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ANO VI - Nº 33/2009 SUÍNOS&CIA - REVISTA TÉCNICA DA SUINOCULTURA

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ANO VI - Nº 33/2009SUÍNOS&CIA-REVISTATÉCNICADASUINOCULTURA As editoras 22 Sanidade Protocolo de biossegurança para prevenção da disseminação do vírus da Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína (PRRS). 62 Recursos Humanos A Lei do Caminhão do Lixo... 63 Dicas de Manejo Como concluir o diagnóstico clínico e laboratorial de PCV-2 em granjas de suínos. 22 Sanidade 32 Sanidade 62 Recursos Humanos 63 Dicas de Manejo 06 Entrevista 10 Reprodução 66 Divirta-se 56 Sumários de Pesquisa 56 Sumários de Pesquisa

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Na atual edição, se pode contemplar as tecnologias utilizadas reprodução suína. O interesse pelo desenvolvimento

e a incorporação de novas tecnologias, denominadas Tecnologias de Reprodução Assistida (TRA), têm crescido

dentro dos sistemas de produção. Entre as TRA, se pode destacar a inseminação intra-uterina, o congelamento e a sexagem de sêmen como também os resultados e os efeitos dessas TRA

sobre a gestão dos Centros de Inseminação Artificial de Suínos.

Na entrevista se pode conferir os detalhes e os bastidores da ultima ABRAVES (14º Congresso) realizado em Uberlândia MG. Na editoria Sanidade, se destaca informações sobre atualidade da PRRS (Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína), uma das principais doenças presentes no mundo que devido ao seu impacto econômico que custa aproximadamente, US$ 560 milhões anuais para a suinocultura norte-americana se encontra em planos e estagio de erradicação. Para completar a editoria de sanidade uma completa revisão de PCVAD, doença associada ao circovírus suíno tipo 2 presente nas maiorias das granjas de suínos produzindo elevadas perdas econômicas. O Sumario de Pesquisa traz referencias sobre o M. hyopneumoniae (Mh), demonstrando ser possível eliminá-lo com sucesso em uma granja de 575 matrizes com produção de dois sítios.

A revista se completa com as tradicionais seções Divirta-se, Jogo dos 7 Erros e a Dica de Manejo.

Para finalizar agradecemos a parceria dos nossos patrocinadores e leitores durante todo esse ano e desejamos um Feliz 2010. Boa leitura

As editoras

Editorial

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Índice

06 Entrevista

10 Reprodução

22 Sanidade

32 Sanidade

56 Sumários de Pesquisa

62 Recursos Humanos

63 Dicas de Manejo

66 Divirta-se

06 Entrevista Fernanda Almeida

10 Reprodução Novas Tecnologias em Reprodução Suína

22 Sanidade Protocolo de biossegurança para prevenção da disseminação do vírus da Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína (PRRS).

32 Sanidade Doença associada ao PCV-2: Atualização à terminologia, manifestações clínicas, patogenia, diagnóstico e estratégias de intervenção

56 Sumários de Pesquisa

62 Recursos Humanos A Lei do Caminhão do Lixo...

63 Dicas de Manejo Como concluir o diagnóstico clínico e laboratorial de PCV-2 em granjas de suínos.

66 Divirta-se Jogo dos 7 erros Encontre as palavras Caso Clínico Teste seus conhecimentos

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Expediente

Revista Técnica da Suinocultura

A Revista Suínos&Cia é destinada a médicos- veterinário, zootecnistas, produtores e

demais profi ssionais que atuam na área de suinocultura. Contém artigos técnico-científi cos

e editorias instrutivas, apresentados por especialistas do Brasil e do mundo.

Editora TécnicaMaria Nazaré Lisboa

CRMV-SP 03906

Consultoria TécnicaAdriana Cássia Pereira

CRMV - SP 18.577

Deborah Gerda de GeusCRMV - SP 22.464

Edison de AlmeidaCRMV - SP 3045

Jornalista ResponsávelPaulo Viarti

MTB.: 26.493

Projeto Gráfi co e EditoraçãoT2D Comunicaçã[email protected]

IlustraçõesRoque de Ávila Júnior

Departamento CormercialKellilucy da Silva

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Atendimento ao ClienteAdriana Cássia Pereira

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Assinaturas AnuaisBrasil: R$ 120,00

Exterior: R$ 160,00Liria Santos

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ImpressãoSilvamarts

Administração, Redação e PublicaçãoRua Felipe dos Santos, 50

Jardim GuanabaraCEP 13073-270 - Campinas - SP

Tels.: (19) 3243-8868 / [email protected]

www.suinosecia.com.br

A reprodução parcial ou total de reportagens e artigos será permitida apenas com a

autorização por escrito dos editores.

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Destaque:Fernanda Almeida

Fernanda Almeida é apaixonada pela medicina-veterinária, área que ingressou ofi cialmente, em 1985 na Universidade Federal de Minas

Gerais. Realizou seu doutorado no Canadá em Ciência Animal. No último ano do curso de graduação, encantou-se pela área de reprodução de suínos e, recentemente, como presidente da Abraves (Associação Brasileira de Veterinários Especialistas em Suínos), participou ativamente da organização do 14º Congresso da entidade. Casada e mãe de dois fi lhos concilia a vida familiar a profi ssional procurando estar sempre atualizada na profi ssão, seja como pesquisadora ou professora. Para Dra. Fernanda, descobrir os segredos da área de produção animal é motivador, e o contato direto com os alunos, muito gratifi cante, em virtude da constante troca de conhecimento.

Destaca que no campo de pesquisas, o Brasil tem excelentes profi ssionais, mas o que difere em relação a outros países, como o Canadá, são as oportunidades oferecidas pelo próprio governo para o desenvolvimento dessa atividade.

Na entrevista, Dra. Fernanda Almeida fala sobre o 14º Congresso da Abraves, de sua trajetória no Canadá, das pesquisas na área de suinocultura e de sua maior realização profi ssional, que é deixar um legado para a Ciência Animal.

Suínos&Cia: Como foi ser presidente da Abraves?

Dra. Fernanda: Ser presidente da Abraves foi uma grande honra e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade. Procurei exercer o cargo com muita seriedade, respeito, honestidade e ética, características essas que valorizo imensamente. Como presidente da Abraves, coube a mim a função de auxiliar na organi-zação do 14º Congresso. Não foi uma tarefa nada fácil, afi nal, se trata de um dos mais importantes eventos da Suinocultura Nacional e o mais ansiosamente esperado pelos profi ssionais da área. Portanto, uma imensa responsabilidade. Além disso, havia de se manter o alto nível do 13º Congresso, realizado pela Abraves Santa Catarina. Dessa forma, teríamos que manter esse mesmo nível no 14º Congresso. Para tal, minha primeira investida foi trabalhar muito na di-vulgação do evento. E assim foi feito. Estive presente nos principais eventos da suinocultura em todo o país, levando banners, folders e fazendo apresenta-ções nos intervalos, quando possível. Neste sentido, também contei com o apoio dos demais colegas da Comissão Organizadora, que muito se empenha-ram na divulgação do 14º Congresso. Além disso, fi zemos inúmeras reuniões, juntamente com a equipe do CBRA (Colégio Brasileiro de Reprodução Animal), procurando criar estratégias para abordar e contornar os problemas que poderiam surgir du-rante o evento. Enfi m, pensamos em cada detalhe do evento como um todo para que tudo pudesse sair perfeito. É óbvio que seria praticamente impos-sível alcançar a perfeição, mas fi zemos o possível para tentar alcançá-la. Considero que a parceria com o CBRA foi fundamental para isso. A minha maior realização como presidente da Abraves foi receber os cumprimentos de participantes do evento dizen-do: “Foi tudo um sucesso!” Isso prova que consegui cumprir minha missão com louvor.

Suínos&Cia: Como se sente depois de concluída a tarefa de ter realizado o 14º Congresso da Abraves?

Dra. Fernanda: Após a realização do 14º Congres-so da Abraves, sinto-me honrada e orgulhosa de ter or-ganizado um evento de tamanha magnitude. Portanto, quando há dedicação, concentração, responsabilidade e garra, o indivíduo é capaz de ultrapassar seus próprios limites. É assim que me sinto hoje: muito, muito feliz e

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Entrevista

Suínos & Cia Ano VI - nº 33/2009

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Entrevista

realizada. Vejo que tudo valeu a pena, as noites passadas em claro, almoços esquecidos, todas aquelas reuniões cansativas e a pressão sofrida naquele período. Valeu à pena e seria capaz de fazê-lo novamente se fosse preciso.

Suínos&Cia: Conseguiu atingir toda sua expectativa?

Dra. Fernanda: Sim, consegui atingir as minhas expectativas. Os elo-gios recebidos demonstraram que o meu objetivo foi alcançado: fazer um evento no qual os participantes pu-dessem reciclar seus conhecimentos e ter a oportunidade de confraternizar. Afinal, a confraternização também é uma importante ferramenta para tornar a assimilação de novos conhe-cimentos ainda mais agradável.

Suínos&Cia: Qual a sua mensa-gem para o próximo presidente da Abra-ves?

Dra. Fernanda: Eu desejo ao colega José Nailton Bezerra que o 15º

Congresso seja de grande êxito e me coloco à disposição dos colegas da Abraves Ceará para auxiliá-los no que for preciso.

Suínos&Cia: Entre os temas abor-dados, qual o que lhe chamou mais a atenção?

Dra. Fernanda: Como Coorde-nadora da Comissão Científica, sugeri temas de algumas seções de minha área de conhecimento, bem como nomes de alguns palestrantes. En-tretanto, o tema que mais chamou a minha atenção foi “Gestão da Prolifi-cidade”, do Pré-Congresso. Este tema é de grande interesse para os profis-sionais da suinocultura tanto nacional quanto internacional, em função de a moderna fêmea suína ser geneti-camente melhorada para a produção de um grande número de leitões por leitegada (hiperprolificidade). Assim, os avanços da genética garantiram melhor produtividade no campo por meio do aumento da taxa de ovulação. Contudo, a consequência deste qua-

dro foi um aumento no tamanho das leitegadas, com grande incidência de leitões pequenos ao nascimento, em virtude da capacidade uterina dessas fêmeas não suportarem um grande número de fetos. Os palestrantes fo-ram muito felizes na abordagem do tema, fazendo-a de uma maneira com grande aplicação prática. Este fato chamou a atenção dos participantes e motivou grande discussão do tema, de forma geral.

Suínos&Cia: Qual a informação fornecida dentro do programa técnico/cientifico que merece destaque como ino-vação e que pode ser transferida da pes-quisa para realidade das granjas?

Dra. Fernanda: A programação técnico/científica como um todo trou-xe inovações passíveis de serem trans-feridas para a realidade das granjas. Acredito que os participantes pude-ram aproveitar muito as informações de toda a programação científica, que, certamente, será aplicada na rotina das granjas comerciais.

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Entrevista

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Suínos&Cia: Atualmente, exer-cendo a profissão de médica veterinária na área da educação. Sente-se realizada no que faz ou gostaria de enfrentar ou-tros desafios?

Dra. Fernanda: Trabalhar na área acadêmica é, por si só, um gran-de desafio. Temos de estar atualiza-dos, pois a ciência se renova a cada instante. E fazer ciência não é nada fácil. Desvendar os segredos dos en-traves da área de produção animal é algo encantador e nos estimula a deixar uma marca neste caminho, que, às vezes, torna-se muito tortuoso. Além disso, o contato com os alunos é extremamente gratificante. Na ver-dade, acontece uma troca de conhe-cimentos, a cada ano, aprendo muito com eles e da mesma forma procuro transmitir meus conhecimentos para que eles também aprendam comigo. Definitivamente, estou realizada com o que faço e não trocaria meu traba-lho por nada.

Suínos&Cia: Qual a sua opinião em relação do rumo da pesquisa no Brasil comparado com o Canadá, já que acumula experiência nessa área nos dois países?

Dra. Fernanda: No nosso país, existem pesquisadores de ponta tão bons quanto ou até melhores que os estrangeiros. Entretanto, o que ainda inibe a expressão de todo esse nosso potencial é o apoio financeiro para pesquisa oferecida pelo governo, que ainda é muito limitada. Acredito que essa é a principal diferença entre a pesquisa nacional e a realizada no Ca-nadá, por exemplo. Afinal, competên-cia para desenvolver projetos brilhan-tes nós, brasileiros, temos de sobra.

Suínos&Cia: Como surgiu seu interesse de especialização na área de reprodução suína e por que escolheu o Canadá para realizar seu doutorado?

Dra. Fernanda: Desde o último ano do curso de Medicina-Veterinária encantei-me com a área de reprodu-ção de suínos e procurei direcionar meus estágios de conclusão de curso para esta área. Nesta época comecei a ler os trabalhos do Dr. George Fox-croft, grande pesquisador na área de reprodução de suínos e, definitiva-mente, optei pela área de reprodução. Sempre pensei em fazer o doutorado no exterior, seguindo o exemplo de meu pai. A opção pela Universidade de Alberta veio a calhar muito bem, visto que conheci o Dr. Foxcroft em sua primeira visita ao Brasil, em 1996, e solicitei a ele uma oportunidade para realizar meu doutoramento sob sua supervisão. E assim aconteceu.

Suínos&Cia: Qual a área de pes-quisa que mais lhe desperta interesse?

Dra. Fernanda: Minha linha de pesquisa chama-se “Interações entre nutrição e reprodução”. Essas duas áre-as andam de mãos dadas em todo o sistema de produção animal, ou seja, se uma não está adequada, a outra será severamente prejudicada. Por-tanto, ambas são áreas muito impor-tantes e que ainda têm muitos misté-rios para serem desvendados. Esse é o grande desafio.

Suínos&Cia: O sucesso não ocorre por acaso. Na sua trajetória profissional a quem gostaria de agradecer ?

Dra. Fernanda: Eu agradeço muito aos meus pais, Egladison e Lourdes, pela educação que me de-

ram e pelo estímulo de sempre seguir adiante. Meu pai é meu ídolo e sem-pre procurei me espelhar nele, pois é o exemplo de profissionalismo, ética, honestidade, sem nunca perder a hu-mildade. Agradeço muito também ao meu marido, Leonardo, que nesses 25 anos de convivência sempre foi um grande amigo, companheiro, meu ver-dadeiro cúmplice. Ele sempre me in-centivou e apoiou nas decisões mais importantes. Um exemplo disso foi ter abandonado sua profissão no nos-so país para irmos juntos ao Canadá para que eu fizesse meu doutorado, levando um filho de cinco anos nos braços, Guilherme, e outro na barriga, Gustavo, que nasceu no Canadá cinco meses após a nossa mudança. Final-mente, agradeço imensamente ao Dr. George Foxcroft, por todos esses anos de orientação e convivência, e por ter me ensinado muito do que sei hoje.

Suínos&Cia: Quais suas sugestões para os profissionais que estão iniciando uma carreira acadêmica?

Dra. Fernanda: Para ingressar na carreira acadêmica é preciso gos-tar de ensinar e saber transmitir co-nhecimentos. É preciso gostar de lidar com os alunos e, o mais importante de tudo, gostar de desafios.

Suínos&Cia: Qual sua maior reali-zação profissional?

Dra. Fernanda: Minha maior realização profissional é conseguir deixar um legado para a Ciência Ani-mal e ser eternamente lembrada por isso. Se eu conseguir fazê-lo, durante esses anos de pesquisa que ainda me restam, então sim, eu serei uma pes-soa realizada profissionalmente.

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Entrevista

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Reprodução

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Novas Tecnologias em Reprodução Suína

Rafael Tomás Pallás Alonso Kubus S.A. – Espanha

[email protected]

Introdução

Define-se tecnologia como sendo a ciência aplicada ou o método científico empre-

gado para a obtenção de um objetivo prático1.

A necessidade de se aperfei-çoar ao máximo a produção, assim como de se melhorar a qualidade do produto final, tem impulsionado a pesquisa no campo da reprodução. O interesse pelo desenvolvimento e a incorporação de novas tecnologias, denominadas Tecnologias de Repro-dução Assistida (TRA), têm crescido dentro dos sistemas de produção suína atuais. Como qualquer outra tecnolo-gia, o uso das TRA está condicionado à relação custo-benefício real2.

Entre as TRA, atualmente apli-cáveis na produção de suínos, temos:

1. Congelamento de sêmen, com a finalidade de tornar rentáveis os reprodutores de grande valor ge-nético e criar bancos de sêmen com doses suficientes para abastecer as granjas em situações de proibição do movimento de animais e sêmen.

2. Sexagem de sêmen para a programação da produção de machos ou fêmeas e para acelerar o melhora-mento genético.

3. Inseminação Artificial In-trauterina, que permite depositar o sê-men próximo ao local da fecundação.

Neste trabalho serão mostrados os resultados e os efeitos destas TRA sobre a gestão dos Centros de Insemi-nação Artificial (IA) de Suínos.

Situação atual das novas tecnologias de IA

1. Congelamento de sêmen suíno

Desde que, em 1975, Pursel & Johnson estabeleceram a metodo-logia para o congelamento de sêmen suíno na forma de pílulas, e Westen-dorf & colaboradores desenvolveram a técnica das maxiampolas, ambas têm sido e continuam sendo – com ligeiras modificações – as bases dos protocolos atuais de congelamento3,4 (Quadro 1).

A reduzida fertilidade e proli-ficidade dos espermatozóides suínos crio-preservados na IA deve-se a5:

• Mudanças estruturais e funcionais sofridas pelos espermatozóides durante o processo de crio-preservação;

• Diminuição da funcionalidade que os referidos espermatozóides têm, no trato genital da porca;

• Características anatômicas peculiares do aparelho genital, as quais dificultam o trajeto dos espermatozóides rumo ao oviduto;

• Má qualidade dos embriões produzidos, o que condiciona sua posterior viabilidade.

Atualmente, a IA com sêmen congelado está reduzida, na produ-ção de suínos, a programas de me-

O congelamento de sêmen é utilizado em granjas de alto valor genético e nos casos onde é proíbido o transporte de animais vivos

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lhoramento genético, devido, princi-palmente, ao fato dos resultados de fertilidade e prolificidade estarem de 10% a 20% e de um a dois leitões, respectivamente, abaixo dos resulta-dos obtidos com sêmen refrigerado. Estes resultados diferem entre raças e, inclusive, entre ejaculados de um mesmo indivíduo5,6,7.

O dano estrutural sofrido pelos espermatozóides durante o congela-mento, além de diminuir sua sobrevi-vência no trato genital da porca e o número de embriões produzidos, tem um efeito negativo sobre o desenvol-vimento e a viabilidade dos referidos embriões5,6,8.

Os estudos atuais realizados com o intuito de melhorar os resulta-dos da IA com sêmen congelado têm por objetivo aperfeiçoar os processos de congelamento dos espermatozói-des (spz) e garantir um número sufi-ciente dos mesmos com capacidade fecundante, no momento da ovulação (Quadro 2).

Ainda que os últimos estudos e modificações nas técnicas e nas aplicações de sêmen congelado te-nham melhorado significativamente os resultados de fertilidade e prolifici-dade (Tabela 1), as pesquisas devem continuar para minimizar os danos causados pelo congelamento à célula espermática, assim como encontrar novos métodos para avaliar a viabi-lidade e a capacidade fecundante do sêmen descongelado.

2. Sexagem de sêmen

A determinação do sexo da descendência, antes do nascimen-to, é de grande interesse econômico. Principalmente para as empresas de genética, as quais – de posse dessa informação – poderiam programar sua produção, direcionando-a para linhas macho ou fêmea, de acordo com a demanda do mercado, além de, por meio desse procedimento, acele-rar os programas de melhoramento genético17,18.

Os métodos para sexagem de sêmen são classificados em dois gru-pos: os embasados em características físicas ou cinéticas e aqueles que atu-am sobre as diferenças nucleares dos espermatozóides. Estes últimos têm dado resultados satisfatórios, relativos à obtenção de populações purificadas de espermatozóides X/Y pela deter-minação do seu conteúdo de DNA. O espermatozóide que transporta o cro-mossomo X é maior e contém mais DNA que o espermatozóide transpor-tador do cromossomo Y (Tabela 2).

Baseado nesta teoria, foi de-senvolvido um método para a sexagem espermática, denominado Bestville Sperm Sexing Technology (BSST), que utiliza um sistema de corte por citometria de fluxo para separar os espermatozóides X e Y20. Entretanto,

Quadro 1. Protocolo de congelamento de sêmen de cachaços

Características comuns

• Equilíbrio prévio pela centrifugação (23°C e 15°C)

• Concentração do sêmen por centrifugação e eliminação do plasma seminal

• Congelamento a uma concentração elevada de espermatozóides

• Adição de baixas concentrações de glicerol

Quadro 2. Estratégias para melhorar os resultados com sêmen congelado

1. Otimização da metologia de congelamento

• Sistemas de envase: Flat Pack, que consiste em congelar um volume maior e tornar o processo máis uniforme9

• Tempo de resfriamento: não superior a 3 horas10

• Centrifugação: diminuir o tempo e aumentar a velocidade11

2. Seleção de cachaços com boa “congelabilidade” espermática

• Identificação rápida de individuos com boa capacidade de conservação. Não existe correlação entre fertilidade do sêmen “a fresco” e congelado9,10

3. Deposição dos espermatozóides mais próximo do oviduto

• Inseminação intra-uterina profunda13

4. Predizer o momento da ovulação e da inseminação

• Ecografia ovariana5, 14

Tabela 1. Fertilidade e prolificidade com sêmen congelado de cachaços

IA tradicional(5x109spz /dose)15

IA intrauterina profunda(1x109spz /dose)16

Nº. de porcas em IA 190 49

Fertilidade/parto (%) 62,60 77,55

Tamanho da leitegada 9,01 9,31

Tabela 2. Diferenças entre espermatozóides X e Y19

Parâmetro X Y

DNA ++ +

Tamanho e densidade > <

Fluorescência - +

Motilidade + +++

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Reprodução

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a inclusão da citometria de fluxo nos sistemas tradicionais de IA é impra-ticável, devido ao número escasso de spz que podem ser separados.

Com os equipamentos de cito-metria atuais é possível se obter um rendimento, em termos de separa-ção, de 300.000 a 400.000 spz X ou Y por hora. Estas taxas de separação, assim baixas, são devidas à necessi-dade de se alcançar um grau elevado de pureza (90%) nas populações es-permáticas. A incorporação de novas substâncias nos meios de coleta e os avanços técnicos nos citometros de fluxo têm gerado procedimentos que nos permitem obter até sete milhões de espermatozóides viáveis por hora e com uma pureza ao redor de 80%28,29. Esta combinação entre o rendimento e a pureza sempre está equilibrada, nos sistemas de separação. Incremen-

tos no rendimento podem ocorrer em detrimento da pureza e vice-versa.

Atualmente, a sexagem do sêmen não é realizada nas centrais de inseminação convencionais por requerer um equipamento tremen-damente sofisticado, o citometro de fluxo, o qual necessita de pessoal es-pecializado para o seu manejo, além de instalações com características es-peciais relativas à temperatura, lumi-nosidade, etc.

Estes espermatozóides sexa-dos podem ser utilizados na produção de embriões in vitro ou, com certa ga-rantia de êxito, no processo de insemi-nação intrauterina profunda, por meio do qual tem se obtido nascimentos em conseqüência de inseminação com espermatozóides separados mediante citometria de fluxo e congelados30. Uma vez resolvidos os problemas

ligados à inseminação (diminuição do número de espermatozóides por dose), é provável que, nos próximos anos, venhamos a assistir uma maior popularização desta tecnologia na produção animal, especialmente no segmento destinado a animais de alto valor econômico e/ou genético.

3. Inseminação Artificial profunda

A suinocultura industrial bus-ca uma maneira de aperfeiçoar a pro-dutividade dos cachaços destinados à IA. A tendência atual, na IA de suínos, é a redução do número de espermato-zóides por inseminação e, nessa linha, estão sendo desenvolvidas novas téc-nicas, no sentido de aplicar o sêmen próximo do local da fecundação. Atualmente, é possível reduzir a con-centração da dose seminal usada na IA tradicional, chegando a dois bi-lhões de espermatozóides por dose, sem que a fertilidade e a prolificidade sejam afetadas21.

Para que a fecundação ocorra não é necessária a presença de um nú-mero elevado de espermatozóides viá-veis na união útero-tubárica (UUT)22. Os trabalhos de Rath & colaborado-res (1999) demonstram que, por meio da inseminação intrauterina profunda, com 20 milhões de espermatozóides depositados cirurgicamente, foram obtidas taxas de gestação equipará-veis a quando se depositam 200 ou 1 bilhão. O inconveniente dessa técnica é a necessidade de se realizar uma ci-rurgia para fazer a IA.

