Upload
ana-camila
View
218
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
1/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
1
TEXTO, TEXTUALIDADE E TEXTUALIZAO1
Maria da Graa Costa Val(Faculdade de Letras da UFMG)
O QUE TEXTO?
H algum tempo, entendia-se como texto apenas os escritos que
empregavam uma linguagem cuidada e se mostravam claros e objetivos. J
no se pensa mais assim.
Hoje, com o avano dos estudos lingsticos, discursivos, semiticos e
literrios, mudou bastante o conceito de texto. Falando apenas de texto verbal,
pode-se definir texto, hoje, como qualquer produo lingstica, falada ou
escrita, de qualquer tamanho, que possa fazer sentido numa situao de
comunicao humana, isto , numa situao de interlocuo. Por exemplo:
uma enciclopdia um texto, uma aula um texto, um e-mail um texto, uma
conversa por telefone um texto, tambm texto a fala de uma criana que,
dirigindo-se me, aponta um brinquedo e diz t.
Um ponto importante nessa definio que possa fazer sentido numa
situao de interlocuo. Isso significa duas coisas: a) nenhum texto tem
sentido em si mesmo, por si mesmo; b) todo texto pode fazer sentido, numa
determinada situao, para determinados interlocutores 2.
Retomando o exemplo acima, t no chega a ser propriamente nem
ao menos uma palavra da lngua portuguesa; portanto, isolada, fora da
situao em que foi usada, no tem nem deixa de ter sentido. No entanto,
quando pronunciada por uma criana e dirigida me, acompanhada do gesto
de apontar um brinquedo, passa a ser um texto bom e completo, pode serinterpretada como o verbo quero, pronunciado de acordo com as
possibilidades do locutor naquele momento, e significando um pedido da
1 Publicao: COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao. IN: CECCANTINI,J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal. Pedagogia Cidad: cadernos deformao: Lngua Portuguesa. v. 1. So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004.
2 O termo interlocutor, neste artigo, designa o par locutor/alocutrio, participantes de umainterlocuo. O termo locutorser usado para designar a f igura do autor ou produtor do texto; otermo alocutrio, para designar a figura do destinatrio ou recebedor do texto. Com essa opoterminolgica quero sinalizar a participao ativa das duas figuras nas prticas sociais deinterao verbal, orais e escritas.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
2/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
2
criana de que a me lhe d o brinquedo. Do mesmo modo, um e-mail que straz a pergunta E a, tudo verde? pode parecer sem sentido para uns, mas
seria perfeita (e furiosamente...) compreendido um torcedor corintiano que
recebesse a mensagem de um amigo palmeirense, depois de um jogo de
futebol em que o Palmeiras tivesse vencido o Corinthians. Por outro lado, um
livro de Fsica Quntica ou um tratado de Filosofia podem ser claros e
consistentes para os especialistas e absolutamente incompreensveis para os
leigos.
Resumindo: uma produo lingstica que, numa dada circunstncia,
parea sem p nem cabea, incompreensvel, inadequada, inaceitvel, para
determinado grupo, pode ser perfeitamente entendida e considerada como sem
qualquer problema por outros interlocutores, noutra situao, e, para eles,
funcionar plenamente como texto. Isso quer dizer que o sentido no est no
texto, no dado pelo texto, mas produzido por locutor e alocutrio a cada
interao, a cada acontecimento de uso da lngua.
Essa questo tem tudo a ver com os conceitos de textualidade e de
textualizao, que sero explicados no prximo item. Esses conceitos so da
maior importncia e podem ter muitas aplicaes na aula de Lngua
Portuguesa, no ensino da leitura e da escrita.
TEXTUALIDADE E TEXTUALIZAO
O termo textualidade foi definido por Robert-Alain de Beaugrande e
Wolfgang Dressler, no livro Introduction to Text Linguistics , de 1981, como o
conjunto de caractersticas que fazem com que um texto seja um texto, e no
apenas uma seqncia de frases ou palavras. Mais recentemente, num livro de1997 (New foundations for a science of text and discourse: cognition,
communication and freedom of access to knowledge and society), o prprio
Beaugrande rediscutiu essa definio, propondo no se perdesse a estreita
relao entre a textualidade e o processo de textualizao. Atualmente,
outros estudiosos, como Jean-Paul Bronckart e Bernard Schneuwly,
focalizando os processos de produo e interpretao de textos, tambm tm
usado o termo textualizao.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
3/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
3
Quando se fala em textualidade, muitas pessoas podem compreenderque se esteja considerando o texto como um produto lingstico que traz em si
mesmo o seu sentido e todas as suas caractersticas. Pensar assim significaria
acreditar que todos aqueles que ouam ou leiam um determinado texto, mesmo
que em circunstncias diferentes, vo entend-lo exatamente do mesmo jeito.
E isso a gente sabe que no verdade. Todos ns j vivenciamos situaes
em que textos literrios, ou jurdicos, ou religiosos, ou noticiosos, ou da
conversa cotidiana, foram interpretados diferentemente por pessoas diferentes.
Essa diversidade de interpretaes acontece porque cada texto pode ser
textualizado de maneiras diferentes por diferentes ouvintes ou leitores. Por isso
que se tem preferido, atualmente, falar em textualizao.
Levando em conta essas ponderaes, podemos definir melhor
textualidade como um princpio geral que faz parte do conhecimento textual
dos falantes e que os leva a aplicar a todas as produes lingsticas que
falam, escrevem, ouvem ou lem um conjunto de fatores capazes de textualizar
essas produes. Explicando melhor: no vamos entender a textualidade como
algo que est nos textos, mas como um componente do saber lingstico das
pessoas. As pessoas sabem que, para um conjunto de palavras constituir um
texto, preciso que esse conjunto parea aos interlocutores um todo articulado
e com sentido, pertinente e adequado situao de interao em que ocorre.
E, ento, aplicam os fatores ou princpios de textualidade a todo conjunto de
palavras com que se defrontam, buscando fazer com que essas palavras
possam ser entendidas como um texto compreensvel, normal, com sentido.
Beaugrande e Dressler (1981) apontaram sete fatores constitutivos da
textualidade, isto , sete princpios que fazem parte do conhecimento textual
das pessoas, que elas aplicam aos textos que produzem e esperam encontrar
nos textos que ouvem ou lem: coerncia, coeso, intencionalidade,aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade. Embora os
autores pretendessem se referir aos processos de produo e interpretao
textual, sua teoria foi compreendida como relativa ao texto enquanto produto,
enquanto artefato lingstico. Os conceitos de coerncia e coeso foram
usados por muita gente, inclusive eu, no livro Redao e Textualidade, como
definidores de qualidades que um determinado texto tinha ou deixava de ter.
