2º ED.Cascavel um espaço no tempo

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    ERRATA

    DIAS, Caio Smolarek; FEIBER, Flvio Natrcio; MUKAI,

    Hitomi; DIAS, Solange Irene Smolarek. Cascavel: um espaono tempo. A histria do planejamento urbano. Cascavel:Sintagma Editores, 2005.

    Dedicatria Hitomi 5 linha - Onde est escrito Qurentende-se Que.

    Sumrio 9 linha segundo captulo - Onde est escrito

    use entende-se uso.Pgina 59, segundo pargrafo, ltima linha - Encerrada

    somente em 3 de fevereiro de 1927, com o exlio de seu lder naBolvia.

    Pgina 60, primeiro pargrafo, quarta linha Onde l-

    se Luiz Carlos Prestes, um dos comandantes da RevoluoTenentista de 1924, entende-se Jlio Prestes, representanteda oligarquia cafeeira.

    Pgina 60, quarto pargrafo, sexta linha Onde l-seesta revoluo faz com que Luiz Carlos Prestes, presidenteeleito, fuja para o exlio novamente, entende-se esta revoluofaz com que Jlio Prestes, presidente eleito, no assuma a

    presidncia.

    Orelha posterior, biografia Hitomi, terceira linha - Ondediz graduou-se em Arquitetura e Urbanismo pela UEL em 1982,entende-se graduou-se em Arquitetura e Urbanismo pela UELem 1992.

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    CAIO SMOLAREK DIASFLVIO NATRCIO FEIBERHITOMI MUKAISOLANGE SMOLAREK DIAS

    Revisado e Atualizado

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    DIAS, Caio Smolarek; FEIBER, Flvio Natrcio; MUKAI, Hitomi; DIAS, Solange Irene

    Smoralek. Cascavel: um espao no tempo. A histria do planejamento urbano. Cascavel:

    Sintagma Editores, 2005.

    ISBN: 85-87938-03-7

    1. Arquitetura. 2. Planejamento Urbano.

    CDD 720

    Capa: Silmara Dias FeiberDigitao: Andria Cristina TegoniReviso: Patrcia B. R. de Oliveira

    Apoio:

    Prefeitura Municipal de Cascavel

    FUNDATEC - Fundao Paranaense para o DesenvolvimentoTecnolgico da Indstria da Construo

    MIS - Museu da Imagem e do Som

    SEPLAN - Secretaria do Planejamento de Cascavel

    FAG - Faculdade Assis Gurgacz

    Acabamento e Impresso

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    Num momento histrico da existncia da cidade de Cascavel, ondeo mdico cardiologista Dr. Lsias de Arajo Tom assume a prefeituraaps cinco alternncias consecutivas de grupos tradicionais da polticalocal, e onde tenho a oportunidade inesperada de comandar a Secretariade Planejamento, deparo-me com a grata condio de encontrar no meumais estreito relacionamento, um grupo de abnegados e apaixonadosamigos que no hesitaram em aceitar a responsabilidade e desafio deregistrar em livro a histria do Plano Diretor de Cascavel.

    Caio, Flvio, Hitomi e Solange, alm de apaixonados pelosdesafios que lhes so apresentados, so dedicados e muito competentescomo pode ser comprovado na ordem, na clareza, nos critrios, nosregistros e no contedo que forma um dos mais importantes documentosda histria de Cascavel.

    Elaborado e ordenado de forma clara e objetiva, o livro escrito poreste quarteto alm de tudo, uma aula de histria e de urbanismo,inteirando o leitor das origens das cidades, do urbanismo e tambm dacontemporaneidade que inspira os urbanistas no pensar a cidade.

    Cidados, polticos, estudantes, professores e pesquisadoresencontraro neste livro um riqussimo contedo, que alm de registrar umlado da histria de Cascavel, nos remete as origens das cidades e nosconduz com leveza e transparncia pelo tempo at nos expor os primrdiosda colonizao de nossa regio, concluindo com o momento histrico dareformulao do Plano Diretor de Cascavel.

    No posso deixar de registrar meu agradecimento ao PrefeitoMunicipal de Cascavel, Dr. Lsias de Arajo Tom, pela confiana eautonomia depositada a mim, e tambm a todos que me antecederamnos comandos da SEPLAN, notadamente ao que me transmitiu o cargo, oengenheiro Ronald Drabik Peixoto, que em dezoito meses de secretaria,iniciou e conduziu com maestria o processo que tive a felicidade de concluir.Neste processo no posso esquecer de referenciar o excelente trabalhocoordenado pela arquiteta Snia de Palma Bedin Rangueti e sua equipede competentes servidores municipais que permitiu ao Municpio deCascavel ter o melhor e mais bem elaborado Plano Diretor de sua Histria.

    Ao Caio, Flvio, Hitomi e Solange, meu muito obrigado por teremaceitado o desafio, e principalmente por terem superado qualquerexpectativa almejada para este produto final, que pode agora ser apreciadopor todos os leitores interessados na cidade de Cascavel e sua histria.

    Arquiteto Luiz Alberto CricoSecretrio Municipal de Planejamento

    PREFCIO

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    To Mister John Skirving, whotaught me how to love history.(Caio Smolarek Dias).

    Silmara que, com sua simpatiae espontaneidade, ajudou atornar possvel a realizaodeste trabalho(Flvio Natrcio Feiber)

    Dedico este livro todos quecontribuiram e contribuem paraa melhoria dessa cidade queacolheu mim e minha famlia.Que a cada dia renasa a foraque impulsionou pioneiros e queos filhos dessa terra, dela se

    orgulhem e saibam construiruma cidade melhor.(Hitomi Mukai)

    Aos nossos colegas e alunos,que nos movem no caminho dapesquisa do ontem e do hoje,nos dando luz para o amanh.

    (Solange I. Smolarek Dias)

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    Agradecemos administrao municipal

    comandada pelo prefeito mdico cardiologista

    Dr. Lsias de Arajo Tom, especialmente aoSecretrio Municipal de Planejamento, arquiteto

    Luiz Alberto Crico, que, sensveis ao momento

    histrico por que passa o Municpio,

    oportunizam que a histria do planejamento

    urbano de Cascavel-PR, aqui fique

    documentada.

    AGRADECIMENTOS

    Caio Smolarek DiasFulvio Natrcio Feiber

    Hitomi MukaiSolange Irene Smolarek Dias

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    O que se poderia classificarcomo exemplos de uma boa

    acupuntura urbana? Em algunscasos, as intervenes se domais por necessidade que pordesejo, para recuperar feridasque o prprio homem produziu.(LERNER, 2003, p. 8-9)

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    Objetiva-se apresentar a Histria do Planejamento Urbano daCidade de Cascavel-PR, no momento em que concludo e em condiesde ser encaminhado Camara Municipal o Plano Diretor de Cascavel

    2005. Na inteno de apresentar a historia da cidade genrica ao longoda histria da humanidade. Discorrer-se- sobre a mesma enfatizandosua resignificao, do sagrado ao profano, e no conceito de imaginriosocial de Cornlio Castoriadis. Apresenta-se ento a cidade de Cascavel-PR, inicialmente em relato histrico, para, na seqncia, apresentar ahistria de seu planejamento urbano. Este relato histrico argumentaoterico-metodolgica para a crtica ao urbanismo progressista, cone damodernidade, e a insero do novo urbanismo, representado no Brasilpela Lei do Estatuto da Cidade. Apresenta-se a conceituao do Plano

    Diretor de Cascavel 2005, na sua concepo e diretrizes. Conclui-seque o processo atual diverge dos anteriores pela significncia da justiasocial e pela ao democrtica, evidenciadas na elaborao e na redaodo atual plano, e que o sucesso de sua implantao depender da atuaoefetiva dos atores sociais que pactuaram entre s este documento tcnico,poltico e legal.

    Palavras-chaves: Plano Diretor. Cascavel. Urbanismo.

    RESUMO

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    This text hereby objects to present the history of the urban planningof the city of Cascavel, located in the state of Paran. The text wasconcluded at the same time that the current urban plan has, and now

    awaits for approval on the city council. With the intention of presenting thehistory of the generic city throughout the history of humanity, this text willdebate about the history enphasying its resignification, from the sacret tothe profane, following the concecp of the social immaginarium of ConleliusCastoriadis. Then it will present the city of Cascavel, inicially on a historicalnarrative, for afterwards narrate the history of its urban planning. Thishistorical narrative is the theorical-methodological argument for the critictowards the progressive planning, icon of modernity, and insert the newurbanism, represented in Brazil on the Statute of the cities law, then present

    the concepts on the Main plan of Cascavel 2005. The report concludesthat the actual process diverges from the anteriors on its significance forjustice and democratical action, evidenced on the draw up, elaboration andwriting of the actual plan. The sucess of its introduction into society willdepend on the effective performance of those who pacted this technical,political and legal document.

    Key-words: Main plan. Cascavel. Urbanism

    ABSTRACT

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    SUMRIO

    APRESENTAO................................................................................. 17

    INTRODUO ...................................................................................... 19

    PRIMEIRO CAPTULO

    AS CIDADES E O URBANISMO NA HISTRIA .................................... 25

    O SAGRADO, O PROFANO E O IMAGINRIO SOCIAL ...................... 40

    SEGUNDO CAPTULO

    HISTRIA E PLANEJAMENTO DE CASCAVEL ................................... 49

    1- A FORMAO DA REGIO .............................................................. 492- OS JESUTAS E A MO DE OBRA ESCRAVA ................................. 54

    3- CASCAVEL ...................................................................................... 57

    3.1- O desenho urbano da cidade ......................................................... 62

    O PROCESSO DE PLANEJAMENTO URBANO .................................. 65

    1975 O 1 PLANO PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO ........... 70

    1978 PLANO DIRETOR ..................................................................... 72

    DEZEMBRO 1986 A JUNHO 1987 PLANO DIRETOR DE USOOCUPAO DO SOLO ........................................................................ 84

    1992 PLANO DIRETOR ..................................................................... 88

    PLANEJAMENTO URBANO DE 1993 1996 ....................................... 95

    PLANEJAMENTO URBANO DE 1997 2000 ....................................... 96

    PLANEJAMENTO URBANO DE 2001 2004 ....................................... 97

    CONCLUSO ....................................................................................... 99

    REFERNCIAS ................................................................................... 107

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    APRESENTAO

    Cascavel, PR. Cidade acolhedora, bero de diversos planos detrabalho, como de realizaes. Mesmo antes de se tornar cidade, esteterritrio j era acolhedor para os que por aqui passavam, fosse em busca

    de trabalho, fosse por razes poltico-ideolgicas. Este Eldorado eravastamente conhecido pela abundncia de matrias-primas, e a notciade que esta terra era geradora de grandes frutos, separados e delimitadospor seus ciclos, atraiu, e ainda atrai, a vrios visionistas. Exemplosconcretos so trs dos autores deste livro: Solange Irene Smolarek, quevinda na dcada de 70, constituiu famlia e agregou ao seu nome osobrenome Dias. Hitomi Mukai, vinda na dcada de 1990, tambm foiatrada pelo mesmo ideal e objetivo de Solange, a concretizao erealizao profissional. J no terceiro milnio, Cascavel continua bero

    acolhedor aos que para c vm, ainda em busca de trabalho e de umlugar melhor para criar seus filhos, como o que ocorreu com o arquitetoFlvio Natrcio Feiber.

