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Alvenaria Estrutural
Artigos Técnicos poderão ser encaminhados para análise e eventual publicação para
EXPEDIENTEO Caderno Técnico Alvenaria Estrutural é um suplemento da revista Prisma, publicado pela Editora Mandarim Ltda.Artigos para publicação devem ser enviados para o e-mail [email protected] Editorial: Prof. Dr. Jefferson Sidney Camacho (coordenador) Eng. MSc. Rodrigo Piernas Andolfato (secretário); Eng. Davidson Figueiredo Deana; Eng. MSc.;Prof. Dr. Antonio Carlos dos Santos; Prof. Dr. Emil de Souza Sanchez Filho; Prof. Dr. Flávio Barboza de Lima; Prof. Dr. Guilherme Aris Parsekian; Prof. Dr. João Bento de Hanai; Prof. Dr. João Dirceu Nogueira Carvalho; Prof. Dr. Luis Alberto Carvalho; Prof. Dr. Luiz Fernando Loureiro Ribeiro; Prof. Dr. Luiz Roberto Prudêncio Júnior;Prof. Dr. Luiz Sérgio Franco; Prof. Dr. Márcio Antonio Ramalho; Prof. Dr. Márcio Correa; Prof. Dr. Mauro Augusto Demarzo; Prof. Dr. Odilon Pancaro Cavalheiro;Prof. Dr. Paulo Sérgio dos Santos Bastos; Prof. Dr. Valentim Capuzzo Neto; Profa. Dra. Fabiana Lopes de Oliveira; Profa. Dra. Henriette Lebre La Rovere;Profa. Dra. Neusa Maria Bezerra Mota; Profa. Dra. Rita de Cássia Silva Sant Anna Alvarenga.Editor: jorn. Marcos de Sousa ([email protected]) - tel. (11) 3337-5633
CT 1
SUPLEMENTO DAREVISTA PRISMA 17
Três especialistas apresentam um procedimento para avaliação numérica da interação de estruturas de alvenaria e concreto armado.
Tiago Fernando Thomazelli da Silva (1), Márcio Antônio Ramalho (2) e Márcio Roberto Silva Corrêa (3)
INTERAÇÃO ALVENARIAESTRUTURAL - CONCRETO ARMADO1
O capeamento de blocos de concreto pode interferir nos resultados de ensaios. Este artigo avalia essa influência e indica o gesso e o enxofre como os materiais mais indicados para garantir a fidelidade dos resultados.
Rodrigo Menossi Maurício (1), Jefferson Sidney Camacho (2), Rodrigo Piernas Andolfato (3)
ENSAIOS EM BLOCOS DECONCRETO - CAPEAMENTOS2
Palavras-chave:efeito arco, interação estrutural, elementos finitos, alvenaria estrutural.
Palavras-chave:blocos de concreto, capeamento, ensaios, alvenaria estrutural
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Figura 2
Figura 1
INTERAÇÃO ALVENARIA ESTRUTURAL-CONCRETO ARMADO
CT 2
O efeito arco é muito importante para a ava-
liação de tensões e esforços solicitantes nas
interfaces de estruturas de concreto e de alve-
naria. Ele induz o aparecimento de concentração
de tensões nas regiões mais rígidas e alívio nas
regiões mais flexíveis. Esse fato pode ser bas-
tante prejudicial para os trechos da alvenaria
próximos aos apoios e provocar uma expressiva
redução nos esforços internos das vigas, em
especial os momentos fletores. Este artigo apre-
senta uma proposta de modelo numérico para a
análise da interação concreto/alvenaria com a
utilização do método dos elementos finitos.
Hoje em dia é comum encontrar edifícios de
alvenaria estrutural apoiados em pavimentos
de concreto armado ou em fundações de vigas
sobre estacas. É intuitivo pensar que existe
uma interação entre a parede de alvenaria e a
sua estrutura de suporte. Wood(1) descreveu
o comportamento de uma parede sobre viga
como sendo a de um arco atirantado, onde a
viga funciona como um tirante e o arco se forma
na parede. Também indica que o arco se forma
a partir de uma relação entre a altura da parede
e o comprimento da viga maior ou igual a 0,60.
