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Estudo de Avaliação da Situação Ambiental e Proposta de Medida s de Salvaguarda para a Faixa Costeira Portuguesa (Geologia Costeira) J. M. Alveirinho Dias (1993) 13 IV CAUSAS DA EROSÃO COSTEIRA São múltiplos os factores inductores de erosão costeira. Embora alguns desses factores sejam (ou possam ser considerados) naturais, a maior parte é consequência directa ou indirecta de actividades antrópicas. Os principais factores responsáveis pela erosão costeira e consequente recuo da linha de costa são: - elevação do nível do mar; - diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral; - degradação antropogénica das estruturas naturais; - obras pesadas de engenharia costeira, nomeadamente as que são implantadas para defender o litoral. IV.1. - Elevação do nível do mar A elevação do nível médio global do mar relaciona-se com a variabilidade climatológica natural da Terra e com as perturbações induzidas pelas actividades humanas. Na análise deste assunto, Portugal beneficia do facto de ser detentor de uma das mais longas séries maregráficas mundiais, referente ao marégrafo de Cascais. O estudo desta série maregráfica (Taborda & Dias, 1988; Dias & Taborda, 1989,1991) permite deduzir, para Portugal, uma elevação média do nível relativo do mar, ao longo do presente século, da ordem de 1,5 mm/ano (Fig.IV.1). No entanto, na série aludida, é possível definir dois domínios distintos : um até 1920, em que se constata tendência mal definida para ligeiro abaixamento do nível marinho; e outro desde 1920 até a actualidade, em que é nítida a tendência de subida, à taxa média de cerca de 1,7 mm/ano (Fig.IV.2). A inflexão registada por volta de 1920 poderá estar relacionada com o final da "Pequena Idade do Gelo".

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IV

CAUSAS DA EROSÃO COSTEIRA

São múltiplos os factores inductores de erosão costeira. Embora

alguns desses factores sejam (ou possam ser considerados) naturais, amaior parte é consequência directa ou indirecta de actividades antrópicas.Os principais factores responsáveis pela erosão costeira e consequenterecuo da linha de costa são:

- elevação do nível do mar;

- diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral;

- degradação antropogénica das estruturas naturais;

- obras pesadas de engenharia costeira, nomeadamente as que sãoimplantadas para defender o litoral.

IV.1. - Elevação do nível do mar

A elevação do nível médio global do mar relaciona-se com avariabilidade climatológica natural da Terra e com as perturbaçõesinduzidas pelas actividades humanas.

Na análise deste assunto, Portugal beneficia do facto de ser detentorde uma das mais longas séries maregráficas mundiais, referente aomarégrafo de Cascais. O estudo desta série maregráfica (Taborda & Dias,1988; Dias & Taborda, 1989,1991) permite deduzir, para Portugal, umaelevação média do nível relativo do mar, ao longo do presente século, da

ordem de 1,5 mm/ano (Fig.IV.1). No entanto, na série aludida, é possíveldefinir dois domínios distintos : um até 1920, em que se constata tendênciamal definida para ligeiro abaixamento do nível marinho; e outro desde 1920até a actualidade, em que é nítida a tendência de subida, à taxa média decerca de 1,7 mm/ano (Fig.IV.2). A inflexão registada por volta de 1920poderá estar relacionada com o final da "Pequena Idade do Gelo".

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Fig. IV.1 - Análise dos maregramas de Cascais e de Lagos referentes,respectivamente, aos períodos 1882-1987 e 1908-1987 revela que aelevação média do nível relativo do mar foi de 1,3 mm/ano emCascais e de 1,5 mm/ano em Lagos. Apesar dos valores da elevaçãoserem pequenos, as consequências na faixa costeira podem atingiramplitudes consideráveis.