    Dentre os vrios novos cidados desta regio, so gerados novosfrutos, que, conhecidos como a nova gerao de Cascavel, sero o futurodesta cidade. Vindos como habitantes, gerados e nascidos nesta terrafrtil, estes frutos so a concretizao do sucesso deste lugar. CaioSmolarek Dias, diferentemente dos outros trs autores, daqui nato.

    Estes quatro autores esto ligados pesquisa acadmica. Flvio,Hitomi e Solange so docentes do Curso de Arquitetura e Urbanismo daFAG, instituio de ensino superior estabelecida em Cascavel, e deexpresso estadual. Caio, discente da mesma instituio de ensino, pesquisador atrado pela corrente histrica.

    O presente trabalho de pesquisa nasceu de um encontro formal:o 2 Frum do Plano Diretor de Cascavel, ocorrido no primeiro semestrede 2005 e coordenado pela Fundao Paranaense para o DesenvolvimentoTecnolgico da Indstria da Construo FUNDATEC, com sede emCascavel e presidida por Gerson Lorenzi1.

    1Gerson ngelo Lorenzi Gelogo, graduado pela universidade de Unisinos em 1988. natural dacidade de Cascavel, onde fundou em 1989 a empresa Fungeo Fundaes e Geologia Ltda. Presidente da FUNDATEC.

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    Neste 2 Frum do Plano Diretor, com o intuito de discutir osdestinos da cidade para a prxima dcada, reuniram-se autoridades,cidados, representantes do governo e de Ongs.

    Entretanto, foi num encontro informal que esta idia se tornourealidade. Por obra do acaso (ser?), no intervalo entre uma discusso e

    outra, o assunto do incio do planejamento urbano surgiu, em conversaentre o ento atual Secretrio de Segurana Pblica do Estado do Paran,Aldo Parzianello2, e a arquiteta Solange Irene Smolarek Dias.

    Inserindo-se na conversao, o presidente da FUNDATEC,Gerson Lorenzi, e o Secretrio Municipal de Planejamento, Luiz AlbertoCrico3, decidem pela elaborao deste documento, como material deapresentao comunidade tcnica, acadmica e cidad.

    2Aldo Parzianello Secretrio da Justia e Cidadania do Estado do Paran.3Luiz Alberto Cirico arquiteto e urbanista graduado pela Universidade Federal do Paran em 1980,

    mestre em Engenharia de Produo pela Universidade Federal de Santa Catarina e est realizando

    seu doutorado na mesma instituio. natural da cidade de Cascavel, onde scio proprietrio daNBC Arquitetura e Construes LTDA. Foi o profissional responsvel pela estruturao e implantaodo curso de arquitetura e urbanismo da Faculdade Assis Gurgacz e desde ento o responsvel pelacoordenao do curso. Foi nomeado secretrio de planejamento do municpio em janeiro de 2005.

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    INTRODUO

    Este documento destinado comunidade tcnica, acadmicae cidad. Nesta inteno, o objetivo geral o de apresentar, atravs dorelato da evoluo das cidades na histria da humanidade, e, aps, no

    relato da ocupao do territrio, a evoluo histrica do processo deplanejamento urbano do Municpio de Cascavel, de seu incio at omomento atual. Este relato histrico mais um veculo de comunicaoque apresenta a proposta de Lei do Plano Diretor de Cascavel 2005.

    Formada a equipe de autores, os mesmos entenderam sernecessria, pelo carter didtico-pedaggico do relato, a organizaotextual da presente pesquisa em trs captulos, caracteristicamentedistintos e ligados entre si.

    A metodologia adotada a de pesquisa bibliogrfica e deentrevistas com atores partcipes do processo de planejamento urbano doMunicpio de Cascavel.

    O primeiro captulo, intitulado As cidades e o urbanismo naHistria, de autoria de Solange Irene Smolarek Dias, parte constantede sua dissertao de mestrado intitulada A arquitetura do Desejo: odiscurso da nova identidade urbana de Curitiba, defendida no Mestradoem Letras: Linguagem e Sociedade da UNIOESTE.

    Este captulo discorrer sobre as cidades e o urbanismo nahistria, na linha do tempo, como construo coletiva do real, do imaginrio,do sagrado e do profano. Nele basilar as concepes que nos so trazidas

    pelos autores Jean-Louis Harouel, Jacques Le Goff, Jonathan Glancey,Marilena Chau, Wilton Fred C. de Oliveira, Marshall Berman, entre outros.Apresenta-se a histria das cidades desde Jeric at o Sculo XXI, suasrazes de ser, seu desenho urbano como conseqncias sociais,econmicas e religiosas.

    A criticidade deste captulo confronta, na histria da evoluourbana, o sagrado e o profano, tambm insere os conceitos de CornliusCastoriadis, especialmente na sua abordagem da sociedade, naconfigurao do indivduo por ela constitudo e, fundamentalmente,

    pela apresentao do conceito de imaginrio como o princpio de seupoder; poder este que confere identidade ao indivduo e insere-o noimaginrio social.

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    O segundo captulo, intitulado Histria e Planejamento deCascavel, fruto de pesquisa bibliogrfica, entrevistas, das experinciaspessoais dos quatro autores. Iniciando pela histria de Cascavel,configurada como cenrio da ao jesutica e das bandeiras brasileiras,no incio da colonizao do Brasil. O captulo discorre tambm sobre o

    processo extrativista da erva mate e, j no sculo XX, apresenta a cidadecomo palco da ao do tenentismo; revoluo que culminou com aascenso de Getlio Vargas presidente da Repblica do Brasil. O captuloapresenta ainda o processo de colonizao da cidade de Cascavel comoconseqncia desse movimento poltico, pois quem para c vinha, buscavaa tranqilidade e o obscurantismo da regio, como proteo possvelperseguio poltica.

    Estabelecido o vilarejo, este cresce. O advento da extrao damadeira o torna ilhade prosperidade na dcada de 1960, o que exige a

    transferncia da estrada que ligava a capital do estado Foz do Iguaupara o sul da rea urbana. No processo de transferncia da estrada criada, em projeto inovador, a Avenida Brasil. Este o marco inicial paraas futuras aes do planejamento municipal, nesse momento fortementeidentificado com o urbanismo progressista, movimento considerado comoa soluo apresentada pela modernidade como a salvadora e saneadorados problemas urbanos.

    Estes problemas, na viso da corrente progressista, seriamresolvidos pela nfase dada s obras e ao espao fsico-territorial.

    importante salientar que a corrente do urbanismo progressista dominavao mundo, tendo sufocado as correntes oponentes como a orgnica,humanista e outras.

    No Brasil, a cidade de Braslia era o cone nacional e orgulho dobrasileiro perante o mundo, como uma plis totalmente projetada noparadigma do urbanismo progressista. Contemporneo tendnciaurbanstica internacional, o momento poltico da nao brasileira era o daDitadura Militar.

    Se no mundo o urbanismo progressista era a receita, no Brasilera modelo: pelas nfases metodolgicas centradas em diagnsticos fsico-territoriais, as aes priorizavam obras fsicas. Esta condio desencadeoua elaborao de Planos Diretores, de Uso e Ocupao do Solo e LeisUrbansticas por todo o territrio nacional.

    As aes vieram em cascata, passando a ser exigncia doGoverno Federal e do Governo do Estado do Paran. Fazia-se necessrio,ento, para que o municpio pleiteasse recursos de infra-estrutura urbana,que o mesmo possusse seu Plano Diretor. Esta exigncia fez com quemuitos destes documentos somente ocupassem a prateleira do gabinetedo prefeito, uma vez que, muitos deles, no possuam o respaldo popular.

    Lembremos que este respaldo popular no era a prtica, pois ostempos eram de ditadura. Estes planos eram em sua maioria elaborados

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    4Prefeito eleito: Sr. Pedro Muffatto; vice-prefeito: Ferdinando A. Maschio gesto de 1973 a 1976.5Co-autora da presente publicao.6Prefeito eleito: Sr. Jacy Miguel Scanagatta; vice-prefeito: Assis Gurgacz gesto de 1977 a 1982.7Jaime Lerner - arquiteto e planejador urbano,nasceu em Curitiba, em 1937. Engenheiro civil (1960) e

    Arquiteto (1964) pela Universidade Federal do Paran, foi prefeito nomeado da capital paranaensepor duas vezes e eleito em 1989. Exerceu o cargo de diretor da Escola de Arquitetura de Curitiba e, em1975, foi consultor de urbanismo da Organizao das Naes Unidas. membro honorrio do Real

    Instituto de Arquitetos do Canad e do AIA-Instituto Americano de Arquitetos. Foi eleito governador doParan em 1994 e reeleito em 1998. Disponvel em http:// www.arcoweb.com.br/entrevista. Acesso em6 set 2005.

    8Prefeito eleito: Fidelcino Tolentino; vice-prefeito: Adelino Marcon gesto de 1983 a 1988.

    por tcnicos e aprovados por polticos, muitas vezes em atos legalistasque ocorriam atravs de decretos.

    importante salientar que este no o caso de Cascavel, que,apesar de incorrer em erros no processo de estabelecimento do sistemade planejamento municipal, de maneira geral, contou com equipes de

    tcnicos, fundadas com funcionrios municipais comprometidos com acidade e seu desenvolvimento urbano.

    No caso de Cascavel, a primeira ao4de organizao do espaourbano ocorre em 1974, com a contratao da profissional da arquiteturae urbanismo, Solange Irene Smolarek5, para a elaborao do Cdigo deObras, Lei de Zoneamento e Lei de Loteamentos, as trs para a reaurbana municipal.

    Em 1978, o municpio j contando com a instalao de estruturaadministrativa6de planejamento urbano, contrata a consultoria do arquiteto

    Jaime Lerner7, que elabora, em conjunto com a equipe tcnica municipal,o Plano Diretor. Apesar da corrente metodolgica do consultor serhumanista, este plano ainda enfatiza as obras fsico-territoriais, datendncia progressista. No entanto, e apesar da nfase da correnteprogressista, pela primeira vez na histria da cidade e pela sensibilidadeda equipe de consultores, nesse plano constatada a importncia erepresentatividade das nascentes e fundos de vale, especialmente nocentro urbano.

    Esta situao enfatizada na proposta, que recomenda a

    preservao das margens dos fundos de vale com parques lineares, umavez que muitos deles esto ocupados por loteamentos, inclusive legalmenteaprovados pelo poder pblico municipal.

    Desse Plano Diretor resultam novas leis de Zoneamento e deSistema Virio, alm de plano de ao de obras significantes para a cidade,como o Centro Cvico, o calado da Av. Brasil e outros.

    Apesar do expressivo crescimento da cidade, mas pelaalternncia poltica de oposio, prtica que constante na administraomunicipal cascavelense, a gesto8de 1983 a 1988, ao suceder a anterior,desarticula a estrutura de planejamento municipal existente; transforma-a em assessoria da Secretaria de Obras, e contrata a consultoria doarquiteto curitibano Luiz Forte Netto9, para a elaborao do Plano deDesenvolvimento Urbano.