Stafford Smith e Riddington(2) chegaram em
0,70 do vão como sendo a altura da parede
onde ocorre a formação do arco. Posteriormen-
te, Tomazela(3) encontrou essa mesma relação
em análises numéricas.
Essa discussão é de grande valia, pois, dessa
forma, pode-se limitar o estudo de um edifício
de alvenaria estrutural em apenas um pavimen-
to. Isso quer dizer que, para a correta avaliação
do efeito arco no cômputo dos esforços na
estrutura, a modelagem de apenas um pé-direi-
to de paredes já é suficiente para permitir a
atuação desse fenômeno. Como as construções
1usuais em alvenaria estrutural têm pés-direito
na casa dos 2,80 m, tomando-se o valor pro-
posto por Wood(1) para relação entre altura
da parede e vão da viga, seriam necessários
vãos superiores a 4,67 m para comprometer a
abordagem descrita.
MODELAGEM
O estudo de edifícios completos permite avaliar
situações corriqueiras na construção civil ainda
pouco analisadas em trabalhos acadêmicos.
Como exemplo, tem-se os trechos de paredes
apoiadas em vigas contínuas e outros de vigas
apoiadas em vigas. Nesta análise, o objetivo é
verificar as diferenças encontradas entre uma
modelagem tradicional de projeto, com as
cargas verticais da alvenaria sendo colocadas
diretamente sobre a estrutura do pilotis, e
a sistemática tratada no presente trabalho,
onde o carregamento das alvenarias é colocado
sobre as paredes do primeiro pavimento do edi-
fício. Os modelos desenvolvidos são chamados
de Proj1 (para a primeira abordagem) e Proj2
(para a segunda), com a palavra Proj sendo
substituída por uma abreviação que remete ao
nome do projeto analisado, como ilustrado na
Figura 1.
O pilotis em concreto armado é discretizado
com elementos de barra, tanto para as vigas
como para os pilares, que são modelados com
sua rigidez real. As paredes de alvenaria estru-
tural são discretizadas com elementos finitos
de membrana. O Sistema GMPAE, desenvolvido
por Silva(4), permite a elaboração automática
de uma rede em elementos finitos para as pare-
des. O processamento do modelo completo (pi-
lotis + paredes) é realizado no Sistema LASER,
desenvolvido por Ramalho(5).
Este estudo analisa três edifícios reais, des-
tacando-se a influência do efeito arco nos
resultados de esforços, tensões verticais e
deslocamentos para algumas vigas.
CASO 1: EDIFÍCIO LAGO AZUL
O Edifício Residencial Lago Azul tem sete pa-
vimentos em alvenaria estrutural de blocos de
concreto, paredes com 0,14 m de espessura e
altura de 2,80 m. A Figura 2 apresenta a planta
de forma do pilotis, superposta pela modulação
da primeira fiada das paredes. Com a análise da
viga V09 é possível verificar a grande influência
do efeito arco em vigas com paredes em prati-
camente toda a sua extensão. O pequeno trecho
de janela à direita da viga não exerce maiores
variações nos diagramas. A Figura 3 apresenta
os gráficos de deslocamentos verticais. O
Modelo 1 possui flecha relativa na ordem de
1/1475. Com o efeito arco, esse valor diminui
no Modelo 2, chegando a 1/4632.
Na análise tradicional (sem a simulação das
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CT 3
paredes sobre as vigas) não aparecem es-
forços normais nas vigas. Entretanto, como
observado na Figura 4, o efeito arco provoca
esforços de tração em toda a extensão da
viga. Ainda nessa figura pode-se visualizar
o diagrama de tensões verticais. Estas são
tomadas no centróide da primeira linha de
elementos membrana sobre a viga. É evidente
a formação do arco devido à forma do diagra-
ma, apresentando picos de compressão sobre
os apoios (principalmente sobre o apoio da
esquerda, definido por um pilar). Percebe-se
uma região com tensões de tração no meio
do vão. Isso poderia ser evitado no modelo
se fossem colocados elementos de contato na
interface parede-viga. Na análise tradicional
(curva LA1), as tensões são calculadas apenas
sob trechos de parede completa (o que explica
a descontinuidade no desenho, indicando a
região da abertura de janela).
