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ANFÍBIOS: A VIDA ENTRE DOIS MUNDOS PARQUE DA PENA BIOLOGIA NO VERÃO 2008

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ANFÍBIOS: A VIDA ENTRE DOIS MUNDOS

���� PARQUE DA PENA

BIOLOGIA NO VERÃO 2008

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BIOLOGIA NO VERÃO – PROGRAMA CIÊNCIA VIVA A Biologia no Verão é uma iniciativa do Programa Ciência Viva do Ministério da Ciência e da Tecnologia, na qual participam várias instituições portuguesas, que durante alguns dias abrem as portas para ensinar o que é a Biologia a todos os que tiverem curiosidade. Neste âmbito, a Parques de Sintra – Monte da Lua, S.A. convida-vos a fazerem uma viagem ao mundo da Biologia através da realização de um passeio no Parque da Pena, orientado por biólogos. Ao longo da visita serão abordados vários aspectos da vertente natural deste parque histórico da Serra de Sintra, em que se destaca a exuberante vegetação e os inúmeros planos de água. O visitante terá a oportunidade de conhecer in loco os habitats onde se podem encontrar algumas espécies de anfíbios, compreender a biologia destas espécies, ficando igualmente habilitado a conseguir distinguir larvas e adultos das várias espécies que irão ser observadas.

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A SERRA DE SINTRA 1. A ORIGEM GEOLÓGICA DA SERRA DE SINTRA Ao contemplarmos a magnífica serra de Sintra, tudo nos leva a crer que este imponente e luxuriante monumento natural sempre existiu na forma que hoje conhecemos. Não é essa a realidade, porém. A serra de Sintra formou-se há cerca de 60-70 milhões de anos, e deve a sua origem a um fenómeno geológico denominado intrusão magmática. Este processo consiste no aprisionamento de uma bolha de magma no interior da crosta terrestre que solidifica lentamente, permitindo a formação dos cristais que constituem o granito. Devido às movimentações da crosta terrestre, esta massa de granito acaba, eventualmente, por emergir à superfície, formando, como no caso de Sintra, uma serra. 2. UM CLIMA MUITO ESPECIAL Por se erguer perpendicularmente à linha de costa, a Serra de Sintra é o primeiro obstáculo natural que os ventos carregados de humidade, vindos do oceano Atlântico, encontram a interceptar o seu percurso. Este facto permite a existência neste local de um microclima mediterrânico de feição oceânica, com níveis de humidade característicos dos climas subtropicais. A evapotranspiração gerada pela floresta e a protecção constante proporcionada pelas suas copas, bem como a manta morta gerada pela queda das folhas e dos ramos, contribuem para a manutenção de temperaturas e de níveis de humidade no solo propícias ao desenvolvimento da grande diversidade de espécies que aqui podemos encontrar. 3. A VEGETAÇÃO EXUBERANTE A vegetação exuberante da Serra de Sintra está longe de ser um vestígio da floresta primitiva que cobria praticamente toda a área que viria a ser Portugal antes das

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modificações de paisagens impostas pela acção do Homem. De facto, devido às intervenções ao longo dos tempos, como as explorações agrícola, florestal e a utilização da terra para pastagens, a serra encontrava-se, em pleno século XIX, praticamente despida de vegetação. Foi com a chegada do Romantismo a Sintra que a situação se inverteu. 4. O ROMANTISMO

O romantismo foi um movimento cultural europeu, que surgiu nos finais do século XVIII e cuja influência se consolidou até meados do século XIX. A estética romântica aliou a busca pelo exotismo a uma importância acrescida dos sentimentos, o gosto da natureza, o culto do misticismo e o regresso ao passado. Foi neste contexto que se deu início à plantação dos parques românticos em Sintra, exemplos únicos que influenciaram diversas paisagens na Europa.

