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    Apostila de Direito do ComrcioInternacional

    Professor Tephilo de Arajo

    Direito do Comrcio

    Internacional

    Professor Tephilo de Arajo

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    Professor Tephilo de Arajo

    Sumrio

    Captulo 01 Partes e Auxiliares do Comrcio Exterior........................................ 3

    Captulo 02 SISCOMEX Sistema Integrado de Comrcio Exterior.................. 7

    Captulo 03 Tributao no Comrcio Exterior................................................... 10

    Captulo 04

    Lex Mercatoria.................................................................................. 19

    Captulo 05 Contratos Internacionais................................................................. 28

    Captulo 06 Principais Clusulas dos Contratos Internacionais...................... 35

    Captulo 07 Contratos Internacionais Parte Especial..................................... 43

    Captulo 08 Soluo de Controvrsias Privadas no mbito do Comrcio

    Internacional............................................................................................................ 50

    Capitulo 09 Direito Internacional Econmico (DIE)........................................... 61

    Captulo 10 Blocos Econmicos......................................................................... 70

    Referncias Bibliogrficas..................................................................................... 84

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    Captulo 01 Partes e Auxiliares do Comrcio Exterior

    1.1. Exportador e Importador

    Exportador aquele que remete ou vende mercadoria nacional para fora do pas, j

    o Importador age no fluxo contrrio, traz para dentro de um dado pas produtos

    estrangeiro.

    As obrigaes principais do Exportador e do Importador (venda, entrega, transporte

    e demais aes) e a responsabilidade entre as partes sero reguladas conforme

    negociado e firmado no contrato.

    As obrigaes acessrias bsicas do exportador so emitir documentao fiscal de

    sada de mercadoria e demais documentos relativos operao como a fatura

    comercial (commercial invoice), lista dos produtos (packing list), certificado de

    origem, certificado de anlise, certificado fitossanitrio, laudo tcnico, conforme

    exigncias do pas de destino. Alm dessas, o exportador tambm deve ser

    cadastrado no SISCOMEX (Sistema Integrado de Comrcio Exterior).

    Para o importador, as obrigaes acessrias so receber e conferir a documentao

    enviada pelo exportador e pagar taxas e impostos incidentes sobre a operao de

    importao. Alm disso, o importador dever ser credenciado perante a Receita

    Federal do Brasil por meio de instrumento de procurao autorizando um

    despachante aduaneiro a efetivar as operaes em solo nacional em seu nome.

    1.2. Empresa Comercial Exportadora (Trading Companies)

    Empresa Comercial Exportadora uma pessoa jurdica com um empreendimento

    extremamente especializado: a aquisio de mercadorias em um dado mercado

    interno e a realizao da exportao desta. importante perceber que no possuem

    linha de produo para exportar ou estrutura para representao comercialapenas

    viabilizam exportaes em massa.

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    As Empresas Comerciais Exportadoras possuem condies de realizar operaes

    com custo obviamente mais baixo e de forma mais dinmica. Como necessitam de

    um capital de giro menor, consegue reduzir custos operacionais e atuar em diversos

    mercados nacionais, racionalizar estoques e exportar para indstrias com linha de

    produo just in time, e so capazes de exportar os mais diferentes tipos de

    produtos de forma consolidada.

    aplicvel as trading companiesos mesmos benefcios fiscais concedidos por lei s

    exportaes, como por exemplo, em operaes de mera compra de mercadorias no

    mercado interno quando almejarem o fim especfico de exportar.

    As exigncias bsicas para o funcionamento de uma tradingso: a constituio sob

    a forma de sociedade por aes, capital mnimo aprovado pelo Conselho Monetrio

    Nacional e um Certificado de Registro Especial perante a Receita Federal do Brasil.

    1.3. Auxiliares do Comrcio Exterior

    Os auxiliares do comrcio so partes que tambm se inserem na transao demaneira decisiva para o sucesso desta, porm no participam necessariamente do

    risco do negcio. So prestadores de servio e podem se constituir, dependendo da

    legislao interna, na forma de pessoas jurdicas.

    Os auxiliares do comrcio so de extrema importncia, pois servem para adequar

    procedimentos internacionais ao ordenamento jurdico interno e agilizar as

    operaes comerciais globalizadas. Quanto responsabilizao pelos atospraticados, como os auxiliares do comrcio agem em nome do importador e

    exportador, seus atos so imputveis a estes ltimos.

    1.3.1. Agentes de exportao e importao

    O agente de comrcio exterior (trading agent) aquele responsvel pela

    intermediao da compra e venda de produtos provenientes de importao ou

    destinado a exportao.

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    1.3.2. Agentes/corretores de Carga ou agente consolidador de cargas

    O agente/corretor de cargas angaria e negocia a locao de espao nos diversos

    meios de transporte. Tambm possui a funo de consolidador de cargas, isto ,

    rene cargas de volume pequeno em volume maiores (pallets ou containers). Como

    pode prestar servios para mais de uma empresa de transporte, bem como muitas

    cargas em um s embalagem, oferece ao expedidor uma diversidade de opes de

    rota a um custo menor.

    1.3.3. Despachante aduaneiro

    O despachante aduaneiro tem a funo bsica de representar o exportador ou o

    importador perante as autoridades alfandegrias e cuidar de possveis entraves

    burocrticos, decorrentes, principalmente, de especificidade procedimental. Devem

    ser credenciados pela RFB.

    As principais obrigaes do despachante aduaneiro so concernentes ao preparo da

    Declarao Aduaneira e cumprimento das requisies da RFB para inspeo efiscalizao da entra e sada de bens e mercadorias.

    1.3.4. Comissrio de despachos

    As funes do comissrio de despachos so intrinsecamente relacionadas com a

    logstica de expedio, transporte e entrega da carga. Para tanto, o comissrio de

    despacho, que pode ser pessoa fsica ou jurdica, deve conhecer a origem e odestino da carga, bem como as exigncias tcnicas e econmicas do mercado em

    que esta se insere.

    A escolha do meio de transporte mais adequado ao tipo de carga, bem como o

    acompanhamento de seu transporte, uma de suas atribuies. Podem ser ainda

    objeto de trabalho do comissrio de despachos a armazenagem para o transporte,

    cabendo tambm ao comissrio cuidar da execuo dos assuntos alfandegrios em

    geral, alm da escolha do seguro que cubra riscos inerentes ao transporte desta.

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    1.3.5. Bancos

    Os bancos tm uma grande participao no comrcio exterior porque atuam na rea

    de crdito (financiamento a importao e exportao), bem como na intermadiao

    de remessas financeiras entre importadores e exportadores.

    1.3.6. Corretores de cmbio

    O corretor de cmbio agente autorizado pelo exportador/importador a negociar a

    venda e compra de moedas estrangeiras. O corretor de cmbio apenas um

    interveniente, responde apenas pelos aspectos formais do contrato de cmbio e nopelos direitos e obrigaes decorrentes deles.

    1.3.6. Empresa transitria

    A empresa transitaria, tambm denominada forwarding agent, aquela responsvel

    pela movimentao, corretagem e desembarao de cargas.

    1.3.7. Agente de vistorias

    O agente de vistoria preposto das empresas seguradoras. Sua funo consiste,

    principalmente, na verificao das mercadorias descarregadas nos armazns.

    responsvel tambm pelo recebimento de reclamaes por danos ou perdas

    ocorridos na carga durante a viagem ou em seu manuseio (movimentao).

    1.3.8. Armazns gerais

    Os armazns gerais, instalaes de natureza privada, tm por finalidade guardar e

    conservar mercadorias em geral, para posterior distribuio a terceiros ou entrega

    ao seu proprietrio.

    1.3.8. Entrepostos aduaneiros

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    Os produtos a serem exportados ou importados so mantidos temporariamente no

    entreposto aduaneiro antes da sada ou entrada no territrio nacional (desembarao

    aduaneiro). Importante mencionar que mediante autorizao das autoridades

    aduaneiras, os armazns gerais podem exercer as funes de um armazm

    alfandegado ou entreposto aduaneiro.

    Captulo 02 SISCOMEX Sistema Integrado de Comrcio Exterior

    2.1. Objetivos

    O Sistema Integrado de Comrcio Exterior - SISCOMEX um instrumentoinformatizado, por meio do qual exercido o controle governamental do comrcio

    exterior brasileiro.

    uma ferramenta facilitadora, que permite a adoo de um fluxo nico de

    informaes, eliminando controles paralelos e diminuindo significativamente o

    volume de documentos envolvidos nas operaes. um instrumento que agrega

    competitividade s empresas exportadoras, na medida em que reduz o custo daburocracia.

    O Siscomex promove a integrao das atividades de todos os rgos gestores do

    comrcio exterior, inclusive o cmbio, permitindo o acompanhamento, orientao e

    controle das diversas etapas do processo exportador e importador.

    2.2. Usurios

    So usurios do Siscomex:

    importadores, exportadores, depositrios e transportadores, por meio de seus

    empregados ou representantes legais;

    a Receita Federal do Brasil - RFB, a Secretaria de Comrcio Exterior -

    SECEX, os rgos Anuentes e as Secretarias de Fazenda ou de Finanas

    dos Estados e do Distrito Federal, por meio de seus servidores;

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    as instituies financeiras autorizadas pela SECEX a elaborar licena de

    importao, por meio de seus empregados;

    o Banco Central do Brasil - BACEN e as instituies financeiras autorizadas a

    operar em cmbio, mediante acesso aos dados transferidos para o Sistema

    de Informaes do Banco Central - SISBACEN, por meio de seus servidores e

    empregados;

    existem outros rgos governamentais atuantes no SISCOMEX envolvidos

    em aspectos fitossanitrios, cientficos, de segurana, ambientais, entreoutros, representados pelo Ministrio da Defesa, Ministrio da Cincia e

    Tecnologia, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), Polcia Federal,

    Comisso de Energia Nuclear.

    2.3. Administradores

    O Siscomex comeou a operar em 1993, para as exportaes e, em 1997, para asimportaes. administrado pelos chamados rgos gestores, que so: a Secretaria

    de Comrcio Exterior - SECEX, a Receita Federal do Brasil - RFB e o Banco Central

    do Brasil - BACEN.

