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    REVISTA DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAISjulho | agosto | setembro 2009 | v. 72 n. 3 ano XXVII

    209Comentando a Jurisprudncia

    1 Ioduo

    O presente trabalho visa abordar, de forma sucinta, os principais aspectos formais e materiais

    que compem os editais de concursos pblicos e, especialmente, pontuar o entendimento ado-

    tado pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais no tocante a esta matria, tendo em

    vista sua competncia para proceder anlise prvia desses atos convocatrios, consoante

    regulamentado pelas Instrues Normativas n. 05/2007 e 04/2008 da Corte de Contas mineira.

    2 Dfio d cocuso pblico

    Como cedio, a aprovao em concurso pblico de provas ou de provas e ttulos para que

    determinado cidado possa ser investido em cargo ou emprego pblico tem assento constitucio-nal, consoante se extrai do art. 37, inciso II, da Carta Republicana, verbis:

    Art. 37

    (...)

    II a investidura em cargo ou emprego pblico depende de aprovao prvia

    em concurso pblico de provas ou de provas e ttulos, de acordo com a nature-

    za e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalva-

    das as nomeaes para cargo em comisso declarado em lei de livre nomeao

    e exonerao;

    (...)

    Muito embora esteja claro que a Administrao Pblica se sujeita aos princpios da legalidade,

    impessoalidade, moralidade, publicidade e ecincia, quando da realizao de concursos pbli-

    cos, podem surgir e, geralmente, surgem inmeros entraves e questionamentos, especial-

    mente em funo da interpretao e aplicao equivocadas de alguns dos princpios citados,

    conforme se demonstrar adiante.

    alis d diis d cocusos pbli-

    cos plo tibul d Cos do esdod mis Gis

    Coli Pgi Pssos

    Tcnica de Controle Externo do TCE-MG. Advogada.

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    Postas essas consideraes iniciais, calha trazer colao a denio dada por Maral Justen

    Filho sobre concurso pblico:

    O concurso pblico um procedimento conduzido por uma autoridade espe-

    cfica, especializada e imparcial, subordinada a um ato administrativo pr-

    vio, norteado pelos princpios da objetividade, da isonomia, da legalidade, da

    publicidade e do controle pblico, destinado a selecionar os indivduos mais

    capacitados para serem providos em cargos pblicos de provimento efetivo ou

    em emprego pblico1.

    Como se v, o autor bem deniu concurso pblico como procedimento que, em assim sendo,

    dever se desenvolver mediante uma srie encadeada de diversos atos administrativos, inau-

    gurados quando a Administrao verica a necessidade de admisso de servidores para ocupar

    cargos efetivos e empregos pblicos, de acordo com a demanda que se lhe apresenta. E exatamente sobre estes atos encadeados que o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais

    pretende efetivar controle prvio, atividade que, decerto, resultar em enorme benefcio

    oportuna vericao da legalidade dos atos de admisso.

    A apreciao dos editais de concursos pblicos pelo Tribunal de Contas encontra-se amparada

    no inciso V do art. 76 da Constituio Estadual e no art. 3, inciso XXXI, da Lei Complementar n.

    102/2008. Inicialmente, a Instruo Normativa n. 05/2007 da qual alguns dispositivos foram

    alterados pela Instruo Normativa n. 04/2008, que hoje estatui a remessa por meio eletrnico

    do quadro informativo de pessoal admitido por concurso pblico, a m de que a apreciao

    desses atos possa ser realizada de maneira mais clere e concomitante regulamentava amatria.

    Dessa forma, nos termos do art. 5 da IN n. 04/2008, os poderes, os rgos e entidades das

    administraes direta e indireta do Estado e dos Municpios devero encaminhar ao Tribunal de

    Contas editais de concurso pblico para admisso de pessoal, devidamente publicados, acom-

    panhados da legislao atinente e do precitado quadro eletrnico devidamente preenchido,

    com antecedncia mnima de sessenta dias antes da data de incio das inscries do concurso,

    sob pena de suspenso e/ou aplicao de multa diria.

    Contudo, ainda que a remessa dos editais Corte de Contas se d somente aps a sua publica-

    o, tal qual ocorre com os procedimentos licitatrios, tambm os concursos pblicos devem

    ser precedidos de uma fase interna, imprescindvel para a regularidade, legalidade e efetivida-

    de do certame que se deagrar, fase que, tambm, pode e deve ser objeto de anlise deste

    Tribunal por ocasio da admisso de novos servidores.

    3 Ppo i do cocuso pblico

    1JUSTEN FILHO, Maral. Curso de Direito Administrativo. So Paulo: Saraiva. 2005, p. 585.

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    Diz-se alhures que a deagrao de concurso pblico depender, antes de mais nada, da veri-

    cao da necessidade de admisso de servidores.

    Pois bem, a expresso cssidd h de ser interpretada com temperamentos: descabe o

    entendimento de que a necessidade deva ser imediata, no havendo qualquer bice, desse

    modo, a que a Administrao realize concurso pblico para formao de cadastro de reserva.

    No entanto, mesmo neste caso, a realizao do certame dever estar amparada em uma ne-

    cessidade objetivamente vericvel, a exemplo do caso de autarquia que inaugurar posto de

    atendimento ao cidado dentro de alguns meses e que, portanto, precisar de mais servidores

    para atender no novo local.

    Ou seja, a atuao da administrao deve ser planejada, o que nos remete aos princpios que

    regem o Direito Oramentrio, destacando o princpio da legalidade da despesa pblica ouseja, a despesa pblica deve ser precedida de autorizao legal, da vericao de que o ora-

    mento ser capaz de comportar a majorao ou incluso de novo gasto.

    Vale pontuar que a Constituio da Repblica, em seu art. 169, 1, incisos I e II, destaca, es-

    pecicamente, a necessidade de prvia dotao oramentria para que seja realizado concurso

    pblico. conferir:

    Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da Unio, dos Estados, do Dis-

    trito Federal e dos Municpios no poder exceder os limites estabelecidos em

    lei complementar.

    1 A concesso de qualquer vantagem ou aumento de remunerao, a criao

    de cargos, empregos e funes ou alterao de estrutura de carreiras, bem

    como a admisso ou contratao de pessoal, a qualquer ttulo, pelos rgos

    e entidades da administrao direta ou indireta, inclusive fundaes institu-

    das e mantidas pelo poder pblico, s podero ser feitas

    I se houver prvia dotao oramentria suficiente para atender s projees

    de despesa de pessoal e aos acrscimos dela decorrentes;

    II se houver autorizao especfica na lei de diretrizes oramentrias, ressal-

    vadas as empresas pblicas e as sociedades de economia mista. (grifo nosso)

    Alm disso, a prpria criao de cargos pblicos, o que, em algumas hipteses, antecede

    a realizao de um certame, tambm no pode prescindir de previso legal (art. 61 c/c

    art. 169 da CR/88).

    Ressalva-se, nesse tocante, que em se tratando de quadro de empregos das empresas pblicas,

    sociedades de economia mista e demais entidades sob controle direto ou indireto do Estado,

    a determinao de que a criao dos cargos de seus quadros se d por meio de lei dever ser

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    mitigada. o que decidiu recentemente o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, reven-

    do entendimento anterior, na oportunidade do julgamento do Recurso Ordinrio n. 772.587, de

    relatoria do Conselheiro Eduardo Carone Costa. A nova interpretao do tema est bem deline-ada no parecer do Procurador do Ministrio Pblico junto ao Tribunal de Contas, Cludio Couto

    Terro, cujo trecho pede-se vnia para aqui transcrever:

    bem verdade que o Supremo Tribunal Federal STF vem decidindo, h

    muito, que as empresas estatais prestadoras de servio pblico embora

    formalmente criadas sob a roupagem de empresa pblica ou de sociedade de

    economia mista tm em regra natureza jurdica de autarquia e, por isso,

    sofrem maior incidncia do regime jurdico administrativo, submetendo-se

    mais sensivelmente influncia dos princpios e regras de direito pblico, a

    exemplo da afetao especial de seus bens, da submisso a regime especial

    de execuo dos bens afetados, da obrigao de manter servio adequado, dapoltica tarifria, etc.

    Tambm verdade, conforme doutrina do Ministro Eros Grau2, que tanto as

    empresas prestadoras de servio pblico como as que intervm na atividade

    econmica em sentido estrito submetem-se mais rigidamente a regras e princ-

    pios prprios do regime jurdico administrativo, no que tange ao regime estru-

    tural e funcional interno. Ou seja, apenas quanto ao regime funcional externo

    da empresa estatal exploradora de atividade econmica estrito senso que ha-

    veria maior flexibilidade para sua atuao, em virtude da incidncia necessria

    de outros princpios constitucionais, entre eles o da livre concorrncia que se

    impe atividade privada, como alis determina o 1 do art. 173 da CF.

    Dessas duas consideraes, consolidadas no precedente firmado pelo STF no jul-

    gamento da ADI n. 1.642-3, podemos afirmar ento que cabe ao Executivo defla-

    grar, atravs da iniciativa privativa de lei, o processo que ir se consubstanciar

    no regime jurdico estrutural das sociedades de economia mista, ou seja, naquilo

    que tange delimitao de seu formato institucional, seja prestadora de servio

    pblico, ou no, e ainda atuante em posio de supremacia sobre demais acio-

    nistas no mbito do regime jurdico funcional interno dessas empresas, pois tais

    matrias situam-se no espao restrito de sua prerrogativa constitucional.

    Ademais, sem embargo de as recorrentes serem empresas prestadoras de ser-vios pblicos (art. 175, CF) e no empresas exploradoras de atividade econ-

    mica em sentido estrito (art. 173, 1, CF), quadra salientar mais uma vez

    que os servios a serem por elas prestados no so de competncia exclusiva da

    entidade poltica que as instituiu, uma vez que tais servios so de competn-

    cia municipal e no de competncia estadual. No se trata, portanto, de opo

    poltica do Estado de Minas Gerais pela prestao direta ou indireta de um

    2GRAU, Eros Roberto.A ordem econmica na Constituio de 1988. 7. ed. So Paulo: Malheiros, 2002, p. 152.

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    servio pblico de sua competncia, mas de uma opo poltico-administrativa

    desse Estado por concorrer com a iniciativa privada na obteno de concesso

    para prestao de servio pblico municipal.

    Por tal razo, embora prestem servios pblicos, entendemos estarem presentes

    dois elementos fundamentais submisso dessas empresas a um regime jurdico

    mais flexvel: a no dependncia econmico-financeira da entidade poltica a

    qual se vincula e o fato de que elas precisam concorrer com empresas privadas

    para a obteno da concesso pblica a ser conferida pelos Municpios.

