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SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO ACADEMIA DE POLICIA MILITAR DO BARRO BRANCO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS POLICIAIS E ORDEM PÚBLICA I-2013 CAPITÃO PM MARCO AURÉLIO VALÉRIO COLETE DE PROTEÇÃO BALÍSTICA: ESTUDO SOBRE A REDUÇÃO DO TRAUMA FÍSICO CAUSADO AO CORPO DO POLICIAL MILITAR QUANDO ALVEJADO POR DISPARO DE ARMA DE FOGO São Paulo 2013

2013 a - Cap PM Marco Aurélio Valério - Colete de proteção balística - Estudo sobre a redução do trauma físico causado ao corpo do Policial Militar quando alvejado

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SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

ACADEMIA DE POLICIA MILITAR DO BARRO BRANCO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS

POLICIAIS E ORDEM PÚBLICA I-2013

CAPITÃO PM MARCO AURÉLIO VALÉRIO

COLETE DE PROTEÇÃO BALÍSTICA: ESTUDO SOBRE A REDUÇÃO DO

TRAUMA FÍSICO CAUSADO AO CORPO DO POLICIAL MILITAR QUANDO

ALVEJADO POR DISPARO DE ARMA DE FOGO

São Paulo

2013

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CAPITÃO PM MARCO AURÉLIO VALÉRIO

COLETE DE PROTEÇÃO BALÍSTICA: ESTUDO SOBRE A REDUÇÃO DO

TRAUMA FÍSICO CAUSADO AO CORPO DO POLICIAL MILITAR QUANDO

ALVEJADO POR DISPARO DE ARMA DE FOGO

Dissertação apresentada no Centro de Altos Estudos de Segurança da Polícia Militar do Estado de São Paulo como parte dos requisitos para aprovação no Mestrado profissional em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública.

São Paulo

2013

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CAPITÃO PM MARCO AURÉLIO VALÉRIO

COLETE DE PROTEÇÃO BALÍSTICA: ESTUDO SOBRE A REDUÇÃO DO

TRAUMA FÍSICO CAUSADO AO CORPO DO POLICIAL MILITAR QUANDO

ALVEJADO POR DISPARO DE ARMA DE FOGO

Dissertação apresentada no Centro de Altos Estudos de Segurança da Polícia Militar do Estado de São Paulo como parte dos requisitos para aprovação no Mestrado profissional em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública.

( ) Recomendamos disponibilizar para pesquisa

( ) Não recomendamos disponibilizar para pesquisa

( ) Recomendamos a publicação

( ) Não recomendamos a publicação

São Paulo, 17 de outubro de 2013.

----------------------------------------------------

Cel PM Nivaldo Cesar Restivo

Polícia Militar do Estado de São Paulo

----------------------------------------------------

Ten Cel PM Hélio Bulgari Filho

Polícia Militar do Estado de São Paulo

----------------------------------------------------

Maj PM Clécio Tadeu da Silva

Polícia Militar do Estado de São Paulo

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Este trabalho é dedicado:

À minha família, presença constante em minha vida, pelo apoio incondicional

em todos os momentos.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu pai, João Cláudio Valério, pelas valiosas orientações profissionais e

pessoais.

Ao meu preceptor e orientador, Cel PM Nivaldo Cesar Restivo, pela paciência,

pela amizade e pelas preciosas orientações nos momentos de dúvida, não só

durante a realização deste trabalho, mas desde 1993, quando juntos servimos no

2ºBPChq.

Ao Ten Cel PM Hélio Bulgari Filho, por dividir comigo seu conhecimento e

experiência profissional.

Ao Maj PM Clécio Tadeu da Silva, por acreditar na minha capacidade de

realizar esse trabalho.

Aos amigos do CAO I-2013, pelos momentos de amizade e intensa troca de

experiências e de aprendizado mútuos, com certeza restarão saudades.

Aos Oficiais e Praças da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que, de

alguma forma, contribuíram com o desenvolvimento deste trabalho, especialmente

àqueles que compartilharam suas histórias para a realização dos estudos de caso.

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“Aquele que não pode se proteger, não pode proteger os outros.”

(BUNDESMINISTERIUM FÜR INNERES , 1997, p. 92, tradução nossa).

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RESUMO

Desde 1996 a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) adotou o colete de

proteção balística como equipamento de proteção individual para todo seu efetivo

operacional. O equipamento ganhou importante dimensão e hoje impacta

diretamente na consecução de todas as atividades operacionais. Porém, estudos

recentes demonstram que mesmo protegido pelo colete, o usuário está sujeito a

sofrer traumatismos graves que podem, em alguns casos, levá-lo à morte. A PMESP

estuda, nesse momento, a adoção de modelos de blindagens pessoais mais seguras

e eficazes. A finalidade da presente pesquisa é analisar a viabilidade da

implantação de placas redutoras de trauma que ampliem a proteção balística e

minimizem as lesões ao Policial Militar. O estudo está balizado por normas e

tecnologias existentes em diversos países, com o propósito de se estabelecerem

critérios claros observando-se os parâmetros de excelência definidos pela gestão

contemporânea. Os métodos empregados baseiam-se em pesquisa bibliográfica e

estudo de caso, com viés em aspectos conceituais e com foco nas dificuldades

encontradas pela PMESP para definir os aspectos técnicos que devem orientar a

aquisição da nova geração de coletes de proteção balística. O resultado da

pesquisa demonstra que diversos países reduziram os índices de trauma com a

revisão das normas e utilização de placas redutoras de trauma. Ao final, conclui-se

que a de adoção de um novo padrão de deformação máxima aceitável constitui

medida capaz de ampliar a eficiência e a eficácia das atividades desenvolvidas pela

Instituição, em especial, as atividades operacionais, vez que protegem seu bem

mais importante, o Homem.

Palavras-chave: Colete de proteção balística. Normas balísticas. Trauma torácico.

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ABSTRACT

Since 1996 the Military Police of São Paulo State (PMESP) adopted the body armor

as personal protective equipment for all operational troops. The equipment got an

important dimension and today directly impacts in achieving all operational activities.

But recent studies show that even protected by the vest the user is likely to suffer

severe traumas that may, in some cases, leads him to death. The PMESP are

studying, at this time, the adoption of models of personal shields safer and more

effective. The purpose of this research is to analyze the workability of deployment

reducing trauma plates that broaden the ballistic protection and minimize injuries to

the Police Officers. The study is guided by existing regulations and technologies in

several countries, in order to establish clear standards by observing parameters of

excellence defined by contemporary management. The methods used are based on

bibliographic research and case study, biased in conceptual aspects, focusing on the

difficulties encountered by PMESP to define the technical aspects that should guide

the acquisition of new generation of ballistic vests. The research result shows that

many countries have reduced the rates of trauma with the revision of standards and

using plates reductive of trauma. The article concludes that the adoption of a new

standard of maximum acceptable deformation constitutes a measure able to improve

the efficiency and effectiveness of activities developed by the institution, in particular,

the operational activities, as they protect their most important asset, the Man.

Keywords: Body armor. Ballistics standards. Behind armor blunt trauma.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 01- Armaduras de cota metálica. ............................................................. 24

Fotografia 02 - Seção de armadura romana tipo lorica squamata............................. 25

Fotografia 03 - Armadura de Ned Kelly exposta no Museu da State Library of

Victoria, na cidade de Victoria, na Austrália. ............................................................. 28

Fotografia 04 - Colete semirrígido também conhecido como Franco-British Cuirass.

.................................................................................................................................. 30

Fotografia 05 - Anúncio de venda de túnica a prova de balas Wilkinsons. ............... 32

Fotografia 06 - Soldados alemães com blindagem pessoal sappenpanzer. ............. 33

Fotografia 07 - Testes de coletes americanos, em 1918, no Fort de La peigney –

França. ...................................................................................................................... 34

Fotografia 08 - Testes de colete para policiais, em 1923, nos Estados Unidos da

América. .................................................................................................................... 35

Fotografia 09 - Tropas russas utilizando blindagem pessoal modelo SN-42. ............ 36

Fotografia 10 - Painel de aramida após deter um disparo. ........................................ 44

Fotografia 11 - Painel de aramida com reforço de fibra de carbono. ......................... 48

Fotografia 12 - Colete utilizado pela Cabo PM Débora. Alvejada no peito. ............... 73

Fotografia 13 - Cabo PM Débora Borghi. Terceiro dia após ser baleada. ................. 74

Fotografia 14 - Tenente Magalhães – 25 dias após ser baleado............................... 81

Fotografia 15 - Impressão do BFS na plastilina. Redução de 62% com a utilização da

placa redutora de trauma da CORTAC. .................................................................... 87

Fotografia 16 - Placa redutora de trauma da CORTAC aplicada em um colete de

proteção. ................................................................................................................... 88

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Colete flexível composto por camadas de tecido de aramida. ................ 42

Figura 02: Colete flexível composto por lâminas de Spectrashield (UHMW) ............ 46

Figura 03 - Demonstração do Backface Signature (BFS) e deformação de 44mm. .. 54

Figura 04 - Testes conduzidos pelo Doutor Charles K. Kroell. .................................. 65

Figura 05 - Human Torso Finite Element Model – HTFEM (modelo de torso humano

com elementos finitos). ............................................................................................. 67

Figura 06 - Representação dos testes realizados por Gryth, em 2007. .................... 68

Figura 07 - Placa redutora de trauma aplicada sobre o mediastino. ......................... 86

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Demonstrativo dos requisitos para avaliação de coletes de proteção

balística conforme a NILECJ Standard 0101.00 de 1972. ......................................... 52

Quadro 02 - Descrição dos padrões HOSDB inglês. ................................................. 59

Quadro 03 - Padrões de coletes adotados pela Alemanha. ...................................... 61

Quadro 04 - Comparativo de limites de BFS entre normas mundiais de proteção

balística. .................................................................................................................... 62

Quadro 05 - Demonstrativo de Backface Signature (BFS) média obtida em testes

realizados pelo CSM/AM – PMESP em testes de avaliação de coletes de proteção

balística, nível II-NIJ, realizados no período de 2011 a 2013. ................................... 63

Quadro 06 - Evolução da velocidade do calibre .357Mag no período de 1972 a 2008.

.................................................................................................................................. 84

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LISTA ABREVIATURAS E SIGLAS

2ªGM - 2ª Guerra Mundial

8ªFA - 8ª Força Aérea

a.C. - Antes de Cristo

ACP - Automatic Colt Pistol

AO - Atestado de Origem

AP - Armour Piercing

ATLS - Advanced Trauma Life Support - Suporte Avançado de Vida no Trauma

AVC - Acidente vascular cerebral

B-17 – Bombardeiro pesado fabricado pela Boeing durante a 2ªGM

BABT - Behind Armour Blunt Trauma - Trauma fechado atrás do colete

BFD - Backface Deformation - Deformação da parte posterior do painel

BFS - Backface Signature - Assinatura da parte posterior do painel

BPM/I – Batalhão de Polícia Militar do Interior

BPM/M – Batalhão de Polícia Militar Metropolitano

CAES – Centro de Altos Estudos de Segurança.

CF - Constituição Federal.

CIPM - Centro de Inteligência da Polícia Militar

CMed - Centro Médico

Correg-PM - Corregedoria da Polícia Militar do Estado de São Paulo

CSM/AM – Centro de Suprimento e Manutenção de Armamento e Munição.

d.C. - Depois de Cristo

DL – Diretoria de Logística

DS - Diretoria de Saúde

EB - Exército Brasileiro

EEG - Eletroencefalograma

EPI – Equipamento de proteção Individual

EUA - Estados Unidos da América

FAF - Ferimento por arma de fogo

FBI - Federal Bureau of Investigation (Polícia de investigação Federal norte-

americana)

FMJ – full metal jacket - encamisado em metal

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GG - Grande Guerra

HC - Hospital das Clínicas

HDPE - Polietileno de Alta Densidade

HOSDB - Home Office Scientific Development Branch - Departamento de

Desenvolvimento Científico de Polícia

HPM - Hospital da Polícia Militar

HTFEM - Human Torso Finite Element Model (Modelo de torso humano com

elementos finitos)

IACP - International Association Chiefs of Police (Associação Internacional de

Chefes de Polícia)

ICC – Instrução Continuada do Comando

Kg - Kilogramas

LEAA - Law Enforcement Assistance Administration - Assistência de administração

para a aplicação da lei

LR - Long Rifle

LRHV - long rifle high velocity

LWL - Land War Laboratory - laboratório de guerra terrestre do Exército dos EUA

Mag. – Magnum

MDef-BR - Ministério da Defesa do Brasil

mm - milímetros

MP – Metal Point

MP40 – Maschinenpistole modelo 1940

NCJRS - National Criminal Justice Reference Service (Serviço Nacional de

Referência para a Justiça Criminal)

NIJ – National Institute of Justice (Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos

da América)

NILECJ - National Institute of Law Enforcement and Criminal Justice – (Instituto

Nacional de Aplicação da Lei e Justiça Criminal)

PBO - polifenilene benzobisoxazole

Ph.D. - Doctor of Philosophy (Doutor em Filosofia)

PM – Polícia Militar

PMESP - Polícia Militar do Estado de São Paulo

PSDB - The Police Scientific Development Branch (Setor de Desenvolvimento

Científico de Polícia)

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PSM - Pronto Socorro Municipal

PTAC - Procedimento Técnico de Análise de Conduta

PTI - Polizeitechnische Institut der Deutschen Hochschule der Polizei (Instituto

Tecnologico da Universidade de Polícia Alemã)

R – rifle

S&W – Smith&Wesson

SBCT - Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica

SK - Schutzwesten Klasse

SN-42 – Stalnoi Nagrudnik projetado em 1942

SPL – Special (designativo padrão de munição)

TNT - Tecido Não Tecido

TR - Technische Richtlinie Ballistische Schutzwesten (Orientações técnicas sobre

coletes de proteção balística)

UHMW - Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular

UIS - Unidades Integradas de Saúde

VPAM - Vereinigung der Prüfstellen für angriffshemmende Materialien und

Konstruktionen (Associação dos laboratórios de ensaio de resistência de materiais e

estruturas balísticas)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16

2 A HISTÓRIA DO COLETE DE PROTEÇÃO BALÍSTICA...................................... 23

3 MATERIAIS UTILIZADOS PARA A CONFECÇÃO DOS MODERNOS COLETES DE PROTEÇÃO BALÍSTICA. ................................................................................. 41

3.1 Aramida .............................................................................................................. 43

3.2 Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular. ........................................................ 44

3.3 Materiais e compostos híbridos ....................................................................... 46

3.4 Zylon ................................................................................................................... 48

4 NORMAS TÉCNICAS ............................................................................................ 51

4.1 A definição de 44mm (quarenta e quatro milímetros) como deformação máxima aceitável .............................................................................................. 57

4.2 Normas de proteção balística pelo mundo ..................................................... 58

5 TRAUMA TORÁCICO ............................................................................................ 64

5.1 Procedimento médico para atendimento de Policiais Militares alvejados no colete.................................................................................................................. 70

6 POLICIAIS MILITARES SALVOS PELO COLETE DE PROTEÇÃO BALÍSTICA 72

6.1 Caso da Cabo PM 112304-1 Débora Borghi de Lima ...................................... 73

6.2 Caso do 1º Tenente PM 901327-0 Giuliano Antônio da Silva ........................ 75

6.3 Caso do 2º Sargento PM 911639-7 Wladimir Domingos Alves ...................... 75

6.4 Caso do 1º Tenente PM 854979-6 Arnaldo Batista Ferreira ........................... 76

6.5 Caso da Soldado PM 981663-1 Euvanda Rodrigues da Silva ........................ 76

6.6 Caso do Soldado PM 102419-1 Marcos Aurélio Delmira Moraes .................. 78

6.7 Caso do 2º Tenente PM 931026-A Joel Chen .................................................. 78

6.8 Caso do Soldado PM 121439-0 Thiago Batistas dos Santos ......................... 79

6.9 Caso do Soldado PM 952894-6 Elias Lopes .................................................... 79

6.10 Caso do 2º Tenente PM 910326-A Antônio Carlos Luz Magalhães e do Soldado PM 862400-3 Edvaldo Pizelli de Barros ............................................ 80

7 MEDIDAS PARA A REDUÇÃO DA DEFORMAÇÃO E DO TRAUMA. ................. 83

8 PROPOSTAS ......................................................................................................... 89

8.1 Redução do índice da BFS nos novos coletes. .............................................. 90

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8.2 Adoção de placas redutoras de trauma. ......................................................... 90

8.3 Identificação correta do nível de ameaça. ....................................................... 91

8.4 Utilização de coletes de proteção específicos para situações de alto risco. ............................................................................................................................ 91

8.5 Controle efetivo dos policiais militares salvos pelo uso do colete. ............. 92

8.6 Adoção do protocolo de atendimento médico para policiais militares alvejados no colete. .......................................................................................... 93

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS. .................................................................................. 95

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1 INTRODUÇÃO

Desde tempos muito antigos, o Homem desenvolveu armas para a caça e

para a guerra como medida de sobreviver e se impor sobre os demais grupos

humanos. Da mesma forma a busca pela vantagem tática fez com que fossem

desenvolvidas ferramentas para a proteção e defesa, entre elas os peitorais de

couro e as armaduras metálicas, precursores dos modernos coletes de proteção

balística.

As primeiras proteções individuais foram confeccionadas em couro e

evoluíram para diversas formas de metais, tendo seu auge na Europa, durante a

idade Média (476 d.C. a 1453 d.C.). Ainda, durante a Idade Média, percebeu-se

que, mesmo protegidos de cortes e ferimentos penetrantes, os cavaleiros sofriam

traumas contusos decorrentes da energia dos golpes. Naquele tempo, as ciências

médicas não podiam explicar o fenômeno, mas os ferreiros e artesãos utilizavam

tecidos e peles de animais para minimizar tal efeito.

Com a introdução das armas de fogo, por volta do século XIII, as armaduras

tornaram-se obsoletas e foram gradualmente abandonadas, sendo relegadas a

cerimônias e atos representativos.

A revolução industrial mudou a forma como o aço era produzido e no final do

século XIX as blindagens pessoais voltam ao cenário, sendo então modernizadas e

utilizadas, de forma tímida, nas duas guerras mundiais.

Os avanços tecnológicos ocorridos após a segunda metade do século XX,

nas áreas têxteis e de polímeros possibilitaram o desenvolvimento de novos

materiais mais leves e flexíveis, capazes de absorver grandes impactos e restringir a

penetração de projéteis de armas de alta velocidade, surgindo, assim, a armadura

moderna, o colete de proteção balística.

A partir disso, verificou-se que a proteção oferecida pelos coletes modernos

pode ser definida de duas formas:

a) redução de ferimentos graves e morte; e

b) redução do risco de incapacidade imediata ao ser alvejado, ou seja, a

capacidade do usuário continuar a combater um oponente após

receber disparos de arma de fogo, potencialmente fatais.

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No decorrer da década de 1990, a Polícia Militar do Estado de São Paulo

(PMESP) adotou o colete de proteção balística como equipamento de proteção

individual (EPI), de uso obrigatório. Indubitavelmente dotar a Instituição como esse

tipo de equipamento foi um grande passo no processo de modernização com

resultados reais para a redução do número de Policiais Militares mortos ou feridos,

além de conferir maior segurança aos agentes responsáveis pela aplicação da lei no

desempenho de suas atividades.

A padronização e implantação desse EPI passou pelo processo de

disseminação e, agora, vencidas as barreiras impostas pelos antigos paradigmas, a

utilização do colete está consolidada e faz parte da imagem institucional da PMESP.

Na última década, houve grande empenho do Comando da Instituição, não só

para a aquisição, mas também para a melhoria do colete de proteção balística. Hoje,

existem coletes de proteção balística para todos os Policiais Militares que

desempenham atividades operacionais. A busca por essa melhoria foi materializada

com a convocação de comissões técnicas para a realização de estudos, propositura

de alterações no EPI em questão e aquisição de equipamentos mais leves, flexíveis

e confortáveis.

A problemática apresenta-se devido ao fato de que o uso do colete de

proteção não assegura a eliminação do ferimento e sim a redução do risco de morte.

Estudos recentes demonstram que mesmo protegidos pelo colete de proteção os

usuários estão sujeitos a sofrerem traumatismos graves e até mesmo a morrerem,

nos casos mais extremos. Existem então duas questões básicas a serem

respondidas:

a) o limite máximo de deformação aceito para os coletes de proteção

balística, no mercado nacional, são realmente seguros?

b) a utilização de placas redutoras de trauma pode aumentar a segurança do

usuário do colete de proteção?

O Desafio para a Instituição é definir padrões corretos para que os fabricantes

de coletes de proteção balística possam produzir blindagens para uso diário que

ofereçam a melhor proteção possível contra ameaças específicas identificadas, sem

impedir os usuários de desempenhar suas funções, em seu ambiente normal de

trabalho, e reduzir ao máximo o trauma físico quando alvejado na área protegida.

