41
UNIVERSIDADE POTIGUAR PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PARCERIA COM O ALQUIMY ART CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ARTETERAPIA SUELY MARTINS TAVARES CABRAL O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA ATRAVÉS DA ARTE NATAL RN 2004

2004_natal_rn_CABRAL_suely_martins_tavares.pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • 0

    UNIVERSIDADE POTIGUAR

    PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    PARCERIA COM O ALQUIMY ART

    CURSO DE ESPECIALIZAO EM ARTETERAPIA

    SUELY MARTINS TAVARES CABRAL

    O DESENVOLVIMENTO DA COMPETNCIA ATRAVS DA ARTE

    NATAL RN

    2004

  • 1

    SUELY MARTINS TAVARES CABRAL

    O DESENVOLVIMENTO DA COMPETNCIA ATRAVS DA ARTE

    Monografia apresentada Universidade Potiguar em parceria com o Alquimy Art, como requisito para obteno do grau de Especialista no Curso de Especializao em Arteterapia.

    Orientadora: Prof MsC. Deolinda Fabietti

    Natal RN

  • 2

    2004

    O DESENVOLVIMENTO DA COMPETNCIA ATRAVS DA ARTE

    Monografia apresentada por Suely Martins Tavares Cabral como

    requisito parcial para obteno do curso de Especializao em Arteterapia em

    ___/___/___, recebendo o conceito (_______) conforme avaliao do orientador (a)

    e da banca examinadora constituda pelos professores:

    Prof MsC. Deolinda M.C. F. Fabietti

    Prof Dra. Cristina Dias Allessandrini Coordenadora da Especializao

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    Esta monografia representa a mais profunda gratido a Deus por eu ter

    alcanado este degrau de minha vida, pela perseverana, pela sade e estabilidade.

    Agradeo tambm aos que co-participaram deste trajeto, dando-me fora e

    coragem para dar andamento a meus futuros projetos de vida profissional.

    Ao meu esposo Tlio, pela pacincia e reconhecimento do meu interesse

    pelos estudos. A minha querida filha Ngilla, que por muitas vezes sentiu-se s com

    a minha ausncia. No entanto, com um forte abrao e um beijo, abria um sorriso de

    satisfao pela minha chegada.

    A minha famlia, que direta e indiretamente acolheu a minha deciso por

    continuar os estudos. A minha me, que me concedeu a vida e que sinto todo seu

    amor e ternura.

    Em especial ao meu irmo Marcelo que sempre me incentivou com suas

    palavras de carinho e f, que muito contribuiu para a minha persistncia de vida

    acadmica.

    As minhas companheiras de estgio Aleximone e Andria, por me acolherem

    no grupo e contriburem para a concretizao do projeto da terceira idade.

    As moas Orqudea e Margarida, que confiando e acreditando na minha

    competncia profissional chegaram a mim em busca de um novo caminho.

    Por fim, a todos aqueles que, de alguma forma estiveram do meu lado, ora me

    incentivando, ora indicando caminhos. Sua participao foi recebida em delicados

    momentos da elaborao e finalizao desta dissertao. Obrigada.

  • 4

    RESUMO

    A monografia apresentada um estudo minucioso e de exigncia para o Curso de Especializao em Arteterapia. Tem como tema o desenvolvimento da competncia atravs da arte, que abrange desde o lado pessoal at o profissional. A arte uma forma de expresso do ser humano e como tal, uma forma de comunicao e de linguagem simblica. , portanto, um produto da intuio e da observao; do inconsciente e do consciente; da emoo e do conhecimento; do talento e da tcnica e tambm da criatividade. Aceitar e utilizar as modalidades de expresses artsticas dentro de um processo teraputico vem enriquecer a possibilidade de um conhecimento profundo e conseqentemente uma maior compreenso da pessoa auxiliada.Freud j nos ensinava que o inconsciente se manifesta mais por imagem do que por palavras, pois as imagens so mais livres da censura da mente. A pesquisa moderna nos esclarece que a imagem o processo de pensamento que evoca o uso dos sentidos, os quais esto corrompidos e treinados por uma sociedade que s permite o que ela quer. Todo mecanismo do nosso corpo est envenenado. Temos tanto medo da vida que matamos todos os tipos de possibilidades pelas quais a vida poderia fazer contato conosco. Logo, percebe-se que atravs da arte que o ser humano volta a reconhecer o valor dos sentidos fsicos. Verifica-se nas manifestaes artsticas o desenvolvimento de competncia com msicas, pinturas, desenhos, esculturas com barro, dentre outros. No apenas a pessoa estrutura seu mundo interior e o expressa por uma simbolizao que a obra produzida, mas tambm o arteteraputa que se emociona ao ver um processo positivo, terapeuticamente falando. Palavras-chaves: desenvolvimento competncia - arte.

  • 5

    ABSTRACT

    This monography is a small study that is required to the art therapy specialization course. It has the theme: the competences acquired through the art that include the professional and personal side. The art is a human expression form, and the symbolical language communication form. Therefore, is an observation and intuition product, the unconscious, and conscious, emotion and knowledge, talent, skills and creativity too. To accept and use the artistic expressions modalities into a therapy process, brings a possibility to a deep knowledge and as a result a major comprehension that is going to help the person. Freud taught us that the unconscious demonstrate more by pictures that by words because the pictures are freer of the mind censure. The modern research shows us that the image is the thinking process that evokes the use of the senses. They are corrupted and trained by a society that permit only what is wants. Ale our body mechanism is poisoned. We are afraid of life that kills all kinds of possibilities that life could be in touch with us. Soon, understand that is through the art that human can recognize the phisical senses values. Its possible to observe in art demonstrations the competences development with musics, paints, draws and sculpture with clay, among others. The person structure doesnt express only the interior world, but expresses through the symbolism that the work of art is produced, but also the therapyart that has emotion when observe the positive therapist process. Keys words: Development Competences - Art.

  • 6

    SUMRIO

    1 INTRODUO................................................................................................

    2 A DESCOBERTA DA VALORIZAO PESSOAL E

    PROFISSIONAL...........

    3 O DESENVOLVIMENTO DA COMPETNCIA ATRAVS DA

    ARTE.............

    3.1 A EVOLUO DE SENTIMENTOS POSITIVOS.............................................

    3.2 O SENTIR AQUI E AGORA..............................................................................

    3.3 EM BUSCA DO BEM ESTAR...........................................................................

    3.4 RESPIRAO: ALVIO IMEDIATO DAS TENSES........................................

    4 UMA NOVA PERSPECTIVA DE

    VIDA............................................................

    4.1 AS MOAS ...................................................................................................

    4.2 O ENVOLVIMENTO COM O MATERIAL ARTSTICO (O BARRO).................

    5 NOTAS CONCLUSIVAS.................................................................................

    REFERNCIAS

    BIBLIOGRFICAS.......................................................................

