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ANTÔNIO MARINHO DOS SANTOS NETO “2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO” UMA HISTÓRIA SOBRE A FICÇÃO CIENTÍFICA E O CINEMA Ilhéus, BA 2014 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – DCB CURSO DE BACHARELADO EM BIOLOGIA

"2001: Uma odisseia no espaço": uma história sobre a ficção científica e o cinema

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Trabalho acadêmico que trata de resenhar o filme "2001: Uma odisseia no espaço" (1968), de Stanley kubrick, contextualizando-o com a época em que foi produzido, com o gênero da ficção científica, e analisando seus aspectos técnicos e humanos.

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  • ANTNIO MARINHO DOS SANTOS NETO

    2001: UMA ODISSIA NO ESPAO UMA HISTRIA SOBRE A

    FICO CIENTFICA E O CINEMA

    Ilhus, BA

    2014

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS BIOLGICAS DCB

    CURSO DE BACHARELADO EM BIOLOGIA

  • ANTNIO MARINHO DOS SANTOS NETO

    2001: UMA ODISSIA NO ESPAO UMA HISTRIA SOBRE A

    FICO CIENTFICA E O CINEMA

    Trabalho realizado para a obteno

    de crdito da disciplina Cincia & Cinema

    do curso de Bacharelado em Cincias Biolgicas

    da Universidade Estadual de Santa Cruz UESC

    Docente: Erminda da Conceio Guerreiro Couto, Dr

    Ilhus, BA

    2014

  • SUMRIO

    1. Aspectos histricos...................................................................................1

    1.1. Uma breve histria da fico cientfica...........................................1

    1.2. Contexto poltico-social..................................................................4

    1.3. O legado de 2001........................................................................6

    2. Aspectos tcnicos.....................................................................................9

    2.1. Direo...........................................................................................9

    2.2. Roteiro..........................................................................................10

    2.3. Efeitos especiais..........................................................................11

    2.4. Trilha sonora................................................................................12

    3. Aspectos humansticos...........................................................................14

    3.1. Interpretaes..............................................................................14

    3.2. Estudo dos objetos.......................................................................15

    4. Notas.......................................................................................................18

    5. Referncias.............................................................................................20

  • 1. ASPECTOS HISTRICOS 1.1. Uma breve histria da fico cientfica

    A fantasia perpassa a mentalidade humana desde os tempos mais primitivos,

    tanto para idealizar situaes que respondem questionamentos no que cerne

    existncia humana quanto para dar asas grande capacidade imaginativa

    de nossa espcie. Nascem assim os grandes gneros clssicos, como a

    epopia da Ilada de Homero e a pardia social de Satiricon do romano

    Petrnio. So obras antigas que j demonstram o uso de realidades fantsticas

    para descrever a nossa prpria realidade.

    A fico cientfica, apesar de ter seu nascimento literrio comumente

    associado Jlio Verne, um gnero que bebeu de diversos ramos literrios,

    sendo ento resultado de um sincretismo que lida principalmente com os

    impactos da cincia, tanto a verdadeira quanto a idealizada, na vida do

    indivduo ou da sociedade. So obras que nos permitem, atravs do progresso

    da tecnologia, visualizar um cenrio social distinto ao nosso, com todas as

    implicaes que esse avano traz ao contexto, nos permitindo promover

    debates e reflexes acerca da direo de nosso desenvolvimento social.

    Tambm nos permite metaforizar a sociedade atual, tomando emprestado as

    nossas temticas sociais implicantes e atemporizando-as, as inserindo em um

    cenrio muita vezes completamente distpico mas ainda assim, devido

    conexo definida atravs de tais temticas, incrivelmente parecido com o

    nosso.

    A primeira obra de fico cientfica atribuda Histria verdica de Luciano

    de Samotrcia mas, como foi dito, o nascimento do gnero em si

    comumento associado obra de Jlio Verne, juntamente com a de H.G. Wells,

    em que se percebe uma preocupao em lanar diretrizes e definir fronteiros

    de um gnero literrio. Apesar de distintos em suas literaturas - Verne

    manteve-se como autor de aventuras e Wells como um autor de preocupaes

    sociais os dois fizeram uso das possibilidades da antecipao.

    A histria da fico cientfica foi dividida por Isaac Asimov em um estudo

    sobre a fico cientfica social em trs perodos: no primeiro, a era clssica,

    que compreende desde os tempos primordias do gnero at 1926, a fico

  • cientfica se caracterizava como um gnero amorfo, ainda sem definies

    precisas, marcada por experimentaes e esforos descontnuos e raramente

    conscientes por parte dos autores.

    O segundo periodo, de 1926 a 1938, marcado pela era Gensback com a

    publicao de sua revista Amazing Stories. Era uma poca em que se

    vivenciava um grande avano da tcnica (influenciado pelas grandes guerras e

    disputas entre as naes industriais), da cincia e da tecnologia, o que

    impulsionava as mentes criativas a imaginarem situaes fantasiosas a partir

    desses avanos. O sucesso de Amazing Stories foi to grande que

    impulsionou a criao de outras revistas, e acrescentou tcnicas ao gnero,

    acarretando a lapidao da obra coerncia destas novas tcnicas, podendo

    por um lado at limitar a imaginao do autor, pois este no seria bem visto

    caso deslizasse nas normas cientficas ou fantasiasse demais. Por outro lado,

    o surgimento destas revistas de entretenimento criaram o subgnero Space

    Opera, histrias que acabavam recorrendo a um clich de heri salva o dia,

    contidas em revistas de quadrinhos ocasionalmente mal-desenhados e em

    suplementos de jornais, com vrios elementos exagerados que conferiu a essa

    frao a ideia de que era objeto de consumo de adolescentes e atrasados

    mentais.

