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63 Revista Contextos da Alimentação Vol. 3 no 1 - dezembro de 2014 Luiz Gonzaga canta as práticas alimentares do nordeste do Brasil 1 Luiz Gonzaga sings the feeding practices from northeastern Brazil Ariza Maria Rocha 2 Resumo Luiz Gonzaga cantou com muita originalidade a cultura nordestina. Por sua voz, difundiu o sertão e a relação desse com a cidade grande, a política, a economia da sociedade brasileira, dividindo letras e melodias com seus parceiros José Dantas de Sousa Filho, Humberto Teixeira, entre tantos outros compositores. Como documento histórico, a música de Luiz Gonzaga é uma inesgotável fonte para conhecer o “de comer” do nordestino. Este artigo tem o objetivo de refletir os alimentos tradicionais do nordeste a partir da produção discográfica de Luiz Gonzaga como fonte de pesquisa de análise das práticas alimentares na região do passado e nos dias atuais. Nesse contexto, adotei a pesquisa bibliográfica, recorrendo ao site oficial do músico para analisar os alimentos tradicionais, o plantio, o consumo e as condições climáticas a partir de algumas músicas do universo de Luiz Gonzaga. Este trabalho discute as músicas que revelam as práticas alimentares do sertão, os alimentos tradicionais no Cariri e, por último, os alimentos nas festas tradicionais do nordeste, em particular, do Cariri, nas músicas do mestre da sanfona. Em seus versos e melodias, o artista revela o trato com a terra, as condições climáticas, as plantações de milho, feijão, mandioca, pequi, entre outras; o lugar da mulher e do homem nas dependências domésticas; os utensílios domésticos; as criações de animais domésticos, a economia do nordeste. Sua obra revela práticas culturais corporais, alimentícias, agrícolas, políticas e sociais do Brasil. Palavras-chave: Práticas alimentares. Música. Luiz Gonzaga. 1 Esta pesquisa faz parte de um estudo que teve o financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. 2 URCA\CAPES – Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará – UFC (2008) com tese publicada pela Editora UFC (2011), O Passado da Educação Física Escolar em Fortaleza. Lecciona na Universidade Regional do Cariri – URCA desde 2003. Atualmente, encontra-se o pós doutoramento intitulado Comer, Rezar e (Com)Partilhar na Festa de Renovação do Sagrado Coração de Jesus no Cariri Cearense, com o financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.

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    Revista Contextos da Alimentao Vol. 3 no 1 - dezembro de 2014

    Luiz Gonzaga canta as prticas alimentares do nordeste do Brasil1

    Luiz Gonzaga sings the feeding practices from northeastern Brazil

    Ariza Maria Rocha2

    Resumo

    Luiz Gonzaga cantou com muita originalidade a cultura nordestina. Por sua voz, difundiu o

    serto e a relao desse com a cidade grande, a poltica, a economia da sociedade brasileira,

    dividindo letras e melodias com seus parceiros Jos Dantas de Sousa Filho, Humberto Teixeira,

    entre tantos outros compositores. Como documento histrico, a msica de Luiz Gonzaga

    uma inesgotvel fonte para conhecer o de comer do nordestino. Este artigo tem o objetivo de

    refletir os alimentos tradicionais do nordeste a partir da produo discogrfica de Luiz Gonzaga

    como fonte de pesquisa de anlise das prticas alimentares na regio do passado e nos dias

    atuais. Nesse contexto, adotei a pesquisa bibliogrfica, recorrendo ao site oficial do msico para

    analisar os alimentos tradicionais, o plantio, o consumo e as condies climticas a partir de

    algumas msicas do universo de Luiz Gonzaga. Este trabalho discute as msicas que revelam

    as prticas alimentares do serto, os alimentos tradicionais no Cariri e, por ltimo, os alimentos

    nas festas tradicionais do nordeste, em particular, do Cariri, nas msicas do mestre da sanfona.

    Em seus versos e melodias, o artista revela o trato com a terra, as condies climticas, as

    plantaes de milho, feijo, mandioca, pequi, entre outras; o lugar da mulher e do homem nas

    dependncias domsticas; os utenslios domsticos; as criaes de animais domsticos, a

    economia do nordeste. Sua obra revela prticas culturais corporais, alimentcias, agrcolas,

    polticas e sociais do Brasil.

    Palavras-chave: Prticas alimentares. Msica. Luiz Gonzaga.

    1Esta pesquisa faz parte de um estudo que teve o financiamento da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES.2URCA\CAPES Doutora em Educao pela Universidade Federal do Cear UFC (2008) com tese publicada pela Editora UFC (2011), O Passado da Educao Fsica Escolar em Fortaleza. Lecciona na Universidade Regional do Cariri URCA desde 2003. Atualmente, encontra-se o ps doutoramento intitulado Comer, Rezar e (Com)Partilhar na Festa de Renovao do Sagrado Corao de Jesus no Cariri Cearense, com o financiamento da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior - CAPES.