    As operaes registradas via Sistema so analisadas online tanto pelos rgos

    gestores, quanto pelos rgos anuentes que estabelecem regras especficas para o

    desembarao de mercadorias dentro de sua rea de competncia.

    Os denominados aspectos comerciais da operao de Comrcio Exterior so

    fiscalizados e regulamentados pela Secretaria de Comrcio Exterior, que autoriza o

    ingresso e sada de mercadorias para o exterior, sendo considerada esta etapa

    como a comercial.

    A Receita Federal do Brasil responsvel pela etapa aduaneira e edita, dentro de

    sua competncia, atos legais que cuidaro dos aspectos fiscais e tributrios da

    operao de comrcio exterior, bem como fiscaliza e disciplina a sada e o ingresso

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    de mercadorias procedentes/com destino ao exterior e arrecadao dos tributos

    incidentes nestas operaes.

    O Banco Central do Brasil o responsvel pelos controles cambiais, editando

    normas dentro da competncia legal derivada de lei, bem como fiscalizando os

    aspectos cambiais da operao de comrcio exterior.

    2.4. Operando o SISCOMEX

    Para operar o SISCOMEX, o exportador (pessoa fsica ou jurdica) deve estar

    habilitado por meio de senha obtida junto Receita Federal do Brasil - RFB.Entretanto, poder ser utilizado servio de terceiros que possuam senha, sem

    descaracterizar sua condio de exportador direto, uma vez que o exportador estar

    identificado por seu CPF/CNPJ.

    Em uma ou outra modalidade ser necessrio nomear o representante legal perante

    a RFB, o qual, munido da devida documentao, figurar como responsvel, aps

    cumpridas as formalidades legais (como por exemplo, o preenchimento doformulrio de cadastramento e apresentao de documentos da empresa

    comprovando a sua habilitao legal para tal funo).

    2.5. Procedimento para a Exportao e Importao

    O primeiro ato em uma operao de exportao ser o seu registro, e, aps, ser

    emitida a Declarao de Exportao, que nada mais que a formalizao do ato decomrcio exterior, lanando-se em guia prpria as suas condies legais. A etapa

    posterior ser a confirmao da presena da carga que ser de responsabilidade do

    depositrio da mercadoria ou, em sua ausncia, do prprio exportador.

    Tem-se a seguir no sistema SISCOMEX o registro dos dados de embarque, que

    ser de competncia do exportador ou de seu transportador, que dever declarar a

    via de transporte (rodovirio, areo, fluvial, ou lacustre). Aps esta etapa, o sistema

    registrar a recepo dos documentos para a seguir proceder sua parametrizao.

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    Em razo do imenso volume de transaes, o sistema trabalha com parametrizao

    e amostragem, criando denominados canais de exportao. Estes canais so

    instrumentos criados pelo sistema visando indicar para o exportador e para a RFB o

    tratamento que ser dispensado.

    Se verde o canal, o sistema proceder ao desembarao aduaneiro

    automaticamente, estando dispensados o exame documental e a verificao,

    quantificao e conferncia das mercadorias.

    Quando laranja o canal, fica dispensada a conferncia fiscal da mercadoria, no

    obstante ser necessrio o exame da documentao. Nos casos em que o sistemaapontar o canal vermelho, ser de rigor o exame documental e fsico da mercadoria.

    Aps o desembarao aduaneiro, a mercadoria estar liberada para embarque,

    sendo registrados os dados da via de embarque, procedida deste, e emitidos o

    comprovante de exportao e o contrato de cmbio.

    Nas operaes de importao, o sistema funcionar da mesma maneira, criandoetapas sucessivas numa lgica sequencial. Como primeiro ato, haver o registro da

    Importao, seguido da Declarao de Importao e etapas posteriores de fluxo

    documental para apontar nos canais de importao, que observam a mesma lgica

    dos canais de exportao. Haver os canis verde, laranja e vermelho, cada qual

    definindo o exame e conferncia dos documentos, bem como a conferncia fsica da

    mercadoria. O ato final ser o desembarao aduaneiro, com a liberao das

    mercadorias e respectiva documentao.

    Captulo 03 Tributao no Comrcio Exterior

    3.1. Imposto sobre Importao de Produtos Estrangeiros

    Trata-se de imposto de competncia federal. adotado na poltica cambiria do

    pas. Sua finalidade mais econmica do que propriamente financeira. Visa

    proteo do produto nacional frente competio no mercado internacional,

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    incentivando a produo interna para a criao do maior nmero de divisas possvel.

    Sua arrecadao feita pelas reparties denominadas alfndegas ou aduanas.

    A Constituio no art. 150, 1, estabelece que o imposto sobre a importao no

    est sujeito anterioridade anual, tampouco anterioridade nonagesimal, podendo

    ser exigido desde o dia em que a Lei que o instituir ou aumentar esteja publicada no

    Dirio Oficial da Unio.

    3.1.1. Hiptese de Incidncia

    hiptese de incidncia do imposto de importao a entrada de produtosestrangeiros no territrio brasileiro.

    3.1.2. Base de Clculo

    No sistema tributrio atual, o CTN (Cdigo Tributrio Nacional), h duas espcies de

    base de clculo:

    a. o preo do produto: o preo normal, ou, na eventualidade de no constar na

    tabela de modo oficial, adota-se o preo de produto similar em venda e em

    condies de livre concorrncia. Geralmente, toma-se por base o preo da fatura

    comercial;

    b. a unidade de medida: utilizada para medir, pesar ou contar o produto, o volume,

    etc., tanto de imposto por metro, por quilo, por unidade, entre outros.

    c. preo de arrematao: para o caso de produtos apreendidos ou abandonados.

    3.1.3. Alquotas

    A alquota fixada na Tarifa Externa Comum (TEC), aplicvel s importaes em

    geral; poder, tambm, ser estabelecida em Acordos Internacionais, quando

    prevalecer sobre a TEC.

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    Pela circunstncia de ser o imposto de importao mais um instrumento regulador

    do comrcio internacional e da poltica cambial do que um meio de recolher receitas,

    a Constituio permite expressamente que, nos limites e condies da lei, o

    Executivo pode graduar a alquota dentro do mnimo e do mximo da tarifa flexvel,

    cabendo ao Congresso fixar aqueles tetos mnimo e mximo.

    O aumento da alquota pode ser empregado tanto na importao, como na

    exportao, a fim de evitar dumping.

    3.1.4. Sujeitos

    O sujeito ativo do I.I. a Unio, que detm a competncia normativa exclusiva em

    matria de comrcio exterior. O sujeito passivo, ou contribuinte, o importador

    (pessoa fsica ou jurdica) que realize importao; o arrematante de produtos

    apreendidos ou abandonados; adquirente de mercadoria entrepostada ou o

    destinatrio da remessa postal internacional.

    3.1.5. Aspecto Temporal

    O fato gerador do I.I. se d na entrada dos produtos importados em territrio

    nacional. O momento dessa entrada fixado na data do registro da Declarao de

    Importao (DI) na repartio alfandegria. Atualmente, com a utilizao do

    SISCOMEX, o prprio importador promove o registro da DI, mediante prvio

    pagamento do imposto.

    3.2. Imposto sobre a Exportao, para o Exterior de Produtos Nacionais ou

    Nacionalizados

    Trata-se de imposto de competncia federal. encargo fiscal que incide sobre

    mercadorias ou produtos fabricados ou produzidos no pas e remetidos para pas

    estrangeiro. , por isso, de aspecto contrrio ao imposto de importao.

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    A exportao pode se dar de forma direta ou indireta. A exportao direta quando

    o estabelecimento industrial ou produtor emite a nota fiscal de venda endereada

    diretamente ao destinatrio no exterior, com base em contrato comercial.

    Considera-se exportao indireta quando o estabelecimento industrial ou produtor

    emite a nota fiscal de venda (com o fim especfico de exportao) para destinatrio

    comprador no Brasil, que funciona como interveniente comercial, que, por sua vez,

    emitir a nota fiscal de venda endereada ao comprador estrangeiro. Nessa

    hiptese, a exportao ser considerada indireta para o fabricante e direta para o

    interveniente exportador.

    3.2.1. Hiptese de Incidncia

    A hiptese de incidncia no o negcio jurdico da compra e venda do exportador

    para o estrangeiro, mas o fato material da sada de produto nacional, ou

    nacionalizado, para outro pas, qualquer que seja o objeto de quem o remeta. Pouco

    importa que se trate de doao ou de mercadoria do remetente, ressalvados os

    casos de efeitos pessoais, bagagens, etc.

    3.2.2. Sujeitos

    O sujeito ativo a Unio e o sujeito passivo o exportador, assim considerada

    qualquer pessoa que promova a sada da mercadoria do territrio aduaneiro. A

    princpio, , pois, quem despacha a mercadoria para remessa por embarque a seu

    destino no estrangeiro, ou mesmo a leva consigo. Geralmente, o negociante queadquire produtos nacionais para vend-los s praas estrangeiras. Poder ser o

    prprio produtor, industrial ou comerciante, ou, ainda, o prprio negociante no

    estrangeiro, acompanhando a mercadoria ou se utilizando de agentes, prepostos,

    etc.

    3.2.3. Base de clculo

    A base de clculo ser o preo normal de venda da mercadoria, ao tempo da

    exportao, obedecidas as regras do mercado exterior. Quando o preo da

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    mercadoria for de difcil apurao ou for suscetvel de oscilaes bruscas no

    mercado internacional, a Cmara de Comrcio Exterior fixar critrios especficos ou

    estabelecer pauta de valor mnimo para apurao da base de clculo.

    3.2.4. Alquota

    A alquota de 30%, podendo ser reduzida ou aumentada, por questo de poltica

    cambial pela Cmara de Comrcio Exterior, porm nunca poder ser superior a

    150%.

    3.2.5. Aspecto Temporal

    O fato gerador da I.E. foi fixado na da data em que ocorrer o registro da exportao

    no SISCOMEX.

    3.3. Imposto sobre Produtos Industrializado.

    Trata-se de imposto de competncia federal. O IPI, apesar de tipicamente no serum imposto sobre o comrcio exterior, tal como os I.I e I.E. , incide sobre a

    importao de bens.

