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SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOS ANO 100 | N.º 4844 | 22 DE JULHO DE 2021 | 0,75 € visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES O Papa Francisco instituiu o Dia dos Avós e dos Idosos no último domingo de julho (este ano, no dia 25), nas proximidades da festa litúrgica dos avós de Jesus, conhecidos na tradição por São Joaquim e Santa Ana. Neste contexto, esta semana o Correio de Coimbra conversa com um casal idoso - avós e bisavós - e conhecido de toda a Diocese de Coimbra, através dos Cursos de Cristandade: Brasilina da Silva Bastos e Manuel do Rosário Brandão. > centrais PRIMEIRO DIA MUNDIAL DOS AVÓS E DOS IDOSOS “Precisamos de ti para construir o mundo de amanhã” PAPA TRISTE COM A INSTRUMENTALIZAÇÃO DA EUCARISTIA PARA FOMENTAR A DIVISÃO ECLESIAL Francisco publica novas normas sobre o uso do missal de 1962 e explica aos bispos as suas decisões. > Última A o criar um “Dia Mundial dos Avós e dos Idosos”, o Papa Francisco associa duas realidades que têm, certamente, muito em comum, mas, claramente, nem tudo. Desde logo, há avós que não são idosos e há idosos que não são avós! E também há avós que são relati- vamente novos. A diferença maior, contudo, é que a refe- rência aos ‘avós’ apela a uma vertente afetiva, familiar, e - interpretando as palavras tantas vezes repetidas do Papa - a uma inter-relação vital entre as gerações no contexto familiar: ao conhecer, ao estar, ao apoiar; à memória, ao aprender, ao ensinar... Sempre no duplo sentido ascen- dente e descendente, e sempre metendo a geração inter- média pelo meio: aquele apoio do momento que os avós dão aos netos é ajuda aos pais dos últimos; a presença dos netos junto dos avós, é estabilidade afetiva e familiar para todos. Já a referência aos idosos parece ser um conceito sobretudo do âmbito etário e sociológico e abre para todo um outro complexo de questões sociais, económicas e sa- nitárias para além das familiares, questões que a pande- mia trouxe ainda mais à evidência, sobretudo nos países ocidentais, de grande envelhecimento demográfico. A pergunta, então, é: porque é que o Papa sentiu a ne- cessidade de juntar as duas realidades numa celebração só? Intuo três razões: Primeiro, porque, embora uma coisa não seja a outra, cada uma delas só pode ser celebrada com verdade se apelar à outra. Celebrar “os idosos” nos frios salões insti- tucionais sem netos à volta é um atropelo à própria cele- bração, resida a dificuldade em que ou quem residir. Ce- lebrar os avós no cantinho da casa familiar, com muitos beijos e bolinhos, mas fora da consciência da situação progressivamente gravosa para que são atirados cada vez mais idosos, sobretudo nas sociedades ocidentais, é celebrar sem consciência social, sem caridade, sem san- tidade; é ceder ao enviesamento da espiritualidade balo- fa de muitos ambientes eclesiais e ao egoísmo crescente nas sociedades modernas. Depois, segunda razão, por causa de uma “missão” co- mum aos avós e aos idosos: alimentar com a seiva da “memória” a raiz da esperança de que se alimenta o fu- turo. Quanto o Papa tem insistido nisto! Por último, para questionar descaradamente as famí- lias, as comunidades eclesiais e os Estados sobre o olhar que estão a ter para os seus idosos, à luz de um enfoque muito terno, muito próximo, muito humano: à luz da sua própria memória dos avós que tiveram! E a mensa- gem, muito subtil, bem pode ser esta: nem só de pílulas vivem os velhos; nem os avós. Nem só de pílulas vivem os avós SESSÃO NOS 273 ANOS DA PRIMEIRA PEDRA SEMINÁRIO RECUPERA LIVROS MUITO RAROS DA BIBLIOTECA VELHA “Nunca é demasiado lembrar como a experiência cristã ao longo dos séculos deve muito a esse instrumento de cultura e de espírito que é uma biblioteca”. > Página 2 EXORTAÇÃO DE D. VIRGÍLIO ANTUNES: “COIMBRA PRECISA DE DAR MAIS RELEVÂNCIA AO PADRE AMÉRICO” O 65º aniversário da morte do fundador da Obra da Rua - o Venerável Padre Américo - foi ocasião para aprofundar em Coimbra a densidade da sua vida mística. > Página 3

22 DE UO DE 221

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SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOSANO 100 | N.º 4844 | 22 DE JULHO DE 2021 | 0,75 €

visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES

O Papa Francisco instituiu o Dia dos Avós e dos Idosos no último domingo de julho (este ano, no dia 25), nas proximidades da festa litúrgica dos avós de Jesus, conhecidos na tradição por São Joaquim e Santa Ana. Neste contexto, esta semana o Correio de Coimbra conversa com um casal idoso - avós e bisavós - e conhecido de toda a Diocese de Coimbra, através dos Cursos de Cristandade: Brasilina da Silva Bastos e Manuel do Rosário Brandão. > centrais

PRIMEIRO DIA MUNDIAL DOS AVÓS E DOS IDOSOS

“Precisamos de ti para

construir o mundo de amanhã”

PAPA TRISTE COM A INSTRUMENTALIZAÇÃO

DA EUCARISTIA PARA FOMENTAR A DIVISÃO ECLESIAL

Francisco publica novas normas sobre o uso do missal

de 1962 e explica aos bispos as suas decisões. > Última

Ao criar um “Dia Mundial dos Avós e dos Idosos”, o Papa Francisco associa duas realidades que têm, certamente, muito em comum, mas, claramente,

nem tudo. Desde logo, há avós que não são idosos e há idosos que não são avós! E também há avós que são relati-vamente novos. A diferença maior, contudo, é que a refe-rência aos ‘avós’ apela a uma vertente afetiva, familiar, e - interpretando as palavras tantas vezes repetidas do Papa - a uma inter-relação vital entre as gerações no contexto familiar: ao conhecer, ao estar, ao apoiar; à memória, ao aprender, ao ensinar... Sempre no duplo sentido ascen-dente e descendente, e sempre metendo a geração inter-média pelo meio: aquele apoio do momento que os avós dão aos netos é ajuda aos pais dos últimos; a presença dos netos junto dos avós, é estabilidade afetiva e familiar para todos. Já a referência aos idosos parece ser um conceito

sobretudo do âmbito etário e sociológico e abre para todo um outro complexo de questões sociais, económicas e sa-nitárias para além das familiares, questões que a pande-mia trouxe ainda mais à evidência, sobretudo nos países ocidentais, de grande envelhecimento demográfico.

A pergunta, então, é: porque é que o Papa sentiu a ne-cessidade de juntar as duas realidades numa celebração só? Intuo três razões:

Primeiro, porque, embora uma coisa não seja a outra, cada uma delas só pode ser celebrada com verdade se apelar à outra. Celebrar “os idosos” nos frios salões insti-tucionais sem netos à volta é um atropelo à própria cele-bração, resida a dificuldade em que ou quem residir. Ce-lebrar os avós no cantinho da casa familiar, com muitos beijos e bolinhos, mas fora da consciência da situação progressivamente gravosa para que são atirados cada

vez mais idosos, sobretudo nas sociedades ocidentais, é celebrar sem consciência social, sem caridade, sem san-tidade; é ceder ao enviesamento da espiritualidade balo-fa de muitos ambientes eclesiais e ao egoísmo crescente nas sociedades modernas.

Depois, segunda razão, por causa de uma “missão” co-mum aos avós e aos idosos: alimentar com a seiva da “memória” a raiz da esperança de que se alimenta o fu-turo. Quanto o Papa tem insistido nisto!

Por último, para questionar descaradamente as famí-lias, as comunidades eclesiais e os Estados sobre o olhar que estão a ter para os seus idosos, à luz de um enfoque muito terno, muito próximo, muito humano: à luz da sua própria memória dos avós que tiveram! E a mensa-gem, muito subtil, bem pode ser esta: nem só de pílulas vivem os velhos; nem os avós.

Nem só de pílulas vivem os avós

SESSÃO NOS 273 ANOS DA PRIMEIRA PEDRASEMINÁRIO RECUPERA LIVROS MUITO RAROS DA BIBLIOTECA VELHA“Nunca é demasiado lembrar como a experiência cristã ao longo dos séculos deve muito a esse instrumento de cultura e de espírito que é uma biblioteca”. > Página 2

EXORTAÇÃO DE D. VIRGÍLIO ANTUNES:“COIMBRA PRECISA DE DAR MAIS RELEVÂNCIA AO PADRE AMÉRICO”O 65º aniversário da morte do fundador da Obra da Rua - o Venerável Padre Américo - foi ocasião para aprofundar em Coimbra a densidade da sua vida mística. > Página 3

CORREIO DE COIMBRA

2Diocese

Passados os tempos mais duros da pandemia e de confinamento, e sob os

maiores cuidados sanitários, mesmo com o recurso ao ar li-vre, a Diocese de Coimbra está a viver um tempo intenso de cris-mação de jovens e adultos nas suas unidades pastorais; nal-guns casos, com os três sacra-

mentos da iniciação cristã. A dar uma imagem desta intensidade, houve na última semana a cele-bração do Crisma em seis comu-nidades diferentes: pelo Senhor Bispo, em Cernache (foto), Pam-pilhosa da Serra e Santiago de Litém; pelo Sr. Vigário Geral, Pe. Manuel Ferrão, em Lorvão, Ançã e S. João do Campo.

