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NOTAS SOBRE ALGUMAS PÁGINAS MAIS OU MENOS MODERNAS. O "MODERNISMO" NA BAHIAATRAVÉS DAS REVISTAS ~ E notório o papel que as revistas tiveram como principal instrumento de divulgação do modernismo no Brasil. Na Bahia isto não se deu de outra forma, e os primeiros reflexos do modernismo ali ocorreram a partir de algumas publicações locais, no final da década de 20. A Bahia recebeu com certa Os primeiro reflexos do modernis- mo na Bahia só começam a aparecer no final da década de 20, com a publicação de algumas revistas locais, sendo Arco & Flexa a mais conhecida. No entanto vári- os autores afirmam ter existido um segun- do momento modernista na Bahia, que co- incidiria com o seu despertar para as ar- tes, em meados da década de 40, e que se consolidaria a finais dos anos 50 e início dos anos 60, no período de maior efervescência cultural no estado. Este artigo faz um balanço das revistas culturais publicadas em Salvador entre as décadas de 20 e 60, procurando encontrar, através delas, as formas como o modernismo foi assumido, na Bahia, durante todo esse período. Arquiteto, doutorando em orquitetura pelo Universi-dade Politécnica do Catalunha, é pesquisadora do programo de Pós- graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFBa hostilidade o movimento originado pela Semana de Arte Moderna em São Paulo; a imprensa local sequer noticiou o evento. Naquela época, somente através de jornais que chegavam do sul, por via marítima e com um mês de atraso, é que se podia ter acesso ao que acontecia em outras capitais. Além das dificuldades de comunicação impostas pelos meios de transporte, o ambiente cultural era constantemente citado como provinciano e de um tradicionalismo intocável. Este primeiro momento iniciado em finais da década de 20 desenvolve-se, sobretudo, em torno à literatura local e praticamente não afeta as demais artes. Vários autores, no entanto, consideram a existência de um segundo momento "modernista" na Bahia, que coincidiria com o seu despertar para as artes, em meados da década de 40, e que se consolidaria em finais dos anos 50 e início dos anos 60, período de efervescência cultural baiana, conhecido como a "Era Edgar Santos". É dentro deste panorama de quatro décadas que realizamos um levan- tamento das revistas culturais pu- blicadas em Salvador, documentando, através delas, as formas que este chamado "modernismo" foi assumindo na Bahia durante todo o período. O que se segue são algumas notas deste primeiro folhear de páginas. 1920-1940 Neste ambiente conservador surge Arco & Flexa, a revista mais conhecida do período, que vem sendo considerada a primeira tentativa de

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  • NOTAS SOBRE ALGUMAS PGINAS MAIS OUMENOS MODERNAS. O "MODERNISMO" NA

    BAHIAATRAVS DAS REVISTAS

    ~

    Enotrio o papel que as revistastiveram como principalinstrumento de divulgao domodernismo no Brasil. Na Bahia istono se deu de outra forma, e osprimeiros reflexos do modernismo aliocorreram a partir de algumaspublicaes locais, no final da dcadade 20. A Bahia recebeu com certa

    Os primeiro reflexos do modernis-mo na Bahia s comeam a aparecer nofinal da dcada de 20, com a publicaode algumas revistas locais, sendo Arco &Flexa a mais conhecida. No entanto vri-os autores afirmam ter existido um segun-do momento modernista na Bahia, que co-incidiria com o seu despertar para as ar-tes, em meados da dcada de 40, e que seconsolidaria a finais dos anos 50 e inciodos anos 60, no perodo de maiorefervescncia cultural no estado.

    Este artigo faz um balano dasrevistas culturais publicadas em Salvadorentre as dcadas de 20 e 60, procurandoencontrar, atravs delas, as formas comoo modernismo foi assumido, na Bahia,durante todo esse perodo.

    Arquiteto, doutorando em orquitetura pelo Universi-dadePolitcnica do Catalunha, pesquisadora do programo de Ps-

    graduao em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade deArquitetura da UFBa

    hostilidade o movimento originado pelaSemana de Arte Moderna em SoPaulo; a imprensa local sequer noticiouo evento. Naquela poca, somenteatravs de jornais que chegavam do sul,por via martima e com um ms deatraso, que se podia ter acesso aoque acontecia em outras capitais. Almdas dificuldades de comunicaoimpostas pelos meios de transporte, oambiente cultural era constantementecitado como provinciano e de umtradicionalismo intocvel.

    Este primeiro momento iniciado emfinais da dcada de 20 desenvolve-se,sobretudo, em torno literatura local epraticamente no afeta as demaisartes. Vrios autores, no entanto,consideram a existncia de um segundomomento "modernista" na Bahia, quecoincidiria com o seu despertar paraas artes, em meados da dcada de 40,e que se consolidaria em finais dos anos50 e incio dos anos 60, perodo deefervescncia cultural baiana,conhecido como a "Era Edgar Santos". dentro deste panorama de quatrodcadas que realizamos um levan-tamento das revistas culturais pu-blicadas em Salvador, documentando,atravs delas, as formas que estechamado "modernismo" foi assumindona Bahia durante todo o perodo. O quese segue so algumas notas desteprimeiro folhear de pginas.

    1920-1940Neste ambiente conservador surge

    Arco & Flexa, a revista maisconhecida do perodo, que vem sendoconsiderada a primeira tentativa de

  • aproximao s renovaes que ocorriam no sul do pas,propostas pelo movimento modernista desde a Semana de22. A revista foi fundada em novembro de 1928 por umgrupo de jovens escritores em torno ao mdico, poeta eacadmico Carlos Chiacchio1 e trazia um subttulo:"Mensrio de Cultura Moderna". No entanto, apesar dosubttulo genrico, a temtica central girava apenas em tomoda literatura e crtica literria, sendo quase todo este materialde forte tendncia romntico-simbolista; aproximava-sesobretudo ao grupo carioca de Festa. A prpria Arco &Flexa se autopromovia como a "primeira revista fi/iadaao movimento moderno"2 publicada na Bahia. A dita"filiao" criaria uma certa expectativa entre o pblico, umavez que se tratava justamente de divulgar o "esprito dosnovos", tirando-os do anonimato pela publicao de seusprimeiros textos. Atravs de Arco & Flexa, e utilizando-sede seu prestgio, Chiacchio apresentaria estes jovensescritores sociedade baiana, como um grupo seleto, a"vanguarda moa das nossas letras" (Alves, 1978:35).

    Estes jovens poetas e escritores, inconformados com aestagnao local e o convencionalismo esttico, perceberamquepoderia existir aqui algo que os unisse aos acontecimentosnacionais e decidiram, ento, "testemunhar sua presenano tempo, definindo-se pelo Modernismo" criando umarevista "aos moldes das existentes no Sul" (Alves, op.cit.).

    A publicao deve ter provocado um certo escndalo,com seu firme propsito de comparar a Bahia s idiasvigentes no Rio e em So Paulo, mas obteve pouca aceitaoentre a comunidade local, que apenas noticia o aparecimentoda revista. No entanto "a crtica do sul do pas, no sregistra seu aparecimento, como tamhm escreve artigosanalisando espec(ficamente o movimento literrio haianooufazendo um confronto entre as vrias tendncias deperidicos da poca" (Alves, op. cit.:15). Estes artigosso transcritos pela prpria revista, que deles se utiliza paraconfirmao de sua "modernidade".

