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Claretiano – Batatais CRC © Antropologia Filosófica: Aprofundamento - Civilização Micênica a Platão 29 UNIDADE 2 PERÍODO CLÁSSICO: SOFISTAS A SÓCRATES Carga Horária 13 horas EAD – 2ª semana. Objetivos Identificar os argumentos que validam o pensamento antropológico e escrevem a história do pensamento racional. Reconhecer, em meio ao período clássico, os principais acontecimentos e personagens que transformaram o mundo e tornaram possível o conhecimento epistemológico, tal como conhecemos. Reconhecer o terreno por onde pisaram os Sofistas e quais as características que fizeram deles grandes professores, na função de apresentar as primeiras dimensões humanas e colocar o homem em um patamar de complexidades. Compreender, dentre o pensamento socrático, o mecanismo pelo qual se deu a descoberta da psyché (alma) como motivadora da busca pela realização humana e do acontecimento psíquico. Conteúdos Os Sofistas e a “medida humana”. O método como um avanço da técnica humana em busca da verdade. Sócrates e o “acontecer psíquico”.

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    Perodo ClssiCo: sofistas a sCrates

    Carga Horria

    13 horas EAD 2 semana.

    Objetivos

    Identificarosargumentosquevalidamopensamentoantropolgicoeescrevemahistriadopensamentoracional.

    Reconhecer,emmeioaoperodoclssico,osprincipaisacontecimentose personagens que transformaram o mundo e tornaram possvel oconhecimentoepistemolgico,talcomoconhecemos.

    Reconhecer o terreno por onde pisaram os Sofistas e quais ascaractersticas que fizeram deles grandes professores, na funo deapresentarasprimeirasdimenseshumanasecolocarohomememumpatamardecomplexidades.

    Compreender,dentreopensamentosocrtico,omecanismopeloqualsedeuadescobertadapsych(alma)comomotivadoradabuscapelarealizaohumanaedoacontecimentopsquico.

    Contedos

    OsSofistaseamedidahumana.

    Omtodocomoumavanodatcnicahumanaembuscadaverdade.

    Scrateseoacontecerpsquico.

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    21 INTRODUO

    No decorrer do sculo 5 a.C. encontraremos um pensamento voltado preocupao antropolgica. exatamente na segunda metade do sculo que estepensamento antropolgico engrenar em seu pleno desenvolvimento com o quedenominamos,no finaldaUnidade1,deoproblemadaeducao(paidia),que,naverdade,perspassaoaspectoculturalefazbrotarassimumanecessidadesobaticadeumanovarealidadesocialecultural.

    Dessaforma,urgenteumaformaodeexcelncia(aret)quedisponhadenovasformasdeseorientaremrelaoaomundoeasimesmo,ouseja,novarealidadeemqueviviaohomemgrego.

    Novas ideiashaviamsurgidonasiaMenoremfavordodesenvolvimentodopensamento cosmolgico e da nova percepo antropolgica. Em questo de poucotempoaparecemosSofistaseelesapontamohomemcomoocentrodaspreocupaesereflexesargumentativas.Motivam-noarefletiracercadeproblemasinternos,pessoaisesociais.

    Scrates,emdetrimentodosSofistas,arrecadaeproferediversascrticasaoscontemporneos. Alm disso, ascende o pensamento humano a uma busca profundae eficiente de autoconhecimento e criticidade que favorece o aparecimento de novosparadigmaspedaggicoseantropolgicos(paidia e aret).

    2 CONTEXTUALIZANDO O PENSAMENTO ANTROPOLGICO E SEUS TEMAS

    Osprincipaisagentese,naverdade,osiniciadoresdesseprocessopedaggicoantropolgicoforamossofistas(VAZ,2004).

    Conformemencionamos na Unidade 1, Homero fra o educador de toda aGrcia,mas,tambm,podemosafirmarqueossofistasdesempenharamtobemquantoeleestepapeldeeducador.IssofcilentenderdadoocontextoatualdedesenvolvimentodaGrcia(sculo5a.C.),pois,Todopovoqueatingeumcertograudedesenvolvimentosente-se naturalmente inclinado prtica da educao. Ela o princpio pormeio doqualacomunidadehumanaconservaetransmiteasuapeculiaridadefsicaeespiritual(JAEGER,1995,p.3).

    Lembre-sedeque,nesteperodoclssico,apolisatingeseuapogeucultural,mas,tambm,eclodiramasguerrasqueadesvastaram.

    O processo de sucesso dos estgios culturais havia sido mencionado(profeticamente!)porHesoso,nosculo8a.C.,nomitodasraas,naobraOs Trabalhos e os Dias(1996),destacandodoispensamentosparadigmticos:oprimeirorefleteumpensamentodedecadncia,nostlgico,emqueohomemtendopassadopelaidadedeouronaqualtinhaquatroquartosdevirtudes,ouseja,eraumatotalidadeseviviaemharmoniaperfeitaentresiecomosdeuses,encontra-seagoranaidadedoferro,tendoapenasumapartedavirtudedaraainicial.

    Esse processo teria se desencadeado pelo conflito entre Zeus e Prometeu,quandoPrometeu,rebelando-secontraZeus,entregouofogoaoshomens,que,ento,passamasofrerasconsequnciaseanecessidadedeconvivercomtaismudanas.

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    EssetemadasquatroraasdeHesodo,ouro,prata,bronzeeferro,causaumimpactosobreohomem,originando,ento,sentimentodenostalgiaetornar-se-temailustreeclssiconaliteraturaantiga.

    O segundo pensamento traz o conceito de progresso, tema que destaca apassagemda raadabarbrie fundaodas cidadese,por conseguinte, invenodas tcnicas, pois, embora a idade do ferro venha acompanhada de um conceito dedegradao,tristeza,saudosismoenostalgia,grandesconquistascomoatecnologiaearacionalidadeseroexperimentadas.Vejamos:

    Omesmo pessimismo transparece nomito das idades ou das raas, deOsTrabalhoseosDias.Ahistriaavistacomoaperdadeumaidadeprimeira,adaraadeouro,queteriavividolivredecuidadosesofrimentos.Essaprimeiraraa foi transformadanosgniosbons,guardiesdosmortais.Depoissurgeumaraainferior,deprata,cujosindivduosvivemumalongainfnciadecemanos,mas,crescendo,entregam-seaexcessoserecusam-seaoferecercultoaosimortais.Porisso,quandoosoloosrecobriu,foramtransformadosemgniosinferiores,oschamadosbem-aventurados.Zeuscriaentoumaterceiraraadehomensperecveis,raadebronze,bemdiferentedaraadeprata.Violentos e fortes, munidos de armas de bronze, os indivduos dessa raaacabaramsucumbindonasmosunsdosoutrosetransportadosparaoHades,semdeixarnomesobrea terra.Emseguida,surgea raadosheris,quecombateramemTebaseTria;paraelesZeusreservouumamoradanaIlhadosBem-Aventurados,ondevivemfelizes,distantesdosmortais.FinalmenteadvmodurotempodaraadeferrootempodoprprioHesodo,tempodeincessantesfadigas,misriaseangstias,masquandoaindaalgunsbensestomisturadosaosmales.Aessaraaaguardamdiasterrveis:Opainomaisseassemelharao filho,nemo filhoaopai;ohspedenosermaiscaroaseuhospedeiro,nemoamigoaseuamigo,nemoirmoaseuirmo(SOUZA,1996,p.15-16).

