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29/12/2020 https://pje.jfse.jus.br/pjeconsulta/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?idProcesso… https://pje.jfse.jus.br/pjeconsulta/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?idProcessoDocumento=3… 1/14 Poder Judiciário Justiça Federal de Primeira Instância da 5ª Região Seção Judiciária de Sergipe 2 a Vara PROCESSO Nº: 0802504-77.2020.4.05.8500 - AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU: MANOEL LUIZ OLIVEIRA e outros ADVOGADO: Marcelo Galante e outros 2ª VARA FEDERAL - SE (JUIZ FEDERAL TITULAR) DECISÃO 1. Relatório. Cuidam os autos de ação civil pública por ato de improbidade administrativa ajuizada pelo Ministério Público Federal em face de Manoel Luiz Oliveira, Fabiano Ferreira de Mendonça Redondo e Dagmar Marcílio de Lima, objetivando liminarmente a decretação de indisponibilidade dos bens dos requeridos até o valor atualizado de R$ 200.581,63 (duzentos mil, quinhentos e oitenta e um reais e sessenta e três centavos). A parte autora historia os fatos que dão suporte ao seu pleito, da seguinte forma: A Confederação Brasileira de Handebol - CBHb, com o objetivo de realizar o XX Campeonato Mundial de Handebol Feminino, participou da Chamada Pública nº 01/2011 do programa "Brasil no Esporte de Alto Rendimento - Brasil Campeão" do Ministério dos Esportes. O projeto da CBHb consistia na realização do XX Campeonato de Handebol Feminino, que efetivamente ocorreu no período de 02.12.2011 a 18.12.2011, nos municípios paulistas de Barueri, Santos, São Bernardo do Campo e São Paulo/SP. Por intermédio do seu presidente, Manoel Luiz Oliveira, a CBHb celebrou o Convênio nº 760211/2011 com o Ministério do Esporte, datado de 02.12.2011, com vigência inicial em 03.12.2011 e publicação do Extrato no DOU em 12.12.2011. O valor do convênio foi R$6.000.000,00 (seis milhões de reais), sendo R$ 5.910.000,00 (cinco milhões novecentos e dez mil reais) por parte da CONCEDENTE e de R$90.000,00 (noventa mil reais) de contrapartida em bens e serviços da CONVENENTE. O convênio previu uma série de contratações necessárias à realização do evento no Estado de São Paulo. Para fins de otimização, optou-se por separar as ações de improbidade por cada contratação irregular. 2. DOS FATOS IMPUTADOS 2.1. FRUSTRAÇÃO À LICITUDE Manoel Luiz Oliveira e Fabiano Redondo, respectivamente, Presidente e Diretor Executivo da Confederação Brasileira de Handebol, agindo com unidade de desígnios e de forma dolosa, no dia 03/12/2011, na cidade de Aracaju/SE, fraudaram mediante prévio ajuste o caráter competitivo do procedimento licitatório nº 010/2011 (Cotação Prévia de Preços nº 001/2011), com o intuito de obter vantagem indevida, decorrente da adjudicação da licitação, para o empresário Dagmar Marcílio de Lima, responsável pela empresa GERAFORÇA LOCAÇÃO E COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS LTDA. Segundo consta da investigação preliminar, os requeridos Manoel Luiz Oliveira e Fabiano Redondo, previamente à formalização do procedimento de contratação, decidiram que a empresa do denunciado Dagmar Marcílio de Lima seria a escolhida para prestar o serviço de locação de geradores de energia para o Evento. As evidências de que a licitação foi forjada, representando uma mera formalidade para atender à determinação do Ministério do Esporte, são as seguintes: 1) A licitação que resultou na formalização do contrato com a empresa Geraforça Locação e Comércio de Equipamentos Ltda. foi realizada no dia 03 de dezembro de 2011, embora o campeonato tenha iniciado no dia 02 de dezembro de 2011; 2) As propostas das empresas MAQUIDIESEL e ENERG. COMÉRCIO, datadas do dia 03/12/2011, sequer foram assinadas pelos respectivos representantes legais;

29/12/2020 ... · 2020. 12. 29. · 5.910.000,00 (cinco milhões novecentos e dez mil reais) por parte da CONCEDENTE e. de R$90.000,00 (noventa mil reais) de contrapartida em bens

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    Poder Judiciário

    Justiça Federal de Primeira Instância da 5ª Região

    Seção Judiciária de Sergipe

    2a Vara

    PROCESSO Nº: 0802504-77.2020.4.05.8500 - AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVAAUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU: MANOEL LUIZ OLIVEIRA e outros ADVOGADO: Marcelo Galante e outros 2ª VARA FEDERAL - SE (JUIZ FEDERAL TITULAR)

    DECISÃO

    1. Relatório.

    Cuidam os autos de ação civil pública por ato de improbidade administrativa ajuizada peloMinistério Público Federal em face de Manoel Luiz Oliveira, Fabiano Ferreira de Mendonça Redondo eDagmar Marcílio de Lima, objetivando liminarmente a decretação de indisponibilidade dos bens dosrequeridos até o valor atualizado de R$ 200.581,63 (duzentos mil, quinhentos e oitenta e um reaise sessenta e três centavos).

    A parte autora historia os fatos que dão suporte ao seu pleito, da seguinte forma:

    A Confederação Brasileira de Handebol - CBHb, com o objetivo de realizar o XXCampeonato Mundial de Handebol Feminino, participou da Chamada Pública nº 01/2011do programa "Brasil no Esporte de Alto Rendimento - Brasil Campeão" do Ministériodos Esportes.

    O projeto da CBHb consistia na realização do XX Campeonato de Handebol Feminino,que efetivamente ocorreu no período de 02.12.2011 a 18.12.2011, nos municípiospaulistas de Barueri, Santos, São Bernardo do Campo e São Paulo/SP.

    Por intermédio do seu presidente, Manoel Luiz Oliveira, a CBHb celebrou o Convênionº 760211/2011 com o Ministério do Esporte, datado de 02.12.2011, com vigênciainicial em 03.12.2011 e publicação do Extrato no DOU em 12.12.2011.

    O valor do convênio foi R$6.000.000,00 (seis milhões de reais), sendo R$5.910.000,00 (cinco milhões novecentos e dez mil reais) por parte da CONCEDENTE ede R$90.000,00 (noventa mil reais) de contrapartida em bens e serviços daCONVENENTE.

    O convênio previu uma série de contratações necessárias à realização do evento noEstado de São Paulo. Para fins de otimização, optou-se por separar as ações deimprobidade por cada contratação irregular.

    2. DOS FATOS IMPUTADOS

    2.1. FRUSTRAÇÃO À LICITUDE

    Manoel Luiz Oliveira e Fabiano Redondo, respectivamente, Presidente e DiretorExecutivo da Confederação Brasileira de Handebol, agindo com unidade de desígnios ede forma dolosa, no dia 03/12/2011, na cidade de Aracaju/SE, fraudaram medianteprévio ajuste o caráter competitivo do procedimento licitatório nº 010/2011(Cotação Prévia de Preços nº 001/2011), com o intuito de obter vantagem indevida,decorrente da adjudicação da licitação, para o empresário Dagmar Marcílio de Lima,responsável pela empresa GERAFORÇA LOCAÇÃO E COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS LTDA.

    Segundo consta da investigação preliminar, os requeridos Manoel Luiz Oliveira eFabiano Redondo, previamente à formalização do procedimento de contratação,decidiram que a empresa do denunciado Dagmar Marcílio de Lima seria a escolhidapara prestar o serviço de locação de geradores de energia para o Evento.

