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2006 - Cartilha - Avalie Seu Curso

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2006. Cartilha.

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Campanha “Avalie seu curso! Por uma educação pra valer”

Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (ENECOS) Gestão 2006: “Mudar o Rumo dos Ventos”Material produzido pelo Grupo de Estudo e Trabalho (GET) de Qualidade de Formação em Comunicação Social.Ilustrações: Vitor Vogas (Ufes), Joaquim Otávio Neto (UFT)Arte: Fábio Nassif (PUC-SP) Diagramação: Raquel Machado (Ufes)Textos: André Araújo (Ufba), Ana Paula Lira (Unicap), Davi Gentilli (Ufes), Karina Moura (Ufes), Luciana Silvestre (Ufes) e Rafael Duarte (UFF)Colaboradores: Júlia Chequer (PUC-SP), Manuella Nobre (UFC), Sue Iamamoto (USP) e Thiago Rodrigues (UFC)

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Índice_______________________

05 Introdução

06 Papel da Formação em Comunicação Projetos Pedagógicos

07 Currículos

08 Habilitações Pesquisa

09 Extensão Projetos de Conclusão de Curso

10 Veículos laboratoriais e Universitários

11 Infraestrutura e Laboratórios

12 Corpo docente e técnico administrativo Biblioteca e acervo do curso

13 Estágio

14 Assistência Estudantil Ensino presencial e ensino à distância

15 Democracia Interna Avaliação institucional

17 Reforma Universitária

18 Atividades de Mobilização

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Introdução_______________________

- Ontem não tive aula porque não havia câmeras de vídeo no laboratório, que está até com goteiras!

- Nossa! Eu não tive essa aula no semestre passado por conta disso! E esse semestre já começamos mal: ainda nem tem professor pra disciplina e nem se sonha em contratar novos professores!

- Poxa... e eu que estou começando o currículo novo do curso... Mas já vi que pouco vou andar pelas bandas das Humanas...

- É...ouvi dizer que não tem quase nada de matérias tipo sociologia, filosofia... Ou, mas tem pelo menos atividade de extensão, né?

- Tem o quê?- Isso, extensão. Você nunca ouviu falar de pesquisa, extensão?- Não, não. Deve ser porque sou novo, né?- Sei não... Mas diga lá! Você é de onde?- Sou do interior do estado. Mas tá difícil morar aqui viu...não tem moradia estudantil e

o bandejão aumentou o preço!- Putz, é verdade! Bem que poderíamos fazer uma matéria documentando isso e veicular

na TV universitária... se bem que...- O quê?- A TV Universitária só faz propaganda da reitoria....- Nossa. Será que é só na nossa universidade que tem tanto problema assim???!!!!

Não, não. Vários cursos de Comunicação pelo Brasil afora partilham desses mesmos problemas. E isso não é por acaso. A Educação Superior no nosso país vem sofrendo um processo de sucateamento nos últimos anos, o que se con-cretizou com a chamada Reforma Universitária do governo Lula.

É justamente por causa desse contexto que a ENECOS chega, mais uma vez, às escolas de Comunicação e propõe um momento de reflexão e de mobili-zação. Além de pararmos pra pensar sobre essas mudanças, é fundamental observarmos como elas estão acontecendo dentro dos nossos próprios cursos. E mais: se acharmos que o curso não anda bem das pernas, o que podemos fazer para transformá-lo?

Partindo do princípio de que é preciso avaliar para descobrir os problemas e, daí, propor soluções, é que essa cartilha traz alguns elementos que considera-mos fundamentais para um curso de Comunicação de qualidade. Veja se você concorda com eles e avalie sua escola a partir de cada ponto apresentado! É partindo dessa análise que começaremos transformar os cursos de comunica-ção do Brasil! E você não pode deixar de participar disso, né?!

Entre nessa campanha: “Avalie seu curso. Por uma educação Pra Valer!”

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Papel da Formação em ComunicaçãoPra começo de conversa, é bom falar um pouco sobre a nossa área de conhe-

cimento: a Comunicação. Mesmo sob linguagens diferentes, como o jornalis-mo, a publicidade, as relações públicas, o cinema, o rádio e a TV, todos esco-lhemos uma mesma área de atuação e um mesmo campo de conhecimento ao entrarmos na universidade/faculdade.

E sendo estudantes de comunicação, sabemos muito bem da influência que ela tem na nossa vida, seja na política, na cultura, no comportamento das pes-soas, na economia, na mobilização ou na desmobilização social.

