122
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO HOSPITAL DE REABILITAÇÃO DE ANOMALIAS CRANIOFACIAIS Função Mastigatória: Proposta de protocolo de avaliação clínica MELINA EVANGELISTA WHITAKER Dissertação apresentada ao Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de MESTRE em Ciências da Reabilitação. Área de Concentração: Distúrbios da Comunicação Humana. BAURU / 2005

4funcao mastigatoria

Embed Size (px)

DESCRIPTION

funcion masticatoria

Citation preview

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO HOSPITAL DE REABILITAO DE ANOMALIAS CRANIOFACIAIS

    Funo Mastigatria: Proposta de protocolo de avaliao clnica

    MELINA EVANGELISTA WHITAKER

    Dissertao apresentada ao

    Hospital de Reabilitao de Anomalias

    Craniofaciais da Universidade de So

    Paulo para a obteno do ttulo de

    MESTRE em Cincias da Reabilitao.

    rea de Concentrao:

    Distrbios da Comunicao Humana.

    BAURU / 2005

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO HOSPITAL DE REABILITAO DE ANOMALIAS CRANIOFACIAIS

    Funo Mastigatria: Proposta de protocolo de avaliao clnica

    MELINA EVANGELISTA WHITAKER

    Orientador: Prof. Dr. Alceu Srgio Trindade Jnior

    Dissertao apresentada ao

    Hospital de Reabilitao de Anomalias

    Craniofaciais da Universidade de So

    Paulo para a obteno do ttulo de

    MESTRE em Cincias da Reabilitao.

    rea de Concentrao:

    Distrbios da Comunicao Humana.

    BAURU / 2005

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO HOSPITAL DE REABILITAO DE ANOMALIAS CRANIOFACIAIS

    Rua Slvio Marchione, 3-20

    Caixa Postal: 1501

    Cep: 17012-900 Bauru SP Brasil

    Telefone: (14) 3235-8000

    Prof. Dr. Adolpho Jos Melfi Reitor da USP

    Prof. Dr. Jos Alberto de Souza Freitas Superintendente do HRAC/USP

    Autorizo, exclusivamente, para fins acadmicos e cientficos, a

    reproduo total ou parcial desta dissertao.

    ______________________________

    Melina Evangelista Whitaker

    Bauru, 05 de maio de 2005.

    WHITAKER, MELINA EVANGELISTA

    W58f Funo mastigatria: proposta de protocolo de avaliao clnica./ Melina Evangelista Whitaker. Bauru, 2005.

    115f.: il.; 30cm. Dissertao (Mestrado em Cincias da Reabilitao rea de

    Concentrao: Distrbios da Comunicao Humana) HRAC/USP Orientador: Prof. Dr. Alceu Srgio Trindade Jnior

    Descritores: 1. Mastigao 2. Sistema estomatogntico 3. Avaliao

  • Melina Evangelista Whitaker

    26 de junho de 1981 Bauru-SP

    Nascimento.

    Formao Acadmica 1999-2002 Graduao em Fonoaudiologia Faculdade de

    Fonoaudiologia - Universidade de So Paulo, Bauru/SP

    2003-2004 2003-2004 2003 Atuao Profissional 2004

    Curso de Especializao em Linguagem Faculdade de Odontologia de Bauru Universidade de So Paulo, Bauru-SP Curso de Aperfeioamento em Fonoaudiologia aplicada Clnica Odontolgica Faculdade de Odontologia de Bauru Universidade de So Paulo, Bauru-SP Curso de Ps-Graduao em Cincias da Reabilitao, rea de concentrao: Distrbios da Comunicao, nvel Mestrado Hospital de Reabilitao de Anomalias Craniofaciais Universidade de So Paulo, Bauru-SP Fonoaudiloga do Projeto Flrida do Hospital de Reabilitao de Anomalias Craniofaciais Universidade de So Paulo, Bauru-SP

  • Dedicatrias

  • Dedicatrias

    Aos meus pais, Pelo incentivo, partilha e pacincia de sempre.

    Exemplos de amor, compreenso e ternura. Alicerces dos meus valores, razo da minha persistncia e prazer do meu

    viver...

    A minha querida irm, Fiel companheira nos momentos felizes e difceis, lembrando-me quase sempre

    de que preciso levar a vida numa boa! Pelo sorriso sincero de cada dia e pelos pequenos ensinamentos de imenso impacto...

  • Agradecimentos especiais

  • Agradecimentos especiais...

    Deus pela fora interior que me guia, me conforta e me aquece a alma todos os dias. Agradeo-lhe o dom da vida, da sabedoria e da f. Que eu possa enxergar com seus olhos, o mundo que me cerca...

    querida Prof a Ktia Flores Genaro, que desde os primeiros anos da graduao despertou em mim, grande apreo e respeito. Pelo incentivo pesquisa, caminho sem volta para aqueles que se apaixonam pela investigao cientfica. Pelo imenso e importante auxlio neste trabalho, onde no mediu esforos em passar longos finais-de-semana ao meu lado, lapidando minhas palavras e conceitos... Pela amizade, cada vez mais prxima, e pelo exemplo de profissional amante da Fonoaudiologia.

    Ao Prof o Alceu Trindade, homem de sabedoria mpar, o qual sempre

    esteve disponvel em dividir seus conhecimentos. Com sua praticidade, fez com que o menor espao de tempo fosse o mais valioso momento de aprendizagem. Obrigada pelo apoio e pela confiana.

    Prof a Cludia Maria de Felcio, que apesar de tanto afazeres, sempre

    esteve pronta em contribuir tanto com humildes trabalhos cientficos, como este, como a favor de uma cincia toda: a Fonoaudiologia. Obrigada pelas sugestes no exame de Qualificao e disponibilidade.

    Aos Fonoaudilogos que contriburam para este trabalho, respondendo

    prontamente ao questionrio enviado, ampliando meus horizontes e confiando a mim, a importante misso de acrescentar algo mais Fonoaudiologia.

    Ao G, pela pacincia, apoio e incentivo. Que ao seu lado eu possa crescer ainda mais como companheira e amiga, enfim, que eu consiga crescer como pessoa, a seu exemplo.

  • Agradecimentos

  • Agradecimentos Prof aInge, pelas pertinentes consideraes no Exame de Qualificao e pela forma como conduz Ps-Graduao do Centrinho, tornando o Hospital nossa segunda casa, por deveres profissionais e por vnculos pessoais. s grandes amigas do Laboratrio de Fisiologia: Renatinha, Ana Paula, Ana Cludia e Robertinha pela agradvel convivncia e precioso aprendizado. Pelo ambiente acolhedor que deixou muitas saudades... s antigas alunas do curso de Especializao em Motricidade Oral do Hrac: Tuca e J, e s atuais alunas: Millena, Paola, Roberta, Sylvia, Tatiane e Vivian, pela amizade e momentos que deixaram deliciosas lembranas... s amigas da Ps-Graduao: Carolina, Luciane, Vera, Adriana, Ester, Marileda e Trixy, por terem vocs por perto sempre que precisei... Aos funcionrios da Secretaria de Ps-Graduao: Andra, Zez, Rogrio, Saulo e Bel, pela disponibilidade, prontido e auxlio de todas as horas. Vocs so nota dez! Aos novos amigos do Projeto Flrida, da Prtese de Palato e do Laboratrio de Fontica: Prof a Maria Ins, Jeniffer, Ldia, Josiane, rika, Simone, Andra, Teresa, Homero, Douglas, Luciano, Simone Bastazini, Aveline, Juliana e Yara pelo acolhimento, compreenso e novos ensinamentos. Ao pessoal da Gentica: Dr. Richieri, Dra. Dani, Dra. Mariza, Giselda, Melissa e Cida, pelos intervalos rpidos de bom humor .

  • Sumrio

    RESUMO...............................................................................................................................xi

    ABSTRACT..........................................................................................................................xii

    1. Introduo.......................................................................................................................1

    2. Material e Mtodo......................................................................................................24

    3. Resultados.....................................................................................................................29

    4. Discusso.......................................................................................................................63

    5. Consideraes Finais..................................................................................................83

    Referncias Bibliogrficas..............................................................................................85

    ANEXOS............................................................................................................................104

  • Resumo

    WHITAKER, ME. Funo Mastigatria: proposta de protocolo de avaliao clnica [Dissertao].

    Bauru: Hospital de Reabilitao de Anomalias Craniofaciais, Universidade de So Paulo; 2005.

    Objetivo: Tendo em vista as divergncias de informaes quanto avaliao da funo

    mastigatria quanto aos aspectos investigados e a forma de avaliao dos mesmos, bem como a

    necessidade de padronizao para fins de comparao, sentiu-se a necessidade de se elaborar

    uma proposta de avaliao clnica da funo mastigatria.

    Material e Mtodo: Foi elaborado um questionrio e encaminhado via endereo eletrnico para

    fonoaudilogos de vrios locais do pas. Este continha questes sobre a formao e atuao dos

    profissionais e informaes sobre os aspectos investigados na histria clnica da funo

    mastigatria e na avaliao desta funo quanto aos aspectos morfofuncionais investigados e

    forma de avaliao da mesma, alm da verificao de outras funes orais. Foram respondidos e

    analisados 70 questionrios, utilizados na elaborao da proposta de avaliao, alm da anlise

    da literatura e da experincia dos fonoaudilogos do Laboratrio de Fisiologia do HRAC/USP.

    Resultados: A partir das anlises realizadas, um protocolo de avaliao da funo mastigatria

    foi proposto, contemplando os seguintes aspectos: alimentos testados, quantidade do mesmo,

    preenso, movimento mandibular, lado inicial da funo, tipo mastigatrio, participao da

    musculatura perioral, postura dos lbios, presena de tremor, contrao de masseteres,

    coordenao dos movimentos, escape anterior de alimento, amassamento com a lngua,

    movimento de cabea, local de triturao do alimento, respirao durante a mastigao, rudos

    nas ATMs, tempo mastigatrio, nmero de ciclos mastigatrios, formao do bolo, presena de

    tosse ou engasgo e dor durante a mastigao, alm do teste de eficincia mastigatria.

    Consideraes Finais: Este trabalho, que prope um protocolo para a avaliao clnica da

    mastigao, ir contribuir com a Fonoaudiologia, de modo a trazer critrios para a avaliao

    desta funo.

    Descritores: mastigao, sistema estomatogntico, sistema mastigatrio, avaliao

  • Abstract

    WHITAKER, ME. Masticatory Function: a proposal of clinical evaluation [Dissertao]. Bauru:

    Hospital de Reabilitao de Anomalias Craniofaciais, Universidade de So Paulo; 2005.

    Objective: According to the divergences of informations in the evaluation of the masticatory

    function as for the investigated aspects and the form of evaluation of them, as well as the

    need of standardization for comparison of the patients' masticatory function; it was necessary

    to elaborate a proposal of clinical evaluation of the masticatory function.

