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TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo 26ª Câmara de Direito Privado Apelação nº 0101492-12.2012.8.26.0100 Registro: 2015.0000878195 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação 0101492-12.2012.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante/apelado REBELLO SOCIEDADE DE ADVOGADOS e Apelante DANTAS LEE BROCK & CAMARGO ADVOGADOS, é apelado BANCO PANAMERICANO S/A. ACORDAM, em 26ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento parcial ao recurso da autora, com determinação; e julgaram prejudicado o recurso do banco. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RENATO SARTORELLI (Presidente) e BONILHA FILHO. São Paulo, 19 de novembro de 2015 ANTONIO NASCIMENTO RELATOR Assinatura Eletrônica

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TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIO

São Paulo26ª Câmara de Direito Privado

Apelação nº 0101492-12.2012.8.26.0100

Registro: 2015.0000878195

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0101492-12.2012.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante/apelado REBELLO SOCIEDADE DE ADVOGADOS e Apelante DANTAS LEE BROCK & CAMARGO ADVOGADOS, é apelado BANCO PANAMERICANO S/A.

ACORDAM, em 26ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento parcial ao recurso da autora, com determinação; e julgaram prejudicado o recurso do banco. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RENATO SARTORELLI (Presidente) e BONILHA FILHO.

São Paulo, 19 de novembro de 2015

ANTONIO NASCIMENTO

RELATOR

Assinatura Eletrônica

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16ª Vara Cível do Foro Central – São Paulo/SP

Apelantes: REBELLO SOCIEDADE DE ADVOGADOS e DANTAS LEE

BROCK & CAMARGO ADVOGADOS

Apelado: BANCO PANAMERICANO S.A.

MM Juíza de Direito: Drª. CLÁUDIA LONGOBARDI CAMPANA

VOTO Nº 15.601

APELAÇÃO COM REVISÃO - MANDATO - AÇÃO DE ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Renúncia ao mandato antes do encerramento das ações patrocinadas. Resilido o contrato de prestação de serviços advocatícios, o mandante deve arcar com o pagamento dos serviços até quando se deram (os serviços), mas não por inteiro. Irrelevância da existência de cláusula “ad exitum”. Arbitramento necessário. Embora se saiba que os valores indicados na tabela da Seccional da OAB não vinculam o Poder Judiciário, é questão insuscetível de dúvida que ela revela a “práxis” do mercado, o que, dito de outra forma, significa que suas diretrizes podem, e devem, ser perfilhadas pelo julgador. Sentença reformada. Apuração por arbitramento de eventual saldo a favor da acionante, a ser precedida de perícia. Retorno dos autos à origem para a devida instrução probatória. RECURSO DA AUTORA PROVIDO EM PARTE, COM DETERMINAÇÃO - APELO DO BANCO PREJUDICADO.

A sentença de fls. 1794/1801

julgou improcedente a ação de arbitramento de honorários advocatícios

ajuizada por Rebello Sociedade de Advogados contra Banco

Panamericano S.A., condenando a demandante ao pagamento das custas

e despesas do processo, além dos honorários advocatícios de

sucumbência, estes fixados em R$ 2.000,00.

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Irresignada, a sociedade de

advogados interpôs, a fls. 1803, recurso de apelação, vindo a arrazoá-lo a

fls. 1804/1815. Sustenta que, em 27/05/2011, notificou a instituição

financeira, a fim de comunicar a renúncia aos poderes concedidos em

decorrência de contrato de mandato. Aduz que permaneceu na defesa dos

interesses da constituinte durante o prazo legal. Assinala que prestou as

contas à demandada, pugnando ao final pelos valores devidos em razão

dos serviços prestados. Relata que à época da resilição contratual,

encontravam-se em andamento aproximadamente 30.933 processos sob

seu patrocínio. Argumenta que a rescisão antecipada se deveu à

inadimplência da outorgante.

O réu também recorre, a fls.

1819/1822. Sustenta, nas razões recursais, a fls. 1823/1838, que o

advogado tem interesse recursal quanto ao capítulo da sentença que fixou

a verba honorária sucumbencial. No mérito, alega que os honorários

fixados em 1º grau são ínfimos, se confrontados com o trabalho e o tempo

despendidos nesses autos. Sugere a fixação em 20% sobre o valor da

causa.

Recursos recebidos e bem

processados. Contrarrazões a fls. 1850/1866 e 1867/1873.

É o relatório.

Cuidam os autos de ação de

arbitramento de honorários fundada em contrato de prestação de

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serviços advocatícios, colimando a acionante, no essencial, receber do réu,

para quem prestou, durante muitos anos, serviços jurídicos, os honorários

ainda devidos, nos termos do que vier a ser apurado por perícia.