    7

    10

    13

    13

    16

    17

    18

    20

    22

    33

    35

    37

  • 7

    1 INTRODUO

    O objetivo desta monografia mostrar com clareza o que aprendi, vivenciei e

    consegui desenvolver atravs de expresses artsticas. Este trabalho apresenta-se

    como suporte terico dentro de um contexto teraputico, estabelecendo relao

    entre a arte e a vida, possibilitando ao indivduo experienciador da arte como terapia,

    a oportunidade de reestruturar suas competncias e melhorar sua qualidade de vida.

    Competncia, ao meu ver, expressa por meio de uma fora subjetiva que

    reprimida diante das circunstncias das origens e cultura. Ter competncia para

    alguns ato de poder, de ordem. Porm, na arte se descobre que competncia

    mais que poder: a valorizao do Eu, desenvolvido atravs de expresses

    artsticas, que revela a persona e age interiormente, dando habilidades de

    reconhecimento e crescimento de aes construtivas.

    De certa forma, a arte j existia na minha vida h muito tempo, pois tenho

    destrezas para com ela e a mesma sempre me fascinou. Mas, como h pessoas que

    acham que arte s o belo, eu tambm escondia minhas habilidades artsticas

    achando que, o que eu fazia artisticamente no tinha beleza. Depois que passei a

    ter um contato mais aprofundado com os materiais artsticos e a expressar-me

    atravs de desenhos, de pinturas, com formas abstratas e cores, agindo de acordo

    com o meu inconsciente e consciente, que percebi, de fato, o que vem transformar

    e reestruturar o interior pessoal numa terapia com arte. Atravs desse contato a

  • 8

    arteterapia integrou-se na minha vida, ampliando assim, a nova maneira de viver e

    de me relacionar com as pessoas e com o mundo. Passei ento, a enxergar a arte

    como mediadora para o desenvolvimento da competncia e melhor aceitao

    pessoal. Respaldando essa idia, cito Fischer quando afirma:

    A arte pode elevar o homem de um estado de fragmentao a um estado de ser ntegro, total. A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda no s a suport-la como a transform-la, aumentando-lhe a determinao de torn-la mais humana e mais hospitaleira para a humanidade. (1981, p. 57)

    A arte inseriu na minha vida as competncias de re-significar

    sentimentos adormecidos; sensaes de bem estar corporal a cada respirao; as

    transformaes potencializadoras de aes; a condio de criar e re-criar; de sentir

    no interior a essncia da alma, dando um ar de espiritualidade e melhor significado

    para a vida.

    O uso da arte como terapia implica que o processo criativo pode ser um meio

    tanto de reconciliar conflitos emocionais, como facilitar a autopercepo e o

    desenvolvimento pessoal. (Allessandrini apud CARVALHO, 1995, p. 24).

    Para enfatizar com eloqncia a citao de Carvalho utilizo os captulos que

    se segue.

    No captulo dois, enfoco a descoberta da valorizao pessoal e profissional do

    meu Eu.

    No captulo trs, cito alguns pontos de desenvolvimento da competncia

    atravs da arte afim de que se reconhea o benefcio que a arteterapia proporciona

    no corpo e na mente.

    No captulo quatro, convido o leitor a conhecer um trabalho que desenvolvi

    com duas moas Margarida e Orqudea. interessante poder transmitir

    arteterapeuticamente para os leitores as possibilidades de criar e ter novas

  • 9

    competncias, e de viver momentos desafiadores para compreender e desenvolver a

    conscincia no sentido de enxergar melhor a vida.

    No quinto captulo conto a relao das clientes com o material artstico, argila,

    e as possveis transformaes no modo de pensar e agir durante e aps o manuseio

    desse material.

    Finalmente, no captulo cinco fao algumas consideraes, mostrando a

    importncia da arteterapia na vida de um indivduo quando ele se dispe a

    freqentar um atelier arteteraputico.

  • 10

    2 A DESCOBERTA DA VALORIZAO PESSOAL E PROFISSIONAL

    Esta dissertao fruto de uma necessidade pessoal e profissional de

    sistematizar parte do trabalho que tenho desenvolvido depois do estgio com a

    terceira idade. Senti insegurana e precisava me certificar do que havia aprendido.

    Houve ento uma procura de duas pessoas que precisavam de uma atividade

    teraputica. Abracei a causa no sentido de fazer valer uma das minhas primeiras

    competncias: a descoberta da valorizao pessoal e profissional, as

    transformaes potencializadoras de aes.

    Tudo comeou no corredor da escola em que trabalho como professora.

    Encontrei com uma colega de trabalho que no decorrer deste ano quase no nos

    vamos, por estarmos em horrio diferente. A mesma comeou a falar sobre sua

    vida, que andava muito triste, cheia de decepes e que no sabia agir em

    determinadas situaes, as quais se encontrava. De repente ela me perguntou se j

    estava atendendo como arteteraputa, falei que no. Ela ento disse: - quando

    comear quero ser a primeira. Nos despedimos e sai pensando... Ser que seria

    minha chance de comear a colocar minha nova profisso em prtica?

    Passados alguns dias, pensando muito, resolvi ligar para ela. Perguntei se

    realmente ela queria fazer arteterapia e se acreditava que a mesma poderia ajud-la.

    Senti que algo novo comeava a acontecer, mobilizando-me a acreditar que o que

    eu buscava estava me dando a chance de realizar: um projeto de vida e acima de

    tudo, ajudar a uma pessoa que tambm estava em busca de algo que talvez j

    tivera, mas que estava adormecido e no aproveitado. Voluntariamente estou

  • 11

    atendendo a essa pessoa e sua filha (adolescente). A sua preocupao maior era

    porque no estava sabendo lidar com o amadurecimento da filha. Ambas sentiam

    uma necessidade enorme de compreenso e de valorizao pessoal e profissional.

    A sua filha, nas vsperas de tentar um vestibular, ainda no se decidira quanto ao

    curso. Isso tem deixado as duas ansiosas quanto ao futuro prximo.

    Ao complementar o estgio com essas moas, consegui uma ponte para eu

    poder dar um avano na minha vida pessoal, pois sempre ouvia aos outros e no ao

    meu prprio ser. A arte, portanto, proporcionou-me essa autonomia de ser Eu e de

    me valorizar. Isso tudo repercutiu tanto no lado pessoal como no profissional, porque

    tambm tenho escolhido o que quero ter e ser profissionalmente. Recentemente, a

    minha vida quis dar uma guinada de professora para diretora de uma escola. Aceitei

    por muito me pedirem (escolha poltica), mas no me senti feliz. Foi uma sensao

    terrvel na minha vida. De repente me lembrei das vivncias que realizei nos

    mdulos do curso de Especializao em Arteterapia. O que consegui entender

    dessas vivncias artsticas e expressivas dinamizou a minha vida, um novo tempo se

    abriu para meu desenvolvimento, mais voltado para o meu Ser. Ento renunciei ao

    cargo porque o mesmo no fazia parte dos meus planos atuais.