    De um lado temos as polis devastadas pela guerra e tambm seu apogeuculturalepoltico.Asociedadegregasenteanecessidadedeseorganizaretransmitiraculturaeopensamentogeradoporessacivilizao.Ologos(razo),essaforacriadorae emancipadora, eleva o homem mais alta condio da Physis e o arremessa paraadiante.

    O homem se reconhece emmeio Physis,mas se estranha. Ao passo quenesteperodo,comadescidadafilosofiadocuparaaterra,ohomemseestabelecenapolis,experimentandooqueterapossedapalavra,epodecriarformasdeexpressoecompreensocomestapalavra,napoltica(democracia).

    Fica evidente que o nascimento da Antropologia est diretamente associadovidahumanaapartirdomomentoqueelaseestabelecenapolisetomacomopontode partida a investigao de si mesmo e do movimento organizador das cidades, enomaisnombito cosmolgico,daquelaspreocupaes comaarch,masapalavracentralseiniciarcomosestudosacercadapsych(alma),quetambmumaformaderepresentaodologos.

    Faz-senecessria,portanto,umaeducaoquesepreocupecomessehomem,queassumenovasposturasemfunodaeudaimonia,ouquetemmedodessasadadacaverna,comotrazsignificadoaobraA Repblica,oquemaistardeveremosemPlato,eprecisaserencorajado,afimdeseguirseucaminho,cumprindosuateleologia,ouseja,suafinalidade,seunobreobjetivo.

    UmaeducaoconscientepodeatmudaranaturezafsicadoHomemesuasqualidades, elevando-lhe a capacidade a um nvel superior. Mas o espritohumano conduz progressivamente descoberta de si prprio e cria, peloconhecimento do mundo interior e exterior, formas melhores de existnciahumana.AnaturezadoHomem,nasuaduplaestruturacorpreaeespiritual,

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    2cria condies especiais para a manuteno e transmisso de sua formaparticular e exige organizaes fsicas e espirituais, ao conjunto das quaisdamosonomedeeducao.NaeducaocomooHomemapratica,atuaamesmaforavital,criadoraeplstica,queespontaneamenteimpeletodasasespciesvivasconservaoepropagaodoseu tipo.nela,porm,queessaforaatingeomaisaltograudeintensidade,atravsdoesforoconscientedoconhecimentoedavontade,dirigidaparaaconsecuodeumfim(JAEGER,1995,p.3-4).

    A educao consciente opera emancipao em seus interessados, uma aorefletidadopensarcomoatributodoserhomem.Umareflexocontrriaaoembrutecimento,efetivandoumasimilaridadedohomemaomaisaltopatamardopensamento(RANCIRE,2002).

    Umaeducaoconsciente,emancipadoratrazmudanasfsicasepsquicasquetransformamsuashabilidadesemcompetncias,quevertemomecanicismodatcnicaenquantoofazerpuramentemecnico,dmargensetornapossvelodesvelardoserdoente,efazemergiropoderqueestsobvigia.Apartirdomomentoemqueissoacontece,o homem se emancipa e se exporta de suas preocupaes meramente egocntricas,pragmticasecriasualiberdadenopensamentoenaao.

    Ambosconceitos,tcnicaseemancipaessotemasdaAntropologiaFilosfica,o primeiro, por ser uma dimenso do homem, e a emancipao por ser sinnimo deautotranscendncia.

    Em Herclito, a preocupao ontolgica de seus pensamentos traz pontosimportantes para o desenvolvimento de uma educao emancipadora, como podemoscompararnacartaSobre o Humanismo,deHeidegger,pontuadanosestudosanteriores.

    Percebamos um ponto importante na citao anterior e formulemos umquestionamento: como uma educao pode alterar a dimenso somtica, ou seja, adimensofsica,corpreadeumhomem?

    Aqui temos uma boa questo antropofilosfica (Antropologia o estudo dohomem, emuma vertente filosfica, ento, o estudo do homem, querendo responder pergunta: quem o homem?, suas dimenses existenciais, suas preocupaessobrenaturaisetc.)NoPerodoHomrico,aideiadecorponotemnenhumasemelhanacomadehoje.Corpo,norespectivoperodo,eraescritocomaspalavrasgregas[...]guya,quesignificaosmembrosdocorpoemmovimento,emelea,quedesignaosmembrosdotados de foramuscular. Era tambmempregada a palavrademas para designar aestrutura,otamanho,asemelhana(ROCHA,2007,p.71).

    Nesse sentido, no Perodo Homrico, corpo era expresso como um ajuntadodemembrospercebidospelomovimentoepelabelezadesuaaparncia.Aquiteramosquediscorrersobreoconceitoestticodebelo,mas,comononoscabeenveredaremoutrasreas,noscontentaremosapenascomestaexposioeacompreensodequeasdimensesdoprpriohomem, tais comoo corpoouo logos jeramdestacadaseinvestigadasdesdetemposdacosmogoniaemHomero.Podemosdizerqueosestudosantropofilosficosencontram,nestasfontes,refernciaemotivaoparasuaspesquisas.

    Decertaforma,fazendoaquiumareflexo,odesenvolvimentodahistriaeasociedadecombaseemsuacultura,quesitoefatopropulsordeumatransformaonohomem.AopassoqueaculturadaGrciahomricatrabalhavaocorpocomoumadasexpressesculturais,aGrciaarcaicaeclssicainclinar-se-paraosproblemasdaalma.Issopodesernotado,apenasporcitar,nofragmento117deDemcrito,Afelicidadenoseencontranemnariquezaemrebanhosnemnariquezaemouro,poisaalmaamoradadodaimon,e,tambm,nofragmento119deHerclito,thos anthrpo damone,em

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    Scrates,Paramim,quemvirtuoso,sejahomemoumulher,feliz,aopassoqueoinjustoemalvadoinfeliz(REALE;ANTISERI,2007,p.97).

    Assim, a felicidade, a eudaimonia, mencionada anteriormente, no vem aohomempormeiosexternos,porcoisasexternas,pelocorpoqueprecisareceberestmulosparadesenvolverumaresposta,maspelaalma,queemsimesma.

    Essaconcepodealma,aindaperduraatnossostempos,pormaisquenossasociedadetenhasedesenvolvidoemmritosculturaisecientficos.

    Tomando por base essas reflexes, o desenvolvimento conceitual de umadeterminadasociedade,noqueserefereasuaeducao,comoaquestoapresentadaanteriormente,podedesenvolvernohomemumadisposioemancipao.Emancipaofrutodeumaeducaoconsciente.Epode,assim,realizaratmudanasnanaturezafsicadoHomem,nasuaformadesentiromundo,deperceberascoisas,desaberoquefazercomosestmulosrecebidosqueolevamsrelaeseaoconhecimento.

    Dessaforma,passemosparaosprimeirosmotivadoresdessaeducao.

    3 OS SOFISTAS E O PROBLEMA DA EDUCAO (PAIDIA) E AS CRTICAS DE SCRATES

    Os sofistas1 eram considerados doutores da oratria, considerada, naquelemomento,umadasmaisimportantesferramentasparaseformaropinies,paraincentivaroutrosaapoiaremsuaopinio,comonocasodapoltica,assimcomoparafazerminaraforaeacoragemdoindivduo.

