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Cotidiano de quem se dedica à pesca artesanal traz riscos à segurança e à saúde. Política pública estadual promete aumentar o reconhecimento e a participação desses trabalhadores. Págs. 4 e 5 Cotidiano de quem se dedica à pesca artesanal traz riscos à segurança e à saúde. Política pública estadual promete aumentar o reconhecimento e a participação desses trabalhadores. Págs. 4 e 5 Leu, 61 anos, convive com problemas de saúde causados pelo trabalho como pescadora desde os 4 anos de idade Contra a corrente Junho de 2018 . ANO XVIII Nº 168

4 anos de idade corrente Cotidiano de quem se dedica à pesca artesanal traz riscos à segurança e à saúde. Política pública estadual promete aumentar o reconhecimento e a participação

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Page 1: 4 anos de idade corrente Cotidiano de quem se dedica à pesca artesanal traz riscos à segurança e à saúde. Política pública estadual promete aumentar o reconhecimento e a participação

Cotidiano de quem se dedica à

pesca artesanal traz riscos à

segurança e à saúde. Política

pública estadual promete

aumentar o reconhecimento

e a participação desses

trabalhadores.

Págs. 4 e 5

Cotidiano de quem se dedica à

pesca artesanal traz riscos à

segurança e à saúde. Política

pública estadual promete

aumentar o reconhecimento

e a participação desses

trabalhadores.

Págs. 4 e 5

Leu, 61 anos, convive

com problemas de saúde

causados pelo trabalho

como pescadora desde os

4 anos de idade CCoonnttrraa aaccoorrrreennttee

Junho de 2018 . ANO XVIII – Nº 168

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EXPEDIENTE: MESA DIRETORA: Presidente, Deputado Guilherme Uchoa; 1º Vice-Presidente, Deputado Cleiton Collins; 2º Vice-Presidente, Deputado Romário Dias; 1º Secretário, DeputadoDiogo Moraes; 2º Secretário, Deputado Vinícius Labanca; 3º Secretário, Deputado Júlio Cavalcanti; 4º Secretário, Deputado Eriberto Medeiros. Superintendente de Comunicação Social: FellipeMarques (interino). Chefe do Departamento de Imprensa: Isabelle Costa Lima. Editores: Helena Alencar e Luciano Galvão Filho. Revisão: Cláudia Lucena e Fellipe Marques. Repórteres: AndréZahar, Edson Alves Júnior, Gabriela Bezerra, Haymone Neto, Ivanna de Castro, Luciano Galvão Filho e Geanne Gouveia (estagiária). Gerente de Fotografia: Roberto Soares. Edição de Fotografia:Breno Laprovitera. Fotógrafos: Jarbas Araújo, Lourival Maia, Sabrina Nóbrega e Kerol Correia (estagiária). Tratamento de Imagem: Giovanni Costa. Design: Brenda Barros. Diagramação e Edi-toração Eletrônica: Alécio Nicolak Júnior. Endereço: Palácio Joaquim Nabuco, Rua da Aurora, nº 631 – Recife-PE. Fone: 3183-2126. PABX: 3183-2211. E-mail: [email protected]

O Jornal Tribuna Parlamentar é uma publicação de responsabilidade da Superintendência de Comunicação Social da Assembleia Legislativa - Departamento de Imprensa.

“Viemos fortalecer a luta dosprofissionais do InstitutoAgronômico de Pernambuco. Aagricultura familiar na Zona daMata necessita muito do apoio doIPA para a melhoria do trabalhoque fazemos.”

José Augusto da SilvaVice-presidente do Sindicato da Agricultura Familiar de Rio Formoso,durante audiência pública promovida, em 14 de maio, para discutir os desafios dostrabalhadores rurais e a situação do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA).