Tendo toda essa importância e influência, a comunicação não pode ser tra-tada de qualquer maneira pelas universidades e faculdades. Não pode ser en-carada apenas como uma técnica a ser apreendida e nem os cursos devem oferecer um mero “adestramento” de estudantes para a grande mídia.

Nossos cursos devem prezar por uma formação humana e crítica, de modo que se tenha uma visão ampla da realidade, compreendendo os aspectos polí-ticos, culturais, sociais que nos cercam. E mais: que se consiga perceber a influ-ência na comunicação em todos esses aspectos!

Além disso, a formação em comunicação precisa incentivar a produção de conhecimento, voltada para as necessidades da sociedade. Precisamos experi-mentar, usar nossa criatividade para pensar novos modos de trabalhar a comu-nicação, que não apenas o “modelão” a que estamos tão acostumados.

Portanto, o papel da formação em comunicação é, acima de tudo, colaborar numa visão crítica da mídia e incentivar a mudança na sua estrutura, seja pela produção, pesquisa, extensão em comunicação, seja atuando junto às comuni-dades e movimentos populares, auxiliando na produção dessa ferramenta tão poderosa. E ainda ampliar os horizontes dos estudantes para a luta pela trans-formação social, que deve perpassar pela transformação da Comunicação!

Projetos PedagógicosO Projeto Político Pedagógico explicita o perfil de curso que será adotado, ou

seja, é nele que se define o papel da formação em comunicação, os porquês de determinada organização da grade curricular, as ementas das disciplinas com seus objetivos e tópicos de estudo, quais os procedimentos pedagógicos para se atingir tais objetivos, qual a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, o perfil do formando desejado, as competências e habilidades esperadas, como

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a escola se propõe a formar esse estudante e as formas de avaliação do curso. Um projeto bem elaborado, sobretudo com a participação de toda comuni-

dade acadêmica, é fundamental para o bom desenvolvimento do curso, visto que é ele que orienta toda a nossa formação, é importante que tenha objetivos claros e bem definidos. Inclusive para que o estudante tenha claro qual o curso irá fazer, lembrando que a diversidade de projetos proporciona também uma formação diversa e garante a pluralidade de perfis dos formandos.

Um aspecto importante de ser observado é que o projeto representa uma opção política, ou seja, suas formulações não são neutras, elas refletem uma determinada concepção de educação e de sociedade. Acreditamos que é im-prescindível que o projeto reflita a universidade que queremos, destinada a uma sociedade que queremos. Assim sendo, é essencial que os estudantes participem da reformulação dos currículos de seus cursos, discutindo o projeto pedagógico. Se a sua escola estiver passando por uma reforma curricular, exija a participação estudantil nas reuniões que definem o projeto acadêmico e o currículo. É a partir do projeto pedagógico que se estrutura também a grade curricular.

Currículos

Muitas vezes, o currículo não passa de um mosaico de disciplinas descone-xas, cujas ementas não são respeitadas ou interagem entre si. É fundamental que as disciplinas tenham ligação umas com as outras para que não se forme um currículo “colcha de retalhos” .

O curso de comunicação vem se tornando cada vez mais num curso profis-sionalizante, dando mais ênfase às disciplinas técnicas em detrimento de uma formação humanística. Para perceber isso, basta verificar as grades curriculares que passam por reformas, em que disciplinas teóricas, como Sociologia e Filo-sofia, perdem espaço. Na realidade, a teoria deve caminhar lado a lado com a prática, uma refletindo sobre a outra.

Também é preciso observar, no currículo, a diversificação de conteúdos e te-mas, como diferentes formas de se trabalhar a comunicação, além da forma tradicional conhecida, como forma de ampliar os conheicmentos.

As disciplinas optativas também são importantes nos currículos. Elas possi-bilitam que o próprio estudante escolha as especificidades de sua formação, complementando-a. Para isso, é necessário que os cursos se preparem para oferecê-las, organizando, por exemplo, uma grade permanente de optativas.

Atividades complementares, como debates, seminários, encontros, projetos de pesquisa e extensão, monitorias, mostras, congressos entre outras devem estar presentes no currículo, como forma de buscar conhecimentos extra-classe.

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HabilitaçõesQuando te perguntam o curso que você faz, você responde comunicação

ou especifica sua habilitação, por exemplo, jornalismo, publicidade, relações públicas, etc? É que muitas escolas oferecem o ensino das habilitações como cursos diferentes.

Comunicação Social, na verdade, é um só processo, que pode se manifestar nas mais diferentes linguagens. As habilitações são justamente o estudo es-pecífico de cada linguagem e se organizam de forma diferenciada em cada campo de atuação profissional. Por isso, cursos que trabalham as habilitações de forma muito segmentada costumam ter um caráter muito profissionali-zante e acabam pecando por perder essa visão global, integrada e crítica da comunicação.