No Brasil, o Decreto n.º 3.665, de 20 de novembro de 2000 (Regulamento

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18

para a Fiscalização de Produtos Controlados - R-105) inclui os coletes de proteção

balística na categoria de material controlado pelo Ministério da Defesa, sendo dessa

maneira, sua fabricação e comercialização, controladas pelo Exército Brasileiro (EB).

(BRASIL, 2000).

Por não haver padrão nacional que estabeleça os critérios de confecção e

avaliação de coletes de proteção balística, o EB adota a norma do National Institute

Of Justice - NIJ (Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos da América)

denominada NIJ Standard. Essa norma estabelece requisitos mínimos de

desempenho e métodos de ensaio para a resistência balística dos coletes de

proteção.

A versão mais atual da NIJ Standard é a de número 0101.06, publicada em

julho de 2008, porém o EB regulou o tema, por meio da Portaria n° DLog 18, de 19

de dezembro de 2006, determinando que, no Brasil, a avalição de coletes de

proteção balística deve obedecer a NIJ Standard 0101.04, publicada em junho de

2001. (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2006).

A norma supracitada especifica, entre outros, os índices de deformação

máxima quando alvejado por projéteis. Apesar de sucessivas atualizações das

normas NIJ desde a sua primeira edição, em 1972, da evolução dos materiais

balísticos e dos processos fabris, o índice de deformação máxima aceita permanece

sendo 44mm (quarenta e quatro milímetros).

O fato é que a norma não relaciona o tipo de lesão que pode ocorrer no corpo

humano com uma deformação de 44mm (quarenta e quatro milímetros). Alia-se a

esta questão o fato de não haver uma relação direta entre biotipo do usuário e o

grau de deformação das placas balística e, mesmo que houvesse, seria baseada no

biotipo do norte-americano e não do Policial Militar do Estado de São Paulo.

Inexistem, na Polícia Militar do Estado de São Paulo, informações e registros

estatísticos que comprovem a relação entre a deformação máxima aceita para os

painéis balísticos e as lesões apresentadas em seus usuários. Porém, pesquisas

internacionais, as quais serão alvo de estudo durante a realização deste trabalho,

apontam que o índice de deformação máxima aceita no Brasil, 44mm (quarenta e

quatro milímetros), pode causar ferimentos graves e até mesmo a morte, sendo

certo que em diversos países a norma foi revisada e os índices máximos aceitos

foram reduzidos.

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Outro ponto a ser discutido é a existência de protocolos médicos adotados em

outros países para o atendimento pré-hospitalar e hospitalar, no caso de policiais

alvejados no colete, porém estes procedimentos são desconhecidos pelas equipes

médicas no Brasil.

O presente estudo tem sua justificativa no fato de que os Policiais Militares,

em tese, estão expostos a um risco elevado devido à aceitação dos índices de

deformação máxima das placas dos coletes de proteção balística e ao atendimento

médico não especializado.

A PMESP, por força do artigo 144, § 5º da CF, tem como missão precípua o

exercício da polícia ostensiva e a preservação da ordem pública em todo o território

paulista, sendo que para o cumprimento desse papel é indispensável que a

Instituição seja suprida não só de recursos humanos, mas também dos necessários

meios materiais. (BRASIL, 1988).

A gestão pela qualidade, um dos suportes doutrinários do GESPOL, define a

cultura de inovação como sendo um dos fundamentos de excelência e, por outro

lado, a gestão de logística tem como principal mote dar suporte para que os serviços

prestados sejam desenvolvidos com elevado padrão de qualidade. (POLÍCIA

MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2010).

Neste estudo a busca da inovação não está na alteração da norma norte-

americana ou da regulamentação do EB e sim na incorporação de mecanismos que

permitam a redução do trauma resultante do disparo de arma de fogo em região

corpórea protegida por colete balístico, estabelecendo um padrão de menor

deformação aceitável para a realidade da PMESP.

A metodologia empregada na realização deste estudo está alicerçada em

pesquisas bibliográficas realizadas por meio da consulta a publicações, legislação e

normas vigentes, trabalhos científicos, no estudo comparado entre o padrão adotado

pelo Brasil e os padrões estrangeiros, além de sítios na Internet, para a definição do

índice de deformação máxima aceitável nas placas de proteção balística.

Também, pretendemos realizar a metodologia de estudo de caso para

identificarmos os policiais que foram alvejados na blindagem e sobreviveram. Com

essa prática objetivamos compreender melhor a extensão dos ferimentos e a

necessidade de atendimento especializado para os casos.

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20

O estudo comparado de normas utilizadas na Europa e Ásia demonstra que

os índices de deformação aceitáveis podem ser bem menores, chegando, em alguns

casos, a ser 60% (sessenta por cento) menores que os estabelecidos pela norma

NIJ 0101.04, em uso no Brasil.

A utilização de placas redutoras ou outros dispositivos que visem à redução

do trauma físico nos coletes de proteção balística pode resultar em uma diminuição

significativa do grau de deformação das placas e com isso minimizar as lesões

decorrentes de disparos na região protegida.

Contudo, não existe estudo, em nível nacional, que estabeleça qual a

implicação da deformação máxima permitida para os painéis balísticos e as lesões

provocadas no usuário do colete de proteção com o biotipo do brasileiro.

Rover (2010, p. 289), ao redigir o manual de Direitos Humanos e Direito

Internacional Humanitários para forças policiais e de segurança enfatiza que dotar

os policiais com coletes de proteção balística é medida efetiva voltada a

[...] equipar os encarregado pela aplicação da lei com equipamentos de autodefesa como escudos, capacetes, coletes à prova de balas e meios de transporte blindados, de modo a diminuir a necessidade do uso de armas de qualquer espécie.

Diante da complexidade do tema, esta dissertação tem como objetivo geral

avaliar as vantagens de se empregarem, nos coletes de proteção balística da

PMESP, placas redutoras de trauma ou outros dispositivos que visem à redução do

trauma físico causado ao corpo do Policial Militar quando alvejado por disparo de

arma de fogo.

Os objetivos específicos são:

a) avaliar os critérios de confecção dos coletes de proteção balística

utilizados no Brasil quanto aos requisitos mínimos de desempenho e

métodos de ensaio para a resistência balística;

b) detalhar a norma de confecção de coletes de proteção balística e a

deformação máxima permitida;

c) realizar estudo comparado entre as normas para a confecção,

requisitos mínimos de desempenho e métodos de ensaio para a

resistência balística de coletes de proteção balística empregadas em

outros países, verificando os índices de deformação máxima permitida

para os painéis de proteção balística e a norma utilizada no Brasil;

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d) analisar os casos em que Policiais Militares foram alvejados, por arma

de fogo, em seus coletes e sobreviveram; e

e) propor medidas e mecanismos eficazes para a redução do trauma

físico causado ao corpo do Policial Militar, protegido por colete de

proteção balística, quando alvejado por disparo de arma de fogo

Para a melhor compreensão esta dissertação, além da introdução, está

distribuída nas seguintes seções:

a) História do colete de proteção balística, em que apresentamos um

panorama sobre a criação das proteções corporais, desde a

antiguidade até os dias de hoje;

b) Materiais utilizados para a confecção dos modernos coletes de

proteção balística, na qual são descritos os materiais mais comumente

utilizados para a produção de proteções pessoais, além de descrever

os estudos sobre novas tecnologias e matérias-primas;

c) Normas técnicas, seção na qual estão descritos os padrões de

proteção balística utilizados no Brasil e em outros países do mundo,

com ênfase ao critério de deformação dos painéis balísticos;

d) Trauma torácico, na qual existe a discrição dos ferimentos mais

comuns decorrentes do impacto balístico e da transferência de energia,

além de descrever o procedimento médico para o atendimento de

Policiais Militares alvejados no colete;

e) Policiais Militares salvos pelo colete de proteção, composta pelo estudo

de 10 (dez) casos, nos quais policiais foram alvejados no colete e

sobreviveram;

f) Medidas para a redução da deformação e do trauma apresenta uma

análise sobre os mecanismos de redução da deformação dos painéis

balísticos utilizados em diversos países do mundo como medida eficaz

de redução do trauma; e

g) Propostas.

A hipótese apresentada é que a utilização de placas redutoras ou outros

dispositivos que visem à redução do trauma físico nos coletes de proteção balística

pode resultar em uma diminuição significativa do grau de deformação das placas e

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com isso minimizar as lesões nos Policiais Militares, decorrentes de disparos na

região protegida.

Os coletes de proteção balística, ora em uso na Instituição, são

confeccionados seguindo o padrão norte americano, adotado pelo Ministério da

Defesa do Brasil. Os requisitos mínimos de desempenho e métodos de ensaio para

a resistência balística das placas dos coletes permitem uma deformação máxima

considerada elevada por diversos pesquisadores ao redor do mundo, porém com a

utilização de dispositivos de dissipação de energia espera-se obter redução da

deformação dos painéis balísticos e minimizar o trauma no corpo do Policial Militar,

usuário do EPI.

O trabalho está respaldado em pesquisas desenvolvidas por centros de

referência dos Estados Unidos da América, Inglaterra, Alemanha, Suécia, Rússia,

entre outros e cujos resultados direcionam a linha argumentativa que pode confirmar

ou refutar a hipótese apresentada neste projeto e, também, avaliar a medida

tecnológica mais adequada para a redução da deformação máxima aceitável para os

painéis de proteção balística estabelecendo, dessa forma, um critério particular para

a PMESP sem, contudo, alterar a norma utilizada pelo Ministério da Defesa.

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2 A HISTÓRIA DO COLETE DE PROTEÇÃO BALÍSTICA

Desde tempos imemoriáveis o Homem busca formas de se proteger e ampliar

sua capacidade para a caça e a guerra. Uma das formas encontradas para garantir

sua sobrevivência e ampliar a possibilidade de êxito foi a utilização de proteções

que, ao longo da história, evoluíram do couro e da madeira, passando pelo cobre e

pelo ferro, até chegar aos dias de hoje com fibras sintéticas, ligas metálicas

compostas e fibra de carbono.

A história da proteção individual confunde-se com a história da guerra e a

história humana. Sua evolução ocorre de acordo com a ameaça enfrentada, os

recursos disponíveis e o nível de evolução tecnológica de cada sociedade.

Durante a pré-história, período que tem início com o surgimento do Homem

até 4.000 a.C. os materiais utilizados para a proteção eram basicamente o couro, em

roupas e couraças, e a madeira, em escudos. Na última fase desse período histórico

surgem civilizações como a egípcia e a mesopotâmica que possuem conhecimentos

e habilidades para manufaturar metais para a fabricação de utensílios, inclusive

armas, escudos e peitorais de metal. Essa fase ficou conhecida como Idade dos

metais e teve grande impacto no desenvolvimento Humano.

A Idade Antiga ou antiguidade é o período compreendido entre 4.000 a.C. a

476 d.C. com a queda do Império Romano. Nesse período as técnicas metalúrgicas

evoluíram, possibilitando a confecção de diversos aparatos de proteção corporal

com variados tipos de metais. Os antigos gregos elaboraram diversos tipos de

armaduras com couro e metais e os romanos levaram as técnicas de metalurgia

bélica ao estado da arte ao produzir protetores peitorais em couro e daí o nome

couraça que, posteriormente, passaram a ser produzidas em ligas de metal como o

bronze e o aço.

A couraça era responsável pela defesa da zona peitoral e dos flancos,

embora qualquer peça de armadura feita em couro, com alguma espécie de pregos

ou lâminas de metal, tivesse o nome de couraça, independentemente da posição do

corpo que protegia.

Também, nesse período foram desenvolvidas as cotas metálicas, camisas

feitas com anéis metálicos que possuíam grande flexibilidade e eram muito

eficientes na proteção de cortes e perfurações, porém deixavam seu usuário exposto

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aos graves traumas contundentes que, em muitas vezes, eram fatais. Em estudos

realizados no século XX foram identificadas as primeiras armaduras de cota metálica

que se tem notícia em um túmulo celta do século IV a.C., como a observada na

fotografia 01, descoberta na cidade de Ciumeşti ou Csomaköz, na Romênia. (RUSU,

1969).

Fotografia 01- Armaduras de cota metálica.

Fonte: (COLABORADORES DO WIKIPÉDIA, 2013, [Internet]).

A máquina de guerra romana foi muito importante para o desenvolvimento da

blindagem pessoal e, partindo dos peitorais de couro do Século I a.C., os

engenheiros militares romanos desenvolveram quatro tipos de armaduras que

continuam a influenciar o mundo até nossos dias:

a) Lorica Segmentata - armadura composta por 26 (vinte e seis) barras de

ferro sobrepostas e curvadas de forma a acompanhar as formas

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corporais. Pesava aproximadamente 14Kg (quatorze quilogramas) e foi

a armadura mais utilizada pelos romanos devido à facilidade de

substituição das placas metálicas danificadas por golpes inimigos;

b) Lorica Hamata – armadura feita de cota metálica, com mangas curtas e

com comprimento corporal que cobriam até as coxas. Essa foi a versão

de armadura romana utilizada por mais tempo e em maior extensão

territorial dentro do Império. Pesando aproximadamente 10Kg (dez

quilogramas) era usada com um cinto largo de couro para evitar a

sobrecarga nos ombros e distribuir o peso nos quadris;

c) Lorica Plumata – armadura composta por um peitoral de couro com

apliques de peças de ferro no formato de penas de aves (plumae em

Latim). Essa armadura pesava cerca de 15Kg (quinze quilogramas) e

era usada apenas pelos legionários de postos mais elevados; e

d) Lorica Squamata – armadura semelhante a Lorica Plumata, porém

suas placas metálicas eram inspiradas nas escamas de peixes,

conforme fotografia 02. Pesava cerca de 13Kg (treze quilogramas).

Fotografia 02 - Seção de armadura romana tipo lorica squamata.

Fonte: (ROMA-VICTRIX, 2013, [Internet]).

Importante salientar que os Romanos foram os responsáveis pela introdução

das couraças e armaduras no Oriente Próximo, Oriente Médio e na Ásia, mudando o

cenário bélico para os povos que viviam nessa regiões.

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No alvorecer da Idade Média, 476 d.C. a 1453 d.C., o uso de armaduras

ganha destaque, especialmente, nos países europeus que adotam blindagem

pesada para homens e cavalos. As técnicas metalúrgicas avançaram,

especialmente, na Espanha, França, Itália e Inglaterra e a imagem da nobreza se

vincula ao uso de armaduras tanto em batalhas como em torneios de justas.

Registros históricos apontam para o ano de 1400 d.C. como o momento em que, na

Espanha, é confeccionada a primeira armadura em aço para o corpo inteiro. Nesse

período a utilização de combinações de armaduras passa a ser comum para evitar

os efeitos traumáticos dos ferimentos contundentes. Dessa forma, o cavaleiro utiliza

um traje acolchoado, uma armadura de cota metálica e uma armadura ou couraça

metálica e, assim, estaria protegido de ferimentos contundentes, cortantes e

perfurantes. (STONE, 1999)

Nesse mesmo período, no Oriente-Médio e na Ásia, o uso de armaduras

também floresce, porém de maneira distinta da Europa, pois devido às matérias-

primas disponíveis e às ameaças enfrentadas pelos povos do oriente, excluindo o

Japão, utilizaram quase que em sua totalidade armaduras de cotas metálicas

sobrepostas por tecidos grossos.

O Japão, devido ao seu isolamento insular, desenvolveu tecnologia

metalúrgica própria tanto para espadas como para armaduras, tendo uma variedade

de armaduras superiores às europeias, especialmente as cotas metálicas que

possuíam variedades que as tornavam únicas em leveza e resistência. Couraças

foram fabricadas no Japão a partir do século IV. No período pré-samurai foram

utilizados basicamente dois tipos de armaduras, a Tanko, usado por soldados de

infantaria e a Keiko, usado pelos cavaleiros. No início, a couraça era construída a

partir de chapas de ferro ligadas por correias de couro, tendo evoluído para o estilo

mais familiar usada pelo Samurai, confeccionadas com couro, seda e madeira com

revestimento em verniz à prova d’água para dar resistência para as peças da

armadura. O uso da armadura pelos Samurais durou até 1877, durante a rebelião

Satsuma. (ROBINSON, 1967).

Em estudos realizados pelo Royal Armouries, museu nacional de armas e

armaduras do Reino Unido, concluiu, sobre as armaduras medievais, que "[...] é

quase impossível de penetrar usando qualquer arma medieval convencional".

(GABRIEL, 2007, p. 79).

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Com a introdução da arma de fogo na metade do século XIV as armaduras

entram em gradual declínio, visto que não apresentavam resistência aos disparos

dos novos engenhos. Segundo Chase (2003, p. 43):

Os europeus certamente tinham armas de fogo até a primeira metade dos anos 1300. Os árabes obtiveram armas de fogo nos anos 1300 também, e os turcos, iranianos e indianos, todos eles, as receberam, o mais tardar nos anos 1400, em cada caso, direta ou indiretamente dos europeus. Os coreanos adotaram as armas de fogo dos chineses nos anos 1300, mas os japoneses não as adquiriram até o ano de 1500, e então, dos portugueses, em vez de dos chineses.

No decorrer do século XV as armaduras foram sendo relegadas para o uso

cerimonial e para as unidades de elite, que as utilizavam como símbolo de destaque,

tal qual ocorre até os dias de hoje com a Guarda Suíça e os integrantes do

Reggimento Corazzieri, dos Carabinieri di Itália.

Durante a Idade Moderna, 1453 até 1789, as armaduras foram perdendo

espaço no cenário bélico na mesma proporção em que as armas de fogo portáteis e

a artilharia ganhavam destaque nos campos de batalha. No período da renascença

foram introduzidas as primeiras armas de fogo para combatentes individuais.

Surgem armas como o arcabuz, o bacamarte e o canhão de mão. No período pré-

Napoleónico surgem o mosquete e a espingarda de pederneira. (DUNNIGAN, 2000).

Em 1538, Francesco Maria della Rovere, Duque de Urbino (Região de Florença,

Itália) encarregou o mestre artesão Filippo Negroli de criar um colete à prova de

balas, porém sua eficácia real foi polêmica na época. (WILLIANS, 2003).

O mesmo panorama segue praticamente sem alterações na Idade

Contemporânea até a metade do século XIX quando, a reboque da revolução

industrial, o engenheiro inglês Henry Bessemer introduz novas técnicas de

manufatura metalúrgica e novas ligas metálicas que possibilitam a produção, em

larga escala, de aços mais leves e resistentes.

Em 1880, foi registrado o primeiro uso individual de um colete de proteção

balística. Durante a colonização da Austrália um criminoso chamado Ned Kelly,

utilizando peças metálicas de lâminas de arado, fabricou uma armadura efetiva

contra as armas dos policiais coloniais, registrada na fotografia 03. Apesar de pesar

44Kg (quarenta e quatro quilogramas), o criminoso levou o terror ao interior do

território australiano por muito tempo. (BRAYLEY, 2011).

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Fotografia 03 - Armadura de Ned Kelly exposta no Museu da State Library of Victoria, na cidade de

Victoria, na Austrália.

Fonte: (COLABORADORES DO WIKIPÉDIA, 2013, [Internet]).

Durante a Guerra Civil Americana, de 1861 a 1865, ambos os lados

desenvolveram coletes balísticos feitos de metal, porém devido ao peso e custos,

esses protótipos, embora eficientes para as armas da época, não foram empregados

em larga escala. Nesse momento da história os coletes eram confeccionados com

placas de ferro acondicionadas em capas de algodão grosso, sendo desenhados

para a proteção da parte frontal do tórax.

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Em 1902, o Rei da Espanha, Alfonso XIII, foi salvo de um atentado à bala por

um colete de seda projetado e confeccionado pelo polonês Jan Sczepanik.

(BRAYLEY, 2011)

Nesse momento histórico, em todas as nações, estão sendo desenvolvidos

coletes de proteção balística ao mesmo tempo em que o arsenal de armas portáteis

passa das obsoletas armas de pólvora negra com antecarga para as armas de

retrocarga com cartuchos metálicos. As iniciativas de desenvolvimento são

particulares por parte de investidores e inventores que enxergam a possibilidade de

lucros em sociedades armadas e turbulentas como aquelas do início do século XX.

A partir de 1914, quase que simultaneamente, os Governos dos Estados

Unidos da América (EUA), Inglaterra e Alemanha começam a desenvolver

programas para o desenvolvimento de coletes de proteção balística para as forças

militares e policiais de seus países. Nesse mesmo ano o Arquiduque Franz

Ferdinand, herdeiro do Império Austro-húngaro, apesar de estar usando um colete

proteção balística de seda, é vitima de um atentado à bala e morre, dando início à 1ª

Guerra Mundial.

No início da 1ª Guerra Mundial, nenhum exército estava preparado para os

desafios que estavam por vir, principalmente, sob a ótica da proteção pessoal do

combatente. Milhares de homens morreram como resultado de ferimentos que

poderiam ter sido evitados se houvesse equipamentos de proteção disponíveis para

todos os combatentes. Durante os anos que se seguiram os esforços para

desenvolver coletes de proteção balística efetivos ganham prioridade, centenas de

projetos foram testados por todos os países envolvidos no conflito, porém apenas

alguns poucos modelos foram produzidos em larga escala.

