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42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

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Page 1: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

I ENTRE 0 EST ADO E 0 PODER 0 QUE E A POLfTICA

No presente capftulo discutiremos os principais elementos de uma defini~ao da eiencia polftica obscrvando 0 que sc entende por laquoposhylitiearaquo e por laquocienciaraquo Analisaremos as principais abordagens prescnshytes na ciencia politica e introduzircmos assim conceitos para analise da politica como 0 Estado 0 poder 0 sistema poHtico a escolha racional e as instituhoes Concluiremos com uma breve resenha dos metodos de pesquisa em ciencia polftica

1 A ciencia polftica para uma detinhao

Embora em Italia como no resto do continente europeu se tenda a situar 0 nascimento da ciencia politic a no final do seculo XIX obshyservou-se que logo apos a Segunda Guerra Mundial tanto em Italia como na Europa em geral os pais fundadores da ciencia politic a tinham uma formacao juridica historic a ou filosOfica laquoou seja ninshyguem daquela geracao tinha nascido cicntista politicoraquo [Morlino 1989 6] Ainda em 1975 urn dos manuais de cicncia politic a mais difundidos definia a discipJina como laquomal delineada amorfa e heteshyrogenearaquo [Greenstein e Pols by 1975 1] So muito mais recentemente se observou que laquoa ciencia politica como disciplina se tomou cada vez mais madura e profissionalizadaraquo [Goodin e Klingemann 1996

AS DELIMITA=OES

A propria definicao das delimitacocs da disciplina em relacao a materias afins e na verdade uma tarefa que comeca a enfrentar maior sistematicidade no segundo pos-guerra Com base numa formulacao

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que se evidencia em meados dos anos 50 do seculo xx [Finer 1954 parece ser urn dos caracteres - porque figura entre os mais contestashydos e menos atraentes - da contemporaneidaderaquo [Beligni 1991 11] Nao e por acaso que urn dos seus expoentes mais influentes revelou que laquose M urn elemento distintivo da ciencia politica ocidental esse consiste ainda na falta de urn acordo sobre a forma de descrever 0 seu objectivo da maneira mais exaustivaraquo [Easton 1985 95]

A HISTORIA DA CrENCIA POLITICA

A historia da ciencia polltica e com efeito muito longa ou pelo contrado breve consoante se coloca as suas origens no debate filoshysofico sobre a polftica ou se centra na ciencia polftica como disciplina baseada na busca empfrica Segundo as palavras de urn politologo influente

se tivessemos de modelar a hist6ria da ciencia politica sob a forma de uma curva do progresso no tempo dos estudos sobre a politica iniciarshy-se-ia com a ciencia politica grega daria alguns passos modestos nos seculos de Roma nao faria grandes progressos na Idade Media cresceria urn pouco com 0 Renascimento e 0 Iluminismo efectuaria algumas conquistas substanciais no seculo xx e depois explodiria em bases s6lidas no seculo xx quando a ciencia po[tica adquire caracterlsticas autentishycamente profissionais [Almond 1996 50 0 italico e meu]

Se e nesta ciencia polftica profissional do seculo xx que nos vamos concentrar neste volume 0 emergir da concepltao moderna da polftica e porem urn processo lento cujas origens se situam muito atras no tempo

DA POLISbullbullbull

De urn modo geral muitas discussoes sobre 0 conceito de polftica que partem da sua raiz etimologica recordam a polis grega Para os Gregos a experiencia da polis estava ligada ao aumento de potencia de capacidades unicas da especie humana como 0 raciocfnio e 0 uso da linguagem A polis grega foi porem urn fenomeno peculiar dishyficilmente relaciomivel com as caracterfsticas que a laquopolfticaraquo assushymiu posteriormente Com efeito se a reflexao sobre a polftica recorre insistentemente a concepltao grega acerta laquocom frequencia (para bern ou para mal) a sua nao aplicaltao as circunstancias actuaisraquo [Poggi 1996 1]

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27 cfr tambem Cotta Della Porta e Morlino 2001 73-74]

1) a ciencia politic a distingue-se da JilosoJia potica quando exshyc1ui do seu ambito jufzos morais prestando atenltao a recolha e analise dos dados empfricos

2) a ciencia polftica distingue-se do dire ito publico quando a pesshyquisa se concentra em processos reais de preferencia aos forshymais-Iegais

3) a ciencia polftica distingue-se da hist6ria quando a analise dos dados empfricos visa mais uma generalizaltao do que conhecishymentos circunscritos a uma realidade especffica no espalto e no tempo

UMA DEFINIltAO

bull Sintetizando a ciencia polftica ocupa-se da polftica como ela e e nao como deveria ser concentra-se em processos reais e nao nos formais-Iegais visa conhecer generalizaveis e nao especfficos Na verdade a ciencia polftica foi definida como laquo0 estudo ou pesquisa com a metodologia das ciencias emplricas de diversos aspectos da realidade potica a Jim de a explicar 0 mais completamente POSSIshy

velraquo [Morlino 1989 6] o metodo da disciplina e portanto 0 das ciencias empiricas e 0

seu objectivo a realidade polftica Mas 0 que e a laquopolfticaraquo Equal e 0 metodo das ciencias laquoempfricasraquo Tentarei oferecer alguns eleshymentos de resposta a estas perguntas no presente capitulo

2 0 que e a politica

Como acontece com muitos conceitos centrais das ciencias sociais o de poUtica tambem assurniu vados significados alterando conotaltoes no tempo e no espalto adaptando-se a varias abordagens teoricas e enchendo-se de diversos conteudos empiricos Como se observou laquohoje mais do que ontem a resposta ao quesito canonico 0 que e a polftica apresenta-se problematica e incerta porque nenhum ambito da vida associada parece subtrair-se a politizaltao e essa tendencia

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ENTRE LIBERDADE E DlREITOS 0 QUE E A DEMOCRACIA

Urn tema central para a ciimcia politica refere-se aos regimes politicos com uma distin~ao fundamental entre democracias e nao-democracias Ao longo do presente capishytulo abordaremos as decisoes dos dois tipos de regime 0

modo como os regimes democraticos se afirmaram em alshyguns partidos do mundo a no~ao de cidadania Trataremos da evolu~ao das democracias das Iiberdades individuais e dos direitos colectivos Paralelamente tentaremos compreshyender a razao pela qual regimes nao-democraticos dominashyram em grande parte do mundo

1 Democracias e nao-democracias

grande parte da ciencia politica concentrou-se no estudo das democracias que serao igualmente 0 centro da atensao do presente capftulo A pesquisa nao s6 se referiu de preferencia aos regimes democTClticos - onde quer os recursos materiais disponiveis quer a presensa de liberdade de pens amen to permitiram desenvolver refleshyx6es teoricas e pesquisas empfricas - mas tamMm quando se tratou dos regimes nao-democniticos recorreu-se a conceitos e hip6teses construfdos na analise das democracias Enquanto a propria definisao de regimes niio-democraticos contrasta com a de democracias algushymas das principais abordagens ao estudo dos paises nao-democraticos tomaram como modelo os regimes democniticos Em particular nos anos 50 do seculo xx vlrias teorias sabre 0 desenvolvimento poUtico sugeriram a aplicasao aescala mundial do modelo de modernizas3o

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politica e economia experimentado no mundo ocidental A guerra Vietname que evidenciou as consequencias dramaticas das tentativag de exportar 0 modelo ocidental de moderniza9ao aos pafses em de desenvolvimento provocou urn declfnio definitivo na tentativa de elaborar teorias gerais do desenvolvimento acusadas de reflectir 0

c1ima da guerra fria [Wiarda 1991 2]] Embora os estudos mais recentes se refiram todavia ao modo como organismos internacionais governativos ou nao podem ajudar a afirmacao da democracia nos pafses em vias de desenvolvimento do chamado suI do mundo (sobreshytudo em Africa e America Latina) reproduzindo algumas conshydi90es culturais e associativas ja experimentadas no mais rico Norte [Schmitter e Brouwer 2000]

Se grande parte da aten9ao dos polito logos se concentrou na demoshycracia isto nao significa que exista uma definicao univocamente aceite do conceito As defini90es classicas de democracia salientam 0 papel legitimante dos cidadaos

o QUE E A DEMOCRACIA

A democracia e 0 poder pelo povo do povo e para 0 povo deriva do povo pertence ao povo e deve ser usado pelo povo Portanto 0

poder dos governantes resulta da investidura popular

Urn dos cientistas politicos mais influentes sobre 0 tema Robert Dahl definiu a caracterfstica fundamental da democracia como laquoa capacidade dos governos para satisfazer de forma continuada as preferencias dos cidadaos num cenario de igualdade polfticaraquo [1971 trad it 1980 279] Esta defini9ao salienta urn c1emento normativo isto e afirma-se 0 que a democracia deve ser - em particular a correspondencia necessaria entre decisoes dos politicos e desejos da populaltao Este tipo de definiltao apresenta problemas de aplica9ao a pesquisa empfrica

como deterrninar ate que ponto alguns problemas reais se aproximam au afastarn da ~~correspondenciaraquo real ou responsiveness considerada necessaria Como e possivel deterrninar as laquodesejosraquo ou as laquopreferenshyciasraquo dos cidadaos Quem tern 0 direito de os exprimir sem os trair Oll

modificar Valem apenas as laquopreferenciasraquo da maioria Mas urn regime democnitico nao deve proteger igualmente as rninorias Como medir pois a laquocorrespondenciaraquo ou a responsiveness ou a laquocongruenciaraquo [Morlino 1986 84]

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os PROCESSOS DEMOcRATlCOS

o proprio Dahl sugeriu que na garantia da capacidade de resposta das democracias ba uma serie de processos - daqui a noltao de defishyni9ao processual - que devem permitir aos cidadaos formular e fazer pesar as suas preferencias Urn governo em condi90es de responder aoS cidadaos deve garantir que cada urn possa

1) formular as suas preferencias 2) apresenta-Ias aos cidadaos atraves do recurso a uma aC9ao inshy

dividual e colectiva 3) providenciar para que laquotenham 0 mesmo peso na conduta do

governo ou por outras palavras nao haja discrimina90es conshysoante os conteudos ou origem dessas preferenciasraquo lDahl 1971 trad it 1980 28-29]

Para que estas tres condicoes se verifiquem ba necessidade de oito garantias institucionais

1) liberdade de constituir organiza90es e aderir as mesmas 2) liberdade de expressao 3) direito de voto 4) direito de competir pelo apoio e pelos votos 5) elegibilidade dos cargos polfticos 6) fontes de infonna930 alternativas

elei90es livres e correctas 8) institui90es que tornem 0 governo dependente do voto e das

outras formas de expressao de preferencias politicas

o PAPEL DAS ELEICOES

As eleitoes tern urn papel central na difusao da democracia represhysentativa em particular na passagem das defini90es normativas para as processuais da democracia Elei90es livres e correctas e institui90es Constitufdas por eleitos sao garantias indispensaveis a democracia laquourn sistema representativo nao pode existir sem elei90es peri6dicas aptas para tornar os governantes responsaveis nos confrontos com os governados [ J urn sistema politico qualifica-se como representativo no caso em que praticas eleitorais honestas garantam urn grau de correspondencia razoavel dos governantes nos confrontos com os governadosraquo [Sartori 1990 230]

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Urn elemento indispensavel para que haja democracia e a existenshycia de eleicoes competitivas correctas e recorrentes Com efeito nao e suficiente que se realizem deve tratar-se de eleigoes em que haja uma competi(ao real entre os candidatos que seja tambem correcta e que se repetiram a urn ritmo regular (de modo que quem celeito saiba que deve pres tar contas aos eleitores dos seus actos dentro de urn determinado periodo de tempo) As elei(oes devem funcionar como elementos de responsabilizacao vinculando os principais actores do governo - uma vez que a democracia comporta urn sistema institucioshynalizado de representa(ao laquorealizada atraves da designa(ao eleitoral livre de certos organismos fundamentais (sobretudo os parlamentos)gtgt [Cotta 1990 933 j

~-A CONSTlTUCIONALIZAIAO DOS DIRElTOS

Assim a propria concepCao de urn poder constitucional salienta a necessidade de lirnitar todo 0 tipo de poder inclusi ve 0 dos orgaos representativos submetendo-o ao direito Na verdade a democracia sujeita 0 poder da maioria a urn controlo jurisdicional de respeito pela lei e pela Constituicao IKelsen 1998 123] Ern democracia a obtenshy(ao da maioria parlamentar da direito a decidir em muitas coisas mas nao ern tudo Os direitos das maiorias sao tutelados alraves daquilo que foi definido como laquoconstitucionaliza(aoraquo de alguns direitos ou seja fazem depender 0 arbftrio da maioria de alguns elementos funshydamentais para 0 pacto social em que as democracias se baseiam

Ao contnirio pode dizer-se numa primcira aproximacao que os regimes nao-democraticos se earacterizam pela ausencia de eleigoes competitivas e instituigoes responsliveis Nao e por acaso nas fases passagem de urn nao-democnitico para urn democrashytico que as eei(oes sao corn frequencia orientadas por organismos internacionais que controlam a sua reclidao e aprovacao elementos que representam urn momenta fundamental

2 A primeira dcmocratizacao

o EMERGIR DA DEMOCRACIA

As democracias evolufram atraves nao so de urn alargamento do direito do voto mas tambem do reconhecimento de uma serie de direitos civis politicos e sociais hoje considerados fundamentais

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III ENTRE INTERESSES E IDENTIDADE o QUE 13 A PARTICIPAltAO POLlTICA

Na reaIidade das democracias ocidentais a participa~ao e selectiva nao s6 0 numero dos cidadaos que participam politicamente e limitado como alguns grupos participam menos do que outros No entanto como veremos no presente capitulo 0 repert6rio da participa~ao ampliou-se no tempo em formas de ac~ao nao convencionais que envoI vern grushypos mais amplos da popula~ao AICm disso observaremos como a constru~ao de identidades colectivas e a emergencia

de valores p6s-materialistas se ligaram as novas formas de participa~ao Ocupar-nos-emos a seguir do tema sobre as vantagens e desvantagens da participa~ao em particular nas suas formas menos convencionais e falaremos do Iugar particular de participa~o que e a esfera publica

s uma premissa )

) o tema da participa~ao e central para a polftica e para a democrashymiddot0 proprio conceito de politica referindo-se na sua etimologica

S grega exige uma imagem de participa~ao no agora intervem

l shydo raciocfnio para elabora~ao das decisoes A chamada laquodeshy

i-a

dos antigosraquo mantem esse elemento de intervensao directa ~rullO disse-se com frequcncia que as laquodemocracias dos modershy

) tern pouco que ver com a polis grega trata-se na verdade como

1 de democracias representativas onde as decisoes sao tomashy

pelo povo e por isso delegados para governar

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DEMOCRACIA E PARTICIPAAO

A par da concepciio representativa da democracia existe outra qUe salienta a necessidade que os cidadaos natural mente interessados na politica tern de assumir directamente a tarefa de intervir nas decisoes referentes a causa publica Enquanto a democracia representativa preshy

a constituisao de urn corpo de representantcs especializados a democracia directa pelo contririo atribui fortes vfnculos ao principio da delegaSao encarada como instrumento de urn poder oligarquico Se a democracia representativa se baseia numa igualdade formal - uma cabesa urn voto - a directa e participativa porque reconhece 0 direito dc decidir somente a quem revela dedicaSao pel a causa publica Enshyquanta a democracia representativa e com frequencia burocratizada com uma centralizaS3o das decisoes no vertice a direct a insiste na necessidade de levar as decisoes 0 mais perto possfvel das pessoas

Se a tensao entre representaciio e participaciio esta sempre preshysente nas concepltoes da democracia com uma clara pre valencia da primeira na evolultao concreta das instituisoes democratic as e todavia necessario urn certo nfvel de participaltao para legitimar os represenshytantes A pr6pria ideia da soberania popular pressupoe a participasao que na verdade se desenvolveu na Europa em meados do seculo XVIII

de urn espaso publico que permitiu a acsao recfproca entre os cidadaos e os representantes das instituisoes [Mayer e Perrineau 1992

Por conseguinte esta estendeu-se atraves das virias etapas alargamento do sufragio eleitoral principal instrumento da participashySao dos cidadaos [efr cap 2] Cada vez mais presentes nas democrashycias contemporaneas sao por outro lado correctivos do principio da delegas1io em particular sob a forma do referendo ou da consulta directa aos eleitores sobre tematicas singulares e a participaSao de varias formas dos cidadaos na activasao de politicas publicas

o QUE E A PARTICIPAAO

bull Mas que significa laquoparticipaltao polfticaraquo Foi definida como laquo0

envolvimento do individuo no sistema politico a vdrios niveis de acshytividade do desinteresse total a titularidade de um cargo polfticoraquo [Rush 1992 trad it 1998] Numa concepltao mais limitada comshypreende quais os comportamentos dos cidadaos orientados para influenshyciar 0 processo politico [Axford et al 1997 109]

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Nas formas minimas considera-se participaltao a exposiltao volunshya mensagens politic as [leitura de jornais ver 0 telejornal etc)

caso fala-se de simples presenSa diferente da activaltao que quando urn indivfduo se empenha em actos politicos

nressao laquoparticipasao politicaraquo compreende comportamentos muito do voto amilitancia num partido da discussao sobre politica organizada [para uma informaltao Sani 1991l A decisao de urn certo comportamento como forma de participasao poshy

nem sempre e facil Assim perguntou-se se fazem parte da cipasao politica os actos que se efectuam por motivaSao politica s que exercem cfeitos politicos - se urn individuo participa por

numa manifestaciio contra 0 encerramento de uma fabrica uma acltao polftica mesmo que as suas motivasoes sejam

dominantemente econ6micas [Lagroye 1993 324]7 E quem excshyactos terroristas para alterar uma decisao do govemo laquoparticipa icamenteraquo E quem paga para ser incumbido de uma empreitada

sobre os problemas de definisao 0 debate se mantem a pesquisa empirica tentou determinar quem quanto como e participa

selectividade da participa~ao

PARTICIPAAO CONVENCIONAL

numerosas as pesquisas sobre 0 envolvimento dos cidadaos nas formas de participasao Durante muito tempo os estudiosos traram-se nas convencionais com exclusiio explfcita das acltoes

nao-convencionais Numa das primeiras investigaltoes sobre 0

Lester Milbrath [1965 18] definiu por cxempl0 os seguintcs Irtamentos nivelados em relacao ao empenho exigido

Expor-se a solicitaltoes politicas Votar Entabular uma discussao politica Tentar convencer alguem a votar de determinado modo Usar urn distintivo politico Ter contactos com urn funciollltrio ou dirigente politico Fazer ofertas em dinheiro a urn partido ou candidato Assistir a urn comfcio ou assembleia politica

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9) Dedicar tempo a uma campanha politica 10) Tornar-se membro activo de urn partido politico 11) Participar em reunioes onde se tomam decisoes politicas 12) Solicitar contribuiltoes em dinheiro para causas politicas 13) Candidatar-se a urn cargo e1ectivo 14) Ocupar cargos politicos ou de partido

Vma quesUio a qual os estudiosos prestaram muita atenltao foi a selectividade da participaltao de varios grupos da populaltao Em alshygumas pesquisas tentou-se assim salientar e depois explicar 0 laquoquanshytoraquo e 0 laquoquemraquo da participaltao

21 Quanta participafiio

Se as teorias norrnativas afirrnaram que a participaltao legitima a democracia e os estudos comparados se debrultaram sobre as aclt6es reciprocas entre participaltao e desenvolvimento das instituiltoes deshymocraticas as pesquisas sobre comportamentos individuais apresentashyram uma imagem diferente das democracias contemporaneas Invesshytigaltoes conduzidas principalmente com base em sondagens de opiniao revelaram que a democracia convive com taxas de participaliio muito baixas

BAIXAS TAXAS DE PARTICIPAyAO

Vma das primeiras pesquisas sistematicas sobre participaltao polfshytica efectuada nos Estados Vnidos Gra-Bretanha Alemanha Italia e Mexico no inicio dos anos 60 do seculo xx revela urn interesse pela politica limitado e uma taxa de participaltao ainda mais baixa Como Gabriel Almond e Sidney Verba escrevem teoricamente uma demoshycracia em funcionamento necessita de cidadaos informados sabre tematicas politicas empenhados activamente nelas e capazes de exershycerem influencia nas decisoes pUblicas Infelizmente porem as suas indagaltoes sobre 0 comportamento politico laquopoem em duvida este modelo activista e racional pois tcirna-se evidente que os cidadaos dos sistemas democraticos s6 muito raramente respondem a este madelo Nao estao bern informados nem empenhados profundamente ou parshyticularrnente activosraquo [Almond e Verba 1963 474]

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Tarnbem outras investigaltoes no mesmo periodo confirrnaram que democracias funcionam com uma taxa de participaltao muito mais do que a ventilada nas teorias norrnativas como condiltao necesshy

de urn born governo Na verdade salientaram que as actividades se referiam a urn numero reduzido de cidadaos [Lagroye

312] No seu famoso estudo Lester Milbrath [1965] observou por exemshy

que nos Estados Vnidos os laquogladiadoresraquo muito activos em eram apenas 7 dos cidadaos os laquoespectadoresraquo empenhashy

num nivel minimo 60 e os laquoapaticosraquo totalmente desinteresshyj~ados 30 Verificaram-se resultados similares no mesmo pais numa (tllPesquisa de Verba e Nie [1972] que distinguindo tambem 0 nivel l~erritoria1 da participaltao apuraram 22 de cidadaos totalmente passhyliivos a que se juntavam 21 que se limitavam a votar quanta aos 6utros 20 eram laquolocalistasraquo que s6 se interessavam pelas questoes

4cms e 4 laquoparoquianosraquo que apenas se ocupavam do que lhes dizia iespeito directamente 15 laquocontendentesraquo que se mobilizavam em

campanhas especificas e somente 18 laquoactivistas globaisraquo envolvishy80s por todo 0 arco das quest6es politicas A quantidade de pessoas activas reduzia-se alem dis so a medida ~be se subia no grau de empenhamento por exemplo de ir votar a linteressar-se pela politica participar em actividades de partido inscreshyver-se numa organizaltao politica e preencher cargos pUblicos Aumenshy

~t1llva portanto em cada passagem 0 grau de selectividade da particishylPaltao

Participariio e desigualdade

o problema da selectividade aumentou pelo facto de a percentagem que participam tender a nao ser representativa da populaltao

~eu conjunto Ou seja ha desigualdades na medida da participaltao por conseguinte na influencia pof[tica dos diferentes grupos Seshy

a investigaltao de Milbrath [Milbrath e Goel 1977] os niveis n~~~ - mais elevados referem-se em igualdade de condiltoes

aos que tern niveis de instrultao mais elevados aos provenientes das classes medias em relaltao a quem faz Parte da operaria

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c) aos homens em relaltao as mulheres d) as pessoas em fases de idade intermedias (nem muito jovens

nem demasiado idosas) e) aos casados em relaltao aos solteiros 1) aos que residem na cidade em relaltao aos que vivem em areas

mrais g) a quem vive ba muito tempo num Iugar em relaltao a quem

acaba de se transferir para hi h) aqueles que pertencem a maiorias etnicas i) aqueles que estao empenhados socialmente eou em organizashy

ltoes de varios tipos

pesquisa sobre a participaltao nos Estados Unidos Verba e Nie (1972) observaram que quanta mais alto 0 estatuto social (riqueza prestigio) de urn individuo maior a sua tendencia para participar o mesmo resultado foi confmnado seguidamente noutro estudo Participaltao e Iguaidade Polftica [Verba Nie e Kim 1978) que comshyparava sete naltoes Os autores escrevem que apesar de os sistemas democratieos serem em principio igualitarios (baseando-se no sufrashygio universal e portanto no princfpio de laquouma cabelta urn votoraquo) na pnitiea laquoa influencia polftica exercida pelos cidadaos varia de forma consideravelraquo Com efeito as desigualdades sociaL~ e economicas reflectem-se em desigualdades polltieas laquoAssim que os cidadaos convertem estes recursos em influencia politica a desigualdade poHshytiea torna-se evidente A vanta gem politica dos cidadaos maioritashyriamente favorecidos em termos socioeconomicos encontra-se em todas as naltoesraquo [ibidem 37) Hierarquias de estratificaltao politica e hieshyrarquias de estratificaltao socioecon6mica andam a par - embora com algumas diferenltas de pais para pais

Na verdade quem tern urn estatuto mais elevado dispoe de recursos materiais (em primeiro lugar dinheiro) e simb6licos gio) para investir na participaltao No que se ref ere aos primeiros quem dispoe de mais dinheiro e tempo livre pode utiliz3-los com menores custos marginais em actividades politicas Alem disso quem tern prestigio disp5e tambem de maior influencia a sua participa~ao tern mais possibilidades de exito porque 0 estatuto social elevado

comporta melhores oportunidades de acesso a quem toma as decisoes

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ainda quem dispoe de urn estatuto mais elevado sabe como se participar pois com ele aumenta a instmltao e qucm e mais sabe melhor 0 que deve fazer quando se trata de defender os

interesses Se quem tern urn estatuto social elevado compreende dos politicos e julga saber como influenchi-Ios quem nlio

esses recursos aceita a sua incompetencia e delega a intervenshypolitica noutros E pois este sentimento de incompetencia e nao

lusencia de opinioes (evocada noutras explicaltoes) que estes afastar-se da participaltao

que se colocam numa posiltao central do ponto de vista tern igualmente uma vantagem psicologica a instrultao e presshy

incutem confianlta em si proprios e portanto na sua capacidade mudar as coisas 0 estatuto socioeconomico aumenta os niveis de

porque incrementa a confian9a na efidtcia polftica 0 frances Pierre Bourdieu falou a esse respeito do scntimento

ter 0 laquodireito a palavraraquo sentimento esse intimamente ligado a social [Bourdieu 1979 180]

A DESIGUALDADE POLITICA

A igualdade polftica e portanto pelo menos em parte uma utopia como se revelou utopica a esperanlta difusa que a democracia

poder aos menos privilegiados atraves de urn direito de voto para todos teria levado a abolir os privilegios Esta esperanlta

no poder do numero sendo mais numerosos que os privishyos menos privilegiados poderiam desfmtar dos direitos poshy

com vantagens pr6prias As capacidades desiguais de utilizar os de participaltao explicam 0 malogro parcial na utilizaltao do

do numero para superar as desigualdades economic as e sociais que os cidadaos sao diferentes uns dos outros nas capacidades

gtlltilizar as oportunidades de participaltao politic a laquoa vantagem do pode ser contrabalan9ada pelo uso desigual das oportunidades

Participaltao por parte de quem e economicamente mais forteraquo Nie e Kim 1978 43) mindo nas democracias as oportunidades formais de igual

sao utilizadas desigualmente por varios grupos sociais Se a corresponde a procura de igualdade pode porem reproshy

as desigualdades Ampliando-se a participa9ao admite-se que influencia nas decisoes publicas individuos cuja dota9ao de

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recursos economicos ou de estatuto e profundamente diferente Como Alessandro Pizzorno sintetizou

todo 0 indivfduo participa pelo menos potencialmente com 0 coefi_ ciente de diferenciacao e desigualdade (para nao empregar 0 tenno laquoprivilegioraquo que teria demasiado sabor a ancien regime) que caracshyteriza a sua posicao no sistema dos interesses privados [1966 90]

3 As novas formas da participacao

A PARTICIPAltAO NAO-CONVENCIONAL

Se a analise da selectividade da participaltao considerou principalshymente as suas formas mais convencionais (sobre a participaltao eleishytoral cfr cap 5) a partir dos anos 70 do seculo xx os estudiosos comeltaram a observar urn crescimento rapido de formas novas naoshy-convencionais (ou directas) de participaltao politica Entre elas hil [por exemplo Dalton 1988]

1) Escrever a urn jornal 2) Aderir a urn boicote 3) Auto-reduzir impostos ou rendas 4) Ocupar ediffcios 5) Bloquear 0 transito 6) Assinar uma petiltao 7) Fazer urn sit-in 8) Participar numa greve selvagem 9) Tomar parte em manifestalt6es pacfficas

10) Danificar bens materiais 11) Utilizar a vioH~ncia contra pessoas

Isto leva a interrogarmo-nos sobre os varios estilos de participa(Jiio proprios de diferentes grupos sociais geralt6es ou nalt6es e as condishylt6es para 0 desenvolvimento de novas formas de participaltao

Numa importante investigaltao comparada efectuada nos anos 70 do seculo xx sobre varias democracias ocidentais Samuel Barnes e Max Kaase observaram que a respeito de leis e decis6es considerad~s injustas ou ilegais grupos cada vez mais numerosos de cidadaos estaO

disponiveis para recorrer a formas de acltao caracterizadas pela sua nao-convencionalidade laquoNas sociedades industriais avanltadas as

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de acltao politica directa nao ostentam 0 estigma do desvio sao encaradas como anti-sistema na sua orientaltaoraquo [Barnes et

1979 157] Por exemplo entre 1960 e 1974 a percentagem dos respondem laquoaclt6es politicas nao convencionais como manifestashy

apergunta laquoQue pode urn cidadao fazer quanto a urn regulashylocal considerado injusto ou prejudicialraquo aumentou na Grashy

iTetalha Estados Unidos e Republica Federal Alema de menos de para mais de 7

observaltao adicional diz respeito a combinaltao de interesses e aclt6es convencionais e aclt6es nao-convencionais Inicialshy

pensou-se que os indicadores de participaltao politica tendiam ou seja quem lia mais tendia a empenhar-se mais nas

mais tradicionais Depressa se descobriu que ao contrario haver varios laquoestilosraquo de participaltao pelo que alguns indivishy

ou grupos tendiam a escolher umas formas de acltao e outros WIlliam outras $egundo os resultados da investigaltao nao se pode contudo falar

verdadeira e propria rotura entre os que utilizam tactic as de participaltao e os que por outro lado recorrem as

tacticas de acltao directa Com efeito a participaltao convenshyesta com frequencia relacionada com a nao-convencional indishyque pessoas interessadas na politic a e competentesno campo a utilizar simultaneamente varios instrumentos possiveis para

os governos Se M individuos que preferem urn ou outro de estrategia existem muitos que os combinam entre si

untando participaltao em actividades convencionais e actividades ~onvencionais podemos distinguir

Inactivos que quando muito leem politica ou assinam uma petiltao

Conjormistas que se empenham urn pouco mais nas actividashydes convencionais

Rejormistas que laquoparticipam de modo convencional mas ampliam 0 repertorio politico ate abraltar formas legais de

t protesto manifestalt6es ou mesmo boicotes lV Activistas que laquoamp Iiam 0 repertorio no seu nivel maximo

em alguns casos ate incluir formas de protesto nao legaisraquo Contestatarios que adoptam todas as formas nao-convencioshynais mas recusam as convencionais de participaltao

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A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 2: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

IIII1

que se evidencia em meados dos anos 50 do seculo xx [Finer 1954 parece ser urn dos caracteres - porque figura entre os mais contestashydos e menos atraentes - da contemporaneidaderaquo [Beligni 1991 11] Nao e por acaso que urn dos seus expoentes mais influentes revelou que laquose M urn elemento distintivo da ciencia politica ocidental esse consiste ainda na falta de urn acordo sobre a forma de descrever 0 seu objectivo da maneira mais exaustivaraquo [Easton 1985 95]

A HISTORIA DA CrENCIA POLITICA

A historia da ciencia polltica e com efeito muito longa ou pelo contrado breve consoante se coloca as suas origens no debate filoshysofico sobre a polftica ou se centra na ciencia polftica como disciplina baseada na busca empfrica Segundo as palavras de urn politologo influente

se tivessemos de modelar a hist6ria da ciencia politica sob a forma de uma curva do progresso no tempo dos estudos sobre a politica iniciarshy-se-ia com a ciencia politica grega daria alguns passos modestos nos seculos de Roma nao faria grandes progressos na Idade Media cresceria urn pouco com 0 Renascimento e 0 Iluminismo efectuaria algumas conquistas substanciais no seculo xx e depois explodiria em bases s6lidas no seculo xx quando a ciencia po[tica adquire caracterlsticas autentishycamente profissionais [Almond 1996 50 0 italico e meu]

Se e nesta ciencia polftica profissional do seculo xx que nos vamos concentrar neste volume 0 emergir da concepltao moderna da polftica e porem urn processo lento cujas origens se situam muito atras no tempo

DA POLISbullbullbull

De urn modo geral muitas discussoes sobre 0 conceito de polftica que partem da sua raiz etimologica recordam a polis grega Para os Gregos a experiencia da polis estava ligada ao aumento de potencia de capacidades unicas da especie humana como 0 raciocfnio e 0 uso da linguagem A polis grega foi porem urn fenomeno peculiar dishyficilmente relaciomivel com as caracterfsticas que a laquopolfticaraquo assushymiu posteriormente Com efeito se a reflexao sobre a polftica recorre insistentemente a concepltao grega acerta laquocom frequencia (para bern ou para mal) a sua nao aplicaltao as circunstancias actuaisraquo [Poggi 1996 1]

15

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~i

I

27 cfr tambem Cotta Della Porta e Morlino 2001 73-74]

1) a ciencia politic a distingue-se da JilosoJia potica quando exshyc1ui do seu ambito jufzos morais prestando atenltao a recolha e analise dos dados empfricos

2) a ciencia polftica distingue-se do dire ito publico quando a pesshyquisa se concentra em processos reais de preferencia aos forshymais-Iegais

3) a ciencia polftica distingue-se da hist6ria quando a analise dos dados empfricos visa mais uma generalizaltao do que conhecishymentos circunscritos a uma realidade especffica no espalto e no tempo

UMA DEFINIltAO

bull Sintetizando a ciencia polftica ocupa-se da polftica como ela e e nao como deveria ser concentra-se em processos reais e nao nos formais-Iegais visa conhecer generalizaveis e nao especfficos Na verdade a ciencia polftica foi definida como laquo0 estudo ou pesquisa com a metodologia das ciencias emplricas de diversos aspectos da realidade potica a Jim de a explicar 0 mais completamente POSSIshy

velraquo [Morlino 1989 6] o metodo da disciplina e portanto 0 das ciencias empiricas e 0

seu objectivo a realidade polftica Mas 0 que e a laquopolfticaraquo Equal e 0 metodo das ciencias laquoempfricasraquo Tentarei oferecer alguns eleshymentos de resposta a estas perguntas no presente capitulo