    As evidências de que a licitação foi forjada, representando uma mera formalidadepara atender à determinação do Ministério do Esporte, são as seguintes:

    1) A licitação que resultou na formalização do contrato com a empresa GeraforçaLocação e Comércio de Equipamentos Ltda. foi realizada no dia 03 de dezembro de2011, embora o campeonato tenha iniciado no dia 02 de dezembro de 2011;

    2) As propostas das empresas MAQUIDIESEL e ENERG. COMÉRCIO, datadas do dia03/12/2011, sequer foram assinadas pelos respectivos representantes legais;

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    3) A licitação foi concluída no dia 03 de dezembro de 2011 e o contratosupostamente foi assinado no dia 03 de dezembro de 2011 na cidade de Aracaju,embora o denunciado Manoel Luiz, presidente da Confederação, e o denunciado DagmarLima estivessem na cidade de São Paulo/SP; a sede da empresa GERAFORÇA é a cidadede Cotia-SP;

    3) As cotações prévias de preço que sequer foram assinadas pelos respectivosrepresentantes legais possuem valores exatamente idênticos aos supostamenteapresentados na licitação 10/2011, que resultou na contratação da empresa GeraforçaLocação e Comércio de Equipamentos Ltda.;

    4) A ata de habilitação e julgamento das propostas é assinada apenas pelodenunciado Manoel Luiz Oliveira e pelos membros da licitação, sem qualquer registroda presença ou participação dos licitantes. Nesse particular, registre-se que oentão presidente estava na cidade de São Paulo acompanhando o evento. Também não háregistro de que os licitantes foram cientificados do resultado e da possibilidadede interposição de recurso contra a decisão da comissão de licitação.

    5) Segundo fiscalização da C.G.U, as cotações apresentam indícios de terem sidofalsificadas pelas seguintes constatações:

    a) As três empresas que teriam apresentado cotações foram:

    EMPRESA CNPJ LOCAL DAEMPRESA

    VALOR DAPROPOSTA (R$)

    GeraforçaLocação e

    Comércio deEquipamentos

    Ltda

    53.002.077/0001-67

    Cotia/SP 540.360,00

    MaquiDieselComércio de

    Peças,Serviços e

    Equipamentosde GeradoresLtda

    11.401.523/0001-66

    São Bernardodo

    Campo/SP

    574.700,00

    Energ Comérciode Peças

    para

    Geradores Ltda

    06.696.624/0001-71

    Diadema/SP 598.500,00

    b) Os orçamentos e as propostas de preços diferem do previsto no Termo deReferência no tocante à quantidade de dias de locação dos geradores para o ginásioIbirapuera na cidade de São Paulo. Nos primeiros, foi consignado o prazo de 18dias, enquanto que no Termo de Referência expressamente consta 13 dias. Destaca-seque o termo contratual foi celebrado para 18 dias de evento, embora a Confederaçãojá soubesse naquela época as datas dos jogos definidos previamente pela FederaçãoInternacional de Handebol.

    c) Apesar de o Termo de Referência não indicar expressamente a quantidade de horasdiárias de funcionamento dos geradores, os orçamentos e as propostas de preçosindicaram 06 horas de funcionamento por dia, tal qual foi consignado no termocontratual.

    d) Em atendimento ao Ofício nº 27614/2012-CGU-Regional/SE/CGUPR, de 19/09/2012, aempresa Energ Comércio Peças Ltda (CNPJ nº 06.696.624/0001-71) encaminhou à caixapostal da CGU-Regional/SE, em 25/09/2012, arquivo eletrônico contendo o orçamentoque teria sido por ela enviado à CBHb para locação de geradores ao eventodesportivo. Esta cotação diverge do orçamento da mesma empresa contido no SICONV,nos seguintes aspectos:

    Divergência Orçamento enviadoà CGU

    Orçamento no SICONV

    Data de emissão 23/09/2011 23/10/2011Quantidade de diasde locação nascidades de São

    10 (dez) 13 (treze)

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    Bernado do Campo,Santos e BarueriQuantidade de diasde locação

    na cidade de SãoPaulo

    16 (dezesseis) 18 (dezoito)

    Valor total orçadopara as cidadesinterioranas

    R$ 428.000,00 R$ 409.500,00

    Valor total orçadopara a capital

    R$ 186.700,00 R$ 189.000,00

    Portanto, há evidências claras no sentido de que a licitação realizada pelaConfederação de Handebol foi forjada objetivando justificar a contratação daempresa de DAGMAR, previamente ajustada pelos denunciados MANOEL LUIZ e FABIANOREDONDO.

    Interrogado pela Polícia Federal no bojo do Inquérito Policial nº 212/2017, ManoelLuiz Oliveira declarou que a responsabilidade pelas cotações e escolha dosfornecedores era de FABIANO REDONDO:

    "[] que foi contratada a empresa MR-Sport-ABC Comércio de Artigos Esportivos(Marketing Redondo); Que essa empresa foi responsável por toda a organizaçãoprocessual do campeonato, a exemplo de cotações de preços, escolha de fornecedores,negociação de pagamento; que toda a operação de organização do campeonato foirealizada em São Paulo/SP; (f. 34 do IPL) [] que todo o projeto do campeonato foiidealizado e formalizado pelo FABIANO REDONDO. [] todas as tratativas de compra eprestação de serviço foram feitas pelo FABIANO REDONDO; [] que no dia 03.12.2011estava na cidade de São Paulo[]". (f. 201-203 do IPL)

    No seu interrogatório (f. 160-163 do IPL), Fabiano Redondo confirma que ascontratações foram realizadas antes da formalização do convênio:

    "[] ficou responsável por: organização, logística, contrato com autoridades locais(das cidades sedes), contato com fornecedores e cotações prévias paradimensionamento financeiro do campeonato, conforme Caderno de Encargos da FederaçãoInternacional de Handebol (IHF). [] na prática, a contratação das empresas quetrabalharam no evento se deu, em regra, no mês de outubro/2011, mas como o Convênioainda não tinha sido aprovado, ocorreu uma contratação de fato, com uma expectativade contratação de direito por conta e risco dos fornecedores; [] acredita que nãoocorreu nenhum procedimento licitatório, nos termos da Lei 8.666, para publicaçãodos recursos provenientes do referido Convênio, uma vez que como a CBHb não é umente público, não existe exigência legal para a realização de licitação; noentanto, a CBHb realizava um processo de comparação de valores para a contratação.[] enquanto sua empresa manteve contrato de prestação de serviços com aConfederação, o Declarante mantinha contato frequente com vários departamentos daCBHb, podendo citar: o presidente MANOEL LUIZ, a IVONE e o ÍCARO, secretários dopresidente, DIGENAL - superintendente técnico e outros; quanto às cotações para acontratação das empresas, informa que, em regra, eram pesquisadas levando-se emconta as exigências do Caderno de Encargos da Federação Internacional de Handebol esempre eram apresentadas três ou mais cotações para cada ação necessária; noentanto, houve nesta fase duas ou mais indicações feitas pelo presidente daConfederação, que foram: a empresa GRM SERVIÇOS MÉDICOS e a PHOTO & GRAFIA; quantoa GRM, explica que um sócio da mesma era um dos médicos do quadro da CBHb, Dr.LEANDRO GREGORUT, e que não se tratou de uma exigência do presidente da CBHb, massim uma recomendação; quanto à PHOTO & GRAFIA, esta empresa já prestava serviços deassessoria de imprensa para a CBHb há alguns anos antes do Mundial; a decisão pelacontratação das empresas não cabia ao Declarante nem à sua empresa, mas sim a CBHb;coube ao Declarante preparar um relatorio técnico de realização do evento, com acomprovação de todas as ações previstas no Plano de Trabalho, o qual acompanhou aprestação de contas, esta última feita pelo Departamento Financeiro da CBHb; sequerteve acesso à prestação de contas." (f. 160-163 do IPL)

    Diante do vasto acervo probatório juntado ao presente, mostra-se evidente que osdemandados MANOEL LUIZ OLIVEIRA e FABIANO REDONDO forjaram a licitação visando aofavorecimento da empresa GERAFORÇA Locação e Comércio de Equipamentos Ltda,contratada antes da assinatura do convênio.

    Mas não é só.

