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O discurso keynesiano ganha força diante da crise econômica mundial. E a idéia da eficiência do mercado na alocação dos recursos econômicos, está sendo questionada. Nash desfavorável ao administrador público: o jogo do Convite A reação da economia brasileira aos impactos da crise financeira internacional A gestão do pré-sal e a ameaça da doença holandesa no Brasil Marcelo Lopes de Souza Rosane de Almeida Maia Tiago Oliveira Eduardo Toledo Neto ISSN 1677-0668 ANO IX •
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ISSN
167
7-06
68
ArtigoS
ANO
IX •
Nº 3
7 • ja
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Revista deConjunturaPublicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal
No enfrentamento da crise, será preciso a
“mão visível do Estado”?
O discurso keynesiano ganha força diante da crise econômica mundial. E a idéia da eficiência do mercado na
alocação dos recursos econômicos, está sendo questionada.
Charles Mueller foi o primeiro professor do Departamento de
Economia da Universidade de Brasília (UnB) a receber o título de professor
emérito. É o primeiro, também, a participar da nova série de entrevistas.
A gestão do pré-sal e a ameaça da doença
holandesa no BrasilEduardo Toledo Neto
Países emergentes: definições, papéis e impactos
na atual ordem global José Nelson Bessa Maia
Estrutura e dinâmica do mercado de trabalho do
Distrito FederalMarcelo Lopes de Souza
Rosane de Almeida MaiaTiago Oliveira
Nash desfavorável ao administrador público:
o jogo do Convite José Henrique Fernandes Borges
A reação da economia brasileira aos impactos da
crise financeira internacional José Luiz Pagnussat
ProFEssorEs Eméritos DE
BrAsíliA
Em 2010, Brasília completará 50 anos. Para homenagear a capital federal no seu cinqüentenário o CORECON/DF lançou três projetos:
• O banco de artigos, monografias e teses sobre a economia do DF;• O fórum “Brasília 50 anos”; e• A coletânea “Brasília 50 anos”, a ser publicada em abril de 2010.
Para a coletânea de artigos sobre a economia do DF, o CORECON/DF selecionará trabalhos que abordem temas como: história econômica do DF; estrutura econômica; indústria e agricultura; constituição e desenvolvimento dos segmentos do setor serviços (públicos e privados); infraestrutura econômica; Brasília como pólo de desenvolvimento regional; expansão do entorno e das áreas de influência do DF; dificuldades e potencialidades da economia do DF; problemas e soluções para o transporte; ordenamento territorial; entre outros temas relacionados à economia do DF.
Os trabalhos poderão ser enviados até o dia 30 de novembro de 2009 para o e-mail: [email protected]
Todos os trabalhos recebidos estarão disponíveis na página do CORECON/DF, no “banco de artigos sobre a economia do DF”.
Os melhores trabalhos serão publicados na coletânea “Brasília 50 anos”. A seleção dos trabalhos será realizada por comissões temáticas formada por professores, considerando a qualidade técnica do trabalho e a adequação e contribuição para a temática abordada.
Brasília50anos
Conselho Regional de Economia da 11ª Região-DFSCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202CEP 70300-907 - Brasília -DF Tels: (61) 3225-9242 / 3223-14293964-8366 / 3964-8368Fax: (61) 3964-8364E-mail: [email protected]: www.corecondf.org.br
A assinatura da Revista de Conjuntura pode ser efetuada contactando o Corecon/DF. O valor da assinatura é de
R$ 80,00 anual, o que equivale a quatro edições da revista.
7 A gestão do pré-sal e a ameaça da
doença holandesa no Brasil
Eduardo Toledo Neto
14 Países emergentes: definições,
papéis e impactos na atual ordem global
José Nelson Bessa Maia
34Estrutura e dinâmica do mercado
de trabalho do Distrito Federal
Marcelo Lopes de SouzaRosane de Almeida Maia
Tiago Oliveira
43Nash desfavorável ao
administrador público: o jogo do Convite
José Henrique Fernandes Borges
46A reação da economia brasileira
aos impactos da crise financeira internacional
José Luiz Pagnussat
ArtigoS
2 editorial3 entrevista
Professores Eméritos de Brasília Charles Curt Mueller
30 capaNo enfrentamento da crise, será
preciso a “mão visível do Estado”?
ÍndicePublicação do Conselho Regional de
Economia do Distrito Federal
ANO IX • Nº 37 • janeiro/março de 2009
ConjunturaRevista de
Nesta edição
Editor responsávelJosé Luiz Pagnussat
Conselho editorialHumberto Vendelino RichterJosé Fernando Cosentino TavaresJosé Roberto Novaes de AlmeidaJúlio Flávio Gameiro MiragayaMário Sérgio Fernandez SallorenzoMaurício Barata de Paula Pinto
Jornalista responsávelDaniela Lima (Reg. DRT/DF: 4926)
RedaçãoDaniela Lima
RevisãoMarluce Moreira Salgado
Editoração eletrônicawww.arsventura.com.br
Tiragem: 4.000Periodicidade: trimestral
As matérias assinadas por colaboradores não refletem, necessariamente, a posição da entidade. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta edição, desde que citada a fonte.
CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA DA 11ª REGIÃO - DF
PresidenteJosé Luiz Pagnussat
Vice-presidenteJusçanio Umbelino de Souza
Conselheiros efetivosMário Sérgio Fernandez SallorenzoRoberto Bocaccio PiscitelliMax Leno de AlmeidaMônica Beraldo Fabrício da SilvaMaurício Barata de Paula PintoHomero Gustavo Reginaldo LimaJosé Luiz PagnussatJusçanio Umbelino de SouzaHumberto Vendelino Richter
Conselheiros suplentesPaulo Luiz Figueiredo de OliveiraMiguel RendyAndre NunesGuilherme Costa DelgadoNewton Ferreira da Silva MarquesVictor José HohlÉrton Birk TeixeiraDiones Alves CerqueiraRonalde Silva Lins
Conselheiro Federal pelo DFJúlio Miragaya
Gerente ExecutivoIsmar Marques Teixeira
Equipe do CoreconAngeilton Francisco Lima Faleiro Iraci da Costa Lopes Jamildo Cezário Gomes Maria Aparecida Carneiro Michele Cantuária Soares
EstagiárioTyago Belarmino de Lira (ensino médio)
End.: SCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202CEP 70300-907 – Brasília/DFTel: (61) 3225-9242 / 3223-14293964-8366 / 3964-8368Fax: (61) 3964-8364E-mail: [email protected]: www.corecondf.org.brHorário de funcionamento:das 8h às 18h (sem intervalo)
As mudanças na política macroeconômica brasileira, para enfrentamento
da crise, estão na direção correta. O que se espera dos gestores da política
econômica, diante de um processo recessivo, é a redução dos juros, o afrou-
xamento da política monetária, a ampliação do crédito e do gasto público e a
redução das metas de superávit fiscal, além de outros incentivos e apoio aos
setores em dificuldades. O problema é a timidez e a defasagem na resposta da
política monetária e da redução dos juros.
A manutenção dos juros em patamares elevados é inconsistente com a
realidade atual da economia brasileira e é um freio forte para a retomada do
crescimento econômico. O Banco Central está perdendo uma oportunidade
ímpar de mudar o patamar da taxa básica de juros para níveis civilizados, sem
os riscos de pressão de demanda e de preços.
O fato é que o conservadorismo na gestão da política monetária e de ju-
ros entra em contradição com as políticas de promoção ao desenvolvimento,
anulando-as e prolongando a crise. A redução forte das taxas de juros é um
pré-requisito para essa estratégia desenvolvimentista.
Nos últimos anos, a política de juros altos foi eficiente no combate à infla-
ção, mas impediu um crescimento mais robusto da economia brasileira, ape-
sar do esforço de redução da taxa básica de juros, implementada de forma
gradativa e sem impactos altistas nos preços. Não eram recomendáveis movi-
mentos fortes nas taxas de juros, pois os riscos de retomada do processo infla-
cionário eram elevados. No contexto de crise, entretanto, em que a demanda
agregada está deprimida, os riscos maiores são de deflação e não de inflação.
Não há o dilema entre políticas de crescimento ou de estabilização. Só há uma
prioridade: sair da estagnação e propiciar as condições para a retomada do
crescimento.
Neste contesto, a retomada do desenvolvimento requer forte intervenção
do Estado no sentido de criar demanda efetiva, propiciando um espaço largo
para o afrouxamento da política monetária e a redução dos juros, como vem
ocorrendo em todos os países do mundo.
Do lado fiscal, a política econômica recomendada deve incluir a ampliação
do gasto corrente no curto prazo para sair da estagnação, e nos investimen-
tos no médio prazo, para dar sustentabilidade à retomada do crescimento
econômico. As políticas macroeconômicas ativas de inspiração keynesiana, a
indução ao investimento produtivo e mecanismos de financiamento do inves-
timento são o único caminho para o desenvolvimento.
O Brasil tem todas as condições de retomada do ciclo de crescimento ini-
ciado em 2004, que vinha propiciando um crescimento anual da renda per-
capita em torno de 3,5% ao ano, após 22 anos de estagnação (1981-2003).
O êxito na retomada docrescimento econômico e no enfrentamento da
crise depende da eficiência dapolítica macroeconômica. Não haverá desenvol-
vimento sem a ação ágil e forte do Estado,com medidas de política econômica
na direção e intensidade adequadas aos desdobramentos da crise e com o
firme propósito depromover o crescimento da economia.
EditorialEditorialPublicação do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal
ConjunturaRevista de
Em um momento de incertezas e apreensão, um olhar para o futuro
PROFESSORES EMéRITOS DE BRASíLIA
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janeiro / março / 2009
Primeiro professor do Departamento de Economia
da Universidade de Brasília (UnB) a receber o título de
professor emérito da Universidade. Charles Mueller,
economista e professor da UnB há mais de 30 anos, é
o primeiro economista a participar da série de entre-
vistas intitulada “Professores Eméritos de Brasília” da
Revista de Conjuntura do Conselho Regional de Econo-
mia do Distrito Federal (Corecon-DF).
O Professor Charles Curt Mueller graduou-se em
Economia pela Faculdade de Economia e Administra-
ção da Universidade de São Paulo (1959), tem mestrado
em Economia – Vanderbilt University (1971) e doutora-
do (Ph.D) em Economia – Vanderbilt University (1974).
Obteve dois pós-doutorados: pela University of Man-
chester (1981) e pela University of Illinois (1993). Foi
Professor Titular com dedicação exclusiva da Universi-
dade de Brasília (aposentado por idade em novembro
de 2004). Atualmente é Pesquisador Associado Sênior
do Departamento de Economia da UnB. Em 2007 foi
agraciado pelo Conselho Universitário da Universidade
de Brasília com o título de Professor Emérito. Foi pro-
fessor da Universidade Federal do Paraná, UFPR (1961-
1971) e da UnB a partir de 1972.
Charles Curt Mueller
Com experiência na área de economia, ênfase em
Economia do Meio ambiente e economia agrícola,
atuando principalmente nos seguintes temas: fron-
teira agrícola e meio ambiente, análise econômica,
economia e política agrícolas, e economia brasileira.
Seus principais projetos de pesquisa são: “Impactos
da expansão agropecuária sobre o bioma do Cerrado”
(2007 – 2010); “A Fronteira Agrícola, Produção Agrope-
cuária e Meio-Ambiente” (1999 – 2002); e a “Elabora-
ção de um Manual de Economia do Meio Ambiente
(1999 – 2007).
Possui extensa produção acadêmica: 31 artigos pu-
blicados em revistas acadêmicas nacionais e internacio-
nais, capítulos em 16 livros e três livros completos: “Os
Economistas e as Relações entre o Sistema Econômico
e o Meio Ambiente”; “Uma Avaliação da Sustentabili-
dade da Agricultura dos Cerrados” (2 Volumes); e “Das
Oligarquias Agrárias ao Predomínio Urbano-Industrial:
Um Estudo do Processo de Formação de Políticas Agrí-
colas no Brasil”, além da orientação de inúmeras mono-
grafias, dissertações e teses. Algumas premiadas.
Foi presidente da Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, IBGE (1988 – 1990).
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aos enormes déficits e à dívida dos Estados Unidos, fi-
nanciados pelo resto do mundo. No âmbito de nosso
país, uma lista de problemas preocupantes certamen-
te incluiria: como reverter o atual pendor ao consumo,
especialmente do setor público, fazendo com que este
possa voltar a gerar poupança e investimento expres-
sivos? Relacionado a isto, como assegurar que nossos
filhos e netos tenham acesso a um sistema previden-
ciário minimamente sustentável? Além da crescente
violência e corrupção.
Conjuntura – Como enfrentar decisivamente pro-
blemas que nos vêm afligindo, como o das disparida-
des distributivas com seus impactos sobre a pobreza?
Charles Mueller – Sabemos que, para isto, é neces-
sária a adoção de políticas eficazes para reduzir o que
Amayrta Sen denominou de privação de potencial. É
fundamental, nesse sentido, que melhoremos substan-
cialmente o nosso sistema educacional, no seu nível de
base. Sabemos que nossa educação superior evoluiu
apreciavelmente, mas a mudança qualitativa na educa-
ção fundamental para a redução da privação de poten-
cial está longe de se materializar.
Conjuntura – Qual a sua avaliação em relação à
evolução das ciências econômicas?
Charles Mueller – Sinto alguma inquietação em
relação à evolução das ciências econômicas. O que
me causa certo desconforto é a tendência que per-
meia o corpo central da análise econômica de convi-
ver com o que Joan Robinson denominou “hábitos
displicentes de pensamento”. Para essa famosa eco-
nomista inglesa a modelagem econômica vem exi-
gindo drásticas – e muitas vezes fortemente distorci-
vas – simplificações da realidade. O problema é que
essas simplificações acabam sendo incorporadas ao
pensamento econômico e transmitidas de geração
em geração quase como verdades reveladas. Com
isto, deixa-se de examinar com mais cuidado aspectos
essenciais da realidade subjacente às simplificações.
Joan Robinson preocupava-se com as distorções sim-
plificadoras da teoria da produção, do capital e da dis-
tribuição funcional da renda. Minhas inquietações são,
entretanto, com as verdades reveladas sobre as inter-
relações do sistema econômico com o meio ambiente.
Conjuntura – A conjuntura atual é de crise, não
somente econômica, mas ambiental, climática, so-
cial. Olhando para o futuro, quais são as suas grandes
preocupações?
Charles Mueller – Quando olhamos para o futuro,
não dá para evitar certa apreensão. Afinal, enfrentamos
tempos preocupantes, tanto em termos internacionais
como nacionais. Listo, sem a preocupação de ordenar
e comentar, alguns exemplos, a maioria auto-evidente,
de acontecimentos – recentes e não tão recentes – que
ameaçam o futuro, certamente não meu, mas de meus
filhos e netos.
No âmbito internacional me vem à mente: o Impas-
se em se chegar a uma solução sustentável no longo
prazo do problema do aquecimento global. Temos aqui
o risco da ocorrência de – tomando emprestado meta-
foricamente um conceito da biologia – uma catástrofe
evolucionária; os intrincados confrontos internacionais,
que não se restringem agora apenas a nações organi-
zadas, como nos conflitos do passado; as crescentes
incertezas que acompanham a euforia da expansão
recente. Sabemos que esta se deve, em boa medida,
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A análise econômica hoje é extremamente sofisticada,
mas desse ponto de vista a considero um maravilho-
so santo com pés de barro. Acontece que a base con-
ceitual da modelagem atual foi construída quando
a escala – o tamanho – da economia mundial era re-
duzida e era legítimo ignorar os impactos do sistema
econômico sobre o meio ambiente – o sistema maior
que contém sociedade humana, e que, mais do que
nunca nos dias de hoje, vem limitando a sua expansão.
Com efeito, essa escala já atingiu nível considerável,
pondo em questão a abordagem convencional. Toda-
via, o mainstream da análise econômica continua tra-
tando a economia humana como um sistema isolado
– um sistema autocontido – e vem relegando análises
das relações entre a economia e seu meio externo a
uma mera área de especialização cujos trabalhos pou-
co repercutem no âmago do mainstream. A essência
de sua estrutura conceitual é a mesma de quando a
economia global era pequena em relação à capacidade
de suporte do meio ambiente. E continuamos a passar
essa estrutura conceitual aos nossos alunos, perpetu-
ando “hábitos displicentes de pensamento”.
Conjuntura – Estamos atravessando um momento
de incertezas e apreensão, mas poderia avaliar o quan-
to já evoluímos?
Charles Mueller – Sim, estamos enfrentando al-
guns problemas e incertezas. Mas posso, na perspectiva
de mais de sete décadas, esboçar um testemunho so-
bre o quanto já evoluímos. Lembro, para começar, que
no período da Guerra Fria a humanidade enfrentou
momentos críticos; e que, pelo menos em duas ocasi-
ões o mundo esteve à beira de uma catástrofe evolu-
cionária. Essa situação acabou sendo contornada, mas
isso não significa que os atuais problemas globais virão
automaticamente a ser solucionados em nosso favor.
E quero, em uma nota mais positiva, recordar as mu-
danças por que passamos em nosso país. Lembro que,
quando iniciei minha vida escolar na década de 40, o
Brasil era um país tipicamente subdesenvolvido, de bai-
xa renda. Mais de ¾ de nossa população era rural, tínha-
mos uma enorme mortalidade infantil, nossa esperan-
ça de vida era inferior aos 50 anos e mais da metade de
nossa população adulta era composta de analfabetos,
que não tinham nem o direito de votar.
Lembro que no início de minha escolarização do
Grupo Escolar 19 de Dezembro, em Curitiba, muitas ve-
zes escondia meus sapatos no jardim perto do portão
de saída de minha casa para ir descalço à aula. Não por
traquinagem, mas porque era comum alguns dos meus
colegas mais pobres irem às aulas descalços. Lembro,
também, da convivência com colegas que, tendo sido
acometidos de paralisia infantil, usavam os suportes de
metal que os permitiam caminhar. (Quero fazer um pa-
rêntese aqui: felizmente, a despeito do ambiente pobre,
recebi ali um ensino de boa qualidade).
Conjuntura – Com relação ao ensino de economia,
houve evolução?
Charles Mueller – Sim, acredito no enorme pro-
gresso do ensino e na pesquisa de economia no Brasil.
Quando decidi fazer o curso de Ciências Econômicas,
Quando iniciei minha vida escolar na década de 40, o Brasil era um país tipicamente subdesenvolvido, de baixa renda. Mais de ¾ de nossa população era rural,
tínhamos uma enorme mortalidade infantil, nossa esperança de vida era inferior aos 50 anos e mais da
metade de nossa população adulta era composta de analfabetos, que não tinham nem o direito de votar.
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constatando que um dos melhores cursos nesse campo
era o oferecido pela Universidade de São Paulo (USP),
meu pai insistiu para que eu tentasse o ingresso lá, o
que fiz com sucesso. Mas, a despeito de sua reputação
à época, mesmo na USP o ensino de economia era mui-
to – mas muito mesmo – inferior ao dos nossos dias.
A maioria dos professores não tinha pós-graduação e
quase não havia livros-texto em português. Fazia-se o
melhor possível nas circunstâncias difíceis de então.
Também foi enorme a evolução da pós-graduação em
economia no Brasil desde 1968, quando fui admitido na
Universidade de Vanderbilt e onde obtive meus graus
de Mestre e de Doutor. No final da década de 1960
existiam no Brasil apenas embriões de pós- graduação,
como os cursos de especialização da Fundação Getú-
lio Vargas e da FEA-USP. As universidades, no exterior,
rejeitavam liminarmente pedidos de admissão de
candidatos brasileiros. Mas isso estava começando a
mudar, graças ao esforço de alguns professores aqui
e nos Estados Unidos. Mas não é isso que quero res-
saltar aqui, e sim, nesse contexto, o enorme progresso
no ensino e na pesquisa de economia no Brasil. Se no
começo dos anos 70 havia uma situação de quase ex-
clusão dos egressos das escolas brasileiras em relação
às boas universidades no exterior, hoje formados em
nossas boas universidades conseguem ser admitidos
em quase toda a parte.
É importante ressaltar que as mudanças positivas
no ensino de economia ocorreram no âmbito de con-
siderável evolução da economia e da sociedade bra-
sileiras ao longo das últimas seis décadas. Reconheço
que nem todas as mudanças foram para melhor, mas,
em linhas gerais, o progresso foi significativo. Como
disse no início da entrevista, no final da década de
1940 o Brasil era um país atrasado, rural e com muitos
pobres. Hoje apresenta uma economia industrializa-
da bastante diversificada, um agronegócio moderno
e produtivo, e um nível de renda per capita significan-
temente mais alto; na verdade, no início do atual milê-
nio, mais de 64% dos países do mundo tinham renda
per capita inferior à brasileira.
Muito foi feito, mas como já ressaltei, ainda restam
muitos problemas, sendo um dos mais graves – e de
difícil solução – o da redução da pobreza. Causa espé-
cie o fato de que hoje nossa pobreza não decorre de
insuficiência de renda e sim de uma das piores dis-
tribuições de renda do mundo, que não vem sendo
mitigada de forma mais expressiva.
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ArtigoA preocupação dos governos, empresas, acadêmi-
cos, e demais atores atuantes no mercado brasileiro
sobre a possível ocorrência da doença holandesa sur-
giu em decorrência do aumento das exportações de
commodities agrícolas; da possibilidade de exportação
de biocombustíveis, em especial, do etanol; e das desco-
bertas de petróleo na camada do pré-sal brasileiro. Essa
preocupação é resultado do potencial crescimento do
Brasil no grupo dos maiores exportadores mundiais de
petróleo, e advém em razão da conseqüente valoriza-
ção do real e de seus efeitos na indústria brasileira por
meio da perda de competitividade no mercado externo.
Por outro lado, existem opiniões contrárias à ameaça da
doença holandesa, alegando que o País não padece do
mal da desindustrialização.
Inicialmente, pode-se dizer que a percepção semi-
nal desse fenômeno tenha se dado na Holanda, cuja
economia foi marcada pelas descobertas de reserva-
tórios de gás natural, em campos offshore, durante o
início dos anos 60, não implicando aumento da pro-
dutividade pelo ingresso da renda do gás. O influxo
dessas rendas apreciou a taxa de troca do câmbio e
preço dos produtos domésticos, derrubando a pro-
dução e aumentando o desemprego a ponto de atin-
gir 5,5% em meados da década de 70, nos setores de
produtos comercializáveis (Mahmudlov, 2002:p.5). Ou
seja, a queda da indústria holandesa como resultado
da rápida expansão do gás foi denominada como “Do-
ença Holandesa” (Coronil, 1997:p.7).
De forma análoga, a teoria da doença holandesa
prevê que a desindustrialização sempre aconteça em
um país que tem recursos, dos quais derivam as rendas
ricardianas e não toma as medidas necessárias para
neutralização da doença. Assim, apesar de o fenômeno
afetar a economia brasileira, sendo menos intenso ou
menos grave do que os observados em países cuja pro-
dução é especializada em uma ou poucas commodities
que geram expressivas rendas ricardianas, suas conse-
qüências em termos de lenta desindustrialização são
preocupantes (Bresser-Pereira e Marconi, 2008).
E apesar da “bênção” de descobertas de recursos
petrolíferos, o desenvolvimento de países ricos em
exploração de recursos naturais tem, historicamente,
apresentado péssimo desempenho, se comparado aos
países não ricos em recursos naturais, em termos de de-
sempenho do Produto Interno Bruto e indicadores so-
ciais. No entanto, tradicionalmente, argumentam-se que
os recursos, a menos que adotem políticas e medidas
apropriadas, podem ser um custo e não uma bênção
para o País (Mahmudlov, 2002:p.5). Ou seja, o natural
custo do recurso pode ser compreendido pela relação
negativa entre a abundância do recurso e a manuten-
ção de elevado crescimento.
Nesse sentido, um boom do petróleo direcionaria
para um redução em manufaturamento, e a real apre-
ciação do câmbio é o mecanismo que faz esse trabalho
(Corden, 1982; Corden e Neary, 1984). Isto é a Doença
Holandesa(Hausmann e Rigobon, 2003:p.4-5). Sendo as-
sim, o aumento das receitas baseadas em recursos, tal
como o petróleo, cria uma grande capacidade para im-
portar produtos comercializáveis, mas tipicamente pro-
vocam uma grande demanda por todas as mercadorias,
A gestão do pré-sal e a ameaça da doença holandesa no Brasil
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inclusive produtos não - comercializáveis, que não po-
deriam ser importados, mas deveriam ser produzidos
localmente. O manufaturamento pode ser compreen-
dido quando a economia move recursos de setores de
produtos/recursos comercializáveis para expansão da
produção de recursos não - comercializáveis, tais como
construção e serviços.