Costuma-se dizer que o efeito arco não afeta
significativamente o esforço cortante. Porém,
pela análise do diagrama constante na Figura
5, vê-se claramente a diminuição propiciada por
tal efeito. Com isto, ressalta-se a importância
do trabalho com modelos que permitam uma
avaliação criteriosa dos esforços em toda a
estrutura, para permitir o estudo de tais situa-
ções. Além de quantificar mais precisamente os
esforços e tensões na estrutura, o efeito arco
permite reduções expressivas na taxa de arma-
dura longitudinal de algumas vigas. O diagrama
de momentos fletores da viga V09 comprova
tal afirmação, onde os esforços obtidos para o
Modelo 2 são expressivamente menores.
A próxima viga analisada (V28) possui dois
apoios em pilares com um balanço à esquerda.
A Figura 6 apresenta a deformação da viga. Na
análise tradicional de projeto, o deslocamento
máximo ocorre no tramo entre os pilares P13 e
P04. Com o efeito arco, os valores nesse tramo
sofrem uma clara diminuição.
Nos processamentos desenvolvidos, observa-se
a predominância de esforços de tração nas vi-
gas. Entretanto, como demonstrado pela Figura
7, existem casos em que os trechos sobre pila-
res ou entre apoios se encontram comprimidos.
Os apoios de pilares também se destacam no
diagrama de tensões verticais, coincidindo com
os pontos de máxima tensão de compressão.
Como mencionado anteriormente, a contribui-
ção do efeito arco na diminuição do esforço
cortante não é tão significativa quanto à obser-
vada no momento fletor (Figura 8). Ocorre uma
suavização do cortante no meio do vão, mas os
máximos são pouco afetados. Para o momento
fletor os ganhos são evidentes, observando-se
uma diminuição razoável tanto para o fletor
positivo quanto para o negativo.
CASO 2: EDIFÍCIO LA DEFENSE
O Edifício Residencial La Defense é composto
por dez pavimentos em alvenaria estrutural de
blocos de concreto, paredes com 0,14 m de
espessura e altura de 2,72 m. A Figura 9 apre-
senta a planta de forma do pilotis, superposta
pela modulação da primeira fiada das paredes.
A viga V43 possui parede completa sobre o
primeiro tramo (entre os pilares P28 e P29).
Entre o pilar P32 e a interseção com a viga
V20 existe um trecho de parede com abertura
de janela e uma pequena parede completa. Os
Figura 8
Figura 7
Figura 6
Figura 5
Figura 3
Figura 4
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Figura 9
menores deslocamentos encontram-se entre os
pilares P29 e P32 (trecho sem parede). Apesar
do tramo entre o pilar P30 e a interseção com
a viga V28 ser apenas carregado pelas lajes do
pilotis, é nesse trecho que ocorrem os maiores
deslocamentos, como se visualiza na Figura10.
Na análise do diagrama de esforço axial (Figura
11), apenas no primeiro tramo aparecem es-
forços de tração mais significativos. O trecho
que vai do pilar P29 até a interseção com a viga
V20 se encontra comprimido, aparecendo uma
pequena tração no restante da viga V43. Com o
efeito arco (Modelo 2), ocorrem concentrações
de tensão sobre os apoios, como observado na
região à esquerda do diagrama de tensões ver-
ticais. Esse primeiro intervalo do diagrama cor-
responde a um trecho de parede completa entre
os pilares P28 e P29. Dado interessante ocorre
entre o pilar P32 e a viga V20. Aparece apenas
um pequeno segmento de reta na curva LD1,
correspondente ao trecho de parede completa.
Na abordagem aqui proposta, a montagem da
uma rede em elementos membrana propicia
a construção do peitoril e da parede sobre a
abertura de janela, permitindo um caminhamen-
to de cargas por estas regiões. Decerto, este é
o motivo pelo qual a tensão no trecho à direita
do diagrama apresenta menores valores com o
efeito arco (curva LD2).
A Figura 12 apresenta os diagramas de esforço
cortante e momento fletor. O efeito arco é mais
efetivo no tramo entre os pilares P28 e P29.