    Com o gnero menosprezado, em 1938 John W. Campbell compreendeu a

    situao e decidiu reabilit-lo, atravs do seu cargo de editor da revista

    Astouding Stories, que abriu a porta para autores que enxergassem a fico

    cientfica como campo literrio digno dos melhores virtudes e enredos. Inicia-se

    ento o terceiro perodo, que se esrebde aos dias atuais, e que se observa o

    nascimento da era de ouro do gnero. Apesar de ainda surgirem revistas de

    space opera, a prpria Amazing Stories se associa ao novo movimento de

    Campbell. Entre outros dogmas, a ideia de que a fico cientfica no prentedia

    analisar profundamente os grandes problemas da sociedade, mas sim assumir

    maior racionalidade e se preocupar mais com o homem e o mundo, influenciou

    uma gama de autores que executaram a antecipao j ditada previamente

    por Verne e Wells.

  • Observava-se o surgimento da fico cientfica social. O uso do gnero

    como arma para se inventar ou adaptar qualquer realidade, com a

    apresentao de teorias inslitas cabia ao leitor separar o que era

    especulao ou chute cientfico -, possibilitou o aparecimento de grandes obras

    clssicas ps-38. Aldous Huxley, com Admirvel mundo novo, e Geroge

    Orwell, com 1984, so exemplos deste tempo. Vale lembrar outros nomes

    importantes, como Robert A. Heleim, Isaac Asimov e Arthur C. Clarke,

    preocupados com as consequncias sociolgicas, polticas e morais que

    poderiam emergir de um contexto inerente ao avano humano desorganizado.

    Foram surgindo tendncias no gnero que serviam de base para essas

    argumentaes na histria; viagens interplanetrias, deslocaes espao-

    tempo, e controle das relaes humanas po parte da tecnorobtica so

    algumas dessas tendncias.

    O gnero, naturalmente, no se limitou ao mercado editorial, ganhando

    espao em outras mdias. Em 1938, Orson Wells, conseguiu aterrorizar a

    populao de quatro estados americanos com a transmisso de Guerra dos

    Mundos, em que narrava em tom documental uma invaso aliengena. Em

    uma era em que o rdio servia como um dos principais difusores de

    informao, ainda sem a internet para a verificao da veracidade dos fatos em

    tempo real, a transmisso fictcia ganhou tom de calamidade ao ser reauditada

    para uma maior faixa da populao. Os americanos acreditavam que estava

    acontece uma invaso de verdade, comprovando a eficcia do gnero em

    mobilizar a mente do espectador atravs de situaes fantasiosas.

    No cinema a fico cientfica tambm foi ganhando espao, com precursores

    como o alemo Fritz Lang e seu opparo Metrpolis. Sua apropriao pelo

    mercado americano se deu com a adaptao das duas correntes estabelecidas

    no segundo perodo, a soap opera e a profecia tcnico-cientfica, alternando-

    as para solidificar o gnero no ramo audiovisual. Surgiram muitas mutaes

    animalescas, muitas invases Terra, muitas guerras aliengenas no espao

    sideral. So exemplos deste perodo O dia em que a Terra parou de Robert

    Wise, e Guerra dos mundos de Byron Haskin. Ed Wood, que detm o

    carinhoso ttulo por parte da crtica de pior cineasta do mundo, deu grande

    contribuio ao gnero, realizando pelculas de baixo oramento e de

  • qualidade duvidosa, como Plano 9 do espao. O cinema ainda necessitava de

    grandes marcos no gnero, equiparveis ao sucesso de grandes dramas

    picos e musicais que pipocavam na poca. Foi nesse mbito que em 1968

    Stanley Kubrick lanou 2001: Uma Odissia no Espao em parceria com

    Arthur C. Clarke baseado em um conto de autoria deste intitulado A Sentinela.

    O filme revolucionaria a histria do gnero e do cinema, causando uma

    mudana na maneira em que se fazia fico cientfica at ento.

    1.2. Contexto Poltico-Social

    1968 foi um ano extremamente marcante, como veio a se firmar com o

    passar dos anos como uma poca de acontecimentos pioneiros que legaram

    diversas caractersticas sociais s geraes futuras. Como o jornalista Zuenir

    Ventura analisou em seu 1968 O ano que no acabou, foi um ano

    conturbado, marcado pela greve geral e manifestaes estudantis, de carter

    revolucionrio, instaurado na Frana em maio daquele ano e rapidamente

    ganhando enromes propores em quesito de influncia ao longo do globo.4

    2001: Uma Odissia no Espao estreou em abril daquele ano, um ms

    antes do desencadeamento de acontecimentos que geraram tal repercusso

    social e, portanto, alheio em termos de enredo a tais discusses que

    encontrou pouco depois do lanamento. No entanto, vale destacar diversos

    aspectos da sociedade da poca para se tentar encontrar eventuais

    inspiraes aos autores da histria.

