5.1 a Funcao Dos Direitos Autorais Na Obra Cinematografoca Nos Paises Ibero-Americanos (Eduardo Pimenta)

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    FADISP

    Faculdade Autnoma de Direito

    por

    E d u a r d o S a l l e s P i m e n t a

    Ministro Moreira Alves

    Orientador

    So Paulo, julho de 2007

    Dissertao de Mestrado

    Dissertao submetida avaliao para a

    obteno do grau de Mestre em Direito

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    SUMRIO

    1. Introduo ...............................................................................................

    2. Direitos Autorais2.2. Natureza Jurdica dos Direitos Autorais ...........................................2.3. Direitos Autorais: uma modalidade da propriedade? ........................2.4. Criao Intelectual ...........................................................................2.5. Os Direitos Morais do Autor ............................................................2.6. Os Direitos Patrimoniais do Autor ...................................................2.7. As Limitaes aos Direitos Autorais.................................................

    3. A Obra Audiovisual3.1 A Natureza Jurdica da Obra Audiovisual ..........................................

    3.1.1.Caractersticas e Peculiaridades.................................................3.2 A Proteo Bsica dos Direitos de Autor na Obra Audiovisual..........

    3.2.1. A Autoria da Obra Intelectual e a Titularidade dos DireitosAutorais ...................................................................................................

    3.2.2. A Criao Intelectual por Diversas Pessoas:3.2.2 a)Obra Coletiva.............................................................

    b) Obra Co-autoria..........................................................3.3. A Proteo Bsica dos Direitos Conexos dos Artistas, Intrpretes

    Executantes...............................................................................................3.3.1 Os Direitos Morais dos Artistas .................................................3.3.2 Direitos Patrimoniais dos Artistas..............................................

    3.4. O Prazo de Proteo dos Direitos Autorais sobre a ObraAudiovisual...........................................................................................

    4. A Funo Social.......................................................................................4.1. A Funo Social da Obra Audiovisual..............................................

    4.1.1 A Funo Social nas Limitaes de Direitos Autorais para a

    Obra Audiovisual..................................................................................

    5. Concluso ................................................................................................

    6. Referncias Bibliogrficas .......................................................................

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    ELENCO DE ABREVIATURAS UTILIZADAS

    ADPIC - Acordo Sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade IntelectualRelacionados ao Comrcio

    GATT - General Agrment on Tariffs and Trade

    LDA - Lei de Direitos Autorais

    LPI - Ley de Propiedad Industrial

    OMPI - Organizao Mundial da Propriedade Intelectual

    OMC - Organizao Mundial do Comrcio

    p. - pgina

    pg pgina

    RIDI Revista Interamericana de Direito Intelectual

    STF Supremo Tribunal Federal

    STJ Superior Tribunal de Justia

    STS - Sentencia Tribunal Supremo

    SAP - Sentencia Audiencia Provincial

    TJ - Tribunal de Justia

    TLC - Tratado de Livre Comrcio

    TRIPs -Rigths Intellectual PropertyUSA United States of America

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    RESUMO

    Direitos Autorais a nomenclatura usada para designar os direitos, que tem o autor

    sobre sua criao. Na criao denominada obra audiovisual tem como criador os diversos

    autores das diversas contribuies, que resultaram na dita obra. A funo social dos direitos

    autorais na obra audiovisual resultante de sua utilizao, sujeitando-se s limitaes de

    interesse coletivo, que fixadas na lei de regncia de direitos autorais (Lei n 9610/98). Os

    direitos autorais, tendo sido classificados como propriedade pela Constituio Federal, ho de

    subordinar-se s regras, gerais que so compatveis com a regra especial (Lei n 9610/98).

    Estas limitaes aos direitos autorais do autor visam assegurar o interesse coletivo na

    utilizao da obra audiovisual. Tais direitos autorais, emanantes da obra audiovisual, tm uma

    natureza jurdica hbrida, pela dupla caracterstica de obra em co-autoria e obra coletiva ao

    mesmo tempo. Com a criao da obra audiovisual tm uma unicidade os direitos inerentes ao

    autor de carter moral e de carter patrimonial. O autor na obra audiovisual exerce os direitos

    morais, enquanto o organizador exerce os direitos patrimoniais. Decerto que, sobre o

    contedo da obra audiovisual, diversos direitos revelam-se perifericamente como os direitos

    conexos dos atores e atrizes ao interpretar o papel apresentado no roteiro. O roteiro, por sua

    vez, gera um direito de autor para o seu criador o roteirista. Esta, por seu turno, goza da

    proteo internacional atravs de tratados dos quais o Brasil signatrio, determinantes de

    que a obra audiovisual um tipo da espcie de obra intelectual, merecendo o tratamento de

    propriedade intelectual, os quais legam aos pases signatrios a fixao das limitaes da

    funo social. Da funo social torna-se uma limitao, imposta pelo Estado, aos direitos

    autorais do criador, quanto s prerrogativas morais e patrimoniais. A obra intelectual, do tipo

    audiovisual, pela diversificao de contedo (artstico, dramtico, documental, jornalstico)

    tem em seus direitos patrimoniais a maior incidncia das limitaes em cumprimento funo

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    social. Nos direitos morais de autor, em menor incidncia, a restrio ocorre quando da

    exibio por TV aberta, sofrendo as interrupes de breaks, da divulgao, adequando o

    contedo faixa etria do pblico televisivo, da publicao de obra audiovisual indita para

    conhecimento da memria scio-poltica e informativa.

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    1. INTRODUO

    A criao intelectual protegida pelos direitos autorais aquela que, exteriorizada,

    pertena ao campo literrio ou artstico, independentemente da forma de expresso.

    Henry Jessen comenta: Em princpio, devemos entender por obra a

    exteriorizao da idia atravs de uma forma de expresso. O objeto do direito no a idia

    abstrata, que de domnio comum, e sim, a forma pela qual o autor a revela ao pblico.1

    Na obra audiovisual, a criao tem incio com a exteriorizao da idia

    (pensamento humano)2, de um plano geral de um fato ou acontecimento real ou imaginrio, o

    que servir de tema, por exemplo, a guerra entre Finlandeses e Russos, ou a separao entre

    duas pessoas que se amam e se reconciliam, ou a vida de uma pessoa pblica. Surge, da, a

    idia central, no plano mental, com a possibilidade das idias perifricas vinculadas idia

    1 JESSEN, Henry. Direitos Intelectuais. Rio de Janeiro: Itaipu, 1967. p. 54.2 Os juristas Tapia e Romn, em seus comentrios Lei Espanhola de Propriedade Intelectual, sobre a idia afirmam: Contra

    el tpico extendido de que el derecho de autor no protege la ideia sino la forma, hay que afirmar que la ideia es protegiblepor la LPI si est expresada, tiene cierto grado de complejidad y es original. Lo que no se protege es la ideia en la mente,primaria (STS - Sentencia Tribunal Supremo, Penal, 19-7-1993, que no protege un mero acopio de materiales para unaserie futura) o falta de originalidad (SAP Sentencia Audiencia Provincial, Madrid 2-6-1993, sobre un programa detelevisin sobre el jurado; SAT - Sentencia Audiencia Territorial, Toledo 3-5-1994, sobre la Guia del ocio de Talavera ySAP - Sentencia Audiencia Provincial, Bilbao 12-5-1994, sobre un programa de marketing piramidal). Los formatos de

    programas audiovisuales son protegibles y registrables si tienen una mera descripcin compleja, pues recordemos, con elarticulo 64 RLPI, que el plan y argumento de una obra musical o dramatica constituyen propiedad. No obstante, convienetener en cuenta la STS - Sentencia Tribunal Supremo, de 26-10-1992, muy discutible, porque considera que el tema nadaoriginal de una figura humana y de sus manos impide la originalidad de la joya. La STS - Sentencia Tribunal Supremo, de20-2-1992, mucho ms correcta, niega la originalidad que pretende el actor, pero no niega que la originalidad pueda

    residir en el estilo o la ideia, como hace la precitad.

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    central que, exteriorizada, transforma-se em argumento para o desenvolvimento de uma obra

    audiovisual. Do argumento pode nascer a sinpse, que a sntese do argumento para o

    desenvolvimento da obra audiovisual.

    Da a obra audiovisual ser aquela, que resulta da fixao de imagens, independente

    de udio, que tenha a finalidade de criar, por meio de sua reproduo, a impresso de

    movimento, nos mais diversos processos de sua captao e de suporte usado para fix-la, bem

    como os meios utilizados para sua veiculao.

    Isidro Satanowsky assim define obra cinematogrfica: uma sucesso de fatos

    ou acontecimentos materiais ou cenas em movimento, reais, de aparncia real ou simblica,

    com sonoridade ou sem ela, cujo autor ao fix-las, determina o objeto e a distncia, o ngulo

    e o ritmo visual e auditivo sobre o qual sucedem, se desenvolvem e reproduzem artisticamente

    de maneira que integram um conjunto harmonioso que atrai sem interrupo dos sentidos do

    espectador.3

    A criao intelectual, da qual nasce a obra audiovisual, tutelada pelos direitos

    autorais atravs da Lei n 9610/98. Internacionalmente, regida pela Conveno de Berna, em

    seu Artigo 25, alnea 1, 3 e 6. A Conveno Universal no artigo III4, tambm dispe sobre a

    tutela, no o gnero audiovisual, mas espcie de obra cinematogrfica.

    A obra audiovisual submete-se a um dos dois sistemas de proteo aos direitos

    autorais. O sistema anglo-saxnico, denominado copyrighte o sistema francs, denominado

    droit dauteur, este ltimo norteia o direito brasileiro.

    Os direitos autorais subdividem-se em direito autoral moral e direito autoral

    patrimonial, e, em sua unicidade, classificados como propriedade, por razes dispostas na3 SATANOWSKY, Isidro. La obra cinematogrfica frente al derecho. Buenos Aires: Ediar S/A, t. 3, 1949, p. 531.4 A Conveno Universal foi promulgada pelo Brasil pelo do Decreto n 76.905, de 24 de dezembro de 1975.

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    Constituio Federal. E, por constitucional, a propriedade deve subordinar-se s limitaes

    impostas pelo Estado, dentre elas: a funo social.

    A obra intelectual objeto de proteo do direito autoral, porm o objeto do direito

    autoral a criao, que s existe se exteriorizada e materializada, corporificando a obra

    intelectual, e na coisa corprea, com reflexo na coisa incorprea (criao), que incide o

    direito de utilizao.