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    Abstract

    Luiz Gonzaga sang with much originality about Brazils Northeastern culture. His voice is

    responsible for promoting the backcountry and its relationship with big cities, politics and

    the Brazilian society way of living. He shared lyrics and melodies with partners such as Jos

    Dantas de Sousa Filho, Humberto Teixeira and other composers. As a historical document, Luiz

    Gonzagas music is a never ending source of research for those who wish to get to know the

    eating habits of people living in that part of the country. The main goal of this article is to reflect

    upon Northeastern traditional food from the perspective of Luiz Gonzagas musical production

    for the analyses of that regions past and current feeding practices. In this context, we adopted

    the bibliographic research using as source Luiz Gonzagas official website to analyze traditional

    food, plantation, consumption and climate conditions from the standpoint of some songs from

    Luiz Gonzagas universe. This article discusses songs that reveal the backcountrys feeding

    practices, traditional food from Cariri and traditional food served in traditional Northeastern

    parties, particularly in Cariri, from the standpoint of The Accordion Masters songs. His verses

    and melodies reveal the working of the land, climate conditions, corn, beans, manioc, pequi

    and other plantations; men and womens roles in the household chores; domestic utensils;

    livestock and Northeastern economy. His work reveals cultural practices related to the body,

    food, agriculture, politics and Brazilian society.

    Keywords: Feeding Practices, Music, Luiz Gonzaga.

    Introduo

    Luiz Gonzaga do Nascimento (1912-1989) cantou com muita originalidade a cultura

    nordestina. Por sua voz, difundiu o serto e a relao desse com a cidade grande, a poltica, a

    economia da sociedade brasileira. Dividindo letras e melodias com seus parceiros Jos Dantas

    de Sousa Filho, Humberto Teixeira, entre outros, narrou as condies de vida, alegrias, tristezas,

    as paisagens, a seca, a f, as festas, as danas, as despedidas, os retornos, a saudade,

    homenageou seu pai, Janurio, os amores, a migrao, os cabras da peste e, tambm, os

    alimentos do nordeste, da produo venda e seu consequente consumo.

    O mestre da msica cantou os problemas sociais do nordeste dentro e fora do

    Brasil, registrou os valores culturais relacionados identidade nordestina e contribuiu com

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    o enriquecimento da cultura brasileira. Pelo quadro da poca, registrado nas msicas, o

    sanfoneiro ganhou reconhecimento e fama, aps superar as dificuldades econmicas e as

    resistncias de alguns artistas do rdio, at ento no auge como difusores cultural e artstico.

    A msica tem o poder de expressar os sentimentos, revelar a memria, conhecer as

    representaes sociais, o contexto poltico e o imaginrio popular, alm da capacidade de

    dialogar com o conhecimento histrico. Por essa via, abordo a comida nordestina na msica

    de Luiz Gonzaga com o objetivo de refletir as prticas alimentares do nordeste, em particular

    do Cariri. As questes que guiaram este trabalho foram: Quais as comidas de dias festivos e

    do cotidiano citadas pelo referido artista? Qual era a viso do lugar da mulher e do homem

    na cozinha nas msicas desse cantor e compositor? Quais as receitas de infuses, plantas

    medicinais e artefatos da cozinha retratados nas obras de Gonzago?

    No plano conceitual, parto do princpio de que o alimento um patrimnio cultural, assim, sublinho o trabalho de Cascudo (1967), Cavignac e Dantas (2005) e Maciel (2000). Esta ltima

    autora, a propsito, aduz que:

    () O alimentar-se um ato vital, sem o qual no h vida

    possvel, mas, ao se alimentar, o homem cria prticas e atribui

    significados quilo que est incorporando a si mesmo, o que vai alm

    da utilizao dos alimentos pelo organismo. assim que a procura

    pelo sentido deste comer tem atrado os antroplogos de uma

    maneira muito particular. (MACIEL, 2001, p.145).

    Nessa temtica, distingo o conceito de alimento e comida, como tambm a diferena

    entre o alimentar-se e o de comer. DaMatta (1986, p. 55) explica que:

    (...) Alimento tudo aquilo que pode ser ingerido para manter

    uma pessoa viva; comida tudo que se come com prazer de acordo

    com as regras mais sagradas de comunho e comensalidade. Em

    outras palavras, o alimento como uma grande moldura; mas a

    comida o quadro daquilo que foi valorizado e escolhido dentre os

    alimentos; aquilo que deve ser visto e saboreado com os olhos e

    depois com a boca, o nariz, a boa companhia e, finalmente, a barriga.

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    A comida, nesse sentido, revela a identidade de um povo, enquanto o alimento est

    ligado s necessidades biolgicas e fisiolgicas.

    No plano metodolgico, em um universo de 495 composies do msico expostas em

    sua vasta produo discogrfica foram selecionadas 44 canes com enfoque voltado para as

    prticas alimentares enquanto identidade cultural do nordestino. Recorreu-se, ento, ao site

    oficial, intitulado Luiz Lua Gonzaga3.

    O tema aqui apresentado em trs focos. O primeiro est um pouco da vida artstica

    de Luiz Gonzaga. Em seguida, alguns alimentos tradicionais no Cariri sero apresentados

    e, por ltimo, destaque de alguns alimentos nas festas tradicionais do nordeste nas msicas

    do mestre da sanfona. A riqueza da obra de Luiz Gonzaga no se limita a estas pginas, o

    que significa, portanto, que no tenho a pretenso de esgotar aqui a reflexo das prticas

    alimentares do nordeste brasileiro.

    O canto das prticas alimentares do serto nordestino

    Cantando o nordeste do Brasil, o artista de Exu apresentou a vida do sertanejo para o

    Brasil e o exterior. Comeou a manusear a sanfona ainda criana, prestando ateno ao seu

    pai, que tocava o fole de oito baixos nas festas.