(Dias & Taborda, 1988,1992)

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Fig. IV.2 - Na série maregráfica de Cascais é possível definir 2 domínios: um até1920 e outro desde essa data até à actualidade (em que a tendência desubida do nível relativo do mar tem sido de 1,7 mm/ano). Considerandoque existe um desfasamento de cerca de 18 anos no efeito de variaçãoda temperatura atmosférica sobre o oceano (e, consequentemente,sobre o nível do mar), e que a "Pequena Idade do Gelo" teria terminadono final do século passado, é possível que a inflexão decomportamento assinalada esteja relacionada com o final da oscilação

climática aludida.(Dias & Taborda, 1988,1992)

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Os estudos referidos permitem ainda concluir que grande parte daelevação do nível do mar verificada em Portugal no decurso do último meioséculo é, muito provavelmente, devida à expansão térmica do oceano, istoé, causada pelo aumento de volume da água do Atlântico Norte induzidopelo aumento da temperatura atmosférica (Fig.IV.3).

As consequências, no litoral, da subida gradual do nível relativo domar, dependem das características tipológicas do troço costeiroconsiderado, nomeadamente da existência de afloramentos de rochas bemconsolidadas, das características das acumulações sedimentares, daexistência de arribas, do pendor médio da praia, da presença de corposdunares, da frequência dos temporais, etc.

Estimativas recentes (Andrade, 1990; Ferreira et al, 1990) sobre apercentagem de recuo da linha de costa directamente atribuível à actualelevação do nível do mar revelam valores relativamente modestos. Assim,essa elevação poderia justificar, no máximo 15 a 30% do recuo verificadoda linha de costa em litorais arenosos. Pode afirmar-se, portanto, que namaior parte do litoral português, a actual elevação do nível do mar é umacausa directa menor no que se refere ao recuo da linha de costa.

No entanto, além das consequências directas, a elevação do nível domar tem, também, de forma indirecta, consequências no litoral. Com efeito,os estuários respondem à subida do nível do mar reduzindo as exportaçõesde materiais para a plataforma, de modo a adaptarem-se ao novo nível debase. Convertem-se, assim, preferencialmente, em locais de recepção edeposição de sedimentos (nomeadamente de materiais provenientes daderiva litoral), em vez de fornecedores, como se verifica em períodos deabaixamento do nível do mar (Swift, 1976).

A influência indirecta que acabou de se referir não está aindaquantificada. Todavia, face à amplitude da diminuição do fornecimentosedimentar causado pelas múltiplas actividades antrópicas, essa influênciaé, também, presumivelmente, pequena (embora significativa).

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Fig. IV.3 - A comparação da variação do nível médio do mar em Cascais(utilizando o método das médias móveis com uma "janela" de 5 anos)com a variação da temperatura superficial do Atlântico Norte (utilizandoo mesmo método) sugere que grande parte da elevação do nível domar em Portugal é devida à expansão térmica do oceano.

(Dias & Taborda, 1988,1992)

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IV.2. - Diminuição do Fornecimento Sedimentar

A diminuição do fornecimento de sedimentos ao litoral está, na maiorparte, directa ou indirectamente relacionada com as actividades antrópicas.À medida que a capacidade tecnológica do homem para intervir noambiente em que vive vai aumentando, vai diminuindo, simultaneamente, aquantidade de areias que, por via fluvial, alimentam a deriva litoral. Assim,constata-se que a diminuição do fornecimento sedimentar ao litoral tematingido amplitude exponencialmente crescente ao longo deste século.

São muitas as actividades humanas localizadas quer no interior, quernas zonas ribeirinhas, que contribuem para esta diminuição noabastecimento de sedimentos ao litoral. A título exemplificativo referem-se

as florestações, os aproveitamentos hidroeléctricos, as obras deregularização dos cursos de água, as explorações de inertes nos rios, naszonas estuarinas, nos campos dunares e nas praias, as dragagens, asobras portuárias e muitas das obras de engenharia costeira.Frequentemente, estas actividades são imprescindíveis para odesenvolvimento económico e social do país. Todavia, estas actividadesiniciam-se e desenvolvem-se sistematicamente sem se efectuaremavaliações dos impactes que induzem no litoral e, obviamente, sempreocupações de monitorização desses impactes.