    Nessa poca vivia-se o auge da Guerra Fria, que dividia o globo em poderes

    hegmonicos opositores: o capitalismo ocidental liderado pelos Estados

    Unidos, e o socialismo stalinista da Unio Sovitica5. Com vises opostas de

    estado e de polticas pblicas, disputaram publicamente a hegemonia mundial,

    sem nunca terem ido s vias de fato, dada a conscincia do poderio militar do

    inimigo ambos contavam com avanados arsenais nucleares mas

    difundindo amplamente a desconstruo dos ideais opostos atravs da mdia e

    da influncia poltica em outras naes.

    Entre os historiadores que discutem o perodo, uma viso visivelmente

    polarizada que a Guerra se deu entre o lado que defendia a liberdade civil,

  • de opinio e de imprensa (os EUA) caractersticas advindas da teoria liberal

    econmica e o lado da ditadura comunista atesta, onde fora suprimida o

    direito de escolha e de discordncia6. Outra corrente mais pessimista encara a

    disputa como entre a potncia hegemnica que patrocinou regimes ditatorias

    na Amrica Latina e potncia totalitria expansionista, onde a propriedade

    privada fora extinguida.7

    Na sociedade americana, a rivalidade da Guerra Fria levou a um estado de

    paranoia macartista8 e por um comum sentimento de apreenso para com o

    futuro, sendo essas ideias difundidas pelos veculos de comunicao, deixando

    o civil amendrontado com a possibilidade de uma guerra nuclear ou com a

    sobreposio do comunismo subversivo sobre a liberdade capitalista. Em

    1968, vivia-se uma fase de distenso militar, aps a crise do msseis que quase

    levara ao rebento de uma guerra, no qual as duas potncias fizeram acordos

    para evitar o embate. A Europa, que sentiu bastante os efeitos da guerra tanto

    por estar localizada entre as duas potncias, como se estivesse no meio do

    front, quanto por ser objeto de desejo de controle de ambas as ideologias,

    tambm sofreu efeitos dessa distenso. As naes questionaram cada vez as

    mais ideologias a que foram impostas e seguiram um caminho de

    abrandamento popular, do lado ocidental, e de revoltas populares que

    questionavam o sistema do lado oriental (revoltas seguidas por forte

    represso).9

    Um dos campos que mais se beneficiaram da disputa gerada pela Guerra

    Fria foi a tecnologia. Era necessrio s potncias mostrarem-se superior em

    relao a rival e, em um contexto de grande busca na melhoria dos arsenais

    militares, nasce a chamada corrida espacial. Tal contexto, inclusivamente, foi

    trabalhado por Kubrick em um filme anterior, Doutor Fantstico. A tecnologia

    utilizada para o lanamento dos msseis era similar do lanamento de

    foguetes, colocando os dois lados na briga pela liderana no setor. Buscou-se

    ento a realizao de antigos desejos humanos, como a conquista espacial,

    como a prova de superioridade de uma ideologia sobre a rival. Em 1969, um

    ano aps 2001, a populao mundial via Buzz Aldrin pisar na lua, fato

    divulgado como a nova era das navegaes da humanidade10 e,

    consequentemente, com os EUA assumindo o papel de lder nessa evoluo.

  • A corrida espacial manteve-se como assunto caloroso quando retratado pela

    midia, e essa explorao da temtica despertou o interesse da populao e

    gerou reflexos na produo cultural. Aps terminar Dr. Fantstico, Kubrick

    ficou fascinado com a relao do homem com o universo e, com a

    possibilidade da existncia de vida extraterrestre. Como foi dito anteriormente,

    o cinema, apesar de j contar com uma gama de produes cientficas, entre

    elas as de George Pal (e seu A Conquista do Espao, que foi grande

    influncia de 2001), ainda carecia de uma produo-marco que as

    representasse. Em parceria com Clarke, Kubrick decidiu fazer um filme

    primordial do gnero.

    Ou seja, possvel ento especular que toda a ansiedade ante imensido e

    ao desconhecimento do espao, consequncia da necessidade de pioneirismo

    na corrida espacial, influenciaram o processo criativo de 2001, que mesmo

    imaginando um cenrio de trinta anos de avano tecnolgico e focando em

    questes existenciais e sociolgicas atemporais, no deixa de carregar valores

    da poca em que foi produzidos, mesmo que mostrados de forma intrseca no

    enredo.

    1.3. O legado de 2001

    No dia 2 de abril de 1968, americanos e ingleses se acomodaram nas poltronas

    do cinema para prestigiarem a nova obra de Kubirick, sem saberem

    exatamente o que iriam encontrar. Hoje as qualidades do filme so

    reconhecidas por cinfilo em todo o mundo, mas na poca a reao a uma

    pelcula to incomum dividiu opinies. Enquanto algumas fontes relevantes,

    como a The New Yorker, louvavam a um pioneirismo de Kubrick (um grande

    filme, uma experincia inesquecvel)11, outros, como a coluna de Ray

    Bradbury, declaravam impresses hostis (a audincia sequer se importa

    quando Poole morre)12. Ocorreu uma polarizao de opinies por toda a crtica

    especializada, talvez mobilizada pelo estranhamento ao novo formato de fico

    cientfica, dividindo aqueles que abraram as inovaes e aqueles agarrados

    aos velhos moldes de se fazer cinema.