    A divulgao do peridico e difuso do grupo baianodeveram-se muito a Carlos Chiacchio, que enviavaexemplares da revista a jornalistas e escritores de seuconhecimento. Este talvez seja o motivo principal pelo qualarevista ficou sendo a nica, do chamado perodo modernistabaiano, que chegou a ter alguma repercusso nacional, apesarde sua curta existncia.3

    Ao contrrio do que se poderia pensar, seu ttulo "nopretende ser uma resposta ao movimento antropofgico,do qual discordava, nem tendia a uma reviso doindianismo" (Schwartz, 1991 :266). O tom folclrico parecejustificar-se pela tentativa de afirmao de uma certaidentidade brasileira. A revista no era radical, e seu cartermoderado declarado frente Revista de Antropofagia.

    Chiacchio mantinha uma posio contrria ao grupo paulista,principalmente contra Mrio de Andrade. A divergnciaentre ambas revistas se aprofundava na medida queAntropofagia manifestava o interesse de retorno essnciadas origens brasileiras, como forma de superao dascontaminaes externas, enquanto "Arco & Flexa, com seu'senso de medida', no levaria to longe a apreensodo carter nacional, preferindo encontr-Io nainterao e acomodao das trs raas": branca, negrae ndia (Alves, op. cit.:76).

    O manifesto de Arco & Flexa, publicado em seu nmeroinicial e de autoria de Chiacchio, no tinha um cunhoagressivo nem propunha uma ruptura com o passado, masuma cultura universalista sem perder o "contato com a terra"e as tradies locais. Chiacchio restringe qualquer tomadade atitude que no contenha equilbrio em relao aoconceito de modernidade, fato particularmente devido responsabilidade mantida pela tradio literria da Bahiade colocar-se numa posio moderada quanto "novidade"

  • (Alves, op. cit.). Este respeito s tradies era o que barravaqualquer espcie de volta a um primitivismo criticadoacremente no texto.

    Chiacchio propunha um "tradicionalismo dinmico",4que tentava conciliar a renovao literria e o respeito tradio e especificidades brasileiras. Colocava a Bahiacomo centro histrico e "matriz" do povo brasileiro,chegando a consider-Ia o centro do nacionalismo, pontode convergncia e unio das raas, acreditando quesomente um movimento partindo da Bahia poderia abrangertodo o Brasil e afastar a influncia europia, tomando-seassim o caminho de soluo para a renovao artstica(Alves, op. cit.:32).

    Alguns colaboradores de Arco & Flexa manifestamuma forte ligao com a revista Festa do Rio de Janeiro.Alm de Festa, mantinham-se contatos estreitos com osintegrantes da revista Verde de Cataguases, grupo comidias muito semelhantes ao "tradicionalismo dinmico"defendido por Chiacchio, e com os membros da RevistaCidade, do Recife.

    Modernidade, sim, mas com respeito tradio, era olema da revista Arco & Flexa, demonstrando tambm umasintonia de idias com o grupo "Verde e Amarelo" de SoPaulo, que defendia, em seu manifesto, aceitar asinstituies conservadoras para, dentro delas, realizar a"renovao" do BrasiJ.5

    Este carter moderado e comportado do grupo Arco &Flexa era exatamente oposto ao do grupo Academia dosRebeldes que, entre os anos 1927 e 1931, aproximadamente,formou-se em tomo ao poeta Pinheiro Viegas. O poetatrabalhava no jornal O Imparcial6 e servia como umaespcie de "estandarte" para o grupo, que tinha como ldergenuno o poeta e ensasta Jos Alves Ribeiro. Os Rebeldeseram, ento, Joo Amado Pinheiro Viegas, os romancistasJorge Amado, Joo Cordeiro, Clvis Amorim, o ensasta,mais tarde etnlogo e socilogo, dson Carneiro, o contistaDias da Costa, os poetas Sosgenes Costa, Aydano do CoutoFerraz, o sonetista Da Costa Andrade e o ensasta e crticocinematogrfico Walter da Silveira, o mais novo do grupo.Quase todos trabalhavam para O Jornal (rgo da AIianaLiberal, que apoiou a Revoluo de 30). Jorge Amado d oesprito do grupo neste depoimento:

    Vivamos em torno do Viegas, passvamos o diajuntos. Nos reunamos no Caf das Meninas e noBar Brunsvvick. Na verdade no tnhamos nenhumpeso na vida literria da Bahia; ramos unssuhliteratos, uns esculhamhados, o rehotalho dacultura haiana. Fa'zfamos farras imensas, tnhamosmuita ligao com as figuras populares,capoeiristas, malandros, estivadores, homios,

    prostitutas. amos sempre s festinhas de hairro, aoscandomhls, s feiras, aos mercados. (. .. ) Tamhmvivamos muito de discutir literatura e na expectativado que ia acontecer no Rio, dos artigos do AgripinoGrieco e Tristo de Athaide. A vida literria localera feita atravs de A Tarde. (Santana, 1986:15-16)Os Rebeldes buscavam uma literatura nacional que se

    utilizasse de uma linguagem popular e se declaravam"modernos" sem serem "modernistas" (Santana, op. cit.).Esta preocupao nacionalista, encontrada nos grupos erevistas formados na poca em todo o pas, no era, contudo,homognea, assumindo formas e cores bastantediferenciadas. Em Arco & Flexa o carter nacional seriabuscado em uma forada interao entre ndio, negro ebranco. Tal como Festa, Terra Roxa e outras terras eVerde, a revista assumia uma postura extremamenteconservadora e regionalista. J Meridiano, a revista dosliteratos Rebeldes da Bahia, procuraria o sentido do nacionaljunto ao "descobrimento" das manifestaes populares eprimitivas da Bahia, interagindo mais com as idias deOswald de Andrade e a Revista de Antropofagia.

    Meridiano teve apenas um nmero, em que os Rebeldespublicaram seu manifesto, declarando que o objetivo do grupoera "varrer com toda a literatura do passado" (Amado,1992:84). O grupo tinha este esprito extremamente radicale destruidor das tradies, presente nas primeiras idias dosAntropfagos, e apesar de seus componentes procederemde um meio mais simples, a Academia dos Rebeldes pareceter tido, ao menos enquanto esprito, uma proximidade bemmaior, que os de Arco & Flexa, com o sentido da Semanade 22.

    De todos fomos os nicos a comear, um pouco maistarde, a ter uma atividade polftica de esquerda (. .. )- declara Jorge Amado. No nos pretendamosmodernistas, mas sim modernos: lutvamos por umaliteratura hrasileira que, sendo hrasileira, tivesseum carter universal; uma literatura inserida nomomento histrico em que vivamos e que seinspirava em nossa realidade, a fim de transform-Ia. Foi o que escreveu Jos Alves Riheiro em nossoprimeiro e nico nmero de Meridiano. (Raillard,1992:36)Formada na mesma poca que Arco & Flexa, surge a

    revista Samha, bem recebida pelo grupo de Chiacchio.7No se tm muitos dados sobre o grupo a no ser que reuniajovens de origem mais modesta, ao qual pertencia, entreoutros, o poeta e alfaiate Brulio de Abreu (Raillard, op.cit.). Samha tambm teve uma curta durao, e o grupo sedesfez aps a publicao do quinto nmero da revista, por

  • uma dissidncia entre Pinheiro Viegas e Alves Ribeiro.Questiona Raillard se a interrupo brusca de Arco & Flexano estaria ligada ao aparecimento da revista Samba, jque ambas eram "publicadas na mesma cidade e, comoesboa sua congnere, com os mesmos ideais" (Alves,op. cit.:67). No entanto faz-se interessante notar que adissidncia na revista Samba ocorre justamente entre doispersonagens que tambm participavam da Academia dosRebeldes, com idias bastante diferenciadas de Arco &Flexa. Jos Alves Ribeiro foi, como vimos pela declaraocitada de Jorge Amado, o nico mentor intelectual domanifesto publicado no nico nmero da revista dosRebeldes. Da supor-se que uma identidade entre aquelasduas revistas fosse bastante relativa.