    Hoje enxergo um crescimento dinamizado na possibilidade de evoluo

    pessoal. Considero uma qualidade inata de olhar um novo caminho pessoal e

    constatar que aquela sensao de tristeza que senti ao encarar um cargo poderia

    desfazer, sem questionar quem estava me apontando. Devo tudo isso a arte que

    atravs das minhas expresses artsticas, revelou-me o que sou e o que quero.

    Tudo o quanto queria e no conseguia fazer era ter minha prpria liberdade de

    escolha, e hoje tenho e sei o que quero graas arte. E devido a esta renncia, a

    minha vida profissional teve um novo rumo.

  • 12

    Ao retornar para a minha escola de origem, apresentei um pr-projeto de

    Arteterapia voltado para crianas e adolescentes com dificuldade de aprendizagem

    escolar. A diretora deu total apoio, e esse se tornou mais um trabalho que pretendo

    experienciar em futuros projetos.Tudo isso tem me acontecido por ter aprendido a

    olhar para o meu interior. Eu j sentia que algo me conduzia, mas no sabia o qu.

    E de acordo com Buber apud Hycner: Um homem no pode ser verdadeiramente

    compreendido a no ser a partir da ddiva do esprito que faz parte apenas do

    homem, dentre todas as coisas: o esprito que determina a pessoa (..) (1965, p.

    80). Hoje, portanto, diante das expresses artsticas que revela o meu ser,

    potencializando a minha estrutura interior, tenho adquirido muito do que almejo

    fazer.

  • 13

    3 O DESENVOLVIMENTO DA COMPETNCIA ATRAVS DA ARTE

    3.1 A EVOLUO DOS SENTIMENTOS POSITIVOS

    O contato que o sujeito estabelece com a arte, aprofunda sua essncia e

    integra o conhecimento que inicialmente no tem nenhuma forma, mas que a

    medida em que evocada do profundo da psique e explicitado imageticamente,

    passa a possuir uma carga de elaborao e transformao dos sentimentos

    positivos, podendo ser revelado para si mesmo.

    Nesse processo, o transpor barreiras no-fsicas, mas presentes e atuantes

    na forma de aquisio de contedos, processa-se de forma prazerosa e realizvel.

    Zinker apud Ciornai (1978), nos apresenta o que acontece com o indivduo:

    O motivo pelo qual o desenho ou a pintura pode ser teraputico que, quando experienciados como processos, possibilitam ao artista se conhecer enquanto pessoa inteira (...) Ele se conscientiza no somente de movimentos internos em direo completude experiencial, como tambm recebe confirmao visual de tais movimentos dos desenhos que produz. (1978, p. 236).

    Defendendo tambm essa idia, Ciornai complementa:

    Todas as atividades artsticas criativas devem iniciar-se com movimentos e, portanto,(...) com exerccios de movimentos no espao, transpondo-os, posteriormente, para movimentos com tinta ou giz de cera em papel. A msica incentiva este processo, encorajando a energizao. Desse estgio inicial de mover e transferir os movimentos para o papel, figuras comeam a emergir (CIORNAI, 1994, p.26).

    Todo o processo de expresses artsticas libera um estado energtico

    extremamente diferenciado do estado anterior. nessa ocasio que a pessoa sente

  • 14

    a sensao evolutiva de sentimentos positivos agindo no seu corpo. Esclarecendo

    melhor a sensao causada por fazeres artsticos Allessandrini explica que:

    Por intermdio do fazer artstico, ele cria um objeto que tem singularidade. Todo um universo de potenciais emerge, transformando as aes primeiras, que gradativamente vai assumindo novos contornos, novos movimentos. O criar e o des-criar contnuo desafiador (1996, p.35).

    Viver a arte tocar o mundo fascinante da criao. O sentir ao manusear o

    barro, pintar ou desenhar se constitui em um processo no-linear de re-organizao,

    para depois haver uma organizao. Logo temos a sensao positiva de um

    sentimento que evoluiu no decorrer das vivncias aceitas pelo indivduo. Sobre isso

    Zinker diz:

    Os processos internos da pessoa se refletem na sua produo. Iniciam-se a

    partir de um estado energtico extremamente indiferenciado, em direo a clareza

    de conscincia (1978, p. 252).

    Hay vem reforar esse pensamento no sentido de que Existi uma presena e

    um poder dentro de ns que nos orienta e nos guia, tornando nosso caminho mais

    fcil e suave. Ns s precisamos tomar conscincia desse poder e deixar que ele

    trabalhe para ns. (1999, p. 77).

    Portanto, atravs da arte, o sentimento positivo por ns e pelos outros emerge

    dando um novo significado para nossas vidas.

    Segundo Osho, assim que as preocupaes desaparecem, tudo se torna

    positivo. Que isso seja entendido to bem quanto possvel: somente as pessoas

    negativas so destrutivas a si mesmas e aos outros. As pessoas construtivas so

    positivas. A positividade a essncia da verdadeira energia csmica. Quando uma

    pessoa realmente construtiva, a positividade lhe vem naturalmente; ocorre-lhe o

    impulso para evidenciar.

  • 15

    Cito a poesia do pernambucano Galdino como referncia ao meu acordar

    para o criar positivamente.

    Quem cria tem que dormir

    Pensar bem no passado

    De tudo ser bem lembrado

    Tirar o juzo como louco

    Ter a voz como um pipoco

    Ter o corpo com energia

    Deve dormir muito cedo

    Muito mais cedo acordar

    Muito mais tarde sonhar

    Muito afoito e menos medo

    Muito honesto com segredo

    Muito menos guardar

    Muito mais revelar.

    (GALDINO. IN: ZALUAR, 1997, p. 8 - 9).

    3.2 O SENTIR AQUI E AGORA

    Na proposta do sentir aqui e agora, a arte e a expresso funcionam como

    facilitadores para que o indivduo repense sua forma de ver e de se relacionar com o

    mundo, vindo a construir conhecimentos, efetivando por meio de vrios recursos

    artsticos a manifestao de idias e sentimentos.

  • 16

    Esse momento de valor inestimvel, pois cada um trabalha simbolicamente na qualidade do poder ser original, nico e criativo dentro do encontrar recursos para clarear e delinear seu contedo pessoal (ALLESSANDRINI,1996, p. 43).

    Na minha concepo, a arte preenche uma funo cognitiva: mostra o

    conhecimento de uma maneira completa, total e generalizada, pois cada movimento

    depende mutuamente um do outro, o que faz focar um objetivo comum: deixa-se

    levar pelo presente momento atravs das imagens expressas em contedos

    raramente expressado pela palavra. Cito Allessandrini quando diz:

    A imagem representa o que cada um tem de mais ntimo, e est ligada

    efetivamente ao ser. Ela expressa de uma forma sincrtica as relaes entre o

    contedo e forma, vivenciados no plano afetivo e cognitivo (1996, p. 46).