    Dentreogrupodos sofistas,encontramosos famososgrandesmestresdereconhecida discriomoral, que gozavam de enorme respeito; havia os eristas, ouaqueles que exploravam omtodo sofstico sem a considerada discrio dosmestressofistas, e utilizando-se da arte sofstica, transformavam-na em discursos vazios desentido;eporfimospolticossofistas,que,usufruindodaquelesprincpiossofsticos,transformavamsuasatuaesnaspraaspblicasemplenriodoimoralismo,tornandoequvoca e desprezada a justia, a lei e amoral. A classe dos sofistas que queremosevidenciar a do grande mestre, de rigor e sabedoria to elevados quanto os ditosfilsofosclssicos.Foramestesquederamincioaopensamentoantropolgico,daformacomoconhecemos.ASofsticaseagrupaemquatroexpresses:

    aprimeirageraodosmestres(Protgoras,Grgias,Prdico);a)

    osersticos;b)

    ossofistaspolticos;c)

    umgrupodesofistasligadosaosmestresdaprimeiragerao,queconstituiud)aEscolanaturalista(REALE;ANTISERI,2007,p.73).

    SegundoRealeeAntiseri(2007,p.73),ossofistassoconsideradospreceptoressbios,vejamosumconceito:

    Sofistaumtermoquesignificasbio,especialistadosaber.Aacepodo termo, que em si mesma positiva, tornou-se negativa sobretudo pelatomadadeposiofortementepolmicadePlatoeAristteles.Durantemuitotempooshistoriadoresdafilosofiaadotaram,almdasinformaesfornecidaspor Plato e Aristteles sobre os sofistas, tarnbm as suas avaliaes, demodoque,geralmente,omovimentosofista foidesvalorizadoeconsideradopredominantemente como momento de grave decadncia do pensamentogrego. Somente no sculo XX foi possvel uma reviso sistemtica dessesjuzose,consequentemente,umaradicalreavaliaohistricadossofistas;e

    (1) Os sofistas so mestres gregos, que andavam pelas cidades da Grcia, especialmente Atenas, sem contanto se instalarem especificamente em alguma. Dedicavam-se oratria, com a finalidade de instruir e educar os cidados. Seus discursos geralmente tinham tom humanstico e tinham grande retrica, com poder de persuaso. Dentre vrios, podemos citar especialmente: Protgoras, Grgias, Prdico e Hpias. Para saber mais sobre os sofistas, acesse o site: . Acesso em: 29 jul. 2011.

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    2aconclusoqualsechegouqueossofistasconstituemumeloessencialnahistriadopensamentoantigo.

    Emboraconsideradossbiospelasociedade,foramfortementecriticadospelosfilsofos.Vejamos,nocasodeScrates,nodilogoTeeteto,dePlato:

    muito provvel,meu admirvel amigo, que tivesses de passar por outrosmausbocadoscomoesse,nocasodeperguntaremsepodehaverconhecimentoagudoeconhecimentoobtuso,ouconhecimentodepertopormnodelonge,ou conhecimento intenso e conhecimento frouxo e mil outras questes domesmognero comque tepoderia surpreenderalgumadversriodearmaslevesemercenriodessescombatesdepalavras.Quandohouvessespropostoaidentidadedoconhecimentoedasensao,eleselanariasobreassensaesdo ouvido, do olfato e dos demais sentidos, refutar-te-ia sem misericrdiaeno tedaria trguasenquantono tedeixasseboquiabertodiantedesuainvejvel sabedoriae colhidonasua rede.Depoisdedominadoede ficaresinteiramentepreso,stesoltariaquandolhehouvessesentregueadinheiramaestipulada.MastalvezdesejessaberoquepoderiaaduzirProtgorasemdefesadesuadoutrina?Valerapenafalarmosemseunome?(PLATO,1973,p.52,165d-e)

    NoTeetetoodilogogiraemtornodeassuntostaiscomoaalmaeosdiversosassuntosdaTeoriadoConhecimento,comoasopinieseoconhecimento,quepermeama discusso e crtica de Scrates aos Sofistas, e se aquele ltimo, o conhecimento,podeapresentardiversasacepesdesiouapenasumaeverdadeiraconceituao.OgrandeentravequeateoriadeProtgoras2afirmaumaespciederelativizaodoconhecimento,talvezointitulandocomoopinio,ouumamanifestaoadvindadaprpriasensao,quemutveleinsegura,aopassoqueScratesdefende,semafirmar,comosemprefaz,umaverdadeiradialticaaportica,aexistnciadeumconceitogeralsobreoconhecimento.

    Nessa exposio dialgica, vemos o mtodo de Scrates, a maiutica, e,emseudesenvolvimento,aaplicaodaironiacomorecursodeargumentao.Nessedilogo,Scrates cita vrias vezes suame Fanerete, suaprofissodeparteira e suainfluncianaartesocrticadeserparteirodeideias,,deauxiliarnaartedetrazerluzobomeverdadeiroconhecimento,assimcomodeidentificarquandoesteounoumrebentovirtuosoebom.

    Aminhaarteobsttricatematribuiesiguaissdasparteiras,comadiferenadeeunopartejarmulher,pormhomens,edeacompanharasalmas,nooscorpos,emseutrabalhodeparto.Pormagrandesuperioridadedaminhaarteconsistenafaculdadedeconhecerdeprontoseoqueaalmadosjovensestnaiminnciadeconceberalgumaquimeraefalsidadeoufrutolegtimoeverdadeiro.Nesteparticular,souigualzinhosparteiras:estrilemmatriade sabedoria, tendo grande fundo de verdade a censura que muitos meassacam,de s interrogarosoutros, semnuncaapresentaropiniopessoalsobre nenhum assunto, por carecer, justamente, de sabedoria. E a razo aseguinte:adivindademeincitaapartejarosoutros,pormmeimpededeconceber.Porissomesmo,nosousbionohavendoumspensamentoqueeupossaapresentarcomotendosidoinvenodeminhaalmaeporeladadoluz.Pormosquetratamcomigo,supostoquealguns,nocomeopareamdetodoignorantes,comacontinuaodenossaconvivncia,quantosadivindadefavoreceprogridemadmiravelmente,tantonoseuprpriojulgamentocomonodeestranhos.Oqueforadedvidaquenuncaaprenderamnadacomigo;nelesmesmosquedescobremascoisasbelasquepemnomundo,servindo,nissotudo,eueadivindadecomoparteira.Eaprovaoeseguinte:Muitosdesconhecedores desse fato e que tudo atribuem a si prprios, ou pormedesprezaremouporinjunesdeterceiros,afastam-sedemimcedodemais.Oresultadoalgunsexpeliremantesdotempo,emvirtudedasmscompanhias,osgermespormimsemeados,eestragaremoutros,porfaltadaalimentaoadequada,osqueeuajudaraaprnomundo,pordaremmaisimportnciaaos

    (2) Protgoras, nasceu por volta do ano de 492 a.C., em Abdera, na Grcia, e muito provavelmente parece ter sido discpulo de Demcrito. Morreu por volta dos 62 anos de idade. E suas poucas obras que temos conhecimento: As Antilogias, importante e aclamada obra; e a Verdade, que ficou conhecida mais tarde como Grande Tratado. Para saber mais sobre Protgoras, acesse o site: . Acesso em: 29 jul. 2011.

