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DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO

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DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO

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LUIZ EDUARDO GUNTHER

RÚBIA ZANOTELLI DE ALVARENGA

(Coordenadores)

JULIANA CRISTINA BUSNARDO

ANDRÉA DUARTE SILVA

(Organizadoras)

DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO

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EDITORA LTDA.© Todos os direitos reservados

Rua Jaguaribe, 571CEP 01224-003São Paulo, SP – BrasilFone (11) 2167-1101www.ltr.com.brMaio, 2016

Versão impressa: LTr 5457.0 — ISBN: 978-85-361-8811-9

Versão digital: LTr 8925.8 — ISBN: 978-85-361-8817-1

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Discriminação no trabalho / Luiz Eduardo Gunther,

Rúbia Zanotelli de Alvarenga (coordenadores); Juliana Cristina Busnardo, Andréa Duarte Silva (organizadoras). -- São Paulo : LTr, 2016. Vários colaboradores.

Bibliografia.

1. Discriminação no trabalho - Brasil 2. Igualdade perante a lei - Brasil 3. Relações de trabalho I. Gunther, Luiz Eduardo. II. Alvarenga, Rúbia Zanotelli de. III. Busnardo, Juliana Cristina. IV. Silva, Andréa Duarte.

16-02778 CDU-34:331.048.1

Índice para catálogo sistemático:

1. Discriminação no trabalho : Direito do trabalho 34:331.048.1

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Colaboradores

Adriana de F. Pilatti Ferreira Campagnoli: Doutoranda em Direito Econômico e Socioambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR). Mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Professora Assistente do Departamento de Direito do Estado, do Curso de Direito da Universidade Es-tadual de Ponta Grossa (UEPG). Professora do Curso de Especialização em Direito e Processo do Trabalho da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR). Advogada.

Ana Carolina Comelli: Acadêmica do curso de Direito – 8º período / 4º ano – do Centro Universitário Curitiba. Es-tagiária de Direito na empresa Irmãos Passaura S/A.

Caroline Maria Rudek Wojtecki: Graduanda do curso de Direito do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba).

Edson Beas Rodrigues Jr: Bacharel e Doutor pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Advogado e consultor.

Eduardo Milleo Baracat: Doutor e Mestre em Direito pela UFPR. Professor do Programa de Mestrado em Direito, e pós-graduação do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba). Juiz Titular da 9ª Vara do Trabalho de Curitiba – PR.

Flávia Xavier de Carvalho: Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá. Doutoranda em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Servidora do INSS.

Gustavo Filipe Barbosa Garcia: Livre-Docente pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Doutor em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Especialista em Direito pela Universidad de Sevilla. Pós--Doutorado em Direito pela Universidad de Sevilla. Membro Pesquisador do IBDSCJ. Membro da Academia Brasileira de Direito do Trabalho, Titular da Cadeira 27. Professor Universitário em Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito. Advogado e consultor jurídico. Foi Juiz do Trabalho da 2ª, 8ª e 24ª Regiões, ex-Procurador do Trabalho do Ministério Público da União e ex-Auditor-Fiscal do Trabalho.

Ilse Marcelina Bernardi Lora: Mestre em Direito pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc). Juíza do Trabalho no Paraná.

Ivanes da Glória Mattos: Advogada da Copel – Companhia Paranaense de Energia. Formada em Direito pela Unicuritiba. Formada em Ciências Contábeis pela Faculdade Católica de Administração e Economia (FAE). Pós--Graduada no curso de Gestão Estratégica das Organizações. Mestranda do curso de Direito Empresarial e Cidadania, na Unicuritiba.

José Claudio Monteiro de Brito Filho: Doutor em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Professor do Programa de Pós-Graduação e do Curso de Graduação do Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa). Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA). Titular da Cadeira nº 26 da Academia Brasileira de Direito do Trabalho.

José Edmilson de Souza Lima: Licenciado e Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná, Mes-tre em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente é pesquisador associado do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento (UFPR), pesquisador e docente do Mestrado em Direito do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba) e Coordenador do Núcleo de Pesquisa do Instituto Municipal de Administração Pública de Curitiba. Publi-cou dezenas de artigos em periódicos internacionais e nacionais e livros em diversas editoras. Suas pesquisas estão con-centradas nas Ciências Ambientais a partir de portes sociológicos e seus interesses estão associados aos seguintes temas: sustentabilidade, políticas públicas e meio ambiente.