    2.2. PAGAMENTO CHEIO DOS CONTRATOS MANOEL LUIZ OLIVEIRA E FABIANO REDONDO, apóssimularem a realização de procedimento de licitação com vistas a formalizar acontratação da empresa GERAFORÇA Locação e Comércio de Equipamentos Ltda, entre osdias 03/12/2011 e 27/12/2011, desviaram a importância de R$ 200.581,63 (duzentos

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    mil, quinhentos e oitenta e um reais e sessenta e três centavos), do convênio n.7602011 em favor da empresa. (valor atualizado na data da propositura da ação em )

    O desvio se deu mediante o pagamento do valor total do contrato ao invés doreferente ao serviço efetivamente prestado pela empresa. Explica-se como a fraudeoperou:

    O contrato firmado entre a empresa Geraforça Locação e Comércio de EquipamentosLtda. e a Confederação de Handebol previra a contratação de grupo de geradores paraserem utilizados nos ginásios ao longo do Evento nas cidades de Santos, Barueri,São Bernardo do Campo e São Paulo.

    Seguem as datas em que os ginásios foram efetivamente utilizados na 1ª Fase:

    (...)

    Na 2ª fase (oitavas de final, quartas de final, semifinal e final), as sedes foramutilizadas apenas nos seguintes dias:

    (...)

    As sedes de Santos, Barueri e São Bernardo do Campo foram utilizadas durante 6 diasde jogos, mas a empresa recebeu como se tivesse prestado o serviço por 13 dias. Nasede de São Paulo ocorreram 11 dias de jogos, mas a empresa recebeu como se tivesseprestado o serviço por 18 dias. Após tais jogos, as arenas esportivas não foramutilizadas, portanto, não havia necessidade do pagamento de locação de geradores.

    Segundo a proposta da empresa Geraforça, reproduzida no já citado contrato delocação, 3 (três) os geradores seriam utilizados por 13 (treze) dias, nas subsedesde Santos, São Bernardo do Campo e Barueri, com o valor da diária por geradorestipulado em R$ 3.160,00: (R$3.160,00 X 3 subsedes X 15 dias = Valor total R$369.720,00)

    Para a sede de São Paulo, a duração do evento foi de 18 dias, com o valor da diáriaem R$ 3.160,00: (R$3.160,00 X 1 sedes X 18 dias = Valor total R$170.640,00) Ocorreque a Sede e Subsede estiveram exclusivamente a disposição da CBHb pelo seguinteperíodo:

    (...)

    Ou seja, não se justifica que o contrato seja para um número de dias maior do queas sedes foram utilizadas, o que gerou o seguinte prejuízo:

    Subsede Valordiáriode cadagerador

    Geradorespor sede

    Número de diascotados/devidos

    Valor pagopor sede

    Valor devidopor sede

    Santos R$3.160,00

    *3 13 / 09 R$123.240,00

    R$ 85.320,00

    Barueri R$3.160,00

    *3 13 / 09 R$123.240,00

    R$ 85.320,00

    SãoBernardodo Campo

    R$3.160,00

    *3 13 / 10 R$123.240,00

    R$ 94.800,00

    TOTAL R$369.720,00

    R$265.440,00

    Sede SãoPaulo

    Valordiáriode

    cadagerador

    Geradorespor sede

    Número de diascotados/devidos

    Valor pagopor sede

    Valor devidopor sede

    São Paulo R$3.160,00

    *3 18/17 R$170.640,00

    R$161.160,00

    TOTAL R$540.360,00

    R$426.600,00

    Diferença R$113.760,00

    O valor devido à empresa, considerando os dias em que as arenas estavam adisposição da CBHb era de apenas R$ 426.600,00, pois o contrato foi estimado emnúmero de dias, o que resultou em um prejuízo original de 113.760,00 (cento e trezemil, setecentos e sessenta reais) pelos dias não utilizados. (09, 10 e 17,respectivamente).

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    Assim, os réus descumpriram os regramentos legais no que toca a execução doscontratos administrativos ao pagarem o contrato integralmente sem que houvesse asua completa execução.

    Deste modo, DAGMAR MARCÍLIO, da empresa GERAFORÇA Locação e Comércio deEquipamentos Ltda, recebeu, ilicitamente, a importância de R$ 113.760,00correspondente ao valor global do serviço (valor atualizado em R$ 200.581,63(duzentos mil, quinhentos e oitenta e um reais e sessenta e três centavos)

    A prova do pagamento indevido pode ser constatada pelas Notas Fiscais datadas em26/12/2011 e pelo comprovante de transferência bancária datado de 26/12/2011.

    Portanto, há clara comprovação no sentido de que a empresa recebeu por serviços nãoprestados, fixando o prejuízo ao Erário no montante de R$ 200.581,63 (duzentos mil,quinhentos e oitenta e um reais e sessenta e três centavos) para fins deressarcimento (valor atualizado em 17/06/2020).

    Como fundamento jurídico, invoca os arts. 3º, 9º, caput, 10, incs. I, VII, X, XI e XII e art. 11,caput e inc. I, da Lei n. 8.429/1992 e a Constituição Federal de 1988.

    Ao final, requer:

    7.3) A condenação dos requeridos nas penalidades previstas no art. 12, I, II e III,da Lei nº 8.429/92, de acordo com os princípios da culpabilidade;

    7.4) A condenação dos demandados ao pagamento das custas processuais e aos ônus dasucumbência, estes últimos a serem revertidos à União;

    7.5) A intimação do representante judicial da União para eventual acompanhamentodesta ação.

    Em arremate, o MPF informa, em atenção do disposto no art. 17, § 1º, da LIA (alterado pela Lei13.964/19 - "Pacote Anticrime"), a viabilidade de celebração de acordo de não persecução cível,apresentando como condições inegociáveis a confissão formal dos atos ilícitos levantados e oressarcimento integral do dano gerado.

    Com a inicial, junta documentos.

    Notificado nos termos do art. 17, § 7º, da Lei n. 8.492/1992, os requeridos apresentam defesapreliminar, ids. 4058500.3963855, 4058500.4011284 e 4058500.4176746.

    O requerido Dagmar Marcílio de Lima alega, preliminarmente, a inépcia da inicial, e, no mérito, aausência de prática de ato improbo e, opondo-se ao pedido de indisponibilidade, oferece um geradorpara garantia do juízo, na parte que lhe caberia. Requer a improcedência da demanda.

    Junta documentos.

    Fabiano Ferreira de Mendonça Redondo apresenta defesa preliminar, id. 4058500.4011284, sustentandoa prescrição, a inexistência de ato de improbidade e a impossibilidade de que particular respondapor ação de improbidade, sem que haja participação de um agente público no polo passivo dademanda. Requer, também, a aplicação da pena de litigância de má-fé, com necessidade de condenaçãodo órgão ministerial, por não existir ato de improbidade praticado por particular ocorrido há maisde oito anos.

    Manoel Luiz Oliveira apresenta a defesa prévia de id. 4058500.4176746, alegando conexão com oProcesso n. 0802481-34.2020.4.05.8500, em trâmite na 1ª Vara Federal desta Seção Judiciária; ailegitimidade passiva; ausência do fumus boni iuris para concessão da liminar deindisponibilidade. No mérito, assevera a ausência de responsabilidade subjetiva, ante ainexigibilidade de conduta diversa a afastar a própria culpabilidade.

    Junta documentos.

    Intimado, o Ministério Público Federal requer o prosseguimento do feito, id. 4058500.4276568.

    2. Fundamentação.

    2.1. Considerações iniciais.

    A Lei n. 8.429/1992 dispõe:

    Art. 17. (...)

    § 7º Estando a inicial em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará anotificação do requerido, para oferecer manifestação por escrito, que poderá ser

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    instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de quinze dias.(Redaçãoda pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)

    § 8º Recebida a manifestação, o juiz, no prazo de trinta dias, em decisãofundamentada, rejeitará a ação, se convencido da inexistência do ato deimprobidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita. (Redação dapela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001)

    § 9º Recebida a petição inicial, será o réu citado para apresentar contestação.(Redação da pela Medida Provisória nº 2.225-45, de 4.9.2001) (...)