Os coletes eram pesados e confeccionados em aço e couro como as

armaduras medievais. Alguns desses modelos chegavam a pesar 12Kg (doze

quilogramas) e eram pouco efetivos para disparos de fuzis ou metralhadoras, mas

apresentavam certo grau de efetividade contra armas curtas e estilhaços de

granadas e morteiros.

Os EUA produziram também protótipos de armaduras de corpo inteiro,

denominadas Brewster Body Shield, que não foram levados às linhas de frente,

devido ao seu peso e custo, mas eram extremamente eficientes. (BASHFORD,

2008).

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Em 1915, os ingleses, foram os primeiros a levar coletes de proteção balística

para a frente de batalha. Os militares britânicos definiram os coletes de proteção

balística em 03 (três) categorias principais:

a) rígidos, feitos em chapas de aço acondicionadas em capa externa de

feltro. O desenvolvimento do colete inglês baseou-se no modelo

japonês, em produção na época, e apesar de não possuir a mesma

qualidade, a proteção inglesa foi aprovada, sendo produzidas

inicialmente 50.000 (cinquenta mil) peças;

b) Intermediários ou semirrígidos eram coletes de placas metálicas

retangulares ou quadradas, costuradas a uma camisa de algodão de

forma a proteger o peito e as costas de fragmentos de explosão e de

armas de baixa velocidade, na época, conforme demonstrado na

fotografia 04.

Fotografia 04 - Colete semirrígido também conhecido como Franco-British Cuirass.

Fonte: (MUSEUMS, 2013, [Internet]).

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c) leves ou flexíveis fabricado pela empresa The County Chemical

Company, de Birmingham. Foi batizado de chemico e era

confeccionado com múltiplas camadas de feltro impregnado de resina

com o objetivo de não produzir ricochete dos projéteis. A grande

inovação foi impregnar essa capa externa com resina que, além de

torná-la impermeável, aumentava sua resistência aos disparos de

armas de fogo e às investidas de instrumentos perfurocortantes como

facas e baionetas.

O chemico torna-se o primeiro colete flexível em produção no mundo. Apesar

de serem observados traumas acentuados nos corpos dos soldados alvejados

enquanto utilizavam esse tipo de proteção, os efeitos do trauma fechado não foram

estudados pela medicina militar da época.

Todos os três tipos de coletes apresentavam problemas inerentes a sua forma

de confecção ou produção. Os coletes rígidos eram pesados e, portanto,

desconfortáveis, tiravam a mobilidade do combatente, principalmente, durante os

ataques às trincheiras inimigas; os coletes semirrígidos apresentavam desgaste

prematuro nas costuras e por diversas vezes verificava-se que as placas agravavam

os ferimentos ao serem mais um elemento penetrante ao serem atingidas por

fragmentos de alta velocidade. Os coletes flexíveis embora eficientes para absorver

e dissipar a energia de projéteis de armas de pequeno porte como revólveres e

pistolas, mostraram-se ineficientes contra o impacto de projéteis de alta velocidade,

fragmentos de artilharia ou granadas de mão, também se demonstraram inúteis em

tempo de chuva, quando saturado pela água.

Durante a 1ª Guerra mundial menos de 2% (dois por cento) dos combatentes

contavam com coletes de proteção e por esse motivo muitas famílias de

combatentes compravam esse item e enviavam aos parentes que estavam servindo

no front.

Nesse mesmo período a empresa Wilkinson Sword Company coloca à venda,

por meio de anúncios em jornais, uma túnica à prova de balas para os oficiais

ingleses, demonstrando que esse seria um mercado a ser explorado mundialmente.

(BRAYLEY, 2011). A fotografia 05 mostra um anúncio de venda de túnica à prova de

balas Wilkinsons publicado em jornal da época.

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Fotografia 05 - Anúncio de venda de túnica a prova de balas Wilkinsons.

Fonte: (AMAZON, 2013, [Internet]).

A Alemanha, nesse período, desenvolveu um colete de placas de aço silício

com níquel, com 2,3 milímetros de espessura, denominado sappenpanzer. Essa

blindagem foi projetada tendo como base as armaduras japonesas medievais e que

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protegia apenas a parte frontal do corpo. A blindagem alemã podia deter uma bala

de fuzil a 500 metros, mas a sua principal utilização era contra as metralhadoras e

os projéteis de baixa velocidade. O sappenpanzer não foi utilizado em ataques de

infantaria por causa do seu peso, mas era usado por sentinelas, operadores de

metralhadoras e homens em postos de escuta, conforme pode ser visto na fotografia

06.

Fotografia 06 - Soldados alemães com blindagem pessoal sappenpanzer.

Fonte: (TROPAS DE ELITE, 2013, [Internet]).

O sappenpanzer influenciou o desenvolvimento de blindagens pessoais

durante todo o conflito, sendo que o exército americano produziu cópias para seus

soldados até o final da Grande Guerra (GG).

Com a cessação das hostilidades, em novembro de 1918, os esforços para a

produção de coletes de proteção balística visam atender às demandas do segmento

policial que, especialmente nos EUA, enfrentam a escalada da violência armada. A

seda e o aço são os materiais mais eficientes disponíveis no momento, mas com as

desvantagens do custo e do peso, respectivamente. Ainda, no decorrer da Grande

Guerra, os avanços das armas e munições impunham, para a indústria, a

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necessidade de uma nova abordagem sobre os meios de retenção dos projéteis vez

que, além de sua capacidade de penetração superior, agora, existia um novo

elemento a ser controlado, o trauma fechado atrás do colete. (BRAYLEY, 2011).

Na fotografia 07 podemos observar resultados de testes com modelos de

coletes metálicos produzidos, em 1918, logo após o fim da 1ª Guerra Mundial.

Fotografia 07 - Testes de coletes americanos, em 1918, no Fort de La peigney – França.

Fonte: (PHOTOARCHIVE, 2013, [Internet]).

Assim como na Idade Média, os fabricantes de coletes recorreram à utilização

de camadas de cota metálica e seda para deter o projétil e evitar o trauma fechado.

Infelizmente, essa medida não demonstrou eficácia contra os projéteis em uso na

década de 1920. Os calibres .38SPL e .45ACP utilizados pelos gangsters norte-

americanos possuíam mais energia e requeriam materiais mais eficientes para sua

retenção.

Nas décadas de 1920 e 1930 diversas foram as tentativas de se criar um

colete de proteção balística efetiva nos EUA e Europa, porém os esforços de

desenvolvimento foram arrefecido com a crise econômica mundial de 1929. Na

fotografia 08 podemos observar como os testes de coletes eram feitos.

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Fotografia 08 - Testes de colete para policiais, em 1923, nos Estados Unidos da América.

Fonte: (COLABORADORES DO WIKIPÉDIA, 2013, [Internet]).

Em 1937, com a ofensiva alemã contra a Polônia, os demais países se

preparam para outra guerra de longa duração e as pesquisas para o

desenvolvimento de coletes efetivos é retomada, porém mesmo depois de duas

décadas desde o fim dos conflitos da 1ª Guerra Mundial, o que se apresenta como

blindagem pessoal são os velhos equipamentos de aço e couro. A Rússia introduz

no campo de batalha urbana de Stalingrado os coletes SN-42, conforme registrado

na fotografia 09, produzido em série, extremamente eficaz contra o calibre 9mm

(nove milímetros) Parabellum (9X19mm) padrão das submetralhadoras MP40

utilizadas nos confrontos urbanos. (BASHFORD, 2008).

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Fotografia 09 - Tropas russas utilizando blindagem pessoal modelo SN-42.

Fonte: (GEOCITIES.WS, 2013, [Internet]).

Também em Stalingrado os Alemães voltaram a utilizar, em pequenos grupos,

os sappenpanzer, que, apesar de terem sido projetados em 1916/1917

demonstraram-se muito efetivos para a realidade das armas russas da década de

1940. (BRAYLEY, 2011).

Os ingleses, por sua vez, desenvolveram o colete MRC confeccionado em

aço manganês, com peso de 1.36Kg (um quilograma e trezentos e sessenta

gramas), sendo o mais leve da época. Foram produzidos cerca de três milhões e

meio de coletes para as tropas inglesas. (BRAYLEY, 2011).

O período da 2ª Guerra Mundial (2ªGM), devido ao seu isolamento marítimo e

seu grande parque industrial, os EUA foram os maiores produtores de proteção

individual para o conflito, tendo produzido diversos modelos para suas tropas e para

os aliados. Foram produzidos coletes utilizando aço, alumínio aeronáutico, seda e

feltro, porém apesar do grande número de modelos, os coletes de proteção não

eram eficazes contra munições de alta velocidade das armas modernas que haviam

aumentado desde a Grande Guerra e por esse motivo as tropas terrestres somente

usavam coletes de proteção em missões muito especiais como os confrontos em

áreas urbanas ou missões de reconhecimento.

Por mais improvável que possa parecer o maior salto tecnológico no

desenvolvimento de blindagens individuais ocorreu para proteger os tripulantes de

aviões bombardeiros, ingleses e americanos, que cumpriam suas missões no teatro

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de operações europeu. Para assegurar a integridade física das tripulações aéreas

foram desenvolvidos os chamados flak jackets que eram coletes com proteção

pélvica. O nome flak jacket decorre da palavra alemã fliegerabwehrkanone que é um

tipo de munição antiaérea que lançava fragmentos contra as aeronaves e seus

tripulantes; portanto, essa blindagem não era um colete à prova de balas e sim

contra fragmentos.

Durante a 2ªGM o serviço nos bombardeiros B-17 era o que apresentava o

maior número de baixas e para preservar suas tripulações foi feito um grande

esforço no desenvolvimento dos flak jackets, sendo seu desenvolvimento realizado

pelo Coronel Malcolm C. Grow, da 8ª Força Aérea (8ªFA) dos EUA e a empresa

inglesa Wilkinson Sword Company, empresa inglesa especializada em aços de alta

resistência e que fabricava coletes de proteção balística desde a GG, utilizou aço

Hadfield, rico em manganês para atender à demanda frente ao fogo alemão.

(BRAYLEY, 2011).

As potências militares do mundo perceberam a importância de se

desenvolverem blindagens pessoais, não só para os combatentes como também

para os agentes responsáveis pela aplicação da lei e, assim, mesmo com o fim a 2ª

Guerra Mundial, as pesquisas continuaram a ser realizadas principalmente nos EUA,

Inglaterra e França.

Nos anos que se seguiram, as pesquisas iniciadas durante a 2ªGM foram

aprimoradas e os modelos baseados no flak jacket ganharam espaço no cenário

bélico. O aço foi substituído pelo alumínio e na versão para forças terrestres não

havia a proteção pélvica, porém mesmo assim o colete pesava cerca de 12Kg (doze

quilogramas). Com esse equipamento padrão, em 1950, os EUA entram na guerra

da Coreia, sendo que em 1951, como resultado das pesquisas que vinham sendo

desenvolvidas pelo Office of the Quartermaster General (Gabinete do Intendente

Geral do Exército dos EUA) as tropas americanas passam a utilizar coletes de

Doron-nylon, um liga não metálica laminada com fibra de vidro, com peso de apenas

3,50Kg (três quilogramas e quinhentos gramas).

Embora as características de resistência mecânica fossem similares às do

aço e a do alumínio, a redução do peso teve grande impacto na moral da tropa.

Durante a guerra da Coreia, devido ao aumento da velocidade dos projéteis e dos

fragmentos, as ocorrências de traumas fechados atrás do colete passam a ser mais

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comuns, porém devido às limitações científicas da época os médicos militares não

conseguem diferenciar esse fenômeno dos traumas comuns.

Desde sua entrada em combate até meados da década de 1970 o Duron-

Nylon foi o material de proteção balístico mais utilizado pelas forças militares dos

EUA e da Inglaterra, porém outros materiais foram testados, inclusive uma liga de

titânio e nylon, durante a guerra do Vietnã, porém seu alto custo tornou proibitiva

essa solução.

Durante a participação dos EUA na guerra do Vietnã, observou-se o aumento

da velocidade dos projéteis de armas de fogo e dos fragmentos de artefatos

explosivos devido à evolução do material bélico. Os traumas fechados atrás do

colete e os ferimentos perfurantes que ultrapassavam a proteção balística individual

fez com que as forças armadas americanas adotassem as placas de proteção

rígidas sobrepostas aos coletes. Essas placas eram produzidas com carboneto de

boro, carboneto de silício ou óxido de alumínio e resistiam a disparos diretos de

fuzis, porém aumentavam consideravelmente o peso dos coletes.

Paralelamente aos eventos militares que ocorriam nos teatros de operações

no exterior, desde a década de 1950, a segurança pública nos EUA passava por um

período de crise com centenas de policiais e funcionários de empresas de

transportes de valores sendo mortos por criminosos armados. Diante desse desafio

interno, em 1952, o National Institute of Law Enforcement and Criminal Justice -

NILECJ (Instituto Nacional de Aplicação da Lei e Justiça Criminal) instituiu um

programa para o desenvolvimento de coletes de proteção balística que pudessem

ser utilizados diariamente, por tempo prolongado, pelos policiais e agentes de

segurança, em todo o território dos EUA.

Entre os anos de 1966 e 1971 a taxa de homicídio de policiais teve um

aumento de 126% (cento e vinte e seis por cento) fazendo com que o NILECJ

ampliasse os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de coletes. Esse

programa desenvolveu diversos modelos de colete, porém nenhum deles se mostrou

realmente efetivo ou que pudesse ser usado por longos períodos. Os modelos mais

efetivos eram os militares, todavia eram volumosos e muito pesados.

Em 1965, a engenheira química Stephanie Kwolek desenvolveu a fibra de p-

fenilenodiamina com cloreto de tereftaloila, mais conhecida como Kevlar, uma fibra

flexível e com resistência mecânica cinco vezes superior ao aço. Com a divulgação

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39

dessa descoberta, em 1973, engenheiros militares do arsenal de Edwood, do

Exército dos EUA, e cientistas ligados ao NILECJ passam a desenvolver testes para

a confecção de coletes de proteção balística com Kevlar. Durante esses testes

verificou-se que o tecido de Kevlar tem suas propriedades diminuídas quando

molhado e se degradava ao ser exposto a luz ultravioleta, inclusive a luz solar. Para

evitar a degradação foi desenvolvido um impermeabilizante e as placas

confeccionadas com esse novo tecido foram fechadas em invólucros que os

protegessem da luz.

Os testes iniciais com os coletes de Kevlar visavam definir se seria possível

desenvolver um colete flexível, já que a experiência anterior havia ocorrido na 1ª

Guerra Mundial, e quantas camadas de Kevlar seriam necessárias para se

confeccionar o colete para proteger o usuário de disparos de revólveres calibre .38

SPL e carabinas calibre .22LR, as ameaças mais comuns naquela ocasião.

Os testes incluíram amplas avaliações médicas para determinar o nível de

desempenho dos coletes e quais requisitos deveriam ser observados para salvar a

vida dos usuários. Ficou claro para os pesquisadores que, mesmo quando um

projétil é detido pelo painel confeccionado em tecido flexível, o impacto resultaria em

um trauma físico que poderia variar entre uma contusão leve até a morte, na pior

das hipóteses. Foi a primeira vez na história que essa possibilidade foi

documentada, muito embora o fato já fosse conhecido desde a idade média.

As pesquisas médicas sobre o Behind Armour Blunt Trauma – BABT (trauma

fechado atrás do colete) tiveram início nessa ocasião, mas só seriam concluídas

anos depois.

A fase final de testes com os coletes flexíveis de Kevlar envolveu

monitoramento do uso em campo e eficácia do modelo. O teste inicial, realizado em

três cidades, determinou que o colete era funcionalmente viável, não causava

estresse ou pressão sobre o tronco, e não impedia a circulação sanguínea ou os

movimentos corporais necessários para o trabalho policial.

Durante todo o ano de 1975, um extenso teste de campo dos novos coletes

de Kevlar foi conduzido com a cooperação de 15 (quinze) departamentos de polícias

urbanas. Os departamentos de polícia escolhidos atendiam localidades com

população igual ou superior a 250.000 (duzentos e cinquenta mil) habitantes, e cada

um tinha taxas de roubos superiores à média nacional.

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40

Para os testes foram confeccionados 5.000 (cinco mil) amostras de coletes.

Entre os fatores avaliados estavam o conforto quando usado por um dia inteiro de

trabalho, a sua adaptabilidade em condições extremas de temperatura, e sua

durabilidade através de longos períodos de uso.

O objetivo do programa desenvolvido pelo Exército norte-americano e o

NILECJ era assegurar a sobrevivência de 95% (noventa e cinco por cento) dos

usuários alvejados no colete por um projétil calibre .38SPL de velocidade de 800

pés/s (oitocentos pés por segundo). Além disso, a necessidade do usuário

sobrevivente ser submetido a uma intervenção cirúrgica deveria ser igual ou menor

que 10% (dez por cento).

O relatório final foi publicado, em 1976, concluindo que o novo material

balístico foi eficaz para a produção de uma peça de roupa à prova de bala, leve e

fácil de usar em tempo integral.

A indústria privada foi rápida em reconhecer o potencial Kevlar para atender o

mercado de blindagem pessoal, tendo produzido e disponibilizado, em quantidade,

essa nova geração de coletes mesmo antes do relatório final do programa do

NILECJ.

Em 1975, Richard A. Armellino, o fundador da empresa americana Body

Armor, confeccionou e comercializou o primeiro colete produzido em Kevlar

chamado de K-15, composto por 15 camadas de Kevlar e placas de aço balístico,

Shok Plate, de 5”X8” (cinco por oito polegadas) posicionado verticalmente sobre a

região do mediastino. Com as mesmas formas e dimensões das placas redutoras de

trauma que ainda hoje são usadas nos painéis balísticos na frente da maioria dos

coletes para reduzir o trauma e aumentar a proteção balística no coração, pulmões e

diafragma.

Em 1976, Richard Davis, fundador do Second Chance Body Armor, foi o

primeiro a produzir um colete totalmente em Kevlar, o modelo Y. Esse projeto se

adaptou plenamente ao mercado americano e às suas necessidades de proteção.

Devido ao seu baixo peso e flexibilidade foi rapidamente adotado por diversas forças

policias e militares ao redor do mundo.

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3 MATERIAIS UTILIZADOS PARA A CONFECÇÃO DOS MODERNOS COLETES

DE PROTEÇÃO BALÍSTICA

Observando a história da humanidade e das guerras podemos perceber que a

pesquisa por formas efetivas de proteção foi uma constante, e que os materiais

utilizados para tal finalidade visam garantir segurança, mobilidade e conforto. A

busca por um equilíbrio adequado entre esses três fatores é perseguida até os dias

de hoje, porém modernamente a preocupação com custos foi adicionada a essa

equação.

Desde a introdução das armas de fogo no cenário bélico mundial a busca por

matérias-primas e de processos fabris que pudessem resistir ao poder de

penetração dos projéteis fez com que um setor da indústria, especialmente após a

revolução industrial, se dedicasse a produzir blindagens pessoais capazes de

proteger seu usuário das mais modernas armas, com a utilização de materiais cada

vez mais específicos.

Com a evolução bélica e a necessidade de suprir soldados, policiais e

agentes de segurança privados com blindagens pessoais capazes de atender aos

requisitos mínimos de segurança, os coletes de proteção balística evoluíram e

podem ser divididos em três grupos principais:

a) Coletes rígidos, confeccionados com placas sólidas e que oferecem

proteção contra fragmentação de granadas, artefatos explosivos e

disparos de armas de fogo de alta velocidade;

b) Coletes flexíveis, também denominados de coletes suaves, são

confeccionados por tecidos, polímeros ou tecidos não tecidos (TNT) de

diversas espécies e categorias de fibras e se caracterizam pela

flexibilidade e leveza. O tecido, a lâmina de polímero ou o TNT são

agrupados em camadas de forma a constituir um painel balístico.

Esses coletes apresentam capacidade de proteção balística para

projéteis de baixa velocidade, normalmente armas de pequeno porte de

uso permitido aos civis; e

c) Coletes compostos, também classificados como mistos, são coletes

flexíveis que recebem apliques de placas rígidas em determinadas

áreas, geralmente na região frontal do mediastino. Esses coletes são

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utilizados por forças militares, em áreas de conflitos de média e alta

intensidade, e por forças policiais em operações urbanas de alto risco.

Para fins desse estudo, nesta seção, apenas discorreremos sobre os

materiais que são utilizados para a confecção de coletes flexíveis, semelhante ao

demonstrado na figura 01, por serem os dessa categoria, os mais utilizados pelas

forças policiais ao redor do mundo e os únicos utilizados pela PMESP.

Figura 01 - Colete flexível composto por camadas de tecido de aramida.