    Toda obra intelectual seja audiovisual, ou de qualquer outra espcie, emerge de

    uma idia, que o contedo do cerne do pensamento. Porm, quando a idia exteriorizada

    oralmente ou materializada em um corpo fsico comea a gozar de proteo. A obra

    audiovisual normalmente precedida de um roteiro ou argumento, no qual insere-se a idia

    exteriorizada, por vezes baseada em obra literria alheia.5

    A expresso formal da idia, que a representao, protegida pelo direito de

    autor. Nos direitos autorais e na obra intelectual, a predominncia do interesse na

    comercializao dos bens o interesse legitimador, ao invs de o direito humano, como os

    direitos morais do autor, entre eles o de ser, obrigatoriamente, o autor pessoa fsica. O

    interesse patrimonial dos direitos autorais importa na sociedade de consumo, tornando-se bem

    de riqueza, quantificado economicamente, pode-se defini-lo como fenmeno da

    mercantilizao dos direitos autorais e das obras intelectuais, por intermdio de originais ou

    exemplares.

    5 A Conveno de Berna assinala, em seu Artigo 14:1) Os autores de obras literrias ou artsticas tm o direito exclusivo de autorizar: 1 a adaptao e reproduo

    cinematogrfica dessa obra e a distribuio das obras assim adaptadas ou reproduzidas; 2, a representao e a execuopblicas e a transmisso por fio ao pblico das obras assim adaptadas ou reproduzidas.2) A adaptao, sobre qualquer outra forma artstica, das realizaes cinematogrficas extradas de obras literrias ou

    artsticas fica submetida, sem prejuzo da autorizao dos seus autores, autorizao dos autores das obras originais.3) As disposies do artigo 13.1 no so aplicveis

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    Os direitos autorais, apesar de no serem uma propriedade, na acepo da palavra

    e no significado doutrinrio6 so classificados pela legislao como propriedade (art. 5 da

    CF, art. 2 do Tratado da Organizao Mundial da Propriedade Intelectual promulgado pelo

    Decreto n 75.541, de 31 de maro de 1975). Constata-se ser uma modalidade de propriedade,

    a compor o rol de riqueza do seu titular, quer com o valor da obra intelectual, a partir do

    corpus mechanicum, onde se insere o corpus mysticum (a criao), ou do valor fixado para os

    direitos autorais, cobrados quando resultante de licenciamento ou concesso de uso da obra

    intelectual.

    Neste enfoque, atrelado constatao de direitos mnimos e equitativos sobre a

    obra audiovisual, cuja base de toda reflexo jurdica a harmonizao do disposto na

    legislao7. Detectamos o dever dos direitos autorais em cumprir a funo social, por s-lo,

    segundo definio legislativa vigente, uma propriedade. Tal dever est caracterizado nas

    limitaes fixadas pela lei de direitos autorais (9610/98). Ou seja, as limitaes consistem em

    prerrogativas concedidas coletividade para o uso da obra intelectual, o qual no dependem

    de autorizao do autor e no caracterizam violao aos direitos autorais.

    6 Entendimento que j externamos em outros estudos que realizamos, pois, enquanto a propriedade caracteriza-se pelaexclusividade, perpetuidade e absolutividade; os direitos autorais tm limitao temporal. Nascem em conjunto com a obraintelectual e so divisveis, seja em razo das diversas formas de utilizao, art. 31 da Lei n 9610/98, seja em razo de seucontedo moral ou patrimonial.

    7 Nos principais diplomas internacionais (Conveno de Berna e Conveno de Roma) h a previso de proteoaos direitos autorais. Ademais, diversos so os pases signatrios das diversas Convenes sobre DireitosAutorais, tendo aderido nas respectivas datas:

    BERNA - Argentina (10 de junho de 1967), Bolvia (4 de novembro de 1993), Brasil (9 de fevereiro de 1922), Colmbia (7de maro de 1988), Cuba (20 de fevereiro de 1997), Costa Rica (10 de junho de 1978), Chile (5 de junho de 1970),Equador (9 de outubro de 1991), Espanha (5 de dezembro de 1887), Mxico (11 de junho de 1967), Panam (8 de junho de1996), Peru (2 de agosto de 1988), Portugal (29 de janeiro de 1911), Porto Rico (considerando tratar-se de um Estadomembro dos Estados Unidos da Amrica a data de entrada em vigor nos USA 1 de maro de 1989 e adeso em 16 denovembro de 1988), Uruguai (10 de julho de 1967) e Venezuela (30 de dezembro de 1982).

    ROMA - Argentina (2 de maro de 1992), Bolvia (24 de novembro de 1993), Brasil (29 de setembro de 1965), Colmbia(17 de setembro de 1971), Cuba (no signatrio deste tratado), Costa Rica (9 de setembro de 1971), Chile (5 de setembrode 1974), Equador (18 de maio de 1964), Espanha (14 de novembro de 1991), Mxico (18 de maio de 1964), Panam (2 desetembro de 1983), Peru (7 de agosto de 1985), Portugal (17 de julho de 2002), Porto Rico (nem os USA so signatriodeste tratado), Uruguai (4 de julho de 1977) e Venezuela (30 de janeiro 1996).

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    2. DIREITOS AUTORAIS

    A nomenclatura direitos autorais no plural genrica e designativa dos direitos de

    autor e os que lhe so conexos. No singular, direito autoral designativo apenas dos direitos

    de autor, pois autoral adjetivo designativo de autor. Os direitos autorais so uma espcie que

    pertence ao gnero da propriedade intelectual, que cuida do direito que tem o criador em

    relao sua criao de forma genrica, ou seja, quelas pertencentes ao gnero literrio,

    artstico e cientfico.

    A expresso direito autoral foi introduzida no direito brasileiro por Tobias Barreto,

    para traduzir do direito alemo: urheberrecht, tendo como opositor Rui Barbosa, que entendia

    ser uma expresso que reduzia a mero privilgio os direitos da produo intelectual. Se esta

    equipara-se ao domnio, cuja inscrio propriedade literria, cientfica e artstica, tendo a

    mesma natureza da propriedade, basta-lhe a denominao propriedade. Pontes de Miranda

    tambm entende s-lo propriedade.8

    Jos Oliveira Ascenso assinala que:

    A lei brasileira impe a distino entre Direito de Autor e o DireitoAutoral. Direito de Autor o ramo da ordem jurdica, que disciplina aatribuio de direitos de exclusivo relativos a obras literrias eartsticas.9

    8Apud, PIMENTA, Eduardo. Princpios de direitos autorais. Rio de Janeiro, Lmen Jris, l. 1, 2004. p. 74.9 ASCENSO, Jos Oliveira. Direito autoral. Rio de Janeiro: Forense, 1980. p. 6.

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    Em trabalho mais recente sobre o direito de autor portugus, o Oliveira Ascenso,

    comenta:

    Mas com o acesso tutela dos chamados direitos conexos ao direitode autor (...), novo problema surgiu. Essa matria foi sempreestudada em paralelo com o Direito de Autor, mas na realidade essesdireitos no so direitos de autor - por isso se lhes chama direitosconexos, em expresso conscientemente ambgua. Para englobar estenovo domnio, fala-se no Brasil em Direito Autoral. Trata-se dumneologismo que no est nos hbitos portugueses, e ainda por cima aque atribudo um sentido diferente do que corresponde sua origemhistrica.10

    O jurista defende o uso da expresso Direito de Autor (usada primeiramente na

    tutela autoral da Itlia, da Blgica e da Holanda), assim como o seu compatriota, o jurista Luiz

    Francisco Rebello,11 que por sua vez entende que o Direito de Autor uma espcie do gnero

    Direitos Intelectuais. Todavia, a expresso Direitos Intelectuais, nos idos de 1940, conforme

    assinala Telles Netto, designa uma relao jurdica de valores imperfeitos: o direito do artista,

    direito do sbio e direito tcnico.

    Os direitos referidos eram assim especificados:

    1) o direito de exclusividade sobre a criao artstica, incluindo-senesta a criao literria; 2) o direito do tcnico, do aplicador sobreas invenes que so passveis de utilizao imediata e das quais

    decorrem vantagens de ordem material, includo aqui o direito smarcas da indstria e comrcio; 3) direito do sbio a uma renda paga

    pela indstria sobre os benefcios que tira dos princpios tericos porele descobertos, quando tais princpios concorrem diretamente para a

    produo industrial.12

    10 ASCENSO, Jos Oliveira. Direito civil:direitos de autor e direitos conexos. Coimbra: Coimbra, 1992, p. 23.11 REBELLO, Luiz Francisco. Introduo ao direito de autor. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Autores - Publicaes Dom

    Quixote, v. 2, 1994. p. 25.12 TELLES NETTO. Aspectos de o contrato de edio.Recife: Jornal do Comercio, 1940. p. 25.

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    A referida especificao de direitos apresenta deficincias, mas o primeiro passo

    em direo ao que se julga mais adequado para a criao humana. O referido jurista destaca

    estas deficincias:

    O direito do escritor e do tcnico tem de comum recarem sobre aforma. esta que protegida. As idias que a criao literriacontm, passam depois de publicadas, a pertencer ao domnio

    pblico. Somente a forma inatacvel, e deve ser respeitada. (...) Odireito do sbio dinmico, dizem os autores, porque, depois delanada a idia em pblico, passa ela por um perodo de longaelaborao at que seja transformada, de princpio cientfico, numaaplicao prtica pelo inventor, ou diretamente pela indstria. Nestas

    condies enquanto os outros, desde nascidos, se tornam produtivos,o direito do sbio fica em expectativa, at que surja a eventualidadede seu aproveitamento, o que alias pode no se verificar.13

    A denominao Direitos Intelectuais foi divulgada no Brasil pelos juristas Henry

    Jessen e Milton Fernandes. Mundialmente, predomina o uso da expresso Direito de Autor,

    em francs - droit dauteur; em italiano - diritto di autore; em espanhol - derecho de autor;

    em alemo - urheberrecht; em ingls - copyright, que etimologicamente exprime o direito de

    cpia ou de reproduo.

    Definimos direitos autorais como sendo o conjunto de prerrogativas jurdicas

    (morais e patrimoniais) atribudas, com exclusividade, aos criadores e titulares de direitos

    sobre obras intelectuais (literrias, cientficas e artsticas) de gerir e opor a todo atentado

    contra estas prerrogativas exclusivas, como tambm aos que lhe so conexos (intrprete ou

    executante, produtores fonogrficos e empresa de radiodifuso) que gozam da aplicabilidade

    das normas legais cabveis aos direitos de autor.