Se pudesse reescrever meu livro, que foi publicado em 1991, eu hoje
modificaria a maneira como tratei dessas questes. No diria mais que a
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
4/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
4
redao A tem coerncia e que a redao B no tem; nem que a redao Ctem coeso e a redao D no tem. Diria que eu, na posio de leitora, pude
textualizar aquelas redaes da maneira X ou Y, e que foi fcil para mim
produzir coerncia e coeso para as redaes A e C, mas foi difcil fazer o
mesmo quanto s redaes B e D.
A seguir, vou tratar dos sete princpios de textualizao propostos por
Beaugrande e Dressler (1981) e Beaugrande (1997), dando destaque especial
para a coerncia e a coeso.
Coerncia
Podemos entender coerncia como aquilo que faz com que um texto
nos parea lgico, consistente, aceitvel, com sentido. Quando a gente
entende um texto, oral ou escrito, porque conseguiu atribuir coerncia a esse
texto. A coerncia tem a ver com as idias do texto, com os conceitos e as
relaes entre conceitos que esse texto pe em jogo: de que tpicos o texto
fala, o que diz sobre eles, como organiza e articula esses tpicos (por exemplo,
com relaes de causa/conseqncia, ou de anterioridade/simultaneidade/
posterioridade, ou de incluso/excluso, ou de semelhana/oposio, ou de
proximidade/distncia). Quer dizer: a coerncia tem a ver com conhecimentos e
informaes. Ouvir ou ler um texto e entend-lo, consider-lo coerente,
significa conseguir process-lo com os conhecimentos e a habilidade de
interpretao que se tem e, ento, avali-lo como compatvel com esses
conhecimentos.
Acontece que praticamente nenhum texto diz tudo que necessrio
para que ele possa ser compreendido. Em geral, os textos trazem muita
informao implcita ou subentendida e tambm no explicitam todas asrelaes entre as informaes. Ao ouvinte ou leitor que cabe a tarefa de
identificar e inter-relacionar informaes e, assim, produzir coerncia para o
texto. Como as pessoas podem ter conhecimentos, habilidades e interesses
diferentes, normal que haja pontos de divergncia na compreenso que
produzem de um mesmo texto. A construo do sentido depende dos
conhecimentos e intenes de quem falou e dos conhecimentos disponveis e
habilidades interpretativas de quem ouviu.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
5/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
5
Mas no s isso. Apesar da efetiva diversidade de interpretaes, aspessoas so capazes de se entender, ou seja, h uma parte comum no
processo de produo de sentido, no trabalho de construo da coerncia
textual. Isso possvel porque interlocutores que pertencem a uma mesma
sociedade partilham conhecimentos, crenas e valores. Partilham
conhecimentos lingsticos (a gramtica e o vocabulrio de uma lngua),
textuais (quanto a caractersticas de tipos e gneros3 textuais, quanto a
tendncias gerais de construo da coerncia textual) e pragmticos (por
exemplo, que atos de fala4 se pode realizar naquela comunidade e com que
recursos lingsticos); partilham viso de mundo, crenas, expectativas,
valores, produzidos por aquela sociedade ao longo de sua histria.
Entre outros estudiosos, Charolles, num artigo publicado em 1978 e
traduzido para o portugus em 1988, tentou explicitar as regras de coerncia
que fariam parte do saber lingstico-textual-discursivo das pessoas. A partir do
que esse autor props, poderamos dizer que as prticas sociais de linguagem,
ao longo do tempo, teriam sedimentado algumas tendncias gerais de
coerncia, que as pessoas aplicam na produo e na interpretao de textos.
Essas tendncias gerais aparecem formuladas em expresses populares que
revelam a intuio lingstica dos falantes quanto coerncia textual. A
inteireza, isto , a necessidade de o texto ser percebido como um todo
significativo, a idia que se percebe em avaliaes do tipo j acabou, u, t
faltando um pedao, ou e a, como que termina a histria? e em
expresses como ter comeo, meio e fim. A intuio de que os textos se
caracterizam pela unidade temtica aparece em julgamentos como fugiu do
tema, perdeu o fio da meada, ou do que mesmo que eu estava falando?.
O requisito de integrao e articulao entre as informaes se manifesta em
reclamaes contra textos que no dizem coisa com coisa. A compatibilidade
do mundo textual com o mundo real (quando no se trata de fico ou de
relato de sonhos e fantasias) uma exigncia intuitiva que se exprime na
condenao a textos que dizem coisas sem p nem cabea.
3 Tipos: narrativo, descritivo, expositivo, argumentativo, injuntivo; gneros: carta, notcia,reportagem, romance, soneto, conto, catlogo de telefones, e-mail, sermo religioso,pronunciamento poltico, dirio, prova escolar, fofoca de comadre, piada, trova, cano popular,anncio classificado, propaganda, discurso de paraninfo de formatura, tero, novena, etc.
4 Por exemplo: ato de declarar, pedir, de perguntar, de avisar, de cumprimentar, de bajular, deofender, de irritar, de ameaar, de prometer, de amedrontar, etc.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
6/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
6
A coerncia um princpio de textualizao que funciona atrelado earticulado com os outros fatores apontados por Beaugrande e Dressler.
Podemos dizer que a coerncia co-construda pelos interlocutores e depende
da co-construo da coeso, da situacionalidade, da intencionalidade , da
aceitabilidade, da informatividade, da intertextualidade. Um texto aceito e
avaliado pelos interlocutores (aceitabilidade) como coerente quando os
recursos lingsticos que utiliza so percebidos como integrados num todo
inteligvel (coeso), que lhes parea adequado situao em que ocorre
(situacionalidade) e apropriado para a realizao das intenes do locutor
diante dos ouvintes ou leitores a que se destina ( intencionalidade).