    3.3.1. Hiptese de Incidncia

    A hiptese de incidncia do IPI vinculado a importao de produtos

    industrializados de procedncia estrangeira.

    3.3.2. Sujeitos

    O sujeito ativo a Unio e o sujeito passivo, no caso do IPI vinculado importao,

    o contribuinte importador em relao ao fato gerador decorrente do desembarco

    aduaneiro.

    3.3.3. Base de clculo

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    A base de clculo ser o valor que servir para base de clculo do Imposto de

    Importao por ocasio do despacho aduaneiro.

    3.3.4. Alquota

    As alquotas so fixas em relao a cada tipo de produo e sero aplicadas de

    acordo com o estabelecido na tabela de incidncia do IPI.

    3.3.5. Aspecto Temporal

    O IPI nesse caso tem como critrio temporal a ocorrncia de desembaraoaduaneiro de produto industrializado de procedncia estrangeira.

    3.4. Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios (ICMS)

    Trata-se de imposto de competncia estadual. O ICMS incide sobre a circulao de

    mercadorias e prestao de servios provenientes do exterior.

    3.4.1. Hiptese de Incidncia

    O ICMS tem por hiptese de incidncia a importao de mercadorias ou bens,

    qualquer que seja a finalidade, bem como os servios prestados no exterior ou cuja

    prestao se tenha iniciado no exterior.

    3.4.2. Sujeitos

    O sujeito ativo o Estado onde est situado o estabelecimento destinatrio da

    mercadoria ou servio e o sujeito passivo aquela pessoa que realiza a importao,

    independentemente da habitualidade ou do intuito comercial, bastando importar

    mercadorias ou bens do exterior, qualquer que seja sua finalidade, ou adquirir em

    licitao mercadorias ou bens apreendidos.

    3.4.3. Base de clculo

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    A base de clculo ser o valor da mercadoria ou do servio constante na declarao

    de importao, acrescido do Imposto de Importao, IPI, IOC e outras despesas

    aduaneiras.

    3.4.4. Alquota

    As alquotas sero fixadas pelo Estado competente.

    3.4.5. Aspecto Temporal

    O ICMS-Importao tem como fato gerador o recebimento da mercadoria importada,e condiciona o despacho aduaneiro ao pagamento do tributo.

    3.5. Imposto sobre Operaes de Cmbio.

    Trata-se de imposto de competncia federal. O IOC incide sobre negcios jurdicos

    relativos a cmbio e compra e venda de moeda estrangeira.

    3.5.1. Hiptese de Incidncia

    A hiptese de incidncia do IOC a compra e venda de moeda estrangeira.

    3.5.2. Sujeitos

    O sujeito ativo a Unio e o sujeito passivo, so os compradores e vendedores demoeda estrangeira nas operaes para liquidao de contratos de cmbio nas

    importaes e exportaes.

    3.5.3. Base de clculo

    A base de clculo o montante em moeda nacional, recebido, entregue disposio

    correspondente ao valor em moeda estrangeira da operao de cmbio.

    3.5.4. Alquota

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    Apostila de Direito do ComrcioInternacional

    Professor Tephilo de Arajo

    A alquota mxima de 25% podendo ser reduzida tendo em vista os objetivos das

    polticas monetria, cambial e fiscal.

    Sobre o valor ingressado no Pas decorrente de ou destinado a emprstimos em

    moeda com os prazos mdios mnimos de at noventa dias a alquota de 5,38%;

    Nas operaes de cmbio destinadas ao cumprimento de obrigaes de

    administradoras de carto de crdito ou de bancos comerciais ou mltiplos na

    qualidade de emissores de carto de crdito decorrentes de aquisio de bens e

    servios do exterior efetuada por seus usurios a alquota de 2,38%;

    Nas operaes de cmbio relativas ao pagamento de importao de servios a

    alquota de 0,38%;

    Nas liquidaes de operaes de cmbio relativas a transferncias do e para o

    exterior, inclusive por meio de operaes simultneas, realizadas por investidor

    estrangeiro, para aplicao nos mercados financeiro e de capitais, na formaregulamentada pelo Conselho Monetrio NacionalCMN a alquota zero;

    Nas demais operaes de cmbio, excetuadas as operaes com incidncia de

    alquota zero (vide art. 15 doDec. n 6.306 de 2007)a alquota de 0,38%

    3.5.5. Aspecto Temporal

    O fato gerador ocorre no momento da entrega da moeda nacional ou estrangeira, ou

    de documento que a represente, ou a sua colocao disposio do interessado.

    3.6. Contribuies sociais na Importao (PIS/PASEP, COFINS e CIDE).

    3.6.1. Hiptese de Incidncia

    O PIS e a COFINS incidiro sobre importao de bens e servios, sendo que os

    servios aqui referidos so os prestados por pessoas fsicas ou jurdicas residentes

    no exterior, executados no Pas ou no exterior, cujo resultado se verifique no pas.

    http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Decretos/2007/dec6306.htmhttp://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Decretos/2007/dec6306.htm
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    Professor Tephilo de Arajo

    A incidncia da CIDE na Importao de Combustveis se d sobre a importao de

    petrleo e seus derivados, gs natural e derivados, alm do lcool etlico

    combustvel.

    3.6.2. Sujeitos

    O sujeito ativo a Unio e o sujeito passivo, em todas essas contribuies sociais,

    o contribuinte importador.

    3.6.3. Base de clculo

    A base de clculo dos PIS e da COFINS a mesma do Imposto de Importao,

    acrescida do valor do ICMS incidente no desembarao e do valor das prprias

    contribuies, quando se tratar de importaes de mercadorias. Na importao de

    servios ser considerada como base de clculo o valor remetido ao exterior antes

    da reteno IRRF, acrescido do ISS e do valor das prprias contribuies.

    A CIDE tem por base de clculo medidas estabelecidas para cada tipo de produtoimportado.

    3.6.4. Alquota

    As alquotas previstas so: 1,65% PIS/PASEP-Importao e 7,6% COFINS-

    Importao, quanto a CIDE h alquotas fixas em relao a cada tipo de

    combustvel.

    3.6.5. Aspecto Temporal

    O fato gerador do PIS e da COFINS a entrada dos bens estrangeiros no territrio

    nacional, ou o pagamento, o crdito, a entrega, o emprego ou a remessa de valores

    a residentes ou domiciliados no exterior como contraprestao por servios

    prestados.

    O fato gerador da CIDE-Combustveis o registro da declarao de importao.

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    Professor Tephilo de Arajo

    Captulo 04 Lex Mercatoria

    4.1. Introduo ao Estudo do DCI

    A atividade econmica a mola mestra da subsistncia da humanidade. Nesse

    contexto importante ressaltar que a humanidade desde os seus primrdios sempre

    buscou adequar as suas regras de conduta social de modo a favorecer o

    desenvolvimento do comrcio.

    O comrcio uma atividade dinmica e que precisa de mecanismos dinmicos para

    se desenvolver de forma adequada. Devido a essa caracterstica percebemos queos ordenamentos jurdicos vem sendo constantemente renovados para se

    adequarem realidade da atividade comercial. Encontramos diversos institutos

    jurdicos que foram criados exclusivamente para atender s necessidades

    comerciais, dentre eles destacamos as cambiais, as sociedades, os bancos, as

    bolsas de valores, etc.

    Com o desenvolvimento do comrcio internacional surgiram algumas situaes quemerecem um regramento prprio. O Direito do Comrcio Internacional (DCI) objetiva

    estudar os institutos que regulam o comrcio internacional.

    4.2. Histrico

    A histria do DCI pode ser associada ao incio da atividade comercial pelos povos

    antigos, em especial, pelos gregos e romanos. Contudo, foi com a evoluo docapitalismo na idade mdia que o DCI aflorou como uma disciplina autnoma, que

    no se identifica com o direito romano ou germnico.

    Nesse perodo foi verificado principalmente nas cidades Italianas um significativo

    crescimento da atividade comercial. Impulsionado por esse crescimento, e tambm

    como forma de garanti-lo, os mercadores comearam a desenvolver um direito

    especfico para regular seus negcios.

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    Professor Tephilo de Arajo

    Vale salientar que nessa poca vigorava o pluralismo das fontes jurdicas, pois o

    chamado Estado Nacional ainda no havia se consolidado, nem chamado para si o

    monoplio da jurisdio e da produo das normas jurdicas. Nesse contexto surge a

    chamada lex mercatoria, que era um direito desenvolvido pelos comerciantes,

    segundo as suas prticas, usos e costumes. Esse direito era criado e aplicado em

    tribunais organizados pelas prprias corporaes mercantis e no estavam

    vinculados aos soberano (Rei).

    Com o passar dos anos o Estado Nacional se consolidou passando a deter o

    monoplio da criao e aplicao das normas. No contexto do Estado Nacional o

    capitalismo deixou de ser comercial para industrial, fato que gerou um grandecrescimento do comrcio internacional.

    Esse crescimento do comrcio internacional aliado e impulsionado pelo

    desenvolvimento tecnolgico culminou na globalizao da economia, caracterizada

    pela internacionalizao das empresas, das atividades econmicas em um grande e

    nico mercado global.

    Como o modo tradicional de produo de normas do Estado no atende s

    necessidades do mercado global os seus atores acabam por desenvolver um direito

    espontneo, tambm, brotado dos usos e costumes. Essas normas vm sendo

    elaboradas em contratos entre as partes e por compilaes organizadas e

    publicadas por rgos profissionais de classe ou de organizaes empresarial de

    natureza privada. Destacam-se ainda as chamadas soft laws, normas no

    obrigatrias que podem ser aderidas pelas partes contratantes, os princpios doUNIDROIT.

    Com a utilizao da chamada nova lex mercatoriaganha fora a arbitragem, que o

    modo mais tcnico e adequado para a soluo de controvrsia entre as empresas

    sediadas em Estados distintos.

    H controvrsia acerca da natureza da nova lex mercatoria. Os positivistas

    entendem que essas normas no podem ser consideradas normas jurdicas. Para a

    escola francesa a nova lex mercatoria um novo paradigma jurdico sendo um

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    direito autnomo e verdadeiramente global. No Brasil essa discusso no tem razo

    de ser porque o art. 113 do Cdigo Civil admite os usos e costumes como fonte

    formal do direito.