    Material and Method: A questionnaire was elaborated and sent by e-mail for some Speech

    Pathologists from several places from Brazil. This questionnaire had some questions about the

    formation and the professionals' performance and informations about the aspects that were

    investigated in the clinical history of the masticatory function and in the evaluation of this

    function as for the morphologic and functional aspects that were investigated and the form of

    evaluation of the masticatory function, besides the verification of other oral functions.

    Seventy questionnaires were answered and analyzed and they were used for the elaboration of

    the proposal of evaluation besides the analysis of the literature and experience of the Speech

    Pathologists of the Laboratory of Physiology at HRAC/USP.

    Results: From the analyses it was proposed the elaboration of a protocol of evaluation of the

    masticatory function, contemplating the following aspects: the test foods, the amount of the

    test foods, the teeth that bite the food, the mandibular movement, the initial side of the

    masticatory function, the masticatory laterality, the participation of the perioral muscles, the

    labial posture, if exists tremor, the contraction of muscles masseteres, the coordination of the

    mandibular movements, if there is a leak of food from the mouth, the trituration of the food

    with the tongue, the head's movement, the place of the trituration of the food, the breathing

    during the mastication, the noises in ATMs, the duration of masticatory function, the number

    of masticatory cycles, the formation of the bolus, if there is cough or choking and pain during

    the mastication, besides the test of masticatory efficiency.

    Final considerations: It was verified the lack of standardization of the evaluation of the

    masticatory function related to the aspects to be investigated, as well as the form of

    evaluation of them. For this reason, this work proposes a protocol for the clinical evaluation of

    the mastication and it will contribute with the Speech Pathology to bring criteria for the

    evaluation of the masticatory function.

    Keywords: masticatory function, masticatory system, stomatognathic system, evaluation.

  • Introduo

  • Introduo 2

    1. Introduo

    O fonoaudilogo um profissional responsvel por: promoo da sade,

    avaliao e diagnstico, orientao, terapia (habilitao/reabilitao),

    monitoramento e aperfeioamento de aspectos fonoaudiolgicos envolvidos na

    funo auditiva perifrica e central, na funo vestibular, linguagem oral e escrita,

    na articulao da fala, na voz, na fluncia, no sistema miofuncional orofacial e

    cervical e na deglutio (ANDRADE, 1996; SINGH e KENT, 2000; CMO, 2002).

    No que diz respeito atuao deste profissional no sistema miofuncional

    orofacial e cervical, a Fonoaudiologia enfoca a rea de Motricidade Oral. Desta

    forma, o Fonoaudilogo que atua na rea de Motricidade Oral est voltado para o

    estudo/pesquisa, preveno, avaliao, diagnstico, desenvolvimento funcional,

    habilitao, aperfeioamento e reabilitao dos aspectos estruturais e funcionais

    das regies orofacial e cervical (CMO, 2002).

    Entre as funes do sistema miofuncional orofacial encontra-se a

    mastigao. O fonoaudilogo um dos profissionais aptos a diagnosticar as

    disfunes mastigatrias, bem como trat-las. Para que seja feito o diagnstico

    preciso e correto da alterao necessrio que a avaliao fonoaudiolgica da

    funo seja adequada. Visto a dificuldade de se encontrar instrumentos clnicos

    padronizados para tal, surgiu a proposta deste trabalho.

    Sabe-se que a mastigao um ato de morder e triturar o alimento, sendo

    considerada uma das funes orais, a qual constitui um ato fisiolgico e complexo,

    que envolve atividades neuromusculares e digestivas. Com relao a esta ultima

    funo, destaca-se a ao da amilase salivar e da triturao dos alimentos,

    facilitando a deglutio e a ao das enzimas digestivas do estmago e,

    principalmente, do pncreas. O sistema mastigatrio pode ser considerado como

    uma unidade funcional constituda pelos seguintes componentes: dentio,

    estruturas periodontais de suporte maxilar e mandibular, articulao

  • Introduo 3

    temporomandibular (ATM), musculatura mastigatria e de lbios, bochechas e

    lngua, tecidos moles que revestem essas estruturas, assim como a inervao e

    vascularizao que suprem esses componentes (MARCHESAN, 1989; FELCIO,

    1994; BRADLEY, 1995; BARBOSA e SCHNONBERGER, 1996; MEURER et al., 1998;

    FELCIO, 1999, CATTONI, 2004; FELCIO, 2004).

    A mastigao uma funo estomatogntica aprendida que depende de vias

    neurais e conexes sinpticas estabelecidas e comandadas pelo crtex cerebral.

    Assim, aparece posteriormente devido ao aumento do espao intra-oral, a irrupo

    dos dentes, a maturao de todo arcabouo neuromuscular e o processo, em curso,

    de remodelao das ATMs (AKEEL et al., 1992; FELCIO, 1999; TANIGUTE, 1998;

    GANZLEZ e LOPES, 2000; FERRAZ, 2001).

    Contraditoriamente, apesar da mastigao iniciar-se somente com a

    maturao neuromuscular, esta maturao ainda no est totalmente completa na

    poca de irrupo da dentio decdua. nesta fase que ocorre, tambm, o

    processo de transio da consistncia alimentar lquida-pastosa para a consistncia

    slida. Assim, os primeiros movimentos mastigatrios so irregulares e

    incoordenados e mantm um padro de abaixamento, protruso, elevao e, no

    final, retruso da mandbula (FELCIO, 1999; MOYERS e CARLSON, 1998).

    Somente com a irrupo dos primeiros molares decduos que o ciclo

    mastigatrio torna-se mais estvel e utiliza, de forma eficiente, o padro de

    intercuspidao, propiciando criana, a ingesto de dieta variada em

    consistncias, semelhante a do adulto (OKESSON, 1998).

    O controle da mastigao realizado por um processo no qual o ncleo

    motor do trigmeo recebe impulsos provenientes do crtex cerebral, via tracto

    cortio-bulbar, ativando os msculos abaixadores da mandbula, para que a boca se

    abra e ocorra a entrada do alimento. A partir disso, so ativados os msculos

    elevadores da mandbula. Numa seqncia rtmica e automtica de abaixamento,

    elevao e lateralizao da mandbula, d-se a mastigao, comandada por um

    gerador de padro central localizado no tronco cerebral, o qual envia impulsos para

  • Introduo 4

    os msculos levantadores e abaixadores da mandbula, que sero ativados e

    desativados. Embora os msculos que controlam estas atividades sejam

    completamente acessveis ao controle voluntrio cortical, estas atividades ocorrem

    na maior parte do tempo sem esforos conscientes. Ao nvel cortical, as

    informaes sensoriais so necessrias para que se atinja uma sensao de

    conscincia; j ao nvel do tronco enceflico, as informaes sensoriais so

    necessrias como impulsos de retorno para o gerador de padro central da

    mastigao (LUND, 1991; BAKKE, 1993; FELCIO, 1999; DOUGLAS, 2002).

    Impulsos aferentes, oriundos de diversos tipos de receptores sensoriais

    acoplados ao sistema estomatogntico, conduzem ao sistema nervoso central

    informaes sobre as condies morfolgicas e funcionais do prprio sistema

    estomatogntico, as quais parecem tambm serem considerados na definio da

    fora e dos movimentos aplicados na mastigao (LUND, 1991; FELCIO, 1999;

    DOUGLAS, 2002; FELCIO, 2004). Na presena de determinada fora

    mastigatria ocorre a estimulao destes receptores, provocando, de forma

    reflexa, modificao da intensidade da fora exercida pela musculatura elevadora

    da mandbula, modulando-a (PONTES et al., 1999; CASTRO et al., 2002;

    DOUGLAS, 2002; CATTONI, 2004).

    Com isso, deve-se considerar que a mandbula realiza movimentos, que

    ocorrem pela ao dos msculos inseridos na prpria mandbula, sendo eles,

    abaixamento ou abertura, lateralidade, elevao ou fechamento, alm de protruso

    e retrao (FELCIO, 1994; OKESSON, 1998; TEIXEIRA, 2000; DOUGLAS,

    2002; FELCIO e MORAES, 2003).

    Tais movimentos so realizados pelos msculos elevadores da mandbula

    (temporal, masseter e pterigideo medial) e msculos abaixadores da mandbula

    (pterigideo lateral, supra-hiideos e infra-hiideos) (FELCIO, 1994;

    FERNANDES et al., 2003). O msculo pterigideo lateral considerado o principal

    msculo abaixador da mandbula e seu feixe superior estabiliza o movimento de

    fechamento da boca; j o feixe inferior age na abertura da boca, ao tracionar o

  • Introduo 5

    cndilo (MOHL et al., 1989; BIANCHINI, 1998; TANIGUTE, 1998; ZEMLIN,

    2000; CATTONI, 2004).

    LAURET e LE GALL (1996) classificam a mastigao em quatro fases, que

    constituem o ato mastigatrio, isto , quatro estgios consecutivos em que se

    realiza a destruio do alimento:

    Inciso: ocorre quando a mandbula, em protruso, apreende o alimento

    entre as bordas incisais. Esse fenmeno rtmico, at que o alimento seja cortado.

    O propsito desta fase o corte de traos grandes, facilitado pela reduzida

    superfcie oclusal, quase linear (ao de faca). Por outro lado, a lngua,

    coordenadamente com as bochechas, tem a funo de localizar previamente o

    alimento entre as superfcies oclusais dos dentes mais posteriores, ou seja, pr-

    molares e molares, que devero realizar as etapas posteriores do processo.

    Preparao: Corresponde s fases de abertura e fechamento do ciclo

    mastigatrio e depende da ao conjunta dos msculos elevadores e abaixadores

    da mandbula, os quais regulam a extenso e a amplitude dos ciclos de acordo com a

    qualidade, consistncia e estado de esmagamento do alimento.

    Triturao: Refere-se reduo mecnica de partes grandes do alimento

    em menores, ocorrendo principalmente nos pr-molares, uma vez que sua presso

    entre as cspides maior que a dos molares, dado sua superfcie menor. Esta fase

    de triturao propriamente dita refere-se fase oclusal, com movimentos

    mandibulares resultantes da contrao muscular isomtrica de grande intensidade

    Pulverizao: a triturao final das partculas pequenas, transformando-as

    em elementos reduzidos, que no oferecem grande resistncia nas superfcies

    oclusais, ou mucosa oral.