4.1. D. FERNANDO II

Em colaboração com o Barão de Eschwege e o Barão de Kessler, D. Fernando II, rei consorte de D. Maria II, define o plano e projecto do Parque que viria a envolver o Palácio da Pena. Aproveitando o terreno acidentado, a fertilidade do solo e a singularidade climática da serra, manda plantar um imenso arvoredo, originário de regiões distantes, como foi o caso das Sequóias e Túias da América do Norte, das Araucárias do Brasil e da Austrália, das Criptomérias do Japão, dos Cedros do Líbano e ainda dos Fetos-arbóreos da Austrália e da Nova Zelândia, enquadrando, bem ao gosto romântico da época, ruínas, pavilhões e pequenas construções para criar ambientes diversos e cenários de inigualável beleza natural dando origem a descrições como a que se segue:

”Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Conheço a Itália, a Sicília, a Grécia e o Egipto e nunca vi nada que

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valha a Pena. É a coisa mais bela que tenho visto. Este é o verdadeiro jardim de Klingsor – e, lá no alto, está o castelo do Santo Graal”.

Richard Strauss

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O PARQUE DA PENA

Graças à imaginação inventiva e romântica de D. Fernando II, a exploração do Parque da Pena transporta-nos numa viagem no tempo e no espaço à medida que se descobre os recantos e a larga diversidade de ambientes onde podemos encontrar espécies provenientes de diferentes climas e zonas geográficas. Construiu-se assim, um ambiente natural de rara beleza e de enorme importância científica que, seguramente muito contribuiu para a classificação de Sintra, pela UNESCO como Património da Humanidade em 1995.

FIGURA 1 – Imagens do Parque da Pena

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OS ANFÍBIOS 1. ENTRE A ÁGUA E A TERRA Não há dúvida que a vida na água precedeu a vida na terra firme e que muitos grupos de animais passaram de um elemento para o outro, obrigados por factores diversos. Os animais que dispunham de uma maior capacidade de adaptação, ou seja, que possuíam órgãos mais facilmente modificáveis para se adaptarem às novas condições, conseguiram conquistar o habitat terrestre. Há mais de 350 milhões de anos, os anfíbios foram os primeiros animais vertebrados que se atreveram a sair da água para conquistar a terra. Porém não conseguiram tornar-se completamente independentes da água e a sua maioria necessita de água para se reproduzir. 2. CARACTERÍSTICAS DOS ANFÍBIOS Os anfíbios são animais de sangue frio, o que quer dizer que a sua temperatura interna varia em função da temperatura do meio exterior. Possuem pele nua, ou seja, não têm a revesti-los pêlos, penas ou escamas, o que possibilita a respiração cutânea. Possuem muitas glândulas na pele secretoras de substâncias químicas para se protegerem dos predadores e que ajudam a manter a humidade do corpo.

TABELA I – Principais grupos de anfíbios Ordem Característica

principal Exemplo

Anuros Sem cauda Sapos, Rãs e Relas

Urodelos Com cauda Tritões e Salamandras

Ápodes Sem membros Cecílias

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3. A METAMORFOSE Os anfíbios são os únicos animais vertebrados que se desenvolvem por metamorfose. Isto significa que durante a sua vida sofrem uma série de transformações que fazem com que o seu corpo de adultos seja completamente diferente da forma que tinham quando nasceram. Estas transformações são tão incríveis que, em muito pouco tempo, um organismo que antes vivia como um peixe converte-se num animal muito diferente, que é capaz de viver e respirar fora de água.