    O momento ora instalado comporta decisão, cujo enredo consiste na análise de eventuais empecilhosà formação da relação processual propriamente dita e, primordialmente, na emissão de um juízoconcernente à admissibilidade, à presença de motivos autorizadores do efetivo processamento daação civil proposta.

    Fora de esquadrinho, portanto, estão controvérsias genuinamente atreladas ao mérito, bastandoapreciar a presença de justa causa para a demanda. E isso deverá ser cotejado tanto a partir dadescrição de conduta passível de subsunção a qualquer das modalidades ímprobas catalogadaslegislativamente, como em função da presença, ou não, de indícios mínimos de sua ocorrência.

    2.2. Da alegada inépcia da inicial.

    No que tange à inépcia da inicial, não assiste razão à parte demandada, uma vez que o objeto dademanda foi definido não de forma genérica, como afirma o requerido, mas de modo preciso, com aindividualização das condutas imputadas ao requerido. O item "3" da inicial basta para demonstrarque a imputação é deduzida de forma detalhada, não se tratando de exordial de caráter genérico.

    Rejeito, portanto, esta preliminar.

    2.3. Da conexão.

    Inexiste conexão entre esta demanda e o Processo n. 0802481-34.2020.4.05.8500, eis que decorrem deeditais de licitação diversos, em que pese ligadas a um único convênio junto ao Ministério doEsporte, de n. 760211/2011.

    A MM. Juíza Federal Telma Maria Santos Machado, Titular da 1ª Vara desta Seccional, sucinta eacertadamente, esclarece a ausência de conexão entre as diversas ações de improbidadeadministrativa derivadas das diversas licitações que decorreram do Convênio n. 760211/2011, doMinistério do Esporte, para a realização de campeonato mundial de handebol (Processo n. 0802661-50.2020.4.05.8500, decisão de id. 4058500.3906982):

    (...)

    Nada obstante tratar-se de contratações respectivas a um único convênio firmadopara liberação de valores federais a serem aplicados na realização do campeonatomundial de Handebol sediado aqui no Brasil, as ações distribuídas referem-se afatos distintos, neste caso em especial o Edital de Licitação nº 011/2011 (lá oEdital de Licitação nº 05/2011).

    Cada um apresenta contextualizado no seu cenário, envolvendo objetos, empresas,agentes e valores diversos, e cada contratação resultante foi contestadaindividualmente, pelo MPF, pelas respectivas e supostas nuances viciosas quecarregam, completamente cindíveis, inclusive com réus diversos, proprietários dasrespectivas empresas vencedoras, aptas a terem desfechos próprios, sem qualquervinculação necessária de convencimento.

    (...)

    Assim, afasto a alegação de conexão suscitada e firmo a competência deste Juízo.

    2.4. Da alegada ilegitimidade passiva, sob o argumento de propositura da ação de improbidadeapenas contra particulares, sem a participação de agente público.

    A Lei n. 8.429/1992 preconiza no art. 1º o sujeito passivo da ação de improbidade.

    Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ounão, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderesda União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, deempresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação oucusteio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento dopatrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei.

    Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos deimprobidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção,

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    benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelaspara cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos decinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos,a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofrespúblicos.

    E conceitua, para efeito da lei de improbidade, que agente público é todo aquele que exerce, aindaque transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ouqualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidadesmencionadas no artigo anterior (art. 2º, da Lei n. 8.429/1992).

    No caso, Manoel Luiz Oliveira, à época dos fatos narrados na inicial, exercia a função dePresidente e Diretor Executivo da Confederação Brasileira de Handebol, instituição esportivaautorizada a administrar os recursos públicos destinados pelo Ministério do Esporte provenientesdo Convênio n. 760211/2011.

    Donde se conclui que ele (Manoel Luiz Oliveira) se enquadra na definição legal de agente públicopara fins de apuração de improbidade administrativa.

    Desse modo, rejeito essa preliminar.

    2.5. Da alegada prescrição.

    O requerido Fabiano Ferreira de Mendonça Redondo aduz que "... Na aludida data não existia oinciso III, do artigo 23, da Lei de Licitações n. 8.429, que somente veio a ser incluído pela lein. 13.019/2014, como bem observou o representante do Parquet. Ora, se os fatos narrados ocorreramem 2011/2012, antes da edição e da vigência da supracitada Lei n. 13.019, de 31 de julho de 2014,que criou o mencionado prazo prescricional este não pode ser aplicado para eventos futuros", id.4058500.4011284.

    O Convênio n. 760211/2011, celebrado entre a Confederação Brasileira de Handebol e o Ministério doEsporte, teve início de vigência em 03/12/2011 e término em 20/01/2012, id. 4058500.3848933, e adata limite para prestação de contas, em 15/04/2018, id. 4058500.3848922.

    Com efeito, o art. 23 da Lei n. 8.429/1992, ao tratar sobre a prescrição para a propositura deações civis de improbidade administrativa, prevê três marcos temporais: o período de até cincoanos, contados do término de mandato, de cargo em comissão ou de função gratificada; o prazoestabelecido para a prescrição das faltas disciplinares, cuja pena é a demissão a bem do serviçopúblico, para os casos de exercício de cargo efetivo ou emprego; e o prazo de até cinco anos dadata da apresentação à Administração Pública da prestação de contas final pelas entidadesreferidas no parágrafo único do art. 1º da lei referenciada:

    Art. 23. As ações destinadas a levar a efeito as sanções previstas nesta Lei podemser proposta:

    I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão oude função de confiança;II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltasdisciplinares puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos deexercício de cargo efetivo ou emprego;

    III - até cinco anos da data da apresentação à administração pública da prestaçãode contas final pelas entidades referidas no parágrafo único do art. 1o destaLei. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)

    Cabe, em primeiro lugar, definir qual dos incisos acima se aplica ao caso sob apuração, para,então, analisar a ocorrência, ou não, da prescrição.

    Antes de mais nada, consigno a inaplicabilidade ao caso do disposto no inc. III da normareferenciada. Isso porque o inciso mencionado somente veio a ser incluído na legislação deregência pela Lei n. 13.019/2014, enquanto que os fatos aqui apurados ocorreram em 2011/2012,quando da execução do Convênio n. 760211/2011, firmado entre o Ministério do Esporte e aConfederação Brasileira de Handebol.

    Ora, em se tratando esta demanda de uma ação que visa a apurar a responsabilidade por ato ímprobo,tema essa inserido no Direito Administrativo Sancionador, embora possua natureza cível, em vistada gravidade das sanções cominadas, sua regência, em muitos pontos, aproxima-se do Direito Penal,também eminentemente sancionador. Nesse sentido, imperiosa a conclusão de irretroatividade de leiprejudicial ao réu.

    No caso, a Lei n. 13.019/2014 cria novo termo a quo para a contagem do prazo prescricional, que,em última análise, configura a criação de nova hipótese de interrupção do prazo prescricional, emprejuízo dos réus. Nesse sentido, visa o novel diploma à ampliação da satisfatividade da pretensãosancionatória do Estado e, assim, não há de se conceber sua retroação para atingir fatos ocorridosantes de sua vigência.

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13019.htm#art78a

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    https://pje.jfse.jus.br/pjeconsulta/ConsultaPublica/DetalheProcessoConsultaPublica/documentoSemLoginHTML.seam?idProcessoDocumento=3… 8/14

    Em observância à segurança jurídica e ao ato jurídico perfeito, a regra que se extrai de umainterpretação sistemática do ordenamento jurídico brasileiro é a irretroatividade de normassancionatórias que agravem a situação daqueles que nelas incorrem. Como regra, sua exceção devevir expressamente consignada no normativo, o que não ocorreu no caso sob exame. A Lei n.13.019/2014 silencia quanto à sua aplicação retroativa, de tal modo que há de se entender pelaincidência do brocardo tempus regit actum, ou seja, aplica-se ao caso a lei vigente no momento daocorrência do fato.

    Assim, na presente ação de improbidade, há de se afastar a hipótese prevista no inc. III, restandoapurar a incidência dos incs. I ou II.