O Correio de Coimbra esteve na celebração de Cernache, onde o Sr. Bispo deixou aos jovens e adultos crismados um forte convite para - com a força do Espírito Santo, re-cebido sacramentalmente - “con-vergirem” uns para os outros, em sintonia, unidade e comunhão, e para, uns com os outros, servirem a comunidade e a Igreja”.

Dois volumes das Senten-ças teológicas de Alber-to Magno, um de 1506 e

outro de 1507, um volume dos Lusíadas (1639) e um Atlas Uni-versal (1757) foram os livros de eleição para a apresentação do trabalho de restauro dos livros

da Biblioteca Velha do Seminá-rio Maior de Coimbra, na sessão comemorativa dos 273 anos do lançamento da “Primeira Pedra” do edifício, em 1748. A Bibliote-ca Velha tem cerca de 9.000 li-vros de elevado valor histórico e patrimonial.

A Sessão, que ocorreu na pró-pria Biblioteca, no dia 16 de julho, contemplava primaria-mente “a recuperação dos li-vros do séc. XVI”, cerca de 200 volumes dos quais foram re-cuperados 50 no último ano, mas a inclusão dos Lusíadas e

do Atlas, que são posteriores, pretendeu também salientar a variedade das obras, que con-templam campos do saber mui-to diversos, como referiu José Augusto Bernardes, o Diretor das Bibliotecas do Seminário. A Biblioteca Velha, insistiu ele, não impressiona nem pelo ta-manho, nem pela aparência, nem pela quantidade, mas tem caraterísticas raras, entre as quais a de ser “uma biblioteca escolhida”, “articulada”, “vin-culada a um modelo educati-vo”, com “livros raríssimos” que vale a pena preservar, catalogar e disponibilizar.

Contudo, salienta o Diretor das bibliotecas, este é um trabalho em contraciclo, porque é caro, moroso, exige saberes técnicos especializados e perseverança, e a sensibilidade dos mecenas hoje está virada apenas para a digitalização, ignorando a ne-cessidade primeira de garantir a materialidade dos livros.

A Dra. Maria do Céu, a técnica responsável pela conservação e restauro dos livros, para o que tem tido a colaboração de uma pequena equipa, também com alguns padres residentes no Se-minário, apresentou depois os cuidados a ter na recuperação, o processo técnico utilizado e algumas implicações, sempre na procura da melhor respos-ta à necessidade de “intervir o menos possível e o melhor possível”.

O atual bibliotecário do Vati-

cano, Cardeal Tolentino Men-donça, enviou uma videomen-sagem para esta Sessão dos 273 anos, na qual refere que “nunca é demasiado lembrar como a experiência cristã ao longo dos séculos deve muito a esse ins-trumento de cultura e de espíri-to que é uma biblioteca”. E, logo a seguir: “é impossível pensar a cultura portuguesa sem desta-car o papel de Coimbra”. Tam-bém Manuel Machado, Presi-dente da Câmara Municipal de Coimbra, manifestou o seu agrado por ver no trabalho aqui feito “cuidado, engenho e arte para cuidar do nosso patrimó-nio material e imaterial”.

D. Virgílio Antunes mostrou--se “sempre surpreendido” - perante uma obra como a Biblioteca Velha - com a capaci-dade de criação, inovação e em-preendedorismo que os nossos antepassados tiveram, com a ajuda da generosidade do povo de Deus, sobretudo quando se trata do Seminário: “O Seminá-rio é a instituição que mais pre-sente está no coração do povo de Deus”, salientou.

Das palavras de introdução do Cónego Nuno Santos, em que apresentou os elementos mais significativos da “abertura” do Seminário ao exterior desde que é Reitor do mesmo, vale a pena reter a ideia de que o Seminário é apreciado por quem o visita como um “sentir-se em casa”, onde há um clima de simplicidade, silên-cio e abertura ao sagrado.

273 ANOS DA PRIMEIRA PEDRA DO SEMINÁRIO MAIOR DE COIMBRA

Intervenção na Biblioteca Velha é preservação da nossa cultura e restauro do nosso património

O Triplo D, projeto da Cári-tas Diocesana de Coimbra, está a organizar o Torneio

“Aprender Direito(s)”, uma inicia-tiva dirigida a crianças e jovens dos Centros de Atividades de Tem-pos de Livres (CATL) da instituição. O torneio decorre de 12 a 23 de ju-lho e é composto por vários desa-

fios online, divididos por 3 níveis (1.º ciclo, 2.º e 3.º ciclos, ensino se-cundário). O objetivo é fomentar a aprendizagem e interesse sobre a participação cívica e democrática, direitos humanos e direitos da criança e promover a cooperação e participação, através de uma competição divertida e saudável.

CÁRITAS DIOCESANA DE COIMBRA

Triplo D lança o Torneio “Aprender Direito(s)”

PROPRIEDADESeminário Maior de CoimbraContr. n.º 500792291 | Registo n.º 101917Depósito Legal n.º 2015/83

DIRETORA. Jesus Ramos (T.E. 94)

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COMUNIDADES RETOMAM O SACRAMENTO DO CRISMA

“Falar línguas” simboliza a construção da comunhão e o espírito de serviço

22 DE JULHO DE 2021

FAZ MISSÃO - DIA MUNDIAL DOS AVÓS E IDOSOSDesafiamos cada jovem a fazer missão onde quer que esteja,

nos dias 24 e 25 de julho, porque “o futuro do mundo está na aliança entre os jovens e os idosos” (Papa Francisco).

Um desafio JMJ LISBOA 2023, com a colaboração do COD Coimbra

AS ÚLTIMAS CEIAS DE NUNES PEREIRAExposição Temporária no Museu Nunes Pereira (Seminário Maior de Coimbra) até ao dia 15 de janeiro, sob marcação prévia.2.ª à 6.ª feira (10h-12h; 14h -17h) - 911592313 / [email protected]

CORREIO DE COIMBRA

33Igreja a caminho

Na evocação dos 273 anos da “primeira pedra”, ocorre lembrar que o Se-

minário de Coimbra tem todos os domingos, às 11h, a celebração da Eucaristia, mesmo durante o mês de agosto, no espaço do jar-dim, uma vez que o edifício está em obras e a Igreja não comporta tantos fiéis, menos ainda neste momento de necessário distan-

ciamento físico entre as pessoas. Para maior comodidade, as fa-mílias podem trazer mantas ou cadeirinhas, podendo assim per-manecer numa das muitas som-bras existentes. Todas as sema-nas, em ordem a preparar esta missa, o Seminário disponibiliza nas redes sociais alguns elemen-tos de reflexão e propostas de ati-vidades dirigidas às crianças.

No dia 9 de julho realizou--se a primeira parte do IV Encontro Mundial dos

Movimentos Populares, que teve a participação do Cardeal Peter Turkson, Prefeito do Dicasté-rio para o Serviço de Desenvol-vimento Humano Integral, do Cardeal Michael Czerny, Subse-cretário do mesmo dicastério, e de Marcelo Sánchez Sorondo, Chanceler da Pontifícia Acade-mia de Ciências Sociais.

O objetivo deste IV Encontro é partilhar com o Papa Francisco, em setembro, “uma alternativa para os dilemas da humanidade”.

Os Movimentos Populares in-cluem uma grande diversidade de organismos de inspiração cristã, agregados em torno dos “três T”: terra, teto trabalho.

Na delegação do MMTC, parti-ciparam neste encontro, on-line, Fátima Almeida, co-presidente do MMTC, Olinda Marques, Pre-sidente do MTCE e Albertina Go-mes, secretária da LOC/MTC.

Escrevo no dia em que, há oito anos, o Zé Dias se tornou “Santo”. Já neste

“vale de lágrimas”, não tenho dúvidas de que ele pertencia não à “classe média da santida-de” (Gaudete et Exsultate 7) mas, pelo menos, à “classe média--alta”, por mérito próprio.

Como a nossa memória é (normalmente) curta, é bom recordar (“trazer de novo ao co-ração”) um pouquinho do muito que o Zé Dias deu a esta Igreja, mormente a esta diocese. Eu sei que ele incomodou, inquie-tou, questionou, denunciou, revoltou (= “deu a volta”). Eu sei que havia pessoas que juraram não ler os seus artigos neste jornal nem assistir às muitas reuniões que orientou. Por isso mesmo, ele se “santificou” nes-ta terra (Bem-aventurados sois vós, quando disserem todo o mal contra vós por minha causa…).

Mas a sua fé comprometida, o seu testemunho de vida enrai-zado no Evangelho, a paciente aceitação da doença nos seus últimos anos, a sua “sabedoria” (especialmente na Doutrina So-cial da Igreja - DSI), edificava quantos com ele lidavam. Julgo que também os críticos.