Juliana Cristina Busnardo: Assistente de Gabinete de Desembargador – Servidora do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Mestre em Direito Empresarial e Cidadania pelo Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), Especialista em Direito Empresarial pelo Instituto Brasileiro de Estudos Jurídicos (IBEJ), Graduada em Direito pela Pontifícia Univer-sidade Católica do Paraná (PUC/PR)

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Luciane Maria Trippia: Mestre em Direito Empresarial e Cidadania pela Unicuritiba/PR, Professora de Direito Previ-denciário do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba). Advogada.

Luiz Eduardo Gunther: Professor do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba); Desembargador do Trabalho junto ao TRT da 9ª Região; Doutor em Direito do Estado pela UFPR; Membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, do Centro de Letras do Paraná e da Associação Latino-Americana de Juízes do Trabalho (ALJT).

Márcia Kazenoh Bruginski: Formada em Direito pelas Faculdades Integradas Curitiba (atual Unicuritiba – Centro Universitário Curitiba), com pós-graduação em Ciências Jurídicas pela Universidade Católica Portuguesa, especialização conducente ao mestrado e mestre em Ciências Jurídicas/Direito do Trabalho pela Faculdade de Direito de Lisboa (2006). Atuação profissional em Direito do Trabalho desde 1999. Professora de Direito do Trabalho e Chefe do Departamento de Direito Privado na Unicuritiba – Centro Universitário Curitiba.

Miriam Cipriani Gomes: Mestre em Direito Empresarial e Cidadania pelo Centro Universitário Curitiba e professora de Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho da mesma instituição.

Mônica Sette Lopes: Desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. Professora associada da Facul-dade de Direito da UFMG. Doutora em filosofia do direito.

Rúbia Zanotelli de Alvarenga: Doutora e Mestre em Direito do Trabalho pela PUC Minas. Professora Titular do Cen-tro Universitário do Distrito Federal (UDF), Brasília. Advogada.

Silvana Souza Netto Mandalozzo: Mestre e Doutora em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Professora na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Juíza do Trabalho. Membro da Academia Paranaense de Direito do Trabalho.

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sumário

Prefácio ..................................................................................................................................................... 9Juliana Cristina Busnardo

caPítulo 1 – a lei de cotas Para Pessoas com deficiência em emPresas: uma análise aPlicada ................... 15Ana Carolina Comelli e Miriam Cipriani Gomes

caPítulo 2 – o trabalho da mulher, o PrincíPio da igualdade e o intervalo do art. 384 da clt ............ 27Caroline Maria Rudek Wojtecki e Márcia Kazenoh Bruginski

caPítulo 3 – discriminação visual e suas diversas dimensões: aschimofobia, discriminação etária, dis-criminação Étnico-racial e discriminação cultural .................................................................................. 33Edson Beas Rodrigues Jr.

caPítulo 4 – gênero: uma história de luta no brasil ................................................................................ 45Flávia Xavier de Carvalho e Silvana Souza Netto Mandalozzo

caPítulo 5 – Proibição de discriminação e certidão de antecedentes criminais na admissão de emPregado . 51Gustavo Filipe Barbosa Garcia

caPítulo 6 – direitos fundamentais e o Problema da discriminação em razão da origem nas relações de trabalho .................................................................................................................................................... 55Ilse Marcelina Bernardi Lora

caPítulo 7 – a discriminação das minorias no ambiente de trabalho: a desvalorização dos homoafetivos no ambiente de trabalho............................................................................................................................ 67Ivanes da Glória Mattos e José Edmilson de Souza Lima

caPítulo 8 – a discriminação e o trabalho da mulher .............................................................................. 77José Claudio Monteiro de Brito Filho

caPítulo 9 – a discriminação da mulher negra no mercado de trabalho e as Políticas Públicas ........... 83Luciane Maria Trippia e Eduardo Milleo Baracat

caPítulo 10 – o hiv e a aids: Preconceito, discriminação e estigma no trabalho – aPlicação da súmu-la 443 do tribunal suPerior do trabalho .................................................................................................. 93Luiz Eduardo Gunther

caPítulo 11 – discriminação no trabalho: Práticas discriminatórias e mecanismos de combate ................ 107Márcia Kazenoh Bruginski