Percebe-se uma suavização no diagrama de
cortante. Apesar de nos outros tramos não
haver reduções significativas, a diminuição do
pico de esforço sobre o pilar P30 é bastante
clara. É também no primeiro tramo da viga V43
que se dá a maior contribuição do efeito arco na
redução do momento fletor. Como se nota pela
análise dos diagramas, a influência deste efeito
não é tão grande com relação ao fletor negativo.
Sobre o pilar P32 os valores encontrados nas
duas modelagens são muito próximos. Sendo
assim, confirma-se a vantagem de se consi-
derar o efeito arco no cômputo do momento
positivo. Entretanto, para o momento negativo,
nem sempre se consegue alguma melhoria.
CASO 3: EDIFÍCIO CASA PARA TODOS
O Edifício Residencial Casa Para Todos é com-
posto por quinze pavimentos em alvenaria
estrutural de blocos de concreto, paredes com
0,14 m de espessura e altura de 2,52 m. A Fi-
gura 13 apresenta a planta de forma do pilotis,
superposta pela modulação da primeira fiada
das paredes.
Para este terceiro edifício optou-se pela análise
da viga V67. Apresentam-se, a seguir, os re-
sultados de deslocamentos verticais, esforços
e tensões verticais.
Mesmo não havendo parede sobre alguns tre-
chos da viga V67, a influência do efeito arco é
claramente observada nos diagramas de deslo-
camentos verticais, como ilustra a Figura 14. Os
maiores valores de deslocamentos aparecem no
trecho entre os pilares P53 e P54, notando-se
um ganho significativo devido à consideração do
efeito arco. Assim como para os edifícios ante-
riores, são apresentados os valores de desloca-
mentos absolutos para as vigas, ou seja, não são
descontados os deslocamentos dos pilares.
No diagrama de esforço normal (Figura 15) os
trechos sem paredes são bastante claros, defi-
nindo intervalos constantes no gráfico. A região
compreendida pelas vigas V10 e V14 apresenta
os maiores valores de tração. Observa-se tam-
bém que sobre pilares ocorre uma diminuição
do esforço normal. O trecho nulo do diagrama
a partir da abscissa 6 corresponde ao apoio do
pilar P54. Em alguns casos (como o da viga V28
do primeiro edifício analisado), aparecem esfor-
Figura 10
Figura 11
Figura 12
ços de compressão nessas regiões de pilares.
No trecho de parede sobre o pilar P54 não é tão
expressiva a diferença de tensões entre as duas
modelagens apresentadas neste trabalho. Já no
trecho de parede entre as vigas V10 e V14, o
efeito arco proporciona um aumento na tensão
vertical. Assim como verificado nos demais dia-
gramas de tensão vertical, os picos de tensão no
Modelo 2 correspondem a cerca de duas vezes a
tensão de projeto encontrada no Modelo 1.
O esforço cortante (Figura 16) nem sempre é
tão influenciado pelo efeito arco. Os maiores
ganhos são observados no trecho que vai do pi-
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Figura 13
lar P53 até à interseção com a viga V14. Já os
pontos de máximo esforço sofrem apenas uma
pequena redução. Devido à escala do diagrama
de momento fletor, as diferenças observadas
podem parecer pequenas. Entretanto, obser-
vando-se a ordem de grandeza dos esforços,
percebe-se a expressiva redução proporcionada
pela consideração do efeito arco. Novamente
este efeito proporciona melhorias mais signifi-
cativas no momento fletor positivo.
CONCLUSÕES
O efeito arco trabalha positivamente diminuin-
do os deslocamentos relativos nas vigas. As
diferenças são maiores em vãos delimitados
por apoios de pilares. Em apoios em vigas, o
cuidado na análise de deslocamentos deve ser
maior. As diferenças entre as duas simulações
são pequenas em algumas destas situações.
Como explicado na introdução, Wood(1) havia
descrito que, nos sistemas parede-viga, esta
última funcionaria como um tirante, com o arco
sendo formado na parede. No estudo apresen-
tado, há predominância dos esforços de tração.
Entretanto, em trechos de vigas sem paredes
Figura 15
em cima ou regiões de apoios em pilares, apa-
recem esforços de compressão.