Fonte: (DUPONT, 2013, [Internet]).

Os coletes de proteção balística flexíveis são produzidos com diversos tipos

de materiais, mas os principais são a fibra de aramida, Polietileno de Ultra Alto Peso

Molecular (UHMW – sigla derivada de seu nome em inglês), Polietileno de Alta

Densidade (HDPE – sigla derivada de seu nome em inglês) e materiais ou

compostos híbridos, onde duas ou mais espécies de materiais são solidariamente

empregadas num mesmo painel, unindo as propriedades de resistência balística dos

elementos.

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3.1 Aramida

Em 1965, logo após a engenheira química Stephanie Kwolek desenvolver a

fibra de aramida, a empresa DuPont patenteou esse invento com o nome comercial

de Kevlar. De todos os materiais desenvolvidos e avaliados na década de 1970

pelos órgãos norte-americanos que pesquisavam o desenvolvimento de coletes de

proteção balística flexíveis, o Kevlar foi o que apresentou o melhor desempenho nos

testes de campo.

Naquela ocasião o produto apresentado ao mercado era o Kevlar 29 que

possuía resistência mecânica 05 (cinco) vezes superior ao aço e flexibilidade

suficiente para confeccionar um colete de proteção que não prejudicasse o

desempenho das atividades policiais ou de agentes de segurança. Rapidamente o

Kevlar ocupou lugar de destaque no segmento de blindagens pessoais, para o uso

policial ou militar, em todo o mundo. O Kevlar, além da resistência mecânica também

apresenta resistência a cortes, abrasões e ao fogo.

Em 1988, depois de anos de novos testes e desenvolvimento, a DuPont

lançou o Kevlar 129, a segunda geração da fibra. A nova versão era 15% (quinze

por cento) mais forte e 20% (vinte por cento) mais flexível que a original. Desde

então a DuPont vem realizando novas pesquisas que tem como objetivo principal

reduzir o peso da fibra, ampliar a flexibilidade e o conforto, e também reduzir a

deformação do painel balístico quando alvejado, minimizando assim a possibilidade

de trauma fechado atrás do colete.

A última inovação da DuPont, o Kevlar XP, é um tecido de aramida com nova

tecnologia de trama e urdume que promete ser mais leve, mais flexível e, além

disso, ser capaz de reduzir em 15% (quinze por cento) o trauma causado ao usuário

quando alvejado no colete de proteção balística.

Ainda, sobre a fibra de aramida, é necessário esclarecer que quase

simultaneamente a pesquisa de Stephanie Kwolek, uma equipe de químicos da

empresa Akzo Inc., multinacional com sede na Holanda, também desenvolveu outro

tipo de tecnologia, similar ao da DuPont, produzindo e comercializando um tecido

balístico idêntico ao Kevlar, com o nome comercial de Twaron. Nos dias de hoje o

Twaron é fabricado e comercializado pela empresa Teijin Aramid. A fotografia 10

mostra um painel de aramida após ser atingido por um disparo.

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Fotografia 10 - Painel de aramida após deter um disparo.

Fonte: Arquivos pessoais do Tenente Coronel PM Hélio Bulgari Filho.

3.2 Polietileno de Ultra Alto Peso Molecular

Os polietilenos de ultra alto peso molecular (UHMW) destacam-se pela forte

ligação entre suas moléculas de carbono, tal qual as do diamante. O polietileno

convencional é uma molécula flexível, composta de átomos de carbono e hidrogênio,

contendo um número de hastes curtas com muitas dobras que não contribuem em

nada para a resistência da fibra, enquanto que UHMW é simplesmente uma versão

mais longa da mesma molécula. Quando transformado em fio do tipo filamento

contínuo a fibra de polietileno adquire orientação molecular no filamento, a qual é

responsável pela elevação da resistência à ruptura deste em níveis difíceis de serem

igualados e com um alongamento praticamente igual a zero.

O UHMW é produzido desde os anos 1950, porém somente em 1988 teve

aprovação nos testes como material de proteção balística tanto para painéis rígidos

como flexíveis, tendo demonstrado possuir resistência mecânica 15 (quinze) vezes

superior ao aço e 40% (quarenta por cento) superior à fibra de aramida, sendo

também extremamente resistente a cortes e abrasões.

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Os painéis balísticos são montados com camadas de UHMW com os

filamentos alinhados em ângulos de 0º e 90º (zero e noventa graus), camada por

camada, e mantidos nessa posição pela aplicação de uma película de resina plástica

e termofixação, resultando em um produto com características balísticas

excepcionais.

Comercialmente o UHMW é denominado Spectrashield, produzido pela

empresa americana Honeywell e Dyneema, produzido pela empresa holandesa

DSM. Devido às características físicas do UHMW os painéis balísticos não

necessitam ser costurados, apresentando extraordinárias propriedades visco-

elásticas o que lhes acrescentam capacidade superior de dissipar a energia do

projétil de forma mais rápida que a fibra de aramida. Sua estrutura molecular é

capaz de flutuar e não é afetada pela umidade, também exibe uma elevada

resistência a produtos químicos e luz ultravioleta.

Recentemente a Toyobo, empresa japonesa responsável pela fabricação do

Zylon, passou a produzir, sob licença da DSM, o Dyneema. A figura 02 mostra um

colete confeccionado com camadas de UHMW.

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Figura 02: Colete flexível composto por lâminas de Spectrashield (UHMW)

Fonte: (CHIEFSUPPLY, 2013, [Internet]).

3.3 Materiais e compostos híbridos

Nas últimas décadas como parte de um esforço para desenvolver materiais

que atendam aos requisitos de segurança e que ofereçam maior mobilidade e

conforto, mas que também sejam economicamente viáveis, as empresas que atuam

no mercado de blindagens pessoais têm investido em pesquisas de novos

elementos ou na integração de materiais já existentes num mesmo painel, unindo as

propriedades de resistência balística de ambos.

Como resultado dessas pesquisas as ofertas de materiais híbridos se

multiplicaram nos últimos anos. Da junção das fibras de aramida e dos polietilenos

de ultra alto peso molecular, em proporções diferentes, temos tecidos mais leves,

mais flexíveis e mais resistentes.

O Goldflex é um desses materiais e tem sido largamente utilizado no Brasil.

Esse tecido misto de aramida e UHMW é mais leve que o Kevlar, oferecendo maior

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resistência mecânica, mais flexível e maior grau de conforto para situações de

utilização prolongada.

Em recente estudo publicado pelo Doutor Andrew John Prudom, da

Loughborough University, intitulado Performance of Multi‐Component Polymers at

High Strain Rates (Desempenho de polímeros multi-compostos de alta resistência,

tradução nossa) demonstra que a associação de polímeros de alta performance

como os nano-tubos de carbono ou fibra de carbono com a aramida ou UHMW

geram produtos de alta resistência mecânica, elevado grau de proteção balística e

baixo peso, porém no atual ponto de desenvolvimento tecnológico o custo torna-se

proibitivo para a produção em larga escala. (PRUDOM, 2012).

A fotografia 11 demonstra uma sessão de um painel de aramida com reforço

de fibra de carbono desenvolvido pela empresa inglesa easycomposites,

especializada em fibras especiais.

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Fotografia 11 - Painel de aramida com reforço de fibra de carbono.

Fonte: (EASYCOMPOSITES, 2013, [Internet]).

3.4 Zylon

O Zylon, assim como os polietilenos de ultra alto peso molecular é uma fibra

sintética, porém sua classificação química é como polifenilene benzobisoxazole

(PBO). Teve sua origem na confecção de cabos e filamentos de alta resistência

mecânica e nesse tipo de utilização é 60% (sessenta por cento) mais forte que a

fibra de aramida, sendo desenvolvido, inicialmente, pela empresa SRI International e

posteriormente teve sua patente comprada e produzida pela Toyobo, do Japão.

Em 1998, a Toyobo acreditando no potencial do Zylon passou a produzir

painéis balísticos extremamente leves, flexíveis e resistentes à penetração. O

material revolucionário possuía características superiores à aramida e aos UHMW.

Segundo a pesquisa dos físicos Xianbo Hu e Alan J. Lesser, do departamento de

ciências e engenharia de polímeros da Universidade de Massachusetts, apesar dos

testes do Zylon terem sido aprovados nos EUA, os laboratórios de balística da

Alemanha reprovaram o material o qual apresentou degradação prematura nos seus

painéis quando expostos à luz ultravioleta ou a ambientes úmidos. (Hu & Lesser,

2001).

Em 2001, a empresa americana Second Chance Armor, passa a fabricar e

comercializar coletes de Zylon até que, em 2003, dois policiais, nos EUA, foram

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alvejados e seus coletes foram transfixados por disparos de pistolas que, em tese,

deveriam ser capazes de deter. Os coletes estavam dentro de seu prazo de validade

e por esse motivo o National Institute Of Justice - NIJ (Instituto Nacional de Justiça

dos Estados Unidos da América) determinou a instauração de uma rigorosa

investigação que foi concluída em 2005, quando o NIJ publicou relatório

demonstrando que o Zylon tem seu desempenho balístico degradado quando

utilizado em coletes de proteção balística, resultando em risco lesão grave ou morte,

e determinando sua retirada do mercado.

Em decorrência dos incidentes com os coletes de Zylon, no mesmo ano de

2005, o NIJ editou a norma NIJ 2005 Interim Requirements for Bullet-Resistant Body

Armor, norma complementar à NIJ Standard 0101.04, com o objetivo de verificar se

os coletes em uso mantinham suas plenas propriedades balísticas. Em 2008, foi

editada a NIJ Standard 0101.06 que atribui critérios técnicos mais rígidos para

produção e avaliação de coletes de proteção balística, com elevação das

velocidades dos projéteis para testes, locais de disparo mais próximos às bordas

dos painéis, além de incluir uma avaliação do desgaste prematuro das placas e

materiais balísticos.

Em 2006, engenheiros apresentaram uma solução inovadora para ampliar as

propriedades das fibras balísticas, a aplicação de fluídos que aumentam a

capacidade de cisalhamento dos painéis balísticos. O efeito de cisalhamento é a

tensão ou resistência que as placas balísticas podem oferecer, em sentido contrário,

ao projétil que atinge o colete, deformando-o e dissipando a energia.

Os tecidos tratados com o fluído de espessamento possuem a capacidade de

se solidificarem, tornando-se rígidos ao serem submetidos à tensão produzida pelo

projétil, voltando a seu estado de flexibilidade normal com a diminuição da tensão. O

tratamento pode fortalecer fibras de aramida para produzir coletes mais leves, mais

confortáveis e com maior capacidade balística.

O fluido de espessamento é um exemplo de um "material inteligente".

Materiais inteligentes podem detectar e responder a alterações do meio ambiente,

quer através da aplicação de energia eléctrica, magnetismo ou alterações de

temperatura. No caso dos novos tecidos balísticos, o material responde a uma

mudança na pressão.

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Em 2011, o Congresso Norte-americano promulgou o Section 125 of the

National Defense Authorization Act for Fiscal Year 2011 (Seção 125 da Lei Nacional

de Autorização de Defesa para o Ano Fiscal 2011), espécie de lei de execução

orçamentária para o ano de 2011, no qual destina setecentos milhões de dólares

americanos para a pesquisa e desenvolvimento de coletes de proteção balísticas

mais leves e resistentes. Nos anos de 2012 e 2013 os investimentos em pesquisas

nesta área continuam sendo realizados na mesma ordem de grandeza. (HORN, et

al., 2012).

Em 2012, como resultado dos investimentos em pesquisa, a Auburn

University apresentou o protótipo de um colete produzido com uma nova espécie de

feltro TNT, denominado ArmorFelt™ Technology, com capacidade balística superior

devido a sua resistência mecânica elevada e a capacidade de dissipação de energia

não linear. Em testes preliminares o novo material demonstrou-se 50% (cinquenta

por cento) mais leve e 30% (trinta por cento) mais resistente que a fibra de aramida,

além de ter apresentado redução de 25% (vinte e cinco por cento) na deformação

decorrente do impacto do projétil no painel balístico. Apesar dos resultados

promissores, essa tecnologia ainda está em fase de testes.

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4 NORMAS TÉCNICAS

Ao longo da história, as armaduras e blindagens pessoais foram sendo

desenvolvidas de acordo com as ameaças e as armas empregadas nos conflitos

bélicos ou sociais. Para o desenvolvimento e confecção desses itens de proteção as

sociedades empregaram engenheiros e cientistas que dedicaram milhares de horas

de pesquisa, além de utilizarem os melhores materiais para criar proteções que

pudessem salvaguardar a integridade física de seus soldados e policiais.

Porém, mesmo com todos os avanços tecnológicos não é possível assegurar

ao usuário de um colete de proteção 100% (cem por cento) de certeza de que

sobreviverá a um disparo efetuado na área protegida pelo equipamento. Na década

de 1960, quando o Governo dos EUA iniciou as pesquisas para o desenvolvimento

de coletes flexíveis o objetivo do programa desenvolvido pelo Exército americano e o

NILECJ era assegurar a sobrevivência de 95% (noventa e cinco por cento) dos

usuários alvejados no colete por um projétil calibre .38SPL de velocidade de 800

pés/s (oitocentos pés por segundo). Além disso, a necessidade do usuário

sobrevivente ser submetido à cirurgia deveria ser igual ou menor que 10% (dez por

cento). Isso devido à possibilidade de um projétil penetrar os painéis balísticos e,

principalmente, o risco de trauma fechado atrás do colete.

Os EUA foram o primeiro país a criar um programa governamental para o

desenvolvimento de coletes flexíveis e, no ano de 1972, publicou a NILECJ Standard

0101.00 (norma do Instituto Nacional de Aplicação da Lei e Justiça Criminal

0101.00) estabelecendo critérios de confecção e avaliação de coletes de proteção

balística, e os dividindo em três níveis de proteção:

a) Tipo 22LR - .38SPL – para projéteis de calibre .22LRHV com

velocidade mínima de 1181ft/s (mil cento e oitenta e um pés por

segundo) e calibre .38SPL com velocidade de até 782ft/s (setecentos e

oitenta e dois pés por segundo). Esse nível de proteção também

deveria ser capaz de deter disparos de armas de calibres .32, .45ACP

e 12Gauge com munição de caça, porém sem especificar a massa do

projétil ou velocidade;

b) Tipo .357mag – para projéteis de calibre .357Mag. com velocidade

mínima de 1.261ft/s (mil duzentos e sessenta e um pés por segundo).

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Esse nível de proteção também deveria ser capaz de deter disparos de

armas calibre 9mm Luger e 12Gauge 00 Buckshot;

c) Tipo .30AP – para projéteis de calibre .30-06AP (armour piercing) com

velocidade mínima de 2.694 ft/s (dois mil seiscentos e noventa e quatro

pés por segundo). Esse nível de proteção também deveria ser capaz

de deter disparos de pistolas .41Mag e 44Mag, carabina .30 e

espingarda 12Gauge Rifled Slug.

O quadro 01 ilustra os requisitos de proteção balística estabelecidos em 1972:

Quadro 01 - Demonstrativo dos requisitos para avaliação de coletes de proteção balística conforme a

NILECJ Standard 0101.00 de 1972.

Variáveis dos testes Requisitos de desempenho

Nível de

proteção

Munição

para o teste

Massa

nominal

do

projétil

Comprimento

do cano -

sugerido

Velocidade

mínima do

projétil

Penetração por parte

do colete

Deformação

Disparos

válidos penetração

.22LR -

.38SPL

.22LRHV(R)

2.6g

40gr

56 ± 1.5cm

22 ± 0.6pol

360 m/s

1181 ft/s

5 0

Ainda não

definida

.38SPL MP

10.2g

158gr

20 ± 1.5cm

7.9 ± 0.6pol

238 m/s

782 ft/s

5 0

.357Mag. .357Mag

10.2g

158gr

20 ± 1.5cm

7.9 ± 0.6pol

384 m/s

1261 ft/s

5 0 Ainda não

definida

.30AP 30-06AP

10.8g

166gr

56 ± 1.5cm

22 ± 0.6pol

821 m/s

2694 ft/s

1 0 Ainda não

definida

Abreviaturas:

AP – Armour Piercing; g – Gramas; gr – Grains; LRHV – long rifle high velocity; MP – Metal Point, Mag. –

Magnum; R – rifle e SPL – Special.

Fonte: (U.S. DEPARTMENT OF JUSTICE - NATIONAL INSTITUTE OF JUSTICE, 1972, p.5).

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53

É de fundamental importância observar que a NILECJ Standard 0101.00 não

definiu qual a deformação máxima aceita para os painéis balísticos. Essa

deformação somente seria definida nos anos seguintes.

Essa norma foi a primeira a estabelecer os critérios de confecção e avaliação

de coletes de proteção balística, sendo que os fabricantes deveriam adotá-la de

forma voluntária, porém garantia uma certificação federal de qualidade e

conformidade que lhes dava credibilidade para vendas aos departamentos de polícia

no território norte-americano. Nos anos que se seguiram à publicação da NILECJ

Standard 0101.00 a maior parte das empresas do setor de proteção balística adotou

a norma, inclusive no Canadá e Europa. (BRAYLEY, 2011).

O programa de desenvolvimento de coletes de proteção balística estabelecido

pelo Governo norte-americano não se restringiu à publicação da norma de 1972,

tendo prosseguido em suas pesquisas, especialmente devido ao fato de os EUA

estarem envolvidos, naquela ocasião, na guerra do Vietnã e haver demanda por

novos materiais e equipamentos, além de relatos de soldados estarem morrendo por

lesões não penetrantes que ocorriam quando o militar era atingido no colete por

disparos ou fragmentos de explosões. Esse tipo de trauma já era conhecido desde a

idade média, mas não havia sido estudado por médicos militares ou mensurado para

verificar qual a resistência humana a esse tipo de energia e quais os limites

considerados como aceitáveis.

No mês de maio de 1978, os médicos Andrew W. Carroll e Carl A.

Soderstrom apresentaram, no 1º Simpósio de traumatologia de Baltimore, um estudo

denominado A new nonpenetrating ballistic injury (Um novo ferimento balístico não

penetrante) no qual era relatada a existência de um novo tipo de ferimento de

combate classificado como Behind Armour Blunt Trauma - BABT (trauma fechado

atrás do colete). Nesse estudo também foram apresentados resultados dos testes

realizados por um programa interagências que envolvia o Land War Laboratory –

LWL (laboratório de guerra terrestre do Exército dos EUA) e da Law Enforcement

Assistance Administration – LEAA (Assistência de administração para a aplicação da

lei) que estabelecia que 44mm (quarenta e quatro milímetros) era a deformação

máxima aceitável para que um Ser Humano sobrevivesse a um disparo no colete de

proteção. (CARROLL & SODERSTROM, 1978).

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54

Em dezembro do mesmo ano, o NILECJ publica uma nova norma de proteção

balística, a NILECJ Standard 0101.01, a qual trazia como inovação a definição do

Backface Deformation – BFD (Deformação da parte posterior do painel) ou também

Backface Signature – BFS (Assinatura da parte posterior do painel). A BFS é a

representação física da deformação do painel balístico e ocorre quando o colete,

posicionado sobre um anteparo de plastiline Rome #1 (plastilina Roma número 1), é

alvejado por um projétil disparado por arma de fogo. O painel deforma e deixa

impressa sua “assinatura” no anteparo de plastilina.

Essa deformação, conforme normatizado, não pode ser superior a 44mm

(quarenta e quatro milímetros) sob pena de o painel ser reprovado para fins de

proteção pessoal. A Figura 03 demonstra o limite de BFS.

Figura 03 - Demonstração do Backface Signature (BFS) e deformação de 44mm.

Fonte: (PPSS GROUP, 2013, [Internet]).

Apesar de definir a deformação máxima aceita para os painéis balísticos, a

nova norma manteve os mesmos níveis de proteção.

Ainda no ano de 1978 o NILECJ é reorganizado e passa a ser designado

National Institute Of Justice - NIJ (Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos

da América). Com essa mudança o NIJ incorpora os laboratórios de pesquisa sobre

equipamentos que possam ser empregados por agentes de polícia e passa a dar

maior ênfase ao desenvolvimento de novos coletes.

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55

Nos anos de 1987, 2000, 2005 e 2008 o NIJ aprimorou as normas de

proteção balística para coletes, tendo editado, respectivamente, as normas NIJ

Standard 0101.03; NIJ Standard 0101.04; NIJ Standard 0101.05 e NIJ 0101.06.

