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1 1 O conto como incentivo à leitura VENTURA, Marisa Aparecida (PDE/SETI) 1 BARREIROS, Ruth Ceccon (UNIOESTE/Cascavel-PR.) 2 Resumo O presente artigo relata a experiência realizada por meio da implementação de uma proposta de intervenção pedagógica na escola e trata-se do objeto de estudos do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional/PR em 2008. O foco da proposta pautou-se na leitura e formação de leitores proficientes. Para o seu desenvolvimento ancorou-se no método Recepcional. O público a que esteve direcionada as atividades foi a 3ª série “A” do curso de Formação de docentes, do Colégio Estadual Princesa Izabel, na cidade de Três Barras do Paraná – PR, durante o primeiro semestre de 2009. Para alcançar os objetivos optou-se pelo trabalho com o gênero textual conto (Contos de Machado de Assis). Em um primeiro momento, privilegiou- se a leitura-fruição do texto literário como meio de despertar o gosto pela leitura. Na sequência, estimulou-se a capacidade crítica, realizando leitura compreensiva do texto, atentando para a construção de significados, condição de produção, elementos essenciais deste gênero textual, aspectos discursivos, bem como, estrutura composicional. Este conhecimento permitiu ao aluno reconhecer aspectos importantes da construção do conto, possibilitando-lhe curtir mais e melhor estas histórias ficcionais. Obteve-se excelentes resultados na implementação dessa produção didático pedagógica, uma vez que, se pode contar com a participação ativa dos alunos em cada atividade sugerida. Isso nos possibilitou concluir que toda prática pedagógica intencional, diferenciada com a leitura em sala de aula, traz bons resultados e contribui decisivamente para desenvolver a proficiência e o gosto pela leitura, e, consequentemente, para dar um grande salto na melhoria da qualidade de ensino. Palavras-chave: Leitura. Formação de leitores. Leitores proficientes. Contos. Abstract 1 Currículo 1-Graduação: Letras. Especialização: Didática e Metodologia de Ensino. Atuando na Educação Básica do Estado do Paraná. Professora PDE. 2- Professora orientadora da Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná em Cascavel – PR, pesquisadora da área de leitura e formação de leitores.

1O conto como incentivo à leitura 1 2 · meio ideal para que a escola possa alcançar esta meta, pois, os textos literários “adquirem no cenário educacional, uma função única,

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1O conto como incentivo à leitura

VENTURA, Marisa Aparecida (PDE/SETI)1

BARREIROS, Ruth Ceccon (UNIOESTE/Cascavel-PR.)2

Resumo

O presente artigo relata a experiência realizada por meio da implementação de uma proposta de intervenção pedagógica na escola e trata-se do objeto de estudos do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional/PR em 2008. O foco da proposta pautou-se na leitura e formação de leitores proficientes. Para o seu desenvolvimento ancorou-se no método Recepcional. O público a que esteve direcionada as atividades foi a 3ª série “A” do curso de Formação de docentes, do Colégio Estadual Princesa Izabel, na cidade de Três Barras do Paraná – PR, durante o primeiro semestre de 2009. Para alcançar os objetivos optou-se pelo trabalho com o gênero textual conto (Contos de Machado de Assis). Em um primeiro momento, privilegiou-se a leitura-fruição do texto literário como meio de despertar o gosto pela leitura. Na sequência, estimulou-se a capacidade crítica, realizando leitura compreensiva do texto, atentando para a construção de significados, condição de produção, elementos essenciais deste gênero textual, aspectos discursivos, bem como, estrutura composicional. Este conhecimento permitiu ao aluno reconhecer aspectos importantes da construção do conto, possibilitando-lhe curtir mais e melhor estas histórias ficcionais. Obteve-se excelentes resultados na implementação dessa produção didático pedagógica, uma vez que, se pode contar com a participação ativa dos alunos em cada atividade sugerida. Isso nos possibilitou concluir que toda prática pedagógica intencional, diferenciada com a leitura em sala de aula, traz bons resultados e contribui decisivamente para desenvolver a proficiência e o gosto pela leitura, e, consequentemente, para dar um grande salto na melhoria da qualidade de ensino.

Palavras-chave: Leitura. Formação de leitores. Leitores proficientes. Contos.

Abstract

1 Currículo

1-Graduação: Letras. Especialização: Didática e Metodologia de Ensino. Atuando na Educação Básica do Estado do Paraná. Professora PDE.

2- Professora orientadora da Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná em Cascavel – PR, pesquisadora da área de leitura e formação de leitores.

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This article reports the experience acquired through the implementation of an educational intervention proposal for the school and it is the object of study of the PDE – Educational Development Program/PR in 2008. The focus of the proposal was based on reading and training of proficient readers. For its development anchored on the method Recepcional. The audience to which He directed the activities was the 3rd grade “A” Training course for teachers, Colégio Estadual Princesa Izabel, the city of Três Barras do Paraná – Pr, during the first half of 2009. To achieve the objectives we chose to work with the textual genre story (Stories of Machado de Assis). At first, we focused on the enjoyment of reading-literary text as a means of awakening a taste for reading. As a result, stimulated with critical skills, conducting comprehensive reading of the text, paying attention to meaning construction, condition of production, elements of this textual genre, discursive and compositional structure. This knowledge allowed the student to recognize important aspects of the construction of the tale, allowing you to enjoy more and better these fictional stories. We obtained excellent results in the implementation of this production didactic teaching, since it can count on the active participation of students in each suggested activity. This allowed us to conclude that all intentional pedagogical practice, differentiated by reading in the classroom, brings good results and has significantly contributed to develop proficiency in reading and taste, and thus to take a big step in improving the quality of education.

Key words: Reading. Training of readers. Proficient readers. Stories.

Introdução

Este artigo pretende relatar o resultado de uma prática pedagógica com a

leitura em sala de aula, ou seja, a Implementação da Proposta de Intervenção

Pedagógica na Escola – A Unidade didática: “O Conto como incentivo à leitura”.