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caPítulo 12 – Pela mão de alice: o trabalho da mulher e o surPreendente da história .......................... 113Mônica Sette Lopes

caPítulo 13 – discriminação racial e assÉdio moral no trabalho ............................................................ 119Rúbia Zanotelli de Alvarenga

caPítulo 14 – a inclusão de Pessoas deficientes – uma análise do direito social ao trabalho sob a Pers-Pectiva da não discriminação .................................................................................................................... 127Silvana Souza Netto Mandalozzo e Adriana de F. Pilatti Ferreira Campagnoli

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PrefáCio

Extremamente gratificada, recebi o convite dos Exmo. Dr. Luiz Eduardo Gunther e da Exma. Dra. Rúbia Zanotelli de Alvarenga, coordenadores do livro “Discriminação no Trabalho”, para prefaciar a excepcional obra coletiva ora apre-sentada à comunidade jurídica nacional, incumbência realizada com extrema felicidade por provir de pesquisadores de notável competência, dedicação e amor obstinado ao estudo da Ciência Jurídica, com trajetória profissional pautada por singulares produções científicas sobre temas carentes de uma visão apurada e precisa, admiravelmente retratadas nos estudos apresentados.

O primeiro capítulo do livro, de autoria de Ana Carolina Comelli e Miriam Cipriani Gomes, denomina-se “A Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência em Empresas: Uma Análise Aplicada”. Registram as autoras a existência de vasta legislação inclusiva aos portadores de deficiência, ressaltando dificuldades de ordem moral (preconceito), física, social (precariedade de atendimento na rede pública de saúde), intelectual (nível de instrução quanto ao conhecimento da existência de políticas inclusivas, bem como a ausência de qualificação profissional para o desempenho da função) e política (mobilidade urbana, acessibilidade no próprio ambiente de trabalho e falta de incentivos fiscais e financeiros às empresas) no momento da contratação, barreiras impeditivas do pleno acesso aos direitos existentes. Discorrem sobre o sistema de cotas baseado no princípio constitucional da igualdade e da consequente não discriminação dos grupos social-mente excluídos assentado em ações afirmativas, apontando falhas nas políticas públicas, fortemente comprometedoras do efetivo implemento das disposições normativas. Defendem a necessidade do aprimoramento das carências apontadas de responsabilidade do Estado, as quais não devem ser transferidas ao empregador por se traduzirem em mais obstáculos à inserção das pessoas portadoras de deficiência no mercado de trabalho.

O segundo capítulo, escrito por Caroline Maria Rudek Wojtecki e Márcia Kazenoh Bruginski, tem por titulo “O Trabalho da Mulher, o Princípio da Igualdade e o Intervalo do Artigo 384 da CLT”. Explicam as autoras ter sido o trabalho da mulher lentamente regulado, surgindo leis esparsas fruto de reivindicações baseadas na igualdade de gênero, dentre as quais a do intervalo previsto no artigo 384 da CLT. Analisam a constitucionalidade do dispositivo legal sob o questio-namento se a aplicação como forma de discriminação em razão do sexo, à medida que privilegia a mulher, importa em afronta aos preceitos igualitários estabelecidos na Constituição. Verificam a existência de três correntes questionadoras da validade e do alcance do descanso previsto: a primeira que o considera recepcionado pela Constituição em razão das peculiaridades biológicas e fisiológicas das mulheres, traduzidas em uma menor resistência física às jornadas extraordiná-rias, considerando plenamente vigente o descanso previsto, entendimento compartilhado pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Tribunal Superior do Trabalho; a segunda que preceitua sua revogação tácita ante a incompatibilidade aos ditames do art. 5º, I, e art. 7º, XXX, da CF/88, notadamente por sua não extensão aos homens; e, por fim, a terceira corrente, que, além de estabelecer a constitucionalidade do dispositivo, faz interpretação ampliativa e o estende aos homens, em nome da não discriminação e da igualdade constitucional, fazendo as articulistas um contraponto aos juristas que entendem ser a prerrogativa exclusiva das mulheres. À vista das divergências doutrinárias e jurisprudenciais, apontam a necessidade de uniformização de entendimentos, em especial dos Tribunais trabalhistas, a fim de evitar injustiças quanto à aplicação ou não do intervalo.