Segundo Hausmann e Rigobon (2003), esta lógica,
por ela mesma, não implica alguma ineficiência ou perda
de bem-estar. Isso somente estabelece que o boom nas
receitas dos recursos seria associado com a redução em
atividades manufatureiras, mas não em todo crescimen-
to. De modo que, não se pode explicar o porquê que um
país cresceria mais lento, somente porque tem petróleo.
Os modelos da Doença Holandesa são aplicados so-
bre vários aspectos macroeconômicos para um proble-
ma específico, mas sua característica principal é a ênfase
na renda e produção real nos diferentes setores(Corden,
1985:p.183). Em suma, o baixo desempenho econômico
de países ricos em recursos pode ser chamado de Doen-
ça Holandesa(Corden, Wiljnbergen, 1984).
Vale ressaltar a análise da doença holandesa realiza-
da por Pang, Budina e Wijnbergen(2007) sob a ótica da
teoria macroeconômica e das teorias dos recursos natu-
rais, por meio das políticas fiscais adotadas na Nigéria, na
qual foi analisado se o boom do petróleo sofreu melho-
ras ou fim da estagnação nos demais setores não ligados
ao petróleo na Nigéria. Como resultado da pesquisa,
houve indicações que a extrema volatilidade dos gastos
é preferível aos efeitos da Doença Holandesa; as políticas
fiscais falharam em atenuar a alta volatilidade da renda
do petróleo; e, pelo contrário, os gastos do governo fo-
ram mais voláteis que a renda do petróleo.
Além disso, a pesquisa encontrou evidências que
a volatilidade dos gastos foi elevada pelo aumento de
endividamento, e a evidência de “voracity effects” incre-
mentaram a volatilidade dos gastos, principalmente em
1984. Voracity effects refere-se a uma incapacidade insti-
tucional para harmonizar a competição entre grupos de
interesse pela renda dos recursos em um país, provavel-
mente nos bons anos, procurando capturar os ganhos
do esforço de seu lobby.
A experiência nigeriana revelou que os ganhos do
petróleo tornaram-se fator dominante da economia na
década de 1970, conforme pode ser visto pelos gráficos
a seguir, implicando quadruplicar o Produto Interno Bru-
to – PIB – no período de 1971 a 2005, e resultando em
uma geração de renda do petróleo na ordem de 390 bi-
lhões de dólares, equivalentes a 90% das exportações e
80% do total das receitas governamentais (Pang, Budina
e Wijnbergen, 2007:p.3).
Por outro lado os gastos públicos federais e estaduais
aumentaram seis vezes, resultando no financiamento do
gasto público pela receita do petróleo, favorecido pelo
Gráfico 1 – Nigéria: dependência do petróleo
Fonte: Pang, Budinae Wijnbergen, 2007:p.4
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aumento dos preços na década de 1970. Entretanto, não
houve alcance de melhor nível no desempenho educa-
cional, na qualidade da infraestrutura, no combate ao
desperdício e na corrupção.
A pobre governança e as instituições fracas contri-
buíram, fundamentalmente, para a dívida pública nige-
riana, sendo que a maioria dos projetos foi financiada
por empréstimos públicos, e sem atingir patamar de
retorno necessário para reembolso do governo; sendo
que, na década de 1980, a dívida externa aumentou
160%, enquanto as reservas internacionais quase se
exauriram (Pang, Budina e Wijnbergen, 2007:p.4-5).
A política fiscal foi o principal fator da expansão da
dívida durante os anos de 1981 a 1983, resultando em
uma elevada depreciação da taxa de câmbio em 1986.
Ou seja, o governo nigeriano precisou adotar medidas
drásticas de corte de gastos públicos, incluindo como
prioridade o programa de investimento, redução do
emprego no serviço público, redução dos subsídios e
aumento do custo de recuperação nas paraestatais.
Além disso, adotou um preço de referência de petró-
leo, de esfera fiscal, tornando-se um importante passo
na implementação da agenda de reforma fiscal, possi-
bilitando ao desenho fiscal uma noção de longo prazo
do preço do petróleo ligados ao gasto governamental.
Com isso, no período de 2000 a 2005, o PIB real, não
envolvendo petróleo, cresceu, em média, 5,9% ao ano,
que juntos com a significativa produção de petróleo
resultou na duplicação do PIB per capita, quadrupli-
cou as reservas internacionais, e reduziu 86% do seu
endividamento com o Clube de Paris (Pang, Budina e
Wijnbergen,2007:p.6-8).
É interessante destacar que, além do baixo cresci-
mento da economia que naturalmente aparece em vir-
tude da concentração de gastos da riqueza do petróleo
em setores de produtos não - comercializáveis, ou seja,
não produtores de commodities, a volatilidade dos pre-
ços das commodities e das rendas de recursos naturais
podem se traduzir em instabilidade macroeconômica
e uma alta volatilidade da taxa de câmbio real. Para
tanto, a volatilidade pode ser vista como um imposto
sobre o investimento, sendo que o investimento requer
decisões irreversíveis, ou seja, capital programado não
pode ser movido para outros setores. A alta volatilida-
de dos preços desencoraja investimento para setores
específicos(Pang, Budina e Wijnbergen, 2007:p.23).
Duas principais lições foram tiradas sobre a pesqui-
sa realizada na Nigéria, primeiramente, o planejamento
de longo prazo de comprometimento de gastos, baixo
suficiente para encontrar com uma muito menor ren-
da de petróleo, projetados na base recente dos preços
desenvolvidos para assegurar sustentabilidade e evitar
um outro aumento da dívida, induzindo a uma década
de miséria; a segunda lição consiste no gerenciamento
da taxa de câmbio, sendo que uma taxa de câmbio real
deve apreciar quando os preços do petróleo aumentam,
Gráfico 2 – Nigéria: curva de dependência da receita x petróleo
Fonte: Pang, Budinae Wijnbergen, 2007:p.4
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e o não - acomodamento por meio de uma flexível taxa
de câmbio nominal implica inevitável alta da inflação
doméstica(Pang, Budina e Wijnbergen, 2007:p.23-24).
Conforme Bresser-Pereira e Marconi (2008), a aná-
lise do comportamento recente do comércio exterior
brasileiro mostrou que o aumento dos preços das com-
modities exportadas e a eliminação dos mecanismos de
neutralização agravam a Doença Holandesa. A desin-
dustrialização se manifesta no aumento da participação
das commodities no valor adicionado total e na redução
da participação do valor adicionado do setor de manu-
faturados no valor adicionado da produção de bens co-
mercializáveis (Bresser-Pereira e Marconi, 2008).
Alguns sintomas da Doença Holandesa que a eco-
nomia brasileira vem sofrendo são os seguintes(Bresser-
Pereira e Marconi, 2008):
• redução da taxa de câmbio, em função do aumento
das exportações, sendo mais intenso para commodities
que os manufaturados no período entre 2002 e 2007;
• evolução positiva da balança comercial das com-
modities após 1992, enquanto os manufaturados sofre-
ram retração;
• evolução das commodities na balança comercial
é desassociada da taxa de câmbio, evidenciando que
outros fatores influem no comportamento das vendas
e compras externas destes produtos, enquanto a evo-
lução da balança comercial dos manufaturados é forte-
mente vinculada à da taxa de câmbio;
• os preços e “quantum” das exportações de commo-
dities cresceram mais que os dos manufaturados;
• aumento da participação das commodities no valor
adicionado total; e
• queda na participação dos não-comercializáveis na
renda nacional, e diminuição da participação dos ma-
nufaturados comercializáveis no valor agregado total
de bens comercializáveis.
Hausmann e Rigobon(2003) ressaltam que a relação
negativa entre a exploração do recurso natural e o cres-
cimento econômico do país, o denominado curso na-
tural do recurso, no longo prazo, pode afetar os países
exportadores, os quais se tornariam mais pobres quan-
do o petróleo é explorado excessivamente, e tornariam-
se mais ricos quando o petróleo é explorado de modo
sustentável.
Por outro lado, o incremento das exportações de
manufaturados contribui para o desenvolvimento do
país de duas formas: a) pelo lado da demanda, estimu-
lando a produção deste setor, o qual exerce um grande
impacto positivo e encadeador sobre a produtividade
e a renda per capita de toda a economia; e b) pelo lado
da oferta, gerando externalidades que podem ser apro-
veitadas por toda a indústria, na medida em que a con-
corrência externa induz a aprimoramentos no processo
produtivo que são incorporados pelos demais setores
da economia (Bresser-Pereira e Marconi, 2008).
De modo contrário, Nakahodo e Jank (2006) co-
loca a Doença Holandesa como uma falácia no Brasil,
apoiando-se, primeiramente, nos seguintes aspectos: a)
as commodities e produtos manufaturados cresceram
bastante, mas reconhecendo o maior nível das commo-
dities, 8,5%, e 5,6% dos manufaturados; b) a parcela do
valor das commodities no total da pauta brasileira cres-
ceu pouco na última década, variando de 30% a 40% da
pauta; c) atribui novo índice para os preços de commo-
dities primárias, diminuindo o peso do setor energéti-
co, por meio de peso relativo da cesta de exportações,
de modo a não atribuir existência de uma alta históri-
ca e duradoura de preços nas commodities exportadas
pelo Brasil; d) o aumento das quantidades exportadas
tem enorme impacto no crescimento do valor das
‘‘
‘‘
A desindustrialização se manifesta no aumento da
participação das commodities no valor adicionado total e na redução da participação
do valor adicionado do setor de manufaturados no valor adicionado da produção de
bens comercializáveis (Bresser-Pereira e Marconi, 2008).
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exportações de commodities; e e) contesta-se o proces-
so de desindustrialização em virtude dos superávits da
balança comercial nos produtos não - comercializados,
recuperação do emprego industrial e posição contrária
à produção de commodities não ser considerada ativi-
dade industrial.
A ocorrência efetiva da Doença Holandesa também
pode ser considerada como uma conseqüência da má
gestão da renda do petróleo. Dessa maneira, os fundos
do petróleo podem assumir papel fundamental na pre-
venção do desequilíbrio entre o desenvolvimento eco-
nômico e o crescimento da renda do petróleo em um
país; atuando como um mecanismo de estabilização
dos gastos no propósito de aumentar o bem-estar da
população e diminuir o nível de desemprego.
A principal meta da criação de fundos é manter a
receita dos recursos naturais separada de outras recei-
tas do Estado, no intuito de neutralizar os efeitos das
vultosas entradas de receita na taxa de câmbio, expor-
tações, setores manufaturados da economia, e/ou para
assegurar a equidade intergeracional. Nesse sentido, a
República do Azerbaijão e a República do Cazaquistão
estabeleceram fundos de petróleo para evitar o poten-
cial perigo da Doença Holandesa, cabendo destacar al-
gumas recomendações sugeridas aos formuladores de
políticas desses países que podem contribuir na refle-
xão do caso brasileiro, em relação à criação de fundos
(Mahmudlov, 2002:p.58-62):
• os governos não devem ignorar a arrecadação dos
demais tributos, em virtude da elevada volatilidade dos
preços externos, de modo que a renda do petróleo de-
veria ser considerada como um instrumento catalizador,
temporário, de ajuda na estruturação necessária para o
equilíbrio e crescimento sustentável;
• diversificação da economia, e em particular ao
Setor Petróleo, agregando produção de derivados não
produzidos anteriormente, ou em escala não suficiente;
• implementação de políticas públicas de encoraja-
mento a maior poupança doméstica e não dolarização;
• aceleração da abertura comercial, visando aju-
dar nos futuros overshootings da taxa de câmbio real,
sendo que, do contrário, a perda da competitividade é
inevitável;
• aceleração da privatização, ou seja, se o desenvol-
vimento de setores não ligados ao petróleo é desejável,
pode ajudar a trazer setores ineficientes para os padrões
internacionais, permitindo a competição com compa-
nhias estrangeiras;
• redução da corrupção a partir do estabelecimento
de procedimentos internos e institucionais de combate
à corrupção, e empoderamento das instituições anti-
corrupção, a fim de que possam processar as entidades
oficiais que violem as normas anticorrupção;
• fortalecimento do judiciário, bem como da transpa-
rência e responsabilização na tomada de decisão pública.
Ademais, cabe registrar a preocupação da estatal
brasileira Petróleo Brasileiro S/A – Petrobras, por meio
de seu Presidente em exposição sobre o planejamento
estratégico da Petrobras e seu Plano de Negócios para
o período 2009-2013, no Congresso Nacional, em março
de 2009, quando ressaltou que o novo marco regulató-
rio para o Pré-Sal deve contemplar um cenário com ris-
co exploratório minimizado, perigo da doença holande-
sa, e aumento de participação no PIB a mais dos atuais
10% (Petrobras, 2009).
‘‘
‘‘
A República do Azerbaijão e a República do Cazaquistão
estabeleceram fundos de petróleo para evitar o
potencial perigo da Doença Holandesa, cabendo destacar
algumas recomendações sugeridas aos formuladores
de políticas desses países que podem contribuir na reflexão
do caso brasileiro, em relação à criação de fundos (Mahmudlov, 2002:p.58-62)
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A Petrobras apresentou sua política de conteúdo na-
cional baseada na perspectiva empresarial de sustenta-
bilidade, calcada na diversificação, desenvolvimento e
custos, fortalecendo o mercado interno pelo aumento
da capacidade instalada e adesão de novos fornecedo-
res; ou seja, a geração emprego e renda para fortaleci-
mento da economia brasileira. E, ainda, informou na po-
lítica de conteúdo nacional destinada a evitar a doença
holandesa na economia brasileira que estuda alternati-
vas, em conjunto com as instituições ministeriais do go-
verno federal, para prevenir e tomar decisões públicas
ante a ameaça da Doença Holandesa (Petrobras, 2009).
Nesse sentido, a análise da possibilidade de ameaça
da Doença Holandesa no Brasil deve ser considerada so-
bre os variados momentos e períodos relativos ao nível
de atividade econômica, nacional e internacional, con-
textualizando os momentos de elevado crescimento,
assim como os choques ocorridos por crises financeiras,
a exemplo da crise financeira atual, e os possíveis e alea-
tórios ruídos econômicos futuros, de modo a indicar os
aspectos facilitadores ou limitantes para ocorrência do
fenômeno no País.
Vale ressaltar que o atual momento de crise financei-
ra traz algumas lições que podem contribuir na análise
da possibilidade de ameaça da Doença Holandesa. As-
sim, a mais importante lição de 2008 foi observar quão
é frágil a confiança, pois apesar das medidas tomadas
pelos governos, os bancos ainda estão relutantes em
emprestar dinheiro, cujos milhões ou bilhões foram pro-
vidos pelo próprio governo. Outra lição é que o mundo
está interconectado, e dada a natureza global da crise,
a coordenação e responsabilidade das políticas são
exercidas em nível global, ou seja, a atualização da go-
vernança financeira internacional é necessária e pode
ocorrer por meio de uma nova arquitetura financeira
(Bustillo red l. 2009).
A crise financeira atual contribui para o entendimento
da ocorrência e limitações do fenômeno, demonstrando
o necessário desenvolvimento de um arranjo institucio-
nal compromissado com uma coordenação e responsa-
bilização por tomada de decisões políticas de impactos
globais. É resoluto no País que não há suficiente capaci-
dade institucional para harmonizar a competição pela
renda do petróleo, devido à carência de marco regula-
tório que proporcione um melhor patamar da qualidade
da regulação, visando alcançar os resultados efetivos das
políticas direcionadas a evitar a Doença Holandesa.
As significativas preocupações emergiram nos úl-
timos anos, tendo em vista a elevada apreciação do
Real, inicialmente, em virtude do aumento das expor-
tações de commodities agrícolas; e a posteriori, com
as exportações de biocombustíveis e descobertas de
elevadas reservas de petróleo no pré-sal. No campo
das commodities, vale ressaltar que a sua valorização
decorre do aumento de preços, que passaram a maior
parte do ano de 2008 apresentando forte correlação
Desindustrialização
Dependência da exportações de
commodities
Exportações de Commodities
Entrada de Investimentos
Apreciação daMoeda
Aumento dasImportações
Queda dasImportações
Ações preventivas do Estado
Ações de Fiscalização Financeira no Petróleo,
Fazenda e Comércio Exterior
12
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com os preços do petróleo e demais metais. No entan-
to, há temor de novo descasamento entre os preços
praticados no mercado e custos de produção, aliado à
redução na oferta de crédito.
Há indícios de que os efeitos cumulativos dos se-
tores agrícolas e petrolíferos possam gerar volume de
receita suficiente para que ocorra uma significativa re-
dução na taxa de câmbio, e consequentes distorções
de preços domésticos; implicando alcance de taxas de
crescimento bastante superiores aos produtos manufa-
turados; modificações consequentes no preço relativo
dos produtos na pauta de exportação; todavia, apesar
de o aumento das quantidades exportadas afetarem
o crescimento do valor das exportações de commodi-
ties, o impacto não será reduzido, mas de forma contrá-
ria, pode ser compensado pelos efeitos das crescentes
exportações do setor petrolífero. Cabe destacar que a
evolução das commodities é desassociada do câmbio, e
a evolução dos manufaturados é vinculada ao câmbio.
Logo, as principais preocupações de ameaça da Do-
ença Holandesa encontram concretude quando atri-
buem elevado risco à apreciação do Real, promovida
por esses setores e seus potenciais efeitos na indústria
brasileira por meio da queda de produtividade e per-
da de competitividade no mercado externo. Com isso, a
questão principal não está na ameaça, pois a mesma é
real, mas sim no “quantum” de Doença Holandesa pode
ser verificado e a que velocidade de contágio se mani-
festará de forma mais abrupta ou permanecerá em pata-
mares administráveis, conforme os efeitos cumulativos
intersetoriais e condições de crescimento vertiginoso
das exportações brasileiras. Pode-se reconhecer pela
experiência nigeriana, que é preferível a volatilidade da
taxa de câmbio à ocorrência da Doença Holandesa, e
que uma taxa de câmbio real deve ser reduzida quando
os preços do petróleo aumentam, e se a acomodação
não for sob regime cambial flexível, implica inevitável
alta da inflação doméstica.
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Eduardo Toledo NetoEconomista pela Universidade de Brasília – UnB; Especialista em
Regulação do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (desde 2005); Analista Ambiental (2004) e integrante da Carreira Finanças e Controle (1998 a 2004); também Diretor de Estudos e Pesquisa do Sindicato Na-
cional dos Servidores das Agências Reguladoras – SINAGÊNCIAS
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a
Introdução
Desde o fim da Guerra Fria, no início dos anos 90
do século 20, uma série de transformações vêm ocor-
rendo no cenário mundial, alterando de forma rápida
a configuração de poder econômico e político entre os
estados-nações, com repercussões que se propagam
nos mais diversos âmbitos, do comércio à segurança,
dos direitos humanos ao meio ambiente, das finanças
ao regionalismo, acelerando movimentos de natureza
transnacional, inserindo novos atores não-estatais e su-
bestatais, gerando distintas configurações de poder e
impondo novos desafios à governança global.
Nesse contexto de mudanças, torna-se obsoleta
a noção de uma linha divisória entre os países ricos e
desenvolvidos do Norte e os países pobres e em desen-
volvimento do Sul, que foi por muito tempo um concei-
to central entre cientistas sociais, analistas econômicos
e formuladores de políticas. Essa linha divisória perdeu
o sentido em meio ao dinâmico processo de globali-
zação em curso que resultou em níveis inéditos de
crescimento econômico e interdependência entre as
nações, cujas disparidades levaram a um mundo muito
mais complexo e diferenciado.1
No campo das Relações Internacionais, a intensi-
dade das mudanças atuais e a sua ocorrência recente
ainda não permitiram aos scholars de formação posi-
tivista ou racionalista apresentar explicações teóricas
abalizadas e convincentes sobre as diversas dimensões
e nuances dos fenômenos em análise. Somente escolas
de pensamento situadas fora dos paradigmas raciona-
listas (neorealista e neoliberal), a exemplo do reflexi-
vismo ou construtivismo social ao estilo de Alexander
Wendt e outros, conseguem captar e explicar a reali-
dade multifacetada atual e oferecer esquemas analíti-
cos suficientemente abrangentes do sistema mundial
contemporâneo. A propósito, Nicholas kiersey empre-
ende talvez um dos primeiros esforços para explicar a
nova configuração de forças no mundo pós-moderno
da globalização e dos países emergentes utilizando es-
quemas não-racionalistas.
Definindo “império” como uma nova forma de
Países emergentes: definições, papéis e impactos na atual ordem global
José Nelson Bessa Maia
Artigo
1 Segundo Jagdish Bhagwati, a globalização constitui a integração das economias nacionais na economia internacional por meio do comércio, do investimento direto externo (de empresas multinacionais), dos fluxos de capitais, do movimento de pessoas (migrações) e fluxos de tecnolo-gia. Para maior detalhe, ver BHAGWATI, J. In Defense of Globalization. Oxford: Oxford University Press, 2003, p. 3. No entanto, para Gilberto Sarfati, a globalização seria um processo mais amplo do que a mera integração econômica no qual caem barreiras tradicionais entre estados, fruto do avanço tecnológico, que possibilita intensa troca de mercadorias, informações e pessoas pelo mundo. Esse fenômeno é observado virtualmente em todos os aspectos das relações humanas, incluindo não somente a economia, como também a cultura, meio ambiente, educação, imprensa etc. Ver, a propósito, SARFATI, Gilberto. Teorias das Relações Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 318.
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soberania mundial que surgiu junto com o mercado
global e circuitos mundiais de produção, kiersey explo-
ra como essa definição pode servir para refinar concei-
tos-chave e categorias da teoria das Relações Interna-
cionais como soberania, segurança e economia política.
Através da reinterpretação dessas categorias funda-
mentais, ele mostra como teorias baseadas em elemen-
tos constitutivos (como no construtivismo) são capazes
de reconhecer que existe, de fato, muita coisa aconte-
cendo nas relações contemporâneas de poder global,
além do mero declínio do império norte-americano.
Conforme kiersey afirma2
following the Reflectivist argument, I argue that it is a
mistake to limit the analytic scope of unilateralism to the
egoistic agency of any one state or class. Instead, it may
be more precise to situate American unilateralism in the
context of an emerging regime or formation of shared un-
derstandings which is more global in scope.
Considerando, pois, o peso crescente de um grupo
de estados-nações emergentes no cenário internacio-
nal, nos últimos 20 anos, assim como a literatura aca-
dêmica ainda relativamente escassa sobre a matéria,
torna-se relevante empreender um exercício de refle-
xão sobre os países emergentes, buscando contribuir,
de alguma forma, para a melhor compreensão da te-
mática no Brasil e identificar possíveis áreas para even-
tual esforço de pesquisa e desenvolvimento de novos
métodos e abordagens de análise, de modo a poder
subsidiar os responsáveis pela formulação da política
externa do País.
Portanto, o objetivo do presente artigo é discorrer
sobre a participação dos chamados países emergentes
na agenda global contemporânea, buscando salientar
de forma crítica os elementos mais importantes re-
lacionados à posição dos países emergentes na atual
economia política internacional. Para tal, o plano de
estudo do ensaio fará primeiramente um apanhado da
esparsa literatura teórica e midiática sobre o conceito e
definição de países emergentes.
Em seguida, tentar-se-á delinear o papel que tais
países passaram a exercitar no cenário mundial em
função de seu crescente poder econômico e protago-
nismo político e diplomático nos fóruns internacionais
e, por fim, identificar se os impactos decorrentes da en-
trada em cena desse grupo de países emergentes têm
tido repercussões estabilizadoras ou perturbadoras so-
bre a conformação da complexa ordem internacional
em construção desde o fim da Guerra Fria.
O que são países emergentes?
Na literatura midiática de relações internacionais,
os países emergentes em geral referem-se a países
não-desenvolvidos que estão passando por rápidas
mudanças estruturais (industrialização e melhoria
no bem-estar) e institucionais e, portanto, em fase de
transição para a condição de nações desenvolvidas
ou avançadas. Os exemplos de mercados emergentes
incluem os grandes países continentais (Brasil, Rússia,
‘‘
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Considerando o peso crescente de um grupo de
estados-nações emergentes no cenário internacional, nos últimos 20 anos, assim como a literatura acadêmica ainda relativamente escassa sobre a matéria, torna-se relevante
um exercício de reflexão sobre os países emergentes,
buscando contribuir para a melhor compreensão da
temática no Brasil.
2 kIERSEy, Nicholas. “The ‘Debate About Empire’ and International Relations Theory: Beyond the Narratives of Sovereign and Imperial Power in Theorizing Modern World Politics”, artigo apresentado no Encontro Anual da International Studies Association, San Diego, California, USA, 22 Mar. 2006. Disponível em: http://www.allacademic.com/meta/p_mla_apa_research_citation/0/9/8/9/5/p98956_index.html, acesso em 10 nov. 2008.
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a
Índia e China), vários outros do Sudeste asiático, Euro-
pa Oriental, e em partes da áfrica e da América Latina.