    No era todo filme que deixava claro a coragem em quebrar velhos padres

    para se contar a histria sob uma nova morfologia. Em 2001 essa coragem

  • mostra-se evidente quando explicita-se, por exemplo, que o filme contm 88

    minutos sem dilogos (somando-se os primeiros 25m, os ltimos 23, e mais

    duas sequncias menores), e quase 10 em uma sequncia colorida de uma

    viagem interplanetria que mais parece uma trip de LSD. do estilo

    kubrickiano a experimentao que acaba ditando tendncias posteriores, como

    o mesmo realizou no drama com Laranja Mecnica (1971) e no terror com O

    Iluminado (1980). Stanley Kubrick tinha em seu papel de cineasta este desejo

    pela tcnica meticulosa, pela originalidade e quebra de padres

    cinematogrficos estabelecidos. Considerava Spartacus, filme realizado sob

    grande estrutura colaborativa do mercado hollywoodiano o pior filme de sua

    carreira, decidindo no filmar caso tivesse sua autonomia de cineasta

    novamente restringida.

    Visto a sua vontade crescente de remaquiar o cenrio da fico cientfica e a

    sua recente obsesso pelas questes existenciais que o universo fomentava

    em seu ego, Kubrick buscou um parceiro no qual pudesse divagar sobre o

    tema e produzir um filme como secreo de tais divagaes. Encontrou em

    Arthur C. Clarke o vaso que lhe propiciaria inspiraes relevantes para a causa,

    com este oferecendo-lhe seis contos para anlise. Ambos passariam dois anos

    remodelando The Sentinel em roteiro e livro, escritos simultaneamente.

    (Como Clarke notou, outro conto seu, Encouters in the Dawn, serviu de

    inspirao para a sequncia inicial do filme)13, alm de assistirem vrios filmes

    do gnero e lerem livros sobre antropologia. Apesar dos autores atuarem em

    plena colaborao na construo dos dois textos, as particularidades de cada

    mdia inevitavelmente causaram algumas diferenas entre livro e filme. O

    prprio Kubrick, em uma entrevista de 1970 reconhece essas diferenas, na

    opinio dele interessantes, ao afirmar que o livro naturalmente mais explicito

    que o filme, devido a ter um linguagem verbal.14 De fato, uma caracterstica da

    verso filmada que mais chama ateno at hoje a sua grande abertura s

    mltiplas interpretaes, o que torna o filme enigmtico e tema de discusses

    cinematogrficas.

    A critica inicialmente dividida acabou se rendendo aos mritos do filme ao

    longo dos anos, pois inegvel que 2001 no passa despercebido; pelo

    contrrio, sua forma de contar histria priorizando o visual, as interpretaes

  • ambguas, e uma relao peculiar homem x universo fez com que Kubrick

    conseguisse o seu intento de lanar um marco na fico cientfica,

    influenciando uma gama de cineastas. George Lucas, que nove anos aps a

    estreia de 2001 reinventaria novamente o gnero no cinema sincretizando-o

    com a ao e apresentando efeitos especiais revolucionrios com o seu Star

    Wars: Guerra nas Estrelas, afirmou no documentrio Standing on the

    shadows of Kubrick: the legacy of 200115 que o filme lhe desencadeara um

    enorme impacto. No mesmo documentrio discutido a influncia direta de

    2001 em Star Wars em quesitos tcnicos, como por exemplo, o formato das

    espaonaves. Curiosamente, 2001 tambm inspirou Tarkovsky a dirigir seu

    Solaris em 1972, mas no pelos motivos convencionais. Tarkovsky

    discordava da viso de futuro que Kubrick idealizara, considerando-a

    antissptica.16 Por esse ponto de vista interessante a ousadia de Solaris,

    sendo lanado quatro anos depois e indo contra os novos padres do gnero

    que 2001 tinha ditado, em um momento que tais padres criavam uma rede

    de influncia, equiparando sua sequncia quase que a um ato de heresia. (Mas

    o prprio Kubrick tambm no era exatamente interessado em seguir padres).

    Apesar da crtica inicialmente dividida e de algumas tentativas de

    desconstruo dos cineastas, 2001 acabou agradando mais do que

    incomodou. Ridley Scott deu a sua opinio sobre o filme no Festival de Cinema

    de Veneza, em 2007: declarou acreditar que o que conhecia como fico

    cientica como gnero estava morta. Scott disse que, apesar do avano de

    grandes efeitos especiais de filmes como Matrix e Guerra dos Mundos,

    nenhum deles bate o filme de Kubrick. Este filme mais atual (e talvez mais

    relevante) hoje do que no dia em que foi lanado. [...] No h nada mais

    original, j vimos tudo antes.17 Apesar da fala de Scott soar meio radical, visto

    que a fico cientfica passou por vrias transies em sua linha de vida,

    inegvel que 2001 uma marca visvel nesta linha. to diferente de quase

    tudo que foi produzido antes e depois, que no fica difcil entender porque

    muitos o consideram um ponto distinto no cinema de qualidade do gnero.