    Na Bahia dos anos 20, tem-se notcia ainda de um outrogrupo chamado Tvola, do qual participariam RobertoCorreia, Arthur SaBes, 1.da Silva Campos, Castelar Sampaio,entre outros. Segundo Isa Simes,8 este grupo formariaparte, junto a Arco & Flexa e a Academia dos Rebeldes,daqueles que desejavam uma literatura de razes populares.Seus componentes j haviam participado, junto a CarlosChiacchio, na influente revista Nova Cruzada, no incio dosculo. A aproximao com Chiacchio se faz tambm naprpria revista Arco & Flexa, em que todos eles viriam aparticipar a partir do nmero conjugado 2/3. Alm disto,numa nota publicada no ltimo nmero 4/5, apareceevidenciada a filiao da revista ao grupo Tvola.

    Ainda na dcada de 20 outras revistas culturaiscirculavam na Bahia. Tal era o caso de Renascena, a revistadevariedades da oligarquia local e a mais produzida da poca(1916-1923); Revista da Bahia, que surge em 1922,inicialmente como uma "Revista Sportiva", mas que, j apartir do segundo nmero, ganha o subttulo de "MagazineIllustrado"; A Luva, com o mesmo perfil, fundada em 1925,e o semanrio ETC., que surge em 1927, primeiramentededicando-se a assuntos polticos e econmicos e, mais tarde,em 1932, ganhando um novo subttulo que ir conferir-lhenovo carter: "revista de cultura e mundanidades". Emjaneiro de 1934 a revista comea a trazer artigos defendendoo integralismo e as idias de Plinio Salgado. Jorge Amadoconta que esta revista chegou a publicar vrios artigos dosRebeldes, antes de tornar-se integralista (Santana, op.cit.: 15). Em todo caso, alm de ETC., nenhuma delas parecepretender mais do que o entretenimento do leitor, seja ele deque classe for, e nem sequer reivindicar qualquer tipo deligao com as idias dos diversos grupos ou formasassumidas pelo modernismo no Brasil.

    No incio da dcada de 30, aparece "sem dvida, amais expressiva das revistas surgidas na Bahia,inspiradas no movimento modernista" (Lima, 1987:88).

    o Momento comeou a circular em julho de 1931 e semanteve at julho de 1932, com nove nmeros publicados.O fato de ser posterior Revoluo de 1930 dar-lhe-iacaractersticas diversas de Arco & Flexa, Samba eMeridiano, nas quais a preocupao poltica estiverainteiramente ausenteY Nela colaboraram dson Carneiro,Dias da Costa, Joo Cordeiro, Alves Ribeiro, Souza Aguiar,Sosgenes Costa, Dias Gomes, Machado Lopes, ClovisAmorim, Da Costa Andrade e Jorge Amado, que assinauma seo da revista intitulada "Samba". Era dirigida porEmanuel Assemany e tinha como redator-chefe AlvesRibeiro, que, anteriormente, havia passado por Meridianoe Samba.

    Tida como rgo de expresso de Academia dosRebeldes, os que a integravam consideravam o grupo deArco & Flexa seu grande adversrio nas lides literrias,provavelmente em razo do posicionamento poltico queunia seus principais componentes. 10

    Pela primeira vez uma revista cultural da Bahia sepreocuparia com a arquitetura moderna, estampando, nacapa do seu primeiro nmero, aquele que seria consideradoo primeiro exemplar da arquitetura moderna construdo naBahia: o Elevador Lacerda, inaugurado em janeiro de 1930.Alm disto, neste peridico, que noticiava a cultura de ummodo geral e se autopromovia como o mais popular detodo Estado da Bahia, o urbanismo era elencado como umadas suas principais temticas. Ainda que tardiamente, estaseria, talvez, a nica revista considerada "modernista" noBrasil a tratar, de algum modo, da temtica da arquiteturae do urbanismo moderno. 1 1 Pela variedade dos assuntostratados, que interagiam as diversas artes com a arquiteturae a literatura, bem como pelo peso do corpo editorial dapublicao, pode-se ter uma noo de quo importante epioneiro foi o papel desempenhado por esta revista para arenovao cultural da Bahia.

    Ainda na dcada de 30 duas outras publicaes sedestacavam. Uma era a Revista da Bahia, 12 apresentadacomo um caderno bimensal com aproximadamente 300pginas organizadas em sees temticas, escritas emforma de artigos de fundo, ensaios ou teses, com pouca ounenhuma ilustrao. Circulava em Salvador desde 1935, eseus colaboradores variavam nmero a nmero; entre elesestavam: Xavier Marques, Pinto de Carvalho, Carlos Ribeiro,Ruy Santos, Guilherme Marback, Orlando Gomes, OrlandoTeixeira, Carlos Chiacchio, Afrnio Coutinho, RaymundoBrito, Edgar Matta. A outra, surgida j no final da dcada,era o Jornal da ALA (Ala de Letras e Artes), considerado,por alguns, como a primeira manifestao renovadora nasartes plsticas e literatura. ALA era organizada e dirigi dapor Carlos Chiacchio, que anteriormente dirigira Arco &

  • Flexa. Como tema central estava a literatura, mas algunsartigos dedicavam-se arquitetura, s artes, cultura e sfestas populares baianas. O jornal, em forma de boletim,tinha uma temtica especfica que, a cada nmero, colocava-se sob a responsabilidade de uma nica pessoa. A publicao,que sai em maio de 1939, dura pelo menos at 1944. Nestescinco anos de que se tem notcia da revista, haviam sidopublicados catorze nmeros.

    1940-1960Pode-se perceber que a primeira fase do modernismo

    na Bahia foi liderada pela atividade literria. Somente nadcada de 30 aparecem revistas com algumas seesespecficas dedicadas arquitetura e s artes, quando apolmica em tomo arquitetura e ao urbanismo modernoparece intensificar-se no meio intelectual baiano, coincidindo,inclusive, com o surgimento da primeira revista de arquiteturaproduzida na cidade: a revista do Instituto Politcnico daBahia (1933).

    Em 1934 constitui-se a Comisso de Plano da Cidadedo Salvador (1934-39) em razo da preocupao com aqueda de prestgio que a antiga capital vinha sofrendo desdeo sculo XIX e que acelerada pelo deslocamento do eixoda economia nacional para a regio centro-sul do pas. Estacomisso organiza, em 1935, a Semana de Urbanismo paramobilizar os "baianos" em tomo necessidade de um planode modernizao da cidade. Modernizao que, no poucasvezes, tomava-se sinnimo de demolio: a Bahia "moderna"era apresentada como opo exclusiva a uma Bahia "antiga","velha", "suja" e "vergonhosa", que precisava ser apagada,demolida, escondida.

    Este desejo de recuperao da imagem perdida desde atransio da capital federal para o Rio de Janeiro, apoiadopelo xenfobo "orgulho de ser baiano", talvez tenha sido umdos principais fatores para a introduo do novo urbanismoe da nova arquitetura na Bahia, mesmo se s custas doolvido do passado. 13 Assim, atravs da iniciativa privada, aarquitetura moderna na Bahia d uma arrancada com aconstruo de diversas obras de porte, tais como a sede doInstituto do Cacau, a Estao de Hidroavies, a creche"Pupileira", o edifcio dos Correios e Telgrafos, o Institutode Educao da Bahia, alm de vrios edifcios comerciaise condomnios residenciais, pertencentes s tradicionaisfamlias que j desertavam de seus antigos palacetes docentro da cidade.