IV.2. a) - Barragens

Um dos elementos inibitórios do transporte fluvial de areias maisrelevante é constituído pelos aproveitamentos hidroeléctricos ehidroagrícolas, isto é, pelas barragens. Na realidade, sabe-se que nodecurso da fase de construção em que, por via de regra, são movimentadosgrandes volumes de inertes e efectuadas escavações importantes, aquantidade de sedimentos em trânsito no curso fluvial a jusante das obrasaumenta de forma significativa. Todavia, na fase de exploração, o fluxofluvial perde competência transportadora ao atingir o sector montante daalbufeira, aí depositando as fracções mais grosseiras dos sedimentos(nomeadamente as areias que, mais cedo ou mais tarde, iriam abastecer o

litoral). Assim, verifica-se que as barragens constituem "filtros" de elevadaeficácia que inibem quase por completo a passagem de areias para o troçofluvial a jusante.

A simples análise da redução da área que é directamente drenadapara o mar devido à construção de barragens (Fig.IV.4), permite deduzirque a diminuição dos volumes sedimentares transportados por via fluvial é

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Fig. IV. 4- A figura representa a área total abrangida pelas bacias hidrográficasque desaguam em Portugal. Os aproveitamentos hidroeléctricos e

hidroagrícolas construídos ao longo deste século vieram reduzir deforma espectacular a área directamente drenada para o mar (1), nãopermitindo o trânsito natural de areias que iriam alimentar a deriva litoral,e isolando, sob este ponto de vista, as áreas mais sedimentogenéticas(2). Esta deficiência de alimentação da deriva litoral em areias é umadas causas principais da actual erosão costeira.

(Dias ,1990)

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extremamente sigificativa. Devido a esses aproveitamentos hidroeléctricose hidroagrícolas, a área aludida reduziu-se, ao longo deste século, em maisde 85%. Esta área, cuja drenagem directa para o mar foi inibida, é a queapresenta relêvo mais montanhoso. A área não afectada por barragenscorresponde, em geral, a planícies aluviais, como acontece no rio Tejo(Fig.IV.5). Considerando que as descargas das barragens, nomeadamenteno decurso das cheias, não consegue remobilizar de forma significativa aspartículas arenosas (depositadas preferencialmente na parte montante dasalbufeiras), pode concluir-se que os aproveitamentos hidroeléctricos ehidroagrícolas das bacias hidrográficas que desaguam em Portugal sãoresponsáveis pela retenção de mais de 80% dos volumes de areias queeram transportadas pelos rios antes da construção dos aproveitamentos

aludidos.Um outro efeito de grande relevância induzido pelas barragens é o da

eliminação ou amortização das cheias. Sabe-se que a maior parte dasareias são exportadas da zona estuarina para a zona litoral e plataformainterna no decurso das cheias. Quanto maior é a cheia, maior é o volumede sedimentos (nomeadamente de areias) exportadas para o litoral.Eliminando ou diminuindo a ocorrência das cheias e dos picos de cheia, asbarragens vieram inibir ou minimizar a exportação das areia para aplataforma e, consequentemente, a alimentação do litoral.

A este propósito, o mapa esquemático da Fig.IV.6, onde se

representam as barragens existentes nos rios que afluem ao litoral doMinho, é elucidativo. Só em períodos excepcionais de grande pluviosidadeconcentrada e de descoordenação entre a gestão das albufeirasespanholas e portuguesas existe a possibilidade da capacidade dearmazenamento ser excedida e ocorrerem cheias.

Assim, pode considerar-se que as barragens constituem um dosfactores inibitórios de alimentação sedimentar ao litoral com maiorimportância. Existe correlação positiva entre a construção das barragens(que apenas atingiu amplitude relevante neste século), e a falta dealimentação em areias ao litoral, com a consequente erosão costeira e

recuo da linha de costa.

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Fig. IV.5 - Perfis longitudinais dos rios Douro e Tejo (segundo Alavedra & Girão,reproduzido em Ribeiro et al. (1988), com indicação da localização dasbarragens situadas mais a jusante. É evidente que praticamente todo otrânsito de areias proveniente das zonas mais acidentadas é retido pelasbarragens, e que o troço dos rios drenado directamente para o litoral tem

potencial sedimentogenético muito reduzido.(Dias, 1990)

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Fig. IV. 6. - Representação esquemática das redes hidrográficas que desaguam nolitoral do Minho, com indicação (triângulos) das barragens aí existentes.Verifique-se que as areias produzidas nas partes montanhosas não têmpraticamente possibilidade de atingir o litoral, retidas que são pelascascatas de barragens.