Busque uma interdisciplinaridade entre as habilitações na sua escola. Propo-nha projetos conjuntos, como um veículo laboratorial sendo produzido pelas várias habilitações. Isso enriquecerá seus conhecimentos!

Pesquisa e ExtensãoA universidade deve ser um espaço de construção de conhecimento, expe-

rimentação e elaboração de alternativas que contribuam com o desenvolvi-mento social. Para isso, ela é estruturada em três pilares: ensino, pesquisa e extensão. No entanto, quem convive com a rotina de sala de aula sabe que este tripé nem sempre é aplicado; e quando é, raras vezes, cumpre o seu papel. Por isso, é importante ficar de olho na maneira como a pesquisa e a extensão estão sendo aplicadas na sua escola.

PesquisaVocê acha que pesquisa deve ser desenvolvida apenas por quem quer ser

professor ou pesquisador? De maneira alguma! A pesquisa é uma atividade singular para a boa formação universitária e deve ser realizada por todo e qual-quer estudante. Para participar de um projeto de pesquisa, é preciso colher informações sobre o andamento deste tipo de iniciativa em sua escola.

É preciso saber quais os professores de seu curso ou áreas afins estão de-senvolvendo pesquisa. Em algumas faculdades e universidades, os professo-res criam grupos de pesquisa que dão suporte a diversos trabalhos inseridos dentro de um mesmo tema central. Vale ressaltar que as pesquisas podem ser feitas em parceria com outros cursos, também.

Porém, se na sua universidade a atividade de pesquisa não estiver sendo desenvolvida, que tal tomar iniciativa? Procure se informar a respeito das pes-quisas em comunicação na sua região e peça sugestões de projetos que você

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poderia desenvolver. Ou, então, crie o seu próprio projeto e procure algum professor da área que esteja interessado em orientar. Juntos, vocês poderão estruturar melhor o projeto e procurar formas adequadas de financiamento.

Agora, é preciso ter cuidado com falsas pesquisas. Em algumas instituições de ensino, professores usam estudantes para coletar e sistematizar dados de seus trabalhos particulares. Eles acabam servindo de mão–de–obra barata nos meios acadêmicos. Uma atividade de pesquisa bem feita requer participação do estudante por completo; ele precisa se envolver, refletir e construir o tra-balho como um todo. Ela deve contribuir com uma formação mais crítica do comunicador, independente de onde ele irá atuar, seja no mercado ou na vida acadêmica.

ExtensãoO que é apresentado para você como um projeto de extensão? São aqueles

cursos pagos fora do horário de aula ou a chance de desenvolver um bom tra-balho integrado com a sociedade? É preciso ter muito cuidado com os proje-tos de extensão. Eles, freqüentemente, são oferecidos como cursos pagos, mas extensão não é isso. Ela é um dos pilares para uma boa formação universitária e deve ser um espaço para o estudante desenvolver uma uma vivência social.

Procure informações no departamento de comunicação de sua escola sobre os projetos de extensão desenvolvidos. Se eles responderem que é um cur-so de cinema, por 250 reais, duas vezes por semana, durante dois meses, tem algo errado nesta concepção de extensão. Agora, se te informarem que um grupo de estudantes está ajudando a desenvolver um núcleo de comunicação comunitária em um bairro próximo e você pode participar, sem pagar nada, então, você está diante de um possível projeto de extensão. Possível, porque a extensão não tem objetivo de ser assistencialista e nem é desenvolvida sem planejamento. O projeto deve ser bem estruturado, ter objetivos claros e ser construído em parceria pela universidade e pelo grupo social que participará dele, para que seja um espaço de integração e vivência social.

Em algumas escolas de ensino superior não existem projetos de extensão, mas os estudantes podem, e devem propor boas iniciativas. Em outras faculda-des e universidades, a extensão está integrada ao currículo com carga horária específica. Seja qual for o seu caso, o principal é não deixar de aproveitar este espaço e lutar para que ele seja realizado da melhor maneira possível.

Projetos de Conclusão de CursoOs projetos de conclusão de curso são realizados, geralmente, no último se-

mestre, ou ano, da graduação. Há escolas em que os modelos de apresentação

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do projeto são definidos previamente. Em outras, pode-se escolher o formato. Esta seria a opção ideal, uma vez que este trabalho é resultado de todo um pro-cesso de aprendizado dentro da universidade e muitas iniciativas inovadoras, na área de comunicação, surgiram nestes espaços.