2 0 que e a politica

Como acontece com muitos conceitos centrais das ciencias sociais o de poUtica tambem assurniu vados significados alterando conotaltoes no tempo e no espalto adaptando-se a varias abordagens teoricas e enchendo-se de diversos conteudos empiricos Como se observou laquohoje mais do que ontem a resposta ao quesito canonico 0 que e a polftica apresenta-se problematica e incerta porque nenhum ambito da vida associada parece subtrair-se a politizaltao e essa tendencia

14

ENTRE LIBERDADE E DlREITOS 0 QUE E A DEMOCRACIA

Urn tema central para a ciimcia politica refere-se aos regimes politicos com uma distin~ao fundamental entre democracias e nao-democracias Ao longo do presente capishytulo abordaremos as decisoes dos dois tipos de regime 0

modo como os regimes democraticos se afirmaram em alshyguns partidos do mundo a no~ao de cidadania Trataremos da evolu~ao das democracias das Iiberdades individuais e dos direitos colectivos Paralelamente tentaremos compreshyender a razao pela qual regimes nao-democraticos dominashyram em grande parte do mundo

1 Democracias e nao-democracias

grande parte da ciencia politica concentrou-se no estudo das democracias que serao igualmente 0 centro da atensao do presente capftulo A pesquisa nao s6 se referiu de preferencia aos regimes democTClticos - onde quer os recursos materiais disponiveis quer a presensa de liberdade de pens amen to permitiram desenvolver refleshyx6es teoricas e pesquisas empfricas - mas tamMm quando se tratou dos regimes nao-democniticos recorreu-se a conceitos e hip6teses construfdos na analise das democracias Enquanto a propria definisao de regimes niio-democraticos contrasta com a de democracias algushymas das principais abordagens ao estudo dos paises nao-democraticos tomaram como modelo os regimes democniticos Em particular nos anos 50 do seculo xx vlrias teorias sabre 0 desenvolvimento poUtico sugeriram a aplicasao aescala mundial do modelo de modernizas3o

49

politica e economia experimentado no mundo ocidental A guerra Vietname que evidenciou as consequencias dramaticas das tentativag de exportar 0 modelo ocidental de moderniza9ao aos pafses em de desenvolvimento provocou urn declfnio definitivo na tentativa de elaborar teorias gerais do desenvolvimento acusadas de reflectir 0

c1ima da guerra fria [Wiarda 1991 2]] Embora os estudos mais recentes se refiram todavia ao modo como organismos internacionais governativos ou nao podem ajudar a afirmacao da democracia nos pafses em vias de desenvolvimento do chamado suI do mundo (sobreshytudo em Africa e America Latina) reproduzindo algumas conshydi90es culturais e associativas ja experimentadas no mais rico Norte [Schmitter e Brouwer 2000]

Se grande parte da aten9ao dos polito logos se concentrou na demoshycracia isto nao significa que exista uma definicao univocamente aceite do conceito As defini90es classicas de democracia salientam 0 papel legitimante dos cidadaos

o QUE E A DEMOCRACIA

A democracia e 0 poder pelo povo do povo e para 0 povo deriva do povo pertence ao povo e deve ser usado pelo povo Portanto 0

poder dos governantes resulta da investidura popular

Urn dos cientistas politicos mais influentes sobre 0 tema Robert Dahl definiu a caracterfstica fundamental da democracia como laquoa capacidade dos governos para satisfazer de forma continuada as preferencias dos cidadaos num cenario de igualdade polfticaraquo [1971 trad it 1980 279] Esta defini9ao salienta urn c1emento normativo isto e afirma-se 0 que a democracia deve ser - em particular a correspondencia necessaria entre decisoes dos politicos e desejos da populaltao Este tipo de definiltao apresenta problemas de aplica9ao a pesquisa empfrica

como deterrninar ate que ponto alguns problemas reais se aproximam au afastarn da ~~correspondenciaraquo real ou responsiveness considerada necessaria Como e possivel deterrninar as laquodesejosraquo ou as laquopreferenshyciasraquo dos cidadaos Quem tern 0 direito de os exprimir sem os trair Oll

modificar Valem apenas as laquopreferenciasraquo da maioria Mas urn regime democnitico nao deve proteger igualmente as rninorias Como medir pois a laquocorrespondenciaraquo ou a responsiveness ou a laquocongruenciaraquo [Morlino 1986 84]

50

os PROCESSOS DEMOcRATlCOS

o proprio Dahl sugeriu que na garantia da capacidade de resposta das democracias ba uma serie de processos - daqui a noltao de defishyni9ao processual - que devem permitir aos cidadaos formular e fazer pesar as suas preferencias Urn governo em condi90es de responder aoS cidadaos deve garantir que cada urn possa

1) formular as suas preferencias 2) apresenta-Ias aos cidadaos atraves do recurso a uma aC9ao inshy

dividual e colectiva 3) providenciar para que laquotenham 0 mesmo peso na conduta do

governo ou por outras palavras nao haja discrimina90es conshysoante os conteudos ou origem dessas preferenciasraquo lDahl 1971 trad it 1980 28-29]

Para que estas tres condicoes se verifiquem ba necessidade de oito garantias institucionais

1) liberdade de constituir organiza90es e aderir as mesmas 2) liberdade de expressao 3) direito de voto 4) direito de competir pelo apoio e pelos votos 5) elegibilidade dos cargos polfticos 6) fontes de infonna930 alternativas

elei90es livres e correctas 8) institui90es que tornem 0 governo dependente do voto e das

outras formas de expressao de preferencias politicas

o PAPEL DAS ELEICOES

As eleitoes tern urn papel central na difusao da democracia represhysentativa em particular na passagem das defini90es normativas para as processuais da democracia Elei90es livres e correctas e institui90es Constitufdas por eleitos sao garantias indispensaveis a democracia laquourn sistema representativo nao pode existir sem elei90es peri6dicas aptas para tornar os governantes responsaveis nos confrontos com os governados [ J urn sistema politico qualifica-se como representativo no caso em que praticas eleitorais honestas garantam urn grau de correspondencia razoavel dos governantes nos confrontos com os governadosraquo [Sartori 1990 230]

51

Urn elemento indispensavel para que haja democracia e a existenshycia de eleicoes competitivas correctas e recorrentes Com efeito nao e suficiente que se realizem deve tratar-se de eleigoes em que haja uma competi(ao real entre os candidatos que seja tambem correcta e que se repetiram a urn ritmo regular (de modo que quem celeito saiba que deve pres tar contas aos eleitores dos seus actos dentro de urn determinado periodo de tempo) As elei(oes devem funcionar como elementos de responsabilizacao vinculando os principais actores do governo - uma vez que a democracia comporta urn sistema institucioshynalizado de representa(ao laquorealizada atraves da designa(ao eleitoral livre de certos organismos fundamentais (sobretudo os parlamentos)gtgt [Cotta 1990 933 j

~-A CONSTlTUCIONALIZAIAO DOS DIRElTOS

Assim a propria concepCao de urn poder constitucional salienta a necessidade de lirnitar todo 0 tipo de poder inclusi ve 0 dos orgaos representativos submetendo-o ao direito Na verdade a democracia sujeita 0 poder da maioria a urn controlo jurisdicional de respeito pela lei e pela Constituicao IKelsen 1998 123] Ern democracia a obtenshy(ao da maioria parlamentar da direito a decidir em muitas coisas mas nao ern tudo Os direitos das maiorias sao tutelados alraves daquilo que foi definido como laquoconstitucionaliza(aoraquo de alguns direitos ou seja fazem depender 0 arbftrio da maioria de alguns elementos funshydamentais para 0 pacto social em que as democracias se baseiam

Ao contnirio pode dizer-se numa primcira aproximacao que os regimes nao-democraticos se earacterizam pela ausencia de eleigoes competitivas e instituigoes responsliveis Nao e por acaso nas fases passagem de urn nao-democnitico para urn democrashytico que as eei(oes sao corn frequencia orientadas por organismos internacionais que controlam a sua reclidao e aprovacao elementos que representam urn momenta fundamental

2 A primeira dcmocratizacao

o EMERGIR DA DEMOCRACIA

As democracias evolufram atraves nao so de urn alargamento do direito do voto mas tambem do reconhecimento de uma serie de direitos civis politicos e sociais hoje considerados fundamentais

52

III ENTRE INTERESSES E IDENTIDADE o QUE 13 A PARTICIPAltAO POLlTICA

Na reaIidade das democracias ocidentais a participa~ao e selectiva nao s6 0 numero dos cidadaos que participam politicamente e limitado como alguns grupos participam menos do que outros No entanto como veremos no presente capitulo 0 repert6rio da participa~ao ampliou-se no tempo em formas de ac~ao nao convencionais que envoI vern grushypos mais amplos da popula~ao AICm disso observaremos como a constru~ao de identidades colectivas e a emergencia

de valores p6s-materialistas se ligaram as novas formas de participa~ao Ocupar-nos-emos a seguir do tema sobre as vantagens e desvantagens da participa~ao em particular nas suas formas menos convencionais e falaremos do Iugar particular de participa~o que e a esfera publica

s uma premissa )

) o tema da participa~ao e central para a polftica e para a democrashymiddot0 proprio conceito de politica referindo-se na sua etimologica

S grega exige uma imagem de participa~ao no agora intervem

l shydo raciocfnio para elabora~ao das decisoes A chamada laquodeshy

i-a

dos antigosraquo mantem esse elemento de intervensao directa ~rullO disse-se com frequcncia que as laquodemocracias dos modershy

) tern pouco que ver com a polis grega trata-se na verdade como

1 de democracias representativas onde as decisoes sao tomashy

pelo povo e por isso delegados para governar

85

DEMOCRACIA E PARTICIPAAO

A par da concepciio representativa da democracia existe outra qUe salienta a necessidade que os cidadaos natural mente interessados na politica tern de assumir directamente a tarefa de intervir nas decisoes referentes a causa publica Enquanto a democracia representativa preshy

a constituisao de urn corpo de representantcs especializados a democracia directa pelo contririo atribui fortes vfnculos ao principio da delegaSao encarada como instrumento de urn poder oligarquico Se a democracia representativa se baseia numa igualdade formal - uma cabesa urn voto - a directa e participativa porque reconhece 0 direito dc decidir somente a quem revela dedicaSao pel a causa publica Enshyquanta a democracia representativa e com frequencia burocratizada com uma centralizaS3o das decisoes no vertice a direct a insiste na necessidade de levar as decisoes 0 mais perto possfvel das pessoas

Se a tensao entre representaciio e participaciio esta sempre preshysente nas concepltoes da democracia com uma clara pre valencia da primeira na evolultao concreta das instituisoes democratic as e todavia necessario urn certo nfvel de participaltao para legitimar os represenshytantes A pr6pria ideia da soberania popular pressupoe a participasao que na verdade se desenvolveu na Europa em meados do seculo XVIII

de urn espaso publico que permitiu a acsao recfproca entre os cidadaos e os representantes das instituisoes [Mayer e Perrineau 1992

Por conseguinte esta estendeu-se atraves das virias etapas alargamento do sufragio eleitoral principal instrumento da participashySao dos cidadaos [efr cap 2] Cada vez mais presentes nas democrashycias contemporaneas sao por outro lado correctivos do principio da delegas1io em particular sob a forma do referendo ou da consulta directa aos eleitores sobre tematicas singulares e a participaSao de varias formas dos cidadaos na activasao de politicas publicas

o QUE E A PARTICIPAAO

bull Mas que significa laquoparticipaltao polfticaraquo Foi definida como laquo0

envolvimento do individuo no sistema politico a vdrios niveis de acshytividade do desinteresse total a titularidade de um cargo polfticoraquo [Rush 1992 trad it 1998] Numa concepltao mais limitada comshypreende quais os comportamentos dos cidadaos orientados para influenshyciar 0 processo politico [Axford et al 1997 109]

86

Nas formas minimas considera-se participaltao a exposiltao volunshya mensagens politic as [leitura de jornais ver 0 telejornal etc)

caso fala-se de simples presenSa diferente da activaltao que quando urn indivfduo se empenha em actos politicos

nressao laquoparticipasao politicaraquo compreende comportamentos muito do voto amilitancia num partido da discussao sobre politica organizada [para uma informaltao Sani 1991l A decisao de urn certo comportamento como forma de participasao poshy

nem sempre e facil Assim perguntou-se se fazem parte da cipasao politica os actos que se efectuam por motivaSao politica s que exercem cfeitos politicos - se urn individuo participa por

numa manifestaciio contra 0 encerramento de uma fabrica uma acltao polftica mesmo que as suas motivasoes sejam

dominantemente econ6micas [Lagroye 1993 324]7 E quem excshyactos terroristas para alterar uma decisao do govemo laquoparticipa icamenteraquo E quem paga para ser incumbido de uma empreitada

sobre os problemas de definisao 0 debate se mantem a pesquisa empirica tentou determinar quem quanto como e participa

selectividade da participa~ao

PARTICIPAAO CONVENCIONAL

numerosas as pesquisas sobre 0 envolvimento dos cidadaos nas formas de participasao Durante muito tempo os estudiosos traram-se nas convencionais com exclusiio explfcita das acltoes

nao-convencionais Numa das primeiras investigaltoes sobre 0

Lester Milbrath [1965 18] definiu por cxempl0 os seguintcs Irtamentos nivelados em relacao ao empenho exigido

Expor-se a solicitaltoes politicas Votar Entabular uma discussao politica Tentar convencer alguem a votar de determinado modo Usar urn distintivo politico Ter contactos com urn funciollltrio ou dirigente politico Fazer ofertas em dinheiro a urn partido ou candidato Assistir a urn comfcio ou assembleia politica

87

9) Dedicar tempo a uma campanha politica 10) Tornar-se membro activo de urn partido politico 11) Participar em reunioes onde se tomam decisoes politicas 12) Solicitar contribuiltoes em dinheiro para causas politicas 13) Candidatar-se a urn cargo e1ectivo 14) Ocupar cargos politicos ou de partido

Vma quesUio a qual os estudiosos prestaram muita atenltao foi a selectividade da participaltao de varios grupos da populaltao Em alshygumas pesquisas tentou-se assim salientar e depois explicar 0 laquoquanshytoraquo e 0 laquoquemraquo da participaltao

21 Quanta participafiio

Se as teorias norrnativas afirrnaram que a participaltao legitima a democracia e os estudos comparados se debrultaram sobre as aclt6es reciprocas entre participaltao e desenvolvimento das instituiltoes deshymocraticas as pesquisas sobre comportamentos individuais apresentashyram uma imagem diferente das democracias contemporaneas Invesshytigaltoes conduzidas principalmente com base em sondagens de opiniao revelaram que a democracia convive com taxas de participaliio muito baixas

BAIXAS TAXAS DE PARTICIPAyAO

Vma das primeiras pesquisas sistematicas sobre participaltao polfshytica efectuada nos Estados Vnidos Gra-Bretanha Alemanha Italia e Mexico no inicio dos anos 60 do seculo xx revela urn interesse pela politica limitado e uma taxa de participaltao ainda mais baixa Como Gabriel Almond e Sidney Verba escrevem teoricamente uma demoshycracia em funcionamento necessita de cidadaos informados sabre tematicas politicas empenhados activamente nelas e capazes de exershycerem influencia nas decisoes pUblicas Infelizmente porem as suas indagaltoes sobre 0 comportamento politico laquopoem em duvida este modelo activista e racional pois tcirna-se evidente que os cidadaos dos sistemas democraticos s6 muito raramente respondem a este madelo Nao estao bern informados nem empenhados profundamente ou parshyticularrnente activosraquo [Almond e Verba 1963 474]

88

Tarnbem outras investigaltoes no mesmo periodo confirrnaram que democracias funcionam com uma taxa de participaltao muito mais do que a ventilada nas teorias norrnativas como condiltao necesshy

de urn born governo Na verdade salientaram que as actividades se referiam a urn numero reduzido de cidadaos [Lagroye

312] No seu famoso estudo Lester Milbrath [1965] observou por exemshy

que nos Estados Vnidos os laquogladiadoresraquo muito activos em eram apenas 7 dos cidadaos os laquoespectadoresraquo empenhashy

num nivel minimo 60 e os laquoapaticosraquo totalmente desinteresshyj~ados 30 Verificaram-se resultados similares no mesmo pais numa (tllPesquisa de Verba e Nie [1972] que distinguindo tambem 0 nivel l~erritoria1 da participaltao apuraram 22 de cidadaos totalmente passhyliivos a que se juntavam 21 que se limitavam a votar quanta aos 6utros 20 eram laquolocalistasraquo que s6 se interessavam pelas questoes

4cms e 4 laquoparoquianosraquo que apenas se ocupavam do que lhes dizia iespeito directamente 15 laquocontendentesraquo que se mobilizavam em

campanhas especificas e somente 18 laquoactivistas globaisraquo envolvishy80s por todo 0 arco das quest6es politicas A quantidade de pessoas activas reduzia-se alem dis so a medida ~be se subia no grau de empenhamento por exemplo de ir votar a linteressar-se pela politica participar em actividades de partido inscreshyver-se numa organizaltao politica e preencher cargos pUblicos Aumenshy

~t1llva portanto em cada passagem 0 grau de selectividade da particishylPaltao

Participariio e desigualdade

o problema da selectividade aumentou pelo facto de a percentagem que participam tender a nao ser representativa da populaltao

~eu conjunto Ou seja ha desigualdades na medida da participaltao por conseguinte na influencia pof[tica dos diferentes grupos Seshy

a investigaltao de Milbrath [Milbrath e Goel 1977] os niveis n~~~ - mais elevados referem-se em igualdade de condiltoes

aos que tern niveis de instrultao mais elevados aos provenientes das classes medias em relaltao a quem faz Parte da operaria

89

c) aos homens em relaltao as mulheres d) as pessoas em fases de idade intermedias (nem muito jovens

nem demasiado idosas) e) aos casados em relaltao aos solteiros 1) aos que residem na cidade em relaltao aos que vivem em areas

mrais g) a quem vive ba muito tempo num Iugar em relaltao a quem

acaba de se transferir para hi h) aqueles que pertencem a maiorias etnicas i) aqueles que estao empenhados socialmente eou em organizashy

ltoes de varios tipos

pesquisa sobre a participaltao nos Estados Unidos Verba e Nie (1972) observaram que quanta mais alto 0 estatuto social (riqueza prestigio) de urn individuo maior a sua tendencia para participar o mesmo resultado foi confmnado seguidamente noutro estudo Participaltao e Iguaidade Polftica [Verba Nie e Kim 1978) que comshyparava sete naltoes Os autores escrevem que apesar de os sistemas democratieos serem em principio igualitarios (baseando-se no sufrashygio universal e portanto no princfpio de laquouma cabelta urn votoraquo) na pnitiea laquoa influencia polftica exercida pelos cidadaos varia de forma consideravelraquo Com efeito as desigualdades sociaL~ e economicas reflectem-se em desigualdades polltieas laquoAssim que os cidadaos convertem estes recursos em influencia politica a desigualdade poHshytiea torna-se evidente A vanta gem politica dos cidadaos maioritashyriamente favorecidos em termos socioeconomicos encontra-se em todas as naltoesraquo [ibidem 37) Hierarquias de estratificaltao politica e hieshyrarquias de estratificaltao socioecon6mica andam a par - embora com algumas diferenltas de pais para pais

Na verdade quem tern urn estatuto mais elevado dispoe de recursos materiais (em primeiro lugar dinheiro) e simb6licos gio) para investir na participaltao No que se ref ere aos primeiros quem dispoe de mais dinheiro e tempo livre pode utiliz3-los com menores custos marginais em actividades politicas Alem disso quem tern prestigio disp5e tambem de maior influencia a sua participa~ao tern mais possibilidades de exito porque 0 estatuto social elevado

comporta melhores oportunidades de acesso a quem toma as decisoes

90

ainda quem dispoe de urn estatuto mais elevado sabe como se participar pois com ele aumenta a instmltao e qucm e mais sabe melhor 0 que deve fazer quando se trata de defender os

interesses Se quem tern urn estatuto social elevado compreende dos politicos e julga saber como influenchi-Ios quem nlio

esses recursos aceita a sua incompetencia e delega a intervenshypolitica noutros E pois este sentimento de incompetencia e nao

lusencia de opinioes (evocada noutras explicaltoes) que estes afastar-se da participaltao

que se colocam numa posiltao central do ponto de vista tern igualmente uma vantagem psicologica a instrultao e presshy

incutem confianlta em si proprios e portanto na sua capacidade mudar as coisas 0 estatuto socioeconomico aumenta os niveis de

porque incrementa a confian9a na efidtcia polftica 0 frances Pierre Bourdieu falou a esse respeito do scntimento

ter 0 laquodireito a palavraraquo sentimento esse intimamente ligado a social [Bourdieu 1979 180]

A DESIGUALDADE POLITICA

A igualdade polftica e portanto pelo menos em parte uma utopia como se revelou utopica a esperanlta difusa que a democracia

poder aos menos privilegiados atraves de urn direito de voto para todos teria levado a abolir os privilegios Esta esperanlta

no poder do numero sendo mais numerosos que os privishyos menos privilegiados poderiam desfmtar dos direitos poshy

com vantagens pr6prias As capacidades desiguais de utilizar os de participaltao explicam 0 malogro parcial na utilizaltao do

do numero para superar as desigualdades economic as e sociais que os cidadaos sao diferentes uns dos outros nas capacidades

gtlltilizar as oportunidades de participaltao politic a laquoa vantagem do pode ser contrabalan9ada pelo uso desigual das oportunidades

Participaltao por parte de quem e economicamente mais forteraquo Nie e Kim 1978 43) mindo nas democracias as oportunidades formais de igual

sao utilizadas desigualmente por varios grupos sociais Se a corresponde a procura de igualdade pode porem reproshy

as desigualdades Ampliando-se a participa9ao admite-se que influencia nas decisoes publicas individuos cuja dota9ao de

91

recursos economicos ou de estatuto e profundamente diferente Como Alessandro Pizzorno sintetizou

todo 0 indivfduo participa pelo menos potencialmente com 0 coefi_ ciente de diferenciacao e desigualdade (para nao empregar 0 tenno laquoprivilegioraquo que teria demasiado sabor a ancien regime) que caracshyteriza a sua posicao no sistema dos interesses privados [1966 90]

3 As novas formas da participacao

A PARTICIPAltAO NAO-CONVENCIONAL

Se a analise da selectividade da participaltao considerou principalshymente as suas formas mais convencionais (sobre a participaltao eleishytoral cfr cap 5) a partir dos anos 70 do seculo xx os estudiosos comeltaram a observar urn crescimento rapido de formas novas naoshy-convencionais (ou directas) de participaltao politica Entre elas hil [por exemplo Dalton 1988]

1) Escrever a urn jornal 2) Aderir a urn boicote 3) Auto-reduzir impostos ou rendas 4) Ocupar ediffcios 5) Bloquear 0 transito 6) Assinar uma petiltao 7) Fazer urn sit-in 8) Participar numa greve selvagem 9) Tomar parte em manifestalt6es pacfficas

10) Danificar bens materiais 11) Utilizar a vioH~ncia contra pessoas

Isto leva a interrogarmo-nos sobre os varios estilos de participa(Jiio proprios de diferentes grupos sociais geralt6es ou nalt6es e as condishylt6es para 0 desenvolvimento de novas formas de participaltao

Numa importante investigaltao comparada efectuada nos anos 70 do seculo xx sobre varias democracias ocidentais Samuel Barnes e Max Kaase observaram que a respeito de leis e decis6es considerad~s injustas ou ilegais grupos cada vez mais numerosos de cidadaos estaO

disponiveis para recorrer a formas de acltao caracterizadas pela sua nao-convencionalidade laquoNas sociedades industriais avanltadas as

92

de acltao politica directa nao ostentam 0 estigma do desvio sao encaradas como anti-sistema na sua orientaltaoraquo [Barnes et

1979 157] Por exemplo entre 1960 e 1974 a percentagem dos respondem laquoaclt6es politicas nao convencionais como manifestashy

apergunta laquoQue pode urn cidadao fazer quanto a urn regulashylocal considerado injusto ou prejudicialraquo aumentou na Grashy

iTetalha Estados Unidos e Republica Federal Alema de menos de para mais de 7

observaltao adicional diz respeito a combinaltao de interesses e aclt6es convencionais e aclt6es nao-convencionais Inicialshy

pensou-se que os indicadores de participaltao politica tendiam ou seja quem lia mais tendia a empenhar-se mais nas

mais tradicionais Depressa se descobriu que ao contrario haver varios laquoestilosraquo de participaltao pelo que alguns indivishy

ou grupos tendiam a escolher umas formas de acltao e outros WIlliam outras $egundo os resultados da investigaltao nao se pode contudo falar

verdadeira e propria rotura entre os que utilizam tactic as de participaltao e os que por outro lado recorrem as

tacticas de acltao directa Com efeito a participaltao convenshyesta com frequencia relacionada com a nao-convencional indishyque pessoas interessadas na politic a e competentesno campo a utilizar simultaneamente varios instrumentos possiveis para

os governos Se M individuos que preferem urn ou outro de estrategia existem muitos que os combinam entre si

untando participaltao em actividades convencionais e actividades ~onvencionais podemos distinguir

Inactivos que quando muito leem politica ou assinam uma petiltao

Conjormistas que se empenham urn pouco mais nas actividashydes convencionais

Rejormistas que laquoparticipam de modo convencional mas ampliam 0 repertorio politico ate abraltar formas legais de

t protesto manifestalt6es ou mesmo boicotes lV Activistas que laquoamp Iiam 0 repertorio no seu nivel maximo

em alguns casos ate incluir formas de protesto nao legaisraquo Contestatarios que adoptam todas as formas nao-convencioshynais mas recusam as convencionais de participaltao

93

A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 3: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

ENTRE LIBERDADE E DlREITOS 0 QUE E A DEMOCRACIA

Urn tema central para a ciimcia politica refere-se aos regimes politicos com uma distin~ao fundamental entre democracias e nao-democracias Ao longo do presente capishytulo abordaremos as decisoes dos dois tipos de regime 0

modo como os regimes democraticos se afirmaram em alshyguns partidos do mundo a no~ao de cidadania Trataremos da evolu~ao das democracias das Iiberdades individuais e dos direitos colectivos Paralelamente tentaremos compreshyender a razao pela qual regimes nao-democraticos dominashyram em grande parte do mundo

1 Democracias e nao-democracias

grande parte da ciencia politica concentrou-se no estudo das democracias que serao igualmente 0 centro da atensao do presente capftulo A pesquisa nao s6 se referiu de preferencia aos regimes democTClticos - onde quer os recursos materiais disponiveis quer a presensa de liberdade de pens amen to permitiram desenvolver refleshyx6es teoricas e pesquisas empfricas - mas tamMm quando se tratou dos regimes nao-democniticos recorreu-se a conceitos e hip6teses construfdos na analise das democracias Enquanto a propria definisao de regimes niio-democraticos contrasta com a de democracias algushymas das principais abordagens ao estudo dos paises nao-democraticos tomaram como modelo os regimes democniticos Em particular nos anos 50 do seculo xx vlrias teorias sabre 0 desenvolvimento poUtico sugeriram a aplicasao aescala mundial do modelo de modernizas3o

49

politica e economia experimentado no mundo ocidental A guerra Vietname que evidenciou as consequencias dramaticas das tentativag de exportar 0 modelo ocidental de moderniza9ao aos pafses em de desenvolvimento provocou urn declfnio definitivo na tentativa de elaborar teorias gerais do desenvolvimento acusadas de reflectir 0

c1ima da guerra fria [Wiarda 1991 2]] Embora os estudos mais recentes se refiram todavia ao modo como organismos internacionais governativos ou nao podem ajudar a afirmacao da democracia nos pafses em vias de desenvolvimento do chamado suI do mundo (sobreshytudo em Africa e America Latina) reproduzindo algumas conshydi90es culturais e associativas ja experimentadas no mais rico Norte [Schmitter e Brouwer 2000]

Se grande parte da aten9ao dos polito logos se concentrou na demoshycracia isto nao significa que exista uma definicao univocamente aceite do conceito As defini90es classicas de democracia salientam 0 papel legitimante dos cidadaos

o QUE E A DEMOCRACIA

A democracia e 0 poder pelo povo do povo e para 0 povo deriva do povo pertence ao povo e deve ser usado pelo povo Portanto 0

poder dos governantes resulta da investidura popular

Urn dos cientistas politicos mais influentes sobre 0 tema Robert Dahl definiu a caracterfstica fundamental da democracia como laquoa capacidade dos governos para satisfazer de forma continuada as preferencias dos cidadaos num cenario de igualdade polfticaraquo [1971 trad it 1980 279] Esta defini9ao salienta urn c1emento normativo isto e afirma-se 0 que a democracia deve ser - em particular a correspondencia necessaria entre decisoes dos politicos e desejos da populaltao Este tipo de definiltao apresenta problemas de aplica9ao a pesquisa empfrica

como deterrninar ate que ponto alguns problemas reais se aproximam au afastarn da ~~correspondenciaraquo real ou responsiveness considerada necessaria Como e possivel deterrninar as laquodesejosraquo ou as laquopreferenshyciasraquo dos cidadaos Quem tern 0 direito de os exprimir sem os trair Oll

modificar Valem apenas as laquopreferenciasraquo da maioria Mas urn regime democnitico nao deve proteger igualmente as rninorias Como medir pois a laquocorrespondenciaraquo ou a responsiveness ou a laquocongruenciaraquo [Morlino 1986 84]

50

os PROCESSOS DEMOcRATlCOS

o proprio Dahl sugeriu que na garantia da capacidade de resposta das democracias ba uma serie de processos - daqui a noltao de defishyni9ao processual - que devem permitir aos cidadaos formular e fazer pesar as suas preferencias Urn governo em condi90es de responder aoS cidadaos deve garantir que cada urn possa

1) formular as suas preferencias 2) apresenta-Ias aos cidadaos atraves do recurso a uma aC9ao inshy

dividual e colectiva 3) providenciar para que laquotenham 0 mesmo peso na conduta do

governo ou por outras palavras nao haja discrimina90es conshysoante os conteudos ou origem dessas preferenciasraquo lDahl 1971 trad it 1980 28-29]

Para que estas tres condicoes se verifiquem ba necessidade de oito garantias institucionais

1) liberdade de constituir organiza90es e aderir as mesmas 2) liberdade de expressao 3) direito de voto 4) direito de competir pelo apoio e pelos votos 5) elegibilidade dos cargos polfticos 6) fontes de infonna930 alternativas

elei90es livres e correctas 8) institui90es que tornem 0 governo dependente do voto e das

outras formas de expressao de preferencias politicas

o PAPEL DAS ELEICOES

As eleitoes tern urn papel central na difusao da democracia represhysentativa em particular na passagem das defini90es normativas para as processuais da democracia Elei90es livres e correctas e institui90es Constitufdas por eleitos sao garantias indispensaveis a democracia laquourn sistema representativo nao pode existir sem elei90es peri6dicas aptas para tornar os governantes responsaveis nos confrontos com os governados [ J urn sistema politico qualifica-se como representativo no caso em que praticas eleitorais honestas garantam urn grau de correspondencia razoavel dos governantes nos confrontos com os governadosraquo [Sartori 1990 230]

51

Urn elemento indispensavel para que haja democracia e a existenshycia de eleicoes competitivas correctas e recorrentes Com efeito nao e suficiente que se realizem deve tratar-se de eleigoes em que haja uma competi(ao real entre os candidatos que seja tambem correcta e que se repetiram a urn ritmo regular (de modo que quem celeito saiba que deve pres tar contas aos eleitores dos seus actos dentro de urn determinado periodo de tempo) As elei(oes devem funcionar como elementos de responsabilizacao vinculando os principais actores do governo - uma vez que a democracia comporta urn sistema institucioshynalizado de representa(ao laquorealizada atraves da designa(ao eleitoral livre de certos organismos fundamentais (sobretudo os parlamentos)gtgt [Cotta 1990 933 j

~-A CONSTlTUCIONALIZAIAO DOS DIRElTOS

Assim a propria concepCao de urn poder constitucional salienta a necessidade de lirnitar todo 0 tipo de poder inclusi ve 0 dos orgaos representativos submetendo-o ao direito Na verdade a democracia sujeita 0 poder da maioria a urn controlo jurisdicional de respeito pela lei e pela Constituicao IKelsen 1998 123] Ern democracia a obtenshy(ao da maioria parlamentar da direito a decidir em muitas coisas mas nao ern tudo Os direitos das maiorias sao tutelados alraves daquilo que foi definido como laquoconstitucionaliza(aoraquo de alguns direitos ou seja fazem depender 0 arbftrio da maioria de alguns elementos funshydamentais para 0 pacto social em que as democracias se baseiam

Ao contnirio pode dizer-se numa primcira aproximacao que os regimes nao-democraticos se earacterizam pela ausencia de eleigoes competitivas e instituigoes responsliveis Nao e por acaso nas fases passagem de urn nao-democnitico para urn democrashytico que as eei(oes sao corn frequencia orientadas por organismos internacionais que controlam a sua reclidao e aprovacao elementos que representam urn momenta fundamental

2 A primeira dcmocratizacao

o EMERGIR DA DEMOCRACIA

As democracias evolufram atraves nao so de urn alargamento do direito do voto mas tambem do reconhecimento de uma serie de direitos civis politicos e sociais hoje considerados fundamentais

52

III ENTRE INTERESSES E IDENTIDADE o QUE 13 A PARTICIPAltAO POLlTICA

Na reaIidade das democracias ocidentais a participa~ao e selectiva nao s6 0 numero dos cidadaos que participam politicamente e limitado como alguns grupos participam menos do que outros No entanto como veremos no presente capitulo 0 repert6rio da participa~ao ampliou-se no tempo em formas de ac~ao nao convencionais que envoI vern grushypos mais amplos da popula~ao AICm disso observaremos como a constru~ao de identidades colectivas e a emergencia

de valores p6s-materialistas se ligaram as novas formas de participa~ao Ocupar-nos-emos a seguir do tema sobre as vantagens e desvantagens da participa~ao em particular nas suas formas menos convencionais e falaremos do Iugar particular de participa~o que e a esfera publica

s uma premissa )