    E, no caso dos autos, o réu não anexa a comprovação do momento em que Manoel Luiz Oliveira sedesvinculou, de forma definitiva, da Confederação Brasileira de Handebol para fins de exame daprescrição.

    Assim, não há que se falar em prescrição.

    2.6. Do juízo de admissibilidade.

    O art. 17, § 8°, da Lei n. 8.429/1992 determina a rejeição prefacial da ação civil pública porimprobidade apenas quando convencido o juiz da inexistência do ato de improbidade, daimprocedência da ação ou da inadequação da via eleita.

    A lei prescreve, com voz exauriente, situações excepcionais dotadas do condão de ensejar anegativa de recebimento. São, portanto, dignas de exegese restritiva, inferindo-se já daconstrução redacional que a instauração da lide é a regra, tirante segura aparição de um dos casosimpeditivos. Tem-se, na verdade, transposição do princípio in dubio pro societate - que rege orecebimento da denúncia, no processo penal - à circunscrição do processo civil.

    No caso dos autos, o MPF afirma, na inicial, que foram constatadas, pela CGU, diversasirregularidades aplicação de recursos oriundos do convênio para a locação de geradores de energiapara o Campeonato Mundial de Handebol.

    O acervo probatório abrange procedimento administrativo de inquérito civil público(1.35.000.001946.2016-98) e Relatório de Ação de Controle - Fiscalização da CGU regional -pertinente aos fatos objeto desta demanda, id. 4058500.3848934.

    Diante das constatações apontadas pelo Relatório da CGU, há de se entender, ao menos neste juízoinicial, que existem indícios da prática dos atos, refletidos em irregularidades na aplicaçãodaqueles recursos federais, dentre de uma série de práticas outras, destoantes da legalidade,possivelmente causadoras de prejuízo considerável ao erário.

    É preciso ressaltar que a necessidade de indícios para o ajuizamento da ação de improbidadeadministrativa não se traduz em prova absoluta, certa, porque esta é exigida para o julgamentoprocedente ou improcedente da demanda, não para o seu recebimento.

    Acresça-se a essa consideração o fato de que o ato de recebimento não importa condenação dosrequeridos. Haverá uma instrução do feito e, somente depois de exercidos o contraditório e a ampladefesa, é que o julgador irá concluir pela procedência, ou não, do pedido final.

    Importa consignar que os documentos juntados pelos requeridos não são aptos para, de logo,autorizar a conclusão de que as irregularidades encontradas pelo órgão de fiscalização federalinexistiram ou de que a parte requerida não lhes deu causa.

    Ocorre que, para se eventualmente acolher a tese das defesas preliminares dos demandados, énecessário instruir o feito, com maiores aprofundamentos, para se conhecer os detalhes havidos noprocesso de locação dos geradores de energia para o Campeonato Mundial de Handball. Com efeito, aalegada ausência de dolo não pode ser detectada através de simples alegações, mas, sim, poderá serextraída após uma detida análise de toda prova (pericial, testemunhal, depoimento, documental) aser produzida ulteriormente nos autos.

    É de se permitir, destarte, a integralização da relação processual, convocando-se os notificadospara que tomem lugar no pólo passivo. Nesse sentido, é o seguinte julgado:

    PROCESSUAL CIVIL, CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PORIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RECURSOS RECEBIDOS POR MUNICÍPIO, ADVINDOS DOMINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL (CONVÊNIO), PARA A CONSTRUÇÃO DE BARRAGEM DETERRA. PRESTAÇÃO DE CONTAS. ATRASO. ART. 11, II E VI, DA LEI Nº 8.429/92. REJEIÇÃODA PETIÇÃO INICIAL. NÃO CABIMENTO. CONFIGURAÇÃO, EM TESE, DE ATO DE MPROBIDADEADMINISTRATIVA. CONTINUIDADE DO PROCESSAMENTO. 1. Ação civil pública porimprobidade administrativa ajuizada, com fundamento no art. 11, II e VI, da Lei nº8.429/92, contra ex-prefeito municipal, que não teria apresentado, dentro do prazoprevisto, a prestação de contas relativa a convênio firmado entre o Município e oMinistério da Integração Nacional, respeitante a repasse de recursos para fins deconstrução de barragem de terra. [...] 3. A apreciação, através da qual se poderá

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    rejeitar ou receber a inicial, deve se restringir à verificação da existência dospressupostos processuais e das condições especiais da ação. Em se tratando de açãocivil por atos de improbidade administrativa, é preciso atentar para aplausibilidade mínima das alegações trazidas a exame e para a existência deindícios suficientes da prática de atos de desonestidade administrativa, quejustifiquem o prosseguimento do feito. A rejeição in limine apenas pode serdeterminada quando manifesta a inexistência do ato de improbidade, quando patenteque se trata de pedido infundado, ou em razão de inadequação da via eleita. E mais:considerando os objetivos que permeiam as normas jurídicas regentes da ação deimprobidade administrativa; tendo em conta os relevantes interesses protegidos sobo pálio dessa modalidade de ação; e atentando-se para a responsabilidade dos que amanejam, a rejeição de pronto se constitui em medida marcada pela excepcionalidade,por apenas admitir guarida quando evidenciadas, em seus estritos termos, ashipóteses com elenco na lei. 4. O recebimento da inicial da ação de improbidadeadministrativa não implica juízo de mérito acerca da responsabilidade do requerido,que pode ser absolvido da prática que lhe é imputada, bem como cuja eventualcondenação deverá se efetivar de conformidade com os princípios da razoabilidade eda proporcionalidade, segundo a gravidade que se evidenciar. [....] (TRF5, AC Nº423043- PB, Rel. Desembargador Federal Francisco Cavalcanti, j. 13.12.2007).

    Cuida-se, como exposto, da hipótese dos autos.

    2.7. Da medida liminar relativa à indisponibilidade de bens.

    A medida liminar requerida merece provimento, porquanto necessário, diante das circunstânciasfáticas, o resguardo do patrimônio e interesse públicos.

    Em se tratando de ação civil pública de improbidade, os arts. 7º e 16, da Lei n. 8.429/1992,prescrevem a determinação da indisponibilidade de bens, com vistas ao ressarcimento de danos ourestituição de bens e valores havidos irregularmente. Por outro lado, é possível o manejo decautelar incidental ou preparatória para a efetivação de tal indisponibilidade. No caso, apresente medida é incidental à presente ação civil pública de improbidade administrativa.

    A Lei n. 8.429/1992 dispõe sobre a matéria da seguinte maneira:

    Art. 7º Quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejarenriquecimento ilícito, caberá à autoridade administrativa responsável peloinquérito representar ao Ministério Público, para a indisponibilidade dos bens doindiciado.

    Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairásobre bens que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimopatrimonial resultante do enriquecimento ilícito.

    Art. 16. Havendo fundados indícios de responsabilidade, a comissão representará aoMinistério Público ou à procuradoria do órgão para que requeira ao juízo competentea decretação do seqüestro dos bens do agente ou terceiro que tenha enriquecidoilicitamente ou causado dano ao patrimônio público.

    § 1º O pedido de seqüestro será processado de acordo com o disposto nos arts. 822 e825 do Código de Processo Civil.

    § 2º Quando for o caso, o pedido incluirá a investigação, o exame e o bloqueio debens, contas bancárias e aplicações financeiras mantidas pelo indiciado noexterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais.

    Percebe-se que o deferimento de medida cautelar em ação que vise ao ressarcimento de danos aoerário causados por atos ímprobos deve seguir o princípio da precaução em favor do interessepúblico.

    Pelo princípio da precaução, havendo a mera possibilidade de prejuízo ao bem que se pretendeproteger, há de ser dada ampla proteção, evitando que se chegue ao irremediável. Ou seja, se ascircunstâncias fáticas registram a possibilidade de o dano vir a se concretizar, não se deveexigir demonstração cabal do risco, pois a dúvida há de militar em favor do bem protegido, nocaso, o patrimônio público.