Refletir sobre o papel e o comprometimento com a educação, enquanto

professores de Língua Portuguesa, vislumbrando a melhoria na qualidade de ensino

e no processo de formar leitores, por meio de uma educação que seja realmente

diferenciada e eficiente, foi o que motivou a realização do presente trabalho. Nesse

sentido, e no decorrer do desenvolvimento das atividades propostas, procurou-se

mostrar a importância e os benefícios que o ato de ler pode proporcionar ao leitor,

oportunizando ao aluno do curso de Formação de docentes perceber a leitura como

uma atividade significativa, interessante, decisiva, prazerosa, a qual pode fazer a

grande diferença em sua vida. Possibilitando, ainda, ao educando, condições para

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que ele seja um cidadão apto a conquistar seu espaço no mundo, “seu lugar ao sol”,

como um ser humano feliz, com condições de realizar-se plenamente.

A leitura abre horizontes. Faz a diferença. A leitura é um recurso de inclusão.

É uma condição imprescindível quando se pretende formar um cidadão

instrumentalizado para exercer com consciência e liberdade a cidadania; cidadão,

este, preparado para interferir com autonomia, intencionalidade e decisão na

transformação da sociedade em que vive.

No entanto, em geral, constata-se que o aluno do curso de Formação de

docentes, não se sente estimulado e não demonstra interesse pela leitura. Não é um

leitor proficiente. Dessa forma, a falta de proficiência leitora constitui-se numa das

principais causas de dificuldades dos alunos frente aos problemas de aprendizagem.

Sendo assim, por ser necessário, relevante e viável (uma vez que temos em

nossa escola, entre outras mídias, o Paraná digital, o que facilita o acesso aos

textos) desenvolveu-se esse projeto que contempla esta prática tão importante no

processo de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa – a leitura. Projeto que

buscou contribuir para a formação de um leitor proficiente, capaz de refletir sobre o

que leu e de posicionar-se consciente e argumentativamente diante do texto lido.

Dessa forma, pode-se contribuir para o desenvolvimento de um dos principais

papéis da escola na contemporaneidade: formar leitores.

Ler, aqui, não significa apenas “decodificar sinais”, mas compreender,

desvelar sentidos, construir significados, fazer inferências sobre idéias explícitas e

implícitas do texto. Significa ser capaz de entender as entrelinhas, preencher os

vazios do texto, estabelecer relação entre texto-contexto e, ainda, ter consciência,

autonomia, visão crítica do mundo e, principalmente, ter condições e preparo para

atuar na sociedade como sujeito e não como objeto da própria história.

Uma atividade ligada à consciência crítica do mundo, bem como, ao meio do

qual o educando faz parte, é decisiva, é nobre, sendo assim, merece atenção e

espaço especial na escola.

Neste contexto, vale mencionar Maria Helena Zancan Frantz:

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A escola tem, portanto, um compromisso maior que é propiciar ao sujeito o desenvolvimento de sua capacidade de leitura do mundo. Assim, uma educação que se queira libertadora, humanizante e transformadora passa, necessariamente, pelo caminho da leitura. Da mesma forma, na organização de uma sociedade mais justa e democrática, que vise a ampliar as oportunidades de acesso ao saber, não se pode desconhecer a importante contribuição política da leitura. (FRANTZ, 2001, p.21).

Um indivíduo com visão de mundo restrita, não consegue ser bem sucedido

diante da vida, como também não consegue contribuir para a transformação da

realidade que o cerca. Uma educação que almeje à transformação e à autonomia

deve passar inevitavelmente pelo exercício da leitura, e, certamente a literatura é o

meio ideal para que a escola possa alcançar esta meta, pois, os textos literários

“adquirem no cenário educacional, uma função única, singular: aliam à informação o

prazer do jogo, envolvem razão e emoções numa atividade integrativa, conquistando

o leitor por inteiro e não apenas na sua esfera cognitiva” (BORDINI, 1985 apud

FRANTZ, 2001, p. 33). Sendo assim, como meio de desenvolver a proficiência e o

gosto pela leitura, trabalhou-se nesta Proposta, o gênero textual: conto (Contos de

Machado de Assis).

Conto é um texto narrativo curto, o qual apresenta uma só trama com poucos

personagens, sendo um só o personagem principal e é em torno deste personagem

que giram todos os acontecimentos. Possui os mesmos elementos do romance, mas

diferencia-se deste pela extensão e também por ter característica estrutural própria.

Todo conto precisa de conflito, início, meio e fim. É um gênero textual que

normalmente aparece em prosa, mas algumas vezes podem aparecer narrativas

breves em versos, construídas com a estrutura de um poema. O conto pode também

ser encontrado em forma de letra de música. É comum encontrarmos letras de

música, no repertório da música sertaneja, as quais apresentam narrativas, como os

contos. O conto contemporâneo apresenta diferentes formas no que se refere à:

diversidade temática, linguagem, perspectiva diante da realidade e estilo. Daí ser

possível falar em conto policial, conto regionalista, conto de ficção científica, conto

erótico, conto fantástico, conto moral, conto de costumes, conto psicológico, entre

outros. Dessa forma, pelo fato de o conto constituir-se numa narrativa breve,

possibilita-nos trabalhar de forma mais ampla esse gênero textual, contribuindo para

que o aluno, com a nossa intermediação, possa realizar uma leitura crítica e fazer

inferências, o que seria mais difícil de acontecer se por ventura o educando tivesse o

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dever de ler individualmente como atividade extraclasse romances extensos, os

quais normalmente têm maior complexidade.

Neste sentido, Ivanda Maria Martins Silva explica que:

A leitura de contos pode estimular o aluno-leitor a encontrar, na leitura literária, uma forma lúdica de entender melhor sua própria realidade. Ao ler narrativas curtas, que exijam uma resposta mais rápida e dinâmica do receptor, o aluno pode se sentir mais atraído pelo texto. (SILVA, 2005, p. 93).