  • 2. Aspectos tcnicos

    2.1. Direo

    2001 comea com a at ento tradicional Overture. No entanto, tudo o que

    se v na tela um fundo negro, acompanhado por uma trilha cada vez mais

    intensa. Esta cena a primeira de muitas que geram impactos atravs da

    imprevisibilidade, e aquela que define inicialmente o carter sombrio e

    multiparalelista da histria ao espectador. O fundo negro representa ao mesmo

    tempo trs incertezas: a potncia do homem ante a imensido do espao, a

    inconsistncia de respostas no que tange s grandes reflexes existenciais, e

    os fatos anteriores nossa prpria evoluo. Imaginando a histria como

    evoluo linear, a overture seria como um ponto zero, onde em algum

    princpio o breu era predominante.

    Stanley Kubrick, cineasta infls que na poca do lanamento beirava os 40

    anos, estava ciente do poder semitico desses detalhes. Sua direo

    meticulosa marcada por uma constante busca pela atmosferizao adequada

    da histria, e sempre foi de sua inteno mobilizar ao mximo o pblico,

    mesmo que negativamente. (Laranja Mecnica exemplo clssico de tal

    conduo). Atravs do silncio dominante, Kubrick consegue transportar o

    espectador ao ambiente claustrofbico do espao: to imenso, mas ao mesmo

    tempo to incerto...

    Ao construir a histria junto a Clarke, Kubrick inseriu vrios elementos

    relevantes ao mbito cientfico: evoluo humana, avano da tecnologia, vida

    extraterrestre, inteligncia artificial. Ele desejava marcar o gnero da fico

    cientfica, e costurou as temticas e um roteiro aparentemente linear. Sua

    verso filmada da histria, por sinal, acabou sendo bem menos explcita do que

    o livro de Clarke. At nesse ponto o diretor soa provocativo: sendo evidente a

    sua postura de relativo apego realidade, no iria se atrever a responder com

    clareza o grande cerne existencial da vida humana, deixando as explicaes

    abertas para a capacidade interpretativa de quem assiste.

    Assim, 2001 se torna muito mais uma experincia visual que verbal. A

    renunciar forma habitual do gnero, Kubrick consegue atingir o subconsciente

    do espectador com uma subjetividade potica e filosfica. Caicco (2007)

  • afirmou que 2001 ilustra dois desejos do ser humano, contraditrios entre si,

    ao buscarmos o espao: um desejo pelo surreal, uma necessidade de se

    encontrar algo no-inerente a ns mesmos, e a busca por uma beleza que

    nos faa sentirmos em casa, e no perdidos no espao.18

    2.2. Roteiro

    A carter de histria, o filme est dividido em quatro segmentos. No primeiro,

    A aurora do homem, somos apresentados aos nossos ancestrais homindeos,

    ainda em um estgio primitivo de cognio. Confirmando a linearidade

    evolutiva que o Overture introduziu, somos aqui apresentados figura do

    monlito, que passa a ser o fio interligante dos segmentos. O mesmo tambm

    assume o protagonismo do segundo, AMT-1, mostrando ser uma entidade

    atemporal e enigmtica aos olhos de personagens e espectadores.

    O terceiro segmento altera consideravelmente a linha de raciocnio at ento

    seguida, destoando o foco da evoluo e vida aliengena para centrar-se nos

    paradoxos da criao de vida artificial. Somos introduzidos a Hal, computador

    autnomo e teoricamente prova de erros. Dotado de uma grande

    capacidade cognitiva, equiparvel humana ( difcil consider-la superior,

    uma vez que sua programao fruto de trabalho antrpico), mostra-se

    tambm dotado de um grande ego, o que acaba comprometendo a eficincia

    da operao espacial. Todos os transtornos causados pelo surto do

    computador podem, at hoje,, frutificar debates a respeito do limite dos

    benefcios gerados pelo avano da tecnologia.

    Como se o terceiro segmento fosse um intervalo na principal linha filosfica

    do roteiro (sendo ele, porm, o mais longo dentre os quatro), a ltima parte,

    denominada Jpiter e alm do infinito retoma o foco nas questes existenciais

    e na explorao do espao fsico. Vemos o astronauta chegando ao fim de sua

    jornada, e o que ele encontrou por l; consequentemente, o fim de uma busca

    que se iniciou 4 milhes de anos atrs, ao primeiro contato de nossos

    ancestrais homindeos com o monlito cabalstico.

    Clarke e Kubrick escreveram paralelamente livro e roteiro medida que

    pesquisavam o gnero e teorias humanas que solidificassem a base da

    histria. Kubrick achou mais interessante enigmatizar a sua verso,

  • possibilitando a 2001 oferecer interpretaes subjetivamente individuais.

    Como a inspirao para o roteiro foi um conto do prprio Clarke, toda a histria

    deve ser encarada como uma construo coletiva. E, dado o enfoque particular

    de cada autor em sua respectiva mdia, o livro deve ser creditado a Clarke e

    Kubrick, e o roteiro, a Kubrick e Clarke.19

    2.3. Efeitos especiais

    2001 foi concebido em uma era cinematogrfica que no contava ainda com

    os benefcios da tecnologia computacional. Isso significa que seus efeitos, que

    causaram tanto estranhamento por parte da faixa mais tradicional quanto furor

    pelos mais jovens, foram feitos seguindo tcnicas manuais que vinham sendo

    utilizadas a algum tempo. Ainda assim, ficou bastante conhecido por suas

    inovaes e pela maneira perfeccionista que aplicou essas tcnicas, o que

    levou Kubrick a ganhar o oscar de efeitos especiais em 68, o nico em sua

    carreira.

