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2. Fundamentação Teórica 2.1 Contato e bilingüismo / multilingüísmo: uma relação de causa e efeito.
A cada nação uma língua. Eis um ideal político-lingüístico cada dia mais
utópico. Raramente uma nação ou uma comunidade lingüística poderá ser
considerada inteiramente monolíngüe. A quantidade de línguas existentes no
mundo face ao pequeno número de estados nacionais resulta inconteste no uso,
por parte da maioria dos indivíduos, de duas ou mais línguas nas suas relações
interpessoais.
Estima-se que haja hoje cerca de 6.000 línguas distribuídas em 160 estados
nacionais. Uma tal multiplicidade de sistemas lingüísticos faz com que as línguas
estejam constantemente em contato e “o lugar desses contatos pode ser o
indivíduo (bilíngüe ou em situação de aquisição) ou a comunidade”.
(Calvet,1993:3)
Uma vez que raramente uma língua se encontra isolada no espaço, toda
comunidade lingüística estabelece, cedo ou tarde, relações mais ou menos
estreitas com outros grupos, com outros falares. Tais relações intergrupais
concretizadas pelo viés da língua freqüentemente são complexas e variam no
espaço geográfico, social e através do tempo.
O contato lingüístico é o termo freqüentemente empregado para designar
estas relações interlingüísticas. Weinreich (1970) concebia o contato apenas pela
perspectiva do falante bilíngüe. Para ele o contato pressupunha indiscutivelmente
o bilingüismo enquanto fenômeno individual, uma vez que é no falante que se
processam as influências de uma língua sobre a outra. Todavia, saindo desta
abordagem sobretudo lingüística podemos certamente afirmar que o contato pode
levar a uma grande variedade de resultados, tanto do ponto de vista lingüístico e
do indivíduo quanto do ponto de vista sociolingüístico e da sociedade.
Ao tomarmos por referência uma só comunidade em que dois grupos se
dividem no uso de línguas distintas, ou ainda, dois grupos interétnicos distintos
que guardam suas respectivas línguas e identidades lingüísticas, dividindo espaços
locais, regionais ou nacionais contíguos como é o caso das fronteiras, ou ainda um
20
mesmo espaço como ocorrem em cidades com diferentes etnias lingüísticas, o
bilingüismo ou multilingüísmo, tanto em nível do indivíduo, quanto da sociedade,
pode ser concebido como um dos primeiros resultados do contato interlingüístico.
O contato entre os povos é uma realidade social e histórica que
caprichosamente e por motivos diversos, colocou frente a frente indivíduos
falantes de línguas diferentes. O intercâmbio sem precedentes entre os povos que
se configura nos dias atuais, impulsionado pelos elementos da vida moderna como
a mídia e a internet, o comércio internacional e o turismo, faz com que o cidadão
de hoje deva ser, por definição, multilíngüe.
A temática do contato tem sido abordada, segundo Couto (2000) a partir
de duas perspectivas, uma sincrônica voltada para as atitudes lingüísticas,
estratégias de comunicação e interferências múltiplas, no âmbito da qual se insere
o estudo da alternância de código, da mistura de línguas, da diglossia, dos
empréstimos e das interferências de toda ordem, e uma diacrônica que considera o
contato em função de seus resultados, dentre os quais podemos incluir desde o uso
de duas ou mais línguas em uma mesma comunidade lingüística até o nascimento
de novos dialetos como é o caso das línguas mistas, pidgins e crioulos
2.2 Bilingüismo & multilingüísmo
Falar de línguas em contato implica falar em bilingüismo ou
multilingüísmo, fenômenos complexos que resultam da coexistência das línguas.
Alguns pesquisadores fazem distinção entre bilingüismo e multilingüísmo,
restringindo o bilingüismo ao uso de duas línguas e o multilingüísmo referindo à
utilização de mais de duas línguas. Compreendendo que o uso de duas ou mais
línguas vai estar condicionado às mesmas condições de uso e pressões sociais
semelhantes, usaremos neste trabalho os dois termos indistintamente, embora em
alguns momentos seja necessário fazer uma diferenciação.
Um outro par conceitual é aquele estabelecido por Hamers & Blanc (1989)
dentro de uma perspectiva social. Eles propõem o termo bilingualidade para
referir-se ao fenômeno individual e bilingüismo para o societal. De acordo com
Savedra (1994) e Heye (1999) a bilingualidade corresponde aos diferentes e
distintos estágios do bilingüismo de um indivíduo, ela retrata a bicompetência
21
comunicativa, cultural e lingüística do indivíduo bilíngüe em um dado momento
de sua trajetória social e lingüística.
O bilingüismo é um fenômeno de dimensões múltiplas cujo grau de
variação depende do lugar onde se encontram os bilíngües, da origem do
bilingüismo, da proeminência das línguas e das funções que exercem as línguas no
meio social.
Ao longo dos anos, muitos pesquisadores têm discutido a definição de
bilingüismo/multilingüísmo, porém mesmo em face de uma gama irrestrita de
definições, esse fenômeno está ainda longe de ser consensual. Fthenakis e al.
(1985 apud Heye 2003) apontam que há duas tendências na conceitualização de
bilingüismo. Uma de natureza lingüística que interpreta o bilingüismo enquanto
competência e uma outra de natureza psicolingüística que o considera a partir das
funções que ocupa, dando ênfase ao grau de domínio em ambas as línguas.
As definições da primeira tendência, a lingüística, se estendem em um
contínuo que vai das mais restritivas, como é a definição empregada por
Bloomfield (1933) que concebe o bilingüismo como “o controle nativo de duas
línguas”, até as mais minimalistas como é a de Macnamara (1969), que propõe
que bilingüismo equivale à “mínima competência em uma das quatro habilidades:
ouvir, falar, ler,escrever”.
Na segunda tendência, os conceitos estão baseados em perguntas do tipo
“como e com que objetivo a língua é utilizada”? entre os quais destaca-se o estudo
de Mackey (1968) que considera o bilingüismo como um fenômeno individual e
baseia sua análise num complexo de características inter-relacionadas (grau,
função, alternância e interferência)
Mackey (idem) define o bilingüismo como “a alternância de duas ou mais
línguas pelo mesmo indivíduo”1. Para ele o conhecimento de uma outra língua
implica primeiramente na noção de grau no domínio do código, tanto no plano
fonológico quanto no plano gráfico, gramatical, lexical, semântico e estilístico.
Além do que, o grau de competência do indivíduo bilíngüe depende das funções,
ou seja, do uso que ele faz da língua e das condições nas quais ele as emprega (lar,
escola, trabalho, lazer, etc.). Enfim, para Mackey é importante considerar a
facilidade com que um indivíduo bilíngüe passa de uma língua para outra, o que
1 L’alternance de deux langues ou plus chez le même individu. Tradução nossa.
22
ele nomeia de alternância, em função do assunto de que se fala, da pessoa a quem
se dirige e da pressão social a que está sujeito. Todos estes fatores determinariam
a capacidade do indivíduo de manter dois códigos separados sem os misturar.
