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113 4 Modelos de Integração 4.1 MODELOS DE INTEGRAÇÃO Baseada nas propostas de Geiser e Rubenstein (1989) e Bonaccorsi e Piccaluga, (1994), Stal (1996) adaptou uma classificação das atividades de cooperação universidade/empresa. Para esta pesquisa, esse modelo foi adaptado, buscando-se contemplar todos os mecanismos de integração abordados, sem pretender esgotá-los. a) Relações pessoais informais (sem o envolvimento da universidade) – consultoria individual (paga ou gratuita) – workshops informais (reuniões para troca de informações) – “spin-offs” acadêmicos – publicações de resultados de pesquisas b) Relações pessoais formais com universidades, para às necessidades da empresa, mas sem o seu envolvimento direto – formação de recursos humanos c) Relações pessoais formais (nesse caso a universidade é envolvida através de convênio firmado com a empresa) – bolsas de estudo e apoio à pós-graduação e graduação (formação de recursos humanos) – estágios de alunos e cursos “sanduíche” – períodos sabáticos para professores – intercâmbio de pessoal (participação de executivos em Conselhos acadêmicos ou de acadêmicos em Conselhos empresariais). d) Envolvimento de uma instituição de intermediação (a qual é formada ou já existe mas que atua com o propósito de aproximar os dois atores) – “liaison offices” – associações industriais – institutos de pesquisa aplicada – escritórios de assistência geral – consultoria institucional (companhias/fundações universitárias) e) Relações Instituicionais formais, através de convênios, com objetivo científico – pesquisa contratada (proprietária) – serviços contratados (desenvolvimento de protótipos, testes etc.) – treinamento de funcionários das empresas – treinamento “on-the-job” para estudantes – projetos de pesquisa cooperativa ou programas de pesquisa conjunta (1:1)

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4 Modelos de Integração

4.1 MODELOS DE INTEGRAÇÃO

Baseada nas propostas de Geiser e Rubenstein (1989) e Bonaccorsi e Piccaluga, (1994), Stal(1996) adaptou uma classificação das atividades de cooperação universidade/empresa. Para estapesquisa, esse modelo foi adaptado, buscando-se contemplar todos os mecanismos de integraçãoabordados, sem pretender esgotá-los.

a) Relações pessoais informais (sem o envolvimento da universidade)

– consultoria individual (paga ou gratuita)– workshops informais (reuniões para troca de informações)– “spin-offs” acadêmicos– publicações de resultados de pesquisas

b) Relações pessoais formais com universidades, para às necessidades da empresa, mas sem oseu envolvimento direto

– formação de recursos humanos

c) Relações pessoais formais (nesse caso a universidade é envolvida através de convênio firmadocom a empresa)

– bolsas de estudo e apoio à pós-graduação e graduação (formação de recursos humanos)– estágios de alunos e cursos “sanduíche”– períodos sabáticos para professores– intercâmbio de pessoal (participação de executivos em Conselhos acadêmicos ou de

acadêmicos em Conselhos empresariais).

d) Envolvimento de uma instituição de intermediação (a qual é formada ou já existe mas queatua com o propósito de aproximar os dois atores)

– “liaison offices”– associações industriais– institutos de pesquisa aplicada– escritórios de assistência geral– consultoria institucional (companhias/fundações universitárias)

e) Relações Instituicionais formais, através de convênios, com objetivo científico

– pesquisa contratada (proprietária)– serviços contratados (desenvolvimento de protótipos, testes etc.)– treinamento de funcionários das empresas– treinamento “on-the-job” para estudantes– projetos de pesquisa cooperativa ou programas de pesquisa conjunta (1:1)

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f) Relações institucionais formais, através de convênios, sem objetivo definido

– convênios “guarda-chuva”– patrocínio industrial de P&D em departamentos da universidade– doações e auxílios para pesquisa, genéricos ou para departamentos específicos

g) Criação de estruturas especiais

– contratos de associação– consórcio de pesquisa– incubadoras de empresas– parques tecnológicos– pólos– tecnópolis

Alguns desses tipos de integração serão abordados, a seguir, neste trabalho, uma vez que a maiorparte dos mecanismos apresentados é auto-explicativa.

4.2 RELAÇÕES PESSOAIS INFORMAIS

4.2.1 Consultoria individual

Sem o envolvimento da universidade essa consultoria ocorre através da contratação, pelasempresas, de professores universitários, que, segundo Souza (2001), normalmente temconhecimento delas. As empresas compram parte do tempo do professor, para assessorá-las nasatividades para as quais não dispõem de pessoal técnico qualificado ou quando necessitam deum parecer e orientação externos.

Para Cruz (2000), entretanto, a consultoria individual

[...] não tem sido muito intensa, tanto porque a cultura acadêmica muitas vezes impõeobstáculos porque a demanda pela empresa tem sido reduzida [...] [a atividade só fazsentido se a empresa] tiver suas atividades de P&D e necessitar de complementaçãoou conhecimentos específicos – quando não existe P&D na empresa a consultoriatende a ser inefetiva. (p. 14)

Pode-se considerar que a universidade é uma grande empresa de consultoria, pois, além decontar com profissionais altamente capacitados, dispõe deles em quantidade e em variadas áreasdo conhecimento. Para fornecer um melhor atendimento às necessidades das empresas, muitasvezes a própria universidade mantém banco de dados de seus professores.

4.2.2 Workshops informais

Os workshops informais constituem intercâmbio decorrente da interação universidade/empresapor meio de palestras e seminários. Oportuniza o encontro de professores e pesquisadoresespecializados, com diferentes visões, para discutir temas atuais da área de interesse e trocarexperiências e informações.

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4.2.3 Spin offs

De acordo com Stal (1996), com base em Geiser e Rubenstein (1989) e Bonaccorsi e Piccaluga(1994), não têm o envolvimento direto da universidade; nascem de modo informal e espontâneo,principalmente quando a universidade tem um bom desempenho científico e tecnológico, atravésda iniciativa de professores, alunos ou profissionais pós-graduados. Consistem na transferênciade conhecimentos gerados na universidade, como um produto ou serviço, para o mercado, sendoassim importantes para o desenvolvimento de organizações do setor produtivo (SCHNEIDER,1998).

Para Hirata (2000 apud NATIVIDADE 2001, p. 35), “[...] as spin offs constituem firmas ouquase-firmas de geração de tecnologia, administradas por acadêmicos, cujos produtos ou serviçossão derivados de know how técnico ou científico, geradas por pesquisas realizadas dentro dasuniversidades”.

No Brasil, existem alguns exemplos de spin offs: em São Paulo, na área de telecomunicações(Campinas e Santa Rita do Sapucaí), na área de materiais (São Carlos), em comunicação eaeronáutica (São José dos Campos); em Santa Catarina, na área de mecânica de previsão(Florionópolis), e no Rio de Janeiro, em prospecção e extração de petróleo.

Nos Estados Unidos, as spin offs foram responsáveis pelo aumento do potencial competitivo dopaís, nos anos 1990.

Além de contribuir intelectualmente, o “[...] líder dessa organização [...] tem a responsabilidadede encontrar fundos, administrar pessoal e publicar os resultados das pesquisas” (NATIVIDADE,2001, p. 37).

Fórmica (1997, p. 252) identifica três tipos de spin offs: criadas pelos professores ou pesquisadoresda universidade, ou outros centros de pesquisa, que, tendo obtido bons resultados nas suaspesquisas, pretendem explorá-los comercialmente; criadas por ex-alunos (formados) dasuniversidades que também se interessam em aplicar os resultados das pesquisas das quaisparticiparam; criadas por pessoas de fora das universidades, como profissionais do setor privado,que, com o objetivo de abrir seu próprio negócio, pretendem explorar resultados de pesquisasdesenvolvidas no meio acadêmico.

4.2.4 Publicação dos resultados de pesquisas

De iniciativa dos próprios pesquisadores, mostra-se relevante, a depender da acuidade dasempresas e de sua capacidade de interpretar as informações, podendo aplicá-las, se for o caso.Como afirma Stal (1997, p. 88), mesmo que haja uma relação de cooperação entre a universidadee a empresa, esta precisa estar sempre atenta e acompanhar os trabalhos desenvolvidos nauniversidade. “Simplesmente doar recursos para o parceiro universitário não trará para a empresauma tecnologia mais útil do que se ela aguardasse pela publicação dos resultados da pesquisa.”

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4.2.5 Relações pessoais formais (1)

4.2.5.1 Programa de formação de recursos humanos

Um dos objetivos principais da universidade é preparar pessoal qualificado, tanto nos programasde graduação quanto de pós-graduação, que será absorvido em grande parte pelas empresas. DizBrito Cruz (2002), reitor da Unicamp: “Quando a universidade educa bem os seus estudanteseles vão ser, durante toda sua vida profissional, as pessoas que vão fazer funcionar o país”.Acrescenta que “[...] a principal ajuda e interação entre universidade e empresa não vem naforma de contratos, mas na forma de estudantes que a universidade forma e que vão trabalharnas empresas”.