Por isso, é importante saber como seu curso encara os projetos de gradua-ção, e verificar a viabilidade de desenvolver um trabalho elaborado pelos pró-prios estudantes com a orientação de um professor bem qualificado. É preciso ter cuidado com a escolha do orientador, para que ele, de fato, possa ajudar a desenvolver o projeto e não apenas verificar a formatação final do trabalho.

Em algumas escolas, o orientador nem sempre é alguém que tem afinidade com a temática pesquisada pelo estudante, e sim, o professor da disciplina em que o formato do TCC se enquadra. Por exemplo, o orientador de todos os projetos sobre web ser o professor de jornalismo online, mesmo que se esteja pesquisando sobre blogs jornalísticos e outro sobre propriedade intelectual. Este tipo de estrutura pode dificultar o andamento da pesquisa .

Veículos laboratoriais e universitáriosComo futuros comunicadores, não é possível passar pela universidade/facul-

dade sem produzir nada da nossa área de atuação. É muito importante que possamos experimentar, exercitar linguagens, usar nossa criatividade na pro-dução em comunicação.

Por esses motivos, é que precisamos dar uma atenção maior aos chamados veícu-los laboratoriais que temos no curso. Pode ser um jornal, um pro-grama de rádio ou ví-deo, uma revista, um site. O que temos que avaliar é: como é feita a produção desses materiais? São feitos a partir de discussões coletivas? Buscam valorizar nossa criati-vidade e experimen-tação? Procuram ter

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alguma relação com a comunidade universitária ou com o público que atinge? Ou é apenas uma cópia do que lemos, ouvimos e assistimos todos os dias?

É muito importante que esses veículos consigam produzir uma comunicação alternativa, tanto do ponto de vista do formato, quanto do conteúdo, a fim de valorizar o livre pensar, a criticidade, a criatividade e a reflexão.

O que acontece em grande parte dos cursos de comunicação, é que esses veículos tomam como modelo os veículos tradicionais da grande mídia, não incentivando a criação de algo diferente pelos estudantes e não colaborando na produção de novos conhecimentos na universidade.

Nesse sentido, procure sondar como andam os veículos laboratoriais do seu curso. Se existem, veja como funcionam e como podem trazer coisas diferen-ciadas. Se não existem, comece uma discussão para que possam ser criados!

Um outro problema enfrentado é a falta de local para veicular as produções. São pouquíssimas as TVs e as Rádios Universitárias que têm uma programação feita por estudantes e assumida pelo curso de Comunicação. Em muitos locais, as rádios e TVs universitárias tornaram-se espaços institucionais das reitorias, não cumprindo em nada o que deveriam ser: espaços abertos para a comuni-dade acadêmica, geridos e feitos por ela.

Por isso, procure saber como funciona sua TV e Rádio Universitária. É pre-ciso que haja um conselho gestor desses espaços, composto por todos os segmentos da comunidade acadêmica. Também é imprescindível que exista um fomento por parte da universidade/faculdade à produção nesses locais. O curso de comunicação, além de ter um professor responsável por isso, precisa de recursos financeiros para produzir, como fitas, laboratórios bem equipados, bolsas para monitores. E é papel da universidade o subsídio para isso.

Infra-estrutura e laboratórios Enquanto algumas escolas estão em condições relativamente boas em sua

infra-estrutura, outras contam com salas de aula precárias, pequenas para o ta-manho das turmas. Em muitas, os laboratórios são improvisados, com poucos equipamentos, antigos e sem manutenção. Algumas não têm uma máquina fotográfica sequer. Outras têm bom equipamento encaixotado, sem uso, por não ter onde alojá-los. Ou então, computadores razoáveis subtilizados por fal-ta de manutenção.

Problemas desse tipo impedem a realização plena das aulas, a produção dos estudantes e por fim, a sua formação. É fundamental exigir infra-estrutura ade-quada para o curso e laboratórios equipados e abertos não só para a realização das atividades curriculares, mas também para outras produções que os estu-dantes queiram realizar, como projetos de extensão, por exemplo.

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Corpo docente e técnico-administrativo

Sabemos que o bom andamen-to de um curso, não depende apenas dos estudantes, mas tam-bém dos professores e técnicos administrativos.

É preciso, então, que haja pes-soas suficientes trabalhando nas secretarias, colegiados, departa-

mentos, setor de empréstimos, laboratórios, biblioteca, restaurante universitá-rio. E que essas pessoas sejam bem remuneradas, recebam treinamentos, um incentivo para sua atividade profissional.