Grosjean (1982) define bilingüismo em função do papel da dupla
competência na comunicação diária. Para ele “é bilíngüe a pessoa que faz uso
regularmente de duas línguas na vida cotidiana e não aquele que possui
competência semelhante (e perfeita) nas duas línguas”2. Assim concebido, o
bilingüismo é uma competência comum, na medida em que ele caracteriza um
número importante de falantes, ocorre em situações comuns da vida diária e não
se confunde com a adição de mais uma língua com igual domínio e estruturação
da primeira.
Uma vez que o bilingüismo/multilingüísmo não descreve competências
fixas, estanques, acreditamos que é necessário recorrer a definições mais flexíveis
e menos minimalistas. Os indivíduos desenvolvem competências e códigos
lingüísticos diversos por desejo ou por necessidade, para dar respostas às
necessidades comuns de comunicação com outros indivíduos que não
compartilham dos mesmos sistemas lingüísticos. Do mesmo modo é preciso
considerar que o bilingüismo se constrói ao longo da história dos indivíduos, e
reflete obviamente as trajetórias sociais de cada um.
Na verdade, poucos são os indivíduos que ao longo de toda uma vida
jamais utilizaram um outro código lingüístico. Porém, domínio igual de duas ou
mais línguas é um caso particular e bastante raro, que não é facilmente encontrado
nem mesmo nos profissionais de tradução e interpretação, ou ainda nas pessoas
que tiveram o prazer de consagrar uma grande parte de seu tempo ao estudo de
várias línguas.
Consideramos bilingüismo como a capacidade de uma pessoa, de uma
comunidade ou parte dela, de utilizar dois ou mais códigos em diversos domínios
ou atividades de sua vida cotidiana: família, escola, trabalho, lazer, leitura de
documentos, transações comerciais, correspondência formal ou privada,
transmissão de informações, conversa informal etc. O conhecimento lingüístico
em cada uma das línguas é adaptado às exigências práticas inerentes aos domínios
2 Est bilingue la personne qui se sert régulièrement de deux langues, dans la vie de tous les jours, et non qui possède une matière semblable (et parfaite) dans les deux langues. Tradução nossa.
23
ou atividades envolvidas e não necessariamente coincidentes com os
conhecimentos equivalentes de um falante nativo ideal.
Quanto à tentativa de classificação, a maioria dos autores leva em
consideração as dimensões lingüísticas e as condições de aquisição da situação de
bilíngüe (Savedra & Heye, 1995)
Weinreich foi o primeiro a tentar uma classificação do bilingüismo. De um
ponto de vista lingüístico, ele distingue três formas de bilingüismo, que se
tornariam posteriormente a base de outras classificações: o bilingüismo composto,
o coordenado e o subordinado.
No bilingüismo coordenado os sinais lingüísticos de ambas as línguas são
mantidos separados, de modo que ocorre o domínio de dois sistemas lingüísticos.
No bilingüismo composto, as estruturas sonoras das línguas são mantidas
separadamente mas não os significados, e no subordinado, a segunda língua é
estruturada com base na primeira.
Erwin & Osgood (1954) fazem distinção apenas entre os tipos composto e
coordenado, considerando o terceiro sugerido por Weinreich apenas como um
caso misto que se incorpora ao coordenado. Para eles é o modo como as línguas
foram adquiridas que é determinante. O bilíngüe coordenado seria aquele cujas
línguas foram adquiridas em meios diferentes, por exemplo, primeiro na família e
depois em um outro país no meio social, todos os outros levariam a casos de
bilingüismo composto.
A distinção entre estes dois tipos de bilingüismo foi reinterpretada diversas
vezes. Alguns autores diferenciam o bilingüismo composto do coordenado
relacionando contexto de aquisição e idade.
Skutnabb-Kangas&Toukomaa (1976) consideram que no bilingüismo
composto a aquisição da segunda Língua (L2) se dá na infância, sem instrução
formal, ambas as línguas são adquiridas simultaneamente. No bilingüismo
coordenado a L2 é adquirida por meio da instrução formal.
Genesse (1977) estabelece outra diferenciação dos tipos de bilingüismo: o
bilingüismo precoce que ocorreria na infância, possuindo características do
bilingüismo composto, e o bilingüismo tardio, que ocorreria em épocas distintas,
alinhando-se ao tipo coordenado.
Outros autores fazem uma distinção baseada no contexto de aquisição:
natural ou formal. Carroll, (1970) por exemplo, distingue entre o bilingüismo
24
composto e o bilingüismo paralelo. No primeiro caso a aquisição de outra língua
“ocorre em uma dada situação de aprendizagem em que prevalece o sistema de
significado da língua materna”. No segundo, a criança adquire ambas as línguas
em situações distintas de aprendizagem, e o sistema de uma língua permanece
paralelo e independente de outra. Weiss (1959) apud Savedra & Heye (1985)
introduz o conceito de bilingüismo natural no contexto de aquisição da língua. Por
bilingüismo natural ele entende o imediato uso ativo e passivo de duas línguas,
sem necessidade de tradução. A L2 é adquirida automaticamente e
acumulativamente com a L1 por meio natural. Em oposição ele coloca o
bilingüismo cultural que é a língua adquirida em situação formal de
aprendizagem.
Heye (1999) propõe uma tipologia de bilingüismo que considera a situação
da aquisição das línguas, ou seja, o tipo de bilingüismo varia com relação à idade
do falante e ao contexto em que a aquisição/aprendizado ocorreu. Para ele o termo
aquisição refere-se à internalização das regras gramaticais de forma natural e o
termo aprendizado à internalização das regras por meio de instrução formal. O
termo primeira língua (L1) refere-se à língua adquirida primeiro e segunda língua
(L2) ou Língua estrangeira (LE) à língua adquirida após a L1 por aprendizado
formal ou informal. Temos assim três tipos de bilingüismo:
(1) Bilingüismo do tipo Lab
Resulta da aquisição de duas L1’s (La & Lb) simultaneamente. Estas
línguas podem ser a (s) língua (s) usada(s) na família ou na comunidade.
(2) Bilingüismo do tipo : La + Lb
Este tipo ocorre quando a segunda língua (Lb) é adquirida após a primeira
(La/L1) e antes que esta tenha sido maturacionada. Ambas as línguas são
consideradas como L1’s e podem ser igualmente a(s) língua(s) usada(s) na
família e /ou na comunidade.
(3) Bilingüismo do tipo LA + Lb ou L1 + L2/ LE
Ocorre quando uma língua (Lb/L2/LE) é aprendida após a primeira
(L1/LA) ter sido maturacionada, geralmente após a adolescência. A
segunda língua Lb (LE/L2) é subordinada, estruturada, pela primeira
L1/LA que é dominante no momento da aquisição.
25
2.3 Do indivíduo à comunidade bilíngüe
O bilingüismo cobre definições múltiplas, dimensões variadas e pode
descrever ao mesmo tempo tanto o indivíduo, enquanto falante de mais de uma
língua, quanto à sociedade e as instituições que o cercam em um determinado
espaço geográfico.
O contato lingüístico pode ser analisado sob diferentes perspectivas.
Weinreich (1970), que considerava o contato apenas pela via do indivíduo
bilíngüe, adota uma perspectiva psicológica do contato. A perspectiva
sociolingüística nos permite analisar não somente a relação entre os indivíduos e
suas línguas, mas também as relações entre os grupos e colocar em evidência a
questão da política e planificação lingüística dentro da sociedade. É dentro dessa
perspectiva, considerando as línguas e seus falantes em seu meio social, que o
contato interlingüístico, neste trabalho, tem como ponto de partida a comunidade,
as línguas co-presentes, os povos que as utilizam, bem como as causas e
conseqüências das diversas relações etnolingüísticas forjadas entre eles.
