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GT 5 - História e Geografia: concepções teórico- metodológicas de ensino na Educação Básica LIVRO DIDÁTICO E GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E LEVANTAMENTO EMPÍRICO (ESCOLAS: TEODORICO TELES E LICEU - CRATO/CE) Flavio Marcilio dos Santos 1 Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia. URCA/CE Tiago Eurico Sousa Dias Lisboa 2 Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia. Maria Soares da Cunha 3 Profa. Departamento de Geociências. O ensino de Geografia muito tem a contribuir na formação humana, nos capacitando a ser críticos e compreender a sociedade na qual estamos inseridos. O Ensino Médio é a etapa da escolaridade básica na qual os alunos devem ter maior aprofundamento dos conteúdos e conceitos geográficos. Para tanto, o professor necessita compreender as condições do ensino e buscar as melhores formas de aprofundar os conhecimentos geográficos, ajudando os alunos a se tornarem comprometidos com a realidade social. Conforme Reichwald Júnior; Shaffer; Kaercher (1997, p.160) “A geografia, no ensino básico, participa do processo de construção dos fundamentos 1 Universidade Regional do Cariri - URCA. [email protected] 2 URCA. [email protected] 3 URCA. [email protected]

2016.cobesc.com.br2016.cobesc.com.br/.../2017/05/Trabalho-completo-2.docx · Web viewcomo mercadoria. Procurando colaborar nesse campo de pesquisa, o presente trabalho reúne elementos

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GT 5 - História e Geografia: concepções teórico-metodológicas de ensino na Educação Básica

LIVRO DIDÁTICO E GEOGRAFIA NO ENSINO MÉDIO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA E LEVANTAMENTO EMPÍRICO (ESCOLAS: TEODORICO TELES E LICEU - CRATO/CE)

Flavio Marcilio dos Santos1

Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia. URCA/CETiago Eurico Sousa Dias Lisboa2

Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia. Maria Soares da Cunha 3

Profa. Departamento de Geociências.

O ensino de Geografia muito tem a contribuir na formação humana, nos

capacitando a ser críticos e compreender a sociedade na qual estamos inseridos. O

Ensino Médio é a etapa da escolaridade básica na qual os alunos devem ter maior

aprofundamento dos conteúdos e conceitos geográficos. Para tanto, o professor

necessita compreender as condições do ensino e buscar as melhores formas de

aprofundar os conhecimentos geográficos, ajudando os alunos a se tornarem

comprometidos com a realidade social. Conforme Reichwald Júnior; Shaffer;

Kaercher (1997, p.160) “A geografia, no ensino básico, participa do processo de

construção dos fundamentos conceituais e instrumentais para compreensão e

representação da vida e do mundo.”

A etapa do ensino médio é entendida como aquela em que o aluno já tem

maturidade para ser criativo e reflexivo em relação a realidade em que vive.

Conforme as “Orientações Curriculares do Ensino Médio”(MEC, 2004), o ensino

nessa etapa deve ser planejado de acordo com as características sociais, culturais e

cognitivas do sujeito, que nessa última etapa da educação básica é adolescente, jovem

e adulto (MEC, 2004). Nesse sentido, no processo educativo do Ensino Médio,

centrado no sujeito que aprende, a educação: “[...] deve abranger todas as dimensões

1 Universidade Regional do Cariri - URCA. [email protected] URCA. [email protected]

3 URCA. [email protected]

da vida, possibilitando o desenvolvimento pleno das potencialidades do educando”.

(ibdem., 2004, p.10).

Ainda com base nas “Orientações Curriculares do Ensino Médio” (2004, p.

10), vale ressaltar a proposição de que cada escola que atua nessa etapa faça um

retrato de si mesma, no sentido de compreender os sujeitos que a tornam viva e o

meio social no qual se inserem. Essa é uma forma de trabalhar “[...] uma proposta

curricular coerente com os interesses e as necessidades de seus alunos e de sua

comunidade.” (ibdem.). E a Geografia, tem muito a contribuir na perspectiva

curricular voltada a ligar dimensões locais e globais, individuais e coletivas.