Na produo e interpretao de um texto, os interlocutores se valem de
crenas e conhecimentos que fazem parte da histria e da cultura de sua
sociedade, conhecimentos e crenas que lhes vieram sob a forma de textos
falados e escritos na famlia, na escola, na igreja, no trabalho, no jornal, no
rdio, na TV, na literatura, etc. Cada texto, como diz Bakhtin, como um elo na
grande corrente de produes verbais que circulam numa sociedade. Cada
texto retoma textos anteriores, reafirmando uns e contestando outros e,
utilizando sua matria prima, se inclui nessa cadeia verbal, pedindo resposta
e se propondo como matria prima para outros textos futuros. Ou seja, a
intertextualidade fundamental, indispensvel, na constituio de qualquer
texto. Pode ser que o prprio locutor no se d conta de com quantos textos
se faz o seu texto; pode ser que o alocutrio no (re)conhea todos os textos
envolvidos na construo dos textos que ele ouve ou l. Mesmo assim, sem
enxergar todo o processo, esto lidando com a intertextualidade.
J a informatividade diz respeito ao nvel de novidade que cada um
atribui a um texto. A tendncia geral que as pessoas entendam e gostem de
um texto quando encontram informaes conhecidas que lhes servem de basepara processar as novidades que ele lhes traz. Se o nvel de novidade que
reconhecem num texto lhes parece baixo, elas tendero a avali-lo como intil,
enfadonho, decepcionante; mas, por outro lado, se o nvel de novidade parecer
alto demais, no ser possvel entender o texto e a tendncia ento ser
rejeit-lo. Os exemplos vistos acima, da criana que diz t, do e-mail irnico e
desaforado que o palmeirense envia ao corintiano, do livro de Fsica e do
tratado de Filosofia, sero processados como coerentes ou no dependendo
do nvel de informatividade que os alocutrios atriburem a eles. Por isso que
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
7/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
7
um mesmo texto fcil para uns e difcil para outros; interessante para uns eaborrecido para outros; revolucionrio para uns e banal para outros. O
processamento da informatividade de um determinado texto varia at mesmo
para uma nica pessoa, em momentos diferentes. Todo mundo j viveu a
experincia de se emocionar tremendamente lendo alguma coisa que, mais
tarde, lhe parece boba, sem graa nenhuma; ou j teve muita dificuldade em
entender um texto que, retomado algum tempo depois, avaliado como bvio.
Que aplicao poderiam ter essas idias sobre coerncia textual no
ensino de Lngua Portuguesa? A meu ver, essa maneira de compreender a
coerncia maior importncia para o trabalho em sala de aula.
Em primeiro lugar, porque permite ao professor e aos alunos
compreenderem que no se pode dizer que um texto bom ou ruim, coerente
ou incoerente, com sentido ou sem sentido, sem considerar a situao de
interlocuo em que ele acontece. Todo texto tem que ser pensado em funo
de seu contexto. Se isso verdade para o funcionamento efetivo dos textos
nas trocas linguageiras que acontecem de fato na vida social, preciso que os
alunos compreendam esse fato e aprendam a lidar com ele, na produo e na
interpretao, de textos falados e escritos. Vamos exemplificar.
Para contribuir com o desenvolvimento da capacidade de compreenso
crtica, na leitura e na escuta, as atividades escolares devem propor aos alunos
que considerem quando, onde, para qu e para quem o texto foi produzido, ou
seja, que, na construo da coerncia e na apreciao do texto, levem em
conta a situacionalidade, a intencionalidade, a aceitabilidade pretendida, a
intertextualidade. Na interpretao, procurar recompor as condies em que o
texto foi produzido facilita e enriquece o processo de textualizao.
Paralelamente, o desenvolvimento das habilidades envolvidas naproduo de textos falados e escritos pode ser favorecido quando se ensina os
alunos a planejarem suas falas e escritas pblicas levando em conta os
destinatrios de seus textos. Do que sabem e do que gostam esses
destinatrios, que expectativa e disposio eles tm, em que situao vo ouvir
ou ler os textos? Como ser possvel, nessas condies, realizar as intenes,
os objetivos pretendidos? As respostas a essas questes que devero
orientar o produtor na definio do gnero do texto, na escolha dos recursos
lingsticos mais adequados, na determinao de elementos como tamanho,
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
8/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
8
ilustraes, apoios grficos ou gestuais, etc. Na auto-avaliao pelo aluno e naavaliao pelo professor, a grande questo no se a fala ou escrita tem ou
no tem coerncia, mas sim se ela se apresenta de modo a facilitar o trabalho
de textualizao por parte dos alocutrios, de modo a obter a aceitabilidade
deles.
O segundo motivo que me leva a julgar importantes para a sala de aula
as idias aqui expostas sobre coerncia tem a ver com a construo interna
dos textos. Na produo falada e escrita, por exemplo, para atender aos
requisitos de funcionamento eficiente e eficaz do texto numa determinada
situao, os alunos precisaro cuidar para que seus textos sejam considerados
por seus ouvintes/leitores como inteiros (com comeo, meio e fim), com
unidade temtica (sem perder o fio da meada), consistentes, articulados, no
contraditrios (falando coisa com coisa). Assim, bom que o professor os
oriente na seleo e no desenvolvimento dos temas, trabalhando a lgica
interna e o encadeamento das idias, a consistncia dos argumentos, a
verossimilhana das histrias, nos momentos de planejamento, produo, auto-
e hetero-avaliao dos textos.
Outra habilidade que precisa ser sistematicamente trabalhada na
escola diz respeito escolha e utilizao dos recursos lingsticos com os
quais se constri a coeso textual, que assunto do prximo item.
Coeso
A coeso diz respeito ao inter-relacionamento entre os elementos
lingsticos do texto. Aparentemente, a coeso j vem feita no texto e o ouvinte
ou leitor s tem que reconhec-la. Mas, de fato, no isso que ocorre: a
coeso tambm co-construda pelos interlocutores. A lngua dispe de vriosrecursos com os quais os falantes podem indicar em seus textos as relaes
que pensaram entre os elementos lingsticos, mas esses recursos apenas
indicam, sinalizam, instruem. Quem de fato estabelece a relao o ouvinte ou
leitor.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
9/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
9
Vejamos como isso acontece, comeando pela chamada coesonominal, que diz respeito aos processos anafricos, aqueles com os quais se
estabelece a cadeia dos referentes textuais 5. Dois exemplos:
(1) Era uma vez, num pas muito distante, um rei que tinha uma filhamuito amada, que vivia triste e no sorria nunca. Um dia,
preocupado com a menina, o rei decidiu convocar todos os seussditos e (...)