    Nas composies musicais, encontrou parceiros, a exemplo de Humberto Teixeira,

    Miguel Lima, Joo Silva, Z Dantas (Jos de Souza Dantas Filho), entre tantos outros. At ser

    reconhecido como msico, Luiz Gonzaga tocava nas ruas, nos paus de arara, nos bordis,

    na Rdio Nacional e no programa de Ary Barroso, Calouros em Desfile, oportunidade em que

    apresentou a msica, de sua autoria, Vira e Mexe, no ano de 1945.

    Neste mesmo ano, o sanfoneiro passou a gravar tocando e cantando os seus sucessos que

    ganharam vida, entre eles, Dezessete e setecentos, com Miguel Lima, em 1945; com Humberto

    Teixeira, vieram as seguintes msicas: L no meu P de Serra (1945), Baio (1946), Asa

    Branca (1947), Juazeiro (1948), Paraba (1950), Assum Preto (uma transposio de Asa

    Branca para modo menor) e Respeita Janurio (1950). Da parceria com Jos Dantas de Sousa

    Filho, surgiram as obras Cintura Fina (1950), ABC do Serto (1950), Vozes da Seca (1950)

    e, em 1989, o Xote Ecolgico. Essas so algumas obras de seu vastssimo repertrio musical

    3Site oficial intitulado Luiz Lua Gonzaga. Disponvel em: . Acesso em: 12 de dezembro de 2013.

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    e que expressam a riqueza musical brasileira registrada em 39LPs, 218 discos de 78 rotaes

    e 23 coletneas (SITE OFICIAL, LUIZ LUA GONZAGA, 2013). Diante da compilao musical,

    44 msicas que tratam das prticas alimentares do nordeste foram selecionadas.

    De incio, preciso esclarecer que a estiagem, to presente em alguns estados

    nordestinos que compem o Polgono das Secas (Piau, Cear, Rio Grande do Norte, Paraba,

    Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia) e que, em funo disso, enfrentam a falta dgua e a

    luta pela sobrevivncia, foi um fator climtico e tambm poltico determinante na sensibilidade

    do msico, como tambm ainda na vida de qualquer nordestino.

    A dor do sertanejo cantada e retrata os flagelados da fome, sede, morte do gado,

    abandono da famlia e do roado (ou o que sobrou dele com a estiagem), o xodo rural, a

    saudade, a dificuldade de adaptar-se na cidade grande, a humilhao e a vergonha do flagelado

    por no ter trabalho e ser forado a viver de esmola. Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto

    Teixeira, 1947), Meu Padrim (F. Marcelino,1960), Testamento de Caboclo (R. Bittancourt e

    R. Sampaio,1947), Vozes da Seca (Luiz Gonzaga e Z Dantas, 1953), Baio Agrrio (Luiz

    Gonzaga, 1989), Aquarela Nordestina (Rosil Cavalcante e Maria das Neves Coura Cavalcante,

    1989), Cabra da Peste (Jurandi da Feira, 1955), No meu P de Serra (Luiz Gonzaga e

    Humberto Teixeira,1946), Canto do Povo (Luiz Gonzaga, 1983), A Triste Partida (Patativa do

    Assar , 1964), Documento de Matuto (Paulo Patrcio, 1964 ), Xote Ecolgico (Luiz Gonzaga

    e Aguinaldo Batista, 1989)4 so composies que descrevem o cenrio nordestino. Poderia

    multiplicar exemplos tirados desse universo, mas os versos de Asa Branca (Luiz Gonzaga e

    Humberto Teixeira, 1947) ilustram as tristezas, esperanas e alegrias do sertanejo:

    Quando oiei a terra ardendo / Qu fogueira de So Joo / Eu

    perguntei a Deus do Cu, ai / Pru que tamanha judiao / Qui braseiro,

    qui fornia / Nem um p de prantao / Pru farta d`agua, perdi meu

    gado / Morreu de sede meu alazo / Int mesmo a asa branca / Bateu

    4Para no me estender, apresento a seguir trechos de algumas msicas para o leitor acompanhar meus argumentos. So elas: Meu Padrim (F. Marcelino,1960) Ai meu Padrim / Meu Padrim Frei Damio / Ai meu Padrim / Me d sua beno () No Nordeste, quando h seca / Ningum aguenta viver / Sofre o pobre, sofre o rico / E o cu nada de chover / O caboclo nordestino / Tem um grande corao / Deixa a roa, deixa tudo / () Meu Padrim como triste / Ver morrer tantos anjinhos / Ai, comendo o xique-xique / No aguentaram, os pobrezinhos (); Testamento de Caboclo (R. Bittancourt; R. Sampaio,1947) Posso morrer / Mas desta vida no me queixo / E na toada vou dizer tudo que deixo / Deixo o roado / Bonitinho e bem cuidado / Uma galinha / Com pintinho no cercado / Deixo o riacho() Maiores informaes no SITE OFICIAL LUIZ LUA GONZAGA. Disponvel em: . Acesso em: 12 de dezembro de 2013.