Em relação aos professores, é muito importante que o curso tenha um nú-mero suficiente de docentes a fim de que possam ministrar bem as discipli-nas em sala de aula, mas também possam coordenar projetos de extensão, pesquisa, grupos de estudo, além de funções administrativas, como chefia de departamento e/ou de colegiado. É muito importante que nossos professores busquem sempre uma qualificação, fazendo mestrado e/ou doutorado, o que enriquece em muita as linhas de pesquisa no nosso curso.

Além disso, não podemos de deixar de citar a realidade muitas escolas de co-municação: professores picaretas, que mal aparecem em sala de aula, sequer cumprem a ementa das disciplinas ou aqueles que se eximem de qualquer discussão em sala de aula! Não podemos aceitar esse tipo de situação! É por isso que temos que criar uma avaliação oficial, construída por estudantes e coordenação do curso, do desempenho dos professores e de suas respectivas disciplinas, com a divulgação dos resultados e com a tomada de medidas efeti-vas. Chega de responder àquele “questionário de avaliação” no fim do período que em nada melhora o desempenho dos professores e das disciplinas!

Bibliotecas e acervo do cursoPara uma qualidade na formação em comunicação, também é preciso que

haja um bom acervo na nossa biblioteca. Livros específicos da área de comu-nicação e das habilitações, como teorias da comunicação, linguagens, estudos da cultura e dos efeitos que a mídia exerce na sociedade são indispensáveis. Além disso, são necessários livros que abranjam outras áreas de conhecimen-to, como sociologia, psicologia, artes, política, antropologia, literatura, a fim de contribuir na nossa formação humanística.

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É importante que o acervo da biblioteca seja constantemente atualizado e que também seja composto por periódicos - jornais e revistas, tanto regionais quanto nacionais. É fundamental ter a matéria-prima da comunicação diária ao alcance dos/as estudantes dentro no seu próprio curso.

Também é preciso que a biblioteca brigue um acervo para documentação audiovisual. Vídeos, filmes, fotografias também são importantes fontes de pes-quisa. As produções do curso devem ter o seu cantinho, seja na biblioteca, seja num espaço criado especificamente para isso, como um centro de documenta-ção. Além de registro histórico, contribuiu para que o conhecimento produzi-do na própria universidade/faculdade seja também fonte de pesquisa.

EstágioÈ bastante usual os estudantes de comunicação dizerem que aprendem mais

no estágio que na Universidade. Que só no “mercado” é que vêem o que é a profissão de fato. É partindo dessa visão geral, que devemos trabalhar a ques-tão do estágio e sua relação com a formação acadêmica de qualidade.

O estágio vem da análise de que, não sendo possível reproduzir internamen-te nos cursos de graduação o ambiente do mundo do trabalho, é necessário criar oportunidade de vivência experimentativa no cotidiano concreto da pro-fissão. Para que isso ocorra, é preciso estabelecer uma relação entre o processo de formação e a percepção prática e direta do espaço profissional real. Alguns cuidados precisam ser preservados para que a idéia do estágio não se perca: acompanhamento do processo por um professor, com o apoio de uma comis-são paritária (formada por docentes e discentes) para avaliação constante do trabalho desenvolvido; o contratante deve ter pelo menos um comunicador profissional em seu quadro funcional; auxílio desse profissional no dia-a-dia do estágio para que este cumpra seu papel de aprendizado; garantia da bolsa estágio com valores dignos; carga horária de trabalho nunca superior a seis horas, o que inviabilizaria a dedicação do estudante à vivência do espaço e das possibilidades da Universidade.

Outra questão deve ser problematizada é o estágio realizado desde o pri-meiro período. O estudante não concluiu sequer uma disciplina, não possui uma carga conceitual mínima de comunicação é já está estagiando. Isso acaba reforçando a idéia de que a formação universitária na área é completamente desnecessária. O ideal seria que só a partir de terminado, ao menos, um terço do currículo obrigatório o estudante se encaminhasse para essa prática. Ago-ra, também precisamos entender que a maioria dos estudantes precisa desse complemento financeiro do estágio para poder se manter na Universidade, devido à falta de estrutura de assistência estudantil (moradia, transporte, ali-mentação, livros...) que garanta sua permanência plena no curso.