O terceiro capítulo de autoria de Edson Beas Rodrigues Jr. é designado “Discriminação Visual e suas Diversas Dimensões: Aschimofobia, Discriminação Etária, Discriminação Étnico-Racial e Discriminação Cultural”. Atesta a exis-tência de diversos acordos internacionais dedicados à repressão das diversas formas de discriminação, com ênfase à Convenção 111 da OIT. Aborda a questão das discriminações existentes tanto na fase pré-contratual quanto na execução do contrato, dentre as quais aquela em razão da aparência, chamada “discriminação visual”, a qual contempla a aschi-mofobia ou a discriminação estética (discriminação contra os feios), a discriminação etária, a discriminação étnico-racial e a discriminação cultural. Explica que o tema é pouco debatido no Brasil, sendo necessário explicitá-lo a fim de tornar mais efetivo seu combate. Na discriminação etária, aponta os problemas do idoso ou de faixas etárias não tão avançadas (30-40 anos) para se inserir no mercado ou manter-se ativo economicamente. Na aschimofobia ou discriminação estética, explica ser ela dirigida contra os feitos, pois a beleza permanece sendo uma das principais forças propulsoras da economia e da vida. Destaca residir a principal dificuldade no combate a tal conduta no fato de ocorrer de forma velada e também por ser equivocadamente tratada como um fato da vida, e ser tolerado, e não como um ilícito. Explica ser a discriminação

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geralmente acompanhada da discriminação etária (gerontofobia), pois ainda que a beleza possa estar presente em qual-quer faixa etária, é na juventude que ela se concentra. Alerta estar ela ligada, ainda, à discriminação genética, no sentido de admitir somente um determinado fenótipo de indivíduos dotados de características físicas valorizadas ou hostilizadas pela maioria da sociedade; relacionada à discriminação quanto à origem social, já que algumas características físicas va-lorizadas podem ser apresentadas como decorrência de investimentos realizados pelos indivíduos para a melhoria de sua imagem; bem como à discriminação racial, pois o padrão de beleza preponderante, não obstante a miscigenação do povo brasileiro, ainda permanece o europeu. Quanto à discriminação cultural e religiosa, menciona a mudança de paradigma ocorrida no direito internacional em favor do multiculturalismo e entende que a ampliação da diversidade cultural da sociedade brasileira tende a ampliar os casos desse tipo de conduta. Conclui o autor que a discriminação visual sempre foi praticada e continuará a ser por um longo período, em razão da forma oculta de sua ocorrência; entretanto, entende que o Poder Judiciário deve aceitar diversos tipos de prova para reprimir a prática que prejudica a sociedade como um todo, pautando-se no príncípio da proporcionalidade como proibição de excesso, de forma a legitimar-se alguma exigên-cia quanto aos aspectos tratados somente se for extremamente necessária, no sentido de não haver outras alternativas disponíveis para o empregador que permitam alcançar o mesmo objetivo legítimo por ele perseguido.

O quarto capítulo, escrito por Flávia Xavier de Carvalho e Silvana Souza Netto Mandalozzo, intitula-se “Gênero: Uma História de Luta no Brasil”. Referem as autoras a questão da desigualdade de gênero na sociedade brasileira, sua intersecção com as lutas feministas que objetivam direitos iguais e vivência desprovida de padrões opressores de forma a legitimar o espaço de inserção social e a compreensão de indicadores sociais sobre a realidade contemporânea das mu-lheres, os quais demonstram paradoxalmente maior nível de escolaridade e rendimento das mulheres; entretanto, menor inclusão nos campos de trabalho. Diante das constatações dos indicadores apresentados, reveladores dos significativos avanços conquistados pelo discurso feminista, todavia incapazes de afastar, na prática, a hierarquização das relações de gênero, de forma a avistar uma dupla exploração da mulher no século XXI, a de conciliar longas jornadas de trabalho com a luta diária por reconhecimento de direitos.