Nos últimos anos têm sido desenvolvidas novas técnicas não-cirúrgicas para a deposição do sêmen no final do corno uterino (insemina-ção intrauterina profunda)13,24,25 ou no corpo uterino (inseminação pós-cervical)21,23. A inseminação intrau-terina profunda (IUP) consiste na utilização de um cateter flexível de 1,5 metro de comprimento, o qual permite depositar 150 milhões de es-permatozóides, num volume de 7,5 ml, no final do corno uterino. No caso

Tabela 3. Fertilidade e prolificidade com as técnicas I.U.P. e I.P.C.

IUP24 IPC21 IPC26

Concentração (x 106 spz/dose) 50 100 100

Volume (ml/dose) 5 80 33

Fertilidade/parto (%) 92,3 87,0 86,3

Tamanho da leitegada 9,41 10,9 12,4I.U.P - inseminação intrauterina profunda, I.P.C. - inseminação pós-cervical

Com a técnica de I.A. intra-uterina, é possível utilizar 2 bilhões de espermatozóides sem alterar a fertilidade e prolificidade

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da inseminação pós-cervical (IPC), uma cânula passa por meio da cervix e chega até o corpo uterino, sendo utilizado até 500 milhões de esperma-tozóides, num volume de 30 ml23, ou 1 bilhão num volume de 80 ml21. Os últimos resultados obtidos com essas duas técnicas aparecem na Tabela 3 e demonstram que é possível diminuir o volume e a concentração da dose seminal, sem que a fertilidade e a pro-lificidade sejam afetadas.

Gestão da Central de IA segundo as novas tecnologias

A colocação dessas novas tecnologias à prova e seus resultados nos ensaios a campo nos fazem supor que, de um modo mais ou menos rá-pido, elas serão aplicadas por um nú-mero cada vez maior de suinocultores ou empresas dedicadas à produção de suínos.

Isso fará que, indubitavel-mente, ocorram mudanças na gestão e na forma de organizar o trabalho nos centros de inseminação atuais, os quais foram projetados para produ-zir doses seminais de 80 ml a 100ml, com 3 bilhões de espermatozóides.

Vejamos como a produção de doses seminais pode ser afetada, com a aplicação dessas novas tecno-logias.

1. Congelamento de sêmen suíno

Atualmente, o uso de sêmen congelado nos programas de insemi-nação artificial de suínos tem limita-ções importantes, comparativamente ao sêmen refrigerado, principalmente: (1) menor rentabilidade dos cachaços; (2) baixa fertilidade e (3) prolificida-de reduzida5.

Em contrapartida, a possi-bilidade de realizar a inseminação artificial com sêmen congelado nos permite compensar algumas das limi-tações inerentes ao sêmen fresco ou

refrigerado. Assim sendo, entre suas vantagens, podemos citar:

Rentabilizar ao máximo aqueles reprodutores de grande valor genético.

Normalmente, em nossas cen-trais de inseminação, convivem ma-chos finalizadores com avôs ou bisa-vôs de diversas linhagens genéticas. Ao observarmos o ranking de produ-ção, quase sempre os cachaços menos rentáveis são aqueles dedica-dos à genética. A explicação para esse fato é que, devido à carac-terística dos nú-cleos genéticos, de possuírem um grande acer-vo de caracteres individuais e de terem que se preocupar – por exemplo – em controlar o ní-vel de consan-guinidade do seu plantel, na grande maioria das vezes é pre-ciso retirar um macho de uma determinada li-nhagem para produzir – uni-camente – 8 a 10 doses de sêmen, quando podería-

mos ter obtido 25 ou 30. Utilizando a técnica de congelamento poderíamos submeter esses machos a um ritmo de coletas pré-estabelecido (uma extra-ção semanal, por ex.), congelar todo o ejaculado e ir fornecendo – poste-riormente – as doses solicitadas pelo núcleo genético, deixando o restante armazenado no banco de sêmen da central. Além disso, esse procedimen-to permitiria aos centros de seleção atribuir a máxima variabilidade ge-nética às avaliações rotineiras e pe-

Tabela 4

Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado

TOTAL23,55% 25,17% 22,59% 12,51% 7,70% 8,48%

71,31% 28,69%

CIA 125,29% 25,92% 22,81% 11,18 7,36% 7,44%

74,02% 25,98%

CIA 219,86% 23,56% 22,12% 15,33% 8,44% 10,69%

65,54% 34,46%

Na inseminação pós-cervical, uma cânula passa por meio da cervix e chega até o corpo uterino, podendo ser utilizado até 500 milhões de espermatozóides num volume de 30 ml

Reprodução

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riódicas realizadas com o intuito de estabelecer os valores genéticos dos animais (BLUP).

Fomento do comércio internacional de doses seminais.

A movimentação de animais vivos entre países está cada vez mais difícil, por motivos sanitários e pelas limitações ao transporte dos mesmos, impostas pelas leis de bem-estar ani-mal, cada vez mais numerosas. Já o transporte de sêmen congelado não contempla mais nenhum problema, além do manejo do nitrogênio líqui-do, havendo, inclusive, outras possi-bilidades de transporte à disposição, como a utilização de tanques de ni-trogênio seco, que facilita o referido manejo.

Criação de bancos de sêmen.

Com relação a este assunto, há três utilizações bem distintas:

• Bancos de reserva genética: onde se-rão mantidos congelados os ejacula-dos dos animais que se sobressaem, dentro de cada linhagem, para que possam ser utilizados vários anos depois, com a finalidade de incorpo-rar novos genes a uma linha genéti-ca, avaliar o progresso genético por meio de varias gerações ou recons-truir um programa genético, diante de qualquer eventualidade que tenha obrigado a sua eliminação.

• Bancos para fornecimento de sê-men: com doses suficientes para abastecer as necessidades das gran-jas naquelas situações nas quais se proíbe a movimentação dos animais, relativamente frequentes na espécie suína e normalmente relacionadas com surtos infecciosos. Neste caso, seria prudente manter congelado um grande número de doses, suficiente para cobrir as necessidades de 8 a 10 dias, período de tempo que nos per-mitiria entrar em contato com outros centros de inseminação – nacionais ou internacionais – e organizar nos-so estoque, enquanto a central esti-ver imobilizada.

• Bancos de doses de espermatozóides manipulados: sexados, transgênicos, etc. Nos dias de hoje esta possibili-dade ainda não é factível, mas nos próximos anos poderá ser realidade.

Otimização da gestão e da operacionalização dos centros de inseminação artificial.

Atualmente, no sistema tradi-cional de produção de doses seminais, o horário de entrada e as tarefas rea-lizadas diariamente numa Central de Inseminação Artificial (CIA) são con-dicionados pelo número de doses que se necessita produzir por dia, o qual varia enormemente, como se pode ver na Tabela 4.

A Figura 1., acima, mostra que nos três primeiros dias da semana se produz mais de 70% do total de doses da mesma. Isso faz com que as tare-fas realizadas na CIA sejam comple-tamente distintas, entre os diferentes dias da semana, levando a uma va-riação no horário de entrada na cen-tral, que vai das 3h45 às 5h45 horas (dependendo do dia). Ocorre, ainda, uma variabilidade importante nas ta-refas realizadas a cada dia, sendo os três primeiros da semana dedicados – praticamente em sua totalidade – à produção de doses, e os três restantes aos trabalhos de limpeza, manutenção e manejo dos animais.

Esta situação pode mudar ra-dicalmente com a produção de doses seminais congeladas, na qual é pos-sível estabelecer um ritmo de coleta fixo para cada um dos animais e atuar independentemente dos pedidos diá-rios de sêmen. Isso fará com que se possa trabalhar em uma escala mais racional e sem a pressão de ter que preparar as doses num determinado horário. Além disso, será possível planejar as tarefas diárias com maior antecipação e de modo mais coeren-te com as necessidades de cada em-presa, podendo, inclusive, suspender

Figura 1. Centrais de IA global: % de doses repartidas segundo o dia da semana

Figura 2. Efeito da temperatura ambiental sobre a qualidade espermática

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a produção de doses de sêmen em determinados momentos (períodos de férias, feriados, por motivos sa-nitários, devido a manejos especiais, etc.), sem atrapalhar o fornecimento de doses aos nossos clientes.

Nas Centrais de IA multirra-ciais, a produção de doses seminais congeladas permitirá um melhor aproveitamento dos cachaços, já que às vezes surge a situação de faltar al-gumas poucas doses de uma determi-nada raça, o que nos obriga a realizar uma nova coleta. O sêmen coletado, nesse caso, costuma não ser apro-veitado totalmente, e essa coleta faz sobrar, então, doses de outra raça, as quais não serão totalmente aproveita-das por não terem sido processadas.

Uma vantagem importante da produção de doses crio-preservadas é o fato de poder minimizar o problema da sazonalidade reprodutiva, princi-palmente em regiões de clima tropi-cal. O efeito das altas temperaturas na produção de sêmen, ilustrado na Fi-gura. 2, já é conhecido por todos:

A qualidade espermática bai-xa consideravelmente, a partir da metade do verão até o início do ou-

tono, principalmente quando se trata de espermatozóides conservados sob refrigeração por 48 horas. Este efei-to indesejável poderia ser eliminado, mediante a produção de doses semi-nais congeladas, suspendendo-se a produção durante os referidos meses e utilizando as doses produzidas nos períodos mais frescos e de melhor qualidade espermática.

Outro ponto a ser considerado, particularmente nas Centrais de IA que têm rotas de distribuição e que – diariamente ou por vários dias duran-te a semana – entregam as doses nas granjas, é a mudança a ser produzida nestes sistemas. Com a utilização de doses congeladas, o suinocultor po-derá dispor de um tanque de nitro-

gênio líquido com doses suficientes para um mês, seis meses ou um ano, o que tornará sem sentido os sistemas de distribuição atuais. No entanto, a Central terá que criar outro serviço, o de distribuição de nitrogênio líquido para os tanques de conservação loca-lizados nas granjas. Acreditamos que este novo serviço não deva ficar por conta dos suinocultores, de modo que – para se evitar problemas – deverá ser oferecido e garantido pelo próprio centro de inseminação.

Indubitavelmente, para a pro-dução de doses seminais crio-preser-vadas, será preciso adaptar nossos laboratórios à instalação dos equipa-mentos necessários para este tipo de produção: câmara de estabilização, centrífuga, bio-congelador, máquina de envase e fechamento automático de ampolas, etc.

2. Inseminação artificial profunda

O efeito desta técnica sobre uma Central de inseminação, em qualquer uma de suas duas variantes (inseminação pós-cervical ou inse-minação intrauterina profunda), é o mesmo, ou seja: a redução, em maior ou menor grau, do número de machos necessários para produzir o mesmo número de doses de sêmen.

• Inseminação pós-cervical.Ao se utilizar doses de 500 milhões ou 1 bilhão de espermatozóides, es-pera-se uma diminuição do número

% sobre o preço final da dose

TradicionalIPC

(1 x 109)IPC

(0,5 x 109)IUP

(0,15 x 109)

Amortização machos

13,00 - 21,00 4,33 - 7,00 2,17 - 3,50 0,65 - 1,05

Mão-de-obra 20,00 - 25,00 10,00 - 12,50 10,00 - 12,50 10,00 - 12,50

Alimentação 6,00 - 8,00 2,00 - 2,67 1,00 -1,33 0,30 - 0,40

Diluente e outros

5,00 - 10,00 1,67 - 3,33 0,83 - 1,67 0,25 - 0,50

TOTAL 44,00 - 64,00 18,00 - 25,50 14,00 - 19,00 11,20 - 14,45

A produção de doses seminais congeladas permite um melhor aproveitamento do cachaço de alto valor genético

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de machos da ordem de 1/3 ou 1/6 do inventário atual. Isso nos faz pensar que, se atualmente temos uma pro-dução de 1.500 doses/macho/ano, no futuro poderemos chegar a 4.500 ou 9.000 doses/macho/ano26.

• Inseminação intrauterina profunda.Neste caso as doses são de 150 mi-lhões de espermatozóides, o que im-plica numa redução – em tese – de até 20 vezes no número de machos necessários, além da produção de até 30.000 doses/cachaço/ano27.

A adoção de qualquer uma destas técnicas, por parte de uma Central de IA e a consequente redu-ção no número de machos, implicará nas seguintes mudanças na estrutura e no funcionamento da mesma:

• Redução no número de locais para alojamento.Uma vez que a necessidade de cacha-ços será muito menor, o acesso a ani-mais de alto valor genético será faci-litado, o que promoverá a distribuição do potencial genético dos mesmos entre um número maior de suinocul-tores. Estes, por sua vez, ganharão na uniformidade de seu produto final, já que toda a sua produção poderá ser originária de um único macho ou de um grupo reduzido de machos com características similares. Essa situa-ção, que para as Centrais de insemina-ção será altamente vantajosa, trará um grave problema para as empresas de genética, as quais deverão sofrer uma redução nas vendas de machos para inseminação, além de precisarem ga-rantir uma maior qualidade genética nos animais que comercializarem.

• Redução do pessoal necessário para atender à central.Tanto pelo menor número de machos a ser atendido, como pela redução na quantidade de coletas e na rotina

diária de análises laboratoriais com o sêmen a ser processado. Tudo isso implica numa diminuição do tempo requerido para a obtenção do sêmen, seu processamento no laboratório e na preparação das doses seminais.

• Mudanças nos sistemas de envase.Uma vez que será preciso adequá-los aos requerimentos destas técnicas, 30ml na IPC (inseminação pós-cervi-cal) e 5ml na IUP (inseminação uteri-na profunda).

• Otimização dos horários de trabalho.Ao não ter que realizar tantas cole-tas, o trabalho poderá ser iniciado um pouco mais tarde, ou quiçá – o que parece ser mais interessante – man-ter os horários atuais, mas adiantar a saída do material a ser distribuído. Assim, as doses seminais estarão nas granjas mais cedo, facilitando as tare-fas de inseminação, sobretudo naque-les plantéis com número elevado de reprodutoras.

Em resumo, as vantagens da aplicação destas técnicas são:

• Redução dos custos de produção das doses seminais.

• Melhor aproveitamento dos cacha-ços de elite.

• Redução do atraso genético entre gerações de um programa ou esque-ma de seleção.

• Ao permitir o acesso de um número maior de suinocultores a uma gené-tica superior, facultando-lhes a ob-tenção de preços melhores para os seus produtos no mercado, estare-mos contribuindo para o estabeleci-mento de uma relação mais estreita entre os criadores e as Centrais de inseminação.

• Utilização de sêmen congelado ou sexado.

• Maior uniformidade e homogenei-dade dos animais produzidos.

Como desvantagens, podemos citar:• Maior custo relativo a cateteres e pi-

petas de inseminação.• Necessidade de adaptação dos sui-

nocultores a uma nova técnica, mais sofisticada.

• Em países cuja mão-de-obra consiste

A vantagem da disseminação do produto de alto valor genético é a uniformidade do produto final, já que a produção poderá ser originária de um único macho

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em alta rotatividade de pessoal, será necessário um treinamento constan-te dos envolvidos.

• Perda de imagem relativa ao bem-estar animal, por parte da granja ou CIA, pela utilização de técnicas in-vasivas.

Impacto econômico das novas tecnologias.

Na sequência veremos que impacto econômico tem a aplicação destas técnicas numa Central de inse-minação.

1. Congelamento de sêmen suíno

Considerando as seguintes premissas para o sêmen congelado, em comparação com o sêmen fresco ou refrigerado (“n” indica os resulta-dos com sêmen fresco ou refrigera-do):• Baixa fertilidade (n - 20%).• Baixa prolificidade (n - 2 leitões).• Poucas doses produzidas, a partir

de um ejaculado (n / 2).

Podemos realizar os seguintes cálculos:• Sêmen refrigerado: de um ejacula-

do, em condições normais, se obtém de 20 a 25 doses seminais (3.000 x 106 spz/dose), com as quais é possí-vel inseminar de 10 a 12 porcas e, com uma taxa de fertilidade de 80%, obter de 8 a 10 fêmeas gestantes.

• Espermatozóides crio-preservados por sistemas tradicionais: do mesmo ejaculado anterior e considerando que – neste caso – os valores são de 5 a 6.000 x 106 spz/dose, é possível se obter de 10 a 15 doses, com as quais se pode inseminar de 5 a 7 fê-meas e, com uma fertilidade de 60%, obter de 3 a 4 porcas gestantes.

• Espermatozóides crio-preservados e técnicas de inseminação profunda:

considerando o mesmo raciocínio anterior e, como neste caso as doses produzidas requerem unicamente 1.000 x 106 spz/dose, é possível ob-ter de 60 a 75 doses, com as quais se pode inseminar de 30 a 37 porcas; se considerarmos uma taxa de ferti-lidade de 67%, resultará em 20 a 24 porcas gestantes.

Observando os números ante-riores, vemos que, com a utilização de espermatozóides crio-preservados é possível, ao menos, dobrar o nú-mero de gestações obtidas a partir de um ejaculado. Só isso já justifica a sua utilização, em nível prático, pela diminuição dos custos de produção atuais que temos com o uso do sê-men fresco. Além disso, atualmente, o equipamento necessário para a pro-dução de doses congeladas implica na realização de altos investimentos nos centros de inseminação, os quais – devido à escassa difusão desta téc-nica – dificilmente serão amortizados. Mas se a sua utilização se generaliza, a aquisição destes equipamentos, por parte das centrais de inseminação co-merciais, estará plenamente justifica-da.

2. Inseminação artificial profunda

Com a utilização destas técni-cas, a redução nos custos de produção é evidente, devido ao menor número de cachaços necessários para a pro-dução do mesmo número de doses. A tabela seguinte demonstra o impacto destas técnicas sobre os componentes que mais incidem no custo final da dose seminal produzida:

É importante observar que es-tes percentuais podem variar conside-ravelmente de acordo com os preços de compra de cada produto e, sobre-tudo, segundo o preço de venda das doses. Todos os cálculos realizados foram baseados nos preços médios praticados atualmente na Espanha.

Com relação à amortização dos machos, vale também observar que ela se realiza em dois anos e meio, sendo os preços de compra estimados referentes a cachaços de elite, de alto valor genético.

Quanto aos cálculos de mão-de-obra, foi levado em conta o cus-to total da empresa, relativo a todo o pessoal, encarregados, especialistas e colaboradores.

Atualmente os equipamentos necessários para produção de doses congeladas implica em altos investimentos nas CIA

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13. MARTÍNEZ, E.A.; VÁZQUEZ, J.M; ROCA, J.; LUCAS X.;

Para os cálculos de alimenta-ção, foi considerado um consumo de 3 kg de ração de machos de alta pro-dução/cachaço/dia.

Finalmente, é importante acrescentar que, no item Diluente e outros está incluído o consumo de material básico de laboratório, tal como recipientes de coleta, filtros, pi-petas, suportes, etc. E, dada a gama de diluentes disponíveis no mercado e a consequente diferença de preços, podem haver variações muito maiores nos valores apresentados.

Conclusões

Os avanços realizados nos últimos anos para desenvolver e me-lhorar as novas tecnologias de inse-minação artificial fazem com que as mesmas sejam introduzidas, pouco a pouco, na rotina diária de algumas centrais de inseminação. Estas, por sua vez, vêm se adaptando aos novos requerimentos impostos pelas mes-mas. De todas as formas, faltam ainda alguns anos para a sua implantação definitiva, durante os quais será pre-ciso trabalhar ainda para melhorar as referidas técnicas e adaptar a prática das mesmas às condições de trabalho no campo, tanto nas CIAs como nas granjas.

A separação de espermato-zóides por meio da citometria de flu-xo necessita ainda de um pouco mais de padronização (mediante um incre-mento nos rendimentos de separação), ao mesmo tempo em que se desenvol-vem melhorias nas metodologias de congelamento de espermatozóides, incrementa-se a sobrevivência esper-mática pós-separação e aperfeiçoam-se as inseminações com baixo núme-ro de espermatozóides, a produção in vitro e a transferência não cirúrgica de embriões. É bem provável que, nos próximos anos, assistamos à impor-tante implantação desta tecnologia, no segmento da produção animal.

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Sanidade

Suínos & Cia Ano VI - nº 33/2009

Protocolo de biossegurança para prevenção da disseminação do

vírus da Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína (PRRS).

Andrea Pitkin1

Satoshi Otake1

Scott Dee1

Centro de Erradicação de Doenças de Suínos1

Universidade de Minnesota1

O vírus da Síndrome Respiratória e Reprodutiva Suína é específico e acomete somente os suínos

Introdução

APRRS (Síndrome Respirató-ria e Reprodutiva Suína) é uma doença que tem gran-

de importância econômica na suino-cultura, custando aproximadamente 560 milhões de dólares anuais neste setor no norte americano. A preven-ção da disseminação de agentes é um componente crítico do programa de controle de doenças da granja, tanto dentro da mesma população de suínos como entre populações distintas. Esse artigo, que tem por objetivo servir como um auxilio no controle do agen-te da PRRS, representa uma coletânea

dos dados de experimentos conduzi-dos pelo nosso grupo da Universida-de de Minnesota, os quais foram es-pecificamente desenhados no sentido de identificar as vias de transmissão viral e de desenvolver protocolos de biossegurança para reduzir esse risco. Todos os protocolos foram validados (e ainda continuam sendo) em ensaios conduzidos em nossa granja modelo do Centro de Erradicação de Doen-ças dos Suínos (SDEC), nos últimos anos. Os autores deste artigo continu-am pondo em prática esses protocolos e experimentos de forma habitual; por isso, nossa confiança na eficácia des-sas medidas é muito alta. Esperamos que os colegas veterinários especia-

listas em suínos possam utilizar essas informações para ajudar seus clientes a desenvolver programas de biosse-gurança efetivos, para um controle duradouro da PRRS.

Revisão sobre o vírus

Antes de discutir como o ví-rus se dissemina, nas granjas e dentro da população de suínos, é importante entender suas características bioquí-micas e os grupos de hospedeiros afetados por ele. Com base em alguns trabalhos, sabemos que o vírus da PRRS (PRRSv), agente etiológico da doença, é um vírus do tipo RNA, da ordem Nidovirae, família Arteviridae e do gênero Arterivírus. O PRRSv é espécie específico, sendo capaz de acometer apenas os suínos. Portanto, nenhuma outra espécie (mamíferos, aves ou insetos) atua como reservató-rio do mesmo. Com relação à capaci-dade de sobrevivência fora do suíno, o PRRSv é sensível a altas temperatu-ras, mudanças no pH (< 6 e > 7,65), à exposição prolongada a rios UV (ul-travioleta) e à inativação química. No entanto, é capaz de sobreviver (meses/anos) congelado a - 20° C e, à medida que a temperatura aumenta, diminui a sua sobrevivência. Como exemplo, pode sobreviver durante seis dias a 21° C, 24 horas a 37° C e apenas vinte minutos a 56° C. Além disso, quando há umidade, o vírus pode ser viável por até 11 dias.

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Vias de disseminação viral e protocolos de biossegurança

Vias diretas de disseminação

Como já foi comentado, o suí-no é o único animal capaz de infectar-se com o PRRSv.

Animais vivos e sêmen:

Uma vez ocorrida a infecção, o vírus pode passar dos suínos per-manentemente infectados para os suí-nos sadios através do sangue, saliva, leite e colostro, fezes e urina, assim como do sêmen contaminado. Portan-to, um dos pontos críticos é a compra de material genético de fornecedores submetidos a controles regulares. Recomenda-se a comunicação prévia entre os veterinários responsáveis, para avaliar a sanidade do plantel, an-tes de efetivar a compra, a qual deve ser precedida de uma quarentena e da realização de análises nos animais. A seguir serão apresentados alguns pro-tocolos destinados a reduzir o risco de

entrada do PRRSv em granjas, atra-vés de material genético.

• Isolamento ou quarentena: procedimento essencial, dentro do programa de biossegurança destina-do à prevenção da disseminação do PRRSv. As instalações, para essa fi-nalidade, devem situar-se distantes do restante do plantel, mínimo de 3 Km. Os animais recém chegados deveram ser mantidos separados do restante do plantel por, pelo menos, trinta dias. O responsável pelo quarentenário deve-rá inspecionar esses animais diaria-mente, à procura de sinais clínicos e o veterinário encarregado da granja de-verá permanecer – durante todo esse período – em contato com o colega responsável pela empresa fornecedo-ra dos mesmos, particularmente no caso da suspeita do início de alguma doença, tanto na população de origem como nos animais em quarentena.