Da universidade espera-se, sobretudo, que forme profissionais e pesquisadores e comsólidos valores éticos e de cidadania e que gere conhecimento – ciência, tecnologia,humanidades e artes – voltado à solução de problemas relevantes para a humanidadee para a sociedade que a financia. (FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS,2002, p. 3)

É elementar reconhecer que o estímulo aos programas de pós-graduação deve ser indissociáveldo financiamento de pesquisas para que se possa aumentar a produção científica.

A integração ocorre não apenas no sentido de formação, absorção e até recrutamento de alunos,como também do custeamento de sua formação, através de bolsas de estudo, e até do financiamentode disciplinas oferecidas no curso.

Buscando atender as necessidades do mercado, no momento da elaboração do projeto pedagógicode seus cursos, muitas instituições procuram ouvir profissionais especializados, pois, além deformar cidadãos, compete-lhes preparar profissionais exigidos pelo mercado, local ou regional,a depender da vocação de cada uma delas.

Para recrutar os seus recursos humanos, muitas vezes as empresas o fazem dentro das própriasuniversidades, através de palestras, cartazes, solicitação de indicação para as universidades etc.Algumas instituições mantêm, até mesmo, um banco de dados de alunos e ex-alunos, para atendera essa demanda. Como afirma Alvim (1998), já existem essas iniciativas: “[...] seja por parte dasempresas que procuram as universidades para recrutar seus recursos humanos, seja por parte doambiente acadêmico ofertando soluções criativas, como cooperativas de recursos humanosqualificados [...]”.

4.2.6 Relações pessoais formais (2)

4.2.6.1 Bolsas de estudo e apoio à graduação e pós-graduação

A integração ocorre quando as empresas financiam alunos de graduação, ou pós graduação,através da concessão de bolsas, para cursos nas áreas de atuação da universidade, no sentido deabsorvê-los posteriormente, ou melhor qualificá-los para as atividades em que há carência deprofissionais. Em São Bernardo do Campo (SP), a FEI (Faculdade de Engenharia Industrial),por exemplo, desenvolve um trabalho em parceria com a Motorola, a fim de atender à necessidadede qualificação do quadro técnico dessa empresa, a qual investe na formação dos engenheiros,através da concessão de bolsas aos melhores alunos (FORMANDO..., 1999. p. 14).

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E há empresas que, como a Petrobras, financiam disciplinas do curso, a fim de adequar o currículode graduação ao atendimento de suas necessidades.

4.2.6.2 Estágios de alunos e cursos “sanduíche”

Normalmente os estágios são resultado de convênios das empresas com as universidades; têmpor objetivo o aprimoramento dos alunos, ao familiarizá-los com a atividade profissional,permitindo-lhes, aí, confrontar os conhecimentos que adquiriram, além de promover também odesenvolvimento de sua percepção do mundo do trabalho.

Existe um estudo concernente à eficiência de absorção do conhecimento que é deaproximadamente 80%, quando se vê, ouve, faz e experimenta, de acordo com Hillman(1991). Apenas para efeito de comparação, quando apenas se vê e ouve, a eficiênciacai para 50%” (SANTOS; SUGA, 2001, p. 102)

[...] o Estágio Curricular Supervisionado não pode ser mais visto como uma formali-dade a ser cumprida para conclusão de um curso superior. Passou a ser uma excelenteoportunidade para o aluno aplicar, aprofundar e testar seus conhecimentos e habilida-des adquiridos ao longo dos anos dentro das salas de aula (LEITE; BRANDÃO, 1999,p. 47).

De acordo com o Artigo 2º do Decreto nº 87.497 de 18/08/82, que regulamenta a Lei n° 6.494, de07/12/77, o estágio curricular deve ser realizado na “[...] comunidade em geral ou junto a pessoasjurídicas de direito público ou privado, sob responsabilidade e coordenação da instituição de ensino”.

Entretanto, como observam Vieira e Kunz (2001), o estagiário termina também contribuindopara o desenvolvimento da empresa, na medida em que passa a ser um agente através do qual sãolevadas novas informações e tecnologias.

Nessa perspectiva, a universidade deve estar consciente de seu papel social como instituiçãocapaz de formar indivíduos críticos, estimulados à conquista de novos conhecimentos e capazesde difundi-los, portanto aptos para se inserir no mercado de trabalho. Contudo, observa-se que auniversidade, diante de um cenário de acelerado processo de inovação tecnológica pelo qualpassam as empresas por causa da competitividade intensa, sente a necessidade de também setransformar para se adaptar a essa nova realidade, o que, entre outras coisas, significaria adequarseus cursos às necessidades do mercado (NOGUEIRA, 2000).

Desse modo,

[...] somente a existência de um espaço verdadeiramente livre para pensar, criticar,criar e propor alternativas às concepções prevalentes em cada conjuntura, assegurariao dinamismo necessário ao acompanhamento e à representação de uma realidade emconstante transformação (NOGUEIRA, 2000, p. 14).

Para Souza (1999), as novas formas de estágio são as empresas juniores e as oficinas piloto. Oconceito de empresa júnior nasceu na França, na década de 1960, quando a prática de mercado foilevada para a sala de aula, e 20 anos depois chegou ao Brasil, através da Fundação Getúlio Vargas.

A empresa júnior é formalmente constituída como uma sociedade civil, sem fins lucrativos,administrada por alunos de graduação, das mais diversas áreas do conhecimento, supervisionados

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por professores, com o objetivo de prestar consultoria às empresas. Como pessoa jurídica, aempresa júnior tem obrigações fiscais, mas, por estar instalada em uma universidade, que lhefornece toda a infra-estrutura necessária para funcionar, não gasta com despesas de telefone, fax,aluguel etc. Assim, pode oferecer seus serviços às empresas por um valor abaixo do cobradopelo mercado, mesmo porque a sua finalidade é promover a aprendizagem. Tem como principalobjetivo colocar os alunos de graduação em contato com a atividade prática, dando-lhes aoportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos em seu curso (CUNHA, 2001).

As oficinas piloto também são criadas na universidade e têm a supervisão de um professor.Souza (1999) cita como exemplo a experiência desenvolvida na PUC de Campinas (SP).

O curso “sanduíche” é aquele em que uma parte se desenvolve num país e outra parte noutropaís. Permite, inclusive, ao aluno obter um duplo diploma, como no caso das chamadas EscolasCentrais da França – a de Paris, a de Lyon, a de Lille e a de Nantes. Esse programa já se estendeuaos alunos da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), em que o diploma expedidoé também duplo – o dessa instituição e o das Escolas Centrais, consubstanciado em um sódocumento, nos termos do acordo de cooperação (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2003).Esse e outros programas para a permanência de alunos brasileiros no exterior podem serfinanciados pela Capes ou através de parcerias entre empresas nacionais e instituições de ensino.

4.2.6.3 Períodos sabáticos para professores

Os períodos sabáticos representam o afastamento dos professores de suas atividades normais,por um de tempo determinado, para se dedicar à realização de estudos e “aprimoramento técnico-profissional”, seja em atividades de pesquisa, seja de extensão etc. Durante esse período deafastamento, previsto em lei federal e normas complementares, o docente continua recebendoregularmente sua remuneração. Para tanto, deverá apresentar um projeto, com objetivos quejustifiquem o seu afastamento, a ser submetido à universidade.

Segundo Campello (2002), notícias da existência da licença sabática remontam ao século XII,quando foram fundadas as universidades de Bolonha e Paris. Entretanto, a concessão dessalicença pelas universidades americanas só ocorreu a partir do século XIX; no Brasil, essa prática,também de acordo com pesquisa de Campello (2002), “[...] é tão antiga quanto a história dasuniversidades[...]”, pois, desde 1912, com a fundação da universidade do Paraná, já existiamnormas que regulamentavam o descanso de seis meses, a cada sete anos, forma como foioriginalmente instituída.

Embora aplicada inicialmente apenas para atender a uma necessidade de aprimoramento intelectualdos professores, a licença sabática também já vem sendo aplicada às empresas, a exemplo daIBM – que, já nos anos 1950, facultou a seus empregados, através do programa Personal Leaveof Obsence, um período de até três meses, que depois foi ampliado. Desde essa época, a experiênciavem sendo aplicada a empresas que vêm nessa liberação uma forma de reciclar e motivar os seusfuncionários. Da mesma forma que o docente, o funcionário também deve apresentar um projetoà empresa, em que solicita e justifica a licença para fins de crescimento pessoal e profissional.

4.2.6.4 Intercâmbio de pessoal

Pode ser representado pela participação de executivos de empresas em Conselhos Acadêmicos,tendo em vista o estreitamento das relações da universidade com o setor privado, ou pela

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participação de pessoal acadêmico em Conselhos Empresariais, prática que também permite atroca de informações e experiências.