    13 TELLES NETTO, ob.cit.,p. 26.

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    Com a exteriorizao da idia pertencente ao universo literrio ou artstico, tem-se

    a criao intelectual legalmente denominada obra intelectual. Sobre a obra intelectual possui o

    seu autor os direitos autorais, que se subdividem em direito moral e direito patrimonial.

    Os direitos morais so aqueles que, dentro do regime do direito de autor, se

    ocupam em salvaguardar a boa fama dos autores e compreendem a faculdade do autor para

    exigir, em todo caso, que seu nome seja mencionado quando da utilizao da obra e impedir

    as alteraes ou supresses, ou quaisquer modificaes feitas por outrem. Prerrogativas

    morais que so inalienveis e irrenunciveis.

    E como direitos patrimoniais: direito que refere a explorao econmica da criao

    intelectual, da qual se beneficia o autor, ou seus herdeiros e ou os titulares, dentre estes os

    adquirentes de direitos autorais patrimoniais.

    2.2. Natureza Jurdica dos Direitos Autorais

    Os direitos do indivduo, segundo a diviso romana, subdividem-se em reais,

    pessoais e obrigacionais. Entende-se, que as criaes da inteligncia, a que se refere a

    Organizao Mundial da Propriedade Intelectual e de que tratam os direitos autorais, no se

    enquadram especificamente em nenhuma dessas subdivises.

    Para Jhering,

    O direito de autor forma da propriedade intelectual, de par com apatente do inventor, a propriedade intelectual das cartas, a das

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    fotografias privadas, a das amostras, dos modelos, da firma comerciale dos brases.14

    Dalloz entende, que o direito pertencente ao autor, sobre suas obras, no constitui,

    apesar do nome que lhe atribudo pelo uso e, sobretudo, em razo de seu carter temporrio,

    um verdadeiro direito de propriedade, mas, antes, um direito temporrio de natureza

    mobiliria.15

    Rui Barbosa caracteriza o direito do autor como um gnero da propriedade,

    equiparando-o ao domnio, por ter a mesma natureza, sob a qual se renem e designam todas

    as manifestaes do criador sobre as coisas.16

    Para Roberto de Ruggiero, o direito de autor no se inclui no conceito de

    propriedade:

    As obras de arte, literria, musical ou dramtica, a invenocientfica, a descoberta industrial, em suma, todo produto do engenhono protegido nem regulado com as mesmas normas que tutelam a

    propriedade sobre coisas corpreas e que, para elas, seriaminaplicveis. Pertencem, sim, aos seus autores, mas tal pertena s

    por analogia se pode chamar propriedade e no identificar-se comela. Melhor , pois, falar de direitos sobre bens imateriais e, semcondenar ou excluir as usuais locues de propriedade literria,industrial e artstica, para designar o direito de autor como

    patrimonial de natureza real, com caractersticas particulares que odiferenciam de todos os outros.17

    Sinteticamente, os direitos sobre a criao intelectual (literria, artstica, cientfica

    e industrial) foram qualificados por alguns estudiosos como direito de propriedade. Porm,

    14 BEVILAQUA, Clovis. Direito das coisas. 4. ed.Rio de Janeiro: Forense, v. 1, 1956. p. 273.15 DINIZ, Almachio. Direito das coisas. 2. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1923. p. 184.16NERY, Fernando. Rui Barbosa e o cdigo civil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1931. p. 276-78.17 RUGGIERO, Roberto de. Instituies de direito civil. (Traduo de Antnio Chaves e Fbio Maria de Mattia). So Paulo:

    Saraiva, v.2, 1972. p. 302.

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    por divergncia de fundamento doutrinrio, quanto natureza jurdica, alguns autores

    classificaram-os como direito de obrigao, em funo do contrato tcito entre a sociedade e o

    indivduo. Posteriormente, uma terceira escola os define como direito pessoal. Atualmente,

    predomina a teoria dos direitos intelectuais (Picard) e a teoria dos direitos sobre bens

    imateriais (Kohler).18

    Maria das Graas Ribeiro de Souza classifica o direito de autor, conforme a teoria

    dualista, afirmando ser ele:

    Antes da publicao, um direito pessoal. Aps a comunicao daobra ao pblico, ao elemento pessoal junta-se o patrimonial, fazendocom que esses dois elementos amalgados no interior do direito deautor lhe imprimam uma natureza mista.19

    Segue-se o posicionamento de Jos de Oliveira Ascenso, para quem o direito

    surge, na totalidade dos seus aspectos pessoais e patrimoniais, logo com a criao daobra,20 isto porque, a partir do momento em que a obra exteriorizada, j constitui o direito

    patrimonial (utilizao), sendo a publicao irrelevante para a constituio do direito de autor.

    Tanto que a LDA faz meno de tal hiptese (cesso de obras futuras, art. 54 e 58, pargrafo

    2).

    Em linhas gerais, o direito autoral tem, ao mesmo tempo, caractersticas de direito

    pessoal e de direito real, citados na subdiviso romana, o que j seria o suficiente para se criar

    uma nova categoria na subdiviso romana: a intelectual.

    18CERQUEIRA, Joo da Gama. Tratado da propriedade industrial. 2. ed. So Paulo: RT, v. 1, 1982. p. 78.19 SOUZA, Maria das Graas Ribeiro de. O direito moral do autor literrio. Belo Horizonte. Apresentada

    como dissertao de mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais, 1988. p. 175.20ASCENSO, Jos de Oliveira. Direito autoral. Ob. cit., . p. 69-70.

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    Os direitos autorais, por vezes, so confundidos com a obra que corporifica a

    criao, como comenta Edmond Picard:

    Da coisa material coisa intelectual, as diferenas de natureza e deorigem so grandssimas para que o mesmo regime jurdico possaconvir.21

    Por isso, a criao da categoria de bem imaterial, na diviso romanista do direito

    civil, necessria para classificar a manifestao intelectual, na qual se inserem os direitos

    autorais e no classific-los como direito real, caracterstica fundamental da propriedade,

    ainda que ela seja intelectual marcada pela unicidade, ao mesmo tempo, um direito real e um

    direito pessoal.

    Com a incluso da categoria de bem imaterial, na teoria de bem em senso jurdico,

    resultado originrio da observao - valor determinante para o processo de qualificao

    jurdica a criao exteriorizada se transforma em bem. A criao um objeto de direito

    subjetivo, pela constatao de que o resultado de tal processo abstrato, porm com a

    demonstrao e consistncia fsica um reflexo in concreto (res incorporales) diverso da

    coisa fsica (res corporales). O bem imaterial, no conceito jurdico, , filosoficamente, o

    ponto limite entre a metafsica e a fsica, posto que no se possa negar que exista, porm,

    resulta de uma criao intelectual, que materializada no plano fsico.

    Distinta a caracterizao da criao do bem que a corporifica; enquanto aquele

    abstrato, este concreto; enquanto aquele no pode-se apropriar, este possvel de apropriar-

    se; enquanto aquele cria, este adquirido. Contudo, os bens compem o universo patrimonial

    21 PICARD, Edmond. Direito puro. 2.ed. Salvador: Progresso, 1954. p. 116.

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    do homem, so materiais ou imateriais. A criao um bem imaterial, j a obra, na qual se

    corporifica, um bem material.

    Nota-se, que, para alguns autores clssicos, os direitos autorais, por ter uma face

    patrimonial, que recai sobre o objeto material, tratavam-no como um direito de propriedade.22

    Os direitos autorais so um direito intelectual, por suas caractersticas doutrinrias

    e pelas definies jurdicas. Conclusivamente, os direitos autorais so um direito sui generis,

    por terem caracterstica de direito real e de um direito pessoal, ao mesmo tempo.

    Ante todo o exposto, no se pode esquecer, que a maioria doutrinria em 1899

    acorda em no atribuir ao direito de autor caracterstica de propriedade, conforme afirma

    Pietro Esperson, no sculo XIX:

    Tutti i trattatisti riferiscono le parole suonanti con le qualiChapellier esprimevasi in Francia sul decreto del 1791 circa gli

    spettacoli: La pi sacra, la pi legittima, la pi inattaccabile, esse ioposso parlare cos, la pi personale di tutte le propriet lopera,frutto del pensiero di uno scrittore. Ma lillustre autore si affretta asoggiungere: tuttavia una propriet di un genere affatto differentedalle altre propriet. Basterebbe questa aperta reticenza, dice

    Rosmini, a demonstrare lerroneit del vocabolo: una propriet che diversa da tutte le altre propriet, devessere tuttaltra cosa che una

    propriet..23

    22 Este foi e o grande erro das gravadoras musicais, que sempre viam como produto o disco, que vendiam e no a criaointelectual, que portava. Motivo pelo qual encontram grande dificuldade de adaptarem-se s novas tecnologias como o usoda msica na Internet, gerando grandes perdas para estes titulares de direitos.

    23.Traduo livre: Todos os tratados referem-se s palavras pronunciadas com as quais Chapellier se exprimiu na Franasobre o decreto de 1791 a cerca dos espetculos: A mais sagrada, a mais legitima, a mais inatacvel, isto posso falar assim,a mais pessoal de toda a propriedade a obra, fruto do pensamento de um escritor. Mas o ilustre autor se receia em sugerir:Todavia, uma propriedade de um gnero criada diferentemente de outra propriedade. Bastava que esta exposioreticente, disse Rosmini, a demonstrar o erro do vocbulo: uma propriedade que diferente de todas as outras propriedadesdeve ser uma coisa totalmente diferente de uma propriedade .. EPERSON, Pietro. DeDiritti di autori sulle opere

    dellingegno. Torino:Unione Tipografico, 1899. p. 7.

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    A Lei de Direitos Autorais define tais direitos como sendo sui generis, admitindo,

    acertadamente, serem bens mveis, com caractersticas ao mesmo tempo de direito pessoal e

    de direito real.

    Hermano Duval, em suas ponderaes, conclui, que melhor seria tomar partido

    sobre a tcnica legislativa, evitando-se a definio dos direitos de autor como direitos pessoais

    ou reais. Transfere-se o problema soluo da doutrina e da jurisprudncia, que tm assim

    maior liberdade de ao para fix-la, segundo as concepes dominantes, sempre variveis.24

    Por este pressuposto, cabe doutrina classific-lo como direito ou propriedade.

    Doutrinariamente, classificam-se os direitos autorais como um direito intelectual e no como

    uma propriedade intelectual, todavia, visualiza o legislador de forma diversa.

    Ressalta-se, que a Lei de Direitos Autorais, 9610/98, em seu artigo 3, enuncia:

    Os direitos autorais reputam-se, para os efeitos legais, bens mveis. Extrai-se a definio

    de bens mveis do Cdigo Civil Brasileiro, de 2002, no seu artigo 82: so mveis os bens

    suscetveis de movimento prprio, ou de remoo por fora alheia, sem alterao da

    substncia ou da destinao econmico-social.