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    9Luiz Forte Neto arquiteto e planejador urbano, paulistano, graduou-se no Mackenzie SP, e em 1961

    conheceu a capital paranaense, um ano depois de sua vinda (1962), foi um dos responsveis pelaimplantao do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Paran, conviveu comuma gerao de notveis da arquitetura brasileira como Vilanova Artigas, Rino Levi, Kneese de Mello,Carlos Milan, Francisco Petracco, Pedro Paulo de Melo Saraiva (com quem Forte participou, aindaestudante, dos projetos para o plano piloto de Braslia e para o Clube Paulistano) e Fbio Penteado(em cujo escritrio ele trabalhou por um ano, durante a elaborao do primeiro projeto vencedor doClube Harmonia de Tnis, posteriormente objeto de novo concurso), Em 1965, quando da elaboraodo plano diretor de Curitiba, ele foi convidado por Jorge Wilheim a coordenar e acompanhar odesenvolvimento do planejamento. No Rio Grande do Norte, foi o coordenador geral do projeto deurbanizao da via Costeira de Natal, iniciado em 1977, e de vrios municpios. Presidiu tambm oInstituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), no perodo em que foram desenvolvidosos planos bsicos para a implantao da via exclusiva de nibus urbano. Os planos diretores dascidades paranaenses de Guara (1979), So Mateus do Sul, Cascavel (1986), Ponta Grossa (1991),

    Campo Largo (1978) e Foz do Iguau, e as diretrizes do controle do uso do solo no litoral paranaense(1983), so parte de seu trabalho nessa rea. Atualmente foi convidado pelo governo do Paran paracolaborar com a Secretaria do Desenvolvimento Urbano (Sedu), participando da equipe multidisciplinarque elaborou a proposta de Poltica de Desenvolvimento Urbano e Regional (PDU) para o estado. Asbases conceituais dessa proposta, que visa, em princpio, polticas estaduais de desenvolvimentoregional, urbano e institucional, partem do pensamento do gegrafo Milton Santos, cujo eixo central a incluso social dos habitantes. Luiz Forte Netto assumiu tambm, em maio ltimo, a SuperintendnciaExecutiva da Sedu/Paranacidade para implantar a PDU. Disponvel em http:// www.arcoweb.com.br/debate/debate59.asp - 40k. Acesso em 06 set 2005.

    10Omar Akel arquiteto e urbanista, graduado na Universidade Federal do Paran em 1970, foi presidentedo Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (1985/1986), presidente da FAMEPAR - Institutode Assistncia aos Municpios do Paran (1995), presidente do IPARDES Instituto Paranaense deDesenvolvimento Econmico e Social (1996) e presidente da Mineropar Minerais do Paran S/A

    (1997/2003). autor do plano do Sistema Integrado de Transporte Urbano de Maring (1986), doprograma de Recuperao Ambiental de Maring (1990), do plano de Melhoria do Transporte Urbanode Foz do Iguau (1991); e consultor do plano de Melhoria do Transporte Coletivo Urbano de Cascavel(1990). Disponvel em http://www.centralcom.com.br. Acesso em 06 set 2005.

    Este trabalho tcnico destaca-se pela leitura ampla do cenriomunicipal e, apesar de ainda pertencer corrente metodolgica dourbanismo progressista, possui uma leitura mais abrangente, no selimitando somente ao espao fsico-territorial.

    Essa gesto municipal encerra-se em 1988, sem que o

    documento tcnico tenha se transformado em documento legal.A gesto municipal de Salazar Barreiros, que a sucede, de 1989

    a 1992 , tambm de oposio anterior, j tem sob sua responsabilidadeatender aos ditames da nova Constituio Federal que obriga, apesar deno detalhar em lei especfica, os municpios com mais de vinte milhabitantes, a elaborarem seus planos diretores. Na tica da ConstituioFederal, e j com a reinstalao administrativa da Secretaria Municipalde Planejamento a SEPLAN, contratada nova consultoria para aelaborao do Plano Diretor de Cascavel, dessa vez sob o comando do

    arquiteto Omar Akel10, tambm curitibano.Esse plano, elaborado em consonncia com a ConstituioFederal, apesar de concludo em 1992, tornar-se- lei somente em 1996,por entraves polticos administrativos, tanto no executivo quanto nolegislativo municipal, inclusive pela alternncia, mais uma vez, deadministrao municipal de oposio anterior.

    Pelo crescimento da cidade, inclusive pela no obedincia dapopulao e fiscalizao do poder pblico municipal s legislaes

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    11Prefeito eleito: Edgar Bueno; vice-prefeito: Leonaldo Paranhos gesto de 2001 a 2004.12Lei n 2.631/96, de Autoria do vereador Nestor Dalmina.

    urbansticas em vigncia no presente e no passado, a cidade de Cascavelj no representa, na realidade de 1996, o planejado e aprovado na, ento,recente Lei do Plano Diretor. A distncia entre o planejado e o real imensa.Cerca de 50% das edificaes urbanas so ilegais, ferindo a legislaourbanstica vigente. No entanto, revelia das orientaes tcnico-legais,

    em legislaes de administraes populistas, estas edificaes solegalizadas, ferindo os ditames urbanos e escarnecendo-se doplanejamento proposto para a cidade.

    O processo de legalizao de obras torna-se comum e recorrente,e a populao de maneira geral, e estimulada pela m fiscalizaomunicipal, adota, como prtica, a desobedincia s leis espaciais, gerandograves problemas sociais e ambientais na rea urbana da cidade.

    Percebe-se a dissonncia entre o real e o planejado, entre ascrenas da comunidade tcnica de planejadores urbanos e a ao da

    comunidade. No entanto, e ainda dentro de tecnicismo reinante, a soluoproposta pelo corpo tcnico municipal o de ampliar a fiscalizao,enquadrando a cidade e seus cidados no formalismo das leis urbansticasque, se efetivamente implantadas, desenhariam, no real, a cidade ideal.

    neste cenrio, em 1996, que so tornadas leis o Plano Diretor,o Cdigo de Obras, o Zoneamento e Uso do Solo, e o Sistema Virio. necessrio salientar que o Plano Diretor proposto e aprovado era paratoda a rea do municpio, o mesmo ocorrendo com o Cdigo de Obras,documentos que anteriormente beneficiavam somente o permetro urbano

    da sede do municpio. Com respeito ao Zoneamento e Sistema Virio, aspropostas continuavam somente para o distrito sede do municpio.Em julho de 2001 sancionada a Lei Federal do Estatuto da

    Cidade. Em Cascavel, e mais uma vez seguindo a tradio, a administraomunicipal assumida pelo Sr. Edgar Bueno11, opositor poltico administrao anterior Dr. Salazar Barreiros. No entanto, em relao aonvel de planejamento, j h um amadurecimento referendado pelacomunidade tcnica local e pelo poder poltico: a titularidade do comandoda nova SEPLAN no altera os quadros tcnicos da Secretaria.

    H a inteno, infelizmente no realizada, de implantar o Institutode Pesquisas e Planejamento Urbano de Cascavel IPPUVEL, j aprovadoem lei de iniciativa do legislativo municipal12, porm no tornada realidadena mquina da administrao pblica. A justificativa para esta no ao de que a instalao do IPPUVEL oneraria os cofres municipais, em visomope dos administradores pblicos.

    Durante a gesto administrativa de 2001 a 2004, antecipando-se exigncia do Estatuto da Cidade, que prev a reviso do Plano Diretorde Cascavel at 2006, a SEPLAN, com consultoria do Instituto Brasileiroda Administrao Municipal IBAM, inicia os novos estudos e discusses

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    13Prefeito eleito: Lsias de Arajo Tom; vice-prefeito: Vander Piaia - gesto de 2005 a 2008.

    do Plano Diretor de Cascavel, e este o enfoque dado no terceiro captulodeste trabalho.

    No terceiro milnio, o momento no Brasil outro, no que dizrespeito ao urbanismo: acompanhando tendncia mundial que critica atecnicidade que privilegiou o automvel em detrimento do homem; a obra

    em detrimento do econmico-social; a imposio tcnico-poltica emprejuzo da democracia plena; o lucro em detrimento do meio ambiente.Os conceitos do urbanismo progressista so revistos.

    No mundo todo, so apresentadas novas tendncias, seja naproposio do Planejamento Estratgico para cidades, seja no conceitodo Novo Urbanismo, que prioriza a unidade de vizinhana do bairro emrelao ao centro comercial.

    Este o panorama em que a atual administrao municipal, sobo comando do Mdico cardiologista Dr. Lsias de Arajo Tom13, eleito

    para o perodo de 2005 a 2008, assume o poder. Mantendo a tradio deoposio poltica entre governantes, tambm mantida a nova tradioconquistada, de manuteno da equipe tcnica da SEPLAN. Em exemplode esprito democrtico, a atual administrao municipal d continuidadeaos estudos tcnicos iniciados na administrao anterior, no que dizrespeito conduo da discusso e elaborao do Plano Diretor deCascavel 2005, antecipando-se em um ano ao determinado legalmentepelo Estatuto da Cidade.

    Nesta nova viso do mundo urbano, os autores apresentam no

    terceiro e ltimo captulo deste trabalho, o momento atual do planejamentode Cascavel, materializado atravs de projeto de Lei do Plano Diretorencaminhado Cmara Municipal para anlises e discusses, ainda noano de 2005.

    A concluso retomar os aspectos relatados, em snteseintegradora dos textos, reportando a histria da cidade e de seuplanejamento urbano aos conceitos de evoluo do sagrado ao profano,na criao do imaginrio social de Cascavel.

    Fica na finalizao do trabalho o questionamento: Apesar doprocesso democrtico de elaborao do plano ter sido seguido, os atoressociais que o pactuaram formalmente, assumiro seus papis naimplantao prtica do mesmo?

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    A histria das cidades um sinnimo da histria da civilidade,considerando que civilidade14seja uma condio urbana, por definio. Oobjetivo da criao das cidades o de aumentar o bem estar dos indivduos

    e da coletividade nas diversas fases da civilidade (CALABI, [s/d]). Oshomens, antes das cidades, caavam e coletavam como nmades. Coma prtica regular da agricultura, o homem teve necessidade de agrupar-see, desta forma, iniciam-se as cidades. Pelas informaes contidas na Bblia,as primeiras cidades surgiram no que hoje conhecemos como Egito, Israel,Iraque e Ir (GLANCEY, 2001, p. 14).

    Nascem s cidades e, em conseqncia, nasce a arquitetura,para abrigar em edifcios, o universo do homem na cidade. At que hajacomprovao que conteste, Jeric o mais primitivo desenvolvimento

    urbano conhecido. As escavaes de Jeric revelam casas feitas de barro,anteriores a 8.000 a.C. Jeric, portanto, o ponto de partida para aarquitetura e para o urbanismo (GLANCEY, 2001, p.14).Mas e urbanismo, o que ? um neologismo criado em 1867, pelo arquitetoespanhol Cerda15. Trata-se de uma Teoria da Cidade, uma cincia, criadano final do sculo XIX. Este pensamento, que predomina no sculo XX nomundo inteiro, eminentemente ocidental, iniciado na revoluo industrial,inspirando-se nas fontes intelectuais da Renascena (HAROUEL, 1990,p. 8 - 9).No entanto, para se chegar situao da criao do urbanismo no sculoXIX, h toda uma histria da cidade. Esta histria passa do sagrado aoprofano, sacralizando a terra, a casa e a famlia. No princpio, o fogo erao deus presente e, nas antigas Grcia e Roma, desgraada era a casaonde o fogo se extinguisse (OLIVEIRA, [s/d]). Ainda no processo

    PRIMEIRO CAPTULO

    AS CIDADES E O URBANISMO NA HISTRIA

    14 Civilidade aqui definida no Novo Dicionrio da Lngua Portuguesa, de Aurlio Buarque de HolandaFerreira, 1 edio: conjunto de formalidades observadas entre si pelos cidados em sinal de respeitomtuo e considerao, porem o termo implica na concepo de uma nova racionalidade histricapropagada pelo iluminismo e absorvida no Brasil desde o advento da Repblica como a organizaosocial realizada de modo ordenado, sempre em desenvolvimento, sob os auspcios do Estado. As

    idias de progresso, ordem, cidadania, polidez, democracia, pacto social, secularizao, esto implcitasna concepo de uma racionalidade capaz de edificar a ordem social humana, conceito dominante naarquitetura (WILLIAMS, 1979, p.19-21).