) o tema da participa~ao e central para a polftica e para a democrashymiddot0 proprio conceito de politica referindo-se na sua etimologica

S grega exige uma imagem de participa~ao no agora intervem

l shydo raciocfnio para elabora~ao das decisoes A chamada laquodeshy

i-a

dos antigosraquo mantem esse elemento de intervensao directa ~rullO disse-se com frequcncia que as laquodemocracias dos modershy

) tern pouco que ver com a polis grega trata-se na verdade como

1 de democracias representativas onde as decisoes sao tomashy

pelo povo e por isso delegados para governar

85

DEMOCRACIA E PARTICIPAAO

A par da concepciio representativa da democracia existe outra qUe salienta a necessidade que os cidadaos natural mente interessados na politica tern de assumir directamente a tarefa de intervir nas decisoes referentes a causa publica Enquanto a democracia representativa preshy

a constituisao de urn corpo de representantcs especializados a democracia directa pelo contririo atribui fortes vfnculos ao principio da delegaSao encarada como instrumento de urn poder oligarquico Se a democracia representativa se baseia numa igualdade formal - uma cabesa urn voto - a directa e participativa porque reconhece 0 direito dc decidir somente a quem revela dedicaSao pel a causa publica Enshyquanta a democracia representativa e com frequencia burocratizada com uma centralizaS3o das decisoes no vertice a direct a insiste na necessidade de levar as decisoes 0 mais perto possfvel das pessoas

Se a tensao entre representaciio e participaciio esta sempre preshysente nas concepltoes da democracia com uma clara pre valencia da primeira na evolultao concreta das instituisoes democratic as e todavia necessario urn certo nfvel de participaltao para legitimar os represenshytantes A pr6pria ideia da soberania popular pressupoe a participasao que na verdade se desenvolveu na Europa em meados do seculo XVIII

de urn espaso publico que permitiu a acsao recfproca entre os cidadaos e os representantes das instituisoes [Mayer e Perrineau 1992

Por conseguinte esta estendeu-se atraves das virias etapas alargamento do sufragio eleitoral principal instrumento da participashySao dos cidadaos [efr cap 2] Cada vez mais presentes nas democrashycias contemporaneas sao por outro lado correctivos do principio da delegas1io em particular sob a forma do referendo ou da consulta directa aos eleitores sobre tematicas singulares e a participaSao de varias formas dos cidadaos na activasao de politicas publicas

o QUE E A PARTICIPAAO

bull Mas que significa laquoparticipaltao polfticaraquo Foi definida como laquo0

envolvimento do individuo no sistema politico a vdrios niveis de acshytividade do desinteresse total a titularidade de um cargo polfticoraquo [Rush 1992 trad it 1998] Numa concepltao mais limitada comshypreende quais os comportamentos dos cidadaos orientados para influenshyciar 0 processo politico [Axford et al 1997 109]

86

Nas formas minimas considera-se participaltao a exposiltao volunshya mensagens politic as [leitura de jornais ver 0 telejornal etc)

caso fala-se de simples presenSa diferente da activaltao que quando urn indivfduo se empenha em actos politicos

nressao laquoparticipasao politicaraquo compreende comportamentos muito do voto amilitancia num partido da discussao sobre politica organizada [para uma informaltao Sani 1991l A decisao de urn certo comportamento como forma de participasao poshy

nem sempre e facil Assim perguntou-se se fazem parte da cipasao politica os actos que se efectuam por motivaSao politica s que exercem cfeitos politicos - se urn individuo participa por

numa manifestaciio contra 0 encerramento de uma fabrica uma acltao polftica mesmo que as suas motivasoes sejam

dominantemente econ6micas [Lagroye 1993 324]7 E quem excshyactos terroristas para alterar uma decisao do govemo laquoparticipa icamenteraquo E quem paga para ser incumbido de uma empreitada

sobre os problemas de definisao 0 debate se mantem a pesquisa empirica tentou determinar quem quanto como e participa

selectividade da participa~ao

PARTICIPAAO CONVENCIONAL

numerosas as pesquisas sobre 0 envolvimento dos cidadaos nas formas de participasao Durante muito tempo os estudiosos traram-se nas convencionais com exclusiio explfcita das acltoes

nao-convencionais Numa das primeiras investigaltoes sobre 0

Lester Milbrath [1965 18] definiu por cxempl0 os seguintcs Irtamentos nivelados em relacao ao empenho exigido

Expor-se a solicitaltoes politicas Votar Entabular uma discussao politica Tentar convencer alguem a votar de determinado modo Usar urn distintivo politico Ter contactos com urn funciollltrio ou dirigente politico Fazer ofertas em dinheiro a urn partido ou candidato Assistir a urn comfcio ou assembleia politica

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9) Dedicar tempo a uma campanha politica 10) Tornar-se membro activo de urn partido politico 11) Participar em reunioes onde se tomam decisoes politicas 12) Solicitar contribuiltoes em dinheiro para causas politicas 13) Candidatar-se a urn cargo e1ectivo 14) Ocupar cargos politicos ou de partido

Vma quesUio a qual os estudiosos prestaram muita atenltao foi a selectividade da participaltao de varios grupos da populaltao Em alshygumas pesquisas tentou-se assim salientar e depois explicar 0 laquoquanshytoraquo e 0 laquoquemraquo da participaltao

21 Quanta participafiio

Se as teorias norrnativas afirrnaram que a participaltao legitima a democracia e os estudos comparados se debrultaram sobre as aclt6es reciprocas entre participaltao e desenvolvimento das instituiltoes deshymocraticas as pesquisas sobre comportamentos individuais apresentashyram uma imagem diferente das democracias contemporaneas Invesshytigaltoes conduzidas principalmente com base em sondagens de opiniao revelaram que a democracia convive com taxas de participaliio muito baixas

BAIXAS TAXAS DE PARTICIPAyAO

Vma das primeiras pesquisas sistematicas sobre participaltao polfshytica efectuada nos Estados Vnidos Gra-Bretanha Alemanha Italia e Mexico no inicio dos anos 60 do seculo xx revela urn interesse pela politica limitado e uma taxa de participaltao ainda mais baixa Como Gabriel Almond e Sidney Verba escrevem teoricamente uma demoshycracia em funcionamento necessita de cidadaos informados sabre tematicas politicas empenhados activamente nelas e capazes de exershycerem influencia nas decisoes pUblicas Infelizmente porem as suas indagaltoes sobre 0 comportamento politico laquopoem em duvida este modelo activista e racional pois tcirna-se evidente que os cidadaos dos sistemas democraticos s6 muito raramente respondem a este madelo Nao estao bern informados nem empenhados profundamente ou parshyticularrnente activosraquo [Almond e Verba 1963 474]

88

Tarnbem outras investigaltoes no mesmo periodo confirrnaram que democracias funcionam com uma taxa de participaltao muito mais do que a ventilada nas teorias norrnativas como condiltao necesshy

de urn born governo Na verdade salientaram que as actividades se referiam a urn numero reduzido de cidadaos [Lagroye

312] No seu famoso estudo Lester Milbrath [1965] observou por exemshy

que nos Estados Vnidos os laquogladiadoresraquo muito activos em eram apenas 7 dos cidadaos os laquoespectadoresraquo empenhashy

num nivel minimo 60 e os laquoapaticosraquo totalmente desinteresshyj~ados 30 Verificaram-se resultados similares no mesmo pais numa (tllPesquisa de Verba e Nie [1972] que distinguindo tambem 0 nivel l~erritoria1 da participaltao apuraram 22 de cidadaos totalmente passhyliivos a que se juntavam 21 que se limitavam a votar quanta aos 6utros 20 eram laquolocalistasraquo que s6 se interessavam pelas questoes

4cms e 4 laquoparoquianosraquo que apenas se ocupavam do que lhes dizia iespeito directamente 15 laquocontendentesraquo que se mobilizavam em

campanhas especificas e somente 18 laquoactivistas globaisraquo envolvishy80s por todo 0 arco das quest6es politicas A quantidade de pessoas activas reduzia-se alem dis so a medida ~be se subia no grau de empenhamento por exemplo de ir votar a linteressar-se pela politica participar em actividades de partido inscreshyver-se numa organizaltao politica e preencher cargos pUblicos Aumenshy

~t1llva portanto em cada passagem 0 grau de selectividade da particishylPaltao

Participariio e desigualdade

o problema da selectividade aumentou pelo facto de a percentagem que participam tender a nao ser representativa da populaltao

~eu conjunto Ou seja ha desigualdades na medida da participaltao por conseguinte na influencia pof[tica dos diferentes grupos Seshy

a investigaltao de Milbrath [Milbrath e Goel 1977] os niveis n~~~ - mais elevados referem-se em igualdade de condiltoes

aos que tern niveis de instrultao mais elevados aos provenientes das classes medias em relaltao a quem faz Parte da operaria

89

c) aos homens em relaltao as mulheres d) as pessoas em fases de idade intermedias (nem muito jovens

nem demasiado idosas) e) aos casados em relaltao aos solteiros 1) aos que residem na cidade em relaltao aos que vivem em areas

mrais g) a quem vive ba muito tempo num Iugar em relaltao a quem

acaba de se transferir para hi h) aqueles que pertencem a maiorias etnicas i) aqueles que estao empenhados socialmente eou em organizashy

ltoes de varios tipos

pesquisa sobre a participaltao nos Estados Unidos Verba e Nie (1972) observaram que quanta mais alto 0 estatuto social (riqueza prestigio) de urn individuo maior a sua tendencia para participar o mesmo resultado foi confmnado seguidamente noutro estudo Participaltao e Iguaidade Polftica [Verba Nie e Kim 1978) que comshyparava sete naltoes Os autores escrevem que apesar de os sistemas democratieos serem em principio igualitarios (baseando-se no sufrashygio universal e portanto no princfpio de laquouma cabelta urn votoraquo) na pnitiea laquoa influencia polftica exercida pelos cidadaos varia de forma consideravelraquo Com efeito as desigualdades sociaL~ e economicas reflectem-se em desigualdades polltieas laquoAssim que os cidadaos convertem estes recursos em influencia politica a desigualdade poHshytiea torna-se evidente A vanta gem politica dos cidadaos maioritashyriamente favorecidos em termos socioeconomicos encontra-se em todas as naltoesraquo [ibidem 37) Hierarquias de estratificaltao politica e hieshyrarquias de estratificaltao socioecon6mica andam a par - embora com algumas diferenltas de pais para pais

Na verdade quem tern urn estatuto mais elevado dispoe de recursos materiais (em primeiro lugar dinheiro) e simb6licos gio) para investir na participaltao No que se ref ere aos primeiros quem dispoe de mais dinheiro e tempo livre pode utiliz3-los com menores custos marginais em actividades politicas Alem disso quem tern prestigio disp5e tambem de maior influencia a sua participa~ao tern mais possibilidades de exito porque 0 estatuto social elevado

comporta melhores oportunidades de acesso a quem toma as decisoes

90

ainda quem dispoe de urn estatuto mais elevado sabe como se participar pois com ele aumenta a instmltao e qucm e mais sabe melhor 0 que deve fazer quando se trata de defender os

interesses Se quem tern urn estatuto social elevado compreende dos politicos e julga saber como influenchi-Ios quem nlio

esses recursos aceita a sua incompetencia e delega a intervenshypolitica noutros E pois este sentimento de incompetencia e nao

lusencia de opinioes (evocada noutras explicaltoes) que estes afastar-se da participaltao

que se colocam numa posiltao central do ponto de vista tern igualmente uma vantagem psicologica a instrultao e presshy

incutem confianlta em si proprios e portanto na sua capacidade mudar as coisas 0 estatuto socioeconomico aumenta os niveis de

porque incrementa a confian9a na efidtcia polftica 0 frances Pierre Bourdieu falou a esse respeito do scntimento

ter 0 laquodireito a palavraraquo sentimento esse intimamente ligado a social [Bourdieu 1979 180]

A DESIGUALDADE POLITICA

A igualdade polftica e portanto pelo menos em parte uma utopia como se revelou utopica a esperanlta difusa que a democracia

poder aos menos privilegiados atraves de urn direito de voto para todos teria levado a abolir os privilegios Esta esperanlta

no poder do numero sendo mais numerosos que os privishyos menos privilegiados poderiam desfmtar dos direitos poshy

com vantagens pr6prias As capacidades desiguais de utilizar os de participaltao explicam 0 malogro parcial na utilizaltao do

do numero para superar as desigualdades economic as e sociais que os cidadaos sao diferentes uns dos outros nas capacidades

gtlltilizar as oportunidades de participaltao politic a laquoa vantagem do pode ser contrabalan9ada pelo uso desigual das oportunidades

Participaltao por parte de quem e economicamente mais forteraquo Nie e Kim 1978 43) mindo nas democracias as oportunidades formais de igual

sao utilizadas desigualmente por varios grupos sociais Se a corresponde a procura de igualdade pode porem reproshy

as desigualdades Ampliando-se a participa9ao admite-se que influencia nas decisoes publicas individuos cuja dota9ao de

91

recursos economicos ou de estatuto e profundamente diferente Como Alessandro Pizzorno sintetizou

todo 0 indivfduo participa pelo menos potencialmente com 0 coefi_ ciente de diferenciacao e desigualdade (para nao empregar 0 tenno laquoprivilegioraquo que teria demasiado sabor a ancien regime) que caracshyteriza a sua posicao no sistema dos interesses privados [1966 90]

3 As novas formas da participacao

A PARTICIPAltAO NAO-CONVENCIONAL

Se a analise da selectividade da participaltao considerou principalshymente as suas formas mais convencionais (sobre a participaltao eleishytoral cfr cap 5) a partir dos anos 70 do seculo xx os estudiosos comeltaram a observar urn crescimento rapido de formas novas naoshy-convencionais (ou directas) de participaltao politica Entre elas hil [por exemplo Dalton 1988]

1) Escrever a urn jornal 2) Aderir a urn boicote 3) Auto-reduzir impostos ou rendas 4) Ocupar ediffcios 5) Bloquear 0 transito 6) Assinar uma petiltao 7) Fazer urn sit-in 8) Participar numa greve selvagem 9) Tomar parte em manifestalt6es pacfficas

10) Danificar bens materiais 11) Utilizar a vioH~ncia contra pessoas

Isto leva a interrogarmo-nos sobre os varios estilos de participa(Jiio proprios de diferentes grupos sociais geralt6es ou nalt6es e as condishylt6es para 0 desenvolvimento de novas formas de participaltao

Numa importante investigaltao comparada efectuada nos anos 70 do seculo xx sobre varias democracias ocidentais Samuel Barnes e Max Kaase observaram que a respeito de leis e decis6es considerad~s injustas ou ilegais grupos cada vez mais numerosos de cidadaos estaO

disponiveis para recorrer a formas de acltao caracterizadas pela sua nao-convencionalidade laquoNas sociedades industriais avanltadas as

92

de acltao politica directa nao ostentam 0 estigma do desvio sao encaradas como anti-sistema na sua orientaltaoraquo [Barnes et

1979 157] Por exemplo entre 1960 e 1974 a percentagem dos respondem laquoaclt6es politicas nao convencionais como manifestashy

apergunta laquoQue pode urn cidadao fazer quanto a urn regulashylocal considerado injusto ou prejudicialraquo aumentou na Grashy

iTetalha Estados Unidos e Republica Federal Alema de menos de para mais de 7

observaltao adicional diz respeito a combinaltao de interesses e aclt6es convencionais e aclt6es nao-convencionais Inicialshy

pensou-se que os indicadores de participaltao politica tendiam ou seja quem lia mais tendia a empenhar-se mais nas

mais tradicionais Depressa se descobriu que ao contrario haver varios laquoestilosraquo de participaltao pelo que alguns indivishy

ou grupos tendiam a escolher umas formas de acltao e outros WIlliam outras $egundo os resultados da investigaltao nao se pode contudo falar

verdadeira e propria rotura entre os que utilizam tactic as de participaltao e os que por outro lado recorrem as

tacticas de acltao directa Com efeito a participaltao convenshyesta com frequencia relacionada com a nao-convencional indishyque pessoas interessadas na politic a e competentesno campo a utilizar simultaneamente varios instrumentos possiveis para

os governos Se M individuos que preferem urn ou outro de estrategia existem muitos que os combinam entre si

untando participaltao em actividades convencionais e actividades ~onvencionais podemos distinguir

Inactivos que quando muito leem politica ou assinam uma petiltao

Conjormistas que se empenham urn pouco mais nas actividashydes convencionais

Rejormistas que laquoparticipam de modo convencional mas ampliam 0 repertorio politico ate abraltar formas legais de

t protesto manifestalt6es ou mesmo boicotes lV Activistas que laquoamp Iiam 0 repertorio no seu nivel maximo

em alguns casos ate incluir formas de protesto nao legaisraquo Contestatarios que adoptam todas as formas nao-convencioshynais mas recusam as convencionais de participaltao

93

A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 4: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

politica e economia experimentado no mundo ocidental A guerra Vietname que evidenciou as consequencias dramaticas das tentativag de exportar 0 modelo ocidental de moderniza9ao aos pafses em de desenvolvimento provocou urn declfnio definitivo na tentativa de elaborar teorias gerais do desenvolvimento acusadas de reflectir 0

c1ima da guerra fria [Wiarda 1991 2]] Embora os estudos mais recentes se refiram todavia ao modo como organismos internacionais governativos ou nao podem ajudar a afirmacao da democracia nos pafses em vias de desenvolvimento do chamado suI do mundo (sobreshytudo em Africa e America Latina) reproduzindo algumas conshydi90es culturais e associativas ja experimentadas no mais rico Norte [Schmitter e Brouwer 2000]

Se grande parte da aten9ao dos polito logos se concentrou na demoshycracia isto nao significa que exista uma definicao univocamente aceite do conceito As defini90es classicas de democracia salientam 0 papel legitimante dos cidadaos

o QUE E A DEMOCRACIA

A democracia e 0 poder pelo povo do povo e para 0 povo deriva do povo pertence ao povo e deve ser usado pelo povo Portanto 0

poder dos governantes resulta da investidura popular

Urn dos cientistas politicos mais influentes sobre 0 tema Robert Dahl definiu a caracterfstica fundamental da democracia como laquoa capacidade dos governos para satisfazer de forma continuada as preferencias dos cidadaos num cenario de igualdade polfticaraquo [1971 trad it 1980 279] Esta defini9ao salienta urn c1emento normativo isto e afirma-se 0 que a democracia deve ser - em particular a correspondencia necessaria entre decisoes dos politicos e desejos da populaltao Este tipo de definiltao apresenta problemas de aplica9ao a pesquisa empfrica

como deterrninar ate que ponto alguns problemas reais se aproximam au afastarn da ~~correspondenciaraquo real ou responsiveness considerada necessaria Como e possivel deterrninar as laquodesejosraquo ou as laquopreferenshyciasraquo dos cidadaos Quem tern 0 direito de os exprimir sem os trair Oll

modificar Valem apenas as laquopreferenciasraquo da maioria Mas urn regime democnitico nao deve proteger igualmente as rninorias Como medir pois a laquocorrespondenciaraquo ou a responsiveness ou a laquocongruenciaraquo [Morlino 1986 84]

50

os PROCESSOS DEMOcRATlCOS

o proprio Dahl sugeriu que na garantia da capacidade de resposta das democracias ba uma serie de processos - daqui a noltao de defishyni9ao processual - que devem permitir aos cidadaos formular e fazer pesar as suas preferencias Urn governo em condi90es de responder aoS cidadaos deve garantir que cada urn possa

1) formular as suas preferencias 2) apresenta-Ias aos cidadaos atraves do recurso a uma aC9ao inshy

dividual e colectiva 3) providenciar para que laquotenham 0 mesmo peso na conduta do

governo ou por outras palavras nao haja discrimina90es conshysoante os conteudos ou origem dessas preferenciasraquo lDahl 1971 trad it 1980 28-29]

Para que estas tres condicoes se verifiquem ba necessidade de oito garantias institucionais

1) liberdade de constituir organiza90es e aderir as mesmas 2) liberdade de expressao 3) direito de voto 4) direito de competir pelo apoio e pelos votos 5) elegibilidade dos cargos polfticos 6) fontes de infonna930 alternativas

elei90es livres e correctas 8) institui90es que tornem 0 governo dependente do voto e das

outras formas de expressao de preferencias politicas

o PAPEL DAS ELEICOES

As eleitoes tern urn papel central na difusao da democracia represhysentativa em particular na passagem das defini90es normativas para as processuais da democracia Elei90es livres e correctas e institui90es Constitufdas por eleitos sao garantias indispensaveis a democracia laquourn sistema representativo nao pode existir sem elei90es peri6dicas aptas para tornar os governantes responsaveis nos confrontos com os governados [ J urn sistema politico qualifica-se como representativo no caso em que praticas eleitorais honestas garantam urn grau de correspondencia razoavel dos governantes nos confrontos com os governadosraquo [Sartori 1990 230]

51

Urn elemento indispensavel para que haja democracia e a existenshycia de eleicoes competitivas correctas e recorrentes Com efeito nao e suficiente que se realizem deve tratar-se de eleigoes em que haja uma competi(ao real entre os candidatos que seja tambem correcta e que se repetiram a urn ritmo regular (de modo que quem celeito saiba que deve pres tar contas aos eleitores dos seus actos dentro de urn determinado periodo de tempo) As elei(oes devem funcionar como elementos de responsabilizacao vinculando os principais actores do governo - uma vez que a democracia comporta urn sistema institucioshynalizado de representa(ao laquorealizada atraves da designa(ao eleitoral livre de certos organismos fundamentais (sobretudo os parlamentos)gtgt [Cotta 1990 933 j

~-A CONSTlTUCIONALIZAIAO DOS DIRElTOS

Assim a propria concepCao de urn poder constitucional salienta a necessidade de lirnitar todo 0 tipo de poder inclusi ve 0 dos orgaos representativos submetendo-o ao direito Na verdade a democracia sujeita 0 poder da maioria a urn controlo jurisdicional de respeito pela lei e pela Constituicao IKelsen 1998 123] Ern democracia a obtenshy(ao da maioria parlamentar da direito a decidir em muitas coisas mas nao ern tudo Os direitos das maiorias sao tutelados alraves daquilo que foi definido como laquoconstitucionaliza(aoraquo de alguns direitos ou seja fazem depender 0 arbftrio da maioria de alguns elementos funshydamentais para 0 pacto social em que as democracias se baseiam

Ao contnirio pode dizer-se numa primcira aproximacao que os regimes nao-democraticos se earacterizam pela ausencia de eleigoes competitivas e instituigoes responsliveis Nao e por acaso nas fases passagem de urn nao-democnitico para urn democrashytico que as eei(oes sao corn frequencia orientadas por organismos internacionais que controlam a sua reclidao e aprovacao elementos que representam urn momenta fundamental

2 A primeira dcmocratizacao

o EMERGIR DA DEMOCRACIA

As democracias evolufram atraves nao so de urn alargamento do direito do voto mas tambem do reconhecimento de uma serie de direitos civis politicos e sociais hoje considerados fundamentais

52

III ENTRE INTERESSES E IDENTIDADE o QUE 13 A PARTICIPAltAO POLlTICA

Na reaIidade das democracias ocidentais a participa~ao e selectiva nao s6 0 numero dos cidadaos que participam politicamente e limitado como alguns grupos participam menos do que outros No entanto como veremos no presente capitulo 0 repert6rio da participa~ao ampliou-se no tempo em formas de ac~ao nao convencionais que envoI vern grushypos mais amplos da popula~ao AICm disso observaremos como a constru~ao de identidades colectivas e a emergencia

de valores p6s-materialistas se ligaram as novas formas de participa~ao Ocupar-nos-emos a seguir do tema sobre as vantagens e desvantagens da participa~ao em particular nas suas formas menos convencionais e falaremos do Iugar particular de participa~o que e a esfera publica

s uma premissa )

) o tema da participa~ao e central para a polftica e para a democrashymiddot0 proprio conceito de politica referindo-se na sua etimologica

S grega exige uma imagem de participa~ao no agora intervem

l shydo raciocfnio para elabora~ao das decisoes A chamada laquodeshy

i-a

dos antigosraquo mantem esse elemento de intervensao directa ~rullO disse-se com frequcncia que as laquodemocracias dos modershy

) tern pouco que ver com a polis grega trata-se na verdade como

1 de democracias representativas onde as decisoes sao tomashy

pelo povo e por isso delegados para governar

85

DEMOCRACIA E PARTICIPAAO

A par da concepciio representativa da democracia existe outra qUe salienta a necessidade que os cidadaos natural mente interessados na politica tern de assumir directamente a tarefa de intervir nas decisoes referentes a causa publica Enquanto a democracia representativa preshy

a constituisao de urn corpo de representantcs especializados a democracia directa pelo contririo atribui fortes vfnculos ao principio da delegaSao encarada como instrumento de urn poder oligarquico Se a democracia representativa se baseia numa igualdade formal - uma cabesa urn voto - a directa e participativa porque reconhece 0 direito dc decidir somente a quem revela dedicaSao pel a causa publica Enshyquanta a democracia representativa e com frequencia burocratizada com uma centralizaS3o das decisoes no vertice a direct a insiste na necessidade de levar as decisoes 0 mais perto possfvel das pessoas

Se a tensao entre representaciio e participaciio esta sempre preshysente nas concepltoes da democracia com uma clara pre valencia da primeira na evolultao concreta das instituisoes democratic as e todavia necessario urn certo nfvel de participaltao para legitimar os represenshytantes A pr6pria ideia da soberania popular pressupoe a participasao que na verdade se desenvolveu na Europa em meados do seculo XVIII

de urn espaso publico que permitiu a acsao recfproca entre os cidadaos e os representantes das instituisoes [Mayer e Perrineau 1992

Por conseguinte esta estendeu-se atraves das virias etapas alargamento do sufragio eleitoral principal instrumento da participashySao dos cidadaos [efr cap 2] Cada vez mais presentes nas democrashycias contemporaneas sao por outro lado correctivos do principio da delegas1io em particular sob a forma do referendo ou da consulta directa aos eleitores sobre tematicas singulares e a participaSao de varias formas dos cidadaos na activasao de politicas publicas

o QUE E A PARTICIPAAO

bull Mas que significa laquoparticipaltao polfticaraquo Foi definida como laquo0

envolvimento do individuo no sistema politico a vdrios niveis de acshytividade do desinteresse total a titularidade de um cargo polfticoraquo [Rush 1992 trad it 1998] Numa concepltao mais limitada comshypreende quais os comportamentos dos cidadaos orientados para influenshyciar 0 processo politico [Axford et al 1997 109]

86

Nas formas minimas considera-se participaltao a exposiltao volunshya mensagens politic as [leitura de jornais ver 0 telejornal etc)

caso fala-se de simples presenSa diferente da activaltao que quando urn indivfduo se empenha em actos politicos

nressao laquoparticipasao politicaraquo compreende comportamentos muito do voto amilitancia num partido da discussao sobre politica organizada [para uma informaltao Sani 1991l A decisao de urn certo comportamento como forma de participasao poshy

nem sempre e facil Assim perguntou-se se fazem parte da cipasao politica os actos que se efectuam por motivaSao politica s que exercem cfeitos politicos - se urn individuo participa por

numa manifestaciio contra 0 encerramento de uma fabrica uma acltao polftica mesmo que as suas motivasoes sejam

dominantemente econ6micas [Lagroye 1993 324]7 E quem excshyactos terroristas para alterar uma decisao do govemo laquoparticipa icamenteraquo E quem paga para ser incumbido de uma empreitada

sobre os problemas de definisao 0 debate se mantem a pesquisa empirica tentou determinar quem quanto como e participa

selectividade da participa~ao

PARTICIPAAO CONVENCIONAL

numerosas as pesquisas sobre 0 envolvimento dos cidadaos nas formas de participasao Durante muito tempo os estudiosos traram-se nas convencionais com exclusiio explfcita das acltoes

nao-convencionais Numa das primeiras investigaltoes sobre 0

Lester Milbrath [1965 18] definiu por cxempl0 os seguintcs Irtamentos nivelados em relacao ao empenho exigido

Expor-se a solicitaltoes politicas Votar Entabular uma discussao politica Tentar convencer alguem a votar de determinado modo Usar urn distintivo politico Ter contactos com urn funciollltrio ou dirigente politico Fazer ofertas em dinheiro a urn partido ou candidato Assistir a urn comfcio ou assembleia politica

87

9) Dedicar tempo a uma campanha politica 10) Tornar-se membro activo de urn partido politico 11) Participar em reunioes onde se tomam decisoes politicas 12) Solicitar contribuiltoes em dinheiro para causas politicas 13) Candidatar-se a urn cargo e1ectivo 14) Ocupar cargos politicos ou de partido

Vma quesUio a qual os estudiosos prestaram muita atenltao foi a selectividade da participaltao de varios grupos da populaltao Em alshygumas pesquisas tentou-se assim salientar e depois explicar 0 laquoquanshytoraquo e 0 laquoquemraquo da participaltao

21 Quanta participafiio

Se as teorias norrnativas afirrnaram que a participaltao legitima a democracia e os estudos comparados se debrultaram sobre as aclt6es reciprocas entre participaltao e desenvolvimento das instituiltoes deshymocraticas as pesquisas sobre comportamentos individuais apresentashyram uma imagem diferente das democracias contemporaneas Invesshytigaltoes conduzidas principalmente com base em sondagens de opiniao revelaram que a democracia convive com taxas de participaliio muito baixas

BAIXAS TAXAS DE PARTICIPAyAO

Vma das primeiras pesquisas sistematicas sobre participaltao polfshytica efectuada nos Estados Vnidos Gra-Bretanha Alemanha Italia e Mexico no inicio dos anos 60 do seculo xx revela urn interesse pela politica limitado e uma taxa de participaltao ainda mais baixa Como Gabriel Almond e Sidney Verba escrevem teoricamente uma demoshycracia em funcionamento necessita de cidadaos informados sabre tematicas politicas empenhados activamente nelas e capazes de exershycerem influencia nas decisoes pUblicas Infelizmente porem as suas indagaltoes sobre 0 comportamento politico laquopoem em duvida este modelo activista e racional pois tcirna-se evidente que os cidadaos dos sistemas democraticos s6 muito raramente respondem a este madelo Nao estao bern informados nem empenhados profundamente ou parshyticularrnente activosraquo [Almond e Verba 1963 474]

88

Tarnbem outras investigaltoes no mesmo periodo confirrnaram que democracias funcionam com uma taxa de participaltao muito mais do que a ventilada nas teorias norrnativas como condiltao necesshy

de urn born governo Na verdade salientaram que as actividades se referiam a urn numero reduzido de cidadaos [Lagroye

312] No seu famoso estudo Lester Milbrath [1965] observou por exemshy

que nos Estados Vnidos os laquogladiadoresraquo muito activos em eram apenas 7 dos cidadaos os laquoespectadoresraquo empenhashy

num nivel minimo 60 e os laquoapaticosraquo totalmente desinteresshyj~ados 30 Verificaram-se resultados similares no mesmo pais numa (tllPesquisa de Verba e Nie [1972] que distinguindo tambem 0 nivel l~erritoria1 da participaltao apuraram 22 de cidadaos totalmente passhyliivos a que se juntavam 21 que se limitavam a votar quanta aos 6utros 20 eram laquolocalistasraquo que s6 se interessavam pelas questoes

4cms e 4 laquoparoquianosraquo que apenas se ocupavam do que lhes dizia iespeito directamente 15 laquocontendentesraquo que se mobilizavam em

campanhas especificas e somente 18 laquoactivistas globaisraquo envolvishy80s por todo 0 arco das quest6es politicas A quantidade de pessoas activas reduzia-se alem dis so a medida ~be se subia no grau de empenhamento por exemplo de ir votar a linteressar-se pela politica participar em actividades de partido inscreshyver-se numa organizaltao politica e preencher cargos pUblicos Aumenshy

~t1llva portanto em cada passagem 0 grau de selectividade da particishylPaltao

Participariio e desigualdade

o problema da selectividade aumentou pelo facto de a percentagem que participam tender a nao ser representativa da populaltao

~eu conjunto Ou seja ha desigualdades na medida da participaltao por conseguinte na influencia pof[tica dos diferentes grupos Seshy

a investigaltao de Milbrath [Milbrath e Goel 1977] os niveis n~~~ - mais elevados referem-se em igualdade de condiltoes

aos que tern niveis de instrultao mais elevados aos provenientes das classes medias em relaltao a quem faz Parte da operaria

89

c) aos homens em relaltao as mulheres d) as pessoas em fases de idade intermedias (nem muito jovens

nem demasiado idosas) e) aos casados em relaltao aos solteiros 1) aos que residem na cidade em relaltao aos que vivem em areas

mrais g) a quem vive ba muito tempo num Iugar em relaltao a quem

acaba de se transferir para hi h) aqueles que pertencem a maiorias etnicas i) aqueles que estao empenhados socialmente eou em organizashy

ltoes de varios tipos

pesquisa sobre a participaltao nos Estados Unidos Verba e Nie (1972) observaram que quanta mais alto 0 estatuto social (riqueza prestigio) de urn individuo maior a sua tendencia para participar o mesmo resultado foi confmnado seguidamente noutro estudo Participaltao e Iguaidade Polftica [Verba Nie e Kim 1978) que comshyparava sete naltoes Os autores escrevem que apesar de os sistemas democratieos serem em principio igualitarios (baseando-se no sufrashygio universal e portanto no princfpio de laquouma cabelta urn votoraquo) na pnitiea laquoa influencia polftica exercida pelos cidadaos varia de forma consideravelraquo Com efeito as desigualdades sociaL~ e economicas reflectem-se em desigualdades polltieas laquoAssim que os cidadaos convertem estes recursos em influencia politica a desigualdade poHshytiea torna-se evidente A vanta gem politica dos cidadaos maioritashyriamente favorecidos em termos socioeconomicos encontra-se em todas as naltoesraquo [ibidem 37) Hierarquias de estratificaltao politica e hieshyrarquias de estratificaltao socioecon6mica andam a par - embora com algumas diferenltas de pais para pais

