31
8 1INTRODUÇÃO Atualmente, devido à emergência dos problemas sócios ambientais globais, o ambientalismo adquiriu dimensões internacionais, cujo marco foi a Conferência de Estocolmo de 1972, seguindo-se a criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a qual elaborou o Relatório Brundtland e a Rio-92, cujo principal documento foi a Agenda 21, revista na Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável de Johannesburgo em 2002, para citar apenas os principais acontecimentos. Em todos esses eventos, percebe-se a preocupação de garantir a todos os seres humanos o direito fundamental a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo aos Estados tomarem as medidas necessárias para a garantia de tal direito, bem como do uso sustentável dos recursos naturais em benefício das gerações presentes e futuras. No presente trabalho será discutido sobre a preservação e conservação das nascentes da área de proteção ambiental da Serra São José, do município de Prados/MG. De um modo geral, destacar maneiras de proteger nascentes, como a recomposição da vegetação nativa em seu entorno, ou seja, fazendo reflorestamento. Nessa recomposição, deverá ser utilizado o maior número possível de espécies naturais da região. Demonstrando que caso nada seja feito, mas o local da nascente deixado em descanso, longe do gado e de outros animais domésticos, a regeneração virá naturalmente, desde que haja uma fonte de dispersão de sementes nas proximidades. Devido às constantes agressões, o meio ambiente vem sofrendo contaminação do lençol freático, escassez da água, a diminuição da área florestal, a multiplicação dos desertos, profundas alterações do clima no planeta, a destruição da camada de ozônio, a poluição do ar, a proliferação de doenças, intoxicação do solo pelos agrotóxicos, a contaminação de alimentos, a devastação dos campos, as chuvas ácidas, o deslizamento de morros, a queda da qualidade de vida urbana e rural etc. O objetivo geral desse trabalho é demonstrar a importância da preservação e conservação das nascentes, despertar no poder público o interesse em criar um programa de incentivo através de um Decreto Municipal, promovendo assim um envolvimento de todas as linhas da sociedade com a questão das nascentes e sua importância.

1INTRODUÇÃO - unipac.br · a proliferação de doenças, intoxicação do solo pelos agrotóxicos, a ... 1605 - Felipe III, baixa à primeira Lei de cunho ambiental no país:

  • Upload
    lyminh

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

8

1INTRODUÇÃO

Atualmente, devido à emergência dos problemas sócios ambientais globais, o

ambientalismo adquiriu dimensões internacionais, cujo marco foi a Conferência de Estocolmo

de 1972, seguindo-se a criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, a qual elaborou o Relatório Brundtland e a Rio-92, cujo principal

documento foi a Agenda 21, revista na Conferência Mundial sobre Desenvolvimento

Sustentável de Johannesburgo em 2002, para citar apenas os principais acontecimentos. Em

todos esses eventos, percebe-se a preocupação de garantir a todos os seres humanos o direito

fundamental a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, cabendo aos Estados tomarem

as medidas necessárias para a garantia de tal direito, bem como do uso sustentável dos

recursos naturais em benefício das gerações presentes e futuras.

No presente trabalho será discutido sobre a preservação e conservação das nascentes

da área de proteção ambiental da Serra São José, do município de Prados/MG. De um modo

geral, destacar maneiras de proteger nascentes, como a recomposição da vegetação nativa em

seu entorno, ou seja, fazendo reflorestamento. Nessa recomposição, deverá ser utilizado o

maior número possível de espécies naturais da região. Demonstrando que caso nada seja

feito, mas o local da nascente deixado em descanso, longe do gado e de outros animais

domésticos, a regeneração virá naturalmente, desde que haja uma fonte de dispersão de

sementes nas proximidades.

Devido às constantes agressões, o meio ambiente vem sofrendo contaminação do

lençol freático, escassez da água, a diminuição da área florestal, a multiplicação dos desertos,

profundas alterações do clima no planeta, a destruição da camada de ozônio, a poluição do ar,

a proliferação de doenças, intoxicação do solo pelos agrotóxicos, a contaminação de

alimentos, a devastação dos campos, as chuvas ácidas, o deslizamento de morros, a queda da

qualidade de vida urbana e rural etc. O objetivo geral desse trabalho é demonstrar a

importância da preservação e conservação das nascentes, despertar no poder público o

interesse em criar um programa de incentivo através de um Decreto Municipal, promovendo

assim um envolvimento de todas as linhas da sociedade com a questão das nascentes e sua

importância.

9

Segundo Lovelock, (2006 p. 19 e 11) ainda:

que cessássemos neste instante de arrebatar novas terras e águas de Gaia para a

produção de alimentos e combustíveis e parássemos de envenenar o ar, a terra

levaria mil anos para se recuperar do dano já infligido, e talvez seja tarde demais até

para essa medida drástica nos salvar.

Por fim deve-se estar ciente de que a adequada conservação de uma nascente envolve

diferentes áreas do conhecimento, tais como hidrologia, conservação do solo, reflorestamento,

etc.

10

2 DIREITO AMBIENTAL E MEIO AMBIENTE

2.1 Conceitos de Meio Ambiente

É fato que o homem por muito tempo tem revelado preocupação com o meio

ambiente, pois está estritamente ligado à história das civilizações e que por vezes o

desequilíbrio ambiental gerou guerras por áreas mais prósperas, fazendo com que o homem

tivesse um domínio ilimitado da natureza ocasionando a degradação ambiental.

Na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente celebrada em

Estocolmo, em 1972, definiu-se o meio ambiente da seguinte forma: "O meio ambiente é o

conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos

diretos ou indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades

humanas." A expressão meio ambiente já está consagrada na legislação, na doutrina, na

jurisprudência e na consciência da população. Assim, também de acordo com a Lei 6.938 de

31 de Agosto de 1981, em seu art. 3º, inciso I, entende-se por “meio ambiente o conjunto de

condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite,

abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Observa-se que este conceito não é adequado,

pois não abrange de maneira ampla todos os bens jurídicos protegidos. Este é um conceito

restrito ao meio ambiente natural. (BRASIL, Presidência da República, 1981).

Silva (1998 p. 2), diante dessa deficiência legislativa, conceitua meio ambiente como

“a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o

desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”. Completando esse conceito,

acrescentaria o meio ambiente do trabalho.

A CF/88 (BRASIL. Presidência da República, 1988) protege a sadia qualidade de

vida, a qual está relacionada ao meio ambiente urbano e rural do homem que vive neste

planeta, procurando protegê-lo das agressões e degradações praticadas pelo mesmo.

Conforme art. 3º, inciso II, da Lei 6.938/81 entende-se por degradação da qualidade ambiental

“a alteração adversa das características do meio ambiente”, e por poluição “a degradação da

qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente: a) prejudiquem a

saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades

sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas

ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões

ambientais estabelecidos” (art. 3º, inciso III, a, b, c, d, e. e, da Lei n.º 6.938/81).

11

Essas agressões acima mencionadas foram consideradas crimes e colocadas na

sessão III, que trata da poluição e outros crimes ambientais (arts. 54 e seguintes da Lei

Ambiental 6.938/81). No dizer de Silva (1998) as Leis de n.º 6.938/81 e 7.347/85, entre

outras, foram recepcionadas pela nova ordem constitucional. Ressalta-se que o disposto no

art. 225 e seus parágrafos da Constituição Federal não têm a força que tem o artigo 5º, do

mesmo diploma. Trata-se de norma constitucional de eficácia limitada. Porém ambos os

artigos devem ser conjugados, pelo fato de que a inviolabilidade da vida é um dos princípios

inseridos naquele dispositivo constitucional.

2.2 Direito Ambiental

Meirelles (1991) relata que o direito ambiental é uma disciplina relativamente nova

no direito brasileiro, antes era um apêndice do direito administrativo e do direito urbanístico e

só recentemente adquiriu a sua autonomia com base na legislação vigente e, em especial, com

o advento da Lei n.º 6.938, de 31 de Agosto de 1981.