    J HIIMAE et al. (1996) apresentaram uma classificao mais detalhada,

    dividindo a mastigao em 4 etapas diferenciadas: mordida e estgio de transporte

    I que consiste na apreenso do alimento e sua transferncia para a regio ps-

    canina, a partir de movimentos da lngua e da mandbula, enquanto os dentes

  • Introduo 6

    mantm-se em desocluso; estgio de triturao onde ocorre a reduo do

    alimento em partculas menores; estgio de transporte II onde h formao do

    bolo alimentar, que transportado pela lngua em direo parte posterior da

    cavidade oral; e o ltimo estgio chamado de clearence ou liberao, fase em que

    os restos de alimento so coletados da regio vestibular da boca por meio da

    intensa participao da lngua, lbios e msculos faciais com movimentos

    irregulares da mandbula.

    Enquanto DOUGLAS (2002) prope que as fases da mastigao sejam

    apenas 3: inciso, onde ocorre o corte do alimento, triturao, fase de reduo do

    alimento em partculas menores e pulverizao, na qual ocorre a reduo em

    partculas menores ainda.

    COSTA (2000) refere que durante a mastigao ocorrem 3 estgios:

    preparo, no qual o alimento triturado e umidificado para a formao do bolo;

    qualificao , onde o bolo percebido em seu volume, consistncia, densidade, grau

    de umidificao, alm de outras caractersticas fsicas e qumicas, e estgio de

    organizao, onde o bolo posicionado ativamente sobre a lngua e posteriorizado

    para a ejeo oral.

    No processo de mastigao encontram-se os ciclos mastigatrios,

    fenmenos espaciais, que ocorrem na mandbula durante o ato mastigatrio, sendo

    constitudo por trs fases: fase de abertura da boca, na qual a mandbula se

    abaixa, com relaxamento dos msculos levantadores e a contrao isotnica dos

    msculos abaixadores da mandbula; fase de fechamento da boca, momento no qual

    a mandbula se eleva pela contrao isotnica dos msculos levantadores e pelo

    relaxamento reflexo dos msculos abaixadores da mandbula; e fase oclusal, na

    qual h contato e intercuspidao dos dentes, gerando foras inter-oclusais em

    decorrncia da contrao isomtrica dos msculos levantadores da mandbula, que

    partem o alimento em partculas menores (YURKSTAS, 1965; BAKKE, 1993;

    BIANCHINI, 1998a; MOYERS e CARLSON, 1998; TEIXEIRA, 2000).

  • Introduo 7

    Cada ciclo mandibular completo, desde a abertura oral at a quebra do

    alimento, pode ser avaliado de acordo com a realizao das 3 fases da mastigao,

    j descritas acima, ou de acordo com o nmero de movimentos mastigatrios.

    (YURKSTAS, 1965; BAKKE, 1993).

    Alm do nmero de movimentos mastigatrios, a fora mastigatria tambm

    um aspecto a ser levado em considerao frente s condies funcionais e

    estruturais da cada indivduo. A fora de mordida ou fora mastigatria

    determinada pela fora contrtil dos msculos levantadores da mandbula, que

    depende de um sistema adaptativo de acordo com a dureza e quantidade de

    alimento (RAADSHEER et al., 1999). Esta adaptao decorrente da interferncia

    reguladora dos receptores periodontais, principalmente dos receptores da

    articulao temporomandibular e dos corpos tendneos de Golgi. Assim, a presso

    que se exerce sobre o alimento funo recproca da rea oclusal fisiolgica que

    representa a superfcie mastigatria til. A contrao isomtrica dos msculos

    elevadores da mandbula, durante a face oclusal, gera uma fora entre os arcos

    dentrios, que leva a uma presso interoclusal diferente, segundo a rea onde age,

    apresentando-se maior quando se refere a reas limitadas (BRADLEY, 1995;

    OGAWA et al., 1997; OKESSON, 1998; DOUGLAS, 2002).

    Sendo assim, indivduos com fora mastigatria adequada, realizando um

    nmero de ciclos mastigatrios condizentes com o tipo e quantidade do alimento e

    com movimentos mandibulares sem limitao apresentaro mastigao eficiente

    (AL-ALLI et al., 1999; FERRARIO et al., 2002; FILIPC e KEROS, 2002;

    KOMIYAMA et al., 2003; SAKAGUSHI et al., 2003). Entende-se por rendimento

    ou eficincia mastigatria o grau de triturao ou moagem a que submetido o

    alimento, por um nmero determinado de movimentos mastigatrios. Em termos

    fisiolgicos, a relao existente entre trabalho mecnico til realizado em

    relao energia consumida (DOUGLAS, 2002).

    A eficincia mastigatria e a fora de mordida so positivamente

    correlacionadas com a idade cronolgica e o tamanho corporal. Essa eficincia

  • Introduo 8

    mastigatria tende a aumentar com a idade por conta do nmero de contatos

    oclusais e do aumento da fora muscular (SCHNEIDER e SENGER, 2002;

    CATTONI, 2004; FELCIO, 2004).

    Existem vrios fatores que influenciam a funo mastigatria, de forma a

    alter-la. Esses fatores podem sofrer alteraes estruturais ou funcionais do

    sistema estomatogntico que desencadeiam num desequilbrio, do qual um dos

    sinais pode ser a disfuno mastigatria.

    Entre estes fatores, o tipo de alimento a ser consumido pode influenciar a

    funo mastigatria no que diz respeito durao do ato, nmero e freqncia de

    ciclos, entre outros (YURKSTAS e MANLY, 1950; HELKIMO et al., 1983;

    MOHAMED et al., 1983; HORIO e KAWAMURA, 1988; TAKADA et al., 1994;

    HIIEMAE et al., 1996a,b), isso porque existe o mecanismo modulador da fora

    mastigatria por meio dos receptores periodontais, que modifica a fora

    mastigatria e o nmero de ciclos mastigatrios, de acordo com as caractersticas

    fsicas do alimento (DOUGLAS, 2002). fato, tambm, que o tipo de alimento

    consumido condicionado por vrios fatores como: desenvolvimento da

    alimentao, preferncia alimentar, cultura local (HO e GEE, 2002), presena de

    doenas da boca, idade (MIURA et al., 1997, 1998, 2000; LOCKER, 2002), entre

    outros (VARELA et al., 2003).

    Sabe-se que quanto mais consistente for a alimentao, maior e mais

    coordenado o crescimento facial e, quanto maior a resistncia mastigatria,

    melhor o crescimento do msculo masseter (NASCIMENTO, 1997; MOYERS e

    CARLSON, 1998; KHLER, 2000).

    Assim, a consistncia alimentar e a quantidade de cada poro tambm

    podem influenciar nos tempos de mastigao; quanto maior a consistncia do

    alimento, mais ciclos e movimentos mastigatrios sero necessrios para a quebra

    do alimento, para que seja possvel a deglutio do mesmo, aumentando, assim, a

    durao da mastigao (BERRETIN-FLIX, 1999; SCHNEIDER e SENGER, 2002;

    MELO, GENARO, 2004; ARRAIS et al.,2004).

  • Introduo 9

    Os dentes e a ocluso so estruturas essenciais para que ocorra a

    mastigao. Por isso, desde a presena de falhas dentrias, at as discrepncias

    mais graves maxilo-mandibulares afetam esta funo. Em diferentes idades, as

    pessoas podem passar a mastigar unilateralmente devido s cries, perdas

    dentrias, interferncias oclusais traumticas, utilizao de prteses dentrias

    mal adaptadas, entre outros fatores (FELCIO, 1994; NISHIGAWA, 1997;

    FELCIO, 1999, GEERTMAN et al., 1999; ZENLIM, 2000). Assim, fatores como

    traumas, m-conservao dentria, idade, entre outros, podem ocasionar a perda

    de elementos dentrios. Como forma de reabilitao, as adaptaes de prteses,

    sendo elas parciais ou totais, fixas ou removveis, so opes freqentes de

    tratamento.

    Segundo DOUGLAS (2002), a reabilitao com prtese removvel no atinge

    uma compensao funcional completa, dado que, por um lado, a rea oclusal

    fisiolgica no retorna normalidade e, por outro, h influncia de fatores de

    adaptao correta da prtese, como reteno e mobilidade, entre outros. O

    rendimento funcional, nestes casos, est de 20 a 30% do normal, devido

    diminuio da fora mastigatria. Esta diminuio da fora mastigatria ocorre

    porque no h participao dos mecanorreceptores periodontais, ficando somente,

    como elementos de controle, os receptores de tato e presso da mucosa gengival,

    da lngua ou do palato duro. Isto faz com que a fora da contrao levantadora

    mandibular diminua, por falta do estmulo adequado que pode deprimir ou facilitar

    o motoneurnio do nervo Trigmeo (RAUSTIA et al., 1996; TAKANASHI e KISHI,

    1997; PERA et al., 1998; CUNHA et al., 1999).

    Tambm, tem-se discutido que muitas ms-ocluses tm como causa ou

    conseqncia uma mastigao ineficiente, associada a maus hbitos e m postura

    alimentar, o que dependeria basicamente, de deteco precoce por profissionais da

    rea, como os fonoaudilogos, cirurgies-dentistas, pediatras, entre outros e de

    melhor informao das pessoas em geral (FELCIO, 1999; MOTTA e COSTA,

    2002).

  • Introduo 10

    FELCIO (1994), HANSON e BARRET (1995) afirmam que as disfunes

    mastigatrias podem ser fatores tanto etiolgicos, quanto perpetuantes ou mesmo

    fatores conseqentes da m-ocluso. As caractersticas da disfuno mastigatria

    dependero do tipo de m-ocluso ou da deformidade dento-facial apresentada

    pelo indivduo (KRAKAUER, 1995; BARBOSA e SCHNONBERGER, 1996; FELCIO,

    1999; BIANCHINI, 2000; CONTI, 2000; WHITAKER et al.,2001)

    A disfuno craniomandibular (DCM) outra alterao que acarretar uma

    disfuno mastigatria e apresenta uma grande variedade de sinais e sintomas,

    sendo os mais comuns, presena de dor em diferentes estruturas do sistema

    estomatogntico, rudos articulares e alterao da dinmica mandibular (TZAKIS

    et al., 1992; SANTOS, 2000; CARREIRO e FELCIO, 2001; FELCIO et al., 2002;

    BIANCHINI et al., 2003).

    A alterao da dinmica mandibular na DCM pode manifestar-se em forma

    de limitao ou, s vezes, por dinmica mandibular exagerada. A limitao da

    dinmica mandibular ou hipometria corresponde restrio do movimento

    mandibular, tanto no referente a abertura mxima, como tambm nos movimentos

    protrusivos e de lateralidade da mandbula. J a dinmica mandibular aumentada ou

    hipermetria articular se caracteriza por estado de hipermobilidade mandibular,

    acompanhada por movimentos translacionais exagerados dos cndilos, produto

    principalmente da descoordenao muscular mandibular (FELCIO, 1994;

    BIANCHINI, 1998a; BERRETIN et al., 2000; DOUGLAS, 2002).

