

"Tuba de alto clangor, lira singcla, Que tens 0 trom e 0 silvo da procela, B 0 arrolo da saudade e da Icrnura!"Q

"Acanora lcambela cmbandeirada

Pelas eoncavidadc.~ relumbando."lo

o acenlo emocionaI de insislcncia eslriba·sc na entona~ao, fonna especial de modular a voz numa eseala sonora de subida ou dcscida; cssa modula9lo faz com quc se diferencicm, ao scrcm emitidas, as Sl­labas de uma vaeabulo. Como obscrva Matoso Camara, as lfnguas po­dem ser intensivas ou dc iclo e tonais au de altura, segundo a naLureza do aeento quc ulilizam em seus voc::i.bulos. 0 portugues pcetence ao primeiro grupo. embora a sua ~amatiea siga "a nomenclalnra <10 gre­go, quc cra uma lingua tonal". I Basicamcnlc, 0 aeenlO de insistcucia pode consislir no a(ongamuclo da silaba 16niea au ua dcsloeai5ao da 10­nicidade. Ao gritar por socorro, em mcio a qualqucr situa\30 aDitiva,.c provavel que uma pessoa a fa\a destc modo: Socooorro1 - demorando na emiss30 da vogal16niea, reeurso muiLo eueontradi\o, ali-as, nas his­t6rias em quadrinhos.

Numa frase como esla: 0 que elc fez fo; uma po/},a<;adal

8 Cf. Luiz Auluor; ~ O'waldo Pmen..a Gomes, No.• GarimpQs da L;"8"a/:","', j968, ps. 222­223 ,

9 OliVO Bilae, op. cit., Sonelo "Lfngua Porlugucsa", p. 262. 10 Camon, o~ L"s{arJ"s, III, 101 11 Op. eil" p,20

ESTILISTICA 187

- proferida num momenta de irritaliao, a insistencia afetiva ecrlamente iro rceair na silaba pa, intensifieando-se ainda 0 valor fon~tico da oclu­lliva p a fim de eomuniear uma idtia de revolta e desaprova~ao.

2.2 - EstilivticaLb;ica ou Semtintica

A eslilistiea 16dea ou semanlica trala da conotai5ao, esp~cic de lldcrencia afetivo-social, que se alribui asignifica~ao das pala vras. IZ Mais do que ninguem, os romanticns soubcram cxplomr a potcncialidade lmcnsa da linguagcm eonotativa.

Bis alguns cxcmplos:

"Minha garupa sangra. a dar porcja Quando 0 chicolc do simum dardcja

o Icu bl'3~o elemal"u

"Stamos cm plcno mar... Do firmamcnlo Os aslras sallam como espumas dc OUTO••.

o mar em troea aeende ~ ardcnlias, - Constcla\oes dD Hquido tcsouro ..."I~

"0 ceu enegreceu -la no oeidenle Ruhro 0 sol se apagou

E galopa () eoreel da lcmpeslade 1',ISNas nuvens que rasgou.

Mas os nao-romanlicos lambem 0 fizcl'3m. Veja-se Humberto de Campos:

"Rccomponho as palavras quc nao disse E apagando a candcia do Desejo, Adorme~o na noile da Vclhice."

(in soneto "Envelheccr".) E Florbcla Espanea:

"Falo as gaivotas de asas desdobradas Lembrando os lcn\os brancns a accnar,

L2 v. Unidadc I, 2.1. 1:\ Culm Alves, Obr<)s Camp/ell'S, 1960, ill "Vozes d'Ardra'", p. 541. I~ Id, ill "0 Navio Negreirn", p. 525 I~ Alvares de Azevedo, Po~siu.-, C""'plc/a.<, 1962, ill "A TCmpe5(~de", p. 143

Page 98: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

188 RONAl1XJ CALDEIRA XAVIER

E os mastros que apunhalam oluar N a solidao das noite.'i consteladas."

(In "Sonelo".) E Machado de Assis:

"Um sorriso alumiou 0 costa da enfenna, sobre 0 qual II

mortc balia a asa elerna."

(MenuJrias P6stu{lL.'l de Br~ Cubas, cap. XXIII.)

Ede ressaltar-se, ainda no aspecto eonotalivo, a importancia da sinonfmia. Diante de uma serie sinonimiea, e preeiso ter a sensa da escolha certa, au seja, de saber c1cger a palavra que melhor se quadra a cxpressao da ideja. Como diz Rocha Lima, "0 que distiugue as sinoni­mas, no plano da denotac;ao, Ca seu significado, mais amplo au mais restrito (...). 0 ~uc os diferenc;a, no plano da eonotac;ao, prcnde-se ao cfcito estetico".' De modo quc, em meio a um conjllnlo de sin6nimos, podcm-sc cstabelel'er graus de valora~ao para 0 seu devido emprego:

a) vulgar, au tccnico: de~'de'lltuJo e anadellie; mudez c alalia,. bolsa e mars/1pio (cm rclac;ao aos cangurus).

b) usual, ou litenirio: bandeira e ldbaro; pobreza e i1l6pia; (ouro eflavo.

c) nobre, ou plebeu: labios c beit;os; mao e gadanho; cabeqa c beslunio, cacho/a, cachim6nia.

d) normal, ou dcprcciativo: medico e medicastm; artisla e canas­trao; escri/fJr e p/umilivo.

As palavras, como se sabe, devem ser vistas por dais angulos: inteleclual e cfclivo. Rcconheeia-o Vendryees: "Toujrmrs l'a/fectiviLe envcloppe et colore l'expression logique de fa pellsee. Oil lle repi:le jamais deux: fois la meme phrase; onn'emp[oie pas deux fois Ie mt!me mot (wec fa meme valeur; il n'y a jamais deux failS linguistiques abs()­lument ident;ques".17 Pcrante as coisas, nota Rodrigues upa, 0 espirito humano reagedc duas muneiras: percebendo ou senljndo.J~ A" opcra~6e:> de perceber e scnlir inLcrligam-se, mas <Iesproporeionalmente, pois exis­

16 ~ck,p.449.

17 o~ca,~.18~1~.

18 CL.ciL,~24.

ESllLisllCA 1B9

tcmcoisas que tocam maisdiretamentc a inteligeneia, ao passoqueoutras ufctam mais a sensibilidadc.

Comparem-se cstas duas Crases:

1) A mae voltou a casa para apanhar a balsa.

2) A mae voltou ao lar saudosa de beijar () mho.

Aambas asconslrm;6es prcndc-sc a idcia de voila, que, na primcira, sc cXpOc simplcsmentc, mostrando a finalidadc de apanhar urn objeto cventualmente e.squccido; na scgunda, porem, h3. uma forte carga de cmotividade, alTaves da substitui'1ao de palavras arenas infonnativas (casa, apanhar, balsa) por outras impregnadas de sentimcntalidadc (lar, salldosa, bojar). fu palavras-chave -casae lar-, conquanto irmanadas por urn ne:'l:O de significa<;ao geml, "Ingar de habita'130", rcvelam grada­t;j)es conotalivas bem diferentes. Cabe ao gcnio do eseritor discernir, portanto, enlre 0 naipc de 0fllloes vocabulares oferecidas, ° termo que mclhor se ajust3 aconvenif2ncia estetiea da mensagcm.

2.3 - Esti/l\·t;ca Sintdticll

Trata a eslill."tica sintatica das relas:6es irregulares enlre as termos oraeionais, tendo em vista a expressividade, como a posposiliiio do sujeito ao verba, a mudans:a de lratamenlo, 0 plural de modestia, a infinitivo flexionado, algumas variantes de topologia pronominal, a lInaeolulo etc.

A anteposiliao e a eoloealiao prcferencial, prineipalmenle quando nao ha, no verbo, indica<;3o desinencial de concordancia capaz de dissi­par qualquer ambigiiidade. Posp6e-se 0 sujeilo, entrelanlO, quando hou­vcr intuito estiHslieo de ritmo au hannonia frasal, au ainda quando reeair no (enno que exeree a funs:ao subjetiva a maior rclevaneia esLcLiea: Quisera cu saber. Valha-me Deus! Assim pflssa a gl6ria <10 mundo.

A mudans:a de tratamento juslifil·a-."e par urn proces."o de ordem psieol6giea equase scmpre se da quando 0 aulor se reCere amesma pessoa em duas eondis:oes bem distintas. 61imo exemplo e a earta que Ckero envia a seu amigo e tamhem advogado M. celio, a fim dereeomendar-Ihe M. Fadio. Dirigindo-se ao amigo, Ckero usa a 2a pcssoa do singular; mas, referindo-se ao advogado, fa-Io na 2~ pessoa do plural, em siual de dcfercncia:

"Eius negotium sic velim suscipias, ut si essel res mea. Novi ego vos magnos patronos; hominem oecidat oporlet, qui vestra opera uli

Page 99: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

191

II 'II

190 RONALOO CALDEIRA XAVIER

III velit. Sed in hoc hom inc nullam accipio eXCllsalioncm. Omnia relinques,

"ll si me amabis, Cllm fua opera Fadins uti valet" II TradUl;:ao: "Dcsejo que lamesa assunto dele tal como se fossecoisa

minhu. Eu vos conhetjo eomo grande advogado; enecessaria qne male 'illI' I 11m hornem 0 que guiser usar do !lasso auxflio. Mas com rcla~ao a cstc

horn em (nao) aceHa nenhuma dcsculpa. Deixa ladas as eoisas, se me

II es(imas, quando Fiidio guise! urHizar~se do teu concurso."jg o plural de modestia aplica-sc pela troca do pronome eu pm MS,

em havcndo intcn~ao de abrandar 0 10m impositivo, 0 carater de pe.<;soa­II, !idadc fla extcriorizaliao de cectas silna;;6cs. Deslarte, procura-se dar a i,1 enteutler que 0 pcnsamcnto mauifestado deve ser panilhado com 0

ouvinle ou leitor e traduz uma opinifio eomum:Aquela epocil, Cllcol1trd­H vamos-nos(eu me enCOnlnlva) aservi<;o do govemo. Tenha-se em mente, ainda, que, se a pronome lu1~' representa um plural de modestia, 0 nome predicativo au 0 pnrlic(pio pode dcixar de concmdar dirctamenle com dc, ficando no singu lar, "como se 0 sujci10 fosse cfelivameute eu" .1(' Ex.: Estamos deSVllJJCcido com as homenagens recebidas.

ocaso mais rcpresentativodesintaxe afetiva, porem, eoanacoluto, au qucbra da correlaCji.io l6giea entre os termos de urn eoulexlu l'casal. ES&3 figura resulta de uma in[errup~i'io psico16giea, de lima ruplura no cneadcamcnto racional das idcias, de modo que, uo infcio do perfodo, uma au mais palavras fiquem scm fun~ao definida, marcantlo 0 vesligio de urn pcsnamcnlo apenas e..o,;bD~ado, naose eoncluindo, cerlamentc, por teroeorrido aD aulor um meio mais convenicnLe ou cxpressivode f:ul!-Io.

Eis alguns exemplos:

',:111I,I "Eu, que cair nao pude neste engano

(One egrande dos amantes a ceglleira), Encheram-me, com grancies abondau~as,

I'III I o peito de desejos e esperan~as.'J2l

Nosciitilogos de B;;a de Ouciros, erecn!'So a cada passo eneonlrado:

I , "E - , d ct' "n I - u, nao era para OLen er, eu, era para Izer...

"Esse ea uma I' N-'ao, ISSO h'el d - ' "vdOT... e esgana-I0 ....

19 ApuJJo~t Lodciro, Tratl"I'ocs tim rex/os Lo/i"".I', 1968, p. 265. 20 Cr. ' ... Iso Cllnha, op. <:il., p. 2(16.2t CII1lQe~,Lu,·., V,54.r\ll', 22 A Capital. 1957, p. 352. 23 OsMtJia.r. I, 1951, p. 216.

I, ,

ESTILfsTlCA

Em Rui Barbosa (com abona~aojnstificativaem nota de rodape):

"Ora, eu pllrece-me que desta sentrnt;<l nao ha, sensala~ mente, reeun;0.,,1,

3.1 -Ret6rica. Su.a lmportfl.ndll

Entre os antigos, foi certamente Arisl6lcles 0 primciro a analisar, com metodo e deseortino, a rCl6rica, ou arte baseada na "faculdade de vcr tcorieamellte 0 que, em eada caso, pode ser eapaz de gemr pCfSua­sao."l5 Coube a Quinliliano, [odavia, 0 merilo de ter sido 0 seu maior sistematizador. Segundo dc, a defini~ao gcral de rct6rica ears bene dicendi ou bene dicendi scientia (aTlC ou cicncia de falar bem).26 Assim eoneeituada, cOlltra poe-se agramatica (espccialmenlc a"tcoria gramali­cal"): scientia reCle loquelldi (cicncia de falar eorre[nmcnfc).H

Heinrich Lausberg, nm dos mais notavcis Leorjzadorcs contcmpo­r~neos, insisle na valorizar;;ao da velha rctllrica, nos seus mais de dois mil anos de exisLcncia, como faLor propiciatorio a compreensfio geml (10

l'enomeno literihin. E afirma: "Lll iniciaci(1n enla rel6rica li/eraria IIa de entenderse como Wl antfdolo, como una calltelll contra la aClUaliza~

ci6n demariado rapida del co111acfo con III il1dividualidad de ia oIJra de artey con sa crcador individual. La rel6ricapretellde seiialar la langue, que e$ eI medio cO/lvencional de expresi6n de la parole. Una langne sin parole esta muerta; fIIUl parole sin langue es inhllmana: lenguaje, arte, ""ida social e individual mueslran una interdcpendeneta diateClica entre langue y parole.,,2"

4.1- Figu.ra." de Ret6rica. Classijica<;ii.o

Apesar da "infla~ao verbal dns antigos", que Ihcs eomplicon bas­lante a distin~ao, as tropos c as figuras conlinuam scndo urn dos mais lllraentes eapftnlos da retorica. 0 saber usa-los com moderat;ao e pcrti­n8neia vigoriLa 0 texto, enriquecendo-o e eonferindo-Ihe elcgancia.

2~ H':pli",•• II, p.l04, n036. 25 fI,/<' R<JI,irica, Liv. I, c .p. I, I" Clp. Il. I. etA"c Rl:16rin. "Arle Poeti"a, 1964, ps. 17 c

22. 2(, rnslitu,!o Or(1/or;", 2, 17, 37; 2, 14, 5. Apud Hcinrirh !..JIU~hClg, MaTUla1 de Rel6ric" L;,c­

raria, 1956, IOniO 1, p. 83. 27 I"sl., 1, 4, 2.IbiJ" ". 73. lH Op.eil"p.IL

Page 100: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

193 192 RONALDO CALDEIRA XAVIER

Saber usa-los requcr sutileZ3 de esplrito, sensu de oportunidade e, prin­cipalmente, inlui<{3o do que scja conleudo estetico em Iilefiltura.!~

Entre as nossos maiores ccrtamcnte () maior, Camoes Col quem demostrou, de modo mais pcrfcilo, 0 aproveitamcnto mais sabia das flares rhetoricales. Exercitou-se praticamente em todas c1as; eorn ini­gualavel mcstria, imprimindo-lhcs ainda 0 esterc6tipo de seu geoio in­COli fundfvcl e iJt<iUplantado.

Por autro aspccto, a descomedida utiliza<;ao das figuras rouba a frasc a sua natun.l l1uidcz, fornando-a palavrosa e pcdantc. Como res­salta Jean Suberville, HIes figures, expressions nafurelles de La pens~e,

ne se fabriquent pw,; elies ~closenl avec elie. La sp()ntan~iU reste le/H ql1alit~ premiere; sinon l'artifice elle conventionnel prennent 10 place de I'art, chose vivante".:\O Dir-se-ia que as figllras estao, para a feitura do texlo, como 0 tempero para as iguarias, eomo as adere(Jos para a elegancia da pessoa humana. Nada mais desagradavel do que uma co­mida excessivamente eondimentada; nada mnis ridicnlo do que uma exibillao oslentosa de j6ias. Da-se 0 mesmo com a palavra, em cujo exercicio e mister parcimonia. Exageradas fOupagens de eslilo servem aJXnas para masearar 0 vazio das idcias. Opus arlificem probat. Para fazer Iiteratura de boa qualidade, ins/a dizer, nem scmpre se exige urn espirito altamcnte culLivado, uma ve?, que nas lrovas do eancioneiro popular, nos contos folel6ricos e ate no simples falar coloquial se pode encontrar, em germe, 0 processus espontaneo da eria<;ao litcniria. Na litcratura cuHa, evidentemente, esse processus C eonscielllizado e, por conseguinte, mais lucido, talvez, parem nao neeessariamente mais belo e autentieo. Tudo 0 que e eerebrino e pre·fabrieado tresanda a falsida­de, nao convenee. E, se muito labor se envidou para 0 resnltado final, valc 0 conselho do principe dos poetas pamasianos:

"Nao se mostre na fabrica a suplieio Do mestre. E, natural, 0 efeito agradc, Sem lemhrar os andaimes do ediffeio."Jl

29 ~A lir~-Talur~ ~ umlule, a Irte d. pIJ.vr., islo~, urn produloda im.gln.~.ao criadofll, cui" melo upI'dfico ~ a polavl1l, e cuj. (in.Hdade ~ despNL>, no leilorou ou"inleo pra:z:r esl~_

tieo," A.frinio Courinh.., 1"lrodu,uQ Ii Li/eralllra no Brasil, 1972, p. 61. S<lbre. evolu~.i<l

hiM6rin do c<>nce,lo dc liter.lura, v. An""nio SoAres Amorl, Teori" dn].;{cralur", 1961, ps.11-24,

30 Throne ck f'Arl ct d.Js Ge"re.r Lilllr"ires-, 1969, p. 203, 31 Olavo Bilae,op. cit., 6onelo "A Urn PoeL>", p. 315,

ESllLIS'HCA

Chamam-sc jigllras, em TCt6rica, as diversas formas de elocu(Jao despertadas pela imagina'.;8o e pela afetividade, e que conferem afrdse maior elegancia, beleza, energia, gralja e vivacidade.

Nem sempre as figuras aparecem isoladas num conlexlo; nao raro, M connucncia de vlhios de suas especies, Nas palavras famosas earn que Julio cesar eomunieou ao Senador de Roma a vit6ria que ob· tivera sobre Famaces: "Vim, vi, venci" (Vini, vidi, vicl) - coexistem a elipse, 0 asslndeto, a aliterm;iio, a paronomdsia e a climax.

C1assifieac lodas as figuras - "lao minueiosamentc subdivididas (cerca de dU:lenlas e einqiienla subdivis6es, de acoma com as mais am· biciosas listas)"Jl_, tern sido, para as Iwricos do assufl(o, problema (aO

eomplicado quanlo irrelevante. Na rela'$ao que se segue, porlanto, em rcalidade uma sinupse didatica, obedcceu-se, na medida do posslvel, aos enterios tradicionalmente adotados pelns espccialislas.

4.2 - Principais F;gt~ras de Retorica

[) De palavras ou tropos: met3.fora, sfmbolo, alegoria, antonomasia, catacrese, sineste...ia, metonfmia, sincdoque, sImile.

II) De conslru,iio:

1) por repelif,;iio: anadiplose, amHora, anlanaclasc, anlimel:'ibolc, dj~core, epanodo, epfs!f(l(c, epiteto, Cpi7cllxe, pleonasmo, plo­ce, poliptolO, polissindcto, sfmploce.

2) por omissiio: assfndeto, elipse, 7cllgma. 3) por lranspvsi,iiv: anastrofe, hipcrbato, sfnqllisc. 4) [X'lr diseord!1ncia: anacolulo, emilage, hendfadis, hipalage, si­

lepse.

III) De pensamento: alusao, antaIlllg·Jge, antflcsc, apostrofe, duhila­<;30, epanortose, cpi(oncma, eX[lQli<;<1o, grada'.;ilo. hiperbolc, ironia, litotes, paflldoxo parresia, per/hase, prelcric;3.o, prolepse, proSOJX1­peia. reliccncia, ITOeadilho.

4.2.1- Figura... de Palavras 0/1 Tropos

METAFOHA- V. Unidade I, 3.1.JJ

~2 Cf. Wellek e Warreu, "p. dr., p 243, ~J l'ITI esludo6 de"l"nvolvidm sobrc 0 m.is imporUnlc d(>l; Iropos, ,e,"oRlcndam·se: Hellwig

Page 101: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

195 194 RONALDO CALDEIRA XAVIER ESTILisTICA

SiMBOLO- V. Unidadc I, 2.1. ALEGORIA - Euma succssao de meliHoras em que as palavras

signilicam nrna coisa no scnlido normal e sugercm ouLra no scntido figurado. Para Joaquim Ribeiro, a alcgoria e"nma mctafora fraseol6gi­ca" ,34 Consislc em exprimir ideias pOT meio de imagens sob a forma de uma inten~ao bern clara e detenninada.

Ex.: "Assi que sempre, cnfim, com rama e gl6ria, Teve os traltus pendentes da vit6ria."

(L/L'., I, 25.)

Dbs.: TroftW" signilica as dcspojos do combatc vilorioso, que fi­cavam pen dentes nas arvores desgalhadas.

Inumeras passagens alcg6ricas sao cncontradas nos cscritos de P. Manuel Bernardcs (Nova Floresta), Matias Aires (Rej7exoes sobre a Vaidade dos Homens) c Marques de Marica (Mtiximas, Pensamentos e Rej1ex6es).

ANTONOMASIA - E a substitul~ao de urn nome pnlprio por urn nome eomum, ou vice-versa.

Exs.: 0 solittir.io de Santa Helena (Napolciio); 0 Cisne de Milfllua (Virgilio); 0 poela Ja saudade (Casimiro de Abreu)j 0 j1agelo de Deus (AtHa); a Aguia de Haia (Rui Barbo~a).

Cerlos anlropOnimos, rca is on Iitcrfirins, passaram a dcsignar tr:a­dicionalmcnte, por anlonomasia, detenninados atribulos, Catao (= mo­ralista auslcro)j Draco (= legislador rigoroso); Aristarco (= crftico severo); Zoilo (= critieo injuslo e invejoso); Mcssalina (= mulher disso­luta); Tarlufo (= hipocrita); Gargantua e Pantagrucl (== comiHio)j Romcu (== amante apaixonado); Iago (== inlriganle); Olelo (== marido eiumento) clc.

CATACRESE - Vma das variedadcs da melMora, e a mudant;a do significado natural de uma palavra,.geralmenle pela dcfecl$ao, no idioma, de tenna mai$ aprorriado.

Kountd, tlr,de sur la metaphare, Paris, 1939. Jobn Middlelon Murry, Melopf",r. Cnu,lIri/!., 0/ the Milld, London, 1931. Hwunn Pongs. Das Eild it! du nidll""g. I: r"r.luc}, cim:r Morphologic der MClaphorischell Fon"e", Msrburgo, 1927; 11: V,,,,J/lu."rsu,·h""ge,, Jrmr

"'III! Symbol, MMburgo, 1939. William B. SlInford, (in,.,t Metaphor: Studies ;" n""'ya,,,1 Practice, Oxford, 1936; Heinz Werner, nie Urspriincc ,kr Meraphor, J.dp1.ig, 1919. 1:In ICngu pol1uguesa; O~wah.ljno Marques-leoria uu M<:IIJ/ora, Rio, J955. M. Paiva Rol~o, A

I, M"M/ora "a Lr"gua Porlugrte.w C"rr/!'lIe, Coimbr., 1935.

I" 34 Estelitoo d.l Lingua Porluguesu, 1964, p. 14l.

Sao cxprcss6es eataerelieas: sabatilUl IUlquarta-feita, cava/gar um asno, azulejos amarelos, emburcar num aviiio, aJerruar na Lua, chd. de erva-doce, enferrar um alfinete no deOO ete.

Assim sc reCere Cam6cs ao GiganteAdamaslor(Cabo das Tormen­las):

"Mas depois que dc lodo se {artou, Ope quc tcm no mar a si reeolhe."

Em Castro Alvcs:

"A morte voa rugindo Da garganta do canMo."

(In poema "Pedro Ivo".)

SINESTESIA - Euma cspccic de transposit;ao de pianos senso­riais e perceptivos em que, atraves de uma rela~ao subjetiva, "as ima­gens passam de urn senlido a outro, por eerta analogia que as relaciona entrc si".J~ Os pianos transpostos podem pcrtcnccr a qualquer area sen­sorial: gustaliva, auditiva. olfaliva, visual ou tacH!. Sao cxemplos de Iransposi~6essinestesieas: cor berrante, gritante (visual para auditiva); cor quente (visual para factil); voz ave/udadil (auditiva para lactil); perfume doce (olfativa para gustativa).

No poema "Florcn~a", dc Raul de Leoni, cnconlram-.",c: "alva 00­(jura", "ctu mucio", "voz sonfimbula das catedrais", "rulnas pensati­

_-" J6 ,~ .

Em Martins FOlltes:

"Eram todas as liras da floresla, sinfonizando os cantos capitosos, vindos desde a surdina da mangubu ao IJacuri que, eSlrtdu/o, restruge, quando a selva revibra, polironica, pela I'OZ dos aromas, ao luad"

(In pocma "A Voz dos Aromas,,).!J

35 cr. Silveint Ruen," E.rlrulos de Filolog;a Porl"g"e.~u. 1963, p. 213. ~6 cr. LuzMeJiterril/leu, 1959, ps. 37-38. .17 ApudCnsi'Jlo Ricudo,Monins FOllies - Poes;.a, 1959, p. 75.

Page 102: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

197 196 RONAl.OO CALDEIRAXAVIER

METONiMIA - Oulra variedadc da mel3.fora, e0 tro(Xl alraves do qual se snbslillli 0 valor pr6prio de uma palavra pcla de 0I1tra, em ratio de alguma analogia entre amhas.

Ocorre quando se ernpcega:

a} 0 (Illior pela ohra: "Ja sei, desta vez vai ler C{cero, dissc-me cle, ao saber da viagem." (M. de M"is, Mem6rias Post. de B. Cubas, cap. XXXII.)

b) 0 Jagar pe/o produlO:

"Pegau numa pistola e entre furnallas Dc saboroso havana, ~ eternidade Fai vcr se divertia-se urn pouea."

(Fagundes Varela, in pocma "Arquctipo".)

c) 0 concreto pelo abSlrato au vice-versa:

"Vi a ci~T1ci(J deserlar do Egilo..." (Ciencia ::: os denlistas.)

(Castro Alves, "Vozes d'Africa".)

d) 0 produtor peta coisaproduzida: viajar num Ford; barbear-se com gilete (de Gillette, 0 invenlor da lamina).

e) 0 confillcnle peLo conte/ldn au via-versa: comer urn pires dc dace, beber urn calice de lieor, tamar uma xfeara de eha.

f) 0 slmbolo ou sinal pela coisa sigTlificada: "... e os desmedi­meutos reiteradas e pcrempt6rias da eatolicidade as presnnl;ocs infali­bilislas da liard'. (Tiara =: papada.) (R. Barbosa, ill Prcfacio de 0 Pupa eo Concf!io, de Janus, p. 14.)

SINEDOQUE- Varia<;ao sutil da metonimia, eom a qual praLicll­menle se eonfundc,l1aseia-sc'na propriedade da compreensfio e exlens:lo das termas.'"

Oeorre quando se emrpega: a) 0 plural pelo singular (1) ()(J 0 singularpelo plural (2) Exs.:

(1) "Par issa, e n!i.o por falla de natura Naa ha tam"bCm Virgflios nem Homeros; Nern havera, se cste costume dnra,

ESTILiSTICA

Pios EMias nem Aquiles [eros." (Lus., V, 9B.)

(2) "Em v6s os olhas tern 0 Mouro frio." (MouTO =: as arabes.)

(Lus., I, 16.)

b) 0 lodo pe/a parte (I) ou a parte pclo todo (2);

(1) "Hoje em meu sangue a America se nutre."

(A America:::; eertos habiLanLes da Ameriea.)

(c. Alves in "Vozcs d'Africa.")

(2) "Que da ociden!al praia lusilana."

(Praia lusitana =: Portugal.)

(Lus., I, 1.)

"Das aguas palrias relembrando, a vela Torna algum dia ao desejado porto."

(A vela =: embareac;ao.) (Alberto de Oliveira, in poema "fam Vintc Anos" .)"

c) 0 genero pela especie ou vice-versa: "No suor do teu roslo co­meras 0 teu plio." (Pao '" alimentos.) (Genesis, 3:19.)

d) A materia pe/o objeto ou arte[ato:

"E na torre alvejanle 0 saero bronze Docemeutc soar nas freguesiasl"

(Bronze =: sino.) (Fagundes Varela, in. pnema "Nao Te Es(IUe~aS de Mim.")

SiMILE - E0 coleja de dais fato-", seres au fen6meuos entre os quais a aulor estabeleee uma rclal;ao fumlada no efeito de semeJhan(j3. B, na verdade, a metafora ampliada com 0 auxflio das conjunl;oes comparativas que, como, assim, la~ qual etc. 0 mesmo que compara­~'tlo.

Ex.:

"Do baixel que levava-te, sumindo Iam-se as velas pandas, alvejantcs,

;19 Ap~dGejrCampos,Alb"'lo de Oliueir<l - Poesia, 1969, p. 6!l. :'18 V. Apefldice, PHI., 11. PrupriedtJde dJJ.~ rd~it>s. Y.• lb., H. J.."u1berg,J>p, ell., II, p. 68,

Page 103: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

198 RONALDO CALDEIRA XAVIER

Como urn grupo de gan;as emigrantes. " (RaimumJo Correia, "Sinfonias".)

"Como tomba 0 abeto solitario da ellcosra ao passar do !urar;rlo, assim 0 gucrrciro mistcrioso do Crissus cam para nao mnis sc crgucr!. .. " (Alexandre Herculano, Eurica oPresbEtero, cap. XIX.)

4.2.2 - Figuras de consLrur;iio

4.2.2.1. -Por Repeti~iio

ANADIPLOSE - Consisle em fepclif a ultima palavra de uma [rase au verso no inicio cia Crase au do verso seguinlc. 0 meSilla que epandslrofe.

Exs.:

"Tu me viCSle alembran<;a, Ouis vivcr mais c vivO Vivi; pais Deus me guardava Para estc lugar e hora!"

(GonlSalvcs Dias, Pocma "Ainda Vma VC7., Adcus".)

"Ela perliu-me que espcnl-Iafosse, Fosse espera-Ia 11 bcirn do caminho".

(Batisla Ccpelos, Sancia "A E.~pcra".)

ANA.FORA - Ea rcpclil::lao de uma ou mais palavras no infcio de varias oralSoes ou versos seguidos.

Exs.:

''A vas, pregados pes, por nao deixar-me, A vas, sangue vertido, para ungir-me, A vas, cabelSa baixa, p'ra chamar-me."

(Greg6rio de M:lto~)

"Dd-me 0 clarao do teu riso! Dd-me 0 fogo do teu beijo!"

(0. Bilac, soneto "ConsolalSao".)

ANTANACLASE- Consiste no emprego de palavras muito pa­recidas no som, cmbora de scntido contrario ou diferenle.

ESTILlSllCA 199

Ex.:

" ... fazendo votos Em vao aos deuscs vaos, surdos e imolos."

(Lus., X, 15.)

ANTIMETABOLE - E a formalSao de uma frase ulilizando, inverlidas ou nao, palavras de outra frase.

Exs.:

"6 flor -Iu es a virgem das campinast Virgem -1u es a flor da minha vida!"

(Castro Alves, in poema "Adormecida".)

"E vejo urn rccorte de mim No eimo dum outeiro, Olhando para 0 meu rebanho e vendo as minhas ideias, Ou olhando para as minhas ideias e vendo 0 meu rebanho."

(Fernando Pcssoa, "Poemas de Alberlo Cuciro". I.)

DIACOIJE - Consiste em repel r uma ou mais palavr<ls, acrescen­tando de pcrmeio uma au varias pala ~ras.

Exs.:

"Tu, s6 tu, puro amor, com forlSa crua". (LlIs.• III. 119.)

"Temei penhas, temei; que amor tirano, Onde ha mais resis1cncia, rna is sc apura."

(Claudio Manuel da Costa, Obras. Soncto XCV(IJ.)

EPANOI>O - Ea repetilSao, em separado, de palavras qne antc­riormenle se disseram au c..~ereveramjuntas.

Tal tipo de dcsagregalS30 do enunciado podeca ser feito em obe­dicneia amesma ordem das palavras ou em ordem inversa.

Exs.: a) Na mesma mdem:

"0 homem, par desejo de nutri¥iio e de amor, produziu a evolu­(,;ao artfstica da humanidade.

A nutri¥ao rcclamou a ca(,;ada facil- invenlaram-se as armas; 0

amor pediu urn abrigo, ergueram~se as cabanas."

(Raul Pompeia, 0 Ateneu, cap. VI.)

Page 104: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

ESTILlSllCA 201200 RONALDO CALDEIRA XAVIER

b) Em or<1cm invcrsa:

"Eslas explk.:aCioe.... aclJsam e defendem, ao mcsmo pa.sso, 0 meu res­peitavcl me... lre. Defendem-lhe a compclcncia das imperfci<;ocs da sua obra Acusam-Ihc a fraqucZll clo mal da sua condcsccn<lencia:'

(Rul Barbosa, Replica, P Torno, p. 21.)

E1JjSTROFE - Consiste na rcpeli<.;ao cIa mCSma palavra au gru­po de palavrds flO final de varias ora<;oe.... au versos, gcralmente scgui­dos.

£x.... :

"Homem! Vivc pnr Deus! Sorre por Deus! Moue por DelJJ'!"

(Guerra Junquciro, Vibraq6es Llricas, pol'rna "Ora~au aD Pan".)

"Era uma naile negra, horrendamente negra, Horrendamentc negra,

como 0 corvo de Poe, horrefldamellle negra. Eu trcmia, a gelar, no solidiio goiesca,

Na solidiio goiesca, inleiramente ,,6, no so/idao goiesca.

(Marlins Fontes, in poemn "Monolonia Rilmica".)

EPITETO - Consistc em atribuir-sc a urn ser uma qualidadc que ja the e increntc. Tern a finalidade estctica dc revigorar e malizar a exprcssao, aeenluando-Ihc a relevancia, rcall;alldo-Ihc 0 podcr (lcscrili­va. Esla figura, usaram-na com freqiiencia os nossos classicos:

"6 pranta dc m~ semente, ArdCr3s no fogo ardellte."

(Gil Vicente, Auto cia Barca do Purgat6rio, vv.6029-30.)

"De si, da gt'nle c do mundo esquccida, Feriu com duro ferro 0 brando peilo."

(CamOes, Soneto, ng 16, p. 61.)

Em Alvares de Azevedo:

"E lembro i\s vezes 0 palar da vida Do gelido cad~ver do suicida!"

("0 Poema do Frade ", canto, III, XXVII.)

Em Castro Alves:

"Certo ... serias tu, donzela casta." (In S(:meto "-,0. Sombra".)

Em Olavo Bilac:

"Murmura urn nome e, as palpebrns abrindo, Mosll'3. 0 fulgor radiante da pupila."

(In poema "0 S<mho de Marco Antllnio", II.)

EP]ZEUXE - Ea repeliliao seguida da mesma palavra. As series mais comuns tern duas ou Ires repelilfoes. Esta figura faz-se oportuna ~ intensificalf30 afetiva, a urn impulso de comiseralf30.

celebre e a queixa do Cristo, segundo a tC'tto hebraico do Evange~

tho:'" Eli, El~ lamma sabachtani?'''(Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?lo

Ex.:

"Correi, correl, oh! I~grimas saudosas." (Fagundes Varela, in poema "Ontieo do Calvaria".)

"POr loda a parte e.....crilo em fogo clemo: Inferno! Inferno.' Inferno! Illferno! Inferno! (Cruz c Souza, Far6is, in poema "Pandemonium".)

Cornbina-se, muitas vezes, a epizeu'te com a diticope, q.v.:

"Mas atr~s de.....se brilho bruxuleava o olhar deLia, Ua, sempre Lia. "

(Jorge de Lima, in Livro de Sonetos.t

"Mundo ml.lndo vasto mundo Se eu me chamasse Raimundo Scria uma rima, nao seria uma solulfao."

(GriDs Drummond de Andrade, "Poema das $ete Faces".)

40 Ma!ells,27:46; MUC05, 15:34. 41 AplIdLui:r; Santa Cr1ll.,Jorgc de Lima - Pocsw, I958, p. 81.

Page 105: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

203 202 RONALDO CALDEIRA XAVIER

PLEONASMO - Eurna rcdumlancia de idcias intencionalmente elaborada a fim de comulliear mais ellfase, elareza, grao;;a au vigor ao pcnsamenlo.

Em sua css~ncia, constitui urn dcfcito de linguagcm (v. Unidade III, alfnea e). Legitima-se cSlilisticamcntc, porern, sc visa aD reronia da ideia, assim como, v.g., a epfteto, q.v. Expressoes pleno:islicas existcm cujo usa gernl ja sancionoll inteiramente: "bela caligrafia", "baa orlogra­fia", "abismo sem [undo0', "jornal diario",4~"panaceia universal", "abalo sismica'''!'' etc., em que 0 scntido ctimol6gico se enconlra de todo oblitc­muD.

a plconasmo, ou abWWil1l.'J' supranecessitatem oratio, insislc Duma cvidencia, pais a sua f6nnula mtigica, em cstilistica, c repelir para re[orr;ar. Sealgo ele acrescenta ao pensamento, efigura util; se ao reves, o enfraqnece, e vleio eloeutivo. A Ii<;ao de Quintiliano, ainda hoje, tem validade: obstat quidquid non adjuvat.

o fato eqne os torneios pleomisticosdcitaram fundasraize.... no fa];:lf porlugues. U-se em Gil Vicente: "dordolorosa", "remo meu rcmo", "sei mni to eerto sabido", "gozar 0 gozo". Em Vieira: "universal para todos", "segllran<;a segura", "ignorante ignoraucia", "sair a dcmonio [ora", " ccgnclra mals eega . . " , " ver com os 0 hos "" , I" I' " ele.44g Ima g onosa

U-sc cm Cam6es:

"Pouco val cora<;ao, aslucia e siso, Se hi dos Cens nao vern cele... te aviso."