Como encaminhamento metodológico deste trabalho com o gênero textual

conto, procurou-se atender às Diretrizes Curriculares da Educação Básica Língua

Portuguesa do Paraná (DCES), que sugerem o Método Recepcional das professoras

Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar, como metodologia para as

práticas pedagógicas com o texto literário em sala de aula.

Segundo as DCES:

Optou-se por esse encaminhamento devido ao papel que se atribui ao leitor, uma vez que este é visto como um sujeito ativo no processo de leitura, tendo voz em seu contexto. Além disso, esse método proporciona momentos de debates, reflexões sobre a obra lida, possibilitando ao aluno a ampliação de seus horizontes de expectativas. (DCE/SEED/Língua Portuguesa, 2008, p. 74).

Para contemplar os passos propostos pelo método escolhido, selecionaram-

se e sugeriram-se os contos para a leitura, a partir do horizonte de expectativas do

aluno, ou seja, apresentaram-se contos que pudessem corresponder, desencadear

ruptura, questionamento e, ainda, propiciar a ampliação do horizonte de expectativas

destes alunos.

Para lembrar, as estratégias de ação referentes à implementação do Projeto

de Intervenção Pedagógica na Escola, cujo resultado, foi um sucesso! Foram

desenvolvidas na 3ª série “A” do curso de Formação de docentes, do Colégio

Estadual Princesa Izabel, na cidade de Três Barras do Paraná – PR, durante o

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primeiro semestre de 2009.

Um pouco sobre leitura...

O ser humano insere-se no processo de leitura e no ato de aprender a ler

desde os primeiros contatos com o mundo, quando começa a compreender e a

atribuir sentido a tudo e a todos que estejam ao seu redor. Ninguém ensina. Este

aprendizado desenvolve-se espontâneo e naturalmente.

A idéia de leitura é normalmente restrita ao livro, ao jornal. Lêem-se palavras, e nada mais, diz o senso comum. As ciganas, contudo, dizem ler a mão humana, e os críticos afirmam ler um filme. O fato é que, quando se escapa dos limites do texto escrito, o homem não deixa necessariamente de ler. Lê o mapa astral, o teatro, a vida – forma a sua compreensão de realidade. (MARTINS, 1994, p.1)

Ler é um ato que suscita construção de sentidos e não apenas decifração de

sinais. Há que se ter um conceito maior, mais abrangente e amplo de leitura, o qual

a compreenda contemplando a perspectiva do multiletramento e não apenas

delimitando-a a linguagem escrita. Neste sentido, a perspectiva cognitivo-sociológica

aborda a leitura “como processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica

envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos,

tanto quanto culturais, econômicos e políticos” (MARTINS, 1994, p.31). Esta

compreensão do ato de ler estende-se também à leitura da linguagem não-verbal,

não a restringindo apenas à linguagem verbal.

Vista assim, a leitura é construção de sentidos, a qual acontece somente

quando o ser humano consegue decodificar sinais atribuindo-lhe sentido. Sendo

assim, essa prática passa a ser imprescindível para o indivíduo, fundamental em sua

existência, uma vez que lhe possibilita conhecer melhor a si mesmo, e também o

prepara para uma compreensão ampla da realidade tornando-o apto a interpretar,

questionar e transformar o meio em que se insere.

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As Diretrizes Curriculares da Educação Básica Língua Portuguesa do Estado

do Paraná (DCEs), abordam o ato de ler como estabelecedor de relações dialógicas,

de interação, de construção de sentidos, sendo, portanto, indispensável para

qualquer cidadão, uma vez que, oportuniza diversas possibilidades de perceber e

analisar o mundo bem como de identificar o outro.

Na ótica das DCEs:

Nestas Diretrizes, compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem. (DCE/SEED/ Língua Portuguesa, 2008, p. 56).

Por meio da leitura pode-se formar um cidadão reflexivo, crítico, ativo, com

consciência e autonomia, capaz de pensar e interferir no meio onde vive,

transformando a realidade que o cerca. A leitura instrumentaliza o ser humano para

vida resgatando-o do mundo da alienação. A leitura é uma prática imprescindível

para um contexto educacional diferenciado e eficiente. Por meio desta prática é

possível oferecer uma educação que atinge o desenvolvimento integral do aluno. A

leitura propicia uma dimensão do social, do homem e do mundo, contribui para a

construção de um conhecimento amplo, profundo, satisfatório, constituindo-se numa

ferramenta imprescindível para transformar a educação que está acontecendo na

educação que desejamos ver acontecer. Daí a necessidade de desenvolver, na

escola, projetos que contemplem esta prática da Língua Portuguesa (a leitura).

O prazer pela leitura é um fator imprescindível também para a socialização do

conhecimento, uma vez que este está disponível nas escolas, bibliotecas, Internet...

No entanto, o indivíduo de modo geral, não se sente motivado, não demonstra

interesse e tampouco busca espontaneamente este conhecimento por meio de uma

leitura prazerosa, porque, ler para ele, está inconscientemente ligado a uma

atividade obrigatória, imposta pela escola e relacionada àquele contexto. E, sendo

assim, não consegue ver a leitura como uma atividade ligada à vida.

Diante disso é possível afirmar que um dos papéis mais importantes da

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escola, hoje, é estimular a leitura, formando um leitor com proficiência, ou seja, um

leitor capaz de posicionar-se consciente e criticamente diante do texto lido, de

estabelecer relações dialógicas entre os diferentes textos. Um leitor com excelente

domínio de leitura, sendo, portanto, um sujeito capaz de interferir consciente, e

decisivamente nas práticas sociais contemporâneas da sociedade da qual ele faz

parte. Um leitor que compreenda a leitura como atividade vital não só dentro da sala

de aula, mas para além do espaço escolar.

Leitura da literatura

Falar em literatura significa falar em desvelamento de mundo e de ser

humano, pois seu universo é abrangente, amplo e profundo, na medida em que

apresenta a realidade através da ficção, o ato de ler possibilita ao indivíduo

identificar-se com experiências e circunstâncias vivenciadas por outras pessoas em

contextos e épocas diferentes, possibilitando-lhe perceber que muitas dessas

experiências são semelhantes e outras são diferentes de fatos que acontecem na

sua vida, em seu dia-a-dia. Daí ser possível afirmar que o texto literário como leitura

é o mais interessante, o mais significativo, o mais prazeroso para o indivíduo.