A Geografia tem papel fundamental na escolaridade. Investigamos aqui os

materiais curriculares selecionados para o trabalho na etapa do ensino médio. Ou seja,

a preocupação está em problematizar os recursos que auxiliam no processo de ensino-

aprendizagem e no processo de construção do conhecimento. Nosso foco é o livro

didático de Geografia, identificando suas contribuições e o processo de seleção e

distribuição desse recurso nessa etapa do ensino.

Para tanto, o estudo elege como questões principais: como os pesquisadores

avaliam o papel do livro didático e sua contribuição na Geografia escolar? Quais são

os critérios nacionais para avaliação de obras didáticas para o Ensino Médio? Como

se dá o processo de seleção e distribuição de coleções didáticas nas escolas públicas

selecionadas para realizar a etapa de campo? São questões que norteiam o

desenvolvimento da presente pesquisa, realizada por dois bolsistas de iniciação

científica.

O livro didático é um material curricular, ligado intimamente à seleção e

veiculação de informações, como também um instrumento de (re) produção de

saberes. Vincula discursos, imagens, propaga mensagens e ideias. É o principal – ou

até o único - instrumento utilizado em sala para atividades de leitura, organização de

aula, de exercícios, avaliações, entre outros componentes da rotina escolar.

Por outro lado, para as editoras, que rivalizam o controle e seleção do seu

“produto”, o livro é uma mercadoria. Pesquisadores, dedicados ao estudo do papel

desse material demonstram que o livro deve ser examinado como recurso didático e

como mercadoria. Procurando colaborar nesse campo de pesquisa, o presente trabalho

reúne elementos da pesquisa de iniciação científica intitulada “Livro didático e

Geografia do Ensino Médio: estudo bibliográfico e empírico em escolas públicas dos

municípios de Juazeiro do Norte/CE e Crato”.

Aqui, nos detemos ao processo de seleção do livro e sua avaliação,

buscando dialogar com pesquisadores nacionais e com professores que atuam em

escolas na cidade de Crato, especificamente na etapa do ensino médio. O primeiro

tópico reúne importantes contribuições de autores na discussão do livro em várias

dimensões, incluindo o processo de sua avaliação. O segundo item retrata o estudo

empírico realizado em duas escolas localizadas na sede do município de Crato,

aparecendo relato de professores, que nas duas escolas participaram diretamente do

diagnóstico e escolha de obras didáticas para a Geografia do ensino médio.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Fleury (1961 apud FREITAG; MOTTA; COSTA, 1989), o livro

didático é um texto impresso que tem como principais funções: a) padronizar e

delimitar a matéria; b) apresentar aos docentes métodos e processos julgados como

eficientes pelos autores; e c) colocar ao alcance dos alunos, imagens, mapas e estilos

textuais que os ajudem no processo de aprendizagem. Para Tonini (2002, p.36):

O livro didático tem funcionado como a engrenagem principal da prática pedagógica. Por seu intermédio o conhecimento se organiza, quer adotando-o, quer seguindo-o como fonte de consulta. Nele se encruza praticas de significado, identidade e poder.

Essa ferramenta é peça fundamental para transposição de conteúdos nas aulas

e fora delas, comunicando informações, ajudando em reflexões, exposições, além de

nele constarem propostas de atividades gerais e de avaliação. Pelos capítulos, imagens

e temáticas abordadas, o aluno aprende o que é a Geografia. O livro torna-se, pois um

instrumento indispensável em sala de aula. Muitos pesquisadores avaliam que a obra

didática contribui no processo de formação. Porém, a escolha de obras didáticas, o

conteúdo de suas páginas, as formas de uso, entre outros aspectos, todos eles merecem

continuar em investigação.

Por exemplo, a seqüência de conteúdos, a possibilidade de trabalhar a

interdisciplinaridade com outras disciplinas, a abordagem do local e do regional são

eixos interessantes que os pesquisadores se dedicam. O livro didático para muitos

pesquisadores tem o valor cultural como é o caso de Tonini (2013). Para outros a

dimensão econômica e mercadológica se sobressai. Spósito (2002) faz alusão a todo o

processo de transição e desenvolvimento do livro didático e a formação de currículos

oficiais.