    Compete ao indivduo saber reutilizar os sentidos fsicos que lhes so

    inerentes (digo reutilizar, pelo fato de que muitos indivduos perderam ou ocultam

    essa sensibilidade). O conhecimento que adquirimos sobre o nosso ambiente nos

    chega por meio dos sentidos: ver, ouvir, cheirar, sentir o gosto e a textura. Na

    percepo corporal, tenta-se reutilizar os canais sensoriais e motores como porta de

    entrada para uma integrao a ser incorporada pelo sujeito.

    Reutilizar os sentidos fsicos reestruturar aquilo que mais prximo do si

    mesmo. redescobrir que o seu corpo dotado de sensibilidade inata e que se

    pode ter o controle mediante o seu desejo de tocar e ser tocado, de cheirar e definir

    o odor, de ouvir e ser ouvido, de saborear o que mais gosta e de transpor todos

    esses sentidos atravs das suas expresses artsticas, imaginrias e visuais.

    Voc faz sua vida avanar utilizando as possibilidades criativas daquele momento preciso que voc est vivendo. Voc comea a ocupar integralmente aquele momento em vez de procurar escapar ou desejar que o que est acontecendo seja diferente (EPICTETO,2004, p. 44).

  • 17

    Com alegria e felicidade a primeira corrupo dos sentidos fsicos

    desaparece. Da a minha insistncia a favor da arteterapia. no momento do aqui e

    agora e nas expresses artsticas que se pode alegrar, festejar, aproveitar mais a

    vida, aceitar o corpo como a si mesmo. Existem milhes de oportunidades para

    restabelecer os sentidos. E s voc pode faz-lo. A sociedade fez o seu trabalho de

    corrupo dos sentidos, voc ter de desfaz-lo.

    3.3 EM BUSCA DO BEM ESTAR

    Na intensa procura de um bem estar pessoal no mundo moderno em que se

    encontra o homem, o mesmo no vivi, vegeta, no sentido de esquecer de si mesmo

    e omitir suas sensibilidades internas.

    Buscar meios e respostas para os anseios, preocupaes ou o que de fato

    incomoda o corpo e a mente tem sido uma busca constante daqueles que recorrem

    a recursos teraputicos a fim de suavizar os desconfortos que o cotidiano traz. Para

    estimular essa busca apresento a citao a seguir:

    O Terapeuta Expressivo combina, movimento, arte, escrita, imaginao guiada pela msica, meditao, trabalho corporal, comunicao verbal e no verbal, para facilitar o autoconhecimento interior, a auto-expresso, a criatividade e estados mais alterados de conscincia. Este um processo integrador que utiliza nossas habilidades intuitivas tanto quanto nossos processos de pensamento lgicos lineares (...) (ROGERS, 1989, p. 6)

    Atravs do uso de materiais artsticos, o indivduo alcana um estado de

    excelncia que reconstitui seus princpios morais encontrando o verdadeiro Eu. A

    reconstituio de si mesmo emerge um equilbrio no meio circundante, trazendo um

    bem estar pessoal. Procurar o melhor em ns significa zelar ativamente pelo bem

    estar de si e dos outros seres humanos.

  • 18

    As novas experincias que a arte proporciona atravs de expresses

    artsticas, servem para aprofundar o conhecimento de si mesmo e promover o

    avano para nveis de competncias mais altos. Os conhecimentos importantes e a

    orientao pessoal esto onde menos se espera. Numa vivncia em que o

    inconsciente emerge no desejo de encontr-los, reconhec-los de forma simblica,

    porm expressiva e que revela um legtimo sentimento de satisfao por alcanar

    seu prprio self.

    3.4 RESPIRAO: ALVIO IMEDIATO DAS TENSES

    Respirao, processo fisiolgico pelo qual os organismos vivos inalam

    oxignio do meio circundante e soltam dixido de carbono. O termo respirao

    utilizado tambm para nomear o processo pelo qual as clulas liberam energia que,

    sendo trabalhadas terapeuticamente, pode-se dizer que so energias negativas, que

    fazem mal ao corpo e a mente.

    Existem pessoas que no param para observar sua respirao, acreditando

    apenas que, como j nascemos respirando, isso um fator comum para

    sobrevivncia. Mediante um contato teraputico, o indivduo descobre que tem o

    flego curto, apresenta problemas ao respirar, chegando a no acreditar que existe

    essa dificuldade em seu organismo, o que muito impede de se ter um bom

    funcionamento corporal. Saber respirar conquistar parte do equilbrio emocional.

    O relaxamento ocorre quando no h nenhum precisa ou deve na sua vida. O

    relaxamento no envolve apenas o corpo, nem apenas a mente, mas todo o seu

    ser. (OSHO,1999, p. 29).

  • 19

    Lembro-me de algumas pessoas que vi tentando o relaxamento atravs da

    respirao, e que disseram nunca ter parado para se auto-observar. Revelando o

    quanto bom estar em silncio, ouvindo e prestando ateno ao movimento peitoral,

    acrescentando tambm como o ar entra e sai, s vezes localizando algo que

    incomoda e que atravs da respirao consegue detectar. O alvio das tenses

    depois do relaxamento com a respirao gratificante e para constatar o que o

    relaxamento causa Osho orienta:

    O relaxamento como um florescimento; voc no pode for-lo. Voc

    precisa entender o fenmeno inteiro - por que voc to ativo, por que tanta

    ocupao e atividade, por que voc est obcecado por isso (1999 p.17).

    Aprender a reconstruir a respirao por meio de relaxamento - sem dvida

    uma descoberta extraordinria. medida que comeamos a relaxar e depois, com o

    auxlio de expressividade artstica, os benefcios experimentados sero de tal forma

    evidentes, que a respirao deixar de ser um processo natural para transformar-se

    num processo essencial mente e ao corpo.

    medida que a respirao incorpora-se como uma essncia, esses efeitos

    imediatos tero conseqncias mais profundas e duradouras, contribuindo para um

    real equilbrio de vida. A contribuio trazida pela respirao e pela expresso

    artstica de tal importncia que ajuda a limpar a nossa mente e nosso sistema

    emocional de todos os pensamentos e sentimentos desgastantes decorrentes das

    experincias do cotidiano. Para um relaxamento eficaz do corpo cito um exerccio de

    respirao de Hay: Se voc sentir que alguns pontos do corpo esto tensos, por

    causa de alguma preocupao ou de um sonho, respire dirigindo o ar para esses

    lugares e mande embora a tenso (1999, p. 18).