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Assistência EstudantilMoradia estudantil; restaurante universitário barato e com qualidade; bolsas

sociais, acadêmicas, de transporte e alimentação; assistência social, médica, odontológica, psicológica e jurídica; creches para filhos de mães e pais estu-dantes; ampliação da rede de bibliotecas e constituição e/ou renovação de acervos bibliográficos; transporte universitário; estrutura de esporte, cultura e lazer universitário; discussões imediatas de ações afirmativas; são alguns dos elementos fazem parte do que chamamos de assistência estudantil. É ela que determina o caráter público à Universidade. Se não construímos mecanismos que garantam condições mínimas para que todo estudante tenha a condição se manter na universidade e completar seu curso com tranqüilidade, estare-mos inviabilizando o ensino superior para aqueles que não tiverem como com-prar livros, pagar uma habitação, desembolsar o dinheiro da passagem, etc.

A nossa luta vai desde exigir do Governo Federal a criação de uma rubrica específica para assistência estudantil que garanta assim recursos ampliados da União para essa área e por construir dentro das universidades, dentro dos con-selhos superiores, dos colegiados, a centralidade de uma política estruturada para esse fim, e não mais ações aleatórias e estanques. Mas essa batalha não vai ser nada fácil, ainda mais pelo que está colocado na versão final do projeto de Reforma Universitária do Governo Lula que estabelece como mínimo de investimentos para esse ponto ridículos 9%. No entanto, hoje em dia, a maioria das universidades já aplica mais do que isso e mesmo assim percebe-se que ainda é muito pouco.

Com relação às instituições particulares, é necessário que elas também te-nham uma política de permanência do estudantil. Os recursos para isso dentro das privadas não devem sair do bolo da União, mas sim do seu próprio caixa.

Ensino presencial x Ensino à distânciaA formação adquirida num curso de comunicação não é apenas fruto dos re-

passes dos professores ou das leituras individuais dos vários textos xerocados. O conhecimento que adquirimos é também fruto dos debates em sala de aula, discussões com colegas e professores, dos trabalhos em grupo, do comparti-lhamento de idéias e opiniões em espaços diversos, como corredores, cantinas, Centro Acadêmico. O conhecimento também depende dessa (con)vivência.

Entretanto, em muitas universidades e cursos de comunicação o ensino à dis-tância já uma realidade. Em alguns locais, certas disciplinas do currículo já são feitas à distância, com o estudante “prestando conta” ao professor, via internet, uma vez por semana.

E, infelizmente, a Reforma Universitária do governo Lula institui esse tipo de

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ensino, sob o argumento da ampliação das vagas para o ensino superior! Então, faça uma reflexão: é esse tipo de ensino que queremos? Se não é, não

deixe que isso seja instituído no seu curso! Se houver disciplinas que já estão sendo ministradas assim, questione!

Democracia Interna No seu curso, ou ainda na sua faculdade ou universidade, os estudantes

têm espaço para intervir e participar das decisões que são tomadas? Podem participar e ter direito a voto nas reuniões de colegiado e departamento ou nos conselhos e instâncias superiores da universidade? Podem organizar-se no movimento estudantil, com espaço físico e político garantido para o Centro Acadêmico no curso?

Em muitas instituições de educação superior, os estudantes pouco partici-pam das decisões políticas. Nesse ponto, os estudantes de faculdades particu-lares, de um modo geral, sofrem ainda mais. Na maioria dos casos, as decisões tomadas pela instituição se vinculam a estratégias empresariais e nada têm de democráticas, menos ainda de comprometimento com a qualidade da educa-ção. Além disso, em algumas delas nem é permitida a organização estudantil, não sendo possível a criação de um Centro Acadêmico, por exemplo.

A democracia interna na instituição é um grande avanço para que os estu-dantes pautem suas reivindicações. Se essa abertura não é comum onde você estuda, é essencial que se exija!

Avaliação Institucional Esse não é o último tópico da cartilha por acaso. Avaliar a qualidade de um

curso, a estrutura e o papel desenvolvido por uma instituição de ensino pres-supõe bases e parâmetros para essa análise. Precisamos saber o que queremos da Universidade para proceder uma avaliação. Por isso, só agora, depois que já vimos tudo que é necessário para a construção de um curso de comunicação com qualidade, crítico e voltado para a problematização e intervenção trans-formadora na realidade, podemos falar da importância da Avaliação Institucio-nal para a garantia da formação que buscamos.