(Lus., II, 59.)

"Vi c1aramcnle visto 0 lume vivo Que a maritima gente tern porsanlo."

(Lus., Y, 18)

Em Caslro Alves:

"En tao tu respirasle, Cobarde veneedora do veneido."

(In poema "Oitavas a Napoleao".)

Em Gom,;alves Dias:

42 AplldH~nio T.V3n'6, op. cit., p. 347. 43 aplJdHenri Moricr,op. cit., p. 304. .u ApudRul Barbos., op. cit., II, Jl". 131-132.

ESl1LisnCA

"Morrenis motte vii da mao dt: urn fone." (In "l-}uea Pirama", 111.)

No ultimo exemplo, 0 grande indianista maranhense usa 0 reeuc­so de transitivar urn verbo intransitivo por meio de eomplemento eog­nato, denominado objeto direto inferno. Em latim, equivale ao acusativo cognato: "vivere vitam", "amavi amorem tuum", "mira som­nia somniavit".

Afora 0 plconasmo semdncico, ale aqui examinado, cxiste ainda 0

pleonasmo sinttitico, deeorrente da cleganlc repeti<;ao dos prouomes oblfquos em funll30 de objeto direto au indircto.

Como objeto direlo:

"0 melro, eu eonheci-o." (Guerra }unqueiro, in poema "0 Melro".)

Como objeto indireto:

"Eu dever-lhe-ei a ele, como a causa, a gralla que me fizer; e cle dever-me-a a mim, como a oeasiao, a gl6ria que aleanllar."

(Vieira, "Sermao pelo Bom Sue. das Ar. de Portugal contra as da Holandll", cap. V.)

Qnando ha neeessidade de clarcza, podem scc usadas, pleonasli~

camcnle, as combinalloes "dele" ou "dela":

"- Que eulenho sentido muilo a sua falta defa." (Alulsio Azevedo, 0 Cortir;o.)

PLOCE - E a figura pela qual se repete, no inlcio ou no rim de uma frase, a palavrll que csta no meio de oulra.

Costumam os prcceplistas dtar cstc exemplo de Vieira:

"Amor que pode cresl"er nao Cam or perfeito. Sueedcni ~ saude a enfennidadt:. t: vos conheeereis 0

que tendes na saude:'

POLIPTOTO - E a rcpelill3o, nllm conlexto fra$lll, da mesma palavra sob relac;6es sintaticas ou lcxicol6gicas diferentes

Dos rccursos polipt6licos valem-se pratieamente 10JoS os bons eseritores, pois "con la o[Josici6n eJUre fa iguafdad de fa J afabra y la

Page 106: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

204 RONALDO CALDEIRA XAVIER

diversidad de La funci6n sintactica se lagro un eJecta muy vivo" .41 No brocardo lex videt iratum, iratus legem non videt ocorre urna reversibi­lidade de casas: na primcira ora1;30, lex esta no nominativo. pois e su­jeito. e iratum no acusativo, pois eobjeto dircm; na segunda, sucede 0

inverso. Sao fontcs de inumeros exemplos as Sagradas Escriluras:

"Memento, homo, quia pull/is est et in pulverem rcverleris."

(Gbu:sis, TlI. 19.) "Vanitas vanitalum ct omnia vanilas."

(Eclesiastes, I, 2.)

"Dai pois a C~sar oque ede Cesar, e a DellS 0 que ede Deus."

(Marcus, XXII, 21.)

"Pade porvclltura 0 cego guiar 0 cega?" Eis 0 polipototo pela varial;ao da desinencia do genera:

"Quem me dcra fosse aquela laura cstrela Que arde no eterno azul, como urna eterna vela!"

(M. de Assis, in sonelo "Cfreulo Vidoso".)

Pela varia~ao da desinencia de numero:

"Agora envida quanto em si cabc, por me despir das qualidades mais comuns no comum dos eserHores."

(R. Barbosa, R~pJica, I, p. 51.)

POLISsiNOETO - Ea repelil;lao da mesma eonjun~iio coordena­liva, geralmente II adiliva e.

Moslra-se a seria~ao polissindttiea sobremodo valiosa aintensifi­eal;lao da iMia:

"Bramando, duro corre e os olhos cerra, Derriba, fere e mala e poc por terra."

(Lu,., I. 88.)

"Falta-Ihc 0 solo a05 pes: reeua e eorre, VacHa e grila, luta e se ensangi.ienta, E rola, e lomba, e se espeda~a, e morrc..."

(0. Bilae, in sonelo "Abyssus" .)

45 H.l..ausbcrg, op. cit, n, p. llll.

ESTILisl1CA 205

QUIASMO - Eurn eruzamento de tcrmos efetuado par meio de uma repetiliao simttriea. Nem scm pre eonstitui mero jogo de palavras, sendo dilado, muita vez, pelo dcsejo de variedade, pcla neee.<;sidade de eufonia on de hamornia express iva.

Configura-se dcsdc os eliissicos mais antigos de nossa lingua, qual ncste lanlio de Gil Vicente:

"Vos me veniredes a la mano, A la mano me vcnircdcs."

(Auto da Barca doJIlJenlO, Vl'rsos 110 e 111.)

Numdeseus mais formnsos soneLos, Olavo Bilae, com a ha"bilidadc verbal que sempre demonstrou, oferece eSle sugestivo c eonhccido exemplo:

"Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada E triste, e Iriste e fatigado eu vinha. Tinhas a alma dc sonhos povoada, E a alma de sonhos povoada eu linha."

(In sonelo "Ne! Mezzo del Camim".)

SiMPLOCE - Consisle em repetir a mesma palavra ou palavras no eomc~o e fim de varias [rases. Deslarte, a palavra que esta no inCcio de uma Crase e repetida no infcio da seguinle, a que est1 no £im da pri­meira e rcpetida no fim da segunda e assim sueessivamemc.

Ex.:

"Que laz 0 lavrador na lerra, cortando com 0 arado, cavando, rc­gando, mondando, semeando? Busca pao. Que Jaz a soldado na cam­panha, earregado de ferro, vigiando, pelejando, derramando sangue? Busca pao. Qlle laz 0 navegante no mar, iliando, amainando, sondando, [urando com as ondas, e com as venlos? Bilscapiio."

(Vieira, SermiiesSeletos, VI lama, p. 142.)4~

Hii similitude entre csla l1gura e a epanadiplose, que ea repetiliao de uma au mais palavras no infeio de uma Crase e no lim de outra cor­relativa. Tal eomo nestes dois exemplos:

"Havia urn beijo - eis tudo quanlo havia!" (Joao Ribeiro, in poema "Simples BaJada".)

46 Apud Jos~ Crtlella Jr., P"rwgue.,· purr>" Cum' Tlfr"ico, 1956, p. 138.

Page 107: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

T

2D6 RONALDO CALDEIRA XAVIER ESTILlSTICA 207'

"Bolem as aguas, rindo alua; as folhas bolem." (Alberto de Oliveira, in poema "Vo]upia".)

Gutra figura tambcm assemelhada ~ a epunalepse, ou repeli~ao de uma palavra no infcio e fin! da mesma Crase:

"Eu - que oulrora vivia! - eu sinta agora MOTte no cora'iao. nos olhos martel"

(Alvares de Azevedo. in "Sanclo", p. 341.)

"A vida en Ire prnzeres vale a vida," (Laurindo Rabelo, Poesias Camp/eras, p. 189.)

4.2.2.2 - Par Omissiio

AssiNDETO - Ea omissao da conjun(Jao numa scric de oralSocs coordenadas.

Exs.:

"DeslaTte Afonso, subito moslrado, Na genIe da, que passa bem segura, FeTe, mala, derriba, denodado."

(Lus., III, 67.)

"Tropera, cai. soltu;a, arqucja, grita, Buseando urn cora<:r3o que Eoge."

(0. Bilac, Via-lactea, II.)

ELIPSE - E a omissao de qualquer temlO necessario Ii com­preensao cabal da frase, ficando'esse termo, todavia, facilmente suben­tendido.

Exs.: a) omissao do pronome sujeito:

"Para viver feliz, Marilia, basla Que os olhos movas e me des urn sorriso."

(Tomas Antonio Gonzaga,"Marnia de Direeu", lira I.)

b) omissao do verba:

"0 jardins de urn een viciosamenle frequentado: onde 0 mis~rio maior

do sol, da luz, da saude?" (Joao Cabral de Melo Neto, "Duas Aguas", in Poesia.)

ZEUGMA - Consiste em deixur subentendido, numa frase do perfodo, temlO ja expresso em outra. E urn caso particular da e1ipse, q.v. Pode apresentar-se em posic;ao posterior ou antedpada.

Exs.: a) em posi<.;aa posterior:

"Se houvesse ainda talisma bendito Que desse ao pantano - a correnle pura, Musgo - ao roehedo, festa - asepullufa, Das aguias negras - harmonia ao grito..."

(c. Alves, in soneto "7~ Sombra".)

b) Em posic;50 antecipada (clla mad a tambcmprotozeugma). Ocorre este caso quando 0 termo expresso vier nil frasc segllinte C 0 subentendido esliver ua primeira:

"Trazem ferocidade e furor tanio, Que a vivos medo, e a monos fa/; espaulns."

(Lus., III, 103.)

4.2.2.3 - Por Tran.\1JOsiqiio

ANAsTROFE -, E a "inversflo da onlcm normal de duas pala~ vras ime'dial<\mente sllcessivas".~-I Pode ocnrrer com a separa<.;iio de dais termos"cntre as quais seja manlida cslrcita rela~;h) 16gica.

Exs.:

"Mergulhei das paix6es nas vagas ccrulas ..." (CasLro Alves, in poema "0 V60 do Genio".)

"Dormiudo esla Paragua<.;u formosa Ondc urn dam ribeiro 11 snmhra corre."

(Sanla Rila Dura(l, "Caramlltu". IV, 2.)

"Urn mundo de vaporcs IlO OJr Oulun ... " (Raimundo Correia, in sondo "Anoilcccr".)

"E ma mortos nus ueixa c scparauos:' (M. tie A,;sis, Poesias, ill ~oncto "A Carolina", p. 366.)

47 Cf.l-l. Ldusberg, op. Lif., II, 1'. J6L

Page 108: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

208 RONALDO CAIJJElltA XAVIER

11IPEH...IATO - E a "scparm;fJo de duas pLlh.:.vras cslrcitamcnte UOilhls sintillicamcnlc, pcla inlCrcalal,Sao de urn c!cOlcolo (que coosta de UOI a Oil varias pa Lwras) que nflo peTlcnce imcdiatamcn Ie a esse Illgar".4~

11'1 Estao neste caso, cspecificamcntc, lodus as de,-";locCll,Socs siniaticus I:) verificadas de modo rnais brusco c violcnto. Ap:Jrccc (J hipcrbalo, com

mais frcqiiencia, oa linguagcm poetica, ditado pel as cxigcncia da rima Oil da melrica. Camocs, ccrtamcnle por inflnencia dn nlcralura latina, nSOIl-{) largamcnlc. Dao logo ideia disso as duas cslrofcs inicias de Os Lusfadas: () .sujciLO ap:uec~ no primciro verso ("A<; armas e us bar6cs assinalados"), mas () prcdicado correspondentc apen<:ls surginl no sCli­010 versu da segunda eSlanda ("Canlallllo c..'ipallJarci por tada parte"). Enlre 0 sujeilo c a predicado medriam nada menos que Irczc versos in­lcrcaladus de v:'irias amistrofes ...

Exs.:

"A Deus pedi /.jne removcssc os duros CU,H).\' que Allamastor contau !UIUro.\'."

(Lus.• V, 60.)

" ...verds um novu cxemplo Dc amor dos palrios kilos valero~os,

Em versos devulgado /llJlnero..,oJ'.·'

(Lus., I, 9.)

Em Alvares de Azevedo:

"Como das genial' de Fingal na bruma Do norte a vcntwia se derrama."

(In. "0 Pucma do Frade", Canto Primciro, III.)

SiNQUISE- V. Unidacle 111, aHnca c.

4.2.2.4 - Por DiJ'cordtJl1eta

ANACOLUTO - V., nesla Unidadc, 2.3. ESlilfstiea Sintaliea.

ENALAGE - B a troea de classe gramatieal, modo, tempo, ~s­, soa, vaz, genera e numefO par outra c1asse gmmatieal, modo, tempo, pessoa, voz, gencra e numero. Oeorre emllage, pois, quando delermi­

48 IIXd., p.16J.

ES'nLfsI1CA 2119

nado !ermo recebe aplieat;ao dil'crenle, au passa a desemIXnhar funt;iio diversa da que the ecspecffica.

Entre varios casos, cnmpre dlar:

a) tramposic;iio de tempos verbai!!:

"ComelJou a servir autros setc anos, Di7.endo: 'Mas servircl, se nao ford Panl tiio longo arnOT tiio curla a vida! '"

(Camacs, sonelo nU 178.)

"Quanta gente, lalvez, que invcja agora Nos causa, cnlao picdade nos caasasse!"

(Raimumlo Correi:l, ill "Mal Secreta".)

b) substantivac;ao de classes gramaticais:

" ... eis <:Itjni venho oferecidu Ate pagar co a vida 0 prometido."

(Lus., III, 38.)

"Eu ~inlu em mim 0 borbulhar cia genio." (Co Alves, in "Mocidadc c Morte".)

c) empregodopresentehist6rico (que sub.~lilui 0 passallo legflimo):

"Nero, com manto gregn onlleando ao umbra, assoma Enlre O~ libcrtus, c CbIio, cngrin:lldada a [ronte, Lira em punhu. cclebra a dc..~truit;iio de Roma."

(0. Gilae. in "0 IncenJjo de Roma".)

HENniADIS - Consislc na cxprcssao da mesma idcia por meio de dais subslanlivos Lonjugados.

:E a primcira l'igura a aparecer nos Lus[adns: "A~ annas e as ba­roes assinalados" (I, 1) - em qut' dais subslanljvos, armas, com a sig­nificao;;ao de "CciIOS mililares", C har6e.I·, eDm a significai,Siiu de "varaes i1uslres", exprimem <:Ipenas urn coneeiln: "as barnes guerreiros". 0 verso em tela, como se sabe, foi decaleado naquele com que Virgilio inicia a EneMa: Arma virumquecano (eanlo as <lrmas e 0 v<lriio).

Outros exemplos camonianos:

"Olha u muro e edif[cio nunea crido, Que enlre urn imperio e u outro se edifica." (Mum e ediffcio = mnrn cdifkallo.) ([,0'., X, 130.)

Page 109: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

210 RONALDa CALDEIRA XAVlER ESTILiSTICA 211

"0 pr~mjo e gloria daD porque m:Jndoll." (Premin c gloria = premia golori050.) (Lus., X, 144.)

Em Alberto de Oliveira:

"Para Ie vcr lao grande e em tua luz tao rica, Rcnclimlo-a no talco c [timina lIa mica, Fizcstc 0 alhae de pedea," (Talco c Uimina = talco lamiuado.) (In "Ode ao SOl".)

nIJ)ALAGE - Consiste em associar a nma palavra 0 'que cnn­vcm,logicamente, a oulra palavra da mesma frase.

Ecxemplificat;ao classica a exprcssao "cnlcrrar 0 chapell na C3­bc~a"; mas a exprcssao 16gic<J "enfiar a cabc~a no chapeu" assemelha­sc ridfeula, tal se, nnma lirada circcnse, algucm saltassc acrobaticamcnlc para meter a cabcl$a no chapcll ...49

Se 0 hipcrbalo c a amlslrofc invcrtcm a ordem gramfilicaJ d<ls pa­lavras, a hipalage invcrlc-Ihes a relm;ao gmmalkal. Tamocm el<'i$sico co exemplo virgiliano:

"Ibant o/)scuri sola sub nOCle per umbram." (Eneida, VI, v. 268,)

E ins61ita a constru<;ao: "lam o!Jscuros na uoite .,·oz;nha atravcs lIa sombra." A ordena~50 logic.'! dew' ria ser: [am W)zillllOS na noite obscura atraves da sombra. HClUVC, pois, nOla prcrostcra~ao no cndere­~o dos qualificativos.

Colhido dc LUIS Guimariies, Maloso Camara lO adu7, este interes­sante cxcmplo: "0 mistcrio hebreu das vozes lIos profclas." ("Poe­sias", p. 316.) Na vcrdadc 0 adjetivo hebreu nao qualifiea logicamcutc o subMaulivo misterio, mas sim profetas. Normalmenlc, a cOllslrm;ao seria csla: 0 mis/erio das vozes dos profeta.,· hebreus.

SILElJSE - E a figura pcla qual a concordaneia nan se opera com 0 tcrmo expresso, mas com a idCia subenlcndida. Denominada constmctio ad sensum peIos rct6ricos, vern a ser a concordaneia com 0

qne esta prcsente no espfrilo do autor e nao com 0 que cfelivamcnlc esta escrilo.

49 cr. Henri Moricr, up. ,it.. p_ l<)~.

5Q D;"u1H,r;u, eil., p. 18J.

A silepse pcrmite amziio afastar-sc da Iinha es!rilamentcgra matieal u rim lie dar rclevo ta ideia em si, a qual, em dado momento, sc apresenla mais importante na menle do aolor, arrebatado por urn pensamenlo feliz, preoeupado em despcrtar um<l impresS<10 mais viva, ou desejoso de lrunsfundir eolorillo afctivo ta tinguagem.

Hti eoneordancia site-ptica de genero, numero c pessoa.

Exs.: a) de gb!ero:

"- V. E'g tem-sc dado bern em Portngal, minha se­nhora'!"

"- V. E'a, segundo me disscram, e0 grande amigo do snr. Carlos da Maia ..."

(E~a de Queir6s, Os Maias) II, ~. lR e 352.)

"JUTO que nao sera Carlago demo/ida!" (A eidade de Cartago.)

(0. Bilae, in "Dclenda Cartago".)

b) de n(/mero. Oeorre com subslanlivos coletivos, passando-se a desprezaro termoem si e CfClllando-sea eonenrdancia com a pluralidade inercnle ao Conn,ilo:

"Assi a fermosa e a forte companhia o dia quase tmJo e.~lao passando Niia alma, doec, ine6gnila alegria."

([us., IX, 88.)

"Etc c de uma lurma de gente-sem-que-fazer, que comeram carne e IJeberameaehar..;a na frenle da igreja."

(Guimaracs Rosa, Sagarw1(J, in "Corpo Feehado".)

c) de pessoa:

"Isso, que 'ao born senso mais vulgar se impunha', nao 0 enxergamos os da comissao do Senado."

(R. Barbosa, Replica, Il, p. 14.)

"Senhor, os que somas da terra dei.wmos repousar os navegantes."

(A Garretl, Frei Luts de Sow'a )ll

.~ I Aplld Arlur de A Torres, Gp. cit.) p.229.

Page 110: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

213 212 RONAI.DOCALDEIRAXAVlER

4.2.3 - Figuras de Pensamenw'2

ALUsAO - Ea tigura pel.a qual 0 aular diz uma eoisa para dar a cnlcndcr Dutra. Destarte, as p<Jlavras cmpregadas rcvelam segundas in­lcnl;0es, pais buscam exprimir indiretamcntc alguma coisa atraves de referencias a fa loS hist6ricos, mitol6gicos etc.

Existem alus6cs ja estercOIipadas, tais como "avo de colombo", "eorlaT {} no g6rdio", "supJj'cio de Tantalo", "trabalho de Sfsifo", "es­pada de Dftmoclcs", "vitoria de Pirro", "pano dOl monlanha", "boceta de Pandora" etc.

Em Carooes:

"A eompanhia sanLa csta pintada Dos Doze, tao torvados na figura."

(Lus., II,Il.)

("Dme" e uma refercucia aos Ap6stolos, lIiscfpulos lie Cristo.)

Em Alphonsus de Guimaraens:

"Ha dl1m(Js lrisles que sao como a lua: A luz que lem c para fodos nos ... "

("Damas tristes" e uma exprcssao que aludc ,is mulhercs que se proslituem.)

ANTANAGOGE - Consistc em fazcr voltar contra a pessoa do acusador os mcsmos argumentos de que se valeu na acm,ao.

o mesmo que retorsiio.

Magnifico exemplo cncontra-se em Rui Barbosa, aD polcmizar com Erncsto Carneiro Ribeiro, seu antigo mestre, a respcilo da anteci­pa<fao do artigo aD pronome intcrrogativo que. Carneiro Ribeiro, abo­nalldo-se em Vieira, recolhe esle c};ceTto: "0 que dirao a isso os todo-podcw$<IS do mundo?" Rui, cntrelamo, dando-se ao cuidado de conferir a cita, acabou por dcscobrir exalamente 0 contr:hio no tC};to original: Que diriio agora a isto os todo-poderosos do mundo'!" E, im­placlvcl, conlra-arrazoa:

52 As [ll!uras de pcn""menlO baseiam·se em pronSSDS 16gkos e pskol6gieos, lendo por urn oonvencer pelo r~ciodnio ou susdlllr emo~iio e p>ixio. Em vista disso, apreseol.;lm grnnje inleresse pan 05 pro(,ssionals d. palavrn e palO oS qUI desejam dedicar-se ~ or316ri> [orel)'

".

ESTILiSTICA

"Assim que Ires vezes cstropiou {} mcslrc aD imlcfcn­so Vieira em menos de uma linha.

"Eslropiou-o, climinamlo-Ihe {} agora. "Tarnol! a cslropia-Io, convertcndo-lhc a iSla em isso. "Nijo conlente, cnHm, de 0 l'slwpiar no vocahulario,

acabou estropiando-o na sinlaxe, com Ihe antepor 0 arli­go 0 ao q,w interrogativo.

"Que (c nos podem merecer lie om ayanle as ci1acfie_" do professor Carneiro, baillas scmpre das indica~6es ne­eessarias ao examc de sua sincerillalll'? Vma casualidade feliz desvendoll a inexa~ao palmar dCsla. COnJo uos cer­lificarmos lIa filldillade lias oulras'!"

(Replica, II, ps. 277-27R, 112 146.)

ANTjTESE - E0 emprcgo lie palavras, idCias ou cxprcss6cs de senlido opOMO.

E};s,:

"Tristc ilusao, que te acordou lao cedo! Fortuna triste, que 0 escolheu tao lard!?!

(0. nilae, in "Abisag".)

"As :Jsas que deus Ihe deu Rullaram de par em par. .. SilO alma subiu ao Cell,

Sea corpo desceu 00 mar... (Alphonsus de Guimaracns, "lsmalia".)5J

APOSTROFE - ConsisLe em dirigir-sc ° orador au eseritor, in­teITompendo-sc, em lorn patt~lieo ou pungcntc, a seres, pcssoas ou eoi­sas rca is, ficflcias ou ausenles.

E};s.:

"0 temporal 0 mores!" (0 tempos! 6 costumes!) (CIcero, CalilintJ.rias, Oralio Prima, cap. I, 1.2.)

53 Apud Muuel Handeira,Ap,....clllafiio dtJ Pwsi" n"uilcira, 1954, p, 298.

Page 111: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

214 RONALDO CALDEIRA XAVIER ESTILiSTICA 215

"8 V05, Tagides min.has, (...) Dai-me agora urn sam alto c sublimado."

(Lus., I, 4.)

"Andrada! arranca esse pendao dos arcs! Colombo! fccha a porta dos tells mares!"

(C. Alves, 0 NLH'lO Negreiro, VI.)

"6 Natureza, A unica biblia verdadeira es ltll ..."

(Guerrajunquciro, "0 Melro", infin.e.)

nUllITAc;Ao - E a figura rein qual 0 orador sc inlcrrompe a tim de provocar impressiies divc~as, principalmcntc a hesital:Sao e a duvida. Essa duvida, cutrctanto, C mcramenle formal, pois 0 vcrdadciro intuito do orador e forlalcccr a sua propria posi~ao, fingindo ignorar 0

que sahe, associalldo psicologicamnclc 0 publico a lese dc(cndicla.

Ex.~.:

"Senatus haec inlcllegil; consul videl; hie lamen VI­

viI. Vivit? Imma vern etiam in senato veniL" (Cicero, Cati/inilrias, cap. I, T, 2.)

Trad.: "0 senado sabe esses fatos, 0 consul (os) v~; conludo e'sle (ho­rnern) vive. Vive? E a1em disso ainda vem ao senado. "

"Mas porvenlum disse eu eoisa, que {) aUlorizasse a me julgar baldo em id€ias lao elementares? Onde afirmci que () plcOlwsmo denuncie sempre indig~ncia do escritor, ou do idioma?"

(R. Barbosa,Replica, (L p. 125.)

EPANORTOSE - E uma eorre~ao que 0 autor finge cfetuar a uma palavru ou fmse que profcriu, a fim de esclarecer 0 pensameuto e toma-Io mais convineenlc c preciso.

&sa busea reloriea da cxalidao inlroduz-sc habilu<llmenle pelas for­mulas: "ou mclhor", "alias", "au por outra", "mais precisamcnte" etc.

Ex.:

"Abornino-te, dcstruidor da Espanha ... Nao! Enganei-mc. Despre­zo-te, sa1teador do dcserto."

(Alexandre Hereulano, Euru:o, °PresbUero, cap, XIV, p. 189.) I

"Rubiao viu, sentiu, palpou ludo pela nnica forcsa do instinto c deu por si beijando 0 papel - digo mal, bcijando 0 nomc, 0 nome dado na pia dc balismo, repelido pel a mac, cnlrcguc ao marido como parte da eseritura moral do casamento:'

(M. A"sis, QI~illcill' Bvrlm, C<lp. XXXIII, p.79.)

EPIFONEMA - Euma cxclama'1ao scnlcnciosa feita, gcralmen­te, no lenni no de uma cSlrofe ou narra'1ao.

Ex.:

"Em lorna a cerea 0 Rei 110 Neplunino, Cos muros uaturais por outra parte: Pelo meio 0 divide 0 Apcnino, Que tao i1lL<;lrc 0 fc7, 0 patrio Marlc; Mas, despois que 0 Pondro tcm divino, Pcrdcndo 0 csforcso, veio a hc]ica ane; Pobrc esta ja da antiga potcslade, Tunto Deus se cOlllenla de humildude l "

(L",., Ill, 15.)

EXPOLl<;Ao - Consistc na rcexposi~iio rna is viva, mais crara, mais cJeganle ou exala do pcnsamcnlo.

Ocorre quando 0 autor, reavaliando as ~mas idCias, pule. daririea e exalifica 0 proprio cslilo, substituindo sucessivamcnlc urn lermo por outro que sc Ihc apresenta rna is adeqna{lo . E, pois, a arle em proeesso, avisla do ouvinlc ou leilor. fcila c rdelta almvcs dc rcloques, apcrfci­'1oando-se, em husea da melllor forma dc dizcr. Esla ngura rclaciona­se de perto com a epmwr!ose, q.v,

Eis como AJexandre Hcrculano proecdc a proeura da cxpressao exata;

"... repuxand(] crU7.;)Jas no ar au espalmando-sc nas faces da pc­nedia, misruravam" (as aguas) "no seu eonfuso SOldo urn murmurar e rugir como de dor, de cd/era, de desesperar;iio, de agollia, quc vozcs humanas nan saheriam ajunlar."

(Eurica, °Presbttero, e[Jp. XVI, p. 229.)

E assim tenia Olavo Bilae cxatifiear a inlcnsidade erotica:

"Ardo e suspim! Como 0 dia tarda Em que meus l;ibios possam ser beijados, M ais que beijados: possum ser mvrdidm'f"

Page 112: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

216 RONALDOCALDEIRAXAVIER

GRADAGAO - E uma progressao ascemJcnlc au dcsccndente de palavms ou pcnsamentos, urn aUfficnto au diminui(Jao na intcnsidade da ideia. 0 mesma Que cllmax.

Diz-sc intellsiva quando II progrcssao se inicia com palavras cx­prcssionalmcnlc mais fracas, ale chcgar as mais fortes:

"Mina-a em redor, dt~sloca-a, imcnsa e brula, Leva-a, cspumcja e £Onea; A ludo il/veste, abala, desimplan!a, Des[rd~ derruba, na evulsao crcsccntc."

(Alberto de Oliveira, in poema "A Torrcntc".)

Diz-sc regressivaquandoos (efmos van dirninuindo palllatinamen~

te de inlcnsidadc. Tal progrcssllo descendenle alguns rct6ricos a chamam anticlimax:

"Ffllta-lhc 0 solo aos pes: recua e carre, Vacila c grita, luta e se ensangiienla, E ro/a e tomba e .'Ie espedaqa e morre..."

(0. Bilac, in ''AhYSS/iS''.)

Obs.: NOle-se, neste exemplo, a simullancidadc do polissfndeto, q.v.

nU'ERBOLE - t a c"agCnl(Jao da idCia a rim de lorna-la m~is cxpressiva. No dizcr lie Lausberg, euma inlcnsificac;ao da evidcncia.~4

Exs.:

"Uma voz trcmula, mas retumballte !rovejou por de· tras dell'S: 'Nao parlircis daqui!'"

(Alexandre Herculano, Eurico, 0 Presblte­ro, cap. XIX.)

"Em sangue ensopa-se a terral ..... (c. Alves, ilt "Pedro lvo".)

"Era urn sonho dantesco... 0 tombadilho Que das luzernas avcrmclha 0 brilho, Em sangue ase banhar."

(rd, in "0 Navio Ncgrciro".)

"0 pr<lnto jorrou-fTle em ondas. " (Luis Guimaracs, in "Visita aCasa Paterna.")

ESnLlSllCA 217

IRONIA - Consistc Duma cODtradi(J30 cnlre a exprcssao verbal e o pcnsamento. Do ponto de vista da moral, como diz Lausberg, e urn vitiufTI contra a veracirJadc. l5 Todavia, ao extemar 0 contnl.rio do qne em realidade pensa, 0 aulor induz a que se reflita sobre a hediondez, a injusti(Ja, a rna-fe, a hipoerisia au a fragilidade daquilo que esla afir~

mando. Na poetica expressao de Raul de Leoni, a ironia e"n pudor da Razao dianle da Vida."%

Enlre as snas modalidadcs principais eslao a antifrase, 0 eu[emis­rno e 0 sarcasmo.

A antifrasc consisle no em.rrego de palavras au express6es com sentido oposto ao verdadeiro. E a base de muitos apclidos jacosos: "Arroz", "Alvaiadc" (para designar uma pessoa de cor); "Hercules" (pam uma pcssoa fraea e raquftica); "Bela Brummel" (para algu€m de­selegante ou andrajoso). A linguagem popular alcnnha os ladroes de "amigos do alheio". Nfls Americas do None c ('.cntmI, e costume cha­mar de delicados nomes fcmininos as cic1one.~, que espalham cal,lstro­res e desgra(JllS (e.g., "Dnlce," doce em latim). 0 antigo Cabo das Tormentas (sempec rderido em Com6cs), assim congnominado par si­tuar-se em rcgiiio procclosa, leve 0 nome mudado, pclos portugueses, para Cabo da Boa Espcran(Ja. As fririas, "divindades infcrnais encarre­gadas de exeeutar sobre as culpados a senten~a dos jUlzcs",H cram pe­Ills gregos chamada~ Eumenides, is to e, as Bemh'olas, asBenfazejas...

o eurcmismo ca suavizalSao da ineonvcniencia, rudez.a ou dcsa­gradabilidade de uma ideia. A" expresf.6cs eufemicas rclacinnam-se, quase semprc, a preconccitos sociais e rcligiosos, a tabus e convelilSoes cSlabclccidos pela polidcz dos costumes e da eliqneta. Para evitar pro­fcrir 0 verbo morter, diz-sc ;'[alccer", "pflrtir", "entrcgflr a alma flO Criador" etc. Aidcia de malar, Camoes preferc:

"Tirar Incs ao mundo detcrmina." (Lus., III, 123.)

A simples mcn(Jao do nome de eerlas doem;as frequentemente apavora, e entao surgem: "tumor maligno" (cancer), ;'mal no pulmao" (tubereulose), "mal dc Hanscn" (lepra) etc. 0 eufemismo c figura pre­

~.~ IbM, p. 290. 54 Op. cil., II, p. 300. % Gp. cil., p, 108.

57 cr. P. GJmmclin, N"~l1 Mila/ogia Greg"" Rom,,,,a, 1947, p.ll7.

Page 113: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

21. RONALOO CALDEIRA XAVIER

senle no dia-a·dia de todos: "faltar com a vcrdade" (menlir), "PCSS03 idosa" (velha). "enriqueeimenlo i1fcilo" (furto, desonestidade) etc.

o sarcasmo vern a seT a zombaria impiedosa, 0 escarnio reita peI0 aulaT a si meSilla ou a outrem.

Bern conhecida eesta passagem bfblica:

"E os que passavam blasfemavam dele, meneando as suas cabc':;3s, e dizcndo: Ahf lu que derribas {} templo, e em tr8s dias 0 edificas.

"Salva-Ie a ti mesma, e dcscc da cruz." (Marcos, 15:29, 30.)

E estoutra:

"Os que te virem te eontemplariio, considerar-te-ao, c diriio: E este a varao que fazia cstremecer a terra, e que fazia Iremer os reinos?"

(Isafas, 14:16.)

Em Augusto dos Anjos:

"Toma urn f6sfoTO. Accndc leu cigarro! o beijo, amigo, ~ a v~spera do escarro."

(Tn "Versos futimo~".)

Em Manuel Bandeira, mofando de si pr6prio:

"- 0 sr. tern uma esc3va<;ao no pllimao esquerdo c 0 Ipulmao direito infiltrado. - Entao, doutor, nao ~ possivel ten tar 0 pnellmo Ito­Irax? - Nao. A unica coisa a f3zer e toear urn tango argcn­Itino."

(In paema "Pneumo16rax".)

LITOTES - Ea afirma<;:ao pela ncgat;:iio do conlr~rio.

Verificando-se sob a forma de unta atenua~ao da idcia, tem afini­dade com 0 eufemismo, q.v., e eontrap()e-se a hiperbole, q.v. Se, por urn lado, a expressao lit6tica abranda as excessos da linguagem, por Dutro revela urn eonteudo de falsa moMstia, traduzido pelas velhas f6nnulas: "certamente seria eu a menos indicado para dirigir-lhes a pa­lavra", au "eu, a ultimo entre todos as presentes" etc.

ESTlLisllCA 219

E:tS.:

"Porem nem tudo esconde nem descobrc o veu, dos roxos !frios pOlleo avaro."

(L"s., II, 37.)

Em E<;a de Ouciros:

"0 Videirinha lneoll, as pequcnas canlaram... Niio se pa.~sou mal."

(A Tlustre Caso de Ramires, cap. IV.)

PARADOXO - ConsiS'.te em apresentar uma idcia dc forma quc se ehoque com 0 senso comurn.

Estilisticamcntc, a fuga aordem logica ea exprcssao arllstic.. do irracional, do scnlimcnto livrc; seu verdadeiro nbjetivo rc~idc cm s,;r­preendcr, cm causar impaclo.

Exs.:

"Se algum dia 0 Prazer vicr procurar-mc, Dizc a cste monstro que eu fugi de casa!"

(Augusto das Anjas, in "Queix3s NolufR3s" )

"Urn no entanto se descobrou num gCSl0 largo c Idenmmdo

Olhando 0 esq\Jife longamcnte Eslc sabia que a vida c uma agita<;iio fcTO;; c scm

Ifinalidade Q\Il~ a vida e trahsao E saudava a materia que pa~sava

Liberta para sempre dM alma extinta." (Manuel Bandeira, in "Momenlo num Cafe".)

o oximoro, fignra que eonsiste cm associar eonceilOS contrndito­rios, assemelha-se ao paradoxo. ksaz conhecida 6 a expressao felix culpa, de Santo Agostinho, eom que 0 tc610go africano alude ao pecado original.

Veja-se em Olavo Bilac:

" ...q\le eu tcnha a morte. P,t;SG nos Jac;os de prisiio tdo doce!"

(Tit "Na Tcbaida".)

Page 114: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

221 220 RONALDO CALDEIRA XAVIER

"E a 'lOite escura eclaridade!" (In "Milagrc".)

Em Fernando Pessoa:

"Elc era urn campones Que andava preso em liberdnde pcla eidade."

("Poemas de Alberto Caeiro". II.)

IJARREsIA - Cons isle em fazer urna al1rmalJ3o audaciosa e, poT isso mesma, surpreendente. E, antes de tndo, urn alrcvimento orat6rio, cspccie de franquia eloeutiva eujo objetivo eSla em provoear, pelo incsperado e pela ousadia, uma forte impressao naqueles a quem se di­rigc 0 orador, granjeando-lhes a atem;ao c a simpatia.

Antonio Vieira, a mais alto nome da parenctica no scculo X'VIl, assim exprobra a pessoa do pr6prio Cristo:

"Nao me 'lllmiro tan La, Senhor, de que hajais de con­scntir semclhante..-; agravos c afrontas nas vossas imagens, pois ja as permitisles em vosso sacr,illssimo eorfX>; mas nas da Virgem Maria, nas de yassa Santfssima Mae, nan sci cornu isto fX>de estar com a piedade e amor de Filho."

(Sermoo pela Born Sucesso dn.\' Armas de Portugal COlUra as da Holallda, IV.)

PERlFRASE - E urn rodeio de palavras para exprimir uma s6 id€ia,

Camnes usou-a iniimeras vczes. e.g., para referir-se ao seu voca­bulo prcferido; Inar:

"E vereis ir eortando 0 salso argento" (l, 18.) "Tens de Neptuno 0 reiflo e salsa via." (II, 2.) "Agord, pelos ltumidos caminhos." (II, 108.) "Entre no reino da dgua 0 Rei do vinho." (VI, 24.) "No Reino de cristal, Ifquido e manso." (IX, 19.)

Para referir-se ao ana de 1497, lOmOU-.'ie chissico eitar:

"Curso do Sol calorze vezes cell/o, Com mais '1O~'enta e sete em que corda." (V, 2.)