Pode-se, ainda, afirmar que quando se sonha com uma sociedade justa, com

um mundo melhor, com seres humanos conscientes, livres, criativos e participativos

então se faz imprescindível optar consciente e intencionalmente por um projeto

educacional que possa desenvolver autonomia e transformação, nesse contexto, o

papel da literatura é fundamental e insubstituível, uma vez que visa mostrar ao

indivíduo uma visão ampla e profunda da realidade com diversas possibilidades de

compreensão de mundo.

É relevante que o educando esteja em contato com os mais diversos

tipos de textos, à medida que cada um deles mostrar-lhe-á um lado novo, um olhar

diferente deste relacionamento texto-mundo, no entanto, é a leitura da literatura que

poderá constituir-se no meio mais propício para alcançar essa meta, uma vez que, o

texto literário prende o leitor por inteiro, envolvendo-o por meio da emoção e razão,

fantasia e intelecto, pois revela o mundo por meio de uma linguagem própria,

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peculiar da literatura, rica o necessário para oportunizar ao indivíduo possibilidades

para realizar a sua leitura.

Nesta perspectiva, Aguiar e Bordini mostram que:

A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena liberdade para o leitor, o que não ocorre em outros textos. Daí provém o próprio prazer da leitura, uma vez que ela mobiliza mais intensa e inteiramente a consciência do leitor, sem obrigá-lo a manter-se nas amarras do cotidiano. Paradoxalmente, por apresentar um mundo esquemático e pouco determinado, a obra literária acaba por fornecer ao leitor um universo muito mais carregado de informações, porque o leva a participar ativamente da construção dessas, com isso forçando-o a reexaminar a sua própria visão da realidade concreta. (AGUIAR e BORDINI, 1993, p.15).

Desse modo, a leitura do texto literário transforma-se em uma vivência ímpar,

em algo interessante, pois além de proporcionar prazer é significativo, tendo em

vista que, possibilita ao cidadão uma compreensão mais abrangente de seu mundo

oportunizando descobertas e possíveis soluções para suas dúvidas em relação ao

seu contexto social, ao semelhante e a ele próprio.

Quando a literatura vem ao encontro do ser humano e da vida, além de

proporcionar prazer, ela também possibilita ao leitor abrir e ampliar os horizontes por

meio da análise, interpretação, questionamento e compreensão do contexto real.

Aqui, vale mencionar Ivanda Maria Martins Silva a qual afirma que:

As relações entre leitura e literatura nem sempre são analisadas, reavaliadas e praticadas como deveriam no contexto escolar. A leitura - como atividade atrelada à consciência crítica do mundo, do contexto histórico-social em que o aluno está inserido - precisa ser mais praticada em sala de aula. (SILVA, 2005, p.16).

No atual contexto escolar, muitas vezes, fica difícil para o educando perceber

a leitura como uma prática cultural que é construída historicamente. Isso devido ao

processo de escolarização que a leitura e a literatura sofrem por meio de atividades

sugeridas, práticas escolares, que na verdade, precisam ser questionadas e

repensadas, uma vez que pouco contribuem para um aprendizado efetivo do ato de

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ler, mas ao contrário, constituem-se em exercícios que desestimulam o aluno e que

podem fazê-lo pensar que entender o texto literário é saber preencher a ficha de

leitura solicitada pelo professor com informações superficiais, as quais não

demonstram se houve ou não compreensão do texto lido. Encaminhamentos

metodológicos inadequados podem provocar aversão e resistência dos alunos à

leitura. E, sendo esta, um direito do ser humano e não um dever há que ser

estimulada, disponibilizada e jamais imposta, obrigada e/ou cobrada por meio de

exercícios que mutilam a beleza e o prazer do texto literário, suprimindo o encanto

que uma boa leitura pode proporcionar ao indivíduo.

No entanto, o que a escola e os professores têm como função é mobilizarem-

se no sentido de “desenvolver atividades capazes de ampliar a escolarização

adequada do ato de ler e da leitura literária, vinculando o ensino-aprendizagem às

necessidades que os alunos encontram fora da escola, nos usos sociais das práticas

de leitura”. (SILVA, 2005, p.18).

E estes (professor e escola), por sua vez, têm a intenção de formar leitores

com domínio linguístico necessário para que sejam cidadãos conscientes, críticos,

autônomos e preparados para atuarem satisfatoriamente dentro e fora do universo

da sala de aula, ou seja, cidadãos que tenham um excelente domínio de leitura e

que estejam, portanto, aptos a participarem intencional e efetivamente nas práticas

sociais de seu contexto.

Nesse sentido, Aguiar e Bordini afirmam que:

Quebrando-se o sentido de obrigatoriedade, a leitura perde o ranço de disciplina escolar, para se converter em ato espontâneo e estimulante, desencadeador de momentos aprazíveis. Se os textos devem agradar ao leitor, as atividades de exploração dos mesmos estão comprometidas com o fortalecimento desta reciprocidade e não com o seu esvaziamento. (AGUIAR e BORDINI, 1993, p.26).

Sendo assim, e procurando estimular o gosto e o interesse pela leitura, a

Proposta de Produção Didático Pedagógica – A Unidade didática “O conto como

incentivo à leitura”, apresenta uma série de sugestões de práticas pedagógicas

interessantes com a leitura de textos literários em sala de aula, (contos de Machado

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de Assis, disponíveis em http://www.dominiopublico.gov.br > acesso em: 16 mar.

2009. E, Após a implementação desse projeto, pode-se afirmar que todas as

atividades sugeridas são aplicáveis em sala de aula e com todas as possibilidades

de alcançarem um excelente resultado, haja vista o sucesso alcançado junto à 3ª

série “A” do curso de Formação de docentes, do Colégio Estadual Princesa Izabel,

na cidade de Três Barras do Paraná – PR, público objeto desta intervenção.