    Segundo BIANCHINI (2000), a principal queixa dos indivduos com DCM

    so em relao mastigao. BERRETIN et al (2000) estudaram as caractersticas

    clnicas do sistema mastigatrio de indivduos com disfuno na ATM e os

    resultados sugeriram que a presena de dor e a hipertrofia do msculo masseter

    prejudicam o padro mastigatrio. Isso porque a hiperatividade muscular do lado

    de trabalho provoca maior esforo da ATM do lado de balanceio durante a

    mastigao, desvio da linha mediana e at remodelao do cndilo. Uma desordem

    intra-articular da ATM tambm pode provocar alterao no padro mastigatrio,

  • Introduo 11

    sendo que o lado da ATM mais afetado torna-se o lado de trabalho, pois os

    movimentos de rotao e de translao do cndilo sero menos traumticos que no

    lado de balanceio (FELCIO, 1994; NISHIGAWA, 1997; FELCIO, 1999, ZENLIM,

    2000).

    Nos casos de anquilose de ATM, alm da limitao da abertura bucal, os

    movimentos mandibulares tambm estaro limitados, impedindo a preenso

    adequada do alimento, lateralidade e formao adequada do bolo alimentar

    (PICINATO e GENARO, 2000; WHITAKER et al., 2003). Alm disso, a higiene

    bucal fica dificultada, ocasionando srios problemas dentais e periodontais, que

    prejudicam ainda mais a mastigao (BIANCHINI, 2000).

    Nesta mesma populao, pacientes com disfuno de ATM ou anquilose de

    ATM, tambm freqente observarmos alteraes posturais. Isso porque existem

    ntimas relaes entre a cintura escapular e a regio craniomandibular

    (BIANCHINI, 1998b, 2000).

    Desta forma, os msculos que participam na mastigao, como ao mesmo

    tempo da deglutio ou suco, fazem parte deste grupo de msculos que integram

    o sistema de equilbrio da cabea ou sistema crnio-oro-cervical. Foi determinado

    que o centro gravitacional da cabea mais anterior articulao ocipto-atlidea,

    tendendo a deslocar-se para frente e para baixo. Isto deve ser contrabalanado

    pelos msculos do pescoo, particularmente da nuca. Durante os movimentos

    estomatognticos de abertura e fechamento da boca, este equilbrio se altera e

    deve adaptar-se permanentemente, no sentido que na abertura bucal, o osso hiide

    se torna o ponto de apoio, enquanto os msculos supra-hiideos se contraem,

    puxando a mandbula para baixo. Deste modo, os msculos da nuca, durante a

    mastigao, devem compensar as modificaes que ocorrem na face anterior da

    cabea, mantendo uma postura constante e evitando variaes posturais que

    poderiam alterar o equilbrio e o processo estomatogntico (KILIARIDIS et al.,

    1995; ZENLIM, 2000; DOUGLAS, 2002; UEDA et al., 2002).

  • Introduo 12

    Segundo BIANCHINI (2000), as alteraes mastigatrias decorrentes de

    disfuno de ATM tambm ocasionam modificao do eixo corporal, associada

    inclinao lateral da posio da cabea, assimetria de ombros, tenso cervical,

    anteriorizao da cabea e elevao na posio dos ombros em repouso, alm da

    alterao nas posturas dos lbios, da lngua e da mandbula.

    Os hbitos orais deletrios, em especial o bruxismo, briquismo, onicofagia,

    morder lbios e bochechas, so importantes fatores contribuintes de disfunes

    de ATM e neuromusculares, pois levam a uma demanda funcional atpica dos

    msculos mastigatrios, conduzindo fadiga, dor e incoordenao desses msculos,

    prejudicando a mastigao (BERRENTIN et al., 2000).

    Dentro da Teoria Psicolgica ou Psicofisiolgica, fatores como stress e

    tenso psquica podem desencadear hiperatividade muscular e estado de

    mioespasmo da musculatura estomatogntica. Por conseguinte, os fatores

    psicolgicos seriam um dos agentes etiolgicos responsveis pela sintomatologia

    mioarticular que acompanha o quadro da disfuno craniomandibular. Isto constitui

    um ciclo de estmulos, onde a tenso causa hipertividade muscular, que causa

    sintomatologia dolorosa, que, por sua vez, aumenta a tenso do paciente frente

    dor, mantendo a atividade muscular aumentada (CARLSSON et al., 1976; MANNS

    e ROCABADO, 2002; TSAI et al., 2002).

    A funo mastigatria tem sido estudada, de modo a trazer contribuies

    para o conhecimento do processo de fisiologia normal e do distrbio desta funo.

    Porm, devido complexidade da funo mastigatria, so realizadas anlises de

    cada aspecto da mastigao, como durao dos atos e ciclos mastigatrios, fora

    de mordida, movimentos mandibulares, eficincia mastigatria, entre outros, com

    tcnicas diferenciadas tecnologicamente, para que o diagnstico, das alteraes

    mastigatrias e das estruturas que a envolvem, seja preciso e o tratamento

    direcionado para cada caso.

    A tcnica eletromiogrfica (EMG), por exemplo, fornece parmetros

    relacionados com o tempo, velocidade e amplitude dos potenciais de ao a partir

  • Introduo 13

    do registro da atividade eltrica dos msculos (TRINDADE JUNIOR, 1992). Com

    isso, a durao dos atos e ciclos mastigatrios foi estudada por TRINDADE

    JNIOR (1992), GOUVEA JUNIOR (1995), SAMPAIO (1997), THEXTON e

    HIIMAE (1997), BERRETIN-FLIX (1999), BARCO (2002), KOHYAMA et al.

    (2003), ARRAIS et al. (2004), MELO e GENARO (2004) entre outros, por meio da

    eletromiografia. Notou-se, assim, que a eletromiografia tem sido um exame

    complementar de grande importncia na prtica clnica, podendo ser utilizado em

    qualquer msculo esqueltico, pesquisando vrios aspectos.

    J a fora de mordida pode ser avaliada por meio do gnatodinammetro

    (SIPERT et al., 2001; PIZOLATO et al., 2002). Estudos mostraram que h variao

    da fora de mordida em indivduos com hbito de bruxismo, com doenas

    periodontais, com m-ocluso, bem como em indivduos que utilizam prteses

    dentrias (TAKANASHI e KISHI, 1997; PERA et al., 1998; CUNHA et al., 1999,

    RAADSHEER et al., 1999).

    J os movimentos mandibulares foram estudados por meio de vrios

    mtodos instrumentais como a sirognatografia Sirognathograph, Siemens Dental

    Div sistema de interface com um programa digitalizador que decompe os

    movimentos mandibulares em 3 planos: sagital, frontal e horizontal para serem

    analisados (FERRARIO et al., 1990; WILDING e LEWIN, 1991; NAGASAWA et al.,

    1996), programas computadorizados (YOUSSEF et al., 1997, OW et al., 1998;

    MURAI et al., 2000) e filmagem do ato mastigatrio (SAKAGUCHI et al., 2001;

    MIZUMORI et al., 2003). Foi observado que dentro da normalidade existe ampla

    variao dos movimentos mandibulares que representam padres variados de

    mastigao. Alm disso, no houveram diferenas significantes entre os gneros,

    nos movimentos mandibulares, apesar de ter sido observado que a fase de abertura

    significativamente mais lenta e a fase de fechamento mais rpida em mulheres,

    enquanto a excurso mandibular vertical maior em homens.

    A lateralidade da mastigao tambm tem sido investigada, visto que

    fatores como contatos oclusais, falhas dentrias, m-ocluso e disfunes

  • Introduo 14

    temporomandibulares, bem como a lateralidade hemisfrica so causas da

    mastigao unilateral (MANDETTA, 1994; NISSAN et al., 2004). Esta pode

    ocasionar alteraes posturais e faciais, como desvio de septo, assimetrias

    mandibulares, entre outros (TAY, 1994).

    Ateno especial tem sido dada avaliao da eficincia mastigatria, uma

    vez em que observado o resultado final do ato mastigatrio em relao

    formao do bolo alimentar (BATES et al., 1976). Anlises computadorizadas do

    resultado da triturao do bolo alimentar, para a caracterizao da eficincia

    mastigatria, tem sido estudada utilizando alimentos artificiais como Cuttersil,

    Optosil (EDLUND e LAMM, 1980; AKEEL et al., 1992; JULIEN et al., 1996;

    BUSCHANG et al., 1997; HUGGARE e SKINDHJ, 1997; HAYAKAWA et al., 1998;

    SHIAU et al., 1999; AMEMIYA et al., 2002; ALBERT JR et al., 2003; OHARA et

    al., 2003; SATO H et al., 2003a; SATO S et al., 2003b), alimentos naturais como

    nozes, amendoim, cenoura e gros de caf (VINTON e MANLY, 1955; LOOS, 1963;

    STEINER et al., 1974; HATCH et al., 2001; SCHNEIDER e SENGER, 2001) ou

    ainda, utilizando goma de mascar (PRINTZ, 1999). Foi observado que quanto mais

    lenta a mastigao, melhor a triturao do bolo, sendo este melhor formado.

    Em contrapartida, a mastigao rpida no promove uma boa triturao do alimento

    e mantm as partculas espalhadas na boca, sem a formao adequada do bolo, o

    que dificulta a deglutio e a digesto dos alimentos (FARRELL, 1956).

    Nota-se que, tais mtodos instrumentais tornam-se importantes para a

    compreenso da funo mastigatria, o que possibilita a obteno de dados

    objetivos, porm dificilmente fazem parte da prtica clnica fonoaudiolgica.

    Assim, torna-se necessrio que a avaliao clnica da mastigao, ou seja,

    no instrumental, possa analisar individualmente cada aspecto e, ao mesmo tempo,

    avaliar a funo mastigatria como um todo, de forma prtica e padronizada.

    Nesse sentido, a literatura muito escassa no que diz respeito s

    metodologias padronizadas para o estudo clnico da mastigao, uma vez que os

  • Introduo 15

    estudos priorizam os mtodos instrumentais, em detrimento dos no instrumentais.

    Isto prejudica a objetividade dos dados tanto em pesquisa quanto na comparao

    de casos clnicos quando a avaliao realizada por avaliadores distintos sem o

    mesmo treinamento ou formao, o que confirma a importncia do presente

    trabalho.

    Assim, sendo o fonoaudilogo o profissional responsvel pelo diagnstico,

    tratamento e acompanhamento dos pacientes que apresentam alterao na funo

    mastigatria, viu-se a necessidade de pesquisar tanto a literatura cientfica,

    quanto a prtica clnica realizada pelos fonoaudilogos brasileiros, de forma a se

    conseguir obter dados que desse-nos respaldo para a proposio de um protocolo

    de avaliao desta funo.