O quinto capítulo, de autoria de Gustavo Filipe Barbosa Garcia, centra-se no tema “Colisão de Direitos Fundamen-tais: Certidão de Antecedentes para Admissão de Empregado”. Reflete o autor sobre a licitude da conduta do empregador de solicitar certidão de antecedentes criminais para a admissão do empregado, salientando serem oponíveis a tal exi-gência os direitos fundamentais à privacidade e à não discriminação em contraposição à leis infraconstitucionais que a legitimam sob a égide da prevalência dos princípios fundamentais do acesso à informação e de obtenção de certidões em repartições públicas. Entende que a questão deve ser examinada sob o enfoque da colisão de princípios relativos a direitos fundamentais, de forma a legitimar constitucionalmente a restrição aos direitos à privacidade e à não discriminação na obediência ao princípio da proporcionalidade (adequação e necessidade). Entende somente ser justificável a exigência se as circunstâncias do caso concreto se mostrem imprescindíveis ao regular e seguro exercício da função, ao passo que, se referidas informações não forem essenciais, deve prevalecer o respeito à privacidade, sob pena de configuração de conduta discriminatória.

O sexto capítulo, de autoria de Ilse Marcelina Bernardi Lora, denomina-se “Direitos Fundamentais e o Problema da Discriminação em Razão da Origem nas Relações de Trabalho”. Aborda a autora o problema da discriminação em razão da origem nas relações de trabalho, analisando o potencial de combate à perversa realidade das condutas segregacionistas decorrentes dos processos relacionados com a globalização, que subverte a premissa essencial da gênese do Direito do Trabalho, qual seja a proteção da força de trabalho do homem e de sua dignidade. Discorre sobre os problemas semânti-cos entre direitos humanos e fundamentais, ressaltando a crise da teoria sobre seus fundamentos a fim de distinguí-los, justificá-los e protegê-los, bem como sobre a função dos direitos fundamentais na ordem jurídica, destacando a de não discriminação como função básica e elementar para garantir que o Estado trate todos como iguais, legitimando as ações afirmativas, o sistema de cotas para minorias e a garantia de direitos a grupos minoritários. Relaciona os direitos funda-mentais à dignidade humana, ressaltando na esfera laboral a necessidade de valorização da integridade física, psíquica e moral do empregado, o que abrange o direito de não ser discriminado. Neste contexto, analisa a eficácia dos direitos fun-damentais entre particulares para coibir eventuais abusos por parte do empregador quanto à discriminação por origem, destacando-se os fundados em questões raciais e aqueles que atingem o estrangeiro e os trabalhadores oriundos de regiões menos desenvolvidas e pobres. Destaca a importância dos direitos humanos, na categoria dos direitos fundamentais para o respeito ao direito à diferença e à tolerância realçados pelos intercâmbios culturais e pelo crescente deslocamento de trabalhadores no mundo globalizado.

O sétimo capítulo, escrito por Ivanes da Glória Mattos e José Edmilson de Souza Lima, tem por título: “A Discrimi-nação das Minorias no Ambiente de Trabalho: a Desvalorização dos Homoafetivos no Ambiente de Trabalho”. Explicam os autores que, embora não mencionado explicitamente na Constituição, o preconceito em relação à orientação sexual como uma prática discriminatória, rechaçado por nosso ordenamento e inserido no contexto dos princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade e da liberdade. Discorrem sobre as diversas formas de discriminação disseminadas pela sociedade e elencam os instrumentos jurídicos internos e externos de proteção e combate à discriminação do trabalhador

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homoafetivo nas relações de emprego. Destacam a atividade jurisdicional como última alternativa, porém eficaz, para inibir condutas lesivas dirigidas aos direitos dos homoafetivos, a qual tem inovado suas posições e ampliado a efetividade da garantia de receber um tratamento isonômico em relação aos demais trabalhadores e da eliminação da desigualdade de oportunidades no mercado de trabalho.