De 9 a 11 de maio,uma comitiva daAssembleia Legislativa dePernambuco (Alepe)participou da 22ªConferência da UniãoNacional dos Legisladorese Legislativos Estaduais(Unale). Com o tema “Osdesafios de um novoBrasil”, o evento realizado em Gramado (RS) contou com apresença do presidente da Casa, deputado Guilherme Uchoa(PSC), entre outros parlamentares e servidores. Houve eleiçãopara a diretoria da entidade, que passará a ser presidida pelodeputado Ciro Simoni (PDT-RS). Da Alepe, integrarão a novagestão os deputados Diogo Moraes (PSB), Zé Maurício (PP) eEriberto Medeiros (PP).

Alepe na Conferência da Unale

Uma ação educativa da Alepe em parceria com a Prefeitura doRecife contemplou, no dia 26 de maio, mais de 300 pessoas noCentro Comunitário da Paz (Compaz) Escritor Ariano Suassuna, noRecife. Elas receberam exemplares do gibi A Turma da Mônicaem: O Estatuto da Criança e do Adolescente. Em formato dequadrinhos, a publicação apresenta ao público infantil os principaisdireitos e deveres incluídos no ECA (Lei Federal nº 8069/1990).

ECA em quadrinhos A instituição também produziu umvídeo no qual retrata a árdua rotina dasmarisqueiras das praias de Carne deVaca, em Goiana (PE), e de Acaú, emPitimbu (PB). Elas enfrentamdificuldades para ser reconhecidascomo pescadoras perante a Previdência Social e, portanto,acessar os direitos de qualquer trabalhador. Confira!

Vida na maré

A partir de visitas a 71comunidades pesqueiras dePernambuco e entrevistascom cinco mil pescadores,em 2008 e 2009, oInstituto Oceanárioproduziu, com apoio de outras entidades, oDiagnóstico Socioeconômico da Pesca Artesanalde Pernambuco. Por meio dele é possívelconhecer mais sobre o perfil dos homens emulheres que trabalham nos rios, estuários,manguezais, lagoas e na plataformacontinental do Estado. O resultado pode seracessado em www.oceanario.org.br.

“São grandes as dificuldades enfrentadaspelas pessoas com deficiência no dia adia. Um exemplo é a ausência decardápios em Braille, que sãoobrigatórios. Precisamos criarmecanismos que garantamindependência.” Danyelle SenaGerente Jurídica do Procon-PE, ao participar de audiência pública realizadapela Frente Parlamentar em Defesa da Pessoa com Deficiência, no dia 8 demaio, para debater a acessibilidade em bares, restaurantes e hotéis.

02 Junho de 2018Tribuna Parlamentar

FOTO: IMPRENSA UNALE

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Em 1817, o inventor ale-mão Karl Von Draiscriou um objeto de duas

rodas batizado de “máquinade correr”. A invenção passoupor várias melhorias e, empouco tempo, ficou conhecidacom o nome usado até hoje:bicicleta. Duzentos anosdepois, e com mais de umbilhão de exemplares fabrica-dos em todo o mundo, essemeio de transporte é vistonão apenas como um feitogenial, mas uma alternativasegura, barata, saudável eecológica para o meio urbano.

No Brasil, os governos têm,aos poucos, melhorado a le-gislação e ampliado a infra-estrutura para ciclistas. “Nãoexiste projeto de mobilidadesem levar em consideraçãoo modal bicicleta”, observa opresidente do Conselho deArquitetura e Urbanismo dePernambuco (CAU-PE), RafaelAmaral Tenório.

Apesar dos avanços, emgeral, as condições estão lon-ge de ser satisfatórias. Deacordo com a pesquisa Perfildo Ciclista, coordenada pelaorganização não governa-mental Transporte Ativo epublicada em 2015, metadedos usuários brasileiros pe-dalaria mais se houvesse umainfraestrutura melhor.

