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20 DE AGOSTO DE 2007 502º Encontro Semanal do Pacto de Cooperação da Agropecuária Cearense – AGROPACTO – TEMAS: I- “Oportunidades e Limitações da Cadeia Produtiva do Caju – Segmento Industrial e Comercial”; II- “Uso do Pedúnculo na Ração Animal”. PALESTRANTES: I- Empresário LUIZ EDUARDO DE FIGUEIREDO, Diretor da Sucos do Brasil; II- Dr. MAGNO JOSÉ DUARTE CÂNDIDO, Professor do Centro de Ciências Agrárias da UFC. DEBATEDOR: Dr. MEN DE SÁ MOREIRA DE ARAÚJO FILHO, Pesquisador da EMBRAPA Agroindústria Tropical.

502º Encontro Semanal do Pacto de Cooperação da ... · reportagem sobre o vinho, o suco de uva e isso está praticamente comprovado, ele cresceu 30% no mercado brasileiro, inclusive,

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20 DE AGOSTO DE 2007

502º Encontro Semanal do Pacto de Cooperação da Agropecuária Cearense – AGROPACTO –

TEMAS: I- “Oportunidades e Limitações da Cadeia Produtiva do Caju – Segmento Industrial e Comercial”; II- “Uso do Pedúnculo na Ração Animal”.

PALESTRANTES: I- Empresário LUIZ EDUARDO DE FIGUEIREDO, Diretor da Sucos do Brasil; II- Dr. MAGNO JOSÉ DUARTE CÂNDIDO, Professor do Centro de Ciências Agrárias da UFC.

DEBATEDOR: Dr. MEN DE SÁ MOREIRA DE ARAÚJO FILHO, Pesquisador da EMBRAPA Agroindústria Tropical.

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SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Bom-dia a todos. Vamos dar início a mais uma de nossas reuniões, hoje a de nº 502. O assunto que ainda continua em pauta é o caju. Durante a semana em que estive em Brasília soube que o assunto tem suscitado tal interesse, que as cinco palestras planejadas vão ser acrescidas de mais uma, com o tema do aproveitamento do LCC. Hoje vamos ter uma palestra de caráter extremamente prático, sobre as Oportunidades e Limitações da Cadeia Produtiva do Caju, no Segmento Industrial e Comercial, relativo ao pedúnculo. E também o Uso do Pedúnculo em Ração Animal. Para ministrar essas duas palestras, vamos nos socorrer do Empresário Luiz Eduardo Figueiredo, diretor da Sucos Brasil, a jandaia, conhecida por todos nós de longas datas, cuja família foi pioneira na atividade, no Estado do Ceará. É muito bom quando a gente sabe que uma empresa continua a vencer a barreira do tempo e consegue que aconteça uma sucessão natural, que ela permaneça por mais de 60 anos dentro do mesmo grupo empresarial, da mesma família à frente dos negócios. Para a parte de ração animal, o nosso palestrante será o Dr. Mário José Duarte Cândido, que é professor do Centro de Ciências Agrárias da UFC, trazido pelo companheiro Crisóstomo, que já deve estar com alentado trabalho das palestras que forma proferidas, para que possamos seguir o roteiro de acompanhamento dos trabalhos que estão aqui sendo desenvolvidos.

Convidamos os nossos palestrantes para comporem a Mesa, assim como o nosso debatedor, Dr. Mem de Sá Moreira de Araújo, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical. Assim como convidamos o Dr. Lucas Leite, Chefe da Embrapa.

O Dr. Luiz Eduardo, para proferir sua palestra. SR. LUIZ EDUARDO DE FIGUEIREDO: Bom-dia a todos. Primeiro quero agradecer ao convite, vejo alguns amigos aqui, o Tom... vou tentar ser breve na minha apresentação, mostrando um pouco das dificuldades e oportunidades que existem no mercado de sucos hoje, principalmente no caju. Aqui é um slide que mostra como o suco é pouco representativo na nossa economia:

16

24

28

6

4

46

21

653

40

Refrigerantes 11.572

Leite 9.718

Cerveja 8.220

Café 7.150

Água Mineral 5.042

Leite UHT 4.440

Suco em pó 3.005

Cachaça 1.016

Suco Concentrado 700

Sucos/Nectares e Refrescos prontos 350

Bebidas à base de soja 115

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Em refrigerantes, o Brasil é o terceiro maior mercado do mundo, isso em consumo per capito, só perdendo para os Estados Unidos e para o México. Nós temos aqui um consumo de leite relativamente pequeno, 53 litros/ano, um consumo muito pequeno, em relação a outros Países da Europa. Nós temos um bom consumo de cerveja, café, isso, consumos/ano, numa população de 182 milhões de habitantes. Então, nós observamos aqui que o suco concentrado, esse sim, é o que representa a maior venda do suco de caju no Brasil. Nós temos duas formas de vender suco no Brasil: uma é a versão integral, que o mercado popularmente conhece, que é o suco concentrado; e a outra, é uma versão pronto para beber. Essa versão pronto para beber, há alguns anos, vou mostrar o ano em seqüência, ela já foi bem representativa no consumo, hoje ela tem tendência muito grande de queda, justamente, pela falta de informação que o consumidor tem, das propriedades nutritivas que o caju tem. Só porque a Globo, há uns 6 meses fez uma reportagem sobre o vinho, o suco de uva e isso está praticamente comprovado, ele cresceu 30% no mercado brasileiro, inclusive, ultrapassando o suco de caju pronto para beber. Então, é uma preocupação que o empresariado tem e toda a classe que estiver envolvida no processo de caju, para divulgar mais essa questão nutritiva que o fruto tem.

Então, como conseguimos observar, os sucos prontos eles significam na verdade, 2.3 litros/ano. Isso é tão pouco, que qualquer País da América do Sul consome mais suco do que o Brasil. Nós podemos pegar aí o Chile, Argentina, o próprio Peru, que consome 3 litros/ano. Então, o Brasil está com 2,5, 3.3 litros/ano. Se nós formos nos comprar com os Estados Unidos, que consomem 42 litros/ano, se formos nos comprar com a Europa, que em média dá 36, mas pegando França, Alemanha, que dá acima de 50 litros/ano, então, mostra a grande oportunidade que o nosso mercado tem, para o crescimento dessas bebidas. Nós temos o clima tropical, clima quente, que visa realmente ao consumo de líquidos, mas infelizmente, hoje, o refrigerante está nessa maior fatia. Uma boa notícia também. Esse gráfico mostra o crescimento que o mercado está tendo nos últimos anos.

Nós conseguimos observar que refrigerante, e isso aqui é uma tendência mundial, há uma queda, a população já sabe que hoje não pode mais beber, consumir uma bebida, só por ser refrescante. Ela tem que ser refrescante e tem que ser nutritiva, um complemento alimentar. O nosso tempo não permite mais que possamos consumir produtos só pelo prazer, ele tem que dar o prazer e tem que dar a contribuição também, nutritiva.

Então, nós conseguimos aqui observar claramente, que de 1999 para 2004, tudo que envolve uma questão de saúde ou de funcionalidade, tem crescido acima do que o mercado de alimentos. Nós conseguimos identificar um crescimento aqui. Esse quadro é só de 2003, para 2004. A água de coco cresceu 25%; sucos e néctares, cresceram 14% e a bebida à base de soja, que é uma bebida funcional, com uma base menor, pouco representativa, cresceu 56%. É uma tendência mundial o consumidor migrar o quanto antes, para bebidas funcionais.

100%

150%

200%

250%

300%

350%

400%

450%

500%

1999 2000 2001 2002 2003 2004

Inde

x

CSD

Sucos prontos

Bebida à base de soja

Água de coco

Suco em pó

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Aqui nós temos os números de penetração nos lares. Refrigerante não tem mais o que penetrar. São 98%, 99% nos lares brasileiros, que já consomem refrigerantes. Então, aqui vem o grande desafio, a grande oportunidade. Sucos prontos, nesse período de 2001 para 2004, eles penetraram 66% a mais nos lares brasileiros. Então, tudo isso cria-se uma expectativa muito importante, em relação ao aumento desse consumo. Aqui é a evolução no mercado até 2004. São 350 milhões de litros, consumo domiciliar, mas é certo o crescimento ascendente. 1999 a 2004, constante. Nós acreditamos em nossos estudos e pesquisas dizem, que isso deverá continuar pelo menos, por uma próxima década, até começar a se estabilizar. Nós temos aqui uma característica de consumidor médio, leve, o que consome mais, o que consome menos, onde comprar. Então, geralmente, as cadeias de supermercados são os melhores canais de se vender sucos, apesar de que hoje, o tipo de embalagem sugere você consumir suco a qualquer hora, em qualquer lugar. Porque muitas vezes não precisa de refrigeração, para manter o produto em bom estado de consumo e são embalagens bastante práticas. Então, a tendência é cada vez mais ir para varejos, qualquer padaria e hoje, se vende suco em todo lugar. Nós temos um cliente em São Paulo, que compra muito mais do que um pequeno supermercado. É um salão de beleza para mulheres, onde as madames passam lá a tarde toda e não tem o que comer, o sujeito inventou de dar suco para elas suco light, inclusive de caju e tem tido um consumo altíssimo. Então, hoje o produto suco não tem uma discriminação do local para ser consumido. Ele pode ser consumido em qualquer hora, em qualquer lugar e por qualquer faixa etária, inclusive, até a questão de poder aquisitivo. Antigamente, era um produto péssimo, era um produto para poucos. Hoje, ele através das embalagens, através da quantidade de componentes, ele está bastante popularizado.

115140

206

282308

350

1999 2000 2001 2002 2003 2004

Consumo domiciliar

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Aqui nós temos um slide, que fala um pouco sobre a população e o consumo. É interessante. 21%, da população consome 36% do produto. Aqui, bebidas alcoólicas e os demais produtos. 35% consomem produtos light ou diet. É uma tendência, hoje em dia todos estão preocupados com a estética, com a questão da saúde. Então, isso aqui tende a crescer ainda mais. 9% do consumo dos sucos é feito pelos consumidores light e diet, ou seja, esse sim, é um público, ou seja, 9% de toda e qualquer companhia vende na versão light. Só uma observação aqui. Nós conseguimos ver que existe um crescimento aqui, uma possibilidade fantástica, porque muitos consomem suco, mas somente, 9% são light. Então, no mercado tem 25% de vários outros produtos. Aqui começou a ficar mais interessante. Estou falando sobre mercado de produtos light, onde nós temos aqui o pêssego com 31% de participação; o caju não aparece nas pesquisas, apesar de ser o responsável por 70% das vendas de suco na versão integral, versão concentrada. Então, está sendo um paradigma, o principal sabor que é consumido na versão concentrada, uma versão popular, que 1 real e 50, o sujeito faz 5 litros de suco, eu desafio qualquer aqui falar se existe uma bebida mais barata no Brasil, do que o caju concentrado, não existe. Você pega 2 litros de refrigerantes, por barato que seja, você vai gastar 1 real e 80. Você compra, como já disse, 1 real e 50, faz 5 litros de suco e adicionando o açúcar, ele vai sair 1 litro, pelo menos, uns 40% mais barato, do que qualquer refrigerante que você for tomar. E eu estou falando de suco com fibra, com vitaminas.

O que acontece é que a população está sendo levada para um consumo em massa e não faz essas contas. E isso é ruim, porque se nós não pedimos, se não tivermos essa preocupação de comunicar ao consumidor da importância do caju (como saiu no Diário do Nordeste, um caderno há alguns dias, como saiu no Globo Repórter, sobre as propriedades do caju, há uns 15 dias), a tendência é que o suco de caju vá ficando cada vez menos representativo no mercado.

Na nossa companhia, por exemplo, nós tivemos já na década de 80, mais de 60%, o faturamento era produzido pelo sabor caju. Hoje, se pegarmos a versão pronta para beber, o caju está em terceiro. Isso realmente, é uma notícia muito ruim e que temos que fazer todo esforço, para reverter esse quadro. Aqui já não é mais a versão light, nós conseguimos ver o caju quando ele aparece aqui, mas pouco significativo, só 4%, onde uva teve um crescimento para 21%. Nós tivemos uma reação muito boa do sabor manga. Manga até 20 anos atrás, era um produto deixado ao lado. Hoje, você tem barrinha de cereal de manga, iogurte de manga, tem chicletes de manga. Então, manga foi um sabor que foi difundido de uma forma impressionante, inclusive, fez com que ultrapassasse o caju aqui, em 2004. Aqui conseguimos ver que em 1998, o caju tinha 5%, em 2004, tem 4%. Então, obviamente, estou falando de mercados de sucos e néctares, sucos prontos para beber. Na versão do concentrado, na verdade, o concentrado é popularmente concentrado. Mas, nós sabemos que o suco integral sim, representa 70%, não só em nossa companhia, mas no segmento total de mercados. Se você pegar todas essas multinacionais que trabalham com esses produtos, eles também têm essa participação do caju. Aqui nós temos o consumo de mercado por regiões geográficas. Aqui a população no ano 2003 e 2004. Então, nós conseguimos ver que realmente, existe um aumento de consumo constante em algumas regiões. Por exemplo, na Região Centro-Oeste, aumentou bastante o consumo; o Rio de Janeiro, também; aumentou bastante o Interior do Estado do Rio de Janeiro; a Grande Rio, continua também crescendo; a Grande São

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Paulo, houve uma pequena queda; o Interior de São Paulo também e aqui na Região Sul, houve um crescimento. Aqui são uns dados sobre a questão do perfil do consumidor. Aqui é uma pesquisa focada somente nessas três capitais:

Source: Adhoc research – Interscience in January 2003

Homens e MulheresDe 14 a 65 anosClasses A/B/C Rio de Janeiro 200

São Paulo 250

TotalN.A.

Salvador 150

Entrevistas com: Cidades:

Pesquisa de Hábitos e AtitudesSucos, Néctares e Refrescos Prontos

Trinta por cento da amostra são compradores de sucos prontos; consumidores são pessoas de 14 a 39 anos, 73% de ambos os sexos, de classe A e B.

Consumidores de sucos prontos: São mais esportivos: procuram alimentos mais saudáveis, vida moderna, usam internet e buscam conveniência, adoram novidades. Os não-consumidores de sucos prontos: ficam mais em casa, são tradicionais e mais velhos, dedicam mais tempo para si e suas famílias, não usam muito Internet, são mais seletivos aos lugares que freqüentam. Ou seja, geração coca-cola, naquela época em que o bom era tomar uma coca-cola com cheeseburger. Isso tende a mudar bastante.

Árvore da decisão de compra envolve o sabor, claro, se você vai ao supermercado para comprar suco de manga, não vai se satisfazer com suco de acerola; ele pode até trocar a marca, se não tiver aquela de preferência dele. Porém, a marca tem grande peso, e eu tenho vivido isso, porque lançamos uma nova marca no mercado. O produto, com as mesmas formulações, com boa qualidade, só porque não está a mesma marca, ele não tem o mesmo resultado, a mesma aceitação. Então, é pouco provável que a gente vá envasar um suco de primeiríssima qualidade, se não estiver respaldado por uma marca, para que possa ser visto de forma diferente. Eu já vi diversas vezes dizerem: este suco da marca B é bem melhor do que eu teu suco, da marca A. Mas, na verdade, não deveria ser tão perceptível.

Aqui é uma imagem do setor de sucos: a percepção que o consumidor tem. Este aqui é o grande problema do Brasil, porque o próprio Ministério da Agricultura tem esse desafio de poder segmentar o mercado. Quando vamos para Europa, Estados Unidos, conseguimos ver uma infinidade de produtos na prateleira: água com sabor, energéticos, gatorades, isotônicos, néctar, uma infinidade de produtos. Aqui, o consumidor não tem essa percepção, ele acha que bebida que tem fruta, é suco. Isso é ruim para a questão de agregar valor ao produto. O sujeito faz refresco em pó e coloca no encarte, suco em pó. Aí fica difícil, porque refresco em pó é química pura, nós temos aqui os técnicos que sabem disso! E para aproveitar a fruta na embalagem, eles dizem que tem 1% de polpa de fruta, os consumidores menos avisados acreditam nisso e acabam se convencendo. Tem o grande apelo da questão do poder aquisitivo, que é uma verdade, mas aqui a percepção que os consumidores têm dos produtos, ele não sabe diferenciar muito o suco do néctar; o néctar da polpa, enfim,

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isso até por questões tributárias, existe uma diferença bem clara em relação a esses aspectos. Então, na Europa tem uma água rica em fibras solúveis, que é a grande sensação e já, já chega no Brasil, que é o sujeito tomar um copo d’água transparente, límpida e estar ingerindo um percentual de gramas de fibra solúvel, que vai facilitar a digestão, ou seja, bebidas funcionais.