4.2.7 Envolvimento de uma instituição de intermediação

4.2.7.1 Liaison Office

Segundo Campos (1999), Stal (1997) e Cunha (1999), os Centros de Liaison são instituições deintermediação ou escritórios de contato, criados com o objetivo de “[...] servir de elo entre auniversidade e o mundo exterior”.

Os serviços de consultoria, muitas vezes, também, são oferecidos através de um “Centro deLiaison”, que funciona como uma fundação, com regulamento jurídico próprio, e tem comofinalidade resolver os problemas burocráticos das universidades.

Seu objetivo é sistematizar a comunicação intra e interuniversidades e empresas, assim como atransferência de conhecimentos e informações entre esses dois atores, promovendo várias formasde integração, tais como (LE NEWS..., 1998):

– serviços de informação tecnológica sobre produtos, processos e organizacional, podendotambém oferecer serviço de avaliação econômica, de mercado e da inovação;

– serviço de informação sobre países, mercado internacional e suas exigências, a fim de promovera exportação de produtos principalmente de pequenas e médias empresas;

– serviço de informação comercial, possibilitando o acesso de novos dados sobre alternativasde negócios para as empresas.

Os Centros de Liaison atuam como intermediários entre os empresários e os pesquisadores, poisestes, em geral, têm dificuldades para comercializar as suas pesquisas e precisam poupar seutempo de trabalho. Essa intermediação consiste em identificar as demandas externas e avaliar aspesquisas cujos resultados possam interessar a determinadas empresas. Envolve assessoria jurídicaà universidade e aos pesquisadores, inclusive para registro de patentes, preparação de contratos,prestação de serviços tecnológicos, consultoria etc.

4.2.7.2 Associações industriais (Centres Techniques Industriels)

As associações industriais são entidades de classe sem fins lucrativos, criadas com o objetivo deatender às necessidades e defender interesses do setor. Prestam serviços de assessoria,fornecimento de informações e consultas científica e técnicas, desenvolvimento de pesquisas,resolução de problemas tecnológicos, acesso a equipamentos etc. Souder e Nassar (1990 apudSTAL, 1997) consideram as associações comerciais/industriais como um arrojo organizacionalque se encaixa na definição de consórcio de pesquisa. Segundo Stal (1997), algumas dessasassociações têm vínculos fortes com universidades, sendo não rara a sua instalação em campi, afim de facilitar o treinamento dos alunos.

Desde 1948, através da Lei n° 48-1228, vigora na França um estatuto que regula a atuação dosCentres Techniques Industriels (FRANÇA, 2003), os quais foram criados, naquele país, parapromover o progresso técnico, a qualidade e produtividade das empresas a eles associadas, além

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dispensar atenção especial às pequenas e médias empresas (LES CENTRE TECHINIQUESINDUSTRIELS, 2003). São administrados por um Conselho de Administração, formado porrepresentantes das empresas, dos empregados e das instituições de ensino. No Brasil, a AssociaçãoComercial, Industrial e de Serviços São Marcos, por exemplo, tem um acordo de cooperaçãocom a Universidade de Caxias do Sul, com o objetivo de “[...] promover intercâmbio didáticoatravés de programas específicos de ensino, pesquisa e extensão”.

4.2.7.3 Institutos de pesquisa aplicada

Com objetivos específicos, esses institutos contribuem para o desenvolvimento do setor produtivonacional e para o estabelecimento de políticas públicas, podendo contar com a participação deempresas, universidades e órgãos governamentais. Um exemplo é o Instituto de PesquisasTecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), criado há mais de 100 anos, situado no campus daUSP, com área de 87.000m2. Seus objetivos são: “[...] prover apoio tecnológico ao setor produtivo;dar suporte à concepção e à execução de políticas públicas e aprimorar e disponibilizar seuacervo tecnológico” (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃOPAULO, 2003b). Para tanto, realiza atividades de pesquisas em diversas áreas, atua nodesenvolvimento de processos e oferece serviços diferenciados, através de seus 69 laboratórios.Também busca difundir o conhecimento tecnológico, contribui para a formação de pessoal, “[...]investe na construção de habitats de inovação[...]”, e recentemente vem atuando na educaçãocontinuada, com a oferta do curso de mestrado profissionalizante.

4.2.7.4 Consultoria institucional

Contempla a participação de docentes tanto em aconselhamento e estudos quanto na elaboraçãode pareceres solicitados por empresas. Geralmente oferecida por universidades, a consultoriainstitucional pode ser dada mediante várias formas. O “Disque Tecnologia”, da USP, é umexemplo. Foi criado em 1991 com o objetivo de atender às necessidades do Sindicato das Microe Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi). Funciona como um banco de dados quecontém informações de 80% das linhas de pesquisa dos docentes da USP, onde 70% das demandasse resolvem com informações básicas. (ALVIM, 1998, p. 112)

Nesse tipo de serviço, uma vez feita a consulta e estabelecido o atendimento, procede-se à análisedo problema, o qual, muitas vezes, não é claramente formulado pelo empresário.

Os micro e pequenos empresários, que chegam à universidade em busca de informa-ções, na maioria das vezes não sabem exatamente o que querem. Precisam passar peloque o administrador universitário chama de filtragem da informação. É preciso apren-der a desembrulhar o pacote que o empresário traz. Só depois disso, é que o empresá-rio será encaminhado ao especialista. (CUNHA, 2001, p. 12).

Quanto à diversidade das consultas, sobretudo de empresários, o Disque-Tecnologia visa a

[...] solucionar problemas específicos de natureza não só tecnológica [...] mas tambémadministrativa, gerencial, mercadológica, de aprimoramento profissional, das rela-ções de trabalho e de difusão cultural. (BARBOSA; BUFFOLO, 1999, p. 82)

Esse atendimento, que pode ser gratuito ou remunerado, a depender de sua demanda, vai desdeuma simples informação até o desenvolvimento ou repasse de tecnologia.

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Em 1993 foi criado, também na USP, o “Programa de Atualização Tecnológica” (Atualtec), apartir da experiência acumulada pelo Disque Tecnologia. Consiste na escolha de um tema,resultado do estudo de problemas comuns, sobre o qual se organiza um seminário (com a duraçãode quatro dias) do qual participam empresários de todos os tipos de atividades e portes. “Oprograma tem conseguido índices excelentes [...] de preenchimento das vagas oferecidas, 85%de ótimo e bom nas avaliações de reação, e vários casos bem-sucedidos de aplicações práticasdas informações” (BARBOSA; BUFFOLO, 1999, p. 84).

No que concerne a esse tipo de interação, Cunha (2001) demonstra ser crucial familiarizar-secom as demandas das empresas, por áreas específicas, para oferecer aquilo que venha a atrair ointeresse do setor, e não somente disponibilizar os conhecimentos que a universidade produz.

É importante que a universidade promova reuniões, workshops e seminários por áreasespecíficas e de interesse para os empresários de determinado setor. Assim, a escala deinteração deixa de ser de um empresário para um especialista e passa a ser de um espe-cialista para “n” empresários, aumentando a demanda a ser atendida. Eventos genéricos,sem um direcionamento específico, não funcionam. (CUNHA, 2001, p. 13)

Por causa das dificuldades vividas pelas universidades na promoção do estreitamento de suasrelações com as empresas, alguns dirigentes resolveram criar fundações, instituições deintermediação, para dinamizar e flexibilizar o relacionamento. A fundação se instala dentro dopróprio campus, podendo utilizar o nome da universidade à qual se vinculou. A universidade,por sua vez, muito se beneficia desse mecanismo, visto que os projetos contratados pelas fundaçõesfreqüentemente estão relacionados às suas linhas de pesquisa (CUNHA, 2001).

Constituída por pessoas físicas – os pesquisadores – a fundação é uma instituição de direitoprivado, sem fins lucrativos; possui maior flexibilidade que a universidade pública para subscrevercontratos, adquirir equipamentos, contratar pessoal temporário, gerir os recursos captados atravésdos convênios etc.

Ao considerar os diferentes modelos de fundações, Rappel (1998) destaca três tipos:

a) os criados por universidades;b) os resultantes da iniciativa de empresas;c) modelos mistos.

Quanto aos modelos criados por universidades, o autor sublinha o Coppetec (FundaçãoCoordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos), da Universidade Federal do Riode Janeiro, e o Núcleo de Serviços Tecnológicos, da Universidade de São Paulo.

Dos oriundos de empresas, ressalta:

a) Fóruns de Tecnologia (Forumtec), iniciativa do IEL (Instituto Euvaldo Lodi), que tem comoobjetivos: promover e gerar projetos cooperativos captadores de recursos, visando ao desenvol-vimento tecnológico regional; difundir informações de cunho tecnológico e “sensibilizar acomunidade” para temas relevantes;

b) Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Industriais (Anpei)35,cujas finalidades são: difundir a importância da inovação tecnológica no meio industrial econtribuir para a capacitação tecnológica de seus associados. O objetivo maior é a busca dacompetitividade através da inovação tecnológica.