• Análises laboratoriais: os ani-mais de reposição deverão ser subme-tidos a provas sorológicas, a primeira coleta deverá ser realizada na granja de origem 30 dias antes dos animais serem introduzidos no quarentenário, e aos 24 a 48 horas após sua chegada nas instalações de quarentena deverá

ser realizada outra coleta. O RNA vi-ral pode ser detectado na corrente san-guínea 24 horas após a infecção, o que nos leva a recomendar a realização de uma prova de PCR para detecção de infecções agudas. Deve-se realizar também uma prova de ELISA, com amostras coletadas na fase final do período de quarentena, para avaliação da presença de anticorpos virais. Com o advento do método de swab sanguí-neo, os centros de inseminação artifi-cial podem monitorar proativamente o seu status através da prova de PCR, com as amostras de sangue de cacha-ços coletadas nesse mesmo dia, jun-tamente com uma análise regular do sêmen, também através do PCR. Com a possibilidade atual dos laboratórios de análise fornecerem resultados de PCR em 01 dia, os produtores e ve-terinários poderão receber o sêmen já validado como PRRSv negativo em tempo real, introduzindo-o assim de forma segura em seus plantéis.

Vias indiretas de disseminação

O PRRSv pode ser transmitido mecanicamente de várias maneiras. No texto abaixo revisará estas vias in-diretas de disseminação e discutirá os protocolos de biossegurança desenha-dos para prevenir a transmissão viral pelas referidas vias.

Instalações:

As instalações devem ser manejadas em sistemas “tudo dentro – tudo fora” (TD/TF), o qual contribui para reduzir a disseminação da PRRSv nos suínos mais velhos infectados para os mais novos ou para os não infectados, independente da idade. Além do sistema TD/TF, é importante desinfetar as instalações antes da introdução de animais susceptíveis. A seguir serão discutidos os passos requeridos para a desinfecção correta,

O quarentenário é um dos procedimentos mais importantes utilizados dentro do programa de biossegurança, com a finalidade na prevenção de doenças.

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de instalações que alojaram animais positivos:

• Eliminação completa de todo material orgânico (fezes, urina, ração, cama e fluidos corporais), assim como lavagem minuciosa das superfícies, com atenção especial a portas, come-douros, bebedouros, pisos vazados e qualquer brecha ou rachadura onde os contaminantes anteriormente citados possam se acumular.

• Ao concluir a lavagem, apli-car um desinfetante eficaz em toda a instalação. Exemplos de desinfetantes eficazes frente ao PRRSv são produ-tos à base de amônia quaternária + glutaraldeido ou o mono-persulfato de potássio modificado. Esses pro-dutos deverão ser aplicados em uma concentração de 0,8 e 1,0% – respec-tivamente – durante duas horas, no mínimo. A aplicação de desinfetantes na forma de espuma, além de permitir uma melhor visualização da cobertura da área a ser desinfetada, prolonga o contato entre as substancias químicas e as superfícies.

• Depois da limpeza, lavagem e desinfecção deve-se prever um tem-po de espera para secagem, medida esta importantíssima dentro do proto-colo de desinfecção, para a completa inativação do vírus.

Agulhas:

A quantidade de PRRSv na corrente sanguínea dos suínos infec-tados atinge níveis altíssimos. Assim, injetar animais de forma consecutiva com a mesma agulha infectada pode facilitar a transmissão viral por essa via. Para reduzir esse risco recomen-da-se a troca periódica das agulhas durante os procedimentos de aplica-ção de medicamentos/vacinação ou a utilização da tecnologia “livre de agulhas”.

Veículos de transporte:

O PRRSv pode disseminar-se entre os animais susceptíveis por meio de veículos de transporte con-taminados. Da mesma forma relativa às instalações, é importante dispor de um protocolo de limpeza/desinfecção/secagem para caminhões e outros veí-culos de transporte. No caso de cami-nhões, os pontos de risco em poten-cial estão na cabine (pedais, tapetes, etc., os quais podem ser desinfetados de modo efetivo com produtos na for-ma de spray e nas carrocerias articu-láveis, com relação às quais, cabem as seguintes recomendações:

• Eliminação completa de todo material orgânico (fezes, urina, ração, cama, etc.) da carroceria, devendo-se atentar para os locais de difícil aces-so (cantos, fechaduras, trancas, etc.), onde a matéria orgânica poderia se acumular.

• Uma vez terminada a lava-gem, aplicar um desinfetante eficaz, obedecendo ao protocolo anterior-mente descrito para as instalações.

• Depois da limpeza, lava-

gem e desinfecção deve-se prever um tempo de espera para secagem do veículo, medida importante dentro do protocolo de desinfecção, a exem-plo do procedimento adotado para as instalações. O uso de um sistema de sopragem de ar aquecido em grandes volumes pode reduzir o tempo neces-sário para a secagem da carroceria do veículo. Recomenda-se, nesse caso, o sistema de secagem e descontami-nação termo-assistido (TADD), para a obtenção de uma carroceria seca no menor espaço de tempo possível. Alguns estudos indicam que 120 mi-nutos, com um volume de ar aquecido através do sistema TADD, pode ser suficiente para eliminar o PRRSv das superfícies contaminadas das carro-cerias de transporte de suínos.

Pessoal:

As medidas para reduzir a con-taminação das mãos, aventais e botas do pessoal que tem acesso à granja e que podem servir de veículos mecâ-nicos para o PRRSv serão discutidas a seguir.

A aplicação de desinfetantes a base de espuma, melhoram seu efeito sobre os microrganismos.

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Protocolos de entrada:

• Períodos de inatividade: na prática, deveria observar um tempo de inatividade (uma noite), antes de ini-ciar o trabalho na granja. Estudos têm demonstrado que, para esse patógeno, não é necessário observar períodos de descanso muito mais extensos.

• Banhos: a adoção dessa prá-tica tem demonstrado são eficazes na descontaminação do pessoal portador do PRRSv, antes da entrada na gran-ja, o que faz dos mesmos um procedi-mento diário recomendável.

• Sistema de entrada dinamar-quês: preconiza a troca de aventais, botas e a lavagem das mãos antes da entrada em determinadas áreas da granja, estabelecidas pelo volume de ar compartilhado com os animais. Tem se mostrado um método interes-sante, no sentido de reduzir o risco de disseminação do PRRSv no trânsito de pessoas entre os diferentes setores da granja.

Mãos:

• Luvas: seu uso pode ajudar a prevenir a transmissão viral. As luvas deveriam ser trocadas regularmente, por exemplo, entre leitegadas.

• Desinfecção e lavagem das mãos: esse procedimento frequente, com a utilização de desinfetantes à base de iodo, ajuda a eliminar o PRRSv das mesmas.

Aventais:

• O ideal seria se estivessem disponíveis para uso exclusivo em cada uma das subdivisões das instalações da granja e que fossem lavados rotineiramente (ou o uso de aventais descartáveis).

Botas:

• Pedilúvios: sua utilização pode ajudar bastante na redução do risco da transmissão viral entre os grupos de suínos dentro da mesma granja. As soluções devem ser trocadas, pelo menos, uma vez por dia para manter seu poder desinfetante. Alguns desinfetantes, como os à base de cloro, de amônia quaternária + glutaraldeído ou o mono-per-sulfato de potássio modificado são efetivos também nos pedilúvios.

• As botas, a exemplo dos aventais, deveriam ser de uso exclusivo para cada uma das subdivisões das instalações da granja, nunca serem retiradas da granja. Lavar e desinfetar detalhadamente, para eliminar os resquícios fecais de suas solas.

Fômites:

Os fômites (material de con-sumo e frascos utilizados na granja)

podem veicular o PRRSv. Portanto, todo material para consumo, de ori-gem externa, deverá ser desinfetado e mantido em repouso por pelo menos duas horas, antes de ser introduzido na granja. O referido material deverá ser encaminhado a uma sala específi-ca, para a realização dos processos de desinfecção e secagem, devendo ser desinfetado por todos os lados, atra-vés de um processo de rotação. Esse processo pode ser realizado com o au-xílio de um nebulizador, que produz uma névoa da solução desinfetante, à qual todos os lados/superfícies do material a ser desinfetado deverão ser submetidos por, pelo menos, cinco minutos. Após esse procedimento, é importante a observação do período de repouso já comentado. A solução recomendada para esse tipo de desin-fecção é a associação de um produto à base de amônia quaternária + glu-taraldeido com o mono-persulfato de potássio modificado, em concentra-ções de 0,8 e 1,0% – respectivamente. Outro método alternativo aceitável para a introdução de material externo na granja é o do duplo envoltório.

A adoção do banho antes da entrada nas granjas, tem demonstrado ser eficaz na descontaminação do pessoal portador do PRRSv.

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Insetos:

Moscas e mosquitos podem ser vetores mecânicos para o PRRSv, podendo transportá-lo para até 2,4 km de distância da granja infectada. O vírus permanece armazenado no trato gastrintestinal das moscas e o ritmo da sua disseminação depende da quantidade de vírus ingerida e da temperatura ambiente. Para preve-nir a sua disseminação por essa via, recomenda-se o seguinte:

• Telas ou mosquiteiros: todas as entradas, janelas e áreas por onde os insetos possam transitar deverão ser protegidas por telas. Para que seja mantida uma ventilação adequada, as janelas devem ser limpas regularmente.

• Inseticidas: à base de piretri-nas e disponíveis nas formas de spray

ou líquido, cos-tumam ser bas-tante efetivos.

• Fitas adesivas do tipo “pega mosca”: seu uso regular também costu-ma ser efetivo no controle da quantidade de insetos.

• Manu-tenção das ins-talações: reco-menda-se o cor-te periódico da grama e das er-vas que rodeiam as instalações, além da elimi-nação de locais com água para-da, próximos de onde os animais estão alojados.

Aerossóis:

A disseminação do PRRSv pelo ar parece ser própria de um iso-lado específico do mesmo. Têm sur-gido novos isolados virais, altamente patogênicos, como o MN1-8-4 e o 1-18-2, cuja capacidade de viajar por via aérea a grandes distâncias parece ter sido incrementada, em compara-ção aos isolados tradicionais. Pesqui-sas recentes têm demonstrado a capa-cidade de transmissão do PRRSv por essa via, a distâncias de até 120 m. Em contrapartida, resultados prelimi-nares de alguns estudos, associados a experiências de campo, indicam que a referida transmissão pode chegar a mais de 3,3 km. Portanto, consideran-do que os isolamentos se adaptam, é necessário levar esse fato em consi-deração no desenvolvimento de pro-tocolos de biossegurança para con-trolar a doença de forma duradoura.

Com o objetivo de reduzir o risco da disseminação aérea do PRRSv, têm ocorrido adaptações de sistemas de filtração em instalações suinícolas. Os primeiros sistemas usavam filtros do tipo MERV-16 (95% DOP @ > 0,3 micras) e os resultados dos últimos dois a três anos têm nos animado a seguir nessa direção. A instalação de um sistema de filtração de ar depende do orçamento individual de cada pro-dutor, da localização da granja (alta ou baixa densidade de suínos), do ní-vel de risco assumido e do sistema de produção (comercial ou para reprodu-ção). Os filtros podem ser instalados de dois modos: no teto, através de sua inserção nas entradas superiores, ou nos painéis de refrigeração. Se a opção for instalar um sistema de fil-tragem em um edifício com pressão negativa, todas as áreas com potencial para o escape do ar deverão ser sela-das. Isso inclui as rachaduras nas pa-redes e aquelas que ficam ao redor de janelas, portas, ventiladores parados e demais aberturas. Além disso, deve-se instalar um sistema de portas duplas (entrada/saída), para evitar a entrada de ar parcialmente contaminado nos compartimentos de ar compartilhado com os animais e em outros pontos de alto risco, como locais de entrada de pessoal, de carregamento de animais vivos ou mortos, salas de desinfecção e secagem, etc. O desenvolvimento de um protocolo de biossegurança para um sistema de portas duplas im-plica na utilização de uma câmara e na adoção dos seguintes procedimen-tos específicos:

• A câmara em questão deverá conter uma porta externa e outra inter-na, a qual se comunica com o espaço de ar interior, destinado aos animais. A entrada na câmara inicia-se pela abertura da porta externa, a qual se fecha após a passagem dos animais/pessoal. Esse mesmo processo se re-pete com a porta interna, a partir do interior da câmara.

• Na interior da câmara deve-rá haver um ventilador, projetado de

Lavar e desinfetar as botas para eliminar os resquícios fecais, é de fundamental importância para minimizar a transmissão entre as instalações.

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modo a renovar periodicamente o ar local, em função do seu volume (a cada 15 minutos, por exemplo). Para ajudar na eliminação do ar contami-nado, o ar “limpo” a ser introduzido na câmara deverá ser proveniente de uma ante-sala ou de algum local in-terno da instalação. Uma vez dentro da câmara (pessoas/animais) e estan-do as duas portas fechadas, o ventila-dor inicia o seu trabalho, na frequên-cia sugerida.

• Terminado o período de re-novação do ar a porta interna se abre, permitindo a entrada no interior das instalações, ou a saída das mesmas pela porta externa, num processo in-verso.

Obs.: esse sistema tem-se mostrado extremamente eficaz na prevenção da introdução do PRRSv pela via aérea, seja através do mode-lo regional desenvolvido pelo SDEC, ou nas granjas comerciais com filtros instalados. É importante contar com a assessoria de um engenheiro ex-periente, particularmente na fase do projeto que determinará o tamanho apropriado do ventilador e o período de tempo necessário à extração do ar em função do volume local.

Miscelânea:

Os outros fatores que afetam a transmissão do PRRSv e que devem ser conhecidos pelos suinocultores são:

Carne suína:

A carne de suínos infectados conservada a 4°C poderá armazenar o PRRSv durante, pelo menos, sete dias; congelada a - 20°C poderá ar-mazená-lo durante meses. Portanto, não se pode permitir – em nenhum momento – a entrada de carne suína fresca ou congelada na granja.

Águas residuais:

O PRRSv sobrevive durante mais de três dias em águas residu-ais à temperatura de 20°C. E por até sete dias nessa mesma água a 4°C. O contato com águas residuais positivas para o PRRSv pode ser uma fonte de infecção para suínos sadios. Por isso, os produtores que utilizam água reci-clada em seus protocolos de gestão

Na granja um método efetivo na inativação do vírus da PRRS é a compostagem e a incineração.

hídrica correm um risco maior, relati-vo à introdução viral, do que aqueles que não a reciclam.

Eliminação de carcaças:

O PRRSv pode ser inativado através dos métodos de compostagem ou de incineração de carcaças, por isso, eles são os únicos que deveriam ser adotados na granja. Em hipótese alguma se deveria permitir o aceso à granja, de caminhões que transportem esse tipo de subproduto.

Conclusões

Com base em nossa expe-riência de dois anos anteriores, os protocolos resumidos nesse artigo mostraram-se altamente eficazes na prevenção da disseminação do PRRSv entre populações de suínos mantidas sob condições de campo controladas. Obviamente, o envolvi-mento das pessoas é a chave para a implementação bem sucedida desses tipos de procedimento. Os veteriná-rios podem desempenhar um papel importante, não só como membros da equipe que estabelece as normas de biossegurança para a granja com base nas evidências científicas, mas também como educadores do pessoal envolvido e auditores do processo, as-segurando a máxima dedicação de to-dos. Através da prática dos protocolos aqui expostos, espera-se que os pro-dutores possam efetivamente reduzir o risco de introdução do PRRSv em seus rebanhos, mantendo assim um alto nível sanitário e de produção, em suas granjas. Além disso, a aplicação mais extensa de um programa global de biossegurança para o PRRSv entre granjas pode ajudar a diminuir a dis-seminação do vírus em determinadas áreas, aumentando assim o êxito dos programas de controle e erradicação regionais.

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A doença associada ao circoví-rus suíno do tipo 2 (PCV2), chamada abreviadamente de

PCVAD, continua sendo um impor-tante fator de diagnóstico diferencial em granjas, tanto nos EUA quanto em nível mundial. A análise dos es-tudos de casos indica que a incidên-cia da PCVAD está crescendo nos EUA. É importante a realização de um diagnóstico acurado para a im-plementação de estratégias apro-priadas de intervenção. A PCVAD pode se manifestar na forma de uma doença sistêmica, como parte de um complexo de doenças respiratórias, como uma doença entérica, dermatite e síndrome nefropática ou como um problema reprodutivo. O diagnóstico de uma PCVAD pode ser esporádico e restrito a apenas um animal; entre-tanto, a PCVAD pode se manifestar também em nível de rebanho, como um problema grave, cuja manifes-tação se acelera e se complica pela presença concomitante de infecções virais ou bacterianas. Esse artigo tem por finalidade discutir os tipos de ma-nifestação mais comuns, sua patoge-nia, procedimentos para diagnóstico e estratégias de intervenção associadas à PCVAD, na América do Norte.

Introdução

O circovírus suíno do tipo 2 (PCV2) é considerado, no momento, um dos mais importantes patógenos virais da população de suínos dos EUA. A análise dos estudos de casos, com base em amostras submetidas ao Laboratório de Diagnóstico Ve-terinário da Universidade do Estado de Iowa, indicou um aumento dos casos da doença associada ao PCV2 (PCVAD), em 2006 (Fig. 1). Isso pode ser o resultado combinado do aumento do conhecimento sobre a doença, do aumento da submissão de casos e do verdadeiro crescimento da incidência da PCVAD no meio oeste norte-americano.

Histórico

O circovírus suíno (PCV), é pequeno, não envelopado, de cadeia simples de DNA e com genoma cir-cular 133, foi reconhecido pela pri-meira vez como sendo um contami-nante da linhagem de células renais de suínos PK-15 (ATCC-CCL31), em 1974136. Sob condições experi-mentais o PCV derivado da linhagem PK-15, ao ser isolado, não causava

doença nos suínos(5, 134). Na década de 90, uma cepa variante do PCV foi associada a um então emergente com-plexo de doenças, o qual passou a ser conhecido como síndrome multissis-têmica do definhamento dos suínos (Postweaning multisystemic wasting syndrome, ou PMWS)7. Análises de sequenciamento realizadas no PCV associado à PMWS revelaram dife-renças genéticas significativas com o PCV derivado da linhagem PK-15 (10,

29, 42, 88, 92).Para que pudessem ser distin-

guidos, o PCV patogênico associado à PMWS foi chamado de circovírus suíno do tipo 2 (PCV2), e o PCV não patogênico, de circovírus suíno do tipo 1 (PCV1)(88). A presença do PCV2 pode ser traçada de longa data, de volta ao ano de 1969, na Bélgica (SANCHEZ, R.; NAUWYNCK, H.; PENSAERT, M. In: Conference of ssDNA Viruses, Plants, Birds, Pigs, and Primates. Proceedings... p. 122, 2001), de 1970 no Reino Unido(40), de 1973 na Irlanda(139), de 1985 no Canadá(83) e de 1985 na Espanha(115). Amostras de soro arquivadas, ob-tidas em abatedouros na Bélgica, foram testadas frente a anticorpos específicos anti-PCV2, por meio de uma prova monocamada de imuno-peroxidase indireta (IPMA), tendo

Doença associada ao PCV-2: Atualização

à terminologia, manifestações clínicas,

patogenia, diagnóstico e estratégias de intervenção

Tanja Opriessnig 3

Xiang-Jin Meng 2 Patrick G. Halbur 1

1 Departamento de Diagnóstico Veterinário, Iowa State University

2 Departamento de Ciências Biomédicas e Pato-biologia do Instituto Politecnico da Virginia da Universidade de Blacksburg.

3 Departamento de Medicina Veterinária e Diagnóstico em Produção Animal.

Universidade do Estado de Iowa.

[email protected]

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sido consideradas positivas (todas as amostras: 50 do ano de 1969, 50 do ano de 1975 e 50 do ano 2000) para anticorpos específicos anti-PCV2 (SANCHEZ, R.; NAUWYNCK, H.; PENSAERT, M. In: Conference of ssDNA Viruses, Plants, Birds, Pigs, and Primates. Proceedings… p. 122, 2001). Casos esporádicos de PMWS foram em retrospectiva identifica-dos em tecidos arquivados, antes do surgimento oficial da doença, nos anos 90. Foram submetidos a um la-boratório, na Inglaterra, 68 casos de tecidos de origem suína fixados em formol, entre 1970 e 1997(40). Ácidos nucléicos específicos do PCV2 fo-ram encontrados em 41% (9/22) das amostras correspondentes aos anos 90, em 31% (4/13) das amostras cor-respondentes aos anos 80 e em 32% (8/25) das amostras correspondentes aos anos 70. A análise sequencial dos isolados do PCV2 obtidos a partir de cinco tecidos arquivados, revelou uma alta identidade sequencial com isolados de PCV2 obtidos de um caso de síndrome dermatológica e nefropá-tica suína (PDNS) do ano 2000, o que indica que isolamentos similares ao PCV2 estão presentes na população de suínos do Reino Unido há mais de 30 anos(40).

Amostras de tecido de 189 suí-nos e amostras de soro de 388 suínos, coletadas na Espanha entre 1985/1997 e arquivadas, foram testadas para a

presença de DNA do PCV2, por meio de hibridização in situ (ISH) e para a presença de anticorpos específicos anti-PCV2, pelo método prova mo-nocamada de imunoperoxidase indi-reta (IPMA)(115). Aproximadamente 41,3% (78/189) dos tecidos foram hi-bridização in situ (ISH) positivos para o PCV2, e 72,7% (282/388) dos soros foram IPMA positivos, o que é um indicativo de infecção enzoótica, na Espanha, desde 1985(115). Anticorpos anti-PCV2 foram detectados na maio-ria das amostras de soro suíno coleta-das na Irlanda do Norte, entre 1973 e 1999(139). Houve um incremento na in-cidência do percentual de soros posi-tivos para o PCV2, nas amostras cole-tadas em 1988 (100%; 80/80) e 1999 (92,1%;129/140), quando da compa-ração com os anos de 1973 (69,1%; 56/80), 1981 (61,3%; 49/80) e 1984 (55%; 44/80)(139). Amostras de soro arquivadas, coletadas em abatedou-ros canadenses, foram testadas por meio da prova de imunofluorescência indireta (IFA) para anticorpos anti-PCV1 e anti-PCV(283). Em 1985, 8% (14/177) das amostras foram positivas para o PCV1 e 13,6% (24/177), posi-tivas para o PCV2. Em 1989, 60/145 (41,4%) das amostras foram positivas para o PCV1 e 72,4% (105/145) fo-ram positivas para o PCV2. Em 1997, 56/147 (38,1%) dos soros foram posi-tivos para o PCV1 e 66,7% (98/147) foram positivos para o PCV(283).

Taxonomia

Ambos, PCV1 e PCV2, são membros da família Circoviridae(137). A família Circoviridae está dividida nos gêneros Circovirus (Circo indica que o genoma viral tem uma conformação circular) e Gyrovirus (gyro é uma derivação do termo grego gyrus, que significa ‘‘anel’’ ou ‘‘circuito’’). O gênero Circovirus contempla as seguintes espécies: o vírus da beak and feather disease (BFDV ou “doença do bico e da pena”, em português), o circovírus dos canários, circovírus dos gansos, circovírus dos pombos, PCV1, PCV2 e os ainda não confirmados circovírus dos patos, circovírus dos pássaros da família Fringilidae e o circovírus das gaivotas. O gênero Gyrovirus contém apenas o vírus da anemia aviária (CAV)(137). Viroses que pertencem à família Circoviridae têm partículas virais características, com simetria icosaédrica e ausência de envelope viral. Seus genomas são fechados de forma covalente, são circulares e com cadeia simples de moléculas de DNA, as quais variam em tamanho, de 1,8 a 2,3 KB. A polaridade do genoma do CAV é negativa, enquanto os demais circovírus têm polaridade positiva e negativa(137). CAV, PCV2 e BFDV são considerados com tendo uma estrutura icosaédrica, a qual contém 60 moléculas capsídeo-protéicas, arranjadas em 12 unidades com formato característico de polímeros(25). Os circovírus são hospedeiro-específicos e infectam um número muito pequeno de espécies, sendo que a maioria das circoviroses conhecidas está no meio avícola(137).

Infecções subclínicas por cir-covírus são comuns; entretanto, em algumas situações, os quadros carac-terísticos de circovirose estão associa-dos à doença clínica, como no caso da anemia infecciosa aviária, da doença do bico e penas dos psitacídeos e da circovirose dos pombos. As infecções por circovírus causam, em muitas espécies, graus variados de depleção linfocitária sendo, por isso, conside-

Figura 1. Tendência geral dos casos de PCVAD submetidos ao Laboratório de Diagnóstico Veterinário da Iowa State University.