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    produtosfalsoseenganososdoqueaosverdadeiros,comoqueacabamporpareceremignorantesaosseusprpriosolhoseaosdeestranhos.FoioqueaconteceucomAristides, filhoPginadeLismaco,eaoutrosmais.Quandovoltam a implorar instantemente minha companhia, com demonstraesde arrependimento, nalguns casos meu demnio familiar me probe reatarrelaes;noutrosopermite,voltandoestes,ento,aprogredircomoantes.Nesteponto,osqueconvivemcomigoseparecemcomasparturientes:sofremdores lancinantes e andam dia e noite desorientados, num trabalho muitomaispenosodoqueodelas.Essasdoresqueminhaartesabedespertarouacalmar.oquesedcomtodos.Todavia,Teeteto,osquenomeparecemfecundos,quandoeuchegoconclusodequenonecessitamdemim,comamaiorboavontadeassumoopapeldecasamenteiroe,graasaDeus,sempreostenhoaproximadodequemlhespossaserdemaisutilidade.MuitosdessesjencaminheiparaPrdico,eoutrosmaisparavaressbioseinspirados.Seteexpustudoisso,meucaroTeeteto,comtantasmincias,foiporsuspeitarquealgoemtuaalmaestnopontodevirluz,comotumesmodesconfias.Entregaste,pois,amim,comoofilhodeumaparteiraquetambmparteiro,equandoeuteformularalgumaquesto,procuraresponderaeladomelhormodopossvel. E se no examede alguma coisa que disseres, depois de euverificar que no se trata de um produto legtimomas de algum fantasmasemconsistncia,quelogoarrancareiejogareifora,noteaborreascomoofazemasmulherescomseuprimeirofilho.Alguns,meucaro,atalextremosezangaramcomigo,quechegaramamorder-meporoshaverlivradodeumqueoutropensamentoextravagante.Nocompreendiamqueeusfaziaaquiloporbondade.Estolongedeadmitirquedejeitonenhumosdeusespodemquerermalaoshomensequeeu,domeulado,nadafaopormalquerenapoisnomepermitidoemabsolutopactuarcomamentiranemocultaraverdade.(PLATO,1973,p.30-32,150c-151d).

    Scratesdelimitabemaatuaodeumfilsofoemfunodoconhecimento,emanalogiaaosSofistas.Ofilsofosabedistinguirentreoqueconhecimentoeopinio.

    [...] O que afirmo que se um indivduo dem constituio de alma temopiniesdeacordocomessadisposio,comamudanaapropriadapassara ter opinies diferentes, opinies essas que os inexperientes denominamverdadeiras.Nomeumododepensar,estasseromelhoresdoqueasprimeiras;maisverdadeiras,nunca(PLATO,1973,p.54,167b).

    Ofilsofo,pois,instigadordeumbomdilogo,oqual,pormeiodadialtica,pode-se partejar o conhecimento, a ideia nascitura lograda de um caminho de boasorientaes,versadasnaarteenomododeserdasabedoria.

    Agindo dessa forma, o filsofo ser bemquisto, e ter realizado suamisso,Pormsefizeresocontrriodisso,aexemplodamaioria,ocontrrio,precisamente,sepassarcontigo,eemvezdefilsofosouamigosdasabedoriafarsdeteusacompanhantesinimigosdosaber,quandosetornaremmaisidosos[...](PLATO,1973,p.55,168a-b).

    Partindo dessas proposies que os filsofos do Perodo Clssico insinuamserem os sofistas pessoas demeras opinies, empenhadas em perverter ao invs deeducar.

    Uma dasmais importantes crticas de Scrates aos sofistas feita na obraTeeteto,emrefernciaaomestreProtgoras,naqual criticaseurelativismosensorialidentificadonaideiadequeohomemamedidadetodasascoisas.

    Ainfernciasocrticaqueoconhecimentonoresidenasimpressessensoriais,masnareflexoqueaalmafazsobreelas.Nasopiniesdohomem,vistoqueelesejaamedidadetodasascoisasencontram-severdadeementira,assim,necessrioqueseempreendaumaprofundabuscanaalmaparacertificar-seseofetoquedaliemanasejaumfetoviveloudesimplesaparncia:

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    2Volta,pois,paraocomeo,Teeteto,eprocuraexplicaroqueconhecimento.Nomedigasquenopodes;querendoDeusedando-tecoragem,poders.

    TeetetoRealmente,Scrates,exortando-mecomoofazes,foravergonhosonoesforar-meparadizercomfranquezaoquepenso.Parece-me,pois,quequemsabealgumacoisasenteoquesabe.Assim,oquesemeafiguranestemomentoqueconhecimentonomaisdoquesensao.

    ScratesBelaecorajosaresposta,menino.assimquedevemosexternaropensamento.Pormexaminemosjuntossesetrata,realmente,deumfetoviveloudesimplesaparncia.Conhecimento,disseste,sensao?

    TeetetoSim.

    Scrates Talvez tua definio de conhecimento tenha algum valor; adefiniodeProtgoras;poroutraspalavraselediziaamesmacoisa.Afirmavaqueohomemamedidadetodasascoisas,daexistnciadasqueexistemedanoexistnciadasquenoexistem.Decertojlesteisso?

    TeetetoSim,maisdeumavez.

    ScratesNoquererele,ento,dizerqueascoisassoparamimconformemeaparecem,comoseroparatisegundoteaparecerem?Poiseuetusomoshomens(PLATO,1973,p.32,151e).

    Atualmentesabemosqueossofistastiveramumpapelfundamentalnaevoluodopensamentohumano,trazendocontribuiesgrandiosasdecarterantropolgico,poisresponderamdeprontidoaproblemasoriundosdaGrciademocrticaemergente.

    SegundoVaz(1991,p.32):

    Primeiro o problema da educao (paidia) grega que oriunda da novaconstituiodaaretpoltica,baseadanademocracia,nosdireitosdocidado,ondetodospodemparticiparedecidir.Diferentementedaaretdaaristocracia-guerreira,comovimosemoutromomento.Assimcomooproblemadasabedoria(sophos)favorecendoumsabertcnicoeintelectualista.

    Assim,osSofistasiroperceberessasmudanasnomundogrego,eorientarcolaboraesimportantes,dentreasquaispodemosidentificaralgumasideiasdiretrizes:

    a)Conceitodenaturezahumana.

    b)Conceitodenarraohistricapelainvestigao,seriaoejulgamentodosfatos(pluralismohistrico,histria).

    c)Primeirasteoriasdoconvencionalismojurdico.

    d)Individualismorelativista.

    e)Concepodeumdesenvolvimentoprogressivodacultura.

    f)Anlisedohomemcomoserdecarnciaenecessidade(ohomemdeve,pois,suprircomaculturaoquelhenegadopelanatureza).

    g)Zon logikn(homemcapazdedemonstrarideiaspormeiodeargumentosepersuadir),(VAZ,1991,p.32-33).

    Os Sofistas pestanejam um pensamento antropolgico na filosofia; so osprimeiros responsveis pela descida da preocupao filosfica, do cu, do problemacosmolgico,paraaterra,ouseja,paraoproblemaantropolgico.

    Asmudanasno contexto social, emgeral, naGrcia, almde aumentaremo incentivoe investimentonarea cultural, no conceito comoconhecemoshoje comoteatro,msica,leituraetc.,valoraramaatuaohumananodomniodaprpriapolis,ou

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    seja,agoraestnasmoshumanasopoderdedecidirsobresuavida,enonasmosdorecursodosdeusesoudaprpriapossibilidadecsmica(fortuna).