    Contrria s diretrizes das leis brasileira e portuguesa, posiciona-se a escola alem,

    para qual no h coisas imateriais ou incorpreas, como tambm no so coisas os direitos ou

    o conjunto deles.25

    Caio Mrio da Silva Pereira assim diferencia os bens das coisas:

    24 DUVAL, Hermano. Direitos autorais nas invenes modernas. Rio de Janeiro: Andes, 1956. p. 7.25 GONALVES, Luiz da Cunha. Tratado de direito civil em comentrio ao cdigo civil portugus . 2. ed. 1. ed. brasileira

    adaptada ao direito brasileiro por Orosimbo Nonato, Laudo de Camargo e Vicente Ra. So Paulo: Max Limonad, v. 3, t.

    1, 1958. p. 49.

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    Os bens, especificamente considerados, distinguem-se das coisas, emrazo da materialidade destas: as coisas so materiais ou concretas,enquanto que se reserva para designar os imateriais ou abstratos onome bens, em sentido estrito.26

    Um fonograma uma coisa, porque se concretiza em uma unidade material e

    objetiva, distinta de qualquer outra. O direito autoral um bem, defensvel ou protegvel em

    caso de leso, distinguindo-se pela sua materialidade.

    Cunha Gonalves entende que, no sentido jurdico, coisa toda entidade

    material ou imaterial suscetvel de valor econmico e de domnio ou posse exclusiva de uma

    pessoa. 27

    Ficam, pois, excludos da noo jurdica de coisas os valores morais, completa o

    citado autor: os direitos autorais patrimoniais so coisas, e os direitos autorais morais

    no, tanto que para o autor bens so todas as coisas capazes de ter utilidade, que

    satisfazem s necessidades humanas, econmicas ou no. 28

    Por isso, os termos "bens" e "coisas" no coincidem, podendo aqueles ser o gnero

    e estes a espcie e vice-versa. Assim sendo, os direitos autorais (moral e patrimonial) o

    gnero, e o direito autoral patrimonial a espcie, pois suscetvel de valor econmico.

    Assim, os direitos autorais so um direito que, por ter as faculdades patrimoniais e

    morais afetas, respectivamente, ao direito real e ao direito pessoal, devem ser entendidos

    como direitossui generis. Ainda que a lei classifique-os como bens mveis.

    26 SILVA PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Instituies de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, v. 1, 1971. p. 238-239.27 GONALVES, Luiz da Cunha. Ob. cit., p. 50-52.28 GONALVES, Luiz da Cunha. Ob. cit., p. 50-52.

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    2.3. Direitos Autorais uma Modalidade da Propriedade?

    Os direitos autorais para o ordenamento jurdico brasileiro so direitos ou

    propriedade? elementar termos esta definio, porque evoluo da funo social inicia-se

    sobre a propriedade. dela, que se extrai a regra de ouro: a propriedade individual, mas a

    sua utilizao social.

    Planiol e Ripert fizeram a analogia entre o direito de autor e a propriedade,

    alicerada em declarao da Corte de Cassao:29

    La Corte de Casacin ha declarado, que los derechos de autor yel monopolio que stos confieren se designan errneamente, bien seaen un lenguaje usual o en un lenguaje jurdico, bajo el nombre de

    propiedad; que lejos de constituir una propiedad, como la que el Cd.Civil ha definido y organizado para los bienes muebles e inmuebles,confieren solamente, a sus titulares, el privilegio exclusivo de unaexplotacin temporal. El derecho de autor se reduce, por tanto, a underecho privativo de explotacin que se clasifica entre los derechosintelectuales. Pero hay que notar la analogia profunda que existeentre este derechos y el de propiedad: el objeto del derecho de autores la ideia literaria o artistica, cuyo disfrute se tiene bajo la forma dereproduccin; pero, reserva al autor el derecho exclusivo dereproduccin es igual a atribuirle, solamente a l, el disfrute de laideia y los beneficios que puede reportar, es conferirle una situacinequivalente a la del propietario de una cosa corporal. Esta analoga

    29 PLANIOL, Marcelo e RIPERT, Jorge. Tratado Practico de Derecho Civil Francs. t.III: Los Bienes. Trad.Mario Diaz Cruz. Havana: Cultural S. A, 1946, p.499 Traduo Livre: A Corte de Cassao declarou , que osdireitos de autor e o monoplio que estes conferem se designam erroneamente, bem seja em linguagem usual ouem uma linguagem jurdica, sobre o nome de propriedade; que distante de constituir uma propriedade, como aque o Cd. Civil tem definido e organizado para os bens moveis e imveis, conferem somente, a seus titulares, o

    privilegio exclusivo de uma explorao temporal. O direito de autor se reduz, por tanto, a um direito privado deexplorao que se classifica entre os direitos intelectuais. Pois h de notar a analogia profunda que existe entreestes direitos e o de propriedade: o objeto do direito de autor a idia literria ou artstica, cujo gozo se temsobre a forma de reproduo; pois, reserva o autor o direito exclusivo de reproduo igual a atribuir-lhe,somente a ele, o gozo da idia e os benefcios que pode reportar, e conferir-lhe uma situao equivalente a do

    proprietrio de uma coisa corporal. Esta analogia fundamental se evidncia desde distintos pontos de vista:transmisso ou cesso do direito a numerosos titulares, possibilidade de embargo pelos criadores, organizao da

    proteo de terceiros por um sistema de publicidade do direito do inventor.

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    fundamental se evidencia desde distintos puntos de vista: transmisino cesin del derecho a numerosos titulares, posibilidad de embargo

    por los acreedores, organizacin de la proteccin de los terceros porun sistema de publicidad del derecho del inventor.

    Podemos constatar, que tanto os direitos autorais, quanto a propriedade so bens

    geradores de direitos para seus titulares, todavia so direitos de natureza diferente. Classificar

    os direitos autorais, segundo a diviso romanista, portanto, integr-lo no sistema jurdico

    existente, que faz com que os direitos autorais devam ter uma classe prpria a dos direitos

    intelectuais.

    No Brasil, historicamente, a primeira lei a proteger os direitos autorais (Lei n.

    496, de 1898) considerou-o como um direito real, apesar de em nenhum momento a lei ter

    utilizado a expresso propriedade. A doutrina e a prtica comercial no o interpretavam

    como uma propriedade. Em 1917, com a vigncia da Lei 3071/16 (Cdigo Civil), decreta, que

    os direitos autorais so uma propriedade, com a finalidade de atender aos anseios dos

    criadores, que queriam fortalecer os direitos autorais, pois sofriam com o seu desrespeito, ante

    ao valor exacerbado, que tinha a propriedade sobre os direitos autorais. O legislador brasileiro

    de 1916, atravs da Lei n: 3071, classifica os direitos autorais como propriedade literria,

    cientfica e artstica. Em 1973, com a Lei 5.988, que regulamenta os direitos autorais, ficam

    evidentes as caractersticas divergentes de uma tpica propriedade, ou seja, os direitos autorais

    so de limitao temporal, imprescritvel - nascem em conjunto com a obra intelectual so

    divisveis, seja em razo das diversas formas de utilizao, seja em razo de seu contedo

    moral ou patrimonial. A Lei 9610/98, revoga as leis anteriores, mantm os mesmos valores.

    Sob a tica da nomenclatura comumente usada a expresso propriedade em

    razo da valorao dos direitos sobre a criao, juzo que adveio de um perodo histrico,

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    momento em que a propriedade era valor maior - a Revoluo Francesa -, refletindo-se nos

    diplomas legais brasileiros, aps o Cdigo Civil de 1916, que prevalecem at a presente data.

    Os direitos autorais, para o ordenamento jurdico brasileiro, so uma propriedade.

    A Constituio de 1988 e os atos internacionais, do qual diversos pases so

    signatrios, dentre eles o Brasil, classificam os direitos autorais como propriedade. A OMPI -

    ORGANIZAO MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, internacionalmente,

    tambm acata o mesmo conceito. Assim, tendo o ordenamento jurdico brasileiro classificado

    os direitos autorais como propriedade, como tal deve submeter-se ao cumprimento da funo

    social.

    Pela Conveno, que instituiu a OMPI - ORGANIZAO MUNDIAL DA

    PROPRIEDADE INTELECTUAL -30, de 14 de julho de 1967 (Decreto 75.541, de 31 de

    maro de 1975), em seu art. 2, VIII, v-se este reflexo, quando dispe:

    Art. 2 Para fins da presente conveno, entende-se por: (...)

    VIII propriedade intelectualos direitos relativos:

    - s obras literrias, artsticas e cientificas;

    - s interpretaes dos artistas intrpretes e s execues dos artistasexecutantes aos fonogramas e s emisses de radiodifuso;

    - s invenes em todos os domnios da atividade humana;- s descobertas cientificas;

    - aos desenhos e modelos industriais;

    - s marcas industriais, comerciais e de servio, bem como s firmascomerciais e denominaes comerciais;

    30 O disposto no art. 2, VIII da Conveno que criou a OMPI Organizao Mundial da Propriedade Intelectual, o qual dizser propriedade intelectual (frisa-se propriedade) os direitos relativos s obras literrias, artsticas e cientificas, tem como

    signatrios os pases: Brasil (20 de maro de 1975 e 20 de dezembro de 1974)

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    - proteo contra a concorrncia desleal e todos os outros direitosinerentes atividade intelectual nos domnios industrial, cientifico,literrio e artstico.

    O Escritrio Internacional da OMPI - ORGANIZAO MUNDIAL DA

    PROPRIEDADE INTELECTUAL explica a natureza dos direitos autorais:

    A propriedade apresenta a seguinte particularidade fundamental: oproprietrio de um bem livre de dispor desse bem como entender, eningum o pode utilizar legalmente sem a sua autorizao. O

    proprietrio pode ser um indivduo (ou seja, uma pessoa singular) ouuma pessoa coletiva. Existem, grosso modo, trs tipos de bens. O

    primeiro tipo de bens formado pelos bens mveis, como um relgiode pulso, um automvel ou a moblia de uma casa. S o proprietriodesse relgio de pulso, automvel ou dessa moblia pode utiliz-los.