    4.3. Fontes do DCI

    Inicialmente destacamos como principal fonte do DCI as normas produzidas pelas

    prprias partes envolvidas na atividade comercial.

    Tambm merecem destaque as entidades privadas responsveis pela

    sistematizao e publicao de usos e prticas que contribuem para a uniformizaodo comrcio internacional (Ex. ICC e Unidroit).

    Existem ainda as normas governamentais internacionais estabelecidas em tratados

    em convenes (Ex. Conveno de Viena), e as normas da OMC.

    Por fim tambm so fontes do DCI as normas internas de cada Estado. Isso torna o

    comrcio internacional mais complexo pois a legislao de cada pas tem um papeldecisivo na regulao quando as partes necessitam da chancela do poder pblico.

    As prticas de comrcio internacional sofrem ainda a influncia dos princpios da

    autonomia da vontade, da boa-f e da impreviso.

    4.4. Conceito de Lex Mercatoria

    Lex Mercatoria um conjunto de princpios eregras costumeiras, espontaneamente

    referidos ou elaborados no quadro do comrcio internacional, sem referncia a um

    sistema particular de lei nacional(GOLDMAM).

    Amaral considera a lex mercatoria como as regas costumeiras desenvolvidas em

    negcios internacionais aplicveis em cada rea determinada do comrcio

    internacional, aprovadas com regularidade.

    4.5. Fonte da Lex Mercatoria

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    A lex mercatoria produzida pelos integrantes dos diversos setores do comrcio

    internacional. Os integrantes da corporao a aceitam e observam como se ela

    fosse obrigatria (como so as normas provenientes do Estado).

    As normas da lex mercatoria no tm o condo de competir com as normas

    provenientes dos Estados. Elas so na verdade uma espcie de direito adotado para

    ser aplicado no mbito da prpria corporao (principalmente atravs de tribunais de

    arbitragem).

    Vale ressaltar que, apesar de ser permitido pelo ordenamento jurdico brasileiro (art.113 do Cdigo Civil), a aplicao da lex mercatoriapela judicatura dos Estados no

    compatvel com os seus objetivos, uma vez que, a lgica da lex mercatoria no

    sentido de que havendo litgio, esse deve ser solucionado por meio de arbitragem.

    Assim, a eficcia da deciso decorre da fora da corporao e no da fora do

    Estado.

    Melhor explicando, para o membro da corporao mais interessantecomercialmente aceitar o resultado do laudo arbitral do que contest-lo e correr o

    risco de ser excludo da corporao, por no demonstrar credibilidade e

    confiabilidade.

    Encontramos na prtica do comrcio internacional diversas manifestaes ou fontes

    de lex mercatoria, como por exemplo:

    Contratos-tipos (Ex. contrato de compra e venda de comodities, consolidado

    por organismos corporativos como o London Trade Corn Association);

    As condies gerais de compra e venda;

    As condies gerais do Conselho de Assistncia Econmica Mutua

    (COMECOM);

    Os Inconterms (Ex. CIF, FOB);

    As Leis Uniformes (Lei Uniforme de Compra e Venda de Bens de 1964, LeiModelo da UNCITRAL sobre Arbitragem);

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    Usos e costumes do comrcio;

    Sentenas arbitrais (normalmente utilizada pela regra do precedente).

    4.6. O Debate sobre a Lex Mercatoria

    Argumentos contrrios aplicao da lex mercatoria:

    No uma lei, faltando-lhe base metodolgica e um sistema legal que a

    suporte. No possui autoridade da qual possa derivar seu efeito obrigatrio;

    incompleta, vaga e incoerente, pois, considerando os vrios sistemas

    nacionais existentes no mundo (sistema romano, common Law, lei islmica,

    etc). poucos so os princpios comuns, e aqueles identificados como tal so

    geralmente muito amplos e gerais;

    A sua flexibilidade pode levar a decises arbitrrias e a uma deciso diferente

    para cada caso, ainda que semelhantes.

    Argumentos favorveis aplicao da lex mercatoria:

    A recusa na sua aceitao tem origem em um pensamento positivista, que

    baseado em que a lei deriva da vontade do Estado soberano e que o direito

    internacional nasce da coincidncia da vontade de vrios Estados membros.

    Para os adeptos da lex mercatoria, no entanto, esta emerge no da vontade

    das autoridades estatais, mas sim do seu reconhecimento comum pela

    comunidade de negcios. Desse modo, diferente do direito encontrvel nos

    cdigos ou nas leis, sendo parte do direito vivo que o produto dacriatividade dos operadores do comrcio;

    Nenhum dos defensores alega que a lex mercatoria seja um conjunto de

    normas completo, preciso e exaustivo. Contudo, tampouco o so os sistemas

    legais nacionais, constante e frequentemente alterados, muitas vezes

    acarretando mudanas radicais no regramento das relaes entre os

    particulares;

    Embora no seja to vaga e rudimentar como pretendem seus adversrios,pode levar a decises conflitantes e contraditrias, mas nem por isso difere

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    das leis dos Estados, em que as decises dos tribunais tambm geram

    conflitos e contradies;

    Alm disso, muitos casos, grande nmero de contratos internacionais em

    reas especializadas tem regras altamente sofisticadas, requerendo formao

    especfica para seu atendimento e aplicao. Os juzes dos tribunais estatais

    dificilmente tm condies de adquirir tais conhecimentos nem mesmo

    quando assistidos por peritos. J o recurso a arbitragem proporciona decises

    de melhor nvel, pois so proferidas por especialistas. No caso de lacunas,

    nada os impede de utilizar os mesmos recursos hermenuticos de que se

    utilizam os juzes que julgam no sistema legal estatal.

    4.7. Os negcios internacionais e a lei a eles aplicvel

    No obstante o desenvolvimento da nova lex mercatoria o direito interno de cada

    pas ainda tem certo grau de influncia no comrcio internacional, vez que no

    existe ainda um direito verdadeiramente estatal, que harmonize integralmente as

    diferentes legislaes comerciais provenientes de cada pas.

    Dessa forma, ocorrendo em uma relao jurdica internacional um conflito de normas

    jurdicas provenientes de diferentes pases, a soluo deve ser buscada na

    legislao de cada um desses pases (essa o objeto de estudo do Direito

    Internacional PrivadoDIPr).

    A soluo da controvrsia se d atravs da eleio de pontos de conexo entre a

    relao jurdica e os elementos eleitos pelo ordenamento jurdico como maisadequados aos casos concreto como, por exemplo, o local da celebrao do

    contrato, para relaes contratuais internacionais; local da situao do imvel, para

    relaes de direito real imobilirio; local do domiclio das partes para direitos de

    personalidade e de famlia.

    Assim, na ausncia de um direito estatal uniforme regulatrio da relao entre as

    empresas no cenrio internacional, o DIPr de cada pas que trata da validade dos

    contratos e da soluo das controvrsias, se o caso concreto for submetido a uma

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    corte estatal, o que no a regra no comrcio internacional (ambiente em que

    predomina a arbitragem).

    Tendo em vista a possvel influncia dos ordenamentos jurdicos locais nos

    contratos internacionais as partes devem observar, para garantir a sua validade em

    uma futura controvrsia, se as clusulas dos contratos esto de acordo com a

    legislao e jurisprudncia das cortes de cada pas. Ou seja, ser o DIPr de cada

    Estado que regular a validade das clusulas contratuais.

    No Brasil a principal norma jurdica responsvel por determinar a legislao aplicvel

    em caso de conflito espacial de normas a Lei de Introduo ao Direito Brasileiro(LIDB). a LIDB que dir ao juiz brasileiro qual lei aplicvel a um contrato

    internacional. Nesse contexto, a LIDB pode indicar a aplicao de uma norma

    brasileira ou estrangeira, a depender do elemento de conexo eleito para o caso.

    No Brasil, em regra, o local da celebrao do contrato o elemento de conexo

    fundamental quando as partes estiverem presentes fisicamente, uma frente outra,

    no momento da assinatura do contrato. Quando as partes no esto presentesconjuntamente no momento da celebrao do contrato, vale a lei do local da sede da

    empresa que props o negcio. Nesse sentido o art. 9 da LIDB:

    Art. 9 Para qualificar e reger as obrigaes, aplicar-se- a lei do pas em que se

    constiturem.

    (....).

    2 A obrigao resultante do contrato reputa-se constituda no lugar em que residir o

    proponente.

    Vale destacar a tambm a formalidade regulada pelo 1 do art. 9 da LIDB:

    1 Destinando-se a obrigao a ser executada no Brasil e dependendo de forma

    essencial, ser esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto

    aos requisitos extrnsecos do ato.

    Assim, em se tratando de um contrato celebrado no Brasil para aqui ser total ou

    parcialmente cumprido, h que se atentar para as formalidades da legislao

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    nacional, como, por exemplo, uma compra e venda de imvel feita no Brasil deve ser

    feita por meio de escritura pblica (art. 107 do Cdigo Civil).

    Exemplo de aplicao do art. 9 da LIDB:

    Uma fabrica italiana contrata uma empresa brasileira para vender no Brasil seus

    produtos industrializados na Itlia. Esse contrato seria classificado pelo ordenamento

    jurdico brasileiro como uma prestao de servios de representao comercial (art.

    710 do Cdigo Civil). Contudo, como os contratantes so sujeitos provenientes de

    ordenamentos jurdicos diversos temos uma relao jurdica internacional, a qual

    trs consigo um potencial conflito entre qual das legislaes nacionais aplicvel.Para determinar se ser aplicvel o Cdigo Civil brasileiro ou italiano o juiz brasileiro

    consultar o art. 9 da LIDB. Nesse caso, se o contrato tiver sido celebrado com

    Milo, ele ter que aplicar o Cdigo Italiano. Ou se as partes no estiverem

    fisicamente presentes vindo o fax com a proposta de representao comercial da

    Itlia, aplicvel ser o direito italiano.

    No caso concreto supra, teriam as partes a faculdade de eleger o direito aplicvel aocontrato?

    Inicialmente destacamos que a clusula de eleio de lei aplicvel ao contrato no

    se confunde com clusula de eleio de foro, nem tampouco com clusula arbitral.