A tendência dos produtos no Brasil: Produtos saudáveis e nutricionais, sucos e bebidas para classe C: produtos com apelo mais saudável e de baixo desembolso Fun beverages for young adults and kids, bebidas à base de soja com benefícios específicos, bebidas de baixa caloria para crianças.

Eu quero destacar aqui a soja, por ser realmente uma bebida extremamente importante, porque ela é rica em proteína, inclusive proteína isolada, não tem colesterol, não tem lactose e que, infelizmente o leite de soja não é muito saboroso. Então, quem sabe amanhã ou depois vamos ter a primeira bebida de soja de caju do Brasil? Que até então não existe pronta para beber. Aqui é um rápido histórico sobre a Companhia. Sucos Jandaia, fundada em 1941 no município de Pacajus. No cultivo da cajucultura, a meta para esta safra é de 35 milhões de quilos de caju, tentando bater o nosso próprio recorde. Os plantios próprios só conseguem suprir 10% da nossa demanda. O grande entrave da indústria, na verdade, não é o processamento. O processamento é difícil, requer investimentos, mas principalmente armazenagem. Vocês sabem que a polpa é armazenada a 15 graus negativos ao longo de todo ano até a próxima safra. Isso tem um custo, obviamente, o custo de manutenção, mas o problema é justamente a questão de mercado. A preocupação não é só a produção. Todos estão convidados para fazer uma visita à planta e identificarmos realmente, fazer um bentmarketing, ver as possíveis oportunidades. Capacidade produtiva, o mercado tem. Hoje, a plataforma industrial do Brasil pode processar, se quiser, eu acho que o dobro do que processa hoje, em termos de pedúnculo de caju. A questão é: onde armazenar e para quem vender isso. Então, eu acho que é muito mais intrínseco estudarmos sobre essas questões, tão importante quanto a questão da produção, de como produzir.

Pioneira em Sucos Prontos para beber em embalagens TP. Única empresa brasileira do segmento com plantio próprio, cerca de 300 mil cajueiros; Parque industrial com 60 mil m2 de área construída. Eu tenho uma história interessante: a empresa já exporta há 10 anos, mas há 5 anos tivemos um problema seriíssimo com o FDA dos Estados Unidos. Todos os nossos produtos têm o certificado do FDA, todos eles, temos 12 frutos diferentes na linha e todos estão registrados. Mas, quando foi um belo dia, nós exportamos três containers para New Jersey, nos Estados Unidos, e lá o técnico do FDA travou o produto lá, porque não podia, porque acidez não dava, ta-tá-tá... e volta e meia tivemos que mandar um técnico nosso lá para explicar. Porque o sujeito não entendia como estávamos processando a castanha de caju engarrafando para o sujeito beber. Quer dizer, a ignorância é tão grande que ele achava que o suco de caju, que é o Carju, inclusive tivemos que criar um novo termo, Carju Aple, ou seja, o pedúnculo do caju, como se fosse uma maçã, para que o sujeito compreendesse que na verdade ali não era suco de castanha, mas suco do pedúnculo do caju. Então, existe uma mística muito grande ainda no setor. Obviamente já estava registrado, foi liberado, o sujeito entendeu o que era, mas é um desafio, a cada dia no mercado de exportação. eu gosto de observar as coisas assim: quanto maior o desafio, maiores as oportunidades. O mercado de exportação tem uma grande capacidade de consumo. Então, eu acho que também seria importante, nesses seminários de estudo, nós observarmos a exportação do suco de caju, seja na versão concentrada, seja já pronto para consumo. A África, Angola, hoje, consome bastante caju, obviamente temos plantios lá, em Moçambique, em alguns países que estão próximos ao Trópico, que conhecem o produto, a fruta, mas não a têm na versão industrializada e está importando muito do Brasil. Cabo Verde, Senegal, Argélia, Angola, todos estão comprando bastante suco de caju. E existe não só no mercado africano, como no mercado da América Central e América do Norte, devida quantidade de pessoas que vive hoje nos Estados Unidos, provenientes de países da América Latina. Tem salvadorenses, porto-riquenhos, cubanos, que todos têm algum conhecimento do caju, e chega até a ser aquele produto de consumo de lembrança de casa. O sujeito está lá há muitos anos e então ele procura mata a saudade de casa comprando uma garrafinha de suco de caju Jandaia ou de qualquer um outro fabricante, para poder lembrar de casa. Temos percebido muito isso, não só no mercado hispânico como no mercado americano. Nós conseguindo, há pouco tempo, introduzir os nossos produtos numa das principais cadeias americanas, de público americano, chama-se Publics, uma das maiores do sul dos Estados Unidos, no Estado da Flórida, e é uma cadeia que faturou, no ano passado, 80 bilhões de dólares. Então, esse é um grande avanço para esse produto!

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Então, tudo isso, é um passo de cada vez. Nós acreditamos muito nessa questão da difusão do suco de caju no mundo todo. Os importadores que nós recebemos na nossa planta, eles ficam encantados com a questão do caju, da coloração, do aroma do caju, que realmente é uma fruta que encanta, devido sua fortaleza. Meu avô dizia que o caju era valente, porque em plena seca é uma fruta com 90% de líquido. Então, realmente o caju é fascinante! Se nós pudermos, de forma cooperada, tentar fazer o que a indústria de cachaça está fazendo, com muita perfeição, de criar realmente um conhecimento, patenteando esse nome cachaça no mundo todo, como esse produto que tem que ser proveniente do Brasil. Alguma coisa que pudéssemos fazer também para criar um conceito de caju. O que é o caju? De que forma pode ser consumido o caju? Nós temos vários exemplos, e aí, no café da manhã podemos consumir de diversas formas. Só que na nossa opinião, o problema é o mercado. caju, você pode fazer tudo com ele: vinho, cachaça, tudo! A questão é o mercado de consumo. Então, a priori, como vocês estão vendo que está em queda o consumo de caju, é importante tentar recuperar o que já tem de escala. E também os outros projetos em relação à ração animal. Vejam bem: nós temos este ano, se de fato cortar os 35 milhões de quilos, nós vamos ter aproximadamente algo em torno de 4 milhões em bagaço do caju. Só para tirar esse bagaço de caju de dentro da companhia, já é uma fortuna! Porque são caminhões e caminhões diariamente, porque num prazo de 80 dias tem que retirar e levar ara ser consumido de alguma forma. Existe já um processo da UFC, em biomassa, que está nos auxiliando lá, para que possa ser queimado, mas como meu amigo ali falou, que é um desperdício queimar isso em caldeira, mas tem uma vantagem também.

Anos 60. Pioneirismo na produção de suco integral de caju. Até então não existia esse produto, e hoje é responsável, no segmento, pela maioria das vendas. Apesar de outros sabores estarem crescendo bastante, mas na versão integral, que é aquele da garrafinha, que faz 5 litros, que desdobra, é um produto que tem ainda a maioria do mercado. Isso foi lançado em 1959, e aí uma empresa local de um grupo nacional, laçou logo em seguida, e aí depois vieram outras companhias. E continua até hoje com esse perfil. A tendência, é óbvio, é de que, com o passar do tempo, o suco pronto cresça mais. Hoje, a nossa companhia é em 50% sucos integrais e 50% sucos prontos. É possível que daqui a 5, 6 anos, essa distância já vá aumentando, porque o mercado de suco concentrado cresce menos e mais lento que o mercado se suco pronto, em virtude da praticidade e de todas as outras características. Outro sinal negativo, porque como o caju é representativo somente no suco concentrado, se o suco pronto continuar crescendo, daqui a 15 anos a participação de caju concentrado vai ser cada vez menor, porque o mercado diminuiu, migrou. Funciona mais ou menos assim: quando o sujeito tem um pouquinho a mais de dinheiro no bolso, ele sai do refresco em pó e pula para o suco concentrado. Por quê? Porque o suco concentrado, ele sabe que é saúde, que tem fibras, vitaminas, ele tem essa consciência, só que ele não tem o recurso para comprar. Muitas vezes não é nem o recurso, mas o desembolso, porque ele só tem 50 centavos, a nossa grande massa tem os 50 centavos para comprar o pacotinho do refresco artificial em pó. Quando ele tem um pouquinho de poder aquisitivo, ele migra do refresco e vai para o suco integral; e com um pouquinho mais,e lê sai do suco integral e vai para o suco pronto para beber, porque é mais prático. Então, a cadeia funciona mais ou menos dessa forma. O mercado de refresco em pó foi de 1 bilhão e 100 milhões de reais no ano passado; e o de suco concentrado, 400 milhões de reais, então, qualquer coisa que migre, faz muita diferença.

O mercado, hoje, tem 56 marcas de sucos, não tem mais espaço para ninguém, pelo contrário, já criou-se um ciclo de empresas que entram no mercado, passam 2, 3 anos e saem, e aí já vem outra, é concorrência perfeita, não tem mais como mudar, não tem mais espaço. As prateleiras do supermercado são inelásticas, elas têm lá talvez uns 10 metros de prateleira e lá não tem como, a cada ano, acrescentar 2, 3 marcas. Então, os supermercados, hoje, optaram por trabalhar em 8, 9 marcas, e que estiver lá, se dê por satisfeito; quem não estiver, vá atrás dos outros canais, que são muito importantes e bons, porque dão maior margem, que são os pequenos estabelecimentos, pontos de venda. Mas também é mais difícil se de introduzir, pela questão da marca. Isso, na versão pronto para beber.

Na versão concentrada já não se lançam mais produtos, nós temos umas 9 marcas, das quais 5 são multinacionais, grandes conglomerados empresariais e que sustentar esse consumo. É muito comum as pessoas perguntarem: Eduardo, você acredita que o suco concentrado vai ter um fim? Não, não acredito. Acredito que ele vá crescer menos do que o suco pronto. É verdade que ele cresce muito mais do que outros produtos, ele cresce 8, 9% ao ano, isso é muito maior que o crescimento de diversos itens, até mesmo da cesta básica (estes não crescem nem 2% ao ano). Por que ele não vai acabar tão cedo? Porque é um produto extremamente barato! Infelizmente também, ao suco de caju não se dá o valor dele. Imagine só: nós temos 8

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sabores na linha concentrada. O suco de caju é o que tem maior poder de diluição, ou seja, para ser consumido como refresco, ele faz 5 litros de suco, e é o mais barato. Então, tem alguma coisa errada, algo que o mercado não está entendendo. Como é que o produto que tem o maior poder de diluição, que é rico em vitamina C (mais do que alguns outros produtos, como a goiaba, a manga), é um produto rico em fibras, e como é que o mercado desvaloriza tanto esse produto? É uma questão, realmente! Se pegar uma caixa de suco de uva, 12/500, ela custa para o trade marketing 25 reais; uma caixa de suco 12/500 de caju custa 15 reais. Agora, o caju faz 5 litros, e uma garrafa do outro faz 1,5 litros. Alguma coisa não está batendo nessa conta.

O que tem que ser feito? Trabalho de divulgação e conscientização do consumidor. Mas, acredito que um pouco mais ainda é a questão de fazer esses seminários, criar uma solução ímpar, única, para que possamos divulgar melhor o caju, para que ele possa receber o valor que tem.

Aqui algumas fotos do processo produtivo. Nós chegamos a cortar, no pico da safra, até 1 milhão de quilos/dia. Isso tem que ter um trabalho, porque, como vocês sabem, o caju não aguenta muito desaforo, ele tem que ser colhido de manhã e no máximo à noite estar sendo processado, caso contrário, para o nosso padrão de suco, ele já não tem uma boa aceitação. Existe inclusive um descarte, que o sujeito chega lá uma hora da manhã e já não tem uma qualidade e a gente não pode fazer esse processamento. Aqui são máquinas que cortam 15, 10 mil quilos/hora. Aqui a linha de engarrafamento e a expedição.

O caju tem um ano de validade, é um processo hot feel, elevado a 90 graus, lá envasado e depois entra num túnel de resfriamento e recebe um choque térmico. Aqui são as linhas do 500ml, que é o que mais representa. Já é diferente do processo asséptico, que elevamos a 85, 90 graus, segura-se por 14 segundos e depois baixa à temperatura ambiente. Isso tudo numa câmara asséptica e embala automaticamente nas embalagens longa vida, cartonadas.

Existe uma tendência de mercado para trabalhar com a linha do plástico. O plástico, hoje, tem custo tão alto quanto o do vidro, não é um diferencial financeiro; e tem uma desvantagem: como o produto é envasado a quente, o plástico não está apropriado para receber 90%, então ele diminui um pouco o processo de pasteurização e isso faz com que o produto tenha um prazo de validade menor, saindo de 12 para 6 a 8 meses. Caso contrário, ele vai escurecer mais rápido. Então, não é uma vantagem comparativa ainda, mas existem tecnologias que já estão se preparando para isso.

Aqui é um processo asséptico, são máquinas suecas e eles têm toda a linha, da pasteurização ao encaixotamento final.

Nós temos uma companhia, aqui no Estado do Ceará, a Rivomaq, que produz máquinas de corte, inclusive de primeiríssima qualidade, o maquinário todo em aço inox, não deixa a desejar nenhuma companhia dessas do Sul, como Centenário, ou qualquer outra.

Quer dizer, know-how o cearense tem, assim como produção. Eu acho que um dos tópicos a serem discutidos aqui é a questão do mercado. vamos produzir. Vamos fazer o quê com essa produção? De que forma vamos colocar essa produção no mercado? tudo o que for feito em prol desse objetivo, certamente vai fazer com que existe mais consumidores para esse mercado.

Nessa linha, o caju recebe três lavagens, antes de ser despolpado. Aqui também as linhas do abacaxi (seleção feita manualmente por funcionários treinados), maracujá...

Hoje nós utilizamos parte do bagaço para ração animal. Ele entra em silos, fermentado, e depois é colocado para o gado da companhia. Ma,s eu acredito que devido a essa questão do crédito de carbono, esses estudos, de repente pode ser que no futuro tenhamos um tijolinho feito de fibra de caju, queimando em todas essas caldeiras, com poluição zero. É bem interessante esse projeto, e acho que pode agregar um bom valor.

Aqui as ações de marketing da companhia, tentando investir o máximo possível em questão do esporte e linkando o produto ao esporte, algumas equipes de triatletas, fórmula de carros, campeão brasileiro de karatê, patrocinado pela nossa empresa. Tentamos fazer degustação de sucos em todos os ambientes imaginados, em ônibus,rodoviária, seminários, enfim. O Ceará recebe uma média, por mês, em torno de 26 eventos de todos os tamanhos, nacionais e internacionais, e em todos eles estamos lá, com degustação de suco de caju, tentando criar essa impressão de que o Ceará é um bom produtor de suco de caju. E isso não acontece no Brasil. Há um tempo me perguntaram se seria interessante linkar a marca Jandaia com o Ceará, e na verdade as pessoas nem sabem que a marca Jandaia é do Ceará; o mercado do Rio de Janeiro pensa que a marca é produzida lá. Então, é importante criar esse conceito de que aqui nós temos a maior produção nacional de processamento do suco. Nós temos aqui três indústrias de suco de caju e acredito que este ano deverão processar em torno de 60 milhões de quilos, dos quais pretendemos ter uma fatia de 35 milhões de quilos na safra deste ano.

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Nós temos também um Projeto Escola, fantástico, que resgata toda a origem do povo cearense, lá nós falamos sobre o processo, essas crianças vão à fábrica, são 100 crianças por dia (50 pela manhã e 50 à tarde), uma equipe toda da companhia, com psicóloga, pedagoga, técnico de segurança que acompanham essas crianças, principalmente agora na safra, e elas vão ver o corte do caju, depois sendo envasado o caju, recebem noções básicas sobre a coleta seletiva de lixo, de reciclar o lixo; recebem um lanche dentro da empresa. 70% de escolas particulares do Município de Fortaleza, e 30% de escolas públicas, até vendo pelo lado social da companhia. Então, elas passam um turno na companhia e recebem todos esses conhecimentos. Também grupos de terceira idade, clientes de consumidores, clientes dos nossos clientes, das cadeias regionais e cadeias brasileiras vão à empresa também. É uma forma de divulgar realmente a importância do caju na pauta de exportação do Estado do Ceará, na geração de emprego e renda.