35 Criado em 1984, através de um programa do Instituto de Administração da USP.

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Com relação aos modelos mistos, que envolvem universidade e empresas, são ressaltados:

a) Instituto Uniemp, que também se articula com agências governamentais para promover atransferência de conhecimentos da universidade o desenvolvimento de pesquisas conjuntas;

b) Fundação Certi36, criada em 1984, através da iniciativa de empresários, governo e UniversidadeFederal de Santa Catarina, para atender às necessidades de tecnologia das indústrias e contribuirpara o desenvolvimento científico e tecnológico. Além disso, a Fundação Certi também apóiaprojetos de transferência de tecnologia, consultoria, pesquisa cooperativa etc.;

c) Redetec (Rede de Tecnologia do Rio de Janeiro), implantada, em 1995, com mais de 30instituições mantenedoras, tem como objetivo promover a relação entre oferta e demanda eminovação tecnológica, o que envolve agentes de financiamento, governo e organizações privadasque contribuem para o desenvolvimento do Estado.

4.2.8 Relações institucionais formais, através de convênios, com objetivoscientíficos

4.2.8.1 Pesquisa contratada

Trata-se, conforme a própria denominação, da que se realiza mediante convênio ou contratofirmado entre as partes envolvidas, com especificação do objeto, recursos financeiros, prazo deexecução etc. Freqüentemente é mencionado o título, mas nem sempre são identificados osexecutores diretos.

4.2.8.2 Serviços contratados

Vários são os serviços oferecidos pelas universidades, através de convênios formais, comparticipação de docentes e discentes, tanto para as empresas como para a comunidade em geral,sejam eles técnicos ou gerais, a exemplo de: desenvolvimento de protótipos, testes de qualidade,análises laboratoriais, serviços mecânicos, pesquisa de mercado, diagnóstico de empresas,traduções, disponibilização de banco de dados etc.

Uma das modalidades foi a oferecida pela USP, através do programa “Tecnologia ao Seu Alcance”,veiculado pela TV Comunitária da Cidade de São Paulo, entre fevereiro de 1997 e março de1998, com o objetivo de popularizar informações tecnológicas. “Embora não existam dados demedida de audiência das televisões a cabo, esse programa trouxe demandas interessantes aoprojeto Disque-Tecnologia”. (BARBOSA; BUFFOLO, 1999, p. 84)

4.2.8.3 Treinamento de funcionários de empresas

Com essa denominação, pressupõe contrato ou convênio firmado entre empresas e universidades,mediante o qual estas prestam o serviço solicitado. Pode também configurar-se como um aditivoao convênio do tipo “guarda-chuva”, isto é, o que prevê ou assegura orientação, assistência etc.,de natureza diversa, por parte de uma universidade a diferentes empresas ou instituições.

36 Fundação CERTI – Centro Regional de Tecnologia em Informática, é uma entidade privada, sem fins lucrativos(SCHNEIDER; FIATES, 1995).

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4.2.8.4 Treinamento on-the-job para estudantes

É o treinamento, que realizado no trabalho, visa a complementar a formação acadêmica;normalmente é ministrado no último ou penúltimo período da graduação, ou mesmo logo após aformatura. Trata-se de um treinamento específico ou funcional dado nas próprias empresas, parapermitir a aquisição de experiências práticas e ampliar as possibilidades de colocação de novosprofissionais no mercado de trabalho. Dessa forma, as empresas, ao preparar os jovens paraconhecer as suas práticas e políticas, beneficiam-se de várias maneiras: passam a dispor de um“banco de talentos”, com o que dinamizam o processo de admissão de pessoas adequadas àssuas atividades.

Esse treinamento no emprego, geralmente no setor de produção, vem sendo instituído pelosnorte-americanos desde os anos 1960. Cabe, obviamente, às empresas estabelecer as condiçõesde aprovação e aproveitamento dos aprovados, exclusão etc.

Na Bahia, o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) e a Monsanto Nordeste, indústriainstalada no Copec, firmaram convênio de cooperação, em 2002, mediante o qual os estudantesdaquela instituição fizeram curso de treinamento de seis meses naquela empresa, com possibilidadede aproveitamento, em diversas áreas, como instrumentação mecânica, química e elétrica emateriais para a produção de defensivos agrícolas (MONSANTO..., 2002, p. 4).

4.2.8.4 Projetos de pesquisa cooperativa

Exigem convênio específico em que são envolvidas várias instituições, para o desenvolvimentode uma pesquisa de interesse de todas elas.

4.2.9 Relações institucionais formais, através de convênios, sem objetivodefinido

4.2.9.1 Convênios “guarda-chuva”

São convênios firmado entre universidades, universidades e empresas, universidades e organismosgovernamentais etc., cujo objeto é mais amplo, de interesse comum, dando margem a diversosaditivos para desenvolvimento de várias atividades de integração, de interesse mútuo das partesconvenentes, tais como: pesquisa, desenvolvimento de métodos e testes laboratoriais paraavaliação de produtos, consultorias especializadas, análises, treinamento de funcionários emdiversas áreas etc. Os convênios-base podem permitir o ingresso de outras instituições, as quaisparticipam, com os mesmos direitos e responsabilidades, das iniciativas.

4.2.9.2 Doações e auxílios para pesquisa

A UFBA, de acordo com seu Relatório Anual de 1984, recebeu, naquele ano, especificamentepara realizar pesquisas, auxílios e doações de diversas empresas e instituições, como Polipropileno,Petrobras, Santa Helena Incorporações e Construção, TV Aratu, Alimba, LBA, Fulbright eFundação Kellog.

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4.2.10 Criação de estruturas especiais

4.2.10.1 Contratos de associação

Mediante contrato, diversas entidades interessadas criam uma associação com um objetivoespecífico. Ela se extingue ou no momento em que esse objetivo foi atingido ou com base emfatos previstos no contrato. Normalmente, cada entidade deve contribuir com uma quantiaestipulada para a manutenção da associação.

4.2.10.2 Consórcio de pesquisa

Consiste na semelhança das atividades desenvolvidas pelas empresas do mesmo setor envolvidas(concorrentes diretas) nas pesquisas por elas patrocinadas, o que facilita a sua cooperação e asfortalece tanto frente aos novos competidores quanto às empresas que venham a oferecer produtossubstitutos. Por sua vez, essa iniciativa também ajuda a reduzir a possibilidade de que qualqueruma das empresas envolvidas constitua “[...] monopólios para a venda de produtos nomercado[...]”, como observa Stal (1997).

Quanto à localização desses consórcios, suas atividades podem ser desenvolvidas nas empresas-membro, como no Japão, ou através da criação de instalação conjunta, o que requer estruturasespeciais, como laboratórios de universidades, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos.

Os consórcios de pesquisa, em todo o mundo, podem ser classificados em dez tipos – algunscriam uma nova organização e outros utilizam instalações de universidades ou de instituiçõesenvolvidas, segundo Sander e Nassar (apud STAL, 1997):

a) “Pool” de patrocinadores de P&D: quando se agregam recursos para financiar pesquisas a serrealizadas em universidades ou outras instituições;

b) Cooperativa de Pesquisa Básica: quando os envolvidos têm interesse em desenvolver essetipo de pesquisa, a qual implica alto risco se executada por uma só empresa ou instituição;

c) Centro de Pesquisa Universitária: integrado por empresas, necessita de recursos governamentaisou privados até um período aproximado de cinco a oito anos, quando deve se tornar auto-sustentável, ou ser financiado pelas próprias empresas envolvidas ou, ainda, manter-se atravésda prestação de serviços;

d) Parceria limitada em P&D (RDLP): sociedade criada para a “obtenção de financiamento delongo prazo”37, compõe-se de um “sócio genérico”38, normalmente uma empresa, responsávelpelo início da parceria, demais sócios que têm responsabilidade limitada e não interferem nagestão e o(s) executor(es) da P&D. Nesta sociedade os investidores públicos podem adquirircotas;

e) Instituto de P&D Industrial: desenvolve pesquisas de interesse do setor, realizadas em institui-ções específicas e patrocinadas por empresas industriais;

37 Para realizar “preferencialmente desenvolvimento experimental / pesquisa comercial, estágios finais do proces-so de inovação” (STAL, p. 79).

38 O sócio genérico é representado por uma empresa que, para realizar as atividades de P&D, contrata os serviçosde outras empresas ou Institutos de Pesquisa. (STAL, 1997)

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f) Associação comercial / industrial (Associação de classe): com o objetivo de melhorar o desem-penho de um determinado setor, é uma organização, integrada por empresas concorrentes enão-concorrentes, sem finalidade de lucro, sendo exemplares as Research Associations, naInglaterra, e os Centres Techniques, na França. Alguns desses centros têm forte vínculo comuniversidades, podendo situar-se em seus campi;

g) Cooperativa de Desenvolvimento Industrial: geralmente criada por governos estaduais emantida com recursos públicos e de empresas do setor, visa a desenvolver pesquisa eletrônica;

h) Programa Agência de Governo-Indústria: com duração limitada e aporte de recursos públicos,contempla a integração de empresas com o objetivo de estudar “tópicos específicos”.

