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Jurisprudência
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2013.0000385567
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0036894-13.2011.8.26.0576, da Comarca de São José do Rio Preto, em que é apelante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, são apelados GUARANI S A (ATUAL DENOMINAÇÃO), ONDA VERDE AGROCOMERCIAL S A e AÇÚCAR GUARANI SA (ANTIGA DENOMINAÇÃO).
ACORDAM, em 2ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.. Houve sustentação oral pelo dr. Jorge Carvalho do Val e do Procurador de Justiça dr. Sergio Luis Mendonça Alves .", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores PAULO AYROSA (Presidente sem voto), VERA ANGRISANI E PAULO ALCIDES.
São Paulo, 27 de junho de 2013.
Otávio HenriqueRELATOR
Assinatura Eletrônica
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VOTO Nº 25.296 fls.2
VOTO Nº 25.296
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0036894-13.2011.8.26.0576
COMARCA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (6ª VARA CÍVEL)
APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO
APELADAS: AÇÚCAR GUARANI S.A. e
ONDA VERDE AGROCOMERCIAL S/A
APELAÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL. QUEIMA DA PALHA DA CANA DE AÇÚCAR. EVENTO DANOSO AO MEIO AMBIENTE COMPROVADO. AUTORIA INCOMPROVADA. COLHEITA DA CANA DE AÇÚCAR MECANIZADA. INCÊNDIO CRIMINOSO E PROVOCADO POR TERCEIROS ESTRANHOS AO CICLO PRODUTIVO. RESPONSABILIDADES IN VIGILANDO, OBJETIVA E RISCO INTEGRAL AFASTADAS. INVESTIGAÇÕES POLICIAIS INEXISTENTES SOBRE OS VERDADEIROS CAUSADORES DO DANO AMBIENTAL. APELO IMPROVIDO.
Trata-se de RECURSO DE APELAÇÃO
interposto contra a r. sentença de fls. 313/314,
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proferida pelo Ilustre Magistrado MARCELO EDUARDO DE
SOUZA, cujo relatório se adota, que julgou IMPROCEDENTE
a AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR DANO AMBIENTAL envolvendo as
partes supra mencionadas, por entender inexistir
responsabilidade das então rés na queima da palha da
cana de açúcar, causada por incêndio criminoso.
Inconformado, apelou o
MINISTÉRIO PÚBLICO, alegando, em breve síntese, a
presença da responsabilidade solidária no caso em
pauta, sendo beneficiárias do fogo as ora APELADAS,
tratando-se, ainda, da aplicação da teoria do risco
integral, apoiada na responsabilidade objetiva,
concorrendo também a culpa in vigilando daquelas,
motivos pelos quais aguardava o provimento deste e a
condenação das RECORRIDAS no dano ambiental causado (
fls. 318/333 ).
O recurso foi recebido no seu
duplo efeito ( fls. 334 ), vindo para os autos as
contrarrazões de fls. 337/353 e 355/376, onde é
demonstrada a necessidade da manutenção da r. sentença
proferida.
A Douta PROCURADORIA GERAL DE
JUSTIÇA, no Parecer de fls. 381/389, opinou pelo
provimento do apelo ministerial.
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É o relatório.
A r. sentença recorrida deve
ser mantida pelos seus próprios e sólidos fundamentos
fáticos e jurídicos.
Segundo demonstrado nos autos,
teria ocorrido queima da palha da cana de açúcar na
propriedade denominada “ Fazenda Boa Esperança “,
situado no Município de Guapiaçú, com prejuízo ao meio
ambiente.
Tal situação restou demonstrada
no Boletim de Ocorrência de fls. 56, bem como o dano
ambiental também foi mensurado no laudo técnico de fls.
124/126.
Porém, como bem colocado na r.
sentença recorrida, a autoria desta queimada, se é que
se pode chamar o evento de queimada, mas sim de
incêndio criminoso, não pode ser debitado às APELADAS.
Na realidade, a cana de açúcar
plantada na aludida propriedade era destinada às
APELADAS, mas esta condição não pode representar que
elas queimaram a palha da cana de açúcar para a
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facilitação da colheita daquele vegetal, de forma
simplista como sugerido pelo APELANTE.
O Boletim de Ocorrência de fls.
56, de forma clara, evidencia a presença de colheita
mecanizada da cana de açúcar plantada na “ Fazenda Boa
Esperança “, situação que não demanda a queima da sua
palha para a facilitação do corte, que, como lá dito, é
feito por intermédio de maquinário próprio, sem a ação
humana de forma direta.
No mesmo sentido, evidencia a
prova policial que, segundo moradores do “ Loteamento
Ribeirão Claro “, “ ... o fogo foi ateado por
adolescentes que frequentam o local constantemente. “
( fls. 56 verso ), situação que demonstra a
inexistência de queima da palha da cana de açúcar mas
sim o incêndio criminoso da mesma, situação que não
estava ao alcance das APELADAS para evitar o dano
ambiental, que, por outro lado, a própria Autoridade
Policial deixou de investigar ( fls. 54 ).
Desta sorte, a culpa in
vigilando não pode ser aceita, visto que não detinham
as APELADAS qualquer possibilidade de manter vigilância
nas terras da aludida fazenda para evitar incêndio
criminoso por culpa de terceiros a elas desconhecidos.
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Para a presença daquela
responsabilidade há a necessidade da comprovação mínima
de que não foram tomadas as providências básicas e
primárias para evitar o mal causado ao meio ambiente,
situação inexistente nos autos e cuja demonstração não
cabia às mesmas.
No mesmo sentido, a teoria do
risco integral e da responsabilidade objetiva também
não estão presentes no caso em pauta, visto que certo
restou somente o dano ao meio ambiente mas nada quanto
a quem foi o seu causador, não podendo admitir-se, no
caso em pauta, de forma simplista, a responsabilidade
das APELADAS somente pelo fato que dedicam-se à
colheita da cana de açúcar e que a queima da palha lhe
é benéfica economicamente falando, posto que não
detinham qualquer possibilidade de evitar o evento
criminoso e a colheita não era manual, mas sim
mecanizada, onde aquela queima proposital é necessária
e facilitadora da remoção da cana de açúcar.
Desta sorte, as APELADAS em
nada contribuíram para o evento danoso ao meio ambiente
e a Autoridade Policial nada fez para elucidar a
situação reinante, não podendo ser admitida a tese de
que aquele que lucram devem arcar com todas as
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consequências.
Assim, nega-se provimento ao
recurso do MINISTÉRIO PÚBLICO, confirmando-se a r.
sentença recorrida em todos os seus termos.
OTÁVIO HENRIQUE
RELATOR
(assinatura eletrônica)