Para escolha do gênero a ser aplicado na implementação levou-se em conta

que em 2008, comemorou-se o centenário da morte de Machado de Assis e que

este foi sem dúvida, e ainda continua sendo, um dos mais excepcionais contistas da

Língua Portuguesa, uma vez que sua obra é considerada universal, pois, a análise

da alma humana feita por ele nestas, pode referir-se a qualquer época e povo. E,

ainda, para desconstruir a ideia de que ler um texto literário é difícil e complexo

(principalmente os de Machado de Assis!), é que se optou nessa proposta, pela

leitura de contos deste ícone da Literatura brasileira. É relevante lembrar que

Machado escreveu mais de 200 contos. Transitou do conto tradicional ao moderno.

Usou de diversidade temática em seus contos e que foi nos contos que Machado

encontrou condições de representar a arte e o artista na sociedade. Sua obra divide-

se em duas fases: a primeira, de amadurecimento ou romântica e a segunda, de

maturidade ou realista. Vale mencionar ainda, o impressionante caráter sugestivo da

obra machadiana, o qual, sem dúvidas, é um dos fatores que aguçam a curiosidade

e estimulam o interesse e o gosto pela leitura destas narrativas ficcionais.

As estratégias de ação referentes à implementação dessa Proposta de

Intervenção Pedagógica na Escola, foram dividias em oito ações diferentes, sendo

que, a ação 07 e a ação 08 são sugestões de atividades que complementam e

enriquecem esse trabalho.

Ação 01 - Conhecendo um pouco sobre: leitura..., texto literário..., conto...,

Machado de Assis...

Foi muito interessante ter iniciado este trabalho fazendo uma reflexão sobre

leitura, diferenciando texto literário de não-literário, sabendo em que consiste o

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gênero textual conto e conhecendo um pouco mais sobre Machado de Assis. Neste

primeiro momento, os alunos disseram por que o ato de ler nem sempre parece

significativo e interessante. Segundo eles, no mundo de hoje, existem coisas muito

mais interessantes e atrativas que um simples livro, discreto e quietinho lá na

estante! Que muitas vezes eles não se dão conta da importância que a leitura pode

ter em suas vidas e dessa forma, deixam de praticar esta atividade. E, para mudar

isso, é necessário que a escola conscientize os alunos sobre a importância da

leitura.

Com esta atividade o aluno foi estimulado a pensar e a expressar sua opinião,

a refletir sobre o que significa a leitura para ele. E, ainda, refletir sobre como está

realizando as suas leituras a fim de, conhecer-se melhor como leitor e adquirir

proficiência leitora.

Ação 02 - Só para curtir! Como meio de desenvolver o gosto pela leitura,

privilegiar num primeiro momento a leitura-fruição do texto literário (conto),

por meio da leitura do conto: “A parasita azul” de Machado de Assis.

As DCES sugerem que num primeiro momento, privilegie-se a leitura–fruição

do texto literário. A escolha deste conto foi relevante, pois, pelo fato de tratar-se de

uma história de amor (com final feliz), correspondeu ao horizonte de expectativas,

aos gostos dos alunos (adolescentes), houve interação com o texto, construção de

significados e interesse pela leitura. Vale lembrar aqui, que ativar os conhecimentos

prévios dos educandos por meio de questionamentos, bem como, fazer um

comentário do texto estimulando a curiosidade destes alunos pela história, foi

fundamental para desenvolver o interesse pela leitura deste conto. Tendo em vista

que o tema do texto correspondeu às expectativas, interesses e nível de leitura dos

alunos, houve compreensão, construção de sentidos e interação. Consequência...

Gosto pela leitura.

O texto ficcional tem a peculiaridade de transpor a realidade para o mundo do

imaginário, onde tudo se torna possível... Daí a ficção ser tão interessante! Tome-se

como exemplo os contos! Muitas vezes, o leitor se vê na “pele” da personagem.

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Outras vezes a identificação é tão grande com a personagem da história que ele

acaba tendo a impressão de estar vivenciando a trama. Ou ainda, o enredo

assemelha-se de tal forma aos fatos da vida deste leitor que este tem a possibilidade

de analisar de outra maneira algo que realmente lhe aconteceu.

Por isso, a ficção nos encanta e nos fascina. Possibilita-nos vivenciarmos

experiências sem o risco da aventura real. Propicia-nos também a oportunidade de

interpretar ou ver de outra forma eventos que aconteceram ou poderiam acontecer

em nossa vida, em nosso dia-a-dia, isso porque através da ficção a realidade é

transposta para o mundo da imaginação e, sendo assim, possibilita-nos vermos

nosso mundo e nossa vida refletidos nela.

Nesta perspectiva, Aguiar e Bordini afirmam que:

Quando o ato de ler se configura, preferencialmente, como atendimento aos interesses do leitor, desencadeia o processo de identificação do sujeito com os elementos da realidade representada, motivando o prazer da leitura. Por outro lado, quando a ruptura é incisiva, instaura-se o diálogo e o conseqüente questionamento das propostas inovadoras da obra lida, alargando-se o horizonte cultural do leitor. O dividendo final é novamente o prazer da leitura, agora como apropriação de um mundo inesperado (AGUIAR e BORDINI, 1993, p.26).

Neste sentido, e, dando sequência às atividades, fizemos a leitura do conto “A

desejada das gentes” de Machado de Assis. A leitura desta narrativa foi

interessante, pois, embora aborde uma história de amor, com o tão esperado

casamento entre os personagens principais, a felicidade plena pela qual o leitor

adolescente torce e espera... Não acontece! Há um fator que impede um final feliz.

Aqui, os alunos puderam constatar que nem sempre uma obra é aquilo que eles

imaginam, querem ou esperam! Suas convicções podem ser questionadas! Há uma

ruptura do horizonte de expectativas. Isso possibilita que este aluno amplie seus

conhecimentos, enriqueça seu universo, distanciando-se do senso comum no qual

estava inicialmente.

