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Em movimento Movimento Negação da Negação PT e a crise da dominação burguesa no Brasil Programa único Em movimento julho 2015 abril maio junho julho março fevereiro janeiro 2014 dezembro novembro outubro setembro agosto julho junho maio abril março fevereiro janeiro 2013 dezembro novembro outubro setembro agosto PSOL, PT e eleições Autor Conselho editorial Data 14072014 As eleições na sociedade burguesa não passam de um termômetro, uma maneira de medir a representatividade das direções revolucionárias no interior do proletariado. (Engels, AntiDühring, citado por Lenin, O Estado e a Revolução) Inúmeros partidos de esquerda abandonaram essa caracterização das eleições burguesas feita por Engels e concretizada por Lenin. Enfeitiçados pela possibilidade de eleger um prefeito aqui, um vereador lá, um deputado acolá, estes partidos deixam de considerar as eleições um meio de divulgar o programa revolucionário para transformalas num fim em si mesmo. Seus programas eleitorais são um reflexo direto dessa concepção. Será possível encontrar um exemplar desses partidos na atual campanha eleitoral brasileira? Analisemos o programa do PSOL, o Partido Socialismo e Liberdade. O PSOL caracteriza sua proposta programática como “ecossocialismo”. Adjetivar o socialismo não é uma inovação do PSOL. Há alguns anos, o então presidente da Venezuela, Hugo Chaves, denominou o processo que vinha ocorrendo em seu país de socialismo andino e, mais tarde, de socialismo do século XXI. O ecossocialismo do PSOL está baseado em três eixos, conforme atestam as Diretrizes Gerais para Programa de Governo nas Eleições de 2014 aprovadas na Convenção Nacional do partido. O primeiro eixo consiste num novo modelo de desenvolvimento para o país, cujo alicerce seria a redução do comprometimento do orçamento da União com o pagamento dos juros da dívida pública. A ideia é diminuir o gasto com os juros da dívida dos 5 a 7% do PIB (Produto Interno Bruto) atuais para 1%, que corresponde à média mundial. Caso fosse realizado, isso significaria equiparar o Brasil a outros países capitalistas. Como se vê, no ecossocialismo do PSOL os trabalhadores continuariam explorados, continuariam enriquecendo os patrões. O segundo eixo do programa do PSOL trata de uma reforma do sistema político, baseada, por um lado, na criação de mecanismos de democracia direta. Estaria contido aí uma espécie de duplo poder? Seria a gestação de um futuro Estado operário, seguindo a proposta de Marx e Engels realizada pelos bolcheviques e traduzida, posteriormente no Programa de Transição de Trotsky? A próxima frase desmente essa hipótese. Afirmase a seguir que o governo do PSOL irá “refundar as instituições (do Estado burguês) apodrecidas e vazias de representatividade para que correspondam à vontade popular”. Desenvolver a democracia direta seria, talvez, para o Compartilhe Facebook Twitter Outras redes sociais “A produção capitalista produz, com a inexorabilidade de um processo natural, sua própria negação. É a negação da negação.” –Marx, O capital. Livro I Cap. XXIV, 1867. Receba o boletim Entre em contato

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Em movimento

Movimento Negaçãoda Negação

PT e a crise dadominação burguesano Brasil

Programa único

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PSOL, PTe eleições

Autor Conselho editorialData 14­07­2014

As eleições na sociedade burguesa não passam de umtermômetro, uma maneira de medir a representatividade dasdireções revolucionárias no interior do proletariado. (Engels,Anti­Dühring, citado por Lenin, O Estado e a Revolução)

Inúmeros partidos de esquerda abandonaram essacaracterização das eleições burguesas feita por Engels econcretizada por Lenin. Enfeitiçados pela possibilidade deeleger um prefeito aqui, um vereador lá, um deputado acolá,estes partidos deixam de considerar as eleições um meio dedivulgar o programa revolucionário para transforma­las num fimem si mesmo. Seus programas eleitorais são um reflexo diretodessa concepção.