(D.-G. R.A.H., 1986)

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IV.2.b) - Dragagens

O assoreamento das zonas estuarinas constitui fenómeno natural,embora amplificado por inúmeras actividades antrópicas. As mais antigasdestas actividades humanas, directa ou indirectamente inductoras deassoreamento, remontam aos períodos pré-históricos em que os incêndiosprovocados em florestas (nomeadamente para criação de campos depastoreio e/ou de agricultura) tiveram como consequência o aumento dovolume sedimentar transportado fluvialmente e o assoreamento progressivode áreas estuarinas.

Ao longo da história, as actividades antrópicas directa ouindirectamente causadoras de assoreamento sucederam-se de forma

sistemática e com amplitude crescente. A este propósito é de referir, a títulomeramente exemplificativo, que a drástica redução da áreas originais daslagoas de Óbidos, de Alfeizerão (actualmente restringida à pequena"concha" de S. Martinho), e de Pederneira (hoje totalmente colmatada), seficou a dever, provavelmente na maior parte, às actividades antrópicas,nomeadamente às práticas agrícolas (Fig. IV.7 e IV.8).

Até ao final do século passado, o intenso assoreamento estuarino eraperiodicamente amortizado pela ocorrência de cheias, que exportavam parao exterior do estuário (plataforma e litoral) grande parte dos sedimentos aíacumulados. Como se referiu, as barragens vieram inibir o funcionamentodeste processo natural de depuração do estuário e de alimentação dolitoral.

Por outro lado, os desenvolvimentos portuários, bem como oprogressivo aumento do calado dos navios, vieram aumentar as exigênciasno que se refere à estabilidade dos canais de navegação e à suaprofundidade. Consequentemente, as obras de dragagem para abertura,manutenção ou aprofundamento desses canais têm vindo,progressivamente, a atingir maior amplitude.

A este propósito, e a título apenas exemplificativo, refere-se que, sóna parte jusante do rio Douro, o volume de sedimentos dragados entre

1982 e 1986 foi de 3x106m3 (vidé Fig. IV.9), isto é, um quantitativo poucoinferior ao estimado para o volume de sedimentos interessados na derivalitoral, o qual se estima ser da ordem de 1x106m3/ano. Este caso do Douroé apenas exemplificativo das amplitudes de que, actualmente, se revestem,com frequência, as operações de dragagem. Vários outros exemplos

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Fig. IV. 7. - Há 18000 anos as zonas onde hoje se localizam as lagoas de Óbidose de S. Martinho correspondiam a troços fluviais. Quando o nível do maratingiu aproximadamente a cota actual constituíram-se as Lagoas deÓbidos, de Alfeizerão e da Pederneira. Actualmente, esta última estátotalmente colmatada, a de Alfeizerão está reduzida à pequena conchade S. Martinho e a de Óbidos ocupa uma área muito inferior à original.

(Dias, 1990)

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Fig. IV. 8. - Das três lagoas que existiam há 2500 anos a Sul da Nazaré,actualmente só existem duas e com áreas extremamente reduzidasrelativamente às dimensões originais. O intenso assoreamentoresponsável por estas diminuições de área deve-se a causas naturaise, principalmente no decurso do último milénio, às actividades antrópicas(nomeadamente agricultura) nas bacias drenantes.

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Fig. IV. 9. - Os volumes dragados na parte jusante do rio Douro têm atingidoquantitativos muito importantes na última década. As dragagens nostroços vestibulares dos rios são parcialmente responsáveis pelos déficesde abastecimento sedimentar ao litoral e, consequentemente, pelo recuo

da linha de costa.

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poderiam ser referidos, nomeadamente os que dizem respeito aos portosde Aveiro, da Figueira da Foz, de Lisboa, de Setúbal, de Faro, etc.

As zonas dragadas ficam em desequilíbrio dinâmico, tendendo a serassoreadas de novo a curto ou médio prazo, o que obriga a novasoperações de dragagem. Em geral, quando as zonas dragadas selocalizam na parte externa do estuário, acabam por ser colmatadas comareias provenientes da deriva litoral. Assim, estas dragagens não sódiminuem ou inibem a transferência de areias para o litoral, como retiram àderiva litoral parte dos volumes nela interessados. Por outras palavras,frequentemente as operações de dragagem não só são responsáveis pelainibição do abastecimento sedimentar litoral, como ainda retiram do trânsitolitoral parte das areias que aí transitam.