    A Lei n. 8.429/1992 agasalhou tal princípio na medida em que não exigiu a existência de "fundadoreceio de dano irreparável ou de difícil reparação" (art. 273 do CPC), mas se contentou com o fatode "o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito"(art. 6º da Lei 8.429/92) e com a existência de "fundados indícios de responsabilidade" do agente(art. 16 da Lei n. 8.429/1992).

    O requisito do periculum in mora, tão caro aos provimentos acautelatórios, é presumido nassituações como a que ora se aprecia, tendo a Lei de Improbidade deixado de exigir suademonstração, como em momento oportuno se explanará com mais minúcia. Tal opção do legislador tem

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    sua lógica: se há indícios da prática do ato lesivo ao erário, todas as medidas devem ser tomadaspara minorar os seus efeitos, salvaguardando-se, por precaução, o patrimônio público.

    O Ministério Público Federal em Sergipe (MPF/SE) instaurou o Inquérito Civil (IC)1.35.000.001946.2016-98, a partir de representação formulada por David Sanchez, acompanhada dedocumentos dos quais destaco o Relatório de Fiscalização da CGU regional concernente àscontratações e despesas realizadas com o XX Campeonato Mundial de Handebol Feminino, ocorrido emdezembro de 2011 no Estado de São Paulo, objeto do Convênio n. 760211, e do qual constam asirregularidades detectadas na aplicação dos recursos públicos, fl. 40, do id. 4058500.3848934.

    Consta do documento de id. 4058500.2844400, o edital de licitação n. 10/2011 da Tomada de Preçospara locação de geradores a serem usados no Campeonato Mundial de Handebol, categoria AdultoFeminino, datado de 03/12/2011, data essa que também seria o marco para a divulgação e abertura depropostas. Essa mesma data (03/12/2011) inclusive é a que consta do contrato celebrado, id.4058500.2844397.

    Por sua vez, o Relatório de Fiscalização da CGU, id. 4058500.3848934, fl. 11, informa que "Osorçamentos, emitidos nos meses de setembro e outubro de 2011, lastreadores das Cotações Prévias dePreços adiante relacionadas foram subscritos pelas mesmas empresas que enviaram as propostas depreços em 03/12/2011: nº 01 (locação de geradores de energia), nº 03 (serviço de UTI Móvel-Emergência), nº 05 (segurança patrimonial), nº 07 (serviço de credenciamento), nº 09 (fornecimentode recursos humanos) e nº 11 (fornecimento de alimentação). E, à exceção de uma das propostas depreços da Cotação nº 05, as demais supracitadas contêm os mesmos valores dos orçamentos. Nesseviés, apropriado ressaltar que as propostas de preços e as correspondentes Cotações Prévias dePreços não foram desenvolvidas por meio de módulo específico no Sistema de Gestão de Convênios eContratos de Repasse (SICONV), haja vista que o módulo "Cotação prévia de preços para entidadesprivadas sem fins lucrativos" somente foi implantado - em atendimento ao Decreto nº 7.641 de12/12/2011 - em 02/05/2012".

    Prossegue o relatório apresentando constatações outras, tais como a que o jogo de abertura docampeonato, para o qual seria necessário tanto a infraestrutura do evento, ocorrera em 02/12/2011,um dia antes da contratação das empresas para fornecerem os geradores de energia, a indicarpossível simulação no processo de contratação, id. 4058500.3848934, fl. 12.

    Consta ainda do relatório da CGU, id. 4058500.3848934, fl. 16, que "Foram detectadasinconsistências na formalização desta Cotação de Preços nº 01 que indicam a possibilidade demontagem das propostas. São elas:

    a) Os orçamentos e as propostas de preços diferem do previsto no Termo deReferência no tocante à quantidade de dias de locação dos geradores para o ginásioIbirapuera na cidade de São Paulo. Nos primeiros, foi consignado o prazo de 18dias, enquanto que no Termo de Referência expressamente consta 13 dias. Destaca-seque o termo contratual foi celebrado para 18 dias.

    b) Apesar de o Termo de Referência não indicar expressamente a quantidade de horasdiárias de funcionamento dos geradores, os orçamentos e as propostas de preçosindicaram 06 horas de funcionamento diário, tal qual foi consignado no termocontratual.

    c) Em atendimento ao Ofício nº 27614/2012-CGU-Regional/SE/CGU-PR, de 19/09/2012, aempresa Energ Comércio Peças Ltda (CNPJ nº 06.696.624/0001-71) encaminhou à caixapostal da CGU-Regional/SE, em 25/09/2012, arquivo eletrônico contendo o orçamentoque teria sido por ela enviado à CBHb para locação de geradores ao eventodesportivo em análise. Ocorre que esta cotação diverge do orçamento da mesmaempresa contido no SICONV, nos seguintes aspectos": data da emissão; quantidade dedias de locação nas cidades de São Bernardo do Campo, Santos e Barueri; Quantidadede dias de locação na cidade de São Paulo; valor orçado para as cidadesinterioranas; e valor total orçado para a capital".

    Continuando, no item 3.1.1.22, Constatação 023, relata-se pagamento de locação de geradores paradias em que não ocorreram jogos nas subsedes:

    De acordo com a tabela do evento desportivo, o primeiro jogo nas três subsedesocorreu em 03/12/2011, enquanto que o último foi realizado em 11/12/2011, nassubsedes de Santos e Barueri, e em 12/12/2011, na subsede de São Bernardo do Campo.Já na sede, capital do Estado de São Paulo, a primeira partida foi realizada em02/12/2011 e a última em 18/12/2011. Portanto, o interstício de realização dosjogos compreendeu 09 dias em Santos e Barueri, 10 dias em São Bernardo do Campo e17 dias na capital.

    Não obstante, foram efetuados pagamentos - decorrentes da Cotação Prévia de Preçosnº 01 - com locação de 03 geradores de energia para garantir estrutura defuncionamento dos ginásios de competição para o período de 13 dias em cada subsedee de 18 dias na sede.

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    O valor diário pago por gerador correspondeu a R$ 3.160,00, perfazendo, assim, asdiferenças a seguir discriminadas:

    Subsede/Sede Período derealizaçãodos jogospara pgto

    Valor pagopelalocação(R$ 1,00)

    Períodoefetivo derealizaçãodos jogos

    Valordevido R$1,00

    Diferença(R$ 1,00)

    Santos 13 123.240,00 09 85.320,00 (37.920,00)

    Barueri 13 123.240,00 09 85.320,00 (37.920,00)

    São Bernardodo Campo

    13 123.240,00 10 94.800,00 (28.440,00)

    São Paulo 18 170.640,00 17 161.160,00 (9.480,00)

    TOTAL - 540.360,00 - 426.600,00 (113.760,00)

    Em razão das diversas irregularidades apontadas no Relatório da CGU na aplicação dos recursosdecorrentes do Convênio firmado pelo Ministério dos Esportes, cuja consequência gerou possívelenriquecimento ilícito, em prejuízo ao erário, em valor que foi estimado em R$ 113.760,00 (cento etreze mil, setecentos e sessenta reais), o qual, atualizado para junho/2020, alcança a cifra de R$200.581,63 (duzentos mil, quinhentos e oitenta e hum reais e sessenta e três centavos), id.4058500.3848955.

    Destarte, diante de tudo quanto exposto, vê-se um arcabouço suficiente para se inferir indícios deautoria de ato ímprobos pelos requeridos, o que vem preencher, com sobejo, o fumus boni iuris,conquanto seja necessário tomar as precauções devidas para assegurar o devido ressarcimento aoerário.

    Atente-se, também, que o STJ tem por irrelevante a demonstração de dilapidação concreta dos benspor parte dos requeridos (ato concreto de desfazimento do patrimônio), bem como aquela mesma CorteSuperior assenta a desnecessidade de individualização dos bens sobre os quais recairá aindisponibilidade, haja vista a diferença entre esta medida e o sequestro.