Para alguns autores não é possível fazer uma nítida separação entre o
bilingüismo individual e o societal, sobretudo no que se relaciona a alguns
aspectos do comportamento bilíngüe. Outros, em contrapartida, como já citamos,
utilizam o termo bilingüismo apenas para tratar do fenômeno em nível do
indivíduo, enquanto utilizam multilingüísmo para falar do grupo social.
Considerando que nenhum indivíduo utiliza uma língua sozinho, só para
si, e ainda, que em geral se aprende uma segunda língua por razões sociais ou
econômicas, torna-se difícil conceber que as diferentes dimensões do
multilingüísmo (a individual e a social) possam ser inteiramente avaliadas sem
que sejam, em algum momento, relacionadas.
2.3.1 O Indivíduo bilíngüe:
Duas ou mais línguas em presença em um mesmo território ou em
territórios contíguos levam inevitavelmente os indivíduos co-presentes a alcançar
algum grau de bilingüismo. Esse bilingüismo pode ou não abranger toda a
comunidade lingüística. Os indivíduos só se tornam bilíngües quando têm razões
26
para sê-lo, uma vez que toda língua precisa ocupar uma função social na vida do
falante sob pena de desaparecer, o bilíngüe em geral faz uso de suas línguas em
situações e funções diversas.
Raramente o indivíduo bilíngüe possui o mesmo grau de conhecimento e
competência em ambas as línguas, ele pode, por exemplo, compreender
igualmente ambas, mas só ser capaz de expressar-se ou de escrever em apenas
uma delas; por outro lado, a extensão do vocabulário pode ser maior em uma
língua do que em outra, ou mesmo só em certos domínios específicos como o do
trabalho, ou do lazer, ou da família.
Na relação língua [+ dominante] ou [– dominante], nada assegura que a
primeira língua será sempre a de maior domínio do falante. Muitas pessoas que se
afastam do país de origem e deixam de usar a língua “materna” acabam por perder
completamente o domínio daquela língua ou ainda, conseguem mantê-la, mas com
um grau de domínio bem menor do que a língua que foi aprendida posteriormente.
Romaine (1989) sugere que o bilingüismo é encorajado e mantido quando
funções diferentes de linguagem são destinadas a línguas diferentes. Os falantes
bilíngües demonstram ter distribuição complementar da proficiência lingüística
com relação a tópico por exemplo. Assim, bilíngües podem se expressar melhor
sobre assuntos domésticos em LA quando essa é a língua da família e expressar-se
melhor em assuntos comerciais na segunda língua (Lb) se esta for a língua da
comunidade ou do trabalho.
Mackey (1976) argumenta que o nível de competência do bilíngüe em
cada uma de suas línguas depende da função que esta ocupa, ou seja, do uso que
ele faz da língua e das condições em que as utiliza, funções estas que podem ser
externas ou internas.
As funções externas estão relacionadas com o número de zonas de contato,
e com as variações de cada uma delas com relação à duração, à freqüência e à
pressão. Nestas zonas de contato que correspondem grosso modo aos domínios de
uso estão incluídos todos os contextos que permitem a aquisição, o uso e a
manutenção das línguas, ou seja, a família, a comunidade, a escola , o trabalho e
os meios de comunicação de massa. Nestes domínios, conforme a dominância da
língua, podemos estar completamente à vontade em um determinado tema e
sermos completamente incapazes de abordar um outro tema de domínio diferente
na mesma língua.
27
A família é a primeira das zonas de contato a ser considerada. O indivíduo
bilíngüe pode tanto ser produto de uma família monolíngüe, que promove o uso
de uma língua no lar diferente daquela utilizada pela comunidade, propiciando
assim o bilingüismo, como ser fruto de uma família bilíngüe, em que pai e mãe
usam línguas diferentes, sendo que uma destas pode ser a língua da comunidade e
a outra não. A família pode então se tornar um domínio restrito de uso da língua,
com uma língua sendo utilizada somente no ambiente familiar e a outra somente
na escola ou na comunidade.
Outra área de contato de grande importância na formação e manutenção do
indivíduo bilíngüe é aquele do ambiente social, do grupo, e compreende as línguas
faladas com os vizinhos, com o grupo étnico ou religioso, no trabalho ou no lazer.
Em muitos casos a vizinhança supera a família e determina a influência mais
importante na constituição do falar bilíngüe. Em outros, é a proximidade com o
grupo étnico ou religioso que vai propiciar a aquisição e manutenção da segunda
língua do indivíduo.
O trabalho por sua vez pode levar o falante a entrar em contato com grupos
ou comunidades de línguas diferentes daquela utilizada por ele em casa ou na
comunidade. Migrantes de um país para outro comumente se tornam bilíngües em
função da língua que estes se vêem compelidos a fazer uso no exercício
profissional. Do mesmo modo que as demais áreas de contato, o trabalho pode ser
um domínio restrito de uso ou não da primeira ou da segunda língua.
O lazer também ocupa papel relevante neste sentido. O falante bilíngüe
pode utilizar uma de suas línguas com o grupo de pessoas com as quais ele pratica
esportes, vai ao clube, etc. sem que esta seja a mesma empregada na família ou na
comunidade.
A terceira zona de contato importante é o ambiente escolar. A aquisição de
uma segunda língua na escola dependerá da natureza da mesma. Se for uma
instituição monolíngüe, a língua poderá ser a mesma do lar. Assim sendo, o
indivíduo terá poucas oportunidades de aprender uma segunda língua nesse
ambiente, por outro lado, se for uma outra língua, ele poderá ter muitas chances.
Se a escola for bilíngüe o grau de bilingüismo do indivíduo que a freqüenta
dependerá das matérias que são ensinadas em cada uma das línguas e também do
tempo dedicado a cada língua.
28
Na escola é possível entrar em contato com uma outra língua de duas
maneiras diferentes: a língua pode ser ensinada como disciplina ou ela pode ser
utilizada como língua de ensino.
Mackey (1976) avalia que estes dois casos podem ter efetivação através de
três modos diferentes: o único, o duplo e o particular.
Como modo “único” ele caracteriza a prática de países na aplicação de
uma espécie de política lingüística nas escolas de áreas bilíngües que considera
um dos quatro princípios a seguir: nacionalidade, zona geográfica, grupo religioso
ou origem étnica
Pelo princípio da nacionalidade, a criança deve estudar na língua do país
onde se encontra, qualquer que seja sua origem étnica ou língua materna. É a
prática da maioria dos países considerados monolíngües.
Pelo princípio da repartição geográfica, a criança deve ser escolarizada na
língua da comunidade onde reside, caso da Suíça.
Já o princípio da origem religiosa pode ser aplicado aos países cujas
fronteiras lingüísticas coincidem com as fronteiras religiosas. É o que ocorre, por
exemplo, dentro do Canadá. Ali há escolas católicas francesas, escolas
protestantes inglesas e escolas protestantes francesas. Como em algumas regiões
os franceses não são suficientemente numerosos para justificar um sistema escolar
distinto, as famílias protestantes enviam muito mais seus filhos à escola
protestante inglesa do que à escola católica francesa.