Estudiosos do assunto identificam vantagens e desvantagens nos processos de cooperação. Stal(1997) alerta para os “desafios gerenciais específicos” e para a necessidade de contínua capacitaçãointerna e acompanhamento da pesquisa, com vistas à melhor utilização de seus resultados:

Numa relação cooperativa entre empresas e uma universidade, os cientistas e enge-nheiros industriais devem estar constantemente acompanhando o trabalho desenvol-vido na universidade. Os benefícios irão para as empresas que forem mais ágeis emcaptar o significado dos resultados básicos e incorporá-los ao seu negócio. Simples-mente doar recursos para o parceiro universitário não trará para a empresa umatecnologia mais útil do que se ela aguardasse pela publicação dos resultados da pes-quisa (LEWIS, 1992 apud STAL, 1997, p. 88)

E também adverte:

[...] a participação em arranjos cooperativos é extremamente importante para o acessomais rápido a capacitações tecnológicass que não estejam bem desenvolvidas dentroda empresa. Por outro lado, reconhece-se que tais programas são insuficientes para,sozinhos, transformar a capacidade de inovação das empresas. Para a efetiva utiliza-ção dos resultados de pesquisa realizada externamente é imprescindível desenvolver acapacitação suficiente dentro das empresas. (STAL, 1997, p. 85)

4.2.10.3 Centro de Pesquisa Cooperativa (CPC)

Forma especial de consórcio, esse mecanismo de integração surgiu nos Estados Unidos, atravésda National Science Foundation (NSF), órgão que disponibiliza os recursos para viabilizar osprojetos de pesquisa e promove a utilização de seus resultados pelas indústrias (CUNHA, 2001).

Segundo Campos (1999), esses centros têm como objetivo a transferência de tecnologia originadade pesquisas desenvolvidas em seu próprio âmbito ou fora dele. “Num sentido mais amplo,esses centros realizam a comercialização dos resultados de pesquisas universitárias ou de outrosórgãos” (CAMPOS, 1999, p. 13).

Normalmente, esses centros, sediados em universidades, são multidisciplinares, pois envolvemalunos e professores de diversas áreas, e têm por objetivo desenvolver a pesquisa tecnológica.Considerado por Stal (1997) como uma “[...] forma especial de consórcio empresa-universidade[...]”, o CPC, durante cinco anos, é financiado com recursos da universidade, dogoverno e de empresas. Findo esse período, o centro deve se tornar auto-sustentável.

Alguns autores consideram que há diferenças entre o Consórcio de Pesquisa e o CPC, as quais,de acordo com Stal (1997), estão relacionadas no quadro a seguir:

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A cooperação através do CPC traz inúmeras vantagens tanto para a empresa quanto para auniversidade (STAL, 1997, p. 93-94). Entretanto, a motivação desses atores para participar deum CPC depende de vários fatores, como o nível de desenvolvimento tecnológico da empresa,área em que a universidade se destaca etc.

Para apoiar e permitir a parceria entre os envolvidos nas pesquisas, estes costumam formar umarede cooperativa.

4.2.10.4 Rede de Pesquisa

Define-se como uma organização “não-física” e não-governamental, integrada por “[...] dezenasde instituições de ensino superior, de pesquisa, empresas e órgãos governamentais” (RAPPEL,1998, p. 101), cuja duração é de tempo limitado à consecução dos objetivos perseguidos. Pressupõemobilizar a competência existente nos diversos atores que a constituem, e tem como finalidadeaproximar a oferta de C&T da demanda das empresas e do setor público, no sentido de aumentara competitividade da indústria. A pesquisa em rede é uma tendência mundial, porque reduzcustos e obtém resultados de qualidade satisfatória pela forma de trabalho integrado.

Um exemplo bem-sucedido é, no Brasil, a Rede Nacional do Projeto Genoma39, que reúne 25laboratórios – a maioria dos quais em dezoito universidades – e serve de base para um trabalhointegrado de mais de 200 pesquisadores e cientistas em todo o país.

Uma das maiores redes de pesquisa do mundo sobre eucalipto é o Genoma do Eucalipto, formadopor 12 empresas, sete universidades e três Centros da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa). Também visa a integrar a competência dos participantes para obter maiorcompetitividade das indústrias.

Também no Brasil, os Institutos do Milênio, com 17 redes de pesquisa, são integrados por várioslaboratórios do país, que contam com a participação de centros internacionais, desenvolvendotrabalhos em áreas consideradas estratégicas.

Quadro 3 – Diferenças entre o Consórcio de Pesquisa e o CPC, abordadas por Stal – 1997.Fonte: Elaboração da própria, a partir da leitura de Stal (1997).

39 Chomobacterium Violaceum, informação genética que pode ter várias aplicações como em antibióticos,antitumorais ou no desenvolvimento de bioplásticos.

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Hoje, o Brasil dispõe da Rede Nacional de Pesquisa, como parte de uma infra-estrutura capazdar suporte às diversas instituições congêneres do país.

4.2.10.5 Incubadora de empresas

Forma de integração que surgiu na era industrial, considerada por Spolidoro (1999) como “habitatsde inovação”, que é o que promove na região onde se instala. De acordo com Medeiros (1995),as incubadoras, quando surgiram, estavam ligadas às universidades ou institutos de pesquisa.Depois, constituíram-se “novas formas de vinculação”, como prefeituras, associações empresariaiscomerciais e industriais, fundações privadas e governos de Estado. Normalmente, uma incubadorafica localizada próxima a uma universidade e conta com apoio de uma organização que “fomentoua sua criação”, a exemplo do Sebrae, IEL etc.

Tem como objetivos criar uma cultura empreendedora, implantar e consolidar novosempreendimentos e produtos, principalmente os inovadores, através de um esforço conjuntoentre empreendedor e universidade, outras instituições de ensino superior, escolas técnicas, centros

Figura 15 – Rede Nacional do Projeto Genoma Brasileiro.Fonte: BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia, 2004f.

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de pesquisa, governo, setor privado, comunidade etc. Trata-se de iniciativa cujos resultados,conforme estudo de Salomão (1999), são “[...] produtos inovadores, novos empregos, maiorriqueza e bem-estar social”; deve também permitir e até garantir que num determinado espaçode tempo os empreendimentos tenham autonomia e sejam auto-sustentáveis. Revitaliza asinstituições envolvidas e reduz o índice de fracasso das empresas nela instaladas.

A importância e o sucesso desse mecanismo reside, principalmente, no fato de oselementos da integração surgirem de um mesmo meio. A empresa, embora com natu-reza distinta da universidade, é criada como resultado da união de esforços tanto doempreendedor quanto da universidade (ou incubadora), eliminando, desta forma, al-gumas das diferenças de foco entre as instituições (SALOMÃO, 1999, p. 195)

Fazer parte dos programas de incubação diminui os riscos de insucesso, porém não oselimina, embora as estatísticas apontem um pequeno índice de fracasso entre as em-presas incubadas [...] 80% dos projetos de incubação são bem-sucedidos (SILVA, 2001,p. 1).

Medeiros (1995) e Fiori (2001) observam que a incubadora oferece às empresas dois tipos deapoio – o de infra-estrutura física e administrativa e o de serviços especializados, o que permitea redução de seus custos. Como infra-estrutura física e administrativa, podem ser relacionados,entre outros: um espaço próprio para as empresas incubadas, auditórios, salas de reuniões,restaurantes, show-room, serviços de secretaria, limpeza, segurança, comunicação, almoxarifado;e, como serviços especializados, destacam-se: gestão tecnológica e orientação empresarial,assessoria jurídica, consultoria financeira, serviços de contabilidade, registro e legalização daempresa, divulgação e marketing, apoio à exportação, uso de laboratórios especializados dasuniversidades e centros de pesquisa, contratação de assessorias, registro de propriedade industrial,bibliotecas etc.

Todos esses serviços, quando compartilhados, terminam por reduzir as despesas operacionais,que são divididas entre as empresas incubadas, o que não inclui, porém, o custo exclusivo decada empresa.

As incubadoras, de acordo com a Anprotec40, Medeiros (1995) e Spolidoro (1999), podem serclassificadas em:

a) de base tecnológica ou intensivas em tecnologia: como foram concebidas inicialmente, são asintensivas em conteúdo intelectual, consideradas por Scheider e Fiates (1995, p. 43) comouma das formas mais “[...] dinâmicas e eficazes de promover o processo de inovaçãotecnológica na indústria [...]”, a exemplo das empresas que atuam nas áreas de informática,softwares, internet, e-commerce, eletro-eletrônico, telecomunicações, microeletrônica, novosmateriais, mecânica de precisão, biotecnologia, etc. Nessas, normalmente pequenas e médiasempresas, o principal insumo é a “[...] tecnologia, a idéia inovadora, a partir da qual sãodesenvolvidos e apresentados ao mercado novos produtos” (NETO; LIBERATO, 1999). E,para Medeiros, (1995, p. 12), “[...] no valor agregado de seu produto, o peso do ‘insumo’tecnologia supera os custos da matéria-prima ou da mão-de-obra convencional”. SegundoCunha (2001), essas incubadoras podem ser mantidas “[...] pelo governo, por universidades,por fundações, por empresas privadas, por cooperação de empresas com universidades, por

40 Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas), éum “órgão que representa entidades que desenvolvem programas de Incubadoras, Parques, Pólos/Tecnópoles noBrasil”.