    Porquanto considera que "a decretação de indisponibilidade dos bens não está condicionada àcomprovação de que os réus estejam dilapidando, ou na iminência de fazê-lo, porquanto visa,justamente, a evitar que ocorra a dilapidação patrimonial. É desarrazoado aguardar atos concretosdirecionados à sua diminuição ou dissipação. Exigir a comprovação de que tal fato esteja ocorrendoou prestes a ocorrer tornaria difícil, e muitas vezes inócua, a efetivação da Medida Cautelar emfoco. O periculum in mora é considerado implícito". Precedente: STJ - REsp 1.211.986 - 2ª T. -Rel. Min. Herman Benjamin - DJe 15.03.2011). Assim como a "desnecessidade de individualização dosbens sobre os quais se pretende fazer recair a indisponibilidade prevista no art. 7º, p. ún., daLei nº 8.429/92 , considerando a diferença existente entre os institutos da "indisponibilidade" edo "seqüestro de bens" (este com sede legal própria, qual seja, o art. 16 da Lei nº 8.429/92)".Precedentes STJ: REsp 1.177.290/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., DJe 1º.7.2010; REsp1.225.990 - 2ª T. - Rel. Min. Mauro Campbell Marques - DJe 15.03.2011).

    No sentido em que ora se decide, colho - à guisa de ilustração - precedentes das turmas do eg. TRFda 5ª Região:

    PROCESSUAL CIVIL ADMINISTRATIVO. GRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS. DECRETAÇÃO. REQUISITOS.ART. 7º DA LEI 8.429/1992. 1. A indisponibilidade de bens é medida cautelar quevisa garantir a indenização aos cofres públicos, impedindo, na forma da lei, aalienação ou transferência dos bens obtidos pela prática do ato ímprobo. 2. O STJtem firme posicionamento no sentido de ser possível a decretação deindisponibilidade de bens quando houver fortes indícios de improbidadeadministrativa, independente de ser comprovada a lapidação ao patrimônio. 3. Nahipótese, não há que se falar de ausência do fumus boni juris e o periculum inmora, haja vista existir nos autos elementos suficientes e capazes para indicar anecessidade da medida de decretação de indisponibilidade de bens do agravante. 4.Agravo improvido.(AG 00091386320104050000, Desembargador Federal Manoel Erhardt, TRF5 - PrimeiraTurma, DJE - Data::02/06/2011 - Página::246.)

    ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DANO AO ERÁRIO.MEDIDA CAUTELAR. INDISPONIBILIDADE DE BENS. POSSIBILIDADE. AGRAVO DE INSTRUMENTONÃO PROVIDO. 1. Ação civil pública por ato de improbidade administrativa em face doora agravante e outras pessoas, para apurar irregularidades na administração derecursos públicos federais direcionados ao município de José da Penha/RN, comsimulação e fabricação de procedimento licitatório. 2. A indisponibilidade de bensserve para assegurar que não sejam estes alienados ou transferidos até o limite dovalor efetivamente malversado, enquanto não transitar em julgado a demanda ouulterior deliberação judicial. 3. Não há como se afastar a razoabilidade dadeterminação de bloqueio dos bens, considerando-se a existência de fortes indíciosdo cometimento de ilícitos na execução de obras públicas. 4. Não logrou a parteagravante demonstrar prova inequívoca de suas alegações de impenhorabilidade das

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    contas bancárias bloqueadas, ou de que o valor bloqueado teria sido acima do danoao erário. 5. Agravo de instrumento não provido.(AG 200905001236689, Desembargador Federal Paulo Gadelha, TRF5 - Segunda Turma, DJE- Data: 27/01/2011 - Página: 390.)

    PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADEADMINISTRATIVA. MEDIDA CAUTELAR. INDISPONIBILIDADE DE BENS. POSSIBILIDADE. INDÍCIOSDE IRREGULARIDADE. 1. Havendo indícios de irregularidades na aplicação de recursospúblicos, justifica-se a adoção de medida acautelatória que vise àindisponibilidade de bens dos indiciados. 2. Agravo de instrumento improvido.(AG 200905001237001, Desembargador Federal Marcelo Navarro, TRF5 - Terceira Turma,DJE - Data: 04/05/2011 - Página: 231.)

    AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. MEDIDA CAUTELAR DEINDISPONIBILIDADE DE BENS. PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DAS ACUSAÇÕES. GRAVE RISCO DEDANO AO ERÁRIO. 1. Trata-se de agravo de instrumento interposto em face de decisãoque, em ação civil pública de improbidade administrativa movida pelo MINISTÉRIOPÚBLICO FEDERAL contra o agravante e mais 14 (quatorze) réus, por suposta práticade atos de improbidade em licitações e execução de obras ligadas à macrodrenagem doTabuleiro dos Martins, em Maceió, determinou a indisponibilidade liminar dos bensde sua propriedade, conforme previsão do art. 16 da Lei nº 8.429/92. 2. A decisãoagravada encontra-se devidamente fundamentada, pautando-se pela cautela erazoabilidade, tendo limitado as medidas constritivas sobre bens móveis e imóveisequivalentes ao valor do dano supostamente causado aos cofres públicos (R$29.010.000,00 - vinte e nove milhões e dez mil reais) e afastado a aplicação dosistema BACENJUD para bloquear as contas bancárias, por considerar a medidaexcessiva. 3. Não há como se afastar a razoabilidade da determinação de bloqueiodos bens, considerando-se a existência de fortes indícios do cometimento deilícitos na execução de obras públicas, inclusive com respaldo de auditorias doTCU, bem como o alto valor gasto pela Administração Pública nessas obras. 4. Nadecisão agravada encontram-se ainda demonstradas as razões de fato e de direitosuficientes e necessárias ao deferimento da medida cautela de indisponibilidade debens. No caso específico do agravante, como destacado pela Procuradoria Regional daRepública, "o ora agravante legitimara todas as irregularidades perpetradas duranteo procedimento licitatório ao signar o Contrato nº 01/97, que definiu a escolha daConstrutora Gautama, para quem a licitação fora direcionada, segundo a exordial.Não poderia o ora agravante, e então Secretário de Estado, praticar ato ilegal. Nãotem cabimento a argumentação de que estaria o recorrente no exercício de atividadedelegada do Governador." (fls. 248/249). 5. Agravo de instrumento improvido.(AG 00045233020104050000, Desembargadora Federal Margarida Cantarelli, TRF5 -Quarta Turma, DJE - Data: 29/07/2010 - Página: 837)

    De outra banda, quanto ao periculum in mora, como acima já prefaciado, o STJ é pacífico emconsiderá-lo como implícito na própria inteligência do art. 7º da Lei n. 8.429/1992, isto é dizer,em outras palavras, que o comando do art. 7º aponta como necessária à indisponibilidade de bensapenas a plausibilidade da alegação. Isso porque não é necessário ato concreto de dilapidaçãopatrimonial para suscitar a indisponibilidade de bens, haja vista a necessidade de ressarcimentointegral dos danos ao erário.

    Nesse sentindo, seguem precedentes do STJ:

    PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE DISPOSITIVO CONSIDERADOVIOLADO. APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 284 DO STF, POR ANALOGIA. IMPROBIDADEADMINISTRATIVA. ART. 20, P. ÚN., DA LEI N. 8.429/92. NECESSIDADE DE AFASTAMENTO DOSERVIDOR PÚBLICO RECORRIDO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 7 DESTA CORTE SUPERIOR.INDISPONIBILIDADE DE BENS. DILAPIDAÇÃO PATRIMONIAL. PERICULUM IN MORA PRESUMIDO NOART. 7º DA LEI N. 8.429/92. INDIVIDUALIZAÇÃO DE BENS. DESNECESSIDADE. 1. Trata-sede recurso especial interposto pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis - Ibama, com base na alínea "a" do permissivoconstitucional, contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região que, emsíntese, indeferiu uma série de medidas cautelares propostas pelo recorrente, asaber: indisponibilidade de bens, afastamento do servidor alegadamente ímprobo docargo e quebra de sigilos bancário e fiscal. 2. Nas razões recursais, sustenta aparte interessada ter havido ofensa aos arts. 7º, p. ún., da Lei n. 8.429/92 - aoargumento de ser cabível a indisponibilidade no caso concreto - e 20, p. ún., domesmo diploma normativo - pois é imprescindível o afastamento do servidorconsiderado ímprobo do cargo na espécie. Além disso, alega, com base em outrosprecedentes judiciais, que a quebra de sigilos bancário e fiscal não exigeexaurimento de ouras instâncias de busca pelos dados a que se pretende ter acesso.3. Não é possível conhecer do especial no que se refere ao cabimento da quebra desigilos na espécie, uma vez que a parte recorrente não indicou dispositivos delegislação infraconstitucional federal que considerava violados, daí porque incidea Súmula n. 284 do Supremo Tribunal Federal, por analogia. 4. O acolhimento dapretensão recursal - no sentido de que seria imprescindível o afastamento doservidor alegadamente ímprobo - necessitaria de prévia reanálise do conjuntofático-probatório carreado aos autos, razão pela qual incide, no ponto, o óbice da