Na verdade quem tern urn estatuto mais elevado dispoe de recursos materiais (em primeiro lugar dinheiro) e simb6licos gio) para investir na participaltao No que se ref ere aos primeiros quem dispoe de mais dinheiro e tempo livre pode utiliz3-los com menores custos marginais em actividades politicas Alem disso quem tern prestigio disp5e tambem de maior influencia a sua participa~ao tern mais possibilidades de exito porque 0 estatuto social elevado

comporta melhores oportunidades de acesso a quem toma as decisoes

90

ainda quem dispoe de urn estatuto mais elevado sabe como se participar pois com ele aumenta a instmltao e qucm e mais sabe melhor 0 que deve fazer quando se trata de defender os

interesses Se quem tern urn estatuto social elevado compreende dos politicos e julga saber como influenchi-Ios quem nlio

esses recursos aceita a sua incompetencia e delega a intervenshypolitica noutros E pois este sentimento de incompetencia e nao

lusencia de opinioes (evocada noutras explicaltoes) que estes afastar-se da participaltao

que se colocam numa posiltao central do ponto de vista tern igualmente uma vantagem psicologica a instrultao e presshy

incutem confianlta em si proprios e portanto na sua capacidade mudar as coisas 0 estatuto socioeconomico aumenta os niveis de

porque incrementa a confian9a na efidtcia polftica 0 frances Pierre Bourdieu falou a esse respeito do scntimento

ter 0 laquodireito a palavraraquo sentimento esse intimamente ligado a social [Bourdieu 1979 180]

A DESIGUALDADE POLITICA

A igualdade polftica e portanto pelo menos em parte uma utopia como se revelou utopica a esperanlta difusa que a democracia

poder aos menos privilegiados atraves de urn direito de voto para todos teria levado a abolir os privilegios Esta esperanlta

no poder do numero sendo mais numerosos que os privishyos menos privilegiados poderiam desfmtar dos direitos poshy

com vantagens pr6prias As capacidades desiguais de utilizar os de participaltao explicam 0 malogro parcial na utilizaltao do

do numero para superar as desigualdades economic as e sociais que os cidadaos sao diferentes uns dos outros nas capacidades

gtlltilizar as oportunidades de participaltao politic a laquoa vantagem do pode ser contrabalan9ada pelo uso desigual das oportunidades

Participaltao por parte de quem e economicamente mais forteraquo Nie e Kim 1978 43) mindo nas democracias as oportunidades formais de igual

sao utilizadas desigualmente por varios grupos sociais Se a corresponde a procura de igualdade pode porem reproshy

as desigualdades Ampliando-se a participa9ao admite-se que influencia nas decisoes publicas individuos cuja dota9ao de

91

recursos economicos ou de estatuto e profundamente diferente Como Alessandro Pizzorno sintetizou

todo 0 indivfduo participa pelo menos potencialmente com 0 coefi_ ciente de diferenciacao e desigualdade (para nao empregar 0 tenno laquoprivilegioraquo que teria demasiado sabor a ancien regime) que caracshyteriza a sua posicao no sistema dos interesses privados [1966 90]

3 As novas formas da participacao

A PARTICIPAltAO NAO-CONVENCIONAL

Se a analise da selectividade da participaltao considerou principalshymente as suas formas mais convencionais (sobre a participaltao eleishytoral cfr cap 5) a partir dos anos 70 do seculo xx os estudiosos comeltaram a observar urn crescimento rapido de formas novas naoshy-convencionais (ou directas) de participaltao politica Entre elas hil [por exemplo Dalton 1988]

1) Escrever a urn jornal 2) Aderir a urn boicote 3) Auto-reduzir impostos ou rendas 4) Ocupar ediffcios 5) Bloquear 0 transito 6) Assinar uma petiltao 7) Fazer urn sit-in 8) Participar numa greve selvagem 9) Tomar parte em manifestalt6es pacfficas

10) Danificar bens materiais 11) Utilizar a vioH~ncia contra pessoas

Isto leva a interrogarmo-nos sobre os varios estilos de participa(Jiio proprios de diferentes grupos sociais geralt6es ou nalt6es e as condishylt6es para 0 desenvolvimento de novas formas de participaltao

Numa importante investigaltao comparada efectuada nos anos 70 do seculo xx sobre varias democracias ocidentais Samuel Barnes e Max Kaase observaram que a respeito de leis e decis6es considerad~s injustas ou ilegais grupos cada vez mais numerosos de cidadaos estaO

disponiveis para recorrer a formas de acltao caracterizadas pela sua nao-convencionalidade laquoNas sociedades industriais avanltadas as

92

de acltao politica directa nao ostentam 0 estigma do desvio sao encaradas como anti-sistema na sua orientaltaoraquo [Barnes et

1979 157] Por exemplo entre 1960 e 1974 a percentagem dos respondem laquoaclt6es politicas nao convencionais como manifestashy

apergunta laquoQue pode urn cidadao fazer quanto a urn regulashylocal considerado injusto ou prejudicialraquo aumentou na Grashy

iTetalha Estados Unidos e Republica Federal Alema de menos de para mais de 7

observaltao adicional diz respeito a combinaltao de interesses e aclt6es convencionais e aclt6es nao-convencionais Inicialshy

pensou-se que os indicadores de participaltao politica tendiam ou seja quem lia mais tendia a empenhar-se mais nas

mais tradicionais Depressa se descobriu que ao contrario haver varios laquoestilosraquo de participaltao pelo que alguns indivishy

ou grupos tendiam a escolher umas formas de acltao e outros WIlliam outras $egundo os resultados da investigaltao nao se pode contudo falar

verdadeira e propria rotura entre os que utilizam tactic as de participaltao e os que por outro lado recorrem as

tacticas de acltao directa Com efeito a participaltao convenshyesta com frequencia relacionada com a nao-convencional indishyque pessoas interessadas na politic a e competentesno campo a utilizar simultaneamente varios instrumentos possiveis para

os governos Se M individuos que preferem urn ou outro de estrategia existem muitos que os combinam entre si

untando participaltao em actividades convencionais e actividades ~onvencionais podemos distinguir

Inactivos que quando muito leem politica ou assinam uma petiltao

Conjormistas que se empenham urn pouco mais nas actividashydes convencionais

Rejormistas que laquoparticipam de modo convencional mas ampliam 0 repertorio politico ate abraltar formas legais de

t protesto manifestalt6es ou mesmo boicotes lV Activistas que laquoamp Iiam 0 repertorio no seu nivel maximo

em alguns casos ate incluir formas de protesto nao legaisraquo Contestatarios que adoptam todas as formas nao-convencioshynais mas recusam as convencionais de participaltao

93

A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 5: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

Urn elemento indispensavel para que haja democracia e a existenshycia de eleicoes competitivas correctas e recorrentes Com efeito nao e suficiente que se realizem deve tratar-se de eleigoes em que haja uma competi(ao real entre os candidatos que seja tambem correcta e que se repetiram a urn ritmo regular (de modo que quem celeito saiba que deve pres tar contas aos eleitores dos seus actos dentro de urn determinado periodo de tempo) As elei(oes devem funcionar como elementos de responsabilizacao vinculando os principais actores do governo - uma vez que a democracia comporta urn sistema institucioshynalizado de representa(ao laquorealizada atraves da designa(ao eleitoral livre de certos organismos fundamentais (sobretudo os parlamentos)gtgt [Cotta 1990 933 j

~-A CONSTlTUCIONALIZAIAO DOS DIRElTOS

Assim a propria concepCao de urn poder constitucional salienta a necessidade de lirnitar todo 0 tipo de poder inclusi ve 0 dos orgaos representativos submetendo-o ao direito Na verdade a democracia sujeita 0 poder da maioria a urn controlo jurisdicional de respeito pela lei e pela Constituicao IKelsen 1998 123] Ern democracia a obtenshy(ao da maioria parlamentar da direito a decidir em muitas coisas mas nao ern tudo Os direitos das maiorias sao tutelados alraves daquilo que foi definido como laquoconstitucionaliza(aoraquo de alguns direitos ou seja fazem depender 0 arbftrio da maioria de alguns elementos funshydamentais para 0 pacto social em que as democracias se baseiam

Ao contnirio pode dizer-se numa primcira aproximacao que os regimes nao-democraticos se earacterizam pela ausencia de eleigoes competitivas e instituigoes responsliveis Nao e por acaso nas fases passagem de urn nao-democnitico para urn democrashytico que as eei(oes sao corn frequencia orientadas por organismos internacionais que controlam a sua reclidao e aprovacao elementos que representam urn momenta fundamental

2 A primeira dcmocratizacao

o EMERGIR DA DEMOCRACIA

As democracias evolufram atraves nao so de urn alargamento do direito do voto mas tambem do reconhecimento de uma serie de direitos civis politicos e sociais hoje considerados fundamentais

52

III ENTRE INTERESSES E IDENTIDADE o QUE 13 A PARTICIPAltAO POLlTICA

Na reaIidade das democracias ocidentais a participa~ao e selectiva nao s6 0 numero dos cidadaos que participam politicamente e limitado como alguns grupos participam menos do que outros No entanto como veremos no presente capitulo 0 repert6rio da participa~ao ampliou-se no tempo em formas de ac~ao nao convencionais que envoI vern grushypos mais amplos da popula~ao AICm disso observaremos como a constru~ao de identidades colectivas e a emergencia

de valores p6s-materialistas se ligaram as novas formas de participa~ao Ocupar-nos-emos a seguir do tema sobre as vantagens e desvantagens da participa~ao em particular nas suas formas menos convencionais e falaremos do Iugar particular de participa~o que e a esfera publica

s uma premissa )

) o tema da participa~ao e central para a polftica e para a democrashymiddot0 proprio conceito de politica referindo-se na sua etimologica

S grega exige uma imagem de participa~ao no agora intervem

l shydo raciocfnio para elabora~ao das decisoes A chamada laquodeshy

i-a

dos antigosraquo mantem esse elemento de intervensao directa ~rullO disse-se com frequcncia que as laquodemocracias dos modershy

) tern pouco que ver com a polis grega trata-se na verdade como

1 de democracias representativas onde as decisoes sao tomashy

pelo povo e por isso delegados para governar

85

DEMOCRACIA E PARTICIPAAO

A par da concepciio representativa da democracia existe outra qUe salienta a necessidade que os cidadaos natural mente interessados na politica tern de assumir directamente a tarefa de intervir nas decisoes referentes a causa publica Enquanto a democracia representativa preshy

a constituisao de urn corpo de representantcs especializados a democracia directa pelo contririo atribui fortes vfnculos ao principio da delegaSao encarada como instrumento de urn poder oligarquico Se a democracia representativa se baseia numa igualdade formal - uma cabesa urn voto - a directa e participativa porque reconhece 0 direito dc decidir somente a quem revela dedicaSao pel a causa publica Enshyquanta a democracia representativa e com frequencia burocratizada com uma centralizaS3o das decisoes no vertice a direct a insiste na necessidade de levar as decisoes 0 mais perto possfvel das pessoas

Se a tensao entre representaciio e participaciio esta sempre preshysente nas concepltoes da democracia com uma clara pre valencia da primeira na evolultao concreta das instituisoes democratic as e todavia necessario urn certo nfvel de participaltao para legitimar os represenshytantes A pr6pria ideia da soberania popular pressupoe a participasao que na verdade se desenvolveu na Europa em meados do seculo XVIII

de urn espaso publico que permitiu a acsao recfproca entre os cidadaos e os representantes das instituisoes [Mayer e Perrineau 1992

Por conseguinte esta estendeu-se atraves das virias etapas alargamento do sufragio eleitoral principal instrumento da participashySao dos cidadaos [efr cap 2] Cada vez mais presentes nas democrashycias contemporaneas sao por outro lado correctivos do principio da delegas1io em particular sob a forma do referendo ou da consulta directa aos eleitores sobre tematicas singulares e a participaSao de varias formas dos cidadaos na activasao de politicas publicas

o QUE E A PARTICIPAAO

bull Mas que significa laquoparticipaltao polfticaraquo Foi definida como laquo0

envolvimento do individuo no sistema politico a vdrios niveis de acshytividade do desinteresse total a titularidade de um cargo polfticoraquo [Rush 1992 trad it 1998] Numa concepltao mais limitada comshypreende quais os comportamentos dos cidadaos orientados para influenshyciar 0 processo politico [Axford et al 1997 109]

86

Nas formas minimas considera-se participaltao a exposiltao volunshya mensagens politic as [leitura de jornais ver 0 telejornal etc)

caso fala-se de simples presenSa diferente da activaltao que quando urn indivfduo se empenha em actos politicos

nressao laquoparticipasao politicaraquo compreende comportamentos muito do voto amilitancia num partido da discussao sobre politica organizada [para uma informaltao Sani 1991l A decisao de urn certo comportamento como forma de participasao poshy

nem sempre e facil Assim perguntou-se se fazem parte da cipasao politica os actos que se efectuam por motivaSao politica s que exercem cfeitos politicos - se urn individuo participa por

numa manifestaciio contra 0 encerramento de uma fabrica uma acltao polftica mesmo que as suas motivasoes sejam

dominantemente econ6micas [Lagroye 1993 324]7 E quem excshyactos terroristas para alterar uma decisao do govemo laquoparticipa icamenteraquo E quem paga para ser incumbido de uma empreitada

sobre os problemas de definisao 0 debate se mantem a pesquisa empirica tentou determinar quem quanto como e participa

selectividade da participa~ao

PARTICIPAAO CONVENCIONAL

numerosas as pesquisas sobre 0 envolvimento dos cidadaos nas formas de participasao Durante muito tempo os estudiosos traram-se nas convencionais com exclusiio explfcita das acltoes

nao-convencionais Numa das primeiras investigaltoes sobre 0

Lester Milbrath [1965 18] definiu por cxempl0 os seguintcs Irtamentos nivelados em relacao ao empenho exigido

Expor-se a solicitaltoes politicas Votar Entabular uma discussao politica Tentar convencer alguem a votar de determinado modo Usar urn distintivo politico Ter contactos com urn funciollltrio ou dirigente politico Fazer ofertas em dinheiro a urn partido ou candidato Assistir a urn comfcio ou assembleia politica

87

9) Dedicar tempo a uma campanha politica 10) Tornar-se membro activo de urn partido politico 11) Participar em reunioes onde se tomam decisoes politicas 12) Solicitar contribuiltoes em dinheiro para causas politicas 13) Candidatar-se a urn cargo e1ectivo 14) Ocupar cargos politicos ou de partido

Vma quesUio a qual os estudiosos prestaram muita atenltao foi a selectividade da participaltao de varios grupos da populaltao Em alshygumas pesquisas tentou-se assim salientar e depois explicar 0 laquoquanshytoraquo e 0 laquoquemraquo da participaltao

21 Quanta participafiio

Se as teorias norrnativas afirrnaram que a participaltao legitima a democracia e os estudos comparados se debrultaram sobre as aclt6es reciprocas entre participaltao e desenvolvimento das instituiltoes deshymocraticas as pesquisas sobre comportamentos individuais apresentashyram uma imagem diferente das democracias contemporaneas Invesshytigaltoes conduzidas principalmente com base em sondagens de opiniao revelaram que a democracia convive com taxas de participaliio muito baixas

BAIXAS TAXAS DE PARTICIPAyAO

Vma das primeiras pesquisas sistematicas sobre participaltao polfshytica efectuada nos Estados Vnidos Gra-Bretanha Alemanha Italia e Mexico no inicio dos anos 60 do seculo xx revela urn interesse pela politica limitado e uma taxa de participaltao ainda mais baixa Como Gabriel Almond e Sidney Verba escrevem teoricamente uma demoshycracia em funcionamento necessita de cidadaos informados sabre tematicas politicas empenhados activamente nelas e capazes de exershycerem influencia nas decisoes pUblicas Infelizmente porem as suas indagaltoes sobre 0 comportamento politico laquopoem em duvida este modelo activista e racional pois tcirna-se evidente que os cidadaos dos sistemas democraticos s6 muito raramente respondem a este madelo Nao estao bern informados nem empenhados profundamente ou parshyticularrnente activosraquo [Almond e Verba 1963 474]

88

Tarnbem outras investigaltoes no mesmo periodo confirrnaram que democracias funcionam com uma taxa de participaltao muito mais do que a ventilada nas teorias norrnativas como condiltao necesshy

de urn born governo Na verdade salientaram que as actividades se referiam a urn numero reduzido de cidadaos [Lagroye

312] No seu famoso estudo Lester Milbrath [1965] observou por exemshy

que nos Estados Vnidos os laquogladiadoresraquo muito activos em eram apenas 7 dos cidadaos os laquoespectadoresraquo empenhashy

num nivel minimo 60 e os laquoapaticosraquo totalmente desinteresshyj~ados 30 Verificaram-se resultados similares no mesmo pais numa (tllPesquisa de Verba e Nie [1972] que distinguindo tambem 0 nivel l~erritoria1 da participaltao apuraram 22 de cidadaos totalmente passhyliivos a que se juntavam 21 que se limitavam a votar quanta aos 6utros 20 eram laquolocalistasraquo que s6 se interessavam pelas questoes

4cms e 4 laquoparoquianosraquo que apenas se ocupavam do que lhes dizia iespeito directamente 15 laquocontendentesraquo que se mobilizavam em

campanhas especificas e somente 18 laquoactivistas globaisraquo envolvishy80s por todo 0 arco das quest6es politicas A quantidade de pessoas activas reduzia-se alem dis so a medida ~be se subia no grau de empenhamento por exemplo de ir votar a linteressar-se pela politica participar em actividades de partido inscreshyver-se numa organizaltao politica e preencher cargos pUblicos Aumenshy

~t1llva portanto em cada passagem 0 grau de selectividade da particishylPaltao

Participariio e desigualdade

o problema da selectividade aumentou pelo facto de a percentagem que participam tender a nao ser representativa da populaltao

~eu conjunto Ou seja ha desigualdades na medida da participaltao por conseguinte na influencia pof[tica dos diferentes grupos Seshy

a investigaltao de Milbrath [Milbrath e Goel 1977] os niveis n~~~ - mais elevados referem-se em igualdade de condiltoes

aos que tern niveis de instrultao mais elevados aos provenientes das classes medias em relaltao a quem faz Parte da operaria

89

c) aos homens em relaltao as mulheres d) as pessoas em fases de idade intermedias (nem muito jovens

nem demasiado idosas) e) aos casados em relaltao aos solteiros 1) aos que residem na cidade em relaltao aos que vivem em areas

mrais g) a quem vive ba muito tempo num Iugar em relaltao a quem

acaba de se transferir para hi h) aqueles que pertencem a maiorias etnicas i) aqueles que estao empenhados socialmente eou em organizashy

ltoes de varios tipos

pesquisa sobre a participaltao nos Estados Unidos Verba e Nie (1972) observaram que quanta mais alto 0 estatuto social (riqueza prestigio) de urn individuo maior a sua tendencia para participar o mesmo resultado foi confmnado seguidamente noutro estudo Participaltao e Iguaidade Polftica [Verba Nie e Kim 1978) que comshyparava sete naltoes Os autores escrevem que apesar de os sistemas democratieos serem em principio igualitarios (baseando-se no sufrashygio universal e portanto no princfpio de laquouma cabelta urn votoraquo) na pnitiea laquoa influencia polftica exercida pelos cidadaos varia de forma consideravelraquo Com efeito as desigualdades sociaL~ e economicas reflectem-se em desigualdades polltieas laquoAssim que os cidadaos convertem estes recursos em influencia politica a desigualdade poHshytiea torna-se evidente A vanta gem politica dos cidadaos maioritashyriamente favorecidos em termos socioeconomicos encontra-se em todas as naltoesraquo [ibidem 37) Hierarquias de estratificaltao politica e hieshyrarquias de estratificaltao socioecon6mica andam a par - embora com algumas diferenltas de pais para pais

Na verdade quem tern urn estatuto mais elevado dispoe de recursos materiais (em primeiro lugar dinheiro) e simb6licos gio) para investir na participaltao No que se ref ere aos primeiros quem dispoe de mais dinheiro e tempo livre pode utiliz3-los com menores custos marginais em actividades politicas Alem disso quem tern prestigio disp5e tambem de maior influencia a sua participa~ao tern mais possibilidades de exito porque 0 estatuto social elevado

comporta melhores oportunidades de acesso a quem toma as decisoes

90

ainda quem dispoe de urn estatuto mais elevado sabe como se participar pois com ele aumenta a instmltao e qucm e mais sabe melhor 0 que deve fazer quando se trata de defender os

interesses Se quem tern urn estatuto social elevado compreende dos politicos e julga saber como influenchi-Ios quem nlio

esses recursos aceita a sua incompetencia e delega a intervenshypolitica noutros E pois este sentimento de incompetencia e nao

lusencia de opinioes (evocada noutras explicaltoes) que estes afastar-se da participaltao

que se colocam numa posiltao central do ponto de vista tern igualmente uma vantagem psicologica a instrultao e presshy

incutem confianlta em si proprios e portanto na sua capacidade mudar as coisas 0 estatuto socioeconomico aumenta os niveis de

porque incrementa a confian9a na efidtcia polftica 0 frances Pierre Bourdieu falou a esse respeito do scntimento

ter 0 laquodireito a palavraraquo sentimento esse intimamente ligado a social [Bourdieu 1979 180]

A DESIGUALDADE POLITICA

A igualdade polftica e portanto pelo menos em parte uma utopia como se revelou utopica a esperanlta difusa que a democracia

poder aos menos privilegiados atraves de urn direito de voto para todos teria levado a abolir os privilegios Esta esperanlta

no poder do numero sendo mais numerosos que os privishyos menos privilegiados poderiam desfmtar dos direitos poshy

com vantagens pr6prias As capacidades desiguais de utilizar os de participaltao explicam 0 malogro parcial na utilizaltao do

do numero para superar as desigualdades economic as e sociais que os cidadaos sao diferentes uns dos outros nas capacidades

gtlltilizar as oportunidades de participaltao politic a laquoa vantagem do pode ser contrabalan9ada pelo uso desigual das oportunidades

Participaltao por parte de quem e economicamente mais forteraquo Nie e Kim 1978 43) mindo nas democracias as oportunidades formais de igual

sao utilizadas desigualmente por varios grupos sociais Se a corresponde a procura de igualdade pode porem reproshy

as desigualdades Ampliando-se a participa9ao admite-se que influencia nas decisoes publicas individuos cuja dota9ao de

91

recursos economicos ou de estatuto e profundamente diferente Como Alessandro Pizzorno sintetizou

todo 0 indivfduo participa pelo menos potencialmente com 0 coefi_ ciente de diferenciacao e desigualdade (para nao empregar 0 tenno laquoprivilegioraquo que teria demasiado sabor a ancien regime) que caracshyteriza a sua posicao no sistema dos interesses privados [1966 90]

3 As novas formas da participacao

A PARTICIPAltAO NAO-CONVENCIONAL

Se a analise da selectividade da participaltao considerou principalshymente as suas formas mais convencionais (sobre a participaltao eleishytoral cfr cap 5) a partir dos anos 70 do seculo xx os estudiosos comeltaram a observar urn crescimento rapido de formas novas naoshy-convencionais (ou directas) de participaltao politica Entre elas hil [por exemplo Dalton 1988]

1) Escrever a urn jornal 2) Aderir a urn boicote 3) Auto-reduzir impostos ou rendas 4) Ocupar ediffcios 5) Bloquear 0 transito 6) Assinar uma petiltao 7) Fazer urn sit-in 8) Participar numa greve selvagem 9) Tomar parte em manifestalt6es pacfficas

10) Danificar bens materiais 11) Utilizar a vioH~ncia contra pessoas

Isto leva a interrogarmo-nos sobre os varios estilos de participa(Jiio proprios de diferentes grupos sociais geralt6es ou nalt6es e as condishylt6es para 0 desenvolvimento de novas formas de participaltao

Numa importante investigaltao comparada efectuada nos anos 70 do seculo xx sobre varias democracias ocidentais Samuel Barnes e Max Kaase observaram que a respeito de leis e decis6es considerad~s injustas ou ilegais grupos cada vez mais numerosos de cidadaos estaO

disponiveis para recorrer a formas de acltao caracterizadas pela sua nao-convencionalidade laquoNas sociedades industriais avanltadas as

92

de acltao politica directa nao ostentam 0 estigma do desvio sao encaradas como anti-sistema na sua orientaltaoraquo [Barnes et

1979 157] Por exemplo entre 1960 e 1974 a percentagem dos respondem laquoaclt6es politicas nao convencionais como manifestashy

apergunta laquoQue pode urn cidadao fazer quanto a urn regulashylocal considerado injusto ou prejudicialraquo aumentou na Grashy

iTetalha Estados Unidos e Republica Federal Alema de menos de para mais de 7

observaltao adicional diz respeito a combinaltao de interesses e aclt6es convencionais e aclt6es nao-convencionais Inicialshy

pensou-se que os indicadores de participaltao politica tendiam ou seja quem lia mais tendia a empenhar-se mais nas

mais tradicionais Depressa se descobriu que ao contrario haver varios laquoestilosraquo de participaltao pelo que alguns indivishy

ou grupos tendiam a escolher umas formas de acltao e outros WIlliam outras $egundo os resultados da investigaltao nao se pode contudo falar

verdadeira e propria rotura entre os que utilizam tactic as de participaltao e os que por outro lado recorrem as

tacticas de acltao directa Com efeito a participaltao convenshyesta com frequencia relacionada com a nao-convencional indishyque pessoas interessadas na politic a e competentesno campo a utilizar simultaneamente varios instrumentos possiveis para

os governos Se M individuos que preferem urn ou outro de estrategia existem muitos que os combinam entre si

untando participaltao em actividades convencionais e actividades ~onvencionais podemos distinguir

Inactivos que quando muito leem politica ou assinam uma petiltao

Conjormistas que se empenham urn pouco mais nas actividashydes convencionais

Rejormistas que laquoparticipam de modo convencional mas ampliam 0 repertorio politico ate abraltar formas legais de

t protesto manifestalt6es ou mesmo boicotes lV Activistas que laquoamp Iiam 0 repertorio no seu nivel maximo

em alguns casos ate incluir formas de protesto nao legaisraquo Contestatarios que adoptam todas as formas nao-convencioshynais mas recusam as convencionais de participaltao

93

A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 6: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

III ENTRE INTERESSES E IDENTIDADE o QUE 13 A PARTICIPAltAO POLlTICA

Na reaIidade das democracias ocidentais a participa~ao e selectiva nao s6 0 numero dos cidadaos que participam politicamente e limitado como alguns grupos participam menos do que outros No entanto como veremos no presente capitulo 0 repert6rio da participa~ao ampliou-se no tempo em formas de ac~ao nao convencionais que envoI vern grushypos mais amplos da popula~ao AICm disso observaremos como a constru~ao de identidades colectivas e a emergencia

de valores p6s-materialistas se ligaram as novas formas de participa~ao Ocupar-nos-emos a seguir do tema sobre as vantagens e desvantagens da participa~ao em particular nas suas formas menos convencionais e falaremos do Iugar particular de participa~o que e a esfera publica

s uma premissa )

) o tema da participa~ao e central para a polftica e para a democrashymiddot0 proprio conceito de politica referindo-se na sua etimologica

S grega exige uma imagem de participa~ao no agora intervem

l shydo raciocfnio para elabora~ao das decisoes A chamada laquodeshy

i-a

dos antigosraquo mantem esse elemento de intervensao directa ~rullO disse-se com frequcncia que as laquodemocracias dos modershy

) tern pouco que ver com a polis grega trata-se na verdade como

1 de democracias representativas onde as decisoes sao tomashy

pelo povo e por isso delegados para governar

85

DEMOCRACIA E PARTICIPAAO

A par da concepciio representativa da democracia existe outra qUe salienta a necessidade que os cidadaos natural mente interessados na politica tern de assumir directamente a tarefa de intervir nas decisoes referentes a causa publica Enquanto a democracia representativa preshy

a constituisao de urn corpo de representantcs especializados a democracia directa pelo contririo atribui fortes vfnculos ao principio da delegaSao encarada como instrumento de urn poder oligarquico Se a democracia representativa se baseia numa igualdade formal - uma cabesa urn voto - a directa e participativa porque reconhece 0 direito dc decidir somente a quem revela dedicaSao pel a causa publica Enshyquanta a democracia representativa e com frequencia burocratizada com uma centralizaS3o das decisoes no vertice a direct a insiste na necessidade de levar as decisoes 0 mais perto possfvel das pessoas

Se a tensao entre representaciio e participaciio esta sempre preshysente nas concepltoes da democracia com uma clara pre valencia da primeira na evolultao concreta das instituisoes democratic as e todavia necessario urn certo nfvel de participaltao para legitimar os represenshytantes A pr6pria ideia da soberania popular pressupoe a participasao que na verdade se desenvolveu na Europa em meados do seculo XVIII

de urn espaso publico que permitiu a acsao recfproca entre os cidadaos e os representantes das instituisoes [Mayer e Perrineau 1992

Por conseguinte esta estendeu-se atraves das virias etapas alargamento do sufragio eleitoral principal instrumento da participashySao dos cidadaos [efr cap 2] Cada vez mais presentes nas democrashycias contemporaneas sao por outro lado correctivos do principio da delegas1io em particular sob a forma do referendo ou da consulta directa aos eleitores sobre tematicas singulares e a participaSao de varias formas dos cidadaos na activasao de politicas publicas

o QUE E A PARTICIPAAO

bull Mas que significa laquoparticipaltao polfticaraquo Foi definida como laquo0

envolvimento do individuo no sistema politico a vdrios niveis de acshytividade do desinteresse total a titularidade de um cargo polfticoraquo [Rush 1992 trad it 1998] Numa concepltao mais limitada comshypreende quais os comportamentos dos cidadaos orientados para influenshyciar 0 processo politico [Axford et al 1997 109]

86

Nas formas minimas considera-se participaltao a exposiltao volunshya mensagens politic as [leitura de jornais ver 0 telejornal etc)

caso fala-se de simples presenSa diferente da activaltao que quando urn indivfduo se empenha em actos politicos

nressao laquoparticipasao politicaraquo compreende comportamentos muito do voto amilitancia num partido da discussao sobre politica organizada [para uma informaltao Sani 1991l A decisao de urn certo comportamento como forma de participasao poshy

nem sempre e facil Assim perguntou-se se fazem parte da cipasao politica os actos que se efectuam por motivaSao politica s que exercem cfeitos politicos - se urn individuo participa por

numa manifestaciio contra 0 encerramento de uma fabrica uma acltao polftica mesmo que as suas motivasoes sejam

dominantemente econ6micas [Lagroye 1993 324]7 E quem excshyactos terroristas para alterar uma decisao do govemo laquoparticipa icamenteraquo E quem paga para ser incumbido de uma empreitada

sobre os problemas de definisao 0 debate se mantem a pesquisa empirica tentou determinar quem quanto como e participa

selectividade da participa~ao

PARTICIPAAO CONVENCIONAL

numerosas as pesquisas sobre 0 envolvimento dos cidadaos nas formas de participasao Durante muito tempo os estudiosos traram-se nas convencionais com exclusiio explfcita das acltoes

nao-convencionais Numa das primeiras investigaltoes sobre 0

Lester Milbrath [1965 18] definiu por cxempl0 os seguintcs Irtamentos nivelados em relacao ao empenho exigido

Expor-se a solicitaltoes politicas Votar Entabular uma discussao politica Tentar convencer alguem a votar de determinado modo Usar urn distintivo politico Ter contactos com urn funciollltrio ou dirigente politico Fazer ofertas em dinheiro a urn partido ou candidato Assistir a urn comfcio ou assembleia politica

87

9) Dedicar tempo a uma campanha politica 10) Tornar-se membro activo de urn partido politico 11) Participar em reunioes onde se tomam decisoes politicas 12) Solicitar contribuiltoes em dinheiro para causas politicas 13) Candidatar-se a urn cargo e1ectivo 14) Ocupar cargos politicos ou de partido

Vma quesUio a qual os estudiosos prestaram muita atenltao foi a selectividade da participaltao de varios grupos da populaltao Em alshygumas pesquisas tentou-se assim salientar e depois explicar 0 laquoquanshytoraquo e 0 laquoquemraquo da participaltao

21 Quanta participafiio

Se as teorias norrnativas afirrnaram que a participaltao legitima a democracia e os estudos comparados se debrultaram sobre as aclt6es reciprocas entre participaltao e desenvolvimento das instituiltoes deshymocraticas as pesquisas sobre comportamentos individuais apresentashyram uma imagem diferente das democracias contemporaneas Invesshytigaltoes conduzidas principalmente com base em sondagens de opiniao revelaram que a democracia convive com taxas de participaliio muito baixas

BAIXAS TAXAS DE PARTICIPAyAO

Vma das primeiras pesquisas sistematicas sobre participaltao polfshytica efectuada nos Estados Vnidos Gra-Bretanha Alemanha Italia e Mexico no inicio dos anos 60 do seculo xx revela urn interesse pela politica limitado e uma taxa de participaltao ainda mais baixa Como Gabriel Almond e Sidney Verba escrevem teoricamente uma demoshycracia em funcionamento necessita de cidadaos informados sabre tematicas politicas empenhados activamente nelas e capazes de exershycerem influencia nas decisoes pUblicas Infelizmente porem as suas indagaltoes sobre 0 comportamento politico laquopoem em duvida este modelo activista e racional pois tcirna-se evidente que os cidadaos dos sistemas democraticos s6 muito raramente respondem a este madelo Nao estao bern informados nem empenhados profundamente ou parshyticularrnente activosraquo [Almond e Verba 1963 474]

88

Tarnbem outras investigaltoes no mesmo periodo confirrnaram que democracias funcionam com uma taxa de participaltao muito mais do que a ventilada nas teorias norrnativas como condiltao necesshy

de urn born governo Na verdade salientaram que as actividades se referiam a urn numero reduzido de cidadaos [Lagroye