E o livro didático, como um recurso presente nas salas da etapa de Ensino

Médio, deve ser examinado de forma cuidadosa para que possa colaborar na relação

professor-aluno-conteúdo e na consecução dos objetivos e competências

supramencionados. Circe Bittencourt (1997) alerta para a necessidade de examinar

atentamente as obras escolares, pois “[...] o livro didático é, antes de tudo, uma

mercadoria, um produto do mundo da edição que obedece à evolução das técnicas de

fabricação e comercialização pertencentes à lógica de mercado. [...]”

(BITTENCOURT, 1997, p. 71). Tonini complementa “[...] o livro didático de

Geografia ao chegar às nossas mãos como um produto pronto e acabado, já foi

submetido a regras, a restrições e regulamentos próprios das políticas educacionais e

editoriais.” (TONINI, 2003, p. 36).

Tonini ao eleger as obras escolares como foco de suas pesquisas afirma: “Eles

funcionam proliferando o real. Os livros didáticos são produtores de uma dada

sensibilidade e instauradores de uma dada forma de ver e dizer a realidade. São

máquinas históricas de saber.” (TONINI, 2016). A pesquisadora complementa que o

saber que está registrado no livro escolar, é também o conhecimento oficial e

geralmente é o que “[...] está sendo trabalhado na escola”.

A análise documental das orientações curriculares para o Ensino Médio foi

realizada com base na consulta aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNEM),

Orientações Curriculares para o Ensino Médio, e ainda documentos do Programa

Nacional do Livro Didático (PNLD). Nesse último material buscou-se identificar os

parâmetros de avaliação de obras didáticas, sobretudo a ficha oficial.

Para se estudar o livro e sua relação com o exame de conteúdos específicos,

vale conceber esse material curricular em ampla perspectiva: como mercadoria e

como recurso didático. E também aproximar das políticas educacionais ligadas a esse

instrumento tão presente nas salas de aula. Os Parâmetros Curriculares Nacionais -

PCNs (BRASIL, 2000) e os critérios do Programa Nacional do Livro Didático -

PNLD são orientadores e relevantes quando se trata da avaliação de obras didáticas.

Quanto aos PCNs, são estabelecidos quatro princípios gerais norteadores do

ensino: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver; e aprender a ser.

Conforme descrito no documento (BRASIL, 2000): A estética da sensibilidade, que supera a padronização e estimula criatividade e o espírito inventivo, está presente no aprender a conhecer e no aprender a fazer, como dois momentos da mesma experiência humana superando-se a falsa divisão entre teoria e prática. A política da igualdade, que consagram Estado de Direito e a democracia, está corporificada no aprender a conviver, na construção de uma sociedade solidária através da ação coorporativa e não-individualista. A ética da identidade, exigida pelo desafio de uma educação voltada para a constituição de identidades responsáveis e solidárias, compromissadas com a inserção em seu tempo e em seu espaço, pressupõe o aprender a ser, objetivo máximo da ação que educa e não se limita apenas a transmitir conhecimentos prontos. (BRASIL, 2000, p.8).

Esses princípios são importantes no processo de produção de obras escolares,

como também devem constituir referência na seleção de coleções e obras isoladas.

Quanto aos objetivos oficiais da Geografia no Ensino Médio, os Parâmetros

Curriculares Nacionais indicam: Identificar, analisar e avaliar o impacto das transformações naturais, sociais, econômicas, culturais, e políticas no seu ‘lugar-mundo’, comparando, analisando, e sintetizando a densidade das relações e transformações que tornam concreta e vivida a realidade. (PCN, 2000, p.35).

Na Geografia, especificamente, o PNLD (BRASIL, 2013) afirma: o livro

didático deve conter explicações sobre a produção do espaço pelas sociedades ao

longo da história, a partir de referências teórico-metodológicas, que têm por base os

conceitos e as categorias de natureza, paisagem, espaço, território, região e lugar,

congregando dimensões de análise que abordam tempo, cultura, sociedade, poder e

relações econômicas e sociais, tendo como variáveis a localização, a distância, as

semelhanças e diferenças, a ordenação, as atividades e sistemas de relações, de

maneira a articular forma, conteúdos, processos e funções, observando tanto as

interações como as contradições da realidade.