Geralmente, quando se trata de areias "limpas", como é frequenteacontecer, estes produtos dragados (em vez de, como seria natural elógico, serem utilizados em operações de realimentação do litoral quereconstituiriam a deriva litoral) são utilizados na indústria da construção.

IV.2.c) - Extracção de Inertes.

A quantidade de sedimentos subtraídos ao litoral pelas actividadeshumanas é, na realidade, muito grande. No que se refere a extracções deinertes efectuadas nas zonas fluviais, estuarinas e costeiras os númerosconhecidos são reveladores e alarmantes: só no período 1973/76 as

explorações autorizadas de areias nas zonas de Peniche e da Nazarérondaram, respectivamente, 3,7x106m3 e 8,4x106m3 (Paixão 1980/81). Nacosta a Norte de Aveiro (S. Jacinto) extrairam-se, só em 1980, 4x106m3 deareias (Oliveira et al., 1982), havendo razões para pensar que o somatóriodas extracções legais e ilegais tem atingido volumes próximos de1x106m3/ano nos últimos anos. Na parte externa do porto de Leixões ovolume de sedimentos dragados atingia já, há mais de duas décadas, cercade 1,5x106m3/ ano (Abecassis et al. , 1962). A extracção de areias ecascalhos, só no troço inferior do rio Douro, incluindo o estuário, atingia, noinício desta década, valores da ordem de 1,5x106m3/ ano (Oliveira et al.,

1982). A inventariação compreensiva das acções de exploração de inertesverificadas nos troços fluviais, estuarinos e costeiros portugueses nodecurso das últimas décadas está ainda por efectuar, e dificilmente seráefectuada se se pretender contemplar tanto as explorações legais como asilegais (por vezes, presumivelmente, tão ou mais importantes que aslegais).

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O conjunto acumulado das acções que têm vindo a ser referidas justificaria, só por sí, um forte comportamento transgressivo do litoral. O rioDouro, por exemplo, que em regime natural debitaria cerca de1,8x106m3/ano de carga sólida transportada junto ao fundo, teve esse valorreduzido para cerca de 0,25x106m3/ano, após conclusão de todas as obrasprevistas (Oliveira et al., 1982).

IV.3. - Destruição das Estruturas Naturais

A degradação antropogénica das formas costeiras naturais afecta olitoral já debilitado pela elevação do nível do mar e pela diminuição doabastecimento de sedimentos. Estas estruturas constituem as melhoresdefesas contra a aceleração do recuo da linha de costa e a sua destruiçãoimplica, por via de regra, taxas de recuo mais elevadas.

Entre as muitas acções degradativas das estruturas naturais podemreferir-se, a título meramente exemplificativo: o pisoteio das dunas (que,destruindo o coberto vegetal, propicia o aparecimento de cortes eólicos efacilita os galgamentos oceânicos); o aumento da escorrência devido àsregas (a qual provoca, geralmente, erosão muito forte e intensifica osfenómenos de abarrancamento); as estradas improvisadas e a construçãode edifícios no topo das arribas (o que aumenta as cargas exercidas einduz vibrações conducentes a quedas de blocos e movimentos de massa);e as explorações de areias (que destroiem por completo as formas naturais

e que, frequentemente, deixam zonas deprimidas que são inundadas nodecurso de temporais e conduzem à intensificação da erosão, propiciandorecuos locais da linha de costa muito elevados provocados, por vezes, poruma única tempestade). Estas e muitas outras acções degradativas dasformas naturais subtraiem ao litoral uma capacidade intrínseca de defesaque lhe era conferida por tais formas.

IV.4. - Obras Pesadas de Engenharia Costeira.

As obras de engenharia costeira têm, em geral, consequênciasnefastas para o troço litoral em que são implantadas. Efectivamente, bastao facto de se tratar de estruturas estáticas, rígidas, inseridas num meio queé profundamente dinâmico (o litoral), para causar perturbações profundasnesse meio. Acresce, ainda, que tais estruturas têm, regra geral, comoobjectivo tornar estático (ou, pelo menos, o menos dinâmico possível )partes importantes do litoral.