Fiorillo (1997 p.81) comenta que antes de conceituar esse ramo do direito, deve

indagar se o direito ambiental é ramo do direito público ou do direito privado? No seu

entender, o direito ambiental faz parte do direito público. No entanto, os interesses defendidos

por esse novo ramo do direito não pertence à categoria de interesse público (direito público)

nem de interesse privado (direito privado). Cuida sim, de interesse que pertence a cada um de

nós, e ao mesmo tempo da coletividade.

O direito ambiental atua na esfera preventiva (administrativa), reparatória (civil) e

repressiva (penal). É de competência do poder executivo estabelecer medidas preventivas de

controle de atividades causadoras de poluição, conceder licenciamento ambiental, exigir o

estudo prévio de impacto ambiental e seu respectivo relatório (EPIA/RIMA), fiscalizar as

atividades poluidoras etc. Ao poder legislativo compete ainda na esfera preventiva, elaborar

normas ambientais, exercer o controle dos atos administrativos do poder executivo, aprovar

orçamentos das agências ambientais etc. Ao poder judiciário compete na esfera reparatória e

repressiva, julgar ações civis públicas e as ações penais públicas ambientais, exercer controle

da constitucionalidade das normas elaboradas pelos demais poderes etc. Ao Ministério

Público, por fim na esfera reparatória e repressiva, compete firmar termo de ajustamento de

condutas, instaurar inquérito civil e propor ações civis públicas e ações penais públicas

ambientais. Cabe lembrar que o Ministério Público não é o único que possui legitimidade para

12

propor ação civil pública, tal legitimidade foi estendida aos demais co-legitimados inseridos

no art. 5º da Lei n.º 7.347/85, incluída pela Lei n.º 11.448, de 15 de Janeiro de 2007, a

Defensoria Pública. (BRASIL, Presidência da República 1985 e 2007).

Observa-se que o direito ambiental está mudando do direito do dano para o

direito do risco, o qual deve atuar mais na esfera preventiva, pelo fato de que a reparação do

dano nem sempre poderá reconstituir a degradação ambiental.

O direito ambiental só foi reconhecido como ciência no momento em que

adquiriu autonomia, com a criação da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), a

qual trouxe inserida todos os requisitos necessários para tornar o direito ambiental uma

ciência jurídica independente, ou seja, com regime jurídico próprio, definições e conceitos de

meio ambiente e de poluição, objeto de estudo da ciência ambiental, objetivos, princípios,

diretrizes, instrumentos, sistema nacional do meio ambiente (órgãos) e a indispensável

responsabilidade objetiva.

13

3 EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL

No Brasil, o Direito Ambiental é resultado de importantes fatos históricos, muitos

deles anteriores à própria independência do país.

1605 - Felipe III, baixa à primeira Lei de cunho ambiental no país: o Regimento do

Pau-Brasil, voltado à proteção das florestas; fixando a exploração em 600 toneladas por ano,

com o objetivo apenas de limitar a oferta de madeira no mercado europeu, e manter preços

elevados. No final do século XVIII, a legislação sobre madeiras passou a ser freqüente.

1797 - a Carta régia afirma a necessidade de proteção a rios, nascentes e encostas,

que passam a ser declaradas propriedades da coroa; Advertia a Carta da necessidade de tomar

todas as preocupações para a conservação das matas no Estado do Brasil, e evitar que elas se

arruínem e destruam.

1799 - é criado o Regimento de Cortes de Madeiras, cujo teor estabelece rigorosas

regras para a derrubada de árvores.

1850 - é promulgada a Lei n.º 601, primeira Lei de Terras do Brasil, ela disciplina a

ocupação do solo e estabelece sanções para atividades predatórias.

1911 - é expedido o Decreto n.º 8.843, que cria a primeira reserva florestal do Brasil,

no antigo território do Acre.

1916 - surge o Código Civil Brasileiro, que elenca várias disposições de natureza

ecológica. A maioria, no entanto, reflete uma visão patrimonial, de cunho individualista.

1934 - são sancionados o Código Florestal, que impõe limites ao exercício do

direito de propriedade, e o Código de Águas. Eles contêm o embrião do que viria a constituir,

décadas depois, a atual legislação ambiental brasileira.

1964 - é promulgada a Lei 4.504, que trata do Estatuto da Terra. A lei surge como

resposta a reivindicações de movimentos sociais, que exigiam mudanças estruturais na

propriedade e no uso da terra no Brasil.

1965 - passa a vigorar uma nova versão do Código Florestal, ampliando políticas de

proteção e conservação da flora. Inovador estabelece a proteção das áreas de preservação

permanente.

1967 - são editados os Códigos de Caça, de pesca e de Mineração, bem como a Lei

de Proteção à Fauna. Uma nova Constituição atribui à União competência para legislar sobre

jazidas, florestas, caça, pesca e águas, cabendo aos Estados tratar de matéria florestal.

14

1975 - inicia-se o controle da poluição provocada por atividades industriais. Por meio

do Decreto-Lei 1.413, empresas poluidoras ficam obrigadas a prevenir e corrigir os prejuízos

da contaminação do meio ambiente.

1977 - é promulgada a Lei 6.453, que estabelece a responsabilidade civil em casos de

danos provenientes de atividades nucleares.

1981 - é editada a Lei 6.938, que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente.

A lei inova ao apresentar o meio ambiente como objeto específico de proteção.

1985 - é editada a Lei 7.347, que disciplina a ação civil pública como instrumento

processual específico para a defesa do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos.

1988 - é promulgada a Constituição de 1988, a primeira a dedicar capítulo específico

ao meio ambiente. Avançada, impõe ao Poder Público e à coletividade, em seu art. 225, o

dever de defender e preservar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras.

1991 - o Brasil passa a dispor da Lei de Política Agrícola (Lei 8.171). Com um

capítulo especialmente dedicado à proteção ambiental, o texto obriga o proprietário rural a

recompor sua propriedade com reserva florestal obrigatória.

1998 - é publicada a Lei 9.605, que dispõe sobre crimes ambientais. A Lei prevê

sanções penais e administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

2000 - surge a Lei do (SNUC) Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei

n.º 9.985/00), que prevê mecanismos para a defesa dos ecossistemas naturais e de preservação

dos recursos naturais neles contidos.

2001 - é sancionado o Estatuto das Cidades pela Lei 10.257, a qual “Regulamenta os

art.s 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá

outras providências”. Dotando o ente municipal de mecanismos visando permitir que seu

desenvolvimento não ocorra em detrimento do meio ambiente1.

1www.stj.gov.br

15

3.1 A Proteção Jurídica do Meio Ambiente à Luz da Constituição

A legislação brasileira, por exemplo, e mais especificamente no art. 225 da

Constituição Federal de 1988, considera o meio ambiente um direito fundamental, dispondo

que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso

comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público

e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras

gerações.

Extrai-se da análise de tal art. que o meio ambiente é tratado como sendo um

bem a ser protegido constitucionalmente, sendo um bem de uso comum do povo e necessário

à sadia qualidade de vida, ou seja, todos têm o direito e o dever de usufruir e proteger os

recursos naturais inerentes ao meio ambiente. Sendo assim, representa a interação da

sociedade e do Estado, corporificando a participação democrática nas questões ambientais,

justificando o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana e, consequentemente, a

própria vida. Vê-se, portanto, que a norma busca resguardar a qualidade do meio ambiente em

função da qualidade de vida.

Posto isto, percebe-se a importância do estudo das normas constitucionais

pertinentes à temática, pois um dos grandes desafios da atualidade é a proteção jurídica

ambiental, visto que a espécie humana e outros tipos de vida correm o risco de serem extintas.

É fato que a compreensão do novo paradigma do Estado Democrático de Direito e da teoria

dos direitos fundamentais tornam-se imprescindíveis para uma proteção jurídica ambiental

efetiva e mais ampla.