    Com nomes de peso em sua equipe, o diretor fez questao de observar de

    perto o andamento dos projetos de design para o filme, e sua preocupao

    com os detalhes visto quando se observa suas exigncias, por exemplo, para

    com o formato do monlito. Insatisfeito com o projeto original, que o

    idealizara em formato tetradrico, Kubrick alegara que o mesmo, como smbolo

    central da histria, no era impressionante o suficiente. Ele encomendou a uma

    companhia inglesa a fabricao de um bloco de 3 tonelas de acrlico

    translcido, e ainda assim no gostou do resultado. S se sentiu contemplado

    quando conseguiu chegar ao resultado final, feito de madeira e lixado com

    grafite para um suave acabamento final.20

    Kubrick agiu com pioneirismo ao utilizar amplamente a tcnica de projeo

    frontal com permutao retrorefletiva, que consiste em projetar uma fotografia

    em um plano de fundo, criando assim um cenrio em estdio mais realista do

    que as at ento comumente utilizadas pinturas. Tal efeito pode ser observado

    nos primeiros segmentos, e seu uso em 2001 acabou popularizando a tcnica

    at os anos 90, quando foi substituda pelo cenrio verde/azul. Uma outra

    grande inovao pode ser observada na cena em que o astronauta realiza sua

    viagem at Jpiter, na qual foi utilizada a tcnica de slit-scan, desenvolvida

  • por Douglas Trumbull especialmente para o filme. Milhares de imagens de alto

    contraste, incluindo estruturas cristalinas, desenhos arquitetnicos e padres

    moir, foram combinadas e submetidas a filtros de cor para criar a lisrgica

    sequncia final.

    Todo um set especial foi desenvolvido para simular o ambiente espacial, com

    destaque para o interior da nave Discovery. Este foi desenhado pela equipe

    como uma gigante centrfuga, que geraria o efeito da falta de gravidade atravs

    de rotaes que poderiam chegar a 4,8km/h. Com a cmera presa em uma

    posio fixa, o set poderia rodar enquanto os atores caminhavam por ele,

    criando planos de fotografia bastante interessantes.

    Outras curiosidades permeiam a produo de 2001: para as cenas na

    superfcie lunar, Kubrick mandou importar, lavar e pintar centenas de toneladas

    de areia. A caneta flutuante foi filmada colando-se a mesma em um disco de

    vidro e rotacionando-o na frente da cmera, tica ocultando-o. E o figurino dos

    homindeos no primeiro segmento seria originalmnente mais realista, com

    maquiagem no lugar das fantasias utilizadas. S no foi possivel devido a um

    detalhe interessante: a maquiagem exigiria que os atores estivesse nus, o que

    faria com que o filme ganhasse uma classificao etria de 18 anos.

    Com isso, possvel perceber o cuidado preciso que Kubrick conduziu o

    andamento de sua produo. Curiosamente, em entrevista concedida ao The

    Hollyood Reporter, Douglas Trumbull disse que Kubrick, apesar de ter

    merecido vrios oscars ao longo de sua carreira, no mereceu o nico que

    recebeu. No os desenvolveu; dirigiu-os declarou.

    2.4 . Trilha Sonora

    A trilha utilizada merece uma discusso parte. Apesar de boa parte do filme,

    principalmente no sufocante terceiro segmento, definir uma atmosfera espacial

    a partir do silncio, e esse silncio causar grande impacto (e opinies injustas

    de que o filme seja parado), h momentos em que o filme se utiliza da trilha

    sonora para causar igual impacto. A mesma foi responsvel por popularizar

    vrias obras clssicas, destacando-se a valsa Danbio Azul de Johann

    Strauss e o poema sinfnico Assim falou Zarathustra de Richard Strauss

    inspirado nos escritos de Nietzche.

  • Uma inovao do filme nesse quesito foi o uso de melodias micropolifnicas,

    que fazem uso de acordes dissonantes que alternam seus tons lentamente ao

    longo do tempo. Da autoria de Gyrgy Ligeti, o mesmo se ofendeu com Kubrick

    tanto por este no pedir sua permisso para o uso quanto por fazer parte da

    mesma trilha que tambm continha obras dos Strauss.21 Porm, inegvel a

    importncia de tais obras para a ambientalizao do filme. Zarathustra

    ouvida no incio do filme, ainda nos crditos, no momento em que o homindeo

    aprende a manusear ferramentas, e na sequncia final, com o surgimento da

    criana-estrela. , portanto, um marco na experincia sensitiva, dando a

    mesma ideia de linearidade entre os segmentos que a figura do monlito

    transmite. Sincronizado com o movimento dos satlites, Danbio Azul cria

    uma sequncia de apresentao do cenrio futurista tao visionria quanto bela.

    Era do feitio de Kubrick fazer a composio da trilha de seus filmes com

    obras clssicas, e aqui tal opo se mostrou bem justificada. Kyrie e Lux

    aeterna conferem, ao utilizar sincronias de vocais humanos, um tom bastante

    sombrio nas cenas perante o monlito, reforando no espectador a ideia de

    curiosidade e temor ante ao desconhecido.