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Fig. IV. 10. - O pisoteio das dunas destroi o coberto vegetal, deixando as areias soltas paraserem actuadas pelo vento. Constituem-se, assim, "cortes eólicos" como o daimagem existente a Sul da Vagueira. Como estas zonas deprimidas constituempassagens mais fáceis para a praia são, em geral, intensamente utilizadas pelosutentes dessa praia. Assim, os cortes eólicos vão-se progressivementeaprofundando até cotas que, por ocasião de temporais, são facilmente galgadaspelo mar.

(foto A. Dias - 6.AGO.1989)

Fig. IV. 11 - O grande corte nas dunas que se vê nesta imagem foi essencialmenteprovocado para construção de um esporão a Sul de Mira, não tendo sido sujeito aquaisquer obras de reconstrução e recuperação paisagística. Depressões comoesta são facilmente exploradas pelo mar durante os temporais, aí podendoocorrer grandes galgamentos oceânicos (com consequente alargamento do corte,inundação e salinização das terras interiores, grandes movimentações de areias,etc.).

(foto A. Dias - 4.MAR.1988)

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Fig. IV. 12. - Frequentemente, oscorpos dunares primitivos do litoralportugês encontram-se bastantedegradados, devido,

principalmente, a acçõesantrópicas. A fotografia aérea aquirepresentada da zona da Vagueiraé disso um bom exemplo. Notem-se os cortes e leques degalgamento oceânico e osnumerosos cortes eólicos quepropiciarão, no futuro, outrosgalgamentos oceânicos.

(foto A. Dias/A.P.G. - 13.MAR.1990)

Fig. IV. 13 - Fotografia aérea de parte da Península do Ancão, no Algarve. Notem-se os inúmeros cortes eólicos (provocados pela passagem dosveraneantes) e vários galgamentos oceânicos com variadas dimensões.

(foto A. Dias - 20.SET.1984)

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Fig. IV. 14. - Galgamento oceânico ocorrido junto a Vila Praia de Âncora em 1990. O lequede galgamento interrompeu, por completo, o curso do rio Âncora, provocandoalagamento das terras interiores. (foto A. Dias/A.P.G. - 14.MAR.1990)

Fig. IV. 15 - Após o galgamento oceânico ocorrido em Vila Praia de Âncora foi necessárioproceder à dragagem do curso do rio. As obras efectuadas são questionáveis. Comefeito, é nítido que o meandro do rio atinge uma zona que deveria ser ocupada pordunas de defesa, e que as "dunas" reconstruídas estão fora do alinhamento da dunaprimária, deixando largas depressões entre as "dunas" reconstruídas e as dunasnaturais que, em próximo temporal, serão certamente exploradas pelo mar para ainstalação de novos galgamentos oceânicos. (foto A. Dias - 26.FEV.1991)

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IV.4.a) - Molhes e Quebra-Mares.

Há que reconhecer que os molhes e quebra-mares dos portos sãoimprescindíveis para o desenvolvimento económico e social do país. Têm,fundamentalmente, duas funções: modificar as condições oceanográficaslocais (por forma a tornar mais segura a entrada do porto e a própria zonaportuária); e modificar as condições da dinâmica sedimentar (por forma afixar canais de navegação e minimizar o assoreamento).

Como é evidente, tais estruturas perturbam profundamente adinâmica intrínseca do litoral, entre outras razões porque: a) modificam, ascondições locais da deriva litoral, induzindo fenómenos de difracção,refracção e reflexão da agitação marítima totalmente estranhos ao

funcionamento natural do sistema; b) frequentemente, divergem para olargo as correntes de deriva litoral, o que tem como consequência adeposição de areias a profundidades em que dificilmente sãoremobilizadas, o que se traduz numa diminuição da deriva litoral nessetroço costeiro; c) interrompem, quase por completo, a deriva litoral (pelomenos até colmatação completa do molhe), o que tem consequênciasprofundamente nefastas para o litoral a jusante dos molhes (Fig. IV.16).