A NIJ Standard 0101.03 ampliou os níveis de proteção balística de 03 (três)

para 06 (seis). Desde a publicação desta norma os níveis de proteção balística

passaram a ser denominados níveis de proteção NIJ e são divididos nas seguintes

classificações:

a) Nível I – estabelece a proteção contra projéteis de chumbo .22 LRHV

(rifle longo de alta velocidade), com massas nominais de 2,6 g (40 gr),

com impacto a uma velocidade de 320 m/s (1.050 ft/s) ou menos, e

projéteis de chumbo de ponta ogival calibre .38SPL, com massas

nominais de 10,2 g (158 gr), com impacto a uma velocidade de 259 m/s

(850 ft/s) ou menos. Fornece, também, proteção contra a maioria dos

projéteis de revólveres ou pistolas calibres .25 e .32;

b) Nível II-A – estabelece proteção contra os calibres descritos no nível I-

NIJ e os projéteis .357 Magnum, encamisados, de ponta macia, com

massas nominais de 10,2 g (158 gr), com impacto a uma velocidade

de 381 m/s (1.250 ft/s) ou menos, e projéteis de metal encamisados, de

9 mm, com massas nominais de 8,0 g (124 gr), com impacto a uma

velocidade de 332 m/s (1.090 ft/s) ou menos. Fornece, também,

proteção contra ameaças de .45ACP, .38SPL+P e de algumas outras

munições de fábrica nos calibres .357 Magnum e 9 mm;

c) Nível II – estabelece proteção contra os calibres descritos no nível II-A-

NIJ e os projéteis .357 Magnum encamisados, de ponta macia, com

massas nominais de 10,2 g (158 gr), com impacto a uma velocidade de

425 m/s (1.395 ft/s) ou menos, e contra projéteis de metal

encamisados, de 9 mm, com massas nominais de 8,0 g (124 gr), com

impacto a uma velocidade de 358 m/s (1.175 ft/s) ou menos. Fornece,

também, proteção contra a maioria das munições de fábrica calibres

.357 Magnum e 9 mm;

d) Nível III-A – estabelece proteção contra os calibres descritos no nível II-

NIJ e os projéteis .44 Magnum, de chumbo, cone truncado com selo de

gás, com massas nominais de 15,55 g (240 gr), e com impacto a uma

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56

velocidade de 426 m/s (1.400 ft/s) ou menos, e contra projéteis de

metal encamisado, de 9 mm, com massas nominais de 8,0 g (124 gr),

com impacto a uma velocidade de 426 m/s (1.400 ft/s) menos. Fornece,

também, proteção contra a maioria das ameaças de revólveres ou

pistolas;

e) Nível III – estabelece proteção contra os calibres descritos no nível III-

A-NIJ e os projéteis de metal encamisados, de 7,62 mm (designado

M80 pelo exército dos Estados Unidos), com massas nominais de 9,7 g

(150 gr), com impacto a uma velocidade de 838 m/s (2.750 ft/s) ou

menos. Fornece, também, proteção contra ameaças de Remington

.223 (5,56 mm) FMJ, Carabina .30 FMJ, e espingardas calibre

12Gauge com projéteis Rifled Slug; e

f) Nível IV – estabelece proteção contra projéteis perfurantes calibre .30

(designado 30-06 armour piercing pelo exército dos Estados Unidos),

com massas nominais de 10,8 g (166 gr), com impacto a uma

velocidade de 868 m/s (2.850 ft/s) ou menos. Fornece, também,

proteção pelo menos contra um único tiro de projétil descrito no nível

III-NIJ.

A NIJ Standard 0101.04 atualizou as velocidades dos projéteis e incluiu

disparos em ângulo de 30º (trinta Graus) o que não era previsto anteriormente.

A NIJ Standard 0101.05, intitulada NIJ 2005 Interim Requirements for Bullet-

Resistant Body Armor (NIJ 2005 Requisitos provisórios para resistência balística

para coletes de proteção balística) foi publicada de forma emergencial como

resposta aos problemas apresentados pelo Zylon e determinava a avaliação de

desgaste dos coletes que estavam em uso pelas forças policiais e por agentes

privados de segurança.

A NIJ Standard 0101.06 foi publicada trazendo diversas inovações tais como

a supressão do nível de proteção I-NIJ e atualizando os calibres nos demais níveis,

tendo acrescentado calibres novos como o .357SIG, além de incluir a exigência de

um teste denominado Tumbler (tambor) que se destina a simular o desgaste natural

que o colete de proteção balística é submetido durante sua vida útil. A nova norma

também estabeleceu testes com disparos mais próximos das bordas do colete.

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57

Apesar de sucessivas atualizações das normas NIJ desde a definição dos

limites da BFS em 1978, da evolução dos materiais balísticos e dos processos

fabris, o índice de deformação máxima aceita permanece sendo 44mm (quarenta e

quatro milímetros).

4.1 A definição de 44mm (quarenta e quatro milímetros) como deformação

máxima aceitável

Conforme já mencionado, em 1972, o Governo norte-americano publicou a

norma NILECJ Standard 0101.00 que fixava critérios de confecção e avaliação de

coletes de proteção balística, porém sem definição da deformação máxima aceitável

para atender a expectativa de sobrevivência de 95% (noventa e cinco por cento) dos

usuários alvejados no colete por um projétil calibre .38SPL de velocidade de 782ft/s

(setecentos e oitenta e dois pés por segundo). Além disso, a necessidade do usuário

sobrevivente ser submetido à cirurgia deveria ser igual ou menor que 10% (dez por

cento) isso devido à possibilidade de um projétil penetrar os painéis balísticos e,

principalmente, o risco de trauma fechado atrás do colete.

No ano de 1973, conforme o relato de Carroll e Soderstrom, 04 (quatro)

policiais morreram ao ser alvejados nos coletes, porém sem haver a penetração dos

painéis balísticos. “Estávamos, então, diante de um novo desafio.” (CARROLL &

SODERSTROM, 1978, p.05).

Durante todo o ano de 1972 e 1973 foram conduzidos testes, no arsenal de

Edgewood, onde 33 (trinta e três) cabras foram anestesiadas, protegidas com

painéis balísticos e alvejadas com projéteis calibre .38SPL, com velocidade de

782ft/s (setecentos e oitenta e dois pés por segundo). Alguns animais morreram

imediatamente e outros sobreviveram, sendo sacrificados após 24 horas e

submetidas à autópsia para coleta de resultados detalhados.

Os resultados dos testes com as cabras demonstraram lacerações na pele e

nos músculos subjacentes, contusões e hemorragias pulmonares, lesões no

diafragma, hemorragia nos músculos subcutâneos, fraturas de costelas, lesões no

fígado e nos rins, hemorragia estomacal e lesões na coluna vertebral. Uma das

cabras teve o rompimento de válvulas aórticas. De todos os resultados observados,

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58

as contusões e hemorragias pulmonares foram as mais significativas, sendo os

ferimentos mais avaliados.

Todas as cabras do experimento pesavam entre 40Kg e 50Kg (quarenta e

cinquenta quilogramas), sendo que os cientistas utilizaram o princípio da

extrapolação para calcular o potencial de danos em um Ser Humano de 70Kg

(setenta quilogramas) e compararam os resultados com 177 (cento e setenta e sete)

pacientes de trauma torácico decorrente de acidentes de trânsito, definindo então, o

valor de 44mm (quarenta e quatro milímetros) como sendo o limite máximo de

deformação aceita.

Apesar de lesões em vasos sanguíneos e artérias terem sido constatadas nas

avaliações com animais, o Governo norte-americano entendeu ser aceitável uma

BFS de 44mm (quarenta e quatro milímetros), sendo essa medida incorporada a

NILECJ Standard 0101.01 e mesmo nunca tendo sido testadas em Seres Humanos,

o padrão americana passou a ser adotada por centenas de países.

4.2 Normas de proteção balística pelo mundo

Desde os anos 1970, com o surgimento das normas norte-americanas que

estabeleceram os critérios de confecção e avaliação de coletes de proteção

balística, até o início da década de 1990 o NIJ ditou os padrões para blindagem

pessoal no mundo, porém a ocorrência de trauma fechado aos usuários de coletes

de proteção não era um fato tão raro e muitos médicos e cientistas passaram a

contestar a BFS aceita, especialmente pelo fato de não ter sido testado em Seres

Humanos e também pelas características antropométricas nos norte-americanos

serem diferentes dos demais grupos étnicos.

O Governo inglês, depois de inúmeros registros BABT em seus militares e

policiais, declarou que o índice de deformação aceito pelo padrão NIJ era muito

elevado e instituiu um processo contínuo e sistemático que permitisse a comparação

das performances dos coletes utilizados no Reino Unido para que se fornecesse aos

usuários um equipamento mais seguro, visando reduzir o trauma e ampliar a

segurança das blindagens pessoais. (BRAYLEY, 2011).

Assim, em 1995, o The Police Scientific Development Branch – PSDB (Setor

de Desenvolvimento Científico de Polícia) publicou o Body Armour Standards for UK

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59

Police (normas para coletes balísticos da polícia do Reino Unido). Essa nova norma

apresentada inovou ao criar 08 (oito) níveis de proteção contra ameaças específicas

e determinar que os padrões do PSDB devessem ser revistos a cada 02 (dois) anos.

Em 2003 o Setor de Desenvolvimento Científico de Polícia é ampliado e passa a ser

denominado Home Office Scientific Development Branch - HOSDB (Departamento

de Desenvolvimento Científico de Polícia).

Além de criar níveis contra ameaças específicas, o novo padrão inglês

também inovou ao permitir dois limites de BFS, sendo 44mm (quarenta e quatro

milímetros) para coletes para uso dissimulado e 25mm (vinte e cinco milímetros)

para os demais coletes de uso ostensivo, conforme abaixo descrito no quadro 02:

Quadro 02 - Descrição dos padrões HOSDB inglês.

HOSDB - Body Armour Standards for UK Police

Nível de

proteção Calibre Munição para o teste

Massa

do

projétil

Distância

do disparo

(metros)

BFS

(mm)

Velocidade do

projétil

(m/s)

HG1/A

9mm

9mm FMJ

Dynamit

DM11A1B2

8.0g

124gr 5 44 365 ± 10

.357Mag Soft Point Flat Nose

Remington R357M3

10.2g

158gr 5 44 390 ± 10

HG1

9mm

9mm FMJ

Dynamit

DM11A1B2

8.0g

124gr 5 25 365 ± 10

.357Mag Soft Point Flat Nose

Remington R357M3

10.2g

158gr 5 25 390 ± 10

HG2

9mm

9mm FMJ

Dynamit

DM11A1B2

8.0g

124gr 5 25 430 ± 10

.357Mag Soft Point Flat Nose

Remington R357M3

10.2g

158gr 5 25 450 ± 10

HG3

Carabina

5.56X45

mm

Federal Tactical Bonded

5.56X45mm

LE223T3

Law Enforcemente

Ammunition

4.01g

62gr 10 25 750 ± 15

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60

HOSDB - Body Armour Standards for UK Police

Nível de

proteção

Nível de

proteção Nível de proteção

Nível de

proteçã

o

Nível de

proteção

Nível de

proteçã

o

Nível de

proteção

RF1

7.62X51

mm

OTAN

BAE Systems

Royal Ordnance Defence

Radway Green

OTAN L2A2

9.3g

144gr 10 25 830 ± 15

RF2

7.62X51

mm

OTAN

BAE Systems

Royal Ordnance Defence

Radway Green

OTAN L40A1

High Power

9.7g

149,7gr 10 25 850 ± 15

SG1 12Gauge

Winchester 1oz.

Rifled lead Slug

12RS15 e 12RSE

28.4g

437gr 10 25 435 ± 25

Nível HG1/A - Proteção contra armas de porte com munição comercial padrão. Uso dissimulado.

BFS máxima deve ser 44 milímetros

Fonte: (HOME OFFICE SCIENTIFIC DEVOLOPMENT BRANCH, 2007, p.12).

No mesmo período, problemas de mesma natureza levaram o Governo

alemão a criar seu próprio programa de padronização de blindagens pessoais. Os

estudos foram conduzidos pelo Polizeitechnische Institut der Deutschen Hochschule

der Polizei (Instituto Técnico de Polícia da Universidade da Polícia Alemã), tendo

sido publicado, em 1997, a Technische Richtlinie Ballistische Schutzwesten - TR

(Orientações técnicas sobre coletes de proteção balística). No mesmo sentido que a

norma inglesa, os alemães apresentaram níveis de proteção diferentes dos

estabelecidos pelo Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos da América e

também definiram uma BFS menor que a dos americanos e dos ingleses, sendo

esta reduzida para um intervalo de 18mm a 22mm (de dezoito a vinte e dois

milímetros), conforme o caso ou tipo de colete. Em 2006 as normas alemãs foram

revistas e além de terem sido ajustadas foi publicada uma nova norma que deve ser

empregada de forma complementar à anterior. Essa nova norma é VPAM - BSW

2006, Prüfrichtlinie Ballistische Schutzwesten (Bases gerais para o material

balístico).

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61

Atualmente, a norma TR válida é a publicada em 2008 que combinada com a

VPAM - BSW 2006 estabelecem 05 (cinco) níveis de proteção denominados

Schutzwesten Klasse (SK) ou classe de colete de proteção balística, conforme

quadro 03:

Quadro 03 - Padrões de coletes adotados pela Alemanha.

Technische Richtlinie Ballistische Schutzwesten – TR - 2008

Nível de

proteção (SK) Calibre

Minição para

o teste

Massa do

projétil

Velocidade do

projétil

(m/s)

BFS

(mm)

SK-L 9X19mm

Luger

Ogival/ FMJ/

Núcleo de

chumbo

8,0g ± 0,1 360 ± 10

18 - 22

SK-1 9X19mm

Luger

Ogival/ FMJ/

Núcleo de

chumbo

8,0g ± 0,1 415 ± 10

18 - 22 Semi

encamisado

Hollow Point

6,0 ± 0,1 460 ± 10

FMJ núcleo

de aço 6,1 ± 0,1 460 ± 10

SK-2 .357Mag

Semi

encamisado

canto vivo

7,1± 01 580± 10

18 - 22

SK-3

5.56X45mm

FMJ

Padrão OTAN

SS109

4,0 ± 0,1 950 ± 10

18 - 22

7,62X61mm

(.308Win)

FMJ

Padrão OTAN

DM111

9,55 ± 0,1 830 ± 10

18 - 22

SK-4 7,62X61mm

(.308Win)

FMJ

Núcleo de

aço

Padrão OTAN

HPC

9,7 ± 0,2 820 ± 10 18 - 22

Fonte: (POLIZEITECHNISCHES INSTITUT DER DEUTSCHEN HOCHSCHULE DER POLIZEI, 2008,

p.14).

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Importante frisar que tanto a Inglaterra quanto a Alemanha conseguiram

reduzir seus limites de deformação do painel balístico e aumentar a segurança do

usuário com inovações nos processos fabris, com a utilização de novos compostos

balísticos e, principalmente, com a utilização de placas redutoras de trauma.

Os países do leste europeu e Ásia, integrados na Euro-Asian Interstate

Council for Standardization, Metrology and Certification – EASC (Conselho

Interestadual Euro-Asiático de Normalização, Metrologia e Certificação), adotaram o

padrão russo GOST R 50744-95, que prevê uma BFS máxima de 17mm (dezessete

milímetros).

Seguindo nesse mesmo sentido, outros países que antes utilizavam as

normas NIJ, passaram a desenvolver estudos particulares que atendessem o

cenário de ameaças locais e estabeleceram normas próprias que acabaram por

reduzir a BFS máxima aceitável. O quadro 04 demonstra essa tendência mundial de

busca na redução da BFS e consequentemente dos traumas:

Quadro 04 - Comparativo de limites de BFS entre normas mundiais de proteção balística.

NORMAS PARA A CONFECÇÃO E AVALIAÇÃO DE COLETES DE PROTEÇÃO

BALÍSTICA PELO MUNDO

PAÍS NORMA DEFORMAÇÃO MÁXIMA ACEITA

(BFS)

EUA NIJ Standard 0101.06 44mm

Inglaterra HOSDB – 2007 44mm (uso dissimulado)

25mm (uso ostensivo)

Alemanha

Technische Richtlinie

Ballistische Schutzwesten –

TR - 2008

De 18mm a 22mm

Rússia Gost R 50744­95 17mm

Colômbia NTMD-0028-A6 21mm

México NOM-166-SCFI-2005 40mm

Argentina RENAR MA.01 44mm

Fonte: o autor.

No Brasil, o Decreto n.º 3.665, de 20 de novembro de 2000 (Regulamento

para a Fiscalização de Produtos Controlados - R-105) inclui os coletes de proteção

balística na categoria de material controlado pelo Ministério da Defesa (MDef-BR),

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63

sendo dessa maneira, sua fabricação e comercialização, controladas pelo Exército

Brasileiro (EB). (BRASIL, 2000).

Por não haver padrão nacional que estabeleça os critérios de confecção e

avaliação de coletes de proteção balística, o EB adota os requisitos mínimos de

desempenho e métodos de ensaio para a resistência balística definidos pelo NIJ.

A versão mais atual da NIJ Standard é a de número 0101.06, publicada em

julho de 2008, porém o EB regulou o tema, por meio da Portaria n° DLog 18, de 19

de dezembro de 2006, determinando que, no Brasil, a avalição de coletes de

proteção balística deve obedecer a NIJ Standard 0101.04, publicada em junho de

2000, e portanto, a deformação máxima aceitável, no Brasil, é de 44mm (quarenta e

quatro milímetros), muito acima dos modernos padrões definidos em países

europeus. (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2006).

Em cumprimento à legislação vigente, a PMESP adquire coletes de proteção

balística e os avalia para verificar se os requisitos técnicos satisfazem o especificado

na NIJ Standard 0101.04. Os testes realizados pelo Centro de Suprimento de

Material – Armamento e Munição (CSM/AM) apontam que os coletes fornecidos pela

indústria nacional atendem e superam os parâmetros de deformação máxima

aceitável (BFS) estabelecido pela norma, conforme quadro 05:

Quadro 05 - Demonstrativo de Backface Signature (BFS) média obtida em testes realizados pelo

CSM/AM – PMESP em testes de avaliação de coletes de proteção balística, nível II-NIJ, realizados no

período de 2011 a 2013.

FABRICANTE BFS média (mm)

LFJ 30, 19

Rontan 28,84

CBC 29,91

InbraTextil 27,26

MÉDIA GERAL DE BFS 29,05 Fonte: CSM/AM.

Destacamos que os coletes produzidos pela indústria nacional, adquiridos e

testados pelo CSM/AM apresentam uma BFS, em média, inferior a 30mm (trinta

milímetros), desempenho próximo ao exigido pela norma HOSDB inglesa.

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5 TRAUMA TORÁCICO

Ao ser atingido pelo disparo de arma de fogo, o painel de proteção balística

retém o projétil dissipando a energia por meio de atrito com as fibras de tecido,

tensão de cisalhamento, tração e deformação da placa contra a parede torácica do

usuário, causando um violento trauma não penetrante, também conhecido como

trauma fechado. Dessa forma, o projétil é detido sem que haja a perfuração da

placa, porém a energia é transmitida ao corpo do usuário com velocidades diferentes

para a estrutura óssea e cada um dos órgãos.

O uso do colete de proteção balística significa redução e não a eliminação do

risco de lesão decorrente do disparo arma de fogo. Segundo resultados de estudos

publicados pela PubMed, organismo ligado à US National Library of Medicine

National Institutes of Health (Biblioteca Nacional de Medicina do Instituto Nacional de

Saúde dos Estados Unidos da América) e no Journal of Royal Army Medical Corps

(jornal do corpo médico de Exército Real Inglês), o padrão que se observa nos

traumas produzidos pelo disparo de armas de fogo nos coletes de proteção são

ferimentos contundentes, externos e internos, compatíveis com os causados por

acidentes de trânsito. (CANNON, 2001).

A avaliação do desempenho das blindagens é extremamente importante para

garantir a segurança do usuário nas mais diversas atividades militares, policiais ou

civis. No entanto, esta informação é considerada, muitas vezes, sigilosa pelo risco

que representa para a sociedade militar ou por fortes interesses econômicos de

grupos que comercializam estes equipamentos de proteção. Quando realizada, esta

avaliação restringe-se geralmente a aspectos meramente qualitativos, tais como a

verificação do dano produzido pelo projétil. No entanto, não é usual avaliar o valor

da energia remanescente do impacto que, não sendo dissipada pela blindagem, é

transmitida ao corpo do usuário. Resta-nos, portanto, a questão: Será a não

penetrabilidade do colete de proteção uma condição suficiente para garantir a

integridade física e a segurança de seu utente?

Conforme já vimos, as normas NIJ são as diretivas mais utilizadas em todo o

mundo para definição de padrões de segurança para a confecção e avaliação de

coletes de proteção, no entanto, diversos países contestaram esses padrões e

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65

definiram critérios próprios. Nos EUA diversos setores também contestam os valores

estabelecidos pelo NIJ, especialmente, quanto ao BFS máximo.

Em 1981, como parte de um estudo contínuo sobre trauma torácico fechado

resultante de impacto direto, o professor Doutor Charles K. Kroell e outros

pesquisadores publicaram os resultados de um estudo denominado Interrelationship

of Velocity and Chest Compression in Blunt Thoracic Impact to Swine (Inter-relação

da velocidade e compressão torácica em trauma fechado torácico em suínos). Os

testes foram conduzidos para estabelecer padrões da indústria automobilística, mas

nos anos seguintes foram comparados aos testes realizados pelo NIJ na década de

1970, com o diferencial de que as cabras do teste inicial foram substituídas por

porcos por serem mais próximos à anatomia humana.