    15Referimo-nos a Thorie Genrale de lurbanisation(HAROUEL, 1990, p. 7).

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    sacralizante, entre vivos e mortos, a distncia era pequena: poucos passosseparavam a casa do tmulo16. A figura paterna era que geria a famlia,figura esta que, com o passar do tempo, foi substituda pelas associaesfamiliares, pelas tribos e pelas cidades (OLIVEIRA, [s/d]). O poder, ento,deixa de ser patriarcal para ser o do governante.

    Ao longo deste processo foi fundamental na formao das cidades a crena.

    A crena de nossa criao, mas a ignoramos. humana, e a julgamos sobrenatural. efeito do nossopoder, e mais forte do que ns. Est em ns, no nosdeixa, e cada momento nos fala. Se nos mandaobedecer, obedecemos; se nos indica deveres,submetemo-nos. O homem pode dominar a natureza,mas est sempre sujeito ao seu prprio pensamento.

    Foram essas crenas, capazes de impelir o homem aobedecer, que tiveram papel fundamental na formaodas urbes e posteriormente das cidades. Enraizaramos povos, unificando-os em torno do mesmo ideal: oraem torno de um totem, ora em torno de um deus, oraem torno de um sacerdote, chefe e outras autoridadesou fetiches. A urbes surgiu como um santurio, localde reunio, quando as famlias, as fratrias e as tribosconvencionaram unir-se e terem o mesmo culto comum.

    (OLIVEIRA, [s/d]).A crena, ao longo da histria, sacralizou espaos, trazendo para

    o imaginrio coletivo da urbe do sculo XXI a relao j existente entresagrado e o profano da antiguidade. A sacralizao de hoje no deixa deser uma forma de protegermo-nos de nossos medos que, conforme expostopor Georges Duby (1999), no so diferentes dos medos dos anos 100017.Para que possamos entender a cidade de hoje, imergiremos nos valoresdas cidades no decorrer da linha do tempo.

    A fundao das cidades da Antiguidade com ritual sagrado,permaneceu no desenvolvimento do processo histrico-social na civilizaoocidental. O culto religioso cristo sacraliza o espao e, ainda hoje, omarco fundador da maioria das urbes ocidentais a missa celebrada soba cruz de Cristo18.

    Apesar de iniciar em Jeric, mas considerando que a cidade e ourbanismo atuais so de inspirao ocidental, a breve histria da cidade,

    16Esta situao ainda hoje verificvel em zonas rurais do Peru onde, no mesmo terreno h casa etmulo, numa seqncia que fere o nosso olhar atual, doutrinado para separar vivos e mortos.

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    No livro Ano 1000 ano 2000 na pista de nossos medos o historiador francs Georges Duby mostra queo fim do 1 milnio e o fim do 2 possuem muitas semelhanas, os medos: medos da misria, do outro,das epidemias, da violncia, do alm.

    18Exemplos so a 1 missa, no descobrimento do Brasil, e a missa de fundao de Braslia.

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    a seguir apresentada, o ser somente a partir do bero da nossa cultura:a Grcia (HAROUEL, 1990, p 11 a 146).

    A noo de cidade (polis), para os gregos antes de tudo deuma comunidade de cidados. Alm de ato poltico, o elemento religiosoest presente: consultam-se orculos e so feitos sacrifcios aos deuses,

    antes de criar uma cidade. Hipcrates o primeiro a ocupar-se da cidadede maneira concreta, pois, at ento, os pensadores se interessam pelacidade somente do ponto de vista da filosofia poltica e da moral19.Com Plato e Aristteles que h a verdadeira reflexo urbanstica. Platodiscorre sobre a escolha do stio, nmero ideal de habitantes (5.040),preconiza a criao de uma acrpole (santurios e habitaes dosguerreiros). No entanto Aristteles que se torna o grande terico dourbanismo grego, ao aconselhar um stio no somente salubre, mas quepermita um abastecimento fcil, devendo a cidade tirar partido tanto do

    mar quanto do campo (HAROUEL, 1990, p.14).A grandiosidade de obras de Pricles em Atenas importante para a histriado urbanismo, pelo aparecimento dos traados urbanos ortogonais, depoisaprimorado em Mileto. O plano quadriculado criado em Mileto20representaa filosofia de carter matemtico e que conduzem a meditaes sobre amelhor organizao poltica.Existe na Grcia antiga um verdadeiro direito urbanstico. H adesapropriao e a preocupao de proteger o espao pblico contra osempreendimentos particulares. As grandes obras de urbanismo so

    decididas pelo povo. Este povo decidiu que as cidades deveriam serpequenas, mas foras externas e internas fizeram com que a cidade seexpandisse, transformando o espao sagrado em profano.

    [Agora as cidades passam a abrigar] mercados, portos,interesses comerciais e conseqentemente umapopulao profana: marinheiros, comerciantes,viajantes [escravos, estrangeiros] e outros. Somando-se a isso o eixo da casa comeou a deslocar-se para acidade: as decises que eram familiares, tribaisadquiriram um mbito de deciso maior, a gora.

    19A histria das doenas se confunde com a histria da misria. assim desde a Grcia Antiga, quandoum surto de malria e diarria, no sculo V a.C., sacrificou a sade da Polis e mudou a maneira de vere tratar as infeces. At ali, achava-se que os males do corpo eram castigo do deus Apolo e que aresponsabilidade pelo bem-estar da populao estava nas mos de Higia vem da a palavra higiene.Mas o simbolismo das explicaes mitolgicas no bastava para um dedicado estudioso, Hipcrates, opai da Medicina, nascido na ilha de Cs, por volta do ano de 640 a.C. Hipcrates ficou assombrado coma velocidade de contgio entre os moradores de regies pantanosas e resolveu investigar as relaesentre os doentes e as condies de habitao. Concluiu que as enfermidades nasciam nas regiesinsalubres e postulou que os administradores deveriam afastar os cidados das reas de risco. As

    autoridades gregas concordaram. As romanas, um sculo mais tarde, tambm. (MAGNO, [s/d]).20 O plano quadriculado adotado por Mileto no sculo V a transcrio urbanstica do pensamentofilosfico de carter matemtico, e das meditaes sobre a melhor organizao poltica da cidade.(HAROUEL, 1990, p.15).

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    Surgiram praas, ruas, edifcios pblicos, poderesexternos e temporais que passaram a interferir nadeciso da famlia. (OLIVEIRA [s/d]).

    No urbanismo romano fundar uma cidade um ato sagrado e

    ritualstico: o agouro dos deuses, a determinao dos dois grandes eixosda cidade (leste-oeste e norte-sul), a definio dos limites da cidade (umalinha mgica para no ser transposta pelas divindades infernais) e, porltimo, a consagrao da cidade ao deus que a proteger. Os elementosurbanos so a muralha, as ruas, o frum, os equipamentos pblicos e ashabitaes. Roma chega a ter aproximadamente um milho de habitantesno auge do imprio, por volta do ano 200.

    Contemporneo de Augusto, Vitrvio, inspirado pelos gregos,edita um Tratado de Urbanismo, intitulado de Architectura, sendo esta a

    obra mais completa que nos foi legada pela antiguidade. Preocupa-se elecom a salubridade, com a comodidade e a esttica urbana, questes estastemporais e, portanto, profanas. Vitrvio organiza espacialmente,metodologicamente, o princpio at ento vigente, sagrado e ritualstico,de criao de cidades romanas.

    O perodo medieval consagra o conceito das aglomeraes urbanasna Europa. Na filosofia patrstica medieval, razo e f so conciliveis.

    Para impor as idias crists, os Padres da Igreja as

    transformaram em verdades reveladas por Deus(atravs da Bblia e dos santos) que, por serem decretosdivinos, seriam dogmas, isto , irrefutveis einquestionveis. Com isso, surge uma distino,desconhecida pelos antigos, entre verdades reveladasou da f e verdades da razo ou humanas, isto , entreverdades sobrenaturais e verdades naturais, asprimeiras, introduzindo a noo de conhecimentorecebido por uma graa divina, superior ao simplesconhecimento racional. Dessa forma, o grande temade toda a Filosofia patrstica o da possibilidade deconciliar razo e f (CHAUI, [s/d]).

    Santo Agostinho explica o enigma do mal do mundo atravs daexistncia de duas cidades: a cidade de Deus e a cidade dos homens.

    Cristo tornara-se o centro sobrenatural da histria: oseu reino, a cidade de Deus, representada pelo povode Israel antes da sua vinda sobre a terra, e pela Igreja

    depois de seu advento. Contra este cidade se ergue acidade terrena, mundana, satnica, que ser

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    absolutamente separada e eternamente punida nos finsdos tempos. (Agostinho, [s/d]).

    A Idade Mdia compreende anos de conflitos blicos ocorridosem funo da formao dos feudos, dos principados e dos reinados, com

    sucessivas invases de brbaros: os habitantes das cidades se recolhematrs de muralhas. O principal elemento urbano que a cidade, agressoraou agredida, deve estar em condio de garantir sua segurana. Ento,ela fechada por muros. a Igreja que salva a vida urbana, e muitasaglomeraes se formam em volta de monastrios.

    Com o final das invases, h um forte crescimento demogrficoproveniente da expanso econmica. A unidade contempornea entre acidade e seu subrbio, provm deste perodo (LE GOFF, 1998, p. 17).Novas cidades so criadas, ligadas ao cultivo da terra e forma particular

    de contrato estabelecido entre os servos da gleba e os senhores feudais.

    O profano invadiu o sagrado, e a cidade deixou de sero palco de um drama significativo, no qual cada umteria um papel, com falas a dizer: tornou-se, pelocontrrio, um pomposo mostrurio de poder: e suasruas, apropriadamente, apresentavam apenas fachadasbidimensionais, que serviam de mscara para umgeneralizado sistema de arregimentao e explorao.

    (OLIVEIRA, [s/d]).Com exceo de Paris, com 200.000 habitantes, as demais

    cidades populosas esto na Itlia: Milo e Veneza possuem 200.000habitantes; Florena, Gnova, Npoles e Palermo 100.000. Fora da Itliaesto Londres, Colnia e Barcelona, cada uma com 40.000 habitantes; ePraga e Viena, possuindo individualmente 20.000 habitantes.

    O plano das cidades medievais rompe com o quadrilteroromano. Criam-se espontaneamente a partir de um castelo ou monastrio,ou desenvolvem-se ao longo de um rio. A arquitetura a mxima expressoartstica, e as catedrais so as obras de toda uma comunidade21.