ESTILfSTICA

Eis como Fagundes Varela contoma a idCia da morle:

"A dcsgrac;a Sentou-sc em meu solar c a soberana Dos sinislros imperios de alem-lI1mulo Com sellS dedos reais selau-Ie a frunld"

(In "Q.nlico do Calvario".)

EManuel Bandcira, fazendo 0 mc.~mo:

"Quando a Indesejadn das gentes chcgar." (In "Consoada".)

PRETEIUGAO - E a figura pela qual 0 onillor, al'irmando que cvitarli abordar delcrminado assunto, Dele fica insislindo.

Ex.:

"Passemos essa efloca de ineomensuravl~1 dccadcn­cia, em que 0 Papado sc abismou, na qual os papas cram exelllplos vivos dos vieios mais ign6bcis, e a tiara jazcu durante mais de meio sceuJo em maos de mulhcres pcrdi­das; deixemos as torpens de Joao XII, eondcnaclo por urn condlio e dCflOSIO, a invasao germanica enectada por 6ton I, que dcrx1c BencdilO V, Leao VlII c Greg6do V, expulsos pclos romalllls; alravessemosa quadra do podc­rio episcopal, que, no princfpio do sCeulo XI, elcva-se ao auge, e, represent.ante da igrcja, avillada c impotenlc cm Roma pelas ignomfnias papa is, mantcve, em nome dcla, a lul<.l contra 0 imperio, ate ao tempo em que 0 pontifica­do, retempcrando-se Com a oposi(Jiio dos bispas, prepa­rou-se, (...) flara 0 per.ndt! de dominal5ao Icoeralica, de que Hildebrando roi 0 maior ap6stolo e 0 mais aC<lbado tipo."

(Rui Barbosa, inlnlrodm;ao a 0 Papa e 0 Coneflio, de Janus, cap. 1, p. 29.)

IJROLEIJSE - Consiste em prcver as obje(Jocs do interlocutor IlU

adveJSario CrefuLa-las anteeipadamenle.

ReeuJSo dialclieo amplamente usado em oTaL6ria, nao ccontudo cslranho alinguagcm poelica:

Page 115: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

222 RONALDO CALDEIRA XAVIER ESllJ.fSC]·ICA 223

"Ord (direis) ouvir eSlrelas! Certo Pcrdcste 0 sensa! E ell vas dirci, no entanta, Que, para ouvi-las, muila vcz dcspcrto E abro as janelas, palido de e,.<;panto.. ,"

(0. ElIae, Via-Idelea, son. XIII.)

Em Rui Barbosa:

"Diriio que a concordala francesa foi obra de uma espada viloriosa, e niio expressiio da vonlade livre da igreja. Mas nem por aqui sacm bern os eoneordalistas. Se s6 a prcssao violcnla de uma tirania colossal, com a de Bonaparte, em capaz de granjear da igrcja respeito a ins­ti(ui~oes que eslao inerustadas no amago da soeiedadc moderna, tanto maior molivo para dcscspcrar (lc uma trarl."a<;ao inspirada no pensamento de mUluajusti~a."

(Prcfacio de 0 Papa e 0 Concllio, cap. VI, fl. 243.)

PUOSOPOPEIA ~ Consis(c em atribuir vida, palavra, a~ao ou sentimentos a pessoas mortas, a seres inanimados, a entidades llcLfcias, a eoisas abstralas. 0 mcsmo qne personifkar;iio, animismo.

Sem duvida a de maior arrojo imaginativo entre as figufas, Cbas­tante achadic;a nas epopCias, em que {} maravilhoso se mcscla a rcalida­de. Nas fabulas, tambem, c recu~n quase obrigat6rio. Constitlli uma ineursfio pclos dominios da irrealidade, do mito, da emoc;iio pUla:

"J<1 viste as vel,es, quando 0 sol de maio TnllmJa () vale, 0 matagal e a veiga? Murmura a relva: - Que suave raio! Resporute 0 ramo: - Q)mo a luz emeiga!"

(CaslfO Alves, "A Volta da Primavera".)

"E os arCClnjos diriio no azul ao vc-Ia, PellsQndo em mim: - 'Por que n.'io vicram juntos'!'" (Alphonsos de Guimaraes, in "Hio de Chorar JX)r ela os

Cinamomos".)

"Quando nasci um anjo lorlo Desses qne vivem na somhra Disse: Vai, Carlos, scr gauche na vida." (Carlos Drummond de Andrade, in "Poemas das Selc

Faces".)

RE'TICENCIA - Consislc numa suspeusao intencional do pcn­samenlo a fim de dcixar uma duvida no ouvintc ou lcilor, (1\1 de convi­da-Io a mcditar no asslluto. 0 mesma qnc aposiope.re.

A slIspcnsao po<lc seT provis6ria au dcfinitiva, conformc n auLar dcscjc intcHamper lcmporariamcnlc (para incitar a divaga~6es de or­dCill subjctiva) ou de vcz 0 cursa do pcnsamcnto.

Com in(crrup<;ao proviSlJria:

"Vma noile ... cntrcabriu-se urn tCposlciro... E da alcova saia urn cavalhciro Jmla bcijando uma mulhcr scm veus ... Era ell". Era a palida Teresa!"

(c. Alves, in "0 'Adeus' de Teresa".)

Com inICrrllp~a() dcflniliva:

"Vim... Mas nao; nao alnnguemm estc C<ipILlll0." (M. A"sis, M. P6sIumas de B. Cuba"" cap. XXII.)

TROCAIllLIIO - E 0 jogo h:ibil de palavras assemclhaclas qllanLo ao SOm, mas diferenles no significado. 0 flIesmo que calembur.

M tiradas trocadilhlslicas, eomumente, prelendem fazer hnmor atravcs do chis Ie c dil pilh6ria. Nesle gcncro, na lileraLura brasilcira, Emilio de Meneses nao teve qllem Illc 117eS$C sombra. Em seu ddieio­so e variado aocJouirio htl saidas mule grac;a c imagimll;:aO se cl11rcla­~am aJmiraveimenLe, como, v.g., a rcsp<)sta dada, nllm 1eaLro, a cerLa artisla, "mulher eseandaJosa c de mails coslumes", que com de procu­rou pllxar eonvcrsa, sent<ll1(lo-se ao seu !adn:

"-Alriz fllrtJZ, alras hd tr2s..." E estollLf<.l passagem:

"Emilio visiLava nma Exposic;ao dc Cereais. EotTa urn fa­. hrieanlc d~ cspfrito barato c, vendo-o, griLa:

-E milhoL..

Eo cantor de "Pinheiro Morto", eofiando e deseofiando o bigode:

- Voce hoje esL<1 com a veia... E vendo que 0 outro queria escapulir, embclfga-lhe os

passos: - Niio s'ev<ld3!'" Com isso c qne me in... trigo~

E plantamJo-o numa cadcira:

Page 116: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

225 224 RONALDOCALDEIRA XAVIER

- Senlei-o.....,18

Em Manuel Bandeira:

"0 earn rUldo embalador. (cmo como a can<;ao das amlL'i, caula as baladas que mais amlL'i para embalar a minha dor" (ClI/ZlL'i dos Horus, in "Enquanto a Chllva Cat".)lY

A esla rigura em muito se aparenta aparonomlisia (v. Unidade I, 2.5.), onde se niia encontra a inten<;ao de razer gra<;a esim de jagar ludica e expressivamenleeom os paronimos. Temcnrso, praticameme, em ladas as linguas, desde que se Irahalhc. com sonoridades parecidas. Sao paro­nomastieas, I).g., as conhceidas exprt'ss6es lalinas: dum spiro jpero, ad augustaper angusta. H<i parollomasia no dill) Italiano fradullori {rariito­ri; nesta passagem de Rabelais em Gargflntlla, XXVII:

"Trembler ainsi k :iuvice divin! Mais (dist Ie moyne) Ie sen;ice du vin... ·>l·D

E nesla frase de Vieira: "as magneles atraem 0 rerro; as magnalas,o ouro.,,61

5.1. - OrattJriaForense

Ora16ria c a arte de falar em publico. Eloqllencia C :.J "ror<;a do di7.er". isla C, de influir no animo do ouvinte, de domina-Io c persuadi 10 pdo dom da palavra.62

Modcrnamente ha qualro espccies de eloqiiclll:ia eOlJrorme 0 local em que c posta em pratica, 0 fim objelivado c os meios emprcgados: aca~mica, po[{tica, religiosa au sacra e forense au judicitiria. A aea­

S8 ApudRllimundo de Menezes, End/io de Me",!ze~, ° UII;"IO Doemio, 1949, 1-", Il6 cliO. 59 ApudGcir ClImpos, PeqlU.",O Dieioll<'irio de Art.!' Poelk", 1965. p. 77. 60 Aplld Ucnri Moricr, op. dl., p. 297. 61 Apud J. CreLclla Jr., op. cif., p. 135. 62 MuilO &II lem dcbalido qu~nlo) imporlancia alUII <la e1oql&ocia; ~...,rt,,,, ~.uge(1"tore.' C,)Jr­

slderam_n.. em I'r..o,+, proccsso dt.. dccadcncia, verdadeira lrie m,'rihunJa. "'11 pos;~~o. en­lrclanlo, 6 inconsjslenle, porquc parcee ignor~r a rClhd'de poJlilkd un'vct>..1. Com ;oleir.' proprkdadc, Roberlo Uri SUSlcola: "A cloqiiencia SeOlpn: foi, c conlinuH.f I scr, CXI",ol­dlngrio ins",imenlo de pell>usiio. conquisla e domfnio. 0 quc pcrdeu presl(gio nao foj 0

verno, mas 0 vcrn,Jjsmo.'· (D,rl'ilo Pe,,'" "'orm<'/,i~o, 1977. p. 139.)

ESTILISTICA

dCmica visa a deleitar e a homenagear, bern como aD enfoquc de leses doulrinais (conferencia). A poli'tica c a das pralSas publicas c asscm blCias deJiberativas, tendo por mira as ideais de govcrno, 0 interesse coletivo. A religiosa veririca~sc 110 pulpito dos tcmplos c igrejas; destina-sc a robustecer a fc dos erenles c a comhaler a descren\Sa; sellS lemas centra­1i7..am~sc em Deus, no dcstino da alma human a, nos dogmas da religiao rcvclada enos padr6cs de moral alravcs de serm6es, homilias, panegfri­cos c oralSoCS rllnehres. A farcDse eados jUlzos c tribunais; a natureza de Silas pe\Sas ca dcre...a dos inlcrcsscs individuais c do Eslado, a garantia dos direitos do homem pcrantc 0 ideal supremo da jusliISa.

Dispular sabre a superioridade da Iinguagem oral sabre a Iingua­gem eserita, hoje em dia, Cqucstao meramenle aeademica. Se a escrita pcrdura pelos seeulos em rora, eternizando no papel a exprcssao, deixan­do-a gravada para ruturas consultas, a palavra oral tern 0 earisma do imediatismo pot meio da voz e do gcsto, ralando direla menle aos ouvidos e aos olhos. E par cla que a ouvime pode scntir a alma do orador e pcrceber, na rugacidade dos sons, eerlas sulile7..as de mensagcm que a letra fria nao diz. "A eloqiWncia cserita", dissc C'lpmany, "c como a musica sabre a papel; ambas ali jazem morlas e ambas necessilam do auxilio da VOT. e da a<;ao que Ihes deem cspirilo e vida para exerdtar a ouvido e 0 eoralfao do ouvinte."w

A exposilfaO oral au cserila das icteias de urn oradot realiza-se no discurso, eujos elementos eonslitutivos, de modo sum,hio, sao os seguin­

Mtes:

1) ExtJrdio - Ea introdu<;ao ao assunto. Normalmenle, aprcsenta­se breve, simples, direto, como nas Fillpicas de Deml'lSlenes; ou :ure­batado e veemente, como no Primeiro Discurso da Catilindrias de Cicero; ou grave e pomposo, como nas OrQ(;oes Funehres de Bossuel; ou insinuante, como na Orafiio da Coroa de Demostenes. Pode ser eomposto de proposir;iio - onde se anunda a assunto que vai ser enro­eado - e divisiio - onde se mostram, separados e resumidos, os diver­sos t6pieos do assunto.

2) Desenvolvimento - E0 corpo do diseurso propriamenle dito, podendo desmembrar-se em narrafiio e argumenlafiio. A narra<;ao eonsisle em expor, em tom pcrsuasivo au patclico, urn determinado ralo e conde 0 orador proeura eonquislar a adesao do auditorio, innuencian~

63 ApudH6lio Sodri, HI'.~f6rilJ U"ivI"",al da Eloqu;',da, vol. I, p. 23. 64 cr. Jean S~bclVille, op. cir., ps. 406-410.

Page 117: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

226 RONALOOCALDEIRA XAVIER ESTILiSl1CA 227

do-Ihe a inlclig~ncia, au tocamlo-Ihe 0 eorac;ao. Aargumentac;ao, porcm, CO ponto fundamcnlal, a pedra de toque da eloqiit~neia. Ncla se resnmc a arle de discutir as provas, dislinguir 0 vcrdadeiro do falso. de rebater as razocs do adversario, tcndo por fim eonvencer 0 ollvinle. A argumcn­Iac;ao, por sua vez, pade subdividir-se em confirmaqiio c rejiJtur;iio. A prirncira ca partedefensiva; a segunda, a parte ofcusiva. Consoanlc vclho consclho dos mestres da palavra, a confirmac;ao deve dispOTOS argufficn­tos de modo que os mais forles venham em primciro lugar, para alTair a alcm;:ao; dcpois, os menos podcrosos c, s6 entaD, quando ja sc tern granjcada a confianc;a da platcia, os mais fracos. FinalmenLe, camanda tndo, os mais vibrautes, para que causem grande impressao no esp(rilo dos ouvintes. Na rc[utalSao, 0 orador passa para 0 ataque, para a destrui­lSao dos argumentos opostos aosseus. Se 0 desejar, pode faz~-la prccedcr a confirma\Sao, dependendo da eSlralcgia orat6ria adotada. A rcfutalSao far-se-a segundo 0 obslaeulo pela frenle: eriticando a falsidade ou dubiedade de urn fato, desartieulando 0 aparato 16gico de um raciocfnio tendeneioso, reduzindo-o amaissimples expressao, sc possfvel, ao nada; responder-se-a a paixao Cllm a paixao, ainjuria com a injuria, a ironia com a ironia. Em suma, 0 orador eombalcrn com as mesmas armas que usar 0 adversario.

3) Peroraqiio - E a partc final do diseurso. Ncsse ponto eulmi­nante, deve arregimentar 0 orador lodo 0 seu talento e inspiracao para encontrar meios c mOODS de conveueer em de[initivo. As mais belas perora\Soes, geralmente, sao brcves, scm serem laeonicas; sao ineisivas, fortes, eatcg6rieas, mas sem lcatr<llidade; sao 0 feeho de ouro e, por­tanto, perante 0 publico, a 6lrima impressao que ficani do orador.

A palavra, quando habilmcntc cxercirada, apazigua ou incendeia multid6es, gera amor au 6dio, rcslabelece a juslic;a ou [omenta a ini­qiiidade. Ora, 0 grande orador C, antes de tudo, um influenciador de massas; por isso, deve ser artiSla - para poder eriar paix6cs, aealmando au exaspcrando, provocando 0 riso ou a lagrima; deve scr fil6sofo _ para poder falar a intclig~neia do ouvinte e mostrar-lhc urn caminho, aponlar-Ihe nma soln\Sao; deve eoncentrar em si os alribntos de urn verdadeiro lider - para poder eomandar pelo verbo, mudando 0 proprio eurso das emolSOcs eoletivas; e pocla deve ser enfim - para infundir apa­lavra belez,a e musiealidade, dizendo as coisas de modo novo e original.

as autores espceializados eoslumam eousiderar, quanto ao mador, duas espccies de virtudes:flsicas e intefectuais. Entre as virtudcs {(sicas, que sao natura is, figuram 0 claro e agradavcl timbre de voz, a altura da

emiss.ao vocal, 0 senso da entoac;ao corrcta e a eapacidade gestual. Entre as virtudes inlelectuais arrolam-se a inteligenda. agil e penctrantc, para saber avaliar de chofre 0 pr6 e 0 contra de uma afirmalJao e escolher a fonna de argumenlar mais s6lida e eficienle; a .acuidaue psicologiea, para pereeber as tend~neias do audit6rio c caplar-Ihe a simpatia: a imaginaC;ao vivaz, para dar 0 neeessario oolorido as id€ias. Finalmenle, uma outra virtude, ao mcsmo tempo intcleetual e fisica: a mt"moria -; imprescindfvel para que 0 orador nao perca 0 nuxo do pcnsameuto e se eontradiga. Aliem-se a Iud a isso a boa poslura na tribuna, a boa apareucia (nem scm pre indispcnsavcl, alias, pois a hist6ria da eloqiicncia rcgistra varios nomes de uradores que nao possufam beleza ffsica), a expres.<;ii.o do olhar, ao lado de aspectos morais, como 0 rcspeito a vcrdade, 0 culto a justi\Sa, 0 amor ao belo, a eapaeidade de lransfundir ao publico, pelo menos, a impressao desineeridade-e ter-se aoos ingrcdicntes do orador idcal.

Nao se dislingue dos demais, fundamentalmente, 0 orauor judicia­rio, a nao scr pcla nalurcza do seu discurso: ucfcnder ou acusar em nome dajuslil)a. A rclevanl'ia de Sua atuat;:ao c ineontestavcl; uela podem voir a depender os bcns. a honra, a liberdade au a vida de um ser humano. Comoaeenlna HclioSodre. "auvogado~e promolores para quegranjeiem triunfos t~m que sc aproximar ao maximo do ideal da cloqiicneia, quc c ode ser simples c comumcaciva, segura e pcrsuasiva, mesmo nos seus surtos mais patclicos enos instantesde maiordramaticiuaue. A<;sim, com o concurso da voz e do gcsto, defensores e aeusadores, em suas conti­nuadas atualSocs nos lribunais populares, acabam realizanuo aquilo que o padre Anlonio Vieira ja. aponlava como scndo 0 requisito primacial de toda a verdadeira eloqi.icncia: - 'Como hao descr as palavras? Como as estrclas ... A.. eslrelas sao muito distintas, e muilo claras e altfssimas. a estilo pode scr muito elaro e muito alto. Tao claro que a cnlcndam os que nao sabcm, e tao alto qne tenham muito que enteuder nele os que sabem' :>65

65 Op. cit., vol. H, p. 637.

Page 118: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

UNIDADE VIII

REDA<;:Ao JURimCA

Verba volant, scripta marlenl

SUMARJO: 1.1 - InLr6iLo. 2.1 - Como se redigem [lC(;(\5 procci:'o'Su:olis. 3.1 - Modelos de rcdac;:ao jurfdica. 3.1.1 - Proc;ur<l\~(J. 3.1.2 - Pcth;ao inicial. 3.1.3 - Contc."la~:io. 3.1.4 - i\.pcl<l<;~o.

3.15 - Alfao. 3.1.5.1. - A<;ao de ronsignalS<'io em pagamen­to. 3.1.5.2 - Ac;ao de div6rcio. 3.1.6 - Mandado de scguran­c;a. 3.1.7 - Contralo. 3.1.8 - Ala. :l.1.9 - Rcqucrimcnto.

1.1 -Intr6ito

TalvC'.l scja um lruf~mo di7er: quem pensa bern escreve bern - por~

quanto pensar c e.."crevcr sao opcnl.l;:ocs que se concatenam intimamente. o ato de pcnsar, toctavia, nan rcqucr tanto esfor<;o guanln () de eserever, ainda que mal. A scgnoda oper<l.~ao C scm duvida mais complcxa, pois cnvolvc outras componcntcs: a capacidadc de a cscrilor exlemar 0 illilis fielmcntc JXlssivcl 0 que rx;nsa, bem como 0 domfnio que pos~;ua sobre deternlinado assunto e a cslrutura do idioma em que se exprimc.

Para Mat(JSo Gmam Jr., a redac;ao e uma "arte de csercvcr" e nao deve constituir uma "prcrrogativa dos lileratos. scnao uma atividade so­cial indisrx;nsavcl' '. que exigc, eonludo, prepara~ao especial. Essa ar1c de cscrevcr, pmsseguc 0 fnclilo lingiiista, "na mcdida em que se eonsubslan­cia a nossa capacidade de expressiio do pensm e do sCl1tir, tern de finnar rafzes na nossa propria personalidade." (...) "A arte de [alar nao e mais do que uma rni..'-.'e-au-pOirtf dos prcdieados obtidos c eonsolidados no exer­dcio da alividade oral de lodos os dias. A arte de escrevcr precisa Iissen­tar, analogamen1c. numa alividade preliminar ja radicada, quc parte do cnsino cscolar e de urn hJbilo de lcitura iutcligentemenle eonduzido. ,,1

Mal/ual de E:rpre.u;J1> Orl1/ e f:.<criw. 1972, "". 74-75.

Page 119: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

231 230 RONALOO CALDEIRA XAVIER

Infortunadamemc, (Xlrcm, aboa fedat;aO nao pode sef cnsinada a partir de rcgra'i Hxas mecanicamcntc aplicavcis a qlUllqucr caso, Rcdigir bern 6 uma tecmca a que sc chcga alrdvCs de proccssos mais au menos !cnIOS. Os resultados podem sec efica7,Cs ou miD, segundo 0 modo por que se cxccutcm csscs proccssos. Conhcccr a Cundo a nonna gramalical, oonquanto impor­lante, nao e ludo. Sc oosla........e arenas is...o, as gramalicos scnam as melhores escritores - e a hist6ria das litemturdS de todas as epocas e lugares testemu­nlla diferenlc. Por oulro lado, sao raras as Icgi'limas voca~6cs )ilcrarias. Os gBnios nao nascern todos as dias. Sempec alcgra, conludo, 0 falo de que nao cprcciso sec urn grande cstilista da pena para ~crevcr corrclamcnte, e isla 6 0 minima que se deve cobmr de urn advogado cOffip3lCnte. Havendo perseverAn'ia em fazer cerlo as ooisas, exercita910 frcqucnlc c las1ro de leitura adcquada. a maior parte dos obstacnlos sera vcncida. 0 mais e, qucstao dc talcnlo pe.'i..mal.

2.1 - Comose Redlgem PetSas Processuais

A reda~ao das diversas pc~as que intcgram um proo..:csso1 submetc­s~ a uma sistcm~tica al~ ceria pont? rrCCSla?clecida, 0 quc a faz con.vi­zmhar da rcda~ao oficlal, carlon'ina' c, maJS rcmolamenle, eomerclal. Mas uma I'egra deve, a limine, ficar assente: nos papeis que tramihlm em jUlzo nao se faz Iiteratura. Jose Olympia dc Castro Filho observa com justeza: "Scja no costumc de articularou numerar os pcrlodo,~, de forma a cJestacac uns dos outros, seja na ado<JUo dc urn vocabulario reslrito, de ardem lccllica, advogados, jUI7..eS e membros do Ministcrio Publico, ainda quc excelentes cscritores e poetas, nao ulilizam a forma litcraria, expositiva, senao adotam a pcsado cstilo do foro. quc ninguem, ao que conste, ainda eonscguiu reduzir a nonnas, mas que todos sabemns que existe. Com 0 advogado, nao pode, e nao devc, ser difcrcntc. Nao esta no

2 Em Dlmlo, enlcndc-sc pur procuso (do lat processl/, 'march para adianle', pois se IT'l' de &10 pralicado no 8mbilo do poder judidhio que caminha poc ~.rio' Inimitcs, al~! sen­ll:Dlra jQdicial que lhe pie lCrma), "uma oper.~io lJOr mejo d. qual sc Qbl~m a eomposi~io

d. lide", Compor. lide por seu tumo, sjgnifica "I"\"_wlve_la con(orme os ",.nd.menlo, da ordem jurfdka, quer diur, resolver 0 eonfljlo stgundo a vonilide d. lei", "(".('Impr>r a Ilde ~ f111l~iio da juris<ii~io, l'roeeS50, assim, ~ mti" dt 'IQe se y.le 0 EsI.do pan c~cr"cr sua fIIo~i" jurisdidooal, islo ~, para rcsolQ~o das lides c, em c"nseqGencia, du p~leo.oes. Proces.w ~ 0 inslrumenl" d. junsdl<j""'" (Moacyr Amaul Santos, Primciras LiHha. de Di­reilo Pro<;essllaJ Civil, 1980, 1· vl>L, ps. L1-12; 274.

3 Pan' familiariz3<jio com. lin8""8cm oOlarial, a reda<jio de m;nvl.s de escrilUTiS e co­Ithccimcnlo da legisla<jio do rcgislrn de im6veis, ~ de rer.omcn,ta,_$C a obra M,ml/ol PrJr;. <;0 do. Tobe/iacs, de Segadal VianOl C i\@uiarGorini.

REDA<;AoJURIDICA

Prct6rio para brilhar, OU fazer literatura, SenaO unicamcnlc para defeudcr a interesse do dicnlc. ,,4

Recorde-se a norma do art. 156 do C6digo de Proces50 Civil, que c taxativa: "Em todos os atos e termos do proeesso e obrigat6rio a uso do vemaculo." Dal se infere a obrigatoriedade do emprcgo do idioma nacional em todas as pet;as do processo, ficando implicila a exigeneia de que a linguagem se mOSlre escorreita, easti~a, iscnta de estrangeirismos, tecnicamcnte precisa e cscoimada de ambigiiidades. No caso de haver nos autos dncumento rcdigido em lingua cSlrangcira, a regra do arlign seguinte delermina se fa~a aeompauhar "devcrs3o em venuiculo, firma~

da por trad\llor juramenmdo". Em linguagcm forense, insisla-sc, ha f6rmulas cDosagradas relo

usa e pela praxe; (udo deve ser cscrito de modo objelivo, claro, em obcdi~u<.:ia It 16giea c aprecisao dos eonecilos, eliminando-sc indescja­veb filigranas verbais, rebuscamenlos de c.'>lilo, rlmeios lilerdrios, am­bage..... desnccessarios e pcrlodos lortuosos. Dos millS individuals que sc possam fazc!" da Hngua (idiolctos), nao ha cabida para seque!" a mais leve cogila~ao. Eufim, a redal1ao jurfdiea prccisa ser COrreia, enxuta, limpa de cxibicionismos c visar urn so alvo: a eomunica~iio t6:niea, imediala e direta.

Afora 0 aspecto tla eorfCI;5.o, irnprescindlvcl scmpre, bern louge do c."posto ha de eslar a oratoria forense (v. Unidade VII, 5.1.), par operar em plano de comunicat:.><!{l inteiramenlediverstJ c de uatureza propfcia ao arrebatamento relorico c as licen~as ditadas pclo vigor expressiona I, {;Om vistas a sensibili?..ar c persuadir.

Nan h<i negar, a aride? lerminol6giea, a frieza tCcnica e a preocu­pa~ao C<lm a dareza sao pralicamente uma eOllstanlc na verdadeira linguagem processual; com scr assim, nem por isso ficara impedido 0

advogac1o de imprimir as idCias 0 cunho de sua pcrsonalidade (estilo), tolhendo a imaginat;iio ou lIeixando-a reduzida aina~ao total. 0 que St: candena sao,as dcspmpositadas invcncioniccs verhais, a lilenllice an6­dina, gratuita, quando nao tola. Fundamentais devem ser 0 alinho e 0 uso apropriado da palavra, como cnfatiza urn de nossos melhorcs causldicos: "Articulando uma inicial; conlc:>tando urn pedido: arrazoando c susten­lando, oralmente, urn rcculSo; minutando urn agravo; argiiindo uma cxce~ao; manifeslando um recurso extraordimlrio; conlrariando urn libe­10; defendcndo, lJU acusaudo no juri: enfim argumcntando f pelieionando,

4 Prul;"'oFore"se, 1980, vol. I, p;. 177-178.

Page 120: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

233 REDAc;Ao JURimCA 2..'\2 RONALOO CALDEIRA XAVIER

requereuuo, 0 aLlvogado, no Foro, au no eserit6rio, tern na lingllagem 0

veleulo e a instrumento esseneial de seu Irabalho.".1 Em eonsonaueia com esle ponlo de vis1a, Edmundo Dantes Naseimenlo Olinda aeenllla que "nao M advogado scm gram:1tiea, visto como a inteleeyiio, au a inter­pretaiSaa LIe leis., senten~as, aeord50s, conlratos, eserituras e lestamentas se reduz aamilise L1a texta aluz dOl gmm:1liea."~

Estc, 0 ideal; nao, parem, a realidade hi'i muilo abservada em todas as varas, federais au es\.3dIJais. Nas toneladas de papCis que earrem por elas a verbosidade balafa eas L1esmandas LIe linguagem silo lanlos, \.3n\.3s as imprceis6es tenninologieas e as iueoerencias de argnmen(a~ao, que 0

advogado scm born preparo, em lcndo hldn isso, (jea eonfuso, enlrega-se ao eontagin do errn e ale se desaveza dOl elegantia iuris de que fa lava 1hering, ou seja, 0 apma estetieo da expressao jurfdiea.

Scm embargo da clegfineia do dizer jurldieo, exislem eerlos euida­dos elementares quc nao podem ser ncgligcneiados, valeuLlo mencionar, entre oUlros, a adequa~ao de lratamefllo, a paragrafa~iio eorreta c 0 born emprego dos sinais de ponlua~ao.

Em linguagcm (orense, usa-se 0 Iralamenlo, sempre, em 3Dpessoa. Pe1icionando, a fofma de revereneia, para juiz, e V. ExD (ciirig(ndo-se a eIe), ou S. ExD (falando dele); conscqiienlemenle, 0 pronomc posscssivo eorrespondcra aquela pessoa: seu, sua (jamab; msso, vassal! ).1

A paragrafa~ao eonccrnc ao modo dediviLliro lex:to em paragrafos, Oil se~6es do diseurso, que eon1enham uma iLleia (x:nlral e oulras agluli­nadas a primeira por uma rela~ao comum. Qmvem que 0 panigrafo se constilua de introdur,;QO, desenvolvimelltO e conclusiiu.B A iJl{roLlu~ao

eon~m a ideia-nucleo do pedido; 0 desenvolvimento, a Slla ex:plana~ao

mais pormenorizada; na eonclusao, tenta-se provar a vcraciLlade das tlm'ies expostas. Tnexislcm regras imutaveis sabre a melhor forma de paragrafar, mas uma norma deve ser observada: 0 paragrafo prccisa encerear em si mesmo, sem desbordar para a scguinte almves LIe eonjun­

5 1::li~s.l.f RQSlI, OsErros mms COffl14fU rl<U P"t;pjcs, 1972, p. 6., Liltgl4og<:m For<:1lS<:, 198(1, plI. 222-223. 7 A ral~vraj~ir provtm do Ill. il4dex, -icis, 'aq~d~ ~U~ dj~ 0 dire]lo', d~rivadll de i ...(s) 'dl.

rei I'" t -tkx, de dicere, ·dizer·. (Cf. A. G. Club, op. cit., p. 457.) Como formas de respeilO, ~m reeursos dirigidos I trib~nals (de Jusli~a, de AI~~d, ek,.), IIsarn·.., os .djelivos col""de (do IIlI. co/emi", genllld.iQ de coler", ('cullUar') uu <:greg;o (do III. e8rt!gill, 'dislinlo'), com u tespe~u sillllilica~oes de dig/IO de (Jc(J{"",,,mo e ~,,_ fjer""OQ, n~p"i/ovel e Uuslre, u.sign".

8 P,U urn millucioso esludo sobre Ilienici de elllbolll~iio do plngrs[o, v. 0 exceJente lrab3_ lho de Olbon Glrcil, cil., plI.18~_270.

~oes eoordenativas au ~ubordinaLivas, 1000 urn delerminado assunlo, vindo a constituir uma unidade eSlanque do diseurso.

A ponllla~iio tern pOT fim, na linguagcm eserita, reprodu:dr apcoxi­madamenle as pausas da oralidadc cloeutiva, Daf que, para a inteligibi~

lidadf do pcnsamento, e imperioso saberempreg.ude modo eonveniente as sinais mareadorcs de p.!lusas (virgulas, ponlo C vlrgula e ponlo) c os marcadore..'i de enloa~ao (dois pontos, ponto de interro~a~iio, ponto de exc1ama~iio, retiecneias, aspas, parcnleses e travessao). Rememnre-sc, a prop6sil0, a sapiencialli~iio LIe Rui Barbosa: "Nos momenlos escrilos da hisl6ria, ou L1a lei, urn ponto, Oll uma virgula podem eneerrar os deslinos dc urn mandamenlo, de uma insliIUi~ao, ou de limit verdade. ,,10

3.1-Mode/os de RedLu;iioJurldica

Par mndelm; de reda~iio jurfdic<l enlendam-sl' aqui, csLriLamcnLc, as pe~as LIe forma lhada, ou quasc fixada pelo exerclcio pr31ko C TOLinciro da advoeacia: requerimeulos, alas, edilais, eserituras, prnCUT(lC;OCS, eon­tralos, peti~6es, eonLL'SLfU;OCS, apel<l~(lCS, agravos de i Jlstru menlo, embar­gos, mandados dc scgnran91 ele., ete. Nao poLlcriam cncaixar-se nesle easo, obviamculc, pe(fas de outro plauo rctlacional- sen tCIH;as. ae6rdaos, pareeeres, lextos.i urisprudenciais, L1outrimlrios ete. - que, pdo pn'lprio tear, nao ohl:'uccem a uma Iiuguagem mais au menns padroni,,_ada, senao ao livre alvedrio eriativo LIe seils aulores, sem prejuLw, lodavia, do formaiismo Icenico a que eslivcrem adstritos.

Os modclos aprcscntados a seguir tern apcnas uma fimliLladc didalica, qual seja a de iniciar a fuLuro advogado, pcla simples lcilurn c observa~ao atenLas, na tcenica de retligir diversas pCljas jurfdicas. 0 assunlo, por L1cmais amplo e cnmplcxo, mlo podcria nem deveria mcre­eer, nfsle livro, tralamfnlo em profundidade, visto que, no curricula universittirio, 6 CSludado em diseiplina especiali7.ada: Pralica Forense.

3.1.1 -Procura\ao

Couformc disp6e ° arl. 1.2&g, if! fine, do C6digo Civil, "a proeu­ra~iio e 0 inslrumenlo do mandala". Em Direilo, mandalo e uma de/e­ga\Qo de poderes, caraelerizatla como urn "eontralo pelo qual uma

9 Sobre ponlua~iio, v. C:t~o Cunha, op. cil., ps. 420·0"'; RQcha Lima, op. cit, p5. 422-437; Evanildo B~char3. (;rwllci/icd. dl., ps. 334-339.

10 Riplh:a,ll, p. J95, nO 33(1.

Page 121: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

235 234 RONALOO CALDEIRA XAVIER

pessoa sc obriga para com oulra a gerir au conduzir a born [ermo urn afaZ,er quclhc fai confiado" ,II Diz~semaruJfJnleaqllcle que pratjca 0 ato, quem caRlere as poderes, quem sc obriga para com terceiros; c mando­u1rio aquclc a quem se defcrcm poderes para pralicarcertos afos. Assim, a rcprcscnta\ao e 0 elemcnto c..<;sencial do mandato. No dizcr de De Placido c Silva, a procuraiSao e"0 documento au tflulo mediante 0 qual uma pcssoa, poT esc rita, dl1 a outrem podcrcs para, em sell nome c pOT sna conla, praticar alns on adminislrar intercsscs".121nstrumenlaliUldo pela rrocura1Sao,t~ 0 manclatario passa a agir em nome do mandante, dcfcndendo-lhe as intercsscs, cxeclltando-lhc, em 511ma, a vontade.

Quanto a forma pOT que se manifesta, pode a procura~ao ser pu­blico ouparticular. Sera publica, se conferida pm escritura ou pOT ins­lrumenlo publico dcvidamcnle lavrado, em livro de nO(3s, pm labeliiio on serventuario compclcnle; sera particular, sc assilluda por quem a oulorga ou por oulrcm a quem I'll faculdade edcJcgada.

Varios sao os tipDS de procura~6cs, valendo rcferir, entre oulros: ad iudicia, ad ncgOlia, apud (leta, e~pccial, gcml, por instrumento par­ticular, por in~lrumcnto publico elc.

o § 1~ do arl. 1.289 do COd. Civil cstabelcce: 0 inslrumcnlo par­ticular deve canter a dcsigna~ao do ESILldo, da ciclade ou circunseri~ao

civil em que for passado, a data, 0 nome do Olllorganle, a indivicluar;~o

de quem seja {} outorgaclo, a natureza, a dcsigna\uo c a cxtcnsiio dos podcres confcridos.

MODELO DE PROCURA<;Ao POR INSTRUMENTO PARTICULAR

Pelo presenfe instrumento parlicular de mandalo (nome do man­dante, qualijicar;iio e identidade), abaixo assinado, nomeia e constitui sen bastante proeuradoro Dr. (nome domantlatario, qualificat;iio e n~de

inscrit;i1o na OAB), a quem eonfeTC as pOdcrcs para (enumerar os

11 Dc Pl~~il1<> e Silv>, TrLJWdo do MOI"),,lo c Pra/it'a d,,~ Procuro~ijeY. J989. I" V<ll.. p. II. 12 Tralado, Z' vol., p. 925. 13 Conv~JD aqui alcrlar oS m~no. "vi~~d<lS: u.to obslanle freqnenl(ssimo no me;o jlldJ;co,

con.lilu; erro p>lmar ° inkjar i&-<\m Urn, procora~.to: "Pdo prcscnl~ in"rumenhl de pro· cura~.io .. ." Os que, por ina<1v~'I,;nd&, as~im 0 fnem esl'" encamp.ndo uma inc_"er~nci.

p<lr lanlos dcspercebida, lornand" a pf(leura~jo jnslr~menl" dela mesma f nilo do mandal0, cOmo delerm;na:l precisiio conceilua!' J)'ga_se, pois, coerenlomenle, conforme 0 modelo a seguir: "Pe/o preYe"le ills/run/emo de ",alldalo",

REDA<;Ao JURIDICA

poderesconferidns), bern como 0 de substabcleeer esta em quem mclhor Ihe convier.

Data.