    A partir da dcada de 40 as artes e a arquitetura iroreceber maior impulso em Salvador, com apoio de umapoderosa oligarquia local, fundada sobre o capital bancrioe a circulao dos excedentes produzidos pelo tabaco, peloacar e, mais recentemente, pelo cacau. A Bahia, que haviaficado de fora na primeira investida industrialista,modemizadora, queria finalmente dar o salto. nesta dcadaque surge o EPUCS - Escritrio do Plano Urbanstico daCidade de Salvador (1943-47), tentando colocar em prticamuitas das idias propostas pela Comisso nos anos 30.

    Na virada da dcada, por exemplo, lanada a principalrevista de arquitetura e urbanismo publicada na Bahia desdeento, Tecnica, que, apesar de ser editada pelo Sindicatodos Engenheiros da Bahia, informava em suas pginas aproduo arquitetnica local. 14 Atravs dos seus dois nicosredatores: um de arquitetura, o arquiteto Hlio Duarte, eoutro de urbanismo, o engenheiro civil e arquiteto WalterGordilho, empreende-se ali uma verdadeira campanha devalorizao da profisso, bem como de melhoria e ampliaodo curso de Arquitetura, at ento ministrado com muitopouca expresso na Escola de Belas-Artes. 15

    Nas pginas da revista Tecnica praticamente no seencontrava nenhuma meno arquitetura modernaproduzida fora do Estado da Bahia. Sua viso local e

  • centrada na regio do cacau, produto que, desde 1940, voltavaa estar em alta no mercado internacional. Esta excessivaexaltao do "produto" regional pode ser considerada comooutro sintoma daquele esforo para a recuperao da imagemeprestgio perdidos, assim como do isolamento em que aindase encontrava a capital.

    At a dcada de 40 a Bahia no possua um s museuorganizado, nem mesmo galerias de arte; alm disto, a cidadehavia perdido dois teatros e sequer possua um bom hotel."Asexposies limitavam-se a mostras anuais da Escolade Belas-Artes e a exposies espordicas em locaisimprovisados.16 Acrescente-se o fato de no existircrtica de arte, nem puhlicaes especializadas"(Ludwig, op. cit.:6).At meados de 40, esse movimento derenovao distinguia-se pelo seu carter particular, afastadodas iniciativas oficiais. Mrio Cravo foi quem, segundoRiserio, "praticamente levoupara aBahia a arte moderna,com suas esculturas e seu trahalho em materiais comoferro, alm de franquear o espao e os equipamentosdo seu atelier para que outros artistas tivessem comotrabalhar- e at mesmo dormir" (Riserio, 1995:24-25).Oensino continuava preso ao tradicionalismo, e quem queriaatualizar-se ia para o exterior.

    A Bahia vive desde meados da dcada de 40 a princpiosdos anos 60 um momento de efervescncia culturalextremamente denso e singular. Este perodo coincide comosanos da chamada experincia democrtica no Brasil, quevai desde a queda de Vargas at o golpe de 1964. Ummomento marcado pela inveno, o experimentalismo e pelocombate ao convencionalismo que imperava na Bahia desdeo sculo passado. Curiosamente - lembra Riserio -, acriao literria ficou de fora do processo de renovaocultural que se reproduz at princpios dos anos 60, e, exceo da tentativa concretista de Clarival Valladares, "aBahia continuou exportando Jorge Amado, cujapelformance vinha de antes" (Riserio, op. cit.:14). Sob aadministrao de Otvio Mangabeira, eleito governador em1947, inicia-se uma nova fase de modernizao de Salvador,comdiversos investimentos na construo de equipamentoseservios pblicos, at ento bastante deficientes na capital.A educao, com modelo idealizado por Anisio Teixeira,recebe total apoio e, com ela, a arquitetura se desenvolvesob a liderana de Digenes Rebouas.

    A fundao da Universidade Federal da Bahia em 1946d incio a uma nova fase cultural marcada por realizaes.Esta fase coincide no s com a administrao democrticado Estado, mas com um perodo de prestgio poltico dosbaianos que ocupavam cargos de destaque no governofederal, fator fundamental para o programa de instalaodaUniversidade, que encontrava no Reitor Edgar Santos o

    maior interessado em transform-Ia num dos centros maisdinmicos da cultura brasileira. A Escola de Belas-Artesincorpora-se Universidade e, em 1949, coincidindo com oaniversrio de quarto centenrio da cidade, o curso deArquitetura obtm sua autonomia, sendo reconhecido pelogoverno federal. No mesmo ano, por decreto estadual, soinstitudos os Sales Baianos de Belas-Artes, documentandoo primeiro incentivo oficial s iniciativas culturais. Vivia-seuma fase de ampliao e criao de novas unidadesuniversitrias. O setor artstico foi enriquecido com afundao do Seminrio de Msica, Escolas de Dana e deTeatro, e frente destas unidades foram colocadosprofissionais de primeira linha, trazidos de fora. Toda estamovimentao deu Universidade Federal da Bahia o papelde catalisadora da cultura artstica nacional nos anos 50.

    O principal grupo responsvel pelo movimento derenovao cultural desta segunda fase modernista emSalvador foi, sem dvida, Caderno da Bahia. O grupo ficouconhecido como Gerao Caderno da Bahia.17 "Essagerao talvez tenha sido o marco fundador de toda amovimentao cultural que se realiza na dcada de 50e 60. Por no encontrarem espao na imprensa local,envolta no academicismo e no tradicionalismo, elescriam, em 1949, a revista cultural Caderno da Bahia".

    Esta publicao pode-se relacionar com um grupo derevistas que surgiram em vrios estados, aps o trmino daSegunda Guerra e da ditadura de Vargas. Estas novasrevistas, sem cunho comercial e de tiragem pequena, eramdifusoras de idias novas e dos trabalhos de seusorganizadores, "ainda sem fama, mas cheios de fogocriador" (Santana, op. cit.:35). Caderno da Bahia, com omesmo nome do grupo, era composta por artistas plsticos,msicos, cineastas, literatos que se reuniam normalmenteno ateli do Porto da Barra de Mrio Cravo, ou na boate,bar, galeria, restaurante "Anjo Azul". Este lugar, inauguradono mesmo ano em que foi lanada a revista, situava-se narua do Cabea, no largo 2 de Julho, e era freqentado pelosartistas e intelectuais locais, por este motivo apelidado de"boate dos existencialistas".

    Alm dos aspectos culturais, a revista parecia ter umacerta preocupao poltica. Vasconcelos Maia afirma que ogrupo tinha conscincia das lies deixadas pela Semanade Arte Moderna e do movimento Academia dos Rebeldes,tentando recuperar, segundo ele, a liderana de "arterevolucionria" e "arte de vanguarda" que este ~rupodeixara quando Jorge Amado, Dias da Costa e EdsonCarneiro emigraram para o Rio de Janeiro (Santana, op.cit:35-36). Sentindo necessidade de renovao e maiordifuso nas diversas camadas sociais, o grupo reconheceque, apenas por meio da literatura, no alcanaria o impacto

  • desejado e decide apoiar as artes plsticas que passavampor uma fase de franca atividade.