  • 20

    Esse um exerccio envolvendo concentrao, reconhecimento e aceitao

    de ns mesmos. um exerccio de liberdade, que nos torna cada vez mais capazes

    de saber reconhecer o nosso corpo e o que incomoda no ato da respirao. a

    garantia de um respirar mais tranqilo e recuperador das nossas energias fsicas e

    emocionais.

    4 UMA NOVA PERSPECTIVA DE VIDA

    Procurar entender o crescimento e a evoluo dos filhos, hoje em dia, est

    mais evidente do que em outras pocas. Em pleno sculo XXI as mudanas de

    valores esto sendo vistas como algo que tem levado muitos pais a se adaptarem

    aos diferentes modos de vida de seus filhos. Para tanto, deve-se levar em

    considerao algumas atitudes e valores que evidentemente no podem estar

    ausentes do convvio familiar e das circunstncias ambientais nas quais pais e filhos

    convivam respeitosamente. Tendo essa formao de respeito mtuo, a

    personalidade considerada como um processo que o indivduo aprende a evitar

    conflitos e administr-los quando aparecem. Sendo assim, ambos fomentam

    perspectivas melhores de harmonia familiar.

    Atualmente, os psiclogos concordam que determinados fatores de risco

    biolgico, como crianas que nascem abaixo do peso normal, a falta de oxignio

    antes ou durante o parto e outros problemas fsicos ou fisiolgicos, so importantes

    para o seu desenvolvimento e comportamento posteriores. Tambm se investiga o

    papel das variveis cognitivas na aprendizagem dos papis sexuais e os

    esteretipos sobre as diferenas de sexo. Os modelos sexuais foram definidos na

    nossa cultura, mas a presso favorvel para a mudana destes modelos est

    rompendo pouco a pouco estes esteretipos, permitindo que um indivduo mude ou

  • 21

    adapte seu comportamento s exigncias das situaes especficas com as quais

    vai conviver.

    Para entender melhor o que se passa na cabea dos adolescentes muitos

    pais tm recorrido a alguns mtodos de anlise e o que na verdade encontram que

    muitas vezes quem est com o problema so os pais e no o filho.

    Trazendo os casos de as moas, no estabelecerei um julgamento do certo

    ou do errado, pois no so referncias relevantes nesse contexto. Mas auxiliar para

    a compreenso do mundo dos adolescentes na atualidade e a preocupao dos pais

    com o futuro dos filhos. Analisar a construo cognitiva pessoal de cada uma,

    enquanto dinmica estrutural e funcional, apresenta-se para mim como um exerccio

    de laboratrio buscando novas maneiras de ver e de viver com o auxlio da arte.

    Inicialmente, importante trazer a imagem de uma me que se preocupa com

    o bem estar da filha e com o futuro que almeja. Por outro lado, uma filha em plena

    flor da idade, mas com ar de grande responsabilidade para com ela mesma e seus

    familiares, chegando a se afastar de suas amizades. Sentindo-se no direito de

    procurar algo que lhe desse algumas perspectivas de vida. Em meio situao

    vivida, procurou fazer arteterapia a fim de saber o que a mesma poderia lhe

    proporcionar e para tal situao menciono Trinca como defensor da arte na

    contribuio da vida humana:

    Diz-se que a arte salva o homem da banalidade do quotidiano. Sua importncia est em que atravs dela uma vida pode abranger um contexto maior, alternando-lhe o ngulo de viso. A arte possui a virtude de aliviar a espcie humana, e por extenso, toda a vida deste planeta da violncia, da insensibilidade, do absurdo, da loucura e da misria, em suas mltiplas e variadas formas (1988, p. 9).

    A conquista cognitiva estrutural e funcional pode, segundo essa perspectiva,

    ser vista enquanto uma evoluo do agir como pessoa inteira e determinada a

  • 22

    qualquer situao. O desafio de cada uma aprender a ser si mesma em um

    espao onde o ser determinado pode resgatar as funes do fazer, pensar, criar e

    aprender significados interessantes.

    4.1 AS MOAS

    O trabalho de arteterapia pode ser desenvolvido de acordo com a

    necessidade presente nas situaes vividas durante o processo teraputico de cada

    indivduo. O relato a seguir exemplifica como se deu o processo de reconhecimento

    de si e do mundo. Aquele que chega apresentando aes variadas podero

    transformar seu pensamento de modo a ir conquistando a conscincia cognitiva de

    sua ao. Torna-se pessoa determinada e confiante de suas aes, podendo

    chegar, ao final do processo, a uma compreenso de seus atos, pois reconhece nos

    passos do caminho percorrido sua prpria jornada de pessoa inteira.

    Para um melhor entendimento do que a arteterapia pode proporcionar a um

    indivduo cito Rogers quando apresenta:

    O que uma terapeuta expressiva faz ajudar as pessoas a abrir o hemisfrio direito do crebro, que a parte que nos permite ser intuitivos, holsticos, emocionais, subjetivos. Acredito que se o mundo deve sobreviver e ir alm desta era tecnolgica, ns como indivduos devemos ampliar o lado direito de nosso crebro. Porque, medida que cada um de ns encontra seu equilbrio interno, tambm o mundo entrar mais harmoniosamente em equilbrio. (1989, p. 8).

    Apresento, pois, os dois casos de processo arteteraputicos que concretizam

    e exemplificam a interveno teraputica em que os caminhos da arte esto

    intimamente ligados ao reconhecimento do Eu, da reconstruo e da satisfao em

    saber do que se capaz.

  • 23

    O. (53 anos), mostra ser uma pessoa muito decidida e determinada. Porm, o

    florescimento de sua filha para uma vida adulta, tem deixado esta senhora confusa,

    sem saber como agir em determinadas ocasies. A mesma pertence a uma famlia

    numerosa, cujas pessoas moram distantes, mas esto presentes nos relatos dos

    processos arteteraputicos. O, das poucas de sua famlia que no tem uma vida

    financeiramente favorvel, deixando de ter uma certa tranqilidade no lar.

    professora polivalente e tem uma cigarreira administrada pelo marido que est

    desempregado. A situao se agrava porque ele no aceita essa fase de sua vida e

    com a idade que tem, fica difcil arranjar emprego. Sentindo-se intil, ele chega a

    dizer que vai embora. Isso mais uma coisa que angustia O., pois sua filha participa

    dessas situaes e fica abalada, pois no quer perder o pai dessa maneira.

    Diante disso, me e filha, sentiram que precisavam de um recurso

    teraputico. Como a nossa cidade no dispe de um psiclogo, e mesmo assim,

    suas condies financeiras no dariam para manter um tratamento teraputico,

    vieram at a mim e perguntaram o que arte terapia e qual sua contribuio para

    com elas. Expliquei que a arteterapia um recurso teraputico que pode ajudar no

    autoconhecimento, na auto-estima e na maneira de lidar com o outro. E que, de

    certa forma, eu como arteteraputa no poderia resolver o problema, e sim, propor

    trabalhos artsticos que ajudariam a entender suas expresses e reconhecer os

    significados.