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    asas do serto / Entonce eu disse adeus, Rosinha / Guarda contigo

    meu corao / Hoje longe muitas lguas / Numa triste solido / Espero

    a chuva cair de novo / Pra mim vort pro meu serto / Quando o verde

    dos teus io / Se espai na prantao / Eu te asseguro, num chore

    no, viu? Qui eu vortarei, viu? Meu corao5 (GONZAGA; TEIXEIRA,

    1947. In. SITE OFICIAL LUIZ LUA GONZAGA, 2013).

    Mas nem s de seca e tristeza vive o nordeste. Se o inverno for bom, logo que surgem

    os primeiros sinais de chuva, l estar a fartura no serto e na mesa do sertanejo, assim

    expressam os versos de Boiadeiro (Klcius Caldas, 1950), Acordo s Quatro (Marcondes

    Costa, 1979), Algodo (Z Dantas e Luiz Gonzaga, 1953) e Caboclo Nordestino (Jos

    Marcolino, 1963)6. O verde do roado predomina nas pastagens e movimenta as feiras, como,

    por exemplo, A Feira de Caruaru (Onildo Almeida, 1957):

    A Feira de Caruaru / Faz gosto a gente v / De tudo que h no

    mundo / Nela tem pra vend / Na feira de Caruaru / Tem massa de

    mandioca / Batata assada, tem ovo cru / Banana, laranja, manga /

    Batata, doce, queijo e caju / Cenoura, jabuticaba / Guin, galinha,

    pato e peru / Tem bode, carneiro, porco / Se duvid... int cururu / Tem

    cesto, balaio, corda / Tamanco, gria, tem cui-tatu /Tem fumo, tem

    tabaqueiro / Feito de chifre de boi zebu / Caneco acuvitro / Penra

    boa e m de uru / Tem cara de arvorada / Que pra matuto no

    and nu / Tem rde, tem balieira / Mode minino ca nambu / Maxixe,

    cebola verde / Tomate, cuento, couve e chuchu / Armoo feito nas

    cordas / Piro mixido que nem angu / Mubia de tamburte / Feita do

    tronco do mulungu / Tem louia, tem ferro vio / Sorvete de raspa

    que faz jau / Gelada, cardo de cana / Fruta de paima e mandacaru /

    Bunecos de Vitalino / Que so cunhecidos int no Sul / De tudo que

    h no mundo / Tem na Feira de Caruaru (ALMEIDA, 1957. In. SITE

    OFICIAL LUIZ LUA GONZAGA, 2013).5Destaco que respeitei a grafia tal qual foi registrada e cantada na voz de Luiz Gonzaga.6Para exemplificar, ilustro com trecho da msica O Boiadeiro, de Klcius Caldas e Armando Cavalcanti (1950) Vai boiadeiro que a noite j vem / Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem / De manhazinha quando eu sigo pela estrada / Minha boiada pra invernada eu vou levar / Quando as cabea muito pouco quase nada mas no tem outras mais bonitas no lugar () Disponvel em: . Acesso em: 12 de dezembro de 2013.

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    Comemorar a safra do milho, pequi, algodo, feijo, mandioca, entre outras, significa

    comemorar comida na mesa, fartura na alimentao, alm do dinheiro extra que ajuda no

    sustento da famlia. Como se pode depreender, h uma estreita relao entre colheita, festa,

    lazer e criao de espaos de sociabilidade.

    Neste contexto, as comemoraes de Santo Antnio, So Joo e So Pedro, as chamadas

    festas juninas, tm o milho como smbolo e ponto central no preparo de vrias comidas de

    festa, como, por exemplo, a canjica, pamonha, milho assado e cozido, cuscuz, mungunz,

    mingau, bolo de milho e, inclusive, o xerm, comida para os animais. Esses alimentos esto

    retratados nos versos poticos das canes Pnero Xerm (Luiz Gonzaga e M. Lima, 1945),

    Vitria de Santo Anto (Elias Soares e Pilombeta, 1968), So Joo Antigo (Z Dantas e Luiz

    Gonzaga, 1957), So Joo Chegou (Marisa P. Coelho e Luiz Gonzaga, 1953), So Joo

    do Carneirinho (Luiz Gonzaga e Guio de Morais, 1952), So Joo na Roa (Luiz Gonzaga

    e Z Dantas, 1952), A festa do Milho (Rosil Cavalcanti, 1963), So Joo nas Capit (Luiz

    Gonzaga e Lus Ramalho, 1976), So Joo no Arraia (Z Dantas, 1957), So Joo Sem

    Futrica (Joo Silva e Z Moc, 1984), A Noite de So Joo (Antnio Barros, 1970), Dia de

    So Joo (Rildo Hora, 1971), Festa de Santo Antnio (Alcymar Monteiro e Joo Paulo Jr.,

    1987), Madruceu o Milho (Sebastio Rodrigues e Joo Silva, 1968), Festa no Cu (Zeca do

    Pandeiro e Edgar Nunes, 1958), Pedido a So Joo (Jos Marcolino, 1963)7. Entre os vrios

    exemplos aqui citados, destaco a letra da msica: A festa do Milho (Rosil Cavalcanti, 1963)

    para que se tenha clareza da presena do milho na significativa produo musical do artista:

    No dia de Santo Antnio / J tem fogueira queimando / O milho

    j est maduro / Na palha vai se assando / No So Joo e So Pedro

    / A festa de maior brilho / Porque pamonha e canjica / Completam a

    festa do milho (GONZAGA; CAVALCANTI, 1963. In. SITE OFICIAL

    LUIZ LUA GONZAGA, 2013).