O Zé Dias, pelo que era e pelo que fez, continua bem presen-te na nossa Igreja diocesana (e não só). Também o tenho bem presente na minha estante com um “presente” que se cha-ma Viver o Evangelho Servindo a Pessoa e a Sociedade – Inicia-ção à Doutrina Social da Igreja, editado há quase duas décadas.

A poucos dias do “Dia Mundial dos avós e dos idosos”, instituído em boa hora pela Papa Francis-co, perscruto na pág. 233 o sub-título “Atenção aos Idosos (‘os pobres de sentido de vida’)”. O Zé Dias, elegendo no seu discurso a opção pelos pobres, expõe desta maneira, e na esteira da DSI, os deveres da Igreja para com os idosos: (i) Humanizando o

mais possível os Centros de Dia e Lares da Terceira Idade; (ii) vi-sitando-os, nos seus domicílios, acompanhando-os e prestando--lhes serviços especialmente quando estão isolados, quase inválidos e na pobreza; (iii) aju-dando-os a aceitar e a valorizar a velhice, como uma idade onde se pode e deve ser feliz.

Comecei com um preito ao “José Dias da Silva”, passámos pelos idosos e (quase) termino com estas eloquentes palavras do Papa Francisco na sua men-sagem para este Dia, quando, depois dos pilares da “memó-ria” (que aloja os alicerces da vida) e dos “sonhos” (que não podem terminar com o apareci-mento dos primeiros sintomas de velhice), nos fala do pilar da “oração” nestes termos: «A proximidade do Senhor dará – mesmo aos mais frágeis de nós – a força para empreender um novo caminho pelas estra-das do sonho, da memória e da oração. (…) A tua oração é um recurso preciosíssimo: é um pulmão de que não se podem privar a Igreja e o mundo».

Termino com esta dedicató-ria do Zé Dias, neste seu livro, a uns idosos muito especiais: «Aos meus Pais que há mais de meio século, perdidos numa aldeia do interior, percebe-ram que era mais importante a educação dos filhos do que a acumulação de terras».

Obrigado, caro Zé!

Para o Pe. José da Rocha Ra-mos, “o Padre Américo foi o maior místico português

do séc. XX”. A afirmação foi feita na Conferência que decorreu no Seminário Maior de Coimbra, no dia 17 de julho, e na evocação do 65º aniversário da morte do Vene-rável Padre Américo, o fundador da Obra da Rua. José Ramos, que é pároco de Alvarelhos, Covelas e Guidões (diocese do Porto) falou sobre “Padre Américo - místico do nosso tempo” e ilustrou abun-dantemente o espírito orante da-quele sacerdote, fazendo uso dos seus próprios escritos. Debruçou-

-se particularmente sobre qua-tro “fontes” de oração do Padre Américo: 1) a Sagrada Escritura (em particular o Novo Testamen-to”, 2) a natureza, 3) a liturgia e 4) os pobres e os doentes. Sobre o clima desta espiritualidade, evidenciou o “Cristo vivo, palpi-tante, da manhã de domingo de Páscoa” e o “livro único”, o Novo Testamento com que o Padre Américo sempre se fazia acom-panhar, e que lia continuamente do princípio até ao fim.

Por último, pediu aos inves-tigadores mais estudos nesta área, não se limitando a sua

atenção apenas à pedagogia e ao humanismo do Padre Américo.

D. Virgílio Antunes, que presidiu à Sessão (e à Eucaristia), conside-rou, a partir desta conferência, o quanto cada um de nós pode ser uma obra-prima da Graça de Deus, quando centra a sua vida e a sua oração em Deus e não em si mesmo, pois, referiu, a contem-plação leva sempre à ação.

Por isso, para o Bispo de Coim-bra, o Padre Américo “tem que ter uma relevância ainda maior na Diocese de Coimbra” e “tem que motivar-nos de uma forma mais apaixonada”.

“SOU HOMEM DE UM SÓ LIVRO” (PADRE AMÉRICO)

Conferência rasga o olhar sobre a vida mística do fundador da Obra da Rua

TODOS OS DOMINGOS, ÀS 11 HORAS

Seminário celebra missa dominical no jardim

Recordar Zé Dias (e os idosos)Jorge Cotovio | [email protected]

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“Eu sei que ele incomodou, inquietou, questionou, denunciou, revoltou (= “deu a volta”).

MOVIMENTOS POPULARES

Por uma alternativa

22 DE JULHO DE 2021

SEMINÁRIO MAIORContributo para as obras de conservação e requalificação.PT 50 0035 0255 0005 9801132 31.

CORREIO DE COIMBRA

4 Grande Plano

O Correio de Coimbra des-locou-se, há dias, ao Pi-nhal de Marrocos (Coim-

bra) para conhecer a família de Manuel do Rosário Brandão e de Brasilina da Silva Bastos. O obje-tivo desta visita prende-se com a comemoração do Dia Mundial dos Avós que será assinalado no quarto domingo deste mês de julho e que foi institucionaliza-do pelo Papa Francisco. Manuel Brandão, com 90 anos de idade, e Brasilina Bastos, com 88 anos, têm 5 filhos, 10 netos e dois bis-netos. Perderam a filha mais nova, vítima de um cancro. São cristãos convictos. Hoje, apesar das dificuldades de mobilidade, fruto da idade, não passam sem a eucaristia dominical. A Dona Brasilina diz-nos que acompa-nha a missa e reza o terço todos os dias pela Canção Nova. O Sr. Manuel é levado por um dos fi-lhos à missa de S. João Baptista. Já não conduz. Os seus 90 anos já não lhe permitem...

Ao fim de 65 anos de casados, Manuel Brandão confidencia--nos que é com “muito orgulho que a sua mulher nunca preci-sou de mudar de marido” e que ele nunca precisou de mudar

de mulher como agora se usa. “Sempre nos entendemos mui-to bem”. “Nunca precisei de lhe pôr uma mão em cima a não ser para dançar. Apesar de ser um pouco tacanho para dançar, fomos muito dançarinos”. Não perdiam um baile na aldeia.

Oriundos da mesma fregue-sia (Semide) conheceram-se nas idas à missa, aos domingos. To-dos os irmãos se casaram com primas e como as primas se esgotaram, Manuel teve que ir buscar uma mulher à Ribeira de Semide, conta-nos em jeito de brincadeira. Brasilina remata dizendo “é o que tem de ser!”

O namoro foi sempre efetuado no trajeto da missa, uma hora de caminho, desde Braços até ao fundo da Ribeira de Semide, e muitas vezes à porta ou à janela da casa dos pais de Brasilina.

Nos primeiros anos de casados viveram na aldeia, em Chãs de Semide, onde nasceram os seus dois primeiros filhos, Lurdes e Carlos. Mais tarde, mudaram--se para Coimbra. O Sr. Manuel estava na Polícia e fazer o trajeto de bicicleta diariamente era na altura muito violento. Os outros filhos - Dulce, Jorge e Filomena -

já nasceram em Coimbra. Em Coimbra, o casal foi vi-

ver para a Rua Borges Carneiro (antiga Rua das Covas), abrindo uma mercearia onde a Dona Brasilina trabalhou afincada-mente. Lá podia cuidar dos fi-lhos e ir aviando os fregueses ao mesmo tempo. Mais tarde, com-praram um terreno no Pinhal de Marrocos, onde construíram casa. Hoje é chamada Rua da Esperança, nome que o Sr. Bran-dão se orgulha de ter posto, pela dificuldade que teve de adquirir o terreno, a autorização para construção da casa, etc.

Na Polícia, Manuel Brandão prestou serviço em Coimbra, Aveiro, Santarém, Torres Novas, Setúbal, Lisboa, Oeiras e Angola (1972-74), progredindo desta for-ma na carreira. Foi em Coim-bra que terminou o seu serviço, como Comissário.

Deus na vida

Manuel Brandão tem cada vez mais dificuldade em perceber como se pode

viver hoje sem Deus. “Eu só con-sigo perceber a vida à luz do cris-tianismo, louvor e temor a Deus.

Não andamos aqui ao acaso. Deus espera-nos...”. “Quando vejo na televisão as falcatruas que alguns fazem, eu costumo dizer graças a Deus que isto não é nada connosco porque nunca tivemos negócios escuros. Os negócios que tivemos foi comprar e pagar com língua de palmo. E poupar foi sempre o lema pela qual nos gerimos para não sofrer dissabo-res ou ruturas”, explica-nos.

A Família, hoje

Interpelado sobre a sua visão da família, Manuel Brandão diz que “há quem se preocu-

pe em denegrir a família. Quem diga que hoje estar casado por mais de 20 anos já não está na moda – isso é uma mentira! Isso é para cobrir as nódoas negras de quem diz isso”, afirma ao Correio. Apesar de não conhecer essa experiência, nunca se pode-rá fazê-lo sem dor. “Já aconteceu zangar-me com a minha mu-lher ou discutirmos mas nunca nos passou pela ideia a questão do divórcio”, sublinha ao criticar esta política “do casa e descasa”. Mesmo na comunidade cristã, o casal já se apercebeu dos jovens

não casarem tanto pela Igreja, mas “para casarem mal, mais vale não casarem”.