    Esta situao jurdica designada por direito exclusivo e qualificao direito exclusivo do proprietrio de utilizar o objeto que lhe

    pertence. Obviamente que o proprietrio pode autorizar terceiros autilizar os seus bens, mas esta autorizao juridicamentenecessria: seria ilegal utilizar os bens sem a autorizao dorespectivo proprietrio; a lei proibe-o. Passemos, agora, ao segundo

    tipo de bens, ou seja, os bens imveis. Como o seu nome indica, osbens pertencentes a esta categoria no podem ser deslocados. A terrae as coisas que lhe esto permanentemente ligadas, como as casas,

    so bens imveis. Por ltimo, o terceiro tipo de bens formado pelapropriedade intelectual. Os bens abrangidos so constitudos pelascriaes do esprito, do intelecto humano. por essa razo que estesbens so designados por propriedade intelectual.31

    Mas, no pela designao restrita da referida Conveno, ou do conceito da

    OMPI - ORGANIZAO MUNDIAL DA PROPRIEDADE INTELECTUAL, que se deve

    entender, que os direitos autorais so classificados como propriedade.

    31Apostila do Seminrio Internacional sobre Direitos Autorais. So Leopoldo, ago. 1994, p. 2-3.

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    O direito de propriedade uma criao da lei, no de um sistema de valores,

    apesar daquele dever refletir-se neste. Da, podermos dizer que a propriedade s se extinguir

    quando a lei a extinguir.

    Pierre Joseph Proudhon comenta:

    (...) nem a lei pode criar a propriedade; (...) ela um efeito sem

    causa.32

    Jos Cretella Jnior, enfatiza:

    propriedade o poder jurdico, geral e potencialmente absoluto, de

    uma pessoa sobre uma coisa corprea.33

    Entende-se, que o termo propriedade no o mais adequado para os direitos

    autorais, dentro do conceito scio-jurdico. At porque o direito de propriedade perptuo,

    extinguindo-se somente pela vontade do dono, ou por disposio expressa de lei, nas

    hipteses de perecimento da coisa, desapropriao ou usucapio. Diferentemente, os direitos

    autorais so limitados, caem em domnio pblico, no perecem e no h a possibilidade

    jurdica de usucapi-lo.

    Isabel Vaz entende, que os direitos autorais enquadram-se em uma das formas de

    propriedade, devendo subordinar-se ao princpio da funo social. Ao que afirma:

    32 PROUDHON, Pierre. A propriedade um roubo. Porto Alegre: L&PM Pocket, v. 84, 1997. p. 21.33 CRETELLA JNIOR, Jos . Curso de direito romano. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978. p. 172.

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    Enquanto suporte do direito de propriedade, os bens intelectuais, nocontexto da carta vigente e de acordo com a ideologia adotada,

    submetem-se tambm ao princpio funo social, manifestado pormeio das limitaes o seu aspecto patrimonial.34

    Decerto, como sustenta a citada jurista, o interesse social sobrepe-se ao interesse

    do indivduo-autor. Todavia, a autora, ao nomear a funo social dos direitos patrimoniais,

    por deduo ante as limitaes e ao interesse social, no contempla a funo social dos

    direitos morais.35

    2.4. Criao Intelectual

    A obra intelectual a manifesta materializao da criao intelectual. As criaes

    intelectuais so o corpus mysticum, enquanto o bem material onde est materializada o

    corpus mechanicum.

    H diversos tipos de obras intelectuais, mas, basicamente, os diversos tipos esto

    em duas espcies: as literrias, nas quais se inserem as cientficas e, as artsticas, nas quais se

    inserem as obras audiovisuais. A lei sobre direito de autor protege qualquer produo da

    inteligncia ou da imaginao, que seja decorrente de uma elaborao mental, pertencente ao

    universo literrio ou artstico, ainda que modesta, porque diferencia-se com carter de

    individualizao de outra obra smile.

    34 VAZ, Isabel. Direito econmico das propriedades. Rio de Janeiro: Forense, 1993. p. 447.

    35 VAZ, Isabel. Ob. cit.,p. 422.

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    Frisa-se que a obra intelectual no o objeto de direitos autorais, mas a criao

    que ela corporifica, de tal forma que a aquisio do original de uma obra, ou de exemplar, no

    confere ao adquirente qualquer dos direitos patrimoniais do autor, salvo conveno em

    contrrio entre as partes.

    Fica claro, que a obra intelectual se caracteriza pela originalidade e pela forma de

    expresso. Ettore Valrio e Zara Algardi afirmam:

    Originale tanto lopera in cui sogetto e forma abbiano carattere di

    novit, quanto lopera in cui sai data nova forma ad un soggetto nonnuovo; poich il contenuto essenziale dellopera tutelabile rappresentato dallattivit formativa e creatrice, la quale determinanel mondo esteriore la produzione di elementi che prima nonesistevanno.36

    A originalidade uma noo subjetiva, o que importa a marca da personalidade

    do autor. Valor que no est vinculado beleza da obra. A originalidade pode ser absoluta ou

    relativa. absoluta, quando no h nenhum trao de uma obra preexistente. Por outro lado,

    relativa, quando tem elementos formais de uma obra anterior ou preexistente, mas com

    tratamento pessoal, sendo denominada de obra derivada (uma adaptao de Branca de Neve,

    ou uma traduo de livro em lngua estrangeira).

    A exteriorizao da criao, quanto expresso, independe de ser oral ou escrita,

    abstrata (criaes informticas) ou virtual. Quanto forma, a obra pode ser: intangvel ou a

    perene, como o sapateado, o ballet(movimento), ou escultura em gelo; ou tangvel, como a

    36 VALERIO, Ettore; ALGARDI, Zara. Il diritto dautore. Milano: Giuffr, 1948. p. 6. Traduo Livre: Original tanto aobra em que o objeto e a forma tem a caracterstica de novidade, quando a obra em que dada nova forma a um objeto no novo; visto que o contedo essencial da obra tutelvel representada pela atividade da forma e da criao, a qualdetermina no mundo exterior a produo de elementos que antes no existiam . 36

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    pintura e a obra audiovisual. A forma no impede o monoplio do controle da criao pelo

    seu criador.

    A obra de arte audiovisual37 uma criao, que decorre da obra literria, por meio

    de reproduo, edio ou representao. Se o direito de autor um monoplio de explorao

    sobre sua criao, pode-se usar uma obra literria sem a concordncia do criador, nos termos

    da lei. A partir de uma idia geral, que o tema da obra audiovisual, nasce o argumento que

    fruto da imaginao pessoal do autor (seja sobre bases hipotticas, histricas ou reais), com

    seu estilo, frases, psicologia, reflexes filosficas, a trama, a ao, os incidentes e seus

    detalhes, assim como a forma nas quais esses elementos se classificam, coordenam-se,

    adaptam-se e so utilizados. A proteo intelectual dada a partir da forma material.

    Destaca-se a definio de obra multimdia, de Vitoria Rocha:

    Na essncia, constitui uma combinao de texto, imagens, fixas, ou

    em movimento, e sons digitais, atravs de uma programa decomputador que permite a interatividade.38

    Nota-se, que a sua diferenciao sobre as demais espcies de obras audiovisuais

    a interatividade.

    2.5. Os Direitos Morais de Autor

    37 A Conveno de Berna, em seu Artigo 14 bis1) Sem prejuzo dos direitos de autor de qualquer obra que poderia ter sido adaptada ou reproduzida, a obracinematogrfica protegida como uma obra original. O titular do direito de autor sobre a obra cinematogrfica goza dosmesmos direitos que o autor de uma obra original, inclusive os direitos mencionados no artigo precedente.

    38 DIAS PEREIRA, Alexandre. Informtica, direito de autor, propriedade tecnodigital. Coimbra: Coimbra, 2.001 p. 264.

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    A Pr-Histria do direito moral, como enfatiza Bruno Jorge Hammes, consiste em

    manifestaes de repdio sem a profunda convico social ou a noo do direito e do

    errado que fizesse nascer normas jurdicas.39

    E exemplifica:

    A literatura grega fornece o exemplo de Hermodoro. Este haviaassistido conferncia de Plato, feito apontamentos dos discursos do

    Mestre e levado Sicilia para vender. Seu procedimento teria sidocondenado por muitos autores antigos. Kohler interpreta este repdiocomo expresso da idia de que era considerado moral comercializara propriedade literria de outrem sem o seu consentimento. Em

    Roma, Ccero censurou o seu amigo e editor tico por haverpermitido a Balbus de fazer uma cpia de uma obra sobre a qual no

    havia dado o bon tirer (imprimatur). O poeta Virglio teriaordenado em testamento a dois dos seus amigos que destrussem omanuscrito da Eneida, que por falta de tempo no pudera aperfeioar

    segundo os seus planos. O Imperador Augusto interveio para salvar omanuscrito.40

    Lembra ainda o mestre, que Kafka desejava que aps a sua morte, sua obra fosse

    destruda, desejo que no foi cumprido pelo seu testamenteiro Max Brod.41

    Ainda sobre o histrico dos direito morais, Henry Jessen acrescenta:

    O grande precursor, do movimento que reformula, em termostotalmente novos, os alicerces doutrinrios do direito de autor,

    Immanuel Kant. Este filsofo insurge-se contra a publicao detradues esprias de suas obras que, alm de les-lo

    pecuniariamente, por nada perceber sobre estas edies, desgostam-

    no pela incorreo dos textos, que no reflete o seu pensamento comexatido. Da anlise da matria, infere que ao autor correspondem osdireitos de natureza pessoal, que se no coadunam com os rgidos

    princpios que regem os direitos reais. Vislumbra ele, ento, os

    39 HAMMES, Bruno Jorge. Direito moral do autor. Revista Interamericana de Direito Intelectual. So Paulo, v. 1, n. 2,jul./dez. 1978, p. 101.

    40HAMMES, Bruno Jorge. Direito moral do autor. Revista Interamericana de Direito Intelectual. So Paulo, v. 1, n. 2,jul./dez. 1978, p. 101.

    41HAMMES, Bruno Jorge. Ob.cit., p. 101.

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    contornos daquela que passou posteriormente a constituir o chamadodireito moral 42

    Noticia, ainda, o portugus Ary dos Santos, no caso do processo Carmoim-Carco:

    O pintor Camoin, tendo procedido a uma reviso de suas obras,chegou concluso de que algumas delas eram inferiores, pelo que asrasgou, deitando-as depois para o lixo. Na manh seguinte, umtrapeiro apanhou os pedaos, vendeu-os e depois de pacientementecolados foi a tela reconstituda parar s mos de Francis Carco.Camoin, alegando que ningum tinha o direito de recompor uma obra

    que havia destrudo por achar inferior, perseguiu Carco e osvendedores do quadro. O Tribunal do Sena, achando procedentes asrazes invocadas, consagrou o direito formal do artista sobre a suaobra e ponderou: Lintagibilit de sa volonte unique de la produireou, au contraire, de labolir, declarando que les auters de lareconstituition, sils etaient bien, par suite de labandon des toilescoupes, propritaires des morceaux trovs dans la poubelle,navaient pas le droit de reconstituer loeuvre que le peintre avaitvoulu dtruire. A terceira Cmara do Tribunal Civil do Sena,condenou Francis Carco a uma indenizao por perdas e danos emandando que as telas fossem de novo rasgadas na presena do seu

    autor e do legtimo adquirente dos pedaos em que anteriormentetinha sido feita.43

    Evidente a subjetividade do atributo moral, que o criador tem sobre sua criao.