Pedro Guedes, integranteda Associação Metropolitanados Ciclistas do Grande Recife(Ameciclo), avalia que aspolíticas públicas para uso dabicicleta em Pernambuco têm

se voltado mais ao lazer doque à mobilidade. Ele defendeo aumento dos investimentosem ciclovias. “As ações têmsido sempre no final de sema-na ou em dias específicospara fazer eventos”, comenta.

No Estado, a política de usoda bicicleta passa pelo PlanoDiretor Cicloviário da RegiãoMetropolitana do Recife (PDC),um documento lançado em2014 que define as diretrizespara a ampliação da rede deciclovias na região. A pesquisaque fundamentou a iniciativatraz pistas sobre o perfil dociclista do Grande Recife:58% das viagens feitas combicicleta têm como destino otrabalho. Três em cada quatrociclistas é trabalhador e usao meio de transporte entre7h e 8h e das 17h às 18h.

É com foco nesse públicoque o PDC prevê a construçãode quase 600 quilômetros de

ciclovia em toda a região,como explica o gerente deCiclomobilidade da SecretariaEstadual de Turismo, Esportee Lazer, Jáson Torres. “Em tor-no de 58% da responsabili-dade será do Estado, por meiodas ciclovias metropolitanas.O restante será dos municí-pios, com a estrutura comple-mentar. As diretrizes obrigama colocar estacionamentospara bicicleta (os bicicletários)vinculados ao sistema detransporte público”, afirma.

O PDC prevê investimentosdo Estado e dos municípios deR$ 355 milhões até 2024. Seos recursos saírem do papel,pode haver impacto positivona mobilidade, mas tambémem outras áreas, como asaúde pública. O uso diário dabicicleta, assim como outrasatividades físicas, ajuda acombater males como dores,diabetes e hipertensão, obser-

va o cardiologista do Hospitaldas Clínicas da UniversidadeFederal de Pernambuco(UFPE) Frederico Ribeiro.

Para o médico, porém, odesafio é garantir segurançano percurso. “É preciso teruma ciclovia ou calçada se-gura até o trabalho e de voltapara casa, e que não hajariscos de acidentes. Tambémé importante a educação dosmotoristas para respeito aosciclistas e vice-versa”, dizRibeiro. O ideal é usar luvas,capacete e fazer a manuten-ção periódica da bicicleta,complementa.

Governos incentivam uso da bicicleta, mas faltam segurança e fiscalização

Sobre duas rodasMOBILIDADE

03Junho de 2018 Tribuna Parlamentar

Saiba mais

Para saber maissobre o assunto,acesse pelo QRCode ou no link:

alepe.pe.gov.br/radio-alepe/

Haymone NetoFOTO: SABRINA NÓBREGA

Integrante da Ameciclo, Pedro Guedes questiona políticas públicas que priorizam lazer em prejuízo da mobilidade

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PESCA ARTESANAL

Após ter duas baiteras(pequenas embarca-ções a remo) roubadas,

a pescadora Edileuza Silva doNascimento, 61 anos, preci-sou comprar outra de segun-da mão. O barco — ela logopercebe — veio com dois fu-ros por onde entra a águaque ela retira com baldes,mal começa o dia no bairrode Brasília Teimosa, Zona Suldo Recife.

Leu, como é conhecida, vaipara a maré com a mãedesde os 4 anos de idade.Além da falta de segurança,já passou pelos mesmosproblemas de outros traba-lhadores do setor (verquadro) – de cortes ao coletarsururu e ostras à dolorosapicada do peixe niquim, quelhe paralisou um dedo damão. E, como a maioriadeles, teve a saúde compro-

metida pelo trabalho: desen-volveu uma hérnia umbilical,provocada pelo peso quecarrega diariamente, e umadisfunção no fígado relacio-nada à poluição das águas.