O oitavo capítulo, de autoria de José Cláudio Monteiro de Britto, denomina-se “A Discriminação e o Trabalho da Mulher”. Explica o articulista noções básicas sobre discriminação, tipos de estigma e preconceito que violam o principio da igualdade e da dignidade da pessoa humana, alertando sobre a necessidade de neutralizar ou minimizar essas desi-gualdades por meio de ações estatais de repressão ou de condutas ativas que permitam a inclusão das pessoas excluídas. Afirma que o combate às práticas discriminatórias contra a mulher no ambiente de relação de trabalho é feito a partir de diversas normas jurídicas nacionais e internacionais, havendo nestas últimas maior destaque às normas classificadas no modelo repressor. Menciona normas internacionais de eliminação de formas de discriminação contra a mulher inse-ridas na Constituição da Espanha, nas Convenções da OIT, nas normas da ONU e do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos. No plano nacional, cita preceitos da Constituição, da Consolidação das Leis do Trabalho e de leis esparsas que reprimem e também estimulam a inclusão da mulher no mercado de trabalho. Entende ser o conjunto de normas suficiente para proteger a mulher na relação de trabalho, mormente por se tratar do principal meio de subsistência das pessoas, devendo estar a legislação à disposição de todos aqueles que reunirem os requisitos para a prestação do trabalho, não podendo ele depender de razões arbitrárias e sem motivação lícita, como o gênero de quem o postula.

O nono capítulo, escrito por Luciane Maria Trippia e Eduardo Milléo Baracat, tem por título “A Discriminação da Mulher Negra no Mercado de Trabalho e as Políticas Públicas”. Mencionam os autores que com a globalização o mercado de trabalho tem sofrido os processos de exclusão dos grupos vulneráveis, notadamente em relação à trabalhadora negra, surgindo novos desafios sociais. Enfatizam ser o Brasil o país que concentra o maior percentual de população negra fora do continente africano e, a despeito da população ser altamente miscigenada, há discriminação em relação à raça negra, ainda que de forma velada. Explicam que não obstante tenha havido elevado acesso de mulheres negras ao mercado de trabalho, permanece a restrição de mulheres em geral em alguns segmentos, tanto na área pública quanto na área privada, notadamente pelo fato de a mulher ocupar atividades menos remuneradas e com menos prestígio em relação ao homem. Relatam que, não obstante possuírem maior nível de escolaridade, as mulheres participam menos do mercado de trabalho, agravadas pelas atribuições familiares a elas atribuídas pela sociedade, com reflexos ainda mais acentuados em relação às mulheres negras. Tratam das políticas públicas nacionais e internacionais que promovem uma efetiva democracia racial, ressaltando a atuação dos Poderes Legislativo (destaque para o sistema de cotas que apesar de não se referirem ao mercado de trabalho propriamente, permitiu o acesos dos negros à educação e, ainda, para o Estatuto da Igualdade Racial como um grande instrumento no combate à discriminação da mulher negra no mercado de trabalho) e Executivo (Decretos instituidores de programas de governo que preveem a observância da presença de afrodescendentes no preenchimento de alguns cargos, Delegacias Regionais do Trabalho e Núcleos de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Combate à Discriminação e Projeto de Lei que estabelece reserva de 20% das vagas oferecidas em concursos públicos federais a candi-datos negros e pardos). Destacam a necessidade de participação de toda a sociedade para a eficácia das práticas, admitindo que a questão racial não pode ser resolvida sem este amplo engajamento, com ênfase à precariedade de políticas na área privada, sugerindo a utilização de medidas afirmativas nesta seara, a realização de campanhas educativas e persuasivas para a eliminação do preconceito no mercado de trabalho e a atuação mais ostensiva do Estado para a construção de uma sociedade racialmente consciente e igualitária.