Assiste parcial razão à acionante.

Isto porque a renúncia aos poderes

se deu antes que se encerrasse a prestação de serviços nas ações para

cujo patrocínio foi contratada, anteriormente, portanto, à ocorrência do

evento futuro e certo (extinção dos feitos), base de cálculo para a cobrança

dos seus honorários.

Se, por um lado, a renúncia ao

mandato fez cessar a participação do constituído no deslinde da demanda,

por outro, não se pode fazer tábula rasa da previsão contratual a respeito

dos honorários estipulados em contrato.

E mais, em se tratando de

obrigação de meio não de resultado os honorários contratuais (repise-

se, que não guardam relação com a sucumbência na demanda), são

devidos em contraprestação aos serviços prestados, sob pena de

locupletamento indevido do outorgante.

O princípio da liberdade de

contratar deve ser exercido de acordo com a função social do contrato,

conforme preconiza o art. 421 do Cód. Civil. Conquanto tenham sido

revogados os poderes concedidos ao ora apelante, não se pode olvidar a

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cláusula que prevê a contraprestação pelos serviços prestados.

Logo, a cobrança de honorários

teve o seu foco transferido da cláusula contratual “ad exitum” para a efetiva

remuneração pelos serviços prestados.

Consoante o art. 22, § 2º, da Lei

Federal 8.906, de 4 de julho de 1994:

“Na falta de estipulação ou de acordo, os honorários são

fixados por arbitramento judicial, em remuneração

compatível com o trabalho e o valor econômico da questão,

não podendo ser inferiores aos estabelecidos na tabela

organizada pelo Conselho Seccional da OAB.”

A inexorável conclusão é a de que,

havendo a renúncia aos poderes concedidos e, consequentemente,

rescindido o contrato de prestação de serviços advocatícios, deve o

outorgante arcar com o pagamento dos serviços até onde eles se deram, e

não por inteiro. E por que assim deve ser?

Trata-se, primordialmente, de um

imperativo de justiça comutativa. Esta, como bem dilucida André Franco

Montoro, abeberando-se na escola aristotélico-tomista, é “a virtude pela

qual um particular dá a outro particular aquilo que lhe é rigorosamente

devido, observada uma igualdade simples ou real.”1 Portanto, tendo por

base estas exigências valorativas, não se pode deixar de reconhecer que

1 MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito. 26ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 192.

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se mostra exigível a fixação da devida remuneração pelos trabalhos

exercidos pela demandante em prol da instituição financeira.

Malgrado se saiba que os valores

indicados na tabela da Seccional da OAB não vinculam o Poder Judiciário,

é questão insuscetível de dúvida que ela revela a praxis do mercado, o que,

dito de outra forma, significa que suas diretrizes podem, e devem, ser

perfilhadas pelo julgador.

Elucidam esta temática os

seguintes pronunciamentos desta Câmara:

“Ação de cobrança. Honorários advocatícios. Sentença

que julgou extinto o processo, sem resolução de mérito,

por falta de interesse de agir. Contrato de prestação de

serviços advocatícios com cláusula de remuneração de

resultado. Revogação do mandato antes do término do

processo. Fixação dos honorários advocatícios que não mais

se condiciona ao êxito na demanda. Possibilidade de

arbitramento judicial. Quando o réu revogou o contrato, que

estabelecia a remuneração dos serviços prestados pelo

autor sobre o resultado exitoso da demanda, alterou

totalmente as condições do negócio jurídico e impediu o

autor de obter, ou trabalhar para obter, o resultado desejado.

Admitido, pela natureza do mandato, que o mandante tem o

poder potestativo de romper o contrato, não se pode afastar

do advogado o direito de receber pelos serviços que

realizou, sob pena de enriquecimento ilícito. Nesse caso não

deve o advogado esperar pelo resultado sobre o qual não

tem nenhum controle. Cumpre ao mandante pagar desde

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logo pelos serviços que o advogado prestou em seu proveito,

porque alterou as condições e a equivalência do contrato e

não lhe é lícito se aproveitar da originária condição

(resultado da demanda), cuja validade estava determinada

pela forma de contratação (ad exitum), agora não mais

prevalente. Ao advogado, de outra parte, não pode ser

reconhecido o direito de receber os honorários na forma

contratada. O contrato de prestação de serviços de

advocacia, no qual está sempre presente o direito de

revogação do mandato, impõe ao profissional o risco de

rompimento e, consequentemente, não realização dos

honorários inicialmente previstos. Daí a solução, prevista no

Estatuto da Advocacia, de arbitramento dos honorários, que

deve ser adotada não só quando falta o ajuste do seu valor

na contratação, como também quando o ajuste antes

firmado não pode mais ser cumprido. Sentença extintiva

anulada para se determinar o prosseguimento do feito e

arbitramento dos honorários. Recurso provido para este

fim."2

Dignos também de realce os seguintes

pronunciamentos Confiram-se, ainda, os seguintes julgados:

“MANDATO ARBITRAMENTO DE HONORÁRIOS - AÇÃO

DE COBRANÇA - SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS - RENÚNCIA

DO MANDATO NO CURSO DA DEMANDA HONORÁRIOS

PROPORCIONALMENTE DEVIDOS - CRITÉRIO

CORRETAMENTE ADOTADO - RECURSO NÃO PROVIDO.”3

2 TJSP 26ª Câmara de Direito Privado Apelação nº 0003731-68.2008.8.26.0344 Rel. Des. Carlos Alberto Garbi J. 01/12/2010.3 TJSP 10ª Câmara Extraordinária de Direito Privado Apelação nº 0005203-85.2006.8.26.0404 Rel. Des. Luiz Eurico J. 25/08/2014.

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“Apelação. Honorários advocatícios. Ação de arbitramento.

Renúncia ao mandato válida e eficaz. Incontroversa prestação

dos serviços. Remuneração devida. Irrelevância da existência

de cláusula "ad exitum". Vedação ao enriquecimento sem

causa. Arbitramento necessário. Anulação da sentença para

prosseguimento da instrução do feito. Recurso provido.”4

Com efeito, o contrato firmado entre

as litigantes dispunha, em sua cláusula 5ª, § 2º, que em caso de resilição

por parte da contratante, seria analisada a fase do processo e a existência,

ou não, de honorários a serem pagos à contratada (fls. 44). E idêntica

previsão constava, também, do § 4º daquele dispositivo contratual, que

tratava da hipótese de renúncia pelos mandatários.

Registre-se, também, a existência

de disposição contratual disciplinando a forma de pagamento dos

honorários advocatícios:

“ DOS PAGAMENTOS.

- Relativamente aos processos do JIC/JEC/PROCON/DECOM

e outros, os pagamentos serão realizados somente no final de

cada processo, devidamente extinto, sem pendência

processual e ou obrigações de fazer, mediante a

apresentação das peças processuais competentes e nota

fiscal o PRA;

- Relativamente aos processos da Justiça Comum, os valores

serão pagos na proporção de 50% (cinquenta por cento)

quando da apresentação da defesa e 50% (cinquenta por

4 TJSP 11ª Câmara Extraordinária de Direito Privado Apelação nº 0051934-48.2010.8.26.0001 Rel. Des. Bonilha Filho J. 20/08/2014.

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cento) quando da extinção do feito, mediante a apresentação

da peça processual competente e nota fiscal ou RPA”. (fls.

43).

Destarte, é forçoso convir que

assiste parcial razão à autora quanto à necessidade de arbitramento de

eventual saldo a seu favor, consideradas as previsões legais e contratuais

a respeito da forma de pagamento.

Assim, deve-se proceder à

apuração da natureza e quantidade dos atos praticados pela autora nos

processos indicados nos autos, arbitrando-se, ao final, se for o caso, a

honorária a que faz jus, observando-se o disposto no § 2º do art. 22 do

Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, e incidindo em referido

montante correção monetária da propositura da ação, e juros de mora, à

base de 1% ao mês, contados da citação.

Registre-se que o arbitramento

deverá ser precedido de perícia, com indicação de especialista pelo Juízo,

que terá por escopo a análise do desempenho da atividade advocatícia da

banca de advogados acionante, observados os valores já recebidos e os

atos praticados em cada caso, e em especial com a detida análise dos

processos já extintos, consoante vasta documentação coligida pela

instituição financeira.

Diante dessas considerações, o

recurso da autora comporta parcial acolhimento para o fim de se afastar a r.

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sentença e determinar o retorno dos autos à origem para a necessária

instrução.

Sem prejuízo, diante da ausência

de pedido expresso nesse sentido princípio da adstrição, ou congruência

(CPC, art. 128) ficarão excluídos do arbitramento os valores relativos a

despesas judiciais, cartorárias e diligências havidas nos processos

capitaneados pela acionante.

Em razão da anulação do julgado,

fica prejudicado o pedido exarado no recurso de fls. 1819/1838.

Postas estas premissas, dá-se

provimento parcial ao recurso da autora, com determinação.

Prejudicado o apelo de fls. 1819/1838.

Antonio (Benedito do) Nascimento RELATOR