É importante ressaltar que avaliar não é punir ou premiar, mas conhecer os problemas e encontrar formas de superá-los, objetivando o aperfeiçoamento das instituições em busca do padrão unitário de qualidade. A construção da proposta final de avaliação passa, necessariamente, por amplo debate na insti-tuição sobre sua identidade e projeto acadêmico global. Enfim, pela explicita-ção e/ou definição do modelo que se quer para as IES. Além disso, a avaliação deve ser participativa e emancipatória, constituindo-se em instrumento de

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democratização. Deve ser com-posta por auto-avaliações (rea-lizadas pelos três segmentos da instituição), mas também deve comportar um processo na-cional, que reflita em atuações concretas do Governo Federal, principalmente, na ampliação de recursos para sanar as defi-ciências das Universidades Pú-blicas e exigir responsabilidade

com o compromisso educacional das particulares.A política para o ensino superior que foi adotada no Brasil, especialmente

pelos governos de Fernando Henrique Cardoso, e agora o de Lula, claramen-te se apóia em uma concepção privatista e escancaradamente neoliberal de educação. A avaliação de caráter produtivista tende a ser um dos principais instrumentos para a implantação do modelo concebido nesses moldes.

Coerentemente, a proposta de avaliação do governo é de natureza geral, ela-borada por especialistas, “de cima para baixo”, sem referência a esse projeto acadêmico global de cada instituição e ao contexto social. Trabalha-se com índices quantitativos e descontextualizados, vinculados ao financiamento das instituições, objetivando fazer “rankings” e com eles fundamentar critérios para a alocação de recursos. Seguindo a mesma lógica perversa do Exame Na-cional de Cursos (Provão) dos tempos de FHC, o Exame Nacional de Avaliação do Desempenho Estudantil (ENADE), que é parte do Sistema Nacional de Ava-liação do Ensino Superior (SINAES), se incorpora perfeitamente e dá sustento ao projeto de “Reforma” Universitário arbitrado pelo Governo Lula.

O ENADE hoje é um mero medidor imposto pelo Ministério da Educação que, além de não possibilitar a melhoria da qualidade do ensino superior brasilei-ro, contribui para acentuar a expansão da privatização deste nível de ensino e excluir a maioria da sociedade do acesso à educação pública, gratuita e de qualidade socialmente comprometida com a maioria da população.

Torna-se urgente e necessário romper com esse modelo de educação e de avaliação imposto e construir uma outra proposta de educação e de avaliação com vista à inclusão social de toda a população. É fundamental que se crie um sistema nacional de educação em que o Estado seja provedor de educação e de cidadania plenas. Mas também não podemos esperar de braços cruzados. Esse processo de avaliação tem que começar nos próprios cursos, implantan-do processos avaliativos e comissões paritárias de acompanhamento da qua-lidade (ou falta dela) de aprendizado. Sem nunca perder de vista a luta em

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âmbito nacional e o fortalecimento do principal instrumento de visibilidade e de demonstração da insatisfação e repúdio dos estudantes com o modelo de avaliação institucional imposto pelo Governo: o Boicote ao ENADE!

E a Reforma Universitária nesse contexto... Pode-se dizer que a atual “reforma” da universidade está sendo implemen-

tada de maneira gradativa. Esse processo foi iniciado em 1996, no primeiro governo Fernando Henrique, com a aprovação da Lei nº 9.394 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.

Já no governo Lula, em abril de 2004, o primeiro projeto aprovado foi a do Si-naes. Nesse processo, instituições públicas e privadas são tratadas quase que de maneira indistinta e a autonomia das Universidades é gravemente ferida, conferindo ao MEC atributos para avaliar, punir e definir as políticas da Univer-sidade, sem dar conta das particularidades de cada instituição.

O segundo foi a Lei de Inovações Tecnológicas, de novembro de 2004. Ela nada mais é do que a regulamentação de uma parceria entre as universidades, os institutos de pesquisa e a iniciativa privada. Em suma, a Lei prevê que o incentivo à pesquisa e produção do conhecimento, que possa ser inserido no processo produtivo deve ser garantido por recursos públicos. Entretanto, não menciona o incentivo à construção do conhecimento socialmente relevante, que não esteja vinculado à inovação tecnológica ou ao processo produtivo.

O terceiro projeto implementado foi o Prouni (Programa Universidade para Todos) que tem como objetivo a “compra” de vagas em instituições privadas, através de benefícios fiscais. No jogo político entre Iniciativa Privada e Gover-no, o MEC tornou-se um representante de interesses privados que foram, em sua maioria, atendidos. Vale ressaltar que os impostos dos quais as instituições são isentadas são todos voltados para o social, e que a concessão de isenções fiscais e previdenciárias significa menos verbas para gastos públicos.