Conforme nos ensina Trennepohl (2008), Inovando brilhantemente, a nossa Carta

Magna trouxe um capítulo especifico sobre o assunto, voltado inteiramente ao meio ambiente,

definindo-o como sendo direito de todos e lhe dá a natureza de bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida, incumbindo ao poder público e à coletividade o dever de

zelar e preservar para que as próximas gerações façam bom uso e usufruam livremente de um

meio ambiente equilibrado.

Molinaro (2007) discorre que “o meio ambiente, ademais de ser, sujeito de direito

revela-se ainda como um bem juridicamente tutelado”. Feitas as considerações, temos que a

relevância do tema em comento reside na preocupação mundial com a defesa do meio

ambiente e com os constantes debates jurídicos acerca das consequências oriundas do

16

desequilíbrio ambiental que provoca a modificação do quadro histórico, visto que é cada vez

mais constante o desaparecimento de culturas, estabelecimento de regras, extinção de espécies

e o massacre da população mundial. Essas consequências refletem o profundo desrespeito aos

limites do desenvolvimento e a natureza.

3.2 Da Proteção Ambiental pelo Estado

Para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente a Constituição incumbiu o

Poder Público de uma série de obrigações, as quais se passam a descrever: A primeira missão

atribuída ao Estado consiste em preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e

prover o manejo ecológico das espécies ecossistemas e deriva do princípio da proteção à vida,

uma vez que esta depende diretamente da proteção e preservação do meio ambiente.

A CF/88 (BRASIL. Presidência da República, 1988) incumbiu ao poder público a

tarefa de definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes

a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através

de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem

sua proteção. Neste item, observa-se haver uma divergência na doutrina. Para alguns, o

conceito de espaços territoriais especialmente protegidos aplica-se somente às unidades de

conservação reguladas pela lei 9.985/00; ao passo que, para outros, tal conceito também

abrangeria as áreas de preservação permanente.

Para Milaré, (2006), a Constituição utilizou o termo em sentido estrito abrangendo

apenas as Unidades de Conservação típicas, ou seja: aquelas previstas na lei 9.985/00.

Nesse diapasão, tem-se que o art. 4º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de1965, (a

qual institui o Código Florestal) foi recepcionado pela atual Constituição Federal. Entretanto,

com base na nova ordem jurídica instalada, houve a necessidade de alteração da redação do

art. acima, de tal forma que a supressão de vegetação em área de preservação permanente:

Somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública ou de interesses sociais,

devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando

inexistir alternativa técnica elocacional ao empreendimento proposto.

Note-se que a Constituição Federal permite que a lei estabeleça hipóteses em que tal

supressão ou alteração de espaços será possível, respeitando, contudo, os princípios

estabelecidos na Constituição Federal.

17

Outra importante missão conferida ao poder público consiste em exigir, na forma da

lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação

do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade.

A CF/88 (BRASIL. Presidência da República, 1988) incumbiu, ainda, ao poder

público a função de controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,

métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio

ambiente.

Ora, em razão da proteção ao meio ambiente constituir-se como um dos deveres do

Estado, permitiu a Constituição Federal que o Poder Público interfira nas atividades

econômicas de domínio privado com o objetivo de impedir danos à vida. O direito ao

ambiente ecologicamente equilibrado foi erigido à categoria de direito fundamental, em

função da busca da melhoria da qualidade de vida e de bem-estar social indispensável à vida e

ao desenvolvimento do ser humano. Valoriza-se, assim, a dignidade da pessoa humana e a sua

qualidade de vida como dado vital inerente ao seu desenvolvimento enquanto pessoa.

Outro dever imposto ao poder público refere-se à promoção da educação ambiental

em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio

ambiente. No que se refere à educação ambiental observe-se que, segundo disposto na Lei

9.795/99, entende-se por educação ambiental os processos por meios dos quais o indivíduo e a

coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências

voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à

qualidade vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, Presidência da República, 1999).

Observe-se, por oportuno, que a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação (lei

9.394/96) inseriu a educação ambiental em sua proposta de Parâmetros Curriculares

Nacionais, passando a fazer parte do currículo do ensino Fundamental propondo posturas de

integração e participação, de tal maneira que cada pessoa é incentivada a exercitar sua

cidadania em plenitude. (BRASIL, Presidência da República, 1996).

Por fim, a CF/88 (BRASIL. Presidência da República, 1988) estabelece que é dever

do Estado proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da Lei, as práticas que coloquem em

risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a

crueldade. Tal medida, assim como as anteriormente descritas, tem como objetivo proteger o

direito à vida, por meio do correto gerenciamento dos recursos ambientais.

A proteção à fauna, à flora e aos diversos ecossistemas existentes deve ser um

objetivo presente na atividade estatal.

18

3.3 Princípios do Direito Ambiental: Conceito e Funções

Sirvinskas (2009 p.53) relata:

que os princípios servem para facilitar o estudo e a análise de certos fundamentos do

direito, auxiliando o legislador, o magistrado e os operadores do direito. O princípio

é o valor fundamental de uma questão jurídica. É um ponto indiscutível e aceito pela

sociedade, tratando-se de uma verdade incontestável para o momento histórico

. A doutrina arrola uma infinidade de concepções de princípios. Para alguns, eles têm

força normativa; para outros, são meras regras de pensamentos.

Lorenzetti (1998 P. 312) conceitua princípio como “uma regra geral e abstrata que se

obtém indutivamente, extraindo o essencial de normas particulares, ou como uma regra geral

preexistente”.

Em outras palavras como afirma Gomes Canotilho, princípios:

são normas que exigem a realização de algo, da melhor forma possível, de acordo

com as possibilidades fácticas e jurídicas. Os princípios não proíbem, permitem ou

exigem algo em termos de tudo ou nada; impõem a otimização de um direito ou de

um bem jurídico, tendo em conta a reserva do possível, fáctica ou jurídica

Na omissão da lei, o juiz decidirá com nos princípios gerais do direito.

Lorenzetti (1998 p. 318-9) afirma que os princípios exercem as seguintes funções:

a) integradora – porque preenchem lacunas do direito; b) interpretativa – porque

orientam o intérprete na aplicação da norma; c) delimitadora – porque limitam a

atuação legislativa, judicial e negocial; e d) fundante – porque fundamentam o

ordenamento jurídico.

Sirvinskas (2009) destaca os seguintes princípios por considerá-los abrangentes e

universais, além de estabelecerem parâmetros com os valores Constitucionais. São eles:

a) princípio do direito humano; b) princípio do desenvolvimento sustentável; c)

princípio democrático; d) princípio da prevenção (precaução ou cautela); e)

princípio do equilíbrio; f) princípio do limite; g) princípio do poluidor-pagador;

e h) princípio da responsabilidade social.

19

3.3.1 Princípios do Direito Humano

Decorre do primeiro princípio da Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento, aprovado em Congresso realizado no Rio de Janeiro em 1992.

Reza tal princípio do direito humano: “Os seres humanos estão no centro das preocupações

relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e

produtiva em harmonia com o meio ambiente”. Existe uma forte crítica desse princípio, pois o

acesso ao meio ambiente ecologicamente equilibrado deve ser preservado para todas as

formas de vida e não só a humana. (Tal assertiva encontra amparo legal nos arts. 5º, 6º e 225

da Constituição Federal e art. 2º da Lei n.º 6.938/81).

3.3.2 Princípio do Desenvolvimento Sustentável

Esse princípio encontra amparo legal nos arts. 170, Vl, e 225 da Constituição

Federal, procura conciliar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento sócio

econômico para a melhoria da qualidade de vida do homem. É a utilização racional dos

recursos naturais não renováveis. Também conhecido como meio ambiente ecologicamente

equilibrado ou ecodesenvolvimento. Desenvolvimento sustentável, no dizer de James

Lovelock, “é um alvo móvel. Representa o esforço constante em equilibrar e integrar os três

pilares do bem estar social, prosperidade econômica e proteção em benefício das gerações

atual e futuras”. (A Vingança, cit., p. 17).