O décimo capítulo, de autoria de Luiz Eduardo Gunther, é nominado “O HIV e a AIDS: Preconceito, Discriminação e Estigma no Trabalho – Aplicação da Súmula 443 do Tribunal Superior do Trabalho”. Diferencia o autor os vocábulos discriminação, preconceito e estigma, alertando que a discriminação quanto aos portadores do vírus HIV pode ocorrer mesmo no momento pré-contratual, quando da seleção dos candidatos. Esclarece que também após a admissão, no decor-rer do trabalho, o empregado acometido por doença acaba sendo estigmatizado no seu ambiente de trabalho, traduzido em um descrédito em relação ao indivíduo, gerando consequente exclusão social e invisibilidade em relação às suas qua-lidades. Menciona a legislação brasileira e casos jurisprudenciais de outros países na proteção ao portador do vírus HIV a contribuição do filme Filadélfia sobre a imoralidade e a ilegalidade do preconceito contra os homossexuais, bem como a discriminação contra os pacientes com doença associada ao HIV e outros aspectos sobre índices de infecção de pessoas portadoras do vírus no Brasil. Destaca e explica as normas da OIT sobre o tema, como a Convenção 200, o Código de Prática sobre HIV/AIDS e o Mundo do Trabalho, bem como a Recomendação 169 de 2004, além de precedente do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região. Discorre sobre as decisões da Justiça sobre a nulidade da dispensa discriminatória e reintegração do empregado, e cita doutrina que admite a possibilidade de recebimento de benefícios previdenciários. Explica ser a súmula 443 do Tribunal Superior do Trabalho no sentido de que a dispensa imotivada de empregado soro-positivo é presumidamente discriminatória, devendo o empregado ser reintegrado no emprego, salvo comprovação de que o ato decorreu de motivo diverso, invertendo-se, portanto, o ônus da prova no caso de alegada discriminação no emprego e na profissão.

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O décimo primeiro capítulo, escrito por Márcia Kazenoh Bruginski, denomina-se “Discriminação no Trabalho: Práticas Discriminatórias e Mecanismos de Combate”. O artigo demonstra que na seara trabalhista, em que existe inequí-voca desigualdade estrutural na relação entre empregado e empregador e a necessidade de meios de compensação para supri-la, o mandamento constitucional do tratamento igualitário para situações iguais ganha especial ênfase. Explica que o princípio isonômico na seara trabalhista impede que o empregador proceda com tratamento diferenciado desfavorável baseado em motivo desarrazoado em face dos seus empregados durante todo o contrato de trabalho, desde a admissão até o momento da extinção do pacto laboral. Destaca a Lei n. 9.029/1995 e discorre sobre as modalidades de discriminação por ela proibidas: por sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade, além de outros atos discriminatórios (portadores do vírus HIV e deficientes). Relata os mecanismos legais de combate à discriminação, apontando artigos da Constituição com conteúdo de proteção antidiscriminatória, principalmente os artigos 3º, IV, 5º, caput, e 7º XXX e XXXI, mencionando as conseqüências do ato discriminatório na fase pré-contratual, na admissão e na ruptura contratual, além da inversão do ônus da prova estabelecida pela súmula 443 do Tribunal Superior do Trabalho.

O décimo segundo capítulo, escrito por Mônica Sette Lopes, tem por título “Pela Mão de Alice: o Trabalho da Mu-lher e o Surpreendente da História”. Explica a autora ser o artigo uma homenagem especial à falecida Desembargadora Alice Monteiro de Barros, que tratou no seu trabalho de Doutorado sobre o trabalho da mulher. Analisa a angústia da infinidade casuística do tema retratada no livro da mencionada jurista com as situações expostas no livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol. Explica a preocupação das duas Alices com as inúmeras mudanças culturais necessárias em uma sociedade feita não apenas pela lei, traduzida em uma realidade jurídica que não despreza mitos, crenças e con-dicionamentos sociais. Retrata a visita de Alice Monteiro de Barros aos vários tempos e lugares pelos quais caminharam as mulheres na construção de sua identidade como pessoa e direitos inerentes, inclusive no trabalho, atrelada à análise da variedade de enfrentamentos atrelados à trama, necessária à compreensão plena sobre a proteção jurídica às mulheres. Aponta a funcionalidade dos processos judiciais para além de sua instrumentalidade como segmento da técnica jurídica para a real compreensão da forma de aquisição e conquista dos direitos, pela narrativa dos conflitos neles registrados, alertando sobre como uma simulação vazia atua mitigando a teleologia da proteção de direitos pela lei. Explica não haver necessidade de buscar abstratamente o sentido da proteção da mulher no trabalho e da garantia da igualação, mas de entender o que a lei, as decisões e as minúcias e singularidade das histórias, alinhavadas no processo, efetivamente fazem pelas mulheres.