    As ideias diretrizes, citadas anteriormente, significam um verdadeirodeslocamentodoeixodaprocupaofilosfica.OquecaracterizaoingressoaoPerodoClssico, cujos interesses vertem-se poltica, arte, tica, educao, formandoassim o pensamento humanista da Filosofia Antiga (REALE; ANTISERI, 2007).Muitocuriosoeimportantenotarqueossofistas,pormaiscriticadosquetenhamsido,eaquipodemosapontarnososmestressofistas,mastodos,deummodoououtrotrouxeramcontribuiesmarcantesparaasociedadegrega.

    Os sofistas influram sobre vrios aspectos, desde o entendimento sobre anaturezahumana,quesignificaumarevoluonomododepensararealidade,odomniodosaberedaatividadepropriamentehumana,vistoqueantesdelesapreocupaosevoltavaphysis,indagandosobreaarcheaorganizaocosmolgica;comossofistasofocodapreocupaotranspe-separaosetorhumano,estendendo-seatacapacidadederaciocnioemdemonstrarargumentativamentesuasideias.

    Emmeioatantastransformaessociais,versa-seprincipalmentenosaspectosrelacionadosaret.

    OssofistaseramvistosnasociedadegregaantigacomoumgrupodemestresqueandavamportodaaGrciadiscursandoeensinandocomaintenodeatrairinteressadosemaprender.Comessaprtica,elesentraramemconflitocomosideaisdaformaodohomemgregoatentoexistente,pois,naconcepodapoca,somenteaaristocraciateriaacessoeducao,aspessoascomunsnopossuamaaret.

    Otemaessencialdahistriadaeducaogrega[...]oconceitodearet [...]Osgregosentendiamporaretsobretudoumafora,umacapacidade. s vezes definem-na diretamente. Vigor e sade soa aret do corpo; sagacidade e penetrao, a aret do esprito [...]originariamente a palavra designava um valor objetivo naquele quequalificava,umaforaquelheeraprpria,queconstituaasuaperfeio[...](JAEGER,1995,p.25-29).

    Apartirdesseraciocnio,houveumarevoluonopensamentodaGrcia,e,poressemesmomotivo,osSofistassoconsiderados,hoje,osprecursoresdeumaeducao,decertaforma,emancipadoraquefoiimprescindvelparaodesenvolvimentodeoutrossetoresdasociedade.

    Aconcepodepaidiadeoutroradeterminavaaeducaodecrianas,pormeio dos valores e do parmetro de excelncia (aret guerreira), enquanto a noode paidia conduzida pelos sofistas instrua educao, contnua, do adulto pormeiodenovosparadigmas,aaret (sophos),dopensamentoracional,dobomdiscurso,dobom argumento, da persuaso. Portanto, o sujeito capaz de se destacar emmeio sassembleiaspolticasnaspraaspblicas,eracapazdepensarporsiprprioarealidadecultural,poltica,ticaesocialdesuapoca.

    Nanovaordempolticadacidade,asvirtudes louvadasnosomaisasdoaristocratabem-nascido,deorigemdivina,quesedestacavapelacoragemnaguerra.Diferentemente,avirtudedocidadodapoliscvicaeestnasuacapacidadedediscutiredeliberarnasassemblias.Porissoossofistasfascinamajuventudecomobrilhantismodasuaretricaesepropemaensinaraartedapersuaso,doconvencimento,dodiscurso,queserobemaproveitadosnapraapblica,sededaassembliademocrtica.Nessesentidoossofistassooscriadoresdaeducaointelectual,quevaisetornarindependentedaeducaofsicaemusical,atentopredominantesnosginsios.Almdisso,ampliama

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    2noodepaidia:desimpleseducaodecrianapassaatersignificadomaisabrangente, estendendo-se contnua formao do adulto, capaz ento derepensarporsimesmoaculturadoseutempo(ARANHA,2000,p.43).

    importante lembrar que os gregos definiram um modelo de educao eanunciaramaorigemdapedagogiavindoura.

    OslivrosdeHistriadaEducaodedicamresmasimportanteseproducentesaotemaeinflunciadaeducaogrega.

    apartirdaGrciaqueaeducaoganhanovasperspectivasesecolocafrenteaotemadasocializao,apresentando-secomoumproblemaaserpensado.

    Assimemergemossofistas,especialmenteemAtenas,naGrcia,sendoestaapolisdosculo5quemelhoraparentousuastransformaesemaisinfluenciouomundocomseusmodelossociais,taiscomoapoltica,aculturaeaeducao.

    Os grandes mestres sofistas, aparecem no Perodo Clssico, com novaspropostasesolueseducativas,cominovaonaabordagempedaggicaerevoluonopensamento.Elesdesempenharamimportantes funesnoncleodasociedade,nesseempenhodadescidadafilosofiadocu.Apresentaramdeformacrucialohomemcomoobjetodeinvestigao,deconhecimento.

    Protgoras,aodizerqueohomemamedidadetodasascoisas,daexistnciadasqueexistemedanoexistnciadasquenoexistem,colocaohomemnocentrodapreocupaofilosfica.Cunhandohiprbole,dizemosquenasceoobjetodeinvestigaofilosficaantesmesmoquepudssemosregistraranasciturafilosofia.

    Protgoras,ograndemestresofista,acentuaavaloraohumana,umavezqueaProgressivavalorizaodamedidahumanaedalaicizaodaculturaefetuadapelosgregos,despontou,nascolniasdasiaMenor,umanovamentalidade,quecoordenouracionalmente os dados da experincia sensvel, buscando integr-los numa visocompreensivaeglobalizadora(SOUZA,1996,p.18).

    A medida de todas as coisas de Protgoras faz referncia direta novamentalidadedesenvolvidaeelaboradaemconceitospelaEscoladeMileto.Hdefatoumaligaoestreitaentreopensamentojnicocomopensamentodosofista.Vemosassimumalinha,umdesenovelardoprocessofilosfico.

    Essaabordagemantropofilsoficadamedidade todasascoisasdeslocadeumavezapreocupaocosmolgica.

    No sculo3a.C. viveuemSiracusa,naGrcia, umhomemsbio chamadoArquimedes. dele a frase: Dem-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo.

    Nessa clebre frase, o filsofo diz que se possuir uma alavanca que emcomprimentomeaadistnciaentreaTerraeaLua,esetiverumpontodeapoio,elepoderiamoveraTerra.OmatemticoefilsofodiziaissoemrelaoaosclculosfeitossobreascondiesdaTerra,ecombasenesseprincpioelepoderiaprqualquercoisapesadaemmovimento.Tambmpodemosfazerumaanalogiaemrelaoaohomem,queporseramedidadetodasascoisastambmopontodeapoioquecolocouomundoemmovimento.Ohomemseria,ento,essepontodeapoioarquimediano.

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    Deixando Arquimedes, e retomando nossa reflexo, apresentaremos algunsaspectos do Perodo Clssico. Inclusive acabamos de levantar um problema muitopolmico,odossofistas.

    Vamos,agora,avanarumpoucomaisnoprocessodemudana,detransposiodopensamentoracionalfilosficoedarumpassoamaisnaabordagemantropolgica.