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radas doenças imunossupressoras(137). A análise filogenética do PCV1, do circovírus aviário, das geminiviroses das plantas e das nanoviroses, clas-sificou o PCV1 como sendo o mais proximamente relacionado ao BFDV e como intermediário entre os dois grupos virais das plantas(95). Além dis-so, tem sido proposto que um prede-cessor do PCV1 e do BFDV possa ter se originado de um nanovírus vegetal, o qual teria infectado um hospedeiro vertebrado e se recombinado com um vírus RNA vertebrado-infectante, mais possivelmente um calicivírus(37). Pesquisas recentes têm demonstrado que isolados de PCV2 poderiam ser divididos em dois grupos principais: PCV2 grupo 1 e PCV2 grupo 2, os quais – adicionalmente – poderiam ser subclassificados em grupos me-nores, ou seja: viroses do tipo PCV2 grupo 1 subdivididas em três classi-ficações (1A a 1C) e viroses do tipo PCV2 grupo 2 subdivididas em cinco classificações (2A a 2E)(97). Simulta-neamente, com a introdução dos ter-mos PCV2 grupo 1 e PCV2 grupo 2, os laboratórios norte-americanos co-meçaram a agrupar isolados a campo do grupo PCV2 no grupo de isolados do tipo europeu, ou PCV2b (que pas-sam a ser considerados PCV2 grupo 1) e no grupo de isolados do tipo norte-americano, ou PCV2a (que passam a ser considerados PCV2 grupo 2): GAGNON, C.A. et al. In: Am Assoc Swine Practitioners. v. 38. Proceedings… p. 535-540. 2007. Adicionalmente, alguns laboratórios norte-americanos preferem informar seus resultados com base na metodo-logia “predicted restriction fragment

length polymorphism” (RFLP), em vez de fazê-lo por meio dos dados de seqüência, de modo que a maioria dos isolados cai em um dos dois modelos de RFLP conhecidos: o 422 ou o 321. Isolados pelo processo RFLP mode-lo 422 são tipicamente classificados como PCV2 grupo 2 (ou PCV2a, ou isolados do tipo norte-americano), enquanto que isolados pelo processo RFLP modelo 321 podem ser tanto PCV2 grupo 2 (ou PCV2a ou isola-dos do tipo norte-americano), quanto PCV2 grupo 1 (ou PCV2b ou isola-dos do tipo europeu). Essa situação, a qual pode ser elucidada apenas pelo sequenciamento, tem levado ao uso dos termos velho 321, associado ao PCV2 grupo 2 e novo 321, associado ao PCV grupo 1. As nomenclaturas propostas para os subgrupos do PCV2 estão resumidas na Tabela 1.

Propriedades físicas e biológicas

A densidade de flutuação do PCV1 no CsCl tem sido considerada como 1,37 g/cm3 por TISCHER et al.(136), e como 1,36 a 1,37 g/mL por ALLAN et al.(12). Seu coeficiente de sedimentação (S) foi determinado como sendo 57S, quando comparado ao coeficiente de sedimentação do enterovírus bovino(12). O PCV1 foi considerado estável no pH 3, a 56°C e a 70°C, por 15 minutos, tendo se revelado resistente à inativação após a exposição ao clorofórmio(12). O grau de infectividade do PCV2 foi reduzido em 1,6 log após pasteurização por 10 horas a 60°C, em 0,75 log após tratamento pelo calor seco por 72

horas, a 80°C, e em 1,25 log após tratamento extremo com calor seco por 30 minutos, a 120°C(140). O PCV2 é normalmente isolado de tecidos que tenham sido armazenados a 270°C(29).

Transmissão

A transmissão do PCV2 pode ocorrer por contato direto, tanto pela via oronasal, como fecal ou urinária(16,

82). O contato direto com suínos ino-culados previamente (há 42 dias) com o PCV2 resultou na transmissão viral em três dos três suínos-controle nas-cidos de cesariana e sem acesso ao colostro(16). A transmissão do PCV2 entre os suínos nascidos de cesariana e sem acesso ao colostro foi verifica-da pela prova de reação em cadeia da polimerase (PCR), aplicada em amos-tras coletadas por swabs da orofarin-ge, nasais, fecais, amostras de sangue total e de soro sanguíneo(125). Todos os suínos testados foram positivos para o DNA do PCV2, no material coleta-do por meio dos swabs nasais, fezes e swabs orofaríngeos, um dia pós-inoculação. E o DNA do PCV2 foi detectado em todas as amostras, com exceção dos swabs orofaríngeos (um, de dois suínos positivos) até 70 dias pós-inoculação do PCV2. Amostras de soro e sangue total foram testadas, primeiramente, aos sete dias pós-ino-culação, sendo já positivas, pela prova do PCR(125). Swabs tonsilares, nasais, traqueo-bronquiais, urinários e fecais, de suínos com ou sem infecção sistê-mica severa devida à PCVAD, foram testados por meio da prova de PCR quantitativo em tempo real, tendo o DNA do PCV2 sido detectado em um alto percentual de amostras, o que nos levou a concluir que o PCV2 é mais provavelmente eliminado pelas secreções respiratórias, orais, urina e fezes, em ambos os casos (suínos infectados pela PCVAD ou clinica-mente sadios), com uma quantidade maior de vírus nos suínos infectados pela PCVAD(124).

Ácidos nucléicos do PCV2 foram detectados no trato digestivo

Tabela 1. Nomenclatura proposta para a subclassificação docircovírus suíno do tipo 2 (PCV2).

Referência

PCV 2 Tipo 1 PCV 2 Tipo 2 97

PCV 2b PCV 2aGagnon CA et al.: 2007Prc. Am. Assoc. SwinePractitioner 38:535-540

Cepa Européia 321 (nova)*

Cepa Norte Americana422, 321 (velha*)

27

* Baseado na metodologia do RFLP; velho pode ser distinguido de novo apenas pelo seqüenciamento.

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de suínos com (14/54 intestinos e 4/9 amostras de fezes) e sem (3/14 intestinos e 16/20 amostras de fezes) doença entérica, pela prova do PCR, sugerindo transmissão oro-fecal do PCV2, via fezes(145).

A ocorrência de transmissão vertical tem sido demonstrada indivi-dualmente, em porcas a campo(73, 96) e experimentalmente(52). Há relatos de transferência intrauterina vertical do PCV2, resultando em leitões virêmi-cos ou persistentemente infectados ao nascer(144).

A presença do PCV2 pode ser demonstrada também em amostras de sêmen. Cachaços com sete meses de idade foram inoculados, por via intra-nasal, com o PCV(275). O DNA viral foi detectado já no primeiro dia de coleta de soro (quatro dias pós-inocu-lação), em amostras de três entre qua-tro machos, tendo as referidas amos-tras permanecido positivas até os 35 dias pós-inoculação e revelando-se negativas aos 90 dias pós-inocula-ção. O DNA do PCV2 foi detectado já aos cinco dias pós-inoculação, no sêmen de dois dos quatro cachaços e de modo intermitente durante 47 dias pós-inoculação, nos quatro machos(75). O sêmen de 98 machos com um ano de idade, oriundos de 49 rebanhos co-reanos, foi testado pela prova do PCR e, 13 das 98 amostras foram positivas para o PCV2, pela prova de PCR con-vencional. Em 26 das 98 amostras de sêmen foram positivas, pela prova de PCR “semi nested” e 11 foram po-sitivas por isolamento viral(66). Esse

mesmo estudo investigou também a prevalência do PCV2 no liquido se-minal, nas células não espermáticas e nas cabeças dos espermatozóides, tendo sido detectado o volume esper-mático mais alto de DNA do PCV2 no líquido seminal e na fração não espermática(66).

A frequência da presença do DNA do PCV2 no sêmen de machos naturalmente infectados foi conside-rada baixa e esporádica, mas o sêmen de machos soropositivos para o DNA do PCV2 deve promover uma veicu-lação viral persistente(84). A presença do DNA do PCV2 no sêmen parece não afetar o percentual de células morfologicamente normais ou o nú-mero de células espermáticas e, ma-chos com mais de 17,5 meses de ida-de parecem não veicular mais o DNA do PCV2 por meio do sêmen(84). Em-bora o DNA do PCV2 esteja presente no sêmen, faltam ainda dados experi-mentais para confirmar que o PCV2 possa ser transmitido via inseminação artificial.

Terminologia da doença

O primeiro relato da doença associada ao PCV2 foi descrito como a síndrome multissistêmica do defi-nhamento dos suínos ou PMWS(44).

Uma vez que o PCV2 é oni-presente na população suinícola e que a infecção não necessariamente equi-vale à doença, Sorden(128) propôs um contexto para a definição da PMWS.

Com base nessa definição, o diagnós-tico da PMWS requer:

1) a presença de sinais clíni-cos, como a refugagem, a perda de peso e a doença respiratória;

2) a presença de lesões mi-croscópicas características associadas ao PCV2 (depleção linfocitária e/ou substituição histiocítica de folículos nos tecidos linfóides) e;

3) antígeno anti-PCV2 ou áci-dos nucléicos associados às lesões microscópicas, como determinado pela imunohistoquímica ou ISH(128). Logo se tornou evidente que a PMWS descrevia apenas uma parte das doen-ças associadas ao PCV2. Por exem-plo, grandes quantidades de antígeno PCV2 podem ser encontradas em suí-nos mais velhos ou mesmo em fetos e neonatos que não manifestam a refu-gagem, ou o antígeno PCV2 pode ser encontrado apenas em determinado órgão, além do tecido linfóide, como nos pulmões ou intestino.

Em 2002 foi proposto que as abreviaturas existentes, incluindo a PMWS, fossem substituídas por cir-covirose suína, ou PCVD1. O termo PCVD é utilizado, atualmente, na Europa, para resumir as doenças as-sociadas ao PCV2(123). Na América do Norte, percebe-se que qualquer termo novo usado em conexão com o PCV2 deve incluir a palavra associada, o que levou em março de 2006 à criação e à introdução do termo “doença asso-ciada ao circovírus suíno” (PCVAD), pela Associação Norte-americana de Veterinários Especialistas em Suínos (American Association of Swine Ve-terinarians ou AASV).

Há muitas razões pelas quais o termo definhamento tenha sido eli-minado da definição do contexto da doença e de suas classificações:

1) definhamento é um termo clínico subjetivo usado tipicamente em referência à perda de peso;

2) a perda de peso ou a falha em ganhar peso é comum em animais com uma larga variedade de diferen-tes doenças, infecciosas ou não e;

3) o termo definhamento pode

Tabela 2. Tendências dos casos da doença associada ao circovírus suíno do tipo 2, baseadas nas amostras submetidas ao Laboratório de Diagnóstico Veterinário da

Universidade do Estado de Iowa.

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Pneumonia 404 379 557 407 343 383 932

Infecção sistêmica 258 349 529 462 337 522 1,028

Enterite 2 11 25 23 21 26 65

Aborto 1 10 9 3 2 2 13

Síndrome da dermatite nefropática suína

7 8 12 7 16 31 57

Total n˚ casoshistopatológicos em suínos

5.455 6.397 6.913 5.866 5.713 6.715 9.645

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associar incorretamente a PCVAD à encefalopatia espongiforme trans-missível observada nos cervídeos. O contexto para a definição PCVAD foi estabelecido pela AASV em outu-bro de 2006, na http://www.aasp.org/aasv/position-PCVAD.htm (acessado em 04 de fevereiro de 2007). Com base nessa definição, a PCVAD pode ser subclínica, ou incluir uma ou mais manifestações clínicas, do tipo do-ença multissistêmica com perda de peso, alta mortalidade (multiplicando a taxa de mortalidade sem a introdu-ção de nenhum novo patógeno conhe-cido), sintomas respiratórios, síndro-me neuropática e dermatológica suína ou PDNS, sintomatologia entérica incluindo diarréia e transtornos repro-dutivos individuais ou em combina-ção, num rebanho ou grupo de suínos. No banco de dados do Laboratório de Diagnóstico Veterinário da Universi-dade do Estado de Iowa (ISU VDL), localizado em Ames, Estado de Iowa, EUA, a PCVAD inclui agora infec-ção sistêmica (a categoria na qual a PMWS se encaixa agora), pneumonia associada ao PCV2, enterite associa-da ao PCV2, falhas reprodutivas as-sociadas ao PCV2 e PDNS associada ao PCV2 (Tabela 2).

Casos que se encaixam nessa categoria podem ter lesões associadas ao PCV2 que variam em termos de gravidade, de suaves a severas e cujas descrições são adicionadas aos rela-tos de caso. As pessoas que trabalham com diagnóstico, no ISU VDL, sen-tem que esse esquema de classificação permite a realização de um trabalho de classificação mais uniforme, das distintas manifestações da PCVAD.

Patogenia da PCVAD

A patogenia da infecção pelo PCV2 e os principais tipos celulares que dão apoio à replicação viral não são ainda totalmente conhecidos. Depleção linfocitária e linfopenia no sangue periférico são características consistentes, em suínos que desen-volvem a PCVAD clínica.

A imunohistoquímica (IHC) ou as técnicas de hibridização in situ (ISH) demonstram um grande núme-ro de antígenos PCV2, ou ácidos nu-cléicos, no citoplasma de macrófagos e células dendríticas, substituindo os linfócitos nos folículos em depleção do tecido linfóide(3, 20, 128). Entretan-to, os antígenos PCV2 são apenas esporadicamente detectados em linfócitos(20) e ainda não se sabe se a redução dos linfócitos nos suínos in-fectados pela PCVAD é devida à sua produção reduzida na medula óssea, à sua produção reduzida nos tecidos linfóides secundários ou ao aumento na perda de linfócitos pela medula óssea, no sangue periférico ou nos te-cidos linfóides secundários, por meio da indução de necrose pelo vírus ou apoptose.

Apesar da presença do PCV2 nos macrófagos e nas células dendrí-ticas, estudos recentes in vitro suge-rem que células monocíticas podem não representar o alvo primário para a replicação do PCV(238). Monócitos e macrófagos foram testados, com rela-ção à habilidade de facilitar a replica-ção do PCV2, in vitro. A replicação não foi observada nesses tipos de cé-lulas, entretanto, o PCV2 não foi de-gradado no citoplasma das mesmas(38). De modo similar, VINCENT et al.(138) também não evidenciou esta replica-ção em células dendríticas havendo, entretanto, a persistência do PCV2 nas mesmas, sem a perda de seu grau de infectividade ou a indução de mor-te celular.

Tem sido especulado que, por causa de sua capacidade migratória, as células dendríticas têm se compor-tado como um veículo, transportando o vírus por meio do hospedeiro(138). Um clone infeccioso de DNA do PCV2 foi desenvolvido(32) para tentar clarificar o papel do PCV2 na PCVAD sistêmica e em outras manifestações clínicas atribuídas à infecção pelo ví-rus. O uso de um clone infeccioso de DNA assegurou a pureza e a homoge-neidade do inóculo nos estudos com animais realizados in vivo, permitindo a manipulação genética viral no nível

molecular, para avaliar os efeitos bio-lógicos das referidas mudanças(32, 35, 36,

105). Suínos livres de doenças especí-ficas (SPF) infectados com o PCV2 de DNA infeccioso clonado desen-volveram lesões linfóides associadas ao PCV(232). A evidência do definha-mento não se manifestou durante os 35 dias correspondentes ao estudo, entretanto, a pesquisa com o PCV2 de DNA infeccioso clonado estabele-ceu claramente o PCV2 como sendo o responsável pelas lesões do tecido linfóide, dos casos de PCVAD(32).

Em 2005, um grupo de pes-quisadores franceses demonstrou, de modo similar, que suínos SPF inocu-lados com o PCV2 de DNA infeccioso clonado desenvolveram lesões con-sistentes com a PCVAD sistêmica(39). Considerados em conjunto, os dados do DNA infeccioso clonado reforça-ram a hipótese de que o PCV2 seria essencial para o desenvolvimento da PCVAD. Entretanto, a maioria das cepas do PCV2 requer, igualmente, outros cofatores ou elementos básicos para induzir o espectro total dos sinto-mas clínicos e lesões, associados aos casos avançados de PCVAD. Evidên-cias de campo dão suporte à ideia de que a PCVAD seja multifatorial, em termos de causas e que nem todos os suínos infectados com o PCV2 desen-volverão a PCVAD clínica (Fig. 2).

Os fatores que são frequente-mente considerados como influencia-dores das consequências da infecção pelo PCV2 podem ser subdivididos em quatro elementos principais: ví-rus, hospedeiro, coinfecções e imuno-modulação (Fig. 2). O trabalho expe-rimental confirmou, adicionalmente, que pelo menos esses quatro compo-nentes são os elementos básicos cha-ve, identificados até o momento, nos modelos de estudo para a PCVAD.

Fatores vírus-dependentes

Um alto percentual de suínos clinicamente sadios são tidos como in-fectados pelo PCV2, enquanto outros desenvolvem doença severa. A análise

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genética e a comparação do sequen-ciamento dos isolados de PCV2 têm falhado, até o momento, para explicar totalmente as diferenças nas manifes-tações clínicas. O genoma completo de dez isolados holandeses de PCV2, originários de granjas acometidas e não acometidas pela PCVAD foram sequenciados e, quando comparados, revelaram possuir de 95,6% a 100% de identidade sequencial(41). Não hou-ve evidência de um modelo consis-tente entre isolados de PCV2, de su-ínos acometidos ou não pela doença, o que levou os autores a concluir que as diferenças nas manifestações clíni-cas seriam possivelmente devidas a alguma outra coisa, além do vírus(41). Trinta e quatro isolados de PCV2, de rebanhos do leste canadense e com

manifestações clínicas variáveis da doença, foram sequenciados e consi-derados como sendo proximamente relacionados, entre si e com outras cepas canadenses, norte-americanas, européias e asiáticas(76). O sequen-ciamento completo de 38 isolados de PCV2 franceses, oriundos também de plantéis acometidos e não acometidos foi determinado, mas os marcadores moleculares de virulência não pude-ram ser identificados(26). Na Bretanha concluiu-se que, em todas as granjas estudadas, os casos de infecção esta-vam relacionados com isolados pró-ximos, ainda que distintos, do PCV2 e que os surtos recentes de PCVAD, muito provavelmente, não são devi-dos a um novo genótipo emergente do PCV(226). Também foi demonstra-

do que uma cepa viral que persistiu durante dez anos em um plantel SPF sueco, sem desencadear clinicamen-te a PCVAD, foi capaz de induzir, sob condições experimentais, a ma-nifestação sistêmica da doença em suínos(2, 48). Quando comparado com um isolado canadense recente e de referência do PCV2 (PCV2-1010), demonstrou-se que ambos os isolados foram altamente virulentos no mode-lo de coinfecção PCV2-parvovirose suína (PPV), o que levou à conclusão geral de que a virulência do isolado sueco foi indistinguível, com relação à virulência do isolado recente de re-ferência canadense(48).

Pesquisa relacionada à cons-trução e caracterização de dois clo-

Figura 2. Diagrama atualizado para ajudar a entender a progressão da infecção pelo vírus (PVC2)no sentido da doença (PCVAD).

Adaptado de uma comunicação pessoal do Dr. M. Fenaux, 2004.

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nes infecciosos quiméricos, do DNA do PCV1 e do PCV2, tem contribuí-do para o conhecimento adicional a respeito de fatores de dependência virais(33). O clone quimérico do DNA do PCV1–2 contém o gene do cap-sídeo clonado na coluna vertebral do PCV1 não patogênico. O vírus PCV1–2 quimérico induziu uma for-te e específica resposta de anticorpos ao antígeno capsídeo patogênico do PCV2, tendo sido atenuado (de míni-mas a nenhuma lesões, baixo nível e extensão reduzida de viremia, baixo ou não detectável nível de antígeno viral nos tecidos linfóides) quando inoculado em suínos(33). Ocorreram duas mutações de aminoácidos no capsideo protéico do PCV2, após 120 passagens seriadas em cultivo celular. Essas mutações resultaram na atenua-ção viral in vivo(35). Foram observadas diferenças significativas no número de cópias genômicas séricas do PCV2 e as lesões macro e microscópicas ob-servadas em suínos inoculados com o isolado de PCV silvestre, foram mais severas que aquelas devidas à inocu-lação com o isolado de 120 passagens do PCV2(35). Este estudo confirmou haver mínimas chances do genoma de um isolado de PCV2 alterar marcada-mente a virulência das viroses devidas ao PCV2. Foram investigadas pos-síveis diferenças de virulência, entre isolados a campo de PCV2 originá-rios do meio-oeste norte-americano, com 98,9% e 96,7% de identidade entre as sequências de ácidos nucléi-cos e aminoácidos, respectivamente, em ORF2, em um estudo in vivo feito em 2006(105).

O isolado de PCV2 ISU-40895 foi originário de caso clínico com se-vera depleção linfocitária e inflama-ção, associadas à grande quantidade de antígenos virais, consistentes com a PCVAD. Em contrapartida, o isola-do de PCV2 ISU-4838 originou-se de um caso clínico com nenhuma lesão associada ao PCV2. O estudo in vivo usando suínos SPF confirmou que os isolados de PCV2 com diferenças ge-nômicas mínimas podem diferir sig-nificativamente, em termos de viru-

lência, quando avaliados com relação aos níveis virais presentes no soro e nos tecidos e com relação à gravida-de das lesões associadas ao PCV2(105). Um aumento na incidência e na gra-vidade, além de uma mudança na ma-nifestação clínica, das doenças asso-ciadas ao PCV2 tem sido observado em Ontário e em Quebec, no Canadá, desde o fim do ano de 2004. Veteriná-rios de campo, profissionais da área de diagnóstico e pesquisadores rela-tam suas observações de novas lesões patológicas na região de Ontário, incluindo edema pulmonar, enterite granulomatosa, depleção linfocitária mais grave, com um grande número de corpos de inclusão devidos ao cir-covírus e necrose linfóide associada ao antígeno PCV2. A analise de iso-lados do PCV2 demonstrou uma mu-dança no seu tipo(27). Observações si-milares têm sido relatadas em Quebec (BATISTA, L., comunicação pessoal, 2005; GAGNON, C.A. et al. In: Am Assoc Swine Practitioners v.38, Pro-ceedings… p.535–540. 2007). Relatos similares de aumento da incidência e da gravidade dos casos de PCVAD, associados a um novo genótipo emer-gente, foram subsequentemente rela-tados nos EUA(19). Isolados de PCV2 do tipo 1 não tinham sido relatados nos EUA, anteriormente a 2005, mas parecem estar associados a surtos da PCVAD ocorridos no Kansas, Caroli-na do Norte e Iowa, em 2006(19).

É interessante notar que, até hoje, os isolados de PCV2 estudados em modelos experimentais ou em trabalhos a campo, são comparados apenas entre tipos iguais e não em cruzamento dos tipos 1 e 2, no mes-mo modelo ou estudo. Ainda não se sabe se o aumento encontrado no iso-lamento do PCV2 do tipo (PCV2b) é devido a uma mudança (exacerbação) na virulência devido à nova introdu-ção dentro de uma área (por ex., via sêmen, etc.), ou por que outro fator X poderia ter sido o responsável pelo aumento na replicação de um, ini-cialmente, insignificante genótipo do PCV2. A teoria do fator X é apoiada por um estudo associado retrospecti-

vo, realizado em 116 granjas britâni-cas entre 2003 e 2004 (GREEN, L.E.; WOODBINE, K.A.; TURNER, M.J. In: Intern Conf Animal Circoviruses and Associated Disease. Proceedin-gs… p. 23–24. 2005).

As conclusões principais desse trabalho sugerem que a PMWS com-portou-se como uma doença epidê-mica, movimentando-se por meio de uma população de animais-sentinela, sem uma associação óbvia casual entre seus antígenos e anticorpos do PCV2 e sem a indicativa de um novo agente. De modo similar, um estudo realizado por um grupo neozelandês concluiu que a PMWS poderia ser transmitida por contato direto e in-direto entre suínos acometidos pela doença e suínos sadios, mas que a ex-posição de suínos-sentinela ao PCV2 sozinho não seria uma causa indica-tiva da transmissão de outro agente, que não o próprio PCV2, necessário para a aquisição da PMWS (JAROS, P.; McINTYRE, L.H.; MORRIS, R.S. et al. In: Intern Pig Vet Soc Congress. 19. Proceedings… p.168. 2006).