312] No seu famoso estudo Lester Milbrath [1965] observou por exemshy

que nos Estados Vnidos os laquogladiadoresraquo muito activos em eram apenas 7 dos cidadaos os laquoespectadoresraquo empenhashy

num nivel minimo 60 e os laquoapaticosraquo totalmente desinteresshyj~ados 30 Verificaram-se resultados similares no mesmo pais numa (tllPesquisa de Verba e Nie [1972] que distinguindo tambem 0 nivel l~erritoria1 da participaltao apuraram 22 de cidadaos totalmente passhyliivos a que se juntavam 21 que se limitavam a votar quanta aos 6utros 20 eram laquolocalistasraquo que s6 se interessavam pelas questoes

4cms e 4 laquoparoquianosraquo que apenas se ocupavam do que lhes dizia iespeito directamente 15 laquocontendentesraquo que se mobilizavam em

campanhas especificas e somente 18 laquoactivistas globaisraquo envolvishy80s por todo 0 arco das quest6es politicas A quantidade de pessoas activas reduzia-se alem dis so a medida ~be se subia no grau de empenhamento por exemplo de ir votar a linteressar-se pela politica participar em actividades de partido inscreshyver-se numa organizaltao politica e preencher cargos pUblicos Aumenshy

~t1llva portanto em cada passagem 0 grau de selectividade da particishylPaltao

Participariio e desigualdade

o problema da selectividade aumentou pelo facto de a percentagem que participam tender a nao ser representativa da populaltao

~eu conjunto Ou seja ha desigualdades na medida da participaltao por conseguinte na influencia pof[tica dos diferentes grupos Seshy

a investigaltao de Milbrath [Milbrath e Goel 1977] os niveis n~~~ - mais elevados referem-se em igualdade de condiltoes

aos que tern niveis de instrultao mais elevados aos provenientes das classes medias em relaltao a quem faz Parte da operaria

89

c) aos homens em relaltao as mulheres d) as pessoas em fases de idade intermedias (nem muito jovens

nem demasiado idosas) e) aos casados em relaltao aos solteiros 1) aos que residem na cidade em relaltao aos que vivem em areas

mrais g) a quem vive ba muito tempo num Iugar em relaltao a quem

acaba de se transferir para hi h) aqueles que pertencem a maiorias etnicas i) aqueles que estao empenhados socialmente eou em organizashy

ltoes de varios tipos

pesquisa sobre a participaltao nos Estados Unidos Verba e Nie (1972) observaram que quanta mais alto 0 estatuto social (riqueza prestigio) de urn individuo maior a sua tendencia para participar o mesmo resultado foi confmnado seguidamente noutro estudo Participaltao e Iguaidade Polftica [Verba Nie e Kim 1978) que comshyparava sete naltoes Os autores escrevem que apesar de os sistemas democratieos serem em principio igualitarios (baseando-se no sufrashygio universal e portanto no princfpio de laquouma cabelta urn votoraquo) na pnitiea laquoa influencia polftica exercida pelos cidadaos varia de forma consideravelraquo Com efeito as desigualdades sociaL~ e economicas reflectem-se em desigualdades polltieas laquoAssim que os cidadaos convertem estes recursos em influencia politica a desigualdade poHshytiea torna-se evidente A vanta gem politica dos cidadaos maioritashyriamente favorecidos em termos socioeconomicos encontra-se em todas as naltoesraquo [ibidem 37) Hierarquias de estratificaltao politica e hieshyrarquias de estratificaltao socioecon6mica andam a par - embora com algumas diferenltas de pais para pais

Na verdade quem tern urn estatuto mais elevado dispoe de recursos materiais (em primeiro lugar dinheiro) e simb6licos gio) para investir na participaltao No que se ref ere aos primeiros quem dispoe de mais dinheiro e tempo livre pode utiliz3-los com menores custos marginais em actividades politicas Alem disso quem tern prestigio disp5e tambem de maior influencia a sua participa~ao tern mais possibilidades de exito porque 0 estatuto social elevado

comporta melhores oportunidades de acesso a quem toma as decisoes

90

ainda quem dispoe de urn estatuto mais elevado sabe como se participar pois com ele aumenta a instmltao e qucm e mais sabe melhor 0 que deve fazer quando se trata de defender os

interesses Se quem tern urn estatuto social elevado compreende dos politicos e julga saber como influenchi-Ios quem nlio

esses recursos aceita a sua incompetencia e delega a intervenshypolitica noutros E pois este sentimento de incompetencia e nao

lusencia de opinioes (evocada noutras explicaltoes) que estes afastar-se da participaltao

que se colocam numa posiltao central do ponto de vista tern igualmente uma vantagem psicologica a instrultao e presshy

incutem confianlta em si proprios e portanto na sua capacidade mudar as coisas 0 estatuto socioeconomico aumenta os niveis de

porque incrementa a confian9a na efidtcia polftica 0 frances Pierre Bourdieu falou a esse respeito do scntimento

ter 0 laquodireito a palavraraquo sentimento esse intimamente ligado a social [Bourdieu 1979 180]

A DESIGUALDADE POLITICA

A igualdade polftica e portanto pelo menos em parte uma utopia como se revelou utopica a esperanlta difusa que a democracia

poder aos menos privilegiados atraves de urn direito de voto para todos teria levado a abolir os privilegios Esta esperanlta

no poder do numero sendo mais numerosos que os privishyos menos privilegiados poderiam desfmtar dos direitos poshy

com vantagens pr6prias As capacidades desiguais de utilizar os de participaltao explicam 0 malogro parcial na utilizaltao do

do numero para superar as desigualdades economic as e sociais que os cidadaos sao diferentes uns dos outros nas capacidades

gtlltilizar as oportunidades de participaltao politic a laquoa vantagem do pode ser contrabalan9ada pelo uso desigual das oportunidades

Participaltao por parte de quem e economicamente mais forteraquo Nie e Kim 1978 43) mindo nas democracias as oportunidades formais de igual

sao utilizadas desigualmente por varios grupos sociais Se a corresponde a procura de igualdade pode porem reproshy

as desigualdades Ampliando-se a participa9ao admite-se que influencia nas decisoes publicas individuos cuja dota9ao de

91

recursos economicos ou de estatuto e profundamente diferente Como Alessandro Pizzorno sintetizou

todo 0 indivfduo participa pelo menos potencialmente com 0 coefi_ ciente de diferenciacao e desigualdade (para nao empregar 0 tenno laquoprivilegioraquo que teria demasiado sabor a ancien regime) que caracshyteriza a sua posicao no sistema dos interesses privados [1966 90]

3 As novas formas da participacao

A PARTICIPAltAO NAO-CONVENCIONAL

Se a analise da selectividade da participaltao considerou principalshymente as suas formas mais convencionais (sobre a participaltao eleishytoral cfr cap 5) a partir dos anos 70 do seculo xx os estudiosos comeltaram a observar urn crescimento rapido de formas novas naoshy-convencionais (ou directas) de participaltao politica Entre elas hil [por exemplo Dalton 1988]

1) Escrever a urn jornal 2) Aderir a urn boicote 3) Auto-reduzir impostos ou rendas 4) Ocupar ediffcios 5) Bloquear 0 transito 6) Assinar uma petiltao 7) Fazer urn sit-in 8) Participar numa greve selvagem 9) Tomar parte em manifestalt6es pacfficas

10) Danificar bens materiais 11) Utilizar a vioH~ncia contra pessoas

Isto leva a interrogarmo-nos sobre os varios estilos de participa(Jiio proprios de diferentes grupos sociais geralt6es ou nalt6es e as condishylt6es para 0 desenvolvimento de novas formas de participaltao

Numa importante investigaltao comparada efectuada nos anos 70 do seculo xx sobre varias democracias ocidentais Samuel Barnes e Max Kaase observaram que a respeito de leis e decis6es considerad~s injustas ou ilegais grupos cada vez mais numerosos de cidadaos estaO

disponiveis para recorrer a formas de acltao caracterizadas pela sua nao-convencionalidade laquoNas sociedades industriais avanltadas as

92

de acltao politica directa nao ostentam 0 estigma do desvio sao encaradas como anti-sistema na sua orientaltaoraquo [Barnes et

1979 157] Por exemplo entre 1960 e 1974 a percentagem dos respondem laquoaclt6es politicas nao convencionais como manifestashy

apergunta laquoQue pode urn cidadao fazer quanto a urn regulashylocal considerado injusto ou prejudicialraquo aumentou na Grashy

iTetalha Estados Unidos e Republica Federal Alema de menos de para mais de 7

observaltao adicional diz respeito a combinaltao de interesses e aclt6es convencionais e aclt6es nao-convencionais Inicialshy

pensou-se que os indicadores de participaltao politica tendiam ou seja quem lia mais tendia a empenhar-se mais nas

mais tradicionais Depressa se descobriu que ao contrario haver varios laquoestilosraquo de participaltao pelo que alguns indivishy

ou grupos tendiam a escolher umas formas de acltao e outros WIlliam outras $egundo os resultados da investigaltao nao se pode contudo falar

verdadeira e propria rotura entre os que utilizam tactic as de participaltao e os que por outro lado recorrem as

tacticas de acltao directa Com efeito a participaltao convenshyesta com frequencia relacionada com a nao-convencional indishyque pessoas interessadas na politic a e competentesno campo a utilizar simultaneamente varios instrumentos possiveis para

os governos Se M individuos que preferem urn ou outro de estrategia existem muitos que os combinam entre si

untando participaltao em actividades convencionais e actividades ~onvencionais podemos distinguir

Inactivos que quando muito leem politica ou assinam uma petiltao

Conjormistas que se empenham urn pouco mais nas actividashydes convencionais

Rejormistas que laquoparticipam de modo convencional mas ampliam 0 repertorio politico ate abraltar formas legais de

t protesto manifestalt6es ou mesmo boicotes lV Activistas que laquoamp Iiam 0 repertorio no seu nivel maximo

em alguns casos ate incluir formas de protesto nao legaisraquo Contestatarios que adoptam todas as formas nao-convencioshynais mas recusam as convencionais de participaltao

93

A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 7: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

DEMOCRACIA E PARTICIPAAO

A par da concepciio representativa da democracia existe outra qUe salienta a necessidade que os cidadaos natural mente interessados na politica tern de assumir directamente a tarefa de intervir nas decisoes referentes a causa publica Enquanto a democracia representativa preshy

a constituisao de urn corpo de representantcs especializados a democracia directa pelo contririo atribui fortes vfnculos ao principio da delegaSao encarada como instrumento de urn poder oligarquico Se a democracia representativa se baseia numa igualdade formal - uma cabesa urn voto - a directa e participativa porque reconhece 0 direito dc decidir somente a quem revela dedicaSao pel a causa publica Enshyquanta a democracia representativa e com frequencia burocratizada com uma centralizaS3o das decisoes no vertice a direct a insiste na necessidade de levar as decisoes 0 mais perto possfvel das pessoas

Se a tensao entre representaciio e participaciio esta sempre preshysente nas concepltoes da democracia com uma clara pre valencia da primeira na evolultao concreta das instituisoes democratic as e todavia necessario urn certo nfvel de participaltao para legitimar os represenshytantes A pr6pria ideia da soberania popular pressupoe a participasao que na verdade se desenvolveu na Europa em meados do seculo XVIII

de urn espaso publico que permitiu a acsao recfproca entre os cidadaos e os representantes das instituisoes [Mayer e Perrineau 1992

Por conseguinte esta estendeu-se atraves das virias etapas alargamento do sufragio eleitoral principal instrumento da participashySao dos cidadaos [efr cap 2] Cada vez mais presentes nas democrashycias contemporaneas sao por outro lado correctivos do principio da delegas1io em particular sob a forma do referendo ou da consulta directa aos eleitores sobre tematicas singulares e a participaSao de varias formas dos cidadaos na activasao de politicas publicas

o QUE E A PARTICIPAAO

bull Mas que significa laquoparticipaltao polfticaraquo Foi definida como laquo0

envolvimento do individuo no sistema politico a vdrios niveis de acshytividade do desinteresse total a titularidade de um cargo polfticoraquo [Rush 1992 trad it 1998] Numa concepltao mais limitada comshypreende quais os comportamentos dos cidadaos orientados para influenshyciar 0 processo politico [Axford et al 1997 109]

86

Nas formas minimas considera-se participaltao a exposiltao volunshya mensagens politic as [leitura de jornais ver 0 telejornal etc)

caso fala-se de simples presenSa diferente da activaltao que quando urn indivfduo se empenha em actos politicos

nressao laquoparticipasao politicaraquo compreende comportamentos muito do voto amilitancia num partido da discussao sobre politica organizada [para uma informaltao Sani 1991l A decisao de urn certo comportamento como forma de participasao poshy

nem sempre e facil Assim perguntou-se se fazem parte da cipasao politica os actos que se efectuam por motivaSao politica s que exercem cfeitos politicos - se urn individuo participa por

numa manifestaciio contra 0 encerramento de uma fabrica uma acltao polftica mesmo que as suas motivasoes sejam

dominantemente econ6micas [Lagroye 1993 324]7 E quem excshyactos terroristas para alterar uma decisao do govemo laquoparticipa icamenteraquo E quem paga para ser incumbido de uma empreitada

sobre os problemas de definisao 0 debate se mantem a pesquisa empirica tentou determinar quem quanto como e participa

selectividade da participa~ao

PARTICIPAAO CONVENCIONAL

numerosas as pesquisas sobre 0 envolvimento dos cidadaos nas formas de participasao Durante muito tempo os estudiosos traram-se nas convencionais com exclusiio explfcita das acltoes

nao-convencionais Numa das primeiras investigaltoes sobre 0

Lester Milbrath [1965 18] definiu por cxempl0 os seguintcs Irtamentos nivelados em relacao ao empenho exigido

Expor-se a solicitaltoes politicas Votar Entabular uma discussao politica Tentar convencer alguem a votar de determinado modo Usar urn distintivo politico Ter contactos com urn funciollltrio ou dirigente politico Fazer ofertas em dinheiro a urn partido ou candidato Assistir a urn comfcio ou assembleia politica

87

9) Dedicar tempo a uma campanha politica 10) Tornar-se membro activo de urn partido politico 11) Participar em reunioes onde se tomam decisoes politicas 12) Solicitar contribuiltoes em dinheiro para causas politicas 13) Candidatar-se a urn cargo e1ectivo 14) Ocupar cargos politicos ou de partido

Vma quesUio a qual os estudiosos prestaram muita atenltao foi a selectividade da participaltao de varios grupos da populaltao Em alshygumas pesquisas tentou-se assim salientar e depois explicar 0 laquoquanshytoraquo e 0 laquoquemraquo da participaltao

21 Quanta participafiio

Se as teorias norrnativas afirrnaram que a participaltao legitima a democracia e os estudos comparados se debrultaram sobre as aclt6es reciprocas entre participaltao e desenvolvimento das instituiltoes deshymocraticas as pesquisas sobre comportamentos individuais apresentashyram uma imagem diferente das democracias contemporaneas Invesshytigaltoes conduzidas principalmente com base em sondagens de opiniao revelaram que a democracia convive com taxas de participaliio muito baixas

BAIXAS TAXAS DE PARTICIPAyAO

Vma das primeiras pesquisas sistematicas sobre participaltao polfshytica efectuada nos Estados Vnidos Gra-Bretanha Alemanha Italia e Mexico no inicio dos anos 60 do seculo xx revela urn interesse pela politica limitado e uma taxa de participaltao ainda mais baixa Como Gabriel Almond e Sidney Verba escrevem teoricamente uma demoshycracia em funcionamento necessita de cidadaos informados sabre tematicas politicas empenhados activamente nelas e capazes de exershycerem influencia nas decisoes pUblicas Infelizmente porem as suas indagaltoes sobre 0 comportamento politico laquopoem em duvida este modelo activista e racional pois tcirna-se evidente que os cidadaos dos sistemas democraticos s6 muito raramente respondem a este madelo Nao estao bern informados nem empenhados profundamente ou parshyticularrnente activosraquo [Almond e Verba 1963 474]

88

Tarnbem outras investigaltoes no mesmo periodo confirrnaram que democracias funcionam com uma taxa de participaltao muito mais do que a ventilada nas teorias norrnativas como condiltao necesshy

de urn born governo Na verdade salientaram que as actividades se referiam a urn numero reduzido de cidadaos [Lagroye

312] No seu famoso estudo Lester Milbrath [1965] observou por exemshy

que nos Estados Vnidos os laquogladiadoresraquo muito activos em eram apenas 7 dos cidadaos os laquoespectadoresraquo empenhashy

num nivel minimo 60 e os laquoapaticosraquo totalmente desinteresshyj~ados 30 Verificaram-se resultados similares no mesmo pais numa (tllPesquisa de Verba e Nie [1972] que distinguindo tambem 0 nivel l~erritoria1 da participaltao apuraram 22 de cidadaos totalmente passhyliivos a que se juntavam 21 que se limitavam a votar quanta aos 6utros 20 eram laquolocalistasraquo que s6 se interessavam pelas questoes

4cms e 4 laquoparoquianosraquo que apenas se ocupavam do que lhes dizia iespeito directamente 15 laquocontendentesraquo que se mobilizavam em

campanhas especificas e somente 18 laquoactivistas globaisraquo envolvishy80s por todo 0 arco das quest6es politicas A quantidade de pessoas activas reduzia-se alem dis so a medida ~be se subia no grau de empenhamento por exemplo de ir votar a linteressar-se pela politica participar em actividades de partido inscreshyver-se numa organizaltao politica e preencher cargos pUblicos Aumenshy

~t1llva portanto em cada passagem 0 grau de selectividade da particishylPaltao

Participariio e desigualdade

o problema da selectividade aumentou pelo facto de a percentagem que participam tender a nao ser representativa da populaltao

~eu conjunto Ou seja ha desigualdades na medida da participaltao por conseguinte na influencia pof[tica dos diferentes grupos Seshy

a investigaltao de Milbrath [Milbrath e Goel 1977] os niveis n~~~ - mais elevados referem-se em igualdade de condiltoes

aos que tern niveis de instrultao mais elevados aos provenientes das classes medias em relaltao a quem faz Parte da operaria

89

c) aos homens em relaltao as mulheres d) as pessoas em fases de idade intermedias (nem muito jovens

nem demasiado idosas) e) aos casados em relaltao aos solteiros 1) aos que residem na cidade em relaltao aos que vivem em areas

mrais g) a quem vive ba muito tempo num Iugar em relaltao a quem

acaba de se transferir para hi h) aqueles que pertencem a maiorias etnicas i) aqueles que estao empenhados socialmente eou em organizashy

ltoes de varios tipos

pesquisa sobre a participaltao nos Estados Unidos Verba e Nie (1972) observaram que quanta mais alto 0 estatuto social (riqueza prestigio) de urn individuo maior a sua tendencia para participar o mesmo resultado foi confmnado seguidamente noutro estudo Participaltao e Iguaidade Polftica [Verba Nie e Kim 1978) que comshyparava sete naltoes Os autores escrevem que apesar de os sistemas democratieos serem em principio igualitarios (baseando-se no sufrashygio universal e portanto no princfpio de laquouma cabelta urn votoraquo) na pnitiea laquoa influencia polftica exercida pelos cidadaos varia de forma consideravelraquo Com efeito as desigualdades sociaL~ e economicas reflectem-se em desigualdades polltieas laquoAssim que os cidadaos convertem estes recursos em influencia politica a desigualdade poHshytiea torna-se evidente A vanta gem politica dos cidadaos maioritashyriamente favorecidos em termos socioeconomicos encontra-se em todas as naltoesraquo [ibidem 37) Hierarquias de estratificaltao politica e hieshyrarquias de estratificaltao socioecon6mica andam a par - embora com algumas diferenltas de pais para pais

Na verdade quem tern urn estatuto mais elevado dispoe de recursos materiais (em primeiro lugar dinheiro) e simb6licos gio) para investir na participaltao No que se ref ere aos primeiros quem dispoe de mais dinheiro e tempo livre pode utiliz3-los com menores custos marginais em actividades politicas Alem disso quem tern prestigio disp5e tambem de maior influencia a sua participa~ao tern mais possibilidades de exito porque 0 estatuto social elevado

comporta melhores oportunidades de acesso a quem toma as decisoes

90

ainda quem dispoe de urn estatuto mais elevado sabe como se participar pois com ele aumenta a instmltao e qucm e mais sabe melhor 0 que deve fazer quando se trata de defender os

interesses Se quem tern urn estatuto social elevado compreende dos politicos e julga saber como influenchi-Ios quem nlio

esses recursos aceita a sua incompetencia e delega a intervenshypolitica noutros E pois este sentimento de incompetencia e nao

lusencia de opinioes (evocada noutras explicaltoes) que estes afastar-se da participaltao

que se colocam numa posiltao central do ponto de vista tern igualmente uma vantagem psicologica a instrultao e presshy

incutem confianlta em si proprios e portanto na sua capacidade mudar as coisas 0 estatuto socioeconomico aumenta os niveis de

porque incrementa a confian9a na efidtcia polftica 0 frances Pierre Bourdieu falou a esse respeito do scntimento

ter 0 laquodireito a palavraraquo sentimento esse intimamente ligado a social [Bourdieu 1979 180]

A DESIGUALDADE POLITICA

A igualdade polftica e portanto pelo menos em parte uma utopia como se revelou utopica a esperanlta difusa que a democracia

poder aos menos privilegiados atraves de urn direito de voto para todos teria levado a abolir os privilegios Esta esperanlta

no poder do numero sendo mais numerosos que os privishyos menos privilegiados poderiam desfmtar dos direitos poshy

com vantagens pr6prias As capacidades desiguais de utilizar os de participaltao explicam 0 malogro parcial na utilizaltao do

do numero para superar as desigualdades economic as e sociais que os cidadaos sao diferentes uns dos outros nas capacidades

gtlltilizar as oportunidades de participaltao politic a laquoa vantagem do pode ser contrabalan9ada pelo uso desigual das oportunidades

Participaltao por parte de quem e economicamente mais forteraquo Nie e Kim 1978 43) mindo nas democracias as oportunidades formais de igual

sao utilizadas desigualmente por varios grupos sociais Se a corresponde a procura de igualdade pode porem reproshy

as desigualdades Ampliando-se a participa9ao admite-se que influencia nas decisoes publicas individuos cuja dota9ao de

91

recursos economicos ou de estatuto e profundamente diferente Como Alessandro Pizzorno sintetizou

todo 0 indivfduo participa pelo menos potencialmente com 0 coefi_ ciente de diferenciacao e desigualdade (para nao empregar 0 tenno laquoprivilegioraquo que teria demasiado sabor a ancien regime) que caracshyteriza a sua posicao no sistema dos interesses privados [1966 90]

3 As novas formas da participacao

A PARTICIPAltAO NAO-CONVENCIONAL

Se a analise da selectividade da participaltao considerou principalshymente as suas formas mais convencionais (sobre a participaltao eleishytoral cfr cap 5) a partir dos anos 70 do seculo xx os estudiosos comeltaram a observar urn crescimento rapido de formas novas naoshy-convencionais (ou directas) de participaltao politica Entre elas hil [por exemplo Dalton 1988]

1) Escrever a urn jornal 2) Aderir a urn boicote 3) Auto-reduzir impostos ou rendas 4) Ocupar ediffcios 5) Bloquear 0 transito 6) Assinar uma petiltao 7) Fazer urn sit-in 8) Participar numa greve selvagem 9) Tomar parte em manifestalt6es pacfficas

10) Danificar bens materiais 11) Utilizar a vioH~ncia contra pessoas

Isto leva a interrogarmo-nos sobre os varios estilos de participa(Jiio proprios de diferentes grupos sociais geralt6es ou nalt6es e as condishylt6es para 0 desenvolvimento de novas formas de participaltao

Numa importante investigaltao comparada efectuada nos anos 70 do seculo xx sobre varias democracias ocidentais Samuel Barnes e Max Kaase observaram que a respeito de leis e decis6es considerad~s injustas ou ilegais grupos cada vez mais numerosos de cidadaos estaO

disponiveis para recorrer a formas de acltao caracterizadas pela sua nao-convencionalidade laquoNas sociedades industriais avanltadas as

92

de acltao politica directa nao ostentam 0 estigma do desvio sao encaradas como anti-sistema na sua orientaltaoraquo [Barnes et

1979 157] Por exemplo entre 1960 e 1974 a percentagem dos respondem laquoaclt6es politicas nao convencionais como manifestashy

apergunta laquoQue pode urn cidadao fazer quanto a urn regulashylocal considerado injusto ou prejudicialraquo aumentou na Grashy

iTetalha Estados Unidos e Republica Federal Alema de menos de para mais de 7

observaltao adicional diz respeito a combinaltao de interesses e aclt6es convencionais e aclt6es nao-convencionais Inicialshy

pensou-se que os indicadores de participaltao politica tendiam ou seja quem lia mais tendia a empenhar-se mais nas

mais tradicionais Depressa se descobriu que ao contrario haver varios laquoestilosraquo de participaltao pelo que alguns indivishy

ou grupos tendiam a escolher umas formas de acltao e outros WIlliam outras $egundo os resultados da investigaltao nao se pode contudo falar

verdadeira e propria rotura entre os que utilizam tactic as de participaltao e os que por outro lado recorrem as

tacticas de acltao directa Com efeito a participaltao convenshyesta com frequencia relacionada com a nao-convencional indishyque pessoas interessadas na politic a e competentesno campo a utilizar simultaneamente varios instrumentos possiveis para

os governos Se M individuos que preferem urn ou outro de estrategia existem muitos que os combinam entre si

untando participaltao em actividades convencionais e actividades ~onvencionais podemos distinguir

Inactivos que quando muito leem politica ou assinam uma petiltao

Conjormistas que se empenham urn pouco mais nas actividashydes convencionais

Rejormistas que laquoparticipam de modo convencional mas ampliam 0 repertorio politico ate abraltar formas legais de

t protesto manifestalt6es ou mesmo boicotes lV Activistas que laquoamp Iiam 0 repertorio no seu nivel maximo

em alguns casos ate incluir formas de protesto nao legaisraquo Contestatarios que adoptam todas as formas nao-convencioshynais mas recusam as convencionais de participaltao

93

A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 8: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

9) Dedicar tempo a uma campanha politica 10) Tornar-se membro activo de urn partido politico 11) Participar em reunioes onde se tomam decisoes politicas 12) Solicitar contribuiltoes em dinheiro para causas politicas 13) Candidatar-se a urn cargo e1ectivo 14) Ocupar cargos politicos ou de partido

Vma quesUio a qual os estudiosos prestaram muita atenltao foi a selectividade da participaltao de varios grupos da populaltao Em alshygumas pesquisas tentou-se assim salientar e depois explicar 0 laquoquanshytoraquo e 0 laquoquemraquo da participaltao

21 Quanta participafiio

Se as teorias norrnativas afirrnaram que a participaltao legitima a democracia e os estudos comparados se debrultaram sobre as aclt6es reciprocas entre participaltao e desenvolvimento das instituiltoes deshymocraticas as pesquisas sobre comportamentos individuais apresentashyram uma imagem diferente das democracias contemporaneas Invesshytigaltoes conduzidas principalmente com base em sondagens de opiniao revelaram que a democracia convive com taxas de participaliio muito baixas

BAIXAS TAXAS DE PARTICIPAyAO

Vma das primeiras pesquisas sistematicas sobre participaltao polfshytica efectuada nos Estados Vnidos Gra-Bretanha Alemanha Italia e Mexico no inicio dos anos 60 do seculo xx revela urn interesse pela politica limitado e uma taxa de participaltao ainda mais baixa Como Gabriel Almond e Sidney Verba escrevem teoricamente uma demoshycracia em funcionamento necessita de cidadaos informados sabre tematicas politicas empenhados activamente nelas e capazes de exershycerem influencia nas decisoes pUblicas Infelizmente porem as suas indagaltoes sobre 0 comportamento politico laquopoem em duvida este modelo activista e racional pois tcirna-se evidente que os cidadaos dos sistemas democraticos s6 muito raramente respondem a este madelo Nao estao bern informados nem empenhados profundamente ou parshyticularrnente activosraquo [Almond e Verba 1963 474]

88

Tarnbem outras investigaltoes no mesmo periodo confirrnaram que democracias funcionam com uma taxa de participaltao muito mais do que a ventilada nas teorias norrnativas como condiltao necesshy

de urn born governo Na verdade salientaram que as actividades se referiam a urn numero reduzido de cidadaos [Lagroye

312] No seu famoso estudo Lester Milbrath [1965] observou por exemshy

que nos Estados Vnidos os laquogladiadoresraquo muito activos em eram apenas 7 dos cidadaos os laquoespectadoresraquo empenhashy

num nivel minimo 60 e os laquoapaticosraquo totalmente desinteresshyj~ados 30 Verificaram-se resultados similares no mesmo pais numa (tllPesquisa de Verba e Nie [1972] que distinguindo tambem 0 nivel l~erritoria1 da participaltao apuraram 22 de cidadaos totalmente passhyliivos a que se juntavam 21 que se limitavam a votar quanta aos 6utros 20 eram laquolocalistasraquo que s6 se interessavam pelas questoes

4cms e 4 laquoparoquianosraquo que apenas se ocupavam do que lhes dizia iespeito directamente 15 laquocontendentesraquo que se mobilizavam em

campanhas especificas e somente 18 laquoactivistas globaisraquo envolvishy80s por todo 0 arco das quest6es politicas A quantidade de pessoas activas reduzia-se alem dis so a medida ~be se subia no grau de empenhamento por exemplo de ir votar a linteressar-se pela politica participar em actividades de partido inscreshyver-se numa organizaltao politica e preencher cargos pUblicos Aumenshy

~t1llva portanto em cada passagem 0 grau de selectividade da particishylPaltao

Participariio e desigualdade

o problema da selectividade aumentou pelo facto de a percentagem que participam tender a nao ser representativa da populaltao

~eu conjunto Ou seja ha desigualdades na medida da participaltao por conseguinte na influencia pof[tica dos diferentes grupos Seshy

a investigaltao de Milbrath [Milbrath e Goel 1977] os niveis n~~~ - mais elevados referem-se em igualdade de condiltoes

aos que tern niveis de instrultao mais elevados aos provenientes das classes medias em relaltao a quem faz Parte da operaria

89

c) aos homens em relaltao as mulheres d) as pessoas em fases de idade intermedias (nem muito jovens

nem demasiado idosas) e) aos casados em relaltao aos solteiros 1) aos que residem na cidade em relaltao aos que vivem em areas

mrais g) a quem vive ba muito tempo num Iugar em relaltao a quem

acaba de se transferir para hi h) aqueles que pertencem a maiorias etnicas i) aqueles que estao empenhados socialmente eou em organizashy

ltoes de varios tipos

pesquisa sobre a participaltao nos Estados Unidos Verba e Nie (1972) observaram que quanta mais alto 0 estatuto social (riqueza prestigio) de urn individuo maior a sua tendencia para participar o mesmo resultado foi confmnado seguidamente noutro estudo Participaltao e Iguaidade Polftica [Verba Nie e Kim 1978) que comshyparava sete naltoes Os autores escrevem que apesar de os sistemas democratieos serem em principio igualitarios (baseando-se no sufrashygio universal e portanto no princfpio de laquouma cabelta urn votoraquo) na pnitiea laquoa influencia polftica exercida pelos cidadaos varia de forma consideravelraquo Com efeito as desigualdades sociaL~ e economicas reflectem-se em desigualdades polltieas laquoAssim que os cidadaos convertem estes recursos em influencia politica a desigualdade poHshytiea torna-se evidente A vanta gem politica dos cidadaos maioritashyriamente favorecidos em termos socioeconomicos encontra-se em todas as naltoesraquo [ibidem 37) Hierarquias de estratificaltao politica e hieshyrarquias de estratificaltao socioecon6mica andam a par - embora com algumas diferenltas de pais para pais

Na verdade quem tern urn estatuto mais elevado dispoe de recursos materiais (em primeiro lugar dinheiro) e simb6licos gio) para investir na participaltao No que se ref ere aos primeiros quem dispoe de mais dinheiro e tempo livre pode utiliz3-los com menores custos marginais em actividades politicas Alem disso quem tern prestigio disp5e tambem de maior influencia a sua participa~ao tern mais possibilidades de exito porque 0 estatuto social elevado

comporta melhores oportunidades de acesso a quem toma as decisoes

90

ainda quem dispoe de urn estatuto mais elevado sabe como se participar pois com ele aumenta a instmltao e qucm e mais sabe melhor 0 que deve fazer quando se trata de defender os

interesses Se quem tern urn estatuto social elevado compreende dos politicos e julga saber como influenchi-Ios quem nlio

esses recursos aceita a sua incompetencia e delega a intervenshypolitica noutros E pois este sentimento de incompetencia e nao

lusencia de opinioes (evocada noutras explicaltoes) que estes afastar-se da participaltao

que se colocam numa posiltao central do ponto de vista tern igualmente uma vantagem psicologica a instrultao e presshy

incutem confianlta em si proprios e portanto na sua capacidade mudar as coisas 0 estatuto socioeconomico aumenta os niveis de

porque incrementa a confian9a na efidtcia polftica 0 frances Pierre Bourdieu falou a esse respeito do scntimento

ter 0 laquodireito a palavraraquo sentimento esse intimamente ligado a social [Bourdieu 1979 180]

A DESIGUALDADE POLITICA

A igualdade polftica e portanto pelo menos em parte uma utopia como se revelou utopica a esperanlta difusa que a democracia

poder aos menos privilegiados atraves de urn direito de voto para todos teria levado a abolir os privilegios Esta esperanlta

no poder do numero sendo mais numerosos que os privishyos menos privilegiados poderiam desfmtar dos direitos poshy

com vantagens pr6prias As capacidades desiguais de utilizar os de participaltao explicam 0 malogro parcial na utilizaltao do

do numero para superar as desigualdades economic as e sociais que os cidadaos sao diferentes uns dos outros nas capacidades

gtlltilizar as oportunidades de participaltao politic a laquoa vantagem do pode ser contrabalan9ada pelo uso desigual das oportunidades