Aqui é uma outra companhia que foi criada, a Sucos Flamingo:

Marca

Essa foi a última empresa de porte nacional, nos últimos 5 anos, a lançar suco integral no mercado. Então, isso mostra que tem uma certa resistência na questão de entrar no segmento, e é o que mais representa para o consumo do pedúnculo, processado e transformado em suco.

Então, é uma preocupação que existe, realmente, quem está no mercado, hoje, está bem, as multinacionais estão com sua participação, com sua fatia, cresce 9% ao ano (bastante considerável), mas também não têm mais nenhuma força de outros empresários entrarem no segmento. Porque, na verdade, é segmento é bastante competitivo, mas é muito melhor participar de um segmento quando tem capital estrangeiro, que valoriza e investe no mercado. na década de 1990, o consumo de suco pronto no Brasil era menos que 15% do que é hoje, isso em virtude de que vieram empresas de fora, investiram no mercado, trabalharam com preços vantajosos, agregando valor ao mercado, ao segmento, fazendo com que valorize o segmento. Temos que ter a preocupação também de não querer entrar no mercado de qualquer jeito, porque você tem que ter escala; para fazer escala, tem que vender barato. Para vender barato, prostitui o mercado. E aí vai chegar, como chegou o caju, hoje, na versão concentrada, que não existe uma explicação clara de por que ele é tão barato em relação aos demais sabores. Entrou tanta gente no mercado do suco de caju, e aí não conseguia dar escala, não tinha sustentabilidade, baixaram o preço. E hoje está pejorativo. O suco de caju, hoje, é pejorativo no mercado. ele é bucha de canhão. Quem tem, faz volume, porque vende bastante, tem uma margem menor, e em compensação vende o restante da linha. Então, quem quer ter suco de caju e mantê-lo no mercado, tem que ter pelo menos mais 40 a 50 itens para poder ter escala, senão não consegue

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ter escala. É importante? É. Sem o caju, você perde uma boa base de frente. Você chega em prateleira de supermercado, em qualquer uma delas você vai ver talvez aí uns 40% de participação do caju na versão concentrada, e 60% dividida em outros 7 ou 8 sabores.

Então, tem esse peso, tem esse apelo, mas ele só não banca estar lá na prateleira. Se for para entrar no mercado, tem que entrar com tudo, com o pacote completo, porque só o caju, não dá sustentabilidade. Vivemos isso no passado, tivemos algumas dificuldades, ele tem o lado positivo, mas tem também o lado negativo, porque não tem valor agregado, é um produto realmente muito barato.

Esta aqui é uma planta nova, que inauguramos em 2005, e hoje está só para a área de envase e a outra está sendo adaptada só para processamento, inclusive para o mercado de exportação, apesar do dólar não estar com expectativa muito boa. Mas, nós acreditamos muito na difusão do caju através do concentrado. Vejam bem, o Brasil é o maior exportador de suco de laranja do mundo! Sucos concentrados são insignificantes nessa pauta, os sucos tropicais. Então, se nós tivermos um pouquinho mais de participação do caju no exterior, ou seja, vendendo para embalador, nem que chegue lá e façam blend, ou seja, peguem o caju e misturam com pêssego, com manga e faz um polifruti (que nós temos uma versão aqui que são 7 frutas, o caju entra com 40%), se conseguíssemos entrar em 5% uma formulação, uma empresa dessas alemã ou francesa, que têm um consumo absurdo, já seria uma forma de pelo menos divulgar o nome: aqui tem suco de caju.

Então, a companhia acredita nisso, já fez algumas experiências no passado, numa empresa de Heidenberg, na Alemanha, que é uma das maiores empresas de insumos para as indústrias de sucos e biscoitos, alimentos em geral, que tem 5 plantas no mundo, e essa empresa está sendo nossa parceria, chama-se Wild e é uma empresa que tem possibilidade de vender para todo o trade da Europa. Nosso sonho é que pelo menos numa composição de um blend desses tenha 5% de caju, 3% de caju, mas pudesse estampar, lá nos ingredientes, que tem suco de caju. Isso seria a maior divulgação que o Brasil poderia fazer. É um sonho nosso e estamos trabalhando para, em 2008, partir para esse mercado, com metas, com profissionalismo, com pessoas da companhia indo a feiras e eventos, divulgar a versão concentrada, a versão 35 brix em tambores, asséptico e vamos atrás de pegar esse mercado.

Esta é a versão 500ml concentrado, que é a mais consumida em suco de caju, hoje. Temos caju também na versão pronto para beber em 1 litro, e garrafinhas de 200 e 300ml.

Bem, quero agradecer, estou à disposição para qualquer pergunta e fico feliz em poder estar contribuindo nesse processo tão importante, que é este seminário. Obrigado. (Aplausos). SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Agradecemos à palestra do Dr. Luiz Eduardo e vamos ouvir agora o Dr. Magno José Duarte, sobre o uso do pedúnculo na ração animal. SR. MAGNO JOSÉ DUARTE CÂNDIDO: Bom-dia a todos. É um prazer estar aqui no Agropacto, contribuindo com a discussão em torno da cadeia produtiva do caju. Sou professor do departamento de Zootecnia da UFC e temos trabalhos na área de forragicultura e alimentação de ruminantes e temos dado continuidade a uma linha de pesquisa que foi iniciada pelo Professor José Newman Miranda Neiva, com uso de subprodutos da agroindústria na alimentação animal. E essa linha, muito forte, tem dado muito pano para mangas, tem muita gente trabalhando com isso, então vamos tentar apresentar aqui algumas coisas que já foram feitas lá no Departamento de Zootecnia e por outros colegas da área, inclusive pelo Dr. Enéias, que está aqui presente e vai poder trazer grande contribuição para a discussão. Uma pequena introdução, com o Cajueiro (Anacardium occidentale): lugar de destaque entre as plantas frutíferas tropicais f(comercialização da amêndoa e do LCC, líquido da castanha de caju). O produto que difunde mais o cajueiro é realmente a castanha de caju, é o produto que tem tido maior saldo de exportações, etc. Mas, o caju, já percebemos, inclusive pelo que vem sendo discutido aqui no Agropacto, a versatilidade que ele tem, de produtos que podem ser aproveitados.

É uma planta nativa do Brasil, mas somente nos últimos anos passou a ser encarada como fonte de renda nas regiões Nordeste e Norte do País. Ceará: principal produtor de castanha de caju do Brasil, de acordo com dados de 2005, embora já esteja um pouco desatualizado, para termos alguma referência para discutir o potencial que temos aporá trabalhar com esse material na alimentação animal. Em 2005: 148 mil t (castanha de caju) x 9 = 1.329 mil t pedúnc x 40% = 531 mil t bagaço. Aí temos que fazer essas contas, partindo do pressuposto de que 10% da produção de castanha, 90% é pedúnculo, então teriam sido produzidos 1 milhão 329 mil toneladas de pedúnculo. Admitindo que 40% do pedúnculo torna-se bagaço, após a extração do suco,

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então teríamos nesse ano, uma produção de 531 mil toneladas de bagaço de caju, um material em grande quantidade, que merece ser aproveitado de todas ass maneiras possíveis. O caju tem outra característica interessante para alimentação animal: a safra de caju é na época seca do ano, e isso, nós que trabalhamos na área de forragicultura, falamos aos quatro cantos que um problema da forragicultura é a estacionalidade da produção, a falta de alimentos na época da seca. Então, nesse sentido, o caju entra com uma ótima alternativa, para contribuir na alimentação animal na época da seca. Podendo ser utilizado substituindo alguns volumosos e alimentos concentrados, dependendo de qual subprodutos do processamento caju estamos falando, que podem ser usados alimentação animal vem sendo avaliada, pois poderá ser uma excelente alternativa alimentar. Eles têm sido avaliados e alguns resultados têm mostrado como excelente alternativa para utilização na alimentação animal. Embora o tema proposta seja o uso do pedúnculo na ração animal, vamos falar de pedúnculo e de bagaço, porque é muito difícil separar uma cosia da outra, e seria até uma ingratidão com o bagaço não falar dele aqui. Possivelmente até o bagaço ofereça mais alternativas de uso para alimentação animal do que o pedúnculo, porque o pedúnculo, a perecibilidade é maior que a do bagaço. A forma de utilização do pedúnculo e do bagaço: pedúnculo de caju in natura, pedúnculo de caju desidratado, bagaço de caju in natura (Resíduo da indústria de suco), bagaço de caju desidratado, pedúnculo de caju enriquecido, bagaço de caju enriquecido (desenvolvido por José Simplício Holanda) e em todas essas formas: alimento exclusivo ou na formulação de rações balanceadas. Uma dúvida que fica é se essas foras de subprodutos do caju podem ser utilizadas como alimento exclusivo ou na formulação de rações balanceadas. Vemos muitos produtores perguntando como fazer para usar o bagaço, o pedúnculo, se bota no coxo direto, para alimentar os animais. O produtor às vezes quer simplificar demais as coisas, e realmente, pelo que temos visto, eles devem ser utilizados dentro de uma formulação de razão, dentro de uma dieta balanceada; se for dar só bagaço, ou só pedúnculo ao animal, mesmo ruminante, eu adianto que trará dificuldades em torno do desempenho do animal. Então, é interessante que sejam utilizados dentro de uma formulação acrescendo aminoácidos, proteína, etc., na ração para qualquer animal, seja ruminante ou monogástrico. Uma das alternativas que temos para utilizar esses materiais, pedúnculo e bagaço, é na ensilagem do Capim Elefante. É uma linha de pesquisa que temos no departamento e começou há bastante tempo. Qual a idéia nesse caso? O Capim Elefante é uma forrageira clássica extremamente versátil, utilizado verde, picado, ensilagem, enfim. Ele não tem o teor de madeira seca adequado para ser ensilado, e ficar com valor nutritivo bom; se esperar mais, para aumentar a matéria seca, aí cai o valor nutritivo. Então, fica uma situação difícil de conciliar. Além disso, o Capim Elefante tem Baixo teor de carboidratos solúveis, que são essenciais para garantir um processo fermentativo adequado no interior do silo. Ideal: 15% da MS, mas pelo menos 8% E o capim Elefante tem também Alto poder tampão. E isso aqui seria uma resistência que a planta tem à redução do PH, que é processo fundamental para que haja a conservação da forragem no interior do silo. Ideal: baixo poder tampão ⇒ ⎢ pH < 4,2. Então precisamos buscar alternativas para superar essas limitações do Capim Elefante para ensilagem, e nesse sentido os subprodutos da agroindústria entram com grande potencial de uso. Temos os subprodutos do caju e vários outros: abacaxi, maracujá, urucum, manga, banana, goiaba, acerola, graviola, melão, coco... temos trabalhado com todos eles, sendo que o caju é um dos que temos tido mais resultados, por trabalhar há mais tempo. Esses materiais, de modo geral, desde que sejam desidratados, têm elevado teor de matéria seca, e então, adicionando ao Capim Elefante, eles podem corrigir o problema no momento de ensilar. Eles têm também bons teores de substratos para fermentação e bons valores nutritivos. Para humanos não tem alto valor nutritivo, mas para ruminantes têm sim. Vamos tentar fazer alguma diferença do bagaço para o pedúnculo. Temos aqui a composição química do bagaço e do pedúnculo de caju in natura ou desidratado de acordo com a literatura revisada, como porcentagem da matéria seca (citações em Ferreira, 2005).

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Então, vejam que em termos de proteínas, são materiais que têm grande importância. Vejam só: 14% de proteína, em média, nessa citação aqui, 19,7% de proteína. Então, realmente é um alimento que se formos comparar com as nossas forrageiras tropicais, 14% de proteína, em termos de gramínea, só o Tifta que vai ter. então, realmente é um subproduto que para a alimentação animal e um grande subproduto. Ele tem aqui um teor de FDN elevado, fibra, que isso aqui o Eduardo estava comentando na palestra dele, para alimentação humana, até a fibra que tem é importante, nutricionalmente, agora, para o animal, com essa quantidade de fibra que tem aqui no subproduto, pedúnculo ao bagaço, já é um pouco complicado, mas isto aqui não é o mais complicado, que essa fibra aqui, em detergente neutro, ela é uma fibra que o ruminante, principalmente, consegue trabalhar bem, o problema dele é a fibra em detergente ácido, que é constituinte dessa fibra, mas quanto maior for, menos nutritivo é o alimento. Então, o pedúnculo e o bagaço de caju têm realmente um teor de fibra detergente ácido bastante elevado, e um dos responsáveis por esse alto teor de FDA é justamente um dos grandes problemas do bagaço e do pedúnculo, que é a lignina, que se associa intimamente à celulose e acaba reduzindo o aproveitamento dessa celulose pelo animal. Além disso, o pedúnculo e o bagaço do caju têm outro constituinte, que já foi mostrado na reunião da semana passada aqui, que é o tanino, tem algumas utilizações dentro das possibilidades de diversificar renda do produtor, as para alimentação animal, novamente, é problemático. O tanino via trazer problemas que vamos mostrar à frente, a complexado com composto protéicos, reduzindo a possibilidade de aproveitamento da proteína, pelo animal. Então, embora o pedúnculo e o bagaço tenham teor de proteína interessante, uma boa parte dessa proteína, quando entrar no trato digestivo do animal, ela vai ser complexada com esse tanino e não poderá ser bem aproveitada. Bom, aqui um trabalho executado no nosso departamento, no Núcleo de Ensinos e Estudos em Forragicultura, um trabalho avaliando a ensilagem do Capim Elefante com bagaço de caju.

MS1 PB1 FDN1 FDA1 HCEL1 CEL1 LIG1 TAN Vasconcelos et al. (2002) 29,2 14,4 70,1 54,5 8,6 33,5 20,5 13,2 Oliveira et al. (2002)* 88,4 13,1 73,1 55,4 17,7 - - - Leite et al. (2004)* 90,1 19,7 58,4 36,7 21,7 25,4 12,5 20,0

bagaç

bagaçbagaç

pedúncpedúnc

Rogério (2005) 89,1 14,0 79,2 68,6 10,6 30,8 37,7 -( ) , , , , , , , ,Ferreira et al. (2004) 25,4 14,2 65,5 47,0 18,5 24,3 22,5 -

MS1 PB1 FDN1 FDA1 HCEL1 CEL1 LIG1 TAN Vasconcelos et al. (2002) 29,2 14,4 70,1 54,5 8,6 33,5 20,5 13,2 Oliveira et al. (2002)* 88,4 13,1 73,1 55,4 17,7 - - - Leite et al. (2004)* 90,1 19,7 58,4 36,7 21,7 25,4 12,5 20,0

bagaç

bagaçbagaç

pedúncpedúnc

Rogério (2005) 89,1 14,0 79,2 68,6 10,6 30,8 37,7 -( ) , , , , , , , ,Ferreira et al. (2004) 25,4 14,2 65,5 47,0 18,5 24,3 22,5 -

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Mais uma vez, observamos o problema da lignina, 22,5%, então realmente vai ser recorrente nos dados que vou mostrar adiante. Inclusive ainda tem uma outra problemática: a lignina e o tanino, todos dois são compostos fenólicos e todos dois são tidos como compostos anti-nutricionais, ou seja, reduz o aproveitamento pelo animal. E a determinação laboratorial deles é complexa, principalmente a do tanino. E às vezes há até o risco de haver uma confusão na hora de fazer a análise, entre esse resultado aqui, por exemplo, seria 22,5% lignina, ou uma parte disso é tanino? Então, tem problemas metodológicos que acabam complicando um pouco a coisa, mas o fato é que a lignina compromete, reduz o aproveitamento da celulose pelo animal, e o tanino reduz o aproveitamento da proteína pelo animal.

Resultados obtidos do Capim Elefante com adição do bagaço de caju in natura, conforme Ferreira, elaborado em 2004.

O que se observou? Para ensilagem do Capim Elefante, trabalhar com material in natura, deixa de ter uma das grandes vantagens, que é elevar o teor de matéria seca da massa ensilada. Vejam que o teor de matéria seca, mesmo com os níveis de adição do bagaço de caju, ele se manteve com matéria seca baixa. E a ensilagem tem que ter 30% de matéria seca, pelo menos. Nesse caso, não conseguiu elevar o teor de matéria seca.

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Realmente, com o objetivo de melhorar as características fermentativas da silagem do Capim Elefante,

o material que for adicionado preferencialmente deve ter um elevado teor de matéria seca. Tem que ser desidratado antes de ser misturado com o Capim Elefante.