    Assim, a instituio do quadro de empregos das empresas pblicas, sociedades

    de economia mista e demais entidades sob controle direto ou indireto do Esta-

    do, por lei ordinria, deve se restringir aos casos em que essas entidades forem

    dependentes do Estado, pouco importando, portanto, que sejam prestadoras de

    servio pblico ou que intervenham na atividade econmica em sentido estrito,

    porque nesse caso estaremos diante de verdadeiras entidades autrquicas, refle-

    tindo simetricamente o modelo federal institudo para essas entidades.

    Resta claro, portanto, em virtude do espao de interpretao at aqui deline-

    ado, que o art. 61, X, da Constituio do Estado de Minas Gerais comportaria

    ao menos duas interpretaes possveis, dentre as quais uma que pode ser

    considerada inconstitucional, embora as outras possam ser consideradas cons-

    titucionais. Dessa forma, entendemos razovel a aplicao da tcnica da inter-

    pretao conforme a Constituio, sem reduo de texto, a fim de preservar as

    interpretaes que sejam compatveis e evitar uma desnecessria ou imprpria

    declarao de inconstitucionalidade do dispositivo.

    Nesse sentido, a norma deve ser interpretada de modo a no alcanar as em-

    presas independentes, ou seja, aquelas que no so subvencionadas pelo Poder

    Pblico para as despesas de custeio, pois para isso so adequadamente remu-

    neradas pelas tarifas decorrentes dos servios prestados, embora possam rece-

    ber da entidade a qual se vinculam recursos do oramento de investimento.

    Portanto, independentemente da existncia de lei instituidora do quadro de

    pessoal das ora recorrentes, parece-nos suficiente para validar a instituio do

    concurso pblico deflagrado o ato de governo consubstanciado na autorizao

    da Cmara de Coordenao Geral, Planejamento e Gesto, porque pautado nadelegao operada pelo Decreto n. 43.227, de 24 de maro de 2003.

    Ressalte-se, por bvio, que essa interpretao no retira do Tribunal de Contas

    o poder de aferir a adequao dessas contrataes com as necessidades da en-

    tidade, especialmente no que tange ao nmero de empregos criados, embora

    no se trate mais de controle da legalidade formal, restrito a simples subsun-

    o do total de vagas oferecidas ao quantitativo definido pela lei. Trata-se

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    evidentemente de controle muito mais complexo porque volvido apreciao

    da legitimidade dos atos, o qual juntamente com a tutela exercida pelo Poder

    Executivo sobre os atos da administrao indireta, dever cont-los nos exatoslimites autorizados pelo ordenamento.3

    Ainda no tocante fase interna do concurso, a Administrao pode optar por realiz-lo por

    seus prprios meios ou por intermdio de empresa especializada na elaborao e conduo de

    processos seletivos dessa natureza.

    A respeito disso, entende-se que a contratao de empresa poder contribuir para a lisura do

    certame, evitando inuncias nefastas de algumas autoridades. Contudo, necessrio ter-se

    em conta que tal contratao dever, via de regra, obedecer obrigatoriedade de licitao,

    nos termos da Lei n. 8.666/93, a no ser em caso de estar congurada alguma hiptese de

    dispensa de licitao. A respeito do tema, cita-se a Deciso n. 569/2005 do Tribunal de Contasda Unio:

    25. No caso especfico de concurso pblico, para traar a correlao do obje-

    to contratado com o desenvolvimento institucional, a Administrao Pblica

    contratante deve demonstrar de forma inequvoca a essencialidade do preen-

    chimento dos cargos para o seu desenvolvimento institucional. Nesse sentido,

    h de constar do prprio plano estratgico, ou de instrumento congnere, da

    administrao pblica contratante essa demonstrao que deve ser estipulada

    com base em critrios objetivos capazes de revelar a contribuio direta das

    atividades inerentes aos cargos objetos do concurso pblico que se pretende

    realizar no desenvolvimento da organizao.

    26. Dessa forma, o ato de dispensa da licitao estaria vinculado essencia-

    lidade do cargo ou das respectivas atividades para o desenvolvimento institu-

    cional, noutras palavras, se no restar demonstrada essa conexo entre essen-

    cialidade e desenvolvimento institucional no plano estratgico ou instrumento

    congnere da administrao contratante como indispensvel ao atingimento

    dos objetivos institucionais da organizao, ento a dispensa de licitao no

    tem base legal no inciso XIII do art. 24. Portanto, no se enquadrando o cargo

    objeto do concurso pblico nessa moldura, a Administrao contratante deve

    promover licitao, deixando de aplicar a norma do art. 24, inciso XIII, haja

    vista no restar demonstrada a correlao do objeto contratado concursopblico para preenchimento de determinado cargo com o desenvolvimento

    institucional da contratante.

    27. Demais, importa anotar que a insero dessas especificaes sobre a essen-

    cialidade dos cargos no citado plano estratgico permitir a posterior atuao

    3Parecer do Ministrio Pblico junto ao Tribunal de Contas. Procurador Cludio Couto Terro. Autos do Recurso Ordinrio n. 772.587 Copasa. Relator: Conselheiro Eduardo Carone Costa. Sesso: 15/07/2009 (ver p. 196 desta Revista)

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    dos sistemas de controle existentes com vistas a verificar se a dispensa de lici-

    tao, fundamentada no multicitado art. 24, inciso XIII, ou no legtima.

    28. Para finalizar este tpico, pode-se, ento, concluir, com base na jurispru-

    dncia mencionada (Deciso n. 470/1993 Plenrio; Acrdos n. 105/1998 e

    710/1994 Plenrio; Deciso n. 282/1994 Plenrio), que possvel tercei-

    rizar a realizao de concurso pblico com e sem licitao (FERNANDES. Jor-

    ge Ulisses Jacoby. Contratao direta sem licitao: modalidades, dispensa e

    inexigibilidade de licitao. 5. ed. Braslia Jurdica. 2000. p. 416): a licitao

    continua sendo a regra geral, e a contratao direta, como norma de exceo,

    deve ser empregada somente quando houver o preenchimento dos requisitos

    do art. 24, inciso XIII, devendo a Administrao contratante deixar evidencia-

    da tambm a correlao entre o objeto contratado e o seu desenvolvimento

    institucional.4

    Compartilha-se, pois, do entendimento de Mrcio Barbosa Maia e Ronaldo Pinheiro de Queiroz:

    No contexto da fase interna do procedimento, a Administrao decidir se o

    concurso pblico ser realizado por seus prprios meios (execuo direta) ou

    por intermdio de outro rgo ou entidade (execuo indireta). Nesse ltimo

    caso, a Administrao Pblica dever valer-se, em regra, do prvio processo

    licitatrio para contratao dos servios relativos execuo do concurso p-

    blico, a no ser quando for o caso de dispensa, como na hiptese do art. 24,

    VIII, da Lei n. 8.666/93. (...)

    Em realidade, para se evitar a ingerncia direta da administrao no processode recrutamento e seleo de seu pessoal, o Poder Pblico, em regra, deveria

    delegar sua execuo para rgo distinto da repartio interessada, em ordem

    a garantir maior imparcialidade na sua realizao.5

    Outro, portanto, no tem sido o posicionamento desta Corte de Contas que, reiteradamente

    tem solicitado s entidades organizadoras do certame que enviem comprovao da forma como

    se deu a contratao das empresas organizadoras dos concursos, no somente para vericao

    da legalidade do ato de tais contrataes, mas, tambm, para aferio da razoabilidade dos

    valores cobrados a ttulo de taxa de inscrio:

    1 No constam dos autos informaes sobre o custo total do concurso e o cl-culo de valor da ficha de inscrio, o que impede verificar se esta foi fixada de

    modo apenas a cobrir os custos do certame. Tambm no foram apresentados

    os parmetros utilizados para estabelecer os valores da aludida taxa, referen-

    4Plenrio Sesso: 04/12/08. Relator: Ministro Augusto Sherman Cavalcanti. Representao. Processo n. 011.348/2002-5. Comis-so Nacional de Energia Nuclear Cnen.

    5MAIA, Mrcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro. O regime jurdico do concurso pblico e o seu controle jurisdicional. So Paulo:Saraiva. 2007, p. 82.

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    tes a cada cargo, uma vez que h cargos de mesmo nvel de escolaridade com

    valores diferenciados.6

    4 Apontou, ainda, o rgo Tcnico, a necessidade de se anexar planilha de-

    monstrativa das despesas com os concursos para se aferir a proporcionalidade

    dos gastos e a consequente razoabilidade das taxas de inscrio.

    Segundo o Ministrio Pblico, os valores das taxas de inscrio R$50,00

    para nvel superior e R$30,00 para nvel mdio so razoveis se compa-

    radas com as remuneraes estipuladas nos editais. Pondera, ainda, que a

    sugesto do rgo Tcnico invivel do ponto de vista prtico, pois, para

    a elaborao de tal planilha seria fundamental saber de antemo o nmero

    de inscritos no certame.

    Porm, entende o Ministrio Pblico que os editais incorrem em omisso aono descreverem as hipteses em que se impe a devoluo das taxas de inscri-

    o, alm de serem omissos quanto sua iseno.

    Para o rgo ministerial tais omisses ofendem as disposies do art. 5,caput,

    e art. 37, I, da Constituio Federal de 1988, porque no garantem condies

    reais de concorrncias aos que no tm condies financeiras para suportar o

    custo da participao no certame.

    Voto: acolho o parecer do Ministrio Publico e voto por determinao ao Pre-

    sidente da COPASA para que insira nos editais clusula que disponha sobre a

    hiptese de devoluo da taxa de inscrio, bem como sobre sua iseno, emconsonncia com o que dispe o art. 1 da Lei Estadual n. 13.801, de 26 de

    dezembro de 2002.78

    4 Publicidd dsvolvio do cocuso

    Uma vez vericadas as condies e atendidas as exigncias legais para a realizao de um con-

    curso pblico, necessrio formalizar o edital do certame, que garantir a sua publicidade e

    estabelecer as regras de sua execuo.

    Tendo em vista que o objetivo precpuo deste trabalho abordar de forma ampla os principais

    6Primeira Cmara Sesso: 04/12/08. Relator: Conselheiro Eduardo Carone Costa. Edital de Concurso Pblico n. 765.462. Prefei-tura Municipal de Fernandes Tourinho.

    7Art. 1 A taxa de expediente relativa a inscrio em concurso pblico para investidura em cargo ou emprego pblico da adminis-trao direta ou indireta do Estado ser devolvida ao candidato na hiptese de cancelamento ou suspenso do processo seletivo. 1 A devoluo ocorrer no prazo de at sessenta dias contados da publicao, no rgo ocial dos Poderes do Estado, do ato decancelamento ou suspenso do concurso. 2 Sobre o valor a ser devolvido incidir correo monetria a partir de seu desembolso pelo candidato. 3 facultado ao candidato o aproveitamento do valor da taxa de que trata o caputdeste artigo ao se inscrever em concurso quesubstitua o cancelado ou suspenso.