Participaltao por parte de quem e economicamente mais forteraquo Nie e Kim 1978 43) mindo nas democracias as oportunidades formais de igual

sao utilizadas desigualmente por varios grupos sociais Se a corresponde a procura de igualdade pode porem reproshy

as desigualdades Ampliando-se a participa9ao admite-se que influencia nas decisoes publicas individuos cuja dota9ao de

91

recursos economicos ou de estatuto e profundamente diferente Como Alessandro Pizzorno sintetizou

todo 0 indivfduo participa pelo menos potencialmente com 0 coefi_ ciente de diferenciacao e desigualdade (para nao empregar 0 tenno laquoprivilegioraquo que teria demasiado sabor a ancien regime) que caracshyteriza a sua posicao no sistema dos interesses privados [1966 90]

3 As novas formas da participacao

A PARTICIPAltAO NAO-CONVENCIONAL

Se a analise da selectividade da participaltao considerou principalshymente as suas formas mais convencionais (sobre a participaltao eleishytoral cfr cap 5) a partir dos anos 70 do seculo xx os estudiosos comeltaram a observar urn crescimento rapido de formas novas naoshy-convencionais (ou directas) de participaltao politica Entre elas hil [por exemplo Dalton 1988]

1) Escrever a urn jornal 2) Aderir a urn boicote 3) Auto-reduzir impostos ou rendas 4) Ocupar ediffcios 5) Bloquear 0 transito 6) Assinar uma petiltao 7) Fazer urn sit-in 8) Participar numa greve selvagem 9) Tomar parte em manifestalt6es pacfficas

10) Danificar bens materiais 11) Utilizar a vioH~ncia contra pessoas

Isto leva a interrogarmo-nos sobre os varios estilos de participa(Jiio proprios de diferentes grupos sociais geralt6es ou nalt6es e as condishylt6es para 0 desenvolvimento de novas formas de participaltao

Numa importante investigaltao comparada efectuada nos anos 70 do seculo xx sobre varias democracias ocidentais Samuel Barnes e Max Kaase observaram que a respeito de leis e decis6es considerad~s injustas ou ilegais grupos cada vez mais numerosos de cidadaos estaO

disponiveis para recorrer a formas de acltao caracterizadas pela sua nao-convencionalidade laquoNas sociedades industriais avanltadas as

92

de acltao politica directa nao ostentam 0 estigma do desvio sao encaradas como anti-sistema na sua orientaltaoraquo [Barnes et

1979 157] Por exemplo entre 1960 e 1974 a percentagem dos respondem laquoaclt6es politicas nao convencionais como manifestashy

apergunta laquoQue pode urn cidadao fazer quanto a urn regulashylocal considerado injusto ou prejudicialraquo aumentou na Grashy

iTetalha Estados Unidos e Republica Federal Alema de menos de para mais de 7

observaltao adicional diz respeito a combinaltao de interesses e aclt6es convencionais e aclt6es nao-convencionais Inicialshy

pensou-se que os indicadores de participaltao politica tendiam ou seja quem lia mais tendia a empenhar-se mais nas

mais tradicionais Depressa se descobriu que ao contrario haver varios laquoestilosraquo de participaltao pelo que alguns indivishy

ou grupos tendiam a escolher umas formas de acltao e outros WIlliam outras $egundo os resultados da investigaltao nao se pode contudo falar

verdadeira e propria rotura entre os que utilizam tactic as de participaltao e os que por outro lado recorrem as

tacticas de acltao directa Com efeito a participaltao convenshyesta com frequencia relacionada com a nao-convencional indishyque pessoas interessadas na politic a e competentesno campo a utilizar simultaneamente varios instrumentos possiveis para

os governos Se M individuos que preferem urn ou outro de estrategia existem muitos que os combinam entre si

untando participaltao em actividades convencionais e actividades ~onvencionais podemos distinguir

Inactivos que quando muito leem politica ou assinam uma petiltao

Conjormistas que se empenham urn pouco mais nas actividashydes convencionais

Rejormistas que laquoparticipam de modo convencional mas ampliam 0 repertorio politico ate abraltar formas legais de

t protesto manifestalt6es ou mesmo boicotes lV Activistas que laquoamp Iiam 0 repertorio no seu nivel maximo

em alguns casos ate incluir formas de protesto nao legaisraquo Contestatarios que adoptam todas as formas nao-convencioshynais mas recusam as convencionais de participaltao

93

A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 9: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

c) aos homens em relaltao as mulheres d) as pessoas em fases de idade intermedias (nem muito jovens

nem demasiado idosas) e) aos casados em relaltao aos solteiros 1) aos que residem na cidade em relaltao aos que vivem em areas

mrais g) a quem vive ba muito tempo num Iugar em relaltao a quem

acaba de se transferir para hi h) aqueles que pertencem a maiorias etnicas i) aqueles que estao empenhados socialmente eou em organizashy

ltoes de varios tipos

pesquisa sobre a participaltao nos Estados Unidos Verba e Nie (1972) observaram que quanta mais alto 0 estatuto social (riqueza prestigio) de urn individuo maior a sua tendencia para participar o mesmo resultado foi confmnado seguidamente noutro estudo Participaltao e Iguaidade Polftica [Verba Nie e Kim 1978) que comshyparava sete naltoes Os autores escrevem que apesar de os sistemas democratieos serem em principio igualitarios (baseando-se no sufrashygio universal e portanto no princfpio de laquouma cabelta urn votoraquo) na pnitiea laquoa influencia polftica exercida pelos cidadaos varia de forma consideravelraquo Com efeito as desigualdades sociaL~ e economicas reflectem-se em desigualdades polltieas laquoAssim que os cidadaos convertem estes recursos em influencia politica a desigualdade poHshytiea torna-se evidente A vanta gem politica dos cidadaos maioritashyriamente favorecidos em termos socioeconomicos encontra-se em todas as naltoesraquo [ibidem 37) Hierarquias de estratificaltao politica e hieshyrarquias de estratificaltao socioecon6mica andam a par - embora com algumas diferenltas de pais para pais

Na verdade quem tern urn estatuto mais elevado dispoe de recursos materiais (em primeiro lugar dinheiro) e simb6licos gio) para investir na participaltao No que se ref ere aos primeiros quem dispoe de mais dinheiro e tempo livre pode utiliz3-los com menores custos marginais em actividades politicas Alem disso quem tern prestigio disp5e tambem de maior influencia a sua participa~ao tern mais possibilidades de exito porque 0 estatuto social elevado

comporta melhores oportunidades de acesso a quem toma as decisoes

90

ainda quem dispoe de urn estatuto mais elevado sabe como se participar pois com ele aumenta a instmltao e qucm e mais sabe melhor 0 que deve fazer quando se trata de defender os

interesses Se quem tern urn estatuto social elevado compreende dos politicos e julga saber como influenchi-Ios quem nlio

esses recursos aceita a sua incompetencia e delega a intervenshypolitica noutros E pois este sentimento de incompetencia e nao

lusencia de opinioes (evocada noutras explicaltoes) que estes afastar-se da participaltao

que se colocam numa posiltao central do ponto de vista tern igualmente uma vantagem psicologica a instrultao e presshy

incutem confianlta em si proprios e portanto na sua capacidade mudar as coisas 0 estatuto socioeconomico aumenta os niveis de

porque incrementa a confian9a na efidtcia polftica 0 frances Pierre Bourdieu falou a esse respeito do scntimento

ter 0 laquodireito a palavraraquo sentimento esse intimamente ligado a social [Bourdieu 1979 180]

A DESIGUALDADE POLITICA

A igualdade polftica e portanto pelo menos em parte uma utopia como se revelou utopica a esperanlta difusa que a democracia

poder aos menos privilegiados atraves de urn direito de voto para todos teria levado a abolir os privilegios Esta esperanlta

no poder do numero sendo mais numerosos que os privishyos menos privilegiados poderiam desfmtar dos direitos poshy

com vantagens pr6prias As capacidades desiguais de utilizar os de participaltao explicam 0 malogro parcial na utilizaltao do

do numero para superar as desigualdades economic as e sociais que os cidadaos sao diferentes uns dos outros nas capacidades

gtlltilizar as oportunidades de participaltao politic a laquoa vantagem do pode ser contrabalan9ada pelo uso desigual das oportunidades

Participaltao por parte de quem e economicamente mais forteraquo Nie e Kim 1978 43) mindo nas democracias as oportunidades formais de igual

sao utilizadas desigualmente por varios grupos sociais Se a corresponde a procura de igualdade pode porem reproshy

as desigualdades Ampliando-se a participa9ao admite-se que influencia nas decisoes publicas individuos cuja dota9ao de

91

recursos economicos ou de estatuto e profundamente diferente Como Alessandro Pizzorno sintetizou

todo 0 indivfduo participa pelo menos potencialmente com 0 coefi_ ciente de diferenciacao e desigualdade (para nao empregar 0 tenno laquoprivilegioraquo que teria demasiado sabor a ancien regime) que caracshyteriza a sua posicao no sistema dos interesses privados [1966 90]

3 As novas formas da participacao

A PARTICIPAltAO NAO-CONVENCIONAL

Se a analise da selectividade da participaltao considerou principalshymente as suas formas mais convencionais (sobre a participaltao eleishytoral cfr cap 5) a partir dos anos 70 do seculo xx os estudiosos comeltaram a observar urn crescimento rapido de formas novas naoshy-convencionais (ou directas) de participaltao politica Entre elas hil [por exemplo Dalton 1988]

1) Escrever a urn jornal 2) Aderir a urn boicote 3) Auto-reduzir impostos ou rendas 4) Ocupar ediffcios 5) Bloquear 0 transito 6) Assinar uma petiltao 7) Fazer urn sit-in 8) Participar numa greve selvagem 9) Tomar parte em manifestalt6es pacfficas

10) Danificar bens materiais 11) Utilizar a vioH~ncia contra pessoas

Isto leva a interrogarmo-nos sobre os varios estilos de participa(Jiio proprios de diferentes grupos sociais geralt6es ou nalt6es e as condishylt6es para 0 desenvolvimento de novas formas de participaltao

Numa importante investigaltao comparada efectuada nos anos 70 do seculo xx sobre varias democracias ocidentais Samuel Barnes e Max Kaase observaram que a respeito de leis e decis6es considerad~s injustas ou ilegais grupos cada vez mais numerosos de cidadaos estaO

disponiveis para recorrer a formas de acltao caracterizadas pela sua nao-convencionalidade laquoNas sociedades industriais avanltadas as

92

de acltao politica directa nao ostentam 0 estigma do desvio sao encaradas como anti-sistema na sua orientaltaoraquo [Barnes et

1979 157] Por exemplo entre 1960 e 1974 a percentagem dos respondem laquoaclt6es politicas nao convencionais como manifestashy

apergunta laquoQue pode urn cidadao fazer quanto a urn regulashylocal considerado injusto ou prejudicialraquo aumentou na Grashy

iTetalha Estados Unidos e Republica Federal Alema de menos de para mais de 7

observaltao adicional diz respeito a combinaltao de interesses e aclt6es convencionais e aclt6es nao-convencionais Inicialshy

pensou-se que os indicadores de participaltao politica tendiam ou seja quem lia mais tendia a empenhar-se mais nas

mais tradicionais Depressa se descobriu que ao contrario haver varios laquoestilosraquo de participaltao pelo que alguns indivishy

ou grupos tendiam a escolher umas formas de acltao e outros WIlliam outras $egundo os resultados da investigaltao nao se pode contudo falar

verdadeira e propria rotura entre os que utilizam tactic as de participaltao e os que por outro lado recorrem as

tacticas de acltao directa Com efeito a participaltao convenshyesta com frequencia relacionada com a nao-convencional indishyque pessoas interessadas na politic a e competentesno campo a utilizar simultaneamente varios instrumentos possiveis para

os governos Se M individuos que preferem urn ou outro de estrategia existem muitos que os combinam entre si

untando participaltao em actividades convencionais e actividades ~onvencionais podemos distinguir

Inactivos que quando muito leem politica ou assinam uma petiltao

Conjormistas que se empenham urn pouco mais nas actividashydes convencionais

Rejormistas que laquoparticipam de modo convencional mas ampliam 0 repertorio politico ate abraltar formas legais de

t protesto manifestalt6es ou mesmo boicotes lV Activistas que laquoamp Iiam 0 repertorio no seu nivel maximo

em alguns casos ate incluir formas de protesto nao legaisraquo Contestatarios que adoptam todas as formas nao-convencioshynais mas recusam as convencionais de participaltao

93

A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 10: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

recursos economicos ou de estatuto e profundamente diferente Como Alessandro Pizzorno sintetizou

todo 0 indivfduo participa pelo menos potencialmente com 0 coefi_ ciente de diferenciacao e desigualdade (para nao empregar 0 tenno laquoprivilegioraquo que teria demasiado sabor a ancien regime) que caracshyteriza a sua posicao no sistema dos interesses privados [1966 90]

3 As novas formas da participacao

A PARTICIPAltAO NAO-CONVENCIONAL

Se a analise da selectividade da participaltao considerou principalshymente as suas formas mais convencionais (sobre a participaltao eleishytoral cfr cap 5) a partir dos anos 70 do seculo xx os estudiosos comeltaram a observar urn crescimento rapido de formas novas naoshy-convencionais (ou directas) de participaltao politica Entre elas hil [por exemplo Dalton 1988]

1) Escrever a urn jornal 2) Aderir a urn boicote 3) Auto-reduzir impostos ou rendas 4) Ocupar ediffcios 5) Bloquear 0 transito 6) Assinar uma petiltao 7) Fazer urn sit-in 8) Participar numa greve selvagem 9) Tomar parte em manifestalt6es pacfficas

10) Danificar bens materiais 11) Utilizar a vioH~ncia contra pessoas

Isto leva a interrogarmo-nos sobre os varios estilos de participa(Jiio proprios de diferentes grupos sociais geralt6es ou nalt6es e as condishylt6es para 0 desenvolvimento de novas formas de participaltao

Numa importante investigaltao comparada efectuada nos anos 70 do seculo xx sobre varias democracias ocidentais Samuel Barnes e Max Kaase observaram que a respeito de leis e decis6es considerad~s injustas ou ilegais grupos cada vez mais numerosos de cidadaos estaO

disponiveis para recorrer a formas de acltao caracterizadas pela sua nao-convencionalidade laquoNas sociedades industriais avanltadas as

92

de acltao politica directa nao ostentam 0 estigma do desvio sao encaradas como anti-sistema na sua orientaltaoraquo [Barnes et

1979 157] Por exemplo entre 1960 e 1974 a percentagem dos respondem laquoaclt6es politicas nao convencionais como manifestashy

apergunta laquoQue pode urn cidadao fazer quanto a urn regulashylocal considerado injusto ou prejudicialraquo aumentou na Grashy

iTetalha Estados Unidos e Republica Federal Alema de menos de para mais de 7

observaltao adicional diz respeito a combinaltao de interesses e aclt6es convencionais e aclt6es nao-convencionais Inicialshy

pensou-se que os indicadores de participaltao politica tendiam ou seja quem lia mais tendia a empenhar-se mais nas

mais tradicionais Depressa se descobriu que ao contrario haver varios laquoestilosraquo de participaltao pelo que alguns indivishy

ou grupos tendiam a escolher umas formas de acltao e outros WIlliam outras $egundo os resultados da investigaltao nao se pode contudo falar

verdadeira e propria rotura entre os que utilizam tactic as de participaltao e os que por outro lado recorrem as

tacticas de acltao directa Com efeito a participaltao convenshyesta com frequencia relacionada com a nao-convencional indishyque pessoas interessadas na politic a e competentesno campo a utilizar simultaneamente varios instrumentos possiveis para

os governos Se M individuos que preferem urn ou outro de estrategia existem muitos que os combinam entre si

untando participaltao em actividades convencionais e actividades ~onvencionais podemos distinguir

Inactivos que quando muito leem politica ou assinam uma petiltao

Conjormistas que se empenham urn pouco mais nas actividashydes convencionais

Rejormistas que laquoparticipam de modo convencional mas ampliam 0 repertorio politico ate abraltar formas legais de

t protesto manifestalt6es ou mesmo boicotes lV Activistas que laquoamp Iiam 0 repertorio no seu nivel maximo

em alguns casos ate incluir formas de protesto nao legaisraquo Contestatarios que adoptam todas as formas nao-convencioshynais mas recusam as convencionais de participaltao

93

A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 11: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

A laquoREvOLmAO PARTIClPATIVAraquo

Segundo os resultados da investigaltao 0 numero etos que pam de uma maneira ou de outra e amplo com uma percentagem oscila entre 25 (na Austria) e 56 (nos Estados Unidos) de cidadaos que utilizam todo 0 Ieque das formas de participaltao quer conVen cionais quer nao-convencionais (v tab 31) AMm disso os que par

mais sao os mais competentes A conclusao e que a participaltao crescente embora nao-convenci

onal nao constitui urn indicador de declfnio de legitimacao das demomiddot cracias onde se observa tambem urn crescimento das competencias polfticas em particular entre os jovens Representa antes uma ex presshysao de uma amplialtao duradoura das potencialidades de interven~ao dos cidadaos laquoPensamos que a recente vaga alargou 0 repertorio das aclt6es polfticas daqueles que a viveram e esperamos que este repershytorio de acltao alargada falta parte do repertorio potencial daqueles que adquiriram estes recursosraquo escrevem os investigadores [ibidem

A par destas previsoes urn projecto de investigaltao comparada grandes dimens6es - que utilizou dados provenientes de varias gens conduzidas em diferentes periodos em numerosas democracias ocidentais - salientou que pelo menos ate 1990 a participaltao polftica na Europa Ocidental cresceu consideravelmente com uma redll(ao da percentagem das pessoas totalmente inactivas (de 85 em 1959 para 44 em 1990) e urn crescimento paralel0 das pessoas com alguma actividade politica (de 15 em 1959 para 66 em 1990) [Topf 1995 68] (v tab 32) Se a participacao politica de tipo tradicional perma-

Tabela 31 Tipo de participacao politica por pals

lnactivos Conformistas Reformistas Activistas Contestatanos

Numero entrevistados

Rolanda I

179 111 198 193 319

1203

Reino Unido

Estados Unidos

Alemanha Austria

301 154 219 102 224

123 175 360 144 198

266 135 246

80 273

349 192 209 59

191

1483 1719 2307

Fonte Barnes et al [1979 155]

94

no tempo da percentagem da populacao que declara participar politicamente (participacao eleitoral exclufda)

1959 1974 1981 1990

10 18 16 15

34 31 34 31

50 66 48 45

56 77 57 56

33 - Percentagem de participacao em accoes de protesto em Gra-Bretanha e Alemanha

1974 1981 1990

uma petilt1io prtinr num boicote

17 2

19 5

42 6

27 6

48 11 36

8

1974 1981 1990

23 6 6

63 7

10 3

75 14 14 2

1974 1981 1990

31 4 9 0

47 8

15 2

57 11 21

95

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 12: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

neceu estaveI ao contnirio cresceu enorrnemente a nao institucional tab 33) Nao so esse crescimento abrangeu todos os paises anashy

lisados como no interior de cada urn se reduziu a diferenlta nas taxas de participaltao ligada a especie idade e niveis educativos ao ponto de fazer falar de uma laquorevolultao participativaraquo [ibidem

A investigaltao mais recente confirrna que as forrnas de panicipashyltao nao-convencionais sao complementares e nao alternativas em relaltao as convencionais

4 Participa~ao e identidade

UM PROCESSO DE IDENTIFICAGAO

o debate sobre 0 crescimento da participaltao em formas naoshy-institucionais perrnitiu voltar ao tema da selectividade e evidenciar as condilt6es que podem perrnitir aos grupos nao-centrais na definiltao de Milbrath - participar politicamente Segundo Alessandro Pizzomo [1966] e caracteristica a sua referencia a sistemas de solidariedade que se encontram na base da propria definiltao de interesse (cfr cap 1) Se quem se mobiliza defende alguns interesses so sao individuais a

de um certo sistema de val ores Por excmplo 0 interesse no proprio bem-estar material nao e absoluto ou inato mas esta antes ligado a uma certa concepltao do mundo As oplt6es de valores a identificar-se com grupos mais amp]os aos quais uma pessoa sente que pertence e no interesse dos quais esta disposta a agir Nesta optica a participaltao politica e uma acltao solidaria com outras que visa conservar ou transformar a estrutura (e os valores) do sistema de interesses dominante 0 processo da participaltQo pois a consshytrnltQo de colectividades soliddrias em cujo interior os indivfduos se considerem reciprocamente iguais

Uma boa parte da actividade po1itica e orientada para construir essa

solidariedadc atraves da de identidades colectivas (cfr tamshybem cap 4) que se encontram na base da participaltao Para me mobilizar como operano e exigir maiores direitos para os operario~ tenho acima de tudo de me identificar como um deles Como indIshyviduo devo escolher qual e0 meu papel social como factor fundarnenshy

para a minha vida identificar-me com os outros individuos dividem aquela minha posiltao Encher de conteudo esta identidade grupo e um requisito previo da minha capacidade de definir os rneus

96

como operario A identidade como conscH~ncia da pertenlta nos colectivo ou a uma classe facilita a participarao poftica que realidade ~~maior quanta maior (mais intensa mais clara mais

for a consciencia de c1asseraquo [Pizzorno 1966 109] a centralidade em geral de que Milbrath falara mas em reshy

a uma classe (ou grupo) ao colocar-se de forma inequivoca em a ela favorece a panicipaltao e acentua 0 sentido de

se explica por que razao alguns grupos dotados de baixo nivel ursos de estatuto em algumas condir6es sao mais capazes do que

de se organizar pelo que participam mais do que outros o caso da classe operaria das grandes fabricas com

mais capaz de se organizar e participar em relaltao aos lhadores rurais ou das pequenas empresas e ate a muitas categoshyde trabalhadores nao manuais (efr cap

E IDENTIDADE

a construltao da identidade e uma condiltao previa da acltao a constitui ao mesmo tempo urn seu produto Com efeito a participaltao transforma as identidades dos indivfduos robusshyo sentimento de pertenlta a alguns grupos e enfraquecendo a

ltificagao noutros papeis Na evolultao da accao colectiva a idenshyproduz-se e reproduz-se IDella Porta e Diani 1997 104] As

para os movimentos revolucionarios as greves para 0

openirio as ocupalt6es nas mobilizalt6es estudantis sao a de aclt6es orientadas para influenciar as decis6es publicas mas

tambem um efeito no interior que cria solidariedade entre os Ilcipantes e os faz sentirem-se parte de um esfono colectivo E a

acltao - a participaltao que depois reforlta 0 sentido de pershynuma especie de circulo vicioso a acltao contribui para construir e consoli dar a identidade

da definiltao dos imites entre os actores empenhados num Para que haja acltao colectiva e necessario que aqueles que

estejam em condilt6es de elaborar uma definiltao de si proshydos outros actores sociais e do conteudo das relalt6es que os Devem identificar um nos com que se solidarizar mas tambem

laquoelesraquo ao qual atribuir as culpas para a condiltao que se pretende A construltao da identidade comporta uma definiltao positiva

faz parte de um certo grupo mas tambem necessariarnente uePllti de quem e exclufdo [Della Porta e Diani 1997

97

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 13: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

Para que haja ac~ao reciproca e pois necessario que as identidades dos varios actores sejam reconhecidas igualmente do exterior de forma que uma parte da mobiliza~ao esteja orientada para essa pesqui_ sa de reconhecimento inseparavel da propria identidade [Pizzomo

Della Porta Greco e Szakolezai 2000]

5 Valores p6s-materialistas e nova participa~o

Se a identidade facilita em geral a participaltao 0 desenvolvishymento de novas formas de participaltao tern estado ligado a mudan~as na cultura politica No inicio dos anos 70 do seculo xx urn estudo comparado sobre a Argentina 0 Chile Israel a Nigeria e 0 Bangladesh [Inkeles e Smith 19741 concIuiu que em cada urn desses paises a ocupacao na industria instrultao e exposiltao aos meios de comunicashycao levavam a desenvolver atitudes individuais de modernidade o individuo modemo e segundo aquela investigaltao laquourn cidadao infOlmado e participante tern uma noltao notavel de efickia pessoa e muito independente e autonomo nas suas relaltoes com as fontes de influencia tradicionais [ ] disponfvel para experiencias e ideias novas ou seja encontra-se relativamente aberto mentalmente e cognitivamente flexfvelraquo [Inkeles e Smith 1974 te a modernizacao social devia conter escolarizaltao cultural corn uma maior confianca na capacidade de influenciar 0 ambiente atraves de opc5es polfticas e 0 sistema dos valores orientar-se em tomo do inshyteresse pessoaJ

NOVOS VALORES

mesmo perfodo no mundo ocidental pesquisas atraves de sondagens sobre participaltao em varios paises salientavam a presen~a de uma mudanca profunda no sistema de valores que tinha caractenshyzado a modemiza~ao mudanlta essa que teria favorecido sobretudo a difusao das formas de participaltao mais inovadoras

bull Em particular segundo Ronald lnglehart a vaga de protestos

anos 60 do seculo xx esta ligada a emergencia de valores pas-mateshyrialistas ou seja ao distanciar-se do interesse material de urn nurnero

crescente de indivfduos A tese de Inglehart parte de dois ternas de fundo Em primeiro lugar sustenta que ha uma hierarquia das necesshysidades segundo a qual as necessidades de ordem elevada _n 0

98

llCllllvlllV intelectual e artistico da pessoa) so sao concebiveis depois as de nivel mais baixo (em particuhu a sobrevivencia

o segundo assunto e que 0 momento decisivo para a socialishypolitica - quando se formam val ores e crenltas destinados a 0 no tempo - se situe na passagem da juventude para a idade e portanto os prindpios e prioridades adquiridos naqllele

tendam a manter-se sucessivamente geraltao que chegou a idade adulta entre iinais dos anos 60 e os seculo xx diferencia-se profundamente da precedente Nas deshy

ocidentais os nascidos no segundo pas-guerra cresceram COIlUl~5es de bem-estar economico acesso facil a instrultao supeshye exposi911o reduzida ao risco de urn conflito mundial Estas

teriam descambado para urn enfraquecimento gradual dos de tipo laquomaterialistaraquo (reflexos de preocupa90es relativas ao

economico e a seguranlta pessoal e colectiva) e emergencia p6s-materialistas orientados para necessidades de natureza

lominantemente expressiva como a auto-realizaltao na esfera prishyexpansao das liberdades de opiniao e democracia participativa

lstrumento utilizado para medir 0 nivel de materialismo-pos-mashyeonsistia numa bateria de quatro objectivos para ordenar

arquicamente manter a ordem publica combater o aumento dos dar maior peso aos cidadaos nas decisoes de govemo e garantir

ooruade de expressao Os dois primeiros sao considerados materiashye os restantes p6s-materialistas Quer a investigaltao de lnglehart varias outras posteriores revelaram 0 crescimento dos grupos

rerizados por valores pos-materialistas que atingiram tendencialshyem numero os represent antes dos valores materialistas no inishylonge dominantes

PARTICIPAOES

transfOlmaltoes explicam as novas caracteristicas da particishypolftica desenvolvida a partir dos anos 60 do scculo xx em

o facto de que as exigencias de mudanlta social provinham da classe media do que da operaria a relevimcia da geraltiio elemento de identifica9ao coleetiva 0 realce dos temas niio-ecoshy

Na verdade a longa fase de crescimento econornico chamou para os temas do bem-estar material relativos ao estilo de obediencia a uma logica de lltilidade marginal decrescente

99

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 14: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

econ6micas tornavam-se relativamente menos import anshytes ern particular para os segmentos da sociedade que nunca conhecido economlcas -286) Teria derivado dai urn desvio para valores laquoPara os grupos mais j ovens economicamente seguros novos temas na agenda Os esfonos para combater as tendencias desumanizantes do industrialismo adquiriram alta prioridaderaquo [ibidem)

A tendencia para 0 crescimento dos val ores p6s-materialistas pareshycia manter-se no tempo corn efeito nao s6 pennaneciam fieis aos val ores materialistas os jovens socializados nos anos 60 do seculo xx mas valores p6s-materialistas tamMm se defendiam nos novos grupos de idade a confinnar a existencia de uma desiocaao de valores de fundo Os anOS sessenta podem pois definir-se como urn dos raros momentos na Hist6ria ern que se produziu uma mudanlta radical de

na maneira de conceber a sociedade e a politica A gera93o essas mudanltas nos anOS cruciais para a socializa9ao transshy

os novos valores as geraltoes mais jovens [Della Porta e Diani 1997 79-80] Os indivfduos corn valores p6s-materialistas ainda se encontram particularmente presentes entre os exigencias politicas que como se disse cortam distinoes tradicionais entre direita e esquerda em ecologistas e os Verdes [Inglehart 1990 efr tamMm cap

6 A participa~ao faz bern a democracia

Se algumas formas de participa9ao parecem aumentar esHio poshyrem em contraste as opinioes sobre as consequencias da laquorevoluqao participativaraquo nos regimes democniticos 0 jufzo sobre a participa9ao

em geral consoante 0 valor atribufdo ao cankter representativO ou de delega9ao aos eleitos - das democracias contemporaneas

61 Democracia confianfa e apatia

CRISES DE SOBRECARGA

bull Num estudo publicado ern 1960 intitulado The Political Seymour M Lipset afirmara que urn celio nfvel de apatia fazia bel11 a uma democracia A nao-palticipa9ao pode constituir urn sinal de

100

positivo corn quem governa e ao contnirio urn crescimento uvlpa9ao pode indicar descontentamento polltico e des integrashy

social Sobretudo depois da vaga de protestos do final dos anos seculo xx alguns cientistas politicos advertiram para os possishy

riscos do crescimento da participaltao em particular na sequencia mobilizacoes estudantis dos anos 60 e 70 Dir-se-ia mesmo que 0

icipa9ao aumentava 0 mimcro de exigencias ao o que criava riscos de laquosobrecargaraquo Urn sistema submetido

continua tenderia a satisfazer as exigencias dos singulares e de vista 0 bern Sobretudo em condi90es de recessao

~nUllll~a as reivindica90es prementes dos cidadaos reduzem a cashyde resposta dos governantes corn 0 que reflectem e contrishy

para a expansao da perda de credibilidade das autoridades Segundo urn estudo muito discutido nos anos 70 0 crescimento da ticipa~ao teria levado a uma crise da democracia caracterizada

laquodesintegra9ao da ordem civil quebra da disciplina social enfrashylecimento do lfder e aliena~ao dos cidadaosraquo [Crozier Huntington e

1975 21 Os governos dos Estados Unidos e das democrashyeuropeias foram descritos como sujeitos a um stress excessivo

txlSamente como causa da participa9ao politica encarada como urn Como Huntington escreve [1975 37-38] 0

governos ocidentais derivava de urn laquoexcesso de demoshy

o funcionamento efectivo de urn sistema politico democnitico nonnalmente uma certa medida de apatia e desempenho pOl da popula~ao A vulnerabilidade do governo democnitico nos Estados Unidos deriva das dinfunicas intemas da democracia Duma sociedade altamentc instruida mobilizada e participativa

a verdade 0 paradoxo consistia ern que os pr6prios grupos mais yen uidos pareciam representar 0 maior perigo para a democracia

estes os que faziam mais exigencias ao sistema bull Segundo outros estudiosos porem a maior utiliza9ao de fonnas ac~ao nao-institucionais testemunha nao uma crise da democracia

a sua laquoOs cidadaos utilizam formas de ac~ao nao ionais_ porque essas fonnas oferecem a sua possibilidade de

vvIfticas e nao por estarem insatisfeit(i)s~orn as fonnas de e Kingerman 1995 432]_

101

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 15: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

A CONFIANltA NA DEMOCRACIA

OS efeitos positivos da participaltao foram portanto salientados com frequencia e em particular nos anos 90 do seculo xx falou-se de urn risco inverso ao da sobrecarga do aJastamento dos cidadaos da politica Mesmo quando 0 ruir do laquosocialismo realraquo parecia indicar a superioridade do modelo democnitico os cientistas politicos comelta_ ram a interrogar -se sobre as razoes da difusao mesmo nas democra_ cias ocidentais de uma insatisfaltao substancial com as instituiltoes politicas Como foi sintetizado laquoe uma notavel ironia que no momenshyto exacto em que a democracia liberal derrotou os seus inimigos nos campos de batalha da ideologia e da politica muitos cidadaos das democracias avanltadas sustentem que as suas instituiltoes politicas estao a decair e de modo algum a florescerraquo [Pharr e Putman 2000 XV]

Uma investigaltao numa longa serie de sondagens em numerosos pafses concluiu que 0 declfnio de confianlta em algumas instituiltoes politicas nao comporta urn declfnio de confianlta na democracia como principio - a qual ao inves e em geral cresceu [Dalton 2000] Mesmo nos anos 90 a democracia continua a ser considerada pela esmagadora maioria (cerca de tres quartos) dos seus cidadaos como a melhor fOTIlla de govemo [ibidem]

Lanltou-se assim a hip6tese de que - terrninada a guerra fria e a afirrnaltao com 0 derrube dos pafses do laquosocialismo realraquo da supreshymacia em relaltao a outras forrnas de govemo - os cidadaos democnishyticos se tomaram mais exigentes ainda que mais pragmaticos 0 funshycionamento das democracias singulares e avaliado com base nas suas actualtoes Assim alguns conclufram laquoEm primeiro lugar nao houve qualquer problema de legitimaltao nas democracias representativas da Europa Ocidental a partir de meados dos anos 70 do seculo xx Em segundo nao existe actualmente qualquer problema de legitimacao nos sistemas politicos da Europa Ocidental E em terceiro M uma grande probabilidade de que nao surgirao crises de legitimaltao no futuro previsfvelraquo [Fuchs Guidorossi e Svenson 1995 151]

62 laquoExitraquo ou laquovoiceraquo

Uma peroraltao das vantagens da participa~iio para 0 sistema veio em particular do economista Albert C Hirschman Comparando as reacltoes dos cidadaos de urn sistema politico com as dos consumidoshy