    A clusula de eleio de lei (choice of Law) a escolha do sistema legal que ser

    utilizado pelo julgador (inclusive arbitro) para solucionar a lide. Diz respeito ao direitomaterial, no caso concreto, cdigo civil italiano ou brasileiro, ou ainda de um terceiro

    pais ou uma norma proveniente da lex mercatoria.

    J a clusula de eleio de foro (choice of frum) clusula inserta em um contrato

    que determina a escolha, pelas partes, de qual tribunal ter jurisdio sobre eventual

    litgio em envolvendo o contrato. A eleio de foro um problema de direito

    processual internacional e a eleio de lei um problema de conflitos de lei no

    espao (DIPr). J a clusula compromissria a escolha do rbitro ou instituio

    arbitral para julgar a lide.

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    No Brasil h um entendimento majoritrio na doutrina e na jurisprudncia de que o

    citado art. 9 da LIDB no faculta as partes eleger a lei aplicvel, sendo uma norma

    imperativa de ordem pblica. Assim, uma clusula de eleio de lei pode ser

    considerada nula pelo judicirio brasileiro.

    Buscando contornar essas nuances acerca da legislao nacional aplicvel, na

    prtica, os contratantes definem no prprio corpo do contrato, o local da celebrao

    do mesmo. Contudo, esta soluo poder ensejar a alegao, pela parte

    prejudicada, de fraude a lei, que um instituto jurdico que no reconhece situaes

    em que as partes buscam um sistema legal mais vantajoso de um pas emdetrimento do nacional, quando este mais rgido e a inteno fraudulenta.

    Por fim, vale mencionar que se a inteno dos contratantes estabelecer clusula

    de eleio de lei o mais adequado se pactuar tambm a clusula compromissria

    uma vez que o art. 2 da Lei n 9.307/97 expressamente admite. Vejamos:

    Art. 2 A arbitragem poder ser de direito ou de equidade, a critrio das partes. 1 Podero as partes escolher, livremente, as regras de direito que sero aplicadas na

    arbitragem, desde que no haja violao aos bons costumes e ordem pblica.

    2 Podero, tambm, as partes convencionar que a arbitragem se realize com base

    nos princpios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de

    comrcio

    4.8. Contratos entre empresas estrangeiras e os Estados

    A questo tem a ver com a pretenso de afastar a lei do Estado da relao jurdica

    internacional de que ele, Estado, parte, a qual pode ser afetada ou alterada, com a

    edio de normas legais colaterais, no uso de sua autoridade e competncia

    legislativa.

    O princpio vigente de que em todo contrato que no seja entre Estados regido

    por uma lei nacional. Contudo, com a alterao do panorama internacional e com

    surgimento de Estados Novos, principalmente Africanos e Asiticos, com a

    descolonizao aps a 2 Guerra, a manuteno desse princpio importaria em

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    Professor Tephilo de Arajo

    reconhecer a esses novos Estados a competncia para reger contratos celebrados

    com empresas privadas estrangeiras.

    Por essa razo o princpio passa a ser contestado pretendendo-se a sua

    substituio pelo da desnacionalizao dos contratos internacionais entre Estado e

    empresa privada estrangeira.

    Captulo 05 Contratos Internacionais

    5.1. Caracterizao dos Contratos internacionais

    Um contrato considerado internacional quando a relao jurdica nele

    representada estiver conectada a dois ou mais ordenamentos jurdicos. Essa

    conexo pode ser feita pela fora do domiclio, da nacionalidade, da sede principal

    dos negcios, do lugar do contrato, do lugar da execuo do contrato, etc. J os

    contratos denominados de nacionais sofrem a incidncia apenas das leis locais

    sendo inconcebvel a discusso sobre a lei a eles aplicvel.

    Teorias criadas para a identificao dos contratos internacionais:

    Critrio econmico (Matter 1927): o contrato internacional seria aquele que

    abrangesse um duplo movimento de mercadorias, capitais ou servios para o

    exterior, ou seja, um fluxo e refluxo de bens, capitais e servios atravs da fronteira

    (Amaral p.222). Essa formula revelou-se muito rgida.

    Critrio Jurdico: contrato internacional aquele acordo de vontades que estpotencialmente sujeito a dois ou mais sistemas jurdicos (Amaral p.222). Nesse

    caso deve-se identificar os elementos de estraneidade presentes no contrato, bem

    como a sua relevncia para determinar a aplicao da legislao aliengena. Ex. um

    contrato de compra e venda firmado entre um portugus e um italiano no Brasil no

    considerado internacional porque a nacionalidade no um elemento de

    estraneidade relevante segundo a legislao brasileira.

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    A possibilidade de estipulao do pagamento das obrigaes em moeda estrangeira

    um indicativo do carter internacional do contrato (Decreto-lei 857/691), vez que as

    hipteses em que lcita essa forma de pagamento se enquadram nos critrios

    supra.

    5.2. Direito Aplicvel aos Contratos Internacionais

    O Direito Internacional Privado (DIPr) como ramo do direito responsvel pela soluo

    de conflito de leis no espao tem intensa correlao com os Contratos

    Internacionais, vez que tais contratos se encontram potencialmente sujeitos a mais

    de um ordenamento jurdico.

    Ressalta Timm que os contratos internacionais, por terem conexo com mais de um

    pas, tm o carter de poderem ser regidos por uma ou mais legislaes internas de

    pases diferentes, ou por convenes internacionais, como o caso da aplicao de

    uma lex mercatoria. Portanto, no incomum que partes de um mesmo contrato

    sejam submetidas a regimes jurdicos diversos. Nesse contexto, so correntes as

    dvidas que os contratantes enfrentam quanto a fatores como a jurisdio e a leiaplicvel a contratos de que fazem parte(p. 55).

    No Brasil as normas de DIPr esto presentes, principalmente, na LIDB. Vale

    ressaltar que o advento do Novo Cdigo Civil no implicou em modificao da LIDB.

    Para solucionar o conflito de normas no espao a LIDB elege elementos de

    conexo.

    1Art. 1 So nulos de pleno direito os contratos, ttulos e quaisquer documentos, bem como as obrigaes que exeqveis no

    Brasil, estipulem pagamento em ouro, em moeda estrangeira, ou, por alguma forma, restrinjam ou recusem, nos seus efeitos, ocurso legal do cruzeiro.Art. 2 No se aplicam as disposies do artigo anterior:I - aos contratos e ttulos referentes a importao ou exportao de mercadorias;II - aos contratos de financiamento ou de prestao de garantias relativos s operaes de exportao de bens de produonacional, vendidos a crdito para o exterior;III - aos contratos de compra e venda de cmbio em geral;IV - aos emprstimos e quaisquer outras obrigaes cujo credor ou devedor seja pessoa residente e domiciliada no exterior,excetuados os contratos de locao de imveis situados no territrio nacional;

    V - aos contratos que tenham por objeto a cesso, transferncia, delegao, assuno ou modificao das obrigaesreferidas no item anterior, ainda que ambas as partes contratantes sejam pessoas residentes ou domiciliadas no pas.Pargrafo nico. Os contratos de locao de bens mveis que estipulem pagamento em moeda estrangeira ficam sujeitos, parasua validade a registro prvio no Banco Central do Brasil.

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    Amaral ensina que elemento de conexo, o qual escolhido pelo legislador

    nacional dentre os j mencionados elementos de estraneidade dos contratos

    internacionais, representa o aspecto ftico da relao jurdica que aponta o

    ordenamento jurdico a ser aplicado no caso concreto, funcionando como uma

    verdadeira seta indicativa do direito aplicvel questo(p. 224).

    Tendo em vista que o objeto do presente estudo restringe-se a lei aplicvel aos

    contratos internacionais, passaremos ao estudo dos principais elementos de

    conexo vinculados ao direito obrigacional, tais sejam, (a) elementos de conexo

    relativos capacidade das partes; (b) elementos de conexo relativos s obrigaes

    em si; (c) a vontade das partes como elemento de conexo.

    5.2.1. Elementos de conexo relativos capacidade das partes.

    Segundo Amaral o estudo da capacidade importante porque dela advm aptido

    para ser sujeito de direitos e obrigaes (capacidade de direito), bem como para

    exerc-los por si mesmo (capacidade de fato) e acrescenta que

    consequentemente, faltando esse requisito fundamental, o ato jurdico (obrigao)poder ter seus efeitos negados ou anulados, dependendo da intensidade do vcio

    contido no mesmo(p.225).

    5.2.1.1. Capacidade da Pessoa Fsica.

    A doutrina elenca 03 elementos de conexo possveis para a definio da lei

    aplicvel em matria de capacidade, so eles:

    a) territorialidade: aplica-se a lei do Estado para todos aqueles que se encontram

    em seu territrio, mesmo que estrangeiros de passagem (Amaral, p. 225). Ex.

    Argentino poderia assinar contrato de locao de casa de praia no Brasil desde que

    possua 18 anos completos, ainda que a lei civil argentina determinasse que a

    maioridade civil aos 21 anos;

    b) nacionalidade: aplica-se a lei nacional do pas do indivduo para reger a sua

    capacidade (pases de emigrao). No exemplo supra se a lei civil argentina

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    determinar que a capacidade se d aos 14 anos o cidado argentino com essa idade

    poderia assinar um contrato de locao de uma casa de praia no Brasil.

    c) domiclio: aplica-se a lei do Estado onde o indivduo domiciliado para reger a

    sua capacidade (pases de imigrao). No exemplo supra deve ser avaliado o

    domiclio do cidado argentino para verificar a sua capacidade, se domiciliado no

    Brasil, aplica-se a lei civil brasileira.

    Nos termos do art. 7 da LIDB o Brasil adotou o domiclio como o elemento de

    conexo para definir a capacidade das pessoas fsicas.

    5.2.1.1. Capacidade da Pessoa Jurdica.

    Por fora do caput do art. 11 da LIDB podemos afirmar que as pessoas jurdicas

    estrangeiras possuem capacidade para firmar contratos no Brasil. Contudo, essa

    capacidade deferida apenas para o exerccio de atos isolados, pois caso haja a

    necessidade da Pessoa Jurdica se estabelecer no territrio nacional ela dever se

    reger pelas leis nacionais. Ex. uma montadora chinesa que vende carros para oBrasil ter sua capacidade regida pela Lei chinesa, caso essa montadora venha

    instituir uma filial no Brasil ter que se submeter Lei nacional.