Em termos de proteína melhorou, porque o bagaço tem seus 14% de proteína e o Capim Elefante apenas 3%. O teor de fibra permanecer praticamente inalterado, conseguiu reduzir um pouco o PH. E o nitrogênio amoniacal também foi reduzido. Apesar de não ter conseguido elevar o teor de matéria seca da massa ensilada, mas conseguiu melhorar alguma coisa em termos de padrão fermentativo.

Foi avaliado também o consumo e teor de NDL dessa ensilagem. O que se observou foi que o consumo aumentou, embora estatisticamente não tenha dado diferença. O animal consumiu mais à medida que aumentamos a quantidade de bagaço. Agora, a digestibilidade, essa realmente, de 39,9 para 41 aqui...

Até aqui, 12% de adição, principalmente, a digestibilidade aumentou, então, possivelmente até esse

nível de ação, o bagaço mais contribui do que atrapalha, porque tem mais proteína, pode ter ainda um pouco de carboidratos solúveis ali presentes, então isso contribui para a nutrição do animal. Mas, à medida que o nível de adição do bagaço aumenta muito, então aqueles problemas de compostos nutricionais, lignina e tanino, começam a prevalecer e superar o benefício do maior teor de proteína, e aí não se torna interessante. Então, níveis muito elevados de adição do bagaço, vão trazer problemas de digestibilidade da ração para a o animal.

Eu trouxe bastante dados, para se alguém quiser conversar sobre algum número específico, mas vou enfatizar os que estão em vermelho, para também não ficarmos presos à tabela.

Nesse caso aqui já é o uso do bagaço de caju desidratado na silagem de Capim Elefante. Valor nutritivo de silagens de capim elefante com 5 níveis de adição do bagaço de caju desidratado

(Ferreira, 2005).

Variável 0% 12% 24% 36% 48%

M 23,1a 23,2a 24,6 23,0a 21,8

P 3,6 5,3 7,5 9,6 9,5

FD 77,2 75,2 76,6a 73,4 75,4

P 4,7 4,3 4,2b 4,2 4,2 N_NH 13,2 6,2 4,0 3,5 3,1

41,69a45,92 a40,67 a44,41 a38,37a NDT (%) 41,11a44,60a41,87a47,71a39,90a DMS (%)

412,90a384,28a 299,54a309,63a284,40a CMS (g/animal/dia) 48% 36%24%12%0% Parâmetros

Níveis de adição de bagaço de caju

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Então, vejam que já houve uma contribuição muito boa para elevação do teor de matéria seca da

silagem, saiu de 19 para 27%, já chegou próximo do limite ideal de 30% para silagem de boa qualidade. Novamente o teor de proteína bruta foi elevado de 4 para 9%, o bagaço contribui para isso. Agora, o

problema novamente, a lignina, que era de 13% no Capim Elefante sem bagaço, foi elevada para 24% quando trabalhou com 14% de adição do bagaço. Então, se aumentar muito o bagaço, isso vai aumentar o teor de lignina e vai trazer problemas para a nutrição do animal.

E olhem só aqui também o Nitrogênio Insolúvel em Detergente Ácido (NIDA), que é a proteína do alimento que está presa em detergente ácido, que é aquela fibra de menor digestibilidade. Percebam que o teor desse nitrogênio preso àquela fibra indigestível, no Capim, sem adição de bagaço, era de 11%. Com 14% de adição do bagaço, já se elevou para 25%, ou seja, novamente a presença do tanino do bagaço está complexando com a proteína e deduzindo a disponibilidade dessa proteína.

Em seguida: Digestibilidade da matéria seca e dos nutrientes de silagens de capim elefante com 5 níveis de adição do bagaço de caju desidratado (Ferreira, 2005).

Níveis de adição do SPCD (%) 0 3,5 7 10,5 14 Equação de Regressão

MS(%) 19,84d 21,04cd 22,12c 25,35b 27,05a Ŷ = 19,33 + 0,53x R2 = 0,91 MO1 87,26c 87,97c 87,90c 89,41b 90,66a Ŷ = 86,99 + 0,23x R2 = 0,78 PB1 4,67c 5,44c 7,08b 8,12ab 9,10a Log(Ŷ)= 0,67 + 0,02x R2 = 0,91 FDN1 73,13a 73,87a 74,00a 71,43a 71,94a Ŷ = 73,84 – 0,14x R2 = 0,17 FDA1 45,35c 48,78ab 48,24ab 47,06bc 49,32a Ŷ = 46,51 + 0,18x R2 = 0,24 HCEL1 27,78a 25,09abc 25,76ab 24,37bc 22,62c Ŷ = 27,33 – 0,31x R2 = 0,56 CEL1 31,43a 31,49a 29,06ab 25,58bc 23,46c Ŷ = 32,57 – 0,62x R2 = 0,74 LIG1 13,34a 16,51b 18,18bc 20,29c 24,36d 1/ Ŷ = 0,072 – 0,002x R2 = 0,90 NIDN2 26,98c 41,95b 45,94ab 46,63ab 57,46a Ŷ = 30,66 + 1,87x R2 = 0,65 NIDA2 11,70b 21,40a 19,21a 21,08a 24,75a Log(Ŷ)= -1,15 + 0,01x R2 = 0,44 EB3 3,87d 3,93cd 4,00bc 4,11ab 4,16a Ŷ = 3,86 + 0,02x R2 = 0,81

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Nesse caso, não teve redução aparente aqui na digestibilidade nem aumento, então, digamos que

nenhum parâmetro da digestibilidade foi alterado aqui pelo bagaço de caju desidratado. Então, até esse nível de 14%, as conclusões: em termos de digestibilidade nada foi alterado.

Em termos de consumo, com 0% de adição do bagaço, o consumo dos ovinos de 1,6% do peso vivo, em termos de consumo de matéria seca, isso não foi um consumo muito interessante, um ovino consome em torno de 3,5% do peso vivo dele por dia, então nesse caso, 1,6% foi consumo baixo; até 10% de adição de bagaço elevou o consumo a um patamar bem próximo do ideal, sendo que quando partiu para 14% já teve tendência de queda. Embora estatisticamente não dê diferença, mas já teve aqui uma tendência de queda.

O consumo de proteína bruta aumento também até 10% de adição do bagaço, depois permaneceu estável e, olha só, a fibra em detergente ácido, o consumo dela está aumentando até o nível de 10% também, depois permanecendo constante.

As conclusões desse trabalho de Ferreira foi que o bagaço de caju desidratado no Capim Elefante pode ser usado, não compromete as características fermentativas, agora, o problema é o aumento dos constituintes na parede celular e desse nitrogênio que fica preso na parece celular indigestível. Então, isso pode comprometer o valor nutritivo do ensilado final. E que poderia ser incluído até 14% na matéria natural da massa a ser ensilada, ou seja, na hora de misturar o capim com o bagaço, poderia botar até 14% de bagaço, nível em que o benefício seria maior do que o prejuízo.

Aqui é um exemplo dos trabalhos que temos feito no Núcleo de Ensinos em Forragicultura, um lote de ovinos alimentados com silagem de Capim Elefante, adicionada de bagaço de caju desidratado nesse nível de 15%. Vemos o escore dos animais bastante interessante. Tinha concentrado também nessa ração, mas mostra também o potencial de uso do bagaço na alimentação dos ruminantes.

Todas as etapas de produção da mistura do Capim Elefante com o bagaço, para fazer silagem, temos aqui no final, a ilustração de tudo isso.

Agora, uma outra perspectiva de utilização do bagaço de caju: utilização na ração total.

15BAGAÇO DE CAJU DESIDRATADO NA RAÇÃO TOTAL

Tratamentos Propostos Feno de Capim Elefante Milho Farelo de Soja %MS %PB %NDT1 %FDN 0% 51,70 38,60 9,70 86,32 12,04 65,00 58,89

18,33% 34,68 39,54 7,45 86,19 12,50 63,76 59,18 37,28% 17,45 40,20 5,07 86,08 12,95 62,38 59,63 56,49% 0 40,86 2,65 85,97 13,40 60,99 60,10

1Estimado segundo Cappelle et al. (2001).

TABELA – Composição centesimal e bromatológica das dietas contendosubproduto de caju ofertadas a ovinos em base de matériaseca (Rogério, 2005)

Silagens DMS DPB DFDN DFDA DHCEL DCEL EBD ED1

CE + 0% SPCD 47,5a 24,4a 51,8a 48,3a 56,9a 61,9a 45,7a 1,77a CE + 3,5% SPCD 41,7a 5,1a 50,3a 44,3a 61,3a 66,1a 39,1a 1,54a CE + 7,0% SPCD 45,2a 19,1a 51,1a 47,6a 57,4a 79,7a 42,1a 1,68a CE + 10,5% SPCD 43,7a 23,5a 46,1a 41,8a 54,7a 83,3a 41,3a 1,70a CE + 14% SPCD 43,7a 16,2a 48,3a 45,9a 54,1a 89,2a 41,9a 1,74a Médias 44,4 17,6 49,5 45,6 56,9 76,0 42,0 1,68 CV (%) 11,0 24,9 7,6 10,7 8,87 9,74 10,3 8,6

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Anteriormente a idéia estava sendo utilizar o bagaço de caju na ensilagem do Capim Elefante, para tentar resolver os problemas. Aqui a idéia já é utilizar o bagaço de caju na formulação da ração total. Vamos botar tudo o que o animal precisa comer por dia e ver até que nível o bagaço de caju pode participar.

Nesse caso trabalhamos com níveis de 0% de participação do bagaço de caju,a te 56%, e observamos que os outros ingredientes foram feno de Capim Elefante, milho e farelo de soja. Á medida que aumentava a participação do bagaço de caju, para que a ração mantivesse um teor de proteína parecido, um teor de nutrientes parecido, um teor de fibra também parecido. Ele substitui basicamente o feno de Capim Elefante. Então, as características do bagaço de caju remetem a um alimento mais para volumoso.

Vamos ver os resultados:

O que se observa é que com 19% de adição do bagaço de caju, atingiu-se o máximo de consumo de

matéria seca, no patamar de 3,5%, foi excelente, o consumo de 6,15%. Esses animais realmente tiveram um desempenho acima do normal.

A digestibilidade da proteína ficou em 45%. Na ração que não tinha bagaço, a proteína estava em 62%. Com bagaço já complicou um pouco a digestibilidade. Mas, para ter um consumo desses, ainda está bom. Só que com níveis de adição mais elevados, 52% de bagaço, o consumo já caiu para 1,79%. Quer dizer, se for para botar 52% é melhor trabalhar sem o bagaço. E a digestibilidade da proteína saiu de 62 foi para 28%. Cada vez mais a proteína está sendo complexada com o tanino do bagaço, provavelmente, prejudicando o valor nutricional da dieta.

Conclusão de Rogério (2005): O bagaço do caju desidratado apresenta potencialidade como alimento para ruminantes. Houve prejuízo particularmente quanto ao aproveitamento das frações fibrosa e protéica das dietas e, portanto, não deve ser ultrapassado o percentual de 19% de inclusão nas dietas para ruminantes.

Aqui já temos trabalho com pedúnculo do caju desidratado. Anteriormente era bagaço,a gora é pedúnculo.

Observamos de principal nesse trabalho: teor de matéria seca se elevou de 17 para 23%; o teor de proteína também foi elevado, 5,8 para 8%; nitrogênio aderido à parede e indigestível, saiu de 18 e foi para 30%. Então, realmente em níveis elevados pode trazer problemas com relação ao aproveitamento da proteína.

Esse mesmo trabalho, agora pedúnculo do caju desidratado na ensilagem do capim-elefante, avaliando o consumo: consumo de matéria seca, praticamente não houve efeito; consumo de proteína bruta. E o consumo de NDT, de 1,12, subiu para 1,43, mas não foi tão expressivo. Nesse sentido, quando tem uma resposta do animal pelo menos em não comprometer o consumo, não significa que você não deve utilizar esse material, porque ele pode ter um custo menor do que os ingredientes nobres da ração, como farelo de soja, farelo de milho, até às vezes o volumoso, dependendo de como o obtém. Então, mesmo quando se mantém estável, aí uma análise econômica pode dizer qual o melhor nível de utilização.

Em termos de digestibilidade, aumentou um pouco, de 51 para 63%, da matéria seca como um todo aumentou, mas da proteína novamente uma pequena redução. Então,a proteína é problema sério, devido ao tanino. A digestibilidade da fibra em detergente ácido também diminuiu. E o balanço de nitrogênio foi positivo, de -11 para 1,04 gramas por dia.

Conclusão do trabalho de Teles (2006): As silagens com adição de pedúnculo de caju desidratado podem ser utilizadas como volumoso para ruminantes, devido melhoria no consumo de Proteína Bruta, Extrato

Teor de BCD Consumo

0 19 38 52 1,79

4,326,154,12

M

(%

Médias com letras iguais na mesma coluna não diferem (P>0,05) pelo teste t ou SNK.

% MS

60,5a60,1a59,666,3

28,338,145,062,7

Digestibilidade

M P

1,763,454,522,86

FD

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Etéreo e Carboidratos Não Fibrosos e digestibilidade do EE e CNF, além do valor de NDT e BN das silagens. Recomendando-se a adição de até 16%, na matéria natural do capim.

Então, às vezes o resultado conflitante de um trabalho para outro, um mostrando que o bagaço, o pedúnculo, trouxe resultado satisfatório e no outro não trouxe tantos, depende muito do nível que ele foi utilizado. Nesse trabalho foi utilizado até 16% de adição. No trabalho de Rogério, 2005, se trabalhou com até 56% de adição. O perigo mora em exagerar na dose.

Aqui outro trabalho interessante que se fez na universidade, onde se trabalhou com duas técnicas diferentes e ao mesmo, combinadas, um experimento fatorial. Tínhamos a silagem do Capim Elefante sem o bagaço de caju desidratado; a silagem do Capim Elefante com o bagaço de caju desidratado; e dois níveis de suplementação concentrada desses animais, 1,5% do peso vivo, ou 2,5% do peso vivo.

O que observamos em termos de ganho de peso dos animais foi que, estatisticamente, tudo bem, com

2,5% de suplementação concentrada, o animal vai ganhar mais peso. Tanto na silagem com caju como sem caju, ganhou mais peso, com 2,5% de suplementação concentrada. O interessante é que com 1,5% de suplementação concentrada, a silagem com adição do bagaço de caju não diferiu estatisticamente daquele tratamento e que recebeu 2,5% de suplementação concentrada. Enquanto que naquele tratamento que não tinha adição do bagaço de caju, realmente o ganho de peso foi menor desses animais que receberam só 1,5%.

Ganho de Peso 1,5% 2,5% Médi

Silagem sem caju

66B 182A 124

Silagem com caju

110A 176A 143

Média 83b 179a

Conversão Alimentar 1,5% PV 2,5% Média

14,29a 4,88b 9,58A

7,3a 4,68a 5,99A

Média 10,79 4,78

Silagem sem caju

Silagem com caju

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A conclusão desse trabalho de TEIXEIRA et al. (2003): Para uma região como o semi-árido, onde não se dispõe de grandes quantidades de grãos para a formulação de dietas, a melhoria da qualidade dos alimentos volumosos através da adição de subprodutos é uma ferramenta útil para se otimizar os custos de produção.

Aqui o trabalho do Dr. Enéias, da Embrapa, testando o pedúnculo do caju desidratado e o feno de leucena em combinações: 70% leucena, 30% pedúnculo de caju, até 30% leucena, 70% de pedúnculo de caju.

Características: o pedúnculo de caju tem 12,8% de proteína, mas aquele problema, 35% de lignina,

6,4% de tanino, que é indesejável. Digestibilidade do pedúnculo foi de 33%, enquanto a do Feno de leucena foi de 48%.

Em termos de ganho de peso, as melhores respostas forma obtidas quando tinha 50% de leucena e 50% de pedúnculo de caju ou 40% feno de leucena e 60% de pedúnculo do caju. Fora as duas melhores opções de alimentação nesse trabalho.

Aqui, alguma coisa sobre utilização de subprodutos do caju na alimentação de monogástricos. Trouxe para mostrar que também pode ser usado, embora os resultados sejam mais complicados.

No caso aqui, consumo de ração para frango de corte. Com 0% de adição da polpa de caju, 3,2%, e com 15% de adição, 3,4, praticamente não variou. O ganho de peso também não variou. E a conversão alimentar piorou – aqui onde houve o maior problema. Mostra que o animal teve que comer mais para ganhar o mesmo peso.