    Entender a presena do milho no sistema culinrio do nordeste compreender a

    7Entre tantas msicas, exemplifico a questo com trecho da msica Pnero Xerm, de Luiz Gonzaga e M. Lima (1945): i pisa o milho, pener xerm / i pisa o milho, pener xerm / Eu num vou criar galinha / Pra dar pinto pra ningum / Na minha terra / D de tudo que plantar / O Brasil d tanta coisa / Que eu num posso decorar / Dona Chiquinha / Bote o milho pra pilar / Pro angu, pra canjiquinha / Pro xerm, pro munguz () Disponvel em: . Acesso em: 12 de dezembro de 2013.

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    formao agroalimentar que abrange desde o plantio ao consumo. E mais, preciso considerar

    que tal percurso tambm revela a identidade do povo, por ser um veculo de manifestao

    e reafirmao da matria-prima, do imaginrio da culinria, das crenas e dos mitos, da

    criatividade do preparo tal como o saber e o sabor de determinadas comidas da regio. E

    Luiz Gonzaga registra a comida e a identidade nordestina, pois tanto a relao com os pratos

    tradicionais quanto seus significados so construes coletivas e constitutivas da cultura de

    uma regio.

    O sanfoneiro de Exu brinca com o milho, o xerm e o pilo8, alm de encontrar outras

    referncias no somente da produo agrcola, mas tambm da criao de pequenos animais

    domsticos, como na msica Acordo s Quatro, composta por Marcondes Costa, em 19799:

    (...)Tenho as mias / Carneiro, porco e galinha / Tenho int uma vaquinha / Que a mui vve

    a cuidar.

    Alm do milho, destaco tambm a cana-de-acar, presente desde o Brasil Colnia.

    Cultivada nos canaviais, tornou-se destaque na histria, na cultura e na economia brasileira,

    particularmente na nordestina. Em Cana, S de Pernambuco (Luiz Gonzaga e Victor Simon,

    1954), Luiz Gonzaga retrata, pelas comidas e bebidas que conheceu em suas viagens, o gosto

    pela cana pernambucana. Eis um trecho da msica:

    Eu sou do Norte / Rumei para So Paulo / Fui mudar de sorte /

    Com o fole na mo / Comi de tudo / Comida italiana / Bife parmegiana

    / Canelo de macarro / Provei tambm / A tal da passarela / Bebi da

    caipirinha / E vinho de garrafo / Mas eu confesso / No por ser de

    l / Cana pernambucana / a maior, meu irmo / Oxente! / Quando

    falo, no retruco / Oxente! / Quando falo, no retruco / Oxente! / Cana

    s de Pernambuco (GONZAGA; SIMON, 1954. In. SITE OFICIAL LUIZ

    LUA GONZAGA, 2013).

    A inventividade do artista est nos versos e na melodia, e ainda possvel extrair a

    relao do paladar com as emoes, ou seja, a sensao gustativa do homem transborda a

    informao para chegar pela emoo, o caso da msica Qui nem Jil, de Luiz Gonzaga e 8Utenslio culinrio usado para pisar o milho, caf, etc. Outras msicas nas quais Luiz Gonzaga registra a presena desse artefato na cozinha nordestina podem ser encontradas nas canes Cintura Fina e Pisa no Pilo, de composio de Jos Dantas de Sousa Filho. Para consultar as letras da msica, ver o site oficial do msico: Luiz Lua Gonzaga, disponvel em: .9Segue trecho da msica: Tenho as mias / Carneiro, porco e galinha / Tenho int uma vaquinha / Que a mui vve a cuidar (composio de Marcondes Costa, 1979). Disponvel em: . Acesso em: 12 de dezembro de 2013.

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    Humberto Teixeira, no ano de 195010; em seus versos est a comparao da saudade com o

    gosto amargo do jil.

    As plantas medicinais, crenas e mitos alimentares tambm esto representados em

    Ch Cutuba (Humberto Teixeira, 1977), Capim Novo (Luiz Gonzaga e Jos Clementino,

    1976), Ovo de Codorna (Severino Ramos, 1971), Aroeira (Barbosa Lessa, 1961) e Quero

    Ch (Luiz Gonzaga e Jos Marcolino, 1965)11.

    O Rei do Baio registra ainda a presena e a ausncia dos alimentos complementares

    s refeies, como, por exemplo, o acar, a banha, a manteiga, conforme consta na msica

    Feijo cum Cve, tal qual seus versos:

    Ai que ser? / Tenho prantado / Muita cve no quint / Ai o que

    ser? / Feijo com cve / Que talento pode d? / Cad a banha? / Pra

    panela refog / Cad acar? / Pro caf aucar / Cad manteiga? /

    Leite e po / Onde que t? / Cad o lombo? / Cad carne de jab?

    / J tou cansado / De escut o doutor fal / Que quarqu dia / As

    coisas tm que melhor / Sem alimento / Num se pode trabai / Por

    que ser? / Feijo com cve / Que talento pode d? (GONZAGA;

    PORTELLA, 1946. In. SITE OFICIAL LUIZ LUA GONZAGA, 2013).

    A questo de gnero tambm abordada no repertrio musical do artista pernambucano.