Aponta-se, a título exemplificativo, o caso do Porto de Aveiro onde,após a construção dos molhes nos anos de 1945/50, se estimava umaacumulação de areias, a Norte do molhe norte, de cerca de 8x105m3/ano(Abecassis et al ., 1962). No litoral a sul dos molhes, desprovido dealimentação, verificou-se forte incremento das taxas de recuo da linha decosta. Segundo Oliveira et al (1982) registaram-se, neste troço litoral quesofre os impactes negativos dos molhes, recuos médios anuais de 8m/ano,com valores locais superiores a 10m/ano, situação esta que conduziu àconstrução de um campo de esporões na Costa Nova, os quais induziram,por sua vez, nos dois anos seguintes à sua construção, recuos da ordemdos 50 m.

IV.4.b) - Obras pesadas de protecção costeira.

As obras pesadas de engenharia costeira que são implantadas para

obviar ao recuo da linha de costa (que, como se referiu, é induzido pelaelevação do nível do mar, pela diminuição do abastecimento sedimentar,pelas acções degradativas antrópicas do litoral e pelos molhes dos portos)funcionam, em geral, como indutores suplementares de intensa erosãocosteira. Consequentemente, são também grandes responsáveis pelorecuo acelerado da linha de costa.

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Fig. IV.16 - Barra de Faro. Esta fotografia oblíqua (FAP, 13 de Setembro de 1984)mostra como o molhe ocidental da barra construido na extremidade E da ilhada Barreta interrompeu a deriva litoral (cuja resultante é para nascente),induzindo uma acreção de 300 m. A linha a tracejado identificada com "A"marca a posição da linha de costa em 1951. Concomitantemente com aacreção aludida na ilha da Barreta, verificou-se erosão na parte ocidental dailha da Culatra. Note-se o grande desfasamento lateral entre a linha de costana ilha da Barreta e na ilha da Culatra, o qual foi induzido pelos molhes.

(Pilkey et al., 1989)

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Apesar do nome por que são conhecidas, as obras de protecçãocosteira não têm como objectivo, regra geral, proteger o litoral.Normalmente, tais obras são construídas para proteger a propriedade,pública ou privada. São, fundamentalmente, obras de cariz "curativo"realizadas, em geral, com carácter de urgência, isto é, que pretendemeliminar ou mitigar localmente uma "doença": a erosão costeira que ameaçaou começa a danificar propriedades mal localizadas.

Fundamentalmente, as obras designadas como de "protecçãocosteira" são de três tipos: obras transversais (como os esporões), obraslongilitorais aderentes (como os paredões) e obras destacadas (comoalguns quebra-mares).

- Estruturas TransversaisAs obras construídas transversalmente à linha de costa, tipo esporão,

interrompem o trânsito litoral de areias. Estas acumulam-se contra oesporão, no lado montante (relativamente ao sentido da deriva litoral),dependendo essa acumulação de factores vários, nomeadamente docomprimento e da altura da estrutura, e das características da deriva litoral.Devido a esta retenção de areias verifica-se, por via de regra, propagação eincremento da erosão na zona a jusante da obra, fazendo-se sentirsignificativamente estes efeitos, por vezes, a dezenas de quilómetros dolocal onde a estrutura foi implantada. Como consequência, verifica-setendência para estas estruturas se multiplicarem, isto é, para seconstruirem campos de esporões que, progressivamente, vão afectandomaiores extensões, só terminando quando todo esse sector do litoralestiver intervencionado (Fig.IV.17). Existem em Portugal, alguns bonsexemplos do que se afirmou. Entre outros, apontam-se os campos deesporões de Ofir, de Espinho, da Caparica e de Quarteira.

Quando os esporões ficam colmatados, isto é, quando a parte amontante fica completamente preenchida com areia, os volumesinteressados na deriva litoral no sector jusante não são, geralmenterestabelecidos, pois que, devido à forma da nova linha de costa impostapelo esporão, as correntes de deriva são deflectidas para o largo,

verificando-se deposição de areias a profundidades tais que inibem a suaremobilização frequente.