A análise tradicional em projetos de alvenaria
estrutural permite o cálculo de uma tensão
uniforme na base de paredes pertencentes a
um mesmo grupo. Com a elaboração de mo-
delos simulando as paredes com elementos
membrana, podem-se obter curvas de tensões
na base das paredes. Como observado em al-
gumas análises, trechos de aberturas de janela
são agora considerados como estrutura, e não
apenas como carregamento para os grupos de
paredes vizinhas. O efeito arco alivia as tensões
na região média da base das paredes. Em con-
trapartida, provoca aumentos significativos da
tensão nas extremidades de paredes (cerca de
duas vezes a tensão de projeto da análise tradi-
cional), principalmente sobre apoios de pilares.
Essas concentrações de tensão acontecem na
prática, e o método proposto permite uma ava-
liação mais criteriosa de sua ocorrência. Isso
propicia, por exemplo, uma melhor análise para
distribuição de blocos grauteados.
O esforço cortante foi o menos previsível dos
valores analisados no presente trabalho. Os
demais resultados seguiram determinados pa-
drões na grande maioria dos casos. Em linhas
gerais, o efeito arco é favorável ao cortante em
um número significativo de vigas, principalmen-
te nas regiões compreendidas entre apoios. Já
sobre os mesmos, as diferenças encontradas
não foram tão consideráveis. Mas isso não aca-
ba determinando um padrão. Como observado
na viga V09 do primeiro edifício analisado, o
cortante foi bastante aliviado pelo efeito arco,
mesmo sobre os apoios de pilares.
A maior vantagem ocasionada pela considera-
ção do efeito arco ocorre no estudo dos mo-
mentos fletores. Apesar de não se ter realizado
o cálculo das armaduras, é bastante evidente
a economia que se pode obter com a influência
do efeito arco. As reduções mais significativas
foram observadas no momento fletor positivo.
Em alguns casos este feito propiciou diminuição
também no momento negativo. Mas este, quan-
do ocorre, é menos significativo.
REFERÊNCIAS
Veja a bibliografia deste artigo na versão publi-
cada no site www.revistaprisma.com.br
Figura 16
Figura 14
CT 5
(1) Tiago Fernando Thomazelli da SilvaMestre em Eng. Estruturas, Embraer,São Paulo, [email protected]
(2) Márcio Antônio RamalhoProfessor Associado, Departamento de Engenharia de Estruturas, Universidade de São Paulo, [email protected]
(3) Márcio Roberto Silva CorrêaProfessor Associado, Departamento de Engenharia de Estruturas, Universidade de São Paulo, Brasil. [email protected]
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Tabela 1: Composição de traço - blocos categoria A (mais resistente)
INTRODUÇÃO
O ensaio primário de resistência dos materiais
para alvenaria estrutural é o ensaio à compres-
são da unidade (HENDRY, 1998), para o qual
procedimentos padronizados existem em várias
normas de diferentes nacionalidades. Existem
variações entre estas normas em termos de
capeamento e outras especificações de ensaio.
As influências dos vários métodos de prepa-
ração para ensaios têm sido extensivamente
estudadas e têm mostrado que a aplicação
de diferentes tipos e espessuras de gesso ou
enxofre, usados como materiais de capeamento
para as faces carregadas de tijolos, apresen-
tam efeitos consideráveis na resistência apa-
rente à compressão (KELCH e EMME citado por
HENDRY, 1998).
É razoável supor que pequenas imperfeições
ocasionadas pelo capeamento, possam conduzir
a concentrações de tensões em alguns pontos
do bloco no instante do ensaio e dessa forma,
conduzir a resultados diferentes do esperado.
Soma-se a isso, o fato de que blocos produ-
zidos em locais distintos podem apresentar
diferentes condições de superfície, o que pode
expor ainda mais fortemente as deficiências de
capeamento.
OBJETIVOS
Este trabalho tem como principal objetivo o
estudo da influência do tipo de capeamento na
variabilidade e no valor da resistência à com-
pressão de blocos de concreto para alvenaria
estrutural. Este estudo será conduzido em dois
grupos de blocos com resistências à compres-
são distintas, de modo a verificar também a
relação ‘faixa de resistência’ e influência do
capeamento.