FIGURA 2 - Esquema ilustrativo do processo de metamorfose dos anfíbios

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No caso dos Anuros os ovos são postos na água, onde nascem os jovens girinos, que possuem cauda e brânquias externas, mas não têm pernas. Com o crescimento e desenvolvimento do girino as brânquias desaparecem e vão-se formando os pulmões, surgem os membros posteriores e os anteriores e a cauda encolhe, chegando mesmo a desaparecer nalguns casos. Para além disso, enquanto vivem na água os anuros são normalmente herbívoros e convertem-se depois em carnívoros quando passam a viver fora dela. No caso dos Urodelos os ovos são também depositados na água mas nalgumas espécies, como as salamandras, nem sequer chega a haver esta fase, ou seja, a fêmea deposita as larvas na água e estas são muito semelhantes aos adultos, com excepção da coloração e da ausência de brânquias. Por seu lado os tritões são muito semelhantes aos Anuros com excepção do desaparecimento da cauda e do aparecimento dos membros posteriores e anteriores muito cedo (logo quase após a eclosão dos ovos), e ao mesmo tempo. 4. OS PREDADORES Apesar de produzirem uma enorme quantidade de ovos, nem todos os girinos dos anfíbios conseguem atingir com sucesso a idade adulta. Entre os seus inimigos encontram-se animais muito diferentes: peixes, répteis, insectos, mamíferos e aves. Há ainda muitas espécies de anfíbios em que os indivíduos adultos devoram tranquilamente os girinos e mesmo alguns pais que comem os seus próprios filhos (canibalismo), como por exemplo a salamandra-de-pintas-amarelas. 5. MEIOS DE DEFESA CONTRA OS PREDADORES Nos adultos, o principal meio de defesa consiste na ocultação e na confiança na sua capacidade de permanecerem completamente imóveis e na sua coloração

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críptica, coloração que pode modificar-se pela influência de determinados factores. Por outro lado, a pele segrega uma substância mucosa que os torna escorregadios e difíceis de apanhar. Além disso muitas das espécies possuem glândulas secretoras de um veneno que pode ser mais ou menos tóxico. 6. FACTORES DE AMEAÇA Os que mais incidem sobre os anfíbios são a perda, fragmentação e degradação dos habitats por acção do Homem, como por exemplo a destruição da vegetação dos habitats circundantes dos rios e ribeiras, a actividade agrícola intensiva (perda de locais de reprodução – charcos e tanques) e poluição dos cursos de água. Existem outros factores também relevantes como os atropelamentos na altura das migrações para os locais de reprodução, os incêndios que provocam a perda de recursos e a introdução de espécies exóticas predadoras em particular os peixes (e.g. lúcio Exos lucius, perca-sol Lepomis gibbosus e achigã Micropterus salmoides), e o lagostim-vermelho da Louisiana Procambarus clarckii, que se alimenta dos ovos e larvas, pondo em causa a sobrevivência das populações. São também conhecidas ameaças à escala planetária que contribuem para o declínio dos anfíbios, como o progressivo aumento da temperatura, devido ao aumento das radiações ultra-violetas e ainda, mais ou menos directamente associado a estes fenómenos, a aparente diminuição das defesas imunitárias.

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OS ANFÍBIOS DO PARQUE PENA BIOLOGIA DAS ESPÉCIES OBSERVADAS

1. SALAMANDRA-DE-COSTELAS-SALIENTES OU SALAMANDRA-DOS-POÇOS Classe: Amphibia Ordem: Caudata Família: Salamandridea Género: Pleurodeles Espécie: Pleurodeles waltl – – Michahelles, 1830

Descrição: É o maior urodelo ibérico podendo passar dos 30 cm de comprimento. Tem cerca de 7-9 protuberâncias em cada um dos flancos, amarelas ou alaranjadas. A pele é tipicamente rugosa e apresenta uma coloração dorsal muito variada. Hábitos:

• Espécie de hábitos aquáticos encontrando-se activa maioritariamente à noite ou no crepúsculo. Pode ser encontrada ocasionalmente em terra debaixo de pedras ou troncos;

• É bastante resistente à secura e à poluição; • Pode passar por períodos de estivação entre

Novembro e Fevereiro; • Pode migrar para outros locais de água quando os

locais onde estão secam ou começam a secar. Habitats: Prefere águas temporárias com fundos de natureza arenosa;

Figura 4 – Salamandra- de-costas-salientes

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Alimentação:

• Adultos – larvas de insectos, crustáceos e outros invertebrados aquáticos, larvas de anfíbios (incluindo a própria espécie), animais mortos, pequenos peixes e tritões;

• Larvas – pequenos insectos aquáticos e crustáceos.