Na verdade, países emergentes são um termo cunha-
do, em 1981, pelo economista Antoine Van Agtmael,
então na Corporação Financeira Internacional (IFC)/
Banco Mundial, para denominar países com economias
de mercado que mantinham crescimento econômico
sustentado, com reformas estruturais e institucionais,
o que lhes possibilitaria chegar ao status de nações
desenvolvidas.3
Enfatizando a natureza fluida da categoria “emer-
gentes”, o cientista político Ian Bremmer define um
mercado emergente como “um país onde a política
importa pelo menos tanto quanto a economia para os
mercados.”4 Dada essa fluidez conceitual, a área acadê-
mica que mais vem se dedicando a pesquisar os países
emergentes é a de administração de empresas, com
ênfase em estudos de caso sobre empresas de países
menos desenvolvidos que se internacionalizaram. Nis-
so se destacam os scholars Ck Prahalad, George Haley,
Hernando de Soto, Usha Haley, e alguns professores da
Harvard Business School e da Yale School of Manage-
ment.5 Enquanto isso, o campo das Relações Interna-
cionais ainda pouco tem a oferecer em nível teórico ou
empírico sobre os países emergentes.
Nos últimos anos, surgiram novos termos e critérios
para descrever os maiores países em desenvolvimento,
como as siglas BRIC e BRIMC que se referem a países
como Brasil, Rússia, Índia, México e China. Estes países
não compartilham nenhuma agenda comum, mas al-
guns especialistas acreditam que eles estão desempe-
nhando um papel crescente e promissor na economia
e na política em nível mundial. Dada essa importância,
um grande número de projetos de pesquisas sobre os
emergentes está em andamento em diversas universi-
dades e escolas de administração nos EUA e na Europa
com vistas a melhor compreender os vários aspectos
envolvidos no avanço dos países emergentes.6
É difícil definir uma lista exata dos países emergen-
tes devido à heterogeneidade dos países que estão
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Nos últimos anos, surgiram novos termos e critérios para descrever os maiores países em desenvolvimento, como
as siglas BRIC e BRIMC que se referem a países como Brasil, Rússia, Índia, México e China.
Estes países não compartilham nenhuma agenda comum,
mas alguns especialistas acreditam que eles estão
desempenhando um papel crescente e promissor na
economia e na política em nível mundial.
3 Segundo o sítio web www.ifc.org, acesso em: 24 set. 2008), da International Finance Corporation (IFC) do Banco Mundial, Antoine Van Agtmael, fundador da Emerging Markets Management, empresa de investimento sediada nos EUA, foi de fato o pai do termo “mercados emergentes”, cunhado quando ele trabalhava na IFC. Ele hoje qualifica países como o Brasil, Rússia, Índia e China (BRICs), além de México e Chile, como as economias emergentes mais importantes no cenário mundial.
4 Bremmer é presidente do Eurasia Group, uma consultoria de risco político global e autor do bestseller “The J Curve: A New Way to Understand Why Nations Rise and Fall, Simon & Schuster, 2006, aclamado o livro do ano pela revista The Economist. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Ian_Bremmer, acesso em: 09 nov. 2008.
5 Ver, a propósito, o sítio web da NationMaster, uma empresa especializada em dados comparativos entre países. Disponível em: http://www.nationmaster.com/encyclopedia/Emerging-markets, acesso em: 08 nov. 2008.
6 A sigla BRIC foi criada, em 2001, pelo economista Jim O´Neill, no relatório “Building Better Global Economic Brics” do Banco Goldman Sachs, para designar os quatro países: Brasil, Rússia, Índia e China, os quais, conforme projeções demográficas e modelos de acumulação de capital e cresci-mento de produtividade, poderiam em conjunto se tornar a maior força na economia mundial no ano 2050.
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registrando boa performance econômica. Os melhores
guias tendem a ser fontes de informação midiática como
as listagens da Revista The Economist, do Jornal Financial
Times e indicadores de mercado como o Morgan Stanley
Capital International (MSCI). Essas fontes são bem con-
sistentes, mas cabe advertir para algumas fragilidades:
i) a inércia histórica – países que são mantidos como
emergentes mesmo depois de terem passado dessa
fase, como Coréia do Sul, Formosa (Taiwan) e Israel; e ii)
a simplificação inerente à elaboração de indicadores, o
que leva a desconsiderar países pequenos ou com baixa
liquidez de mercado em face de seus vizinhos maiores, e
iii) as limitações da análise geopolítica e de política inter-
na em virtude da ênfase excessiva em critérios economi-
cistas de aferição de variáveis de mercado.
Uma das listas de países emergentes mais utilizada
pelos investidores e analistas internacionais é o índi-
ce do Morgan Stanley (MSCI) que incluía na condição
como emergentes, na sua posição de junho/2006, os se-
guintes 28 países, distribuídos pelas seguintes regiões
geopolíticas: i) América Latina (Argentina, Brasil, Chile,
Colômbia, México e Peru); ii) Europa Oriental (Hungria,
Polônia, República Checa e Rússia); iii) ásia e Pacífico
(China, Coréia do Sul, Filipinas, Índia, Indonésia, Irã, Ma-
lásia, Paquistão, Tailândia, Taiwan e Vietnã); iv) Oriente
Médio e Magrebe (Egito, Israel, Jordânia, Marrocos,
Tunísia e Turquia), e áfrica Subsaariana (áfrica do Sul).7
Para os propósitos deste ensaio, consideraremos
a definição de países emergentes do Morgan Stanley
Capital International (MSCI), por ser abrangente e re-
fletir bem o peso geoeconômico crescente dos países
assinalados. Desse grupo de 28 países emergentes, 10
deles (mais a Arábia Saudita) compõem o chamado
Grupo dos 20 (G-20), um fórum de cooperação e de
consulta sobre assuntos relacionados ao sistema finan-
ceiro internacional, que abrange os principais países do
mundo no campo da economia, desenvolvidos e emer-
gentes. O G-20, criado em 1999, compreende países
que tomados em conjunto representam 90% do Pro-
duto Nacional Bruto mundial, 80% do comércio mun-
dial (incluindo o comércio intra-União Européia) e dois
terços da população terrestre.8
Conforme pode ser visto no Quadro 1, os 28 paí-
ses da amostra colhida pelo índice do Banco Morgan
Stanley se estendem por 38% do território do Planeta,
abrigam 63% da sua população e geram quase 30% da
renda mundial. Como reflexo de seu dinamismo recen-
te, esses países em conjunto respondem por mais de
30% das exportações e por mais da metade do estoque
total de reservas internacionais, assumindo, portanto,
a primazia como fonte provedora de capitais líquidos
para o resto do mundo, inclusive os países avançados.
7 Disponível em : http://www.investopedia.com/articles/03/073003.asp, acesso em 09 nov. 2008.
8 Os membros do G-20 são os ministros das finanças e governadores dos bancos centrais de 19 países: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Arábia Saudita, áfrica do Sul, Coréia do Sul, Turquia, Reino Unido e os Estados Unidos da América. A União Européia é também um membro, representado pela presidência rotativa do Conselho e do Banco Central Europeu.
Quadro 1 – Amostra de Países Emergentes Selecionados(*): peso geoeconômico no Mundo em 2007
Indicadores (I) (II) (I)/(II) %
Território (a) 56.729,60 148.939,06 38,08
População (b) 4.075.492 6.464.750 63,04
Produto Interno Bruto (c) 13.699,05 48.461,90 28,27
Reservas Internacionais (d) 3.531,19 6.495,13 54,37
Exportações (e) 4.239,30 13.950,00 30,38
Fontes: ONU; OMC; FMI e OCDE. Elaboração: o autor(a) Superfície em 1.000 km2
(b) População em 1.000 habitantes (2005)(c) PIB em US$ bilhões correntes e a preços de mercado (2007)(d) Reservas no conceito liquidez internacional em US$ bilhões de 31/12/2007(e) Exportações FOB em US$ bilhões (2007)(*) 28 países emergentes incluídos no índice Morgan Stanley Capital International (MSCI).
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No que se refere ao índice do Jornal Financial Ti-
mes (FTSE Global Equity), o mesmo classifica países em
quatro categorias conforme a tipologia dos mercados
de bolsa de valores: i) países desenvolvidos; ii) países
emergentes avançados; iii) países emergentes secun-
dários, e iv) países semiemergentes. Na sua classificação
de setembro de 2008, o FTSE considerava como países
emergentes avançados: áfrica do Sul, Brasil, Hungria,
México, Polônia e Taiwan; e como países emergentes
secundários: Argentina, Chile, China, Colômbia, Egito,
Filipinas, Índia, Indonésia, Malásia, Marrocos, Paquistão,
Peru, República Checa, Rússia, Tailândia e Turquia, totali-
zando as duas categorias 22 países emergentes.9
Em que pese a ampla aceitação dos indicadores de
mercado para países emergentes, alguns autores formu-
laram conceitos alternativos, mais qualitativos, sobre o
que seriam os países emergentes. Parag khanna (2008),
por exemplo, considera países emergentes aqueles situa-
dos no “palco central onde o curso futuro da ordem glo-
bal está sendo determinado”, aos quais denomina países
do “segundo mundo”.10 Em outras palavras, para o autor,
esses seriam os países capazes de fazer pender a balança
de poder do século 21 entre os três supostos pólos impe-
riais da ordem global multipolar em construção, ou seja,
os Estados Unidos, a União Européia e a China.
Para khanna, os países do “segundo mundo” seriam
os pontos de inflexão de um mundo multipolar, tendo
suas ações o poder de vir a alterar o equilíbrio de poder
global. Para o autor, o primeiro mundo não seria maior
do que os 30 membros da OCDE (à exceção da Turquia
e do México). O terceiro mundo incluiria pelo menos
os 48 países de menor desenvolvimento (o chamado
quarto mundo) segundo o Banco Mundial, mas chega-
ria a englobar cerca de 100 países ao todo. O “segundo
mundo”, ou países emergentes, seriam países ao mes-
mo tempo com características de primeiro e terceiro
mundo, com um percentual da sociedade vivendo um
estilo de vida moderno – globalmente conectados e
com empregos de altos salários – coexistindo com uma
estreita classe média e uma grande massa de pobres.
Como o primeiro mundo, esses países do “segundo
mundo” teriam economias em crescimento, com forte
potencial de atração de investimentos e importância
geoestratégica, mas tal como o terceiro mundo compor-
tariam dualismo interno com instituições ainda frágeis,
mercados informais e populações vivendo em condições
precárias, elevada concentração pessoal e espacial da
renda em torno de certas áreas urbanas metropolitanas
(em geral em torno das capitais). Para khanna, os países
do segundo mundo, com rendas per capita anuais entre
US$ 3000 a US$ 6000, seriam como “navios navegando
em mares turbulentos da modernidade, com indicadores
‘‘‘‘
O terceiro mundo incluiria pelo menos os 48 países de
menor desenvolvimento, segundo o Banco Mundial, mas chegaria a englobar
cerca de 100 países ao todo. O “segundo mundo”, ou
países emergentes, seriam países ao mesmo tempo
com características de primeiro e terceiro mundo,
com um percentual da sociedade vivendo um estilo
de vida moderno.
9 Disponível em: http://www.ftse.com/Indices/FTSE_Emerging_Markets/index.jsp, acesso em 09 nov. 2008.
10 kHANNA, Parag. The Second World: Empires and Influence in the New Global Order. New york: Ramdom House, 2008. p. x. Prefácio.
18
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11 Para khanna, os países emergentes do “segundo mundo” seriam pelo menos 24: i) América Latina: Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, México e Venezuela; Europa Oriental (Azerbaijão, Rússia, Sérvia e Ucrânia, e); Oriente Médio e Magrebe (Egito, Israel, Líbia, Jordânia, Irã, Iraque, Síria e Pa-quistão); ásia (Casaquistão, China, Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietnã).
12 Gerald McDermott é professor da Wharton School of Business da Universidade de Pensilvânia, EUA. Disponível em: (http://wharton.universia.net/index.cfm?fa=viewArticle&id=1487&language=portuguese&specialId=, acesso em: 08/11/2008).
13 Ver, a propósito, JOHNSON, Simon. Straight Talk: Emerging Markets Emerge. Finance & Development, Washington, IMF, v. 45, n. 3, p. 54-55, Sept. 2008.
políticos, econômicos e sociais frequentemente se mo-
vendo em direções diferentes ao mesmo tempo”.11
Para Gerald McDermott, da Wharton University, a
definição de “países emergentes” seria imprecisa, po-
rém a intenção por trás dela continua a mesma. “As
pessoas começaram a empregá-la de forma mais sol-
ta, e como a definição passou a se referir a um número
cada vez maior de países, ela perdeu um pouco do seu
significado original”, diz ele.
Assim, se expressa McDermott.12
Acho que o termo continua a exprimir uma realida-
de que não nos permite nos referir ao mundo desen-
volvido, de um lado, e ao mundo em desenvolvimento
de outro. Temos em mente países que são muito pro-
missores e que apresentam grande potencial. Eles es-
tão crescendo, mas ainda não chegaram lá.
Na verdade, para o autor, o elemento mais impor-
tante da definição de economia emergente, além do
forte crescimento econômico, seria a força de suas ins-
tituições econômicas e políticas, como o estado de di-
reito, a existência de controles regulatórios e o respeito
ao cumprimento dos contratos celebrados.
Para Simon Johnson, do FMI, há 20 anos, os “mercados
emergentes” eram simplesmente um grupo de países que
começavam a atrair o interesse de investidores em todo
o mundo. Eles eram percebidos como tendo boas pers-
pectivas de crescimento, embora fossem um tanto peri-
féricos para o funcionamento da economia global. Há dez
anos, muitos destes mercados emergentes enfrentaram
grandes crises. Eles tinham claramente se tornado sufi-
cientemente grandes para contagiar o mundo financeiro
durante as crises asiática, russa e brasileira de 1997-1999.
O rótulo “mercados emergentes” passou então a ser si-
nônimo de instabilidade ou pelo menos de volatilida-
de. Hoje em dia, porém, segundo Johnson, os mercados
emergentes, ou seja, os países de renda média, surgiram
no cenário internacional como um importante fator co-
determinante ou estabilizador da prosperidade global.13
De fato, ao longo de 2003-2008, ainda segundo John-
son, tais países teriam sido responsáveis por um quarto a
50% do crescimento global (dependendo de como sua
renda é medida). Eles também teriam sido bastante resis-
tentes à recente crise financeira nos EUA, que se arrasta
desde setembro de 2007, de modo que, através de vín-
culos comerciais e financeiros crescentes, os países emer-
gentes teriam contribuído para manter as economias
avançadas em crescimento. Agora diante da crise recessi-
va nas economias desenvolvidas, a forma como os países
de mercados emergentes manejem as pressões inflacio-
nárias e de desaceleração econômica poderá trazer reper-
cussões ao crescimento e à inflação no resto do mundo.
Qual é o papel dos países emergentes?
O mundo de hoje é radicalmente diferente do que
era há pelo menos três décadas, quando metade dele
‘‘
‘‘
O elemento mais importante da definição de economia emergente,
além do forte crescimento econômico, seria a força de
suas instituições econômicas e políticas, como o estado de direito, a existência de controles regulatórios e o respeito ao cumprimento dos contratos celebrados.
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era dividido em duas grandes regiões com distintos ní-
veis de riqueza e prosperidade. Nesses dois campos tão
distintos, as nações desenvolvidas (membros da OCDE),
compreendendo principalmente os EUA, Comunidade
Européia e Japão respondiam por 75% do PIB mundial,
em 1975, mas apenas por 22% da sua população, cer-
ca de 720 milhões de pessoas. O restante do mundo,
com 2,6 bilhões de habitantes, fazia parte das nações
em desenvolvimento, gerando apenas 25% da rique-
za mundial. Em 2005, essa participação dos países da
OCDE caiu para 55%.14
Além da crescente influência dos países emergen-
tes sobre o comércio e as finanças internacionais, a as-
censão desse grupo de países também se reflete cada
vez mais na esfera dos organismos e regimes interna-
cionais, uma vez que não existe mais nenhuma questão
relevante na agenda de discussões no G-7, na Organiza-
ção Mundial do Comércio (OMC) ou nas Nações Unidas
(ONU), que possa ser resolvida sem que se considere
a adesão dos países em desenvolvimento emergentes,
seja no campo do meio ambiente e mudanças climáti-
cas, doenças epidêmicas, terrorismo e lavagem de di-
nheiro, energia, conflitos regionais e desenvolvimento
econômico e social.
Segundo salienta o ex-presidente do Banco Mun-
dial, James Wolfensohn, as economias emergentes –
que ele denomina de “globalizadoras” – representam
um grupo de 27 países de renda média (incluindo Chi-
na e Índia), com taxas de crescimento do PIB per capita
acima de 3,5% ao ano e uma população total de 3,2 bi-
lhões, ou cerca de 50% da população mundial. Esses pa-
íses experimentaram níveis de crescimento econômico
sustentado sem precedentes, que poderiam capacitá-
los a complementar ou mesmo substituir ou os países
avançados como forças motrizes da economia mundial.
Os países “globalizadores” seriam, pois, um grupo vasto
e difuso de países – em tamanho, geografia, cultura e
política – que teriam aprendido a se integrar de forma
crescente na economia global, e também a influenciá-
la, para catalisar o seu próprio desenvolvimento.15
Para Wolfensohn, as potências tradicionais preci-
sam acomodar a ascensão das economias globalizado-
ras – em particular, China e Índia – reformando a ordem
internacional vigente. Os países avançados continua-
riam sendo protagonistas globais, mas à medida que
aumenta o poder econômico dos países globalizado-
res, estes demandariam um papel de maior destaque
nos assuntos internacionais. A maioria dos países avan-
çados, atordoados pelo inusitado, parece estar despre-
parada para essa mudança, mas essas demandas preci-
sarão ser acomodadas.
Ademais, apesar de os países globalizadores terem
resgatado centenas de milhões de pessoas da pobreza
e de terem reduzido a desigualdade em nível global, isso
não resultou em um mundo mais igual, pois economias
‘‘
‘‘
Segundo o ex-presidente do Banco Mundial, James
Wolfensohn, as economias emergentes – que ele
denomina de “globalizadoras” – representam um grupo de
27 países de renda média (incluindo China e Índia), com taxas de crescimento do PIB per capita acima de 3,5% ao ano e uma população total de 3,2 bilhões, ou cerca de
50% da população mundial.
14 “New OECD for New Global Challenges”, speech by Angel Gurría, OECD Secretary-General, at the Storting (Norwegian parliament), disponível em: (source: http://www.oecd.org/document/3/0,3343,en_2649_34487_40235523_1_1_1_1,00.html Oslo, 6 March 2008), acesso em 15 11 2008.
15 WOLFENSOHN, James. Farewell to Development’s Old Divides, 29/11/2007, disponível em: http://www.project-syndicate.org/commentary/wol-fensohn4, acesso em 08 nov.2008.
20
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em evidência, como China e Índia, estariam experimen-
tando na atualidade aumento no nível de iniquidade so-
cial interna. Seja a região costeira em relação ao interior,
ou a rural em face da urbana, esses dois países precisam
equacionar as crescentes disparidades de renda e bem-
estar entre suas regiões, pois o alto e crescente nível de
desigualdade poderá ameaçar a sua própria capacidade
de continuar crescendo no ritmo atual e eventualmente
vir a gerar instabilidades sociais e geopolíticas.
Wolfensohn ainda chama atenção para que os ele-
mentos tradicionais de transmissão do desenvolvimen-
to, como comércio, financiamento, investimento, ajuda
externa e migração precisam ser intensificados de for-
ma abrangente e coerente, a fim de poder se criar um
mundo mais justo e reformular as instituições globais.
Isso poderá melhorar a capacidade da humanidade em
abordar com eficácia os grandes desafios de governança
global e de aprimorar as perspectivas para a construção
de um mundo mais justo e sustentável. Caso contrário, o
mundo poderá estar dando adeus às antigas linhas divi-
sórias do desenvolvimento, mas apenas para substituí-
las por outras ainda mais danosas e excludentes.16
Quais os impactos dos países emergentes na or-
dem internacional atual?
A ascensão dos países emergentes no cenário mun-
dial, nas últimas duas décadas, ocorre em paralelo ao
processo de globalização que ampliou e aprofundou
as interconexões entre os países e povos por meio das
mais variadas formas de intercâmbio. Nesse aspecto, a
globalização alterou as bases da geopolítica tradicional,
criando oportunidades para diversos países crescerem
e se modernizarem rapidamente, tornando-os suficien-
temente prósperos e competitivos para se converte-
rem em nações do primeiro mundo. Outros países, pelo
efeito demonstração ou por indução externa, também
trilharam esse caminho, gerando um crescendo de eco-
nomias de mercado emergentes capazes de alterar a
balança do poder econômico e aspirantes a modificar a
seu favor o jogo do poder mundial.
A propósito da relação dinâmica entre geopolítica e
globalização, Para khanna assinala (p. xxi)
Today only one force has emerged that could grind
the cyclical wheels of global conflict to a halt. Like geopo-
litics, globalization has become the world system itself. No
one power controls it; it can only be stopped if everything
stops. Yet geopolitics and globalization are considered
diametrically opposed concepts and modes of power”.
“(…) Globalization is now part of every society’s strategy
for survival and progress”.
Essa “silenciosa” ascensão dos países emergentes
traz consigo inevitável inquietação naqueles países
avançados ou potências que, desde o final da 2ª Guerra
Mundial, têm liderado a ordem internacional. Por isso,
questões ligadas à governança global têm se tornado
tão relevantes na agenda de debates dos principais fó-
runs internacionais. A própria Organização das Nações
‘‘
‘‘A ascensão dos países
emergentes no cenário mundial, nas últimas duas
décadas, ocorre em paralelo ao processo de globalização que ampliou e aprofundou as interconexões entre os países e povos por meio
das mais variadas formas de intercâmbio. Neste caso, a
globalização alterou as bases da geopolítica tradicional,
criando oportunidades para diversos países crescerem e se modernizarem rapidamente.
16 Disponível em WOLFESOHN, James. O Fim da Linha que Divide Norte e Sul. Valor Econômico, São Paulo, 29 nov. 2007. Opinião, p. A 12
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Unidas (ONU) já reconhece as mudanças em curso na
correlação de poder econômico e político mundial.
Em recente artigo, o Secretário-Geral da ONU, Ban
ki-Moon afirmou:17
In truth, today, we also face a crisis of a different sort
-- the challenge of global leadership. New centers of po-
wer and leadership are emerging -- in Asia, Latin America
and across the newly developed world. In this new world,
the challenges are increasingly those of collaboration, not
confrontation. Nations can no longer protect their inte-
rests, or advance the well-being of their people, without
the partnership of the rest.
Um conceituado teórico e arguto observador das
transformações em curso nas relações internacionais,
no então pós-Guerra Fria, com uma visão favorável à
globalização, James Rosenau, já admitia em 1996 que
havia uma bifurcação do sistema internacional, visto
que o estatocentrismo das grandes potências tinha
de conviver com um mundo multicêntrico no qual os
Estados nacionais não seriam mais capazes de exercer
plenamente sua soberania em assuntos variados como
a regulamentação dos mercados de capitais e a preser-
vação do meio ambiente.18
Nesse sentido, a construção de consensos para as-
segurar uma eventual governança multicêntrica global
com eficácia em meio à mudança em curso na ordem
internacional, decorrente de uma crescente multipola-
rização do sistema imposta pela incorporação de paí-
ses emergentes no jogo do poder, exigirá pelo menos
dois elementos. Primeiro, a compreensão das novas
limitações de poder dos países avançados e um genu-
íno esforço de renúncia de privilégios por parte deles
nas negociações para incorporar os principais países
emergentes nas estruturas decisórias das instituições
e regimes internacionais. Segundo, um resultado de
soma positiva no balanço dos efeitos estabilizadores
e perturbadores da entrada dos países emergentes no
jogo de poder global. Para elucidar esse ponto, faremos
em seguida uma reflexão sobre o alcance e intensida-
de desse impacto líquido dos emergentes no sistema
internacional.19
Efeitos estabilizadores
Conforme assinala o economista-chefe da Orga-
nização para Cooperação e Desenvolvimento Econô-
mico (OCDE), Javier Santiso, estaria acontecendo uma
mudança fundamental: um reequilíbrio de grandes
proporções na riqueza das nações, onde supostamente
uma periferia se descola de um centro. O problema é
exatamente que o centro estaria exercendo cada vez
menos o papel de centro e a periferia cada vez menos
‘‘‘‘
A construção de consensos para assegurar uma eventual
governança multicêntrica global com eficácia em
meio à mudança em curso na ordem internacional,
decorrente de uma crescente multipolarização do sistema
imposta pela incorporação de países emergentes no jogo
do poder, exigirá pelo menos dois elementos.