A implantação de um campo de esporões importa em muitosmilhares de contos e, contabilizando as despesas associadas à suamanutenção, poder-se-á falar mesmo em quantitativos da ordem dosmilhões de contos. A análise da relação entre o valor das propriedades

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Fig. IV. 17 - A construção de esporões não constitui uma solução verdadeiramente eficazno que se refere à protecção da faixa costeira a médio e longo prazo. Estasestruturas transferem os problemas de erosão costeira para a zona a jusante, emgeral de forma agravada. Esta figura representa esquematicamente a história de umcampo de esporões. (Dias, 1988, adaptado de Pilkey et al. 1980)

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protegidas e o custo dos esporões construídos para as proteger aindanão foi efectuada em Portugal. Todavia, alguns casos óbvios há em que oscustos destas protecções ultrapassam em muito o valor real do que sepretendia proteger.

- Estruturas Longilitorais.

As consequências negativas das estruturas longilitorais (tipo paredão)não são tão óbvias como as dos esporões. No entanto, frequentemente,são de igual modo nefastas. Quando os paredões são construídos emtroços do litoral cujo recuo está a afectar campos dunares, essas estruturasinibem, por si próprias, uma importante fonte de areias que possibilitaria,em maior ou menor grau, a regeneração (ou, mesmo, saturação) da deriva

litoral, o que evitaria (ou minimizaria) a erosão costeira mais a juzante dazona intervencionada.

Por outro lado, sem a reserva natural de areias que era constituídapelas dunas, a praia frontal ao paredão torna-se menos larga e menosdissipativa, principalmente no decurso de temporais. As ondas tendem aatacar a costa com mais energia e desenvolvem-se mesmo correntes deretorno com elevado poder remobilizador que acabam por culminar naerosão do litoral adjacente a uma ou a ambas as extremidades do paredão.O local fica, então, em posição protuberante, induzindo convergência daondulação e, consequentemente, recebendo maior energia da agitaçãomarítima, a qual acaba por ser dissipada através de maior remobilização etransporte de areia, isto é, maior erosão. Frequentemente o paredãocomeça a ficar "descalço" e em perigo e, posteriormente, acaba por ceder(Fig.IV.18).

Nestas condições, as estruturas longilitorais podem funcionar,parcialmente, como esporões. Para obviar à erosão nos flancos e naprópria base das estruturas são, então, geralmente, construídos esporões.Essa é uma das razões pelas quais a associação paredão-esporões é tãofrequente, disso existindo numerosos exemplos de Norte a Sul do litoralportuguês.

- Obras de Protecção Destacadas.As obras de protecção destacadas (tipo quebra-mares) não têm sido

intensivamente utilizadas em Portugal. A ideia geral do seu funcionamentoresulta de que, sendo o transporte litoral uma consequência da actuaçãodas ondas e das correntes, estas estruturas artificiais conduzem àformação de um tômbolo que irá proteger eficazmente as propriedadesexistentes no litoral que fica na dependência do quebra-mar.

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Fig. IV. 18. - Saga de um Paredão. (Dias, 1988, adaptado de Pilkey et al. 1980)

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Como estas obras são geralmente implantadas a profundidadesconsideravelmente maiores do que as atingidas pelas extremidades dosesporões, e devido ao tômbolo que geram, constituem provavelmente oprocesso mais eficaz de interceptar o transporte litoral. Assim, os quebra-mares destacados funcionam simultaneamente como estruturas longilitoraise transversais. Consequentemente, podem ser extraordinariamenteagressivas para o litoral, pois induzem acumulativamente os efeitosnefastos aludidos quando se referiram quer as estruturas transversais, queras longilitorais.

IV.5. - As causas múltiplas da erosão costeira

Do exposto, facilmente se conclui que a erosão costeira que

actualmente se faz sentir no litoral português tem causas múltiplas. Emboraalgumas dessas causas sejam naturais, as mais importantes advêm deactividades antrópicas. A intensa ocupação do litoral tem vindo a serefectuada de forma que não viabiliza um desenvolvimento sustentável dafaixa costeira. Assim, embora seja necessário intervir a diferentes níveis,torna-se imprescindível e imperioso proceder, em grande parte dos casos,a um reordenamento da faixa litoral por forma a propiciar umdesenvolvimento racional e sustentável dessa importante zona do territórioportuguês.