    Em um nordeste com caractersticas, predominantemente, machista e paternalista, Luiz

    Gonzaga revela o papel da mulher e do homem na cozinha, considerada, para alguns, espao

    das tarefas femininas. Tal questo tratada na msica Baio de Dois:

    Capito, que moda essa, deixe a tripa e a cui / Home no vai

    na cozinha, que lug s de mulh / V junt feijo de corda, numa

    panela de arroz / Capito, vai j pra sala, que hoje tem baio de dois

    / Ai, ai, ai, baio, que bom tu sois / Se o baio bom sozinho, que 10Que nem Jil, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, no ano de 1950. Segue um pequeno trecho da obra: Saudade, entonce, a ruim / Eu tiro isso por mim / Que vivo doido a sofrer / Ai quem me dera voltar / Pros braos do meu xod / Saudade assim faz roer / E amarga qui nem jil / Mas ningum pode dizer / Que me viu triste a chorar / Saudade, o meu remdio cantar. Disponvel em: . Acesso em: 12 de dezembro de 2013.11Segue um trecho da letra de Ch Cutuba, de Humberto Teixeira (1977) Sandoval! / Que ch esse que tu bebe? / ch pobre, ch do norte, ch cutuba / De raiz de cabriva e catol / Com caroba, piqui doce e macaba / Que porrete, dor de quengo e mo de r. Outros exemplos: Capim Novo (Luiz Gonzaga e Jos Clementino, 1976) e Quero Ch (Luiz Gonzaga e Jos Marcolino, 1965) esto disponveis em: . Acesso em: 12 de dezembro de 2013.

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    dir baio de dois / Se o baio bom sozinho, que dir baio de dois

    / Ai, ai, baio de dois, ai, ai, baio de dois (GONZAGA; TEIXEIRA,

    1977. In. SITE OFICIAL LUIZ LUA GONZAGA, 2013).

    Partindo, ento, das msicas do artista e considerando seu repertrio como documento

    histrico, a cano de Luiz Gonzaga uma inesgotvel fonte para conhecer o de comer do

    nordestino, desde o seu modo de preparar ao saber-fazer, a exemplo da tripa, do feijo de

    corda, do baio de dois, entre outras comidas tradicionais nordestinas.

    E mais: pela via musical, possvel apreender as festas tradicionais, o calendrio

    alimentar do nordestino, a felicidade da fartura mesa, os castigos da seca, as mudanas

    alimentares no transcorrer da histria, a comensalidade compartilhada com a famlia e amigos,

    as pequenas criaes de animais domsticos e as plantaes agrcolas, a cozinha e o papel

    entre os gneros, as iguarias do cotidiano e dos dias festivos e os utenslios no preparo da

    comida, enfim, todas essas prticas alimentares esto presentes no manancial artstico desse

    sanfoneiro.

    Comer arroz com pequi, feijo com rapadura, farinha do cariri, acar e

    buriti: os alimentos tradicionais do cariri nas msicas de luiz gonzaga

    Em sua trajetria, tanto de vida como artstica, Luiz Gonzaga cantou a regio do Cariri12,

    localizada ao sul do estado do Cear, na Chapada do Araripe. Deve-se s abundantes guas

    que jorram das fontes, tambm chamadas de nascentes, o surgimento das cidades ao sul

    do Cear; em funo disso, a regio prosperou sendo o Osis no Serto. A regio do Cariri

    tambm conhecida pelo comrcio, pela religio, pelo fluxo de penitentes, romarias, e pelas

    bnos de Padre Ccero Romo Batista (1844 1934), em Juazeiro do Norte, carinhosamente

    chamado de Padim Cio, como tambm pelo exemplo de Frei Damio (1898 1997).

    Assim, alm das belezas naturais, a economia e os stios arqueolgicos, a riqueza da

    regio est tambm na alimentao apreciada, composta por pequi, mungunz, sequilhos,

    tapioca, baio de dois, filhoses, broas, bolo de milho, bolo de puba, p de moleque, fub,

    pamonha, canjica, farinha, etc., comidas que so favorecidas pelas prticas agrcolas do local.12A palavra originria dos ndios Kariris, significa tristonho, calado, silencioso (PINHEIRO, 2011). O Vale do Cariri est situado na regio do Araripe, e possui a segunda maior concentrao populacional do Cear, com 577 mil habitantes (7,1% da populao total).

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    Revista Contextos da Alimentao Vol. 3 no 1 - dezembro de 2014

    E foi em 1930 que Luiz de Janurio, como era conhecido na infncia, fugiu da casa dos

    pais em Exu, municpio de Pernambuco, e foi ao Crato, no Cear, caminhando a p cerca de

    65 quilmetros. L o jovem sanfoneiro vendeu sua sanfona por 80.000 ris em uma feira e foi a

    Fortaleza alistar-se no Exrcito. Anos mais tarde, o msico cantou a f de Juazeiro, os costumes

    e a cultura do Cariri nas seguintes msicas: Meu Araripe (Joo Silva e Luiz Gonzaga, 1968),

    De Juazeiro a Crato (Luiz Gonzaga e Julinho, 1968), Juazeiro (Luiz Gonzaga e Humberto

    Teixeira, 1949), Viva Meu Padim (Luiz Gonzaga e Joo Silva, 1986)13 e ltimo Pau de Arara

    (Luiz Gonzaga e Guio de Morais, 1952), msica a qual apresento alguns versos adiante:

    A vida aqui s ruim quando no chove no cho / mas se

    chover d de tudo fartura tem de monto / tomara que chova logo,

    tomara, meu Deus, tomara / s deixo o meu Cariri no ltimo pau de

    arara \ Enquanto a minha vaquinha tiver o couro e o osso / e puder

    com o chocalho pendurado no pescoo / eu vou ficando por aqui, que

    Deus do cu me ajude / quem sai da terra natal em outros cantos

    no para / s deixo o meu Cariri no ltimo pau de arara (GONZAGA;

    MORAIS, 1952. In. SITE OFICIAL LUIZ LUA GONZAGA, 2013).