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    Súmula n. 7 desta Corte Superior. 5. No que se refere à indisponibilidade de bensdo recorrido, importante pontuar que a origem manteve o indeferimento inicial dopedido ao entendimento de que não havia prova de dilapidação patrimonial, bem comopela não-especificação dos bens sobre os quais recairia a medida cautelar (fl. 163,e-STJ). Esta conclusão merece reversão. 6. É que é pacífico nesta Corte Superiorentendimento segundo o qual o periculum in mora em casos de indisponibilidadepatrimonial por imputação de conduta ímproba lesiva ao erário é implícito aocomando normativo do art. 7º da Lei n. 8.429/92, ficando limitado o deferimentodesta medida acautelatória à verificação da verossimilhança das alegaçõesformuladas na inicial. Precedentes. 7. A jurisprudência do Superior Tribunal deJustiça está consolidada pela desnecessidade de individualização dos bens sobre osquais se pretende fazer recair a indisponibilidade prevista no art. 7º, p. ún., daLei n. 8.429/92, considerando a diferença existente entre os institutos da"indisponibilidade" e do "seqüestro de bens" (este com sede legal própria, qualseja, o art. 16 da Lei n. 8.429/92). Precedentes. 8. Recurso especial parcialmenteconhecido e, nesta parte, provido.(RESP 200701584585, MAURO CAMPBELL MARQUES - SEGUNDA TURMA, DJE DATA: 08/10/2010)

    ADMINISTRATIVO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA -INDISPONIBILIDADE DE BENS - ART. 7º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.429/1992 -REQUISITOS PARA CONCESSÃO - LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS - POSSIBILIDADE. 1. Oprovimento cautelar para indisponibilidade de bens, de que trata o art. 7º,parágrafo único da Lei 8.429/1992, exige fortes indícios de responsabilidade doagente na consecução do ato ímprobo, em especial nas condutas que causem danomaterial ao Erário. 2. O requisito cautelar do periculum in mora está implícito nopróprio comando legal, que prevê a medida de bloqueio de bens, uma vez que visa a'assegurar o integral ressarcimento do dano'. 3. A demonstração, em tese, do danoao Erário e/ou do enriquecimento ilícito do agente, caracteriza o fumus boni iuris.4. É admissível a concessão de liminar inaudita altera pars para a decretação deindisponibilidade e seqüestro de bens, visando assegurar o resultado útil da tutelajurisdicional, qual seja, o ressarcimento ao Erário. Precedentes do STJ. 5. Recursoespecial não provido.(RESP 200900698700, ELIANA CALMON - SEGUNDA TURMA, DJE DATA: 22/06/2010)

    No entanto, em reforço, não é demais frisar que aguardar todo o desenrolar, no mais das vezesmoroso, de uma instrução processual, para só então salvaguardar o patrimônio público, configurariaum risco que o próprio ordenamento jurídico tentou evitar ao prever a possibilidade daindisponibilidade de bens em caráter liminar.

    Desta forma, a medida mostra-se necessária, merecendo, assim, deferimento.

    Assevere-se, por oportuno, que, em sede de indisponibilidade cautelar de bens e direitospatrimoniais em ações de improbidade administrativa, a responsabilidade dos réus é solidária pelototal da lesão apurada em face da Administração. Tal responsabilidade somente será delimitada, deacordo com a proporção do ganho ilegal auferido por cada um dos réus, quando da prolação desentença[1].

    Por fim, com o fim de não obstar a atividade empresarial, porquanto a medida de indisponibilidadeora determinada também afetará o patrimônio de uma empresa (Viação São Francisco), consigno queeventuais pedidos de desbloqueio serão apreciados pontualmente por este Juízo, conforme os ditameslegais de regência.

    3. Dispositivo.

    Ante o exposto:

    3.1. Recebo a presente demanda de ação civil pública por ato de improbidade administrativa contraos requeridos Manoel Luiz Oliveira, Fabiano Ferreira de Mendonça Redondo e Dagmar Marcílio deLima.

    3.2. Defiro a liminar para determinar a indisponibilidade de bens dos demandados Manoel LuizOliveira, Fabiano Ferreira de Mendonça Redondo e Dagmar Marcílio de Lima, a partir da data doprotocolo da presente ação, tornando ineficazes quaisquer alienações levadas a efeito, devendo aconstrição referida alcançar, relativamente aos bens de cada um dos réus individualmente, o totalR$ 200.581,63 (duzentos mil, quinhentos e oitenta e hum reais e sessenta e três centavos). Edetermino, para tanto:

    3.2.1. O bloqueio on-line, por intermédio do sistema SISBAJUD, de valores detitularidade de cada um dos promovidos até o limite de R$ 200.581,63 (duzentos mil,quinhentos e oitenta e hum reais e sessenta e três centavos), ressalvados os casosde valores impenhoráveis, respondendo cada um dos promovidos em forma solidária, demaneira que os bens de um, alguns ou de todos possam ser indisponibilizados,respeitado o limite acima referido, até a prolação de sentença;

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    3.2.2. À Secretaria desta Vara que proceda à inclusão de ordem de indisponibilidadede bens imóveis dos requeridos, via CNIB, e de automóveis, via sistema RENAJUD, atéo limite de R$ 200.581,63 (duzentos mil, quinhentos e oitenta e hum reais esessenta e três centavos), respondendo cada um dos promovidos em forma solidária,de maneira que os bens de um, alguns ou de todos possam ser indisponibilizadosrespeitado o limite acima referido, até a prolação de sentença;

    3.3. Caso as constrições levadas a efeito por força desta decisão venham a importar bloqueio debens cujos valores sobejem, em relação a cada um dos demandados individualmente, a importância deR$ 200.581,63 (duzentos mil, quinhentos e oitenta e hum reais e sessenta e três centavos), voltem-me os autos conclusos para decisão sobre a liberação dos ônus sobre o excedente.

    3.4. Após, citem-se os requeridos para que ofereçam resposta, querendo, no prazo legal.

    3.5. Se, com a resposta, forem acostados documentos novos ou suscitadas novas questõespreliminares, intime-se o MPF para se manifestar no prazo de 15 (quinze) dias.

    3.6. Em que pese o interesse em conciliar da parte autora, id. 4058500.3851203, a designação deaudiências de conciliação ainda está suspensa no âmbito desta seccional, em razão da pandemia donovo coronavírus (covid-19). Não obstante, as partes podem apresentar eventual proposta de acordopor escrito nestes autos, sem prejuízo do regular trâmite do feito.

    3.7. Intime-se representante judicial da União para, no prazo de 15 (quinze) dias, manifestar-sesobre o interesse em integrar esta demanda.

    3.8. Intimem-se.

    Aracaju/SE, datado eletronicamente conforme rodapé deste documento.

    Assinado eletronicamente

    Juiz Federal RONIVON DE ARAGÃO,

    Titular da 2ª Vara/SJSE.

    (Art. 1º, §2º, inc. III, da Lei n. 11.419/2006)

    Processo: 0802504-77.2020.4.05.8500Assinado eletronicamente por:RONIVON DE ARAGÃO - MagistradoData e hora da assinatura: 28/12/2020 19:19:24Identificador: 4058500.4302199

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