E finalmente pelo princípio da origem étnica, a escolarização deve
considerar a língua que a criança fala em casa e com a família como acontece em
muitas regiões da África do Sul.
Mackey (1976) considera como meio duplo as políticas em que o ensino é
feito em duas línguas. Essa prática o autor nomeia de política de paralelismo ou de
divergência. No primeiro caso, ambas as línguas são colocadas em pé de
igualdade, são empregadas com os mesmos fins e em circunstâncias semelhantes.
No segundo, as línguas são utilizadas com fins diferenciados; algumas disciplinas
são ensinadas em uma língua e outras em língua diferente.
O meio particular é aquele em que o ensino ocorre de modo isolado, em
lições individuais ou em pequenos grupos. O ensino pode ser feito em uma língua
que não é a mesma da comunidade, e a língua desta pode ser ensinada como
língua estrangeira. Prática comum na Guiana Francesa em virtude do número de
29
filhos de migrantes que precisam ser escolarizados, mas que não dominam a
língua da comunidade.
E finalmente os meios de comunicação representam a última das zonas de
contato a ser considerada. O rádio, a televisão, o cinema, os discos e CDs, os
jornais, os livros e as revistas são importantes elementos para a manutenção do
bilingüismo. A possibilidade de acesso a esses meios pode constituir-se no fator
principal de manutenção de uma das línguas do bilíngüe em determinadas
situações.
Em cada uma das zonas abordadas, segundo Mackey (1976) o contato e o
grau de bilingualidade do indivíduo varia em termos das seguintes variáveis:
duração, freqüência e força.
• Duração: A influência de qualquer das zonas de contato sobre o
bilingualidade do falante varia em função da duração do contato,
ou seja, o indivíduo que viveu 40 anos em um ambiente lingüístico
diferente do seu de origem tem muito mais chances de falar uma
língua estrangeira do que aquele que passou apenas alguns meses.
• Freqüência: Por outro lado, a duração do contato não terá grande
importância se nada se puder dizer da freqüência com que esse
contato foi estabelecido, seja em termos de horas diárias para a
linguagem oral ou em quantidade de palavras para a escrita. Um
indivíduo que fala esporadicamente com falantes de outra língua
não apresentará o mesmo resultado ao final de um período igual de
tempo daquele que interage várias vezes ao dia com indivíduos de
outra língua.
• Pressão: Finalmente, no interior de cada uma das zonas de contato
há uma correlação de forças que pode levar o indivíduo a utilizar
mais uma língua do que outra. Estas forças podem ser de ordem
econômica, administrativa, política, militar, histórica, religiosa ou
demográfica.
Do mesmo modo que fatores externos concorrem na formação do
indivíduo bilíngüe, há fatores internos que devem ser levados em consideração,
entre eles a idade, a aptidão e a utilização interior de uma língua. Questões que,
embora relevantes e que suscitem muitos questionamentos, não pretendemos
discutir no âmbito do presente trabalho.
30
2.3.2 A Comunidade bilíngüe ou multilíngüe
Assim como o homem adquire uma língua materna pela comunicação com
outros indivíduos, o ser bilíngüe igualmente não age na língua sozinho. Em geral,
um indivíduo não se torna bilíngüe ao acaso ou por simples capricho, mas na
maioria das vezes por necessidade de comunicar com pessoas que falam uma
outra língua. Quando se deseja aprender uma língua, não se trata de uma língua
qualquer com a qual não tenhamos nenhuma relação, é preciso que seja uma
língua de utilidade. Ora, de modo geral, a língua mais útil é aquela que é falada
pela comunidade com a qual se está em contato. Se toda uma sociedade ou uma
parte importante dela aprende uma segunda ou terceira língua, o fenômeno se
torna social e a comunidade pode ser considerada multilíngüe.
Lembremos ainda que a língua não é somente um instrumento de
comunicação como foi durante longo tempo concebida, mas também um símbolo
de identidade de um grupo, capaz de situar um indivíduo dentro ou fora de uma
determinada comunidade e cultura. Esse pertencimento lingüístico, longe de se
restringir à língua, compreende também aspectos sociais, culturais e mesmo
psicológicos. Nesse sentido, falar uma língua ou outra quando se é bilíngüe nem
sempre é percebido como um fenômeno estritamente instrumental, mas pode ser
considerado como um ato de integração ou de traição social. Razão pela qual, em
muitos casos, é difícil descrever o bilingüismo individual sem fazer referência ao
papel social das línguas.
A comunidade multilíngüe pode ser descrita através de diversas dimensões
que não são independentes, mas que formam um complexo sistema de variáveis
que interagem entre si. Miller (1984) sugere nesse âmbito que um estudo
detalhado de uma situação multilíngüe envolve a avaliação da interação de
diversas variáveis, entre as quais: a espacial, a histórica, a política, a social e
mesmo a psicológica.
As sociedades multilíngües se desenvolvem quando distintos grupos
lingüísticos estabelecem contatos por motivos diversos, entre eles os econômicos
e comerciais, como é o caso de México e Estados Unidos, de França e Espanha,
Alemanha, Suíça e França entre outros inúmeros exemplos presentes na literatura.
31
Hamers & Blanc (1983) consideram que para haver uma comunidade
multilíngüe é necessário que pelo menos duas línguas estejam em uso pelos
membros de um determinado grupo social. Eles argumentam ainda que se uma
comunidade é composta por dois grupos falantes de línguas maternas diferentes,
tendo cada uma, um relativo número de bilíngües que falam as duas línguas, ou
ainda, um certo número de ambos os grupos falando uma terceira língua comum,
usada como língua franca, qualquer uma destas línguas pode ser a língua oficial
da comunidade.
Cada comunidade estaria situada entre dois pólos de um contínuo. Em um
extremo, nenhum membro dos dois grupos fala a língua materna do outro nem
possui uma terceira língua em comum. Neste caso não há duas comunidades
bilíngües, mas duas comunidades monolíngües. No outro pólo todos os membros
das comunidades falam as duas línguas, e se as duas línguas preenchem as
mesmas funções, uma delas se torna redundante. Na realidade, toda comunidade
bilíngüe estaria situada em algum ponto entre estes dois pólos, onde uma relativa
parcela de ambos os grupos fala uma a língua da outra ou possuem uma terceira
língua comum entre elas.
Considerando a situação entre os grupos, Hamers & Blanc (1983) apontam
três tipos de comunidades multilíngües:
(1) Os grupos estão divididos territorialmente dentro de um mesmo país. A
maioria de um grupo ocupando um espaço e a maioria do outro ocupando um
outro território. Em alguns casos as duas línguas têm status oficial igual, pelo
menos dentro de cada território. Os autores citam como exemplo o Canadá, a
Bélgica e a Suíça, cujos territórios estão divididos por maiorias e minorias
lingüísticas bilíngües ou não.