    5.2.2. Elementos de conexo relativos s obrigaes em si.

    Os elementos de conexo referentes s obrigaes em si se dividem em 02 grupos:

    os relacionados com os aspectos formais das obrigaes e os relacionados com osaspectos de fundo das obrigaes ou materiais das obrigaes.

    5.2.2.1. Aspectos formais

    Historicamente os aspectos formais dos contratos internacionais so norteados pelo

    princpio do locus regit actum. No Brasil desde as ordenaes filipinas nosso

    ordenamento jurdico adota esse princpio. O art. 11 da LIDB de 1917 adotou o

    referido princpio nos seguintes termos: a forma extrnseca dos atos pblicos ou

    particulares reger-se- segundo a lei do local onde se praticarem.

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    A atual LIDB no trs um dispositivo expresso adotando tal princpio, contudo, a

    doutrina e a jurisprudncia defendem a sua vigncia no nosso ordenamento jurdico.

    Amaral cita como exemplo da aplicao desse principio o caso apreciado pela

    primeira turma do STF no qual os iminentes ministros afirmaram a validade e a

    exeqibilidade do testamento holgrafo de Gabriela Bensanzoni Lage Lillo, feito na

    Itlia, em conformidade com a lei italliana, pas onde ela era domiciliada(p. 227).

    5.2.2.2. Aspectos materiais

    Relativamente aos aspectos materiais das obrigaes a doutrina aponta diversassolues quanto lei aplicvel, so elas: a) lei do lugar do cumprimento da

    obrigao; b) lei do lugar do contrato; c) lei pessoal do devedor; d) lei pessoal das

    partes.

    No Brasil, o regulamento 737 de 1850 adotou a lei do lugar do cumprimento da

    obrigao nos seguintes termos os contratos comerciais ajustados em pas

    estrangeiro, mas exeqveis no Imprio, sero regulados e julgados pela legislaocomercial do Brasil.

    J a LIDB de 1917, em seu art. 13, adotou como regra a lei do lugar do contrato,

    aceitando, como exceo, a aplicao da lei brasileira nos seguintes casos:

    a) aos contratos ajustados em pases estrangeiros, quando exeqveis no Brasil

    (lugar da execuo do contrato);

    b) as obrigaes contradas entre brasileiros em pas estrangeiro (lei nacional

    comum das partes);

    c) aos atos relativos a imveis situados no Brasil;

    d) atos relativos ao regime hipotecrio brasileiro.

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    Atualmente o art. 9 da LIDB adotou como regra o locus regit contractus para as

    obrigaes contradas entre presentes e a lei do local da residncia do proponente

    para os contratos entre ausentes. No primeiro caso se presume que a lei do local

    mencionado no contrato que reger eventual controvrsia, contudo, tal presuno

    pode ser contestada.

    5.2.3. Vontade das partes como elemento de conexo Autonomia do DIPr

    Alm dos elementos de conexo supra, ganha fora no atual cenrio do comrcio

    internacional a vontade individual ou, autonomia personal como denomina

    Bustamante, como forma de definio da legislao aplicvel na soluo de eventualcontrovrsia.

    Nesse estudo vale ressaltar a ressalva feita por Amaral no sentido de que

    imperioso esclarecer que se trata da vontade humana agindo prpria e

    autonomamente, elegendo diretamente a lei a ser aplicada em determinado caso

    concreto (forma direta), e no vontade atuando como circunstncia influenciadora

    do elemento de conexo (forma indireta), e.g., ato voluntrio de naturalizao ou deescolha de domiclio a fim de alterar a lei aplicvel a determinada relao jurdica

    (p. 229/231).

    Compulsando a histria no DIPr brasileiro percebemos que a aceitao ou no da

    vontade como elemento de conexo relacionado s obrigaes sofreu algumas

    alteraes. Inicialmente a LIDB de 1917 em seu art. 13 dispunha que a substncia e

    os efeitos das obrigaes seriam determinados pela lei do local onde contradas,salvo estipulao em contrario, facultando s partes a escolha da lei competente

    para dirimir as questes supervenientes.

    Contudo, com o advento da LIDB de 1942 o art. 9 (que trata do direito material

    aplicvel aos contratos internacionais) no foi reproduzida a ressalva que permitiam

    s partes elegerem o direito material aplicvel ao contrato internacional. Em razo

    disso se consolidou na doutrina e jurisprudncia que a norma do art. 9 possui

    carter cogente.

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    No obstante, comea a ganhar fora na Doutrina o entendimento de que seria

    possvel eleger o direito aplicvel ao contrato internacional. Amaral sintetiza esse

    pensamento nos seguintes termos entendem alguns que o direito brasileiro sempre

    adotou o princpio da autonomia da vontade em matria de direito obrigacional e que

    a Lei de Introduo promulgada em 1942 s no fez meno ao referido princpio

    tendo em vista ser ento a expresso autonomia da vontade literalmente proibida

    no regime ditatorial de que padecia o Brasil. Outros sustentam que, se possvel

    utilizar o comportamento humano como elemento influenciador da aplicao das

    regras contidas no DIP, como a assinatura do contrato internacional no pas cuja lei

    as partes pretendem ser a aplicvel ao contrato, seria um contra-senso impedir que

    a vontade humana fosse o prprio elemento de conexo, atravs da escolha pelaspartes da lei aplicvel(p. 230).

    No obstante, com o advento da lei 9.307/96 (Lei de Arbitragem) o entendimento a

    favor da utilizao da autonomia da vontade ganhou fora pois o seu art. 2 autoriza

    aos contratantes definirem o direito material que ser aplicado na arbitragem. Assim,

    podemos concluir que o entendimento favorvel a autonomia da vontade tem

    ganhado fora.

    5.2.4. Costume aplicvel aos Contratos Internacionais

    Alm da lei aplicvel ao contrato internacional, as partes devem determinar qual o

    costume aplicvel. Nesse caso, nos parece razovel que em razo do seu carter

    internacional a tais contratos devem ser aplicadas as regras costumeiras

    internacionalmente reconhecidas, devendo ser afastados eventuais disposiesconsuetudinrias locais com elas conflitantes.

    5.2.5. Foro dos Contratos Internacionais

    Quanto ao foro, vale ressaltar que em regra a competncia das cortes nacionais

    determinada por sua lei local. Via de regra a legislao processual de cada pas

    estabelece que o ru sempre pode ser processado em seu domiclio. Por essa razo

    prudente que o interessado ajuze a medida judicial no local onde os bens da parte

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    contraria se encontrem, pois, havendo necessidade de se recorrer a uma execuo

    forada, tais bens garantiriam a execuo.

    Outro aspecto que deve ser evitado pelos contratantes submeter ao juzo uma lide

    que dever ser solucionado segundo as regras de direito material de outro Estado.

    Claro que essa situao pode fugir ao controle dos contratantes, pois o DIPr de cada

    pas que define o direito material aplicvel, contudo, a observao ora levantada

    objetiva evitar que o procedimento decisrio se torne sofisticado e,

    consequentemente, demorado.

    Por essa razo Amaral recomenda que quando existente a possibilidade de se

    eleger a lei aplicvel ao contrato, que esta escolha seja feita em harmonia com a

    escolha do foro competente, para que se tenha um julgador decidindo com base na

    sua prpria lei(p. 233).

    Captulo 06 Principais Clusulas dos Contratos Internacionais

    6.1. Clusulas Tpicas de Contratos Internacionais

    A constante busca de uniformizao dos procedimentos e de segurana jurdica tem

    feito com que os comerciantes internacionais, na conduo de seus negcios, se

    utilizem de algumas clusulas padro. Passaremos a analisar as mais comuns.

    6.1.1. Clusula de Eleio da Lei Aplicvel

    Uma das maiores preocupaes das partes ao celebrar um contrato internacional

    a legislao aplicvel em caso de necessidade de submeter uma controvrsia dele

    decorrente ao Judicirio. No caso dos contratos internacionais esse problema

    potencializado porque sobre ele podem vir a incidir mais de um ordenamento

    jurdico.

    Tendo em vista essa dificuldade a clusula de escolha de lei tem sido bastante

    adotada nos contratos internacionais. Timm esclarece que esta clusula vem a

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    estabelecer, pela vontade das partes, qual o sistema legal substantivo ligado ao

    contrato, buscando dar estabilidade e segurana relao(p. 59).

    A escolha da legislao aplicvel deve ser negociada de boa-f entre as partes, as

    quais podero escolher um entre vrios elementos de conexo (local da celebrao

    do contrato, ou local da execuo, ou sede do proponente, etc.). possvel tambm

    escolher a legislao de um pas neutro ou ainda um direito verdadeiramente

    internacional, como as normas da lex mercatoria.

    Vale ressaltar que a clusula da eleio de lei pode sofrer algumas limitaes,

    dependendo do pas do foro do litgio. Existem pases que adotam a chamada teoriada autonomia da vontade, a qual defere s partes a possibilidade de escolher a

    legislao aplicvel, como o caso dos Estados Unidos e os Pases da Europa.

    Porm, existem pases que no adotam tal teoria e aplicam suas regras internas

    para definir a legislao aplicvel ao caso concreto, anulando a escolha feita pelas

    partes, caso haja coliso com tais normas.

    No Brasil prevalece o segundo posicionamento. Timm ressalta que no casobrasileiro para escapar desse problema, as partes podem celebrar o negcio no

    estrangeiro, em pas que reconhea a escolha de lei aplicvel pelas partes, a fim de

    garantir a aplicao da lei escolhida, ou ainda, escolher a via arbitral(p. 60).

    Outro ponto que deve ser observado na celebrao de um contrato internacional a

    chamada ordem pblica. Nenhum pas obrigado a aplicar a legislao estrangeira

    quando esta viola a sua ordem pblica. O Brasil no diferente, uma vez que o art.17 da LIDB preleciona que as leis, atos e sentenas de outro pas, bem como

    quaisquer declaraes de vontade, no tero eficcia no Brasil, quando ofenderem a

    soberania nacional, a ordem pblica e os bons costumes.