    Mesmo com tais mritos, a trilha sonora no foi explorada exausto. Para

    causar o sentimento de vazio, Kubrick optou releg-la em algumas cenas em

    detrimento da total ausncia de som. Ou seja, enquanto muitas

    superprodues abusam da trilha para causar o impacto desejado, 2001 vai

    na tendncia oposta.

  • 3. Aspectos humansticos

    3.1. Interpretaes

    Como j foi dito anteriormente, foi de plena inteno que Kubrick deixou seu

    filme aberto mltiplas interpretaes. Fazendo uso da ambiguidade e da

    inclareza, o diretor queria atingir o ppublico de uma forma indireta e subjetiva, e

    se recusou a oferecer uma explicao mais mastigada, como declarou

    Playboy em uma entrevista em 68: Voc livre para especular o quanto quiser

    sobre os significados do filme e tais especulaes indicam seu sucesso em

    atingir a audincia em um nvel profundo - mas eu no desejo declarar um

    mapa de viagem verbal que todo espectador v se sentir obrigado a seguir ou

    at sentir que no entendeu a obra.22

    O livro de Clarke mais explicativo quando comparado ao roteiro de Kubrick,

    e explica conceitos que ficaram vagos no filme, como o monlito e a criana-

    estrela. Mesmo assim, ambos respeitavam a posio do parceiro, entendendo

    as linguagens diferentes. Kubrick dizia que o livro era naturalmente mais

    explicativo, devido ao verbo, e Clarke dizia que 2001 no era um filme feito

    para ser entendido pela primeira vez.23

    Tais ambiguidades, obviamente, levaram a um conjunto de opinies

    multidimensionais, sendo observados pela audincia aspectos filosficos,

    alegricos e at mesmo religiosos. O uso de Assim falou Zarathustra como

    tema-chave do filme referencia diretamente Nietzsche, que possui uma obra de

    mesmo nome no qual escreve que o homem atual uma transio entre o

    macaco e o alm-homem.24 Esse conceito visivelmente aplicvel ao filme

    quando se observa as fases do homem, o pr-histrico e o atual. Outra anlise

    nietzscheana coerente a feita por Donald MacGregor25 atravs do livro do

    filsofo alemo O Nascimento da Tragdia26 sobre a dicotomia entre os lados

    apolonianos e dionizianos do ser. Em referncia s personalidades dos

    deuses gregos, o lado apoloniano seria o mais racional e preciso, enquanto o

    dionisiano, mais instintivo e emocional. Para Nietzsche, no seria benfico ao

    indivduo expressar apenas um lado, pois o lado apoloniano confere razo e

    sendo, e o dionisiano, naturalidade. Este lado predominante na cena de

    nossos ancestrais homindeos, e o apoloniano representado pela

  • personalidade fria e precisa de HAL. O astronauta David Bowman recupera seu

    lado dionsico quando sofre a transformao.

    Opinies alegricas se baseiam na insero de metforas na histria para

    explicar, por exemplo, a concepo do homem. A longa jornada da Discovery,

    com seu formato lamparnico para encontrar o grande planeta Jpiter, pode ser

    vista como a alegoria de um espermatozide em busca do vulo, com o

    astronauta Bowman sendo a vida que a clula carrega. o que acredita o

    jornalista neo-zelands Scott MacLeod, que ainda diz que a sequncia trip de

    LSD a contemplao do momento da concepo, e que a viso do

    envelhecimento e renascimento como criana-estrela Bowman assistindo

    extino de sua prpria espcie como conhecida.

    Outra alegoria interessante a defendida por Leonard F. Wheat, que

    identifica no filme trs relevncias: alm das j mencionadas alegorias

    nietzscheanas, ele tambm prope a comparao da obra Odissia de

    Homero, sendo Bowman Ulisses e HAL, o ciclope aps vrios obstculos,

    Bowman consegue seu objetivo e mata HAL, aparentemente superior, como

    Ulisses com a criatura mitolgica -, e teoria do prprio Clarke sobre a

    simbiose homem-mquina, adquirido com o extremo avano tecnolgico.27

    Finalmente, o filme tambm sucinta interpretaes religiosas, com o prprio

    Kubrick reforando esta viso em uma entrevista Rolling Stones. Em um nvel

    profundamente psicolgico o enredo do filme simboliza a busca por Deus. O

    que demonstra o carter conectivo da histria, intercalando extremo avano

    cientfico com noes de espiritualidade.28

    3.2. Estudo dos objetos

    Dois objetos centrais na histria, o monlito e a criana-estrela so mais

    contemplados om descries no livro que no filme. Neste, so apresentados de

    forma recndita, causandoe estranheza primeira vista. Ambos so objetos

    alegricos que ajudam a construir a temtica da evoluo humana, e, como

    smbolos misteriosos, contribuem para a multidimensionalidade de

    interpretaes.