    Concluir um curso de pedagogia para melhorar sua profisso de professora,

    O. se mostrara muito atordoada e com muitas responsabilidades. Alm do mais, foi

    detectado um ndulo em seu seio esquerdo, deixando-a preocupada. Porm, feito

    cirurgia, e uma biopsia, detectaram que o ndulo era benigno.

  • 24

    Nos primeiros encontros arteteraputicos, iniciei as atividades com a

    respirao - tcnica fundamental que adotei para o relaxamento. O. sentiu-se muito

    vulnervel. Chorou e queixou-se que no conseguia respirar, e pediu para no

    levantar o brao, numa possvel expresso corporal, pois o brao do lado da cirurgia

    doa.

    No primeiro encontro, a importncia e identificao do prprio nome foram

    dadas atravs de uma flor, e a flor escolhida foi orqudea: difcil de ser encontrada,

    assim como estou vivendo o momento difcil. (O)

    Quanto ao manusear os materiais tipo: a tinta, giz de cera, coleo hidrocor,

    O. mostrou-se muito voraz, fazendo muito movimento, alegando de vez em quando

    que no sabia desenhar. Pediu rgua, ficou muito concentrada, procurando ser

    muito correta. No entanto, no final, quando convidei para um relaxamento de

    fechamento, ela relatou que estava respirando melhor, que a dor do brao tinha

    passado e que estava se sentindo bem.

    Nas ilustraes abaixo a primeira compreenso simblica que O. conseguiu

    entender de suas expresses artsticas foi a construo e reconstruo da rvore,

    onde ela mesma soube comparar como chegou e o que estava passando a ser

    (simbolizada pelas ilustraes 1 e 2). A atividade da rvore uma visualizao em

    que a pessoa concentrada no relaxamento, consegue transpor para o papel, atravs

    de desenhos, o que no seu inconsciente lhe afligiu. A ilustrao 1, expressa

    inicialmente o que incomoda. A ilustrao 2, revela a calmaria que comea a vir

    depois dos processos desenvolvidos no atelier arteteraputico.

  • 25

    Me senti como uma criana, sem

    saber o que escolher....

    Estou mais calma. J consigo ver a

    minha casa mais sossegada....

    Segundo Pedrosa, pode-se reconhecer a transformao que a arte

    proporciona, no ser humano, quando vivenciado:

    Uma das funes mais poderosas da arte descoberta da psicologia moderna a revelao do inconsciente, e este to misterioso no normal como no chamado anormal. (...) (MARIO PEDROSA, Correio da Manh de 07.02.1947, p. 5)

    As ilustraes 3 e 4 apresentam um processo introspectivo que consiste no

    olhar-se interiormente e externamente no estado sistmico do inconsciente. Ou

    seja, num conjunto de elementos, materiais ou no, que dependem reciprocamente

    uns dos outros de maneira a formar um todo organizado (LALANDE, 1993, p. 1004).

    Ilustrao 1: A construo de uma rvore.

    Ilustrao 2: Uma nova rvore.

  • 26

    Tenho me percebido mais e amando

    a mim mesma....

    Voltar infncia algo que me deixa

    muito feliz, aqui embaixo desta rvore

    brincava com meus irmos...

    No trabalho corporal vivenciado por O., durante o processo de relaxamento

    atravs de som e de movimentos circulares, a mesma trouxe a sua conscincia, a

    presena de um corpo que sente, percebe suas necessidades e deseja revitaliz-lo.

    As cores expressam esse momento de compreenso de suas prprias questes, o

    que mobilizou um crescimento bastante importante e direcionado conscincia de

    atitude: amar a si mesmo emergiu como caminhos desconhecidos, mas que sabe

    identific-los.

    Ilustrao 3: Portais a percorrer.

    Ilustrao 4: Resgate da infncia.

  • 27

    s vezes fico me perguntando porque

    s agora, depois dessa idade, tem me

    ocorrido tanta coisa boa. A arteterapia

    uma delas.(O)

    Somente depois de algumas sesses O. relata por escrito o que est sendo a

    arteterapia para ela. Depois representa atravs do desenho finalizando com a

    palavra PROSPERIDADE.

    Falar de arteterapia motivo de grande

    alegria, pois atravs dela descobri

    muitas coisas boas. A melhor de todas

    foi amar a mim mesma, hoje tenho

    certeza de que para amar os outros

    preciso amar primeiro a si mesma.(...)

    As msicas me do uma tranqilidade

    que quando volto para casa venho leve,

    tranqila, com a sensao que as

    angstias sumiram. Tenho um sono

    tranqilo e aprendi fazer uma

    respirao correta. Enfim, a arteterapia

    me levou por caminhos que nunca

    imaginava. (O)

    Apresento, agora, um outro trabalho que desenvolvi com M. 16 anos. A

    principal questo trazida pela me era que sentia a filha muito triste. No entanto, ao

    Relaxamento e expresso livre.

    Ilustrao 6: Perspectivas de mudanas.

  • 28

    perguntar a M. o porqu de procurar a arteterapia, ela relatou que vivia muito

    insatisfeita com as suas amizades, e isso lhe causava uma certa tristeza.

    No primeiro encontro fiz uma sensibilizao onde a busca por uma flor seria

    um encontro de si mesma, utilizei a meditao da flor (dana circular), a flor

    escolhida foi margarida, por ser uma flor simples e branca: assim que sou,

    relatou M.

    Na ilustrao 1, M. procura representar simbolicamente o desejo contido por

    amizades mais slidas. Na ilustrao 2, expressa imageticamente o desencadear

    interno de sua conscincia.

    Senti uma alegria ao fazer esta

    rvore....

    Tenho me sentido mais leve e compreendendo

    mais o que me acontece...

    Nas ilustraes 3 e 4, representado por fragmentos articulados aos desejos e

    a relao da infncia com a adolescncia numa distncia reflexiva: a distncia

    Ilustrao 1: A construo de uma rvore.

    Ilustrao 2: Uma nova rvore.

  • 29

    cognitiva entre a experincia artstica e a reflexo do indivduo sobre tal

    experincia... (KAGIN e LUSEBRINK, 1978, p 56)

    Saudade de no ter responsabilidade.

    As perspectivas da adolescncia.

    Na ilustrao 5, utilizei um CD de relaxamento (alta concentrao) e o que

    emergiu em M. foi a necessidade de re-organizao para trilhar novos caminhos. Na

    ilustrao 6, a representao do despertar para o relacionamento com si mesma e

    com o outro.

    Sinto uma necessidade de organizao.

    Ilustrao 3: O resgate da infncia.

    Ilustrao 4: Portais a percorrer.

    Ilustrao 5: Relaxamento e expresso livre.

  • 30

    O meu relacionamento com as pessoas

    melhorou.