(Assinatuffl dn mandante, com firma reconhecidn)

Obs.: $e nccessidade honver da concessiio de qualqucr pader es~

peeial, este deve constar no pnlprio instrumenlo. Por exemplo: " ... e com poderes especiais para abrir creditos em bancos, avalizar, dar e Te­

eeber quita~ao, firmar compromisso, hipoteear e transigir." Ou ainda: " ... para 0 fim especial de (especificar o:ipoderes concedidos)."J4

3.1.2 - Pefit;iio [nidal

PCli\ao inicial ca formula~iio, por escrito, de urn pcdido aautori­dade publica (0 jniz competenle), invocando a pre..<;la~50 jurisdicional do Estado, no senlido de atendcr a urn dircil0 da pessoOi. Diz-sc inidal a primcira peti~ao, ou ~cja, aquda em que 0 autor fundamenlara a sua pretensao, dando inicio, assim, ao proeesso, acausa judicial.

o proecdimcnto ordinaria para redigir uma pctic;ao inicial eneon­lTa-sc regulado pelos arts. 282 e 283 do Codigo de Proccsso Civil. Para atender os rcquisilos legais, a inicial devera indicar:

I - 0 juiz ou tribunal, a qne cdirigida; II - os nomcs, prenomes, estado civil, profissao, domidlio e

residcncia do aUfor e do rCu; III - 0 fato e os fundamentosjuridicos do pedido; IV - 0 pcdida com as $uas cspccifica~6es;

V VI

- 0 valor da causa;J·' - as pmvas com que °autor pretende demonslrar a yerdade

dos fato..'> alegados; VlI - a reqnerimenLo para a cita~ao do reu.

14 Para conhecimenlo do. ~1<lS cuj:! pdlica eJlige podercs .sped"i., v. Segad.. Viannt c Agu;ar Gorini. ManuulPrilliro das Prrxu"'.;iie,', t981, ps. 38--40.

15 Cf. CPC, art. 259.

Page 122: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

237 236 RONALDOCALDEIRA XAVIER

MODELO DE PETI<;Ao INICIAL (JUfzo CtVEL)"

Exmo Sr. Dr. Juiz de Direito da Varn .

(Nome, qualifiL'W;iio e enderer;o do Autor), vern rcqucrcr a V.Ex~

sc dignc de mandar citar (nome, qualificw;iio e enderer;o do Rb~), para os ICanos de urna aI;iio de indenizar;iio, com 0 procedimento sumaris­sima (C6d. Proc. Civ., art. 275, II, e), inclusive para comparcccr aau­dicncia que for designada pot V.Exn, em que provara 0 scguinle:

1. No dia de de 19 , cerca de horas, qnanJo o Antor dirigia 0 vclculo de sua propriedadc, marca , da fahri­ea~ao de 19 , placa n1." no cruzamcnto da Rua com a Rua teve 0 referido vefculo abalroado peln carro de placa n" ....... marca , de propriedade do Reu.

2. Deveu-se 0 acidente 11 imprndcneia au imperfeia do motorista que conduzia 0 carro do Reu. uma vez que, como roi apurado mediante perieia, cfetuada logo ap6s pelo Departamento de Transito, (indicar la­tos au circunstflncias consfantes do laudo pericial; au, Ii lalta deste, latos au circuTlstflncias que revefem a culpa, como, par exemplo, ex­cessa de velacidade, illobservtlncia de regra de trflnsito etc.).

3. Apuron-se, alem disso, que 0 mulorisla do carro do R€u nao possuia habilitat.:;iio legal para dirigir.

4. Do acidente resultaram, para 0 vcfculo do AUlor, os seguintes danos materiais deseritos no laudo perieial: (Ii lalla do lauda, descrel'er as daMS).

5. Tais danos foram, no laudo pericial, estimados em Cr$ ......., imporlancia esta que 0 Aulor ja despcndeu com os reparos e suficiente apcnas para alender as despesas da lanternagem, fallando ainda 0 ne­cessario para a pintura, eonforme 0 On;amento n~ , da Oneina ............. , na Rua , n~ , em anexo.

6. Ademais, sendo 0 Aulor motorista profissional e lendo 0 seu vcfculo devidamenle registrado, como taxi de aluguel, rieou Imp(J~sibi-litado de exereer sua profissao durante dias, perlodo exigido para 0 conserto do carro. ~m eonscqiicneia, advicram (ueros ecssantcs eslimados em Cr$ diarios, media comum c frcqucnte em carros de alugucl fiesta Cidade.

16 Com algomts allen~e~ 110 telllo;>. ,.pudJ. O. de Ca~(ro Filllo, op. cil., vol. 1, p~. 452- 454.

REDAC;Ao JURiDiCA

7. Outrossim, do acidcnlc resultaram ferimcntos ao passageiro do vcfculo. tendo 0 AUlor, como respon~vcl pelo transporLe, cfctuado as rcspectivas despesas dc medico c hospitaliza~ao, que atingem 0 tolal de Cr$ , eon forme documenlos em anexo.

8. Pelo exposto cdc conformidade com 0 art. 159 do C6digo Civil, deve a presente a~ao ser processada e julgada procedente, com a condc­nat.:;ao do Reu a pagar ao Aulor a imponancia de Cr$ , corre.'ipon­dente ao total das despesas feilas, ou 0 valor que vier a ser arbitrado, aerescido dos JUTOS de mora, eorre~ao monet:'iria, honorarios advocatl­dos e custas.

Para prova, rf':juer: dcpoimcnto pes~oal do Reu, sob pena de confesso; inquiri~ao de teslemunhas; perfeia.

Valor da causa: Cr$ ..

DaLa.

(An'inatura do Advogado, n~ de iTlscrh;iio na DAB e endere~a para

intimaqoes)

3.1.3 - Conteslaqiia

Na conceitu<l~ao sinlelica e predsa de Moacyr Amaral Santos, contesta~aoe' 'a resposla doreu aa~ao do autor". Alraves dela, esdarece () iluslrado proccssualisla, "0 ren exeTce, na sua plenitude, 0 direilo de eonlradic;ao, ou defesa, em face da a~ao ou da pretensao do aulm".n

Presereve 0 art. JOn do C6d. Proc. Civ.: "Compete ao reu alegar, na contesta~iio, {oda a materia de defe.~a, expondo as razoes de falo e dc dircito, com que impugna 0 pedido do aulor c cspeciCicando as pravas qne pretende produzir." Deslarte, a eontcslat.:;ao tern par escupo refutar a pretensao do autor levllda a jUlZO, deslruindo a argnment3~ao desen­volvida na inidal, ou, pelo menos, 3rrolando elementos dcfcns6rios que influam sabre 0 julgamenLo das qucstocs pi ::liminares, ou do merita, no senlido de que, ao proia tar a sentent.:;a, 0 juiz dcnegue ou desacolha, no Lodo ou em parte, 0 pcdido formnlado pelo aUlor.l~

17 Op. dr., 'Z' vol., p. 205. j!l No sistema proees,ual brasileim, pode 0 r~u defender-se. ainda, a\ravts d~ argiii'iiio das

eJ!Ce'iije~ de incoR'pclcncia, de i"'pcd,menlo e de sU<l'd'iio (ere, arl.'.. 304 a 314), 00 re­convindo (CrC, arl.'.. 315 a 31~).

Page 123: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

238 RONALDO CALDEIRA XAVIER REDA~AolURiDiCA 23')

Torna-se prcferfvel, "por Corgada praxe Corense, que, asernelham;a da inicial, seja a eontestagao de forma orliculada, separando-se cada fato, ou argurnento da eontrariedade, em eada item" .19 Assim, a paragrafa<;ao deve ser nurnerada, a fim de que se separem os diversos assuntos versados.

MODELO DE CONTESTA<;Ao NO PROCEDIMENTO SUMARfSSIMO"

Exmo Sf. Dr. Juiz de Dircilo da VaTa .

(Nome do R~/I, qualifica,iio e residfn.cia), citado para os termos de uma ac;ao por (nome do AUlor), vem apreSenl<lr a V.Ex~ a seguinte eonlesta~ao:

PRELIMINARMENTE

1. E incahfvel 0 proeedimenlo sumarfssirno prclclldido pcla llli­

cia!. EfetivalUente, (apresenlOr 'w; razoes proccssuals que sc opol/ham 00 procedimento sumarf.~\·imo).

DEMERl71S

2. No merito, impmcede a ac;ao.

3. Realmente, (segue-.'Ic a e..:r.po.'li,iio qllanto aas [atos). Pclo ex­poSlo, eonna 0 Ren em que a ac;ao sera julgada impcoccdentc, com a eOll(lena~ao do AUlar 1I0S honorarias de advogado e custas.

Para prova, rcquer: apresentagao de inCormal;oes a ; pre­cat6ria para ; pcrfeia, inquiri<;iio de teslemlllihas.

Data.

(AssinntIJra do Advogado, ,,9 de inscrif,;i1o nn DAB e endereqo para

intimaf,;Oes)

3.1.4 -Apelat;iio

A lei faenlta 0 reexame das deeis6es, quer de ju/zes singulares (sentenc;as), quer de 1ribunais (ac6rdaos), que nao tcm pois, canl.tcr de irrevogahilidade, antes do tnlnsito em julgado. Correspondente aanliga provocatio dos rornanos, surge 0 reeurso, nos tempos rnodcrnos, como urn remedio jurfdico para re[onnar ou modifiear uma decisao judich1ria de que diseorda a parle sucumbente. "0 reeurso scmpre se defere da autoridade de inferior instaneiCl Cjniz a quo) para a autoridade de superior iustancia (juiz ad 'Juem). Pocle, porcrn, ser intentado perante 0 pr6prio juiz que deeidiu."

Conforme dispfie 0 arl. 496 do COd. Pme. Civil, sao cabfveis os seguintcs reeursos:

I - apclagiio; II - agravo de instrumenlo;

III - embargo.." infringentc..<;; IV embargos de declarac;ao; V - reeurso ordinario; VI - recurso especial; vn - recurso eXlraordinario.2l

Por apelaqiio, entende-se "0 recnrso interposlo para 0 juf:t..D supe­rior da selltem;a do juiz de primciro grdu a rim de ser oblida a sua re­forma total ou parcial" .~.l De aeordo com a pr<lxe forcllse, apresenla-se () reeurso atravcs de dois alos separados: petiqiio, fcila ao juiz proia tor da sentenga, C razues - onde se funclamenta 0 recurso - dirigidas ao Tribunal recorrido.

Em eonsonancia com 0 que preecilua 0 art. 514 do Cod. de Proe. Civil, a peli<;ao reeursa\ interposla, dirigida ao juiz, devera conter os seguintes requisitos:

a) os nomes e a qualil"ieac;ao das parIes;

b) os fundamenlos de falo e de direilo por que apela;

c) 0 pedido de nova deeisao.

21 De Pliddo e Siln, VQ~ah.."'ri". til .. vol. IV. p. (3D.19' 1. O. de Caslro Filho, op. cit., vol, 1, p. 174, 22 Inci~Ds rom red.~io delern';no,t, p~J. !.Ai n' 8.03B. d~ ~H.5_90_ 20 Com al!!~mas aher.~&s no lexlo, aprld J. O. 11~ ('~slro Fjlho, op. cit., vol. 1, p. 449. 23 Moaeyr A. Shnles, op. cit., 3· "01.. p. J07.

Page 124: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

MODELODEAPELA~Ao

Ex.mo Sr. Dr. Juiz de Dircito da Vara .

(Nome e qualijica/yao do apelanle), nos autos da il(jao em que contendc com (Proc. nQ

), data venia, nao sc conformanJo com a respeil3vel sentcO<ja de 11s , contra esta vern inlerpor apela(,;ao para 0 Egregio Tribunal de Justil;;a (au TribfJ.ttal de Ah;ada, au Tribunu! Federal de Recur,ms), com folcra no art. 5lJ do COd. Proc. Civil, pelas raz6es que adianlc expcmle.

Re.qucr a V. Ex.D, parlan/D, se dignc de admilir 0 recurno na for­ma e para as fins de Dircilo.

Data.

(Assinmu.ru do Advogado e nIl de i/l.Scrit.;iio na GAB)

RAZOESDEAPELA~Ao

Pelo ApcJanle,

Egregio Trihunal de Justi~a do Estado de , .

A esp~cie

1. Nestes aUlos, 0 Autor (resumir, em seg1J.ida, tudo 0 qu.e preten­de oA1J.tor).

Na contesta~ao, (remmir, em seguida, lUdo 0 que suslelltou 0 Reu).

2. No eurso do proeesso, (fazer refer~ncia, no que couber, a questOes incidenles, de ordem processua~ que tenham sido resolvidas peloJuiz e venham a consliruir elementos preliminares do recu.rso).

3. Apreciando a demanda, houve por bern ° MM. Dr. Juiz a quo julgar II lI~ao (expor os fundn.mentos e a conclusiio da senten~a).

Crttlea a sentenqa-apelada

4. Nao ob~lanle, data venia, impfie-se a reforma da resp. sCOlcn(ja­rccorrida, pclas raZ(les scguintcs: (enumera-las (mIas).

CONCLusAo

5. Pelo cxposlu,

ficando demonslrada 0 desacrr!o da resp. sentcm;a-apelada, conna a Apelanle em que 0 Egregio Tribnnal dara provimento aprescnte apela­<sao, para julga (0 pedido de procedencia da 4~tiO, se 0 reClJr!iO for dn Autor; OIl. 0 pe(ly!o de improcede,n:ill da aqao, se 0 recurso for do Reu; eVell{llalmul,lC, 0 pedido de Ilulidade dll Sel1lellra, a Jim de que outra sejll prolat (/a), com a condcna()io do Apclado nas ens Las enos honorarios de advogado do Apclanle, a taxa usual dc 20% sobre a va­lor da eondena(,;:Jo (ou, ~·e for 0 caso, () [(JXIl de " % so/>re 0 valor da ~'allm), ou aqllC for arbitrada, como cdc Dirdlo e de

Jusli(,;a!

DaLa.

(Assilllltllra do Advol{udo e n.iI de illscri~:iif) lUI OAB)

1.1.5-AqDo

o dircito obje]ivo, au scja, a lei, protege eerlas especies de Inleres­ses, bern como cventuais ennl1itos que resultem do enlfcchoque (lcsses InteresseI'. Ouallda 0 canni \0 de inleresses 6 Lutelado rcln direito, tem·se u rcla{fHojlllldit:a, na qual inlervem duas classes de pcssoas (personae): sujei{(l alivo e sujeilo passivo. SujeiLo aliv(J (: aqucle que tern 0 .'leu illlcre::;se prolegidn pela lei; sujeiln passivll, 0 que tern () Sl:U inLeresse vinculado a uma ohriga<.;ao.

A resolu{fHO do conflito dc inleresses, normal mente, impl ica a suhonlina{fiio desses sujril0S aos ditames da lei. To([avia, se as partes cn!mm em desaeordo, pm inexislir acomoda~iio de seus interesses, um dos sujeilOS ira cxigir que 0 oulro se subordine ao interesse que julgou l"t'fido ou prejudicado. Conscqucntcmeulc, uma das parIes fical:a entre

Page 125: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

243 2 RONALDa CAlDEIRA XAVIER

athudcs alternatjv<lS; ceder au rcsistir It prclen!>50 da onlra. Sc eerier. havcr~ uma composi'S3o tranqiiila do conflilo; se, aD reversa, resistir, vcrifica-se a tide, iSla e. "cont1ilo de ;nlercssc.s quali[icado por urna prctensao resistida".z~ Neste caso, 0 Estado devcfa sec provocado para que cxen;a 0 que se chama fmu;ao au tutela jurisdicional, cujo escopo e dirimir a lide com justi~a, sob a egidc da lei que regula () cunnilo em especie. A'lsim, a composi'S3.o da !ide e casufstica, llrna vez que procura D soluljfio pard l:ada caso sub judice. Provocado pDf quem traga lima prctensao a sec protcgida pela direito, 0 Estado, perantc 0 easa concreto, compod 0 ronflilo segundo a IegisIai;ao em vigor. Ora, precisamenlc cssa provoca'Sao fcita 30 Eslado para que exert;a a [ulll;ao ou lutela jurisdicional, instaurando 0 proeesso, e 0 que se denomina aqlio. Em mauhia processllal, port::mto, entende-se por a~ao a I'llcu1l1ade que tern 0

titular de urn direito de postula-Io cmjulm. Por isso llavera sempre uma 3l.lao pam prolcgcr eada direito legilimo, irlfrangfvel principia que se eonsubstancia, alias, no art. 75 do C6digo Civil: "A todo 0 direilo correspondc uma 3l;ao, que 0 assegura_"

Para que qualquer a!Jao se legitime, e mister eocxislirem tres requisitos chamados cOlldil;oes da (l(;iio, edilauos no art. 2J57, VI, do COdigo de Proecsso Civil: D) possibilidadcjllcidica 110 pedido; b) inlcrcs­St:. de agir; e) qll3lidadc para agir.

3.-1.5.1-Arao tie Consig"arao em Pagamento

Conformc prelcciona Washington de Barros Monteiro, "ovocaou­10 eonsignal$ao advcm do latim cum signare, em que se lobrig<J veslfgio de allliga llsanl$a, no scnlido de exibir-.sc 3 .soma dcvida e cn1rcgue em pagamento num saeo fechado c lacradocom sinetc" .2' E a vclha acer-;ao romana conurma 0 Senlido alual do inSliluto, is(n e, "0 deposito Judicial Cdto em pagamento de urna dfvida" .2~ Assim 0 explicilam, a prop6sito, os tcrmos do ar!. 972 do C6digo Civil: "Con.sidera-se pagamento e cXlingue a obrigac;ao 0 depOsito judicial da eoisa devida, nos casas e Corroas legais."

A consigna~ao em pagamcnto e, puis, lIIlI rccnrsojurfdico adispo' si!Jao do devedor para a entrega indirela da prestac;ao ao eredor, caso este se escu.sc de Tcccbe-ta (mOTa accipiendl) sem justa causa, ou lie dar

24 MOAcyr A mltal San lOS., op. cit, 1" vol., p. 147. 25 ClJrso de Din:iw Civil. Dire;lo das ObrjgOlio~s, 4' Yolo, 1979, p. 273. 26 cr. snyjo Rodrigu.u. Dir~;/o Civ,·I. Parle Gcral rku Obrig",'oes, vol. II, p. 193.

REDAC;Ao JURfUiCA

quitac;ao legal, bem airula se· circunstfincias ou falos supcrvenicnles impedircma cfetuac;aodo pagamcnto diretamcnleaocrcdor. Porconseguin, te, 0 YcI1enlc instituto jnridko, que perlcnee, .10 mesrno tempo, ao dircilo :-Iubstantivo e ao direito adjelivo, mais a csle do que aquele, no conSCllSO da maior parte dos especialistas, fat com que 0 devedorse exonere dupJarnente: do vinculo obrigacional e do labcu de impontualidade.

o rilo proeessual cstabclecc que, apos a propositnra da ac;ao, sent dlado 0 ere<.lor pam que rcccba 0 valor <.lcp08ilado ou 0 impl..lgnc, con~

~oanle as razocs de dirciLo que puder apresenl.ar.

MODELO DE AC;Ao DECONSIGNAC;AO EM PAGAMENTO

Exmo Sr. Dr. Juiz de Direilo da _.. Vara .

(Nome do impctrll1tle du a~lio, qua.l~ricar;iio e residellcia), em w;iio de consignar;iiu em pagamc/l.lO corUra (nome cia pessoa C01/.tra (juem a ar;iio e impelrtldfl! (i1w1ijica<;iio e residbu;a), vern expor a re­{Iucrer a v. Ex.~o :-;eguinle:

1. Conformc se veri(iea alraves do Contrato de Loeat;ao allexo, 0

Reu locou ao Autor () apartamenlo .sittJalio na Rua , nil , pelo aluguel lie CR$ mcnsaif:, acrcscido £las llc<;,

pcsas lie conuomiuio c taxas, no valor de CR$ , , a sercm pagos ate 0 dia __ . __ de eatla meso

2. Sueelle, cnlrctillllo, que 0 Reu, por mtltivos dcseonhccilios pclo Anlor, dClcrminou ao Banco , omJc era FeilO 0 pagamenlo m~usal, a sll"pensao do recebimenlo do referido aluguel. Procurallo p<;ssoalmente pela AlJlor, a Rcu, atravcs de evasivas, e!::iquiva-se de re­ecber 0 prec;o ajuslado e conlralado.

3. A. vista do exposm, e de conformidadc eom 0 que prcscrcvem os arts. 973, I, do C6d. Civil, e 893 do C6d. Proe. Civil, vern requercr a V. Ex.nse digne de mandat eitar 0 Rcu para, no dia c hora fixadu<; por V. Ex.K, vir ou mandar rcccber a quanlia devilla, sob pena dc, nao 0 fa, :t,endo, ser efeluado 0 rcspcetivo depOsito e julgada proceoenle a pre~

.'iClllc a~ao, dcclaranilo-se cxtinla;l obrigal;ao do Autor com a conde­nllt;UO do Reu nos hononirios de advogado e custas.

Page 126: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

244 RONALDOCALDEIRA XAVIER

Para prova, rcqucr: perfciOl; depoimento pessoal do Reu, soh pena de eonfesso; inquiri~iio de tcstcmunhas.

Valor dOl C31IS&: CR$ " .•

Data.

(4,",~inatara doAdvogado e n~ de inscriqao 1Ul GAB)

3.1.5.2 -Aqao de Div6rcio

o div6rcio, COIllO esahido, foi introduzido no Brasil pela Lei nl! 6.515, de 26 de dezembro de 1977, que passou a regular a materia.

"Objeliva 0 divorcio", dec\ara Pe(lro S;)mp;)io, "a dissoluc;iio do casamento valida; enquanLo que 0 matrimonio scm vlliia juridica rcela­ma a anula<;ao. Por sua vez, a separa<;ao judicial dissolve', apcnas, a so­dcdadc conjugal, rC-"Lando, pois, ineolume 0 vInculo cOlluhial". "AJ nossa Icgislac;ao", continua adiante, "acolheu a ."epanH;:ao judicial e 0

cliv6reio, mas ao faze-Io deu ao divorcio urn cunha especial. Temos, assim, a separac;ao judicial como figura juridk:) uUl6nonm, a qunl po­dera ser exl'rcida pelos qne salisfac;am os prcssuposlos l' rcqlli.~jIOS en­feixado-" na lei. Segundo () nosso ordenamcnlD posilivo. 0 ellsal judicialrncnte sepamdo podera eonlinu;)r nesta silua<;iio jurfdiea llLe que nm dell'S resnlva Imnsformar a scpara<;ao judicial em divorl'io". <7

Na a<;ao de divorcio nao se tra"/..cm a balha os OIolivos dclcrmi­nanles d;) separa<;ao jndicial dos conjugcs; sua fillalidade c, simplcs­mente, converter em divoreio a separa<;iio ue raIn, sendD me$mo dcfcsu ao juiz, na senlcnrsa de eonversao, exlernar-se a rcspeilo tins razoes que enscjaram () dcsfazimento da socied:HJc conjugal, confdrme prcccitlla, alias, 0 art. 25, illfille, da rel'erida lei. Em eonseqiientia, a pCli~ao a ser cncaminhal1a ao juiz dcvcnl conler apcnas (l eSlrilamente neeess~lri() U apr('cia~fi() do reihl.

A conwrsiio da separa<;ao em divorcio dar-sc-a, lao-somenlc, ap6s a decreLnc;iio da separarsao dos eonjugcs, transeorrido 0 lapso dc Lres anos da daln da senlcn<;a.

REDAC;AoJURfDiCA

MODELO DE A<;:Ao DE DIv6RCIO NAo-CONSENSUA

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Din'ito dOl Vara .

(Nome do cunjuge proponente ria u~·ao, qualificaqiio e end vcrn, poT intermedio de seu procuT;]dor Olbaixo assinado, cxpor c rer a V. Ex.n0 scguintc:

Em data de de de Diecita dOl Vara cursa pelo cart6rio do

de 1974, por sentem;a do cnl~

n3 a~ao de dcsquilc judiciiJI ql OHeio (rrol'. nil ), lIcsquilm

sua mulher (n.ome por extenso), conforme comprovil a l:erlillao ir fornecida peln Sf. oficial uo regislTO civil desta Ciuade.

.Hi havendo deeorrido m:lis de 1fes ano.~ da respeitavc\ se que julgou 0 desquite, e eslanuo 0 requerellte quite com seus en, a tflnlo de alimenlo-" e ja kndo sido. lambcrn, e[eluada a parlill hens do casal (eerl. inclwm), vern reqllerer a V. Ex.~, nos term arts. 25, 35, paragrafo unieo, e 42 da Lei n~ 6.515, de 26 de dez de 1977, a eonversao da separa<;ao judicial, ora exis(enle, em dh para 0 que pede a cila<;ao dc (/lome do ontra C{j/ljuge), resident( eidade, na fua (dar 0 endereqo), a fim de que ofere«a conteslaj prdzo de 15 dias, sob pena de revc\ia.

Dando acausa 0 valor de CR$ ..... " ........ e protcstando pOJ a.s provas que se fizerem ncccssarias, pede e espera deferimcnto, decreta<;ao da eonversao ora requerida, nos termos da lei cm vige

J. esta ao proeesso da a<;ao de desqnite nQ do carte ........ Offcio, pede lambem a convoca<;ao do Ministerio Puhlic( funcionar no feito, nos termns do arl. 82 do C6digo de Processn (

Dala.

(Assinalura doAdl!o~ado e I inscriqiio na'OAB)

21l Com alguma, allera~iie~ no lellO, llpud Anlonio J05~ de Souza Levenhagell, Do ( roaoDiv6rcio, 1980, p.l.iL .

27 Divor<;io c Sc/.('m,,·Qo J"didtll. I9R3, ]'S. L56-157.

Page 127: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

246 247 RONALDO CALDEIRA XAVIER

3.1.6 - Mandado de Segurwu;a

Fruto da inspirlll;ao do jurisla brasileiro, pois fei eriado £lela Cons­tituillao de 1934, art. 113,Z? mandado de seguranc;a, lalo sensu, ea ac;ao intcntada, por pessoa fisica au juridica, eom 0 ob.telivo de que se Ihe 3ssegure direito liquido e eeno em virlude de leT sido esle viol<'ldo au amea~ado por aLo inconstitucional emanado de agcnte do poder publico.

Impetra-sc mandado de scguranc;a (instituto acolhido pelo ine. LXIX do art. 5f! da Consliluil:Sao de 5.10.88) para proteger direito Hquido e eerto, mio amparado por habeas corpus ou habeas data. qU311do 0 re..<;pons<lvcl pela ilcgalidade ou abllso de poder for au toridadc publica ou agente de pcssoa jurfdica no cxerefcio de alribuiyiio do Poder Publico. 0 semido teleologico desse inslj tuto judiciario, portaulo, eannlar os c[citos do ato administralivo praticado pcla autoridadc coatora, que a pcssoa

1'.1 eoacta j ulga le.."ivtls aos seus direilos fundamentais. Nao se inclucm como , atos lesivos, rara que sc p05sa fundar 0 pedido, que se eontem 110

maudado de seguranlla, os alos disciplinares, as de latu,;amen(o de imposlos, os utos de rcstrh;iio () liberdnde e os alas udmil1istraLivosI'I recorrlveis" ..10

Entre as fOllIes do mandado de scguran<;a cslao "os varios writs'l do direilo anglo-amcricano C0 amparo mexicano. Todavia, sua principal [onle [oi a doulrina br<Jsilcira do habeas wrpus" .Jl

Petic;iio i/iicial. Dc eonformidade com 0 dispOSIO pelo <Jrt. 282 e 283 do Cod. de Proc. Civil, devidamente inslrufda, a inicial devcra indiear:

a) a autoridadcjudiei:lria a quem cdirigida;

b) a qnaHfiea~a6 do impelranlc (nome, naeionalidade, eslado ci­vil, rc....ideneia ou dnmicilio e profissao);

c) a auloridadc aqual eatribufdo l) alo impugnado;

29 Cc. Monoe!, G~n<;al~cs Ferreira l'il~e, Curso tk jJ;",;lo el.ms/ill/cio""I, 1980, p. 296. 30 Dc PUci,lo c Silva, V"c. J",{,Jj,''', cit., veL Hr, p. 979. 31 A polan. inglesa writ (cujl pronl1nk~ eo,,~l.l ~ ';1, eniD mir. pols '1u<\ d~riv~ de "'r;/Icll,

p"rlj~l ..iQ pa"'ad" ~e r" wrilc) signiflca ~~ail", esaitllra e, ~m Direim, "nit'", esc,ila do j\'ji p~ra que sej~ r.i.. a Bprcscnl~~.il\ l'cssoal d~ algu~m.

32 Man",,! G. Fcrrcira FjJ~Q, itl, l"r. ,;,. Com rcl~~.io 10 IwlXJGS carpus, r<lnvhn Ilolar 'lu~,,.

dcspcilo da jn<'g~vcl ~imililu<.le com <l m~ndado d~ seguran~a (lidl>5 CIS dois COmO "r~mt·

dios de dire/to consliluciouj"), Cinsli(ulo, de origem inglesa, criad<l pgr. gara~lir, ~pcn.s,

a liberd~de de locomo<;~o, lrolando-l;e de, <:omo ensina H~lio Tornag~l, "remNJi~ judici~,

rin eOll(ra 0 mal da Hegalidad~, do exc~s'" au do abuso de poder <.Ie 'lu~ r~suha violCnda ou eo~ ..io na Jib~rd.de de ire vi,". (eL Cm~'o aePrtx:cs.\·oPe,wl, 198fl, vol. 2, p. 380.)

REDAC;AO JURimCA

d) ° fato de ser Ifquido e eerlo 0 dircilo do impclmnle;

c) a i1cgalidade do alo ou 0 abuso de padcr que 0 revesle;

f) as providcncias cfclivamente rcqucridas;

g) os docllmenlos nccessarios aimpctra~ao do mandado;

h) 0 pedido de nOlifiea<;ao do eoator;

i) 0 pedido de suspew;30 do alo (se for 0 easo);

j) 0 valor da causa.

MODELO DE MANDADO DE SEGURAN<;A"

Exmo. Sr. Dr. ,hliz de DireilO da Vam Federal

(Ou: dos Feitos da Fazenda; Oil: EXlllO. Sr. Dcscmbargador- Presi­denle do Tribunal de JusLi~a; all: Exmo Sr. Minislro-PresidcllLC do Supremo Tribl1l1al Federal; ou: Exmo. Sr. Minislro- Presidcnle do Tri­bunal Federal de Rceursos).

(Nome do impclrante e quulificaqao), par seu advogado infra assinado, impelra mandado de segllran~a contra .lito ilegal do Sr. Sceft':­lario de Saudc da Prcreilura de (indicar), para 0 que cXpOe e requer 0

scguintc;

1. 0 impetraute, que excree 0 Ci.'fgo de (indicar), coneorrcu 3 uma das vagas de (indicar), submctendo-sc, para isso, a eoncur:-;o pu­blico de provas (oral e escrita) e dc tftulos, Oblcve 0 5~ lugar eutre as coneorrcntes (indicar comprOl/at;iio).

Anunciado oficialmcntc 0 resulJado do concurso (indicar doctJ.­menlo comprobat6rio), cspcrou 0 impctrante que SCll nome Fosse iudi­cado para prccncher uma das 10 vagas abcrtas pela Lei n~ ........', de (huliear a data), habilHado que esta, pclos mcios lcgais, ao provimcllto do cargo.

Surprcendenicmellle, porcm, a autoridadc, aqui denominada con­lora, ao inves de obedeccr aordem de aprova~ii.o no nJIICurso, inseriu, dcpois do nome de (imbcar), 4~ eolocado, as de (ituficar) e de (iluli­

:I.l Com pcquen,s ~hera"i5cs nO \tell';', "pua J6nal~s M/lhomcns, Mum,,,1 de P,.uicG Fore,,,,,:, 1984, ",. 709-710.

Page 128: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

249 248 RONALOO CALDEIRA XAVIER

Cllr), que oblivcram classifica<;ao inferior (7g e 89 lugares, respectiva­mente).

2. Om, 0 alo ostensivo do Sf. Sccrctario viola dircito Hquido e ccrto do impetrante. Se a municipalidadc chamou candidatos a concur­so e decidiu-se a aproveitar no sCfvi(jo publico as aprovados, cleve ohc­deccr rigorosamente aordem de c1assific3(jao, quaisqucr que scjam as tftulos cicntHicos ou nobiliarquicos dos cscolhidos.

3. Pelo exposto, e cxibindo scgunda via dcsta pCli(jao e dos docu­menlas que a inslmem,

pede a nOlifica<;ao do coator, na forma dn art. 59, LXIX; e que se sllspenda a ata impugnado ate a decisao da C3lL<;a. cspenmdo scja con­ccdida a scgnran<;a ora impctrada.

Da-sc a causa 0 valor lie CRt .

E. dcfcrimcnlo.

Data.

(Assinarura doAdvogada e 11° de imcrir;iio tla OAB)

3.1.7 - Cantrato

Contralo, como instrumento juridico, Curn documento escrito (mui raramente verbal) que eomprova a existcnda dc urn acordo de ~'ontades,

estabclecillo enlre lIuas ou mais pessoas, para a obtent;ao de urn urn qualquer. Como ato juridieo que lambem C, tollo conlrato vi~a a allquirir, resguardar, transferir, Dlodiucar au extinguir uma rda<;ao de direilo (C611. Civ., art. 81).

Na conceitua<;ao de Orlando Gomcs, eontralo C"0 negocio jurfdieo bilateral, ou pillrilateral, que sujcita as partes aobscrvancia de condula idollca it salist'a([ao dos interesscs q uc rcgularam". "Na pralica", declara [) conspftuo civilista, "emprega-se a palavra contrato cm accpc;6es ctistinlas, ora para dcsignar 0 neg6cio jurldico bilateral gerador de obrigar;oes, ora 0 instrumento em que se formaliza, seja a e..<;crituld publica, 0 escrito parLicular de e~lilo, simples missiva, ou urn recibo. Na Jinguagem corrente, essa sinonfmia esla gcneralizada a tal ponto, que os leigos sup6em nao haver conlrato se 0 acordo de vontades nao estiver rcduzido a cscrito. 0 conlrato tanto sc cclebra por esse modo como oralmente, nao sendo a forma escrita que 0 conslilui, e sim 0 encontro

REDM.;Ao JURiDiC/I

lie duas dcclara<;6es eonvergentes de vontades, emilidas ne ~rop6sito de constituir, rcgular au eXlinguir, enlre os dcclaranlcs, nma reb.t;ao j urfdiea patrimonial de convenieneia mutua. ".l~

o efcilo primordial de urn contrato Cgcrar obrigat;ocs, sejam cbs reciprocamente a~sumidaspelas partes eonlralantes (eontrato bilateral ou sinalagmalico), ou par apenas uma delas (=onlrato unilateral). Para que sc eslabt'ic([a 0 conLrato, econdi<;ao inllispensavel 0 concurso volitivo, ou seja. 0 conseulimento expresso ou taeilO das partes. Dependendo das cireunstancias, podem os contratos serpassados por instrumenlo publ ieo, nu celebrados livremente, por instrumento parLicular.

No qne lange ao aspeclo redacional, os conlratos nao obelleeem a formulas rfgidas e fixas, mas cessencial que neles eon~lem os nomes e as assinaluras lIos conlraentcs e das testemuuhas, 0 prazo cle validade e, cvidentemente, 0 objeto que Ihes deu causa.

MODELO

CONTRATO DE HONORARJOS DE ADVOGADO"

Pelo presente inslrumenlo particular de honor<'irios, escrito por ......... (nome do conlralanle que escrever 0 illstrumento), c por ambos <lssinado, declaramos que entre n6s, F , advogado resillcnLc nesla comarca (au l1a comarca de ) e F (profissiio e residi!ncia), se convencionou c conLratou 0 seguinte:

Ill) 0 actvogado F ....... obriga-se, em eumprimeu[o do mandalo judicial reccbido, a prestar o~ seus servi<;os profissionais, na lIefesa dos dircitos de E ......., na a<;30 eontm esle proposta por F......, no foro desta comarca, praticancto, com zelo e alivillade, 0 que for neeessario em pri­mcira e ullima inslancia (au somente 1/a primeira);

211) Em remunera<;ao desses servi<;os, 0 eontralante F pagara ao advogado F os hononirios liquidos e eertos de CR$ (por exten­so), senda (declarar aqui 0 modo de pagamento);

311 ) 0 advogado F.... reserva-se 0 direilo a pereep<;ao das eustas, que forem eontadas uo feilo, obrigando-se 0 eonlralante F...... a Ihe [or­

:\4 Contra/os, 191'9, p. 11. :\.~ Trall"'''lo LIe Affon.o Dionpio G"ma. Teo.i .. " Pn,/;nl d".. C,,,,I..,ro.'· F'" h,s/n,m,,"lo

Par/;""I..r liD Dirl:irt> Bra.ileiw. 1980, "". ~~~-5~4. C I:>em de re""mendar-.c eSI! obra, &li~s, e,ol'l'lo rOMt dt coJ\~yJl.. so!>r. as m.is divc~15 c~¢cic" de CQJ\I"I0~ t mr>llos de Rdi· gi-Ios.

Page 129: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

252 RONAlJJO CALDEIRA XAVIER

diu vinic e cinco de janeiro pr6ximo 0 infcio das rcfcridos abras. Nada mois havcndo que tratar, c como ningllcm qlliscsse usar dOl palavra, 0 Scnhor Pn:siclente levantou a sessao. E para eonslaT, eu, , Scn('l~rio

da Asscmblcla, lavrei a presenlc ala, que vai por mim c pelos dcmais prcsentcs assinaua.

(Seguem-se as assinaturas do secretdrio e demais presenles)

3.1.9 - Requerimento

Eo eucaminhameuto de urn pcllido a autoridadc compcrcnrc para atendt!-lo au dcncga-Io. Podcm as rcqucrimcnlos seT [cilos de viva VOl:

au POf e..<;crito, sendn esla iiltima forma a mais eamnffi. "No cursa dos proccssos forellsl:S, as rcyucrimCllloS, em geTat, sao promovido' por cscrito. E, quando [citos vcrbalmcnlc, cm rcgra, sao iomadospor lermo, salvo qnando se refcrem apedidos de cerlidOe.y on para a loS eXlraproces­suais,,:)q

MODELO DE REQUERIMENTO COMUM

Exmo. Sr. DirctUl Ja FaculJade .