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cooperação de governo e universidades”. Masiero e Serra (2001) assinalam que, em todo omundo, esse tipo de integração é um dos principais fomentadores da inovação tecnológica;

b) de setores tradicionais ou convencionais: as não intensivas em conteúdo intelectual.Caracterizam-se como empresas que se utilizam, muitas vezes, de tecnologia já desenvolvidae de fácil acesso no mercado, a exemplo das indústrias têxteis, de confecção, alimentos,madeira, móveis, cosméticos, coreiro-calçadista, agro-industrial etc. São, portanto, empresasque necessitam modernizar-se a partir de tecnologias mais avançadas para aumentar seu poderde competição, tanto em nível local como nacional e internacional;

c) mistas: as que abrigam empresas dos dois tipos.

Spolidoro (1999) ainda inclui uma nova classificação:

d) de negócios: as que passam a adotar uma conduta pró-ativa, identificando as oportunidades denegócios e motivando as pessoas ou grupos a criar as suas próprias empresas, ou a firmaracordos com as empresas nelas residentes.

Para Salomão (1999, p. 202), a universidade é considerada “[...] fator importante na criação deincubadoras” e o empreendedorismo, um fator “[...] eficiente para equacionar alguns de seusgrandes problemas, como transferência de tecnologia, descontinuidade no desenvolvimento deprojetos de pesquisa, falta de alternativas de empregos para recém-formados e outros”.

Quanto ao estágio das atividades das incubadoras, elas podem se encontrar em projeto, emimplantação ou em operação.

No que se refere ao desenvolvimento das incubadoras, Salomão (1999) identifica três fases: pré-incubação, incubação e implantação definitiva, enquanto Neto e Liberato (1999) propõem ummodelo integrado – Empreendedorismo-Incubadora – no qual identificam cinco fases:

A Fase 1 está voltada para a pessoa, para o empreendedor, com enfoque comportamental, quevisa, principalmente, à absorção do empreendedor pelo participante.

Aí procura-se desenvolver o empreendedor, pessoa que será responsável pela condução dasempresas, e proporcionar a estrutura necessária à transformação da “idéia de produto” em produto,quando o papel da agência de fomento se torna fundamental, que é o de “prover recursos nãoreembolsáveis”.

Salomão (1999) considera que empreendedores são as pessoas com habilidades que sobressaeme que conseguem viabilizar mudanças e “[...] assumir todo o ciclo de vida de um produto ounegócio[...]”, conduzindo as empresas à obtenção do “sucesso”.

Neto e Liberato (1999, p. 56) entendem que um empresário com visão empreendedora precisater as seguintes características natas:

[...] curiosidade marcante e forte inclinação para transformação de oportunidades emidéias e negócios, postura inovadora, capacidade de persuasão, habilidade de agregaçãode outras pessoas, espírito de liderança, disposição para assumir riscos, velocidade eadequação na tomada de decisões, visão estratégica do futuro e resistência à frustração.

Dolabela, por sua vez, postula uma metodologia para o ensino de empreendedorismo nas escolas,tendo como bases:

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[...] motivação para empreender, processo visionário, comportamento empreendedor,criatividade, capacidade de identificação, análise e aproveitamento de oportunidadese, finalmente, plano de negócios, encarado como instrumento de estudo de viabilida-de e minimização dos riscos”. (apud SALOMÃO 1999, p. 196)

Além de capacidade de inovar, o empreendedor deve possuir visão de mercado – mas, paraconcretizar as suas idéias, deve empenhar-se para obter as condições e apoios necessários.

A Fase 2 focaliza o objetivo, a idéia, que o autor considera como “Laboratório de Empresas”. Oresultado final é um “Projeto de desenvolvimento do produto ou serviço”. O amadurecimento daidéia conta com o apoio de um mentor técnico e um mentor empresarial.

Na Fase 3, o enfoque é o produto, ou a pré-incubação. Os projetos elaborados na fase anteriorsão submetidos a uma Comissão de Seleção, que, com base em vários critérios, escolhe um parao participante desenvolvê-lo e transformá-lo em Plano de Negócios com o protótipo do produto.O que se procura não é apenas a concepção em si, mas a construção de um modelo que reúnapossibilidades de vir a ser produzido e comercializado.

A incubadora de empresas da Universidade Federal do Rio de Janeiro entende que o êxito dainiciativa depende de fatores cruciais como: “[...] possibilidade de interação com a universidade,viabilidade técnica e econômica, perfil das pessoas envolvidas e impacto da tecnologia nomercado” (FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2000).

Nesta fase as incubadoras devem disponibilizar um “programa de apoio à gestão empresarial”para orientá-las também na busca de recursos financeiros (SALOMÃO, 1999, p. 206).

Na Fase 4, o enfoque é a empresa ou incubação.

Na Fase 5, o enfoque é o mercado, em que há a graduação41, quando a empresa está pronta parasair da incubadora. A implantação definitiva ocorre com a independência do empreendimento,em que se torna decisivo o apoio ao “planejamento estratégico-financeiro” da empresa. Atéentão a empresa, por estar instalada numa estrutura de universidade, podia contar com custosmais baixos, por causa do rateio com outras empresas incubadas. Ao se preparar para sair dauniversidade, a empresa precisa, de acordo com Salomão (1999), elaborar um plano de negócio42.Só assim poderá avaliar a sua necessidade de investimento e a possibilidade de equilibrar o seufluxo de caixa, além de fazer pesquisa de mercado para poder conhecer melhor a sua “estruturafuncional e viabilidade técnica e econômica”. Decidirá então se vai precisar de sócios, empréstimosetc. Enfim, conhecerá o seu fluxo de caixa, podendo projetá-lo e ter conhecimento de, em casode empréstimos, saber quando poderá pagar.

Sugere ainda o autor a criação de programas e políticas governamentais de apoio à implantaçãodessas empresas em local definitivo, os parques tecnológicos, para que elas não se inviabilizem.

41 A Anprotec conceitua empresas residentes como sendo aquelas que estão em fase de incubação, quando seutilizam de toda a infra-estrutura da incubadora. No momento em que elas passam por todo o processo deincubação, são consideradas empresas graduadas.

42 Se for construído de forma cautelosa e realística, o plano possibilita uma visão global dos negócios, reunindo dadossobre o produto, seu mercado e condições da empresa operar podendo até orientar ao participante não realizar aincubação naquele momento. Para Medeiros (1995, p. 20), “[...] um bom plano de negócios pode, inclusive, contri-buir para uma tomada de decisão oposta aos seus objetivos iniciais: fazer o candidato desistir da idéia por algumtempo, enquanto reúna condições para a abertura da empresa e ingresso no sistema de incubação”.

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É crucial o apoio das incubadoras à criação e fortalecimento das pequenas empresas, a fim deque a sinergia decorrente da convivência com as demais, de igual porte ou maiores, garanta a suasobrevivência após o período de implantação. De acordo com a Anprotec, o índice de sobrevivênciadas empresas nascidas em incubadoras é de 84% (FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISADO ESTADO DE SÃO PAULO, 2000)

Para Schneider e Fiates (1995), eis os fatores que, entre outros, exigem atenção especial durantetodo o período de incubação: seleção, acompanhamento e suporte, avaliação, capacitação eaperfeiçoamento das empresas, apoio às atividades relativas à transferência de tecnologia, apoiona busca de recursos financeiros, manutenção de relacionamento com os parceiros técnicos,gerenciamento (para o qual é necessário conhecer a “tecnologia do processo de incubação”),marketing e divulgação da incubadora e interação com as entidades governamentais e de classe.

Spolidoro (1999) identifica, no âmbito das incubadoras de base tecnológica, três tipos deincubadoras: Fase 1, Fase 2 e Centro Empresarial de Inovação.

A incubadora Fase 1 tem as “tecnologias emergentes” como base, onde o principal capital é o“conhecimento de seus fundadores”. Possui gerentes capazes de motivar pessoas ou gruposcriativos, de aceitar grupos emergentes no período de pré-incubação, de estabelecer vínculoformal com universidades, escolas técnicas, ou centros de pesquisas, para a utilização dessasinstalações, inclusive de seus laboratórios; ou, se for o caso, como sugere o autor, podem selecionarprédios ociosos ou desativados para implantar a incubação, “aproveitamento” esse que deveocorrer através de “intervenção urbana”.