Suínos machos, anestesiados, foram suspensos em sua postura natural e

submetidos a impactos na região do esterno e ventrodorsal. Doze animais foram

atingidos por pêndulos com velocidade de 40Km/h (quarenta quilômetros por hora) e

experimentaram uma compressão torácica de 35mm (trinta e cinco milímetros), em

média. Seis outros foram impactados por pêndulos com velocidade de 55Km/h

(cinquenta e cinco quilômetros por hora) e experimentaram uma compressão

torácica 27% (vinte e sete por cento) superior, ou seja 44mm (quarenta e quatro

milímetros). A figura 04 caracteriza os testes conduzidos pelo Doutor Charles K.

Kroell.

Figura 04 - Testes conduzidos pelo Doutor Charles K. Kroell.

Fonte: (KROELL et al., 1981, p.118).

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66

O grupo atingido a 40Km/h apresentou, principalmente, contusão pulmonar,

variando em intensidade, de moderada à crítica, arritmias cardíacas e hipóxia. Não

houve fratura de costelas ou rupturas cardiovasculares.

Os animais que foram atingidos a 55Km/h, como esperado, apresentaram

lesões mais graves como fraturas ósseas, contusões pulmonares, hipóxia, rupturas

cardiovasculares levando a tamponamento e hemotórax (derrame e presença de

sangue na cavidade pleural), choque hipovolêmico e arritmias cardíacas graves,

incluindo um caso de fibrilação ventricular letal.

O estudo concluiu que no geral, as exposições às velocidades mais altas

produzem respostas mecânicas superiores, traumas e arritmias cardíacas mais

graves, apesar dos níveis de compressão não serem tão mais elevados. Os

resultados deste estudo enfatizou que todas as pessoas com trauma torácico devem

receber atendimento médico de urgência para a determinação da severidade do

trauma fechado de tórax. (KROELL et al., 1981).

Em 2001, o Lieutenant Commander (Major) L. Cannon, cirurgião torácico do

Exército Real Inglês, publicou no Journal of Royal Army Medical Corps (jornal do

corpo médico de Exército Real Inglês) seu artigo denominado Behind Armour Blunt

Trauma - an emerging problem (trauma fechado atrás do colete – um problema

emergente) no qual descreve o BABT como sendo uma forma específica de trauma

fechado de tórax, caracterizado pela deformação rápida da placa balística em

contato com o corpo, gerando grande quantidade de energia concentrada em uma

pequena área. A deformação da parede do corpo transfere, instantaneamente, a

energia do impacto para as vísceras causando, lesões internas que, em

circunstâncias extremas, podem resultar em morte, embora o projétil não tenha

perfurado a armadura. (CANNON, 2001).

Cannon avalia que as lesões produzidas pelo BABT são semelhantes aos

ferimentos produzidos em acidentes de trânsito, porém menos estudados e que

[...] a busca por coletes mais leves e flexíveis tem resultados em blindagens pessoais ineficientes na proteção contra os efeitos dos traumas fechados e aumentado os risco de BABT para o pessoal das forças militares e de

segurança.

A pesquisa do cirurgião militar explana sobre a ineficiência do modelo de

testes estabelecidos pelo NIJ em relacionar o BFS de 44mm (quarenta e quatro

milímetros) com o tipo de lesão causada. A norma prevê apenas critérios de

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aprovação ou reprovação do material balístico a partir da profundidade de uma

impressão na plastilina.

Outro ponto fundamental abordado por Cannon é o desenvolvimento de

novos métodos de avaliação da efetividade dos coletes de proteção balística. Ele

discorre sobre a utilização de torsos mecânicos com sensores semelhantes aos

usados na indústria automobilística, correlacionando a energia aplicada no tórax e a

deformação com as lesões, externas e internas. Estes modelos fornecem

informações comparativas para determinar a resposta ao impacto balístico, no tórax,

podendo ser usados para avaliar a eficácia do colete e para melhor

compreendermos o fenômeno do BABT.

A figura 05 caracteriza o modelo de torso humano com elementos finitos,

semelhante aos utilizados em testes automobilísticos, porém neste caso para aferir a

gravidade dos ferimentos sofridos pelo usuário do colete de proteção balística. Esse

padrão de teste visa substituir a avaliação da BFS em plastilina.

Figura 05 - Human Torso Finite Element Model – HTFEM (modelo de torso humano com elementos

finitos).

Fonte: (ELSEVIER, 2013, [Internet]).

Assim como a pesquisa de Charles K. Kroell, o estudo de Cannon recomenda

que todos os pacientes atingidos no colete por disparo de arma de fogo ou

fragmento de explosão devem receber atendimento médico imediato, com

recomendação expressa de que o usuário da blindagem pessoal deva ser submetido

à avaliação tomográfica computadorizada helicoidal, para eliminar a suspeita de

lesão da Aorta.

Seguindo a linha de contestação do limite de BFS estabelecido pelo NIJ, em

2007, o Doutor Dan Gryth, apresentou sua tese de Ph.D. (Doctor of Philosophy) no

Department of Clinical Science and Education, Södersjukhuset, Karolinska Institutet,

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Stockholm, Sweden (Departamento de Ciências Clínicas e Educação,

Södersjukhuset, Karolinska Institutet, de Estocolmo, Suécia) com o título de

Hemodynamic, Respiratory and Neurophysiological Reactions after High-Velocity

Behind Armor Blunt Trauma (Reações hemodinâmicas, respiratórias e

neurofisiológicas, após trauma fechado atrás do colete por disparos de alta

velocidade). Nesse trabalho Gryth reproduz os testes conduzidos pelo NIJ, porém,

assim como Charles K. Kroell, também utilizou um grupo de suínos para seus

estudos que buscavam investigar as respostas fisiológicas após BABT, produzidas

por disparos de alta velocidade. (GRYTH, 2007)

A pesquisa de Gryth utilizou um grupo de suínos do tipo Landrace sueco

(fêmeas ou machos castrados), obtidos de um criador comercial. Para fins de

padronização da amostra foram utilizados animais pesando cerca de 60 kg, porque o

tamanho do seu tórax se aproxima a anatomia humana. Todos os indivíduos foram

monitorados por eletroencefalograma (EEG) para identificar qualquer alteração no

funcionamento cerebral.

Os porcos foram anestesiados, protegidos por painéis balísticos e alvejados

do lado direito do tórax. As placas balísticas e os critérios de velocidades dos

projéteis obedeceram ao estabelecido na NIJ Standard 0101.04, conforme a figura

06.

Figura 06 - Representação dos testes realizados por Gryth, em 2007.

Fonte: (GRYTH, 2007, p. 27).

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Para a realização dos testes os porcos foram divididos, de forma aleatória, em

02 (dois) grupos para identificar a deformação máxima aceitável:

a) Grupo 01 – composto por 10 (dez) animais protegidos por painéis

balísticos e placas anti-traumas projetadas para permitir a BFS

máxima de 40mm (quarenta milímetros); e

b) Grupo 02 – composto por 08 (oito) animais protegidos por painéis

balísticos e placas anti-traumas projetadas para permitir a BFS máxima

de 34mm (trinta e quatro milímetros).

O protocolo de testes estabelecia que os disparos fossem realizados a 10

(dez) metros de distância e após, os animais permaneceriam em observação por

120 (cento e vinte) minutos.

Realizados os disparos, no grupo 01 (um), com a BFS máxima de 40mm

(quarenta milímetros), 05 (cinco) dos 10 (dez), ou seja, 50% (cinquenta por cento)

dos porcos morreram imediatamente devido ao trauma.

No grupo 02 (dois), com a BFS máxima de 34mm (trinta e quatro milímetros),

02 (dois) dos 08 (oito) animais morreram imediatamente devido ao trauma.

Observou-se, nos que não morreram imediatamente com o disparo, fraturas

ósseas, laceração de tecido cutâneo e muscular, hematoma pulmonar grave,

hemoptise, circulação prejudicada, dessaturação, alterações significativas dos

registros do eletroencefalograma, queda imediata da pressão arterial, arritmias

graves, hipóxia, hemotórax, choque hipovolêmico, aumento de hemoglobina e

glicose, hipercaliemia, hemorragia conjuntival (compatível a observada na síndrome

do esmagamento) e ruptura de artérias, inclusive no cérebro produzindo acidente

vascular cerebral (AVC).

Os registros observados no EEG indicam que o BABT induz disfunção

cerebral prolongada por vários minutos, diminuindo significativamente a capacidade

cognitiva, o senso de orientação espacial e a coordenação motora fina,

incapacitando o indivíduo a reagir à agressão.

Dan Gryth concluiu sua tese dizendo que os critérios para confecção e

avaliação de coletes de proteção balística que permitem uma BFS superior a 40mm

(quarenta milímetros) devem ser considerados insuficientes para prover a segurança

de seus usuários, principalmente, quando submetidos a projéteis de alta velocidade.

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Em 2008, pesquisadores do laboratório de física aplicada da The Johns

Hopkins University, de Maryland, publicaram um estudo denominado Assessing

behind armor blunt trauma (BABT) under NIJ standard-0101.04 conditions using

human torso models (Avaliando o trauma fechado atrás do colete (BABT) sob a

norma NIJ 0101.04 usando modelos de torso). Esse estudo visava avaliar a BFS

máxima permitida pelo NIJ, por meio de um modelo de torso humano com sensores

e representação gráfica digital.

A conclusão do estudo foi que a pressão exercida sobre os órgãos como o

coração, fígado e o baço é muito grande, oferecendo elevado grau de risco, ainda

segundo os autores, os padrões aceitos pelo NIJ deveriam ser revistos e diminuídos

como medida para garantir a integridade física do usuário de coletes de proteção.

(ROBERTS et al.,2008).

5.1 Procedimento médico para atendimento de Policiais Militares alvejados no

colete.

No que pese a PMESP ter adotado o colete de proteção balística como

equipamento de proteção individual (EPI) no ano de 1996, não existe até hoje um

procedimento padrão, estabelecido pela Diretoria de Saúde (DS) da Instituição, para

atendimento dos Policiais Militares alvejados na blindagem pessoal.

Durante o desenvolvimento da pesquisa para a realização dessa dissertação,

realizamos consulta junto à DS e ao Centro Médico (CMed) e verificamos que não

existem registros dos Policiais Militares alvejados, que tenham sofrido trauma

fechado no tórax. Verificamos também que as Unidades Integradas de Saúde (UIS)

não controlam tais incidentes, especialmente, quando o policial é atendido em

hospitais ou clínicas civis e liberado após esse atendimento, sendo que na maior

parte das vezes nem mesmo o Atestado de Origem (AO) é elaborado.

Nos casos em que o policial é alvejado no colete e em partes do corpo não

protegidas existe controle de ferimento por arma de fogo (FAF), porém como relata

Dan Gryth “os ferimentos causados por BABT podem ser mais graves que os

causados por disparos diretos”. (GRYTH, 2007, p. 41)

No entanto, essa falta de registros de ferimentos causados pelo BABT não é

uma exclusividade da PMESP. Em pesquisa realizada junto à Sociedade Brasileira

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de Cirurgia Torácica (SBCT) verificamos que, no Brasil, não existem estudos sobre

esse fenômeno e, portanto, não há protocolo de atendimento estabelecido para

essas situações.

Nos EUA, no período compreendido entre os anos de 2004 a 2010, foi

desenvolvido um programa entre o NIJ e o National Criminal Justice Reference

Service – NCJRS (Serviço Nacional de Referência para a Justiça Criminal) para

avaliar o atendimento médico aos usuários de coletes de proteção balística. Em

2011, foi publicado o Behind the Badge: Management Guidelines for Impacts to Body

Armor (Atrás do Distintivo: Orientações para a gestão de impactos no colete de

proteção balística) que estabeleceu um protocolo Advanced Trauma Life Support -

ATLS (Suporte Avançado de Vida no Trauma) específico para o BABT. Esse estudo

também demonstrou cada incidente deve ser devidamente avaliado. (BIR et

al.,2011)

Esse novo protocolo estabelece, entre outros procedimentos, que o usuário

de colete de proteção balística, ao ser alvejado, deve receber cuidados médicos

imediatos, sendo conduzido para um hospital com capacidade para realizar exames

que incluem Raio-X, tomografia, eletrocardiograma e ultrassonografia de abdômen.

O estudo orienta que todos os médicos sejam orientados sobre os riscos que

envolvem o BABT e que o usuário do colete alvejado seja encaminhado também

para atendimento psicológico.

Os estudos de Dan Gryth e L. Cannon apontam que o BABT pode causar

lacerações cutâneas e na musculatura subjacente, lesões nos músculos intercostais,

fraturas de costelas, lesões na coluna cervical, pneumotórax, hemotórax, contusão

cardíaca e pulmonar, derrame do pericárdio, hemorragia cardíaca e pulmonar,

lesões no diafragma, ruptura traumática da Aorta e tamponamento cardíaco.

Algumas dessas lesões são potencialmente fatais se não receberem a atenção

devida e no tempo adequado. Dan Gryth salienta, em seus estudos, a ocorrência de

aumento significativo da pressão arterial no momento do impacto do projétil no

colete, elevando o risco de desorientação mental e AVC.

Em ambos os estudos existe a menção de que o BABT pode desencadear um

“evento sentinela” que é descrito como sendo uma ocorrência inesperada ou

variação do processo envolvendo óbito, qualquer lesão física ou psicológica ou o

risco de sua ocorrência.

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6 POLICIAIS MILITARES SALVOS PELO COLETE DE PROTEÇÃO BALÍSTICA

Estudos recentes realizados pelo NIJ, em colaboração com o Federal Bureau

of Investigation (FBI), demonstraram que o risco de morte por armas de fogo é 14

(quatorze) vezes superior para um policial que não usa o colete, quando comparado

a um policial que utiliza o equipamento. Esse estudo deu forma à certeza empírica

que todos os policiais têm sobre a importância de se utilizar a blindagem pessoal.

Nos EUA a empresa DuPont, em parceria com a International Association

Chiefs of Police – IACP (Associação Internacional de Chefes de Polícia) criou o

Survivors Club (clube dos sobreviventes) que, desde 1987, registra mais de 3.100

(três mil e cem) policiais norte-americanos, canadenses e colombianos salvos devido

ao uso de coletes de proteção balística.

O objetivo desse clube é coletar informações sobre o incidente que envolveu

o policial, o desempenho do colete e as lesões causadas ao corpo do usuário, para

que a indústria possa projetar e desenvolver coletes mais seguros e efetivos. Os

departamentos de polícia existentes nesses países também utilizam essas

informações como propaganda institucional, voltada ao público interno, para

demonstrar que a corporação valoriza seus integrantes, por esse motivo adquire

equipamentos eficazes, e também como forma de motivar seus agentes a utilizarem

coletes em serviço.

No Brasil não existem registros dessa natureza. Durante a realização das

pesquisas para a elaboração dessa dissertação, buscamos informações em diversos

órgãos da PMESP, Polícia Militar do Estado de Rio de Janeiro, Polícia Militar do

Paraná e Brigada Militar, porém nenhuma dessas Instituições possui registros de

policiais salvos pelo uso do colete.

Na PMESP realizamos pesquisa no Centro de Inteligência da Polícia Militar

(CIPM), CMed e Corregedoria da Polícia Militar (Correg-PM), porém não existe o

controle de ocorrências dessa natureza. Na Correg-PM conseguimos o registro das

sindicâncias instauradas para a descarga de coletes balísticos antes do vencimento

de sua vida útil e assim pudemos rastrear alguns casos em que os Policiais Militares

envolvidos foram protegidos pelo colete.

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Selecionamos 10 (dez) casos, em que o Policial Militar tenha sido alvejado no

colete e sobrevivido, para avaliarmos as lesões, o padrão de atendimento médico na

PMESP, nos serviços de atendimento público e privado, além da forma como o caso

foi registrado e apurado:

6.1 Caso da Cabo PM 112304-1 Débora Borghi de Lima

Em 16 de agosto de 2011, na cidade de Osasco, a Cabo PM 112304-1

Débora Borghi de Lima realizava o patrulhamento motorizado, acompanhada por

outro policial do 14ºBPM/M. Por volta das 07:30h identificaram um suspeito de roubo

e ao abordá-lo, o patrulheiro que acompanhava a Cabo Débora, engajou-se em luta

corporal com o individuo. Durante o embate, o suspeito conseguiu apoderar-se da

pistola Taurus calibre .40S&W do policial e efetuar um disparo contra o peito da

Cabo, a uma distância aproximada de um metro.

Mesmo alvejada, a Cabo Débora conseguiu efetuar disparos contra o suspeito

que foi atingido, preso e socorrido ao hospital da região. A fotografia 12 indica o local

onde o colete foi alvejado.

Fotografia 12 - Colete utilizado pela Cabo PM Débora. Alvejada no peito.

Fonte: Arquivos pessoais da Cabo PM 112304-1 Débora Borghi de Lima.

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A Cabo Débora foi socorrida incialmente ao pronto socorro do hospital Santo

Antônio, porém como o local não dispunha de equipamento de radiografia, a policial

foi transferida para o Hospital da Polícia Militar (HPM) com ferimento corto-

contundente na região torácica, sendo necessária a intervenção médica para suturar

o ferimento. Além da laceração da pele e dos tecidos subjacentes, houve trauma na

musculatura intercostal.

A policial permaneceu internada no HPM por 03 (três) dias e afastada do

serviço por 24 (vinte e quatro) dias, porém seus ferimentos somente cicatrizaram

completamente após 45 (quarenta e cinco) dias. A fotografia 13 registra a extensão

dos ferimentos externos, 03 (três) dias após o incidente.

Fotografia 13 - Cabo PM Débora Borghi. Terceiro dia após ser baleada.

Fonte: Arquivos pessoais da Cabo PM 112304-1 Débora Borghi de Lima..

Na ocasião a Cabo PM Débora utilizava o colete nº 8279508, produzido pela

empresa RONTAN. Os fatos foram apurados pela sindicância nº 14BPMM-

021/060/11.

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6.2 Caso do 1º Tenente PM 901327-0 Giuliano Antônio da Silva

Em 27 de março de 2004 (sábado), o 1º Tenente PM 901327-0 Giuliano

Antônio da Silva, Co-Piloto da aeronave PP-EID (Águia 01), foi acionado para apoiar

unidades terrestres em uma ocorrência de roubo em andamento a um

estabelecimento comercial, no bairro Cidade Ademar, na Capital paulista, área do

27º BPM/M. No local dos fatos, a ocorrência tratava-se de homicídio no mercado,

sendo o atirador um Policial Militar, o qual estava fora de seu estado mental normal

e já havia atirado contra outras 03 (três) pessoas.

Para apoiar as unidades em terra, a aeronave aproximou-se do local em baixa

altitude, sendo atingida por um disparo efetuado pelo suspeito. O projétil disparado

por uma pistola calibre .380ACP perfurou a cabine do helicóptero e alvejou o Oficial

de raspão no braço, sendo detido pelo colete de proteção balística na região do

tórax.

O piloto foi cientificado do fato e direcionou a aeronave para o Hospital das

Clínicas (HC), onde o Tenente foi atendido pela equipe médica que, após avaliação,

o liberou sem qualquer exame de imagem, apesar de haver edema no local do

ferimento. A aeronave decolou novamente e seguiu para o HPM onde os médicos

militares realizaram nova avaliação e exames radiográficos para constatar a

extensão da lesão.

Apesar do grande edema local, o Oficial foi liberado sem permanecer em

observação. No sexto dia após o ocorrido, o 1ºTen PM Giuliano retornou ao HPM

com um quadro de pneumonia, resultado comumente observado nos casos de

BABT. Na ocasião não foi elaborado Atestado de Origem (AO).

6.3 Caso do 2º Sargento PM 911639-7 Wladimir Domingos Alves

Em 12 de julho de 2013, o 2º Sargento PM 911639-7 Wladimir Domingos

Alves, da 1ª Companhia, do 12º BPM/I, e outros policiais realizavam busca para

localizar um homicida no distrito de Rubião Júnior, em Botucatu. Quando os policiais

realizavam vistoria em uma residência, o suspeito que estava escondido atrás de

uma cortina, abriu fogo contra o graduado, atingindo-o com um disparo no peito. O

policial reagiu e alvejou o suspeito.

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O agressor estava a cerca de um metro de distância do policial e efetuou

disparos com um revolver calibre .32. O Sargento foi socorrido ao HC de Botucatu,

onde foi avaliado por equipe médica e submetido a exame radiográfico para

avaliação da extensão do ferimento, sendo constatado apenas edema e hematoma

no local, não havendo necessidade de afastamento do serviço. Segundo declaração

do graduado “o impacto foi como um choque elétrico”.

Apesar da lesão o fato não foi registrado pela UIS do Batalhão.