    A clareza da vedao esbarra na fluidez do conceito de ordem pblica, soberania e

    bons costumes. Buscando delimitar esses conceitos vale citar a doutrina de Amorim.

    Confira-se:

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    Na verdade o conceito de ordem pblica no est previsto nos textos das leis.

    Tudo fica a critrio do julgador. Entretanto, a doutrina deixa antever que a soma

    dos valores morais e polticos de um povo constitui aquilo que podemos chamar

    de ordem pblica.(...).

    A ordem pblica compreende no somente a soberania nacional, mas, tambm,

    os bons costumes.

    Clvis Bevilqua bem definiu soberania nacional. Para ele soberania nacional

    um conjunto de poderes que constitui a nao politicamente organizada.

    Quanto aos bons costumes, foi categrico: os que estabelecem as regras de

    proceder, nas relaes domsticas e sociais em harmonia com os elevados fins

    da vida humana (p. 57/58).

    Por fim, vale citar exemplo de clusula de eleio de lei trazido por Timm:

    Iro reger-se este contrato e a arbitragem:

    (a) em primeiro lugar, pelo princpios do Unidroit 2004;

    (b) em segundo lugar, subsidiariamente, pelas leis da Repblica Federativa do

    Brasil; e

    (c) em terceiro lugar, subsidiariamente, pelo usos e costumes do comrcio

    internacional, aqui entendido pelas partes contratantes como aquele compilado

    em todas as publicaes da Cmara Internacional do Comrcio.

    Este contrato e suas garantias e anexos devem ser interpretados e regulados

    pelas leis do estado de Nova York dos Estados Unidos da Amrica (p. 60).

    6.1.2. Clusula de Eleio de Foro

    Alm de escolher a legislao aplicvel as partes podem tambm definir o foro

    competente para julgar eventual controvrsia resultante do contrato. Timm ressalta

    que nos contratos internacionais essa clusula ganha relevncia, haja vista que a

    escolha do local competente influencia na interpretao pelo Judicirio local e na

    prpria lei aplicvel ao contrato(p. 61).

    Assim como na questo da eleio da lei aplicvel, existem alguns pases que no

    aceitam a autonomia da vontade na eleio do foro. Por essa razo alguns autores

    recomendam que a eleio de foro deve preceder a eleio da lei. Segundo a

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    legislao brasileira o interessado deve tomar os seguintes cuidados ao elaborar a

    redao de uma clusula de eleio de foro:

    a) verificar a legislao nacional. Dessa forma, a clusula de eleio de foro deve

    ser escrita e aludir explicitamente ao negcio jurdico por ela abrangido (art. 111, 1

    do CPC). Deve ser evitada em contratos de adeso que possuam clusulas que

    evidenciem a ausncia de paridade entre os contratantes. Tal clusula no pode ferir

    normas de ordem pblica, afastar foro inderrogvel (art. 89 do CPC2, art. 651 da

    CLT3), nem constituir fraude lei4;

    b) verificar se o foro conveniente. Nesse contexto, Timm explica que foroconveniente aquele que possui algum contanto com a relao jurdica entabulada

    pelo contrato, no sendo vlida a remisso a um tribunal neutro sem qualquer

    contato razovel com o foro escolhido (p. 64). Esse entendimento predomina na

    doutrina brasileira quando as controvrsias so submetidas jurisdio estatal.

    Contudo, quando as partes resolvem adotar a arbitragem na soluo dos conflitos

    essa mesma doutrina admite a eleio de um arbitro de local neutro;

    c) verificar a existncia de contratos coligados (e o teor das clusulas de eleio de

    foro), os quais podem conduzir a um foro diverso do pretendido;

    d) verificar a existncia de filiais, sucursais, agncias ou agentes da empresa

    estrangeira, pois a presena desses representantes pode atrair a jurisdio das

    cortes nacionais pela teoria da aparncia.

    2Art. 89. Compete autoridade judiciria brasileira, com excluso de qualquer outra:

    I - conhecer de aes relativas a imveis situados no Brasil;II - proceder a inventrio e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herana seja estrangeiro e tenha resididofora do territrio nacional.3Art. 651 - A competncia das Juntas de Conciliao e Julgamento determinada pela localidade onde o empregado,

    reclamante ou reclamado, prestar servios ao empregador, ainda que tenha sido contratado noutro local ou no estrangeiro. 1 - Quando for parte de dissdio agente ou viajante comercial, a competncia ser da Junta da localidade em que a empresatenha agncia ou filial e a esta o empregado esteja subordinado e, na falta, ser competente a Junta da localizao em que oempregado tenha domiclio ou a localidade mais prxima. 2 - A competncia das Juntas de Conciliao e Julgamento, estabelecida neste artigo, estende-se aos dissdios ocorridosem agncia ou filial no estrangeiro, desde que o empregado seja brasileiro e no haja conveno internacional dispondo em

    contrrio. 3 - Em se tratando de empregador que promova realizao de atividades fora do lugar do contrato de trabalho, asseguradoao empregado apresentar reclamao no foro da celebrao do contrato ou no da prestao dos respectivos servios.4DelOlmo define a fraude lei como a prtica, pelo ser humano, de um ato legal na forma e na aparncia, mas que esconde

    a inteno de burlar a lei aplicvel in casu e que lhe seria desfavorvel. A vtima na fraude lei a prpria coletividade.

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    e) verificar o Direito estrangeiro, ou seja, se a legislao do pas do tribunal eleito

    admite a jurisdio sobre a matria (por exemplo, a legislao uruguaia bem rgida

    nesse sentido);

    f) verificar a efetividade da ordem judicial, ou seja, deve-se analisar se a deciso do

    tribunal eleito ser homologvel e/ou executvel no pas onde esto localizados os

    bens do executado;

    g) redigir a clusula com a maior clareza possvel. A ttulo de exemplo vale citar

    clusula sugerida por Timm:

    As partes submetem exclusivamente jurisdio de qualquer corte do estado

    de Nova York ou de qualquer corte federal situada na cidade de Nova York

    sobre qualquer processo, ao ou procedimento surgido ou relacionado a este

    contrato ou qualquer de seus anexos ou garantias (p. 69).

    6.1.3. Clusulas Exorbitantes (Fora Maior)

    uma clusula tem por fim retirar/flexibilizar a responsabilidade dos contratantes

    nos casos de surgimento de situaes no previstas ou impossveis de ser evitadas

    capazes de impossibilitar o cumprimento da obrigao fixada no contrato.

    Timm relaciona algumas situaes que podem ser consideradas fora maior,

    ressaltando que tais eventos tm ordem variada, podendo ir, desde desequilbrios

    naturais, como tempestades e enchentes, congelamento de estradas, epidemias

    situaes denominadas pelos ingleses de acts of God at fatos provocados por

    aes humanas (normalmente coletivas), como atentados terroristas, guerras,

    motins, greves etc(p. 70).

    Exemplo mencionado por Timm de clusula de fora maior:

    O presente contrato poder ser extinto, independentemente de indenizao,

    quando:

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    [...] c) qualquer hiptese de fora maior, na esteira da publicao n 650 da ICC

    sobre o assunto e tambm do art. 393 do Cdigo Civil brasileiro (p. 70).

    6.1.4. Clusula de Hardship

    Timm a conceitua como uma clusula de salvaguarda, ou seja, uma clusula que

    vem permitir a manuteno de um equilbrio econmico-financeiro do contrato ao

    longo do tempo. Ela normalmente atribui tambm uma dinmica de negociao e

    soluo de controvrsia entre as partes, caso isso ocorra(p. 71).

    A clusula de hardshipno se confunde com a fora maior porque essa permite aexcluso da responsabilidade civil, diante da total impossibilidade do cumprimento

    do objeto contratual (ex. tsunami), enquanto aquela caracteriza-se por uma

    dificuldade no cumprimento do objeto contratual, em razo de uma circunstncia que

    retirou o seu equilbrio (ex. desvalorizao do real).

    Nos termos da clusula de hardship, caso haja uma alterao fundamental do

    equilbrio do contrato, as partes devero repactuar as condies de prestao doobjeto contratual objetivando restabelecer o equilbrio. possvel tambm incluir

    terceiros que tenham interesse no cumprimento do contrato (ex. fiadores, avalistas)

    como beneficirios dessa clusula.

    Timm exemplifica esta clusula nos seguintes termos:

    Caso um evento danoso posterior e imprevisto pelas partes venha a causar um

    desequilbrio econmico-financeiro do contrato, nos termos do art. 478 do

    Cdigo Civil e da publicao n 650 da ICC, devero as partes reunir-se no

    Brasil pelo menos em trs oportunidades para renegociar o contrato. Caso no

    chegem a um acordo no prazo de 30 dias, o caso ser remetido arbitragem na

    forma da clusula compromissria.

    (1) Uma parte em um contrato obrigada a cumprir com suas obrigaes.

    (2) A despeito do item 1 desta clusula, quando a parte do contrato prova:

    [a] a execuo contnua de suas obrigaes contratuais se tornou ou pode se

    tornar excessivamente onerosa devido a evento alm de seu razovel controle e

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    que no poderia ser razoavelmente esperado quando da realizao do contrato

    como alteraes climticas, alteraes na poltica monetria ou fiscal; e que

    [b] no poderia ser razoavelmente evitado ou superado o evento ou suas

    conseqncias, as partes so obrigadas a, dentro de 30 dias da invocao destaclusula contratual, negociar alternativas que razoavelmente ensejem a

    superao das dificuldades; [...] caso as partes no cheguem a um acordo, a

    parte prejudicada poder terminar o contrato (p. 72/73).

    6.1.5. Clusula de confidencialidade

    Hoje em dia muitas empresas tm como seu principal ativo a sua marca, suas

    patentes, tecnologias, ou seja, aglomerados de informaes que so estratgicas e

    que devem ser protegidas.

    Por exemplo, em contratos que tem por objeto uma operao que envolva

    exclusividade, disputa concorrencial ou propriedade intelectual, as partes visam

    proteger suas informaes atravs da adoo de clusulas de confidencialidade.

    Assim, praticamente todo contrato preliminar vem acompanhado de uma clausula de

    sigilo.