(2) Um vez, num congresso em So Paulo, entrei em um auditriolotado e pensei ter reconhecido, de costas, um velho amigo de
Recife. No tive dvida: cheguei por trs e lhe dei um beijo naface. Um rosto completamente estranho me olhou assustado,sorriu e retribuiu o beijo. Eu sa de fininho, como se nada de mais
tivesse acontecido. Ainda bem que o aluno da PUC era educado eteve presena de esprito...
Os artigos definidos so um dos recursos de coeso nominal
disponveis na lngua portuguesa. Uma de suas funes indicar que a
informao que introduzem considerada pelo locutor como conhecida ou
dada no texto. O fragmento de texto (1), acima, exemplifica o uso considerado
mais tpico: as informaes novas so marcadas com artigo indefinido (um rei,
uma filha) e, uma vez apresentadas, quando retomadas so sinalizadas pelo
artigo definido (a menina, o rei). A relao de retomada no vem pronta no
texto, mas apenas sinalizada; quem a estabelece o leitor.
No texto (2) acontece algo um pouco diferente, que torna mais fcil
compreender que a coeso no vem pronta, mas apenas sinalizada no texto. O
artigo definido em o aluno da PUC convida o leitor a tomar essa informao
como dada, conhecida, embora seja a primeira vez que ela aparece no texto.
Para entender o texto, o leitor dever considerar essa marca lingstica,
relacion-la com os elementos anteriores congresso, em So Paulo,auditrio e inferir que o rapaz beijado por engano era aluno da PUC. A
associao entre as expresses o aluno da PUCe um rosto completamente
estranho no est feita no texto, foi produzida na cabea do autor e precisa
ser estabelecida pelo leitor. Ao relacionar essas duas expresses, o leitor est
construindo a coeso, estabelecendo a cadeia de referentes, a partir da qual
ele produz a coerncia e entende o texto.
5 Simplificando, pode-se definirreferente textualcomo aquilo de que se fala no texto, aquilo a que otexto se refere.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
10/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
10
Outro exemplo:
(3) Ontem fomos olhar apartamento para alugar. Eu gostei muito deum que fica no Centro, mas o condomnio muito caro.
Como no caso anterior, a expresso ocondomniovem marcada, pelo
artigo definido, como informao dada, embora esteja aparecendo no texto
pela primeira vez. Para entender essa fala, o ouvinte ter que acionar seus
conhecimentos sobre apartamento, que devem incluir elementos como ser
em um prdio, os moradores do prdio pagam uma taxa de condomnio etc.
e, assim, relacionar as informaes textuais, interpretando a expresso o
condomnio como a taxa de condomnio do prdio onde fica o apartamento
mencionado.
O artigo definido assim como os demonstrativos e os possessivos
so recursos que sinalizam do instruo para que o ouvinte/leitor
considere o termo que eles introduzem como informao dada no texto e,
ento, relacione esse termo com algum elemento textual, que pode estar
explicitado ou no. Diferentes tipos de relao podem ser estabelecidos entre a
expresso lingstica marcada com esses recursos e o outro elemento textual.
Vejamos:
No exemplo (1), no caso de um rei/o rei, tem-se a retomada de um
conceito, indicada pela repetio da palavra (rei) marcada pelo definido (podia
ser tambm esse rei). A seguir, em uma filha/a menina, tem-se tambm uma
retomada de conceito, indicada pela substituio da palavra filha por outra
que, nesse texto, pode ser equivalente a ela e vem marcada com o artigo
definido. A equivalncia entre os dois termos resultado de uma escolha entre
outras possibilidades que a lngua oferece e tem conseqncias na construo
do sentido do texto: dependendo do termo com que se retomasse uma filha,poder-se-ia indicar, alm da retomada, algumas caractersticas dessa
personagem da histria: sua classe e status social ( a princesa), sua idade (a
princesinha, a criana, a jovem, a moa), sua aparncia fsica (a linda
princesinha), traos de sua personalidade (a simptica menina, a infeliz
criana, a bondosa princesinha).
No exemplo (2), ao empregar o aluno da PUC (poderia ser tambm
aquele aluno da PUC), o locutor do texto sinaliza aos seus alocutrios no s
a retomada de um elemento anterior (um rosto completamente estranho), mas
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
11/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
11
tambm a classificao desse elemento num grupo ou categoria (a categoriaaluno da PUC, que diferente da de professor da PUC, ou de estudante
universitrio). Essa expresso tem implicaes especficas para a construo
do sentido do texto, diferentes das que teria, por exemplo, o uso de o/aquele
rapaz .
No exemplo (3), entre apartamento e o condomnio no h uma
relao de retomada de conceito, mas sim uma associao entre um conceito e
outro, que possvel em funo do conhecimento scio-cultural partilhado
pelos interlocutores a respeito de apartamento, como j se apontou acima. O
termo o condomnio ancora em apartamento, como diria o Prof. Marcuschi,
da UFPE, e no h entre os dois relao nem de retomada nem de
equivalncia.
Pode-se ainda, marcando uma expresso como informao dada (com
artigo definido, ou demonstrativo, ou possessivo), indicar que ela deve ser
conectada a outro elemento do texto, no porque retoma esse elemento, mas
porque pode ter com ele uma relao metonmica (relao entre a parte e o
todo, entre o autor e a obra, entre o contedo e o continente, etc.), como em
(4) No pude sair de bicicleta porque o pneu traseiro estava vazio.
Ou uma relao hiponmica, em que a segunda expresso representa
um elemento do conjunto representado pelo termo anterior, como em (5), ou o
inverso, isto , uma relao hiperonmica, como em (6):
(5) Meu filho adorava ir de bicicleta para o colgio e tinha o maiororgulho do seu veculo.
(6) Na pressa de recolher seus instrumentos para ir embora, omarceneiro acabou esquecendo aqui o martelo e a trena.
possvel tambm uma relao metafrica, como em
(7) Eu detesto minha vizinha do terceiro andar. Voc acredita queaquela bruxa ontem teve o desplante de dizer que eu estougorda?!...
Esses exemplos do uma idia das possibilidades de explorao da
noo de coeso nominal em sala de aula. O emprego do artigo definido, dos
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
12/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
12
demonstrativos e dos possessivos pode ser bastante econmico e expressivo,quando conjugado com o trabalho relativo escolha do vocabulrio. Com
esses recursos que os interlocutores constroem a cadeia de referentes do
textos (a cadeia dos elementos de que se fala no texto), que fundamental
para tecer o fio da meada, a unidade temtica: o locutor sugere e o alocutrio
percebe relaes metonmicas, metafricas, hiponmicas, hiperonmicas, de
substituio, de associao, de incluso numa determinada categoria. Na aula
de Portugus, levar o aluno a atentar para essas relaes, na leitura, contribui
para a construo e a ampliao da compreenso; na escrita, favorece a
produo de textos mais elegantes, mais expressivos, mais interessantes.