6.4 Caso do 1º Tenente PM 854979-6 Arnaldo Batista Ferreira

Em 24 de maio de 2012, o 1º Tenente PM 854979-6 Arnaldo Batista Ferreira,

do 45º BPM/M, voltava para sua casa após sair do serviço, estando de folga e

civilmente trajado. O Oficial conduzia sua motocicleta sem saber que o veículo

imediatamente a frente era conduzido por outro Policial Militar. Ambos eram

vizinhos, mas não se conheciam.

O policial que estava no carro, ao perceber a motocicleta, pensou que estava

sendo seguido e que seria alvo de um atentado. Seguindo essa linha de raciocínio,

quando o Tenente emparelhou a motocicleta com o automóvel o policial acreditando

estar se defendendo, efetuou disparos contra o motociclista, a uma distância de

menos de um metro, com uma pistola calibre.380ACP.

O Oficial, que utilizava colete de proteção balística, foi atingindo no flanco

direito do corpo, na região das costelas. Iniciou-se então uma troca de tiros e o

policial que conduzia o automóvel também foi alvejado.

O Tenente foi socorrido no Pronto Socorro Municipal (PSM) de Pirituba e

posteriormente no HPM, onde foi atendido pela equipe médica, submetido a exames

radiográficos e afastado do serviço por 03 (três) dias. O BABT resultou laceração da

pele e dos tecidos subjacentes, hemorragia cutânea e edema.

6.5 Caso da Soldado PM 981663-1 Euvanda Rodrigues da Silva

Em 14 de novembro de 2008, a Soldado PM 981663-1 Euvanda Rodrigues da

Silva acompanhada de outro Policial Militar, realizavam o patrulhamento motorizado

na região de Santo Amaro, zona sul da Capital paulista, quando por volta das

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02:40h, recebeu solicitação para averiguar, junto com outras patrulhas, um roubo à

residência. Chegando ao local os policiais iniciaram a busca na edificação indicada,

porém como nada foi constatado, após alguns minutos, as patrulhas foram

desmobilizadas e retornaram aos seus subsetores.

Quando somente restavam, no local, a patrulha da Soldado Euvanda e uma

outra, um solicitante indicou que um suspeito estava escondido no telhado de uma

outra casa. Para verificar o fato um policial escalou um muro e a policial escalou em

um ponto perpendicular.

Ao chegar ao topo muro a Soldado Euvanda verificou que o primeiro policial

havia sido rendido e feito refém pelo criminoso.

Percebendo a presença do reforço policial o criminoso, armado com um

revolver calibre .38SPL, passou a disparar contra a Soldado Euvanda, que estava

sobre o muro. A policial foi atingida por um disparo no braço esquerdo, fraturando

úmero, rompendo a artéria braquial e lesionando o conjunto nervoso plexo braquial.

Mesmo gravemente ferida, a policial verbalizou com o criminoso dando possibilidade

para que os demais policiais realizassem a correta aproximação.

Determinado a escapar do cerco, o criminoso efetuou outro disparo contra a

policial, que foi atingida na região do mediastino, imediatamente acima do coração.

Devido ao impacto e a perda de sangue, a Soldado Euvanda perdeu a consciência

estando em cima do muro.

Socorrida ao hospital municipal Arthur Ribeiro de Saboya, no Jabaquara, a

policial permaneceu internada por 18 dias e foi submetida à cirurgia para

reconstituição do braço esquerdo. Além dos ferimentos no braço, foram observados

os efeitos do BABT como a perda da consciência no momento em que foi alvejada,

lacerações cutâneas e nos tecidos subjacentes, lesão na musculatura intercostal e

edema.

Devido ao caráter incapacitante da lesão no conjunto nervoso plexo braquial,

a Soldado Euvanda foi afastada permanentemente das fileiras da Corporação. Em

26 de outubro de 2012, por ato do Comandante Geral da PMESP, foi promovida a

Cabo PM.

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6.6 Caso do Soldado PM 102419-1 Marcos Aurélio Delmira Moraes

Em 18 de fevereiro de 2010, na cidade de Mauá, o Soldado PM 102419-1

Marcos Aurélio Delmira Moraes e mais 03 (três) Policiais Militares realizavam o

patrulhamento motorizado, quando identificaram 02 (dois) suspeitos em um local

conhecido por reiteradas ocorrências de trafico de drogas. Ao realizarem a

abordagem, os suspeitos tentaram fugir e efetuaram disparos contra os policiais,

sendo que o Soldado Marcos foi alvejado duas vezes no colete de proteção

balística.

O policial foi socorrido ao pronto socorro do hospital Nardini onde foi atendido

pela equipe médica e liberado, sendo posteriormente avaliado por médicos militares

da UIS do 8º Grupamento de Bombeiros e afastado do serviço, por 10 (dez) dias,

devido à lesão na musculatura intercostal.

Na ocasião o Soldado Marcos utilizava o colete de proteção balística

fabricado pela empresa RONTAN, modelo RT2NG, nº 82-91709. Os dados foram

apurados por meio da Sindicância Nº 30BPMM-011/11/10.

6.7 Caso do 2º Tenente PM 931026-A Joel Chen

Em 26 de Setembro de 2001, na cidade de Mogi das Cruzes, o 2º Tenente

PM 931026-A Joel Chen e mais 03(três) Policiais Militares realizavam o

patrulhamento motorizado quando, por volta das 23:30h, avistaram um veículo que

transitava no contra fluxo de direção. O veículo era ocupado por 03 (três) suspeitos

que, ao perceberem que seriam abordados, tentaram empreender fuga,

desembarcaram e correram para uma área de matagal. Os Policiais Militares

seguiram a pé no encalço dos suspeitos que passaram a atirar e atingiram o 2º

Tenente Chen no tórax. O policial caiu devido ao impacto, sendo salvo pelo colete

balístico.

Os suspeitos foram presos e o Tenente Chen foi socorrido ao hospital local,

onde foi atendido pela equipe médica. Foram observados claros sinais de BABT

como laceração cutânea e dos tecidos subjacentes, trauma na musculatura

intercostal e fratura de uma costela, sendo que o Oficial ficou afastado do serviço

por 15 (quinze) dias.

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Na ocasião, o caso do Tenente Chen foi tema de uma campanha institucional

de conscientização sobre a importância do uso do colete de proteção balística. O

Oficial declarou que ao ser atingido perdeu momentaneamente os sentidos e que até

aquela ocasião, somente utilizava o colete de proteção para cumprir as ordens

vigentes na Instituição.

6.8 Caso do Soldado PM 121439-0 Thiago Batistas dos Santos

Em 03 de março de 2013, o Soldado PM 121439-0 Thiago Batistas dos

Santos e outro Policial Militar realizavam o patrulhamento motorizado, na região do

Morumbi, na Capital paulista, quando foram acionados para atender uma ocorrência

de perturbação do sossego decorrente de um baile funk. Devido às informações,

mais 03 (três) patrulhas se reuniram para chegar ao local com superioridade

numérica.

Chegando ao local da ocorrência, os 08 (oito) Policiais Militares foram

recebidos a tiros, sendo o Soldado Thiago alvejado no tórax e salvo pelo uso do

colete de proteção. Na mesma ocasião outro Policial Militar foi baleado no braço e

as viaturas foram danificadas por disparos de armas de fogo.

Os policiais foram socorridos ao hospital Albert Einstein, onde foram

atendidos por equipe médica e liberados. No momento dos fatos o Soldado Thiago

utilizava o colete fabricado pela empresa LFJ, nº 0901070. Não há registros sobre os

ferimentos sofridos pelo Soldado Thiago ou de afastamento do serviço.

6.9 Caso do Soldado PM 952894-6 Elias Lopes

Em 17 de setembro de 2011, por volta da 01 hora, o Soldado PM 952894-6

Elias Lopes e outro Policial Militar realizavam o policiamento motorizado na região

da estrada do Alvarenga, zona sul da Capital paulista, quando suspeitaram de 03

(três) indivíduos. Ao tentarem realizar a abordagem 02 (dois) dos suspeitos fugiram

em uma motocicleta e o terceiro passou a disparar contra os policiais.

No embate o Soldado Elias foi atingido duas vezes, sendo ferido na perna

esquerda e por um disparo que transfixou o braço direito e alvejou o tórax, tendo

este sido detido pelo colete de proteção.

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O policial foi socorrido ao hospital da região, onde foi atendido pela equipe

médica. Os ferimentos resultaram em 115 (cento e quinze) dias de afastamento do

serviço operacional.

Na ocasião o Soldado Elias utilizava um colete produzido pela empresa LFJ,

nº 09-005831. Os fatos foram apurados pela Sindicância Nº 22BPMM-049/06/11,

que destacou que o uso do colete contribuiu para minimizar a gravidade dos

ferimentos sofridos pelo militar.

6.10 Caso do 2º Tenente PM 910326-A Antônio Carlos Luz Magalhães e do

Soldado PM 862400-3 Edvaldo Pizelli de Barros

Em 17 de abril de 2004, o 2º Tenente PM 910326-A Antônio Carlos Luz

Magalhães, juntamente com o Soldado PM 862400-3 Edvaldo Pizelli de Barros e

outros 02 (dois) Policiais Militares realizavam o patrulhamento motorizado quando

localizaram um veículo roubado, abandonado nas imediações de uma favela, local

com reiterados registros de ocorrências policiais, especialmente as ligadas ao tráfico

de entorpecentes.

Os policiais realizaram uma incursão a pé, no interior da favela, buscando

localizar os autores do roubo quando, ao virarem em uma viela, depararam com um

grupo de aproximadamente 15 (quinze) criminosos fortemente armados e teve,

então, início a uma intensa troca de tiros. O Tenente Magalhães foi alvejado no

abdômen por um disparo de pistola calibre 9mm e o Soldado Pizelli foi baleado no

ombro, antebraço e tórax por disparos de pistola calibre .380ACP e revólver calibre

.38SPL.

Mesmo com a chegada de reforço, a troca de tiros prosseguiu. Alguns

criminosos fugiram e outros foram mortos. Os policiais feridos foram socorridos ao

hospital geral do Grajaú, onde receberam atendimento médico e permaneceram em

observação até serem transferidos para o HPM.

O Tenente Magalhães foi atingido no abdômen, na região imediatamente

acima do fígado, causando-lhe grave trauma hepático, além da lesão cutânea e

muscular, resultando em um afastamento de 15 (quinze) dias do serviço e mais de

um mês até sua plena recuperação. O Soldado Pizelli teve ferimentos mais graves

que resultaram em deformação permanente no antebraço e no punho.

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81

Na ocasião dos fatos, ambos os policiais utilizavam coletes fabricados pela

empresa RONTAN de números 8125480 e 8225909. A apuração foi feita por meio

da Sindicância Nº 27BPM/M-022/06/04.

A fotografia 14 registra a lesão no abdômen do Tenente Magalhães 25 (vinte

e cinco) dias após o incidente.

Fotografia 14 - Tenente Magalhães – 25 dias após ser baleado.

Fonte: Arquivos pessoais do Cap. PM 910326-A Antônio Carlos Luz Magalhães.

Analisando os casos acima expostos, podemos entender que o uso do colete

balístico é fundamental para a proteção da vida e da integridade física dos Policiais

Militares. Porém, em um estudo mais aprofundado, observamos que não existem

padrões estabelecidos para o atendimento médico a quem tenha sido alvejado no

colete ou para a formalização do registro de ocorrências em que o policial tenha sido

salvo pelo uso da blindagem pessoal. Na maioria dos casos, os ferimentos não

foram sequer mencionados nos procedimentos que investigaram as ocorrências,

sendo apenas controlado o dano ao colete e, portanto, o prejuízo ao erário.

Ao estudarmos o caso onde do Capitão PM 931026-A Joel Chen, 2º Tenente

na ocasião, verificamos que a Instituição produziu uma campanha de incentivo ao

uso de colete de proteção com o chamamento de que naquele ano, 2001, 14

(quatorze) Policiais Militares haviam sido salvos pelo uso do EPI. Nos anos

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82

seguintes não houve registro, de forma institucional, para o controle de policiais que

sobreviveram devido ao emprego desse recurso.

Por sua vez, o Survivors Club realiza o registro desse tipo de evento de forma

detalhada, com informações que incluem local, data, distância do disparo, tipo de

arma e munição, condições climáticas, tipo de ferimento sofrido, tempo de

afastamento do serviço e toda sorte de dados que possam servir para melhorar a

confecção dos coletes de proteção e, ao mesmo tempo, como elemento motivador

para que o policial utilize o equipamento pelo maior tempo possível.

Ainda, analisando as informações sobre os ferimentos sofridos pelos Policiais

Militares podemos depreender que as lesões físicas poderiam ser minimizadas com

a utilização de placas redutoras de trauma ou com a adoção de coletes que

permitam uma menor BFS, como os utilizados na Inglaterra ou na Alemanha.

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83

7 MEDIDAS PARA A REDUÇÃO DA DEFORMAÇÃO E DO TRAUMA

Como vimos anteriormente, mesmo quando o projétil é detido pelo colete de

proteção balística, parte da energia é transferida através do painel balístico para a

parede do corpo e para os órgãos. Essa transferência de energia pode produzir

lesões graves e até mesmo a morte do usuário da blindagem pessoal, mesmo não

havendo penetração.

O fenômeno da transferência de energia do impacto balístico e os ferimentos

decorridos do BABT são amplamente estudados em países como os EUA,

Inglaterra, Alemanha e Suécia, onde é considerado um incidente grave. No Brasil

não existem estudos sobre esse tipo de ferimento e a literatura especializada

apenas se refere a ele como trauma, não lhe atribuindo a dimensão exata.

Não obstante ao fato de não termos estudos nessa área do conhecimento os

membros das forças de segurança brasileiras estão expostos, diariamente, ao risco

do BABT. Esse risco é ampliado pelo fato de não aplicarmos o protocolo ATLS

específico para o atendimento médico aos usuários de colete alvejados na

blindagem.

A redução do trauma depende do desenvolvimento de materiais que possam

ser interpostos entre a parte posterior do painel balístico e a parede do corpo do

usuário de forma a atenuar a transferência de energia.

Os países que atuam em colaboração com a Organização do Tratado do

Atlântico Norte (OTAN) e, portanto, tem participação ativa em conflitos armados de

diversos graus de intensidade, têm envidado esforços para compreender esse

fenômeno e salvar as vidas de seus soldados. Da evolução desses estudos depende

a criação de estruturas capazes de minimizar os efeitos mais graves do trauma

fechado atrás do colete.

Com a evolução das armas de uso permitido aos civis e o aumento do

desempenho das munições, os policiais passaram a experimentar ferimentos

decorrentes do BABT com maior frequência.

As primeiras considerações sobre o fenômeno do BABT, feitas por Carroll e

Soderstrom em 1978, faziam grande distinção entre os impactos de munições de

baixa velocidade (aqueles com velocidade inferior a 2.000 pés por segundo) e os de

alta velocidade (aqueles com velocidade superior a 2.000 pés por segundo). No

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84

entanto, segundo Cannon (2001, p.7) essa classificação pode ser equivocada, pois o

mais importante é a eficiência de transferência de energia, características físicas do

projétil, incluindo deformação e fragmentação.

Analisando a evolução das munições ao longo do tempo podemos entender o

quão importante é minimizar os efeitos do BABT sobre o corpo do usuário, no que

pese as normas NIJ terem mantido a BFS máxima aceitável imutável desde sua

fixação. (BROOKS et al.,2011).

O quadro 06 demonstra a evolução da munição calibre .357 Magnum, no

período de 1972 a 2008, em comparação à norma de confecção e avaliação de

coletes de proteção balística norte-americana.

Quadro 06 - Evolução da velocidade do calibre .357Mag no período de 1972 a 2008.

Evolução da velocidade do projétil .357Mag nas normas de proteção balística - NIJ

Standard.

NIJ Standard ANO DE

PUBLICAÇÃO

MASSA DO

PROJÉTIL VELOCIDADE (m/s) BFS (mm)

0101.00 1972 10.2g

158gr 384 -

0101.01 1978 10.2g

158gr 425 44

0101.02 1985 10.2g

158gr 425 44

0101.03 1987 10.2g

158gr 425 44

0101.04 2000 10.2g

158gr 436 44

0101.06 2008 10.2g

158gr 436 44

Acréscimo de velocidade 52 ou 13.6%

Fonte: o autor.

As consequências fisiopatológicas de BABT estão sendo esclarecidas pela

pesquisa, mas as lesões terão algumas características de trauma torácico fechado

observado em acidentes de trânsito, quedas bruscas ou explosão primária.

Cannon também nos lembra de que a busca por coletes mais leves e flexíveis

tem resultados em blindagens pessoais ineficientes na proteção contra os efeitos

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dos traumas fechados e aumentado os risco de BABT para o pessoal das forças

militares e de segurança.

Martin J. Brayley (2011, p.23) em sua obra Modern Body Armour (O moderno

colete de proteção balística) salienta que

[...] as empresas, buscando reduzir custos e produzir coletes mais leves e menos volumosos, excluíram as placas redutoras de trauma, expondo, dessa forma, o usuário a riscos desnecessários e que poderiam ser evitados.

Na mesma publicação o autor aduz que

[...] Esta redução significativa da deformação do painel balístico pode ser a diferença crucial entre ser abatido ou sair com vida de um confronto armado com inimigos em uma guerra ou no exercício da aplicação da lei.

Desde os primeiros relatos de mortes por BABT feitos por Carroll e

Soderstrom, em 1978, a sociedade cientifica-militar tem buscado uma forma de

evitar a ocorrência de tal fenômeno. A utilização de coletes pode ser insuficiente

para a retenção do projétil, no entanto, estudos demonstram que a utilização de

Trauma Attenuating Backings - TABs (placas de atenuação de trauma) é

fundamental para prevenir a morbidade e mortalidade no trauma arma de alta

velocidade.

Pesquisadores militares do mundo todo, especialmente na Europa e América

do Norte, estão desenvolvendo sistemas de modelos físicos e digitais para

caracterizar os processos biofísicos que ocorrem quando o individuo é atingido no

colete de proteção balística e abandonando a avaliação da deformação na plastilina,

por ser esta menos precisa quanto aos efeitos no corpo humano. Essas pesquisas

buscam, também, fornecer parâmetros e metas de desempenho para as TABs a

serem colocados entre o corpo e o painel balístico, a fim de atenuar as lesões do

BABT.

Em 2009, o Doutor Dan Gryth, em parceria com O Doutor Anders Sondén e

outros pesquisadores, publicou um estudo denominado Trauma attenuating backing

improves protection against behind armor blunt trauma (Placas de atenuação de

trauma melhoram a proteção contra trauma fechado atrás do colete). Nesse estudo

24 (vinte e quatro) porcos da raça Landrace suecos, foram divididos em 02 (dois)

grupos de 12 (doze) espécimes cada, sendo um grupo protegido por painéis

balísticos e TABs e o segundo grupo protegido apenas pelos painéis balísticos.

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Cada um dos animais foi alvejado por um único disparo com um fuzil de assalto

calibre 7,62X51mm, padrão OTAN.

Os animais de ambos os grupos apresentaram lesões no padrão BABT.

Porém, no grupo onde os porcos estavam protegidos pela TABs, as lesões foram

significativamente diminuídas, especialmente a contusão pulmonar e a hemoptise.

Observou-se nesse estudo que a utilização de TABs nos coletes de proteção pode

reduzir, em até 91% (noventa e um por cento), a apneia pós-impacto, dessaturação,

hipotensão e aumento da pressão da artéria pulmonar. (SONDÉN, et al., 2009).

Estudos semelhantes aos realizados pelo Gryth e Sondén foram conduzidos

pelos Governos Inglês e Alemão para o desenvolvimento dos padrões HOSDB e

Technische Richtlinie (TR), respectivamente. Esses padrões, conforme já estudado,

adotaram índices de BFS menores, por meio de processos fabris mais modernos e a

obrigatoriedade da utilização de TABs nos coletes comercializados naqueles países.

No mercado norte-americano não existe a obrigatoriedade da utilização de

TABs, porém existe uma grande variedade dessas placas que podem ser adquiridas

pelos usuários como forma de aumentar sua segurança, sendo que a maior parte

dos fabricantes já os incorpora a seus equipamentos.

A figura 07 evidencia a aplicação da TABs entre o painel balístico e o corpo

do usuário.

Figura 07 - Placa redutora de trauma aplicada sobre o mediastino.

Fonte: (LAPOLICEGEAR, 2013, [Internet]).

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87

Em 2011, o Congresso dos EUA aprovou o investimento em pesquisas de

novas tecnologias que visem à redução do BABT e por esse motivo a iniciativa

privada e as universidades daquele país estão desenvolvendo inovações para o

setor de proteção individual e para as TABs. (HORN et al., 2012).

A empresa norte-americana CORTAC apresentou, em 2012, um novo

conceito de TABs denominado CTAV™. Essa estrutura quando aplicada na parte

interna dos painéis balísticos é capaz de reduzir a BFS em 62% (sessenta e dois por

cento), conforme demonstrado na fotografia 15.