    8Primeira Cmara Sesso: 11/02/2008. Relator: Conselheiro Presidente Wanderley vila. Edital de Concurso Pblico n. 760.190 Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais.

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    aspectos dos editais de concurso pblico, passa-se, agora, a coment-los, contrapostos juris-

    prudncia do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais.

    5 Publicidd do dil

    A publicidade do edital visa a que o maior nmero de candidatos possa tomar conhecimento do

    certame. Alm disso, a publicidade do ato convocatrio e de suas regras garantem, por via ree-

    xa, a objetividade e a isonomia, vez que, antecipadamente, todos os interessados tero acesso s

    condies de participao, critrios de julgamento e o modo como ele ser executado.

    Entretanto, no s a divulgao de resultados dever ser feita amplamente, mas todos os atos

    relativos ao concurso devero ser publicizados de forma a que as informaes possam chegar a

    todos os interessados. o que restou assentado na seguinte deciso:

    No tocante publicidade, tratada no subitem 2.7 do relatrio tcnico (fls. 118),

    pode-se afirmar que todo e qualquer certame realizado pela administrao re-

    quer prvia e ampla divulgao, no s do ato convocatrio, mas de todos os

    atos dele decorrentes. Assim, alm da afixao no quadro de avisos da Cmara

    Municipal, os atos do procedimento devem ser divulgados no site da empresa

    realizadora do concurso, sem prejuzo da publicao em jornal de grande cir-

    culao na regio, que, obviamente, est alcanada pelo Minas Geraispor ser

    esta uma publicao que percorre todo o Estado com vistas a convocar o maior

    nmero possvel de interessados e, consequentemente, selecionar os mais qua-

    lificados para exercer as atribuies dos cargos ofertados no edital.

    A observncia do princpio da publicidade, insculpido no caputdo art. 37 da

    Carta Magna, dever do qual a Administrao no pode declinar, propiciando a

    todos acesso s informaes de seu interesse para que possam, tambm, exer-

    cer outras garantias constitucionais como a ampla defesa e o contraditrio, as

    quais abarcam o direito de recorrer e, sobretudo, para possibilitar a transpa-

    rncia e o controle dos atos do procedimento.

    No suficiente, pois, a alterao produzida pela Cmara Municipal no subi-

    tem 5.4.1 do edital retificado (fls.101), referente divulgao dos resultados,

    provisrio e final, bem assim do gabarito oficial. necessrio ampliar o alcan-

    ce do princpio da publicidade ao mximo e no s nas hipteses assentadasnos subitens 6.6 e 9.10 (fls. 102 e 103), os quais no foram corrigidos, mas,

    tambm, em outras clusulas como, por exemplo, a do subitem 6.2 (fls.101),

    que condiciona a contagem do prazo recursal divulgao do gabarito oficial

    no quadro de aviso da Cmara, o que reduz, sensivelmente, a interposio de

    apelos de candidatos de outras localidades. Esse mesmo problema ocorre no

    subitem 9.11 (fls. 104), que restringe a contagem de qualquer prazo publica-

    o no mencionado quadro de aviso.

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    218 Comentando a Jurisprudncia

    Frisa-se, ainda, que no pode o edital reservar comisso supervisora do con-

    curso o direito de utilizar-se de qualquer outro meio de comunicao que

    julgar necessrio, independente de prvio aviso, como consta no subitem 9.10porquanto traduz arbitrariedade da empresa organizadora e da administrao

    contratante, fulminando os princpios da transparncia e da ampla defesa e

    contraditrio at porque, consoante se v na primeira parte da clusula, o

    preceito alcana todo e qualquer ato referente ao concurso, estando, ainda,

    em contradio com outras condies do edital atinentes publicidade.9

    Esclarece-se, por oportuno, que a publicao feita somente via internet no suciente para

    dar azo ao princpio da publicidade. Tanto a internet quanto a publicao no trio da prefeitura

    ou por outros meios devem ser entendidos como umplusao cumprimento do princpio consti-

    tucional da publicidade, que somente ser tido por efetivamente cumprido com inseres em

    rgo da imprensa ocial, alm das inseres em jornais de grande circulao.

    Recentemente, o Tribunal de Contas respondeu Consulta n. 742.473, cuja relatoria coube ao

    Conselheiro Antnio Carlos Andrada, por meio da qual se questionava se a divulgao em site

    da internet supriria a publicao em jornal ocial. de se ver:

    Primeiramente, partindo da premissa que, via de regra, a publicidade re-

    quisito de eficcia de atos administrativos, para que desse modo possam sur-

    tir efeitos, necessrio perquerir em que momento aperfeioa-se o preceito

    constitucional.

    Para melhor anlise do tema, indispensvel destacar os ensinamentos de HelyLopes Meirelles, que entende que a publicidade a divulgao oficial do ato

    para conhecimento pblico e incio de seus efeitos externos.10 (MEIRELLES,

    2003, p.92)

    No mesmo sentido, o ensinamento de Crmen Lcia Antunes Rocha, versa acer-

    ca da finalidade da publicao, qual seja, divulgar pela forma escrita e nos

    meios oficialmente determinados11(ROCHA, 1994, p. 246). Nesses termos, a

    ideia que subjaz colocao da ministra a necessidade de obedincia a requi-

    sitos formais para assegurar a completa abrangncia do princpio, o que leva

    ideia de que o ato seja publicado de modo induvidoso, ficando disponvel para

    que chegue ao conhecimento do particular.

    Com essas consideraes, salutares so as colocaes de Digenes Gasparini,

    in verbis:

    9Primeira Cmara Sesso: 17/03/09. Relator: Conselheiro Gilberto Diniz. Edital de Concurso Pblico n. 771.232. Cmara Muni-cipal de Manga.

    10Direito Administrativo brasileiro. 28. ed., atualizada por Eurico Andrade Azevedo, Deoclcio Balestero Aleixo e Jos EmmanuelBurle Filho. So Paulo: Malheiros, 2003, p. 92.

    11ROCHA, Crmen Lcia Antunes. Princpios constitucionais da administrao pblica. Belo Horizonte: Del Rey, 1994, p. 246.

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    219Comentando a Jurisprudncia

    A publicao legal para sua plena realizao a do jornal oficial de divulgao

    ou imprensa oficial, no sendo assim considerada a simples notcia veiculada

    pela mdia, mesmo que ocorra em programa radiofnico ou televisivo destina-do a noticiar os atos oficiais da administrao pblica, conforme j decidiu o

    STF ao julgar o RE 71.652 (RDA 111: 145).

    (...)

    A regra a publicidade dos atos, contratos e outros instrumentos jurdicos da

    responsabilidade da administrao pblica no dirio oficial (...)12

    Nessa mesma linha de entendimento, Hely Lopes Meirelles reconheceu, focado

    nessa mesma deciso do STF (RE 71.652), que a publicao adequada aos atos

    da administrao deve ser feita no rgo oficial, no valendo a veiculao

    somente na imprensa privada, no rdio ou na televiso, enfatizando o mesmoautor que devem ser compreendidos na expresso rgo oficial, alm do Di-

    rio Oficial, os jornais contratados pelas entidades pblicas para efetivao das

    publicaes oficiais.13

    Dessa forma, em sntese, tem-se que o princpio da publicidade resta indubi-

    tavelmente atendido quando houver publicao do ato em rgo oficial. Insta

    salientar que, com a inexorvel tendncia incorporao da tecnologia da

    informao em todos os domnios da administrao pblica, afigura-se perfei-

    tamente possvel que as publicaes oficiais de poderes ou rgos pblicos seja

    feita por meio eletrnico (internet), a exemplo do TJMG e da iniciativa deste

    Tribunal, desde que haja amparo legal, situao diversa de uma publicaopura e simples na Internet, como parece perquerir o consulente.14

    Assim, em resposta indagao, tenho que a divulgao de prestao de contas

    somente em site da internet no supre a necessidade de publicao em dirio

    oficial. E isso, uma vez que a simples publicao em site da internet mitiga a

    plena observncia do princpio da publicidade.

    Assim, para atender ampla divulgao dos atos relativos ao concurso pblico, dever a admi-

    nistrao disponibilizar informaes no quadro de avisos da prefeitura, em sites prprios e outros

    meios o que, refora-se, no afasta a obrigao da publicao em rgo da imprensa ocial. Tais

    medidas visam ampliar a garantia dos princpios da competitividade e da publicidade, inerenteaos concursos pblicos, no se tratando, pois, de meros atos discricionrios da administrao.

    12Informativo de Licitaes e Contratos, fev/2004, p. 10-120. Curitiba: Ed. Znite, 2002.

    13MEIRELLES. Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. So Paulo: Ed. Malheiros, 2003, p. 93, nota de rodap n. 58.

    14Por oportuno, deve-se ressaltar que, com o advento da Lei n. 11.419/06, que, por sua vez, alterou o art. 154 do CPC, facultadoaos rgos do Judicirio informatizar integralmente o processo judicial, para torn-lo acessvel por meio da internet; Tem-se que ocdigo passou a admitir a possibilidade dos meios eletrnicos para dar cincia a algum dos termos e atos do processo. Isso posto,foi autorizada aos tribunais a criao de dirios eletrnicos, com o intuito de servirem de meio para publicao de atos judiciais eadministrativos, atravs de sitena internet(art. 4 da Lei n. 11.419/06).

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    220 Comentando a Jurisprudncia

    Importante comentrio diz respeito, ainda, ao prazo a ser estabelecido entre a publicao do

    edital e a realizao das provas, que deve, por bvio, assegurar tempo mnimo a m de que

    os candidatos preparem-se para as avaliaes15. Por ocasio desse comentrio, noticia-se que,recentemente, foi editado o Decreto Federal n. 6.944/09, que dispe sobre normas gerais

    relativas a concursos pblicos da administrao pblica federal e estabelece, em seu art. 18,

    inciso I, que o edital dever ser publicado com antecedncia mnima de sessenta dias antes da

    realizao das provas.

    6 Iscis

    De igual modo, as inscries devero ser disponibilizadas durante perodo razovel, viabilizando

    aos candidatos, sempre que possvel, diversidade de meios para execut-la, alm da inscrio

    presencial, consoante deciso nos autos do Processo de Edital de concurso pblico n. 766.000:2) Das inscries Est previsto, no subitem 2.1.11, que no haver devoluo

    do valor da taxa de inscrio em hiptese alguma.