3.3.3 Princípio Democrático

Antunes (1999, p. 26-8) relata que o princípio democrático assegura ao cidadão a

possibilidade de participar das políticas públicas ambientais. Essa participação poderá dar-se

em três esferas, quais sejam: legislativa, administrativa e processual. Na esfera legislativa, o

cidadão poderá diretamente exercer a soberania popular por meio do plebiscito (art. 14, l, da

CF), referendo (art. 14, II, da CF) e iniciativa popular (art. 14, III, da CF). Na esfera

administrativa, o cidadão pode utilizar-se do direito de informação (artigo 5º, XXXIII, da CF),

do direito de petição (art. 5º, XXXIV, a, da CF) e do estudo prévio de impacto ambiental (art.

225, § 1º, lV, da CF). Na esfera processual, o cidadão poderá utilizar-se da ação civil pública

20

(art. 129, III, da CF), da ação popular (art. 5º, LXXIII, da CF), do mandado de segurança

coletivo (art. 5º, LXX, da CF), do mandado de injunção (art.5º, LXXI, da CF), da ação civil

de responsabilidade por improbidade administrativa (art. 37, § 4º, da CF) e da ação direta de

inconstitucionalidade (art. 103 da CF).

3.3.4 Princípio da Prevenção (Precaução ou Cautela)

Há doutrinadores, como por exemplo, Milaré (2005), que preferem a

denominação prevenção, e outros, como por exemplo, Derani (cit. P. 165), que preferem

precaução ou cautela. Muitos autores ainda adotam ora uma, ora outra, indistintamente, como

expressões sinônimas, por exemplo, Leme Machado. Para o nosso campo de estudo,

entendemos que a prevenção é gênero das espécies precaução ou cautela, ou seja, é o agir

antecipadamente. Prevenção, como se observa, tem o significado de antecipar ao fato. A

cautela, porém significa atitude ou cuidado que se deve ter para evitar danos ao meio

ambiente ou a terceiros. O Conceito de prevenção é mais amplo do que precaução ou cautela.

O princípio da prevenção decorre do princípio quinze da Conferência do Rio/92. Aduz o

referido princípio:

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente

observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça

de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve

ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis

para prevenir a degradação ambiental.

O citado princípio encontra-se ainda expresso na Lei n.º 11.105/2005, que trata da lei

da biossegurança, cujo art. 1º diz:

Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a

construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a

importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o

consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente

modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço

científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde

humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção

do meio ambiente.

21

O princípio da precaução, nas palavras de Plaiau (ano):

Foi consagrado no direito internacional ambiental com a missão de dotar

legisladores e líderes políticos de um instrumento de regulação internacional da

inovação tecnológica e da atividade antrópica de uma maneira geral. Porém foi

criado dentro de um contexto jurídico que evolui lentamente em comparação ao

progresso da biotecnologia e da demanda social por certezas científicas sobre essas

questões. (apud Paulo de Bessa Antunes, Direito Ambiental, cit., p. 30).

3.3.5 Princípio do Equilíbrio

Conforme Antunes (1999 cit. P. 30) o Princípio do equilíbrio “é o princípio pelo qual

devem ser pesadas todas as implicações de uma intervenção no meio ambiente, buscando-se

adotar a solução que melhor concilie um resultado globalmente positivo”

É imprescindível analisar todas as conseqüências possíveis e previsíveis da

intervenção no meio ambiente, demonstrando os benefícios que essa medida pode trazer de

útil ao ser humano sem sobrecarregar o meio ambiente.

Antes de implantar o princípio do equilíbrio, devem ser analisadas todas as

implicações no que dizem respeito aos aspectos ambientais, econômicos, sociais, etc. Sendo

que o conjunto desta análise deve ser favorável ao meio ambiente.

3.3.6 Princípio do Limite

Em relação a este princípio a Constituição Federal outorgou ao Poder Público

competência para estabelecer normas administrativas com o intuito de fixar padrões de

qualidade ambiental (do ar, das águas, dos ruídos etc.) Esses limites, de modo geral seguem

padrões internacionais estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), organização

das Nações Unidas (ONU) etc. Os padrões ambientais são necessários para evitar problemas à

saúde humana e ao meio ambiente. O princípio do limite encontra amparo legal nos arts. 225,

§ 1º, V, da Constituição Federal e 9º, I, da Lei n.º 6.938/81.

22

3.3.7 Princípio do Poluidor Pagador

Este princípio tem como fundamento o princípio treze da conferência do Rio /92,

aduz o referido princípio:

Os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e

indenização das vítimas de poluição e outros danos ambientais. Os Estados devem

ainda cooperar de forma expedita e determinada para o desenvolvimento de normas

de direito internacional ambiental relativas à responsabilidade e indenização por

efeitos adversos de danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por

atividades dentro de sua jurisdição, ou sob seu controle.

Continua ainda, no princípio dezesseis:

Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da

poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização

dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta

o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais.

Observa-se, pois, que o poluidor deverá arcar com o prejuízo causado ao meio

ambiente da forma mais ampla possível. Impera em nosso sistema, a responsabilidade

objetiva, ou seja, basta a comprovação do dano ao meio ambiente, a autoria e o nexo causal,

independentemente da existência da culpa. Fundamento legal: arts. 225, § 3º, da Constituição

Federal e 14, § 1º, da Lei n.º 6.938/81.

3.3.8 Princípio da Responsabilidade Social

Este princípio tem sido adotado por muitas empresas, instituições de ensino e

atividades governamentais e não governamentais. Cuida-se de política ecologicamente

correta, passando a integrar até mesmo os currículos de profissionais de todas as áreas,

devendo ser observado também pelas instituições financeiras. Trata-se de concessão de

financiamento de projetos que deverá respeitar o princípio da responsabilidade social

consubstanciado no atendimento de critérios mínimos para a concessão de crédito.

23

3.4 Legislações Relacionadas às Nascentes

Através da Lei Federal n.º 4771, de 15 de Setembro de 1965, foi instituído o Código

Florestal, com algumas alterações trazidas pela medida provisória n. º 2.166-67, de 2001 e

ainda a Resolução do CONAMA n.º 303, de 20 de Março de 2002. No Código Florestal

encontramos a determinação de que área no entorno das nascentes são áreas de Preservação

Permanente (APP), com dimensão de um raio de, no mínimo, 50 (cinquenta) metros de

largura. Essa determinação se aplica a todas as nascentes, independente de sua posição

topográfica. (BRASIL, Presidência da República, 2002).

De acordo com a Lei Federal 4.771/65, alterada pela Lei 7.803/89 e a Medida

Provisória n.º 2.166-67, de 24 de Agosto de 2001:

Consideram-se de preservação permanente, pelo efeito de Lei, as áreas situadas nas

nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água”, qualquer que

seja a sua situação topográfica, devendo ter um raio mínimo de 50 (cinquenta)

metros de largura.

Conforme arts. 2º e 3 º dessa Lei:

A área protegida pode ser coberta ou não por vegetação nativa, com a função

ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a

biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-

estar das populações humanas.

Em relação às penalidades, a Lei de Crimes Ambientais 9.605, de 12 de fevereiro de

1998, (Art. 39), determina que é proibido: “destruir ou danificar floresta da área de

preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência das normas

de proteção”. È prevista pena de detenção de um a três anos, ou multa, ou ambas as penas,

cumulativamente. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.