Partilhando com os artigos definidos, os demonstrativos e os
possessivos a funo de sinalizar que devem ser conectados a um elemento
anterior do texto, os pronomes pessoais (retos e oblquos) tambm so
recursos lingsticos importantes para a construo da cadeia de referentes
textuais. A diferena que, com os pronomes pessoais, no se podem sugerir
relaes de classificao ou categorizao, nem de metonmia, nem de
metfora entre os dois termos, como se viu nos exemplos de (1) a (7).
Tradicionalmente, as gramticas apontam como corretos apenas os
casos em que o pronome concorda em gnero e nmero com o seu
antecedente; no entanto, no esse o nico uso que se verifica nas prticas
linguageiras sociais. Em (8) temos o caso mais tradicional:
(8) Meu sobrinho de cinco anos est cada dia mais esperto eengraado. Outro dia ele me pediu um presente de Dia dasCrianas rpido e sem burocracia!!!
J em (9) e (10) temos exemplos usuais, embora no cannicos:
(9) No primeiro dia de aula, ela perguntou o nome de todo mundo,conversou, foi muito simptica, mas j passou tarefa para casa.
(10) Tenho a maior gratido a essa equipe mdica, porque elessalvaram a vida do meu pai.
Um exemplo como (9) pode ocorrer numa conversa cotidiana em que o
tema seja escola e o pronome ela seja usado pelo locutor mesmo sem que
antes ele tenha se referido a professora. As informaes precedentes permitem
ao alocutrio inferir que ela s pode ser a professora. O importante que o
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
13/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
13
ouvinte realiza com rapidez e facilidade essa operao de inferncia, em geralsem se dar conta disso e sem reclamar que o texto est incompleto. Exemplos
como esse so bem mais freqentes no dia a dia do que a gente imagina.
Do mesmo modo, no caso (10) o ouvinte instrudo a realizar uma
operao mental que ultrapassa as formas lingsticas: conectar o pronome
eles, masculino e plural, com essa equipe mdica, expresso substantiva no
feminino singular, priorizando outros conhecimentos, como o de que uma
equipe formada por vrias pessoas, entre as quais pode haver homens e
mulheres. Esse tipo de uso tambm muito comum no nosso cotidiano.
Os exemplos apresentados at aqui tiveram dois objetivos. O primeiro
foi mostrar que a coeso no uma caracterstica que vem pronta no texto,
mas um princpio de textualizao que as pessoas aplicam aos textos que
falam, ouvem, escrevem e lem com o intuito de atribuir sentido seqncia de
palavras e frases com que deparam. O segundo objetivo foi apresentar como
vlidos, e freqentes em prticas linguageiras cotidianas e descontradas,
alguns usos que a gramtica escolar tradicional condena. Esse ponto
importante para a reflexo lingstica em sala de aula: a coeso textual pode-
se valer de diferentes recursos e de diferentes usos desses recursos; a escolha
adequada vai depender de para quem e para qu se fala ou escreve, em que
tipo de situao.
H ainda outros recursos coesivos, cuja funo sinalizar a chamada
coeso seqencial, que consiste no estabelecimento de conexo e inter-
relao entre partes do texto atravs de conectivos, advrbios, verbos. Alguns
estudiosos, como Bronckart (1999) e Schneuwly (1988), chamam esses
processos de conexo (sinalizada pelos organizadores textuais) e de
coeso verbal (sinalizada pelos tempos, modos e aspectos verbais).
Comecemos pela conexo. Entre os organizadores textuais ouarticuladores esto as conjunes e locues conjuntivas, os advrbios e
locues adverbiais, alm de vrias expresses que se podem usar para
sinalizar inter-relaes entre informaes textuais (por exemplo, em resumo,
concluindo, por um lado/por outro lado, ainda, tambm, em outras palavras, ou
seja). Os organizadores textuais podem sinalizar inter-relaes tanto entre
oraes de um perodo, como entre frases de uma seqncia ou pargrafo,
como tambm entre partes do texto. Por exemplo, numa histria, costuma-se
sinalizar o incio do enredo, da complicao, com articuladores como um dia
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
14/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
14
ver exemplo (1); num texto expositivo, pode-se indicar o incio da concluso oufechamento com organizadores do tipo resumindo, a idia central que.
Destaquemos o articulador mas, que aparece nos exemplos (3) e (9).
Esse operador lingstico desencadeia uma srie de operaes interpretativas
que no esto dadas no texto; so relaes que foram pensadas pelo locutor
e devem ser tambm estabelecidas pelo alocutrio. Pelo conhecimento
lingstico, sabemos que esse operador sinaliza relao de oposio entre a
informao que introduz e a(s) anterior(es). Deparando com ele, o interlocutor
tem que selecionar no texto informaes que podem se opor e interpretar por
que e como se opem. No caso do exemplo (3), no vem da realidade, nem
da lgica a oposio entre gostar de um apartamento no Centro e esse
apartamento ter uma taxa alta de condomnio. Pode -se at imaginar o
contrrio: se o Centro for uma regio valorizada na cidade dos parceiros desta
conversao, ser espervel que a taxa de condomnio seja alta; se o falante
for uma pessoa rica e esnobe, uma taxa de condomnio alta poder at ser
considerada qualidade, j que seleciona pelo poder aquisitivo os moradores
do prdio. Assim, ao estabelecer oposio entre essas duas informaes, o
alocutrio compreende tambm, por inferncia, que o locutor ou no tem
dinheiro sobrando, ou uma pessoa econmica... Outra inferncia, sinalizada
e autorizada pelo operador mas mas no explicitada no texto quanto
orientao argumentativa dessa fala, que aponta para uma concluso do tipo:
por isso no vou poder alug-lo ou por isso desisti de alug-lo. Processo
semelhante pode ser desencadeado na interpretao do exemplo (9), em que
cabe ao ouvinte ou leitor inferir a oposio entre ser muito simptica e passar
tarefa para casa no primeiro dia de aula.