Fatores dependentes do hospedeiro

Suínos de todas as raças pare-cem ser susceptíveis à infecção causa-da pelo PCV2b e a PCVAD clínica tem sido observada numa grande varieda-de de linhagens puras e cruzamentos entre linhagens, cujos casos suspeitos foram submetidos a um laboratório de diagnóstico norte-americano (HAL-BUR, P.G., dados não publicados). Um estudo associado foi conduzido com o objetivo de investigar o sus-peito decréscimo na susceptibilidade da doença associada ao PCV2 na raça Pietrain, por meio de manipulação ge-nética via inseminação artificial, rea-lizada em quatro granjas acometidas pela PMWS(116). Metade das porcas foi inseminada com sêmen Pietrain, enquanto o restante delas recebeu o sêmen normalmente utilizado na roti-na das granjas. A doença associada ao PCV2 que surgiu na geração da raça

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Pietrain não foi diferente da observa-da nos outros suínos das granjas, em termos de soro-conversão ao PCV2, morbidade e mortalidade(116). Em contrapartida, um estudo de campo usando dois lotes idênticos de 5.000 fêmeas, com três linhas genéticas pa-ternas distintas (100% Pietrain, 50% Large White/50% Pietrain e 25% Large White/75% Duroc), demons-trou que – sob as circunstâncias do estudo – a genética do hospedeiro influenciou na expressão da PCVAD, por meio da manifestação de um aumento da mortalidade na geração paterna Large White/Duroc, compa-rado com a geração das duas outras linhagens(79). A susceptibilidade do hospedeiro e seu efeito na manifes-tação da infecção pelo PCV2 foram recentemente investigados, em um projeto piloto controlado(99). Três ra-ças foram comparadas nesse estudo: Duroc, Landrace e Large White.

A incidência de PCVAD sis-têmica, com base nas lesões macro e microscópicas, foi de 0% (0/23) nos Duroc, de 3/19 (15,8%) nos Landrace e de 0% (0/21) nos Large White(99). Os suínos Landrace puros usados nesse experimento foram claramente mais susceptíveis às doenças associa-das ao PCV2, com confirmação pela determinação da gravidade dos sinais clínicos e lesões microscópicas asso-ciadas ao PCV2(99). A infecção expe-rimental singular, usando o mesmo isolado de PCV2 em dosagem e pas-sagem em cultivo celular similares, falhou na indução da PCVAD clínica, em cruzamentos de suínos SPF(32, 36, 49,

100, 101, 104, 106, 107). Outro grupo de pes-quisa induziu experimentalmente a PCVD sistêmica em suínos cruzados Landrace/Large White, com supres-são do fornecimento de colostro e inoculados com um isolado de PCV2 recuperado de um suíno Yorkshire, infectado de modo subclínico e im-plicou a associação do hospedeiro e/ou de fatores dependentes do ambien-te, no desenvolvimento da PMWS(2). A correlação entre o tipo de resposta imune adaptativa contra o PCV2 e o nível de replicação viral trouxe evi-

dências relativas à variação dos hos-pedeiros no aparecimento da resposta imune adaptativa, as quais podem ser contabilizadas para as diferenças na replicação do PCV2, para a manifes-tação clínica e as consequências da doença associada ao PCV2 entre os suinos(90). Um estudo recente realizado in vitro, investigando os modelos de replicação do PCV2 nos macrófagos dos alvéolos pulmonares, encontrou claras diferenças entre os macrófagos derivados de diferentes cruzamentos convencionais entre suínos, sugerindo inclusive diferenças na susceptibili-dade à PCVAD(89). Embora as evidên-cias clínicas e experimentais sejam mínimas, uma investigação adicional sobre as diferenças na susceptibilida-de do hospedeiro à PCVAD é justifi-cada.

Efeitos das coinfecções

Coinfecções experimentais em suínos, com o PCV2 e com outras viroses, como o PPV(4, 11, 55, 70, 100), o vírus da PRRS(6, 46, 120) ou com bactérias como o Mycoplasma hyopneumoniae106, têm mostrado o efeito de causar um incremento na carga viral e nas lesões associadas ao PCV2 e um aumento na incidência da PCVAD. De fato, o efeito multiplicador das coinfecções na replicação do PCV2 e da doença associada foi detectado acidentalmente quando suínos gnoto-bióticos foram inoculados com material filtrado de cultivo celular e tecido linfóide filtrado de suínos contaminados naturalmente pela PCVAD(30). Esses suínos inoculados experimentalmente desenvolveram a forma clínica da PCVAD; entretanto, ambos PCV2 e PPV foram retrospectivamente detectados no inóculo e nos suínos. Coinfecções comuns ocorridas em 484 suínos, nos EUA, com a doença sistêmica associada ao PCV2, foram resumidas em 2002(110). O PRRSV foi detectado em 52% (251/484) dos casos, o M. hyopneumoniae em 36% (172/484), a septicemia bacteriana e/ou pneumonia em 22%

(105/484), o vírus da influenza suína (SIV) em 5,4% (26/484) e a infecção simples pelo PCV2 em apenas 2% (9/484). 110 infecções causadas pelo vírus da Aujeszky, ocorridas simultaneamente com a PCVAD sistêmica, foram demonstradas em suínos, em associação com tonsilites necrotizantes multifocais e linfadenites(114). POGRANICHNIY et al.(112) conduziu um estudo de caso controlado, em suínos com histórico clínico de definhamento e com lesões microscópicas características da PCVAD; o grupo controle era composto de suínos sem sinais clínicos ou lesões microscópicas típicas da PCVAD. Entre todos os agentes virais testados: PCV2, PRRSV, PPV, enterovírus suíno dos tipos 1 a 3, SIV, coronavírus respiratório suíno, coronavírus da gastrenterite transmissível (TGEV), retrovírus endógeno suíno, herpesvírus linfotrópico suíno do tipo1 e o vírus da diarréia bovina, o PCV2 foi o que teve a associação mais forte com a PCVAD. O risco da manifestação da PCVAD clínica seria muito maior se o suíno estivesse coinfectado com a dupla PCV2/PRRSV(112). Na opinião do autor, não há nenhum outro copatógeno (ex.: agente X) ao qual, sozinho, pudesse ser atribuído o aumento da gravidade da doença associada ao PCV2 e a sua incidência. Nesse momento parece mais que vários agentes X, patogênicos e não patogênicos, conhecidos ou não, variando de região para região, podem estar aptos a acionar o gatilho da progressão da infecção pelo PCV2 à PCVAD.

Efeitos da imuno modulação

Imunoestimulação. Estudos têm demonstrado que a imuno-esti-mulação pode desencadear a progres-são da infecção causada pelo PCV2 para a doença e as lesões caracterís-ticas da PCVAD. KRAKOWKA et al.(68) reproduziu a PCVAD clínica em suínos gnotobióticos, estimula-

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dos com metaloproteinas (KLH1) em adjuvante incompleto de Freund e inoculados com o PCV2. Com base nesse trabalho inicial têm surgido in-teresse e preocupação consideráveis no efeito das vacinas que contêm ad-juvantes sobre a melhora dos casos de doenças induzidas pelo PCV2, ha-vendo na literatura um grande volume de evidências que apóiam a hipótese de que, programas comuns de vaci-nação, sob circunstancias corretas, podem melhorar os casos de doenças associadas ao PCV(29, 71, 107). Em con-trapartida, outros têm demonstrado que a PCVAD pode ser induzida pela infecção devida ao PCV2, sem coin-fecção ou imuno-estimulação, o que implica no fato do PCV2 comportar-se como um patógeno primário, em alguns casos(13, 16, 72). Em adição ao tipo de vacina utilizada, outros fato-res como o momento da aplicação de vacinas com adjuvantes e a idade do suíno no momento da infecção pelo PCV2 podem influenciar também as consequências das doenças associa-das ao PCV2. Um estudo recente, realizado com o objetivo de determi-nar se o momento ideal da vacinação – feita com uma vacina comercial dis-ponível contra o M. hyopneumoniae – teria efeito sobre a replicação viral e a gravidade das lesões associadas ao PCV2, confirmou diferenças nas lesões associadas ao vírus, entre os grupos tratados. Concluiu que, no caso de suínos vacinados entre duas e quatro semanas antes da exposição esperada ao PCV2, nenhuma lesão ou o mínimo de lesões associadas foram observadas(101). Foi conduzido um es-tudo no sentido de determinar se os adjuvantes (de modo oposto aos an-tígenos) das vacinas comerciais para suínos induziam a um aumento na re-plicação do PCV2 e na doença asso-ciada ao PCV2 e suas lesões, além de pesquisar a ocorrência de diferenças devidas aos tipos de adjuvantes nesse efeito(49). Os suínos foram vacinados entre quatro e seis semanas de idade, tendo sido inoculados com o PCV2 às seis semanas de idade. Nas condi-ções do estudo foi observado que, nos

estágios tardios da infecção (35 dias pós-inoculação), os suínos vacinados com os adjuvantes do tipo “óleo em água” tiveram um crescimento no período de viremia devida ao PCV2, um aumento na quantidade de PCV2 presente no soro e nos tecidos e um aumento severo na depleção linfóide, na comparação frente aos suínos va-cinados com produtos aquosos ou à base de hidróxido de alumínio(49).

Imunossupressão. Vinte suínos gnotobióticos foram inoculados com o PCV2 na idade de um (01) dia(69). Adicionalmente, quatro suínos rece-beram ciclosporina por via oral, dia-riamente e quatro receberam um cor-ticosteróide (suspensão de triancino-lona aceonida) por via intramuscular, duas vezes por semana. O tratamento com a ciclosporina, ao contrário do tratamento com o corticosteróide, resultou no aumento da replicação do PCV2 nos tecidos e promoveu a dispersão viral para os hepatócitos. Não surgiram reações inflamatórias típicas da PCVAD, embora os teci-dos contivessem um alto título vi-ral, o que levou à conclusão de que lesões inflamatórias granulomatosas são imuno-mediadas(69). Em um outro estudo, sete suínos nascidos por cesa-riana e impedidos de mamar colostro, foram inoculados com PCV2 por via intranasal e intraperitonial(54). Três dos sete suínos foram tratados com dexametazona, aos oito dias de idade, tendo desenvolvido linfoadenite gra-nulomatosa, a qual não foi observada nos suínos inoculados somente com o PCV2. Concluiu-se que o tratamento com a dexametazona influenciou na infecção do tecido linfóide pelo PCV2 e que a supressão da imunidade me-diada por células pode ter influência na etiologia da PCVAD(54).

Manifestações da PCVAD

A PCVAD, analisada individu-almente em um suíno, é diagnosticada pela presença de lesões microscópi-cas características, as quais estão as-

sociadas com a quantidade moderada a abundante do antígeno PCV2. Para distinguir as diferentes formas de ma-nifestação da PCVAD, é importante avaliar os intestinos, pulmões e teci-dos linfóides, por meio da imuno-his-toquímica, para a presença do antíge-no PCV2. Além disso, em termos de plantel, há uma diferenciação entre a PCVAD esporádica e a PCVAD mani-festada num nível que seja considera-do um problema de rebanho. Foi pro-posto que a PCVAD fosse considerado um problema, em termos de rebanho, no caso da ocorrência de um aumento no nível da mortalidade, de igual ou maior que os níveis históricos, mais 1,66 vez o desvio padrão (SEGALÉS, J. In: Am Assoc Swine Veterinarians. PCV2/PMWS Seminar, v.12, n. 37, Proceedings... p.1-7. 2006). Alterna-tivamente, o teste do qui-quadrado pode ser usado para determinar se a mortalidade atual é mais alta que a dos períodos prévios. No caso de não haver dados disponíveis sobre o his-tórico de mortalidade do rebanho, um aumento na mortalidade que exceda o nível nacional ou regional em 50% é considerado como um indicativo do nível da PCVAD, em termos de plantel. Resumindo e para simplifi-car, o diagnóstico da PCVAD no nível de rebanho, leva em consideração o percentual de suínos com diagnóstico positivo para PCVAD, entre todas as amostras submetidas, e um acréscimo no nível de mortalidade da granja in-vestigada, em particular. Geralmente, se a PCVAD é diagnosticada em 50% ou mais dos suínos, de uma amostra representativa do plantel, e há um au-mento significativo na mortalidade, em comparação a parâmetros anterio-res do plantel, considera-se a PCVAD como sendo um problema de reba-nho. Se a PCVAD for diagnosticada em menos de 50% dos suínos, de uma amostra representativa do plantel, com um aumento simultâneo da mor-talidade ou se a PCVAD for diagnos-ticada em mais de 50% dos suínos, de uma amostra representativa do plantel, sem um aumento simultâneo da mortalidade, então se considera a

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PCVAD como sendo um problema esporádico.

Infecção subclínica pelo PCV2

Um diagnóstico de infecção subclínica causada pelo PCV2 signifi-ca que, embora o vírus esteja presen-te, não é considerado responsável pela doença observada no suíno (ex.: bai-xa quantidade de antígenos de PCV2 associadas com a ausência ou com o mínimo de lesões). Com base na ino-culação experimental de suínos pelo PCV2, sabe-se que a infecção pro-vocada pelo vírus e suas respectivas lesões podem estar limitadas a um ou dois linfonodos por suíno, sem cau-sar problemas clínicos aparentes(102,

106). Entretanto, tem sido demonstrado experimentalmente também que, in-fecções subclínicas devidas ao PCV2 podem estar associadas ao decrésci-mo da eficácia vacinal(104). Também tem sido descrita uma linfoadenite necrosante associada ao PCV2, em linfonodos individuais de suínos cli-nicamente sadios(61, 102). A principal lesão é uma necrose folicular, locali-zada no centro dos folículos linfóides proeminentes, a qual está usualmente restrita a um ou dois linfonodos. A significância desse quadro é desco-nhecida, a não ser nos casos em que carcaças com linfonodos aumenta-dos são condenadas ou consideradas inadequadas para consumo humano, em abatedouros, após a submissão de amostras a laboratórios de diagnós-tico e a confirmação da presença da linfoadenite necrosante.

Infecção sistêmica associada ao PCV2

Os sintomas clínicos primários do quadro sistêmico incluem perda de peso ou diminuição na taxa de ganho de peso, palidez ou icterícia, ema-ciação e aspecto doentio exacerbado (Fig. 3). Os suínos infectados podem demonstrar dificuldade respiratória, com a presença de tosse e diarréia de

coloração escura. As lesões macros-cópicas incluem o aumento dos linfo-nodos, mas não são limitadas por ele. Os pulmões, geralmente, falham em sua movimentação normal, apresen-tando coloração marrom marmoriza-da, e os rins podem apresentar marcas ou manchas esbranquiçadas. Embora sejam menos comuns, úlceras gástri-cas também podem ser observadas. Como o próprio nome sugere, a infec-ção sistêmica causada pelo PCV2 ca-racteriza-se por lesões inflamatórias, de linfo-histiocíticas a granulomato-sas, localizadas nos tecidos linfóides (Fig. 4) e/ou nos pulmões, fígado, rins, coração e intestinos.

Têm sido descritos sistemas de medida para o grau de gravidade das lesões e para estimar os antígenos virais (Tabela 3; Fig. 5)106. Um des-ses sistemas de medida usa sete teci-dos linfóides e contabiliza o grau de gravidade das lesões, a quantidade de antígeno (PCV2) e a distribuição das lesões. Resumindo, cada tecido lin-fóide (linfonodo tráqueo-bronquial, linfonodo mesentérico, linfonodo mediastínico, linfonodo inguinal su-perficial, linfonodo externo-ilíaco, tonsilas e baço) recebe um valor que varia entre zero e nove (valor para

depleção linfóide, entre zero e três; valor para inflamação granulomato-sa, entre zero e três; valor para PCV2 IHC, entre zero e três). Os valores individuais dos sete tecidos linfóides são somados e divididos por sete. De-pendendo do número final, um suíno é categorizado como não tendo lesões associadas ao PCV2 (valor = zero); como tendo um grau leve de lesões associadas ao PCV2 (valor entre 1 e 3); com grau moderado de lesões associadas ao PCV2 (valor entre 4 e 6); ou com grau severo de lesões associadas ao PCV2 (valor entre 7 e 9). Esse sistema de medida tem sido útil para a classificação do grau de gravidade da PCVAD induzida expe-rimentalmente; entretanto, é fora da realidade pensar em utilizá-lo para os casos de campo, uma vez que se costuma submeter ao laboratório uma variedade incompleta de tecidos lin-fóides. Os autores propõem que, para diagnosticar infecções sistêmicas induzidas pelo PCV2 é necessário, pelo menos, demonstrar o antígeno PCV2 em mais de um tecido linfói-de (linfonodo, tonsila, baço); e, pelo menos, um outro órgão sistêmico (por ex., pulmão, fígado, rim, intestinos); ou em dois órgãos sistêmicos, como

Figura 3. Suíno com oito semanas de idade, coinfectado experimentalmente com o circovírus suíno do tipo 2 (PCV2) e com o parvovírus suíno (PPV), mostrando icterícia e uma pobre condição corporal, típica da doença sistêmica associada ao PCV2 (PCVAD)

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pulmão, fígado, rim, intestinos. Se o antígeno PCV2 abundante estiver as-sociado a apenas um órgão sistêmico específico, deve ser considerado um caso de doença respiratória associa-da ao PCV2, ou enterite associada ao PCV2 ou falha reprodutiva associada ao PCV2, em vez de infecção sistêmi-ca associada ao PCV2.

Caso haja uma quantidade limitada de antígeno (PCV2) presente, mas as lesões sejam severas, a situação é consistente com uma PCVAD crônica severa. Combinando graus de lesão com a quantidade de antígeno, pode ser possível também se tirar conclusões a respeito do estágio da infecção viral (Tabela 4).

Doenças respiratórias associadas ao PCV 2

Pesquisas de campo recentes(45,

63) e a análise da tendência dos casos, nos laboratórios de diagnóstico norte-americanos (Tabela 2) sugerem que o PCV2 tenha grande importância no complexo das doenças respiratórias

dos suínos (PRDC). O PRDC é uma condição observada principalmente nos suínos entre oito e 26 semanas de idade, sendo associada a múltiplos patógenos respiratórios, entre eles o PRRSV, o SIV e o M. hyopneumoniae. O PRDC caracteriza-se pela depressão na taxa de crescimento, decréscimo na conversão alimentar, anorexia, febre, tosse e dispnéia. Pode haver uma convergência entre os diagnósticos da doença sistêmica associada ao PCV2 e a pneumonia associada ao PCV2. A

presença de uma doença respiratória clínica prolongada e usualmente não severa, pneumonia brônquio intersticial granulomatosa com bronquiolite e fibrose bronquiolar, além de abundante quantidade de antígeno (PCV2) associada às lesões, é sugestiva de que o PCV2 possa ter um papel importante no PRDC.

Pneumonia intersticial com bronquiolite foi relatada nos primei-ros casos de PMWS (CLARK, E.G. In: Am Assoc Swine Practitioners, v. 28. Proceedings... p. 499–501. 1997)(29). A pneumonia associada ao PCV2 caracteriza-se por um quadro pneu-mônico intersticial, de linfo-histiocí-tico a granulomatoso, com fibroplasia peri-bronquiolar e bronquiolite ne-crosante/ulcerativa, de suave a seve-ra (Fig. 6). As lesões bronquiolíticas associadas ao PCV2 lembram aquelas induzidas pelo vírus da influenza su-ína, ou as do coronavírus respiratório suíno.

A pneumonia bronquio-in-tersticial foi reproduzida, em adição às lesões de tecido linfóide – marca registrada da PMWS – em suínos convencionais inoculados com o PCV2(82). A doença respiratória mo-derada e a pneumonia intersticial multifocal foram induzidas em suínos nascidos por cesariana e impedidos de mamar o colostro, inoculados com o PCV2(16). A pneumonia intersticial moderada e a rinite linfoplasmacítica foram induzidas em suínos conven-

Figura 4. Linfonodo suíno, caso de campo. Depleção linfóide associada ao PCV2 e substituição histiocítica a granulomatosa do folículo, com células mononucleares gigantes na parte central. Coloração pelo método da hematoxilina e eosina. No destaque, antígeno PCV2 abundante (coloração marrom), pela técnica da imuno-histoquímica. Método do complexo da streptavidina-biotina peroxidase, coloração por contraste com a hematoxilina

Tabela 3. Sistema de medidas para o grau de severidade das lesões em tecidos linfóides associadas ao PCV 2 e à quantidade de antígeno (PCV 2).

0 1 2 3

Depleção linfóide Não presente

Ameno, com perda global da

celularidade

Moderado

Severa, com perda da estrutura

linfóide do foliculo

Inflamação granulomatosa

histiocíticaNão presente Leve Moderado

Severa, com substituíção dos foliculos

Antigeno PCV2* Não presenteMenos de

10%Moderado Mais de 50%

* Percentual de folículos linfóides com células reagentes ao antígeno PCV2, demonstrado por imunohistoquímica(106)

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cionais, inoculados com o PCV2(120). A pneumonia bronquio-intersticial granulomatosa moderada foi reprodu-zida em suínos convencionais, com a utilização do clone de DNA infeccio-so do PCV2(32).

Enterites associadas ao PCV2

Casos de enterites associadas ao PCV2 são cada vez mais comuns. A maioria dos casos de campo de en-terites associadas ao PCV2 ocorre em suínos entre oito e 16 semanas de ida-de. Os casos de enterites associadas ao PCV2 geralmente lembram, clini-camente e macroscopicamente, casos de ileíte crônica devidos à Lawsonia intracellularis. A mucosa intestinal apresenta-se espessada e os linfono-dos mesentéricos, infartados(51).

Exames microscópicos confir-mam a presença da enterite granulo-matosa, a qual vem geralmente asso-ciada com uma quantidade abundante de antígeno (PCV2), evidenciada por coloração, por meio da metodologia IHC (Fig. 7). A enterite associada ao PCV2 foi diagnosticada em seis lei-tões desmamados, de um lote aparen-temente livre de PMWS e PDNS, por meio de histopatologia e isolamento viral (PCV2 e PCV2 ISH(64)). Os su-ínos acometidos não apresentaram depleção linfocitária ou substituição histiocítica de folículos, nos tecidos linfóides. Os autores propuseram que o diagnóstico da enterite associada ao PCV2 ocorre somente se a diarréia estiver presente; se as lesões caracte-rísticas estiverem presentes nas pla-cas de Peyer, mas não em outros lin-fonodos; e se o antígeno (PCV2) ou

ácidos nucléicos estiverem presentes nas lesões(64).

Falhas reprodutivas associadas ao PCV2

Muitos relatos de falhas repro-dutivas associadas ao PCV2(73, 96) têm surgido desde a informação original de WEST et al.(144), no oeste canaden-se, em 1999. As manifestações clíni-cas nas granjas acometidas incluem mais abortos, natimortos e mumifica-ção fetal (Fig. 8) além do aumento da mortalidade pré-desmame. Os lotes afetados são, tipicamente, de marrãs em início de produção ou de novas populações. Miocardite fibrosante, ou variando de não supurativa a necro-sante, associada à quantidade abun-dante de antígeno (PCV2), é a lesão marcante (Fig. 8) em leitões natimor-tos e neonatos, de casos a campo(91). A infecção intra-uterina experimental de fetos com o PCV2 resultou na re-plicação viral e confirmou o coração como sendo o primeiro local de repli-cação do agente nos fetos(122). Quando os fetos foram inoculados “in útero”, nos dias 57, 75 e 92 do período de gestação, ocorreu uma replicação vi-ral significativamente alta nos fetos inoculados aos 57 dias, comparati-vamente aos inoculados aos 75 e 92 dias.

Todos os fetos foram sacrifi-cados no 21° dia pós-inoculação, e as lesões (edema, fígados aumenta-dos, congestão) observadas apenas nos fetos inoculados aos 57 dias de gestação(122). Em outro estudo, 37 fetos originários de três porcas fo-ram inoculados aos 86, 92 e 93 dias de gestação, por via intramuscular e, no parto, 24 leitões normais e 13 mumificados, natimortos ou nascidos fracos foram observados, confirman-do que o PCV2 pode infectar fetos que nascem tardiamente, causando anomalias reprodutivas(52). Embora as evidências sejam convincentes de que o PCV2 seja um patógeno reproduti-vo, dados de casos a campo sugerem que a maioria dos plantéis reproduti-

Tabela 4. Modo de apresentação relativo às lesões linfóides associadas ao PCV2 (depleção, inflamação histiocítica a granulomatosa e quantidade de

antígeno, variando de zero a 3), baseado nas observações de suínos infectados experimentalmente com o PCV2.