    Para a avaliao clnica da funo mastigatria torna-se necessria a

    investigao da histria clnica do paciente, avaliao dos aspectos morfolgicos,

    sensibilidade, tonicidade e mobilidade das estruturas envolvidas nesta funo, os

    aspectos funcionais da mastigao propriamente dita e a avaliao de outras

    funes que compem o sistema estomatogntico.

    Sabe-se que a histria clnica o processo inicial de avaliao, sendo por

    meio dela que o paciente pode relatar sua queixa e o avaliador pode direcionar sua

    investigao. Durante a anamnese so realizadas observaes primordiais para a

    funo mastigatria, como a observao da postura corporal e dos rgo

    fonoarticulatrios, dos hbitos e tenses apresentados pelo paciente, bem como da

    limitao de movimentos apresentados (BIANCHINI, 1998,b; BIANCHINI, 2000;

    FELCIO, 2002; MARCHESAN, 2003; JUNQUEIRA, 2004). Deve-se procurar

    conhecer sobre os hbitos de vida diria que podem levar ao desequilbrio da

    funo mastigatria (BIANCHINI, 1998,b; FELCIO, 1999; BIANCHINI, 2000;

    BERRETIN-FLIX et al., 2004; JUNQUEIRA, 2004) deve-se questionar o

    paciente a respeito de atividades repetitivas realizadas em casa, no trabalho ou

    lazer (MARCHESAN, 1997; BIANCHINI, 1998,b; BIANCHINI, 2000; FELCIO,

  • Introduo 16

    2002) hbitos alimentares e postura ao se alimentar, se apresenta hbitos orais

    deletrios ((MARCHESAN, 1997; BIANCHINI, 1998; BERRETIN-FLIX, 1999;

    BIANCHINI, 2000; GANZLEZ e LOPES, 2000; FELCIO, 2002; MARCHESAN,

    2003; BERRETIN-FLIX et al., 2004; JUNQUEIRA, 2004). Devem ser

    investigados fatores relacionados sade bucal, queixas de DCM, incluindo a

    presena de cefalias, sintomas auditivos ou vestibulares, alterao de

    sensibilidade, incluindo alteraes gustativas ou olfatrias, entre outros

    (MARCHESAN, 1997; BIANCHINI, 1998,b; BERRETIN-FLIX, 1999;

    BIANCHINI, 2000; GANZLEZ e LOPES, 2000; FELCIO, 2002; MARCHESAN,

    2003; BERRETIN-FLIX et al., 2004; JUNQUEIRA, 2004; TRAWITZKI, 2004).

    Quanto aos aspectos morfolgicos, importante observar o aspecto e a

    postura de lbios, lngua e mandbula, presena de marcas dentrias no vestbulo

    oral, presena e aspecto das tonsilas palatinas, o tipo de dentio, presena de

    cries ou doenas periodontais, uso de prteses, tipo de ocluso, aspecto do palato

    duro e mole, alm da presena de assimetrias faciais e a tipologia facial

    (MARCHESAN, 1997; BIANCHINI, 1998; BERRETIN-FLIX, 1999; BIANCHINI,

    2000; GANZLEZ e LOPES, 2000; FELCIO, 2002; MARCHESAN, 2003;

    BERRETIN-FLIX et al., 2004; JUNQUEIRA, 2004; TRAWITZKI, 2004).

    J em relao avaliao do sistema sensrio-motor oral, deve ser

    observado o estado de contrao dos msculos orofaciais durante o repouso, por

    meio de palpao, a mobilidade dos msculos da mmica facial, da lngua, da

    mandbula, do palato mole e das paredes da faringe, considerando a destreza,

    preciso e simetria dos movimentos realizados (BIANCHINI, 2000; FELCIO,

    2002; MARCHESAN, 2003; BERRETIN-FLIX et al., 2004; JUNQUEIRA, 2004).

    Devem ser solicitados os movimentos mandibulares, bem como realizar sua

    mensurao. Alm disso, de extrema importncia a palpao das ATM (FELCIO,

    1994; BIANCHINI, 1998b; BERRETIN-FLIX, 1999; BIANCHINI, 2000;

    BERRETIN-FLIX et al., 2004; JUNQUEIRA, 2004) devendo-se investigar, por

    meio da observao visual e da palpao os msculos mastigatrios, cervicais e da

  • Introduo 17

    cintura escapular (FELCIO, 1994; BIANCHINI, 1998; BERRETIN-FLIX, 1999;

    BIANCHINI, 2000; BERRETIN-FLIX et al., 2004; JUNQUEIRA, 2004),

    considerando-se a presena de dor durante tal procedimento (BIANCHINI, 2000;

    BERRETIN-FLIX et al., 2004). importante solicitar ao paciente que atribua um

    valor numrico a sua dor, pois facilita o acompanhamento da evoluo do quadro

    apresentado pelo paciente (BIANCHINI, 2000; BERRETIN-FLIX et al., 2004).

    Deve-se realizar a ausculta das ATM em todos os movimentos mandibulares

    (FELCIO, 1994; BIANCHINI, 1998b; BIANCHINI, 2000; BERRETIN-FLIX, et

    al., 2004). importante tambm a verificao da hipermobilidade articular em

    decorrncia de frouxido dos ligamentos ou lassido articular, solicitando a

    extenso em vrias articulaes do corpo, como polegar, dedo mnimo, indicador,

    cotovelo, ps e perna (BIANCHINI, 2000; FELCIO, 2002; MARCHESAN, 2003;

    BERRETIN-FLIX et al., 2004; JUNQUEIRA, 2004).

    Aps todas estas investigaes, avalia-se a funo de mastigao

    propriamente dita, que pode ser realizada com vrios tipos de alimento, atendo-se

    a vrios aspectos.

    MARCHESAN (1997) refere que para a avaliao da funo mastigatria,

    necessrio utilizar sempre o mesmo alimento para que se possa criar um padro

    para o exame. O alimento recomendado pela mesma o po francs, onde, enquanto

    o sujeito avaliado est mastigando, deve-se questionar seu lado de preferncia e

    quais as sensaes apresentadas quando solicitado para ele mastigar somente de

    um lado e depois do outro.

    BIANCHINI (1998)b recomenda que, ao examinar o paciente, deve-se

    diagnosticar no s as caractersticas das alteraes mastigatrias apresentadas,

    mas, segundo a autora, essencial verificar a causa destas alteraes, por isso a

    investigao dos dentes e da ocluso, alm do exame funcional das ATMs, da

    palpao muscular e verificao dos movimentos mandibulares faz-se necessria.

    BERRETIN-FLIX (1999) descreve na metodologia de seu estudo que, para

    a avaliao da funo mastigatria, foi realizada a observao dos padres

  • Introduo 18

    alimentares do indivduo, utilizando-se de pedaos de po francs e ma com

    casca, como alimentos. Foi verificada a forma de preenso do alimento, ou seja, se

    o indivduo realizou o corte do alimento com os dentes anteriores, com os dentes

    laterais, se quebrou o alimento nos dentes ou o partiu com as mos. O tipo

    mastigatrio foi avaliado observando a presena de lateralizao do alimento na

    cavidade bucal e a manuteno do alimento em um dos lados, predominantemente.

    Assim, considerando-se o lado de preferncia mastigatria, o tipo mastigatrio foi

    classificado em bilateral alternado, bilateral simultneo, unilateral direita ou

    esquerda. O tempo de mastigao foi avaliado de forma subjetiva, sendo

    classificado em adequado, lento ou rpido.

    BIANCHINI (2000) descreve que para a anlise da mastigao necessrio

    o conhecimento das caractersticas do alimento a ser utilizado. A autora enfatiza a

    necessidade de padronizao do alimento para que haja uniformizao do exame e

    obteno de dados mais fidedignos, uma vez que a mastigao se modifica

    bastante, dependendo do alimento. Deve-se observar se h vedamento labial e

    utilizao do mecanismo dos bucinadores, padro unilateral ou bilateral,

    possibilidade de realizao bilateral alternada, ritmo e amplitude dos movimentos

    mandibulares.

    GANZLEZ e LOPES (2000) relatam que para a avaliao da mastigao

    devem ser utilizadas bolachas que so oferecidas em um momento de

    descontrao, sem que o paciente se sinta observado, onde devem ser verificados

    se a mastigao efetuada com a boca aberta, de forma unilateral, com

    movimentao mandibular exagerada ou com movimentos linguais em sentido

    anterior. Referem ainda, que o paciente deve ser questionado quanto ao lado de

    preferncia mastigatria, alm da anlise da dentio e de resduos aps a

    deglutio.

    FELCIO (2000) prope a avaliao da mastigao em indivduos com

    desordens temporomandibulares, sugerindo que o indivduo a ser avaliado seja

    orientado a mastigar de modo habitual, devendo este, estar sentado numa cadeira

  • Introduo 19

    com encosto, sem apoio de cabea e com os ps apoiados no cho. necessrio que

    seja marcado um plano horizontal e um vertical, sendo filmado todo o exame por

    meio de filmadora e trip colocados sempre na mesma distncia. Na anlise do

    filme necessrio considerar, segundo a autora, a mordida, o nmero de

    movimentos mastigatrios, este nmero de cada lado, o tempo para o consumo de

    cada poro, o tempo total para o consumo do alimento, os movimentos

    mandibulares e a formao do bolo alimentar.

    CARVALHO (2002) props um mtodo da eficincia mastigatria, no qual

    utilizou amndoas como alimento de teste e um sistema de tamises com peneiras de

    tamanhos de orifcios diferentes, solicitando ao indivduo a ser avaliado, a

    mastigao de 5 amndoas. A primeira amndoa foi mastigada de forma natural, a

    segunda durante 10 segundos, a terceira e a quarta amndoa durante 20 e 40

    segundos, respectivamente e a quinta amndoa com o mesmo tempo e o mesmo

    nmero de ciclos mastigatrios realizados na mastigao da primeira amndoa. O

    sistema de tamises foi composto por trs peneiras com orifcios dos respectivos

    tamanhos: 4,75mm, 4mm e 2mm, dispostas de maneira que os alimentos

    fragmentados passassem progressivamente do maior para o menor orifcio, aps

    lavadas por gua corrente durante 60 segundos. As partculas de cada amndoa

    foram classificadas de acordo com seus tamanhos em partculas A, com tamanho

    acima de 4,75mm; partculas B com tamanho menor que 4,75mm e maior que 4mm e

    partculas C com tamanho menor que 4mm e maior que 2mm. A partir de critrios

    propostos pelo autor, a eficincia mastigatria foi classificada em tima, boa,

    regular, ruim e pssima.