“Os pescadores estão todosdoentes. Quando chegam aoposto, não tem remédio oucurativo. A gente se corta efica em casa, não pode fazernada”, relata Leu. “Antiga-mente não tinha essa lixariatoda no rio. Tinha muito su-ruru, cada ostra grande. Hojeé fogão, sofá, bacia sanitária,caco de vidro, ferro velho…Está diminuindo a pesca, comessa poluição toda. O rio estáse acabando de sujeira, e nãopode, porque é o ganha-pãoda gente”, afirma.

Moradora da Ilha de Deus,também na Zona Sul daCapital, Noêmia Fernandesconheceu de perto os riscosda profissão ao perder umirmão na maré. “Quandocomecei a pescar com a

minha mãe, tinha 10 anos.Deixava de ir para a escolapara pegar marisco. Hojeensino minha filha a pescar,mas falo para estudar tam-bém, porque ser pescadora émuito difícil”, comenta.

Os números oficiais ates-tam a presença de cerca de13,5 mil pescadores e pesca-doras artesanais em Per-nambuco. No entanto, por setratar de um setor com muitainformalidade e dados es-cassos, acredita-se que aquantidade seja ainda maior.Se poluição e problemas desaúde são recorrentes, asentidades de representaçãodo setor consideram que oatual momento político agra-va ainda mais a situação.

Em agosto de 2016, a As-sembleia Nacional do Mo-vimento de Pescadores e Pes-cadoras Artesanais elaborouuma carta reagindo à extin-ção do Ministério da Pesca, noano anterior, e à descontinui-

dade de políticas públicas emandamento. A paralisação dosprocessos de Registro Geralda Atividade Pesqueira (RGP)e de regularização e demar-cação de territórios são asprincipais consequências doque o movimento vê comoum “desmonte intencional”das ações para a área.

No caso de Pernambuco,é o monocultivo intensivo decamarão e tilápia que amea-ça a pesca artesanal ao pri-vatizar os espaços pesquei-ros de uso comum, na aná-lise do sociólogo Jose Igná-cio Vega Fernandez. Na pes-quisa dele sobre a implan-tação da Política Nacional deDesenvolvimento Susten-tável da Aquicultura e daPesca (Lei Federal nº 11.959/2009), o cientista socialavalia que o reconhecimentoda pesca artesanal ficouapenas no papel, enquantoa aquicultura intensiva foi aprincipal favorecida.

André Zahar

Poluição, doenças e falta de reconhecimento fazem parte docotidiano dos pescadores. Política pública estadual implantadaem 2017 gera expectativa de tempos melhores

À deriva

04 Junho de 2018Tribuna Parlamentar

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“Segundo dados da Embra-pa (Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária), a aqui-cultura cresceu 123% no Paísentre 2005 e 2015. Esse qua-dro tem se intensificado, comaumento das licitações deágua da União e das linhasde crédito para empreendi-mentos aquícolas”, apontaVega. “Enquanto isso, os di-reitos trabalhistas dos pesca-dores artesanais vêm sofrendodiversos ataques e há sériasdificuldades para realizar ainscrição no RGP, necessáriopara acessar os direitos pre-videnciários e assistenciais.”

Em setembro de 2015, Per-nambuco passou a contarcom a Política da Pesca Ar-tesanal, por meio da Lei Es-

tadual nº 15.590, aprovadana Alepe. Entre outros pon-tos, a norma cria um comitêgestor com representantesdo Poder Público e da socie-dade civil, responsável pelaexecução da política pública.

Ao relatar a proposta naComissão de Meio Ambiente,o deputado José HumbertoCavalcanti (PTB) destacouque quase 45% de toda aprodução anual de pescadono País é oriunda da pescaartesanal. Esses trabalhado-res “aparecem como um dosprincipais aliados à proteçãoambiental na região ondeatuam. Por isso, devem sercontemplados por ações degoverno e políticas públicas”,agregava o parecer.