O livro didático em geral, deve, segundo um dos editais do Programa Nacional

do Livro Didático (PNLD, BRASIL, 2013), veicular informação correta, precisa,

adequada e atualizada. Espera-se deste, que viabilize o acesso de professores, alunos e

famílias a fatos, conceitos, saberes, práticas, valores e possibilidades de compreender,

transformar e ampliar o modo de ver e fazer a ciência, a sociedade e a educação. O

texto de Schaffer (1998) ajuda ao pesquisador a entender a trajetória das políticas

públicas em relação ao processo de produção, controle e avaliação das obras didáticas,

assim como a história de produção das obras escolares.

Castrogiovanni e Goulart (1998) sugerem cinco aspetos fundamentais que

devem caracterizar um bom livro didático: 1) a fidedignidade das afirmações; 2) o

estímulo à criatividade; 3) uma correta representação cartográfica; 4) uma abordagem

que valorize a realidade; e 5) que enfoque o espaço como uma totalidade. Como tal,

para estes autores, “[...] o livro didático deverá ser o reflexo do trabalho elaborado na

Universidade, tanto do ponto de vista de sua escolha quanto da sua confecção.”

(CASTROGIOVANNI, 1998, p. 127).

O livro está intimamente associado a uma função social e pedagógica torna-se

mediador para o desenvolvimento do plano de trabalho do professor e aplicação de

conteúdos. A respeito disso relata Shaffer (1988, p.130) “Como instrumento de

ensino, o livro didático serve a um fim, às intenções do plano de trabalho previamente

elaborado.” Para Castrogiovanni (1988, p. 125):

O livro didático, frente às atuais condições de trabalho do professor de geografia, torna-se cada vez mais um instrumento, senão indispensável, pelo menos necessário como complemento ás atividades didático-pedagógicas, devendo ser utilizado apenas como um dos recursos entre tantos disponíveis.

Muitos dos nossos professores do ensino básico tornaram-se dependentes

apenas do livro didático, deixando de explorar vários recursos que podem ser

agregados ao livro para enriquecer a aula. Quanto aos critérios para escolha e seleção

de obras escolares, os mesmos devem atender em primeiro lugar aos objetivos do

professor de geografia e as características dos alunos que o utilizarão, tornando assim

o contato com esse material, mais rico e proveitoso. Cabe ao professor selecionar o

que melhor se adequa para as turmas. Segundo Schaffer (1988, p.137):

[...] cabe uma verificação acurada quanto à orientação dada, aos conteúdos; à correção e atualização das informações; à distribuição das unidades; ao tratamento dos conceitos desenvolvidos; à adequação e correção dos exemplos e ilustração (mapas, gráficos, desenhos, tabelas, fotos, etc.) e dos exercícios eventualmente propostos.

É importante o processo de avaliação das obras didáticas, verificando a

qualidade dos conteúdos e a organização sequencial dos mesmos, bem como o

material, a atualização de informações e adequação com a realidade dos alunos. Os

problemas são encontrados muitas vezes nos livros selecionados, textos curtos com

falta de informações importantes, mapas sem legendas, escala e figuras sem coerência

com o texto, entre outras falhas. Cabe, pois ao professor ter cautela e atenção no

processo de investigação de cada obra. Schaffer (1988) alerta para a ocorrência de

escolhas sem análise criteriosa das obras:

Normalmente o professor tem indicado o novo título que recebeu, via divulgação da editora, sem leitura criteriosa; sem ter feito o plano de trabalho; sem conhecer o grupo; sem dominar sua área de conhecimento. Resulta daí que, ao longo do ano letivo, ele passa a conviver com um estranho, quando não se estranhando com o livro. O uso torna-se restritivo e com, freqüência, há o apelo aos exercícios de representação, não havendo o diálogo com a obra e com o aluno.

Para nossa reflexão sobre o livro didático se faz necessário dialogar com

professores do Ensino Médio, buscando diagnosticar como é feita a seleção de livros

de Geografia para o ensino médio. Acompanhar práticas pedagógicas relacionadas à

escolha e uso do livro é importante linha de pesquisa. Couto (2001, p 313) ao abordar

pesquisas sobre prática docente diz “[...] entrevistamos e acompanhamos a prática

pedagógica de professores de escolas públicas, analisamos seus programas,

consultamos dicionários geográficos, cartográficos, estudamos obras teóricas e

analisamos livros didáticos.” Essa abordagem mais integrada pode contribuir para o

conhecimento da realidade educacional.