17 kI-MOO, Ban. The State of the World. Disponível em: http://www.todayszaman.com/tz-web/detaylar.do?load=detay&link=153982, acesso em 08 nov. 2008.
18 ROSENAU, J. The Dynamics of Globalization: toward an operational formulation. Security Dialogue, v. 27, n. 3, p. 247-262, Sept. 1996.
19 A Comissão sobre Governança Global da ONU definiu essa governança multicêntrica global como a totalidade das maneiras pelas quais os indivíduos e as instituições públicas e privadas administram seus problemas comuns, num “amplo, dinâmico e complexo processo interativo de tomada de decisão que está constantemente evoluindo e se ajustando a novas circunstâncias”. Disponível em: http://www.ieei.pt/files/Back-ground_Paper_II_IEEI_Brazil.pdf, acesso em: 11 nov. 2008.
22
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o papel de periferia. A propósito, ele cita que os países
membros da OCDE, que três décadas atrás concentra-
vam 75% do PIB mundial, hoje respondem por menos
de 55%. O mercado acionário dos EUA representa 35%
(e vem caindo) da capitalização do mercado mundial,
ante 50%, há apenas 10 anos.
Ainda segundo Santiso, em 2007, a participação do
investimento externo direto (IED) procedente dos paí-
ses da OCDE diminuiu, de praticamente 100% em 1970,
para 85%. Para o autor, classificações como OCDE/pa-
íses emergentes passaram a refletir mais a inércia his-
tórica do que as novas realidades econômicas: México,
Coréia do Sul ou Turquia, três mercados emergentes
importantes, já são membros da OCDE, enquanto ou-
tros, como Brasil, Chile ou Rússia, ainda estão fora da
organização internacional.20
Como mais uma prova dessa crescente prosperida-
de nos países emergentes, novas fontes de acumulação
de riqueza mundial, os chamados fundos de riqueza
soberana-FRS (sovereign wealth funds), formados pelos
países superavitários encontram-se todos fora do Gru-
po dos Sete países mais ricos (o G-7).21 Em função dessa
reviravolta nos fluxos econômicos internacionais, a vi-
são tradicional da economia mundial entre países do
Norte e do Sul está tendo de se ajustar à realidade, uma
vez que o capital também está agora fluindo dos países
emergentes para os países avançados.
Em outro artigo, Javier Santiso, reforça que o surto
de IED também estaria se deslocando cada vez mais dos
países avançados rumo aos países emergentes. Confor-
me ele cita, recente pesquisa da consultoria AT kearney,
publicada no início de 2008, mostrou que 15 dos 25
destinos mais atrativos para os IEDs futuros estariam
nos países emergentes. China, Índia, Emirados árabes
Unidos (EAU), Vietnã, Brasil e México seriam os países
alvo do maior interesse para os investidores.22 Seu oti-
mismo é tamanho que ele afirma que o capitalismo
internacional presencia um giro de grande magnitude,
com os EUA em crise, se enfraquecendo como primeira
potência econômica, e arrastando consigo parte dos
países da (OCDE). Paralelamente, os países emergentes,
encabeçados pela China, despontam com vigor. Para
ele, sem dúvida, o século 21 será o dos emergentes.23
Outro analista otimista com a expansão da partici-
pação dos países emergentes na economia mundial é
‘‘
‘‘
Segundo Santiso, em 2007, a participação do investimento externo
direto (IED) procedente dos países da OCDE
diminuiu, de praticamente 100% em 1970, para 85%. Para o autor, classificações
como OCDE/países emergentes passaram a refletir mais a inércia
histórica do que as novas realidades econômicas.
20 SANTISO, Xavier. Reequilibrando a Riqueza das Nações. Valor Econômico, São Paulo, 29-31 ago. 2008. Opinião, p. A 12.
21 Fundos de riqueza soberana (FRS) são fundos de investimento estatais compostos por ativos financeiros, como ações, títulos, imóveis, metais preciosos ou outros instrumentos financeiros. Os FRS são normalmente criados quando os governos têm excedentes orçamentários e com pou-ca ou nenhuma dívida externa. Não é viável nem desejável realizar esse excesso de liquidez pela monetização ou gastos em consumo imediato. Os ativos dos FRS chegaram a US $ 3,3 trilhões no final de 2007, a maior parte desse crescimento resultante de aumento em reservas cambiais oficiais em alguns países asiáticos e do incremento de receitas provenientes de exportação de petróleo. Os maiores FRS são de Abu Dhabi, No-ruega, Cingapura, kuwait, China e Rússia.
22 SANTISO, Xavier. Contos Chineses. Valor Econômico, São Paulo, 8 jul. 2008. Opinião, p. A12.
23 SANTISO, Xavier. O Reequilíbrio do Mundo. Valor Econômico, São Paulo, 30 set. 2008. Opinião, p. A12.
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karl P. Sauvant, ex-diretor na Conferência das Nações
Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e
agora pesquisador da Universidade de Columbia, que
afirmou que o mercado mundial para IED estaria em
polvorosa com a chegada de novos participantes pro-
venientes de países emergentes, tendo à frente nomes
de grandes empresas como Vale do Rio Doce (Brasil),
Tata (Índia) e Lenovo (China), com os países avançados
se convertendo em anfitriões para subsidiárias dessas
multinacionais em ascensão e reagindo com apreen-
são a esse fenômeno.24
O professor Sauvant menciona que, em 2007, em-
presas de mercados emergentes investiram aproxima-
damente US$ 210 bilhões no exterior – praticamente
cinco vezes o total mundial de 25 anos atrás. Com isso,
essas empresas se tornaram protagonistas importantes
no mercado mundial, seja por meio de investimentos
para aumento da capacidade instalada ou através de
fusões e aquisições internacionais (F&A). Além disso, se
no passado elas investiam principalmente em outros
mercados emergentes, hoje voltam os seus olhares
cada vez mais na direção de empresas e mercados de
países desenvolvidos.
A propósito, Sauvant (Nota de rodapé 24) adiciona
que
Os governos de países anfitriões, e especialmente dos
países desenvolvidos, precisam aceitar o fato de as empre-
sas de países emergentes terem saído da sombra dos seus
concorrentes ao Norte e que se tornaram participantes
importantes no mercado mundial de IED. Erguer barreiras
protecionistas contra elas, seja sob o lema da “segurança
nacional”, “governança corporativa” ou coisa que o valha,
não é a resposta – isso só poderá provocar uma reação
adversa nos mercados emergentes contra o IED vindo
do exterior. As empresas dos mercados emergentes vie-
ram para ficar. É melhor que nos acostumemos aos “no-
vos garotos no pedaço”. Eles são apenas uma expressão
do processo de desenvolvimento pelo qual os mercados
emergentes estão sendo integrados à economia mundial
– para benefício de todos.
Complementando na mesma linha, Javier Santiso
(nota de rodapé 23) afirma que
o reequilíbrio que vivemos culminará mais cedo ou
mais tarde na derrocada dos EUA como primeira potên-
cia mundial. O Goldman Sachs prognostica que assim
será em 2025. Nas estimativas realizadas pelo Centro de
Desenvolvimento da OCDE, a data é ainda mais próxima:
2015. Em outras palavras, amanhã. Não importa quando
exatamente será a capotagem, o certo é que caberá a
nossa geração vivenciá-la. Este reequilíbrio do mundo é
maciço e generalizado: empresarial, comercial, financeiro
e geoeconômico”. (...) “Como todos os reequilíbrios, o que
estamos vivendo trará consigo períodos de tensão. O epi-
centro do mundo está se deslocando ao Oriente. Isso não
significa que as potências da OCDE desvanecem-se, mas,
antes disso, que o reequilíbrio se dá por meio da emergên-
cia de um mundo economicamente muito mais multipo-
lar. A grande notícia – ainda por celebrar – está aqui: pela
primeira vez na história econômica recente, os ganhado-
res da globalização deixaram de estar concentrados nos
países da OCDE.
‘‘
‘‘
Sauvant adiciona que os governos de países
anfitriões, e especialmente dos países desenvolvidos,
precisam aceitar o fato de as empresas de países emergentes terem saído
da sombra dos seus concorrentes ao Norte e que
se tornaram participantes importantes no mercado
mundial de IED.
24 SAUVANT, karl. Os Novos Garotos no Pedaço. Valor Econômico, São Paulo, 6 dez. 2007. Opinião, p. A12.
24
25
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Efeitos perturbadores
Em termos prospectivos, há pelo menos quatro
principais efeitos perturbadores do crescimento dos
mercados emergentes para a economia política inter-
nacional (EPI), dois de âmbito interno e dois de âmbito
externo: i) dos riscos internos, dois são críticos: 1) o au-
mento da desigualdade de renda, e 2) o aumento da
degradação ambiental. Dos riscos externos, cabe des-
tacar os seguintes: 1) o impacto dos padrões de con-
sumo de uma crescente classe média emergente sobre
os preços das matérias-primas (commodities); e 2) uma
onda protecionista devido à percepção negativa nas
nações ricas contra a ascensão dos países emergen-
tes, ameaçando a ordem econômica liberal no plano
internacional.
1) Risco interno – aumento na desigualdade de
renda
Com relação ao aumento na desigualdade de renda,
caso as tendências atuais à concentração se reforcem
no futuro, países emergentes como a China e a Índia
poderão sofrer risco de grave perturbação da ordem
interna e instabilidade política. Conforme Wolfensohn,
a relação entre os níveis de renda per capita nos esta-
dos e/ou províncias mais ricos e os mais pobres na Chi-
na e na Índia são de 13,6 para 1 e 4,4 para 1, respectiva-
mente, em comparação com os EUA, onde a relação é
de 2,1 para 1. Na Índia, a desigualdade de renda estaria
aumentando: os estados que mais crescem são justa-
mente os estados mais ricos. Na China, a desigualdade
também tem continuado a aumentar, sendo maior do
que na Índia. A relação no país entre a renda per capita
urbana e rural é de quatro vezes.25
2) Risco interno – aumento da degradação
ambiental
Pressões ambientais podem sustar o crescimento
e ampliar as disparidades existentes. De acordo com
um estudo do Banco Mundial de 2001, das 20 cidades
mais poluídas do mundo, 14 delas estavam na China. A
poluição e o uso excessivo da água estão entre as prin-
cipais preocupações ambientais: Nos últimos 20 anos,
o rio Amarelo – um dos maiores da China – ficou dez
vezes mais seco, ao passo que o rio Ganges na Índia é
hoje um dos mais poluídos do planeta, segundo o Pro-
grama Ambiental das Nações Unidas.26
A degradação ambiental já está aumentando o des-
contentamento da população: Em 2005, cerca de 60 mil
pessoas foram até a cidade de Huaxi (província chine-
sa de Zhejiang) para protestar contra os altos níveis de
poluição provocados por 13 fábricas químicas que con-
taminaram a água e o solo na região. Em 2007, milhares
de habitantes da província de Sichuan tomaram às ruas
para protestar contra a contaminação da água potável
‘‘‘‘
A degradação ambiental já está aumentando o descontentamento da
população: Em 2005, cerca de 60 mil pessoas foram
até a cidade de Huaxi (província chinesa de
Zhejiang) para protestar contra os altos níveis de
poluição provocados por 13 fábricas químicas que contaminaram a água e o
solo na região.
25 WOLFESOHN, James. “A Global Century: Future Prospects for the World Economy”. keynote Speech- Conference at the Goethe House of Finance, Frankfurt, May 30, 2008, disponível em: http://www.houseoffinance.eu/downloads/SpeechFrankfurt.pdf, acesso em 15 nov. 2008).
26 WORLD BANk. Urban Air Quality Management: Coordinating Transport, Environment, and Energy Policies in Developing Countries. Masami kojima & Magda Lovei, Sept. 2001.
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e de irrigação causada por uma cervejaria. Os custos
econômicos seriam enormes: o custo total da poluição
do ar e da água na China foi estimado em 2,7 % do PIB
em 2003, mas o Banco Mundial acredita que esses cus-
tos poderiam ser significativamente maiores. A China já
seria responsável hoje pelo maior volume de emissão
de CO2 no mundo.
1) Risco externo – impacto dos padrões de con-
sumo de uma crescente classe média emergente
Quanto aos riscos externos causados pela ascensão
dos países emergentes, o forte crescimento na China e
na Índia, principalmente, ajuda a impulsionar bastante
a demanda interna nesses países. Isso tem um efeito
econômico global positivo à medida que contribui
para sustentar a demanda mundial em contextos de
crise internacional como se observa no momento (no-
vembro/2008). No entanto, uma crescente classe média
nesses dois países conduzirá igualmente a crescentes
pressões sobre a oferta e preços das principais commo-
dities, como alimentos e energia.
Conforme expresso em recente artigo na revista
Foreign Policy, Moisés Naím afirma que a classe média
nos países emergentes seria o segmento da população
do mundo com crescimento mais rápido. O artigo es-
tima que, em 2020, a participação da classe média no
mundo vai crescer e chegar a absorver mais de 52%
da população total, acima dos 30% agora. Nos países
em desenvolvimento, a classe média quase duplicará
em virtude dos níveis mais elevados de crescimento
econômico sustentado estarem levando milhões de
pessoas para bem acima da linha de pobreza. Segundo
estimativas do Brookings Institution (citado pela Foreign
Policy), enquanto a população do planeta aumentará
em cerca de 1 bilhão de pessoas nos próximos 12 anos,
a classe média crescerá em 1,8 bilhão de pessoas, dos
quais 600 milhões serão na China. Em, 2025, a China
terá a maior classe média do mundo, enquanto a classe
média indiana será 10 vezes maior do que é hoje.27
Enquanto, sem dúvida, a expansão das fileiras da
classe média é uma boa notícia, cabe salientar que a
humanidade terá de se adaptar a pressões sem prece-
dentes. A ascensão de uma nova classe média global já
começa a ter repercussões em vários países. Os preços
dos alimentos, por exemplo, são crescentes não porque
haja menos produção (em 2007, a safra mundial foi
recorde), mas porque alguns grãos estão agora sendo
desviados para produzir biocombustível e porque mui-
to mais pessoas estão se dando ao luxo de comer mais
e melhor. O consumo per capita de carne na China, por
exemplo, mais do que duplicou desde meados da dé-
cada de 1980.
Conforme afirma recente relatório do Banco
Mundial
In recent decades, China has achieved rapid economic
growth, industrialization, and urbanization. Annual incre-
ases in GDP of 8 to 9 percent have lifted some 400 million
people out of dire poverty. Between 1979 and 2005, China
moved up from a rank of 108th to 72nd on the World Deve-
lopment Index. With further economic growth, most of the
‘‘
‘‘
O artigo estima que, em 2020, a participação da classe média no mundo vai crescer
e chegar a absorver mais de 52% da população total, acima dos 30% agora. Nos
países em desenvolvimento, a classe média quase duplicará
em virtude dos níveis mais elevados de crescimento econômico sustentado
estarem levando milhões de pessoas para bem acima da
linha de pobreza.
27 Ver, a propósito, NAÍM, Moisés. “Can the world afford a middle class?” Foreign Policy, Mar./Apr. 2008.
26
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remaining 200 million people living below one dollar per
day may soon escape from poverty.28
Diante dos aumentos de preços dos alimentos im-
pulsionados pela demanda da classe média emergente
global, vêm ocorrendo em vários países movimentos
de protestos contra o desabastecimento, comprome-
tendo a paz pública e levando a instabilidade política.
Considerando o atual crescimento da classe média chi-
nesa e indiana, o seu potencial de perturbar o funcio-
namento global dos mercados é enorme. Ademais, o
impacto do crescimento rápido da classe média emer-
gente também afetará o preço de outros bens, como
roupas, calçados, eletrodomésticos, brinquedos, remé-
dios, automóveis e residências. A China e a Índia, com
quase 40% da população do mundo – a maior parte
ainda muito pobre – já consomem juntas mais da me-
tade da oferta mundial de carvão, minério de ferro e
aço. Graças à sua crescente prosperidade e de outros
emergentes, a demanda por tais insumos e produtos
está aumentando como nunca.
Vale destacar ainda que, mesmo que os países em
desenvolvimento tenham um estilo de vida de classe
média ainda mais simples do que sua congênere nos
países avançados, o consumo nesses países é mais
intensivo em energia. Em 2006, por exemplo, o incre-
mento do consumo de eletricidade chinês foi igual ao
total do consumo francês. Isso sem falar que centenas
de milhões de pessoas na Índia e na China ainda care-
cem de acesso à energia domiciliar. A tendência, por-
tanto, é esse consumo crescer muito rapidamente nos
próximos anos. Essa tendência já ocorreu no consumo
de petróleo, cuja cotação antes da atual crise financeira
internacional chegou a bater o patamar recorde de US$
150 por barril, não por causa da restrição de oferta, mas
devido ao crescimento sem precedentes do consumo
nos países emergentes. A China por si só representou
um terço do crescimento do consumo mundial de pe-
tróleo nos últimos anos.
Em suma, pode-se concluir que, caso o estilo de vida
da nova classe média nos países emergentes não se
ajuste aos limites dos recursos naturais e do meio am-
biente e se os produtores agrícolas não encontrarem
outras formas de aumentar significativamente a pro-
dutividade no campo, a ascensão econômica dos paí-
ses emergentes poderá acabar atingindo os limites do
crescimento na Terra e perturbar a própria sobrevivên-
cia dos ecossistemas.
2) Risco externo – onda protecionista nos países
avançados contra as exportações de manufatura-
dos dos países emergentes
Com a crescente prosperidade econômica na Chi-
na, na Índia e noutros países emergentes, um crescente
número de trabalhadores nos países desenvolvidos –
em especial aqueles com empregos de baixa qualifi-
cação, mas também muitos daqueles empregados em
atividade de alta tecnologia, como em programação de
computadores – percebem que concorrentes estran-
geiros estão tomando seus empregos ou ostentando
vantagens indevidas sobre eles. Recentes sondagens
‘‘
‘‘
Mesmo que os países em desenvolvimento tenham um estilo de vida de classe média ainda mais simples
do que sua congênere nos países avançados, o
consumo nesses países é mais intensivo em energia.
Em 2006, por exemplo, o incremento do consumo de eletricidade chinês foi igual
ao total do consumo francês.
28 WORLD BANk. Cost of Pollution in China: economic estimates of physical damages. Executive Summary, FEB. 2007, p. xi.
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de opinião pública confirmam um aumento no senti-
mento protecionista no mundo desenvolvido. Confor-
me o sítio web World Public Opinion relata: “...em abril
de 2008, maiorias na maior parte dos países avançados
continuam a apoiar o sistema de livre comércio, mas,
nos últimos dois anos, houve uma diminuição no apoio
em 10 dos 18 países regularmente pesquisados.” 29
Segundo a mesma fonte, nos países do G-7, cerca de
57% dos entrevistados afirmavam que a globalização
estava avançando muito depressa. Relacionada com
este aspecto, havia uma inquietação ainda mais forte
de que os benefícios e os custos da expansão econô-
mica dos últimos anos não teriam sido compartilhados
de forma justa entre os países. Em 2006, a mesma son-
dagem revelara que só menos de um terço dos norte-
americanos e europeus consideravam que a globaliza-
ção era favorável aos seus respectivos países.
Essa reação popular contra a globalização decorre
em parte dos crescentes déficits comerciais bilaterais
dos EUA e da União Européia (EU), vistos erroneamen-
te como um sinal de perda de empregos para aquele
país. Com efeito, o déficit bilateral da China com os
EUA foi de US$ 256,2 bilhões em 2007, ao passo que
o déficit da União Européia com o país asiático foi de € 159,2 bilhões no mesmo ano. Tais níveis crescentes
de déficit dos dois maiores blocos comerciais do mun-
do com a China ganham com freqüência a mídia com
declarações do comissário de comércio europeu ou do
representante de comércio dos EUA (USTR) contra a so-
brevalorização da moeda chinesa e restrições ao inves-
timento ocidental na China. Dados os déficits comer-
ciais crescentes e a opinião pública negativa na Europa
e nos EUA sobre a globalização, aumentam os riscos de
retaliações protecionistas contra a China, já existindo
evidências de medidas concretas contra a crescente
influência da China e da Índia no comércio externo da
União Européia e dos EUA e o seu impacto sobre a eco-
nomia global.30
Em flagrante contraste com os seus homólogos
norte-americanos e europeus, cerca de metade dos en-
trevistados na região da ásia e Pacífico considera favo-
rávelmente a globalização, de acordo com a sondagem
Gallup Internacional, com 52% dizendo que ela é boa
para seus países. Dentre os 13 países pesquisados, os que
responderam de forma mais positiva foram Taiwan (78%)
e Vietnã (75%). Taiwan, juntamente com a Coréia do Sul,
Cingapura e Hong kong, foram os chamados “tigres asiá-
ticos”, cujas economias arrancaram nos anos 60 com base
nas exportações. Além dos países mencionados acima, o
Gallup Internacional pesquisou na China, Índia, Indoné-
sia, Japão, Malásia, Paquistão, Filipinas e Tailândia.31
‘‘
‘‘
A reação popular contra a globalização decorre em
parte dos crescentes déficits comerciais bilaterais dos EUA
e da União Européia, vistos erroneamente como um sinal de perda de empregos para
aquele país. O déficit bilateral da China com os EUA foi de US$ 256,2 bilhões em 2007,
ao passo que o déficit da União Européia com o país
asiático foi de € 159,2 bilhões no mesmo ano.
29 “Erosion of Support for Free Market System: Global Poll” disponível em: http://www.worldpublicopinion.org/pipa/pdf/apr08/Free_Markets_April08_pr.pdf, acesso em 15 nov. 2008.
30 Dados dos saldos comerciais dos EUA e União Européia com a China obtidos de órgãos oficiais do Governo norte-americano (U.S. Census Bureau) e da Comissão Européia na Internet.
31 Africans and Asians Tend to View Globalization Favorably; Europeans and Americans are More Skeptical (November 7, 2006), disponível em: http://www.worldpublicopinion.org/pipa/articles/btglobalizationtradera/273.php?nid=&id=&pnt=273&lb=btgl, acesso em 15 nov. 2008.
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A conclusão das sondagens de opinião internacio-
nais apontam para uma percepção de que as pessoas
nos países emergentes da ásia estão se aproveitando
dos benefícios da economia global, ao passo que os
trabalhadores norte-americanos e europeus têm cada
vez mais desconfiança sobre a globalização e o livre
comércio. Essa tendência é preocupante, pois, mesmo
que seja apenas uma percepção de perda, as repercus-
sões políticas da insatisfação popular nas democracias
liberais (sistema político que prevalece na maioria das
nações mais avançadas) pode resultar em reação pro-
tecionistas que ameaçam a estabilidade do sistema
econômico internacional aberto ao comércio. Caso
essa tendência venha a ocorrer, poderá comprometer
a continuidade do crescimento nos países emergentes,
os quais, apesar do aumento possível na sua demanda
interna, ainda continuarão, por muito tempo, depen-
dentes da demanda dos países avançados para garan-
tir seus níveis de prosperidade.
Conclusões
Nos séculos anteriores, o curso da história mundial
foi determinado em grande parte pelo que acontecia
em apenas algumas regiões, particularmente na Euro-
pa e na América do Norte (ou seja, o chamado «Ociden-
te»). Os demais continentes eram meros figurantes, so-
frendo influência dos centros do poder ocidental. Mas
hoje a luta pelo progresso e prosperidade, bem como
as questões da guerra e da paz, estão sendo cada vez
mais influenciadas por eventos que ocorrem em diver-
sos lugares e em maior grau do que no passado. A pre-
sente Era está sendo construída sobre uma economia e
uma sociedade verdadeiramente globais, alimentadas
pelo acelerado ritmo dos transportes, telecomunica-
ções e tecnologias da informação. A humanidade não
é mais dividida simplesmente em ricos ou pobres do
“Norte–Sul” ou do “Oriente–Ocidente”.
Os Estados Unidos e a Europa e demais nações in-
dustrializadas terão de chegar a um acordo sobre como
passar o centro de gravidade da economia mundial
para um mundo policêntrico. As implicações disso são
duplas. Por um lado, o Ocidente tem de perceber que,
para avançar a sua agenda de bens públicos globais,
particularmente em termos de combater as mudanças
climáticas, a pobreza, as doenças, o crime e o terroris-
mo e defender os direitos humanos, terá de envolver os
países emergentes como parceiros iguais. No entanto,
ao fazê-lo, deve proporcionar a esses países uma voz
nas instituições mundiais que seja proporcional ao seu
peso econômico relativo. O Ocidente deve estar prepa-
rado para quando esse momento chegar.
Os países emergentes, por outro lado, precisarão
agir de forma responsável no sistema internacional e,
para assumir responsabilidades de partes interessadas
no sistema de estados-nações e blocos, terão de renun-
ciar a medidas oportunistas que permitem ganhos de
curto prazo em troca de perspectivas de ganhos glo-
bais no longo prazo. Se esse dilema for resolvido com
sucesso, o mundo poderá caminhar para um século de
paz, estabilidade e prosperidade, onde todas as regiões
e países tenham possibilidades de êxito, sem que ne-
nhum fique alijado dos frutos do desenvolvimento.