As operaes interpretativas indicadas nesses dez exemplos, criadoras
de coeso nominal ou de coeso seqencial, so feitas com tanta rapidez efacilidade que os usurios da lngua nem se do conta do processo complicado
que efetuam para relacionar as expresses lingsticas e, da, entender os
textos que ouvem e lem. Mas esse processamento interior que explica a
possibilidade de diferentes interpretaes para um mesmo texto.
Quanto coeso verbal, vou apenas tentar mostrar como os tempos,
modos e aspectos verbais tm funo importante na construo de diferentes
tipos textuais, que compem diferentes gneros de textos.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
15/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
15
As narrativas geralmente se constroem com os verbos no pretrito,situando-se os acontecimentos narrados como anteriores ao momento da
enunciao, isto , ao momento da interao verbal em que o texto acontece.
Elementos importantes para o sentido desse tipo de texto podem ser
sinalizados pelo uso de tempos verbais que apontam para momentos diversos
do eixo temporal criado na narrativa, pelo contraste entre os aspectos perfeito e
imperfeito, ou pelo jogo entre tempos simples e compostos, como se v no
exemplo (11) a seguir. O autor SG, aluno da 3 srie do Ensino Fundamental
de uma escola da rede particular de Belo Horizonte, e o texto foi redigido em
casa, para ser lido em sala de aula para os colegas, com o objetivo de lhes
contar alguma coisa que desconhecessem, sobre um brinquedo, um bichinho
de estimao, uma coleo de objetos, etc.
(11) Meus Animais
Ns tnhamos uma empregada chamada Maria Jos quetinha uma criao de coelhos em sua casa.
Um dia perguntei a ela se podia me dar um coelho e ela me
trouxe esse coelho no dia seguinte.
Depois de um bom tempo ele fugiu e pedi outro, outro,outro, outro, outro, outro, etc.
At que chegou um especial: em vez de branco, com nomeP Sujo, marrom, com nome Bombril. Ele era mais legal e maismanso que os outros.
Um dia voltei da escola e vi que estava sumido. Tinhafugido.
Mas uma amiga do meu pai me deu um cachorrinho
pequeno e gordinho e lhe dei o nome Bolinha. Estou com ele athoje.
Respeitando a instruo de escrever algo que os colegas no
conhecessem, o aluno autor decide comear do comeo seu relato e sinaliza
essa deciso pelo uso do pretrito imperfeito, que, tradicionalmente, indica, nas
narrativas, o cenrio, a situao e as caractersticas dos personagens na fase
inicial: ns tnhamos uma empregada que tinha (...). O imperfeito vai aparecer
novamente no texto quando preciso caracterizar um novo personagem, o
coelho Bombril (ele era mais legal).
A partir do articulador um dia, que marca o incio da fase central do
relato, o locutor, com o uso do pretrito perfeito, instrui seu leitor/ouvinte no
sentido de considerar os episdios seguintes como os de primeiro plano no
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
16/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
16
caso que est contando (perguntei, trouxe, fugiu, pedi, chegou, voltei,vi). Subordinado a perguntei, aparece o nico verbo dessa seqncia que
no est no pretrito perfeito (podia me trazer). A, a forma coloquial do futuro
do pretrito, no verbo auxiliar, sinaliza a situao da ao no eixo temporal:
perguntei se ela poderia trazer o coelho num dia posterior ao dia em que foi
feita a pergunta.
O mesmo marcador temporal um dia sinaliza nova mudana de fase
no relato: a fuga do coelho Bombril caracterizada como episdio dramtico
que interrompe a seqncia feliz de perder um coelho e imediatamente ga nhar
outro para substitu-lo. A ruptura sinalizada tambm por alteraes no
emprego das formas verbais. Em voltei e vi, o pretrito perfeito simples, na
voz ativa, indica aes pontuais, num determinado momento do eixo temporal:
o momento em que o narrador chegou da escola. Com relao a esse
momento, uma construo passiva, com o auxiliar no imperfeito estava
sumido indica um estado de coisas no pontual, nem imediato, mas j de
alguma durao. A seguir, o pretrito mais-que-perfeito composto tinha
fugido sinaliza um fato pontual acontecido num momento anterior ao da
chegada do narrador.
No final do texto, o articulador mas e o retorno do pretrito perfeito
(deu, dei) vm indicar a reverso da tragdia. A, com o uso do presente , o
locutor sinaliza o encerramento da narrativa, assegurando que o final feliz
perdura at o momento da enunciao, at o momento da produo do relato
(estou com ele at hoje).
Este texto revela a habilidade do aluno autor no emprego das formas
verbais na construo de um relato que corresponde aos moldes mais usuais,
mais cannicos. No entanto, a observao e a reflexo sobre diferentes
possibilidades de correlao entre tempos, modos e aspectos verbais, emnarrativas de autores consagrados, pode contribuir para ampliar essa
habilidade. Vejamos, por exemplo, o efeito de sentido suscitado pelo jogo entre
pretrito e presente no incio de um conto infantil de Cora Rnai, intitulado
Sapomorfose (ou o prncipe que coaxava).
(12) Era uma vez um sapo num dia de outono.Um sapo que acordou cedo, bem satisfeito com a sua
vidinha, e com o tempo bonito que estava fazendo.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
17/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
17
Mergulhou no brejo, nadou, pulou e coaxou feliz; e ficoucom muita fome.
E comeu cinco moscas comuns, vrios mosquitos, umaliblula descuidada e uma mosca azul linda, linda daquelas quebrilham no sol, paradas no ar.
E ficou cansado e sem assunto. Depois de encher a pana,o que que um sapo pode fazer, alm de cochilar enquantoespera a hora de encher a pana novamente?
Foi o que ele fez: dormiu contente num canto escuro,escondidinho por umas folhagens roxas.
A intromisso do presente (trechos sublinhados) no meio de uma srie
de verbos no pretrito imperfeito (era, estava fazendo) e no pretrito perfeito(acordou, mergulhou, nadou, pulou, coaxou, ficou, comeu, ficou,
fez, dormiu) quebra o fluxo da narrativa e introduz a voz do narrador
comentando a histria, como se puxasse conversa com o leitor. Com essa
manobra, o narrador aproxima o mundo do faz-de-conta da histria ao mundo
real que conhecido por ele e pelo leitor (o mundo em que h moscas azuis
que brilham no ar e em que os sapos costumam dividir seu tempo entre comer
e dormir), e pode, com isso, tornar sua histria mais verossimilhante e
envolvente.