(Nome do a/uno), malriculado ncsla Faculdade, na area de , sob 0 n~ , vern requerer, com base no Dcerclo nQ 69.450,

I: isen~ao de pratica dc Ednca~ao Flsica, juntando cerlidiio de idade para I, provar que emaior de trinta ,mos.

Ncsfes Term os P.Deferimento.

Dala.

(Assinalura do reqlJerenfe)

APENDICE

L6GICA

NOI;OES FUNDAMENTAlS

PARTE I

INTRODUc;:AO GERAL

"A convi~l'i() do Oencia (e, pais, da filosofia cienlifial) e sempre sus­cctlvel de reeomrosi~'ao e aperfeilioamcnte. Eurn arnOT !las proposig>es ver­lladeiras; nfio uma exposi<Jfto de proposigJcs como verllades. (...) Ciencia e persuasao. Dndr.: sc impOc, nao ha maL<; ciencia."

PonIes de Miranda.)

Ad~'ertblcia

Como indica 0 subtflulo desle Apendice, aqui sc objetiva sim­plesmenle forneccr os rudimentos minimos e indispcns3vcis aqueles que fazem da palavra, no exerclcio profissional, inslrumento diaIcljeo de persuasao, de convencimento. Estao ncste caso 0 diploma la, 0 poli­tico, ° parlamenlar, 0 Iribuno, 0 professor - c 0 advogado. a Aulor li­mitou-se a conlroverter ape nus 0 que julgou imprcsriudivcl no plano filos6fico, enlregando ao leitor a larcfa dc rc[lclir c lirar as suas pr6­prias HaliDes.

Breve Hist6rico

Segundo antiga lradiliao que rcmOllfa a Gr~cia classiea, LOgica (do gr. logiM; 'relalivo arazao') c a ciencia que eusina 0 modo eorrcto

o Problema Fudame1llal ,ilJ Co"l,u;nu,/I10, 1972, p. .14. 36 Dr. PUtidD e Silv~, J.'o~.J"riJicr>. ril.. vol. IV, p. 1."55.

Page 130: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

254 RONALDO CALDEIRA XAVIER

d~ usaf a razao pard alcan~ar a venlade. A maioria dos historiadores considcra tCT sido Arist6tclcs (384-322), tiascido na cidadc de Eslagira, na Tdcia, 0 criador da L6gica. Escrcvcu cIc dllas cspecics de ohras: as exoffrims, redigidas em forma de dil'ilogo c destinadas no grande pu­blico, e as eSOIf!ricas au acrnamtUicas, de caratcf privado c cndcrcc;a­

2da~ ao ensillO em cscolas. Das primciras, feitas no periodo da mocidade, rcstaram apenas alguns fragmentos, pcrdcndo-se a maioria; as outras. feilas em ida de madura, Coram as que chcgaram al~ n6s. Scm pretl~n­soes ]jtcnl.rias. quase laquigrtificas, cram simples ponlos de referenda, vcrdadciras <J.llolac;6cs de aulas a serem dadas no Liccn, au talvez rcsu~

mas de lic;6cs minisLradas em Asso, antcs dc ser preceptor de Alexnn­drc, futnro imperador da Macedonia.'

Di6genes La6rcio, di:'>cfpulo do Estagirita, reuniu-Ihe os dipersos trabalhos sobre L6giea (Cafegorias, Tratado da InferprelalSao, T6picos, ReJutafs"Oes dos SoJismas, Prill/eims Anallticos e Segundns Anallricos), titulando-os com a palavra Organon. islo C, instmmento"

A intlucllcia de Arisl6lelcs estendeu-sc por lolla a Idade Medin, eujo ensino se proccssava pelo m~lodQ silogislico. c somcnte a parlir do sec. xv, com a dccmJcncia da eseol:h;lir.:a, Cllcon(rouos primeiros eserios Oposilores, principalmente em Francis Bacon 0561.1628), que, na obm Novmn Organum, conslr6i um novo melodo filos6fico geml, cOllsidemn­do 0 metodo dcdulivo - baseaclo em prinefpios absolutos - incfieaz para a descoberta de verdades sabre 0 munelo real, antepondo-lhe a ilHhusao e a sistemaliznc;ao do metotlo expcrimenlal. Bacon, entre ontros merilos, ..I teve 0 de acender 0 raslilho para uma seric de illOvac;oes no amhito da filosofia c da cicncia modernas, mudando a forma de analisar a realidadc. Nesse mister sucedeu~lheGodofredo Lcibnitz (1646 -1716) - a qncm se deve, juntamente com Isaac Newton (1642-1716), a invenc;ao do calculo difercucial-, animado pelo sonha de eriar uma ciiJncia gerul. amplinndo as ap1ieasoes das malematicas atravcs de uma simb61iea dcnominada c/llJracleristica universalis, que permitisse dizer, em qualquer disCTlssao. "calc u!cmos", em Iugar de "discntamos".4

A partir do sec. XIX, operou-se uma verdadcira revolusao r.:oper­nkana em todos os setares da L6gica, subserita pelo rename de eonsa­grudos malcmalieos e fil6sofos: Morgan, Charles Boole, eujos trabalh()s

2 Cf. Klimke-Colomn. Hi.<I(>r;a <k fa Fifosojia, 1953, p. 65. 3 cr. Bmile Dl'thier, J/isrori" d.. I" Filo-,ojia, 1948. 1" "'mo, p. 200. 4 Ibid, '}!' lomo, p. 2J2.

t\PENDICE 255

foram llcsenvolvidos por Peano, Bcrlrand Russel, Tarski, Schroder e oulros. Sao dcs os inieiadorcs de uma nova eieneia, a Logisliea

5 (do gr.

logistike, 'rclativo ao c:lleulo'), que tcnla introd uzir a lceniC<l algcbrico­matemalica e seus sfmbolos no lratamt:nto de problemas da 16gica formal. A primeirn obra eonsiderada c1assiea, neste aspee(o, e Prrllcipia Mathematica, de Berlrand Russel e Alfred Whitchead, ambos filiados ao positivismo logieo, nma das mais importantes eseolas dn pcnsamento filos6[ico atual, eriadora de lmia uma algurftmiea deslinada a rcpresentar as operd(,;oes lIlentais.

Tudo isso nao tern obstallo, cntretnnlo, a que aulores modemos deelarem que "Ia calegor[a hist6rica quc dclimita mas exactamenfe el perji/ propio def desarrollo de ta /6gica a fo largo de fo sigfos es fa de 'diJerel1ciaci611 progresiva"', e que "en ef Orgwum arislO/lYicn se cncuenlrall ya fodas las parIes de fa 16gica modema elt Jorma de germen.".6

Conceitos

Dc Ulll modo geml, entre os autorc.~, nao h<i discordancias signifi­cativas quanto aconceilua(,;:lo.

Para L. Liard, Llgiea c "a ciencia das formas do pcnsamento".7 Alh. Joia, le6rico marxiSln. aprcscnta-a como "eicncia das for­

mas e das lci~ (10 pcnsamr.:nto l"orrelo e verdadciro", 011 ainda "a cien­cia do racincfnin eorrelo que lom<l possfvcl a eomprecnsao de aspeclos variados da realidallc objctiva pclo cmprego apropriado quc dcla fa­zcm as l"icneias cspecials".~

Em Esle\iiiu Crnz, ClIculItra-sc: "cicncia lias leis do pensamcnlo c a arle de aplid-las11O conheeimcnto da vcrdadc." Ou, de modo mais sucinltl: "ciencia da arle de pensar".9

Theobaldo M. Santos rcrete praticamente a mesma coisa: "den­cia das leis idea is do pcnsamcnto c a arlc de apliea-las a pcsquisa c a

- da verd d c ,,1".demonstrac;ao a

S a nOlllc foi plOjIO"lo po;,r 11c1~on e Lalande. elll 19(14. no Co~gresso de FHoson~ de Genebra. 6 David Gucla Raca, r'llrod"cci6" u /u LogicrJ J,f"rkma. 193(;. p. 9. ("0111 0 .eu rerino sellse

of h",'w"r, por6m, Berlrand Rus~cl rlllllento: ··N. inr.,c"rja ~il,\gI5Iirl dcvemo~ ""her de nlemiio lj~e lodo homem emorlal e que SOL:r~le~ { urn hornem; d.1 d~duzirclllo" 0 ljueja_ mail< l<u"pcilarf"mo~ de outra fornla, ou .cja, 'lu~ s.5nale5 ~ momL" (FIlI/donleIlIOS Ik Fi· tosojia, cil., p. 85.)

7 Logica, 1963, p. LO. B A Logica Di(JUlica, 1965, p, 14. 9 Compeljdio de Fi/osofia, 1932, p. 271. 10 Mmm,,/deFilosofia, 1967,p.195.

Page 131: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

2;6 RONALDa CALDEIRA XAVIER

Antonio Xavier Telles diz: "a citncia au 0 cSludo das infercncills corrctas do ponto de vista de sua validade", scndo infercncia valida aqucla que "csta de acordo com as regras do seu sistema".l1

Miguel Reale afinna sec "a eiencia positiva dos signos, das raf­mas c do proccsso do conhecimento", isto e, "0 cstuda das cstruluras ronnais do conhecimento, au do pensamcnto scm conteudo".12

Divisiio

Tradicionalmentc, a L6giea e dividida em duns grande.'> panes:

I) FORMAL, GERALou PURA.-Ea que formula as rcgras para quc se ordenem enrrctamente as opcrac;ocs mentais: ideia,jnizo e raciocfnio. Estuda a pcnsamcnlo sem contelido, scus signos e formas cxprcssionais. Ou ainda: invesliga 0 conhecimento inlclectllal em si, em sua pr6pria estrutum, sells modos ou leis . . nde ser malS geraiS..

II) MATERIAL, PARTICULAR ou APLICADA. - Ea parle que lrata de aplicar as oflerac;ocs da mcnle 11 finalidadc de cada cillneia cm particular. Alguns a idenlificam com a Teoria do Conhecimento, i.e., a estullf] do aspeeto objelivo do conhe~ cimenlo inlelcelual, invcstig;wdo-Ihe 0 aspceto de verdade, quer di7.cr, sua conformidade on nao com 0 objclo rC(llmcntc exislenle em si. H Liard acha prcfcrfvel dcnomina-Ia metodo­logia, ou ciencia dos meladas. Assim, tem-sc a 16gieajuridica, psica16gica, social. lingriistica etc. Ha aulores ainda que prop6em uma tcrceira parte - a 16gica cr[liea on criteri%gia - para cstudar a problema da vcrdade e do erm.

Que t FilosoJia?

Nos diversos coneeilos dc LOgiea anteriormcntc expcndidos apa­re£cm, como toniea, as termos ci{!nda, conhecimento c verdade, as quais, flor sua extrema importaneia filos6fica, mcrceem esclarccimcn­to. Antes, parem, e preciso dizer algo sabre a pr6pria filo:;;ofia, outrora

II Novo C'<rim de Fila.,o!ia, 1966, p. 261. 12 Filosofio do Direila, JOH2, L' vol., p. 25. 13 Cf.lo~t M' Rubcrt Cauda •. DiaioTwria MOtwal de Filosofia, 1946, p. 400. 14 1<1., loco cit.

APENDICE 257

eicncia nniven;al em cuja ambH~ncia, nan so a Llgica, mas as dcmais raffiOS do saber cslavam comprccndidos.

A varicdadc de com;eiLual;o~ c infinda, havcnun meSilla qnem, como Wiudclband, consi(1crc nfJo scr posslvc1 "uma ddinit;iio de filoso­fia rcconhccicla por lodos" .J.,

Dc origem grega, a p:Jlavra fllosojia, ckriva-s<: de phi/eo, "amo", c sophia, "sabcdoria' ': :'>lgnific:J., assim, "amor asahedoria".

Nos texlos gregos de Homero e Hesfodn nan se eueontra qllalquer rcfcrcncia a palavras comn jiloso[ia, fil6soJo, jilosoJar. Henldolo chama os sele sabios da Grcda de sofi.~ta.\· (sabins). E em Heraelilo de l:1feso (see. V a.c.) que {] lermo ap<Heee empregado claramenle, no [r:J.gmenlo 35: "E prcciso quC os filosofos cslejam bcm adverlidos sabre as coi­sas".16 Mas uma vclha lradl<;iio, de que Cicero (105-42 a.c.) e vullo cxponelldal, slislenla ser devidn a Pilagoras (sec. VI a.c.) () tcrlllO Jif6soJo. Em torno dcstepcnsador, mfstico c m;lll'm:11ico, que nacla deixou cscril{], pairam apenas Vii gas sltp(}si~oes a que .'>c mls\nram lcndas c mislcrio.1

J Para Piulgoras (\ tItulo de sabia, cognomi nal.;ao n.:cebid:J. pclas pessoas de clevado saher t1a epoca, era par dernais pomp{]so, digno apenas de Deus. An homem caberia pns-tular para si um cpHelo mcnos 11mbicioso: jih5soJu, ou seja, "amigo d:1 sahedoria", poi.'> 0 poucn que sabia cra nada em rc\a<;ao ao mUllo quc ignorava. 0 mesmo sen lido sc eonserva ale Plalilo (427-347) c rcpcrcllte em CIcero, como se disse, fnendo-o COllcd luar filosoria desl,1 mane ira: "cicncia das coisas divinas c humanas, c das callsas pelas quais clas se e.xplicalll."lll

Arisl6lcles, fora de diivlda, co aulor do conceilo mais celebre: "(cicnda) temctil:a dus primciros prindpios c das causas". E lliz, com muita propriedade, que [oi "pela admirlH;f1o que os homcns. :.Jssim hoje como no eomc<;o, foram Icvados <J. filnsofar" .I~

Analisad(ls soh 0 ponlo de visla lIo coetanco progrcsso filos6fieo, as defini~ucs cxpostas, cmblJra importantcs, manlcm apcnas 0 scu valor hist6rico, on porque 0 evolver lIos tempos e a :;;ueCSS:10 dos ciclos

IS Al'lld lsmad Quiles. !1Ii"I,h"'dri'l a la Fi/o.•a!ia, lL)~,I, ps. 2-3. cr. Jean Voilquin, r ,'S l'e'IS~"T .• Grccs avcml Sacral~, p. 51.

" o v(,u dc inccrlczas q~e coblC 1 vida do f1I6sofo c m~lcm.l"lieo dc S~mos (em nerdrlo, al~" hOiI', grande f.1Sd"io ~oblC 1 Im1gi""~30 dc co"sag[aJo~ "nlo[t~. como, v. /:., EJo~ard Schur~, dono de I"!cnlo invcjavcl PH~ f~b~li1HO real. Cr. as (Jr"",I"wl"iciad".•, 1952,2" tomo.liv. VI, <"a1-b.1 a v.

18 De Ofil"i;s, liv. II, cap. 2. 19 Cf.M~/oflsic<1, liv, I, r~p. Z'. trad. dc Vincen10 Cocco, 1969, p. II.

Page 132: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

258 RONALDO CALDEIRA XAVIER

his16rico-cultllrais provocaram maneiras diferentes de enfrcnlar as pro­blemas que cxcruciaram c ainda exerueiam a humanidade, au porque 0

campo de al)3o da filosofia csteja hoje muilo mais rcstrilo.ZQ

De qualquer modo 0 amor.tl. vcrdade continua sendo pre-requisilo mInima para a candidato a fil6sofo, pois, sc houve mudanl)3 de enfoqllc, as problemas ainda sao as mesmos. 0 hornem C'omcl)3 a liIosofar a parlir do instantc em que sc v~ diante da inc6gnit3 do msmo e problcmatiza: Qual a origem do Universo? Qual 0 significado da existencia? Que e vida, materia, espa~o, tempo? 0 dcsejo de filosofar, au scja, de pcnctrar a cssencia da realidadc, nasce de urn cstado caractcrizadamcnlc humano de inquietude, de duvida c tJc insalisfa'1ao. Ora, "a insatisfa~ao leva a pesquisa. Leva, lambcm, II eriliea. E a al~o de eriliea e de p~quisa ao mesmo tempo, qne ca pr6pria filosoCia. ".J

Mas, pam isso, e neecss1rio tomar, II maneira de Descartes, uma aliludc cXlremamente diflcil; proeeder a uma rigorosa fllmig3~ao cere­bral, fazer da mente verdadeira tabula rasa apcis ler expllisado to<.los os resfduos nela alojados pelo preeoneeito, pelo eonveneionalismo, pclo jugo da lradi<;ao, pcla imposil$ao antoritaria e pcla vontade eoletiva _ elementos eastradores da livre atividade reflexiva e responsaveis pela medioeridade da maioria. 0 mediocre nao rompc jamais com 0 eslabc­lecido. E por isso nunca entcndera a filosofia, "0 mediocre aspira a confundir-se com os que 0 rooeiam: 0 original tcnde a diferenciar-se delcs. Enquanto nm se concretiza, pensando com a cabe<;a da sociedadc,

. 6' b ,,22o outro aspua a pensar com a pr pna ea ec;a. Buryalo Cannabrava, urn dos mais vigorosos pcnsadores brasileiros

contemporancos, com sua peculiar c1arividencia analilica, ressalta 'Inc "a filosofia tern sido, desde os pre-soeraticos, uma lenlativa de justifi­cal$ao racional da lecniea emprcgada pela rcligiao c pcla cieucia para atingir 0 reino das proposil$oes indubitaveis, Duranlc muilo tempo se aereditou que a teologia radonal ou a metaffsica idcalista cram capazes de formular as normas infalfveis para a aprcensao das vcrdades elcrnas. o senlido filos6fico da nossa cpoca resulta de urn cclicismo logicamcnle consislentc contra as reivindical$ocs da into]erancia dogmatiea 'Inc subs­

20 Para e.ludQS de m~ior amplilude, v. Andre Lalande, Voeabulairo Tocll/lique or Cril;""o de . :1 10 Pililosophie, 1985, p~. 771-773 (vemete "Philosophio'), e 774-777 (verbele "Pllil". sf>phie'?­

21 POPles de Minlpda, op. cu., p. 42. 22 Jos~ IDgenieIO~, 0 lI","cnI Medif>cro, 1953, p. 55.

APf,NDlCE 259

Iitui 0 inqueriLo e a duvida met6dica pcla crcnl$3 nos poderc... ilimilados do espirito absoluto."n

Para Buryalo Cannabrava, "a filosofia e renexao criliea e julga­mento das condil$oes auali'ticas on empiricas do alo de conheeer"; seu objeto e precisamcnte "0 conhccimcnto do conhecimenfo". B assim 0 justifica: "Os atos humanos s6 sc lorn am racionais na metJida em que se ap6iam nos estratos acumulados pcla expericncia e se baseiam nas condil$ocs objetivamcntc aprccndidas pclo espfrito. Eis por que a rene­xao erltica sobre as nossas al$ocs e ideias acaba sc identificando com a analise dos princlpios gcrais do conhccimento.' ,24

Poslas em confronto as teudcucias da filosofia atual (ao meuas as que segnem as linhas mcstras do pOSilivismo 16gico e do agnosticismo) e a melaflsica absolula dc pensadores elassicos e modernos, verifiea-se que aquclas nao alimentam 0 ingenuo sonho de chcgar idealislicamenle a eonclusoes inamoviveis e definitivas, conrerindo a razao plenos po­deres de penctrar a rcalidade. Ncste ponlo, quem parece eslar eerto C 0

velho Heraclito, 0 fil6sofo do vir~a~scr, quando negava a fixidez das coisas c proclamava-lhes 0 per¢tuo mutacionismo. Umas das trage­dias da filosofia, demonstra-o a hist6ria, tern sido indisculivelmente 0

scu indefeclfvcl verbalismo oco e inconseqiiente, 0 seu apaixonado vezo pclas ennucia<;oes ininteliglveis. Reconhcceu-o, com argticia, j1 no seculo XVllI, David Burne (1711-1766), quando aeonsclhou atirar ao fogo os Iivros de metaffsica on teologia cseolastiea.2

< E Euryalo Cannabrava rcfon;a: "E 0 palavreado confuso que elerniz3 as conrradi­c;oes e os r.;onniloS entre as Icarlas cspcculativas, provocando jllstifiea­da deseonfianl;a ou avcrsao por essc gcnero de exercfcio em que 0

valor do argllmento depende apenas de convcnl$ocs vcrbais e nao de evidencias comprovadaras. ,,!6

23 E/"m~J<lo~ de MdodolQKio Filo.wflko, 1956, p. 14, 24 Op. <'it., 1"" 4 c 29. (.: f'{~J;c~menlc a meSm~ a f'osi"ao dos posilivbl' l,~gieos e pen,allores

[iliadoS'Q C(rcu!Q de Viena, que adslrillgelll 8 mowna ~ gnosiolog;,. (V, not. 30,) 'hlll ­b~m njo ~ diferenle. ['u,i",,,o de Hans Reichenbach, para quem fIIosona "~a c1arifica".ao de sil!:ni(;c~do~ pOI" meio da an~lhe logiea ". (Cr. La Filo,'oJia Ciclllfjica, <'il., p. 153,)

25 lilet11mcnlr.: "Se I"IHam05 elll II ossa mao UIH volume de leologi. ou de melaffs1ca eseo­I'slie8. por nemrlo, perguolemos: Cool~m .Igum r.docinio allslmto sobre a qu.ntidade e <l dmero? Nio? Conl~m .Igum r~ciodJlio experimenlal sobre o~ r~«" e eoisn exislenlcs? Tampouco? EnJ"o hn<,emo-IQ ~ fogul'ir~, pois nao pode eonlel' O~l," cois. que sorrslica c i[usiQ. ,. rf"",'st,gad"" sabre cI (:;"lo,,,I;',,iolilo JImmmo, 1945, lrad. easl" 1" 240.)

26 Op. cil., p. Sl.

I

Page 133: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

260 RONALDO CALDElnA XAVIER

Para resumo da realidadc sobrc a quailleve trnbalhar a filosofia, vale reproduzir aqui as palavras corajosas e equilibradas de Bertrand Russel: "Qne 0 ham em c produto de causas que nao prcviam 0 fim que preparavam; que sua origem, seu crescimento, suas eSflCranlias e temores, sellS amorcs e suas crcnlias, nada rnais sao do que prodnlo de acidenlais combina<;ocs de ;Homos; que nao ha fogo, hcrofsmo nem in­tcnsidade de pcnsamento e sentimento caraz de conservar aMm do tu­mulo urna vida individual, que todos as Irabalhos das idades, toda a inspiralSao, talla {} meridiana brilho do genio hllmano cst.ao dcslinados a cxtinguir-se com a vasta morte do sistema solar, e que todo 0 tempo da cria<;ao humana tCOI gne ficar inevilavelmentc scpultado sob os es­eombms de nm universo em rulnas - 10das essa eoisas, ainda que nao se eneontrem a salvo de qualquer discussao, aproximam~se tanto da eerte;r...3 que nchuma filosofia que as refute polle con tar com perspecti­vas de sustentar-se. "TI

Conhecimento e Ci~ncia

AIl~ mesmo pela origem a palavra cibrcia (do lal. scire "saber") esta inclutavelmente Iigada as idcias de saber e conhecimento. Na du­vida e, sobrelullo. na euriosidadc de penelrar a causa delerminante dos fen6menos nalurais rcsidem os sellS elementos geradorcs, posto Frazer os tcnha enconlrado na magia, e Durkheim, na religHio.

Segundo a lei dos Ires eslados de Augusto Comte (1798-1857), 0

eriador do POSilivismo c da sociologia. em sua evolu<;:ao °conhecimento atravessou Ires cs(ados sucessivos: teol6gico (que se subdivide cm !etichismo,po!iteL'imo e monotefsmo), quando 0 homcm proeura atribuir \lOla origem sobrenalural as ocorrcncias fcnomenicas; meta!£sico, quan­do as eausas sobrcnaturais sao subSlitllfdas por entidades ou for<;:as abslratas, alheias aexperi~ncia;posjtivo Oll cientlfico, em que 0 espfrito humano desiste de conhccera razaoe a causa ultima das coisas e come~a

a pesquisar as rcla~oes invariaveis de sueessao e semelhan~a entre os fenomenos. Assim, por meio lla eiencia 0 homem de..wenda a nalureza, eSlabelcee~lhcas leis,domina-ae p6e-na asen servi~o, oque eorrespondc a uma trfplicc fum;ao: saber, para prel-'cr, a Jim de prover.

Com fclieidade e accrto, Denis Huisman e Andre Vergez frisam que" a alilude cicntifica nao e espontanea no homem; ela e urn prodUlo tardio tJa hist6ria.' ,28 Enquanto 0 conhecimen1O espontanco se conslitui

21 Misticismo y Lligk<l, 1951, ps. 55-56. 28 CursoMotkr"o <k Filo.,ojia, 1970. p. 34.

APENDICE 261

de "ilus6es subjctivas", a rcalidadc cientftiea, objcliva "devc ser peno­samenteeom;lrui'da a partir dc um lrabalho bastanlecomplexo, pois oque e "imedialamenlc pen.:ebido e subjetivo; 0 que eobjetivo, ao contra rio, c 'mediato', conslrufdo atraves de rodeios e artiflcios.,,2~

Com efeilo, s6 no seculo XVII a cH~ncia eOllScgu'c emaneipar-se da filosofia e da religiiio, c isso se deve principalmcnle a doi.!i verdadeiros genios da humanidade: GaIileu Galilei (1564-1642) e Isaac Ncwton.JO

Ate entao prevalecia a ffska arislotelica fundada em no<;:6e..<; improduti­vas de eategorias (subslancia, qualidade, quantidade etc.) e quc nenhum resullUdo pnl1ico traziam para 0 conhecimento da natureza. Galileu e Newton, abandollando a velha tradi<;:aoda philosophia natllralis, deram novo impulso a ffsica, elegendo como no<;:6cs fundamenw.is 0 eompri­menlO, a massa, 0 cspac;o e 0 tempo, passando a raciocinar em termos de materia e movimento. A conseqiiencia foi uma radical mUdam;a de

- d a natureza. concepcsao " Muitas san as defini<;6es de eicneia. Para William Dampier, C0 "conhecimento ordenado da natureza,

exelufdos cer{(Js esludos humauisticos co.mo lingiifstica, eeonomia e hisl6ria poUlica.',n

Para Huisman e Vcrgez, "e a deseoberta progressiva das rcla~6es

objelivas que exislem no real. "JJ

Stricto sensu, conforme preecitua Bacon, 6 0 eonhccimento dos fenomenos pelas causas que os produzcm. E assim diferc da lccnica, ou .seja, a eicncia aplicada, conjunto de processDs que lcm por 11m aspectos utilil:'irios, tais como a c1abora<;ao dc implcmcntos destinados ao conforto c a satisfa~ao humana. A eicnda pllra interes.<;am print.:ipios, tcorias, causas e efcitos; a leeniea, meios e fins pralieos.

29 Ibid, p.31. 30 Para uma vj~iio ul\'1.tria <18 hj~16ri8 e d. c"oJu~Jo da ciCncia. v. WiJliam C. Dampier. Pe­

quell" l1islOr;" tid Ci~"ci", t961. S"br" 0 ~c(ltido hi.16rico (18 p.18vra "Ii;'".i" c SUa" v~ri8.<

3eep~('Ifs. v. Andr~ 1..... I.nd". "p. cil., f"" 953-959. JI Convencido~ cia eridci1 C5ur;'riQridade dll m~llldo delli/fico, vhi05 pcn"adore~ renuncia­

ram j Anfli~e geral do conhecimento e ?'!s5u.m I cnl~li~"r I epis/(mlOlogi".,,~ e~ludo dos l"u"damr.nIoS 16gico~, n31~n:2a, Jimiles e pos~ibilidldc5 do conhdmenlo rientf(ico. Desle ponlo de p8rlj(1a surgiu, comll <Ii~ciplill" mel6dicl, 8 filosofi. deOlfl1CI, ver(1adeira leori. da cicncia. Dn movimcnlo, illiciado em Vicoa. Illm~rlm p.rle cicnliHu do pori" dr. R~<l"lr

Cam.p, OliO Ncur~lh. Mori12 Srhilict e oulros. p's~ndo 8 lnlcgur 0 chamndo Wi"" Kreis.• (Cfrculll de ViCIlI).

32 Op. cif.• p. 1. A exdusao dos eSludllS lingiifslioos. eco~omko~ e hisl6riros. cnlrcLanl(l. ~

ampllmenlc dis<'lIl(vt! e nllidvel. 33 Op. cir.• p. 40.

Page 134: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

~

262 RONALDO CALDEII(A XAVIER APENDlCE 263

Depreende-se, pOls, que toda ei~ncia cconhecimento, mas nem todo conhecimento ccicncia.

Tema "xial e apaixonanlc da gnosiologia -em especial 0 problema da rela'iao entre 0 sujeito eognoscentc e 0 objeto conhecido - conheci­mento C algo de diffcil conceitua~ao, prestando-sc as mais variadas e antag6nicas teoriza'i6es.J~ A filosofia espttulativa earaetcrizou-se por uma coneep~ao tratucendente do conhecimento ao afirmar que ele ulLrapassa as coisas observavcis e depende do uso de outras fontes distintas da peree~ao seusfvel. A filosofia cientffica, por sua vez, elabora uma eoneeplSao funcional do eonhecimcnto, vcndo nell' urn instnlmento de predilSao pam 0 qual a observa~iio scnsfvel eonstilui 0

"unico criterio aecitavcl de verdade nao-vazia":'~ Arthur Eddington sus tenia a Calsidadc da aeusw;ao de que 0 Cfsieo moderno recusa a cxislcneia das coisas que Ihe sao deseouhecidas, conlra-arr3zoando que a sua melhor atitude devera consistir em "abster-se de qualquer sllposi­lSao a respeito de algo de que nao tern nenhum conhecimento direto ou indireto", portanto, para oeonhecimento da verclade nas ei~ncias f1sieas, "a' observal1ao C'0 Tribunal de ultima iustancia" ,J6

Visto sob 0 flngulo da psicologia atuaI, 0 cOllhecimento pode ser dcfinido como "eslado psfquico especial provocado [XlT delerminado cS,tfmu]o" - e reduzido Ii. C6rmula estfmlllo- resposta:

E ........ 0 ........ R

34 Para e~IY«os fHos6ficos mais aprofuodados, ji qyC a fin~lidrod~ p~da!!6!!ka dc~Ie livra ~~o

eomporla maiore6 di8quisi~oes do gcnero, lorna·se indi6p'n~~vd 0 eonlalO com a obrt de EmaRyel KaRl (1724-1804). Em maleria de "'oria do conheeimtnlO, podem-sc """iur ou cUllleslar U id~iu do fiJ6oo(1I de K~ni!!sberg, jamais igollr'·las; ludo oque 6C fa2 a res­pello, al~ hojc, nelas CReon Ira 0 seu pllnlo de lIrigcm. 0 m~lodo holiao<:l - damado crld­cO ou Iransrendenl.1 - opoe-se aos mtlodos alf enlio ulillzl"JOS: d"!!mfl!c<:l, dlko, emp(rioo, 16gieo c mClafIsico. V. Crft;UJ <k fa Rru6" Purt<, 19.'10, Iud. de Muuel N~nel"

prilicipalmcllle ]'!I. 39_56 (Idtia dl filoBofia lunseendeRlal); .'\9_90 (Fsl~lka Iranl;CendeR­ral): 91- lSI (Analflica d<:ls clIneellos): J.'I3_253 (Anal/lie. dos prindl'ios) e b5-1l'J (D;'a­Ulica Ir~Rsrendrnlal). Sio laml>fm recomend'veis: llenrand Rus.scl, Sis"iji'·l1do e "'mimlc, 1978. caps. VJll e IX: Johunes I-lessen, Teoria do Co"hecimell/o, 1979, lrnd. 1'0'1. de Anl6oil> ('""rreia.

35 IIan' Rdchellbach, IIp. dr., p. "2fJL Para Benrand Russel, "0 eonhecimenlo dos objclos eonsisle e&sendalmenle em UIlI. rel.~iiQ entre 0 espleila e algo disrinlo dele. (••.) Se dize­m(lS que ~. C(li..'<R~ CQnheddu dcvem esrar DO esplrilQ, OU limilamos indcvidamcnlc 8 eapa_ ddade de oonhccer do up(rilo, oy enuRciamQS uma simples laUlOlQgia." Cf. I,os ProbkmlJ3 d>: la Fi/osopo, 1923, p. 51.

36 Lo Fi/o:rofia d" fa Cii"cia Ff.vic<J, J956, ps. 72 e 21.

em que E = cstfmulo (" (udo aquila que provOCD rcs[X)sLa' '), R = rl'SpOSLa

("tudo aquila que edespertado pelo cstfmulo") cO::: organismo. Tal sig­nifiea que "0 cslfmulo age sabre 0 individuo, levanuo-o a reagir, e que a resposta dependc tanlo do indivfduo como do cs\imuJo".)')

Em suma, c par fim, uma coisa ~ ceria: 0 conhedmemo, filos6fico ou CiCfltffico, nao pode basear-se em uedui!oes apriorislicas. Elc C 0 clemen to vivificadorda cienda, eonlinualHJo valido 0 principia baconia­no: tanturn possumus quantum scimus. E a cicncia, em seu insopit;:ivel ala de conhcccr cada vez mais a natureza, substitnindo semprc urn eno maior pOT urn eTTO menor, admitindo sempre a relatividadc de suas pr6prias conquislas, somentc rela vcrdadc sc imcrcssa c luul.

o Problema do Verdode

Questionar sobre 0 que seja a verdildc C liio antigo quanta a ho­mem, que sempre se sentiu inei/ado a rc[]e(ir sobre ela, como pedra de toque de lodas as indagalSocs filos6Cicas, eientfficas, religinsas au mc­ramenlc existelleiais. Perluslrando a Biblia, verifiea-se que, entre os hebreus, h;i uma preocupa<;iio quasc obsedante no sentido de unifiear os eonedlos de diviudade e verdade.

Respigandu aqui e ali:

. 'Dcw; ca verdade, e nao h;i nell' injustit;a; justo e relo c. "J8

"Nas tuas mans eneomelldo 0 meu espirito: tu me remisle, Se­nhor Deus da vcrdade. ,,39

"Mas 0 Scnhor Deus ca verdade. ,,~o

"Disse-lhc Jesus: En sou 0 caminho, e a verdade e a vida.,,~l

"E (J Espirito e0 que lestifiea, porque 0 Espirilo ca verdade."~J

E a passagem mais famosa:

"Dissc-lhe Pilalos: Que ca verdade'! E, dizendo isto, lomou a ir lercom osjudeus."H

37 Cf. R<JtJcrI S. W<Jodworlh c Don.ld G. Marquis, Psicofogia, J966, ps. 234 c 236. 38 Deulcr<Jn<Jmio,32:d. 39 S.lmos,3l:5. 40 J~rcmias, HI:10. 41 Joao, 14:6. 42 110.10, 5;G. 43 loaD, 18:38. Conla_ que, na Id.de M~Jia, a pergunla em blim; Quid est veril=~ - leria

sido an.gramalizada assim; Esl vir qui ",desl. AJ6m dos e"col~slicos, lambo!m Plaliio, Sto. Agoslinbo e Hegel jdelllilkano.m • verd.de com Deus 011 Ser AbsolulO.

Page 135: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

264 RONALDa CALDEIRA XAVIER

PCfanle a filosofia c a l6gica, enlrctanto, (} problema tern coloca­~ao bern divcrsa.

Para Descartes (1596 -1650), paj da fiJosofia modcma e institui­dor da duvida melodica, 0 criteria para conhecer a vcrdadc c (} da evidcncia. Coisas vcrdadeiras sao aquclas que se conccbem "cIarfs­sima e distinlissimamente". Logo, a id6ia c'ara c distinta, se se apresenfa cvidcOfe, evcrdadcira. E que cevidfncia? 0 pr6prio Des­carles rcconhe que h6 "alguma dificuldade em bern dislinguir quais sao aquclas (coisas) que n6s concchemos dislilllarncnte".44 Pode-sc cxperimcnlar urn senti menlo au imprcssao de cvidencia, mas 'a cssa imprcssao naD sc pode cOnfcrir urn grau absoluto de crcdibilidade. Tuda isso fez com que Lcibnilz irollizassc, dizendo que 0 fil6sofo do cogi(() "alojou a vcrdade na hospcdaria da evidcneia, mas csque­eeu de nos dar 0 cndcrcl;o dela. ,,4.\

Para Arist6lcles, a verdade eSla em "dizer ql1e 0 que e e, e 0 qne nao c nan e" - em eoneeber as coisas como sao em si mcsmas. Jufzo verdadeiro c aquele em quc fica satisfcita a f6rmul:i algebrieo-melaffsi­ca S = P, ou scja, quando a ideia do predica<lo eonvem ado sujeiLo; se sc der a ineollveniCneia, 0 jul'l.O sed falso. 46

Nao sao pOlleos os que inlerprclam a verdade como alga impreg­nado de majcsl<lde e grandeza, ale eserevendo a palavra eom V maiiis­eulo, como rendendo eulto a deusa Aleteia... Mas querer formular eoneeilua'Joes absolulas c de validez elcrna capenas lim devaneio fa­laz. A verdade eseapa a qualquer fundamenlal;ao ontologica 011 melaf[­sica; "trata-sc de urn eoneeito em cons/ante progresso e Irallsforma~ao que se adapla a evolu'Jao das cicllcias e ao aperfei~oamen{O lcenico da matem;1lica e da 16giea. ,,47 0 mais adequado e adslringi-la ao pum am­bito proposicional e eonsideni·ta "urn valor COnccrnenle a urn jui­

44 Cf.niR<:ur,\'O sobrc "M.!lodo, 1952, trad. de Miguell.emos, 1'5. 29 e 50. 45 Ap"dlluisman e Vegcz, 01'. <'il., p.293. 46 S~nlo Tomf~ de Aquino (1225.1274). que siS(emallzou 0 pcnsamenlo lri~lol~lico e ~dap­

tou-o 15 linha~ mc~lra5 da leoJogiil erisli, firma po~i~~o idenlica, Assim eomenl~ A..D, Serl!/Juges, Um dos majores e5ludloso~ da obra do DOUIN Ang~lko: "LtJ clto.." vr"i" esl

wile qui tJ I" [or"", cGrwe,,,,h/,, aso ~"Il/re, U" i"I"lIeel '·"'0 dotlc vrtJi q""1Il1 il""ro ririe ["rme de CO/l/lai,<sollce ",hevee el dp(mdntll <II" riali,.!: Car lel/e c.w bi,,~ s" fn''''e pro­pre, ell 10,,1 que pU;""'otlCC CO/llItJ;ss""'e, A C""S~ de cdo, 011 ,Mji";1 10 vcril f'<1' 10 co,,}or_ ",i/e de l'i"I<:lIec1 <JUU c<: qlli '!sl, <:1 CO/l"oilrc celie c",,}orm;I" c ·e.'1 co",,,,frr'" /" v.frile. " (V.I." Philro.'ophie de8. 1110111<1.\' d'Aq";", 1940, lome Il, p~. 161- 162.)