    Embora no haja legislao especfica sobre a matria, entendo que deve estar

    prevista, no corpo do edital, a devoluo do valor da inscrio em frente das

    situaes inesperadas como o cancelamento do concurso, a excluso de algum

    cargo relacionado no edital, devendo, pois, haver condies explcitas no edi-

    tal quanto devoluo do valor pago referente inscrio do candidato.

    Indaga-se a razo pela qual o subitem 2.1.5.2 estabelece que o pagamento da

    taxa de inscrio somente poder ser efetuado diretamente no caixa uma vezque o procedimento usual a utilizao de terminais de caixa rpido e tambm

    o motivo de as inscries ocorrem, somente, por meio presencial, em um nico

    local do Municpio, conforme estabelece o subitem 2.1.1.16

    Embora no haja lei geral que discipline a realizao de concursos pblicos pelos rgos da

    administrao pblica, necessrio ter sempre em conta, quando da elaborao de edital, os

    princpios da razoabilidade e ecincia.

    Nessa linha, seguindo os mencionados princpios, o prazo de apenas trs dias entre a publicao

    do ato convocatrio e o encerramento das inscries, por exemplo, mostrar-se-ia absoluta-

    mente inexequvel, alm de impedir que um sem nmero de candidatos se inscrevesse para asprovas simplesmente porque no tomaram conhecimento do edital.

    15A propsito da questo, Mrcio Barbosa Maia e Ronaldo Pinheiro de Queiroz defendem que este prazo mnimo deveria ser de 45dias, aplicando-se, analogamente, o prazo previsto para a modalidade de licitao concurso pela Lei n. 8.666/93 (art. 21, 2, I).MAIA, Mrcio Barbosa e QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurdico do concurso pblico e o seu controle jurisdicional. SoPaulo: Saraiva, 2007, p. 97.

    16Primeira Cmara Sesso: 04/12/08. Relator: Conselheiro substituto Gilberto Diniz. Edital de Concurso Pblico n. 766.000.Prefeitura Municipal de Planura.

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    221Comentando a Jurisprudncia

    Entre as ilegalidades verificadas, salta aos olhos a insuficincia dos prazos me-

    diados entre a divulgao do certame, a abertura das inscries e a realizao

    das provas, o que, certamente, dificulta o acesso dos potenciais interessadoss informaes editalcias, restando, pois, prejudicados os princpios da razo-

    abilidade, publicidade e universalidade. Vejamos.

    Pela forma com que foi dada publicidade s disputas, evidencia-se a prtica

    de duas irregularidades, quais sejam, prazo insuficiente de divulgao e inade-

    quao do meio, uma vez que a publicao dos editais ocorreu apenas no qua-

    dro de avisos da Prefeitura de Bambu, no tendo sido comprovada, nos autos,

    a mais ampla divulgao que deveria ser conferida aos concursos, conforme

    informado no ofcio remetido pelo prefeito, com a publicidade na imprensa

    oficial escrita ou mesmo de grande circulao, o que atrairia, sem dvida algu-

    ma, o maior nmero de concorrentes.

    Os meios de divulgao citados pelo gestor municipal, quais sejam, anncios

    no rdio, na rua atravs de propaganda volante e faixas, bem assim na inter-

    net, os quais tambm no foram comprovados, embora complementares, no

    substituem a publicao em jornal, conforme mencionado, a qual pressupe a

    universalizao das informaes para alm da comunidade local, procedimento

    este condizente com a magnitude do certame que disponibiliza mais de seis-

    centas vagas em diversas reas.

    Demais disso, para o primeiro certame, decorreram apenas dois dias entre a di-

    vulgao do edital e o incio das inscries, sendo que, para a segunda disputa,

    o interstcio foi somente de quatro dias. Tais prazos, por serem extremamenteexguos, comprometem, no meu juzo, a lisura dos procedimentos porquanto

    impedem o alcance do objetivo da disputa, que justamente a escolha de can-

    didatos aptos a desempenhar a funo pblica.17

    Inicialmente, cumpre salientar que o prazo estabelecido nos termos do art. 5

    da Instruo Normativa TC 05/2007 (...)antecedncia mnima de noventa

    dias, para comunicao a este Tribunal da realizao do concurso e encami-

    nhamento, para anlise do respectivo edital e demais documentos ali exigidos

    no foi fielmente cumprido, haja vista as datas previstas no instrumento

    para a inscrio dos interessados de 24 a 28/11/08, item 4.1.3, e da realiza-

    o das provas, 14/12/08, item 6.1 e a da apresentao da documentao,esta protocolizada neste Tribunal em 23/10/08. Todavia entendo que o citado

    dispositivo normativo merece ajuste para definir, com preciso, o marco inicial

    da contagem do prazo para envio dos atos convocatrios ao Tribunal.

    A propsito, convm destacar que o prazo de quinze dias, contados desde o

    17Primeira Cmara Sesso: 03/03/09. Relator: Conselheiro, em exerccio, Gilberto Diniz. Edital de Concurso Pblico n. 769.709.Prefeitura Municipal de Bambu.

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    222 Comentando a Jurisprudncia

    encerramento das inscries (28/11) at a data prevista para realizao dasprovas (14/12) exguo, podendo vir a prejudicar o candidato.

    A esse respeito, no mbito estadual, o Decreto n. 42.899/02, alterado pelo de

    n. 44.388, de 21/9/06, dispe no art. 17 que as provas devero realizar-se noprazo mnimo de trinta dias aps a data de encerramento das inscries.

    tambm exguo o prazo de cinco dias para as inscries (de 24 a 28/11), fixa-

    do no item 4.1.2, o que, como bem observado pelos tcnicos desta Casa a fls.

    23, pode ser fator determinante para no se alcanar o objetivo de garantir oamplo acesso a todos os interessados.18

    A cobrana da taxa de inscrio, igualmente, no pode transbordar o limite da razoabilidade,

    sendo certo que ela h de corresponder ao valor necessrio para cobrir os gastos com a realiza-

    o do concurso19, como, alis, j se viu em trecho de acrdo referente ao Edital de ConcursoPblico n. 765.462, analisado por este Tribunal de Contas. O valor da taxa de inscrio pode

    variar entre um cargo e outro, j que alguns cargos demandam mais etapas de seleo, o que

    contribui para a elevao do custo total do certame.

    De outro lado, os editais no podem prescindir da hiptese de iseno da taxa de inscrio, vez

    que tal previso vem concretizar o princpio da ampla acessibilidade aos cargos e empregos pbli-

    cos. Nessa esteira, segue deciso proferida nos autos do Processo n. 772.958, cuja relatoria coube

    ao Conselheiro substituto Licurgo Mouro:

    A primeira questo crucial e merecedora de destaque refere-se disposio in-serta no subitem item 5.23, que,em afronta flagrante ao princpio da isonomiae da ampla acessibilidade aos cargos pblicos, previu que no sero aceitos

    pedidos de iseno total ou parcial do pagamento do valor da taxa de inscrio,seja qual for o motivo alegado.

    No h dvida de que tal previso no pode prosperar. A iseno do pagamentode taxa de inscrio e os critrios para sua concesso para aqueles que por ra-zes financeiras no podem arcar com os custos tm amparo constitucional, esua ausncia contraria os princpios da isonomia e da ampla acessibilidade aoscargos, empregos e funes pblicas previstos no caputdo artigo 5 e inc. I doart. 37 da Constituio Republicana.

    Na jurisprudncia ptria, pacfico o entendimento de que a omisso de previ-so para concesso de iseno do pagamento de taxa de inscrio no edital deconcurso pblico, ou sua vedao, contraria as normas legais regulamentadorasda matria e fere de morte os preceitos da Constituio da Repblica de 1988.

    18Primeira Cmara Sesso: 20/11/08. Relator: Conselheiro substituto Gilberto Diniz. Edital de Concurso Pblico n. 765.220. Pre-feitura Municipal de Diogo de Vasconcelos.

    19MAIA, Mrcio Barbosa e QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurdico do concurso pblico e o seu controle jurisdicional. SoPaulo: Saraiva, 2007, p. 97.

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    223Comentando a Jurisprudncia

    Vale ressaltar que na ausncia de lei no mbito municipal sobre a matria, a

    lei estadual ou federal tem o condo de determinar os parmetros a serem

    adotados para a hiptese de concesso da aludida iseno.

    Assim, a Lei Estadual mineira n. 13.392/99 regulamenta a hiptese de iseno

    e traz no bojo do artigo 1 o critrio a ser vislumbrado quando do requerimen-

    to pelo cidado:

    Art. 1 Fica isento do pagamento da taxa de inscrio em concurso pblico do

    Estado o cidado comprovadamente desempregado.

    Por sua vez, a Lei Federal n. 8.112/99, em seu artigo 11, assim determina:

    Art.11. O concurso ser de provas ou de provas e ttulos, podendo ser realizado

    em duas etapas, conforme dispuserem a lei e o regulamento do respectivo pla-no de carreira, condicionada a inscrio do candidato ao pagamento do valor

    fixado no edital, quando indispensvel ao seu custeio, e ressalvadas as hipte-

    ses de iseno nele expressamente previstas.20

    Saliente-se, contudo, que devero ser devidamente esclarecidos quais os casos de concesso de

    iseno, bem como o rol de documentos comprobatrios da hipossucincia, como medidas ga-

    rantidoras da isonomia e transparncia inclusive entre aqueles que pleiteiam sobredita iseno.

    No existe bice vericao dos dados declarados pelos candidatos no ato de inscrio. No

    entanto, qualquer sano em vista de dados falsos ou inexatos somente poder ser aplicada se

    garantido o contraditrio e a ampla defesa ao declarante (art. 5, inciso LV, da CR/88).

    A previso de devoluo do valor da inscrio nos casos de cancelamento do concurso, ex-

    cluso de algum cargo oferecido ou em razo de fato atribuvel somente administrao

    pblica dever estar prevista no edital, sob pena de se admitir o locupletamento indevido

    pelo Poder Pblico:

    O item 6.10 dispe que efetivada a inscrio, no haver devoluo da impor-

    tncia paga em hiptese alguma.

    A esse respeito tenho reiteradamente afirmado que deve estar prevista, no

    corpo do edital, a devoluo do valor da inscrio em face de situaes ines-peradas como o cancelamento do concurso ou a excluso de algum cargo ofe-

    recido, devendo, pois, haver condies explcitas quanto restituio do valor

    pago referente a ttulo de inscrio.21

    20Segunda Cmara Sesso: 26/03/09. Relator: Conselheiro substituto Licurgo Mouro. Edital de Concurso Pblico n. 772.958.Fundao Uberlandense de Turismo, Esporte e Lazer FUTEL.

    21Primeira Cmara Sesso: 10/12/08. Relator: Conselheiro substituto Gilberto Diniz. Edital de Concurso Pblico n. 769.112.Cmara Municipal de Desterro do Melo.