Com o intuito de regulamentar o Art. 2º da Lei 4.771/65 do Código Florestal

Brasileiro, o CONAMA criou a Resolução n. º 303 e a Resolução n.º 302, de 2002

(CONAMA) – a Resolução 303 revoga a Resolução CONAMA 004, de 1985, relativa às

Áreas de Preservação Permanente (APP) quanto ao tamanho das áreas adjacentes a recursos

hídricos; o CONAMA, através da Resolução 004/2002, determina que: As áreas de

preservação permanentes ao redor de nascentes ou olho d’água, localizada em área rural,

ainda que intermitente – ou seja, que só aparece em alguns períodos (na estação chuvosa, por

exemplo) – deve ter raio mínimo de 50 metros, de modo que proteja em cada caso a bacia

24

contribuinte. Em veredas e em faixa marginal, em projeção horizontal, deve apresentar a

largura mínima de 50 metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado. Para cursos

d’água, a área situada em marginal (APP), medida a partir do nível mais alto alcançado pela

água por ocasião da cheia sazonal do curso d’água perene ou intermitente, em projeção

horizontal, deverá ter larguras mínimas de: 30 metros, para cursos d’água com menos de 10

metros de largura; 50 metros, para cursos d’água com 10 a 50 metros de largura; 100 metros,

para cursos d’água com 50 a 200 metros de largura; 200 metros, para cursos d’água com 200

a 600 metros de largura; 500 metros, para cursos d’água com mais de 600 metros de largura;

No entorno de lagos e lagoas naturais, a faixa deve ter largura mínima de: 30 metros, para os

que estejam situados em áreas urbanas consolidadas, 100 metros, aproximadamente para os

que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d’água com até 20 hectares de superfície, cuja

faixa marginal será de 50 metros.

Há no município de Prados um Decreto n. º 30.934, de 16 de fevereiro de 1990, o

qual “Declara como de proteção ambiental área de terreno situado na Serra São José, nos

Municípios de Tiradentes, Prados, Coronel Xavier Chaves e São João Del Rei”. Decreto este

publicado no Diário do Executivo – “Minas Gerais” – em 17/02/1990. No art. 1º deste

Decreto fica declarada:

A denominação APA São José, como área de proteção ambiental, para fins de

preservação do patrimônio histórico, paisagístico e da cultura regional, proteção e

preservação dos mananciais, cobertura vegetal (cerrado e áreas remanescentes de

Mata Atlântica) e da fauna silvestre, área de terreno situado na Serra São José, nos

municípios acima mencionados.

O art. 2º descreve as medidas que serão adotadas na implantação e funcionamento

da APA São José.

O art. 3º descreve as restrições e proibições relativas à APA São José, sendo

importante para este trabalho os incisos I e V, os quais proíbem “implantação, funcionamento

e exercício de atividades que possam afetar mananciais de água da região”.

Em 05 de Julho de 1995 a Câmara Municipal decretou, sendo sancionado pelo

prefeito da época, a Lei n.º 1.257, a qual “Dispõe sobre a criação do Conselho Municipal de

Defesa e Conservação do Meio Ambiente (CODEMA) e dá outras providências”. Órgão este

local e consultivo e de composição colegiada, encarregado de assessorar o poder municipal

em assuntos referentes à proteção, conservação e melhoria do meio ambiente. (PRADOS,

Executivo Municipal, 1995).

25

4 O QUE É ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL – APA

De acordo com a legislação ambiental brasileira, Área de Proteção Ambiental (APA)

é aquela destinada à preservação dos recursos ambientais (fauna, flora, solo e recursos

hídricos). Conforme art. 15 da Lei 9.985/2000 é também aquela definida oficialmente como

uma “área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos

abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e

o bem estar de populações humanas”. Uma área de proteção ambiental pode apenas ter uso

sustentável, ou seja, seu acesso, ocupação e exploração devem ser controlados para não

prejudicar o ecossistema da área. As áreas de proteção ambiental podem ter posse e domínio

público ou privado. Porém, cabe aos órgãos governamentais a fiscalização da ocupação e

exploração destas áreas. (BRASIL, Presidência da República 2000).

A disciplina jurídica das Áreas de Proteção Ambiental consta da Lei 6.902, de 1982,

onde em seu art. 9º, observando os princípios ambientais que regem o direito de propriedade,

incumbirá ao Poder Público estabelecer normas, limitando ou proibindo:

a) a implantação e o funcionamento de indústrias potencialmente poluidoras,

capazesde afetar mananciais de água; b) a realização de obras de terraplanagem e

aberturade canais, quando essas iniciativas importarem em sensível alteração das

condiçõesecológicas locais; c) o exercício de atividades capazes de provocar uma

aceleradaerosão das terras e/ou acentuado assoreamento das coleções hídricas; d) o

exercíciode atividades que ameacem extinguir na área protegida as espécies raras da

biota regional.

Portanto, dentre os objetivos das Áreas de Proteção Ambiental encontra-se a

proteção dos recursos hídricos, que analisado dentro de uma perspectiva de gestão integrada,

perfaz o objetivo maior deste estudo em questão.

E, para possibilitar a eficácia da gestão ambiental, destacando-se a gestão de

recursoshídricos, apresenta-se a junção de um novo modelo de gestão, baseando-se nos

princípios e objetivos que regem as Áreas de Preservação Ambiental com os objetivos de

princípios que regem a Política Nacional dos Recursos Hídricos, Lei 9433/97. Portanto, é de

suma importância um modelo de gestão de recursos hídricos em uma área de proteção e

preservação ambiental, já que têm caráter preventivo, uma vez que se aplica sobre áreas ainda

relativamente pouco urbanizada, apresentando muitas vezes porções significativas de

vegetação nativa. Esta proposta visa criar condições de sustentabilidade à área e

principalmente à manutenção e preservação dos recursos hídricos locais.

26

A área de proteção ambiental é uma categoria de conservação difundida e

consolidada em todo o território nacional. Apenas no estado de Minas Gerais, até 1998,

tínhamos 13 áreas de proteção ambientais (APAs) decretadas, sendo 04 federais, 06 estaduais

e 03 municipais, sendo uma destas a Área de Proteção Ambiental São José em Prados/Minas

Gerais. As principais finalidades das áreas de proteção ambientais são: a) Garantir a proteção

dos ecossistemas e suas diversidades biológicas; b) Disciplinar a ocupação do solo; c)

Possibilitar o uso sustentável dos recursos naturais (solo, água e vegetação).

4.1 Histórico Sobre a Serra São José

Segundo dados colhidos no Departamento Municipal de Turismo, Cultura, Esporte e

Lazer na prefeitura de Prados/MG, a Serra de São José possui 13 km de extensão, sendo uma

imponente formação de quartzitos sob a forma de um imenso paredão. Apresenta as maiores

altitudes da região do município de Prados, entre 1.100m e 1.430m. Está localizada dentro da

Área de Preservação Ambiental e Refúgio da Vida Silvestre – Libélulas das Vertentes, como

Unidade de Conservação de âmbito estadual.

Possuidora de várias nascentes e córregos, que se dirigem tanto para noroeste quanto

para sudeste do município, a Serra abriga em seu entorno ricas fauna e flora. São encontrados,

na região da Serra São José, lobos-guarás, jaguatiricas, cachorros do mato, veados, quatis,

macacos bugios e prego, micos, tatus, tamanduás, tucanos, maritacas, sanhaços, tico-ticos,

jacus, garças, seriemas, o gavião-rei (carcará) e as mais de cem espécies de libélulas,

exclusivas do local, o que atrai pesquisadores de todas as partes do mundo.

A sua formação possibilita a prática de esportes de aventura como escaladas, rapel,

vôo livre, enduros de motocicletas e as caminhadas pelas várias trilhas existentes na região em

meio à mata nativa. A região da Serra São José é detentora de grande potencial para a prática

de Ecoturismo, mas a falta de sinalização educativa, informativa e interpretativa dificulta o

acesso e a movimentação de pessoas em meio ao ambiente natural da região.

Entre outros, problemas significativos que devem ser enfrentados, como a segurança

no entorno da Serra e a falta de profissionais qualificados para guiar os turistas, pois são

poucas as pessoas, hoje, que possuem essa experiência.