47 EUl)'alo Cannabrav8, 01'. cil.. 2\l.'i

APENIJICE 265

zo",'S uma norma para cSlabeleeer nm progrma tie pcnsamento. Os predicados "falso" on "verdadciro" s6 a jllfzos se aplicam, pais as coisas em si nao sao falsas nem vcrdatleiras, mas sim a sua pretlicafiao, o alo de atribnir-lhes nm valor, uma relaqiio menta\.

A Inteligencia Peran[e a Verdade ,

A l6giea formal admile a nistcncia tie qualro c,.<;tados da mente diante do problema da vertladc: ignorancia, davida, o[Jilliiio e certeza.

IGNORAN"CI A - Ea auscneia de conheeirncllto sobre algnma eoisa, 0 que impossibilila a menLe afirmar ou negar, e assim se dislingue do erro, ou nao-conrormidade da inldigencia com 0 objeto. Pard S6crates (469-399), () cno era nma tlupla ignorancia: quem crra ignora a verda­deira natureza da coisa c ignora tambcm a pr6pria ignorancia.~9

DUVIDA - E0 eswdo em qne a vcrdadc!>e aprcscnla apt.'Il<lS como possl­vel, dcLcndo-sl' a inLcHgcndiJ dianlc til' assl'I~6cs wnLral]il!'inas au allcrna­Iivas que se cxclucm, ficando imp:dida, porLanlo, dc allmlar ou ncgar.

OP1NIAO - Nesll' l'stado a vcrda(1c surgc eOlllO coisa prova"et, mas subsisLc 0 rcccio de cngano, Par isso llcnhuma opiniiio pode In fOrDS de acabada on dcfiuiliva; c uma espcde dc crcnyt pela mCladc, urn

48 cr II1Ii""dU C V~l'gcz, (fl'. ,-;t., p. 291. l:~'la posj~"n enlr" ,III ~inl"nia, alills, cOm" de Her­lraml Rus,d.l'nra qLI("n, "m ["i",dl'o lugar, a IMI.vr> "vcrdadeil'O" pO'k ",'r al'lic~d~ ~

Um cl\11ndad" 'C'LlIUld.ll 011 ~ um.1 I,,'o[ln,i~ii,,; en' :,t'~""<1" ILlg.H, uma "Clllrn~. "u prol'0­si~foo ~ "veI,].dt'il'~·' qu""el,, apre"'Jlla cerIa ,,,I.1~:l,, ,'Olll urna exJ'ai~"ci{1, i\~sim, "n~

ddcj'm\"a~"o J. vu,l~de OU ral~iel~,k " lelcvolllc ~ a prop"'i,""'" (Cf. ':"ig";fi,·~do ~ Vcr­dlltle. J.971), 1'. 7.1). Tal illlplk,,)~o ling"("lin kvar..l 0 gra"'k prlNdo,.- e malcll\~lico ill­f!lb" conduir ,11.',1.1 "'''neira: "I'"n''' 'I"" hl uma rel"~au ,h-"',,~dVC'1 entl'e a eslmlma d~~

"enl,lI~a~ l' a das "eun"",·i.~ h 'lu,1i' a, '''"ll'lI~'a~ ';C j'<'.fUl-m. N;in peuso 'I"" a "Slr\llur" <1", [,lllS nall,·vernai, ""j. Ivl,oImenle ineugno,('[vl'l, C aeleditu (jill', com baslanle c""ld,, as pr"I',ic,lades da lingu.,gclH r"elelll aju'!;'I'-II", ~ l".'''ljll'et'IIJcr a e~ll'uluu dOI"U">!'l." (Ibid.,],. 303.)

19 F, Bacon (1<;61-1/)26) emf'rc"I" [Clc"f'lId~ ,\ 'lue,loiu Jo n'm fundam~nlaw n'~ id~las rrc CUllccbid~." 'lue llelLulIIil\~ ,do/". Ji,'idillllo-,lS em 'l""lw l'sp<:'cic;;', 'ft.,I" Iribw;, OU a~ que ]1ro\'cm U.l "~l"l':J.n numana a\"v« ,h~ Ic"di'n~i"~ par•.1 ~el1<'raliza~,i,' " a antru!X'Jllllr­n,,,w, estandu ((,,,Ie caso •• Iqui,"i:<. ~ ~'lrologia, 8 cicllci, da cabal;! elc.; i</"/,, speer,.", (j,!"lo~ ela eaVern,l). {)U C'TO' 'INt· lem l'''f fulcro a in';l'ci~ do, C<J~IUIIWS, do mei" ,,'ci;l1, da lduca,iio c elo l"mJ""''''''''\ll ele que se vc pri,i""elro 11 csl'lrilo, a~sim COIliO n. cavern. de 1'1,1" 0; ; d,,/a fori (J ,1',[05 ,I. pra~.• p~bli,,~), "u ," q ue ~e lll'i gi Il~ nl da in legra ~ii('> e,'''' llUll'aS p~s~o"" como 3 [;n~u"llem .... ulgar e p"la,,", q~c lal,el.m u vcnhddr\l ("l'nedhl,j" ""i·, ~as; ;<1"/,, 11"'''1''; (luolos <10 Icalm), que .,~ [undlnl "\I prestfgio.tc I~",.i.a (il()s6[ic~", na .ulorid.o.le ,'rofc"oral de PI'U~IlS0S chdc~ de douldlla. que aubstilu,," a rcalidade pcb fic·· ~iio po';lk~ C0 \u~lfO,

Page 136: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

266 RONALDQ CALDEIRA XAVIER

prcssuposto LIe varias graus ~ue se podcm avizinhat da certeza, sem contudo, alingi-Ia p!cnamcllle. g

CERTEZA - E0 est;H.lo em que a vcrdadc se mOSlr<l. evidcnte e neces­saria. Naa se admitcm cstagios de maior on menor ccrlcza: a evidcncia cindcmonslravel c par si mesma se explica.

Doulrinas Sobre a Verdnde

A imens<l variedade de doulrinas sobre 0 problema da verdadc podc seT reduzida a quatro cseolas de pcnsamento: realismo, ceticismo, pragmatismo e agnosticismo.

REALISMO - An assegurar que a inlcligcncia possui aplidao para pc­nelmt a esscnda da realidadc, assegura lambem que a vcrdadc exislc objetivamcnte. Cnnhecimcnlo verdadeiro C0 que c51l1 em conson~ncia com os rains, £lois a verdadc sc resume nnma rcla<;ao de conformidade entre 0 snjeito coguoscente e 0 objeto conhecido; adaeqwilio illtcllcc­tw; ef rei. A filosofia eseolaSlica admite duas espccics de verdade: onro/6gica e 16gica; verdllde ontol6gicll e a l.:onformidade do objClO (0 representado) com a inteligcneia (0 reprcSclllantc); vcrdadc 16giea, a eonformidadc dcsla com aquclc.

Mlliatis mutandis, assumiram a posi<;ao rcalista: AristOlclcs, Santo Tomas de Aquino, 0 fidcfsmo lie Pasc<J Ie Huel, 0 lradicinnalismo de De Bonald e Lamennais, 0 senlimcntalismo de Rousseau e Jacobi, 0 misli­cismo etc.

CETICISMO - Pirro (365-275) foi 0 seu criador. A afirma<;ao funda­menIal dos eclicos estabclcce qne a posse da ccrteza plena c inaccssi­vel ao espirito humano, ao qual s6 resta uma alilude rigorosamcnte filos6fica - a slIspensao do jufw (epoche, para os gregos, suspensio iu­dicii, para os lalinos). 0 cetieismo dcfendc uma posilJao de indiferen~a diante das asscrlivas dogmalieas. 0 hom em conhecc apcnas os feno­menos, as aplllcrll:ias c nao as enisas em si; eoneeilos c opini6cs pro­v~m dos COSluml'~, da afirmalJao do sujcilO. A eada afirma<;ao pode

50 t n~~lf scnlido que sc pode dizerque l'llj"s lem • sua "vfrWdc", calada As vnn por all­

lo~cn..url, conformismo, r.onvcoicocia, cdU"I~:iO, conventionalismo, premnce;l{) clc. A ,omunica~iio de massa, pt>r eumpl<>, vis. a innuir 01 oplniao alheia, moldando-a ,ooror_ tile 05 lolcrcsscs c fins bu&c.do~. Tamb~m 0 advogado C'riminali~la, 10 procuru s.ensibill­1.lto c0'P0 de juri dos, eSl~ "1"'."ndo nO plano opinalivo e lenl. impor. "su" verda de. E vale dizer: nl diniimica elD di"'ilo, 0 interesse do c1icnle t I "~·crdadc" do advogado.

APENDICE 1h7

opor-se outra, ra7,30 pela qual nada deve ser tido como certo. Como di­ria Montaigne, seeulos depois: "Verdade aquem dos Pirineus; erra, a1em". Duvidar de tudo, portanto, e 0 proeedimento mais sabio. Ou, eonsoante a formula de Pirandello: Assim~, se assim the parece.

Devidamcnte dcsbastado de sua crosta de exagero, 0 celicismo (nao o radical, mas 0 miligado) prepara 0 terrcno para uma serle de imporlan­les mov1mentos filos6fieos posleriores, inscminando 0 probabilismo, 0 agnosticismo, ° positivismo ){)gieo e a filosofia eienllfica. Seu grande menlO: sanear a razao conlrd 0 vIrus infeceioso da ortodoxia doutrinana e do magisferdixit, promovcndo uma autenlka "higicnc do pensamento" .SI

Foram dcfensorcs do cetieismo: Pirro, Arcesilau, Cameades, Enesfdemo, Scxto Empirieo etc" entre os antigos; Montaigne, David Hume, Anatole Frauce etc., entre as mocteruos.

PRAGMATISMO - Conquanlo j~ existisse embrionariamente no pcn­samento socratico (uliJitarismo etico), 6 produlo mais rcrente da filoso­fia norle-americana. Para os pragmatislas () valor do conhecimento e puramenle instrumental, on seja, urn meio para a oblenlJao de fins pra­lieos. As disputas mctafisicas sao estereis, nma vez que a nada eondu­zem. E ° homem que faz a verdade, e somente a alJao leva ao seu conhecimento. Verdadeiro eo ulB, 0 vantajoso, 0 que tern rendimeuto e efieada na ordem pn1tiea das eoisas, nao importando por que meios. Verdade e utilidade sao, por conseguinte, couceitos que se idenlificam.

Represemaram ° pragmatismo: Charles Sanders Peirce, William James, John Dewey elc.

AGNOSTICISMO - Sob esla denominaIJ30 (a falta de onlro lenno com abnmgcneia maior), agmpam-se as eorrenlcs de pensamenlo e sis­temas que negam ao conhecimento humano 0 pocter de lranspor as Iin­des do mundo fenomenico e 0 eirennscrevem as possibilidades do observavel. £Stao neste caso, enlre oUlros, 0 relativismo, 0 probabilis~

mo, 0 posilivismo 16gko e a filosofia cientffiea. Ficam assim exclui­dos, in limine, lodos os pressupostos de teor absoluto aventados pela philosophia perennis. 0 agnosticismo, termo criado por T.H. Huxley (1825-1895), rejeila a espeeulalJao mClaffsica sobre a ess~nr:ia das coi­sas, que e ineognosciveL

51 A expre,;,sio, devellls feHz, ~ de Euryalo Callubrava, op. ril.• p. Z71.

Page 137: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

---- - - -- -

2m268 RONALDO CALDEJRAXAV1ER AP~NDlCE

Por nulro aspec[o, existe urn cerlo relalivismo cognilivo que veda 11'1

ao horn em a penetru<;llo tolal da rcalidadc, traduzido, alias, no princfpio ii de incerlcza dc Heisenberg: "Em tactas as prcvisoes ha uma margem de II incerCeza lcvando-nos ao terfl~nodo provavcl". Com cfcitu, na geometria euclideana, por cxcmplo, a soma dos angulos inlcmos de urn tri51lgulo e igual a dois angulos Tetos. Mas em geometrias nao-cuclidcanas, como as de Lobal:hewski c Riemann, a afirmaliao nan c rigorosamcntc correIa.

Nan sc podem fazer dctcrmina<;ocs absolutas e imUI3.vcis, mas rc1ativas c provi~()rias. 0 mais prudente, assim, ccouccil1lar a vcrdadc como {) graft illfiliito de prohabilidade; vcrdudciro e () infinilamcnLc provavel.

Situam-sc mai." au menos denim desla Hnha de idcias os nomes de Poiucare, Planck, Carnap, Jeans, Einstein, Russel, Eddington e varios I,!I

'II outros cien tis las- fi 16sof05.

PARTE II

L6G1CA FORMAL

J Como indica 0 pr6pri(1 nome, a 16gica formal llaO lrala da exis­

tencia re'll ou ':OllClelil das eoisas; para eIa coi:->a exis\enh: e a eoisa pensada, nllla vel'. que lida com rormas e :lbstral;l'les. 0 objetivo da 16­gica formal e, a(ravCs dus opcrac;6cs menlais, cslnuar a cocrencia do pcnsamenlo em si mesmu, () uso que 0 homem fa:l. de sua illldigcncin. Ao passo que a psicologia se inlcrcssa pcln gellese e pelo i"nndol1a­meulo do mccanismo psfqnico (sensac;ao, pcrcC£Xiao, alcnr;ao, mcmll­ria, v(Julade elc.), a 16gica inlercssa apellas a cslrulura do pcnsalllclllo cm nlividadc, a oricntac;ao da inlrligclH.:la em busca do racioclnio cor­relo. 0 sell campo de ac;ao csla radic;l(lo, por{anIO, llas Ires op(:ra~\-1Cs

rundamcntais <fa men Ie: cO/lcelJer, JI1I,;o,. e rl/docinar. 0 grafico ahai­xo sinleli:l,a-lhe 0 programa:

;-- OPI~I{AC(W.S - -~_o='"'I~[;~I'itl~SI~N-l'AC;"O EXI'IU'",-,>S,-\() MENTA,s MFNTAL

concebcr ,idcia, nm,iio Oll conccilO

jlllgar jllizo

>

--+­\TRliAI.

----------1 IL'rmo

proposi~i:io

raciocinar radm1nio I argllmcillo ;~ ~~~~~ =.;'~'C'~~.1

'I ) II,

I)Idtiae Tenno ldeiu, nO(;{io au conceito e a represcnla\iao inrelectnal do objelo,

ehamando-se imagem a sua representac;50 scnsfveJ.~d A expressao ver~ bal da ideia c a termo (do lal. terminus, "limite"). As.'·;im, os termos delimitam a proposiiiao, circunserevendo-Ihe a principio e 0 fim: sujei­to (elemento sobre a qual sc declara au nega alguma eoisa) epredica­do (0 que se afirma au nega do sujcito).

Termo nao e sinonimo de palavra. Ha termos que se exprimem par uma au mais palavras, assim como uma id6ia pode exprimir-se par varios lermos e urn lermo pode eonler varias id6ias.

A,y Leis Formais do Pen:mmenlo

Segundo os 16gicos, Ires leis formais presidem as opera<;soes do pen­samento e fa"em pane de sua pr6pria natnreza. E."sas leis independem do material de que ele se eonstitna: eoisas ffsieas, no<;oes malemJJticas, sim­bolos 0\1 enlidades tieticias. Principios I()gi~os evidenles par si mesm~, tais leis se apresenlam como llnivcrsais e neccssarias, dclas decorrendo quaisquer ontras de menor exteusao que se Ines aercscentem.

Sao as seguintcs:

In) Prindpio de identidade; "0 que 6 e'. 2a) Princlpio de contradic;ao: "Nada pode. ao mesmo tempo, ser e

naoser".

3n) Principio do tcreeiro (ou meio) excluido: "Tudo deve ser ou nao ser".

o primeiro principio tradu:~ a impossibilidade de a raz.fio numana intuir uma BOliao dissociando-a de seus caraeleres eonstitutivos. Uma coisa Csempre ela mesma. 0 segundo princfpio en uncia que, se certa qualidade pertenee a determinada no<;ao, nao e passIvel que essa nOlJao continue a mesma ao ser-Ihe ncgada aqucla qualidade. 0 tereeira prin­cipia declara tambem n50 ser passlve1 a eoexisH~ncia de nCH:fDes eontra­dit6rias quanto ao mesmo objcto, quer dizer, inexisle meio-lennO entre a afirmaliao e a negaliao.

S2 Sobre 0 qye se ron~i,kra, ft" pbno d. lIngU[sl;c•• id<fia, 5i8"v, sit/ai, ;",Jia,leot/e elC., v. Roland Barlhes,Ele/l'","">5 d" S~nJiolog;Q, 1979. P$. 39_39.

I

Page 138: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

Mas 0 tereeiro princlpJO, como advcrLc Liard, comporta exce­'ioes: "Pode-se afirmar, com efeito, existir as vezes urn meio-termo entre duas n0'i0es 0poslas; quente op6e-se a frio; entre as duas, Lcpiua e urn meio. A contraui'iao c apcnas aparcnlc; a alLcrnativa 16giea nao fica entre rrio c qncllte e sim entrc rrio e nao-frio. as graus do calor e do rrio sao uma ql1cstao de quantiuaue c nao de oposil;;ao l6gica. A agua a 10 graus e quente em rcla($iio a agua a 0 grau; mas este calor pock elevar-se ue 10 a 100, del 00 a 1.000 graus, scm que par isso se modifique a alLernativa 16gica uo quenLe e do rrio.' ,53

Propriedadcs da.\' Ide;a.l'

Todas as id6ias e lermos possucm duas prapricdades que Iiles sao imancntcs: extenslio c comfJrccnsiio.

Extensflo Ca conjunLo dos indivCduos nu nbjetos designados por urn lermo. Comprecnsiio 6 0 conjuuto de qualidades que esse Lermo abrange.

A exlensao e a compreensao de urn lermo esLflo sempre em raziio inversa: aumcnlando-se a eXLensao, diminui a eomprccnsao; aUlllcnLan­do-sc a compreensao, llimillui a cxteusflo.

Seja, por exemplo, ° Lern10 ar!vog(ldo. Aerescendo-se-Ihc a qua li­dade criminal, 11 limen lou-se a sua compreensao, mas, em c0111rapartida, diminuiu-se a sua cxtcllsao. Advogado criminal possui menos exLellsao (rcrerc-se a urn conjunlo menor de indivlduos) que at!vogado (rcrere-se a urn eonjunlo maior de inclivCduos); todo advogado criminal 6 rormado em Direilo, mas ncm Lodas as pcssoas formadas cm Direito fazem advocacia criminal. DilO de mltro modo: a propor~iio que lima id6ia se lorna rna is simples, lorna-sc tambcm mais gcral; qualllo mais composLa on complexa, Lanlo mais parlicular.

Sejam, ainda, as lermos animal e homcm. 0 primeiro possui mais extcnsao e menos comprcensao que a segundo; este, pot" sua ve7., lem mais eomprccnsao e menos ex Lensao do quc 0 primciro. Sealtimaf Curn "scrvivo organizauo, uOLado desensibHidade e movimento", vcrifica-se que homem possui, alcm dcsLas qualidades, outras mais que the sao privativas e que (1 fazem ser a que c: raeional, implume, bimano ctc.; logo, possui maior eompreellsao, Por ouLro lauo, a termo animal abrange

53 Gp. cil., p. 33.

urn conjunto ue indivCduos bern maior que a de homem: aves, peixcs, repteis, inselos etc,; logo, possui maior extensao.

A Classificat;iio

Como roi vista, a extensao e a eompreensao de uma icteia sao ex­tremamenle variaveis. Pode-se, enlretanto, hierarquiza~las eouforme a ordem ue sua extensao - e e isto que se chama classificafiiio, au seja, a superpasi'iao de gcneros e espeeies de aeordo com os diversos graus passiveis de generalizai;ao.

Para c1assifiearem-se as ideias e termos, Ceondi~ao basiea a exis­teneia de algumas rcla~6es entre des. Par exemplo eurva tern rela~ao

com eircunrcrencia, dipse, parabola, espiral, sen6ide, epicicl6ide ete., mas nenhuma rela~ao com femur, vomer, zigoma, parietal, lfhia, r6tula elc., que pertencem a oulro grupo (osso).

as difcrentes grupos que fazcm parte de nlna dassirlea($ao dcno­minam-se generas e e!>pecies. Genero e 0 grupo mais extemo que con tern as especies; espccie e a grupo dc menor extensao contido no genero. Assim, deontologia, tdeologia, axiologia e ctiologia deslgnam espeeies eonlidas no genera eiencia au estudo, eomo hip6fise, timo, panereas e tire6ide designam es~cies abarcadas relo genera glandula.

Numa ordem de classifica~ao, generas e especies podem ser re­vcrsiveis; assim, com relai;iio a direilo civil, dircito cgenero, mas com rela($iio a cieneia social c espccie.

Pragredindo de gcncrali7.a~iio em generaliza($ao chcga-se a nOl16es singulares que nao podcm ser consiueradas nem como gcneros uem eomo esp&.:ies; continuando a progressao generalizadora, a menle humaua atinge a acme de uma vasta hierarquia peranle a qual e obrigada a deler-se, pais, a prosscguimento c impassive!. Alean~ou-se, destarte, em 16gica pura, a lermo mais geldl e, ipso facto, a mais rico em extensao, porem a mais pDbre em eompreensao -ser, ehamado SUmmfJmgenus (0 genera supremo) pelos eultores da 16giea lradieional. Mas as icteias seriam pratieamenle indiscerniveis se nao houvcsse particularidades que as uistinguissem umas das OutldS: as diferen($as cspccificas. Difereru;a especljica e, pais, a que caraeteriza a especie e fa-Ia nao ser igual a oulras do mesmo lipo, onainua 0 conjunto das qualidadcs aereseentadas ao genera pam coustituir a especie. Qualqucr no~ao geral, 11 exc~ao do summum genus, oonstitui-se do genera e da diferen($a cs~cifica, os quais sempre devcm scr encontmdos uos individuos ~rteneenles amesma espeeic.

Page 139: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

r 272 RONALOO CALDEIRA XAVIER APENDICE 27:1

No que concernc as qualidades dos individuos, cpreciso levar em conla a ess~ncia e 0 acidente.54 EssCncia e tudo aquila que integra ncccssariament.e a natureza do sec e scm 0 qual de nao sena () que c; em logica, a rcunLio dog~ncro e da dilerem;a espec[(jca formam a csseflcia. Acidcnte<i qualquer qualidade que pode pcrtencerou nao aos iudivfduos

I! , de uma mesma classe. POI exe-rnplo: racional e mortal sao qualidades essenciais a homem; sabia e ju;;,to, acidenlais.

Eis urn exemplo de classifica~ao:

I) NaJural P"Ii,o {GO'"4)1I1tern/JdoIlQI. Partkular

{ PT/\Ia(/()hi: "'I ( Con_~litucioflal

Admiroslratlvo"!I' F;nwlceiro

Penal SS

Dircito n)Po.~i(i~'O JudicitJrio

Callcl/Iiw

Publico Piscal

Aireo

Mar(/inlCJ Mrlniriptll

2) NadOlwl Eldloral

Do l'rabalho

Ci'" Privado

{ COllwrcial

A Definiqiio e a Divisiio

A analise das idCias a panir da eontprcensao propieia a defil1i~ao; a partir da extensao propicia a divis50.

Definir (do tat. definiTe, "limilar") cdc1imitar a comprccnsao de uma idCia ,Maves do gcnero pr6ximo e da difercfllS3 cspccffica.

Seja, par exempJo, 0 lenno advogado. Advogado e urn animal entre as seres; urn vcrlebrado entre os animaLs; um mamlfero entre as vertebrados; urn bimano entre as mamfferos; uma pcssoa que, legal­mente habilitada e inserita na OAB, exert'l:: a advoeaeia e patfOeina as inlcresses de outrem - entre os bimanos.

Faz-se a dcfinj~ao, portanto, peIa csseneia, que c permanente, e nao pelo aeidente, que c aleatririo e vDriavel. A dcfini~iio ca nO($ao lIe­scnvolvida, e a nn~ao c a dcfinilJao eoudensDda. 56

Para uma definio;;ao eriteriosa, eumpre obscrvar dnDs regras fun­damentais:

a) A detini($ao deve com'ir a lodo 0 dctlnido.

b) A del1nil;ao dcve collvir SOmcnle ao dcrinido.

A estas rcgras ecoslume aelilar dllas oulras alinentes aclareza e \..'Oncisao da lingua gem : 0 termo defiuido nan rode eonstar da det1ni($ao sob pena de ela tOfllHr-se laulol6giea; () enunciado deve conler () menor niimcro passivel de palavras <I fim 'lc que a de[jni~iio possa ser relida com mais facilidade pela mem6ria.

Divisao Ca opera~iio 16glea par mcio da qual se distinguem as es­pecics de urn determinado genera; c a decomposilJao de urn Indo em suas parIes. Bascia-sc, como foi dilo, na analise dn exlensao de uma idCia e possui trcs regras:

a) Preeisa sef eomplcla, au sejlJ, a soma das espceies em que 0

genera se divide deve seT ignal a ele mesmo.

b) As esp6:ies que cnnstituem urn genera c1evem excluir-sc enlre sL

e) Predsa fundar-se num prindpio unico de hnmogeneidade.

o proeesso de divisao mais usado pelos antigos 16gieos era 0 da dieotomia: partir eada genera em duas eSpCeics par meio de uma dife· rcn~a. Par exemplo:

54 A gramjlk~ lradidGn.l- cSlc~ndo_..., f~nil'Dlent.l.Jlnnlena 16gka arhloltJk3- ~plica os II eonceilQ~ de C!>.'IenCil e a.::ideale, c. g_, I. dass1(ico'iio dos adjeliYOS em explicalivo& e Ies­I lriliVlJ •.

55 A ebssHic...O:o aqui escoJhida serve apenas p'" iJuslrar, 1"'"IU1D1o, emlre os dOUlrip.dll­res, a maltria nio l pacfCic., sendo Y~rias t6 eltssiue_<;Ocs e.iSlenles. ~h cr. Liard, op. <:i,., p. 25.

Page 140: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

274 RONALOO CALDEIRA XAVIER

FIGURA PLANA

II! , . !

de 51ados (pentagono) de mais de .5 ladas

de 61adas (hc:dgono) de mnis de 61ados

................................................... ,

de 71al.los (heptagono) <.Ie mais de 7 lados clc.

II) Jufw eProposir;iio

Como simples elemenlos materiais <.Ia representac;i'io m<::ntal, as id6ias isoladas entre si nao podem cstruturar a pcnsamenlo propria­mente dito. Esle sltrge, apcna:->, com a alirmac;ao, ncgaliao ou qUillquer outra forma de eSlabelccer relalioes entre as idCias. No~6es simples, como fritlnguro, eqii.iLatero, chumbo) due/it etc., nao foimam pensa­memos; lllas ao cstabeleccrem-se relalioes enLre elas a mentc inieia a sua segunda opeIaliiio - a de Ju!gar: a triangulo e equilaLero, 0 chumbo eduelil.

Ju[zo - conceito mais vinculado apsieologia que a l6gica - e a ato menial <.Ie afirmar ou negar \Lma coisa de outra. Proposiqiio r a

( enunciada verbal do jul7n. Toda proposir;ao compde-sc, normal men Ie, de tres elementos: suJeito (0 que afirma nu nega), prediwdo (0 que c

AP~;NDlCE 275

afinnado au negado) c c6pula (do lal. copula, "uniiio" •• 'ligat;ao' ') ou liame (a forma verbal If, que intcrliga sujcito e predicado).n

CIlLSSlficar;iio dM Proposir;6es

Classificam-sc as proposic;6cs quanta aqualidadc c aquaolidade. a saber:

UNIVERSAlS - quando 0 sujcito e consilierado em lolla a sua cxtcnsao: Todas us eSlrelas tem ha pr6pria.

I) QuanlQ aquautidadc

PARTICULARES - qnando (J sujei­to econsiderado em parte de sua ex:~

1cnsaa: Algulls (Jslros /1[10 tern luz pr6pria.

AFIRMATIVAS - quando a i(\eia do predicado eOllvcm a do su.ieito:~e o hmnem If radonal.

11) Quantn tJ quatidade

NEGATIVAS - quando a idcia do prcdieado nan esla inclufda na do sujeito: S6crates niiu If roman.o.

Fazcndo a combina~iio enLrc a quantidadc e a qualidade, surgem qualro especies de proposii;oes, dcsignadas con\lencionalmente peIas

57 Para Arj'h~ldcs, loda~ "' proposi0es Iorn8m-se redUlfvei, a Um. forlllulA,ao bi"Aria (SU­jeilo e pn,die.do) com 0 verbo sef: 0 homcm una '" 0 Ilom<m ~ ~nunle; 0 fiI(1~ofo alla!i~~ a realidade '= 0 fil6w[o ~ allali~18 da re~lid8de.

51! Kalil cJnssifieou o~ jurzos elll QIIQllljcos ~ .•!melicos, c,'nforme II idcla <10 predieado "Ii ­vesse ou lIio, respeelivamcnlc, impHrila nn do sujeilO. A 16gicn pun, ("onludo, nao ,·on~i·

dcra lal rom.. de .dli5(c d" oonhecimenlO, d~i.ando·a como fun~a" da gno&iologia.

\

Page 141: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

"

I III

I 'I 'II III

III I

I 'I

I I

Iii!

I ,

270 RONAJ.OO CALDEIRA. XAVIER

vogais A e I (cxtrafdas da palavra ACIrrno) e E c 0 (cxtrafdas da pala­vra nEgO), da forma seguin Ie:

A - universal afinnativa: E - universal ncgativa:

I - particular afirmativa:

o - particular negaliva:

TOM tritlngu/o efigura plana. Nenlwm triangllla es61ido. Algulis tri/lngulos slio is6sceLes. A [guns tritlllgu/os nao sao ret/lngulos.

111) Inferencia e Raciocfnio

1) Inferencills ImeJialns

"0 raciocfnio c uma rnarcha do conhl'cido para () dcsconhcci­do",H lcndo pm fim chcgar a uma conclusao lngicamentc valida. Tam­bern chamado conhecimento <liscumivo, C a mais complcxa Jas lrcs opcraljoes menlais. Raciocinar c sinonimo de inferir, ou scja, cxtrair uma proposio;;.ii.o de outrA ou varias oUlras nas quais sc cnconlra impli­citamente conlida. As infcrcndas podem ser imediatus - se feitas dire­tamentc, scm elementos intenncdiarios - ou mediaw.~ - Sl: ftitas alraves desses elementos. A opo:'ii\iio e a coni!ersiio das propasii:Soes iluslram casas de inferencias imedialas.

a) Oposiljao das Proposi<;iJes

Existem relalloes rcciprocas c bern tlelerminadas entre as qualro proposii:Soes c1assifiC'adas adma: a afirmativa c a ncgativa sao confra~

ria!>: a afirmaliva c a ncgaliva particularcs sao subcontrarias; a univer­sal afirmativa e a parlicular negativa, a univcrsal ncgaliva e a parLicular afirmativa sao cOlluadit6rias; a universal afirmativa e a particular a fir­maliva, a universal negativa c a particular ncgativa sao subalternas. E ainda: as proposi<;ocs contrarias c subcontnirias, sc tem a mesma quan­lida<le, difercm quanta a qualidntlc; as eontradit6rias tern difercntes a

59 E:lleviio en", op. c,:I., p. 309.

AP~:NDJCE 277

quantioadc c a qualiJade; as sub31tcrnas lern il rncsma ljnulidadc, mas Jifcrcm quanta aquanLidade.

o quadro abaixo, classlco em rodos os manuais, resume ludo:

A CONTRARIAS • S S U U

B B A Co", ' I'll'S A

~'14 0\,,0L J. XT T

B ><,1'1' D/~O' E'1/R CO 4S R

N N A A

S S

I SUlK'(lNTIV\lUAS o

Dal rcslIlLnm vadas illFcrcneias imcdiatas.

Propvsi~:aes CVllfT/lrias - A universal afirmaliva e a univerr.al ncgaLiva sao reciprneamcnlc illcompalfvcis, pois, lamanda ambas ° sujcito cm tada a sua cxtcns50, uma afinna a qualidade que dele a ouLra nega; logo se uma das proposii:Soe.." for verdadcira, a Dutra sen! nccessaria­mente faha.

ProposiqlJes SUbCOlllrr1rias - Tanto a particular afirmaliva CUlllO a par­ticular ncgaliva podcm ser [alsas ou vcrdadciTLIs. porque, nem numa nem noulr;.!, II slljeil~) 6 tornado em 10(b a sua eXlensao, podendo du-se qne a parle do sujeiLo eonsiJerada pur uma scja a parle do mesmo su­jeilo considerdda pda outra. Ex.: Alguns lri{mgulos s50 isosceles; al­guns lrifingulos n50 s50 i:-\<lsccles.

Proposi\6es CO/1/rrlditorias - Das dU3s proposi~ocs eonlradilorias e If­dto coneln(r que, senda uma ueeessarlamenle vcnladdra, a outra e [al­sa. Par exempla: sc for vcrdade quc 100los os 1riallgu!os possucm Ires ladw;, cneeessariamcule Falso quc nlguns triangulos nan possuam lr2s lados. E reciprocamenle: se For verdade que alguus Lriangulos n50 tern angulns iguais, efalso que lodos os lritlllgulos tenham angulns iguais.

Page 142: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

278 HONALDQ CALDEIRA XAVIER

Proposiroes Subalternas - A verdade da universal implicll II vcrdade da panicular corrclata. Por l'xcmplo: se tollos os triangnios possucm Ir&.. (ados, segnc-sc como vcrdade que alguns triilngulos tamb~m pos­snam trts ladas. Se evcrdadc que nenhum triangulo seja solido, e lam­bern [also que algum triangulo scja solido. Entrctanto, a vcrdadc on f'alsidade d::l particular nao enscja a venl<ldc ou a falsidade da universal que the esteja conrdenada, porquc lUI purticular 0 prcdicado 6 afirmado ou negado apenas de uma parte llo sujcito, considerado csle em toda a sua cxlcnsao na universal. De seT vcrdadc que alguns Iriangulos sejam isosceles, nao se infcre que [) sejam fodos os demais.

b) Convcrsao das ProposilioCS

Convcrs3o de uma proposi<;ao c ° ato de lmcar-lhe us lcnnas, danda origem a uma nova proposl'iao, de modo 4uc 0 sujeito da pri­meira passe a ser 0 predicado da segunda e vice-vcrsa. Ex.: Nenhum solido c figura plana; ncnhuma figura plana esolido.

A uuica rcgra a ser observada: a prnposi'Siio resultanlc da eonvcr­sao deve afirmar ou negar, apenas, 0 mcsmo que Cafirmado au ncgado pela propllsiliao eonverlida, signi[ieando dizer que sujcilo e predieado devem manter a mcsma extensao.

Os l6gicos alistam conversoes simples, por limitaqiio, por /lega­viio e por cOlltradiviio.

A universal negaliva e a particular afirmaliva convertem-se simplc.',­mente: NenllUm animal raeional eovfparo; nenhum oVlparn eallimal ra­donal. A1gum brasileiro eadvogado; a[gum advogadu ebrasilciro.

A universal afinnaliva eonverte-se por limitai$iio do sujeilo: Toaos os metais sao condutores e1clrieos; alguns cnndutorcs e1Clrieos Sao melais.

A particular negativa eonverle-se por ncgai$ao: Alguns me[ais nao sao corpos s6lidos; alguns corpos nao-s6lidos sao melais.

2) lufcrcncias Mcdiatas

Inferencias mediatas, como foi vis to, s50 as que se verifieam pela utiliza'iao de urn termo medio. Elas se cfeluam por dois proL'C$SOS; iJl­duviio e dedllf;iio. Em ambcs cs easos, Jpcra-se 0 rdcioefnio pela forma silogistiea.

APENDICE 279

IndU(;iio

E 0 raeiocinio quc parte de urn fal0 p:trticular para conduir urn fato gcral. Induzir e gcncralizar, e raciodnar a posteriori, ou seja, com base na cxperiencia; c partir do efeilo para a causa, da eonsequencia para 0 prindpio.

o metodo indulivo, amplamcnle valorizado pm Bacon, lem como ponto de partida a observa'Sao, a analise de urn grandc numero de falos esparsos atraves da qual sc chega a lei gera!. quc reduz a unidade a mulliplicidade. As eicncias experimcnlais fuleram-se na indll(;ao.

Exemplo: 0 cobre, a platina, 0 alumCnio e 0 ferro sau mctais; ora, a eobre, a platina, 0 alumCnio e 0 ferro sao bons condutores I~rmicos;

logo, lodos os melais sao bons eundulores tcrmicos.