Agudo(7-14 DPI)*

Subagudo(10-21DPI)

Cronico(21-28DPI)

Resultado(28-49DPI)

Depleção 0-1 2-3 3 2-3

Inflamação 0-1 1 2-3 2-3

Antígeno PCV2 3 3 2-3 0-1* DPI: 5 dias pós-infecção com PCV2

Figura 5. Graduação do antígeno (PCV2 = coloração marrom) associado à depleção linfóide nas tonsilas induzida pelo PCV2. Imunohistoquímica (IHC). Método do complexo da streptavidina-biotina peroxidase, coloração por contraste com a hematoxilina. A gravidade das lesões e a quantidade de antígeno variam de nenhuma (IHC com grau zero) a severa (IHC com grau 3)

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vos são aparentemente imunes, e que as falhas reprodutivas associadas ao PCV2 são relativamente raras.

PDNS (síndrome dermatológica e nefropática suína) associada ao PCV2

A PDNS caracteriza-se, clini-camente, pelo aparecimento agudo de lesões na pele (lesões arroxeadas, em relevo, que progridem para o formato de crostas multifocais vermelho-arro-xeadas com a região central enegre-cida; são mais proeminentes nas pa-tas traseiras: Fig. 9), febre e letargia. A PDNS normalmente é fatal. Outra lesão macroscópica característica é a presença de hemorragia petequial nos rins, os quais se apresentam exagera-damente escurecidos e com aspecto engordurado. No nível microscópico observa-se uma vasculite sistêmica, com necrose da derme e da epiderme, acompanhada de glomerulonefrite fi-brinosa e necrosante. Lesões micros-cópicas características da PDNS, a vasculite e a glomerulonefrite genera-lizadas são sugestivas de uma reação

de hipersensibilidade do tipo 3, ca-racterizada pela deposição de agrega-dos do complexo antígeno-anticorpo ou de complexos imunológicos, em locais de certos tecidos. Vários pa-

tógenos, incluindo vírus (PRRSV)(22,

130) e bactérias (Pasteurella multocida, Streptococcus suis tipos 1 e 2, Esche-richia coli, Proteus sp, Haemophilus parasuis, Actinobacillus pleuropneu-moniae, Bordetella bronchiseptica, Arcanobacterium pyogenes, Sta-phyloccoccus aureus, ou Salmonella sp)(74, 131) têm sido incriminados como etiologias possíveis para a PDNS. A associação do PCV2 com a PDNS foi relatada, pela primeira vez, em 2000(119). Investigações sobre casos de PDNS observados na Irlanda do Norte em 1990, que na época era livre do PRRSV, demonstraram a presença do antígeno PCV2 associado à linfoa-denite granulomatosa(8).

O estudo recente de um caso-controle investigando a PDNS na Ho-landa, concluiu haver uma associação significativa entre altos títulos de anticorpos anti-PCV2 e o desenvol-vimento da PDNS(141). Os autores não conseguiram demonstrar os antígenos PCV2 pela IHC em todos os casos de PDNS, mas confirmaram a presen-ça do DNA do PCV2 pela prova do PCR, em todos os casos de PDNS. É importante notar que os autores foram

Figura 6. A: pulmão, suíno, experimentalmente infectado com o PCV2. Moderada infiltração linfo-histiocítica peribronquiolar e moderada bronquiolite necrosante e ulcerativa. Hematoxilina e eosina. B: antígeno (PCV2 = coloração marrom) no interior do citoplasma de células do tipo macrófago, imunohistoquímica. Método do complexo da streptavidina-biotina peroxidase, coloração por contraste com a hematoxilina

Figura 7. Enterite associada ao PCV2. A: antígeno (PCV2 = coloração marrom) nos linfócitos e em células do tipo macrófago, na lâmina própria e nas placas de Peyer do íleo. Imunohistoquímica. Método do complexo da streptavidina-biotina peroxidase, coloração por contraste com a hematoxilina. B: mucosa intestinal espessada e linfonodos mesentéricos marcadamente infartados. C: suíno em fase de crescimento/terminação com discreta diarréia

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capazes de demonstrar que os ácidos nucléicos do parvovírus suíno ou do PRRSV não estavam presentes em muitos dos casos de PDNS, como de-terminado pelo PCR(141). Um estudo comparando a carga viral sérica do PCV2, nos casos de PMWS e PDNS, mostrou que os casos de PDNS conti-nham números de DNA de PCV2 sig-nificativamente mais baixos no soro, comparativamente a suínos sadios, mas infectados pelo PCV2 em nível subclínico(98). Esse estudo confir-mou, posteriormente, que suínos com PDNS são infectados com o PCV2. Entretanto, pelo que afirmou o autor, nenhum deles havia ainda, experi-mentalmente, reproduzido a PDNS.

Planos e ferramentas disponíveis para o diagnóstico da PCVAD

A infecção pelo PCV2 é oni-presente na suinocultura mundial. O PCV2 pode ser encontrado tanto em suínos sadios, como doentes(3). Isso torna importante a escolha do tipo de teste a ser aplicado no diagnóstico e a

sua interpretação, para a confirmação da PCVAD. A PCVAD (infecção sis-têmica, enterite, pneumonia, PDNS, aborto) é diagnosticada pela demons-tração das lesões características asso-ciadas ao antígeno ou ácidos nucléi-cos do PCV2, nos órgãos respectivos. No momento, os métodos IHC ou ISH

são considerados os mais adequados para a detecção do PCV2, como parte do diagnóstico da PCVAD(128).

Detecção de anticorpos anti-PCV2 pelos métodos de análise de anticorpos por fluorescência indireta, IPMA, pelo teste de ELISA e pela análise sorológica da neutralização viral

Sorologia é a melhor opção, em termos de rebanho, para deter-minar o momento da infecção pelo PCV2, por meio de análises popu-lacionais sequenciais ou seccionais cruzadas. Estudos sorológicos têm re-velado que os anticorpos anti-PCV2 estão presentes em nível global, em quase todos os rebanhos suínos tes-tados e em quase 100% dos suínos, individualmente, nos plantéis(83, 108,

139). A maioria dos plantéis reprodu-tivos norte-americanos e também das fêmeas dos mesmos foram considera-dos soropositivos para o PCV2(108). O valor médio da meia vida dos anticor-pos anti-PCV2 para suínos jovens foi estimado como sendo de 19 dias, e o intervalo para o desaparecimento dos anticorpos passivos anti-PCV2 na po-pulação é relativamente amplo. Anti-

Figura 8. Falhas reprodutivas associadas ao circovírus suíno. A: miocárdio, feto. Separação dos miocardiócitos pelo edema e pelo baixo número de células inflamatórias. Hematoxilina e eosina. B: antígeno (PCV2 = coloração marrom) no interior do citoplasma de miocardiócitos, imunohistoquímica. Método do complexo da streptavidina-biotina peroxidase, coloração por contraste com a hematoxilina. C: leitegada acometida mostrando fetos em estágios distintos de mumificação e maceração

Figura 9. Suíno de vinte semanas de idade, com quadro de síndrome dermatológica e nefropática suína (PDNS). A região perineal, abdominal ventral e patas estão cobertas por lesões características da doença

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corpos anti-PCV2 adquiridos passi-vamente entre 10 e 12 dias de idade foram detectados em quantidade abai-xo do nível de corte determinado pela prova de ELISA:

1) em suínos com baixos níveis de anticorpos passivos no momento do desmame, às 4,9 ± 1,2 semanas de idade;

2) em suínos com níveis mo-derados de anticorpos passivos no momento do desmame, às 8,1 ± 1,9 semanas de idade e;

3) em suínos com altos níveis de anticorpos passivos no momento do desmame, às 11,1 ± 2,5 semanas de idade(108).

Uma vez que o PCV2 é alta-mente dispersivel, é importante iden-tificar as populações e subpopulações de suínos mais sensíveis à PCVAD, como machos jovens de granjas for-necedoras de material genético(103). A identificação precoce dessa categoria de animais, por meio da sorologia, pode ser útil na determinação de es-tratégias apropriadas para reduzir o risco subsequente da exposição ao PCV2.

Análise de anticorpos por fluorescência indireta. Essa prova é não automatizada e subjetiva. A me-todologia de análise de anticorpos por fluorescência indireta (IFA) para o PCV2 tem sido descrita na literatura(7,

111, 132). Recentemente, foi disponibili-zada uma análise do tipo IFA baseada na expressão do gene de uma proteína

do PCV2 (“open reading frame” ou ORF), que passou a ser denominada ORF2(113). Nessa descrição ficou deter-minado que a prova IFA regular total, baseada no PCV2, tinha apenas uns 57,1% de sensibilidade relativa, com-parada à referida análise ORF2(113). Análises de imunofluorescência têm sido descritas também para anticor-pos contra o PCV1 não patogênico, aparentando ser específicas(36). Es-tudos têm mostrado um baixo nível de reatividade cruzada entre PCV1 e PCV2, na análise do tipo IFA(7, 111).

IPMA (immunoperoxidase mo-nolayer) ou prova da imunoperoxida-de mono-camada. Essa metodologia de análise também não é automatiza-da, sendo seus pontos finais determi-nados de modo subjetivo. A prova do IPMA é largamente utilizada para o diagnóstico do PCV2(14, 29). Testes in-terlaboratoriais comparando as provas de IFA e IPMA resultaram – nas mes-mas 20 amostras de soro analisadas em laboratórios diferentes, na Europa e no Canadá – em uma ampla varia-ção de títulos entre os laboratórios(85). No geral, o IPMA resulta em títulos mais altos que o IFA, e o paraformol-deido, usado como elemento fixador, resultou em títulos mais altos que os da acetona e do álcool etílico, usados com a mesma finalidade(85).

ELISA (enzyme-linked immu-nosorbent assay). A prova de ELISA, teste imunoenzimático que permite a detecção de anticorpos específicos no plasma sanguíneo, é uma técnica sensível para a detecção e a medida

do nível sérico de anticorpos. Há mui-tas publicações descrevendo os testes de ELISA disponíveis para o diagnós-tico do PCV2(14, 77, 93). Recentemente, foram introduzidos na Europa novas versões comerciais disponíveis para a IgG do PCV2 (Ingezim™ PCV IgGa) e para a IgM do PCV2 (Ingezim™ PCV IgMa). Uma comparação entre os valores de IgG e IgM pode ser útil na determinação do momento da in-fecção pelo PCV2:

1) valor de IgM ≥ valor de IgG: infecção ativa precoce (nos primeiros 21 dias pós-inoculação);

2) valor de IgM < valor de IgG: infecção ativa (aproximadamen-te entre 20 e 50 dias pós-inoculação);

3) alto valor de IgG e valor negativo de IgM: infecção tardia ou em fase de resolução/convalescença (aproximadamente dois meses pós-infecção): SEGALÉS, J.; RODRÍ-GUEZ, J.; RESENDES, A. et al. In: Intern Conf Animal Circoviruses and Associated Disease, Proceedings…p. 61.2005). Uma variante da prova re-gular de ELISA é o teste de ELISA competitivo (Blocking ELISA)(139). Um teste desse tipo, específico para anticorpos anti-PCV2, está disponível na Europa (SERELISA™ PCV2 Ab Mono Blockingb). Esse teste pode ser usado para detectar anticorpos espe-cíficos anti-PCV2 nas fezes (LOPEZ, P.; GUILLOSSOU, S.; DESHAIES, E. et al. In: Intern Conf Animal Cir-coviruses and Associated Disease, Proceedings… p. 91.2005).

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Análise sorológica da neutra-lização viral (serum-virus neutraliza-tion assay). Provas que neutralizam anticorpos para o PCV2 têm sido des-critas na literatura(90, 111). Anticorpos neutralizantes foram detectados entre 15(90) e 28(111) dias após a infecção pelo PCV2, em suínos gnotobióticos(90), e estavam correlacionados com a pro-teção contra ou com a remoção da infecção pelo PCV2. Uma vez que o PCV2 não induz um efeito citopá-tico visível em células infectadas, a análise sorológica da neutralização viral requer, no final do teste, o uso de anticorpos fluorescentes (FA) ou a coloração pela imunoperoxidase para determinar a presença ou a fal-ta de replicação viral. Requerimentos relativos ao pré-tratamento celular, necessários para sincronizar os seus ciclos, dificultam a realização dos testes sorológicos de neutralização viral e fazem com que os títulos finais possam ser menos acurados. Tipica-mente, a redução percentual é usada para acessar a atividade neutralizante de uma amostra sorológica.

Detecção de ácidos nucléicos do PCV2 pelo PCR e ISH

PCR (polymerase chain reac-tion) ou reação em cadeia pela po-limerase. Há várias provas de PCR disponíveis para a detecção dos áci-dos nucléicos específicos do PCV2, descritas na literatura(40, 43, 92, 125). Entre as variantes da prova regular de PCR estão:

1) PCR Multiplex. Mais de uma sequência alvo é detectada, num único passo da prova do PCR. As seguintes análises de PCR Multi-plex têm sido descritas na literatura: PCV2/PCV1(109, 111), PCV2/PPV(62) e PCV2/vírus da pseudoraiva/PPV(50).

2) Nested PCR (variante da prova regular de PCR, na qual são uti-lizados dois pares, ao invés de um par, de iniciadores). Análises desse tipo têm sido descritas na literaratura(57, 60,

75), sendo utilizadas para aumentar a habilidade de detecção de quantidades muito pequenas da seqüência-alvo.

3) Análises PCR Multiplex-nested têm sido descritas para os ca-sos de detecção simultânea de PCV1/PCV2/PPV(58, 66) e PCV1/PCV2(65).

4) Quantitative real-time PCR. Esses tipos de provas de PCR (quan-titativas em tempo real) foram desen-volvidos de modo a permitir a deter-minação da quantidade do número de cópias genômicas do PCV2, no soro ou em tecidos. As fases de reação e de detecção, nessa prova de PCR, estão combinadas em um só passo, o que diminui o tempo da resposta final(17,

24, 72, 78, 98, 107, 120). 5) Reverse transcription PCR

(prova de PCR de transcrição rever-sa) é usada na detecção do RNA do PCV2, o qual está presente apenas nos casos de replicação do PCV2(146). A transcrição reversa do RNA é re-querida quando se compõe um DNA complementar, para amplificação adi-cional.

Implicações e aplicações das provas de PCR para o PCV2. A maio-ria dos suínos no campo (sadios ou doentes) é infectada pelo PCV2, em algum momento de suas vidas. Portan-to, o uso do PCR – o qual teoricamente pode detectar uma cópia genômica – é considerado por muitos como bastante sensível para a maioria das aplicações. A demonstração dos ácidos nucléicos do PCV2, pelo PCR, não pode subs-tituir o exame clínico dos animais e a avaliação microscópica dos tecidos, uma vez que o PCV2 é onipresente e que muitos suínos sadios são, por isso, positivos para o DNA específico do PCV2, sem necessariamente terem sido acometidos pela PCVAD. Uma exceção notável pode ser o uso do PCR para a detecção dos ácidos nu-cléicos do PCV2 no sêmen, o melhor modo de se assegurar um status nega-tivo. Provas de PCR para detectar o PCV2 no sêmen têm sido descritas(65 ,

66, 75). A quantidade de ácidos nucléicos do PCV2 no soro sangüíneo e nos te-cidos, quando determinada pela prova do PCR quantitativo em tempo real, tem se revelado como uma previsão da implantação de uma situação clí-nica, sendo, assim, usada por veteri-nários de campo e pesquisadores(17, 98). Um limite de 107 ou mais cópias ge-nômicas de PCV2 por ml de soro foi considerado um pobre prognóstico(17,

98) e uma boa correlação com lesões graves, associadas ao PCV2 e com a doença. A prova de PCR quantitativa pode ser usada com acuracidade para diferenciar a infecção pelo PCV2 da PCVAD, apenas definindo adicional-mente o resultado do PCR como po-sitivo, com ou sem a PCVAD, basea-do na quantidade de PCV2 presente. Portanto, um resultado de PCR pode-ria ser relatado como negativo; como positivo sem PCVAD (<106 cópias de DNA do PCV2); como positivo suspeito para PCVAD (106 cópias de DNA do PCV2); ou como positivo com PCVAD (107 cópias de DNA do PCV2, ou mais).

ISH (in situ hybridization). A prova de hibridação in situ (ISH) para o PCV2 usa uma sonda de DNA rotu-lada, a qual corresponde a uma por-ção específica do genoma do PCV2(59,

86, 118, 126). Muitas provas do tipo ISH, que detectam viroses múltiplas com a mesma secção de tecido, têm sido descritas: PCV1/PCV2(56, 94), PCV2/PRRSV(22, 127) e PCV2/PPV(21).

Detecção do vírus PCV2 ou do antígeno viral por IHC, isolamento viral, por IFA ou FA em amostras de tecidos e por ELISA do tipo captura de antígeno

IHC (Immunohistochemistry) ou imunohistoquímica. Os métodos para diagnóstico baseados em imu-nohistoquímica usam um anticorpo monoclonal ou policlonal para de-tectar o antígeno do PCV2, por meio

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da análise de fragmentos de tecidos fixados em formol ou embebidos em parafina(86, 129). Por esta metodologia é possível a localização do antígeno nos referidos fragmentos. Estima-se que uma massa viral de, no mínimo, 108 genomas de PCV2 por 500 ng seja necessária para se obter uma vi-sualização pelo método IHC(17). Um comparativo entre os métodos ISH e IHC, realizado com tecidos de suínos infectados, armazenados por mais de seis meses em formalina neutra a 10%, antes de serem embebidos em parafina, revelou que ambas as técni-cas são capazes de detectar antígenos ou ácidos nucléicos em todos os te-cidos examinados(86). O método ISH revelou-se mais específico que o IHC, especialmente quando comparado ao IHC, considerando o uso de anticor-pos policlonais(60).

Isolamento viral (VI). As célu-las PK-15 permitem a replicação do PCV2 in vitro e podem ser inoculadas com fluidos corporais ou homoge-neizados de tecidos de origem suína, suspeitos de estarem infectados pelo PCV2(111). O tratamento dessas célu-las com a glicosamina tem se mostra-do efetivo na questão da replicação do PCV2(135). Um efeito citopático característico, induzido pelo PCV2, não é tipicamente observado e, então, para determinar a replicação viral é necessário utilizar a metodologia de marcação por imunofluorescência ou imunoperoxidase. A técnica de VI não é usada rotineiramente para o PCV2 porque consome muito tempo e nem sempre é eficiente, uma vez que se necessita de uma amostra viral viável, e o tempo de trânsito prolongado mais a autólise característica da submissão aos tecidos podem diminuir as chan-ces de sucesso do processo de iso-lamento do vírus. Aplicações para o uso do VI incluem a determinação da infectividade da veiculação do PCV2 pelo sêmen e a necessidade da recu-peração viral, para uso na produção de vacinas autógenas. Uma outra ver-

são da técnica do VI é o isolamento viral quantitativo(86). Para essa prova, dez diluições dobradas de substratos clínicos (soro, tecido, homogenados) são inoculadas nas células PK-15. Esse teste tem se mostrado útil para a diferenciação entre a infecção clínica e subclínica, devidas ao PCV2(86).

IFA (anticorpos imunofluores-centes) / FA (anticorpos fluorescen-tes) em amostras de tecidos. IFA/FA usam um anticorpo monoclonal ou um antisoro policlonal para detectar antígeno(s) em amostras congeladas de tecidos87. O teste é rápido, mas o antígeno não pode ser confiavelmente associado com as lesões, de modo que a prova é relativamente subjetiva. Es-tudos utilizando antissoro policlonal e anticorpos monoclonais anti-PCV1 e PCV2, isolados de células infecta-das tanto com o PCV1 como com o PCV2, têm mostrado que não há rea-ção cruzada10.

Antígeno de captura ELISA. O uso desse tipo de teste em homoge-neizados de tecidos tem sido descrito, e os resultados foram considerados comparáveis com o isolamento viral quantitativo e as técnicas de IHC11. Um teste ELISA do tipo antígeno de captura (SERELISA™ PCV2 Ag Captureb), otimizado para uso a par-tir de amostras fecais, foi desenvol-vido e testado em situações com e sem histórico de PMWS (LOPEZ, P.; GUILLOSSOU, S.; DESHAIES, E. et al. In: Intern Conf Animal Circovi-ruses and Associated Disease. Proce-edings… p. 91. 2005). Na experiência do autor, o uso desse tipo de teste, nos EUA, tem produzido resultados vari-áveis.

Microscopia eletrônica. Esse método é usado para demonstrar par-tículas características do circovírus di-retamente no interior de células e para estudar o vírus, em termos de tamanho

e estrutura. A técnica de microscopia eletrônica não é usada rotineiramente em laboratórios de diagnóstico, por ser cara e demorada. Possui baixa sensibilidade global, sendo necessária uma abundância viral no tecido a ser analisado (pelo menos 105 partículas virais) para haver a detecção pelo mi-croscópio eletrônico.

Caracterizações adicionais de isolados do PCV2, por RFLP e sequenciamento

RFLP (Restriction Fragment Length Polymorphism) ou polimor-fismo do fragmento de restrição tem sido considerado uma ferramenta epidemiológica útil na diferenciação rotineira de isolados de origem suí-na para o vírus da PRRS(143). Por esta prova é possível determinar se novas variedades do vírus da PRRS foram introduzidas em uma granja, mesmo considerando o questionamento a res-peito da estabilidade da RFLP frente a esse tipo de vírus, em função de suas mudanças genéticas contínuas(18). Por meio de uma prova de PCR do tipo RFLP, baseada na análise ORF2, des-crita em 2000 e utilizando as enzimas Hinf I, HinP1I, KpnI, MseI e RsaI, foi possível fazer uma distinção entre iso-lados de PCV2 (PCV2A, B, C, D e E)(43). Uma prova de PCR-RFLP usando a enzima NcoI, que faz diferenciação entre PCV1 e PCV2, também foi des-crita em 2000(31). Uma prova de PCR-RFLP baseada na análise ORF2, usan-do as enzimas Sau3AI, BanII, NspI, XbaI e CfrI, foi descrita recentemen-te, como capaz de distinguir nove ti-pos diferentes de PCV2(142). Em geral, análises do tipo RFLP proporcionam um modo rápido para a separação de vários isolados de PCV2 em catego-rias; entretanto, genomas geralmente variam entre si, fora dos locais de res-

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trição, o que demanda cuidado com as interpretações.

Sequenciamento. Com a análi-se da seqüência é possível caracteri-zar a informação genética e comparar isolados entre si(23, 26, 31, 41, 67). O PCV2 tem dois genes maiores, orientados em direção oposta e que representam 93% de todo o genoma: o gene rep (associado à replicação; ORF1) e gene cap (capsídeo; ORF2)(26). A diferença genética entre isolados do PCV2 de-ve-se, principalmente, à variabilidade no ORF2 (90,1 a 100% de identidade da sequência de aminoácidos(26, 31)). O gene ORF1 parece ser altamente con-servado, entre os isolados do PCV2 (99% a 100% de identidade da seqü-ência de aminoácidos). Para informa-ções adicionais, relativas a possíveis diferenças entre isolados de PCV2, os laboratórios de pesquisa e diagnósti-co podem sequenciar somente o gene ORF2, ou sequenciar todo o genoma do PCV2(26, 31). No momento, os resul-tados de sequenciamento podem ser uma ferramenta epidemiológica útil, mas o conhecimento para determinar a virulência, com base na informação sequencial, ainda não está disponível.

Lesões microscópicas associadas ao PCV2

Um diagnóstico de doença as-sociada ao PCV2 não pode ser confir-mado sem a avaliação das lesões mi-croscópicas (depleção e substituição de folículos, de histiocíticos a granu-lomatosos, no tecido linfóide) e a de-monstração de que o PCV2 está asso-ciado a essas lesões características(128). Células sinciciais também são carac-terísticas da infecção pelo PCV2, especialmente as localizadas nos linfonodos, placas de Peyer e lâmina própria das vilosidades intestinais(118).