    Atributo este, que consiste na prerrogativa personalssima de carter moral exclusiva do autor.

    Porm, a nomenclatura usual direito moral, que foi usada a primeira vez por Andr Morillot,

    na Frana, em 1872, para indicar as prerrogativas, que tem a personalidade do autor, sobre sua

    criao intelectual - a obra. O que fez no livro intitulado: De La Personnalit du Droit de

    Copie qui appartient un Auteur Vivant.

    42 JESSEN, Henry. O autor e a obra autoral. Revista Interamericana de Direito Intelectual. Ob., cit.p. 85.43 SANTOS, Ary dos. Ns os advogados. Lisboa: s/ed, 1934. p. 198-199-203. Traduo livre: A intangibilidade da vontade

    nica de produzi-la ou, ao contrrio, de aboli-la, declarando que ao autores da reconstituio, se eles so de fato,conseqentemente ao abandono das telas cortadas, proprietrios de parte, encontradas no lixo, no tm o direito de

    reconstituir a obra que o pintor quis destruir.

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    A expresso direito moral do autor originria da doutrina francesa do sculo

    XIX, demonstrada, na anlise da natureza jurdica dos direitos autorais. O direito moral

    tutelado implicitamente desde a primeira lei autoral brasileira, de 1898. Contudo, somente em

    1973, com a Lei 5988, foi feita referncia ao denominado direito moral do autor, sobre a

    nomenclatura direitos morais (art. 25 a 28).

    Milton Fernandes, comenta a Lei 5988/73, que antecede Lei 9610/98:

    Maior foi o desacerto do nosso legislador ao optar, no ttulo do

    captulo II, que encima as normas mencionadas, pelo uso do plural:direitos morais do autor. Embora composto de quatro elementos, uno o direito moral. O uso do singular , por isto, generalizado.44

    Entretanto, existem excees, que entendem ser os quatros elementos, motivo para

    pluralizar a expresso direito moral para direitos morais.

    Henri Debois, afirma que o direito moral sem dvida um direito sobre todos os

    direitos de autor, sem exceo, nem reserva.

    Silz conceitua direito moral de forma a englobar as definies gerais e

    particulares: um direito absoluto, que permite ao autor fazer respeitar sua personalidade em

    sua atividade criadora e na sua obra.

    Por seu turno, Piola Caselli diz ser o direito de tutelar a representao da prpria

    personalidade, na obra criada.

    Michalids Nouaros, afirma:

    44 FERNANDES, Milton. O direito de autor e a nova legislao brasileira. Revista Jurdica Lemi. Belo Horizonte, n. 101,

    abr. 1976. p. 7.

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    El derecho Moral tiene respecto al derecho pecunirio un lugarpreponderante y privilegiado. En caso de conflicto entre ambosderechos el primero es el que debe prevalecer. Ello resulta de lanaturaleza de las cosas. Los intereses que garantiza el derecho moral

    son de una naturaleza mucho ms noble, mucho ms elevada que losintereses pecunirios del autor. Los primeros se refieren a lapersonalidade del autor, los segundos tienden a procurarle los mediosde vivir.45

    O futuro do direito moral no est na especificao da conduta preservadora do

    direito tutelado, mas na generalidade do valor decorrente de atributos morais, que o

    caracterizam como princpio.

    Tal valor est afeto personalidade do autor, que a imprime na obra e que a lei

    visa a proteger e que, quando violado, atinge o ntimo do ser, como a honra.46

    Contudo, o direito moral do autor um atributo da sua personalidade, cuja

    classificao do gnero direitos autorais.

    Rene-Piere Lepaulle, aponta a cota positiva e a negativa do direito moral do

    autor:

    Le ct positif, cest le droit de publier et de modifier louvre; le ctngatif, c; est le droit dempcher que tout autre ne la publie, ne lamodifie ou ne la defigne sans autorisation.47

    45 Apud. MOUCHET, Carlos; RADAELLE, Sigrido A. Derechos intelectuales sobre las obras literarias y artistica.Buenos Aires: Guilhermo Kraff, t. 2, 1948. p. 5. Traduo Livre: O direito moral tem em relao ao direito patrimonial umlugar preponderante e privilegiado. Em caso de conflito entre ambos direitos o primeiro o que deve prevalecer. Eleresulta da natureza das coisas. Os interesses que garantem o direito moral so de uma natureza muito mais nobre, muitomais elevada que os interesses pecunirios do autor. Os primeiros se referem a personalidade do autor, os segundos tendema procurar os meios de viver.

    46O dano moral, tido com leso personalidade, honra da pessoa, mostra-se s vezes de difcil constatao, por atingir osseus reflexos parte muita ntima o seu interior. Foi visando, ento, a uma ampla reparao que o sistema jurdicochegou concluso de no se cogitar da prova do prejuzo para demonstrar a violao do moral humano.BRASIL. Superior Tribunal de Justia.Acrdo RESP 121757/RJ; Recurso Especial (1997/0014764-9) / Fonte DJ / 08/03/2000, p.00117 / Relator(a) Ministro Slvio de Figueiredo Teixeira (1088) / Data da Deciso 26/10/1999 rgo Julgador T4 Quarta Turma).

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    Morillot entende que:

    o direito moral origina-se antes do direito natural que do direitopositivo. Na sua opinio, o direito moral no tem necessidade de serespecialmente consagrado por nenhum texto.48

    A terminologia adotada universalmente a de Direito Moral, entretanto, alguns

    juristas, como Stolfi, Pugliatti, Henry Jessen, dentre outros defendem o termo direito pessoal,

    por entenderem, s-lo um direito da pessoa do autor.49

    A expresso direito moral veio para sanar a confuso entre a expresso direito de

    paternidade e direito pessoal, conforme reporta Ricardo Antequera Parilli.50

    Eduardo Vieira Manso entende que a expresso direito moral no tem qualquer

    conotao tica, apenas visa a indicar que no patrimonial, permitindo ao autor exercer o

    direito autoral sem vantagem econmica.51

    Historicamente, um dos primeiros atos, que reconhecem o direito moral ao autor,

    de que se tem notcia, data de 1 setembro de 1486, concedido por privilgio Marc-Antoine

    Sabellico, autor dos Rerum Venetarum Libri XXXIII, editados por Andr de Torresani ou

    Torregiani dAsola. O referido privilgio caracteriza-se, segundo Stolfi, por:

    47 LEPAULLE, Rene-Piere. Les droits de lauteur. Paris: Librarie Dalloz, 1927. p. 99-100. Traduo livre: O lado positivo, o direito de publicar e modificar a obra; o lado negativo, o direito de impedir que todos outros no a publica, nem amodifique ou a mutile sem autorizao.

    48 ApudRIBEIRO, Maria das Graas Ribeiro. Ob. cit.,p. 13.49 PIMENTA, Eduardo Salles. Cdigo de direitos autorais. So Paulo: Lejus, 1998. p. 82.50 PARILLI, Ricardo Antequera. El nuevo regime de derecho de autor. Venezuela: Autoralex, 1994. p. 210.51 MANSO, Eduardo Vieira. Violaes aos direitos morais. In: A tutela jurdica do direito de autor.NAZO, Georgette N.

    So Paulo: Saraiva, 1991. p. 3.

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    ser concedido a um autor, mas de maneira particular, pois parece que apenas osinteresses do impressor so protegidos;

    advir em razo de obra ainda indita; produzir seus efeitos em Veneza e em todo o territrio da Repblica; resultar em multa de 500 ducados aos contrafatores e na indignao da

    Repblica de Veneza;

    Contrariamente ao privilgio de Jean de Spire, editor que os recebeu em 18 de

    setembro de 1469, fixada uma durao de cinco anos, para Sabellico, nenhuma durao

    estabelecida.52

    Bruno Jorge Hammes, noticia que, no perodo de 1800-1880, os tribunais teriam

    comeado a tomar conhecimento dos interesses morais do autor.53

    Em 14 de junho de 1844, a Corte de Bourges versa pela primeira vez sobre direito

    moral e abstrato.

    No Brasil, a Lei de 496/189854 prev a proteo ao direito moral, no sobre esta

    nomenclatura, mas sobre os atributos que hoje tambm so enunciados pela lei atual

    (9610/98).

    52 SOLFI, Nicolas. Traite thorique et pratique de la propriete litterarie et artistique. (Traduo Emile Botu). Paris:Marcel Gerard Librarie Editeur, 1925. p. 23-25.

    53 HAMMES, Bruno Jorge. Direito moral do autor. Revista Interamericana de Direito Intelectual. Ob. cit.,p.101.54Assim estava fixado na Lei 496/1898:

    Direito Integridade e Modificao:Art. 4 - Os direitos de autor so moveis, cessveis e transmissveis no todo ou em parte e passam aos herdeiros, segundo asregras do direito.

    1- A cesso entre vivos no valer por mais de 30 anos, findos os quais, o autor recobrar seus direitos, se, ainda existir.

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    Philadelpho Azevedo reala, que a primeira lei, que reconhece o direito moral a

    da Romnia, em 28 de junho de 1923. Dessa lei, o citado jurista destaca o art. 3, que dispe:

    Le droit moral de contrle ne peut tre ced. Il ne peut faire lobjetdaucune transation. Toutes clauses contraires sont nulles de droit. Ocitado artigo desenvolve o direito de controle, mantido, mesmo, apsa cesso ou venda, em favor do autor e seus herdeiros, que poderoretirar a cesso, em qualquer momento e, nos casos de modificaes,desnaturao da obra e reproduco contraria ao contracto e reputao do autor, invocar a proteco judiciaria, alm dacomposio dos prejuzos.55

    Sucessivamente, vieram outras leis a reconhecer o direito moral do autor, como a

    Lei da Finlndia, que data de 3 de junho de 1927:

    O cessionrio no tem faculdade de publicar a obra modificada,salvo autorizado pelo autor, mas, em tal caso, tem este o direito deexigir que a obra no seja publicada com seu nome ou que o seja com

    formal indicao de que a mudana no lhe imputvel (art. 22).56

    Nos atos internacionais, Isidro Satanowsky, por exemplo, refere-se a tratados

    bilaterais firmados desde 1827. Marco A. Viana, por outro lado, informa que a primeira

    2- Fica sempre salvo ao autor, por ocasio de cada nova edio, emendar ou reformar sua obra, ou reaver seus direitossobre ela, contanto que restitua ao cessionrio o que dele houver recebido em pagamento metade do valor liquido da edioanterior.(...)