Dedur;iio

E 0 raeiocfnio que parte de um falu geral para conduir urn Cato particular. Dec1uzir ~ particularizar, ~ raeiodnar a priori. ou seja, sem vineulai$iio com a expcriencia; e partir da causa para 0 efcilo, do princl­pio para a eonseqiieneia. Baseia-se no fatn de que a accitalSaO de deter~

minadas premissas eUffin vjlidas impliea necessaria mente uma liniea eondusao possfvcl~!I A metaflsiea e seu tributario maior, a ontologia, fundamentam-se na dedulSao.

Exemplo: Toda materia possu; energia cone,enlrada; ora, D alamo de radio emateria; logo, 0 jtomo do radio possui encrgia coneentrada.

OSilogismo Tipo classieo de racim;:fnio dedutivo, 0 ,rilogismo (do gr. .\yllogis­

m6s, "ligalSao") ~ urn eneadeamenlo l6.gico de tr~s proposilSoes feilD de tal modo que, das duas primeiras - ehamadas premissas - resulta fori$osamcnte uma tereeira - chamada conclusiio. Em suma, ~ a IigalSao de dais lcrmos por meio de urn tereciro.

60 Tanio a indu~ilo como ~ dedu~iio lem rellO adverslirios entre 0' 16glcos. Uns condenam 0 proees._o indulivo p"r nele velT,m oma Tonn. d~ radodnar analogicamenlt'., por simple~ as_ socia~;;o mcnl.;ll. Sc uma dlebre more. eomcrdallan~a na pra~a urn novo produJo, proda_ mor~ em SUa eompanha pUblidLltria: .. t:: um nligo da malT,a X". Oro, como OOlro produl<J da mlfca X ale.n~ou plcno hilo, lnfa.ecSc que 0 novo produlo ~ de tJoa qulidade. (cr. Huisman e Vcrgez, op. dt., p. 32.) 0 processo dedolivo, 10 ll'vh. ~ con<knado pel<J seu conle~do repclilivo c, por co<l!oCguinLe, improduli.,o, poi, a condusao - scm pre laulO16gica - j~ esLlt subenlendiJI na premis._a malor. (V., na nol.;l 6, a cr1lica dc R. RU!>l.cll.)

Page 143: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

"'0 RONALDO CALDEIRA XAVIER

A base malematica do silogismo c () axioma - duas quatltidades ig/lai~ (l uma terceira sao iguais erure si; todD x 6 y; ora, z e Xj logo, z e y.

Tal fornm de raciocinar alcanlfou 0 seu csplendor enfre as csco­I~sticos llJedicvais, que a emprcgavam abusivamcnte, silogizando lodo o processo do ensino.

E de Arislotc)c:-; 0 modclo lradicional: Todo homem t! mortal; ora, Socrates t! homem; logo, Socrates t! mortal.

Elementos do Silogismo

Todo silogismo eomp6e-se de materia e forma.

A materia eonstitui~sc de tres proposi(foes: Premissa maior, pre­ml'jsa menor e conclusiio ou i!m;;ao - e de tres termos: maior (T), pre­dicado na coneht,<;aoj menor (t), sujei(l) na eonelus~oj e mMio (M), que nao pode aparccer na conelus~o e com 0 qual sc cOlcjam os termos maior e mellor, denominados extremo.':.

A forma traduz a relac;ao l6gica entre as prcmissas e a conclnsao, eonvindo notar que 0 silogismo pode aprescntar-sc verdadeiro quanta a forma e falso quanto a materia on vice-verna. Neste excmplo: "Todos os drag6es lan<;am fogo pela goela; ora, eSlc llnimal C urn dragao; logo cste animallanc;a fogo pela goela" - 0 silngismo cmaterialmellle fal­so, pais eontradiz a realidade (admite uas premissas urn cnte fictfcio), mas formalmellle verdadeiro, pois a sequeneia 16giea cst;i correia.

AnaJisando 0 silogismo aristotelieo, acima re[erido, lem-se:

Prcmissa maior: Todo homem ~ mortal. (0 sujeito passui maior edensao.)

Prcmissa menor: SOcmtcs ehomem. (0 sujeito passui menor eXlensao.)

ConclLL.<;ao: Socrales emortal.

Termo maior (com mais extensao, prcdicado na collelus.1io): morfat.

Termo menor (com menos extensao; sujeito na condus.ao): S6crtlfes.

Termo m&:lio (exlensao inLcmlediilria em rela(fao aos outros dois):Homem.

APENDICE "" Regra.'! do Silogismo

Os cscohislkos formulam Oilo rcgras para 0 silogismo:

1ft ) Cornpoc~sc 0 silogismo de Ires lcrmos: media, maior e menor.

2~) 0 terma media jamais pode figurar na conclusao.

31) 0 terma media, aD menos uma vcz, deve SCT tornado em lol.la a sua extcnsao.

41) Ncnhum lerma pode ter mais exlcnsao na conclusao do que nas

premissas.

5~) Nada se eonelui de duas premissas negativas.

(ja) Duas premissas a rirmativas n~o podem gerar uma eonclusao negativa.

75) A conelusao segue sempre a parle mais fraca (a premissa

panicular ou negaliva).

sa) Dc duas premissas particulares, nada sc iufcre.

A]{~m deslas regras, os l6gicos arrolam 64 modos (nem todos eoncludcnles) e 4 nguras posslveis dc silogismo. Os eseol<ls1icos, en­genhosamente, cnmpuseram, com palavras artificiais, vcrsos mncm6­nieos a rim de retcr rna is facilmcnte a combina(fao das figuras com os 19 modos concludentes dos silogismas. De relalivo inleresse, torna-se desneeessil rio cnumeri -los aqui.

Silogismos lrregulares e Compostos

Nao sao comuns, na linguagem corrente, enunciados silogfsticos desenvolvidos eobedientesas rfgidas f6rmulasda l6giea. 0 que a ciencia da prova - como ja foi chamada a logica - anaJisa teoricamenle, ana to­mizando 0 pensamento, na pdlica 0 espfrilo siutcli ......a e, nao raro, maliza de fei(foes cstilfsticas diversas e vari.lvels ao talantc do genio mais ou menos criativo de eada urn.

A par do silogismo regular ou categ6rica, outras modalidades existem e sao divididas em dois grupos: silogismos irrcgl~/ares (cpiqni­rema, polissilogismo, sorites e entimcma) c silogismos compostos (con­dicional ou hipotClico, disjuntivn e dilema).

Page 144: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

282 RONALDO CALDEIRA XAVIER APENDICE 283

a) Silogismos Irregularcs

EPIQUIREMA (do gr. epicheirema, "ataque feito eom a mao") - e 0

silogismo em que uma das premissas ou ambas vern apoiadas numa prova.

Ex.: Todos as X sao Yporque sao Z; ora, todos as A sao X porque sao B; logo, lodos as A sao Y.

Tornou-se uma eonstante, uos manuais, eitar a argumenla<;ao de Cicero ao palmeinar a causa de Milao:

"E permitido matar a injuslo agressor: -a lei natural ea lei positiva autorizam-no; ora, Q6dio fOI agressor injuslo de Mil1io: - os anteeeden­les, as armas, a sua eseolta provam-no. Logo, era permilidoa Milao malar CI6dio."

POLISSlLOGISMO (do gr. polys, "muito" e syflogistn6s, "liga<;ao") - e uma eadeia de silogismos de modo qne eada eonclusao sirva de premissa maior para 0 silogismo seguinte. 0 primciro silogismo, euja eouclusao e a premissa maior do segundo, ehama-se prossilogisma; 0

segundo, euja premissa maior e a eonclusao do antecedente, ehama-se epissilogismo.

Ex.: Todos as homens de vinle e urn anos atingiram a maiorida­de; ora, Pedro e urn homem de vinle e urn anos; logo, Pedro atingiu a maioridade; ora, quem alingiu a maiaridade adquiriu tamhem a plena eapacidade civil; logo Pedro atingiu a plena eapaeidade civil,

SORITES (do gr. sorftes, scilicet .\yllogism6s, "silogismo amonloa­do") - e a raciocinio farmado por uma eadeia de proposi<;oes de tal modo enlreligadas, que a predieado da primeira serve de sujeilo ase­gunda, 0 prcdieado da segunda serve de sujeito a terccira, e sueessiva­mente, ate que, na eonclusao, a sujeilo da primeira se junte ao predicado da liltimll.

Ex.: A e H; H eC; C e D; DeE; E e F; logo, A e F. Tornou-se classieo, tambern, eitar a exernplo da raposa de Mon­

taigne, a qual, antes de avenlurar-se atravessia de urn riaeho enregelado, fiea aeseula e assim raciocina:

"Estc regata faz fUlda; 0 que faz fufdo se mexc; 0 que se mexe nao csta gclado; 0 que nao csl<\ gclado nao me agiicnla; logo, este rega­to nao pade agiicntar-mc."

H<1 dais tipos de sorites: regressivD ou aristotelico (0 que (oi cxcmpliticado acima) c progressivo au gocJenico, em que 0 encadea­mento proposicional sc faz de modo que 0 sujcito da primeira seja pre­dicado na scgunda, c assim par dianlc, ate que 0 sujeito da ultima se liguc ao prcdicado da primcira proposi<.;ao.

Ex.: Ae Bj Ce Aj D eCj E eD; logo, Be B.

ENTIMEMA (do gr. enthymetna, "concep<.;iio") - sem duvida a mais frcqiicntc Canna de raciocinar, e 0 silogismo conlralo em que uma das prcmissas, au mcsmo a conclusiio, fica suhenteudida poc sc supor hem conhccida.

Ex.: Todo elemento qufmico tcm pcso al(}mieo; logo, tamhem 0

sodio.

Ficou elCplica, uo esp(rito, a premissa menor: 0 s6dio eum ele­mento quftnico. Tem-se, uesle easo, enlimema de segundo grau.

No celebre raciocfnio earlcsiano: Penso; logo, existo - t1cou im­pHcita a premissa maior: todo ser pensante existe. Neste easo, 0 enti­merna cdc pritneiro grau.

b) Silogismos compostos

CONDJCIONAL au HIPOTETICO - e 0 que se eonslitui de uma pro~ posi<;ao ealcg6rica (a maior) c de outra hipolelica (a menor). Se a pre­missa menor for afirmaliva, oeorre 0 modus !ollens (modo que elimina o eouseqiieute); se a premissa menor for negaliva, oeorre 0 modus po­nendo tolIells (modo que elimina uma das hip6teses propostas, alic· mando a oUlra).

Ex. de modus pollens:

SeA e H, Ce D; ora, Ae H; logo, Ce D. Ou: Se a Direito e a eieneia do juslo e da eqiiidade, e uti! ao hqrnern;

ora, 0 Dircito e a cicncia do juslo e da eqiiidade; logo a Diceito c6tH aohomem.

Ex. de modus ponendo {ollens:

Page 145: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

284 RONALIJO CAr.DEII{A XAVIER

I Se A c B, C cD; ora, A nao c B; logo, C nao eD,f

J

Ou:

Se amar e pecado, amar e permclOso; ora, amar nao ~ pocado; logo, amar nao epcrnieioso.

DISJUNTIVO - ~ aque1c em que uma das premissas exprimc altcrnali­va, sendo a outra categ6riea, afirmaliva ou negaliva.

Ex.: A c B ou C; am, A c B; logo, A nao cC. [Premissa afirmaliva]

A ~ B ou C; ora A nao c B; logo, A c c. IPremissa negaliva I Ou:

Fulano malou bellmno ou sierano; ora, fulano malOu beltrano; logo, nao malou sierano (premissa afirmaliva).

Estc homem se chama Pedro ou Paulo; ora, estc homem nao sc chama Pedro: logo, se chama Paulo (premissa ncgativa).

DILEMA (do gr. dflemmCl. "duas proposiC;6es") - E 0 si]ogismo du­plo de que rc.'mlla apenas uma coudusao. Oms(ilui~se de uma disjun­C;iio e lIuas proposi(;'ocs eondicionaLs [ol'mada pelos membros da lIisjunlSao, scguindo-se dal a eonelusao unica. Para que seja urn silo­gismo Icgllimo, prccisa impliear uma allemaLiva aulcnlica, isto c, niio pcrmilir a ocorrencia de urn tereeiro rnembro.

as aulores soem mencionar 0 famoso argurnenlo aprescutado pelo general aselHinela que nao dera 0 alarma ante a aproximac,;ao do inimigo:

"Ou eslavas. no leu pOSIO au nao eslavas. Se eslavas, nao cum­priste 0 leu dever; se nao e.'ilavaS, eomeleste um aID vergonhoso; em ambos os casos, mercees a morte."

Verdadcira faea dc dois gumes, Clambem conhecido como argu­mento Carl/uta (as dnas proposiC;6cs lIcnominam-se cornos do dilema).M

FormulalSocs dilcmatieas aparccem, lambcrn, quando se figllram silua0es embarac,;osas com duas eondilSoes conlradit6rias e igualmente difiecis, como expressam as. eonhccidos dilados populares: preso por rer cao, pre.\·opor nao tercao; se correro hichopq;Cl; se ficar obicJJO come.

61 cr. IJsleviio Cru;>, up, cil., p, 335,

, I APENDICE 285

i i A. guisa d~ curi6sidatlC, rctiram-se aqui dais casas de inleressan­

tes silua~6cs dilcmMicas.

Urn viandaute, ao alravessar dislraido uma pontc, Csubitamcnlc alacado por urn bando de saHeadores cuja chcfc, ap6s ler dcspojado a vitima de todos as sellS haveres, the propiJe: "Sc nos disscrcs uma fra­se absolulamcnte vcrdadeira, poupar-te-emos a vida." Rcnctindo por alguns instan1CS, {) assaltado proferiu esta Crase: "Tu vais me malar." Diante disso, {) bandoleiro viu-sc numa cntaladcla: como saber se era vcrdadcira a frase de sua vitima? Matando-a. Mas, aD f31'.£-lo, ficarla palenteado que cia dissera a verdadc e, portanto, nao devcria morrer...

Ecelebre {) cxcmplo de dilema rctorquido apresentado por Evallo a Protagoras, sell antigo professor de rel6riea. Evat]o ennlralara n mes­Ire para algumas aulas, ficando eombinado entre os dOLS que a paga­menlo deveria ser efcluado em duas parcelas: me1ade no ala C meladc quando 0 aluno vcneesse a primcira causa. Olmo 0 disdpulo se aco­modasse, deixando 0 tempo passar, Protagoras a eonvocou a barra do tribunal, argumentando assim;

"au perdes ou ganhas esta causa; sc a pcrdcs, dcvcnis pagar-me em obedicncia il. senten~a do juiz; se a ganhas, lamb~m deverfi.s pagar­me, eonforme 0 que combinamos."

Evallo contrapus:

"au pen;o esla causa ou a ganho: se a pereo, nada Ie deverei, se· gumlo 0 que ajuslamos; se a gallho, tambem nada Ie fiearci devendo, de aeordo com a scnlcn~a doiuiz."

Dois Problemas de L6gica Matematica

Em seu dclicioso livro 0 Homem que Calculava, Malba Tahan relala, sob fmma rumaneeada, as proezas de Beremiz, famoso ea1culis· la mUlSulmano, nascido n3 Persia, junto ao monte Ararat. Vale reprodu­zir, para ilnslrar, dois enlre os varLos problemas cUissicos apresenLados na obm (eapftulos XXXIIl e XXXIV) e resolvidos scm "f6rmulas, e­qualSoes ou sfmbolos algebricos", simplesmente atraves do puro exer­cicio do raeiodnio em Matematiea, a CUha diIeta da L6giea.

A Pero[a mais Lew

Deseobrir, entre oilo pcrolas iguais no tamanho, na forma e na cor, por meio de duas pesagens apenas, qual a unica p~rola ligciramcn­te mais leve,

Page 146: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

"'6 RONALDa CALDEIRA XAVIER

A ~(Jlw;iio enconlrada: lIividc-se 0 conjnnLo das oito pCrol<l~ em tres grupos, A, B, C. 0 grupo A ficara com lres, 0 grupo B com Ires e 0 grupo C com duas pernla.... Co!ocando, COffiU e16giCD, as grupos A e B 1\'1 balan~a romana, para efcluar a primeira pesagcm, surgcm ueccssa­ria mente duas hip6(~~e.<;:

a) as grupos A c Bse cquilibrarn.

b) l-Ia dcscquilfhrio enlce os dais grupos.

Oa primcira hip6tcsc (A c B tern pesos iguais), inferc-sc que a perola mais Icvc nao pertcncc a ocnhurn dos dois grupos, cstandn, com loua a cerlaa, no grupn C. Assim, levamin a balan~a as L1uas peralas do gruJXl C, e pondo cada uma lIum prato, a scgunda pcsagcm uetermi­naTa qual a perala mnis leve.

Nd scguuda hipOICSC (A c B tern pesos difcn:nlcs). a pcrola mail' !eve pertcnce, fon;osamcnlc, ao grupo que cstiver no praia omle sc re­gistrar 0 menor peso. Tomam-se enlao duas pcrolas quaisquer desse grupo, deixando-sc a tereeira ~ parte, e p6e-sc cada umlJ num pralo. Se a balanlja ficar ern cquilJbrio, a Icrccira p6ro!a, que foi posla de lado, e a mais Icve; se houver dcsequilibrio, a pemla mais Jcve cstara no prato que suhir.

A Cor dos OlllOs daf Cinco EscrOW1S

Urn (Jodcroso sullan prop6e gue Beremiz rcsolva 0 seguinte pro­hlema: enlre cineo escravas que se aprcsenlarn COlli 0 rosin inteiramen­Ie cllvolta por espcsso veu (0 "nail''' dos Illw;ulmanos), dislinguir as duas que Lcm olhos pretos e as Ires outras que tern olhos azuis. Para isso, tern a direito de formular Ircs perguntas, nao sendo permiLido, em easo algum, intcrrogar mais de lima vez a mesma eserava. As escravas de oIhos prClos, quando interrogadas, dizem sempre a verdode; as de olhos azuis sao menLirosas, nllnca dizem a verdade.

Bcrcmiz, entao, dirigiu-sc a lima das cseravas e pergnnton-Ihe:

- Qual a cor dos teus olhos'!

A resposla que nuviu [oi daoa em dialeto chines, lolalmenle (lcs­conhecido por ele. Rcdamando ao sullan, este on1enou que, dali por dianLe, as respostas fosscm dadas em ambc purn. Enlrclanlo, Fieavam restando somentl: duas indagalllles.

APENDICE "'7)

A segnnda eserava respomleu:

- As palavms <lela foram: "Os meus olhos s50 azuis".

Faltava apenas a iillima pcrgunla. FC-Ia 0 calculisla dirigindo-sc a nma terceirn escrava des1a maneira:

- Dc que cor sao os olhos dcssas duas jovens que acabo de interrogar'!

Redargiiiu enHio a tcn:eira cscrava;

- A primeira tern olhos prelos, c a scgunda, olhos azuis.

Ouvida a ultima resposta, Bercmiz proclamou rcsolvida a questao e passou a explicar:

- A rcsposla da primcira escrava, cmbma nao fossc entendida par mim, linha de ser uma, falalmenlc; "as mellS ollIOS sao pretos". E [:1­

cil comprcendcr: se ela tivcsse olhos prctlls, diria a verdadc e confir­maria; se 1ivesse olhos azuis, menliria e daria a mesma rcsposla: "as meus alhas sao prcLos". Canhccida previamcntc a primdra rcsposla. nsci csla circunsUlllcia para fazer a segllnda pcrgunta: "Qual fai a res­rOSla qne a sua eompanheira aeabau de prorerir'!" A scgunda cscrava rcspondeu-me a seguir: "A" palavras dcla [oram: "O.s meus olhos sflo azuis".lslo demonslrava que a segunda mentia, lem10, porlanlo, olhos azuis. Estava idcnlificada, l'Om lodo rigor matcma1ieo, a cor dos olhos de uma lias cinco escravas. A lerccira e ulLima pcrgunla auxiliou-me a deseobrir as qualro illcognitas rcstantes. Quando a terccira escrava rcs­pandeu: "A primeira tern olhos prctos, c a segunda, alnos azuis" ­pude inferir que a lereeira escrava nao mClItira, pois confirmava urn ralo que eu sabia verdadeiro, Oil seja, ler a scgunda cscrava olhos azuis. Se a tcrceira escrava nao mentira, prcla cra a cor tins seus olhos, e a.s snas palavra traduziam a vcrdade; par isso, a primcira cscrava fXlssufa, lambCm, olhos prelOS. Logo, nao foi diffciJ concluit que as dllas nlli~

mas escravas, por exclusao, assim como a segunda, tin ham olhos azuis.

o Erro emL6gica: Sofismas

o calculista voltou-se para oulra escrava c iUlerrogou-a: Sofisma (do gr. s6phisma, "artificio", sutilcza de sofista) ou fa­ICJcia C0 raciacinio intcncionalmcnte falso, espccioso, com aparincia- Qual roi a resposla que a sua companhcira acabou de proferir? de vertladciro, que tern por fim provocar cngano.

Page 147: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

2B8 RONALDO CALDEIRA XAVIER

COSIUffi<lffi os logicos eslrema-Io do paru!ogismo, que e0 racioci­nio inadvcrlidamenlc errolleo, scm inluilCl de lagro. A rigor, pore-ill, inexiste Jislin<;i:io enlre sofisma c paralogisn1o, pois ambos c<lractcrj· zam (J erro em l6gica: afirmar () que nan C, ou negaro que 15.61

Mas antes de cstudar () raciocfnio falacioso, faz~sc mister uma li­gcira cxposi<;ao sabre a sorrslica, a arlc dos sofismas, e .sens grandcs cuI10res hist6ricos.

OsSoj1stas

Nos ullimos cinqlicnla anos do scculo V, chamado 0 seeuln de Pericles, a civilb:at;'<l.o hclcnica alingin seu pcr(odo de maiar rcfulgen­cia. 0 grande impcrador, em 429 a.e., havia iUlroduzido a conslituil:,;30 dcmocn'ilica, c a dala de sua morlc (449) coinciJiria com 0 lcrmino das guerras ellUlra os pcrS<ls. A Grcci<l, enfim, via-sc livre da amealS<l dos barbaros. Ncssc per/ado de iulensa rcrmental:,;ao espiritu'll, em que rc­!1oreseiam 0 comcreio, a cconomia interna, as dcneias c as arIes, sur­giram os sLlrislas, scm introduzir propriamcnte uma nov<J escol<J ou doulrina, mas uma tcenica ell' ensino. Eram, em vcnl<lde, um grupo de profcssores ambulantes, quc percorri<Jm as cidadcs gregas elivulgalldo fl sophia (sahcdoria) e a erf.'J'/ica (a ar(c de eonlrovertcr e das disc llS­sacs sulis) em lmea de renlUneralSao. J-Iomcus de alilada inlcligcneia, mestrcs em re((iriea, habcis dominadore.<; <la p:llavra, mOSlravam-se in­difcrentes <JO contelido das idCiilS, a sua relal:,;ao com a realidadc e, alra­ves de manigancias de raciocfuio, eompraziam-sc cm defender 0 pro e o eontm de qualqucr Silullr;ao.'J Pregavam 0 celicismo intdel:!ual e mo­ral, 0 rela{ivismo do eonlleeimento humann, teudo sempre cm eoula () inleresse pnl1ieo e imedialn das eoi.~as. Pam clcs, a arle de persuadir Subslituill com cxito a invesligac:iiio eta vcretaele. Ensinando 0 melhor modo de cmbair 0 interlocutor c de caplaT a simpafia do publico, prc­

62 cr. Liard, I>p. cil., p. 178. 63 NiOu ~i como rer~~>J. "'l~i, a manileSia analogi. ~n(rc 0 proc<;dimcnlo dial~(ico dos sons.­

lH C 1 Ilu.~iiu proris..iullil do Idvol!.d(l ~ae, preocupauo cOm. nigcnci3 dos intere.,",s poslosem e3U•.1, Juh.,lha m.is t,om l ver.rao do que eOIll 3 vndade ptopriamenle d;13. H.e­cordcm-.c. 3~ui, 35 Il,llav,"s do advug;>do Napoleon ChO!a5, pel1>on.gem cnado pur Sidney Sheldon: "N~m julgamen(o. ( ... ) 0 [alor m~;s iml"'rl.m,· nio ~ a illOecncil QQ a culpa, mas a i'''prcssiio d<: inorencil u~ de eulpl. N00 ni.le verdade ahsolura, eIi.'le arenas I inler_ prefa~.io da verdadc". (0 QUlrv Lado da M"ia-Noil<l, p. 376.)

APENDICE 189

paravam a terrcno, sem qne 0 soubcssem, para os grandes politicos e oradores p6steros.

Os historiadorcs da filosofia reconhecem G6rgias (480-375) e Protagoras (480-410) como as sofistas mais notavcis, eabendo mencio­nar ainda, na condi~ao de epigonos, os nomes de Pr6dico, Hipias, Euti­demo, Polo, CHicles, Traslmaco ele.

Para G6rgias, naseido na Sicfiia, a 16gica era a cicncia suprema. Rcl6rico antcs de ludo, professou uma especie de niilismo nas tres le­ses que arvorou: a) nada existe; b) ainda que existisse, nao podcria ser eonhccido; c) 'linda que existisse c pudesse ser conhccido, nao poderia ser transmilido aos dcmais.

Pratagoras de Abdera foi 0 primeiro professor a cobrar, e bern, por suas li~6cs. Adquiriu fama, prindpalmente, peJas palavras com que inicia 0 seu tralado de filosofia Do ntio·ser, em que estadeia a lese do i antropomorfismo: "0 homern ea mcdida de lodas as eoisas, das que existcm, porquc sao; das que na(j exislem, porque nao sao."

Trasfrnaco da Calcedonia roi 0 inventor do rilmo na prosa, tendo dcfinido a jus tic:ia como' 'aquila que aproveit:l a mais forte". G~

Pr6dioo, por sua vez, alribuia capilal imporlilncia a justeza das palavras e aexata dislinl:,;ao enlre os sinllnimos.

Rebeldes e audaciosos, acicatando os costumes, aturdindu as cOllsci€!ncias, subverlcndo valores, demolindo preeonceilos de epoca e de escola, ale hoje conltstados por Uns e aplaudidos par outros - as so­fistas lrouxerarn uma cOnlribuil:,;ao primordial: 0 esludo da palavra, procurando valorizar¥lhe as divClSOS maLizes de signifieac:;:ao c eolabo­rando de maneira decisiva para cdar a tecnica dos diseursosjuridicos.6.I

Classi!icar;iio dos Sofismas

, Enlre as varias cxistentes, a de Stuart Mill (1806-1876), 16gico ingles, fjgur'<l como das mais conhcddas:

64 Cf. Jean Voilqul". "p. cit" p. 193. 65 Ibid., ps. 191 c 235.

Page 148: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

APENDICE 291290 RONAI..DO CALDEIRA XAVIER

b) Sofismas de inlcrprctat;iio I) Sojismas de simples inspe<;iio

a) Solhmas de obscrvac;1io 1) Indulivos

{ b) Sofismas de iJJlcrprcta"ao

II) Soflsmos de illferellda ou falsos raciocfnios

:l) Sofimns de plJllJvrlJ~ 2) Dedudvos

{ b) Sofismas de [orilla

Os sofismas de simples inspcliao aparcccm como os mais elemcn­tares e dccorrcm dc prcjulgar com a~odamen1o, sem a inlerveniCncia tla a~ao rctlctida do raciocinio. Nasccm da incuri", da prccipita~ao na analise dos falos, mui10 frcqiicntc, alia~, lIa vida diaria, COl quc se valorizam as aparencias e e negligeneiado 0 cunleu<lo das eoisas. Por exemplo, ha pessoas quc evitam passar por haixo de esc"das, ou ercem 4uc tlcparar urn gatn preto atraia azar, OU ainda que a simples quchra tie urn espelho seja imlfcjo de maus Callos. Qual a base real da suposi~iio?

Nao cxisle, c[elivamente, qualquer nexo causal entrc urn Calo e tlulro, sa )'10 a acei ta~iio a priori de uma eren<liee popu lar sedimelllada atraves tlo lempo.

as sofismas dc inferencia sao os especiosos, os que envolvem urn v(cio do raciocfnio quanto a induc;ao e adeduc;ao, alingin<lo a forma e a malcria do racioefnio.

1) Sofismas lntlutivos

a) SoCismas dc observac;iio

Toda ilac;iio induliva tem fundamento na observac;iio e na expe­ricneia, quc dcvcm scr feilas eriteriosa e adequadamenle. Ora, de uma observa~iio tlescriteriosa podcm ad vir eTfOS e inexalid6es, como, v.g., ignorando 0 fenomcno cia refrac;ao das ondas de energia luminosa, jul­gar ainda vcr 0 sol depois que ele ja baixou da linha do hori7:onte, ou tcr a ilusao de que urn bastao imcrso vcrlicalmenle na agua lomou a di­re~ao oblfqua. Duranlc mui!os seeulos, eo exemplo c cloqiiente, 0 sis­tema geoccnlrieo de Plolomeu predominou oficialmcnle, apoiado no argumento ex conse"sf~ gelJlium, ale ser substitu(do pelo sistema helio­centrico de Copcrnieo. baseado em observac;:oes muilo mais prceisas.

Como sugerc 0 nome, resultam de uma [onna crronea de intcrpretar as fatas por sugest.~o subjeliva. Por cXl:mplo: 10m3lido por base a instilui~ao do casamento enlre as romanos, lcnlar cnquadni-Ia nos cos. tumes modemos, ou aplicar II ~poca tic hojc a Icgisla~ao medieval dos atas pun(veis.

2) Sofismas Dedulivos

Baseiam-se na pr6pria mal~ria do racioe{nio, valenda cilar, entre as mais comuns, as seguintes:

SOFISMA DO ACIDENIE (fallacia accidentis) - Consiste em confe­rir sentido absoluto ao relalivo, aplieando uma regra geml a urn fato particular a que apenas uma eireunslancia acidental jnstifiC'aria fosse apHeavel a regra. Por exemplo: eonsiderar que 0 ordenamenlt> jurfdiC'o de urn paiS IS inefieaz porque algnmas de suas leis nao resolvam a quesillo social. au urn raciodnio tlo tipo: quem arranca 0 dcnle tie nOla pcssoa mcrece punic;ao; ora, os odont61ogos 0 fazem numa eXlral)ao; logo, os odont61ogos <Ievcm ser punidos. au ainda: conduir que todos os advogatlos sejam ehicaneiros porqne alguns 0 sao.

PETI<;Ao DE PRINCIpIa (petitio principit) - :E 0 racioclnio que ad­mite como cerlo ou provado justamenlo aquilo que se prelende provar. A dupla petic;ao de princfpio reeebe 0 nome de clrculo vicioso.

Ha exemplos classieos, assim 0 argumento oncoldgico de Santo Anselmo (1033~11O9)para demonstrar a existencia de Dens, exlra(do tla idcia do ser perfeilfssimo, em que se conCundc a ordcm tlos eonccitos com a das eoisas. Tambem Arist61elcs nao se esquivou do crro ao lemar moslrar que a Terra c 0 cenlro do universo: "A natureza das eoisas pesadas e tender a eair no centro do mundo; a expericneia faz-nos ver que as ooisas pesadas (endem a cair no centro da Terra; logo, 0 centro da Terra e 0 centro do universo. ,,66 E 0 pr6prio Descarles, tao eserupuloso de errar, aeaba inei<lindo em c1rculo vicioso, na quarta parte do seu • 'Discurso sobre 0 Metodo" ,41 ao pretender pnlVar a verdade da existen­cia tie Deus pela evidcncia, e a evidcneia pcla verdade divina. a maximo

66 Apud Uud, op. df., P 189. 67 Cil., ps. 47-58.

Page 149: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

292 RONALDO CALDEIRA XAVIER

que fez foi resolver a qucstao com cia mesma, 0 que e lol.almentc improdutivo.

SOFlSMA DE PALAVRAS - Dcriva-se da mudanc;a impr6pria no sentida dos (ccmos. Encaixam-sc Deste easa 0 equ[YOCO c a ambigiiida­de au atljibologia, que se originam de constrUl;ocs gramaticalmcntc vi­dasas c cia falta de clarificac;ao conceitual, dando margem, assim, a possibilidadc de varias inlerpretac;6es. Excmpla: A ursa eurn mamffe­TO vertebrado; ora, a Ursa Maior e uma constclac;ao boreal; logo, uma constclac;ao boreal curn mamifcTO vcrlcbrado.

A cxprcssao 2 vezcs e 2 c 3 vern carrcgada de ambigiiidade. Senan vejamos:

2 vezes 2 e 3 =7; ora, 10 = 2 vczcs 2 c 3; logo, 10:::; 7.

Faeilmente se percebe que a proposi~iio 2 vezes 2 e ~ pode ser entendida lie duus maneiras:

a) 2 VC'/.£S 2, que cigual u 4, mais 3, que e ignal a 7;

b) 2 vezes 0 lotal de 2 +3, que e igual a 10.

Tambcm 0 abusivo cmprego de metaforas enseja dubios cnuncia­dos onde figura e realidade se misluram. 0 uso de imagens e sfmbolos pard represenlar abstra~oes puras ccausa de muitos erros, como ccrlas interprelalioes nterais que sc fazem de passagens biblieas em que c patcnte 0 sentido aleg6rieo ou melaf6rico, falo dcliberadamente descon­siderado pelo hermeneuta.

SOFlSMA DE INTERROGAC;AO (fallacia plurium lflterrogat;ol/um) _ Reside em coordenar falos pretensamentc iguais, mas dessemelhan­tes em realidalle. Par exemplo, ao interTogar dcste modo urn suspeilo: por que mata~'te [ulano? - passa-se por cima de uma outra pergunla necessariamente anlerior: Mataste [ulano?

SOFISMA DE FALSA CAUSA (non causa pro causa) - Nesta espe­de de sofisma confundem-se a concomitancia ou a succssao dos falos com a nexo causal.

APENDICE 293

A concomitfmcia vern cxpressa pcla f6rmula cum hoc, ergo propter hoc (com islO, logo por eausa disto). Ex.: Imagine~se que, no Rio de Janeiro, () aumenlo da eriminaldiade (fato X) haja eoincidido com 0

fechamento lIa earteim de empre.stimos para aquisirsao de casa propria (fato Y). Passa-se, enta~, a alribuir 0 surl0 de criminalillade aescassez de moradias. Ora, a simultaneidade dos fatos X eYe evenlual, nao implica obrigatoriamente que 0 segundo tenha dado causa ao primeiro.

A suce..<;sao tern esta formula: post hoc, ergo propter hoc (depois dis to, logo por causa disto). Se 0 fato X oeorreu logo ap6s 0 fato Y, este se verificou por causa daquc1e. Ex.: Pais supcrsliciosos alribuem a eircnnstancia de ° filho haver eonlmfdo hepatitc ao fato de terem csque~

eido de pendurar no peseQlSo da erianlia urn certo amulelo, na eonvieliaO de que esse objeto a dcixaria premunida contra qualquer lIoen~a.

IGNORAN"CIA DA QUESTAO (ignoratio elenchl) - Consisle em pre­tender provar qualquer coisa argumentando com falos intciramente fom do assunlo em debate. Na verllade lrala-se de urn reeurso un argu­mentador, que, com sua viloquencia e esperleza, cornelia a tergiversar, valendo-se lie rolleios e evasivas para fugir ao lema principal, justa­mente aquele onlle esla 0 busflis da diseussao. Bern exercitado, e arma allamenle prestadia a debatedores, politicos, dipJomalas, madores e ad­vogados, sobreludo quando Ihes nao inleressa 0 eneadeamento eslrila~

mente diseursivo lIos mcioclnios, mas 0 apclo patetieo asentimenlalidaue do auditorio. Por cxemplo, nm advogado experienle, cujo eonstiluinte e urn funcionario publico aeusallo de peeulato, podera esfoI~ar-se em provar que 0 .'leu clienle foi sempre born chefe de familia, pai extremo­so, marido exemplar, filho dedieado, ex-praeinha, porlanto urn herDi de guerm a quem muito deve a palria etc., etc.

AlgMfls SoJismas Celebres

Varios sao os sofismas que a hist6ria manlem registrallos e que, ainda hojc, despertam 0 interesse lIos logieos, malemalicos e ril6sofos. Por euriosidade, cis alguns:~8

o CornulO

"Tens 0 que nao perdeste; ora, nao perdcste chifres; logo, tens chifres. "

68 Colhldos em Esl8vio Cl1IZ, op. dr•• po.. 438·440.

Page 150: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

295 294 RONALDO CALDEIRA XAVIER

(Neste sutH racioefnio, sup6e-se provado 0 que c tornado apenas hipolclicamcntc na prcmissa menor.)

o Velado

"Nan couhcccs csta pcssoa vclada; ora, esta pessoa vclada c lua mac; logo, nao conhcces lua mac."

(Ocorrc ambiguidade com 0 verba conhecer, que cusado em eois scntidos difcrcnles: cUlIhecer c reconhecer.)

o Mentiroso

"Epimenidcs, cretense, tlissc: Todos os cretem;es mClllCm."

(Ora, como ere tense que e, Epimcnidcs men Ie; logo, os crelenses nao sao mcntirosos; mas se estes nao sao menlirosos, Epimcnitles rala a veruatlc: os cretenscs mentern - e as.<;im ad infinitum. Costuma-se res­ponder a este snCisma dizendo que a melllira, af considcrada esseneial, earenas nm earatcr acitlcntal tlns erelcnscs, que nem sempre mentcm.)

A Negar;jjo do Muvimelllo

Lc-sc no fr:JgmentQ n~ 4 de Zcnaode Elcia: "0 m()vl'1 naosc move nem no espa<i0 ond!:: sc cnconlra, nem naqucle ontle nao SI:: cnconlra."

Com a sngaeiJade que peeuliaJ'iza os sofistas, :lenao prelcndcu negar a realidade do movimentoem dois paradoxos famosos -ada llceha eo de Aquilcs e a tarlaruga.

No primciro, a[irma:

"A Oeeha n50 se move no lugar em que estil, pois nele esw.; tampoueo se move no Ingar em que naa csta, pois nelc nao esta; logo, nao sc move em parte alguma: a eada instanle esta im6vel no lugarque oeupa.' ,

No segundo estabe!ece quc, numa eorrida, se Aquiles conceder, como ejtt<;lo, uma vanlagem il tartaruga,jamais lograra alcamia~la:

"Para que 0 mais vagoroso possa ser alcanlS-il.do pclo mais veloz, e nTc.c:i'm nlll' () m~i<; vc!n'l. v~nl':l nriml',irn a di~lilnl'ia inl~rmf'r1i;hi<l~ nra.