Casal de Igreja e de compromisso

Manuel Brandão e Bra-silina Bastos sempre foram de Igreja. Quan-

do vieram viver para Coimbra, foram convidados a pertencer à Ação Católica. Mais tarde, um Curso de Cristandade despole-tou para o sentido de pertença e para a importância da evangeli-zação. A partir daí foi convidado a pertencer aos corpos diretivos do Movimento e à Escola dos Cursos que funcionavam nos baixos da Sé Nova. A esse propó-sito, recorda-se das palavras de monsenhor Duarte de Almeida, quando o convidou para a Escola e ele pretendeu convencê-lo e que não era a pessoa indicada por ter uma família numerosa, etc. O Monsenhor Duarte de Almeida respondeu-lhe: “quanto mais te esmeras em convencer-me de que não devo insistir, mais me convences de que estou no bom caminho ao convidar-te”. Aca-bou ali a conversa.

“Ser-se cristão e viver procurando pôr em prática a Doutrina de Jesus Cristo é o maior bem que se pode ter”, testemunha Manuel Brandão, comummente conhecido por Comissário Brandão, numa conversa em que nos recebeu em sua casa - uma conversa que é o testemunho de um cursista de grande compromisso, da simplicidade de um casal de grande fé, e é também uma pequena homenagem do Correio de Coimbra. Complementam a conversa três pequenos textos dos netos Maria, José António e Francisco.

BRASILINA DA SILVA BASTOS MANUEL DO ROSÁRIO BRANDÃO

“O ideal era os idosos poderem estar com a família”

22 DE JULHO DE 2021

“[Também na Igreja] andamos atarefados, corremos, pensamos que tudo depende de nós e, no final, corremos o risco de negligenciar

Jesus e estarmos sempre nós no centro. Por isso, Jesus convida os seus para repousar um pouco, à parte, com Ele”.

(Papa Francisco, Ângelus, 18 de julho)

CORREIO DE COIMBRA

5Reportagem

JOÃO ANTÓNIO

“Este movimento inclina-se, não tanto para viver na sacris-tia, mas no mundo, quer dizer, nos ambientes em que cada pes-soa vive, no metro quadrado em que está, sendo aí testemunha de Cristo ressuscitado. Portanto, é um movimento voltado para a evangelização dos ambientes, sejam eles quais forem,” explica à nossa reportagem. “Parece-me pertinente dizer aqui que, para mim, o facto de se ser cristão e viver procurando pôr em práti-ca a Doutrina de Jesus Cristo, é o maior bem que se pode ter. Toda-via, assim como qualquer tipo de vida da pessoa humana precisa de ser alimentado, também aqui há que viver em comunhão, já que o cristianismo só é bem vivi-do se for convivido”.

Foram 60 anos dedicados ao Movimento, refere por sua vez Brasilina. Só deixaram de ir por-que as pernas já não respondem ao desejo interior. Hoje, para saí-rem de casa, estão dependentes dos filhos.

“Na velhice não se sabe tudo. Porém, o passar do tempo e enquanto se tem pelo menos algumas das capacidades de

outrora, a idade vai-nos propor-cionando outros contatos, hábi-tos, certezas e também desilu-sões”, escreveu numa das suas memórias Manuel Brandão, referindo-se à sua convicção de que, crer em Deus e procurar vi-ver quanto possível, dentro dos parâmetros da Sua Lei, é o me-lhor caminho...

De pais a avós

“Nós acabamos por ter mais amor aos netos do que aos filhos. Te-

mos mais paciência e mais ex-periência para lidar com eles”, responde a Dona Brasilina à per-gunta que lhe é colocada sobre a sua relação com os seus netos e bisnetos. A maior felicidade des-te casal é poder juntar a família, que é muito grande, à mesa. Este ano, por causa da pandemia tem sido difícil, lamenta Manuel Brandão, que está desejoso de o poder fazer brevemente.

O Senhor Manuel e a Dona Bra-silina não se preocupam mui-to em dar “sermões” aos netos, mas procuram dar-lhes o me-lhor exemplo de vida possível, de maneira que os netos e bisnetos “bebam” da sua forma de ser e estar. No entanto, reconhecem que hoje há um elemento muito forte que separa de algum modo, ou nalgumas coisas, os avós e os netos: as novas tecnologias. Isto, pesar de Manuel Brandão, por necessidade da profissão, ter conseguido lidar bem com

o computador ou o telemóvel; com as redes sociais, já um pou-co menos... Mas hoje, diz, com a idade está muito esquecido.

Não estranham que a vida agora esteja diferente. Os jovens, hoje, relacionam-se muito pelas redes sociais: “eles andam aí com os telemóveis onde se veem cer-tas caras...; a gente não gosta mas não dizemos nada”, sublinha Bra-silina, com alguma resignação.

Sobre a importância do Dia Mundial dos Avós, Manuel Bran-dão diz que é importante assi-nalar-se esse dia. “Vejo muita gente idosa institucionalizada em lares e que acabam por mor-rer lá. O ideal era poderem estar com a família”, realça.

No que toca à Igreja, Manuel Brandão não se sente excluído por ser idoso, antes por contrá-rio. Ainda no domingo passado, quando chegou para a missa da paróquia de São João Baptista lá tinha dois lugares reservados à sua espera, um para si e outro para a esposa. Só que ela tinha--se sentido mal e não foi. Então ele riu-se para o responsável do acolhimento e disse-lhe: “hoje não são dois, sou só eu”.

Queridos avôs, queridas avós!

«Eu estou contigo to-dos os dias» (cf. Mt 28, 20) é a promes-

sa que o Senhor fez aos discí-pulos antes de subir ao Céu; e hoje repete-a também a ti, querido avô e querida avó. Sim, a ti! «Eu estou contigo todos os dias» são também as pala-vras que eu, Bispo de Roma e idoso como tu, gostaria de te dirigir por ocasião deste pri-meiro Dia Mundial dos Avós e dos Idosos: toda a Igreja está solidária contigo – ou melhor, connosco –, preocupa-se conti-go, ama-te e não quer deixar-te abandonado.

Bem sei que esta mensagem te chega num tempo difícil: a pandemia foi uma tempesta-de inesperada e furiosa, uma dura provação que se abateu sobre a vida de cada um, mas, a nós idosos, reservou-nos um tratamento especial, um trata-mento mais duro. Muitíssimos de nós adoeceram – e muitos partiram –, viram apagar-se a vida do seu cônjuge ou dos pró-prios entes queridos, e tantos – demasiados – viram-se for-çados à solidão por um tempo muito longo, isolados.

O Senhor conhece cada uma das nossas tribulações deste tempo. Ele está junto de quantos vivem a dolorosa experiência de terem sido postos de lado; a nos-sa solidão – agravada pela pan-demia – não O deixa indiferente. Segundo uma tradição, também São Joaquim, o avô de Jesus, foi afastado da sua comunidade, porque não tinha filhos; a sua vida – como a de Ana, sua esposa – era considerada inútil. Mas o Senhor envioulhe um anjo para o consolar. Estava ele, triste, fora das portas da cidade, quando lhe apareceu um Enviado do Senhor e lhe disse: «Joaquim, Joaquim! O Senhor atendeu a tua oração insistente». Giotto, num seu fa-moso afresco, parece colocar a cena de noite, uma daquelas inúmeras noites de insónia a que muitos de nós se habitua-ram, povoadas por lembranças, inquietações e anseios.

Ora, mesmo quando tudo pa-rece escuro, como nestes meses de pandemia, o Senhor conti-nua a enviar anjos para conso-lar a nossa solidão repetindo--nos: «Eu estou contigo todos os dias». Di-lo a ti, di-lo a mim, a todos. Está aqui o sentido deste Dia Mundial que eu quis que se celebre pela primeira vez preci-samente neste ano, depois dum longo isolamento e com um vol-tar, ainda lento, à vida social:

oxalá cada avô, cada idoso, cada avó, cada idosa – especialmente quem dentre vós está mais sozi-nho – receba a visita de um anjo!

Este anjo, algumas vezes, terá o rosto dos nossos ne-tos; outras vezes, dos familia-res, dos amigos de longa data ou daqueles que conhecemos precisamente neste momento difícil. Neste período, apren-demos a entender como são importantes, para cada um de nós, os abraços e as visitas, e muito me entristece o facto de as mesmas não serem ainda possíveis em alguns lugares.

Mas o Senhor envia-nos os seus mensageiros também atra-vés da Palavra de Deus, que Ele nunca deixa faltar na nossa vida. Cada dia, leiamos uma pá-gina do Evangelho, rezemos com os Salmos, leiamos os Profetas! Ficaremos comovidos com a fi-delidade do Senhor. A Sagrada Escritura ajudar-nos-á também a entender aquilo que o Senhor pede hoje à nossa vida. De fac-to, Ele manda os operários para a sua vinha a todas as horas do dia (cf. Mt 20, 1-16), em todas as estações da vida. Eu mesmo posso dar testemunho de que recebi o chamamento para me tornar Bispo de Roma quando tinha chegado, por assim dizer, à idade da reforma e imaginava que já não podia fazer muito de novo. O Senhor está sempre jun-to de nós – sempre – com novos convites, com novas palavras, com a sua consolação, Ele está sempre junto de nós. Como sa-beis, o Senhor é eterno e nunca se reforma. Nunca.