120

130

141

169

112

GMD(g)

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Em termos de índices econômicos, o custo médio da ração, nesse ponto aqui, também aumentou; com a adição do bagaço, aumentou o custo da ração, isso é uma coisa que vamos provocar no debate, que é importante que se encontre um preço de comercialização desses materiais, compatível, para que isso não aconteça. Porque o ideal é que você, ao utilizar um alimento alternativo, reduza o custo da ração, e não aumente. Se assim não for, vamos trabalhar com ingredientes nobres mesmo.

A relação do custo médio com o ganho de peso, até que aumentou, para o ganho de peso, aumentou o custo, então realmente não é interessante nesse trabalho a adição da polpa de caju para frango de corte. A adição não afetou o crescimento e o consumo, só que a conversão alimentar e a renda bruta decresceram. Então essa adição, para o frango de corte, vai depender do preço desse subproduto e relação aos ingredientes convencionais, que é milho e ao óleo vegetal utilizado na formulação da ração.

Concluímos que para monogástricos o uso dos subprodutos do caju é mais complicado, exatamente pela presença do tanino e da lignina, que faz com que o bagaço e o pedúnculo sejam menos aproveitados. Ale do que o bagaço e o pedúnculo têm um balanço de aminoácidos que não é adequado. O ruminante consegue superar isso através da sua fermentação microbiana no rúmen, ele corrige esse desbalanço de aminoácidos. Como o monogástrico não te isso, ele precisa já ter na dieta o balanço de aminoácidos adequado, que não tem no bagaço e pedúnculo do caju.

Enriquecimento protéico do pedúnculo do caju, que trabalha a parte de tecnologia do Dr. José Simplício:

Pedúnculo do caju: mais de 30% de açúcares, então a idéia seria fazer uma bioconversão protéica com leveduras: alta eficiência de conversão de açúcares em proteínas; apresentam fácil propagação; Não apresentam relação patogênica com o homem; Pode ser usada nas três formas: pedúnculo fresco, pedúnculo seco e bagaço; Máximo potencial: material maduro e fresco (pedúnculo); A idéia da técnica é um aumento na proteína microbiana para o animal, através do crescimento das leveduras.

Um exemplo:

Caju in natura Caju enriquecido Torta de algodão PB (%) 6,5 19,8 19,4 Holanda et al. (1996) Problema: perda de parte do seu valor energético Um problema que tem essa técnica e que temos que debater ainda, é o seguinte: o consumo desses

carboidratos solúveis por essas leveduras, para produção de proteína, vai reduzir a densidade energética desse alimento. Então, é como se você estivesse resolvendo um problema e talvez gerando outro. Pode ser útil essa técnica, no momento em que na propriedade você esteja precisando de mais alimento protéico, mas se estiver precisando de alimento mais energético, essa técnica passa a ser desnecessária.

Então, um fluxograma da técnica: Trituração úmida, espalhado em finas camadas, aditivado das leveduras, fazendo movimento e

armazenagem do material durante um dia. A secagem de um a dois dias ao sol e aí obtém o bagaço de caju enriquecido.

Algumas fotos, do Dr. Simplício, mostrando a desidratação ao sol. Uma comparação de uso de uma ração convencional, não tem caju natural nem enriquecido; uma

ração com caju natural e uma ração com caju enriquecido, onde o custo da ração foi diminuído, tanto no caju natural como no caju enriquecido, em relação á ração que tinha os ingredientes nobres: farelo de soja, farelo de trigo e milho.

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Observamos aqui que em termos de ganho de peso, não houve diferença entre a ração convencional e

a ração com o caju natural, porém o enriquecido teve menor ganho de peso. O consumo de matéria seca não foi estatisticamente analisado, mas ficou parecido., o problema realmente foi no ganho de peso do material enriquecido, que foi um pouco inferior.

Então, essa técnica do enriquecimento, alguns desafios que lançamos para trabalhar com essa técnica, é que o próprio Dr. Simplício estava falando que o equipamento que faz a fermentação tem que ser revisto, porque eles estavam trabalhando com material de ferro e isso estava trazendo muitos problemas, vai ter que substituir por material plástico.

Uma questão do uso dessa técnica é o preço do material gerado. O pessoal no Rio Grande do Sul usa muito esse bagaço para substituir torta de algodão. Então, para que essa técnica compense, esse material tem que custar no máximo 80% do valor da torta de algodão. Atualmente ele está sendo vendido na região do Apodi por 40 centavos o quilo. Eu não sei quanto está a tortas de algodão.

Então, essa questão dos subprodutos, de modo geral, vai assar pela questão de preço, de qual o custo que você tem para obter aquele subproduto, e qual o custo daquele ingrediente nobre.

Outro desafio é difundir mais essa tecnologia. Ela, hoje, praticamente está restrita ao Rio Grande do Norte, estão tentando fazer trabalhos com prefeituras para difundir mais essa tecnologia lá.

E ainda, compatibilizar a elevação no teor protéico do material com a redução no valor energético. Se isso for aprimorado, vai trazer mais benefícios para o uso dessa técnica.

Bem, como considerações finais: o pedúnculo e o bagaço do caju apresentam-se no Nordeste como uma das alternativas mais promissoras na atualidade para reduzir o custos das rações e a dependência de grãos de outras regiões do país; seu uso na ensilagem do capim elefante melhora a qualidade fermentativa das silagens e promove maior consumo e ganho de peso dos ruminantes; podem ser usados em substituição parcial a volumosos ou como ingredientes na ração total; para seu melhor aproveitamento, devem ser feitas rações balanceadas considerando o equilíbrio proteína-energia; o bagaço e o pedúnculo apresentam maior limitação de uso em dietas para monogástricos, pelo alto teor de fibra; trabalhos devem ser feitos para minimizar os efeitos anti-nutricionais dos taninos e da lignina presentes na sua constituição; boa parte desses subprodutos é descartada próximo ao pátio das indústrias, portanto, seu aproveitamento como ração reduz a poluição ambiental; a desidratação do pedúnculo ou do bagaço reduz sua perecibilidade e aumenta a versatilidade do seu uso; deve-se buscar um valor de comercialização do pedúnculo, do bagaço e de ambos enriquecidos que atenda às necessidades de todos os envolvidos na cadeia.

Queremos agradecer às Agroindústrias do caju pelo fornecimento da matéria-prima para os estudos relatados, a Jandaia é uma delas, que tem cedido material para fazermos pesquisas. Também ao Dr. João Ribeiro Crisóstomo, Pesquisador da EMBRAPA, que nos convidou para fazer a palestra, ao Dr. José Simplício Holanda, pesquisador da EMBRAPA/EMPARN, que cedeu o material do bagaço enriquecido para apresentarmos aqui.

E aqui fica o nosso site do Núcleo de Ensino e Estudos em Forragicultura: www.neef.ufc.br, para quem quiser tirar mais alguma dúvida.

Muito obrigado. (Aplausos).

22,8421,6826,73Custo (R$/100 kg)26,0--Caju enriquecido

-29,6-Caju natural1,01,001,00Premix-0,800,95Farinha de osso

21,021,121,80Farelo de trigo42,028,558,80Milho10,019,017,45Farelo de soja

Ração 3 (%)Ração 2 (%)Ração 1 (%)Ingrediente

22,8421,6826,73Custo (R$/100 kg)26,0--Caju enriquecido

-29,6-Caju natural1,01,001,00Premix-0,800,95Farinha de osso

21,021,121,80Farelo de trigo42,028,558,80Milho10,019,017,45Farelo de soja

Ração 3 (%)Ração 2 (%)Ração 1 (%)Ingrediente

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SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Quero agradecer ao Magno pela palestra, extremamente interessante e importante, quando se pensa problemas muito presentes de pecuária leiteira ampliada em função de ser o leite, hoje, um dos produtos com mais perspectivas de crescimento no mundo, aumentar a perspectiva de trazer esse produto como ração alternativa como essa que está sendo apresentada, é do maior significado para nós. Vamos recompor a Mesa, abrir os debates, passando a palavra ao Sr. Mem de Sá Moreira de Araújo Filho. Ele que é engenheiro químico, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, que é a empresa que tem dado esse grande impulso à cajucultura no nosso Estado e no mundo – levou mais para o Vietnam do que para nós aqui, porque não quisemos aproveitar, e eles, lá, souberam. SR. MEM DE SÁ MOREIRA DE ARAÚJO FILHO: Bom-dia. Inicialmente quero parabenizar ao Dr. Eduardo e ao Professor Magno pelas brilhantes palestras e pelas informações relevantes que nos trouxeram. Agradecer também à organização do Agropacto pelo convite. Quero tecer algumas considerações, em nível de interpretação pessoal daquilo que foi colocado pelos palestrantes. Vou tentar dividir o que foi apresentado em três grandes linhas: aproveitamento do pedúnculo em nível de exploração para indústria de sucos, em nível de exploração para outros produtos possíveis de serem obtidos a partir do pedúnculo (quer em escala de pequena, micro ou grande negócios agroindustriais) e finalmente tecer algumas considerações com relação ao aproveitamento do pedúnculo para ração animal. Com relação á questão do suco, me parece que historicamente, o que chamamos de suco concentrado, ou engarrafado, ou integral, já chegou a um patamar de mercado que não tem para onde mais avançar, ou seja, dentro do mix de sucos, o suco de caju, em nível de mercado internacional na forma de suco integral, chegou onde poderia chegar. Com isso estou querendo dizer o seguinte: para que alguém entre no supermercado em nível de suco integral numa gôndola, alguém vai ter que sair. O espaço ficou extremamente reduzido para esse tipo de produto advindo do pedúnculo. E notadamente, pela exigência de você ter o tal do mix, para que você incorpore na gôndola das redes de supermercados ou de qualquer outro ambiente de negociação do suco de caju. Daí, nós ficamos pensando: o rumo não é mais explorar mais suco de caju, colocar a indústria de suco especificamente, de caju. Por outro lado, foi apresentado de forma muito clara, como disse o Eduardo, a questão do baixo percentual de participação do suco de caju na forma de suco pronto para beber, no Brasil, além de que, o suco próprio para beber, ainda tem um consumo per capta muito pequeno. Entretanto, não devemos ver isso como ameaça, e sim como uma grande oportunidade, quer para o mercado interno, que para o mercado externo. Coloca-se o seguinte: É uma tendência natural de crescimento novo, que não na intensidade com que desejaríamos, de consumo de suco para beber. E o que parece é o seguinte: O momento é de desenvolvimento de campanhas publicitárias de campanhas educativas, uma vez que aparentemente, a tecnologia de suco pronto para beber, já está bem definida, quer para outras frutas, quer para o caju. Entretanto, o que se colocou aí, foi a questão do crescimento acentuado dos sucos, na forma de mix, com soja, advindo da informação; historicamente, a cadeia de soja tem trabalhado dos benefícios que os componentes químicos e funcionais presentes na soja promovem à saúde do consumidor. Parece-me que mesmo dentro do próprio suco pronto de caju para beber, está faltando uma maior divulgação nesse sentido. Alguns colegas na Embrapa, têm desenvolvido algumas pesquisas, no sentido de caracterizar que componentes funcionais, que componentes com características anti-oxidantes estão presentes em diversos frutos da nossa região, dentre elas, o caju. Então, é preciso que, ao se trabalhar o mercado de suco pronto para beber internamente, vendo-se não somente Vitamina C, mas outros componentes que possam estar presentes nesse suco, como uma visão de saudabilidade. É conhecido que algumas das grandes empresas multinacionais que fazem parte hoje do nosso parque de exploração de suco pronto para beber, têm colocado nas suas linhas, recentemente, há 2 ou 3 anos, o suco pronto para beber na forma de caju, o que eles não tinham. Isso é um indicativo de que há um grande espaço de mercado para o crescimento do suco, entretanto, faz-se necessário que isso seja bem divulgado; quer por indústrias, quer por órgãos públicos, quer por associações, ou seja, a mídia precisa ser trabalhada, no sentido de valorização do aspecto de saudabilidade do suco de caju, e não só do suco de caju, mas de outros frutos tropicais. Porque vejam bem, essas campanhas vão ter como foco principal, não nós, porque já estamos numa faixa de idade que culturalmente, é até difícil de se mudar o hábito de consumo alimentar, mas é um momento de você começar a educar a criança, para que a questão da velocidade de consumo de suco cresça numa intensidade maior e que permita que esse suco passe a substituir o consumo de refrigerante. Obviamente, que a questão do poder aquisitivo influencia e bastante. Mas, no

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momento em que você divulga bastante essas características do suco de caju, por ser também um suco barato e você criou uma nova cultura, uma nova educação de consumo, por ser ele mais barato, ele tem talvez, uma maior probabilidade de concorrer com os chamados sucos em pé, que não são sucos como foi dito, do que até outros sabores de frutas. Então, a questão do pedúnculo como suco pronto, ainda é uma coisa que promete, tem um potencial muito grande. O Dr. Eduardo falou há pouco, na questão de lançar no futuro, a questão do suco de caju com soja. É um espaço interessante, agora, já que falamos tanto em soja enquanto fornecedor de proteína, é preciso também que se estabeleça um estudo para ver qual vai ser o resultado dessa formulação em termo nutricional. Finalmente, a questão histórica da nossa barreira à exportação de sucos. Eu era menino, nós já ouvíamos falar, desde a época do Professor Holanda (perguntaram-me até se eu fui aluno dele), nós já discutíamos por que não se exportava o suco de caju. Primeiro, a tecnologia nunca avançou de forma suficiente a se obter um suco de caju, que historicamente, ele era exportado na forma concentrada e sem polpa, altos níveis de concentração, 65 brix, isso descaracterizava enormemente o suco. Você obtinha um xarope caramelizado, com outras características que não da fruta propriamente dita. Mas, o Dr. Eduardo coloca a seguinte situação: nós podemos exportar isso em nível de uma menor concentração. 30, 35 graus brix e me parece que aí é o caminho. Concentrar esse suco a um certo nível que permita uma boa estabilidade, quer com polpa, quer sem polpa, via processos de remoção de taninos a frio, ou seja, clarificação por tecnologia de membrana, operações de concentração a frio, porque isso vai nos dar um produto que permite que você faça uso do suco concentrado, em diferentes blends lá fora. Mesmo internamente, se considerarmos até que ponto existe um mercado de blends de sucos tropicais, o mercado interno e como é que o suco de caju, uma vez clarificado e concentrado, sem aquele travo, sem aquele aroma forte característico, poderia entrar na formulação de alguns blends sem comprometer o sabor final do blend, ou seja, sem que esse blend continuasse com o predomínio do suco de caju. Então, são coisas a serem discutidas e trabalhadas e desenvolvidas enquanto pesquisa e em conjunto com o setor industrial. Portanto, na minha missão, o grande espaço para o suco de caju, seria: a linha de prontos para beber, que tem uma tendência crescente, e no nosso mercado, como disse na apresentação, nós temos um consumo per capta ínfimo, em relação à maioria dos grandes países, inclusive da América Latina. Então, uma vez que você trabalha a mídia, desenvolve estratégias de comercialização e pontos de vendas dos mais diversos tipos possíveis, você pode promover um maior consumo desses sucos, ao longo de alguns anos, talvez consigamos até duplicar esse consumo. Outra questão, é o aproveitamento do pedúnculo não apenas como suco, mas como uma matéria-prima que possa criar uma rede de outros produtos, que não necessariamente, são produtos finais, mas que possam ser insumos de outros processos industriais. Eu citaria como exemplo, a questão do bom mercado de barra de cereais que se encontram no Brasil. Você pode pensar em barra de cereais e quando se fala em barra de cereais, nós falamos em fibra, em proteína, em carboidrato. Então, você começa a pensar: como fibra, eu posso ter o aproveitamento e o desenvolvimento de um processo que faça uso da fibra do pedúnculo do caju. Posso ter como fornecedor de carboidrato, o próprio xarope oriundo da concentração do suco clarificado de caju. Posso ter como fonte de proteína, a farinha ou o xerém, resultante da indústria de beneficiamento de castanha, que tem baixo valor agregado. Então, na realidade se estaria fazendo uso de três ou quatro produtos, os próprios desidratados de pedúnculo de caju na forma de caju-ameixa ou seus derivados, poderiam montar formulação de diferentes tipos de desidratados em nível de barras de cereais, onde esses produtos entrariam como insumo nesses processos. A outra questão seria usar pedúnculo enquanto fibra, não só como barras, mas outras tecnologias que podem fazer uso. Está aí a tecnologia de extrusão, onde você encontra cookies, biscoitos enriquecidos com fibras, com mel, que pode ser feito, no caso, o uso do xarope de caju e que tem um foco grande de ser um produto saudável (por ter fibra) e que existe um mercado de consumo de produtos naturais, crescente neste País. E vejam bem, quando falamos em tecnologia de extrusão, não é sofisticada, cara, que precise ser importada. Já temos no mercado algumas dezenas de produtos oriundos de soja, de granola, de vários outros materiais, que compõem os chamados químicos naturais.