  • Clarke descreve o monlito no livro como fruto de um ser aliengena

    surpemo, um exemplo do extremo da evoluo dos seres. Aparentemente

    esttico, capaz de viajar pelo universo e incrementar a evoluo alheia,

    como vemos com a nossa espcie no primeiro segmento. Nesse sentido, torna-

    se pea essencial para o desenvolvimento de nossa cognio, e adquire o

    papel de mistrio principal da narrativa. Nietzsche acreditava que o homem

    ganharia superioridade atravs da transvalorao de todos os valores do

    indivduo, da sede de poder e superao do niilismo, e do processo gradual de

    superao prpria.29 O monlito pode ser ento fruto de uma grande superao

    dentro de sua espcie, em um processo ocorrido a milhes de anos anteriores

    ao surgimento da nossa. Um questo filosfica interessante que a cognio

    ofertada pelo monlito permitiu ao homem pela primeira vez a manipulao de

    uma ferramenta para cometer assassinato. Observa-se tambm uma referncia

    interessante na cena em que o astronauta toca o monlito a tela de

    Michelngelo A criao de Ado, com o monlito representando Deus,

    reforando o carter supremo do mesmo30. E h at quem diga que o monlito

    uma metfora de Kubrick ao prprio cinema.31

    A criana-estrela tambm ganha uma explicao mais esclarecedora do livro,

    que seguia a representao do renascimento da espcie humana. No filme, tal

    alegoria torna-se clara quando se sabe este conceito, mas o mesmo deixa livre

    para outras concepes. retratado como um feto dentro de um anexo

    embrionrio, representando o grande recomeo. Nu e com formao

    incompleta, est, curiosamente, com os olhos abertos, mirando a Terra, seu

    local de origem, como se a enxergasse agora sob uma nova tica. Segundo

    Robert Jacobs, os dois aparecem como novas verses de Homem e Terra,

    face-a-face, preparados para ressurgirem em um futuro de possibilidades

    inimaginveis.

    Por fim, este estudo no estaria completo se no fosse abordada a

    personalidade do computador HAL 9000, mais conhecido (e mais

    humanizado) como Hal. Fruto idealizado do avano cientfico, suas atitudes

    equivocadas servem para se refletir sobre o limite do avano cientfico.

    Protagonista do terceiro segmento, HAL, apesar de ser sinttico, demonstra

    uma base psicolgica bastante humanizada, mostrando que sua inteligncia

  • programada no foi limitada resoluo de problemas-chave da nave, mas

    extendida ao mbito emocional. Ao demonstrar ressentimento para com os

    astronautas, reflete sentimentos negativos caractersticos do psicolgico

    humano e provavelmente no desejado pelos programadores. A revelao da

    existncia de uma personalidade de HAL levanta um debate tico: ser que

    Bowman, ao desligar os circuitos do computador, revelou um assassinato? A

    questo aqui no a culpabilidade de Bowman, mesmo porque este agiu em

    legtima defesa, mas a real possibilidade de HAL existir como entidade

    racional. Se levarmos em considerao a origem artificial de tal personalidade,

    o ato se caracteriza como um simples desligamento. Por outro lado, se

    aplicarmos no problema a concluso clssica de Descartes Penso, logo

    existo32 - ento o debate ganha tons mais complexos.

  • 4. Notas

    Fonte: Sci-Fi Brasil. Disponvel em http://scifibrasil.com.br/historia/index.htm.

    Acessado em 17/11/2014

    Asimov, 1953

    3 Lovgen, 2005

    4 Ventura, 2008

    5 Gaddis, 2005

    6 Bellamy, 2006

    7Max Frankel, "Stalin's Shadow," New York Times Nov 21, 2012 baseado no

    livro de Anne Applebaum, Iron Curtain: The Crushing of Eastern Europe, 1944

    1956 (2012)

    8 Fleming, 1961

    9 Judt, 2006

    10 Cristiano de Melo e Otho Winter. A era espacial. Disponvel em

    http://www.feg.unesp.br/~orbital/sputnik/Capitulo-2.pdf

    11 Gilliat, 1970

    12 Brosnan, 1978

    13 Clarke. 2001

    14 Gelmis, 1970

    15 Disponvel em http://www.youtube.com/watch?v=gW7-VnIqKhM

    16 Michael Roberts. Solaris. Disponvel em

    http://www.filmycks.com/films/solaris/. Acessado em 17/11/2014.

    17 Fonte: Dailygalaxy. Disponvel em

    http://www.dailygalaxy.com/my_weblog/2009/07/ridley-scott-science-fiction-is-

    dead.html. Acessado em 17/11/2014

    18 Caicco, 2007

    19 Clarke, 1972

    20 DeMet, 1999

    21 Keller, 2009

    22 Norden, 1968

  • 23 McAleer, 1993

    24 Nietzsche, 1885

    25 Donald MacGregor, 2001 or How One Film-Reviews with a Hammer.

    Disponvel em http://www.visual-memory.co.uk/amk/doc/0013.html. Acessado

    em 19/11/2014

    26 Nietzsche, 1886

    27 Wheat, 2000

    28 Fonte: The Kubrick FAQ. Disponvel em http://www.visual-

    memory.co.uk/faq/index2.html. Acessado em 19/11/2014

    29 Ver nota 26

    30 Michael Hollister. 2001. Disponvel em

    http://www.michaelhollister.com/reviews/2001ASpaceOdyssey.htm. Acessado

    em 19/11/2014

    31 Rob Ager, em videoanlise "Meaning of the Monolith revealed"

    32 Descartes, 1632

  • 5. Referncias

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