(2) Outro tipo de comunidade bilíngüe pode ser encontrado em países
multilíngües da África e da Ásia nos quais não há repartição, nem geográfica, nem
sociológica. Ao lado das línguas nativas dos grupos étnicos ou nações existem
uma ou mais línguas de ampla comunicação, falada por um número variável de
falantes nos diferentes grupos. Esta língua pode ser uma língua franca como o
suaili na África oriental e o tok pisin na Papua Nova Guiné ou uma língua
superposta, imposta por decisão política, em geral uma língua herdada de um
passado colonial e usada somente em certos domínios oficiais, como é o caso do
francês e do inglês em muitos países africanos.
32
(3) Finalmente, um terceiro tipo descrito por Hamers & Blanc (1983) é o
da comunidade bilíngüe diglóssica. Ou seja, duas línguas são faladas por uma
variável parcela da população, mas elas são usadas de uma forma complementar
na comunidade, uma língua ou variedade possui um alto status enquanto a outra é
reservada para certas funções e domínios. Exemplos de bilingüismo diglóssico são
o uso do espanhol e do guarani no Paraguai e do francês e do crioulo no Haiti e
nas Guianas. Nestes casos ambas as línguas têm um grupo significativo de
falantes nativos na comunidade.
O conceito de diglossia foi cunhado por Ferguson (1959) para descrever
toda situação societal em que duas variedades lingüísticas, que o autor denomina
de variedade alta e variedade baixa, são utilizadas em domínios e funções
diferentes e complementares dentro de uma mesma comunidade, uma destas
variedades tendo geralmente um status socialmente superior à outra. Fishman
(1967, 1980) estende o conceito de diglossia para o uso complementar
institucionalizado de duas ou mais línguas distintas em uma mesma comunidade,
acrescentando que esses códigos não precisam ter origem comum. Assim sendo
Calvet (1993:61) conclui, “qualquer situação colonial, tendo posto em presença
uma língua européia e uma língua africana, implica diglossia”.
Seguindo nesta mesma perspectiva, porém dando enfoque ao espaço de
convivência dos povos em contato, Leclerc (2002) distingue dois tipos de
sociedades multilíngües: aquelas cujo bilingüismo se conforma na coabitação
social, ou seja, duas comunidades dividindo o mesmo espaço, fazendo uso de duas
línguas distintas que estão em presença e cujo contato lingüístico está inserido no
contexto do contato entre povos; e aquelas cujo bilingüismo se caracteriza pela
não coabitação. Trata-se de uma única comunidade usando duas línguas, sendo
uma a materna e a outra uma língua veicular, que atende as necessidades da
comunicação comercial, sendo que neste caso o contato não implica na coabitação
dos povos.
Um exemplo de bilingüismo sem coabitação social é a sociedade
camaronesa. A maior parte das etnias fala pelo menos duas línguas, a materna e o
inglês que é usado nas transações comerciais e nas comunicações interétnicas.
Essa prática tornou-se comum na maioria dos países atualmente, sobretudo em
determinadas áreas comerciais como é, entre outros, o caso dos agentes de turismo
e da produção tecnológica. Outro exemplo são as pessoas ou grupos que aprendem
33
uma língua para participar de comunidades de pesquisa ou para ter maior acesso a
conhecimentos de uma determinada área, compondo também um bilingüismo
social caracterizado pela não coabitação social.
Na maioria dos casos, entretanto, o bilingüismo social é fruto da
convivência de pessoas que dividem o mesmo espaço geográfico, onde um grupo
aprende a língua do outro e muitas vezes acaba por compor um único grupo social
bilíngüe. É o caso da Catalunha, onde se considera que 99% dos catalãos são
bilíngües. Todos teriam o catalão como língua materna e aprenderiam o espanhol,
a língua oficial, como segunda língua. Outro caso é aquele das tribos indígenas do
alto rio Negro, nas quais a obrigatoriedade do ensino da língua do pai aos filhos
faz com que estes acabem por se tornarem bilíngües ao adquirirem também a
língua da mãe.
É importante ressaltar, ainda, que o convívio entre grupos com línguas
distintas pode levar tanto à integração e ao uso compartimentalizado das mesmas
quanto ao desaparecimento de uma delas.
No Brasil, onde ainda resiste a idéia de que falamos uma só língua, mas
que na última constituição foi declarado pais multilíngüe, numerosas comunidades
de migrantes e seus descendentes (italianos, alemães, japoneses, holandeses, etc.),
bem como as diferentes etnias indígenas, tentam preservar ainda hoje suas línguas
de origem e muitas falam o português somente fora da comunidade de fala, na
escola ou no grupo social. Embora o “ideal” lingüístico pareça ser o de conformar
uma nação monolíngüe em um mesmo espaço territorial, uma parcela importante
da população brasileira fala uma outra língua, seja ela uma língua alóctone ou
autóctone.
2.3.2.1 Origens e causas da formação de comunidades multilíngües Historicamente, vários fatores podem ser contados como desencadeadores
da formação de tais grupos. Dentre eles estão os processos de ocupação, as
relações comerciais, a influência econômica, os meios de difusão, a educação, a
migração, entre outros como veremos a seguir:
34
a) A ocupação militar e colonização: As mudanças políticas assim como as conquistas militares e os processos
de colonização, seguramente estão entre as principais causas do multilingüísmo.
Spolsky (1998:53) argumenta que “o multilingüísmo tem sido
historicamente criado pela conquista e pela subseqüente incorporação de falantes
de diferentes línguas a uma única unidade política”, colocando as línguas em
contato e não raro colocando-as em conflito.
Ocupação militar e colonização sempre estiveram acompanhadas do
estabelecimento de algum grau de bilingüismo nas regiões dominadas. Foi assim
nas conquistas do Império romano, na incorporação da Bretanha, da Alsácia e da
Provence à França, na ocupação da América Central e Latina pelos espanhóis e
portugueses, cujas minorias nativas, como é o caso no Brasil, ainda hoje guardam
várias línguas e se configuram como comunidades multilíngües.
A constituição do Estado-Nação que preconizava reunir em um único
território uma única nação, ainda que esta “nação” fosse constituída de diferentes
grupos etnolingüísticos, também formou inúmeras comunidades multilíngües
dentro de um mesmo país, incluindo-se aí os Bascos, os Corsas, os Bretões, os
Gauleses, os Catalãos, etc.
Neste contexto também se incluem os processos de multilingüísmo
desencadeados na colonização e descolonização de países africanos
Spolsky (1998:54) relata que:
“Quando os grandes poderes europeus dividiram a África no século XIX, eles estabeleceram fronteiras que deixaram a maioria dos Estados pós-independência sem uma maioria lingüística e normalmente com línguas que tinham muitos falantes tanto dentro quanto fora dos limites dos novos Estados”3. Tradução nossa.
Tais políticas coloniais indiscutivelmente forçaram a adoção de línguas
diferentes em diversos países e a constituição de estados multilíngües, cuja língua
do colonizador freqüentemente acabou por tornar-se a língua majoritária e de
contato em meio a diversidade lingüística.