Defesa: Morder e fazer ruídos profundos, libertar um cheiro característico e segregar substâncias tóxicas. Reprodução:

• Entre Setembro e Julho. Pode também ocorrer de meados de Outono aos primeiros meses de Inverno;

• Sem dimorfismo sexual. Ao fim de 2-3 dias a fêmea põe entre 150-1300 ovos, consoante o tamanho, em pequenos grupos de 9-20 unidades em plantas aquáticas, pedras submersas e no fundo dos charcos;

• A eclosão ocorre após 1-2 semanas e as larvas sofrem a metamorfose 4 meses mais tarde.

Distribuição: Um pouco por todo o país, mas mais comum a sul da Serra da Estrela. Estatuto/Legislação: Estatuto IUCN 2007 – Espécie quase ameaçada (NT). Está incluída no anexo III da Convenção de Berna.

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2. SALAMANDRA-DE-PINTAS-AMARELAS Classe: Amphibia; Ordem: Caudata; Família: Salamandridea; Género: Salamandra Espécie: Salamandra salamandra – Linnaeus, 1758 Descrição: Espécie grande, até 25cm, de cores vivas no dorso com um padrão muito variável (amarelo, laranja ou vermelho). A pele é lisa e brilhante e está permanentemente húmida. Hábitos:

• Sobretudo nocturna e maioritariamente terrestre; • Os adultos são péssimos nadadores – afogamento de

fêmeas; • Utilizam o meio aquático somente para fins

reprodutores; • Encontra-se activa todo o ano sendo mais comum

entre Setembro e Maio, podendo ficar inactiva nos meses mais frios nas regiões mais altas.

Habitats: Massas florestais caducifólicas (castanheiros e carvalhos, por exemplo) e zonas agrícolas com oliveiras e gramíneas.

FIGURA 6 – Larvas em Metamorfose

FIGURA 5 – Indivíduo adulto

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Alimentação: • Adultos – escaravelhos, formigas, caracóis, lesmas,

minhocas, centopeias e aranhas; • Larvas – insectos aquáticos, crustáceos, pequenos

vermes e larvas de outros anfíbios incluindo a própria espécie.

Defesa: Secreções tóxicas esbranquiçadas das glândulas parótidas ou adopta uma postura defensiva baixando a cabeça e arqueando o corpo. Reprodução:

• Entre Setembro e Maio. Possível ocorrência de 2 épocas – Outono e Primavera;

• Pouco dimorfismo sexual; • Espécie ovovivípara ou vivípara. As fêmeas dão à luz

entre 8-70 larvas, uma vez ou em várias ocasiões sucessivas ao longo da época.

Distribuição: Um pouco por todo o país. Estatuto/Legislação: Estatuto IUCN 2007 – Espécie pouco preocupantes (LC). Está incluída no anexo III da Convenção de Berna.

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3. TRITÃO-DE-VENTRE-LARANJA Classe: Amphibia; Ordem: Caudata; Família: Salamandridea; Género: Triturus Espécie: Triturus boscai – Lataste, 1879

Descrição: Machos mais pequenos que as fêmeas com 6.5-7.5cm e 7-10cm de comprimento, respectivamente. Coloração dorsal variável do amarelo-acastanhado ao cinzento-acastanhado escuro e ventre geralmente do laranja-amarelado ao laranja-avermelhado, com manchas escuras dispersas. Hábitos: Espécie geralmente aquática todo o ano, mas pode ter uma fase terrestre. Actividade maioritariamente diurna na fase aquática e geralmente nocturna na fase terrestre. Habitats: Florestas de coníferas e de folhosas caducifólias e meios lênticos de água doce – pequenas poças, ribeiros, lagoas e poças dentro de cavernas. Alimentação: Adultos e larvas – invertebrados aquáticos, ovos e larvas da própria espécie e de outras espécies de urodelos.