DIA DOS AVÓS E DOS IDOSOS

«Eu estou contigo todos os dias» (Mt 28, 20)Extrato da Mensagem do Santo Padre

As mãos colecionam as gravuras da nossa his-tória, são o contacto

eminente entre o eu e o mundo. As mãos mais bonitas alguma vez gravadas são as dos avós.

Mãos de avós transportam--se a si e as dos seus filhos. Mãos de avós sabem desenhar em arroz doce e sabem dar. Mãos de avós foram rasgadas pelo campo e pelo vento. Com tudo isto, só o outono dos anos as fez mudar de cor.

E um dia, quando crescer, não terei as mãos dos meus avós, porque o mundo que eles tocaram era diferente do meu. E ainda mais tarde, quando de-las me esquecer, terei as dos meus pais para me lembrar.

As mãos que só o outono dos anos faz mudar de cor Os avós são regrados

com as palavras. Sa-bem quando as usar e

não as desperdiçam… Assim, mostram que para amar, não é tanto dizer mas fazer, não é tanto dar nas vistas mas estar na retaguarda e preocupar-se apenas com as coisas certas.

Os avós tornam sonhos rea-lidade. A garagem do avô é um País das Maravilhas, e qual-quer que seja a empreitada ou projecto, aí podemos encontrar tudo aquilo que necessitamos para os materializar. Nenhum sonho, desde foguetões espa-ciais a carros gravíticos, fa-lharia por falta de uma peça mestra. Se assim for, o Avô encarrega-se ele mesmo de ir connosco em busca da peça perdida para podermos levar-mos os nossos sonhos adian-te, concretizarmos tudo aquilo que imaginámos.

A garagem do avô é um País das Maravilhas

MARIA

OS AVÓSTêm em si forte o fogo que arde sem se ver,

Livres do rigor que dos pais é imperioso,

Alimentam em nós a semente do bem querer,

São uma feroz leoa e um lobo judicioso,

Com um simples carinho ou lição de valor,

Inclinam a balança da vida a nosso favor.

Inclinama balançada vida a

nosso favor

FRANCISCO

“Segundo uma tradição, também São Joaquim, o avô de Jesus, foi afastado da sua comunidade, porque não tinha filhos; a sua vida – como a de Ana, sua esposa – era considerada inútil. Mas o Senhor enviou-lhe um anjo para o consolar: «Joaquim, Joaquim! O Senhor atendeu a tua oração insistente».

22 DE JULHO DE 2021

“A compaixão nasce da contemplação. Se aprendermos a descansar verdadeiramente, tornar-nos-emos capazes de ter verdadeira compaixão; se cultivarmos o olhar contemplativo, continuaremos as nossas tarefas sem a atitude voraz de quem quer possuir e consumir tudo”.(Papa Francisco, Ângelus, 18 de julho)

CORREIO DE COIMBRA

6 Liturgia

Os extremos chocam-se: primeiro, totalmente do contra; por último, a entrega radical! A princípio, o estar no contra, levou a um extremo sofrimento interior. No fim, a entrega radical levou a que desaparecesse a tormenta e a encontrar a paz total. Pelo caminho… o encontro com o jovem escuteiro que já tinha passado por experiências dolorosas; o retiro, que deu ocasião a longas discussões com um dos monges; a descoberta da missa e o desejo de comungar… Depois uma homilia, o encontro com um Padre do Opus Dei, a oração sobre as bem-aventuranças… e o conseguir pôr a fé em coerência com a vida. Eis o segredo! E a paz total! Para o Michel. Para mim. Para ti.

Enquanto estudante eu es-tava essencialmente no «contra»: saídas… noi-

tadas. Um dia, um certo ques-tionamento metafísico caiu sobre mim e colocou-me num extremo sofrimento interior. Era batizado, mas não andei na catequese. A minha formação espiritual limitava-se a uma bi-

blioteca esotérica da minha avó e algumas incursões nas espiri-tualidades orientais.

Fui ter com um dos meus ami-gos, escuteiro e antigo testemu-nha de Jehová. Passámos horas a discutir. Ele dizia-me que eu procurava Deus. Eu opunha-lhe argumentos e mais argumentos. Ao fim de um ano, dececionado, ele disse-me: «Miguel, são mui-to simpáticas as nossas discus-sões, mas não sei que mais te di-zer. Vais rezar durante um mês para que Deus te converta e eu irei também rezar por ti. Depois aconselho-te a fazer um retiro». Não tendo nada a perder, aceitei.

Ao fim de um mês, a conselho do meu antigo assistente escu-teiro, fui à Abadia de Maylis. Aí, discuti regularmente com um dos monges. A sua vida ti-nha, cada dia ao meio dia, um ponto culminante: a Missa. Deu-me vontade de comungar. Mas… era preciso confessar-me. Quando finalmente cheguei a fazê-lo, pus-me a chorar como uma Madalena! Tinha vindo cheio de dúvidas sobre a Igre-ja. Não sei explicar como, mas saí de lá crente. Era evidente: Deus existia e eu acreditava na Igreja. Estava entusiasmado. Deambulei por vários grupos de oração. Num 16 de Junho – fes-

ta de S. José Maria, fundador do Opus Dei – fui tocado por uma homilia. Fui procurar o padre que pertencia à Obra. Falámos e ele aconselhou-me a continuar a rezar sobre as bem-aventu-ranças. Ao sair, pensei: «Se é esta a sua seita, isto não vende ilusões». Passado um ano, voltei a encontrá-lo e comecei a ir às atividades do Opus Dei. Havia aí um alimento espiritual e ao mesmo tempo intelectual. Era exatamente o que eu procurava.

A minha conversão tinha fei-to desaparecer o meu mal-estar, mas ainda não tinha encontra-do a paz completa. O acompa-nhamento espiritual que recebi teve o condão de pôr a minha fé em coerência com a minha vida. Pedi para entrar na Obra, com a ideia de me casar em seguida. Entretanto sugeriram-me que me interrogasse no meu íntimo, se não queria comprometer-me como celibatário. Nunca tinha pensado nisso. Dei conta que era possível, sem me sentir cons-trangido. Livremente, escolhi o celibato. Neste momento, o que atormentava desapareceu. Es-tou em paz total e espero estar assim para sempre.

Michel, 45 anos, Engenheiro comercial. In «Prier» nº 403

Depois do milagre da multiplicação dos pães, os Apóstolos entram

na barca em direcção a Cafar-naúm. Levanta-se uma tempes-tade, e Jesus vem ao encontro dos seus amigos, caminhando sobre as águas.

Ainda eles não tinham recu-perado da surpresa da multi-plicação dos pães, e eis que se deparam com um novo acon-tecimento que não podem explicar… Se antes estavam admirados, ficam agora com-pletamente confusos! E Jesus nada mais pretende a não ser mostrar que está para além das aparências do que para nós se assemelha ser a realidade em que decorre a nossa vida.

Há muitas maneiras de procu-rar Jesus. Há a busca dos que O seguem por amor, e a busca in-teresseira dos que vêm pedir-Lhe a cura ou saciar-se de pão. Não O seguem por verem n’Ele o Mes-sias de Deus, mas na expectativa de benefícios temporais; por isso, os que antes O queriam acla-mar como rei, irão depois não só abandoná-l’O, como persegui-l’O.

E qual será a nossa atitude? Confundimos a fé com sen-timento e o fervor com entu-siasmo? Procuramos nas prá-ticas da fé vantagens terrenas, julgando-nos com direito a que tudo nos corra como queremos. Só que o melhor que Deus nos dá não são precedências ou sucessos, mas o Amor que nos tem. À hora das exigências, os verdadeiros adoradores serão sempre em minoria.

Jesus exige-nos um esforço contínuo de trabalhadores ma-tinais, desenganados de outras fomes e alimentos: “Trabalhai (…) pelo alimento (…) que o fi-lho do homem vos dará”, diz Ele no Evangelho de hoje. Criados para Deus, temos sede de infini-to, e só Ele nos pode saciar. Para responder a esta fome, enviou--nos o Seu Filho, como alimento da verdade e Pão da Vida. Este alimento traz a marca do Pai, como sinal do amor que nos tem. Cura todas as fomes e sabe a todos os gostos. A marca do Pai que O revela e exalta, con-siste em dar a vida. Por isso, o Filho morre por nós na cruz,

fazendo-se Pão da nossa fome.Pela Sua incarnação, morte

e ressurreição, formamos com Ele uma só vida, um só corpo, marcados pelo seu Amor e filia-ção. Enraizados em Cristo, tra-balhamos pelo alimento que dá força; a marca do Pai que nos distingue e assinala é Cristo em nós: é este o alimento que o Fi-lho do Homem nos dá.