3 “When the major European powers divided up Africa in the nineteenth century, they drew boundaries that left most post-independence states without a single majority language, and usually with languages that had many speakers outside as well as inside the new state borders”
35
b) O Intercâmbio comercial: Outro elemento que provocou o contato lingüístico e culminou em
indivíduos ou sociedades bilíngües foi o intercâmbio comercial. Quantos
indivíduos não deixaram suas regiões unilíngües e foram para outros territórios
realizar transações comerciais, sendo assim “obrigados” a se tornar hábeis em
outros idiomas? As relações comerciais estabelecidas entre povos diferentes têm
sido ao longo da história do homem um dos grandes motivos de deslocamento de
pessoas entre países, regiões ou mesmo entre cidades e vilarejos. O aprendizado
de outras línguas torna-se nestas circunstâncias uma necessidade constante dos
indivíduos. Em função da vocação comercial que desenvolvem determinadas
regiões, comunidades inteiras tornam-se multilíngües pela convivência com
mercadores de diversas partes do mundo.
c) O movimento migratório Outra causa do multilingüísmo está relacionada aos movimentos
migratórios. A imigração colonial, a deportação massiva, o fenômeno dos
refugiados políticos, o êxodo voluntário, a imigração de trabalhadores são alguns
dos tipos de migração considerados em estudos já realizados.
Leclerc (2002) adverte que seguido ao processo de ocupação militar ocorre
a imigração colonial. Os conquistadores se instalam na região e colocam os povos
dominados em situação de dominação. Com freqüência, a língua do conquistador
é imposta e o bilingüismo se instaura para a população que normalmente o efetiva
unilateralmente.
Outro exemplo de movimento migratório que resultou na formação de
comunidades bi ou multilíngües foi a deportação massiva de pessoas de uma
comunidade ou nação para países estrangeiros. Foi o caso dos irlandeses
deportados pelos ingleses para a América e Austrália no século XVIII e XIX; das
pequenas populações acusadas de colaboração com os Balcãs, os chechenos, os
Ingouches, os kalmouks, os alemães da Volga, todos dispersados na Sibéria. Da
mesma forma ocorreu através do tráfico em larga escala de negros africanos
escravizados para exploração das plantações de cana de açúcar e campos de
algodão na América, no Caribe a no sul dos Estados Unidos.
36
As conseqüências lingüísticas desta deportação de 9,5 milhões de negros
segundo Leclerc são triplas: Primeiro, nenhuma das línguas originais sobreviveu;
Algumas deram origem aos muitos crioulos ativos ainda hoje para vários milhões
de pessoas (nas Antilhas e no Oceano Índico por exemplo); e finalmente, a grande
massa se fundiu progressivamente e assimilou a língua dominante, no caso dos
Estados Unidos, a inglesa.
Os movimentos migratórios podem ser desencadeados também por
grandes conflitos como o foi por ocasião da primeira e segunda guerra mundiais,
gerando um incontável número de refugiados políticos e de apatriados com o
desmembramento dos impérios da Alemanha, Rússia e Áustria em pequenos
Estados- Nações, colocando em situação de contato cerca de 25 milhões de
falantes de línguas diferentes. Por ocasião da segunda grande guerra estima-se em
30 milhões o número de pessoas que deixaram seus países por repatriamento,
transferências territoriais, êxodo voluntário de populações hostis aos novos
regimes políticos instalados na Europa do Leste, etc.
A fundação do estado de Israel, a descolonização dos anos 60, as guerras
civis instauradas na África, na Ásia e na Europa provocaram o deslocamento de
milhões de pessoas refugiadas. Tais populações inevitavelmente vão instalar-se
em um novo território, em um novo país para o qual levam consigo suas línguas e
seus valores etnolingüísticos, dando origens a novas situações de multilingüísmo.
Por outro lado, a migração voluntária também está presente na formação
das comunidades multilíngües em várias partes do mundo. A busca de melhores
condições econômicas levou milhares de pessoas a migrarem para outros países,
porém na maioria dos casos esses migrantes, embora passem a fazer uso, em
virtude do trabalho e da vida social da língua dominante nos países que passaram
a habitar, eles mantêm suas línguas de origem em uso com a família.
d) A situação geopolítica Do ponto de vista do espaço geográfico e político, como não representar as
áreas de fronteira como um dos locais mais apropriados para a formação de
comunidades multilíngües?
Alguns contextos geopolíticos levam quase que inevitavelmente a
situações de bilingüismo social. É o caso de Luxemburgo, estado comprimido
entre a França e a Alemanha, da Catalunha, localizada no centro do estado
37
espanhol e de inúmeras regiões de fronteiras territoriais cujos espaços são
divididos por linhas imaginárias tal qual se observa na fronteira de Brasil e
Uruguai e de muitas outras regiões no mundo. O bilingüismo destas regiões está
relacionado não só com a história dos povos, mas também com o contexto
geográfico no qual eles se encontram inseridos.
Weinreich (1970) chamava a atenção para o fato de que em toda situação
de contato a divisão entre povos que possuem diferentes línguas maternas
normalmente coincide com outras divisões de natureza não lingüística que
abrangem questões de etnias, raças, religiões, status social e espaços geográficos.
A linha geográfica é na verdade um dos mais comuns elementos de convergência
na divisão de povos. Daí o autor considerar que, em se tratando de áreas
fronteiriças, “a não ser que ela coincida com altas montanhas, mares ou outros
obstáculos físicos, há provavelmente contato entre os grupos que atravessam a
linha divisória política e daí nasce o bilingüismo” individual e societal.
e) Superioridade demográfica:
A diferença em termos demográficos de uma comunidade lingüística para
outra e a quantidade de monolíngües em cada uma das comunidades também pode
ser fator importante de bilingüismo. Quanto maior a diferença numérica entre as
comunidades lingüísticas, maior é o número de falantes bilíngües na comunidade
minoritária.
f) Poder e prestígio: A força de uma língua dominante não está representada apenas no fator
numérico, outros elementos a ele se somam para conformar a pressão demográfica
de um grupo lingüístico sobre outro. São elementos ligados à riqueza, ao poder e
ao prestígio de cada um dos grupos. O status atribuído a uma língua é comumente
conseqüência de uma complexa integração de fatores históricos e sociais que
cobrem áreas religiosas, culturais, econômicas e demográficas.
Mackey (1976) argumenta que se houver uma grande diferença entre esses
fatores nos dois grupos, a minoria pode tornar-se a maioria. Vale lembrar que a
relação majoritário minoritário está muito mais relacionada com a correlação de
forças entre os grupos do que aos números. Assim, em uma comunidade onde
38
20% da população é formada de senhores e 80% de escravos, serão os escravos
que aprenderão a outra língua e não o contrário.
g) Educação: O ensino de uma língua também pode ser um dos pilares de manutenção e
do domínio de uma língua sobre a outra e do incentivo ao bilingüismo social. O
prestígio e o status de uma determinada língua no mercado lingüístico pode fazer
com que esta seja ensinada como língua estrangeira em grande parte do mundo
instaurando também uma situação de contato lingüístico e bilingüismo. A
necessidade de conhecimento de uma língua de prestigio como é o inglês hoje não
é fato recente. O grego e o latim durante muito tempo também ocuparam esse
papel e o ensino nas grandes nações de antigamente baseava-se largamente na
aprendizagem de uma língua padrão. Desta forma, o fato do ensino superior ou da
formação técnica não ser acessível, senão em outra língua, favorecia a expansão
daquela língua, e quanto mais técnica fosse a formação, maior a necessidade do
bilingüismo.