    A revista tem, no entanto, uma curta trajetria: seisnmeros so publicados em trs anos de vida irregular,deixando de existir quando Heron de Alencar assume apgina literria do jornal A Tarde, aps o falecimento deCarIos Chiacchio. A pgina literria passa, de certa forma,a ocupar o papel do Caderno da Bahia, sob a coluna"Caleidoscpio" assinada por Heron, que torna-se toimportante para o grupo quanto fora a coluna de Chiacchio,"Homens e Obras", para a Ala de Letras e Artes.

    O Caderno da Bahia - descreve Vasconcelos Maia- comeou sem muitas pretenses. Mas, como se anossa gerao estivesse precisando desafogar, comose estivesse aguardando um veculo que antes nocontava, as adeses se precipitaram. Suas atividadesganharam flego. E logo relativo prestgio o cercou,no s aqui, como nos outros Estados, onde seprocessava luta mais ou menos igual: a da afirmaodos talentos jovens na provncia, eminentementedominada pelo gosto acadmico. A Bahia nessetempo era uma provncia legtima, adorvel para seviver, mas intolervel para se trahalhar ematividades que no fossem as tradicionais dasreparties phlicas, do comrcio, dos hancos. Fazerliteratura aqui era um ato de herosmo, eraterrivelmente constrangedor. Por isso ramosmarginais. (Santana, op. cit.:33)Nesta poca, segue Maia, "s triunfavam, s

    expunham, s tinham crdito phlico, de crtica e devenda, aqueles que pertenciam ao largo crculo de ALA,escrupulosamente patrulhados pelo carisma do crticoCarlos Chiacchio", onde imperavam os artistas da "velhagerao" (Santana, op. cit.:38). Caderno da Bahia comeaento justamente a apoiar, com crticas e crnicasjornaIsticas, os novos talentos: na escultura, Mrio CravoJr.; no desenho, Lgia Sampaio; na pintura, CarIos Bastos,Jenner Augusto e Rubem Valentim.

    Alm de editar a revista e da chama acesa que mantinhaatravs da pgina literria de A Tarde, o grupo promoviaconferncias, exposies, recitais de msica, edies delivros, concertos, exibio de cinema experimental e leilesde quadros, atuando em torno Galeria Oxumar, no PasseioPblico. Essas exposies "marcaram poca, pelo seuineditismo, por sua ousadia, pelo seu talento e,sohretudo, pelo escndalo que causaram" (Santana, op.cit.).O grupo possua uma estrutura organizada em vriosdepartamentos, cada um com seu responsvel: o de artesplsticas, sob a responsabilidade de Mrio Cravo Jr.; o decinema, com Walter da Silveira; o de msica, Paulo Jatob;

    o editorial, Pedro Moacir Maia; o de teatro, Nelson Araujo;o de filosofia, Machado Neto; o de artes antigas baianas,Mota e Silva; o de fotografia, Leo Rozemberg. "Com essaorganizao, ousadia, essa presuno - declaraVasconcelos Maia - halanamos os velhos alicerces daconservadora mentalidade haiana" (Santana, op. cit.:40).

    Eram apoiados tambm por Odorico Tavares que,segundo Vasconcelos Maia, "hadalava o modernismo eprestigiava alguns de nosso grupo, pessoalmente eatravs de suas gazetas, Dirio de Notcias e Estado daBahia, onde reunia figuras como a de Jos Valadares,( ... ) Godofredo Filho, Carvalho Filho, DigenesRehouas, estes felizmente em pleno vigor criativo"(Santana, op. cit.:40).Essa era uma gerao um pouco maisvelha e que freqentemente se atritava com os de Cadernoda Bahia, mas muito respeitada pelos jovens, na opinio deMaia, por seus "excelentes servios prestados aoModernismo".

    Assim, este grupo representou a arte moderna comooposio ao academicismo, dominando a vida cultural baianaat 1951, quando comearia a surgir uma nova gerao emtorno revista ngulos.

    Antes de passar angulos, falemos um pouco de umarevista surgida tambm a primrdios da dcada de 50: Seiva,que tinha frente alguns dos membros da gerao deCaderno e ex-Rebeldes. A direo era de WladimirGuimares, Luis Henrique Dias Tavares e, posteriormente,tambm de Wilson Rocha. Como redatores contava comHeron de Alencar, Waldir F. Oliveira, Quintino de Carvalho,Walter da Silveira, Claudio Tuiuiti Tavares, Paulo Tavares,Joo Palma Neto, entre outros. Com tendncia de esquerda,a revista se auto-intitulava "Mensrio de Cultura Nacionale Popular". Os temas tratados so variados, masnormalmente em forma de notcias e pequenos artigos sobreliteratura e cultura em geral. Seu formato tablide eimpresso em papel jornal a caracterizam como um folhetim,mas dela no se tem notcias a partir de 1952.

    Bem mais influente que Seiva ser a revista ngulos,criada pelos estudantes do Centro Acadmico Ruy Barbosada Faculdade de Direito (naquele tempo, um dos maisativos). Reunia um time de primeira categoria, o que a tornavauma das revistas culturais mais importantes produzidas naBahia.IX Como se tratava de uma revista de centroacadmico, a diretoria ia passando de mo a mo, medidaem que os alunos iam se formando. A revista lanada emsetembro de 1950, e os primeiros nmeros so dirigidos porAdamir da Cunha Miranda e A. L. Machado Neto. Noprimeiro nmero esto presentes: Nelson de Souza Sampaio,Orlando Gomes, Murilo Mendes, Wilson Rocha, WashingtonBoIvarde Brito, Vasconcelos Maia, Eduardo Sobral, Lygia

  • Sampaio, Jorge Aguiar, Aldo Bonadei, Marcelo Duarte.Alguns destes nomes pertenciam gerao de Cadernosda Bahia, o que indica uma certa afinidade entre os doisgrupos. H quem afirme que esta gerao foi a que sucedeua de Caderno, no entanto elas eram praticamentecontemporneas, apesar de ngulos suceder a revistaCaderno da Bahia.

    A publicao no tinha uma temtica nica, seautodefinia como rgo de cultura do centro acadmico.Tratavade filosofia, cincia poltica, direito, crtica em geral,ensaios, reportagens, textos de poesia e fico, resenhasliterrias, artsticas e cientficas, desenhos de artistas locaiseno contava com nenhuma publicidade. A revista defendiaumapostura de esquerda e, a cada nmero, trazia textos deintelectuais,locais ou traduzidos, ligados aos ideais socialistas.Auniversidade de ento era um foco de intelignciaerebeldia, eAngulus refletia o clima de inquietaoe criatividade que a Bahia vivia no final dos anos50 e incio dos anos 60. Discutia-se muito omodernismo, o concretismo e as novas linguagensdocinema e do teatro, que vivia uma fase vigorosa,junto a dana, cinema e artes plsticas. Apesar desua periodicidade semestral irregular, saem 17nmeros publicados ao longo de toda a dcada de50.