    Art. 5 - A cesso ou herana quer dos direitos de autor, quer do objeto que materializa a obra de arte, literatura ou cincia,no d o direito de a modificar, seja para vend-la, seja para explor-a por qualquer forma.(...)Art. 21 -Consideram-se igualmente contrafaes:(...)2) as reprodues, tradues, execues ou representaes quer tenham sido autorizadas, quer o no tenham sido, por setratar de obras que no gozam de proteo legal ou j cadas no domnio pblico, em que se fizeram alteraes, acrescemosou supresses sem o formal consentimento do autor.Direito Indicao do Nome:Art. 24 - A aplicao fraudulenta ou de m f sobre uma obra literria, cientfica ou artstica, do nome de um,autor ou de qualquer sinal por ele adotado para designar suas obras, ser punida com a priso celular de seismeses a um ano e multa de 500$, sendo tambm a obra apreendida.

    55 AZEVEDO, Philadelpho. Direito moral do escritor. Rio de Janeiro: Alba, 1930. p. 104. Traduo livre: Le droit moralde contrle ne peut tre ced. Il ne peut faire lobjet daucune transation. Toutes clauses contraires sont nulles de droit.

    56 AZEVEDO, Philadelpho. Ob. cit.,p. 114.

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    referncia concreta, que se encontra, o tratado celebrado, em 6 de setembro de 1832, entre

    Estados da Confederao Germnica. Oswaldo Santiago refere-se ao ano de 1840, como o

    que testemunhou um acontecimento da mais viva importncia. Nele, pela primeira vez,

    celebra-se uma Conveno Internacional para a proteo do direito autoral, entre as altas

    partes contratantes do Reino da Sardenha e do Imprio da ustria, a qual recebeu a assinatura

    do Prncipe de Metternich, na cidade de Viena, em 22 de maio. Posteriormente, aderiram a

    essa Conveno os Ducados de Parma, de Modena, de Lucca, o Gro Ducado de Toscana, o

    Reino das Duas Siclias e o Estado Pontifcio.57

    A Conveno de Berna (1886) veio contemplar textualmente o direito moral, na

    reviso de Roma (1928), atravs do art. 6 bis. No Brasil, promulgada atravs do Decreto n

    23.270, de 24 de outubro de 1933:

    Artigo 6 bis

    1.)Independentemente dos direitos patrimoniais do autor, e mesmodepois da cesso dos citados direitos, o autor conserva o direitode reivindicar a paternidade da obra e de se opor a todadeformao, mutilao ou outra modificao dessa obra, ou aqualquer dano mesma obra, prejudiciais sua honra ou a suareputao.

    2.) Os direitos reconhecidos ao autor por fora do pargrafo 1antecedente mantm-se, depois de sua morte, pelo menos at extino dos direitos patrimoniais e so exercidos pelas pessoas

    fsicas ou jurdicas a que a citada legislao reconhece qualidadepara isso. Entretanto, os pases cuja legislao, em vigor nomomento da ratificao do presente ato ou da adeso a ele, nocontenha disposies assegurando a proteo, depois da morte doautor, de todos os direitos reconhecidos por fora do pargrafo 1acima, reservam-se a faculdade de estipular que alguns dessesdireitos no sero mantidos depois da morte do autor.

    57 SOUZA, Maria das Graas Ribeiro de. Ob. cit.,p. 48.

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    3.) Os meios processuais destinados a salvaguardar os direitosreconhecidos no presente artigo regulam-se pela legislao do

    pas onde a proteo reclamada.

    Exceo ao reconhecimento e, por sua vez, de reserva Conveno de Berna,

    feita pelos pases, que adotam o sistema de Copyright. Posto que, no sistema de Copyright,

    dos pases anglo-saxnicos, regulam apenas a reproduo da obra publicada, onde

    resguardado o interesse econmico do autor, distanciando do direito moral do autor,

    relegando-o quando muito a segundo plano.

    Outras convenes internacionais so firmadas, mas no explicitam qualquer

    meno tutelar ao direito moral como a Conveno Universal (1952), as Convenes

    Americanas de Montevideo (1889), Mxico (1902), Rio de Janeiro (1906), Buenos Aires

    (1910).

    Em 1928, aps a Reviso de Roma, da Conveno de Berna, a Conveno

    Americana de Buenos Aires, teve seu texto revisto em Havana, ao qual foi acrescido o art.13

    bis:

    Quando um autor de obras literrias ou artsticas cede suas obrascom pleno exerccio de seu direito de propriedade, apenas cede odireito de fruio e de reproduo. Conserva sobre elas um direito

    moral de controle inalienvel, que lhe permitir opor-se a todareproduo ou exibio pblica das obras alteradas, mutiladas oumodificadas.

    O Brasil no ratificou o referido texto. Assinala Stig Stromholm, que o art. 13 bis

    superior ao art. 6 bis da Conveno de Berna, visto que aquele difere o direito de gozo do

    direito moral, alm de declarar que o direito moral inalienvel.

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    J em 1946, a Conveno de Washington, delinea o direito moral do autor no art.

    XI:

    O autor de qualquer obra protegida conserva, logo que dispe deseus direitos atravs da venda, cesso ou outra maneira, a faculdadede reivindicar a paternidade de sua obra e de se opor a qualquermodificao ou utilizao que possa ser prejudicial sua reputao,a menos que, por consentimento anterior, contemporneo ou

    posterior, tenha cedido essa faculdade ou tenha renunciado a ela, deconformidade com as disposies da lei do Estado no qual o contrato

    foi concludo.

    A definio de direito moral do autor tem sido dada pela doutrina: Dina Herrera

    Sierpe cita Isidro Satanowsky, que define direito moral:

    Derechos Morales son los que permiten al autor crear la obra yhacer la respetar, defender su integridad en la forma y en el fondo.

    En este aspecto, el derecho intelectual aparece como unamanifestacin, prolongacin o emanacin de la personalidad pus

    recae directamente sobre una obra en si misma. Es el que expresamejor el monopolio discrecional del autor. Se dice tambiem que es lafaz del derecho intelectual que concierne a la tutela de la faculdadcreadora del individuo autor, iniciador de la obra como entidad

    propia. Pertenesse a la familia de los derechos que protegen lapersonalidad humana, de carcter extrapatrimonial, como el derchoa la vida, al honor, ala imagen, ao respecto del secreto. Por esso sedice que la proteccion del derecho de autor es el amparo de lalibertad individual o de actividad del honor y de la reputacin delautor.58

    58 SIERPE, Dina Herrera. Ob. cit.,p. 64-65. Traduo livre: Os direitos morais so aquelas que permitem que o autor criar aobra e fazer respeita-la, defender sua integridade na forma e no contedo. Neste aspecto, o direito intelectual aparece comouma manifestao, prolongao e emanao da personalidade pois recai diretamente sobre uma obra em si mesma. o queexpressa melhor o monoplio discricionrio do autor. Tambm dito que o que faz o direito intelectual que concerne atutela da faculdade criadora da individualidade do autor, iniciador da obra como entidade prpria. Pertencente a famlia dosdireitos que protegem a personalidade humana, de carter extrapatrimonial,como o direito a vida, a honra, a imagem, aorespeito do segredo. Por isso, se diz que a proteo do direito de autor amparada pela liberdade individual ou da atividade

    da honra e da reputao do autor.58

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    Ante a doutrina, direito moral o aspecto do direito intelectual que diz respeito

    tutela da obra como entidade prpria, assentado em um duplo fundamento: respeito

    personalidade do autor e defesa da obra considerada em si mesma como um bem, com

    abstrao do seu criador.

    A definio prtica: o direito moral aquele que, dentro do regime do direito de

    autor, se ocupa em salvaguardar a boa fama dos autores e compreende a faculdade do autor

    para exigir, em todo caso, que seu nome seja mencionado e que as reprodues,

    representaes, exibies e execues de suas obras se faam sem menoscabo de sua honra e

    de sua reputao - Definio proferida na IV Conferncia Interamericana de Advogados.59

    Stig Strhmholm, citado por Hammes, define direito moral como sendo:

    O princpio segundo o qual os autores podem a todo tempo requerera proteo do direito em favor de seus legtimos interesses de ordemno patrimonial.60

    O Glossrio da OMPI - ORGANIZAO MUNDIAL DA PROPRIEDADE

    INTELECTUAL ; lana o seguinte comentrio no verbete Direito Moral:

    Entre estos derechos se incluye el derecho a decidir sobre ladivulgacin de la obra; el derecho a reivindicar la paternidad de la

    obra (hacer que el nombre del autor y el ttulo de la obra se citen enrelacin con la utilizacin de la obra); el derecho a impedir lamencin del nombre del autor si el autor de la obra desea permanecerannimo; el derecho a elegir un seudnimo en relacin con lautilizacin de la obra; el derecho a oponerse a toda modificacin noautorizada de la obra, a la mutilacin de sta y a cualquier atentado aella; el derecho a la retirada de la obra, a la circulacin pblica

    previo abono de compensacin por los daos ocasionados a todapersona que haya recibido anteriormente una autorizacin vlida par

    59 SOUZA, Maria das Graas Ribeiro de. Ob. cit.,p. 122.60 HAMMES, Bruno Jorge. O direito moral do autor. Revista Interamericana de Direito Intelectual. Ob. cit.,p. 100.

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    utilizar la obra. En la mayoria de las legislaciones de derecho deautor se reconocen los derechos morales como parte inalienable delderecho de autor, distinta de los llamados derechos patrimoniales. Enalgunas legislaciones se estipulan derechos morales de los artistas

    intrpretes o ejecutantes para protegerlos contra toda distorsin desus representaciones o ejecuciones, y se les concede el derecho areinvidicar la mencin de su nombre en relacin con surepresentacin o ejecucin.61

    Confrontando a referida disposio com o enunciado do texto da Conveno

    Americana, revista em Havana, se percebe que textualmente nominado o direito

    paternidade, faculdade de renncia e inalienabilidade do direito moral.