Contudo tal exploração turística da área da Serra acaba sendo benéfica, no que diz

respeito á preservação do patrimônio natural local, visto que não existem leis específicas para

27

a proteção da Serra. E justamente por manter preservadas suas riquezas naturais, a região da

Serra São José torna-se ideal parta a prática de roteiros pedagógicos, com o intuito de educar e

conscientizar a todos, da importância da Preservação e Conservação do meio ambiente.

4.2 Criação da APA da Serra São José

A Área de Proteção Ambiental São José foi decretada “... para fins de preservação do

patrimônio histórico, paisagístico e da cultura regional, proteção e preservação dos

mananciais, cobertura vegetal (cerrados e remanescentes de mata atlântica) e da fauna

silvestre...”, conforme seu ato de criação, o Decreto n.º 30.934 em 16 de fevereiro de 1990,

pelo governo do Estado de Minas Gerais. Portanto, é uma Área de Proteção Ambiental

estadual e hoje o órgão responsável pela sua gestão é o Instituto Estadual de Florestas, IEF-

MG.

A Área de Proteção Ambiental São José abrange parte dos municípios de Tiradentes,

Prados, Coronel Xavier Chaves, São João Del Rei e Santa Cruz de Minas. Abrange uma área

com cerca de 5.000 ha, na qual existem ambientes naturais, rurais, urbanos e históricos. A

Área de Proteção Ambiental está inserida dentro da bacia hidrográfica do rio Grande. A

drenagem na região da Área de Proteção Ambiental e entorno é composta principalmente

pelos Rios Carandaí e das Mortes, que têm a Serra São José como divisora. Sua cobertura

vegetal é composta por ambiente de Mata Atlântica, Campo Rupestre, Cerrado e Matas de

Galeria associadas a estes dois últimos. O relevo é bastante acidentado e a altitude varia entre

900m e 1.430m. Esta composição proporciona à área grande valor cênico que, associado ao

patrimônio histórico-cultural e natural da região, lhe confere um caráter de riqueza única.

Insta ressaltar que a Área de Proteção Ambiental São José é uma das muitas áreas que estão

cadastradas para receber o ICMS ecológico através do município.

28

4.3 Localização da Serra São José e da APA

A Serra de São José está localizada acima do trópico de capricórnio, entre as

coordenadas 21º3-7’s Et 44º6-13’W, no Brasil, em Minas Gerais a NNE de Tiradentes e W de

Prados.

A Área de Proteção Ambiental da Serra São José possui cerca de 5.000 ha, inserido

na microrregião do Campo das Vertentes, Minas Gerais, bacia do Rio das Mortes.

Em maio do ano de 2005 foi instituído o Refúgio Estadual de Vida Silvestre

Libélulas da Serra de São José, criada pelo Decreto Lei 43.908 em 05/11/2004, com uma área

de 3.717 ha, considerada uma categoria de Unidade de Conservação de Proteção Integral,

caracterizada pelo SINUC – Sistema Nacional de Unidade de Conservação.

O Decreto 44.518 de 16 de Maio de 2007 reconhece o mosaico da Serra São José,

ficando conforme art. 2º criado um corredor ecológico ligando a Área de Proteção Ambiental

– APASão José o Refúgio Estadual de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José e a Área

deProteção Especial Serra São José, com o fim de assegurar a conservação e o uso

sustentáveldos recursos naturais da área do corredor e a efetiva conservação da diversidade

biológica dasunidades de conservação componentes do Mosaico.

No art. 3º do Decreto acima o Mosaico de Unidades de Conservação será gerido pelo

Instituto Estadual de Florestas - IEF, com apoio de um Conselho Consultivo. No art. 4º do

mesmo decreto aduz que:

Compete ao Conselho Consultivo do Mosaico:

I - elaborar seu regimento interno;

II - propor diretrizes e ações para compatibilizar, integrar e otimizar:

a) as atividades desenvolvidas em cada unidade de conservação, tendo em vista,

especialmente:

1. o uso na fronteira entre unidades;

2. o acesso às unidades;

3. a fiscalização;

4. o monitoramento e avaliação dos Planos de Manejo;

5. a pesquisa científica; e 6. a alocação de recursos advindos da compensação

referente ao licenciamento ambiental de empreendimentos com significativo

impacto ambiental;

b) a relação com a população residente na área do mosaico;

III - manifestar-se sobre propostas de solução para a sobreposição de unidades; e

IV - manifestar-se, quando provocado por órgão executor, por conselho de unidade

deconservação ou por outro órgão do Sistema Nacional do Meio Ambiente -

SISNAMA, sobreassunto de interesse para a gestão do mosaico.

Parágrafo único. A atribuição do inciso I deve ser realizada no prazo de noventa dias

da data da publicação deste Decreto.

29

A região da Serra de São José possui um histórico de ocupação muito antigo. Há

notícias da presença de Índios Carijós e outras tribos desconhecidas, que foram dizimadas no

início do século XVIII, a partir da chegada da bandeira de Fernão Dias Paes, vinda de São

Paulo. Em 1702 com a descoberta de veios auríferos junto a Serra de São José, nasce o arraial

velho (Tiradentes), e novo (São João Del Rei).

As belezas naturais da Serra de São José associadas ao rico histórico de ocupação,

trás para a região um grande número de visitantes em busca da história local e de suas

atrações naturais.

4.4 Nascentes de Prados(MG)

A cidade de Prados é ricamente abençoada por nascentes, mas infelizmente nos dias

atuais estão jogadas a mercê da própria sorte sem nenhuma preservação e conservação.

Contudo merece citar algumas como, por exemplo:

Bica Mina do Frio – situada próximo ao canteiro do IEF (Instituto Estadual de

Floresta);

Bica da Ponta do Morro – situada na APA da serra São José no leito principal da

Estrada Real, que liga Prados à Tiradentes. (nascente mais alta do córrego palmital);

Sopé da Serra São José – é a mais importante historicamente, porque era muito

usada pelo fazendeiro Bernardo Rodrigues Dantas que criou duas irmãs de

Tiradentes. (IEF 2010).

É interessante observar que a 1400 metros de altitude, no alto da Serra São José

brota também uma nascente d’água que serve para matar a sede das pessoas que

tradicionalmente fazem um dos mais antigos passeios ecológicos do Brasil, que ocorre em

Julho. Os amantes da natureza constituída por pessoas de todas as idades conservam e tratam

voluntariamente da limpeza e manutenção da nascente no alto da Serra. Desde os meados dos

anos 90 a Serra São José está protegida por Lei Estadual sendo considerada uma área de

preservação ambiental rodeada de um pequeno restígio de Mata Atlântica que ainda há no

município de Prados/MG.

Conforme se observa o potencial hídrico de Prados é grande e traz à cidade a

responsabilidade da preservação e conservação deste tão imensurável recurso que é a água.

30

4.5 Por que as Nascentes Secam?

Segundo Coats (2001):

As nascentes estão secando pelo menor abastecimento do lençol freático (é água

subterrânea. Trata-se de uma camada do subsolo, cujos poros ficam saturados pela

água da chuva infiltrada, podendo aflorar numa nascente ou num canal, riacho ou

rio) pelas águas da chuva, que não infiltram mais porque o solo não está vivo (não

funciona como uma esponja), além de estar compactado pelo pisoteio do gado e

mecanização. Além disso, um solo protegido por cobertura vegetal e matéria

orgânica é mais fresco, e faz com que a água da chuva seja absolvida com mais

facilidade, o que não acontece com o solo descoberto, o qual, por ser mais quente,

repele a água da chuva, dificultando sua penetração.

É possível que a nascente mude de lugar e até aumente logo após o desmatamento,

para depois de um período, minguar ou secar. Isso ocorre porque quando a floresta que

absolvia água do lençol freático é retirada, a água que já havia infiltrado antes do

desmatamento acaba saindo toda pelas nascentes, e não mais pelas plantas. No entanto, como

o desmatamento reduz a capacidade de infiltração de água no solo, o lençol vai sendo aos

poucos esvaziado e não tem recarga suficiente para manter a água da nascente.