FIGURA 7 – Macho FIGURA 8 – Adultos e larvas

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Defesa: Fuga e emissão de secreções tóxicas das glândulas cutâneas. Reprodução:

• Dimorfismo sexual – machos mais pequenos com cloaca redonda evidente e com uma linha branca na extremidade inferior da cauda;

• Entre Novembro e Junho, dependendo da região geográfica;

• Complexo comportamento de corte dentro de água; • As fêmeas põem 100-250 ovos ao longo da época

que são fixados individualmente a plantas aquáticas ou a outros objectos no fundo da água e eclodem entre 1 a 3 semanas.

Distribuição: Mais comum no norte e centro do país (interior) e junto ao litoral centro e sul. Estatuto/Legislação: Estatuto IUCN 2007 – Espécie pouco preocupantes (LC). Está incluída no anexo III da Convenção de Berna.

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4. TRITÃO-MARMORADO Classe: Amphibia; Ordem: Caudata; Família: Salamandridea; Género: Triturus Espécie: Triturus marmoratus – Latreille, 1800

Descrição: Os adultos chegam aos 16cm de comprimento. A coloração dorsal é sobretudo verde, claro ou escuro, e o ventre é escuro, normalmente preto e com pequenas manchas brancas. Hábitos: Espécie aquática, sobretudo durante a época de reprodução, e terrestre fora da última. Activa normalmente todo o ano, podendo ficar inactiva nos meses mais frios do Inverno e nos meses mais quentes do Verão. Habitats: Meios lênticos de água doce (permanentes ou temporários). Alimentação:

• Adultos – larvas de insectos aquáticos, minhocas, lesmas, caracóis e larvas de outros;

• Larvas – pequenos insectos aquáticos e crustáceos – cladóceras e copépodes.

Defesa: Fuga, secreções cutâneas tóxicas e tentativa de morder o agressor.

FIGURA 9 – Macho, fêmea e larvas

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Reprodução: • Com dimorfismo sexual – as fêmeas e juvenis têm

uma risca vertebral alaranjada e os machos uma crista no dorso;

• Entre Outubro-Maio dependendo da região geográfica;

• Ocorre à noite e dentro de água; • A fêmea deposita 150-400 ovos que são envolvidos,

individualmente, em plantas aquáticas. A eclosão dá-se 8-14 dias depois da postura;

• A metamorfose ocorre na Primavera ou até ao final do Verão.

Distribuição: Mais comum a norte e centro do país e também no litoral centro. Estatuto/Legislação: Estatuto IUCN 2007 – Espécie pouco preocupantes (LC). Está incluída no anexo III da Convenção de Berna e no anexo IV da Directiva Habitats.

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5. RÃ-DE-FOCINHO-PONTIAGUDO Classe: Amphibia; Ordem: Anura; Família: Discoglossidae; Género: Discoglossus Espécie: Discoglossus galganoi – Capula, Nascetti, Lanza, Bullini & Crespo 1985 Descrição: Pode ter 6-8cm de comprimento. A cabeça é achatada, o focinho pontiagudo, as pupilas redondas e possuí uma “máscara” na cabeça, entre os olhos e a extremidade do focinho. A pele é lisa com algumas verrugas e a coloração muito variável (desde o cinza ao castanho) sendo o ventre esbranquiçado. Hábitos: Geralmente crepuscular, podendo também ser diurna em dias húmidos e chuvosos. Permanece activa geralmente todo o ano mas com pouca actividade nos meses mais frios e também nos mais quentes. Habitats: Encontra-se nas imediações das massas de água em qualquer tipo de biótopo, preferindo terrenos encharcados, prados e lameiros.

FIGURA 10 – Indivíduos adultos

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Alimentação: • Adultos – insectos, aranhas, caracóis, lesmas,

minhocas ou até mesmo juvenis da própria espécie; • Larvas – matéria vegetal e detritos.

