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PROJETO “Ler e escrever para o exercício da cidadania” Educar para mudar Coordenação: Hulda Cyrelli de Souza TIPOLOGIA DAS PERGUNTAS PARA COMPREENSÃO EM LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS* O material abaixo resulta de uma pesquisa nos principais livros didáticos de português, usados nas escolas brasileiras. A pesquisa teve por objetivo verificar como os autores desses livros tratam a “compreensão de texto”. Uma vez que notícias freqüentes dão conta da precariedade do trabalho com leitura, nas escolas, pois 64% dos alunos que chegam à 4ª série não compreendem o que lêem, a pesquisa pode auxiliar a identificar onde reside o problema. Tarefa nº 1: Leia com atenção “Classificação das perguntas” procurando compreender cada classificação. CLASSIFICAÇÃO DAS PERGUNTAS* 1. “A cor do cavalo Branco de Napoleão” São perguntas pouco freqüentes e de perspicácia mínima, auto-respondidas pela própria formulação. 2. “Cópias” São as que sugerem atividades mecânicas de transcrição de frases ou palavras. Verbos freqüentes, aqui, são: copie, retire, indique, transcreva, aponte, complete, assinale, identifique, etc. 3. “Objetivas” São as perguntas que indagam sobre conteúdos objetivamente inscritos no texto, numa atividade de pura decodificação (O quê? Quem? Quando? Onde?) A resposta encontra-se centrada exclusivamente no texto. 4. “Inferenciais” São as perguntas mais complexas. Exigem conhecimentos textuais e outros, sejam pessoais, contextuais, enciclopédicos, bem como regras inferenciais e análise crítica para a busca de respostas. 5. “Globais”

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texto proibido sobre o mundo antigo 11

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PROJETO “Ler e escrever para o exercício da cidadania” Educar para mudar Coordenação: Hulda Cyrelli de Souza

TIPOLOGIA DAS PERGUNTAS PARA COMPREENSÃO EM LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS*

O material abaixo resulta de uma pesquisa nos principais livros didáticos de português, usados nas escolas brasileiras. A pesquisa teve por objetivo verificar como os autores desses livros tratam a “compreensão de texto”.

Uma vez que notícias freqüentes dão conta da precariedade do trabalho com leitura, nas escolas, pois 64% dos alunos que chegam à 4ª série não compreendem o que lêem, a pesquisa pode auxiliar a identificar onde reside o problema.

Tarefa nº 1: Leia com atenção “Classificação das perguntas” procurando

compreender cada classificação.

CLASSIFICAÇÃO DAS PERGUNTAS* 1. “A cor do cavalo Branco de Napoleão”São perguntas pouco freqüentes e de perspicácia mínima, auto-respondidas pela própria formulação. 2. “Cópias” São as que sugerem atividades mecânicas de transcrição de frases ou palavras. Verbos freqüentes, aqui, são: copie, retire, indique, transcreva, aponte, complete, assinale, identifique, etc. 3. “Objetivas” São as perguntas que indagam sobre conteúdos objetivamente inscritos no texto, numa atividade de pura decodificação (O quê? Quem? Quando? Onde?) A resposta encontra-se centrada exclusivamente no texto.4. “Inferenciais” São as perguntas mais complexas. Exigem conhecimentos textuais e outros, sejam pessoais, contextuais, enciclopédicos, bem como regras inferenciais e análise crítica para a busca de respostas. 5. “Globais” São as perguntas que levam em conta o texto como um todo, e aspectos extra-textuais diversos, envolvendo processos inferenciais complexos.6. “Subjetivas” Perguntas que têm a ver com o texto de maneira superficial. A resposta fica por conta do aluno, não havendo como testá-la em sua validade. 7. “Vale-tudo” São perguntas que admitem qualquer resposta, não havendo possibilidade de equívoco. A ligação com o texto é apenas um pretexto sem base alguma para a resposta.8. “Impossíveis”

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Perguntas que exigem conhecimentos externos ao texto e só podem ser respondidas com base em conhecimentos enciclopédicos. São questões opostas às de cópia ou subjetivas. 9. “Metalingüísticas” Indagam sobre aspectos formais, geralmente ligados à estrutura do texto, do vocabulário, bem como de partes textuais.

*MARCUSCHI, Luís Antônio. Compreensão de texto: algumas reflexões. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva & BEZERRA, Maria Auxiliadora (orgs.) Livro Didático de Português – múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.

Tarefa nº 2: Leia o texto Felicidade clandestina*

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme. Enchia os bolsos da blusa com balas. Possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. Pouco aproveitava. Tinha um talento incrível para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Informou-me que possuía as Reinações de Narizinho de Monteiro Lobato. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que voltasse no dia seguinte. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, apareceu sua mãe. Pediu explicações a nós duas, houve uma confusão silenciosa, entrecortada de explicações pouco elucidativas. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! O pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só pra depois ter o susto de o ter. Horas depois, abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade.

*(LISPECTOR, Clarice. Felicidade Clandestina. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1998.)

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Tarefa nº 3 Numere cada exemplo de pergunta abaixo, identificando-as pelas

orientações contidas em “Classificação das perguntas”.

( ) 1. Responda: 1.1 Quantos parágrafos tem o texto? 1.2 Quem escreveu o texto?

( ) 1. Dê sua opinião sobre a filha do dono da livraria. 2. Responda: Você concorda com a atitude da mãe da menina?

( ) 1. Responda: 1.1 Você conhece o livro As reinações de Narizinho? 1.2 Em que estado do Brasil nasceu o autor do livro?

( ) 1. Responda: O que fazia barulho na boca da menina? 2. Complete: Quando a menina chupava balas fazia ______________.

( ) 1. Responda: 1.1 A menina que possuía o livro era filha de quem? 1.2 Que livro a menina disse que emprestaria para a colega? ( ) 1. Explique: 1.1 Por que, no § 7, temos a expressão “corpo grosso”? 1.2 Por que, no § 3, lemos que a menina tinha “um talento incrível para a crueldade”? 1.3 Por que qualquer criança, devoradora de histórias, gostaria de ter como pai o dono de uma livraria? (§1)

( ) 1. Copie a frase que representa a fala da mãe da menina no § 9. 2. Corrija a frase do § 9 de acordo com o texto: O melhor para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. 3. Complete de acordo com o texto: O plano secreto da filha do dono da livraria era ___________________. (§ 6)

( ) 1. Responda: 1.1 Por que o título do texto é Felicidade clandestina? 1.2 Que outro título você daria para o texto? Por quê?

( ) 1. Responda: 1.1 De que parte do texto você gostou mais? 1.2 Você também gosta de ler?

Tarefa nº 4 Faça uma auto-análise, quanto aos tipos de perguntas que você

costuma fazer para seus alunos em qualquer área do conhecimento.