E nós, “que havemos de fa-zer?” perguntam os Apóstolos. Acreditar em Jesus, o Cristo, alimento que sacia de verdade e nos faz crescer para a vida plena. É esta a obra de Deus en-tre nós. Mas, para acreditar, os ouvintes pedem-lhe um sinal. Queriam um sinal, um pão des-cido do céu como o maná do de-serto… Mas o maná era apenas a figura: o verdadeiro Pão desci-do do Céu é Ele, Jesus Cristo. Na presença da realidade, não são mais precisas as figuras. Dian-te do Pão da Vida cessam fomes e sedes: para a fome e sede de vida eterna, Jesus é o alimento.

“Senhor, dá-nos sempre desse Pão!”

ESPIRITUALIDADE

Da inquietação à pazJoão Castelhano

NEM SÓ DE PÃO | COMENTÁRIO À LITURGIA DOMINICAL

O Pão, a realidade e as aparênciasAntónio Calixto

LEITURA DO LIVRO DO ÊXODO Ex 16, 2-4. 12-15Naqueles dias, toda a comunidade dos filhos de Israel começou a murmurar no deserto contra Moisés e Aarão. Disseram-lhes os fi-lhos de Israel: «Antes tivéssemos morrido às mãos do Senhor na ter-ra do Egipto, quando estávamos sentados ao pé das panelas de carne e comíamos pão até nos saciarmos. Trouxestes-nos a este deserto, para deixar morrer à fome toda esta multidão». Então o Senhor dis-se a Moisés: «Vou fazer que chova para vós pão do céu. O povo sairá para apanhar a quantidade necessária para cada dia. Vou assim pô--lo à prova, para ver se segue ou não a minha lei. Eu ouvi as murmu-rações dos filhos de Israel. Vai dizer-lhes: ‘Ao cair da noite comereis carne e de manhã saciar-vos-eis de pão. Então reconhecereis que Eu sou o Senhor, vosso Deus’». Nessa tarde apareceram codornizes, que cobriram o acampamento, e na manhã seguinte havia uma cama-da de orvalho em volta do acampamento. Quando essa camada de orvalho se evaporou, apareceu à superfície do deserto uma substân-cia granulosa, fina como a geada sobre a terra. Quando a viram, os filhos de Israel perguntaram uns aos outros: «Man-hu?», quer dizer: «Que é isto?», pois não sabiam o que era. Disse-lhes então Moisés: «É o pão que o Senhor vos dá em alimento».

LEITURA DA EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS Ef 4, 17. 20-24Eis o que vos digo e aconselho em nome do Senhor: Não torneis a proceder como os pagãos, que vivem na futilidade dos seus pen-samentos. Não foi assim que aprendestes a conhecer a Cristo, se é que d’Ele ouvistes pregar e sobre Ele fostes instruídos, conforme a verdade que está em Jesus. É necessário abandonar a vida de outrora e pôr de parte o homem velho, corrompido por desejos enganadores. Renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e santidade verdadeiras.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO Jo 6, 24-35Naquele tempo, quando a multidão viu que nem Jesus nem os seus discípulos estavam à beira do lago, subiram todos para as barcas e foram para Cafarnaum, à procura de Jesus. Ao encontrá-l’O no outro lado do mar, disseram-Lhe: «Mestre, quando chegaste aqui?». Jesus respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficas-tes saciados. Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará. A Ele é que o Pai, o próprio Deus, marcou com o seu selo». Disseram-Lhe então: «Que devemos nós fazer para praticar as obras de Deus?». Respondeu-lhes Jesus: «A obra de Deus consiste em acre-ditar n’Aquele que Ele enviou». Disseram-Lhe eles: «Que milagres fazes Tu, para que nós vejamos e acreditemos em Ti? Que obra reali-zas? No deserto os nossos pais comeram o maná, conforme está es-crito: ‘Deu-lhes a comer um pão que veio do Céu’». Jesus respondeu--lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu; meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu. O pão de Deus é o que desce do Céu para dar a vida ao mundo». Disseram-Lhe eles: «Senhor, dá-nos sempre desse pão». Jesus respondeu-lhes: «Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome, quem acredita em Mim nunca mais terá sede».

DOMINGO XVIII DO TEMPO COMUM 1 de agosto de 2021

ENTRADADeus vinde em meu auxílio | CEC II 88Como é admirável, Senhor | CEC II 114

Deus amou de tal modo | CEC II 34

APRESENTAÇÃO DOS DONSMinha vida tem sentido | CT 66

Na hóstia sobre a patena | NCT 248Jesus nossa redenção | NCT 567

COMUNHÃOBendito, bendito sejas | CEC II 220

Eu sou o Pão da Vida | CEC II 93Saciastes o vosso Povo | CEC II 90

PÓS-COMUNHÃOPelo Pão do teu Amor | NCT 700

Demos graças ao Senhor | CEC II 27Cantarei ao Senhor | CEC II 47 SU

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22 DE JULHO DE 2021

“Exorto-vos a sair ao encontro dos homens e mulheres que sofrem no corpo e na alma (…), ao encontro de uma criação ferida (…), a ir como homens de diálogo,

procurando construir pontes (…), a ir como homens de paz e reconciliação.”(Papa Francisco, ao Capítulo Geral dos Frades Menores, 15 de julho)

CORREIO DE COIMBRA

7Opinião

Nesta sociedade de consu-mo descartável, em que muito parece efémero e

pouco é duradouro, fica-nos a sombra daquilo que alguma vez tivemos e hoje gostaríamos de voltar ou continuar a ter. Usa-mos, dispensamos e botamos fora tudo o que já não serve, por defeito ou feitio. Falo de coisas, de ideias e de pessoas.

Quando uma coisa é deixada de parte ou lançada fora, não é só ela que se vai: com ela seguem as ideias e vivências que evocaram e as pessoas que de alguma forma se relacionaram com elas. Um brinquedo que na altura nos pare-cia velho e sem uso, que acabamos por deitar ao lixo, levou consigo muito mais do que era. Não o ven-do, já não lembramos aquele ou aquela que no-lo deu nem os ami-gos que à volta dele brincaram.

Em contra corrente, temos agora em nós um museu da alma que nos traz a saudade do que já tivemos. Por isso, compreende-se que alguma coisa fique no tem-po e permaneça perto, à vista da passagem repentina do olhar. Todos guardamos uma peça de loiça dos avós, um livro da juven-tude, um brinquedo da infância e tantas coisas mais. Achamos mesmo o máximo ver à venda o livro da nossa antiga 3ª classe, o treco-treco ou a trotineta de ma-deira que se comprava nas feiras. Só não pegamos e não damos uma volta airosa pela rua porque temos aquela vergonha da adul-tice, de ar sisudo, que não acha piada a estas extravagâncias.

Recordo-me de uma profissão que na minha infância já quase estava extinta, mas que ainda tive o privilégio de ver operar. Lembro-

-me vagamente do deita gatos que passava pela aldeia e, de uma vez só também compunha som-breiros de pano, compunha potes e amolava tesouras e navalhas.

O deita-gatos e o compõe-po-tes tocavam profundamente nos corações das donas de casa que tinham tido a visita do infortú-nio num prato ou travessa que se partira ou num pote que fica-ra tempo demais ao lume sem água e, por isso, se rompera. O amolador era mais eclético e salvava a figura do dono da casa, mas também da menina namo-radeira que precisava do seu sombrinha para andar de enleio às voltas do adro ou da feira.

O deita gatos passava e, meticu-losamente, praticava uma cirur-gia plástica que, pragmaticamen-te, dava mais uns anos de vida ao prato ou à malga, ignorando que,

muitos anos depois, o seu traba-lho valorizaria tais objetos e que, por cada gato, haveria uma me-mória a evocar. Ninguém pergun-ta ou sabe a idade do prato, mas, ao vermos os gatos, vemos logo que é coisa antiga e sobrevinente ao tempo. Mesmo que não seja antiga, é assim que a vemos.

Se para a senhora da casa foi um remedeio necessário, para os herdeiros é uma preciosida-de. É estranho? Claro que sim, mas é desta forma que as me-mórias se fazem.

Uma curiosidade linguística: a palavra “gatado”, significando algo errado, imperfeito ou corri-gido, tem a ver com o exercício desta profissão e, na literatura, um dos poetas maiores do século XX não deixou passar ao lado a subtileza dos remendos no corpo e na alma. Deixo-vos com ele:

1A presidente da Comissão Europeia considerou que o Plano de Recuperação e

Resiliência, já com aprovação final pelos ministros da Finan-ças da UE – de acordo com o nosso titular, João Leão, o pri-meiro cheque, de cerca de dois mil milhões, chegará possivel-mente ainda este mês – irá aju-dar “Portugal a tornar-se mais ecológico, mais digital e mais preparado para o futuro”. Deus a oiça, Ursula von der Leyen.