Quando o solo fica descoberto, a água não infiltra e gera erosão. A erosão carrega

terra para dentro dos rios causando o assoreamento, que é o entupimento dos rios com terra e

areia, deixando-os cada vez mais rasos. As principais causas de assoreamento são erosão em

áreas mecanizadas, preparadas para agricultura; estradas e trilhas de animais e de carros, que

canalizam água até o córrego; pisoteio do gado nos açudes, rios, nascentes e veredas;

desbarrancamento das margens desmatadas dos rios.

Quando pensamos na conservação da água, temos que pensar em toda a bacia e não

só no córrego ou nas nascentes. Quanto mais área florestada na bacia, melhor a produção de

água, melhor o clima e melhor a conservação da natureza.

Pensando na qualidade de vida das gerações atuais e futuras, a legislação busca

mecanismos para a proteção dessas áreas.

Mata ciliar é a vegetação que ocorre onde a terra e os rios se encontram. Ela contorna

os cursos d’água e é muito importante por vários motivos: alimenta os peixes; sombreia a

água, deixando sua temperatura mais adequada para os peixes; segura com as raízes as

margens dos rios, evitando o desmoronamento; filtra a água da chuva ou que venha de

lavouras com contaminantes (agroquímicos); segura a terra carregada pela erosão; evitando

que chegue a assorear os cursos d’água. Além disso, a mata alimenta muitos animais, ajuda a

31

conservar a biodiversidade, contribui para a dinâmica da água através da evapotranspiração e

redução do impacto da chuva no solo, além de manter o solo vivo e poroso, permitindo a lenta

infiltração da água no solo, que vai alimentar o lençol freático e as nascentes.

As estradas devem ser feitas no alto dos morros divisores de águas, evitando

desníveis para não provocar erosão, e nunca nas cabeceiras e nascentes, pois nesse local o

solo fica encharcado parte do ano e a erosão da estrada, nesse caso ocorrerá direto para a

nascente, podendo aterrá-la e secá-la.

Nas cidades, com a impermeabilização do solo, a água não infiltra, alimentando o

lençol freático se acumulando, correndo com força criando as enxurradas. As enxurradas

correm para os bueiros e vai lavando a cidade, carregando substâncias químicas, como óleo

que caem dos veículos sobre os asfaltos, lixo que ficam nas calçadas, sarjetas e nas ruas, como

sacos plásticos, latinhas, dentre outros lixos que são levados pelas enxurradas.

4.6 Medidas que Preservam Nascentes e Mananciais

A água é um recurso natural insubstituível para manutenção da vida saudável e bem

estar do homem, além de garantir auto-suficiência econômica da propriedade rural. Nas

últimas décadas, o desmatamento de encostas e das matas ciliares além do uso inadequado dos

solos vem contribuindo para a diminuição da quantidade e qualidade da água.

Para recuperação e preservação das nascentes e mananciais em propriedades rurais,

podem-se adotar algumas medidas de proteção do solo e da vegetação que englobam desde a

eliminação das práticas de queimadas até o enriquecimento das matas nativas. Dentre muitas

maneiras de recuperação e preservação das nascentes seguem algumas, quais sejam:

Conservação do Solo – plantio em curva de nível, a qual é uma técnica de

conservação do solo e da água, excelente para o cultivo em morros e terrenos acidentados.

Neste tipo de plantio, cada linha de plantas forma uma barreira diminuindo a velocidade da

enxurrada.

Evitar queimadas, pois estas causam sérios danos às florestas e outros tipos de

vegetação deixando o solo descoberto e matando os microrganismos e a vida do solo. Este

solo sem proteção da cobertura vegetal pode ficar endurecido pela ação das gotas da chuva, o

que irá reduzir a velocidade e quantidade de infiltração da água, além de favorecer as

enxurradas.

32

Plantio em consórcio, intercalando faixas com plantas de crescimento denso com

faixas de plantas que oferecem menor proteção ao solo. As faixas com plantas de crescimento

denso têm a função de amortecer a velocidade das águas da enxurrada permitindo uma maior

infiltração de água no solo. Fazer uso dos restos culturais (palhada). Esse material, também

chamado de matéria orgânica, quando apodrece favorece os organismos que vivem na terra

melhorando as condições de infiltração e armazenamento de água no solo, além de diminuir o

impacto das gotas de chuva sobre a superfície.

Uso de Defensivos – o uso excessivo e descontrolado de defensivos agrícolas nas

lavouras são grandes agentes de contaminação do solo e da água, principalmente do lençol

freático. Por isso seu uso deve ser controlado e feito sob a orientação de um técnico

responsável. Devem-se construir locais apropriados para o descarte das embalagens, que

jamais devem ser jogadas em rios e córregos ou junto ao lixo comum da fazenda.

Cercamento de Nascentes – construção de cercas, fechando a área da nascente, num

raio de 30 a 50 metros a partir do olho d’água: evita a entrada dos animais e, por conseguinte

o pisoteio e compactação do solo. Manutenção do asseio, ou seja, limpeza em volta da cerca

para evitar que o fogo, em caso de incêndio, atinja a área de nascente.

Enriquecimento da Vegetação – a vegetação em torno das nascentes funciona como

barreira viva na contenção da água proveniente das enxurradas. Devem-se priorizar espécies

nativas da região com ciclo de crescimento rápido que produzem uma grande quantidade de

sementes, facilitando assim a renovação natural da área plantada. É recomendável que as

covas dessas espécies devam ser feitas em ziguezague, proporcionando uma cobertura vegetal

mais ampla. O plantio das mudas pode obedecer a um espaçamento padrão de 3 metros x 3

metros. A mata ciliar não deve ser plantada em cima da nascente, devendo respeitar um

espaço de 30 metros de distância. A renovação da vegetação junto à nascente deve acontecer

de maneira natural.

Outras medidas – construção de fossas assépticas nas residências rurais, evitando o

lançamento de esgotos nas águas da propriedade. Construção de fossas para os rejeitos

animais, principalmente no caso de criação de suínos. Construção de cochos para

abastecimentos de água para o gado ao longo da propriedade, evitando o trânsito de animais

junto às nascentes e córregos.

33

5 A SERRA DE SÃO JOSÉ: ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL OU

APENAS UMA PROMESSA DE LEI?

5.1 A Situação Atual

Segundo entrevista realizada com o proprietário de terras onde se localiza nascentes

na Serra São José (conforme apêndice I), a área de proteção ambiental é muito importante

para a região, principalmente para o município de Prados, sendo a mais preservada de toda a

Área de Proteção Ambiental. Relata que a criação da Área de Proteção Ambiental se deu

através de lei do Governo de Minas e sua regulamentação ainda não foi realizada, pelo fato de

existir apenas um anteprojeto do zoneamento e plano de manejo. Comenta o proprietário que

é possível detectar alterações negativas na Área de Proteção Ambiental, pois são poucos os

proprietários que preocupam com a preservação das nascentes. Sendo as mesmas poucas e de

pouco volume de água, isso já acontecendo a muitas décadas. Aduz que não recebe nenhum

tipo de incentivo ou apoio do poder público, pelo contrário há muitas restrições. As

expectativas e previsões do proprietário para a Área de Proteção Ambiental eram muitas,

principalmente quando idealizou e captou recurso executando as obras do projeto “Estrada

Parque Passos dos Fundadores”. Atualmente as previsões não são nada animadoras segundo o

proprietário, sendo preciso mudanças na forma de pensar e realizar ações na Serra São José e

no seu entorno. Conscientizando os proprietários, buscando alternativas para sua

sobrevivência respeitando o meio ambiente. Para finalizar a entrevista o proprietário relata

que a legislação ambiental é respeitada em algumas áreas, principalmente pelos proprietários

de terras com poucos recursos. Percebe que é muito importante fazer um trabalho de

esclarecimento na Área de Proteção das nascentes e apoiar os pequenos proprietários trazendo

alternativas de renda para sua sobrevivência.