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Além de tudo isso, se encontra no mercado, os embalados, como farinha de banana, farinha de maracujá, e vários outros. Existe, na Embrapa, alguns colegas que estão estudando a obtenção de algumas farinhas específicas, de características dietéticas a partir da fibra do bagaço do pedúnculo do caju. Obviamente que tudo isso são alternativas potenciais, que devem ser trabalhadas, estudadas em nível de pesquisa e desenvolvimento, em paralelo com estudo de custo, de avaliação econômica, de estudos de escala, logística, produção. Faz-se necessário chegar a um momento em que todo o agronegócio caju comece a pensar como um complexo de atividades. Existe um potencial de que a partir do resíduo do bagaço do pedúnculo de caju. O colega Fernando Abreu, por exemplo, está trabalhando a obtenção de um concentrado de pigmentos, de corantes, que é rico em provitamina A. E aí, quando se vai para os estudos de avaliação nutricional deste País, nós temos dois grandes problemas de carência nutricional no País: ferro e provitamina A. então, um concentrado desses, obtido a partir do pedúnculo, pode entrar como insumo, em nível de enriquecimento de provitamina A de uma série de produtos outros, que não apenas o suco. Pode entrar em diversos setores da indústria alimentícia. Então, de forma resumida, eu acredito que a grande saída para o pedúnculo seria integrar o desenvolvimento de diferentes produtos, quer para pequena, média ou grande escala; e em nível de indústria de sucos, pensar em promover cada vez mais o suco pronto para beber e o desenvolvimento de tecnologias de concentração adequadas via tecnologia de membrana, chamadas ultra-filtração, micro-filtração, e concentrações que permitam obter suco concentrado de boa qualidade para o mercado externo. Esse seria um grande filão para promover o aumento do consumo do pedúnculo no mercado externo. E finalmente, com relação ao aproveitamento do pedúnculo na forma de ração. Parece-me, pelos resultados muito bem apresentados pelo Dr. Magno, que existe um potencial. Entretanto, esse potencial deve, e certamente vai continuar sendo, estudado, para minimizar cada vez mais os efeitos deletérios da presença de tanino e outros componentes que possam promover inibição do aproveitamento desse material enquanto ração para os animais. Então, esse potencial não deve ser descartado, descaracterizado. Faz-se necessário que se avance nesses estudos. Entretanto, enquanto negócio ração, tem que pensar em custos, porque vimos muito a questão do custo da formulação. Na hora me que você substituir o insumo pelo bagaço ou pedúnculo desidratado, pode promover uma redução de custo da formulação. Mas, como é que fica a questão da incorporação do custo do processamento industrial desse bagaço? É um custo que, ao final, vai ter que ser incorporado, porque ele vai gerar um custo para o preço final do bagaço, e conseqüentemente vai ser passado para a ração. Como fica a questão do estudo de escala e de localização geográfica? Essa tecnologia vai ser explorada em nível de produtor? Em nível de pequenas e médias empresas? Em nível de organizações cooperativas? Ou faremos o aproveitamento do bagaço, que já está pronto, como subproduto da indústria de suco? Se você pensa em espaço de Pronaf, ou espaço de pequenas e médias cooperativas, tudo isso vai ter que ser pensado, em paralelo com a questão do avanço do potencial de aproveitamento do bagaço enquanto ração. Qual a logística de produção e distribuição desse bagaço, até que se chegue às fábricas, a essas unidades que vão efetivamente, produzir as rações? São considerações que enquanto negócio final temos que pensar, nesse aproveitamento como um todo. E no final, o seguinte: sempre que pensarmos em qualquer tecnologia que considere a questão caju, temos que pensar num mix, suco, barra de cereal... se você pensar em barra de cereal, não pode pensar no negócio barra de cereal de caju, tem que pensar no mix, mesmo que o carro-chefe desse negócio seja a barra de cereal de caju, por exemplo, ou mesmo que o carro-chefe de uma unidade de concentração e produção de xaropes de suco de caju seja o carro-chefe. Eu tenho que pensar que essa unidade tem que trabalhar o ano todo. E quando pensarmos numa unidade industrial, ou numa unidade de produção só com o caju, eu vou ter uma inviabilização temporal, em função da safra, e certamente de custo e de avaliação econômica desse negócio. Então, estamos discutindo o caju? Estamos. Mas, preferencialmente que ponhamos na cabeça que as tecnologias que possam vir a ser discutidas, trabalhadas ou desenvolvidas para o caju, para o pedúnculo, para o seu resíduo, para o bagaço, possam também ser adequadas a outras matérias-primas que vão estar disponíveis em outros períodos do ano.

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SR. JOSÉ TRAJANO: Vamos falar em caju! Em caju! Senão vamos passar a manhã todinha nesse lero-lero e não vai sair nada. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Por favor! Eu peço por favor! SR. MEM DE SÁ DE ARAÚJO FILHO: Se o senhor deixar que eu termine... nós vamos falar em caju! Quando eu falo de fibra, de suco, quando eu falo desidratado, obviamente que não vamos esquecer e não estamos esquecendo o caju in natura, mas também temos que pensar no negócio de aproveitamento do pedúnculo do caju na forma de produtos industrializados. Mesmo porque a produção de pedúnculo na nossa região é tão grande que somente no rumo do caju in natura não vamos conseguir promover o aumento e elevação de consumo desse pedúnculo como um todo, naquilo que se espera, naquilo que se almeja, enquanto sonho. Bom, esse é o meu ponto de vista, no sentido de quais seriam os caminhos a serem trabalhados, discutidos, enquanto aproveitamento integral do caju, quer in natura, quer industrial. Não podemos imaginar que vamos trabalhar com o negócio caju in natura o ano todo. Porém, nós temos mercado para consumo de produtos industrializados de caju o ano todo. Há espaço para todos os caminhos de aproveitamento tecnológico, comerciais, se forem trabalhados em nível técnico, econômico e de mercado. Era o que eu tinha para falar. Muito obrigado. (Aplausos). SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Quero agradecer ao Mem, pela exposição-debate, que enriqueceu realmente as outras duas palestras e permitiu ampliar os debates. Lamentavelmente nós começamos com atraso, por causa da delícia dos produtos ali fora, e já estamos quase às 10 horas e vamos poder ter o debate só agora. Mas, quero pedir a compreensão dos palestrantes, porque em saindo algumas pessoas, com aqueles que ficarem, os interessados, possamos prosseguir. Com a palavra o Sr. Aníbal Arruda, que é o primeiro inscrito. SR. ANÍBAL ARRUDA: Parabenizo aos dois palestrantes, inclusive ao Lucas. Dar uma sugestão ao Eduardo: você poderia colocar uma fábrica de ração, com os resíduos, aproveitando ainda como volumoso, a palha de carnaúba. Meus amigos, após 5 anos de pesquisa, palha de carnaúba com 7% de proteína, eu consegui transformá-la em pó. Peguei o pedúnculo do caju... o problema do tanino fica resolvido com a hidrólise, à semelhança do que foi feito com a cana. A cana, não se aproveitava, e hoje tudo usineiro engorda gado com a hidrólise da cana, aproveitando como ração. Se você fizer hidrólise da palha de carnaúba e a do caju, que é na cal, que para nós é muito barato, e sol para secar, dá certo. Nós temos uma ração aqui que o ovino está comendo adoidado, que é 55% de palha de carnaúba, que é 8%, e 40% de pedúnculo de caju, 5% da espiga de milho. E, nós podemos pegar a água do caju e fazer o melaço; feito o melaço, podemos fazer o enriquecimento disso com a uréia e a cal, e temos uma excelente ração. Já fiz essa experiências, eles comem – nós temos caju à vontade e palha de carnaúba. Se houver um projeto de disseminação disso, o Ceará pode ser o maior produtor de ovino e caprino do Brasil. Eu já estou fazendo isso, estou criando os carneiros confinados, vou hoje levar essa ração para o Professor Nunes, que vai nos ensinar inseminação artificial, para um reprodutor tomar conta de 1 mil ovinos. Então, nós podemos, a longo prazo, ser grande produtor de ovinos. Como temos déficit de 400 mil litros de leite/dia, eu sou contra a criação de bovinos para corte, porque precisa de 80 litros de água por cabeça, mas para vacaria, se você tiver boas vacas, e você dando a garapa do melaço para elas, já está comprovado por estudos de um técnico da Embrapa do Rio Grande do Norte, que aumenta em 30% a quantidade de leite. E nós vamos ter o melaço do caju, já que vai aproveitar. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Eu queria perguntar se você poderia trazer uma amostra, para levar à UFC e fazer os mesmos trabalhos. E fariam lá as análises que fossem necessárias. E a Embrapa talvez gostasse de receber a mesma coisa. Dalto, por gentileza.

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SR. DALTO TEIXEIRA: Eu gostaria de fazer minhas colocações baseado no binômio produto-mercado. esse binômio, para nós, que trabalhamos com marketing, é adequação ao mercado, ou seja, quais as estratégias que devemos colocar em ação para viabilizar um determinado produto. Quanto ao colega da Cajubras, eu percebi que o preço do suco é baixo, mas a demanda é pequena. E percebemos que o não-hábito do consumo do suco de caju, ou a falta de transparência na comunicação das vantagens e benefícios do suco de caju para o consumidor e nível de Brasil, ainda é muito pequena, ou talvez inexistente, a não ser regionalmente. Então, a primeira análise a ser colocada em questionamento é por que a sociedade pública e privada das regiões produtoras de caju não se unem para tentar levar aos recantos do Brasil, a beleza da qualidade, não só do ponto de vista da palatabilidade, como do conteúdo, do ponto de vista vitamínico do suco de caju? Esse é um primeiro ponto, que eu acho que merece uma reflexão, no sentido de ser trabalhado pela sua empresa e pelas organizações públicas, ONGs do Caju e outras instituições. Com relação a outros produtos do pedúnculo do caju, o bagaço do caju desidratado, seco, adicionado ao suco do caju depois de duas horas colocado no fogo, fervendo, existe algum tipo de análise feita com relação a alimentação bovina? Porque lá, nós secamos o bagaço, damos duas horas de fogo no caju e damos como alimentação bovina. Isso desenvolve bem na alimentação e no desempenho do animal. Ora, sendo isso verdade, sendo isso positivo, todo uso do pedúnculo do caju pode ser usado no Ceará inteiro na região produtora de caju, com grande benefício aos pecuaristas, de modo geral. Quer dizer, esse é outro tipo de reflexão que eu acho que merece ser feito. O terceiro ponto, que eu colocaria sempre em questionamento, é o problema cultural: como desenvolver junto, essas propriedades pequenas, médias e grandes, trabalhar o pedúnculo do caju para aproveitamento dele na melhoria de seus rendimentos futuros? Esse trabalho é muito macro, não pode ser feito por uma instituição como a Cajubras, como a UFC, como a FAEC, mas um trabalho feito junto com o Governo do Estado do Ceará, talvez com outros Governos. Com isso se incentivaria tremendamente a renda o agricultor cearense. Obrigado. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Obrigado digo eu. Vamos ouvir a Dra. Teresa Lenice. SRA. TERESA LENICE: Parabenizar ao Dr. Luiz Eduardo e ao Dr. Magno, bem como as colocações do Dr. Mem de Sá. Quero enfatizar uma questão que foi colocada, a questão da importância do mercado e da necessidade de uma ampla campanha de divulgação. E quando Dr. Mem de Sá colocou a necessidade de que sejam caracterizados inclusive os componentes anti-oxidantes. Aproveito também as colocações do Dalto, de que se junte uma empresa do porte da que hoje se apresentou aqui, com as instituições de ensino, a força da FAEC, o Governo do Estado e a Embrapa. A Petrobrás está espalhando pelo Brasil inteiro, uma publicação que se chama: Alimentos que Curam, que vem mostrando o potencial de diversos alimentos. Eu acho que está na hora de uma investida no caju. A minha sugestão é que seja solicitado o apoio da Petrobrás no trabalho de pesquisa e divulgação sobre o caju. Obrigado. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Obrigada à Dra. Teresa. A palavra agora é dos palestrantes. SR. LUIZ EDUARDO DE FIGUEIREDO: Eu vou começar pelo Dr. Dalto. De fato existe um movimento, dentro das indústrias de processadores de caju, que chama-se STN, Dr. Etélio Prado, ex-Secretário de Agricultura do Estado de Sergipe é o nosso presidente executivo, onde se aglomeram e torno de 15 indústrias, algumas de grande porte e outras de médio e grande porte, que são processadoras de polpa congelada. Esse movimento tem uma boa penetração perante o Itamaraty, perante a agência de desenvolvimento de produtos para exportação, a APEX, em feiras fora do País, em stands dentro de feiras especializadas de auto-serviço aqui no Brasil, como a ABRAS e APAS, e algumas outras. É muito importante a sua observação, porque sem o cooperativismo, as chances do empresariado ficam bem pequenas. Então, eu não só concordo como também valorizo essas atitudes. Quanto à questão de campo... eu quero trazer um dado aqui: há 20 anos, quando chegava na época da safra, a companhia conseguia, com muito mais facilidade, a parte da colheita, precisamos sempre de 500, 600 pessoas para fazer a colheita dos próprios plantios. Isso tem sido cada vez mais difícil de se conseguir, uns

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dizem que é por causa do bolsa-família, que o homem do campo não quer mais se deslocar tanto para fazer a sua renda, mas o fato é que, hoje, mesmo com transporte próprio, com todos os EPIs (até chapéu de palha o sujeito tem que ter, porque não pode pegar sol), com técnico de segurança, com toda infra-estrutura, de café da manhã a almoço, está cada vez mais difícil ter mão-de-obra disponível para o período da safra, para que faça a colheita. Isso talvez seja um alerta para os próximos anos, eu não sei de que forma isso pode chegar a prejudicar, de fato, a colheita. A nossa companhia consegue colher até 33% do caju que produz, isso partindo do pressuposto que se nós colhermos 1,5 milhão de quilos de castanha de caju, só conseguimos colher em torno de 4 a 5 milhões de quilos. É o máximo que se consegue para beneficiamento de suco. Porque a logística interna, existe um raio de, no máximo 1 quilômetro do campo para a área de produção, é uma logística super integrada, mas o problema é gente para colher, e de uma forma ágil, que dê para fazer o suco. Dra. Teresa, nós estamos à disposição para o que pudermos contribuir. Eu vejo muito que a UFRS tem essa preocupação, como a daqui também tem: todos os sucos de uva que são embalados naquele Estado recebem o selo de aprovação da Universidade dizendo que o suco de uva tem componentes que possam fazer bem ao coração. Eu acho que o caju tem componentes anti-oxidantes, que combatem radicais livres, tem matérias dessas já discutidas em teses, que possa até ser um benefício para o tratamento do câncer. Então, a companhia está à disposição, como sempre, para abrir as nossas portas e trocarmos experiências, e espero que possamos realmente ser procurados. Quanto à primeira colocação, eu topo fazer a fábrica de ração, eu entro com a matéria-prima e sócio entra com investimento, estamos à disposição. SR. MAGNO JOSÉ DUARTE CÂNDIDO: Em relação ao comentário do Aníbal, sobre a hidrólise do bagaço de caju, com cal, não temos experiência com isso, mas temos com usar a cal aporá hidrolisar outros materiais. E percebemos que o material gerado tem uma palatabilidade muito baixa. Então, teríamos que realmente fazer um teste, teria que ver a relação custo/benefício. Eu acho que essas idéias, da mesma forma que o Professor Dalto colocou, do bagaço desidratado com duas horas de aquecimento (eu fiquei curioso), são idéias que precisamos averiguar mais detalhadamente, para entender melhor o que está acontecendo. Tem que tomar cuidado, às vezes, porque é colocado que o animal teve excelente desempenho, mas tem as distorções, do jeito que tem na natureza humana. Mas, seria importante averiguar tanto a questão da hidrólise com cal como a do aquecimento do suco, para vermos a resposta e custo que têm, relacionar uma coisa com a outra e ver se o resultado realmente vale à pena ou não. Agora, vejo que a hidrólise, se conseguíssemos fazer como se faz nas usinas, seria interessante: a indústria ter um hidrolizador para fazer uma hidrólise física. Porque a hidrólise química corre o risco de ter a queda na palatabilidade, a física não, ela ajuda ou pelo menos não atrapalha. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Eu acho que valeria à pena o Dr. Aníbal, que tem curiosidade e é engenheiro de reconhecida competência, e interessadíssimo nessas áreas da carnaúba e da ovinocaprinocultura, depois fazer uma visita, conversarem, e, quem sabe, a própria universidade verificar os animais que ele está fazendo a engorda lá. Eu acho que teria acicatada a nossa inteligência, verificar para que lado vamos. É apenas uma sugestão: analisar aquilo que ele já está fazendo. SR. MAGNO JOSÉ DUARTE CÂNDIDO: É, eu estou só dizendo que precisamos averiguar, mas não no sentido de desconfiança, no sentido de entender como está acontecendo, para buscar as bases disso. Eu quero pegar esse gancho só para dizer isso ao Eduardo: eu acho que a indústria, nesse sentido, é uma parceira e teria condições de ter equipamento de grande porte que pudesse trabalhar, e tem matéria-prima e pode gerar uma grande quantidade de material para ser usado como ração. Eu enxergo por esse lado. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Uma das minhas perguntas era se a fábrica vende o bagaço em pequena quantidade, mas em algumas horas... ele está pedindo que quem for buscar, não precisa pagar, mas precisa ir buscar já, porque ele não tem condições de ter gado suficiente para comer o bagaço todo que ele tem lá. SR. LUIZ EDUARDO DE FIGUEIREDO: A verdade é a seguinte: são 150 carretas que nós vãos produzir 4 milhões de quilos de bagaço. De fato, se não tiver uma logística bem integrada, isso vai virar um lixo. Então, tem que ter realmente uma boa logística, antes da safra já tem os parceiros que vão tirar, realmente, o