Para tal, será desenvolvido um programa expe-
ENSAIOS EM BLOCOS DE CONCRETO - CAPEAMENTOS 2
CT 6
rimental de ensaios à compressão em blocos
de concreto, com dois valores distintos de
resistência à compressão e capeados com os
seguintes materiais: argamassa; gesso; forro
pacote; borracha; pasta de cimento; enxofre;
e papelão.
Por fim, serão analisados todos os dados e
resultados obtidos de modo a verificar a efetiva
influência do capeamento no comportamento
dos blocos, quando submetidos a ensaios de
compressão axial, mais especificamente na
resistência, na variabilidade dos resultados e
no tipo de ruptura.
PRODUÇÃO DAS UNIDADES
Os blocos foram adquiridos em uma fábrica co-
mercial da região que atende satisfatoriamente
os requisitos de qualidade nos itens aparência,
uniformidade, resistência e pequena variabilida-
de nos ensaios de caracterização.
A produção desses blocos foi realizada em
uma vibro-prensa pneumática sob um rigoroso
controle de qualidade, de forma que se unifor-
mizaram alguns fatores que poderiam ocasionar
uma maior dispersão de resultados, tais como:
tempo de prensagem, vibração e número de
golpes da prensa.
Foram fabricados dois tipos de blocos para
análise. Os traços dos blocos são apresentados
nas tabelas 1 e 2.
RESULTADOS
Sabendo que o grau de compacidade influencia
significativamente o resultado de ensaios à
compressão axial em blocos de concreto (AN-
DOLFATO et al., 2002), foi realizada a pesagem
dos blocos para se obter uma amostra “vicia-
da”, de forma que a variabilidade de fabricação
dos blocos interferisse o menos possível nos
resultados.
Para os blocos tipo A (mais resistentes) e B
(menos resistentes), foram ensaiadas 20 uni-
dades para cada tipo de capeamento.
Para a determinação da resistência à compres-
Materiais Densidade (kg/l) Volume (l) Massa (kg)
cimento 1,13 35,4 40
areia 1,48 216 319,7
pedrisco 1,37 144 197,3
água 1 30 30
água/materiais secos - 7,59 % 5,39%
água/cimento - 84,75% 75,0 %
Figura 1: Processo de Fabricação
são dos blocos de concreto foram utilizados os
procedimentos preconizados pela norma NBR
7184 (ABNT, 1992) - Blocos vazados de con-
creto simples para alvenaria - Determinação da
resistência à compressão.
As tabelas 4 e 5 a seguir mostram o resumo
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Tabela 3 - Número de blocos ensaiados paracada tipo de material empregado
Tabela 2 - Composição de traço - blocos categoria B (menos resistente)
Tabela 4: Resumo dos resultados obtidos - blocos categoria A (mais resistente)
CT 7
Materiais Densidade (kg/l) Volume (l) Massa (kg)
cimento 1,13 35,4 40
areia 1,48 288 426,24
pedrisco 1,37 216 295,92
água 1 30 30
água/materiais secos - 5,56 % 3,94 %
água/cimento - 84,75 % 75,0 %
Materiais usados No de blocos ensaiados
Bloco A Bloco B
enxofre 20 20
gesso 20 20
forro pacote 20 20
pasta de cimento 20 20
argamassa 20 20
papelão 20 20
borracha 20 20
Total 140 140
GESSO [Bloco A)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 9710,0 433,0 10,67
Coef.Var. 1% 10% 10%
Des.Pad. 121,6 42,8 1,1
fbk 8,93
ARGAMASSA (Bloco A)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 9706,0 326,0 8,00
Coef.Var. 1% 10% 10%
Des.Pad. 100,3 33,2 0,8
fbk 6,68
FORRO PACOTE (Bloco A)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 9699,8 395,0 9,73
Coef.Var. 1% 12% 12%
Des.Pad. 124,0 47,2 1,2
fbk 7,81
BORRACHA (Bloco A)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 9723,3 239,3 5,90
Coef.Var. 1% 9% 9%
Des.Pad. 119,6 22,1 0,5
fbk 5,00
ENXOFRE (Bloco A)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 9717,0 437,4 10,77
Coef.Var. 1% 11% 11%
Des.Pad. 96,2 46,2 1,1
fbk 8,90
PASTA DE CIMENTO (Bloco A)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 9714,3 333,8 8,22
Coef.Var. 1% 11% 11%
Des.Pad. 112,7 35,3 0,9
fbk 6,79
PAPELÃO (Bloco A)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 9720,3 349,0 8,60
Coef.Var. 1% 12% 12%
Des.Pad. 105,0 40,3 1,0
fbk 6,96
dos resultados obtidos através dos ensaios à
compressão axial.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
As formas de ruptura apresentadas foram se-
melhantes na maioria dos tipos de capeamento,
exceto a borracha, onde o bloco apresentou
uma fissuração mais intensa e fora do padrão
usual, atingindo a ruptura com uma carga infe-
rior à média dos outros blocos capeados.