Defesa: Fuga. Reprodução:

• Ocorre no Inverno e na Primavera dentro de água; • O amplexo é inguinal; • A fêmea acasala com vários machos e põe 20-50

ovos de cada vez, podendo pôr cerca de 1500 num único dia em pequenos grupos no fundo das massas de água ou nas plantas aquáticas. A eclosão dá-se 2-9 dias depois;

• A metamorfose ocorre ao fim de 4-9 semanas. Distribuição: Ocorre em todo o país mas é mais comum no litoral, o que corresponde a 25% da área global. Estatuto/Legislação: Estatuto IUCN 2007 – Espécie pouco preocupantes (LC). Está incluída no anexo II da Convenção de Berna e nos anexos II e IV da Directiva Habitats.

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FIGURA 11 – Indivíduo adulto

6. SAPO-COMUM Classe: Amphibia; Ordem: Anura; Família: Bufonidae; Género: Bufo Espécie: Bufo bufo – Linnaeus, 1758 Descrição: É o maior sapo da Europa podendo atingir os 15cm de comprimento. Apresenta uma pupila horizontal de cor cobre-dourado e uma pele muito rugosa, normalmente acastanhada, com glândulas parótidas bastante evidentes e oblíquas. Hábitos: Espécie de hábitos aquáticos e terrestres, essencialmente crepusculares, mas também diurnos em dias húmidos e chuvosos. Activa todo o ano, ocorrendo uma diminuição da actividade no Inverno. Habitats: Cursos de água, charcos temporários, florestas, habitats rochosos e arenosos, matos, terrenos agrícolas e águas estagnadas. Alimentação: Espécie muito voraz.

• Adultos – centopeias, escaravelhos, moscas, borboletas, lesmas, minhocas e ainda outros anfíbios;

• Larvas – matéria vegetal.

Defesa: Incham o corpo e libertam secreções cutâneas esbranquiçadas das glândulas parótidas. Também podem expelir urina.

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Reprodução: • Apresenta dimorfismo sexual – fêmeas muito

maiores que os machos; • Entre Novembro-Abril ou final do Inverno em zonas

mais frias ; • Migrações até aos locais de reprodução no Outono; • O amplexo é axial ocorrendo competição entre os

machos – amplexos de vários machos e uma só fêmea;

• As fêmeas depositam 2000-8000 ovos esféricos em cordões gelatinosos com 5-10mm de espessura e até 5m de comprimento. A eclosão dá-se após 2-3 semanas.

• A metamorfose ocorre 2-4 meses depois a eclosão.

Distribuição: Comum em todo o país. Estatuto/Legislação: Estatuto IUCN 2007 – Espécie pouco preocupantes (LC). Está incluída no anexo III da Convenção de Berna.

FIGURA 12 – Ovos agrupados em cordões gelatinosos

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7. RÃ-VERDE Classe: Amphibia; Ordem: Anura; Família: Ranidae; Género: Rana Espécie: Rana perezi – Seoane, 1885 Descrição: Geralmente com 8,5-10cm de comprimento. A coloração varia de verde, cinzento e castanho, com manchas irregulares mais escuras sendo muito frequente uma risca vertebral esverdeada. Tem pregas dorso-laterais castanhas e ventre esbranquiçado com reticulações cinzentas. Hábitos: Espécie activa de noite e de dia, altamente aquática e abundante. É boa nadadora e óptima saltadora, atingindo em salto distâncias até 2 metros. Pode sobreviver em algumas águas salobras e poluídas. Habitats: Ocorre numa grande variedade de massas de água, encontrando-se frequentemente a apanhar sol nas margens. Alimentação: Espécie muito voraz.

• Adultos – insectos, aranhas, minhocas, crustáceos, moluscos, peixes e anfíbios, incluindo os da própria espécie, pequenas rãs e pequenos roedores;

FIGURA 13 – Adulto e Juvenil

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• Larvas – matéria vegetal e detritos. Defesa: Fuga para dentro de água. Reprodução:

• Ocorre na Primavera; • O amplexo é axilar e dá-se sobretudo de noite; • As fêmeas depositam 800-10.000 por época em

grandes aglomerados flutuantes; • A eclosão dá-se passados alguns dias e os girinos

sofrem a metamorfose 2-4 meses depois. Distribuição: Encontra-se uniformemente distribuída por todo o país. Estatuto/Legislação: Estatuto IUCN 2007 – Espécie pouco preocupantes (LC). Está incluída no anexo III da Convenção de Berna e no anexo V da Directiva Habitats.