5.1.2 Os problemas apontados e as possíveis soluções

Como problemas podem ser destacados a falta de regulamentação realmente efetiva,

alterações negativas na Área de Proteção Ambiental devido à falta de conscientização da

população ou até mesmo o desconhecimento das leis e Decretos existentes. E um dos pontos

mais relevantes é a falta de interesse e apoio do poder público em fazer algo para que as

34

nascentes sejam preservadas. Já como possíveis soluções o poder público poderia criar um

programa de incentivo com o objetivo de promover a melhoria da qualidade das águas e

assegurar a disponibilidade dos recursos hídricos por meio da mobilização da sociedade civil

para o cuidado e a conservação das nascentes e áreas de cabeceiras não só na Área de

Proteção Ambiental como também em todo o território do município de Prados/MG, onde há

nascentes e não só ter concedido o serviço de tratamento de águas do município para a

COPASA. Os mecanismos de implementação do programa deveriam se dar através de um

Decreto do Poder Executivo. O referido programa poderia ter como diretrizes, a proteção das

nascentes e olhos d’água do Município, com vistas à manutenção do equilíbrio natural e da

vida aquática, evitando a degradação, a poluição e a agressão contra áreas ambientalmente

sensíveis e vulneráveis; assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de

águas em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; estimular a participação da

sociedade civil na gestão dos recursos hídricos buscando desenvolver uma cultura de cuidado

com a água; envolver a iniciativa privada, proprietários de terras, organizações civis e

comunidades locais no planejamento, implantação e gestão de ações de proteção, preservação,

conservação e recuperação ambiental de nascentes e olhos d’água; promover a integração das

ações do Programa com os planos, políticas e projetos relacionados ao meio ambiente no

Município. O Programa sobre as nascentes poderia ter a sua implantação vinculada a um

Órgão Executivo Gestor, responsável pela estruturação, administração e controle do

Programa; um Adotante para cada nascente ou olho d’água que será o responsável pela

manutenção da área promovendo ações de recuperação ou conservação ambiental bem como

atividades de educação ambiental e um ou mais Apoiadores, para o financiamento e apoio às

ações de proteção e conservação de cada nascente ou olho d’água objeto do Programa.

35

6 CONCLUSÃO

O objetivo geral desse trabalho foi conhecer as leis relacionadas ao meio ambiente,

as nascentes localizadas dentro do município de Prados/MG, especificamente as nascentes da

Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra São José, conscientizar as pessoas que possuem

nascente em sua propriedade, para proteger e recuperar as áreas que estão degradadas, para

que as futuras gerações possam usufruir desse bem coletivo. Os objetivos almejados

demonstraram-se propostas de como contribuir para a preservação de nascentes mantendo os

cursos d’água, procurando mostrar a importância da integração da sociedade em torno da

questão ambiental. Deve-se ressaltar a importância da educação ambiental como mecanismo

para auxiliar na prevenção de alguns problemas relacionados ao meio ambiente. Os resultados

obtidos permitem concluir que é possível recuperar a área mediante algumas ações e que os

proprietários têm consciência da existência das Leis, Decretos bem como da importância da

efetividade dessas leis. O que falta na verdade é uma fiscalização séria dos órgãos

competentes para que as nascentes sejam preservadas e nunca sequem como também um

programa de incentivo e apoio do poder público.

Esperamos que com este trabalho possamos sensibilizar e conscientizar não só os

proprietários dos locais onde se encontram as nascentes, como também toda a população e o

poder público da importância da preservação e conservação das nascentes para que as

presentes e futuras gerações possam gozar desse bem tão precioso que é a água.

36

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Paulo de Bessa, Direito ambiental, 3. Ed., Rio de Janeiro, Lumen Juris, 1999.

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, DF: Senado,

1988.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua

portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 2128 p.

FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 10 ed. rev.,

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009.

LORENZETTI, Ricardo Luis. Fundamentos do direito privado. São Paulo, Revista dos

Tribunais, 1998.

LOVELOCK, James. A Vingança de Gaia. Traduzido por Ivo Korytowski. Rio de Janeiro,

Intrínseca, 2006.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 14 ed. rev., atual e ampl.

São Paulo: Malheiros Editores, 2006.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 16. ed. São Paulo, Revista dos

Tribunais, 1991.

MOLINARO, Carlos Alberto. Direito Ambiental: Proibição de Retrocesso. Porto Alegre:

Editora Livraria do Advogado, 2007.

_________. Direito Ambiental: Proibição de Retrocesso. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2007.

PRADOS (MG), Decreto n.º 30.934, de 16 de fevereiro de 1990, “Declara como de proteção

ambiental área de terreno situado na Serra São José, nos Municípios de Tiradentes, Prados,

Coronel Xavier Chaves e São João Del Rei”. Diário do Executivo, Minas Gerais, 17/02/1990.

PRADOS (MG), Lei n.º 1.257, de 05 de Julho de 1995. “Dispõe sobre a criação do Conselho

Municipal de Defesa e Conservação do Meio Ambiente (CODEMA) e dá outras

providências”. Legislação Municipal.

37

REBOUÇAS, A. da Água doce no Mundo e no Brasil, A. BRAGA, B.; TUNDIS, J. (orgs.)

Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação 2 ed. São Paulo: Escrituras

Editora. 2002. p. 01-37

SIRVINSKAS, Luís Paulo Manual de direito ambiental. 7. ed. rev., atual e ampl. São

Paulo: Saraiva 2009

TRENNEPOHL, Terence. Direito Ambiental. 3. ed. Salvador: Juspodivm, 2008).

BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Evolução da Legislação Ambiental. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=97547&tmp.area_

anterior=44&tmp.argumento_pesquisa=evolução%20da%20legislação%20ambiental>

Acesso em: 06 abr.2010.

38

Apêndice I

Entrevista Realizada em Maio de 2011, no município de Prados (MG) com envolvido com a

Área de Proteção Ambiental na Serra São José

01) Para você, o que é APA Serra São José? Conhece alguma coisa sobre normas que a

criaram e regulamentaram?

R – È uma área de proteção ambiental muito importante para a região, principalmente

para o município de Prados. Hoje Prados é a área mais preservada de toda a APA. A

criação da APA pelo que sei foi através de Lei do Governo de Minas e sua

regulamentação ainda não foi realizada porque existe somente um anteprojeto do

zoneamento e plano de manejo.

02) É possível detectar alterações nas nascentes da Serra São José? Positivas ou negativas?

Há quanto tempo?

R – Sim, principalmente negativas, são poucos os proprietários que preocupam com a

preservação das nascentes. A Serra São José é uma área de poucas nascentes e pouco

volume de água, isto já vem acontecendo a muitas décadas.

03) Que tipo de apoio (público) são concedidos às famílias/pessoas que estão envolvidas

de alguma forma com a APA Serra São José?

R – Não tem nenhum tipo de incentivo ou apoio, pelo contrário, há muitas restrições.

04) Quais são as suas expectativas e previsões para esta área?

R – Minhas expectativas eram muitas, principalmente quando idealizei e captei os

recursos e executei as obras do projeto da “Estrada Parque Passos dos Fundadores”.

As previsões não são nada animadoras, é preciso uma mudança na forma de pensar e

realizar ações na Serra São José e em seu entorno. Conscientizar os proprietários

buscando alternativas para sua sobrevivência, respeitando o meio ambiente.

05) Para você, a legislação ambiental é cumprida nesta área de preservação?

R – Em algumas áreas sim, principalmente por aqueles proprietários de terras com

poucos recursos. Vejo que é muito importante fazer um trabalho de esclarecimento na

área de preservação das nascentes e apoiar os pequenos proprietários trazendo

alternativas de renda para sua sobrevivência.