    Gonzago apresenta a cidade, inclusive, o msico esteve presente em muitas aberturas

    da Exposio Agropecuria do Crato EXPOCRATO, uma festa tradicional que importante ao

    desenvolvimento do agronegcio na regio. Criada em 1944 pelo ento prefeito Pedro Felcio

    Cavalcante (1905-1991), a feira movimenta a economia e dinamiza a cultura.

    A msica que apresenta o municpio do Crato conhecida por Eu vou pro Crato e est

    no disco Pisa no Pilo: Festa do Milho, lanado no ano de 1963. Nos versos da cano que

    comps com seu parceiro Jos Jata, esto os personagens, lugares e, principalmente, os

    alimentos caractersticos da regio, quais sejam: arroz com pequi, feijo com rapadura, farinha,

    acar e buriti. Diz a letra:

    Eu vou pro Crato / Vou matar minha saudade / Ver minha

    morena / Reviver nossa amizade / Eu vou pro Crato / Tomar banho na

    nascente / Na subida do lameiro / Tomo uns tragos de aguardente /

    13Meu Araripe, de Joo Silva e Luiz Gonzaga (1968) Meu Araripe, meu relicrio / Eu vim aqui rever meu p de serra / Beijar a minha terra / Festejar seu centenrio / Sejam bem-vindos / Os filhos de Janurio / Pro centenrio do Araripe festejar / E a nossa festa / No vai ser de candeia / J tem luz que alumeia / Que os homem mandou dar. Outros exemplos so: De Juazeiro a Crato (Luiz Gonzaga e Julinho, 1968), Juazeiro (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1949), Viva Meu Padim (Luiz Gonzaga e Joo Silva, 1986). Disponvel em: . Acesso em: 12 de dezembro de 2013.

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    Eu vou pro Crato / Comer arroz com piqui / Feijo com rapadura /

    Farinha do Cariri / Eu vou pro Crato / Vou matar minha saudade / Ver

    minha morena / Reviver nossa amizade / Eu vou pro Crato / Pois a

    coisa melhorou / A luz de Paulo Afonso / Cariri valorizou / Eu vou pro

    Crato / J no fico mais aqui / Cratinho de acar / Corao do Cariri

    / Eu vou pro Crato / Vou matar minha saudade / Ver minha morena

    / Reviver nossa amizade / Eu vou pro Crato / Vou pra casa de Seu

    Pedro / Seu Felcio vio macho / Tou com Pedro, tou sem medo /

    Eu vou pro Crato / Vou viver no Cariri / Cratinho de acar / Tijolo de

    buriti.

    Falado: ! O caminho de acar! O cratinho doce! Cratinho

    terra boa! Todo mundo quer ir pra l... Eh! Eh! Mas ningum quer

    ir pro hot... todo mundo que se arrumar na casa de um parente.

    Um diz que vai pra casa do Alencar... Ah! Ah! Outro diz que vai pra

    casa do parente. Outro diz que vai pra casa de Seu Pedro... ...

    mas eu num gosto muito disso, no! S se fizerem como eu, n? Eu

    quando vou me hospedar na casa de um parente, eu levo um saco de

    farinha, levo um bode seco, uma dzia de abacaxi, um capozinho,

    um saco de piqui, uma cachacinha boa... Ah! Ah! Faa como eu, viu?

    O parente fica satisfeito. Depois voc pode dizer que o Cratinho de

    acar... Pode passear... pode se divertir no Crato, mas faa como

    eu...Ah! ah! (GONZAGA; JATA, 1963. In. SITE OFICIAL LUIZ LUA

    GONZAGA, 2013).

    Assim, existe um conjunto de alimentos tradicionalmente produzidos e consumidos pela

    populao local, dentre os quais o pequi, a mandioca, o milho, entre outros, que so usados

    como tempero para o arroz, o feijo e a pequizada. Nessa direo, pode-se pensar a cozinha (e

    a culinria) como um vetor de comunicao, um cdigo complexo que permite compreender os

    mecanismos da sociedade a qual pertence, da qual emerge e qual lhe d sentido (MACIEL,

    2004, p. 26).

    Outro alimento citado na msica do Gonzago o buriti, tambm conhecida como

    coqueiro-buriti, buritizeiro, miriti, muriti, muritim, muruti, palmeira-dos-brejos, carand-guau.

    O buriti (Mauritia flexuosa) uma das mais singulares palmeiras do Brasil. Consumido

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    Revista Contextos da Alimentao Vol. 3 no 1 - dezembro de 2014

    tradicionalmente ao natural, o fruto do buriti pode ser transformado em doces, sucos, licores e

    sobremesas.

    Pelo contexto da poca, a msica de Luiz Gonzaga conta tambm a mudana ocorrida

    na produo de alguns exemplos de ontem e de hoje no Cariri. A regio ficou famosa pelos

    engenhos de cana-de-acar na produo da rapadura e cachaa desde os meados do sculo

    XVIII14.