102

mercado Hirschman discutiu vdrias estrategias para exprimir Urn cidadao tal como urn consumidor pode reagir

utilizando estrategias de laquosafdaraquo (exit) ou de laquovozraquo

RENUNCIA bull A sada refere-se ao abandono de um produto por outro e e tfpica sistema econ6mico onde norrnalmente 0 cliente insatisfeito com __ rl~ de uma empresa passa ao de outra Nesse sentido a safda

opltao considerada negativa e utilizada comoestrategia para o bem-estar ou melhorar a posiltao Este mecanismo e

(ou se sai ou se fica) impessoal (dado que se evita todo ~onfronto directo entre cliente e empresa) e indirecto laquoas contrashy

do neg6cio em crise sao obra da Mao Invisfvel uma nao intencional da decisao do cliente de desertarraquo

1970 trad it 1982 21]

PROTESTO

~ A reacltao politic a tfpica e a voz definida como laquouma tentativa de mudar em vez de evitar um estado de coisas reprovdvel

solicitando individual ou colectivamente 0 management responshyquer recorrendo a uma autoridade superior com a intenltao de uma alteraltao no management quer mediante varios tipos de e protestos incluindo os destinados a mobilizar a opiniao

[ibidem 31] A voz compreende 0 vasto arco de comportashyque vao de um tfmido queixume a urn protesto violento que uma expressao aberta das pr6prias criticas mais do que de

voto privado secreto no anonimato de urn supermercado e 1ll11ente e directa e clara em vez de tortuosaraquo [ibidem]

a voz como a safda em doses excessivas podem danificar remnresa por esse motivo verifica-se tamMm uma certa dose de

afectivo ou lealdade - ou mesmo de apatia poUtica Convem entanto que haja uma certa quantidade de opltao-voz por exemplo

uma empresa enquanto a safda po de ter um efeito deleterio baixar as vendas a voz revela vantagens Com efeito pode

a safda apresentando-se ao cliente-cidadao como uma altemashya ela laquoportanto em algumas situaltoes a safda e uma reacltao

que se verifica quando a voz faltaraquo [ibidem 36] Deriva daf as empresas devem ter interesse em favorecer a voz em relaltao

103

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 16: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

a saida Para1clamente os sistemas politicos que facilitam 0 protesto estimulando a participaltiio funcionam melhor do que aqueles em qu~ o descontentamento so pode desembocar na saida Permitindo 0 proshytesto dos cidadaos esses sistemas podem ser melhorados para recon_ qui star a confianlta dos proprios cidadaos

63 Capital social e democracia

A participaltiio como capacidade da sociedade civil de organizar e realizar directamente alguns objectiv~s tern sido encarada em algushymas abordagens efectuadas recentemente como particularmente favoshyravel ademocracia Segundo Alexis de Tocqueville a forlta da cracia americana residia na descentralizaltao das comunas e associalt5es dos poderes concentrados na Europa no Estado nacional Nas associashyltoes desenvolve-se 0 prazer de estarmos juntos e aprende-se a interacshytuar com os outros laquoPara que os homens permaneltam ou se tornem cidadaos civis e necessario que entre eles a arte de se associarem se desenvolva e aperfeiltoe na mesma medida em que aumenta a igualshydade das condiltoesraquo [1953 601]

o CAPITAL SOCIAL COMO CAPITAL RELACIONAL

As teorias de Tocqueville foram retomadas recentemente pel a ratura sobre 0 capital social desenvolvidas a cavalo entre sociologia econ6nrica e ciencia polftica Analogamente as noltoes de capitalfisico (como 0 dinheiro) ou de capital humano (como forlta de trabalho qualificada) instrumentos que aumentam a produtividade a noltiio de capital social e utilizada para indicar caracteristicas da organizafiio

social - redes de reiafoes normas de reciprocidade confianra nos outros - que facilitam a cooperariio para a obtenriio de beneficios

comuns A presenlta do capital social facilitaria 0 born governo No seu La

tradizione civica neUe regioni italiane 0 politologo americano Robert Putman [1993] explicou 0 diferente rendimento institucional dos goshyvernos regionais a partir da quanti dade de capital social presenre nas vadas regioes Bem-estar economico e born governo caracterizariarn as regi6es com taxas de civismo mais elevadas on de os cidadaos se respeitam e estimam uns aos outros sao solidarios e cooperam ern

104

formas associativas As associaltoes em particular segundo [ibidem 105] desempenham um papel fundamental no desenshy

das virtudes clvicas de interesse e respeito pela comunishylaquoAs associalt6es civis difundem entre os participantes 0 sentishyde cooperaltao da solidariedade e do empenhamento socia1raquo

o CAPITAL SOCIAL MELHORA AS INSTITUICOES

Nas regioes dvicas a coopera~ao voluntaria - e portanto 0

seria favorecida pela presenliia quer de urn controlo social penaliza a violaltao dos acordos quer de mccanismos informais solultao dos conflitos As redes de empenhamento dvico aumenshyas sanliioes aos transgressores reforliiam as normas de reciprocidashy

facilitam a comunica~ao de informaliioes e representam momentos colaboraliiao com saldos positivos 0 capital melhora a aCliiao do

porque suscita confianliia nos outros inc1uindo a administrashypublica alem de aumentar a capacidade de autogoverno dos cida-

Nestas sociedades experiencias positivas de cooperacao levam a a cooperar 0 capital social cresce em si proprio [ibidem

Generalizando da investigacao do caso italiano Putnam [1995 observou que laquoa qualidade da vida publica e 0 rendimento das

ltui~6es l] sao influenciados poderosamente pelas normas e redes empenhamento clvicoraquo Na verdade muitas pesquisas indicaram

a presen~a de instituiliioes voluntarias e redes de participaliiao as probabilidades de exito nos mais divers os sectores de

da instrultao ao desemprego e a seguranliia na saude de redes socia is foi definida como uma das condi~oes

fundamentais para 0 desenvolvimento econ6mico local que as politicas sao pois chamadas a incentivar e cultivar [Trigilia

Deste ponto de vista se 0 associativismo melhora 0 governo urn governo pode ser importante para facilitar a capacidade dos cidashypara se associarem e cooperarem entre si e com as instituiliioes

opiniao publica entre esfera publica e laquovideocraciaraquo

uma forma ulterior de participaliiaO politica que nao comporta UUUente acsoes verdadeiras e pr6prias Os cidadaos contribuem formar a opiniiio publica exprimem juizos sobre 0 sistema polfshy

105

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 17: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

tico fazem eXlgencias propoem solmoes Fazem parte da esfera publica urn espalto aberto a todos e visfvel onde se formam as opishynioes

71 A esfera publica

A ESFERA PUBLICA BURGUESA

Ja nos anos 60 do seculo xx Jurgen Habermas [1988] tinha anashylisado a emergencia e aiirrna(ao da esfera publica como lugar aberto ao publico onde se discutem coisas publicas (ou seja respeitantes 11 co1ectividade] 0 conceito de esfera publica nasce corn a possibilidade - inexistente na Idade Media de distinguir entre publico isto e ligado ao Estado e privado exc1ufdo do ambito de intervenltao Estado 0 ~ltpublicoraquo seria igualmente 0 destinaUirio das decisoes poder estadual Posteriormente 0 conceito de esfera publica -ia a uma esfera visfvel do exterior ern contraposi(ao corn a privada mantida invisivel dos estranhos 0 conceito de tende assim a afirmar-se para designar um ambito de - nao estatal mas publicamente relevante - onde se travam discusmiddot siJes vublicas vislveis do sobre questiJes de relevancia

o desenvolvimento da esfera publica e considerado urn processo tfpico da formaltao da sociedade moderna 0 capitalismo financeiro e comercial levou a uma circulaltao internacional tanto das mercadorias como das notfcias A partir do seculo XIV a troca tradicional de cartas comerciais aperfei(oou-se atraves de urn sistema profissional de corshyrespondencia No seculo XVII desenvolver-se-ia a imprensa no sentido de que laquouma informa(ao regular se tornaria por sua vez publica isto e acessfvel ao publico ern gerahgt [Habermas 1988 89]

A esfera publica que Habermas define como burguesa ~V~N~ na realidade a par da burguesia a qual assumiria a pouco e pouco uma posi(ao hegem6nica na sociedade civiL A burguesia mercantil inteshyressada nas decisoes do poder publico come(ou a tomar-se ~m interlocutor consciente para a autoridade Corn efeito a pubhca afirmou-se laquono sentido de que 0 interesse publico na esfera privada da sociedade civil ja nao e objecto do cuidado exc1usivamente do go verno mas tomada ern consider~ao por todos os subditos como seU proprio interesseraquo [Habermas 1988 37]

106

PUBLICO RACIOCINANTE

publica coIoca-se assim entre ambito estatal e ambito Peculiar dela e 0 instrumento utilizado para a confrontacao a argumenta)ao publica e racional [ibidem] 0 cafe as salas as sociedades lingufsticas e as lojas ma~6nicas sao os lugares

onde essa esfera publica se elabora e exercita 0 gosto pela rgurnentalao A partir desses Iugares e dentro deles desenvolvem-se jnstituisoes que levam a alargar fisicamente 0 espa(o do

primeiro lugar a imprensa mas tambem os encontros pUUllu~ ciedades de leitura as vallas associasoes Ao mesmo tempo estenshy

o papel politico da esfera publica ou seja a sua capacidade de do poder estatal e portanto de controlo do governo 0 efeito

oposisao do uso da violncia para 0 recurso berrnas refere-se de facto a publico raciocinante

t-~tUilllllIUlI encara-se a esfera publica corn esperanca mas tamshycorn apreensao Ja no seculo XIX se tinha observado que a autoshy

da esfera publica fora posta ern discussao pelo desenvolvimento partidos polfticos e cada vez mais pela comercializacao dos meios ~omunicacao

MANIPULAltAO

a opiniao publica foi apresentada ern particular no pensamento como instancia intermedia entre 0 eleitorado e as institui~oes

que permite 0 controlo dos governantes entre duagt elei~oes alteucci 1991] foram tambem definidos os riscos potenciais da

da opiniao publica Ern particular 0 conformismo das e despotismo da maio ria teriam aumentado com a nova conshy

da esfera publica caracterizada pelo dec1fnio dos lugares vorecido 0 desenvolvimento do pensamento raciocinante

afinna~ao dos mass media manipulados pelos partidos eou poshymanipuladores ja tinha referido que ~lta partir de meados do seculo XIX

IQth~S6es que haviam garantido a existencia de urn publico como raciocinante foram abaladas violentamenteraquo [1988 194] pUblico continua entiio noutros lugares radio casas editoras ~oes organizam a discussao e favorecem a sua difusao Ao tempo porem transformam-no ern bern de consumo lizam-nn ~ltO mercado dos bens culturais assume novas funshy

107

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 18: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

goes na sua indumentaria alargada de mercado do tempo livreraquo [ibidem 197] Por conseguinte a esfera publica alarga-se mas perde a su~ capacidade de controlo do poder publico Se a esfera publica burguesa baseava a sua fungao politiea precisamente na autonomia do poder publico a compenetragao entre esfera publica e esfera privada eomshyporta uma manipula~ao da primeira

72 Videocracia

A MEDIATIZA~AO DA pOLIncA

A expressao laquomediatizagao da polfticaraquo tern sido cada vez mais usada recentemente para indicar urn processo de autonomizariio dos

progressiva para todo 0 controlo politico e crescimento da sua capacidade de controlar a poiftica Se os politicos podem influenciar os meios de comunicagao de massas quer atraves da sua capacidade de regulamentar 0 campo da eomunicagao polftica quer dispondo de infonnagoes importantes para os proprios meios de comunicagao estes ultimos disporiam sempre de maiores recursos aut6nomos Seguindo a sua propria 16gica de funcionamento transfonnariam as regras da politica e do jogo democrHico

Nas hip6teses mais pessimistas 0 enfraquecimento dos teria favorecido a transfonnagao das democracias contemporaneas em videocracias reforgando 0 poder dos meios de comunica~ao de massa - em particular da TV e de quem pode exercer int1uencia neles De facto a era da televisao teria submetido a uma prova dura 0 pluralismo

de opinioes que a imprensa conseguira de algum modo fazer sobreshyviver Mesmo no campo do papel impresso tendencias similares seshyriam favorecidas pelo desenvolvimento da imprensa popular com objectivos puramente lucrativos mais interessada nos escandalos do que nos discursos politicos

A POLiTICA-ESPECTACULO

Os efeitos negativos potenciais da videocracia nos sistemas demoshycnlticos sao multiplos Acima de tudo a televisao encoraja uma imashygem da politica como espectaculo entertainment mais do que coma participa~ao A espectacularizariio da polftica esta ligada as caradeshyristieas da procura do luero que leva a uma exigencia de

108

l1-inunica~ao sobre politica que realce os seus aspectos atraentes dishysensaeionalistas lMazzoleni 1998 117 cfr tambem Amoretti

A espectacularizagao quer pois dizer supeificialidade na inshytransmitida cada vez mais por imagens e cada vez menos

da palavra com 0 do visivel sobre 0 inteligfvel leva aver sem compreenderraquo [Sartori 1999 XV]

Para responder aexigencia dos comunicagao os propnos tenderiam a laquoencenarraquo a politica de modo a toma-Ia apeteshy

do publico aprocura de divertimento atraves de uma laquoadaptagao registos comunicativos dos partidos asintaxe dos meios de comushy

de massaraquo [Mazzoleni J998 68] Nao os politicos confiam publicitarios para cuidar da sua imagem como os tempos da

seguem cada vez mais os da televisao os eventos politicos sao nos momentos mais propicios para serem tratados nos dos horanos mais nobres 0 comunicado polftico aparece

gmentado em sound bites ou seja passados em poucos segundos a coverage televisiva que tende para simplificar e dramashy

a mensagem televisao encorajou assim a personalizaltiio da politica reforshyas situaltoes monocraticas (0 presidente dos Estados Unidos 0

presidente de camara em Italia) mas tambem fazendo erescer uequencia 0 numero de eleitores que votam com base na laquoimashye nao com base nas posigoes polfticas Acontece muitas vezes

aetos da vida privada de urn politico contarem mais do que 0 seu 0 visual torna-se uma qualidade mais importante do que a o appeal pessoal sobre os conteudos A pr6pria

do meio televisivo alimenta a impressao de poder julgar urn melhor pela sua personalidade do que pelos seus programas

ulpanha eleitoral e assim programada como urn concurso de beshyem que vence quem consegue seduzir 0 publico Como veremos

aumenta a fungao do dinheiro na polftica e transfonna e classes politicas [entre outros Me1chionda 1997 cfr tamshy

cap_ 5]

DE COMUNICA~AO E ELEI~6ES

tipo de efeitos dos meios de comunicariio nas consciencias dos suas atitudes e comportamentos continua a ser uma questao

_hA~ Enquanto de urn modo geral pennanece limitada a capacishy

109

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 19: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

dade dos meios de comunica~ao para laquoconverterraquo urn eleitor fazendo_ o mudar de preferencias eleitorais observou-se porem que esta eashypacidade embora estatisticamente sem interesse pode exercer efeitos politicos relevantes nos resultados eleitorais Se 0 proprio Paul Lazarsfeld que salientou numa investigaCao pioneira [cfr cap 6J os escassos efeitos das campanhas eleitorais admitia que podiam desloshycar ate 10 dos votos e hieil de eompreender que essa pereentagem embora absolutamente pouco signifieativa pode todavia tomar-se decisiva na vitoria de urn ou outro partido [Baristone 2001 35 efr tambem Sani 200 I]

Nao so os meios de comuniea~ao se revelam muito etieazes na definicao da agenda - ou seja em influenciar a escolha das tenuiticas consideradas importantes para 0 publico (a ehamada fun~ao de agenshyda setting e referida as campanhas eleitorais de priming) - como 0

seu pape1 de activacao e orienta~ao parece nao desprezavel em eular para os eleitores que manifestam pouca (embora alguma) aten~ao pela poiftica informaciio escassa e ausencia de ria potencialmente influenciaveis por mensagens breves repetidas de alto conteudo simb6lico (como os spot eleitorais) Assim 0 impaete dos meios de comunicacao tende a favorecer uma parte sobretudo laquoonde e forte 0 equiHbrio nos meios de comunica~ao e csta tendencialmente one-sidedraquo [ibidem

73 Mews de comunicafiio e cidadania

Se os riscos de videocracia foram abalizadamente ilustrados na dencia poiftica a comunica~ao politica porem tern sido enearada com urn certo optimismo Em particular os meios de comunicayao apareceram como urn f6rum onde representantes de interesses emershygentes ainda nao instalados no sistema polftico se podem fiar na opinliio publica e tentar conquistar consensos

NOTICIAS E PROTESTOS

Acima de tudo 0 acesso aos meios de comunica~ao e fundamental nas aqoes de protesto encarado como urn recurso politico para OS

grupos laquosem podengt ou seja sem recursos para tratar directamente

com quem toma as decisoes publicas 0 protesto activa urn processo

de influencia indirecta mediata atraves dos meios de comunica~ao e

110

grupos dotados de capacidade de influencia polftica Para obter os grupos mais fracos devem conquistar atencao e apoio da

publica 0 protesto e urn instrumento atraves do qual os grushyIS 1 tivamente sem poder podem criar recursos para investir nas

e conquistar aliados [Lipsky 1965 2] Para que a sua ~nsagem possa chegar aopiniao publica os representantes de inteshy

emergentes devem utilizar urn filtro os meios de comunica~ao Para lhes conquistar a atencao procuram aumentar 0 potenshy

de notoriedade das suas accoes atraves de comportamentos e Porta e Diani 1997 cap 7] Como se dizia com enfase

nrotestos do movimento estudantil dos anos 60 a for~a dos ligada ao facto de que the whole world is watching

o munao esta aver ais em geral foi observado que os meios de comunica~ao podem

mpenhar urn papel de advocacy - ou seja de patrocinio dos inshymais fracos ou mesmo do interesse colectivo Informando os

os meios de comunica~ao podem ser instrumento de urn de baixo sobre as actividades dos governantes

desenvolvimento tecnologico parece permitir hoje urn maior allsmo das fontes de inf01ma~aO Se a televisao exigindo invesshy

elevados aumenta 0 grau do monop6lio os recentes meios comunicacao telematica podem exercer efeitos de reequilfbrio

tecnoiogias por cabo reduzem os custos ao mesmo tempo lttaumentam as frequencias e permitem 0 desenvolvimento de canais

e ofertas orientadas para pequenos redutos de utentes Desenshysistemas de transmissao bidireccionais interactivos que

falar de laquonova Babel electronic araquo [Olivi e Somalvico 1997] meios da era contemporanea aumentam a capacidade dos

de intervir directamente no debate politico alem de que a da laquopraca virtualraquo aumenta 0 poder da elite capaz de instrumentos da comunicacao A presenca de meios

lI)~endos como os sites na Internet tambem reduz a funcao de filtro JDrnalistas Na verdade falou-se de uma ciberdemocracia construfda ~~lta da World Wide Web em parte tambem estimulada pelas lIlJstracoe publicas em busca canais de comunicacao directa

111

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 20: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

Quando se abriu 0 debate sobre a capacidade das redes telematicas e laquocomunidades virtuaisraquo de consolida9aO de rela90es reais de solida_ riedade refonando 0 interesse pela comunidade nao ba duvida de que as novas tecnologias tornaram disponiveis a uma parte crescente popula9aO informa90es sobre a poHtica e urn tempo reservado aos adeptos dos trabalhos aumentando por outro lado os canais de parshyticipa9ao Se os pessimistas receiam que a participa9ao virtual pOssa substituir a participa9ao real as primeiras investiga90es parecem inshydicar que os novos meios - emiddot sobretudo a Internet - reduziram Os custos da comunica9ao 0 que permitiu 0 desenvolvimento de liza90es laquoglobaisraquo Estas nao substitufram os outros canais de comushynica9ao - e ainda menos os contactos pessoais directos - e pelo contrano integraram-se neles

o papel da esfera publica pode assim retomar importancia em resposta acrise dos partidos [efr cap 5] Em face do enfraquecimento do debate nos parlamentos enos governos os processos de comunishyca9ao que se desenvolvem na esfera publica podem adquirir peso isto e

dentro de um drculo mais ou menos restrito onde as suas rela~6es actuam se exprimem e interagem quer os membros da elasse politica no sentido proprio quer os intelectuais e lideres de opinHio jomalistas e outros empreendedores de movimentos e associa~5es aetivistas peritos das instituicoes e das regras da representacao (juristas advoshygados etc) Sao os que se interessam pela politic a de que falam eserevem e elaboram os sfmbolos ju]gam-na eneontram-se em cfrcushy

associa~5es jomais revistas manifestacoes publieas para fornwr e rebater esses jufzos [Pizzomo 1998 28-29]

E com efeito cada vez mais na esfera publ1ca que laquose movimentos de opiniao de vanos generos atraves dos quais se proshypoem reformas da sociedade Alem disso formam-se vocm6es de militilncia colectivaraquo [ibidem 31]

112

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 21: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

V ENTRE MILITANCIA E BUROCRATIZAltAO o QUE sAo os P ARTIDOS POLITICOS

o presente capitulo ocupa-se dos partidos a longo prazo considerados os principais actores das democracias modershy

~ nas Depois de os definir e referir as suas principais fumoes analisaremos as transforma~oes nas estruturas organizativas

hi e no seu funcionamento mas tambem as continuidades nos l1 sistemas de partido e nas chamadas laquofamflias ideologicasraquo

I Estudaremos 0 tema da burocratizacao e veremos como com vista aconquista dos eleitores um papel crescente comshy

it pete acomunica~ao e aos mass media Se a funcao dos parshytidos parece ter-se reduzido na sociedade por outro lado aumentou no seio das instituicoes publicas Aludiremos deshy

~l pois alogica da competi~ao no seio dos sistemas de partidos 11

i~r

~iiQs partidos uma defini~ao ilh

partidos foram considerados a longo

ao tema da definifiio do conceito de partido conceito esse referencias empfricas como veremos mudaram notavelmente ao do tempo

das definicoes mais conhecidas do conceito de partido deveshyMax Weber segundo 0 qual

por partidos devem entender-se as associatoes baseadas numa adesao (formalmente) livre constituidas com 0 objectivo de atribuir aos seus chefes uma posi~ao de poder no seio de um glUpo social e aos seus militantes activos possibilidades (ideais

das democracias representativas Assim consagrou-se muita

149

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 22: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

ou materiais) para a consecultao de fins objectivos ou de van_ tagens pessoais ou ambos juntos [Weber 1922 trad it 1974 vol I 282]

o partido caracteriza-se portanto por ser uma associQ(iio orientada para influenciar 0 poder

o partido e acima de tudo uma associaqiio no sentido oe um grupo organizado formalmente e baseado em formas voluntanas de participasiio A propria esfera da sua acsao como organizasao volunshymria e a do poder contraposta a economica (tfpica das classes) e a social (tfpica das camadas) Segundo Weber laquoenquanto as classes tem sede na ordenaltao economical e as camadas no ordenamento social ou seja na esfera da distribuisao da homa [ ] os partidos pertencem em primeira linha a esfera do poder A sua acsiio visa 0

poder social isto e influenciar uma acltao de comunidade de qualshyquer conteudo como principio pode haver partidos tanto num cfrculo social como num Estadoraquo [Weber 1922 trad it 1974 vol Por laquopodengt ele entende laquoa possibilidade que um hom em ou uma pluralidade de homens possui de impor a sua vontade numa acsao de comunidade mesmo contra a resistencia de outros individuos particishypanles nessa acSaoraquo [ibidem 230]

Em particular nas democracias ocidentais 0 termo laquopartidosraquo estll reservado mesmo na linguagem corrente as associas6es que pretenshydem influenciar as decisOes publicas atraves principal mente nao exclusivamente) da participaqiio nas eleiqiJes Embora possaro utilishyzar varios tipos de acsiio para a1cansar os seus objectivos a sua prinshycipal estrategia e a ocupasao de cargos electivos A participasao nas eleiltoes e a conquista de lug ares no govemo encontram-se de factono centro da definilt1io proposta por Anthony Downs ha ll1uito acelte segundo a qual 0 partido politico e um laquoconJunto de pessoa~ qu procura obter 0 controlo do aparelho governativo na sequenCIO d eleitiJes regularesraquo [Downs 1957 25] Nas democracias e a ~omye~ tiS1io pelos votos que distingue os partidos de outras assoc1aSQes laquoquaisquer que sejam as restantes possibilidades que tenham em c~

Omum com outras organiza90es somente os partidos actuam no cenart eleitoral em compethao pelos votosraquo [Panebianco 1982 30] arti-

Aprofundaremos a seguir estes elementos de defini9ao dos P com vista as suas funs6es fundamentais

150

fun~oes dos partidos

PARTIDOS COMO MEDIADOREi

partidos definem-se em relasao as suas funs6es e portanto a esfera precisa da acsao humana

Os partidos apresentam-se sobretudo como mediadores entre as publicas e a sociedade civil entre 0 Estado e os cidadaos

lmensao polltica organizam as divisoes presentes na sociedade Os partidos sao indispensaveis para organizar a vontade

uma simplificaltao da complexidade dos interesses indivishyEnquanto os grupos de pressiio representam interesses relativashyespecificos os partidos tendem a agrega-Ios agrupam pessoas

atitudes e valores similares representando portanto mais de um interesse definido de forma limitada Na verdade urn partido

nonnalmente laquoconsiste em mais de urn interesse na sociedashyportanto numa certa medida tende a agregar interessesraquo [Ware

partidos estruturam 0 voto Num texto classico sobre a demo-Lorde James Bryce observou

nenhum grande pais livre esta privado deles Ninguem demonstrou como urn govemo representativo pode funcionar sem des Os partidos ~a~ma~~~amp~~~amp~~~~ 1921 II

dito que os partidos sao motores de urn plebiscito continuo os eleitores a escolher pelo menos 0 menor de dois

limitando assim as diferenciasoes politic as a poucos canais [Neumann 1956 144] Nao so os candidatos sao predoshy

Iltemente membros de partido como sobretudo este e a entidade qual os eleitores se identificam proporcionando estabilidade a prazo aos comportamentos de voto individuais

E SOCIALIZA(AO

medida variavel mas sempre coerente os partidos organishy~bem outras formas de participasao politica com 0 que desenshy

lUOa importante fumiio de socializatiio polftica

151

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 23: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

Com efeito os partidos transformam 0 cidadao em animal polftico ao integni-lo no grupo laquoTodo 0 partido deve apresentar a cada eleitor e aos seus grupos de interesse especificos uma imagem de comunidade como entidade Deve recordar constantemente ao cidadao esta realishydade colectiva adaptar as suas exigcncias as da comunidade e se

sacriffcios em nome da comunidaderaquo [Neumann Atraves da sua accao os partidos educam os eleitores par~

a democracia concentrando a atencao em algumas relevantes permitem que os cidadaos exprimam a sua opiniao InQlllltv

1954 12]

PARTlDOS E CONTROLO

bull Gracas aos partidos pode tambem realizar-se 0 controlo dos govemados sobre os govemantes Deste ponto de vista representam um importante instrumento de ligacao entre 0 governo e a opiniao

laquocomo as democracias sao piramides construidas de baixo a ligacao entre govemantes e govemados toma-se uma necessidade na circulacao em duplo sentido da democracia A principal funcao do partido emanter livres e abertas essas linhas de comunicacao os partidos tomam-se se nao os governados pelo menos os instrumenshytos de controlo do govemo numa democracia representativaraquo [Neumann 1956 145]

A apresentacao dos candidatos aos cargos publicos no seio de listas de partidos toma mais reconhecfvel a sua proposta e mais facilmente punfvel uma eventual rotura do pacto de confianca com os eleitores A responsabilizacao dos governantes singulares em relaltao aos eleishytores verifica-se principalmente atravcs da estruturaltao dos candidatos

em laquoequipasraquo de competiltao reciproca De facto so assim laquoos detenshytores de cargos publicos normal mente pouco conhecidos dos eleitores singulares podem pelo menos ser associados a urn grupo CL~shypor sua vez ligado a uma actualtao especifica no govemo e detentores de posilt6es precisas em relaltao ao futuroraquo [Budge e Kernan 1990

Os partidos podem assumir esta tarefa no sentido em que represen-tam nao so os principais canais de se1ecltao da classe de govemo rn~~ com frequencia tambcm os principais actores na forma~iio das po l~ ticas publicas Com efeito elaboram programas aprcsentam-nos aO

eleitores e se resultarem vitoriosos nas eleilt6es devedio aplica-IOS

152

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 24: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

)

UMA ORGANJZAltAO DA QUAL TUDO PENDE

modernas democracias de massas 0 partido desenvolve uma de integratiio social ou seja e urn partido capaz nao s6 de

mas tambem de oferecer bases de identificaltao aos seus Esses partidos sao fundados em torno de uma laquoinstitui(iio

portanto destinados a servir para a actualtao de ideais de polfticoraquo [Weber 1922 trad it 1974 voL II 710] Para os

socialistas a acltao de socializaltiio acontecia no interior das tomada rede associativa laquoPertencer a este mundo signishy

viver grande parte do tempo de trabalho dentro de uma area onde todos se tratavam por tu e eram portanto iniimeshy

lSopotunidades de novas relaltoes pessoaisraquo [Pizzomo 1996 rede de associaltoes proximas do partido longe de se limitar

eleitoral encarrega-se dos mais aspectos da vida quotidiana 0 partido exerce uma influencia em todas as esferas da vida quotidiana do indivfduo - a sua

mzacao laquoestende-se do berlto a sepultura das associaltoes de asshya infancia dos trabalhadores as sociedades crematorias dos

o partido pode contar com os seus aderentes assumiu para si parte da sua existencia socialraquo [Neumann 1956 153]

os partidos socialistas ofereceram recursos de identidade -wdos laquopropunham a quem entrava naquele mundo vermeshynao apenas esperanltas politicas solidariedade e tambem uma identidade que os companheiros reconheciam uns

e 0 resto da sociedade reconhecia e modo era levada 1996 1019]

E IDEOLOGJA

eologia assume aqui uma funltao fundamental para a organishyporque constitui os interesses de longa data e assim a propria

dos actores Esta permite refonar a solidariedade entre os do partido e contribui para formar e solidificar a convicltao

fins comuns Toma-se alem disso urn laquoguia para a acshybullbulluoHldo as escolhas estrategicas e tacticas do partido lPizzorno

] A esse respeito Pizzorno escreve laquoNo seu tipo puro 0

de magtsas organizado caracteriza-se porque introduz a ideoloshyprincipio de identificaltao Ou seja tende a apresentar exishy

e em geral inspirar a sua acltao com vista a projectos relashy

159

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 25: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

tivos a urn estado de coisas futuras a realizar por meio da aCltao politica (e com frequencia elaborando esses projectos sobre 0 funda_ mento de uma interpretatao global do estado de coisas presentes)gtgt [ibidem 237] Finalmente a ideologia reforta 0 poder dos lideres qUe se tomam cada vez mais aqueles que conhecem e estao em condiltoes de aplicar a doutrina do partido

5 Fracturas sociais e partidos politicos

Ate aqui descrevemos tipos gerais de partido e procunimos definir as passagens historic as de urn tipo para outro Todavia na analise politologica sao com frequencia distintas as caracteristicas dos partishydos contemponlneos a partir da sua base social e ideologica Mas como nasceram esses diferentes tipos de partidos E como se explica que alguns se encontrem presentes nuns paises e noutros nao Respondem a estas perguntas as analises que se referem a evolutao de alguns conflitos - ou Jracturas - centrais em certos paises procurando as origens dos partidos que existiram ate hoje

Os partidos politicos presentes em cada pais reflectem algumas fracturas sociais que se apresentaram historicainente Duas fracturas ou conflitos (cleavages) principais verificaram-se durante 0 processo

Figura 52 - Fracturas sociais politicamente relevantes segundo Stein Rokkan

ORIGENS FRACTURA TIPO

DE PARTIDOS OBJECTOS

DOS CONFLITO~

bull Constru~ao do Estado nacional

bull Centroperiferia bull Regionalistas bull Lingua

bull RevolUlao industrial

bull Estadollgreja bull Religiosos e liberais

bull Institui~ao

bull Cidadecampo bull Camponeses

bull Barreiras alfandeganas

bull Capitalltrabalho bull Conservadores

e socialistas

bull Estado social

160

do capitalismo industrial [v fig 52] Como Rokkan

TRO FRACTURAS

Duas destas cleavages sao 0 produto directo da que podemos chamar revolutao nacional 0 conflito entre a cultura central da constrwiio da nariio e a resistencia crescente das populari5es submetidas etnica linguistica ou religiosamente diferenciadas nas provincias e nas periferias 0 conflito entre 0 Estado-nariio centralizador uniformizador e mobilizador e os privilegios corporativos consolidados historicamente pela Jgreja Duas destas cleavages sao produtos da revolutao industrial 0

conflito entre os interesses agrarios e a classe nascente dos empresarios industriais entre proprietarios e dadores de trabashy

lho por urn lado e arrendatarios assalariados e operarios por outro Muita historia da Europa a partir do seculo XIX pode ser descrita nos termos da actao recfproca entre estes dois processos de mudanta revolucionaria [1970 trad it 1982 176]

A fractura centro-peri feria

PERIFERIAS

conseguinte a primeira fractura ocorreu entre centro e periferia ao conflito entre urn centro politico cultural e economico

perifericas a pouco e pouco incorporadas no govemo central conflito exprime-se a opositao a concentratao territorial do em particular simbolizado atraves da afirmatao de uma tinica oficial A essencia da relatao entre centro e periferia tern sido

~l-ucrada de vez em quando cultural ligada a transmissao de vashydo centro para a periferia economica baseada na dependencia

wrriferia dos recursos provenientes do centro e politica dependente de aparelhos burocraticos que imp oem a periferia as

tomadas no centro [Tarrow 1979] Tendo em conta estas dimensoes 0 centro foi definido como laquoa area privilegiada onde os detentores dos principais recursos politicos

e culturais se retinem em instituitoes opostas para exercer decisorioraquo [Urwin 1991 709] A periferia e definida de