Todavia, para que isso seja atingido existem pelo
menos três principais desafios a enfrentar: i) necessi-
dade de garantir um acordo mundial sobre mudanças
climáticas, a fim de evitar o risco de sobrevivência da
humanidade no futuro; ii) necessidade de um novo
acordo sobre as regras do jogo no comércio e nas finan-
ças, de modo a manter um sistema econômico multila-
teral aberto e eficiente, o que exigirá mais transparên-
cia e regulamentação; e iii) necessidade de assegurar
um reequilíbrio pacífico do poder econômico no nível
global, com a redistribuição do poder político pela re-
composição das representações nos principais organis-
mos internacionais como o Conselho de Segurança das
Nações Unidas (ONU), o G-7, o FMI, o Banco Mundial e
outras organizações. Torna-se indispensável, portanto,
uma reforma profunda nas instituições internacionais
para que possam refletir mais fielmente a nova confi-
guração de poder de países avançados e emergentes
no seio do sistema internacional.
José Nelson Bessa Maia
Economista filiado ao Corecon/DF, ex-secretário especial para assuntos internacionais do governo do estado do Ceará
(1995-2006), mestre em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e doutorando em Relações Internacionais no
Instituto de Relações Internacionais da (IREL/UnB).
No enfrentamento da crise, será preciso a “mão visível do Estado”?
Um breve histórico
No momento em que a economia mundial sofria
o impacto da Grande Depressão de 1929, que se es-
tendeu pela década de 30, o economista britânico
John Maynard keynes formulava a sua Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda, com idéias que con-
testavam o pensamento liberal, até então dominante,
defensor de um modelo de sociedade baseada em
mercados auto-regulados. Surgiam, então, as propostas
da revolução keynesiana. Tais propostas pregavam a in-
tervenção do Estado na vida econômica, com políticas
macroeconômicas ativas, que propunham solucionar
o problema do desemprego pela intervenção estatal,
desencorajando o entesouramento em proveito das
despesas produtivas, por meio da redução das taxas de
juros e do incremento dos investimentos públicos. São
de inspiração keynesiana o projeto da criação de um
Estado de Bem-Estar Social, o uso dos instrumentos de
planejamento econômico e o uso de políticas de pro-
moção do desenvolvimento.
Após 1945, a teoria keynesiana converteu-se em or-
todoxia, tanto para os economistas quanto para a maio-
ria dos políticos. A revolução keynesiana propiciou um
longo período de grande prosperidade mundial – “os
anos dourados”.
Com a crise do keynesianismo, a partir de meados
da década de 1970, a hegemonia do pensamento key-
nesiano perde força e ressurge o (neo)liberalismo. O
movimento neoliberal impõe aos países em desenvol-
vimento, a partir do “consenso de Washington” no final
dos anos 80, uma política de abertura da economia e
redução do Estado, com privatizações e transferências
crescentes para o setor privado, a responsabilidade
por Daniela Lima
O discurso keynesiano ganha força diante da crise econômica mundial, e as expectativas dos liberais foram colocadas à prova. Segundo especialistas, os mercados não são eficientes e auto-reguladores, e acreditam ser impres-cindível a participação do Estado para o bom funcionamento do mercado.
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No enfrentamento da crise, será preciso a “mão visível do Estado”?
pela oferta de serviços sociais. Os neoliberais acredita-
vam que, com a abertura da economia e a redução da
intervenção do Estado, o mercado garantiria a retoma-
da do desenvolvimento econômico. O fracasso do ne-
oliberalismo e a crise econômica atual alteram o pên-
dulo da controvérsia, no campo da política econômica,
entre keynesianos e liberais. A questão que se coloca é:
estamos presenciando a vitória teórica do keynesianis-
mo e o abandono da ideologia liberal?
O keynesianismo e a crise financeira atual
A crise econômica fortaleceu o discurso keynesiano
e as expectativas dos liberais foram colocadas à prova.
A idéia de que o mercado seria uma força auto-regu-
ladora e que, em função da concorrência, os recursos
econômicos seriam alocados da melhor maneira pos-
sível, está sendo combatida diante da crise financeira
mundial. Para Fernando Ferrari Filho, presidente da
Associação keynesiana Brasileira e professor da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os
mercados não são eficientes e auto-reguladores. E para
ele é pouco provável que os liberais, teóricos e práticos,
revejam suas posições. “Eles continuarão insistindo na
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idéia de que a atual crise ocorreu por causa da Fannie
Mae e Freddie Mac ou porque houve um processo de
moral hazard, assim como outras crises que estejam
para ocorrer, em um futuro, estarão associadas a argu-
mentos ad hocs, ex-posts etc”. E que, de acordo com o
economista, para que a “mão invisível” do mercado seja
operacionalizada, é imprescindível a “mão visível” do
Estado. Luiz Fernando de Paula, vice-presidente da As-
sociação keynesiana Brasileira e coordenador da pós-
graduação em Economia da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro (UERJ), acredita que hoje existe um
consenso de que a onda liberal acabou (pelo menos
no ciclo atual), e que há necessidade de novas regras,
regulamentações etc. “A própria política fiscal anticícli-
ca, antes demonizada, está hoje no centro da política
econômica. O grande desafio da economia será, a meu
juízo, quando sairmos da crise. Aí nos perguntaremos:
qual a política econômica mais apropriada para a pros-
peridade? O retorno ao Consenso de Washington? São
questões que deverão ser encaradas seriamente”, afir-
ma o economista.
Mas o economista e professor da Universidade de
Brasília (UnB), José Luis da Costa Oreiro, acredita que o
maniqueísmo liberal, inaugurado por F. Hayek na sua
obra “O Caminho da Servidão”, deseja construir um
mundo bipolar, no qual se defrontam duas forças pu-
ras e antagônicas, o liberalismo e o socialismo. “Dessa
forma, o capitalismo seria sinônimo de liberalismo. Essa
ilação é totalmente falsa, e apenas demonstra o total
desconhecimento que os liberais têm da história, da
sociologia e da filosofia política. Existem vários mode-
los de capitalismo, tal como nos lembrou recentemen-
te Alan Greenspan na sua autobiografia. A crise atual é,
sem dúvida nenhuma, a do modelo neoliberal e finan-
cista de capitalismo, baseado na desregulação financei-
ra, na destruição do Welfare State, na concentração de
renda e na falta de preocupação com o meio ambiente”,
afirma Oreiro.
Atualmente, pode-se afirmar que esta crise é de
um regime de acumulação financeirizado, no qual
as relações financeiras globais na economia foram se
tornando o motor do capitalismo. Sendo assim, o pro-
fessor da UERJ explica que, como o centro da crise é a
globalização financeira, sem dúvida um elemento vital
que estimulou a especulação foi a desregulamentação
financeira, tanto nos mercados domésticos quanto
nos mercados globais (entre países). Para o presiden-
te da Associação keynesiana, trata-se de uma crise no
Pode-se afirmar que esta crise é de um
regime de acumulação financeirizado, no qual as relações financeiras globais na economia foram se tornando o
motor do capitalismo.
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O mais célebre economista da primeira me-
tade do século 20, pioneiro da macroecono-
mia. Seus estudos sobre o emprego e o ciclo
econômico deitaram por terra os conceitos da
ortodoxia marginalista, e as políticas por ele su-
geridas conduziram a um novo relacionamento,
de intervenção, entre o Estado e o conjunto de
atividades econômicas de um país. As obras de
John Maynard Keynes (1883-1946) mostram
que suas preocupações estavam sempre ligadas
a questões práticas, a políticas de conjuntura. Ele
não parecia interessado em reconstruir a teoria
econômica a partir da análise do valor, mas em
verificar por que motivo as teses marginalistas,
nas quais fora educado, conduziam a políticas
econômicas inconsistentes. A sua principal obra
A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, pu-
blicado em 1936, abalou as inovações clássicas
do liberalismo econômico, mostrando a inexis-
tência do princípio do equilíbrio automático na
economia capitalista. O impacto político do livro
foi grande, mas retardado: apenas no pós-guerra
a receita keynesiana foi apreendida e cuidadosa-
mente aplicada pelos países capitalistas. O pleno
emprego tornou-se um objetivo explícito, e os
instrumentos de política econômica do Estado
foram postos em ação. Em 1944, keynes repre-
sentou a Inglaterra na Conferência Monetária de
Bretton Woods, que criou o Fundo Monetário In-
ternacional (FMI). Na ocasião, propôs o abando-
no do padrão-ouro e a estabilização internacio-
nal da moeda, mas o apego dos Estados Unidos
a este sistema monetário tornou impraticável a
aplicação das medidas por ele preconizadas.
Quem foi Keynes?
sistema capitalista de cunho liberal. “Em termos gerais,
partindo-se do pressuposto de que nos anos 1980, nos
países desenvolvidos, e anos 1990, nos países emer-
gentes, o sistema capitalista experimentou transfor-
mações radicais de cunho essencialmente liberal, tais
como reformas patrimoniais, previdenciária e trabalhis-
ta, liberalizações comercial e financeira, desregulações
dos mercados, livre mobilidade de capitais etc, não há
como dissociá-los. Especificamente, a crise está relacio-
nada à ausência de marcos regulatórios no sistema fi-
nanceiro, que resultou em excessos de alavancagem do
referido sistema, dinamizado globalmente pelo desen-
volvimento dos contratos de derivativos e securitiza-
ção de crédito”, afirma.
“Somos todos Keynesianos”
Parafraseando Friedman, Luiz de Paula afirma não
ter a prepotência de dizer: “olha, nós avisamos que a
crise iria ocorrer. Mas acho que o discurso keynesiano
ganha força em função de sua ênfase teórica de que a
economia de mercado é inerentemente instável e que
são as forças monetárias e financeiras que determinam
o ritmo da economia”.
keynes e Minsky colocavam que a economia capi-
talista não era permanentemente instável e sujeita a
crises freqüentes devido à existência de convenções,
instituições, regulamentações, políticas etc. Ferrari Filho
também está certo de que a crise passa por keynes e
Minsky. “Indo ao encontro de uma das idéias de key-
nes em sua Teoria Geral, a desregulação dos mercados
financeiros, a partir dos anos 1990, criou as condições
para a operacionalização de um “cassino financeiro glo-
bal. Em relação a Minsky, tanto práticas de alavancagem
arriscada de indivíduos, firmas e bancos quanto a de-
terioração das margens de segurança dos contratos
dinamizaram a fragilização financeira do sistema. Ade-
mais, as políticas fiscal e monetária contracíclicas im-
plementadas pelas principais autoridades econômicas
mundiais e a proposição do G-20 de reestruturação do
sistema monetário internacional deixam claro que, na
prática, keynes foi resgatado. Eu diria que atualmen-
te todos são keynesianos: uns por convicção e outros,
infelizmente, por oportunismo”, conclui.
Fonte: Dicionario de Economia do século XXI, de Paulo Sandroni
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Artigo
Introdução
O mercado de trabalho do Distrito Federal possui
características que o dota de uma estrutura e uma di-
nâmica ímpar em relação aos demais espaços metro-
politanos brasileiros. A centralidade do setor público
na economia e no mercado de trabalho local, a elevada
participação do trabalho por conta própria e a acentua-
da desigualdade de rendimentos são alguns dos traços
marcantes dignos de nota.
Identificar o comportamento do mercado de traba-
lho do Distrito Federal ao longo dos anos 1990 e da pre-
sente década, ressaltando as novas tendências da evolu-
ção recente e seus impactos sobre a estrutura trabalhista
local, constitui o principal objetivo do presente artigo.
Para tanto, dividiu-se o texto em mais duas partes, exce-
tuando essa breve introdução. Na primeira parte, analisa-
se a evolução do mercado de trabalho do DF, com des-
taque para a dinâmica ocupacional e setorial, trajetória
dos rendimentos e do desemprego. Por fim, a título de
conclusão, apresenta-se uma sugestão de agenda que
poderá nortear a elaboração de novas pesquisas.
O mercado de trabalho do DF nas décadas de
1990 e 2000
As análises do mercado de trabalho do Distrito
Federal não podem relegar a um plano secundário o
fato de a estrutura produtiva local ter se desenvolvido
de forma bastante concentrada ao longo do tempo.
Como reflexo, configurou-se um mercado de trabalho
extremamente dependente das atividades econômicas
ligadas à administração pública, aos serviços e ao co-
mércio, além da relação muito incipiente com o setor
industrial1.
Isso de um lado. De outro, é recomendável ter sempre
em mente as mudanças macroeconômicas do período
recente. É bom lembrar que os anos 1990 interrompe-
ram a trajetória alicerçada em altas taxas de crescimen-
to econômico e na forte regulação estatal da economia
(no contexto do regime autoritário). No limiar da déca-
da passada, portanto, em face do esgotamento de tal
modelo, precipitado pela crise da dívida dos anos 1980,
adotou-se, de forma acrítica e subordinada, o arcabouço
liberalizante reinante nos mercados internacionais na
Estrutura e Dinâmica do Mercado de Trabalho do
Distrito FederalMarcelo Lopes de SouzaRosane de Almeida Maia
Tiago Oliveira
1 De acordo com o IBGE, em 2006, o segmento da administração, saúde e educação pública respondia por 54,84% do PIB do Distrito Federal. Em contraposição, naquele ano, a indústria de transformação era responsável por somente 1,71% do PIB local.
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expectativa de recuperar o dinamismo perdido.
Em verdade, as mudanças levadas a cabo ao longo
da década passada ficaram bastante aquém dos obje-
tivos declarados. A montagem de uma arquitetura eco-
nômico-financeira com vista ao combate inflacionário
e à reorientação no modelo de desenvolvimento, cen-
trado em elevadas taxas de juros, desregulamentação
dos mercados, privatizações e câmbio sobrevalorizado,
sancionou um regime de baixo crescimento econômi-
co e altas taxas de desemprego que aprofundaram o
quadro brasileiro de desigualdades sociais alarmantes.
Com a desvalorização cambial em 1999, uma guina-
da na gestão macroeconômica foi implementada, sob
os auspícios do Fundo Monetário Internacional – FMI,
sem, contudo, abrir mão de aprofundar o processo de
inserção neoliberal do país à ordem global vigente. No
plano interno, além da mudança do regime cambial,
uma política fiscal mais dura, assentada na geração de
superávits primários, associada a um programa de me-
tas inflacionárias, inaugurou outra fase para a análise
do desempenho da economia brasileira.
Entretanto, a retomada de um ciclo de crescimen-
to só se fez sentir a partir de 2004. A partir desse ano
foi possível observar a recuperação mais consistente
da atividade econômica, especialmente do mercado
de trabalho, impulsionada pelo cenário externo extre-
mamente favorável e, paralelamente, pela adoção de
algumas medidas importantes, como a diminuição das
taxas de juros, a ampliação do crédito, a institucionali-
zação de uma política nacional de valorização do salá-
rio mínimo e a massificação dos programas de transfe-
rência de renda. O crescimento mais acelerado do PIB e
da massa salarial, a redução das taxas de desemprego
acompanhada de um processo de formalização das re-
lações trabalhistas e uma melhor distribuição da renda
do trabalho revelam uma combinação mais propícia ao
desenvolvimento com inclusão social.
No Distrito Federal, o mercado de trabalho acompa-
nhou, em maior ou menor medida, a depender do as-
pecto analisado, as mudanças recentes do mercado de
trabalho e da economia brasileira. Entre 1992 e 1999, de
cada 100 pessoas que ingressaram na PEA, aproxima-
damente 45 o fizeram na condição de desempregado.
Com isso, a taxa de desemprego aumentou de 15,4%
em 1992 para 22,1% sete anos mais tarde, ao passo
que a participação dos ocupados na PEA declinou 6,7
pontos percentuais nesse mesmo intervalo de tempo
(Tabela 1).
Analisando o comportamento da ocupação, obser-
va-se que, de cada 100 postos de trabalho gerados no
Distrito Federal entre 1992 e 1999, aproximadamente
71 eram assalariados, o que não foi suficiente para sus-
tentar a participação deste contingente do mercado de
trabalho na PEA. Interessante notar ainda que o ritmo
de crescimento do trabalho por conta própria (1,8%), in-
ferior ao aumento da PEA (3,8%) e da ocupação (2,6%),
implicou a redução da participação relativa desta forma
de inserção produtiva, tanto na PEA quanto no universo
‘‘
‘‘
A partir de 2004 foi possível observar a recuperação
mais consistente da atividade econômica,
especialmente do mercado de trabalho, impulsionada
pelo cenário externo extremamente favorável
e, paralelamente, pela adoção de algumas
medidas importantes, como a diminuição das taxas
de juros, a ampliação do crédito, a institucionalização
de uma política nacional de valorização do salário mínimo e a massificação
dos programas de transferência de renda.
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a
dos trabalhadores ocupados (Tabela 1). Este movimen-
to pode ser visto como uma peculiaridade do mercado
de trabalho local, uma vez que foi justamente o traba-
lho por conta própria, aliado ao trabalho doméstico e ao
emprego sem carteira assinada, que ajudaram a evitar
que o desemprego alcançasse proporções ainda mais
alarmantes no Brasil dos anos 19902.
Dentre os assalariados, constata-se que, no Distrito
Federal, entre 1992 e 1999, o setor privado registrou um
ritmo de crescimento da ocupação mais acelerado do
que o setor público: 4,1% contra 1,3%, respectivamente.
Ainda assim o peso do emprego público na PEA do Dis-
trito Federal era de 22,6% em 1999, um percentual que
pode ser considerado elevado quando comparado às
demais regiões metropolitanas brasileiras pesquisadas
pela PED3. Atendo-se ao setor privado, observa-se que
o crescimento do emprego sem registro em carteira
foi superior ao do emprego com registro (4,7% e 3,9%,
respectivamente). Não obstante, no intervalo de tem-
po analisado, de cada 100 empregos criados no setor
privado, em média, 75 possuíam registro em carteira,
ao passo que 25 trabalhavam à margem da legislação
trabalhista vigente no País (Tabela 1).
Já no período entre 1999 e 2008, em oposição ao
período anterior, o mercado de trabalho do Distrito Fe-
deral apresentou sinais de recuperação sob vários as-
pectos, acompanhando as mudanças vividas pela eco-
nomia brasileira. Em primeiro lugar, cabe destacar que
de cada 100 pessoas que ingressaram no mercado de
trabalho no período em tela, 97 conseguiram alguma
ocupação e somente 3 ficaram desempregadas. Assim
sendo, o nível de ocupação e a taxa de desemprego, em
2008, atingiram, respectivamente, 83,4% e 16,6%. Vale
lembrar que, em 1999, o nível de ocupação era de qua-
se 78% e a taxa de desemprego situava-se ao redor de
22% (Tabela 2).
Tabela 1Distrito Federal: Evolução da população economicamente ativa, da condição de ocupação e do desemprego entre 1992 e 1999.
Itens 1992 1999Variação absoluta
anual Variação relativa
anual
PEA733.181 (100%)
952.644(100%)
31.352 3,8%
PEA ocupada 84,6% 77,9% 17.388 2,6%
Conta própria 11,9% 10,4% 1.626 1,8%
Domésticos 10,0% 9,0% 1.853 2,4%
Outras posições 6,9% 6,5% 1.600 2,9%
AssalariadoSetor PrivadoCom registroSem registroSetor público
55,8%28,9%22,7%6,2%
26,8%
52,0%29,4%22,8%6,6%
22,6%
12.3139.7357.2722.4632.662
2,8%4,1%3,9%4,7%1,3%
Desempregado 15,4% 22,1% 13.964 9,3%
Fonte: PED-DF – convênios Setrab-GDF, Seade-SP e Dieese.
Obs: Quaisquer pequenas diferenças nos dados apresentados devem-se a arredondamentos.
2 BALTAR, P. Estrutura econômica e emprego urbano na década de 1990. In: PRONI, M. W.; HENRIQUE, W. (Org.). Traba-lho, mercado e sociedade: o Brasil nos anos 90. São Paulo: Editora Unesp; Campinas: Instituto de Economia da Unicamp, 2003.
3 De acordo com a PED, em 1999, o peso do emprego público, comparativamente à PEA, nas regiões metropolitana, era de 10,4% em Belo Hori-zonte; 9,7% em Porto Alegre; 10,5% em Recife; 11,1% em Salvador e 6,9% em São Paulo.
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Em termos qualitativos, o mercado de trabalho local
apresentou sinais contraditórios entre 1999 e 2008. Se, de
um lado, o emprego assalariado cresceu de forma mais
acelerada do que o verificado no período precedente
(4,9% contra 2,8%, respectivamente), com destaque para
os contratos de trabalho com registro em carteira (7,3%);
por outro lado, o assalariamento sem o amparo da lei
continuou crescendo em ritmo elevado (5,3%), além do
trabalho por conta própria ter experimentado uma ex-
pansão ainda mais rápida (6,5%) (Tabela 2).
Nesse período, o crescimento do emprego público
foi um pouco superior ao registrado entre 1992 e 1999,
sendo o setor privado, de longe, o principal responsável
pela geração de postos de trabalho assalariados no Dis-
trito Federal entre 1999 e 2008 (Tabela 2).
A menor dependência do mercado de trabalho do
Distrito Federal em relação ao setor público pode ser
atestada ainda pela análise das informações apresen-
tadas nas Tabelas 3 e 4. Nelas, vê-se que apesar de o se-
tor público ostentar nos dois períodos analisados uma
taxa de crescimento da ocupação positiva, esta vem
ocorrendo de forma relativamente estável e sempre
abaixo do ritmo de crescimento da PEA ocupada. Entre
1992 e 1999, a administração pública no Distrito Fede-
ral reduziu a sua participação na ocupação de 20,2%
para 19,5%. No período subseqüente, a queda foi ain-
da mais expressiva, alcançando em 2008 o patamar de
16,1%. Não obstante, a administração pública, ao lado
do comércio, é o segundo maior empregador do Distri-
to Federal, atrás somente do setor de serviços e bem à
frente da indústria e da construção civil.
Como é sabido, o cenário econômico dos anos 1990
foi bastante desfavorável para a produção e o emprego,
uma vez que dois dos principais preços da economia –
a taxa de juros e de câmbio – prejudicaram a expansão
do crédito (e, conseqüentemente, dos investimentos) e
das exportações, e, portanto, o crescimento econômi-
co. Nesse contexto, é natural que a indústria, a constru-
ção civil e o comércio tenham registrado uma retração
relativa no número de postos de trabalho na década
passada. A construção civil, em particular, contabilizou
uma redução em termos absolutos no contingente de
trabalhadores ligados ao setor (Tabela 3). A desvalori-
zação cambial e a trajetória descendente das taxas de
juros básica da economia (Selic) iniciada em meados
de 2003 deram novos estímulos a estes setores que,
Tabela 2Distrito Federal: Evolução da população economicamente ativa, da condição de ocupação e do desemprego entre 1999 e 2000.
Itens 1999 2008Variação absoluta
anualVariação relativa
anual
PEA952.644 (100%)
1.341.078(100%)
43.159 3,9%
PEA ocupada 77,9% 83,4% 41.862 4,7%
Conta própria 10,4% 13,0% 8.427 6,5%
Domésticos 9,0% 7,6% 1.714 1,8%
Outras posições 6,5% 6,1% 2.199 3,1%
AssalariadoSetor PrivadoCom registroSem registroSetor público
52,0%29,4%22,8%6,6%
22,6%
56,8%38,1%30,6%7,5%
18,7%
29.52325.58921.4334.1563.928
4,9%6,9%7,3%5,3%1,7%
Desempregado 22,1% 16,6% 1.297 0,6%
Fonte: PED-DF – convênios Setrab-GDF, Seade-SP e Dieese.
Obs: Quaisquer pequenas diferenças nos dados apresentados devem-se a arredondamentos.
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acompanhado do crescimento da massa salarial, pu-
deram voltar a ampliar a oferta de postos de trabalho
(Tabela 4).
Com relação ao setor de serviços, percebe-se que
sua importância como o principal setor da atividade
econômica em termos de absorção de mão-de-obra
consolidou-se ao longo dos anos 1990 e dos 2000. So-
mente na presente década, de cada 100 ocupações ge-
radas, cerca de 60 foram neste setor.
Assim sendo, percebe-se que o mercado de trabalho
do Distrito Federal ainda encontra-se muito dependen-
te do setor de serviços, da administração pública e do
Tabela 4Distrito Federal: Evolução da ocupação segundo setor de atividade entre 1999 e 2008.