A tabela 6 revela que o enxofre e o gesso pos-
suem médias de resistência semelhantes.
O gráfico da figura 3 demonstra que o gesso e
o enxofre foram os materiais que apresentaram
as maiores médias de resistência. Mostram
ainda que o papelão, argamassa e pasta de
cimento revelaram possuir uma média de re-
sistência semelhante, bem como o os desvios
padrões, o que permite inferir que esses tipos
de capeamento se relacionam bem entre si,
porém, apresentam valores mais baixos que os
capeamentos de gesso e enxofre.
A tabela 7 mostra que o gesso, argamassa e
pasta de cimento possuem média de resistên-
cia semelhante segundo o teste de hipótese,
porém com o gesso sempre apresentando
resistência média mais elevada, enquanto que
o forro pacote através do teste t de hipótese
também apresenta uma similaridade com o
material de capeamento pasta de cimento.
As tabelas 6 e 7 mostram que a borracha não
apresentou média de resistência semelhantes
com nenhum tipo de capeamento. A figura 3 e a
figura 4 revela o enxofre como sendo o material
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CT 8
Tabela 5: Resumo dos resultados obtidos - blocos categoria B (menos resistente)
GESSO [Bloco B)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 9006,3 150,8 3,70
Coef.Var. 1% 9% 9%
Des.Pad. 64,9 13,1 0,30
fbk 3,13
ARGAMASSA (Bloco B)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 8976,5 141,9 3,40
Coef.Var. 1% 10% 10%
Des.Pad. 85,6 14,7 0,40
fbk 2,85
FORRO PACOTE (Bloco B)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 9004,3 125,6 3,00
Coef.Var. 1% 12% 12,0%
Des.Pad. 89,0 15,0 0,40
fbk 2,44
BORRACHA (Bloco B)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 8976,3 84,40 2,00
Coef.Var. 1% 18% 18%
Des.Pad. 61,7 15,00 0,40
fbk 1,45
ENXOFRE (Bloco B)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 8988,3 164,1 4,00
Coef.Var. 1% 11% 11%
Des.Pad. 57,7 17,6 0,40
fbk 3,27
PASTA DE CIMENTO (Bloco B)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 8980,5 138,3 3,30
Coef.Var. 1% 18% 18%
Des.Pad. 73,4 25,5 0,60
fbk 2,33
PAPELÃO (Bloco B)
Peso (g) Carga (kN) Resistência s (MPa)
Média 8980,3 109,9 2,70
Coef.Var. 1% 22% 22%
Des.Pad. 78,4 24,2 0,60
fbk 1,70
Tabela 6 - Comparação das médias de resistência dos Blocos Categoria A,através do teste t de hipótese.
Obs.: se as médias de resistência são semelhantes (S), pelo contrário (N) - (a=5%)
Materiais utilizados
Gesso Enxofre Argamassa Pasta Cimento Forro Pacote Papelão Borracha
Gesso S N N N N N
Enxofre S N N N N N
Argamassa N N S N S N
Pasta de Cimento N N S N S N
Forro Pacote N N N N N N
Papelão N N S S N N
Borracha N N N N N N
Figura 2 - Formas de Ruptura
Enxofre
Argamassa
Forro Pacote
Gesso
Pasta de Cimento
Papelão
Borracha
CAD
ERN
O T
ÉCN
ICO
CADERN
O TÉCN
ICO
46 p r i smap r i smap r i smap r i smap r i sma 47
CT 9
que possui a maior média de resistência segui-
da pelo gesso.