161

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 26: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

mane ira especular como territorio distante dos lugares onde se tomam as decisoes culturalmente diferente e economicamente dependente [Rokkan e Urwin 1983 3]

OS PARTIDOS ETNO-REGIONALISTAS

Se a existencia de tensoes entre centro e periferia e com freguencia con stante so em alguns Estados elas se politizaram Sao varios os catalisadores da rebeliao da periferia com 0 centro shy que assumiu por vezes a fonna de urn conflito etnico ou seja concentrado em lomo de uma definiltao dos habitantes da periferia como pertencentes a uma etnia diferente da dominante Se recursos economicos e politicos

papel na mobilizaltao da periferia em geral na conflito territorial a cultura e 0 elemento mais

a presenlta de uma lfngua propria diferente ~ ~ l~~r que facilita a constru9ao

para politizar 0 conflito partidos etno-regionalistas como partidos cuja principal caracterfstica resulta da tentativa de representar grupos territoriais etnicos eou concentrados regionalmente com uma identidade especffica baseada numa comunhao de toria para reivindicar um nivel 1998] Com vista a uma politizaltao dos conflitos com base etnoshy-territorial esses partidos foram definidos como laquoempresarios cosraquo ou seja actores orientados para uma politizaltao da etnia como base de identidade e reivindica90es colectivas [Tursan 1998]

52 A fractura Estado-Igreja

Assume uma dinamica similar 0 cont1ito entre Estado e 19reja A constru98o do Estado-na9ao pas sou na verdade atraves de um serio embate entre a Igreja de Roma que defendia as suas esferas de coIll-

Petencia na laquoformarao das almasraquo e 0 Estado que tendia a afirrnlif 11 -0

o seu poder em alguns campos delicados entre os quais a mstrur~ Em volta do conflito entre os laicos que pediam uma nacionalizar~o da instrultao e os religiosos que defendiam os espaltos de interVeI1ra~ da 19reja formaram-se por vezes partidos polfticos apoiados poo associaltoes de varios tipos Poi ainda Rokkan que observou que

162

contrapunha as aspiraltoes mobilizadoras do Estado-na9ao as corporativas da Igreja

ao status actividades

o no central foi 0 controlo da moral e das normas da comunishyNo centro da discordancia situavam-se laquoa celebraltao do matrishye a concessao do di vorcio a organiza9ao de obras de caridade

lGUldado com a propensao para des vios as fun90es dos medicos em as dos religiosos e os preparati vos dos funerais 0 conflito

aceso consistiu pois no contr da instrwiio Com efeito llcionalmente a 19reja quer a catolica-romana quer a luterana ou

tinha proclamado 0 seu laquodireito de representar a condhao (spiritual state) do homem e controlar a eduea9ao das erishy

na fe religiosaraquo [1970 trad it 1982 176] Com a forma9ao do naltao 0 poder temporal comeltou a pretender para si esse

Assim se onde a igreja luterana se tinha afirmado ate ao seculo igrejas nacionais participaram na educaltao das crianltas na

local nos outros paises a afirma9ao da instru9ao obrigatoria sob do Estado originou os protestos da Igreja ate ao nascimento

nnlt-dos alem de vastos movirnentos de massas em defesa da E por exemplo 0 caso da Italia onde 0 Partido Popular e depois a Democracia Crista exprimiram as exigencias de

parte imnortante dos eatolicos

fractura cidade-campo

da revolultao industrial o poder polftico se concenshy

com frequenshydel1fUld Em particular sobre 0 tema

aduaneiras e os preltos dos produtos geraramshydissidencias por vezes sufocadas com a cria5ao de

para defesa dos interesses dos campos 0 crescimento do mundial e da produltao industrial aumentou a tensao entre os

do sector primario e os comerciantes e empresarios das

163

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 27: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

OS PARTIDOS AGRARIOS

Tradicionalmente na Europa os interesses em contraste das areas rurais e urbanas exprimiram-se des de a Idade Media na representa~ao separada para os Estados dos parlamentos pre-modemos Com a revo_ lucao esses contrastes aprofundaram-se dan do origem a disposi~6es urbano-agrarias expressas nos parlamentos pelos conflitos entre parshytidos conservadores-agrarios e partidos liberais-radicais Tambem nestas tens6es laquohavia urn foco de conflito econ6mico mas 0 que as tomou asperas e profundas foi a luta para a manutencao do status alcancado e 0 reconhecimento da possibilidade de 0 atingirraquo [Rokkan 1970 trad it 1982 183] Em muitos pafses porem as reivindica~6es ligadas aos campos encontraram expressao em partidos conservadores nao laquoespecializadosraquo nisso

54 A fractura capital-trabalho

o EIXO DIREITA-ESQUERDA

Enquanto os reflexos destas tres fracturas em termos de sistemas de partidos produziram di versidades entre os pafses europeus - dado que em muitos (a Italia entre eles) alguns desses conflitos se entreshycruzavam com outros sem dar origem a express6es partidarias espeshycificas - foram mais similares os efeitos de uma qUarta fractura entre empresarios e classe operaria Com efeito a revolucao industrial nao produziu apenas urn embate entre campo e cidade mas tambem e sobretudo urn conflito intemo no mundo da industria que contrapUshynha os capitalistas aos assalariados

Em todas as democracias europeias os trabalhadores tentavam superar a sua desvantagem no mercado do trabalho fundando partidos

que exigiam maior igualdade Mesmo em tomo do tema da intervenshycao do Estado para reduzir as desigualdades sociais articulou-s~ 0

principio do eixo de conflito nos sistemas de partido 0 eixo direztashy-esquerda onde a primeira se caracterizava pela exigencia de me~or intervencao do Estado e menos tributacao e a segunda por exigenclas de maior intervencao do Estado em servicos sociais Na verdade ~m

S1Stodos os pafses europeus as primeiras fases da industrializacao aS shytiram ao nascimento de partidos da classe operana laquoAs crescentes

olas massas de assalariados quer nas actividades agrfcolas e silvc

164

nas industrias de grandes dimens6es ressentiam-se das condic6es 4-rabalho e da inseguranca dos contratos e muitos deles afastavamshy

social e culturalmente dos proprietarios e industriais 0 resultado -se numa serie de sindicatos operanos e no desenvolvimento

L __rlM socialistas a escala nacionalraquo [Rokkan 1970 trad it 1982

evolucao desses partidos foi porem em grande medida influenshypelas reacc6es das elites as reivindicac6es operarias Uma tenshy

inclusiva das classes dirigentes levou a partidos de esquerda pragmaticos e moderados ao contrario uma atitude repressiva

a urn predomfnio na esquerda das ideologias mais radicais Gra-Bretanha enos pafses escandinavos elites abertas e pragmashyembora opondo-se as reivindicac6es dos operarios evitaram as

de repressao extremas na Alemanha Austria Franca Italia e recorreram a violencia para excluir os novos grupos da represhypolitica

resultado foi que enquanto no primeiro grupo de pafses se deshypartidos trabalhistas grandes embora moderados no seshy

as organizac6es operarias laquotenderam para se isolar da cultura e desenvolver urn soziale Ghettopartei e movimentos com

ideologias para isolar os seus membros e apoiantes das influenshydos ambientes sociais circunstantesraquo [ibidem 187-188] Em geral

mais radicais esti veram presentes em pafses de baixa grandes obstaculos no sistema representativo e

politico do movimento operario - pelo que portanto 0

a reformas graduais parecia menos crlvel [Bartolini 2000 565shy A esquerda aparece historicamente dividida nos contextos de

izacao retardada e incompleta e baixa integracao institucional 566-567]

fami1ias dos partidos

FAMILIAS DOS PARTIDOS

a analise genetic a de Lipsen e Rokkan com a reconstrushyda emergencia dos varios tipos de partido Klaus von

[1985] propos 0 conceito de lt1amflias espirituaisraquo de partidos conjuntos de partidos integrados numa concepcao do mundo

165

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 28: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

cipa~o Por um lado e dado observar que comum aos partidos COn temporaneos aparece um dec1fnio qualitativo do mlmht7rC

inscritos mais velhos e motivaltoes mais oportunistas Por outro falou-se em muitos partidos contemporaneos de uma mu danlta na fun9ao da base que por motivo de ser 0 ponto de referencia do partido se transformou em mera fonte de financiamento [por exemshypIo Crouch 2000] Enquanto os congressos assumem cada vez mais o papel de momentos de propaganda voltados para 0 exterior as decisoes relevantes para a vida de partido - como as candidaturas nas listas eleitorais - sao tomadas de uma maneira cada vez menos transparente pela direc9ao nadonal laquoos partidos esrno a tomar-se vez mais maquinas pessoais ao servilto deste ou daquele lfder poli[lco) [Calise 20005]

7 0 partido laquocome-tudoraquo e 0 eleitorado votatil

o QUE E UM PARTIDO laquoCOME-TUDOraquo

A hipatese de urn enfraquecimento dos partidos politIcos como expressao de grupos sociais especfficos ja fora apresentada nas invesshytiga~oes sobre partidos no pas-guerra Meio seculo depois de Michels Otto Kirchheimer analisou as transforma90es do partido de massas e elaborou 0 conceito de partido come-tudo para descrever 0 novo tipo de partido que com~ava a afirmar-se no segundo pas-guerra Para empregar as suas palavras 0 partido emerlente caracteriza-se

a) uma redUliio drastica da sua bagagem idealogica

b) um robustecimento ulterior dos grupos dirigentes de vertice cujas aC90es e omissoes sao agora consideradas do ponto de vista do seu contributo para a eficiencia de todo 0 sistema soshy

do que para a identificaltiio com os objectivos da sua

c) uma diminuiciio do papel membra papel esse considerado uma relfquia histarica de obscurecer a nova imagem do partido come-tudo

176

uma menor acentuariio da referencia a uma classe social espeshycifica ou a uma clientela confessional para recrutar eleitores entre a populaltao em geral

assegurar 0 acesso a varias grupos de interesse [1966 191 J

Michels ja colocara 0 acento tanico suficientemente nas transshydas relaltoes de for~a no seio do partido - com 0

dos vertices e a redu9aO das capacidades de controlo da base onceito de partido come-tudo salienta outro elemento para arreshyvotos os partidos estao dispostos a tudo Assim apresentam-se moderados na Iinguagem tentam pescar apoio eleitoral fora da

de referencia interactuam de um modo mais ou menos com varios grupos de interesse

principal caracterfstica partido consistiria em concentrar as suas energias na competitiio eleitoral Esta o enfraquecimento da reJaltao com a classe privilegiada de refeshy e uma busca de apoio mesmo noutros grupos sociais dotados Lresses compatfveis Segundo Kirchheimer 0 partido come-tudo

pandir 0 seu eleitorado procurando eneontrar mais votantes que nao tenham entre si conflitos de interesses

Atraves da escolha de temas consensuais -encontrariam resistencia na comunidade - 0

pode alargar ao maximo 0 raio de ac~ao dos eleitores poten-

SE TORNAM os PARTIDOS laquoCOME-TUDOraquo

do partido come-tudo constituiria 0 resultado de uma sjormacoes socia is e culturais que levam ao enfraquecishy

dos sentimentos de perten~a de classe assim como das cren9as o desenvolvimento econ6mico e 0 estado do

a dureza dos conflitos sociais enquanto os mass media pershyentrar em contacto com as grandes massas de eleitores imer eScreve

o partido de integracao de massas produto de uma epoca em que divis5es de c1asse e estruturas confessionais rfgidas mais

vUlli1das esta a convelter-sc num partido laquodo povoraquo come-tudo ult1ndonando as tentativas de formacao intelectual e moral das masshy

177

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

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tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

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partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

192

Page 29: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

sas desloca-se cada vez rnais claramente para a ribalta ~VLVtit1 e quanto renuncia a agir em profundidade e prefere urn consenso ~~shyvasto e urn exito eleitoral irnediato [ibidem 185] s

o ELEITORADO DE PERTENCA

A ideia de partidos orientados para a9ambarcar votos faz-se aCom_ panhar da ideia de votos em safda livre As amilises do comportamento eleitoral salientaram longamente a radicaliza15ao dos partidos em alshyguns grupos sociais e ao mesmo tempo a sua capacidade para criar fortes relaltoes de identifica~ao com 0 eleitorado Estas teses mantidas em primeiro lugar pelas duas principais escolas que se deshysenvolveram nos Estados Unidos por volta dos anos 40 do seculo xx numa tentativa para explicar 0 comportamento eleitoral uma dita Escola da Columbia salientou 0 papel do grupo socioecon6mico de pertenlta enquanto a outra a Escola de Michigan debru~ou-se mais sobre as caracterfsticas psicol6gicas individuais Em ambos os casos observou-se a durabilidade do assedio aos partidos atraves de urn tipo de voto a que se pode chamar de laquoperten15araquo

bull Segundo a Escola da Columbia nascida em torno de Paul Lazarsfeld junto do Bureau of Applied Social Research da Universidade da Columbia de Nova Iorque 0 voto embora se trate de urn comportamento individual e influenciado profundamente pelas nonnas e valores dominantes nos diversos grupos socials Acontece com muita frequencia a escolha do voto poder ser remontada asociashyliza15ao polftica em familia dado que os filhos votam (em 77 dos casos estudados por Lazarsfeld) no mesmo partido dos pais A conc1ushysao dele consiste em que laquouma pessoa pensa politicamente como e socialmente As caracterfsticas sociais determinam as preferenci~s politicasraquo [Lazarsfeld et al 1944 27] Status socioeconomico relishygiao e local de residencia sao os principais produtores da decisao de voto que depois tende a manter-se no tempo

bull Os investigadores da chamada Escola de Michigan que analisaraJ1l

uma serie historica de sondagens em campos muito vastos salien~ algumas caracterfsticas de psicoiogia individual que predorninarl~ em relaltao a pertenlta social na determinalt3o da opltao eleiwral e gundo essa escola 0 comportamento de voto seria influenciadl

_

uma serie de atitudes individuals sobre tematicas candidatos e progra

178

e pela intensidade das mesmas Ainda segundo aquela escola a adesao a uma serie de valores e posi~oes interactua com a

1l1l1~altao com urn partido que tende a ser precoce e coerente com pais Esta identifica~ao tende a manter-se estdvel (para dois

em cada tres e con stante nas eleiltoes) e refona-se com do tempo (a medida que 0 eleitor envelhece a intensidade de

o partido aumenta pelo que a probabiHdade de

ELEITORADO DE OPINIAO E 0 ELEITORADO DE MUDANCA

observaram-se uma redultao do eleitorado de pershyligado a uma identificaltao de longo prazo com os partidos shy

outro lado um crescimenlo dos eleitores para se deixarem convencer a mudar de partido Os

gadores da Escola de Michigan ja haviam observado que se a iIlificaltao com os partidos se mantem forte em algumas elei~oes

nota-se urn enfraquecimento da fidelidade dos eleitores ou posiltao sobre uma tematica especffica prevalece em relaltao a

lfic~ao com urn partido A investigaltao contemporilnea indica ~nQuanto 0 e1eitorado de perten~a - 0 laquonueleo duroraquo dos partidos

afirmar-se 0 eleitorado de opiniiio aumentou e vota na base especfficas pelos prograrmts dos partidos em temas

mudando de partido de uma elei~ao para outra enquanto urn eleitorado de interdimbio isto e de eleitores que mudam com favores [efr Cartocci 1994]

J-LlNIO DA ADERENCIA AOS PARTIDOS

investigaltoes sobre 0 comportamento eleitoral salientam certashyurn enfraquecimento nos la90s identificmiio partiddria Soshy

a partir dos anos 70 do seculo xx foi observada na Partidaria uma componente de gera15ao os jovens eleitores

nos anos sessenta tendiam a ter uma menor liga~ao afectiva partido preferindo votar em conformidade com a posiltao dos sobre tematicas que estavam mais proximas do seu cOra1530

erba e Petrocik 1976] TamMm na Europa se reduziu a idenshycom os partidos polfticos Segundo os dados do Eurobarometro

52] a percentagem dos que declaravam uma forte adesao aos

179

-----------

Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

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partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

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Page 30: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

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Tabela 52 For~a da aderencia aos partidos em 12 parses europeus entre 1975 e 1992 Percentagern de entrevistados que se dec1arararn rnuito pr6ximos

e mesmo pr6ximos de urn partido

MediaJr GB Lu IrIr A 0 Ho Bel Gr E P Euroshypeia

- 22- 25 29 31 31 -1975 -46 28 40 27 27 - -1978 36 40 3529 37

1980 2939 19 32 39 33 37 35 19 32 1985 2537 18 34 31 31 30 26 22 32 11 13 30 1990 32 22 27 2031 17 28 29 30 41 13 10 27 1992 31 16 28 28 41 17 24 2231 29 13 10 29

1

Fonte Eurobar6metro virios numeros Adapta9ao de Schmitt e Holmberg [1995 126-]27)

partidos baixou entre 1975 e 1992 em quase todos os paises europeus o declfnio apresenta-se particularmente sensivel em Wilia (onde a percentagem de entrevistados que se declararam proximos de urn partido se reduz de 46 em 1978 para 31 em 1992) Fran~a (28 para 16) Paises-Baixos (de 40 para 28) Na media europeia a pershycentagem dos cidadaos proximos dos partidos baixa de 37 para nos mesmos anos Em conformidade com uma recente sobre as democracias avan~adas a percentagem daqueles que se tificam fortemente com os partidos esHi em declfnio em todos os 21 paises analisados [Dalton 2000 cfr tambem Della Porta 2001 e Dalton e Watemberg 2000]

Varias investigagoes por oUlro lado evidenciaram urn drastico dec1fnio do voto de classe em que tinham insistido Lazarsfeld e a

da Columbia Se 0 peso da perten~a social sobre 0 voto nao foi totalmente superado por exemplo os parlidos de centro-esquerda continuam a ter os seus principais bastioes entre os eleitores das cashymadas medias e altas entre quem vive no campo ou em comunas de pequenas dimensoes e entre os eleitores mais religiosos 247] - muitas investigagoes indicam porem que a influencia da classe social de perten~a no comportamento eleitoral esta em declfnio no mundo ocidental Con vern acrescentar que ja nao sao apenas os menos interessados pela polftica que mudam de opiniao Como Dalton [1996 119] salientou reduziu-se a aderencia aos partidos quer entre

180

que nao se interessam pela polftica quer entre quem mantem esse

o CRESCIMENTO DA VOLATILIIgtADE ELEITORAL

Poder-se-ia pois pensar que juntamente com a instru~ao e a -~rl~miza~ao cultural aumentararn os eleitores criticos que ponderarn

de votar Com efeito tern sido apresentados pelas mais recentes racionais da poiftica como capazes de avaliar as actua~oes

polfticos e actuar nessa conformidade 0 eleitor racional sabe os partidos e escolher aqueles que the maximizam os dcsejos

Em geral avalia com base nas suas preferencias 0 rendimento do partido no votando nele se acha que a situa~ao melhorou no periodo em que exerceu 0 poder ou optando pela oposi~ao no caso

contrario Na verdade urn certo numero de eleitores tende a pronunshyciar-se nas urnas de uma forma laquoretrospectivaraquo e atribuir ao govemo vigente a responsabilidade do nivel de bem-estar desfrutado no sado proximo premiando-o no caso de uma melhoria e punindo-o na eventualidade de urn agravamento [Pappi 1998 261] Diz-se assim

Participa~ao eleitoral () em algumas democracias europeias Tabela 53

(ntimas DiferemaPrimeiras I (ntimas entre os anosI

eleitOes do l eleicoes dos elehOes dos 60 e 90anos 90anos 60

-44(1999) 864 (1949) 864 (1966) 864 Austria +06(1999) 903 (1968) 903 (1946) 903 Belgica -33(1998) 863 l(1968) 863 (1945) 863Dinamarca 782(1966) 782 (1948) 782 FinHlndia -02(1997) 715 (1968) 715 (J 946) 715 Fran~a -44(1997) 785 (1969) 785 (1949) 785 Alemanha -110(1997) 742 (1969) 742 (1948) 742 Irlanda -99(1996) 891(1968) 891ltalia I (1946) 891

-03(1994) 919 (1968) 919 (1949) 919 -98(1997) 764 I(1969) 764 (1945) 764

-222(1998) 931 (1967) 931(1946) 931Parses Baixos (1997) 758 -- 42(1966) 758 (1945) 758 Reino Unido

827 -25(1968) 827 (1948) 827 Suecia

Fonte Elabormao mirtha com dados do Ministcrio do Interior fomecidos por E Raniolo

18]

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

182

das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

183

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

189

partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

190

res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

191

5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

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Page 31: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

os partloos no govemo durante periodos de rccessao economica tcndem a pcrder votos e vlce-versa

Por definiltao 0 cleitor nao identificado e mais volatil Se Lipset e Rokkan salientaram a continuidade nos sistemas de partido muitos estudos recentes puseram em discus sao ou pclo mcnos delimitaram a validade das hipoteses do laquocongelamentoraquo das fracturas Ja a Proposito dos anos 80 do seculo xx comeltou-se a falar de uma libertaltao de muitos sistemas de partido da laquocamisa de fonas das fracturas tradishycionaisraquo [Franklin et al 1992 404 Karvonen e Kuhnle 2001] Desshycongelamento quer dizer acima de tudo enfraquecimento da fidelidashyde aos partidos tradicionais e aumento da volatilidade eleitoral investigasao sobre a Austria a Alemanha a Dinamarca a os Paises Baixos a Noruega a Suecia e 0 Reino Unido inOlca que a percentagem de eleitores que mudam de partido aumentou entre e 1954 [Lane e Ersson 1999 127] a percentagem daqueles fizeram entre duas eleiltoes (no seio dos que votaram em aumentou de fonna constante passando de 11 em 1950-1954 para 26 em 1990-1994

Estas tendencias pareeem ter sido particularmente visfveis nos anos 90 do secuIo xx sobretudo na sequencia da queda dos regimes do laquosocialismo realraquo e da de escandalos politicos que atingiu numeshyrosas democracias ocidentais [Pennings eLane 1998] No caso da

a situaltao das entidades corruptas veio a descoberto a partir de 1992 e nenhum dos partidos presentes no parlamento em 1985 sobreshyvi via 10 anos mais tarde sem alteraltoes profundas nao so no nome mas tambem na estrutura organizativa [Morlino 1996]

o AUMENTO DO ABSTENCIONISMO

Como efeito do descongelamento parece haver aumentadO 0

abstencionismo eleitoral Se observarmos 0 andamento da partiCipa9ao

nas eleilt5es nos paises europeus entre 0 periodo imediato ao p6sshy-guerra eo final dos anos 90 do seculo xx [v tab 53J notalllOS uma redultao tendencial que se acentua se compararmos 0 final dos anos 60 f I d 90 d I A d -lJOopt1cacom 0 ma os anos 0 secu 0 xx ill a se nota uma notavel entre paises A urn grupo daqueles em que a eleitoral e tendencialmente estavel (como a Belgica Luxemburgo) contrapoem-se outros caracterizados

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das percentagens de voto entre estes a Noruega (-1$) a (-99) a Irlanda (-11) a FinHlndia (-169) e os Paises Baixos

Em geral as taxas de absten9ao sao extremamente variaveis pontos muito baixos em Fran9a FinHindia Irlanda e Reino se juntam Espanha Grecia e Portugal) rcfr RanioIo

mudan9a do tipo de voto e a do relacionado com a estrutura tiveram efeitos rclevantes na estrutura dos partidos

o partido profissional-eIeitoral

QUE It 0 PARTIDO PROFISSIONAL-ELEITORAL

nos anos 80 do seculo xx Panebianco ao salientar 0 papel dos media e das sondagens definiu a emergencia de urn partido

As caracteristicas expostas pelo partido comeshyele junta outra a substituipoundQO da burocracia de partido a que

rtelegada a relapoundQo com a base de referenda por tecnicos e especializados nas relapoundoes com os eleitores Iv figmiddot 53J

tipo de partido 0 papel dos activistas como canal de medishyentre representantes e representados reduz-se a extin9ao

As infonnalt6es sobre as exigencias dos cidadaos outrora recolhidas atraves do eficiente terminal que no partido de massas eram as sessoes sao agora procuradas por meio de uma

macilta das sondagens No sentido inverso dos vertices a base a fun~ao de transmissao das mensagens que anterionnente passava atrashyYes da propaganda porta a porta ou dos comfcios desenvolve-se cada vez mais pelos meios de comunicafiio de massas particular a tb~~ Peritos em sondagens e em marketing convertem-se pois

profissionais cada vez mais procurados pelos partidos

transfonnaltao do partido burocratico de massas no partido proshyestaria ligada as mudansas socioeconomicas e a

Enquanto a primeira transforma quer a estrutura social atitudes culturais 0 desenvolvimento de novas tecnologias de

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de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

188

tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

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partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

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res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

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5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

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Page 32: 42801621 Donatella Della Porta Introducao a Ciencia Politica

de partido representam mais do que a soma da sua IUuuaue poi tambcm incluem 0 tipo de acqoes reciprocas - cooperaiiao e compe~ tiiiao - que ocorrem entre os seus membros

91 0 numero dos partidos

NUMERO DE PARTIDOS E LEIS ELEITORAIS

Uma divisao classica dos base no numero de unidades em dcirios e multipartiddrios [Duverger 1951]

o sistema monopartiddrio caracteriza alguns regimes autoritanos tidos com frequencia de laquopartido unicoraquo

VANTAGENS DOS SISTEMAS BIPARTIDAruos

o sistema britfmico e 0 dos Estados Unidos (segundo alguns junshytamente apenas com mais paises ColOmbia Costa Rica e Malta efr Ware [1996 154] sao referidos como exemplos classicos de sisshytema bipartiddrio com uma alternancia de poder entre No tocante as suas consequencias normalmente os sistemas darios foram considerados particularmente eficientes 0 eleitorado elege o go verno directamente nao se perde tempo em negocialt6es para formar governos de coligaiiao 0 governo e estavel e a responsabilishydade de um bom ou mau governo e facilmente atribufvel e a expecshytativa de uma alternancia modera tanto as forltas no poder como a oposiiiao

DEWANTAGENS DOS SISTEMAS MULTlPARTIDARIOS

No entanto a maior parte das democracias ve sistemas multiparshytidarios nascidos como Rokkan de conflitos sociais Em paises como a Franiia Alemanha IsHlndia lrlanda Luxemburgo Paises Noruega e Suecia 0 numero de partidos varia entre tres e cinco A Belgica Dinamarca FinHindia Israel SU1iia e Italia sao exemplos

de democracias com um mlmero de partidos superior a cinco [Wa-e 1996159] Um sistema multipartidario contem em geral coligaf~e heterogeneas e instdveis com consequentes dificuldades para a ~le~to em atribuir tanto meritos como demeritos e radicalismo ideologlCO

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tiGlUH~ Duverger as difereniias entre os sistema) de partido deshydas caracterfsticas de algumas instituiltoes em particular do eleitoral Enquanto 0 monopartidario edeterminado pela proishy

de construir outros partidos os bipartidarios e multipartidarios influenciados nesta hipotese pela lei com 0 sistema

a um ponto que favorece 0 bipartidarismo e 0 oroDorcioshyque leva ao multipartidarismo

subdivisao foi porem considerada excessivamente simplifishyTendeu-se em particular a generalizar os poucos casos em

relaltao entre bipartidarismo e estabilidade governativa e viceshymultipartidarismo e ingovernabilidade era extremamente evishysem considerar casos mais ambivalentes em relaltao aquelas

de fundo Observou-se tambem que para alem do mero conta a dimensiio dos varios

SE CONTAM os PARTIDOS

chegar a uma tipologia efectivamente capaz de definir tipos por se caracterizarem por dinamicas especfficas

sugeriu dua) correcqoes a teoria de Duverger primeira refere-se a laquomaneira de contarraquo 0 criterio numerico shy

dos partidos - pode revestir-se de importancia para comshyalgumas dinfunicas dos sistemas politicos trata-se de um muito estavel que indica 0 grau de fragmentaltao de urn

de partidos e int1uencia 0 tipo de competiltao entre partidos todavia adverte Sartori saber contar

uma laquocontagem inteligenteraquo 0 importante nao e tanto a dishyde um partido como 0 seu peso estrategico Na verdade s6

se tem coligaqiio que e embora nem sempre necessario

coligaltoes de govemo - laquourn partido menor deve ser Contado por pequeno que seja se ele for necessario peIo menos

Urna vez no perfodo considerado para determinar a maioria de governoraquo [Sartori 1970 325J lJntpncial de chantagem que indica que a existencia do partido

um efeito sobre as tacticas adoptadas pelos outros laquoum

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partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

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res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

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5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

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partido e suficientemente grande para se considerar relevante quando a sua existencia ou aparencia influencia as tacticas da competicao entre partidosraquo [ibidem 325]

93 Numero de partidos e polariZQfiio ideoLOgica

Embora com estes esclarecimentos 0 numero dos partidos nao e suficiente para definir a variavel que interessa aos cientistas politicos que se ocupam dos sistemas de partido a maneira de estes se comshyportarem nas relacoes entre si 0 funcionamento do sistema de partishydos - as accoes reciprocas entre eles de facto influenciado por outra variavel 0 nivel de polariza~iio ideologica au seja a coloca9iio dos eleitores ao longo do eixo direita-esquerda

Com base nestas correccoes Sartori construiu uma tipologia de sistemas de partido mais complexa que a de Duverger

os SISTRMAS MONOPARTIDARIOS

Acima de tudo distinguem-se tres tipos de sistemas monopartishydarios

bull partido singular quando somente urn partido e legal bull partido hegemonico quando existem outros partidos e sao iegais

mas apenas como sateiites do principal - isto e nao realmente competir com ele para obter 0 poder

bull partido predominante quando existem outros e os menores comshypetem efectivamente com 0 predominante ou seja esmo legishytimados para alcender ao poder em caso de vitoria eleitoral - mas nao se arriscam real mente a vencer A maior parte dos lugares vai sistematicamente para 0 partido predominante

Ha pois urn sistema com dois partidos significativos que laquocontamraquo segundo os criterios atras definidos - e uma moderr cao ideologica que permite uma competicao centripeta pode -se aaui de

OS SISTEMAS BIPARTIDARIOS

bull sistema bipartido que acontece quando urn partido governa ~o - S- d as segu1nshymas nao para sempre ao caractenstlcas este SIstema

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res laquo1) dois partidos estao em condicoes de competir pel a maioshyria absoluta dos lugares 2) pelo menos urn dos dois partidos arrisca-se com efeito a obter a maioria 3) esse partido quer govemar so 4) a altemativa ou rotacao ao poder e esperada crivelraquo fibidem 332] A competicao e para 0 centro onde se presume que estilo os eleitores flutuantes os disponiveis para mudar de partido

SISTEMAS MULTIPARTIDARIOS

m1mero de partidos e polarizacao ideologic a permitem distinguir tipos entre os sistemas multipartidarios A principal distinCao a

multipartidarismo (ou pluralismo) moderado Caracterizado por urn numero de partidos (que laquocontamraquo) nao superior a cinco e pela presenca de govemos de coligacao A estmtura do sistema e bipolar com duas coligacoes que competem uma com a outra situando-se no centro para conquistar 0 eleitorado flutuante Todos os partidos estao orientados a ir para 0 govemo pluralismo polarizado Em geral com urn numero de partidos superior a cinco este tipo de sistema tern as seguintes caracteshyristicas

presen~a de partidos anti-sistema - definidos como aqueles que ltltnao mudariam se pudessem 0 govemo mas 0 sistema de govemo Uma oposicao anti-sistemica obedece a outro tipo de crenca e nao partilha os valores da ordem politica em cujo seio opera Por conseguinte os partidos anti-sistemicos represhysentam uma ideologia totalmente diferente - e e por isso que indicam 0 maximo de distancia ideologicaraquo [ibidem 337J

2) presen~a de duas oposi~i5es bilaterais que sao mutuamente

3)

exclusivas e nunc a se poderiam aliar uma com a outra

0 centro esta ocupado - ou seja 0 sistema tern a base no centro

4)

0 sistema esta ideologicamente polarizado isto e laquo0 especshytro das opini5es polfticas e extremamente amplo com dois polos (ll direita e a esquerda) caracterizados por posicoes extremasraquo

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5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

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5) existe uma tendencia centrifuga - dado que 0 centro ja esta ocupado os partidos adireita e aesquerda se conflufssem no centro correriam 0 risco de perder eleitores nos extremos Seat

conquistar apoio entre os moderados

6) nao s6 M distancia ideol6gica como a lUeuW15

fortemente a mentalidade dos cidadiios levando-os a a polftica com dogmatismo

7) emergem oposiqiJes irresponsaveis Como nao podem esperar ascender ao govemo as oposi~6es sabem que nunca serao chamadas a por os seus program as em pnltica

8) existe pois uma tendencia para fazer promessas que nunea poderiam cumprir Por outras palavras a politica e extremista

Pode acrescentar-se que

9) laquoobrigadoraquo a pennanecer no govemo 0 partido no centro tambem niio tera uma grande responsabilidade democnitica Nao podendo ser afastado por falta de uma altemativa 0

maior partido nao se preocupa muito com a opiniao dos eleishytores sobre a sua actua~ao

Posterionnente Sartori [1976] introduziu urn novo tipo de sistema multipartidario

bull 0 multipartidarismo segmentado caracterizado por urn nlimero de partidos superior a cinco mas com baixa polarizaltao ideo16gica

94 Pluralismo polanzado e 0 caso italiano

polarizado caraeterizou segundo Sartori 0 caso itashymenos ate aos anos 70 do seculo xx inclusive) 0 Movishy

Italiano (MSI) e 0 Partido Comunista Italiano (PCl) era~ duas fonna~6es anti-sistema situados respeetivamente na extrema dishyreita e extrema esquerda a Democracia Crista (DC) ocupou -- ~~nshyte 0 centro com mudan~as parciais de alian~a com os varios laicos (liberais republieanos sociais-democratas e socialistas

d d I y-ltpocao numero os partI os re evantes era supenor a cmeo como a

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