    MARCHESAN (2003) prope que durante a avaliao da mastigao habitual

    seja observada a ocluso dos lbios, se faz amassamento com a lngua, se h

    movimentos exagerados da musculatura perioral, se h maior predominncia de

    lados, se h dificuldade, qual o tempo de mastigao, se h dor, se necessita de

    lquidos, se utiliza os dedos para formar bolo e se faz rudo ao mastigar. Depois

    necessrio que seja solicitado que o paciente mastigue somente do lado direito e

  • Introduo 20

    depois somente do lado esquerdo e sejam verificados os mesmos itens, alm de ser

    questionado ao paciente se houve facilidade ou dificuldade e se o alimento tendia a

    ficar daquele lado ou mudar.

    ARRAIS et al. (2004) verificaram a durao e o nmero de atos e ciclos

    mastigatrios para o biscoito tipo waffer e o po francs e, correlacionaram a

    durao da mastigao obtida na avaliao com o cronmetro e a durao da

    mastigao obtida na avaliao eletromiogrfica (EMG). Estudou-se 20 sujeitos (18

    a 35 anos), de ambos os gneros, com ocluso dentria normal e sem sinais de

    ansiedade patolgica, avaliando-se a mastigao habitual de po francs (2cm) e

    biscoito tipo waffer (2cm), realizando-se, simultaneamente, a avaliao EMG dos

    msculos masseteres e mensurando-se o tempo de mastigao com um cronmetro,

    acionado na inciso do alimento e desacionado no incio da deglutio. A mdia da

    durao do ato mastigatrio para o biscoito foi de 0,40s e para o po foi de 0,36s;

    a mdia da durao do ciclo mastigatrio foi de 0,74s para o biscoito e 0,73s para

    o po; o nmero mdio de atos e ciclos mastigatrios foi de 14,78 para o po e de

    14,85 para o biscoito; correlao positiva foi observada entre a durao do tempo

    total da mastigao da avaliao EMG e da avaliao com o cronmetro. As autoras

    observaram tambm que, a durao do ato mastigatrio maior para a mastigao

    do biscoito, o que no ocorreu com a durao do ciclo mastigatrio; houve maior

    nmero de atos e ciclos mastigatrios para a mastigao do po.

    BERRETIN-FLIX et al. (2004) referiram que a funo mastigatria deve

    ser avaliada por meio da observao clnica, deve ser analisada verificando-se o

    lado mastigatrio, a presena de rudos articulares, os movimentos mandibulares, a

    postura labial, a formao do bolo alimentar, assim como a durao desta funo e

    a eficincia mastigatria, correlacionando tais dados a possveis adaptaes s

    discrepncias sseas e dentrias, assim como ao tipo de alimento utilizado na

    avaliao.

    JUNQUEIRA (2004) refere utilizar o po francs para a avaliao da

    mastigao, por ser de fcil aquisio e ter boa aceitao por grande parte dos

  • Introduo 21

    pacientes. solicitado que o paciente coma aquela poro de alimento da forma

    como estiver acostumado. O fonoaudilogo deve observar como foi o corte do

    alimento, com quais dentes ocorreu e qual o tamanho do alimento introduzido

    boca; se os lbios permanecem ocludos, se h rudos, se h participao exagerada

    da musculatura perioral; lateralizao do alimento, predomnio de movimentos

    mandibulares verticais ou horizontais, interposio do lbio inferior, se ocorre uni

    ou bilateralmente e o tempo de mastigao. Os msculos masseter e temporal so

    palpados para verificar a contrao e a simetria de foras. A autora enfatiza a

    importncia de se realizar a filmagem da mastigao do paciente, para anlise

    posterior e como estratgia teraputica.

    MELO, GENARO (2004) avaliaram o tempo da mastigao, em segundos, de

    alimentos com diferentes consistncias, a fim de obterem valores de referncia

    para serem utilizados na prtica clnica fonoaudiolgica da avaliao da mastigao.

    Foram avaliados 40 indivduos com boa relao dento-oclusal, sendo solicitado aos

    mesmos, a mastigao habitual dos alimentos: 1 pedao de ma com casca (1cm de

    dimetro, cortada em forma de bolinhas), 1 rodela de banana (1cm de espessura),

    1/4 de fatia de mini po francs (1cm de espessura), 1 semente de castanha de

    caju, 1 bolacha tipo waffer e 1/4 de biscoito tipo gua e sal. Quando comparou-se

    os resultados entre os gneros, no foi observada diferena estatisticamente

    significante. Os alimentos po e bolacha tipo waffer tiveram resultados

    estatisticamente diferentes, quando comparados com os demais alimentos

    testados, mostrando que estes dois alimentos influenciam diretamente no tempo

    da mastigao. Foram obtidos os seguintes tempos de mastigao, em segundos:

    Banana: 9,6; Po: 26,3; Waffer: 15,4; Bolacha de gua e sal: 11,4; Ma: 10,4 e

    Castanha: 11,6. As autoras concluram que a consistncia do alimento interfere no

    tempo mastigatrio. Isto acontece pois quanto maior a consistncia do alimento,

    mais ciclos e movimentos mastigatrios so necessrios para a triturao do

    alimento, aumentando a durao da mastigao.

  • Introduo 22

    TRAWITZKI (2004) avaliou a mastigao de 15 indivduos normais e 15

    indivduos com deformidades dentofaciais. Investigou o predomnio mastigatrio,

    por meio da solicitao da mastigao habitual, fornecendo a cada paciente um mini

    po, considerando-se o lado de predomnio mastigatrio, aquele em que ocorreram,

    no mnimo 66% do total de movimentos mastigatrios e classificou-se uma

    mastigao unilateral crnica, quando ocorreram 95% ou mais, de um mesmo lado.

    Ou ainda, nos casos em que no houve predomnio entre os lados, se a mastigao

    ocorria de forma simultnea ou alternada. Com auxlio de filmagem, foi observada a

    forma de preenso do alimento, se foi realizado com os dentes ou com as mos,

    bem como o nmero de golpes mastigatrios.

    Sabendo-se que o sistema estomatogntico necessita estar em pleno

    equilbrio, torna-se importante a avaliao das outras funes orais de respirao,

    deglutio e fala, de forma a concluir o raciocnio clnico, identificando as causas,

    conseqncias e adaptaes realizadas por este sistema.

    Tendo em vista as divergncias de informaes que colaboram para a

    sistematizao de uma avaliao eficiente da funo mastigatria, no que diz

    respeito importncia de se analisar a relao entre a morfologia e a

    funcionalidade das estruturas do sistema estomatogntico para a execuo desta

    funo e, das observaes variadas feitas no decorrer da prtica clnica

    fonoaudiolgica, sentiu-se a necessidade de se estudar a avaliao da funo

    mastigatria realizada atualmente pelos fonoaudilogos, juntamente com os dados

    publicados na literatura, a fim de se obter dados para realizar a proposio de um

    meio padronizado de avaliao clnica da mastigao.

    Acredita-se que este trabalho contribuir com a prtica clnica, uma vez que

    a avaliao realizada corretamente visa nortear de forma adequada o planejamento

    de tratamento fonoaudiolgico. Por outro lado, um tratamento adequado requer a

    observao de aspectos das reas odontolgica, psicolgica, fisioterpica, entre

    outros, que justifica uma ao interdisciplinar.

  • Introduo 23

    Alm disso, torna-se fundamental a adequao da mastigao para o equilbrio

    funcional do sistema estomatogntico e da qualidade de vida dos indivduos por

    relacionar-se diretamente alimentao.

    Sendo assim, este trabalho visou elaborar uma proposta de avaliao clnica

    da funo mastigatria, a partir da anlise da literatura, da experincia clnica da

    equipe do Laboratrio de Fisiologia do HRAC/USP, bem como do relato dos

    Fonoaudilogos, de diferentes regies do pas, que realizam a avaliao desta

    funo.

  • Material e Mtodo

  • Material e Mtodo 25

    2. Material e Mtodo

    O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comit de tica em pesquisa do

    Hospital de Reabilitao de Anomalias Craniofaciais (ANEXO 1).

    Um questionrio para a avaliao clnica da funo mastigatria foi enviado

    para fonoaudilogos e para tal participao foi necessria a leitura da Carta de

    Informao (ANEXO 2), firmando sua aceitao por meio do Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 3).

    Com base na literatura e na experincia clnica da equipe do Laboratrio de

    Fisiologia do Hospital de Reabilitao de Anomalias Craniofaciais da Universidade

    de So Paulo (HRAC/USP), local onde foi desenvolvido o estudo, foi elaborado um

    questionrio para investigar a avaliao mastigatria realizada por fonoaudilogos

    de diferentes regies do Brasil.

    Tal questionrio (ANEXO 4) abordou dois enfoques principais: um em

    relao caracterizao da amostra e outro em relao aos aspectos da avaliao

    da mastigao, sendo eleborado conforme a proposta de MARCONI e LAKATOS

    (2003).

    Em relao caracterizao da amostra de fonoaudilogos, investigou-se

    aspectos que definissem a populao estudada, como:

    Regio do Brasil em que reside ou atua; Formao do fonoaudilogo: se realizou apenas graduao,

    especializao e se na rea de Motricidade Oral, bem como curso de

    Mestrado ou Doutorado;

    rea de atuao do fonoaudilogo: considerando as 4 especialidades definidas pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia audiologia, linguagem,

    voz e motricidade oral;

    Local de atuao do Fonoaudilogo: universidades estatais ou privadas; hospitais, prefeituras, clnicas particulares, entre outros.

  • Material e Mtodo 26

    O segundo enfoque do questionrio, em relao avaliao da funo

    mastigatria, constou de 5 questes abertas que abordaram os seguintes itens:

    Dados da histria clnica que foram avaliados por meio de 43 questes fechadas de mltipla escolha, alm de um ltimo item livre, para

    que o fonoaudilogo descrevesse algo alm do que estava. Foram citadas

    questes pertinentes ou no funo mastigatria, de forma a no induzir

    as respostas dos entrevistados, para que eles assinalassem as questes

    que so realizadas com pacientes com queixas mastigatrias;

    Informaes sobre quais os aspectos morfolgicos do sistema estomatogntico e sistema sensrio-motor oral avaliados e a forma de

    avaliao foram investigados por meio de 2 questes com os itens que

    poderiam ser avaliados, para que o fonoaudilogo assinalasse se avalia ou

    no tal aspecto e descrever em quais estruturas observa tais aspectos.

    Uma segunda questo aberta foi adicionada para que o fonoaudilogo

    descrevesse como avalia cada aspecto;

    Avaliao da funo mastigatria propriamente dita: por meio de uma questo aberta para que o fonoaudilogo descrevesse o que observado,

    como, que materiais e procedimentos utiliza, se realiza exames

    complementares, entre outros;

    Avaliao de outras funes do sistema estomatogntico: por meio de questo aberta, para que o fonoaudilogo citasse quais outras funes

    avalia, como e porque.