Os macrófagos, nos tecidos linfóides acometidos, podem conter corpos de inclusão citoplasmáticos esféricos, profundamente demarcados e de ori-gem basófila. Essas inclusões são tan-to grandes e únicas, como pequenas e múltiplas, formando grupos de até 12 inclusões(118). As lesões variam, tipi-camente, de suaves a severas, e há um sistema descrito(106), para a pontuação de lesões de tecido linfóide associadas ao PCV2. Um grupo selecionado de veterinários de campo, do meio-oeste norte-americano, foi incentivado a submeter para análise uma relação completa e específica de tecidos origi-nários de casos com histórico clínico consistente da PCVAD (definhamen-to/perda de peso com ou sem doença respiratória, diarréia, icterícia e/ou anemia), durante o período de um ano, como parte de um projeto de vigilân-cia ao PCV2, entre 2002 e 2003. Cem casos foram incluídos nesse estudo, e todas as avaliações microscópicas re-

alizadas pelo mesmo veterinário pa-tologista. Amostras de tecido linfóide (linfonodos, baço e tonsilas), fixadas em formalina e embebidas em para-fina, foram graduadas na presença da infecção pelo PCV2. Após avaliação microscópica, os casos foram classi-ficados como associados à infecção sistêmica pelo PCV2, considerando a depleção linfóide associada ao PCV2, ou com base na ausência de associa-ção com o PCV2, ou em função da presença, gravidade e distribuição das lesões associadas ao PCV2 (Ta-bela 5). Apenas 54 dos 100 casos de campo suspeitos de ser PCVAD, pela experiência dos veterinários partici-pantes, tinham quantidade elevada de antígenos anti-PCV2 associados com depleção linfóide grave e inflamação, sendo assim confirmados como doen-ça sistêmica associada ao PCV2. Isso significa que 46 dos casos tidos como clinicamente consistentes com o PCV2, na verdade não tinham lesões

Tabela 5. Classificação (doença associada ao circovírus suíno do tipo 2 [PCVAD]; lesões suaves associadas ao circovírus suíno do tipo 2 [PCV2] ou lesões não

associadas ao PCV2) e status de co-infecção, relativo a 100 casos (1 a 2 suínos inclusos em cada caso) de granjas suspeitas de ter PCVAD.

Classificação dos casos

Lesões não associadas ao PCV-2

Lesões leves associadas

ao PCV2PCVAD

PRRSv 8 4 20

M. hyopneumoniae 4 1 1

Virus da influenza suína (SIV) 8 1 6

PRRSv + M. hyopneumoniae 4 0 11

PRRSv + SIV 1 3 3

SIV + M. hyopneumoniae 1 1 2

PRRSv + M. hyopneumoniae + SIV 1 0 5

Sem PRRSv, M. hyopneumoniae ou SIV 1 5 6

Co-infecção bacteriana confirmada* 15 12 34

PCV2 sozinho 0 0 1

Total n˚ de casos 28 18 54* Isolamento de um ou mais dos seguintes agentes: Streptococcus suis, Pasteurella multocida tipos A ou D, Salmonella sp., Bordetella bronchiseptica, Haemophilus parasuis, Arcanobacterium pyogenes, Actinobacillus

pleuropneumoniae, Actinobacillus suis, Escherichia coli e Lawsonia intracellularis

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associadas ao PCV2, tendo sido então diagnosticados clinicamente de forma incorreta. Essa observação chamou a atenção para a necessidade do exame microscópico dos tecidos, nos casos suspeitos de PCVAD.

Estratégias de intervenção

Boas práticas de manejo

Nos EUA, em 2006, antes das vacinas contra o PCV2 serem viáveis, o tratamento e o controle bem-suce-dido da PCVAD tinham seu foco pri-mário voltado para as boas práticas de manejo, as quais minimizavam o es-tresse, eliminavam ou minimizavam o efeito de coinfecções e eliminavam fatores desencadeantes em potencial, que induziam o estímulo imunológico e iniciavam o processo de progressão da infecção pelo PCV2 à PCVAD. Foi proposto um plano com 20 recomen-dações de controle para a PCVAD em granjas gravemente acometidas(81). Os pontos principais desse plano foram resumidos como sendo as quatro re-gras de ouro (www.thepigsite.com, acessado em 10 de abril de 2007) e incluem: 1) limitar o contato entre os suínos; 2) reduzir o estresse; 3) boa higiene e 4) boa nutrição.

Fatores de risco para a PCVAD em rebanhos franceses de ciclo com-pleto incluíam co-infecções pelo PPV ou PRRSV, baia para desmamados de grande extensão versus baia com área pequena e níveis crescentes de partos segregados; enquanto os longos períodos de vazio no fluxo da granja, o tratamento regular contra parasitas externos, a gestação individual ver-sus coletiva e a reposição de marrãs interna versus externa decresciam o risco para a PCVAD(117). Um estu-do exploratório de fatores de risco, envolvendo 62 granjas espanholas,

concluiu que a vacinação de marrãs contra o PRRSV aumentou a probabi-lidade da expressão da PCVAD e que a vacinação de porcas contra a rinite atrófica diminuiu a probabilidade da doença(80). Pesquisas associando fato-res de manejo ao status de casos de lotes alojados em granjas da região de Manitoba, Canadá, revelaram uma forte associação do aumento da mor-talidade de leitões com a infecção, causada por M. hyopneumoniae, pelo PRRSV, pela diarréia devido a E. coli K88, pela proximidade entre os lotes, por múltiplos fornecedores, grandes variações de idade dentro de um mes-mo grupo de suínos e pelo fato de não se usar plasma do tipo spray-dried na primeira ração do setor de creche(28).

Desinfecção

O uso de desinfetantes que têm se mostrado eficazes contra o PCV2(121) é recomendado para insta-lações e nos veículos de transporte. A redução da concentração viral foi observada, in vitro, com a utilização do hidróxido de sódio e dos produ-tos comerciais: Virkon S (c), Roccal D Plus (d), Clorox bleach (e), 1-Stroke Environ (f), Fulsan (g) e Tek-Trol (h) em um ensaio controlado no laboratório. A eficácia dos desinfetantes em ins-talações comerciais não foi testada, sendo desconhecida. Na estação ex-perimental da Universidade Estadual de Iowa, usualmente se aplica o se-guinte protocolo: após a remoção dos animais, salas e baias são cobertas

Tabela 6. Vacinas comerciais contra o PCV2 disponíveis nos EUA,a partir de fevereiro de 2007.

Vacina

Ingelvac® CIRCOFLEX

SUVAXYN® PCV2 One Dose

Atualmente não

denominado1CIRCOVAC®

Antígeno

PCV2 ORF2 Proteína

expressa do baculovírus

inativada

Inativada PCV1-2

quimera

PCV2 express em baculovírus

inativado

Dose1 mL

intramuscular (IM), dose única

2 mL (IM), dose única

2 mL (IM); 2 aplicações, 3

semanas após

2 mL (IM); - Vacinação primária: 2

aplicações 3-4 semanas após, e pelo menos 2 semanas antes da cobertura

- Revacinação: 1 aplicação na

gestação, e pelo menos 2 – 4

semanas antes do parto

Licenciada para

Leitões saudáveis 3 semanas ou mais velhos

Leitões saudáveis 4 semanas ou mais velhos

Leitões saudáveis 3 semanas ou mais velhos

Fêmeas saudáveis e em

leitões

Disponível Estados Unidos Estados UnidosEstados Unidos

e CanadáCanadá e

Europa

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com um detergente de efeito desen-gordurante, aplicado com o auxílio de um nebulizador, na diluição de 1:64. Após dez minutos, o referido deter-gente é enxaguado com água quen-te sob pressão. A descontaminação ocorre pela aplicação do Virkon S (c) na diluição de 1:30, por um tempo de contato de dez minutos, seguido pelo enxágue com água quente. Antes do novo alojamento, a sala é nebulizada com o produto comercial Clidox-S (i) na diluição de 1:5:1 e deixada para secar. Para minimizar a corrosão, a sala é enxaguada com água entre seis e doze horas após a nebulização e, então, deixada para secar novamente, antes da re-ocupação pelos animais. Esse procedimento tem se revelado altamente eficaz, em instalações de-sinfetadas que alojavam suínos sabi-damente infectados, como se pode ve-rificar pela falta de contaminação dos grupos alojados subsequentemente.

Controle de coinfecções

Coinfecções são um grande problema na PCVAD, e as evidências do campo e de ensaios experimentais têm indicado que o diagnóstico e o controle de outros agentes infecciosos, encontrados nos suínos com PCVAD, diminuem a gravidade das coinfecções e melhoram o resultado final. O efeito do PRRSV pode ser eliminado ou minimizado pela estabilização do plantel de reprodução, mudanças no fluxo dos suínos e/ou pela vacinação. O efeito do SIV pode ser eliminado ou minimizado pela vacinação do plantel de reprodutores e dos leitões. Infecções bacterianas específicas (S. suis, H. parasuis, P. multocida, L. intracellularis, Salmonella sp.) precisam ser confirmadas e podem ser minimizadas com o uso de antimicrobianos apropriados e bacterinas. O uso de clortetraciclina (Aureomicina (j)), na dose aproximada 22 mg/kg, na ração de suínos coinfectados experimentalmente

com o M. hyopneumoniae e o PCV2 mostra que o tratamento com a clortetraciclina é altamente eficaz na redução das lesões associadas ao PCV2 e à coinfecção pelo M. hyopneumoniae (OPRIESSNIG, T.; THACKER. E.; HALBUR, P.G. In: International Pig Veterinary Society Congress 19. v.2. Proceedings…p. 302. 2006). Um estudo recente avaliou as perdas ou ganhos associados ao uso de três bacterinas comerciais de M. hyopneumoniae disponíveis, diferentes, em suínos experimentalmente coinfectados com o M. hyopneumoniae e o PCV2 (HALBUR, P.G.; RAPP-GABRIELSON, V.; HOOVER, T. et al. In: International Pig Veterinary Society Congress 19, Proceedings… p 271. 2006). Duzentos e noventa e seis suínos negativos para o M. hyopneumoniae foram selecionados ao acaso, para um entre quatro grupos tratados. Três vacinas comerciais, administradas de acordo com as instruções do rótulo, foram testadas: duas delas contendo adjuvantes do tipo oleoso e uma contendo adjuvante do tipo aquoso. O desafio com o M. hyopneumoniae resultou em lesões severas, tanto macro como microscópicas, no grupo de suínos não vacinados. Os suínos de todos os grupos vacinados apresentaram aumento significativo na média de ganho de peso diário, no 100° e 131° dias pós-inoculação, comparados aos controles não vacinados (HALBUR, P.G.; RAPP-GABRIELSON, V.; HOOVER, T. et al. In: International Pig Veterinary Society Congress 19, Proceedings… p 271. 2006). Em contrapartida, outro estudo de campo recente, incluindo 930 suínos de crescimento, com 53 a 54 dias de idade e naturalmente infectados, não encontrou diferença na incidência da PMWS (perda de peso ou definhamento, lesões histopatológicas características, antígeno PCV2 intralesional PCV2) entre suínos vacinados e placebados(47). Para

minimizar o efeito do adjuvante presente nas vacinas comerciais contra o M. hyopneumoniae, no aumento da replicação do PCV2 e das lesões associadas ao mesmo, foi demonstrado que os suínos deveriam ser vacinados entre duas e quatro semanas antes da exposição esperada ao PCV2(101). O uso de drogas antiinflamatórias nos suínos que demoram em responder, também pode ser útil. Foi demonstrado que o uso do ácido acetilsalisílico na ração reduz significativamente (P = 0,008) a incidência de tratamentos complementares com antibiótico nos suínos tratados, comparativamente aos não tratados, em estudo realizado em uma granja dinamarquesa, com nível de mortalidade pós-desmame entre 10 e 15% (FRUERGAARD, M.; BÆKBO, P.; ENØE, C. et al. In: International Pig Veterinary Society Congress 19, Proceedings… p. 98. 2006).

Vacinas contra o PCV2

Vacinas experimentais contra o PCV2 têm sido descritas, testadas e geralmente tidas como eficazes, em diferentes situações in vivo. Um modelo experimental usando suínos nascidos por via cirúrgica e impedi-dos de mamar o colostro foi disponi-bilizado para testar isolados de PCV2 (origem: EUA) inativados quimica-mente ou irradiados por ultravioleta (POGRANICHNIY, R.M.; YOON, K.J.; YAEGER, M. et al. In: Am As-soc Swine Veterinarians v. 35. Proce-edings… p.443–444. 2004). Modelos experimentais utilizando suínos con-vencionais foram usados para testar um vírus vivo quimérico PCV1-2, com o gene imunogênico do capsí-deo do PCV2 clonado na estrutura do PCV1(33, 36) e para testar o uso de inje-ções de proteínas obtidas a partir do DNA ORF2 baculovírus-expresso do PCV2, como candidatos a vacinas(15). Um modelo baseado em um roe-

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dor BALB/c também tem sido usado para testar um DNA plasmídico do PCV2, tratado com partículas de ouro(53). Vacinas comerciais contra o PCV2, para uso em suínos em crescimento e animais em idade de re-produção tornaram-se disponíveis nos EUA, em 2006 (Tabela 6). Evidencias indicam, até a data de hoje, que as vacinas comerciais são uma ferramenta extrema-mente eficaz para ajudar a reduzir as perdas, em reba-nhos e sistemas de produção que estejam sofrendo a ação da PCVAD, nos suínos em fase de crescimento. A vacina inativada contra o PCV2, de adjuvante oleoso (CIRCOVAC® (k)), aprovada para uso em animais em idade de reprodução, foi uma das primeiras vacinas do mercado e tem sido usada extensivamente na Eu-ropa. CIRCOVAC® tem demonstrado ser benéfica na redução da circulação e da disseminação do PCV2 nas primeiras semanas de vida, melhorando a saúde dos suínos, em condições experimentais (CHARREYRE, C.; BÉSÈME, S.; BRUN, A. et al. In: Intern Conf Ani-mal Circoviruses and Associated Disease. Proceedin-gs… p. 26–30. 2005). Durante os estudos de eficácia do produto a campo, na Alemanha e na França, o uso da CIRCOVAC® resultou no crescimento dos níveis de anticorpos anti-PCV2 nos plantéis de reprodução e no concomitante decréscimo do nível de incidência da PMWS, em suínos originários de lotes de reprodutores vacinados (CHARREYRE, C.; BÉSÈME, S.; BRUN, A. et al. In: Intern Conf Animal Circoviruses and As-sociated Disease. Proceedings… p. 26–30. 2005). Es-tudos a campo mostraram um decréscimo significativo (P < 0,05) da mortalidade (de 6,4 para 8,3%), após seis meses de uso da CIRCOVAC® em 2006, no Canadá, comparado ao período anterior à vacinação, em 67 entre 77 granjas (PLOURDE, N.; MACHELL, N. In: Am Assoc Swine Vet. v. 38. Proceedings... p.139–140. 2007). Uma licença condicional para o uso do produ-tol em suínos em crescimento foi disponibilizada para o mercado norte-americano, em abril de 2006.

Pesquisas incluindo 35 mil animais, em 21 granjas canadenses, mostraram que a taxa de mortalidade em suínos vacinados diminuiu 77,5%, quando comparada com a de suínos não vacinados (GRAU, A.F.; JORGENSEN, J.; THACKER, B. et al. In: Am Assoc Swine Vet v.38. Proceedings…p.159–161.2007). Suvaxyn® PCV2 One Dose™ (m) é a primeira vacina contra o PCV2 aprovada e liberada para uso comercial, pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Trata-se da versão inativada do vírus vivo quimérico PCV1–2(33, 36). Resultados preliminares de uma série de grandes estudos realizados a campo, nos EUA, utilizando a vacina inativada quimérica m demonstraram diminuição significativa da mortalidade (P < 0,001) e dos custos com tratamentos, em suínos

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manifestações clínicas das viroses associadas ao vírus, entre granjas em certos paises ou ao redor do mundo. A imunidade de plantel parece ter tam-bém uma grande importância, como se sugere pela observação do declínio da incidência e da gravidade dos casos clínicos de PCVAD no Reino Unido e na Espanha, onde as vacinas não têm sido usadas de modo tão contundente (SEGALES, J. In: Am Assoc Swine Vet, seminar 12 [PCV2/PMWS]. Pro-ceedings... p.21-25. 2006).

Agradecimentos

Os autores reconhecem e agra-decem o apoio financeiro do National Pork Board Pork Check Off Dollars, do Iowa Livestock Health Advisory Council, dos laboratórios Pfizer Ani-mal Health Inc., Schering Plough Animal Health Inc., Fort Dodge Ani-mal Health Inc. e do US Department of Agriculture National Research Ini-tiative Competitive Grants Program, voltado às pesquisas realizadas com o PCV2 na Iowa State University e no Virginia Polytechnic Institute and State University. Os autores reconhe-cem e agradecem a colaboração dos Drs. Martin Fenaux e Nicole Juan, do Virginia Polytechnic Institute and State University e do grupo de pes-quisa do Dr. Eileen Thacker, da Iowa State University, nos experimentos realizados com o PCV2. Os autores também agradecem a ajuda relativa ao cuidado com os animais, forneci-da por Peter Thomas, Paul Thomas, Brian Vanderley, Matt Boogerd, Dia-ne McDonald e a equipe do Animal Resources Laboratory da Iowa State University.

Referências bibliográficas

Disponíveis no site:www.suinosecia.com.br

vacinados, comparativamente a suínos não vacinados (CONNOR, J.; ELSENER, J. In: Am Assoc Swine Vet v. 38. Proceedings... p.151–152. 2007). A vacina inativada Suvaxyn® PCV2 One Dose™ trouxe benefícios seguros, uma vez que é baseada em um vírus quimérico PCV1–2 já atenuado.

Resultados preliminares de estudos realizados a campo, no Canadá, com a vacina contra o PCV2 baseada na expressão do baculovírus, Ingelvac® CIRCOFLEX™ (n), também mostraram redução significativa (P < 0,003) na mortalidade de suínos vacinados (n = 1910), em comparação a não vacinados (n = 1927), em quatro unidades de terminação diferentes (DESROSIER, R.; CLARK, E.; TREMBLAY, D. et al. In: Am Assoc Swine Vet v.38. Proceedings… p.143–145. 2007). Vacinas autógenas, preparadas a partir de homogeneizados de tecido linfóide ou pulmonar, inativados com formoldeído a 2%, obtidos de suínos acometidos pela PCVAD têm sido usadas por alguns veterinários, no campo, em função das graves perdas associadas à PCVAD e à dificuldade de obtenção de uma vacina comercial, devido a fornecimento limitado. Esses veterinários geralmente relatam redução marcante nos níveis de mortalidade (de 20% a 3%) e efeitos colaterais adversos, de limitados a nulos, sob esse esquema. A indústria permanece preocupada com relação à segurança e as ramificações potenciais legais do uso de vacinas autógenas virais inativadas.

Resumo

Muito se tem aprendido sobre diagnóstico, patogenia e controle da PCVAD, desde que a doença foi reco-nhecida pela primeira vez no fim dos anos 90, no Canadá. A comunidade científica concorda agora, de modo

generalizado, que o PCV2 é um com-ponente essencial da PCVAD e que, na maioria dos casos, ele promove a combinação certa de outros blocos de construção, tais quais as coinfec-ções, o estímulo imunológico ou os hospedeiros genéticos, para desen-cadear a infecção devida ao PCV2, transformando-a em um problema em termos de rebanho. Também tem se tornado evidente que a PCVAD, quando manifestada clinicamente, revela várias formas de doença, tais como infecções sistêmicas graves, doença respiratória, doença entéri-ca, falhas reprodutivas ou outras, até manifestações irreconhecíveis. Existe agora uma grande seleção de excelen-tes ferramentas de diagnóstico para a confirmação da doença e das lesões associadas ao PCV2, sendo que a combinação do uso dessas ferramen-tas pode confirmar que o PCV2 está associado às lesões. Entretanto, fal-ta muito conhecimento a respeito da PCVAD, incluindo a compreensão da patogenia molecular das diferenças aparentes, em termos de virulência, entre isolados do PCV2. As indica-ções são de que o uso constante de va-cinas, em combinação com boas práti-cas de manejo, é eficaz na redução do impacto da PCVAD grave; entretanto, permanece desconhecido o quanto as pressões relativas à vacinação mais as mudanças nas práticas de produção afetarão a evolução viral na popula-ção de suínos e, com isso, a eficácia das vacinas atuais. Achados recentes sugerem que a evidência das diferen-ças na virulência pode ter implicações importantes para a compreensão das diferenças nas manifestações clíni-cas das infecções devidas ao PCV2, podendo haver influência nos futuros desenvolvimentos de vacinas contra o agente em questão. No entanto, o co-nhecimento para predizer a virulência dos isolados de PCV2 ainda não exis-te, sendo pouco provável que diferen-ças na virulência de doenças devidas ao PCV2 expliquem completamente a quantidade notável de variação nas

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Sumários de Pesquisa

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Mycoplasma hyorhinis – Experiência de campo no diagnóstico e controle

A claudicação infecciosa pode ser causada por vários patógenos bacteria-nos, que incluem Streptococcus suis, Haemophi lus parasuis, Actinobacillus suis e Erysipelothrix rhu siopathiae (erisipelas). De acordo com da-dos do Laboratório de Diagnóstico Veterinário da Universidade de Minnesota, o Haemophilus parasuis (Hps) é a principal causa de claudicação diagnosticada entre os casos submeti-dos. Adicionalmente, em ordem decres-cente de prevalência, o M. hyor hinis, o Streptococcus suis e o Mycoplasma hyosynoviae são as outras mais im-portantes causas de claudicação nos suínos em crescimento. Dentre essas bactérias, o M. hyor hinis está se tor-nando o mais freqüente diagnóstico entre os casos de manqueira e tem sido um agente bacteriano com que muitos produtores de suínos não estão tão familiarizados.

Então, o que é M. hyorhinis? Em muitas populações de suínos ele é um habitante bacteriano normal do nariz e da garganta. Diferentemente do Mycoplasma hyopneumoniae, o qual a indústria reconhece como a causa primária de doença respira-tória de suínos em crescimento, o M. hyorhinis é capaz de causar uma

infecção sistêmica, frequentemente afetando o revestimento dos pulmões e da cavidade abdominal, a superfície do coração e as juntas.

Tipicamente, nós temos reconhecido claudicações que são causadas por M. hyorhinis, ocorrendo em animais de terminação que variam de 12 a 15 semanas de idade, mas os suínos podem mostrar sinais de artrite e infecção sistêmica cedo, com três semanas de idade. Frequentemente, o primeiro sinal descrito é o surgimento de simples ou múltiplas manqueiras de aprumos dentro de grupos de suínos.

Os suínos afetados são lentos ao erguerem-se, e o processo de levantar-se tende a parecer forçado e doloroso. Uma vez em pé, um suíno afetado tem um passo que parece enrijecido e entrecortado, e mudar o apoio de um membro para outro é comum quando parado. As juntas, frequentemente, irão parecer inchadas e roliças ao tato. Em muitas situações isto tem ocorrido em grupos que não haviam tido nenhuma indicação prévia de manqueira durante o período de crescimento, sugerindo que isto (o agente) possa ser a causa primária de manqueira nesses grupos.

Uma razão para o aumen-to do diagnóstico da claudicação causada por M. hyorhinis é, em parte, o novo teste de Reação em Cadeia da Polimerase (Poly merase

Chain Reaction - PCR), desenvol-vido no Laboratório de Diagnóstico Veterinário da Universidade de Minnesota. Com este teste, não é necessário o cultivo do M. hyorhinis para detectá-lo. Isto tornou mais fácil confirmar a bactéria entre as amostras submetidas; portanto, tem ocorrido um diagnóstico mais freqüente do M. hyorhinis nos casos de manqueiras.

Pelas nossas experiências no Centro Veterinário de Suínos, os antibióticos tipicamente utiliza-dos para claudicações causadas por Streptococcus suis, H. parasuis, Actino bacillus suis e Erysipelothrix rhusiopathiae não têm sido de gran-de efetividade contra o M. hyorhinis. Pelo fato de a bactéria ser difícil de cultivar, as decisões de tratamento têm sido largamente baseadas nos estudos de sensibilidade do M. hyorhinis, que indicaram um aumento de sensibili-dade aos antibióticos macrolídeos in-cluindo a lincomicina e a tilosina.

Adicionalmente, foi encontrada uma alta sensibilidade às tetraciclinas. Assim como em qualquer caso de claudicação, o maior sucesso com o tratamento ocorre quando realizado cedo, após o reconhecimento dos sinais clínicos. Quanto mais a decisão de tratamento é retardada, mais pobre tem sido a resposta, o que tem resultado num grande número de animais mancos ao final do período de terminação.

Presentemente, não estão disponíveis vacinas para a prevenção da infecção por M. hyorhinis e não foi demonstrada uma proteção cruzada por meio de vacinas para o M. hyopneumoniae. Por isso, estratégias alternativas de prevenção têm sido consideradas. Uma das abordagens inclui a implementação de um programa com antibiótico para ração animal, utilizando um antimicrobiano que tem demonstrado possuir atividade contra o M. hyorhinis num dado sistema ou fluxo prévio ao início previsto das claudicações da terminação.

Também deve ser feita uma avaliação crítica dos potenciais estressores no ambiente da baia, incluindo a densidade do lote,

O Mycoplasma hyorhinis, está presente em muitas populações de suínos, sendo um habitante do trato respiratório superior.