Será possível encontrar um exemplar desses partidos na atualcampanha eleitoral brasileira? Analisemos o programa doPSOL, o Partido Socialismo e Liberdade. O PSOL caracterizasua proposta programática como “ecossocialismo”. Adjetivar osocialismo não é uma inovação do PSOL. Há alguns anos, oentão presidente da Venezuela, Hugo Chaves, denominou oprocesso que vinha ocorrendo em seu país de socialismoandino e, mais tarde, de socialismo do século XXI.

O ecossocialismo do PSOL está baseado em três eixos,conforme atestam as Diretrizes Gerais para Programa deGoverno nas Eleições de 2014 aprovadas na ConvençãoNacional do partido. O primeiro eixo consiste num novo modelode desenvolvimento para o país, cujo alicerce seria a reduçãodo comprometimento do orçamento da União com o pagamentodos juros da dívida pública. A ideia é diminuir o gasto com osjuros da dívida dos 5 a 7% do PIB (Produto Interno Bruto)atuais para 1%, que corresponde à média mundial. Caso fosserealizado, isso significaria equiparar o Brasil a outros paísescapitalistas. Como se vê, no ecossocialismo do PSOL ostrabalhadores continuariam explorados, continuariamenriquecendo os patrões.

O segundo eixo do programa do PSOL trata de uma reforma dosistema político, baseada, por um lado, na criação demecanismos de democracia direta. Estaria contido aí umaespécie de duplo poder? Seria a gestação de um futuro Estadooperário, seguindo a proposta de Marx e Engels realizada pelosbolcheviques e traduzida, posteriormente no Programa deTransição de Trotsky? A próxima frase desmente essahipótese. Afirma­se a seguir que o governo do PSOL irá“refundar as instituições (do Estado burguês) apodrecidas evazias de representatividade para que correspondam à vontadepopular”. Desenvolver a democracia direta seria, talvez, para o

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“A produção capitalista produz, coma inexorabilidade de um processonatural, sua própria negação. É anegação da negação.” –Marx, Ocapital. Livro I Cap. XXIV, 1867. Receba o boletim

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PSOL aprimorar a experiência petista do orçamentoparticipativo.

Isso se deduz dos inúmeros sinais de continuidade existentesno programa do PSOL em relação ao governo do PT. Noterceiro eixo, por exemplo, propõe­se, entre outras coisas,aprimorar o programa “Minha Casa Minha Vida”, tornando­omais democrático. Além disso, afirma­se que um governo doPSOL democratizaria os meios de comunicação, algo que “osoutros” (ou seja, os governos do PT) não tiveram coragem defazer.

Teria, afinal, faltado coragem ao PT para democratizar osmeios de comunicação? Ou isso teria sido, muito mais,decorrente de um compromisso de classe desse partido com aburguesia?

Em relação às expectativas mais imediatos da classetrabalhadora, como é o caso das condições de trabalho e dossalários, o programa do PSOL faz, mais uma vez, eco ao PT,ao afirmar que o reajuste do salário mínimo acima da inflaçãotem sido um importante instrumento de distribuição de renda.Faz, assim, um elogio explícito ao governo. E qual seria a suaproposta? Aumentar o valor do salário e diminuir a jornada detrabalho para 40 horas. Novamente o ecossocialismo seaproxima de um capitalismo light.

Ao abstrair o caráter de classe do PT, ao propor a continuidadede seus programas, ao tecer elogios aos governos petistas, oPSOL mostra não ter se divorciado totalmente de seu partidode origem, o PSOL parece ainda manter um dos pés dentro doPT. Não por acaso, o programa eleitoral do PSOL lembrabastante os programas do PT da década de 1980, cujo eixo eragovernar o Estado burguês de forma mais decente.

Cairá a classe trabalhadora mais uma vez nessa conversa?Provavelmente não. Todos vimos no que resultou essa ilusão.Não poderia o proletariado brasileiro, fazendo jus à imensapotencialidade das forças produtivas contidas do país, sercapaz de servir de guia, de cumprir o papel de vanguardalatino­americana e mundial, lançando um programarevolucionário transitório ao poder, o programa marxistabaseado na dualidade de poder? Para isso, é necessário, antesde tudo, romper com as ilusões do passado, abrir caminhopara o novo construindo uma nova direção operário­revolucionária para negar definitivamente a realidade caóticacapitalista.