2A Infraestruturas de Por-tugal está a estudar a criação de uma ‘autoes-

trada’ ferroviária em AV que unirá Lisboa ao Porto em (mas para quê tanta pressa?) uma hora e dez minutos. Deixan-do de lado, intolerável, naque-la que poderíamos classificar como rede ‘regional’, as cidades de Leiria, Coimbra e Aveiro que, através de ‘desvios’ ao eixo prin-cipal, seriam servidas apenas por algumas das composições. Ora eis o conceito de desenvol-vimento homogéneo do terri-tório em que lamentavelmente o governo socialista de António Costa persiste, e quer, mesmo, aprofundar. Quando, com a ve-locidade alta – e não a megaló-mana e caríssima alta velocida-de – poderia melhor servir, em país tão pequeno, com pouco significativa delonga temporal, todo o território litorâneo...de Setúbal a Braga.

3São números aterrado-res: quase 90% dos por-tugueses acredita que há

corrupção no governo, enquan-to, em paralelo, especificam que na lista dos mais corruptos estão os deputados, os banquei-ros os empresários. Estas as conclusões do Barómetro Global divulgado pela Transparência Internacional, onde se subli-nha, ainda – o negro quadro está, pois, para durar – que 41% de todos nós julga que a corrup-ção piorou no último ano, ou-tros tantos acham que tudo está na mesma, e só 13% considera que houve melhorias. Eis, pois, o nosso confiável país...

4Após mais de 559 crias terem nascido numa das salinas da Reserva Natu-

ral do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, Por-tugal pode vir a ter, pela primei-ra vez, uma colónia de flamin-gos no Algarve. O meu grande receio, ecologicamente, é que as autoridades ‘competentes’, mi-nistério do Ambiente incluído, resolvam, um dia destes, alargar o aeroporto de Faro para…aque-las bandas do sotavento algarvio

5Depois de quase vinte anos de presença no Afe-ganistão, os militares

dos Estados Unidos e da NATO retiram-se do país. E entregam o território à guarda da Forças de Defesa e Segurança Nacional,

com certeza um pouco melhor preparadas, contudo, teme-se, insuficientemente fortes para enfrentarem os talibãs que, progressivamente, continuam a conquistar terreno, controlando já um terço dos distritos em es-pecial nas regiões estratégicas junto às fronteiras com o Irão, Usbequistão e Tajiquistão. A saí-da das tropas dos EUA, até 30 de agosto, deixa a Casa Branca ciente dos riscos de um regres-so brutal à violência por parte daquele movimento fundamen-talista islâmico, mas, para Joe Biden, “não é do nosso interesse manter uma guerra sem fim”. Dos interesses dos povos marti-rizados, logo se verá...

6O ultraconservador Ebrahim Raisi, prote-gido representante da

linha dura do regime, venceu, de entre os sete candidatos au-torizados a concorrer, as muito pouco participadas eleições pre-sidenciais no Irão. Substituindo Hasan Rouhani, um moderado próximo dos Estados Unidos da América, o novo e obscuro timo-neiro, que toma posse em agos-to, é pró-chinês e está ligado a uma das maiores atrocidades da república islâmica, o massa-cre de milhares de prisioneiros vinculados à resistência Muja-hedin. Entretanto, tudo parece indiciar que a eleição patrocina-da pelos ayatollahs faz do xiita Raisi, totalmente em linha com

o poder iraniano, o iminente sucessor do velho e doente Líder Supremo, Ali Khamenei.

7- Com Emmanuel Macron e a extrema-direita de Marine Le Pen a serem os

grandes derrotados na primeira volta, os partidos tradicionais, a direita republicana e os so-cialistas, confirmaram um re-gresso às vitórias no final do se-gundo escrutínio das regionais francesas. Marcadas por níveis de abstenção altíssimos (65% é um valor preocupante), as elei-ções mostram resultados que alteram por completo o que se tinha como uma quase certeza para as próximas presidenciais: a repetição do duelo final entre aqueles líderes do La Republique en Marche e da União Nacional. E perfila-se, agora – uma imen-sa dor de cabeça para o atual morador no Palácio do Eliseu – a possibilidade dos gaulistas se congregarem em torno de um dos seus grandes vencedores, Xavier Bertrand, Laurent Wau-quiez ou Valerie Pécrasse.

8Para parar o desgaste, promover uma reno-vação e reconciliação

com o PSOE, ou simplesmente tentar superar as dificuldades que resultam das políticas ado-tadas em relação aos indepen-dentistas da Catalunha, Pedro Sánchez concretizou uma pro-fundíssima remodelação do go-

verno espanhol que sobretudo levou à queda dos nomes mais fortes do núcleo duro e, ainda, de Ivan Redondo, o seu todo-po-deroso chefe de gabinete. Com substituição de sete ministros – mas sem tocar, por manifesta-da indisponibilidade, na quota do Podemos – o novo executivo, relevantemente constituído por 14 mulheres e nove homens, privilegia o setor económico e passa a integrar, dando assim também particular destaque ao municipalismo, três alcaldesas. Uma outra vida política, ou ape-nas, como denúncia a oposição, um mudar de caras para tentar evitar novas eleições a meio da legislatura?

9Foi num tom desafia-dor que Xi Jinping, o lí-der mais poderoso des-

de Mao Tse-tung, discursou na Praça de Tiananmen, em Pe-quim, perante 70 mil pessoas, para celebrar os 100 anos do Partido Comunista Chinês. Su-blinhando, internamente, a he-gemonia do PCC na sociedade, na política, na economia e na cultura, enquanto reafirmava o seu empenhamento na ‘reunifi-cação’ de Taiwan, o novo gran-de timoneiro da China deixaria também avisos internacionais quando dizia que “nunca ire-mos permitir que nos intimi-dem, oprimam ou subjuguem”, e, ainda, ancorado no seu cres-cente poderio militar, que quem o tentar irá “entrar em rota de colisão com a muralha de aço constituída por 1,4 mil milhões de pessoas”. Entretanto, para além deste cenário de força, o mais preocupante é a depen-dência económica para que o Ocidente se deixou arrastar...

Aqui e AlémCabral de Oliveira

PORQUE TAMBÉM ISTO É SER

Aproveita o que não presta e terás o que te é precisoAntonino Silva

Ó rapaz que deita gatosDeitas gatos só

em pratos,Só em tachos e tigelas,

Ou deitas gatos tambémNas almas e no

que há nelasQue as quebra em

mal e em bem?Ah, se, por qualquer

magia,As tuas artes subissemÀquela melhor mestria

De pôr gatos que se vissem

No que sonho e no que sou!

Então...Qual então! Que tratos

Dei a um poema que surgiu!

Só consertas, só pões gatos

No inteiro que se partiu.O partido nasceu

Nem tu consertas nem eu.

Fernando Pessoa, 1933

22 DE JULHO DE 2021

“Pude ver pessoalmente como a sensibilidade humana e o profissionalismo científico são essenciais no cuidado da saúde. Agora carrego no meu coração muitos rostos, histórias e situações de sofrimento.”(Papa Francisco, Carta de agradecimento ao Diretor do Hospital Universitário Agostino Gemelli)

CORREIO DE COIMBRA

ÚltimaDESDE ROMA

O grande incêndio da “ala Covid” do Hospital “Imam al Hussein” em

Nassiriya, Iraque, no dia 12 de julho, em que morreram pelo menos 92 pessoas, provocou uma onda de solidariedade das Igrejas cristãs. O Papa Francisco enviou um telegrama de con-dolências dirigido ao Núncio apostólico no Iraque, Arcebispo Mitja Leskovar, no qual expres-sou “a certeza da sua proximi-dade espiritual para com todos os afetados”, manifestando-se “profundamente entristecido” e afirmando rezar “especialmen-te por aqueles que morreram e pelo conforto dos familiares e amigos que choram sua perda”.

Também o Cardeal Louis Ra-phael Sako, Patriarca da Babi-lónia dos Caldeus, expressou sentimentos e disposições se-melhantes, afirmando ainda, segundo a Agenzia fides, “a es-perança de que esta enésima ca-tástrofe ocorrida no país ajude a “despertar a consciência dos fun-cionários iraquianos” e os leve a deixar de lado os seus “conflitos incompreensíveis”, a unir forças e a assumiras suas responsabi-lidades neste “fase difícil.

Recorde-se que depois do incên-dio, segundo a imprensa local, foram emitidos mandatos de pri-são contra 13 pessoas, incluindo o Diretor dos serviços de saúde da região, Saddam Sahib al-Tawil.

PESAR PELAS VÍTIMAS DE “IMAM AL HUSSEIN”

Que ao menos a catástrofe desperte a consciência dos funcionários iraquianos

Quando falamos da eucaris-tia, da missa, falamos de três dimensões diferentes,

embora indissociáveis: da eucaris-tia acreditada, da eucaristia cele-brada e da eucaristia vivida. É uma distinção clássica, seguida, aliás, por Bento XVI na Exortação Apos-tólica Sacramentum Caritatis. A dimensão acreditada refere-se ao mistério da presença sacramental do Senhor; a celebrada, aos ritos; a vivida, à transformação da vida do cristão que participa na eucaristia.