Segundo Aguiar e Bordini “O ato de ler, é, portanto, duplamente gratificante.

No contato com o conhecido, fornece a facilidade da acomodação, a possibilidade

de o sujeito encontrar-se no texto. Na experiência com o desconhecido, surge a

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descoberta de modos alternativos de ser e de viver”. (AGUIAR e BORDINI, 1993, p.

26).

Ação 03 - Qualificando a leitura destas narrativas ficcionais! Leitura do conto:

“A Carteira” de Machado de Assis; Refinar a leitura deste gênero textual,

percebendo seus principais elementos: narrador, personagens, enredo,

espaço e tempo; Desenvolver leitura compreensiva; Trazer o texto para o

contexto do aluno; Abordar aspectos discursivos e estrutura composicional

deste gênero textual: “conto”.

Por meio das atividades sugeridas a partir da leitura deste conto, propiciou-se

aos alunos qualificarem a leitura do gênero textual conto, oportunizando a estes

conhecerem os principais elementos destas narrativas. Este aprendizado possibilitou

aos alunos curtirem mais e melhor estas histórias ficcionais. É relevante lembrar que

antes da leitura deste conto, como meio de estimular o aluno à leitura e,

principalmente, para aproximar o vocabulário do texto (escrito em 1884) ao

vocabulário do jovem de hoje, desenvolvemos uma dinâmica com o vocabulário

desta narrativa. Esta dinâmica desencadeou curiosidade e estímulo pela leitura do

conto; leitura compreensiva e inferências de idéias explícitas e implícitas.

Um ponto alto das atividades sugeridas a partir da leitura do conto “A

Carteira” foi quando fizemos a contextualização, ou seja, trouxemos os fatos do texto

para o contexto do aluno. Os alunos perceberam (e ficaram encantados) pelo fato de

um texto que foi escrito há mais de um século atrás (1884) ser tão atual. Os eventos

que aconteceram na vida dos personagens são passíveis de acontecerem na vida

de qualquer ser humano em qualquer tempo e lugar! (Daí a obra de Machado de

Assis ser universal). Perceberam também o caráter sugestivo e psicológico da obra

realista de Machado (e a exemplo do romance “Dom Casmurro”, neste conto, “A

Carteira”, o adultério é também apenas sugerido e não confirmado). Aqui, os alunos

estabeleceram relações dialógicas entre os diferentes textos. Esta atividade

“Trazendo o texto para o contexto” ampliou o horizonte de expectativas dos alunos

em relação à obra lida, possibilitou a eles posicionarem-se criticamente diante do

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texto e despertou o interesse pela leitura dos outros contos. Estimulando, portanto,

o gosto pela leitura. Foi possível constatar, por meio do desenvolvimento desta

atividade, que o aluno sente gosto e prazer pela leitura quando esta possibilita a ele

interagir, construir significados, compreender, fazer inferências. E, principalmente,

perceber a importância da leitura da literatura na vida dele, uma vez que, esta

possibilita a ele refletir sobre coisas que podem acontecer com qualquer um, em

qualquer momento e lugar.

A partir da leitura deste conto oportunizou-se também aos alunos, abordarem

os aspectos discursivos e estrutura composicional do gênero textual “conto”. Isso foi

relevante, uma vez que, qualquer gênero textual apresenta sempre uma estrutura

textual a qual precisa ser conhecida e identificada pelo leitor para que ele possa

realizar uma leitura compreensiva.

Ação 04 – Usando imaginação e criatividade! Leitura do conto: “Pai contra

mãe” de Machado de Assis. Produzir um final diferente para o conto lido;

Apresentar para a classe a produção; Utilizando somente o grafite, desenhar a

personagem ou cena que mais gostou no texto lido. Relacionar o tema do

texto com o contexto histórico e contemporâneo do Brasil.

Para desenvolver as atividades sugeridas a partir da leitura do conto “Pai

contra mãe”, de Machado de Assis, primeiramente os alunos realizaram uma leitura

compreensiva do texto. É relevante lembrar que, acionar os conhecimentos prévios

dos educandos por meio de questionamentos, esclarecer o significado de palavras

difíceis, bem como, fazer um comentário dos eventos do texto, foi fundamental para

aguçar a curiosidade pela leitura deste conto, bem como, para desencadear leitura

compreensiva.

A partir desta leitura compreensiva, solicitou-se aos alunos que produzissem

um final diferente para o conto lido. Os diferentes desfechos produzidos

surpreenderam pela criatividade, inteligência e imaginação, os quais foram

posteriormente socializados na classe.

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A seguir sugeriu-se aos alunos que utilizando somente o grafite,

desenhassem a personagem, ou a cena que mais chamou a atenção de cada um

deles neste conto, e, que em seguida escrevessem um parágrafo dizendo por que

esta personagem ou esta cena lhes chamou a atenção. Esta atividade mobilizou a

sensibilidade dos alunos desencadeando ainda mais interação com o texto e,

consequentemente a ampliação dos horizontes de expectativas dos alunos em

relação à obra lida.

O conto Pai contra mãe dialoga com um triste fato da história do Brasil: a

escravidão.

Sabe-se que a escravidão foi um regime de opressão, de servidão e de

obediência forçada, no qual seres humanos viviam em cativeiro e sem liberdade

para pensar ou agir. Obrigados a viverem numa circunstância de dependência, eram

explorados e escravizados em sua força de trabalho. Eram submetidos a situações

humilhantes e condições sub-humanas de vida.

Sendo assim, ainda como atividade desenvolvida a partir da leitura deste

conto, sugeriu-se aos alunos que pensassem no contexto contemporâneo brasileiro

e que procurassem perceber se ainda há escravidão nos dias de hoje ou se é

possível afirmar que no Brasil, atualmente, nenhum ser humano é submetido a

circunstâncias de escravidão. E, a seguir que comentassem.