Como forma de adentrar nesse processo de seleção do livro didático e

conhecer melhor os critérios de escolha, entrevistamos professores das escolas

Teodorico Teles de Quental e Escola de Ensino Médio Liceu do Crato Prefeito

Raimundo Coelho Bezerra de Farias, localizadas na cidade de Crato/CE. São

instituições públicas, situadas no distrito sede desse município, que atendem alunos

que moram na área urbana e também em localidades rurais. A seguir breves reflexões

da metodologia e a seguir, do trabalho empírico realizado como pré-teste nas duas

instituições.

METODOLOGIA

Este trabalho realiza-se mediante aproximação com pesquisadores que

examinam o livro didático e que discutem o seu papel como recurso de ensino-

aprendizagem, buscando ainda, fazer revisão bibliográfica de temas da Geografia

escolar. Estudar trabalho de campo e pesquisa, no processo de estudo mais ativo e

crítico dos temas geográficos também fez parte da revisão bibliográfica. Para a

construção do referencial teórico contribuíram a leitura sistemática e a elaboração de

fichamento.

A realização de levantamento empírico (contato com sujeitos sociais das

escolas estudadas) também é uma etapa fundamental na pesquisa, que se insere numa

perspectiva qualitativa, valorizando-se as atividades que envolvem contato direto

entre pesquisador e os sujeitos do processo educacional. Nesse estudo, o contato foi

feito a partir da aplicação de um roteiro de entrevista temática, voltada a ouvir o que

os professores falam da seleção e trabalho com livro didático. A seleção de

informantes foi feita pela adesão. Nas duas escolas estudadas os docentes acolheram

os bolsistas e contribuíram de forma comprometida e séria no processo de coleta de

dados. As duas instituições são públicas e ligadas à Coordenadoria Regional de

Desenvolvimento da Educação (CREDE 18), órgão da Secretária de Educação do

Estado do Ceará. O CREDE 18 está sediado em Crato.

A seguir, as questões apresentadas na entrevista, que totalizam 14: 1- É

professor efetivo ou contratado? 2 Tempo de serviço? 3 Descreva como se dá o

processo de seleção do Livro Didático de Geografia para o Ensino Médio nessa

escola? 4 Qual a coleção de livros que foi escolhida? 5 Você participou da escolha da

atual coleção de LDs de Geografia? De que forma? Ficou satisfeito(a)? 6 Quantas

vezes você já participou da escolha? 7 O que lembra? 8 O que você acha do livro

didático escolhido? 9 Quando os livros chegam para distribuição nas turmas? 10

Todos os alunos e turmas acessam os livros? 11 Fale do livro didático no ensino

médio? Ajuda? Atrapalha? 12 Qual a contribuição do LD nas suas aulas de Geografia

no ensino médio? 13 Como os alunos se relacionam com o LD? 14 Gostaria de

acrescentar alguma informação para contribuir com essa pesquisa?

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

As entrevistas aconteceram nas escolas de Ensino Médio escolas Teodorico

Teles de Quental e Escola de Ensino Médio Liceu do Crato Prefeito Raimundo

Coelho Bezerra de Farias, localizadas na cidade de Crato/CE. O diálogo foi

estabelecido com as professoras efetivas da primeira escola citada: Eliane Felix de

Souza, experiência docente que totaliza 12 anos e Antonia Francy, há 20 anos

trabalhando no magistério. Na segunda escola, mais conhecida como Liceu do Crato,

contamos com a contribuição da professora Leila, efetiva há 12 anos e com o

professor contratado Erlânio Costa da Silva, que também é formado em Geografia há

mais de 10 anos.

As entrevistas aconteceram nos dias 13 e 15 de setembro de 2016 na Escola

Teodorico Teles e dias 14 e 15 do mesmo mês na Escola Liceu. Os professores

responderam as mesmas 14 perguntas. O horário das conversas ocorreu de acordo

com a disponibilidade de cada um dos entrevistados. No primeiro momento foi

realizada uma visita, onde foram expostos os objetivos da pesquisa da Geografia

escolar em sua relação com o processo de seleção e uso do livro didático no Ensino

Médio.