A seguir são apresentados os gráficos de resis-
tências características das unidades ensaiadas,
de modo a permitir melhor avaliação do efeito
do capeamento na resistência e na variabilidade
dos resultados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pasta de cimento, devido à sua grande va-
riabilidade de resultados, e tempo de emprego
na regularização, não se mostrou como sendo
um dos materiais mais indicados para o capea-
mento em blocos de concreto, tanto para os de
maior resistência como para os de menor.
A argamassa, por apresentar valores de re-
sistência relativamente inferiores ao gesso e
enxofre, e por necessitar de um longo tempo de
endurecimento, o que dificulta seu emprego, e
ainda por apresentar um “esfarelamento” ocor-
rido durante o ensaio para blocos de resistência
mais elevada, este tipo de capeamento não se
mostrou o mais indicado para o capeamento de
blocos.
O papelão, apesar do fácil emprego e manuseio,
apresenta uma grande variação de resultados.
Tabela 7 - Comparação das médias de resistência dos Blocos Categoria B, através do teste t de hipótese.Obs.: se as médias de resistência são semelhantes (S), pelo contrário (N) - (a=5%)
Materiais utilizados
Gesso Enxofre Argamassa Pasta Cimento Forro Pacote Papelão Borracha
Gesso N S S N N N
Enxofre N N N N N N
Argamassa S N S N N N
Pasta de Cimento S N S S N N
Forro Pacote N N N S N N
Papelão N N N N N N
Borracha N N N N N N
REFERÊNCIAS
ANDOLFATO, R. P.; CAMACHO, J. S.; MAURÍ-
CIO, R. M. Blocos de concreto: A busca de um
traço otimizado. Revista IBRACON, São Paulo-
SP, Ano X, n.29, p.32-39, 2002.
HENDRY, A. W., Structural Masonry. Hong
Kong: Macmillan Press Ltd., 1998 (1a edição
1990). 294p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
NICAS. Blocos vazados de concreto simples
para alvenaria - Determinação da resistência
à compressão: NBR 7184. Rio de Janeiro:
Associação Brasileira de Normas Técnicas,
1992. 2p.
(1) Rodrigo Menossi MaurícioEngo Civil, Núcleo de Ensino e Pesquisa da Alvenaria Estrutural (NEPAE) - Unesp. Mestrando pela Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Unesp.e-mail: [email protected]
(2) Jefferson Sidney CamachoProfessor Doutor, Departamento de Engenharia de Civil. Coordenador do Núcleo de Ensino e Pesquisa da Alvenaria Estrutural - NEPAE. Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista - Unesp.e-mail: [email protected]
(3) Rodrigo Piernas AndolfatoEngo MSC, Núcleo de Ensino e Pesquisa da Alvenaria Estrutural (NEPAE) - Unesp. Doutorando pela Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo.e-mail: [email protected]
Aliada a essa variação, a baixa resistência dos
blocos também levou à indicação dos autores
para a não utilização do papelão como material
de capeamento em pesquisas experimentais.
A borracha foi o material que apresentou a
maior variação de resultados de resistência e
ainda com um estado de fissuração precoce
dos blocos, mostrando que esse tipo de solução
dificilmente retratará a qualidade de um bloco.
O forro pacote, apesar de revelar valores de
resistência inferior ao gesso e enxofre, é um
material que possui uma suficiente facilidade
de utilização, e apresenta uma baixa variação
nos resultados. Diante dessas características,
ele pode ser indicado para lotes de blocos onde
se deseja obter uma estimativa rápida de re-
sistência.
Os resultados obtidos nesse trabalho indicaram
o gesso e o enxofre como sendo os materiais
para capeamento que apresentaram os maio-
res valores de resistência e menores valores de
variabilidade. Segundo os dados obtidos, esses
são os mais indicados para estudos experi-
mentais de resistência à compressão axial de
blocos de concreto para alvenaria estrutural.
Fig. 3: Resistência Média dos Blocos tipo A Fig. 4: Resistência Média dos Blocos tipo B
Fig. 5 - Resistência Característica dos Blocos tipo A Fig. 6 - Resistência Característica dos Blocos tipo B