Por meio desta atividade propiciou-se ao aluno pensar, refletir, debater, fazer

inferências, estabelecer relações dialógicas entre o texto e o contexto histórico e

contemporâneo do Brasil, possibilitando a ele ampliar o seu horizonte de

expectativas em relação à obra lida. Oportunizou-se a este aluno uma compreensão

ampla e profunda do texto, dando a ele condições de se posicionar consciente e

criticamente diante do mesmo, possibilitando-lhe argumentar e emitir opiniões a

respeito do que leu.

Daí a leitura da literatura ser tão importante! Possibilita reflexão, permite que

ampliemos o nosso conhecimento de mundo, do ser humano, histórico e cultural!

Isso tudo por que a literatura é uma expressão do homem, do ser humano e da vida!

E, além disso, retrata épocas, costumes, visão de mundo... A análise da alma

humana feita nas obras de Machado de Assis é fascinante! E, neste conto “Pai

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contra mãe” não poderia ser diferente! Sendo assim, ficou fácil para o aluno,

identificar e reconhecer comportamentos e atitudes de seres humanos nas

“humanidades” dos personagens criados por este gênio da literatura brasileira.

Enfim, pode-se afirmar que toda prática pedagógica diferenciada com a literatura,

em sala de aula, faz a diferença e traz sabor (de vida) ao saber! E, ainda... Que

nossos alunos, quando estimulados, surpreendem! “Esbanjam” criatividade,

inteligência e prazer em participar ativamente de cada uma das atividades

sugeridas!

Ação 05 – Leitura em ação! Cada aluno escolherá um dos contos que estão

disponíveis em http://www.dominiopublico.gov.br e fará a leitura.

Neste momento, a maioria dos alunos leu vários contos! Buscaram ler textos

que correspondessem aos seus interesses e nível de leitura. Buscando textos (que

pelo título) demonstravam ser próximos ao conhecimento de mundo deles, ou seja,

de suas expectativas de leitura, textos estes, que correspondessem aos seus

horizontes de expectativas. Num texto literário, o leitor tem a possibilidade de ver

refletido aquilo que ele é, ou ainda... Aquilo que ele sonha ser! O aluno quando lê

enriquece seu universo! Vale mencionar que, a diversidade de leituras e os

comentários que os alunos faziam entre si das histórias que estavam lendo,

estimulou a curiosidade, o gosto e o interesse pela leitura dos outros contos

disponíveis no site, desencadeando, portanto, a prática do ato de ler!

Ação 06 – Contação de histórias! Após a leitura do conto escolhido, contar

para a classe a história lida!

Esta foi uma atividade muito interessante... Os alunos demonstraram

interesse em ouvir as histórias que os colegas estavam contando. Riam de algumas

situações das narrativas, emocionavam-se com outras, defendiam alguns

personagens... Criticavam outros! Também pensaram e refletiram sobre os eventos

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ocorridos nos contos lidos. Durante a socialização das leituras realizadas efetivou-se

a interação texto/leitor. Esta atividade com a leitura permitiu ao aluno preencher os

vazios do texto. Possibilitou a ele sentir-se co-produtor e, ainda, conhecer a leitura

que os colegas fizeram do texto e que ele ainda não havia percebido. Participando

ativamente, os alunos atribuíram significados ao texto e trouxeram vida à leitura!

Com isso, evidenciou-se que contação de histórias é sem dúvidas, um excelente

meio para desenvolver o gosto e o interesse pela leitura!

Como complemento às estratégias de ação desta Proposta de Intervenção

Pedagógica na Escola e para enriquecer ainda mais este trabalho, sugeriu-se e

efetivou-se logo após a implementação da mesma o desenvolvimento destas

atividades complementares:

Ação 07 – Atividade interessante! Propiciar aos alunos contato com narrativas

presentes em outro gênero textual: a música; Solicitar aos alunos que

pesquisem letras de músicas que sejam construídas como contos e socializem

na classe esta experiência!

Foi relevante complementar esta proposta colocando os alunos em contato

com narrativas presentes em outro gênero textual: a música! Os alunos ficaram

surpresos com a variedade de “Histórias” que eles encontraram em forma de letras

de músicas. E, gostaram, ficaram impressionados com a criatividade, imaginação e

temas presentes nestas narrativas ficcionais! Estas letras, construídas como contos,

além de fazerem uma abordagem dos elementos que a cultura rural considera

relevantes, trazem os “causos” que em algumas vezes são alegres, outras tristes e,

ainda, por vezes, com alguma lição de moral! Sendo assim, esta atividade divertiu,

emocionou e propôs reflexões! Por isso, complementou e enriqueceu este trabalho!

Ação 08 – Produção escrita... É com você! Sugerir aos alunos que produzam

um conto a partir de um fato significativo e interessante vivido por eles!

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Também foi relevante para complementação destas atividades, sugerir aos

alunos uma produção escrita! Os alunos planejaram a produção textual a partir da

delimitação do tema “Transpor um fato real para a ficção, ou seja, transformar em

conto um fato significativo e interessante vivido por eles” As produções textuais

foram coerentes e coesas, houve continuidade temática, a linguagem utilizada

estava adequada, os alunos expressaram-se com clareza, utilizando

adequadamente os recursos linguísticos. Os textos atenderam às situações de

produção propostas! Alguns alunos se empolgaram e seus contos ficaram extensos.

Entre os eventos abordados nos contos produzidos pelos alunos, vale mencionar: a

descoberta de que Papai Noel não existia; a paixão por um professor (12 páginas

este conto); uma excursão; uma balada muito interessante; um acidente; a

descoberta de que seu namorado (e grande amor) era homossexual; apaixonar-se

por um amigo; uma traição; entre outros... Todos muito interessantes e envolvendo

muita emoção!