    4 MTODO DE PESQUISA: OBSERVAO E SUA IMPORTNCIA NO MUNDO GREGO

    VamostecerumapequenareflexosobreumdosmtodosdepesquisautilizadonaGrcia,aobservao,eidentificarcategoriasimportantesnestaabordagem.Serumaabordagemreflexiva,porm,maisfrente,desenvolveremosmelhoroassunto.

    Valedizer,aprincpio,quesegundooavanocientfico,hojetemosumconceitomais tcnico domtodo de pesquisa em questo, e podemos conceitu-lo, de acordocomosautoresFreitaseMoscarola,como:Aobservaoconsisteapenasemajustararealidadeaoquejsesabe.Oajustevaidependerdaqualidadedasinformaesquesepossuipreviamente.,portanto,apr-concepoquecondicionaoresultado(2002,p.11).

    Nesse sentido, podemos observar que os filsofos da Natureza foramdesbravadores,quemesmosemconceitosprvios,dispendiamapenasdaobservaopara,apartirdoestudodocosmos,daphysis,retirarseusargumentossobrearealidade,sobreoordenamentodomundo,epermitiratransposiodasdescriesmticas(CORNFORD,2001).

    Osfilsofosdatransiosocrticapossuemalgumconhecimentoprvioacercadomovimentoordenadordomundoesuaaplicaoeinfluncianasociedade,assimcomomtodoseducativos.

    Isso tudo traz uma profcua valorizao das novas dimenses do PerodoClssico, enriquecendo-o, com novos mtodos em consequncia das pesquisas feitaspelosprimeirosfilsofos.

    Atransiosocrticatrazpreocupaesbemfundadasemumaantropologia,ditafilosfica,nopensarhumanoenavidahumana.Elamotivaohomemsquestesticasdoindviduo,epretendelev-loaoconhecimentodesiprpriopormeiodanaturezaticada psych,conduzindo-oaosaberagir,aobem,virtude,aoconhecimento,aoconceitodebomcidado,enfim,obomhomem,aquelequeorientandopelaVerdade.

    Socrtesinspiranohomemsuaintelectualidade,suafaculdademental,suscetvelaopensar,investigaodesimesmoecapacidadedarelaodialgicacomomeiodeatingirumfinalismomoral,apartando-sedoutilitarismosofstico,emqueanoodebemeramaistilenecessriaprticadaaretpoltica.

    E assim estende-se a histria da filosofia por Plato, Aristteles e todos osimportantesfilsofosdatransiosocrticaeps-socrtica.

    Emtudoissopodemosconheceromtodofilosfico,queconsistianosomenteemumcritrioconvencionado,masemvriossistemas,cadaescolafilosficacomsuasideiasepensamentos,cadafilsofocomsuaideiaecontribuioNatureza,sociedade,aomundo,aohomem,aonascimentodaFilosofia.

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    2Contudo, importante salientarque,desprovidosde instrumentosmodernos

    produzidospelosempiristasinglesesparaaobservaodavida,osgregostiveramavanosextremamenteconsiderveisnasinvestigaesdaNaturezaedavida.Etudoporviasdaobservao,dacontemplaodascoisas.Hipteseslevantadaspormeiodeobservaeseraciocnios.Eforamimportantssimosfeitos.

    Grandeshipteses,comoadeEratstenes3,filsofodaescoladeAlexandriadosculo3a.C.,emmediracircunfernciadaTerra;esomentenosculo20d.C.,noanode1958,constatou-sequeelenoacertou,exatamente,poralgunsquilmetros(TELES,1991).

    Ouento,LeucipoeDemcritoaoteorizarsobreaarch,descobrindootomo.AteorizaodeDigenesdeApolniasobreadiferenciaoesuperioridadedohomememrelaoaosdemaisanimais,ohomemqueandaemumaposturavertical,olhandoparacimaacontemplarosastros,aphysis.

    Se pararmos para analisar, o prprio Scrates e suas imbatveis discussessobreapsych hojeencontram-seempraticamentetodososconsultriosteraputicosdomundo.

    AsideiasdePlatosobreateoriadosdoismundos;ouaanaltica,maisconhecidacomolgicaaristotlica,tambmforamimportantescontribuies.

    Tudofoipartedeumaaplicaoquesedesenvolveudeumasimplesconstatao,oriundadaobservao,aopensamentoracionaldePlatoeseumtododialtico,steoriascomplexasdeAristteles,porexemplo.Noqueremosdeduzirumconceitoevolutivonopensamento, insinuandoum juzodevalor,masdizerqueaobservaocomomtodofilosfico dos gregos foi a primeira ferramenta de diagnstico e tornou exequveis oscomplexosmtodosfilosficos.

    Enfim, o mtodo filosfico grego da observao contribuiu e muito para ahumanidade,emespecialparaomundoocidental.Foitantoumrascunhoantropolgicoquantocientfico.OsacontecimentosquesedesdobramnaGrcia,desdeospr-socrticosatestemomentodatransiogrega,transmitiroumanoosobreoacontecerpsquiconohomem.

    As transformaes que ocorreram na Grcia, em todos os setores da vidahumana,desdeopensamentohumanoatodesenvolvimentodeumconceitodeticaedemocracia,revelamohomememsuacomplexidade.Issosinaldequeeleprecisaseconhecermelhor,afimderesolverseusentravesealcanarafelicidade(eudaimonia).

    Tanto a cosmogonia e a cosmologia no poderiam responder aos anseioshumanos, foi por isso que Scrates tornou-se imprescindvel nesse momento. Elecompreendeudefatoesseacontecimentopsquico.Suaimagemantropolgicaorientouohomemdeoutroraecontinuaatnossosdias(VAZ,2004).

    5 A TRANSIO SOCRTICA: SCRATES E A ANTROPOLOGIA Em Scrates4, teremos o incio de um pensamento antropolgico. E em

    meioatodososdetalhesqueaquiseroabordados,importantedestacartrspontosimportantes:

    Conceitodobemedomelhor.

    Valoraoticadoindivduo.

    Valoraodaalmaracionaldohomemesuacapacidadededialogar.

    (3) Eratstenes viveu no Egito entre os anos 276 e 194 antes de Cristo. Ele era bibliotecrio-chefe da famosa Biblioteca de Alexandria, e foi l que encontrou, num velho papiro, indicaes de que ao meio-dia de cada 21 de junho na cidade de Siena, 800 km ao sul de Alexandria, uma vareta fincada verticalmente no solo no produzia sombra. Para saber mais sobre Eratstenes, acesse o site: . Acesso em: 01 ago. 2011.

    (4) Scrates nasceu por volta do ano 470 a.C. em Atenas, foi um dos mais ilustres e importantes filsofos da histria do pensamento humano. No deixou nada escrito, mas, a maioria dos seus pensamentos chegaram at ns, como forma de tradio, por Plato e Xenofonte. Aproximadamente em 399 a.C. foi condenado a morrer tomando um clice de sicuta. Tanto sua vida, em seus pensamentos, quanto sua morte foram motivos para uma revoluo conceitual e influenciaram grandes transformaes na sociedade da poca e na formao do pensamento cultural, poltico e social do Ocidente. Para saber mais sobre Scrates, acesse: . Acesso em: 1 ago. 2011.

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    Iniciemospontuandoaquestodomtodosocrtico,easeguiriremosamiderefletir acerca da imagem de homem em Scrates. Todavia, preciso tomar algumcuidado,poiscamosnoperigo,ounatentaodefundiropensamentodeScratesaodeseudiscpuloPlato.