h) A Influência econômica Outro fator importante no domínio lingüístico de uma língua sobre outra é
o econômico. Em algumas regiões do globo o desenvolvimento econômico
desperta o interesse de populações de origens e línguas diversas. A perspectiva de
trabalho e de uma vida melhor leva as pessoas a aderirem ao uso de uma nova
língua de maior prestígio e de uso mais efetivo economicamente. Por outro lado,
algumas línguas estão mais adaptadas para funções particulares em determinadas
áreas atraindo pessoas onde estas áreas estão em voga e para o aprendizado destas
línguas.
i) A religião A religião também já foi fator determinante na expansão de uma língua. O
Cristianismo favoreceu o desenvolvimento do latim, do grego e do sírio; o
Budismo, o estudo do sânscrito, e o Islamismo, a propagação do árabe. (Mackey,
1976)
O autor (ibid) argumenta ainda que as guerras religiosas foram guerras de
línguas, ou seja, provocadas para que uma classe secular, com recente projeção
39
social tivesse o direito e os meios de expressar seus pensamentos e suas
aspirações. É significativo nesse sentido que a Reforma e a Contra-reforma
tenham encontrado maior sucesso nos países onde as línguas eram mais distantes
do latim, vez que naquela época o latim para os italianos instruídos era ainda uma
língua viva.
j) Os meios de difusão: Os meios de expressão que uma língua domina – escrita, publicações,
radiodifusão – são fatores extremamente importantes na propagação de uma
língua majoritária e meios eficazes no desenvolvimento da influência que essa
língua pode obter sobre os povos e sobre as outras línguas.
A invenção da escrita, do papel, da imprensa, do rádio e da televisão
permitiram em proporções sempre maiores a difusão de línguas pelo mundo. Para
corroborar o papel que eles exercem na vida cotidiana das pessoas temos hoje a
internet através da qual podemos ter acesso não só às línguas, mas também ao
conhecimento produzido nelas.
l) Os casamentos exogâmicos: Outro fator que tem levado a formação de comunidades e grupos bilíngües
é o casamento exogâmico registrado no alto Rio Negro entre grupos indígenas.
Neste caso, o casamento entre os índios deve obrigatoriamente ocorrer entre
falantes de línguas distintas, porém, a língua que dá identidade ao grupo
lingüístico é “ao mesmo tempo a língua do pai, a língua de casa e a língua tribal
de casa um dos membros”(Garmadi, 1981). Por definição, essa língua é outra que
não a língua pela qual se identifica o grupo da mãe. Os filhos resultantes desta
união, que obrigatoriamente devem aprender a língua do pai, não raro adquirem
também a língua da mãe, tornando-se então bilíngües.
2.4 O contato lingüístico e as línguas em contato
A história das línguas e das relações humanas tem mostrado que todas as
línguas têm sofrido influência umas das outras e os fenômenos lingüísticos
resultantes do contato entre pessoas que falam línguas diferentes em um mesmo
40
território ou em espaço contíguo, como é o caso das fronteiras, são bastante
variados.
Tais fenômenos diferem em função de fatores diversos dentre os quais
estão a duração do contato, a intensidade da relação entre os povos e ou
comunidades lingüísticas, os tipos de relações sociais, econômicas e políticas
estabelecidas entre eles, as funções de comunicação e o status das línguas em
presença.
Em uma situação de línguas em contato, o status de cada língua varia de
acordo com as relações de força existentes entre os grupos que as utilizam, bem
como em função da percepção que os indivíduos têm destas relações. Para
Mackey (1976), as línguas exercem um poder de força umas sobre as outras e as
diferenças de poder se manifestam quando as línguas estão em contato. Elas se
manifestam como uma forma de atração ou de repulsão que uma língua, ou
melhor, aqueles que a utilizam, terão um pelo outro.
Os elementos que conformam o status de uma língua não são apenas
jurídicos, mas estão colocados em termos de força e atração lingüística. A
importância de uma língua está muito mais relacionada com a função que ela
exerce enquanto veículo que permite a comunicação com aqueles que são
importantes nos diversos domínios relacionados (comércio, religião, educação,
ciências, cultura, esporte, lazer) do que com seu valor lingüístico interno, ou seja,
seu maior ou menor grau de complexidade. Porém, ela também possui em si
mesma uma importância que provém dos povos que a utilizam, do número de
pessoas, de suas riquezas, de sua mobilidade, de sua produção cultural e
econômica, fatores cuja soma constitui o que nomeamos de poder inato de cada
língua.(Mackey, 1976)
Em outras palavras podemos dizer que toda língua estabelece uma relação
de poder com as línguas em que está em contato e esta relação dependerá do poder
relativo de cada uma delas, das diferenças lingüísticas existentes e da proximidade
dos povos. Ocorre então em conseqüência que os usos lingüísticos e resultados do
contato podem variar em função do espaço social ou geográfico, ou de acordo
com o grau de diferença e poder entre as línguas. A atração ou repulsão entre elas
seria então, segundo Mackey (1976), função de três distâncias: a distância de
poder, a distância geográfica e a interlingüística.
41
• A distância de poder está diretamente vinculada à relação de
motivos que um indivíduo possui para aprender e para utilizar uma determinada
língua. O inglês hoje tem status de língua internacional, importante em todos os
setores da pesquisa científica e tecnológica, entre outros, o que a coloca em um
patamar de poder diferenciado nas sociedades atuais.
• A distância geográfica estabelece que a atração que pode exercer
efetivamente uma língua sobre um povo falante de uma outra língua ou dialeto
dependerá das possibilidades e das probabilidades de contato. Uma língua de alto
poder (como o inglês) não terá nenhuma influência direta sobre um povo que não
tem nenhuma possibilidade de ouvir ou de ler em inglês. Significa dizer que a
força de atração do poder lingüístico é atenuada pela distância e aumenta com a
aproximação.
No passado, a atração da proximidade foi atenuada em certa medida
pela presença de barreiras naturais – as montanhas, os rios, os lagos – fatores que
foram utilizados para justificar a divergência no interior de uma mesma família
lingüística tais como as línguas latinas e as línguas românicas. Atualmente estas
barreiras naturais (na era da internet) não têm a mesma influência. Mas a distância
terrestre ainda é significativa.
• A distância interlingüística está relacionada com as diferenças
internas entre as línguas, que por sua vez não são nada negligenciáveis. A
similaridade entre duas línguas constitui em si uma força de atração. Desta forma,
os brasileiros estariam de modo geral mais propensos ao espanhol que ao inglês
ou ao alemão, enquanto que os alemães teriam maior propensão para o inglês. Da
mesma forma que a distância geográfica, a interlingüística diminui a força de
atração de uma língua para outra.
Destas relações resultam diferentes fenômenos de variações
sociolingüísticas, que tanto podem culminar na efetivação de empréstimos, na
utilização de duas ou mais variedades de uma mesma língua e ou de línguas
diferentes, quanto podem levar à formação de novos falares, como é o caso dos
pidgins e crioulos.
Pidgin corresponderia a toda variedade de língua originada da necessidade
de comunicação entre indivíduos de comunidades que não falam a mesma língua.
O pidgin corresponderia, grosso modo, a um sistema lingüístico dotado de
estruturas rudimentares (léxico reduzido, estruturas gramaticais elementares) e de
42
funções sociais limitadas. O crioulo, por sua vez, seria um pidgin que se tornou
língua materna de uma comunidade. A teoria de Bickerton (1984 apud Couto
1996) de nativização do crioulo perdurou durante longo tempo no estudo da
origem destes falares, porém esta definição está ainda longe de ser consensual na
crioulística.