Al'f~NDlCI\

duraille esse Ii~m pll, 1I taw. fuga ltlllla uma cerIa dilllltcira, que novamenlc dcvc SCI" VClIl'illa pllt Aquilcs."

A st~qiil'llcia pmsscguc ao illfillilo, manlcndo sempre a tarlaruga a dianlcira de Aquilcs, progrcssivamcntc menor, sim, porem jamais se lornan<!o l1ula.

Soble a intcrprctal,;ao desle paradoxa eXlslem valiosos trabalhos, Como as de Henri Bergson (1859-1941/9e Bertrand Russel. A feCuta­l;ao bergsoniana repousa no fato de Que houve eonCusao entre movi­menlo c espal;O pereorrido pelo m6vel, pois 0 inlervalo que separa os tlois ponlOS edivisivel ao infinilo, e se 0 movimento se eompusesse de partes semelhante.-"; ~s do inlervalo, este jamais poderia ser veneido. Entanto, cad a passo de Aquiles cum ato simples e indivisfvel; depois de repeti-Io algumas vezcs, a eorredor lera ultrapassado a tarlaruga.

o eontra-argumento de Bertrand Russel c est~: "Para que Aqui­les pudesse alcan<iar a tarlaruga, teria sido prcciso que as lugares em Que a tartaruga tivesse eslado fossem somente parte dos lugares em Que livcsse estado Aquiles. Devemos supor que neste easo Zcnao ape­lou para a maxima de que 0 lodo tem mais tennos que a parle. Assim, para que Aqniles pudesse aleanl;ilr a tarlilruga, deveria ter eslado em mais lugares que a tarlaruga, e ja vimos que em qualquer mom en to dcve estar exalamente no mesmo numcro de lugare.'> que a tarlarnga. Este racioeinio e rigorosamenle Correia sc aceitamos a axioma de que o todo tern mais termos que a parte. Como a conclusao e absunla, e preeiso reeusar a axioma, e enlao tudo vai bern. ,,'10

Eslas palavras tlc Jean Voilquin sopesam, eom impan::ialidade, as meritos e demcritos do imortal disdpulo de Parmenides: "Zenon, plus logicien qlle mathematicien, Il'a pas fait avancer d'uft pas la mathema­tique, mais il a eu Ie merite de dehlayer Ie terrain pour faire place d une notion plus saine, sur laquelle pourra s'illst;tuer plus tard Ie calcul del",r ',,"11

lnJlfU.

69 Cf. E....ai sur Ie.. r/o''''h., j",,,,'dJ,,,,,~, de I" eo,..cietlce, Paris, 1889. 70 Mi..lici..mo y Logiea, cir., p<.93-94. 71 Op. cit., p. 85.

Page 151: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

RONALDO CALDEIRA XAVI ER 296

PARTE 1Il

L6GICA JURfDICA

VI sAo SUMARisSlMA

A cxistcncia do Direito emerge da necessidllde de es!abcleeer normas disciplinal10ras do convfvio .<;ocial, a lim de que hoja equilf­brio, hllrmonia c rcsreito mutua entr~ os inlcgrantes de uma comunida­de. Como realidade universal que e - ubi soeieta~·, ilJi illS -, M de ehcgar 0 momento, enlrelatllo, em que 0 pr6prio homem se sinla im­pulsiollado a rcf1l'lir sobre 0 ordenamenlo jurfdico que Ihe regula 0

eomportllmenlo. A partird"f, tern a palavnl a Filosofia do Dircito. "Enquanto que 0 jlJrlsta constHli a sua cicncia partindll de cerlos

pressupostos, que sao fornecidos pela lei e pelos dJdigos, 0 fil6soro do l1irejto eonverte em problema 0 llue para lljl1rislO.l vale como resposlll au ponto assenlC e imperalivo. Quando \l al1vogado illV{)Ca 0 texto apropria· do lIa lei, fica re!ativamenlc lranqiiilo, porque a lei cnnstitui ponto de partida segura p,lra 0 sen [Tabalba profissiDnal; da mesma rmma, quando urn j uiz emllna a sua senlcm;a e a ap,5ia cuitlal10samente em lex los legais, tern a eerleza ucestar cl1rnpJ'indo sua missao de ciencia c de humanidadc, porqua111o asscnla <I sua convie~ao em ponlos au em c5l\ones que uevcm ser rcconhecidos como {]11figal6rills. 0 fil6...:ofo do direilo, '10 eOllldrio, eonvcfle tais ponlos de pLlrlida em pmblemas, pcrgllnt:lndo: Por quC 0

juiz neve apoiar-sc n<J lei? Quais 'IS razocs logicas e mor.Jis qne Icvant a juiz a nao se revollar conlra a lei, e a nao eflilr solu<;flO s\\a pam a easo q Ile csla apreciau<!o, uma vez convcne ido da inulilidade, tin inadequa(fflO on da illjLL<;li<;a da lei visellle? ?orql1c a lei obriga? Como obriga? Qltais os limiles 16gieos l1a ohrigHloric(lade legal'?"n

A Logica Jurfdiea i U[1\ dos camos da Filosofia do Dircilo'-l.1 Ora. ....'>slm como a Fil\1sofill do Direito, diz Miguel Reale, "n~o cdisciplina

72 Mi[:ud l{c~lc, "p. "it" vol. J. p5 1)-10. 73 Como td, eostum~ 8C! c~lud,,(b oos Cll""'S de pOs_gf3<.llla~~o (MCSlmdo e I)ouloradoj C.

porlalllo, ~~(""r·.' 30 C5p1"'I" dc,lc liv''', oade <If<'0l~ oc buso forne.er ",~re Wgka, de m(>do 'lU"Se si~,\plico, u",a no~.,,, gaa!. 0 inle"""do no .'''UI',IO, cooludo, eO«'lllrar.l ma­lerlal lie cSludo oe,l.l.' ronks. cnl,," <Julras; Geofg" Kalino""ski, IIIt",""cl;o" a l"t<Jgique J,,,itJ;que. J.Ihwlrc G~ntralc de Dwil el Ju,isptu,lenrc. l'am, 1865: G:lrda M~ync?, L,,/!;­ca del Co"ee}'ro J,u;dico, Fondo de Cul\"ra Eco06",ie~, Mhico, j 959; Ulrich Kt ug, L<J Logh<J Jurirfi<"CI, lrad. de J)a~id Garda liact. Pul.Jlic·:lciool's de l~ ;:~cull~d Jc Derc"hf>, Unive,,;id~d Cenlral, Car~c~s, 196\.

APENDICE 297

juridica, mas € II pr6pria Filosofia cnqnanlo volLada pard urna ordcm de realidadc, que ca propria 'rcalidadc jurfdica'" ,-'~ a Uigil:a jurfdica, em SULIS Iinhas meslras, tambem nao sc dislingue da l(Jgica propriamentc dita, posta nao cleva ser cnlcndida como a cs\rila aplicai;ao <las rcgras dn logica form<ll ao fenomeno jurfdko. A razaodisso rcrOllsa nn falodc que a 16gica puramcntc uorma1iva, como rai vista, tendo por fim Ira"ar os par5metros da ycrdadc c coerCncia do pensamcnlo em SI mcsmn, csla ccnlrada nurn campodeamplasabslra<;6cs, ao pllSSOqUC a Ulgica Jurfdica tern como ponlo de rcfcrencia a csfcra tins valorrs, 0 que a fazdislanciar-sc, tambcm, da 16gica aplicada as gramalicas c a', matemalicas:'5

Por Dutro lado, muito se tern cserilO, uos ullimos oilenta anns, para demonstrar que a ordcnamenlO juridico nao consistc numa opcral1iio de 16gica dcduliva, ou que eapcna.<; isso. Com efcito, nao ccnvcl quc as novas normas de dircilO, rcl(Jrmadoras de vclhas institui<;6es au criadords dc oulms, Icnham de ser rcsullado de urn simples proccsso dcl1nljvo a{ravcs do qual sc cxtraem, ffi<:canieamcntc, eonseqiicncias de prcmissas ja scdimen­ladas na ordemjurfdica prccxislenle. Examinamlo a ques1ao, Luis Reeascns Siehe.'·;, urn dDS mais pcrsp(euos pcns:ldorcs mntcmporaneos. prop6e uma solU\;ao de equilibrio, pais, "si por IIlIa parle parecl' daro que la deducci6n 16gica !Tadieional/wee quiebra ell eI reino del Derecho, por olra parle sucede que algunos dc los que hIm impugJuJdo eI malldn de fa I6gico trodicionnl alll, no se alrevefl a desa/Uiciar(a por complelo, y no formultm COil claridadsus susLl(u(os. Podr{l;se descrj{)ir cIesfatlo de (1/';rno de quieJles "an ilevado a cabo esa afensiva dicielu!o: la 16gU:.a 110 to es todo, Jli es siquiera 10 mas irnpor(a1/.te ell el Derecho, pero, sill crnbargo, jlJcga ell el Derec110 algfm popel, que parece illdescarla1!lc." ""

A LOgica Jurfdiea, segundo George Kalinowski, compreende Ires ordens de cstudos: semi6(fca jurldica. au lecnic:l de sistcmatizar a lerminologia do Dirdto; 16gica das /lOrmas, ou estudo cs!rulur:ll das rcgras vislas como cspecies de pro-r0si<;6es rcstritas aambicncia jurfdica; e /6gica do mciocfnio jlJrldico.] Esle clem:o de objetivos possibilita

74 LOt'o CIIIIIO. 75 COl\l(l deehra Sllvla de Macedo, "0 raeiodolo jurldko Sr disling~e pr1ndl'almenle d", ra­

ej(lclnia rn.(cm~lico, pOCIJuc a eSle 5C aplieam as 'Iej&' d~ J6gic<l, CnljUnlO ~ljucle "" im­poe urn ekml'nlO dccis6,io, que ~ umjuno de v:llor". E, I ,eggir. adila, "TodD silogi5mo jur/dico tem UrnH premi~s8 maior, que ~ urn. regr. jurfdk., e urn. premisSli men<>r, que 6 uma que5liio de r.lo. A decisi,' <lU solu~:io "Sl~ juslamenle na ronclusiio do silcgl.smo". (L6g;caJurtdi.ca, 1978, p;.IB_19.)

76 Nuel'''' Filo."ofl" de lalJllerp"'laci6/1 dd Drrccho, 197]. p. n. 17 Apud L. Fernando CDelho. LOBira Jlirfdira dmerprcla~iioda.. [.r;." 1979. p. 41.

Page 152: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

298 ItQNALDO CALDEIRA XAVIER

afirmar, com segur3m;a, que ela coutribui, de modo cficaz, para 0 desenvolvimcnlo mctodol6gico e instrumental da Ciencia do Direito.

Para L. Fernando Coelho, 0 conhecimentojurfdico envolve, por sua ve'l., tr~s ingrcdienles: "0 sujcilO, que ~ 0 jurista, 0 objclo, que ~ 0 [cnumcno j urfdico, e os cOflcci lOS, produlos deabslra~6e..<;, que sinletizarn a rcla'.l8o inteleClual entre 0 juriSla C0 [cnOmeno jundico" .78

Como cicncia rcccm-safda do pcrfodo cmbrionario, todavia, a L/igica Juridica tern cnfrentado problemas de ceria complexidade. En­tre des, 0 de ser compc.lida a rcconhcccT a inconlraS\:ivel participallao de aspectos subjclivDS no julgamenlo 16gico. Quauon 0 jurisla CCORVO­

cado a definir-se sobre urn problema humanD, nan podc evitar a inter­vcnicncia da sua propria cundilSao humana no ato dc juIgar. Assim, esse ato deixa de ser absollllamente isento e frio, como scna ideal sob o :\nguJo da jUS\\lia, fieando ex:dulda a cOI\(ii~ao de neUlralidade tnla\ 00 raciocfnio jurfdieo. Se se tratasse, por exemplo, de 16giea pura, ou de'malematiea, outra sena a coloea~ao do problema, merce oa ausencia de elementos pertnrbadores. No domfnio do Direito, porcm, ~ praticav

mente imposslvel uma 16giea more geomeuico demonstrata, imper­rod-vel ~s sugest()es afe\\\'as, 11 p~lpi\aJ;a{) v\la!. Alem do mais, {) valor de umll proposili30 jnrfdil'a pode ser quesljonado por uma formula~ao

Jingufslica dcfeituosa, amb{gua, imprecisa elc., sem falar no perigo das "lieen~as" de retoriea, freqiieillemenle rcsponsaveis pcla IlIrba~ao da c1areza dos eonc<;ilos.

Exerclcios

J) So/Jre os termos

1) Idenlificar (com G) os lermos gerais e (com q os tcrmos co­lelivos:

hememtcca i 1 juiz ( )

astro ( ) ffJCl1ldude ( 1 fcdcrufj'3o ( 1 sinodo ( )

fil6s0ro ( ) ser ( )

tribunal ( 1 Illc.otein ( )

78 Gp. C;l., p. 9.

APENDICE 299

2) Fazercorrespoooerem ases~cies, discrimilladas a. esquerda, aos g~neros a que pertenccm:

J) drro figura ( ) 2) balada mineral ( ) 3) gaviao l\cido ( ) 4) feillspato doon", ( ) 5) iene ncrvo ( ) 6) nefrile poe.. ( ) 7) ClI\3cn:ae hormOnio ( ) 8) ci~lico moe"" ( ) 9} plOgcslerona nuvem ( )

10) Illcraia coloo[ltero ( 1 11) n~trico llbulIe ( )

12) besouro miri6podc ( )

3) Reagrupar os termos em duas colunas iguais, pondo na da es­querda as que designam 0 g~nero e, na da direila, as que designam a especic:

planta - alu~ - zigoroa - ~rvore - pcdestrianisOio - sen6ide - silex ­bebjda - sequ6ia - osso - pcdra - ac6nitn - esporle - curva.

4) IMntico aD anlerior:

6rgao - icos~gono - arma - ~bano - glandula - melro - mclal- petU.~

nia - ba'.lO - bazuea - treponema - timo - labagismo - molibd~nio ­madeira - polfgono - pl'issaro - vida - flor- micr6bio.

Page 153: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

'00 RONALOO CALDEIRA XAV!F..R

5) Bnundar a extcnsao e a comprcensao dos tcrmos, rclacionados dais a dais, adotando como sfmbolos:

+ E = maiar extcnsao - E = menor cxfensao

+ C = maior comprcensiio - C :% menor compreensiio

Modclo:

musculo (+ E - q biceps (- E + C)

Franlta ( ) pais ( )

cscultura ( ) arte ( )

c.iencia ( ) flsica ( )

bisturi ( ) inslrumcnto ( )

forma de govcrno ( ) manaequia ( )

parlamenlarismo ( ) .sis lema de govemo ( )

6) Reordenar os termos regressivamente, isto e, partindo do mais gerdl para a mais especifico:

a) ~xodo - versiculo - Antigo Testamento -livro - Pentatenco­capitulo - Blblia.

R.o .

APENDICE 301

b) DireilO Penal - fncto - ciem:ia social- Direilo Publico - crime­Direito - Dircito Nacional- ci~ncia.

R.o .

c) Parte Especial - capflulo - pan1grafo - scltao - n'ldigo - arligo­livro - inciso - tftulo.

R.o .

d) Planela - A.<;ia - T6qllio - Galaxia - continente - Universo - Japao­Terra - Sistema Solar.

R.o

e) Orl0PICro - culnrnologia - ga fan hoto - conhecimento - 'J'Dologia - ciencia - in5clo - hisl6ria nalurdl.

R.o

7) Rcordenar as tcrmos progrcssi",amcnle, islo';, panindo do mais especffico ale 0 Inais gcral:

a) Romance-artc fonelica- prosa - "I..." Minas de PraIa" -Iilcralura - romance hist6rico - anc.

R.o .

b) Atomo - hidrogenio - n(ideon - materia - gus - proton - molc­cula.

R.o

c) SubstanLiva - ora'jao - gramatica - subortlinada - subjctjva­sintaxe,

R.o

Page 154: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

302 RONALIXJ CALDEIRA XAVIER

d) Objtl0 - fermmenta -sei ma\crial- marlelo -sei -arlcfalo­fcrramenLa de pereussao.

R., .....

c) Apartamcnlo - hairro - pais - cidadc - 301- cslaJo - quarteiriio - edifieio ~ rua.

R.:

II) Sabre as proposiq6e~'

1) Sublinhar, qnando possfvcl, 0 5ujeito lbs proposi'S{)es ahaixo:

a) Em rclallao aD Sol, () planela mais afastado cPluHio. b) Passara 0 ccu e a Terra. e) Amicus Plalo, magis amica veri/as. d) Apliqlle~se,0 quanto aOles, a medirJa de segnranl'3. c) Sao piramidais cerlos poliedros. f) Ningucm c imortal. g) "Atc quando, cnfirn, () CalililllJ, abusartls da nossa paciGm:ia?" h) 0 trape7.io e 0 quadrilalcro sao figuras planas. i) Nan h<i dois homeos iguais. j) lmporla reconheccr a majesladc do direilo.

2) Classificar as proposiljoes (A. E, I, 0):

a) Omni:i de[i.ni/io periculosa est b) Nenhum vegetal eovfparo. c) Certu~ homcn~ ~5.o advogOidos. d) NeR! todos os homcRs possuem denIes natura is. e) Os pei.'(e.'; tern respiraJ;ao branquial. f) Tollos os jUlzcs togHllos sao fOrmarJos em DireiLo. g) Algumas rosaS sao vermelhas. h) Ningu~m, ate hoje, [oi a Marte. i) Foucas plantas sao carn(voras. j) Tudo na vida tern fim.

AP~NDICE 303

3) C.onvcrter as proposi'i0es:

a) A parte emenorque otodo.

R.: . b) Le stylle c'est l'homme.

R.: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . ... c) Todo carbonado esubstincia org.finica.

R.: . d) Os ncos tern muilos amigos.

R.: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . •.. c) A Abel, matou Cairn.

R.: .

4) MUdanda a ordena~aa dos termos, ((}fmc uma pruposi~ao, co­locando ap6s, eRlre as par~nteses, V para as verrJadcira"i c F para as falsas:

a) Evontades urn de acordo contrato.

R.: . ( ) b) Pclas mao 0 homcm pr6prias nao fazer devc justiJ;a.

R.: . ( ) c) Aplicar aos jufzes a lei cabc.

R.: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ( ) d) Maxima de quarenta ininterrupla a pena no Brasil eanos.

R.: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. ( ) e) Do Direito de Familia de ordem publiea sao as nonnas.

R.: . ( )

1II) Sabre as ift!e,rl?ncias

1) Raeiocinio verbal. Complemr as corrcla'i0cs: a) LOURO.e5ttl pam LOIRO, Il¥im como ..•.......... ' .... esti poraASSOBIO. b) DEUC;;AO estfIyam DIlAc;AP, assim lfl'OO .. est1 pam. MAfi:DATO. c) PlUNCIPALestlparaACESSORIo,llSSIrnoomo ...••...• esllipara DlNAMICO.

Page 155: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

3{)4 RONALOO CAI.DEIRA XAVIER

d) PALAVRA ~shi para DlCIONARIO, as..<;im como esti pam cOme-rO. e) SENTENc;A eSl8 (lara JUIZ, assim como.. . . .. . estfl. para 1RmUN~. .f) APRISC:O esk"J. para OVELHA, assim como. . . . . est1l. jJ<1r.a AYIAO. g) BERLIM esliJ. para AI~EMAN([A, assirn como esla para POLONlA. h) CORQA eslli pura SUECIA,assimcomo .. eSla para ESPANHA. i) ~ARlTONOesta para TENOR, llssim como e~ta para SqPRANO. j) A9UAeslli panl PElXE, u!'§im como . . .. . . . . . . .. . . esl:l para PASSAJ3.0. J) DlVlDA es[{i para REMIc;AO, assim ~mo esl3 pura REMISSAO. m) MAMlITE esta pura ELEI;:ANlE, aSSlffi como ••. . estll pa PORCO. 0) IGREJAeslfl para CRISTAO, as..<;im como esl{i. para ISLAMITA. 0) AMOR AU l'IHJXrMO esta para CRISTIANISMO, as..<;im como . e~a

P<Jr<l DlREITO.

2) Idcntificar 0 proce~o de raciodnio (indU/;fio ou doom;:ao) em que sc basciam as condus6cs de cada Irecho a scguir:

a) Todo curpo mcrgulhado num fluido sofre urn impulso venical de baixo para cima igual ao peso do volume de nuido deslocado: par isso os navios flutuarn.

R.: . b) Aquele horn em apresenla intensa amarelidao epiderrnica: ou csta

acomdido de hepatite ou de ietcrCcia.

R.: . c) Fulano pralicou urn dclito e foi punido; 0 mesmo aeonteccu com

bellrano c sicrano. Evalido conduir, portanto, <.Jnc a lei pune os quc a transgridem.

R.: . d) Ap6s anOs de pesquisas, um cientista deseobriu uma vaciua con­

tra determinada docm:;:a. Para ccrtificar-se, fez v-.1rias expcricneias em cobaias c tcvc intciru Sllcesso. Resolveu, cnlilo, apliear a sua desco­berla em seres humanos, conduindo que obleria 0 rnesmo ~xito.

R.: . c) Algucm anuncion curar todas as dores por mcio seerelO e lnfalf­

vel, cobrando a[lo prclSo para isso. Denunciado por urn "elien­IC", foi preso e cnquadrado, pela aUloridade policial, no art. 28J do C6digo Pellal (charlalanismo). Para enquadrar, pcla lipicidadc, o infratorna lei penal, a quc proeesso de raciodnio se recorre? R.: .

APENDICE 305

f) Fulano apropriou-se dc uma bicicleta quc lhc fora eonfiacla para guardar e, mais tarde, vcndcu-a a lereciro. Prcso e levado a ju[ga­mcnlo a juiz condenou~o a urn ano de rcelusao (com dircilo a sur­sis) c multa, eonforme disp6c a Ici (Cod. Pcna!, arl. 168). Qual 0 proeesso dc raciocfnio do juiz ao apliear a lei ao infrJlor?

R.: . g) Considern-sc a pir1imidc urn s6lido, pais sc Irala de urn eorpo de

Ires dimens6es !imilado por superffcies fcchadas.

R.: . h) As palavrJs mnrubixoba e caxinguelf, da mesma provcni€!ncia, grn­

fam-se com ch OUX? Ao tomar-sc a decis.ao, qual 0 proccsso seguido?

R.: . i) Segundo a princfpio dos vaws comunieanlcs, toclos as lIquidus

tomam a forma dos vasos quc as cont€!m: por eonscguinte, 0 aleool tamara a forma de qualqucr recipienlc em quc cstiver con lido.

R.: . j) Urn suinocullor vcrifieou quc alguns de scu poreos, ap6s terem

bebido da agua eontaminada de urn c6rrcgo, morrcram horas de­pois. Mandou cnlao eerear prevcntivameutc as margens do ria­cho, par ter conelufdo que morreriam tambcm lodos oy. porcos rcstanles sc ali fossem bcber.

R.: .

3) Dado a silogismo: Todo administrador publico cum tccnoerala; ora,o prcfeilo eadminislr<ldor publico; logo, 0 prefeito c urn lecuocrata - identifiear:

a) 0 lcrmo milior (T):

b) 0 tenno medio (M):

c) 0 termo menor (L):

4) Dcsenvo!vcr os cntimcmas, pcla invcnt;;ao de uma ou de ambas as prcmissas, em silogismos de tres proposilSoCS:

a) 0 granizo curn efeilo, pois tcm causa.

R.: .

Page 156: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

306 RONALOO CALDEIRA XAVIER APENDICE 307

b) o Dxigcnj(} e materia, pois tem peso.

R., . c) Esle homcm [lOssui carleira pro fissional assinada: 10£0, csta ius-­

erito no FG.T.S.

R., . d) o c.arpo A cigual ao eorpo B por screm ambos mctadcs de nm tndo.

R., . c) o reu esta incmso no an. 158 do C6digo Penal; logo, eextol1iio­

nano.

R., . 1) Pedro elldvogado.

R., . g) o penlagono pode ser inscrito num efrclllo, poi~ e figura regular.

R.,

h) Elc deve cstar no csLrangciro, pais no Brasil nao esla.

R., . i) A lagost.a c. urn crustaeeo, pois tern respiralillo branqnial, eXI1~

quc:1ClO calcaria Cccfalot6rax.

R., . j) Dt:vc ser a~licada ao rell medida de segllr<lllli3.

R., .

IV) Sobre os sofismas

Tendo par base os raeiocfnios SOffSlicos, abaixo expos lOs, relacio­na-los com as suas respeelivas designa~6es:

1) A Terra gira sobre si mesma porque possni a propriedade girat6ria.

2) 0 lalu vive sob a lerm; ora, talu sao duas sfJabas; logo, duas sfiabas vivem sob a lerra.

3) Todos os advogal.1os sao ineompetentcs; conlra(ei urn deles e nao eouscglli ser abs(Jlvido.

4) IIavendo naseido naturalmenle born, eomo afirma Rousseau, 0

homem deve ler direilo a uma Iiberdade tollll, prc..'leindiudo de qllalquer autoridadc eonstilufda.

5) Nadia do aniverstiriodc fulaoo, sierano, oblcvc a grande premio da loteria; IXlf isso, lodos os anos, quando fulano anivcP-iada, sierano espera sempre quc algo dc born the aeonl~a.

6) Tomando por base 0 princfpio conslilucional que arirma sercm iguais lodos os eidadaos peranre a lei, urn emprcgado uo eomcrcio pleileia, para os eomerciarios, a vitalieicdade eoncedida aos jufzcs.

7) Chamado a opinar sobrcse 0 paCs A dcvia fazcr a guerra ao pais B, um pastor manifcslou-se eontrariamentc, argumenlllndo que lodas as guerras, alem de sercm punidas por Dem:, san injuslas c Irazem muitos males, gcram dcscmpregos e provoeam crises cconomicas.

8) Inlerrogando osuspeito, disse-Ihc 0 delegado: "Porquc roubaste aquelas j6ia,.;:?"

9) Logo ap6s 0 Jia de Siiu Jorge, urn grandc temporal se abateu sabre uma cidade do interior. No ano segninle, quando se aproximava aquc1a data, 0 prcfeilo mandnu que ficassem de sobreaviso (mlos os habitantes l]uc morassem a margem do rio, prevcnidos eonlra uma provavc1 inunda~ao.

10) Camillhando sedentos por urn deseno, vados earavaneiros julgaram avistar urn o~sis. Assim. antcs de se aproximarem, eome~aram

a fazer aposlas sohre quem beberia maior quanlhladc de agua.

Sofisma de simples inspc~ao. ( ) Ignoraneia da questao. ( ) So(isma do acidenle. ( ) Sofisma de falsa causa (post hoc, ergo propter hoc). ( ) Sofisma de falsa causa (cum hoc, ergo propter hoc). ( ) Cireulo vi­cioso. ( ) Sofisma de observa~iio. ( ) Sofisma de interpre(a~ao. ( ) Equfvoeo. ( ) Sofisma de interrogaljao. ( )

Page 157: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

• • ••

318 RONALOO CALDEIRA XAVIER

TAllAN, Malba. 0 Homem que Calculava. Ed. Sarniva, sao Paulo, 111 cd., 1949.

TAVARES, Henio. TeoTl'aLileraria. Ed. Bemnrdo Alvares, Belo Horizontc, 41

ed., 1969. TELUS, Ant6nio Xavier. Novo Curso deFilosofi(L J. Own Edit., Rio, 1966. TORNAGHI, Helio. Inslituifoes de Processo Penal. 4 vols., roren.~c, Rio, II

ed.,1959. ___. Curso de Processo Penal. 2 vols., Ed. Saraivn, S50 P:Julo, 1980. TORRES, Artur de Almcid:J. Moderna GramaJica Exposilil'O dn Ungua Por­

tuguesa. Ed. Fundo de Cullum, Rio, 81 ed., 1959. TORRINHA, Franeisco.DidonarioLaJinoPorfugues. ]lorto Edit. Udn., sid. ULlMANN, Sterben. Semantica - Uma Introdu.yiio aCienc;.a doSigniflcado.

Fund. Ca(ouste Gulbenk.i:ln, Lisbon, 4" cd., 1977.

VASCONCEWS, J. Leite de. LiriJes de Filologia Porwgue.w. Livros de Portugal, Rio, 41 ed., 1966.

V AZ, N~1son. Grafia e Genero de Usucapiiio. Serarata dil Revisln Jurfdica, Hiu de Janeiro, 1958.

VENDRYES, Joseph. I.e 'Amgage. Introduction Linguistique al'llistoire. La Rennissanc.c du J-ivre, P<lris, 1921.

VICENTE, Gil, OsAufos dm' Barcas.l'rcfacio e nola." de Augusto C. Pires de Limn, Editorial Domingos Bmrcira, Porto, sid.

VIEIRA, Pc. AntOnio. ObrCll Escolhidns. l'rcf.::icio e no!as de A. Sergio e TI. Cid<ldc, Liv, S~ da Cost", I.isbo.a, 1954.

VINHOLR'i, S. llurtin. Dicionurio Frances-P(Jrluglle,\~ PortuglJes-FroJlcCs, Edit. Globo, Porto alegre, 29~ ctl., 1980.

VOILQUIN, Jcan.Les Penscurs Grecs avanlS'ocrlllc. Libmiric Gamier, Paris, sId,

WAlSON, Jobn REI Conduclismo. Trad. csr" EditorilllPaidos, Buenos Aires, 1947.

WELLEK, Rene e WARREN, Austin. Teoria daLileratura. l'ubliclli1ocs Euro­pa-America, Lisboa, 1%2,

WOODWORTH, Rober! S. e MARQUIS, Donald G, Psico{oria. Trnd. (lort., Cia. Edit. NllciomlI, Sflo Paulo, 6~ ed" 1966.

XAVIER, Ronaldo Caldeira. Lmim no Direifo. Forense, Rio. 31 cd.. 1993.

iNDICE DA MATERIA

Sum/irio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. XI

Algumas Referenda.. a esta Obra ' ,. XIII

Palavras a31/ Edi.yiio • . . . . . . . . . . . . . . . . .. > • • • xv

Palavras a21/ Edi.yiio . . , . . . . . , . . . . . . . . . . . . . . . . . . XVII

ConsiderafQes Preliminare.~ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , . , 1

Unid<ldd. Vocabutflrio Jur(dico

1.1. A P:Jlllvm. 1.2. A Plllavra C 0 Dircilo. 2.1. Sem£\nlica. 2.1.1. Signo. 2.1.2. SImbolo, 2.2. Polisscmia e sinonfmia. 2.3. Antonfmia. 2.4. Homo­nlmia. 2.5. Pnronimiu. 3,1. Dcnohlc;flo e cono!<ll;;fio. 4.1. Fam{]ias climo­16gicus e ideoI6gicas. 5.1, Nfvcis de vocabuh'irio. 5,2. Incrcment<lc;fio do vocabulMio. 6.1. Exerdcios de arlic.lc;flo ..... ,., .. ,............. 7

Unidnde n. a C6digo Ortografico

1.1. Inlrodue;;ao. 1.2. Conccito de Ortogmlia. 1.2,1. Pcrfodos Ortogr<'\. ficus. 1.3. Emprego de letrHs que suseitam duvidas. 1.4. Em pregodo hifcn na prefixac;fio. 1.5. Translincay'i.o. 1.6. Abrcvinturas. 1.7. Excrcidos ... 47

Unidnde III. Vfcios de Linguugcm

a) Barbarismo. b) Solcdsmo. c) Sfnquese. d) Ambigijidnde ou nnfibo­logia. e) Tauto10gia. f) Chavao, chapa ou cliche. g) Cac6Jnto ou Cl'lcofonhl. h) Parequema. i) Eco ou nssonflneia.j) Hi:J!o, 1) Colisllo. 01) Ncologismo. n) A.rcafsmo. 0) Plebdsmo. p) Prcciosismo. q) I-libridismo, Exerdcios de apliC3¢o , , . . . . . . . . . . . . . • . . • • 71

Page 158: 1996 - 15ª Edição - Português no Direito - Ronaldo Caldeira Xavier

321 fNDlCEDA MATE:RIA"1) RONALDO CALDEIRA XAVIER

,-

Unidadc rv. Regenda Verbal

1.1. Conceito. Visao gem!. 2.1. FunlJbes sintaticas dos pronomes oomplemcntos. 2.2. Normas para 0 emprego dos pronomes complemen­tos. 3.1. Esludo n:sumido sobre II reg~ncia de alguns verbo..<; usuais. 4.1. Glossario de verbos juri(Hcos. 5.1. &crcfcios 105

Urridade V. 0 C..odigo Civil. Breve AMiIisc LingGfstico-Formal

1.1. Hisl6rko. 1.2. Divisao do C6digo Civil. 1.3. Elementos constitu­tivos de urn ::Inigo. 1.4. A lingU<lgcm do C6digo. 1.5. Analise gl"'<lIIIatical de alguns artigos. 1.6. Exerdcios ..•............................ 135

Unidadc VI. Analagia e Etimologia Popular

1.1nlrodulf3.o. 2. Conccilo de analogiae elimologia popular. 3. Excm­plario de casas. 3.1. Na area or!ografica. 3.2. Na arca voc3bular. 3.3. Na area fra<;co16gica. 4. Alra~ paronfmicn. 5. Rima por innUl3ncia dH analogia. 6. A analogi<.l nas tradw;6c..<;. 7. r..ondusflo 165

Unidadc VII. Estilfstica

1.1. Conceito c divisf!o. 2.1. EstilIstica mnica. 2.2. Estilislica lexico} ou semfintica. 2.3. Estilfstica slnlIilica. 3.1. Rel6r:ica. Sua impOit3ncia. 4.1. Figuras de ret6rica. C1a~ifical;3o. 4.2. Principais figuras de ret6ric<I. 4.2.1. Figuras de palavra<; OU Irof'OS: mctMora,sImbol0, alegoria, antono­masia, catacrese, sineslcsiu, metoni~ia, sinedoque, sfmiic. 4.2.2. Figuras de consLrul;3o. 4.2.2.1. Por repelil;30: anadiplosc, anMora, antum'idasc, antimet3.bole, di:'icope, cpfinodo, epfstrofe, cpi!eto, epizeuxe, plconusmo, ploce, poliptoto, polissindeto, qUia~mo. s(mploL"e (cpanadiplose, epunu­le~c). 4.2.2.2. Por omiss!io: assfndelo, clipse, zeugm:l.4.2.2.3.l'or trans­posirruo: an::isLrofe, hiperbato, sInquise. 4.2.2.4. l)or discordftncin: anacoluto, enatage, hendf:ldis, hipj1age, silepse. 4.2.3. Figums de pcnsa­menLo: alusao, antanagogc, anlftese, ap6SIrofe, dubHac;ao, epanortose, epifonema, expolilfao, grada~o, hipcrbo1c, ironia (antffrase, cufemismo, sarcasmo), litoLes, paradoxo (oximoro), parr~<;ia, perIfrase, preteriQio, prokpse, prosopopCia, retictm.ia, trocadilho (paronomasia). 5.1. Orat6ria forense ....................................•............... 183

Unillade VITI. Rcda~o Juddica

1.1. Introito. 2.1. Como se redigcm p~as proee.<;suais. 3.1. Modelos de red~o juridica. 3.1.1. PrOCUnll;3o. 3.1.2. Pctil;iio inidal. 3.1.3. Coolc..'i~

la~o. 3.1.4. Ape1<ll;3.o. 3.1.5. A~.ao. 3.1.5.1. A<;ilo de eonsigll<l<;UO em pagamento. 3.1.5,2. A<;fio de dj"6reio. 3.1.6. Mandado de ~eguranl;a.

3.1.7. C..onlnlto. 3.1.8. Ata. 3. L9. Requerimento .................• , 229

Apendice. L6gica. NolJ-Ocs Fundamenlais

Parle I. Introou<;ao Gem1

AdverWndn. Breve hisl6rico. ConceiLo.s. Divisilo. Que e filosofia? r..onhceimento e dCncia. 0 problcmn da verdadc. A inleligencia perante a verdade. Doutrinas sobre a verdadc: rcalismo, ceLiL:ismo, pragmHlismo, agnl'.l'>tiwmo , , , .

Parle II. L6gica Formal

I) Idcia e termo. As leis formais do pensamcnlo. Proprio;:dadcs das ideias. A classifica~o. A definio;;ao e a divisuo. lI) Juizo e proposi<;fio. ClassiCica¢o das proposil;iks. III) Inferencia e meiocfnio. 1) Inferencias imediatas. a) OposiQ3o (jas proposil;ocs. b) r..onvecsuo das proposi<;o..:s. 2) Infcrencia~ mcdiala'i. InduQio. Dedu~.;io. 0 silogismo. Elementos do sUogismo. Regras do silogismo. Silogismos irrcgulares e composlos. <I) Silogismos irrcgulares: epiquirema, polissiLogismo, soriles, cnlimema. b) Silogismos compostos: concticional ou lIipotetico, disjunlivo, dilema. Dois problemas de 16gica matcmtitica. 0 erro em 16gica: sofismas. Os sofislas. Classificn<;3.o dos sofismas. 1) Sofismas induLivos. a) Sofismas de obscrva~o. b) Sofismas de intcrprctal;ao. 2) Sofismas dcdulivos: sofisma do acidente, peti~o de prindpio, sofisma de palavra~, sofisma de inlcrrogal;3.0, sofism a de falsa causa, ignor1'lnciu da qucstao. Alguns sofismas c6lebres: 0 eomuto, 0 velado, 0 mentiroso, a ncga9io do movi­menlo •.....................•.......... " ....•....... , .

Parle III. I..6giCl Jurfdicn. Vis3.o SumarIssimil. Exercfeios

fJiMiogra[1iJ ..•.••••.•.....••••....•.

253

268

296

309