O processo de coleta de dados deu-se em uma conversa norteada por alguns

questionamentos ligados a seguinte inquietação: como se dá o processo de seleção e

distribuição de coleções didáticas nas escolas públicas selecionadas para realizar a

etapa de campo? A partir daí começamos um dialogo na busca de respostas para esse

questionamento.

O processo de seleção do material didático nas escolas selecionadas acontece

da seguinte forma: na escola Teodorico Teles de Quental, para a seleção do Livro

didático, reúnem-se os professores da disciplina com o instrumental fornecido pelo

PNLD (Programa Nacional do Livro Didático, chamado simplesmente “Guia” pelos

entrevistados). Os docentes falaram de uma reunião com todo o corpo docente para

apresentação do livro escolhido pelas editoras. Ocorre análise sistemática das

coleções recebidas pela escola e posteriormente realiza-se uma discussão entre os

professores. A coleção que for melhor avaliada é cadastrada.

Na escola Liceu, as coleções de livros didáticos vão chegando aos poucos na

escola e sendo analisadas. Da última vez, chegaram de 10 a 15 coleções, dentre elas

são sinalizadas duas opções. Os professores reúnem-se por área para realizar todo o

processo de seleção. Relatam os professores Leila e Erlânio: na seleção do livro

destacamos aspectos relativos às imagens, aos textos e respectivos conteúdos. Se os

textos são fáceis de ler; se tem linguagem acessível. Ou, por outro lado, se tem

volumes e coleções com capítulos e textos extensos e a linguagem inadequada para

compreensão dos alunos. Valorizando o perfil do aluno. Damos importância aos

exercícios e as atividades de perguntas e respostas, e de reflexão.

Um dos critérios da escolha do livro é a interdisciplinaridade com outras

ciências, é analisado se contempla as outras disciplinas ao longo do trabalho com os

conteúdos geográficos, juntamente com a apresentação da defesa de escolha da

coleção para os demais professores.

A coleção de livros escolhida de acordo com o PNLD para os anos de 2015 a

2017 das escolas foram: Teodorico Teles foi: MARINEZ, Rogério; VIDAL, Wanessa

Peres G. Novo Olhar Geográfico. 1. ed. São Paulo: FTD, 2013. Na escola Liceu, a

obra escolhida é: SANTOS, Douglas. Geografia das Redes – o mundo e seus

lugares. São Paulo: Editora Brasil - 2015 a 2017.

As professoras da escola Teodorico Teles ficaram satisfeitas com a coleção:

Novo Olhar Geográfico. Para as mesmas, os volumes da obra atendem os requisitos

avaliados no processo de seleção já citados anteriormente. Participaram durante a

jornada como professores da seleção do livro. Consideram processos bastante longos,

que acontecem nas atividades chamadas “formação” na sede da CREDE 18.

Posteriormente, passa-se a etapa da escola. O livro escolhido é satisfatório diz a

professora Eliane, pois atende os conteúdos para o ensino médio. Para a professora

Antonia em uma coleção há sempre aspectos a serem melhorados, mas no geral está

satisfeita. A professora Eliane participou de duas seleções e Antonia de três.

Os professores do Liceu participaram da seleção do livro como avaliadores das

coleções didáticas apresentadas à escola. Para os mesmos, a princípio a coleção

escolhida foi satisfatória, mas depois viram que havia negligências ou silêncios em

relação a alguns aspectos. A atual coleção é difícil de trabalhar, não contempla a

realidade do aluno, e os contextos em que são apresentados são muito distantes da

mesma. O professor Erlânio participou de duas seleções e Leila de três.

O livro chega à escola normalmente no mês de janeiro e em fevereiro ou

março é distribuído para os alunos. Depois que são feitas as matrículas. A quantidade

de livros recebidos é feita de acordo com o censo do ano anterior. Às vezes falta livro

para algum estudante. A escola prepara um banco de livros onde o aluno só tem

acesso no horário da aula. Não pode levar para casa. Só uma turma está com o livro

da coleção anterior, devido não ter sido o número recebido suficiente para todos. Na

escola Liceu, em 2016, a coleção chegou atrasada, em março, depois do início das

aulas.