    Apreciada no paladar do sertanejo, a rapadura pode ser saboreada como sobremesa e

    ainda pode adoar o caf e o alu. No entanto, por ocasio da pesquisa Prticas Alimentares

    Nordestinas: Estudo sobre Alimentos Tradicionais dos Estados do Cear e Piau15, a Empresa

    de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Cear EMATERCE informou que no existe

    mais engenho no Crato para a fabricao da rapadura por essa estar voltada apenas para os

    alambiques na produo da cachaa. A produo da rapadura, porm, ainda forte em Barbalha

    e Misso Velha, cidades distantes de 20km e 40km do municpio do Crato. Informao ratificada

    pelo Sindicato dos Agricultores do Municpio. Realidade cantada na voz de Luiz Gonzaga, na

    msica Engenho Massangana, composio de Capiba, 1978.

    Devido ao perigo do desmatamento, a cultura da mandioca tambm est em queda no

    Cariri. Com razes indgenas, o conhecimento tem sobrevivido por meio de seu repasse entre

    as geraes. da mandioca que sai a goma, a farinha, o beiju, a tapioca e os bolos, que so

    muito apreciados pela regio. A transformao da mandioca para o produto final acontece nas

    Casas de Farinha, e esse processo que compreende desde a colheita da mandioca, ralao,

    prensa e secagem nos fornos chamado de farinhada. Este momento marcado por um rduo

    trabalho, mas tambm um momento de socializao por haver o encontro com vizinhos, de

    geraes e de casais, surgindo da alguns namoricos. Eis os versos da msica Farinhada, de

    composio de Z Dantas, 1982:

    Tava na poeira / Eu tava peneirando / Eu tava no namoro / Eu

    tava namorando / Na farinhada / L na serra do Teixeira / Namorei uma

    cabocla / Nunca vi to feiticeira / A meninada / Descascava a macaxeira /

    Z Migu no caititu / E eu e ela na poeira / O vento dava / Sacudida

    a cabeleira / Levantava a saia dela / No balano da peneira / Fechei

    14FIGUEIREDO, Antnio Jos de Oliveira. Engenhos de rapadura do Cariri: trabalho e cotidiano 1790-1850. Associao Nacional de Histria-ANPUH\Ncleo Regional de Pernambuco. Memria e Histria. V Encontro Nordestino de Histria. V Encontro Estadual de Histria. Recife, UFPE, 10 a 15 de outubro de 2004.15Projeto coordenado pelo Prof. Jos Arimatea Barros Bezerra e financiado pelo CNPq.

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    os ios / E o vento foi soprando / Quando deu um redemoinho / Sem

    querer tava espiando / De madrugada / Ns fiqumo ali sozinho /

    O pai dela soube disso / Deu de perna no caminho / Chegando l /

    At riu da brincadeira / Ns estava namorando / Eu e ela na poeira

    (GONZAGA; DANTAS, 1982 In. SITE OFICIAL LUIZ LUA GONZAGA,

    2013).

    No h festa sem comida. Alm dos engenhos e da farinhada como espaos de troca

    de saberes e lazeres, no podemos esquecer a Festa do Pequi. O centro da ateno o fruto

    colhido pelos catadores, que partilham a comida com os amigos e familiares. Neste sentido,

    a alimentao o cerne da estrutura social e as prticas de sociabilidade manifestadas nas

    festas regionais, tais como: Festa do Pequi, Festa do Fub, Farinhada, Festa da Mandioca,

    EXPOCRATO, Berro Cariri, Festas Juninas, Festa do Peixe (Potengi) e a Festa de Renovao,

    s para exemplificar as mais conhecidas.

    E, se ainda tiver um bom inverno, colhe-se no serto sapoti, jaboticaba, mangaba,

    maracuj, caj, manga, murici, cana caiana, ju, graviola, umbu, pitomba, araticum, ara, tal

    qual expressa a msica Frutos da Terra16, cantada por Gonzaga e composta por Jurandy da

    Feira.

    Concluso

    Nos versos de Luiz Gonzaga est o retrato das prticas alimentares do Cariri e

    do Nordeste. As msicas do sanfoneiro so fontes de reflexo. Neste trabalho, enfoquei a

    alimentao do nordeste, principalmente do Cariri.

    Alm das belezas naturais, da economia e dos stios arqueolgicos, a riqueza da regio

    est tambm na alimentao, conhecida pelo pequi, mungunz, sequilhos, tapioca, baio de

    dois, filhs, broas, bolo de milho, bolo de puba, p de moleque, fub, pamonha, canjica, farinha,

    etc., e as frutas provenientes da agricultura do local. Assim, podemos dizer que os alimentos

    citados representam o patrimnio imaterial e representam as prticas alimentares do nordeste

    e, particularmente, do Cariri cearense.

    Nesse sentido, a relevncia deste texto est em revisitar a obra de Luiz Gonzaga como

    fonte para o estudo da alimentao e da divulgao alimentar do nordeste nas dcadas de 16Frutos da Terra, cantada por Gonzaga e composio de Jurandy da Feira. Segue um pequeno trecho para ilustrao: Esta terra d de tudo / Que se possa imaginar / Sapoti, jaboticaba / Mangaba, maracuj / Caj, manga, murici / Cana caiana, ju / Graviola, umbu, pitomba / Araticum, ara. Disponvel em: . Acesso em: 12 de dezembro de 2013.

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    Recebido em 23/02/14

    Aceito em 16/12/14