    A filosofia medieval separa infinito (Deus), do finito (homem),razo e f (a primeira subordinada segunda), e corpo (matria) de alma(esprito). O poder temporal de reis e prncipes era subordinado ao poderdo papa e de bispos22. As cidades, ento, servem aos seus senhores,especialmente na construo de obras sacras: a comunidade prestando

    21Este o tema central do livro Os Pilares da Terra, onde o autor Ken Follet discorre, em dois volumes,especialmente sobre a sociedade inglesa por volta do ano 1100, e do processo e avanos sociais e

    tecnolgicos que oportunizaram a construo de catedrais como expresses mximas da comunidade.22 Caracterstica marcante da Escolstica foi o mtodo por ela inventado para expor as idias filosficas,conhecidas como disputa: apresentava-se uma tese e esta devia ser ou refutada ou defendida porargumentos tirados da Bblia, de Aristteles, de Plato ou de outros Padres da Igreja. (CHAUI, [s/d]).

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    reverncia ao poder vigente, no caso, a Igreja, a nica instituio dotadado poder de interpretar os fins humanos, orientados para os desgnios dodivino.

    O renascimento rompe com o urbanismo medieval. De influnciapreponderantemente italiana tericos como Alberti, inspirado pelas

    descobertas dos escritos de Vitrvio23, retoma como arquiteto e urbanistao problema platnico da cidade ideal. So elaborados diversos projetosde cidades ideais, sempre na interpretao do autor, em relao s idiasde Vitrvio. no renascimento que, atravs da cidade ideal, projeta-se oespao urbano real. A perspectiva monumental, o monumento-alvo, ocentro da cidade. A partir da concebem-se ruas retilneas. No idealrenascentista, de qualquer rua chega-se praa e v-se o monumento-alvo. As fachadas moduladas dos edifcios, a simetria, o ponto de vistacentral, o programa arquitetural, so criaes deste perodo. Deus deixa

    de ser o centro da arquitetura e do urbanismo, o centro do universo ohomem, e os edifcios e cidades devem tornar sua vida mundana maisconfortvel, mais prazerosa. Na habitao, o modelo a Vila, de inspiraoromana.

    Uma das linhas de pensamento da Renascena a que propunhao homem como responsvel pelo seu destino. A Utopia de Thomas More a inspirao para a modelao espacial, que propiciaria a passagemdas sociedades corrompidas em sociedades virtuosas.

    No por acaso os grandes utopistas renascentistas ordenam as

    dimenses sagradas e profanas em cidades ideais: na Utopia de ThomasMore, uma ilha que comportava 54 cidades; na Cidade do Sol, de TommasoCampanella, a Ilha de Taprobana, comportava sete regies; a NovaAtlntida de Francis Bacon, tambm uma ilha, Benzalm. Estas utopiassurgem na direta referncia s descobertas de novos mundos pelo circuitodas navegaes. Tendo como ascendente a Repblica de Plato e comoprottipo a obra de Thomas More, guardadas as diferenas tericas,contextuais e histricas entre os autores, variantes da Utopia foramelaboradas por James Harrington, em A Comunidade de Oceana, porFranois Fnelon em As Aventuras de Telmaco, por Jean Meslier em OTestamento. (MANOEL, 2001)24.

    Ao contrrio do urbanismo medieval, no renascimento formula-se os cnones de uma esttica urbana de valor universal, centrado naordenao hierrquica do mundo temporal regido pelo poder espiritual.Expande-se o comrcio, o mundo todo se torna possesso do homem,explorado pelas navegaes, pelas mquinas25.

    23Vitrvio foi o arquiteto que escreveu em 10 volumes os paradigmas da arquitetura romana. Esta obra re-descoberta no Renascimento, sendo a base da arquitetura do sculo XVI.

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    Thomas More (1478-1535), Tommaso Campaneella (1568-1639), Francis Bacon (1561-1626), JamesHarrington(1611-1677), Franois Fnelon (1651-1715), Jean Meslier (1664-1729).25O resto do mundo transformou-se numa possesso do homem, reino das mquinas, das navegaes,

    da explorao da fora produtiva. (OLIVEIRA, [s/d]).

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    No sculo XVII o urbanismo traz, para as ruas da cidade, o

    cenrio, a espetacularizao da arquitetura. A igreja catlica aps o advento

    da Reforma contra-ataca com a arquitetura barroca, criando o cenrio

    perfeito, na tentativa de retorno ao catolicismo, dos desgarrados

    protestantes e da vigilncia dos novos fiis, a exemplo da ao jesuticana Amrica portuguesa e espanhola, e na sia26. O espao pblico segue

    o modelo, e teatral a Praa do Vaticano, que com as suas colunatas

    contm, como coxias, os interpretantes/espectadores em suas atuaes.

    O barroco tambm o estilo do profano, e Versalhes, incluindo seus

    imensos jardins, traz para o espao profano a espetacularizao do espao

    sagrado.

    Entre os sculos XVII e XVIII, o foco sai da Itlia e vai para aFrana. o apogeu do urbanismo clssico.

    Cita-nos Munford que entre os sculos XV e XVIII,

    tomou forma na Europa um novo complexo de traos

    culturais. Tanto a forma quanto o contedo da vida

    urbana, em conseqncia, foram radicalmente

    alterados. O novo padro de existncia brotava de uma

    nova economia, a do capitalismo mercantilista; de uma

    nova estrutura poltica, principalmente a do despotismo

    ou da oligarquia centralizada, habitualmente

    personificada num Estado nacional. (OLIVEIRA, [s/d]).

    So os novos tempos, ditados pela Revoluo Francesa. Os

    ideais urbanos so o do Iluminismo. Filsofos, mdicos, arquitetos: uma

    gama variada de pensadores cada vez mais se interessa pela cidade.

    O ideal do homem como artfice de seu prprio

    destino, tanto atravs dos conhecimentos -astrologia,

    magia, alquimia -, quanto atravs da poltica - o ideal

    republicano -, das tcnicas - medicina, arquitetura,

    engenharia, navegao - e das artes - pintura, escultura,

    literatura, teatro. (CHAUI, [s/d]).26Filipinas, por exemplo.

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    Entre meados do sculo XVIII e comeo do sculo XIX, cr-senos poderes da razo, aqui chamada de As Luzes e da o nomeiluminismo27.

    Toda a cidade est doente e Balzac, em Illusions Perdues,

    qualifica Paris de cancro. H inmeras legislaes reais, preocupadascom o gigantismo urbano: distanciamento entre bairros, centro urbanonegligenciado, cinturo cultivvel de frutas e verduras para a populao.Inicia-se o processo da grande cidade moderna. Este perodo, conhecidocomo o Grande Racionalismo Clssico, marcado por trs grandesmudanas intelectuais: na primeira, ao invs de elaborar um discurso quesustenta a cidade, o mundo e o homem como criao de Deus e, portantoa ele submissos, pergunta qual seria a capacidade do intelecto humanona demonstrao da verdade; na segunda h a convico de que o que

    conhecido pode transformar-se em conceito ou idia e; na terceira, h apredominncia da idia de conquista cientfica e tcnica de toda a realidade(CHAUI, [s/d]).

    A salubridade, no sculo XVIII, a grande preocupao: a higieneurbana pela pavimentao das vias e esgotos, as atividades poluidorascomo matadouros, curtumes e fundies no centro da cidade, que tornamo ar irrespirvel e induzem ao seu deslocamento para a periferia, soobjetos de debate em Paris.O axioma : A beleza das cidades consiste, principalmente, no

    alinhamento das ruas. Assim o traado urbano, para ser belo, deve serem figura regular. H o programa arquitetural de fachadas para ruasespecficas, pois um urbanismo fachadista, de decorao externa.

    A cidade, com o advento do Estado nacional cresceu eseus habitantes foram imergindo no anonimato. Asestruturas de poder aumentaram, deslocando as aesindividuais para os dispositivos tcnicos, transformandouma massa de homens participantes e atuantes emuma sociedade disciplinar, composta por sujeitosassujeitados, solitrios e annimos, habitantes de umespao impossvel de se ver o conjunto. (OLIVEIRA,[s/d]).

    27O Iluminismo afirma que: pela razo, o homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social epoltica (a Filosofia da Ilustrao foi decisiva para as idias da Revoluo Francesa de 1789); a razo capaz de evoluo e progresso, e o homem um ser perfectvel. A perfectibilidade consiste emliberar-se dos preconceitos religiosos, sociais e morais, em libertar-se da superstio e do medo,graas as conhecimento, s cincias, s artes e moral; o aperfeioamento da razo se realiza peloprogresso das civilizaes, que vo das mais atrasadas (tambm chamadas de primitivas ou

    selvagens) s mais adiantadas e perfeitas (as da Europa Ocidental); h diferena entre Natureza ecivilizao, isto , a Natureza o reino das relaes necessrias de causa e efeito ou das leis naturaisuniversais e imutveis, enquanto a civilizao o reino da liberdade e da finalidade proposta pelavontade livre dos prprios homens, em seu aperfeioamento moral, tcnico e poltico. (CHAUI, [s/d]).

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    As grandes avenidas de Paris so o modelo para o mundo. nosculo XVIII que termina o isolamento da cidade, dos elementos naturais(bosques, parques) e da gua (rios, mares). Muralhas que separam a cidadeda natureza so demolidas.

    Michel Foucault demonstra em Vigiar e Punir: nascimento da

    priso, que ao final do sculo XVIII e comeo do sculo XIX extinguem-seas formas pblicas de espetculo punitivo. Locais especficos da cidadeno Ocidente compunham o cenrio, o suplcio pblico punindo o executadocom selvageria e humilhao, o pblico, isto , segmentos sociais dapopulao, fazendo parte da platia (FOUCAULT, 1977, p.14). O castigo-espetculo substitudo por novas formas de controle social sobre ailegalidade em um amplo espectro decorrentes do aumento geral da riquezae do grande crescimento demogrfico (FOUCAULT, 1977, p.15, p.78).

    Na realidade, a passagem de uma criminalidade desangue para uma criminalidade de fraude faz parte detodo um mecanismo complexo, onde figuram odesenvolvimento da produo, o aumento das riquezas,uma valorizao jurdica e moral maior das relaesde propriedade, mtodos de vigilncia mais rigorosos,um policiamento mais estreito da populao, tcnicasmais bem ajustadas de descoberta, de captura, deinformao: o deslocamento das prticas ilegais correlato de uma extenso e de um afinamento dasprticas primitivas. (FOUCAULT, 1977, p. 72).

    No contexto histrico de uma burguesia ascendente no h espaopara uma sensibilidade com as formas evanescentes de cultivo coletivo, deterras coletivas campesinas. No campo, a agricultura intensiva deixa poucamargem para a tolerncia e toda infrao, mesmo mnima, implica emarregimentar novos cdigos que abriguem as novas formas de vigiar e punir.A arquitetura convocada para que a cidade abrigue hospcios, tribunais,prises, armazns, oficinas, caracterizadas pela funcionalidade, na tica

    jurdica e moral burguesa, atenta ao que considera ilegal.