    O fundamento do direito moral do autor est bem assentado na citao de

    Philadelpho Azevedo, ao destacar as reflexes de Vincenzo Miceli, Catedrtico na

    Universidade de Pisa (1922), que demonstra o trao dos direitos morais com a personalidade:

    A personalidade apenas a condio fundamental para a posse detodo e qualquer direito, a capacidade genrica, o direito de sertratado como sujeito. Porm, pondera que nem todos direitos soinatos, alguns so constitutivos da personalidade, como os elementosdo seu ser, aspectos de sua atividade, condies de adaptao entre a

    funo e o sujeito - fisiolgicas, psicolgicas, sociais e polticas.Distingue assim o direito de personalidade, de ser o homemreconhecido como sujeito, de ser tratado como pessoa e no comocoisa mero valor de fim e no de meio, independente de condies equalidade, dos direitos da personalidade, que todo homem pode

    pretender em respeito s suas especificas qualidades e sua

    especfica atividade. Divide estes direitos, segundo implicam ato dereconhecimento - a capacidade, ou atos de respeito, a saber: vida e

    61 Glossrio da Organizao Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Genebra: 1980. p.158. Traduo livre: Entre estesdireitos se inclui o direito a decidir sobre a divulgao da obra; o direito a reivindicar a paternidade da obra (fazer que onome do autor e o ttulo da obra sejam citados quando da utilizao da obra); o direito a impedir a meno do nome doautor se o autor da obra deseja permanecer annimo; o direito a indicar um pseudnimo em quando da utilizao da obra; odireito de opor a toda modificao no autorizada da obra, a mutilao dela e a qualquer atentado contra ela; o direito aretirada da obra, a circulao pblica prvia remunerao compensatria pelos danos ocasionados a toda pessoa que tenharecebido anteriormente uma autorizao vlida para utilizar a obra. Na maioria das legislaes de direito de autorreconhecem os direitos morais como parte inalienvel do direito de autor, distinta dos chamados direitos patrimoniais. Emalgumas legislaes estipulado direitos morais dos artistas intrpretes ou executantes para protege-los contra todadistoro de suas representaes ou execues, e os concede o direito a reivindicar a meno de seu nome quando do uso

    em representao ou execuo.

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    sade, incolumidade espiritual, natural liberdade, individuao, honra, fama e reputao, ao segredo, igualdade e esferaeconmica. E conclui: o direito moral do autor inclui-se no deincolumidade espiritual, na categoria dos direito de respeito honra,

    estima.62

    O direito moral provm do reconhecimento da faculdade criativa, que no se

    dissocia a personalidade do autor. Basicamente caracterizado pela: pessoalidade;

    inalienabilidade; perpetuidade; imprescritibilidade; impenhorabilidade e inacessibilidade.63

    Quanto pessoalidade, o direito moral, por sua natureza, estritamente pessoal,

    figurando como uma proteo personalidade do autor, sendo irrenuncivel.

    A inalienabilidade se sustenta por ser o direito moral personalssimo, o que impede

    a sua cesso ou alienao. Desbois comenta, que o autor no pode renunciar defesa de sua

    personalidade, sob pena de haver um suicdio moral do autor. Carlos Alberto Bittar afirma

    que o direito moral no pode ingressar no comrcio jurdico, mesmo que assim queria o

    criador, pois dele no pode dispor.64

    A perpetuidade caracteriza o direito moral por ser de durao indefinida, posto que

    irrenuncivel. Tendo o seu exerccio, quanto ao exeqente da tutela, dividido em trs

    momentos: o primeiro exercido pelo prprio autor, o segundo pelos herdeiros e o terceiro pelo

    Estado, atravs do Ministrio Publico Federal.

    O princpio da imprescritibilidade fixa na derivao constatada de que perptuo,

    portanto, no pode ser prescritivo. O que permite ao autor conservar a qualidade de autor de

    62 AZEVEDO, Philadelpho. Ob. cit.,p. 63.63 O que visto no Brasil (art. 27 da Lei 9610/98). 64 BITTAR, Carlos Alberto. Direito de autor. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 45.

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    uma obra por toda a eternidade - caracterstica de perpetuidade da personalidade humana.

    Bem como a de reivindicar a paternidade a qualquer tempo.

    Sobre a impenhorabilidade, Maria das Graas Ribeiro, afirma: Do carter

    inalienvel resulta, como conseqncia necessria para o direito moral, a sua

    impenhorabilidade.Alcides Darras sustenta que a impenhorabilidade da obra resulta do direito

    que o autor possui de modific-la e de retir-la de circulao.65

    A inacessibilidade implica o impedimento de cesso dos direitos morais, que

    procura basicamente conservar a designao de exerccio destes direitos ao criador.

    Prerrogativa esta, que personalssima do criador, por conseqncia, inadmite o exerccio de

    direito moral pelo cessionrio.

    Na Lei 496/1898 era reconhecida o direito de publicao (art. 1), o direito da

    paternidade (art. 11), o direito ao respeito integridade da obra (art. 5), e no contempla

    apenas o direito ao arrependimento.

    Observa-se, que o princpio da inalienabilidade do Direito Autoral Moral s passa

    a ser previsto no Cdigo Civil (1916), de forma relativa, na medida em que permite a cesso

    do direito de paternidade (art. 657), o que no ocorre em nenhum outro diploma.

    Ainda no Cdigo Civil, reconhecido o direito de publicao (art. 649, caput, por

    interpretao dedutiva, visto que s se reproduz aquela obra que no indita, ou seja, j foi

    publicada), o direito de paternidade (art. 667, 1 e 2), o direito ao respeito (art. 659 e

    1357), porm o direito ao arrependimento no contemplados.

    65 RIBEIRO, Maria das Graas. Ob. cit.,p. 179.

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    Durante a vigncia das disposies referentes aos direitos autorais, constantes no

    Cdigo Civil, sobre a nomenclatura de propriedade literria, cientfica e artstica, passa a

    vigorar no Brasil a Conveno de Berna, que, revista em Roma, gera antinomia entre o tratado

    internacional e o Cdigo Civil.

    Pedro Orlando indica os pontos, que necessitam de reforma na legislao, quanto

    ao direito moral:

    1 - revogar o pargrafo primeiro do art.667 do Cdigo Civil,

    proibindo, ao revs, a cesso do nome literrio;

    2 - precisar o direito de correo, no seu duplo aspecto, positivo enegativo;

    3 - determinar o regresso ao autor dos direitos sobre a obra, no casode perempo dos do cessionrio;

    4 - regular a transmisso post mortem do direito moral, inalienvel eirrenuncivel;

    5 - restabelecer sua impenhorabilidade;6 - determinar expressamente a indenizao do dano moral, ao menosnessa matria.66

    Na Lei 5988/73, reconhece-se o direito de publicao (art. 25, III), o direito de

    paternidade (art. 25, I), o direito ao respeito (art. 25, IV) e, prev, pela primeira vez, o direito

    de arrependimento (art. 25, VI).

    Os quatro elementos, a que se refere o jurista, so: Direito ao Indito, Direito

    Paternidade, Direito ao Respeito, Direito de Arrependimento e, pela nova lei, acrescenta-se, o

    Direito de Acesso a Exemplar nico.

    66 ORLANDO, Pedro. Direitos autorais. So Paulo: Nova Jurisprudncia Ltda., s/d. p. 115.

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    Na Lei 9610/98, todos os atributos foram reconhecidos, respectivamente (art. 24,

    III) (24, I) (24, IV), (24, VI), inovando com o Direito de Acesso a nico Exemplar (art. 24,

    VII).

    Conclusivamente, o direito moral do autor absoluto, oponvel erga omnes,

    inalienvel, irrenuncivel, inexproprivel, imprescritvel e transfervel por causa morte e

    perptuo.

    Caracteristicamente, assinala Pedro Orlando, ante a concepo doutrinria de plena

    autonomia do direito autoral moral:

    a) funda-se no respeito personalidade humana, em sua altamanifestao criadora de arte e cincia, universalmente reconhecido

    pela lei e pelo direito;

    b) apresenta-se com carter absoluto, perptuo, intransmissvel eirrenuncivel;

    c) consiste:1 - na segurana da paternidade da obra;

    2 - na defesa do indito;

    3 - no arrependimento, primando sobre a cesso, mxime no caso deinrcia do cessionrio na publicao, e at sobre a desapropriao;

    4 - na faculdade imanente de correo, a despeito de quaisquerconvenes em contrrio, salvo a indenizao, se couber, qualquerque seja o grau de solvabilidade do autor;

    5 - no direito ao respeito, seu aspecto negativo, impedindo quaisquermodificaes feitas por outrem, salvo, autorizao concedida a

    posteriori, indicadas, neste caso a data e o autor daquelas;

    6 - na sua impenhorabilidade;

    d) transmite-se concorrentemente:

    1 - a executores individuais ou coletivos, designados especialmente;

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    2 - aos herdeiros legtimos ou testamentrios;

    3 - ao Estado, que o exercitar pelo rgo do Ministrio Pblico;

    4 - s associaes literrias e artsticas;5 - a qualquer que vele pela intangibilidade da obra e pela reputaodo autor.

    No aspecto positivo, a transmisso restrita, limitando-se, salvodesejo em contrrio do autor, correo do que possa prejudicar memria do morto.

    e) d lugar indenizao pelo simples dano moral, alm do reflexopatrimonial, se houver, e exige meios judiciais hbeis para estancarimediatamente sua ofensa. 67

    Fbio Maria de Mattia cita um novo atributo do direito moral: O direito moral do

    autor permitir opor-se ao emprego do ttulo para designar uma obra nova.68

    Hermano Duval enfatiza que a proteo do direito moral deve ser entendida como

    a proteo da honra e reputao do autor considerado como autor e no como homem. 69

    Para Henry Jessen, o direito moral consiste:

    a) no direito ao indito;

    b) no direito integridade;

    c) no direito paternidade;

    d) no direito ao repdio;

    e) no direito ao arrependimento;

    f) no direito, em geral, a salvaguardar sua honra e reputao comoautor.70

    67 ORLANDO, Pedro. Ob. cit.,p. 114-115.68 MATTIA, Fbio Maria de. O autor e o editor na obra grfica. So Paulo: Saraiva, 1975. p. 321.69 DUVAL, Hermano. Direitos autorais nas invenes modernas. Ob. cit.,p. 12.70 JESSEN, Henry. Direitos Intelectuais. Ob. cit.,p. 33-34.

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    Eduardo Vieira Manso, por seu turno, classifica os direitos morais:

    De conformidade com sua inerncia ao sujeito titular, em direitos

    morais de natureza pessoal e direitos morais de naturezapersonalssima. Do primeiro grupo so aqueles modos de exercer odireito autoral suscetveis de transmisso, especialmente por causa damorte do autor; do segundo so aquele