REGULAMENTAÇÃOApesar de não haver ter-

ritórios pesqueiros formais, aLei da Pesca Artesanal colo-ca como premissa a garantiadas comunidades tradicionaisà posse e fixação das áreasjá ocupadas. O Instituto deTerras e Reforma Agrária dePernambuco (Iterpe) informaque, desde a publicação doDecreto nº 45.396/2017 –que regulamenta a Lei da Pes-ca Artesanal –, não recebeunenhuma demanda pararegularização fundiária volta-da às comunidades pesquei-ras em terras já ocupadas.

De acordo com o secretárioestadual de Meio Ambiente eSustentabilidade, CarlosCavalcanti, o grande desafio

para a implementação dapolítica é o conhecimentoaprofundado da realidade dapesca artesanal no Estado.Por essa razão, o órgão rea-liza um levantamento dasituação nos territórios pes-queiros por meio de oficinasregionais.

Sobre a degradação am-biental, ele considera im-portante a mobilização dasociedade: “Estamos desen-volvendo a política de educa-ção ambiental, para que a so-ciedade pernambucana tomeatitudes que levem aocuidado com o meio ambien-te. Além disso, a Secretariaatua junto aos municípios pa-ra elaborar os planos mu-nicipais de resíduos sólidos”,reforça.

Para o secretário-execu-tivo do Conselho Pastoraldos Pescadores - RegionalNordeste, Severino Antôniodos Santos, dos pontos pre-vistos na lei, a criação do Pla-no Estadual de AssistênciaTécnica e Extensão da Pes-ca Artesanal merece atençãoespecial. “Hoje o quadro téc-nico do Instituto Agronômicode Pernambuco (IPA) temdez engenheiros de pesca.É preciso que o Estado abraum concurso ou seleçãosimplificada para que essesprofissionais sejam contrata-dos e possam dar a assis-tência necessária a essaatividade”, pontua.

FOTO: SABRINA NÓBREGA

Pescadora desde a infância, Leu tem saúde comprometida pelo trabalho: “Os pescadores estão doentes”

05Junho de 2018 Tribuna Parlamentar

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Apesar de concentrarmenos de 20% da po-pulação do Estado, o

Recife detém quase 71% doquadro médico pernambuca-no. O cenário é dos mais con-trastantes do País, trazendoà reflexão questões que seiniciam ainda na formaçãoprofissional. O surgimento denovas faculdades tambémgera receio quanto à incor-poração dos estudantes àestrutura médico-hospitalar.

“Enquanto os cursos deMedicina se multiplicaram, arede de saúde praticamentenão cresceu. Pelo contrário:dados recentes mostram que,do ponto de vista dos camposde prática na atenção pri-mária, ela se retraiu”, explicao coordenador do curso deMedicina da Universidade Fe-deral de Pernambuco (UFPE),Sílvio Caldas, indicando umquadro de prejuízo na for-mação profissional.

O estudante Paulo VítorCarvalho, que preside o Dire-tório Acadêmico de Medicinada UFPE, conta que a situaçãopreocupa o grupo. “Alunos defaculdades sem hospitalpróprio têm realizado ativida-des extracurriculares em

unidades que já atendem àdemanda de outras institui-ções de ensino. A questão éque não tem lugar para todomundo”, observa.

Presidente do ConselhoRegional de Medicina (Cre-mepe), André Dubeux acre-dita que a situação tem di-ficultado o acesso à práticamédica. “Recentemente, oprimeiro lugar na residênciamédica de Tocoginecologianão tinha presenciado sequerum parto normal durante agraduação”, relata. Essaconjuntura motivou, em abril,a realização de um debatepromovido pela Comissão Es-pecial que avalia os estágiosem Pernambuco.

A questão pode repercutirtambém nas residênciasmédicas, aponta a coordena-dora do curso de Medicina daUniversidade de Pernambuco(UPE), Dione Maciel: “No anopassado, tivemos cerca de1.100 formados para 800vagas. E o número de egres-sos vai aumentar cada vezmais nos próximos anos, coma conclusão das turmas defaculdades novas”.