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DICAS PARA A IDENTIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES 1. ANURA (ADULTOS)

TABELA II – Algumas características chave para a identificação de

anuros adultos

Pele Dobras

dorso-laterais Glândulas parótidas

Rugosa Sapos Presença Rãs Presença Sapos Lisa Rãs Ausência Sapos Ausência Rãs

Máscara Membrana ocular

Ombro Dobra dorso-lateral Virilha Membrana interdigital

Pupila vertical

Pupila horizontal

Olhos horizontais

Olhos orientados para cima

Ponta do dedo

Tubérculo metatarsiano

Glândula parótida

FIGURA 13 - Características chave para a identificação de anuros adultos (adaptado de HTTP://WWW.ENV.GOV.BC.CA/WLD/FROGWATCH/IMAGES/KEYS.GIF )

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2. CAUDATA (ADULTOS) TABELA III – Algumas características chave para a identificação de

caudatas adultos

Dimorfismo sexual

Acentuado Pouco

acentuado/nulo Tritões Salamandras

2.1. TRITÕES TABELA III – Algumas características chave para a identificação de

tritões (machos)

Crista dorsal (machos)

Presença Ausência Tritão-

marmorado Tritão-de-

ventre-laranja

Espinho

Filamento caudal

Crista caudal

Glândula parótida

N.º dedos posteriores

Sulcos transversais

Verrugas nos flancos

Crista dorsal

Dedos franjeados ou membranosos

Figura 14 - Características chave para a identificação de caudatos adultos (adaptado de Ovenden & Arnold, 2004).

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3. LARVAS (ALGUNS DIAS DE VIDA) TABELA IV– Algumas características chave para a identificação de

larvas de anfíbios

Membros Cabeça Presença Caudata Achatada Salamandras

Ausência Anura Fusiforme Tritões e anuros

4. POSTURAS Tabela V- Posturas de anfíbios e formas de deposição (adaptado

de www.whose-tadpole.net)

Grandes grupos de ovos pretos/castanhos

Rãs

Pequenos grupos de ovos cinzentos

Rela (Hyla arborea)

Ovos pretos aglomerados em longos filamentos

Sapos

Ovos brancos ou bicolores depositados individualmente em

folhas de plantas aquáticas

Tritões

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida N.F., Almeida P.F., Gonçalves H., Sequeira F., Teixeira J. & Almeida F.F. (2001). Anfíbios e Répteis de Portugal. Guia FAPAS – Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens. Porto.

Cabral M.J. (coord.), Almeida J., Almeida P.R., Dellinger T., Ferrand de Almeida N., Oliveira M.E., Palmeirim J.M., Queiroz A.I., Rogado L. & Santos-Reis M. (eds.) (2006). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. 2ªed. Instituto da Conservação da Natureza/Assírio &Alvim. Lisboa

Crespo E.G. e Oliveira M.E. (1989). Atlas de distribuição dos Anfíbios e Répteis de Portugal Continental. Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza. Lisboa.

Crespo E.G., Pargana J.M. & Paulo O.S. (1996). Anfíbios e répteis do Parque Natural da Serra de S. Mamede. Parque Natural da Serra de S. Mamede/ICN. Portalegre. Godinho R., Teixeira J., Rebelo R., Segurado P., Loureiro A., Álvares F., Gomes N., Cardoso P., Camilo-Alves C. & Brito J.C. (1999). Atlas of the continental Portuguese herpetofauna: an assemblage of published and new data. Rev. Esp. Herp, 13: 61-82.

Ovenden D. & Arnold N. (2004). A field guide to the Reptiles and Amphibians of Britain and Europe. 2ªed. Colins. London.