    Tantoomtodosocrtico,assimcomoseupensamento,podemserobservadosnosdilogos escritospor Plato.Camos, assim,naquela eternadvida: onde comeaPlatoeondeterminaScrates,evice-versa.

    Os dilogos contidos nessa obra descrevem como se d omtodo utilizadoporScrates e demonstra sua complexidade. Emsuma, promovidopor perguntas erespostasutilizando-sedosmtodos:observao,reflexoeraciocnio,fazendoousodarazo,embasadosemexperinciasprticasouimaginrias,buscandoaplicarosconceitosdevirtudeejustia.

    H uma profunda implicao recproca no ideal de Scrates, que podemoschamardebiunvoco5entreo indivduodeumacidadeeaprpriacidadedeque fazparte; sendo o indivduo parte do primeiro conjunto, e o segundo conjunto, que acidade,fazligaesunvocascomoprimeiro,evice-versa.

    Assim, faz-se necessrio o uso de todas as ferramentas apresentadas pelomtodo socrtico, para a formao de uma cidade, porque, na verdade, a cidade oprprio indivduo,aopassoqueapolticaencaradacomoafunopblicaprimordialpara proporcionar o desenvolvimento da polis e dos indivduos. Para Vernant (2000),odesenvolvimentodacidadeoqueproporcionouodesenvolvimentodopensamentoracional.

    Podemos,ento,inferirqueexisterealmenteumarelaovisceralentreindivduoecidade,ouseja,arelaoentreambosconjuntos:

    Arazogreganoseformoutantonocomrciohumanocomascoisasquantonas relaesdoshomensentre si.Desenvolveumenosatravsdas tcnicasque operam no mundo que por aquelas que oferecemmeios pelo domniodeoutremecujo instrumentocomuma linguagem:aartedopoltico,doretrico,doprofessor.A razogregaaquedemaneirapositiva, refletida,metdica,permiteagirsobreoshomens,transformandoanatureza(VERNANT,2000,p.104).

    OobjetivodeScratesodefazerohomemvoltar-separasimesmo,comovimosrapidamenteempginasanteriores,isto,despertarointeressepeloautoconhecimentoparadaconhecertudooqueorodeia,comoofeznoTeeteto,noMnoneemvriosoutrosdilogosplatnicos.

    Oacontecerpsquicoassimcomoamedidahumananopoderiamacontecerporsis.Masdependiamdodesenvolvimentodaautonomiadohumanoemfazer-seaprpriamedidadascoisas.Eparaque issoacontecesse,ohomemprecisavabuscaroautoconhecimento.Afinal,nohautotranscendnciasemautoconhecimento.

    OmtododeScrates,amaiutica,tinhaporintuitolevaroindivduoaoencontrocomsuainterioridadeseguindo,assim,amximadotemplodeDelfos:conhece-teatimesmo(=nthi sautn).

    Essamximaocolocava(Scrates)comoigualaosseusinterlocutores,para,apartirdainstig-losatercoragemderesponderasuasperguntas,processoquedeuorigemaoseumtodo.

    (5) Biunvoco: um termo consagrado no jargo dos matemticos, e distingue-se de unvoco. Refere-se a funes ou correspondncias entre dois conjuntos, mas estes no so mutuamente exclusivos, pelo contrrio: uma correspondncia biunvoca em particular unvoca, mas mais do que meramente unvoca.

    ATENO!Para aprofundar seus conhecimentos sobre o termo biunvoco, acesse o site: . Acesso em: 2 maio 2011.

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    2Percebamosqueamaiuticaumexerccioutilizadocomoformadeinstigara

    psychaseapropriardoconhecimentoporsis,alis,cunhandoumtermomaispedaggico,apreender,de formaautnoma,porsimesma,oconhecimentoreal,objetivado.ComoafirmaAlain,tuqueodirs,eisafrasemaisespantosademaiutica,artedoparteiro,quetiraaidia,nodesimasdooutro,examina-a,pesa-a,decideenfimsevivelouno(1993,p.8).

    TantoemScrates,comamaiutica,quantoemPlato,comaanmnsis,queestudaremos a seguir, a preocupao da investigao centra-se no conceito de aret,nortefundamentaldapaidia.

    MesmoemScrates,quecentraapreocupaofilosficanoantrophos(homem),aartedepartejarcomungadecertaformacomadivindade,motivopeloqualnoslevaacompreenderqueadivindadesejaento,adetentorarealdasabedoria,poisScratesafirma categoricamente, na citao a seguir, que a divindademe incita a partejar osoutros,pormmeimpededeconceber(1973,p.30,150c).

    Percebe-se que a maiutica, realiza-se por si mesma, num processo deautoconhecimento,mas se faz imprescindvel, o acompanhamentomaiutico para queaconteaaapreensodoconhecimentoparadespertaracuriosidadeedeixaroespritoincomodado.

    Assim, o mtodo da maiutica pode ser concebido como uma ferramentapedaggica de auxlio proximidade do conhecimento verdadeiro, to buscado porScrates.

    SegundoRealeeAntiseri,amaiuticautilizadaesefazmisteraosespritosmais aplicados filosofia, apenas queles que demonstrampropenso filosfica, pois,Pressupequesalgunsestofecundosdaverdade(REALE;ANTISERIapudROCHA,2007,p.19);assim,estemtodoestdiretamenterelacionadocomaverdadefilosfica,aoconhecimentoreal,verdadeiro,enocomassuntos,temas,conceitosdosensocomum.

    Deduzimos pelo raciocnio que a investigaomaiutica pelas entranhas dapsych visa entrar em contato com um conhecimento verdadeiro, ao passo que esteconhecimento,habitantedapsych,sendoento,umaideiainata,procuraumconceitoquehabitaaalma,enoqueestejaforadela.Averdadeprocuradapelovispoltico(aidealizaodeumestadoperfeitoouomaisprximodaperfeio)ouepistemolgico(deconhecerasIdai)apenasencontradapormeiodainvestigaoverdadeira(ROCHA,2007,p.22).

    A maiuticaesteprocessodeinvestigaoperfeito,queumpoucomaistardeircomporoprocessoinvestigativodePlato,ainvestigaodialtico-filosfica.

    EmPlatoacontemplaodestasideiasdeperfeioestopresentessejanaorganizaodacidade,sejanaestruturaepistemolgicadosdiscursoshumanos.Mas,emScrates,somenteaopassoqueformoslendoosdilogos,,quemencionamdiretamentenossoautor,quepoderemosirdescobrindoaobsessosocrticaporumconhecimentofilosficoverdadeiro,emfunodaconstruodaimagemclssicadehomem.

    Ofilsofopreceituaumconhecimentoqueseaproximedeumconceitopuro,comonarradonoTeeteto,ounoMnon,comojvimosanteriormente,queviseaaret,aexcelncia,equeorienteohomemgregoformao.

    Omesmoacontececomaformaodacidade,assimtambmdeveserointeriordohomem.DessaformaScratesquestiona:

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    Ora,comopontodepartidadenossoacrdo,nodevemosperguntaransmesmo qual , na organizao de uma cidade, omaior bem, aqule que olegisladordevevisaraoestabelecersuasleis,equaltambmomaiormal?Emseguidanocumpreexaminarseacomunidadequedescrevemoshpouconoscolocanatrilhadstegrandebemenosdistanciadstegrandemal?(PLATO,1965,p.25,462a)

    Anoodecidadeparaohomemgregocomoumconjuntoqueseapresentaemsuatotalidade,compostodetodososoutrosmicroconjuntos,semdiviso,taiscomoo homem e a poltica. A ideia de uma poro fragmentada da sociedade em vriosconjuntosqueextirpamaquiloquenosejadecompetnciadecadaumprpriadacontemporaneidade,ouumpoucoanteriorcomacinciapositivista.