    Em finais de 1957, ngulos passa por umareformulao. O editorial do nmero 12 anuncia o"renascimento" da revista, no qual Joo EuricoMatta afirma que Angulus pretende "encarar efortalecer uma civilizao jovem que s agoracomea a marchar para o oeste", expressandoassim, claramente, sua postura poltica e lanandocrticas ferozes sociedade brasileira:

    ngulos, mantendo sua tradio, no querse divertir nem participar do grande"vaudeville" em que se traduzem as mximasalominaes da vida pblica nacional. Emsua seara cultural, ngulos pretendetrabalhar apenas, bem longe da dolorosasociedade e do "panen et circensis" queseduzem o pso-morto, o inativo dessepercentual de 65,6 da populao brasileira.(Malta, 1957:3-4)Este renascimento coincide com a mudana da

    diretoria, agora nas mos de Joo Eurico Matta eda nova equipe de trabalho: Nemsio SaBes,Florisvaldo Manos, Glauber Rocha, Albrico Mona,Rmulo Carvalho. 19

    Este grupo, que j atuava nas chamadas"jogralescas" e na revista recm-fundada Mapa,

    utilizar ngulos (revista de maior peso, estabelecida entoh sete anos na cidade) para veicular suas prpriasrealizaes.2 Ambas eram ligadas ao meio estudantil.Mapa era editada pela ABES - Associao Baiana deEstudantes Secundaristas - e dirigida por Femando da RochaPeres. O primeiro nmero desta revista semestral surge emjulho de 1957, e dela s saem mais quatro nmeros. Mas,apesar de sua curta durao, sabe-se que Mapa teve granderepercusso no meio intelectual da poca. No primeironmero colaboram Glauber Rocha, Calazans Neto, queilustra a capa da revista, Carlos Ansio Melhor, Paulo GilSoares, Lina Gadelha, Albrico Motta, Sonia Coutinho, JooUbaldo Ribeiro, Joo Carlos Teixeira Gomes, FlorisvaldoMattos e Myriam Fraga. Daqui nascer a chamada Gerao

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  • Mapa. Este grupo foi extremamente atuante no mbitocultural baiano do final da dcada de 50 e incio dos anos 60,encontrando-se frente dos principais acontecimentosartsticos culturais da poca. Alguns de seus integrantesatuavam como formadores de opinio na imprensa local, aexemplo do suplemento dominical do Dirio de Notcias edas colunas de crtica de cinema do Jornal da Bahia.

    O que caracterizava estas publicaes da dcada de 50era uma perspicaz crtica frente ao conservadorismo dasociedade local e ao momento poltico nacional. Seuacentuado carter militante podia ser percebido atravs dostextos e tradues ali apresentadas, cujas idias normalmenteremetiam-se ao marxismo e ao existencialismo sartreano.Realmente "derrotar a provncia dentro da prpria provncia"parece ter sido a palavra de ordem destes agentestransformadores que atravessaram geraes lutando contratodo academicismo e lanando-se procura de novasexperimentaes calcadas, sobretudo, nos temas popularese primitivos.

    Desde o final da dcada de 40 a Bahia descobertanos seus aspectos de mistura racial e intercmbio cultural.Neste perodo chegam muitos artistas forneos a Salvador:Pancetti, Carib, Adam Firnekaes, Karl Hausen, LenioBraga, Aldo Bonadei, Iber Camargo. Em 1950 o interessepelos documentos e costumes populares j est despertadoem artistas como Jenner Augusto, Agnaldo Manoel dosSantos, Antnio Rebouas, Mrio Cravo, Carib e PierreVerger. Um carter pitoresco e algo folclrico revestia asdescries em tomo cidade, como mostra este trecho doescritor e jornalista Odorico Tavares publicado na revistaHahitat:2!

    Bahia desperta a fantasia, o sentimento, o sonho decada hrasileiro. (. ..) Bahia! Bahia o enigma, aclula originria, a conscincia antiga e nova deuma nao tumultuosa, ousada, juvenil, agitada, ricade esperanas infinitas e ao mesmo tempo convulsa,ninho de arqueologias estrat~ficadas e confusas.Todospensam na Bahia, sonham com Bahia, evocamBahia: quem pudel~ vai a Bahia, atrao fahulosadas Amricas, cofre de fantasias, de ouros e jias,de coco e macumha, capoeira e carnaval, terraopulenta e pohre. (. ..) Bahia no somente isto:alis, nem isto. Mas um valor geogrficoconservando em si a aparncia de origem de ummundo, rara, alis, rarssima a ser encontrada emqualquer lugaJ~mas qual o Brasil deve parte de siprprio e na qual o pas se reconhece. Doiscontinentes e duas fases de cultura diversas vivemheroicamente juntos, na Bahia; entretanto no vivemcomo simples fragmentos de um mundo isolado, em

    fase de extino. Convivem com o mesmodesemharao e dignidade das puras convivnciashumanas, como uma grande ordem monstica. Pr-histria e histria esto pacificamente emconvivncia, e como a justia e a paz, como se entreelas no houvesse o ahismo que a humanidade vemenchendo com sculos e sculos, alis milnios deesforos efadigas. Histria e pr-histria vivem umaao lado da outra, na Bahia, nessa terra ondepalmeiras se halanam com a cadncia huliosa deamores mitolgicos, os claustros dos conventosafundam na somhra como se fosse no mar,monstruosas mtopas de pedra dormem espera dagrande metamO/fose que as tornar matria nova,indita. (Tavares, 1952:42)Talvez seja esta atmosfera mgica, entre outros fatores,

    o principal atrativo para a vinda de tantos artistas para estacidade onde o "o mundo anda vagaroso, num ritmodiferente do nosso ... " (Tavares, op. cit.).

    Tamhm Ulisses, em sua peregrinaes, ter-se-iademorado. Sem dvida, seus companheiros teriamficado para sempre. Na Bahia, antes que na ilha deCalipsos, teria ele encontrado os vnculosencantadores. Muitos artistas, os Ulissessohreviventes vo Bahia, formando-se em seguida,quase que inconscientes de tudo o demais, enleados.Uma saudade mortal ou pelo menos soporfera.Conhecemos vrios hrasileiros e estrangeiros, quedificilmente conseguem se desprender dessa terra;e, mesmo conseguindo-o, conservam constantementea Bahia dentro de si. Sem dvida o material haiano quase inexaurvel: mas para os olhos que saihamver at o mago das coisas; procurando os recantosmais escondidos e no se detendo nos aspectosfrisados at por guias tursticos. mister indagarcom seus prprios olhos, com sua prpriapersonalidade. Existe uma Bahia para cada um. MilBahias. Bastar sah-las encontrar. A nica Bahiaintil a convencional, isto , a ohservada comsupelficialidade, de olhos fechados. (Tavares, op.cit.)Nos trechos citados, fica evidente este interesse por

    uma Bahia mtica, primitiva, fabulosa e, ao mesmo tempo, odesprezo por aquela Bahia "convencional".

    Alm desta atmosfera mtica, outros fatores, bem maisconcretos, atrairiam artistas e profissionais Bahia. justamente na dcada de 50 que as exploraes do petrleose intensificam no Recncavo baiano, com a instalao darefinaria de Mataripe. Entre 1955 e 1959 uma enorme massamonetria, de investimentos e salrios, concentra-se num

  • espao reduzido transformando a economia baianaradicalmente. A dinmica dessa radical idade concentrar arenda em Salvador quase como em nenhuma outra parte doBrasil.22

    Com a economia aquecida pelo petrleo, o turismocomea a se consolidar em Salvador com a realizao doCongressoNacional de Turismo (1955) e inCiodas atividadesda Secretaria de Turismo no Belvedere da S. Este localabrigar importantes exposies na segunda metade dadcadade 50, dividindo com a Galeria Oxumar as principaisexposies da cidade.