Apenas a ttulo de exemplificao, vejamos com que complexidade se
correlacionam tempos, modos e aspectos verbais no fragmento a seguir, de um
conto de Rachel de Queiroz, sinalizando a situao dos fatos em diferentes
momentos do eixo temporal, convidando o leitor a atribuir a eles diferentes
duraes e lhe propondo interpret-los ora como acontecidos, ora como
imaginados ou desejados:
(13) No pudera acenar uma resposta porque s vira o bilhete aoabrir a revista, depois que o blimp se afas tou. E estimou que
assim o fosse: sentia-se tremendamente assustada e tmida anteaquela primeira aproximao com o seu aeronauta. Hoje veria seele era alto e belo, louro ou moreno. Pensou em se esconder por
trs das colunas do porto, para o ver chegar e no lhe falarnada. Ou talvez tivesse coragem maior e desse a ele a sua mo;
juntos caminhariam at a base, depois danariam um fox
langoroso, ele lhe faria ao ouvido declaraes de amor em ingls,encostando a face queimada de sol ao seu cabelo. No pensou seo pessoal de casa lhe deixaria aceitar o convite. Tudo se ia
passando como num sonho e como num sonho se resolveria,sem lutas nem empecilhos.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
18/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
18
Outros tipos de texto a exposio, a argumentao, a descrio, ainjuno costumam organizar seu eixo temporal em torno do presente e
sinalizar relaes significativas importantes pela correlao entre os modos
verbais, por recursos de modalizao como os verbos modais, pelo emprego
de determinadas classes lxico-semnticas de verbos (verbos de estado, de
atividade, de realizao, de acabamento, segundo Bronckart, 1999, p. 279).
Nos textos de tipo injuntivo, como as receitas, as instrues de uso de
aparelhos e instrumentos, as regras de jogos, por exemplo, diferentes efeitos
de sentido podem ser suscitados pelo emprego do modo imperativo, ou de
verbos modais como dever ou ter de/que, ou do infinitivo, ou do futuro do
presente, que se aliam com diferentes possibilidades de indeterminao do
sujeito (o coloquial voc de valor impessoal; o verbo na terceira do singular
com a partcula se, mais formal; o infinitivo sem sujeito expresso). Vejam-se
alguns exemplos.
(14) Dissolva os ingredientes em meio litro de leite frio. Coloque tudono fogo e mexa at iniciar a fervura. Abaixe o fogo e deixecozinhar por 10 minutos, mexendo de vez em quando.
(15) Dissolver os ingredientes em meio litro de leite frio. Colocar tudono fogo e mexer at iniciar a fervura. Abaixar o fogo e deixarcozinhar por 10 minutos, mexendo de vez em quando.
(16) Dissolvem-se os ingredientes em meio litro de leite frio. Coloca-setudo no fogo e mexe-se at iniciar a fervura. Abaixa-se o fogo edeixa-se cozinhar por 10 minutos, mexendo de vez em quando.
(17) Para fazer esse doce, voc tem que dissolver os ingredientes emmeio litro de leite frio, depois colocar tudo no fogo e mexer atiniciar a fervura. Da, voc tem que abaixar o fogo e deixarcozinhar por 10 minutos, mexendo de vez em quando.
(18) Para fazer esse doce, voc dissolve os ingredientes em meio litrode leite frio, depois coloca tudo no fogo e mexe at iniciar afervura. Da, voc abaixa o fogo e deixa cozinhar por 10 minutos,
mexendo de vez em quando.
(19) Dissolvers os ingredientes em meio litro de leite frio. Colocarstudo no fogo e mexers at iniciar a fervura. Abaixars o fogo e
deixars cozinhar por 10 minutos, mexendo de vez em quando.
Comparando-se essas variaes intencionais de uma receita culinria,
fcil perceber a diversidade de efeitos resultantes da opo por diferentes
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
19/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
19
maneiras de expressar o modo imperativo. Os casos (17) e (18) ganham umtom coloquial, ao passo que o (19) chega a ficar cmico, em razo do grau
excessivo de formalidade que costumamos atribuir ao uso do futuro do
presente, tempo que aparece, por exemplo, na formulao dos Dez
Mandamentos.
Com essa brincadeira e os demais exemplos, espero ter demonstrado
como pode ser positivo focalizar em sala de aula o funcionamento dos verbos
na co-construo da coeso textual, bem mais til e divertido do que impor aos
alunos que decorem os paradigmas regulares e irregulares de conjugao. A
reflexo sistemtica sobre o poder coesivo e expressivo do sistema verbal, na
leitura e na escrita de gneros diversos, pode representar uma contribuio
decisiva para o desenvolvimento das habilidades de textualizao dos alunos.
CONCLUSO
Num artigo rpido como este, no seria possvel abordar com
profundidade todos os princpios de textualizao, nem ao menos tratar do
amplo leque de recursos coesivos disponveis na lngua, explorando
adequadamente suas possibilidades de uso nas prticas linguageiras sociais e
de aplicao na aula de Portugus. Procurei, ento, centralizar minha
exposio em algumas poucas idias bsicas, que retomo aqui, para finalizar.
As produes lingsticas efetivas so textualizadas pelos
interlocutores envolvidos num processo de interao verbal; seu sentido e sua
adequao so mentalmente co-construdos pelos interlocutores, que levam
em conta seus objetivos e expectativas, os conhecimentos, crenas e valores
que partilham, as circunstncias fsicas em que as produes ocorrem. Sendoassim, em si mesmas, por si mesmas, isoladas de seu contexto de uso, as
produes lingsticas no tm nem deixam de ter sentido, no so boas nem
ms, nem certas nem erradas. No processo de textualizao, um mesmo texto
pode ser considerado incompreensvel e imprprio por determinados
interlocutores, em determinada situao, e ser considerado plenamente
inteligvel e adequado por outros interlocutores, noutra situao.
Essa concepo pode trazer como conseqncia para o ensino de
Lngua Portuguesa,
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
20/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
20
a) por um lado, flexibilizao com relao a frmas e modelos textuaise imposio de regras lingsticas prvias, pretensamente
universais e absolutas;
b) por outro lado, ateno e acuidade no trabalho com os textos orais
e escritos interpretados ou produzidos pelos alunos, porque a
escolha, a reflexo e a avaliao relativas aos recursos lingsticos
devero levar em conta as circunstncias dos processos de
produo e interpretao, os conhecimentos e disposies dos
interlocutores.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
21/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
21
ATIVIDADE DE APLICAO
Prepare uma atividade para realizar com seus alunos em sala de aula,
relativa s posssibilidades de TEXTUALIZAO do texto transcrito abaixo.