Segundo a professora Eliane: o livro didático no ensino médio é essencial

para o processo de ensino-aprendizagem. O mesmo contribui como fonte de leitura

tendo em vista que para grande parte dos alunos este é a única fonte de informação e

conhecimento que eles têm em casa. Os alunos se relacionam com livro muitas vezes

de forma obrigatória. É um peso a mais para trazer. Têm os alunos que trazem os

livros todos os dias e costumam ler. Outros dificilmente têm acesso ao livro e somente

com muita insistência por parte do professor é que costumam ler. A distribuição dos

livros didáticos melhorou imensamente o processo de ensino-aprendizagem dos

nossos alunos, alerta a professora Eliane. Lamentavelmente muitos alunos ainda não

compreendem o valor e não tem o devido cuidado.

Para a professora Antonia: o livro didático de geografia para o Ensino Médio

é recurso fundamental nas aulas pela riqueza de dados, ilustrações, textos

complementares, etc. Ajuda muito no processo de ensino-aprendizado. O livro

contribui devido à riqueza de detalhes em mapa, gráficos, tabelas. O livro muitas

vezes substitui as mídias. Ele ajuda a compreender melhor as teorias.

Para os professores Erlânio e Leila o livro didático no Ensino Médio ajuda,

apesar de não ser o ideal. É mais um recurso, é um referencial que orienta. O livro

didático contribui como complemento para as aulas, para fazer leituras,

interpretações, resoluções de atividades, discussões e questionar colocações dos

próprios autores da obra. Segundo os professores das escolas pesquisadas, muitos dos

alunos geralmente não percebem o valor do livro. Muitos esquecem, acham pesados e

não trazem, perdem. Mas é visível o prejuízo de quem não o utiliza. Porém em muitos

casos os professores têm que mandar os alunos abrirem o livro. Se não houver um

estímulo o livro não é utilizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os livros didáticos transmitem informações, seja mediante textos impressos,

seja através de mapas, imagens diversificadas, gráficos, tabelas. Por reunir esse

acervo, as obras didáticas podem constituir rica ferramenta de ensino, basta que se

saiba trabalhar com as mesmas agregando outros materiais de apoio ao ensino,

fazendo-se ainda a necessária problematização e a discussão desses tipos de

produções textuais.

Os professores entrevistados, atuantes em escolas pública de ensino médio do

Crato, nos ajudam a verificar que o prazo para seleção do livro didático é muito curto.

Eles reclamaram: são muitas coleções e eles sabem que a análise tem que ser

criteriosa, pois após a escolha vão trabalhar durante um tempo razoável com esse

material. A seleção requer um determinado tempo, pois não é possível fazer de forma

corrida. Sempre escapa algum tipo de observação, como críticas e sugestões para as

editoras. Quando começa a ser usado, é que algumas falhas vêm à tona. Com a

distribuição de livro didático no ensino médio, todos os informantes avaliaram que

houve importantes mudanças. Primeiro, no acesso a esse recurso. Para os docentes, ter

o livro facilitou a preparar as aulas e melhorou muito a compreensão dos conteúdos

por parte dos alunos. Segundo, nas próprias obras escolares para se escolher. A cada

processo de seleção, os docentes acreditam que aparecem obras que trazem algumas

contribuições inovadoras.

O levantamento empírico aponta que professores das escolas investigadas

buscam não fazer do manual didático o elemento que comanda o processo educativo

no espaço escolar. Mas consideram difícil esse desafio. Um dos fatores é a dificuldade

de trabalhar a pesquisa como metodologia ativa no Ensino Médio.

O trabalho de pesquisa continua, com intenção de alargar para outras escolas,

não só de Crato, mas também de Juazeiro do Norte. O desafio é de conhecer as

principais dificuldades e desafios do ensino médio e o papel do livro didático no

processo de ensino aprendizagem nas escolas públicas. Constitui uma forma de pensar

problemáticas importantes da educação pública, ajudando na aproximação entre a

universidade, no caso, a URCA e realidade escolar desses municípios do sul do Ceará.

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