Durante o desenvolvimento das atividades desta proposta, os alunos

afirmaram (por várias vezes) que estudar, por meio, de projetos é muito melhor! Que

eles se envolvem mais... Aprendem mais... E, que as aulas ficam muito mais

interessantes! Neste sentido, pode-se afirmar que encaminhamentos metodológicos

e práticas pedagógicas adequadas com a leitura do texto literário em sala de aula,

são fatores basilares e imprescindíveis para desenvolver o gosto pela leitura e

desencadear o ato de ler!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A leitura resgata o ser humano do mundo da alienação instrumentalizando-o

para a vida. Sua aprendizagem deve relacionar-se à formação integral do educando.

A leitura é uma prática insubstituível para uma educação que se queira diferenciada,

eficiente e transformadora. É uma condição imprescindível quando se pretende

formar um cidadão preparado para exercer com consciência e liberdade a cidadania.

Ler não se pode compreender apenas como decodificar sinais, mas

compreender desvelar sentidos; interagir; construir significados; aprimorar a

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capacidade de reflexão; fazer inferências sobre ideias explícitas e implícitas do texto;

ter visão ampla, profunda, e crítica de textos verbais e não-verbais; ter opinião

consciente diante de temas polêmicos. Ler significa ser capaz de entender as

entrelinhas, preencher os vazios do texto, posicionar-se argumentativamente,

resolver situações problemas, estabelecer relação dialógica entre o texto e o

contexto e, ainda, ter consciência, autonomia e visão crítica do mundo.

Visando desenvolver o gosto pela leitura e contribuir para a formação de um

leitor proficiente, esta Produção Didático Pedagógica sugeriu uma série de práticas

pedagógicas com a leitura em sala de aula. Atividades estas que permitem a

expansão do conhecimento, a criatividade, a imaginação, estimulam a função

interativa, motivam, aprimoram o pensamento crítico dos educandos, bem como,

permitem a eles fazerem inferências e estabelecerem relações dialógicas entre os

diferentes textos. Atividades que fazem com que os educandos ampliem o seu

horizonte de expectativas em relação à obra lida e atribuam sentido ao saber.

Durante a implementação da Proposta de Intervenção, Num primeiro

momento, privilegiou-se a leitura-fruição do texto literário, como meio de desenvolver

a eficiência leitora e o gosto pelo ato de ler. A seguir estimulou-se a capacidade

crítica, realizou-se leitura compreensiva do texto, considerando a construção de

significados e sua condição de produção, conheceram-se os elementos do gênero

textual conto, os aspectos discursivos, bem como, estrutura composicional. As

atividades propostas e desenvolvidas permitiram aos educandos fazerem

inferências, refletirem sobre o texto lido, debaterem e estabelecerem relações

dialógicas entre o texto e o contexto histórico e contemporâneo do Brasil.

Com o desenvolvimento das atividades sugeridas por esta proposta de

intervenção, é possível dizer que estes alunos passaram a ver a leitura como uma

atividade prazerosa e significativa, capaz de fazer a diferença na vida deles. Dessa

forma, foi possível observar a formação de um leitor com proficiência, o qual

compreende esta prática como algo interessante, relacionado à vida e, portanto,

imprescindível para ele, dentro e fora do universo escolar.

Nesta perspectiva, pode-se afirmar que as atividades desenvolvidas por meio

desta produção didático pedagógica possibilitaram aos alunos curtirem mais e

melhor estas narrativas ficcionais (contos). E, a partir daí, estes alunos estão

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instrumentalizados para realizarem uma leitura mais qualificada, deste gênero

textual podendo exercitar este aprendizado, lendo outros contos de outros autores

relacionados aos possíveis gostos deles!

Sendo assim e, diante dos excelentes resultados obtidos por meio desta

implementação, é possível dizer que a unidade didática “O conto como incentivo à

leitura” apresenta encaminhamentos metodológicos adequados com a leitura de

textos literários, ou seja, estratégias interessantes com a leitura de contos de

Machado de Assis, as quais podem ser aplicadas em sala de aula, na tentativa de

despertar o gosto pela leitura e contribuir para a formação de um leitor com

proficiência. Dessa forma, recomenda-se a utilização deste material, como sugestão

de práticas pedagógicas com a leitura no Ensino Médio e no curso de Formação de

docentes.

É relevante concluir dizendo que se faz urgente optar por um conceito

democrático de leitura, o qual aborde esta prática como direito do ser humano, e

como tal, há que ser proporcionado, estimulado para que o aluno possa desfrutá-lo e

exercê-lo com consciência e liberdade, percebendo o ato de ler como algo

significativo, interessante, decisivo, prazeroso, o qual pode fazer a grande diferença

em sua vida e, que por meio de atividades inovadoras e estimulantes (pautadas em

teorias e metodologias adequadas), este educando possa realizar leitura

compreensiva, fazer inferências, interagir com o texto construindo significados e

compreendendo a leitura como atividade vital para ele não só dentro da sala de aula,

mas para além do espaço escolar. Neste contexto torna-se possível vislumbrar a

formação de um leitor com proficiência, ou seja, um leitor capaz de posicionar-se

consciente e criticamente diante do texto lido, de estabelecer relações dialógicas

entre os diferentes textos. Um leitor com excelente domínio de leitura, sendo,

portanto, um sujeito capaz de interferir consciente é decisivamente nas práticas

sociais e contemporâneas da sociedade da qual ele faz parte.

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REFERÊNCIAS

AGUIAR, Vera Teixeira de. BORDINI, Maria da Glória. Literatura: a formação do leitor: 2.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.

Bordini, Maria da Glória. Literatura na escola de 1º e 2º graus: por um ensino não alienante. In: Perspectiva, revista do CED. Florianópolis: UFSC, 1985 apud Frantz, 2001.

FRANTZ, Maria Helena Zancan Frantz. O Ensino da Literatura nas séries iniciais. Ijuí. Ed. Unijuí, 2001.

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.

PARANÁ. DCE – Diretrizes Curriculares da Educação Básica Língua Portuguesa, Curitiba: SEED, 2008.

SILVA, Ivanda Maria Martins. Literatura em sala de aula: da teoria à prática escolar. Recife: Programa de Pós-Graduação da UFPE, 2005.

http://www.dominiopublico.gov.br > acesso em: 16 mar. 2009.