A incubadora Fase 2 possui um prédio, o qual pode se situar no campus da própria universidadeou em local próximo. Como característica decisiva, a empresa já deve estar constituída e apresentar,além de um plano de negócios, a viabilidade de seu produto.

O Centro Empresarial de Inovação atende a empresas já graduadas, que, embora precisem sairda incubadora, desejam estar próximas a todos os recursos por esta oferecidos, e continuarmantendo interação com as empresas ali residentes. Normalmente, este centro pode funcionarem um prédio situado num parque tecnológico.

Entre as vantagens oferecidas por uma incubadora, destacam-se o desenvolvimento de tecnologiasavançadas, sem haver necessidade de transferência de outros países e a capacidade de geraçãode empregos pelo surgimento de pequenas e micro empresas. Para Schneider e Fiates (1995, p.44), estas são vantagens consideráveis para a empresa, a universidade e a sociedade, porque setraduzem em desenvolvimento regional e competitividade:

O processo de incubação [...] [permite] alcançar melhores resultados no que diz res-peito a: taxa de mortalidade das empresas; intensidade na geração de inovaçõestecnológicas; número de empregos gerados; número de processos de transferência detecnologia realizados com universidades; taxa de crescimento das empresas; impor-tância estratégica das EBTs (Empresas de Base Tecnológica); geração de receita eimpostos dos empreendimentos; influência da incubadora na cultura empreendedorada região.

Ou ainda, “[...] as incubadoras sinalizam para o sucesso de empreendimentos interessados naredução de riscos” (FIATES, 2001, p. 23).

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4.2.10.6 Parques tecnológicos

De acordo com Lemos e Diniz (2001), os parques tecnológicos surgiram espontaneamente; aexperiência pioneira foi a da Universidade de Stanford (EUA), no final da década de 1940, quearticulou a pesquisa e o conhecimento científico para a geração de novas tecnologias. O ParqueTecnológico de Stanford, no que se denominou Vale do Silício, na Califórnia, áreas demicroeletrônica e informática, teve seu modelo difundido a partir dos anos 1960 em função daexpectativa de impacto no desenvolvimento tecnológico resultante da pesquisa aplicada ematividades empresariais. Ainda segundo os mesmos autores, várias são as terminologias utilizadaspara identificar esse mecanismo de integração, tais como: “[...] cidade científica, cidadetecnológica, parque científico, parque de pesquisa, parque tecnológico, incubadoras” – o que,segundo outros autores, não é a mesma coisa.

No presente estudo, a incubadora é considerada como um mecanismo específico, já que ela podese localizar num parque tecnológico, mas com o qual não se confunde. Quanto à cidade científicae tecnológica, também aqui optou-se por considerá-la como um mecanismo específico – tecnópole– porque o parque tem uma localização específica numa cidade. Ele pode se ampliar, fazendocom que a cidade ou a região se transforme em espaço científico e tecnológico. Nesse caso,como aqui se entende, caracteriza-se a existência de uma tecnópole. Essas diferenças já formamostradas anteriormente.

Criados a partir de 1972, em Cambridge (Inglaterra), os parques científicos e tecnológicosrepresentam uma iniciativa que nasce com base em uma área delimitada (localizável num campusuniversitário, área industrial ou distribuída no “tecido urbano”), suficiente para receber empresas.De maneira geral, os parques estão ligados a algum centro de ensino ou de pesquisa, e normalmentepróximos a uma universidade, porque congregam várias atividades pertinentes ao conhecimentoespecializado, a fim de que as empresas neles instaladas possam aproveitar a capacidade tantocientífica como técnica dos pesquisadores e possibilitar o acesso aos laboratórios. O fato deconcentrar várias empresas e instituições de ensino e pesquisa, permite-lhes uma simbiose comas “[...] externalidades técnica e econômica” (VIEIRA; KUNZ 2001, p. 79), o que termina servindocomo atrativo para a instalação de novas empresas (MASIERO; SERRA, 2001, p. 165) efacilitando o surgimento de inovações.

Para Castells e Hall (1994) apud Lemos e Diniz (2001, p. 4), o objetivo de um parque tecnológicoé a “[...] vantagem competitiva tecnológica da localidade[...]”, e não a obtenção da qualidadecientífica, donde sua importância para o desenvolvimento regional. Os mesmos autores assinalam,porém, que “[...] as empresas [...] devem produzir bens e serviços baseados em princípios doconhecimento científico”. Entende-se por parque científico “[...] a promoção imobiliária associadacom a universidade ou outra instituição superior de ensino, objetivando principalmente facilitara transferência de tecnologia entre o mundo acadêmico e as empresas” (CAMPOS, 1999, p. 23).

O parque é fruto [...] de uma cooperação para o planejamento urbano entre institui-ções-chave, em particular a universidade, a municipalidade, o poder estatal (em geralgovernos estaduais) e as empresas, que resulta em uma nova organização de propósitoespecífico que abriga atividades de P&D. (LEMOS; DINIZ, 2001, p. 4)

Normalmente, esses parques visam a fomentar a criação de empresas, dar apoio e dinamizar apesquisa para o desenvolvimento tecnológico e de gestão, tanto no que diz respeito à modernizaçãoda indústria quanto ao aperfeiçoamento do processo de produção das empresas nele instaladas eà introdução de novos produtos.

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Devem possuir vínculos formais com instituições de ensino e pesquisa e sua gerênciadeve promover a interação das instituições residentes com as demais empresas e agen-tes de inovação na região e no país, como instituições de ensino e pesquisa, órgãos dogoverno, agentes financeiros, organizações não-governamentais e organismos inter-nacionais. (SPOLIDORO, 1999, p. 14)

Lemos e Diniz (2001) referem experiências diferenciadas de investimento nesses parques emtodo o mundo: as exclusivas para as atividades de P&D, as que integram atividades de P&D comprodução industrial e as voltadas predominantemente para a produção industrial. Como exemplodo primeiro tipo, os autores citam o Parque Científico de Barcelona (ES); do segundo, o ResarchTriangle Park da Carolina do Norte (EUA) e Cambridge Science Park (GB) e do terceiro, SophiaAntilopis Park, em Côte d’Azur (FR) e Hsinchu Science – Based Industrial Park, em Taiwan.

Como vantagens dos parques para os órgãos governamentais, Salomão (1999) destaca:

a) “melhor equacionamento dos espaços urbanos”. Nesse sentido, Spolidoro (1999) ressalta atendência da utilização dos espaços urbanos já existentes. Isso reduz a necessidade de aplicaçãode recursos em novas construções, a partir da utilização de prédios que antes abrigavamindústrias, contribuindo, dessa forma, para a revitalização de bairros industriais, com infra-estrutura existente, o que promove maior integração com clientes. Como exemplo dessesnovos tipos de parques urbanos, o autor cita o Parque Tecnológico Urbano de Porto Alegre eo Tecnoparque, de Curitiba;

b) incremento ao desenvolvimento econômico e social do local onde eles se instalam.

Segundo Cunha (2001), as vantagens de um parque para a universidade são: “[...] oportunidadede obtenção de financiamento, melhorias, feed-back das empresas e um campo de atuação paraos pesquisadores”.

Para Medeiros (1995 apud SALOMÃO, p. 198),

[...] os parques tecnológicos facilitam a articulação entre empresas e o setor educacionalcientífico e tecnológico. Mas os objetivos são mais amplos, pois esses empreendimen-tos, quando bem estruturados e conduzidos, apresentam outros importantes resultados:a) permitem repensar a questão urbana; b) proporcionam a adoção de novas tecnologias;c) melhoram o desempenho das empresas, levando ao aumento da qualidade ecompetitividade; d) proporcionam a redução de custos, decorrentes de ações comparti-lhadas entre as empresas; e) estimulam o associativismo e empreendedorismo; f) sinto-nizam as empresas com a chamada sociedade do conhecimento; g) permitem melhorinserção das empresas no processo de globalização da economia (tanto nos segmentoschamados de base tecnológica quanto nos setores econômicos tradicionais).

Lemos e Diniz (2001) também ressaltam a criação de “[...] novos mercados de produtos e serviçosespecializados” e a ampliação do mercado de trabalho, com impacto na geração da renda.

4.2.10.7 Pólos

Diz Cunha (2001) que vários autores utilizam os termos “pólos tecnológicos” e “parquestecnológicos” como se fossem sinônimos. Isso ocorre com Barbosa (1995) e Rappel (1999, p.103), quando se refere aos resultados dos mecanismos de integração: “[...] as incubadoras deempresas, e os parques ou pólos tecnológicos”.

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Os pólos são representados pela aglomeração de empresas que compartilham interesses semelhan-tes e atuam de forma articulada em um espaço determinado – cidade, município ou região – pararealizar atividades com base em pesquisas e desenvolvimento tecnológico, desfrutando, paratanto, de uma série de serviços e infra-estrutura. Tanto podem envolver segmentos industriaisinovadores, a exemplo da microeletrônica, informática, biotecnologia, como também podemagregar segmentos tradicionais que se voltam para a “[...] modernização tecnológica, qualidade,produtividade e competitividade” (RAPPEL, 1999, p. 103).