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    224 Comentando a Jurisprudncia

    O edital no poder conter, ainda, vedao inscrio de candidatos que tenham sido demiti-

    dos por quaisquer falhas graves comprovadas mediante processo administrativo e/ou sindicn-

    cia. Sobre o tema, a Conselheira Adriene Andrade se pronunciou no Processo n. 769.107:

    Assim, quanto s condies necessrias inscrio, verifiquei que o perodo

    final do subitem 3.7 do edital traz exigncia restritiva, qual seja:

    3.7 No podero se inscrever no presente concurso os ex-servidores pbli-

    cos de quaisquer esferas de poder (federal, estadual e municipal) demitidos

    em consequncia de atos de improbidade ou qualquer outra falha grave

    comprovada atravs de sindicncia e/ou inqurito administrativo.(grifos

    no original)

    Releva notar que o art. 12 da Lei n. 8.429/92 determina, em seu inciso I, que

    na hiptese de crime de improbidade administrativa, independentemente das

    sanes penais, civis e administrativas, ser imputado ao sujeito, dentre ou-

    tras penas, a perda da funo pblica, a suspenso dos direitos polticos, de

    oito a dez anos, a proibio de contratar com o Poder Pblico ou receber be-

    nefcios ou incentivos fiscais ou creditcios, pelo prazo de dez anos. Por conse-

    guinte, o subitem 3.7 estaria em consonncia com o mencionado dispositivo, no

    tocante vedao de inscrio de demitidos, em consequncia de improbidade

    administrativa.

    Contudo, a questo deve ser analisada, ainda, luz do art. 5, inciso LVII, da

    Constituio da Repblica, que estabelece serem todos iguais perante a lei e

    que ningum pode ser considerado culpado, at o trnsito em julgado de sen-

    tena penal condenatria.

    Nesse contexto, entendo que o perodo do subitem 3.7 do edital, acerca da

    vedao de inscrio daqueles que tenham sido demitidos por qualquer outra

    falha grave comprovada atravs de sindicncia e/ou inqurito administrativo,

    mostra-se restritivo e ofende os princpios da presuno de inocncia e da iso-

    nomia, devendo, portanto, ser retirado do contexto.

    Nesse espeque, entendeu a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justia, no jul-

    gamento do Recurso Ordinrio em Mandado de Segurana n. 11.396, conforme

    excerto, a seguir:

    Fere a Constituio Federal a recusa de nomear, por inidoneidade moral, o

    aprovado no concurso pblico que figura no plo passivo de ao penal em

    curso. O princpio da presuno da inocncia ou da no culpabilidade (art. 5,

    LVII, da CF/1988) no se restringe ao mbito exclusivamente penal e deve ser

    observado na esfera administrativa.

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    225Comentando a Jurisprudncia

    (...)

    Nesse contexto, entendo que o perodo do subitem 3.7 do edital, acerca davedao de inscrio daqueles que tenham sido demitidos por qualquer outra

    falha grave comprovada atravs de sindicncia e/ou inqurito administrativo

    mostra-se restritivo e ofende os princpios da presuno de inocncia e da iso-

    nomia, devendo, portanto, ser retirado do contexto.22

    Alm disso, a impossibilidade de candidato tomar posse ou participar de certame por conta de

    anterior demisso ou afastamento do servio pblico caracteriza verdadeiro bis in idem.

    A inscrio de estrangeiros poder ser prevista, desde que observados os preceitos constitucio-

    nais acerca da acessibilidade aos cargos pblicos por no nacionais (art. 12, 3, incisos V e VI,

    da CR/88), alm daquilo que estiver previsto em lei.

    7 escolidd i xigid p pchio dos cgos xigci d po d xpici pofssiol

    A escolaridade exigida dever, por bvio, guardar correspondncia com as atribuies do cargo

    e estar prevista, alm disso, nas normas que regulamentam o exerccio das categorias prossio-

    nais, sob pena de se ver restringido o princpio da ampla acessibilidade.

    possvel, ainda, exigir comprovao de tempo de experincia pelo candidato, contudo, exi-

    gncia dessa espcie dever estar amparada em lei, preferencialmente, na lei de criao do

    cargo. O Supremo Tribunal Federal tem sustentado o entendimento de que constitucional aexigncia no edital do certame de requisitos para acesso a determinado cargo pblico, desde

    que haja previso legal. de se ver:

    AI 588768 AgR / BA

    Relator(a): Ministro Joaquim Barbosa

    Publicao

    DJ 03/08/2007

    EMENTA: Agravo regimental. Administrativo. Concurso pblico para o cargode policial militar do Estado da Bahia. Altura mnima exigida. Necessidade de

    previso legal para definio dos requisitos para ingresso no servio pblico.

    Inexistncia de ofensa direta Constituio. Agravo regimental a que se nega

    provimento.

    22Segunda Cmara Sesso: 16/12/08. Relatora: Conselheira Adriene Andrade. Edital de Concurso Pblico n. 769.107. ServioAutnomo de gua e Esgoto de Lajinha.

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    226 Comentando a Jurisprudncia

    AI 662320 AgR / RR

    Relator(a): Ministro Eros Grau

    Publicao

    DJe 01/02/2008

    EMENTA: Agravo regimental no agravo de instrumento. Concurso pblico. Prova

    de aptido fsica. Previso legal. Inexistncia. Smula 280. bice. 1. Somente

    lei formal pode impor condies para o preenchimento de cargos, empregos ou

    funes pblicas. Precedentes. 2. Controvrsia afeta interpretao de norma

    local, incidncia do verbete da Smula n. 280 do STF. 3. Agravo regimental a

    que se nega provimento.

    RE 182432 / RS

    Relator(a): Ministro Nri da Silveira

    Publicao

    DJ 05/04/2002

    EMENTA: Recurso extraordinrio. Limite mnimo de idade para inscrio em

    concurso pblico de auditor substituto de conselheiro do Tribunal de Contas do

    Estado. 2. Acrdo que entendeu ser ofensivo aos arts. 7, XXX, e 39, 2, da

    Constituio Federal, estabelecimento de limite mnimo de idade para inscri-o em concurso pblico de auditor substituto. 3. Inexistncia de expressa re-

    ferncia na lei a limite mnimo de idade para investidura em cargo de auditor.

    4. A lei orgnica limita-se a definir em quais situaes os auditores substituiro

    os conselheiros. Incabvel, na espcie, restringir, no edital do concurso, o que

    a lei no limitou. 5. Recurso extraordinrio no conhecido.

    Contudo, noticia-se que h deciso do Superior Tribunal de Justia no sentido de que, at mes-

    mo no amparada em previso de lei, a Administrao Pblica, ao realizar concurso pblico,

    pode exigir no edital requisitos que guardem equivalncia com a natureza e complexidade das

    atividades inerentes ao cargo. conferir:

    REsp 801982 / RJ

    Relator: Ministro Jos Delgado

    Data da Publicao/Fonte

    DJ 14/06/2007 p. 259

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    REVISTA DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAISjulho | agosto | setembro 2009 | v. 72 n. 3 ano XXVII

    227Comentando a Jurisprudncia

    Ementa

    ADMINISTRATIVO. CONCURSO. EMPRESA PBLICA. EXIGNCIA MNIMA DE CINCOANOS DE EXPERINCIA, CONTIDA NO EDITAL DO CERTAME. LEGALIDADE. PRECE-

    DENTES DESTA CORTE.

    1. Recurso especial contra acrdo segundo o qual: a) encontra-se prevista,

    expressamente, no edital do concurso, a exigncia de, no mnimo, cinco anos

    de experincia profissional como requisito para que o candidato seja convocado

    para admisso, alm da habilitao em provas objetivas e de conhecimento;

    b) No caso dos autos, mesmo antes das provas escritas, o candidato j tinha

    conhecimento de que haveria de satisfazer todas as exigncias do edital, para

    que fosse considerado aprovado e viesse a ser convocado; c) inexiste compro-

    vao de malferimento ao princpio da igualdade, no havendo indcios de dis-

    criminao, privilgios, distino de tratamento ou arbitrariedades nos itens e

    subitens do edital, casos que ensejariam a interferncia do Judicirio.

    2. Inexiste previso legal que impea se estabelecerem, quando da realizao

    de concurso com vistas seleo de candidatos capacitados ao preenchimen-

    to de vaga oferecida, determinados requisitos compatveis com a natureza e

    complexidade das atividades inerentes ao cargo a ser ocupado. Definir o perfil

    do candidato para ingresso em quadro funcional, de acordo com as atividades

    que sero exercidas pelo profissional, constitui prtica rotineira adotada por

    qualquer pessoa jurdica que v realizar uma contratao nos moldes da legis-

    lao trabalhista.

    3. absolutamente razovel estabelecer-se um prazo mnimo de experincia no

    exerccio das atividades a serem desenvolvidas pelo candidato aprovado, con-

    quanto que no se fixem critrios relativos a aspectos pessoais que dificultem

    o acesso ao emprego pblico, como discriminao de condies estritamente

    pessoais como raa, cor, credo religioso ou poltico. O empregador tem o direito

    de estipular condies e requisitos que entender necessrios, por se referirem

    diretamente natureza e complexidade das atividades inerentes ao cargo.

    4. Ocorrncia de previso expressa no edital do concurso acerca da exigncia

    de, no mnimo, cinco anos de experincia profissional para que o candidato

    seja convocado para admisso, alm da habilitao em provas objetivas e deconhecimento.

    5. A Administrao livre para estabelecer as bases do concurso e os critrios

    de julgamento, desde que o faa com igualdade para todos os candidatos, ten-

    do, ainda, o poder de, a todo tempo, alterar as condies e requisitos de ad-

    misso dos concorrentes para melhor atendimento do interesse pblico (Hely

    Lopes Meirelles,in Direito Administrativo brasileiro, 12. ed, p. 369 e 370).

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    228 Comentando a Jurisprudncia

    6. Precedentes desta Corte Superior.

    7. Recurso no provido.

    Em que pese a deciso acima colacionada, entendemos que a simples alegao de que o edital

    a lei do certame o que, num entendimento equivocado, permitiria que a Administrao zes-

    se, de forma discricionria, exigncias de idade ou experincia prossional mnima para acesso

    aos cargos mostra-se restritiva ao princpio da acessibilidade aos cargos pblicos, afrontando,

    ademais, claras disposies constitucionais, a seguir enunciadas:

    Art. 5

    (...)

    XIII livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas asqualificaes profissionais que a lei estabelecer;

    Art. 37.

    (...)

    I os cargos, empregos e funes pblicas so acessveis aos brasileiros que

    preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros,

    na forma da lei. (grifou-se)

    7.1 Vgs svds os podos d cssidds spciisAs vagas destinadas aos portadores de decincia devero observar os percentuais estabeleci-

    dos em lei para o seu preenchimento, consoante se depreende do art. 37, VIII, da CR/88.