    Vrios processos foram vivenciados. Alm da expresso verbal que acontecia

    no final de cada momento, M. relatou o que a arteterapia lhe proporcionou, por

    escrito:

    Comecei a freqentar as sesses de arteterapia h trs meses e nas

    primeiras sesses eu no conseguia entende direito como que a arte poderia me

    ajudar.

    A partir do quinto encontro comecei a perceber como tudo o que eu penso, o

    que sou refletia em minhas obras e que se eu pensasse, me concentrasse mais,

    conseguiria bons resultados em tudo o que fao.

    Em relao a arteteraputa, sinto-me bem com ela e gosto do seu trabalho,

    pois ela passa calma e isso me ajuda a relaxar.

    Gosto muito dos exerccios de relaxamento e procuro us-los nas situaes

    cotidianas.

    A tcnicas utilizadas me agradam, gosto de trabalhar com desenho, pintura e

    me surpreendi com meus trabalhos com o barro.

    Ilustrao 6: Perspectiva de mudana.

  • 31

    Tenho gostado dos encontros, agora sou mais concentrada e sei que posso

    fazer mais do que eu pensava.

    PERRENOUD (2000), ressalta a importncia e o valor de desenvolvermos em

    ns uma qualidade reflexiva que permita uma melhor compreenso do que fazemos

    e do que no fazemos. Um espao de dilogo franco em que enfrentamos com

    carinho e serenidade nossas certezas e nossas dvidas, nossos recursos e nossos

    impedimentos.

    Na ilustrao 7, seguida de um relato escrito, M. representa como foi a

    experincia com o fogo, ao fazer a mandala com pingos de velas coloridas numa

    representao semitica. Referindo-se, assim, ao conhecimento j internalizado e

    presente durante a ao de criar determinado objeto, que acontece atravs de

    signos.

    A experincia com o fogo diferente

    porque o que vamos fazer tem que ser

    feito com cuidado, interessante, pois

    descobrimos uma forma de fazer as

    coisas pensando antes nas

    conseqncias e isso nos leva a maior

    reflexo dos nossos atos. (M)

    Os processos arteteraputicos eram finalizados com uma palavra que

    expressasse o momento vivenciado. Ento, para que a cliente percebesse o seu

    desenvolvimento a partir do encontro com a arte, entreguei todas as palavras que

    Ilustrao 7: Mandala.

  • 32

    ela falou durante os processos, e sugeri que fizesse uma escrita criativa que um

    processo que desencadeia atravs dos trabalhos artstico, do aqui e agora no qual o

    indivduo inconscientemente expressa. As palavras ditas esto sublinhadas. Eis a

    escrita que M. fez:

    A insegurana um sentimento que at ento existia em mim porque estou

    sempre a fazer as coisas pensando em agradar os outros porque gosto de ver as

    pessoas alegres, assim como me sinto feliz quando fazem algo por mim. Poder

    ajudar o prximo me deixa leve, mas nem sempre consigo ver as outras pessoas se

    importarem comigo em minha vida.

    Tenho saudades de quando eu era criana pois no via indiferenas entre as

    pessoas e no era to sobrecarregada de estudos e trabalho, por isso para conciliar

    tudo, procuro ser sempre organizada.

    Tudo o quanto tenho vivido me faz descobrir realmente quem est do meu

    lado e me apia nas horas de prazer, transformao, tristeza e isso me traz

    satisfao. A arteterapia me mostrou em vrios momentos a capacidade que eu

    tenho de realizar muitas coisas que a insegurana insistia em me confundir, mas em

    um auto-retrato eu posso me ver mais cheia de luz, firmeza e interesse no que eu

    quero.

    As lembranas de tudo o que fiz ou aconteceu comigo me faz refletir sobre

    tudo o que penso e me faz tentar melhorar em todos os aspectos, trazendo mais

    determinao daqui pra frente nas minhas atitudes.

  • 33

    4.2 O ENVOLVIMENTO COM O MATERIAL ARTSTICO (O BARRO)

    Em alguns trabalhos, percebi o que certos materiais causaram em cada um

    desses casos. O mais visvel foi o trabalho com a argila, que mobiliza a tomada de

    deciso e transformao. No primeiro caso citado O diz sentir-se muito bem e tinha

    um desejo enorme de falar, principalmente de coisas do seu ntimo. Algumas peas

    de argila foram refeitas, pois O no gostou porque sua primeira obra de arte se

    desmoronou eu no sabia, mas sou eu que tenho que me moldar ao barro. Ao

    refazer, emergiu um choro muito intenso. Pediu-me desculpas, mas estava num dia

    daqueles. No entanto, apesar de no estar se sentindo bem interiormente, fez a

    sua obra de arte e comparou com a primeira, relatando ter ficado mais bonita e bem

    feita. Sua obra de arte produzida foi uma bandeja cheia de frutas a qual causou-lhe

    admirao, pois no se achava capaz de fazer uma coisa dessa.

    No segundo caso, mais uma vez a argila esteve em destaque. Ao manusear o

    barro na inteno de uma escultura humana, M diz lembrar dos antepassados o

    que me faz trazer a lembrana da mitologia, Prometeu responsvel pela criao

  • 34

    do homem no mito da Criao do mundo utilizou-se do barro para modelar o

    homem imagem e semelhana dos deuses e, assim povoar a terra (...)

    (ALLESSANDRINI,1996, p. 89). Nos processos de vivncia com a argila M revela

    que sente um PRAZER ao tocar no barro, um poder de TRANSFORMAO, a

    SATISFAO: surpresa em querer fazer e poder fazer, e a CAPACIDADE.

    importante reconhecer no barro a valorizao que marca um elemento da

    natureza em seu aspecto psicolgico, por possuir um carter to propcio

    fecundao, ao feminino transformador das atitudes e emoes humanas. Gouva

    relembra:

    A idia de um homem moldado a partir do barro da terra, de ser esse barro a matria- prima em que repousa o segredo bsico do homem e na qual Deus se espelharia (Deus fez o homem sua imagem e semelhana) para construir o homem (1989, p. 58).

    A figura expressa no barro h tantos sculos permanece ainda hoje como

    forma. Essa imagem concreta e merecedora de crdito fez perdurar atravs dos

    tempos a maneira como ela foi moldada, preparada, conduzida e transformada, e

    apresenta-se como registro da evoluo do conhecimento do homem em relao

    sua presena no mundo.

    Trabalhar o barro uma experincia vivida com a intimidade de perceber-se

    entregue na totalidade de ser, de tocar e expressar o que vem de dentro,

    manuseando uma massa primordial e eterna. E, oferecer esse material a quem dele

    nunca o experimentou algo fabuloso, pois o retorno imediato, quando a imagem

    no semblante de quem o toca vem carregado de emoo e satisfao.