    E essa ilegalidade, se mal suportada pela burguesiana propriedade imobiliria, intolervel na propriedadecomercial e industrial: o desenvolvimento dos portos,o aparecimento dos grandes armazns onde seacumulam mercadorias, a organizao de oficinas degrandes dimenses (com uma massa considervel dematria-prima, de ferramentas, de objetos fabricados,

    que pertencem ao empresrio e so difceis de vigiar),exigem tambm uma represso rigorosa da ilegalidade(FOUCAULT, 1977, p. 79).

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    E o que a cidade como cenrio? a sociedade materializando,espacialmente, a linguagem de novos valores, sejam religiosos, sejameconmicos, sejam polticos. O espao urbano como palco foi fenmenocaracterstico da Inquisio28, movimento generalizado na Europa entreos sculos XV e XIX. A congregao do Santo Ofcio passou a fazer parte

    da cria romana a partir de 1252 com a bula de Inocncio IV Ad extirpanda,mas papas e reis desde o sculo XI j promoviam a represso civil eeclesistica contra as heresias (Conclio de Latro com o Papa Lcio III, oPapa Inocncio III, o Papa Gregrio IX que requereu aos Dominicanos aconduo desta ao, os reis Pedro II de Arago, Luiz VIII da Frana,Frederico II da Alemanha).

    A cidade torna-se o espao para a execuo dos ritos coletivoscomo missas, procisses, atos de f, principalmente estes ltimos com apreparao, a encenao, o ato e a recepo, completamente articulados

    para legitimar o poder eclesial e produzir fortes reaes emocionais. Desdeo dito do anuncio do auto da f at a abjurao do herege ou suaexecuo, as cerimnias exigiam que inmeros processos fossemconcludos com rapidez para obter um nmero expressivo de penitentes(BETHENCOURT, 2000, p. 221).

    Os signos a envolvidos (bandeiras, estandartes, nmeros, emblemas,escudos, as cores, os vesturios dos condenados, da corte, dos dignatrios, darealeza, e at mesmo detalhes decorativos), forjam condensaes simblicasrelevantes cabendo aos arquitetos organiz-los espacialmente, entre a praaaberta e a igreja (BETHENCOURT, 2000, p. 229).

    Cabia arquitetura, reproduzir o sistema e seus valores,interligando o poder do Estado, o da Igreja, as relaes de dependncia Coroa, composio do tribunal (civil e religioso), o espao dos penitentes(abjurao e/ou condenao), a leitura da sentena, o acesso dosconvidados, a construo do cadafalso, a assistncia do pblico. Aconstruo do palco abarcava tambm um vasto conjunto de estrados,escadas e pequenas salas interiores com funes diferenciadas, emcerimnias que duravam dias (BETHENCOURT, 2000, p.244).

    O urbanismo europeu exportado pelos pases colonizadores

    para suas colnias. Os soberanos espanhis definem que a cidade deve28A rigor, devemos denominar este amplo movimento pela sua diversidade cultural e histrico-social de

    Inquisies, havendo em cada nao peculiaridades polticas e um movimento prprio de caracterizaodos perseguidos, com especificidades em termos de estrutura funcional de cada tribunal, dos seus ritosde fundao, dos contedos dos ditos publicados, de sua importncia para a cria romana e do processode confisco de bens. A este respeito Bethencourt (2000) e Carlo Guinzberg relatam o movimento internodos tribunais na escolha dos processados que abrangeu um nmero considervel de heresias e desegmentos da populao. Iniciado contra os leprosos, os rus foram seqencialmente os judeus, osleprosos e judeus associados em compls contra o rei, os cristos e a populao. A eliminao destesegmento fez com que a perseguio se dirigisse aos muulmanos e deste modo, sucessivamente,retornando aos judeus e ampliando sua ao para pobres, mendigos, homens, mulheres e crianascatlicas, protestantes, cristos novos, cristos velhos acusados como feiticeiros, herticos, bruxos,

    participantes de sabs. Em alguns casos tratava-se de erradicar o monoplio de crdito exercido pelosjudeus e conseguir administrar as polpudas rendas de que dispunham os leprosrios; em outros ocorreuuma diversidade de condicionantes polticos, histricos, religiosos, de crena e atitudes que no autorizamuma generalizao desta ao catlica. (GINZEBURG, 1991, p. 48).

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    partir do corao (core): a Plaza Mayor. Nova Orleans o exemplo daexportao do modelo francs.

    Filadlfia, Baltimore e Savannah possuem quadrculas regulares.Na criao de Washington, dois edifcios so o centro de redes de avenidas,o Capitlio e a Casa Branca. um traado urbano clssico, concebido de

    maneira colossal: a transposio do urbanismo europeu nas dimensesdo novo continente.

    Aumenta a populao mundial nos sculos XVII e XVIII, masaumenta prodigiosamente a populao que mora nas cidades. Esteaumento populacional decorrente dos progressos das cincias e dastcnicas e, nas cidades, pela transformao da economia: o setor primrio(agricultura), que preponderava at ento, cede lugar ao secundrio(indstrias) e ao tercirio (servio e comrcio), que so desenvolvidosnas cidades.

    As cidades, como as conhecemos hoje no mundo ocidental, sodecorrentes da Revoluo Industrial. Comeando na Inglaterra a partir dosculo XVIII, lana-se toda a populao agrria nas cidades, que no estopreparadas para acolh-las. Proliferam os cortios, os locais insalubres,em Lille, Liverpool e Manchester.Surgem no sculo XIX e comeo do sculo XX cidades novas: pode-secitar Salt Lake City, de carter religioso, e fundada pelos mrmons, ondeo plano de quadriculado urbano possui como centro o Templo Block; ascidades criadas para servir como capitais (Otawa, Pretria, Camberra,

    Nova Deli, Ankara). No entanto, as grandes aglomeraes decorrem doprogresso industrial e da extrao mineral. O ouro cria So Francisco,Denver e Johanesburgo; Kimberley nasce pelo diamante; Oklahoma Citypelo petrleo. Pelos portos martimos, so criadas Singapura, Melboune;pelo canal de Suez, Port-Said; pelas linhas de ferro Chicago, Seattle,Vancover; pelo turismo, Miami. Vrias indstrias criam para seus operrios,verdadeiras aglomeraes.

    Mumford mostra ao leitor de seu texto que no decorrer

    da histria a exteriorizao da cidade cresceusacrificando a liberdade humana; enquanto GeorgSimmel, em seu ensaio As grandes cidades e a vidado esprito, revela o quanto as grandes metrpolesintensificaram a vida de seus habitantes impondo-lhesimpresses ininterruptas com sua evoluo, moldando-lhes a conscincia e a forma de se relacionar com osoutros, com os objetos e com a prpria espacialidade.O homem dessas novas metrpoles viu-se

    constantemente ameaado em sua subjetividade,tornando-se impossvel lutar contra as foras

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    esmagadoras da sociedade destruidoras da suaautonomia e da existncia. Se o homem primitivo teveque lutar contra as foras fsicas, as intempries, contrauma natureza no domada; hoje o homem modernovive diante de um inimigo poderoso e invisvel: ocapitalismo, seus instrumentos de seduo, aideologizao, o assujeitamento, a desrazo docotidiano e a impotncia causada por esse grandeLeviat: as foras da Modernidade. (OLIVEIRA, [s/d]).

    Nascem as cidades-satlites, como Pullmann City nos arredoresde Chicago.

    A cidade, que deveria ser o local de convvio, de troca

    de experincia entre os homens, transforma-se no inciodo sculo XX, num cenrio de luta de homens contrahomens e de mquinas contra homens. Cada vez maiso homem v-se desenraizado, sem profundidade,esmaecido em seus valores; imergindo em um sistemado qual no consegue fugir, tampouco preservar a suasubjetividade. No sem razo que Simmel dir queos problemas fundamentais da vida moderna provmde que o indivduo deseja a qualquer preo, diante das

    foras esmagadoras da sociedade, da heranahistrica, da civilizao e das tcnicas, preservar aautonomia e a originalidade de sua existncia.(OLIVEIRA, [s/d]).

    A cidade torna-se vitrine das mercadorias que produz: asexposies universais tinham como objetivo divulgar as novas tecnologiase produtos que surgiam no bojo da industrializao, ocorrendo 16exposies no sculo XIX, de grande impacto 29. Na de Londres, para que

    os produtos fossem expostos, cria-se o Palcio de Cristal30

    , que possui291851 - Londres; 1855 - Paris; 1863 - Londres; 1867 - Paris; 1873 - Viena; 1876 - Filadlfia (EUA); 1878

    - Paris; 1879 - Sydney (Austrlia); 1880 - Melbourne (Austrlia); 1883 - Amsterd (Holanda); 1885 -Anturpia (Blgica); 1885 - New Orleans (EUA); 1888 - Barcelona (Espanha); 1888 - Copenhague(Dinamarca); 1899 - Bruxelas (Blgica); 1889 - Paris. (DIAS, 2004).

    30Escolhida entre mais de 250 projetos, a vasta estrutura media 564 m de comprimento. A estruturainteira foi construda por 2.000 trabalhadores. O palcio de cristal (1850-1851), que abrigou a primeiraFeira Mundial em Londres, demonstrou as possibilidades estticas de uma estrutura de ferro fundido.Joseph Paxton, engenheiro que se especializou em estufas, projetou a estrutura em ferro e vidro deum enorme conservatrio, cobrindo 85 quilmetros quadrados e envolvendo as rvores adultas j nolocal. Pelo fato de as mquinas produzirem elementos de ferro fundido em formas pr-fabricadas, a

    construo era instantnea. Em seis meses, espantosamente, os trabalhadores montaram o edifciocomo um grande conjunto de armar. O espao interior, inundado de luz, parecia infinito, a estrutura emsi quase sem peso. Seus princpios estruturais foram inspirados na estrutura vegetal da vitria regia.O Palcio de Cristal foi destrudo em um incndio em 1936. (DIAS, 2004).