Trata-se de uma carta dirigida ao apresentador de televiso Gugu Liberato.
Comece por convid-los a refletir sobre a intencionalidade, a
aceitabilidade e a situacionalidade desse texto, orientando-os a levantar
hipteses consistentes quanto
1. Ao locutor:
a) quais seriam seus conhecimentos lingsticos e textuais;b) quais seriam seus objetivos e suas expectativas ao redigir
esta carta;c) qual seria a sua compreenso da situao de interlocuo.
2. Ao alocutrio:a) quais seriam seus conhecimentos lingsticos e textuais;b) qual seria sua expectativa e disponibilidade quanto s
cartas que recebe;c) qual seria a sua compreenso da situao de interlocuo.
A partir dessa reconstituio das condies de produo e leitura da
carta, discuta com seus alunos as possibilidades de TEXTUA LIZA O dessacarta pelo destinatrio. Para isso, examine com eles o grau de adequao
desse texto, apontando seus pontos positivos e suas falhas com relao
construo, pelo leitor previsto, da:
informatividade; intertextualidade; coerncia; coeso;
dando nfase especial co ern ci a e co eso.
Proponha a seus alunos a reescrita desse texto, de acordo com a
anlise feita.
Estabelea com eles orientaes para essa reescrita e defina com eles
estratgias de encaminhamento e discusso da atividade (que etapas do
trabalho sero realizadas individualmente, em duplas, em grupo, ou
coletivamente?) bem como critrios de avaliao e auto-avaliao.
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
22/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
22
Cuqu Boa tarde
Estou com muita dificuldade: minha me
pensionista e eu no posso realisar o meu qrande sonho.
Eu vi o celugio Prastico na televiso, conversando
com voc, mais a minha contises finaneira no dar.No posso trabalhar, porque eu ajudo minha me,
que ela doente, e de idade.
Eu sei que vo muito humano e muito bacana,
mesmo que eu pdese trabalhar era muito difcil, porque
pessoa, passando dos 38 anos, considerada velha.
Por favor, mm ajuda a realisar o meu sonho,
qostaria, de consequr uma operao;. no abidomin e nabarriga e no rosto.
Obs. Agradeo sua colaborao, que Deus de ajuda,
que voc continua humano e abenado por Deus.
Muito obriqado de sua Adimiradora
Obs. Se caso eu consequr a realisar o meu sonho, eu
gostaria de levar uma pessoa comingo. Porque no
conheo So Paulo.
Marilia da Silva
7/22/2019 3.2-CostaVal-Texto,Textualidade e Textualizao(TEXTOEXTRA)
23/23
COSTA VAL, Maria da Graa. Texto, textualidade e textualizao.IN: CECCANTINI, J.L. Tpias; PEREIRA, Rony F.; ZANCHETTA JR., Juvenal.
Pedagogia Cidad: cadernos de formao: Lngua Portuguesa. v. 1.So Paulo: UNESP, Pr-Reitoria de Graduao, 2004. p. 113-128.
23
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BAKHTIN, Mikhail. Esttica da criao verbal. So Paulo: Martins Fontes, 1992.
BEAUGRANDE, R.-A. de & DRESSLER, W. U. Introduction to Text Linguistics.London, Longman, 1981.
BEAUGRANDE, Robert de. New foundations for a science of text and discourse:cognition, communication and freedom of access to k nowledge and society.Norwood, New Jersey: Ablex Publishing Corporation, 1997.
BENTES, Anna Christina. Lingstica Textual. In. BENTES, Anna Christina &MUSSALIN, Fernanda. Introduo lingstica: domnios e fronteiras. SoPaulo: Cortez, 2001. Cap. 7, p. 245-282.
BRONCKART, Jean Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por uminteracionismo sociodiscursivo. So Paulo: EDUC, 1999.
CHAROLLES, Michel. Introduo aos problemas da coerncia dos textos. In:GALVES, C. et al. (org.) O texto: escrita e leitura. Campinas: Pontes, 1988.
COSTA VAL, M. Graa. Redao e textualidade. So Paulo: Martins Fontes, 1991.
___. Repensando a textualidade. In: AZEREDO, Jos Carlos (org.). LnguaPortuguesa em Debate: conhecimento e ensino. Petrpolis: Vozes, 2000. p.34-51.
___. O desenvolvimento do conhecimento lingstico-discursivo: o que se aprendequando se aprende a escrever? Veredas Revista de Estudos Lingsticos.Juiz de Fora: Editora da UFJF, v. 5, n. 1, jan./jul. 2001. p. 83-104.
___. A gramtica do texto, no texto. Revista de Estudos da Linguagem. BeloHorizonte: Faculdade de Letras da UFMG, v.10, n.2, jul./dez. 2002. p. 107-134.
___ e BARROS, L. Fernanda P. Receitas e regras de jogo: a construo de textosinjuntivos por crianas em fase de alfabetizao. In: COSTA VAL, M. G. eROCHA, Gladys. Reflexes sobre prticas escolares de produo de textos:o sujeito autor. Belo Horizonte: CEALE/FAE/UFMG e Autntica, 2003. p.135-165.
EVANGELISTA, Aracy A. M., COSTA VAL, M. Graa et al. Professor-leitor, aluno-autor: reflexes sobre a avaliao do texto escolar. Belo Horizonte:Formato/CEALE (FAE-UFMG), 1998.
MARCUSCHI, L. A. Anfora Indireta: O barco textual e suas ncoras. Recife:Centro de Letras e Artes/UFPE, 2000 (verso preliminar).
QUEIROZ, Rachel de. Tangerine-Girl. In: MORICONI, talo. (org.). Os cemmelhores contos brasileiros do sculo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p.159-164.
RNAI, Cora. Sapomorfose (ou o prncipe que coaxava). Rio de Janeiro:Salamandra, 1981.
SANTOS, Andra Cattermol I. Os processos fricos (anafricos e metafricos) naconstruo da rede de referentes textuais . Belo Horizonte: Programa de Ps-Graduao em Estudos Lingsticos, 2003 (dissertao de mestrado).
SCHEUWLY, B. Le Language crit chez enfant. La producion des textes informatifiset argumentatifis. Paris: Delachaux & Niestl, 1988.