Por fim, aparece o Projeto de Reforma da Educação Superior, caracterizado por concluir esse objetivo de não estabelecer limites entre o público e o priva-do. A majoritariedade dos professores nas eleições são mantidas (atropelando a paridade já conquistada em diversos cursos e universidades federais); pou-co trata de reformas pedagógicas nos cursos, que valorizem a criticidade e a liberdade de pensamento (restrita apenas a citações em poucos trechos do projeto e aos discursos dos Ministros) e da indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão (não deixando claro, nem mesmo, o que é “extensão”). Muito menos, se apresentou de maneira clara uma política de expansão do ensino público. Buscou-se fazer uma reforma mais na estrutura administrativa das instituições de ensino do que na forma de se redefinir o “fazer universitário”. Ponto para os empresários da educação que vêem nela uma incontestável fonte de lucros.

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Depois de ler todos os tópicos da cartilha e socializá-la com seus colegas, com certeza você deve estar pensando que há muito a mudar o seu curso. A seguir, vão algumas sugestões de atividades que podem ser feitas na sua escola nessa campanha:

- Atividades de avaliação do curso: o primeiro passo é mobilizar o curso para a discussão de avaliação. Comece realizando uma reunião ou uma As-sembléia de estudantes, onde seja avaliado cada ponto apresentado pela cartilha. Dessa discussão, pode sair um documento estudantil para ser dis-cutido também com os professores e técnicos-administrativos. É muito im-portante uma avaliação conjunta com todos os segmentos do curso e com todas as turmas.

- Grupos de trabalho: além do espaço da Assembléia estudantil, podem ser formados Grupos de Trabalho para pensar propostas para o curso. Esses grupos podem e devem contar com a participação de todos os estudantes, mas também de professores e servidores. Podem ser pontuados os principais problemas do curso para começar a proposição a partir deles.

- Atividades de formação: debates, grupos de discussão, oficinas para amadurecer o debate sobre a avaliação do curso. Por exemplo: se um proble-ma na sua escola é com os veículos universitários, pode ser feito um debate sobre o tema, a fim de ajudar aprofundar o estudo disso.

- Mural das lamentações: Os estudantes possam escrever e deixar pregado na parede os principais problemas que julgam ter no curso.

- Identidade visual: além dos adesivos da campanha, cada CA poderá produzir faixas, banners e camisas.

- Debates com outros cursos: para questões que não são relativas apenas ao curso de comunicação, é fundamental um contato com outros cursos e a realização de atividades conjuntas. Em várias universidades, os estudantes, organizados pelo DCE (Diretório Central dos Estudantes) discutem conjunta-mente os problemas por que passam.

- Comitê local de boicote ao Enade: Reunir os cursos que realizarão a prova do Enade para fazer atividades conjuntas de formação e preparatórias para mobilização. Existem representantes de outras Executivas de curso em algumas escolas e isso pode ser articulado junto a essas pessoas.

Atividades de mobilização

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COORDENAÇÃO GERALBreno Mendes (UFPA)Luciana Silvestre (UFES)Rodrigo Mendes (PUC-SP)

COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃOJulia Chequer (PUC-SP)

COORDENAÇÃO DE FINANÇASCelso Serrão (UFMA)

REGIONAL SUL (PR/SC/RS)Alexandre Dornelles (PUC-RS)Ester Scott (PUC-RS)Daniela Mussi (UFPR)

REGIONAL SUDESTE 1 (SP)Carlos Gustavo Yoda (UniSantos)Guilherme Jeronymo (USP)Plínio Volponi (Unesp)Fábio Nassif (PUC-SP)

REGIONAL SUDESTE 2 (RJ)Gilka Resende (UFF)Sheila Jacob (UFF)Siron Nascimento (UERJ)Breno Costa (UFF)

REGIONAL SUDESTE 3 (ES/MG)Karina Moura (UFES)Danilo Bicalho (UFES)Vivian Fernandes (UFV)

REGIONAL NORDESTE 1 (BA/SE/AL)Pedro Vilaça (UFBA)

Clarissa Viana (UFBA)Priscila Viana (UFS)Elida Rachel (Cesmac)Mário César Pereira (UFS)

REGIONAL NORDESTE 2 (PE/RN/PB)Bárbara Duarte (UFPB)Renata Albuquerque (UFPE)

REGIONAL NORDESTE 3 (CE/PI/MA)Maycko Passos (UFMA)Rômulo Maia de Alencar (UESPI)Bruno Marinoni (UFC)Thiago Rodrigues (Zé) (UFC)Manuella Nobre (UFC)

REGIONAL CENTRO-OESTE (MS/MT/DF/GO)Lucas Fortuna (UFG)Jusceni Rezende (UFG)Raquel Mariano (UCB)

REGIONAL NORTE (PA/AM/TO/RO/RR/AP/AC)Tereza Cristina (Unama)Antônio Fabrício (UFT)Felipe Melo (Unama)

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