    Os questionrios foram enviados por meio de correio eletrnico. Este e-mail

    constava de uma apresentao que descrevia o contedo do e-mail, forma de

    consentimento, formas de reenvio para resposta, prazo para reenvio e solicitao

    de reenvio do e-mail para outros fonoaudilogos. Alm desta apresentao, foram

    anexados a Carta de Informao, o Termo de Consentimento e o questionrio a ser

  • Material e Mtodo 27

    respondido. Ao reenviar o questionrio preenchido ao e-mail da autora, os

    fonoaudilogos participantes, firmavam seu Consentimento Livre e Esclarecido.

    Os questionrios foram enviados exclusivamente pelo programa Outlook

    Express, configurado na conta de e-mail da autora, onde foram armazenados, em

    diferentes pastas, todos os e-mails enviados e todos os e-mails respondidos, bem

    como aqueles que foram enviados, mas por algum problema tcnico no chegaram

    caixa do destinatrio, retornando caixa de e-mails da autora.

    Os endereos eletrnicos dos fonoaudilogos participantes foram

    adquiridos, primeiramente, por meio de contatos com outros fonoaudilogos, alunos

    de ps-graduao, especializao e aperfeioamento da FOB/USP e HRAC/USP, e

    professores dos respectivos cursos, que forneceram seus prprios e-mails e os e-

    mails de outros fonoaudilogos que conheciam.

    Tambm, durante cursos e congressos da rea, foram recolhidos os e-mails

    dos fonoaudilogos presentes, por meio de uma listagem anexada na carta de

    informao que tambm continha restries para a participao no estudo, como,

    por exemplo, o aviso de que apenas os fonoaudilogos j graduados poderiam

    participar do estudo.

    A dissipao dos e-mails contendo o questionrio sobre mastigao tambm

    ocorreu por meio de respostas, a partir da tecla responder a todos do programa

    Outlook Express, a e-mails recebidos do Conselho Regional de Fonoaudiologia,

    promoo de cursos de atualizao de diversas reas em diversas instituies.

    Foram adquiridos endereos eletrnicos de Fonoaudilogos no Guia do

    Fonoaudilogo, lista de Fonoaudilogos por cidade reproduzido pelo Conselho

    Regional de Fonoaudiologia 2 regio e tambm nos e-mail de cursos de graduao

    em Fonoaudiologia.

    Porm, o principal meio de distribuio dos questionrios, foi a partir dos

    prprios participantes que reencaminhavam o e-mail recebido.

  • Material e Mtodo 28

    Sendo, assim, alguns critrios foram propostos para a incluso dos

    questionrios respondidos na amostra:

    Os fonoaudilogos deveriam ser graduados, sendo desprezados os questionrios respondidos por graduandos;

    Os questionrios deveriam estar devidamente preenchidos, sem nenhuma questo em branco;

    Junto ao questionrio, o Termo de Consentimento tambm deveria vir corretamente preenchido.

    No perodo de setembro de 2004 a fevereiro de 2005, este questionrio foi

    enviado para, aproximadamente, 500 endereos eletrnicos.

    A cada envio, o fonoaudilogo tinha um tempo de 60 a 90 dias, para o

    preenchimento e devoluo do questionrio. No tendo respondido, os questionrios

    eram reencaminhados e dados mais 60 dias para a devoluo. Este procedimento

    foi realizado 3 vezes, de forma a dar oportunidade para a participao do

    fonoaudilogo no estudo.

    Foram obtidos 70 questionrios respondidos, cujos participantes atuavam

    em diversas regies do Brasil. Vale enfatizar que, o propsito do trabalho era

    colher dados de fonoaudilogos de diversas formaes, reas e locais de atuao,

    no estando delimitada a quantidade especfica e equilibrada nestas diversas

    variveis.

    Aps a leitura e anlise dos questionrios respondidos, os dados foram

    armazenados em um banco de dados, de forma que as respostas das perguntas

    abertas fossem agrupadas em aspectos comuns citados nas respostas dos

    fonoaudilogos. Tais dados obtidos dos questionrios foram analisados por meio de

    estatstica descritiva (%). Com base nesta anlise, bem como na literatura

    consultada e na experincia clnica da equipe do Laboratrio de Fisiologia do

    HRAC/USP, um protocolo de avaliao foi proposto.

  • Resultados

  • Resultados 30

    3. Resultados Este captulo compreender de 2 partes. A primeira apresentar os

    resultados obtidos dos fonoaudilogos entrevistados e a segunda

    apresentar a proposta elaborada para avaliao da funo mastigatria. A

    primeira parte, por sua vez, compreender 4 partes: caracterizao dos

    profissionais entrevistados, aspectos investigados na histria clnica,

    aspectos morfolgicos e sistema sensrio-motor oral avaliados, avaliao da

    funo mastigatria propriamente dita, bem como a avaliao de outras

    funes orais investigadas.

    PARTE I

    Caracterizao dos profissionais entrevistados

    Em relao s diferentes regies do Brasil onde residem e atuam os

    fonoaudiolgos participantes do estudo (grfico 1), dos 80% da regio

    Sudeste, 74% eram de So Paulo e 6% de Minas Gerais; dos 11% da regio

    Sul, 4% eram do Paran, 4% do Rio Grande do Sul e 3% de Santa Catarina;

    dos 6% da regio Nordeste, 4% eram de Pernambuco e 2% do Rio Grande do

    Norte e, dos 3% da regio Centro-Oeste, 1,5% eram do Mato Grosso e 1,5%

    do Mato Grosso do Sul. No houveram fonoaudilogos representantes da

    regio Norte.

  • Resultados 31

    Grfico 1 Distribuio dos fonoaudilogos entrevistados em relao

    regio do Brasil que residem e atuam profissionalmente.

    Pode ser constatado na entrevista que, quanto poca de concluso

    da graduao em Fonoaudiologia, aproximadamente metade da amostra

    graduou-se entre 2000 e 2003. A outra metade, concluiu a graduao entre

    as dcadas de 70 e 90.

    Desses profissionais, analisou-se a maior titulao, notando-se que

    12% realizaram somente a graduao, mas muitos realizaram ou esto

    realizando cursos de Ps-Graduao, sendo que 19% referem-se a

    Doutorado, 36% a Mestrado e 33% a especializao. Notou-se que alguns

    profissionais realizaram tanto Ps-Graduao Stricto Sensu quanto Lato

    Sensu.

    Assim, analisaram-se os questionrios no que se refere realizao

    de cursos de Ps-Graduao Stricto Sensu, independente de terem tambm

    realizado a Ps-Graduao Lato Sensu. Pode ser verificado que 8%

    realizaram ou esto realizando Mestrado, sendo 4% concludo e 4% em

    andamento, em reas como: Distrbios da Comunicao Humana, Educao

    Especial, Sade Coletiva, Fonoaudiologia, Enfermagem Fundamental,

    Pediatria, Cincias Mdicas, Cincias, Distrbios do Desenvolvimento,

    11%

    80%

    3%6%

    Nordeste

    Centro Oeste

    Sudeste

    Sul

  • Resultados 32

    Fisiologia Oral, Fisiopatologia Experimental, Semitica e Lingstica,

    Lingstica Aplicada, Sade Materno-Infantil e Neuropsicologia. Quanto ao

    Doutorado, 19% cursaram ou esto cursando, sendo 9% concludo e 10% em

    andamento, nas seguintes reas: Distrbios da Comunicao Humana,

    Educao Especial, Cincias Mdicas, Clnica Mdica, Lingstica Aplicada,

    Odontologia Social, Neuropsicologia e Gentica.

    No que diz respeito Ps-Graduao Lato Sensu, verificou-se que,

    dentre todos os profissionais entrevistados, independente de terem

    realizado Mestrado e/ou Doutorado, 64% finalizaram algum curso de

    especializao e 5% esto cursando especializao em Motricidade Oral.

    Daqueles que concluram especializao (64%), alguns j possuem o

    ttulo de especialista (24%), sendo 21% na rea de Motricidade Oral e 3%

    em outras reas. Outros (40%), apesar de terem finalizado a especializao,

    no possuem o ttulo de especialista, sendo 19% na rea de Motricidade

    Oral e 21% em outras reas.

    Pode ser verificado, tambm, que alguns profissionais (5%) no

    realizaram cursos de especializao, mas possuem o ttulo de especialista de

    acordo com as normas do Conselho Federal de Fonoaudiologia, sendo 3% na

    rea de Motricidade Oral e 2% em Voz.

    Fazendo uma anlise geral, dentre aqueles que cursaram ou esto

    cursando especializao (69%) e aqueles que possuem o ttulos de

    especialista (5%), totalizando 74%, dos fonoaudilogos, a maioria tem

    formao na rea de Motricidade Oral (48%) e o restante (26%) tem

    formao em outras reas, como Audiologia, Voz, Linguagem e Sade

    Coletiva.

  • Resultados 33

    Analisando-se a rea de atuao profissional dos fonoaudilogos

    entrevistados, nota-se que 97% atua com Motricidade Oral, 50% com

    Linguagem, 43% com Voz e 19% com Audiologia (Grfico 2), sendo que a

    maioria atua em 2 ou mais reas.

    97%

    50%

    43%

    19%

    0%

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    Motricidade Oral Linguagem Voz Audiologia

    Grfico 2 Distribuio dos fonoaudilogos entrevistados de acordo com a

    rea de atuao profissional.

  • Resultados 34

    Aspectos investigados na Histria Clnica

    Pode ser observado da anlise dos questionrios, quanto aos aspectos

    investigados na histria clnica, que dos 43 itens, apenas os itens 2, 19, 20,

    21, 22, 29, 32 e 41, so investigados por menos da metade dos

    fonoaudilogos. J, os itens restantes, so investigados por mais da metade

    dos profissionais, variando de 60% a 97%, conforme apresentado na tabela

    1.

    O questionrio tambm continha uma questo aberta (item 44), onde

    era possvel descrever algum outro aspecto investigado pelo fonoaudilogo

    em sua prtica clnica, os quais esto relacionados a seguir:

    Sade geral Desenvolvimento da alimentao Realizao de cirurgias e se houveram seqelas Tratamentos realizados Uso de medicao Presena de alergias Presena de falhas dentrias Presena de cries Realizao de tratamento endodntico Presena de doenas periodontais Alteraes gustativas (paladar) ou olfativas Presena de hbitos orais Presena de zumbido Hbito de mordiscar objetos Utilizao de prteses e/ou aparelhos ortodnticos Postura e local de alimentao Presena de apoio plantar durante a alimentao Preferncia por alimentos ou sabores Salivao Morde bochechas ou lngua durante a mastigao Parte o alimento com as mos Presena de tremor ou dor e em que local Dificuldades com alimentos slidos

  • Resultados 35

    Tabela 1 Ocorrncia dos itens investigados na histria clnica.