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    rplica brasileira, construdo em Petrpolis pelo conde DEu31.No sculo XIX os princpios do idealismo de Hegel, principalmente narealizao da idia na histria dos seres humanos no processo de tese,anttese e sntese, gradativamente incorporado na crtica religio, comomodo prprio e especfico da existncia dos homens32. Marx no final do

    sculo XIX e Freud no incio do sculo XX questionam o otimismoracionalista. Marx define um poder (que social) de ideologia. Freudapresenta humanidade o inconsciente33.Novos utopistas e reformadores do sculo XX concebem projetos decidades ideais, que rompem com a pratica usual, e variam de acordo como autor (Charles Eduard Jeanneret-Gris, dito Le Corbusier; Frank LoydWright). Cada um deles busca concretizar seu sonho. Dentre estascorrentes, uma se destaca: a chamada corrente progressista, principalcorrente do urbanismo moderno, e que dominou a segunda metade do

    sculo XX. A inspirao dos progressistas o racionalismo da filosofiadas Luzes, que se baseia na concepo abstrata do homem, indivduomutvel no tempo e no espao. A cincia, ento, deve definir um modelourbano perfeito, que convenha a todo grupo humano, sendo o seu objetivoa procura da higiene, e suas questes fundamentais so o verde, a luz, oespao e a gua.A carta de Atenas, em 1933, define as funes bsicas de uma cidade:habitar, trabalhar, recrear, tudo ligado com a funo circular. Le Corbusier o grande idealizador da Carta de Atenas e, em viagens pelo mundo

    inteiro, divulga suas idias. Como o sagrado para Le Corbusier? TimBenton aponta para trs maneiras de entendimento do sagrado pelo grandearquiteto: a primeira, passando pela idia de harmonia da natureza, e no

    31Conhece-se com esse nome no apenas o pavilho, produto da Revoluo Industrial que acontecia naEuropa, como o prprio local, totalmente ajardinado e com repuxos. A construo - rplica do CrystalPalace de Londres, construdo para a exposio comemorativa dos 100 anos da Revoluo Industrialem 1851 - foi usada como cassino, corpo de bombeiros e at como albergue de desabrigados dostemporais de Petrpolis. Foi construdo nas oficinas da Sociedade Annima de Saint-Sauver-Les-Arras, na Frana, em 1879, para a Associao Hortcula de Petrpolis, da qual era presidente o CondeDEu, marido da Princesa Isabel, destinado a servir de local para exposies e festas. Foi inauguradoem 1884. Neste local no domingo de Pscoa de 1888, a Princesa Isabel entregou as cartas de alforria

    a escravos, a maioria indenizando seus senhores devido a campanha desenvolvida na cidade. (CITYBRASIL, Petrpolis, [s/d].).32A cultura a criao coletiva de idias, smbolos e valores pelos quais uma sociedade define para si

    mesma o bom e o mau, o belo e o feio, o justo e o injusto, o verdadeiro e o falso, o puro e o impuro, opossvel e o impossvel, o inevitvel e o casual, o sagrado e o profano, o espao e o tempo. A culturase realiza porque os humanos so capazes de linguagem, trabalho e relao com o tempo. A culturase manifesta como vida social, como criao das obras de pensamento e de arte, como vida religiosae vida poltica [...] Cada cultura inventa seu modo de relacionar-se com o tempo, de criar sua linguagem,de elaborar seus mitos e suas crenas, de organizar o trabalho e as relaes sociais, de criar as obrasde pensamento e de arte. Cada uma, em decorrncia das condies histricas, geogrficas e polticasem que se forma, tem seu modo prprio de organizar o poder e a autoridade, de produzir seus valores.(HOST, [s/d]).

    33Freud mostrou que os seres humanos tm a iluso de que tudo quanto pensam, fazem, sentem e

    desejam, tudo quanto dizem ou calam estaria sob o controle de nossa conscincia porquedesconhecemos a existncia de uma fora invisvel, de um poder - que psquico e social - que atuasobre nossa conscincia sem que ela o saiba. A esse poder que domina e controla invisvel eprofundamente nossa vida consciente, ele deu o nome de inconsciente. (HOST, [s/d]).

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    por dogmas religiosos; a segunda a sacralidade contida nos smbolos emitos da natureza e, por ltimo, a crena no homem (MULER, [s/d]).Esta trade ser considerada na produo de toda uma gerao de novosurbanistas. Na ndia, Corbusier o autor do projeto de Chandigard, capitaldo Estado do Punjab; no Brasil os conceitos de Corbusier esto presentes

    na concepo de Braslia.Dentro da doutrina da Carta de Atenas que preconiza as trs funesbsicas de uma cidade (morar, trabalhar, recrear), verdadeiras cirurgiasurbanas foram impostas nas cidades ocidentais: dividiram-se as cidadesem zonas, priorizando em cada uma das zonas uma das trs funesurbanas. No foram poucas as cidades que pecaram por excesso,zoneando as cidades de maneira ditatorial, fazendo com que os cidadosnecessitassem locomover-se de uma zona para outra, pois onde erapermitido morar, no era permitido trabalhar. Com esta m interpretao

    da Carta de Atenas, deu-se importncia acima do necessrio s vias decirculao, especialmente para os automveis. Los Angeles a provadesta situao. Nesta disfuno, criaram-se os bairros dormitrios (ondedurante o dia no h pessoas, pois esto trabalhando em outro setor), eos centros urbanos (que se tornam verdadeiros fantasmas noite e nosfinais de semana, pois os que l trabalham, l no moram).O urbanismo progressista obcecado pela modernidade e, na base daausteridade e racionalidade que a enfatizam (indstria, avio, automvel),h o desprezo pela cidade antiga; o viver menos importante que o

    trabalhar. O pice desta situao a preconizao de Le Corbusier, emseu Plano Voisin: destruir tudo que h na margem direita do rio Sena,em Paris. Le Corbusier ainda professa que o esquema urbano vlidopara qualquer lugar do mundo, pois concebido para o homem-padro. Omodelo de urbanismo professado por Le Corbusier acarreta umdesmembramento da cidade, numa fratura do espao urbano (HAROUEL,1990, p. 121).Chandigard e Braslia, encomendadas pelos presidentes da ndia e doBrasil (Neru e Kubitschek) a primeira Corbusier, a segunda Niemeyere Lcio Costa, respectivamente, so os exemplos mximos do urbanismoprogressista. Edifcios pblicos gigantescos, que dominam imensosespaos vazios, e conjuntos habitacionais semelhantes aos que podemser encontrados (pela forma e concepo) em Paris, Moscou ou Singapura. a razo nua e crua, que desconsidera a emoo humana.O urbanismo progressista a corrente que domina o sculo XX e que semultiplica por todos os continentes, porem no a nica: h a correntehumanista e a naturalista. O urbanismo humanista, no seu movimentoculturalista, fundamenta-se em Max Weber e na concepo de que a cidadeeuropia pr-industrial, pelo clima de comunidade urbana, uma realizao

    do indivduo e o desabrochar da cultura (HAROUEL, 1990, p. 122). Emoutro movimento dentro da corrente humanista (o movimento

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    antropolgico) Geddes, bilogo escocs, afirma que a cidade deve serfeita para homens reais (contrapondo-se ento ao homem-padro deCorbusier), sendo necessrio conhecer as suas aspiraes e necessidades.A ltima corrente do sculo XX a corrente naturalista, que tenta resgatara imagem nostlgica de uma natureza virgem, numa tradio antiurbana,

    num pensamento rousseauniano34. O precursor desta proposta o coneda arquitetura mundial, Frank Loyd Wright. Para ele, o modelo de habitao de residncias individuais, onde as atividades profissionais estoanexadas habitao. Este modelo, tambm, sufocado pela correnteprogressista, que predomina com suas habitaes coletivas e desumanas,e seus edifcios de escritrios.Na segunda metade do sculo XX a arquitetura fria do estilo internacional,as vias expressas, a corrida para o subrbio e a deteriorao dos centrosurbanos foi constante. Na materializao do modernismo, a cidade foi

    dilacerada35. A escola de filosofia de Frankfurt, na elaborao da TeoriaCrtica divide a razo em instrumental e crtica36. Na razo crtica, ourbanismo progressista (sustentado pela razo instrumental) amplamentecontestado, por ser um urbanismo desumano.O grande pecado do urbanismo progressista foi ter criado um universokafkiano, base de espaos desestruturados, e gigantescas mquinasde morar para homens-mquina. Neste mundo novo, os costumes e asregras que se haviam acumulado desde Jeric, foram abandonadas, poisna antiguidade, as cidades eram edificadas no modelo sagrado, sonhada

    pelo seu criador (Nnive, por exemplo), ou em continuidade do Templo(Jerusalm, por exemplo). Por isso faremos no tpico seguinte uma anlisecrtica que reflete o processo do sagrado ao profano.

    34No campo da teoria poltica, Rousseau escreve em 1757 O Contrato Social. Nele, contesta de formaclara as proposies de Locke e Hobbes segundo as quais a sociedade estabelece o contrato socialem que os homens garantem a segurana para todos por meio da figura do Estado, cujo poder tem

    extenso diferenciada. Para Rousseau, o contrato social proposto por Hobbes e Locke falso e situa-se como uma tentativa de convencer os mais pobres a se conformar com a situao de desigualdade,e com isto protegendo a condio dos mais ricos, perpetuando e aprofundando as diferenas entre aspessoas. So estas diferenas que Rousseau aponta como causa do sofrimento humano, propondoassim o retorno ao estado de natureza ou do Homem natural ou ainda, de acordo com a compreensode estudiosos do pensamento rousseauniano, o refinamento do estado de natureza. (MATOS, [s/d]).

    35 Sagrado, profano so termos esmaecidos de seus significados. E a cidade se estende para l, paral da prpria cidade, no havendo mais muros ou espaos sagrados. E os homens nos bondes, nostrens, nos carros, vem a terra girando, girando, diante de vagos e imprecisos quadros impressionistas.Novos centros surgindo, intercalados por terrenos baldios e cemitrios nica realidade do homem,tmulos desprovidos de magia, do sagrado. No h mais a terra dos ancestrais. (OLIVEIRA, [s/d]).

    36A razo instrumental a razo tcnico-cientfica, que faz das cincias e das tcnicas no um meio deliberao dos seres humanos, mas um meio de intimidao, medo, terror e desespero. Ao contrrio, a

    razo crtica aquela que analisa e interpreta os limites e os perigos do pensamento instrumental eafirma que as mudanas sociais, polticas e culturais s se realizaro verdadeiramente se tiveremcomo finalidade a emancipao do gnero humano e no as idias de controle e domnio tcnico-cientfico sobre a Natureza, a sociedade e a cultura. (HOST, [s/d]).

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    No desenvolvimento da histria da humanidade e,conseqentemente, das cidades, e na anlise critica que se faz desteprocesso evolucionista urbano, as polis gregas diferiram das que as

    precederam, pois da sacralizao dos espaos antigos, passou-se paracidades edificadas, no conceito de racionalizao da vida social, portanto,humana. Aqui, nas gregas, a finalidade o homem, quando nas maisantigas, a finalidade era os deuses. Contudo, seja no profano, seja nosagrado, a cidade concebida ou revitalizada num modelo, num ideal.

    Como observou Marx, em conhecida passagem, o quediferencia o mais hbil arquiteto da mais habilidosaabelha que aquele elabora idealmente sua

    construo antes de execut-la. Talvez por oferecer apossibilidade de um mundo construdo segundo odesejo e a paixo, opondo-se ao mundo arbitrrio, danatureza ou do divino imposto ao homem a sua revelia.(SNCHEZ, 2003, p.16).

    O modelo urbano, ento, conseqncia da funo que a cidadedeva ter: sagradas para Nnive e para Jerusalm; humanas, para as gregas;fortalezas, para as medievais; sede de comrcio e trocas, para asrenascentistas. E a cidade contempornea? As funes essenciais deuma cidade so a troca, a informao, a vida cultural e o poder (LE GOFF,1998, p. 29).

    No discorrer da obra sobre a histria da cidade, Jacques Le Goffafirma que, na cidade da Idade Mdia, o caminhar do mendicante quaseque desejado, pois ele permite ao burgus trabalhar pela sua salvaooferecendo esmolas: [...] praticamente se ia procura de pobres, fazendo-os migrar para a cidade para oferecer ao burgus a possibilidade de fazera caridade (LE GOFF, 1998, p. 51-54). Esta funo religiosa/social dacidade mdia, porm, no a nica. A cidade tambm o ponto de

    encontro, das festas. E nestes eventos, percebe-se as diferenas daslinguagens:

    O SAGRADO, O PROFANO E O IMAGINRIO SOCIAL

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    De um lado a linguagem dos artesos, a linguagemdos mercadores, e, de outro, a linguagem sobre a qualBakhtin insistiu, a da praa pblica (LE GOFF, 1998,p.60).