    As artes, utilizando-se de "temas baianos" serviro paraimpulsionar o turismo e sero apresentadas como"expresses regionais" - e seus autores tomaro parte no"espetculo baiano"-, abrindo espao para uma nova fasede exaltao Bahia. Expresses do tipo "boa terra","terrinha" para referir-se cidade de Salvador, ou mesmo "Bahia", como a chamam, expressam claramente esteregionalismo presente no periodismo local. Artistas locaissotratados como "o grande tapeceiro", "o famoso pintor",como se o fato de ter nascido ou de pisar o "solo baiano" jIhesoutorgasse um qualitativo: "filho da terra", "o escultorbaiano", "o pintor baiano", numa estranha forma de trataraspessoas acentuando sua naturalidade, mesmo se quemfala se encontra na prpria cidade.

    Mas esta exaltao "Bahia" mostra tambm anecessidade de se referir a outros centros como nica formaencontrada - e que infelizmente perdura at hoje - para sesituar no panorama nacional, forma esta que denota umaatitude extremamente provinciana: "escultor consagradopela crtica do sul", "Calazans, Cravo e Sante vo aoRio mostrar o que que a arte haiana tem", "a Bahia eseus tipos populares j inspirou diversos trahalhos dogrande pintor hrasileiro", "Di Cavalcanti, o grandepintor hrasileiro visita a Boa Terra". E aqui curiosonotarque a referncia a Di Cavalcanti como "brasileiro",enoparaibano, em correspondncia ao estado onde nasceu,nem carioca, que o relacionaria cidade onde se criou. Ognero agora plural, e Di tambm passa a ser "nosso",numa necessidade de reafirmar que o "estado j umanao" e de que a "Bahia o corao do Brasil".23

    Do outro lado deste bairrismo exacerbado, e em formadeum "mundo paralelo", a fora da cultura popular negracomea a marcar presena nos anos 50 e 60 dentro deSalvador. Manifesta-se no carnaval, atravs da criao dosafoxs, o primeiro deles Os Filhos de Gandhi (1949), nacapoeira ou no candombl, que eram vistos pela sociedadebranca local como perigosos.24 No entanto este cultochamou a ateno dos intelectuais da poca, quefreqentemente se reuniam em torno ao principal candombl

    da cidade, o Ax Op Afonj, terreiro que atuava entocomo elo de ligao entre a intelectual idade e o ambientecultural afro-baiano.25

    Jorge Amado, na literatura, e Dorival Caymmi, namsica, Carib, Mrio Cravo e Rubem Valentim, nas artesplsticas, exploram a temtica afro-baiana nessa poca edesempenham um importante papel no combate a uma visonegativa do contedo cultural negro. Estas temticaspopulares sero utilizadas pelos artistas como forma deresistncia cultura branca dominante e tomaro muitasvezes forma de um nacionalismo radical em confronto como imperialismo americano.26

    Este "mundo paralelo" ter lugar nas pginas de revistascomo Angulus, Caderno da Bahia e Mapa, mas ser emuma revista fornea onde encontraremos, talvez, a maiordivulgao da cultura negra e popular baiana, Hahitat,fundada por Lina Bo Bardi em So Paulo em 1951, e maistarde dirigida por Geraldo N. Serra. Desde seus primeirosnmeros a revista j trazia diversos artigos sobre o ambientecultural da Bahia, escritos, na maioria das vezes, porcorrespondentes de Salvador, demonstrando que a atenode Lina para com as coisas da Bahia j vinha de muito.

    Pouco importante , para ns, medir o quo"modernistas" eram as pginas at aqui folheadas. O queinteressa fazer ver, atravs de fragmentos dessas revistas, que elas - e os que estiveram frente delas - jogaram umimportante papel no cenrio cultural da cidade de Salvadorprincipalmente nos anos 50-60 e foram fundamentais nadivulgao de ideais vanguardistas num movimento queaglutinaria diversas geraes, indo desde o reitor EdgarSantos, que financiou Angulus e Mapa,27 ao estudanteuniversitrio Glauber Rocha, que ento escreveria num estiloque no deixa de remeter ao de Oswald de Andrade emseus manifestos pau-hrasil e antropfago:

    a guerra que as novas geraes devem ahrir contraa provncia deve ser imediata: a ao cultural daUniversidade e do Museu de Arte Moderna so doistanques de choque (. .. ), os clarins da hatalha foramtocados pelas grandes exposies do Museu de ArteModerna e pela montagem da pera dos TrsTostes de Brecht, que provocaram grande excitaono pensamento pequeno-hurgus. A dinamizao daimprensa, que deve perder os mais tolos preconceitosde linguagem, seria o terceiro tempo a vencer (. ..).Contra o doutorismo, a oratria, a mitologia depraa phlica, contra a gravata e o higode. ( ... )est sendo derrotada na provncia a prpriaprovncia: derrotada na sua linguagemconvencional, no seu tahu contra a liherdade deamar, na sua convenincia do traje. nas suas leis

  • contra a revoluo (. ..). Gostaria que todos vocsque lideram nosso verdadeiro pensamento seempenhassem para levar a Bahia um passo frente.(Cit. in: Riserio, op. cit.:14-IS)Em todo caso, estas so apenas pginas de uma ferida

    ainda aberta.

    IAlm de Chiacchio, o grupo que sempre esteve presente revista eraformado por Pinto de Aguiar (diretor), Helio Simes, Carvalho Filho,Ramayana de Chevalier, Jos Queirs Junior, Eurico Alves, De CavalcantiFreitas, Jonathas Milhomens, Damasceno Filho. A revista era financiadapor Pinto de Aguiar.20 nmero I (um) da revista traz como primeira nota da seco "Notciaque se publica" o seguinte texto: "Arco e Flexa a primeira revistafiliadaao movimento model'llo, que se publica na Bahia" (grifo meu).3Apenas cinco nmeros foram publicados em trs exemplares entre 1928e 1929. No se sabe ao certo os motivos que ocasionaram a interrupoabrupta da revista.4A mais explcita conceituao de "tradicionalismo dinmico", segundoIvia Alves, aparece no rodap de A Tarde de 24 de janeiro de 1928: " acoordenao deforas colidentes emfa1'Or de uma sfora nacional, umacomo sntese brasileira, integrada no tipo de civili:ao que chegamos doconcurso das outras. Essa deve serprocurada lUISra:es do tradicionalismonacional em luta com as sedues vrias que nos assediam de todos osquadrames do globo. Tradicionalismo, portamo, Tradicionalismo emodernismo. Eis que se me afigura o abrolhar desse momento. Pensamentodo ponto de vista universal. Ou isso, ou o dissoluto dasfrmulas esdrxulasque a esgotam as curiosidades inquietantes dos ultra-modernistas",ressaltando o carter evolucionista e positivista expressado pelo termo"dinmico", dentro de uma viso cientificista de controle e desenvolvimentode uma determinada cultura (Alves, op. cit.:31).5"COIll'idamos a nossa gerao a produ:ir sem discutir", escreviam em1929 os "verde-amarelos", criticando a Semana de 22. Cf. "Nhengau VerdeAmarelo. Manifesto do verde-amarelismo ou da Escola do Anta" (1929) in:Schwartz, op. cit.: 153-158. O conservadorismo desta revista resultou noradicalismo do Movimento Verde-Amarelo e, posteriormente, no Grupo daAnta. Os fundadores da revista se tomaram os integralistas radicais dedireita que deram total apoio ao Estado Novo de Getlio Vargas.60 Imparcial era um matutino de larga difuso popular. Era o jornal maislido pela gente pobre. Caracterizava-se por reportagens sensacionalistas emanchetes gradas.7Cf. Alves, op. cit., p. 66.xSimes, Isa Maria Drummond. O grupo Modernista Baiano de Arco &Fle.ra. Bahia, 1975, citado em Ludwig (1977).9A revista era homnima ao jornal ligado ao Partido Comunista, mas nopudemos confirmar se tambm haveria ligao da revista com o partido.IOAmaioria dos colaboradores de O Momemo eram comunistas.llCf. Camisassa (1995). A autora chamou a ateno para o fato de que,entre as publicaes modernistas do sul do pas de 1922 a 1932, nenhumadelas dedicou espao arquitetura moderna, com uma nica e pequenaapario de Warchavchik no ltimo nmero da revista, a convite do corpoeditorial. Alm disto, a revista era contempornea a Forma. revista dearquitetura lanada no Rio de Janeiro (1930-31), que definitivamente tratariada arquitetura "moderna".