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Sumários de Pesquisaflutuações de temperatura, umidade e disponibilidade de alimento e água. Processos de doenças concorrentes, especialmente aqueles envolvendo infecções virais, como o Vírus da Influenza Suína (SIV), o Vírus da Síndrome Respiratória e Reprodutiva dos Suínos (PRRS) e o Circovirus Suíno (PCV), que causam depressão da função imune, irão levar a um aumento da susceptibilidade dos suínos frente a bactérias oportunistas.

Diagnosticar o envolvimento do M. hyorhinis em um caso de man-queira num grupo de suínos é relati-vamente simples e direto. As amos-tras desejáveis incluem swabs da arti-culação, fluido de articulações (pode ser colhido sem eutanásia do suíno) ou porções de membros, incluindo a articulação afetada que deve ser dei-xada intacta. Amostras de múltiplos animais aumentam a probabilidade de um diagnóstico acurado. Se desejado, um conjunto inteiro de amostras pode ser colhido e submetido para chegar-se a um completo diagnóstico. Isto pode ser útil para diagnosticar qual-quer outra doença que possa causar perdas de produção no rebanho.

As melhores amostras são aquelas tomadas de animais afetados no início do curso da doença, que não tenham recebido tratamento antibiótico recente. As amostras devem ser mantidas em refrigerador ou embaladas em gelo até o transporte. Deve assegurar-se que seja utilizado gelo para o transporte, de modo que as amostras permaneçam refrigeradas até a chegada ao laboratório de diagnóstico.

Se o M. hyorhinis é verdadeiramente uma causa emergente de claudicações no período desmame – terminação ou está apenas agora sendo diagnosticado mais frequentemente é difícil dizer. Os casos de manqueiras na terminação têm aumentado em nossa área de prática e muitos desses têm tido um correspondente diagnóstico de M. hyorhinis. Estratégias de tratamento, quando implementadas cedo, após o reconhecimento dos sinais clínicos, têm sido razoavelmente bem-sucedidas, mas nós estamos, ainda, trabalhando

com vistas à prevenção, de modo que as incidências de claudicações não impactem as margens limites de ganho dos produtores.

Um Informe sobre Mycoplasma hyorhinis

O Mycoplasma hyorhinis é um habitante comum do trato respiratório dos suínos. A bactéria pode ser isolada da cavidade nasal, tonsilas e pulmões de suínos saudáveis. Acredita-se que ela seja transmitida pela porca aos seus leitões durante as primeiras semanas de vida e entre leitões na creche. Entretanto, sob condições favoráveis (estresse ou infecção com outros patógenos), o M. hyorhinis pode causar poliserosite e/ou artrite, pela via sistêmica, principalmente em leitões de creche. Os sinais clínicos incluem febre, dispnéia, juntas inchadas, manqueira, relutância em se movimentar e atraso no crescimento.

A poliserosite consiste numa pleurite fibrinosa ou fibrinopurulenta, pericardite e/ou peritonite. Se o leitão sobrevive, as lesões progridem para serosite crônica com formação de adesões. A artrite é caracterizada por hipertrofia e hiperemia da membrana sinovial e infiltração linfocitária com um exudato

sanguinolento, às vezes contendo fibrina. Essa doença foi reproduzida experimentalmente em múltiplos estudos e sob diferentes condições. O tratamento das infecções por M. hyorhinis com antibióticos apenas obtém sucesso nos estágios iniciais da doença. O M. hyorhinis é sensível à lincomicina, tiamulina e tilosina.

Além da poliserosite e artrite, o M. hyorhinis tem sido associado com inúmeras apresentações clínicas, incluindo rinites, pneumonia, otites, conjuntivites e abortos. Entretanto, o significado do M. hyorhinis nessas apresentações clínicas não é claro.

Gráfico 1: Número de amostras com testes positivo e negativo para Mycoplasma hyorhinis por PCR durante três meses no Laboratório de

Diagnóstico Veterinário de Minnesota.

Os potencias estressores no ambiente como: densidade, temperatura, umidade e disponibilidade de alimento são de fundamental importância para desencadear uma depressão no sistema imune.

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Sumários de Pesquisa

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É importante recordar que o M. hyorhinis é um organismo ubiquitário que se desenvolve facilmente em meios de cul-tura e, portanto, o isolamento do M. hyorhinis de um animal doente não implica em causa-bilidade.

O papel desta bactéria na pneumonia suína tem sido uma questão de debate. O M. hyorhinis é isolado mais frequentemente em casos de pneumonia do que em pul-mões normais. Entretanto, a inoculação experimental de suínos com M. hyorhinis ra-ramente produz pneumonia e, quando isso ocorre, é pou-co severa e observada apenas numa pequena percentagem de animais infectados.

Durante os últimos anos, temos observado um aumento no número de casos de poliserosite por M. hyorhinis. Não está claro se isso reflete um aumento real na prevalência dessa doença ou se isto é o resultado de um aperfeiçoamento na capacidade de detectar o M. hyorhinis devido à introdução da PCR. No Laboratório de Diagnóstico Veterinário de Minnesota, todos os casos de serosite ou artrite recebidos são testados para M. hyorhinis. Dentre esses, aproximadamente 55% das amostras de poliserosite e 12% das de artrites são positivas por PCR (Gráfico 1).

São comuns as coinfecções com outros patógenos respiratórios nos casos de poliserosite associados com M. hyorhinis. Na verdade, os casos de M. hyorhinis PCR positivos são mais prováveis de serem também

positivos para PRRSV, H. parasuis, S. suis, P. multocida, B. bronchiseptica e vírus da influenza suína (Gráfico 2). A associação com H. parasuis é particularmente interessante. A maioria dos casos de poliserosite é positiva para ambos os patógenos ou negativa para ambos (Tabela 1). Isto poderia indicar um mecanismo de sinergia, ou mais provavelmente, que ambos os patógenos são secundários a um fator desencadeante comum, tal como uma doença respiratória.

O Mycoplasma hyorhinis tem sido reconhe-cido como causa de poli-serosite e ar-trite em suínos durante déca-das. Contudo, nos últimos anos, nós ob-servamos um

aumento na taxa de detecção desse patógeno. Na maio-ria dos casos, o Mycoplasma hyorhinis parece agir como um patógeno secundário. To-davia, ele é um importante colaborador para a doença e mortalidade de suínos em cre-ches na América do Norte.

Eliminação do Mycoplasma hyopneumoniae de um rebanho de 560 porcas utilizando a estrutura de idades Ordem de Parto (OP), Lincomicina e Tulatromicina

Introdução: O M. hyopneumoniae (Mh) foi eliminado com sucesso de um sistema de dois sítios com 575 matrizes. Vários elementos foram considerados importantes para a bem-sucedida eliminação: estabilização da imunidade

do rebanho, segregação de todos os animais em crescimento e terminação acima de 10 dias de idade, uso estratégico de antibióticos no rebanho de porcas, completo despovoamento das instalações de creche/terminação, fluxo unidirecional de suínos e controle estrito do trânsito de pessoas.Método: Um sistema em dois sítios, de 575 matrizes, era sabidamente positivo para M. hyopneumoniae com base em sorologia, sinais clínicos e exames pós-mortem. As coberturas, gestação e parição aconteciam no Sítio 1. O Sítio 1 também continha as instalações de creche e aproximadamente 25% da capacidade de crescimento-terminação. Quando deixavam a creche, 75% da população em crescimento-terminação era transferida para alojamentos fora do sítio, Sítio 2.

No final de 2005, a estrutura

Tabela 1: Percentagem de casos de poliserosite e artrites positivos e negativos para M. hyorhinis por PCR, divididos com os

resultados de PCR para H. parasuis.

H. parasuis

POS NEG

M. hyorhinisPOS 40 10

NEG 14 36

Gráfico 2: Proporção de casos positivos para patógenos respiratórios comuns em suínos, divididos com

resultados de PCR para M. hyorhinis. Nota: um caso positivo é um que teve pelo menos uma amostra

positiva (nem todas as amostras dentro de um caso necessitam ser positivas).

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Sumários de Pesquisade idades Ordem de Parto (OP) do rebanho de matrizes foi alterada, uti-lizando fêmeas OP2 como reposição proveniente de uma granja irmã de status sanitário similar. Uma vez que todo o rebanho era ≥P2, o rebanho de matrizes recebeu duas doses de vacina contra Mh (Respisure, Pfizer), com in-tervalo de três semanas entre elas.

As instalações de creche, cres-cimento e terminação no Sítio 1 foram completamente despovoadas, lavadas, desinfetadas e secas. Estas instalações permaneceram vazias por quatro se-manas antes de receberem leitões des-mamados.

O Lincocin foi adicionado às rações de gestação e lactação por qua-tro semanas, na dose de 100 gramas/ton. Duas semanas após o Lincocin ter sido adicionado às rações das porcas, a idade de desmame foi reduzida para não mais de10 dias para as próximas duas semanas. Todos os leitões des-mamados foram levados para fora do sítio. Nenhuma adoção foi permitida durante este período. Os leitões nasci-dos durante este período de desmame precoce e pelas próximas três semanas receberam injeções diluídas de tula-thromycina (Draxxin, Pfizer, 2mg/kg) no dia subseqüente ao nascimento. Após as duas semanas de desmame precoce, o fluxo de leitões foi assumi-do como negativo para Mh e retomou a creche do Sítio 1.

Antes de receberem qualquer leitão negativo (assumido) para Mh da creche do Sítio 1, o Sítio 2 também foi completamente despovoado, lavado, desinfetado e seco. Ele permaneceu vazio por 17 semanas antes de receber leitões negativos (assumido) para Mh.

As fêmeas de reposição de uma fonte conhecida como negativa para Mh entraram na terminação do Sítio1 aproximadamente ao mesmo tempo em que os leitões desmamados entra-ram na creche do Sítio 1. Mais dois carregamentos de fêmeas de reposição entraram três semanas e seis semanas após o primeiro.

Um mês após as primeiras re-posições negativas (sentinelas) terem sido introduzidas, sentinelas ao aca-so foram testadas sorologicamente, a cada mês, no rebanho de porcas.

Leitões foram testados aleatoria-mente, a cada mês, no fluxo da creche/terminação no Sítio 1 e numa termina-ção fora do Sítio. Foi utilizado o Mh IDEXX como teste preliminar. O Mh DAKO ELISA foi usado como teste diferencial/confirmatório em qualquer possível amostra positiva IDEXX.Resultados: Embora porcas que entraram no rebanho de matrizes como Mh positivas antes de 2006 ainda existam no rebanho, a disseminação do Mh aparentemente não ocorreu, com base em amostragens mensais continuadas nos animais sentinelas e no fluxo de suínos após o despovoamento da creche. A ausência de sinais clínicos e a falta de lesões compatíveis com Mh nas checagens quinzenais ao abate e em necropsias de rotina dão suporte a esta posição. No momento da redação, o teste sorológico das sentinelas do rebanho de porcas e em suínos de terminação no Sítio 1 tem sido Mh negativa por 22 meses (852 amostras), e a terminação fora do Sítio tem sido Mh negativa por 15 meses (283 amostras).

Outras evidências de que o Mh não está sendo transferido dentro deste sistema são: • Ausência de sinais clínicos de Mh

em qualquer local no sistema;• Ausência de lesões macroscópicas

indicativas de Mh durante as ne-cropsias incidentais realizadas pela equipe veterinária;

• Ausência de lesões histológicas in-

dicativas de Mh nos tecidos subme-tidos aos laboratórios diagnósticos;

• Ausência de evidências em cultivos ou moleculares (PCR) de Mh em tecidos submetidos aos laboratórios diagnósticos a partir das necropsias incidentais;

• Ausência de lesões macroscópicas indicativas de Mh durante checa-gens ao abate (realizadas quinzenal-mente).

Discussão: Neste caso, o Mh foi eliminado com os seguintes fatores-chave:• Vacinação contra Mh do rebanho

inteiro de porcas duas vezes, com intervalo de três semanas;

• Os mais jovens animais Mh posi-tivos ocorreram em fêmeas de se-gunda parição, antes do início do desmame precoce e da adição de Lincocin na ração das porcas;

• Coberturas e parições continuadas;• Lincocin em todas as rações de por-

cas por um mês (100 gramas/ton.);• Idade máxima de desmame de 10

dias por um período de duas sema-nas;

• Tulathromycina injetada em leitões desmamados precocemente com 1 dia de idade;

• Despovoamento da creche e das instalações de crescimento e termi-nação antes de receberem leitões ne-gativos para Mh.

Por: Paulo Roberto da [email protected]

As instalações de creche, crescimento e terminação são despovoadas, lavadas, desinfetadas e secas e, após 4 semanas, voltam a ser repovoadas

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A Lei do Caminhão do Lixo...

Um dia peguei um taxi e fui direto para o aeroporto. Estava rodando na faixa certa quando de repente um carro preto saltou do estacionamento na minha frente.

O motorista do taxi pisou no freio, deslizou e escapou do outro carro por um triz!

O motorista do outro carro sacudiu a cabeça e começou a gritar para nós.

O motorista do taxi apenas sorriu e acenou para o cara. E eu quero dizer que ele o fez bastante amigavelmente.

Assim eu perguntei: ‘Por que você fez isto? Este cara quase arruína o seu carro e nos manda para o hospital!’

Foi quando o motorista do taxi me ensinou o que eu agora chamo “A Lei do Caminhão de Lixo”.

Ele explicou que muitas pessoas são como caminhões de lixo. Andam por ai carregadas de lixo, cheias de frustrações, cheias de raiva e de desapontamento.

À medida que suas pilhas de lixo crescem, elas precisam de um lugar para descarregar e, às vezes, descarregam sobre a gente.

Não tome isso pessoalmente. Apenas sorria, acene, deseje-lhes bem e vá em frente.

Não pegue o lixo delas e espalhe sobre outras pessoas no trabalho, em casa ou nas ruas.

O princípio disso é que pessoas bem-sucedidas (e digo pessoas como pessoas, não como profi ssionais) não deixam caminhões de lixo estragar o seu dia.

A vida é muito curta. Ame as pessoas que te tratam bem. Ore pelas que não o fazem.

A vida é dez por cento o que você faz dela e noventa por cento a maneira como você a recebe!

Tenha um dia maravilhoso, livre de lixo!

Autor Desconhecido

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Recursos Humanos

Suínos & Cia Ano VI - nº 33/2009

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Dicas de Manejo

Suínos & Cia Ano VI - nº 33/2009

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Como concluir o diagnóstico clínico e laboratorial de

PCV-2 em granjas de suínos.

O diagnóstico clínico e laboratorial são indispensáveis para conduzir adequadas medidas de controle e tratamento das enfermidades que acometem os suínos

nas diferentes fases de produção. Segue algumas dicas para conduzir o adequado diagnostico de PCV-2 quando presente em um plantel.

Frequentemente presente em animais na fase de

crescimento. Caracteriza-se por apresentar

perda de desempenho, desuniformidade do lote,

aumento do número de refugos, perda de consumo e susceptibilidade a infecções

secundárias.

Lesões macroscópicas como aumento de tamanho dos linfonodos ( inguinais superfi ciais, mesentéricos e mediastínicos) são lesões características da doença.

63

Dicas de Manejo

Suínos & Cia Ano VI - nº 33/2009

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A dermatite nefropática é visualizada principalmente nos membros posteriores .

Outra característica da presença da doença é a pneumonia intersticial.

Nos rins, se observa manchas esbranquiçadas,

características de nefrite intersticial.

Dicas de Manejo

64Suínos & Cia Ano VI - nº 33/2009

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O diagnóstico defi nitivo da enfermidade se basea na

presença de sinais clínicos compatíveis com a doença

juntamente com os achados de necropsia e exames

laboratoriais. Para exames

complementares através de testes indiretos pode ser utilizado soro para pesquisa

da presença de anticorpos.

Transtornos digestivos, onde na maioria dos casos se observa diarréia de diferentes consistências e colorações.

Para testes diretos se busca a presença do vírus em fragmentos de órgãos frescos ou congelados, como tecidos linfóides, pulmão, coração, rim e intestino através da técnica de PCR (Reação de Cadeia pela Polimerase). Outros métodos indiretos seria a Imunohistoquimica e/ou Histopatológico para observação das lesões microscópicas induzidas pelo agente viral. Para este, os fragmentos deverão ser enviados fi xados em formaldeído 10%.

Suínos & CiaAno VI - nº 33/2009

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Dicas de Manejo

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Encontre as palavras

Jogo dos 7 erros

S S D F A H J K L P Q O W E R O T A Y R U C I L O R L D O KM S C D F E B R E A F T O S A D E S Z A Q W P D X S W R D CV F D I G B B H Y U J Q I W H E T P O I S K C U N M B T Y TR F G O H X D S Q C W P E S T E S U Í N A C L Á S S I C A HG R T Z A X C C R V O I Z U N X G L C B U T D N D S D R S AA S S Q P L T E Z D D W R Y T B I C Q G X C I A W R L Y O BS N J I A H B V G Y O F C X D S E T F A N I F Z X S W I D VI F C O R O N A V Í R U S Y L U V I L I L R U U N H B N Y C

D Q G V V R K A J G O D O T J M I E Q N D C C A A Q C F D XE D T A O N B B F G H J M N K L P O I U D O L H F C D L S RN W I Z V H J L L P O I U Y T R E W Q Z X V N B L M K U V DT L E M Í H B N G Y T F C X D R E S Z A Q Í K Z X N S E D OE G T X R B N C Y U J M K I O L P P O I L R E F N M H N Y RR D R N U X D M W S Z X A Q W A S D E R F U J Z K Q A Z D FO R R L S N B D F G H J M N K L P O I U J S H G F F G A C ZV D T G H H J L L P O I U Y T R E W Q Z X C V B N M Y P T KÍ T E V O A B R G Y T F C X D R E S Z A Q W A Z X S W L L CR D Y R N A N H Y U J M K I O L P P O I L K J U N M B H F TU F C B C X S E W S Z X A Q W A S D E R F C X Z A H W E B SS R U B H N B E F G H J M N K L P O I U J I H G D C R X O ZM S N N L M W K L P R R S Y T R E W Q Z X C L S N R V O R KY M I R I I B V G Y T F C X D R E S Z A T W D U U A W E O CM Z N X R C L V A N T Í G E N O O P O I L R J H F M B H T TE F O L L A K F J I H O T G R F I D A R T C N I H I W E A FX E T Y R N B V S C H J M N L L P O I H J R X G A C B X V ZR S D O E N Ç A D E A U J E S Z K Y S Z M Q F B R M L A Í KO N J I U H I X G A V F R K X C V B N J H Y L F O B D D R CV L Q N K O J F H T G B F C D L S I A O L K J U E M B H U ER F G V C Z D E S T O M A T I T E V E S I C U L A R W E S FG R T Y H N B T I R A E I W A D O C H A T O S G F C D X G Z

Vamos encontrar no diagrama ao lado, quais são as diferentes doenças que tem o vírus como agente etiológico.

Doença de Aujeszky

Circovirus

Febre Aftosa

Estomatite Vesicular

Parvovirus

Infl uenza

Peste Suína Clássica

Enterovírus

PRRS

Rotavírus

Coronavírus

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Divirta-se

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Caso ClínicoUma granja de 600 matrizes de ciclo completo localizada no interior de São Paulo, apresenta si-

nais clínicos de febre, prostração, decúbito lateral, opstótono, movimentos de pedalagem, aumento de volume da articulação do carpo e tarso (direito/esquerdo), cianose das extremidades, opacidade de córnea, secreção ocular com coloração escura e difi culdade respiratória. Apresenta alta morbidade e acomete leitões de diferen-tes idades. Os achados de necropsia observados incluíam na cavidade torácica, aderência do saco pericárdio na região do esterno, o liquido deste apresentava-se aumentado e com coloração escurecida; focos de pleuri-te presente nos lobos apicais e diagramáticos com presença de aderência interlobular . A consolidação pulmo-nar afetava principalmente os lobos apicais por volta de vinte cinco por cento. No sistema locomotor as lesões macroscópicas observadas são, aumento do liquido sinovial de coloração leitosa em ambas as articulações. O sistema nervoso central apresentava aumento de liquido na cavidade craniana, o liquido cefalorraquidiano estava levemente amarelado. Com estas informações vamos assinalar abaixo qual o agente envolvido nesta patologia?

( ) Actinobacillus pleuropneumoniae

( ) Doença do olho Azul

( ) Streptococcus suis

( ) Haemophilus parasuis

( ) Erisipelotrix rusiopatiae

( ) Actinobacillus suis

Teste seus conhecimentosA Síndrome de Metrite,

Mastite e Agalaxia (M.M.A), carac-teriza-se por uma supressão total ou parcial da lactação, ocorrendo em fêmeas até 72 horas após o parto. Com frequência, observa-se anorexia (perda de apetite) e febre (acima de 39,8 °C). Vamos assinalar abaixo quais são os fatores predis-ponentes que desencadeiam esta síndrome?

( ) Excesso de leitão

( ) Falta de água

( ) Calor

( ) Agitadas

( ) Nervosismo (Estresse)

( ) Genética

( ) Constipação

( ) Parto distócico

( ) Idade

( ) Alimento no dia do parto

( ) Limpeza

( ) Sistema All In All Out

( ) Retenção fetal ou placentária.

Suínos & Cia

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Divirta-se

Ano VI - nº 33/2009

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Teste seus conhecimentos

( ) Excesso de leitão

( X ) Falta de água

( X ) Calor

( X ) Agitadas

( X ) Nervosismo (Estresse)

( ) Genética

( X ) Constipação

( X ) Parto distócico

( ) Idade

( X ) Alimento no dia do parto

( ) Limpeza

( ) Sistema All In All Out

( X ) Retenção fetal ou placentária.

Encontre as palavras

conhecimentosJogo dos 7 erros

S S D F A H J K L P Q O W E R O T A Y R U C I L O R L D O KM S C D F E B R E A F T O S A D E S Z A Q W P D X S W R D CV F D I G B B H Y U J Q I W H E T P O I S K C U N M B T Y TR F G O H X D S Q C W P E S T E S U Í N A C L Á S S I C A HG R T Z A X C C R V O I Z U N X G L C B U T D N D S D R S AA S S Q P L T E Z D D W R Y T B I C Q G X C I A W R L Y O BS N J I A H B V G Y O F C X D S E T F A N I F Z X S W I D VI F C O R O N A V Í R U S Y L U V I L I L R U U N H B N Y C

D Q G V V R K A J G O D O T J M I E Q N D C C A A Q C F D XE D T A O N B B F G H J M N K L P O I U D O L H F C D L S RN W I Z V H J L L P O I U Y T R E W Q Z X V N B L M K U V DT L E M Í H B N G Y T F C X D R E S Z A Q Í K Z X N S E D OE G T X R B N C Y U J M K I O L P P O I L R E F N M H N Y RR D R N U X D M W S Z X A Q W A S D E R F U J Z K Q A Z D FO R R L S N B D F G H J M N K L P O I U J S H G F F G A C ZV D T G H H J L L P O I U Y T R E W Q Z X C V B N M Y P T KÍ T E V O A B R G Y T F C X D R E S Z A Q W A Z X S W L L CR D Y R N A N H Y U J M K I O L P P O I L K J U N M B H F TU F C B C X S E W S Z X A Q W A S D E R F C X Z A H W E B SS R U B H N B E F G H J M N K L P O I U J I H G D C R X O ZM S N N L M W K L P R R S Y T R E W Q Z X C L S N R V O R KY M I R I I B V G Y T F C X D R E S Z A T W D U U A W E O CM Z N X R C L V A N T Í G E N O O P O I L R J H F M B H T TE F O L L A K F J I H O T G R F I D A R T C N I H I W E A FX E T Y R N B V S C H J M N L L P O I H J R X G A C B X V ZR S D O E N Ç A D E A U J E S Z K Y S Z M Q F B R M L A Í KO N J I U H I X G A V F R K X C V B N J H Y L F O B D D R CV L Q N K O J F H T G B F C D L S I A O L K J U E M B H U ER F G V C Z D E S T O M A T I T E V E S I C U L A R W E S FG R T Y H N B T I R A E I W A D O C H A T O S G F C D X G Z

Caso Clínico( ) Actinobacillus pleuropneumoniae

( ) Doença do olho Azul

( ) Streptococcus suis

( X ) Haemophilus parasuis

( ) Erisipelotrix rusiopatiae

( ) Actinobacillus suis

Divirta-se

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( ) Actinobacillus pleuropneumoniae

( ) Doença do olho Azul

( ) Streptococcus suis

( X ) Haemophilus parasuis

( ) Erisipelotrix rusiopatiae

( ) Actinobacillus suis

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