Por outro lado, a interio-rização do atendimentomédico – um dos objetivosda abertura de cursos degraduação – ainda está dis-

tante. “Oferecer faculdadesno Interior não fixa o pro-fissional. O que funciona éter uma rede de saúde”,avalia Dione. “Acredito quea interiorização das residên-cias médicas seria mais efi-ciente nesse sentido.”

De acordo com a SecretariaEstadual de Saúde, Pernam-buco já segue essa tendência.“Temos feito esforço para me-

lhorar a qualidade de assis-tência no Interior, formandocinturões de atendimento pormeio de concursos regionali-zados. Até porque estudosmostram que, quanto maisperto o paciente está da rede,maior a chance de ele concluiro tratamento”, frisa a secre-tária-executiva de Gestão doTrabalho e Educação, RicardaSamara.

06 Junho de 2018Tribuna Parlamentar

Segmento médico apontaconcentração de faculdades naCapital e dificuldade para inseriralunos e profissionais na rede desaúde como principais desafios

Quadro geralMEDICINA

Gabriela Bezerra

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Parlamentares defendiam atuaçãode Liga contra a Tuberculose

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Superintendência de Preservação do Patrimônio Histórico do Legislativo. Discurso Pronunciado pelodeputado Paulo Alves, na Sessão de 19 de outubro de 1937. Acervo do Arquivo Geral da AssembleiaLegislativa do Estado de Pernambuco.

07Junho de 2018 Tribuna Parlamentar

No dia 19 de outubro de1937, o então deputadoPaulo Alves realizou, duranteSessão Plenária, um discursoem defesa da Liga Pernam-bucana contra a Tuberculose(LPCT). Criada em 19 agostode 1900 e tendo, entre osfundadores, o médico Oc-távio de Freitas, a instituiçãoprestava serviços médicosà população e promoviadebates constantes sobretisiologia – ramo da medicinaque estuda a doença. Oparlamentar discordava daretirada de subvençõesconcedidas pelos governosFederal e Estadual à en-tidade.

Na transição do século19 para o 20, a luta con-tra a tuberculose (tambémchamada de “peste bran-ca”) mobilizou o Estado.Devido aos poucos estudosmédicos disponíveis à épo-ca e ao caráter infectocon-tagioso da doença – o quedificultava o tratamento emáreas consideradas insalu-bres –, o controle da enfer-midade configurou-se emproblema de saúde pública.

Inicialmente, médicoshigienistas realizaram campanhas preventivas para instruir a população e as autoridadessobre a importância de adotar boas práticas de limpeza. No entanto, com a descobertado bacilo de Koch (agente causador da doença) em 1905, ações mais eficazespuderam ser realizadas.

Por meio do trabalho da Liga, foram erguidas unidades de internamento no Recife.Um deles, no bairro do Derby, viria a se tornar, em 1991, o Centro Médico Octáviode Freitas (Cemof), nova denominação social da LPCT. O sanitarista também respondepela criação do Sanatório do Sancho, no bairro de Teijipió, atual Hospital Geral Otá-vio de Freitas.Saiba mais

Para saber maissobre o assunto,acesse pelo QRCode ou no link:

alepe.pe.gov.br/noticias-especiais/

DESIGUALDADEO cenário de concentração

nas capitais se repete peloPaís. Amazonas e Sergipeencabeçam o ranking, sendoo Estado nordestino aquelecom maior distorção na razãode médicos por mil habitan-tes: a média é de 0,19 no In-terior, contra 5,44 na Capital,Aracaju.

A relação entre a concen-tração de profissionais e aausência de interiorização dasfaculdades é significativa. Ma-naus, que conta com 93,1%dos médicos do Amazonas,abriga também as três facul-dades de Medicina naqueleEstado. Em Santa Catarina, asituação é diferente: fica emFlorianópolis apenas um dos13 cursos oferecidos.