    l2Esta revista, apesar de possuir o mesmo nome daquela publicada em1922, no guarda nenhuma referncia a esta.13Em nome desta "modernizao" ocorre em 1933 a famosa demolio datricentenria Igreja da S e de quatro quarteires da redondeza, para dar lugar passagem do bonde; evoca-se Nero e um sonhado (e muitas vezes efetivado)incndio para "destruir" e "castigar os erros" do passado, em uma dasconferncias proferidas durante a I Semana de Urbanismo, realizada em1935 em Salvador (Azevedo, 1988).14Tecnica se apresentar, a partir do nmero 3 (1941), como "Revista deEngenharia e Arquitetura", e pelo menos 50% da revista era dedicado aarquitetura e urbanismo na cidade de Salvador, aspecto este que duraria pelomenos at 1947. Mais tarde, a revista sofre mudanas profundas, deixandoinclusive de ser um "rgo oficial do Sindicato dos Engenheiros da Bahia" epassando a ser um "rgo da Fundao para o Desenvolvimento da Cinciana Bahia", voltando-se quase que exclusivamente para assuntos tcnicos deengenharia.15Cf. Duarte, 1941. O prprio Hlio Duarte ensinava na Escola de Belas-Artes durante a dcada de 40.16Normalmente na Biblioteca Pblica, no hall do Palace Hotel, no prdiodo Jornal A Tarde, na Associao Cultural Brasil-EUA ou no Liceu deArtes e Ofcios.17Fizeram parte atuante com funes especficas no Caderno da Bahia. darevista e do movimento: Vasconcelos Maia, Claudio Tuiuti Tavares, DarwinBrando, Wilson Rocha como fundadores e diretores e mais os seguintescolaboradores: crtico de cinema, Walter da Silveira; literatura, Heron Alencar,Adalmir da Cunha Miranda, Clovis Moura; artes plsticas, Mario CravoJr., Rubem Valentim, Carlos Bastos, Jenner Augusto, Maria Celia Calmon,alm de Pedro Moacyr Maia, Mota e Silva, Jair Gramacho, Lgia Sampaio,Machado Neto, Nelson Araujo, Jos Pedreira, Luis Henrique Dias Tavares,Paulo Jatob, Raimundo Mesquita, Leo Rozemberg, Helio Vaz, entre outros.IXParticiparame escreveram artigos para a revista, ao longo de sua existncia:Joo Eurico Matta, Edna Saback Cohin, Luis Augusto Fraga Navarro deBrito, Antnio Cabral de Andrade, Nemsio Salles, Glauber Rocha, RmuloCarvalho, Muniz Sodr, Geraldo Sarno, Fernando da Rocha Peres,Florisvaldo Maltos, Joo Ubaldo Ribeiro, Nomio Spnola, Snia Coutinho,Carlos Nelson Continho, Carlos Ansio Melhor, Capinan, Calazans Neto,Jenner Augusto, Genaro de Carvalho, Lina Bo Bardi, entre outros.19Alm destes citados, o "camet" deste nmero da revista est representadopor Antnio Cabral de Andrade, Fernando Guilherme Gaspar, RemyPompilio de Souza, Mrio Albiani, Frederico Jos de Souza Castro, Femandoda Rocha Perez; colaboradores: Orlando Gomes, Raul Chaves, Walter daSilveira, Antnio Machado, o poeta e crtico de arte ingls Stephen Spender:ilustraes de Sante, Raimundo Oliveira, J. Eurico Matta e capa de CalazansNeto.20Cf. "Noticirio Cultural", ngulos n. 12, p. 140.21Habitat, "Revista de Artes no Brasil", publicada em So Paulo sob adireo da arquiteta Lina Bo Bardi entre 1950 e 1954. Durante este perodoa revista dedica muitos artigos e notcias de e sobre arte e cultura popular doNordeste, principalmente vindas da Bahia. Este contato ser importantepara a aproximao da prpria Lina Bo com a Bahia, que em 1958 convidada para fundar o Museu de Arte na Bahia e posteriormente a virmontar o Museu de Arte Popular no Solar do Unho.22Durante trs dcadas, o Recncavo ser o nico produtor nacional depetrleo, chegando a produzir um quarto das necessidades nacionais. Cf.Oliveira, 1987, p. 43.23Todas estas frases e expresses aspeadas foram retiradas dos jornaispublicados em Salvador, na dcada de 50.

  • 240S representantes dos terreiros eram obrigados a pedir autorizao polcia para ter direito a celebrar o culto aos orixs. Consideremos que, noanode 1956, existiam mais de 600 terreiros na capital, sem contar as casasno registradas. Os trs candombls mais importantes da cidade eram aSociedade So Jernimo Il Morialaje. no Matatu de Brotas, comandadaporOlga de Alaketu: Sociedade So Jorge do Gantois (Ax Iamass), situadonaFederao e liderado por Menininha do Gantois, e o Centro Cruz Santado Ax do Op Afonj, na estrada de So Gonalo do Retiro. Na frentedesteterceiro templo estava aquela que era considerada a maior figura religiosadaBahia dos anos 50 e 60: a me-de-santo Senhora, que ocupou o lugardeixadopor me Aninha (Silva, 1994).25lntelectuais, antroplogos, etngrafos, historiadores, artistas, escritoresestavam ligados ao candombl. Visitantes estrangeiros eram levados aconhecero Ax Op Afonj, entre eles Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoireo cineasta francs George Henri-Clouzot.26Nasegunda metade dos anos 50, coincidindo com o perodo nacional-desenvolvimentista promovido por JK, nota-se um grande esforo empromovere veicular a cultura norte-americana na Bahia. At mesmo quadrosdos estudantes das escolas de Belas-Artes dos EUA serviam de motivoparaexposies em Salvador em 1956. Oliveira (1981 (1977 alerta para oantipopulismo do Nordeste aucareiro-txtil que caracterizou a acirrada lutaentreproletariado e a burguesia industrial durante todo o chamado perododaexperincia democrtica brasileira que vai de 1945 a 1964. Este fato farcom que surjam no Nordeste as "foras populares" que ameaaro ahegemonia burguesa em escala nacional. Esta "ameaa" to patente quecolocao Nordeste na pauta do prprio presidente Kennedy, fazendo comque este seja um dos poucos momentos da histria brasileira em que ainterferncia dos EUA nos assuntos internos do Brasil se faa de forma "tograndee to descarada".27GlauberRocha lembra que, embora censurasse discursos de formatura,Edgarfinanciou as revistas Angulus eMapa, da esquerda universitria, sema menor restrio ao "marxismo barroco tropicalista das publicaes"(Revoluo do Cinema Novo. Embrafilme-Alhambra, 1981, p. 302 e 315,cit.inRiserio, op. cit.:62).

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    Myriam FragaFernando da Rocha PerezMrio CravoCaryb

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