    De se esclarecer, ainda, que a reserva para portadores de decincia dever se dar no em

    relao ao cmputo geral das vagas do certame, mas levando em conta a existncia de vagas

    para cada um dos cargos previstos no certame:

    Item 4.1 Ausncia de clareza quanto ao total de vagas oferecidas no concur-

    so para cada cargo, para aferir a incidncia do percentual de 10% do total das

    vagas a candidatos portadores de deficincia.

    Entende o Ministrio Pblico que as regras editalcias devem ser corrigidas,

    prevendo-se a reserva de vagas para cada cargo isoladamente, conforme o dis-

    posto no art. 1, 1, c/c o art. 2, pargrafo nico, da Lei n. 11.867, de 28

    de julho de 1995, que prev:

    Art. 1 Fica a administrao pblica direta e indireta do Estado obrigada a

    reservar 10% (dez por cento) dos cargos ou empregos pblicos, em todos os

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    REVISTA DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAISjulho | agosto | setembro 2009 | v. 72 n. 3 ano XXVII

    229Comentando a Jurisprudncia

    nveis, para pessoas portadoras de deficincia.

    1 sempre que a aplicao do percentual de que trata este artigo resultar emnmero fracionrio, arredondar-se- a frao igual ou superior a 0,5% (cinco

    dcimos) para o nmero inteiro anterior.

    Art. 2 (...)

    Pargrafo nico. O edital do concurso pblico dever especificar, em separa-

    do, a habilitao necessria ao exerccio da atividade e o nmero de vagas

    destinadas s pessoas portadoras de deficincia, considerando-se o percentual

    definido no art. 1 desta lei.

    Voto: Acolho a manifestao do rgo Tcnico e o parecer do Ministrio P-

    blico e voto por determinao ao presidente da COPASA para que faa constarnos editais a reserva de vagas para deficiente especificada para cada cargo

    discriminadamente e no sobre o total geral das vagas oferecidas no concurso,

    observando, no caso, o disposto no enunciado legal ora citado.23

    Outra questo comumente vericvel que a maioria dos Municpios no dispe de legislao

    que regulamente a reserva de vagas para portadores de decincia, sequer estabelecendo o

    percentual a ser observado. Logo, como a disposio constitucional no pode permanecer sem

    gerar efeitos, muitos Municpios recorrem reserva de 5% das vagas, que a mnima estabele-

    cida pelo Decreto Federal n. 3.298/99, verbis:

    Art. 37. Fica assegurado pessoa portadora de deficincia o direito de seinscrever em concurso pblico, em igualdade de condies com os demais can-

    didatos, para provimento de cargo cujas atribuies sejam compatveis com a

    deficincia de que portador.

    1 O candidato portador de deficincia, em razo da necessria igualdade de

    condies, concorrer a todas as vagas, sendo reservado no mnimo o percen-

    tual de 5% em face da classificao obtida.

    2 Caso a aplicao do percentual de que trata o pargrafo anterior resulte

    em nmero fracionado, este dever ser elevado at o primeiro nmero inteiro

    subsequente.

    Precitado decreto regulamenta a Lei n. 7.853, de 24 de outubro de 1989, que, por sua vez,

    dispe sobre a poltica nacional para a integrao da pessoa portadora de decincia, consoli-

    dando normas de proteo. Trata-se, portanto, de lei de normas gerais.

    23Primeira Cmara Sesso: 18/09/08. Relator: Conselheiro Presidente Wanderley vila. Edital de Concurso Pblico n. 760.190.Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais.

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    230 Comentando a Jurisprudncia

    Todavia, a aplicao art. 37, 2, do Decreto n. 3.298/99 pode trazer distores srias in-

    teno do legislador quando disps sobre a possibilidade de se reservarem vagas a portadores

    de decincia. o que ocorre nos casos em que h apenas uma vaga em disputa: o arredonda-mento do nmero fracionado resultar na reserva de 100% das vagas aos decientes. Mesmo na

    hiptese de existirem duas vagas, o arredondamento do nmero obtido a partir da aplicao do

    percentual de reserva redundar em reserva de 50%.

    Nessa toada, em deciso recente e no unnime, os ministros do Supremo Tribunal Federal en-

    tenderam que a reserva de vagas para portadores de decincia somente pode se dar quando

    possvel, sob pena de se desrespeitarem os limites percentuais mnimos e mximos previstos

    em lei, in verbis:

    CONCURSO PBLICO CANDIDATOS TRATAMENTO IGUALITRIO. A regra a

    participao dos candidatos, no concurso pblico, em igualdade de condies.CONCURSO PBLICO RESERVA DE VAGAS PORTADOR DE DEFICINCIA DISCI-

    PLINA E VIABILIDADE. Por encerrar exceo, a reserva de vagas para portadores

    de deficincia faz-se nos limites da lei e na medida da viabilidade consideradas

    as existentes, afastada a possibilidade de, mediante arredondamento, majora-

    rem-se as percentagens mnima e mxima previstas.

    (STF, Pleno. MS 26310. Relator Ministro Marco Aurlio, julgado em 20/09/2007,

    DJe134 Divulgao 30/10/2007. Publicao 31/10/2007 DJ31/10/2007, p. 78)

    O problema que se apresenta na anlise da maioria dos editais apreciados pelo Tribunal de

    Contas, contudo, que a legislao do rgo ou ente realizador do concurso, via de regra, no

    estabelece o limite mximo de reserva, tal qual o fez a Lei n. 8.112/90, que trata do regime ju-rdico dos servidores pblicos civis da Unio, das autarquias e das fundaes pblicas federais,

    limite que foi utilizado pelo Supremo Tribunal Federal para obstar o arredondamento, apesar

    da clara disposio contida no art. 37, 2, do Decreto n. 3.298/99.

    Em que pese a observao aqui feita, a Corte de Contas mineira, por meio da maioria de seus

    conselheiros, tem decidido pela determinao de que seja utilizada a regra do arredondamen-

    to. Todavia, a matria, por apresentar diversos desdobramentos, certamente ainda ser objeto

    de maiores estudos e discusses nesta Casa, como suscitado pelo Conselheiro Antnio Carlos

    Andrada, que divergiu do voto do Conselheiro substituto Gilberto Diniz na Sesso da Primeira

    Cmara do dia 25, no item relativo reserva de vagas para portadores de decincia no editalde concurso da Prefeitura Municipal de Rio Casca (Processo n. 793.843), por ainda no ter con-

    solidado entendimento denitivo sobre o tema.

    7.2 Hoio, locl d lizo d povs su publicidd

    No h nenhuma impropriedade na xao de data provvel de realizao das provas, bem

    como no fato de que os locais de prova e seus horrios sejam posteriormente divulgados, desde

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    231Comentando a Jurisprudncia

    que tais informaes restem disponibilizadas aos candidatos com prazo razovel de antecedn-

    cia realizao das provas.

    salutar que quando da denio de todos esses dados ou no caso de sua eventual alterao

    os candidatos sejam comunicados via postal, alm da publicao em jornal ocial e em jor-

    nais de ampla circulao, bem como no site do rgo ou da empresa realizadora do certame.

    7.3 Povs

    As formas de avaliao utilizadas (provas objetivas, dissertativas, orais, de avaliao psi-

    colgica, etc.) podero ser aplicadas cumulativamente, desde que demonstrada a necessi-

    dade de aferio das mltiplas habilidades dos candidatos, a ser parametrizada justamente

    pelo grau de responsabilidade e complexidade das atividades inerentes ao desempenho de

    determinada funo.

    O edital dever ser claro com relao a todas as etapas do certame, se prevista mais de uma

    prova, estabelecendo os critrios de correo, pontuao, etc.

    Neste ponto, insta esclarecer que o edital poder limitar o nmero de candidatos que iro ser

    convocados a uma nova etapa do certame, independentemente do cumprimento de pontuao

    mnima exigida no edital, conforme j decidido pelo Superior Tribunal de Justia:

    MS 13056 / DF

    Relator(a) Ministro Napoleo Nunes Maia Filho (1133)

    Data da Publicao/Fonte DJe 26/05/2008

    Ementa

    MANDADO DE SEGURANA. CONCURSO PBLICO. PONTUAO SUPERIOR M-

    NIMA EXIGIDA NO EDITAL. NO CLASSIFICADO ENTRE OS 3.000 MELHORES COLO-

    CADOS. DIREITO A REALIZAR A SEGUNDA FASE. INEXISTENTE. EXIGNCIA DO EDI-

    TAL. NOTA MNIMA E CLASSIFICAO. AUSNCIA DE DIREITO LQUIDO E CERTO.

    SEGUNDA FASE J REALIZADA. PERDA DO OBJETO. ORDEM DENEGADA. AGRAVO

    REGIMENTAL PREJUDICADO.

    1. A Administrao tem liberdade para a fixao dos critrios e normas pre-

    vistas no edital, especialmente em relao ao nmero mximo de candidatos

    convocados para participar das fases subsequentes do certame.

    2. Na hiptese dos autos, o edital exigia, para a aprovao segunda fase, a

    realizao da pontuao mnima (32,00) e a classificao entre os 3.000 me-

    lhores colocados.

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    232 Comentando a Jurisprudncia

    3. O impetrante atingiu a pontuao mnima exigida para passar etapa se-

    guinte do concurso, mas no se classificou entre os 3.000 melhores colocados,

    da decorrendo sua eliminao no certame. Ausente, portanto, seu direito l-quido e certo.

    4. Ordem denegada. Prejudicada a apreciao do agravo regimental.

    Alm disso, o contedo de todas as provas dever estar claramente estabelecido no edital,

    sendo facultado administrao adotar, ou no, bibliograa, o que vincular a elaborao das

    questes de provas dentro do espectro programtico previsto.

    De modo geral, as provas objetivas devero atender aos parmetros da proporcionalidade e da

    seletividade, evitando-se, para tanto, questes que privilegiem o conhecimento meramente

    fundado em memorizao, vez que se pretendem selecionar os candidatos mais aptos ao de-sempenho daquelas determinadas funes.

    No que tange s provas dissertativas, muito embora se trate de modalidade de avaliao que,

    em tese, resvala em avaliao subjetiva e casustica, o edital dever conter critrios minima-

    mente objetivos sobre os quais se pautar a correo, recomendando-se, por exemplo, a escala

    de descontos para cada erro por inobservncia dos padres da Lngua Portuguesa.