Itens 1999 2008Variação absoluta
anualVariação relativa
anual
PEA ocupada742.239(100%)
1.118.998(100%)
41.862 4,7%
Indústria 3,9% 4,1% 1.900 5,2%
Construção civil 4,1% 4,5% 2.278 5,9%
Comércio 14,5% 16,0% 7.984 5,8%
Serviços 57,2% 58,0% 25.004 4,8%
Administração Pública 19,5% 16,1% 4.000 2,5%
Outros setores 0,9% 1,1% 682 7,8%
Fonte: PED-DF – convênios Setrab-GDF, Seade-SP e Dieese.
Obs: Quaisquer pequenas diferenças nos dados apresentados devem-se a arredondamentos.
Tabela 3Distrito Federal: Evolução da ocupação segundo setor de atividade entre 1992 e 1999.
Itens 1992 1999Variação absoluta
anual Variação relativa
anual
PEA ocupada620.524(100%)
742.239(100%)
17.388 2,6%
Indústria 4,3% 3,9% 392 1,4%
Construção civil 11,9% 10,4% 1.626 1,8%
Comércio 15,0% 14,5% 2.067 2,1%
Serviços 53,7% 57,2% 13.032 3,5%
Administração Pública 20,2% 19,5% 2.776 2,1%
Outros setores 1,4% 0,9% -291 -3,9%
Fonte: PED-DF – convênios Setrab-GDF, Seade-SP e Dieese.
Obs: Quaisquer pequenas diferenças nos dados apresentados devem-se a arredondamentos.
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Tabela 5Distrito Federal: Evolução da ocupação segundo setor de atividade de serviços entre 1992 e 1999.
Itens 1992 1999Variação absoluta
anual Variação relativa
anual
Ocupados nos serviços333.058(100%)
424.279(100%)
13.032 3,5%
Oficina 3,6% 3,2% 242 1,9%
Reparação 10,6% 7,8% -329 -1,0%
Transportes 6,8% 5,8% 273 1,2%
Especializado 5,2% 7,1% 1.790 8,0%
Creditício 6,1% 4,7% -67 -0,3%
Alimentação 7,9% 8,5% 1.400 4,6%
Educação 12,2% 12,9% 1.989 4,3%
Saúde 7,8% 8,5% 1.450 4,8%
Auxiliares 2,8% 3,3% 701 6,3%
Serviços Domésticos 22,0% 20,3% 1.850 2,4%
Serviços Pessoais 2,6% 3,5% 866 7,9%
Serviços Comunitários 2,9% 4,2% 1.157 9,2%
Outros Serviços* 9,5% 10,3% 1.713 4,7%
Fonte: PED-DF – convênios Setrab-GDF, Seade-SP e DieeseE.
Obs: Quaisquer pequenas diferenças nos dados apresentados devem-se a arredondamentos.
* Serviços de comunicação; diversões, radiodifusão e teledifusão; comércio e adm. de valores imobiliário e de imóveis;
serviços de utilidade pública; e outros serviços.
comércio, enquanto que a construção civil e a indústria
de transformação possuem uma importância secundá-
ria. O fato é que as mudanças em curso desde a década
passada pouco contribuíram para alterar esse quadro.
Da análise do comportamento dos serviços, cons-
tata-se que, entre 1992 e 1999, o crescimento do setor
foi sustentado, principalmente, pelos serviços comuni-
tários (9,2%), especializados (8,0%) e pessoais (7,9%),
muito embora os serviços domésticos ainda tenham
permanecido como principal empregador do setor: 2
em cada 10 ocupados nos serviços exerciam, em 1999,
atividades domésticas (Tabela 5).
Por outro lado, no período em tela, tanto o segmen-
to de reparação (-329, por ano) quanto o ramo credití-
cio (-67, por ano), assinalaram uma supressão, em ter-
mos absolutos, de postos de trabalho (Tabela 5).
Entre 1999 e 2008, por sua vez, o setor de serviços
cresceu de forma ainda mais expressiva: 4,8% contra
3,5% do período anterior. Tal crescimento alicerçou-
se, fundamentalmente, na excelente performance dos
serviços auxiliares (17,8%), nos serviços pessoais (9,4%)
e, em menor medida, no ramo alimentício (5,6%) e no
agregado outros serviços (5,5%). Juntos, estes setores
responderam por 52 de cada 100 postos de trabalho
criados nos serviços. Na outra ponta, apresentaram
crescimentos bem mais modestos os serviços domésti-
cos (1,8%), reparação (2,7%) e transportes (2,7%).
Os salários no mercado de trabalho do Distrito
Federal acompanharam a tendência nacional. Primei-
ramente, percebe-se que a estabilização dos preços a
partir de meados de 1994 trouxe consigo benefícios
salariais não desprezíveis para o conjunto dos traba-
lhadores. Entre 1992 e 1995, por exemplo, os ocupa-
dos contabilizaram uma expansão dos rendimentos
de aproximadamente 7,4% acima da inflação, saindo
de R$ 1.699 para R$ 1.824. Nesse mesmo intervalo de
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tempo, o principal destaque foi a ampliação do poder
de compra dos trabalhadores autônomos, com um ga-
nho real de quase 25,0% (Tabela 7).
Entretanto, a evolução real dos rendimentos na se-
gunda metade da década passada apresentou resulta-
dos diametralmente opostos ao verificado entre 1992
e 1995. A manutenção das taxas de juros entre as maio-
res do mundo combinada com uma sobrevalorização
da moeda nacional, entre outros fatores, minaram a
capacidade de investimento privado fazendo com que
as taxas de desemprego explodissem. No setor público
o enorme esforço fiscal com vista à rolagem da dívida
pública, alimentado pelas exorbitantes taxas de juros,
também deixou pouca margem de manobra para a
ampliação dos investimentos públicos.
Além disso, a ausência de uma política de elevação
dos salários de base da economia dificultou sobrema-
neira o processo de expansão dos salários na econo-
mia brasileira e acentuou ainda mais a concentração
de renda. Na defensiva, o movimento sindical viu seu
poder de barganha reduzido significativamente.
Ao final da década passada, o resultado, portanto,
não poderia ter sido outro: em termos reais, os rendi-
mentos dos ocupados registraram um recuo superior
a 5,0%, atingindo, em 2000, o patamar de R$ 1.729. No
mesmo sentido, os assalariados contabilizaram um de-
créscimo dos rendimentos em quase 10%, refletindo
a queda verificada tanto no setor privado quanto no
setor público. No entanto, os trabalhadores autônomos
foram os mais prejudicados, assinalando, no ano 2000,
um rendimento médio real quase 20,0% inferior ao vi-
gente em 1995 (Tabela 7).
A Tabela 7 mostra ainda que a tendência baixista
dos salários no Distrito Federal aprofundou-se entre
2000 e 2003. A partir daí, no rastro de um crescimento
econômico mais robusto, como já foi mencionado an-
teriormente, os salários voltam a contabilizar taxas de
crescimento superior à inflação. Entre 2003 e 2008, o
Tabela 6Distrito Federal: Evolução da ocupação segundo setor de atividade de serviços entre 1999 e 2008.
Itens 1999 2008Variação absoluta
anual Variação relativa
anual
Ocupados nos serviços424.279(100%)
649.314(100%)
25.004 4,8%
Oficina 3,2% 3,2% 796 4,8%
Reparação 7,8% 6,5% 1.009 2,7%
Transportes 5,8% 4,8% 722 2,7%
Especializado 7,1% 6,9% 1.685 4,7%
Creditício 4,7% 4,7% 1.190 4,9%
Alimentação 8,5% 9,1% 2.539 5,6%
Educação 12,9% 11,5% 2.224 3,5%
Saúde 8,5% 8,5% 2.106 4,8%
Auxiliares 3,3% 9,5% 5.312 17,8%
Serviços Domésticos 20,3% 15,6% 1.714 1,8%
Serviços Pessoais 3,5% 5,1% 2.019 9,4%
Serviços Comunitários 4,2% 3,6% 662 3,3%
Outros Serviços* 10,3% 10,9% 3.026 5,5%
Fonte: PED-DF – convênios Setrab-GDF, Seade-SP e Dieese.
Obs: Quaisquer pequenas diferenças nos dados apresentados devem-se a arredondamentos.
* Serviços de comunicação; diversões, radiodifusão e teledifusão; comércio e adm. de valores imobiliário e de imóveis;
serviços de utilidade pública; e outros serviços.
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Tabela 7
Distrito Federal: Rendimento* médio real por posição na ocupação nos períodos selecionados entre 1992 e 2008
R$
Posição na ocupaçãoAno
1992 1995 2000 2003 2008
Ocupados 1.699 1.824 1.729 1.485 1.729
Assalariados 1.997 2.116 1.908 1.675 1.988
Setor Privado 1.095 1.128 1.069 924 1.005
Setor Público 2.962 3.214 3.039 2.893 4.150
Autônomos 980 1.222 983 796 880
* Em reais. Valores atualizados até novembro de 2008.
rendimento médio real dos ocupados aumenta apro-
ximadamente 16,4% e dos assalariados, 18,7%. Nesse
último caso, o crescimento mais expressivo ficou por
conta do rendimento dos trabalhadores do setor públi-
co (43,4%), uma vez que o rendimento no setor privado
apresentou uma elevação bem mais modesta (8,8%).
Os autônomos, por seu turno, registraram em 2008 um
rendimento médio em termos reais 10,6% superior ao
verificado em 2003 (Tabela 7).
Interessante notar, entretanto, que a recuperação
recente dos salários no mercado de trabalho do Distri-
to Federal não foi o suficiente para retornar ao patamar
salarial vigente em 1995, exceto no caso dos trabalha-
dores do setor público. A título ilustrativo, cabe citar
que o rendimento médio real dos ocupados em 2008
representava cerca de 95,0% daquele verificado em
1995 (Tabela 7).
À Guisa de Conclusão: uma Proposta de Agenda
Futura de Pesquisas
O mercado de trabalho no Distrito Federal se dis-
tingue das demais Regiões Metropolitanas brasileiras
pesquisadas pela Pesquisa de Emprego e Desemprego
– PED devido a sua estrutura ocupacional, que apre-
senta especificidades dignas de notas, dentre elas: uma
participação significativa da administração pública na
ocupação total, uma expressiva concentração de renda
entre setores de atividade e regiões administrativas e
uma dinâmica ocupacional determinada pelo setor de
serviços, imprimindo características típicas das chama-
das economias “terciarizadas”.
Nesse sentido, cumpre investigar com mais profun-
didade, nas pesquisas a serem realizadas nos próximos
anos, os seguintes aspectos do mercado de trabalho
local:
MULHERES – Desde 1992, quando se iniciou a PED
no Distrito Federal, o mercado de trabalho passou por
grandes transformações decorrentes, principalmente,
da forte presença das mulheres, cuja taxa de partici-
pação cresceu a um ritmo muito superior ao verifica-
do para os homens. A maior participação das mulheres
no mercado de trabalho pode estar associada a vários
fatores, dentre eles à queda do rendimento familiar
e ao próprio perfil do mercado de trabalho do DF, no
qual se constata a reduzida participação da indústria
4 MARQUES, L. A.; IBARRA, A. O mercado de trabalho no DF entre 1992 e 2004. Revista de Conjuntura, Corecon DF, ano 6, n. 21, p. 11-16, jan./mar. 2005.
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de transformação, além da maior escolaridade da mão-
de-obra feminina em relação à de outras metrópoles
brasileiras4. Entender os fatores que influenciam esse
comportamento e as implicações sobre a demanda por
serviços públicos parece ser de extrema importância
para os formuladores de políticas locais.
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – Entre 1992 e 2004 o
forte ajuste sobre o setor público provocou uma sen-
sível redução da participação da administração pública
na ocupação total. Já nos anos seguintes houve um in-
cremento do emprego, insuficiente, entretanto, para re-
cuperar sua posição anterior na estrutura ocupacional.
Contudo, o rendimento real da administração pública
cresceu a taxas superiores às da iniciativa privada impli-
cando um fortalecimento da massa salarial responsável
por grande parte da dinamização recente da economia
do Distrito Federal. Portanto, mediante estudos compa-
rativos com estruturas ocupacionais distintas, há que
se buscar entender melhor os impactos decorrentes
das medidas de política econômica associadas à con-
juntura econômica, notadamente as políticas de crédi-
to (especialmente o consignado), fiscais e monetárias,
considerando-se as características do emprego e da
negociação coletiva na administração pública.
TRABALHADORES POR CONTA PRÓPRIA – O com-
portamento do nível de emprego dos trabalhadores
por conta própria parece ser pró-cíclico no contexto do
mercado de trabalho distrital. Isso significa dizer que,
no período de desaceleração econômica da década
de 1990, a evolução dessas ocupações foi tímida e não
chegou a compensar a decaída do emprego formal,
implicando maior desemprego para os trabalhadores
brasilienses. Em sentido contrário, a partir da recupera-
ção observada dos anos 2000, o ritmo de crescimento
do emprego dos autônomos passa também a acelerar,
o que pode estar associado ao incremento da terceiri-
zação e à maior necessidade de contratação dos servi-
ços de trabalhadores por conta própria pelas empresas.
Esse fato, que parece paradoxal com as análises reali-
zadas para as demais regiões metropolitanas do País,
é de crucial interesse para o aprofundamento do en-
tendimento acerca das características e da dinâmica do
mercado de trabalho local.
DESIGUALDADE DE RENDIMENTOS – As principais
informações estatísticas sobre mercado de trabalho
mostram que o Distrito Federal ostenta a pior distribui-
ção de renda do País. Como se produziram e se repro-
duzem essas desigualdades ao longo do tempo consti-
tui um importante tema para estudos futuros.
OUTROS TEMAS – desemprego juvenil, questão ra-
cial e discriminação no mercado de trabalho, informa-
lidade e precariedade (emprego em setores de baixa
produtividade, reconhecida instabilidade laboral, bai-
xas remunerações e falta de acesso à seguridade so-
cial). Segundo as estatísticas conhecidas, nas regiões
metropolitanas, pelo menos 40% dos ocupados traba-
lham por conta própria, no serviço doméstico ou em
micro e pequenas empresas de baixa produtividade e
renda – problemas estruturais do País que exigem um
aprofundamento analítico que leve em conta a compo-
sição específica e as potencialidades dos mercados de
trabalhos locais para a sua superação.
Tiago OliveiraGraduado em Economia pela Universidade Federal da Bahia
– UFBA e possui mestrado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Atualmente, é
analista da Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED do Distrito Federal.
Marcelo Lopes de SouzaGraduado em Economia pela Universidade
Federal de Uberlândia – UFU e possui mestrado em Economia pela mesma instituição. Atualmente, é técnico do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – Dieese do Distrito Federal.
Rosane de Almeida MaiaGraduada em Economia pela Universidade de Brasília – UnB,
possui mestrado em Economia pela Universidade de São Paulo – USP e doutorado em Economia Social e do Trabalho pela Univer-
sidade Estadual de Campinas – Unicamp. Atualmente, é assessora da direção técnica do Departamento Intersindical de Estatística de
Estudos Sócio-Econômicos – Dieese.
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janeiro / março / 2009
Introdução
Este artigo utiliza o instrumental da Teoria dos Jo-
gos para analisar um cenário em que empresas tomam
decisões de preço de venda em uma licitação na mo-
dalidade Convite. Por outro ângulo, será examinado um
jogo licitatório, no qual o administrador público irá ad-
quirir um bem.
A decisão de um jogador é função da expectativa
de reação dos seus oponentes. O ambiente institucio-
nal é conformado pelas regras que emanam da Lei nº
8.666/93.
Essencialmente, um licitante pensa na provável ati-
tude dos outros licitantes. Antes de uma empresa fixar
seu preço para oferecê-lo ao administrador, o fator cru-
cial é a compreensão do ponto de vista do adversário
– de que modo ele irá agir. A dedução do que ele fará é
que define sua estratégia de preço. Note: os agentes só
dispõem de uma jogada.
Pretende-se demonstrar que o Convite é uma mo-
dalidade licitatória que tende a ser desvantajosa ao ad-
ministrador público.
Comentários iniciais
A Lei nº 8.666/93 estabelece que o Convite será reali-
zado entre interessados do ramo de que trata o objeto da
licitação escolhidos e convidados em número mínimo de
três pela Administração (parágrafo 3º do artigo 22).
O administrador público define quem será convida-
do, dentre os possíveis interessados, cadastrados ou não.
Para tanto, providencia a divulgação por meio de afixa-
ção de cópia do Convite em quadro de avisos do órgão
ou entidade, localizado em lugar de ampla divulgação.
É possível a participação de interessados que não
tenham sido formalmente convidados, mas que sejam
do ramo do objeto licitado, desde que cadastrados no
órgão ou entidade licitadora ou no Sistema de Cadas-
tramento Unificado de Fornecedores – Sicaf. Esses inte-
ressados devem solicitar o convite com antecedência
de até 24 horas da apresentação das propostas. Para
que a contratação seja possível, são necessárias pelo
menos três propostas válidas, isto é, que atendam a to-
das as exigências do ato convocatório.
Assim, quando for decidir a própria estratégia, ne-
nhum jogador saberá exatamente o que outro jogador
fará, embora a racionalidade esteja presente em qual-
quer decisão. Há apenas uma jogada para cada agente.
Isto é, não há repetição de lances.
Análise
Neste jogo de duopólio, uma empresa raciocina
como líder, e se comporta de forma dominante. As
Nash desfavorável ao administrador público:
o jogo do ConviteJosé Henrique Fernandes Borges
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demais reconhecem tacitamente essa liderança, e for-
mam um bloco seguidor.
Estratégia A do líder. Decisão agressiva. Ele paga
mais do que o orçamento do administrador, supondo
que os demais licitantes adotarão uma estratégia mo-
deradamente agressiva. Deseja vencer. Sabe que os
demais concorrentes o vêem como líder. Elabora uma
estratégia Maximin: oferece um preço supostamente
mais atrativo que as seguidoras, porém na perspectiva
de que as propostas irão gravitar em torno do valor do
orçamento.
Estratégia A dos demais licitantes. Movimento mo-
deradamente agressivo. Estão dispostos a pagar um
pouco mais do que o orçamento apresentado pela
Administração, supondo que o líder adotará uma es-
tratégia agressiva. Desejam vencer, mas supõem que
têm pouca chance. Reconhecem a supremacia do líder.
Também reconhecem que o orçamento pressiona as
propostas para cima, mas para valores próximos do or-
çado. Prevalece a estratégia Maxmin, pois na presunção
de uma reação conservadora do líder, minimizariam
uma perda representada pela diferença do preço ofe-
recido por eles e o orçado pelo administrador.
O líder compreende que os oponentes o reconhe-
cem como tal e então a adoção de uma estratégia con-
servadora será suficiente: ele minimiza o desembolso
que terá. Os concorrentes imaginam algo similar, só
que do ponto de vista de seguidores: eles adotam a
estratégia conservadora para minimizar o pagamento
na expectativa de que podem ganhar se o líder hesitar.
Obtém-se um equilíbrio Maxmim em (C,c). Tal resultado
é um equilíbrio de Nash estável porque nenhum agen-
te pode melhorar ao se deslocar para outras posições, o
que caracteriza um ótimo de Pareto.
Para a Administração, o melhor desfecho seria (A,
a), que significa um equilíbrio de Nash instável porque
não se configura em ótimo de Pareto. Nesse contexto,
paradoxalmente para o Serviço Público, a situação dos
jogadores pode melhorar ao se deslocar para as estra-
tégias (C,c). Observe que essas são Pareto eficientes no
contexto do jogo. E são um equilíbrio de Nash. Logo,
aspectos normativos inerentes ao Convite geram mo-
vimentos estratégicos que resultam em um equilíbrio
estável desvantajoso para o administrador público.
Algebricamente:
A = PL – Ω
a = pd – Ω
C = P’L – Ω
c = p’d – Ω
Legenda:
PL: preço agressivo oferecido pelo líder.
Matriz de estratégias
Demais licitantes (Estratégias)
Licitante líder
(Estratégias)
Agressiva (a) Conservadora (c)
Agressiva (A) (A. a) (A, c)
Conservadora (C) (C, a) (C, c)
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pd: preço levemente agressivo dos demais licitantes,
calcado na expectativa de o líder adotar estratégia
agressiva;
P’L: preço moderadamente conservador adotado
pelo líder, na hipótese de as demais empresas ado-
tarem estratégia levemente agressiva;
p’d: preço conservador adotado pelas demais em-
presas, supondo que a líder implementará estraté-
gia moderadamente conservadora;
Ω: valor do orçamento estipulado pelo administra-
dor público para adquirir determinado bem;
Por álgebra linear, elimina-se Ω que ocorre em todas
as expressões. E, de acordo com o comportamento
estratégico definido, tem-se:
PL > P’
L > p
d > p’
d . Além disso, o preço moderada-
mente conservador apresentado pelo líder (P’L)
tende para um valor próximo do orçamento do
administrador (Ω), contudo, superior ao preço con-
servador fixado pelos demais licitantes. Assim, ob-
tém-se o ponto (P’L, p’
d), gerado pelos movimentos
conservadores e que produzem um equilíbrio de
Nash estável em estratégias Maximin.
Conclusão
Desse modo, o jogo do Convite conduz a um par de
estratégias ótimas para as empresas licitantes: a opção
moderadamente conservadora do líder é estável, dada
a escolha dos demais licitantes. Estes, por sua vez, deci-
dem pelo conservadorismo, na pressuposição do mo-
vimento estratégico do líder. Nenhum agente possui
estímulo para se deslocar desse ponto, no qual se maxi-
mizam as menores perdas (Maxmin). Como os jogado-
res não podem melhorar em situação diferente, tem-se
um equilíbrio de Nash com ótimo de Pareto. É um des-
fecho que tende para o valor do orçamento apresenta-
do pela Administração, pois não há incentivos para se
oferecer preços muito acima do orçado.
Portanto, o resultado é desfavorável ao administra-
dor público. Tal desvantagem se torna mais adversa ao
se levar em conta que o Legislador, ao conceber a Lei nº
8.666/93, pretendeu aumentar a competição para que
a Administração obtivesse propostas financeiras mais
vantajosas.
José Henrique Fernandes BorgesEconomista, especialista em administração
financeira e analista de finanças e controle da Controladoria-Geral da União - CGU.
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Segundo o Ipea (2009), “entre 1970 e 2007 foram
contabilizadas 124 crises bancárias sistêmicas, 208 cri-
ses cambiais e 63 episódios de não-pagamento de dívi-
da soberana. Esses indicadores representam três crises
bancárias, cinco crises cambiais e quase dois eventos
de não - pagamento de dívida soberana por ano”.
A atual crise financeira internacional, entretanto,
assumiu dimensões que pode levar a uma grande de-
pressão, caso os governos não adotem medidas fortes
de intervenção na economia. Não há mais controvérsia
sobre os riscos e a intensidade da crise. Poucos analis-
tas a qualificam como mais uma crise passageira, que
deixará poucas cicatrizes. A grande maioria avalia que a
crise poderá assumir dimensões comparáveis às da de-
pressão de 1929 – que levou à falência 9 mil bancos e
85 mil empresas; reduziu 85% o valor das ações (1929-
1932); queda salarial de 60%; e desemprego de 13 mi-
lhões, somente nos EUA. A fome aliada ao desemprego,
mais o abandono social, marcaram os EUA da primeira
metade dos anos 1930 (PRADO, 2009).
A recuperação da economia americana ocorre
com o New Deal – política intervencionista colocada
em prática pelo presidente Roosevelt em1933, influen-
ciada pelas idéias do economista inglês John Maynard
keynes. Consistiu num programa de reformas econô-
micas que incluía frentes de trabalho, controle de cré-
dito, financiamento das exportações, fixação do salário
mínimo, limite à jornada de trabalho e ampliação da
previdência social etc. A obras públicas tornaram prio-
ridade e espalharam-se pelo país: construíram-se 2 mil
500 hospitais, 6 mil escolas e 13 mil centros de lazer,
além de hidrelétricas, rodovias etc. Em 1937, os EUA já
haviam reduzido desemprego à metade e com aumen-
to de 70% na renda. O resultado político foi a sua reelei-
ção e de seu sucessor, garantindo 20 anos de governos
democratas.
Os cenários mais pessimistas para a crise atual,
entretanto, não têm indicadores consistentes, nem é
possível avaliar a evolução da crise com algum grau de
probabilidade forte.
No caso brasileiro, a avaliação da crise evoluiu de
um otimismo exagerado, de que a economia não seria
atingida pela crise, ao “pânico” do final de 2008 e iní-
cio de 2009, após o tombo de novembro e dezembro.
A questão é que não há clareza, ainda, de qual o im-
pacto e como será a evolução da reação da economia
brasileira. O “efeito China” pode levar à compensação
das perdas em outros mercados e a um rápido reergui-
mento da economia, além da força do mercado interno,
ampliado pela estratégia de desenvolvimento baseada
no “modelo de consumo de massa” e operado pelas po-
líticas sociais e de transferência de renda.