Não são poucos os exemplos de fenômenos lingüísticos e de processos de
hibridização registrados no mundo em função do contato entre povos
“dominados” e “dominantes”, ou entre línguas de maior e menor prestígio
econômico ou cultural.
O português conta hoje um grande número de vocábulos (tais como:
yogurte, chá, cafuné, guerra, cachaça, minhoca, jeans e outros) que foram
emprestados do grego, do árabe, das línguas indígenas, de dialetos africanos,
como resultado do contato. Na maioria dos lugares em que ocorreu a penetração
de mercadores e conquistadores produzindo uma situação de contato lingüístico,
deu-se o nascimento de línguas mistas. Do contato de comerciantes e marinheiros
ingleses com nativos chineses no extremo oriente, nasceu uma língua auxiliar
chamada pidgin-english; o mesmo acontecendo no contato dos colonizadores
britânicos com escravos na costa da Florida, na Geórgia, na Carolina do sul e em
algumas ilhas próximas. No Haiti, nas Ilhas Seychelles e nas Ilhas Maurício
surgiram crioulos de base francesa; que concorrem com as línguas oficiais; em
Curaçao e em Cabo Verde surgiram línguas de base hispano-portuguesa; além de
inúmeros outros casos registrados na literatura.
2.5 Política lingüística e comunidades multilíngües
As situações de multilingüísmo social comumente exigem que o Estado
intervenha no gerenciamento dos conflitos e necessidades sociais que podem
surgir da coexistência das línguas optando pelo estabelecimento de políticas
lingüísticas e pela aplicação das ações por elas definidas.
De acordo com Calvet (1987:154-155) política lingüística “é o conjunto de
escolhas conscientes efetuadas no domínio das relações entre língua e vida
social, e mais particularmente entre língua e vida nacional”. Tais escolhas têm
por objetivo regular sobre o status ou a forma de uma ou mais línguas em uma
43
dada sociedade. A planificação lingüística corresponde à aplicação prática da
política estabelecida. (Savedra, 2003).
A política lingüística não é fato recente e sempre que foi aplicada teve
impacto real sobre o desenvolvimento das línguas. De acordo com Martel (2002),
todo movimento de população implica políticas lingüísticas, ainda que nem
sempre elas sejam nem política, nem explicitamente articuladas. Cada vez que um
evento coloca, em um mesmo território, físico ou simbólico (como a internet),
falantes de línguas diferentes, eles procuram encontrar meios de acomodação
através de políticas lingüísticas. Isso aconteceu por ocasião das conquistas, das
guerras religiosas e civis, das cruzadas e missões, de colonizações, da
internacionalização do trabalho, do turismo internacional, dos desastres naturais
etc. (Mackey 2000; Kaplan e Baldauf 1997)
O principal objetivo de qualquer legislação lingüística é resolver, de uma
forma ou de outra, os problemas surgidos de tais contatos lingüísticos, conflitos e
desigualdades, pela determinação e estabelecimento legal do status e uso das
línguas em questão. A preferência é dada para a proteção, defesa e promoção de
uma ou várias línguas designadas através de obrigações lingüísticas legais e
direitos da língua de cima para baixo.
O Estado é o grande interventor do desenvolvimento lingüístico, porém
nem todas as ações político-linguísticas impostas pelo Estado foram totalmente
aceitas pelos povos envolvidos. No contexto de um mundo que intensifica as
relações intergrupais dia a dia, as ações de política lingüística são essenciais na
organização das sociedades, porém, é importante que elas sejam guiadas por
motivos identitários e humanitários, o que nem sempre tem ocorrido.
Em virtude da pluralidade de línguas no interior das fronteiras de um país
várias soluções têm sido dadas com maior ou menor sucesso. Para Hamers &
Blanc (1983) o Estado pode impor uma língua que normalmente é aquela do
grupo dominante ao conjunto da população, suprimindo, desvalorizando ou
negligenciando as demais, e pode também agir através de políticas lingüísticas
definidas considerando as línguas como um recurso humano identitário que
engendra as relações sociais interétnicas.
Spolsky (1998) lembra-nos que as línguas têm sido freqüentemente
utilizadas no exercício do poder político. Os governos podem alcançar o controle
sobre as minorias através da extinção de suas línguas. A incorporação da
44
Bretanha, da Alsacia e da Provence à Franca fez submergir as línguas regionais
diante do francês. Por outro lado, a escolha da (s) língua(s) em contextos
multilíngües não raro está ligada à distribuição desigual dos papéis sociais na
sociedade. Servindo-se da língua como um instrumento de poder, a maioria
dominante impõe uma unificação lingüística as minorias.
Podemos tomar o exemplo da França, país oficialmente monolíngüe que
no entanto tem em seu território diversas outras línguas que ali são usadas na vida
diária por inúmeros falantes bilíngües: o alsaciano, o basco, o bretão, o catalão, o
corsa e outros, sem contar as demais línguas faladas pelos migrantes de diversas
partes do mundo. Concluiremos obviamente que a França é um país multilíngüe
mesmo que a maioria de seus cidadãos seja monolíngüe.
O monolingüismo ou o bilingüismo oficial de uma nação é uma das formas
do Estado agir sobre as línguas através da política lingüística. Um país que
oficialmente é monolíngüe não equivale a cidadãos igualmente monolíngües e o
mesmo é válido para o bilingüismo de Estado; ele existe na maioria das vezes
muito mais para assegurar o direito dos indivíduos monolíngües de continuar a sê-
lo do que para incentivar uma prática bilíngüe. (Martel, 2000)
Dentro do campo de ação da política e da planificação lingüística se insere
não apenas o uso institucional da(s) língua(s) oficial /(is) mas também questões
que vão repercutir entre outras coisas diretamente :
(i) Na sobrevivência ou no desaparecimento de línguas minoritárias;
(ii) Na integração ou não das comunidades imigrantes, através do
ensino da língua falada no país ou do ensino das línguas de origem;
(iii) No alargamento ou na restrição do universo de falantes de um
língua; ou
(iv) Na preservação ou no dilapidamento de um patrimônio lingüístico
facilmente perecível.
Em países com minorias lingüísticas, como é o caso do México, do Brasil,
da Índia,etc. nem todos as minorias têm tido seus direitos reconhecimentos. As
políticas lingüísticas estão destinadas a reconhecer esses direitos e proporcionar
caminhos para que eles sejam colocados em prática. Savedra (2003) argumenta
que “a pluralidade lingüística no Brasil delineia situações diversas de
bilingüismo e multilingüísmo, acentuando as problemáticas das minorias
lingüísticas”. É pertinente lembrar que em meio à diversidade de línguas que se
45
conta no país, cerca de 180, entre autóctones e alóctones, somente as línguas
indígenas estão contempladas com propostas curriculares de educação bilíngüe na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Retomando as palavras de Martel (2000:91)
“É importante fazer política lingüística e fazê-lo por intermédio do
Estado, mas toda prática lingüística deve sustentar-se em bases justas
e objetivas de divisão, de solidariedade e de valorização consciente
do contexto e do momento histórico na qual ela se insere”.