    As provas orais demandam o prvio conhecimento sobre a banca examinadora, a m de que,

    quando da realizao das avaliaes, evitem-se favorecimentos e/ou constrangimentos a qual-

    quer candidato. Em homenagem ao princpio da publicidade, devem ser feitas em sesso p-

    blica, sendo recomendvel, ainda, sua gravao24, a m de que os candidatos tenham meios

    materiais para o efetivo exerccio do contraditrio e da ampla defesa.25

    As provas de avaliao fsica no podero ser exigidas ao alvedrio da administrao, sem que

    estejam claras as justicativas a amparar tal exigncia26. As datas provveis bem como os cri-

    trios de avaliao a serem exigidos na prova fsica devero estar contidos no edital. Destaca-

    se que no existe bice previso, diante de casos excepcionalssimos e temporrios, de que

    algum candidato realize sua avaliao fsica em data diferente da prevista no edital, desde que

    haja justicativa plausvel e razovel para tanto27, sujeita anlise da comisso responsvel

    pelo concurso.28

    24MAIA, Mrcio Barbosa e QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurdico do concurso pblico e o seu controle jurisdicional. SoPaulo: Saraiva 2007, p. 116.

    25Nesse sentido, noticia-se que o Decreto Federal n. 6.944/2009, publicado em 24 de agosto de 2009, j dispe sobre a exignciade que as provas orais sejam gravadas e realizadas em sesso pblica (art. 13, 3).

    26MAIA, Mrcio Barbosa e QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurdico do concurso pblico e o seu controle jurisdicional. SoPaulo: Saraiva 2007, p. 117.

    27MAIA, Mrcio Barbosa e QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurdico do concurso pblico e o seu controle jurisdicional. SoPaulo: Saraiva 2007, p. 120-1.

    28Anote-se que a jurisprudncia, em alguns casos, tem concedido o direito a candidatos para que realizem testes de aptido f-sica em novas datas, amparando-se, sobretudo, na vericao da existncia de caso fortuito. Vale conferir a seguinte deciso do

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    233Comentando a Jurisprudncia

    As provas de habilidade especca somente se mostram necessrias quando tm o objetivo de

    aferir a habilidade dos candidatos para as atividades inerentes e imprescindveis ao satisfatrio

    desempenho de um cargo, a exemplo da exigncia para o cargo de professor: os candidatoselaboram um plano de aula e ministram a uma banca de examinadores.

    O psicotnico, por seu turno, no pode ser realizado de forma sigilosa, negando-se aos candi-

    datos acesso aos laudos emitidos. Descabe que ele seja previsto como avaliao irrecorrvel e

    amparada, simplesmente, em critrios subjetivos, desacompanhados dos parmetros cient-

    cos de avaliao que sero utilizados pelo avaliados e que devero ser previamente divulgados

    aos candidatos, a m de que eles exeram o seu direito de impugnao29aos termos do edital

    nesse tocante30. Nesse sentido, veja-se a seguinte jurisprudncia:

    Entendo que a avaliao psicolgica prevista no item 12 do edital configura-se

    como grave irregularidade, devendo ser eliminada, por ausncia de previso

    na Lei Complementar Estadual n. 65/2003, consoante apontamento do item 42

    de meu relatrio.

    Supremo Tribunal Federal:RE 527964 / RJRelator: Ministro Joaquim BarbosaPublicao: 09/06/2009DespachoDECISO: Trata-se de recurso extraordinrio (art. 102, III, a, da Constituio) interposto de acrdo proferido pelo Tribunal RegionalFederal da 2 Regio, cuja ementa tem o seguinte teor (s. 180): MANDADO DE SEGURANA. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PBLICO.POLICIAL RODOVIRIO FEDERAL. PROVA DE CAPACIDADE FSICA. REPROVAO. ENFERMIDADE. CASO FORTUITO. NOVA OPORTUNIDADE.PRINCPIO DA ISONOMIA. O edital a lei do concurso e, como tal, vincula as partes. As disposies editalcias inserem-se nombito do poder discricionrio da administrao, o qual no est, porm, isento de apreciao pelo Poder Judicirio, se comprovadailegalidade ou inconstitucionalidade nos juzos de oportunidade e convenincia. O impetrante foi aprovado na prova intelectual, deconhecimentos, no exame psicotcnico e no exame mdico, mas no obteve xito na prova de capacidade fsica, alegando para sua re-provao a ocorrncia de caso fortuito, eis que no estaria em plena forma fsica por acometido de leso lombar intensa, enfermidadecomprovada documentalmente (s. 21), situao que, no entanto, expressamente desprezada nos termos do edital do concurso. Ao Poder Judicirio permitido proceder vericao da legalidade e constitucionalidade do processamento de concurso pblico,seu aspecto formal, sendo-lhe vedada a vericao de critrios subjetivos de avaliao dos candidatos, em respeito ao princpio daindependncia dos poderes, inserto no art. 2 da Constituio Federal. Considerando-se que o candidato submeteu-se ao examefsico na data aprazada, no cabe ao Judicirio avaliar se a limitao de seu desempenho fsico, que o levou reprovao, advinha dealegada enfermidade, a garantir-lhe a realizao de novo teste, mormente quando o edital do concurso descarta expressamente talpossibilidade . A possibilidade de realizao do teste fsico pela segunda vez, aps reprovao, macularia o certame, por violaoao princpio da isonomia, eis que nenhum outro candidato teve tal oportunidade, alm de malferir os termos editalcios, que no pre-vem, sequer, a realizao, em data posterior, de um nico teste, que no fora realizado por caso fortuito. No recurso extraordinrio,aponta-se violao do disposto nos arts. 1, III; 3 IV; 5, caput, I e XXXV; e 37, caput, I, II e IV, da Carta Magna. Argumenta-se quehouve desrespeito aos princpios da igualdade, pelo que se permite que todos os interessados em ingressarem no servio plbico dis-putem a vaga em condies idnticas para todos (s. 190), da isonomia, da moralidade administrativa, dentre outros. A jurisprudn-cia do Supremo Tribunal Federal rmou-se, por ocasio do julgamento do RE 179.500 (Relator Ministro Marco Aurlio, DJ 15/10/1999),no sentido da possibilidade de, por motivos de fora maior, os testes de aptido fsica serem refeitos: CONCURSO PBLICO PROVA

    DE ESFORO FSICO FORA MAIOR REFAZIMENTO PRINCPIO ISONMICO. Longe ca de implicar ofensa ao princpio isonmicodeciso em que se reconhece, na via do mandado de segurana, o direito de o candidato refazer a prova de esforo, em face de motivode fora maior que lhe alcanou a higidez fsica no dia designado, dela participando sem as condies normais de sade. No mesmosentido, em deciso monocrtica, o AI 315.870 (Relator Ministro Celso de Mello, DJ 19/10/2005) e o RE 376.607 (Relator Ministro ErosGrau, DJ 08/08/2005). No caso dos autos, caracterizam-se motivo de fora maior a justicar a realizao de novo exame os problemastemporrios de sade do recorrente comprovados por atestado mdico. Do exposto, nos termos do art. 557, 1 A, do Cdigo deProcesso Civil, dou provimento ao recurso extraordinrio, para restabelecer a sentena proferida a s. 127-129. Publique-se. Braslia,26 de maio de 2009. Ministro Joaquim Barbosa.

    29MAIA, Mrcio Barbosa e QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurdico do concurso pblico e o seu controle jurisdicional. SoPaulo: Saraiva 2007, p. 131-132.

    30A realizao do exame psicotcnico est condicionada, pelo mesmo Decreto Federal n. 6.944/2009, existncia de previso legalexpressa especca e dever estar prevista no edital (art. 14).

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    234 Comentando a Jurisprudncia

    Cabe-me ressaltar o entendimento do Superior Tribunal de Justia acerca da

    impossibilidade de previso de psicotcnico quando no houver lei autorizati-

    va anterior, consubstanciada no Agravo Regimental em Mandado de Seguranan. 2007/0261958-7, publicado em 18/08/2008, segundo o qual o psicotcnico

    s tem sua legalidade subordinada a trs pressupostos: previso legal, cien-

    tificidade dos critrios adotados e poder de reviso. Nessa mesma esteira de

    entendimento a orientao jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, em

    sua Smula n. 686.31

    Ainda no tocante avaliao psicolgica, consoante esposado alhures, sua realizao somente

    ser possvel se existente a previso legal32, alm do que, por bvio, este tipo de avaliao

    somente poder ser cogitada como de carter eliminatrio, dada sua evidente nalidade de ve-

    ricar a aptido, ou no, do candidato ao exerccio de determinado cargo. Incabvel, portanto,

    falar-se em avaliao psicolgica com objetivo classicatrio. Nesse sentido:

    3. Todavia, no que diz respeito previso de avaliao psicolgica para os car-

    gos de agente patrimonial, educador infantil e professor de pr a quarta sem

    respaldo legal, trata-se de vcio grave, contrrio ordem constitucional.

    Com efeito, dispe o inciso I do art. 37 da CR/88:

    I os cargos, empregos e funes pblicas so acessveis aos brasileiros que

    preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na

    forma da lei;

    Do dispositivo legal transcrito, surge a possibilidade de aferio da situao

    individual de cada concorrente mediante exames especficos de acordo com a

    necessidade da administrao, como o mdico, o fsico e o psicotcnico.

    Entretanto, o requisito deve estar expresso na lei que regula o certame ou

    na que fixa os pressupostos de preenchimento do cargo, sendo inadmissvel a

    imposio meramente editalcia, em resolues e demais atos regulamentares

    infralegais.

    Este o entendimento preconizado pelo Supremo Tribunal Federal:

    EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINRIO. CONSTITUCIO-NAL. CONCURSO PBLICO. EXAME PSICOTCNICO. Esta Corte firmou entendi-

    mento no sentido de que somente lei em sentido formal pode exigir o exame

    psicotcnico. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento.(AgR

    no RE 342405/RN, Relator Ministro Eros Grau, DJ22/04/05)

    31Segunda Cmara Sesso: 02/12/08. Relatora: Conselheira Adriene Andrade. Edital de Concurso Pblico n. 760.740. DefensoriaPblica do Estado de Minas Gerais.

    32MAIA, Mrcio Barbosa e QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurdico do concurso pblico e o seu controle jurisdicional. SoPaulo: Saraiva 2007, p.127-128.

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    235Comentando a Jurisprudncia

    No mesmo sentido, tambm decidiu o Superior Tribunal de Justia:

    DIREITO ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINRIO EM MANDADO DE SEGURANA.CONCURSO PBLICO. CURSO DE FORMAO DE OFICIAIS DA POLCIA MILITAR.

    EXAME PSICOLGICO. POSSIBILIDADE. PREVISO LEGAL. CRITRIOS OBJETIVOS.

    RECORRIBILIDADE. RECURSO IMPROVIDO.