Este artigo analisa o processo de contaminação da
economia brasileira pela crise financeira internacional
A reação da Economia Brasileira aos impactos da crise
financeira internacionalJosé Luiz Pagnussat
Artigo
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janeiro / março / 2009
e a reação da economia neste início de ano. Inicialmen-
te o artigo apresenta a evolução da crise financeira in-
ternacional e da percepção da dimensão e desdobra-
mentos da crise, subestimada, num primeiro momento,
por todos os governos e instituições. As sucessivas
reavaliações, com previsões cada vez mais pessimis-
tas, resultaram em intervenção crescente do Estado
com bilionários pacotes de ajuda financeira aos seto-
res em dificuldades. Aparentemente a reunião do G20,
em Londres, foi o marco de reversão desse pessimismo
crescente. A segunda parte procura analisar o compor-
tamento da economia brasileira neste início de ano e
os indícios de retomada do crescimento econômico e
sua consistência, considerando os dados de produção
da indústria e da agricultura.
Evolução da crise
Para efeito didático podemos identificar três está-
gios da crise: o do estouro da bolha imobiliária; a crise
dos bancos; e o contágio do lado real da economia.
O primeiro estágio da crise financeira internacional
ocorre nos EUA, em 2007, com a derrocada do mercado
de hipotecas subprime e a elevação da inadimplência
nos empréstimos imobiliários. Com a inadimplência, as
garantias e seguros envolvidos com as hipotecas passa-
ram a ser exercidos e o contágio da crise se dissemina.
Os sinais de desequilíbrio vinham se intensificando
com a elevação dos juros americanos, que era de 1% a.a
em janeiro de 2004, quando passa a subir; alcança 2,25%,
em janeiro de 2005; e atinge o pico de 5,25%, no período
de junho de 2006 a agosto de 2007, quando inverte a
tendência de alta. Era evidente a incapacidade de paga-
mento de parcela dos mutuários, que não possuíam ren-
da compatível com as prestações das hipotecas.
O risco de crise sistêmica já era uma idéia que ga-
nhava força, desde o início de 2007, com as notícias de
que as perdas seriam elevadas no mercado de subpri-
me e que poderiam comprometer a saúde financeira
de grandes bancos e fundos de investimentos, além de
companhias de valores mobiliários e seguradoras.
O marco desse primeiro estágio da crise ocorre
quando, a partir de setembro de 2007, o FED (Federal
Reserve) passa a reduzir os juros, mas não consegue
impedir o estouro da bolha imobiliária. As sucessivas
reduções nos juros americanos fazem cair de 5,25% em
setembro de 2007, para 1% em outubro de 2008 e 0% a
0,25% em dezembro.
A globalização financeira faz a crise se espalhar, em
2008. A potencialização da crise decorre das operações
de securitização dos créditos. Com a securitização, os
créditos em carteira são convertidos em títulos nego-
ciáveis no mercado, revendidos para investidores de
todo o mundo. Os papéis lastreados em hipotecas se
1 O G20 – grupo que reúne representantes de países ricos e dos principais emergentes. Inclui os países do G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Itália e Rússia), a União Européia e mais 11 nações emergentes (Brasil, Argentina, México, China, Índia, Austrália, Indonésia, Arábia Saudita, áfrica do Sul, Coréia do Sul e Turquia). Na reunião de Londres, a Espanha participou como convidada.
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Os sinais de desequilíbrio vinham se intensificando com a elevação dos juros americanos, que era de
1% a.a em janeiro de 2004, quando passa a subir; alcança
2,25%, em janeiro de 2005; e atinge o pico de 5,25%, no período de junho de 2006 a agosto de 2007, quando
inverte a tendência de alta. Era evidente a incapacidade
de pagamento de parcela dos mutuários, que não possuíam
renda compatível com as prestações das hipotecas.
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espalharam pelas carteiras de vários fundos e bancos
de todos os continentes. Mas não se conheciam os nú-
meros nem os possíveis prejuízos.
A confirmação das perdas sofridas por bancos
envolvidos com as hipotecas subprime traz grande
desconfiança nos mercados financeiros, provocando
uma crise de liquidez que se espalha e atinge todas as
economias.
O segundo estágio da crise financeira internacional
foi o da insolvência de grandes bancos. A crise se agra-
va quando as instituições chave da ciranda financeira
contabilizam grandes prejuízos e não conseguem se
equilibrar, necessitando da intervenção do governo
para não quebrar. O sistema bancário do mundo desen-
volvido quebrou. Entretanto, bancos grandes não po-
dem ir à falência, pois desencadeiam um efeito dominó,
tornando muito grande o risco de crise sistêmica. Esta
é a lição não apreendida pelo governo conservador de
George W. Bush.
Ocorre a falência em cadeia de grandes bancos de
investimento, de companhias de financiamento imobi-
liário, de grandes seguradoras, etc., ampliando-se a cri-
se de confiança que faz contrair o crédito e produz um
forte aperto de liquidez.
O valor de mercado dos grandes bancos dos pa-
íses ricos desaba a menos de 20%, entre janeiro de
2007 e março de 2008. Dez grandes bancos americanos
e europeus têm uma redução no valor de mercado de
mais de um trilhão de dólares.
Todos os 5 maiores bancos de investimento ame-
ricanos foram arrasados pela crise. O Bear Stearn foi
comprado, ainda no primeiro semestre de 2008, pelo J.
P. Morgan, graças a um aporte de recursos do governo
americano de US$ 25 bilhões. O Merrill Lynch foi vendi-
do ao Bank of America. O Goldman Sachs e o Morgan
Stanley optaram por uma maior regulação e transfor-
maram-se em bancos de varejo.
Com a falência do Lehman Brothers a crise se inten-
sifica a partir de setembro de 2008. A decisão do go-
verno americano de não intervir e deixar quebrar um
grande banco provoca um verdadeiro estouro da bolha
financeira. O banco estava inundado com papéis imo-
biliários e excessivamente alavancado (cerca de 30 ve-
zes), vai a falência em 14 de setembro, sendo que na se-
mana anterior havia perdido cerca de 75% de seu valor.
O vacilo alerta as autoridades econômicas mun-
diais, em particular dos EUA, sobre a gravidade da crise.
Os governos dos países desenvolvidos passam a atu-
ar ativamente com medidas fortes, que incluem mega
pacotes de socorro às instituições financeiras, redução
drástica dos juros e ampliação do crédito, para evitar
que a crise financeira se aprofunde resultando em uma
grande e prolongada depressão, com efeitos desastro-
sos para a economia e o conjunto da sociedade.
No dia seguinte à falência do Lehman Brothers,
ocorre o salvamento da seguradora AIG (American In-
ternational Group), nos EUA, e sucessivos pacotes bilio-
nários (US$ 700 bilhões de imediato) para dar solvência
aos bancos. O FED se transforma em banco de socorro
para os bancos comerciais e de investimento. Seguem-
se a redução coordenada de juros pelos bancos cen-
trais e diversas intervenções de governos europeus
para socorro dos seus bancos. Há uma implosão do Tra-
tado de Maastricht, marco significativo no processo de
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Com a falência do Lehman Brothers a crise se intensifica
a partir de setembro de 2008. A decisão do governo americano de não intervir e deixar quebrar um grande
banco provoca um verdadeiro estouro da bolha financeira. O banco estava inundado com papéis imobiliários e
excessivamente alavancado (cerca de 30 vezes), vai a
falência em 14 de setembro, sendo que na semana anterior
havia perdido cerca de 75% de seu valor.
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unificação européia, que fixa o teto da dívida pública
em 60% do PIB. Os governos abandonam os princípios
de “responsabilidade fiscal” e os parâmetros da política
monetária. A prioridade é a sobrevivência do sistema
financeiro e a reversão do processo recessivo que se
encaminhava para uma grande depressão econômica.
O terceiro estágio é o impacto da crise no lado real
da economia. A crise alcança o lado real da economia
de forma definitiva quando a redução das taxas de ju-
ros nos EUA e Europa já não funcionam mais e as eco-
nomias ampliam a recessão.
Para o Ipea (2009) os efeitos se tornaram mais con-
tundentes e recessivos, a partir do final de 2008, e “o
ano de 2009 começa com a previsão de decréscimo do
comércio mundial, o primeiro desde 1982 e possivel-
mente o mais profundo desde a Grande Depressão”.
A escassez de crédito e a drástica redução da de-
manda de bens duráveis, como automóveis e eletroe-
letrônicos, fez com que setores produtivos importantes
entrassem em processo de insolvência, demandando
a intervenção dos governos para não quebrar. O caso
mais marcante é o da indústria automobilística ame-
ricana, que mesmo com o apoio do governo não há
como reverter o desequilíbrio de algumas montadoras.
O plano de resgate das montadoras (GM e Chrysler)
aprovado em dezembro teve que ser ampliado levan-
do a intervenção do Estado na GM.
Os pacotes de ajuda, que inicialmente se destina-
vam a compra de créditos podres das instituições fi-
nanceiras em dificuldades, passam a prestar socorro ao
setor produtivo e a focalizar melhor as pessoas, os pe-
quenos empreendimentos e a garantia dos empregos.
Evolução do pessimismo
A avaliação inicial da dimensão e desdobramentos
da crise foi subestimada por todos os governos e ins-
tituições. Esse otimismo evolui para o “pânico”, dada a
Tabela 1: Crescimento real do PIB mundial e evolução das projeções para 2009 (em %)
Países e regiões% de Crescimento do PIB
Projeção de nov/08
Projeção de jan/09
Projeção de abr/09
2007 2008 2009 2009 2009
PIB Mundial 5,2 3,2 2,2 0,5 -1,3
Países desenvolvidos 2,7 0,9 -0,3 -2,0 -3,8
Estados Unidos 2,0 1,1 -0,7 -1,6 -2,8
Zona do Euro 2,7 0,9 -0,5 -2,0 -4,2
Alemanha 2,5 1,3 -0,8 -2,5 -5,6
França 2,1 0,7 -0,5 -1,9 -3.0
Itália 1,5 -0,2 -0,6 -2,1 -4,4
Espanha 3,7 1,2 -0,7 -1,7 -3,0
Japão 2,4 -0,3 -0,2 -2,6 -6,2
Reino Unido 3,0 0,7 -1,3 -2,8 -4,1
Canadá 2,7 0,5 0,3 -1,2 -2.5
Países em desenvolvimento 8,3 6,1 5,1 3,3 1,6
América Latina 5,7 51 2,5 1,1 -1,5
Brasil 5,7 5,8 3,0 1,8 -1,3
México 3,3 1,3 0,9 -0,3 -3,7
ásia 10,6 7,7 7,1 5,5 4,8
China 13,0 9,0 8,5 6,7 6.5
Índia 9,3 7,3 6,3 5,1 4,5
Europa Central e Oriental 5,4 2,9 2,5 -0,4 -3,7
Rússia 8,1 6,2 3,5 -0,7 -6,0
áfrica 6,2 5,2 4,7 3,4 2,0
Fonte: FMI, World Economic Outlook – nov/2008, jan/2009 e abr/2009
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ineficiência das ações de política econômica e a propa-
gação da crise, com o rápido contágio sobre as princi-
pais praças financeiras do mundo e os crescentes im-
pactos sobre o sistema produtivo.
Os dados da Tabela 1 ilustram essa mudança radi-
cal de humor dos agentes econômicos internacionais.
Os dados mostram a evolução das projeções de cresci-
mento econômico divulgados pelo FMI (Fundo Mone-
tário Internacional). A avaliação do Fundo, em novem-
bro de 2008, era de que a economia mundial iria crescer
2,2% em 2009, em janeiro essa avaliação caiu para 0,5%,
e em abril -1,3%.
A evolução das projeções mostra a incerteza dos
governos e instituições sobre os desdobramentos da
crise. Em abril, na verdade já havia uma reversão do
pessimismo, não captado pelo FMI em razão da defa-
sagem entre o levantamento dos dados e a análise dos
seus técnicos. O dado de abril, do Fundo, reflete o hu-
mor internacional de quase dois meses antes.
O marco para a reversão do pessimismo foi a reu-
nião do G20 em Londres, em março, que se consoli-
da como o principal fórum político, onde as decisões
econômicas mundiais são tomadas. O G8 perdeu, cla-
ramente, a sua importância, com o início da mudança
do eixo geopolítico em favor dos BRICs (Brasil, Rússia,
China e Índia).
A configuração resultante da reunião foi, além da
consolidação do fórum político para as grandes decisões
mundiais, mas que não tem estrutura para a implemen-
tação das ações, o fortalecimento do FMI e Banco Mun-
dial. O Fundo e o Banco têm estruturas institucionais
fortes, com quadros técnicos qualificados, e capacidade
de implementação ou supervisão das ações. A amplia-
ção dos recursos do Fundo e a (re)definição do seu papel
para o enfrentamento da crise têm grande repercussão
entre os agentes econômicos no mundo todo.
Outro marco da reunião foi a unidade de intenções
e a disposição para o enfrentamento da crise, com des-
taque para a participação ativa da China e da Rússia.
Esta, em função do seu poder na ONU. A boa estréia do
presidente Barak Obama dos EUA, sua atuação ativa e a
liderança assumida são fatores que ajudam a explicar o
otimismo pós-reunião.
Entre as medidas anunciadas, se destacam: o refor-
ço das instituições financeiras – com a ampliação do
crédito, dos recursos do FMI e para apoiar o DES (Di-
reito Especial de Saques); o reforço da supervisão e
regulamentação financeira – com o estabelecimento
de um novo órgão, o FSB (Conselho de Estabilidade Fi-
nanceira), para supervisão das instituições financeiras
e agências de classificação de riscos; o esforço fiscal
para restaurar o crescimento e o mercado de trabalho
– a intenção é criar ou manter milhões de empregos e
elevar a produção mundial em 4%, com a mobilização
de cerca de US$ 5 trilhões, até o fim de 2010; e a resis-
tência ao protecionismo e promoção do comércio e do
investimento internacionais – o grupo assumiu a clara
intenção de “policiar” a ampliação do protecionismo e
concluir a Rodada Doha.
Merece destaque, ainda, entre outras medidas pro-
postas, o fim dos paraísos fiscais. Os paraísos fiscais são
o “câncer” da ciranda financeira internacional. A lava-
gem de dinheiro do crime organizado, da corrupção e
a evasão fiscal e de divisas sofrerão um forte impacto
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A evolução das projeções mostra a incerteza dos
governos e instituições sobre os desdobramentos da crise. Em abril, na verdade já havia
uma reversão do pessimismo, não captado pelo FMI em
razão da defasagem entre o levantamento dos dados e a análise dos seus técnicos. O dado de abril, do Fundo,
reflete o humor internacional de quase dois meses antes.
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se a medida for efetivada. A divulgação da listra negra
elaborada pela OCDE (Organização para a Cooperação
e o Desenvolvimento Econômico), que indica os países
apontados como não - cooperativos na troca de infor-
mações fiscais, e a pressão internacional podem grada-
tivamente tornar mais transparente a movimentação
financeira internacional. A verdade é que os ricos não
pagam imposto em lugar nenhum do mundo e a cor-
rupção é a norma na maioria dos países. Reverter esse
quadro é um passo importante para o avanço da eco-
nomia mundial.
A contaminação da economia brasileira pela crise
A contaminação da economia brasileira pela crise
financeira internacional ocorreu de forma mais inten-
sa em razão da redução da oferta de crédito, principal-
mente, no final de 2008, resultando em problemas de
capital de giro em setores intensivos em crédito como
a agricultura, exportações, mercado interbancário,
construção civil, bens de consumo duráveis, bens de
capital e infra-estrutura.
O segundo impacto foi a redução da demanda in-
ternacional pelos produtos brasileiros, em especial, os
do setor mineral e bens duráveis, e a queda generaliza-
da nos preços das commodities, dada a retração da eco-
nomia mundial. Contribuiu, ainda, para o agravamento
da crise na economia brasileira, a mudança de expec-
tativas com a ampliação do pessimismo dos agentes
econômicos, o aumento do grau de incerteza e de risco
nos diversos setores produtivos. A crise se intensifica
com o estouro das “bolhas brasileiras”: a bolha no mer-
cado acionário, dada a excessiva valorização das ações
na Bovespa, e a bolha no mercado de derivativos. Esta
bolha determinou perdas significativas para as empre-
sas que estavam apostando na desvalorização do dólar
em favor da moeda nacional.
A bolha de derivativos resultou da tendência, que
prevalecia até antes da crise, de desvalorização do dólar.
Isto fez com que as empresas exportadoras apostassem
no dólar futuro a favor da moeda doméstica, promoven-
do vendas antecipadas dos contratos de câmbio.
Segundo Paulani (2009), a prolongada desvaloriza-
ção cambial, apesar do esforço do Banco Central com
intervenções no mercado presente e futuro do dólar,
garantiu ganhos significativos nesses contratos de de-
rivativos, incentivando essas empresas a fazer dessas
apostas um negócio em si mesmo, de modo a compen-
sar o que perdiam com a apreciação do câmbio, via ga-
nho com derivativos. O advento da crise inverte o jogo
e provoca grandes perdas para essas empresas, com
a rápida e acentuada desvalorização cambial. O Real
perdeu um terço do seu valor, revertendo a excessiva
e prolongada valorização. O movimento no câmbio foi
rápido e se estabilizou com o dólar valendo 50% a mais
do que antes da crise. Entretanto, o retorno dos inves-
tidores estrangeiros deverá pressionar novamente a
valorização do real diante do dólar.
O impacto da crise no mercado de ativos financeiros
foi, também, muito forte. O índice Bovespa caiu mais de
50%, provocando grandes perdas para os investidores.
A escassez de crédito e a saída de capitais, para cobrir
prejuízos dos investidores, ajudam a explicar as perdas.
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A contaminação da economia brasileira pela
crise financeira internacional ocorreu de forma mais
intensa em razão da redução da oferta de crédito,
principalmente, no final de 2008, resultando em
problemas de capital de giro em setores intensivos em
crédito como a agricultura, exportações, mercado
interbancário, construção civil, bens de consumo
duráveis, bens de capital e infraestrutura.
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No Brasil, entretanto, não houve perda de confian-
ça no sistema financeiro, como ocorreu nas economias
avançadas. O sistema financeiro brasileiro, em especial
o público, vem se mantendo ileso ante os grandes pre-
juízos apresentados pelos principais bancos do mundo.
Para Paulani (2009), o impacto da crise financeira
no “lado real” da economia brasileira ocorre pela retra-
ção da demanda agregada (C+I+G+X). Primeiro, pela
redução do consumo das famílias (C), dada a redução
do crédito e da liquidez dos consumidores. A crise de
liquidez foi muito acentuada, apesar do esforço do go-
verno com a injeção de capital em instituições financei-
ras e a ampliação das linhas de financiamento públicas.
O crédito vinha sendo a mola propulsora do consumo,
com a crise, as linhas de financiamento ao consumidor
ficaram restritas e com juros muito elevados. Por outro
lado, a piora das expectativas tende a reduzir os investi-
mentos e o emprego, reduzindo ainda mais a renda dis-
ponível para o consumo. A conseqüência é a redução
da demanda, em especial dos bens duráveis.
Segundo, pela redução dos Investimentos (I), que
resulta da mudança de expectativas dos empresários
e da redução da oferta de crédito interno. Parte do cré-
dito tinha como fonte o sistema financeiro internacio-
nal, que tem perdas elevadas com a crise e sofre forte
retração de liquidez, além da queda de confiança e o
aumento do risco. Esses fatores em conjunto fazem de-
saparecer o crédito externo. A escassez de crédito ele-
va o seu preço. Com os juros maiores e as expectativas
deprimidas em relação ao futuro, os investimentos se
retraem substancialmente.
Terceiro, a redução da demanda internacional pe-
los nossos produtos. As exportações brasileiras caem
substancialmente com a crise. O primeiro impacto foi
derivado da escassez de crédito, que fez desaparecer
o crédito às exportações, nos meses que se seguiram
ao estouro da bolha, provocando um severo declínio
do comércio, com redução tanto no volume exporta-
do como nas importações. Parte desse declínio inicial é
devido às dificuldades de operação, que se normalizam
com a volta do crédito.
O que fez cair, de forma consiste, as quantidades
demandadas das exportações brasileiras foi o desa-
quecimento da economia mundial, em particular dos
principais parceiros – no caso os EUA, a UE e Merco-
sul, além do parceiro emergente: a China, que num
primeiro momento reduz a importação de matérias
- primas. Por outro lado, a crise fez cair, também, de
forma geral os preços dos produtos no mercado inter-
nacional, pelo acirramento da concorrência e a dimi-
nuição da demanda interna de cada país, em especial
o preço das commodities, que representam parcela
importante das exportações brasileiras. O resultado
foi uma queda acentuada nas exportações, amplian-
do a pressão sobre a balança comercial e o déficit em
transações correntes, que já vinha apresentando ten-
dência de queda acentuada nos últimos anos, com a
valorização cambial de até então.
Em síntese, a crise provocou uma retração da De-
manda Agregada, com a redução do Consumo (C), dos
Investimentos (I) e das Exportações (X), resultando
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As exportações brasileiras caem substancialmente com a crise. O primeiro
impacto foi derivado da escassez de crédito, que
fez desaparecer o crédito às exportações, nos meses
que se seguiram ao estouro da bolha, provocando um
severo declínio do comércio, com redução tanto no
volume exportado como nas importações. Parte desse
declínio inicial é devido às dificuldades de operação, que se normalizam com a
volta do crédito.
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janeiro / março / 2009
Gráfico 1: Produção Física Industrial – variação % mensal
Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Mensal
em desaceleração do crescimento do produto e do
emprego.
Retomada do crescimento econômico
A crise freou o ciclo de crescimento econômico bra-
sileiro que se instalou desde 2004. As medidas adota-
das pelo governo brasileiro surtiram efeitos positivos,
estimulando os setores em dificuldade e contornando
a escassez pontual de crédito. Ajudaram a contrabalan-
çar o contexto desfavorável, evitando o pior.
A economia brasileira já mostra sinais consistentes
de reação, nestes quatro primeiros meses do ano, após
a grande queda do último trimestre de 2008, em espe-
cial em novembro e dezembro. Os dados divulgados
para o primeiro trimestre e alguns indicadores do mês
de abril mostram que a economia retoma a trajetória
do crescimento na maioria dos setores.
Os indícios são de que a crise econômica no Brasil
pode ser um verdadeiro “fogo de palha”, considerando
a resistência inicial da economia à crise financeira in-
ternacional, que só atinge efetivamente o Brasil na fase
aguda da escassez de crédito, e a rapidez na retomada
do crescimento econômico.
Os fundamentos econômicos não se alteraram com
a crise: as reservas internacionais se mantêm elevadas,
acima de 200 bilhões de dólares; o país continua rece-
bendo grande volume de investimento direto; o comér-
cio é superavitário, agora com o câmbio mais próximo
do equilíbrio; as contas do governo estão equilibradas,
apesar do esforço fiscal para apoiar setores com difi-
culdades, e a dívida pública mantém a trajetória decli-
nante, com custos financeiros menores, dada a redução
dos juros; a inflação é declinante e os juros poderão ser
reduzidos ainda mais; e a percepção internacional é de
que o país é um “porto seguro” para os investidores.
Entretanto, não é possível prever os próximos des-
dobramentos da crise internacional e os seus reflexos
sobre a economia brasileira. O importante é que o Bra-
sil ainda tem bons fundamentos econômicos e poderá
adotar fortes políticas anticíclicas.
A Indústria se recupera lentamente
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) a produção industrial brasileira em março
cresceu 0,7%, o terceiro mês com alta consecutiva, após
o grande tombo em novembro e dezembro de 2008,
conforme se observa no Gráfico 1. Em relação a março
de 2008, houve recuo (-10,0%) e, para o dado trimes-
tral, o recuo foi ainda maior (-14,7%) comparando-se o
primeiro trimestre de 2009 com igual período do ano
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anterior. A perda acumulada nos dois últimos trimes-
tres (-16,7%) é a mais elevada desde o segundo trimes-
tre de 1990 (-19,8%).
No mês de março, 11 das 27 atividades industriais
pesquisadas pelo IBGE tiveram alta (série ajustada), li-
deradas, mais uma vez, pelo setor de veículos automo-
tores (7,0%), que acumula crescimento de 56,5% em
relação a dezembro de 2008. Entretanto, em abril, mes-
mo com a prorrogação da redução do IPI, as vendas de
automóveis tiveram um recuo de 10,3% e a produção
caiu 15,8%, segundo dados da Anfavea (Associação Na-
cional dos Fabricantes de Veículos Automotores). As ex-
portações de veículos tiveram uma retração de 50,3%,
nos quatro primeiros meses de 2009, perante igual in-
tervalo do ano passado.
Vale destacar, também, o crescimento da indústria
farmacêutica (9,0%); outros produtos químicos (3,5%);
equipamentos de instrumentação médico-hospitalar e
óticos (20,8%); e indústrias extrativas (2,4%).