    O grande problema na adoo de tais clusulas se refere a sua coercibilidade.

    Geralmente tais clusulas imputam parte infratora apenas a responsabilidade

    pelas perdas e danos referentes ao seu ato ou omisso, possuindo baixa

    aplicabilidade prtica em razo da dificuldade de provar a extenso do dano. Alguns

    doutrinadores sugerem a pactuao de clusulas penais, contudo alguns pases tem

    dificuldade em reconhecer esse instituto jurdico. Segue exemplo dessa clusula

    citado por Timm:

    As PARTES obrigam-se, durante e mesmo aps a extino deste contrato, a

    no fazer uso e mesmo no divulgar ou tornar pblica qualquer informao a

    que tenha tido acesso nas tratativas ou no cumprimento do presente contrato (p.

    74).

    6.1.6. Clusula arbitral

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    Professor Tephilo de Arajo

    A arbitragem ser tratada com mais ateno em aula prpria. Agora, trataremos uma

    viso geral do tema. Existem 02 (dois) tipos de clusulas arbitrais: as que

    determinam todas as informaes necessrias para a instaurao do tribunal arbitral

    (lei, nmero de rbitros, local, idioma); e as que to somente prevem a utilizao da

    arbitragem.

    As clausulas arbitrais cheias isentam as partes de firmar o compromisso arbitral,

    podendo o interessado ajuizar o litgio diretamente perante o tribunal arbitral,

    segundo o procedimento da instituio (clusula arbitral). Na vazia, a parte

    interessada ter que recorrer ao judicirio para compelir a outra a seguir a via

    arbitral (compromisso arbitral).

    Vale ressaltar por fim, que a adoo dessa clusula tem como vantagem a

    possibilidade de escolha do direito material que regular o contrato. Como exemplo

    de clusula-padro segue a recomendada pela ICC e citada por Timm:

    Todos os litgios emergentes do presente contrato ou com ele relacionados

    sero definitivamente resolvidos de acordo com o Regulamento de Arbitragemda Cmara de Comrcio Internacional, por um ou mais rbitros nomeados nos

    termos desse Regulamento (p. 76/77).

    6.1.7. Clusula de preos

    Nos contratos internacionais o preo tem caractersticas especiais pois haver duas

    empresas cada qual com a sua moeda, que possui curso forado em seu pas. No

    Brasil, por exemplo, em regra somente a moeda nacional possui curso forado,

    como exceo do Decreto Lei 857/69, trs as hipteses em que possvel se firmar

    contratos prevendo o pagamento em moeda estrangeira.

    No obstante, os pagamentos nos contratos internacionais pressupem um

    processo de liquidao do cmbio pelo qual a parte faz o pagamento em sua moeda

    local para um banco e esta faz a converso e o pagamento parte estrangeira na

    moeda pactuada no instrumento contratual.

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    Professor Tephilo de Arajo

    Captulo 07 Contratos Internacionais Parte Especial

    7.1. Processo Formativo

    Os contratos internacionais de grande vulto costumam passar por um ciclo de

    formao que se inicia com os entendimentos iniciais e, geralmente, finda com a

    celebrao do contrato definitivo. Devido s complexidades desses pactos todas as

    fases desse ciclo costumam ser documentadas atravs de instrumentos especficos

    (que geram efeitos jurdicos prprios), tais como, as cartas de inteno ou

    memorando de entendimentos, os pr-contratos e os contratos definitivo.

    Os documentos produzidos durante a parte negocial do ciclo de formao do

    contrato so conhecidos como cartas de intenes, memorandos, protocolos,

    minutas. Nos dizeres de Timm esses documentos destinam-se, na maioria das

    vezes, a fixar alguns pontos sobre os quais j h concordncia, permitindo

    progressivamente a resoluo de todas as inmeras questes que circunscrevem a

    celebrao do negcio definitivo(p. 80).

    Esses documentos no tm o condo de obrigar as partes a celebrar o contrato

    definitivo, regulam apenas obrigaes secundrias como a negociao, o sigilo, a

    responsabilidade civil, etc. Vale salientar que esses documentos no encontram

    previso expressa no ordenamento jurdico brasileiro, mas so aceitos pela doutrina

    e jurisprudncia por fora dos princpios da autonomia da vontade e da atipicidade

    (art. 425 do Cdigo Civil).

    J o pr-contrato cria uma obrigao de fazer o contrato definitivo nos termos do art.

    462 do Cdigo Civil, sendo inclusive possvel compelir a parte inadimplente a

    cumprir a tutela especfica, nos termos do art. 461 do CPC. Por fim, o contrato

    definitivo aquele em que se estipula a prestao do bem da vida pretendido pelos

    contratantes.

    No tocante ao momento em que ocorre formao relao obrigacional, Timm que

    explica que no direito comercial brasileiro, s se forma o vnculo contratual

    (preliminar ou definitivo), quando as partes chegam aos elementos essenciais do

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    acorde e tm, entre si, a seriedade e o firme propsito de se obrigarem

    juridicamente(p. 81).

    No obstante, os acordos provisrios tambm possuem relevncia jurdica, uma vez

    que a quebra injustificada, por uma das partes, das expectativas da outra pode

    acarretar a responsabilizao civil, por fora do princpio geral de boa-f que preside

    todas as relaes negociais.

    7.2. Contrato de Compra e Venda

    O contrato de compra e venda o instrumento jurdico mais utilizado no comrciointernacional. muito comum que no seu texto sejam adotadas normas

    provenientes da lex mercatoria, tais como, os contratos-tipos, as clusulas padro e

    os Incoterms.

    No tocante legislao aplicvel aos contratos internacionais, possvel que eles

    sejam regidos pelo direito interno de um pas ou por um tratado internacional, que

    haja sido internalizado por um dos pases das partes contratantes. O maisimportante tratado que regulamenta a compra e venda no mbito do comrcio

    internacional a denominada Conveno das Naes Unidas sobre

    Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (conhecia pela sigla

    CISG), assinada em Viena, em 10 e 11 de abril de 1980.

    Em que pese o Brasil no a tenha ratificado, o estudo da CISG bastante

    importante uma vez que a maior parte dos parceiros comerciais do Brasil aratificaram e, ainda, ela pode ser aplicada aos contratos de compra e venda nas

    seguintes situaes: a primeira seria o importador ou exportador brasileiro ter

    contrato com clusula elegendo a Conveno de Viena de 1980 como lei aplicvel

    (desde que no violada a LIDB, como comentado); ou ento quando a lei aplicvel

    ao contrato, conforme as regras de conexo da LIDB, for de um pas que tenha

    internalizado a conveno. Como so vrios os pases que o fizeram (tais como os

    Estados Unidos, a China, diversos pases europeus), torna-se importante uma

    referncia a ela(Timm, p. 82).

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    7.2.1. Campo de Aplicao

    A CISG divida em quatro sees. A primeira seo trata do seu campo de

    aplicao. Assim, segundo Timm o art. 1 da CISG determina que a presente

    Conveno se aplica aos contratos em que as partes tenham o seu estabelecimento

    em pases diferentes e: (a) ambos os Estados a tenham ratificado; (b) as regras de

    direito internacional privado levem aplicao da lei de um Estado que a tenham

    ratificado(p. 83).

    J o art. 2 da CISG elenca as situaes em que a conveno no aplicvel, so

    as vendas: (a) de mercadorias compradas para uso pessoal, familiar ou domstico, amenos que o vendedor, em qualquer momento anterior concluso do contrato ou

    na altura da concluso deste, no soubesse nem devesse saber que as mercadorias

    eram compradas para tal uso; (b) em leilo; (c) em processo executivo; (d) de

    valores mobilirios, ttulos de crdito e moeda; (e) de navios, barcos, hovercraft e

    aeronaves; (f) de eletricidade.

    7.2.2. Formao do Contrato

    A segunda seo trata da formao do contrato. Nela vale destacar o teor do art. 23

    da CISG, o qual determina que o contrato conclui-se no momento em que a

    aceitao de uma proposta contratual se torna eficaz. Timm acrescenta que para

    configurar-se como oferta, a proposta de contrato deve ser feita a pessoas

    determinadas e deve ser suficientemente precisa, ou seja, designar as mercadorias

    que so objeto de negociao e, expressa ou implicitamente, fixar a quantidade e opreo, ou prever modos para determin-los(p. 83).

    Nos termos do art. 15 da CISG uma proposta contratual torna-se eficaz quando

    chega ao destinatrio. Contudo, essa proposta contratual, ainda que irrevogvel,

    pode ser retirada, se a retratao chega ao destinatrio antes ou ao mesmo tempo

    que a proposta. Assim, a regra que a oferta obriga o proponente, salvo se a sua

    retratao chegar ao destinatrio antes ou concomitantemente.

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    Quanto aceitao da proposta (aceite) o art. 18 da CISG dispe que esta se perfaz

    com a declarao ou conduta do destinatrio. Dessa forma, o silncio de aceitante

    no constitui aceitao. Por outro lado, caso a resposta do aceitante contenha

    alterao na proposta, ela se constituir em contraproposta, a qual depender de

    aceitao do proponente originrio.

    7.2.3. Obrigaes e Remdios do Vendedor e do Comprador

    7.2.3.1. Obrigaes do Vendedor

    Nos do art. 30 da CISG o vendedor se obriga, nas condies previstas no contrato, aentregar as mercadorias e quaisquer documentos e elas relacionados. J o art. 38

    da CISG impe ao comprador a obrigao de conferir se as mercadorias entregues

    esto de acordo com o pactuado entre as partes, sob pena de decair desse direito.

    7.2.3.2. Remdios do Comprador

    O art. 45 da CISG trata dos remdios deferidos ao comprador em caso deinadimplemento do vendedor. Amaral ensina que nesse caso o comprador est

    autorizado a:

    i) exigir a execuo especfica do contrato, nos termos do art.46 da Conveno de

    Viena:

    a) fazendo que o vendedor cumpra as obrigaes assumidas no contrato; ou

    b) exigindo do vendedor a substituio das mercadorias desconformes (apenas

    quando a desconformidade constitua violao fundamental do contrato); ou, ainda,c) exigindo do vendedor a reparao das mercadorias;

    ii) conceder ao vendedor prazo suplementar para o c