    Mas a cidade da Idade Mdia aspira a harmonia entre as classes,pois com os mendicantes urbanos, o bem comum desejado. O governodas cidades, com os grandes burgueses espelha-se no cl familiar. Obom governo tende a imitar o modelo do prncipe justo, num espao maisrestrito, no qual se podem diversificar as experincias polticas, com aexceo da heresia (LE GOFF, 1998, p. 95). Para regulamentar a cidade,os poderes locais estabelecem regras. Assim que o senso crescente deordem e de limpeza, visvel no espao urbano, estranho ao campo, fazprogredir o urbanismo (LE GOFF, 1998, p. 114). O prncipe torna-se

    intervencionista, mas tambm cuida das belezas da cidade.

    A arte gtica e a escolstica das novas escolas urbanasestabelecem, como norma de urbanismo, ordem e luz,matemtica e razo, cor e verticalidade. Depois dourbanismo das praas principescas do antigo Regime,a cidade neoclssica, depois a cidade haussmaniana37

    e, hoje, a arquitetura moderna, das grandes obras,retomaro da cidade medieval, esta inspirao

    inovadora (LE GOFF, 1998, p. 114).Os cidados sentem orgulho de sua cidade e o orgulho urbano

    feito da imbricao entre a cidade real e a cidade imaginada, sonhada porseus habitantes e por aqueles que a trazem luz, detentores de poder eartistas (LE GOFF, 1998, p. 119). A sociabilidade, o prazer de estar com ooutro, que cria a diferena, a urbanidade.

    Apesar do papel de centro monetrio e financeiro das cidadester iniciado na Idade Mdia, ele se afirmar com o capitalismo. Parissomente se impe com a Revoluo Francesa. No que diz respeito aopapel festivo, a cidade atual policntrica. No entanto,

    ...o centro sobrevive e sobreviver por muito tempopor recurso do imaginrio. O imaginrio urbano que,acredito, se formou na Idade Mdia , provavelmente,aquele que melhor sobrevive hoje ainda a um modelourbano que perdurou do sculo. XI ao XX . [....] A cidade

    37Georges-Eugne Haussmann (1809-1891), nasceu e morreu em Paris, advogado, funcionrio pblico,

    poltico, administrador francs, foi nomeado prefeito por Napoleo III. Foi o grande remodelador deParis, cuidando do planejamento da cidade, durante 17 anos, com a colaborao dos melhoresarquitetos e engenheiros. Haussmann planejou uma nova cidade, melhorando os parques parisiensese criando outros, construindo vrios edifcios pblicos, como a LOpra. (MEUCCI, [s/d]).

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    medieval ideal, justamente enquanto imagem, tal comons a vemos, alis, mais na pintura do que na realidade(ainda que a realidade tendesse a encontrar esseimaginrio), Manhattam. Essa tendncia deve-se umpouco falta de terreno tanto mais que a construo

    das muralhas chega a limit-lo -, mas, antes de tudo,ao prestgio, simbologia. (LE GOFF, 1998. p.153,p.129)

    Na seqncia da linha do tempo a cidade passa a ter uso poltico,e o destaque para a criao de So Petersburgo. Iniciada em 1703, porPedro I, o exemplo mundial da poca, de modernizao draconiana eimposta (BERMAN, 1986, p. 171). O objetivo da cidade era ser uma basenaval, porta de entrada para a Europa atravs da Finlndia, e um centro

    de comrcio. A expresso porta de entrada para a Europa, alm de fsica,era simblica: era a ocidentalizao da Rssia, tambm no imaginrio:

    Assim, a construo de So Petersburgo foi planejada,projetada e organizada inteiramente por arquitetos eengenheiros estrangeiros, trazidos da Inglaterra,Frana, Holanda e Itlia.[...] Tal como Amsterd eVeneza, a cidade foi disposta como um sistema decanais e ilhas, o centro cvico margem da gua [...].

    Seu desenho era geomtrico e retilneo, padro deplanejamento urbano ocidental desde a Renascena,porem sem precedentes na Rssia. [...] Nenhumgovernante no Ocidente tinha poder para construir emescala to vasta. (BERMAN, 1986. p. 171).

    Apesar de ordenada no plano, So Petersburgo no dispunhade regulamentos de uso dos espaos. Assim que, por detrs das fachadaseuropias, maravilhosas, estabeleceram-se, no crescimento urbano,favelas. A cidade era, ento, um cenrio, uma fachada, o que demonstrana prtica que a cidade muito mais que o espao fsico-territorial e suasregras, tornadas leis.

    A situao da classe trabalhadora na Inglaterra, escrita porFriedrich Engels, que tem como objeto de estudo o capitalismo e aindustrializao entre 1842 e 1844 naquele pas, detalha o processo dediviso entre capital e trabalho, a diviso social do trabalho, o surgimentoda classe proletria e as condies de sua explorao.

    Engels descreve vrias cidades inglesas, destacando nas cidadesindustriais a ocupao do espao pelas diferentes classes sociais, dando

    nfase construo dos bairros operrios, s habitaes insalubres, pobreza, ausncia de higiene, precria alimentao e vesturio dos

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    trabalhadores. Os bairros institudos em formaes labirnticas oferecemum quadro endmico de pauperizao, negligncia, de degradao fsica,moral e intelectual, de opresso social, de explorao em infamescondies de trabalho, em diferentes ramos industriais.

    O autor centra tambm seus argumentos nas diferentes

    modalidades de construo de casas de operrios, esquematizando-as,denunciando a tica capitalista do lucro nas construes, nos aluguis.

    Examinando na referida obra as fontes citadas por Engels nocaptulo Os resultados, e suas citaes, encontramos umaintertextualidade que apresenta a imagem da cidade industrial em que semesclam dados de relatrios e livros da poca, que relacionam religio-imoralidade da classe trabalhadora (depravao, corrupo, vciosassinalados em abstrato; atesmo, alcoolismo, furto, prostituio, violnciadomstica, abandono de crianas, fraude, pilhagem, assalto, assassinato),

    como conseqncia da concentrao da populao provinda do surgimentodas grandes cidades. Na mesma intertextualidade, surge a preocupaocom a possibilidade de unio dos operrios contra a ordem instituda e aconcepo das grandes cidades como mediadoras do desenvolvimento eda libertao humana (ENGELS, 1985, p.136-156).

    Em todos os casos, a constatao unnime: a industrializaopromoveu a ciso da unidade nacional em duas diferentes naes,antagnicas38. A ironia que, apesar do antagonismo, as duas naesantagnicas na ideologia, compartilhavam o mesmo espao fsico.

    No Manifesto Comunista, Marx mostra como a moderna sociedadeburguesa estava trazendo luz uma cultura mundial (BERMAN, 1986,p.119). Nadando ou flutuando no mercado mundial os governantes,segundo Berman, so:

    obrigados a desenvolver-se ou desintegrar-se ouantes, como geralmente acontece, desenvolver-se edesintegrar-se -, na medida em que, como diz OctavioPaz, esto condenados modernidade, sero foradosa produzir ou a permitir que se produza uma culturaque mostrar o que eles esto fazendo e o que elesso. (BERMAN, 1986. p. 122).

    Antes de entrar no mercado mundial de cidades, no fulgor domodernismo, teorias urbansticas que tm como base a Carta de Atenas(1933) dividem a cidade em zonas: morar, trabalhar, divertir-se. A cidade,assim como a arquitetura, relacionam-se metfora da mquina: cada

    38O conceito de diviso, de contraste, na revoluo industrial, apresentado por Williams, Raymond, no

    livro Cultura e Sociedade na Primeira Parte. O captulo V deste livro, Os romances industriais, fornecemimportantes elementos de anlise da industrializao. Neste captulo Sybil, or the two nations de BenjaminDisraeli (1804-1881) (poltico conservador ingls, conde de Beaconsfield, Primeiro-ministro da Inglaterra) brevemente analisado, o mesmo romance que referenciado por Engels em sua obra citada.

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    parte abriga um espao especfico e todas as partes reunidas esto inter-relacionadas entre si de modo organizado. Este o conceito, decorrenteda extrema desorganizao espacial reinante nas cidades resultantes daRevoluo Industrial. A cidade resignifica-se e ordena-se.

    O mito da mquina, tanto nas formaes positivas dosapologistas, quanto nas vises sinistras dos detratores,oferece, no fim da era moderna, o panorama culturalde uma radical ambigidade de significados(SUBIRATS, 1986. p 44).

    Mas as teorias do modernismo, especialmente as do urbanismomodernista professado por Le Corbusier a partir de 1933, no sobrevivem

    dcada de 1970. A proposta de evitar o caos urbano, dividindo a cidadeem zonas, interligando-as com vias (quando no em rodovias) separa,alm das diversas funes urbanas, o cidado. E sobre esta situao

    Jane Jacobs escreveu um livro proftico sobre estenovo urbanismo: Morte e Vida das Grandes CidadesNorte-americanas, publicado em 1961. O primeirobrilhante argumento de Jacobs que os espaosurbanos criados pelo modernismo eram fisicamente

    limpos e ordenados, mas social e espiritualmentemortos. (BERMAN, 1986. p. 164).

    A cidade sedimenta o silencio dos cidados. O que era ponto deencontro, passa a ser local de trabalho. A cidade perde a vida, adoece.

    A rua, o caf, os magazines, o trem, o nibus e o metrso lugares para se passar a vista, mais do que cenriosdestinados a conversaes. A dificuldade dos

    estrangeiros manterem um dilogo entre si acentua atransitoriedade dos impulsos individuais de simpatiapela paisagem ao redor centelhas de vida nomerecem mais que um lampejo de ateno (SENNETT,2003. p. 289).

    Ainda nas conceituaes de teorias que interferem na concepoda cidade de nossos dias, SARGENTINI e BARBOSA na obra: Foucault e

    os Domnios da Linguagem: Discurso, Poder e Subjetividade fazeminteressante comparao entre a lngua, o corpo e a cidade. Os autoresinformam que:

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    O sujeito ps-moderno constitui-se [...] na ciso urbanado dentro (da proteo, da segurana, da incluso/deferncia) e do de fora (da ameaa, do risco, daexceo/eliso). [A soluo vem] por meio do

    engendamento dos muros, das grades e doscondomnios fechados (SARGENTINI, BARBOSA,2004. p. 153).

    No ltimo quarto do sculo XX arquitetos, planejadores, polticose crticos, constatam a degenerao urbana. ONGs surgiram,multiplicaram-se as conferncias sobre assentamentos humanos, algumaspatrocinadas pela ONU e pela UNESCO.

    Os esforos dirigiram-se para restaurar a vida do centro das

    antigas cidades, para criar transporte pblico eficaz, desencorajando ouso do automvel, criando habitao a preos acessveis, e novas atraesculturais; e, tambm ambientes coletivos como parques, enfatizando-seo lazer e a limpeza da cidade. Neste perodo, melhorias impulsionadaspela vontade poltica, transformaram cidades como Berlim, parte deLondres, parte de Paris, Barcelona e Curitiba (GLANCEY, 2001. p 228 e229). o conceito da Cidade-espetculo.

    Nesse processo, as atuais prticas urbansticas absorvem a

    historicidade e a cultura das cidades, em um franco mercado urbano e emdisputa por investimentos. As questes que surgem so: quais os processosculturais, representaes morais e estticas de cada cidade, que estoem jogo e, neste jogo, como sacralizar espaos profanos