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Pargana J. M., Paulo O. S., Crespo E. G. (1998). Anfíbios e Répteis do Parque Natural da Serra de S. Mamede. Instituto da Conservação da Natureza, Portalegre. Tude M. de Sousa (1951). Mosteiro, Palácio e Parque da Pena na Serra de Sintra. Sintra.

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CONSULTAS ON-LINE

• http://curlygirl2.no.sapo.pt/repteis.htm • http://www.amphibiaweb.org • http://www.club100.net • http://www.chelonia.org/byspecies.htm • http://www.herp.it/indexjs.htm?SpeciesPages/Pleur

Waltl.htm • http://www.vertebradosibericos.org/ • http://www.whose-tadpole.net

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LEGISLAÇÃO

• Convention on the Conservation of European Wildlife and Natural Habitats (1979). European treaty series – No. 104. Council Of Europe. Bern, www.conventions.coe.int/Treaty/EN/Treaties/Html/104.htm

• Council Directive 92/43/EEC of 21 May 1992 on the

conservation of natural habitats and of wild fauna and flora. Consolidated version 1.1.2007, www.ec.europa.eu/environment/nature/legislation/habitatsdirective/index_en.htm

• IUCN 2007. 2007 IUCN Red List of Threatened

Species. www.iucnredlist.org

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GLOSSÁRIO

• Amplexo axial – forma de pseudocópula no qual um anuro macho se coloca no dorso de uma fêmea, agarrando-a com as suas patas na zona das axilas, enquanto esta faz a postura dos ovos.

• Amplexo inguinal – forma de pseudocópula no qual um anuro macho se coloca no dorso de uma fêmea, agarrando-a com as suas patas na zona da cintura, enquanto esta faz a postura dos ovos.

• Anfíbio – Pequeno animal de pele mole, permeável, geralmente húmida e sem escamas que podemos encontrar na água e em locais húmidos. Possui, geralmente, a capacidade de respirar dentro e fora de água.

• Biodiversidade – Variedade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte. Compreende, ainda, a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.

• Biologia – Ciência que estuda a vida. • Canibalismo – Relação entre organismos da mesma

espécie em que um se alimenta do outro. • Desovar – Fazer uma postura. • Dimorfismo sexual – ocorrência de indivíduos do sexo

masculino e feminino de uma espécie com características físicas não sexuais marcadamente diferentes.

• Ecossistema – Sistema ecológico formado pelo ambiente e pelos seres vivos que nele vivem e com o qual se relacionam.

• Endemismo – Fenómeno que consiste na ocorrência de espécies ou de subespécies animais ou vegetais numa única área restrita e relativamente isolada.

• Epidérmico – Relativo à pele. • Espécie – Conjunto de organismos anatómica e

fisiologicamente semelhantes e que, em condições

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naturais, se cruzam entre si, dando origem a descendentes férteis.

• Evapotranspiração – Libertação de vapor de água pelos organismos vegetais.

• Habitat – Local que oferece as condições apropriadas à vida de um ser vivo.

• Intrusão magmática – Aprisionamento de uma bolha de magma no interior da crosta terrestre, que depois de solidificar emerge à superfície.

• Magma – Material fundido, rico em gases, que se encontra no interior da Terra.

• Meios lênticos – Águas eutróficas (bem nutridas) permanentes, paradas ou lentas.

• Metamorfose – Conjunto de transformações que ocorre no corpo de alguns animais desde que nascem até à fase adulta.

• Microclima – Conjunto de condições climatéricas específicas de um local, geralmente devido às condições geográficas existentes.

• Ovíparo – Animal que se desenvolve fora do corpo materno, dentro de um ovo que lhe fornece as substâncias necessárias ao seu desenvolvimento.

• Ovovivíparo – Animal que se desenvolve dentro de um ovo, no interior do corpo materno.

• Pecilotérmico – Animal de sangue frio. • Predação – Relação entre organismos de espécies

diferentes em que um sai beneficiado e o outro sai prejudicado a ponto de ser eliminado.

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