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produto, mas se deixar para a hora H, aquilo vai virar um transtorno. Isso, principalmente em outros países, onde as indústrias estão muito próximas dos grandes centros, isso realmente vira um empecilho. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Bom, de qualquer maneira, o bagaço está disponível, mas o que eu pergunto é se poderia já ser hiodrolisado, conforme a proposta dele. Aí seria mais fácil de fazer. Vamos ouvir a Sra. Iruama. SRA. IRUAMA GUERRA: Sou mini produtora de caju, quero cumprimentar a mesa na pessoa do Dr. Férrer, a todos o meu bom-dia. Quero primeiro agradecer ao Dr. Flávio Saboya, pelo fato não só dele ter patrocinado o café da manhã hoje, mas pela confiança que ele depositou em mim e a oportunidade que me deu de divulgar para todos, alguns dos pratos derivados do pedúnculo do caju. Quero dar um reforço muito grande, levantar a bandeira do caju na alimentação humana. Eu fiz um curso pelo SENAR, do aproveitamento do caju na alimentação humana, a partir daí passei a amar a culinária do caju e estou hoje trabalhando com isso. E realmente acho que estamos falando muito no caju como ração animal, antes de darmos ênfase maior nisso, deveríamos estar dando na alimentação humana, não só pela riqueza do caju em ferro, vitamina C e fibra, mas pelo fato dele ser saboroso e até preventivo contra algumas doenças. Muito obrigada. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Obrigado. Trajano, por gentileza. SR. JOSÉ TRAJANO: Eduardo, bom dia para ti, meus parabéns. Luiz Eduardo Figueiredo é fruto do Chico Figueiredo e de Pedro Filomeno Ferreira Gomes. Eu tenho uma luta muito forte, porque eu sou fruto de onde nasceu essa indústria: Pacajus. E quando teu avô foi para Pacajus, conheceu minha mãe e deu o samba do crioulo doido! (Risos). SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Agora que eu consegui entender o seu comportamento! (Risos). SR. JOSÉ TRAJANO: Mas, quinta-feira houve o lançamento do mapa estratégico do Ceará, e eu fiquei impressionado, o nosso presidente e mais uma meia dúzia de amigos que estavam lá, que representam agricultura, o agronegócio e o Agropacto, vestidos com a camisa em defesa da agricultura. Às vezes a turma diz que eu puxo o saco, mas vale à pena puxar saco de quem tem saco... para agüentar uma palestra do Mangabeira, tem que ter paciência! E esse brilhante que está aqui estava lá, de paletó e gravata, na frente do Governador, como quem diz: eu estou aqui, vestido com a camisa do negócio chamado agronegócio. Muito obrigado pela sua presença lá, que foi brilhante, e temos que registrar isso – para quem gosta! Porque quem não gosta, o que se pode fazer? Luiz Eduardo, vamos falar sobre o aproveitamento, que foi a única idéia neste debate, que teve fundamento, você trouxe hoje a esta Casa. Você vai ser a grande liderança dessa cajucultura, porque o seu avô foi, o seu pai continua sendo e você vai ser, a partir de amanhã. Nós precisamos de um homem como você, dizendo: eu sou um defensor da cajucultura e estou do lado de vocês para o que der e vier. Quem não quiser que vá para a tonga da mironga do cabuletê. O aproveitamento do caju na matriz energética, para que possamos jogar esse caju no mercado de carbono, eu queria que falasse, explicasse para essa gente o que significa isso. Porque vamos ter três aproveitamentos para mercado de carbono: a folha, a madeira e o subproduto. Eu fico grato se você tiver uma identificação boa com essa gente, para que saiamos daqui certos de que o caju vai entrar na matriz energética do Brasil no mercado de carbono. Muito obrigado. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Obrigado digo eu. Vamos ouvir o Peixoto. SR. ANTONIO BEZERRA PEIXOTO: Bom-dia, quero parabenizar aos palestrantes e debatedor, pelas excelentes apresentações. Pedir permissão ao Dr. Torres para dar dois informes. O Deputado Hermínio Resende, que ficou de estar aqui hoje, pede desculpas porque atrasou na viagem que fez a Minas, para participar de um congresso sobre algodão.

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Avisar também que hoje, às 18 horas, na FIEC, vai haver uma palestra sobre aquecimento global e desertificação. Eu chamo a atenção que esse foi um dos temas do PECNORDESTE, onde discutimos bioenergia e aquecimento global. Chamar atenção para dois pontos: a questão do preço e do marketing. Há uma contradição. Para mim, o preço do produto acabado, o suco acabado, pronto para consumir, está muito caro, 3, 4 vezes o preço do refrigerante. Então, precisa de muito marketing para que, com esse preço elevado, as pessoas mudem do refrigerante para a o suco. Contrariamente, o preço do suco concentrado é muito barato, e vende pouco, você chega até a afirmar que não há grandes possibilidades de crescimento. Será que não está faltando marketing aí? Também perguntar como a acidez influencia no mercado do caju. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Quero complementar a pergunta do Peixoto. Se esse é um produto muito barato, da maneira que ele está (claro que do blend ninguém discute), se a empresa tem acompanhado as comitivas do Presidente pelos países mais pobres, que seria o mercado ideal, mostrando que é muito mais barato fazer 5 litros do que comprar uma garapa preta daquelas que se chama coca-cola – que é péssima, não sei como se toma aquilo! Não deveríamos buscar os mercados de menor poder aquisitivo, face à atratividade do preço? SR. LUIZ EDUARDO DE FIGUEIREDO: Bem, a questão da exportação da versão integral, hoje, uma boa parte do mercado emergente, e são provenientes de guerra civil, têm infra-estrutura básica muito precária, eles têm extrema dificuldade em ter água potável e isso é um limitador. Eles não têm saneamento básico, nem água encanada, então não teriam como diluir esse produto. A priori, os Governos procuram dar uma assistência mais rápida, e o produto pronto para beber, nesse momento, sim, é um diferencial, porque já está pronto para consumo, com praticidade, com higiene. Como a água não é potável nesses países, existe até uma restrição no consumo dela na forma aleatória, e por isso é que o refrigerante vende muito, nesses países, ou seja, é mais fácil o sujeito tomar coca-cola e não passar mal do que tomar uma água de qualquer posso que tem lá. O marketing, sem dúvida, mas tem que ser um esforço de todos, uma andorinha só não faz verão. A nossa companhia tem uma participação nessa questão de desenvolver... principalmente nesse projeto escola, temos mais de 40 mil crianças que já foram visitar o parque industrial, devidamente cadastradas, recebem constantemente cartão postal no dia do aniversário, lembrando a importância de uma alimentação balanceada, utilizando suco de frutas e tal. Para se ter uma idéia, hoje nós fornecemos sucos para quatro companhias aéreas, a TAF (local, faz vôos Nordeste e Norte), GOL (nacional), TAP (seis vôos diários Brasil/Lisboa, Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília, Rio e São Paulo), e a BRA. Dessas quatro, somente a BRA ainda não topou botar o suco de caju para ser degustado nos vôos. Então, existe um esforço fenomenal da nossa parte, para convencê-lo a colocar um sabor tipicamente brasileiro. A TAP faz vôos internacionais, então mais um motivo para poder levar o sabor do caju para os europeus, portugueses principalmente. Então, existe o esforço, mas é um trabalho a longo prazo, que não pode depender de uma única pessoa, de um símbolo, tem que ser um trabalho em conjunto, cooperado. Eu fico muito envaidecido com suas colocações, mas reconheço a importância que a pauta exige, e certamente tem que ser o associativismo que vá conseguir chegar a trazer mudanças significativas para o conceito do caju. Se cada um de nós fizer sua parte, em conjunto engrossarmos essa massa, e tivermos voz perante as entidades governamentais, tanto estaduais como federais, certamente o trabalho vai surtir efeito mais desejado. Quanto ao preço do suco de caju, eu gostaria de vender uma garrafa de suco de caju era por 15 reais! Mas, infelizmente, não é possível, existe uma concorrência que canibaliza, realmente, o mercado é muito competitivo. O refrigerante, por sua vez, não quer perder 1% do seu mercado para suco, porque esse 1% significa 80 milhões de reais. As indústrias de refrigerantes locais, que são as tubaínas, hoje estão muito mais competentes, estão com produtos de melhor qualidade, então também tira uma certa atenção dos sucos. E a tendência é que o consumidor vá migrando, não só pela refrescância e sim pelo que falei anteriormente, pela necessidade de ter uma qualidade de vida melhor, passar a consumir um produto que dê maior valor agregado. Esse é o sucesso de bebidas à base de soja, da linha de chás, principalmente chá verde, que tem tendência fortíssima, bebida milenar na China, na Índia, porque tem propriedades que possam trazer até o emagrecimento.

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Então, o que tem que se vender hoje é a funcionalidade do produto, se for uma bebida funcional – se ela não for, tem que se transformar para que seja. Hoje, a água mineral não tem mais graça em ser bebida, o sujeito tem que botar uma Roma de limão, uma vitamina, um complexo qualquer para que agregue um valor. Então, a regra do jogo é funcionalidade – o caju tem de sobra. Tem que se transmitir isso da forma que estamos discutindo aqui, para que a população em geral, possa gozar dos benefícios desse produto. Eu acredito dessa forma. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Quero fazer referência à Sra. Iruama. Nós deveremos, dentro da sua preocupação, fazer trabalho junto com o SESI e com o SENAC para que ampliemos a área de atuação da capacitação na área de alimentação humana, com o aproveitamento do pedúnculo. Isso já na semana passada, na reunião do Conselho do Sebrae, esse assunto foi tratado e vamos tentar fazer uma união dos “S” em benefício disso. O grande problema, e aí o Dr. Lucas vai-nos ajudar, é em criar a cultura de armazenar o caju sem frios, para que possa ser utilizado ao longo do ano inteiro, dentro da propriedade. Nisso temos que trabalhar e ainda há tempo hábil para trabalhar ainda nessa safra. Dr. Flávio Saboya, Jorge, a bola está com vocês. Vamos ouvir o Dr. Férrer. SR. FRANCISCO FÉRRER: Eu pertenço à FIEC, INDI. Cumprimentar aos palestrantes e ao debatedor, que veio de seu doutorado pronto para nos ajudar ainda mais. Dar o nome do Dr. Eduardo para que funcione como nosso algore do caju. Você poderá ter importância muito grande em puxar esse cargo. Uma pergunta que eu ia fazer, mas você respondeu, a respeito da promoção de exportação pela APEX, eu ia sugerir isso. Outra, era como se poderia fazer um movimento interno para aumentar o consumo do suco de caju e outros produtos derivados. E uma terceira pergunta diz respeito à questão que voe falou que 60 milhões de quilos são utilizados pelas três indústrias de escala, Maguary, Da Fruta e Sucos do Brasil. Considerando que mais 60 milhões são utilizados em outras indústrias, teríamos 120, ou seja 10% de 1 milhão e 200 mil toneladas de pedúnculo, teríamos muita coisa ainda para explorar. Há uma elasticidade para modular as empresas que trabalham com esse processo, em aumentar, tendo em vista o mercado interno, como o mercado externo, como você mostrou nos primeiros gráficos, que são crescentes? SRA. ROSÁLIA AGUIAR: Bom-dia às autoridades. Rosália Aguiar, do Movimento Nacional para o Desenvolvimento Sustentado e Integrado. Quando saí do curso de agronomia, em 1989, fui chamada pelo Dr. José Liberato Barroso para um projeto de cajuína, suco clarificado de caju, para exportação aos Estados Unidos. Esse projeto era excelente, foi testada a palatabilidade do produto, e ele era perfeitamente competitivo com o suco de maçã, que e o suco mais popular americano. Infelizmente, até hoje, alguns anos se passaram, e ninguém entrou com esse produto no Ministério de Agricultura, para conseguir furar o bloqueio mercadológico dos produtores de suco de maçã para entrada de cajuína nos Estados Unidos. Eu sei que aqui no Brasil existe mercado para absorver cajuína, e um mercado muito maior do que para coca-cola, etc. O que se precisa é fazer uma estratégia de marketing que dure, no mínimo, 5 anos, e investir para poder entrar no mercado. Eu, como profissional de marketing, sei disso. Porém, nos Estados Unidos, não precisa de nada disso. O pessoal está lá desde 1989, esperando a cajuína chegar; também chegando o guaraná Antarctica chegar. E não chega, porque nós não nos organizamos, para fazer uma legislação de exportação internacional compatível. Se eles não querem por causa da concorrência com o suco de maçã, deixa o suco de maçã entrar aqui também e concorrer com cajuína. Não tem problema! SR. LUIZ EDUARDO DE FIGUEIREDO: Não deixam não! SRA. ROSÁLIA AGUIAR: Não, não tem problema! Eu acho que o mercado sendo livre, ele é melhor do que esse mercado e que exportamos só matéria-prima e importamos tudo. Nosso mercado de alimentos, infelizmente, todos os sucos e refrigerantes que ganham, vamos dizer, 80% do dinheiro aqui no Brasil, são multinacionais que vêm aqui, fazem uma estratégia de mercado de 5 anos, entram no mercado, ganham o