Nunca fui afeiçoado às coisas da “eucaristia celebrada”, dos ritos. Parto do princípio de que alguém com competência e autoridade para isso nos dirá como fazer, e a gente fá-lo. Simples. Do mesmo modo, porque não põem em causa a eucaristia acreditada nem a eu-caristia vivida, admito que possa haver vários ritos diferentes igual-mente válidos, desde que tenham a autoridade jurídica de quem tem a autoridade eclesial, o Papa e os Bispos. Verdade é que quanto mais cuidada for a dignidade celebra-tiva, tanto mais nos ajudará no adensamento no mistério celebra-do e na sua aportação para a vida. Mas a maior ou menor dignidade celebrativa vale para qualquer rito!

Agora, o problema é que a celebração no rito pré-con-ciliar, segundo o Missal

Romano de 1962, admitido extraor-dinariamente pela autoridade pa-pal de Bento XVI, não foi assumido pela maioria de quem o usa como um rito celebrativo válido, ainda que extraordinário, e ponto final, mas foi transformado num ins-trumento para dar visibilidade a uma atitude de rutura com a Igre-ja conciliar. O seu uso tornou-se num recurso instrumental para evidenciar uma suposta superio-ridade na santidade cristã, desco-lando 1) pastoralmente, do inteiro povo de Deus, 2) eclesialmente, da comunhão com o Santo Padre, com os Bispos e com o Concílio, 3) teolo-gicamente, da fé na assistência do próprio Espírito Santo à Sua Igreja. Por isso, para bem pastoral do in-teiro povo de Deus, para alimento da comunhão eclesial e para ga-rantia da unidade da fé católica, o Papa Francisco fez o que tinha que ser feito: ouvidos os Bispos, colocou travão ao abuso instrumentaliza-dor de um rito que continua válido.

Sobrará sempre espaço, eviden-temente, para discutir se as me-didas agora tomadas são escassas ou excessivas. Mas para mim, já o disse, é discussão que não me afe-ta. Quanto à Eucaristia celebrada, acato com a máxima simplicida-de as orientações de quem tem a competência e a autoridade para nos dizer como se faz.

Carlos Neves

Tinha que ser

22 DE JULHO DE 2021

O Papa Francisco, após con-sultar os bispos do mun-do, decidiu mudar as nor-

mas que regem o uso do missal de 1962, que foi facultado como “Rito Romano Extraordinário” há catorze anos pelo seu prede-cessor Bento XVI. O Pontífice pu-blicou no dia 16 de julho o motu proprio “Traditionis custodes”, sobre o uso da liturgia romana anterior a 1970, acompanhando--o com uma carta na qual explica as razões da sua decisão. Eis as principais novidades.

A responsabilidade de regu-lamentar a celebração segundo o rito pré-conciliar volta para o bispo, moderador da vida li-túrgica diocesana: “é da sua exclusiva competência autori-zar o uso do Missale Romanum de 1962 na diocese, seguindo as orientações da Sé Apostólica”. O bispo deve certificar-se de que os grupos que já celebram com o antigo missal “não excluam a validade e a legitimidade da re-forma litúrgica, os ditames do Concílio Vaticano II e o Magisté-rio dos Sumo Pontífices”.

As missas com o rito antigo não serão mais realizadas nas igrejas paroquiais; o bispo de-terminará a igreja e os dias de celebração. As leituras devem ser “na língua vernácula”, uti-lizando traduções aprovadas pelas Conferências episcopais. O celebrante deve ser um sacer-dote delegado pelo bispo. O bis-po também é responsável por verificar se é ou não oportuno manter as celebrações de acordo

com o antigo missal, verifican-do a sua “utilidade efetiva para o crescimento espiritual”. De fac-to, é necessário que o sacerdote responsável tenha no coração não apenas a digna celebração da liturgia, mas também o cui-dado pastoral e espiritual dos fiéis. O bispo “terá o cuidado de não autorizar a constituição de novos grupos”.

Os sacerdotes ordenados após a presente publicação do Motu próprio, que pretendam utilizar o missal pré-conciliar, “devem enviar um pedido formal ao Bis-po diocesano que consultará a Sé Apostólica antes de conceder a autorização”. Enquanto aque-les que já o fazem devem pedir a autorização ao bispo diocesa-no para o continuar a usar. Os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apos-tólica, “na época erigidos pela Pontifícia Comissão Ecclesia Dei”, estarão sob a competência da Congregação para os Religio-sos. Os Dicastérios para Culto e para os Religiosos supervisiona-rão a observância destas novas disposições.

Na Carta dirigida aos bispos que acompanha o documento, o Papa Francisco explica que as concessões estabelecidas pelos seus predecessores para o uso do antigo missal foram moti-vadas sobretudo “pelo desejo de favorecer a recomposição do cis-ma com o movimento liderado pelo bispo Lefebvre”. O pedido, dirigido aos bispos, de acolher generosamente as “justas aspi-

rações” dos fiéis que solicitavam o uso daquele missal, “tinha, portanto, uma razão eclesial de recomposição da unidade da Igreja”. Essa faculdade, observa Francisco, “é interpretada por muitos dentro da Igreja como a possibilidade de usar livremen-te o Missal Romano promulgado por São Pio V, determinando um uso paralelo ao Missal Romano promulgado por São Paulo VI”.

O Papa lembra que a decisão de Bento XVI com o motu proprio “Summorum Pontificum” (2007) foi apoiada pela “convicção de que tal medida não colocaria em dúvida uma das decisões essenciais do Concílio Vaticano II, atingindo de tal modo sua autoridade”. Há 14 anos o Papa Ratzinger declarou infundado o temor de divisões nas comuni-dades paroquiais, porque, escre-veu, “as duas formas de uso do Rito Romano poderiam enrique-cer-se mutuamente”. Mas a son-dagem recentemente promovida pela Congregação para a Doutri-na da Fé entre os bispos trouxe respostas que revelam, escreve Francisco, “uma situação que me aflige e me preocupa, con-firmando-me na necessidade de intervir”, uma vez que o de-sejo de unidade foi “gravemente desatendido”, e as concessões oferecidas com magnanimidade foram usadas “para aumentar as distâncias, endurecer as dife-renças, construir contraposições que ferem a Igreja e dificultam seu caminho, expondo-a ao ris-co de divisões”.

O Papa diz ficar triste com os abusos nas celebrações litúr-gicas “de um lado e do outro”, mas também diz contristar-se por um “uso instrumental do Missale Romanum de 1962, cada vez mais caracterizado por uma crescente rejeição não só da re-forma litúrgica, mas do Concílio Vaticano II, com a afirmação in-fundada e insustentável de que ele traiu a Tradição e a ‘verda-deira Igreja’”. Duvidar do Concí-lio, explica Francisco, “significa duvidar das próprias intenções dos Padres, que exerceram sole-nemente seu poder colegial cum Petro et sub Petro no Concílio ecuménico, e, em última aná-lise, duvidar do próprio Espírito Santo que guia a Igreja”.

Por fim, Francisco acrescenta uma razão final para a sua de-cisão de mudar as concessões do passado: “é cada vez mais evi-dente nas palavras e atitudes de muitos que existe uma relação estreita entre a escolha das cele-brações de acordo com os livros litúrgicos anteriores ao Concílio Vaticano II e a rejeição à Igreja e às suas instituições em nome do que eles julgam ser a ‘verdadeira Igreja’. Este é um comportamen-to que contradiz a comunhão, alimentando aquele impulso à divisão... contra o qual o Após-tolo Paulo reagiu com firmeza. É para defender a unidade do Corpo de Cristo que sou obrigado a revogar a faculdade concedida pelos meus Predecessores”.

(Notícia: www.vaticannews.va)

“Quero afirmar a minha proximidade para com as populações

da Alemanha, Bélgica e Holan-da, atingidas por catástrofes e inundações. Que o Senhor aco-lha os falecidos, conforte os familiares e sustente o apoio de todos para socorrer quem sofreu tão graves danos”, dis-se o Papa Francisco no final do Ângelus do último domingo. Já antes, no dia 15 de julho, tinha enviado ao Presidente da Repú-blica Federal Alemã, através do Cardeal Parolin, um telegrama no mesmo teor. As inundações da última semana na Alema-nha, Bélgica e Holanda provoca-ram pelo menos 190 mortos.

INUNDAÇÕES NA EUROPA

Proximidade e oração do Papa

MOTU PROPRIO “TRADITIONIS CUSTODES”

Novas normas sobre a missa antiga, maior responsabilidade do bispo

Continua o esforço conjunto das Igrejas Católica, Angli-cana e Presbiteriana em fa-

vor da paz no Sudão do Sul, tendo o Papa Francisco, Sua Graça Jus-tin Welby, Arcebispo de Canter-bury, e o Honorável Lord Wallace, Moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia, enviado, no dia 11 de julho, uma mensagem conjunta nesse sentido aos líde-res daquele país, no 10º aniver-sário da sua independência. Já em 2019 as três Igreja se tinham unido para propor aos líderes ri-vais caminhos concretos de paz, deixando também a promessa de uma visita conjunta. Mas os es-forços feitos até ao momento ain-da não resultaram em paz efetiva.

SUDÃO DO SUL

Igrejas cristãs continuam a lutar pela paz

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