No último mês de abril, oMinistério da Educação sus-pendeu a criação de cursos deMedicina por cinco anos emtodo o País. Em Pernambuco,a faculdade mais recenteiniciou a primeira turma emfevereiro deste ano, com 50alunos: a Faculdade Tiraden-tes, em Jaboatão dos Guara-rapes (RMR). Outra será for-mada no segundo semestre.

“Desde o primeiro semes-tre, os alunos frequentarãopostos de saúde, fazendoatendimento à comunidade.Caso seja necessário, tam-bém buscaremos parceriascom o Governo Estadual paraampliar o acesso à rede desaúde”, afirma Evelin Siqueira,representante do Departa-mento Acadêmico e Finan-ceiro da Faculdade Tiradentes.

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Por meio da leitura eescrita em Braille, es-tudantes da Educação

Básica com deficiência visualpodem ter acesso ao mesmoconteúdo dos livros usadospelos demais alunos. Essedireito é garantido, em Per-nambuco, pela Lei Estadualnº 16.262/2017, que deter-mina a indicação (ou o for-necimento direto) de mate-riais didáticos alternativosacessíveis pelas escolasprivadas.

Atualmente, na maioriados casos, os professoresleem o assunto durante asaulas, de modo que alunoscom deficiência possamcompreender a temáticajunto com a turma. Previstana norma, a adoção do mé-todo Braille – sistema uni-versal de leitura e escritatátil, fundamental para a al-fabetização das pessoas comdeficiência visual – deve as-segurar maior autonomiaaos estudantes.

A matéria foi proposta pelodeputado Zé Maurício (PP), apartir da análise de dados doInstituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE)sobre essa população. “Oobjetivo da medida é que osalunos com deficiência visualtenham as mesmas condiçõesde aprendizado dos demais”,explica o parlamentar. Em2015, o IBGE revelou que

6,2% da população do Brasiltêm algum tipo de deficiência,sendo a visual a mais repre-sentativa, atingindo 3,6% dosbrasileiros.

Para que os estudantessejam alfabetizados e sedesenvolvam cognitiva-mente, a lei indica, ainda, aadoção de materiais e equi-pamentos adaptados. “Que-remos que haja igualdade,de forma democrática, semque a deficiência seja umobstáculo para isso”, com-pleta Zé Maurício.

Pedagoga do Instituto dosCegos de Pernambuco,Vitória Damasceno apontaavanços tecnológicos que

podem ser utilizados nasescolas como forma deinclusão, a exemplo de pro-gramas de voz no computa-dor e equipamentos de lei-tura em áudio, além doscanner com digitalizaçãoem Braille. “Os alunos comdeficiência visual têm o di-reito de atuar em condiçõesiguais às demais na sala deaula”, defende.

Para o jornalista ViníciusPassos, que perdeu a visãoaos 13 anos, a lei nem pre-cisaria existir se as institui-ções de ensino já tivessemconsciência do problema.“Antes de matricular o alunocom deficiência, seja ela

física, intelectual, auditiva ouvisual, a escola deve garantira permanência e a conclusãodos estudos dele”, destaca.Na avaliação do profissional,“a norma evitará que as es-colas se omitam”.

Educadores da rede pri-vada de ensino ressaltam arelevância da medida. “Issopode garantir o pertenci-mento do estudante ao gru-po, de forma coletiva, e as-segurar que a permanênciano colégio tenha a mesmaqualidade que a dos outrosalunos”, espera a diretorapedagógica do LubienskaCentro Educacional, RosárioAzevedo.

08 Junho de 2018Tribuna Parlamentar

Geanne Gouveia

Escolas devem indicar ou fornecer livros acessíveis para alunos cegos

Leitura com igualdadeFOTO: KEROL CORREIA

Para Vinícius, “antes de matricular aluno com deficiência, escola deve garantir permanência dos estudantes”