Por outro lado, as principais pressões negativas vie-
ram de outros equipamentos de transporte (-15,2%);
máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-15,3%); má-
quinas e equipamentos (-3,3%); e material eletrônico e
equipamentos de comunicações (-5,5%). No corte por
categorias de uso, os bens de consumo ostentaram as
taxas mais elevadas: consumo durável (1,7%) e consu-
mo semi e não - duráveis (0,7%). O setor de bens in-
termediários (0,3%) manteve-se em patamar próximo
ao do mês anterior, enquanto a produção de bens de
capital (- 6,3%) foi a única que registrou queda nessa
comparação pelo segundo mês consecutivo, acumu-
lando perda de 13,0% nesse período.
Os dados da pesquisa da CNI (Confederação Na-
cional da Indústria) mostram, também, sinais de recu-
peração da atividade industrial, no primeiro trimestre
do ano. O faturamento real da indústria de transfor-
mação cresceu 18,7% em março em relação a feve-
reiro. O crescimento foi observado em todos os 19
setores pesquisados e ocorre pelo segundo mês con-
secutivo. Outro sinal positivo captado pela pesquisa
da CNI foi o crescimento, pela primeira vez em cinco
meses, da Utilização da Capacidade Instalada (UCI). Ela
passou de 78,2% em fevereiro para 78,7% em março.
O índice dessazonalizado mostra que 15 dos 19 seto-
res pesquisados tiveram aumento da UCI em março
ante fevereiro. No entanto, todos os indicadores ain-
da apresentam queda na comparação entre o primei-
ro trimestre de 2009 com o último trimestre do ano
passado.
A Agricultura tem a segunda maior safra de
grãos da história
A produção agrícola também recuou com a crise. A
safra de verão está em plena colheita e apresenta re-
dução de 6,8% na produção de grãos. Mesmo com a
queda na produção, a safra de grãos 2008/2009 deve
ser a 2ª maior da história.
O plantio da safra de verão, no final de 2008, ocor-
reu em pleno estouro da bolha financeira, no auge da
escassez de crédito, com os preços dos produtos des-
pencando, com custos elevados e com um cenário de
incerteza, com alto grau de pessimismo, sobre o merca-
do dos produtos no período da colheita.
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Os dados da pesquisa da CNI mostram, também,
sinais de recuperação da atividade industrial, no
primeiro trimestre do ano. O faturamento real da indústria
de transformação cresceu 18,7% em março em relação
a fevereiro. O crescimento foi observado em todos os 19 setores pesquisados e ocorre pelo segundo mês consecutivo. Outro sinal
positivo captado pela pesquisa foi o crescimento da Utilização
da Capacidade Instalada.
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janeiro / março / 2009
No final do ano (período de plantio da safra), os pre-
ços de alguns produtos estavam nos seus piores níveis
da história. Após terem atingido picos estratosféricos
no meio do ano de 2008, que levou alguns analistas
apressados – autoridades governamentais, dirigentes
de instituições multilaterais, como FAO (Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) e
ONU (Organização das Nações Unidas) – a projetarem
preços elevados para os alimentos por muitos anos.
Os custos de produção não haviam recuado, ainda.
O preço dos fertilizantes, que representa mais de 50%
do custo de produção da maioria dos Grãos, estava
mais de 100% acima dos preços do início da década. Os
principais grãos tiveram uma piora na relação de troca
entre produto e fertilizantes entre 60% e 200%, com-
parando-se a dados de 2002 e de novembro de 2008.
Pelos dados observam-se que, no caso de milho e trigo,
os agricultores necessitam 3 vezes mais produto para
comprar o mesmo fertilizante; soja (2,5 vezes mais pro-
duto); algodão (2,4 vezes mais produto); feijão (2 vezes
mais); e arroz irrigado (1,6 vezes mais). A conseqüência
é a redução no uso de insumos modernos, em especial,
fertilizantes. Segundo dados da Conab, houve redução
de 8,86% na entrega de fertilizantes em 2008, em rela-
ção ao ano anterior.
A escassez de crédito, nas suas diversas formas, im-
pedia a compra de insumos para o plantio da safra de
parcela dos agricultores menos capitalizados. A amplia-
ção do crédito pelo governo foi tempestiva e impediu
que o pior ocorresse.
Considerando tais dificuldades, enfrentadas pelos
agricultores na época de plantio (outubro/novembro),
os números divulgados para a safra 2008/2009 são posi-
tivos. A queda na produção é pequena e tem como base
de comparação a superssafra ocorrida em 2008, quando
a agropecuária foi a atividade que mais cresceu (5,8%) e
a produção de grãos foi de 146,0 milhões de toneladas,
com crescimento de quase 10% em relação a 2007.
A área a ser colhida, segundo o IBGE, será de 47,3 mi-
lhões de hectares permanecendo praticamente inalte-
rada em relação à área colhida do ano passado. As três
principais culturas (grãos), soja, milho e arroz, que res-
pondem por 81,5% da área plantada apresentam, em
relação ao ano anterior, uma variação de +1,7%,-3,6%
e +2,6%, respectivamente. No que se refere à produção
destes três produtos, apenas o arroz registra variação
positiva de 6,2%. Já para a soja e o milho a previsão é
de retração da produção em 3,9% e 13,2%, respectiva-
mente. Estes dados mostram o impacto da redução do
uso de fertilizantes na produtividade. A soja tem redu-
ção da produção mesmo com aumento da área planta-
da e o milho tem queda mais acentuada na produção.
A redução da área de milho, da primeira safra, decorre
tanto da escassez do crédito na época do plantio, que
prejudicou mais essa cultura, cujo plantio ocorre um
pouco antes da soja, como também dos preços relati-
vamente piores; e dos problemas climáticos no oeste
da Região Sul e no Mato Grosso do Sul. Esses fatores
ajudam a explicar tanto a redução da área (segunda sa-
fra) como da produção.
A Tabela 2 mostra o comportamento da produção,
da área e da produtividade das principais culturas agrí-
colas brasileiras.
Pelos dados da Tabela 2 observa-se que a produção
de 11 dos 25 produtos investigados pelo IBGE deve
crescer em relação a 2008. Os 11 produtos que apre-
sentam variação positiva na estimativa de produção
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O preço dos fertilizantes, que representa mais de
50% do custo de produção da maioria dos Grãos, estava mais de 100%
acima dos preços do início da década. Os principais grãos tiveram uma piora na relação de troca entre
produto e fertilizantes entre 60% e 200%, comprando-
se dados de 2002 e de novembro de 2008.
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em relação ao ano anterior são os seguintes: amen-
doim em casca 2ª safra (16,8%), arroz em casca (6,2%),
aveia em grão (1,0%), cacau em amêndoa (1,4%), cana-
de-açúcar (3,5%), cebola (6,5%), cevada em grão (7,7%),
feijão em grão 1ª safra (17,4%), feijão em grão 2ª safra
(7,4%), laranja (1,1%) e mandioca (3,9%). Enquanto 14
produtos apresentam variação negativa, entre eles
estão: o algodão herbáceo em caroço (-19,6%), amen-
doim em casca 1ª safra (-7,2%), batata-inglesa 1ª safra
(-5,4%), batata-inglesa 2ª safra (-9,8%), batata-inglesa
3ª safra (-1,7%), café em grão (-13,6%), feijão em grão
3ª safra (-6,9%), mamona em baga (-23,0%), milho em
grão 1ª safra (-14,3%), milho em grão 2ª safra (-10,6%),
soja em grão (-3,9%), sorgo em grão (-12,4%), trigo em
grão (-3,0%) e triticale em grão (-3,3%).
Os alimentos básicos dos brasileiros – o feijão e o
arroz – tiveram aumento significativo na produção, em
especial, o feijão (10,4), com destaque para a primeira
safra (já colhida), que fez desabar os preços do feijão ao
consumidor, depois de um ano de preços altos.
Entre as principais culturas, o algodão herbáceo
(em caroço) é o que tem a maior retração (-19,6%),
refletindo a baixa rentabilidade da cultura neste ano,
dados os custos elevados e os baixos preços. Na ver-
dade, a cultura de algodão neste ano é altamente de-
ficitária. Os agricultores que permaneceram na ativi-
dade terão prejuízo.
A expansão da produção de cana foi um pouco
menor do que em anos anteriores (3,7% na área e
3,5% na produção). A queda no crescimento da pro-
dução, entretanto, não deverá comprometer o abaste-
cimento de álcool, nem a produção de açúcar. A cana
é a terceira cultura em área cultivada, 8,4 milhões de
hectares, o que corresponde a menos de 1% da área
do território nacional.
A safra de café, que começou a ser colhida em
abril, está estimada em 2,4 milhões de toneladas, um
decréscimo de 13,6%. A área total ocupada com a cul-
tura é de 2,4 milhões de ha e a área a ser colhida é de
2,15 milhões de ha.
O IBGE apresenta uma previsão de produção de tri-
go excessivamente otimista. É uma cultura de inverno
cujo plantio está sendo planejado agora em condições
econômicas desfavoráveis: preços muito baixos e cus-
tos de produção excessivamente elevados. Em 2008 a
produção de trigo cresceu muito em função dos eleva-
dos preços na época de plantio e dos estímulos do go-
verno, que enfrentava dificuldades de abastecimento.
Entretanto, no período da colheita da safra passada, as
condições de mercado se inverteram e os agricultores
não tinham mercado para o seu produto, que é de pior
qualidade em relação ao trigo importado da Argentina
e Uruguai. Os moinhos preferiam o trigo importado. Ou
seja, dificilmente os agricultores vão repetir a produção
de 2008. É provável que haja grande redução na produ-
ção de trigo neste ano.
Em síntese, a agricultura não terá o mesmo de-
sempenho de 2008, mas também não compromete-
rá o crescimento da economia, pois o abastecimento
está adequado e as exportações e a geração de divi-
sas deverão se manter elevadas, especialmente com
os bons preços da soja no mercado internacional. Os
baixos preços do milho, por outro lado, favorecem a
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A expansão da produção de cana foi um pouco
menor do que em anos anteriores (3,7% na área e 3,5% na produção). A
queda no crescimento da produção, entretanto, não
deverá comprometer o abastecimento de álcool,
nem a produção de açúcar. A cana é a terceira cultura em área cultivada, 8,4 milhões de hectares,
o que corresponde a menos de 1% da área do
território nacional.
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janeiro / março / 2009
Tabela 2: Produção Agrícola Brasileira - confronto das safras de 2008 e 2009 - Abril de 2009
Produtos Agrícolas
Área (mil ha) Produção ( t ) Rendimento (kg/ha)
Safra 2008 Safra 2009Var. %
Safra 2008 Safra 2009Var. %
Safra/08 Safra/09Var. %
Algodão herbáceo (em caroço) 1.057.032 867.542 -17,9 3.971.090 3.190.805 -19,6 3 757 3 678 -2,1
Amendoim (casca) - Total 113.085 110.526 -2,3 296.600 284.831 -4 2 623 2 577 -1,8
Amendoim (casca) 1ª safra 88.801 84.103 -5,3 256.879 238.425 -7,2 2 893 2 835 -2
Amendoim (casca) 2ª safra 24.284 26.423 8,8 39.721 46.406 16,8 1 636 1 756 7,3
Arroz (em casca) 2.861.564 2.935.930 2,6 12.100.138 12.853.377 6,2 4 229 4 378 3,5
Aveia (em grão) 111.208 108.585 -2,4 232.175 234.508 1 2 088 2 160 3,4
Centeio (em grão) 4.748 4.673 -1.6 6.085 6.833 12,3 1.282 1.462 14
Cevada (em grão) 79.270 86.635 9,3 236.911 255.222 7,7 2 989 2 946 -1,4
Feijão (em grão) - Total 3.780.775 4.111.202 8,7 3.460.867 3.821.157 10,4 915 929 1,5
Feijão (em grão) 1ª safra 2.073.757 2.428.174 17,1 1.641.764 1.927.114 17,4 792 794 0,3
Feijão (em grão) 2ª safra 1.517.460 1.499.093 -1,2 1.400.390 1.504.098 7,4 923 1 003 8,7
Feijão (em grão) 3ª safra 189.558 183.935 -3 418.713 389.945 -6,9 2 209 2 120 -4
Girassol (em grão) 108.973 67.151 -38.4 145.659 97.116 -33,3 1.337 1.446 8,2
Mamona 156.412 152.196 -2,7 120.499 92.825 -23 770 610 -20,8
Milho (em grão) - Total 14.445.264 13.924.419 -3,6 59.017.716 51.255.040 -13,2 4 086 3 681 -9,9
Milho (em grão) 1ª safra 9.446.327 9.178.968 -2,8 39.968.151 34.233.903 -14,3 4 231 3 730 -11,8
Milho (em grão) 2ª safra 4.998.937 4.745.451 -5,1 19.049.565 17.021.137 -10,6 3 811 3 587 -5,9
Soja (em grão) 21.271.762 21.643.726 1,7 59.916.830 57.591.757 -3,9 2 817 2 661 -5,5
Sorgo (em grão) 811.662 753.739 -7,1 1.965.865 1.722.826 -12,4 2 422 2 286 -5,6
Trigo (em grão) 2.373.572 2.433.829 2,5 5.886.009 5.711.313 -3 2 480 2 347 -5,4
Triticale (em grão) 75.640 72.048 -4,7 184.602 178.546 -3,3 2 441 2 476 1,5
Total Grãos 47.250.967 47.272.201 0,0 145.991.765 136.050.328 -6,8 • • •OUTROS PRODUTOS
Batata-inglesa - Total 144.829 139.091 -4 3.676.046 3.446.874 -6,2 25 382 24 781 -2,4
Batata-inglesa 1ª safra 69.626 66.607 -4,3 1.613.364 1.525.694 -5,4 23 172 22 906 -1,1
Batata-inglesa 2ª safra 48.910 46.418 -5,1 1.313.275 1.184.731 -9,8 26 851 25 523 -4,9
Batata-inglesa 3ª safra 26.293 26.066 -0,9 749.407 736.449 -1,7 28 502 28 253 -0,9
Cacau (em amêndoa) 655.585 667.788 1,9 208.386 211.225 1,4 318 316 -0,6
Café (beneficiado) 2.216.014 2.153.811 -2,8 2.790.858 2.411.981 -13,6 1 259 1 120 -11
Cana-de-açúcar 8.141.135 8.443.314 3,7 648.921.300 671.370.496 3,5 79 709 79 515 -0,2
Cebola 63.639 65.185 2,4 1.299.815 1.384.849 6,5 20 425 21 245 4
Laranja 832.913 824.924 -1 18.389.751 18.595.650 1,1 22 079 22 542 2,1
Mandioca 1.839.281 1.888.412 2,7 25.877.918 26.881.222 3,9 14 070 14 235 1,2
Fonte: IBGE – Levantamento Sistemático da Produção de Abril de 2009.
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produção de frangos, porcos, leite etc, tornando esses
produtos mais competitivos.
Os indicadores macroeconômicos
Os fundamentos macroeconômicos brasileiros es-
tão bons, apesar da crise. A inflação retorna gradativa-
mente ao centro da meta, criando as condições para a
redução da taxa Selic em níveis mais civilizados. O Brasil
poderá sair da crise com um novo patamar de taxa de
juros, mais próximo das demais economias mundiais. A
política de juros vem sendo praticada, nos últimos anos,
com eficiência no combate à inflação, mas em níveis ex-
cessivamente elevados, tornando o custo da dívida pú-
blica um fardo para o orçamento público. A crise é uma
oportunidade para resolvermos esse problema estru-
tural da economia brasileira, que coloca historicamente
o Brasil como líder mundial de juros altos.
A redução dos juros possibilitará uma flexibilização
dos superávits primários, sem perda de sustentabilida-
de e credibilidade do país. O que permitirá a ampliação
dos investimentos públicos, fundamental para a estra-
tégia de crescimento sustentado da economia.
A crise propiciou, ainda, o ajuste da taxa de câmbio
para próximo do equilíbrio, sem pressão inflacionária.
A desvalorização cambial, em mais de 25%, ajuda a re-
verter a tendência de ampliação no desequilíbrio, no
balanço de pagamento em transações corrente. Esta
era uma medida demandada por todos os setores da
economia antes da crise.
Os dados mostram o impacto da crise financeira
internacional no comércio exterior brasileiro. Tanto
exportações como importações tiveram redução acen-
tuada no final de 2008, mas apresentam um início de
recuperação no primeiro quadrimestre deste ano. As
exportações cresceram mais que as importações sinali-
zando uma ampliação do superávit comercial.
As reservas internacionais do País se estabilizaram
acima de 200 bilhões de dólares, revelando a credibi-
lidade do Brasil em relação a crises anteriores, quando
as reservas se esvaiam rapidamente ao primeiro sinal
de crise. A saída de capitais foi relativamente pequena,
justificada mais por razões de necessidade de liquidez
de investidores do que de decisão de investimento. Na
verdade, a crise revelou que o Brasil é uma boa alter-
nativa para os investidores internacionais. Os dados de
entrada de capitais, tanto de investimento direto como
em bolsa, são a confirmação dessa nova visão interna-
cional sobre a economia brasileira.
As perdas da bolsa de valores, no segundo semestre
de 2008, foram muito fortes, mas a recuperação apre-
senta uma tendência consistente neste primeiro qua-
drimestre do ano. O Índice Bovespa já recuperou parte
significativa das perdas de 2008.
As contas públicas estão sendo mantidas em equi-
líbrio, com superávit primário menor, mas com custos
financeiros, também, menores. A dívida pública apre-
senta tendência de queda consistente, elevando a cre-
dibilidade no País.
A política fiscal, num contexto de crise econômi-
ca com recessão, deve ser inversa à dos períodos de
prosperidade, ou seja, o Estado deve ampliar os seus
gastos e reduzir a arrecadação de forma a estimular a
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As reservas internacionais do País se estabilizaram
acima de 200 bilhões de dólares, revelando a
credibilidade do Brasil em relação a crises anteriores,
quando as reservas se esvaiam rapidamente ao
primeiro sinal de crise. A saída de capitais foi
relativamente pequena, justificada mais por razões de necessidade de liquidez de investidores do que de decisão de investimento.
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janeiro / março / 2009
demanda e a produção. Na crise, os gastos de custeio
podem ser mais eficientes que os de investimento, pois
se transformam rapidamente em demanda e, portanto,
atuam diretamente na reversão da crise. Esse é o caso,
por exemplo, dos programas que fortalecem a renda
das famílias, como o salário mínimo e o “Bolsa Família”.
O gargalo foi a queda acentuada da arrecadação.
O impacto da crise na arrecadação foi uma queda
de 6,02% das Receitas Administradas pela RFB (Receita
Federal do Brasil) na comparação jan./mar. 2009 em re-
lação a 2008. Os tributos com maiores quedas foram o
IPI (-28,05%); IRPF (-25,78%); Cofins/PIS/Pasep (-15,42%);
IRPJ (-13,09%); além da CPMF (-93,73%), que foi extinta.
No primeiro trimestre de 2009, os fatos geradores
da arrecadação que ajudam a explicar essa queda fo-
ram: a redução na lucratividade (85 maiores empresas
com ações em bolsa) de -50%; redução na produção
industrial (PIM/IBGE) -17,2%; valor em dólar das impor-
tações (-23,91%); vendas de veículos (-13,42%); além
das desonerações e compensações. A massa salarial,
entretanto, seguiu caminho inverso, cresceu 17,58%, na
comparação com o primeiro trimestre de 2008.
Os maiores decréscimos por setor foram: combus-
tíveis (-38,13%); fabricação de veículos automotores
(-42,41%); entidades financeiras (-11,11%); extração
de minerais metálicos (-49,97%); atividades auxiliares
do setor financeiro (-22,29%); metalurgia (-17,91%);
fabricantes de equipamentos de informática e eletrô-
nicos (-19,07%); fabricantes de produtos alimentícios
(-16,50); e fabricação de produtos químicos (-9,49%).
Por outro lado, as despesas do Tesouro Nacional,
no primeiro trimestre, cresceram 12,9%, com destaque
para as despesas de custeio e capital (27,2%), enquanto
os investimentos caíram significativamente (-30,5%) e
houve redução nas transferências a estados e municí-
pios (-6,0%).
As dificuldades, no lado fiscal, levaram o governo
a aplicar um forte contingenciamento e implementar
medidas no sentido de viabilizar os investimentos, em
especial, com a Petrobras.
Na verdade, o impacto forte da crise na arrecadação
já era esperado, considerando que os bens supérfluos,
cuja demanda é adiada pelos consumidores aos pri-
meiros sinais de crise, são as principais fontes de arreca-
dação de impostos. Estes produtos são também os que
reagem de forma forte na retomada do crescimento,
que já está ocorrendo.
Em síntese, os indicadores macroeconômicos mos-
tram fortes sinais de que a economia brasileira está rea-
gindo de forma consistente aos impactos da crise. O ce-
nário é de tendência de normalização da economia no
segundo semestre de 2009, com possibilidade de cresci-
mento positivo do PIB no ano, o que coloca o Brasil em
situação privilegiada diante das dificuldades da maioria
dos demais países, em especial as economias desenvol-
vidas que terão queda acentuada no produto em 2009.
Considerações finais
Na avaliação do Ipea (2009), mesmo com a crise
mundial, a economia brasileira deve crescer neste ano
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Os maiores decréscimos por setor foram: combustíveis (-38,13%); fabricação de
veículos automotores (-42,41%); entidades
financeiras (-11,11%); extração de minerais metálicos
(-49,97%); atividades auxiliares do setor financeiro (-22,29%);
metalurgia (-17,91%); fabricantes de equipamentos de informática e eletrônicos
(-19,07%); fabricantes de produtos alimentícios (-16,50);
e fabricação de produtos químicos (-9,49%).
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ista
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a
importantes na economia brasileira, com fortes impac-
tos em diversos setores produtivos, mas que podem ser
transformados em oportunidades para o crescimento.
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PAULANI, Leda Maria. Aulas de Economia Brasileira no
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çamento. Brasília: ENAP, 2009.
PRADO, Luiz Carlos T. Delorme. Aulas de Economia In-
ternacional no Curso de Formação de Analista de Pla-
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José Luiz Pagnussat
Presidente do CORECON/DF e ex-presidente do Conselho Federal de Economia (1996) e da Associação Nacional dos Cursos de Graduação de Economia (1999-2001). Foi professor da Univer-sidade Católica de Brasília de 1985 a 2004 e é professor da Escola
Nacional de Administração Pública – ENAP, desde 1988.
entre 1,5% e 2,5%. Os indícios analisados apontam para
essa direção, apesar do pessimismo de alguns agentes
econômicos, como o FMI, que prevê queda de 2% para
o PIB brasileiro, e da pesquisa Focus do Banco Central
que tráz a visão das instituições do mercado financeiro,
também, com elevado grau de pessimismo, apontan-
do para a queda da produção nacional. É verdade que
a pesquisa Focus teve uma reversão do pessimismo a
partir do final de abril.
Colabora, para esse pessimismo, o tempo necessário
para que o Brasil recupere as elevadas perdas do último
trimestre de 2008. Mesmo que a economia, nos próxi-
mos meses, mantenha o atual ritmo de crescimento in-
dustrial, não fechará o ano com crescimento do PIB. É
necessária uma reativação mais rápida da economia, o
que poderá efetivamente ocorrer com a normalização
das diversas atividades, inclusive de exportação.
O setor exportador já está se reativando de forma
acelerada, em especial com o crescimento das exporta-
ções para a China, que rapidamente se torna o principal
parceiro comercial do Brasil. Mas o que favorece a re-
cuperação do setor externo brasileiro é a diversificação
da pauta de exportação e dos destinos. Entre 2003 e
2008, o Brasil diversificou os destinos das exportações,
com aumento das exportações para todos os continen-
tes, e aumento da participação da Aladi (119%), áfrica
(31%), ásia (19%) e Oriente Médio (6%), enquanto se
reduzia a dependência com o mercado americano. A
participação dos EUA teve queda de 40% e da União
Européia, 9%. Essas regiões, ainda, são as maiores par-
ceiras comerciais, receptoras das nossas exportações,
mas outras parceiras se tornaram importantes.
O cenário é positivo para a economia brasileira. Mas
é necessário restabelecer a confiança e mudar os pa-
râmetros macroeconômicos, pois o enfrentamento da
crise exige: mais gasto e menos superávit fiscal, mais
estímulos creditícios e menos juros, mais intervenção
do Estado e menos liberdade para o mercado; enfim,
mudanças na política macroeconômica, em especial a
de juros do Banco Central e uma política que discipline
a entrada de capitais especulativos.
A economia brasileira tem as condições econômicas
favoráveis para adotar medidas anticíclicas que permi-
tam a aceleração do crescimento econômico e a gera-
ção de emprego. A crise produziu efeitos de contágio
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