Segundo Spolidoro (1999), os pólos podem ser tecnológicos, de modernização tecnológica, deturismo, agrícolas e agroindustriais e de desenvolvimento integrado.

Pólos tecnológicos são os que têm como foco as tecnologias ditas de ponta ou de vanguarda, aexemplo da biotecnologia, microeletrônica, novos materiais e mecânica de precisão; visam aodesenvolvimento e à transferência de inovações e à criação de novas empresas. Promovem todasas condições para atrair empresas de bens e serviços de base tecnológica, para aumentar acompetitividade do local onde se encontram.

Pólos de modernização tecnológica (PMTs), surgidos no início da década de 1990, são os queintroduzem e difundem tecnologia, nem sempre inovadora, nos segmentos produtivos tradicionaisque acolhem, aos quais dão apoio e transferem tecnologia. Para isso, articulam-se com todos osagentes locais/regionais – governo, universidades, trabalhadores, empresários –, de forma que aprodução científica e tecnológica da região seja revertida em benefício da própria região. Essedesenvolvimento deverá estar baseado em áreas específicas e, “[...] consoante a realidade daspotencialidades regionais e o tecido produtivo local (fruticultura, erva-mate, metalomecânico, setoroleoquímico, couro calçadista, plástico, agroindústria, etc.)” (VILLAVERDE, 1999, p. 45).

Os projetos de PMTs dependem de algumas variáveis, como: articulação política, percepção dasdiferenças culturais dos atores e recursos humanos envolvidos e viabilidade técnicas e econômica.Villaverde (1999) faz referência a dois PMTs: o Pólo de Modernização Tecnológica, no RioGrande do Sul, e o Pólo de Modernização Tecnológica da Região Norte. Este último, comresultados expressivos, investiu na melhoria da qualidade e da produtividade de erva-mate. Sicsúe Magalhães (1998) destacam o Cetiqt (Centro Tecnológico da Indústria Química e Têxtil), noRio de Janeiro.

Pólos de turismo, como a própria denominação já diz, são os que se dedicam ao estímulo eapoio de atividades turísticas em locais e regiões que oferecem atrativos naturais e culturais.Constituem, para isso, condições necessárias de infra-estrutura, organização, marketing etc. Umexemplo é o Pólo Costa das Dunas, no Rio Grande do Norte, que abrange um sítio imenso, emtrês municípios daquele Estado, cuja grande atração é a beleza do patrimônio natural formadopor dunas, lagoas e praias. Trata-se de um empreendimento que, segundo Spolidoro (1999, p.15), enfatiza a proteção e preservação desse meio ambiente. Tal modalidade, a do ecoturismo,vem sendo ultimamente bastante valorizada.

Agropólos, como o próprio termo designa, são os que se concentram na produção agrícola,pecuária e agroindustrial. Caracterizam-se pela utilização de conhecimentos científicos etecnológicos, gerados em instituições locais ou externas, nessas áreas, com o objetivo de promovera competitividade.

Pólos de desenvolvimento integrado são os que priorizam o desenvolvimento regionalharmônico. Exigem, para isso, a formação de uma “gerência inovadora” para manter parcerias

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com instituições representativas da região e internacionais, universidades, organizações governa-mentais etc. Sua implantação implica intervenções na infra-estrutura urbana. Spolidoro (1999)refere, como exemplos, a Rota Tecnológica 459 (Minas Gerais), o pólo de Lorena (São Paulo) eo da Região da Emilia-Romagna (Itália).

4.2.10.8 Tecnópolis

Trata-se de um modelo de desenvolvimento regional integrado que envolve universidade, empresae governo. De acordo com Spolidoro (1999, p. 16) o termo foi usado inicialmente para designaruma cidade construída com o objetivo de “[...] promover a geração do conhecimento científico etecnológico e a sua transformação em bens e serviços competitivos no mercado mundial”. Talcidade, entretanto, não precisa ser construída com esta única finalidade, porque, como argumentaCunha (2001), ela não possui um espaço delimitado. Além disso, ao contrário dos parques, nãoestá, necessariamente, próxima a uma universidade. Uma cidade ou região existente pode setransformar em tecnópole, desde que busque a inovação, através de conceitos e instrumentosapropriados, e a transforme em bens e serviços. Esses instrumentos devem ser utilizados paraenfrentar os desafios de uma economia global. Para tanto, são imprescindíveis investimentos emsaneamento básico, infra-estrutura urbana, planejamento de bairros, educação etc., de forma aatrair empresas de alta tecnologia e conhecimentos científicos e promover melhoria significativada qualidade de vida de seus habitantes.

No entendimento de Spolidoro (1999), o modelo original foi modificado e ainda está em evolução.Tem as seguintes características:

a) representação própria de uma cidade ou envolvimento de vários municípios à sua proximidade,mas com os mesmos interesses;

b) “Conta com um Fórum Regional para o Futuro e um Projeto Regional para o Futuro, e tendea estruturar-se de forma inovadora no plano político-administrativo. No limite, poderá vir aser uma virtual região-Estado”;

c) o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da região envolvida;

d) capacidade altamente desenvolvida de produção com vistas à competitividade intensa nomercado internacional;

e) promoção de condições necessárias ao desenvolvimento da região: pesquisas de excelência,infra-estrutura favorável, melhor organização do espaço etc.;

f) disposição e capacidade da região de inovar sistematicamente, o que favorece os “[...] saltosparadigmais em todos os domínios, de forma a assegurar a existência das condiçõesrelacionadas nos itens anteriores” (SPOLIDORO, 1999, p.16).

De acordo com Ráfia (2001), esse tipo de integração – que envolve governo, grandes empresas,instituições científicas e setor bancário – tem como objetivos:

a) promover o desenvolvimento econômico em áreas afastadas das grandes cidades;

b) induzir as comunidades regionais e prefeituras a realizar maiores investimentos locais e voltadospara o desenvolvimento de tecnologias de interesse nacional.

Para Masiero e Serra (2001, p. 167), o melhor exemplo de tecnópole é o da cidade de Tusukuba,no Japão.

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Cunha (2001) observa que a eliminação das distâncias mediante comunicação avançada, a exemplode “reuniões virtuais”, põe abaixo a exigência de proximidade das empresas, como nos pólos eparques, o que torna a tecnópole uma alternativa bastante apreciável. Por isso, acrescenta, esseparadigma faz com que os atores envolvidos no processo de interação “[...] abandonem asconcepções de parque e pólo tecnológico e adotem a tecnópole como o programa de interaçãouniversidade/empresa que mais se adapta à realidade atual.” (CUNHA, 2001, p. 6)

4.3 MECANISMO DE INTEGRAÇÃO X DESENVOLVIMENTOREGIONAL

Conforme o exposto, em geral os mecanismos de integração contribuem direta ou indiretamentepara o desenvolvimento regional, principalmente pelo papel que exercem no incremento àprodução científica e tecnológica, seja através da educação, da consultoria individual ouinstitucional, da realização de pesquisas, da transferência de tecnologia, da criação de ambientesespeciais para instalação de indústrias etc. Escreve Fiori (2000, p. 15): “As experiências bem-sucedidas de desenvolvimento regional têm por base um forte conteúdo tecnológico capaz degerar inovação e, com ela, mais produção, produtividade e competitividade”.

Natividade (2001, p. 34), assim como diversos autores, também visualiza o impacto da tecnologiae das inovações no desenvolvimento: “A tecnologia e a capacidade de geração de inovaçãotecnológica são, no mundo globalizado, fatores determinantes do desenvolvimento econômico eda competitividade”.

Entre os diversos impactos dos mecanismos de integração no desenvolvimento regional, eisalguns deles, já indicados anteriormente, como:

– aumento dos níveis de emprego e renda da população;

– ampliação das empresas existentes e criação de novos empreendimentos que, em sintoniacom fornecedores e usuários, estimulam os investimentos em indústrias da cadeia produtiva,gerando “[...] economias de localização e aglomeração”;

– existência de infra-estrutura em ambientes como incubadoras, pólos e parques, o que permitea implantação de empresas com menor investimento, menor custo de funcionamento e ofertade pessoal especializado;

– estímulo à criação de novas empresas, a exemplo das spin offs, em decorrência da proximidadede centros de excelência em P&D;

– estímulo às micro, pequenas e médias empresas;

– incentivo às economias de urbanização, que, como afirmam Lemos e Diniz (2001, p. 5),resultam da “[...] oferta de serviços de negócios, ambientes de negócios e de inovaçãofavoráveis, mão-de-obra altamente qualificada de tecnólogos, mestres e doutores, qualidadede vida urbana”. Todos esses aspectos aumentam a produtividade das empresas e promovemo desenvolvimento de atividades com alto valor agregado. Por outro lado, os autores referemos impactos negativos nas atividades tradicionais, com reflexos nos empregos menosqualificados.