Fotografia 15 - Impressão do BFS na plastilina. Redução de 62% com a utilização da placa redutora

de trauma da CORTAC.

Fonte: (CORTAC, 2013, [Internet]).

A CTAV também funciona como um termorregulador da temperatura

superficial do corpo. Em testes laboratoriais dois usuários de coletes foram

colocados em uma câmara aquecida e monitorada por equipamentos de imagem

térmica. Um dos coletes estava equipado com a CTAV e após alguns minutos a

temperatura da superfície corporal do usuário da TABs da CORTAC registrava 9,1ºC

(nove graus Celsius e um décimo) a menos que o outro ocupante da câmara.

As características da CTAV fizeram com que a CORTAC se tornasse uma das

principais fornecedoras de forças militares e de segurança que atuam em locais de

clima quente como as Forças Armadas norte-americanas, U.S. Board Patrol

(Patrulha de fronteira dos EUA), Dubai Police Force (Força Policial de Dubai) e

Maimi Police Department (Departamento de Polícia de Miami).

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A fotografia 16 apresenta a TABs CTAV da CORTAC aplicada em um colete

de proteção balística utilizado pelo Exército norte-americano.

Fotografia 16 - Placa redutora de trauma da CORTAC aplicada em um colete de proteção.

Fonte: (CORTAC, 2013, [Internet]).

Realizando pesquisa no mercado norte-americano e europeu verificamos que

as placas de redução de trauma são comercializadas por valores que variam de US$

35,00 (trinta e cinco dólares americanos) a US$ 203,00 (duzentos e três dólares

americanos). A variação de valores está relacionada com o material de que é

produzida a placa, o tamanho e, naturalmente, da marca do fabricante.

No Brasil não há produção de placas redutoras de trauma, sendo que esses

dispositivos essenciais para a salvaguarda da integridade física dos usuários de

coletes de proteção balística, também não estão disponíveis no comércio ou

incorporadas às blindagens pessoais.

Entre os anos de 1996 a 1999 os coletes adquiridos pela PMESP possuíam

TABs, porém com a mudança das especificações exigidas pela Instituição as placas

deixaram de ser incluídas no EPI.

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89

8 PROPOSTAS

Ao longo dos meses consumidos por esta pesquisa ficou evidente que os

comandantes e gestores da Polícia Militar do Estado de São Paulo acertaram,

quando em 1996, adotaram o colete de proteção balística como equipamento de

proteção individual, de uso obrigatório, para todos os policiais, em todas as

atividades desenvolvidas pela Instituição.

A obrigatoriedade de uso não é algo observado em muitos departamentos de

polícia ao redor do mundo. Em algumas localidades devido aos baixos índices

criminais e em outras, devido à inexistência do colete para todo o efetivo policial.

Hoje a PMESP possui coletes para todo seu efetivo operacional, numa clara

demonstração de interesse em garantir a integridade física de seus integrantes. Os

policiais, por sua vez, também entenderam que o uso do colete balístico pode

significar a diferença entre a vida e a morte.

Segundo o Ministério da Justiça (2013, p.15) somente o Estado de São Paulo

e outros 03 (três) Estados possuem coletes em quantidade suficiente para atender

todos os seus policiais. Esse fato nos coloca em uma situação confortável para

discutir melhorias no equipamento e reduzir o trauma produzido.

Como apontamos nos estudos de caso, mesmo estando protegido por colete

balístico, em muitas situações o policial alvejado necessita de cuidados médicos e

um período de afastamento do serviço para poder se restabelecer dos ferimentos

causados pelo BABT.

Essa situação decorre da deformação dos painéis balísticos contra o corpo do

usuário. Muitos países minimizaram os riscos a que seus militares e policiais estão

expostos com uma abordagem técnica, a mudança dos padrões de proteção

balística.

Acreditamos, portanto, que a adoção de algumas medidas simples pode

mitigar os danos e os riscos a integridade física de nossos policiais. Para tanto,

elaboramos propostas que, se acatadas, podem representar a elevação dos padrões

de segurança pessoal para os integrantes da PMESP.

Importante esclarecer que a adoção das propostas pode ser feita de forma

gradual à medida que os coletes de proteção da Instituição forem sendo

substituídos.

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8.1 Redução do índice da BFS nos novos coletes.

Conforme vimos no transcorrer dessa pesquisa o BABT é caracterizado pela

transferência de energia do projétil para as placas balísticas e destas para o corpo

do usuário devido à deformação do painel. A essa deformação damos o nome de

backface signature ou simplesmente BFS.

Os coletes produzidos no Brasil seguem o padrão norte-americano NIJ

Standard 0101.04 que define como aceitável uma BFS máxima de 44mm (quarenta

e quatro milímetros). A norma NIJ estabelece que a deformação não ultrapasse os

44mm, porém não proíbe a exigência de índices menores.

Também foi demonstrado no quadro 05 (cinco) que os coletes adquiridos e

testados pelo CSM/AM, no mercado nacional, apresentaram, em média, uma BFS

inferior a 30mm (trinta milímetros). Esse índice de deformação é próximo ao

aceitável pela norma HOSDB inglesa.

Isso posto, a proposta constitui-se em incluir nos novos editais de aquisição

de coletes de proteção balística a exigência de que a BFS máxima aceita seja igual

ou inferior a 25mm (vinte e cinco milímetros), semelhante ao exigido pela norma

HOSDB.

A adoção desta BFS pode significar o estabelecimento de uma norma

particular para a PMESP, contudo sem a necessidade de se alterar a legislação em

vigor, estabelecida pelo Exército Brasileiro.

8.2 Adoção de placas redutoras de trauma.

Países como a Inglaterra e Alemanha editaram normas próprias por não

concordarem com o nível de trauma aceito pelo padrão norte-americano. A redução

do trauma deveu-se a novos processos fabris e a incorporação de placas redutoras

de traumas ou TABs aos coletes de proteção.

Nos EUA, onde o trauma aceitável é de 44mm (quarenta e quatro milímetros)

o uso de TABs não é obrigatório, porém a maior parte do fabricantes já as

incorporou nos coletes. Existe também a possibilidade do policial adquirir as TABs

no comércio, ampliando assim sua segurança.

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A empresa CORTAC desenvolveu uma placa redutora de trauma que além de

reduzir em até 62% (sessenta e dois por cento) a BFS, também funciona como um

termo regulador da temperatura superficial do corpo de forma a ampliar o conforto

em regiões quentes.

Dessa forma, a proposta é que a PMESP inclua nos novos editais de

aquisição de coletes de proteção balística a exigência da incorporação de TABs que

possam reduzir a BFS para 25mm (vinte e cinco milímetros) ou menos, conforme o

exigido pela norma HOSDB.

8.3 Identificação correta do nível de ameaça.

Provavelmente o principal meio de se definir o nível de proteção balística seja

a correta identificação da ameaça. Durante a instrumentação deste estudo

buscamos informações quantitativas e qualitativas sobre as armas apreendidas nas

operações policiais realizadas pela PMESP, em todo o Estado, porém o Centro de

Inteligência da Polícia Militar não faz o controle qualitativo e assim, não é possível

compreender, de forma científica, a real ameaça a que os Policiais Militares estão

expostos.

Segundo Cannon (2001, p.3) para que o risco do BABT seja reduzido é

essencial que se compreenda a ameaça, especialmente as de alta velocidade. A

definição do nível de blindagem pessoal deve ser feita com base no estudo das

ameaças específicas de cada localidade e por esse motivo, ao estudarmos as

normas internacionais percebemos a diferença entre calibres e velocidades de

projéteis.

A proposta, portanto, é que a Instituição mantenha as informações

quantitativas e qualitativas atualizadas e disponíveis de forma a subsidiar a política

de logística de materiais do comando.

8.4 Utilização de coletes de proteção específicos para situações de alto risco.

Desde a década de 1970, durante a participação dos EUA na guerra do

Vietnã, observou-se o aumento da velocidade dos projéteis de armas de fogo e dos

fragmentos de artefatos explosivos devido à evolução do material bélico. O aumento

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92

da incidência do BABT e os ferimentos perfurantes que ultrapassavam a proteção

balística individual fez com que as forças armadas americanas adotassem as placas

de proteção rígidas sobrepostas aos coletes. Essas placas eram produzidas com

carboneto de boro, carboneto de silício ou óxido de alumínio e resistiam a disparos

diretos de fuzis, porém aumentavam consideravelmente o peso dos coletes.

Nos dias de hoje, especialmente nos grandes centros urbanos, os policiais

também estão expostos a projéteis perfurantes e de alta velocidade o que eleva

consideravelmente o risco a que estão expostos.

As unidades especializadas, as de intervenção tática e os negociadores

estão, em tese, expostos a um maior risco e por esse motivo necessitam de coletes

com maior nível de proteção balística, inclusive com placas balísticas rígidas, e que

protejam áreas maiores do corpo com pescoço, ombros, antebraços e região

pélvica.

Esses coletes não são para carga pessoal e sim da OPM que executa as

funções descritas anteriormente.

A proposta é que a PMESP faça a aquisição de coletes com proteção

balística superior ao padrão adotado para todas as atividades e que supra as

unidades que atuam em ocorrências de alto risco.

8.5 Controle efetivo dos policiais militares salvos pelo uso do colete.

Conforme mencionamos em seções anteriores o clube dos sobreviventes, nos

EUA, foi formado pela parceria da empresa DuPont e a Associação Internacional de

Chefes de Polícia, tendo registrado, desde 1987, mais de 3.100 (três mil e cem)

policiais norte-americanos, canadenses e colombianos salvos devido ao uso de

coletes de proteção balística.

O objetivo desse clube é coletar informações sobre o incidente que envolveu

o policial, o desempenho do colete e as lesões causadas ao corpo do usuário, para

que a indústria possa projetar e desenvolver coletes mais seguros e efetivos. Os

departamentos de polícia existentes nesses países também utilizam essas

informações como propaganda institucional, voltada ao público interno, para

demonstrar que a corporação valoriza seus integrantes, por esse motivo adquire

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93

equipamentos eficazes, e também como forma de motivar seus agentes a utilizarem

coletes em serviço.

Segundo informações da Diretoria de Logística (DL), no período de 1997 a

2012, a PMESP investiu cerca de R$ 109.000.000,00 (cento e nove milhões de

reais) na aquisição de coletes de proteção balística, porém não existem registros

sobre os casos em que os Policiais Militares foram salvos pela blindagem pessoal.

De forma geral as Instituições policiais brasileiras não se preocupam em registrar

ocorrências dessa natureza.

Estudos de caso sobre os resultados do Survivors Club demonstram que a

divulgação de incidentes nos quais policiais são salvos pelo colete fortalece a idéia

sobre a importância de se usar o equipamento e demonstra que a Instituição valoriza

seus integrantes.

Dessa maneira a proposta é que a PMESP passe a instaurar um

Procedimento Técnico de Análise de Conduta (PTAC) para avaliar as ocorrências

nas quais o policial for alvejado no colete. Essa investigação deve ser bastante

detalhada, incluindo o tipo de lesão sofrida e o tempo de afastamento do serviço.

Os resultados devem ser publicados na Intranet da Instituição de forma a

servir como elemento motivador ao uso do colete, além de informação técnica para a

melhoria constante do equipamento.

8.6 Adoção do protocolo de atendimento médico para policiais militares

alvejados no colete.

Durante a realização das pesquisas para a elaboração deste estudo

verificamos que, no Brasil, o BABT é um evento totalmente desconhecido e que não

existem estudos sobre esse fenômeno.

Consultamos a Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica e verificamos que

não há protocolo de atendimento médico específico estabelecido para essas

situações e isso acaba refletindo em um atendimento médico superficial e, em

alguns casos, inadequado.

Nos EUA, no período compreendido entre os anos de 2004 a 2010, foi

desenvolvido um programa entre o NIJ e NCJRS para avaliar o atendimento médico

aos usuários de coletes de proteção balística e, em 2011, foi publicado o Behind the

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94

Badge: Management Guidelines for Impacts to Body Armor (Atrás do Distintivo:

Orientações para a gestão de impactos no colete de proteção balística) que

estabeleceu um protocolo ATLS específico para o BABT. (BIR et al.2011).

Diante desse cenário a proposta é que a PMESP, por meio da Diretoria de

Saúde, Comando do Corpo de Bombeiros e Grupamento de Radiopatrulha Aérea

passem a incorporar esse protocolo de atendimento nos casos em que haja usuário

de colete alvejado na blindagem.

Os médicos militares devem ser instruídos a registrarem corretamente o

incidente e as lesões imediatas e a evolução do quadro clínico, colaborando

tecnicamente para a elaboração do PTAC.

Ainda, deve-se desenvolver uma campanha de divulgação sobre os riscos ao

ser alvejado no colete, direcionada a toda a Instituição por meio de suas ferramentas

de internet e de Instrução Continuada do Comando (ICC).

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95

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Em 1996, a Polícia Militar do Estado de São Paulo adotou o colete de

proteção balística como equipamento de proteção individual, de uso obrigatório, para

todos os integrantes da Instituição, em suas diversas atividades operacionais.

Transcorridos 17 (dezessete) anos da adoção do colete de proteção, os

paradigmas foram superados e o colete de proteção balística tornou-se o EPI mais

importante da PMESP. A blindagem pessoal é empregada em todos os programas

de policiamento e foi incorporada à imagem institucional.

Porém, a utilização do colete não é garantia de que o policial não terá um

ferimento ao ser atingido por um disparo na área protegida e sim um recurso para

minimização da extensão do ferimento.

A realização dessa monografia consumiu meses de pesquisa e o estudo de

centenas de artigos científicos e alguns livros sobre a existência de um fenômeno

grave e não avaliado no Brasil, o trauma fechado atrás do colete ou behind armour

blunt trauma que pode ser descrito como a deformação rápida da placa balística que

compõe o colete, imprimindo força extrema à parede do tórax e nos órgãos

imediatamente abaixo do ponto de impacto, sendo potencialmente letal. (CARROLL

& SODERSTROM, 1978).

A partir das considerações apontadas no transcorrer da presente pesquisa,

observa-se que os coletes de proteção balística produzidos no Brasil, por não haver

norma nacional, são confeccionados em conformidade com a padronização norte-

americana NIJ standard 0101-04, publicada no ano de 2001, e que estabelecem

como aceitável o limite de 44mm (quarente e quatro milímetros) para a deformação

dos painéis balísticos.

O padrão NIJ foi criado no ano de 1972 e atualizado em 1978, quando

estabeleceu que a deformação máxima aceita para o painel balístico deveria de

igual ou inferior a 44mm (quarenta e quatro milímetros). Nos anos que se seguiram o

padrão NIJ foi atualizado sucessivas vezes, porém mesmo com a evolução dos

processos fabris e o aumento da capacidade de transferência de energia dos

projéteis das modernas armas de fogo, o índice de deformação permanece sendo de

44mm (quarenta e quatro milímetros).

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96

Desde o estabelecimento do padrão NIJ a proteção oferecida pelos coletes

modernos deve ser:

a) redução de ferimentos graves e morte; e

b) redução do risco de incapacidade imediata ao ser alvejado, ou seja, a

capacidade do usuário continuar a combater um oponente após

receber disparos de arma de fogo, potencialmente fatais.

Apesar de o padrão norte-americano ter sido adotado pela maioria dos

países, as criticas aos limites de deformação levaram diversos governos a

desenvolverem pesquisas que pudesse reavaliar e reduzir os índices, em até 60%

(sessenta por cento), quando comparados com os limites estabelecidos pelo padrão

NIJ.

A redução da deformação dos painéis foi resultado de pesquisas,

investimento em novos processos fabris e, principalmente, pela utilização de placas

redutoras de traumas.

A problemática que norteou a realização deste trabalho pode ser resumida

em duas questões:

a) o limite máximo de deformação aceito para os coletes de proteção

balística, no mercado nacional, são realmente seguros?

b) A utilização de placas redutoras de trauma pode aumentar a segurança

do usuário do colete de proteção?

Essa pesquisa apresenta um objetivo geral, avaliar as vantagens de se

empregar, nos coletes de proteção balística da PMESP, placas redutoras de trauma

ou outros dispositivos que visem à redução do trauma físico causado ao corpo do

Policial Militar quando alvejado por disparo de arma de fogo, e cinco objetivos

específicos:

a) avaliar os critérios de confecção dos coletes de proteção balística

utilizados no Brasil quanto aos requisitos mínimos de desempenho e

métodos de ensaio para a resistência balística;

b) detalhar a norma de confecção de coletes de proteção balística e a

deformação máxima permitida;

c) realizar estudo comparado entre as normas para a confecção,

requisitos mínimos de desempenho e métodos de ensaio para a

resistência balística de coletes de proteção balística empregadas em

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outros países, verificando os índices de deformação máxima permitida

para os painéis de proteção balística, e a norma utilizada no Brasil;

d) analisar os casos em que Policiais Militares foram alvejados, por arma

de fogo, em seus coletes e sobreviveram; e

e) propor medidas e mecanismos eficazes para a redução do trauma

físico causado ao corpo do Policial Militar, protegido por colete de

proteção balística, quando alvejado por disparo de arma de fogo.

Para responder essas questões que direcionam esse trabalho utilizamos os

métodos de pesquisa bibliográfica e estudo de casos em que Policiais Militares

foram alvejados e sobreviveram.

A pesquisa bibliográfica incluiu a consulta a publicações, legislação e normas

vigentes, trabalhos científicos, estudo comparado entre o padrão adotado pelo Brasil

e os padrões estrangeiros, além de sítios na Internet, para a definição do índice de

deformação máxima aceitável nas placas de proteção balística.

O estudo de caso foi construído com a busca de registros em que os policiais

foram alvejados e sobreviveram. Após localizar, na Corregedoria da PMESP, a

relação das sindicâncias onde os coletes de proteção balística foram descarregados

antes do prazo de validade, entrevistamos os sobreviventes para avaliar a

efetividade da blindagem e os ferimentos decorrentes do evento.

Ao final das entrevistas elegemos 10 (dez) casos que representam a

realidade dos riscos vividos pelos Policiais Militares nas atividades de polícia

ostensiva e de preservação da ordem pública.

Ainda, para ter elementos para confirmar ou refutar a hipótese de que a

utilização de placas redutoras ou outros dispositivos que visem à redução do trauma

físico nos coletes de proteção balística pode resultar em uma diminuição significativa

do grau de deformação das placas e com isso minimizar as lesões, nos Policiais

Militares, decorrentes de disparos na região protegida, entrevistamos o Doutor

Fernando Vannucci, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica, sobre a incidência

de casos de BABT e pude compreender quanto esse assunto é obscuro no país,

pois o entrevistado desconhecia o fenômeno e a existência de um protocolo ATLS

especializado para tais situações.

A hipótese apresentada é que a utilização de placas redutoras ou outros

dispositivos que visem à redução do trauma físico nos coletes de proteção balística

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pode resultar em uma diminuição significativa do grau de deformação das placas e

com isso minimizar as lesões nos Policiais Militares, decorrentes de disparos na

região protegida.

Estudos recentes, desenvolvidas por centros de referência dos Estados

Unidos da América, Inglaterra, Alemanha, Suécia e Rússia, demonstram que mesmo

protegidos pelo colete de proteção, os usuários estão sujeitos a sofrerem

traumatismos graves e até mesmo a morrem, nos casos mais extremos e por esse

motivo esses países desenvolveram padrões próprios que reduziram os índices de

deformação do colete.

Nesses países a redução do trauma deu-se por meio de utilização de placas

redutoras de traumas e a mudança dos processos fabris, fato que demonstra a

possibilidade de aplicação dessas soluções na PMESP.

O desafio para a Instituição é definir padrões corretos para que os fabricantes

possam produzir blindagens para uso diário que ofereçam a melhor proteção

possível contra ameaças específicas identificadas, sem impedir os usuários de

desempenhar suas funções, em seu ambiente normal de trabalho e reduzir ao

máximo o trauma físico quando alvejado na área protegida.

Após a análise de todo o material disponível podemos responder as questões

que balizaram essa pesquisa afirmando que o limite da BFS aceito pela norma NIJ e

adotado pelo Brasil é muito elevado, fato que o torna inseguro para o usuário,

especialmente aqueles com menor massa corporal ou que não estejam em plena

forma física.

Sim, a utilização de placas redutoras de trauma pode aumentar a segurança

dos usuários do colete de proteção, não só por reduzir o trauma, mas também por

reduzir os efeitos do BABT garantindo que o policial, mesmo alvejado no colete,

mantenha condições de continuar engajado no combate.

Finalmente, ao término dessa pesquisa, concluímos que a hipótese foi

confirmada, não restando dúvidas de que a utilização de placas redutoras ou outros

dispositivos que visem à redução do trauma físico nos coletes de proteção balística

pode resultar em uma diminuição significativa do grau de deformação das placas e

com isso minimizar as lesões nos Policiais Militares decorrentes de disparos na

região protegida.

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