    Item Questes investigadas na histria clnica

    N %

    1 Dieta do paciente 65 93% 2 Dieta da famlia 30 43% 3 Consistncia da dieta 68 97% 4 Nmero de refeies dirias 56 80% 5 Tempo de alimentao 60 86% 6 Lado preferencial de mastigao 65 93% 7 Lateralidade do paciente 45 64% 8 Dor ao mastigar 67 96% 9 Cansao ao mastigar 60 86% 10 Dor nos dentes 42 60% 11 Dor na musculatura facial 61 87% 12 Dor na musculatura cervical 45 64% 13 Bruxismo 66 94% 14 Apertamento dentrio 64 91% 15 Apoio de mo na mandbula 52 74% 16 Onicofaqia 65 93% 17 Postura ao dormir 52 74% 18 Mascar chicletes 51 73% 19 Uso de telefone de um nico lado 26 37% 20 Fumo 34 49% 21 Postura de mandbula ao fumar 14 20% 22 Carregar bolsa/peso de um nico

    lado 24 34%

    23 Se o paciente tenso 53 76% 24 Se est constantemente sob

    estresse 46 66%

    25 Se realiza exerccios fsicos 43 61% 26 Tipo de esporte realizado 36 51% 27 Mantm a boca aberta ao mastigar 68 97% 28 Modo de respirao 68 97% 29 J realizou cirurgias com intubao 34 49% 30 Sofreu trauma no complexo

    craniofacial 50 71%

    31 Tem doenas steo-articulares 42 60% 32 Tem problemas hormonais 30 43% 33 Tem problema digestivo 59 84% 34 Sintomas de refluxo 55 79%

  • Resultados 36

    gastroesofgico 35 Tem estalido na ATM 67 96% 36 Tem crepitao na ATM 63 90% 37 Tem deslocamento de mandbula 60 86% 38 Em que momento h rudo na ATM 58 83% 39 Ingesto de lquidos para formar o

    bolo 67 96%

    40 Tem fora para mastigar 57 81% 41 Bate os dentes ao mastigar 31 44% 42 Triturao do bolo aps a

    mastigao 46 66%

    43 Escape de alimento ao mastigar 56 80%

  • Resultados 37

    Aspectos Morfolgicos e Sistema Sensrio-Motor Oral

    Neste item, os profissionais deveriam marcar se avaliavam ou no os

    itens apresentados no questionrio e, em caso afirmativo, descrever quais

    estruturas avaliadas e na seqncia, como se dava esta avaliao.

    Em relao sensibilidade, notou-se que 93% dos fonoaudilogos

    avaliam este aspecto nos rgos envolvidos na mastigao, enquanto 7% no

    referiram avali-lo. Dentre os que a avaliam, todos (93%) utilizam-se de

    estmulos tteis, como a diferenciao de texturas, identificao de

    temperatura, sabores e localizao, alm da capacidade de reconhecimento

    de formas, nas estruturas intra e extra-orais. Entretanto, ressalta-se que

    nem todos avaliam todas as estruturas, uma vez que deveriam descrever, no

    questionrio, quais as estruturas investigadas, conforme ilustra o grfico 3.

    Nota-se que as estruturas lbios, lngua e bochechas so investigadas pela

    maioria dos profissionais, variando de 80% a 86%, o vestbulo da boca, o

    palato duro e palato mole tm ocorrncia entre 59% e 67% de investigao

    e, a estrutura menos citada pelos profissionais foi o mentual (49%).

  • Resultados 38

    83%

    17%

    86%

    14%

    80%

    20%

    49%51%

    59%

    41%

    66%

    44%

    67%

    43%

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    90%

    100%

    lbios lngua bochechas mentual vestbulo palato duro palato mole

    referem avaliarno fazem referncia

    Grfico 3 Ocorrncia das estruturas avaliadas quanto sensibilidade.

    Em relao tonicidade, todos os fonoaudilogos entrevistados

    (100%) a investigam, porm, como na avaliao da sensibilidade, nem em

    todas as estruturas so avaliadas (grfico 4). Verifica-se que os lbios, a

    lngua e as bochechas so avaliadas pela maioria dos profissionais, com

    ocorrncia entre 88% a 97%, os msculos masseteres, mentuais e trapzios

    tem ocorrncia entre 53% e 73% e o msculo temporal foi a estrutura

    menos referida pelos fonoaudilogos, com ocorrncia de 39%. A forma de

    avaliao referida por todos os fonoaudilogos quanto a esse aspecto a

    palpao das estruturas, classificando-as subjetivamente em normotonia,

    hipotonia e hipertonia.

  • Resultados 39

    97%

    3%

    96%

    4%

    88%

    12%

    73%

    27%

    60%

    40%

    53%

    47%

    39%

    61%

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    90%

    100%

    lbios lngua bochechas mm.Masseteres

    m. mentual mm.Temporais

    mm.Trapzios

    referem avaliarno fazem referncia

    Grfico 4 Ocorrncia das estruturas avaliadas quanto a

    tonicidade/tenso.

  • Resultados 40

    Quanto dor palpao, 96% dos fonoaudilogos realizam tal

    avaliao, porm, nem todas as estruturas so avaliadas. Observou-se que os

    msculos masseteres e as ATMs apresentaram maior ocorrncia, entre 81%

    e 87% e, os msculos temporais, pterigideos e cervicais tiveram ocorrncia

    entre 60% e 74% e, a musculatura mentual apresentou ocorrncia de 40%

    (grfico 5). Como forma de avaliao desse aspecto, alguns fonoaudilogos

    citaram a presso digital, entre 1 e 2 kg, nas ATMs e nos msculos. Alguns

    tambm consideram, no s o relato do paciente quanto a sensao de dor,

    mas a observao na modificao da expresso facial.

    81%

    19%

    74%

    26%

    69%

    31%

    40%

    60%

    87%

    13%

    64%

    36%

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    90%

    mm.Masseteres

    mm.temporais mm.Pterigideos

    m. mentual ATM mm. Cervicais

    referem avaliarno fazem referncia

    Grfico 5 Ocorrncia das estruturas avaliadas quanto dor palpao.

  • Resultados 41

    No que diz respeito mobilidade e motricidade dos rgos

    envolvidos na mastigao, 99% dos fonoaudilogos referiram avali-las, mas

    nem todas as estruturas so verificadas (grfico 6). Os lbios, a lngua e as

    bochechas foram citados entre 81% e 99%, a mandbula foi citada por 73%

    e, o palato mole, a laringe, a testa e o nariz, tiveram menor ocorrncia,

    entre 26% e 46%. Quanto forma de avaliao, os fonoaudilogos

    referiram solicitar movimentos isolados e encadeados dos rgos a partir

    de ordens verbais e, se necessrio, quando no houver entendimento do que

    foi solicitado ou mesmo dificuldade na realizao do movimento, fornecido

    o modelo pela avaliadora. Nesta avaliao observado se os movimentos so

    coordenados e precisos e, quando alterados, em que momento podero

    interferir na funo mastigatria.

    93%

    7%

    99%

    1%

    73%

    27%

    81%

    19%

    27%

    73%

    27%

    73%

    26%

    74%

    46%

    54%

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    90%

    100%

    labios lingua mandibula bochechas laringe testa nariz palato mole

    referem avaliarno fazem referncia

    Grfico 6 Ocorrncia das estruturas avaliadas quanto

    mobilidade/motricidade.

  • Resultados 42

    Em relao ocluso dentria, os fonoaudilogos referiram que este

    aspecto deve ser investigado pela observao da face, dentes e relao

    entre os arcos dentrios, sendo citado a inspeo oral por todos os

    profissionais. Notou-se que 30% utilizam a classificao de Angle e

    descrevem a relao entre os arcos dentrios nos planos vertical, horizontal

    e transversal, 17% verificam a ocluso somente baseando-se na

    classificao de Angle e 53% baseiam-se nos planos espaciais: vertical,

    horizontal e transversal. Alm de observarem a relao entre a maxila e a

    mandbula, outros aspectos so verificados como desvio de linha mdia

    (69%), uso de aparelho ortodntico (69%), presena de falhas dentrias

    (63%), tipo de dentio (61%) e uso de prtese dentria (63%), conforme

    ilustrado no grfico 7.

    A minoria sugeriu a anlise da documentao ortodntica do paciente,

    se este for o caso, alm de mensurao de comprimento e largura faciais,

    teros da face, trespasse horizontal e vertical e desvio de linha mdia.

    Porm, todos enfatizaram a necessidade da avaliao e diagnstico

    detalhado realizado pelo cirurgio-dentista.

  • Resultados 43

    100%

    0%

    69%

    31%

    61%

    39%

    63%

    37%

    53%47%

    69%

    31%

    0%

    10%

    20%

    30%

    40%

    50%

    60%

    70%

    80%

    90%

    100%

    Relaomaxila-

    mandibula

    linha media tipo dentio falhasdentarias

    uso protese uso aparelhoorto

    referem avaliarno fazem referncia

    Grfico 7 Ocorrncia das estruturas avaliadas quanto ocluso dentria.

  • Resultados 44

    Avaliao da funo mastigatria propriamente dita

    No que diz respeito avaliao da funo de mastigao

    propriamente dita, pode ser notado, a partir das informaes relatadas no

    questionrio (grfico 8), que alguns aspectos so verificados pela grande

    maioria dos profissionais, como a preenso do alimento, os movimentos

    mandibulares, o tipo mastigatrio, a participao da musculatura perioral, a

    postura dos lbios e a formao do bolo alimentar mostraram, com

    ocorrncia entre 93 e 99%. Aspectos como a presena de rudo nas ATMs, a

    contrao dos msculos masseteres e o tempo mastigatrio foram menos

    relatados, ocorrendo entre 64% e 79%. Notou-se uma concordncia entre a

    maioria dos fonoaudilogos entrevistados em relao aos aspectos da

    mastigao que devem ser investigados na avaliao clnica.

    99%1%

    64%36%

    97%3%

    99%1%

    79%21%

    94%6%

    96%4%

    76%24%

    93%7%

    0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

    Preenso do alimento

    Tempo de mastigao

    Tipo mastigatrio

    Movimentos mandibulares

    Contrao do m. masseter

    Postura de lbios

    Participao da musculatura perioral

    Rudo na ATM

    Formao de bolo alimentar

    no fazem refernciareferem avaliar

    Grfico 8 Ocorrncia dos aspectos investigados na avaliao da funo

    mastigatria propriamente dita.

  • Resultados 45

    Em relao aos alimentos utilizados na avaliao, verificou-se o uso de

    vrios tipos de alimento, no havendo uma uniformizao quanto aos mesmos

    por parte dos profissionais, uma vez que a ocorrncia para a utilizao de

    determinados alimentos no foi elevada. Foram referidos os seguintes

    alimentos: po francs (37%); bolachas, mas sem especificar o tipo desta

    (20%); ma, mas sem informar se mantida o