    1. Admite-se a exigncia de aprovao em exame psicolgico para provimento

    de certos cargos pblicos, com vistas avaliao pessoal, intelectual e profis-

    sional do candidato. No entanto, tal exigncia deve estar prevista legalmente,

    ser pautada por critrios objetivos e permitir a interposio de recurso pelo

    candidato que se sentir lesado, requisitos presentes na hiptese.

    2. Recurso ordinrio improvido. (RMS 23163/MT, Ministro Arnaldo Esteves de

    Lima 5 Turma DJ19/05/2008).

    Dessa forma, no resta dvida de que possvel a incluso do exame psicolgi-

    co no edital de concurso pblico, para certos cargos que demandem a aferio

    de certos traos individuais do candidato, desde que previsto em lei.33

    Finalmente, com relao prova de ttulos, tem-se que ela no poder ser o nico critrio de

    seleo, de acordo com a clara previso constitucional de que o acesso aos cargos e empregos

    pblicos dever se dar por meio de aprovao em concurso de provas ou de provas e ttulos.

    Assim, em se optando por tambm pontuar os candidatos de acordo com os ttulos que eles apre-

    sentarem, a Administrao Pblica dever estabelecer objetivamente o que ser consideradocomo ttulo, sua respectiva pontuao e o mximo de pontos atribuveis pela cumulao de cada

    tipo de ttulo apresentado. Caber, contudo, a atribuio de pontuao por cada ttulo, tendo

    como parmetro espectro de notas possveis, haja vista que a avaliao de produo cientca

    no pode se dar totalmente apartada da anlise do contedo de artigos e publicaes.

    De se destacar, todavia, que a nota nalmente aplicada dever estar justicada e amparada

    em critrios minimamente objetivos que hajam sido traados e publicizados com antecedncia

    pela prpria administrao. Neste sentido, asseverou o Conselheiro substituto Gilberto Diniz:

    Compulsado o ato convocatrio retificado, verifica-se que foi atendida a de-

    terminao do Tribunal, com o estabelecimento de critrios para avaliao dos

    ttulos dos candidatos ao concurso sob exame. Para os ttulos mencionados nos

    itens I, II e III, foi fixado critrio objetivo para avali-los, com notas individua-

    lizadas, limitadas a 25 pontos. guisa de exemplo, o diploma de doutorado, na

    rea do concurso, vale 25 pontos, sendo que, em rea afim, vale 20 pontos.

    33Primeira Cmara Sesso: 16/06/09. Relator: Conselheiro Antnio Carlos Andrada. Edital de Concurso Pblico n. 770.584. Pre-feitura Municipal de Uberlndia.

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    236 Comentando a Jurisprudncia

    Impressionam, entretanto, os critrios fixados no item IV, letras a, be c, e nos

    itens VI e VII do quadro que compe o subitem 7.3.1.1 porquanto conferem

    discricionariedade na pontuao dos ttulos neles especificados, o que ensejasubjetivismo na avaliao a ser feita pela banca.

    que ficaria a cargo da comisso examinadora atribuir ponto, dentro de uma

    faixa estabelecida, s produes cientficas, filosficas, tecnolgicas, literrias

    e artsticas, bem como s publicaes de escritos, s atividades de extenso

    universitria e s outras atividades que demonstram experincia cientfica,

    tcnica ou artstica.

    Exemplificando, a publicao de artigo cientfico completo em peridico inde-

    xado, nacional e internacional de nvel A, poder receber de 4 a 10 pontos por

    trabalho, a critrio da banca examinadora.

    Para justificar a fixao desse critrio para tais itens, depreende-se das razes

    apresentadas pela UEMG que, em se tratando de criao intelectual, no basta

    a simples comprovao do ttulo, h necessidade de a banca avaliar, sobretudo,

    a qualidade e relevncia do trabalho, a regularidade da produo e se est

    relacionada rea fim ou meio.

    Aps refletir, com mais vagar, sobre a matria, sopesando at as peculiaridades

    dos trabalhos que podero ser apresentados, parecem-me plausveis as razes

    da entidade.

    que tais quesitos dizem respeito, entre outros, publicao e produo detrabalhos filosficos, tecnolgicos, cientficos, artsticos, coordenao de pro-

    gramas, que incluem, concertos, como solista ou regente, composio de obra

    musical, produo de trilha sonora. De fato, seria temerrio atribuir pontuao

    exata pela simples comprovao de ttulos dessa natureza, sob pena de nivelar

    os candidatos por baixo ou para cima, pois no seriam considerados e avaliados

    o contedo do trabalho, a periodicidade de produo a repercusso, at inter-

    nacional, nos meios cientfico, acadmico e artstico conforme o caso.

    Sensvel a essas questes e visando a compatibilizar o critrio eleito pela UEMG

    para valorar os trabalhos descritos nesses itens com o comentado princpio da

    impessoalidade, entendo que deva ser inserida, no edital, clusula especifi-cando que, nos casos em que h discricionariedade da banca examinadora para

    valorar os ttulos apresentados pelos candidatos, a pontuao por ela atribuda

    dever ser expressamente motivada.

    A motivao nesse caso perfeitamente possvel e constitui elemento indis-

    pensvel para validade do ato, tendo em vista que a discricionariedade da

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    237Comentando a Jurisprudncia

    banca examinadora no deve decorrer da razo pura, ou seja, da noo de

    verdade pela simples intuio, mas sim da tcnica. Equivale dizer, nos concur-

    sos pblicos, a liberdade de escolha da banca examinadora deve sempre serbalizada pela cincia e pela tcnica, da porque a sua atuao pode e deve ser

    motivada.34

    A atribuio de pontos por ttulos dever ser equivalente ao grau de diculdade para obteno

    do mesmo, devendo ser, por exemplo, os pontos atribudos a ttulos de ps-graduao stricto

    sensusuperiores queles que se atribuem a uma ps-graduao lato sensu.

    4) Dos ttulos O subitem 3.2.1 atribui a mesma pontuao aos ttulos de es-

    pecializao, mestrado e doutorado 1 (um) ponto para cada, at o mximo

    de 3 (trs), valendo essa regra para todos os cargos.

    Existe, porm, a possibilidade de escalonar a pontuao dos ttulos de acordo

    com a complexidade para obt-lo, isto , alcanar um ttulo de doutorado ,

    sem dvida, mais complexo que um de especializao.

    Assim, entendo que deveria ser alterada a pontuao dos ttulos no referido

    item, valorizando, em ordem decrescente de pontos, o doutorado, o mestrado

    e a especializao.35

    A apresentao dos documentos comprobatrios dos ttulos poder se dar quando do momento

    da inscrio, sendo mais interessante, contudo, a previso de que a entrega desses comprovan-

    tes ocorra em poca prpria, aps a realizao das provas. A inteno, com tal medida, no

    prejudicar aqueles, por exemplo, que poca das inscries estavam a poucos dias de concluir

    curso de especializao.

    7.4 Ciios d dsp

    Tendo em vista a possibilidade de empate, isto , de dois ou mais candidatos obterem notas

    iguais, o edital dever estabelecer critrios de desempate como o faz a Lei n. 10.741/03 (Esta-

    tuto do Idoso). Sobre o tema, j se pronunciou o Tribunal de Contas da Unio, quando apreciou

    a Representao TC-007.232/2005-8:

    A partir da entrada em vigor do Estatuto do Idoso, a discricionariedade doadministrador para a adoo de critrios de desempate em concursos pblicos

    foi mitigada. O Estatuto do Idoso, consignado na Lei n. 10.741, de 01/10/2003,

    regulamenta os direitos assegurados s pessoas com idade igual ou superior a

    sessenta anos. A prpria Constituio Federal, no art. 230, impe como dever

    34Primeira Cmara Sesso: 11/09/08. Relator: Conselheiro substituto Gilberto Diniz. Edital de Concurso Pblico n. 757.091. Uni-versidade do Estado de Minas Gerais UEMG.

    35Primeira Cmara Sesso: 04/12/08. Relator: Conselheiro substituto Gilberto Diniz. Edital de Concurso Pblico n. 766.000.Prefeitura Municipal de Planura.

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    do Estado o amparo diferenciado s pessoas idosas.

    Nesse diapaso, o pargrafo nico do art. 27 da Lei n. 10.741/2003, crista-lino ao estabelecer como privilgio ao cidado brasileiro com sessenta anos

    ou mais a idade como primeiro critrio de desempate em concurso pblico,

    dando-se preferncia ao de idade mais elevada. Assim, quando um idoso parti-

    cipar de concurso pblico e fizer o mesmo nmero de pontos de um candidato

    menor de sessenta anos, aquele ter preferncia a esse independentemente

    de quaisquer outros critrios de desempate. O mesmo privilgio deve ser dado

    para o idoso com idade mais avanada do que outro idoso.36

    Quanto ordem de considerao dos critrios de desempate, quando estiver tambm em ques-

    to o critrio idade, tem-se o seguinte pronunciamento do Tribunal de Contas do Estado de

    Minas Gerais:

    5) Dos critrios de desempate O subitem 5.3.1 que dispe sobre os critrios

    de desempate considera como primeiro item o mais idoso,sobrepondo-se aos

    outros critrios que tratam das notas obtidas nas provas do concurso.

    Segundo os apontamentos do rgo Tcnico, tal disposio encontraria amparo

    na Lei Federal n. 10.741/2003, Estatuto do Idoso, que estabelece:

    Art. 27. Na admisso do idoso em qualquer trabalho ou emprego, vedada a

    discriminao e a fixao de limite mximo de idade, inclusive para concursos,

    ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir.

    Pargrafo nico. O primeiro critrio de desempate em concurso pblico ser a

    idade, dando-se preferncia ao de idade mais elevada.

    Frisa-se, porm, que o mesmo texto legal regulamenta no primeiro artigo:

    Art. 1 institudo o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegu-

    rados s pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos.

    Depreende-se que o critrio de desempate adotado no edital em exame s

    teria efeito para candidatos idosos que obtiverem notas iguais, o que, obvia-

    mente, no deve ser considerado como regra.

    Dessa forma, se o critrio de idade passa a sobrepor-se pontuao alcanada

    nas provas, ocorre prejuzo para os candidatos que, efetivamente, apresenta-

    ram maior nvel de conhecimento.

    Deve-se, portanto, inverter no texto editalcio as condies do subitem 5.3.1,

    impondo, como ltimo critrio definidor do desempate, a preferncia pelo

    candidato de idade mais avanada.

    36 Plenrio Sesso: 25/05/2005. Relator: Ministro Ubiratan Aguiar. Representao n. TC-007.232/2005-8. Advocacia Geral da Unio.

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    239Comentando a Jurisprudncia

    Sobre a matria cabe citar o posicionamento do Procurador do Ministrio Pbli-

    co junto ao Tribunal, Glaydson Santo Soprani Massaria, no Processo