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mercado e nós ficamos exportando matéria-prima e não recebemos dinheiro nenhum com isso; ou então estragando, deixando o caju no campo. Enquanto que não só os americanos como o mundo inteiro teria todo prazer em consumir cajuína. Houve uma reunião no Cariri, sobre cajucultura. Que o GIAP do caju veja quais forma as conclusões disso. Vai haver outra em Marco, se não em engano, sobre a cadeia produtiva do Vale do Acaraú, que se faça presente ela, para agregar valor. Com respeito ao que você falou, sobre logística, para mim o problema do caju é logística. E, como esse problema é facilmente solucionável com grandes profissionais de logística que nós temos, que são exportados para a o mundo inteiro, eu não vejo o porquê disso não ter sido solucionado ainda. Dou uma sugestão, que está sendo utilizada nas plantações de pinhão manso no mundo inteiro, de indústrias móveis em cima de quatro rodas, para ir, a cada quilômetro, processando aquele suco e embalando a vácuo. E aí não tem nenhum problema da unidade industrial ficar longe, vai ter primeiro o produto, do primeiro passo, no campo mesmo. Isso é que é interessante. Eu acho que logística é só uma questão de inteligência e planejamento. Deixar uma pergunta para a o Dr. Lucas: se a fórmula para cálculo de CO2 do cajueiro já foi confirmada, para ver quantos créditos de carbono tem direito a produção de caju; se já existe essa fórmula, e se não existe, em que pé está isso. Porque sem essa fórmula não dá para ter crédito de caju não. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Muito obrigado. O Férrer tem preconizado, há muitos anos, para evitar o problema das distâncias, que tivéssemos pessoas integradas às indústrias, porque os produtores, no caso de vocês, estão todos do lado Fortaleza/Pacajus, nessa direção, e todo o restante do litoral produtor, se produzisse o suco e trouxesse o suco, obviamente, com todos os cuidados, com toda orientação da indústria, sendo integrados da indústria. A Petrobrás não quer receber o bagaço da mamona, ela quer receber o óleo da mamona. Vocês não receberiam o caju, mas sim a polpa do caju, já pronta, preparada, com várias pequenas indústrias dessas. E nós poderíamos ajudar, com o SENAR, naquilo que fosse possível de fazer. Quando eu falo no SENAR, é sempre a Embrapa olhando para nós, para nos ajudar na implantação disso, com a tecnologia, enfim. Então, eu acho que seria uma alternativa a ser explorada. Essas mini-fábricas não funcionaram, existe uma infinidade delas instaladas por aí e que poderiam ser transformadas nesse sentido. Infelizmente não tive tempo de saborear, mas fui presenteado ali, com um envelope de água de coco em pó, ACP Biotecnologia. Também aqui, nesta Casa, eu aprendi que com a diminuição das famílias, procura-se ter produtos que não sobrem para ir ao lixo. O envelope com água de coco, eu posso garantir que vou andar com ele no bolso, porque é o que eu procuro e não tem; às vezes num restaurante em Paraipaba, e não tem água de coco! É garantido você não encontrar água de coco ali em Croata, é um negócio impressionante. Qual é o critério para entrar na fila da venda do bagaço? Tem senha? (Risos). Para difundir entre os que querem fazer sua própria ração, coisa que é feita por todos os avicultores, assim como os maiores produtores de leite. Seria então um mercado de compra da matéria-prima para produção da ração. E com a carnaúba do Aníbal, poderíamos dar uma melhorada grande. SR. LUIZ EDUARDO FIGUEIREDO: Amigo Férrer, tem um custo na indústria que tem que se considerado, que é custo da armazenagem a frio. Existe a tecnologia do asséptico, que é muito onerosa, que existem algumas precauções em relação a ela. Bem, a cada 4 meses, a matéria-prima armazenada a 15 graus negativos, ela dobra o seu custo. Então, a indústria processa de setembro a dezembro, no final do processo já está em 50, 60 mil tambores de 200 litros, armazenados parte deles concentrados a 30, 32 brix, e quando for em setembro, começa novamente a produzir. Então, a nossa limitação não é a capacidade de processar, que chega a 1 milhão a 1,2 milhão de quilos/dia – obviamente quando estamos no pico da safra. E existe o mercado. tem caju para cortar 40 milhões de quilos? Tem. Talvez não tivesse como armazenar isso... se programando, dentro de mais 2 anos... uma câmara, você monta em seis meses, aí teríamos essa capacidade. E o mercado? O mercado tem um limitador, que é a oferta e a demanda. Se tiver muito suco, como ocorreu agora, com um concorrente nosso, pernambucano, ele fez um cálculo errado, cortou mais do que queria, entressafra começa em mais 15 dias e ele não tem o que fazer com o suco dele. O suco dele já está caríssimo, porque ficou já tempo demais na câmara frigorífica. O que ele fez? Baixou preço, prejudicou o mercado, criou hábito negativo perante o comprador, etc. Então, tem essa preocupação de realmente manter o

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mercado preservado. Esse custo fica em torno de 150 mil reais/mês de energia, somente para armazenar o produto. Nós fizemos um teste de exportação da cajuína, ou seja, o suo de caju clarificado, em 1995. Exportamos seis containers de 40 pés, frigorificados. Foram para uma indústria de soft drinks, nos Estados Unidos. Ela usava como base, o caju; ela já tinha a base da maçã, e resolveu fazer um teste, comprando esses containers. Ela colocou e desenvolveu, entrou apenas 5%, o restante é água. É um snaple. Ele coloca lá que é suco de fruta, mas na verdade e só 5%, não tem polpa nenhuma, é um produto clarificado. Um suco de caju clarificado a 65 brix, naturalmente o processo físico de concentração faz com que ele perca um pouco do aroma, então ela chegava lá e acrescentava algumas essências e o sujeito bebia suco de caju pensando que era de morango. De forma muito tranqüila a indústria já tem essas soluções. Sendo que logo em seguida, passaram a importar suco de maçã da China, então, inviabilizou toda e qualquer operação em termos de custo. As escalas de suco de maçã são estratosféricas e o caju não costuma mais ser competitivo. Então, esse projeto não teve mais evolução. Eu penso, opinião estritamente pessoal, que o caju tem muito a contribuir quando ele vai com a polpa, porque hoje, a barrinha de cereal e tudo, na verdade, tem a fibra,então eu não concordo muito em tirar a fibra e exportar só o líquido, eu acho que a fibra tem um valor interessante e que poderíamos trabalhá-la melhor, no conceito de bem estar, para funcionar melhor o intestino, a musculatura e pode ser que tenha esse mesmo desempenho que teve com o suco de maçã. Não sei, é uma hipótese. Sobre a água de coco, é bacana a idéia, muito legal, nós estamos com um projeto de, em março de 2008, entrar em água de coco. Para isso, nós precisamos de um maquinário chamado UHT, que é um pasteurizador ultra-potente, que eleva o produto a 120 graus, consegue preservar as propriedades do produto sem que ele faça mal. É um investimento alto, 1 milhão e 300 mil euros. O projeto é entrar com água de coco em embalagem longa vida. O caju, o Jaime Aquino uma vez mandou para São Paulo, para uma indústria de leite em pó, eles mandaram de volta um saco de 2 quilos, com caju desidratado, pó de caju (fino e um pouco amarelado). Com o tempo, eu não sei exatamente o porquê, ele passou a escurecer. Foram vários plásticos de 2 quilos, então nós ficamos, a cada mês abríamos um plástico e verificávamos como estava a conservação do produto. Houve um processo de escurecimento terrível, no segundo, terceiro mês o produto já estava preto, oxidou, não sei como (era fechado a vácuo e aluminizado). Mas tudo o que vem nesse sentido, certamente é bem vindo. Quem sabe amanhã ou depois o sujeito compra uma latinha de 400 gramas e faz o suco dele lá, como aqui o Brasil vende o leite em pó, que são poucos lugares que fazem o leite em pó. Então, seria interessante e me coloco à disposição da universidade para trabalhar essas idéias. Sobre os integrados fornecerem, as pequenas indústrias, isso é muito importante. É suspeito falar... a nossa companhia está num pólo geograficamente muito bem localizado para produção de caju, então, nós temos hoje 86 pequenos produtores de caju devidamente cadastrados, recebendo instruções de manuseio, de como colher, e além de toda a parte social que fazemos, porque são mais de 5 mil pessoas que estão inseridas nesse processo, 5 mil agricultores. Então, seria muito suspeito, seria muito particular falar, porque, na verdade, para nós, que dominamos essa tecnologia, não há interesse em comprar polpa de terceiros. Obviamente tem toda a questão técnica, do controle de qualidade, a indústria está bem instalada para esse quesito, nosso corpo técnico está lá, vistoriando a cada meia hora, a cada 5 minutos. De repente são poucas empresas no Brasil que fazem esse processo – na verdade, em caju, eu só conheço três. Todas as demais, como a FESA, a Coca-cola Company, elas compram o concentrado e depois embalam – é uma opção. Eu poderia dizer assim: fazer o que estamos fazendo nos traz mais rentabilidade, assim conseguindo mais escala e maior controle de qualidade. Como os demais têm hoje em São Paulo e no Espírito Santo, eles não têm essa opção. Nesse ponto eu não poderia me comprometer, porque existe um interesse estratégico nosso em que continuemos dominando essa tecnologia, essa etapa do processo. Nós estamos confortáveis, em termos de localização, num raio de 50 quilômetros, conseguimos ter fornecimento adequado e contínuo, então acho que para outras... eu sei que existem cooperativas como a Coapil, lá do Piauí, e outras do Rio Grande do Norte, que sempre nos oferecem esse tipo de produto quando está no final da safra. Mas, em virtude da nossa capacidade de processo, nunca foi interessante, até o momento. Quem sabe, no futuro, possa ser uma complementação? SR. MAGNO JOSÉ DUARTE CÂNDIDO: finalizando minha parte queria comentar que a gente acabou, aqui na parte da ração animal, puxando um pouco para o lado da hidrólise ou do problema do tanino e tentar

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superar isso aí. Mas, eu acho que não podemos perder de vista, pelos dados que temos mostrado, se usar o bagaço de 15 a 20% na ração animal, do jeito que ele está hoje, pode ser utilizado. Então, resolver o problema do tanino, é um segundo momento, que deve ser trabalhado desde já, porque a pesquisa tem que caminhar buscando futuro, mas ao nível do produtor, do que está acontecendo, se pelo menos usássemos 15 a 20% de cada ração com o bagaço de caju, eu acho que já estaríamos aproveitando muito melhor esse resíduo em relação ao que efetivamente é usado hoje. Essa é uma reflexão. Nesse sentido, de mais imediato a questão da desidratação é que talvez seja uma demanda mais imediata, porque aí esses 15 a 20%, se puder ser desidratado, vai dar mais estratégia de uso, de transporte, armazenamento, etc. Então, a questão da desidratação talvez anteceda um pouco a questão de neutralizar o tanino, e talvez possa ser usada em nível familiar, uma lona, algo assim, e ao nível da indústria, seria o caos de tentar desenvolver um equipamento que conseguisse já na planta sair o suco para um lado e o bagaço já saísse desidratado. Assim, acho que iria agregar bastante valor à cadeia produtiva. Em 2005, partimos de 530 mil toneladas de bagaço produzido, e isso não concorre com alimentação humana, acho que aí é questão de todo mundo se complementar e estar buscando aproveitar ao máximo todos os elos da cadeia. E é assim que ela se fortalece. Com relação a esse material que você recebeu, caju em pó, eu não sei se pode ser algo de oxidação ou se houve algum aquecimento no material, alguma coisa de ações secundárias. Eu não sei se o Sr. Mem de Sá pode ajudar nisso. SR. MEM DE SÁ MOREIRA FILHO: Quando você desidrata qualquer produto de caju, está concentrando tanino, suco de caju é rico em açúcares redutores, tem os aminoácidos, que você acabou de concentrar e tem a própria vitamina C, que foi concentrada. Então, temos três grandes problemas. Combina quimicamente, de forma espontânea, os aminoácidos que forma concentrados com açúcares que estão presentes no suco de caju, que vai levar ao que se chama Reação de Maia; essa, durante a armazenagem, forma polímeros que vão dar a formação de pigmentos escuros. Essa reação é espontânea, você inibe essa reação por baixas temperaturas, por ajuste de PH, mas não barra completamente. Outra questão é que a gente fala muito no grande benefício da vitamina C no suco, mas também é um malefício. À medida que você concentro a vitamina C presente naquela matriz alimentar, que é o suco de caju, você acelera a oxidação da vitamina C e os produtos dessa degradação também se combinam com esses outros componentes da Reação de Maia, então favorece também ao escurecimento na armazenagem. Mesmo que o produto não tenha passado por um efeito de aquecimento, que aí já teria o problema da caramelização dos açúcares, você não consegue barrar, como um todo, esse escurecimento. Ou seja, por melhor que seja o processo, você concentra, por exemplo, um suco de caju a 65 brix, vai ter esse escurecimento; armazena a menos 15 graus, depois de um ano ele vai estar mais escuro, praticamente negro. Então, mesmo para trabalhar com desidratado de caju, tem que se trabalhar num nível de concentração que permita que não se chegue a uma concentração dos componentes, de tal forma que acelere essas reações de escurecimento. Esse é o grande mistério a ser resolvido. SR. LUCAS LEITE: Tem a pergunta da Rosália, sobre o CO2. Bom, para esclarecimento, nós, preocupados com isso, colocamos para os colegas da área de fisiologia, em termos de planta, o processo, a sinalização que tem é que não há realmente ganhos de crédito de carbono. Nós estamos com a perspectiva realmente de olhar isso na lenha e do bagaço. São coisas que ainda não estão solucionadas, mas que a perspectiva seria em função da questão da lenha ou do bagaço. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Um informe: como está havendo solicitação muito grande das palestras. Terminamos agora esta reunião e às 4 da tarde tem gente querendo a palestra já publicada. E, infelizmente, não chegamos a esse nível de eficiência. Agora, á tarde estarão disponíveis todas as transparências e slides, e com a observação que via começar a sair hoje, que dentro de duas semanas estarão no site, na íntegra. Porque as palestras estão sendo taquigrafadas; depois da taquigrafia, tem que transformar em português; e estamos na ilusão de arranjar ainda algum voluntário para fazer a revisão técnica, para não sair eivado de erros. Porque a taquigrafa nem sempre entende a linguagem técnica que se costuma utilizar em algumas palestras e teria que passar por uma revisão, coisa que lamentavelmente não temos recursos

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suficientes para tal. Então, elas vão sair com uma revisão mínima e vamos colocar à disposição no site. Entrará também no link do site do agropólos, a partir desta semana. Vamos ouvir o João Batista, ainda, ele retornou. SR. JOÃO BATISTA PONTE: Sou produtor de caju, cada dia que assistimos palestra aqui, aprendemos mais, agente pensa que sabe tudo e não sabe nada ainda. Como também na importante cadeia de ovino. É bom ficar para o final, porque aí a gente só vai perguntar aquilo que não foi debatido. O Dr. Eduardo falou que as três fábricas consomem 35 milhões de quilos. Elas são oficialmente localizadas em Pacajus, numa BR e no município de Aracati, numa BR fácil de entregar, até 100 quilômetros ele está dizendo hoje que absorve mais ou menos a produção de 50 quilômetros da fábrica, entra aquilo que o Dr. Torres falou: e o pessoal lá do outro lado, no Acaraú? Isso é preocupante, porque como é que faz? Porque tem que colher de manhã, entregar no mesmo dia, e no mesmo dia o senhor vai processar. Até agora não conseguiu-se uma maneira de melhorar esse tempo do pedúnculo enquanto industrializa. A produção de suco de caju tem tendência a aumentar? Porque estamos reunidos hoje, na quarta reunião sobre cajucultura, exatamente para saber esse detalhe. Quando se trata da produção do pedúnculo esmagando ou como seja, para produzir a ração, pelo que se fala aqui... por exemplo, hoje ninguém abordou o assunto de mudança de copa de cajueiro. A viabilidade do cajueiro, como diz o Carlos Prado, seria você ter o cajueiro-anão, com ele em plantio ou com ele mudando de copa. Cadê o pessoal que cria gado? Por exemplo, eu crio gado, eu tenho uns 500 gados na minha fazenda. Desde o momento em que eu mudasse essa copa toda, ou passasse a tirar o cajueiro e colocasse o cajueiro-anão precoce, teria que acabar com o gado. E vou viver em torno do quê? De ração? Cadê o pasto, que eu poderia ter, no intervalo de produção, que eu não posso mais ter, por causa da cultura do cajueiro pequeno? Fica uma situação que... a pessoa aqui explica como é que iria dar um aproveitamos que, digamos, essa ração fosse suficiente para manter esse gado criado estabulado, porque não poderia mais ir ao campo. Aos doutores, meus parabéns. SR. MAGNO JOSÉ DUARTE CÂNDIDO: O senhor fala talvez então de botar o animal em pastejo nos pomares de cajueiro, que mudando para o cajueiro-anão, fica mais complicado. Por um lado eu fico pensando que é realmente um problema sério, uma alternativa talvez seja, quem sabe, mudar de animal também; se sair do boi e for para a o ovino, talvez ainda tenha a chance dele conseguir ficar por ali sem atingir os frutos, dependendo do porte. Ou então fazer um planejamento de utilizar a entrelinha do pomar na época que não estiver tendo fruto, que é a época chuvosa, quando não cresce pasto na entrelinha. Quando chegar na época de colher os frutos, é época da seca, o pasto já minguou mesmo, então você ajustando a taxa de lotação que aproveite essa forragem logo na época chuvosa, você chega na época seca, tira o rebanho e vai fazer o confinamento usando o resíduo do bagaço. É uma possibilidade. Aí você calcula uma taxa de lotação que consuma toda aquela forragem logo na época chuvosa, que é um pasto de melhor valor nutritivo, e você não tem fruto de caju naquele momento e não vai atingir os frutos. SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Bem, nós vamos encerrar a reunião, agradecendo a presença de todos e na próxima segunda-feira, estaremos novamente aqui. Está encerrada a reunião.