    Narealidadegreco-clssicanohconcepesdedivisoemfunodatcnica.Ohomemviveemumplanototalitrioetemaconformaodacidadeemharmoniacomsuas tendncias e necessidades. Por isso devemos nos perguntar e refletir acerca dolegislador,que,comoumbomfilsofo,deveteravisodotodo,porqueeleestacima,eledevelevaracidadeaobem,assimcomoohomem.

    Umavezqueapsychracional,ohomempodelibertar-sefugindodetudoquesejairracional,comoaspaixeseosdemaisinstintosprpriosdoanimal,equeingressemohomemaoestadodeescravidointerior.Aopassoqueoprocessodapsychsednointeriordohomem,libertar-sedoqueirracional,significaautodomnio,liberdadeinterior(REALE; ANTISERI, 2007). Essa liberdade afasta o homemdas paixes e daquilo quepertenceaomundoexterno,tornando-oaptoaorganizarseusconceitos,suacognioepoderfazerescolhas.

    Valeressaltarqueparafazerescolhasconscientes,necessriasefazautilizaodomtodofilosfico.Assim,Omtodofilosficoaumtempoexperimentaleracional.Nsdefinimosafilosofiacomoacinciadascoisasporsuascausassupremas(JOLIVET,1970,p.21).Omtodopossibilitaaorientaoeaorganizaomental,comasquaiscentraehabilitaoindivduoaoconhecimentodesimesmo.Oindivduocentradonobemsetornamaiscorajosoeempregagrandesesforostantoparasedesfazerdosvcioscomoparasehabilitarnaprticadeaesnobres,asquaisfazempartedavirtude.SegundoAranhaeMartins(1992,p.108):

    A palavra virtude vemdo latim vir, que designa o homem, o varo (daoadjetivoviril).Virtuspoder,fora,capacidade.Otermogregoaretsignificaqualidadedeexcelncia,mrito.Portanto,ohomemvirtuosonadatem de frgil, ao contrrio, virtude capacidade de ao, potncia. ParaKant,avirtudeaforaderesoluoqueohomemrevelanarealizaodoseudever.

    Avirtude,enquantodisposioparaquererobem,supeacoragemdeassumirosvaloresescolhidosenfrentarosobstculosquedificultamaao.

    Por isso a noo de virtude no se restringe a apenas um atomoral,masconsistenarepetioecontinuidadedoagirmoral.Aristtelesjafirmavaqueumaandorinha,s,nofazvero,paradizerqueavirtudenoseresumenoatoocasionalefortuito,masprecisasetornarumhbito.

    NonovoconceitodearettrazidoporScrates,oumesmonaformadelidarcom este conceito de excelncia, que fundamenta a valorao da alma racional dohomem,assimcomosuacapacidadedadialogicidade.AaretadquiriuestenovosentidocomadescobertaporScratesdequeaessnciadohomemasuapsych(BEZERRA,2005).

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    2Anoodearetvislumbradanafilosofiasocrticacentra-senapsycheno

    maisnavirtudeemserricoeprovenientedealgumafamliabemabastada,opulenta.Apreocupaodohomemclssicodeveorientar-sepelaracionalidadequehemsi.

    Dir-vos-ei,segundoomeucostume:Meucaroamigo,sateniense,naturaldeumacidadequeamaioreamaisafamadapelasabedoriaepelopoder,enoteenvergonhasdescuidaresderiquezasedosmeiosdeasaumentaresomaisquepuderes,despensaresemglriaehonras,semamnimapreocupaocomoquehemtideracional,comaverdadeecomamaneiradetornaratuaalmaomelhorpossvel(PLATO,1997,p.16,29d.)

    Talcarternovo,citadoanteriormente,daaret,encontradonomomentodatransiosocrtico-platnica,estpresente,nostemasessenciaisdaantropologia;assimcomoparaanasciturapsych,paraaqualopensamentofilosficoconverge,aopassoquetornaarelaodialgica,arelaofundamentaldohomem.

    A aretestconciliadacomoproblemadadialogicidadehumana,fazendojusorganizaodacidade,prpriapoltica,tica,aoconceitodebemedomelhor.Somenteassimpodemostransformarapsych,prepar-la,educ-la,cur-la,conduzi-laessncia,mediarconhecimentoentreosobjetosdacidade, fazendoanalogiascomosconceitos,ideias, da alma, tecendo assim uma realizao epistmica, para, consequentemente,propiciaracontemplaodobem.

    oprprioconhecimentodesimesmo,avaloraoticado indivduoquenosreportaaoproblemadaalma,doconhecer-seasimesmo,dacuradaalma,davidainterior,doprocessodoautoconhecimento,dainvestigaodlfica,,desimesmo.Umainvestigao,segundoScrates,metdica,realizadapormeiodaironia,dainduoedamaiutica.

    esseprocessodeinvestigaoeautoconhecimentoquenosproporcionarocaminhosabedoriaecomesta,aretverdadeira.

    A psychaessnciadohomem,etambmsededasuaaret.AssiminovaemScrates,umsentidonovo,tantoparaalma,quantoparaoconceitodeexcelncia.Nestesentido,ento,apsych,sendoaessnciadohomem,sededaaret,transigeaohomemsermedidasuagrandezasegundosuadimensointerior;orientandoohomemaocaminhodobem,dojustooudoinjusto(VAZ,1991).Talmenoinfluenciaohomemasedepararcomanoodemoral,daticaedoDireito.Comonortedeseusparadigmasateleologiadobemedomelhor,dondepodeohomemcompreender,deformamaisntidasuacompreensodemundo,daorganizaodavidasocialetica.

    6 CONSIDERAESNesta unidade pudemos identificar as mudanas no plano conceitual,

    paradigmticonoPerodoClssico.

    Os Sofistas e Scrates trouxeram sociedade grega no somente umaparticipaomaisativanasociedade,mastambmderamnovaspossibilidadesparaqueohomemsedesenvolvesseenquantoumserpsquico,socialepoltico.

    Muitassoasinformaesquepoderiamseracrescidasnestaunidade,contudo,procuramosresumi-laafimdeelaboraralgumasreflexesacercadaimagemdehomemnesse perodo e conhecer de forma mais ntima a passagem do Perodo Clssico, oacontecerpsquicoqueinfluencioutantooOcidente.

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    Naprximaunidade,veremosafiguradePlatoedequeformaespecficaessefilsofotrabalhouohomememsuacomplexidade.

    7 AUTOAVALIAO DA APRENDIZAGEMResponda s perguntas a seguir, procurando verificar qual seu nvel de

    conhecimentocomoestudodestaunidade:

    Comopodemosentenderossofistasaolongodatransiosocrtica?1)

    H alguma semelhana ou divergncia entre os grandes mestres sofistas e2)Scrates?

    Quaissoascaractersticasespecficasdopensamentosocrtico?3)

    8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICASALAIN. Idias: introduo filosofia de Plato,Descartes,Hegel, Comte. Traduo dePauloNeves.SoPaulo:MartinsFontes,1993.

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