  • 35

    5 NOTAS CONCLUSIVAS

    O trabalho de Arteterapia concreto quando realizado simplesmente pela

    ao de querer e aceitar a si mesma, numa viso holstica. Estamos em um tempo

    em que sentimos a real necessidade de viver uma qualidade de vida que nos d

    competncia para re-organizar as relaes que estabelecemos com o mundo.

    Situaes adversas apresentam-se em nosso dia-a-dia e pedem que sejamos

    flexveis e dinmicos ao nos depararmos com elas.

    Os pontos citados do desenvolvimento da competncia atravs da arte,

    possibilitam desenvolver em qualquer idade de um ser humano: uma melhor

    qualidade de vida, a reestruturao no mundo. Quantos, nas indecises e angstias,

    no poderiam estar desenvolvendo, na arteterapia, atividades que, realizadas

    individualmente ou em grupo num atelier arteteraputico, trouxessem perseverana

    e aes para re-significar suas vidas? Isso nos faz pensar quando Gouva afirma:

  • 36

    Quando no encontro com a terra, a mo faz algo de novo surgir, o milagre

    da vida que acontece, da natureza um sopro de energias conflui e o homem cria.

    um momento lmpido, gua cristalina. O silncio do cristal (1989, p. 64).

    O material que proporcionou mais significao, no caso, a argila, foi realmente

    revelador. Quando a adolescente M. traz a tona lembrana de antepassados,

    mais que concreto a fora que a me terra tem para com a humanidade, e como o

    processo arteteraputico influenciou o Ser desta adolescente.

    O que pretendi mostrar aqui foi importncia da arteterapia na vida de

    qualquer pessoa. No importa a idade ou sexo, desde que esteja pronta a aceit-la

    como algo que pode proporcionar transformaes, que sero aceitas ou no.

    Exemplificamos esse fato quando, em cada processo vivido, a senhora O. repetia

    por diversas vezes que ficava a pensar, o porque s agora, nessas alturas da vida,

    muitas coisas boas estavam lhe acontecendo: a graduao em pedagogia e agora a

    arteterapia. Mais uma vez a terapia com arte, se revela como facilitadora de

    desenvolvimento pessoal ao encontro do self verdadeiro.

    No momento em que essas duas pessoas passaram por uma arteterapia

    breve, no perodo de quatro meses, como a Fnix, ressurgiram das cinzas, numa

    compreenso profunda para um viver mais prazeroso e de um engrandecimento

    harmoniosamente equilibrado.

    Ao fazer o curso de Arteterapia, tenho tornado-me mais centrada em tudo que

    fao. Compreendi o que significante para a minha vida, entendendo o que

    acontecia anteriormente, e podendo reesignificar o que acredito ser pertinente.

    Allessandrini me faz lembrar isso fortemente: O indivduo que antes vivia o caos,

    agora coordena sua ao de aprender no espao e no tempo: o caos torna-se

  • 37

    cosmo e ele experiencia uma libertao interna que o reconecta com a vida (1996,

    p. 108).

    Precisamos criar nossa maneira original e singular para darmos conta dessa

    mirade de desafios grandes e pequenos que encontramos em nosso cotidiano.

    Precisamos desenvolver competncias para realizarmos nosso projeto de vida, e a

    arte nos proporciona a chance de obter essas competncias.

    A arte de criar re-criar a si mesmo. (Suely Tavares)

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ALLESSANDRINI, Cristina Dias. Arte terapia: portal para o desenvolvimento de novas competncias. So Paulo: XII Encontro Regional de Psicopedagogia, 2002. __________. Oficina criativa e psicopedagogia. So Paulo: Casa do Psiclogo, 1996. ANDRADE, Liomar Quinto de. Terapias Expressivas. So Paulo: Vector, 2000. CARVALHO, Maria Margarida Carvalho (coord.). A arte cura? recursos artsticos em psicoterapia. So Paulo: Editorial Psy II, 1995. p. 24. CIORNAI, Selma. Arte terapia gestltica: um caminho para a expanso da conscincia. Revista de Gestalt. So Paulo: Departamento de gestalt terapia do Instituto Sedes Sapientiae v. 1, n 3, p. 5-31. 1994. EPICTETO, c. 50 d. C-c.127 d. C. Arte de viver. Interpretao de Sharon Lebell, Rio de Janeiro: Sextante, 2000.

  • 38

    FICHER, E. A necessidade da arte. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1987. GOUVA, lvares de Pinheiro. Sol da Terra: o uso do barro em psicoterapia. So Paulo: Summus, 1989. HAY, Louise L. Meditao para a manh e a noite. Traduo de Regina da Veiga Pereira. Rio de Janeiro: Sextante, 1999. +CD HYCNER, R. De pessoa a pessoa: psicoterapia dialgica. So Paulo: Summus, 1995. JUNG, Carl Gustav. O eu e o inconsciente. Traduo de Dora Ferreira da Silva. Petrpolis (RJ): Vozes, 1987. KAGIN, Sandra; LUSEBRINK, Vija. The expressive therapies Continuum. Artt Psychotherapy. Vol. 5, p. 171 180. New York: Pergamon Prees, 1978. LALANDE, Andr. Vocabulrio Tcnico e Crtico da Filosofia. Traduo de Ftima S Correia et alii. So Paulo: Martins Fontes, 1993. OSHO, Criatividade. Zurique, (Sua): Cultrix, 1999. PEDROSA, Mrio. Correio da Manh de 07 de fevereiro de 1947, p. 38. PERRENOUD, Philippe. O desenvolvimento da prtica reflexiva no ofcio do professor. Porto Alegre: Editora ARTMED, 2002. __________. A Pedagogia na escola das diferenas. Porto Alegre: Editora Artes Mdicas, 2001a. __________. Dez novas competncias para ensinar. Porto Alegre: Editora Artes Mdicas, 2000. __________. Formando professores profissionais. Porto Alegre: Editora Artes Mdicas, 2001b.

  • 39

    ROGERS, N. A conexo criativa. In: FRUM INTERNACIONAL DA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA, 1., 1982, Mxico, Anais... Mxico: [s.n.], 1982. TRINCA, W. Arte interior do psicanalista. So Paulo: E. P. U., 1988. ZALUAR, A. O poder mgico do barro. In: Imagens da transformao. Rio de Janeiro: Clinicar Pomar, 1997. v. 4. ZINKER Joseph. Creative Process in Gestalt Therapy. New York: Vintage Books, 1978. (281)

  • 40

    C117d Cabral, Suely Martins Tavares.

    O desenvolvimento da competncia atravs da

    arte. / Suely, Martins Tavares Cabral. Natal, 2004. 38f. Monografia (Especializao em Arteterapia).

    Universidade Potiguar. Pr-Reitoria de Pesquisa e Ps-Graduao.

    1. Arteterapia Monografia. 2. Desenvolvimento da

    competncia. I. ttulo.

    RN/UnP/BCFP CDU:37.015.3