O décimo terceiro capítulo é de autoria de Rúbia Zanotelli de Alvarenga e possui como título “Discriminação Racial e Assédio Moral No Trabalho”. Alerta a autora sobre a necessidade de mudança da cultura quanto à diversidade para combater as práticas discriminatórias empresariais, explicando o conceito de discriminação, da forma como se manifesta nas relações de trabalho e citando as normas nacionais e internacionais de proteção às condutas antidiscriminatórias. Discorre sobre o assédio moral no trabalho por motivo de discriminação racial, cuja ocorrência decorre principalmente do racismo persistente em significativa parcela da sociedade, explicitando fundamentos extraídos de subsídios jurispru-denciais e doutrinários aptos a entrever a necessidade de mínima garantia ao trabalhador no resguardo à sua dignidade como princípio basilar e fulcral da Carta Magna de 1988.

O décimo quarto capítulo, nominado “A Inclusão de Pessoas Deficientes – Uma Análise do Direito Social ao Traba-lho sob a Perspectiva da Não Discriminação” foi escrito por Silvana de Souza Netto Mandalozzo e Adriana de F. Pilatti Ferreira Campagnoli e revela os obstáculos existentes ao exercício do direito fundamental social ao trabalho como instrumento de concretização da dignidade da pessoa humana, notadamente pelas pessoas portadoras de deficiência. Atribuem à Constituição o reconhecimento dos direitos fundamentais sociais como liberdades positivas a serem obriga-toriamente observadas pelo Estado Social de Direito, mencionam normas internacionais de conquista de direitos sociais como a Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e Convenções da OIT. No âmbito interno destacam normas da Constituição, de leis e de decretos que protegem os sujei-tos desse grupo social, notadamente o recente Estatuto da Pessoa com Deficiência, entretanto, notam a insuficiência da mera previsão normativa da igualdade de tratamento, revelando estar a plena efetividade desses direitos necessariamente atrelada à inserção produtiva da pessoa com deficiência. Comprovam a necessidade da construção de nova concepção do significado de ser deficiente atrelado à ausência do estigma de incapacidade ao trabalho e à vida independente, com ações articuladas dos trabalhadores, do Poder Público e dos empregadores para viabilizar o pleno acesso aos portadores de deficiência ao mercado de trabalho.

A intenção da breve exposição dos capítulos foi a de propiciar ao leitor o interesse pela compreensão dos textos em sua integralidade.

As abordagens multidisciplinares componentes desta coletânea revelam a apurada capacidade dos autores em de-bater as nuances que o tema “discriminação no trabalho” comporta, no desafio de tornar efetivos os direitos humanos e fundamentais à dignidade da pessoa humana e à igualdade em seus inúmeros aspectos, erigida a alteridade como primado de uma consciência social apta ao reconhecimento pleno do direito à diferença e do respeito à diversidade como valores de uma sociedade inclusiva.

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O Direito do Trabalho ao identificar expressamente na Constituição a possibilidade de produção de normas jurídicas aos corpos sociais laborais (sindicatos), revela-se como o ramo do Direito a vincular-se, por excelência, ao pluralismo jurídico e à socialidade do Direito como resposta à insuficiência dos centros geradores de produção jurídica propugnada pelo monismo estatal. O Poder Executivo na promoção de políticas públicas, o Poder Legislativo mediante a positivação de direitos específicos com sanções de caráter punitivo ou premial, o Poder Judiciário garantidor da ampla defesa de seu exercício e a coletividade, por meio de mudança de cultura com práticas educativas e persuasivas sobre a urgência do assentamento na consciência social de pautas garantidoras da democracia da raça, da aparência, do gênero, da origem, da orientação sexual, da condição física e da saúde, tal como exposto nos artigos componentes desta obra, devem contribuir conjuntamente para materializar o ideário humanista, pacifista e inclusivo engendrado pela sociedade.

Curitiba, 3 de novembro de 2015.

Juliana Cristina Busnardo

Assistente de Gabinete de Desembargador – servidora do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, mestre em Direito Empresarial e Cidadania pelo Centro Universitário Curitiba

(Unicuritiba), especialista em Direito Empresarial pelo Instituto Brasileiro de Estudos Jurídicos (IBEJ), graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR)